Amazonia 46

Page 1

Revista

HECTARES DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE (APP)

370 136.973

ESPÉCIMES DE 47 FAMÍLIAS BOTÂNICAS CATALOGADAS*

ANIMAIS RESGATADOS DESDE O INÍCIO DAS OBRAS**

*96% foram reintroduzidos na natureza. **93,35% foram encaminhados para as áreas de soltura.

RTE

AM

Editora Círios

Ano 9 Número 46 2014 R$ 12,00

www.revistaamazonia.com.br

O Centro de Estudos Ambientais (CEA) é o compromisso materializado com a preservação do meio ambiente na região do Xingu. É o ponto de referência para os projetos de preservação da fauna e flora e da produção do conhecimento científico. Tornou-se um legado do trabalho responsável da Norte Energia, que visa a conservação, manutenção e resgate dessas espécies. Garantindo o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

NO

ISSN 1809-466X

DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

DO

R$ 12,00

14 PLANOS 26 MIL

OR PUB AI

CAÇÃO LI

Ano 9 Nº 46 Setembro/Outubro 2014

PRESERVAÇÃO DA FAUNA E FLORA. COMPROMISSO NORTE ENERGIA.

5,00

COP 12 - BIODIVERSIDADE BIOLÓGICA MAGIA E SEGREDOS DA AMAZÔNIA


Participe do maior evento de mineração da Região Norte Join the biggest mining event of Amazon Region

A participssure your ation fro m now

exposibram@gigamkt.com.br Patrocínio Ouro Gold Sponsor

Patrocínio Diamante Diamond Sponsor

Patrocínio Prata Silver sponsor

Patrocínio Bronze Bronze Sponsor

Promoção Promotion

Apoio Support

Agência de Comunicação do IBRAM IBRAM´s Communication Agency

revistaamazonia.com.br

Secretaria Executiva Executive Office

Agência de Comunicação da EXPOSIBRAM EXPOSIBRAM´s Communication Agency

Apoio Institucional Institutional Support

Organização da EXPOSIBRAM EXPOSIBRAM Organization

REVISTA AMAZÔNIA 1


revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZテ年IA 1


Revista

Editora Círios

Ele foi o primeiro a falar no III Encontro Panamazônico realizado recentemente em Lima. Tem um discurso apaixonado e uma qualidade um tanto rara para um cientista: sabe combinar dados com histórias, explicação com emoção...

Amazônia: legado dos brasileiros O WWF-Brasil, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizou recentemente em Brasília, a abertura da exposição fotográfica “Parques Nacionais da Amazônia: Legado dos Brasileiros”, em homenagem ao dia da Amazônia...

28 Três histórias de valor para o futuro da Amazônia

Quando se cria um projeto que consegue valorizar o modo de vida das comunidades tradicionais e dá a elas uma alternativa econômica a partir do uso sustentável dos recursos naturais da floresta e da recuperação de áreas degradadas, é sinal de que uma nova forma de desenvolvimento pode estar nascendo ali...

54 10º Prêmio Brasil Ambiental

Realizado pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio) e seu Comitê de Meio Ambiente, o 10º Prêmio Brasil Ambiental, com o objetivo de prestigiar as melhores práticas empresariais na área de sustentabilidade em curso no país...

NO

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn

CIC

COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn

I LE ESTA REV

ARTICULISTAS/COLABORADORES Andina , Ascom AmCham Rio, Ascom Imaflora, AscomWWF-Brasil, Ascom PrevFogo, Marcelo Gradelha Villalva, Marta Lourenço, Ramiro Escobar FOTOGRAFIAS Acervo Imaflora, Adriano Gambarini, Amanda Voisard/ONU, Andina, Ascom PrevFogo, Everton Pimentel/ Ascom Ibama, Divulgação, Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr, Izilda França, Josef Shoperle, Katia Gardin, Leonardo Milano/ICMBio, Luciana Gatti/IPEN; Marcello Casal Jr/Agência Brasil, Mark Garten, Michael Eyre, Nina Bednarsek, Pavel Riha, Peter Arnold / Alamy, Rafael Salazar/Acervo Imaflora, Richard Bartz, Roberto Stuckert Filho, Rodrigo Baleia/ Greenpeace, Rudolph Hühn, Somsak Panha, Thiago Foresti, Yubi Hoffmann/ UN, Wurth Either, WWF-Canon/James Morgan EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA No Juruena – o quarto maior Parque Nacional do País, apoiado pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), o maior programa de conservação de florestas tropicais do mundo. Foto de AdrianoGambarini, na exposição fotográfica “Parques Nacionais da Amazônia”

DO

Mais conteúdo verde

RP AIO UB M

N

66X ISSN 1809-4

Editora Círios

Ano 9 Número 46 2014

R$ 12,00 5,00

COP 12 BIO MAGIA E DIVERSIDADE B SEGRED OS DA A IOLÓGICA MAZÔN IA

revistaamazonia

.com.br

REVISTA AMAZÔ

NIA 1

Portal Amazônia

www.revistaamazonia.com.br PA-538

CAÇÃO LI

[24] III Encontro Pan Amazônia [34] A Cúpula do Clima, na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York [37] Marcha do Povo pelo Clima [40] I Conferência Mundial sobre Povos Indígenas [42] À procura de um ouvido matemático que distinga as aves da Amazônia [44] Fundo Mundial para a Natureza reclama da redução de animais no planeta [46] Bens de consumo e desmatamento [50] 5º Encontro Nacional das Águas [52] Aumento de CO2 nos oceanos eleva nível de acidez e ameaça vida marinha [58] XII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação [62] 47º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel [66] Intersolar South America 2014 [68] 2º CB-Sol – Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar [70] Residências produzem sua própria eletricidade com a energia do sol [72] 9º Congresso Internacional de Bioenergia [75] Destruição de manguezais é até cinco vezes maior que das florestas [77] Acidificação dos oceanos cresceu 26% nos últimos 200 anos [82] 4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade

A

78 Queimadas

Com o início do período de seca na Amazônia, começa também a “limpeza” das terras, feita antes do plantio de lavouras e pastagens com o uso de queimadas, que causam enormes impactos ambientais. A prática, apesar de em alguns casos ser ilegal, é intensificada entre agosto e setembro. De janeiro a agosto deste ano o número de focos de calor no Brasil já é 93% maior que o registrado no mesmo período de 2013, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)...

RTE

FAVOR POR

RE

20 Parques Nacionais da

OR PUB AI

DO

da Amazônia

XPEDIENTE

PUBLICAÇÃO Período (setembro/outubro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

CAÇÃO LI

14 Magia e segredos

E

ST A

Conferência da ONU discutiu mudanças nos padrões globais a favor da preservação da biodiversidade e alertam que é necessário tornar o uso da terra, da água, da energia e dos materiais muito mais eficiente para alcançar os objetivos globais referentes à biodiversidade para 2020...

AM

06 COP-12

OR

TE


CONFERÊNCIA

19 E 20 DE AGOSTO DE 2015 WTC HOTEL - SÃO PAULO - SP

2

Mercado de Energia: O Futuro dos Ambientes de Contratação Livre e Regulado

3

Regulação Tarifária: Um Novo Regime para uma Nova Realidade

TEMA

TEMA

TEMA

1

Política Energética: Expansão da Geração na Era Pós-Hidrelétrica

Informações e inscrições em:

www.brazilenergyfrontiers.com

ERCA!

NÃO P

ATENÇÃO: CHAMADA PARA ARTIGOS O Brazil Energy Frontiers 2015 faz uma chamada para apresentação de artigos relacionados ao tema central "O Setor Elétrico e as Novas Fronteiras Globais". Os melhores artigos serão apresentados durante a conferência e o autor do melhor artigo receberá como premiação BRL 10.000 (dez mil reais).

envio dos resumos :: até 22 de setembro de 2014 veja mais no site www.brazilenergyfrontiers.com

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 1


Mesa oficial da abertura da COP 12, na Coréa

12ª CONFERÊNCIA DAS PARTES DA CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA – COP-12 Conferência da ONU discutiu mudanças nos padrões globais a favor da preservação da biodiversidade e alertam que é necessário tornar o uso da terra, da água, da energia e dos materiais muito mais eficiente para alcançar os objetivos globais referentes à biodiversidade para 2020 Fotos: Everton Pimentel/ Ascom Ibama, Rudolph Hühn

A

Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, é um dos maiores e mais importantes eventos ambientais internacionais. Trata-se do principal instrumento internacional para tratar da conservação e do uso sustentável da biodiversidade. A COP-12 teve como tema central “Biodiversidade para o Desenvolvimento Sustentável”, refletindo as negociações no âmbito das Nações Unidas da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reunindo mais de 3.000 delegados de 193 países. Na abertura da COP 12, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, pediu aos “Estados-Membros e as partes interessadas em todos os lugares para tirar as conclusões do GBO4 em conta no seu planejamento, reconhecendo que a biodiversidade contribui para a re06 REVISTA AMAZÔNIA

solução do desafios que enfrentamos e que redobre os esforços para alcançar nossos objetivos comuns”. Achim Steiner, diretor-executivo do Programa do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), defendeu que “responsável pela gestão da biodiversidade do nosso planeta é motivado não só por uma responsabilidade partilhada para o futuro das gerações. Fatores cada vez mais econômicos chamam os políticos para preservar a biodiversidade. Sem a biodiversidade saudável, meios de subsistência, os serviços dos ecossistemas, habitat e a

segurança alimentar podem ser comprometidos”. “Ações para reduzir a perda de biodiversidade, inevitavelmente, envolvem uma variedade de benefícios sociais e irá estabelecer as bases para a transição socio-económico para um modelo de desenvolvimento mais sustentável e inclusiva”, acrescentou Achim Steiner. Braulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), apresentou uma mensagem de otimismo: “A boa notícia é que as partes estão fazendo progressos e tendo compromissos concretos para as Metas de Aichi de Biodiversidade” . Ele também enfatizou que o relatório também observa que os esforços podem aumentar se o Plano Estratégico para a Biodiversidade a serem alcançados em 2011-2020 nas Metas de Aichi de Biodiversidade “. “Nossos esforços podem e devem ser reforçadas por ações combinadas para resolver os problemas de perda de biodiversidade e outros objetivos. O mundo entende cada vez mais crítica a ligação entre a biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. As medidas que serão necessárias para alcançar as Metas de Aichi de Biodiversidade serão de alimentos mais seguros, populações saudáveis e melhorar o acesso à água potável para todos”, disse Braulio Dias, chefe da CBD. revistaamazonia.com.br


As Partes adotaram o “Mapa do Caminho de Pyeongchang” – documento que trata da implementação do Plano Estratégico 2011-2020 e das Metas de Aichi sobre a biodiversidade, adotados em 2010, e abordou a questão da mobilização de recursos financeiros e outros temas centrais para a efetiva implementação dos compromissos assumidos pelas Partes da CDB para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.

Um brasileiro à frente da CDB Na cerimônia de abertura da COP-12, o brasileiro Bráulio Ferreira de Souza Dias, Secretário Executivo da Convenção desde janeiro de 2012, foi confirmado para um segundo

Chun Choe, Presidente do Instituto Nacional de Ecologia, da Coreia; Braulio Ferreira de Souza Dias, Secretário Executivo da CDB; Choi Lua-soon, governador da província de Gangwon, República da Coreia; Hem Pande, Presidente da COP 11; Yoon Seongkyu, Presidente da COP 12; Achim Steiner, Diretor Executivo do PNUMA; Dong Yeol Yeom, Membro do da Assembleia Nacional, República da Coreia; David Cooper, Secretariado da CDB; e Kim Sisung, presidente do Gangwon Conselho Província

mandato. Formado em Biologia pela Universidade de Brasília e com Doutorado em Zoologia na Universidade de Edimburgo, Bráulio Dias ocupou diversos cargos relevantes para a gestão do meio ambiente e foi Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Sua confirmação no cargo reflete reconhecimento

pelo seu papel na implementação do Plano Estratégico para Biodiversidade 2011-2020 e das Metas de Aichi.

O Brasil na COP-12 O Brasil apresentou o seu 5º Relatório Nacional, reunin-

Na COP 12, Grupo de Contacto sobre a conformidade no âmbito do Protocolo de Nagoya

Bráulio Ferreira de Souza Dias, Secretário Executivo da CDB

O aviso foi emitido no início da 12ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-12), em Pyeongchang, na Coreia do Sul

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 7


A conferência é uma oportunidade crucial para delinear os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), ao serem revistos planos e estratégias nacionais, e para dar novo impulso às 20 metas traçadas para a biodiversidade no ano de 2010 em Aichi, no Japão, disse o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner. As Metas de Aichi contribuem significativamente para expandir prioridades globais, como a redução da pobreza e da fome, a elevação das condições de saúde humana e a garantia de suprimento sustentável de energia e de água potável. do as principais ações e políticas implementadas pelo país, e que demonstra os avanços e desafios nacionais para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade. O relatório nacional mostra informações sobre a implementação do Plano Estratégico 2011-2020 e das Metas de Aichi. A COP-12 permitirá dar maior relevo ao tema da biodiversidade no conjunto das discussões sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável atualmente em curso na ONU. O Brasil considera isso especialmente importante porque, a despeito dos progressos alcançados pelos membros da CDB, muito ainda deve ser feito para se cumprir os compromissos assumidos pela comunidade internacional de conservação e uso sustentável da biodiversidade, em particular as Metas de Aichi. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serão instrumentos poderosos nesse sentido. Outro tema central é a questão do financiamento. Na COP-12, o Brasil defendeu que o objetivo preliminar de dobrar os fluxos internacionais para os países em desenvolvimento seja revisto, com o objetivo de elevar o nível de ambição para responder às necessidades de

Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

financiamento para a implementação do Plano Estratégico 2011-2020.

A Reunião das partes do Protocolo de Cartagena Na oportunidade também realizou-se a 7ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena (MOP-7). O Protocolo de Cartagena foi adotado em 2000 e entrou em vigor em 2003. É um instrumento complementar, adotado no âmbito da Convenção, que estabelece regras para a movimentação internacional segura de organismos geneti-

camente modificados (OGMs). Até o final de 2014, 168 dos 194 membros da CDB terão aderido ao Protocolo. Durante a MOP-7 (do inglês meeting of the Parties), as Partes debateram questões relativas à manipulação, transporte, embalagem e identificação de OGMs; a avaliação e manejo de riscos; e considerações socioeconômicas advindas do impacto dos OGMs na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica. País de grande diversidade biológica e grande produtor/exportador de OGMs, o Brasil é parte do Protocolo e acolhe integralmente as regras de precaução estabelecidas pelo acordo.

Braulio Ferreira de Souza Dias abordando o projeto LifeWeb – plataforma de captação internacional de recursos. A LifeWeb é iniciativa da CDB e a Alemanha é o seu principal doador

A COP 12 abordou a relação entre as cidades eo desenvolvimento sustentável, incluindo objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) sobre a biodiversidade e as cidades, a pesquisa da biodiversidade urbana, planejamento, implementação e da economia verde

A

8 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Criança plantando sementes de cenoura e abobrinha

No lançamento do 4º Panorama Global – GEO4

A Reunião das partes do Protocolo de Nagoia Em paralelo à última semana da COP-12, ocorreu a 1ª Reunião das Partes do Protocolo de Nagoia sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de Benefícios Derivados de sua Utilização. O Protocolo de Nagoia foi aprovado durante a última Conferência das Partes, em 2010, e entrará em vigor no dia 12 de outubro. O tema principal da primeira reunião das partes foi a elaboração da estrutura necessária para seu funcionamento, com destaque para a definição das regras de cumprimento e para o Mecanismo de Intermediação de Informações sobre Acesso e Repartição de Benefícios (“ABS Clearing-House”). O Brasil é signatário original do Protocolo de Nagoia, que se encontra sob exame pelo Congresso Nacional para fins de ratificação. Na Coreia, a delegação brasileira participou ativamente dos debates da MOP-1, na condição de observador.

