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14 A 17 DE OUTUBRO DE 2014
Ano 9 NÂş 45 Julho/Agosto 2014
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66ª SBPC: CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA AMAZÔNIA PRÊMIO VON MARTIUS DE SUSTENTABILIDADE A PROCURA DOS VENENOS QUE CURAM 11ª NAVALSHORE
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Mercado de Energia: O Futuro dos Ambientes de Contratação Livre e Regulado
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Regulação Tarifária: Um Novo Regime para uma Nova Realidade
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A entrega do Prêmio von Martius de Sustentabilidade 2014 aconteceu durante a cerimônia de abertura da edição do Congresso Ecogerma deste ano, no Club Transatlântico, em São Paulo...
procura dos venenos que curam
A partir do veneno de 500 animais, o projeto europeu Venomics quer criar um banco de 20.000 molĂŠculas para obter fĂĄrmacos. Um veneno ĂŠ um cocktail de pequenas molĂŠculas rĂĄpidas a atuar e especĂficas naquilo que fazem. O resultado, muitas vezes, ĂŠ letal. Paradoxalmente, estas mesmas caracterĂsticas podem tornar algumas destas molĂŠculas em fĂĄrmacos potentes...
56 A ciĂŞncia dĂĄ um passo
gigantesco para a criação da vida artificial Cientistas de vĂĄrias universidades norte-americanas e europeias alcançaram “o monte Everest da biologia sintĂŠticaâ€?: o primeiro cromossomo eucariĂłtico fabricado em laboratĂłrio...
60 Livro Vermelho das
espÊcies faz 50 anos e alerta para o risco de extinção
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DIRETOR Rodrigo Barbosa HĂźhn
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FAVOR POR
PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto HĂźhn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. HĂźhn
CIC
RE
24 ConsĂłrcio europeu estĂĄ Ă
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A solenidade de abertura da 66ª Reunião Anual da SBPC contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clelio Campolina; da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; do reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Minoru Kinpara; do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis; da vice-reitora da Ufac...
XPEDIENTE
PUBLICAĂ‡ĂƒO PerĂodo (julho/agosto) Editora CĂrios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 BelĂŠm-ParĂĄ-Brasil
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14 66ÂŞ reuniĂŁo anual da SBPC
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de Sustentabilidade 2014
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06 PrĂŞmio von Martius
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ARTICULISTAS/COLABORADORES Alexandra Prado Coelho, AHK SĂŁo Paulo, Amcham-SP, Ascom INPA, Ascom SBPC, Ascom UFAC, Gustavo de AraĂşjo Ribeiro, Liam Neeson, Manuel Alves Filho, Marintec South America, Marta Lourenço, Neil Pederson, Nicolau Ferreira, Patrick Blanc , Steve Jacobsen , Viviane Monteiro FOTOGRAFIAS Alain Delavie, Antonio Scarpinetti, Ascom SBPC, Ascom UFAC, BMC Ecology, Claudia Smidt- Dennert, Ecos PowerCube, Érico Xavier/FAPEAM, Fernanda Farias, Garry Meek, Gustavo Rampini, Heiko Prumers, IBA, Irk Scherler, Jacksom Dirceu Megiatto/Unicamp, Jorge Kike Medina, Maurren B. Quin, Patrick Blanc, Pavel Riha, Peter Schouten, Richard Bartz, Steve Jacobsen, Kathy Mather, Kmusser EDITORAĂ‡ĂƒO ELETRĂ”NICA Editora CĂrios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Motivo da MĂdia da 66ÂŞ reuniĂŁo anual da SBPC, na Universidade Federal do Acre (Ufac).
Mais conteĂşdo verde
[08] Fundo Vale estĂĄ entre as dez instituiçþes que mais investem na AmazĂ´nia [10] 11ÂŞ Navalshore – Marintec South America [12] Brasil recebe autorização da ONU para explorar recursos no fundo do mar [24] Pesquisadores do INPA estudam mudanças climĂĄticas em peixes da AmazĂ´nia [26] 5Âş FĂłrum mundial de Meio Ambiente [30] Acordo sobre biodiversidade vai entrar em vigor sem o Brasil [34] O crescimento da AmazĂ´nia apĂłs mudança climĂĄtica hĂĄ 2 mil anos [40] O maior reservatĂłrio de ĂĄgua do mundo [42] Jardim vertical ĂŠ uma tendĂŞncia mundial [44] Casa com fachada de algas produz energia, calor e biogĂĄs [50] Investigadores Ă caça da energia do movimento [52] O que acha de um bife feito de clara de ovo e ĂĄgua? [54] Genomas de 3000 variedades de arroz tornados pĂşblicos [59] Estação solar de contĂŞineres pretende ajudar ĂĄreas afetadas por desastres [64] 11Âş Desafio Internacional de Visualização de CiĂŞncia e Engenharia [74] Melhores fotos de ecologia [81] AmazĂ´nia ainda vive o rescaldo da extinção dos grandes mamĂferos
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A 13ª edição do prêmio fotogråfico Wellcome Image Awards, mostrou recentemente, no Museu da Ciência e Indústria em Manchester, Reino Unido, os vencedores de 2014. Um painel de jurados escolheu as novas imagens adquiridas pela biblioteca fotogråfica Wellcome, que produziram imagens impressionantes e tecnicamente excelentes...
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CiĂŞncia de 2014
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Ano 9 NĂşmero 45 2014
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CI PRÊMIO ÊNCIA E TECN 66ª SBPC OLOGIA VON MA : A PROCU RTIUS DE SUST NA AMAZÔNIA EN RA DOS VENENO TABILIDADE S QUE CU RAM 11ª NAVA LSHORE
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66 As melhores imagens de
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HĂĄ 22.103 espĂŠcies em risco de extinção, segundo o Livro Vermelho das espĂŠcies de 2014 da UniĂŁo Internacional para a Conservação da Natureza. OrquĂdeas e lĂŠmures sĂŁo dois grupos muito ameaçados.
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Prêmio von Martius de Sustentabilidade 2014
Premiação da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha reconhece iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável
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entrega do Prêmio von Martius de Sustentabilidade 2014 aconteceu durante a cerimônia de abertura da edição do Congresso Ecogerma deste ano, no Club Transatlântico, em São Paulo. Criado em 2000 pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, a premiação tem a intenção de reconhecer projetos de todo o País que promovam o desenvolvimento socioeconômico e cultural, alinhado ao conceito de sustentabilidade. Além disso, visa reconhecer e reforçar o compromisso da Alemanha e das empresas de capital alemão instaladas no Brasil com o desenvolvimento sustentável. “As novas gerações que estão à frente das tomadas de decisões têm cada vez mais a obrigação de buscar a relação entre economia e ecologia”, declarou Marcelo Lacerda, coordenador da Comissão de Sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha, durante o início da cerimônia. A iniciativa analisou 75 trabalhos e premiou os três melhores colocados das três categorias em foco: Huma-
nidade, Natureza e Tecnologia. Além disso, houve uma menção honrosa na categoria Natureza.
Lista dos premiados Humanidade 1º lugar: “Mapeando Sinergias pela Sustentabilidade da Pan Amazônia”, do Fundo Vale – Associação Vale para o Desenvolvimento Sustentável. Em 2012 o Fundo Vale realizou uma grande pesquisa sobre o perfil e o potencial de sinergia entre centenas de organizações e pessoas que atuam pelo desenvolvimento sustentável da Pan-Amazônia no Brasil e sete países do bioma. Os resultados estão disponíveis no “Mapa de
Mapa de Sinergias da Pan Amazônia
Sinergias da Pan Amazônia” que permite a qualquer pessoa identificar na internet que está operando aonde, em 45 temas e dimensões ambientais, sociais, econômicas e culturais e qual o foco dos beneficiados entre as organizações para permitir maior eficiência de comunicação.
Os três melhores colocados das três categorias em foco: Humanidade, Natureza e Tecnologia. Além da menção honrosa na categoria Natureza 06 REVISTA AMAZÔNIA
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2º lugar: “Convivência com a realidade semiárida – promovendo o acesso a água, solidariedade e cidadania”, do Centro de Educação Popular e Formação Social – CEPFS. A experiência, que vem sendo desenvolvida em comunidades rurais da região semiárida do médio Sertão da Paraíba há 20 anos, tem como objetivo promover o empoderamento social, a partir do fortalecimento político organizativo das famílias e comunidades, resgatando práticas de solidariedade já vivenciadas pelas famílias, que possam, a partir de inovações sociais, contribuir, efetivamente, para uma melhor e mais sustentável qualidade de vida, a partir das potencialidades locais (natureza) e da gestão participativa de recursos. 3º lugar: “Movimento Gastronomia Responsável”, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A curadoria do projeto convidou chefs para criarem pratos seguindo os quatro princípios de conservação da biodiversidade que norteiam o movimento: utilização de alimentos orgânicos, aproveitamento integral dos ingredientes, não utilização de espécies da fauna e flora e uso de ingredientes de fornecedores locais. O Gastronomia Responsável conta com 50 restaurantes participantes em oito estados. Cada um deles oferece pelo menos um prato que segue as especificações do movimento. As pessoas também são convidadas a participar da iniciativa, criando suas próprias receitas responsáveis e compartilhando-as no site http://www.gastronomiaresponsavel.com.br/. Natureza 1º lugar: “Projeto Manejar para Conservar”, da Fundação Amazonas Sustentável – FAZ. O projeto apoia a geração de trabalho e renda por meio do manejo sustentável de madeira na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (AM), tornando
Valore, da Bayer CropScience. Para tornar culturas mais sustentáveis e, com isso, obter certificações internacionais.
legal e sustentável a atividade, antes ilegal e predatória, formando capacidades locais e dando poder para que acompanhem as etapas do licenciamento, produção e comercialização da madeira. 2º lugar: “Uma Parceria Pelo Futuro – Cooperação Técnica VC – SBE – RBMA”, Da Votorantim Cimentos – VC. Os objetivos da Cooperação Técnica VC (Votorantim Cimentos) – SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia) – RBMA (Reserva da Biosfera e da Mata Atlântica) são desenvolver, implementar e difundir boas práticas socioambientais de mineração em áreas cársticas e no entorno das Unidades de Conservação, bem como em áreas de Mata Atlântica que contribuam para a proteção da biodiversidade e a proteção do patrimônio espeleológico. 3º lugar: “Conservador das Águas”, da Prefeitura Munici-
1º lugar Natureza FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL – FAZ
1º lugar Tecnologia – Bayer
pal de Extrema – MG. O projeto foi concebido em 2005 por meio da lei n? 2100, com o objetivo de manter a qualidade dos mananciais de Extrema e promover a adequação ambiental das propriedades rurais, priorizando ações preventivas do que corretivas. Um dos principais objetivos do Conservador de Águas, que é voluntário, é garantir a sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos manejos e práticas implantadas, por meio de incentivos financeiros (PSA). Menção Honrosa: “Gestão Participativa e Sustentável de Resíduos Sólidos”, de Jutta Gutberlet Durante seis anos, a ação desenvolveu múltiplas atividades, fortalecendo a coleta seletiva diária com 32 cooperativas de catadores na região metropolitana de São Paulo. O projeto também ajudou na construção de políticas públicas de resíduos sólidos com a inclusão socioeconômica dos catadores, melhorando as condições de trabalho. Tecnologia 1º lugar: “Valore”, da Bayer CropScience. Implementado em 2009, o programa leva aos produtores rurais toda a orientação de que precisam para tornar suas culturas mais sustentáveis e, com isso, obter certificações internacionais. Além de melhorar a qualidade dos produtos e evitar desperdícios de recursos nos processos, o Valore reúne dezenas de ações em favor da segurança dos trabalhadores, da preservação do meio ambiente e do respeito à legislação. 2º lugar: “ENIAC – Resíduos Eletrônicos”, do Instituto Brasileiro de Turismólogos. Projeto de Responsabilidade Socioambiental que recebe doações de resíduos eletrônicos e bonifica seus doadores. Todo material coletado ganha destinação adequada, reaproveitamento ou é doado para entidades públicas. 3º lugar: “Cisternas com sistemas de boia para lavagem do telhado e bomba trampolim no processo de captação e manejo de água de chuva para o consumo humano”, do Centro de Educação Popular e Formação Social – CEPFS. A iniciativa tem estimulado uma inovação social importante para melhorar a portabilidade da água captada da chuva para o consumo humano. Há na zona rural do nordeste, muitos insetos e pequenos lagartos (lagartixas) e até ratos nos telhados que, frequentemente, fazem suas necessidades fisiológicas e contaminam o espaço. A experiência consiste em dois reservatórios, uma cisterna para captação de água para o consumo humano, reservatório com capacidade de armazenamento de 16 mil litros de água captada do telhado por meio de calhas, e outro pequeno dimensionado, a partir da necessidade da água para a lavagem do telhado.
Menção Honrosa Natureza- Jutta
1º lugar Humanidade - Fundo Vale revistaamazonia.com.br
Manejar para Conservar. Iniciativa potencializa a extração legal e sustentável de madeira REVISTA AMAZÔNIA 07
Fundo Vale está entre as dez instituições que mais investem na Amazônia Experiência teve início com projeto desenvolvido em Paragominas
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Fundo Vale, criado por iniciativa da Vale, figura entre as 10 instituições que mais têm destinado investimentos para conservação da Amazônia nos últimos anos. A constatação é da recente pesquisa realizada pela fundação americana Gordon e Betty Moore, que realiza investimentos na região há mais de uma década. O estudo também mostrou que o Fundo Vale é a única instituição do setor privado a constar na lista. O levantamento concluiu que, entre 2007 e 2013, foram investidos mais de US$ 1,34 bilhão de dólares por 24 instituições dos setores público e privado, incluindo governos, fundações, Organizações Não Governamentais (ONGs), agências bilaterais e instituições multilaterais. Os maiores financiadores de projetos são governos nacionais e subnacionais, com 32,4% dos investimentos. Entre os países que possuem o bioma em seus territórios, o Brasil foi o que mais recebeu aportes: US$ 668,5 milhões. Cerca de 60% da Amazônia encontra-se em território brasileiro. Já para o Peru, que concentra 11% do bioma, foram destinados US$ 212,6 milhões, o que representa 16% do total de aportes. A pesquisa revelou que cerca de 27% dos recursos são alocados para legislação, políticas e monitoramento e 23,5% para pagamento por serviços ambientais e redução compensada de emissões de gases de efeito estufa, o que está figurando como uma nova tendência. Áreas Protegidas recebem o terceiro maior apoio (15,8%), enquanto menos de 4% das verbas são destinadas diretamente para os vetores de desmatamento, como a pecuária, em que o Fundo Vale também atua. Criado pela Vale em 2009, o Fundo é uma associação sem fins lucrativos, com o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), com foco em desenvolvimento de territórios. O Fundo iniciou suas ações pelo Pará. A primeira experiência foi em Paragominas, onde
Fundo Vale entre as dez instituições que mais investem na Amazônia
conseguiu unir atores sociais e fortalecer uma agenda de sustentabilidade que já estava em curso, agilizando a transformação do município. O Programa Municípios Verdes do Pará (PMV), lançado 08 REVISTA AMAZÔNIA
em 2011, inspirou-se no exemplo de Paragominas, uma das experiências mais bem-sucedidas de crescimento econômico aliado ao respeito pelo meio ambiente. O Fundo Vale é membro fundador do PMV, e colaborou revistaamazonia.com.br
A Vale também está entre as empresas mais verdes do mundo, em uma lista divulgada pela revista norte-americana Newsweek
Projeto Pecuária Verde, conta com a parceria do Fundo Vale. Vai desde o nascimento ao abate dos animais
Recentemente o programa Municípios Verdes foi destaque em Abu Dhabi, durante conferência da ONU sobre o clima. O Fundo Vale é membro fundador do PMV- Programa Municípios Verdes do Pará
com a estruturação e fortalecimento da gestão do programa. Atualmente é parte de seu Conselho Gestor. Outro projeto no município, que conta com a parceria do Fundo Vale é o projeto piloto “Pecuária Verde”, realizado
pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas (SPRP) e apoio da Dow AgroSciences. A iniciativa orienta os fazendeiros a aumentarem a produtividade dos terrenos e ajustarem as práticas produ-
tivas, com a melhoria do manejo do gado, recuperação das pastagens, capacitação e treinamento de funcionários. Há ainda a recuperação das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reserva Legal, feita com a consultoria de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/ USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da ONG The Nature Conservancy (TNC). Além de Paragominas, o Fundo Vale atua também em iniciativas nos municípios de Almeirim, São Félix e Novo Progresso, entre outros.
O Fundo Vale O Fundo Vale busca o fortalecimento dos territórios onde atua, por meio de uma atuação em rede, promovendo o diálogo e a parceria entre organizações socioambientais, governos e empresas. O Fundo Vale é uma associação sem fins lucrativos, com o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que busca conectar instituições e iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável. Criado em 2009 pela Vale, como contribuição da empresa para a busca de soluções globais de sustentabilidade, o Fundo iniciou suas ações pelo bioma Amazônia, apoiando iniciativas que unem a conservação dos recursos naturais à melhoria da qualidade de vida e fortalecimento dos territórios. Em quase cinco anos de atividades, acumulou experiência em seis estados brasileiros (Pará, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amapá), com 43 iniciativas e parcerias com 25 organizações socioambientais reconhecidas por sua atuação em campo e grande experiência.
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11ª Navalshore Marintec South America
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umentar a produtividade e consequentemente a competitividade internacional da indústria naval brasileira, que hoje já é a quarta carteira de encomendas de embarcações e a terceira de petroleiros do mundo. Este foi o consenso de lideranças governamentais, setoriais e empresários do segmento que participaram da Marintec South America - 11ª Navalshore, no Centro de Convenções SulAmerica, no Rio de Janeiro. Durante a abertura da feira, o presidente da Transpetro, Sergio Machado, ressaltou que o setor vive outra etapa e precisa enxergar longe: “Sou contra a diminuição da exigência de conteúdo local nos projetos realizados no País. Temos que pensar em aperfeiçoar a gestão e chegar a 50% de produtividade para competir internacionalmente. Não podemos ficar em 10%”. Para Eduardo Vieira, presidente do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio), a saída é descobrir as vocações que podem agregar valor para as empresas e para os trabalhadores. “Não dá pra fazer tudo. Precisamos priorizar e definir no que podemos ser melhores. Se focarmos podemos ampliar em um milhão o número de empregos. Temos que nos estruturar para competir e estabelecer alianças para aumentar a participação do País no cenário internacional”, destacou. O presidente da Frente Parlamentar Mista da Indústria Marítima da Câmara do Deputados, deputado federal Edson Santos de Souza (PT/RJ), acredita que o governo deve oferecer esta sustentação para o segmento. “O Congresso Nacional está atento à necessidade de termos uma política governamental perene que ofereça sus-
tentabilidade à cadeia produtiva da construção naval. O Brasil ganha com o crescimento do setor e pode ampliar a presença no mercado internacional” Joris Van Wijk, diretor-geral da UBM Brazil, empresa que promoveu a feira, acredita que o tema vai nortear os debates do evento. “Temos R$ 100 bilhões em entregas programadas até 2020 o que tornou o Brasil uma das principais carteiras de construção naval do mundo. O desafio agora é fortalecer a cadeia de suprimentos e a formação de mão de obra para atender esta demanda no País. Esta foi a missão que a Marintec South America assume ao reunir os principais players do segmento nesta 11ª edição”.
Até 2020, serão mais 38 plataformas, 28 sondas, 146 barcos de apoio e 88 navios de grande porte destinados à indústria de petróleo e gás. 10 REVISTA AMAZÔNIA
No estande da Suframa, compartilhado com a Seplan/AM e o Sebrae/AM, para divulgação dos benefícios concedidos à Zona Franca de Manaus (ZFM)
Indústria naval brasileira deve alcançar excelência internacional em até dez anos O Brasil contará com uma indústria naval avançada em até dez anos, afirmou o coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) e assessor da Presidência da Petrobras para Conteúdo Local, Paulo Sergio Rodrigues Alonso, durante recente palestra sobre a indústria naval. “Os benefícios da consolidação de uma indústria naval forte, moderna e produtiva são permanentes. A indústria está avançando e realizando parcerias com sócios internacionais importantes. Dentro de sete a dez anos, o país poderá ter o mesmo grau de excelência dos melhores estaleiros da Coreia do Sul e do Japão desde que sejam superados desafios como a melhoria do planejamento e gestão e da produtividade, a integração das cadeias de suprimento, o investimento em pessoal, a modernização da construção e montagem e o resgate da engenharia industrial” afirmou o executivo. Alonso ressaltou, que desde 2003, a indústria naval brasileira já criou mais de 78 mil empregos e construiu 10 estaleiros e 17 canteiros para construção de módulos de médio e grande portes. Até 2020, serão mais 38 plataformas, 28 sondas, 146 revistaamazonia.com.br
Durante a 11ª edição da Marintec South America Navalshore, no Centro de Convenções SulAmérica
barcos de apoio e 88 navios de grande porte destinados à indústria de petróleo e gás. O executivo destacou que o Prominp foi um marco para a recuperação da indústria naval do país. Concebido pelo Ministério de Minas e Energia e sob a coordenação executiva da Petrobras, o programa foi lançado em dezembro de 2003 no estaleiro BrasFels, durante a assinatura do contrato para a construção da P-52.
A SUFRAMA na 11ª Navalshore A Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) contabilizou um acréscimo no número de contatos negociais no estande compartilhado com a Secretaria de Planejamento do Estado (Seplan/AM) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae/AM) na 11ª Navalshore. Além da divulgação dos benefícios concedidos à Zona Franca de Manaus (ZFM), realizado por técnicos da autarquia, um dos motivos que atraíram empresários, investidores e demais interessados no segmento naval presentes ao evento foi a prorrogação, até 2073, do modelo de desenvolvimento regional. Representantes de diversas empresas e instituições de países como China, Estados Unidos, Coréia do Sul, Inglaterra, Argentina, entre outros, visitaram o estande da SUFRAMA em busca de informações sobre o segmento naval na ZFM. “Nos três dias de evento, muitos questionaram como está o cenário atual do setor naval na região Norte do País, em especial no Amazonas, tendo em vista a pujança do Polo Industrial de Manaus”, disse
o técnico da Coordenação-Geral de Promoção Comercial da Superintendência (COGPC/SUFRAMA), Diego Forero. “Além de se informarem sobre os incentivos produtivos concedidos ao modelo Zona Franca de Manaus, muitos ofertaram serviços e insumos para alimentar o segmento naval da região. Desde capacitação de recursos humanos da indústria naval até comercialização de peças e encomendas de produtos fabricados nos estaleiros do Amazonas. Considero a participação da autarquia um sucesso”, completou Forero.
Parceiros O apoio das instituições parceiras, como Seplan/AM e Sebrae/AM, além de representantes do Sindnaval, Sindarma e de estaleiros da região possibilitaram disseminar informações mais precisas sobre a indústria naval da região. As palestras realizadas por especialistas permitiram um maior envolvimento da comitiva amazonense com o público participante da Navalshore, dentre eles formadores de opiniões e profissionais com poder de decisão em um mercado tão concorrido como o da indústria naval.
Empresas oriundas de diferentes setores da indústria naval investindo forte e anunciando o lançamento de novos equipamentos e produtos
tância para alavancar o segmento naval do modelo ZFM por permitir, dentre outros benefícios, aperfeiçoar o escoamento da produção do Polo Industrial de Manaus para outras regiões do Brasil – onde se concentra o mercado consumidor – e do mundo. Este ano, a feira internacional contou com a presença de 380 expositores de 17 países, ante 350 expositores de 16 países em 2013. A estimativa da organização da 11ª edição da Navalshore é de que o público médio tenha superado a marca de 18 mil pessoas, entre visitantes e representantes de empresas, órgãos e instituições interessados na indústria naval, ultrapassando o registrado no ano passado (17 mil pessoas).
