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Ano 9 Nยบ 43 Marรงo/Abril 2014

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00

Editora Cรญrios

Ano 9 Nรบmero 43 2014 R$ 12,00 5,00

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ร GUAS AMAZร NICAS IMPACTO DAS MUDANร AS CLIMร TICAS ร GUA NO FUTURO


Água. Preservamos o seu local de nascimento.

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E de desenvolvimento.

Para a Eletrobras Eletronorte, a água é mais que uma fonte de energia, é a razão de existir. Em cada empreendimento, dedicamos horas de pesquisa e monitoramento para garantir a qualidade e o uso consciente da água. Em cada reservatório, atividades de pesca, turismo, irrigação, abastecimento e até pesquisas em biotecnologia mostramos que a nossa escolha pela sustentabilidade, há mais de 40 anos, tem trazido bons resultados para a empresa e o meio ambiente. 22 de março, Dia Mundial da Água.

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REVISTA AMAZÔNIA 3


Revista

Editora CĂ­rios

Três estudantes de design industrial: Rodrigo García Gonzålez, Guillaume Couche e Pierre Paslier, criaram em Londres uma membrana orgânica biodegradåvel que consegue armazenar ågua...

transfronteiriças

Muitos programas de pesquisa cientĂ­fica estudaram as caracterĂ­sticas ecolĂłgicas, hidrolĂłgicas, antropolĂłgicas, biolĂłgicas e geogrĂĄficas da regiĂŁo amazĂ´nica. No entanto, poucos sĂŁo os trabalhos que consideram a bacia do rio Amazonas como um sistema hidrolĂłgico Ăşnico, a fim de propor uma gestĂŁo sustentĂĄvel e integrada dos recursos hĂ­dricos e terrestres...

38 Rede de soluçþes

sustentĂĄveis para a AmazĂ´nia

Cientistas, pesquisadores, líderes empresariais, tomadores de decisþes, ONGs, grupos indígenas, instituiçþes educacionais e sociedade civil organizada, participaram do lançamento da Rede de Soluçþes de Desenvolvimento Sustentåvel para a Amazônia...

54 Ano da agricultura familiar, camponesa e indĂ­gena

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DIRETOR Rodrigo Barbosa HĂźhn

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FAVOR POR

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto HĂźhn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. HĂźhn

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18 Ă guas amazĂ´nicas

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a “bolhaâ€?, feita para substituir as garrafas de ĂĄgua

XPEDIENTE

PUBLICAĂ‡ĂƒO PerĂ­odo (março/abril) Editora CĂ­rios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 BelĂŠm-ParĂĄ-Brasil

CAĂ‡ĂƒO LI

16 A ĂĄgua no futuro Ooho,

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A data visa alertar as populaçþes e os governos para a urgente necessidade de preservação e poupança deste recurso natural tão valioso e inprescindível.

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08 Dia Mundial da Ă gua 2014

I LE ESTA REV

ARTICULISTAS/COLABORADORES AndrĂŠ Marques, Antonio Carlos Hummel, Arnaldo Jordy, Ascom GEF/OTCA, Ascom MCT, Camillo Martins Vianna, Cimone Barros, Ciro Scopel, Claudionor Bevilaqua, Isabel Gardenal, , Julianna Antunes, Lupercio Ziroldo Antonio, Luiz Roberto Gravina Pladevall Nicolau Ferreira, Selvino Heck, VirgĂ­lio Viana FOTOGRAFIAS Arquivo IYL2015, Arquivo FAS, Arquivo Global Forest Watch (GFW), Arquivo SDSN, Arquivo World Resources Institute (WRI), Ascom Ăšnica, Bco de Imagens ANA, Bruno Kelly, CIFOR, Chris Stowers, Coomflona, Daniel Jordano, FAO, FlĂĄvio Ribeiro,Giacomo Dirozzi, Lior John, Imaflora, NASA, Panos Pictures, Rui Faquini, Richard Siemens/Universidade de Alberta, Kathy Mather e WilsonDias/AgenciaBrasil EDITORAĂ‡ĂƒO ELETRĂ”NICA Editora CĂ­rios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Composição fotogrĂĄfica com tema Ă gua. Imagem: Da logo Dia Mundial da Ă gua 2014 da ONU/Ă gua

VocĂŞ sabe o que come? NĂłs sabemos o que comemos? Eu sei de onde vĂŞm a cenoura, o feijĂŁo, o arroz, o repolho, o frango, a cenoura, o tomate? Quem os planta e produz e os faz chegar Ă minha/nossa mesa todos os dias?

Mais conteĂşdo verde

Os impactos do aquecimento global jĂĄ sĂŁo visĂ­veis em todos os continentes e em todos os oceanos, alerta o mais recente relatĂłrio do IPCC – Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças ClimĂĄticas, que traça um panorama futuro muito sombrio se os lĂ­deres mundiais nĂŁo agirem em tempo...

[10] A relação ĂĄgua energia [14] ONU: população precisarĂĄ de 40% a mais de ĂĄgua em 2030 [24] A OTCA e o Projeto GEF Amazonas [26] Dia Internacional da Ă gua [28] Rica em ĂĄgua, gema aponta “oceanosâ€? embaixo da Terra [30] Brasil vai sediar FĂłrum Mundial da Ă gua [32] 2015 serĂĄ o Ano Internacional da Luz – IYL2015 [34] BNDES e Finep lançam programa para incentivar inovação [36] Soluçþes para o desenvolvimento sustentĂĄvel [42] A AmazĂ´nia parece mais saudĂĄvel justamente durante a estiagem [44] Projeto GOAmazon aprimorarĂĄ modelos climĂĄticos sobre a AmazĂ´nia [48] Projeto CenĂĄrios para a AmazĂ´nia: Uso da Terra, Biodiversidade e Clima [50] Global Forest Watch: uma nova plataforma para proteger florestas [52] Ă gua para sempre [56] VocĂŞ sabia que a biodiversidade para a alimentação e a agricultura ĂŠ um dos recursos mais importantes da Terra? [60] Incentivos para a sustentabilidade [62] Madeira da AmazĂ´nia: Um novo foco no combate Ă ilegalidade [74] O maior rio do mundo e o povo das ĂĄguas

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Adaptação e Vulnerabilidade

Editora CĂ­rio

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70 IPCC 2014: Impactos,

Ano 9 NĂşmero 43 2014 R$ 12,00 5,00

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An_petro_agua_aprovado 41x27cm Amazonia.pdf

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Dia Mundial da Água 2014 Água e Energia A

data visa alertar as populações e os governos para a urgente necessidade de preservação e poupança deste recurso natural tão valioso e inprescindível. A gestão dos recursos de água tem impacto em vários setores, nomeadamente na saúde, produção de alimentos, energia, abastecimento doméstico e sanitário, indústria e sustentabilidade ambiental. As alterações climáticas provocam graves impactos nos recursos de água. Alterações atmosféricas como tempestades, períodos de seca, chuva e frio afetam a quantidade de água disponível e afetam os ecossistemas que asseguram a qualidade da água.

Origem da data A comemoração surgiu no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente acontecido no Rio de Janeiro, em 1992. Os países foram convidados a celebrar o Dia Mundial da Água e a implementar medidas com vista à poupança deste recurso e promover a sua sustentabilidade.

Segundo o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2012, da Agência Nacional de Águas (ANA), o País possui cerca de 1.000 empreendimentos hidrelétricos, sendo que mais de 400 deles são pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Até 2011, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aproximadamente 70% dos 117 mil megawatts (MW) da capacidade instalada da matriz energética brasileira eram gerados por PCH, usinas hidrelétricas e centrais de geração hidrelétrica.

Fatos sobre a água *O volume total de água no planeta Terra é de 1.4 bilhões km3. Os recursos de água doce rondam os 35 milhões km3 (cerca de 2.5% do volume total de água). *Destes 2.5%, cerca de 24 milhões km3 (ou 70%) estão em forma de gelo (zonas montanhosas, Antár-

Sob o domínio dos rios De onde vem a energia consumida no Brasil, em %

Água e Energia, o tema de 2014 A escolha do tema deste ano, se deu porque água e energia estão intimamente interligadas e são interdependentes, já que a geração hidrelétrica, nuclear e térmica precisa de recursos hídricos. Segundo dados da Agência Internacional de Energia, por exemplo, um aumento nominal de 5% do transporte rodoviário no mundo até 2030 poderia aumentar a demanda por água em até 20% do recurso utilizado na agricultura, devido ao uso de biocombustíveis. Outro dado da ONU aponta que cerca de 8% da energia gerada no planeta é utilizada para bombear, tratar e levar a água para o consumo das pessoas. Além disso, os recursos hídricos são utilizados para a geração de energia geotérmica, que é uma alternativa para energia em países com escassez de água. 08 REVISTA AMAZÔNIA

tida e Ártico). *30% da água doce disponível está armazenada no subsolo (lençóis freáticos, solos gélidos e outros). Isto representa 97% de toda a água doce disponível para uso humano. *Os lagos e rios de água doce contêm aproximadamente 105.000 km3 (ou 0.3% de toda a água doce mundial) *O total de água doce disponível ronda os 200.000 km3 - menos de 1% de todos os recursos de água doce disponíveis. *A atmosfera da Terra contém aproximadamente 13.000 km3 de água. *70% da água doce é utilizada na agricultura, 22% na indústria e 8% no uso doméstico. *Em 60% das cidades europeias com mais de 100.000 habitantes, a água do solo é usada mais rápido do que a sua restituição.

2,5%

5%

Carvão Mineral

24%

Biomassa

Gás Natural

0,5%

Nuclear e outras

32%

Petróleo

36%

Hidrelétrica revistaamazonia.com.br


Água no Mundo 97,54% da água da Terra é salgada. A Terra contém mais de 10 milhões de quilômetros cúbicos de água doce líquida. A maior parte dessa água, cujo volume aproximado em relação à terra é representada pela grande gota de água na parte superior esquerda, é subterrânea, muita da qual não é acessível por seres humanos. Em vez de fluir em nossos rios e lagos ou nossos poços, está enterrada profundamente dentro dos cantos e recantos rochosos da crosta terrestre. Nossas calotas e neves permanentes contém muito mais, embora sejam igualmente inacessíveis. A menor gota de água (na parte superior direita ) representa toda a água doce líquida que pode ser acessado pelo mundo por mais de 7 bilhões de pessoas. Essa gota representa menos de 100 mil quilômetros cúbicos, e nós temos que compartilhar, reciclar e conservar tudo o que pudermos. Quase um bilhão de pessoas não têm acesso revistaamazonia.com.br

a água potável e cerca de 3 bilhões não têm qualquer coisa parecida com saneamento moderno.

Vivemos em um planeta azul, mas apenas uma pequena partícula de que o azul está disponível para nós. REVISTA AMAZÔNIA 09


A relação água energia M

por Claudionor Bevilaqua

ediante o desafio que a humanidade enfrenta para o encaminhamento de resoluções para as tensões relativas à sustentabilidade dos recursos hídricos e ao desenvolvimento humano, seria impossível imaginar o futuro dela sem a disponibilidade de água e de energia e, muito dificilmente, imaginar um futuro sustentável sem a aplicação de um como fonte do outro. Portanto, é mais que necessário promovermos soluções e ferramentas para conciliar essa importante ligação, envolvendo conhecimentos gerais e específicos, tecnologia e política, tendo em conta os aspectos sociais e econômicos. Esta área temática combina dois dos recursos mais importantes que a humanidade tem para garantir a sustentabilidade do planeta: água e energia. E necessário para isso, ações amplas e de interdependência, integrando as temáticas por meio do envolvimento

de instituições públicas e da iniciativa privada em projetos de ensino, pesquisa e extensão. Tais projetos são relativos à gestão das energias renováveis e à sustentabilidade dos recursos hídricos, os quais fomentam políticas públicas, diretrizes e melhores práticas para o •

• •

desenvolvimento humano. Visando essa harmonização da água e energia, é indispensável a preservação deste patrimônio natural, para a viabilização de uma matriz energética limpa, levando-as ao desenvolvimento sustentável.

Todas as fontes de energia e eletricidade requerem água em seus processos de produção: a extração de matérias-primas, a refrigeração de processos térmicos, os sistemas de lavagem, os cultivos para biocombustíveis, as turbinas de geração de energia hidroelétrica. No entanto, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à eletricidade e a outras fontes limpas de energia. Espera-se que o consumo mundial de energia aumente cerca de 50% até 2035, devido ao crescimento da população e ao desenvolvimento da atividade econômica

Pegada Hídrica média brasileira

Cada brasileiro consome em média 5,559 mil litros de água por dia Esta conta é feita somando toda a água utilizada, direta e indiretamente, para a produção de bens de consumo, e também nas atividades cotidianas

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A água, a energia e a bioenergia A água é um recurso fundamental para o processamento de recursos energéticos ao ser demandado nos diferentes ciclos do suprimento de energia, nos quais estão inclusos a extração de energéticos (mineração e refino de petróleo, gás natural, beneficiamento de carvão e urânio, liquefação de gás natural e gaseificação de carvão, sequestro de carbono) e a geração de eletricidade (em de usinas térmicas movidas a carvão, gás natural, óleo combustível, solar, biomassa e termonucleares). Por tudo isso, portanto – o setor de energia é um dos maiores usuários de recursos hídricos no mundo. A utilização dos recursos hídricos pelo setor energético tende a aumentar devido ao aumento na produção de bioenergia, pois a produção e processamento de biomassa para fins energéticos (por exemplo, queima para geração de eletricidade e produção de biocombustíveis como o etanol) demandam volumes significativos de

Pegada Hídrica Média per capita de cada país

água. Por outro lado, a água represada em barragens de usinas hidroelétricas atua como “combustível” que move as turbinas gerando eletricidade. Entretanto, esta água não é consumida e, após passar pelas turbinas, pode ser

utilizada para outros fins. Os processos que tornam disponíveis as fontes primárias de energia quase sempre demandam água, em diferentes quantidades.

Principais fontes de energia - Energia hidráulica – gerada pela queda d`água, é a mais utilizada no Brasil em função da grande quantidade de rios em nosso país. - Energia fóssil – formada a partir do acúmulo de materiais orgânicos no subsolo. - Energia solar – gerada a partir da radiação solar - Energia de biomassa –gerada a partir da decomposição, de materiais orgânicos - Energia eólica – gerada a partir do vento. - Energia nuclear –gerada a partir da desintegração do urânio - Energia geotérmica – gerada a partir do calor nas camadas profundas da crosta terrestre - Energia gravitacional – gerada a partir do movimento das águas oceânicas nas marés.

Energia eólica

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Energia hidráulica

Bioenergia é a energia derivada de origens biológicas, como culturas de açúcar, oleaginosas, amido, celulose (gramíneas e árvores) e resíduos orgânicos. Biocombustíveis líquidos (etanol e biodiesel), apesar de representarem apenas uma pequena percentagem de todos os produtos bioenergéticos, atualmente possuem maior participação nos mercados devido à sua capacidade de substituir os combustíveis fósseis, e porque sua matéria-prima pode ser utilizada, também, para a produção de alimentos (UNESCO, 2009).

Energia de biomassa

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Energia gravitacional

Energia solar

A Importância da preservação da Água A água cobre 70% da superfície terrestre. Em volume, estamos falando de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos. Mas com tanta água no planeta, por que nos preocuparmos em preservar os recursos hídricos? A maior parte da água do planeta está nos oceanos, ou seja, 97,2% é água salgada. Apenas 2,8% é água doce. Dois terços desta quantidade está congelada, restando menos de 1% de água doce acessível, ou relativamente acessível. Apesar da cota mínima de água estimada pela UNESCO ser de 50 litros diários por pessoa, em média, cada brasileiro consome 5.559 litros por dia ( veja o Infográfico). Esta estimativa foi realizada pelo professor Arjen Hoekstra, da ONG Water Footprint Network. A conta é feita não somente usando a água consumida para beber, preparar alimentos, escovar os dentes ou tomar banho. Ela considera toda a água consumida, direta e indiretamente, para produzir bens e serviços. Você já imaginou quantos litros de água são gastos para produzir uma xícara de café, desde a irrigação necessária no cafezal, passando pela água usada nas empresas beneficiadoras, nas

97,2% água salgada

2,8%

água doce

máquinas de embalagem, no transporte, e na limpeza de cada uma dessas etapas? Não é apenas aquele meio litro de água que você ferveu para passar o café que é consumido. Toda esta água utilizada no processo é chamada de água virtual. E a soma de todas as águas virtuais relativas a tudo o que consu-

mimos é chamada de pegada hídrica. Estes conceitos já estão sendo utilizados por grandes empresas para medir o real impacto ambiental de sua atuação. Entretanto, acredita-se que só serão amplamente divulgados e nortearão não só as atividades produtoras como também os padrões de consumo daqui a uns 20 anos.

Energia fóssil

Energia nuclear Energia geotérmica

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ONU: população precisará de 40% a mais de água em 2030

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as comemorações do Dia Mundial da Água (22 de março), a Organização das Nações Unidas (ONU) faz previsão de que, em 2030, a população global vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia. Neste ano, as celebrações giram em torno do tema Água e Energia e a relação arraigada entre esses dois elementos foi destaque na reunião da ONU, em Tóquio, para celebrar o dia. Água e energia estão entre os desafios globais mais iminentes, segundo o secretário-geral da Organização Meteorológica Global e membro da ONU-Água, Michel Jarraud, em nota divulgada pela organização. Atualmente, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada, 2,5 bilhões não melhoraram suas condições sanitárias e 1,3 bilhão não têm acesso à eletricidade, de acordo com a ONU. A situação é considerada inaceitável por Jarraud. Segundo ele, outro agravante é que as pessoas que não têm acesso à água tratada e a condições de saneamento são, na maioria das vezes, as mesmas que não têm acesso à energia elétrica. O Relatório Global sobre Desenvolvimento e Água 2014, de autoria da ONU-Água, reforça a necessidade de políticas e marcos regulatórios que reconheçam e integrem abordagens sobre prioridades nas áreas de água e energia. O documento destaca como assuntos relacionados à Michel Jarraud, secretáriogeral da Organização Meteorológica Global e membro da ONU-Água

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água impactam no campo da energia e vice-versa. Um dos exemplos citados lembra que a seca diminui a produção de energia, enquanto a falta de acesso à energia elétrica limita as possibilidades de irrigação. Ainda de acordo com o relatório, 75% de todo o consumo industrial de água é direcionado para a produção de energia elétrica. Energia e água estão no topo da agenda global de desenvolvimento, segundo o reitor da Universidade das Nações Unidas, David Malone, que este ano é o coordenador do Dia Mundial da Água em nome da ONU-Água, juntamente com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). O diretor-geral da Unido, Li Yong, destacou a importância da água e da energia para um desenvolvimento revistaamazonia.com.br


industrial inclusivo e sustentável. “Há um forte clamor hoje para a integração da dimensão econômica e o papel desempenhado pela indústria das manufaturas em particular, na direção das prioridades de desenvolvimento pós 2015. A experiência mostra que intervenções ambientalmente saudáveis nas indústrias de transformação podem ser altamente efetivas e reduzir significativamente a degradação ambiental. Eu estou convencido que um desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável será um elemento chave para uma integração bem sucedida das dimensões econômica, social e ambiental,” declarou Li, em nota da ONU. O Dia Mundial da Água foi instituído em 1992. Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, a data é referência para as discussões em busca de soluções para os conflitos existentes entre oferta e demanda de água ao redor do mundo.