O relatório cita o Brasil como tendo “sucessos no combate ao desmatamento”

Aichi até 2020. Elas foram acordadas globalmente no Plano Estratégico para Biodiversidade.

Em geral, o Panorama da Diversidade Global 4 mostra que houve progresso “significativo”, mas que em muitos

Panorama Ação “ousada e inovadora” seria necessária “urgentemente” para que os países alcancem as chamadas Metas de

Abertura plenária do Protocolo de Nagoya

APOIANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA.

Consultoria na regularização de projetos, condução de estudos, monitoramentos ambientais e de comunidades. revistaamazonia.com.br

www.sustentar.eco.br contato@sustentar.eco.br 91 3224-4450 / 8274-6904 REVISTA AMAZÔNIA CONSULTE-NOS!

9


casos é necessária uma ação adicional para o plano estratégico em rumo. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica, alcançar estas metas contribuiria para prioridades globais mais amplas da agenda de desenvolvimento pós-2015. Entre elas, estão redução da fome e da pobreza, melhorar a saúde humana e garantir fornecimento sustentável de energia, de alimentos e de água limpa. No entanto, para alcançar esses objetivos seria preciso mudanças na sociedade, incluindo o uso mais eficiente da terra, da água e da energia, assim como repensar os hábitos de consumo.

Metas O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon destacou a ligação entre biodiversidade e desenvolvimento sustentável.

Entre as metas em que há sinais de progresso estão o estabelecimento de planos de ação e estratégias e o crescimento de áreas de proteção. Segundo o relatório, metas como a redução da poluição e a dimunuição pela metade das taxas de desmatamento, e a perda de habitats naturais, precisam de mais ações para que sejam alcançadas até 2020.

Rio+20 O Plano Estratégico para Diversidade 2011-2020 foi acordado pela comunidade internacional em 2010 no Japão. Desde então, ele foi reafirmado pela Assembleia Geral das Nações Unidas durante a Rio+20, em 2012. A 12ª reunião da conferência das partes da Convenção sobre Diversidade Biológica começa nesta segunda-feira em Pyeongchang, na Coreia do Sul. O secretário-executivo da Convenção, Bráulio Dias, afirmou que “as partes estão fazendo progresso e compromissos concretos para implementar as metas de biodiversidade” do plano. Segundo ele, o relatório “mostra que as ações dever aumentar “significativamente” para que as metas possam ser alcançadas.

GEO4 Também mereceu destaque o lançamento, durante a COP-12, do 4º Panorama Global da Biodiversidade (Global Biodiversity Outlook) – GEO4 – Trata-se do principal

A erosão do solo é muito comum na África, afetando a produção de alimentos ea segurança alimentar. Além de mídia colocando em risco a subsistência dos pobres nas zonas rurais. A degradação do solo tem efeitos para as bacias Figura 3: florestas, Muertesserviços prematuras a exposición a materias particuladas (PM10) hidrográficas, de culturadebido e dos ecossistemas na África

por región en 2000

Muertes atribuibles (en miles) 600

África Asia y el Pacífico

500

Europa América Latina y el Caribe

400

Norteamérica Asia Oriental

300

200

100

0

10 REVISTA AMAZÔNIA

Mortes prematuras devido à exposição a partículas em suspensão (PM10) por região em 2000

A COP 12, na cidade de Pyongchang, Coreia do Sul, reuniu diplomatas, representantes de governos, executivos de empresas e lideranças da sociedade civil de 193 países, além de profissionais de organizações internacionais e agências de cooperação multilaterais. Na COP 12 foram debatidos: avaliação dos progressos na implementação do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020; biodiversidade e desenvolvimento sustentável; biodiversidade marinha e costeira; biodiversidade e alterações climáticas; biocombustíveis; conhecimento tradicional; gestão sustentável da vida selvagem; espécies exóticas invasoras; biologia sintética; conservação dos ecossistemas e da restauração; e mobilização de recursos. revistaamazonia.com.br


Projeto Oásis, iniciativa pioneira no Brasil, foi apresentada durante a COP 12. O projeto mescla conservação da natureza e economia e visa à proteção de mananciais de abastecimento público de água, por meio de parcerias entre instituições públicas e privadas e representantes da sociedade civil. O projeto premia financeiramente os proprietários rurais que protegem suas áreas de vegetação nativa e que adotam práticas de conservação de uso e de manejo do solo.

Nosso planeta “encolhe”. As forças motrizes como o crescimento populacional, a atividade econômica e os padrões de consumo têm exercido uma pressão crescente sobre o meio ambiente. Desde 1987, a população mundial cresceu quase 34% e o comércio aumentou 2,6 vezes em todo o mundo. Na foto acima, você pode ver como a porção de terra disponível para cada pessoa no planeta tem “encolheu” em sentido figurado, desde 1990, de 7,91 ha para 2,02 ha em 2005 e espera-se cair ainda mais para alcançar 2050 tem 1,63 Este gráfico mostra também que a economia cresceu em 67%, que por sua vez aumenta a renda média per capita para o mesmo período. Neste quadro destaca algumas das pressões e mudanças ambientais induzidas pelas atividades humanas.

documento sobre o estado da conservação e uso sustentável da biodiversidade. O documento indica os temas que necessitarão de maiores esforços da comunidade internacional, servindo de referência para o debate ambiental nos próximos anos. O novo relatório da ONU, Panorama da Biodiversidade Global 4, enfatiza que a manutenção dos padrões atuais de comportamento, consumo, produção e incentivos econômicos não permite que os ecossistemas mundiais revistaamazonia.com.br

Derretimento sazonal de gelo da Groenlândia. As partes em laranja / vermelho são as áreas onde fusão sazonal da superfície de gelo ocorre. A superfície total de fusão em 2005 superou o recorde anterior, de 2002 Durante o diálogo sobre a integração da biodiversidade, na COP 12

REVISTA AMAZÔNIA 11


Os cumprimentos no final da reuniãoessão de Encerramento conjunta da COP / MOP 1 e CBD COP 12

sejam capazes de satisfazer às necessidades humanas do futuro. Foi emitido no início da 12ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-12), em Pyeongchang, na Coreia do Sul, e pretende criar uma estratégia que aumente substancialmente os recursos disponíveis para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.

CONCLUSÕES A pauta principal da COP 12, foi a ratificação do Protocolo de Nagoya, também denominado de “Acesso a Recursos Genéticos e a Repartição Justa e Equitativa dos BenefíFigura 4: Población costera y degradación de la línea de costa Población que vive en un radio de 100 km de la costa Ninguna Menos del 30% Entre 30% y 70% Más del 70%

Línea de costa Más alteradas Alteradas Menos alteradas Ciudades costeras seleccionadas de más de un millón de personas

População costeira e a degradação do litoral. A urbanização costeira ecologicamente sensível rápida e mal planejada aumenta a vulnerabilidade aos riscos costeiros e os impactos da mudanças climáticas

Lugares de maior risco por tipo de desastres naturais. Perigos naturais, tais como terremotos, inundações, secas, tempestades, ciclones tropicais e furacões, incêndios, tsunamis, erupções vulcânicas e deslizamentos de terra representam uma ameaça para os seres humanos em todo o mundo. Dois terços de todos os desastres são hidrometeorológicos, tais como inundações, vendavais e fenômenos de temperaturas extremas. Mais de 90 por cento das pessoas expostas a desastres vivem em países em desenvolvimento, e mais da metade das mortes por desastres ocorrem em países com fraco índice de desenvolvimento humano

12 REVISTA AMAZÔNIA

cios Advindos de sua Utilização” (ABS). Por meio desse acordo, novos incentivos para a conservação da biodiversidade e o uso sustentável de seus recursos deverão ser criados. Além disso, a repartição dos lucros gerados por esses meios, o que aumentará a contribuição para revistaamazonia.com.br


O transporte global para o mar. A circulação oceânica (a correia transportadora do oceano global) é causada por diferenças na densidade da água do mar e é condicionada pela temperatura e salinidade. Este movimento é extremamente importante para o mundo como ele carrega o dióxido de carbono (CO2) para as profundezas dos oceanos, distribui o calor e matéria dissolvida e influencia bastante o sistema climático e da disponibilidade de nutrientes para as espécies marinhas

Após intensas sessões, inúmeros debates paralelos e muitas consultas informais, os delegados concordaram com a Pyeongchang Roadmap, contendo cinco decisões sobre: revisão intercalar de progresso em direção às metas do Plano Estratégico; e as metas de Aichi; biodiversidade e desenvolvimento sustentável; avaliação dos progressos na prestação de apoio na implementação dos objetivos da Convenção; cooperação com outras convenções; e uma estratégia de e para mobilização de recursos. Estado de ecorregiões terrestres. Apesar da importância dos ecossistemas terrestres e aquáticos, as pessoas mudam seu tamanho e composição em um ritmo sem precedentes, sem entender as implicações que isso terá em termos de sua capacidade de funcionar e prestar serviços no futuro

o desenvolvimento e o bem-estar das populações tradicionais. Além disso, foi feita a revisão intercalar do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011 - 2020 e das Metas de Aichi para a Biodiversidade, com o objetivo de que até 2050 a biodiversidade seja valorizada, conservada, restaurada e usada com sabedoria, mantendo-se assim os serviços do ecossistema, que sustentam um planeta saudável e proporcionam benefícios essenciais para todas as pessoas. A 12 ª COP também adotou uma série de decisões, compiladas na “Pyeongchang Roadmap”, um documento que servirá de guia para o aprimoramento da implementação do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020 e da realização das Metas de Aichi para a Biodiversidade. revistaamazonia.com.br

África

A degradação da terra de África e o seu impacto transversais em florestas, água doce, recursos costeiros e marinhos, bem como pressões como a seca, instabilidade e mudanças climáticas e da urbanização.

Da Ásia e do Pacífico

Transporte e qualidade do ar urbano, demanda excessiva água doce. valiosos ecossistemas, uso do solo agrícola e gestão de resíduos

Europa

Alterações climáticas e energia, produção e consumo sustentável, qualidade do ar e transporte, perda de biodiversidade e as mudanças no uso da terra e da demanda de água doce excessiva.

América Latina e Caribe

Crescimento das cidades, ameaças à biodiversidade e ecossistemas, degradação da costa e poluição dos mares, e vulnerabilidade às mudanças climáticas regionais

America do Norte

Energia e mudanças climáticas, expansão urbana descontrolada, excesso de demanda por água doce

Ásia Ocidental

Demanda excessiva de água doce, degradação da terra, deterioração dos ecossistemas costeiros e marinhos, gestão urbana e paz e segurança

Região Polar

Mudanças climáticas, poluentes persistentes. camada de ozônio, desenvolvimento e comércio REVISTA AMAZÔNIA 13


MAGIA E SEGREDOS DA AMAZÔNIA OU O PÓ DE FADAS DA AMAZÔNIA O cientista brasileiro Antonio Nobre revela os cinco segredos da floresta amazônica e alerta sobre o perigo de seu desmatamento

14 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


por Ramiro Escobar * Fotos: Luciana Gatti/IPEN; Thiago Foresti

E

le foi o primeiro a falar no III Encontro Panamazônico realizado recentemente em Lima. Tem um discurso apaixonado e uma qualidade um tanto rara para um cientista: sabe combinar dados com histórias, explicação com emoção. Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), conta nesta conversa qual é a mágica da Amazônia, em que consistem seus segredos e por que as mudanças climáticas e o desmatamento a ameaçam seriamente... - Já estamos no ‘Dia depois de amanhã’ das mudanças climáticas? Estamos em uma situação bastante grave. A ponto de a comunidade científica, que não costuma concordar entre si, ter formado um bloco com uma convicção homogênea sobre o assunto. As mudanças climáticas não são mais só uma projeção. - E como essa situação de gravidade se manifesta na Amazônia? No desmatamento, que remove a capacidade de a

floresta se manter. Ela conseguiu se manter por milhões de anos, em condições adversas. Mas hoje sua capacidade está reduzida. Antes havia duas estações na Amazônia, a úmida e a mais úmida. - Que eram facilmente reconhecíveis. Agora temos uma estação úmida moderada e uma estação seca. E a seca tem um efeito muito perverso. Porque quando não chove as árvores se tornam inflamáveis. O fogo entra e já não existe mais uma floresta tropical.

Antonio Donato Nobre, PhD e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) apresentou o seu novo trabalho intitulado “O clima futuro da Amazônia”.

Pó de fadas. São gases que saem das árvores e que se oxidam na atmosfera úmida para precipitar um pó finíssimo que é muito eficiente para formar chuva revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 15


As árvores da Amazônia são bombas que lançam no ar 1.000 litros de água por dia. Imagem de satélite da floresta Amazônica

Os jatos verticais e o pó de fadas - Apesar de tudo, a Amazônia ainda guarda cinco segredos. É algo que os povos indígenas sempre souberam e que a nossa civilização não percebeu. Mas, nos últimos 30 anos, a Ciência revelou esses cinco segredos. O primeiro é como a floresta Amazônia mantém a atmosfera úmida mesmo estando a 3.000 quilômetros do oceano.. - ...E fazer com a que a chuva chegue até a Patagônia. E aos Andes, por 3.000 ou quase 4.000 quilômetros. Outras partes do mundo que estão longe do oceano, como o deserto do Saara, não recebem água. Mas na América do Sul não há esse problema, e isso se deve ao primeiro segredo: os jatos de água verticais. - E qual é o segredo desse segredo? É que as árvores da Amazônia são bombas que lançam no ar 1.000 litros de água por dia. Elas a retiram do solo, a evaporam e a transferem para a atmosfera. A floresta amazônica inteira coloca 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera a cada dia. O rio Amazonas, o mais volumoso do mundo, joga no Atlântico 17 bilhões de toneladas de água doce no mesmo intervalo de tempo. - É incrível. Como isso foi descoberto? Fazendo medições. Com torres de estudo, com satélites que detectavam esse transporte de vapor d’água, que é um vapor invisível. - Produzido pelas árvores quase que por magia. A magia vem no segundo segredo. Como é possível que caia tanta chuva, se o ar da Amazônia é tão limpo, já que o tapete verde cobre o solo? O oceano também ter um ar 16 REVISTA AMAZÔNIA

limpo, mas não chove muito sobre ele. Nós, cientistas, desvendamos um mistério. - Qual? Para formar uma nuvem de chuva, que são gotas de água em suspensão, é preciso transformar o vapor baixando a temperatura. Mas se você não tem uma superfície de partículas, sólida ou líquida, para gerar essas nuvens, o processo não começa. “A floresta amazônica coloca 20.000 milhões de toneladas de água na atmosfera por dia” - Então o que é que a floresta faz? Produz o que chamamos de pó de fadas. São gases que saem das árvores e que se oxidam na atmosfera úmida para precipitar um pó finíssimo que é muito eficiente para formar chuva. - Parece uma fábula. É que a floresta manipula a atmosfera constantemente e produz chuvas para si própria, uma coisa quase mágica. Os gases saem das árvores. São como perfumes e se volatilizam.

Cinturão úmido que passa pelo Equador, pela África e pelo sudeste asiático revistaamazonia.com.br


A floresta amazônica inteira coloca 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera a cada dia

Torres usadas para medir emissões

- Uma espécie de grande fragrância sustentável. É um oceano verde, diferente do azul. O azul não tem esse mecanismo porque carece de árvores. Tem as algas, que produzem um pouco, mas não como o verde.

