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CAĂ‡ĂƒO LI

Ano 8 NÂş 41 Novembro/Dezembro 2013

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00

Editora CĂ­rios

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Ano 8 NĂşmero 41 2013 R$ 12,00 5,00

JOGOS DOS POVOS INDĂ?GENAS PROJETO CNI SUSTENTABILIDADE ECOGERMA 2013 4ÂŞ CNMA


IGUAL A TODO BANCO, A GENTE TAMBÉM TEM UMA AGÊNCIA EM CADA ESQUINA.

A agência-barco da CAIXA atende às populações ribeirinhas da Bacia Amazônica e já realizou mais de 10 mil atendimentos, levando serviços bancários para onde não parecia possível. Uma iniciativa tão inovadora que venceu o Beyond Bank 2011, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 2 REVISTA AMAZÔNIA

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SAC CAIXA – 0800 726 0101(informações, reclamações, sugestões e elogios) | Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala – 0800 726 2492 | Ouvidoria – 0800 725 7474 caixa.gov.br | facebook.com/caixa

MAS TER UMA AGÊNCIA ATÉ ONDE NÃO HÁ ESQUINA É SER MAIS QUE UM BANCO.

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REVISTA AMAZÔNIA 3


Revista

Editora CĂ­rios

O distrito do Sucuri (prĂłximo de CuiabĂĄ) foi palco da maior festa indĂ­gena formada por mais de 66 etnias diferentes (sendo 48 nacionais e 18 de outros paĂ­ses). A “vila olĂ­mpicaâ€? construĂ­da para abrigar a 12ÂŞ edição dos Jogos dos Povos IndĂ­genas recebeu os eventos mais esperados pelo pĂşblico...

Com a presença de 2.500 participantes de 27 Estados e do Distrito Federal, foi aberta em BrasĂ­lia, a 4ÂŞ ConferĂŞncia Nacional de Meio Ambiente, no Centro Internacional de Convençþes do Brasil, em BrasĂ­lia. “Esta ĂŠ uma conferĂŞncia que traz vocĂŞs para cĂĄ como agentes de transformaçãoâ€?, disse a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira...

Sustentabilidade

É um ciclo de debates que ocorrerĂĄ uma vez por ano e discutirĂĄ o uso racional e a conservação dos recursos naturais. Neste ano, o tema da primeira edição do CNI Sustentabilidade foi Ă gua: oportunidades e desafios para o desenvolvimento do Brasil...

40 O ParĂĄ e a alta do

desmatamento em 2013 O MinistÊrio do Meio Ambiente divulgou recentemente, a estimativa da taxa anual do desmatamento medida pelo Prodes, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia, que aponta terem sido desmatados 5.843 km² no período de agosto de 2012 a julho de 2013 - um aumento de 28% em relação à estimativa anterior...

DIRETOR Rodrigo Barbosa HĂźhn

RTE

FAVOR POR

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto HĂźhn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. HĂźhn

CIC

I LE ESTA REV

ARTICULISTAS/COLABORADORES Ana Fernandes,Camila Lemos, Camillo Martins Vianna, Carla BelizĂĄria, Cleide Passos, Ciro Scopel, Dirceu N. Gassen,Mariana Flores, Hiroko Tabuchi, Nicolau Ferreira, Ricardo Garcia, Rafael Monaco , Tinna Oliveira e Vera Novais FOTOGRAFIAS Apolos Paz, AgĂŞncia Petrobras, Arquivo OMM, CSIRO, Carbon Dicsclosure Project,Ditte Valente, Divulgação, Divulgação ABEXA, Dulcelene JatobĂĄ, Eskinder Debebe, Fabio Rodrigues Pozzebom/AgĂŞncia Brasil, Francisco Medeiros/ME, Hansen, Ibrahim RO, International Social Security Association - ISSA, Leigh Henningham, Linda A. Cicero/Stanford News Service); LĂşcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados; M,J. Haynes, Marcello Casal Jr./AgĂŞncia Brasil, Marcelo Favaretti, Martim Garcia, Mayke Toscano-Secom/MT, Mel Lintern , Methane Hydrate Research Center, Miguel Ă‚ngelo/CNI, NASA/SDO (AIA); Paulo de AraĂşjo/MMA, Potapov, Roberto Stuckert Filho/PR, Ryu Spaeth, Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados, Wayne Taylore, Wilcox Solar Observatory

50 Os 10 anos do

EDITORAĂ‡ĂƒO ELETRĂ”NICA Editora CĂ­rios SS LTDA

Ao lado do ex-presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff celebrou os 10 anos do Bolsa FamĂ­lia em cerimĂ´nia para centenas de convidados, entre prefeitos, governadores e ministros. A festa no Museu Nacional da RepĂşblica, em BrasĂ­lia, foi conduzida pelo ator Paulo Betti...

NOSSA CAPA No 12Âş Jogos dos Povos IndĂ­genas Foto: Mayke Toscano-Secom/MT

Bolsa FamĂ­lia

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24 Projeto CNI

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de Meio Ambiente – CNMA

XPEDIENTE

PUBLICAĂ‡ĂƒO PerĂ­odo (novembro/dezembro) Editora CĂ­rios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 BelĂŠm-ParĂĄ-Brasil

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dos Povos IndĂ­genas

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08 12ª edição dos Jogos

DESKTOP Mequias Pinheiro

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ISSN 1809-4

66X

Editora CĂ­rios

Ano 8 NĂşmero 41 2013 R$ 12,00

Mais conteĂşdo verde

5,00

[14] FĂłrum Global para o Crescimento Verde [22] Brasil precisa harmonizar sua legislação sobre mudanças climĂĄticas [27] BNDES destina R$ 16,8 mi do Fundo AmazĂ´nia para cadastro ambiental do Acre [28] Programa Petrobras Socioambiental [32] Brasil ĂŠ o mais atrativo para investimentos em baixo carbono na AL [36] Primeiro mapa global de alta resolução da floresta com suas perdas e ganhos [42] Um mundo que me agrada com um clima de que gosto [44] Mapa da dengue mostra que 157 municĂ­pios estĂŁo em situação de risco [48] PrĂŞmio CINDRA reĂşne mais de 300 pessoas na Câmara [56] Mulher ArtesĂŁ Brasileira, ĂŠ destaque nos EUA [60] Simineral aproxima sociedade da mineração [62] Eucaliptos podem ser detectores de ouro [66] Comunidades locais podem monitorar florestas como especialistas [72] Ondas de calor vĂŁo ser mais frequentes e intensas atĂŠ 2040 [76] “Gelo inflamĂĄvelâ€?, solução ou grande problema? [78] O campo magnĂŠtico do Sol estĂĄ prestes a inverter a sua polaridade [80] As cobras grandes do ParĂĄ [82] Um em cada cinco rĂŠpteis estĂĄ ameaçado de extinção

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JOGOS D OS POVO PROJETO S IND CNI SUST ENTABILIGENAS IDAD ECOGER MA 20 E 4ÂŞ CNM13 A

Portal AmazĂ´nia

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O governo do Estado do ParĂĄ, em parceria com a AgĂŞncia de Cooperação TĂŠcnica AlemĂŁ – GIZ, em comemoração ao ano da Alemanha no Brasil, realizaram em BelĂŠm, o EcoGerma 2013, o mais importante evento sobre a indĂşstria de sustentabilidade alemĂŁ no Brasil. A programação, que acontecia somente em SĂŁo Paulo, aconteceu no Hangar Convençþes e Feiras da AmazĂ´nia...

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58 EcoGerma 2013

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A TCD Transporte e Navegação tem como propósito atender aos seus clientes com transporte multimodal, utilizando o sistema RODO-FLUVIAL, conhecido como ROLL-ON / ROLL-OFF (RO-RO CABOCLO), o qual inicialmente, fará a rota MANAUS/ BELÉM/ MANAUS. A Matriz está instalada em nosso porto próprio na cidade de Manau-AM, sendo que está localizada às margens do RIO NEGRO, na Av. Pe. Agostinho Caballero Martin, nº 2101, Bairro compensa, CEP: 69035-090, contando com os telefones para contato (92) 3232-8311 / 3671-0134, a nossa filial em Belém-PA instalada também em porto próprio, situada às margens do RIO MATAPI, na Estrada Velha do Outeiro, Lote-03, Quadra-01, setor A, Distrito Industrial de Icoaraci, com área de 56.000 m², dotada de galpão com capacidade de até 12.000 ton de granéis sólidos e outro galpão com área de 3.000m² para cargas em geral, e para estacionamento de veículos pesados, semi-pesados, carretas diversas e qualquer outro tipo de veículo, contamos atualmente com 01 rampa

de aço naval com acesso em berço de operação portuária para carregamento e descarregamento de carretas, veículos e qualquer tipo de equipamento dos mais diversos tamanhos e pesos, estamos aptos para efetuar o transporte para qualquer cidade da Região Norte. Nosso objetivo principal é propiciar aos empresários, bem como a classe comercial em geral, construtoras, empreiteiras, carreteiros, empresas do agro-negócio, etc., um atendimento diferenciado com informações precisas quanto a localização precisa de sua carga, responsabilidade e cuidado pelos equipamentos, cargas, veículos, etc. de seus parceiros, e principalmente lhe ter como membro da Família TCD Transporte e Navegação. conA TCD entra no mercado com a con dição de oferecer e dar mais uma opção ennas operações de transporte para a en trada de insumos e a saída dos produtos acabados da Zona Franca de Manaus para todo o Brasil. coPara nos contatar, solicitar qualquer co tação e ou outra informação, estaremos sempre a vossa disposição.

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12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas por Carla Belizária e Cleide Passos Fotos: Francisco Medeiros/ME, Mayke Toscano-Secom/MT

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distrito do Sucuri (próximo de Cuiabá) foi palco da maior festa indígena formada por mais de 66 etnias diferentes (sendo 48 nacionais e 18 de outros países). A “vila olímpica” construída para abrigar a 12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas recebeu os eventos mais esperados pelo público – mais de dez modalidades típicas como arco e flecha, corrida com tora, futebol cabeça, zarabatana, natação, canoagem, entre outros. Os deuses pareciam conspirar em favor de uma brilhante e próspera edição do maior evento Intertribal das Américas: os Jogos dos Povos Indigenas, em Cuiabá, capital do Mato Grosso. O acendimento do Fogo Ancestral, para iluminar a pira da arena dos Jogos mais parecia cenário 08 REVISTA AMAZÔNIA

de filme. Enquanto o sol desaparecia no horizonte, um arco-íris reafirmava suas cores na imensidão do céu azul para receber o ritual sagrado, encerrado com um ventania que varreu a arena dos jogos como um sinal de novos tempos. O ritual começou com uma desfile das 48 etnias nacionais. Os povos foram chamados, um a um, para ocupar a área localizada entre as ocas da Sabedoria e Digital. O povo Krahô chegou fazendo festa, enquanto

os guerreiros Kaiapó contagiavam o público com a cantoria das mulheres e suas vestes nas cores amarelo-ouro e vermelho. Assim, vestidos e pintados para a festa, os indígenas presenciaram a chegada do “grande espírito”. Segundo o diretor do Comitê Intertribal, Marcos Terena, o ritual de luz garante que nada de ruim acontecerá durante os Jogos. O fogo sagrado que vai iluminar e proteger Cuiabá foi criado por lideranças espirituais de três etnias: Matis, Krahô e Manoki. Em seguida, as três chamas transformaram-se em uma única, conduzida e protegida por uma guerreira indigena Krahô. O acendimento da pira olímpica da 12ª edição dos Jogos dos Povos Indigenas, foi espetacular. O tiro certeiro de arco e flecha disparado por uma guerreira, numa distância de mais de 30 metros do alvo, encantou o público que lotou as arquibancadas da arena, montada no Jardim Botânico da capital mato-grossense. A proeza serviu revistaamazonia.com.br


Índio se prepara para disparar flecha com fogos de artifício durante cerimônia de abertura dos Jogos Indígenas, neste sábado, em Cuiabá

Um tiro disparado por uma ateta, iniciou uma show pirotécnico que iluiminou o céu de Cuibá com uma queima de fogos coloridos.

Índias disputam prova de corrida com toras durante os Jogos Indígenas

ainda para chamar a atenção das autoridades presentes quanto à realização de uma versão internacional do evento indígena. Além de uma prévia do que aconteceria, a solenidade A arena dos Jogos

foi um termômetro para avaliar a intenção de cidades brasileiras em sediar a primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas, em 2015. O governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, é um dos interessados. Logo após declarar abertos os Jogos Indigenas de 2013, juntamente com o diretor do Comitê Intertribal, Marcos Terena, disse: “Agradeço imensamente o povo mato-grossense pela recepção do nosso evento. Não estamos aqui para disputar O acendimento do Fogo Ancestral, para iluminar a pira da arena dos Jogos mais parecia cenário de filme

nem competir, tudo é celebração. Desde os esportes, as feiras e apresentações dos nossos povos”, ele também agradeceu o interesse do estado em receber a versão mundial da competição indigena. Silval deu as boas-vindas às 48 etnias nacionais presentes e às lideranças de 16 paises que vieram ao Brasil discutir o planejamento do evento internacional, durante a realização do Caucus Indigena.”Estou muito feliz por receber vocês e quero reafirmar o meu pedido para que nosso estado seja palco do mundial indígena”, anunciou o governador, ao lado da diretora da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, Andréa Ewerton. que representou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. revistaamazonia.com.br

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O ritual de luz garante que nada de ruim acontecerá durante os Jogos

Etnias abrem oficialmente os XII Jogos dos Povos Indígenas

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, estava entre as autoridades presentes. O coordenador-geral de Politicas Esportivas Indigenas do Ministério do Esporte, Rivelino Macuxi, o secretrário estadual de Esporte e Lazer, Ananias Filho, e o presidente do Comitê Intertribal, Lisio Lili, também prestigiaram evento. O diretor do Comitê Intertribal, Marcos Terena, anunciou que as cidades de Palmas (TO), Bertioga (SP), Guarujá (SP) e Petrópolis (RJ), além dos estados da Bahia e do Mato Grosso, sinalizaram interesse em receber os Jogos Mundiais Indígenas. “Isso para nós e um grande orgulho porque refrorça ainda mais a importância e o reconhecimento dos esportes tradicionais indigenas como ferramenta de resgate da identidade e de integração entre parentes de continentes distintos”, afirmou Terena. A entrada triunfal dos povos Kayapó Metyktire, do Mato Grosso, e Kayapó Mekrãngnoti, do Pará, com suas cantorias e carregando a bandeira do Brasil, marcou a abertura 10 REVISTA AMAZÔNIA

Guerreiros Terena, do Mato Grosso do Sul, carregaram nos ombros uma tora feita com o tronco da palmeira buriti, que pesa entre 80 e 100 quilos

da 12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas. A interpretação do Hino Nacional ao som de violão deu ares ainda mais poéticos à largada da competição, com participação recorde de 1.600 atletas de 48 etnias, além da presença de lideranças indígenas de 16 países. O palco dos Jogos foi abençoado por um pajé da etnia Pareci, que, acompanhado por dois guerreiros, promoveu ritual sagrado de boas-vindas aos atletas. Em seguida, eles acenderam as mais de 60 tochas instaladas nas laterais da arena, e um índio Krahô promoveu, em nome de todos os presentes, o rito da alegria, com uma das tochas nas mãos. Em seguida, começou o desfile das etnias participantes. As delegações, ao serem convocadas uma a uma – crianças, jovens, mulheres e homens adultos –, emocionavam os cuiabanos que lotaram as arquibancadas para prestigiar o evento. Todas as equipes entraram na arena com o “maracá vibrando”, ou seja, sorridentes, dançando, festejando. Os revistaamazonia.com.br


Corrida de tora Arco e flecha

Os melhores canoístas indígenas do Brasil mediram forças em Cuiabá

Bons de pique

indígenas usaram vestes, pinturas corporais, cocares e adereços preparados para ocasiões especiais. Os Trembé foram os primeiros a desfilar, seguidos dos Kanela, Javaré e Kaiwá. Povos como o Ikpeng, do Mato Grosso, e o Tauarepang, de Roraima, que participam pela primeira vez dos Jogos Indígenas, receberam muitos aplausos.

Corrida de tora e arco e fecha Foram realizadas demonstrações de esportes tradicionais, como a corrida de tora. Guerreiros Terena, do Mato

Haja força...

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

Grosso do Sul, carregaram nos ombros uma tora feita com o tronco da palmeira buriti, que pesa entre 80 e 100 quilos, numa espécie de revezamento, circulando toda a arena. A mesma atividade foi repetida por índias guerreiras, com o tronco de buriti, porém, pesando por volta de 60 quilos. Enquanto o povo Xerente, de Tocantins, fazia ritual de agradecimento ao público, um grupo Terena iniciava a dança da ema, representando a vida. Em seguida, outro esporte tradicional foi apresentado: o arco e fecha, protagonizado pelo povo Parkatêjê-Ga-

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Assistindo os Jogos

Futebol de cabeça

vião. Os guerreiros do estado do Pará são conhecidos como os mehores arqueiros do país. O encerramento ficou por conta de seis arqueiros Gavião, incluindo uma mulher.

contornava a arena com a tocha do fogo sagrado, usado para acender a fogueira no centro. O fogo, que simboliza

para os indígenas o início e o fim, foi apagado depois em um ritual do fogo sagrado realizado pelo povo Terena.

Emoção marcou encerramento Emoção, celebração e confraternização resumem um pouco do sentimento nos rostos e gestos das etnias presentes no encerramento da 12ª Edição dos Jogos dos Povos Indígenas. Em uma cerimônia simbólica, eles presentearam o público com um pouco de demonstração da cultura dos povos ali presentes. Eles cantaram, dançaram e fizeram orações tradicionais para agradecer e comemorar o momento de união. E, assim, despediram-se da capital mato-grossense, deixando a mensagem pretendida desde o início do evento: ‘O importante não é ganhar, e sim celebrar’. Em um momento emocionante, um guerreiro Krahô, que

Na Oca do Saber, na arena Sucuri, em Cuiabá, a visita do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, Aldo Rebelo e Silval Barbosa aplaudem os competidores

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo com o governador do Mato Grosso, Silval Barbosa e o diretor do Comitê Intertribal, Marcos Terena 12 REVISTA AMAZÔNIA

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Índios seguram a bandeira do Brasil durante cerimônia de abertura dos Jogos Indígenas, neste sábado, em Cuiabá

Índio carrega a ‘tocha olímpica’ dos Jogos Indígenas, durante cerimônia a de abertura do evento, neste sábado, em Cuiabá

Índias observam cerimônia de abertura dos Jogos Indígenas

Índias fotografam prova durante os Jogos Indígenas, neste domingo (10), em Cuiabá

Índios dançam durante cerimônia nos Jogos Indígenas

Competições O último dia, incluiu as finais de arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força e corrida de fundo. Na primeira, venceu a etnia Assurini, do Pará. Na segunda, foi o povo Kanela, do Maranhão. No cabo de força, o campeão masculino foi a etnia mato-grossense Enawenê-Nawê e no feminino houve empate entre os povos Bororo, de Mato Grosso, e Arakbut, do Peru. Na corrida de 1.800 metros, o guerreiro corredor de 24 anos Thiago Howpy, da etnia Kanela, do Maranhão, sagrou-se campeão.. Na natação, o guerreiro Hargran, da etnia Gavião Parkatejê, foi o campeão da prova masculina, enquanto a índia Siricá, da etnia Xerente, conquistou o título na prova feminina. Já no futebol, os Índios Kanela foram os campeões do futebol masculino dos Jogos Indígenas.

rio Santi disse estar muito satisfeito pela integração dos povos indígenas, pela alegria e harmonia que reinaram entre os irmãos nos dez dias de jogos. “Estou impressionado com a força do povo indígena brasileiro, que nesse momento deveria ser ouvido pelo mundo ocidental e pelos governos para que a paz reine no planeta”, afirmou o jovem advogado, representante das causas indígenas, no Peru, Wilfredo Chau.

O chileno Juan Antonio Correa Calfin ressaltou que aquele momento mostrava a força da democracia, quando os povos são capazes de levar a paz a toda a humanidade. Idealizados pelo Comitê Intertribal, os Jogos dos Povos Indígenas foram realizados em parceria com o Ministério do Esporte e o Governo de Mato Grosso e contou com apoio da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Prefeitura de Cuiabá.

No encerramento do XII Jogos dos Povos Indígenas

Integração entre as nações Os últimos momentos dos Jogos Indígenas foram compartilhados por todos os presentes, que se abraçavam e agradeciam por participarem de momentos tão ricos em terras brasileiras. O representante do Equador Marevistaamazonia.com.br

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Fórum

Na abertura do 3GF 2013

Global para o Crescimento Verde 3GF - Global Green Growth Forum

Ban Ki-moon com Christian Friis Bach, ministro da Cooperação para o Desenvolvimento da Dinamarca

Fotos: Ditte Valente, Eskinder Debebe

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a abertura do Fórum de Crescimento Verde Global (3GF), em Copenhague, na Dinamarca, Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU, alertou que a mudança climática é a maior ameaça ao desenvolvimento sustentável, e afirmou que será necessário um esforço conjunto para se alcançar energia limpa para todos, para

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ajudar a colocar o mundo em um caminho mais sustentável , sublinhando que isso exigirá a inovação , o investimento ea colaboração de todos os parceiros. “ Conseguir uma transformação de energia limpa vai precisar dos esforços combinados de governos, bancos multilaterais de investimento , de financiamento privado, da sociedade civil e do setor privado “, disse Ban Ki-moon. “ Somos parceiros em um caminho para a sustentabilidade ... Mas não temos tempo a perder. “ Ele observou que a forma como a energia é produzida e usada é “ a causa dominante “ das mudanças climáticas.

“O impacto na nossa economia global é cada vez mais claro . Contamos o custo em vidas humanas e perdas econômicas “ , afirmou. “ Mas , estamos forjando soluções em conjunto em todo o mundo . “ O chefe da ONU explicou que a Iniciativa Energia Sustentável para Todos tem três objetivos ambiciosos para serem alcançados até 2030. Em primeiro lugar, fornecer acesso universal à energia moderna. Segundo Ban, isso é essencial para o progresso e a oportunidade econômica para mais de um bilhão de pessoas marginalizadas pelo sistema.

Desperdício O segundo objetivo é dobrar a taxa de avanço em eficiência. O Secretário-Geral disse que atualmente há muito desperdício de energia. E por fim, Ban quer dobrar a divisão global de energia renovável. Para ele, esses objetivos são fundamentais para um desenvolvimento sustentável. O chefe da ONU afirmou que o Fórum tem um papel importante na criação de um mercado global vibrante para o capital e soluções verdes. Ele lembrou que o mundo se aproxima do prazo final para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento revistaamazonia.com.br


O terceiro Fórum de Crescimento Verde Global, pretendeu ser uma plataforma para o desenvolvimento de parcerias públicoprivadas já existentes, novas ou melhoria para a promoção do crescimento verde. Foi organizada pelo Governo dinamarquês em parceria com os Governos da China, Quênia, Coréia, México e Qatar. Com um foco geral em melhorar a eficiência de recursos na cadeia de valor, o evento também incidiu sobre as seguintes áreas temáticas: energia, água, alimentos e greening da cadeia de valor. Foi uma oportunidade para os líderes de crescimento verde para discutir formas de financiar o crescimento verde, criar demanda para o crescimento verde e aumentar os incentivos econômicos para a transição para uma economia verde.

do Milênio, em 2015 e a criação de um novo plano de desenvolvimento sustentável para depois dessa data. Ao mesmo tempo, Ban declarou que para colocar o mundo num caminho sustentável, é necessário erradicar a extrema pobreza e manter o aumento da temperatura global em menos de 2ºC.

Conferência Preocupado com o meio ambiente, o Secretário-Geral propôs a Conferência do Clima, marcada para setembro de 2014. Ele quer reunir todos os setores da sociedade para debater as questões climáticas e alcançar novos compromissos. Ban pediu aos participantes que apresentem planos e iniciativas para combater a mudança climática. Ele aler-

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Ban Ki-moon alertou que a mudança climática é a maior ameaça ao desenvolvimento sustentável

Eu desafio você a trazer à Conferência do Clima, promessas ousadas. Inovar, cooperar e entregar uma ação concreta que vai fechar a lacuna de emissões e nos colocar no caminho para um acordo legal e ambicioso através do processo da UNFCCC

tou ser necessário um grande investimento no setor. O chefe da ONU disse que apenas 1% dos fundos de pensões investem em projetos da área.

Ameaça Ban explicou que a forma como a energia é produzida representa a causa dominante da mudança climática.

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Gift to the Earth

Um Presente para a Terra é uma celebração pública do WWF de uma ação de conservação para um governo, uma empresa, uma organização ou um indivíduo que é ao mesmo tempo uma demonstração de liderança ambiental e uma contribuição de importância global para a protecção do mundo dos vivos. O prêmio da Terra para o governo dinamarquês, ocorre porque a Dinamarca hoje tem clima mais ambicioso do mundo combinado com uma longa tradição de promover e implementar políticas de energia renovável publicamente. Assim, aWWF reconhece os esforços históricos da Dinamarca e os objetivos políticos e ambiciosos que estão definidos até 2050, para reestruturar a oferta de energia dinamarquês, incluindo os transportes, a energia 100% renovável .

Helle Thorning-Schmidt, primeira-ministro dinamarquês, recebe o Gift to the Earth, de Jim Leape, diretor-geral da WWF International

Jean-Marc Ayrault, primeiro-ministro francês, Helle Thorning-Schmidt, primeiraministro dinamarquês e Hailemariam, primeiro-ministro da Etiópia, no Fórum Global Green Growth em Copenhague

Peter Brabeck Letmathe, presidente do conselho da Nestlé SA:”Foi encorajador ver como várias parcerias público-privadas foram criadas aqui”

Para ele, o impacto desse processo na economia é claro. Ban quer usar o Fórum Global para acelerar a transformação de um passado insustentável para um futuro que respeite os povos e o planeta. Segundo ele, essa é uma oportunidade histórica para se deixar um legado que irá refletir nas próximas gerações. Ban Ki-moon em um telhado de Copenhague, na Dinamarca, que foi equipado com turbinas eólicas e painéis solares

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A exposição de Helle Thorning-Schmidt, primeira-ministro dinamarquês

Participantes Em destaque no 3GF 2013, os primeiros-ministros da Dinamarca , República da Coréia, França e da Etiópia , executivos da Unilever, Tesco, Maersk Line, IKEA , Veolia Water , vice-presidentes do Banco Mundial , o Banco Interamericano de Desenvolvimento , a Nike e Coca Cola Company, juntamente com os chefes de organizações e instituições , como o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento , o diretor executivo do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e do Presidente do Instituto de Recursos Mundiais internacionais. Ban Ki-moon, na reunião com os fundos de pensão internacionais, em Copenhague, na Dinamarca, pede transformação de energia limpa para o futuro mais sustentável

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4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente – CNMA 1.340 delegados estiveram em Brasília para definir ações, desafios e avanços da Política Nacional de Resíduos Sólidos por Tinna Oliveira Fotos: Martim Garcia, Paulo de Araújo /MMA

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om a presença de 2.500 participantes de 27 Estados e do Distrito Federal, foi aberta em Brasília, a 4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília. “Esta é uma conferência que traz vocês para cá como agentes de transformação”, disse a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, em discurso dirigido aos 1.340 delegados reunidos para discutir temas e elaborar propostas para o fim dos lixões, o consumo sustentável e a logística reversa e a inclusão dos 850 mil catadores em atividade no País. A cerimônia de abertura teve a participação de cinco ministros de Estado, representantes do Senado, da Câmara dos Deputados e do Ministério Público Federal, além de representantes da sociedade civil. Os debates começam com os delegados organizados em grupos. “Acabar com os lixões não é apenas cumprir prazos, é transformar os catadores em empreendedores”, afirmou a ministra Izabella Teixeira, dirigindo-se aos representantes das prefeituras, que têm até 2014 para apresentarem plano de erradicação dos lixões. Ela defendeu soluções diferenciadas para grandes cidades, pequenos e médios municípios e cidades isoladas. Salientou, ainda, a necessidade desoneração fiscal e incentivos tributários para viabilizar a implantação da PNRS. Para ela, qualquer iniciativa nessa direção terá que levar em conta os trabalhadores em reciclagem. “Os catadores terão cada vez mais espaço nas políticas públicas ambientais”, salientou.

