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ISSN 1809-466X

R$ 12,00

Editora CĂ­rios

Ano 9 NÂş 44 Maio/Junho 2014

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Revista

Ano 9 NĂşmero 44 2014 R$ 12,00

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5,00

INSETOS PARA ALIMENTAR O MUNDO

MEIO AMBIENTE * BIODIVERSIDADE


Uma criança é sempre um motivo de alegria. Neste caso, são mais de 2.500 motivos.

Até bem pouco tempo atrás, os Waimiri Atroari e os Parakanã pareciam condenados a serem apenas personagens dos livros de história. Mas graças aos programas indígenas da Eletrobras Eletronorte, em parceria com a Funai, hoje as duas etnias somadas alcançam a marca de 2.692 vidas. Livres da extinção, vivem em terras demarcadas, resgataram suas culturas e contam com estrutura permanente para atendimento médico e odontológico, controle de epidemias, educação, apoio à produção e proteção ambiental. E no que depender da Eletrobras Eletronorte, a promoção da autonomia indígena será a nossa contribuição para que essa história esteja nos livros como um exemplo que deu certo. 19 de abril, Dia do Índio. 12 REVISTA AMAZÔNIA

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Revista

Editora CĂ­rios

Uma das medidas para combater a fome proposta pela Organização das Naçþes Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) Ê o consumo de insetos. Para alguns pesquisadores, esses animais são considerados o alimento do futuro e possuem um enorme potencial para garantir a segurança alimentar do planeta...

Sou, com muito orgulho, filho de agricultores familiares. Meus irmãos mais novos, Elma e Marino, junto com mamãe Lúcia, continuam trabalhando na roça. Todas as quartas-feiras e såbados vendem o que plantam e produzem na Feira do Produtor. Fui criado cercado por årvores e natureza desde sempre...

a AmazĂ´nia

A biodiversidade Ê o termo utilizado para definir a variabilidade de organismos vivos, flora, fauna, fungos macroscópicos e microorganismos, abrangendo a diversidade de genes e de populaçþes de uma espÊcie, a diversidade de espÊcies, a diversidade de interaçþes entre espÊcies e a diversidade de ecossistemas...

40 O Pacto das Ă guas

O Pacto das à guas, desenvolvido por uma Oscip de mesmo nome, Ê um projeto que apoia os povos indígenas e seringueiros em sua organização social, nos processos de capacitação e na estruturação do sistema de coleta, seleção, armazenamento e comercialização de castanha do Brasil...

50 A matemĂĄtica, a

sustentabilidade e as previsĂľes catastrĂłficas

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DIRETOR Rodrigo Barbosa HĂźhn

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FAVOR POR

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto HĂźhn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. HĂźhn

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24 Biodiversidade e

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e Meio Ambiente

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PUBLICAĂ‡ĂƒO PerĂ­odo (maio/junho) Editora CĂ­rios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 BelĂŠm-ParĂĄ-Brasil

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20 Agricultura Familiar

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ARTICULISTAS/COLABORADORES Camillo Martins Vianna, Cimone Barros, Claudia Bancaleiro, Filipe D. Santos, Greg Sewitz, MarĂ­lia Locatelli, Neil Pederson, Nicolau Ferreira, Selvino Heck, Silvio Anunciação, Teresa Firmino FOTOGRAFIAS Afonso Rabelo, Andrew Campbell, Antoninho Perri, Arquivo FAO, Arquivo IPCC, Akhilesh Pandey, Corinne Sandone, Daniel Medeiros, Divulgação / Ipam, Eraldo Peres, Floris Scheplitz, Gabriel Nogueira, GLC-Share, Jennifer Kappla, LaboratĂłrio Nordic Food, LaĂŠrcio Miranda, Lior John, Marc A. Elsliger, Mustafa Ozer, NASA/ JPL- Caltech, NDVI, NESTA, NorthWest University, Pacto das Ă guas, Rui Peruquetti, Science, Kadijan Suleiman, The World Bank, Kathy Mather e Wilson Dias/ AgĂŞncia Brasil EDITORAĂ‡ĂƒO ELETRĂ”NICA Editora CĂ­rios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Abelha coletando pĂłlen. Foto de Pamela Mitonian. Em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente

Todos os estudos convergem no diagnóstico do que Ê necessårio fazer para atingir a sustentabilidade do desenvolvimento, embora com focagens e enfâses diversas a nível setorial e metodológico.

Mais conteĂşdo verde

[08] A crise alimentar global [10] Insetos como alimento humano [18] Abelhas e flores se comunicam por sinais elÊtricos [28] Variedades de sabores e cores dos frutos da Amazônia na Copa [32] Castanheira-do-brasil: importância da espÊcie para a região amazônica [36] Engenheira química extrai composto bioativo do jambu [40] O livro das proteínas humanas [46] Alertas do IPCC para o planeta [54] Amazônia absorve mais gås carbônico do que emite [56] Taxa de acumulação de carbono em årvores aumenta continuamente com o tamanho da årvore [60] à rea urbanizada do planeta triplicou em 14 anos [62] Embrapa completa 41 anos e inaugura maior banco genÊtico da AmÊrica Latina [64] Banco de Desenvolvimento dos Brics pode entrar em operação em 2016 [66] Prêmio Longitude vai distribuir 12 milhþes de euros para resolver problemas do sÊculo XXI [70] Por que investir em energias renovåveis no Brasil? [72] A hora e a vez da Ararajuba [74] Lista de espÊcies ameaçadas pelo comÊrcio inclui tubarþes e arraias

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Cientistas de uma universidade americana criaram um robĂ´ subaquĂĄtico a partir da anĂĄlise de caracterĂ­sticas de um peixe elĂŠtrico da Bacia AmazĂ´nica...

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“Insetos para Alimentar o Mundo” Insetos ficam saborosos com um pouco de sal, tomate e cebola, diz pesquisador

Assim como na carne bovina ou de frango, sabor de insetos depende do preparo, defende Van Huis

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ma das medidas para combater a fome proposta pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é o consumo de insetos. Para alguns pesquisadores, esses animais são considerados o alimento do futuro e possuem um enorme potencial para garantir a segurança alimentar do planeta. Para promover os insetos como alimento humano e ração animal, a FAO e a Universidade de Wageningen, na Holanda, organizaram a conferência “ Insetos para Alimentar o Mundo” , em Wageningen. Para especialista, problema não é o gosto, mas percepção que se tem sobre os insetos. Geralmente associados à sujeira, grilos, gafanhotos e larvas podem ser apreciados

em muitas receitas. Tudo depende do preparo. Abaixo reproduzimos entrevista de Arnold van Huis, pesquisador de insetos da Universidade de Wageningen e um dos organizadores do evento à DW. Ele e dois colegas escreveram um livro de receitas em que insetos são o ingrediente principal. Para Van Huis, gafanhotos e grilos podem ser muito gostosos – tudo depende da maneira como são preparados. *Professor Arnold Van Huis, o senhor come insetos? Sim, cerca de uma vez por semana. Na Holanda, várias lojas vendem insetos e também dá para comprar pela internet. Vendem-se gafanhotos liofilizados [processo de desidratação no qual os alimentos são primeiro congela-

dos e, em seguida, a água é retirada sem passar pelo estado líquido] e dois tipos de tenébrios, que são larvas de besouros [também conhecidas como bichos da farinha]. *Qual é o inseto que o senhor mais gosta? Gafanhotos e grilos, mas eles ainda não são vendidos no mercado holandês. *Como é o sabor dos insetos? É como frango ou carne de gado: sem tempero, a maioria das pessoas não acha a carne saborosa. Insetos também precisam ser preparados corretamente, é preciso fazer algo de bom com eles. Por exemplo, grilos ficam muito gostosos fritos. *Qual é a melhor maneira de temperar insetos? Com um pouco de sal, tomate e cebola, por exemplo. Eles podem ser branqueados ou moídos e acrescentados a todos os produtos possíveis. *E qual é a consistência? Os insetos são crocantes ou macios? No momento, a maioria dos insetos que existe no mercado são liofilizados e, portanto, crocantes. Por enquanto, essa é a única forma de conservá-los por um longo período. Mas esse método custa caro, e não é o mais recomendável para o futuro. Seria melhor apenas congelá-los. *Mas gafanhotos não são sempre duros por causa do exoesqueleto, independentemente do método de conservação? Depende de quando são pegos. Logo após o nascimento, eles ainda são moles. Duas ou três semanas depois, fiGrilos ficam muito gostosos fritos

Gafanhotos. Imaginem um camarão frito sem carne 06 REVISTA AMAZÔNIA

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Impacto ambiental das farinha de larvas em comparação com outros produtos animais

Potencial de aquecimento global

Potencial global de aquecimento devido à produção de um kg de proteína comestível

Minhoca

Porco

Frango

Carne

Consumo de energia (MJ)

A utilização de energia, devido à produção de um quilograma de proteína comestível

Minhoca

Leite

Porco

Frango

Carne

Uso da terra devido à produção de um kg de proteína comestível

Resultados deste estudo Dados mínimos * Dados máximos *

Minhoca

Leite

Porco

Frango

Eles têm insetos no cardápio. Com frequência, cozinheiros copiam receitas de chefes de cozinha famosos. Esperamos que algum dia haja programas de televisão que

Bichos de seda, não são apenas para fazer a seda, eles também são muito saborosos, de acordo com o relatório da ONU. Para além de ser uma fonte de considerável de gordura e de proteínas, que também contêm nutrientes, incluindo cálcio, magnésio e vitaminas do complexo B revistaamazonia.com.br

Leite

O uso da terra (M2)

cam bem duros e não recomendo o consumo. *Por que insetos são considerados uma fonte alimentar para o futuro? Atualmente, mais de 70% da área agrícola é usada para a pecuária. Se a demanda por carne dobrar, precisaremos de outras fontes de proteína, e insetos são nutricionalmente semelhantes à carne – ou até melhores. *E são bons para o meio ambiente? Sim. Insetos produzem menos gases do efeito estufa e amoníaco. Além disso, eles transformam o que comem em peso corporal de forma muito eficiente, provavelmente por serem animais de sangue frio. Eles não precisam de comida extra para manter sua temperatura corporal. Para cada quilograma de carne bovina são necessários 25 quilogramas de ração e, em contrapartida, para cada quilograma de grilo, apenas dois de ração. *Qual inseto é a fonte alimentar mais promissora? Há mais de 200 espécies de insetos comestíveis, mas nem todos podem ser criados em fazendas. Teremos de fazer isso no futuro, para que possamos produzi-los em grande quantidade. No Ocidente, são consumidos basicamente grilos, gafanhotos e tenébrios. *Mas a maioria das pessoas não consegue se imaginar comendo insetos... Não, mas isso depende da percepção e dos sentimentos. É um fenômeno psicológico. O problema não é o gosto dos insetos, podemos prepará-los de maneira muito saborosa. *Como o senhor pretende convencer as pessoas a comer insetos? Primeiro precisamos informá-las sobre os insetos. Dizer, principalmente, que não é perigoso comê-los. Muitas pessoas associam insetos à sujeira. Além disso, a gastronomia precisa oferecê-los em pratos saborosos. *Existem restaurantes que possuem insetos no cardápio? Sim, por exemplo, o restaurante Noma em Copenhague, que há duas semanas foi reeleito o melhor do mundo.

Carne

* Adaptado de: Impacto Ambiental da Produção de Minhocas como fonte de proteína para seres humanos. Avaliação do Ciclo de Vida. Dennis GA 8 Oonincx, Imke JM de Boer (2012).

mostrem receitas com insetos. Na Holanda, já temos um programa assim. E, quando for o momento, a mentalidade e a percepção mudarão bem rápido.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, estima que o mundo precisa aumentar sua produção de alimentos em 70 por cento até 2050, a fim de atender a uma população global de nove bilhões. A produção de ração animal está cada vez mais competindo por recursos (terra, água e fertilizantes) com a alimentação humana e produção de combustível, a urbanização e a natureza. Setenta por cento das terras agrícolas do mundo já está direta ou indiretamente dedicada à produção de carne. Com uma população mundial crescente e os consumidores cada vez mais exigentes, ainda podemos produzir proteína animal suficiente no futuro? Urgentemente precisamos identificar fontes alternativas de proteínas, e os insetos têm um grande potencial para contribuir para a segurança alimentar global. REVISTA AMAZÔNIA 07


A crise alimentar global por Greg Sewitz * Fotos: Jennifer Kappla, Mustafa Ozer

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m número crescente de especialistas, entende que estamos em uma encruzilhada crítica alimentar. A população do mundo aumenta em 75 milhões de pessoas a cada ano. Segundo o Painel das Nações Unidas sobre Sustentabilidade Global, o mundo vai precisar de pelo menos 50% mais alimentos e 30% a mais de água até 2030. Medida que os países em desenvolvimento e modernizar suas economias crescem, o seu consumo de carne vai aumentar. Para atender a esse crescimento, vamos precisar de triplicar nossa produção de alimentos. Com as nossas práticas agrícolas atuais, no entanto, esta é uma meta impossível. Nós simplesmente vai ficar sem comida. Esta é a verdade inconveniente. Embora as culturas, como o milho, exigem grandes extensões de terra e são acompanhados por seus próprios problemas, dependência de carne é um dos maiores problemas agrícolas que vamos garra com como nós comemos o nosso caminho para o futuro. Contas de gado para 70% de todas as terras desmatadas para a agricultura e 18% de todas as emissões de gases de efeito estufa; muito mais do que os carros, aviões e trens combinados. Quase metade da água mundial é usada para produzir alimentos de origem animal. Essencialmente, nós precisamos de uma nova solução, que seja amiga do ambiente , à base de proteínas , se esperamos para alimentar nosso planeta cada vez mais populoso . Uma solução são os insetos. Representando 80 % de todas as espécies conhecidas, os insetos são a

forma de vida dos consumíveis mais abundante no planeta. Eles são também excepcionalmente nutritivos. Alguns insetos contem até 91 % de proteína em peso seco , com as composições de aminoácidos que são superiores à maior parte das fontes de proteínas alternativas. Eles são também ricos em micronutrientes, tais como ferro, cálcio, vitaminas do complexo B, o beta- caroteno e vitamina E. Mais importante ainda, os insetos são uma solução potencial para o sistema alimentar atualmente ineficiente por causa de seu impacto ambiental marginal. Os insetos podem viver fora de subprodutos agrícolas, como cascas de laranja e talos de brócolis. Apenas uma pequena fração dos insetos produzem metano, os demais produzem quantidades muito pequenas. Porque os insetos são poiquilotérmicos, ou seja, a temperatura de seus corpos variam de acordo com as temperaturas do seu entorno, eles são muito mais eficientes na conversão de nutrição em proteínas; Grilos, por exemplo, tem 12vezes menos a necessidade de ração para produzir a mesma quantidade de proteínas de gado. Dados os benefícios óbvios de consumir insetos – e o fato de que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo já incluem insetos em sua dieta normal, por que não só os ocidentais não comem/ degustem gafanhotos fritos? A resposta é simples: melindres. Esta resposta irracional criou altas barreiras de entrada para quem quer produzir insetos para consumo humano. Além disso, muitos países não têm nem as diretrizes governamentais, nem a infra-estrutura de forma barata e sistematica para levar esta fonte de alimento ao mercado. A Organização para a Alimentação e Agricultura-FAO, reconheceu isso, e divulgou recentemente um relatório de duzentas páginas detalhando os benefícios

Estamos em uma encruzilhada crítica alimentar

Larvas voltadas para o consumo humano são um dos ingredientes de pratos feitos com insetos

Menos de 120 gramas de CO2 por km

Barras de proteína com farinha feita a partir de grilos, da Exo 8 REVISTA AMAZÔNIA

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(miríade de entomophagy) do consumo humano de insetos, a história e o estado atual da prática, e formas de aumentar o número de pessoas que comem insetos daqui para frente. Eles incluem: O financiamento de pesquisa acadêmica sobre os benefícios nutricionais dos insetos como fonte de alimento saudável e os impactos ambientais da agricultura inseto contra as práticas agrícolas tradicionais de alto nível. Universidade de Wageningen, na Holanda e Montana State University, nos EUA já começaram a desenvolver tais programas. Documentar, analisar e popularizar o conhecimento cultural e histórica da criação e do consumo de insetos para promover práticas sustentáveis e éticos como eles são mescladas com as novas tecnologias. Criação de diretrizes claras sobre os quais insetos são seguros para comer, políticas de saneamento adequadas, regulamentos massa de criação, etc Elevar o status dos insetos como alimento gourmet por meio de iniciativas de cima para baixo, como o Nordic Food Lab, uma organização sem fins lucrativos, em Copenhague , que usa técnicas de cozinha de vanguarda para reformular a percepção de alimentos das pessoas. Acredito que o primeiro passo para convencer as pessoas a comer insetos é mostrar-lhes que os produtos alimentares feitos a partir de insetos pode e tem bom gosto. A empresa, Exo, pretende fazer isso através da produção de barras de proteína com farinha feita a partir de grilos. Quando as pessoas se sentirem confortáveis com a idéia de comer insetos, poderemos começar a aproveitar -los em nossas dietas de forma substancial. Isso tem que vir antes das outras iniciativas já referidas, como ainda há uma forte resistência à idéia. Precisamos mostrar às pessoas que a sua atual perspectiva negativa, condicionando a consumo inseto, limita o potencial de uma fonte de alimento altamente sustentável. É óbvio que os insetos são superiores a pecuária convencional em sua pegada ambiental, e ainda pode fornecer um nível igual ou maior de sustento. Através da introdução desta fonte de proteína deliciosa, saudável e ambientalmente amigável, poderemos ter uma dieta mais realista que pode nos manter bem no futuro. [*] Co- fundador da Exo

Você sabia?

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE Gafanhotos são ricos em proteína que é necessária para a produção de anticorpos, músculos e órgãos

Gafanhoto por 1OOg

Grilo por 1OOg

Proteína (12,9 g) Cálcio (75.8 g) Ferro (9.5 g) Gordura (5,5 g)

Proteína (20,6 g) Cálcio (35,2 g) Ferro (5 g) Gordura (6,1 g)

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE 100g de grilos contêm apenas 121 calorias em comparação com 313 calorias em 100g de carne

RISCOS PARA A SAÚDE Pesquisas mostram que a carne vermelha aumenta o risco de câncer de colo do útero

RISCOS PARA A SAÚDE Gordura animal saturada em carne vermelha contribui para doenças do coração e aterosclerose

Carne por 1OOg Proteína (23,4 g) Cálcio (8 g) Ferro (2,74 g) Gordura (23,3 g)

RISCOS PARA A SAÚDE A carne bovina é uma fonte de hemácias de ferro. Hemácias de ferro é um fator de risco para diabetes tipo 2

Proteína (9,6 g) Cálcio (41,7 g) Ferro (1,8 g) Gordura (5,6 g)

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE Bichos de seda são uma fonte de medicina tradicional chinesa e têm altos leveis de ácidos graxos essenciais

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE Formigas vermelhas são ricas em cálcio, o cálcio é essencial para ossos fortes, dentes e pode reduzir o risco de doença cardiovascular e hipertensão

Bichos de seda por 1OOg

Proteína (17,2 g) Cálcio (30,9 g) Ferro (7,7 g) Gordura (4,3 g)

Proteína (13,9 g) Cálcio (47.8g) Ferro (5,7 g) Gordura (3,5 g)

Formigas vermelhas por 1OOg

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE Escaravelhos por 1OOg

Escaravelhos são uma boa fonte de ferro. Ferro melhora musculos e função cerebral, fadiga e concentração

Você sabia... que existem mais de 1500 espécies de insetos comestíveis no Mundo? que muitas delas podem ser produzidas em cativeiro, tanto para consumo animal quanto humano? que é fácil produzir sua própria fonte de proteína animal, por um baixo custo? que produzir insetos comestíveis comercialmente já é uma realidade no Brasil? Conheça mais sobre esses mini-rebanhos, indicados pela FAO como uma das melhores alternativas alimentares nas próximas décadas!