Marintec South America Navalshore A Marintec South America - Navalshore é o ponto de encontro da indústria naval e offshore que reunindo: armadores, estaleiros, fabricantes e fornecedores, nacionais e internacionais em um só espaço. É o único evento anual que tem como público de visitantes tomadores de decisão do mercado em busca de novos negócios, fornecedores, tecnologia, e melhores práticas.
Aproveitamento A Marintec South America Navalshore é um dos eventos nos quais a SUFRAMA busca ampliar sua inserção a cada edição realizada. As oportunidades de negócios com marcas nacionais e internacionais são de grande impor-
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REVISTA AMAZÔNIA 11
Brasil recebe autorização da ONU para explorar recursos no fundo do mar Trabalho permitirá ao país aumentar seu conhecimento estratégico sobre recursos existentes na região
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Brasil está pronto para ingressar em uma das últimas fronteiras na busca por recursos naturais valiosos no planeta, o fundo do mar. recentemente, a Autoridade Internacional para o Leito Marinho (ISA, na sigla em inglês), entidade ligada à ONU, aprovou pedido do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para pesquisar e explorar uma área de 3 mil quilômetros quadrados na chamada Elevação do Rio Grande, localizada a 1,5 mil quilômetros da costa do estado do Rio de Janeiro em águas internacionais no Atlântico Sul.
O plano da CPRM tem como objetivo futuros projetos de mineração submarina de crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto, depósitos identificados como de maior potencial econômico e estratégico em levantamentos preliminares realizados após diversas expedições ao local. Pelos termos da concessão, o Brasil terá 15 anos para Projetos de mineração submarina de crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto na chamada Elevação do Rio Grande, localizada a 1,5 mil quilômetros da costa do estado do Rio de Janeiro
12 REVISTA AMAZÔNIA
Governo vai investir Us$ 11 milhões em cinco anos no fundo do mar em área internacional
pesquisar 150 blocos, cada com 20 quilômetros quadrados, reunidos em oito grandes grupos. Segundo a CPRM, o trabalho permitirá ao país aumentar seu conhecimento estratégico sobre recursos existentes na região próxima à plataforma continental brasileira por meio da coleta de dados ambientais, do estudo do seu potencial econômico e desenvolvimento de pesquisas oceanográficas e ambientais, ampliando a presença brasileira no Atlântico Sul. Nos últimos quatro anos, o governo brasileiro investiu cerca de R$ 90 milhões em pesquisas no Atlântico Sul com foco da exploração mineral do leito oceânico, que também está atraindo o interesse de diversos países. Para este ano, estão previstos mais R$ 20 milhões e, com a aprovação do pedido brasileiro pela ISA, a CPRM vai investir em pesquisas só na Elevação do Rio Grande mais R$ 11 milhões nos próximos cinco anos. revistaamazonia.com.br
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REVISTA AMAZテ年IA 53
66ª reunião anual da SBPC
Abertura da 66ª Reunião Anual da SBPC
Fotos: Ascom UFAC, Érico Xavier/Fapeam, Fernanda Farias
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solenidade de abertura da 66ª Reunião Anual da SBPC contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clelio Campolina; da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; do reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Minoru Kinpara; do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis; da vice-reitora da Ufac, Guida Aquino; do secretário Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado do Acre, Marcelo Minghelli; do prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre; da presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone; além de representantes do Ministério da Defesa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e demais autoridades. O reitor da Ufac, Minoru Kinpara, ressaltou em seu discurso a importância da ciência e tecnologia para diminuição das diferenças regionais. “Temos um país continental, com múltiplas realidades. A ciência e a tecnologia são imprescindíveis para o progresso do Brasil. O legado que a SBPC deixará para a Ufac é o de aproximar a ciência e tecnologia do cotidiano e da vida das pessoas”. Kinpara
A mesa oficial na abertura da Reunião Anual da SBPC
agradeceu a presença dos cientistas, estudantes, professores, pesquisadores e ressaltou que a Ufac recebe a todos com “muito carinho e hospitalidade. Tenham todos um ótimo evento”. A presidente da SBPC, Helena Nader, destacou que o tema do evento “Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras” reflete o tema central escolhido para o evento. “A Amazônia tem uma riqueza natural que transborda as delimitações da geografia política, já que esse acervo do planeta é cada vez mais reconhecido como imprescindível à preservação das espécies vivas. É nesse imenso laboratório natural que se integra o Acre e sua capital Rio Branco, onde vamos realizar a 66ª Reunião Anual da SBPC”, ressaltou.
Apesar das adversidades Ministro de C,T&I apresenta oficialmente programa de plataforma do conhecimento 14 REVISTA AMAZÔNIA
O prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, no seu discurso enfatizou: “Enfrentamos inúmeras dificuldades
até chegar a este dia. Tivemos que atender a mais de 8 mil famílias desabrigadas e o acesso por nossas estradas ficou totalmente impossibilitado pela enchente do rio Madeira, que nos atingiu há apenas 4 meses. E hoje aqui está o povo acreano e rio-branquense a recepcionar esta 66ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)”.
O MCTI e a Amazônia O ministro da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), Clelio Campolina Diniz, durante a solenidade de abertura, ressaltou a importância da biodiversidade da Amazônia. Segundo Diniz, essa biodiversidade é hoje a fronteira do desenvolvimento científico do mundo e com um grande potencial produtivo. Para o ministro Campolina, a reunião da SBPC tem um significado de mão dupla. “É importante para a comunidade local receber os pesquisados e cientistas das outras partes do Brasil e revistaamazonia.com.br
Minoru Kinpara, reitor da Ufac, saudando os participantes do maior e mais importante evento em ciência e tecnologia do país
jornal O Estado de São Paulo, Herton Escobar, vencedor do 34º prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, na categoria “Jornalista em Ciência e Tecnologia” recebeu a premiação do ministro Clelio Campolina. Herton é especialista em Ciência e Meio Ambiente e atua no jornal o Estado de São Paulo desde janeiro de 2000. Possui mais de 1.700 reportagens publicadas em formato impresso e digital.
Ministro de C,T&I apresenta oficialmente programa de plataforma do conhecimento
é igualmente importante para os pesquisadores e cientistas de outras regiões visitar o Acre e ter um contato mais próximo dessa realidade”. “A Amazônia tem suas especificidades. Não podemos separá-la do resto do Brasil. Temos que levar a Amazônia para dentro do Brasil e sensibilizar o resto do país para as potencialidades O Teatro Universitário, da Universidade Federal do Acre (Ufac), estava repleto, cerca de três mil pesquisadores, entre brasileiros e do exterior, participaram do maior evento cientifico do País
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amazônicas e para os desafios que a região apresenta”, disse Campolina.
Prêmio José Reis Ainda durante a cerimônia de abertura, o repórter do
No primeiro dia de conferências da 66° Reunião da SBPC, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clécio Campolina, anunciou ao público a realização do Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento, na conferência “Ciência e Tecnologia: Imperativo para o Desenvolvimento Brasileiro”, apresentado pela presidente da SBPC, Helena Nader, no teatro da universidade. Segundo Campolina, a plataforma do conhecimento objetiva promover a articulação do conhecimento científico gerado principalmente nas universidades e instituições de pesquisa, juntamente com as empresas privadas e ações governamentais. “É um programa que tem que ser discutido com calma e cautela com absoluta transparência, pois essas plataformas são arranjos públicos e privados, uma articulação feita de forma contratual com base científica de um lado e a base empresarial produtiva do outro, que serão realizadas por meio de chamadas públicas”, declarou o ministro. O programa, de acordo com Campolina, ocorre por meio de um comitê gestor coordenado pela Casa Civil e composto pelos Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da Fazenda (MF), do Orçamento e Gestão (MP), da Educação (MEC), e do Planejamento. Ainda de acordo com o ministro, os responsáveis pelo financiamento serão: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/ MEC), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
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O projeto “Moda e Sustentabilidade”, lembrava que o intuito da pesquisa não é somente mostrar peças de roupas. “Tudo é sustentabilidade, queremos conscientizar as pessoas quanto a isso”, acrescentou
e Social (BNDES). Durante a conferência o ministro destacou também sua visão econômica do papel da educação, da ciência e da tecnologia no desenvolvimento econômico do país. Lembrando a comunidade científica que a tecnologia moderna nada mais é que o resultado de intensa pesquisa científica que absorve investimentos crescentes. “A inovação tecnológica possui um importante e primordial papel para o desenvolvimento econômico e social de um país. Mas sabemos que a difusão da inovação tecnológica é complexa, pois ocorre com dificuldade, uma vez que o sistema é muito competitivo e a inovação é a principal arma da competição contemporânea. Por isso a importante missão dos investimentos nesta área”, explicou.
SBPC Jovem Mirim Minicursos, oficinas e espetáculos teatrais fizeram parte da programação dos visitantes da SBPC Jovem Mirim. Alguns dos temas apresentados estavam relacionados com as novas tecnologias e os cuidados com o meio ambiente. Estudantes dos municípios de Cruzeiro do Sul, Feijó e da Escola Técnica Campos Pereira, de Rio Branco, assistiram ao minicurso sobre “Robótica”, ministrado pelo professor de eletrônica da Escola Técnica de Brasília (ETB), Izaias Lopes. Criado para fazer uma divulgação da ciência e pesquisas
Dos 56 projetos aprovados na feira de ciências da SBPC Jovem Mirim, uma média de 30 fora, elaborados por estudantes acreanos
Alunos de instituições de ensino, visitantes de outros estados e famílias acreanas formam o público diversificado que prestigia a ExpoT&C. Mais de 10 mil pessoas participam diariamente da feira científica
Filmes em três dimensões mostrando as diversidades do fundo do mar, entre outros; Submarino: Uma “viagem” ao fundo do mar; Sala das Cidades: Mostrando diversas cidades de todo o mundo. Todas as salas, estruturadas para atender pessoas com necessidades especiais. Elevador, paredes adaptadas para deficientes visuais, fones de ouvidos, TVs, além de possuir um monitor para explicar o assunto abordado nas salas. O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Clelio Campolina, o lado de presidente da SBPC, Helena Nader, espera que ajuste fiscal poupe ciência e tecnologia
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), par levar conhecimento. O Museu Itinerante com seis salas de simulação e uma tenda auxiliar. No espaço, os visitantes podiam tocar, aguçar a criatividade e perceber a evolução do homem a partir da interação com os seguintes espaços: Sala do Útero: Uma prévia demonstração das fases da gestação humana; Sala dos Sentidos: Estimulando todos os sentidos; Sala dos Biomas: Abordando três tipos deles, o Serrado, Floresta Tropical e Antártica; Sala 3D: 16 REVISTA AMAZÔNIA
ExpoT&C “A Expo T&C é o maior encontro de ciência e tecnologia do hemisfério sul e estamos trazendo para o Acre o que há de ponta no Brasil. Isso aqui vem sendo há 22 anos o templo da ciência, tecnologia e inovação do país”, disse a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, na abertura da ExpoT&C da 66ª Reunião Anual. Além da presidente da SBPC, participaram da cerimônia de abertura o Ministro da Ciência e Tecnologia, Clelio Campolina Diniz e o Reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Minoru Kinpara. revistaamazonia.com.br
Beatriz Ronchi Teles, coordenadora de Capacitação, em palestra durante a programação da ExpoT&C, para divulgar os Programas de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado oferecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI)
A Fundação de Amparo à pesquisa do Amazonas (Fapeam e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) apresentou o protótipo de Peyara – mapa do Amazonas que possui sensores para interagir com deficientes audiovisuais, no pavilhão José Aníbal Timóteo. Segundo a organizadora do projeto, a professora Claudia Guerra, a expectativa é mostrar o potencial dessa pesquisa e expandir a ideia para outras partes do Brasil e do mundo
Segundo o Ministro, a ExpoT&C é uma forma de mobilizar a sociedade e a academia para o tema da ciência e da tecnologia. Também ressaltou a importância de trazer a comunidade científica brasileira para que os acreanos conheçam o potencial científico do Brasil. Para Kinpara, o evento não deixou a desejar em relação às outras edições e parabenizou as coordenações, nacional e estadual da SBPC pela organização. “Estamos superando as expectativas e a população tem a disposição um banquete de conhecimento”. Os visitantes também estão gostando do evento. O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Alexandre Cals, sócio da SBPC, veio ao Acre para apresentar um trabalho na reunião. “Estou maravilhado com a exposição, a cidade é muito bonita e até domingo pretendo visitar todas as atividades propostas. E o legado que a SBPC vai deixar para os acreanos é justamente o desenvolvimento científico e tecnológico da Amazônia”, disse.
Sergio Cargioni, presidente da Confederação Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), apresentou o Plano de Ciência e Tecnologia para a Amazônia Legal (PCTI-Amazônia). Quatro eixos estratégicos são descritos no PCTI-Amazônia com o objetivo de superar as fragilidades do sistema regional de C,T&I: infraestrutura para a ciência, tecnologia e inovação; formação, atração e fixação de pessoal; ambientes e polos regionais de inovação e agenda regional de pesquisa e desenvolvimento (P&D)
Expositores da ExpoT&C A edição contou com 29 expositores. Os estandes que possuem maior área dentro da exposição são Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a MarinhaFundação Mar, o Ministério dos Esportes e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Forças Armadas Os estandes da Marinha e do Exército Brasileiro exibiram armamentos e máquinas utilizadas nas operações das Forças Armadas. O simulador de navio, uma das atrações mais visitadas, é um projeto apresentado pela Marinha e desenvolvido para treinamento dos novos oficiais. O aparelho foi adaptado para participantes de todas as idades.
Funtac O pesquisador Luiz Renato de França, diretor do Inpa/MCTI, apresentou dentro da ExpoT&C, 23 livros, dentre os quais 14 são obras que foram produzidas pela Editora Inpa a partir de julho de 2013 e as demais obras foram publicadas em parceria de alguns pesquisadores do instituto com outros projetos
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A pesquisa com óleos extraídos do açaí, castanha, patuá e copaíba que são utilizados na composição de cosméticos chamou a atenção dos visitantes de outros Estados. O projeto é da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre
Carlos Bueno, pesquisador do Inpa/MCTI, e coordenador de Extensão do Inpa (COEX), dentro da programação da ExpoT&C, mostrou projetos desenvolvidos e estratégias utilizadas para a socialização do conhecimento produzido no instituto
(Funtac) que também desenvolve pesquisas para área alimentícia e fisioterapêutica.
Setor de petróleo e gás com novas regras para investimentos em pesquisa e inovação Os rumos dos investimentos do setor de petróleo, gás e biocombustíveis para pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) estão em discussão por meio da consulta pública 10/2014, da Agência Nacional de Petróleo. As REVISTA AMAZÔNIA 17
novas regras propostas pela ANP foram apresentadas pelo seu superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Elias Ramos de Souza. O assunto interessa à comunidade científica, que espera um debate amplo com todos os setores da sociedade. Entre as novas diretrizes está a inclusão do termo inovação junto ao binômio ‘pesquisa e desenvolvimento’. Quanto aos recursos, Elias de Souza explicou que a ANP criará um Comitê Técnico-Científico (COMTEC) que estabelecerá as diretrizes para aplicação dos recursos referentes às cláusulas de investimento em P,D&I dos contratos para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e/ou gás natural. O COMTEC terá oito membros e um deles será representante de instituições de P&D credenciadas pela ANP. “O comitê contará também com a participação de um representante de empresas petrolíferas e um de empresas fornecedoras brasileiras”. Elias ainda alertou que as regras definidas, a partir dessas discussões, valerão para os novos contratos. Atendendo ao chamado do superintendente de pesquisa da ANP, a presidente da SBPC, Helena Nader, e o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, se comprometeram a elaborar um documento com sugestões para a consulta pública. “Melhor que isoladamente, vamos encaminhar juntos, SBPC e ABC, essas propostas à Agência Nacional de Petróleo, que está de parabéns pela coragem de discutir esse assunto”, elogiou Helena Nader. Para esclarecer dúvidas e ouvir sugestões, Elias de Souza disse que está sendo realizada uma série de reuniões em diferentes instituições do País: Coppe/UFRJ, Unicamp, Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo. “Outros encontros estão programados e serão divulgados”, adiantou.
SBPC Indígena
SBPC Indígena A SBPC Indígena foi um espaço de voz dos povos e organizações nativas e representou o intercâmbio de saberes entre povos e culturas indígenas com pesquisadores de instituições oficiais. “Ao longo dos anos, a população indígena foi vista meramente como matéria prima para a ciência ‘tradicional’, mas nós sabemos que somos mais. Há muito de ciência e saber nas nossas aldeias”, disse a liderança indígena Sabá Haji Manchinery. Com uma linguagem simples e objetiva, Sabá prendeu a atenção dos participantes ao falar sobre o tema “A Ciência e o saber na perspectiva indígena”. Saúde e sobrevivência foram alguns dos assuntos tratados. “As pessoas podem se perguntar. ‘Mas o que um índio tem pra falar sobre ciência?’. Nossos armamentos de caça e pesca, nossas experiências de cura na aldeia, são exemplos da nossa ciência, do nosso saber”, explicou o Manxineru. De Cruzeiro do Sul, o cacique Nii Waninawá foi um dos participantes da conferência. Responsável por orientar 840 índios no município, ele veio a Rio Branco para aprender e também ensinar. “Como cacique, eu oriento o meu povo na aldeia. Lá a gente tem a nossa ciência, o
nosso saber que tá na natureza, na floresta e que é diferente da do homem branco. Tá aqui participando dessas discussões é importante por isso porque é uma troca”, justificou o líder.
Atrações científicas, culturais e estrangeiras O campus universitário de Rio Branco acolheu estudantes, cientistas e pesquisadores de todo o Brasil, além do público visitante local, que com acesso livre, puderam conhecer o que há de mais atual em inovações científicas no Brasil e no mundo, além de espaços de debates, palestras, conferências, minicursos, shows musicais e peças de teatro. A programação incluiu: a ExpoT&C, sessão de pôsteres, Jornada Nacional de Iniciação Científica, SBPC Jovem e Mirim, SBPC Cultura. Além da novidade deste ano – SBPC Extrativista e SBPC indígena. Pela primeira vez numa reunião anual aconteceu o Dia da Família na Ciência, com uma programação voltada para a interação com a comunidade acreana e mostrando como a ciência está presente no dia a dia das pessoas.
Público Durante um dos minicursos, que abordaram temas científicos como saúde, comunicação, meio ambiente, entre outros.
Palestra “Serpentes Peçonhentas e Acidentes Ofídicos no Brasil” 18 REVISTA AMAZÔNIA
O evento registrou aproximadamente 5,8 mil inscrições e a participação de cerca 10 mil pessoas. Dessas, entre 3 mil e 4 mil cientistas, segundo informações do MCTI. O evento deste ano contou com a participação de associações científicas estrangeiras. Integraram essa liga para o progresso da ciência a Associação Chinesa para a Ciência e a Tecnologia (China Association for Science and Technology — Cast); a Associação Europeia para a Ciência (EuroScience — ES); o Congresso de Associações de Ciência da Índia (Indian Science Congress Association — Isca); e a Associação Americana para o Avanço da Ciência (American Association for the Advancement of Science — AAAS), além de outros cientistas renomados da América Latina. revistaamazonia.com.br
Amazônia de 8 milhões de anos
Mito da Amazônia na Mídia
A mesa “Mito da Amazônia na Mídia”, contou com a participação do professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Maurício Bittencourt, coordenada pela socióloga Dilma de Melo Silva. Bittencourt criticou a forma como a mídia tem discutido a Amazônia, destacando apenas floresta e as belezas naturais, transformando-a em mito. “As devastações ambientais que precisam de ações da sociedade não são mostradas pela mídia, caso da inundação do rio Madeira”, salientou.
Desafio de formação e fixação de doutores
A coordenação do debate ficou a cargo da professora Tania Araujo Jorge, da Fiocruz, que demonstrou preocupação ao revelar dados sobre a escolaridade no País: 70% dos brasileiros não têm sequer o ensino médio completo. “Isso se reflete na formação de professores. Há uma queda na demanda pelos cursos de licenciatura e em alguns lugares os professores de matemática, química e física estão em extinção. Isso afeta diretamente a formação de doutores”, alertou. Segundo Marcelo Minghelli, da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Acre (SECT/AC), precisamos ter três eixos básicos de políticas públicas: formação, infraestrutura para desenvolver as pesquisas e salário”, ponderou. Por sua grande extensão territorial e diferenças entre seus estados, a Amazônia Legal é marcada pela desigualdade. De acordo com Minghelli, o quadro de mestres e doutores é bastante reduzido porque a região é a que tem o menor número de instituições federais de ensino e pesquisa e uma distribuição desigual de recursos. “Precisamos equilibrar as diferenças para termos políticas sólidas na região. Os recursos são fundamentais para a formação e para se manter o sistema de ciência e tecnologia equilibrado, com um bom fluxo de mestres e doutores, além de pesquisas realizadas”, afirmou o secretário.
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Uma Amazônia, dois recortes. Essa foi a proposta do professor doutor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Jonas Pereira de Souza Filho, ao reunir estudantes e pesquisadores de diferentes partes do país interessados na conferência “Fósseis do Cenozoico do Acre: uma Janela Paleobiológica na Amazônia Ocidental”. Jonas Filho exibiu imagens de parte do acervo do laboratório de paleontologia da Ufac, onde estão catalogados cerca de 6 mil espécimes, alél de exemplares pertencentes a museus localizados no sul do Brasil e na Venezuela: Jacarés, tartarugas, jabutis, capivaras, aves gigantes, preguiças. Animais, a maioria completamente extintos, que já reinaram na Amazônia de 8 milhões (mioceno) e 11 mil (pleistoceno) de anos passados. Ao fim, uma conclusão: “Estamos acompanhando a história evolutiva do planeta. A Amazônia que nós conhecemos hoje e que se mostra como uma grande floresta tropical coberta por uma rica diversidade vegetal é apenas uma das fotografias. Há outras. A de um grande pantanal de 8 milhões de anos atrás e a de uma enorme savana de 11 mil anos atrás. Estudar a paleontologia nos possibilita isso. Reconstruir o passado, nesse caso específico, o amazônico, para ter condições de refletir sobre o futuro da Amazônia que interessa a todo o planeta”.
O diálogo entre o saber científico e as ciências tradicionais
A palestra “Tradições científicas e ciências tradicionais: diálogo necessário”, proferida pelo antropólogo e professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Mauro Almeida, foi divida em quatro momentos distintos: revolução científica e as tradições científicas; revolução neolítica e as ciências da tradição; a obsolescência ou não das ciências tradicionais; e a questão das novas alianças. Para o antropólogo, entre outras considerações, “embora ainda existam muitas diferenças entre a tradição científica e a tradicional, já se começa a esboçar um diálogo entre elas”. Na parte final da palestra, a antropóloga Manuela Cunha, ex-professora da University of Chicago, convidada para dar um depoimento sobre o tema, informou que uma das iniciativas em curso para estabelecer uma convergência desses saberes foi a criação de um painel intergovernamental para assuntos de biodiversidade e ecossistema. “A ideia é que esse painel já incorpore os conhecimentos tradicionais nos seus próximos relatórios”, disse a antropóloga. Mauro William Barbosa Almeida, acreano de Rio Branco, é Ph.D. em Antropologia Social pela Cambridge University, pós-doutor pela Universidade de Stanford, e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Além disso, participou da criação da Reserva Extrativista do Alto Juruá e do planejamento da Universidade da Floresta (Ufac, em Cruzeiro do Sul). REVISTA AMAZÔNIA 19
Café Literário e Cultural com programação diversificada
Lançamento de livros, recitação de poesias, apresentações musicais e de dança fizeram parte das atrações do “Café Literário e Cultural”. O poeta Raimundo Nonato apresentou a obra “Sonhador, Voar, Viajar”. De acordo com o autor, esse é seu segundo trabalho e reúne variedade de poemas, principalmente românticos, inspirados por fatos do dia-a-dia e experiências pelas quais passou. A professora e pesquisadora do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela) da Universidade Federal do Acre (Ufac), Simone de Souza Lima, lançou os seus dois livros mais recentes: “Amazônia Babel” e “Caleidoscópios da Cultura Brasileira”. Este último tem a parceria da professora Luciana Marino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Lançar o livro na SBPC é um privilégio, é um presente, pois esse é um evento científico de dimensão internacional. Não haveria melhor oportunidade”, disse a professora da Ufac.