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Festa Democrática O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, fez reconhecimento público e agradecimento a todos os presentes na Conferência. “É uma verdadeira festa da democracia participativa, agradecemos a cada um de vocês que vieram de tão longe para compor esse encontro e também aos que participaram nos encontros municipais, que reuniram milhares de pessoas”, observou. Para ele, é revolucionário na história brasileira esse processo de discussão, por traduzir um novo jeito de construção, efetivamente deO credenciamento para a 4ª CNMA

mocrático e inclusivo, o que mostra que o povo cada vez mais ocupa o seu espaço e se faz ouvir. Carvalho ressaltou a importância da escolha do tema da conferência e a necessidade de enfrentar o problema dos resíduos sólidos. “É preciso estabelecer um novo modelo de desenvolvimento, um modelo sustentável”, disse. O ministro destacou, ainda, a temática do consumismo “Sabemos a contradição que hoje toma conta do mercado com o aumento do consumismo no país, a necessidade de se ter e adquirir bens de consumo, precisamos de um novo modelo de distribuição para se viver em harmonia, um novo modelo em que a gente possa valorizar o ser como fator de felicidade com o meio onde vive.” Para ele, é projeto de governo a formulação de um modelo de desenvolvimento sustentável onde as pessoas sejam respeitadas e convivam comprometidas com a natureza. O tratamento dos resíduos sólidos nos municípios e o papel dos catadores e catadoras de material reciclado também foi apontado pelo ministro. “De forma alguma podemos fazer o tratamento do material reciclado de maneira excludente, a capacidade que esses trabalhadores e trabalhadoras mostraram nos últimos anos mostra que eles conseguiram criar uma cadeia de valor verticalizada, onde o resíduo é tratado, o que os torna consequentemente importantes agentes econômicos”. Para ele, não se pode fazer tratamento de resíduos sólidos excluindo essa categoria, é preciso que sejam ouvidos de maneira inclusiva para a construção de um plano de desenvolvimento sustentável no nosso país a partir da base, com processos participativos como esta Conferência de Meio Ambiente. O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, informou que a maioria dos municípios ainda não apresentou os planos de resíduos sólidos previstos na PNRS. “Até 2012, apenas revistaamazonia.com.br


Festa Democrática

10% dos municípios haviam elaborado os planos municipais de resíduos sólidos. Estamos com a implementação da lei muito comprometida. Ainda existem muitos desafios pela frente”, disse o ministro. A conferência discutiu, entre outras medidas, o fortalecimento da organização dos catadores de material reciclável por meio de incentivos à criação de cooperativas, a ampliação da coleta seletiva, o fomento ao consumo consciente e a intensificação da logística reversa, que obriga as empresas a fazer a coleta e dar uma destinação final ambientalmente adequada dos produtos.

Sociedade A representante dos catadores de materiais recicláveis Claudete Costa, do Rio de Janeiro, chamou a atenção para a questão do fechamento dos lixões em 2014 e a falta de políticas públicas voltadas especificamente para a defesa dos interesses da categoria. “Precisamos de apoio dos governos estaduais e municipais e que as nossas demandas sejam ouvidas”, observou. “Estamos reivindicando o que é nosso por direito, geramos trabalho, emprego e renda e somos uma cadeia produtiva de grande valor no mercado.” Claudete, com 23 anos na atividade, contou que sustenta a família com apenas a sua renda. “Assim como eu, hoje existem cerca de 90% de mulheres catadoras envolvidas na reciclagem no Brasil, o que mostra o papel de destaque que a mulher vem ocupando nesse mercado de trabalho, que requer força e determinação”. Ainda segundo ela, a categoria, pouco reconhecida no passado, vem ganhando destaque no cenário nacional.

Gilberto Carvalho, fez agradecimento a todos os presentes na Conferência. “É uma verdadeira festa da democracia participativa, agradecemos a cada um de vocês que vieram de tão longe para compor esse encontro e também aos que participaram nos encontros municipais, que reuniram milhares de pessoas

Painel debate desafios da Política Nacional de Resíduos Sólidos A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, participou da abertura da mesa e explicou que a propostas do Ciclo de Debates muda a dinâmica tradicional da conferência para que a sociedade possa se envolver nesse diálogo. “Resíduos Sólidos é uma das questões mais sérias do País”, disse. “Por isso precisa de debate para que a sociedade acolha a lei e coloque em prática”. Ela enfatizou que a mudança de comportamento exige o debate social, requer visão estratégica e instrumentos que dialoguem com a população brasileira. “As leis ambientais não são exclusivas dos ambientalistas, as pessoas precisam ser inseridas no debate ambiental”, disse. Para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas Júlio Pinheiro, a PNRS é uma lei possível de ser aplicada em sua essência, superando os desafios. Ele explica que os tribunais atuam no controle preventivo para evitar o dano ambiental. Durante as auditorias feitas pelo tribunal, o conselheiro observou que foram identificados catadores de material reciclável em situações degradantes, resíduos perigosos junto aos orgânicos, chorume (líquido resultante da decomposição do lixo) e vazamento de gás metano. Wanderley Baptista, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), opinou que a indústria brasileira pode ser tornar mais competitiva, como foco na sustentabilidade,

Claudete Costa, do Rio de Janeiro, chamou a atenção para a questão do fechamento dos lixões em 2014 e a falta de políticas públicas voltadas especificamente para a defesa dos interesses da categoria

já que os resíduos sólidos têm valor econômico. O representante da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), Carlos Silva, também destacou que o resíduo deve ser transformado em recurso, considerando-o como matéria-prima, minerais ou energia. “Temos que trabalhar a questão dos resíduos na perspectiva de preservação dos recursos naturais, desenvolvimento econômico e mitigação”, afirmou. Silvano Silveiro, da prefeitura de São Paulo, aponta que a lei de resíduos sólidos pegou, tanto que virou tema de conferência nacional. Para ele, dois pontos se destacam: a logística reversa, que propicia o caminho de volta da

Acabar com os lixões não é apenas cumprir prazos, é transformar os catadores em empreendedores

Também participaram da abertura da 4a Conferência Nacional do Meio Ambiente a ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Maria do Rosário, o ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo, o ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro, a ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República Eleonora Menicucci, além de outras lideranças políticas e sociais. revistaamazonia.com.br

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embalagem do produto consumido, e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. O secretário de Meio Ambiente do Pernambuco, Hélvio Porto, também acredita que os municípios conseguirão cumprir a lei, superando os desafios. O representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável, Roberto Laureano da Rocha, enfatizou que a PNRS trata de pessoas e os municípios devem fazer planos para inclusão social dos catadores de material reciclável.

Educação Ambiental O diretor do Departamento de Educação Ambiental do MMA, Nilo Diniz, destacou que a educação ambiental ultrapassa o conceito escolar”, pois também trata de comunicação social, capacitação e educação para o consumo sustentável. Na ocasião, apresentou a plataforma Educares que foi criada com o propósito de recolher boas práticas voltadas para a educação ambiental e a comunicação social. “A sociedade encontra suas próprias soluções em suas comunidades e essas experiências devem ser compartilhadas”, frisou. Também será lançado, ainda neste ano, edital que irá chancelar essas boas práticas.

Economia verde: parcerias são fundamentais para bons negócios O papel da sociedade, governo e empresários na formulação do novo conceito de economia verde foi destacado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, no painel “Política Nacional de Resíduos Sólidos: uma oportunidade de negócios”. Segundo Izabella, esse painel é particularmente interessante, pois faz parte de um novo ciclo, o da economia verde, resultado das discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), que aconteceu em junho de 2012, no Rio de Janeiro. “A ONU aposta nesse novo caminho para uma agenda de desenvolvimento sustentável”, afirmou. A dimensão desse novo ciclo deve passar por mudanças de comportamento, logística financeira e mercado. “Além do papel determinante da sociedade, o setor privado é

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Dalberto Adulis, Gerente de Conteúdo e Metodologias do Akatu, analisou, em um dos painéis, a importância da conscientização do consumidor para que as políticas de gestão de resíduos propostas pela PNRS se consolidem e, de fato, tragam os retornos esperados para a economia, o meio ambiente, a sociedade e cada um dos indivíduos.

estruturante nas questões globais sustentáveis”, observou.

Mecanismos O representante do Instituto Nacional de Resíduos, George Hoccheimer, apresentou as principais linhas de trabalho do Instituto e ressaltou que a PNRS necessita aperfeiçoar os mecanismos econômicos e estimular modelos de gestão para viabilizar a logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos que, segundo ele, nas condições atuais, é financeiramente inviável: “É importante que haja desenvolvimento contínuo de inovações, que possam ir além dos clássicos reduzir, reutilizar, reciclar, para incorporar “repensar”, “recusar”, “retornar”. Trata-se de processo que deve incorporar toda a diversidade de atores nessa área.”

Bancos Guilherme Cardoso, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), detalhou as linhas de financiamento do banco para projetos de gestão de resíduos sólidos, reciclagem e logística reversa. “O BNDES financia projetos na área de destinação final, coleta, tratamento e reaproveitamento de resíduos, e que há vários tipos de instrumentos diferentes para apoiar modelos diferentes de negócios, no setor de resíduos e de sane-

amento”, explicou. O gerente-executivo da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil, Maurício Messias, mostrou como a instituição financeira vem trabalhando a agenda de economia verde. “Hoje buscamos entender, aprender e aplicar esse conceito na prática para fazer uma modelagem financeira de acordo com a sabedoria de parceiros sociais e governamentais”, argumentou. Para ele, o grande desafio hoje é aprender, dentro do segmento verde, as ações de cada um, sociedade, governo e empresas. “Tem que ser um processo integrado, pois como estamos falando de um mercado em expansão, precisamos unir os saberes de cada um em busca de bons resultados, de resultados sustentáveis.”

Empresariado conceito verde A geração de “empregos verdes”, dentro desse novo conceito de economia verde, foi defendida pela diretora do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo. “É um emprego que contribui para a sustentabilidade ambiental mas que é exercido em condições decentes de trabalho”, disse. Para ela, o mundo de hoje precisa dessas carreiras e as empresas necessitam desenvolver essa ideia de mudança. “Além da sustentabilidade, essas carreiras contribuem no processo de geração de riqueza no país”. A coordenadora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Denise Hamú, afirmou a importância dos debates para a construção desse importante mosaico que está sendo montado na área de economia verde. “Cada um aqui tem papel importante para a construção desse conceito que não deve favorecer uma

Conferência aprova carta defendendo vinculação entre meio ambiente e inclusão social

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Etapas Preparatórias

Uma das palestras da ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira

ou outra pessoa, mas sim a sociedade como um todo”, declarou. Na sua avaliação, a economia verde não pode ser vista como um conceito único, de aplicação universal, mas que deve “atender a peculiaridades específicas de cada grupo, região ou nação, visando prover oportunidades para melhor qualidade de vida”.

Governo A Secretária de Articulação Institucional e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles, encerrou o painel destacando a necessidade de transformação da sociedade para desafios complexos como o Plano de Produção e Consumo Sustentáveis, que encontra fortes elementos de interface com a PNRS. “A política é um elemento chave para o desenvolvimento de uma economia verde no País, por meio do fomento de novos negócios, da transformação de setores, a partir da gestão de resíduos e da instalação de sistemas de logística reversa, da inclusão dos catadores na cadeia da reciclagem, transformando empregos degradantes em empreendedorismo”, defendeu. Para Mariana, há um grande papel a ser desempenhado por empresas líderes e que deverá incluir pequenas e médias empresas. Há que se dar destaque ao papel da inovação e do ecodesign, bem como o aperfeiçoamento da PNRS de forma a estabelecer uma política de incentivos que inclua: crédito e financiamento, desoneração, com o destaque para o papel de bancos como o do Brasil e o BNDES que possam atuar em sintonia com as políticas governamentais nesse setor.

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Conferência aprova carta defendendo vinculação entre meio ambiente e inclusão social O desenvolvimento sustentável, com inclusão social, depende basicamente de soluções econômicas, sociais e ambientais. Por isso, o combate à pobreza, a distribuição de renda e a defesa do meio ambiente são dimensões interligadas, de acordo com carta aprovada pela 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente. A carta, apresentada pelo presidente da organização não governamental Força Verde, de Porto Alegre, Lélio Luzardi Falcão, destaca algumas decisões adotadas pela conferência, a começar pela aprovação de ações voltadas para a produção de alimentos sustentáveis e segurança alimentar, bem como a coleta seletiva de lixo e a compostagem orgânica dos resíduos. O que o documento sugere, na verdade, é a ampliação de conceitos já em discussão, mas ainda não muito disseminados na sociedade. Entre esses estão a capacitação de agentes e professores de educação ambiental, fortalecimento das comissões interinstitucionais de defesa ambiental e a necessidade de mais investimentos e menor caga fiscal em cooperativas de reciclagem de lixo. Na busca do desenvolvimento sustentável com inclusão social, a conferência aprovou moções para conferência exclusiva sobre sustentabilidade da Amazônia, participação efetiva dos catadores no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), maior engajamento dos jovens e fim dos lixões de forma articulada com a criação de condições para sobrevivência dos catadores.

As propostas levadas à etapa nacional vieram das 26 etapas estaduais e da etapa distrital, além das conferências livres, que podiam ser convocadas por qualquer cidadão, e a realizada via internet. Foram realizadas 224 conferências livres em 26 Estados, que mobilizaram quase 25 mil pessoas. Tanto a modalidade livre quanto a virtual foram utilizadas pela primeira vez na Conferência Nacional do Meio Ambiente e ampliaram a participação popular. Nas 26 etapas estaduais e na distrital foram discutidas as propostas dos municípios, levantadas durante as 643 conferências municipais e 179 regionais (que envolvia mais de um município), mobilizando 3.652 cidades. A sociedade civil foi o segmento que mais participou das etapas estaduais, com o total de 3.421 representantes. Em segundo lugar ficou o poder público com 2.347 e em terceiro o setor empresarial com 868 representantes. Somando todas essas etapas, foram alcançadas cerca de 200 mil pessoas, mobilização recorde em uma Conferência de Meio Ambiente. A primeira Conferência Nacional do Meio Ambiente realizada em 2003 teve como tema o Fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente, mobilizando 65 mil pessoas. Em 2005, ocorreu a segunda com o tema Gestão Integrada das Políticas Ambientais e Uso dos Recursos Naturais. Nessa edição foram mobilizadas 85 mil pessoas. A terceira conferência aconteceu em 2008 e mobilizou 115 mil pessoas para falar de Mudanças Climáticas.

No encerramento da 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente

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/vamaislonge Serviço de Informação ao Cidadão - SIC: correios.com.br/acessoainformacao Fale Conosco: correios.com.br/falecomoscorreios. Ouvidoria: correios.com.br/ouvidoria correios.com.br/sustentabilidade

Os Correios têm um compromisso com o maior serviço de entrega do mundo: a natureza. Atitudes sustentáveis como a Coleta Seletiva Solidária, o EcoPostal, os veículos elétricos, e muitas outras, são atitudes dos Correios para preservar a natureza e permitir que ela continue fazendo seu trabalho. E, com o Sistema de Gestão Ambiental, o compromisso com o meio ambiente se tornou ainda maior e mais efetivo. revistaamazonia.com.br 22 REVISTA AMAZÔNIA


remetente

destinatテ。rio

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Projeto CNI Sustentabilidade por Rafael Monaco e Mariana Flores

Fotos: Andre Telles, Clarissa Bermudez

É

um ciclo de debates que ocorrerá uma vez por ano e discutirá o uso racional e a conservação dos recursos naturais. Neste ano, o tema da primeira edição do CNI Sustentabilidade foi Água: oportunidades e desafios para o desenvolvimento do Brasil. Com a iniciativa, a indústria renova o compromisso com o governo e com a sociedade de trabalhar em conjunto pelo crescimento econômico do Brasil, pela inclusão social produtiva e conservação dos recursos naturais. “O gerenciamento corporativo de água é essencial para mantermos a geração de energia, o desenvolvimento industrial, a produção de alimentos sem comprometer os ecossistemas. Essa é uma estratégia sustentável e competitiva”, afirmou o primeiro diretor secretário da CNI, Paulo Afonso Ferreira. “É preciso investir nessa estratégia.”

Medidor de Água Embora o setor já faça uso eficiente da água, a CNI defende a adoção de práticas de gerenciamento racional

ÁGUA, INDÚSTRIA E SUSTENTABILIDADE

Brasília, 2013

em todas as cadeias produtivas, como estratégia para redução dos custos de produção e de conservação do ambiente. Com objetivo de ajudar as empresas, a CNI traduziu para o português uma ferramenta gratuita de gerenciamento de água, desenvolvida nos Estados Unidos em 2011 e usada pelas 200 maiores multinacionais. Trata-se da Aqua Guage, ou “medidor de água” em traduVicente Andreu Guillo, presidente da Agência Nacional de Águas, durante o painel Políticas públicas de gerenciamento de recursos hídricos

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ção livre, que ajuda as empresas na avaliação, gestão de riscos hídricos e promoção de práticas sustentáveis. Por meio de preenchimento de planilhas Excel, a empresa consegue acompanhar o consumo no processo e os custos. Com isso, pode, por exemplo, identificar desperdícios e adotar medidas para o uso mais eficiente da água. Além disso, a ferramenta permite o monitoramento setorial do uso da água e serve como referência a investidores interessados em aplicar recursos em empresas que gerenciam riscos e oportunidades associados ao uso da água. O manual está disponível no http://www.portaldaindustria.com.br/cni/canal/cnisustentabilidade-home/. Na abertura do CNI Sustentabilidade, foi também lançado o catálogo dos Representantes da Indústria nos Colegiados de Recursos Hídricos. Na lista há os nomes de todos os representantes da indústria que participam de comitês responsáveis pela aprovação dos valores a serem cobrados pelo uso da água. A estratégia é alinhar e qualificar o posicionamento do setor industrial sobre o gerenciamento de recursos hídricos.

Avanços Alinhado ao Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, o Projeto CNI Sustentabilidade foi criado para estimular o setor empresarial a conquistar competitividade por meio da inovação e ações de sustentabilidade. O seminário tem apoio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Agência Nacional de Águas (ANA) e Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB). No Brasil, a cada segundo, são retirados 2,3 milhões de litros de água dos rios. Desse total, a indústria usa 403 mil litros (17%) na fabricação de produtos como bebidas, cosméticos e alimentos, em operações de lavagem ou na geração de energia. Mesmo assim, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), a indústria devolve para a natureza 79% do total captado. O presidente da ANA, Vicente Andreu Guillo, reconheceu a participação positiva da indústria. “O setor industrial é o setor usuário que mais avançou no uso racional da água. Sabemos que revistaamazonia.com.br


O primeiro diretor secretário da CNI, Paulo Afonso Ferreira, disse que é preciso investir no gerenciamento corporativo de água como estratégia no Brasil

precisamos avançar e criar mecanismos que deem segurança hídrica ao país”, disse Guillo. Além dele, participam do evento especialistas internacionais em recursos hídricos, como Anders Berntell, diretor executivo do 2030 Water Resources Group, Kathleen Dominique, economista ambiental do Programa de Água da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial de Água (WWC) e Nikhil Chandavaskar, da divisão de Desenvolvimento Sustentável do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU).

Sustentabilidade precisa de amplo espaço em nova Agenda de metas da ONU para 2015-2030 O governo brasileiro fará consultas públicas, em todo o país, para recolher sugestões que servirão de base para elaborar as propostas que o Brasil irá apresentar para a Ricardo Vescosi, Joppe Cramwinckel, Jon Freedman e Anders Berntell

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Agenda de metas 2015-2030 à Organização das Nações Unidas (ONU). A informação é do coordenador-geral para Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Mário Mottin.

Kathleen Dominique, economista ambiental do Programa de Água da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostrou projeção de aumento global de 55% do consumo de água em 2050. Mais de 40% da população viverá em regiões com elevado risco de escassez de água

Durante o debate sobre desafio dos objetivos de desenvolvimento sustentável e construção da agenda pós2015, Mário alertou que a próxima Agenda, válida para os países-membros da ONU, precisa ser aplicada não só em países em desenvolvimento, mas nos desenvolvidos também. “E dessa vez, a sustentabilidade precisa ser amplamente contemplada. Além disso, esse novo acordo deve ir além de propostas. Precisa, também identificar recursos para implementar essas medidas. Sem dinheiro, nada sai do papel”, acrescentou Mottin. Sugestões para compor a nova Agenda podem ser feitas pela internet, no site myworld2015.org , conforme lembrou Nikhil Chandavarkar, da divisão de desenvolvimenREVISTA AMAZÔNIA 25


Jon Freedman, líder global de Relações Governamentais para a General Eletrics, Energia & Agua Tecnologia, sugeriu que sejam dados incentivos fiscais como forma de atração das pequenas para a causa

to sustentável do departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU. Ele afirmou que as negociações devem durar um ano para o documento final ser apresentado na Assembleia Geral, em 2015. Cada país membro será responsável por apresentar sugestões. “No fim, queremos reunir entre 12 e 14 metas que respeitem os limites dos recursos naturais do planeta. Esse é nosso maior desafio”, ressaltou Chandavarkar.

Alerta Hídrico O aumento da demanda, o risco de escassez e a concorrência pela água têm reflexos nos custos das empresas, de acordo com Kathleen Dominique, economista ambiental da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Kathleen apresentou estudo recente da OCDE que mostra a projeção de aumento global de 55% do consumo de água em 2050. “Outro dados também nos deixa em alerta: mais de 40% da população viverá em regiões com elevado risco de escassez de água. Sem novas políticas, a disponibilidade de água será mais crítica”, disse. Mário Mottin, do MRE, elogiou a iniciativa da CNI em discutir o tema e apresentar propostas. “É alentador e estimulante ver o setor industrial na vanguarda, à frente dessa agenda de desenvolvimento sustentável. Afinal, é o setor privado que pode investir e implementar essas mudanças”.

Pequenas empresas precisam de incentivos para melhorar gestão da água As pequenas e médias empresas precisam de incentivos para que alcancem os padrões de gestão de água das grandes empresas. A opinião é de especialistas que debateram o tema gerenciamento corporativo de recursos hídricos. Entre os benefícios sugeridos estão incentivos fiscais e a possibilidade de que organismos de crédito deem descontos nos juros para as empresas que fazem boa gestão da água. “Há um elo faltando. A grande empresa entende razoavelmente bem os desafios e o que pode fazer. Mas temos que alcançar os negócios de pequena escala para trazê-los para nossa causa”, afirmou o diretor do Projeto Água 26 REVISTA AMAZÔNIA

do Water Business Council Sustainable Development, Joppe Cramwinckel. O líder global de Relações Governamentais para a General Eletrics, Energia & Agua Tecnologia, Jon Freedman, sugeriu que sejam dados incentivos fiscais como forma de atração das pequenas para a causa. “O governo pode dar algum incentivo para as pequenas e médias, como licenças mais rápidas para a construção de uma nova fábrica industrial ou algum tipo de incentivo fiscal para quem reutilizar a água”. Outra possibilidade é que as instituições de crédito considerem as questões ambientais para conceder descontos nas taxas de juros, disse o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi de Aragão, presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Mineração. Segundo ele, a prática já ocorre no Japão. “Quando tomamos empréstimo no Japão, o fato de termos sistema de reaproveitamento da água de forma mais eficiente se reverte em acesso a crédito mais barato. Os mecanismos de crédito no Brasil também devem ter as questões ambientais como premissas”.

Indústria é a que mais recicla Responsável por 17% de toda a água retirada dos rios no país, a indústria brasileira reutiliza 79% do que é captado. É o setor produtivo que mais recicla a água, como destacou o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guilo. “A indústria é o setor que mais tem avançado em medidas efetivas para o uso racional da água. Seja reduzindo a quantidade de água utilizada no processo produtivo, seja mediante tratamento adequado para que seja utilizada diversas vezes”. Para o biólogo Anders Berntell, diretor-executivo do Grupo de Recursos Hídricos 2030 do International Finance Corporation, os governos têm que estar na liderança para incentivarem o setor produtivo e a população a fazerem boa gestão dos recursos hídricos. Agenda de recursos hídricos deve ser estratégica e ter relevância política O presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, defende que os recursos hídricos façam parte de uma agenda que tenha relevância política e, principalmente, conte com mais pessoas com poder de

decisão. A afirmação foi feita durante o painel Políticas públicas de gerenciamento de recursos hídricos: mercados de água são uma opção. “Atualmente, temos 200 comitês de bacia estaduais e dez federais. Isso é um avanço. Mas não há nesses grupos ministros ou governadores. “Nós precisamos fazer com que agenda tenha relevância política. Por enquanto, não é assim”, pontuou. Guillo, por outro lado, ressaltou o papel da indústria nos comitês. “Dentro dos comitês de bacia, temos o bom exemplo da indústria que foi o setor que mais avançou no uso sustentável da água”. Representante do setor industrial no debate, o diretor de sustentabilidade da Odebrecht Infraestrutura, Luiz Gabriel Azevedo, concordou. Mas, segundo ele, a falta de vontade política é o que faz as leis não serem implantadas. “O marco legal existe, mas precisa ser aplicado com olhos voltados pelo bem de todos, pela equidade social. O Brasil ainda precisa achar soluções para a burocracia que emperra tudo, inclusive o uso da água para fins de produção”, avaliou Azevedo.