Relatório Global sobre Desenvolvimento e Água 2014, de autoria da ONU

Li Yong, diretor-geral da Unido, destacou a importância da água e da energia para um desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável

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A água no futuro: Ooho, a “bolha”, feita para substituir as garrafas de água A partir de algas castanhas e cloreto de cálcio, é comestível , higiênica e biodegradável. Fotos: FastCompany

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rês estudantes de design industrial: Rodrigo García González, Guillaume Couche e Pierre Paslier, criaram em Londres uma membrana orgânica biodegradável que consegue armazenar água. Chamada de Ooho, a bolha é criada por um processo de “esferificação”, mesma técnica popularizada pelo chef espanhol Ferran Adriá, do restaurante elBulli, em Barcelona. Pelo método, o líquido é moldado em forma de esferas, que geram uma membrana dupla, protegendo a O Futuro da Água: Bolha de algas comestíveis pode substituir garrafa de água. São feitas pelo mesmo processo usado pelos chefs de cozinha

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Ooho, a membrana biodegradável promete substituir garrafas de plástico

água e a mão de quem está bebendo. Ooho é o primeiro recipiente projetado especificamente para substituir as garrafas de água. A estrutura é composta por algas marrons e cloreto de cálcio, que criam um gel ao redor da água. Enquanto o invólucro é 3criado, a água está em estado sólido (como se estivesse congelada), sendo possível assim gerar uma esfera maior, que mantém os ingredientes na membrana e separados da água. De acordo com o criador da membrana, o objetivo é diminuir o uso de garrafas descartáveis pela sociedade. “Oitenta por cento das garrafas que usamos e jogamos fora não são recicladas. Esse consumismo reflete a sociedade na qual vivemos”, afirma Rodrigo Garcia González, que desenvolveu a Ooho com seus colegas de faculdade, Pierre e Guillaume. Garcia também afirma que além de ser ecologicamente correta, a “bolha” irá reduzir custos, já que a maior parte do custo para produzir água vem da garrafa e do envase. A Ooho pode ser produzida por apenas dois centavos de dólar. Um uso imediato para a Ooho poderia ser para a execução de eventos esportivos. Corredores muitas vezes hidratam-se , agarrando copos e garrafas de espectadores quando eles correm , criando um monte de lixo. Ooho

oferece uma alternativa livre de resíduos, que poderia até mesmo ser infundido com eletrólitos para dar concorrentes uma vantagem atlética. O projeto foi o vencedor do segundo anual Lexus Design Award e também será apresentado durante a Milan Design Week. Para que isso não mais ocorra

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Águas amazônicas transfronteiriças Projeto Gef Amazonas: Recursos Hídricos e Mudança Climática

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uitos programas de pesquisa científica estudaram as características ecológicas, hidrológicas, antropológicas, biológicas e geográficas da região amazônica. No entanto, poucos são os trabalhos que consideram a bacia do rio Amazonas como um sistema hidrológico único, a fim de propor uma gestão sustentável e integrada dos recursos hídricos e terrestres. Para dar resposta às necessidades de desenvolvimento da região nas suas dimensões socioeconômica, de saneamento, de abastecimento de água e de saúde pública, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) buscou o apoio do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) para desenvolver o projeto Gestão InteO Projeto busca melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos da Amazônia

Componente I do Projeto. Entendendo a sociedade amazônica

grada e Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas Considerando a Variabilidade e as Mudanças Climáticas.

Objetivo - Construindo um Programa de Ações Estratégicas O Projeto busca alcançar uma visão compartilhada para o desenvolvimento da região, baseada nas necessidades e interesses da sociedade amazônica, e propor um Programa de Ações Estratégicas (PAE), acordado entre os Países Membros da OTCA, que harmonize as expectativas legítimas de desenvolvimento econômico sustentável da região num contexto de crescimento dos eventos climáticos extremos. Estrutura do Projeto O Projeto se estrutura em cinco componentes, sendo três componentes temáticos, que geram as informações científicas e técnicas do projeto e apoiam diretamente a elaboração do Programa de Ações Estratégicas (PAE), e dois componentes dedicados à gestão e ao monitoramento interno do projeto. Componente I: Entendendo a sociedade amazônica O primeiro Componente propõe a criação de uma Visão da bacia amazônica conjuntamente entre os governos dos Países Membros da OTCA, para a gestão integrada dos recursos hídricos na região. Nesse sentido, o projeto pesquisa as necessidades, interesses e metas dos principais atores da bacia amazônica,

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as estruturas governamentais e os marcos institucional e legal, nacionais e regionais, relacionados à Gestão Integrada dos Recursos Hídricos na Região Amazônica. Fortalecer a capacidade institucional dos oito países e da região na área de cooperação em gestão dos recursos hídricos é uma das prioridades da iniciativa. Componente II: Entendendo a base de recursos naturais Este componente se baseia numa série de pesquisas científicas que visam suprir as lacunas no conhecimento e na análise da vulnerabilidade climática, proporcionando a base científica e técnica para a preparação da Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT) da bacia amazônica. O conjunto dos resultados dos Componentes I e II formam a base para o a elaboração do Programa de Ações Estratégicas (PAE), que inter-relaciona as atividades humanas com os recursos naturais da bacia amazônica. As atividades de pesquisa direcionada buscam melhorar o conhecimento em gestão dos ecossistemas aquáticos da Amazônia, por meio de estudos em áreas específicas, mapear a extensão e determinar as características hidrogeológicas do Sistema Aquífero Amazonas e analisar a carga de sedimentação fluvial dos grandes rios transfronteiriços Madeira e Solimões. O projeto fornecerá ainda conhecimento sobre os riscos associados aos eventos hidrometeorológicos extremos e às mudanças climáticas na bacia do Amazonas, por meio da elaboração de um Atlas de Vulnerabilidade Hidroclimática (na escala de 1:1.000.000). O Atlas será um elemento-chave para a formulação de medidas de adaptação para fortalecer a resiliência das populações locais

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ção das ações nacionais e regionais para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) em nível de bacia. Como parte do processo de construção desse documento estratégico, o Projeto desenvolve atividades-piloto e projetos de Medidas Prioritárias de Adaptação (MPA). Além disso, o projeto apoia a criação de um Sistema Integrado de Informação (SII) e Estratégias de Comunicação, Participação Pública e Sustentabilidade Financeira.

Projetos-piloto e atividades demonstrativas

A bacia Amazônica uma região vulneravel a eventos climáticos extremos

O Projeto executa atividades de medidas de adaptação em resposta a mudanças climáticas no Río Purús

Os Projetos-Piloto buscam desenvolver respostas estratégicas para mitigar os efeitos das práticas de manejo não sustentáveis de uso dos recursos hídricos. Nesse sentido, o Projeto desenvolve três atividades específicas: i) Gestão de ecossistemas aquáticos selecionados ii) Gestão sustentável das florestas de várzea, objetivando demonstrar e implantar exemplos em três regiões de florestas de várzea fronteiriças da bacia amazônica; e iii) Uso da água subterrânea em centros urbanos amazônicos (estudo de caso: Manaus), para demonstrar a eficiência e sustentabilidade do uso das águas subterrâneas em grandes centros urbanos da Amazônia. Paralelamente, o Projeto executa quatro atividades de Medidas prioritárias de adaptação. A atividade Serviços ecossistêmicos e de governança na bacia transfronteiriça do rio Purús avalia as experiências, a viabilidade e os custos das intervenções e ações específicas de governos locais que objetivam mitigar problemas críticos decorrentes das mudanças climáticas nessa sub-bacia transfronteiriça. A atividade Adaptação às mudanças climáticas na região transfronteiriça de MAP também busca fortalecer a governança nas instituições locais, por

Centros urbanos na Amazonia. Belém

diante da variabilidade e das mudanças climáticas, bem como para aumentar a capacidade dos governos locais e regionais, autoridades e sociedade civil para responder a eventos hidroclimáticos extremos. Com base nos resultados das pesquisas científicas, na análise dos marcos institucionais e jurídicos e no processo de consulta nacional realizado por meio de oficinas e pesquisas, a Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT) consolidará uma síntese dos problemas transfronteiriços prioritários para a bacia Amazônica, quantificando a importância relativa de suas fontes, causas e efeitos. Essa análise fornecerá o embasamento científico e técnico para o desenvolvimento do Programa de Ações Estratégicas (PAE). Componente III: Programa de Ações Estratégicas (PAE) O principal objetivo deste Componente é elaborar e validar um Programa de Ações Estratégicas (PAE) viável e consensual para a bacia Amazônica, que orientará a implementa20 REVISTA AMAZÔNIA

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O Projeto analisa a sedimentação dos grandes rios transfronteiriços Madeira e Solimões

meio da implementação de um Sistema de Alerta Trinacional (Bolívia, Brasil e Perú) contra eventos climáticos extremos na região transfronteiriça de Madre de Dios-Acre-Pando. Com a atividade Adaptação ao aumento do nível do mar no delta do rio Amazonas, serão desenvolvidas medidas de adaptação relacionadas ao aumento do nível do mar

que vem causando a perda maciça de terras da Ilha do Marajó, na foz do Amazonas. Por último, a atividade Uso conjunto das águas superficiais e subterrâneas na região das três fronteiras (Brasil, Colômbia, Peru) estuda a possibilidade de utilização conjunta das águas superficiais e subterrâneas para abastecer a população na região das cidades de Letícia e Tabatinga. O Projeto busca alcançar uma visão compartilhada para o desenvolvimento da região e propor um Programa de Ações Estratégicas (PAE)

Sistema Integrado de Informação O projeto busca garantir um melhor acesso às informações necessárias para o processo de tomada de decisão através da criação de um Sistema Integrado de Informação (SII) sobre os recursos hídricos e o clima na bacia Amazônica. A atividade também produzirá um banco de dados sobre a qualidade e as potenciais fontes de poluição dos rios da bacia amazônica, que estará disponível no SII juntamente com informações geradas pelas demais atividades de pesquisa científica e pelo Atlas de vulnerabilidade hidroclimática.

Comunicação, Participação Comunitária, Estratégia Financeira Educação, comunicação e sustentabilidade financeira são essenciais para uma estratégia sustentável de recursos hídricos para a bacia amazônica. Nesse sentido, o projeto apoia a criação de um ambiente receptivo e favorável para a implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), através da formulação de três estratégias: Estratégia Educacional; Estratégia de Comunicação, Extensão Comunitária e Plano de Participação Multissetorial; e Estratégia Financeira. Formulação do Programa de Ações Estratégicas (PAE) O Programa de Ações Estratégicas (PAE) para a bacia amazônica se baseia numa síntese dos resultados de todas as atividades, bem como em dados hidrológicos revistaamazonia.com.br

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O Projeto pesquisa a qualidade e as fontes de poluição dos rios da bacia Amazônica

A Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT) consolidará uma síntese dos problemas transfronteiriços prioritários para a bacia Amazônica

Por meio da elaboração de um Atlas de Vulnerabilidade Hidroclimática serão identificadas as regiões mais vulneráveis

e informações hidroclimatológicas disponíveis, para abordar as principais questões identificadas na Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT), contribuindo, assim, para ações coordenadas e intervenções direcionadas a implementar medidas comuns sustentáveis em matéria de GIRH na região. Construído a partir de processos nacionais de ampla discussão e consulta e consolidado no nível regional, o PAE será um documento estratégico de políticas negociado que estabelecerá prioridades claras tanto em termos de ações nacionais como de iniciativas de cooperação regional, para solucionar os problemas transfronteiriços prioritários identificados na ADT. 22 REVISTA AMAZÔNIA

Resultados do Projeto Gef Amazonas Até o presente momento, o projeto já obteve resultados concretos nas seguintes atividades: 1. Mapeamento e análise institucional: O projeto concluiu a análise preliminar do marco institucional atual de gestão de recursos hídricos na bacia do Amazonas, nos níveis nacional e regional. Os resultados foram validados em uma oficina regional em Lima, em novembro de 2013, e suas recomendações serão incorporadas no processo de formulação da PAE.

2. Inventário da legislação e marco normativo: O grupo de especialistas jurídicos nacionais elaborou um inventário das legislações nacionais relativas à gestão dos recursos hídricos, biodiversidade e mudanças climáticas, identificando espaços legais e oportunidades para a cooperação regional. 3. Atlas de vulnerabilidade hidroclimática (1:1.000.000): Uma vez estabelecida a metodologia comum e com base em questionários, os Países Membros vêm avançando na coleta de dados e informações que serão consolidados em um ambiente SIG. 4. Conhecimento científico: O progresso das pesquisas revistaamazonia.com.br


Na região transfronteiriça MAP o Projeto busca a governança nas instituições locais por meio da implementação de um Sistema de Alerta Trinacional (Bolívia, Brasil e Perú)

A face urbana da bacia Amazónica

direcionadas produziu os primeiros resultados científicos que subsidiarão a preparação da Análise Diagnóstica Transfronteiriça, (ADT). Nesse sentido, a partir de três expedições de campo em áreas críticas selecionadas foi concluída a análise das ameaças ambientais e dos impactos socioeconômicos associados aos ecossistemas aquáticos nas áreas dos rios Xingu, Tapajós e Negro. Além disso, os resultados da campanha de amostragem nos rios Madeira e Solimões indicam ter havido um aumento significativo na carga de sedimentos na última década. 5. Conhecimento sobre o Aquífero Amazonas: No primeiro encontro técnico regional sobre o Cenário atual do conhecimento sobre as águas subterrâneas nos aquíferos sedimentares da região amazônica, foram apresentados dados preliminares do estudo “Avaliação dos aquíferos das bacias sedimentares da província hidrológica Amazonas, no Brasil (escala 1:1.000.000) e cidades-piloto (1:50.000)”, bem como a situação do conhecimento sobre as águas subterrâneas nas províncias hidrogeológicas Amazonas e Orinoco. Houve progresso ainda na definição da linha de base de informação regional sobre o tema. 6. Medidas de adaptação às mudanças climáticas: Foram obtidos resultados significativos nas atividades demonstrativas e projetos-piloto em áreas selecionadas da bacia. Na bacia do rio Purus, encontra-se na fase final a preparação de um Modelo de gestão que permitirá às Os Países Membros da OTCA estabeleceram um diálogo regional em torno da gestão dos recursos hídricos transfronteriços

O Projeto procura demonstrar a sustentabilidade do uso das águas subterrâneas em grandes centros urbanos da Amazônia

comunidades locais encaminhar suas demandas e necessidades de assistência aos governos locais em caso de eventos climáticos extremos. Na região transfronteiriça de Madre de Dios-Acre-Pando (Bolívia, Brasil e Peru), o projeto está fortalecendo a capacidade de resposta dos governos locais e das comunidades a eventos extremos. A equipe técnica trinacional consolidou uma base de dados trinacional que será validada por expedição no rio Acre; encontram-se em andamento a capacitação de técnicos e a implementação de um Sistema de Alerta

Precoce. Por último, na área de adaptação ao aumento do nível do mar no delta do Amazonas, foi concluído o estudo geológico, hidroclimático e socioambiental da Ilha do Marajó. 7. Cursos e encontros técnicos para especialistas dos oito Países Membros: Em cooperação com a Agência Nacional de Águas do Brasil (ANA) foram realizados seis cursos técnicos de capacitação nas áreas de gestão de recursos hídricos, hidrossedimentologia, plataforma de coleta de dados, bacias pedagógicas e eventos extremos, que contaram com a assistência de mais de 120 profissionais dos oito países. 8. Fortalecimento do diálogo regional sobre GIRH na bacia amazônica: Os Países Membros da OTCA estabeleceram um diálogo regional em torno da gestão dos recursos hídricos transfronteriços, destacando-se dentre os assuntos abordados os produtos a serem alcançados e outros aspectos inerentes à institucionalidade, sustentabilidade e articulação futura da região. O esforço criará uma visão comum e uma estratégia para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades. Fotos: Rui Faquini, Bco de Imagens, ANA. [*] Fonte: Projeto GEF Amazonas http://gefamazonas.otca.info

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A OTCA e o Projeto GEF Amazonas A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) é um organismo intergovernamental que reúne os oito países da bacia Amazônica: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, e Venezuela. Esse organismo internacional teve origem no Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), instrumento assinado em julho de 1978 com o propósito de reconhecer a natureza transfronteiriça da Amazônia, reafirmar a soberania dos países amazônicos sobre suas respectivas regiões amazônicas e institucionalizar e orientar o processo de cooperação regional. Em 1995, os países amazônicos decidiram fortalecer o TCA com a criação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e de uma Secretaria Permanente, em Brasília, Brasil. A decisão foi implementada em 1998, ano em que foi instituída oficialmente a OTCA como mecanismo responsável pelo fortalecimento do processo de cooperação. A OTCA tem como máxima instância a Reunião de Ministros das Relações Exteriores e conta com o suporte do Conselho de Cooperação Amazônica (CCA) e da Comissão de Coordenação do Conselho de Cooperação Amazônica (CCOOR). Em 2009, por meio da Declaração de Manaus, os Chefes de Estado dos Países Membros acordaram dotar a Organização de “um papel renovado e moderno como fórum de cooperação, intercâmbio, conhecimento e projeção conjunta para fazer frente aos novos e complexos desafios internacionais que se apresentam”. Nesse momento, teve início o processo de relançamento institucional da OTCA. Nesse contexto, os Ministros das Relações Exteriores prepararam uma Nova Agenda Estratégica de Cooperação Amazônica da OTCA para o curto, médio e longo prazos, que contém ações em nível regional para apoiar as iniciativas nacionais, abrangendo um horizonte de implementação de oito anos, a qual foi aprovada na X Reunião de Ministros das Relações Exteriores do TCA, com a Declaração de Lima de 2010. Essa Agenda contempla várias atividades, projetos e programas nas áreas do meio ambiente, assuntos indígenas, ciência, tecnologia e educação, saúde e turismo, transporte, infraestrutura e assuntos sociais. Desde a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica até o presente momento, em que a OTCA atingiu o ple-

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no desenvolvimento de suas capacidades institucionais, registra-se uma história inédita na região amazônica, um modelo de cooperação Sul-Sul que celebrará 35 anos de existência em julho de 2013. A seguir, o Secretário-Geral da OTCA, Embaixador Robby Ramlakhan, nos fala sobre o Projeto GEF Amazonas-Recursos hídricos e mudanças climáticas, uma das atividades executadas pela OTCA na bacia amazônica. *No âmbito da Agenda Estratégica de Cooperação Amazônica da OTCA, qual é o papel do Projeto GEF Amazonas-Recursos hídricos e mudanças climáticas? SG/OTCA: Em primeiro lugar, sabemos muito bem que não há vida sem água. Em segundo lugar, sabemos que a demanda de água potável vem crescendo contiEmbaixador Robby Ramlakhan, secretário-geral da OTCA

nuamente, mas que os recursos são muito limitados e estão sendo explorados até seu limite. Em terceiro lugar, que a variabilidade e as mudanças climáticas podem ter sérios efeitos no abastecimento de água doce necessário para atender nossas necessidades diárias. Portanto, é da maior importância evitar ações que sejam prejudiciais

ao suprimento de água doce. A floresta amazônica é a maior floresta tropical do mundo e tem enormes quantidades de água doce. A agenda estratégica da OTCA contempla a proteção do abastecimento de água doce na bacia do Amazonas, e nesse sentido foi desenvolvido um programa conjunto com o GEF para atingir esse objetivo. O papel do Projeto GEF Amazonas é desenvolver um Programa de Ações Estratégicas (PAE) entre os 8 Países Membros da OTCA, para gerir de forma integrada e sustentável os recursos hídricos transfronteiriços da bacia Amazônica e criar um ambiente favorável para sua futura implementação, através de um processo que envolva o compromisso dos principais atores na bacia. Isso servirá como marco de referência para uma Gestão Integrada dos Recursos Hídricos eficiente, destinada a melhorar a qualidade de vida das populações amazônicas. *Como agência executora do Projeto GEF Amazonas-Recursos hídricos e mudanças climáticas, poderia nos dizer como os Países Membros da OTCA atuam e apoiam essa iniciativa regional? SG/OTCA: O projeto “Manejo integrado e sustentável dos recursos hídricos transfronteiriços da bacia do rio Amazonas considerando a variabilidade e as mudanças climáticas” foi adotado pelos Países Membros em 2010. Ao aprová-lo, os países acordaram coordenar suas ações nas áreas de biodiversidade e proteção do hábitat, conservação dos ecossistemas, prevenção da erosão, proteção da qualidade da água e manutenção do estoque de dióxido de carbono global (CO2), proporcionando uma base sustentável para o desenvolvimento econômico humano dentro da bacia e reduzindo a vulnerabilidade das populações e dos ecossistemas diante de eventos extremos. Nesta primeira etapa, de acordo com a política de promoção da cooperação Sul-Sul, a OTCA negociou um contrato com a Agência Nacional de Águas do Brasil, que tem muito conhecimento e experiência na área de gestão da água. Por meio desse contrato, muitos técnicos dos outros Países Membros foram capacitados no Brasil. revistaamazonia.com.br


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Dia Internacional da Água

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Organização das Nações Unidas instituiu o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água, com o objetivo de promover a conscientização dos habitantes deste planeta sobre o uso racional e adequado da água potável. Uma iniciativa louvável, haja vista que a existência da humanidade depende diretamente dos estoques de água potável do planeta. Segundo o “Atlas da Água”, dos especialistas norte-americanos Robin Clarke e Jannet King, a Terra dispõe de aproximadamente 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água, e esta quantidade não vai mudar. Desse total, 97,2% dela está nos mares, é salgada e não pode ser aproveitada para consumo humano. Restam 2,8% de água doce, dos quais mais de dois terços estão em geleiras, o que inviabiliza seu uso. No fim das contas, menos de 0,4% da água existente na Terra está disponível para atender às nossas necessidades, mas efetivamente potável, apenas 0,008 %, do total da água do nosso planeta é própria para o consumo. Apesar de pequeno, esse estoque está diminuindo em função, principalmente, da ação poluidora da sociedade moderna. A degradação ambiental é um problema extremamente preocupante em face de ação predatória do homem em relação aos recursos naturais do planeta, e por isso precisamos promover a conscientização quanto ao uso da água potável para o consumo humano. Todas as pessoas precisam saber que a água é um bem finito, e, se não cuidarmos desse recurso, poderemos estar diante de uma situação de racionamento na qual teremos de deixar de realizar atividades do nosso cotidiano como

Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

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por Arnaldo Jordy* tomar banho todos os dias Deputado ou preparar os alimentos Arnaldo Jordy para as nossas refeições. Precisamos compreender que diferentemente das florestas, que podem ser replantadas, a água é um recurso que tem quantidade fixa, não sendo possível “fabricar” mais água. O Brasil detém entre 12 e 16% da água doce da superfície terrestre, ou seja, possui um imenso reservatório. O país possui bons índices de chuva, um dos maiores rios do mundo e o maior aquífero, o Guarani - um reservatório subterrâneo que se estende por 1,2 milhão de quilômetros quadrados abrangendo oito estados brasileiros, além de áreas da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Mas há muito desperdício. No Brasil, a distribuição não combina com as necessidades da população e a poluição é um grande problema. A bacia do Tietê, por exemplo, está interligada com a bacia do Prata e a poluição do rio Tietê já chegou até lá. A poluição é o grande problema. A poluição das águas nacionais ainda é agravada pela

falta de saneamento básico, que faz com que mais de 20% dos lares brasileiros lancem seu esgoto em córregos, rios e represas. Além disso, o desperdício não ocorre apenas pelo consumo da população. Calcula-se que mais de 30% da água encanada no Brasil seja perdida em vazamentos. É preciso coibir e conscientizar a sociedade em todas as faixas etárias, de modo que o uso da água seja plenamente racionalizado, para que num futuro não muito a frente, não soframos com sua falta. [*] Deputado Federal. Presidente Comissão Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Federal

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Dia 22 de março. Dia Mundial da Água. revistaamazonia.com.br

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Rica em água, gema aponta “oceanos” embaixo da Terra Mineral confirma haver muita água no interior da Terra por Nicolau Ferreira Fotos/Infográficos: Richard Siemens/Universidade de Alberta e Kathy Mather

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mineral ringwoodite já tinha sido encontrado em meteoritos, mas nunca com origem na Terra. Formado no interior do manto do nosso planeta, contém uma percentagem elevada de água. Em Viagem ao Centro da Terra, o escritor francês Júlio Verne transporta o leitor para um mundo com dinossauros, homens primitivos, luz e um oceano. Na realidade, nunca ninguém viajou ao interior do planeta. Mas um diamante encontrado no Brasil fez a viagem inversa e contém um mineral até agora encontrado só em meteoritos. A equipe de investigadores que estudou este mineral, chamado ringwoodite, encontrou água na sua composição. A novidade, é que este mineral permite inferir a existência de um reservatório de água no manto terrestre equivalente à água de todos os oceanos da Terra, mas não na forma como Júlio Verne imaginou. “Nos últimos 25 anos, as pessoas têm especulado sobre qual será a quantidade de água que está presa na Terra, a grande profundidade”, diz Graham Pearson, um dos autores do artigo, da Universidade de Alberta, no Canadá. O mineral ringwoodite entrava nesta discussão. Este silicato só tinha sido descoberto naturalmente nos meteoritos, cujo nome foi dado em homenagem ao ge-

O diamante (JUc29), descoberto em Juina, Brasil, que tem aprisionado no interior o mineral ringwoodite, apontando “oceanos” embaixo da Terra

ólogo australiano Ted Ringwood. Contudo, experiências feitas para o produzir artificialmente indicavam que seriam necessárias altas pressões e altas temperaturas para se formar. No nosso planeta, essas condições existem no manto — a camada da Terra que fica abaixo da crosta e vai quase até aos 3000 quilômetros de profundidade. Havia ainda indicações de uma zona de transição a meio do manto entre os 410 e os 660 quilômetros. Os cientistas tinham identificado uma alteração na velocidade das ondas sísmicas nesta região, que mostrava uma mudanFotograma do filme Viagem ao Centro da Terra

ça na composição dos silicatos. Quando se descobriu a ringwoodite nos meteoritos, pôs a hipótese de que este mineral poderia também estar naquela região. As experiências mostraram também que a estrutura mineralógica da ringwoodite tem capacidade de incorporar água. A olivina, o silicato que se forma no manto superior, tem uma unidade básica formada por um átomo de sílica, ligado a quatro núcleos de oxigênio. Esta unidade principal parece uma espécie de losango e repete-se constantemente com átomos de magnésio entre cada losango. Com mais pressão e mais temperatura, em vez de olivina, forma-se a ringwoodite, cuja estrutura permite encaixar água. “A ringwoodite pode ter parte da sílica substituída por grupos hidroxilo [água]”, explica Fernando Barriga, professor e geólogo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A beleza dos diamantes Desta forma, a região de transição, que se pensa ser constituída em 60% de ringwoodite, estaria rica em água incorporada nestes minerais. Mas isto eram suposições teóricas. Até que a equipe de Graham Pearson encontrou aquele mineral incrustado no interior de um pequeno diamante de três milímetros e 0,09 gramas, proveniente de depósitos de rios, em Juína, no estado de 28 REVISTA AMAZÔNIA

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Secção esquemática de corte parcial da terra que mostra a localização de ringwoodite, que constituem cerca de 60% em volume desta parte da zona de transição. O diamante que contém a inclusão ringwoodite é proveniente de cerca de 500 km abaixo da superfície da Terra, onde uma grande massa de água pode se acumular pela subducção e reciclagem de litosfera oceânica, na zona de transição

Para Fernando Barriga, esta experiência mostra como é difícil estudar o interior do nosso planeta. “As provas do interior da Terra vão ser sempre muito reduzidas”, diz o geólogo, acrescentando que é preciso ter “um grande número de diamantes” para encontrar mais ringwoodite. Como é que a partir de uma só amostra pode então especular sobre a existência de tanta água nesta zona do manto? “Partimos do princípio de que aquilo que encontramos tem algum tipo de representatividade do que se passa no interior da Terra”, responde o investigador português. O próximo passo? “Procurar provas de água noutros diamantes com inclusões para estabelecer quão comum é a sua assinatura”, diz Graham Pearson. Mato Grosso, no Brasil. “A beleza dos diamantes serem uma cápsula única que nos transportam para a região profunda da Terra”, diz Graham Pearson. Os diamantes, feitos de carbono, formam-se no manto a grandes profundidades, sob grande pressão e podem englobar outros minerais já formados. Se forem transportados para a crosta por rochas magmáticas, que se movimentam rapidamente (em termos geológicos), podem chegar à superfície da Terra com outros minerais lá dentro. A equipe usou técnicas de espectrometria para analisar a composição dos minerais incrustados e descobriu que estava na presença de ringwoodite. Além disso, conseguiu perceber que, pelo menos, 1,5% do peso deste mineral, com 40 micrómetros de diâmetro máximo, era água sob a forma de grupos hidroxilo. “Se a amostra for representativa de toda a parte inferior da zona de transição do manto, onde a ringwoodite é estável, isto traduz-se [num total de água] equivalente à massa de todos os oceanos da Terra”, diz Hans Keppler, da Universidade de Bayreuth, Alemanha. “De alguma forma, é como ter um oceano no interior da Terra, como revistaamazonia.com.br

o que foi visualizado por Júlio Verne, não na forma de água líquida mas como grupos hidroxilo dentro de um mineral fora do comum.”

Graham Pearson com o JUc29, diamante que contém o mineral ringwoodite, que gera novas pistas sobre a presença de grandes quantidades de água nas profundezas da Terra REVISTA AMAZÔNIA 29


Brasil vai sediar Fórum Mundial da Água País será o primeiro da América Latina a sediar o fórum, que vai acontecer em 2018, na capital federal por Lupercio Ziroldo Antonio*

Fotos: Karen Robinson

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om o apoio da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), Brasília vai sediar o 8º Fórum Mundial da Água em 2018. Desde o ano passado, o Instituto apoia a captação do evento que promete atrair 35 mil pessoas de 147 países. O Brasil será o primeiro País da América Latina a sediar o Fórum que vai propor debates que giram em torno de alternativas para o aproveitamento racional e sustentável do recurso hídrico. Na lista para receber o evento, competiu Rússia (Moscou), Qatar (Doha) e Dinamarca (Copenhagen). O diretor do Instituto ressaltou a capacidade do País em receber grandes eventos. “O Brasil irá sediar em uma década alguns dos maiores eventos mundiais, começando pela Rio+20, passando pela Copa das Confederações Fifa 2013, Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016”,

destacou Lomanto. A região do Distrito Federal está localizada no berço de três grandes bacias hidrográficas do País: São Francisco (Rio Preto), Tocantins/Araguaia (Rio Maranhão) e Paraná

(rios São Bartolomeu e Descoberto). Além disso, o Brasil possui 12% da água doce superficial do planeta, além de grandes aquíferos subterrâneos. O País dispõe também de um amplo conjunto de boas práticas em gestão de recursos hídricos e tem desempenhado um papel relevante em ações de cooperação internacional.

Fórum Mundial da Água Menos de 120 gramas de CO2 por km

Delegação brasileira em Gyeongju 30 REVISTA AMAZÔNIA

O evento é promovido a cada três anos pelo Conselho Mundial da Água e contribui para aumentar a importância desse tema na agenda política internacional. Durante o Fórum, os participantes debatem para encontrar soluções de problemas relacionados à água e ao saneamento, contribuindo para a formulação de políticas públicas de uso racional dos recursos hídricos. O CMA é o mais importante evento do planeta no setor dos recursos hídricos e tem como objetivo primordial promover o diálogo para influenciar o processo decisório sobre a água no nível global, focando sempre o aproveitamento racional e sustentável deste recurso. Por sua abrangência política, técnica e institucional, o Fórum tem entre suas características a participação revistaamazonia.com.br


Ricardo Andrade Superintendente da ANA e Governador do Conselho Mundial da Água defendendo a candidatura brasileira

Benedito Braga, Governador Presidente do Conselho Mundial da Água

aberta e democrática, traduzindo-se num evento de grande relevância na agenda internacional. Provoca a integração de milhares de pessoas envolvidas de mais de uma centena de países nos debates que buscam sempre a qualidade e quantidade de água necessária para a segurança hídrica nas bacias, destacou Dr. Benedito Braga, Governador Presidente do Conselho Mundial da Água. Já foram realizadas seis edições do Fórum. A última, que aconteceu em 2012, em Marseille, na França, a participação do Brasil teve um destaque especial. O País mobilizou quase 70 instituições entre governamentais, não governamentais e privadas. A sétima edição, prevista para 2015, será realizada na Cidade de Daegu, na Coreia do Sul. [*] Presidente da REBOB

Durante a 51ª Reunião do Conselho Mundial da Água

Em 26 de fevereiro,p.p., na sua 51ª Reunião, os Governadores do Conselho Mundial da Água definiram que o 8º Fórum Mundial da Água a se realizar no ano de 2.018 acontecerá no Brasil, na cidade de Brasília, o coração político de nosso país e o local ideal para que técnicos de todo o planeta compartilhem conhecimento, experiências e fundamentalmente, benefícios e soluções para os recursos hídricos. Na reunião do Conselho Mundial da Água que escolheu o Brasil como sede do 8º Fórum Mundial da Água, estiveram ainda presentes na delegação brasileira Vinicius Benevides, presidente da ADASA/DF, Bruno Pagnoccheschi, Superintendente da ANA, Ricardo Krauskopf da Itaipu Binacional, Robson Rocha e Wagner Pinto do Banco do Brasil S/A.

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O século 21 é o século da Luz

2015 será o Ano Internacional da Luz – IYL2015

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Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou recentemente, 2015 como o Ano Internacional da Luz e tecnologias baseadas em Luz – IYL2015. Foi inciativa de um grande consórcio de organismos científicos, juntamente com a UNESCO, e vai reunir muitas e diferentes partes interessadas, incluindo as sociedades científicas e sindicatos, instituições de ensino, plataformas de tecnologia, organizações sem fins lucrativos e parceiros do setor privado. A luz desempenha um papel vital em nossa vida diária e é uma disciplina transversal imperativo da ciência no século 21. Ele revolucionou a medicina, abriu a comunicação internacional via Internet, e continua a ser central para a ligação entre os aspectos culturais, econômicos e políticos da sociedade global. Defendida por organizações científicas em todo o mundo, incluindo a SPIE – Sociedade internacional para a óptica e fotônica, IYL2015 irá promover uma melhor compreensão pública e política do papel central da luz no mundo moderno e comemorar aniversários científicos significativos ocorridos em 2015. Ao proclamar um Ano Internacional com foco no tema de ciência, luz e suas aplicações, as Nações Unidas reconheceram a importância de aumentar a conscientização global sobre como as tecnologias à base de luz promovem o desenvolvimento sustentável e podem fornecer soluções para os desafios globais em energia, educação, agricultura e saúde, disseram os organizadores.

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Óptica e fotônica

O objetivo é promover o conhecimento sobre o papel essencial que a luz desempenha nas nossas vidas e assinalar, como refere a resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU, algumas datas científicas importantes, que coincidentemente fazem aniversários “redondos” nessa altura. Em 2015, completam-se 100 anos da teoria da relatividade geral, de Albert Einstein. E os 110 anos da explicação do efeito fotoelétrico, também de Einstein e que lhe valeu o Nobel da Física de 1921, anunciado no ano

seguinte (neste efeito, um foton – uma partícula de luz –, ao incidir sobre certos metais, arranca eletrons que aí se encontram). Outra data, entre outras: em 2015 comemoram-se os 50 anos da descoberta da radiação cósmica de fundo, a radiação emitida no Big Bang (ocorrido há 13.800 milhões de anos) e que banha todo o Universo. Por esta descoberta, os norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson ganharam o Nobel da Física em 1978. “Um Ano Internacional da Luz é uma oportunidade tremenda para garantir que os decisores políticos tomem revistaamazonia.com.br


consciência dos problemas que a tecnologia da luz pode resolver”, sublinhou o presidente da comissão para a celebração do Ano Internacional da Luz, John Dudley. “A fotónica fornece soluções de baixo custo para desafios que se colocam em várias áreas: energia, desenvolvimento sustentável, alterações climáticas, saúde, comunicações e agricultura. Por exemplo, soluções inovadoras na área da iluminação reduzem o consumo de energia e o impacto ambiental, ao mesmo tempo que minimizam a poluição luminosa, para que todos possamos apreciar a beleza do Universo num céu escuro”, acrescentou John Dudley, citado num comunicado da Sociedade Internacional para a Óptica e a Fotônica (esta é a ciência ligada ao processamento e à deteção de sinais de luz). “A luz dá-nos a vida através da fotossíntese, deixa-nos ver para trás no tempo em direção ao Big Bang cósmico e ajuda-nos a comunicar com outros seres vivos sencientes aqui na Terra – e talvez com outros no espaço exterior, caso os encontremos”, notou por sua vez o cientista da NASA John Mather, premiado com o Nobel da Física de 2006 (juntamente com George Smoot), pelos seus trabalhos no satélite Cobe, que permitiu ver em detalhe a radiação cósmica de fundo quando o Universo tinha 300 mil anos, como até aí não tínhamos conseguido. “Einstein estudou a luz ao desenvolver a teoria da relatividade, quando acreditou que as leis da natureza que nos dão a luz deveriam certamente ser verdadeiras, independentemente da velocidade a que a luz se desloque. Agora sabemos que até os eletrons e os protons se comportam de forma semelhante a ondas de luz, de maneiras que continuam a espantar-nos. E as tecnologias ópticas e fotónicas desenvolvidas para a exploração do espaço deram-nos muitas aplicações válidas na vida quotidiana”. Este aspeto da luz como essencial à nossa própria exis-

Estudar a ciência através da luz

Nebulosa do olho de gato do lado esquerdo (cerca de 3 × 1046 m³) e a nuvem escura Barnard 68 na superior (cerca de 6 × 1046 m³) são de volumes comparáveis; nebulosa Stingray entre eles é menor, com um volume similar como a pequena luz amarela-esfera raio mês, cerca de 2 × 1045 m³. revistaamazonia.com.br

Principais aniversários científicos para ser comemorado em 2015: • • • • • •

As obras de al-Haytham sobre óptica (1015) Noção de luz como uma onda ( Fresnel de 1815) Teoria eletromagnética da propagação da luz ( Maxwell de 1865) A teoria de Einstein do efeito fotoelétrico (1905) e da incorporação de luz na cosmologia através de relatividade geral (1915) Descoberta da radiação cósmica de fundo por Penzias e Wilson Realizações de Charles Kao relativas à transmissão da luz em fibras para a comunicação óptica (1965)

A luz é mais do que apenas a ciência e a tecnologia

tência é também sublinhado por outro laureado com o Nobel: “A civilização não existiria sem a luz – a luz do nosso Sol e a luz dos lasers que agora se tornaram uma parte importante das nossas vidas quotidianas, desde as leituras [das embalagens] nos supermercados até às cirurgias oftalmológicas e as tecnologias de informação usadas nas comunicações ao longo dos oceanos”, diz o egípcio Ahmed Zewail, que ganhou o Nobel em 1999 pelos seus trabalhos na área da femtoquímica (que estuda as reacções químicas a escalas temporais extremamente curtas). “A ciência expande nossa capacidade de resolver os desafios prementes que enfrentamos em áreas importantes para a qualidade de vida de cada pessoa. A Fotônica é uma tecnologia crucial para muitas dessas soluções interdisciplinares, bem como nossa capacidade de aprender mais através de explorar o universo” disse Felipe Stahl, presidente da SPIE. “O Ano Internacional da Luz vai ajudar a aumentar a conscientização sobre as possibilidades inerentes a ciência baseada em luz e engenharia, e inspirar uma nova esperança para aqueles que ainda estão à espera de soluções para seus desafios. SPIE está encantado com a proclamação das Nações Unidas e animado com essa oportunidade poderosa para ajudar ainda mais a uma maior compreensão da fotônica”. A luz é mais do que apenas a ciência e a tecnologia ,

Stahl observou: “É uma das maneiras que nós experimentamos e representam nosso mundo, através da visão e das artes visuais e , é fundamental para a forma como expressamos nossos mais profundos pensamentos emocionais e filosóficas”.

CONCLUSÕES

Por que a luz e a óptica? • • •

Luz é vital para a ciência, tecnologia, arte e cultura A luz pode promover a educação em todos os níveis Desenvolvimento de tecnologia unidades Luz

Por um Ano Internacional da Luz? • • •

A importância da tecnologia de luz precisa ser apreciada A coordenação internacional vai criar programas duráveis O objetivo é inspirar uma nova geração para estudar a ciência através da luz O século 21 é o século da Luz

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No lançamento do PAISS Agrícola, os presidentes da Finep, Glauco Arbix e Luciano Coutinho, do BNDES, nas extremidades, com Marco Antonio Raupp, o ministro da Ciência e Tecnologia e Elizabeth Farina, presidente da Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar)

BNDES e Finep lançam programa para incentivar inovação Edital do PAISS Agrícola selecionará planos de negócios de empresas brasileiras para inovação tecnológica agrícola Fotos: Ascom Unica

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Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Finep – Inovação e Pesquisa lançaram recentemente, seleção pública conjunta de planos de negócios voltados à inovação tecnológica agrícola no setor sucroenergético – PAISS Agrícola. As duas instituições disponibilizarão R$ 1,48 bilhão para o período 2014-2018. O lançamento foi feito pelos presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e da Finep, Glauco Arbix, em evento realizado na sede da Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar), em São Paulo. Também participaram a presidente da entidade, Elizabeth Farina, e o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp. 34 REVISTA AMAZÔNIA

O orçamento do PAISS Agrícola prevê R$ 1,4 bilhão em financiamentos reembolsáveis, que incluem todas as linhas de crédito de BNDES e Finep, além de instrumentos de renda variável de ambas as instituições. O programa ainda disponibilizará R$ 80 milhões de recursos não reembolsáveis, sendo R$ 40 milhões por meio do Fundo Tecnológico (BNDES Funtec) e R$ 40 milhões de subvenção econômica pela Finep. Em março de 2011, o BNDES e a Finep já haviam lançado o PAISS Industrial, plano semelhante, mas voltado para o apoio à inovação tecnológica industrial dos setores sucroenergético e sucroquímico. Esse plano teve ampla participação do setor. Ao todo, 57 empresas participaram e 35 planos de negócios foram aprovados, com R$ 2,5 bilhões contratados ou em via de contratação. Como resultado, sete novas plantas industriais e demonstrativas estão sendo implantadas. E para março

deste ano, em Alagoas, está previsto o início de produção comercial de etanol celulósico pela empresa GranBio, uma das companhias que receberam recursos do PAISS Industrial. O PAISS Industrial e o PAISS Agrícola representam iniciativas do governo brasileiro para unir esforços de seus principais órgãos de fomento, a fim de que o Brasil possa alcançar, nas tecnologias mais avançadas, o mesmo protagonismo já verificado na produção de biocombustíveis convencionais.