A democratização dos meios de comunicação
“A Lei dos Meios e a Democratização dos Meios de Comunicação” foi o foco da discussão levada a efeito pelos pesquisadores Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Venício Arthur de Lima, da Universidade de Brasília (UnB) e Jonas Valente, do Coletivo Intervozes. Para Jonas Valente, o debate que se deve levar a efeito é o de quais as regras que possam ser implementadas no sentido de beneficiar o conjunto da população. Ele explicou que alguns setores, como os “coletivos” fazem a crítica ao atual modelo de forma permanente, por entender que o atual monopólio exercido pelas redes não permite que os cidadãos conheçam praticamente nada da realidade do país. “Falta diversidade e pluralidade aos meios de comunicação”, garantiu Valente. Para Ivana Bentes, os marcos regulatórios devem levar em conta que existem hoje pessoas disputando o sentido do mundo e que não estão ligadas a nenhuma das instituições integradas ao monopólio da comunicação. “Deve-se começar a discutir mecanismos que protejam os novos produtores de conteúdo, os ‘midiativistas’, que não estão ligados a qualquer tipo de reserva de mercado”, propôs Ivana Bentes.
Sessão de pôsteres da SBPC com mais de mil trabalhos
Ciências exatas e da terra, biológicas, da saúde, agrárias, sociais aplicadas, humanas, artes, letras e linguística, engenharias são as grandes áreas contempladas na sessão de pôsteres. 1594 estudos foram apresentados ao público. Ao lado de cada pôster, um pesquisador apresentava os resultados e o processo de produção do trabalho.
Visitantes da SBPC elogiam campus da Ufac
A estrutura do campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) foi um dos pontos mais elogiados pelos participantes da 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A organização do evento, também teve seu trabalho destacado. 20 REVISTA AMAZÔNIA
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A internacionalização da pós graduação
Pesquisa para avaliar impactos da exploração de xisto no País
Pesquisadores consideraram “intempestiva” a investida do Brasil na exploração de gás de xisto sem mensurar os estragos que essa atividade pode proporcionar ao meio ambiente. Sob o título “Os impactos socioambientais da exploração de petróleo e gás de xisto no Acre”, a mesa-redonda foi composta por Jailson Bittencourt de Andrade, conselheiro da SBPC e pesquisador do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Luiz Fernando Scheibe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Bianca Dieile da Silva, pesquisadora da Fiocruz. O debate foi mediado por Umberto Giuseppe Cordani, da Universidade de São Paulo (USP). Andrade fez questão de frisar que as principais reservas de xisto no Brasil estão nas regiões Sul, Oeste, Nordeste e Sudeste. Segundo disse, a extração do xisto não é uma tarefa simples pelo fato de o mineral estar abaixo de aquíferos importantes. Sua exploração acarreta vários danos ao meio ambiente, além de poluir a água potável de poços próximos ao local, em decorrência de agentes químicos utilizados para extrair o produto. Conforme explicou o professor da UFBA, para acessar o gás é preciso atravessar o aquífero, processo que requer uma tecnologia extremamente segura. O gás é extraído por pressão hidráulica somada à mistura de agentes químicos. Esse procedimento também gera grandes demandas por água e exige recursos logísticos. “O local precisa de uma cadeia produtiva de água e de transporte de gás”, frisou Andrade. “As expectativas são de que o gás tomará uma dimensão imensa no consumo energético e, por tabela, no cenário geopolítico”, disse Andrade. Impactos nos EUA e na China Ao avaliar o cenário, Umberto Giuseppe Cordani, pesquisador da USP, disse que o “Brasil está entrando nessa área de maneira intempestiva”. Apontando os riscos dos EUA na extração do recurso, lembrou que países europeus, como França, desistiram de extrair o produto temendo danos ambientais, enquanto outros países sugerem estudos prévios, como recomendam a SBPC e a ABC.
O presidente da Capes, Jorge Guimarães, anunciou proposta que prevê a internacionalização de programas de pós-graduação como forma de aumentar a excelência do ensino e das pesquisas dessa modalidade. A intenção da Capes com a medida, segundo seu presidente, é fortalecer o sistema educacional brasileiro, com formação de recursos humanos qualificados a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentado do País por meio do conhecimento científico. Mediando a conferência, a presidente da SBPC, Helena Nader, demonstrou apoio à proposta. “Acho fantástica, e o impacto dela será grande”, considerou. Segundo Guimarães, o projeto da Capes já foi apresentado ao ministro da Educação, José Henrique Paim, e à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Diante da necessidade de se melhorar a qualidade do ensino nas universidades brasileiras, Guimarães disse que a sugestão é iniciar a internacionalização da pós-graduação de forma setorizada. Ou seja, selecionando os melhores cursos que na avaliação da Capes têm notas 6 e 7 – portanto, já oferecem padrão internacional. Além disso, Guimarães sugere colocar em prática nas instituições brasileiras experiências obtidas pelo País na execução do programa Ciência sem Fronteiras. Nesse contexto, ele citou alguns exemplos do que uma instituição universitária precisa para ser considerada de classe mundial: elevado conceito nas atividades de pesquisa; desfrutar de autonomia, respondendo pela governança necessária ao pleno desenvolvimento institucional; adoção de currículos internacionais, capacidade de oferecer cursos regulares na graduação e pós-graduação em língua inglesa e em outras línguas; e adotar procedimentos efetivos de colaboração internacional em temas focados e áreas bem definidas. Antes de anunciar sua proposta, Guimarães discorreu sobre a necessidade de se fortalecer o ensino brasileiro, diante da invasão de grandes conglomerados universitários mundiais, principalmente em países com educação fragilizada, como no Brasil, por exemplo. Em vários países, disse, esses conglomerados já assumem proporções gigantescas em números de alunos matriculados em graduação, o que representa motivo de preocupação para as autoridades educacionais. Ele citou como exemplo o fato de no Brasil existir conglomerados universitários com até um milhão de alunos. “Isso coloca em evidência o desafio de nossas universidades figurarem na lista de instituições de classe mundial”, disse Jorge Guimarães, para emendar: “A ideia é aproveitar a própria globalização para expor nossos alunos e pesquisadores a ambientes academicamente mais ricos”.
Trilha do seringueiro
Um dos programas da SBPC Jovem Mirim foi a visita à Trilha do Seringueiro, localizada no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (Ufac). Essa é a primeira vez que uma Reunião Anual da SBPC promove uma atividade em uma trilha na floresta. Em uma extensão de 3 km, os visitantes podiam observar objetos utilizados pelos seringueiros, representações da casa ondem moravam, a beleza da fauna e a flora da Amazônia. revistaamazonia.com.br
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SBPC Extrativista Projeto Catar fez coleta de materiais recicláveis
A Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis do Acre (Catar) desenvolveu ações de coleta seletiva na 66ª SBPC. Dos resíduos sólidos, a maioria garrafas pet, para triagem na cooperativa. “Esse serviço é importante porque contribui para evitar que se tirem mais matérias-primas da natureza e se evite o acúmulo de lixo no aterro sanitário. A SBPC também prima pela preocupação com o meio ambiente. É um dever da sociedade colaborar com esse trabalho”, declara a presidente da comissão de implantação da coleta seletiva solidária na Ufac, Cristina Boaventura.
SBPC indígena encerra com apresentação de rituais
A apresentação de rituais marcou o encerramento da SBPC Indígena. O evento reuniu, durante cinco dias, diversas etnias do Brasil e de outros países. Esse foi o primeiro evento dentro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) voltado exclusivamente para a questão indígena. Mesas-redondas, conferências, encontros, rituais e exposições fizeram parte da programação. Os objetivos principais da primeira SBPC Indígena foram: dar voz aos povos indígenas, incentivar debates, fortalecer a cultura e o compartilhamento de experiências. Mesmo essa iniciativa sendo importante, não existem informações sobre a realização de uma próxima edição. “Se for do interesse indígena e facultada essa participação por parte da SBPC, com certeza nós teremos outras edições”, falou Jacó Piccoli, organizador do evento. 22 REVISTA AMAZÔNIA
A primeira edição da SBPC Extrativista, na 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), superou as expectativas de público. O encerramento oficial aconteceu na tarde de sábado e contou com a participação do reitor da Universidade Federal do Acre, Minoru Kinpara, e da presidente da SBPC, Helena Nader. Na ocasião, foi apresentada uma carta elaborada por representantes dos extrativistas com diversas propostas referentes ao evento. A principal delas pedia a incorporação da SBPC Extrativista na agenda oficial da SBPC. Como resposta ao pedido, Helena Nader garantiu que na próxima edição haverá duas conferências e duas mesas-redondas sobre o assunto, mas a incorporação definitiva do extrativismo não é possível por se tratar de um tema regional. “Garanto, ainda, mediante assinatura dos extrativistas, apresentar esse documento a quem de direito. O levarei nos Ministérios de Meio Ambiente, da Saúde, da Educação, de Ciência e Tecnologia e à Secretaria de Política das Mulheres, para que todos possam tomar conhecimento. A SBPC é isso: uma interlocutora de diversos assuntos e do extrativismo também”, promete. Para o reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Minoru Kinpara, a instituição não será a mesma depois da SBPC. “Iremos incentivar uma rotina de discussão na universidade sobre o extrativismo. Estou muito contente com os debates que foram feitos e orgulhoso pelo esforço da organização feita pelos coordenadores, professores, técnicos e alunos”, declarou. O coordenador da comissão organizadora, Tadeu Melo, agradeceu a presença da caravana de extrativistas vindos da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), dos pesquisadores, estudantes e comunidade em geral que participaram das atividades desenvolvidas durante a semana.
SBPC Cultural alcançou objetivos
“A SBPC Cultural superou expectativas e encerra programação com seus objetivos alcançados: divulgar a cultura acreana e promover intercâmbio entre artistas”, disse o coordenador geral da comissão cultural Flávio Lofêgo. Ao longo de seis dias, a SBPC Cultural realizou diversas atividades artísticas em vários espaços da universidade, reunindo um público de estudantes, visitantes e pessoas interessadas em cultura. O ponto alto da SBPC Cultural, segundo Lofêgo, foram as apresentações artísticas no Palco Principal, em especial o Show da banda Los Porongas que atingiu um público de mais de 3 mil pessoas. O evento ainda deu espaço para vários artistas apresentarem suas obras e trabalho. “Foram vendidas várias obras na exposição de artes visuais”, destacou Lofêgo. Também foi realizado o lançamento de oito livros no “Café Literário e Cultural”, exibidos mais de 20 filmes do Festival Pachamama, no “Cinema no Lago” e 17 apresentações no “Palco Principal”.
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O balanço da 66ª Reunião Anual
Dirigentes ressaltam desafios e legado do evento realizado em Rio Branco. Será marco para SBPC e Ufac “A partir de agora as reuniões anuais da SBPC terão de ser consideradas ‘antes do Acre’ e ‘depois do Acre’”, afirmou a presidente da entidade, Helena Nader, em entrevista coletiva realizada na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. O evento serviu para apresentar aos jornalistas os números finais e um balanço da 66ª Reunião Anual da SBPC, realizada na capital acreana. Da mesma forma, o reitor da Ufac, Minoru Kinpara, colocou a Reunião da SBPC como um divisor de águas na trajetória de sua instituição. “A Ufac não será mais a mesma depois de tudo que vivemos aqui nesta semana”, disse, ao destacar o fato de que em 2014 a universidade que dirige completa 50 anos de criação e 40 anos de federalização. Encerramento Os números são reveladores da importância atribuída por Nader e Kinpara à 66ª Reunião Anual da SBPC. Superando as expectativas, a programação científica contou com 6.531 inscritos para assistir a quase duzentas atividades, entre minicursos, conferências, mesas-redondas, encontros e sessões especiais. “Esperávamos pouco mais de quatro mil inscrições”, observou Helena Nader. Para as demais atividades, em que se dispensa a inscrição e não há entrega de certificado de participação, o campus da Ufac recebeu, em média, diariamente, cerca de 10 mil pessoas. Elas foram participar da SBPC Cultural, da SBPC Jovem Mirim e da Exposição de Tecnologia e Ciência (ExpoT&C), atividades tradicionais do evento. Além dessas, em Rio Branco houve três novidades: a SBPC Indígena, a SBPC Extrativista e o Dia da Família na Ciência. O Acre tem 22 municípios; houve inscritos para a programação científica de 20 deles. Foram a Rio Branco pesquisadores e estudantes de 371 cidades, de todos os Estados brasileiros. “Atraídos pela SBPC Indígena, recebemos representantes de tribos do Chile, Colômbia e Peru, além dos Estados amazônicos”, informou Helena Nader. Ela lembrou também que da participação de representantes da EuroScience e da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) em um seminário em que foram discutidas estratégias para aprimorar o diálogo entre cientistas e legisladores. Desafio O sucesso dos números da Reunião em Rio Branco, segundo Helena Nader, é consequência do trabalho de organização e realização do evento, função compartilhada entre a SBPC e a universidade anfitriã. “Não vimos problemas de nenhuma ordem. Tudo esteve impecável”, resumiu a presidente. “Assim como dividimos a contagem dos anos em ‘antes de Cristo’ e ‘depois de Cristo’, a partir de agora as reuniões anuais da SBPC terão de ser consideradas ‘antes do Acre’ e ‘depois do Acre’”, enfatizou a presidente. Com isso, ela prevê que as próximas reuniões anuais terão como desafio prévio “se igualarem minimamente à organização que vimos aqui em Rio Branco”. Uma particularidade que Helena Nader destacou em Rio Branco foi o Dia da Família na Ciência. Com uma programação de divulgação científica capaz de ser atrativa para todas as faixas etárias, “as famílias se apoderaram da SBPC”, afirmou Helena revistaamazonia.com.br
Nader. “Isso foi importante porque pudemos mostrar à sociedade para o que serve a ciência; que estamos retornando os investimentos que a sociedade faz em nossas instituições de pesquisa por meio dos impostos que ela paga ao governo”. A presidente da SBPC se referiu também à SBPC Indígena e à SBPC Extrativista. “Foram importantíssimas e extremamente apropriadas para um Estado com as características culturais e econômicas do Acre”. Helena Nader informou que encaminhará a ministérios do governo federal as pautas de reivindicações elaboradas naquelas atividades. Legado Na avaliação do reitor Minoru Kinpara, a reunião anual da SBPC deixará um “enorme legado” à Universidade Federal do Acre. “Tenho certeza absoluta que a Ufac não será mais a mesma depois de tudo que vivemos aqui nesta semana. Fico ainda mais feliz porque isso acontece quando a Universidade completa quarenta anos de federalização e cinquenta de criação”. O reitor vê o êxito da Reunião como o “coroamento de um grande esforço”. “Decidimos que não iríamos apenas emprestar a Universidade para a realização da Reunião da SBPC, mas sim assumir o evento e trabalhar junto com a coordenação nacional”. Como resultado, Kinpara afirmou que “todas as expectativas puderam ser superadas”. Como principal legado do evento para a Ufac, o reitor destacou o intercâmbio de seus docentes com pesquisadores renomados de todo o País. “Isso tem para nós um valor imensurável”, acentuou o reitor. Ele destacou os benefícios da programação científica da Reunião. “Se apresentar e discutir temas da ciência é importante para todo o mundo, imagine para um lugar que não dispõe de grandes recursos”, comparou. “Nossos pesquisadores e estudantes tiveram um banquete de ciência, tecnologia e inovação”. Também presente à entrevista coletiva, a vice-reitora Guida Aquino informou que a organização e a realização da 66ª Reunião da SBPC “consumiram praticamente um ano de trabalho de uma equipe com mais de cem pessoas”. Coordenadora da comissão local de organização do evento, Guida disse que “poderia escrever um livro para narrar tudo que fizemos para chegar até este dia de encerramento da Reunião”, declarou. *Com informações da Ascom SBPC, UFAC, Gustavo de Araújo Ribeiro, Viviane Monteiro No encerramento da 66ª Reunião Anual da SBPC
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Pesquisadores do INPA estudam mudanças climáticas em peixes da Amazônia Região possui uma mina de ouro biológico para estudar impactos climáticos na biodiversidade
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a tentativa de mitigar os efeitos das altas temperaturas do globo terrestre previstas para os próximos anos, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) começam a estudar, em laboratório, a adaptação de várias espécies de peixes e de vegetais da Amazônia às oscilações climáticas. Sob o tema “As mudanças ambientais e a sobrevivência da Biota Aquática Amazônica”, Adalberto Luís Val, pesquisador do Instituto e diretor do laboratório de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (ADAPTA), declarou que o estudo está sendo conduzido em estufas com temperaturas previstas para os próximos anos. “Vivemos hoje os piores índices de temperaturas do mundo, com mudanças climáticas radicais”, disse Val, membro da SBPC e representante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na região Norte. O pirarucu, natural da Amazônia, é um das espécies milenares que apresenta mais capacidade de se adaptar às oscilações climáticas. O peixe que precisa de água e de ar aéreo para respirar, pode atingir três metros e peso de até 200 Kg, é dos maiores peixes de água doce fluviais e lacustres do Brasil. Segundo Val, é importante estudar o DNA do pirarucu para entender a história milenar dessa espécie. “A Floresta Amazônica é uma mina de ouro para estudar.” Conforme Val, os resultados já obtidos dos estudos mostram que o estresse do pirarucu a altas temperaturas surtiu efeito em 20% do tamanho do peixe. Os pesquisadores ainda não tem informação do efeito da reprodução do peixe quando exposto a altas temperaturas.
Mina de ouro biológico Com a mesma opinião, o biólogo Aldo Malavasi, secretário da SBPC, que mediou a conferência, tentou descrever o potencial da floresta amazônica. “O que o Brasil tem de fato na Amazônia é uma mina de ouro biológico.” Só a educação e o conhecimento científico poderão mitigar a temperatura drástica que a humanidade enfrentará daqui a 100 anos. Foi com esse tom que o Adalberto Val, fez alerta sobre a tendência do aumento da temperatura 24 REVISTA AMAZÔNIA
As mudanças ambientais e a sobrevivência da Biota Aquática Amazônica
e um alerta sobre os impactos desse fenômeno da diversidade biológica, sobretudo da Amazônia. Responsável por 60% do território brasileiro, a Amazônia possui 5,5 milhões de quilômetros quadrados (km2); tem 7,2 milhões km2 de bacias hidrográficas, 700 mil km2 de vegetação aberta e 13 mil quilômetros de fronteiras. Uma das principais características da Amazônia são as águas do Rio Negro que cortam como o Mississippi dos Estados Unidos (EUA), respondendo por 20% da água doce do mundo. Na conferência, o pesquisador do INPA considerou fundamental o investimento científico e tecnológico na tentativa de preservar e conservar a Amazônia e de enfrentar os desafios das temperaturas drásticas que estão por vir.
Para Val, o aumento drástico da temperatura do globo terrestre deve interferir no solo, água, nas espécies animais e vegetais e, por tabela, na segurança alimentar. Diante disso, ele alertou para a necessidade de uma revolução no sistema de ensino, pelo menos no Brasil, com estímulos ao conhecimento, às vivências regional e cultural, na tentativa de mitigar os reflexos das altas temperaturas que ainda estão por vir. Val recomenda mudar a forma de pensar daqueles preocupados em deixar um mundo melhor para “nossos filhos”. “Temos é de pensar em como preparar nossas crianças para enfrentar os desafios futuros do mundo.”
Previsões do IPCC Nesse caso, ele citou as últimas previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla inglês) que prevê temperaturas drásticas para os próximos 100 anos. Destacou o cenário mais drástico do IPCC para temperaturas daqui a 100 anos, de 73 graus celsius. “Isso seria uma mudança drástica para a temperatura do nosso sistema terrestre.”
Estudando como as mudanças climáticas terão impactos sobre os ecossistemas incluindo alterações em alimentos disponíveis para os peixes revistaamazonia.com.br
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5º Fórum mundial de Meio Ambiente Durante o 5º Fórum Mundial de Meio Ambiente
Fotos: Gustavo Rampini
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urante a palestra de abertura do Fórum em Foz do Iguaçu (PR), Bill McKibben, escritor, educador e ambientalista norte-americano, alertou para a crise climática e para os perigos do aumento das temperaturas globais e suas consequências, como as inundações e as tempestades tropicais. Segundo ele, a temperatura global já subiu 1°C e vai subir até 4°C antes do fim do século. “Se isso acontecer não teremos mais uma civilização como a que estamos acostumados”, disse. “Imaginem Copacabana, Ipanema e toda a costa brasileira com o mar três metros acima do nível atual”. McKibben afirmou que esta grave realidade não precisaria estar ocorrendo, uma vez que os cientistas alertaram há décadas sobre os riscos da utilização de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás e apontaram alternativas, como a redução de carbono. O principal obstáculo, segundo ele, é o poder da indústria de combustíveis fósseis, que impede que as mudanças ocorram. “Os cientistas já nos disseram que 80% do carvão, do petróleo e do gás natural devem permanecer no subsolo, não podendo ser utilizados, se queremos evitar uma grande catástrofe”, afirmou. O cientista destacou os avanços realizados pelos países escandinavos e a Alemanha no sentido de minimizar os efeitos nocivos das mudanças climáticas e afirmou que os Estados Unidos são o país com o papel mais destrutivo. “O Brasil precisa ser um desses países que ajudam e mostram ao mundo inteiro o que deve ser feito”, observou, defendendo o papel de liderança do País no contexto mundial. “Temos a ciência e a tecnologia, a questão é saber se temos o coração enquanto seres humanos para fazer o que precisa ser feito”, finalizou. O governador do Paraná, Beto Richa, destacou, na abertura do evento, as iniciativas do Estado em relação às questões ambientais, entre elas o lançamento do 1º Sistema de Gestão Ambiental (SGA) do Paraná, que conta com monitoramento online da qualidade da qualidade do ar e um módulo de Restauração, que mapeia a recomposição florestal do Estado. O primeiro Painel do Fórum, sobre Economia Verde, com o tema “Soluções para o Desenvolvimento Sustentável”, 26 REVISTA AMAZÔNIA
do IEDI; e Walter Schalka, presidente da Suzano. Solheim elogiou os avanços do governo brasileiro para impedir o desmatamento da floresta tropical. “Nenhuma outra nação na história da humanidade foi capaz de proteger sua biodiversidade como o Brasil”, disse. Entre as medidas necessárias para contribuir com o meio ambiente, ele destacou a importância das coalizões entre as pessoas e comunidades e as forças políticas do mercado por meio de incentivos e impostos para as energias renováveis. Também defendeu a redução dos subsídios para a indústria de combustíveis fósseis. “É tudo uma questão de mobilizar as vontades políticas. Não é preciso um talento particular, mas sim trazer o melhor de todos para colocar as boas iniciativas em pratica”, afirmou.