Saneamento As oportunidades da universalização do saneamento também foram discutidas no encontro. Os especialistas defendem que seja criado um marco regulatório nacional para o setor e que sejam concedidas desonerações fiscais para que aumente o investimento na área. “Pagamos em impostos R$ 2 bilhões por ano que poderiam ser usados como investimentos”, afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base e governador do Conselho Mundial da Água, Newton de Lima Azevedo Junior. O Chile é considerado um modelo de sucesso na questão do saneamento – o país possui 100% de cobertura de saneamento. Segundo a superintendente de Serviços Sanitários do país, Magaly Espinosa Sarria, os bons resultados se devem à criação de um marco regulatório, à redução das tarifas e à existência de subsídios para que as empresas invistam em saneamento. Além da incorporação de capital privado, o que também é muito importante no Brasil, lembra Newton. “Somente recursos do Estado não são suficientes para o tamanho do problema. A complementaridade entre setor privado e público é a tendência natural do setor”.

Contribuição da Indústria Durante o CNI Sustentabilidade, foi lançado o catálogo dos Representantes da Indústria nos Colegiados de Recursos Hídricos. Na lista, há os nomes de todos os representantes da indústria que participam de comitês responsáveis pela aprovação dos valores a serem cobrados pelo uso da água. A estratégia é alinhar e qualificar o posicionamento do setor industrial sobre o gerenciamento de recursos hídricos. revistaamazonia.com.br


BNDES destina R$ 16,8 mi do Fundo Amazônia para cadastro ambiental do Acre

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presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o governador do Acre, Tião Viana, assinaram recentemente contrato que destina ao Estado R$ 16,8 milhões em recursos do Fundo Amazônia. O projeto prevê a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) em todos os 22 municípios do Acre, com prazo de execução de dois anos. A implantação do CAR — registro público eletrônico das informações ambientais do imóvel rural — atende à exigência do novo Código Florestal e às prioridades do Fundo Amazônia para o biênio 2013-2014. As duas iniciativas do projeto (CAR e PRA) estão no centro da política ambiental brasileira e são diretamente voltadas para a gestão ambiental e para o combate ao desmatamento. “O CAR serve como um mecanismo de gestão e pode ser firmar como instrumento para o maior programa de recuperação ambiental de florestas e rios”, disse Izabella Teixeira. O Cadastro contribui para o processo de regularização ambiental das propriedades rurais e para a recuperação de áreas de preservação permanente e de reserva legal do Estado. Para Coutinho, trata-se de “uma ferramenta absolutamente essencial para o processo de desenvolvimento com sustentabilidade”. Já o PRA visa sanar os passivos ambientais de posses e propriedades rurais, uma vez que o proprietário com passivo ambiental deverá elaborar um Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas, onde constarão as obrigações, a localização e o prazo para o cumprimento. O foco do projeto do Fundo Amazônia no Acre será constituído por proprietários de imóveis da agricultura familiar em uma área de cerca de 9 milhões de hectares. O governo do Estado investirá em capacitação, aprimoramento da infraestrutura e adequação da

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O contrato, assinado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, pelo presidente BNDES, Luciano Coutinho, e pelo governador do Acre, Tião Viana

base legal. Os médios e grandes proprietários rurais também serão indiretamente beneficiados, sobretudo pela melhoria de infraestrutura e da capacitação de servidores para fins de implementação do CAR. O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), está desenvolvendo um sistema informatizado para apoio à implementação do CAR que estará disponível para os Estados gratuitamente.

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Programa Petrobras Socioambiental Expo Socioambiental reuniu cerca de 50 projetos patrocinados no Rio de Janeiro Fotos: Agência Petrobras

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presidente Maria das Graças Silva Foster lançou recentemente o novo Programa Petrobras Socioambiental, que investirá R$ 1,5 bilhão, entre 2014 e 2018, em projetos sociais, ambientais e socioesportivos. Durante a cerimônia, Graça ressaltou que “os investimentos nessas áreas precisam ser permanentes, precisam de uma empresa que continue investindo.” “Cerca de 98% do que fazemos é investimento no Brasil, 65% deste investimento é produzido no país. Seja em inteligência, seja em equipamentos. Acredito que a Petrobras se dedica a fazer do Brasil o país que a gente sonha,” destaca nossa presidente. De acordo com o diretor Corporativo e de Serviços, José Eduardo Dutra, a empresa que há 60 anos enfrenta desafios, hoje é reconhecida por sua capacidade tecnológica e pelo compromisso com a sustentabilidade: “A Responsabilidade Social é um dos pilares de negócios da Petrobras.” O gerente executivo de Responsabilidade Social, Armando Tripodi, destacou os resultados obtidos no ciclo anterior dos Programas Petrobras Desenvolvimento & Cidadania e Petrobras Ambiental.

Presidente da Petrobras, Graça Foster, discursa durante a cerimônia de lançamento de programa de investimentos socioambiental e do prêmio Petrobras de esporte educacional

“Os projetos apoiados entre 2007 e 2012 alcançaram direta e indiretamente 40 milhões de pessoas, cerca de 20% da população brasileira, e geraram mais de 20 mil postos de trabalho. Na parte ambiental, destaco o trabalho com 700 espécies da fauna, e a reversão do status de extinção de quatro espécies, como a baleia Jubarte e as espécies de tartarugas Oliva, Pente e Cabeçuda. Além de preservar e recuperar áreas em todos os biomas brasilei-

ros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampa, além de ambientes costeiros e marinhos,” explicou o executivo. Com conceito que reflete uma tendência mundial na área de Responsabilidade Social Corporativa, nosso novo programa Socioambiental foi elaborado com base em diretrizes globais referenciadas pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e os Princípios da Norma Internacional ISO 26000. Ao longo de seis meses de trabalho, foram realizadas mais de 300 consultas até a criação do programa. As iniciativas deverão abranger sete linhas de atuação: produção inclusiva e sustentável, biodiversidade e sociodiversidade, direitos da criança e do adolescente, florestas e clima, educação, água, e esporte. Além destes temas, as iniciativas devem contemplar a equidade de gênero e de raça, e a inclusão de pessoas com deficiência. Mais informações sobre o novo programa e suas diretrizes podem ser conferidas no site www.petrobras. com.br/socioambiental.

Prêmio Petrobras de Esporte Educacional Também foi lançado durante a cerimônia, o Prêmio Petrobras de Esporte Educacional. A premiação destinará R$ 500 mil para tecnologias sociais de esporte educacional, desenvolvidas por professores de instituições de ensino e organizações sociais de todo o país. O esporte educacional é voltado ao desenvolvimento de crianças e adolescentes por meio do esporte, alinhados aos princípios de inclusão, educação integral, cidadania e diversidade. Serão premiadas três categorias: terceiro setor, universidade e escola pública. O primeiro lugar de cada categoria

Esq. para a dir.: residente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto; presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval, Ariovaldo Rocha; presidente da Transpetro, Sergio Machado; secretário de Estado do meio ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc; presidente da Petrobras, Graça Foster; diretor da área Corporativa e de Serviços, José Eduardo Dutra e o gerente executivo de Responsabilidade Social, Armando Tripodi 28 REVISTA AMAZÔNIA

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selecionada receberá R$ 15 mil, o segundo lugar R$ 10 mil, e o terceiro lugar R$ 5 mil. Também serão premiadas com equipamentos e materiais esportivos, no valor de R$ 50 mil, as organizações indicadas pelos vencedores. As metodologias premiadas serão publicadas para disseminação gratuita em todo o país. Durante a cerimônia, o gerente executivo da nossa área de Responsabilidade Social, Armando Tripodi, destacou a importância de se investir no esporte. “Investimos no esporte que inspira, que inclui, que agrega e que educa”, ressaltou. As inscrições são gratuitas e individuais e estão abertas até 5 de fevereiro de 2014 no site www.petrobras.com.

br/premioesporte. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail premiopetrobras@cieds.org.br . Os resultados serão divulgados em março de 2014.

Expo Socioambiental

Diretor da área Corporativa e de Serviços, José Eduardo Dutra fala durante a cerimônia de lançamento de programa de investimentos socioambiental

A Expo Socioambiental, na cidade do Rio de Janeiro, teve participação de 50 projetos apoiados pela Petrobras. Com o tema Desenvolvimento Sustentável e Promoção de Direitos, o evento teve como objetivo promover a troca de experiências entre instituições e a construção de redes de aprendizado capazes de potencializar a produção de conhecimento e o desenvolvimento de práticas inovadoras de transformação socioambiental. A Expo Socioambiental contou com palestras e exposição de produtos e metodologias desenvolvidos por projetos

Gerente executivo de Responsabilidade Social, Armando Tripodi, fala durante a cerimônia de lançamento de programa de investimentos socioambiental

sociais e ambientais apoiados, em todas as regiões do Brasil, além de rodadas de negócios e oficinas com foco nas linhas de atuação do novo programa de investimentos socioambientais. Presidente da Petrobras, Graça Foster, visita estandes

Sobre o Programa Acreditamos que transformações estruturais só acontecem quando tratamos de forma integrada a dimensão social com a questão ambiental, entendendo que a realidade é tematicamente indivisível e naturalmente interligada. Por isso, lançamos agora o Programa Petrobras Socioambiental, que confirma o nosso compromisso em aliar crescimento à promoção do desenvolvimento sustentável. O Programa atuará em temas socioambientais relevantes para a Petrobras e para o país, articulando iniciativas que contribuem para criar soluções e oferecer alternativas com potencial transformador e em sinergia com políticas públicas. Considerando o mesmo horizonte de tempo do Plano de Negócios e de Gestão da Companhia, o Programa Petrobras Socioambiental 2014-2018 trabalhará esses temas de maneira dinâmica e sistêmica, com investimentos em práticas voltadas para um ambiente ecologicamente equilibrado e socialmente equitativo, gerando resultados para a sociedade e para a Petrobras. Alinhado com nossas normas e políticas internas, o Programa Petrobras Socioambiental reflete uma tendência mundial na área e foi criado com base em diretrizes e princípios globais de Responsabilidade Social e que apresentam a transversalidade em relação ao desenvolvimento humano e sustentável tais como o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e a norma ISO 26000.

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I Seminário Internacional de Economia de Baixo Carbono: Inovação e Governança Pesquisadores sugerem ações para reduzir emissões de gás carbono Fotos: Dulcelene Jatobá

C

ortar as emissões de gás carbono geradas pelo desmatamento e usar os pacotes de tecnologia na agropecuária foram algumas das sugestões apresentadas durante o I Seminário Internacional de Economia de Baixo Carbono: Inovação e Governança, evento realizado recentemente na FEA-RP. No acordo de Copenhague, o Brasil se comprometeu a reduzir em 39% as emissões de carbono até 2020. De acordo com o professor da FGV-SP, Angelo Costa Gurgel, essa redução viria principalmente da mudança no uso da terra e do aumento da produtividade agropecuária por meio da tecnologia. Outros pesquisadores que se apresentaram no Seminário também ressaltaram os pontos abordados por Gurgel e mostraram que a agropecuária no futuro será depenOs biocombustíveis também receberam atenção especial dos pesquisadores Na abertura do I Seminário Internacional de Economia de Baixo Carbono

dente da tecnologia, o que traz à tona a necessidade de investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).

Automóveis Ainda durante o Seminário, outro tema de destaque foi o setor automobilístico. O professor do Departamento de Economia, Claudio Ribeiro de Lucinda, falou sobre 30 REVISTA AMAZÔNIA

as perspectivas tecnológicas e posicionamento do Brasil para o setor. Ele comentou sobre as inovações, com a redução do peso dos veículos e os sistemas de propulsão (flex, fuel, híbridos etc.), e sobre os impactos ambientais setoriais, abordando não só a questão da poluição do ar, mas também o impacto que o veículo gera ao ambiente após o fim de sua vida útil. Os biocombustíveis também receberam atenção esperevistaamazonia.com.br


Rudinei Toneto Junior, professor Fearp

Angelo Costa Gurgel, da FGV

Geraldo Bueno Martha Junior, coordenador geral do Agropensa

Lara Liboni, professora Fearp, na sua exposição, no Anfiteatro Prof. Dr. Ivo Torres

Lucas de Azevedo Assunção, especialista em comércio internacional e meio ambiente

Alejandro Guarin, German Development Institute

Claudio Lucinda, professor da Fearp

cial dos pesquisadores, que falaram sobre a evolução recente, comércio internacional e as perspectivas do setor, expansão e recursos naturais. Outros temas abordados foram: bioenergia e bioeletricidade, mercado de carbono, governança global e cooperação internacional. Organizado pelo Núcleo de Estudos de Economia de Baixo Carbono (EBC), coordenado pelo professor do Departamento de Economia, Rudinei Toneto Junior, o evento contou com a presença de pesquisadores de diversas universidades brasileiras e estrangeiras, além de representantes de empresas privadas, órgãos governamentais e organismos internacionais.

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Brasil é o mais atrativo para investimentos em baixo carbono na AL Com a promoção do uso de energia renovável e o fortalecimento de políticas específicas pelos países emergentes da América Latina e do Caribe, financiamento se diversifica na região

O

s 26 países da América Latina e do Caribe são responsáveis por uma parcela crescente do investimento global em energia limpa, conforme os governos da região reforçam o apoio a políticas e as cadeias de abastecimento locais se expandem, de acordo com o Climatescope 2013, recém-lançado relatório do Fundo Multilateral de Investimentos (FUMIN), membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Com pesquisa da BNEF e patrocínio do FUMIN, o Climatescope é um estudo anual, um ranking e uma ferramenta online interativa com foco no mercado de energia limpa. Lançado em 2012, o relatório classifica os países da América Latina e do Caribe conforme sua capacidade de atrair investimentos em energia de baixo carbono. Neste ano, os países foram classificados segundo 39 indicadores categorizados em quatro parâmetros gerais: (i) “Cenário Favorável”, (II) “Investimento em Energia Limpa e Clima”, (III) “Mercado de Baixo Carbono e Cadeias de Valor da Energia Limpa” e (IV) “Atividades de Gerenciamento da Emissão de Gases de Efeito Estufa”. Ao todo, a região da América Latina e do Caribe capturou 6% do total de US$ 268.7 bilhões investidos mundial-

mente em energia limpa em 2012 – em 2011, a parcela foi de 5,7%. A energia limpa abrange a energia eólica, a energia solar, a biomassa, os biocombustíveis e as pequenas centrais hidrelétricas, geotérmicas e de geração de outras energias renováveis. O investimento na região caiu 3,8% entre 2011 e 2012, queda muito menor que o recuo global de 11% registrado no mesmo período. “As políticas específicas para o setor estão se expandindo e se fortalecendo na América Latina e no Caribe, e as informações fornecidas pelo Climatescope estão ajudando a reduzir as lacunas de informação e a catalisar novos investimentos em energia limpa”, disse Nancy Lee, gerente geral do FUMIN. “Os custos cada vez menores para o uso de tecnologias limpas, como as energias solar e eólica, em conjunto com um clima melhor para investimentos

mostram que a geração de energia limpa na região agora é verdadeiramente acessível. O FUMIN continuará a apoiar o progresso da América Latina e do Caribe”. Responsável pela pesquisa do Climatescope, a Bloomberg New Energy Finance acompanhou políticas de energia limpa em toda a América Latina e o Caribe. No final de 2012, a BNEF identificou 110 políticas, contra 80 que existiam ao final de 2011. O Climatescope 2013 também registrou um aumento dramático na diversificação dos destinos de investimento na região. “O crescimento do investimento em energia limpa fora do Brasil em 2012 foi significativo”, disse Michael Liebreich, diretor executivo da Bloomberg New Energy Finance. “O financiamento total fora do maior país da América Latina aumentou 45% em 2012, contra alta de 17% em 2011, com destaque para as altas taxas de crescimento do Chile, da República Dominicana, do México e do Uruguai, entre outros”. Ainda assim, o Brasil teve a maior pontuação geral do Climatescope, com a força de sua classificação nos parâmetros de“Mercado de Baixo Carbono e Cadeias de Valor da Energia Limpa” e “Atividades de Gerenciamento da Emissão de Gases de Efeito Estufa”.Este é o segundo ano

O Brasil ficou em primeiro lugar no ranking de atratividade Climatescope 2013, elaborado pelo Fundo Multilateral de Investimentos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em cooperação com a Bloomberg New Energy Finance. Este estudo classifica anualmente os países da América Latina e Caribe segundo parâmetros que revelam maior ou menos atratividade aos investimentos em geração de energia a partir de fontes renováveis (hídrica, biomassa, eólica, solar e geotermia). 32 REVISTA AMAZÔNIA

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SCORE SUMMAR

IES

BAHAMAS 0.80

COPE SCORES

OVERALL CLIMATES Scores by Country

IC

DOMINICAN REPUBL 1.58

JAMAICA 0.94

MEXICO 2.19

TRINIDAD AND TOBAGO 0.54

BELIZE 1.00 HONDURAS 1.24 GUATEMALA 1.34

BARBADOS 0.45

HAITI 0.71

NICARAGUA 2.26

EL SALVADOR 1.08

VENEZUELA 0.81

ibb Car

oo nz ea

m

GUYANA 0.67 SURINAME 0.33

COSTA RICA BIA 1.36 PANAMA COLOM 1.54 1.45 ECUADOR 1.27

PERU 2.25

BRAZIL 2.47 BOLIVIA 0.86 PARAGUAY 0.90

CHILE 2.41 ARGENTINA 1.66 URUGUAY 1.67

for overall score Colors show range score country ’s 2013 overall Numbers refer to cope 2013 nt Fund: Climates Multilateral Investme rg New Energy Finance Report by Bloombe

0.0 - 1.00

1.01 - 2.00

2.01 - 3.00

3.01 - 4.00

4.01 - 5.00

33

em que o Brasil fica no primeiro lugar do ranking geral do Climatescope. O Chile subiu três posições, conquistando a segunda posição do ranking geral, depois que seus investimentos em energia renovável mais do que quadruplicaram, atingindo US$ 2,1 bilhões, entre 2011 e 2012. A Nicarágua, que tem o segundo menor PIB per capita da região, terminou na terceira colocação do ranking geral, com forte destaque nos parâmetros “Cenário Favorável” e “Investimento em Energia Limpa e Clima”. A pontuação máxima do Climatescope para uma nação caribenha foi conquistada pela República Dominicana, que viu seus investimentos em energia limpa duplicarem no período, chegando a US$ 645 milhões. Isso ajudou o país a avançar até sete posições no ranking de 2012 – mais do que qualquer outro país do Climatescope. Outras conclusões importantes do Climatescope 2013: • As propostas para contratos de energia limpa estão em ascensão e prenunciam um maior uso no futuro; • Oito países têm leis de medição bidirecional de energia, que permitem a autogeradores que devolvam a energia excedente para a rede; • Os preços da energia no varejo permanecem elevados em toda a região, de maneira geral, oferecendo oportunidades significativas para a implantação das energias renováveis; • A cadeia de valor da energia limpa na região está em expansão, com 35 dentre os 40 segmentos da cadeia em seis setores de energias renováveis agora ocupados; • Existem 927 projetos de compensação de carbono na região, registrados de acordo com diferentes padrões. Mais da metade dos projetos diz respeito à geração de energia. • O Climatescopese tornará global. Com o apoio do Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Reino Unido e da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID) dos Estados Unidos, o Climatescope vai ampliar a cobertura do estudo para 78 países e subdivisões nacionais na América Latina, no Caribe, na África e na Ásia. O Climatescope Global tem data de lançamento prevista para o segundo semestre de 2014. revistaamazonia.com.br

O Ranking do Climatescope2013

De acordo com a pesquisa, a capacidade total das renováveis na América Latina cresceu de 11,3 GW em 2006 para 26,6 GW em 2012, representando uma taxa anual de crescimento de 296%. Apenas em 2012, foram ligados à rede 3,3 GW de nova capacidade renovável. No quesito atividades de gestão de gases do efeito estufa, a América Latina apresenta atualmente 927 projetos de compensação, registrados sob quatro padrões diferentes. Destes, 790 são do MDL, e mais da metade são projetos de compensação no setor de energia. Os quadros políticos para o desenvolvimento em baixo carbono também estão aumentando, e o relatório identificou 110 políticas nesse sentido, contra 80 no ano passado. Dezenove dos 26 países compreendidos pelo documento apresentam pelo menos um tipo de política em vigor. “Os quadros políticos estão se expandindo e se fortalecendo na América Latina e no Caribe, e as informações fornecidas pelo Climatescope estão ajudando a reduzir as falhas de informação e a catalisar novos investimentos em energia limpa”, observou Nancy Lee, gerente geral do MIF. “Os custos, que caem rapidamente, das tecnologias limpas tais como a energia solar e eólica, combinados com uma melhora no investimento climático, significam que a geração de energia limpa na região é agora realmente acessível. O MIF continuará apoiando o progresso da América Latina e do Caribe”, concluiu ela. REVISTA AMAZÔNIA 33


Concentração de gases estufa (CO2) na atmosfera atinge novo recorde em 2012

Segundo a OMM – Organização Mundial de Metereologia, maior presença de gases estufa na atmosfera interfere no equilíbrio do planeta – é um dos vilões do aquecimento global Fotos: M.J. Hayes, OMM

A

concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera atingiu novo recorde em 2012. Segundo o relatório, o dióxido de carbono, CO2, é o maior responsável por

esse aumento. Concentração deste gás com efeito de estufa pode chegar a 400 partes por milhão em 2015 ou 2016. O aumento entre 2011 e 2012 foi maior do que a subida média dos últimos dez anos. O limite de 400 partes por milhão já tinha sido ultrapassado pontualmente em algumas estações de medição de CO2 no Ártico em 2012 e em outras partes do mundo neste ano, incluindo em Mauna Loa, no Havai — onde o dióxido de carbono é monitorizado desde a década de 1950. Os cálculos de agora da OMM levam em conta várias estações, de 50 países diferentes, de modo a se chegar a uma média anual para toda a atmosfera. É esta média que deverá ultrapassar aquela marca em 2015 ou 2016.

O dióxido de carbono (CO2 ) O dióxido de carbono é o único gás de efeito estufa mais importante emitido pelas atividades humanas , como a queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. De acordo com o Boletim de Gases de Efeito Estufa da OMM , em escala global , a quantidade de CO2 na atmosfera atingiu 393,1 partes por milhão em 2012, ou 141 % do nível pré- industrial de 278 partes por milhão. A quantidade de CO2 na atmosfera aumentaram 2,2 partes por milhão, 2011-2012 , que está acima da média 2,02 partes por milhão por ano para os últimos 10 anos , 34 REVISTA AMAZÔNIA

mostrando uma tendência de aceleração . As concentrações de CO2 estão sujeitos a flutuações sazonais e regionais . No ritmo atual de aumento, a concentração de CO2 média anual global está definido para atravessar as 400 partes por milhão limite em 2015 ou 2016. CO2 permanece na atmosfera por centenas, senão milhares de anos e por isso vai determinar o aquecimento superficial média global até o final do século 21 e além. A maioria dos aspectos das mudanças climáticas persistirá durante séculos mesmo que as emissões de CO2 são interrompidos imediatamente.

O metano (CH4) O metano é o segundo mais importante gás de efeito estufa de vida longa. Cerca de 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais (por exemplo, zonas húmidas e cupins ) , e cerca de 60% vem de atividades humanas como a pecuária , agricultura de arroz , a exploração de combustíveis fósseis , aterros e queima de biomassa. Metano atmosférico atingiu um novo recorde de cerca de 1.819 partes por bilhão ( ppb) em 2012, ou 260 % do nível pré- industrial, devido ao aumento das emissões de fontes antropogênicas. Desde 2007, o metano atmosférico tem aumentado novamente após um período temporário de nivelamento .

O óxido nitroso (N2O) O óxido nitroso é emitido para a atmosfera a partir de fontes tanto naturais (cerca de 60 %) e antrópicos ( aproximadamente 40%) , incluindo oceanos , solo , queima de biomassa , uso de fertilizantes e vários processos industriais. Sua concentração atmosférica em 2012 foi de cerca de 325,1 partes por bilhão , que é de 0,9 partes por bilhão acima do ano anterior e 120% do nível préindustrial. O seu impacto sobre o clima, ao longo de um período de 100 anos, é de 298 vezes maior do que as emissões de dióxido de carbono iguais. Também desempenha um papel importante na destruição da camada estratosférica de ozono que nos protege contra os raios ultravioletas do sol.

Segundo o IPCC O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas revistaamazonia.com.br


Michel Jarraud, secretáriogeral da, OMM, mostra o boletim anual de gases de efeito estufa na atmosfera na sede européia das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça

aponta que o aumento das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingiram níveis sem precedentes, pelo menos nos últimos 800 mil anos”, disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, em Genebra. Além do CO2, a presença de metano e óxido nitroso – também de efeito estufa – na atmosfera cresceram consideravelmente. “Os gases estufa provenientes das atividades humanas têm interferido no equilíbrio natural da nossa atmosfera e estão diretamente ligados às mudanças climáticas”, afirmou Jarraud. A concentração desses gases influenciou ainda o efeito de aquecimento que eles têm sobre o clima – o aumento foi de 32% entre 1990 e 2012.