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Insetos como alimento humano Com uma população mundial crescente e os consumidores cada vez mais exigentes, ainda podemos produzir proteína animal suficiente no futuro? Fotos: Floris Scheplitz

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rgentemente precisamos identificar fontes alternativas de proteínas, e os insetos têm um grande potencial para contribuir para a segurança alimentar global. Os insetos são cada vez mais considerados para outro benefício que oferecem – como uma fonte de proteína animal. Com uma média de 80 kg de carne por ano, os consumidores holandeses comem uma quantidade que está entre os norte-americanos (120 kg / ano) e chineses ( 50 kg / ano). Setenta por cento das terras agrícolas do mundo já estão direta ou indiretamente dedicada à produção de carne. Como uma fonte de proteínas animais, insetos requererem dez vezes menos espaço do que as vacas. Esta poderia ser uma solução e não apenas para a produção de carne para consumo humano; proteína inseto também pode, por exemplo, substituir a farinha de peixe na alimentação animal. Assumindo que existe uma necessidade de proteína animal – seja fisicamente ou socialmente – em Wageningen, pesquisadores olharam para espécies de insetos em termos de agricultura eficaz, o dimensionamento, higiene e cultivo livre de doença. Com os insetos, também, as doenças podem ser um problema, embora a transmissão aos seres humanos é menos provável do que no caso de

Petisco

Professor Arnold van Huis come prato frito feito com vegetais, larvas e gafanhotos

Os livros Het Insectenkookboek e The Insect Cookbook

doenças de mamíferos e aves. A abordagem em Wageningen foi única na medida em que foi uma colaboração entre parceiros académicos, industriais e governamentais. O assunto foi colocado em pauta em 1997 pela Wageningen UR, pelo entomologis10 REVISTA AMAZÔNIA

ta professor Arnold van Huis, e recebeu apoio verbal do governo holandês em 2005. Após o festival da cidade de Insetos em 2006, o governo forneceu apoio financeiro e de cooperação com as empresas começaram a criação de insetos. revistaamazonia.com.br


A ONU tem novas armas para combater a fome, melhorar a nutrição e reduzir a poluição, e eles podem estar rastejando ou voando perto de você agora: insetos comestíveis

A pesquisa se concentra em questões ambientais – gases de efeito estufa, uso da terra – e a possibilidade de utilizar os resíduos de outras indústrias de alimentos (grãos gasto, sobras de produção de biscoitos) como alimentação dos insetos. Análise do ciclo de vida pelo Laboratório de Entomologia já está mostrando que a produção de farinha de larvas, como fonte de proteína requer menos terra e produz menor quantidade de gases de efeito estufa do que a produção de fontes de proteína de animais tradicionais. O consumo de energia é ainda uma preocupação (que é menor do que para a produção de carne e maior do que para a produção de leite ou de frango). De todos os aspectos compreendidos, no entanto, a conclusão é que a criação de insetos como uma fonte de proteína animal é muito mais sustentável que a produção de carne. O reforço da cooperação com cientistas e nutricionistas de alimentos é necessário para lançar luz sobre a composição exata. O uso de insetos como alimento para animais pode preparar o mercado para o conceito de insetos como fonte de proteína, e da presença de quitina – útil para propósitos médicos e industriais e que provavelmente promove a saúde – pode promover a aceitação do inseto na agricultura Várias empresas holandesas já estão produzindo insetos para consumo humano. Ao interesse público, Dicke e seus colegas Arnold van Huis e Henk van Gurp escreveram o livro Het Insectenkookboek ( ‘The Insect Cookbook ‘) , que em breve estará também disponível em Inglês.

Delícia de insetos

Formiga “bunda de tanajura”, para ser frita com manteiga e depois comida como se fosse amendoim, tira gosto...

Insetos comestíveis invadem Washington - “Pestaurant” Recentemente (04/06) os moradores de Washington ganharam uma nova opção gastronômica. Hambúrgueres de gafanhoto e pirulitos de escorpião, foram opções de um cardápio nas vantagens ecológicas dos insetos comestíveis. Para Erin Kolski, seu prato - um hambúrguer feito de gafanhotos, grilos e larvas, era surpreendentemente saboroso. “Crocante, com um gosto bom”, disse surpreso avaliando favoravelmente seu prato, no Restaurante Occidental, em Washington, Hambúrguer de gafanhotos, grilos e larvas um estabelecimento popular, a pou- durante o ‘Pestaurant’ em Washington cos passos da Casa Branca. O chefe Rodney Scruggs, organizou o evento para promover as possibilidades culinárias e vantagens ecológicas dos insetos. Entre os pratos exóticos em oferta – hambúrguer de gafanhotos, farinha de larvas e pirulitos de escorpião. Os organizadores disseram que amostras de alimentos semelhantes foram realizadas na quarta-feira 04/06, véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 11 outros países. Enquanto mastigar insetos pode ser desagradável para alguns, a empresa elogiava os insetos como fonte de alimento do futuro, tanto abundante e repleta de nutrientes como ferro e cálcio. Os insetos são ricos em proteínas, vitaminas e minerais como ferro e zinco B, e são pobres em gordura.” “São uma delícia”. “Muito nutritivo, saudável, e menos processado”. Pirulitos de escorpião, formigas…

O chefe David George Gordan posa com uma tarântula, um de seus ingredientes nutritivos, repleto de proteínas revistaamazonia.com.br

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O potencial de insetos como recursos para a alimentação animal dida, mas só é possível graças a uma convergência das medidas perseverantes que se complementam”.

Fotos: Arquivo FAO, Laboratório Nordic Food

E

duardo Rojas - Briales, Diretor-Geral Adjunto da FAO, disse recentemente na Universidade de Wageningen na conferência internacional sobre o papel dos insetos na produção sustentável de alimentos,na Holanda: Insetos podem fornecer uma opção sustentável e ambientalmente amigável para a alimentação animal , além de já ser um dos pilares da dieta humana para 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Rojas falou durante a sessão de abertura da conferência , “ Insetos para alimentar o mundo “, organizado conjuntamente pela Universidade de Wageningen e a FAO. Mais de 400 participantes de 45 países se reuniram para no evento para analisar o estado atual e futuro potencial dos insetos como alimento humano e animal . “O momento é propício para pensar sobre fontes alternativas de alimentos , tendo em vista a crescente população mundial , as ameaças das mudanças climáticas e persistindo a fome em muitas partes do mundo”, disse Rojas , que supervisiona o trabalho da FAO em silvicultura e sistemas e meios de subsistência de alimentos relacionados . Alimentos selvagens contribuem para a segurança alimentar de milhões de pessoas que vivem dentro e ao redor das florestas e da maioria dos insetos consumidas por um terço das pessoas do mundo são recolhidos na natureza .. “Certamente insetos por si só não vai resolver os desafios de segurança alimentar do mundo, mas seria absurdo não mobilizar todo o seu potencial na luta contra a fome ea desnutrição”. “Aumentar os insetos para a alimentação é uma forma ambientalmente amigável e eficiente de produzir ração animal “, disse Rojas “. Os insetos podem ser alimentados com bio-resíduos, compostagem e chorume animal, e podem transformar isso em proteína de alta qualidade para a alimentação animal”. “Reconhecendo o potencial global de insetos para alimentar nesta conferência não é defender uma mudança nos padrões alimentares dos outros dois terços da população mundial que não está acostumado a comer

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Campeões minúsculas

Segundo Eduardo Rojas- Briales, Diretor-Geral Adjunto da FAO, os insetos são uma fonte de alimento que poderiam oferecer uma dieta sustentável Saúva do Amazonas servida sobre abacaxi no restaurante D.O.M., do chef Alex Atala

Formigas também no Noma, em Copenhague, do chef René Redzepi

Rojas mencionou as abelhas como um excelente exemplo da variedade de maneiras em que os insetos contribuem para a segurança alimentar. Abelhas fornecer mel, mas elas também são o grupo predominante e economicamente mais importante de polinizadores na maioria das regiões geográficas do globo , a polinização de apoio de 71 das 100 espécies de culturas que fornecem 90 por cento dos alimentos do mundo . Além disso, as abelhas estão entre os insetos mais consumidos em algumas partes do mundo. Além de dar a conhecer o potencial de insetos em dietas sustentáveis e produção de alimentos, os participantes da conferência discutiram uma variedade de questões conexas, incluindo a recolha de dados , análise nutricional , e considerações regulatórias e de pesquisa , entre outros. Rojas disse que a comunidade científica internacional poderia fazer “contribuições importantes ao gerar o impulso certo para superar os gargalos ainda existentes e para desbloquear o potencial de insetos para a alimentação humana e animal “.

Insetos comestíveis

insetos, mas para garantir que aqueles que consomem insetos possam continuar a fazê-lo no futuro de forma sustentável , e para destacar os diferentes potenciais dos insetos na contribuições que podem fazer para a segurança alimentar no futuro “, disse Rojas. Ele acrescentou que o desafio de alimentar uma projeção de 9 bilhões de pessoas de forma sustentável no ano de 2050 “nunca ser alcançada com base em uma única me-

O maior grupo de insetos comestíveis é o de coleópteros (besouros), com mais de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), com algo em torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos, dentre outros) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de percevejos, cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros. Estudos indicaram que 10 % dessas espécies são cosmopolitas e as restantes estão restritas a determinadas zonas geográficas, das quais 12 % são espécies aquáticas e 78 % são terrestres. Os insetos podem ser consumidos em todos os estágios de desenvolvimento, mas é em forma de larva ou pupa que a maioria das espécies registradas é consumida. revistaamazonia.com.br


Abelhas. Economicamente mais importante na polinização de 71 das 100 espécies de culturas que fornecem 90 por cento dos alimentos do mundo

Ou seja, estágios que fazem parte do ciclo dos insetos holometábolos, aqueles que apresentam metamorfose completa durante seu desenvolvimento. Estudos têm demonstrado que a “carne” dos insetos contém quantidades de proteínas e lipídeos satisfatórias e são ricas em sais minerais e vitaminas. Por exemplo, a formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura) possui mais proteínas (42,59 %) do que a carne de frango (23 %) ou bovina (20 %).

terão que ser alimentados mais 9 bilhões de pessoas , em conjunto com os bilhões de animais criados anualmente para a alimentação, para fins recreativos ou como animais de estimação. Além disso, fenômenos como a poluição da água e do solo causada pela produção intensiva de gado eo desmatamento causado pelo sobrepastoreio contribuem para as alterações climáticas e outros impactos destrutivos sobre o meio ambiente. Uma das maneiras de lidar com o problema da segurança e alimentação alimento passa através da criação de insetos. Insetos vivem em todos os lugares e se reproduzem rapidamente , têm uma alta taxa de crescimento e conversão alimentar além do baixo impacto ambiental durante todo o seu ciclo de vida. Eles são nutritivos, com alto

Gafanhoto sobre pastel frito de camarão do restaurante Billy Kwong, em Sidney

Sal de gafanhotos vermelhos com gengibre, caríssimo

Insetos podem contribuir para segurança alimentar e animal? Sim , o crescimento da população , da urbanização o aumento das classes médias têm aumentado a demanda global por alimentos, e em particular de fontes de proteína de origem animal. A produção tradicional de alimentos para os animais , como farinha de peixe, de soja e os cereais deve ser intensificada em termos da eficiência dos recursos e prolongado com o uso de fontes alternativas . Em 2030

As 1.900 espécies de Insetos mais comidos em todo o mundo Popularidade em %, por ordem

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teor de proteínas, gorduras e minerais . Eles podem ser cultivadas com resíduos alimentos . Eles também podem ser consumidos em conjunto ou em pós ou pastas e incorporada a outros tipos de alimentos . A utilização de insetos como ingredientes em alimentos é tecnicamente praticável e indústrias em várias partes do mundo já estão envolvidos nesta produção. Por exemplo , o uso de insetos como alimentação para aquicultura e aves se tornará cada vez mais comum nos próximos dez anos.

Para adicionar o sabor a insetos Coloque um pouco de sal, tomate e cebola. Às vezes, eles poderão ser escaldados ou cozidos. E você pode esmagá-los e transformá-los em farinha para serem usados em todos os tipos de produtos. Atualmente, a maioria dos insetos no mercado são liofilizados, o que significa que eles são crocantes. Essa é a única maneira de mantê-los comestíveis por bastante tempo. Mas o método é muito caro, por isso não é muito aconselhável. Seria melhor para armazenaros insetos no congelador. Mas, devido à sua armadura, os gafanhotos são sempre difíceis. Porém, logo depois de terem eclodido, eles ainda são suaves. Duas ou três semanas depois, eles ficam difíceis, o que não é tão bom. Peru com percevejos no restaurante Paxia, no México

Uma degustação de culinária com insetos, uma forma saborosa e excitante para transmitir as informações e envolver o público com os sabores ainda diferentes

9 kg

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Abelhas e flores se comunicam por sinais elétricos

A

s abelhas e as flores se comunicam através de campos eléctricos, revela um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Segundo o artigo da equipe chefiada por Daniel Robert, os métodos de comunicação das flores são pelo menos tão sofisticados com os de uma agência de publicidade, utilizando as cores, os padrões e o cheiro para atrair os seus polinizadores. Agora, os cientistas descobriram que a estas formas de comunicação se junta uma outra: a emissão de sinais elétricos, semelhantes a um sinal de néon, que permitem às abelhas distingui-los de outros campos e encontrar as reservas de pólen e néctar. Os investigadores explicam que as plantas têm normalmente uma carga negativa e emitem campos elétricos fracos. As abelhas, por seu lado, adquirem uma carga positiva de até 200 volts à medida que voam no ar. Embora não haja qualquer descarga elétrica quando uma abelha se aproxima de uma flor, surge um pequeno campo elétrico que potencialmente transmite informação. Ao colocar eletrodos em petúnias, os investigadores demonstraram que quando uma abelha (Bombus terrestris) aterra, o potencial elétrico da flor muda e permaEmbora não haja qualquer descarga elétrica quando uma abelha se aproxima de uma flor, surge um pequeno campo elétrico que potencialmente transmite informação

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nece assim durante vários minutos. “Poderá isto ser uma maneira de a flor dizer às abelhas que uma outra abelha a visitou recentemente?”, questionam os cientistas, que concluíram que as abelhas conseguem detectar e distinguir dois campos elétricos distintos. Os cientistas não sabem ainda de que forma as abelhas detectam os campos eléctricos, mas admitem que os seus pêlos possam reagir da mesma forma que o cabelo das pessoas reage à electricidade estática de um ecrã de televisão antigo. “Este novo canal de comunicação revela como as flores podem potencialmente informar os seus polinizadores sobre o verdadeiro estado das suas reservas de néctar e pólen”, disse Heather Whitney, co-autora do estudo. Daniel Robert explicou: “A última coisa que uma flor quer

Cientistas revelaram que as flores dão sinais elétricos para atrair abelhas ao seu pólen. Este gráfico mostra os campos elétricos em torno de uma flor Sinais elétricos em conjunto com os atributos físicos das flores atraem as abelhas

é atrair uma abelha e depois não conseguir fornecer-lhe néctar. É uma lição de publicidade honesta, já que as abelhas são boas aprendizes e rapidamente perderiam o interesse de uma flor tão pouco remuneradora”. “A co-evolução entre as flores e as abelhas tem tido uma história longa e benéfica, por isso talvez não seja inteiramente surpreendente que estejamos ainda hoje a descobrir quão sofisticada é a sua comunicação”, acrescentou.

Partículas coloridas revelam os campos elétricos de flores A última coisa que uma flor quer é atrair uma abelha e depois não conseguir fornecer-lhe néctar

Flores podem potencialmente informar os seus polinizadores sobre o verdadeiro estado das suas reservas de néctar e pólen revistaamazonia.com.br

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Agricultura Familiar e Meio Ambiente

S

ou, com muito orgulho, filho de agricultores familiares. Meus irmãos mais novos, Elma e Marino, junto com mamãe Lúcia, continuam trabalhando na roça. Todas as quartas-feiras e sábados vendem o que plantam e produzem na Feira do Produtor. Fui criado cercado por árvores e natureza desde sempre. Ao lado de casa, Vila Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul, um bosque enfeita o ambiente. Lá, crianças, íamos fazer piqueniques, quando tios, tias e suas enormes famílias visitavam a avó Gertrudes. Fazíamos uma limpeza geral, abrindo corredores até o centro do bosque, onde um taquaral imponente dava sombra. Mais adiante, um pinheiro, que infelizmente morreu de velho, servia seus pinhões no inverno, que cozíamos ou assávamos na chapa quente do fogão a lenha. Nos fundos do bosque, uma fonte fornecia a água para os animais. A cisterna recolhia a água da chuva e provia os humanos. Em 2014, estou Secretário Executivo da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). Leio a manchete de um jornal do sul: “USO DE VENENO CRESCE TRÊS VEZES MAIS DO QUE LAVOURA – Em cinco anos, área plantada aumentou 6%, enquanto venda de agrotóxicos subiu 22%. Gaúchos usam quase o dobro da média nacional.” Segue a matéria: “O alerta de ambientalistas e entidades ligadas à saúde sobre o risco maior de químicos na agricultura é sustentado por dados. Segundo estatísticas de safra do IBGE e de comercialização do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (SINDIVEG), nos últimos cinco anos a venda de agrotóxicos subiu 22,1%, três vezes acima do crescimento da área cultivada. Se comparado ao avanço da produtividade, é quatro vezes maior, indicando abuso na aplicação dos produtos” (Zero Hora, 25.11.2013). O Brasil é o segundo maior consumidor de agrotóxicos do planeta, um pouco atrás dos EUA. Entre os 50 tipos de agrotóxicos mais utilizados nas lavouras brasileiras, 22 são proibidos na União Europeia. Segundo o Observatório da indústria de agrotóxicos da Universidade Federal (UFPR), na última década o consumo de defensivos disparou no país. De 2001 a 2010, o faturamento da indústria do setor aumentou 215%, enquanto a área plantada

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por Selvino Heck*

A terra não suja as mãos de ninguém porque ela é santa…

subiu 30%. Para Victor Pelaez Alvarez, coordenador do observatório, “estão usando de forma preventiva. É como fazer quimioterapia para prevenir o câncer”. Estamos no Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF), instituído pela ONU a pedido dos movimentos sociais e instituições da sociedade civil, e denominado na

América Latina Ano Internacional da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena. O Comitê Brasileiro do AIAF, integrado por 49 entidades, sendo 31 da sociedade civil e 18 do governo federal, fez um plano de trabalho, onde constam como objetivos, avanços e desafios: - Difusão e implementação das Diretrizes Voluntárias revistaamazonia.com.br


A presidenta Dilma Rousseff lançando o plano Brasil Agroecológico na 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário

cursos naturais pelos extrativistas, povos e comunidades tradicionais e à consolidação da produção sustentável; - Elaborar e implementar um programa dirigido ao desenvolvimento do extrativismo com a adequação dos instrumentos às especificidades de cada bioma; - Aprofundar e implementar o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - Brasil Orgânico -, lançado pela presidenta Dilma Rousseff em outubro de 2013; - Criação e efetivação de um Programa Nacional de Redução de Uso dos Agrotóxicos, como previsto no Brasil

Agroecológico. A agricultura familiar, camponesa e indígena é parte fundamental na construção de um Brasil Agroecológico. A Agroecologia é ou pode ser a base, o fundamento de uma nova utopia real. Utopia que aponta horizontes a serem alcançados. Real porque com os pés no chão da vida e da realidade. Leonardo Boff, falando da ecoteologia da libertação, ecologia como grito da terra e grito dos pobres, disse no Congresso Brasileiro de Agroecologia: “Estamos num

Estamos em tempos de pensar a vida, o futuro, o planeta terra, a humanidade

sobre Governança responsável da Posse da Terra, dos Recursos Pesqueiros e Florestais no Brasil; - Elaboração, em diálogo com os movimentos sociais e órgãos relacionados, um Plano Safra para os Biomas Amazônia e Cerrado, adequando os instrumentos e políticas às características ao padrão de uso e gestão dos rerevistaamazonia.com.br