A bomba natural e os rios voadores - Vamos ao terceiro segredo. Vamos. Na Amazônia, o ar que vem do hemisfério norte cruza do Equador, entra e vai até a Patagônia. Até lá cherevistaamazonia.com.br

ga esse ar úmido, que vem do Atlântico equatorial. - Com os ventos alísios. Sim, com os ventos alísios que trouxeram as caravelas dos europeus, há 500 anos. Mas os alísios do oceano sul sopram para o norte. O que faz esses ventos irem contra a tendência de circulação global? Dois físicos russos com quem eu colaboro responderam a essa pergunta ao estudar o efeito do vapor dos jorros verticais amazônicos. - Mais uma vez os jatos verticais. Eles descobriram que, pela física fundamental dos gases, essas condensações de vapor puxam o ar dos oceanos para dentro do continente e criam uma espécie de buraco de água. É como uma bomba natural. A floresta traz sua própria umidade do oceano. “Onde há florestas não há seca, nem excesso de água, nem furacões, nem tornados. É como uma apólice de seguros” - E ainda tem mais... O quarto segredo é a transferência dessa umidade amazônica para outras regiões: os Andes no Peru, os páramos da Colômbia...( área de alta montanha tropical que ocorre em meio a paisagens deslumbrantes, onde desenvolve flora beleza única, é um ambiente em que, apesar de sua extrema fragilidade, a plenitude da vida triunfa em meio a desertos congelados , extensas áreas arenosas e pantanosas; sites também abrigam uma fauna abundante e variada). Se você olhar o mapa do mundo, vai descobrir que existe um cinturão úmido que passa pelo Equador, pela África e pelo sudeste asiático. - É a linha do Equador Sim, mas é na linha dos trópicos, o de Câncer ao norte e o de Capricórnio, ao sul, que estão todos os desertos. O do Atacama, no Chile, o da Namíbia, na África. Mas essa área que concentra 70% do PIB da América do Sul - que vai de Cuiabá a Buenos Aires, de São Paulo aos Andes – é úmida! Apesar de estar na linha dos desertos. - E qual o mistério dessa área?

Cordilheira dos Andes vista de um satélite da NASA. Por 3.000 ou quase 4.000 quilômetros

Chama-se rios voadores. É uma grande massa de ar úmido bombeada pela Amazônia contra os Andes, que são uma parede de mais de 6.000 metros de altura. É assim que essa massa chega a áreas onde deveria haver deserto. Por isso chove na Bolívia e no Paraguai. REVISTA AMAZÔNIA 17


A floresta manipula a atmosfera constantemente e produz chuvas para si própria, uma coisa quase mágica. Os gases saem das árvores. São como perfumes e se volatilizam

Finalmente, o quinto segredo O quinto segredo é que, se você colocar em um gráfico todos os furacões que já aconteceram na história – e a NASA já fez isso – na região das florestas equatoriais não há nenhum deles. E essa região é a que tem mais energia porque a radiação solar é muito intensa. “O sistema terrestre é um organismo e está muito doente” - Deveria haver ciclones, como na Índia e no Paquistão Eles não existem porque o topo da floresta, onde estão as copas das árvores, é áspero e faz com que os ventos sejam obrigados a dissipar sua energia, o que acalma a atmosfera. - Mas ocorrem tempestades Claro, mas elas não costumam ser destruidoras. Onde há florestas não há secas, nem excesso de água, nem furacões, nem tornados. É como uma apólice de seguros contra os fenômenos atmosféricos extremos.

A guerra contra a ignorância - Agora esses cinco segredos estão em risco... O problema se chama desmatamento. Se tirarem a metade do fígado de um bêbado, vai ser difícil para ele lidar com o álcool. É isso o que está acontecendo com a Amazônia. Estamos retirando um órgão do sistema terrestre. - Então a Amazônia não é o pulmão, mas sim o fígado do planeta? É o pulmão, o fígado, o coração... É tudo! Essa bomba natural da qual falei é um coração que pulsa constantemente. O pó de fadas também funciona como uma vassoura química contra substâncias poluentes, como o óxido de enxofre. O melhor ar é o da 18 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


O melhor ar é o da Amazônia

Yolanda Kakabadse Navarro, presidente da WWF

Amazônia. - E, apesar disso, continuamos destruindo a floresta. Se você chega com uma motosserra, com um trator ou com fogo, a Amazônia não pode se defender. As intervenções do homem podem ser benéficas, como na medicina, mas também terríveis, como a motosserra. Por isso eu proponho um esforço de guerra. - No que consistiria esse esforço? Seria uma concentração de forças para resolver um problema que ameaça tudo. Hoje a ciência nos permite saber que a situação é gravíssima. E o que eu proponho é lutar contra a ignorância, o principal motivo da destruição da floresta amazônica. - Parece que as prioridades mundiais são outras Em 2008, os bancos foram salvos em 15 dias. Foram gastos trilhões de dólares nisso. A crise financeira não é nada comparada à crise ambiental.

“A ciência hoje nos permite saber que a situação é gravíssima. Temos que lutar contra a ignorância” - O que está acontecendo? Estamos embriagados com a civilização? É uma embriaguez primitiva. Quando você vai ao médico e ele diz que você tem uma doença em estágio avançado, o que você faz? Continua fumando? O sistema terrestre é um organismo e está muito doente. A parte contaminante é a parte mais degenerada do ser humano. - Podemos curar a Amazônia dessa doença? Eu acredito que se tivermos uma capacidade semelhante à que tivemos para salvar os bancos, sim. Porque a floresta tem um poder de regeneração impressionante. - E, além disso, ela deveria ser importante para todo o mundo. A atmosfera tem uma coisa chamada teleconexões. Um modelo climático pode demonstrar que as mudanças na Amazônia vão afetar os ciclones na Indonésia.

- Então, o maior segredo é acordar... E saber que o que fazemos agora é determinante. As gerações posteriores vão sofrer com as más escolhas de hoje. A geração que está na Terra hoje tem nas mãos os comandos de um trem que pode ir para o abismo ou uma oportunidade para se viver muito mais. [*] Em El País

Transporte e Navegação

www.tcdnavegacao.com.br TRANSPORTANDO SONHOS, LIGANDO MUNDOS.

Belém: Estrada Velha do Outeiro - Lote 03 - Setor A - Icoaraci - Belém - PA +55 (91) 3297-0877 revistaamazonia.com.br REVISTA AMAZÔNIA 19 Manaus: Av.Pe.Agostinho Caballero Martin, 2101 - Compensa - Manaus - AM - +55 (92) 3232-8311 / 3671-0134


PARQUES NACIONAIS DA AMAZÔNIA: legado dos brasileiros

O

WWF-Brasil, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizou recentemente em Brasília, a abertura da exposição fotográfica “Parques Nacionais da Amazônia: Legado dos Brasileiros”, em homenagem ao dia da Amazônia. O evento contou com a presença de gestores públicos dos Parques Nacionais da Amazônia, do ICMBio, de representantes de outras instâncias do governo e da sociedade civil. A exposição no Espaço Israel Pinheiro, próximo a Praça dos Três Poderes (Eixo Monumental), ilustrava, por 20 REVISTA AMAZÔNIA

meio de textos e imagens, a beleza, o valor da biodiversidade das unidades de conservação (UCs) amazônicas e também algumas das principais ameaças e desafios à conservação de espécies e da natureza. A abertura contou com as palestras das gestoras dos Parques Nacionais do Juruena, Lourdes Iarema, e do Serra do Pardo, Leidiane Diniz, que mostraram a importância da conservação dessas unidades; da criação dessas áreas e o seu efeito na diminuição do desmatamento; da proteção de espécies endêmicas; e do desenvolvimento de atividades de turismo ecológico e educação ambiental.

Durante as apresentações, as gestoras também mostraram as principais dificuldades de gestão e as ameaças à manutenção destas UCs, como o desmatamento e a construção de usinas hidrelétricas. Para o presidente do ICMBio, Roberto Vizentin, a exposição é uma oportunidade rara de divulgar os Parques Nacionais que estão localizados na Amazônia. “A mostra tem um poder convocatório muito grande de chamar a atenção da sociedade brasileira para a defesa da nossa biodiversidade, da natureza e das Unidades de Conservação”, disse no evento. Segundo Marco Lentini, coordenador do Programa Amarevistaamazonia.com.br


Parque Nacional do Juruena Foto Adriano Gambarini/WWF Brasil. Vista do Rio Juruena. Beleza cênica que esconde uma das regiões mais vulneráveis da Amazônia, ameaçado por garimpos ilegais, pesca predatória, agricultura insustentável e exploração descontrolada de madeira

informações acesse: http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/

Exposição

Serra do Pardo Foto Adriano Gambarini. Mais de 900 espécies de fauna e da flora já foram encontradas no Serra do Pardo, dentre as quais árvores que figuram em listas vermelhas de espécies ameaçadas de extinção

zônia do WWF-Brasil, a exposição teve o objetivo de mostrar que as unidades de conservação do Brasil são um importante patrimônio dos brasileiros e que estão ameaçadas por modelos de desenvolvimento que ainda não consideram aspectos de sustentabilidade. “Queremos aproximar o público da biodiversidade brasileira e assim disseminar informações relevantes à conservação de áreas protegidas na Amazônia”, explicou. O WWF-Brasil trabalha na região amazônica junto com autoridades governamentais, comunidades locais e indígenas, organizações não governamentais, o setor privado e outros, para contribuir para a proteção de grandes porções da Amazônia e de sua singular biodiversidade, funções e serviços ecológicos. Dentre os serviços, estão o incentivo à criação, consolidação e ampliação de unidades de conservação e a promoção do uso responsável dos recursos naturais e do manejo sustentável. Para mais revistaamazonia.com.br

Para a exposição foram escolhidas fotografias de três Parques Nacionais emblemáticos da região: Serra do Pardo (PA); Montanhas do Tumucumaque (AP); e Juruena (AM/MT). “Essas UCs são apenas uma amostra da importância dessas áreas para a população brasileira e para a conservação da biodiversidade, alertando para as diversas ameaças que os Parques têm sofrido por toda a Amazônia, como a construção de hidrelétricas e a aprovação de projetos de lei que têm reduzido ou descriado diversas UCs na região”, explica Lentini. Os visitantes da exposição ainda puderam desfrutar de jogos educativos sobre alguns dos Parques e de um totem interativo com textos, fotos e vídeos de diversas UCs

de todo o Brasil. Como parte da programação do Espaço Israel Pinheiro, a exposição recebeu até o final cerca de 80 alunos

Serra do Pardo Foto Adriano Gambarini/WWF Brasil. Entre cores e diversidade, Serra do Pardo possui um alto número de espécies que constam na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção

Serra do Pardo Foto Adriano Gambarini. Mais de 900 espécies de fauna e da flora já foram encontradas no Serra do Pardo, dentre as quais árvores que figuram em listas vermelhas de espécies ameaçadas de extinção

REVISTA AMAZÔNIA 21


Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), espécie de grande porte importante para a subsistência de diversas espécies de animais, no PN do Juruena

Apreciando a exposição

por dia de escolas públicas do Distrito Federal, que tiveram contato com a Amazônia e seus Parques pela primeira vez.

Sobre os Parques Parque Nacional Serra do Pardo O Parque Nacional da Serra do Pardo está localizado na região da Terra do Meio, no estado do Pará. Criado em fevereiro de 2005 como parte do programa de Áreas 22 REVISTA AMAZÔNIA

Protegidas da Amazônia (Arpa), o Parque tem uma área de mais de 445 mil hectares, abrangendo os municípios paraenses de Altamira e São Félix do Xingu. Batizado em homenagem à belíssima serra que se estende ao longo do rio Pardo, o Parque possui grande diversidade biológica. Mesmo com a ocupação de comunidades e fazendas no passado, quase 95% da área mantém sua vegetação natural, e é considerada de extrema importância para a conservação. Por estar em uma zona de interflúvio dos rios Xingu e Tapajós, o Parque possui uma

biodiversidade bastante particular, com espécies endêmicas que, infelizmente, sofrem ameaças constantes de vetores de desmatamento como pecuária, mineração e obras de infraestrutura planejadas para a região. Parque Nacional do Juruena Criado em junho de 2006, o Parque Nacional do Juruena é o quarto maior do país, com quase 2 milhões de hectares, o equivalente ao tamanho de Israel. Situado ao norte do Mato Grosso e sudeste do Amazonas, o Juruena está revistaamazonia.com.br


localizado em uma área das principais frentes ativas de desmatamento na região Amazônica. A beleza regional e sua riqueza ecológica contrastam com a dura realidade que tem ameaçado a vida de espécies, rios, florestas e comunidades. A área é uma das mais vulneráveis da Amazônia, que já sofre com impactos ambientais como garimpos ilegais, pesca predatória, agricultura insustentável e exploração descontrolada de madeira. Uma das ameaças mais recentes é a possível redução da área do Parque para a construção de hidrelétricas. De forma a dar visibilidade a essas e outras ameaças ao Parque, o WWF-Brasil lançou a Campanha #SOSJuruena, que tem o objetivo de garantir que o Parque Nacional do Juruena permaneça íntegro, evitando que o mesmo seja reduzido ou desafetado com a construção de hidrelétricas. Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque O Parque Nacional do Tumucumaque (PNMT) é o maior Parque Nacional do Brasil e uma das maiores áreas de floresta tropical protegidas do mundo, com uma área aproximada de 4 milhões de hectares. Criada em 22 de agosto de 2002, a área está localizada ao noroeste do estado do Amapá, numa porção da Floresta Amazônica

Da esquerda para a direita: Chefe do Parque Nacional Serra do Pardo, Leidiane Diniz Brusnello; Coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Marco Lentini ; Presidente do ICMBio, Roberto Vizentin; Chefe do Parque Nacional do Juruena, Lourdes Iarema

bem peculiar, com características únicas. Aproximadamente 90% da área do PNMT encontra-se em zona de fronteira e por isso sua localização é estratégica para o controle e monitoramento da região. Além disso, o PNMT tem relevância no combate a crimes ambientais como a biopirataria, a atividade garimpeira ilegal e a instalação de pistas de pouso clandestinas. Além da mineração, questionamentos sobre a legitimidade do processo de criação do Tumucumaque tem ame-

açado a integridade do Parque. Uma ação popular pediu a derrubada do decreto de agosto de 2002, que criou o Parque. De acordo com a liminar, na ocasião da criação, não ocorreram todas as consultas públicas necessárias para esclarecer e debater a localização, a dimensão e os limites da unidade de conservação junto com a população local. Em 2013, a Justiça Federal decretou a realização de novas consultas públicas nos municípios que abrangem o PNMT.

Tumucumaque Foto Leonardo Milano/ ICMBio. Fronteira natural entre os estados do Amapá e Pará, o rio Jari é a principal via de penetração a uma das regiões mais remotas da Amazônia revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 23


III Encontro Pan Amazônia Fotos: Andina, Thiago Foresti

D

urante dois dias ambientalistas e ONGs de sete países da Pan-amazônia se reuniram em Lima, Peru, para debater formas de proteger e protagonizar a maior floresta tropical do planeta na próxima reunião da Conferência das Partes (UNFCCC, COP 20) que vai acontecer esse ano, em novembro, também na capital peruana. Na presença de 300 participantes de vários países, o ministro do Meio Ambiente e Presidente da COP20 Lima, Manuel Pulgar-Vidal, inaugurou a terceira edição do Encontro Pan Amazônia. A abertura contou com diversos representantes de organizações indígenas, autoridades governamentais e representantes das principais redes ambientais na Pan Amazônia: Amazon Socioambiental Georreferenciada (Network Information RAISG), Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), Amazônia Legal Network (RAMA), Vivo Amazon / WWF, América Indígena in Red (LARE), Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Initiative, Plataforma Latino-Americano sobre Mudanças Climáticas, movimento Construindo Pontes, Peru grupo COP 20, entre outros. “As políticas da Amazônia no passado mudaram para um

olhar que busca o potencial dos seus recursos, a Amazônia estudando e pensando mais complexidade às mudanças climáticas. O futuro é incerto, mas também um desafio”, disse Vidal. Três meses após a conclusão da 20º Conferência das Partes da Mudança do Clima das Nações Unidas – COP20, Pulgar-Vidal ressaltou a importância da política ambiental, que é a implementação do seu portfólio, através do monitoramento da qualidade da trabalhos de conservação de ar para áreas naturais protegidas (PNA), a apli-

cação da compensação por serviços ambientais, entre outras medidas. “Nós estudamos o Instituto Carnegie em mapas de estoque de carbono, que adicionarão da Universidade de Maryland para ter uma imagem mais clara da paisagem do solo e da selva do Peru. Apenas isso sabemos que enfrentaremos a mudança do uso da terra “, disse ele. Espera-se que no final das sessões de trabalho, os segmentos da sociedade amazônica estarão mais bem informados sobre as perspectivas e os desafios da mudança

Durante o Encontro Pan-Amazônico

Recebendo credenciais e dados relativos à COP 20 24 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


climática na região. Esta reunião permitirá uma estratégia articulada redes da sociedade da Amazônia e do roteiro, descritas em diferentes países para influenciar os temas e as questões climáticas da COP 20.