Segundo dia do evento contou com Erik Solheim, ex-ministro do Meio do Ambiente da Noruega; Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e presidente do Lide Internacional; Pedro Passos, sócio-fundador da Natura, presidente da SOS Mata Atlântica e
Erik Solheim, ex-ministro do Meio do Ambiente da Noruega, elogiou os avanços do governo brasileiro para impedir o desmatamento da floresta tropical. “Nenhuma outra nação na história da humanidade foi capaz de proteger sua biodiversidade como o Brasil”
Com a presença de 350 pessoas em três painéis de debates No painel, Urbanidade – “Qualidade de Vida nas Cidades”,o economista Bernardo Figueiredo, ex-diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), disse que as grandes cidades, como São Paulo, estão vivendo um colapso do sistema de transporte e propôs alternativas para a mobilidade, como o Trem de Alta Velocidade (TAV). “Nós não vamos resolver as questões fundamentais da mobilidade sem realizar investimentos maciços na tecnologia do transporte”, afirmou. Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, falou sobre as condições de saneamento básico no Brasil são “uma vergonha”. Segundo ele, metade da população brasileira não tem coleta de esgoto e 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. “Estamos vivendo um colapso de água”, afirmou. Fernando Von Zuben, vice-presidente de Sustentabilidade da Tetra Pak na América Latina, discorreu sobre a importância dos produtos recicláveis e sobre a coleta seletiva nas cidades. Segundo ele, a iniciativa privada está se mobilizando junto ao Congresso Nacional para a redução dos impostos incidentes sobre produtos recicláveis. “Queremos justiça fiscal”, afirmou. No painel sobre Biodiversidade, que tratou do tema “Produção de Alimentos x Biodiversidade”, o biólogo Fernando Reinach disse que haverá uma grande demanda mundial de produção de alimentos até 2050, e que revistaamazonia.com.br
Beto Richa, governador do Paraná, destacou, na abertura do evento, as iniciativas do Estado em relação às questões ambientais
João Doria Jr., Lélia e Sebastião Salgado com Beto Richa. Sebastião e Lélia, foram homenageados pelo trabalho que desenvolvem há mais de 10 anos com a Organização Não Governamental Instituto Terra
esta necessidade vai recair principalmente sobre o Brasil, um dos poucos países do planeta capazes de suprir esta demanda, uma vez que conta com a maior reserva de biodiversidade do planeta, a Amazônia. “Haverá pressão internacional para que a maior parte dos alimentos saia daqui”, afirmou. “Será uma grande oportunidade para o País enriquecer, mas também a maior ameaça para ecossistemas como a Floresta Amazônica.” Para resolver este “dilema”, a solução, segundo ele, é a adoção de tecnologias agrícolas modernas, que permitam o aumento da produtividade, algumas delas polêmicas, como os transgênicos. “Só o avanço tecnológico da agricultura vai preservar a biodiversidade”, sustentou. Carlos Eduardo Young, professor e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT/PPED), afirmou ser favorável à tecnologia, mas com precaução. “Temos que tomar cuidado com a tecnologia que pode ter consequências graves, pois o grande problema dos organismos geneticamente modificados é que estamos lidando com algo que não conhecemos”, afirmou. “Não é que a gente é contra, é que não sabemos as consequências.” Roberto Rodrigues, embaixador especial da FAO para o Cooperativismo, ex-ministro da Agricultura e presidente do Lide Agronegócios, disse que é preciso considerar alguns riscos, como o da intensificação do uso dos defensivos agrícolas. Segundo ele, a produção de alimentos depende de ações públicas adequadas. No painel Sustentabilidade, com o tema “Políticas Públicas Ambientais”, o ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo e consultor ambiental Fábio Feldmann acredita que os temas ambientais devem ser discutidos na área da economia. Ele apontou o despreparo do poder público para lidar com questões ambientais que envolvem saneamento, transporte, alimentos, entre outros temas. “O grande desafio é pensar numa arquitetura de escolhas revistaamazonia.com.br
em que possamos dar à sociedade a oportunidade de escolher corretamente, preferindo alimentos saudáveis e produtos provenientes de manejo sustentável”, afirmou. Em sua opinião, é importante que o poder público utilize instrumentos de taxação e subsídios que favoreçam os produtos sustentáveis. “O setor empresarial também tem um papel fundamental, por meio de responsabilidade social”, observou. Luiz Tarcisio Mossato, presidente do IAP - Instituto Ambiental do Paraná, defendeu o diálogo com a sociedade para o estabelecimento de políticas públicas ambientais. “Temos que envolver toda a sociedade e buscar alternativas completas e com resultado, e não apenas políticas punitivas”, disse. Ele destacou as iniciativas do Paraná para beneficiar o meio ambiente, como a conservação das espécies exóticas e a adoção do manejo sustentável. Jair Kotz, superintendente de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional, defendeu o diálogo entre todos os níveis da sociedade. “Não se trata de governo ou de empresas, mas de uma nova governança, de uma gestão compartilhada, onde todas as organizações devem exercer o papel de protagonistas na busca da sustentabilidade”, disse. Sérgio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro, numa visão pessimista, alertou para o peri-
Bill McKibben, escritor, educador e ambientalista norte-americano, alertou para a crise climática e para os perigos do aumento das temperaturas globais e suas consequências
go do aquecimento global. “Se as mudanças climáticas caminharem como previsto, não adianta fazer nada em relação à biodiversidade, pois não teremos para onde escapar”, afirmou.
Prêmio Lide de Meio Ambiente 2014 Empresas são reconhecidas por suas iniciativas em prol da sustentabilidade Foram premiadas as empresas brasileiras ou estrangeiras, atuantes em território nacional, que realizaram projetos ambientais no Brasil e demonstraram claramente uma cultura empresarial preocupada com a sustentabilidade, a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais do país, muito além do exigido pela legislação brasileira ou pelas convenções sociais. A premiação ocorreu no Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, berço das Cataratas do Iguaçu, no Paraná.
Premiados
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João Doria Jr., Vitor Fasano, Bia Doria, Beto Richa e Virgilio Viana
Roberto Klabin e Mario Mantovani
Sebastião Salgado e Lélia Deluiz Wanick Salgado, foram homenageados pelo trabalho que desenvolvem há mais de 10 anos com a Organização Não Governamental Instituto Terra
Durante o Fórum, foi realizado um leilão beneficente de Obras do fotógrafo Sebastião Salgado
Para João Doria Jr., presidente do LIDE, parte da pauta brasileira para o futuro da sustentabilidade foi discutida durante o evento. Ao final, Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro mundialmente reconhecido; Lélia Deluiz Wanick Salgado, cofundadora e presidente do Instituto Terra; e Niéde Guidon, arqueóloga brasileira, foram homenageados em suas defesas à sustentabilidade no País. Em nome dos três, Salgado agradeceu e reforçou a mensagem de preservação do meio ambiente. “Atrás de nós existe um 28 REVISTA AMAZÔNIA
planeta quase destruído. Nós precisamos fazer a nossa parte e preservar aquilo que ainda está intacto”, alertou o fotógrafo que já doou 125 mil euros, por meio de um leilão de uma câmera, e colaborou com a plantação de 50 mil árvores.
Os premiados do 5º Fórum Mundial de Meio Ambiente Ambiente Urbano: Sérgio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Susten-
tável da Prefeitura do RJ; Biodiversidade: Gustavo Martinelli, pesquisador; Economia Verde: Mauro Euclydes Paschotto, diretor de Marketing da Química Amparo; Educação Ambiental: Andrea Margit, gerente de Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho; Gestão Pública Ambiental: Carlos Eduardo Ferreira Pinto, promotor de justiça no Ministério Público do Estado de Minas Gerais; Mídia Ambiental: Peter Milko, diretor geral do Horizonte Geográfico; Mudanças Climáticas: Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima; Oceanos: Carlos Alberto Pinto dos Santos, Amex Canavieiras; Propriedades Rurais Sustentáveis: Pedro Paulo Diniz, Fazenda da Toca; Recursos Hídricos: Francisco Lahós, secretário executivo do Consórcio Rios Piracicaba Capivari Jundiaí; Unidades De Conservação: André Ilha, diretor de Biodiversidade do INEA-RJ.
Leilão de Obras de Sebastião Salgado Durante o Fórum, foi realizado um leilão beneficente de Obras do renomado fotógrafo Sebastião Salgado, sendo arrecadado o valor de R$ 345 mil que será destinado a dois projetos ambientais: o Projeto das Onças, do Parque Nacional do Iguaçu (PR), e para a Fundação Museu do Homem Americano, do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI). revistaamazonia.com.br
Carta de Foz do Iguaçu A 5ª edição do Fórum Mundial de Meio Ambiente teve como objetivo reunir especialistas da iniciativa privada, do poder público, da sociedade civil e da academia para formular uma lista de soluções para o desenvolvimento sustentável do Brasil, a ser apresentada à sociedade e aos candidatos a cargos eletivos dos poderes executivo e legislativo nas eleições de 2014. Ter uma política ambiental com metas claras e projetos factíveis, visando a conservação dos ecossistemas e ciclos naturais e a ampliação do bem-estar é fundamental para que o Brasil possa trilhar, neste século XXI, o caminho de um desenvolvimento socialmente justo, ecologicamente sustentável e economicamente viável. Os participantes deste Fórum Mundial de Meio Ambiente, reunidos em Foz do Iguaçu, conclamam todos os candidatos a cargos eletivos neste ano de 2014 a adotarem em suas plataformas eleitorais a defesa do meio ambiente para todos e a implementação de políticas públicas que visem o desenvolvimento sustentável da nação. Mais especificamente, apresentam, como recomendação aos governos federal, estaduais e municipais, as principais conclusões deste Fórum: 1. Reconhecer as mudanças climáticas como tema central para as políticas públicas de qualquer esfera e setor de governo. 2. Adotar uma política de precificação do carbono, utilizando parte dos valores arrecadados para a estimular a mudança da matriz energética do país. 3. Implementar políticas públicas que promovam a eficiência energética, hídrica e de usos de matérias primas, com metas claras e factíveis de curto e médio prazo. 4. Criar uma política tributária capaz de incentivar a economia verde e estimular a redução de desperdício e o uso mais eficiente de recursos naturais. 5. Apoiar a aprovação de legislação federal e estaduais que promova o Pagamento por Serviços Ambientais. 6. Incentivar empresas e indivíduos a assumirem compromissos públicos voluntários e quantificáveis de aumento de eficiência de uso de recursos naturais. 7. Assumir uma postura mais proativa em processos e fóruns internacionais para pressionar outros países a cortarem suas emissões de gases do efeito estufa. 8. Privilegiar a exploração dos recursos energéticos renováveis e limpos como o sol e o vento, e repensar a política de exploração do pré-sal. 9. Estabelecer um marco regulatório para a exploração do gás de xisto e para o uso de técnicas de “fracking”. 10. Investir em novas tecnologias que promovam processos de produção mais limpos e eficientes. 11. Reduzir, em quatro anos, em pelo menos um terço a população sem acesso à água tratada e à coleta de esgotos, bem como tratar 100% dos esgotos coletados. 12. Investir na capacitação técnica, no âmbito municipal, para implementação e gestão correta de planos de saneamento e de gestão de resíduos sólidos e Mata Atlântica. 13. Resgatar o planejamento de longo prazo, em especial o planejamento urbano. 14. Desonerar e incentivar a cadeia de reciclagem, e a de produtos orgânicos com contribuição socioambiental. 15. Remover subsídios a favor da mobilidade individual e favorecer tributariamente a mobilidade coletiva. 16. Incentivar a participação da sociedade civil na criação de políticas públicas. 17. Facilitar a implementação, através da desburocratização e financiamento de baixo custo, do Programa de Agricultura de Baixo Carbono. 18. Implementar o Código Florestal em sua plenitude, sem mais demoras. 19. Identificar e apoiar, através de política fiscal e tributária, tecnologias e atividades econômicas que geram externalidades positivas. 20. Ampliar a arquitetura de soluções para o desenvolvimento sustentável através da provisão de informação correta e clara para a sociedade. 21. Utilizar empreendimentos e programas estratégicos para conectar políticas públicas ambientais, sociais e econômicas. 22. Valorizar a educação, o conhecimento e a ciência como fatores fundamentais para a sustentação econômica, ambiental e social da nossa sociedade.
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Acordo sobre biodiversidade vai entrar em vigor sem o Brasil Protocolo de Nagoya estabelece regras para uso dos recursos da biodiversidade e divisão dos lucros obtidos. Devido à oposição da bancada ruralista, Brasil está de fora
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m outubro, 50 países e a União Europeia (UE) vão se reunir para definir pontos em aberto de uma importante arma no combate à biopirataria, o Protocolo de Nagoya. O Brasil, entretanto, ficará de fora dessas negociações porque ainda não ratificou o documento, o que pode prejudicar os interesses nacionais. “Ao não participar, o Brasil vai ter dificuldades para defender seus interesses. Um país como o Brasil, que é tão complexo, grande e onde a biodiversidade é tão importante, não poderia ficar a reboque das decisões de outros países”, opina o secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) da ONU, Bráulio Ferreira de Souza Dias. O primeiro encontro dos países-membros da CBD que ratificaram o protocolo será realizado durante a reunião da Conferência das Partes – órgão decisório máximo da CDB – que acontece em outubro na Coreia do Sul. Na reunião serão discutidas regras e procedimentos para o cumprimento do protocolo, mecanismos para sua implementação e financiamento, além de questões que não estão bem definidas no texto. “Nós temos a maior biodiversidade do mundo, mas, além disso, nosso setor agrícola depende de espécies que não são nativas, por isso seria do nosso interesse estar lá para discutir como isso vai ser regulamentado”, afirma o biólogo Carlos Joly, da Unicamp, que integra a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Joly cita o desenvolvimento de novas variedades de espécies, que eventualmente precisariam de recursos genéticos de espécies vindas de outros países, como exemplo de um ponto que não está totalmente claro no texto, apesar de representantes da ONU afirmarem que
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Produtos de exportação da agropecuária brasileira, como a soja, são originários de outros países
essa regulamentação não cabe ao protocolo. “Vamos ver outros países, até menos importantes do ponto de vista da biodiversidade, tomando decisões. Vamos acabar tendo que cumprir coisas muito difíceis de serem mudadas no futuro”, opina a secretária-geral do WWF Brasil, Maria Cecília de Brito.
Oposição do setor agropecuário Argumentos ligados à agricultura estão sendo usados para barrar a ratificação do protocolo no país. Em junho de 2012, o documento foi enviado pela Presidência da República ao Congresso Nacional. Mas, devido a pontos considerados polêmicos pela bancada ruralista, pouco
aconteceu desde então. Quem é contra o protocolo afirma que ele prejudicaria o setor agropecuário, pois quase todas as plantas e animais de interesse da agropecuária brasileira, principalmente os destinados à exportação, como soja e gado, são provenientes de outros países. Os oposicionistas alegam que, ao aceitar o acordo, o Brasil teria que pagar royalties por essas espécies. Mas ambientalistas contestam essa posição afirmando que o protocolo não é retroativo, ou seja, ele engloba somente o que for criado depois que ele entrar em vigor. Além disso, os recursos utilizados na alimentação são regulamentados pelo Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura. revistaamazonia.com.br
A demora do Congresso Nacional em votar a ratificação do Protocolo de Nagoya, assinado pelo País em 2010, pode custar a cadeira brasileira na mesa de discussões da COP-12w
Bráulio Ferreira de Souza Dias, secretárioexecutivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) da ONU
Para o diretor de políticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão, o país é o maior prejudicado com a decisão dos ruralistas. “O Brasil se coloca na posição vergonhosa de não ter o texto ratificado e com um grande prejuízo para a defesa daquilo que é seu principal ativo: suas florestas, conhecimentos tradicionais e a riqueza que conseguiu preservar ao longo de sua existência”, reforça. Segundo o assessor especial do Ministério do Meio Ambiente, Luiz Antônio Carvalho, o governo está se esforçando para esclarecer as dúvidas do agronegócio sobre o protocolo e tem grandes expectativas de que o documento seja ratificado em breve.
Acesso e divisão
Segundo o biólogo Carlos Alfredo Joly, da Unicamp “Nós temos a maior biodiversidade do mundo, mas, além disso, nosso setor agrícola depende de espécies que não são nativas, por isso seria do nosso interesse estar lá para discutir como isso vai ser regulamentado”, afirma revistaamazonia.com.br
O Protocolo de Nagoya estabelece regras de acesso a recursos da biodiversidade, como também a divisão dos lucros gerados por esses meios. Ele evita, por exemplo, que uma empresa estrangeira patenteie recursos originários do Brasil, como aconteceu com o açaí, patenteado por uma companhia japonesa. Além disso, o documento determina que os países detentores de recursos genéticos da biodiversidade ou onde vivam comunidades com conhecimentos tradicionais recebam parte dos lucros gerados com a venda de produtos desenvolvidos a partir desses recursos ou conhecimentos. “Ele deve ser visto com um instrumento que protege os interesses dos detentores da biodiversidade, como também ajuda a dar segurança jurídica para os investimentos em pesquisa e tecnologia e na comercialização de produtos derivados da biodiversidade”, completa Dias. A promotora do Ministério Público do Distrito Federal, Juliana Santilli, reforça que o protocolo garante que as legislações nacionais sobre biodiversidade sejam respeitadas, pois ele garante a soberania dos países para regulamentar o acesso a seus recursos.
Açaí - Euterpe oleacea, fruto de cor roxa, que dá em cacho na palmeira conhecida como açaizeiro, foi patenteado por empresa do Japão
Além disso, Santilli lembra que mesmo os países que não ratificaram o protocolo são obrigados a seguí-lo ao negociar com países que o aderiram. O tratado entra em vigor no dia 12 de outubro e será valido para os 51 membros da Convenção sobre Diversidade Biológica que ratificaram o acordo, entre eles Índia, Indonésia, México, Peru, África do Sul, União Europeia, Espanha, Dinamarca, Uruguai e Vietnã.
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O mercado de empreendedorismo, e o que pode ser feito para estimular o surgimento de novas empresas, na Amcham-SP
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formação de empreendedores e a consolidação de startups no mercado estiveram no centro de discussões do recente seminário realizado pela Amcham (American Chamber of Commerce for Brazil), em São Paulo. Entre os convidados para o debate, mediado pelo diretor-executivo da Associação Brasileira de Startups Guilherme Junqueira, estava o diretor-executivo da Inova Unicamp, Milton Mori. “O Brasil ocupa o 12º lugar em produção científica, mas a geração de negócios inovativos ainda está aquém da nossa capacidade. É difícil transformar pesquisadores em empreendedores”, afirmou Mori durante o evento. Com mais de 3 bilhões de reais de faturamento gerados, as startups seguem em curva ascendente no país. No entanto, ainda esbarram em alguns desafios para conseguir se firmar. Despreparo dos empreendedores, insegurança jurídica e mentalidade
Durante o Seminário Inovação & Startups, seminário realizado pela Amcham, em São Paulo, com reúne 200 executivos analisando tendências de investimento e empreendedorismo
Sílvia Valadares, líder da comunidade de startups da Microsoft
restrita ao mercado local estão entre as questões apontadas pelos painelistas. “O brasileiro tem capacidade para muito mais, só que o que está saindo ainda é muito pobre. As empresas brasileiras estão pouco expostas ao mercado internacional. Cadê essa inovação que não sai para o mercado?”, indagou o fundador e presidente do Anjos do Brasil, Cássio Spina. “Inovação é um conceito com uma série de definições. Mas, em resumo, podemos dizer que inovar é investir em soluções e oportunidades, que geram negócios e, por fim, resultam em vendas. O empreendedor não pode gastar todo o tempo em uma incubadora desenvolvendo produto. Também precisa aprender a vender”, completou o diretor-presidente do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), da USP (Universidade de São Paulo), onde há 32 REVISTA AMAZÔNIA
Milton Mori, diretor executivo da agência de inovação Inova Unicamp
hoje 130 empresas incubadas. Além dos palestrantes citados, integraram o evento: Simara Greco, coordenadora do Projeto GEM no Brasil do IBQP (Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade); Samuel Meireles Dias e Sousa, coordenador do Programa Inovativa Brasil do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); Hélio Moraes, sócio do Pinhão & Koiffman Advogados; Silvia Valadares, que é Startup Community Lead da Microsoft; e Descartes Teixeira, presidente do conselho do ITS (Instituto de Tecnologia de Software). Na segunda parte do seminário da Amcham, foi montado um segundo painel de debates, no qual foram apresentados cases de startups incubadas no Brasil e em outros países. Eduardo L’Hotellier, cofundador e CEO do GetNinjas.com.br; Rodrigo Paolucci, fundador e CEO do Samba Ads; Ronal-
do Bahia, cofundador e CEO do Job Convo; Daniel Ring, cofundador do Octopulse; Rui Miadaira, fundador e CEO do Carreira Beauty; e Eldes Mattiuzzo, sócio-fundador e CEO do Bidu; foram os nomes escolhidos para compor a mesa-redonda. O evento contou com a presença de mais de 200 convidados. Investidores, empresários e estudiosos deram suas opiniões sobre o mercado de empreendedorismo, e o que pode ser feito para estimular o surgimento de novas empresas. Um dos painéis foi formado por institutos de fomento às startups, investidores e advogados, que debateram a situação do empreendedorismo. Veja alguns destaques do evento: revistaamazonia.com.br
Ronaldo Bahia, co-fundador e CEO, Job Convo
O Brasil ocupa o 12º lugar em produção científica, mas a geração de negócios inovativos ainda está aquém da nossa capacidade
Painel 1 “Tivemos redução de empresas nascentes de 2012 para 2013. Existe o risco de perder esse bonde, se nosso ecossistema não reagir logo.” Simara Greco, gerente de projetos de pesquisa do IBQP (Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade) “Há muitos empreendedores iniciais que não tem capacitação suficiente (para gerir uma empresa). Eles conhecem tecnologia muito bem, mas não negócios.” Samuel Meirelles, coordenador do programa InovAtiva Brasil do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e analista de comércio exterior “É preciso fomentar o mercado de startups com inteligência de mercado e rede de contatos.” Guilherme Junqueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups “As empresas brasileiras estão pouco expostas ao mercado internacional. A mentalidade ainda é muito voltada ao mercado nacional.” Cássio Spina, fundador da Anjos do Brasil “O investidor sente a falta da segurança jurídica em relação à regulação do capital de risco. A criação de regras específicas para investimento em novos negócios contribuiria muito para incentivar o ecossistema e simplificar
Guilherme Junqueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups revistaamazonia.com.br
processos.” Hélio Moraes, sócio do escritório Pinhão & Koiffman Advogados “É difícil transformar pesquisadores em empreendedores. A carência de profissionais capacitados em TI (Tecnologia da Informação) é grande.” Milton Mori, diretor executivo da agência de inovação Inova Unicamp “Há questões estruturais que dificultam o empreendedorismo no Brasil, mas o empreendedor também tem culpa. Ele ainda é despreparado para lidar com questões básicas, como gestão financeira e de pessoal.” Sílvia Valadares, líder da comunidade de startups da Microsoft “O empreendedor não pode gastar todo o tempo em uma incubadora desenvolvendo produto. Também precisa aprender a vender.” Cláudio Rodrigues, diretor presidente da Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia) da Universidade de São Paulo “Temos que criar soluções viáveis de aproximação entre startups e grandes corporações do mercado brasileiro.” Descartes Teixeira, presidente do conselho do ITS (Instituto de Tecnologia de Software)
Painel 2 “Para deixar o mercado corporativo e abrir o próprio negócio, tem de ter convicção do que se quer. Não recomendo
Com mais de 3 bilhões de reais de faturamento gerados, as startups vêm explodindo no Brasil, atraindo empresas (que as utilizam para desenvolvimento de seus projetos), agentes financeiros, empreendedores, consultorias e instituições
Rui Miadaira, CEO da Carreira Beauty, participou do seminário Startups & Novos Negócios da Amcham-SP
empreender por necessidade.” Eldes Mattiuzzo, sócio-fundador e CEO do Bidu “Muita gente começa errado: querem empreender para não ter chefe. Mas quando você empreende, todo cliente é um chefe.” Gustavo Junqueira, diretor executivo da ABStartups “Pulei de pára-quedas desde o início. Só tinha oito mil reais no bolso, deixei os móveis na casa de um amigo e voltei para a casa da minha mãe em Minas Gerais. Ligava o dia todo oferecendo serviço.” Ronaldo Bahia, co-fundador e CEO, Job Convo “Israel talvez seja o país com mais startups per capita. A capital Tel Aviv tem 400 mil habitantes e mais de duas mil startups.” Daniel Ring, co-fundador da The Octopulse “Investidor não entra para empatar (capital), mas ganhar muito. E você tem que mostrar como.” Rodrigo Paolucci, fundador e CEO da Samba Ads “Minhas dicas para quem quer começar (a empreender) são fale sua ideia para o máximo de pessoas possíveis e arrume um bom sócio de extrema confiança, competência e com quem goste de trabalhar. Sociedade é casamento.” Eduardo L’Hotellier, co-fundador e CEO da GetNinjas. “As pessoas se perguntam se é barato abrir uma startup, e realmente é. Nós começamos comprando uma solução de US$ 100 e um servidor de R$ 25 por mês.” Rui Miadaira, CEO da Carreira Beauty. REVISTA AMAZÔNIA 33
O crescimento da Amazônia após mudança climática há 2 mil anos Um quinto da bacia da Amazônia foi savana antes de transformação natural. Além disso, floresta pode ter sido ocupada por agricultores no passado Fotos: Heiko Prumers, Jorge Kike Medina, Kmusser
C
ientistas descobriram que a bacia amazônica podem ter apoiado as comunidades agrícolas que mais parecia savana aberta do que floresta tropical, antes da chegada dos europeus na América do Sul. Nos últimos anos de apuramento moderno da floresta amazônica, foram desenterrados centenas de terraplenagens humanas de formação antiga, anteriormente ocultos sob a densa selva. Sua existência tem levado à sugestão de que as pessoas podem ter limpado partes da floresta para a habitação há muitos séculos atrás. Faixas da Amazônia podem ter sido pradarias até uma mudança natural para um clima mais úmido há cerca de 2.000 anos ter levado à formação da floresta tropical, de acordo com um estudo que desafia a crença comum de que a maior floresta tropical do mundo é muito mais velha. A chegada de doenças europeias após Cristóvão Colombo ter cruzado o Atlântico em 1492 também pode ter acelerado o crescimento de florestas com a morte de populações indígenas que utilizavam a região para agricultura. “O ecossistema dominante era mais como a savana do que a floresta tropical que vemos hoje”, disse o Dr. John Francis Carson, que liderou a pesquisa na Universidade de Reading, na Inglaterra, sobre o sul da Amazônia. Os cientistas disseram que uma mudança para condições mais úmidas, talvez causadas por alterações naturais na órbita da Terra ao redor do Sol, levaram ao crescimento de mais árvores a partir de 2.000 anos atrás.