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momento crítico da história da Terra e da Humanidade. Precisamos fazer uma escolha. Ou cuidar de nós e dos outros, ou arriscar em destruir a humanidade. A agroecologia é um novo começo com outro olhar: ver a Terra como nossa Mãe. A centralidade é a vida humana. A economia e a política devem estar a serviço do sistema vida. Somos chamados a irradiar como estrelas.” A agricultura familiar, camponesa, indígena, extrativista, ribeirinha, quilombola é responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa de brasileiras e brasileiros. O cineasta Sílvio Tendler, autor dos filmes O Veneno está na Mesa 1 e 2 disse, quando do lançamento do segundo filme: “Não tem sentido você construir uma economia baseada na destruição da natureza. Isso não é economia. Isso é catástrofe. Você criar um modelo econômico perverso, isso não é o país que a gente está construindo. Eu acho a agroecologia fundamental como forma de produção econômica, social e de desenvolvimento.” Estamos em tempos de pensar a vida, o futuro, o planeta terra, a humanidade. O papa Francisco está preparando uma encíclica sobre a ecologia e o meio ambiente, sobre o tema da Terra como casa da humanidade, uma ecologia centrada no ser humano. “A Amazônia deve ser desenvolvida, sem dúvida, mas sem perder sua vocação

de ser um grande presente da natureza para toda a humanidade.” O sociólogo Pedro Ribeiro aponta que “a consciência planetária é um fenômeno recente. Começa a ganhar forma no final do século XX. Este tipo de consciência é algo novo e diferente no pensamento, da cultura, da ciência e dos valores, o que aponta para um novo paradigma de civilização ocidental. A consciência planetária propõe uma relação de igualdade entre os humanos e a totalidade dos componentes do planeta Terra, e visa a repensar a relação entre o ser humano e a natureza, e para isso torna-se necessário ir além da ciência produzida pelo Ocidente, sem, contudo, menosprezá-la”. No lançamento do Brasil Agroecológico, a presidenta Dilma Rousseff falou: “Em todo mundo há uma coisa acontecendo: a consciência cada vez maior da importância da agroecologia, da agricultura orgânica e do acesso e proteção, não só dos alimentos, mas também da água. Tem a ver com aquela consciência que encontramos na Rio+20, que levou a gente a construir a frase: é possível um país crescer, distribuir renda e incluir. E é possível que esse país seja um país que conserva e protege o meio ambiente. Por isso, vamos trabalhando juntos, vamos lutar por uma agricultura sustentável e garantir que esse

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

A agricultura familiar, camponesa e indígena é parte fundamental na construção de um Brasil Agroecológico

projeto, o Brasil Agroecológico, seja uma conquista e uma vitória nossa.” A hora é agora. Os agricultores familiares, os camponeses, os indígenas, os extrativistas, os ribeirinhos, os quilombolas, as quebradeiras de coco, os agricultores urbanos e todos aqueles de boa vontade que se preocupam com o futuro têm um papel e uma responsabilidade. Estou com D. Guilherme Werlang, bispo de Ipameri, Goiás, que disse numa Romaria da Terra no Rio Grande do Sul: “Tem gente que, quando mexe na terra, diz que sujou as mãos. A terra não suja as mãos de ninguém porque ela é santa, como Deus afirmou a Moisés. A terra só será suja quando nós, seres humanos gananciosos, a sujarmos com veneno, agrotóxicos, plásticos, poluições das mais diversas. Nós, infelizmente, temos o poder de sujá-la, de prostituí-la e mesmo de matá-la. A palavra hoje é: coragem, sonho, esperança. O mundo poderá ser o Paraíso sonhado por Deus no ato da criação.” [*] Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República. Secretário Executivo da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) e Membro do Comitê Brasileiro do AIAF/2014

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A riqueza de espécies de anfíbios é altamente subestimada na Amazônia brasileira

Biodiversidade e a Amazônia Fotos/Imagens: Divulgação / Ipam, Science

A

biodiversidade é o termo utilizado para definir a variabilidade de organismos vivos, flora, fauna, fungos macroscópicos e microorganismos, abrangendo a diversidade de genes e de populações de uma espécie, a diversidade de espécies, a diversidade de interações entre espécies e a diversidade de ecossistemas. Mais claramente falando, diversidade biológica, ou biodiversidade, refere-se à variedade de vida no planeta terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos organismos. A Amazônia é o maior bioma brasileiro

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Não existem dúvidas de que a floresta amazônica compreende um dos mais diversificados biomas (conjunto de ecossistemas) do planeta. Milhares de espécies de plantas, invertebrados, peixes, anfíbios, répteis (incluindo aves) e mamíferos – muitos endêmicos – vivem nessa floresta tropical. Com uma área total estimada em 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia ocupa, além da região norte do Brasil, parte significativa do Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname, que fazem parte da OTCA – Organização do Tratado. de Cooperação Amazônica. Segundo o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), na Amazônia, a riqueza da flora compreende aproximadamente 30.000 espécies, cerca de 10% das plantas de todo o planeta. São cerca de 5.000 espécies de árvores (maiores que 15cm de diâmetro), enquanto na América do Norte existem cerca de 650 espécies de árvores. A diversidade de árvores varia entre 40 e 300 espécies diferentes por hectare, enquanto na América do Norte varia entre 4 a 25. Os artrópodos (insetos, aranhas, escorpiões, lacraias e centopéias, etc.) constituem a maior parte das espécies Os mapas paleogeográficos de 65 milhões de anos a 2,5 milhões de anos atrás mostram as mudanças ocorridas na região amazônica com o soerguimento da cordilheira dos Andes (em vermelho)

Na Amazônia, a riqueza da flora compreende aproximadamente 30.000 espécies, cerca de 10% das plantas de todo o planeta revistaamazonia.com.br

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Na Amazônia são conhecidas 1.800 borboletas, no mundo 7.500 espécies

O número de espécies de peixes na América do Sul ainda é desconhecido, sendo sua maior diversidade centralizada na Amazônia. Na foto o Pirarucu (Arapaima gigas),um dos maiores peixes de água doce fluviais. Pode atingir três metros de comprimento e seu peso pode chegar até 200 Kg

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As araras (Psittacidae) ameaçadas, estão entre os 10 mais belos pássaros de 2014

de animais existentes no planeta. Na Amazônia, estes animais diversificaram-se de forma explosiva, sendo a copa de árvores das florestas tropicais o centro da sua maior diversificação. Apesar de dominar a Floresta Amazônica em termos de número de espécies, número de indivíduos e biomassa animal, e da sua importância para o bom funcionamento dos ecossistemas, estima-se que mais de 70% das espécies amazônicas ainda não possuem nomes científicos e, considerando o ritmo atual de trabalhos de levantamento e taxonomia, tal situação permanecerá por muito tempo. Atualmente são conhecidas 7.500 espécies de borboletas no mundo, sendo 1.800 na Amazônia. Para as formigas, que contribuem com quase um terço da biomassa animal das copas de árvores na Floresta Amazônica, a estimativa é de mais de 3.000 espécies. Com relação às abelhas, há no mundo mais de 30.000 espécies descritas sendo de 2.500 a 3.000 na Amazônia. O número de espécies de peixes na América do Sul ainda é desconhecido, sendo sua maior diversidade centralizada na Amazônia. Estima-se que o número de espécies de peixes para toda a bacia seja maior que 1300, quantidade superior a que é encontrada nas demais bacias do mundo. O estado atual de conhecimento da ictiofauna da América do Sul se equipara ao dos Estados Unidos e revistaamazonia.com.br

Canadá de um século atrás e pelo menos 40% das espécies ainda não foram descritas, o que elevaria o número de espécies de peixes para além de 1.800. Apenas no rio Negro já foram registradas 450 espécies. Em toda a Europa, as espécies de água doce não passam de 200. Um total de 163 registros de espécies de anfíbios foi encontrado para a Amazônia brasileira. Esta cifra eqüivale a aproximadamente 4% das 4.000 espécies que se pressupõe existir no mundo e 27% das 600 estimadas para o Brasil. A riqueza de espécies de anfíbios é altamente subestimada. A grande maioria dos estudos concentra-se em regiões ao longo das margens dos principais afluentes do rio Amazonas ou em localidades mais bem servidas pela malha rodoviária. Foram encontradas 29 localidades inventariadas para anfíbios na Amazônia brasileira. Deste total, apenas 13 apresentaram mais de 2 meses de duração. Isso significa que a Amazônia é um grande vazio em termos do conhecimento sobre os anfíbios e muito ainda há que ser feito. O número total de espécies de répteis no mundo é estimado em 6.000, sendo próximo de 240 espécies o número de espécies identificadas para a Amazônia brasileira, muitas das quais restritas à Amazônia ou a parte dela. Mais da metade dessas espécies são de cobras, e o segundo maior grupo é o dos lagartos. Embora já se

tenha uma visão geral das espécies que compõem a fauna de répteis da Amazônia, certamente ainda existem espécies não descritas pela ciência. Além disso, o nível de informação em termos da distribuição das espécies, informações sobre o ambiente onde vivem, aspectos de reprodução e outros ligados à biologia do animal, assim como sobre a relação filogenética (de parentesco) entre as espécies é ainda baixo. As aves constituem um dos grupos mais bem estudados entre os vertebrados, com número de espécies estimado em 9.700 no mundo. Na Amazônia, há mais de 1000 espécies, das quais 283 possuem distribuição restrita ou são muito raras. A Amazônia é a terra dos grandes Cracidae (mutuns), Tinamidae (inhambus), Psittacidae (araras, papagaios, periquitos), Ramphastidae (tucanos e araçaris) e muitos Passeriformes como por exemplo, os Formicariidae, Pipridae e Cotingidae. O número total de mamíferos existentes no mundo é estimado em 4.650. Na Amazônia, são registradas atualmente 311 espécies. Os quirópteros e os roedores são os grupos com maior número de espécies. Mesmo sendo o grupo de mamíferos mais bem conhecido da Amazônia, nos últimos anos várias espécies de primatas tem sido descobertas, inclusive o sagüi-anão-da-coroa-preta, e o sauim-de-cara-branca, Callithrix saterei. REVISTA AMAZÔNIA 27


Variedades de sabores e cores dos frutos da Amazônia na Copa Ao menos 15 frutos nativos estarão na safra neste mês de junho. População e visitantes poderão apreciar açaí, araçá-boi, bacuri-de-espinho, biribá, cubiu, maracujá-do-mato e tucumã por Cimone Barros* Fotos: Afonso Rabelo e Divulgação

A

çaí, cupuaçu, castanha-do-Brasil, guaraná e as delícias preparadas com essas frutas já conquistaram o Brasil e algumas partes do mundo. Mas ainda há muitas outras frutas saborosas e nutritivas, como buriti, cubiu, bacuri, mapati (uva da Amazônia), camu-camu (fruta com maior teor de vitamina C já analisada), araçá-boi, pupunha e tucumã que possuem alto valor agregado e que poderiam ser melhor aproveitadas neste ano de Copa do Mundo de Futebol. No Mundial de Futebol (12 de junho a 13 de julho), pelo menos 15 frutos nativos estarão no período de safra e disponíveis em forma in natura, de acordo com o engenheiro florestal e técnico da Coordenação de Biodiversidade do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), Afonso Rabelo. Os visitantes poderão conhecer as cores e sabores do açaí-do-Amazonas (Euterpe precatoria Mart.), açaí-do-Pará (Euterpe oleracea Mart.), araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh), Bacuri-de-espinho (Garcinia madruno (Kunth) Hammel), bacuri-do-igapó (Garcinia brasiliensis Mart.), biribá (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.), cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal), ingá-açu (Inga cinnamomea Spruce ex Benth.), ingá-cipó (Inga edulis var. edulis Mart.), Jatobá (Hymenaea courbaril L.), Jenipapo (Genipa americana L.), mari-mari (Cassia leiandra Benth.), sorvinha (Couma utilis (Mart.) Müll. Arg.), maracujá-do-mato (Passiflora nitida Kunth) e tucumã (Astrocaryum aculeatum G. Mey.). “Além desses, também têm os frutos industrializados, que são aqueles beneficiados pelas indústrias alimentícias, de bebidas, fitoterápicos e cosméticos”, disse Ra-

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Cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal)

belo, que é autor do livro Frutos Nativos da Amazônia comercializados nas feiras de Manaus-AM, no qual descreve 38 frutos comercializados em dez feiras da capital amazonense. Na floresta amazônica existem aproximadamente 250 espécies com frutos comestíveis, entre fruteiras nativas e palmeiras. As frutas são uma aliada importante quando se trata de alimentação saudável, sendo ricas em vitaminas, sais minerais, gorduras do bem e outros nutrientes que contribuem para o bom funcionamento do corpo. Nos últimos anos, restaurantes e bares maiores passaram a incorporar os alimentos regionais e nativos nos cardápios, como peixes (tambaqui, pirarucu), ervas, temperos (pimenta murupi, jambu) e frutos (açaí, castanha-do-Brasil, cupuaçu, tucumã, banana pacovã, araçá-boi, bacuri). Esses últimos ganham cada vez mais mercado nas empresas de chocolates, em forma de geleias, trufas, bombons, panetones e licores, por exemplo. Além do desconhecimento das potencialidades agroindustriais e gastronômicas de certos frutos nativos, empresários do setor de alimentos e bebidas afirmam que têm problemas quando se trata de escala de produção, de encontrar produtos dentro dos padrões de higiene (tucumã minimamente processado ou em lascas) e de preço. Há dificuldade de acessar diretamente o produtor. De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-AM), Lilian Guedes, após o sorteio das seleções que virão jogar em Manaus na Copa (Inglaterra X Itália, Camarões X Croácia, Estados Unidos X Portugal, Honduras e Suíça), o setor ficou mais animado, porém, para os grupos de pacotes oficiais que visitarão a cidade não há muitas perspectivas para se incluir o cardápio regional, além do trivial. “O turista estrangeiro até prova o regional, mas muitos têm medo de comer”, revelou. Muitos frutos amazônicos substituem facilmente em valores nutricionais as frutas exóticas (que não são originárias da região). “O cubiu em termos nutricionais corresponde à maçã, mas em termos de sabor e preparações

substitui o tomate, podendo ser usado assado juntamente ao peixe. Já açaí e mapati correspondem à uva roxa ou preta, pois tem antocianina”, explicou a pesquisadora do Inpa, a nutricionista Dionísia Nagahama.

Incentivo Como centro de excelência no estudo da biodiversidade, dos ecossistemas amazônicos e um dos mais importantes centros de pesquisas de biologia tropical do planeta, o Inpa trabalha desde a década de 1980 várias pesquisas utilizando frutos nativos. Os estudos vão da área da botânica, passando pelos aspectos agronômicos, nutricionais, medicinais e econômicos até o desenvolvimento de produtos. Entre os produtos e processos patenteados pelo Inpa está “um mix a base de pupunha e bacuri”, como a pupurola (a granola de pupunha), bebida fermentada de pupunha, sabonete sólido e sabonete líquido à base de óleo de pupunha e buriti, creme antioxidante à base de óleo

Araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh)

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de pupunha, emulsão evanescente à base de óleo de punha e buriti e a farinha integral de pupunha. Parte das tecnologias de produtos e processos patenteados pelo Inpa é transferida para empresas de base tecnológica incubadas pelo próprio Instituto, gerando negócios inovadores que têm como base o desenvolvimento sustentável. Esse é o caso da farinha integral de pupunha desenvolvida pela equipe científica da pesquisadora Jerusa de Souza Andrade e com tecnologia transferida em 2011 para Nectar Frutos da Amazônia, uma das sete empresas incubadas pelo Inpa. A expectativa é lançar o produto (rico em vitamina A e que serve tanto como suplemento nutricional quanto ingredientes para receitas culinárias) para o mercado em fevereiro. De acordo com a coordenadora de extensão tecnológica do Inpa, Rosângela Bentes, o Inpa vem trabalhando para estimular e fomentar a inovação em seus diversos aspectos, seja na identificação de projetos internos, por

demandas tecnológicas provenientes do mercado para solucionar questões pontuais de empresa e indústria, seja no estímulo à criação de empresas para desenvolvimento do produto e novos negócios tecnológico. “Estamos buscando, assim, promover a transferência de tecnologia para as empresas fazendo a interface da Instituição com a iniciativa privada e esta com a sociedade”, destacou. Atualmente o Inpa possui 69 pedidos de patente, 115 produtos e processos registrados. A essência das tecTucumã (Astrocaryum aculeatum G. Mey.)

Bacuri-de-espinho (Garcinia madruno (Kunth) Hammel)

Mari-mari (Cassia leiandra Benth.)

nologias do Instituto é basicamente de processo (27%), produto (27%) e produto e processo (25%). Os resultados dessas pesquisas também podem ser encontrados em formas de banners, folders, cartilhas e livros, além dos eventos. Esses materiais estão disponíveis no Inpa consultas. “Porém, para que as pessoas possam consumir os frutos nativos é necessário primeiro conhecer”, disse Rabelo.

Mercado Maracujá-do-mato (Passiflora nitida Kunth)

No premiado restaurante de Manaus, Banzeiro cozinha amazônica, os frutos nativos campeões de venda são a banana pacovã – servida em vários pratos quentes (salgados) e em sobremesas - e o cupuaçu, apreciado principalmente em forma de geleia com a pimenta murupi. Mas outros frutos também constam no cardápio, como castanha-do-Brasil, taperebá, graviola, açaí e tucumã Bacuri-do-igapó (Garcinia brasiliensis Mart.)

Biribá (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.) 30 REVISTA AMAZÔNIA

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(versão farofa e sorvete). “Em breve, colocarei no cardápio cubiu, bacuri e pupunha. Mas como esses ingredientes são sazonais, é preciso respeitá-los e ter somente na temporada, até porque temos problema de fornecimento de produtos regionais”, disse o chef do Banzeiro, Felipe Schaedler, catarinense radicado no Amazonas que já ganhou vários prêmios pela Veja Manaus como melhor restaurante (2011, 2012, 2013) e chef do ano (2011, 2012, 2013). No Careiro (a 88 quilômetros de Manaus), a agroindústria Cupuama trabalha com cerca de 100 toneladas de polpas de 17 frutas por ano – entre elas abacaxi, araçá-boi, açaí, acerola, bacuri, camu-camu e cubiu – e cerca de 50t de semente de cupuaçu. As amêndoas são aproveitadas de diversas formas para elaboração de óleo e manteiga para indústria de cosméticos, ração animal (peixe e carneiro), chocolate em pó (Cupulate) e chocolate em barra (Cupumax), em fase de elaboração com expectativa de ser lançado durante a Copa. Para a utilização do camu-camu e a produção do ingrediente para a ração de peixe, a empresa contou com o apoio do Inpa. Por três anos, a Cupuama exportou camu-camu (rico em aminoácidos, flavonóides e principalmente vitamina C) para uma indústria alimentícia do Japão, porém com a crise financeira mundial de 2008/2009 o fornecimento cessou. “A população está consumindo muito mais frutas regionais seja como alimento seja como cosméticos, mas é preciso melhorar a produção. Nós não crescemos mais porque temos esse limitador”, ressaltou a empresária Fátima Sales.

Ingá-açu (Inga cinnamomea Spruce ex Benth.)

Ingá-cipó (Inga edulis var. edulis Mart.)

Sorvinha (Couma utilis (Mart.) Müll. Arg.)

Jenipapo (Genipa americana L.)

Jatobá (Hymenaea courbaril L.)