“O chamado amazônico” O resultado do encontro foi a Carta de Lima, um documento que alerta para a função essencial do bioma na regulação das chuvas e do clima em todo Planeta e que exige maior ação dos negociadores climáticos durante a COP20. Durante o evento diversos segmentos importantes da sociedade discutiram temas como infra-estrutura, biodiversidade, seguridade e mecanismos econômicos relacionados à floresta. O evento lançou o estudo“O Futuro Climático da Amazônia”, do cientista brasileiro Antônio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, que alerta sobre o papel fundamental da floresta no regime de chuvas e regulação climática no continente sul-americano. Segundo o cientista a hora de promover o desmatamento zero já passou há muitos anos e agora entramos no ponto em que já se

A palestra “COP 20 e as Políticas Públicas para a Sustentabilidade da Amazônia”, de Manuel Pulgar-Vidal, ministro do Meio Ambiente do Peru e presidente da COP 20, teve a moderação de Yolanda Kakabadse da WWF

da humanidade. Juntos os dois estudos trouxeram um panorama bastante alarmante sobre a situação atual do bioma. Mas, ao mesmo tempo, o encontro foi também bastante propositivo e contou com o Ministro do Meio Ambiente do Peru Manuel Pulgar-Vidal, falando sobre os desafios diante do crescimento do desmatamento no país. “As políticas para a Amazônia deixaram de ser voltadas para a ocupação. Agora tudo o que se pensa para a Amazônia vem a partir do potencial dos seus recursos. Tudo é estudado e pensado em função de novos e complexos mecanismos que podem fazer frente ao cambio climático. A Amazônia do futuro, portanto, é um desafio constante e

Manuel Pulgar Vidal, ministro do Meio Ambiente e Presidente da COP20 Lima, inaugurou a terceira edição do Encontro Pan Amazônia

faz necessário também reflorestar o bioma a fim de não perdermos sua função climática e de regulação de chuva. “É uma situação muito grave que requer urgência! Os governos do mundo tomaram atitudes imediatas e em 15 dias injetaram trilhões de dólares para salvar os bancos durante a crise financeira de 2008, enquanto que quando a crise climática é muito maior e muito mais grave. As perdas serão dezenas de trilhões de dólares e milhões de mortes. E porque os governos não reagem? Porque são capazes de salvar bancos em 15 dias e não são capazes de entrar em um acordo em 15 anos? Porque eles não se movem?”, questiona o cientista. Outro estudo importante foi apresentado por Yolanda Kakabase, presidente da WWF. No painel Seguridade Amazônica frente aos desafios das mudanças climáticas Kakabase alertou mais uma vez sobre os perigos das mudanças climáticas na segurança alimentar e ecológica revistaamazonia.com.br

Em uma das exposições preparatórias à COP 20 que será em Lima, em dezembro REVISTA AMAZÔNIA 25


ainda incerto”,disse o ministro em sua exposição. O ministro ressaltou também, a importância dos mecanismos de compensação por serviços ambientais como o REDD+ e conclamou os países da Pan-amazônia a se unirem em torno do tema. Segundo ele, um novo estudo do Instituto Carnegie deve sair até o fim do ano trazendo novos dados sobre estoques de carbono. “Isso vai trazer um panorama mais claro da paisagem e do solo da floresta e nos ajudar a enfrentar as mudanças”, acredita o ministro. Ao final do encontro, o ministro também presidente da COP20, recebeu dos participantes em seu gabinete, a

Amazônia e Mudanças Climáticas. O papel da sociedade civil foi o foco central em Lima, Peru na Terceira Reunião Pan-Amazônia

A ARA A Articulação Regional Amazônica (ARA) é uma rede cujo principal objetivo é a conservação e uso sustentável dos ecossistemas amazônicos, bem como sua diversidade biológica e cultural promovendo o bem estar de seus habitantes. É uma rede Pan-amazônica composta por 54 instituições e pessoas que formam redes nacionais (ARA Nacional). A Rede ARA conta com diversos aliados, entre os quais o Fundo Vale, Fundação Avina e Skoll Fundation. Durante Workshop para jornalistas para uma melhor cobertura da COP20

Carta de Lima, que entre outras coisas cobra uma posição mais enérgica dos governos a fim de dar à Amazônia o devido peso dentro das convenções climáticas.

Articulação pela floresta A COP20desse ano será o último momento de articulação política antes do grande acordo climático global que deve ser firmado no ano que vêm em Paris. Segundo Sérgio Guimarães, coordenador da ARA Regional, o Encontro Pan-Amazônico foi um momento importante de articulação e definições de ações colaborativas entres redes da sociedade e governos. “A presença do Presidente da COP 20 e de organizações que estão liderando a organização da Cúpula dos Povos, que acontecerá simultaneamente em Lima, abriu um espaço de diálogo importante entre sociedade e governo. A magnitude dos problemas e a urgente necessidade de busca de sustentabilidade mostra que as soluções só serão possíveis com o envolvimento dos diversos países e dos diferentes segmentos da sociedade e governos”, diz Sérgio Guimarães, coordenador da ARA Regional. O Encontro Pan-Amazônico contou com grupos de trabalhos que definiram uma agenda prioritária e uma linha de trabalho colaborativo com vistas à CoP20, além de traçar uma rota para os organizações envolvidas atuarem e difundirem a importância do bioma em outros eventos, como a Cúpula dos Povos. 26 REVISTA AMAZÔNIA

Parte dos participantes do III Encontro Pan-Amazônico Para as pessoas ficarem mais bem informadas sobre as questões e os desafios que vêm com as mudanças climáticas na região amazônica

revistaamazonia.com.br


revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZテ年IA 1


Três histórias de valor para o futuro da Amazônia Fotos: Rafael Salazar/ Acervo Imaflora

Q

uando se cria um projeto que consegue valorizar o modo de vida das comunidades tradicionais e dá a elas uma alternativa econômica a partir do uso sustentável dos recursos naturais da floresta e da recuperação de áreas degradadas, é sinal de que uma nova forma de desenvolvimento pode estar nascendo ali. Um desenvolvimento que dialoga com a conservação e que espalha benefícios locais e impactos globais. E, se além disso, é possível fazer dessa experiência algo a ser replicado por meio de políticas públicas e por ações dos movimentos sociais, é provável estarmos diante de um modelo que, no caso da Amazônia, pode significar a diferença entre manter de pé a floresta ou perdê-la para sempre. É isso que o projeto Florestas de Valor está conseguindo realizar na região amazônica: conservar a floresta, fortalecer as populações tradicionais e dar a elas uma nova perspectiva de futuro pelo viés de uma nova economia. O projeto é do Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, uma organização não governamental brasileira, sem fins lucrativos e que trabalha desde 1995 para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, gerar benefícios sociais nos setores florestal e agropecuário e reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Desde 2013, o projeto Florestas de Valor conta com patrocínio da Petrobras, por meio de seu

Programa Petrobras Socioambiental, um dos instrumentos da política de responsabilidade social da companhia. O Florestas de Valor foi criado para fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros, disseminar a agroecologia e conservar a floresta em três regiões do estado do Pará: na Calha Norte do rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São Félix do Xingu. Em cada um desses territórios, o projeto aprofunda experiências e práticas que levam a um novo modo de produzir e gerar economia na Amazônia. Nas próximas páginas, o que você vai ler são histórias que agregam imenso valor à floresta, pois mostram que é possível gerar renda e desenvolvimento a partir dos recursos não madeireiros. “O projeto apoia a implantação de sistemas produtivos responsáveis, conecta extrativistas e empresas na lógica do mercado ético e busca sensibilizar a sociedade para o consumo consciente de produtos florestais e para a conservação dos recursos naturais”, explica o gerente do projeto, Roberto Palmieri. Segundo ele, há na Amazônia três situações que precisam ser enfrentadas a partir da lógica do projeto Florestas de Valor. Primeiro são as áreas já desmatadas, onde o foco é agricultura sustentável e restauração. Tem ainda as áreas florestais na fronteira do desmatamento, ameaçadas, onde as atividades de geração de renda a partir do uso e proteção da floresta são fundamentais e urgentes. E em terceiro lugar as áreas florestais não ameaçadas mas com potencial futuro de ameaça, onde o trabalho deve focar em geração de renda a partir do uso sustentável e proteção da floresta.

Começando a extração da Copaíba

Em todas essas situações, é fundamental criar e fortalecer instâncias de participação social como os conselhos gestores de Unidades de Conservação (UCs), conselhos municipais e estaduais de meio ambiente e o fortalecimento da atuação em rede, para que se crie capital social, e a sociedade empoderada possa efetivamente contribuir com a conservação ambiental. Como acontece nas três histórias que se seguem.

Histórias de valor

O projeto aprofunda experiências e práticas que levam a um novo modo de produzir e gerar economia na Amazônia 28 REVISTA AMAZÔNIA

Quilombolas de Oriximiná viram o jogo e abrem mercado internacional Houve um tempo na região de Oriximiná, na Calha Norte do rio Amazonas, no Oeste do Pará, em que o óleo de copaíba, um dos mais apreciados ingredientes pela indústria de aromas e cosméticos era apenas moeda de troca que as comunidades extrativistas quilombolas da região usavam para trocar por óleo diesel ou mantimentos. Quase sempre por meio de atravessadores, chamados regionalmente de regatões. Eles recolhiam o óleo e deixavam o combustível e a comida. Isolados no interior da floresta, acessíveis apenas após longas horas de barco, desarticulados socialmente para o comércio, os quilombolas de Oriximiná viviam relações comerciais que os colocavam quase que na condição de revistaamazonia.com.br


Bernaldo Dias Carvalho, da Comunidade Gabiroto- Resex Xingu, lavando placa de látex já coagulado e defumado

Secando as placas de látex na Terra do Meio

Chico Branco, extraindo o látex da seringueira, na Resex Xingu

revistaamazonia.com.br

escravos. Quando chegavam a vender o precioso óleo, o preço era estipulado pelo comprador, que pagava o que queria. Sempre menos do que valia o óleo. Nada justo, portanto. O jovem da comunidade crescia e a última coisa que pensava era em seguir extraindo óleo, como faziam seus pais, avós... Mas há pouco mais de um ano essa situação começou a mudar. Com o apoio de algumas organizações que têm como objetivo ajudar a conservar as florestas nativas da região, os quilombolas começaram a se organizar para comercialização coletiva. Existia uma cooperativa, mas que nunca havia trabalhado com comercialização de óleos. Foi preciso retomar o trabalho, organizar a produção. “Nem todos acreditaram. Mesmo assim fomos adiante”, lembra o biólogo Léo Ferreira, um dos coordenadores do projeto Florestas de Valor, do Imaflora. Segundo Ferreira, a meta era fortalecer o extrativismo e fazer a conexão com o mercado. Mas em novas bases. Na floresta, os extrativistas funcionam como fiscais da natureza. Como têm uma relação secular com a mata e dependem dela para viver, eles expulsam grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. Eles também detém formas tradicionais de explorar os recursos da floresta sem destruir a mata. Isso faz deles importantes agentes na tarefa de manter a floresta em pé. No caso dos quilombolas, parte de suas terras são reconhecidas oficialmente e o uso é um direito de que eles podem dispor. Com toda a riqueza natural ao redor e o conhecimento para usar de modo sustentável, os quilombolas de Oriximiná precisavam apenas de mecanismos que os remunerassem melhor. “Em 2012, começamos a discutir com eles os princípios REVISTA AMAZÔNIA 29


O projeto Florestas de Valor existe para fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros, disseminar a agroecologia e conservar a floresta em três regiões do estado do Pará: na Calha Norte do rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São Félix do Xingu. O projeto apoia a implantação de sistemas produtivos responsáveis, conecta extrativistas e empresas na lógica do mercado ético e busca sensibilizar a sociedade para o consumo consciente de produtos florestais e para a conservação dos recursos naturais. Saiba mais em www.imaflora.org/florestasdevalor de uma comercialização ética. Fomos ouvi-los para saber o que eles consideravam justo e essencial numa relação de comércio”, lembra o especialista do Imaflora. “O primeiro trabalho foi com a castanha-do-Pará, que é abundante na região, e depois seguimos com o óleo de copaíba, cuja extração eles conhecem há várias gerações”. Os quilombolas têm formas tradicionais de extrair a copaíba, conhecem as áreas na palma da mão e precisavam apenas de orientações sobre como manejar e garantir uma produção de qualidade. Quando essa parte do trabalho estava de pé, foi a hora de bater à porta das indústrias. E foram várias as portas. Até que uma delas se abriu. Uma empresa suíça ligada ao ramo da perfumaria e disposta a suavizar sua pegada ecológica foi a escolha mais acertada. A empresa Firmenich, uma das maiores do mundo no mercado de fragrâncias e sabores aceitou o desafio de se embrenhar na Amazônia e ir discutir com os quilombolas um acordo de compra e venda de copaíba. Foi uma experiência nova para ambos os lados. O executivo da empresa, sentado sob as árvores da comunidade, ouvindo dos quilombolas o que eles achavam justo para entregar o óleo. A empresa explicava o que era importante para ela: qualidade, regularidade na entrega e a certeza de estar contribuindo para conservar a floresta. “Com isso, nós temos controle da nossa cadeia produtiva, sabemos que a matéria prima que compramos está melhorando a vida da comunidade, mantendo de pé a floresta e garantindo nosso negócio. E o nosso cliente é informado sobre isso”, destaca André Tabanez, gerente de Projetos da Firmenich. Ele lembra que, ao trabalhar dentro dos critérios e exigências técnicas de uma empresa multinacional, a comunidade está sendo preparada para o mercado. “Hoje a comunidade pode negociar com qualquer grande 30 REVISTA AMAZÔNIA

Óleo da Castanha do Pará, da Resex Rio Iriri

empresa do mundo, pois sabe como negociar, coletar, armazenar e entregar o produto como exigem os grandes clientes. Isso faz parte do legado intangível que deixamos para eles”. Em pouco mais de um ano de parceria, somente as comunidades Quilombolas ligadas ao projeto Florestas de Valor conseguiram entregar 3,5 mil litros de óleo de copaíba para a empresa. Tudo coletado no sistema coletivo, dentro da estrutura desenhada com a ajuda dos técnicos. Um sistema de amostragem registra a procedência de cada porção de óleo, de modo a garantir a qualidade e corrigir possíveis contaminações. Com isso, o preço do litro do óleo de copaíba saltou cerca de 100% a mais que o mercado local costumava pagar. “Hoje até os atravessadores que ainda atuam na região Oléo da Copaíba da Terra do Meio

“Consideramos que para alcançar a conservação dos recursos naturais, é necessário apoiar a transição da agricultura de corte e queima para uma agricultura que minimize o uso do fogo e o avanço sobre as áreas florestais, bem como, é preciso trabalhar a geração de renda a partir de produtos florestais não madeireiros valorizando a floresta em pé.” (Léo Ferreira, coordenador do projeto) têm de adequar ao novo preço”, comemora Léo. “E a indústria está aberta a receber mais e mais óleo vindo da floresta”, anima-se. O desafio do projeto, segundo ele, é identificar novas áreas de extração do óleo de copaíba, bem como novos produtos e mais ainda: levar a tecnologia do manejo e os protocolos de comercialização ética para outras comunidades na Calha Norte, que provavelmente neste momento estejam trocando copaíba por combustível.