Provável savana Os pesquisadores estudaram aterros feitos pelo homem, descobertos recentemente após desmatamento na Bolí34 REVISTA AMAZÔNIA
Mapa da bacia amazônica
via, que incluíam valas de até 1 quilômetro de comprimento e de até 3 metros de profundidade e 4 metros de largura. Eles encontraram grandes quantidades de pólen de grama em sedimentos antigos de lagos próximos, sugerindo que a região era coberta por uma savana. Eles também encontraram evidências de plantações de milho, o que aponta para a agricultura. A Amazônia tem sido tradicionalmente vista como uma floresta tropical primitiva e densa, povoada por populações caçadoras-coletoras. Nos últimos anos, no entanto,
arqueólogos descobriram indicações de que povos indígenas viveram na selva densa, mas conseguiram abrir espaço de terra para agricultura.
Agricultores viviam na Amazônia O estudo liderado pelo Dr. Carson, sugere uma nova ideia de que a floresta simplesmente não existia em algumas regiões. As “descobertas sugerem que, em vez de ser uma floresta de caçadores-coletores, ou de desmatadores de florestas em grande escala, os povos da Amazônia revistaamazonia.com.br
Vista aérea da floresta amazônica
de 2.500 a 500 anos atrás eram agricultores”. Carson disse que, talvez, um quinto da bacia da Amazônia, no sul, pode ter sido savana até essas transformações naturais, ao passo que floresta cobriria o território restante. Em um lago, o Laguna Granja, plantas de floresta tropical somente teriam tomado o lugar da grama como principais fontes de pólen em sedimentos há cerca de 500 anos, sugerindo uma ligação com a chegada dos europeus. O propósito dos aterros é desconhecido – eles podem ter sido utilizados para defesa, drenagem ou para propósitos religiosos. A compreensão da floresta pode ajudar a resolver enigmas impostos pelas mudanças climáticas. A floresta Amazônica afeta a mudança climática porque suas árvores absorvem dióxido de carbono, um gás de efeito estufa, à medida que crescem, e o liberam quanrevistaamazonia.com.br
Lago Laguna Granja, no Amazonas, noroeste da Bolivia. Lá as plantas de floresta tropical somente teriam tomado o lugar da grama como principais fontes de pólen em sedimentos há cerca de 500 anos, sugerindo uma ligação com a chegada dos europeus. REVISTA AMAZÔNIA 35
Outra vista aérea da floresta amazônica
suprimindo a incursão da selva e mantendo áreas abertas para a agricultura. Isto continuou até por volta de 1500, quando grande parte da população indígena foi exterminada, em grande parte como resultado de uma doença transmitida por colonos europeus. Assim a vegetação densa logo assumiu.
Apoiar grandes populações
A diferença das cores patenteia a adubação das terras em tempos remotos. O estudo adicionado à evidência de que as pessoas que viveram na Amazônia conseguiram domar a natureza. “Esses sistemas indígenas eram altamente sofisticado”
do apodrecem ou quando são queimadas. O Brasil tem reduzido os níveis de desmatamento nos últimos anos.
Terceiro cenário A Universidade de Reading descobriu fortes evidências para um terceiro cenário. Trabalhando em uma parte remota da moderna Bolívia, os cientistas tomaram “núcleos de lama” – amostras de sedimentos de diferentes profundidades – de baixo de dois lagos perto de conhecidas estruturas de terraplenagem antiga. Ao analisar o pólen e outras partículas presas na lama, o grupo foi capaz de construir uma imagem de como o ecossistema mudou, em ambas as escalas locais e regionais, ao longo dos 6000 anos anteriores.
À medida que o clima se tornou mais úmido entre cerca de 0-300 AD, permitindo para que a floresta espalhar-se mais a sul, as pessoas detidas em seus assentamentos,
Dr. John Carson, paleoecologista da Universidade de Reading, que liderou o estudo, disse: “esses resultados foram muito surpreendentes. Nós fomos para a Bolívia com a esperança de encontrar provas dos tipos de lavouras cultivadas por grupos ameríndios antigos, e para tentar encontrar qual o impacto que tiveram sobre a floresta antiga. O que descobrimos foi que eles estavam tendo praticamente nenhum efeito sobre a floresta, em termos de desmatamento passado, porque não existia lá até muito mais tarde. “Ao invés de cortar ou queimar enormes faixas de selva, os primeiros povos amazônicos simplesmente se aproveitaram de uma paisagem naturalmente mais aberta. Ainda assim, a escala das obras de terraplanagem que foram construídas nesses sitios sugere que a terra era capaz de suportar relativamente grandes populações. Nossa análise mostra que eles plantaram milho e outras culturas alimentares. Eles também provavelmente tinham e usavam a pesca, também para criação de patos e tartarugas fluviais da amazônia, não havendo evidência em outras partes da Amazônia boliviana. Dr. Carson chegou a dizer que suas descobertas sugerem que a Amazônia não era nem selva virgem, nem tem mostrado resistência ao desmatamento em grande escala pelos seres humanos no passado. A nova ideia – que a floresta simplesmente não existia em algumas regiões.
Localização de “civilizações perdidas” já detetadas na Amazônia. Fonte: “Washington Post”
Abrir paisagem Seus resultados sugerem que ao invés de ser floresta tropical caçadores-coletores, ou clearers florestais em grande escala, os povos da amazônia de 2500 a 500 anos atrás eram agricultores que fizeram uso da paisagem natural aberta para o cultivo e para construir obras de terraplanagens de escala monumental. 36 REVISTA AMAZÔNIA
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Universidade Federal de Viçosa
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Lição que vem da natureza Docente desenvolve nanomateriais que realizam fotossíntese artificial com o objetivo de transformar água e luz solar em fonte de energia por Manuel Alves Filho Fotos: Antonio Scarpinetti; Jackson Dirceu Megiatto/ Unicamp
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rimeiro, compreender a natureza. Depois, tentar imitá-la. Adotado pelos cientistas há centenas de anos, esse princípio tem sido responsável por algumas das mais significativas descobertas da ciência ao longo da história. O preceito também serviu de inspiração ao professor Jackson Dirceu Megiatto Júnior, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, que obteve importantes avanços na sua desafiadora proposta de transformar água e luz solar em fonte de energia. Baseado na capacidade das plantas de realizar fotossíntese, o docente desenvolveu nanomateriais com propriedades similares. “Converter água e luz solar em fonte de combustível é algo que a natureza faz rotineiramente através da fotossíntese. O que estamos tentando fazer é reproduzir artificialmente esse processo em nossos laboratórios”, explica. Megiatto começou a se envolver com o tema da fotossíntese artificial logo após o seu doutorado, feito na Universidade de São Paulo (USP). Na época, ele ficou intrigado com a possibilidade de transformar água e luz em energia. A ideia fisgou o jovem cientista de tal maneira que ele passou a buscar dados que pudessem orientá-lo sobre que caminho seguir com uma pesquisa na área. A
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natureza, claro, foi uma das suas “fontes de inspiração e informação”. “Comecei a estudar profundamente o processo de transformação de água em carboidratos (fonte de combustível) realizado pelas plantas diariamente há bilhões de anos na Terra. Então, passei a me questionar se a Química seria capaz de sintetizar materiais ou elaborar sistemas que pudessem fazer a mesma coisa”, conta. O professor do IQ observa que a fotossíntese natural é um processo extremamente complexo, constituído por várias etapas. Algumas Professor Jackson delas ainda não são Dirceu Megiatto Júnior: bem compreendidas “A natureza foi minha fonte de inspiração e pela ciência. “O priinformação” meiro desafio, então, foi tentar entender o máximo possível sobre o processo, para em seguida tentar imitá-lo”, diz. Nessa ocasião, Megiatto teve a oportunidade de fazer dois pós-doutorados relacionados ao assunto na New York University e na Arizona State
University, nos Estados Unidos. “Lá, eu trabalhei com materiais que buscavam transformar água e luz solar nos gases oxigênio e hidrogênio, sendo que o nosso interesse estava obviamente relacionado a este último gás, que é uma promissora fonte de combustível”, acrescenta. Após cinco anos de trabalhos, afirma Megiatto, o grupo do qual fazia parte obteve avanços significativos. Logo depois, ele trouxe a experiência adquirida nos Estados Unidos para a Unicamp, onde foi aprovado no concurso para a vaga de docente no IQ. “Meu retorno ao Brasil se deu principalmente pela chance de trabalhar em uma Universidade de reconhecida excelência e também porque esse trabalho estava vinculado ao Programa de Bioenergia da Fapesp [Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia - Bioen]”, detalha. Nos estudos que desenvolveu no exterior, o cientista analisou proteínas e enzimas presentes nas folhas das plantas, para saber como elas funcionam. Uma das constatações feita por ele é que as proteínas apresentam diferentes pigmentos, sendo predominante a clorofila, de cor verde. Elas é que são responsáveis, durante a fotossíntese, pela absorção da luz solar, que por sua vez ativará as moléculas de água no interior da folha. “Quando tentamos extrair seletivamente essas moléculas de clorofila das proteínas da folha, descobrimos que revistaamazonia.com.br
O professor Jackson Dirceu Megiatto, da Unicamp, criou um protótipo que prova ser possível reproduzir um processo semelhante à fotossíntese em laboratório
elas são estáveis somente quando ligadas à sua estrutura proteica natural. Fora dela, as moléculas se degradam e param de funcionar. Ou seja, deixam de absorver a luz solar, pois precisam da proteína para cumprir essa tarefa”. Como seria impossível, diante dos recursos oferecidos atualmente pela ciência, sintetizar essas proteínas em laboratório, o pesquisador e sua equipe recorreram à engenharia molecular em busca de uma alternativa. “O que nós fizemos inicialmente foi sintetizar moléculas muito similares às clorofilas, chamadas porfirinas, que dispensam a estrutura proteica para realizar absorção de luz sem se degradar”, relata Megiatto. A saída parecia perfeita, até que os cientistas constataram que, a despeito de serem estáveis durante o processo de absorção de luz, as porfirinas se degradavam primeiro que as moléculas de água durante o processo artificial de fotossíntese. Dito de outro modo, elas eram mais estáveis que a clorofila, mas não o suficiente para a conclusão do processo. Os cientistas se puseram, então, à procura de uma solução para o problema. Eles precisavam encontrar um elemento que pudesse ampliar a estabilidade das porfirinas. Depois de vários testes, descobriram que o flúor, quando ligado quimicamente a essas moléculas, oferecia o resultado desejado. Entretanto, como em ciência é comum se enfrentar sucessões de dificuldades, Megiatto e seus companheiros depararam com mais um entrave, este ligado à velocidade com que ocorrem dois processos presentes na fotossíntese. O primeiro deles acontece quando as porfirinas recebem a luz solar, que é transformada em energia química no interior destas moléculas. O segundo se dá no momento em que as porfirinas, já ativadas pela luz, reagem com as moléculas de água, fazendo com que os átomos desta última se rearranjem em revistaamazonia.com.br
hidrogênio e oxigênio. “Acontece que havia uma enorme diferença de velocidade entre estes dois processos. Ao receberem luz, as porfirinas se ativavam. Entretanto, como o processo de transferência de energia para as moléculas de água é lento, as porfirinas se desativavam antes de o processo ser concluído. O desafio foi encontrar um intermediário que tornasse estes dois processos cineticamente compatíveis”. Nessa etapa, os pesquisadores recorreram novamente à natureza. “Na natureza, existe uma molécula que promove a ‘conversa’ entre as clorofilas e as moléculas de água, que é um aminoácido do tipo tirosina, presente na proteína das folhas. A tirosina apresenta um grupo fenólico em sua estrutura que possui uma propriedade bastante peculiar. Ele é capaz de receber rapidamente a energia proveniente das clorofilas ativadas e armazená-la pelo tempo necessário para que as moléculas de água ao seu redor sejam decompostas em hidrogênio e oxigênio. Moléculas do tipo fenol são produzidas às toneladas atualmente”, detalha o docente da Unicamp. A partir dessa informação, os cientistas conectaram quimicamente as porfirinas a um fenol e conseguiram finalmente estabelecer uma sintonia entre os dois processos. “Obtivemos um aumento de eficiência muito significativo. Ao compararmos o processo natural ao artificial, por meio de análises técnicas corriqueiras, nós constatamos que a resposta de um é muito similar à do outro. Em outras palavras, nós conseguimos ficar muito próximos da estrutura da natureza”, assegura Megiatto. O próximo passo do trabalho, antecipa o pesquisador, será buscar um sistema completo de produção de energia. A proposta é conectar uma célula solar construída com os nanomateriais que realizam fotossíntese artificial
a uma célula combustível, que reorganiza os átomos de hidrogênio e oxigênio, gerando água novamente e energia na forma de eletricidade. Isso já está sendo feito em colaboração com um grupo de cientistas norte-americanos na Arizona State University. “Vamos ver se essa conexão funciona bem. Mesmo que funcione, o sistema ainda não será atrativo do ponto de vista econômico. É que o processo de preparação das porfirinas é caro. Então, o maior desafio que teremos pela frente será melhorar as rotas sintéticas, de modo a baratear o custo de produção desses nanomateriais. Eu tenho convicção de que isso será possível ao longo do tempo. Essa fase eu pretendo desenvolver aqui na Unicamp, com a colaboração do grupo de pesquisa que estou formando. Já temos um projeto pré-aprovado pela Fapesp, na linha Jovem Pesquisador, cujo financiamento gira em torno de R$ 1 milhão, pelo período de quatro anos. Esses recursos serão utilizados para reformar e equipar o laboratório no qual trabalharemos”, informa. Enquanto os recursos não são liberados, o docente do IQ tem feito contato com estudantes interessados em participar das pesquisas. Atualmente, ele já conta com dois de iniciação científica, um de mestrado e um de doutorado. Além desses, um aluno de pós-doutorado italiano também está chegando para integrar a equipe. “O interessante é que entre esses estudantes não há só químicos. Temos também um engenheiro químico e uma aluna de estatística. A união de profissionais de diferentes áreas é fundamental para o sucesso desse tipo de pesquisa. Somente a Química não daria conta de responder a todas as perguntas. A abordagem multidisciplinar é uma exigência cada vez maior para quem quer atuar na fronteira do conhecimento”, considera Megiatto. REVISTA AMAZÔNIA 39
O maior reservatório de água do mundo Estudo publicado após descoberta do mineral ringwoodite, confirma haver muita água no interior da Terra O planeta Terra poderá ter mais água do que vemos à superfície. O Núcleo da Terra pode ter reserva de água três vezes maior que o volume dos oceanos
Fotos: irk Scherler, Steve Jacobsen, Kathy Mather
U
m reservatório de água três vezes maior do que o volume de todos os oceanos do mundo terá sido descoberto debaixo dos Estados Unidos, segundo um estudo da equipe liderada pelo geofísico Steve Jacobsen, da Universidade de Northwestern, e pelo sismólogo Brandon Schmandt, da Universidade do Novo México. Apesar de não estar na tradicional forma líquida, foram encontrados poços de magma a cerca de 600 quilômetros de profundidade, o que poderá indicar a presença de água, sugerindo que a água existente à superfície da Terra pode ter chegado a uma grande profundidade através das placas tectônicas e eventualmente provocar o derretimento parcial das zonas rochosas situadas no manto do planeta, a camada que fica por baixo da crosta superficial. Steve Jacobsen afirma que esta descoberta pode dar algumas explicações sobre o que acontece dentro da Terra. “Os processos geológicos na superfície terrestre, como os sismos ou as erupções de vulcões, são uma expressão do que se passa no interior da Terra, longe da nossa vista”, disse o geofísico. Jacobsen acredita que se está “finalmente vendo sinais de todo o ciclo de água da Terra, que pode explicar a enorme quantidade de água líquida na superfície do nosso planeta habitável”. “Os cientistas têm procurado por esta água profunda desaparecida há décadas”, observa. O ge-
ofísico refere-se às várias especulações que existem de que há água presa numa camada de rocha no manto da Terra localizada entre o manto inferior e o manto superior, a profundidades entre os 400 e os 650 quilómetros,
naquela que é chamada a “zona de transição”. No estudo liderado pela dupla Schmandt e Jacobsen foram utilizadas as experiências em laboratório em que o geofísico estudou camadas rochosas sob uma alta pres-
Brandon Schmandt, sismólogo da Universidade do Novo México, fazendo leituras de um sismógrafo do projeto USArray
Professor Steve Jacobsen, da Northwestern University, em suas experiências em laboratório, onde cristal de ringwoodite hidratado é comprimido a condições de 700 km de profundidade 40 REVISTA AMAZÔNIA
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A rocha azul chamada ringwoodite, cerca de 700 quilômetros abaixo da superfície, atrai hidrogênio e retém a água. Nessa foto o Ringwoodite hidratado, sintetizado a partir de olivina no laboratório de Steve Jacobson
O pré-sal da água? Pesquisadores relatam evidências de potencial oceano de águas profundas abaixo dos Estados Unidos. Apesar de não ser na forma líquida familiar – os ingredientes da água estão ligados a rocha ringwoodite no fundo do são simulada semelhante à existente a 600 quilómetros debaixo da superfície da Terra, com as observações do sismólogo de dados de atividade sísmica recolhidos no âmbito do projeto USArray, uma enorme rede formada por mais de 2000 sismômetros espalhados pelo território norte-americano.
Corte esquemático do interior da Terra
A resposta pode estar no ringwoodite Com base nestes dados, os investigadores acreditam que o H2O está armazenado na estrutura molecular de minerais no interior do manto rochoso, na sua própria forma (não líquida, gelada ou em vapor), criada pela pressão e calor que existe debaixo da superfície. No manto rochoso existe o mineral ringwoodite, que tem água na sua composição, que permite inferir a existência de um reservatório de água no manto terrestre equivalente à água de todos os oceanos da Terra. “O ringwoodite é como uma esponja, absorve a água”, explica Jacobsen, acrescentando que na sua composição existe algo que “atrai o hidrogénio e retém a água”. “Este mineral pode conter muita água sob as condições que existem no manto profundo”. O geofísico sublinha que na investigação em que participou foram “encontradas provas de uma fusão extensiva debaixo da América do Norte nas mesmas profundidades que correspondem à desidratação do ringwoodite”, o mesmo que Jacobsen registou nas suas experiências.
Ao utilizarem os sismômetros, os investigadores analisaram a velocidade das ondas sísmicas para determinar o que existe debaixo da superfície da Terra. As ondas desaceleraram quando chegaram à camada de ringwoodite. A profundidade que acontece a fusão é também a que tem melhor temperatura e pressão para que a água saia do ringwoodite, criando um fenômeno que, segundo Jacobsen, parece que está transpirando. Para já, só existem indícios da presença de ringwoodite debaixo dos Estados Unidos, sendo necessárias outras análises para saber se o mesmo se passa noutras zonas do planeta.
manto da Terra - a descoberta pode representar maior reservatório de água do planeta. Os pesquisadores descobriram bolsos de magma localizado cerca de 400 quilômetros abaixo da América do Norte, uma assinatura provável da presença de água a essas profundidades. O estudo realizado por Steve Jacobsen e Brandon Schmandt usando ondas sísmicas para encontrar magma gerado na base da zona de transição, cerca de 410 quilômetros de profundidade. O estudo sugere zona de transição que pode conter os oceanos. Os resultados alteram os pressupostos anteriores sobre a composição da Terra.