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Castanheira-do-brasil: importância da espécie para a região amazônica por Marília Locatelli * Fotos: Daniel Medeiros, Rui Peruquetti e Kadijah Suleiman

Castanheira Bertholletia excelsa

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castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa H.B.K.) é espécie nativa da região amazônica brasileira, ocorrendo também em outros países da América Latina, a saber: Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia e Guianas. Espécie florestal de grande porte, que pode alcançar até 50 m de altura e 2 m de diâmetro na base, ocorre em terras firmes que apresentam solo argiloso ou argilo-arenoso, mas sua maior ocorrência é em solos de textura média a pesada (solos mais argilosos). Dados provenientes de áreas de plantio têm mostrado que a espécie exibe bom crescimento em altura e diâmetro ainda que em solos de baixa fertilidade, que apresentam pH ácido, baixos valores de saturação de bases (V%) que é a quantidade de nutrientes como cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K) presentes no solo comparados com o hidrogênio-H (responsável pela acidez) e Alumínio-Al (tóxico), solo distrófico (porcentagem de saturação por bases (V) inferior a 50%, caracterizando solos de fertilidade média ou baixa), baixa capacidade de troca de cátions (CTC) que corresponde ao total de cargas negativas que o solo apresenta, responsável por segurar os nutrientes no solo, como Ca, Mg, K e altíssimos valores de saturação de alumínio (para a maioria

das culturas esse elemento químico é tóxico, não sendo um nutriente). Em plantio efetuado em Machadinho do Oeste, estado de Rondônia, foram encontrados os seguintes dados médios de altura comercial, DAP (diâmetro a 1,30 m do

solo) e volume comercial por árvore aos 272 meses (22,6 anos) após plantio: 18,6 m, 53,7 cm, 2,96 m3, respectivamente. A castanheira é importante devido à produção de frutos chamados ouriços, cujas sementes têm alto valor nutri-

Ouriços 32 REVISTA AMAZÔNIA

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Também conhecida como castanha-do-brasil, juviá, touca, tucá, tocari,..., é a famosíssima Castanhado-Pará

tivo podendo ser consumidas “in natura” ou misturadas com outros alimentos. As amêndoas são vendidas nos mercados nacional e internacional. Levando em conta o valor dessa espécie e seu crescimento, ela é uma importante opção para cultivo em áreas de plantio na Amazônia, tanto em sistemas agroflorestais, como em monocultivo, sobretudo como alternativa para reposição florestal. Outra finalidade, quando em áreas de plantio, é a madeireira. Pode ser indicada para construção civil interna leve, painéis decorativos, tábuas para assoalhos e uso geral, juntas coladas, encaixadas, fabricação de embalagens, etc. Vale lembrar que a exploração de exemplares nativos para madeira é proibida por lei.

no corte final deve ser próximo de 160 árvores por hectare. Estima-se que os desbastes ocorram no 8º, 15º e 20º ano. Em sistemas consorciados com culturas perenes e/ou semi-perenes, o espaçamento indicado pode ser de

12 m x 12 m correspondendo a 69 plantas/ha. O período de coleta de sementes em Rondônia ocorre nos meses de dezembro a março. É importante, quando da produção de mudas, utilizar sementes oriundas de

Produção Em castanhais nativos, a produção começa do 12º ao 14º ano de idade e a produtividade média, em castanhais com mais de 50 anos, varia de 16 a 55 latas por árvore. Em plantios experimentais, a planta tem alcançado início de produção no 11º ano. Deve-se ter em conta o objetivo do plantio para definir espaçamento entre plantas. Se a finalidade for produção de madeira, a densidade inicial deve ser de 4 m x 4 m, com desbastes baseados em avaliações periódicas a serem realizados quando o plantio entrar em competição, tendo como meta que o número de árvores a ser retirado revistaamazonia.com.br

Flores da castanheirado-brasil, com pétalas brancas ou esbranquiçadas REVISTA AMAZÔNIA 33


Ouriços quase maduros

matrizes produtivas que apresentem sementes grandes e largas, utilizando-as logo após a coleta. Devem-se usar sementes que não tenham perdido a umidade, pois o poder germinativo decai rapidamente. O processo de produção de mudas exige a retirada do tegumento, que deve ser feito de acordo com prática já testada anteriormente, sendo que todas as informações necessárias estão disponíveis em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Castanha/ CultivodaCastanhadoBrasilRO/mudas.htm Como o tempo de produção das mudas, entre a semeadura das sementes e o plantio no campo é demorado, por volta de 12 meses, recomenda-se o planejamento antecipado do cultivo.

Ouriço e sementes

[*] Pesquisadora da Embrapa Rondônia e-mail marilia.locatelli@embrapa.br

Castanha-do-Pará, recentemente rebatizada Castanha-do- Brasil ou ainda Brasil Nut, é uma árvore de grande porte, cujo fruto (ouriço) contém a castanha, que é sua semente 34 REVISTA AMAZÔNIA

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Jambu: Suas folhas e caules são bastante utilizados na culinária para o preparo de pratos típicos como o tacacá e o pato no tucupi

Engenheira química extrai composto bioativo do jambu Substância é rica em propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias por Silvio Anunciação

Fotos: Antoninho Perri

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engenheira química Suzara Santos Costa conseguiu extrair do jambu (Acmella oleracea) – hortaliça típica da região norte do país – um óleo essencial, rico em propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias. O composto obtido é abundante em espilantol, substância bioativa bastante versátil, com potencial para aplicações nas indústrias farmacêutica, cosmética e de higiene pessoal. O espilantol, extraído a partir das flores, folhas e caule do jambu, foi obtido com alto grau de pureza, em torno de 98%. O tempo máximo do processo não passou de 30 minutos. Para chegar a estes resultados, a pesquisadora da Unicamp empregou a tecnologia de micro-ondas associada ao processo de extração.

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“Os resultados foram bastante promissores. Por meio da extração associada com micro-ondas, tivemos um bom rendimento de espilantol, equivalente ao reportado na literatura. O processo consumiu um tempo bem inferior ao já relatado. Nos métodos convencionais, a extração do espilantol pode chegar até 12 horas. Outro aspecto relevante é em relação à quantidade de solvente utilizado, que também foi bem inferior. Em alguns casos atingiu valores até treze vezes menores do que é empregado nas tecnologias convencionais”, compara Suzara Costa. Atualmente o jambu tem despertado o interesse de pesquisadores, empresas nacionais e multinacionais devido às propriedades promissoras do seu extrato, situa a estudiosa da Unicamp. Ela explica que, além das funções antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias, a planta possui atividades ovicida e larvicida contra mosquitos Aedes aegypti e Anopheles culicifacies. “Todas essas propriedades da planta são atribuídas aos diferentes

A engenheira química Suzara Santos Costa, autora da Tese de Doutorado

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Flores, folhas e caules de jambu. Armazenamento do material no laboratório

componentes do óleo essencial do jambu, mas, principalmente ao espilantol, que é um composto não disponível comercialmente”, revela. Os seus estudos integraram doutorado conduzido junto ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. Uma parte dos experimentos foi realizada na McGill University, no Canadá, por meio de doutorado sanduíche entre as duas instituições. No Brasil, Suzara Costa foi orientada pela docente Sandra Cristina dos Santos Rocha, que atua no Departamento de Engenharia de Processos da FEQ. No Canadá, ela foi supervisionada pelo professor Vijaya Raghavan, do Departament of Bioresource Engineering, da Faculty of Agricultural and Environmental Sciences da McGill University, no campus de Ste-Anne-de-Bellevue, província de Québec. As pesquisas receberam financiamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da agência de fomento à pesquisa do governo canadense, a The Natural Sciences and Engineering Research Council of Canada (NSERC).

Tecnologia incipiente no Brasil A tecnologia de micro-ondas associada à extração de ingredientes ativos é bastante nova e incipiente, principalmente no Brasil, reconhece a pesquisadora da FEQ. Por isso, neste momento, a obtenção do espilantol a partir deste processo necessita de uma avaliação em termos de custos e também de gasto energético, admite. “Realmente são poucos os centros de pesquisa que trabalham com micro-ondas no país, e esse número diminui quando se associa essa tecnologia à extração de compostos bioativos. Por falta de equipamentos, acaba sendo uma tecnologia cara no Brasil. No Canadá, por

exemplo, há uma expertise nesta área, o que a torna mais acessível”, contrasta. Suzara Costa explica que as micro-ondas (ondas eletromagnéticas) atuam nas moléculas de água durante o processo de extração do composto. A água presente no interior da planta absorve a energia de micro-ondas e começa a se aquecer, aumentando a pressão de vapor dentro da estrutura celular. Com o superaquecimento, a célula se rompe, permitindo a extração da substância desejada por meio do uso de um solvente compatível, que consegue penetrar a matriz sólida com mais facilidade e solubilizar o óleo. A principal diferença entre o uso das micro-ondas para as técnicas convencionais que empregam outras fontes de calor é o seu mecanismo de aquecimento, que ocorre de dentro para fora (aquecimento volumétrico). Isso viabiliza um menor tempo de aquecimento da matéria-prima e, consequentemente, uma diminuição na degradação

Filtração à vácuo. Extrato rico em espilantol

Equipamento que realiza o procedimento de evaporação do solvente revistaamazonia.com.br

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dos compostos químicos presentes nos óleos essenciais, que é ocasionada, muitas vezes, por longos intervalos de tempo de processo. “A extração assistida por micro-ondas é uma técnica de irradiação que tem revelado excelentes resultados em termos de desempenho do processo. O sistema de aquecimento fornece energia suficiente para romper as estruturas celulares, melhorando a introdução do solvente na matriz e aumentando o rendimento do processo”, confirma a engenheira química.

Jambu Espécie típica de grande ocorrência na Amazônia, notadamente no estado do Pará, o jambu é uma planta herbácea, geralmente rasteira com folhas pequenas e flores amarelas. É popularmente conhecido como agrião-do-Pará, agrião-do-norte, jambuaçú, botão-de-ouro e agrião-bravo. Suas folhas e caules são bastante utilizados na culinária para o preparo de pratos típicos como o tacacá e o pato no tucupi. Natural de Belém, do Estado do Pará, Suzara Costa lembra que a planta, típica da sua região, sempre despertava o seu interesse, sobretudo pela característica do sabor “picante” que causa um leve efeito anestésico na língua. “O jambu me chamou atenção devido às propriedades do seu óleo. Utilizamos as folhas e o caule no nosso Estado para a alimentação, em saladas ou pratos típicos. A planta dá uma sensação de leve formigamento na boca, como se fosse um anestésico. Analisando alguns trabalhos que tinham sido realizados, eu descobri que isso acontecia devido a um componente químico presente no óleo e que ele era extremamente versátil”, conta. A partir dessa descoberta, a engenheira química graduada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) decidiu focar os seus projetos em pesquisas relacionadas ao jambu.

Técnica Cromatografia em Camada Delgada. Procedimento necessário para a obtenção do principal ingrediente ativo do óleo essencial na forma sólida Suzara durante procedimento experimental de extração

No entanto, o início do doutorado teve que ser realizado utilizando outra matéria-prima, a hortelã, devido à facilidade e disponibilidade desse material, tanto na região sudeste como no Canadá. “O jambu não é encontrado em mercados da região de Campinas e existia uma dificuldade muito grande de trazer a planta ‘in natura’ do Pará. Por isso, os experimentos iniciais do doutorado foram realizados com a hortelã. No entanto, após a mudança para o Canadá, houve a viabilidade de cultivar o jambu naquele país graças à comercialização, por lá, de suas sementes. Assim, eu plantei o jambu e após 90 dias a planta foi coletada para posterior utilização nos experimentos com micro-ondas”, recorda-se. Autora da Tese: Suzara Santos Costa, com Título: Extração de espilantol assistida por micro-ondas a partir de flores, folhas e caules de Jambu (Acmella oleracea (L.) R. K. Jansen), com Orientação de: Sandra Cristina dos Santos Rocha. Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ). Financiamento: Capes, CNPq e NSERC

No dia da defesa da tese do Doutorado. Da esquerda para a direita: Dra. Nádia Rosa Pereira, Dr. Osvaldir Pereira Taranto, Dr. Vijaya Grama Seetharamiengar Raghavan, Dra. Sandra Cristina dos Santos Rocha, Dra. Suzara Santos Costa e Dr. Cesar Augusto Agurto Lescano

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50 ANOS

10 SEGUNDOS

A ÁRVORE LEVOU 50 ANOS PARA CRESCER. O HOMEM SÓ PRECISA DE 10 SEGUNDOS PARA DERRUBAR. A NATUREZA JÁ COMEÇOU EM DESVANTAGEM. PRESERVE E AJUDE A EQUILIBRAR ESSE CENÁRIO.

Imagem cedida pelo Grupo Keystone.

5 DE JUNHO. DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.

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O livro das proteínas humanas

Mais de 30 mil proteínas foram identificadas por uma das duas equipes. Surpresas: 193 proteínas eram mesmo desconhecidas e cerca de 2000, que teoricamente existiriam, não se encontram. por Teresa Firmino Fotos: Corinne Sandone, Marc A. Elsliger e Akhilesh Pandey

Uma interpretação artística do projeto proteoma humano

O

maravilhosamente complexo livro da vida humana continua a ser submetido a novas leituras, cada vez mais refinadas. Primeiro, em 2003, o genoma humano foi descodificado letra a letra, tendo-se determinado, ao longo da molécula de DNA, a sequência de todas as quatro “letras” com que está escrito. Depois, passou-se para a leitura das proteínas fabricadas no corpo humano, seguindo as instruções dos genes. É este catálogo das proteínas humanas — o proteoma humano — que duas equipes de cientistas apresentam, dizendo que é o mais completo até ao momento e que pode impulsionar a investigação biomédica. A molécula de DNA é composta por quatro pequenas moléculas — ou “letras”, conhecidas pelas iniciais A, T, C, G — e é com elas que o livro da vida humana (e de toda a vida) é escrito. No caso dos seres humanos, o DNA tem cerca de 3000 milhões de pares de moléculas (diz-se “pares”, porque, na molécula de DNA em forma de dupla hélice, o A emparelha sempre com o T e o C com o G). Se fosse imprensa em papel, a sequência das quatro “letras” do DNA humano encheria 750 milhões de folhas A4. Ora determinadas sequências das letras do genoma compõem os genes, que por sua vez são instruções de fabrico das proteínas que constituem as células, os tecidos, os órgãos ou, resumindo, o nosso corpo. Muitíssimas outras sequências de letras não contêm o código de fabrico de proteínas — mas já se sabe que têm, por exemplo, um papel importante na regulação dos próprios genes,

A equipe de Akhilesh Pandey, da Universidade Johns Hopkins (EUA) e do Instituto de Bioinformática em Bangalore (Índia), identificou 30.057 proteínas 40 REVISTA AMAZÔNIA

ligando-os e desligando-os conforme o tipo de células. Estas sequências genéticas são designadas pelos cientistas por “DNA não codificante”. Aprofundando agora o olhar sobre o genoma humano, mais concretamente sobre os seus produtos, as duas equipes procuraram exaustivamente proteínas do corpo humano, aplicando a técnica da espectrometria de mas-

sa a amostras de diversos tecidos saudáveis (do coração, pâncreas, fígado, pulmões, cérebro, próstata, testículos, ovários, rins, vesícula ou do cólon e reto). Resultado, a equipe de Akhilesh Pandey, da Universidade Johns Hopkins (EUA) e do Instituto de Bioinformática em Bangalore (Índia), identificou 30.057 proteínas. E, no caso 17.294 genes, conseguiu estabelecer uma relação revistaamazonia.com.br


A equipe de Bernhard Küster, da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, identificou proteínas originadas por 18.097 genes

com proteínas codificadas por esses genes — o que representa cerca de 84% do genoma humano que se pensa conter as instruções de produção de proteínas. Já a equipe de Bernhard Küster, da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, identificou proteínas originadas por 18.097 genes.

Surpresas entusiasmantes Uma das surpresas é relatada pela Akhilesh Pandey, que analisou 30 tipos de tecidos e células, tanto de adultos como de fetos e de células precursoras do sangue: 193 proteínas eram totalmente desconhecidas até agora e, além disso, têm origem em regiões do genoma supostamente não codificantes. “Este é o resultado mais entusiasmante do estudo, ao permitir a descoberta de mais complexidades no genoma”, frisa Akhilesh Pandey, em comunicado da Universidade Johns Hopkins. “O fato de 193 proteínas virem de sequências de DNA que se pensava serem não codificantes significa que não compreendemos completamente como é que as células lêem o DNA, porque é claro que essas sequências codificam proteínas.” Também a equipe de Bernhard Küster diz, em comunicado da sua universidade alemã, ter ficado “surpreendida ao descobrir centenas de fragmentos de proteínas codificados por DNA fora dos genes atualmente conhecidos”. “Estas novas proteínas poderão ter novas propriedades e funções biológicas, cuja relevância está por compreender”, lê-se ainda no comunicado. Mas a equipe alemã, que analisou proteínas de 27 tecidos e fluidos corporais, teve ainda outra surpresa: não conseguiu localizar cerca de 2000 proteínas que, segundo os dados da sequenciação do genoma humano, em particular das regiões ditas codificantes, deveriam teoricamente existir. Talvez algumas destas proteínas “desaparecidas” existam apenas durante o desenvolvimento embrionário, uma hipótese que é colocada. Pode também dar-se o caso de muitos genes identificados que deveriam estar envolvidos na produção dessas proteínas terem deixado de ser funcionais — por exemplo, genes ligados ao olfacto, um sentido que se tornou menos crucial para a sobrevivência da nossa espécie à medida que revistaamazonia.com.br

O Mapa do Proteoma humano ( HPM ) é um recurso interativo para a comunidade científica , integrando a enorme resultado seqüenciamento peptídeo do projeto de mapa do projeto proteoma humano. O projeto foi baseado em LC-MS/MS, utilizando de alta resolução e alta precisão Fourier transformar espectrometria de massa. Todos os dados de espectrometria de massa, incluindo precursores e fragmentos HCD - derivados foram adquiridos nos analisadores de massa Orbitrap no modo alto-alto. Atualmente, o HPM contém evidência direta da tradução de uma série de produtos de proteínas derivadas de mais de 17.000 genes humanos cobrindo > 84% dos genes codificadores de proteínas anotadas em humanos com base em > 290 mil identificações de peptídeos não-redundantes de órgãos múltiplos/tecidos e células tipos de indivíduos com tecidos saudáveis clinicamente definidos. Isto inclui 17 tecidos adultos, 6 células hematopoiéticas primárias e 7 tecidos fetais.

fomos evoluindo. “Podemos estar aqui vendo a evolução em ação. O organismo humano desativa genes supérfluos e, ao mesmo tempo, testa protótipos de novos genes”, diz Bernhard Küster, acrescentando que por essa razão poderemos nunca saber o número exato de proteínas que temos no corpo. Seja como for, ambas as equipes contribuíram para o catálogo mais completo do proteoma humano, disponibilizando os seus resultados em bases de dados de acesso livre, indicando que proteínas se encontram em que tecidos e

células e em que quantidades. Como somos feitos de proteínas, espera-se que este inventário acelere a investigação biomédica nos mais variados aspectos, desde as doenças, a eficácia dos medicamentos até ao desenvolvimento de novos fármacos e testes de diagnósticos. “Podemos olhar para o corpo humano como uma biblioteca gigantesca”, diz Akhilesh Pandey. “Não tínhamos um catálogo abrangente com os títulos dos livros disponíveis e onde encontrá-los. Agora pensamos ter um bom primeiro rascunho desse catálogo.” Estruturas de várias proteínas

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O Pacto das Fotos: Laercio Miranda/ Pacto das Águas

O

Pacto das Águas, desenvolvido por uma Oscip de mesmo nome, é um projeto que apoia os povos indígenas e seringueiros em sua organização social, nos processos de capacitação e na estruturação do sistema de coleta, seleção, armazenamento e comercialização de castanha do Brasil. Além disso, fomenta processos de gestão territorial e geração de renda baseados no uso sustentável da floresta e no respeito às formas de organização social destes povos. O objetivo é articular uma rede de parceiros e agências financiadoras para a constituição de um programa regional de desenvolvimento sustentável, cabendo ao Pacto das Águas o apoio à gestão social e à assistência técnica para a estruturação do sistema de comercialização de 160 a 300 toneladas anuais de castanha e 25 ton. de borracha, envolvendo diretamente mais de 1.000 pessoas de cinco Terras Indígenas que abrangem em seu conjunto aproximadamente de 1,9 milhões de hectares nos estados de Rondônia e Mato Grosso além da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, em Mato Grosso. Tudo começou com apoio à estruturação da cadeia

produtiva da castanha-do-Brasil, atividade tradicional comum a dezenas de povos indígenas e que vinha perRitual indígena Zoró

dendo importância socioeconômica em meio à expansão da fronteira agropecuária na região. Depois, a iniciativa expandiu sua abrangência trabalhando com o extrativismo do látex da seringueira nativa, resgatando assim a dignidade dos grupos de seringueiros da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt.