Cacau da Amazônia conquista paladares finos Um grupo de pequenos produtores de cacau de São Félix do Xingu, no Pará, embarcará até o mês de outubro o equivalente a uma carga de cento e cinquenta toneladas do produto para a Indústria Brasileira do Cacau – IBC, localizada no interior paulista. O acordo comercial de R$ 1 milhão foi firmado este ano e é apenas o primeiro de uma série de negócios que os agricultores da região devem fechar com a indústria de chocolates finos. No ano passado, a pedido do Imaflora o cacau da região de São Félix passou pelo crivo de testes profissionais, entre eles o da Indústria Brasileira de Cacau – IBC e da Cacau Show. Aprovado como um cacau de Tipo 1 – destinado à fabricação de chocolates especiais –, o produto ganhou destaque na vitrine nacional e internacional e começou a atrair compradores. Apoiadas pelo Imaflora e pela Adafax – Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu, os produtores ligados a Camppax – Cooperativa Alternativa Mista de Pequenos Produtores do Alto Xingu, entenderam que trabalhar juntos traz bons negócios. A cooperativa comercializa, por safra, em média 2000 toneladas de cacau.

Sombra e água fresca Com sistemas de produção agroflorestais, os cacaueiros são plantados à sombra de outras espécies e ajudam a recuperar áreas degradadas. “O cacau recompõe a paisagem nativa, favorece a regeneração da floresta e a recurevistaamazonia.com.br


Etapa do beneficiamento das sementes do Cacau, para fermentação ideal

Castanha do Pará, diversas apresentações

e seleção das amêndoas) agregam ainda mais qualidade ao cacau produzido em São Félix. Nachtergaele coordena o apoio aos agricultores familiares na recomposição das matas ciliares, áreas florestais, reservas legais e auxilia na interpretação do novo Código Florestal, para que os proprietários possam se adequar ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). O especialista acredita que a organização das famílias em cooperativas, a adequação socioambiental das propriedades e o domínio de tecnologias apropriadas ao manejo do cacau fazem com que os pequenos produtores sintam-se motivados a permanecer nas áreas rurais, criando condições para o surgimento de cadeias produtivas sustentáveis. Estabelecer e fortalecer os elos dessas cadeias são parte do trabalho do Imaflora na região. Com a cultura cacaueira que floresce em São Félix, as grandes indústrias começam a se aproximar. E elas querem grande quantidade de matéria prima de alto padrão. Mas já começam a exigir também que o produto seja correto do ponto de vista socioambiental, explica a especialista do Imaflora. O cacau desses produtores de São Félix cumpre todos esses requisitos. “O importante dessa iniciativa é a estratégia de ganha – ganha. Nós do Imaflora fizemos a aproximação de uma cooperativa de agricultores familiares (Camppax) de São Félix do Xingu interessados na agregação de valor do seu cacau junto com uma empresa focada na produção de matéria prima para chocolates (IBC), gerando ganhos a todos os elos da cadeia”, destaca Eduardo Trevisan Gonçalves, da área de Projetos de Mercados Agrícolas, do Imaflora.

Empresas e comunidades – um pacto para manter a floresta em pé

peração de fontes de água limpa, ao mesmo tempo em que gera significativa renda ao produtor”, explica Marcos Fróes Nachtergaele, do Imaflora. Ele explica que por ser nativo da Amazônia, o cacau desfruta na região de ambiente ideal para crescer, principalmente pela abundância de água e as defesas naturais

revistaamazonia.com.br

contra o ataque de pragas, o que reduz a aplicação de fungicidas. Os frutos apresentam a tonalidade avermelhada, aroma frutado, mais nutrientes e manteiga na quantidade exata. As técnicas de cultivo com podas constantes e o processo de beneficiamento (quebra dos frutos, fermentação ideal

Em 2009, quando chegaram à região da Terra do Meio, no Pará, para se juntar a outros parceiros locais, os técnicos do Imaflora encontraram uma situação típica de um modelo econômico ultrapassado, mas que ainda prevalece em algumas regiões da Amazônia. É o caso dos atravessadores, que se fazem de ponte entre os extrativistas e o mercado. Quase sempre obtendo produtos florestais e pagando preços injustos. Isso quando não impõem trocas de castanha, óleos e borracha por mantimentos

REVISTA AMAZÔNIA 31


Na região da Terra do Meio, no Pará, casa de comunidade Quilombola ligadas ao projeto Florestas de Valor

cando e denunciando atividades ilegais e predatórias, como retirada de madeira e garimpo”, comenta Patrícia Cota Gomes, engenheira florestal do Imaflora, uma das responsáveis pelo projeto Florestas Valor. Segundo ela, o projeto reverte a lógica perversa das antigas relações comerciais, propondo novos modelos de negócio na Terra do Meio.

Potenciais

Dia a dia de comunidade Quilombola ligadas ao projeto

ou óleo diesel. Além disso, quando o trabalho começou na região, muitas comunidades não tinham direito sobre seus territórios – geralmente formados por floresta nativa – ficando à mercê dos grileiros. Foi preciso a ação de diversas organizações civis e do governo para que Terra do Meio se tornasse um mosaico de áreas protegidas, com predomínio das Reservas Extrativistas (Resex). Hoje, a Terra do Meio engloba as Resex do Rio Iriri, do Riozinho do Anfrísio e Rio Xingu, Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, Estação Ecológica (Esec) da Terra do Meio, Parque Nacional (Parna) da Serra do Pardo. Lá também estão as Terras Indígenas Cachoeira Seca, Xypaia, Curuaia. O mosaico forma uma área protegida de 8,48 milhões de hectares. A legalidade passou a garantir aos comunitários o direito de uso da floresta. “Essas comunidades têm uma relação profunda com a floresta. Por sucessivas gerações, os ex32 REVISTA AMAZÔNIA

“Acreditamos que atores locais possam ter um papel determinante na consolidação das Unidades de Conservação, contribuindo com o monitoramento e a proteção contra possíveis ameaças, como grilagens de terras, atividades florestais predatórias e pesquisas clandestinas.” (Roberto Palmieri, gerente do projeto) trativistas aprenderam a retirar da floresta os produtos necessários ao sustento e à manutenção da sua cultura. Ao mesmo tempo, eles ajudam a conservar, identifi-

Primeiro, os especialistas do Imaflora fizeram um diagnóstico da produção nas Resex. E detectaram que a borracha, produto tradicional dos extrativistas, tem potencial de mercado para as comunidades. Pelas práticas do passado, os atravessadores estabeleciam um teto de valor para os produtos, pagando menos de dois reais por quilo. “Era a regra do mercado. Quem não concordava com os preços, ficava de fora”, recorda Gomes. A solução, conta ela, foi falar diretamente com as indústrias que compram a borracha para tentar ligar as duas pontas, minimizando os intermediários. “As grandes empresas queriam garantias de volume, qualidade, prazos de entrega, capacidade de produção, controle e toda a série de exigências típicas de quem opera profissionalmente no mercado”, lembra a especialista. Foi aí que entrou o apoio técnico para buscar parceiros comerciais interessados em relações diferenciadas e dispostos a incorporar na negociação o modo de vida tradicional das comunidades. “Conseguimos atrair as empresas e começou a tomar forma o que chamamos de Protocolo Comunitário, um documento que traz as bases para que as relações comerciais e a utilização da biodiversidade nestas áreas revistaamazonia.com.br


Para conservar a floresta, fortalecer as populações tradicionais e dar a elas uma nova perspectiva de futuro pelo viés de uma nova economia

possam ser construídas respeitando os princípios de um comércio ético, e os valores das populações da floresta”, explica. Segundo Patrícia Gomes, nessa forma de se relacionar, os dois lados se manifestam publicamente na comunidade, mostram suas expectativas, assumem posições, compartilham soluções e discutem o que pode ser bom para ambas as partes. Até chegar a um consenso. “Isso é novo no Brasil.”

O projeto Florestas de Valor existe para fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros

Opção amazônica Sensível a esse apelo, a Mercur, líder na indústria de artefatos de borracha, decidiu aderir ao protocolo proposto, e aí começou a virada do jogo em favor dos comunitários. A empresa mandou representantes para a região e encontrou uma comunidade preparada para o diálogo. O compromisso de entregar um produto de qualidade tinha como contrapartida da empresa uma relação de longo prazo, permitindo que os extrativistas pudessem também cuidar de suas roças, garantindo a segurança alimentar. Na ponta do lápis, o valor do quilo pago pelo látex dobrou. Durante uma reunião de avaliação do projeto realizada

este ano, o diretor da Mercur, Jorge Hoelzel Neto, reafirmou o compromisso da empresa em continuar a adquirir a produção de borracha natural das comunidades. O anúncio animou os extrativistas. A empresa é hoje a que melhor paga pelo produto na região. A remuneração tem

tido um efeito múltiplo na região. Ela estimula a retomada da cultura seringueira, incentiva as famílias a ficarem no campo cuidando da floresta e ainda faz surgir uma economia de base florestal que não derruba uma árvore sequer.

O Florestas de Valor 5.050 pessoas beneficiadas diretamente 300 mil pessoas beneficiadas indiretamente Perfil da população: Quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, pequenos agricultores, técnicos e gestores Municípios amazônicos: Oriximiná, Alenquer, Altamira e São Félix do Xingu

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 33


Ban Ki-moon: Peço a todos os governos a comprometerse em um acordo universal e significativo sobre o clima em Paris em 2015

A Cúpula do Clima, na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York Fotos: Amanda Voisard/ ONU, Roberto Stuckert Filho, Rudolph Hühn

O

secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos líderes mundiais para estabelecer um novo rumo ante os perigos do aquecimento global, ao abrir uma reunião de cúpula sobre o clima, com a participação de 125 chefes de Estado e de Governo. “A mudança climática é a questão crucial de nossa era, e estamos aqui não para falar, mas para fazer história.” Esta Cúpula do Clima está reunindo mais de 120 chefes de Estado e de governo, além de ministros de outros governos e líderes de organizações multilaterais, finanças, negócios, sociedade civil e autoridades sub-nacionais 34 REVISTA AMAZÔNIA

Leonardo Di Caprio: Eu acredito que a humanidade tem olhado para a mudança do clima da mesma maneira, como se fosse ficção

revistaamazonia.com.br


e comunidades locais para catalisar a ação sobre a mudança climática e mobilizar políticas no sentido de um acordo global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) em 2015, afirmou Ban no discurso de abertura da reunião em Nova York. Disse ainda: “Peço a todos os governos a comprometer-se em um acordo universal e significativo sobre o clima em Paris em 2015, e a cumprir com sua parte justa para limitar o aumento da temperatura global a dois graus Celsius”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas. “Devemos trabalhar para mobilizar dinheiro e mobilizar os mercados. Vamos investir nas soluções climáticas disponíveis. Precisamos de todas as instituições financeiras públicas para este desafio. E precisamos trazer o setor financeiro privado”, disse Ban Ki-moon. Muitos cientistas afirmam que, com os níveis de emissões de gases que provocam o efeito estufa, as temperaturas terão aumentado ao final do século XXI em mais de quatro graus na comparação com a era pré-industrial. O Presidente norte-americano Barack Obama e o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Gaoli, representaram bons sinais. Obama deixou clara a intenção dos Estados Unidos em liderar — juntamente com a China e outras grandes economias emergentes — uma solução para um tratado que substitua o Protocolo de Quioto, já o vice-primei-

Durante a Cúpula do Clima na Sede das Nações Unidas, Obama deixou clara a intenção dos EUA em liderar uma solução para um tratado que substitua o Protocolo de Quioto

ro-ministro chinês, Zhang Gaoli, prometeu que a China começará a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa tão cedo quanto possível, uma declaração sem precedentes no discurso oficial do país. “A China deve ser elogiada por ter assinalado a intenção de atingir o pico das emissões ‘assim que for possível’. Estes avanços, combinados com ações mais ambiciosas por parte dos EUA, apontadas pelo Presidente Obama, podem acelerar as negociações no sentido de se conseguir um acordo no A presidenta Dilma Rousseff, na Cúpula do Clima

próximo ano”. Barack Obama disse porém que um novo acordo “tem de ser flexível”, para acomodar as realidades dos diferentes países. O ator Leonardo Leonardo Di Caprio, designado pela ONU como mensageiro da paz contra o aquecimento global, disse na abertura da reunião: “Como um ator, eu finjo para viver. Eu interpreto personagens fictícios, muitas vezes resolvendo problemas fictícios”, disse. “Eu acredito que a humanidade tem olhado para a mudança do clima da mesma maneira, como se fosse ficção”, completou.

Contribuições A Cúpula do Clima de Nova Iorque trouxe algumas promessas de reforço do Fundo Verde Climático, criado em 2010 para ajudar os países pobres a enfrentarem o desafio das alterações climáticas. François Hollande, o Presidente francês, disse que o país destinará mil milhões de dólares (780 milhões de euros) ao fundo nos próximos anos. A Coreia do Sul e a Suíça também se comprometeram com 100 milhões de dólares (78 milhões de euros), a Dinamarca com 70 milhões (55 milhões de euros) e a Finlândia disse que contribuiria com uma “fatia justa”.

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

• Econômico para você que quer abrir uma empresa; • Ideal • Flexível para quem precisa fazer reuniões eventuais; • Prático Ligue agora! (92) 3878.2600 Rua Salvador, 120 - 12º Andar Vieiralves Business Center Adrianópolis - Manaus/AM

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 35


Na Cúpula do Clima, Dilma pede acordo ambicioso

A presidenta Dilma Rousseff defendeu, na Cúpula do Clima, um esforço global para ampliar investimentos no combate às mudanças climáticas e disse que o Brasil é um exemplo de que crescimento econômico e preservação ambiental não são contraditórios. “Os custos para enfrentar a mudança do clima são elevados, mas os benefícios mais que compensam. Precisamos reverter a lógica de que o combate às mudanças climáticas é danoso à economia. A redução das emissões e as ações de adaptação devem ser reconhecidas como fonte de riqueza, de modo a atrair investimentos e lastrear novas ações de desenvolvimento sustentável”, disse, em discurso durante a reunião. Apesar da defesa de investimentos globais, Dilma destacou o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, que guia a negociação climática na ONU. Ela lembrou que os países desenvolvidos cresceram com base em economias sustentadas por altas emissões de gases de efeito estufa. “Não queremos repetir esse modelo, mas não renunciaremos ao imperativo de reduzir as desigualdades

e elevar o padrão de vida da nossa gente. Nós, países em desenvolvimento, temos igual direito ao bem-estar e estamos provando que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível”, avaliou. A presidente citou medidas tomadas pelo governo brasileiro nos últimos anos para redução de emissões de gases de efeito estufa, principalmente as relacionadas à queda do desmatamento na Amazônia. “Ao longo dos últimos dez anos, o desmatamento no Brasil foi reduzido em 79%. Entre 2010 e 2013, deixamos de lançar na atmosfera, a cada ano, em média, 650 milhões de toneladas [de gases de efeito estufa]”, listou. “As reduções voluntárias do Brasil contribuem de forma significativa para a diminuição das emissões globais no horizonte de 2020. O Brasil, portanto, não anuncia promessas, mostras resultados”, acrescentou. Dilma ressaltou que os desastres naturais provocados pelas mudanças climáticas “têm ceifado vidas e afetado as atividades econômicas em todo o mundo”, principalmente entre as populações pobres dos centros urbanos. Ela citou a Política Nacional de Prevenção e Monitoramento de Desastres Naturais como uma resposta brasileira ao problema. Segundo a presidenta, até o fim deste ano, o governo deve lançar o Plano Nacional de Adaptação. Em relação ao novo acordo climático global, que deverá ser fechado na 21ª Conferências das Partes sobre o Clima (COP21), em Paris, Dilma disse que o Brasil defende um texto ambicioso, mas que respeite as diferenças entre países ricos e nações em desenvolvimento. “O novo acordo climático precisa ser universal, ambicioso e legalmente vinculante, respeitando os princípios e dispositivos da convenção-quadro [da ONU], em particular, os princípios de equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Esse acordo deverá ser robusto em termos de mitigação, adaptação e meios de implementação”, ponderou.