Futuro comprometido Durante a divulgação dos dados, o órgão ressaltou a Há cada vez mais CO2 ao redor da Terra

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Oksana Tarasova, diretora científica da OMM, diz que as concentrações de poluição por dióxido de carbono na atmosfera acelerou e atingiu um recorde em 2012

possibilidade de as mudanças climáticas influenciarem a forma de vida na terra no curto prazo de tempo. “ Se nada for feito para travar as emissões de gases com efeito de estufa, “a temperatura global pode ser 4,6 graus Celsius mais elevada no final do século, em comparação com níveis pré-industriais, ou ainda mais em algumas partes do mundo”, alerta Michel Jarraud, secretário-geral da OMM, num comunicado. “Isto teria consequências devastadoras”, ressaltou Jarraud. A divulgação ocorreu às véspera da Conferência de Mudanças Climáticas, que acontece em Varsóvia, na Polônia, entre os dias 11 e 22 de novembro. O assunto será uma das pautas do encontro e deve ocupar boa parte das discussões. “Os números mostram a necessidade da redução na emissão de gases de efeito estufa. Precisamos agir agora, caso contrário, vamos comprometer o futuro dos nossos filhos, netos e muitas outras gerações”, disse Jarraud. “O tempo não está do nosso lado”, acrescentou. REVISTA AMAZÔNIA 35


Primeiro mapa global de alta resolução da floresta com suas perdas e ganhos Mapa mostra evolução de desmatamento no mundo Fotos: Hansen, Potapov, Moore, Hancher et al, 2013

Matthew Hansen, mostrando o mapeamento global das Florestas

N

a Universidade de Maryland, uma equipe multi-organizacional criou o primeiro mapa global de alta resolução da floresta com suas perdas e ganhos. Este recurso livre melhora a capacidade de compreender as mudanças florestais por humanos, naturalmente, induzido e o local para implicações globais dessas mudanças sobre os sistemas naturais e sociais ambientais, econômicos e de outro. O estudo, com uma equipe de 15 universitários, o Google e pesquisadores relatam uma perda mundial de 2,3 milhões de quilômetros quadrados ( 888.000 milhas quadradas) da floresta entre 2000 e 2012 e um ganho de 800.000 quilômetros quadrados ( 309.000 milhas quadradas) de nova floresta . O estudo, documenta o novo banco de dados , incluindo uma série de conclusões sobre a mudança floresta Desmatamento na Amazônia reduziu em quase 84%, até 2012, mas voltou a subir

36 REVISTA AMAZÔNIA

global. Por exemplo , os trópicos eram o único domínio clima para exibir uma tendência, com a perda da floresta com aumento de 2.101 quilômetros quadrados ( 811 milhas quadradas) por ano. A redução bem documentada do Brasil no desmatamento na última década foi mais

que compensado pelo aumento da perda de floresta na Indonésia, Malásia , Paraguai, Bolívia , Zâmbia, Angola e outros países. “Este é o primeiro mapa da mudança floresta que é globalmente consistente e localmente relevantes “, diz Matthew Hansen, professor de Ciências Geográficas da Universidade de Maryland, líder da equipe e autor correspondente no papel da ciência. “As perdas ou ganhos em forma de cobertura florestal, com muitos aspectos importantes de um ecossistema, incluindo, regulação do clima, armazenamento de carbono, biodiversidade e água, mas até agora não houve uma maneira de obter dados detalhados e precisos, via satélite e disponíveis em mudanças na cobertura florestal de escala local como global “, diz Hansen. Para construir este primeiro de seu tipo de recursos de mapeamento florestal , Hansen, Professor Petr Potapov e outros cinco pesquisadores das ciências geográficas, contou com a experiência de décadas no uso de dados de satélites para medir as mudanças na floresta e outros tipos de terreno a cobrir. Através o Landsat 7, dados de 1999 a 2012 foram obtidos mais de 650 mil imagens, a partir de um arquivo disponível gratuitamente no centro dos Estados Unidos do Serviço Geológico dos Recursos Observação da Terra e Ciência ( EROS ). Essas 650 mil imagens do satélite Landsat foram processadas para obter a caracterização final da extensão florestal e mudança. revistaamazonia.com.br


Pesquisadores criaram o primeiro mapa global de mudanças florestais

A análise foi possível graças a uma colaboração com colegas do Google Earth Engine , que implementou os modelos desenvolvidos em UMD para a caracterização de conjuntos de dados Landsat. Google Earth Engine é uma tecnologia massivamente paralelo para processamento de alto desempenho de dados geoespaciais e casas uma cópia de todo o catálogo de imagens Landsat. O que teria levado um único computador, 15 anos para executar o que foi concluído em questão de dias, utilizando computação Motor Google Earth. Hansen e seus co-autores dizem que sua ferramenta de mapeamento melhora no conhecimento existente da cobertura florestal global ao fornecer excelente resolução ( 30 metros ) mapas que precisa e consistente quantificar a perda ou ganho anual de floresta ao longo de mais de uma década. Este banco de dados de mapeamento, que será atualizado anualmente, quantifica todas as perturbações stand- reposição florestal , seja devido à exploração madeireira , fogo, doença ou tempestades. E dizem que ele é baseado em definições repetíveis e medições enquanto os esforços anteriores de avaliações nacionais e globais de cobertura florestal têm sido largamente dependente estimativas auto- relatados de países muito diferentes com base em definições e medidas de perda de floresta e de ganho. Por exemplo, florestas subtropicais foram encontrados para ter as maiores taxas de mudança, em grande parte devido ao uso intensivo de terras florestais. O estudo confirma que os esforços bem documentados pelo Brasil - que tem sido responsável por uma maioria do desmatamento tropical do mundo - para reduzir seu desmatamento floresta tropical tiveram um efeito significativo. O Brasil apresentou o maior declínio anual de perda de florestas de todo o mundo, reduzindo a perda de florestas anual pela metade, de uma alta de cerca de 40.000 quilômetros quadrados ( 15.444 milhas quadradas) em 2003-2004 e 20.000 quilômetros quadrados ( 7.722 milhas quadradas) em 2010-2011 . Indonésia teve o maior aumento na perda de floresta, mais do que revistaamazonia.com.br

duplicando a sua perda anual durante o período de estudo para cerca de 20.000 quilômetros quadrados ( 7.722 milhas quadradas) em 2011-2012 . Hansen e seus colegas dizem que os conjuntos de dados globais da mudança da floresta que eles criaram contêm informações que podem fornecer uma “ base sólida e consistente transparente para quantificar questões ambientais críticas “, incluindo as causas das alterações mapeadas no montante de floresta , o estado de florestas do mundo remanescentes intactos naturais , ameaças à biodiversidade de mudanças na cobertura florestal , o carbono armazenado ou emitida como resultado de ganhos ou perdas de cobertura florestal em ambas as florestas gerenciados e não gerenciados , e os efeitos dos esforços para conter ou reduzir a perda de floresta. Por exemplo, Hansen afirma que, embora o estudo mostra os esforços do governo do Brasil para retardar a perda de floresta têm sido eficazes , mas também mostra que a Indonésia moratória do governo de 2011, sobre novas licenças de registro foi realmente seguido por aumentos significativos de desmatamento em 2011 e 2012 . “O Brasil utilizou dados Landsat para documentar suas tendências de desmatamento, então usou essa informação em sua formulação e implementação de políticas. Eles também compartilharam esses dados , permitindo que outros para avaliar e confirmar o seu sucesso “, diz Hansen. “ Esses dados não têm sido genericamente dis-

Mais de 650 mil imagens do satélite Landsat foram processadas para obter a caracterização final da extensão florestal e suas mudanças

ponível para outras partes do mundo . Agora, com nosso mapeamento global de mudanças florestais cada nação tem acesso a este tipo de informação, para o seu próprio país e do resto do mundo”. Veja abaixo, on-line, os Mapas na nova ferramenta, feitos pela equipe multi-organizacional da Universidade de Maryland. O Mapa feito a partir de dados gerados pela nova ferramenta. Clique e veja on-line em : http://earthenginepartners.appspot.com/science-2013-global-forest Desmatamento no Paraguai, 2000-2012. Clique e veja on-line em: http://cdn.physorg.com/newman/gfx/ news/hires/2013/e546udthfjhg.gif Perda de floresta na província de Riau de Sumatra, na Indonésia, 2000-2012. Clique e veja on-line em: http://cdn.physorg.com/newman/gfx/news/ hires/2013/76fuygfd.gif Incêndios florestais perto de Yakutsk, na Rússia, 2000-2012. Clique e veja on-line em: http://cdn.physorg.com/ newman/gfx/news/hires/2013/e546udthfjhg.gif REVISTA AMAZÔNIA 37


6º Congresso Nacional de Bioenergia

R

ecentemente, Araçatuba foi sede do 6º Congresso Nacional da Bioenergia, realizado no campus do UniSalesiano, numa parceria entre a UDOP e a STAB. O evento foi um sucesso, excedendo as inscrições das edições anteriores, com cerca de 1,2 mil inscritos. Para a diretoria da UDOP, o congresso mostrou a importância de unir forças para o setor. Mais de 100 temas diferentes abordados, divididos em 10 salas temáticas, com 170 palestrantes e moderadores fizeram do Congresso um importante fórum de debates e discussões técnicas e políticas setoriais que devem servir como trampolim para que o setor volte a crescer e vença uma das piores crises de seus quase cinco séculos no Brasil. Ponto alto do Congresso foi o debate “A comunicação estratégica no momento de crise”, reunindo mais de 200 pessoas para a discussão da falta de interlocução entre o setor e o governo, a falta de políticas públicas para o etanol, as campanhas de marketing que envolvem o setor e a visão dos debatedores, seleto grupo de executivos,

por Camila Lemos sobre os mais diversos temas, desde a criação da Frente Parlamentar em Defesa do Setor até a sucessão presidencial em 2014. Na mesa dos debates estavam o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Luiz Baptista Lins Rocha; o presidente da UDOP, Celso Junqueira Franco; o diretor de pessoas e sustentabilidade da Odebrecht Agroindustrial, Genésio Lemos Couto; o Presidente da Abag, Luiz Carlos Correa Carvalho (Caio) e o vice-presidente do Grupo Raízen, Pedro Mizutani. O debate foi moderado pelo jornalista da Agência Estado, Gustavo Porto. Durante o 6º Congresso Nacional de Bioenergia foi lançado o programa de capacitação de trabalhadores rurais em regime de Lay Off. Ao todo, 3.500 vagas serão abertas para os cursos de qualificação, a partir de parceria entre a Udop e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Os cursos, ofertados pelo Programa Via Rápida Emprego, do governo paulista, visa atender trabalhadores das usinas paulistas em processo de lay off, que é a suspensão Mais de mil pessoas participaram do 6º Congresso Nacional da Bioenergia

Setor discute comunicação no momento de crise

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temporária do contrato de trabalho, revista na CLT. Durante o período de suspensão, que pode variar de dois meses a cinco meses, o funcionário não trabalha, mas o vínculo empregatício permanece intacto. A medida evita demissões e gastos com vergas rescisórias em períodos de crise.

Jantar Durante o jantar de confraternização do 6º Congresso Nacional da Bioenergia, realizado no Quarta Avenida Eventos, em Araçatuba, o consultor Fernando Gomes Perri recebeu das mãos do Presidente da UDOP, Celso Torquato Junqueira Franco, e do Presidente-executivo Antonio Cesar Salibe, a Medalha da Agroenergia, a maior honraria concedida pela UDOP, um mérito pelo empenho na idealização do já consagrado Portal que a entidade possui há 15 anos. O 7º Congresso Nacional da Bioenergia já está marcado. Será nos dias 12 e 13 de novembro de 2014. Sala agrícola lotada no primeiro dia de Congresso. Congresso teve dez salas temáticas

No intervalo, para o Coffee Break

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Aquecimento vai agravar a escassez de água

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escassez de água é um fato da vida em muitas partes do mundo, particularmente nos países da África sub-saariana. Um novo estudo diz que a situação pode ficar muito pior, com a mudança climática, resultando em menos chuva e mais evaporação em muitas áreas. O estudo, liderado por pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto do Clima, olha atuais compromissos por parte dos países para reduzir gases de efeito estufa (GEE), e diz que, mesmo se esses compromissos ou promessas forem cumpridas, a temperatura média global ainda vão subir cerca de 3,5 ° C acima dos níveis pré -industriais até o final do século. Isso, de acordo com os cálculos dos pesquisadores, vai expor 668 milhões de pessoas em todo o mundo para a escassez de novo ou agravamento de água – que é, A escassez global de água em 2100

No Norte da África, deterioração mais significativa no abastecimento de água

além dos 1,3 bilhão de pessoas já no presente vivem em regiões com escassez de água . Usando os mesmos cálculos, o estudo diz que se a temperatura média global aumenta em apenas 2 ° C, neste momento o máximo alvo acordado internacionalmente, um adicional de 486 milhões de pessoas – um número equivalente a mais de 7% da população atual do mundo - vai ser ameaçada com a escassez severa de água. Regiões que vão ter a deterioração mais significativa no abastecimento de água são o Oriente Médio, Norte da África, sul da Europa e no sudoeste de os EUA. Dr. Dieter Gerten , principal autor do estudo, diz que o principal fator a mais a escassez de água vai estar em declínio precipitação: o aumento da temperatura também vai levar a uma maior evapotranspiração – que é a soma da evaporação e transpiração das plantas a partir da superfície terrestre do planeta para a atmosfera. “Mesmo que o aumento seja restrito a 2 ° C acima dos níveis pré-industriais, muitas regiões terão de se adaptar a sua gestão e demanda de água para uma menor oferta, especialmente desde que a população deverá crescer significativamente em muitas destas regiões “, diz Gerten.

responsabilidade dos países de alta emissão e poderia ter uma influência sobre a mitigação e adaptação partilha de encargos “, afirma Gerten . O estudo Potsdam utilizado o material de 19 diferentes modelos de mudança climática. Isto foi executado juntamente com oito diferentes trajetórias do aquecimento global. Em todos os mais de 150 cenários de mudanças climáticas foram examinados. Os pesquisadores também examinaram o impacto futuras mudanças no clima teria sobre os ecossistemas mundiais, buscando identificar quais as áreas que seriam sujeitos a maior mudança e se essas regiões eram ricas em biodiversidade. “Em um aquecimento global de 2 ° C, a reestruturação do ecossistema notável é provável para regiões como a tundra e algumas regiões do semi-árido “, diz Gerten . “ Em níveis do aquecimento global para além de 3 ° C, a área afetada pela transformação do ecossistema significativo aumentaria significativamente e invadiriam em regiões ricas em biodiversidade. “Além de um aquecimento global médio de 4 ° C , mostramos com alta confiança de que hotspots de biodiversidade , como partes da Amazônia seria afetada”.

Reconhecendo os impactos É vital, diz o estudo, que os governos e formuladores de políticas, quando a fixação de metas de aumento da temperatura, estão plenamente informados sobre as conseqüências globais de suas decisões. “ O padrão espacial desigual de exposição aos impactos das mudanças climáticas lança luz interessante sobre a revistaamazonia.com.br

A responsabilidade dos países de alta emissão e poderia ter uma influência sobre a mitigação e adaptação partilha de encargos REVISTA AMAZÔNIA 39


O Pará e a alta do desmatamento em 2013 O por Raphael Pacheco *

Ministério do Meio Ambiente divulgou recentemente, a estimativa da taxa anual do desmatamento medida pelo Prodes, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia, que aponta terem sido desmatados 5.843 km² no período de agosto de 2012 a julho de 2013 - um aumento de 28% em relação à estimativa anterior. De acordo com o Prodes, o desmatamento também subiu no Pará, de 1.741 km² para 2.379 km², no comparativo entre 2012 e 2013, o que corresponde a um aumento de 37%, número superior ao aumento na Amazônia, mas abaixo de outros Estados, como Mato Grosso (52%), Roraima (49%) e Maranhão (42%). No entanto, nos últimos meses o desmatamento voltou a cair, segundo Justiniano Netto, secretário extraordinário coordenador do Programa Municípios Verdes (PMV), e os meses de julho, agosto e setembro de 2013 apontaram quedas significativas nos números do desmatamento no Estado, de acordo com os alertas do Deter (Inpe) e do SAD (Imazon). E mesmo com a alta anunciada pelo Prodes, os dados de 2013 ainda representam a segunda menor taxa histórica já registrada na Amazônia e no Pará, atrás apenas do ano de 2012. A taxa de desmatamento após a criação do PMV, ou seja, de 2011 a 2013, registrou uma queda de 21%, enquanto que, no mesmo período, a Amazônia reduziu 9%. “É preciso analisar não apenas o ano, mas um período um pouco maior. Em 2008, o desmatamento deu um repique, o governo reagiu e, nos anos seguintes, voltou a cair”, lembra Justiniano. “O importante é continuar a agir, mantendo o foco e a união de esforços”, concluiu. No Pará, a coordenação do PMV alertava - conforme o Boletim do Desmatamento, edição de julho de 2013, que pode ser acesssado pelo link http://goo.gl/6uOvve - para a provável subida este ano, tendo em vista os números dos sistemas de alerta do Deter e do SAD e, principalmente, os relatos de campo feitos pelos municípios engajados no programa. “O aumento já era esperado e ocorreu, principalmente, 40 REVISTA AMAZÔNIA

Mapas de queimadas disponíveis no site do INPE

no segundo semestre do ano passado”, lembra Justiniano Netto, secretário extraordinário coordenador do PMV. “Apesar de preocupante, esta alta não pode desmerecer o trabalho feito até agora. O que precisamos é entender bem suas causas e persistir nas medidas necessárias para contê-la”, acrescentou. No Pará, o aumento ocorreu sobretudo na região sudoeste do Estado, ao longo da BR-163, incidindo sobre terras devolutas ou Unidades de Conservação, a maioria de jurisdição federal, caracterizando o chamado desmatamento “especulativo”, que é a invasão de áreas públicas por parte de grileiros ou posseiros ilegais. Quatro muni-

cípios do oeste paraense (Altamira, Novo Progresso, Itaituba e São Félix do Xingu) concentram cerca de metade do desmatamento no Estado. São municípios fortemente afetados pelos projetos de energia, infraestrutura e de garimpo (mineração), que valorizam as terras e atraem novas ocupações para a região.

Ação Várias medidas foram lançadas, entretanto, desde 2012, pelo Governo do Estado, visando reduzir o desmatamento e estimular o ordenamento ambiental e a produção revistaamazonia.com.br


sustentável, com destaque para a criação do ICMS Verde, com regras inovadoras que beneficiam os municípios que estão reduzindo o desmatamento e possuem maior percentual de CAR (Cadastro Ambiental Rural) e de áreas protegidas; a campanha estadual de combate ao desmatamento com o lema “Produzir sem Desmatar. Comece a olhar pra isso como um bom negócio”, demonstrando ao produtor rural as vantagens da regularidade ambiental; o apoio ao Cadastro Ambiental Rural, através da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Pará Rural e Emater, fazendo do Pará o Estado com a maior cobertura cadastral no Brasil, com mais de 34 milhões de hectares, equivalente a quase 60% da área a ser cadastrada; a edição do Decreto Estadual 838/2013, que proíbe a concessão de qualquer tipo de incentivo ou serviço púConforme as medições das imagens do Prodes

Justiniano Netto, secretário extraordinário coordenador do PMV

blico para áreas desmatadas ilegalmente; o lançamento do FIP Amazônia, um fundo de investimentos de R$ 100 milhões destinado a empreendimentos que investem em economia verde, fruto da parceria entre o Banpará e o BNDES; a edição do Decreto Estadual 739/2013, criando um processo especial de regularização fundiária nos municípios participantes do Programa Municípios Verdes, com o objetivo de agilizar a titulação dos imóveis e viabilizar maior acesso ao crédito onde ocorreu o ordenamento ambiental; e a assinatura de Acordo de Cooperação com o Incra, visando o ordenamento ambiental nos assentamentos de reforma agrária, que respondem por mais de 20% do desmatamento no Pará. Além disso, o Governo do Estado apoiou o Ibama nas operações de fiscalização, através do Batalhão de Polícia Ambiental e com agentes da Sema, assim como manteve estreita cooperação com o Ministério Público Federal e Estadual, prefeituras e diversas entidades que possuem iniciativas de combate ao desmatamento. [*] Municípios Verdes

Os índices O Brasil registrou a segunda menor taxa de desmatamento na Amazônia Legal desde o início do monitoramento, em 1988. Entre agosto de 2012 e julho deste ano, foram desmatados 5.843 km2 do bioma, conforme as medições das imagens do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Por conta de casos isolados em Estados como Pará, Mato Grosso e Maranhão, os números representam um aumento de 28% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 4.571 km2 de desflorestamento, recorde de menor índice. As estimativas preveem que o desmatamento continue a diminuir no País. O Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), também do Inpe, aponta tendência de queda de 24% no comparativo dos dados de agosto a outubro de 2013 com os registrados no mesmo período do ano passado. Os dois índices diferem no que diz respeito à precisão. O Deter acusa alterações de paisagem de até 25 hectares por meio de imagens capturadas diariamente. Já o Prodes contabiliza corte raso de até 6,25 hectares e é contabilizado no acumulado de 12 meses. revistaamazonia.com.br

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Um mundo que me agrada com um clima de que gosto Projeto português “Pastagens Semeadas Biodiversas” de pastagens contra as alterações climáticas vence concurso europeu

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grande vencedor do concurso europeu Um mundo que me agrada, para a melhor solução contra as alterações climáticas, foi um projeto português: considerou-se que Pastagens Semeadas Biodiversas preconiza uma solução inovadora para a redução das emissões de dióxido de carbono, a erosão dos solos e os riscos de incêndios florestais, aumentando ao mesmo tempo a produtividade das pastagens. Anunciado em Copenhagem (Dinamarca) pela Comissão Europeia, na cerimónia de entrega dos prêmios Sustainia, o prêmio distingue um projeto promovido pela Terraprima, empresa de serviços ambientais portuguesa, e envolve mais de 1000 agricultores portugueses. Sustentada por três projetos financiados pelo Fundo Português do Carbono, a Terraprima fez, desde 2008, contratos com estes agricultores, pagando-lhes pelos serviços de captura de carbono feita pelas pastagens biodiversas. 42 REVISTA AMAZÔNIA

por Nicolau Ferreira Estas pastagens são formadas por 20 variedades diferentes de plantas. A pastagem acaba por se adaptar ao tipo de solo onde é plantada. Os agricultores têm de comprar estas sementes e, posteriormente, têm o apoio técnico da Terraprima durante o projeto. Além de capturarem mais carbono, estas pastagens enriquecem o solo de matéria orgânica, protegem contra a seca e são mais nutritivas para os animais que se alimentam delas, evitando que os agricultores tenham de comprar mais alimento, que normalmente é produzido de uma forma intensiva. “Estou muito contente pelo reconhecimento deste projecto”, disse Tiago Domingos, director da Terraprima e professor de engenharia ambiental do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa. “É o reconhecimento do meu trabalho, de toda a equipe da Terraprima, dos agricultores e do Estado português”, defende, acrescentando que este prêmio dá visibilidade ao projeto a nível

internacional e “pode ajudar a expandir este sistema dentro de Portugal e em muitos países”. A produção de pastagens biodiversas começou com uma ideia australiana. Mas na década de 1960 David Crespo, engenheiro agrícola, começou a apurá-la, estudando, durante décadas, as melhores sementes para o solo português. Em 1990, fundou a empresa Fertiprado. Na última década, a Terraprima olhou para estas pastagens e foi estudar os seus benefícios. Foi assim que descobriu que, usando adequadamente esta técnica, era possível criar pastagens mais nutritivas, solos mais ricos e capturar mais dióxido de carbono da atmosfera. Hoje, estas pastagens crescem em 50.000 hectares de terreno português, principalmente no Alentejo, onde as pastagens estão associadas ao regime de montado. “Este projeto é o exemplo perfeito de como uma solução prática contra as alterações climáticas pode também poupar dinheiro, criar emprego e gerar crescimento”, disrevistaamazonia.com.br


se a comissária europeia para a Ação Climática, Connie Hedegaard. “O fato de o concurso Um mundo que me agrada ter atraído tantos projetos inovadores de toda a União Europeia é muito encorajador. Há que desenvolver mais estas soluções para construirmos um mundo que nos agrada com um clima de que gostamos”, acrescentou a comissária. Para Connie Hedegaard, Comissária Europeia da Ação Climática : “Transformar a nossa sociedade numa sociedade amiga do clima contribuirá para a criação de novos empregos no domínio ambiental e o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Usufruiremos de preços da energia mais baixos, de casas modernas e confortáveis, de um ar mais limpo e de maior mobilidade.” O concurso pretendeu recolher ideias criativas oriundas de toda a Europa sobre inovações com baixo teor de emissões de carbono. Foram apresentados 269 projetos, votados depois pelos cidadãos e, no final, os melhores foram apresentados ao comité dos prémios Sustainia. O concurso faz parte da campanha de sensibilização pública da Comissão Europeia Um mundo que me agrada com um clima de que gosto, que promove soluções para as alterações climáticas. Agora, o projeto português irá gravar um vídeo profissional, recebendo apoio para a sua promoção nos meios de comunicação social europeus, refere um comunicado da Comissão Europeia. “Portugal é capaz de ter uma ideia que funciona e inova”, sublinhou por sua vez Humberto Rosa, ex-secretário de estado do Ambiente e atual diretor do programa de adaptação e de tecnologia de baixo carbono, que pertence à Direção Geral para a Ação Climática na Comissão Europeia. “Neste caso concreto, inova no ambiente.” Humberto Rosa fez parte do júri europeu do concurso. Na final, havia dois outros projetos competindo com as pastagens semeadas biodiversas. Um belga, que promove a redução das emissões de carbono nos aeroportos, e o terceiro, polaco, que incide na redução da energia gasta nas casas.

Projeto das pastagens, vencedor dentre 269 projetos, envolve mais de mil agricultores portugueses

Este projeto é o exemplo perfeito de como uma solução prática contra as alterações climáticas pode também poupar dinheiro, criar emprego e gerar crescimento

As pastagens são formadas por 20 variedades diferentes de plantas e se adaptam ao tipo de solo onde é plantada

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Mapa da dengue mostra que 157 municípios estão em situação de risco A pesquisa indica, antecipadamente, onde estão os principais focos, enquanto a tempo de agir

Fotos: Divulgação e Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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ministro da Saúde, Alexandre Padilha, divulgou recentemente o novo mapa da dengue no país. Ele participou do lançamento da campanha de mobilização contra a doença. O mapa mostra que 157 municípios do país estão em situação de risco e outras 525 em estado de alerta. Os dados são do Levantamento Rápido de Índice para Aedes Aegypti. Na ocasião o ministro assinou a portaria que dobra o investimento previsto de combate à doença para 2014, que passa a ser de R$ 1,2 bilhão. De acordo com o Ministério da Saúde, o reforço na assistência básica ao paciente contaminado pelo inseto vem sendo ampliado ano a ano e resultou na redução dos casos graves da doença em 61% quando comparado aos dados de 2010. Também diminuíram em 10% os casos de mortes pela dengue, mesmo com o crescimento dos números de notificações da doença. Neste ano, foram notificados 1,4 milhão de casos prováveis de dengue no país em decorrência de uma circulação do subtipo 4 do vírus, que respondeu por 60% dos casos. O levantamento foi feito nos meses de outubro e no início de novembro servindo para identificar onde estão concentrados os focos de reprodução do mosquito transmissor em 1.315 cidades. Segundo Padilha, os números ainda não são para comemorar. “Queremos reduzir cada vez mais a chance de óbito neste país. Essa é a principal ação do Ministério da Saúde agora”. Ele ressaltou que, com o Mais Médico, as ações serão reforçadas uma vez que os profissionais contratados já enfrentaram a dengue nos países de origem, além de ter larga experiência.

Levantamento Nos municípios classificados em situação de risco, mais de 4% dos imóveis pesquisados apresentaram larvas do mosquito. É considerado estado de alerta quando os imóveis pesquisados apresentam índice entre 1% a 3,9% e satisfatório quando fica abaixo de 1%. O levantamento também revelou que três capitais estão 44 REVISTA AMAZÔNIA

em situação de risco: Cuiabá, Rio Branco e Porto Velho. Outras 11 – Boa Vista, Manaus, Palmas, Salvador, Fortaleza, São Luís, Aracaju, Goiânia, Campo Grande; Rio de Janeiro e Vitória - apresentaram situação de alerta e seis estão com índices satisfatórios (Macapá; João Pessoa; Teresina; Belo Horizonte; Curitiba e Porto Alegre). Sete capitais - Belém, Maceió, Recife, Natal, São Paulo e Florianópolis - ainda não apresentaram ao Ministério da Saúde os resultados do LIRAa.

Criadouros Além de ajudar os gestores a identificar os bairros em que há mais focos de reprodução do mosquito, o LIRAa também aponta o perfil destes criadouros. Segundo o levantamento, 37,5% dos focos estão em formas de armazenamento de água, 36,4% em espaços em que o lixo não está sendo manejado adequadamente e 27,9% em depósitos domiciliares. Esse panorama varia entre as regiões. Enquanto na região Sudeste, 47,9% dos focos estão dentro das residências, no Nordeste, o armazenamento de água é a principal fonte de preocupação, com índice de 75,9%. Já o Sul e o Centro-Oeste têm no armazenamento de lixo o principal desafio, com taxas de 81,2% e 49,7%, respectivamente. O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, explicou que a pesquisa indica, antecipadamente, onde estão os principais focos, enquanto há tempo de agir. “Com base nos criadouros, o LIRAa orienta que tipo de ação

o gestor local deve adotar. O número de casos dá um panorama do passado, já o levantamento mostra onde pode ter maior incidência no próximo ano.”, observou o secretário. Segundo ele, as prefeituras que usarem o LIRAa como instrumento de intervenção, podem reduzir os casos de dengue. “Além de mostrar qual é o bairro com maior incidência, o mapa revela o depósito predominante”, explicou Jarbas Barbosa.