Criança Rikbaktsa com amêndoas das castanhado-brasil, mais conhecida como Castanha do Pará. A atividade de manejo e comercialização da castanhado-Brasil foi pensada enquanto uma estratégia de conservação florestal e gestão territorial. 42 REVISTA AMAZÔNIA

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as Águas Outro foco do projeto que vem ganhando cada vez mais importância nos últimos anos tem sido o trabalho com os artesanatos indígenas, as chamadas joias da floresta, atraindo a participação maciça das mulheres, envolvendo-as nos processos participativos de gestão e organização comunitária.

Indígenas e agricultores familiares se unem no comércio de castanhado-Brasil A castanha-do-Brasil é uma espécie tradicionalmente conhecida e manejada pela maioria dos indígenas e seringueiros da região. Os povos que integram o programa são conhecedores da ecologia da planta, das técnicas de coleta, de armazenamento das sementes e das boas práticas de manejo da amêndoa da castanha e de seus subprodutos. Recentemente, o Povo Indígena Zoró, que vive no Noroeste de Mato Grosso e Sul de Rondônia, firmou uma parceria com a Cooperativa dos Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mutua – (Coocaram) para a

comercialização de 20 toneladas de castanha do Brasil in natura. Com apoio do Projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o preço pago à associação indígena foi R$ 3,50 o quilo, valor bem acima da média comercializada na região para esse período. As amêndoas produzidas pelos Zoró são consideradas uma das melhores de toda a Amazônia, graças a várias capacitações que receberam ao longo dos últimos anos como cuidados na coleta, secagem e armazenamento. Estruturas fornecidas pelo projeto Pacto das Águas e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) como barracões, mesas de secagem e até mesmo a instalação de um secador rotativo garantem a qualidade da castanha, que atraiu o interesse da cooperativa de agricultores familiares que atua em todo o estado rondoniense. “A comercialização beneficiou cerca de cem pessoas e foi realizada no final de fevereiro, época em que a oferta das amêndoas está aquecida, mas a demanda está em baixa, pois se concentra no período natalino, explica Sávio Gomes, articulador regional do projeto. Ao todo, os Zoró já coletaram cerca de 80 toneladas nes-

Mulheres Zoró, no processo de extração de castanha dos ouriços

ta safra, sendo que outras quinze foram comercializadas para uma empresa de São Paulo, com preço de R$ 4,00 o quilo. O restante está armazenado na sede da Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz), que paga R$ 3,00 o quilo para seus associados, tendo beneficiado, até o momento mais de 70 famílias. Além dos Zoró, e com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), o Pacto das Águas está apoiando a produção de outros povos indígenas nos estados de Rondônia e Mato Grosso como Gavião, Arara, Cinta-Larga e Rikbakt-

Capacitação também em manejo de seringueira nativa revistaamazonia.com.br

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Índios Zoró com castanhas certificadas no barracão da Associação

sa. Com apoio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, o projeto atua também as famílias que fazem parte da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt.

Látex da seringueira nativa

A reativação de seringais nativos é tanto uma estratégia de geração de renda a partir da conservação da floresta quanto de gestão ambiental e territorial

A seiva (ou látex) é retirada da seringueira (Hevea brasiliensis), para fazer botas, capas, bolas, flechas incendiárias, deter hemorragias, cicatrizar ferimentos e se proteger contra o frio. Foi por anos procurada para o desenvolvimento da indústria automobilística, entre outras aplicações. A extração do látex da seringueira é feita por “sangria”, uma técnica em que se corta a casca da árvore até os tecidos que contêm o látex. Com o látex é produzida a borracha natural, produto largamente utilizado na fabricação de pneus e câmaras de ar. Pneus de aviões possuem grande quantidade de borracha natural, assim

MATERIAIS ELÉTRICOS MATERIAIS HIDRÁULICOS AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

Av. Dr Freitas, 101

entre Pedro Alvares Cabral e Pass. 3 de Outubro 44 REVISTA AMAZÔNIA

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como artefatos leves de borracha como materiais esportivos, elétricos, calçados, tubos cirúrgicos, preservativos, e em grande número de manufaturados. A seringueira é uma árvore de grande porte, que pode atingir até 40 metros de altura, e está espalhada pelas florestas de toda a Amazônia.

Motivadas pelo artesanato, as mulheres Rikbaktsa criaram a sua associação enquanto estratégia para viabilizar parte de suas demandas

Joias da floresta A confecção de artesanatos indígenas, compõe um conjunto de práticas tradicionais que, mesmo com a demanda externa dos não indígenas, continua sendo essencial para a educação de jovens e faz parte da identidade cultural destes povos. As mulheres perceberam que os ornamentos elaborados para sua própria comunidade podem também ajudar na sustentabilidade ambiental e econômica de toda uma região. A estruturação da cadeia produtiva do artesanato é um instrumento de formação política com importante papel no empoderamento dos povos indígenas visando à conquista de autonomia. Por estes motivos, elas têm recebido cada vez mais apoio para organizar sua produção sem que isso impacte no ritmo e na sazonalidade dos recursos. Atualmente, algumas mulheres Rikbaktsa conseguem comercializar suas belas peças nos mercados de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. São anéis, colares, pulseiras e cintos feitos principalmente com tucum. O povo Zoró, por sua vez, comercializa cerâmicas, cestarias e joias.

Atuação O projeto abrange os municípios de Juina, Juara, Brasnorte e Cotriguaçu, na bacia do rio Juruena, principal formador do rio Tapajós, e os municípios de Rondolândia, Aripuanã e Colniza, na bacia do rio Aripuanã, um dos formadores da bacia do rio Madeira. As ações foram direcionadas para as Terras Indígenas Erikbaktsa, Japuíra, Escondido, do povo Rikbaktsa; para a Terra Indígena Zoró; e a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, abrangendo uma área aproximada de 880 mil hectares, onde vivem 2,5 mil pessoas. Povo Zoró durante ritual em sua aldeia

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Extrativistas da Resex Guariba-Roosevelt, em Mato Grosso, também participam do projeto Pacto das Águas

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Alertas do IPCC para o planeta É um chamado para a ação. “Sem reduções nas emissões, os impactos do aquecimento “podem ficar fora de controle”. Quebra na produção agrícola, menos água disponível nas regiões subtropicais e um maior risco de cheias nas zonas litorais são alguns dos alertas do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) Fotos: Neil Pederson Situação atual A Terra já está enfrentando impactos das alterações climáticas “em todos os continentes e nos oceanos”. Por exemplo, mudanças no padrão de chuvas e o derretimento da neve e do gelo estão já alterando o regime hidrológico. Na biodiversidade, também já se nota alteração na distribuição de algumas espécies. Há mais casos identificados de impactos negativos do que positivos sobre a agricultura.

Irreversibilidade Com apenas 1,0 ou 2,0 graus Celsius de aumento da temperatura global em relação aos níveis pré-industriais a Terra enfrentará “riscos consideráveis”. Com 4,0 graus de aumento ou mais, os riscos são “elevados ou muito elevados”, incluindo extinções de espécies, amplos impactos na segurança alimentar, e até o comprometimento da vida normal ao ar livre, em algumas regiões, devido ao calor e à humidade.

Alimentação É um dos grande alertas: a produtividade agrícola, a nível mundial, pode cair até 2% por década ao longo deste século. Mas o consumo de alimentos poderá subir 14% por década, pelo menos até 2050. Com apenas um grau Celsius a mais do que os níveis pré-industriais, haverá perdas nas culturas de trigo, arroz e milho nas regiões tropicais e temperadas. Em outras zonas do Globo, pode haver ganhos. Água Haverá menos água disponível nas regiões secas subtropicais, porém mais nas altas latitudes. Num cenário com uma população mundial 7% maior do que a de hoje, por cada grau a mais no termômetro global, haverá menos 20% de disponibilidade de água. A probabilidade de secas nas regiões mais áridas vai aumentar até ao final do século. Saúde As alterações climáticas vão “exacerbar os problemas de Saúde que já existem”. Exemplos: mortes e morbilidade devido às ondas de calor e fogos florestais, sub-nutrição devido à redução na produção de alimentos, maior risco de doenças transmissíveis por alimentos, águas ou insetos. Os efeitos positivos – menor mortalidade devido ao frio, por exemplo – são superados pelos negativos.

Jochen Flasbarth, ministro Alemão do Ambiente, Conservação da Natureza, Construção e Segurança Nuclear; Rajendra Pachauri, presidente do IPCC; Georg Schütte, ministro Alemão de Educação e Pesquisa, e Deon Terblanche, da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Rajendra Pachauri, destacou, em particular, a necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa, um fator “do qual dependerá aquilo que ocorrer em muitas partes do mundo nos próximos anos” 46 REVISTA AMAZÔNIA

Cheias Até 2100, centenas de milhões de pessoas estarão em risco de serem afetadas por cheias no litoral, a maior parte no Leste, Sudeste e Sul asiáticos. Nos próximos cem revistaamazonia.com.br


Na discussão, linha por linha do projeto de Resumo para formuladores de políticas do quinto relatório do IPCC Avaliação (AR5), ou seja, Mudanças Climáticas 2014: Mitigação das Mudanças Climáticas

anos, o número de pessoas expostas a uma cheia numa bacia hidrográfica será três vezes maior no pior cenário do IPCC (até 4,8 graus de aumento da temperatura), em comparação com o menos gravoso (até 1,7 graus). Oceanos A migração de espécies marinhas para as latitudes mais altas pode pôr em causa as pescas em algumas regiões, beneficiando outras. Nos cenários mais gravosos de aquecimento, a acidificação dos oceanos será um problema sério sobretudo para os ecossistemas polares e para os recifes de corais. Cidades As zonas urbanas são um “hotspot” de riscos: calor e chuvas extremos, cheias de rios ou costeiras, deslizamentos de terras, poluição do ar, secas, escassez de água. Os riscos serão mais graves nas zonas com deficientes infra-estruturas e má qualidade na construção.

Conflitos Os efeitos de um mundo mais quente poderão “indiretamente aumentar o risco de conflitos”, como guerras civis ou violênias entre grupos, ao amplificarem fatores como a pobreza ou choques econômicos. Também se prevê um aumento no risco de pessoas ficarem desalojadas, o que pode ter efeitos nas migrações, embora haja muitas incertezas sobre o impacto quantitativo das alterações climáticas neste caso Adaptação Estratégias de adaptação às alterações climáticas estão progressivamente sendo incorporadas nos processos de planetamento, nos setores público e privado, embora com implementação limitada. Medidas adotadas agora terão efeitos ao longo de todo o século. Conhecimento A literatura científica sobre os impactos e a adaptação às

Segundo Christhofer Field, os efeitos das mudanças climáticas podem gerar imigração. Até 15% das terras aráveis no mundo poderão ser perdidas, com 5 milhões de pessoas afetadas

Mudanças atribuídas para impactos observados

Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial , co-patrocinadora do painel de clima, disse que este relatório era “a evidência mais sólida em qualquer disciplina científica”, baseada em relatório de mais de 12.000 trabalhos científicos devidamente revisados

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Oceanos

alterações climáticos mais do que duplicou entre 2005 e 2010. Mas há uma distribuição geográfica desigual, com menos estudos nos países em desenvolvimento. O Café do Brasil O relatório, divulgado em Yokohama, no Japão, aponta que a combinação de altas temperaturas e escassez de recursos hídricos diminuiria consideravelmente o cultivo do grão nos principais Estados produtores no Brasil, como Minas Gerais e São Paulo. Nesses Estados, diz o IPCC, um aumento de 3ºC na temperatura global reduziria o potencial de cultivo das áreas destinadas ao plantio de café de 70-75% para 20-25%, enquanto que a produção em Goiás seria eliminada. Em São Paulo, que responde por 10% do total de café colhido no Brasil, o aquecimento global reduziria a produção em 60%, causando perdas equivalentes a US$ 300 milhões (R$ 680 milhões). Por outro lado, poderá haver um incremento de produção em regiões hoje mais frias, como Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, mas esse acréscimo não será capaz de compensar as perdas gerais da cultura’. Detalhes O relatório completo sobre os impactos da alteração climática, adaptação e vulnerabilidade da Terra, será divulgado no fim do ano. As outras edições foram apresentadas em 1990, 1995, 2001 e 2007. Para elaborar as avaliações, o IPCC divide-se em três Grupos de Trabalho (GTs). O GT I é responsável pela “Base Científica da Alteração Climática”, o II lida com “Impactos da Alteração Climática, Adaptação e Vulnerabilidade” e o III está a cargo de explicar a “Mitigação da Alteração Climática”.

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Conclusões O estudo (32 volumes, 2.610 páginas), considerado o mais amplo já divulgado pela ONU, deixa bem claro que não é apenas a natureza que está ameaçada, mas, também, a própria segurança da humanidade, porque a produção de alimentos vem sendo prejudicada. As mudanças climáticas agravam a escassez de comida e água e aumentam os riscos de migrações e até, indiretamente, de conflitos violentos. Ou seja, mudanças climáticas não podem mais ser vistas como um problema distante do nosso dia-a-dia. O relatório adverte que todas as nações,

A vegetação do sul da Amazônia tem um risco maior de mortalidade por causa da seca

inclusive as mais desenvolvidas, não escapam dos efeitos. As mudanças climáticas já estão interferindo nas sociedades, de acordo com o relatório do IPCC. Mais do que uma ameaça projetada no futuro, as alterações climáticas estão exprimindo através de cheias ou ondas de calor catastróficas, com custos humanos e econômicos incalculáveis. Mas será isso suficiente para a humanidade mudar?

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As zonas urbanas são um “hotspot” de riscos: calor e chuvas extremas, cheias de rios ou costeiras

Américas do Sul e Central

Bois e vacas caminham pela terra seca em um rancho nos arredores de Delano, vale central da Califórnia, em fevereiro de 2014. Ao invés dos campos de pastos verdejantes, o local virou um deserto por causa da falta de chuvas este ano revistaamazonia.com.br

As mudanças climáticas já estão interferindo nas sociedades, de acordo com o relatório REVISTA AMAZÔNIA 49


De acordo com os registros históricos, mesmo avançados, civilizações complexas são suscetíveis a entrar em colapso, levantando questões sobre a sustentabilidade da civilização moderna

A matemática, a sustentabilidade e as previsões catastróficas

T

odos os estudos convergem no diagnóstico do que é necessário fazer para atingir a sustentabilidade do desenvolvimento, embora com focagens e enfâses diversas a nível setorial e metodológico. A matemática é a linguagem da ciência e das suas múltiplas aplicações. Foi nos séculos XVI a XVIII que os pioneiros da ciência moderna teimaram em acreditar numa natureza inteligível cujas leis fundamentais se podem exprimir na linguagem abstrata da matemática. A partir dessa época a ciência e a tecnologia, por um lado, 50 REVISTA AMAZÔNIA

por Filipe D. Santos e a matemática e a matemática computacional, por outro lado, avançam em conjunto e fortalecem-se por meio de frutuosas interacções mútuas. Hoje em dia não há praticamente nenhum domínio da atividade humana que não beneficie do suporte indispensável das aplicações da matemática. As ciências sociais e humanas estão recorrendo progressivamente à estatística, à teoria das probabilidades, à teoria dos jogos, à matemática da otimização, aos sistemas dinâmicos e de um modo geral às equações diferenciais para simular o comportamento e a evolução dos sistemas socioeconômicos e socioecológicos.

Neste contexto, investigadores das Universidades de Maryland e Minnesota, desenvolveram um modelo matemático, HumAn and Nature DYnamical (Handy) Model, anteriormente utilizado pela NASA, para simular aspectos essenciais da evolução futura da humanidade. O modelo incorpora a relação dinâmica entre a população e a exploração dos recursos naturais através do modelo presa-predador, construído de forma independente por Alfred Lotka e Vitto Volterra nos anos de 1925 e 1926. Esta ideia tinha sido já explorada com sucesso por J. A. Brander e M. S. Taylor em 1998 para explicar o aumento revistaamazonia.com.br


O modelo matemático, HumAn and Nature DYnamical (Handy)

Economia Circular, centrada no aumento da eficiência no uso dos recursos e na reciclagem

histórico e o declínio acentuado da população na ilha da Páscoa no Pacífico. Hoje em dia não há praticamente nenhum domínio da atividade humana que não se beneficie do suporte indispensável das aplicações da matemática. A novidade do novo estudo está em terem utilizado mais duas equações diferenciais para simularem aspectos socioeconômicos e políticos, ou seja, o fato da acumulação revistaamazonia.com.br

da riqueza resultante da exploração de recursos naturais não estar distribuída uniformemente na sociedade e ser controlada por determinadas elites. Assim, uma sociedade pode estar menos estratificada, isto é, ser mais igualitária, ou estar mais estratificada e ser mais desigual. As quatro equações diferenciais relativas às quatro variáveis independentes – elites, não- elites, recursos naturais e riqueza acumulada – permitem estudar a evolução da tensão ecológica e da estratificação social e analisar os casos em que o sistema evolui para a sustentabilidade ou para o colapso. Apesar da sua simplicidade o modelo matemático é muito rico, pois permite estudar diferentes tipos de sociedades humanas com comportamentos e evoluções muito diversas. Uma conclusão importante destes estudos é mostrarem com grande clareza que se pode atingir a sustentabilidade, caso sejam satisfeitas simultaneamente duas condições: a taxa de utilização de recursos naturais não pode ultrapassar determinados limiares e a desigualdade na distribuição da riqueza, entre as elites e as não-elites, não pode ser superior a determinados valores. Note-se que a sustentabilidade pode ser atingida de forma relativamente suave ou por meio de grandes oscilações ou crises. Por outro lado, o colapso pode ser reversível ou irreversível. Um dos aspectos mais curiosos deste estudo foi o seu impacto imediato nas midias e nas redes sociais. Paira no ar a nível mundial uma leve mas persistente suspeita de que o caminho que globalmente estamos trilhando não é sustentável. Perante o artigo salientou-se quase exclusivamente a eventualidade do colapso inevitável e não a da sustentabilidade. Alguns interpretaram erroneamente que a NASA subscrevia a aproximação de um colapso civilizacional, postura que seria verdadeiramente escandalosa por parte de uma instituição pública. Imediatamente a NASA emitiu um comunicado a desmentir, embora reconhecendo que apoiou a construção do modelo Handy. Sem moderar à escala global o consumo de recursos naturais e diminuir as desigualdades sociais não é possível chegar a um equilíbrio de sustentabilidade para a

sociedade humana. Creio que o artigo vai originar uma nova fileira de investigação, porque permite fundamentar de forma cientificamente robusta as tentativas de prospectiva da enigmática evolução futura da sociedade humana globalizante, no contexto do atual paradigma do consumismo e de desigualdades sociais crescentes. No seu artigo os autores reconhecem algumas das limitações do modelo matemático utilizado e anunciam a intenção de as procurar ultrapassar. Há que distinguir no modelo entre recursos naturais renováveis e não renováveis, introduzir uma variável que simule a inovação tecnológica no que respeita ao acesso, eficiência de exploração e substituição de recursos, simular o efeito de políticas que modificam de forma ponderada e variável o consumo de recursos, os coeficiente de desigualdade social e de natalidade, e representar de forma acoplada as grandes regiões do mundo e as suas diferentes situações e políticas no que respeita ao consumo e comércio de commodities. Contudo, é muito improvável que as principais mensa-