Na nossa edição Março/Abril, veiculamos a matéria: “Rica em água, gema aponta “oceanos” embaixo da Terra”, mostrando que um diamante encontrado em Juína, no estado de Mato Grosso,no Brasil, continha no seu interior 60% de ringwoodite. E segundo Hans Keppler, da Universidade de Bayreuth, Alemanha. “De alguma forma, é como ter um oceano no interior da Terra, como o que foi visualizado por Júlio Verne, não na forma de água líquida mas como grupos hidroxilo dentro de um mineral fora do comum”. revistaamazonia.com.br
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Jardim vertical é uma tendência mundial Fotos: Alain Delavie, Patrick Blanc
A
relação entre pessoas e natureza é o foco do projeto revolucionário do botânico francês Patrick Blanc, que faz repensar a forma como vivemos nas grandes cidades O projeto de jardins verticais do botânico francês Patrick Blanc consiste em implementar vegetação em fachadas e paredes de vários edifícios pelo mundo. As ideias do botânico tem o objetivo de buscar uma reflexão entre
como as pessoas organizam a vida contemporânea e o contato com a natureza. Blanc afirma que tem como inspiração as florestas tropicais, que são sua especialidade na botânica. “3,5 bilhões de pessoas vivem nas cidades e não têm mais contato com a natureza. Estamos numa época em que todos estão alarmistas com a questão do desmatamento, excesso de gás carbônico e do aquecimento global. Eu acredito que é muito importante ter uma imagem positiva da convivência do homem com a natureza nas cidades”, disse o botânico em entrevista publicada em seu site: http://www.verticalgardenpatrickblanc.com/ Le Mur Vegetal, como foi intitulado o projeto de jardins verticais, faz uso de um sistema que, depois de instalado, não necessita de constante manutenção. Isso por que a estrutura dos jardins é coberta por um feltro especial, onde as plantas são fixadas e irrigadas com fertilizantes, impedindo que as raízes cresçam demais. A escolha das plantas é cautelosa, uma vez que devem se ambientar bem às condições do local. Os jardins verticais podem ser instalados tanto no exterior, quanto no inte-
A escolha das plantas é cautelosa, uma vez que devem se ambientar bem às condições do local Em Dubai
Em Barrain
Em Lisboa O projeto de jardins verticais do botânico francês Patrick Blanc O projeto do botânico consiste em implementar vegetação em fachadas e paredes de vários edifícios pelo mundo
Em Paris
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rior dos edifícios. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Madrid, Cingapura, Paris, Lisboa, Berlin, Sydney e Honk Hong já tiveram suas paisagens urbanas alteradas pelo projeto, que dá cara nova e um novo cartão postal para as cidades. Em entrevista recente, Blanc garantiu que suas obras, quando migradas para áreas internas, têm excelente efeito acústico e térmico, aquecendo no inverno e atenuando o calor no verão. Afirma também que estas são mais simples de se fazer, já que é possível manter a mesma temperatura o ano inteiro, enquanto os externos exigem que as plantas se adaptem a diferentes condições climáticas. Ele alega ser conta o uso exagerado dos jardins verticais, uma vez que estes não devem esconder a arquitetura e sim se somar a ela. 600m ² Jardim vertical instalado na fachada dos Halles em Avignon
Em todo o mundo, as paredes verdes ou jardins verticais, estão tornando-se mais popular do que nunca. Mas, para além da estética, essas estruturas botânicas servem a propósitos ambientais importantes que muitas pessoas desconhecem, Um dos jardins verticais mais impressionantes até à data presente, está localizado no centro de Madrid cultural, (foto abaixo) – foi construído por causa do espaço limitado e ar poluído em torno do edifício
Parede verde no Museu Quai Branly, Paris
Em Sidney
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Casa de feira internacional da construção em Hamburgo tem fachada de aquários contendo algas para esquentar a água do prédio
Casa com fachada de algas produz energia, calor e biogás Aquário com algas também produz extratos para indústria farmacêutica
Fotos: IBA
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asa de feira internacional da construção em Hamburgo tem fachada de aquários contendo algas para esquentar a água do prédio. Extratos são usados por fabricantes de cosméticos e a indústria farmacêutica. Algas microscópicas, que podem fornecer material reciclável e combustível, enfeitam as paredes exteriores daquele que talvez seja o projeto mais original da exposição internacional da construção em Hamburgo (IBA, em alemão), aberta em março deste ano e prevista para terminar em novembro. A feira propõe um conceito inovador de arquitetura sustentável que, além de economizar, também produz energia. A fachada da casa de algas tem 129 estruturas de vidro. Elas funcionam como aquários. Lá dentro, os microrganismos misturados na água alimentam um reator. As algas, microscópicas, sobrevivem com nutrientes na água e também sustentadas pelas emissões de um aquecedor 44 REVISTA AMAZÔNIA
a gás, instalado no térreo do prédio de cinco andares, que fornece dióxido de carbono (CO2) para a fotossíntese. Além disso, as algas precisam de luz solar, que não falta num ambiente tão aberto. Mas o diretor da construtora SSC, Martin Kerner, que ajudou a desenvolver a casa de algas, afirma que os microrganismos não toleram tanta claridade porque costumam viver numa espécie de
semi-sombra debaixo d’água. “Elas não podem com a luz direta do sol”. Por isso existe um sistema responsável por bombear a água em círculos para garantir que as plantas fiquem expostas à radiação solar direta por pouco tempo. Do contrário, as chamadas “microalgas” morreriam devido ao calor excessivo. Todo o processo é um espetáculo para revistaamazonia.com.br
quem observa a fachada. De vez em quando dá até para ouvir as bolhas de ar.
Extratos de algas têm várias utilidades No térreo do edifício, Kerner controla uma caldeira de metal que filtra as algas continuamente e delas extrai material reciclável. Entre os produtos fornecidos pelas algas, Kerner destaca um óleo, vendido especialmente para a indústria farmacêutica e de cosméticos. Um quilo de extratos de algas como esse chega a valer 60 euros. Os produtos das algas servem também como ingrediente de suplementos alimentares e ração animal. Até as sobras podem gerar biogás. Mas os vidros da fachada não são apenas reatores para as algas. Também funcionam como uma espécie de aquecedor solar. O sol aquece a água do aquário. A energia gerada esquenta a água do prédio. No futuro, o objetivo de Kerner é que a casa não produza só biomassa de algas e calor, mas também eletricidade a partir de fontes neutra. Apesar de toda a expectativa, Kerner diz que a obra é uma demonstração e não está pronta para o mercado. “Nos próximos anos queremos saber quanto de calor e biomassa o nosso sistema produziu e como essa biomas-
O primeiro edifício alimentado algas, na IBA, em Hamburgo
sa pode ser usada”. A estimativa é de uma produção de 1,5 toneladas por ano de biomassa de algas, mas ainda não é certo se a casa vai produzir essa quantidade. Uma coisa, no entanto, está clara: para um construtor comum, um empreendimento desse tipo “seria muito caro”, diz Martin Kerner. “Nossa fachada em Hamburgo tem uma área de reator de 200 metros quadrados e este
é, provavelmente, o tamanho mínimo para um começo”. Segundo ele, o mais rentável seria ter áreas maiores., porque sempre é necessário ter um sistema completo de administração e de coleta dos extratos de algas, segundo Kerner. “São investimentos que só valem a pena a partir de um tamanho mínimo das construções”, como hoteis de luxo e arranha-céus comerciais.
O BIQ
O BIO, edifício sede da Exposição Internacional (IBA), em Hamburgo
Apelidado de Bio Quociente Inteligente (BIQ) House, o edifício foi projetado por Splitterwerk Arquitetos e financiado (por cerca de € 5.000.000 ) para ser o Edifício da Exposição Internacional (IBA) – uma série de exposições de longa duração apresentando técnicas de vanguarda e conceitos arquitetônicos, para Building International deste ano exposição - 2013. Tem ecém-concluído em Hamburgo, Alemanha já está virando cabeças. Tem a fachada coberta em tanques (aquários) de algas.
MATERIAIS ELÉTRICOS MATERIAIS HIDRÁULICOS AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
Av. Dr Freitas, 101
entre Pedro Alvares Cabral e Pass. 3 de Outubro revistaamazonia.com.br
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Projeto “Zonas Verdes”, a reinvenção do espaço público Propõe espaço de convívio para pedestres no lugar de carros
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iniciativa foi do projeto Design Weekend (DW!), inspirada nos parklets montados em São Francisco, nos Estados Unidos. Essas áreas recreativas temporárias foram instaladas em dois pontos de São Paulo, por enquanto, substituindo vagas para estacionamento de veículos. A zona verde oferece espaço para parar bicicletas, sentar e interagir com outras pessoas em áreas de grande circulação. Os idealizadores do projeto pretendem deixar as Zonas Verdes montadas no período da 10ª Bienal de Arquitetura, desde setembro até novembro deste ano. A ideia é convidar as pessoas, os institutos e o poder público para debater sobre a implantação do projeto na cidade. Embora não tenham encontrado muitas resistências no caminho, os organizadores apontam a burocracia e os impedimentos legais como principais entraves para concretizar as zonas verdes. “Uma cidade boa para pessoas tem que criar meios para que possamos nos deslocar a pé, com facilidade e com prazer. O simples ato de sair de casa até o ponto de ônibus pode ser um martírio aqui”, completa Lincoln Paiva, do Instituto Mobilidade Verde. Além do Instituto Mobilidade Verde, participam do projeto o grupo Design Ok, o Gentilezas Urbanas do Secovi-SP e os escritórios de arquitetura Zoom e H2C. Com o Zona Verde, os organizadores pretendem criar um canal de diálogo com a sociedade, para debater questões ligadas à ocupação do espaço. Para atrair a sociedade
para o debate, foi criado um site onde as pessoas podem contribuir com propostas. Esta é apenas uma prévia do que vem por aí. O projeto pretende se tornar parte da realidade da cidade, ainda que com intervenções temporárias, em dias específicos da semana. O desafio maior será ganhar status permanente. Só para realizar as duas instalações durante o Design Weekend, foram necessários mais de seis meses de negociações com as autoridades públicas. Embora não tenham encontrado muitas resistências no caminho, os organizadores apontam a burocracia e os impedimentos legais como principais entraves. Pela lei paulistana, a Zona Azul só pode ser ocupada por carros. Em São Francisco, nos EUA, berço do movimento do parklet, as vagas poderiam ser ocupadas com outros fins desde que se pagasse pelo tempo de ocupação do espa-
O projeto Em contraponto às áreas de Zona Azul – estacionamento rotativo pago, em áreas públicas –, a proposta para a cidade de São Paulo, é a criação das Zonas Verdes, que são pequenas áreas de lazer instaladas em espaços destinados ao estacionamento de carros e, assim, transformá-las em locais para os pedestres. Desta maneira, ruas e bairros ficarão mais humanos e amigáveis e se transformarão em locais de convívio e apreço do comércio local. O objetivo central do projeto é estimular a discussão das cidades para as pessoas e o uso do solo com equidade. Projeto zona verde SP
Iniciativa tenta debater a imobilidade causada pelo excesso de veículos
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ço. Por aqui, a abordagem da Zona Verde é mexer mais fundo na estrutura e questionar a própria gestão do espaço público. Estimular mudanças na lei faz parte disso.
Uma das Zonas Verdes em SP
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Consórcio europeu está à procura dos venenos que curam por Nicolau Ferreira
Fotos: Richard Bartz
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partir do veneno de 500 animais, o projeto europeu Venomics quer criar um banco de 20.000 moléculas para obter fármacos. Um veneno é um cocktail de pequenas moléculas rápidas a atuar e específicas naquilo que fazem. O resultado, muitas vezes, é letal. Paradoxalmente, estas mesmas características podem tornar algumas destas moléculas em fármacos potentes. É isso que o consórcio europeu
Venomics está à procura. Oito instituições de cinco países, incluindo uma empresa portuguesa, querem criar um banco de 20.000 moléculas existentes no veneno de 500 animais para encontrar químicos que possam ajudar a tratar doenças como o cancer ou a diabetes. O consórcio está a meio do projeto de quatro anos, com financiamento europeu e conclusão prevista no final de 2015. O ornitorrinco, a vespa-asiática ou o escorpião-ibérico são apenas três dos 173.000 animais venenosos que se conhecem no mundo. Se o veneno de cada um deles for composto por 200 a 250 moléculas venenosas diferentes — as toxinas —, então a estimativa do Venomics é que existam na natureza 40 milhões destas moléculas. É um manancial
enorme de substâncias que podem ser estudadas, algumas poderão ser importantes para a medicina. Estas pequenas moléculas são péptidos e pertencem à mesma classe de substâncias das proteínas. Tanto os péptidos como as proteínas são formados por unidades de aminoácidos, mas os péptidos são mais pequenos. Estas toxinas que compõem os venenos têm entre 20 a 200 aminoácidos. A forma final destas moléculas não é um colar linear de aminoácidos, mas uma estrutura tridimensional, que, consoante a função de cada péptido, permite as mais variadas funções: paralisar os músculos, bloquear funções nervosas, causar dor, diminuir a tensão arterial, desfazer os tecidos ou causar hemorragias.
Tarântula
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Escorpiãoibérico
Com um cocktail desta envergadura os animais venenosos conseguem proteger-se e, principalmente, atacar. As cerca de duas centenas de toxinas presentes em cada veneno produzem uma combinação de efeitos que torna difícil uma resposta da vítima, e nos faz querer ficar distantes até da mais plácida das abelhas. “Cada um destes venenos tem uma atividade muito específica. Em termos evolutivos, vêm de moléculas dos próprios organismos com pequenas modificações que se transformam em venenos”, diz Luís Ferreira, fundador juntamente com Carlos Fontes, da empresa portuguesa NZYTech, que integra o consórcio da Venomics, liderado pela empresa francesa VenomeTech. “Em conjunto, estes venenos são muito tóxicos e letais. Mas quando são isolados um a um, alguns podem ser medicamentos”, diz o investigador que é professor na
Vespa-asiática
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Há já alguns exemplos destes: o captopril é um composto desenvolvido a partir de uma molécula descoberta no veneno da Bothrops jararaca, uma serpente que vive no Brasil e é conhecida como jararaca, cuja mordida pode ser fatal. Um dos efeitos do veneno da jararaca é baixar a tensão arterial da vítima até um nível mortal. Na década de 1970, identificou-se a molécula que causa este efeito e hoje o captopril, usado para controlar a hipertensão, é
um dos chamados blockbuster — medicamentos cuja venda faz pelo menos mil milhões de dólares por ano. O Venomics está à espera de encontrar novos compostos que podem ser importantes para a dor, a diabetes, as doenças cardiovasculares ou o cancer. Estes problemas de saúde têm causas intrínsecas — ao contrário das doenças causadas por bactérias ou vírus — e a solução para estes males pode estar no meio da artilharia de compostos que a evolução foi inventando nos venenos destes milhares de animais. Bothrops jararaca, serpente que vive no Brasil e é conhecida como Jararaca
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Explorando os venenos para gerar fármacos a uma escala que nunca antes se havia produzido
A especificidade destas moléculas é uma mais-valia para a medicina, já que só atuam sobre um determinado substrato e não sobre vários, diminuindo as probabilidades de terem efeitos secundários, uma característica comum dos medicamentos artificiais que são sintetizados pela indústria farmacêutica. Até agora, estudar estes venenos era um processo complicado e demorado. Muitas vezes, algum efeito de um veneno chamava a atenção aos investigadores, que iam depois à procura da substância que estava na origem de um fenômeno: no caso do veneno da jararaca, o jackpot foi descobrir a molécula responsável pela redução da tensão arterial. Para isso, era preciso ir buscar muitos animais de uma espécie, dissecá-los para retirar as glândulas que produ-
Ornitorrinco
Para criar um banco de 20.000 moléculas existentes no veneno de 500 animais para encontrar químicos que possam ajudar a tratar doenças como o cancer ou a diabetes
zem o veneno, estudar este veneno, descobrir o péptido, purificá-lo, investigar a sua estrutura. Entre o início e o fim deste processo, passavam-se vários anos, com apenas uma molécula estudada. Até agora, menos de um milhar de moléculas de veneno foram minimamente analisadas, um fragmento mínimo de tudo o que a natureza tem para oferecer. A abordagem do Venomics é completamente diferente revistaamazonia.com.br
e vive da tecnologia usada na biologia molecular que foi desenvolvida nos últimos anos. Além da empresa portuguesa e da francesa, o projeto conta ainda com investigadores da Comissão de Energia Atómica, da Universidade do Mediterrâneo e da empresa Vitamib, as três na França, bem como da Universidade de Liège, na Bélgica, da empresa farmacêutica Zealand Pharma, na Dinamarca, e da empresa espanhola Sistemas Genómicos. REVISTA AMAZÔNIA 49
Investigadores à caça da energia do movimento Nanogeradores triboelétricos produzirão um dia eletricidade suficiente para alimentar todo o Planeta Fotos: Gary Meek
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Exemplo de aplicação auto-alimentado, com sistema construída em torno dos sapatos piezoelétricos que transmite periodicamente uma RFID digital de 12 bits quando o portador caminha
stá sendo desenvolvida uma tecnologia que permite aproveitar a energia do movimento. É uma fonte de energia limpa e renovável, que os investigadores garantem que um dia produzirá eletricidade suficiente para alimentar todo o Planeta. Pequenas luzes representam toda uma fonte ilimitada de energia limpa e renovável. São alimentadas por geradores triboelétricos, uma tecnologia que absorve as energias do movimento ou da fricção. Num laboratório dos Estados Unidos os investigadores estão criando materiais que produzem e recolhem Energia Eletrostática… pequenas lâminas de plástico que só precisam de uma pequena pisada para ficarem carregadas de eletricidade ( energia armazenada numa distribuição de cargas elétricas estáticas). É esta carga que depois serve para manter as luzes acesas. O líder da equipe acredita que a energia do movimento pode muito bem ser a solução para as nossas crescentes Uma ilustração esquemática mostra a microfibra nanogenerator nanofio híbrida, que é a base do uso de tecidos para a geração de eletricidade
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Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo
necessidades de mais e mais energia. A questão é como recolher essa energia. Há mais de 20 anos que Zhong Lin Wang procura uma resposta. “Inventamos o primeiro nanogerador do Mundo. Para a ocasião era mesmo muito pequeno. Debitava uns quinze, doze avos de watt, era quase inútil, mas não desistimos de sonhar. É importante perseguirmos os nossos sonhos”, afirma Z.L. Wang, professor de Ciência e Engenharia dos Materiais do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA. E o sonho está mais perto da realidade. Desde que as pesquisas começaram, a equipe conseguiu aumentar 100 mil vezes a força da energia debitada. Uma folha de plástico com um metro quadrado consegue agora debitar alguma coisa como 400 watts. O truque foi imprimir texturas à escala microscópica no plástico, de forma a aumentar a superfície de contacto. Com isso, cria-se mais fricção. revistaamazonia.com.br
Wang com um protótipo de célula solar tridimensional
Professor Zhong Lin Wang com um nanogenerator protótipo de microfibra Zhong Lin Wang, professor de Ciência e Engenharia dos Materiais do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, com uma matriz de memória resistiva (PRM) em que eletrodos de metal foram modeladas utilizando litografia
É certo que 400 watts podem ser pouco, mas se usássemos estes materiais em algumas ruas e passeios mais movimentados, os investigadores garantem que o contacto com os carros e os pedestres seria o suficiente para os geradores triboelétricos conseguirem produzir a energia necessária para boa parte da infraestrutura urbana. E o mesmo tipo de tecnologia pode ser usado para aproveitar a força das marés e das ondas do mar. “Só no Leste e Oeste dos Estados Unidos, nas zonas costeiras, os cálculos demonstram que seria possível gerar uns 31 terawatts. Ora, 31 terawatts é o dobro daquilo que todo o Planeta consome atualmente”, explica Z.L. Wang. Mas antes de se meter com as necessidades energéticas mundiais, Wang quer provar a eficácia da sua tecnologia em escalas mais... modestas. Tipo, celulares que nunca ficam sem bateria. “Precisamos de um ponto de viragem, de uma aplicação de nicho, e esta pode ser uma solução. A partir do moO close mostra o material de absorção de luz marrom para a célula solar tridimensional cultivadas em fibra óptica por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia
Geração de energia com base em palmilha de sapato nanogenerators triboelétricas para auto-alimentação de eletrônicos de consumo revistaamazonia.com.br
mento em que tenhamos a atenção do público teremos condições para expandir. Por agora estamos tentando focar-nos em duas ou três aplicações, para que no ano que vem termos algo que possamos verdadeiramente comercializar. Tipo, já alguma vez carregamos o celular... desta maneira?”, sublinha o mesmo investigador. Zhong Lin Wang está confiante no seu sucesso. Ele garante que esta fonte de energia é viável, limpa, renovável. Tem andado conosco desde sempre. E agora os seus nanogeradores triboelétricos estão prontos para apanhar, serem pisados. REVISTA AMAZÔNIA 51
O que acha de um bife feito de clara de ovo e água?
Inventou a cozinha molecular há 30 anos. Hoje, o químico francês Hervé This lança outra provocação: só poderemos alimentar o mundo se mudarmos para a “cozinha nota a nota”. Podemos criar uma textura e juntar-lhe um cheiro, uma cor, um sabor. E o resultado, será comida?
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ervé This tem uma mensagem para passar e precisa da total atenção da assistência. Por isso, salta no palco, diz piadas, bate claras de ovo em castelo, lança provocações. Tudo vale, desde que ouçam o que ele tem para dizer, e que é sério: “Temos de alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050, e com a alimentação que temos não vamos conseguir. A grande questão é: o que vamos comer amanhã?” Ele tem a resposta. O químico francês – que esteve em Portugal recentemente, para duas conferências nas escolas de Hotelaria e Turismo de Lisboa e do Estoril – é geralmente apresentado como o pai da gastronomia molecular. “Sifões, azoto líquido, isso não foi inventado por Ferran Adrià, mas provavelmente por mim”, diz, para logo de seguida para lançar provocação: “A gastronomia molecular está acabada, isso é uma coisa para avós.” Mas, atenção, não quer dizer que esteja ultrapassada, mas sim que já está de tal maneira integrada na forma de cozinhar hoje em dia que já não lhe interessa. Espuminhas e esferificações são muito divertidas, mas o que o preocupa agora é alimentar o mundo. E a solução está naquilo a que chamou “cozinha nota a nota”. Extraem-se da natureza compostos puros, ou obtêm-se compostos sintetizados, e cozinha-se com eles, combinando-os de mil maneiras possíveis. Não é fácil de explicar. E This tem perfeita consciência de que esta conversa de laboratório ligada à comida é algo que desagrada à maioria das pessoas. “Sou químico, não sou chef. Sou uma daquelas pessoas que vos tentam envenenar”, diz, provocando gargalhadas. “Mas, ao mesmo tempo, vocês comem sem saber muitíssimos produtos com químicos e não sabem ou não se importam”. Sabe que se falar em etanol levanta suspeitas. Mas se falar em açúcar não. O que são, afinal, os compostos puros com os quais, diz, vai ser feita a cozinha do futuro? O açúcar, por exemplo, ou o ácido cítrico. Ou a água. Em
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por Alexandra Prado Coelho
O químico francês na conferência da escolas de Hotelaria e Turismo do Estoril – é geralmente apresentado como o pai da gastronomia molecular
Como a carne tem 60% de proteínas, se puser seis colheres de albumina e quatro de água faz um bife.” Basta juntar o cheiro e o sabor
cima da bancada onde vai fazer uma demonstração, This tem, para além daqueles, albumina, que vai ser a proteína base do seu “preparado”. Junta-lhe óleo sem sabor nem cheiro, depois açúcar em quantidades generosas e por fim o ácido cítrico. Primeiro bate a clara com uma varinha, criando uma espuma, depois, já com o óleo, obtém uma emulsão. Coloca-a no microondas e consegue uma textura esponjosa e consistente. Tem aí um exemplo de uma textura que pode ser obtida a partir de compostos puros.
No processo junta também corantes, e o preparado fica vermelho e verde. Tem textura, cor e sabor – provamos e está muito ácido, mas This não é cozinheiro, e juntar o açúcar e o ácido cítrico em quantidades industriais, como acaba de fazer, só por milagre podia dar um resultado equilibrado. Falta-lhe também o cheiro, mas isso poderia também ser acrescentado com outro composto. E consegue, por exemplo, obter um bife?, perguntamos a Hervé This numa entrevista no final da conferência em Lisboa. “Ah, fizemos isso esta manhã [na conferência no Estoril], não é difícil. A clara de ovo tem 10% de proteína, e quando se tem essa proteína [sob a forma de albumina], acrescenta-se água. Como a carne tem 60% de proteínas, se puser seis colheres de albumina e quatro de água faz um bife.” Basta juntar o cheiro e o sabor. Está, contudo, a ser desenvolvida toda uma tecnologia complexa para criar o primeiro hambúrguer artificial a partir de células, lembramos. “É inútil”, responde This. “Isso é muito bom para fazer tecidos vivos, imagine que perde uma orelha num acidente, para isso seria muito útil. Mas para comida… Qual é o objetivo? Se o objetivo é criar fibras cheias de água e proteínas, não estou certo de que cultivar células seja a melhor forma.” Espanta-o também que as pessoas insistam na textura da carne. “Podemos criar muitas texturas diferentes. Porquê a da carne? Eu não estou interessado em carne. Gostamos de carne por hábito e porque nos dá proteínas. Mas porquê ficarmos agarrados a fibras cheias de suco?” Passar ao mundo a ideia de que há uma forma completamente diferente de nos alimentarmos, e que essa forma é o futuro, não é fácil. As pessoas perguntam-lhe se essa comida do futuro será sempre líquida ou mole, se os compostos puros não são perigosos para a saúde, se não nos faltam vitaminas, se tudo isto significará o fim da agricultura. This não tem todas as respostas, mas acredita que é urgente continuar o trabalho que está a fazer. revistaamazonia.com.br
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Genomas de 3000 variedades de arroz tornados públicos Para alimentar a população mundial crescente, a produção de arroz terá de aumentar em 25% até 2030
por Marta Lourenço Fotos: Instituto Internacional de Investigação do Arroz
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á quem goste dele branco, outros cozinham-no com tomate ou feijão e há ainda quem prefira o chau-chau. Cultivado em quase todos os cantos do mundo, necessita de água em abundância. Agora, a equipe internacional de cientistas do Projeto 3000 Genomas do Arroz sequenciou, como o nome indica, os genomas de 3000 variedades de arroz, de 89 países, e divulgou os resultados numa base de dados de acesso livre a todos. Mais de 1/8 da população mundial vive em condições de extrema pobreza e fome e a população mundial continua a crescer (somos hoje mais de 7000 milhões e estima-se que sejamos 9.600 milhões em 2050), pelo que os cientistas procuram fazer melhoramentos nas plantas
alimentares, tornando-as, por exemplo, mais resistentes à seca e às pragas. “Por volta de 2030, a produção de arroz mundial terá de aumentar pelo menos em 25%, para acompanhar o crescimento populacional global e a procura [de alimentos]”. É neste contexto que se insere o Projeto 3000 Genomas do Arroz, uma colaboração entre a Academia Chinesa de Ciências Agrárias, o Instituto Internacional de Investigação do Arroz e o BGI (um grande instituto chinês dedicado à genética) e que foi financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China e pela Fundação Bill e Melinda Gates. A primeira descodificação do genoma do arroz data de 2005, no âmbito de um projeto internacional: utilizou-se a subespécie de arroz Oryza sativa japonica. Agora ao olhar para tantas variedades desta planta, o seu retrato fica mais completo. “[Estes dados] servem para compreender a diversidade genética da Oryza sativa em grande
Grãos da subespécie de arroz Oryza sativa japônica
pormenor. Com a divulgação dos dados da sequenciação, o projeto apela à comunidade ligada ao arroz para tirar partido desta informação e criar uma base de dados global e pública sobre a genética do arroz e melhorar as 54 REVISTA AMAZÔNIA
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desta informação na base de dados GigaDB pretende contribuir para melhorar a segurança alimentar a nível global, especialmente nas zonas mais pobres do mundo, e ainda reduzir o impacto ambiental das práticas agrícolas no ambiente, sublinha um comunicado de imprensa da revista. Os dados obtidos confirmam que, na espécie Oryza sativa, as variedades se podem agrupar em cinco grandes grupos do ponto de vista genético: índica, “aus/boro”, “basmati/sadri”, japónica tropical e japónica temperada. “O arroz é o alimento básico para a maioria dos povos asiáticos e o seu consumo está aumentando na África”, refere Zhikang Li, diretor do projecto na Academia Chinesa de Ciências Agrárias. “Com a diminuição dos recursos (água e terra), a segurança alimentar é – e será – é o maior desafio nesses países, tanto agora como no futuro”, acrescenta. “O acesso às sequências de 3000 genomas de arroz vai acelerar tremendamente a capacidade dos programas de cultivo para superar os obstáculos principais que a humanidade enfrentará no futuro próximo”, reforça Robert Zeigler, diretor geral do Instituto Internacional de Investigação do Arroz.