Importância do PAISS Agrícola A produtividade da lavoura brasileira de cana-de-açúcar atingiu, em 2007, a marca histórica de 11.200 kg de Açúcares Totais Recuperáveis por hectare (ATR/ha), nível quase 130% superior ao verificado em 1975, no início do Proálcool. revistaamazonia.com.br


O desempenho equivale a ganhos de produtividade de quase 3% ao ano. Contudo, a performance agrícola dos últimos anos passou a apresentar trajetória distinta, com anos seguidos de reduções de produtividade. Na última década, o incremento anual de produtividade foi inferior a 1%. O intuito do PAISS Agrícola é acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias que aumentem a eficiência agrícola do setor sucroenergético e, consequentemente, proporcionem maiores ganhos de produtividade no médio e longo prazos. Para se ter ideia desse potencial, se o ganho anual de produtividade agrícola da cana, atualmente inferior a 1%, fosse ampliado para 3%, seria possível adicionar cerca de 12 bilhões de litros de etanol até o início da próxima década, o que equivaleria a um aumento superior a 40% em relação à produção atual de etanol. A título de comparação, para que se tenha essa mesma capacidade produtiva de etanol, seria necessário investir R$ 40 bilhões para a construção de 40 novas usinas, cada uma com capacidade para processar 4 milhões de toneladas de cana por safra, o que exigiria cerca de 2 milhões de hectares em áreas de expansão de canaviais.

Linhas Temáticas Serão apoiados pelo PAISS Agrícola, planos de negócios de inovação que se destinem a cadeias produtivas da ca-

na-de-açúcar e de outras culturas energéticas compatíveis, complementares e/ou consorciáveis com o sistema agroindustrial da cana-de-açúcar, desde que inseridas em uma das cinco linhas temáticas fixadas. *A primeira linha inclui novas variedades de cana, sobretudo aquelas voltadas aos ambientes de produção das regiões de fronteira, mais adequadas à mecanização agrícola e/ou com maiores quantidades de biomassa e/ ou ATR presente na cana. A ênfase será no uso de melhoramento transgênico.

Glauco Arbix, da Finep, na sede da Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar, no lançamento do PAISS Agrícola

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Luciano Coutinho, do BNDES e Glauco Arbix, da Finep, lançando a seleção pública conjunta de planos de negócios voltados à inovação tecnológica agrícola no setor sucroenergético

*A segunda linha será voltada para máquinas e implementos para o plantio e/ou colheita, bem como para a coleta de palha e/ou resíduos, com ênfase na ampliação do uso de técnicas de agricultura de precisão. *A terceira linha temática focará os sistemas integrados de manejo, planejamento e de controle da produção. *A quarta linha engloba técnicas mais ágeis e eficientes de propagação de mudas e dispositivos biotecnológicos inovadores para o plantio. *A quinta linha será para projetos que contemplem a adaptação de sistemas industriais para culturas energéticas compatíveis, complementares e/ou consorciáveis com o sistema agroindustrial do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. A apresentação dos planos de negócios selecionados terá que ser feita até 16 de maio próximo. O resultado preliminar da etapa única de seleção dos planos e a indicação dos planos de suporte conjunto deverão sair no dia 20 de junho. Recursos ao resultado preliminar poderão ser interpostos até 30 de junho. O resultado final deverá ser anunciado no dia 10 de julho. Os primeiros desembolsos deverão ocorrer ainda em 2014. Todos os detalhes do PAISS Agrícola podem ser obtidos nos sites da Finep e do BNDES.

MATRIZ: ANANINDEUA-PA BR 316 - KM 5, S/N - ANEXO AO POSTO UBN EXPRESS ÁGUAS LINDAS - CEP: 67020-000 FONE: (91) 3321-5200

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MACAPÁ-AP FONE: (96) 3251-8379 REVISTA AMAZÔNIA 35


Soluções para o desenvolvimento sustentável

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m dos principais desafios para a promoção do desenvolvimento sustentável é encontrar soluções práticas e viáveis. Neste contexto, o conhecimento das populações ribeirinhas da Amazônia é muito rico e precisa ser valorizado. O caboclo amazônico e os índios têm muito a ensinar outras regiões sobre como conservar a floresta. Afinal de contas, as áreas ocupadas por estas populações tem um elevado índice de conservação florestal. As instituições da Amazônia também possuem um grande acúmulo de experiências com enorme valor para a promoção do desenvolvimento sustentável na região. Uma recém iniciativa, denominada “Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia” procura identificar e promover soluções desenvolvidas pelas instituições e moradores da região. A ideia é quebrar uma velha prática: importar soluções de fora da Amazônia. A proposta é fazer o oposto: mapear e disseminar soluções desenvolvidas pelas populações amazônicas e suas instituições de pesquisa, organizações não governamentais, empresas e instituições governamentais. Existem soluções para a promoção do desenvolvimento Virgilio Viana

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por Virgilio Viana*

A Rede é necessária para integrar as agendas ambientais com os esforços para a erradicação da pobreza , pois bons exemplos precisam ser divididos

sustentável, mas elas não são suficientemente conhecidas e divulgadas. Este é um problema global, não apenas da Amazônia. Temos agora a oportunidade de utilizar as mais modernas tecnologias de comunicação para conectar os desenvolvedores de soluções com aqueles que demandam este conhecimento prático. Existem soluções para o manejo sustentável do pirarucu, a criação de tambaqui em cativeiro, a melhoria da educação, o atendimento à primeira infância, a geração de energia para comunidades isoladas, a agricultura com sistemas agroflorestais, etc. Fazer com que estas soluções sejam melhores conhecidas é um dos grandes desafios para promover um estilo de desenvolvimento capaz de melhorar a qualidade de vida e ao mesmo tempo promover a conservação da floresta. As soluções desenvolvidas no Amazonas precisam ser compartilhadas com os estados vizinhos e com os demais países da Amazônia continental. Por outro lado, o Amazonas tem muito a aprender com as experiências

dos demais estados e países da Amazônia. Trocar experiências entre diferentes estados e países da Amazônia é algo que precisa ser estimulado. Esta é a missão da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Fazem parte desta rede instituições de pesquisa, empresas, organizações não governamentais e instituições governamentais dos oito países que compõem a Amazônia continental. O objetivo da Rede é mapear as soluções e tecnologias mais exitosas e facilitar o acesso a informações técnicas sobre estas iniciativas. Esta é uma iniciativa do bem, que pode valorizar o conhecimento das populações e instituições amazônicas. O conhecimento aqui gerado pode também ser útil também para outras regiões do mundo que possuem florestas tropicais e desafios semelhantes aos nossos. [*] Superintendente Geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e co-presidente da SDSNAmazônia revistaamazonia.com.br


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Rede de soluções sustentáveis para a Amazônia Especialistas e representantes de instituições se reuniram em Manaus para o lançamento da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia Fotos: Bruno Kelly, FAS/ comunicação social

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ientistas, pesquisadores, líderes empresariais, tomadores de decisões, ONGs, grupos indígenas, instituições educacionais e sociedade civil organizada, participaram do lançamento da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia. A Rede, que está sendo lançada no Brasil como parte da Rede de Soluções para Sustentabilidade da ONU, pretende mobilizar conhecimento científico e tecnológico global sobre os desafios do desenvolvimento sustentável. O desafio é reunir todos esses “pensadores” para discutir e construir soluções para a sustentabilidade, com base

Plataforma

em experiências da Amazônia Continental, que abrange nove países. Essas experiências devem ser adaptadas e replicadas para regiões em desenvolvimento com desafios parecidos da Amazônia, como a África Central (Bacia do Congo) e o Sudeste Asiático (Indonésia e Vietnã). Dessa forma, poderão colaborar para o alcance de metas e objetivos estabelecidos para o desenvolvimento sustentável pós2015.

Emma Torres, conselheira sênior da ONU na América Latina, com Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e co-presidente da SDSN-Amazônia e Adalberto Luis Val, diretor do INPA e presidente do comitê técnico-científico da SDSN-Amazônia, na mesa de abertura

Por meio de uma plataforma na internet, a Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia promoverá o diálogo e informará políticos, com base em evidências técnicas e científicas, sobre as questões e prioridades identificadas pelos governos. Dessa forma, o objetivo é trazer soluções embasadas em grande escala, com o engajamento da sociedade civil e apoio de políticas públicas. Isso está intimamente ligado com os desafios que muitos países, como o Brasil, vêm encontrando com altas temperaturas, que geram a seca e falta d’água e até a escassez de energia, que hoje afeta parte dos estados brasileiros, ou mesmo as fortes chuvas, que ocasionam enchentes que deixam milhares de famílias desabrigadas na Amazônia, gerando prejuízos em todas as escalas do desenvolvimento. “O clima está cada vez mais alterado e a população mais pobre é a mais vulnerável às mudanças climáticas e à degradação ambiental. Por isso, é necessário integrar as agendas ambientais com os esforços para a erradicação da pobreza. A Amazônia é responsável pelos serviços ambientais cruciais para a regulação do clima e estabilidade de ecossistemas. Isso comprova como os desafios para sua conservação podem ser usados como exemplo para diversas regiões”, comentou Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e co-presidente da Rede.

Direitos e deveres bem distribuídos Entre os membros da rede estão instituições com um histórico de trabalho na região amazônica, incluindo 38 REVISTA AMAZÔNIA

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O clima está cada vez mais alterado… A Amazônia é responsável pelos serviços ambientais cruciais para a regulação do clima e estabilidade de ecossistemas

universidades e institutos de pesquisa, academia de ciências, redes universitárias, instituições regionais, organizações multilaterais, empresas, ONGs, comunidade e grupos indígenas. A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) será a coordenadora da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia e servirá como um secretariado técnico para sua concepção. Apoiará também o trabalho de dois comitês (técnico-científico e político-estratégico), que definirão a missão e visão da rede. Como vice-presidente estará Emma Torres, conselheira sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e coordenadora da Comissão de Desenvolvimento e Meio Ambiente para a América Latina e Caribe. O presidente do comitê técnico-científico será Adalberto Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com o apoio da Academia Brasileira de Ciências. O comitê político-estratégico irá fornecer orientação estratégica para o trabalho da rede e reforçar o diálogo entre os diferentes atores e tomadores de decisão. Ele será composto por políticos e formadores de opinião de todos os países da região amazônica. revistaamazonia.com.br

Pesquisadores, tomadores de decisões, especialistas, líderes empresariais, reunidos em Manaus, no lançamento da SDSN – Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia

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Jeffrey Sachs Segundo o, diretor do Instituto Terra, assessor especial do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, e professor da Universidade de Columbia (EUA): “Cada país e cidade possui uma expertise própria e específica para enfrentar os dilemas do desenvolvimento sustentável”. “A Rede vai permitir que líderes de cada região exponham boas ideias que possam ser replicadas.” “Fazemos parte do meio ambiente e até agora o ser humano utilizou e abusou disso sem preservar nada. As conseqüências são as grandes secas que o Brasil sofre, que a Califórnia sofre. É preciso combinar prosperidade com desenvolvimento. Duas coisas que o Brasil realiza e podem ser exemplo são as matrizes de baixo carbono, como a matriz energética de hidroeletricidade. Além disso o imenso esforço que o país fez para diminuir o

Jeffrey Sachs, Diretor do Instituto da Terra da Universidade de Columbia e presidente do SDSN e Virgílio Viana, Superintendente Geral da FAS e Co-presidente do SDSN

Virgílio Viana, superintendente geral da FAS e Co-presidente do SDSN palestrando sobre o tema: Amazônia: Plano de trabalho preliminar para SDSN – Amazônia

decisões. “Um dos objetivos deste trabalho é mobilizar movimentos globais. O conhecimento gerado pela rede deve ajudar no processo de tomadas de decisões governamentais. No caso da Amazônia, as propostas podem servir de modelo a outros países. O Bolsa Floresta, por exemplo, é uma atividade a ser pensada, assim como diferentes processos educativos já testados na Amazônia”, concluiu.

Virgílio Viana Viana é Vice-presidente do grupo temático para oceanos, florestas, biodiversidade e serviços ambientais e um dos poucos brasileiros que participam da Rede SDSN da ONU. Foi ele quem propôs a criação da SDSN-Amazônia, a única rede criada fora da ONU. A proposta para sua criação surgiu em um dos encontros em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, e contou com apoio de Jeffrey Sachs desmatamento é um grande exemplo de como pensar nas necessidades das populações sem degradar. Há anos líderes mundiais discutem sobre sustentabilidade, isso aconteceu na conferência Eco 92, na Rio Plus, mas somente a partir da Rio +20 foi que se começou a traçar uma realidade em que é possível enxergar a boa vontade dos líderes. Até então os países não se sentiam responsáveis para conseguir cumprir os objetivos propostos em todas essas reuniões. Ainda há muito a ser feito, porém as negociações avançam para um caminho em que vai ser possível garantir comida para as populações mais pobres, gerar renda sem destruir o planeta com ações abusivas”.

Mesa de encerramento (dir. para esq.) Adalberto Val, Co-presidente da SDSN – Amazônia, Emma Torres, Co-presidente da SDSN – Amazônia (BOLÍVIA), Virgilio Viana, Co-presidente da SDSN - Amazônia e o Professor Jeffrey Sachs, Presidente da SDSN (USA)

Emma Torres A conselheira sênior da ONU na América Latina, disse que a Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia, auxiliará os governos na tomada de 40 REVISTA AMAZÔNIA

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Fundo Amazônia (BNDES). O principal programa da FAS é Bolsa Floresta, que é o primeiro projeto brasileiro com certificação internacional para compensar as populações tradicionais e manter os serviços ambientais fornecidos por meio das florestas. Além disso, ela desenvolve programas nas áreas de saúde, educação, produção sustentável, gestão, monitoramento do desmatamento e desenvolvimento científico, em parceria com diversas instituições governamentais e não governamentais. Atualmente, a Fundação beneficia 8.855 famílias, em 562 comunidades, em uma área superior a 10 milhões de hectares, em 15 Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas. Na Mesa Redonda: Conhecimento e Soluções para a Amazônia: Setor Privado (dir. para esq.) Juan Fernando Reyes, Coordenador Nacional de Articulação Regional Amazônica (ARA) da Bolívia, Denis Minev, Diretor Financeiro do Grupo Bemol, Adalberto Val Diretor do INPA, e Mario Laffitte, Vice Presidente de Negócios da Samsung

Na Mesa redonda: Conhecimento e Soluções para a Amazônia: a Sociedade Civil (dir. para esq.), Fabio Scarano, Vice-Presidente Sênior para a Divisão das Américas da Conservação Internacional , Juan Fernando Reyes, Coordenador Nacional de Articulação Regional Amazônica (ARA) da Bolívia e Mariano... Manoel Cunha, Tesoureiro do Conselho Nacional das Populações Extrativistas

(líder da SDSN e diretor do The Earth Institute, Universidade de Columbia, EUA).

FAS A FAS é uma organização brasileira não governamental, sem fins lucrativos, de utilidade pública federal e estadual, criada em 20 de dezembro de 2007, por meio de uma parceria entre o Governo do Estado do Amazonas e o Banco Bradesco. A instituição, a partir de 2009, passou a contar com o apoio da Coca-Cola Brasil e, em 2010, do O objetivo da Rede é procura identificar e promover soluções desenvolvidas pelas instituições e moradores da região

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Às vezes, a floresta amazônica tem aparecido mais verde em estações secas e estiagens , quando seria de se esperar que as árvores a mostrassem sinais de stress. Por isso, os pesquisadores podem ter superestimando as mudanças florestais na estação seca

A Amazônia parece mais saudável justamente durante a estiagem Reflexo do sol distorce imagens de satélite e faz Amazônia parecer mais verde Fotos: CIFOR, NASA

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pós anos de mistério em torno das imagens de satélite da Amazônia, cientistas descobriram que uma ilusão de ótica fazia a floresta parecer mais verde no período da seca. Os pesquisadores da Universidade de Swansea, no País de Gales, analisaram imagens da NASA para entender porque esse ecossistema, tão dependente da chuva, parecia mais ‘saudável’ justamente durante a estiagem. O mistério intrigou cientistas por mais de dez anos. A resposta é uma ilusão causada pelo reflexo da luz do sol captado pelo satélite no período de seca.

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As cores azuis representam as áreas da florestas amazônica em que os sensores e os modelos podem superestimar o quão verde é a vegetação; o branco representa as áreas sem cobertura florestal. O mapa é baseado em um modelo que faz a correção do sensor solar revistaamazonia.com.br


A imagem de satélite, em cor natural mostra a importância de corrigir o que é captado pelo sensor solar. À esqueda, a luz é refletida pela floresta, criando a aparência de folhas verdes brilhantes em algumas áreas. À direita, a luz do sol faz com que as águas escuras do rio Amazonas e as zonas inundadas ao redor pareçam prata em comparação com a floresta escura

“Descobrimos que as variações de iluminação solar explicam melhor as mudanças nas áreas verdes captadas pelos satélites do que o de fato está acontecendo na terra”, disse o professor Peter North, do departmento de geografia da Swansea. North destaca que só é possível observar uma área tão grande como a Amazônia do espaço. Por isso, é fundamental ter um retrato tão fiel quanto possível para com-

preender seu papel na formação do clima. Segundo o professor Danny McCarroll, da mesma universidade, a descoberta é uma notícia ruim, pois significa que a floresta amazônica não está capturando tanto gás carbônico como se pensava. “Mais gás carbônico se mantém na atmosfera, causando aquecimento crescente”, completou. A bordo dos satélites da Nasa há sensores que medem

a quantidade de luz refletida da Amazônia. Cientistas usam a relação de luz vermelha e infravermelha próxima como uma medida de vegetação. Os pesquisadores da Swansea, trabalhando com a NASA, desenvolveram um modelo matemático que prevê como uma floresta será vista do espaço, e como a área foliar pode ser medida. As mudanças sazonais na geometria sol-sensor gera o aparecimento de mais verde em observações MODIS na floresta amazônica entre junho e outubro

Receptivo em Manaus Reservas de hotéis Passeio de lancha para o encontro das águas Traslado para o aeroporto City tour

Presidente figueiredo Mergulho com botos Ritual indígena Aluguel de veículos

Olimpio Carneiro olimpio.carneiro@hotmail.com (92) 9261-5035 / 8176-9555 / 8825-2267 revistaamazonia.com.br

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Projeto GOAmazon aprimorará modelos climáticos sobre a Amazônia

Lançado recentemente, o projeto receberá investimento de R$ 24 milhões do Departamento de Energia dos Estados Unidos das Américas (DOE), da Fapeam e da Fapesp. O Inpa é um dos parceiros de pesquisa por Cimone Barros Fotos: Arquivo projeto GOAmazon, Eduardo Gomes

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ara estudar as interações entre a floresta amazônica e a atmosfera e medir os níveis de poluição de Manaus e sua influência no ciclo de vida das nuvens e da formação de chuva, uma colaboração internacional uniu esforços no projeto Green Ocean Amazon (GOAmazon). O projeto foi lançado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), com a presença de autoridade e representantes das instituições parceiras. O experimento científico propõe-se ainda a aprimorar os modelos que representam as chuvas dentro de modelos climáticos muito mais realistas. A intenção é que, com isso, os cientistas possam projetar cenários futuros de clima mais confiáveis e assim dar mais confiança aos gestores públicos na definição de políticas públicas. Nos próximos dois anos serão investidos R$ 24 milhões no projeto, sendo R$ 12 milhões oriundos do Departamento de Energia dos Estados Unidos das Américas (DOE), R$ 6 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas e mais R$ 6 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para o diretor em exercício do Inpa, o pesquisador Estevão Monteiro de Paula, o GOAmazon é um projeto inédito pela colaboração entre os países e entre as fundações de amparo à pesquisa (Fapeam e Fapesp), que juntos visam conhecer mais sobre a Amazônia. “O interessante também é que mesmo durante a execução do projeto teremos a formação de mestres e doutores qualificados”, disse. Além do diretor do Inpa, participaram da mesa de abertura; a representante do DOE, Sharlene Weatherwax; 44 REVISTA AMAZÔNIA

o coordenador de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais da Fapesp (PFPMCG) que no ato representou a presidência da instituição, Reynaldo Victoria; a diretora presidente da Fapeam, Olívia Simão; a representante do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Instrumentação para coletar dados da umidade, temperatura e meteorologia antes da tempestade

Andrea Portela Nunes; o secretário de estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM), Odenildo Sena; e a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Kátia Schweickardt, que no ato representou o prefeito de Manaus. “Vamos aumentar muito o nosso conhecimento físico, químico e de circulação na Amazônia e depois teremos um grande benefício, que é o de poder aprimorar os modelos que representam a formação de nuvens no corredor de chuvas nos modelos climáticos”, contou o pesquisador responsável pelo GOAmazon no Inpa, o doutor em Física da Atmosfera Antonio Manzi. De uma forma bem simples, os modelos climáticos são representações da realidade. Quando se fala do clima, por exemplo, tem-se desde a representação da superfície, dos oceanos, dos continentes, dos ecossistemas, da atmosfera, dos movimentos atmosféricos, das camadas de gelo e da sua dinâmica, mas tudo isso representado com equações matemáticas, depois transformadas em códigos de computador e que posteriormente serão rodadas nessas máquinas.