Estudo financiado pela NASA REVISTA AMAZÔNIA 51


COLAPSO DA CIVILIZAÇÃO Estudo financiado pela NASA, com base em modelos de previsão, o projeto HumAn and Nature DYnamical (Handy) Model afirma que as civilizações são obrigados a entrar em colapso (colapso irreversível ) – o da nossa civilização atual seria iminente. O modelo leva em consideração algoritmos matemáticos, dados e flexões para assumir o destino do nosso mundo atual. Este modelo de computador afirma que com base nos fatores passados e atuais, há uma forte probabilidade de que o colapso de nossa civilização atual é iminente. E a razão para esta morte iminente gira em torno de maiores preocupações da nossa civilização, pois atualmente, altos níveis de estratificação econômica estão ligadas diretamente ao consumo excessivo de recursos: • População • Clima • Água • Agricultura • Energia A equação utilizada neste estudo é semelhante à matemática utilizados por Bill Gates como na conferência TED 4 anos atrás, onde ele explicou que , a fim de reduzir as emissões de dióxido de carbono a zero, muitos fatores precisam ser também trouxe agora o mais próximo possível de zero . O estudo desafia aqueles que argumentam que a tecnologia vai resolver esses desafios, aumentando a eficiência:

Inspirada por sistemas vivos, o conceito de economia circular é construído em torno de otimizar todo um sistema de recursos ou fluxos de materiais 52 REVISTA AMAZÔNIA

“A mudança tecnológica pode aumentar a eficiência da utilização de recursos, mas também tende a aumentar tanto o consumo de recursos per capita e a escala de extração de recursos, de modo que, os efeitos políticos ausentes, os aumentos no consumo, muitas vezes compensam o aumento da eficiência do uso de recursos. “ Aumento da produtividade na agricultura e na indústria ao longo dos últimos dois séculos vem de “aumentar (em vez de diminuir) transferência de recursos”, apesar dos ganhos de eficiência dramáticas durante o mesmo período. O modelo financiada pela NASA oferece uma chamada altamente credível para despertar os governos, empresas e negócios – e consumidores – a reconhecer que a situação atual não pode ser sustentada, e que a política e as mudanças estruturais são necessárias imediatamente.

gens do modelo mudem. Sem moderar à escala global o consumo de recursos naturais e diminuir as desigualdades sociais não é possível chegar a um equilíbrio de sustentabilidade para a sociedade humana. A vantagem do modelo matemático é procurar integrar de forma dinâmica todas as variáveis superando visões parciais que não integram essa dinâmica. O que se tem feito até agora é reunir os resultados de análises sectoriais que podem ser muito sofisticadas e procurar construir de forma não dinâmica uma visão da evolução do sistema global. Por esta via também se obtêm conclusões finais semelhantes do ponto de vista qualitativo. Estes estudos provêm não só de grupos de investigadores academicos que se debruçam há já bastante tempo sobre estes temas, mas também de organizações nacionais e internacionais públicas e privadas. Todos estes estudos convergem no diagnóstico do que é necessário fazer para atingir a sustentabilidade do desenvolvimento, embora com focagens e enfâses diversas a nível sectorial e metodológico. O problema está em passar da teoria à prática e pôr em marcha um programa global de desenvolvimento sustentável. Será isto possível de realizar? Que revistaamazonia.com.br


sucederá se não for? Um dos temas centrais da Conferência Rio+20 foi a economia verde, caracterizada por promover o bem-estar, combater as desigualdades sociais, reduzir os riscos ambientais e a escassez de recursos naturais. Recentemente os setores mais ligados à indústria e à economia têm promovido o conceito mais restrito de “economia circular” centrado no aumento da eficiência no uso dos recursos e na reciclagem. A razão desta viragem resulta de haver uma forte tendência de aumento do preço das commodities provocada por crescentes dificuldades de exploração e alguma escassez, iniciada no começo deste século.

lação crescente e, especialmente, de uma imensa classe média emergente nos países fora da OCDE. A McKinsey estima no relatório Resource Revolution que haverá mais 3000 milhões de consumidores da classe média em 2030. O desafio para manter o atual modelo de consumo no setor das commodities é enorme, mas no setor da energia e das suas externalidades ambientais a problemática torna-se ainda mais complexa. À escala global cerca de 80% das fontes primárias de energia são combustíveis fósseis cuja combustão lança grandes quantidades de CO2 para a atmosfera. Para alterar esta situação seria necessário um entendimento a nível internacional, mas nenhum país quer ceder porque todos estão erroneA indústria de resíduos e de recursos é o coração da economia circular

A National Academy of Sciences afirma que até 2 graus de aquecimento global, os ganhos e adaptação de rendimento das culturas, especialmente em altas latitudes, poderia equilibrar as perdas em regiões tropicais e outros. Além de 2 graus, os estudos sugerem um aumento nos preços dos alimentos. A McKinsey estima no relatório Resource Revolution que haverá mais 3000 milhões de consumidores da classe média em 2030. A figura acima mostra as variações na concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera durante os últimos 400 mil anos. A sustentabilidade – social, econômica e ambiental – está ao nosso alcance, mas para a atingir é necessário que cada um de nós tenha informação e conhecimento sobre os grandes desafios globais, reflita sobre eles e consequentemente mude o seu comportamento e ação. A preocupação é tal que, para animar, as grandes multinacionais afirmam que a escassez de recursos irá promover a terceira revolução industrial! Com o previsível aumento da população global até cerca de 9200 milhões em 2050, o crescimento anual da produtividade nos setores das hard commodities (bens extraídos ou minerados), das soft commodities (bens produzidos pela agricultura), da água e da energia, terá de ser muito maior do que na atualidade, para satisfazer a procura dessa popurevistaamazonia.com.br

amente convencidos de que perdem competitividade e a energia é o motor do atual paradigma de crescimento medido por meio do PIB. Mundialmente os subsídios governamentais para os combustíveis fósseis aumentaram de 311 em 2009 para 544 mil milhões de dólares em 2012. Cerca de 100 mil milhões de dólares são subsídios diretos aos produtores e o restante serve para baixar o preço de venda dos combustíveis aos consumidores, assegurando assim a “estabilidade política”, como acontece no Iran, Arábia Saudita, Rússia, Índia, China, Venezuela, entre outros países. As energias renováveis modernas representam apenas cerca de 5% das fontes primárias de energia e receberam em 2011 subsídios globais de 88 mil milhões de dólares. Elas são o caminho seguro para travar as alterações climáticas que a médio e longo prazo poderão pôr em risco a segurança alimentar (no sentido da disponibilidade de alimentos) em muitas regiões do mundo. A sustentabilidade – social, económica e ambiental – está ao nosso alcance, mas para a atingir é necessário que cada um de nós tenha informação e conhecimento sobre os grandes desafios globais, reflita sobre eles e consequentemente mude o seu comportamento e ação. Grandes multinacionais afirmam que a escassez de recursos irá promover a terceira revolução industrial

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Amazônia absorve mais gás carbônico do que emite Pesquisa mostra que floresta ajuda no combate ao aquecimento global. Enquanto árvores vivas absorvem CO2, árvores mortas emitem o gás Na Amazônia, árvores vivas e árvores mortas devolvem o gás para a atmosfera no período de sua decomposição

Fotos: NASA/JPL-Caltech

U

m estudo concluído da Agência Espacial Americana (Nasa) resolveu um longo debate a respeito do papel da floresta amazônica em relação ao aquecimento global. Pesquisadores se perguntavam se a floresta seria capaz de absorver uma quantidade maior de dióxido de carbono (CO2) do que ela emite naturalmente. A resposta obtida pela pesquisa da Nasa mostra que a Amazônia realmente ajuda a reduzir o aquecimento global. O CO2 é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que leva ao aumento da temperatura terrestre. Enquanto as árvores vivas absorvem o dióxido de carbono da atmosfera ao longo de seu crescimento, as árvores mortas devolvem o gás para a atmosfera no período de sua decomposição. A hipótese de que a floresta estaria emitindo mais gás do que absorvendo surgiu na década de 1990, quando se descobriu que enormes áreas da floresta costumam

A absorção de CO2 por árvores vivas superou a emissão por árvores mortas, indicando que o efeito geral da floresta é a absorção

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morrer devido a intensas tempestades. Antes do estudo da Nasa, medições desse balanço entre emissão e absorção do CO2 na floresta amazônica só tinham sido feitas em pequenas porções da floresta, o que tornava os resultados questionáveis. Para este estudo, a Nasa combinou técnicas de análise de imagens de satélite, medidas coletadas no local e outras tecnologias. A pesquisa concluiu que a emissão total de dióxido de carbono pela floresta durante um ano é de 1,9 bilhões de toneladas. Já a absorção foi estimada por meio de medidas do crescimento da floresta em diferentes cenários. De acordo com a Nasa, em todos os cenários, a absorção de CO2 por árvores vivas superou a emissão por árvores mortas, indicando que o efeito geral da floresta é a absorção. Uma das estratégias que tornou o levantamento possível foi o desenvolvimento de técnicas para identificar árvores mortas em imagens de sensoriamento remoto. Nas imagens de satélite, por exemplo, as árvores mortas

aparecem em cores diferentes em comparação às árvores vivas. O estudo, publicado na revista científica “Nature Communications”, foi liderado pelo pesquisador Fernando Espírito-Santo, da Nasa, e contou com a colaboração de pesquisadores de cinco países: Manuel Gloor, Michael Keller, Yadvinder Malhi, Sassan Saatchi, Bruce Nelson,

Dados de distúrbios florestais naturais na Bacia Amazônica

Raimundo C. Oliveira Junior, Cleuton Pereira, Jon Lloyd, Steve Frolking, Michael Palace, Yosio E. Shimabukuro, Valdete Duarte, Abel Monteagudo Mendoza, Gabriela López-González, Tim R. Baker, Ted R. Feldpausch, Roel J.W. Brienen, Gregory P. Asner e Doreen S. Boyd.

Distribuição espacial de grandes perturbações na Amazônia brasileira Crescimento de árvores no dossel da Floresta Nacional do Tapajós, no Brasil. A pesquisa da NASA mostra que a Amazônia realmente ajuda a reduzir o aquecimento global

Esta é uma imagem de radar da floresta amazônica na América do Sul tomada pela NASA Scatterometer (NSCAT ). A imagem de cores falsas está sendo usado por cientistas para identificar os tipos de vegetação na superfície. As áreas azuis e roxas são florestas tropicais e regiões verdes e amarelas são florestas e savanas . Montanhas e terras agrícolas degradadas mostram-se como negro revistaamazonia.com.br

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Taxa de acumulação de carbono em árvores aumenta continuamente com o tamanho da árvore Quanto mais velha a árvore, mais ela absorve dióxido de carbono (CO2) na atmosfera

A

s árvores grandes e maduras têm um importante papel para ajudar a regular a quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera, essa afirmativa está demonstrada em um recente artigo publicado na revista Nature. O estudo, baseado em medidas repetidas de 673.046 árvores individuais pertencentes a 403 espécies, algumas com mais de 80 anos, indica que nessas 403 tipos de árvores estudadas, são os espécimes mais velhos e, portanto, os maiores de cada espécie que crescem mais rápido e que, consequentemente, absorvem mais CO2. Os pesquisadores descobriram que a absorção de carbono das árvores aumenta continuamente com o seu tamanho, porque a área total da folha aumenta à medida que ela cresce. Isso permite que as árvores mais antigas e de maiores dimensões absorvam mais carbono da atmosfera.

Quanto mais velha a árvore, mais ela absorve dióxido de carbono (CO2) na atmosfera

Exemplo modelo se encaixa para as taxas de crescimento em massa de árvores 56 REVISTA AMAZÔNIA

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Vista aérea do dossel no norte da Amazônia a partir de uma aeronave

Os autores do estudo advertem, no entanto, que as florestas têm dinâmicas complexas: árvores de grande porte estão sujeitas a taxas de mortalidade mais elevadas do que as árvores mais novas; e o número de árvores em uma determinada área pode ser maior em uma floresta jovem. Ainda assim, fica evidente que as grandes árvores antigas são muito importantes, não só para a biodiversidade, mas também para a absorção e o armazenamento de carbono. “Em vez de abrandar ou cessar o crescimento e absorção de carbono , como anteriormente se pensava, a maioria das árvores mais antigas de florestas em todo o mundo , na verdade, crescer mais rápido , tendo -se mais carbono . Uma grande árvore pode colocar em peso equivalente a toda uma árvore pequena em um ano “ , disse o co- autor Dr. Richard Condit do Smithsonian Tropical Research Institute . “Este relatório não teria sido possível sem os registros de longo prazo de crescimento da árvore individual. Foi notável a forma como fomos capazes de examinar esta questão em um nível global, graças aos esforços sustentados de muitos programas e indivíduos “, acrescentou o co- autor Dr. Mark Harmon da Universidade Estadual do Oregon. “Já sabemos que as florestas antigas estocam mais carbono do que as florestas mais jovens”, explicou explicou Nathan Stephenson, um dos autores deste trabalho. “Este conhecimento vai nos permitir melhorar nossos modelos para prever como as mudanças climáticas e as florestas interagem”, ressaltou Nathan Stephenson. revistaamazonia.com.br

Taxas de crescimento de massa aérea das espécies em nosso conjunto de dados em comparação com E. e S. sempervirens regnans, dominantes. Para maior clareza, apenas as 58 espécies no nosso conjunto de dados que tem pelo menos uma árvore de Mg superior a 20 são mostradas (linhas). Os dados para E. regnans (pontos verdes, 15 árvores) e S. sempervirens (pontos vermelhos, 21 árvores) são de um estudo intensivo

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10 anos e um diâmetro mínimo. Na média, as árvores tinham 92 centímetros de diâmetro, mas as maiores chegaram a 2,7 metros. Para cada árvore se mediu o peso total em cada ano (estimado a partir da densidade da madeira e medidas de diâmetro dos troncos e galhos) e o quanto este peso havia aumentado a cada ano, durante o período de coleta de dados. Com esses dados foram feitos gráficos que relacionavam a quantidade de madeira nova produzida por árvore em função de seu tamanho. Os gráficos obtidos são extremamente claros. Quanto maior a árvore, mais ela cresce a cada ano. Somente 3% de todas as espécies de árvores analisadas param de crescer quando atingem um dado tamanho, as outra 97% continuam a crescer até morrer. Os seja, nas florestas nativas as árvores nunca param de crescer.

Resumo do modelo se encaixa para taxas: As barras mostram crescimento em massa de árvores mostrando a porcentagem de espécies com taxas de crescimento de massa que aumentam com a massa de árvore para cada caixa; o sombreado preto indica percentual significativo em P ≤ 0,05 As maiores árvores analisadas nesse estudo aumentam seu peso em 600 quilos durante um ano

Cerca de quarenta cientistas participaram deste estudo, que analisou os dados dos últimos 80 anos de 670.000 árvores de 403 espécies diferentes existentes em todos os continentes. Os autores do estudo advertem, no entanto, que as florestas têm dinâmicas complexas: árvores de grande porte estão sujeitas a taxas de mortalidade mais elevadas do que as árvores mais novas; e o número de árvores em uma determinada área pode ser maior em uma floresta jovem. Ainda assim, fica evidente que as grandes árvores antigas são muito importantes, não só para a biodiversidade, mas também para a absorção e o armazenamento de carbono.

Detalhes da atuação Para entrar no estudo as espécies de árvores tinham de ter no mínimo 40 exemplares medidos ao longo de 58 REVISTA AMAZÔNIA

Modelo encaixa as taxas de crescimento em massa para 381 espécies de árvores, por continente. Árvores com taxas de crescimento ≤ 0 foram descartados da análise, reduzindo o número de espécies de reuniões o tamanho da amostra limite para análise revistaamazonia.com.br


Florestas nativas

Na média, uma árvore com um tronco de 1 metro de diâmetro (medido a 1,4 metro do solo) “engorda” (ou aumenta de peso) 103 quilos a cada ano. Dependendo da espécie, esse valor poderia variar de 10 a 200 quilos. As maiores árvores analisadas nesse estudo aumentam seu peso em 600 quilos durante um ano. O trabalho contém tabelas que permitem estimar quanto uma árvore cresce por ano. Basta você medir o diâmetro do tronco e saber a que espécie ela pertence.

mazenam aproximadamente 300 bilhões de toneladas de carbono – cerca de 30 vezes o montante anual de emissões causadas pela queima de combustíveis fosseis. O problema é que, quando elas são degradadas ou destruídas, esse carbono é liberado na atmosfera. Para piorar, grande parte do desmatamento ocorre em florestas primárias, que contém essas árvores mais antigas.

Portanto, esse novo estudo evidencia o duplo golpe que o desmatamento causa para as florestas: ele não só libera carbono na atmosfera, contribuindo para os efeitos de mudança climática, como também remove uma superfície capaz de absorver as emissões de carbono da humanidade. Daí a importância de lutar para acabar com a destruição de nossas florestas.

Constatações As florestas nativas são um grande celeiro de carbono. Quando crescem, elas transformam gás carbônico em celulose, retirando gás carbônico da atmosfera (e, se forem queimadas, liberam grandes quantidades deste gás causador do efeito estufa). É por este motivo que é importante entender qual a contribuição de cada planta presente na floresta no processo de sequestro de carbono. Esse estudo demonstra pela primeira vez que a contribuição das árvores grandes é muito maior do que se imaginava. Em alguns casos, uma árvore com um tronco de 1 metro fixa a mesma quantidade de gás carbônico que uma dúzia de árvores de 30 centímetros de diâmetro.

O duplo golpe do desmatamento As florestas, além de serem ricas em biodiversidade e fornecerem serviços essenciais para o ecossistema, arrevistaamazonia.com.br

Taxas de crescimento de massa acima do solo para as espécies de árvores. 403, por continente a: África (Camarões, República Democrática do Congo); b: Ásia (China, Malásia, Taiwan, Tailândia); c: Australásia (Nova Zelândia); d: América Central e do Sul (Argentina, Colômbia, Panamá); e: Europa (Espanha); f: , América do Norte (EUA…)

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2014

Área urbanizada do planeta triplicou em 14 anos

A

superfície terrestre voltou a ser catalogada depois de um levantamento feito em 2000. Catorze anos depois, a versão atualizada é a mais detalhada de sempre sobre a forma como está distribuído o planeta. Conclusão: a área com construção humana triplicou e ocupa agora 0,6% da Terra, enquanto as zonas de cultivo e as cobertas por árvores diminuíram. A base de dados Global Land Cover SHARE, divulgada pela Organização para a Alimentação e Agricultura – FAO, das Nações Unidas, reuniu informação sobre toda a superfície terrestre recolhida através de imagens por satélite e da harmonização de definições e padrões internacionalmente aceites para a classificação da superfície terrestre. Até aqui, este processo era complexo, já que eram utilizados dados de países e organizações recolhidos através de processos com diferentes critérios de selecção de informação. “Pegamos nas melhores bases de dados disponíveis nacional e internacionalmente, criamos imagens de

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Global Land

E Cover SHAR

HARE) RE (GLC-S - 2014 d Cover SHA 1.0 Global Lan a-Release Version ati and Mario Bloise a Ros Bet database Renato Cumani, Ilari am,

John Lath

por Cláudia Bancaleiro alta-resolução e juntamo-los numa base de dados global com uma resolução de aproximadamente um quilometro quadrado”, explica o responsável pelo projeto

na FAO, John Latham. Para garantir que os dados eram o mais corretos possível, foram visitados mil locais aleatoriamente para confirmar se se tratava de uma área de

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Distribuição do banco de dados dominante

Figure 3 – Distribution of dominant GLC-SHARE Land Cover Database. 01

Artificial Surfaces

04

Tree Covered Area

07

Mangroves

10

Snow and Glaciers + Antarctica

02

Cropland

05

Shrubs Covered Area

08

Sparse Vegetation

11

Water bobies

03

Grassland

06

Herbaceous Vegetation

09

Baresoil

cultivo ou de uma zona de pastagem, por exemplo. Reunidos os dados, a equipe de Latham classificou as zonas do planeta em 11 categorias — urbana, deserto, corpos de água, vegetação herbácea, manguezais, neve e glaciares, áreas arborizadas, cultivo, pastagens, vegetação escassa e áreas de vegetação arbustiva. Comparando os dados de 2000 com os recentemente reunidos, o Global Land Cover SHARE concluiu que se, por um lado, as zonas com construções feitas pelo homem ganharam terreno em 14 anos, as áreas de cultivo diminuíram de 15,7% para 12,6%, e a superfície terrestre coberta de árvores perdeu espaço, recuando de 29,4% para 27,7%. À excepção das zonas ocupadas por neve, glaciares e a Antártica (2,7%) todas as outras zonas cresceram e apresentaram novas percentagens no planeta: deserto (15,2%), vegetação herbácea, escassa e arbustiva e pastagens (31,5%), corpos de água e manguezais (2,7%). John Latham considera que saber de que forma a superfí-

cie terrestre é preenchida é “essencial para promover uma gestão sustentável dos recursos” do planeta, nomeadamente a produção agrícola para alimentar uma população em crescimento — atualmente mais de sete mil milhões —, mas também garantir a proteção do ambiente. Para o responsável do Global Land Cover SHARE, este projecto é “uma ferramenta valiosa para avaliar a sustentabilidade da agricultura e para suportar provas baseadas num desenvolvimento rural sustentável e no uso da terra que contribua para reduzir a pobreza, permitindo sistemas agrícolas e alimentares inclusivos e eficientes e aumentar a resiliência dos meios de subsistência”. Quanto à questão ambiental, o projeto é apresentado como um meio para compreender as alterações climáticas e o seu impacto nos recursos naturais e na produção de alimentos. Com a diminuição das áreas de cultivo para 12,6% da

Artificial Surfaces Cropland

Grassland/Shrubs/Herbaceous/ Sparse vegetation

Tree Covered Area

Baresoil

Snow and Glaciers + Antarctica Water bodies/Mangroves TOTAL

revistaamazonia.com.br

superfície terrestre, John Latham alerta que é necessário inverter o que poderá ser uma tendência, dado o crescimento constante da população mundial. A FAO estima que a produção de alimentos para dar resposta a este crescimento terá que aumentar 60% até 2050.