Nova campanha O jogador Cafu, capitão da seleção pentacampeã do mundo de futebol, está se unindo ao esforço do Ministério da Saúde no combate à dengue. Ele participa da campanha deste ano, com o slogan “Não dê tempo para a Dengue”, para alertar a população sobre a importância de eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypt. No lançamento da campanha nesta terça-feira, o jogador que estava presente – falou da importância da campanha de conscientização. “Com uma maneira simples, nós podemos mudar esta realidade. Como a própria campanha diz, bastam 15 minutos, o intervalo entre um jogo e outro, para que as pessoas realizem uma fiscalização em suas casas e vejam se não há focos do mosquito”, disse o jogador. Com o slogan “Não dê tempo para a Dengue”, as peças serão veiculadas em TVs, rádio, internet, redes sociais e mídias impressa e exterior. O objetivo é mostrar que a prevenção leva pouco tempo, mas o suficiente para prorevistaamazonia.com.br


teger familiares e vizinhos. Além do reforço na orientação à população, o Ministério da Saúde adquiriu 100 toneladas de larvicida, 227 mil litros de adulticida e 10,4 mil kits diagnósticos, que estão sendo enviados aos municípios. Para os profissionais, estão sendo distribuídos guias de classificação de risco e tratamento, além de capacitações por meio da Universidade Aberta do SUS (UnaSUS).

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentando o último balanço sobre a dengue no país e a nova campanha de Mobilização Nacional Contra Dengue. Na foto, o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, o ministro Padilha, e o exjogador de futebol Cafu

Redução de óbitos O reforço na assistência básica ao paciente com dengue, que vem sendo ampliado ano a ano pelo Ministério da Saúde, resultou em redução gradativa dos casos graves e óbitos de dengue. Em comparação com 2010, houve uma queda de 61% nos casos graves (de 16.758 para 6.566) e de 10% nos óbitos (de 638 para 573), mesmo com o crescimento no número de notificações da doença. Com estes avanços, foi possível reduzir a taxa de letalidade da doença: a proporção de óbitos diminuiu quase pela metade, passando de sete mortes a cada 10 mil casos para quatro óbitos a cada 10 mil notificações. Também houve diminuição da frequência da gravidade dos casos. Em 2010, de cada mil doentes, 17 chegavam a um quadro grave; em 2013, a parcela ficou em quatro casos graves para cada mil notificações. Com isso, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), até agosto, o Brasil apresentou taxa de mortalidade de 0,03. Em 2013, foram notificados 1,4 milhão de casos prováveis de dengue no país, em decorrência de uma maior circulação do subtipo tipo 4 do vírus causador da doença, que respondeu por 60% dos casos. A região Sudeste, responsável por 63,4% dos casos com 936.500 registros, tem o maior número de casos, seguida pela região Centro-Oeste (271.773 casos; 18,4%), Nordeste (149.678 casos; 10,1%), Sul (70.299 casos; 4,8%) e Norte (48.667 casos; 3,3%).

mendação do Ministério da Saúde é procurar o serviço de saúde mais próximo e não se automedicar. Quem usa remédio por conta própria pode mascarar sintomas e, com isso, dificultar o diagnóstico. Para diminuir a proliferação do mosquito, é importante que a população verifique o adequado armazenamento de água, o acondicionamento do lixo e a eliminação de todos os recipientes sem uso que possam acumular água e virar criadouros do mosquito. Além disso, é essencial cobrar o mesmo cuidado do gestor local com os ambientes públicos, como o recolhimento regular de lixo nas vias, a limpeza de terrenos baldios,

Cuidados Aos primeiros sintomas da dengue (febre, dor de cabeça, dores nas articulações e no fundo dos olhos), a reco-

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praças, cemitérios e borracharias. Saúde libera mais de R$ 360 mi para combate à dengue O Ministério da Saúde autorizou o repasse de mais de R$ 360 milhões para municípios de todo o Brasil intensificarem o combate ao mosquito da dengue. Os recursos fazem parte do Fundo Variável de Vigilância em Saúde (PVVS), do Componente de Vigilância em Saúde de incentivo financeiro para qualificação de ações de vigilância. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União de quarta-feira, 20/11: http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/ index.jsp?jornal=1&pagina=45&data=20/11/2013. Ao todo, foram liberados 30% do PVVS anual, totalizando R$ 363,3 milhões, em parcela única, aos Fundos Estaduais, Municipais e do Distrito Federal. Em 2013, o Brasil já conseguiu reduzir em 30% o número de mortes por dengue e tem, hoje, tem um dos menores índices de mortalidade pela doença nas Américas, com 0,03 óbitos para cada 100 notificações. Mesmo assim, de acordo com o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) de 2013, ao menos 157 municípios brasileiros se encontram em situação de risco. Entre janeiro e setembro deste ano, foram notificados mais de 1,4 milhão de casos suspeitos da doença, principalmente na região Sudeste – com 63,4% das notificações.

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Simpósio de Desenvolvimento Regional

CINDRA

Comissão da Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia

Fotos: Apols Paz, Miguel Ângelo/CNI, Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

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Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA) promoveu recentemente, um simpósio sobre desenvolvimento regional, reuniunindo especialistas na aérea para apontar desafios e alternativas para a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).. O evento contou com a presença do ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, que fez uma apresentação sobre a nova PNDR. Criada em 2006, a primeira PNDR tratou de traçar políticas para combater os desequilíbrios regionais. Segundo Teixeira, a segunda versão da PNDR já está pronta e será apresentada através de decreto presidencial. “Por decreto seria mais ágil. Se fosse através de Projeto de Lei, com certeza seria um normativo mais fortalecido, mas perderíamos muito tempo para desenvolver os programas”, explicou o ministro. A definição da proposta via decreto desagradou parlamentar e as entidades que participaram do debate, como a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Na opinião do presidente da CINDRA, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), o Legislativo tem muitas contribuições a fazer ao PNDR. “Queremos que as políticas públicas possam ser executas e gerem resultados práticos”, destacou o parlamentar. Como presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), o senador Antonio Carlos Valadares, falou sobre o desafio de reduzir as desigualdades regionais, agora diante de nova e decisiva etapa, com a Senador Antonio Carlos Valadares, presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR)

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discussão da nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional. Valadares saudou a iniciativa do presidente da CINDRA, deputado Jerônimo Goergen, “É louvável a iniciativa do senhor de colocar entre as prioridades desta Comissão a discussão de temas voltados para o desenvolvimento de nossas regiões”, disse. Para o deputado federal e ex-secretário da Seagri, Anselmo de Jesus, a regularização fundiária é uma das alternativas viáveis de promoção do desenvolvimento. Segundo ele, a Amazônia brasileira é uma região que menos possui documentos, quando se trata de crescimento. “Há um grande potencial hídrico, de madeira, minérios, pecuária através da agricultura familiar, seja na agricultura empresarial. Então, nós temos que aproveitar esse potencial e fazer com que alguns setores se tornem mais eficientes, e isso só é possível com a regularização fundiária”, destacou. “Hoje nos destacamos, como o Estado da regularização fundiária, pois 42% dos títulos regularizados na região Amazônica estão sediados em Rondônia. Queremos flexibilizar e acelerar mais esses processos, não só em nosso Estado, mas em toda a Amazônia Legal,” afirma Anselmo. Nelson Azevedo, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), destacou a necessidade de o governo fortalecer a atividade indus-

Francisco Teixeira, Ministro da Integração Nacional e o dep. Jeronimo Goergem, presidente da CINDRA

trial na região Norte e de criar um modelo alternativo e sustentável de integração econômica dos estados. Nelson Azevedo, que é conselheiro Temático de Integração Nacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), representou o presidente da CNI, Robson Braga, no Simpósio. O vice-presidente da FIEAM observou que o avanço social não se sustenta se não for acompanhado de uma desconcentração regional mais efetiva da capacidade produtiva. Os níveis de desenvolvimento econômico e social no Brasil são muito diferentes e desiguais entre suas regiões e até mesmo dentro de uma mesma região. Essa elevada concentração das atividades econômicas resulta em insignificante participação das regiões menos desenvolvidas – falo das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste – de apenas 27,4% do PIB nacional, numa área que cobre 82,4% do território brasileiro, onde vivem 43,1% da população. Como foi identificada, no referido estudo, essa concentração de riquezas se torna ainda mais intensa quando se compara a distribuição do PIB da indústria de transformação. Conforme a CNI, “as atividades industriais localizadas nas regiões Sul e Sudeste representaram 82,8% do PIB do setor em 2008”. “Novamente aqui se observa a preponrevistaamazonia.com.br


Na abertura do Simpósio

Durante o Simpósio

Deputado Jerônimo Goergen, presidente da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA), durante o Simpósio de Desenvolvimento Regional

derância da região Sudeste, que responde por 62,8% de toda a atividade industrial do País, e, dentro dessa região, o estado de São Paulo – responsável por 44,4% do PIB industrial”, destacou Nelson. O conselheiro federal do COFECON – Conselho Federal de Economia, Eduardo José Monteiro da Costa, o coordenador de Estudos Regionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o deputado Plínio Valério, analista de Política Pública da Secretaria de Desenvolvimento Regional/Ministério da Integração Regional, Daniele Nogueira Soares, também participaram do Simpósio.

Publicação A CINDRA ainda lançou o livro “Desafios para o Desenvolvimento do Brasil na Visão da CINDRA”, coletânea de textos produzidos por colaboradores e consultores

Jerônimo Goergen com o livro “Desafios para o Desenvolvimento do Brasil na Visão da CINDRA”, lançado no Simpósio

legislativos da Câmara. A obra elenca os principais gargalos que freiam o crescimento do país, como a falta de infraestrutura, telefonia precária e a alta carga tributária. Por outro lado, a publicação oferece exemplos de projetos que podem mudar a realidade de regiões pobres, como o projeto de exploração da energia solar no semiárido e a produção do biodiesel no âmbito da agricultura familiar. A obra tem a finalidade de propor novas experiências e alternativas de fomento para o País e é resultado da contribuição de diversos atores indispensáveis ao desenvolvimento nacional e à integração das regiões brasileiras, entre os quais se destacam o Ministério da Integração Nacional, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Tribunal de Contas da União (TCU) e Consultores Legislativos da Câmara dos Deputados.

Nelson Azevedo (e), vicepresidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), durante o Simpósio

Eduardo José Monteiro da Costa, conselheiro federal do COFECON – Conselho Federal de Economia, (e) falou sobre os efeitos da questão tributária no desenvolvimento regional revistaamazonia.com.br

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Prêmio CINDRA reúne mais de 300 pessoas na Câmara Medalha Júlio Redecker de Desenvolvimento foi entregue a políticos, empresários e educadores que contribuem para o desenvolvimento regional por Apolos Neto Fotos: Lúcio Bernardo Júnior / Agência Câmara

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Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA) concedeu recentemente, a “Medalha Júlio Redecker de Desenvolvimento”, instituída para homenagear órgãos, agentes públicos e entidades que contribuem para a melhoria das condições de suas respectivas comunidades. Criada em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a primeira edição do prêmio reuniu mais de 300 pessoas no Salão Nobre da Câmara, entre elas o presidente da Casa, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Surpreendido pelo tamanho do evento, Alves usou de bom humor para elogiar a mobilização feita pelo presidente da CINDRA, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS). “Eu confesso que achei que era uma coisa diminuta, menor, mas parabéns. Você está escalado agora para organizar todas as solenidades da Câmara dos Deputados, pela sua competência e prestígio, deputado Jerônimo”, parabenizou Alves. A distinção leva o nome do deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), uma das 199 vítimas do voo TAM 3054. O acidente ocorreu no aeroporto de Congonhas (SP), em 17 de julho de 2007. O filho do parlamentar, deputado estadual Lucas Redecker (PSDB), recebeu a homenagem póstuma em nome do pai e ressaltou o legado de Júlio em defesa das nobres causas da política. “Ser empresário, tu investir num país com a mais alta carga tributária do mundo, para trabalhar tem diversos obstáculos. E essas pessoas se destacaram no Brasil. Eu fico muito feliz em nome da família e também como político de saber que o prêmio leva o nome de uma pessoa que batalhou pelo desenvolvimento do país”, destacou Lucas. Idealizador da homenagem, o deputado Jerônimo teve

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Medalha Júlio Redecker homenageou lideranças políticas, empresários e entidades que contribuem para a melhoria das condições de vida de suas respectivas comunidades

em Júlio Redecker um exemplo de homem público. “Homens como o Júlio Redecker nos dão a razão de seguirmos nessa trajetória política. Eu não tenho dúvida de que a probidade, a dedicação, a competência do Júlio, fazem falta à política nacional. Eu acho que homenagear é importante sim. Homenagear quem está vivo talvez

Deputado Jerônimo Goergen, presidente da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA), na cerimônia de entrega da “Medalha Júlio Redecker de Desenvolvimento”

seja tão importante como homenagear quem já não está mais aqui, para que possamos nos inspirar no legado deixado por eles, para que a gente acerte na vida pública e faça um Brasil melhor”, justificou o parlamentar. Entre os agraciados, destaque ainda para o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, o presidente do Tribunal de Contas da União, João Augusto Nardes, e o ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. Falecido no último dia 20 de outubro, vítima de um câncer, o deputado Homero Pereira (PSD-MT) também recebeu a medalha in memorian. Mesmo sendo um dia de festa e reconhecimento, o presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (ACEBRA), Gilmar Roos, lembrou das dificuldades que o setor produtivo enfrenta com a precariedade da infraestrutura no país. “Os anúncios são muitos. Só que na prática isso não acontece. A gente sabe que o governo tem um projeto de desenvolvimento de rodovias, ferrovias e portos, para dar condições de escoar toda a produção que vai à exportação. Só que até agora isso não se tornou prático”, criticou o dirigente. Homenageado pelo trabalho desenvolvido à frente da revistaamazonia.com.br


CINDRA

Comissão da Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia

Cerca de 300 pessoas acompanharam a cerimônia de outorga da Medalha Júlio Redecker, que contou com a presença do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, o presidente do TCU, Augusto Nardes, e o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro

cooperativa agrícola Cotrijal, de Não-Me-Toque (RS), o presidente Nei César Mânica fez coro às palavras de Roos. “O nosso produtor é mais competente do que o norte-americano. Se você der as mesmas condições ao nosso produtor, como o seguro da renda, a garantia de toda a cadeia produtiva, com certeza nós seríamos um país maravilhoso em termos de competitividade”, comparou Mânica. Já o diretor-presidente da BSBIOS, Erasmo Carlos Battistella, se disse orgulhoso pela homenagem. Na opinião do empresário, para 2014 fechar com “medalha de ouro só se o Palácio do Planalto confirmasse o aumento da mistura de biodiesel, que permitirá ao setor fazer novos investimentos e aumentar a produção do biocombustível”, recordou Battistella. A lista de agraciados ainda reservou um lugar para Eleonor Oscar Becker, homem obcecado pelo empreendedorismo e pela expansão dos negócios, mesmo num ambiente econômico que não se mostra tão favorável. “Nós últimos dez anos, a Becker abriu uma loja por mês. Hoje, estamos com 202 lojas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em impostos somos um grande contribuinte. No município de Cerro Largo (RS), onde está localizada a matriz, representamos 85,11% do retorno de ICMS. E temos hoje aproximadamente 3.800 funcionários”, revelou o empresário. Com a medalha no peito e um indisfarçável ar de orgulho no rosto, o presidente da Comil, Deoclécio Corradi, fez questão de dividir com todos os 2.500 colaboradores os louros da vitória. Fabricante de ônibus, a Comil está estabelecida no município de Erechim (RS) e tem planos ousados para 2014. “Estamos fazendo um investimento no estado de São Paulo para construir veículos urbanos. Vamos abrindo espaço por lá para que se possa crescer nesse segmento, já que a nossa fábrica está praticamente com a capacidade de produção lotada”, explicou Corradi.

Relação completa dos agraciados: Aguinaldo Velloso Borges Ribeiro, Ministro das Cidades; Airton Gilmar Roos, Diretor Presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra); revistaamazonia.com.br

Antônio Barbosa de Alencar, Presidente do Grupo Dimensão, empresário na área de construção civil no Estado do Maranhão; Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), José Carlos Becker, Presidente; Comil Ônibus S.A., Deoclécio Corradi, Presidente do Conselho de Administração; Daniel Gianluppi, Diretor Presidente do Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima (IACTI/ RR); Pesquisador da Embrapa-Roraima; Eduardo Renato Kunst, Presidente Executivo das Empresas Artecola; Eduardo Silva Logemann, Diretor Presidente da SLC Participações; Eleonor Oscar Becker; Presidente do Grupo Becker; Eraí Maggi Scheffer, Diretor Proprietário do Grupo Bom Futuro; Erasmo Carlos Battistella, Diretor Presidente da BSBIOS Indústria e Comércio de Biodiesel Sul Brasil S.A.; Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (FETAGRS), Elton Roberto Weber, Presidente; Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (FECOMBUSTÍVEIS), Paulo Miranda Soares, Presidente; Gilson Trennepohl, Diretor Presidente da Stara S/A Indústria de Implementos Agrícolas, Guerino Ferrarin, Diretor-Presidente do Grupo Guerino Ferrarin (GGF); Grupo Industrial Bettanin, Eduardo Bettanin, Presidente; Homero Pereira (IN MEMORIAM), Ex-Deputado Federal; Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas KF Ltda, Ademir Jair Kelm, Diretor – Geral; Irani Bertolin, Diretor-Presidente da Transportes Bertolini Ltda; Ítalo Ipojucan Araújo Costa, Secretário Municipal de Mineração, Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia de Marabá (Sicom); Ministro João Augusto Ribeiro Nardes, Presidente do Tribunal de Contas da União; João Mario Daros, Diretor da Fertilizantes Piratini Ltda.; José Antonio Fernandes Martins, Vice-Presidente de Relações Institucionais da Marcopolo S.A.; Júlio Redecker (IN MEMORIAM), Representante: Dep. Estadual Lucas Redecker; Lázaro De Mello Brandão, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Bradesco; Prof Dr. Luiz Carlos Baldicero Molion, Professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Alagoas (ICAT/UFAL); Marcelo

Brum, Radialista e apresentador do programa de rádio A Voz do Campo; Marcus Vinicius Pratini de Moraes, Economista, ex-Ministro da Agricultura e Abastecimento (1999-2002); ex-Ministro de Minas e Energia (abril a outubro de 1992); ex-Ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo (1970 a 1974) e Membro do Conselho da JBS; Nei César Mânica, Presidente da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial; Pedro Henrique Brair, Presidente da Rede de Farmácias São João; Phelippe Daou, Presidente da Rede Amazônica de Rádio e Televisão; Programa Municípios Verdes (PMV), Justiniano de Queiroz Netto, Secretário Extraordinário de Estado para Coordenação do Programa Municípios Verdes; Raul Anselmo Randon, Presidente do Conselho de Admi-

Filhos do deputado Júlio Redecker, Lucas e Mariana Redecker recebem a medalha em nome do pai

nistração das Empresas Randon; Ricardo Castellar de Faria, Presidente da Lave Bras Serviços Ltda.; Rubens Ometto Silveira Mello, Presidente do Conselho de Administração da Cosan S/A Indústria e Comércio; Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (SICEPOT-RS), Nelson Sperb Neto, Presidente; Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (SINDICOM), Alisio Jacques Mendes Vaz, Presidente Executivo; UNIMED do Brasil; Dr. Eudes de Freitas Aquino, Diretor Presidente; Campanha Nacional de Escolas Da Comunidade (CNEC), Dep. Fed. Alexandre José dos Santos, Diretor Presidente. Presidente da Acebra recebe medalha das mãos do presidente da CINDRA e alerta para os desafios logísticos do Brasil

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Os 10 anos do Bolsa Família Cerimônia contou com as principais autoridades de Brasília

Fotos: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil e Roberto Stuckert Filho/PR

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o lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff celebrou os 10 anos do Bolsa Família em cerimônia para centenas de convidados, entre prefeitos, governadores e ministros. A festa no Museu Nacional da República, em Brasília, foi conduzida pelo ator Paulo Betti. A presidenta Dilma Rousseff destacou avanços do Bolsa Família durante evento de comemoração de uma década do programa de transferência de renda. Segundo a presidenta da República, o Brasil se tornou um novo País após

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a criação do programa. — O Brasil tornou o Brasil mais Brasil. Se tornou mais Brasil porque começou a unir territórios díspares, distantes, isolados e fez isso criando um ambiente de esperança, que um futuro era possível, que há um futuro de oportunidades. Atacou no presente a desigualdade, que nosso País vem de um longo processo fundado na escravidão. Para Dilma, a primeira grande obra foi o País “ter reconhecido que o Brasil precisava superar a pobreza e a pobreza extrema”. — O Bolsa Família nunca veio para ser o topo, mas o primeiro degrau, veio para ser a porta de saída da miséria e a porta de entrada para um País com esperança, porque une duas palavras fortes: simples e invenção. É assim que nascem as grandes tecnologias.

A presidenta ainda criticou programas anteriores, que segundo ela, tinham pouca efetividade. — A transferência direta de renda permitiu ao Bolsa Família romper com a longa tradição de assistencialismo. Ninguém que governou de costas para o povo tem capacidade para criticar o que fizemos. Segundo Dilma, “nunca tanta gente teve tantas oportunidades para seguir subindo na vida”. A presidenta lembrou a oferta de 800 mil vagas de capacitação pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) Brasil Sem Miséria. E os jovens beneficiários têm desempenho escolar acima da média nacional, além de menor abandono dos estudos. “Nunca o País teve governos tão comprometidos com o fim da desigualdade. (…) Nunca tantas crianças puderam mostrar seu valor: os filhos dos beneficiários revistaamazonia.com.br


do #BolsaFamilia10anos têm taxa de aprovacão igual e de abandono da escola menor que a media dos demais alunos do país”, explicou Dilma.

Lula e o Bolsa Esmola Em discurso para uma plateia de políticos, ministros, prefeitos e governadores, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atacou as críticas negativas direcionadas ao programa nos últimos 10 anos. Segundo Lula, muitos nomes pejorativos — como “Bolsa Esmola”, em alusão ao programa federal de transferência de renda — foram usados para classificar o Bolsa Família na última década. No entanto, todos os apelidos negativos teriam se mostrado equivocados, de acordo com dados citados. — Se os números apresentados pela ministra Tereza Campelo [Desenvolvimento Social] estiverem corretos, o BNDES vai ter que investir nos pobres porque o investimento e o retorno são mais garantidos. As pessoas mal entravam no programa e [os críticos] já queriam que as pessoas saíssem, não sei o que incomoda um pobre ganhar R$ 70, R$ 100. Para Lula, as conquistas do Bolsa Família vão além dos números apresentados. — Não há balanço orçamentário, capaz de substituir a palavra esperança. O Bolsa Família é vitorioso porque está mudando a história do País. Com um País de exclusão como o nosso, seria compreensível provocar dúvidas e questionamentos. [...] Vamos deixar claro que esse programa completa 10 anos em um País onde a injustiça completa cinco séculos. Lula usou manchetes de jornais e notícias para exem-

Para Lula, as conquistas do Bolsa Família vão além dos números apresentados

plificar críticas feitas ao programa, classificadas por ele como “preconceituosas”. — Não basta receber alimento para matar a fome. É preciso ter geladeira para conservar, fogão e gás para cozinhar, roupa para vestir. Certas reações levam a crer que é mais difícil vencer o preconceito do que a fome. A crítica mais cruel é a de que iria estimular a preguiça, a vagabundagem. Essa crítica denota uma visão preconceituosa. Lula disse que se tivesse que começar de novo, “começaria o governo com o combate a fome e pelo Bolsa Família”. O ex-presidente ainda rebateu a acusação de que o programa seria eleitoreiro e usado para ganhar votos dos mais pobres. — O pobre não precisa trocar seu voto por feijão, por um par de sapato. Ele está mais livre para exercer a cidadania e isso preocupa sociologia que serve a elite brasileira. Tem os que dizem que os gastos com o programa elevam a divida pública. [Eles] são os mesmos que defendem a

redução do salário e o desemprego para ajustar a economia. Se desemprego e arrocho salarial ajudassem esse País, nunca teríamos os problemas que tivemos até agora.

O MDS e o Bolsa Família Principal marca do governo petista, o Bolsa Família atingiu investimento anual de R$ 24 milhões e contempla

Presidenta Dilma Rousseff durante cerimônia de celebração dos 10 anos do Programa Bolsa Família

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Como parte das comemorações, foi lançado também no Museu da República, o livro Programa Bolsa Família - Uma Década de Inclusão e Cidadania. Uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Ministério do Desenvolvimento Social. O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos e presidente do Ipea, Marcelo Neri, e a ministra Tereza Campello apresentaram a obra. cerca de 50 milhões de pessoas atualmente. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Tereza Campelo, se emocionou ao falar da trajetória do programa e agradeceu ao ex-presidente Lula. — Sabemos que a liderança foi sua, que o cartão seria entregue às mulheres. O Bolsa Família não existiria se não fosse a decisão política de destinar recursos do orçamento federal para os mais pobres. As decisões se mostraram acertadas. Dez anos depois da criação do Bolsa Família, em 2003, estudos apontam que o programa melhorou indicadores de saúde e contribuiu para o empoderamento da mulher e o desenvolvimento regional, disse Tereza Campello. A ministra destacou que a iniciativa foi decisiva para diminuir a desigualdade educacional no país, porque cresceu a proporção de crianças com 15 anos na série

Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta o ator Paulo Betti

escolar adequada entre os 20% mais pobres. Segundo a ministra, a distância entre esse grupo e o restante da população caiu 37% no período. A frequência escolar é condição para a família receber o benefício. De acordo com a ministra, 15 milhões de alunos são beneficiados pelo programa. Tereza Campello informou que a taxa de permanência das crianças do programa é maior em todos os períodos do ciclo escolar e o índice de aprovação dos alunos já alcançou a média nacional, tendo superado esse patamar no ensino médio. No Nordeste, por exemplo, a taxa de aprovação dos beneficiários está acima da média nacional em todo o ciclo escolar. “O programa garantiu as crianças na escola, melhorou a taxa de aprovação e contribuiu para todo o sistema de ensino, reduzindo as desigualdades nas trajetórias educacionais”, disse. “Pela primeira vez, temos um indicador social entre os mais pobres superior à média nacional”, acrescentou.