Estrutura física O experimento de campo integrado vai utilizar uma rede de sítios de pesquisa instrumentados. Um deles fica na Fazenda Agropecuária Exata S/A, localizada em Manacapuru (município a oeste de Manaus distante a 68 quilômetros), que possui uma estrutura física composta por 11 contêineres-laboratórios, em fase final de instalação. Também serão utilizadas duas aeronaves (Gulfstream ARM-1 e High Altitude and Long Range Research Aircraft - Halo) e dois balões cativos que servirão para coletar dados adicionais. Além desse sítio de pesquisa em Manacapuru, ainda há outros quatro que fornecerão informações necessárias revistaamazonia.com.br


No lançamento do projeto Green Ocean Amazon (GOAmazon), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI)

para o desenvolvimento do projeto: o Observatório com Torre Alta da Amazônia (Projeto ATTO), localizado a 150 km a nordeste de Manaus na RDS-Uatumã; o hotel Tiwa em Iranduba (município a 25 km de Manaus); e a Reserva do Cuieiras do Inpa, localizada 50 km ao norte de Manaus, na ZF2. De acordo com Manzi, a Amazônia é a maior fonte continental de liberação de calor latente (aquela energia utilizada para evaporar água) na atmosfera e é um bioma muito importante no contexto das mudanças climáticas globais, porque nela há um estoque de carbono muito grande.

Para o representante da Fapesp, essa é uma oportunidade de continuar a investir em pesquisas amazônicas e agora com um parceiro forte como é a Fapeam. “E queremos continuar”, ressaltou Reynaldo Victoria. Também são parceiros do projeto o instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto de Espaço e Aeronáutica (IAE) e o Instituto MAX Planck de Química (MPIC/ Alemanha), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Harvard, dentre outras universidade do Brasil e dos Estados Unidos. Em março de 2013, uma suíte de instrumento inicial começou a operar perto Manacupuru, Amazonas, como parte da campanha de campo GOAMAZON

Colaboração O esforço observacional, que será empreendido nessa região dos trópicos úmidos para estudar os sistemas tropicais acoplados superfície-nuvem-atmosfera, contará com a participação e projetos de várias instituições. “Vamos estudar problemas tão grandes para mundo, que não seria possível sem essa parceria”, destacou a representante do DOE, Sharlene Weatherwax. O pesquisador Jeff Chambers (Berkeley-EUA) estudará no GOAmazon o processo de emissões naturais e como influenciará no clima, na formação de nuvens e precipitação de chuvas na bacia amazônica. “Vamos pesquisar Instrumentos terrestres em cinco locais diferentes vão obter medições de nuvens, aerossóis, precipitação e do ciclo de carbono durante a campanha de campo GOAMAZON em dois anos no Brasil

as interações entre a floresta e a atmosfera, estudando compostos orgânicos voláteis, que são componentes que dão cheiro às plantas, mas também quando entram na atmosfera ajudam na criação de nuvens e de chuva”. Segundo a diretora presidente da Fapeam, Maria Olívia Simão, o projeto é também uma grande oportunidade de formação para os alunos do Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente (Mestrado e Doutorado), realizado através de um convênio entre Inpa e a Universidade do Estado do Amazonas. “Eles poderão acompanhar de perto esse modo de fazer ciência”. Instrumentos no topo de torres, medirão variáveis ambientais, tais como luz e temperatura, que impulsionam as emissões de carbono do dossel

A estratégia de amostragem prevista para GOAmazon2014 utiliza níveis escalonados de instrumentação para aumentar a amostragem espacial em sítios propostos para a região de Manaus revistaamazonia.com.br

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Dia Mundial da Água por André Marques*

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data comemorativa foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 22 de março de 1992, e a cada ano aproveitamos o momento para comemorar e debater questões no que tange aos recursos hídricos. Sabido que a água é diretamente ligada à vida, não só por representar a maior parte da composição de nosso corpo — o ser humano possui 90% de seu corpo ao nascer e 70% quando adulto — mas também por ser a fonte da produção de alimento, de energia, de transporte e de saúde. Em nosso país temos o privilégio de concentrarmos aproximadamente 12% da água doce disponível em nosso planeta. Desbravadores dos séculos passados buscavam na existência da água a raiz de fixação de suas bases e de onde surgiam os primeiros povoados, e os atuais buscam a presença da água em diversos planetas como sendo um sinal de vida e esperança única de habitação para a sobrevivência futura de nossa espécie. Nesta data, infelizmente não temos muito o que comemorar, diante da escassez desse recurso tão precioso que abastece a vida no planeta. Exemplo disso é a população de São Paulo, que sofre outra vez com o temor de desabastecimento de água. Algumas outras cidades iniciaram o racionamento com o fim de evitar um mal maior. Autoridades reconhecem a crise, anunciam medidas emergenciais e, tal como

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xamãs da própria incompetência, apostam em incertas mudanças meteorológicas. Inquestionável que o cenário é fruto de uma sucessão de erros. Estudos, entre eles realizados pela FAO, órgão da ONU, apresenta que a escassez de água já afeta 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo, enquanto outros 500 milhões já começam a sofrer pela falta do recurso. Além de ser estimado que 60% da população mundial vão sofrer com a falta de água nos próximos 20 anos. Diante dessas informações que são divulgadas pelos

meios de comunicação, o que podemos ver em cada esquina são pessoas com total desperdício. Exemplos são pessoas lavando calçadas e veículos, crianças brincando com a água, piscinas, banhos demorados, entre outros abusos. E o que comemorar diante dessa situação? O que fazer diante desses fatos? Comemorar não é

tão bom nos dias atuais. Mas é momento de preservar o meio ambiente economizando água, dinheiro e usando inteligência. É preciso conscientizar na preservação do meio ambiente como um todo deve começar de fato pelos jovens, pois eles são a futura geração e podem mudar o futuro da água de nosso planeta, pois, se não o fizerem, eles mesmos serão os que mais vão sofrer com os problemas da escassez. Para refletir: Nossos filhos terão água potável para beber e matar a sede de seus filhos? A resposta dessa indagação só depende de nós mesmos. Basta o uso racional e sustentável da água, pois apesar de não parecer esse bem é finito. Mas a conscientização não deve permanecer somente nos domicílios, deve estar presente em todos os ramos da economia, pois todas as atividades econômicas dependem direta ou indiretamente da água. Sem mais delongas, refazer os hábitos que levam o desperdício é uma obrigação de todos nós. Preservar não só nesta semana, mas todos os dias, nada mais do que uma prática é uma ação obrigatória para a própria continuidade da existência da espécie humana. Pense nisso!!! Mude agora mesmo seu ritmo de vida! [*] Advogado e consultor, é escritor e membro da Comissão de Segurança Pública e Política Criminal da OAB/GO e doutorando em direito. andremarquesadv@hotmail.com

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ESCOLA MELHORA A VIDA, MELHORA O MUNDO. O GOVERNO DO ESTADO QUER MELHORAR A ESCOLA.

Escola Barão do Rio Branco, em Belém, está sendo restaurada

Escola Estadual Rio Tapajós, Santarém

Quadra de esportes na Escola Mário Brasil, Garrafão do Norte

Obras da Escola Anísio Teixeira, Marabá

Escola Liberdade, Marabá

Escola Deuzuita Pereira de Queiroz, Redenção

Escola N. Senhora de Fátima, Abaetetuba

Restauração da escola centenária Antônio Lemos, em Santa Izabel

Escola Tecnológica de Vigia

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Escola Marivalda Pantoja, Ananindeua

260 escolas sendo reformadas em todo o estado. Escolas prontas e ampliadas. Novas escolas sendo construídas. Seis escolas indígenas entregues e mais sete em construção. Onze escolas tecnológicas com obras avançando. Professores com Plano de Cargos e Carreira, recebendo um dos cinco maiores pisos salariais do Brasil. Prédios históricos sendo restaurados e ganhando acessibilidade, como o Barão do Rio Branco e o Instituto de Educação do Pará - IEP, em Belém, e o Antônio Lemos, em Santa Izabel. Para fazer o maior investimento já realizado na nossa Educação, o Pará fez o que nenhum outro estado brasileiro havia feito: foi ao Banco Interamericano de Desenvolvimento buscar recursos para melhorar a qualidade do ensino. O desafio é ter uma escola boa, professores capacitados e uma gestão escolar eficiente. É ter cada vez mais empresas, professores, pais e alunos, unidos num grande Pacto pela Educação do Pará. Todos juntos para elevar os resultados do IDEB em 30%, num prazo de cinco anos. Também na Educação, o Pará está em obras. E a maior delas, com certeza, é construir um futuro de muitas oportunidades para nossas crianças e jovens.

TRABALHO EM TODO CANTO PRA TODA NOSSA GENTE. www.pa.gov.br

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O Projeto Cenários é uma integração de ações e competências de três dos grandes programas de pesquisas do MCTI para a Amazônia

Projeto Cenários para a Amazônia: Uso da Terra, Biodiversidade e Clima Fotos: Daniel Jordano, Flávio Ribeiro

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Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realizou recentemente, a Conferência Científica Final do Projeto Cenários para a Amazônia: Uso da Terra, Biodiversidade e Clima para apresentar e discutir os principais resultados e produtos gerados pelo projeto. O evento aconteceu no Auditório da Ciência, localizado no Bosque da Ciência do Inpa. Pesquisadores de vários institutos de pesquisas participaram do evento, como do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e Universidade Federal do Amazonas. Também contou com a participação de representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 48 REVISTA AMAZÔNIA

Balanço

representa um exemplo de integração que o Inpa quer adotar para algumas pesquisas que estão sendo desenvolvidas no instituto”, destacou o coordenador de Assuntos Estratégicos e diretor substituto do Inpa, Estevão Monteiro de Paula.

Segundo o coordenador do Projeto Cenário, Flavio Jesus Luizão, o projeto recebeu recursos financeiros do Finep na ordem de R$ 4 milhões e executou, a partir de 2009, estudos em quatro Centros de Ende- Segundo o coordenador mismos (unidades de estudo de grande inte- do Projeto Cenário, Flavio Jesus Luizão, resse para integração de clima, biodiversidade e esta foi uma primeira uso da terra). Os estudos foram realizados em tentativa de integrar os três grandes programas Manaus, Pará (Caxiuanã e Santarém), parte do do Ministério da Ciência, Maranhão e em Humaitá (no sul do Estado do Tecnologia e Inovação (MCTI) Amazonas). Esta foi uma primeira tentativa de integrar os três grandes programas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI): o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), a Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia (Geoma) e o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio). “O Projeto Cenários foi um grande desafio e

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Mesa de abertura do encerramento do projeto Cenários

No Amazonas O Projeto Cenários proporcionou a criação de uma estrutura em Humaitá para que esse município cresça como um centro capaz de fazer pesquisas. O município dispõe de três torres metereológicas e dois laboratórios de biologia molecular. Um, equipado para triagem de amostras de solos e plantas, e outro laboratório com equipamentos para análises de gases, de águas, plantas e solos. Com os recursos do projeto, além desses laboratórios criados, também foram melhorados outros laboratórios dentro do Inpa para atender demandas de análises como o de solos e plantas.

No Pará O Museu Paraense Emílio Goeldi também dispõe de um laboratório de biologia molecular que foi usado neste projeto para gerar informações, por exemplo, de como a biodiversidade se distribui dentro da Amazônia (nos Centro de Endemias) e como ela é afetada por mudanças no uso da terra. Estes estudos foram baseados por marcadores genéticos detectados e mapeado nesse labortório. Também foi possível melhorar a estrutura de pesquisas em campo, em Caxiuanã, com a aquisição de equipamentos.

que reúne a síntese do projeto e seus resultados durante os últimos anos. O livro foi organizado pela pesquisadora associada do Inpa, Thaise Emilio, e está divido em cinco partes que contemplam aspectos sobre as relações biodiversidade e clima; mudanças de uso e cobertura da terra; clima e ecossistemas; ferramentas e tecnologias; e perspectivas, que ainda está sendo finalizada. Para Osvaldo Moraes, diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos do MCTI: “O MCTI tem interesse que o Projeto Cenários não se esgote”, afirmou também ser um profundo conhecedor dos desafios de se realizar pesquisas na Amazônia e veio participar das discussões com os pesquisadores do projeto sobre o futuro das pesquisas na região.

Segundo Flavio Luizão, o primeiro passo foi dado e, embora reconhecido o mérito do Projeto Cenários e da necessidade de uma continuidade, isto agora vai depender de uma demanda específica e bem justificada feita diretamente ao MCTI. Para ele, esta ação precisa contar com o apoio decisivo dos diretores dos institutos de pesquisas envolvidos, bem como das Fundações de Apoio e Amparo à Pesquisa (FAPs) e das secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia. Para Estevão Monteiro de Paula, coordenador de Assuntos Estratégicos e diretor substituto do Inpa: “O Projeto Cenários foi um grande desafio e representa um exemplo de integração que o Inpa quer adotar para algumas pesquisas que estão sendo desenvolvidas no instituto”.

Gerenciador Também como resultado do Projeto Cenários, foi desenvolvida uma nova plataforma computacional capaz de fazer a integração de dados em um sistema único de qualquer projeto científico na Amazônia. Trata-se do “Mo Porã 3.0 - Repositório de sites colaborativos” (palavra que em Tupi guarani significa guardar em local seguro), que será institucionalizado para futura distribuição às instituições parceiras do Inpa. O projeto é um gerenciador de repositórios distribuídos, colaborativos e federados do Projeto Cenários.

No pré-lançamento do compêndio Cenários, organizado pela pesquisadora associada do Inpa, Thaise Emilio

No encerramento Na oportunidade, foi pré-lançado o compêndio Cenários

Projeto Cenários O Projeto Cenários é uma integração de ações e competências de três dos grandes programas de pesquisas do MCTI para a Amazônia: LBA (Projeto de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), Geoma (Rede Temática em Modelagem Ambiental da Amazônia) e PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade). O foco principal é a geração, síntese e integração de dados recentes e novas descobertas sobre a biodiversidade, o clima, o uso e a cobertura da Terra na Amazônia, bem como a discussão e avaliação dos diferentes cenários de alteração ambiental provocados pelo desmatamento e pelo aquecimento global. revistaamazonia.com.br

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Global Forest Watch: uma nova plataforma para proteger florestas

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World Resources Institute (WRI), o Google e um grupo de mais de 40 parceiros lançaram recentemente, no Newseum, em Washington, D.C, o Global Forest Watch (GFW), um sistema de alerta e monitoramento online dinâmico de florestas que permite às pessoas em todo o mundo manejar melhor as florestas. Pela primeira vez, o Global Forest Watch une a última tecnologia de satélite, os dados abertos e o crowdsourcing para garantir o acesso a informações acuradas sobre florestas. “Empresas, governos e comunidades precisam de informações urgentes sobre florestas. Agora, eles podem ter”, afirma Andrew Steer, presidente e CEO do WRI. “O Global Forest Watch é uma plataforma de monitoramento em tempo quase real que mudará a maneira como pessoas e empresas manejam florestas. A partir de agora, os maus não podem mais se esconder, e os bons serão reconhecidos por suas ações”, completa. Segundo dados da Universidade de Maryland e do Google, o mundo perdeu 2,3 milhões de quilômetros quadrados (230 milhões de hectares) de cobertura florestal entre 2000 e 2012 – o equivalente a 50 campos de futebol de floresta perdidos a cada minuto todos os dias durante 12 anos. Os países com a maior perda de cobertura florestal são Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Indonésia. “Gerenciar recursos das florestas mundiais é um compromisso local e global, e a tecnologia oferece ao Global Forest Watch uma oportunidade sem precedentes para conectar dados, informações e pessoas, sejam elas gestores de florestas, empresários ou consumidores por todo o planeta. Este é um grande exemplo de trabalho conjunto que oferece ao mundo um resultado verdadeiramente pioneiro e inovador. Espero que em alguns anos possamos monitorar o impacto e os resultados do que realmente acontece– será ao mesmo tempo um teste decisivo e a maior afirmação que esta iniciativa chegou na hora certa”, comenta Achim Steiner, sub-secretário geral da ONU e diretor executivo do PNUMA. “Estamos honrados da parceria com o WRI e em empoderar o Global Forest Watch com tecnologia em nuvem, quantidade massiva de dados e a ciência do Google”, diz Rebecca Moore, gerente de engenharia do Google Earth. “O GRW representa uma visão ambiciosa, e ainda assim oportuna e acessível com o conhecimento do WRI em 50 REVISTA AMAZÔNIA

Global Forest Watch fornece uma atualização quase em tempo real da perda da floresta em todo o mundo

ciências e políticas ambientais, e a tecnologia de alta performance do Google que oferecemos a esta iniciativa”.

Algumas das funcionalidades do Global Forest Watch: Alta resolução: dados sobre o ganho e perda de cobertura florestal anual para todo o planeta a uma resolução de 30 metros disponível para análise e download. Tempo quase real: dados mensais da perda de cobertura florestal para as regiões tropicais a uma resolução de 500 m. Velocidade: computação em nuvem, fornecida pela Google, multiplicando a velocidade a que os dados podem ser analisados. A “crowd”: o GFW une informações de alta resolução de satélites com o poder do crowdsourcing. Gratuito e fácil de usar: o GFW é gratuito para todas as pessoas e não requer conhecimentos técnicos. Alertas: quando são detectados alertas de perda florestal, uma rede de parceiros e cidadãos em todo o mundo podem ser mobilizados para tomar medidas. Ferramentas de análise: camadas a mostrar as delimitações das áreas protegidas em todo o mundo; concessões para abate de árvores, minas, óleo de palma, entre outras; alertas diários de incêndios florestais da NASA;

mercadorias agrícolas; e ambientes florestais intactos e hotspots de biodiversidade. “Parcerias como o Global Forest Watch que unem governos, empresas, sociedade civil e inovação tecnológica são o tipo de solução que precisamos para reduzir a perda da cobertura de florestas, reduzir a pobreza e promover o crescimento econômico sustentável”, afirma Rajiv Shah, da Agência para Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid, na sigla em inglês). O GFW terá implicações de longo alcance nas indústrias. Instituições financeiras podem avaliar melhor se as empresas em que investem avaliam de forma adequada os riscos relacionados com as florestas. Compradores das principais mercadorias, como o óleo de palma, soja, madeira e carne bovina podem monitorizar melhor a conformidade com as leis, os compromissos de sustentabilidade e as normas. E fornecedores podem demonstrar de forma credível que os seus produtos não são resultantes do desmatamento e que são produzidos de forma legal. “O desmatamento apresenta um risco material às empresas que dependem das colheitas associadas à floresta. A exposição a esse risco tem o potencial para debilitar o futuro das empresas,” disse Paul Polman, CEO, Unilever. “É por isso que o Plano de Vida Sustentável da Unilever revistaamazonia.com.br


definiu objetivo para obter 100 % das matérias-primas agrícolas de forma sustentável. Como aspiramos a aumentar a visibilidade da origem dos ingredientes para os nossos produtos, o lançamento do Global Forest Watch – uma ferramenta fantástica e inovadora – vai fornecer as informações de que tanto precisamos para tomar as decisões certas, fomentar a transparência, reforçar a responsabilidade e facilitar as parcerias.” O GFW pode apoiar outros públicos de interesse, como as comunidades indígenas, que podem carregar alertas e fotografias quando ocorrer alguma invasão das suas terras; e as ONG, como o Imazon, que podem identificar os focos de desmatamento, mobilizar ações e recolher provas para responsabilizar os governos e as empresas. Ao mesmo tempo, muitos governos, como a Indonésia e a República Democrática do Congo, acolhem com agrado o GFW porque os pode ajudar a conceber políticas mais inteligentes, a aplicar as leis florestais, a detectar desmatamentos florestais ilegais, a gerir as florestas de forma mais sustentável e a alcançar os objetivos de conservação e climáticos. O GFW foi desenvolvido pelo WRI em colaboração com mais de 40 parceiros, incluindo empresas de tecnologia (Google, ScanEx e ESRI), empresas de outras áreas (Unilever e Nestlé e a parceria TFA 2020), organizações internacionais (PNUMA, GEF), ONG importantes (CGD, Imazon, Transparent World), entre outros. Os principais financiadores são a Noruega, a USAID, o DFID, o GEF e o Tilia Fund.