Terras de culturas cobrem 12,6 por cento da superfície da Terra

Distribution of Land Cover classes globally Source: GLC-SHARE Class

Em 14 anos, as áreas de cultivo diminuíram de 15,7% para 12,6%

Antartica

Percentage 0.6

12.6

31.5 27.7

15.2 9.7

2.7

100

Source: GLC 2000 Class

Urban

Cropland

Grassland/Shrubland Forest

Bare areas

Snow and Ice Wetlands

Percentage 0.2

15.7

30.0 29.4

13.3

9.7

1.7

100

Table 3 – Comparative values between GLC-SHARE and GLC 2000

Distribuição das classes de cobertura global terrestre, valores comparativos entre GLC-SHARE e GLC 2000 REVISTA AMAZÔNIA 61


Embrapa completa 41 anos e inaugura maior banco genético da América Latina Fotos: Eraldo Peres, Gabriel Nogueira e Wilson Dias/ Agência Brasil

A

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) inaugurou hoje (24) o maior banco de recursos genéticos da América Latina, no dia em que a empresa celebra 41 anos de existência. O novo prédio vai reunir as coleções de plantas, animais e microrganismos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, que objetiva principalmente garantir a segurança alimentar da população. A coleção de base faz, prioritariamente, o trabalho de conservação do material dos bancos ativos de outras unidades da empresa, nas quais é feito o trabalho de campo, que consiste em testar e pesquisar as propriedades, fazer o manejo dos recursos genéticos e multiplicar as amostras a serem enviadas para bancos internacionais, pesquisadores e empresas solicitantes. O antigo banco genético da Embrapa possui mais de 124 mil amostras de sementes e capacidade para guardar até 250 mil. A nova estrutura triplica a capacidade, para 750 mil amostras, e coloca o Brasil entre os três países com as maiores coleções genéticas do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, explica que os recursos genéticos estão na base do desenvolvimento da agricultura, e a empresa atua com pesquisas na área desde o seu início. ‘O trabalho de coleta, conservação, agregação de valor e uso de recursos genéticos é que permitiu o grande salto da nossa agropecuária nos últimos 40 anos’, disse ele, e adiantou que grande parte do que cultivamos hoje tem origem externa, como a soja (da China), a cana-de-açúcar (da Índia) e o milho (do México) , e ressaltou que o trabalho da Embrapa tem sido fundamental no fortalecimento dessas culturas. Para Lopes, é uma questão quase que de segurança nacional, ‘ainda mais levando em conta os desafios que nós teremos nos próximos anos, relacionados a mudanças climáticas que vão levar a uma intensificação de estresses, como mais calor ou mais enchentes. Vamos precisar fazer um grande esforço de melhoramento dos nossos cultivos, das nossas criações animais, para conseguirmos fazer frente a esses desafios, que estão no horizonte’,

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Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, recebeu a homenagem espcial do Prêmio Frederico Menezes Veiga

O pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo, recebe o Prêmio Frederico Menezes Veiga

O pesquisador Renato Rodrigues, da Embrapa Agrossilvipastoril, foi o vencedor na Categoria Jovem Pesquisador

disse ele. O chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Mauro Carneiro, conta que, além do armazenamento, a unidade também trabalha com o melhoramen-

to preventivo, que antecipa as pragas que podem atacar determinadas culturas. ‘Sabemos que tem algumas pragas de arroz, soja e feijão que podem entrar no país a qualquer momento, imagine você o desastre que pode acontecer nessas culturas, para a economia e tudo mais. Então, já trabalhamos no melhoramento preventivo, e quando as pragas entrarem já teremos material pronto para fazer face a esses problemas’. A nova estrutura, de 2.000 metros quadrados, custou R$ 13 milhões, grande parte viabilizados por meio de emendas parlamentares. Além das câmaras para sementes a -20 graus centígrados, o espaço possui laboratórios, câmaras de conservação de plantas in vitro, botijões de nitrogênio líquido e bancos de DNA (sigla em inglês para ácido desoxirribonucleico) para conservação de animais e microrganismos. Carneiro dá como exemplo a recuperação, em 1995, das sementes primitivas de milho e amendoim dos índios krahôs, no Tocantins, que não se adaptaram ao cultivo do milho híbrido comercial e já não possuíam mais a variedade local. ‘E, no caso dos indígenas, a agricultura está muito ligada aos seus ritos e festividades. Eles perceberam que estavam perdendo suas culturas, até que um pagé lembrou que a Embrapa pegara aquelas sementes e disse que as guardaria. Então, nós demos a ele um pouco desse material, que ele plantou, colheu e trouxe de volta mais amostras’. Além da nova estrutura física, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia lançou novo sistema de informação, dos depósitos de materiais de toda a coleção genética da Embrapa que serão gerenciados pelo sistema de informação desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceira com a Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP). Batizado de “Alelo “ o sistema indica a localização de armazenamento de cada amostra e apresenta seus dados de caracterização como, por exemplo, indicação do local e data de coleta, quantidade armazenada, etc. Basta acessar o site http://alelo. cenargen.embrapa.br na internet. De acordo com Carneiro, o sistema Alelo terá diferentes níveis de acesso a depender do usuário que acessá-lo. “Um cidadão que quiser conhecer a coleção genética terá um nível de acesso mais genérico, enquanto que um pesquisador que trabalha com o Banco contará com informações aprofundadas”, explica o gestor. revistaamazonia.com.br


A pesquisadora Teresa Losada Valle, do IAC, foi a vencedora do 1º Concurso Frederico Menezes Veiga

Na ocasião, também foi lançada a publicação “Histórias e memórias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia”, uma coletânea com depoimentos de 80 empregados entre pesquisadores, analistas, técnicos e assistentes que vivenciaram parte da história desse centro de pesquisa o qual completará 40 anos em novembro. Ainda durante as comemorações de seus 41 anos, a Embrapa também lançou novo portal na internet [https://www. embrapa.br/home] e o documento Visão 2014-2034: O Futuro do Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Brasileira [https://www.embrapa.br/agropensa/ documento-visao]. O material é fruto do Agropensa, um sistema lançado em 2013, que projeta tendências para a agropecuária e contribui para o aperfeiçoamento do sistema de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Premiados da Ação Educativa

Solenidade de aniversário da Embrapa e inauguração do maior banco de recursos genéticos da América Latina

As novas instalações do maior banco de recursos genéticos da América Latina, em Brasília

A nova estrutura triplica a capacidade, para 750 mil amostras

Trabalhando no melhoramento preventivo, e quando as pragas entrarem o material já estará pronto para fazer face a esses problema

Primeiro depósito de sementes no novo banco foi feito pelo presidente Maurício Lopes, Pelo Senador Rodrigo Rollemberg (PSB/DF) e pelo deputado Jofran Frejat (PR/DF)

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REVISTA AMAZÔNIA 63


Cada um dos países do Brics tem intenção de ser um dos polos desse novo mundo multipolar econômico

Banco de Desenvolvimento dos Brics pode entrar em operação em 2016 Contingente de Reserva e Novo Banco devem ser aprovados na próxima Cúpula em Fortaleza Fotos: The World Bank

D

esenvolvimento dos Brics, como é chamado durante as negociações, e o Acordo Contingente de Reserva são os dois mecanismos mais maduros que resultaram das conversas entre Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia. Os acordos estão ainda estão sendo discutidos, mas podem ser assinados já na 6ª Cúpula dos Brics, marcada para os dias 15 e 16 de julho, no Centro de Eventos do Ceará. Conforme apresentou o embaixador Carlos Cozendey, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, durante a Conferência Brics no Século 21, realizada nesta semana pela Coppe/UFRJ e Intersul no Rio de Janeiro, o campo de cooperação entre os países do 64 REVISTA AMAZÔNIA

grupo tem se expandindo bastante e as duas ideias mais significativas e maduras seriam a criação do banco e do acordo de reserva. Cozendey é representante do Brasil em missões junto à Organização Mundial do Comércio, Rodada de Doha, G8, Mercosul e União Europeia. “Cada um dos países do Brics tem intenção de ser um dos polos desse novo mundo multipolar econômico. Não se pode esperar que em algum momento exista algum porta-voz do Brics, ou um país do Brics falando em nome dos outros, ou que os Brics atuarão de forma unívoca em todos os temas da agenda. Enquanto vão se reunindo, vão arrumando novas ideias de aproveitar essa cooperação. Este campo de cooperação tem se expandido bastante”, explicou Cozendey. O embaixador aproveitou para esclarecer que o Acordo Contingente de Reserva tem sido chamado de Fundo de Reservas dos Brics mas não se configura exatamente como um fundo. Este implica um aporte de recursos

colocados em comum, que passam a ser administrados e utilizados conforme a constituição. O Fundo Monetário Internacional, por exemplo, recebe parte da reserva de países para aplicação, e esses recursos são transferidos como empréstimos conforme necessário. No caso dos Brics, no entanto, o modelo é outro, criado na Ásia, pelo qual os Bancos Centrais não passam suas reservas a um administrador comum, continuam com elas e apenas se comprometem com uma cota, caso algum dos participantes tenha dificuldade e precise de empréstimo de curto prazo. O recurso está em negociação final, vai ser ratificado nos congressos, e, uma vez ratificado, se torna plenamente operacional. “Isso faz com que o acordo seja relativamente simples, porque não há necessidade de discutir a criação de um secretariado complexo, ou de uma entidade capaz de gerenciar esses recursos. Na realidade, o acordo se resume a definir quais são os compromissos de cada um dos países revistaamazonia.com.br


e em estabelecer os mecanismos de decisão para o caso de que algum deles precise”, explicou. Até agora, de acordo com o embaixador, os valores designados são todos em dólar, em um total de US$ 100 bilhões – a China entrará com US$ 41 bilhões, com a possibilidade de recorrer ao mesmo valor; o Brasil, a Rússia e a Índia se comprometem com US$ 18 bilhões, podendo recorrer a US$ 27 bi, cada um; e, por fim, a África fica responsável por US$ 5 bilhões, com direito de pedir US$ 10 bilhões de empréstimo. “Esse mecanismo foi pensado na época da crise europeia, entre 2011 e 2012, em que se discutiu muito a questão de contar com algum mecanismo de retaguarda”, comentou Cozendey. “Não se pode dizer que seja uma revolução, uma mudança de regime. É na verdade, algo dentro do regime existente. Mas, de alguma forma, reforça a posição dos países Brics.” O Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics, por sua vez, ainda está em negociação, mas esta pode ser encerrada já até a próxima Cúpula em julho. Ao, contrário da reserva de contingência, lida com uma estrutura

mais complexa, com necessidade de administração, gerência, secretariado, entre outras exigências. Segundo, Cozendey, deve entrar em operação dentro de dois ou três anos. O nome do banco, destinado a financiar infraestrutura e desenvolvimento sustentável, também ainda não está definido. O objetivo, definido na Cúpula de Durban, é ter um banco voltado a projetos a serem financiados. O capital subscrito seria de U$S 50 bilhões, inicialmente, e o capital autorizado de US$ 100 bi, sinalizando que o capital pode aumentar ou que o banco receberá novos membros. A maioria de capital dos Brics, contudo, seria preservada.

“O Banco funciona como uma sociedade por ações, como o Banco Mundial, portanto quem coloca mais capital manda mais no banco. A proposta do Brasil, que é a proposta majoritária, é que a proposta inicial seja distribuída igualmente, US$ 10 bilhões para cada um”, contou Cozendey. São quatro as cidades candidatas a sede do Banco - Xangai, Johannesburgo, Moscou, Nova Délhi. As propostas estão sendo examinadas pelos países e é um dos elementos da discussão final. Ele poderá atuar com empréstimos, garantias ou investimento em participações acionárias.

Fonte: Euro monitor, International Iron and Steel Industry, IDC, Mittal Steel, Forrester Research, Teleco, Datamonitor, Goldman Sachs, World Bank, CIA, FMI. revistaamazonia.com.br

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Prêmio Longitude vai distribuir 12 milhões de euros para resolver problemas do século XXI por Nicolau Ferreira

Fotos: Nesta

LONGITUDE PRIZE 2014

O

s britânicos estão votando para definir qual será o tema de um novo prêmio milionário, entre seis possíveis: Avião (dióxido de carbono ), alimentação, antibióticos, paralisia, água, e demências. Depois, um comitê ficará à espera de propostas vindas de qualquer parte do mundo, e a melhor levará o prêmio para casa. Quando, em 1714, o Governo britânico criou o Prêmio Longitude de 20.000 libras, não era possível determinar com rigor a localização de um navio no mar. Media-se a latitude no oceano, mas não a longitude, o que levou à morte de muitos marinheiros em naufrágios. O relojoeiro britânico John Harrison inventou o cronômetro marítimo e acabou por ser premiado ao fim de muitas décadas. Hoje, os problemas da humanidade são outros. A 22 de Maio, iniciou-se no Reino Unido a votação pública para eleger o tema que vai estar em jogo no novo Prémio Longitude, lançado 300 anos depois do original. Até 25 de Junho, os britânicos podem votar num de seis objetivos que o galardão poderá premiar: uma inovação sustentável que permita uma alimentação saudável para todos; uma tecnologia barata para dessalinizar a água do mar; um avião que não emita dióxido de carbono; uma cura para a paralisia; um dispositivo que faça o diagnóstico das infecções evitando o uso desnecessário de antibióticos; e uma tecnologia para melhorar a vida de pessoas afetadas com doenças neurodegenerativas. Assim que se souber qual é o tema eleito pelo público, o

BUILD TOMORROW TODAY

Após 300 anos, o Prêmio Longitude finalmente foi revivido. A reintrodução do prêmio é destinado a encontrar soluções para alguns dos maiores problemas de humanidades. 66 REVISTA AMAZÔNIA

comitê organizador do prêmio vai definir quais os objetivos que uma solução apresentada por um candidato terá de cumprir para ser merecedora do prêmio. Esses objetivos serão apresentados em Setembro. Qualquer pessoa ou equipe, de qualquer parte do mundo, poderá depois candidatar-se ao prêmio de 10 milhões de libras (12,28 milhões de euros). Terá um prazo máximo de cinco anos

para apresentar o resultado da sua ideia, para poder ganhar o prémio. “No século XVIII, havia um desafio técnico óbvio”, disse o astrónomo real Martins Rees, professor jubilado da Universidade de Cambridge, referindo-se ao problema que o prêmio original quis premiar. O cientista dirige o comité, de 18 personalidades, que nos últimos dois anos revistaamazonia.com.br


escolheu os seis temas em votação. “Agora o mundo é muito mais complicado. Além disso, há muitos prêmios para desafios concretos, especialmente nos EUA. Para um único grande prémio do Reino Unido, o nosso grupo identificou seis áreas em que há espaço para a inovação e invenção de uma tecnologia barata.” Nesse sentido, a ideia dos aviões verdes é exemplar. Por trás está um objetivo nacional do Reino Unido em reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), responsável pelo efeito de estufa que está provocando as alterações climáticas. Mas a proposta, se esta for a categoria mais votada, é muito específica: o desenvolvimento do protótipo de um avião que consiga fazer a viagem entre Londres e Edimburgo sem (ou quase sem) emissões de CO2. Tendo em conta a previsão de que as viagens de avião serão, no futuro, responsáveis por 15% das emissões de dióxido de carbono, uma inovação deste calibre teria um impacto importante na redução das emissões a nível mundial. O prémio será financiado em parte pela Nesta, uma fundação não governamental para a inovação do Reino Unido, terá também dinheiro público vindo do Conselho de Estratégia para a Tecnologia. “Há tantos problemas no nosso mundo necessitando de uma solução extraordinária, seja a cura da demência, seja um voo sem libertação de CO2 entre Inglaterra e Nova Iorque. Vamos desafiar o público e os cientistas a pensar sobre o grande problema que queremos resolver”, disse, há quase um ano, o primeiro-ministro britânico, David Cameron. A física Athene Donald, do comité do prêmio, defendeu num artigo de opinião, que esta votação permite a participação do público nos temas de ciência: “Aqui está uma oportunidade genuína para os cientistas ouvirem o que o cidadão comum pensa ser o mais importante.” Depois, a resolução do problema estará nas mãos de quem quiser atirar-se a ele. “Se algum destes problemas

Há 300 anos, a solução para medir a longitude em alto mar veio de onde menos se esperava

pudesse ser resolvido de forma simples, já teria sido”, escreveu a física. “Mas o desafio não é só ganhar o prêmio. É também a exploração de novas opções, tanto a ciência que está subjacente como a inovação necessária às suas produções, escala e redução de custos.”

A invenção de um relojoeiro Há 300 anos, a solução para medir a longitude em alto mar veio de onde menos se esperava. A comunidade científica inglesa contava que fossem os astrônomos a dizerem “eureka”. Na altura, já se sabia medir a longitude quando se estava no alto mar, mas dependia de dois relógios: um com a hora da cidade de partida, que estava a uma longitude conhecida, o outro atualizado todos os

dias ao meio-dia no meio do mar. A partir destas duas medidas do tempo, é possível obter uma diferença do número de horas entre o local onde se está no mar e a cidade de partida. Essa diferença, a uma dada latitude, equivale a uma distância horizontal, traduzida em quilómetros ou graus, que define a longitude. Basta pensar que, se estivermos no equador e não nos mexermos, durante as 24 horas em que a Terra dá uma volta sobre si mesma regressamos ao ponto de partida. As 24 horas equivalem, por isso, à circunferência terrestre equatorial de 40.000 quilómetros. Na linha do equador, uma hora equivale à 24.ª parte dessa circunferência, o que é cerca de 1666 quilômetros. A diferença de horas entre um ponto no mar e uma cidade costeira permite, assim, obter essa distância em quilómetros ou em graus.