O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Ipea, Marcelo Neri, participa do lançamento do livro Programa Bolsa Família

Na área da saúde, ela destacou que a taxa de frequência das gestantes do Bolsa Família ao pré-natal é 50% superior em comparação a das não beneficiárias em condições semelhantes, o que contribuiu para a queda de 14% no índice de crianças prematuras. Além disso, 99,1% das crianças do programa são vacinadas. No períPresidenta Dilma Rousseff o ex-presidente Lula e a ministra Tereza Campello, e as beneficiárias do Bolsa Família, senhoras Odete Dela Vechio, Maria Aparecida da Silva, Iolanda Aparecida da Silva e Maria de Barros Araújo, recebem fotografias das suas famílias que fazem parte da exposição “Os Filhos Deste Solo: olhares sobre o povo brasileiro”

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odo, os dados revelam, ainda segundo a ministra, que as mortes por diarreia caíram 46% e por desnutrição, 58%, nos municípios com alta cobertura. “Esses estudos evidenciam que, no caso das crianças do Bolsa Família, os efeitos virtuosos se acumularam. A mãe fez pré-natal, se alimentou, o menino nasceu com peso adequado, forte, tomou as vacinas, foi acompanhado, comeu direito e venceu, ultrapassou uma barreira e está onde seus pais nunca estiveram. Aos 5 anos, está em condição similar à das demais crianças e pronta para entrar na escola”, disse a ministra. Atualmente, o programa atende a 13,8 milhões de famílias em todo o território nacional. “A redução da extrema pobreza no Brasil chegou a 89% na década”, disse. Um estudo apresentado este mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o Bolsa Família também estimula a economia do país, por meio do consumo da camada mais pobre da população. Segundo o estudo, cada R$ 1 investido no programa de transferência de renda provoca aumento de R$ 1,78 no Produto Interno Bruto (PIB).

O Bolsa Família O Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País. O programa integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. O Bolsa Família possui três eixos principais: a transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade. Todos os meses, o governo federal deposita uma quantia para as famílias que fazem parte do programa. O saque é feito com cartão magnético, emitido preferencialmente em nome da mulher. O valor repassado depende do tamanho da família, da idade dos seus membros e da sua renda. Há benefícios específicos para famílias com crianças, jovens até 17 anos, gestantes e mães que amamentam.

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Livro do Programa Bolsa Família Durante a cerimônia de celebração dos dez anos do programa, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, e a ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, apresentaram a obra. Os artigos reunidos na publicação – realizada, em parceria, pelo Ipea e o MDS – traçam um panorama histórico da evolução do programa, resgatam as principais contribuições do Bolsa Família para as políticas de assistência social e apresentam dados sobre seu impacto nos indicadores de saúde, educação e proteção social e na redução da pobreza. De acordo com a ministra do Tereza Campello, os dados trazidos pelo livro mostram os efeitos do Bolsa Família no Brasil, tirando 36 milhões de brasileiros da linha da extrema pobreza. “O Bolsa Família faz tanto pelo Brasil que todo brasileiro acaba beneficiado por ele”, afirmou a ministra. Tereza Campello informou ainda que o livro somente inicia um grande levantamento de dados sobre o programa. “Nós de fato estamos no meio de um processo de produção de novos dados e evidências, que foram desencadeados nesse processo gigantesco. Estamos frente a um gigantesco desafio e estamos trabalhando em como usar melhor o banco de dados do Bolsa Família para oferecer pra pesquisas que possam auxiliar no aprimoramento das ações”, afirmou. Para o presidente do Ipea, Marcelo Neri, “esse livro não é um livro de histórias. Ele é um livro da História do Brasil. É um livro da nossa história, de uma geração de pessoas de diferentes ângulos, de uma transformação que estamos observado no País”. Neri se diz orgulhoso de fazer parte dessa história. “Acho que é muito bonito isso ter observado esse processo. Ninguém apostava nisso, que a desigualdade no Brasil caísse ano após ano durante 10 anos seguidos. A gente ter tido a oportunidade de observar e analisar isso é uma coisa muito bonita.” Dividido em três partes (Bolsa Família – dez anos de contribuição para as políticas sociais; Perfil das famílias, resultados e impactos do Bolsa Família; e Bolsa Família – desafios e perspectiva), o livro destina-se não só aos gestores ligados à operação da política, mas também a estudantes, pesquisadores, movimentos sociais, organismos internacionais e sociedade em geral. Para os ministros Marcelo Neri e Tereza Campello, que assinam a apresentação e capítulos do livro, a obra “pretende compartilhar com a sociedade a intensa reflexão produzida sobre o programa, discutindo de forma qualificada e crítica suas conquistas e desafios”. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, participa do lançamento do livro Programa Bolsa Família - uma década de inclusão e cidadania, durante celebração dos dez anos do programa

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Bolsa Família recebe prêmio internacional por desempenho extraordinário Fotos: Ibrahim RO, International Social Security Association ISSA

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ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, recebeu em Doha, no Catar, o I Prêmio por Desempenho Extraordinário em Seguridade Social, concedido ao Bolsa Família pela Associação Internacional de Seguridade Social (ISSA, na sigla em inglês). “Recebemos este prêmio como um presente de aniversário”, disse a ministra, referindo-se aos 10 anos do Bolsa Família, completados em outubro. A cerimônia ocorreu durante o Fórum Mundial de Seguridade Social, no qual a ministra representou a presidenta Dilma Rousseff. Ao receber o prêmio, Tereza Campello falou aos participantes do fórum sobre o Bolsa Família, seus impactos na educação, saúde e economia e ressaltou que o programa não é uma ação isolada de transferência de renda. “Para falar do Bolsa Família e de seus resultados, é necessário compreender que ele se insere numa estratégia de desenvolvimento que objetiva a inclusão social”, enfatizou. Ao apresentar o prêmio, o presidente da Issa, Errol Frank Stoové, disse que o Bolsa Família é uma inspiração para gestores e administradores de segurança social em todo A ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello e diretores do ISSA na cerimônia de premiação

Tereza Campello na sessão de abertura do Fórum Mundial de Segurança Social (WSSF) Qatar 2013

o mundo, “por sua visão de aliviar a pobreza e melhorar a qualidade de vida, pelo empoderamento das pessoas, pelo compromisso político, pela administração eficaz e eficiente, bem como por seus resultados impressionantes”. Tereza Campello afirmou que o Bolsa Família, consolida-

do e aperfeiçoado ao longo dos seus 10 anos, tornou-se uma plataforma sobre a qual o governo federal brasileiro apoia outras ações de inclusão social, como qualificação profissional, acesso a energia elétrica no meio rural, habitação popular e mais 20 outros programas, citando o Plano Brasil sem Miséria. “O cadastro do Bolsa Família passou a ser um grande mapa para planejar a ação do Estado para os mais pobres”, destacou. Ao citar os efeitos positivos do Bolsa Família na economia, a ministra lembrou ainda que o Brasil já viveu sob a égide de modelos que defendiam o corte de gastos sociais para garantir o equilíbrio fiscal. “Já provamos deste remédio e sabemos que ele não nos conduz a retomada do desenvolvimento”, afirmou, reforçando que não pode ser saudável cortar direitos sociais, desmontar a rede de proteção e tirar poder de compra dos trabalhadores e da população em momentos de crise econômica.

Reconhecimento O Prêmio por Desempenho Extraordinário em Seguridade Social é concedido a cada três anos pela ISSA a entidades ou programas que tenham feito contribuições significativas para a promoção e o desenvolvimento da 54 REVISTA AMAZÔNIA

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Durante o Fórum Mundial de Seguridade Social (WSSF) em Doha

Tereza Campello recebe do secretário-geral do ISSA, Hans-Horst Konkolewsky, prêmio internacional por Bolsa Família

seguridade social, em nível nacional ou internacional. A estatueta é uma edição limitada feita em bronze pelo artista espanhol Juan Mejica, especialmente concebido para a Issa. O prêmio representa uma alegoria do mundo da seguridade social. A forma é como um castelo que protege e defende a vida de todas as contingências. Possui dois relevos: o primeiro é um grupo de pessoas entrelaçadas, para dar uma imagem de unidade e ajuda mútua; o outro relevo faz referência à mão, símbolo de trabalho, diálogo e união.

O programa tem o mérito de gerar grandes efeitos custando apenas 0,5% do PIB

Para cada R$ 1 no Bolsa Família, PIB cresce R$ 1,78 Estudo apresentado recentemente em Brasília, mostra que cada real investido reverte em R$ 2,40 no consumo das famílias. O Bolsa Família é o programa de transferência de renda condicionada que consegue o maior resultado, em termos de redução da pobreza e de retorno à economia, com o menor custo para o governo segundo padrões internacionais. Cada real investido no programa gera um retorno de R$ 1,78 para a economia e um efeito multiplicador de R$ 2,40 sobre o consumo final das famílias. Os dados fazem parte do estudo Efeitos macroeconômicos do Programa Bolsa Família - uma análise

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comparativa das transferências sociais, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo comparou o programa Família a outras sete transferências públicas. Os dados revelam que o impacto do Bolsa Família na redução das desigualdades é 369% maior em relação aos benefícios previdenciários em geral e 86% maior se comparado ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é pago a idosos e pessoas com deficiência. E tudo isso com o investimento de R$ 24 bilhões por ano, que equivalem a apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Nos seus dez anos de existência, o Bolsa Família reduziu em 28% a extrema pobreza no Brasil. “O programa é o principal símbolo na busca da igualdade”, destacou Marcelo Neri. “Sem ele, a pobreza subiria 36% no mesmo período e poderia ser maior por causa do efeito multiplicador”, acrescentou Neri. De acordo com os dados apresentados, entre 2002 e 2012, a proporção de brasileiros vivendo com menos de R$ 70 – a preços de 2011, corrigidos pela inflação ao longo da série – caiu de 8,8% para 3,6%. Sem a renda do Bolsa Família, a taxa de extrema pobreza em 2012 seria 4,9%. REVISTA AMAZÔNIA 55


Mulher Artesã Brasileira, é destaque nos EUA Teçume produzido pela artesã amazonense

Fotos: Divulgação-Abexa

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artesanato brasileiro foi destaque nos Estados Unidos com a exposição “Mulher Artesã Brasileira”. Os trabalhos de 15 artesãs do Brasil ficaram expostos durante a 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas, e por 17 dias na sede da Organização das Nações Unidas – ONU, em Nova Iorque. Para o lançamento da exposição “Mulher Artesã Brasileira”, as artesãs Raimunda Nonata Silva Pinheiro Kaxinawá (representante do Acre), Maria Miguel de Oliveira (Ceará), Juracy Borges da Silva e Gercina Maria de Oliveira (ambas de Minas Gerais), Neulione Alves Gomes e Lucileicka da Silva David (as duas representando o Mato Grosso), Maria das Dores Ramos Silva (Paraíba), Ivonete de Moura Santana (Pernambuco) e Monica Carvalho (Rio Peça produzida pela artesã do Acre

As representantes mineiras e as famosas bonecas do Vale do Jequitinhonha

de Janeiro) vieram especialmente do Brasil para serem homenageadas em uma conferência que aconteceu no dia 10 de setembro. Por motivos de força maior, as artesãs que também participam da exposição e não puderam comparecer, Wendy Sherry Oliveira Barros (Alagoas), Maria Marli das Chagas Oliveira (Amazonas), Berenicia Correa Nascimento (Espírito Santo), Maria José Gomes da Silva (Minas Gerais), Raimunda Teixeira da Silva (Piauí) e Elsa Pozzobon Noal (Rio Grande do Sul), também foram homenageadas. A agenda das artesãs incluiu entrevistas para a Rádio ONU e emissoras de TV, intercaladas com passeios aos principais pontos turísticos e museus de Manhattan. Um dos momentos mais importantes para as artesãs A artesã Berenicia Correa Nascimento, capixaba, há 39 anos ela produz as famosas panelas de barro

Mawapey kaxinawá (Raimunda Silva Pinheiro), do Acre, uma das artesãs brasileiras na exposição da ONU

brasileiras foi uma visita ao Consulado Geral do Brasil em Nova Iorque, onde elas foram recebidas pelo Consul Geral do Brasil em Nova Iorque, Luis Felipe Seixas Corrêa. Na oportunidade, elas presentearam o embaixador com artesanatos, comentaram suas origens e esforços medidos para participarem do projeto “Mulher Artesã Brasileira”. A exposição teve como ponto de partida a promoção da imagem do artesanato brasileiro no exterior, incluindo uma mostra de fotografia do fotógrafo Jayme de Carvalho Jr., de objetos produzidos pelas artesãs, a exibição do 56 REVISTA AMAZÔNIA

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Artesã Lucileicka David de Mato Grosso exibe suas obras Mulher Artesã Brasileira, na sede da Organização das Nações Unidas – ONU

Espaço reservado para exposição dos itens produzidos pela artesã matogrossense Neulione Alves

Artesãs Brasileiras, representantes do artesanato do Brasil em exposição realizada na sede da ONU em Nova Iorque

Wendy Sherry Barros, de Alagoas, elabora peças com artesanato típico da técnica do Filé

Maria Marli das Chagas Oliveira, artesã amazonense, vai expor na ONU

documentário com direção de Thiago Barbosa, fotografia de Fabiana Stig e produção de Nilza Barros, seguida de uma conferência e a publicação de um livro de arte com a coordenação geral de Tânia Machado, com o objetivo de desvendar a alma da mulher que alcança na produção artesanal, não somente uma forma de subsistência, mas também uma motivação constante de transformação da realidade social de sua comunidade. O projeto é uma iniciativa da Associação Brasileira de Exposição de Artesanato (ABEXA), com patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-

sas (Sebrae) e apoio do Instituto Centro Cape, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX – Brasil) e da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência.

Artesã do Rio de Janeiro Monica Carvalho exibe com orgulho suas peças artesanais

Sobre a Abexa A Abexa é uma associação de entidades ou empresas que trabalham junto ao artesão brasileiro. Seu principal objetivo é o incremento das exportações do artesanato brasileiro por meio da sua promoção no mercado externo.

Receptivo em Manaus Reservas de hotéis Passeio de lancha para o encontro das águas Traslado para o aeroporto City tour

Presidente figueiredo Mergulho com botos Ritual indígena Aluguel de veículos

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EcoGerma 2013 Pará e Alemanha: tecnologia em prol da sustentabilidade por Elielton Amador * Fotos: Cristino Martins/Ag. Pará, Anuschka Landenberger, da GIZ.

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governo do Estado do Pará, em parceria com a Agência de Cooperação Técnica Alemã – GIZ, em comemoração ao ano da Alemanha no Brasil, realizaram em Belém, o EcoGerma 2013, o mais importante evento sobre a indústria de sustentabilidade alemã no Brasil. A programação, que acontecia somente em São Paulo, aconteceu no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, com o objetivo de promover a interação entre empresas do Brasil e Alemanha, além de apresentar projetos inovadores nas áreas de energias renováveis, saneamento e tratamento de esgotos, produção florestal, todos focados nos grandes desafios da região amazônica. O tema do EcoGerma 2013 foi “Pará e Alemanha: tecnologia em prol da sustentabilidade”. Dentro da programação, aconteceram três eventos simultâneos: uma feira de expositores de empresas alemãs, painéis de discussões temáticas compostas por acadêmicos, técnicos e empresários e o matchmaking (rodadas de negócios). Na feira, dezoito organizações alemãs apresentaram tecnologias inovadoras voltadas ao desenvolvimento sustentável do Pará. Dentre elas, a Strabag, especialista em tratamento de resíduos e biogás, a Steinert, que trabalha com tecnologia para separação e triagem de resíduos sólidos diversos, separação de metais e mineração, e a Envirochemie, especializada em tecnologia para tratamento e reuso de água em plantas industriais. Na abertura, Sidney Rosa, secretário especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção, representando o governador, disse que o Programa Municípios Verdes é a arma do Governo do Pará para conter a degra-

Na abertura da Ecogerma 2013 no Hangar Centro de Convenções da Amazônia

dação do meio ambiente e atingir a meta estabelecida pelo governador Simao Jatene de desmatamento zero. Para o secretário, a meta produtiva de desenvolvimento do Estado passa necessariamente pela preservação do meio ambiente. “Nós queremos fazer o Pará se desenvolver com a floresta em pé”, afirmou Sidney Rosa. “Mas nós sabemos que ela só permanecerá em pé quando a

Palestra inaugural Desenvolvimento Sustentável com o professor Dr. Christian Berg - Universidade TU Clausthal, mostrando os avanços da legislação alemã e dados alarmantes sobre meio ambiente

floresta tiver um sentido produtivo para a população da região, ou seja, quando ela gerar emprego, renda e bem-estar para quem nela habita e dela tira o seu provento”. De acordo com as metas do Programa Municípios Verdes, os cerca de 38 milhões de hectares já antropizados, ou seja, já desmatados, devem permanecer inalterados, aumentando a produtividade dessa área com o desenvolvimento tecnológico da agricultura e da pecuária e desenvolvendo manejos produtivos de base ecológica. Essa é a base da filosofia do Programa Municípios Verdes, que consiste no apoio aos municípios que desenvolvem atividades produtivas de base ecológica e sustentável. A declaração do Secretário ganhou força na palestra de abertura do professor Christian Berg, que mostrou a evolução da legislação alemã em relação aos rejeitos sólidos e à dinâmica de produção, que prevê a sustentabilidade dos produtos. Berg exibiu números alarmantes, como o índice referente à existência de seis vezes mais plástico do que plancton, em determinadas partes do oceano. “É necessário que cada geração faça a sua parte para conter a degração do meio ambiente, para não sobrecarregar as gerações posteriores”, afirmou ele. A Ecogerma reuniu empresas alemãs que ofecerem serviços de desenvolvimento produtivo com base ecológica. De acordo com o ministro para Assuntos Econômicos da embaixada da Alemanha no Brasil, Martin Eberts, existem atualmente cerca de 1.600 empresas alemãs atuando deste lado do Atlântico como consultoras de desenvolvimento. Elas representam cerca de 10% do PIB da Alemanha. Dessa maneira, pode-se ter uma noção de como o país possui experência no desenvolvimento desse tipo de tecnologia. Tanto para Berg quanto para Sidney Rosa, um dos maiores desafios do desenvolvimento sustentável é a redução da miséria, permitindo que as gerações presentes sejam satisfeitas em suas necessidades sem que as próximas

Em uma das exposições

Degradação do meio ambiente foi debatida na abertura da Ecogerma 58 REVISTA AMAZÔNIA

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À esquerda: Martin Eberts (embaixada da Alemanha em Brasilia), Sidney Rosa, secretário especial de desenvolvimento econômico e incentivo à produção, Horst Steigler (GIZ) a direita do secretário, ao fundo, Paul Steffen, cônsul honorário da Alemanha para o Pará e Amapá, + ao fundo e Christian Berg (Universidade de Clausthal - Alemanha)

gerações sejam comprometidas. A experiência alemã mostra que ações isoladas têm pouco impacto e que por isso os governos devem tomar medidas e ações de grande alcance institucional. Estiveram presentes à abertura do evento o secretário executivo de Indústria, Comércio e Mineração, David Leal; o secretário especial de Proteção Social, Alex Fiúza de Mello; o cônsul honorário da Alemanha para o Pará e Amapá, Paul Steffen; e o diretor interino da GIZ no Brasil, Horst Steigler, outras autoridades e muitos empresários amazônicos.

Debates sobre geração de energia e destinação de resíduos Com mais de 61% da produção de energia oriunda exclusivamente de hidrelétricas, o Brasil ainda importa cerca de 6% de toda a energia elétrica que consome de outros países, como Argentina e Paraguai. Os números foram exibidos durante palestras no primeiro dia do Ecogerma 2013. Os números contrastam com o potencial do país para outras matrizes energéticas, como a biomassa, o biogás e a energia solar. A vasta extensão territorial e o clima tropical e equatorial favorecem a captação de energia solar e a grande produção de biomassa e de dejetos orgânicos. O Brasil produz cerca de 28,5 milhões de toneladas de lixo por ano, e essa média aumenta 15% anualmente.

Bernd Nestrojic com visitante do estande (BTS) Marcio Weichert com visitantes do estande DWIH

Desse montante, de 32% a 51% são lixo orgânico. O brasileiro não sabe o que fazer com esse lixo, tanto que praticamente não existem sistemas de aproveitamento nos aterros sanitários. Os alemães, por sua vez, desenvolveram uma tecnologia para aproveitar esse potencial. “É um enorme potencial de produção energética que é desperdiçado. Um pouco porque a legislação e os impostos não permitem que seja economicamente viável, mas também pela falta de informação e de tecnologia adequada”, disse Philipp Blochmann, da empresa ECO Biopower, durante sua palestra. Hoje existem mais de 1,6 mil empresas alemãs atuando no Brasil com desenvolvimento de projetos produtivos que geram energia sustentável ou produtos que têm um ciclo de vida ecologicamente correto. O engenheiro de produção alemão Sebastian Scherer trabalha há dois anos no Brasil para a Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ). Ele ajudou a elaborar estudos para o órgão federal brasileiro que atua na regulação de energia e desenvolve projetos para empresas privadas no país. A GIZ é uma das mantenedoras do Ecogerma, encontro promovido anualmente no Brasil para divulgar o trabalho dos alemães e proporcionar novas parcerias e convênios, além de negócios ecologicamente corretos. Para Scherer, o potencial do Brasil para energia solar é muito grande e precisa ser explorado. Ele afirmou que as demais energias podem complementar a matriz brasileira. “Na faixa equatorial, há maior tempo de incidência de raios solares, e isso também aumenta a capacidade de captação de energia”, comentou. O evento foi promovido pela Cooperação Brasil Alemanha, com apoio do Governo do Pará, por meio da Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção (Sedip) e Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia. [*] SEDIP

Vera Lima com visitante do estande do SEBRAE

Hans Dieter Hamm com visitante do estande KEC no Brasil

Manoel Nogueira

Profª. Dörte Segebart, Freie Universität Berlin

Manuel Strauch com visitante do estande Michaelis Sistemas Ambientais revistaamazonia.com.br

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Simineral aproxima sociedade da mineração

O sindicato tem sido um participante ativo das discussões que envolvem o setor mineral, além de promover e apoiar ações, como feiras, mostras, publicações, seminários, workshops e convênios

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esponsável por 89% das exportações no Pará, não há dúvida de que o setor mineral é um dos principais condutores da economia no estado, gerando inúmeras oportunidades no mercado de trabalho e movimentando a renda de famílias. Hoje, já são mais de 230 mil empregos diretos e indiretos na mineração paraense. E as expectativas são de crescimento para os próximos três anos, o que demanda 113 mil novos postos de trabalho. E na difusão desse grande leque de oportunidades, o Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral), surge como grande protagonista, fazendo, diretamente, a interface com as empresas mineradoras, fornecedores, poder público e sociedade. O desafio, segundo José Fernando Gomes Júnior, presidente do sindicato, é mostrar que a mineração é indissociável do cotidiano das pessoas e, consequentemente, do desenvolvimento socioeconômico da região. “Da moeda ao eletrodoméstico, tudo é feito a partir do minério, seja ferro, cobre, aço ou alumínio. E dentro do diálogo com a sociedade de forma geral, buscamos evidenciar todo o potencial mineral do nosso estado e mostrar o desenvolvimento gerado pela mineração”, ressalta o executivo. Prova disso é que nos últimos dois anos, o sindicato tem sido um participante ativo das discussões que envolvem o setor mineral, além de promover e participar

de ações, como feiras, mostras, publicações, seminários, workshops e convênios. “Queremos aproximar a sociedade como um todo da mineração, esclarecendo as dúvidas, prestando contas do que o setor tem feito e buscando, é claro, as melhores formas para se avançar no desenvolvimento com sustentabilidade. Por isso, gosto de ressaltar nos meus discursos que não é o Pará que está a serviço da mineração. É a mineração que está a serviço do Pará”, destaca José Fernando.

Conquistas da mineração apoiadas pelo Simineral Anuário Mineral A publicação inédita no estado traduz, com plenitude e responsabilidade, a importância da indústria mineral no Dia da Mineração

cotidiano das pessoas, da comunidade e da sociedade. Revela, sem restrições, o quanto a mineração transforma, para melhor, a vida das cidades. A publicação faz uma radiografia completa da mineração paraense, apresentando ao público o desempenho do setor mineral na balança comercial, no saldo das exportações, na geração de empregos, nos projetos de responsabilidade social, nas ações de sustentabilidade e nos futuros empreendimentos na região. O sucesso da primeira edição foi tamanho que a segunda circulou com 3.000 exemplares, o dobro da primeira. O lançamento também aconteceu em mais treze municípios, também dobrando o número da primeira. Em 2014, com o tema “Mineração Sustentável: legado para a nossa gente”, o 3º Anuário Mineral do Pará virá com mais uma novidade: versão bilíngue, com tradução para o inglês. Dia Estadual da Mineração no Pará As ações do Simineral junto aos diversos atores sociais vem resgatando a importância da atividade e conduzindo o setor para uma melhor interação com a sociedade. A Assembleia Legislativa, como Poder que legitimamente representa o nosso povo, vem cada vez mais se

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mostrando sensível ao tema. Foi assim que o parlamento estadual aprovou Projeto de Lei, de autoria do Deputado Raimundo Santos, que fixou o dia 14 de março como o ‘Dia Estadual da Mineração’, no Estado do Pará.

idiomas, entre outros. No total, foram fechados 20 convênios, que garantem benefícios e descontos aos filiados. Convênio de Cooperação Técnica entre o SIMINERAL e o Sindiextra O Simineral e o Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), presidido por José Fernando Coura, assinaram um convênio para ações conjuntas direcionadas à realização de estudos e ao intercâmbio de dados socioeconômicos. O acordo objetiva aproximar a indústria paraense da mineira, reforçando os laços de amizade e cooperação existentes entre os dois estados.