Unidos, China, Índia, Brasil, entre outros. Os nossos mais de 300 especialistas e funcionários trabalham de perto com os líderes para tornar as grandes ideias em medidas para proteger os nossos recursos naturais – a base das oportunidades econômicas e do bem-estar humano. (www.wri.org)

Sobre o Global Forest Watch O Global Forest Watch (GFW) é um sistema de alerta e monitoramento de florestas online e dinâmico que permite às pessoas em todo o lado gerir melhor as florestas.

Pela primeira vez, o Global Forest Watch une a última tecnologia de satélite, os dados abertos e o crowdsourcing para garantir o acesso a informações acuradas sobre florestas

Pela primeira vez, o GFW une a tecnologia de satélite, os dados abertos e ocrowdsourcing para garantir o acesso a informações acuradas sobre as florestas. Em posse das últimas informações do GFW, os governos, as empresas e as comunidades podem travar a perda florestal. Para mais informações consulte: www.globalforestwatch.org. GFW é um sistema de alerta e monitoramento de florestas online e dinâmico que permite às pessoas em todo o lado gerir melhor as florestas

Sobre o World Resources Institute O WRI é uma organização de investigação mundial que abrange mais de 50 países, com gabinetes nos Estados revistaamazonia.com.br

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Água para sempre por Luiz Roberto Gravina Pladevall*

Fotos: Christine Gomes

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mundo tem uma grande responsabilidade na preservação dos recursos hídricos, que ocupam 1,4 trilhão de quilômetros cúbicos, mas apenas 0,52% está em rios, lagos e aquíferos. O Dia Mundial da Água, comemorado anualmente no dia 22 de março, é um momento importante para o debate sobre o futuro desse recurso. Nas últimas décadas, as mudanças climáticas têm provocado transformações profundas no abastecimento de água no mundo, e a sua garantia é essencial para nossa sobrevivência. A nossa vida e o desenvolvimento da civilização estão intrinsicamente ligados pela proximidade do ser humano aos recursos hídricos. A revolução agrícola é prova da nossa dependência da água para a sobrevivência e progresso dos povos. Ela começa com a fixação das pri-

meiras civilizações próximas aos grandes rios como Nilo, Tigre, Eufrates, Jordão, Ganges, Indo, entre outros. Além do cultivo de alimentos, a água garantiu a criação de animais e o abastecimento da população. Isso prova nossa dependência desse recurso. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que a demanda global por água deve crescer 55% até 2050, como reflexo do aumento da população e uso dos recursos hídricos na produção de alimentos e no setor industrial. Por isso, para garantir o crescimento econômico, social e populacional de maneira sustentável faz-se necessária a implantação de políticas públicas que garantam o fornecimento de recursos hídricos nas próximas décadas. A disputa pela disponibilidade hídrica no planeta promoverá grandes conflitos neste século 21. Isso obriga a um planejamento sério, levantando detalhadamente nossas condições atuais para que possamos fazer uma projeção técnica rigorosa das nossas futuras

necessidades. Os governos têm um grande desafio pela frente, independente da bandeira partidária. Alguns pontos devem ser abrigados nesse planejamento com os problemas que atualmente já enfrentamos. Um deles é a redução drástica das perdas em vários pontos do sistema de abastecimento, principalmente por meio da gestão e operação eficientes, além da construção de novas fontes de fornecimento de água e o seu reúso em diversas aplicações. Ao contrário do que foi propagado no passado, os recursos hídricos são finitos, e a ausência de água limpa pode comprometer seriamente o desenvolvimento das próximas gerações. O desafio é grande, mas as soluções existem e podem garantir um futuro com água em quantidade adequada para todas as atividades de nosso planeta. [*] Presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente

A qualidade da água em todo o mundo está em declínio, ameaçando a saúde dos ecossistemas e os seres humanos em todo o mundo

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22 e 23 de julho de 2014 Local de realização: Fecomercio – São Paulo/SP REALIZAÇÃO:

Estão abertas as inscrições para o maior evento da área de RI e Mercado de Capitais da América Latina. As vagas são limitadas, faça já sua inscrição. O maior encontro do mercado de capitais brasileiro e da América Latina, em Relações com Investidores, já tem data marcada: dias 22 e 23 de julho próximos. Uma vez mais a capital de São Paulo sediará o Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido conjuntamente entre a ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas e o IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores. O 16º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais é parte do calendário de eventos das principais companhias abertas, agentes reguladores, dirigentes de entidades, analistas e profissionais de investimentos, bem como advogados, auditores e especialistas em relações com investidores de todo o Continente. Como acontece todos os anos, representantes de companhias abertas, bolsas de valores estrangeiras, consultorias internacionais e companhias listadas no exterior deverão passar pelo evento, que reúne público superior a 700 pessoas em seus dois dias de realização. Paralelamente aos painéis da programação oficial, haverá uma exposição de serviços composta de estandes onde as empresas e instituições expõem seus produtos e serviços pra um público customizado, tornando-se também um oportuno ponto de encontro de todo o mercado.

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Ano da agricultura familiar, camponesa e indígena por Selvino Heck* No Brasil existem atualmente 4,367,902 agricultores familiares reconhecidos

Fotos: Emater

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ocê sabe o que come? Nós sabemos o que comemos? Eu sei de onde vêm a cenoura, o feijão, o arroz, o repolho, o frango, a cenoura, o tomate? Quem os planta e produz e os faz chegar à minha/nossa mesa todos os dias? 2014 é mesmo um ano muito especial. Ano de Copa do Mundo depois de 64 anos (a primeira Copa de que tenho lembrança foi a de 1958, que ouvi no velho e grande rádio de papai Léo, aboletado na cozinha de casa, de som

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tronitruante e limpo), ano de eleições. Ano também dos 50 anos do golpe militar de 1964 (lembrar muito e sempre, para que nunca mais aconteça), 30 anos das Diretas-Já (a democracia voltando a florir, felizmente até hoje, período mais longo da história brasileira). E 2014 é o Ano Internacional da Agricultura Familiar. O Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) é fruto da iniciativa de movimentos sociais do campo, com apoio de vários governos, especialmente o brasileiro. Em 2008, iniciaram uma campanha para que as Nações Unidas adotassem a proposta de um Ano Internacional da Agricultura Familiar. Em 2011, A Assembleia Geral da ONU por unanimidade declarou 2014 Ano Internacional da Agricultura Familiar, dando mandato à Organização revistaamazonia.com.br


A agricultura familiar, camponesa e indígena produz 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiro

das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para implementar o AIAF 2014. O AIAF é o primeiro ano internacional da ONU promovido pela sociedade civil, por mais de 360 organizações de 60 países dos 5 continentes. No Brasil, é o Ano da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena, organizado pelo Comitê Brasileiro do AIAF 2014, composto por 49 entidades, 31 da sociedade civil e 18 do governo federal. Cabe ao Comitê,coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), planejar, propor, promover, articular, organizar as atividades do AIAF. Informações: www.aiaf2014.gov.br Por que o AIAF é tão importante? Há hoje 1,5 bilhões de pessoas em 380 milhões de estabelecimentos rurais, 800 milhões com hortas urbanas, 410 milhões em florestas e savanas, 190 milhões de pastores e mais de 100 milhões de pastores camponeses. Dentre todos estes, 370 milhões de indígenas. Juntos, estes 3 bilhões de agricultores familiares, camponeses e indígenas constituem mais de um terço da humanidade e produzem 70% dos alimentos do mundo. Sim, o número está certo: 70% dos alimentos do mundo. No Brasil, os agricultores familiares respondem por 84,4% dos estabelecimentos do país, ocupam 24,3% da área cultivada e empregam 74,4% da mão de obra do

50% das aves e 59% dos suínos. Os cerca de 5 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar, que representam 83% do total de estabelecimentos agropecuários dos países dos MERCOSUL, produzem a maioria dos alimentos produzidos na região e são os principais responsáveis pelas ocupações no campo. A agricultura familiar, camponesa e indígena produz 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Isto é, o tomate que eu como, nós comemos, as verduras, as frutas, o milho, o arroz, o feijão, as carnes, até a cachaça e o vinho, vêm do suor e do trabalho de agricultores familiares, de camponeses e indígenas. A IV Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional + 2, acontecida esta semana em Brasília, fez um balanço das decisões da IV Conferência de SAN e da execução do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN). Semana passada, a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO) apresentou à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) o primeiro balanço do recém lançado Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO). Representantes governamentais e de movimentos sociais, Redes, ONGS, Fóruns e Articulações valorizam a agricultura familiar, camponesa e indígena e celebram o AIAF 2014. E querem alimentação adequada e saudável, sem agrotóxicos, sem venenos, não transgênicos. Querem cultivar a vida e a qualidade de vida, querem a produção cooperada e, portanto, um projeto de desenvolvimento com justiça social e ambiental, distribuição de renda, respeito à natureza, direitos plenos a mulheres e jovens, terra para todos e todas. A agricultura familiar, camponesa e indígena, em especial a de base agroecológica e orgânica, é referencia de valores comunitários e cooperados, de alimentos saudáveis, de sujeitos de direitos, de uma nova sociedade. 2014 é mesmo um ano abençoado: para celebrar, para decidir o futuro, para cuidar da vida e do planeta, para dizer obrigado aos/as agricultores/as familiares, camponeses/as e indígenas. Eu sei o que como. Eu sei quem produz o que como.

setor agropecuário. Mesmo com pouca área, a agricultura familiar produz 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do arroz, além de 58% do leite,

[*] Assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República, secretário executivo da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e membro do Comitê Brasileiro do AIAF 2014

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Biodiversidade para segurança alimentar e nutricional: 30 anos da Comissão de Recursos Genéticos para a Alimentação e Agricultura

Você sabia que a biodiversidade para a alimentação e a agricultura é um dos recursos mais importantes da Terra? Cultivos, gado, organismos aquáticos, árvores florestais, microorganismos e invertebrados: milhares de espécies e sua variabilidade genética compõem a trama da biodiversidade da qual depende a produção mundial de alimentos Fotos: Chris Stowers; Giacomo Dirozzi/Panos Pictures; Lion John/FAO

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biodiversidade para a alimentação e a agricultura é um dos recursos mais importantes da Terra. Cultivos, gado, organismos aquáticos, árvores florestais, microorganismos e invertebrados: milhares de espécies e sua variabilidade genética compõem a trama da biodiversidade da qual depende a produção

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mundial de alimentos. A biodiversidade é indispensável, desde os insetos que polinizam as plantas, as bactérias microscópicas usadas para elaborar queijos, as diferentes raças de gado utilizadas para ganhar a vida em ambientes inóspitos ou as tantas variedades de lavouras que mantém a segurança alimentar em todo mundo. A biodiversidade é essencial para que se consiga uma diversidade nutricional nas dietas. Uma cesta diversificada de alimentos é importante para a saúde e o desenvolvimento humanos. No entanto, a biodiversidade, em particular a diversidade

genética, está sendo perdida em um ritmo alarmante. As ameaças à diversidade genética incluem: - A priorização do desenvolvimento e da utilização de apenas algumas variedades de culturas e raças de gado comerciais, negligenciando as variedades adaptadas regionalmente e suas características; - Os efeitos da crescente pressão demográfica; - A perda de habitats naturais e sua degradação ambiental, incluindo a desertificação, desmatamento e alteração das bacias hidrográficas; - As mudanças climáticas. revistaamazonia.com.br


Os recursos genéticos constituem as matérias-primas de que dispoêm as comunidades locais e os pesquisadores para aumentar a produção de alimentos e melhorar sua qualidade. A corrosão destes recursos priva a humanidade de potenciais formas de adaptar a agricultura às novas condições socioeconômicas e ambientais. Se as plantas, animais, micro-organismos e invertebrados são capazes de se adaptar e sobreviver quando seus ambientes mudam, é graças à sua variabilidade genética. Manter e utilizar uma ampla gama de diversidade, tanto a diversidade entre as espécies quanto a diversidade genética específica, significa, portanto, manter a capacidade de responder aos desafios futuros. Por exemplo, as plantas e os animais que são geneticamente tolerantes a altas temperaturas ou à seca, ou resistentes a pragas e doenças, são de grande importância na adaptação às mudanças climáticas. Manter a biodiversidade para a alimentação e agricultura constitui uma responsabilidade global. À medida que mais e mais países buscam diversificar e adaptar seus sistemas agrícolas e de produção de alimentos, o intercâmbio de recursos genéticos e a interdependência Os efeitos da crescente pressão demográfica...

As mudanças climáticas…

dos países aumentam. Com as mudanças climáticas, a conservação e uso sustentável da diversidade genética se tornam mais importantes do que nunca. O desafio para a conservação e uso sustentável dos recursos genéticos se estende a todos os continentes e ecossistemas e exige uma reposta ampla. A Comissão de Recursos Genéticos para a Alimentação e Agricultura é o único fórum internacional que aborda especificamente todos os componentes da biodiversidade para a alimentação e agricultura (ou seja, plantas, animais, recursos hídricos, florestas, micro-organismos e invertebrados). Esta plataforma internacional única promove um mundo sem fome ao fomentar o uso e o desenvolvimento de toda a variedade de recursos

da biodiversidade - importantes para segurança alimentar e a mitigação da pobreza rural. [*] Com colaboração de Gabriela Villen

De todos os recursos da Terra, a biodiversidade para a alimentação e a agricultura é um dos mais importantes. A abundância de recursos genéticos para a alimentação e a agricultura permite que prosperem os sistemas de produção de alimentos e da suporte à busca para se alcançar a segurança alimentar mundial. A perda de habitats naturais e sua degradação ambiental

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Milhares de espécies e sua variabilidade genética – trazem contribuições vitais para a segurança alimentar mundial. Esta diversidade é crucial para se adaptar às mudanças futuras, tanto das condições de produção como da demanda de diversos produtos. REVISTA AMAZÔNIA 57


Sustentabilidade e Esperança Por mais egoísta que se possa admitir que seja o homem, é evidente que existem certos princípios em sua natureza que o levam a interessar-se pela sorte dos outros e fazem com que a felicidade destes lhe seja necessária, embora disso ele nada obtenha que não o prazer de a testemunhar. Adam Smith por Vivian Ap. Blaso Souza Soares César*

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a obra Nascimento da biopolítica, Foucault apontou que a chave do jogo estaria centrada na vida do indivíduo e com isso a dominação política do corpo iria contribuir com um homem necessário ao bom funcionamento da economia capitalista. Na economia neoliberal, o sistema político aparece como uma via para libertar o indivíduo da fobia de controle do Estado, contudo o que interessa ao Estado é a vida do indivíduo, mas este se encontra entrelaçado na multiplicidade de empresas e organizações que têm como interesses comuns mantê-lo empreendedor de si, economicamente ativo e controlado por indicadores mensuráveis que visam manter o bom funcionamento da economia capitalista. A governamentalidade é a maneira de conduzir as condutas dos indivíduos. Essa prática faz parte do jogo capitalista, pois é necessário que os indivíduos sejam homens econômicos, porque governar segundo o princípio da razão de Estado é fazer com que o Estado possa se tornar sólido, permanente e forte diante de tudo que possa destruí-lo. Na década de 70, o “direito social” serviu como mote para ONGs, movimentos ambientalistas, manifestações de trabalhadores, e a chamada “sociedade civil” passa a ser a chave da economia e da política, pois defenderia os interesses comuns de comunidades internas sob a égide de que todos trabalham para o melhor de si e todos querem melhorar. Daí a sociedade civil só poderia ser compreendida a partir do comunitário, porque ela só existe no âmbito das relações entre as pessoas. A ONU passou a se preocupar com a destruição do planeta, para ancorar as discussões sobre meio ambiente, e aqui foi dada a largada ao início de uma escala de proPrecisamos nos preocupar com a destruição do planeta

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dução do saber sobre tecnologia ambiental, poluições, riscos à saúde humana e um conjunto de técnicas para a melhoria das condições de vida das populações economicamente ativas. O consumismo passou a ser o alvo dos documentos elaborados pela ONU e apontado como uma das raízes da crise ambiental. Agora o que prevalece são as práticas de produção e consumo sustentáveis (Portilho, 2010). O dispositivo meio ambiente passou a ser o alvo de uma nova prática de governar a população. Agora o que interessa é garantir o bom funcionamento entre homem e natureza, pois sem o controle do meio a economia poderá entrar em colapso e isso poderá colocar em risco todo o sistema capitalista atual. Não podemos esquecer que Foucault, em 1970, já apontava que “as práticas discursivas não são pura e simplesmente modos de fabricação de discursos. Ganham corpo em conjuntos técnicos, em instituições, em esquemas de comportamento, em tipos de transmissão e difusão, em formas pedagógicas, que ao mesmo tempo as impõem e as mantêm”. A noção de ecopolítica proposta pelo professor Edson Passeti procura responder a algumas dessas novas ins-

titucionalizações. Segundo Passeti, “não se trata de disciplina acadêmica ou componente da gestão do governo sobre a população ou o meio ambiente, mas de prática de governo do planeta nos tempos de transformação (de si, dos outros, da política, das relações de poder e do planeta no universo), com desdobramentos transterritoriais e variadas estratificações conectadas”. Essa noção de governamentalidade aqui proposta não esgota as discussões pelo tema, e nessa reflexão não tenho a intenção de demonizar a sustentabilidade ou tipificar a sua importância sob a égide da economia, ou da produção de indicadores para aferir o grau de importância, eficiência ou inabilidade de lidar com as consequências ambientais extremas causadas, por exemplo, pelas mudanças climáticas. Se assim o fosse, chegaríamos a pensar que o projeto de humanidade fracassou, que não teríamos saída e com isso perderíamos a esperança por uma condição de vida melhor. O fato é que a noção de sustentabilidade passou a incorporar práticas empresariais, econômicas e cotidianas no modus operandi da sociedade de consumo. Não podemos esquecer que na economia capitalista é preciso melhorar sempre, mas a história produz o inesperado diante do insuportável e diante do insuportável inventam-se atmosferas outras. Tomara que as outras atmosferas sigam o caminho da esperança, como foi proposto por Edgar Morin e Stéphane Hessel (2012) em seu manifesto A Caminho da Esperança, onde apontam o resgate da solidariedade como um bem viver que pressupõe o desenvolvimento individual no seio das relações comunitárias pautadas pela ética, cuja fonte é a responsabilidade das ações e hábitos sociais que vêm causando o estresse no planeta e levando a sociedade a viver nos limites que ele pode suportar. Para que isso ocorra, será necessário o desenvolvimento de uma democracia que seja capaz de religar o indivíduo, espécie e sociedade, ou seja, natureza, cultura e tecnologia com um único propósito: o bem viver. Ou, como dito por Adam Smith, pelo simples prazer de testemunharmos. [*] Professora, Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), MBA em Gestão Estratégica de Marketing (UFMG) e Especialista em Sustentabilidade (FDC), Relações Públicas (CNP). revistaamazonia.com.br


E a Sustentabilidade?