Robert Zeigler, diretor geral do Instituto Internacional de Investigação do Arroz-IRRI
Diversas variedades de arroz, o alimento básico para a maioria dos povos asiáticos
tecnologias de cultivo”. Neste projeto, recolheram-se amostras de cada uma das 3000 variedades da espécie Oryza sativa e depois os seus genomas foram sequenciados. A colocação gratuita revistaamazonia.com.br
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Classificação de 3.000 adesões de arroz em cinco grupos varietais distintos com base em 5 conjuntos de 200.000 conjuntos aleatórios dos 18,9 milhões de variantes SNP descobertos REVISTA AMAZÔNIA 55
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A técnica pode representar o futuro da biotecnologia e da indústria
A ciência dá um passo gigantesco para a criação da vida artificial A montagem do DNA permite fabricar uma levedura na qual parte do genoma é sintética. O avanço permitirá conseguir melhores antibióticos e biocombustíveis Fotos: Claudia SchmidtDannert, Maureen B Quin
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ientistas de várias universidades norte-americanas e europeias alcançaram “o monte Everest da biologia sintética”: o primeiro cromossomo eucariótico fabricado em laboratório. Trata-se de um cromossomo de levedura, o fungo usado na fabricação de cerveja, pão, biocombustível e em metade das pesquisas sobre organismos eucariontes, como nós. A capacidade de introduzir um cromossomo sintético nesse organismo permitirá melhorar todos os itens anteriores: fabricar biocombustíveis mais sustentáveis para o ambiente ou desenvolver novos 56 REVISTA AMAZÔNIA
antibióticos, além de todo um novo continente de pesquisa sobre a pergunta do milhão: como construir o genoma inteiro de um organismo superior. A reconstrução de um neandertal, por exemplo, seria impossível sem esse passo essencial. A biologia sintética é uma disciplina emergente, que trata não de modificar organismos, mas sim de desenhá-los a partir de princípios básicos. Nos últimos cinco anos, foram obtidos avanços espetaculares, como a síntese artificial do genoma completo de uma bactéria e de vários vírus. Mas esta é a primeira vez que se consegue fabricar um cromossomo completo e funcional de um organismo superior, ou eucarionte (ou célula boa, em grego, aquela que forma os humanos). “Nossa pesquisa move o ponteiro da biologia sintética da
teoria para a realidade”, diz Boeke, um dos pioneiros dessa área. “Esse trabalho representa o maior passo dado até agora no esforço internacional para construir o genoma completo de uma levedura sintética.” Boeke iniciou esse projeto há sete anos em outra universidade, a Johns Hopkins, em Baltimore, recrutando 60 estudantes universitários em um projeto chamado Build a Genome (“construa um genoma”). As técnicas para sintetizar o DNA melhoraram muito na última década, mas costumam produzir pedaços sequenciados bastante curtos, com não muito mais do que 100 ou 200 letras (tgaagcct…). Os estudantes se ocuparam de reunir tais sequências sintéticas em pedaços cada vez maiores. O cromossomo final mede perto de 300.000 letras. Que um marco científico se refira à levedura (Saccharevistaamazonia.com.br
romyces cerevisiae), um fungo unicelular que os antigos egípcios já usavam para fazer a cerveja, parece ser um bom paradoxo ou uma piada ruim, mas não é assim. A divisão fundamental entre todos os seres vivos da Terra não é a que existe entre plantas e animais, nem entre micro-organismos e espécies grandes ou macroscópicas: é entre procariontes (bactérias e arqueias) e eucariontes (todos os outros, inclusive nós). E o importante da levedura é que, por mais que seja um organismo unicelular, recai no nosso lado da barreira. Não é exagerado dizer que a maior parte do que sabemos sobre a biologia humana se deve à pesquisa desse conhecido fungo de aparência modesta. A levedura tem 6.000 genes, sendo que compartilha um terço deles com o ser humano, apesar do 1 bilhão de anos de evolução que nos separam. Os cromossomos são os pacotes em que se divide o genoma dos organismos superiores, ou eucariontes. São muito mais do que uma parte do DNA: estão empacotados em complexas arquiteturas formadas por centenas de proteínas que interagem com o material genético, como as histonas. São dotados de um centrômero, o maquinário especializado em distribuir uma cópia do genoma para cada célula filha em cada ciclo da divisão celular; e seus extremos estão protegidos por sistemas singulares, os telômeros, que garantem a integridade da informação genética em cada ciclo de replicação. Por isso o novo feito científico vai muito além da síntese do genoma de uma bactéria, algo que já se havia obtido anteriormente. Os humanos têm o genoma dividido em 23 cromossomos (ou pares de cromossomos); a levedura distribui seu material em 16, e os cientistas se centraram no menor deles, o de número 3. Extraíram o cromossomo 3 natural do fungo e o substituíram por sua versão sintética, chamada synIII, que cobre as funções do seu homólogo natural, apesar de ter sido bastante alterado com todo tipo de elemento artificial concebido para facilitar sua manipulação no futuro imediato.
Cientistas conseguiram construir pela primeira vez, um dos cromossomas do fermento do padeiro, um microrganismo com células parecidas com as nossas. Na foto o desenho do cromossoma artificial, com as alterações assinaladas por alfinetes e diamantes brancos representando “alterações de design” não encontrados no habitual; trechos amarelos representam exclusões Levedura, o fungo usado na fabricação de cerveja, pão, biocombustível e em metade das pesquisas sobre organismos eucariontes, como nós
A fabricação de antibióticos é atualmente obra de micro-organismos Que o cromossomo sintético funcione em seu ambien-
Jef Boeke, PhD, diretor do Instituto de NYU Langone Medical Center para sistemas Geneticos: um passo importante no campo emergente da biologia sintética, projetando microorganismos para produzir novos medicamentos, matérias-primas para alimentos e biocombustíveis revistaamazonia.com.br
te natural, uma célula viva de levedura, é o verdadeiro marco do trabalho, segundo os pesquisadores. “Mostramos”, diz Boeke, “que as células de levedura que levam o cromossomo sintético são notavelmente normais; comportam-se de forma quase idêntica às leveduras naturais, exceto que agora possuem novas capacidades e podem fazer coisas que suas versões silvestres não conseguem fazer”. A versão natural do cromossomo 3 do Saccharomyces cerevisiae tem 316.667 bases (as letras do DNA: a, g, t, c). A versão sintética é um pouco mais curta, com 273.871 bases, como consequência das mais de 500 alterações que os cientistas introduziram nele. Entre essas modificações se encontra a eliminação de muitos trechos de DNA repetitivo, que não têm função alguma, por estarem situados entre um gene e outro (sequências intergênicas) ou dentro dos próprios genes (íntrons). Também eliminaram os transpósons, ou genes que saltam de uma posição para outra no genoma de todos os organismos eucariontes. O cromossomo artificial synIII também porta muitos trechos de DNA acrescidos pelos pesquisadores. O número total de mudanças de um ou outro tipo se aproxima de 50.000, e mesmo assim o croREVISTA AMAZÔNIA 57
mossomo sintético continua sendo funcional. Apesar das suas evidentes implicações para a biologia fundamental – é possível construir o genoma de um organismo superior, inclusive o ser humano, a partir de compostos químicos tirados de um pote na estante? –, o projeto tem objetivos sobretudo práticos. E não só em áreas industriais, como a fabricação de pão e bebidas, nas quais esse organismo sempre foi utilizado.
Já houve vírus e bactérias de laboratório Uma das aplicações ressaltadas pelos autores é a melhora na produção de remédios como a artemisina, para a malária, ou a vacina contra a hepatite B. Como a maioria dos antibióticos provém de fungos, e a levedura é um deles, também não é descabido prever avanços na concepção e produção desses medicamentos. Mais em longo prazo, as leveduras sintéticas podem facilitar a síntese de medicamentos contra o câncer, tais quais o Taxol, cuja síntese, por ser muito complicada e
envolver muitos genes, gera obstáculos para as tecnologias convencionais. Numa área industrial muito diversa, essa tecnologia, conforme esperam seus autores, servirá para desenvolver biocombustíveis mais eficazes que os atuais, entre eles álcoois como o butanol, e também diesel de origem biológica. E, obviamente, o synIII é só o primeiro dos 16 cromossomos da levedura que os pesquisadores conseguem sintetizar. As tentativas de repetir a façanha com os outros 15 cromossomos já estão em projeto, sendo incluídas em um programa internacional chamado SC 2.0, com a participação de cientistas dos Estados Unidos, China, Austrália, Cingapura e Reino Unido. No nome do projeto, SC alude a Saccharomyces cerevisiae, o nome científico da levedura da cerveja, e o 2.0 busca enfatizar até que ponto os seres vivos estão prestes a se parecerem com qualquer outro desenvolvimento tecnológico. O objetivo é construir um genoma completo de levedura, ou o primeiro organismo complexo sintetizado no tubo de ensaio. Voltando os olhos mais para o futuro, cabe especular so-
bre a ressurreição de espécies extintas, como o mamute ou o neandertal, cujos genomas já foram sequenciados a partir de seus restos fósseis. Se esses projetos chegarem a ser iniciados algum dia, terão de se basear em uma técnica similar à que Boeke e seus colegas acabam de desenvolver para esse fungo enganosamente simples, mas que tão útil tem sido para a espécie humana desde os primórdios do neolítico.
O Teste Uma vez acabado este trabalho, a primeira coisa que os cientistas fizeram – e que Boeke considera ser o mais importante avanço obtido neste trabalho – foi testar a funcionalidade do cromossoma artificial: a sua capacidade de se reproduzir fielmente em diversos meios de cultura. Para isso, introduziram esse cromossoma dentro de células de levedura. Resultado: as células com o cromossoma artificial revelaram ter um comportamento “notavelmente natural”.
Receptivo em Manaus Reservas de hotéis Passeio de lancha para o encontro das águas Traslado para o aeroporto City tour
Presidente figueiredo Mergulho com botos Ritual indígena Aluguel de veículos
Olimpio Carneiro olimpio.carneiro@hotmail.com (92) / 8176-9555 / 8825-2267 58 9261-5035 REVISTA AMAZÔNIA
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Estação solar de contêineres pretende ajudar áreas afetadas por desastres Capaz de gerar energia e água, o PowerCube pode ser levado para qualquer lugar do mundo e é alternativa em casos de carência extrema Fotos: Ecos PowerCube ®
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ma tecnologia que pretende levar energia limpa aos lugares mais longínquos e carentes do planeta. Criado pela empresa norte-americana Ecosphere Technologies, o PowerCube é um sistema que transforma contêineres em uma estação solar móvel que, além de fornecer eletricidade, também tem o diferencial de produzir água. Com a base planejada em antigos compartimentos de carga, ao simples toque de um botão deslizam para a parte externa painéis fotovoltaicos que, por todos os lados, começam a originar energia, armazenada em baterias acopladas à estrutura. A intenção dos autores do projeto é disponibilizar o aparato para os que mais necessitam, e estender o espectro de alcance do que é, segundo eles, o maior gerador portátil do mundo – com a possibilidade de ser transportado para qualquer local por ar, terra ou pelo mar, o PowerCube pode servir a agrupamentos militares, áreas afetadas por desastres naturais ou em regiões pobres que precisam de ajuda humanitária. Auto-suficiente e autossustentável, o sistema demandou sete anos para ser concluído, até chegar ao resultado de-
O Ecos PowerCube é o mais poderoso, móvel gerador do mundo. Projetado para atender a crescente demanda de energia, água e serviços públicos de comunicação. Auto-suficiente, auto-sustentável, gerador de energia solar que utiliza a energia do sol para fornecer energia, comunicações e água potável para mais remotas, locais fora da rede do mundo.
sejado – o de ser o mais eficiente possível. Conforme o fabricante, o modelo final consegue ser até 400% mais produtivo do que um método convencional, em que as placas solares seriam colocadas por cima do contêiner. Quando chega ao local indicado, o PowerCube é de fácil instalação e pode ser implantado imediatamente para gerar até 15 KW de energia elétrica, garante a empresa. A tecnologia ainda é capaz de suprir de água regiões que
não têm mananciais, ao captar, tratar e distribuir o líquido a partir de um gerador atmosférico. Além disso, o ambiente interno permite diferentes tipos de usos – os contêineres podem ser aproveitados para a concepção de salas de aulas ou recintos de assistência em saúde, por exemplo. Também estão previstos instrumentos para comunicação e conexão de internet, o que praticamente não existe em zonas muito isoladas ou atingidas por tragédias.
O PowerCube é um sistema que transforma contêineres em uma estação solar móvel
Estação solar móvel quer ajudar áreas remotas e afetadas por desastres revistaamazonia.com.br
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Livro Vermelho das espécies faz 50 anos e alerta para o risco de extinção por Nicolau Ferreira Fotos: Derek Woller, Nick Garbutt, EchinoMedia, OpenCage, Bill Bouton, Menachem Goren, Jeff McFarland , Joares Adenilson May Júnior, Nick Garbutt,
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á 22.103 espécies em risco de extinção, segundo o Livro Vermelho das espécies de 2014 da União Internacional para a Conservação da Natureza. Orquídeas e lémures são dois grupos muito ameaçados. Restam menos de 100 orquídeas Cypripedium lentiginosum. A desflorestação no Sudeste asiático e a recolha
O peixe endémicos de Israel Acanthobrama telavivensis, uma espécie vulnerável, foi recuperado da extinção graças a um programa de conservação
O tatu brasileiro e a mascote do Mundial de futebol de 2014, Tolypeutes tricinctus, é também uma espécie em risco de extinção
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O lémur Indri indri está em perigo crítico Existem menos de 100 indivíduos da orquídea Cypripedium lentiginosum, que está em perigo
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indiscriminada desta espécie acabaram por reduzi-la à província de Yunnan, no Sul da China, e à de Ha Giang, no Norte do Vietname. A ideia de um tão pequeno número de indivíduos, perante os imponderáveis que acontecem, cristaliza a sensação de fragilidade que a biodiversidade na Terra vive, onde uma espécie que existe hoje pode desaparecer amanhã. Esta orquídea é apenas uma das 22.103 espécies em risco de extinção, segundo a atualização do Livro Vermelho das espécies de 2014 feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), avança um comunicado que assinala ainda o meio século de vida deste livro. “Ao longo dos últimos 50 anos, o Livro Vermelho guiou a conservação — foram muito poucas as ações positivas de conservação que não começaram a partir do Livro Vermelho”, disse Julia Marton-Lefèvre, diretora-geral da IUCN. “Este sucesso não é pequeno, mas há muito por fazer. Temos de expandir mais o conhecimento sobre as espécies para compreender melhor os desafios que enfrentamos, definir as prioridades globais de conservação e pôr em andamento ações concretas para travar a crise da biodiversidade”, disse, no comunicado da IUCN. Até 2020, a IUCN quer avaliar 160.000 espécies. O livro atualizado avaliou 73.686 espécies, mais 2110 do que a versão do ano anterior. Do número total, 30% está em risco de extinção, 812 estão extintas, 68 estão extintas no habitat natural. O feto Diplazium laffanianum, que vivia em grutas das Bermudas, foi agora considerado extinto no habitat natural. Em relação a 12.176 espécies (16,5% REVISTA AMAZÔNIA 61
Aye-Aye, Daubentonia madagascariensis, primata estrepsirrino endémico de Madagáscar
do total), a IUCN não obteve informação suficiente para avaliar. A IUCN tem três categorias de espécies em risco de extinção: perigo crítico, em perigo e vulnerável. E duas para as que estão fora de perigo: quase ameaçado e pouco preocupante. A Cypripedium lentiginosum pertence à subfamília de orquídeas Cypripedioideae, que tem 79% das espécies em risco de extinção. Os lémures, primatas de Madagás-
Gafanhoto colorido Lila Downs, Liladownsia fraile, do sul do México, ameaçadas
A enguia Anguilla japonica
car, são outro grupo numa situação preocupante, com 94% de espécies em risco de extinção. A enguia-japonesa (Anguilla japonica) foi agora colocada em risco de extinção, devido à caça, à perda de habitat e à poluição. “Apesar do estado de grande preocupação desta espécie, a sua avaliação e a de outras enguias é um passo positivo”, disse Matthew Gollock em comunicado, que está à frente do grupo da IUCN que avalia as enguias. “Esta informação vai permitir definir prioridades para a 62 REVISTA AMAZÔNIA
conservação mais alargada das espécies de enguias e dos ecossistemas de água doce.” Mas há boas notícias. O peixe fluvial Acanthobrama telavivensis, endémico de Israel, passou de extinto na natureza para vulnerável graças à sua conservação. Os últimos 120 indivíduos foram retirados do rio para tanques da Universidade de Telavive. Lá, os peixes reproduziram-se e em 2006 foram libertados 9000 indivíduos nos rios. Oito anos depois, a população continua crescendo. revistaamazonia.com.br
O Okapi, Okapia johnstoni, parente vivo mais próximo da girafa, extinta na Uganda e agora só existe na República Democrática do Congo. Foi declarada uma espécie em extinção em 2013 A orquídea Cypripedium californicum está em perigo
A orquídea Molokai Koki, Kodia cookei, foi descoberta pela primeira vez na década de 1860 em apenas três árvores, extinta em 1918. Em 1970, um indivíduo vivo foi descoberto e agora essa espécie só sobrevive em cativeiro. Foto cortesia de Floresta Starr e Kim Starr
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MACAPÁ-AP FONE: (96) 3251-8379 REVISTA AMAZÔNIA 63
Terra dinâmica, uma animação da autoria da agência espacial norteamericana NASA
11º Desafio Internacional de Visualização de Ciência e Engenharia Clima, corais e cérebro entre vencedores do concurso internacional de visualização científica
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erra dinâmica, uma animação narrada pelo ator britânico Liam Neeson e da autoria da agência espacial norte-americana NASA, mostra como a conjugação da energia solar e do campo magnético da Terra gera os ventos e as correntes oceânicas responsáveis pelo clima terrestre. Recebeu o primeiro prêmio, na categoria Vídeo, na competição internacional, de iniciativa anual e conjunta da revista Science e da Fundação para Ciência dos EUA (NSA). O filme https://www.youtube.com/ watch?v=6hD52H7rQak , “mostra a gigantesca escala da influência do Sol sobre a Terra, do fluxo de partículas do vento solar e da fúria das ejeções de material da coroa solar aos ventos e correntes gerados pelo aquecimento solar da atmosfera e do oceano”, explica Horace Mitchell, que com a sua equipe concebeu este vídeo de quatro minutos, citado em comunicado da Associação Americana 64 REVISTA AMAZÔNIA
Na categoria Ilustração, o vencedor foi uma representação do córtex cerebral “em tons pastel metalizados”, realizada por vários designers e cientistas norte-americanos
para o Avanço da Ciência. Na categoria Fotografia, a distinção máxima foi para uma imagem intitulada Fluxos invisíveis nos corais, que visua-
liza “a beleza das micro-correntes em torno dos recifes de corais”. “Os corais criam estes fluxos ao agitarem os diminutos cílios que possuem à sua superfície para remover revistaamazonia.com.br
Fluxos invisíveis nos corais, de Vicente Fernandez/Orr Shapiro/ Melissa Garren/Assaf Vardi/ Roman Stocker / MIT
recorre a uma nova técnica para visualizar, em alta resolução, a multiplicação de bactérias nos dedos e na palma de uma mão humana, mostrando que a colonização microbiana perdura apesar da aplicação repetida de um tratamento anti-bacteriano. Na categoria Jogos Interactivos, o primeiro lugar foi preenchido por EyeWire, https://eyewire.org/signup, um jogo de “neurociência cidadã” que permite explorar e mapear a estrutura 3D dos neurônios no cérebro. “Os vencedores puseram em evidência a beleza dos dados científicos e trouxeram ideias novas, ao mesmo tempo que mergulhavam o espectador na ciência”, disse Monica Bradford, diretora executiva da Science. O galardão reconhece esse talento notável que consiste criar visualizações e vídeos que façam pensar.” Dezoito trabalhos, entre 227 candidatos de 12 países, foram selecionados “pelo seu impacto visual, capacidade em termos de comunicação, frescura e originalidade.” Veja todos trabalhos premiados em: http://www.sciencemag.org/content/343/6171/600.full Os outros quatro vídeos seleccionados estão disponíveis nos seguintes endereços: https://www.youtube.com/watch?v=gnZEge78_78 https://www.youtube.com/watch?v=_ hbgeQzmU9U&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=tIc02tFoZ40&fea ture=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=YxRQ1-MI24g
EyeWire, jogo de “neurociência cidadã” que permite explorar e mapear a estrutura 3D dos neurônios no cérebro
os detritos e favorecer os intercâmbios de nutrientes e de gases com a água envolvente, explica o co-autor Vicente Fernandez, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, nos EUA). Na categoria Ilustração, o vencedor foi uma representação do córtex cerebral “em tons pastel metalizados”, realizada por vários designers e cientistas norte-americanos(Greg Dunn/Brian Edwards/Marty Saggese/Tracy Bale/Rick Huganir/ Greg Dunn Design/ SfN/Universidade da Pensilvânia/Universidade Johns Hopkins). Também nesta categoria, a escolha do público (que votou através das redes sociais) foi para uma imagem, da autoria de Lydia-Marie Joubert, da Universidade de Stanford (EUA), que revistaamazonia.com.br
Multiplicação de bactérias nos dedos e na palma de uma mão humana de Lydia-Marie Joubert /Universidade de Stanford REVISTA AMAZÔNIA 65
As melhores imagens de Ciência de 2014 Ovo de piolho, preso a um fio de cabelo, fotografado por Kevin Mackenzie, da Universidade de Aberdeen. Essa micrografia eletrônica da cabeça de ovo de piolho (de cor verde) ligado a um fio de cabelo humano (cor marrom). Piolhos fêmeas põem ovos em sacos que se ligam firmemente nos fios de cabelo, perto da base da haste capilar. A largura da imagem é 1,5 milímetros
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13ª edição do prêmio fotográfico Wellcome Image Awards, mostrou recentemente, no Museu da Ciência e Indústria em Manchester, Reino Unido, os vencedores de 2014. Um painel de jurados escolheu as novas imagens adquiridas pela biblioteca fotográfica Wellcome, que produziram imagens impressionantes e tecnicamente excelentes. As imagens mostram em detalhes a maravilha que pode ser encontrados em todo o mundo, ao redor e dentro de nós. A competição anual celebra destaques da fotografia científica e de técnicas relacionadas. O painel de juízes selecionou imagens que não apenas trouxessem informação científica, como também contivessem beleza estética. A mostra também será exibida em outras cidades do Reino Unido, como Manchester, Cardiff, Belfast e Londres. As 18 imagens
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selecionadas foram escolhidas por sete juízes, entre fotos adquiridas pela biblioteca fotográfica da Wellcome Images. A coleção visual da Wellcome Images é uma das maiores da biblioteca Wellcome e permite o acesso a um amplo catálogo de imagens médicas,manuscritos e ilustrações científica. Wellcome Images é uma das principais fontes mundiais de imagens de medicina e sua história, desde a antiga civilização e história social aos cuidados de saúde contemporânea, ciência biomédica e clínica médica. Mais de 180.000 imagens que vão desde manuscritos, livros raros, arquivos e pinturas de raios-X, a fotografia clínica e microscopia eletrônica de varredura estão disponíveis no Wellcome Images. As imagens oferecem um fascinante olhar para o mundo da ciência. As técnicas incluem microscópios eletrônicos de varredura, raios-X e tomografia computadorizada em 3D.