Frente Parlamentar de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Mineração no Estado do Pará O Simineral foi o principal interlocutor da matéria junto aos parlamentares e um dos primeiros apoiadores do projeto. A Frente Parlamentar foi proposta por meio de Projeto de Resolução de autoria do deputado Raimundo Santos, sendo aprovada pelo Plenário da Assembleia Legislativa no dia 14 de junho de 2012, à unanimidade. Presidida pelo deputado autor do projeto, por eleição de seus pares, a Frente foi instituída com o propósito de Simineral AngloGold

José Fernando Gomes Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral)

Concurso de Redação da Mineração. Mais de 4 mil alunos participaram das duas edições do concurso, foram premiadas as cinco melhores redações com um tablet, notebook, netbook, smartphone e máquina fotográfica digital. Já os professores-orientadores dos estudantes premiados e as escolas vencedoras que conquistaram o primeiro lugar foram contemplados com um netbook e um projetor multimídia.

discutir diretrizes que contribuam para promover uma mineração mais sustentável na região, criar redes de fornecedores nos empreendimentos locais, sugerir alternativas econômicas após o encerramento das atividades minerais e, acima de tudo, incentivar a verticalização da produção no estado, já que o Pará é um dos principais produtores de minério do Brasil. Casa da Mineração Numa iniciativa pioneira no Brasil, o sindicato inaugurou no dia 30 de agosto de 2012, em Belém, a Casa da Mineração. O espaço funciona como ponto de encontro do setor mineral paraense para discussões com as esferas públicas e privadas e sociedade civil. A ideia é aproximar o setor produtivo mineral, cada vez mais, da população. No local, estão sediados o Simineral e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A Casa da Mineração é aberta à visitação pública, basta fazer o pré-agendamento junto à secretaria. Concurso de Redação Com o objetivo de incentivar a busca pelo conhecimento e pela informação do setor mineral, o Simineral e a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) lançaram o revistaamazonia.com.br

Cooperação técnica Durante o último ano, o Simineral fechou Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) que objetivou contribuir com o aperfeiçoamento da gestão ambiental no estado e dar suporte à reestruturação organizacional e descentralização da gestão ambiental da secretaria. Associadas Em 2012, o Simineral ampliou em mais de 50% o número de empresas associadas. No ano em que assumiu a presidência, o Presidente José Fernando Gomes Júnior e sua Diretoria contabilizavam oito empresas associadas. Hoje, o sindicato tem 16 empresas filiadas, que participam ativamente de todas as ações realizadas pela entidade. Convênios Para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores das empresas associadas, o Simineral estabeleceu parcerias com grupos educacionais, hotéis, óticas, escolas de Prêmio Concurso de Redação

Atração de Novos Negócios Atrair novos investimentos para fortalecer o setor produtivo no Estado do Pará é uma das propostas do Protocolo de Intenções assinado pelo Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral) e Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom). O acordo objetiva elaborar um Plano Estadual de Novos Negócios. Em uma das pontas, a Seicom estará empenhada na celeridade dos processos necessários à instalação das empresas indicadas pelo Simineral e demais companhias e instituições que aderirem ao Protocolo de Intenções. Como contrapartida, o sindicato e as empresas parceiras farão o encaminhamento do cadastro dos insumos e serviços, informando os fornecedores estratégicos e críticos à Seicom, que avaliará as possibilidades de novos negócios no território paraense. Pré Lançamento

Prêmio de Jornalismo em parceria com o SINJOR - O Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Pará, lançaram o I Prêmio Hamilton Pinheiro de Jornalismo, que vai premiar trabalhos jornalísticos, inscritos, que valorizem o desenvolvimento do Estado por meio da mineração e que atendessem ao tema “Minérios da Nossa Terra. Riquezas para nossa gente”. Mostra “Brasilidade” Com o apoio Simineral, a mineradora de ouro AngloGold Ashanti trouxe, em outubro, para Belém a mostra itinerante “Brasilidade”. Com entrada franca, a mostra apresentou ao público 18 peças conceituais de ouro, que ressaltaram a opulência nativa e o sincretismo do povo e da cultura do Brasil. Entre os destaques, esteve a peça Açaí, desenvolvida pela designer paraense Selma Montenegro. REVISTA AMAZÔNIA 61


Eucaliptos podem ser detectores de ouro

Metal concentra-se nas folhas de árvores que estão diretamente sobre depósitos de ouro. Partículas de ouro naturais em folhas de eucalipto e sua relevância para a exploração de jazidas de ouro enterradas por Vera Novais Fotos: CSIRO, Leigh Henningham, Mel Lintern e Wayne Taylor

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O ouro, acumulado nas folhas de eucaliptos, revela a presença de um depósito na área

se encontrasse ouro nas folhas das árvores durante um passeio na floresta? Poderia pensar que estava sonhando. O mais certo é que esse ouro, acumulado nas folhas de eucaliptos, revelasse a presença de um depósito na área. O ouro na superfície das folhas pode resultar da deposição de partículas em suspensão na atmosfera, devido a uma exploração próxima, à semelhança do que acontece com as poeiras libertadas por outras explorações mineiras ou pelas pedreiras. Mas a presença de ouro no interior das folhas pode resultar da absorção do mineral pelas raízes da planta, como demonstra, na última edição da revista Nature Communications, a equipe de Melvyn Lintern, da Organização da Commonwealth para a Investigação Científica e Industrial (CSIRO, na sigla inglesa), a agência para a ciência da Austrália. O ouro é um metal denso, maleável e bastante resistente à corrosão, fazendo com que o homem lhe dê as mais variadas utilizações, desde as restaurações dentárias, as tintas de cerâmica, a microscopia eletrónica até ao fabrico de moedas. Porém, este elemento químico não é essencial para nenhum ser vivo. A sua baixa solubilidade e possível toxicidade justificam as estratégias de algumas plantas para o eliminarem ou acumularem em compostos estáveis. Para perceber se as plantas poderão ser bons indicadores da existência de depósitos de ouro em profundidade, os investigadores analisaram as folhas e a casca de árvores localizadas diretamente acima dos depósitos, a cerca de 40 metros de profundidade, em duas prospecções de ouro: Freddo, na zona oeste da Austrália, e Barns, no Sul. Além disso, analisaram árvores mais afastadas desses depósitos.

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Traços de ouro nas folhas

Sistema radicular do eucalipto, perspectiva

Utilizaram eucaliptos, uma planta nativa na região, nos quais registaram que as concentrações de ouro são muito maiores por cima do depósito do que aqueles nas zonas mais afastadas. Para as plantas absorverem estas partículas de ouro, este metal tem de estar disperso nas restantes camadas do solo ou as raízes têm de chegar a pelo menos 40 metros de profundidade. Depois de absorvido pelas plantas, o ouro é capturado por cristais de oxalato de cálcio, invisíveis para o olho humano e inofensivas para as funções celulares. A principal função destes cristais de oxalato de cálcio é a regulação do cálcio nas células.Enquanto os eucaliptos de Freddo acumularam o ouro nas folhas, os de Barns, para além desta estratégia, também o expeliram durante a sua transpiração.

Mas se pensa que pode extrair ouro do interior da Terra usando eucaliptos, está enganado. As quantidades nas folhas são muito pequenas. Seja como for, desta forma os investigadores acreditam ter encontrado uma solução viável para os exploradores mineiros poderem detectar depósitos escondidos no interior da Terra, uma vez que a

Vestígios de ouro nas folhas

Folha de Eucaliptos mostrando o ouro. Uma solução viável para os exploradores mineiros poderem detectar depósitos escondidos no interior da Terra revistaamazonia.com.br

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O eucalipto atua como uma bomba hidráulica – suas raízes estendem dezenas de metros para o chão e tiram a água que contém o ouro. Como o ouro é provável que seja tóxico para a planta, ele é movido para as folhas e ramos, onde ele pode ser liberado para o chão “. “Se você tivesse quinhentas árvores de eucalipto que crescem sobre um depósito de ouro, eles só têm ouro suficiente lá para fazer um anel de casamento disse o geoquímico da CSIRO Dr Mel Lintern.

Dr Mel Lintern, geoquímico da CSIRO

descoberta de novos locais de mineração caiu 45% nos últimos dez anos. A exploração mineira poderá beneficiar de uma melhor compreensão da ligação entre a biologia, a geologia e o clima, concluem os investigadores, acrescentando que esse conhecimento é “importante na descoberta de novos depósitos de ouro no futuro”.

Relação entre elementos-chave em um perfil de solo calcário perto

Localização da amostragem transversal do depósito

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Partículas de ouro e dados analíticos de amostras de laboratório de produção e naturais

As concentrações de ouro de amostragem transversal revistaamazonia.com.br


Muito além do verde

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palavra “sustentabilidade” se popularizou tanto nos últimos anos que acabou se desviando do seu sentido original. Basicamente, a atividade sustentável é aquela que permite atender às necessidades presentes sem comprometer as da geração futura. E, para merecer a qualificação de “sustentável”, uma ação deve se apoiar sobre o seguinte tripé: ser economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente responsável. Uma empresa não é sustentável só porque reduziu o número de impressões em papel, aboliu o uso de copos plásticos ou implantou o sistema de coleta seletiva. Essas providências colaboram para o bem do planeta, mas não são suficientes. O conceito “sustentável” deve estar incorporado à própria dinâmica da empresa, bem como aos produtos que ela coloca no mercado. No caso do setor de habitação, a “sustentabilidade” deve ser observada em todas as etapas do processo produtivo. Da escolha do terreno ao processo de loteamento, da incorporação à comercialização dos imóveis, tudo deve estar respaldado pelos cuidados ambientais e pelo respeito ao papel social da empresa. Traduzindo: deve-se priorizar o uso de materiais de procedência comprovada, que tenham gerado o menor impacto possível em sua obtenção e transporte; deve-se implantar mecanismos de eficiência energética (painéis fotovoltaicos, janelas, portas e outros materiais que proNo caso do setor de habitação, a “sustentabilidade” deve ser observada em todas as etapas do processo produtivo

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por Ciro Scopel*

Mas não é só do “verde” que uma empresa sustentável deve cuidar

piciem maior entrada de luz e desempenho térmico); deve-se utilizar equipamentos que favoreçam a economia de água e seu reaproveitamento etc. Mas não é só do “verde” que uma empresa sustentável deve cuidar. Os seres humanos também fazem parte deste planeta que, de duas décadas para cá, muitos formadores de opinião se propuseram a “salvar”. É aí que entra o segundo pilar da sustentabilidade: a ação social. Não se trata exatamente de filantropia. Esta é positiva, sim, mas não pode ser vista como um fim em si. A uma empresa, não cumpre o papel de distribuir “benesses” – ela tem o dever de produzir com qualidade, de gerar empregos, de cumprir a legislação, de recolher seus impostos. Uma empresa contemporânea sabe que, a estes ditames, somam-se as novas demandas sociais – e, vale lembrar, o consumidor moderno espera que as empresas das quais adquire produtos e contrata serviços esteja atenta a este novo modo de fazer negócios. Uma boa maneira de dar conta dessas novas demandas seria unir forças com as organizações de terceiro setor. A priori, estas seriam especializadas em suas respectivas áreas de atuação, e unir-se à iniciativa privada seria uma boa maneira de obterem os recursos necessários ao atingimento de suas metas. Porém, um estudo de 2001 – portanto, antigo –, feito pelo Centro de Empreen-

dedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FEA/USP acerca de “alianças intersetoriais”, revelava, à época, que 37% das empresas preferiam deter a autonomia e exclusividade de suas ações de responsabilidade social. Em 2010, outra pesquisa, desta vez coordenada pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), apontou que 60% dos associados daquela entidade optavam por executar projetos com equipe própria em vez de recorrerem ao know-how de ONGs “especializadas”. Nas duas pesquisas ficou claro que existe uma espécie de “desconfiança mútua” entre as organizações do terceiro setor e a iniciativa privada, dificultando a construção de parcerias que, bem utilizadas, poderiam render frutos. Para as empresas, as ONGs são ineficientes; já do lado das organizações da sociedade civil, surgiram posturas ambivalentes. Algumas têm uma percepção positiva das parcerias e acreditam que estas lhes trouxeram ampliação de network, fortalecimento de imagem e acesso a recursos. Outras, porém, frustraram-se com a incompatibilidade entre os métodos a que estavam habituadas e o “excesso de pragmatismo” das organizações. Em resumo: por mais que a necessidade de atentar para o desenvolvimento sustentável esteja clara, ainda falta, para muitas empresas e também para outros tipos de organização, uma efetiva “internalização” dessa necessidade e desse conceito. Atenção ao meio ambiente, respeito ao ser humano e, principalmente, lucro e sucesso nos negócios, pois sem isso nenhuma empresa sobrevive. Estes fatores são os verdadeiros pilares da tal “sustentabilidade”.

O termo sustentabilidade abriu novos debates, novas idéias, e trouxe novas reflexões sobre a natureza [*] Vice-presidente de Sustentabilidade do SecoviSP (Sindicato da Habitação) e titular da Scopel Empreendimentos e Obras S/A

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Comunidades locais podem monitorar florestas como especialistas Levantamentos feitos a partir de instrumentos simples, como fitas métricas e estacas, podem produzir dados mais precisos do que equipamentos modernos. Estudo defende maior engajamento de moradores de áreas de mata

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fim de garantir informações precisas e confiáveis sobre reserva de carbono em áreas verdes, a participação das comunidades que vivem em florestas tropicais no processo de monitoramento da região é essencial. Usando instrumentos simples, como fitas métricas e estacas, eles conseguem obter resultados ainda melhores e mais próximos da realidade do que especialistas utilizando equipamentos de alta tecnologia, como satélites. Esta é a conclusão do estudo Monitoramento comunitário para Redd – promessas internacionais e realidades em campo, desenvolvido pelo Centro Mundial Agroflorestal- ICRAF. Os 22 cientistas envolvidos chegaram ao resultado a partir de pesquisas feitas em 289 áreas verdes no sudeste da Ásia – como florestas baixas na Indonésia, florestas tropicais na China e florestas de monção no Laos e no Vietnã. Acompanhados por técnicos, moradores dessas localidades contaram árvores, mediram diâmetros de troncos e calcularam a quantidade de biomassa por hectare. Os pesquisadores depois compararam as medidas com as que haviam sido coletadas pelos especialistas com ajuda de computadores. Os resultados corroboram uma

tendência entre pesquisadores ao ressaltarem que, devidamente treinados, moradores de pequenas comunidades e de baixa escolaridade conseguem ir a campo e monitorar com sucesso a biomassa de florestas. O levantamento das reservas de carbono em uma área verde é importante para que especialistas possam, com base na biomassa preservada, incluir na contabilidade das emissões de gases estufa as liberações evitadas acom a redução do desmatamento. Este é o conceito da chamada Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd). O ecologista finlandês Finn Danielsen, coordenador da pesquisa, vai além. Para ele, a falta de engajamento local pode fazer com com que levantamentos sobre as reservas de carbono corram sérios riscos de não resultarem em medidas concretas. Para garantir informações precisas e confiáveis sobre reserva de carbono em áreas verdes

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“Você pode ter todo tipo de pesquisa numa área, mas se você não envolver os membros da comunidade, será muito difícil transformar toda o monitoramento em medidas reais para a floresta. Pois há um grande risco de não haver um link entre o monitoramento e o manejo floresta”, assinala Danielsen, ecologista na Fundação Nórdica do Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Compenhague. “E o principal ponto é manejar florestas para que as árvores sejam preservadas.”

Alternativa a dados oficiais Danielsen ressalta que existem iniciativas em vários países, como Quênia e Índia, que envolvem produtores locais. No entanto, segundo o estudo – o primeiro a fazer um levantamento quantitativo sobre a participação comunitária no Redd – quase metade dos projetos relacionados a dados sobre reservas de carbono em florestas ignora a participação dos moradores locais. Estima-se que cerca de 240 milhões de pessoas vivam em florestas tropicais em países de desenvolvimento atualmente. Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), florestas tropicais representam hoje 15% da superfície terrestre e contêm cerca de 25% de todo o

Comunidades da Indonésia precisam buscar o equilíbrio entre explorar e preservar

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Comunidade local com fitas métricas e estacas, podem produzir dados mais precisos do que equipamentos modernos

O ecologista finlandês Finn Danielsen, coordenador da pesquisa, em trabalho de campo em uma floresta de mangue

carbono contido na biosfera terrestre. “Nós descrevemos o que é densidade florestal, explicamos técnicas de medição e o que queremos obter com elas”, explica a pesquisadora Subekti Rahayu, analista do Icraf que conduziu o trabalho de campo na Indonésia e no Vietnã. Segundo ela, muitos dos locais já tinham trabalho para empresas florestais, por isso já contavam com alguma experiência em levantar dados sobre árvores. Subekti destaca que as principais dificuldades em campo estão relacionadas à falta de conscientização da população, especialmente entre os mais jovens, sobre a necessidade de preservação do ambiente em que vivem. “Eles

vivem um dilema. Eles querem conservar a área, porque querem ter água limpa, por exemplo, mas por outro lado eles precisam tirar dinheiro de algum lugar para viver”, avalia. Além do efeito positivo na preservação das áreas, para Danielsen o engajamento das comunidades pode ainda

se converter em fonte de renda para a população, que oferece sua mão de obra. Além disso, o monitoramento por parte das populações pode ainda servir como um contraponto para validar os levantamentos feitos pelos governos, já que dependendo do país a credibilidade dos dados sobre as florestas pode ser questionada.

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A ONU destaca o papel do “super alimento” andino O Ano Internacional da Quinoa Muitas variedades de quinoa são cultivados

Considerado o “grão de ouro dos Andes”, a quinua é um antigo alimento dos indígenas andinos que integra atualmente dietas saudáveis

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quinoa pode desempenhar um papel importante na erradicação da fome, da desnutrição e da pobreza, disse o Diretor Geral da FAO, José Graziano, no lançamento oficial do Ano Internacional da Quinoa, na sede das Nações Unidas. O Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon; o Presidente da Bolívia, Evo Morales; e a Primeira Dama do Peru, Nadine Heredia Alarcón de Humala, estavam entre os participantes de alto nível de uma jornada com diversos eventos centrados na celebração do “super alimento” andino, um cultivo similar ao cereal, de alto valor nutritivo e rico em proteínas e micro nutrientes. “A quinoa pode ser um aliado chave na luta contra a fome, por ser um alimento rico em vitaminas, minerais e ácidos graxos”, disse Graziano da Silva. “Também é um cultivo climaticamente inteligente, já que pode crescer em condições mais adversas”, acrescentou. “Enquanto o mundo enfrenta o desafio de aumentar a produção de alimentos de qualidade para alimentar uma população crescente com as mudanças climáticas, a quinoa proporciona uma fonte alternativa de subsistência para os países que sofrem de insegurança alimentar”, afirmou Graziano.

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A quinoa é o único alimento de origem vegetal que tem todos os aminoácidos essenciais, oligoelementos e vitaminas e ao mesmo tempo tem a capacidade de se adaptar a diferentes ambientes ecológicos e climáticos. Resistente à seca, a solos pobres e de salinidade elevada, pode ser cultivada a partir do nível do mar até uma altitude de quatro mil metros e, ainda, pode suportar temperaturas entre – 8 º C e 38º C.

Presente dos Andes “Nenhuma outra característica do mundo natural está tão intimamente ligada à história humana como a agricultura”, disse o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-Moon. “Sem as abundantes riquezas do reino vegetal, a vida como a conhecemos simplesmente não existiria. Um

dos presentes que recebemos da natureza foi a quinoa”, ressaltou. O Secretário-Geral também destacou o papel potencial da quinoa no âmbito do Desafio Fome Zero, não só por seu valor nutricional mas, também, porque a maior parte da quinoa é atualmente produzida por pequenos agricultores, muitos dos quais enfrentam insegurança alimentar. O Desafio Fome Zero tem como objetivo aumentar a produtividade e a renda dos pequenos produtores, que podem se beneficiar de uma maior consciência global e das novas pesquisas científicas sobre a quinoa, segundo o Ban Ki-Moon.

O futuro plantado milhões de anos atrás A quinoa teve uma grande importância para as civilizações pré-colombianas andinas, superada só pela batata. Tradicionalmente, os grãos de quinoa são tostados e se transformam em farinha para fazer pão. Também pode ser cozinhada, adicionada a sopas, usada como cereal, pasta e inclusive pode ser fermentada para produzir a cerveja ou chicha, bebida tradicional dos Andes. Atualmente, a quinoa encontrou lugar de destaque na cozinha gourmet e tem um papel na indústria farmacêurevistaamazonia.com.br


tica e para outros usos. O cultivo da quinoa se estende atualmente muito além da região andina e – além da Bolívia, Peru, Equador, Chile, Colômbia e Argentina – é produzida também nos Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Itália, Quênia e Índia. Durante a cerimônia, Graziano da Silva destacou que o esforço para promover a quinoa é parte de uma ampla estratégia da FAO para potencializar os cultivos tradicionais ou os esquecidos, como meio para combater a fome e promover a alimentação saudável. Também enfatizou o

relevante papel dos povos indígenas como guardiões de sua cultura por séculos. “O valor da quinoa não consiste somente nos seus talos coloridos mas também no conhecimento acumulado pelos povos andinos que conservaram as diversas variedades, otimizando sua produção e desenvolvendo uma rica e variada gastronomia em torno da quinoa”, disse o Diretor Geral. O evento de Nova Iorque é o início de uma série de atividades culturais, artísticas e acadêmicas, bem como de investigação científica, que se prolongará durante o ano de 2013 e a FAO espera que contribua para o bem-estar de milhares de pequenos agricultores e de consumidores no mundo todo.

A quinoa é um legado ancestral dos povos andinos

Segundo um estudo do governo boliviano, é “o único alimento vegetal que possui todos os aminoácidos essenciais, com um valor calórico maior ao do ovo e do leite e comparável apenas com o da carne, além de um conteúdo proteico que supera o dos grãos de trigo, arroz, milho e aveia. “A quinoa é um legado ancestral dos povos andinos, que se traduz em mais de 7.000 anos e que se apresenta para uma alternativa digna para a atual crise alimentar”, afirmou Morales.

Tabule de quinoa Ingredientes -1 xícara (chá) de quinoa em grãos; 1 tomate sem pele e sem sementes, cortado em cubinhos; 1 cebola média picada; 1 dente de alho grande picado; 3 colheres (sopa) de salsinha picada; 2 colheres (sopa) de hortelã picada; raspas de 1 limão ; suco de 1 limão -2 colheres (sopa) de azeite ; 2 xícaras (chá) de água ; sal a gosto Modo de Preparo Numa panela, coloque a quinoa e a água. Leve ao fogo médio e deixe cozinhar por 25 minutos até a água secar, com a panela entreaberta. Transfira a quinoa para uma tigela e deixe esfriar. 2. Na tigela com a quinoa, misture todos os outros ingredientes e mexa bem. Leve à geladeira. 3. Um pouco antes de servir, tire o tabule da geladeira e deixe descansar um pouco à temperatura ambiente. Se quiser, sirva com coalhada seca e pão sírio. revistaamazonia.com.br

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A sustentabilidade na produção de grãos por Dirceu N. Gassen* Um novo perfil de agricultor e de negócios na agricultura

A

evolução e as mudanças na agricultura dos últimos 20 anos, com o plantio direto, a biotecnologia, a automatização de equipamentos, a agricultura de precisão e eficiência nos processos para o aumento na produção, resultaram em avanços tão importantes quanto os que ocorreram em vários séculos, incluindo o trator e a revolução verde. Além da evolução na tecnologia, podem ser citadas as significativas mudanças políticas. No passado, as nações controlavam a produção e os estoques, com o pensamento na subsistência familiar e na garantia de disponibilidade de alimentos. As mudanças com a perestróica e o glasnost (reestruturação e transparência), a abertura de mercados, a livre competição e a queda de tensões de guerras entre as grandes potências, aceleraram as mudanças na agricultura. A necessidade de evoluir e adaptar-se às demandas do mercado, com maior eficiência nos processos de produção, resultaram em inovações tecnológicas e, em um novo perfil de agricultor e de negócios na agricultura. A lógica predominante é a competição com os melhores em qualquer parte do mundo. A agricultura deixa de ser um negócio de proprietários, protegida pelo Estado, para ser parte de uma cadeia de produção de alimentos regida pelo mercado, pela qualidade dos produtos, com base na adoção de boas práticas agrícolas. E o modelo preconizado é o da sustentabilidade com a rastreabilidade. 70 REVISTA AMAZÔNIA

A sustentabilidade objetiva a qualidade de vida, sem esgotamento de recursos naturais e sem gerar contaminantes não assimiláveis pela natureza, reconhecendo a coexistência das gerações futuras. A partir dos anos 90, a agricultura passou a ser um “livro aberto”, envolvendo a eficiência na produção, menor impacto sobre o ambiente, padrões na qualidade dos produtos, comprometimentos sociais e a certificação como estratégica de controle do consumidor. A produção com base em boas práticas agrícolas preconizadas e padronizadas pela FAO é definida como o núcleo da agricultura moderna, integrando num só conceito as exigências agronômicas e as de mercado. Tem como objetivo obter produtos saudáveis, livres de contaminações

químicas, físicas ou biológicas, orientadas por diretrizes documentadas (certificáveis) e recomendações de caráter geral contemplando todas as atividades e insumos relacionados aos sistemas de produção. Ou seja, fazer as coisas bem e dar garantias disso. A sustentabilidade na produção de grãos tem a sua base na rentabilidade e nos impactos sobre recursos naturais e consequências sociais. O agricultor tem a propriedade da terra, mas depende de conhecimento, atitudes e parcerias para atender as demandas do mercado. O perfil do agricultor proprietário da terra e com o domínio dos seus recursos naturais mudou para um gestor da produção de alimentos e guardião da natureza. Hoje o agricultor deve ser um profissional habilitado para a gestão com apoio de especialistas comprometidos com a sustentabilidade na cadeia de produção de alimentos. Daí a evidência de que a rentabilidade em agricultura é resultado da aplicação de conhecimento por hectare. Envolvendo aspectos técnicos com metas no aumento da produção por unidade de área e na eficiência de uso dos recursos naturais. [*] Engenheiro Agrônomo, Conselheiro do CCAS (Conselho Científico para Agricultura Sustentável)

Teçumes confeccionados com fibras vegetais

Produtos saudáveis, livres de contaminações químicas, físicas ou biológicas

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A Importância do reflorestamento para a saúde dos rios

A

companhei recentemente uma reportagem sobre um dos maiores desastres ambientais do país, o assoreamento do rio Taquari, no Mato Grosso do Sul. Por conta das transformações motivadas, em grande parte, por atividades econômicas sem planejamento, há milhões de hectares alagados, dificultando a vida da população local e causando um grande desequilíbrio ecológico na região. Sabemos que entre as causas de assoreamentos como esses está o acúmulo de lixo e detritos nos leitos dos rios, fazendo com que fiquem mais rasos e não suportem as águas das chuvas. A ocupação urbana desordenada próxima a lagos, rios e represas também prejudica o curso natural das águas. Além disso, uma das principais razões para desastres desse tipo é o desmatamento da vegetação ciliar. A retirada de árvores, raízes e toda a cobertura vegetal original facilita que a terra das margens deslize para os rios e comprometa a profundidade de sua calha. Em tempos de discussão sobre a aprovação do novo Código Florestal, está aí um dos pontos em destaque, que tem provocado opiniões divergentes entre congressistas e ambientalistas. Afinal, qual deve ser a extensão da área de preservação próxima às margens dos rios? Enquanto se pensa sobre as diretrizes para o futuro, os fatos são preocupantes e demonstram que há urgência sobre o tema. Isso porque uma série de outros rios do país está correndo os mesmos riscos do Taquari. Ao Assoreamento do rio Taquari, no Mato Grosso do Sul

por Graziela Lourensoni*

Florestas plantadas ainda ocupam menos de 1% do território brasileiro

Acúmulo de lixo e detritos nos leitos dos rios

contrário do que se pensa, não são as medidas mais complexas que irão trazer resultados efetivos no tempo necessário e é por isso que entre as ações que há tempos defendemos está o reflorestamento, principalmente das matas ciliares.