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entar escrever sobre sustentabilidade esportiva é, antes de tudo, arrumar uma baita sarna para se coçar. Para que um texto sobre o assunto fique completo, não é possível deixar de mencionar a função social do esporte, o impacto dos eventos no meio ambiente, a sua cadeia produtiva, a sua atuação como potencial difusor de conceitos de sustentabilidade etc etc etc. Para não perder o fio da meada, vou tratar de um assunto bem específico: a Copa do Mundo de 2014. Mais do que não sei quantas seleções disputando um título em estádios lotados de pessoas alegres, a Copa é uma indústria que movimenta bilhões de dólares, atua em diversos setores da economia e gera muitos empregos. Muitos mesmo. Para 30 dias de celebração mundial, ela requer anos de preparação e uma cadeia produtiva altamente impactante para o meio ambiente. A Copa do Brasil já está sendo chamada de a “Copa Limpa” ou a “Copa Sustentável”. No entanto, para que ela realmente se concretize, precisamos resolver dois pontos nevrálgicos: transportes e construção civil. Quem mora nas maiores cidades do país sofre com a precariedade dos transportes públicos, sendo praticamente obrigado a utilizar veículos particulares para a mobilidade diária. Pelo lado da construção civil, por mais que já se discuta amplamente a sustentabilidade no setor, não há como negar o brutal impacto da atividade no meio ambien-

O ser humano está no centro das preocupações do desenvolvimento sustentável revistaamazonia.com.br

por Julianna Antunes*

te. Sem contar que para a Copa haverá a necessidade urgente de construção e reforma no setor hoteleiro e a modernização dos estádios já existentes, assim como a construção de outros estádios. Além de atacar problemas no setor de transportes e construção, precisamos resolver problemas mais básicos do que esses. É preciso preparar toda a infra-estrutura,

como a criação de uma matriz energética que seja pouco impactante, como a energia solar. É preciso construir mecanismos que possibilitem a captação da água de outras fontes, como a da chuva. É preciso, mais ainda, ter em mente que obras desse tipo são longas, caras e que podem ser comprometidas por questões políticas, principalmente em anos eleitorais. Um documento muito interessante de se ler é o “Green Goal Legacy Report”, que é um reporte dos impactos ambientais ocorridos na Copa da Alemanha, quando o meio ambiente entrou no programa do evento pela primeira vez. A premissa, ou o “green goal” era que todos os efeitos adversos no meio ambiente associados à organização da Copa do Mundo deveriam ser reduzidos ao máximo possível. Uma série de metas foi estabelecida nos pontos mais importantes, principalmente transporte, consumo de água e energia e mudanças climáticas. O Green Goal Legacy Report se focou, basicamente, nos impactos gerados no evento, como a redução de consumo de água nos estádios, por exemplo. No entanto, sabemos que uma torneira aberta por um turista no banheiro do seu quarto do hotel também é um impacto causado pela Copa naquela região. E é justamente essa questão que pode fazer a grande diferença entre o que foi a Copa de 2006 e o que pode ser a Copa de 2014: o alcance da sustentabilidade. Ao contrário da Alemanha, o Brasil engatinha em infra-estrutura e desenvolvimento sustentável. Mesmo com todos os percalços políticos que obras de grande porte geram, temos uma grande chance de já começar fazendo o que é certo. E independente dessas questões, precisamos, a sociedade como um todo, focar nos ganhos que uma Copa do Mundo proporciona ao país. E aí não falo somente no legado das construções, no legado para o turismo, nas benfeitorias de infra-estrutura, ou na melhoria na mobilidade urbana. Falo do legado de conhecimento, de know-how e de mudança de postura, tanto dos cidadãos quanto das empresas, estejam elas envolvidas com a Copa ou não. [*] Jornalista (com diploma), atleta de alto rendimento físico e baixo rendimento financeiro (ou seja, só gasto!), pós-graduada em responsabilidade social empresarial e terceiro setor, tenho trabalho desenvolvido em sustentabilidade corporativa e green REVISTA AMAZÔNIA 59


Incentivos para a sustentabilidade N

o segundo semestre do ano passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.836/13, que altera o Estatuto da Cidade, facultando ao Estado o direito de conceder incentivos ao uso de sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais. De acordo com a nova legislação, os governos podem – embora não sejam obrigados a isso – desenvolver e oferecer compensações para as edificações urbanas e para os loteamentos que adotarem procedimentos ambientalmente sustentáveis, que contribuam para reduzir os impactos ambientais e o uso de recursos naturais. É uma medida salutar e inteligente: em vez de apostar em medidas restritivas e no acirramento das exigências, opta-se pelo caminho saudável de conceder incentivos àqueles que adotam as melhores práticas. É importante ressaltar que não se trata, neste caso, de um modelo paternalista ou assistencialista de subsídios, mas sim de uma justa compensação para aqueles empreendedores que desenvolvem suas atividades segundo os parâmetros mais corretos, mais modernos, e infelizmente, mais onerosos. E a viabilização de algo totalmente novo, que será benéfico a toda a sociedade – afinal, é de interesse coletivo que se produza o máximo com o menor impacto ambiental possível –, merece ter alguma forma de incentivo. Mas é preciso que se diga: embora o emprego de métodos ambientalmente sustentáveis possa aumentar os

Sistema de aquecimento solar corretamente instalado e funcionando em sua plenitude permite uma redução bem razoável nos custos de energia elétrica 60 REVISTA AMAZÔNIA

por Ciro Scopel*

Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo

custos da produção em um primeiro momento, o usuário do imóvel se beneficiará, inclusive financeiramente, no médio e longo prazos. Pesquisas específicas indicam que a implementação de sistemas ecológicos impõem, sim, acréscimos aos custos de um empreendimento sustentável. Conforme a tecnologia empregada e, naturalmente do porte do empreendimento, pode-se afirmar que esse adicional varie de 3% a 10%. Mas o estudo intitulado Custo da Sustentabilidade (“Costing Sustainability - How much does it cost to achieve BREEAM and EcoHomes ratings”, de 2004) indica que a aplicação de estratégias voltadas à maximização do aproveitamento dos recursos naturais pode significar uma economia de até 30% no dia a dia dos futuros ocupantes do imóvel. Por exemplo: um sistema de aquecimento solar corretamente instalado e funcionando em sua plenitude permite uma redução bem razoável nos custos de energia elétrica. Da mesma forma, os sistemas de reuso de água,

nos quais a água dos chuveiros e lavatórios recebe tratamento e volta para abastecer descargas, irrigar jardins e lavar as áreas comuns do empreendimento resultam em uma conta de água até 35% menor. Dados da Anab Brasil (Associação Nacional de Arquitetura Sustentável) apontam que, a cada dólar investido na construção de um edifício sustentável, cerca de 15 dólares “voltam” ao final de 20 anos. Quanto aos custos adicionais de um empreendimento sustentável, conforme a tecnologia empregada e naturalmente do porte do empreendimento, pode-se afirmar que variam de 3% a 10%, de acordo com as premissas citadas. Ou seja: gasta-se mais para fazer uma obra “ótima” no quesito ambiental, e é nessa etapa inicial que os incentivos governamentais podem surtir efeito positivo; mas, em médio e longo prazos, os ganhos podem ser substanciais para quem administra e utiliza o imóvel pronto. [*] Vice-presidente de Sustentabilidade do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) revistaamazonia.com.br


Consumo de madeira certificada ganha apoio do Rio 2016 Parceria com os Jogos Olímpicos

Fotos: Coomflona, Imaflora, WilsonDias/AgenciaBrasil

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omitê dos Jogos Olímpicos se compromete a adquirir somente produtos de origem florestal certificada para o evento. Certificação ajuda a combater desmatamento e promove melhores condições de trabalho. A exploração ilegal de madeira é uma das responsáveis pelo desmatamento da Amazônia e de florestas no mundo inteiro. Uma forma de combater esse crime é adquirir somente produtos de origem florestal certificados. Mas no Brasil essa prática ainda é incomum, e o preço é a principal barreira. O consumidor, na maioria das vezes, adquire madeira olhando o quanto ela custa, e, seguindo essa lógica, artigos produzidos com madeira certificada não têm muitas chances, pois costumam ser mais caros do que os que não possuem selos. Mas o “preço mais em conta” esconde, muitas vezes, a extração ilegal. Por vias escusas, a madeira originária do desmatamento de florestas acaba entrando no mercado. E, por ser ilegal, não paga impostos, além de não respeitar leis ambientais e trabalhistas. “A certificação florestal assegura que determinado produto tem boa origem, ou seja, respeita as boas práticas ambientais, sociais e até mesmo econômicas em sua produção. A certificação florestal é a segurança de que aquele produto não veio, por exemplo, de exploração Madeira de desmatamento ilegal, por ser ilegal, não paga impostos, além de não respeitar leis ambientais e trabalhistas

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Marca da FSC garante que a madeira teve manejo adequado

ilegal, de trabalho escravo ou da exploração de uma unidade de conservação”, afirma Marco Lentini, coordenador do programa Amazônia do grupo ambientalista WWF-Brasil. Segundo Lentini, a madeira certificada é a única cuja origem é garantida. Existem diversas certificações no mundo. Os selos mais conhecidas no Brasil são o do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil) e o do Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor). Entre os certificados oferecidos, os dois mais comuns sãos o de manejo florestal – a garantia de que a floresta é explorada de forma responsável – e o de cadeia de custódia – para artigos produzidos com essa matéria-prima.

Proteção ambiental e social O destino de quase dois terços dos quase 33 milhões de metros cúbicos de madeira certificada no Brasil é a fabricação de papel e celulose. A demanda de produtos de origem florestal certificados na indústria moveleira e na construção civil ainda é baixa, e o potencial de expansão é grande. No Brasil, a oferta de madeira certificada ainda é escassa, embora esteja crescendo nos últimos anos. Na Amazônia, apenas 3% da mata passível de ser manejada é certificada. No país, 6,961 milhões de hectares de florestas possuem o selo de manejo florestal do FSC Brasil. Pelo Cerflor, quase 1,5 milhão de hectares eram certificados em 2012. Para estimular esse setor, medidas como o combate ao desmatamento, a fiscalização de empresas que vendem e compram madeira ilegal, além de incentivos fiscais para produtores que trabalham com certificações são essenciais. O incentivo ao consumo de produtos certificados pode ser promovido através de campanhas de esclarecimento sobre esses selos e sua importância.

A madeira certificada ganhou um defensor importante no país. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e a FSC Brasil assinaram um acordo, garantindo que toda a madeira e produtos de origem florestal adquiridos pela organização do evento, desde estruturas para construção até papelaria, sejam certificados. “Esse tipo de compromisso, assumido por um comprador desse porte, tem um poder de influência muito grande

e pode realmente alterar o quadro atual da certificação, no sentido de mais oferta e mais atores envolvidos, interessados e buscando esse processo, e também fazendo com que mais pessoas entendam e conheçam o selo”, diz Fabíola Zerbini, secretária executiva do FSC Brasil. Ainda não se sabe o volume total de madeira que será necessário para os Jogos Olímpicos. Mas os primeiros dados divulgados pelo comitê já dão uma ideia. A organização do evento vai comprar 43 mil camas, 80 mil mesas, 40 mil cadeiras e 26 mil sofás ou poltronas. Essa procura deve movimentar o mercado moveleiro na busca de certificações. “Temos o objetivo de trabalhar com toda a nossa cadeia de suprimentos para integrar critérios de responsabilidade ambiental, social e econômica. Para isso é preciso ajudar a desenvolver o mercado, não apenas para garantir oferta, mas para cumprir nosso objetivo de incentivar práticas mais sustentáveis”, conta Tânia Braga, gerente geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado da Rio 2016. Consumo de madeira certificada combate o desmatamento

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Madeira da Amazônia: Um novo foco no combate à ilegalidade por Antônio Carlos Hummel* Fotos: Greenpeace; Jorge Junior, Peter Müller/ WWF

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s estatísticas são escassas e falhas, mas o porcentual de madeira nativa amazônica extraída ilegalmente nunca foi inferior a 60%. Os períodos com fiscalização mais intensa, o combate à exploração em terras públicas e a criação de unidades de conservação diminuíram, ocasionalmente, esse índice. A extração ilegal tem várias causas: a) falta de governança das terras públicas (federais e estaduais) destinadas e não destinadas (ainda somam mais 60 milhões de hectares, uma porta aberta para a grilagem); b) dificuldades operacionais e de logística para atuação da fiscalização nas condições da região; c) abundância de matéria-prima florestal; d) forte demanda de consumo pelos mercados locais; e) altos índices de desmatamento ilegal disponibilizando matéria-prima; Antônio Carlos Hummel é diretorgeral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB)

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Quando realizado de maneira sustentável, o manejo florestal contribui para conservar as florestas

f) impunidade; e g) ênfase do controle em documentos de transporte de madeira de forma não articulada e estratégica com o licenciamento da indústria madeireira e não integração com os sistemas de arrecadação da fazenda estadual. Acrescenta-se a todas essas causas a total ausência de estímulos públicos para quem deseja atuar de acordo com a lei, não só ambiental, mas também a fundiária, tributária e trabalhista. Outro forte desestímulo são os longos prazos e a burocracia para licenciamento das atividades florestais. A culpa das irregularidades e das fraudes é comumente colocada nas ferramentas de transporte (DOF e GF). Esses sistemas são como tomógrafos, identificam a doença. Mas, não são culpados pelo “câncer”. É fácil colocar culpa em ferramenta que é impessoal e não entender e discutir profundamente o problema. Atualmente, é comum a “falsa legalidade” a partir de créditos virtuais, o que eleva a possibilidade de “esquentamento” de madeira ilegal. No entanto, tudo isto revistaamazonia.com.br


As áreas florestais exploradas segundo critérios FSC se recuperam após ciclos de 25 a 30 anos

é possível porque continuamos apostando em modelos (como o atual) de controle que “matematicamente” não conseguem fechar a conta entre o volume original de entrada em toras e o volume final de madeira processada. A definição de padrões é praticamente impossível porque as margens de variação e erro são enormes quando do processamento. É como querer reconstituir um porco a partir das suas linguiças. Estudo recente coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) indica que a indústria é pouco fiscalizada e os critérios utilizados não são rigorosos com relação à origem do insumo florestal, renovação de licenças e comprovação de funcionamento com vistorias periódicas (a Resolução CONAMA 411/09 não é utilizada). O atual sistema de licenciamento de indústrias de processamento de madeira, com regras diversas entre os estados e pouca transparência, não favorece o combate à ilegalidade. Em síntese, o ambiente descrito acima não é adequado para combater a ilegalidade da exploração de madeira amazônica. O ambiente, talvez o único, que se apresenta favorável a uma oferta de madeira rastreada e manejada sustentavelmente é o das concessões florestais. É onde existe controle efetivo do manejo florestal, governança do poder público, possibilidade de rastreabilidade (está sendo desenvolvido um sistema pelo SFB), segurança fundiária, transparência, proteção contra invasões, comrevistaamazonia.com.br

O selo verde garante que a extração da madeira é feita de forma sustentável

promissos e contratos de longo prazo. A situação exige um novo esforço para fortalecer a política das concessões e ao mesmo tempo colocar efetivamente na pauta o combate à ilegalidade na exploração de madeira. Não pode ser uma discussão superficial e de distribuição de culpas. Novas estratégias e abordagem inovadoras devem ser adotadas. É preciso, por exemplo: 1) criar um conjunto de incentivos para as concessões florestais; 2) definir normas gerais para o licenciamento da indústria madeireira, com estratégias e foco na sua fiscalização;

3) integrar as ferramentas de controle (DOF e GFs) com o sistema de notas fiscais eletrônicas ou – por que não - a existência de um único documento; 4) estabelecer a partir terras públicas não destinadas – antes que tenham seu potencial florestal degradado - novas áreas para concessões florestais; 5) que os estados, a exemplo do Pará, estabeleçam uma estratégia para implantação das concessões estaduais; 6) discutir um novo modelo de controle relacionado com o rendimento no processamento da madeira; e 7) definir uma politica de compra sustentável de madeira amazônica por parte do poder público. O Serviço Florestal tem certeza da possibilidade de uma economia madeireira sustentável na Amazônia, tendo em vista o conhecimento técnico disponível e os milhões de hectares de terras públicas já destinadas (Florestas Nacionais e Estaduais) e ainda os milhões de hectares que ainda podem ser destinados para manejo florestal. Mas, para isto, precisamos diminuir a ilegalidade, que fragiliza as iniciativas de manejo florestal sustentável, em especial as concessões florestais, e desestimula quem atua corretamente. [*] Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro REVISTA AMAZÔNIA 63


Dia Mundial da Vida Selvagem

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68ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou recentemente – 03 março – o Dia Mundial da Vida Selvagem, para celebrar e sensibilizar a fauna e a flora selvagens do mundo. Naquela Assembleia Geral, os 193 países que integram a ONU reafirmam o valor essencial das plantas e dos animais selvagens. O documento destaca ainda as contribuições das espécies ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar da humanidade, citando os aspectos ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional e cultural.

Pardais se bicam em luta captada por fotógrafo no quintal de sua casa em Sherz, na Suíça - Urs Schmidli/ Barcroft Media

Comércio A Assembleia Geral reconhece também a importância da Cites, a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres. 64 REVISTA AMAZÔNIA

O Dia Mundial da Vida Selvagem será em 3 de março para coincidir com a adoção da Cites, um acordo internacional firmado por 176 nações.

A Cites é administrada pelo PNUMA – Programa da ONU para o Meio Ambiente, com a meta de garantir que o comércio global não ameace a vida de 35 mil tipos de revistaamazonia.com.br


Assembleia Geral da ONU que criou o Dia Mundial da Vida Selvagem

No início de dezembro no Parque Nacional Everglades, nos EUA, ocorreu um embate clássico: um jacaré versus uma cobra píton de espécie invasora birmanesa. Desta vez, quem se deu bem foi o jacaré (embora algumas vezes ocorra o contrário e a cobra devore o réptil). Os funcionários do parque foram chamados por um visitante que viu o jacaré correr rápido para debaixo de uma ponte e depois com a cobra na boca - Reprodução/Facebook Tubarão galha-preta no Oceanic, Millenium Island, Kiribati. Foto da exposição selvagem da CITES, o PNUMA e Fundação GoodPlanet. Foto por Bryan Skerry

plantas e animais Com a criação do dia, o secretário-geral da Cites, John Scanlon, espera que em todo o mundo, “de aeroportos a museus e escolas, organizações e pessoas fiquem envolvidas na celebração global da vida silvestre.”

Valor Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, destaca que a vida selvagem é essencial para a ciência, a tecnologia e a recreação. Apesar do seu valor para o planeta, o Secretário-Geral lamenta que várias espécies estão ameaçadas, até correndo risco de extinção. Uma razão é a perda de habitat e a outra, o aumento do tráfico ilegal de animais e plantas. Segundo Ban, as consequências para o meio-ambiente e a economia são profundas. Uma das preocupações é com o impacto do tráfico na paz e na segurança de vários países onde há crime organizado e terrorismo. revistaamazonia.com.br

Um guarda conseguiu flagrar o exato momento em que um sapo-boi ou sapo cururu (Rhinella marina) abocanhou um morcego no Parque Nacional Amotape, na Amazônia peruana. Pela descrição no blog do parque, o morcego voava perto do chão buscando insetos quando voou diretamente para a boca do sapo, que estava “sentado com a boca aberta”. Mas o sapo não engoliu o morcego (apesar de haver registros de alimentação deste tipo no Brasil), ele cuspiu o morcego, que depois de um tempo saiu voando para bem longe dali - Phillip Torres/Divulgação

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Chacal ataca abutres na Tanzânia, no Leste da África, para defender sua comida

Pesquisadores da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, fisgaram um tubarão que estava sendo devorado por outro, e acabaram alçando os dois, em agosto de 2013 Reprodução/ Facebook/ University of Delawar

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Cultura O chefe da ONU afirma ser possível reduzir as ameaças à vida selvagem e para comemorar o primeiro dia mundial, ele pede a todos os setores da sociedade que ajudem a acabar com o tráfico das espécies. Já o Secretário-Geral da Cites, John Scanlon, nota que muitas pessoas têm uma ligação cultural com a vida selvagem.

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Elefantes Ele relembrou a infância na Austrália, onde há forte presença de coalas, cangurus e cobras. Scanlon cita que a ligação ocorre em várias regiões, como na África, onde vários países se beneficiam das receitas geradas com o turismo de safáris, por exemplo. Mas o representante da Cites observa o aumento da caça ilegal de elefantes e de rinocerontes para o tráfico do marfim. Segundo Scanlon, o comércio ilegal de espécies selvagens gera, por ano, mais de US$ 19 bilhões de dólares. Para comemorar o primeiro Dia da Vida Selvagem, a ONU em Genebra foi inaugurada a exposição de fotos “Selvagens e Preciosos” e em Nova York, foi realizado um debate sobre a contribuição dessas espécies para o desenvolvimento sustentável.

Crocodilo de água salgada (Crocodylus porosus) ataca um tubarão no Parque Nacional Kakadu, na Austrália. A imagem foi capturada por um grupo de britânicos que fazia um cruzeiro na região. Os crocodilos desta espécie são os maiores répteis vivos atualmente, sendo que os machos adultos podem chegar a sete metros de comprimento

Achim Steiner, Diretor Executivo do PNUMA e John Scanlon, secretário-geral da Cites

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IPCC 2014: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade Os impactos do aquecimento já são notados no mundo todo e aumentarão neste século se medidas não forem adotadas

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s impactos do aquecimento global já são visíveis em todos os continentes e em todos os oceanos, alerta o mais recente relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas, que traça um panorama futuro muito sombrio se os líderes mundiais não agirem em tempo. Caso medidas não sejam adotadas, o texto prevê que durante este século aumentará o deslocamento de populações, particularmente nas zonas costeiras que serão afetadas pela elevação do nível do mar, pelas inundações e a erosão costeira. O relatório também alerta para a queda nas safras, a extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas. E aponta, inclusive, para o risco de conflitos violentos ou guerras civis. O IPCC, a maior rede científica no mundo dedicada a estudar as mudanças climáticas, divulgou em Yokohama (Japão), a segunda das três partes de seu relatório de atualização sobre a literatura científica do aquecimento, chamado AR5. Suas centenas de autores, escolhidos pela Organização das Nações Unidas, tiveram mais que o dobro de estudos que a última vez (o AR4 é de 2007) para produzir relatórios que serão fundamentais nas negociações das próximas cúpulas internacionais sobre o clima. O relatório do Grupo I, lançado em setembro, concluiu que a atividade humana é a responsável pelas mudanças climáticas. Agora, o Grupo II apresentou sua revisão dos impactos, a vulnerabilidade dos territórios e as possibilidades de adaptação.