Cúpula do Clima termina com compromissos, mas Brasil não assina carta A Cúpula do Clima terminou com o compromisso assumido por 150 países e organizações, entre os quais 28 Estados-Membros, 35 empresas, 16 grupos indígenas e 45 grupos da sociedade civil, de reduzir o desmatamento pela metade, até 2020, e zerá-lo totalmente até 2030. Segundo o Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty, o governo brasileiro não foi convidado a participar do processo de preparação do documento, por isso não pôde se comprometer com as metas estabelecidas. O Itamaraty explicou que a carta não é um documento oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) e que, portanto, só deve ser seguido pelos signatários.

A carta Além do objetivo de acabar com o desmatamento, o documento estabeleceu outras metas, como a redução 36 REVISTA AMAZÔNIA

das emissões de gás carbônico de 400 milhões a 450 milhões de toneladas por ano, nos próximos seis anos, ou 2 bilhões de toneladas no total, também até 2020. A carta porém, permanece aberta para outros países e entidades assinarem e as negociações acerca dos compromissos que os países devem assumir para combater o aquecimento global seguem até o ano que vem, quando será realizada a 21ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-21), em Paris. Em síntese, esta foi uma Cúpula do Clima positiva, que lança o difícil caminho até um Acordo em Paris em dezembro de 2015, mas limitada pela falta de compromis-

sos concretos mais vastos. É sabido que as negociações que prosseguirão em Lima, no Perú, já no próximo mês de dezembro, serão bem mais complicadas nos detalhes e na concretização. Agora, é preciso que os líderes políticos traduzam a retórica positiva em compromissos concretos – redução de emissões de carbono e financiamento para a ação climática, particularmente para as nações mais vulneráveis do mundo. A humanidade não pode esperar!

Zhang Gaoli também disse que anunciará “assim que possível” novos compromissos para além de 2020 revistaamazonia.com.br


Marcha do Povo pelo Clima Fotos: Rudolph Hühn, Yubi Hoffmann/ UN

U

ma grande manifestação pedindo ação internacional, foi parte de uma campanha mundial para chamar a atenção dos líderes mundiais para os efeitos do aquecimento global, bem como mostrar a preocupação da sociedade com a falta de ação internacional para deter a mudança climática. O ato reuniu políticos, celebridades, ativistas e a sociedade civil, levou cerca de 400 mil pessoas para as ruas de Nova York antecedendo e dando o tom inicial da cúpula, para alertar sobre a importância de deter os efeitos negativos da mudança climática. Segundo Ban Ki-moon “A mudança climática é uma ques-

Cerca de 300 mil pessoas saíram às ruas em vários países numa marcha pelo clima

tão definidora de nossa época” , acrescentando ‘Não há ‘plano B’para deter a mudança climática porque não temos um ‘planeta B’, diz Ban Ki-moon O setor privado ajudou a aumentar a notoriedade do evento, com presidentes-executivos como Tim Cook, da Apple, e Peter Agnefjall, da Ikea, o ex vice-presidente americano Al Gore e o ator Leonardo DiCaprio, somaram-se ao People’s Climate March, anunciando diversas medidas voluntárias para reduzir suas emissões de carbono. Uma multidão ocupou um quilômetro e meio marchando ao longo do Central Park de Nova Iorque até a Times Square.

Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na Marcha Popular pelo Clima, em Nova York

“Fracking” e energia solar O tema das emissões de CO2 liderou os que participaram da Marcha do Povo pelo Clima, porém muitos se manifestaram contra o chamado fracking (ou fratura hidráulica), a técnica que consiste em fraturar rochas no subsolo exercendo alta pressão para liberar gás. No estado de Oklahoma, onde a produção de gás natural é muito forte, foram registrados, apenas nos primeiros quatro meses do ano, 145 terremotos de até 3 graus de magnitude. Em reportagem publicada pela revista The Atlantic, cientistas sugerem que esse número poderia estar relacionado ao fracking. O descontentamento também foi grande na questão dos subsídios à energia solar.

Na Marcha pelo clima, no domingo, em Nova Iorque

As caminhadas pelo Clima pedem a diminuição de emissões de carbono Reclamando da falta de subsídios para a energia solar

Para presionar governos e empresas à combaterem o aquecimento global

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 37


Nova iniciativa vai incentivar uso de eletrônicos mais eficientes Países da América Latina e do Caribe poderiam economizar em 10% o consumo de eletricidade

O

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) anunciou recentemente a Parceria para Eletrodomésticos e Equipamentos Eficientes, uma nova iniciativa para auxiliar a popularização de eletrodomésticos e eletrônicos mais eficientes. O objetivo é reduzir a demanda de energia global, mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas e melhorar o acesso à energia elétrica. A parceria reúne governos, organizações não-governamentais, fabricantes de eletrodomésticos, bancos de desenvolvimento internacionais e instituições financeiras para oferecer assistência técnica na implantação de estratégias nacionais e regionais para a transição definitiva para produtos de eficiência energética. A utilização global de eletroeletrônicos mais eficientes – incluindo iluminação, ar condicionado, geladeiras e outros – pode reduzir em 10% o consumo global de energia, economizando US$ 350 bilhões por ano e reduzindo emissões globais de CO2 em 1,25 bilhão de toneladas por ano. “O lançamento da Parceria para Eletrodomésticos e Equipamentos Eficientes é um passo adiante em uma rota energética mais verde. A mudança para a eficiência energética tornou-se imperativa em um mundo que a demanda por energia cresce continuamente. Felizmente, as novas tecnologias de eficiência energética, conhecimentos técnicos e marcos normativos para reduzir os níveis de emissão de CO2 estão disponíveis e prontos para implantação”, afirma o subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner. Como a maioria dos países em desenvolvimento, a demanda por produtos que consomem energia aumenta rapidamente na América Latina e no Caribe com o rápido crescimento urbano. No Paraguai, por exemplo, o estoque de refrigeradores domésticos poderá duplicar até 2030. No Panamá, por sua vez, a quantidade de aparelhos de ar condicionado poderá aumentar 400% no mesmo período. A tendência de aumento do consumo de energia elétrica na região e, consequentemente, das emissões de gases de efeito estufa (GEE), impacta significativamente nos esforços globais para combater as alterações climáticas. A Aliança Global de Eletrodomésticos e Equipamentos Eficientes divulgou relatório recentemente que avalia o impacto econômico e climático de aparelhos de refri38 REVISTA AMAZÔNIA

Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA, durante o painel de discussão sobre o investimento em eficiência energética

EFICIÊNCIA DE ELETRODOMÉSTICO Vários produtos como forno de micro ondas, geladeiras, refrigeradores, televisões, ar condicionados, chuveiros elétricos, ventiladores de teto, lavadoras de roupas etc, vêm com a etiqueta do PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), ajudando o consumidor a comprar produtos que gastam menos energia.

geração na América Latina e Caribe. De acordo com o estudo, se todos os países da região adotassem e implementassem as recomendações mínimas de eficiência energética, seriam economizados 140 terawatts/hora de energia anualmente. Este valor representa 11% do consumo de energia elétrica da região, equivalente ao consumo de energia da Venezuela e do Peru juntos. Esta nova iniciativa global se baseia na experiência e no êxito da en.lighten do PNUMA, uma parceria público-privada que reúne 65 países. O grupo de países se comprometeram com a eliminação progressiva das lâmpadas incandescentes ineficientes até o final de 2016.

Dados importantes: * Mais de 1,2 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à eletricidade. * De 1990 a 2010, as melhorias na eficiência energética reduziram a demanda energética acumulada global em mais de 25%. * A mudança para eletrodomésticos e equipamentos de alta eficiência energética em seis dos principais setores de produtos tem potencial para reduzir o uso global de eletricidade em mais de 2.500 terawatt/hora, mais de 10% da demanda mundial. revistaamazonia.com.br


Querer ser um doador de órgãos é o primeiro passo de um lindo gesto que salvará outras vidas. Depois, é preciso ter uma conversa baseada em amor, confiança e respeito com a sua família. No momento certo, são eles que decidirão respeitar o seu desejo.

SEJA DOADOR DE ÓRGÃOS E AVISE À SUA FAMÍLIA. SUA FAMÍLIA É A SUA VOZ. Saiba como. Acesse facebook.com/doacaodeorgaos revistaamazonia.com.br

#doeorgaos REVISTA AMAZÔNIA 1


Secretário-Geral Ban Kimoon , na abertura da I Conferência Mundial sobre Povos Indígenas

I Conferência Mundial sobre Povos Indígenas Fotos: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil, Mark Garten e Yubi Hoffmann/ UN

N

a abertura da 1ª Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas, na sede das Nações Unidas, em Nova York, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, disse que “os povos indígenas estão no centro dos debates sobre direitos humanos e desenvolvimento global”. Ele prometeu lutar contra a exclusão e a marginalização que os indígenas enfrentam. A Conferência tem abrangente sucesso para o progredir de toda a humanidade. Segundo a ONU, existem 370 milhões de indígenas de mais de 5 mil comunidades espalhados por 90 países. Eles representam 5% da população global. De acordo com o secretário-geral, as decisões tomadas

Segundo a ONU, existem 370 milhões de indígenas 40espalhados REVISTA AMAZÔNIA em 90 países

Evo Morales Ayma, Presidente da Bolívia (no pódio do orador), Sam Kutesa Kahamba (parte superior central), presidente da sexagésima nona sessão da Assembléia, ladeado pelo Secretário-Geral Ban Ki-moon (à esquerda) e Tegegnework Gettu, Sub-Secretário-Geral da Assembléia Geral e Gestão de Conferências.

nesta conferência terão reflexo por toda a comunidade internacional com efeitos concretos sobre os povos indígenas. Ban Ki-moon disse que entre as principais preocupações estão a posse da terra e os direitos dos grupos. Os Estados membros da Assembléia Geral da ONU reafirmaram seu compromisso de respeitar, promover, fomentar e não prejudicar os direitos dos povos indígenas, e defender a Declaração sobre essas garantias, aprovada em 13 de setembro de 2007. Isto foi afirmado no documento aprovado no primeiro

dia da Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas, reunindo centenas de representantes das comunidades. A embaixadora da Argentina, Maria Cristina Perceval, dirigiu a reunião, apresentou o documento para apreciação dos participantes, obtendo a aplausos prolongados com o consenso: “Eu tenho que levá-la de que a Assembléia aprovar o projeto de resolução que foi seguido por um longo aplauso. Os Estados-Membros comprometem-se a cooperar com as instituições indígenas na implementação de planos revistaamazonia.com.br


Tadodaho Sid Hill, chefe da nação Onondaga, dá as boas-vindas aos participantes do cerimonial na abertura da Conferência Mundial sobre Povos Indígenas

indígenas têm o direito de determinar e estabelecer as suas prioridades e estratégias de desenvolvimento e comprometem-se a manter isso em mente durante o desenvolvimento da agenda pós-2015. específicos para lidar com os seus direitos e promover os direitos das pessoas com deficiência nestas comunidades e para garantir o acesso à educação. Eles também se comprometem a intensificar os esforços para reduzir as taxas de HIV e AIDS, malária, tuberculose e outras doenças não transmissíveis nestas comunidades e promover os direitos das crianças no uso cultural, religiosa e de seu nível no idioma. Além da importância das instituições indígenas para resolver disputas e promover relações harmoniosas justiça é reconhecida. O documento final também observa a disposição dos Estados para lidar com os povos indígenas os impactos de grandes projetos de desenvolvimento tenham ou possam ter nas comunidades incluídas atividades de mineração. Os Estados-Membros também ressaltam que os povos

Participantes na Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas na sede da ONU

Relatório aponta aumento do número de indígenas na América Latina A América Latina tem cerca de 45 milhões de indígenas em 826 comunidades que representam 8,3% da população, revela o relatório Povos Indígenas na América Latina: Progressos da Última Década e Desafios para Garantir seus Direitos. O documento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi apresentado na 1ª Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas. Segundo a Cepal, o número de 45 milhões de indígenas em 2010 representa aumento de 49,3% em dez anos. Em relatório de 2007, a Cepal estimou que havia 30 milhões de indígenas no ano de 2000 na América Latina, quando foram identificados 642 povos. A Cepal atribui esse aumento à melhoria da informação estatística nos últimos anos e à maior autoidentificação por parte dos povos em sua luta por reconhecimento. O relatório mostra que os países com maior proporção de população indígena são Bolívia (62,2%), Guatemala (41%), Peru (24,0%) e México (15,1%). O Brasil, com 900 mil indígenas, tem o maior número de comunidades (305), seguido pela Colômbia (102), Peru (85), México (78) e Bolívia (39). De acordo com o estudo, muitas estão em perigo de desaparecimento físico ou cultural, como no Brasil (70 povos em risco), na Colômbia (35) e na Bolívia (13). A Cepal estima ainda que existem 200 povos indígenas em isolamento voluntário na Bolívia, no Brasil, na Colômbia, no Equador, no Paraguai, no Peru e na Venezuela. Em educação, a Cepal constatou aumento nas taxas de frequência escolar, com porcentagens de comparecimento entre 82% e 99% para crianças de 6 a 11 anos. Segundo o relatório, persistem, entretanto, diferenças significativas na conclusão do ensino médio e no acesso aos níveis superiores em relação aos indicadores da população não indígena.