Latitude e longitude A latitude corresponde ao ângulo formado pelo ponto (P), que se quer localizar, o centro da Terra (C) e um ponto na Linha do Equador (Q). A medida desse ângulo é a distância em graus do paralelo onde P se encontra à Linha do Equador. Lembre de verificar, também, se o ponto está no Hemisfério Norte ou Sul, ou seja, se a latitude é norte ou se é latitude sul. No exemplo da figura a latitude, do ponto P é norte, ou seja, ele está localizado no Hemisfério Norte. Evidentemente que todos os pontos pertencentes ao paralelo que passa por P apresentam a mesma latitude. Observe mais uma vez a figura e note que o mais distante que um ponto pode estar da Linha do Equador é 90 graus (ou 90 °), para o norte ou para o sul. Por convenção, a Linha do Equador marca a latitude de 0° .. A longitude, por sua vez, é dada pelo ângulo formado pela interseção, no eixo de rotação da Terra, entre o plano que contém o meridiano que se quer localizar e o plano do meridiano principal (de Greenwich). A longitude pode ser obtida no plano da Linha do Equador, medindo o ângulo formado pelos pontos P, C e Q, resultantes dos cruzamentos, com o plano da Linha do Equador, do meridiano do ponto, do eixo de rotação e do meridiano principal. Evidentemente todos os pontos pertencentes ao mesmo meridiano terão a mesma longitude. Por convenção, o Meridiano de Greenwich marca a longitude de 0° . As longitudes poderão variar de 0° a 180° para o leste e o mesmo para o oeste. Lembre de observar se o ponto está no Hemisfério Oeste ou no Hemisfério Leste, no caso da figura, o ponto P está no Hemisfério Oeste ou Ocidental, ou seja está localizado a oeste do Meridiano de Greenwich. revistaamazonia.com.br

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Capaz de se locomover mesmo sem enxergar, o ituí-cavalo (Apteronotus albifrons) serviu de inspiração para que cientistas criassem o peixe-robô

Peixe elétrico da Amazônia inspira criação de robôs subaquáticos ágeis Fotos: Andrew Campbell, Northwestern University

C

ientistas de uma universidade americana criaram um robô subaquático a partir da análise de características de um peixe elétrico da Bacia Amazônica. O ituí-cavalo (Apteronotus albifrons) é um peixe de hábitos noturnos que vive na região amazônica. Ele é cego, mas consegue emitir uma leve corrente elétrica na água para determinar como é o ambiente onde está. Estes peixes possuem receptores distribuídos pelo corpo, que permitem “sentir” o ambiente a partir da corrente elétrica emitida. Os pesquisadores da Universidade Northwestern acreditam que essas características podem ajudar no desenvolvimento de uma nova geração de robôs autônomos que operam debaixo d’água. A partir do ituí-cavalo, os pesquisadores criaram robôs 68 REVISTA AMAZÔNIA

que conseguiram se mover em meio a destroços e na escuridão total. Eles seriam úteis em casos de navios naufragados, em vazamentos de petróleo, ou para estudar os recifes de corais frágeis por exemplo. “Hoje não temos robôs subaquáticos que funcionem bem em meio a obstruções ou em condições onde a visão não é muito útil”, disse Malcolm MacIver, um dos líderes da pesquisa. “Pense em um navio de cruzeiro afundado. É muito perigoso mandar mergulhadores para estas situações, onde a água pode ser muito turva.” MacIver mostrou o resultado de sua pesquisa na reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em Chicago.

Campo elétrico Malcolm MacIver estuda o ituí-cavalo há anos, decifrando seus sistemas sensorial e de movimento. Para o pesquisador, é possível aprender com estes peixes.

Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo

“Eles não usam a visão para caçar durante a noite nos rios da bacia do Amazonas, e seus movimentos em meio a raízes amontoadas e florestas inundadas tem que ter uma precisão incrível”, disse. Estes peixes geram um campo elétrico a partir de neurônios modificados em sua medula espinhal. Quando revistaamazonia.com.br


a caça, como insetos aquáticos, entram neste campo, o peixe consegue medir a minúscula mudança na voltagem graças aos receptores na superfície de sua pele. “O peixe desenvolveu um sistema incrível. Imagine como seria se sua retina fosse esticada, cobrindo todo seu corpo. Está é a situação do ituí-cavalo”, disse MacIver. “Eles detectam em todas as direções. Eles emitem um tipo de radar, mas é um campo elétrico; e os receptores sensoriais espalhados por toda a superfície do corpo significam que eles conseguem detectar coisas vindo de todas as direções.” Com base nestes estudos do peixe amazônico, o cientista desenvolveu um robô que, dentro do tanque no laboratório, reage ao que está em volta e se move de acordo com a informação que recebe dos obstáculos que encontra no tanque.

Propulsão Além de reproduzir a forma com que o peixe reage aos obstáculos, MacIver também quer copiar a técnica de A apresentação da Universidade Northwestern De todas as nossas simulações, agora temos relações matemáticas entre coisas como frequência e amplitude da onda e o quanto de propulsão você consegue

propulsão do ituí-cavalo. O peixe se move enviando ondas através da longa nadadeira na barriga. Ao ondular a nadadeira de um jeito, o peixe se move para frente. Ao movê-la de outro jeito, ele se move na direção contrária e mudando mais uma vez estas ondas e o animal consegue se mover para cima.

Pesquisadores da Universidade de Northwestern criaram um peixe robótico que pode passar de nadar para a frente e para trás, para nadar verticalmente, quase que instantaneamente, utilizando uma sofisticada fita com componentes de última geração Nasceu o peixe robótico – peixes ágeis que podem melhorar imensamente os veículos submarinos

Testando o comportamentoto do robô. Tentando fazer com que robô se movimente como o ituí-cavalo revistaamazonia.com.br

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Por que investir em energias renováveis no Brasil?

N

ão é de hoje que as preocupações com a eficiência energética e com o meio ambiente vêm colocando as fontes renováveis de energia em primeiro plano quando se trata de investimentos no setor elétrico. Incentivos governamentais às fontes alternativas, aliados ao empreendedorismo da iniciativa privada, atuaram para a inserção definitiva das fontes renováveis na matriz energética do Brasil. O PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas), lançado em 2002, foi uma iniciativa pioneira que tinha por objetivo a contratação, pela Eletrobras, de até 3.300 MW de energia proveniente de fontes renováveis. Apesar de todos os desafios enfrentados, resultou na contratação de um total de 119 novos empreendimentos, com capacidade instalada de 2.649,87 MW. Desde a criação do PROINFA, dez anos se passaram. De lá para cá, é inegável a evolução do setor elétrico brasileiro, o qual, além de ter crescido 42 GW de capacidade instalada de geração nesse período, consolidou seu marco regulatório e atraiu investimentos externos. A partir de 2007, a possibilidade de os empreendimentos provenientes de fontes renováveis participarem dos leilões promovidos periodicamente pelo Governo Federal no âmbito do Mercado Regulado de energia resultou, definitivamente, na inserção dessas fontes na matriz energética brasileira. Nesse contexto, segundo a Empresa de Pesquisa Energética Nacional - EPE, o País apresenta, atualmente, uma matriz elétrica com 123 GW instalados, dos quais 12,8% correspondem a fontes renováveis. Em 2005, a participação das fontes renováveis nessa mesma matriz elétrica somava 4,1%, o que corresponde a um aumento de mais que 8% no período. Nos termos do que prevê a EPE, espera-se que as fontes renováveis alcancem a marca dos 20,8% da matriz energética brasileira já em 2022, sendo que a expectativa do Greenpeace, em seu recente estudo voltado à energia renovável, é de que esse número chegue a 66,5% em 2050. A fonte solar, ainda com alto custo e mercado em desenvolvimento em solo brasileiro, já cresce apoiada não apenas em uma situação climática e regulatória favorável no País, mas em iniciativas pioneiras voltadas exclusivamente para este mercado, como o Leilão de fonte solar pelo Estado de Pernambuco; alguns incentivos governamentais para geração distribuída e descontos substanciais nas tarifas sobre o uso da rede elétrica. Não se pode esquecer, ainda, do contínuo progresso das

70 REVISTA AMAZÔNIA

por Ana Karina Esteves de Souza, Laura Garcia Freitas de Souza e Patrícia Levy

Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs, que, no ano de 2012, tiveram sua capacidade de geração aumentada em 360 MW, como também o potencial de geração da biomassa brasileira, a qual, com a evolução tecnológica corrente, passa a ser mais bem aproveitada para fins de geração de energia. Toda esta evolução, e a própria consolidação e maturidade do mercado brasileiro de renováveis, está ligada não apenas ao regime de incentivos promovidos pelo governo, mas a uma conjuntura de fatores, dentre os quais exercem papel fundamental os financiamentos concedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento - BNDES e o constante desenvolvimento de um marco regulatório voltado a apoiar a inserção das fontes renováveis como protagonistas da matriz elétrica do País. No entanto, ainda há muitos desafios pela frente, como,

por exemplo, aumentar a competitividade e solucionar não somente os entraves comuns a investimentos em geral no Brasil, como entraves burocráticos, imobiliários e ambientais, mas também os entraves peculiares a cada espécie de fonte renovável, como a nacionalização da produção no caso das eólicas e o alto custo de geração para a fonte solar, contando, nesse contexto, não apenas com a maior participação dos parceiros privados como financiadores e desenvolvedores para os referidos projetos, mas com o contínuo aprimoramento das bases regulatória e tecnológica. [*] Ana Karina Esteves de Souza e Laura Garcia Freitas de Souza são sócias e Patrícia Levy é advogada da área de Energia e Infraestrutura do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados

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A hora e a vez da Ararajuba

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ue ninguém acredite em fada madrinha. A devastação da floresta amazônica está ocorrendo em ritmo acelerado. Basta lembrar dado apontado como fator terrivelmente preocupante: a degradação das florestas, da apelidada Amazônia Legal, já atingiu uma área de quase 175 km² nos últimos dois meses, esta informação foi divulgada no dia 04 de maio de 2014 durante a realização do “Seminário Sobre Meio Ambiente. Reflexões Sobre a Amazônia”, promovido pela Universidade do Estado do Pará UEPa, que discutiu temas tais como: Instrumentos Legais de Proteção e Promoção da Vida Animal, Gestão dos Recursos Hídricos, índices de Desmatamento e Implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos na Amazônia. No que diz respeito à devastação da área considerada, será que em outros lugares está indo tudo muito bem? É de se duvidar, pois o furor predatório de madeireiros, plantadores de soja e criadores de pastagens, continua o mesmo e até com maior agressividade. Felizmente, no tangente à preservação da floresta, temos novidades. Como é o caso das atividades desenvolvidas pela SAGRI- Secretaria de Agricultura do Estado do Pará, que está na linha de frente na produção de mudas de espécies selecionadas para serem distribuídas em larga escala. Frutos exclusivamente paraenses, como o bacuri (Platonia insignis), excelente fruto regional, madeira de lei de primeira ordem, cuja cultura vinha sendo esquecida e nos últimos anos tem sido estimulada e desenvolvida, para a doçaria, produção de polpa, madeira e principalmente para a preservação dessa importante representante da flora amazônica. Os resultados desta e de outras empreitadas já são visíveis, inclusive com a participação de empresas que trabalham em outros setores e que estão envolvidas na luta pela preservação ambiental, incluindo a proteção à fauna, como é o caso da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, localizada na Volta Grande do rio Xingu, no Estado do Pará. A empresa, que está construindo uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo, tem um excelente serviço de proteção ambiental, especialmente relacionado à produção de mudas de espécies vegetais nativas, à proteção dos quelônios da região bem como de outras espécies da fauna e da flora da área. Outras ações que demonstram compromisso social com 72 REVISTA AMAZÔNIA

por Camillo Martins Vianna* a preservação ambiental têm sido realizadas pela Sociedade Médico Cirúrgica do Estado do Pará. Como parte da comemoração do seu centenário está desenvolvendo um plano de distribuição de cem mil mudas de essências florestais e frutíferas amazônicas entre seus membros que possuem terrenos apropriados para receber estas mudas. Outro fator de relevância é que o Estado do Pará já está em segunda posição em todo Brasil, na produção de cacau, faltando pouco para que cheguemos às cabeceiras. O plantio de cacau tem crescido principalmente na chamada Região da Estrada, nos municípios da Zona Bragantina. Esta denominação de estrada diz respeito à antiga Estrada de Ferro Belém-Bragança, já desativada e que tem sido objeto de proposta de sua reconstrução. Brevemente ultrapassaremos a Bahia. Nos últimos anos tem ocorrido também, um grande surto do plantio do dendê para extração, principalmente, do óleo de palma. Na região do Baixo Tocantins Paraense a prefeitura da cidade de Abaetetuba, na figura de sua prefeita, a Sra. Francineti Carvalho, continua uma parceria com a SOPREN- Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia, que vem desde a gestão do Prefeito Chico Narrina, realizando a produção de em média 60 mil mudas de essências florestais e frutíferas a cada ano, particularmente produzidas no bosque Gabriella Vianna, localizado na Colônia Nova de Abaetetuba que junto com a cidade de Taciateua, no município de Santa Maria do Pará, são as principais bases da Sopren

Sementes de cumaru (Dipteryx odorata) revistaamazonia.com.br


Semente de andiroba (Carapa guianensis)

Ararajuba, (Guaruba guarouba) ave de bela plumagem verde e amarela é a que mais lembra as principais cores de nossa bandeira

no interior da Amazônia. Ambas têm funcionado de maneira ininterrupta desde os anos cinquenta. A base de Taciateua apresenta uma novidade que é a produção de mudas e Cde cumaru (Dipteryx odorata), esta atividade tem recebido auxílio interessante por parte de morcegos frugívoros. Excelentes dispersores de sementes estes pequenos mamíferos voadores, cumprem de modo eficaz o seu papel ecológico. Já há informações de que mudas dessa árvore estão sendo encontradas em outros municípios vizinhos resultante da dispersão aérea realizada por eles. A floresta precursora de Taciateua, foi instalada nos anos cinquenta do século passado, atualmente produz, além do cumaru, mudas e sementes de marupá (Simaruba amara), andiroba (Carapa guianensis), entre outras. Em todas as áreas da atuação da Sopren e associados dá-se ênfase especial à produção de sementes do açaí (Euterpe oleracea). O açaí há alguns anos passou as ser amplamente consumido e já é um produto de exportação para outros estados e para outros países. Antes disso, em Belém, por exemplo, o açaí, na forma de bebida, em décadas passadas, era consumido quase que exclusivamente pelas populações pobres da cidade. Na década de cinquenta seu consumo, por todas as camadas da população, recebeu grande impulso. Anualmente, durante as comemorações da Semana da Asa, o brigadeiro Camarão, da Força Aérea Brasileira, objetivando valorizar alimentos regionais, contratava tacacazeiras e amassa-

Bacuri (Platonia insignis), excelente fruto regional, madeira de lei de primeira ordem revistaamazonia.com.br

deiras de açaí que vestidas como “cheirosas”, com saias rodadas enfeitadas com patchuli, e outros tipos de raízes e folhas da terra, serviam aos participantes dos eventos essas iguarias típicas. Foi uma grande contribuição para popularizar tanto o açaí quanto o tacacá, e não deu outra, hoje, principalmente, o açaí é consumido por todas as classes sociais e vem sendo ao longo dos anos, junto com outros produtos regionais, divulgados e consumidos pelo mundo afora. A comedoria básica dos silvícolas da Amazônia é servida hoje em dia por grandes cozinheiros de outros estados do Brasil e por chefes de cozinha internacionais. O que antigamente era comida dos mais pobres virou também comida para a elite. Um fato interessante, relacionado ao açaí, é que seu fruto é largamente consumido pela ararajuba, (Guaruba guarouba) ave de bela plumagem verde e amarela é a que mais lembra as principais cores de nossa bandeira. Esse psitaciforme, um dos mais belos representantes da família das araras, endêmico no norte do Brasil e em risco de extinção, tem sido objeto de ambicioso projeto de torná-la ave símbolo do país. Recentemente, no Teatro da Paz, em Belém, em evento comemorativo dos cem anos da Sociedade Médico Cirúrgica do Pará a Sopren, na pessoa do seu presidente, distribuiu volantes para divulgar a importância da ararajuba e a necessidade de ela vir a se tornar ave símbolo do Brasil, tal qual o Pau Brasil é da flora. A aceitação foi geral. Já tendo sido marcadas reuniões para o lançamento de campanha a nível nacional.

Semente do açaí (Euterpe oleracea) REVISTA AMAZÔNIA 73


Lista de espécies ameaçadas pelo comércio inclui tubarões e arraias

Na outra ponta, Brasil conseguiu excluir três espécies de bromélias da relação por Daniel Scheschkewitz*

Fotos: Arquivo CITES

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inco espécies de tubarão e três de arraias foram incluídas na lista de espécies ameaçadas em decorrência do comércio internacional. A atualização da lista pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) ocorreu em março de 2013, na XVI Conferência das Partes na Tailândia, e passará a valer a partir de setembro de 2014. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, publicou Instrução Normativa (IN), (http://pesquisa. in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=16/0 4/2014&jornal=1&pagina=215&totalArquivos=248), no Diário Oficial da União de (16/04), com a atualização da lista de espécies da flora e da fauna selvagens ameaçadas pelo comércio.

“Entrar nessa lista significa que todas as vezes que formos importar ou exportar essas espécies, teremos que emitir um documento comprovando que a espécie é explorada de forma sustentável, sem prejudicar a biodiversidade”, explicou a coordenadora de Recuperação de Áreas Degradadas e Acesso ao Patrimônio Genético (Corad) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Cláudia Mello.

SAIBA MAIS Tubarões e arraias foram incluídas na lista de espécies ameaçadas

14 de setembro de 2014 entrada em vigor da nova lista da CITES 74 REVISTA AMAZÔNIA

Na conferência das partes em março de 2013, na Tailândia, os países presentes votaram a inclusão e exclusão de espécies ameaçadas pelo comércio e a lista anterior foi alterada. Segundo determina o Decreto 3.607 de 2000, o MMA tem que atualizar a lista a cada nova conferência (de três em três anos). A atualização da lista entrou em vigor em 12 de junho de 2013, mas só passará a valer a partir de setembro deste ano – tempo concedido pela CITES para que os países se adaptem às novas regras. Além das cinco espécies de tubarão e três de arraias, o Brasil conseguiu a exclusão de três espécies de bromélias, por não haver mais comércio internacional com elas. Para conhecer a lista atualizada das espécies, acesse: http://www.cites.org/eng/app/appendices.php

A CITES é um dos acordos ambientais mais importantes para preservação das espécies, tendo a maioria dos países do mundo como signatários. A Convenção foi assinada em Washington em 1973 e entrou em vigor em 1975, ano em que o Brasil aderiu. Regulamenta a exportação, importação e reexportação de animais e plantas, suas partes e derivados, por meio de um sistema de emissão de licenças e certificados que são expedidos quando se cumprem determinados requisitos. A implantação das disposições CITES no Brasil ocorreu por meio do Decreto 3.607, de 21 de setembro de 2000. O Ibama é a autoridade administrativa com atribuição de emitir licenças para a comercialização internacional das espécies constantes nos anexos da CITES e o Jardim Botânico/RJ, ICMBio e também o Ibama são autoridades científicas. [*] MMA revistaamazonia.com.br


PROGRAMA

SUSTENTABILIDADE X DESMATAMENTO

Dos 144 municípios paraenses, 104 já aderiram ao Programa Municípios Verdes. E 61% das propriedades rurais já possuem o CAR – Cadastro Ambiental Rural. No Pará, produzir e preservar agora jogam no mesmo time. Ganha quem produz, ganha a natureza, ganha o Pará, com um futuro sustentável com mais empregos e mais qualidade de vida.

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GRIFFO

O PARÁ ESTÁ VENCENDO ESSE JOGO.

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Ano 9 NÂş 44 Maio/Junho 2014

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