Além de serem essenciais para o ecossistema e para a vida de todos os seres vivos, as árvores aumentam a umidade do ar, atuam no ciclo da chuva e, por consequência, auxiliam no combate ao aquecimento global. Atualmente, nós, brasileiros, somos responsáveis por 516 milhões de hectares de florestas naturais e plantadas, ficando atrás apenas da Rússia em termos de extensão florestal no planeta. Além disso, somos referência mundial em produtividade e manejo de florestas plantadas. Segundo a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) as empresas do segmento florestal atendem às normas ambientais e, para cada 100 hectares plantados, garantem a preservação de outros 170, que ajudam a preservar espécies nativas da fauna e da flora, até mesmo as ameaçadas de extinção. Apesar de todas essas vantagens, a verdade é que as florestas plantadas ainda ocupam menos de 1% do território brasileiro. Assim como o Brasil é conhecido por ser o país do futebol, da alegria, da natureza e do samba, o mesmo pode e deve acontecer com nossas florestas plantadas. Elas são um patrimônio inigualável, um recurso altamente sustentável, que gera emprego e renda, produtos para nosso dia a dia, além de contribuir com a preservação do meio ambiente. [*] Gerente de Marketing e Produto para a América Latina da Husqvarna, multinacional com mais de 320 anos e uma das líderes mundiais no desenvolvimento de produtos para o manejo de parques, florestas e jardins.

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Ondas de calor vão ser mais frequentes e intensas até 2040 Fenômeno é inevitável pelo menos até meados do século, dizem cientistas. Depois, pode diminuir se baixarem também as emissões de gases poluentes

A

s ondas de calor vão ser mais frequentes e intensas nos próximos anos, e deverão afetar mesmo as zonas do planeta habituadas por um clima moderado. Esta é a conclusão de dois cientistas do Instituto de Investigação de Impacto do Clima de Potsdam (Alemanha), que traçaram cenários climáticos até 2100, com base nos registos históricos da temperatura e nos níveis de emissões de gases com efeito de estufa. O estudo conclui que a superfície do planeta afetada por ondas de calor extremas no Verão pode duplicar em 2020, passando dos atuais 5% para 10%. Essa área será quatro vezes maior em 2040, ou seja, 20% do planeta. Os autores Dim Coumou e Alexander Robinson consideram este cenário inevitável. Segundo o estudo, as ondas de calor de grau três (designadas 3-sigma, por se distanciarem da média histórica em três desvios-padrão) vão tornar-se mais fortes independentemente da quantidade de gases com efeito de estufa emitidos nos próximos anos. As regiões tropicais serão as mais afetadas, uma tendência já observada entre 2000 e 2012, tal como as zonas do Mediterrâneo e do Médio Oriente. As ondas de calor ainda mais extremas (5-sigma, com cinco desvios-padrão), muito raras atualmente, atingirão 3% da superfície do planeta em 2040, sobretudo nas zonas tropicais, lê-se no estudo. Por outro lado, a redução das emissões de gases com efeito de estufa pode reduzir e estabilizar o número de episódios de calor extremo na segunda metade do século XXI, realça o estudo.

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Multi-modelo média do percentual de meses de verão boreal no período 2071-2099, com temperaturas além de 3-sigma (em cima) e 5-sigma (parte inferior), sob RCP2.6 (esquerda) e RCP8.5 (direita).

A temperatura da superfície do oceano do mês de junho de 2010 foi o mais quente já registrado revistaamazonia.com.br


Cientistas alertam para desafios que se colocam às populações perante estes cenários

Percentagem de meses de verão boreal no período 2000-2012, com temperaturas superiores a 1 -, 2 - e 3-sigma (superior, médio e inferior, respectivamente) para as observações (à esquerda) e a média CMIP5 multimodelo (direita). Observe que as diferentes barras em cor variam para os diferentes níveis de limiar. As figuras mostram os resultados para os meses de inverno boreais (DJF)

Houve um aumento de ondas de calor excepcional na última década. Esta fotografia mostra fumaça subindo de arbustos e árvores após um incêndio onda de calor relacionado em Mitcham Common no sul de Londres em julho deste ano

Mas os investigadores admitem outro cenário, no qual as emissões de CO2 continuarão a aumentar ao ritmo atual. Nesse caso, a superfície terrestre sujeita a ondas de calor extremas aumentará 1% ao ano a partir de 2040. Em 2100, as ondas de calor de nível 3 afectarão 85% do planeta e as de tipo 5 afetarão 60%. Os autores do estudo alertam para os “graves desafios de adaptação” que se colocam às populações perante estas previsões.

Porcentagem de área terrestre durante os verões boreais com temperaturas mensais além dos diferentes sigmalimites para histórico (esquerda) e do século 21 (meio e direita). O CMIP5 média multi-modelo (grossas linhas coloridas) reproduz com precisão o aumento observado em 1 -, 2 - e os extremos 3-sigma nos dados de temperatura da superfície GISS (linhas pretas sólidas). Projeções futuras são dadas para três-sigma (meio) e 5-sigma (à direita) para cenários RCP2.6 e RCP8.5

A última década tem visto um número excepcional de extrema ondas de calor ao redor do mundo que causaram graves danos a sociedade e aos ecossistemas (WMO 2011, Coumou e Rahmstorf (2012). Estes eventos foram altamente incomum, com temperaturas tipicamente com três desvios-padrão mais quente do que a climatologia local durante várias semanas.

Fogo na floresta na Espanha em 2012

Total de ozônio em 16 de setembro de 2010, 2011 e 2012, com base em dados do GOME2, a bordo do satélite MetOp-A. Os dados foram processados e mapeados no Instituto Meteorológico da Holanda Real (KNMI) revistaamazonia.com.br

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Entre as 500 maiores empresas do mundo, 50 são responsáveis por 73% das emissões poluentes A BMW, a Nestlé e a Cisco Systems são das empresas que mais se preocupam em reduzir as suas emissões de gases estufa por Ana Fernandes Fotos: Carbon Disclosure Project (CDP)

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D

as 500 maiores empresas cotadas do mundo, 50 - isto é, 10% – são responsáveis por três quartos do total das emissões deste universo empresarial. Ligadas sobretudo aos setores da energia ou da siderurgia, viram, em tempos de recessão econômica, as suas emissões aumentar 1,65% nos últimos quatro anos. Dos 3,6 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa que estas cinco centenas de empresas lançam para a atmosfera, 2,54 são da responsabilidade de apenas cinco dezenas. Entre estas contam-se as: BP, a Shell, a Repsol, a Total, a Exxon Mobil, indústrias do aço como a Arcelor Mittal, distribuidores como a Wal-Mart ou empresas de telecomunicações como a AT&T. O aumento verificado nas emissões das 50 empresas, dadas as elevadas emissões produzidas por este setor, equivale a colocar mais 8,5 milhões de camiões a circular nas estradas do mundo ou a abastecer de eletricidade seis milhões de novas casas, compara o Carbon Disclosure Project (CDO), uma organização não-governamental que, em conjunto com a PricewaterhouseCoopers, é responsável pelo relatório sobre as emissões das 500 maiores empresas mundiais, divulgado recentemente. Os investidores e os acionistas exigem, das empresas, transparência. Mas essa transparência tem, tradicionalmente, incidido sobretudo sobre a informação financeira. Mas, hoje, as exigências já ultrapassam as barreiras da 74 REVISTA AMAZÔNIA

contabilidade e começam a dar grande importância às ações de responsabilidade ambiental e social das empresas. Por isso, desde 2000, o CDP questiona as empresas sobre as suas emissões e as iniciativas tomadas para as reduzir, listando-as conforme o seu desempenho e a sua transparência neste capítulo. O relatório é feito a pedido de Governos e empresas, assim como de 722 investidores, que representam 87 bilhões (milhões de milhão) de dólares (mais de 65 biliões de euros) em investimentos. Todas as empresas foram questionadas, mas apenas 389 responderam em tempo útil. A Amazon, o Facebook ou a Apple são algumas das

CDP Global 500: 10% das maiores empresas produzem 73% dos gases de efeito estufa

que não participaram. Uma das principais conclusões do relatório é que “os maiores poluidores não estão fazendo o suficiente para reduzir as emissões”. O relatório avalia dez setores, que vão da energia aos serviços financeiros, passando pela distribuição, serviços de saúde, telecomunicação ou tecnologia. Entre estes, destacam-se três pelo seu peso no total das emissões – no seu conjunto, são responsáveis por 87,5% do total de gases enviados para a atmosfera: energia (que inclui petrolíferas e equipamentos e serviços energéticos), materiais (indústria química, materiais de construção, siderurgia e mineração) e serviços de utilidade pública (geração e distribuição de eletricidade ou gás). Dos três, apenas os materiais aumentaram as suas emissões no último ano em 13,1%. Tanto a energia como os serviços de utilidade pública reduziram (-2,1 e -10,2, respectivamente). Dos restantes setores, apenas dois aumentaram as emissões: a distribuição e o setor financeiro. Mas um dos principais objetivos do estudo é avaliar a preocupação dos empresários com o impacto da atividade da sua empresa no clima e a transparência na informação prestada sobre o assunto. No que diz respeito à preocupação em minimizar o seu impacto, destacam-se a BMW, a Nestlé e a Cisco Systems. As mesmas empresas destacam-se quando se fala em transparência. Juntam-se a estas a Daimler, a Philips, a BNY Mellon (setor financeiro) e a espanhola Gas Natural SDG. Esta última é a única empresa incluída no lote das 50 maiores poluidoras. No final do ano passado, o CDP fez um ranking semelhante, mas só para as cotadas ibéricas. Para concluir que as maiores empresas portuguesas apresentam preocupações com as alterações climáticas, incorporando-as na sua estratégia de negócio. Entre estas, a EDP, o Banco Espírito Santo e a Caixa Geral de Depósitos revistaamazonia.com.br


surgiam bem classificadas. Num ano em que se ultrapassou a 400 ppm (partes por milhão) de dióxido de carbono na atmosfera, aproximando-se da marca dos 450 ppm que muitos consideram o limite máximo para se evitar consequFigure MA2. Metric tons CO2e per unit of revenue (US$) of the 10 largest companies by revenue in materials (scope 1 & 2 emissions) BASF Vale E.I. du Pont de Nemours

ências desastrosas das alterações climáticas, o papel das empresas é fundamental. No momento em que as atenções se viram para a retoma econômica, é crucial a mudança de atitudes, defendem os autores do relatório. Sobretudo porque o empenho na luta contra as alterações climáticas é também uma oportunidade de negócio e de redução de custos.

BHP Billiton Anglo American Dow Chemical Rio Tinto

Vale é destaque em transparência e gestão de emissões

Arcelor Mittal POSCO Holcim

0

0,5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

5

Thousands of metric tonnes of CO2e per unit of revenue

O relatório diz que as empresas que demonstram um forte compromisso com a gestão do seu impacto sobre o meio ambiente está gerando resultados financeiros e ambientais melhoradas. Análise das empresas líderes em andamento climáticas, com base na metodologia do CDP, incluindo BMW, Nestlé e Cisco Systems, sugere que eles geram o desempenho das ações superior. Além disso, as empresas que oferecem aos empregados incentivos monetários relacionados com o consumo de energia e emissões de carbono são 18 por cento mais bem sucedidos em realizar taisreduções.

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A Vale é a empresa que menos emite Gases do Efeito Estufa (GEE) por receita no setor de mineração. Este dado integra o relatório de mudanças climáticas CDP - 500 Climate Change Report 2013. Além disso, a Vale faz parte do ranking das empresas líderes mundiais em transparência no reporte climático. A empresa alcançou

54%

34%

40%

BMW, Daimler, Philips Electronics, Nestlé, empresa financeira BNY Mellon, Cisco Systems e utilidade Gas Natural SDG, Honda, Nissan, Volkswagen, Hewlett-Packard e Samsung, são as 12 top empresas em emissões de gases de estufa (ver quadro) , de acordo com o CDP Global 500 Alterações Climáticas Relatório de 2013

98 pontos (em uma escala de 0 a 100) em transparência e teve alto desempenho na gestão de suas emissões. Comprometida com a gestão de suas emissões, a Vale estabeleceu uma meta, em 2012, de reduzir em 5% as emissões GEE projetadas para 2020. Para isso, adotou uma metodologia semelhante à dos planos setoriais desenvolvidos no Brasil, que estão alinhados à Política Nacional de Mudanças Climáticas. A empresa também atua diretamente na sua cadeia de valor. Só no ano passado, 170 fornecedores foram treinados em inventário de emissões de GEE.

37%

31%

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“Gelo inflamável”, solução ou grande problema? por Hiroko Tabuchi “Gelo inflamável” poderá revolucionar a indústria de energia. E as mudanças climáticas?

Fotos: Methane Hydrate Research Center e Ryu Spaeth

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estrada para o futuro energético do Japão pode passar por Sapporo, no norte do país, onde pesquisadores estudam sedimentos que contêm hidratos de metano, formações geladas de moléculas de água com o gás preso em seu interior. Os sedimentos são encontrados em grande quantidade em todo o mundo, tanto sob o mar como no permafrost (solo permanentemente congelado). Se puderem ser usados com segurança, serão uma fonte abundante de combustível, especialmente em países com poucas reservas de energia, como o Japão. Em março, Tóquio disse que produziu metano a partir de hidratos de sedimentos sob o oceano Pacífico. A iniciativa, conduzida a partir de um navio-plataforma na fossa de Nankai, foi o primeiro teste mundial de produção de hidrato em águas profundas. Mas os cientistas dizem que ainda há muito a conhecer sobre as substâncias, chamadas às vezes de “gelo inflamável”. “Precisamos saber mais sobre as propriedades físicas do hidratos e dos sedimentos”, disse Hideo Narita, chefe do laboratório, que faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industriais Avançadas. Novas pesquisas vão ajudar os cientistas a entender o impacto ambiental da produção de hidrato, incluindo a possível liberação de metano, um dos gases causadores do efeito estufa. Também existe o potencial de que formações geológicas submarinas se tornem instáveis quando os hidratos forem removidos. Timothy S. Collett, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, disse que, apesar de toda a conversa sobre seu potencial energético, “os hidratos ainda são um problema científico”. A pesquisa apresenta desafios porque os hidratos se formam sob alta pressão, causada pelo peso da água do mar ou da rocha acima deles, e essa pressão deve ser mantida quando os núcleos de sedimentos são analisados. Caso contrário, os hidratos em seu interior se dissociam em água e gás, disse Carlos Santamarina, da Georgia Tech em Atlanta. Os hidratos de metano intrigam os engenheiros do petróleo há décadas, pois podem se formar em oleodutos submari-

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nos e obstruir o fluxo. Eles tiveram um papel pequeno mas indesejável durante os esforços para conter o vazamento de petróleo no golfo do México em 2010, bloqueando uma caixa de aço que conduzia o óleo para a superfície. Encontrar hidratos durante a perfuração também pode complicar a exploração das reservas convencionais de petróleo e gás, mas há anos os cientistas consideram que

os hidratos podem ser uma fonte de energia. Às vezes, eles podem aparecer como blocos de gelo no leito marinho. No entanto, para a produção de energia, os pesquisadores estão mais interessados nos que se formam nos sedimentos. Eles são criados quando o metano – que é produzido por micróbios, calor e pressão atuando sobre matéria orgânica – migra para cima nos revistaamazonia.com.br


Chamas de gás que está sendo expulso de um queimador em um navio japonês de perfuração em alto-mar no Pacífico

sedimentos e se mistura com a água em condições específicas de temperatura e pressão. A substância gelada se forma nos espaços microscópicos entre grãos de sedimento, muitas vezes em grande quantidade. “Você tem muito metano, muita água e, adivinhe, eles vão formar hidratos”, disse Carolyn Ruppel,

da pesquisa geológica. Os sedimentos arenosos, com grãos maiores, são preferíveis à argila. “Eles são muito permeáveis, por isso é fácil retirar os hidratos”, diz Ruppel. Técnicas convencionais não funcionariam bem em argila, que contém a maioria de reservas de hidrato conhecidas,

Os hidratos de metano são uma fonte de energia de combustíveis fósseis potencialmente vasto, porém sua extração tem o potencial de desestabilizar o aquecimento global devido a liberação de grandes emissões, acelerando a mudança climática

porque o tamanho dos poros é muito menor, disse Santamarina. “Vai ser necessária uma boa engenharia para funcionar”.

Depósitos de hidrato de gás estão em todo o mundo, e de acordo com o USGS, há mais hidrocarbonetos a serem extraídos de gelo inflamável do que todo o carvão, petróleo e gás de xisto extraído passado, o presente e para o futuro Os japoneses têm tentado extrair hidratos de gás, que estão sob e em torno de sua nação em quantidades muito grandes, há anos. Os EUA e a Índia, bem como algumas outras nações, também estão investido fortemente em pesquisa hidrato de metano. Muitos acreditam que é a fonte de combustível de hidrocarboneto do futuro. O metano é o principal componente do gás natural. O “gelo inflamável “, contém quase duas vezes mais energia do que todos os recursos mundiais de gás, petróleo e carvão juntos.

Depósitos enormes de metano congelado na forma de hidrato de metano estão enterrados dentro dos sedimentos oceânicos e podem ser uma fonte futura de energia, um dos principais contribuintes para a mudança climática, ou ambos. Estima-se que gigatoneladas de hidratos de gás estão enterrados e parcialmente exposta ao longo das margens continentais globais, rivalizando com as concentrações de gás natural combinados de petróleo, carvão e. Libra por libra, o metano é ~ 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono como um gás de efeito estufa. O montante global de carbono vinculados como hidratos de gás é estimado em duas vezes maior do que de carbono em todos os combustíveis fósseis conhecidos. Assim, há um interesse significativo em hidratos como fontes de energia no futuro.

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O campo magnético do Sol está prestes a inverter a sua polaridade Físicos/pesquisadores do Wilcox Solar Observatory, monitoram esse evento solar O Sol fotografado por Solar Dynamics Observatory da NASA (SDO)

Fotos: Linda A. Cicero/Stanford News Service); (NASA/SDO (AIA); Wilcox Solar Observatory

O

s efeitos do evento que ocorre a cada 11 anos, se propagará por todo o sistema solar e será acompanhada de perto por físicos solares. A cada 11 anos, o Sol passa por uma reforma completa quando a polaridade de seu campo magnético – o norte magnético e sul – trocam de lugar. Os efeitos deste acontecimento ocasionará ondulação de grande escala em todo o sistema solar. Embora o mecanismo exato interna que impulsiona a mudança não é totalmente compreendido, os pesquisadores do Wilcox Solar Observatory da Universidade de Stanford têm monitorado o campo magnético do sol em uma base diária desde 1975 e pode identificar o processo como ocorre na superfície do sol. Esta será a quarta mudança que o observatório acompanhou. A nova polaridade se acumula ao longo do ciclo solar de 11 anos , como manchas solares – áreas de intensa atividade magnética – aparecem como manchas escu-

Todd Hoeksema da Universidade de Stanford monitora o campo magnético do sol em Wilcox Solar Observatory da Universidade de Stanford 78 REVISTA AMAZÔNIA

ras perto do equador da superfície do sol. Ao longo de cerca de um mês, as manchas solares se desintegram e, gradualmente, o campo magnético migra do equador a um dos pólos do sol. À medida que move em direção a polaridade do pólo, corrói a , polaridade oposta existente, disse Todd Hoeksema , um físico solar em Stanford desde 1978 e diretor do Observatório Solar Wilcox. O campo magnético diminui gradualmente até zero, e, em seguida, fica com a polaridade oposta. “É como uma espécie de maré entrando ou saindo”, disse Hoeksema. “Cada pequena onda traz um pouco mais de água e, finalmente, chegar à inversão total”.

Os efeitos desse evento são comuns: a área do espaço onde o campo magnético do sol exerce sua influência – chamado de heliosfera – se estende bem além de Plutão , para sondas Voyager da NASA na borda do espaço interestelar. O sol também está tipicamente no auge da sua atividade durante uma reversão do campo magnético, que , além de um aumento do número de manchas solares , é marcada por um surto de erupções solares e ejeções de massa coronal .. Mudando o campo magnético do sol e as rajadas de partículas carregadas podem interagir com o próprio campo magnético da Terra, uma manifestação de que é um pequeno aumento notável na ocorrência e amplitude revistaamazonia.com.br


de auroras. O Campo magnético da Terra também pode afetar os principais sistemas eletrônicos, disse Hoeksema, tais como redes de distribuição de energia e satélites, GPS, por isso os cientistas estão interessados em monitorar a heliosfera. “Nós também vemos os efeitos disso, em outros planetas”, disse Hoeksema. “Júpiter tem tempestades, Saturno tem auroras, e tudo isto é impulsionado pela atividade do sol”. Wilcox vem operando por tanto tempo e com alterações mínimas aos seus dispositivos de detecção, que produziu um dos registros mais completos e detalhados de mudanças diárias para o campo magnético global do sol. Uma característica interessante da transição atual, é que os hemisférios do sol estão mudando em ritmos diferen-

O verdadeiro poder do Sol encontra-se em suas profundezas: estes fenômenos de superfície é fundamental no centro da estrela. O interior e exterior são separados por uma barreira dura chamada tachocline. Até agora, os cientistas não sabem realmente o que está dentro do Sol, mas este gráfico mostra que está chegando perto revistaamazonia.com.br

A imagem à esquerda mostra um sol calmo em outubro 2010. O lado direito, em outubro 2012, mostra uma atmosfera solar muito mais ativo e variado como o sol se aproxima de pico de atividade solar, um pico conhecido como máximo solar, previsto para fins de 2013 O campo magnético do Sol está prestes a inverter a sua polaridade

tes. O hemisfério norte capotou no verão , no hemisfério sul deve virar em um futuro próximo, disse Hoeksema. Hoeksema e seus colegas também notaram que a força dos campos magnéticos nos pólos medido dois ou três anos atrás, eram apenas a metade do que eles normalmente estão no mínimo solar. Isso indica que o próximo ciclo solar será fraco também, que está sendo confirma-

Este gráfico mostra como a intensidade do campo magnético solar nos pólos tem diminuído desde 1966

do em medições corrente... “O que acontecerá no próximo ciclo vai ser interessante”, disse Hoeksema. “Tecnologicamente , é algo que temos de prestar mais atenção à medida que o tempo passa”. REVISTA AMAZÔNIA 79


As cobras grandes do Pará

por Camillo Martins Vianna *

Em toda Amazônia É muito fácil uma cobra grande encontrar Basta um pequeno rego d’água Para com uma delas topar Umas são muito faladas E outras nem nome tem A não ser que se queira Dar apelido a elas também Corre risco a matriz de N. Sra. da Conceição Em Abaetetuba, no Pará Quando espantarem a cobra Dizem que ela vai desabar Não há quem não conheça Quando a cobra em noite iluminada Se transforma em navio Para ser admirada Em Soure há uma cobra grande É a do rio Paracauarí, No encruzo do rio do Saco Onde costuma surgir No furo do Sossego, também em Soure Quando a maré começa a baixar A cobra grande aparece Sem ninguém assombrar Em local no Baixo Tocantins Em frente da igrejinha Na beira do barranco Tem uma mangueirinha A loca da cobra grande Fica bem pertinho de lá Quando expulsarem a boiuna A mangueirinha cairá 80 REVISTA AMAZÔNIA

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Na boca do Tocantins vivem duas cobras grandes Que não se dão muito bem Lutam e se atracam o tempo todo Mas não maltratam ninguém

Procurar sua loca para não ficar ao léu Já se viram lutas de cobras grandes Que dá para assustar É uma atracação terrível E só uma pode escapar

Na região das ilhas Do município de Abaetetuba No furo do Maracapucu É mina de cobra grande morando por lá

Já se ouviu dizer Que morada de cobras grandes Tem tantas que não dá pra contar E o pessoal tem medo de lá entrar

No trapiche bem na margem do rio Uma criança simplesmente sumiu Foi um alvoroço Nunca mais alguém a viu

Quando se atracam no fundo do mar Um remoinho se forma É uma coisa assustadora Como se a maré fosse acabar

A lua estava cheia Bem cheinha no céu Era bom para uma cobra grande

Na gamboa dos padres Em Ponta de Pedras Dá para um gongo escutar É a cobra grande que saiu para caçar

Acompanhada de luz forte Corre logo a notícia Parece que é a cobra grande Que tinha ido passear Pendurado num ramo seco Um pescador de um certo lugar Foi a cobra que estraçalhou Deixando o corpo a balançar No rio Miritipitanga, no Acará Os ribeirinhos em uma só voz Ao ver barcaça entupida de toras passar Pedem para as cobras grandes afundarem o contrabando atroz Perto de Belém Em uma usina de borracha A cobra grande sai toda noite de lua Somente para asssustar Cobra grande famosa Passo agora a relatar É a do furo das Mariinhas, no Mosqueiro Que mora lá só para encandear A cobra grande de Santo Antônio do Tauá Canta durante à noite Só para meter medo Nos pescadores que vivem por lá.

Cobra grande canta para meter medo

Em toda muito fá Amazônia, é grande e cil uma cobra ncontrar

nde Cobra gra m galho u n a d ra pendu

Cobra gran tinha ido pade ss

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Um em cada cinco répteis está ameaçado de extinção Estudo faz a primeira avaliação com representatividade global do estado de conservação dos répteis. por Ricardo Garcia

Foto: Ruchira Somaweera/UICN

A

proximadamente um em cada cinco espécies de répteis está em risco de desaparecer para sempre da Terra, segundo um estudo que faz pela primeira vez uma avaliação global da situação desta classe de animais. No estudo, publicado na revista Biological Conservation, cientistas avaliaram uma amostra aleatória de 1500 espécies de répteis e concluíram que 19% estão ameaçadas de extinção. Não havia, até agora, uma indicação fidedigna do estado dos répteis a nível global. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, mantida e atualizada anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza

(UICN), identifica 807 répteis “criticamente ameaçados”, “em perigo” ou “vulneráveis”. Mas apenas 39% das 9547 espécies descritas de répteis foram até agora avaliadas, segundo dados da Lista Vermelha. E a avaliação não tem sido sistemática, incidindo mais sobre determinadas áreas do globo ou sobre alguns tipos de répteis. Está em curso uma avaliação completa dos répteis do mundo (Global Reptile Assessment). Mas enquanto isso não fica concluído, o estudo oferece um atalho, através de uma amostra com representatividade global. “É basicamente um retrato imediato do estado dos répteis”, disse Philip Bowles, da Comissão de Sobreviência das Espécies da UICN e um dos autores principais do estudo. Cerca de duas centenas de cientistas, de vários países, estiveram envolvidos nesta avaliação. Os resultados serão validados à medida que a avaliação global dos répteis for

avançando, explica Philip Bowles. A percentagem estimada de espécies ameaçadas não é tão grande como a da classe dos anfíbios – onde duas em cada cinco corre o risco de se extinguir. “Não é tão mau como poderia ser. Mas não são boas notícias”, afirma Philip Bowles. As espécies ameaçadas concentram-se sobretudo nas regiões tropicais, onde têm sido vítimas da destruição do seu habitat, para dar lugar à agricultura ou à exploração de madeira. Os répteis de água doce apresentam maior número de espécies em risco: 30% no total e 50% só para as tartarugas. De acordo com Philip Bowles, o estudo, embora seja apenas uma primeira abordagem à escala global, permite identificar desde já espécies para as quais é prioritário adoptar medidas de conservação. Um dos répteis ameaçados: Ahaetulla nasuta

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