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 41


À procura de um ouvido matemático que distinga as aves da Amazônia por Nicolau Ferreira

Fotos: Ulisses Camargo

I

nvestigador brasileiro está na Finlândia a fim de desenvolver modelo estatístico para medir a abundância das aves na floresta amazónica a partir da gravação de sons. Tecnologia pode vir a ser aplicada a outros animais com vocalizações, como anfíbios ou primatas. Como é a vida das aves que se escondem nas copas das árvores da Amazônia? É essa a questão que Ulisses Camargo quer responder. Durante o mestrado, este investigador brasileiro reuniu 2000 horas de gravação de sons da floresta, mas apenas ouviu cerca de 300 horas. Agora, o doutoramento que está a fazendo na Universidade de Helsínquia, na Finlândia, tem como objetivo desenvolver um programa informático com base estatística para identificar, pelo canto, quais as espécies de aves presentes, em que número e a sua distribuição espacial. Papa-formiga-de-topete (Pithys albifrons)

Ulisses Camargo (que segura o gavião) com os seus colegas na Amazónia

No final do doutoramento, em 2016, o cientista quer ter um instrumento capaz de identificar os padrões geográficos da distribuição das aves na Amazónia. Se tudo correr bem, poderá vir a utilizar este software para analisar 12.000 horas de sons que, entretanto, já foram gravadas. Assim, será possível perceber quais são as diferenças ecológicas na Amazónia entre a floresta primária, pristina, e a floresta secundária que, no passado, foi cortada para servir de pasto, mas onde as árvores voltaram a crescer. “A floresta secundária é um tipo de ambiente que está aumentando”, alerta Ulisses Camargo. “Sabemos muito pouco sobre ela”, acrescenta. Desde Outubro de 2012 que o investigador de 29 anos está fazendo seu doutoramento. Antes, o biólogo originário de Araraquara, município do estado de São Paulo, fez o mestrado no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, onde foi orientado pelo biólogo português Gonçalo Ferraz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O trabalho de campo começou em 2010. As gravações foram feitas a 80 quilômetros a norte de Manaus, numa 42 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


região que é estudada no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, que tenta há cerca de três décadas compreender o impacto do desmatamento. Na região aparecem aves como o papa-formiga-de-topete, o arapaçu-de-bico-curvo ou caga-sebinho-de-penacho. Ali, foram colocados gravadores no tronco das árvores, entre os 1,5 e 1,8 metros de altura, em 150 pontos diferentes, que abrangeram uma área de algumas centenas de quilômetros quadrados com floresta primária e floresta secundária com 24 anos de idade. O alcance de cada gravador, que tinha um microfone associado, era de 100 metros, por isso captaram-se sons de cima das copas das árvores, a 30 metros de altura. O biólogo teve de ouvir ele próprio as gravações. A partir das vocalizações das aves, conseguiu determinar as espécies presentes e identificou 190 na floresta primária e 150 na floresta secundária. Destas 150, apenas três não existiam na floresta primária, que terão vindo de áreas mais abertas. Além de ter ficado muito material por analisar, as gravações continuaram a fazer-se todos os anos durante três meses, e só vão terminar agora em 2014. “Como é que a gente pode explorar 100% destes dados? Como é que se pode ouvir tudo? A resposta é um programa de computador que pode ouvir por nós”, diz o biólogo, que foi desenvolver o programa no seu dou-

Caga-sebinho-de-penacho (Lophotriccus galeatus)

Arapaçu-de-bico-curvo (Campyloramphus procurvoides)

toramento, com orientação de Otso Ovaskainen, um investigador que usa a matemática para compreender fenômenos na Biologia. Ulisses Camargo quer que o seu modelo estatístico cumpra vários objetivos. Por um lado, que consiga identificar revistaamazonia.com.br

corretamente que espécie é que está cantando. Por outro, que consiga determinar o número de aves que estão ouvindo-se de cada espécie. Um exemplo é quando se ouve um canto a poucos metros do gravador e depois um outro canto semelhante a muitas dezenas de metros, ci-

clicamente. Neste caso, é mais provável que sejam “duas aves a responder uma à outra do que uma ave a saltar de um lado para o outro que nem uma louca”. O biólogo deseja ainda obter um registo geográfico da origem do som. No ano passado, testou na floresta um método de triangulação em que vários gravadores detectaram um mesmo som artificial. Como os gravadores estão a distâncias diferentes da origem do som, este fica registado a intensidades diferentes e a partir daqui é possível localizá-lo na floresta. Nas gravações, apanham-se muitos outros sons além dos das aves. “Você pega macacos, insetos pega em 100% das gravações”, diz o cientista, acrescentando que o modelo estatístico que sair do seu trabalho poderá ser aplicado no estudo de outras espécies com vocalizações, como primatas ou sapos. Apesar de não esperar descobrir novas espécies de aves, Ulisses Camargo pensa poder identificar novos cantos de cada espécie. Além disso, irá ter um testemunho áudio do dia-a-dia destas espécies sem interferência humana, algo impossível nos trabalhos de ecologia onde se capturam as aves. “As espécies estão por todo o lado, o que elas estão fazendo em toda a parte, ninguém sabe”, diz. E há muitas perguntas por responder. Quais as aves que preferem clareiras, quais as que preferem zonas com mais água? Que espécies é que estão em competição, onde estão os predadores como as rapinas? Como é que tudo se passa nas florestas secundárias. “Há muitas aves que são pequenas e perdem muita água, a floresta secundária é mais quente do que a primária”, exemplifica Ulisses Camargo. Todas estas questões ajudam a compreender “os processos que regulam estas populações”. REVISTA AMAZÔNIA 43


Fundo Mundial para a Natureza reclama da redução de animais no planeta Fotos: WWF-Canon/James Morgan

O

Relatório Planeta Vivo 2014, recentemente divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) mostra que as populações de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes foram reduzidas à metade, em média, nos últimos 40 anos. O estudo avaliou mais de 10 mil populações de mais de 3 mil dessas classes entre 1970 e 2010. “Esses animais mostram a saúde do ecossistema do planeta”, explica o superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Jean-François Timmers. Esta é a décima edição do material que é divulgado a cada dois anos pela WWF e mostra as mudanças na biodiversidade, nos ecossistemas e ademanda por recursos naturais. Em todo o mundo, as espécies terrestres diminuíram 39%, e a principal causa é a perda de habitat desses animais em decorrência de atividades como agricultura e caça, por exemplo. Já as espécies de água doce tiveram queda de 76% e as marinhas, 39%. De acordo com o estudo, a maior queda registrada foi na América Latina: 83%. Jean explica que em algumas regiões do mundo, como a África, a questão da caça é preocupante, mas na América Latina a diminuição dos animais tem outras causas como o desmatamento, a destruição de ecossistemas aquático e a pesca no litoral. Outro dado importante relatado pela WWF é a chamada Pegada Ecológica, que mede a demanda da humanidade

por recursos naturais. “É um índice que vai agregando o consumo de carbono, de água e de algumas commodities [produtos básicos com cotação internacional]. É uma estimativa comparativa, mas ele [índice] é relacionado ao consumo de bens naturais e emissão de carbono”, explica Timmers. O documento mostra que a demanda global é maior que a capacidade de reposição do planeta. Atualmente, seria necessária uma Terra e meia para 44 REVISTA AMAZÔNIA

atender as necessidades atuais. “Estamos gastando 50% a mais do que a natureza é capaz de repor por ano, e a tendência é crescer, porque a classe média, principalmente na Ásia, vai crescer muito, e as demandas vão aumentando”. Mas apesar dos índices, a WWF destaca que existem ações para reverter a perda de biodiversidade. “Existem pacotes de medidas para agricultura de baixo carbono, revistaamazonia.com.br


uma série de alternativas tecnológicas para geração de energia limpa. Existe uma série de potenciais”. Com relação à América Latina, Jean-François lembra ainda que as recentes catástrofes ambientais e crises como a de água, na região da Cantareira, em São Paulo, por exemplo, ajudam a chamar a atenção para o tema ambiental. “Existe um nível de consciência crescente na região como um todo, dos governantes em geral, das autoridades acadêmicas e da população com relação a questões ambientais. Isso faz com que a agenda ambiental se torne uma agenda importante”, acrescenta. Os números globais, e principalmente os da América Latina, segundo Jean, “são um alerta”. Agora, a WWF fará análise mais específica dos dados da região. “Vamos desagregar esses índices para saber a que se deve, de forma precisa, esse aumento crescente da degradação ambiental na América Latina e provocar discussões de nível nacional e regional”, explica. Essa edição trouxe uma nova metodologia. O superintendente da WWF explica que o peso de alguns grupos de A alarmante perda de 50% em populações de espécies

Se queremos água, alimentos energia e segurança, devemos cuidar da natureza

Nós já perdemos mais de metade da nossa vida selvagem em 40 anos

animais, como peixes e anfíbios, aumentou para mostrar a importância dos ecossistemas marinhos e de água doce. “Isso é um dado interessante. Isso estava sendo subavaliado nas medições anteriores”. O Relatório Planeta Vivo 2014 faz uso do banco de dados da Sociedade Zoológica de Londres, uma fundação científica sem fins lucrativos, que tem projetos de conservação em mais de 50 países. Os dados relacionados ao índice de Pegada Ecológica são da Global Footprint Network, uma organização internacional que trabalha com o debate dos limites ecológicos e é parceira da WWF.

A principal conclusão do estudo é que as Marco Lambertini, fauna é a degradação e a perda do habitat Diretor Geral da natural dos animais. populações de peixes, aves, mamíferos, WWF International A pesca e a caça são ameaças anfíbios e répteis decaiu em 52% desde ‘significativas’, assinala o relatório, 1970. enquanto a mudança climática está se As espécies de água doce sofreram uma perde de 76%, em um percentual que transformando em ‘crescentemente preocupante’, com as primeiras dobra as sofridas por espécies marinhas constatações de que ‘a mudança climática e terrestres. A maioria das perdas globais, por sua vez, provém das já é responsável da extinção de algumas espécies’. Por outra parte, o relatório destaca que o que a regiões tropicais da América Latina. O Índice Planeta Vivo para a região neotropical - que humanidade demanda ao planeta é mais do que o dobro coincide com o território da América Latina - mostra um do que a natureza pode renovar. dramático e contínuo declive das populações de fauna De fato, calcula-se que seria necessária uma Terra e meia selvagem, com uma perda média de 83% das espécies para produzir os recursos necessários para equilibrar com o rastro ecológico da humanidade. desde 1970. ‘Esta é a queda regional mais profunda, e destaca a intensa O relatório também destaca que o rastro ecológico é cinco pressão à qual estão submetidas as espécies tropicais da vezes maior nos países desenvolvidos que nas nações em América Latina’, declarou Marco Lambertini, Diretor Geral desenvolvimento, e lembram que se demonstrou que se podem elevar os níveis de vida da população e restringir da WWF International. Ele atribuiu este declive a uma série de razões, que incluem ao mesmo tempo a exploração dos recursos naturais. ‘as ameaças típicas’, como a exploração das espécies, a Os dez países com maior rastro ecológico são, na ordem, degradação da terra e da água, a perda de habitats e a Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, mudança climática. Bélgica, Trinidad e Tobago, Cingapura, Estados Unidos, De fato, em geral, em toda a Terra, o maior perigo para a Bahrein e Suécia. revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 45


Bens de consumo e desmatamento Uma análise da extensão e natureza da ilegalidade. Conversão da floresta para agricultura e plantações de árvores Fotos: Josef Shoperle, Michael Eyre, Peter Arnold / Alamy, Wurth Either

U

ma nova análise abrangente divulgada recentemente, diz que quase metade (49%) de todo o desmatamento tropical recente é o resultado de desmatamento ilegal para a agricultura comercial. O estudo também constata que cerca de metade dessa destruição ilegal foi impulsionado pela demanda externa por commodities agrícolas, incluindo o óleo de palma, carne bovina, soja e produtos de madeira. Além dos impactos devastadores sobre as pessoas que dependem da floresta e da biodiversidade, a conversão ilegal de florestas tropicais para a agricultura comercial está estimada para produzir 1,47 gigatoneladas de carbono de 25% das emissões com base em combustíveis fósseis anual da UE a cada ano-equivalente. De acordo com esse estudo –“Bens de Consumo e desmatamento”, de autoria de Sam Lawson, com contribuições de Art Blundell, Bruce Cabarle, Naomi Basik, Michael Jenkins, e Kerstin Canby, para a Forest Trends – ONG americana baseada em Washington, entre 2000 e 2012, a agropecuária foi responsável por metade do desmatamento ilegal nos países tropicais. 90% do desmatamento no Brasil 2000-2012 era ilegal, principalmente devido à incapacidade de conservar uma percentual de florestas naturais no gado em larga escala e plantações de soja, conforme exigido pela legislação brasileira. (Grande parte isso ocorreu antes de 2004, quando o governo brasileiro tomou medidas para reduzir o desmatamento com sucesso). E nas florestas da Indonésia, 80% do desmatamento foi ilegal – principalmente para as grandes plantações produtoras de óleo de palma e madeira, 75% dos que é exportado. Enquanto outros países também experimentam altos níveis de desmatamento ilegal, o Brasil e a Indonésia produziram o mais alto nível de commodities agrícolas, destinadas aos mercados globais, muitos dos quais acabam em cosméticos ou bens de consumo (óleo de palma – usado em cosméticos e

46 REVISTA AMAZÔNIA

Os compradores de soja no mercado internacional não estão querendo atrelar o nome ao desmatamento ilegal na Amazônia Florestas tropicais são destruídas ilegalmente para a agricultura comercial

produtos domésticos), (soja – ração animal), e (produtos de madeira – destinados à embalagem ). No Brasil, parte considerável dos produtos cultivados nessas áreas ilegais vai para o mercado externo: até 17% da carne e 75% da soja. Os destinos incluem Rússia, China, Índia, União Europeia e Estados Unidos.

Brasil e Indonésia são os maiores produtores do mundo de commodities agrícolas para a exportação. O que é colhido nas terras desmatadas ilegalmente nesses países vai parar em cosméticos, produtos domésticos, alimentos e embalagens. “Naturalmente, os países compradores também são resrevistaamazonia.com.br


O estudo, “Bens de Consumo e desmatamento”, diz que dois países - Brasil e Indonésia - são responsáveis por 75% da área total do desmatamento ilegal durante o período. Os países são os principais produtores de commodities agrícolas, como o óleo de palma, que é usado em cosméticos e produtos domésticos; soja, utilizados na alimentação animal; e produtos de madeira destinados à embalagem

Michael Jenkins do Forest Trends, disse que a proteção das florestas contribui para combater as alterações climáticas, a manutenção de serviços de ecossistemas e conservação

ponsáveis. Afinal, eles estão importando e consumindo produtos sem prestar atenção em como foram produzidos. Consequentemente, estão criando uma demanda. E as companhias envolvidas no negócio estão lucrando”, avalia Sam Lawson, principal autor do estudo e consultor de instituições como o Banco Mundial e Greenpeace. Ele calcula que esse tipo de comércio gere uma receita de 61 bilhões de dólares, cerca de 140 bilhões de reais. A pesquisa foi feita ao longo dos últimos três anos e reuniu dados publicados em mais de 300 artigos científicos, informações da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e dados de satélite.

Ilegalidade no Brasil Ao mesmo tempo em que o estudo aponta o Brasil como líder nesse tipo de ilegalidade, ele reconhece que o país reduziu dramaticamente o desmatamento desde 2004. A taxa de derrubada ilegal na Amazônia caiu mais de 70% revistaamazonia.com.br

se comparada aos índices medidos entre 1996 e 2005. “No Brasil, as florestas também estão dentro de propriedades privadas. E, em muitos casos, o único documento que o produtor rural tem para justificar sua plantação é um certificado de posse da terra. Eles não têm, necessariamente, a permissão para cortar a floresta para dar

lugar a essa plantação”, diz Lawson. Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento na Amazônia, do Ministério de Meio Ambiente, diz que a apropriação irregular de terras públicas, ou “grilagem”, é uma das principais causas do desmatamento ilegal. “Um grileiro nunca vai REVISTA AMAZÔNIA 47


Comida e floresta para todos Cinco campos de futebol de florestas tropicais são destruídos a cada minuto para suprir a demanda por commodities agrícolas. A FAO também vê esses números com preocupação. A organização estima que, até 2050, o mundo precisará de cerca de 60 milhões de hectares 48 REVISTA AMAZÔNIA

52%

49%

50

39%

40

27%

30

20%

10

Low

16%

14% 11%

11%

31%

27%

19%

20

5%

Mid

7% 9%

High

Tro Tim pica be l r

l Pa

Le

lm

at h

Oi

er

ef Be

y

0 So

buscar uma autorização de desmatamento”, acrescenta. O corte da mata também é feito por proprietários regulares de terra. Mas nem todos respeitam a lei: muitos retiram a vegetação nativa para expandir plantações sem a devida autorização, que é dada pelo governo estadual. Para aumentar o rigor na fiscalização, o governo federal pretende exigir que os estados repassem as autorizações de supressão de vegetação concedidas aos proprietários. A legislação nacional obriga as propriedades rurais privadas a manter no mínimo 20% da vegetação natural, a chamada Reserva Legal. Por outro lado, ainda não existem dados oficiais que mostrem quem cumpre a lei. A esperança de separar “o joio do trigo” está no Cadastro Ambiental Rural (CAR), introduzido com o novo Código Florestal para ajudar no processo de regularização. Esse cadastro tem que ser feito por todo proprietário e trará informações georreferenciadas do imóvel, com delimitação das Áreas de Proteção Permanente, Reserva Legal, entre outros. “A pessoa sabe que entrou para um sistema e vai tomar os devidos cuidados para não desrespeitar a legislação, e quer ser respeitada por isso”, analisa Oliveira.