Morcego de orelhas longas, em raio-X, com sua envergadura incrível. O autor é Chris Thorn, do xrayartdesign.co.uk. O morcego marrom de orelhas compridas tem relativamente grandes orelhas e é comum no Reino Unido e em toda a Europa. A altura real do morcego é de aproximadamente 5 cm.
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Tecido de válvula do coração humano com sinais de calcificação, em imagem de autoria de Sergio Bertazzo, do Imperial College, de Londres. É o endurecimento da superfície da válvula do coração humano (válvula aórtica) tecido. Tufos de sais de cálcio (as estruturas esféricas de cor laranja) está construindo em cima da válvula do coração por meio de um processo chamado de calcificação. Nesta imagem a cor laranja identifica mais denso material, calcificado, enquanto as estruturas que aparecem em verde são menos densos. A largura da imagem é de 64 micrómetros (0,064 mm).
Embrião de peixe, registrado por Annie Cavanagh e David McCarthy. Micrografia eletrônica de varredura de quatro dias de idade embrião de peixe-zebra. Um peixe tropical, de água doce, originalmente da Ásia. É comumente utilizado como um organismo modelo para estudar a biologia do desenvolvimento e neurodegeneração (a deterioração ou morte de células nervosas) em vertebrados.
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Bomba cardíaca mecânica dentro de um tórax, imagem feita por Anders Persson. A tomografia computadorizada de dupla energia em varredura de um paciente que recebeu um coração bomba mecânica (de cor azul) enquanto espera por um transplante de coração. A bomba é ligada para o lado esquerdo do coração doente e para a aorta (a principal artéria que fornece sangue oxigenado do coração para o resto do corpo). Esta técnica é extremamente útil para investigação e diagnóstico de condições médicas e para a realização de autópsias virtuais
Ressonância magnética de fibras nervosas no cérebro humano saudável, de Zeynep M. Saygin do Instituto McGovern e MIT. As células do cérebro se comunicam entre si através destas fibras nervosas , que foram visualizadas em difusão por ressonância magnética (DWI MRI). Fibras viajando para cima e para baixo ( entre o topo da cabeça e pescoço) são de cor azul, fibras que viajam para a frente e para trás ( entre o rosto e parte de trás da cabeça ) são de cor verde, e as fibras que viajam para a esquerda e direita ( entre as orelhas ) são de cor vermelha. Estão sendo usadas para entender melhor o funcionamento do cérebro e como isso muda em pessoas com dislexia
Esta imagem pode parecer o tipo de planeta visto em um filme de ficção científica, mas é na verdade uma pedra nos rins, captadas com uma microscop eletrônica de varredura. Registro de Kevin Mackenzie. O cálculo renal (pedras nos rins) se formam quando sais, minerais e substâncias químicas na urina (por exemplo oxalato de cálcio e ácido úrico) se agregam e solidificam-se. Podem causar uma série de desconforto e dor, e em alguns casos pode levar à infecção. O tamanho da pedra nesta imagem é de 2 milímetros
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Osso da mandíbula inferior de um humano da época medieval mostra, veja os dentes particularmente interessantes. Foto também de Kevin Mackenzie. Visão panorâmica em micro-TC, de uma queixada medieval humana inferior. Os raios X foram utilizados para levar 4800 ‘fatias’ virtuais da mandíbula, que foram feitas em um modelo digital. Cores e texturas foram então adicionados para realçar os dentes (de cor azul) e óssea (cor marrom. O maxilar inferior, ou mandíbula, é um osso em forma de ferradura que mantém os dentes inferiores. Ele é o mais forte, maior osso do rosto.
Carrapato minúsculo embutido em pele. Foto de Ashley Prytherch, da Royal Surrey County Hospital NHS Foundation Trust. Essa fotografia é do carrapato penetrando a pele da perna do fotógrafo. Este carrapato é de aproximadamente 2,5 mm de comprimento revistaamazonia.com.br
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As flores astrantias, costumam crescer à sombra de árvores e arbustos, à beira de rios ou em outros locais úmidos. Fotografadas por Henry Oakeley. Esta variedade particular é chamada Hadspen Sangue. Era usada para tratar diversas condições, incluindo cólicas, insuficiência cardíaca, úlceras, feridas infectadas, mau hálito e dor de dente – mas não é mais usada – , pois tem um forte efeito laxante e também pode induzir o aborto. Esta foto foi tirada no Jardim Medicinal do Royal College of Physicians, em Londres.
Esta imagem mostra células de câncer de mama em tratamento. Micrografia eletrônica de varredura de um conjunto de células de câncer de mama (de cor azul). O diâmetro do aglomerado de células é de cerca de 250 micrómetros (0,25 mm). As nanopartículas utilizadas para tratar estas células têm aproximadamente 6 nanómetros (0,000006 milímetro) em tamanho. A autoria é de Khuloud T Al-Jamal e Izzat Suffian
Seção transversal de um botão de flor Lilium, por Spike Walker. Micrografia mostrando os órgãos reprodutores masculinos e femininos. No centro da imagem está o pistilo, a parte feminina da flor, que contém seis células de ovos (óvulos) alojados em um ovário. A largura da imagem é 10 milímetros...
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Foca registrada por Anders Persson. É uma tomografia computadorizada (TC) da cabeça da foca. Na imagem superior, a pele foi feita opaca para revelar pormenores da superfície, tais como a textura da pele e filamentos, que são visíveis na face do animal. Na imagem inferior, o esqueleto foi feita opaca e diferentes camadas de pele e de tecido adiposo foram feitas parcialmente transparente para revelar o osso do crânio por debaixo. Esta técnica é extremamente útil para investigação e diagnóstico de condições médicas e para a realização de autópsias virtuais.
Exemplar de foraminfero, um microrganismo marinho. Por Spike Walker. Este organismo é cerca de 1,4 mm de comprimento e tem um invólucro exterior feito de carbonato de cálcio chamado teste. Quando o organismo morre, o seu teste é finalmente se transformou em rocha, como giz ou calcário no fundo do mar. revistaamazonia.com.br
Close na flor Arabidopsis thaliana por Stefan Eberhard. É a primeira planta cujo genoma foi completamente sequenciado. Mostra os órgãos reprodutores masculinos e femininos. A largura da imagem é 1200 micrômetros ( 1,2 mm)
Pode parecer um pedaço de bordado, mas esta imagem é de cristais de vitamina C oxidada, ou ácido ascórbico. Produção de Spike Walker. Para fazer com que os cristais de vitamina C , começar a oxidar foi dissolvido uma gota e espalhada numa lâmina de microscópio . A vitamina C é usado para fazer colagénio , uma proteína encontrada em muitos tecidos diferentes do organismo . Sua falta ocasiona a doença chamada escorbuto. A largura da imagem é de 8 mm REVISTA AMAZÔNIA 71
Esta imagem pode parecer um galho futurista de flor, mas é lodo agrícola menos glamorosa, ampliada muitas vezes. Imagem de Eberhardt Josué Friedrich Kernahan e Enrique Rodríguez Cañas. A micrografia eletrônica de resíduos (lodo) de um processo agricultura industrial, depois de ter sido queimado. O lodo foi queimado para medir a quantidade de carbono, hidrogênio, nitrogênio e enxofre que continha. Esta técnica também pode ser usada em estudos ambientais para verificar a qualidade ou a contaminação dos combustíveis e solos. A largura da imagem é de 155 micrômetros (0,155 mm)
À primeira vista, esta imagem parece que deve ser de algo biológico, mas é na verdade um semicondutor em células solares fotovoltaicas. Autoria de Kernahan e Cañas. Varredura de um cristal de cobre, índio e gálio, Cu (In, Ga) Se2 (comumente abreviado CIGS). CIGS é um semicondutor utilizado para fazer os finos painéis solares, que converte a luz solar (energia solar) em energia elétrica de forma muito eficiente. Esta imagem foi colorida digital. A largura da imagem é de 320 micrômetros (0,32 mm). 72 REVISTA AMAZÔNIA
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Revista
Editora CĂrios
Dois elefantes-marinhos-do-sul lutam pelo afeto de um harém de 127 fêmeas. Foto vencedora da categoria Ecologia Comportamental e Fisiológica. (Foto: Laetitia Kernaleguen)
Melhores fotos de ecologia Com o estalar de uma câmera ou o clique de um mouse, participam do concurso de imagens da BioMed Central – uma espiada das complexas relações que unem os membros de nossa biosfera
A
publicação científica BMC Ecology escolheu recentemente as melhores fotos em categorias como “Conservação ecológica e Biodiversidade” e “ Ecologia Comportamental e Fisiológica”. Inscrições foram aberta a qualquer filiado a uma instituição de pesquisa, com foco em entradas representando interações ecológicas. Idealmente, as imagens deviam imediatamente sugerir um ou mais processos ecológicos, e deixar algumas profundezas ocultas a se abrir em uma inspeção mais próxima. O concurso recebeu mais de 200
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inscrições de pesquisadores internacionais em todos os níveis de carreira e uma grande variedade de disciplinas científicas que estavam procurando marcantes interpretações visuais de processos ecológicos.
Os vencedores A procura pelas entradas foi uma fascinante viagem em uma selva florescente de pesquisas ecológicas - tudo o mais agradável, porque muitas das imagens foram apresentadas visualmente deslumbrante. Esta não foi sim-
plesmente uma busca por uma imagem impressionante, no entanto. Tão importante quanto, foram os processos ecológicos representados. Idealmente, as imagens deviam imediatamente sugerir um ou mais processos ecológicos, mas deixar algumas profundezas ocultas que se abrem em uma inspeção mais próxima. O grande número de imagens altamente elogiadas mostra como muitos ecologistas têm um olho para combinar beleza com uma visão ecológica. Cinco ou seis em particular deu os trabalhos vencedores um funcionamento revistaamazonia.com.br
Bicho-pau (Timema poppensis) camuflado entre as folhas de uma sequoia na Califテウrnia, foi a imagem vencedora do Prテェmio BMC Ecologia 2013. Foto: Moritz Muschick
Borboleta e Vespa. Essa foto levou o primeiro prテェmio de Ecologia Populacional Comunidade BMC, e categoria Marcoecology. Uma vespa Polistine se aproxima de uma borboleta rabo de andorinha escasso, que por sua vez, se aproxima uma flor Scabius. Foto de Michael Siva-Jothy
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Caranguejo pequeno (Columbus crab) vivendo em tartaruga cabeçuda (Loggerhead Sea Turtle). Foto: Maristella D’Addario (University of Rome)
Paisagem com terraço. Arrozais em Yuanyang, na China. Vencedora na categoria 2013 BMC Ecologia da Paisagem Ecologia e Ecossistemas. Foto: Yulin JiaThe
Por que a tartaruga cruzou a estrada? Tartaruga-das-galápagos andando em uma estrada feita por humanos na ilha de Santa Cruz. Premiada na categoria Conservação Ecológica e Biodiversidade. (Foto: Hara Woltz) 76 REVISTA AMAZÔNIA
para seu dinheiro. Mas no vencedor reconhecemos uma qualidade extra: não só são as cores e composição atraente, eles são a base da ecologia subjacente - uma dinâmica que está sendo jogado fora em um número de diferentes níveis e prazos. Ainda mais impressionante, este é revelado através da imagem de tal forma clara que é imediatamente óbvio, mesmo para o leigo. A imagem, tirada pelo pesquisador de pós-doutorado Moritz Muschick da Universidade de Sheffield, descreve a camuflagem surpreendente de um inseto de vara (poppensis Timema) ou bicho-pau , contra a sua árvore hospedeira, o pau-brasil Sequoia sempervirens. A imagem vencedora mostra a camuflagem do bicho-pau, entre as folhas de uma sequoia na Califórnia, onde o verde brilhante não parece a melhor escolha para camuflagem. Mas a imagem de um inseto de vara verde vibrante, Timema poppensis, situado quase invisível no topo das folhas correspondentes de seu hospedeiro, uma sequóia costa (Sequoia sempervirens), fornece suporte visual para a idéia de que a cor é uma parte fundamental revistaamazonia.com.br
Duas formigas bulldog australianas conhecidas por defender ferozmente suas colunas - são capturadas em meio a uma interação, que mais parece um bate-papo. Foto recebeu menção honrosa dos juízes (Foto: Sylvain Dubey)
Um macho de Colibri (Selasphorus platycercus), suga flor (Ipomopsis aggregata), no Laboratório Biológico Rocky Mountain, no Colorado. Esta foto foi muito elogiada no BMC Ecology 2013. Flores selvagem em um prado no Colorado. Vice-campeão geral do concurso de fotografia BMC 2013. Foto: Benjamin Blonder
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de co-evolução, um processo ecológico em que duas ou mais espécies de desenvolver em conjunto. “Muitas das imagens apresentadas foram visualmente impressionante”, disse Yan Wong, um membro do conselho editorial que ajudou a selecionar entre as entradas na fotografia ou visualização de dados provenientes de pessoas de instituições de pesquisa em todo o mundo, em um comunicado de imprensa. “Esta não foi simplesmente uma busca de uma imagem impressionante, no entanto. Tão importante quanto foram os processos ecoMoscas varejeiras. As varejeiras cercam uma orquídea (Bulbophyllum lasianthum), que atrai as moscas com o cheiro de carne podre. Muito elogiada no BMC Ecology 2013. Foto Ong Poh Teck (Instituto de Pesquisa Florestal da Malásia)
Colônia de gansos-patola (animais falsos) foi colocada na ilha norte da Nova Zelândia na tentativa de fazer com que os pássaros reais voltem e se readaptem ao lugar onde foram encontrados. Recebeu menção honrosa dos juízes. (Foto: Hara Woltz)
Fuga de sapos! Momento em que um pato pula em um galho no qual dois sapos tomavam um banho de sol. Também com menção honrosa dos juízes (Foto: Thomas Jensen) Cinco zaragateiros-árabes (Turdoides squamiceps) diante de outro grupo durante um confronto sobre território. Com menção honrosa dos juízes. Foto: Yitzchak Ben Mocha (Tel Aviv University)
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A lagarta da mariposa (Lymantria dispar) morta pelo parasita ( liparidis Glyptapantheles ) vespa. A vespa deposita os ovos na lagarta, e suas larvas se desenvolvem dentro, matando-a. Foto: György Csóka (Instituto de Pesquisa Florestal Hungria)
Coletando pólen. Inseto na flor Vellozia, na Serra do Cipó, Brasil. Prêmiação “altamente recomendado” Foto: Daniel Wisbech Carstensen “Polinização. Interações multitróficas em ação”. Foto: Anne Ebeling (Universidade de Jena)
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Gigante tropical, árvore tropical Ceiba pentandra, também conhecido como Kapok. Foto: Benjamin Blonder (Universidade do Arizona)
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Pássaro pousa em um osso maxilar. Foto: Matteo Lattuada (Universidade de Antuérpia)
Maré azul. Os dinoflagelados (plâncton) transformam-se em maré luminosa. Foto “altamente recomendada”. Foto: Bruce Anderson (Universidade de Stellenbosch) Anotação em caderneta de um cientista, durante uma pesquisa de floresta do velho-crescimento secundário no Peru ganhou a Escolha do Editor no concurso de fotografia BMC Ecology. Foto de Raf Aerts
Grilo cantando. Este grilo estava cantando ao entardecer na beira da floresta secundária em Bornéu. Ele se arrastou para o funil natural de uma planta de gengibre que estava sendo usado para amplificar o som da música. Foto: Michael Siva-Jothy (Universidade de Sheffield)
Expedição Científica. Pesquisadores transportam equipamentos para levantamento da vegetação de uma parcela da dinâmica da floresta de Porto Rico. Foto: Benjamin Blonder (Universidade do Arizona)
lógicos representados. Idealmente, as imagens deve imediatamente sugerir um ou mais processos ecológicos “, disse Wong. As fotos capturam animais e cenas da natureza, como o momento em que um pato pula em um graveto e espanta dois sapos que tomavam um banho de sol e ainda uma onda azul fluorescente provocada por uma reação química. 80 REVISTA AMAZÔNIA
Investigação sobre o stress de pingüins-rei (Aptenodytes patagonicus). Pesquisadores colocaram um pinguim com um monitor externo da freqüência cardíaca e comparou o tamborilar do coração pinguim em partes da colônia perturbada pela presença humana e suas partes não perturbadas. Na parte superior direita, um traço de frequência cardíaca mostra quando a taxa de um pássaro coração disparou durante a captura. Foto: Benoit Gineste (Evolutionary Ecofisiologia Group, CNRS)
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O glyptodon (tatus) extinto, era do tamanho de um carro pequeno
Amazônia ainda vive o rescaldo da extinção dos grandes mamíferos por Nicolau Ferreira Ilustrações: Pavel Riha, Peter Schouten
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amíferos gigantes que hoje já não existem, mas que povoaram o continente americano até há cerca de 12.000 anos, espalharam potássio pelas florestas, enriquecendo regiões que hoje são mais pobres a nível dos nutrientes Os serviços que o ecossistema presta, como a captura de dióxido de carbono ou a filtração das águas, são argumentos que motivam a sua conservação. Mas há um que já desapareceu na maior parte do mundo com a extinção da megafauna que existia no Pleistoceno, até há cerca de 12.000 anos. Antes, os grandes mamíferos dissemina-
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vam nutrientes como o fósforo por vastas áreas através dos excrementos e da urina, enriquecendo estas terras. Isso acabou com a sua extinção, cujo motivo se deve em parte à chegada do homem e tem repercussões até hoje na região da Amazónia. “Este serviço é análogo ao feito pelas artérias nos seres humanos [que levam nutrientes e oxigénio a todos os tecidos do corpo]”, lê-se no artigo da equipe de Christopher Doughty, do Instituto de Alterações Ambientais, que pertence à Escola de Geografia e Ambiente da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Os grandes animais funcionavam como as artérias dos ecossistemas, transportando nutrientes para regiões mais longínquas, e os animais menores eram os capilares, que distribuíam os nutrientes em para subsecções desses ecossistemas.” Os grandes mamíferos eram uma presença assídua na
maioria dos continentes da Terra. Se África tem hoje as suas girafas, elefantes ou rinocerontes, quando os primeiros humanos chegaram à América, há cerca de 13.500 anos, terão encontrado tatus do tamanho de pequenos carros, preguiças-gigantes que faziam a vida na terra – o Megatherium pesava quatro toneladas e media seis metros –, além dos mais conhecidos mastodontes, tigre-dentes-de-sabre ou o leão americano. Nessa altura, na América do Sul, o peso médio de todos os animais com mais de dez quilos era de 846 quilos. Muitos deles seriam herbívoros que caminhavam por vastas regiões. “Os herbívoros ingerem nutrientes como o azoto e o fósforo nas plantas que comem, e excretam estes nutrientes principalmente na urina e nas fezes – passado um período de tempo que depende do seu tamanho corporal e REVISTA AMAZÔNIA 81
da fisiologia da sua digestão”, explica Tanguy Draufness, do Instituto Nacional Francês para a Investigação Agrícola, em Montepellier, França. “Ao longo do tempo, um herbívoro exporta nutrientes de um lugar onde preferencialmente come, para outro, onde defeca. No entanto, os nutrientes que foram excretados acabam na vegetação vizinha que cresce e, por sua vez, podem ser consumidos por outro indivíduo e excretados noutro local. Os nutrientes podem viajar de um lado ao outro do continente”, resume o investigador, comentando este novo estudo. Há cerca de 12.000 anos, esta distribuição acabou nas Américas. A causa final da extinção dos grandes mamíferos que se deu nos dois continentes, como aconteceu milénios antes na Austrália, ainda não foi determinada. As duas explicações mais fortes referem por um lado a caça feita pelo homem, por outro, grandes alterações no clima. Mas o resultado, na América do Sul, foi o desaparecimento de 62 espécies e de 70% das espécies que pesavam mais de 10 quilos. Assim, o peso médio dos animais com mais de dez quilos passou dos 843 quilos para os 81 quilos. A equipe de Christopher Doughty analisou a difusão do fósforo na Amazónia antes e depois da extinção da megafauna, considerando que esta difusão era semelhante à do calor. Basicamente, fizeram um modelo do fluxo dos nutrientes, a partir da fórmula que define a difusão do calor na atmosfera. Os seus resultados mostram que houve uma diminuição em 98% da dispersão do fósforo nesta região. Esta diminuição na forma como o fósforo é distribuído ainda não terminou, só vai estabilizar completamente, segundo as contas da equipe, daqui a 17.000 anos. Nessa altura, a distribuição deste nutriente no ecossistema vai ser quase só determinada pelos processos geológicos, como a vinda de nutrientes dos Andes pelo rio Amazonas ou o movimento atmosférico das partículas provenientes do deserto do Sara que atravessam o oceano Atlântico e vão ser depositadas na Amazônia. “De uma forma simples, quanto maior for o animal, maior o seu papel na distribuição dos nutrientes que tornam o ambiente mais rico”, explicou Christopher Doughty. “A maioria dos grandes animais do planeta já estão extintos, cortando as artérias que carregavam os
Com a extinção da megafauna que existia no Pleistoceno, até há cerca de 12.000 anos, diminuiu os nutrientes que disseminavam, como o fósforo por vastas áreas através dos excrementos e da urina, enriquecendo estas terras. Animais gigantes foram, portanto, cruciais para fertilizar a Amazônia 82 REVISTA AMAZÔNIA
Na América do Sul existiam espécies parentes das preguiças que eram enormes
Com a extinção da megafauna que existia no Pleistoceno, até há cerca de 12.000 anos, diminuiu os nutrientes que disseminavam, como o fósforo por vastas áreas através dos excrementos e da urina, enriquecendo estas terras. Animais gigantes foram, portanto, cruciais para fertilizar a Amazônia
nutrientes muito para lá dos rios, para áreas inférteis”, acrescenta. Segundo os autores, se esta extinção tiver sido causada pelo homem, então o papel que a espécie humana tem na alteração do ambiente iniciou-se milênios antes do nascimento da agricultura.
Thylacoleo carnifex (leão marsupial), com enorme e da mordida mais poderosa para o seu tamanho de qualquer mamífero carnívoro, era um predador formidável de animais de grande porte
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