O aquecimento na Europa Menos geleiras, mais secas. O resumo para os políticos apresentado pelo IPCC inclui algumas tabelas que trazem os impactos atribuíveis à mudança climática desde o último relatório de avaliação dos especialistas, denominado AR4, de 2007. Na Europa, os cientistas têm claro que contribuem a esta causa o recuo das geleiras alpinas, escandinavas e islandesas, ou o aumento das massas florestais nas últimas décadas em Portugal e na Grécia. Eles também atribuem à mudança climática a chegada precoce de aves migratórias desde 1970, a estagnação da produção de trigo em alguns países e a alteração na 70 REVISTA AMAZÔNIA

distribuição das espécies de peixes nos mares europeus.

A erosão costeira Entre os riscos futuros destacados no relatório estão a erosão costeira, as inundações de rios e maiores restrições de água, principalmente por causa do aumento da evaporação que ocorrerá no sul do continente. O texto também adverte para fenômenos de calor extremo, que afetarão a saúde, a produtividade e o risco de incêndio. Os efeitos do aquecimento global não são uma ameaça futura e vaga, uma vez que já podem ser observados em muitas regiões, garante o IPCC no seu resumo para os políticos responsáveis pelo tema: fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, secas e ciclones; colheitas menos abundantes; alterações das chuvas que afetam o acesso aos recursos hídricos... E o mundo está

“mal preparado” para lidar com os impactos futuros, acrescentou o comunicado de imprensa que acompanha o documento. O texto foi fechado no fim de semana com os formuladores de políticas e reduz algumas das disposições contidas em um rascunho vazado na semana passada. Abaixo estão alguns dos alertas das previsões apresentadas no relatório:

Conflitos A previsão é de que a mudança climática aumente o deslocamento de populações durante o século XXI, especialmente em países em desenvolvimento, diz o texto, acrescentando: “Indiretamente, pode aumentar o risco de conflitos violentos em forma de guerra civil entre as comunidades ao ampliar fatores instigadores de conflitos bem documentados como a pobreza e perturbações econômicas”. revistaamazonia.com.br


Mais pobreza Os perigos relacionados com o clima “afetam diretamente” as vidas dos mais pobres porque têm impacto em seus meios de vida, na redução das safras, na destruição de suas moradias e, de forma indireta, ao aumentar os preços dos alimentos e a insegurança alimentar.

Costas O previsível aumento do nível do mar esperado durante o século XXI irá causar inundações e erosão do litoral. Ao mesmo tempo, as projeções mostram que o crescimento da população, o desenvolvimento econômico e uma maior urbanização atrairão mais pessoas para as zonas costeiras, de modo que o perigo será maior. O relatório afirmou que os custos de adaptação a esta realidade variam muito entre os países. No caso de algumas nações em desenvolvimento e de pequenos Estados insulares, fazer frente aos impactos e aos custos de adaptação pode supor vários pontos percentuais de seu Produto Interno Bruto (PIB).

Durante reunião plenária do IPCC, em Yokohama (Japão)

marinhas, como o bacalhau atlântico em direção a latitudes polares), acidificação e deficiência de oxigênio.

Ecossistemas Alguns habitats “únicos e ameaçados” já estão em perigo devido à mudança climática. Se a temperatura média subir um grau, aumentará o risco de “consequências graves”. Com um aumento de dois graus, o risco aumentará para muitas espécies com capacidade de adaptação limitada, especialmente nos recifes de coral e o Ártico. O texto alerta que, se nada for feito, as mudanças em alguns ecossistemas podem ser “abruptas e irreversíveis”.

As zonas rurais O texto chama a atenção para o perigo que se esconde em áreas rurais devido ao acesso insuficiente à água potável e para irrigação e ao declínio na produtividade das culturas. Os agricultores e pecuaristas em regiões semiáridas serão os mais afetados em um futuro próximo.

O acesso à água O relatório diz que os recursos renováveis superficiais e subterrâneos “serão reduzidos significativamente” na maioria das regiões subtropicais, o que “intensificará a concorrência pela água entre os setores”.

Ler na íntegra em: http://ipcc-wg2.gov/AR5/images/uploads/IPCC_WG2AR5_SPM_Approved.pdf

A segurança alimentar O aquecimento global, o aumento dos níveis do mar e as mudanças nas chuvas afetarão as terras agrícolas. E não para o bem, de acordo com o relatório. No caso de grandes culturas (trigo, arroz e milho) em regiões tropicais e temperadas, o texto falou de “impacto negativo” nas safras se as temperaturas subirem mais de dois graus Celsius e não forem tomadas medidas de adaptação.

Saúde O relatório observa que a carga de doenças causadas pelas mudanças climáticas é pequena em comparação com outras consequências e que não está bem quantificada. No entanto, o texto acrescenta que já há evidência do aumento da mortalidade associada mais ao calor do que ao frio em algumas áreas como resultado do aquecimento. As alterações de temperatura e a chuva já alteraram a distribuição de algumas doenças transmitidas pela água, acrescenta. Os riscos futuros incluem problemas de saúde em áreas costeiras e pequenas ilhas devido à elevação do nível do mar e às inundações [RFC 1-5], bem como em grandes populações urbanas devido a enchentes no interior. Até a metade do século XXI, o impacto consistirá no “agravamento de problemas de saúde já existentes”. Em longo prazo, mas dentro do século, os cientistas acreditam que a saúde vai piorar em regiões de países em desenvolvimento.

Oceanos Os efeitos da mudança climática já estão sendo notados: maior aquecimento (provoca deslocamento de espécies revistaamazonia.com.br

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A “química verde” a serviço da saúde dos consumidores Técnicas permitem a detecção de substâncias prejudiciais à saúde em cosméticos e alimentos por Isabel Gardenal*

Fotos: Antoninho Perri

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osméticos, como esmaltes de unha e cremes hidratantes, e alimentos, como feijão e leite em pó, podem agora ter sua qualidade e autenticidade avaliadas em laboratório por meio de uma técnica que envolve análise qualitativa e quantitativa, a partir de métodos desenvolvidos no Instituto de Química (IQ). Segundo Gustavo Giraldi Shimamoto, autor do estudo, cosméticos como os que foram avaliados podem conter substâncias potencialmente prejudiciais à saúde dos consumidores. A legislação brasileira não as proíbem, quando utilizadas nas concentrações recomendadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mas, mesmo sendo deletérias, sequer aparecem advertências ao seu uso nos rótulos das embalagens. As análises, uma conjunção de duas técnicas, são rápidas e não destrutivas. Estão em conformidade com os princípios da “química verde”, uma vez que não empregam reagentes e não geram resíduos. Esses achados trazem boas perspectivas de aplicação em produtos de várias naturezas. Foi o que mostrou a pesquisa de mestrado do químico, realizada entre 2011 e 2013. Uma das substâncias em geral identificadas nas amostras de esmaltes, disponíveis no mercado, é a resina toluenossulfonamida-formaldeído (TSFR). Sua função é aumentar o brilho e a aderência, e contribuir para que o esmalte dure mais tempo na unha. Por outro lado, traz alguns inconvenientes para quem é suscetível a alergias. No Canadá, nos Estados Unidos e em alguns países da Comunidade Europeia, essa substância tem sido banida. Das marcas brasileiras de esmaltes analisadas, apenas uma não continha essa resina. Em todas as demais, ela estava presente em sua formulação. A despeito do grande contingente de pesquisas alertando para o seu caráter alergênico, continua sendo empregada, promovendo diferentes tipos de alergia. O ideal para quem é alérgico, conforme Gustavo, é adquirir esmaltes que não contenham essa resina. 72 REVISTA AMAZÔNIA

Gustavo Giraldi Shimamoto, autor do estudo: Com o nosso trabalho, esperamos que o consumidor pense mais a respeito desses produtos

Mas como o consumidor comum pode ter certeza disso? O autor do estudo comenta que é muito difícil enxergar a descrição dessa substância no rótulo dos produtos e que uma boa saída é proceder à sua leitura no site do fabricante. No caso dos cremes hidratantes, também foi possível detectar a presença de dois ingredientes que, apesar de muito recorrentes nesses produtos, podem ser danosos à saúde. Trata-se dos parabenos (ou Paba) e do propilenoglicol. Os parabenos atuam como conservantes em praticamente todos os produtos de beleza, encontrados tanto na forma industrializada quanto em farmácias de manipulação. São comercializados em lojas de produtos “naturais” e, apesar da falsa ilusão de serem inofensivos, eles são disruptores hormonais, ou seja, compostos de uma grande variedade de classes químicas, incluindo hormônios, constituintes vegetais, pesticidas. E têm seus nomes atrelados a graves doenças como o câncer. Também o propilenoglicol (usualmente um líquido oleoso), além de ocasionar doenças de pele, pode desencadear distúrbios no organismo – em órgãos como os rins e o fígado. É introduzido em produtos cosméticos e farmacêuticos, agindo como conservante e principalmente hidratante. Na verdade, todos esses compostos cosméticos não

devem ultrapassar concentrações especificadas e regulamentadas pela Anvisa. “Com o nosso trabalho, esperamos que o consumidor pense mais a respeito desses produtos”, salienta o mestrando, cujo estudo foi orientado pela docente do IQ professora Maria Izabel Maretti Silveira Bueno e coorientado pela pós-doutoranda Juliana Terra. Em sua opinião, é fundamental ler rótulos de cosméticos e de alimentos, ter consciência do que se está consumindo e atentar para a validade desses produtos. Eles podem não fazer mal a algumas pessoas, o que não significa que não façam mal a outras. Talvez a proibição desses compostos não seja o melhor caminho, pondera Gustavo, mas sim estar conscientizado na hora de consumir produtos que os contenham.

Feijões Prosseguindo com suas análises, desta vez com alimentos, o pesquisador propôs uma correlação entre o desenvolvimento da fase de germinação deles, a partir dos elementos encontrados nos grãos de feijão. “Tentamos estudar aqueles que estavam mais ligados à germinação de um grão, ou à não germinação de outros”, conta o químico. O trabalho foi mais voltado ao consumo do produto, à revistaamazonia.com.br


produção e à economia. Foram comparados dois tipos de feijão: o carioca e o preto. “A diferenciação foi marcante, ainda que os dois tipos de feijões tenham se desenvolvido baseados nos mesmos elementos, sofrendo influência de potássio, cálcio, ferro, alumínio e principalmente do silício”, aponta Gustavo. Conforme sua coorientadora, a dissertação mostrou que esses estudos caminham para várias direções, sobretudo no setor agroindustrial. “Fazemos pesquisas para avaliar feijões que podem germinar e dar um retorno mais rápido e rentável à indústria agrícola”, diz. A proposta mostrou que tem fôlego para ser extrapolada para outros grãos. Como a análise é “não destrutiva”, foi possível observar a composição do feijão para posteriormente plantá-lo. Alguns germinaram. Outros não. A presença de elementos como cálcio, ferro e, em particular silício, influenciou a germinação, o que significa que a posteriori poderão ser criados métodos para a comercialização de grãos selecionados, aprimorando o processo. Gustavo verificou que aqueles que tinham uma maior quantidade de silício tenderam mais à germinação. Isso possibilita pensar em um planejamento do cultivo do feijão de forma a modificar o solo, enriquecendo-o com silício, ou até mesmo selecionando grãos com um maior teor desse elemento, pois eles possivelmente serão os mais produtivos. Maria Izabel comenta que o silício é considerado hoje como um elemento estrutural da planta e que os agricultores reputam o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) como os três elementos mais relevantes ao seu desenvolvimento. Mas o silício tem se despontado como elemento essencial também. O trabalho do pesquisador ressaltou isso.

Leite em pó O mestrando acoplou ainda a este estudo análises relacionadas a alimentos como o leite em pó, um dos produtos mais consumidos por crianças, geralmente comparado a compostos lácteos tidos como similares. “Eles não são como o leite em pó, mas têm leite em sua composição”, desmistifica. Esses compostos lácteos, além de não terem as mesmas características do leite em pó, ainda possuem valores nutritivos inferiores, por isso acabam se tornando mais

Produtos para ter sua qualidade e autenticidade avaliadas em laboratório por meio de uma técnica que envolve análise qualitativa e quantitativa, a partir de métodos desenvolvidos no Instituto de Química (IQ) revistaamazonia.com.br

Maria Izabel Bueno, Gustavo Shimamoto e Juliana Terra,

baratos no mercado e sendo consumidos muito em função do seu baixo custo. Nem sempre as pessoas têm consciência de que não estão consumindo o mesmo produto. “Então fizemos essa análise para indicar as diferenças e desenvolver metodologias a fim de averiguar a contaminação ou mudança de autenticidade do produto”, relata Gustavo. “O leite em pó é adulterado geralmente com soro de leite ou com amido”, conta ele. Esse método consegue detectar adulterações com soro e amido em até 25%, pois nessas condições o consumidor ainda não sente diferença no sabor. Nesse grupo de pesquisa do IQ, o Gerx (Grupo de Espectroscopia de Raios X), há outros estudos que envolvem temas que vão desde chocolates e farinhas até análises de tintas de tatuagem. Em diferentes momentos são percebidos elementos tóxicos nos produtos. No caso da tatuagem, exemplifica Maria Izabel, é largamente difundida a preocupação com a esterilização das agulhas, esquecendo-se, porém, da tinta, cujos pigmentos ficam presos, impregnados, na pele. A importância dessas investigações, comenta a orientadora, é que elas buscam uma aplicação direta em problemas havidos habitualmente em diversos tipos de indústrias. “O interessante é que elas podem até ser feitas diretamente em análise de campo, a partir de equipamentos portáteis”, frisa. Há trabalhos sendo feitos com equipamento portátil relacionados com teor de sacarose em cana para verificar o momento que essa cultura pode ser cortada. Monitora-se hoje o teor de sacarose da planta e, se ele estiver maximizado, é possível decidir se essa é a hora de proceder ao corte da cana. Essa ação aumenta em muito a produtividade da planta, excluindo a necessidade de ter que levar uma amostra ao laboratório para realizar uma análise. As amostras dos quatro produtos avaliados foram colhidas no comércio de Campinas, supermercados,

farmácias e lojas do ramo. As análises foram feitas de forma direta, não necessitando fazer a abertura e nem o preparo das amostras. São colocadas diretamente para análise em um equipamento de espectroscopia de fluorescência de raios X e geram resultados com informações úteis para todos os tipos de amostras.

Modelos O estudo de Gustavo, que empregou a técnica de fluorescência de raios X aliada à quimiometria, comprovou que as metodologias utilizadas foram capazes de avaliar a qualidade e a autenticidade dos produtos e que podem ser valiosas para se tornarem cada vez mais rápidas, simples e com resultados confiáveis, sem destruir as amostras. A fluorescência de raios X é uma técnica que permite não só uma análise qualitativa (identificação dos elementos numa amostra), mas também quantitativa, propiciando estabelecer a proporção em que cada elemento está presente. Ela tem se destacado hoje em análises químicas, devido à possibilidade de detecção simultânea de elementos numa ampla faixa de número atômico e de concentração, e de não necessitar de um pré-tratamento químico. Tem ainda custo acessível e é de fácil operação. A quimiometria – área que se refere à aplicação de métodos estatísticos e matemáticos, assim como aqueles baseados em lógica matemática e em problemas de origem química – é usada em técnicas de otimização, planejamento, calibração multivariada, análise exploratória, processamento de sinais, imagens, entre outras. Juliana esclarece que foram criados quatro modelos porque o método envolve tanto a técnica como a própria amostra da análise. Como Gustavo trabalhou com quatro amostras, foram criados quatro modelos. Mas a técnica é a mesma. Essa linha de pesquisa tem diversos trabalhos sendo desenvolvidos no momento. Tempo de prateleira de produtos e sexagem de aves são apenas alguns deles. [*] Dissertação: “Potencialidades da fluorescência de raios X aliada à quimiometria na análise de cosméticos e alimentos” Autor: Gustavo Giraldi Shimamoto. Orientadora: Maria Izabel Maretti Silveira Bueno. Coorientadora: Juliana Terra Unidade: Instituto de Química (IQ)UNICAMP REVISTA AMAZÔNIA 73


O maior rio do mundo e o povo das águas por Camillo Martins Vianna*

Fotos: Ray Nonato, NASA

O pessoal muito fala Mas sem poder comprovar Que a ilha mitológica de Atlântida Ainda existe por lá

A floresta amazônica é ímpar

O rio Amazonas ninguém deve duvidar Tem seis mil, novecentos e noventa e dois quilômetros a inteirar Também chamado rio das seis mil ilhas Começa nos Andes até a foz no Pará Terra úmica antropogênica Ou terra preta de índio também se pode chamar Além de muitos sítios arqueológicos E rica fauna e flora encontrar Imensos barrancos antienchentes Nas margens se podem achar Onde ergueram imensas aldeias Na ilha de Marajó se pode constatar

Dos precursores a chegar Vicente Yañes Pinzon Em janeiro de mil e quinhentos Foi o primeiro a linha do Equador cruzar O ouro de Serra Pelada Maior mina de céu aberto no Pará Ontem bamburrava dia e noite Agora está para acabar

Diego de Lepe, seu primo Em fevereiro do mesmo ano Foi o segundo a abordar E navegou pelos rios do Pará

Mas o que é certo Que agora é um baita lago E a Colossus que ouro procura Mas é preciso a água esgotar

A expedição de mil quinhentos e quarenta e um Não encontrou nem ouro nem diamantes Mas localizou nas margens do Rio Grande Um sem número de aldeias gigantes

Lugar bom de plantar É tudo obra do povo antigo Que aos milhares ou milhões Um dia existiu por lá

Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia

Coisa muito importante A floresta amazônica é ímpar E não é fruto apenas da mãe natureza Pois o índio também ajudou a plantar

Conhecer a exuberante Amazônia Por terra, mar e ar É tudo que alguém precisa Para uma inesquecível recordação guardar.

É o que diz a história recente E não dá para questionar Eles vieram dos Andes E nós não fomos pra lá O rio Amazonas ninguém deve duvidar

Nuestra Señora de La Mar Dulce Diego de Lepe chegou a batizar Por ser muito católico Quis a Santa homenagear

E agora outro versinho Para todos alegrar Os últimos serão os primeiros Para na frente chegar A insula dos Nheengaíbas E a dos Kubenkraken E o sítio arqueológico Kuhikugu No rio Xingu no Pará

[*] Sobrames. Sopren

Na ilha de Marajó

Rios de água branca O Solimões, o Purus e o Juruá, no Amazonas De água clara, o Tapajós e o Trombetas, no Pará É a coloração que se lhes dá 74 REVISTA AMAZÔNIA

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Antes - Esgoto a céu aberto Antes - Lixão

Agora - Construção de estação de tratamento Agora - Área revitalizada

Saneamento é saúde na região do Xingu A Norte Energia, empresa que constrói e vai operar durante 35 anos a Usina Hidrelétrica Belo Monte, está implantando um grande programa de saneamento básico na região do Xingu. Esgotos a céu aberto vão desaparecer com a instalação de modernas redes de saneamento básico e estações de tratamento. É mais saúde para a população e menos contaminação do rio Xingu. Redes de abastecimento vão garantir o direito de consumo de água potável. É mais qualidade de vida em Altamira, Anapu, Brasil Novo e Vitória do Xingu. São obras que melhoram a vida das pessoas e das cidades. Obras como a que transformou o antigo lixão de Altamira em área saneada e despoluída.

ENERGIA DO XINGU revistaamazonia.com.br

ENERGIA DO BRASIL

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CAร ร O LI

Ano 9 Nยบ 43 Marรงo/Abril 2014

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ISSN 1809-466X

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Editora Cรญrios

Ano 9 Nรบmero 43 2014 R$ 12,00 5,00

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ร GUAS AMAZร NICAS IMPACTO DAS MUDANร AS CLIMร TICAS ร GUA NO FUTURO


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