% of global exports from illegal deforestation

60

Note: See text, data in Annex C, and supporting information. Proporção das exportações mundiais de diferentes Agro-Commodities estimados para as originadas da conversão ilegal das Florestas

Country

Proportion of total gross forest loss (> 51% canopy cover) in the tropics 2000 to 2012

% of deforestation due to illegal agroconversion

% of deforestation due to illegal agroconversion for export

LOW points

MED points

HIGH points

LOW points

MED points

HIGH points

Estimated area of forest converted illegally for exported agro-production, 2000 to 2012 (Mha) (mid-point only)

Brazil

35%

61%

71%

81%

18%

21%

24%

6.5

Indonesia

18%

64%

64%

64%

48%

48%

48%

7.4

Malaysia

5%

0%

38%

75%

0%

32%

65%

1.5

Paraguay

3%

0%

33%

67%

0%

27%

53%

0.7

Bolivia

3%

68%

68%

68%

38%

44%

51%

1.2

63%

0%

6%

13%

0.2

69%

0%

39%

72%

0.4

24%

36%

20.6%

Colombia

3%

0%

32%

Cambodia

1%

36%

54%

RoW

32%

TOTAL % of total tropical forest loss

2.7

SEE APPENDIX

36%

49%

65%

17%

24%

Valor da Floresta Tropical estimado de ter sido perdida devido a ilegal Agro-conversão e Total gross forest loss figures for 2000-2012 sourced from Hansen et al. 2013.

Associados Exportações (Total de países selecionados)

revistaamazonia.com.br


Forest Trends adverte que a demanda por carne, soja, óleo de palma e madeira tem alimentado o rápido desmatamento

Country

extras para suprir a demanda por comida. Para Keneth MacDicken, especialista em assuntos florestais da FAO, seria possível fazer essa expansão sem agredir as florestas. “Aumentar a produtividade, melhorar as técnicas e diminuir o desperdício são fundamentais”, diz. Para acabar com a produção agropecuária em terras desmatadas ilegalmente, é importante mostrar que a legalidade é rentável. “Nesse processo, empresas como a Embrapa são muito importantes. Porque elas ajudam os proprietários rurais a produzir de forma mais eficiente e mais rápida”, exemplifica MacDicken. Além do aumento na fiscalização e vigilância por satélite, Oliveira, do ministério de Meio Ambiente, aposta na parceria com produtores para mostrar que o consumidor também está ficando mais exigente. “Os compradores de soja no mercado internacional não estão querendo atrelar o nome ao desmatamento ilegal na Amazônia.” Essa percepção criou a chamada “moratória da Soja”, em que produtores se comprometeram a não estender o cultivo para áreas desmatadas. Lawson só vê uma saída: “Nada vai funcionar se os governos não tomarem providências contra a ilegalidade”. O pesquisador admite que, hoje, o tema é mais discutido entre produtores e consumidores do que há dez anos. No entanto, se os números do desmatamento associado à expansão da agropecuária ainda são altos, a conclusão é que “esse combate ainda não está sendo feito como deveria”. revistaamazonia.com.br

Proportion of total gross forest loss (> 51% canopy cover) in the tropics 2000 to 2012 Soy

$21 billion ($13–$30 billIion)

Beef & leather*

$7 billion ($6–$10 billion)

Palm oil

$16 billion ($10–$21 billion)

Tropical wood (primary timber products + pulp & paper)**

$10 billion ($4–$26 billion)

Plantation wood (inc pulp & paper)***

$7 billion ($4–$6 billion)

TOTAL

$61 billion ($37–$94 billion)

Valor estimado de Comércio Internacional de Commodities, vinculado a ilegal Deforestação Tropical de 2012. A análise também fornece estimativas da proporção do comércio total de soja, carne bovina, couro, óleo de palma, e as exportações de madeiras tropicais que se originam a partir da conversão da floresta ilegal. Com base na análise do ponto médio, um quinto da soja, dois quintos do óleo de palma, e quase um terço da madeira tropical transaccionadas intemacionalmente provavelmente estão ligados ao desmatamento tropical ilegal, como é de cerca de 14 por cento da carne de bovino e 7 por cento do couro. Mesmo pressupostos mais otimistas utilizados na análise de sensibilidade, os resultados ainda são dramáticos

Desmatamento na Amazônia aumentou 28 por cento depois de ter descido quatro anos seguidos

REVISTA AMAZÔNIA 49


5º Encontro Nacional das Águas Durante a abertura do 5º Encontro Nacional das Águas

Fotos: Katia Gardin

R

euniu cerca de 300 participantes em dois dias de programação com a missão de abrir caminho para o diálogo em torno da cooperação no saneamento A abertura oficial aconteceu na véspera do início dos trabalhos do congresso, com a presença do ministro Gilberto Occhi, do Ministério das Cidades, entre os convidados para o jantar solene, em que o destaque foi a palestra do economista Eduardo Giannetti, que falou sobre “Crescimento e desenvolvimento social”. Giannetti elogiou a iniciativa do SINDCON, ABCON e das entidades Assemae e Aesbe, que assinaram na ocasião uma Carta pelo Saneamento. O manifesto com propostas para o avanço do setor será endereçado aos presidenciáveis. Ainda durante a abertura, o SINDCON lançou o Prêmio Sustentabilidade, uma iniciativa que passa a ser realizada de dois em dois anos. Os vencedores da primeira edição do Prêmio Sustentabilidade serão conhecidos em 2015. O objetivo é distinguir as melhores inovações, práticas e projetos da iniciativa privada no saneamento. As inscrições para a primeira edição já estão abertas. Podem concorrer todas as concessionárias privadas associadas ao SINDCON. O evento prosseguiu no Centro de Convenções da Abimaq com sessões plenárias sobre os grandes temas do

Giuliano Dragone, presidente do Sindcon

“Prêmio Sustentabilidade 2015”

Herdeiros do Futuro foi apresentado por Luciana Melo, sua cordenadora, como case de sucesso no 5º ENA

saneamento e salas temáticas em que foram apresentados diversos trabalhos e experiências bem-sucedidas das concessionárias privadas. O debate sobre os desafios para a universalização dos serviços de água e coleta e tratamento de esgoto no país foi alimentado pela presença de especialistas, professores, representantes das agências reguladoras e do Ministério Público, autoridades e formadores de opinião locais e do Exterior sobre o saneamento. Para o presidente do SINDCON, que realizou o evento, 50 REVISTA AMAZÔNIA

o 5º ENA foi um sucesso. “Tivemos êxito em congregar todos os segmentos que atuam no saneamento, sob o tema da cooperação e, particularmente, no que se refere ao associado SINDCON, o ENA demonstrou ser uma experiência altamente enriquecedora, ao compartilhar entre as concessionárias os melhores exemplos de boas práticas em gestão, recursos humanos, comunicação e tecnologia”, afirmou Giuliano Dragone.

O lançamento oficial aconteceu no hotel Grand Mercure São Paulo Ibirapuera, durante a abertura oficial do 5º ENA. A ação visa premiar e valorizar as iniciativas sustentáveis mais criativas e inovadoras praticadas pelas equipes de colaboradores das empresas privadas que atuam no setor de saneamento. A premiação acontecerá em 2015. Serão condecorados os primeiros colocados, além do reconhecimento à empresa.

revistaamazonia.com.br


As categorias As iniciativas que poderão participar do Prêmio Sustentabilidade 2015 serão divididas em três categorias: Institucional, Gestão e Tecnologia, sendo que o requisito principal é que todas elas apresentem projetos que tragam impactos e melhorias à imagem, ao desenvolvimento e ao relacionamento da empresa com o meio ambiente e com a sociedade. Para a seleção dos vencedores, o Prêmio Sustentabilidade 2015 contará com uma comissão julgadora totalmente independente e sem quaisquer vínculos com o SINDCON, a ABCON e suas empresas associadas. Economista Eduardo Giannetti

No Painel Assuntos Jurídicos e Regulatórios Gilberto Occhi, Ministro das Cidades

Antonio Sergio Ferrari Vargas (AESBE), Giuliano Dragone (SINDCON), Paulo Roberto de Oliveira (ABCON) e Silvio José Marques (ASSEMAE)

Na 1ª sessão plenária: Cooperação para o Acesso Universal ao Saneamento

Na 2ª sessão plenária: Segurança Hidrica O professor Gesner de Oliveira, da FGV, abre uma plenária, observado por Thomas Van Waeyenberge, da Aquafed

revistaamazonia.com.br

Na 3ª sessão plenária: Regulação e Controle Social No Painel Tecnologia e Inovação com André Lermontov

REVISTA AMAZÔNIA 51


Aumento de CO2 nos oceanos eleva nível de acidez e ameaça vida marinha Quase um terço do dióxido de carbono emitido no planeta atualmente é absorvido pelos oceanos

Fotos: Nina Bednarsek, Somsak Panha

Q

uase um terço do dióxido de carbono produzido atualmente vai parar nos oceanos. Isso pode até ajudar a diminuir o aquecimento global, mas também gera acidez na água e ameaça gravemente os ecossistemas nos mares. Há polêmicas recentes em torno do fato de, nos últimos dez anos, a Terra não ter registrado um aquecimento tão expressivo quanto o previsto por especialistas. Uma tese diz que o excesso de calor estaria sendo armazenado no fundo dos oceanos. Na recente conferência do clima em Varsóvia, na Polônia, cientistas apresentaram um estudo que sustenta essa teoria. O Programa Internacional para o Estado dos Oceanos (Ipso, na sigla em inglês) publicou um relatório em que demonstra não apenas o aquecimento dos oceanos, mas também uma mudança no pH (potencial hidrogeniônico – o índice que indica acidez de um composto) das águas. “O aumento de temperatura chega até 1,3ºC, como no caso do Mar Báltico. Esse aquecimento ocorre em águas profundas – a mais de 700 metros de profundidade”, esclarece o professor de biologia e zoologia da Universidade de Oxford, Alex Rogers. O diretor científico do Ipso explica que quase um terço do dióxido de carbono emitido no planeta atualmente é absorvido pelos oceanos. Apesar de diminuir o aquecimento global, esse fenômeno altera a química da água marinha. O CO2 reage na água e forma ácido carbônico, resultando numa acidifi-

cação gradual dos oceanos.

Ameaças à vida marinha Estudos recentes sugerem que a água do mar já estaria 26% mais ácida do que antes do início da industrialização. Até 2100, os oceanos já poderiam estar 170% mais ácidos. Nos últimos vinte anos, diversos experimentos foram realizados em laboratórios ao redor do mundo

para tentar descobrir exatamente quais seriam as consequências da mudança de pH para a vida marinha. Ulf Riebesell, do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica da Universidade de Kiel (norte da Alemanha) iniciou em 2010 os primeiros estudos no mar sobre o fenômeno, na ilha de Spitzbergen, no Ártico. Enormes cápsulas colocadas na água do mar simulam as condições que provavelmente deverão predominar nos oceanos durante os próximos vinte anos, dependendo do nível das emissões de CO2. Esse e outros experimentos indicam que a crescente acidificação dificulta a vida dos organismos produtores de cálcio – como os que formam os recifes de coral. “A acidificação põe em risco corais, conchas, caracóis, ouriços e estrelas-do-mar, além de peixes e outros organismos. Algumas das espécies produtoras de cálcio não poderão mais concorrer para sobreviver nos oceanos do

Os primeiros estudos no mar sobre o fenômeno, na ilha de Spitzbergen, no Ártico

Na ilha de Spitzbergen, cápsulas simulam as condições dos oceanos nos próximos vinte anos 52 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Quase um terço do dióxido de carbono emitido no planeta atualmente é absorvido pelos oceanos, dai, o CO2 reage na água e forma ácido carbônico, resultando numa acidificação gradual dos oceanos

Segundo Alex Rogers, diretor do Ipso, também na Antártida já é possível perceber a acidificação

futuro. A composição das espécies irá mudar radicalmente”, alerta.

Problemas para as comunidades costeiras Os cientistas alertam também para graves consequências econômicas e sociais. As mudanças do clima também deverão ter impacto na cadeia alimentar dos oceanos. Algumas regiões poderão ser afetadas com mais intensidade pela acidificação dos oceanos, como as tropicais e subtropicais, que têm corais de mares de água quente, afirma Riebesell. Os recifes de corais, de grande valor econômico e ecológico, são particularmente vulneráveis. Elas são importantes não apenas pela diversidade de espécies – e, em muitos países, pelo turismo – mas também porque servem como barreiras que protegem os litorais de ondas e tempestades. As regiões polares também deverão ser afetadas, uma vez que a água gelada absorve ainda mais CO2. Experimentos no Ártico indicam que a água do mar nessas regiões pode se tornar corrosiva já nas próximas décadas.

“Isso significa que a água pode se tornar tão ácida a ponto de simplesmente dissolver conchas e esqueletos dos organismos produtores de cálcio”, alerta Riebesell. Também na Antártida já é possível perceber a acidificação, segundo Alex Rogers, diretor do Ipso. “Encontramos minúsculos caracóis marinhos cujas conchas de cálcio já estavam corroídas”, afirmou. Estes são seres de grande importância para a cadeia alimentar marinha, nutrindo de pequenos animais a baleias. “Uma das principais fontes de proteína no mar está se esgotando rapidamente” alertou Monty Halls, presidente da organização ambiental Shark and Coral Conservation Trust (Fundo para a Conservação de Tubarões e Corais). Ele acredita que a acidificação dos oceanos é a “maior ameaça às futuras gerações”.

Problemas de longo prazo para o clima

Os recifes de corais servem como barreiras que protegem litorais de ondas e tempestades

Além dos problemas para os ecossistemas e para a cadeia alimentar, os cientistas alertam sobre um efeito retroativo que deverá provocar um novo reforço das mudanças climáticas. Apesar das águas marinhas con-

Os pequenos caracóis marinhos da Antártida correm risco de extinção revistaamazonia.com.br

tribuírem para a diminuição do CO2 produzido pelo ser humano no longo prazo, a absorção do dióxido de carbono pelo mar tende a desacelerar nas águas marinhas. Segundo o estudioso Riebesell, quanto mais ácidos os oceanos se tornam, menor a sua capacidade de serem estabilizadores do pH. Alex Rogers chama atenção para um outro problema: pequenas algas com estruturas compostas de carbonato de cálcio absorvem e depois carregam consigo partículas de carbono quando afundam no oceano. Se a quantidade dessas algas diminui, aumenta o nível de CO2 na atmosfera. Rogers ainda esclarece que as emissões de CO2 aumentaram com maior velocidade do que nos últimos 300 milhões de anos:. “O ecossistema global passou por alguns eventos dramáticos de mudanças climáticas que resultaram na extinção maciça de diversas espécies. Nosso estudo enfatiza que, durante esses períodos de alteração profunda, altas temperaturas estiveram associadas à aci-

dificação dos oceanos – como nos dias de hoje.” Porém, ainda há tempo para contra-atacar esse fenômeno. A medida mais importante, na opinião dos cientistas, seria a redução das emissões de CO2. Sem isso, “todo o resto é inútil”, constata Riebesell, que também defende medidas complementares para reduzir a fragilidade dos ecossistemas. Por exemplo, a poluição de resíduos agrícolas e de plástico deve ser reduzida. Áreas marítimas protegidas poderiam ajudar a reduzir a pressão sobre os ecossistemas. Apesar da gravidade da situação, Alex Rogers afirma que “todos podem fazer algo pra reduzir sua própria emissão de CO2 e produzir menos lixo: andar de bicicleta, não utilizar sacolas plásticas e usar menos produtos químicos”. REVISTA AMAZÔNIA 53


10ºPRÊMIO BRASIL

AMBIENTAL Ao completar dez anos, premiação reúne mais de 100 pessoas em cerimônia solene e celebra a marca de 56 projetos de sustentabilidade reconhecidos nacionalmente

R

ealizado pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio) e seu Comitê de Meio Ambiente, o 10º Prêmio Brasil Ambiental, com o objetivo de prestigiar as melhores práticas empresariais na área de sustentabilidade em curso no país. Cerca de 100 pessoas – entre empresários, autoridades e representantes da sociedade civil – participaram no espaço Solar da Imperatriz, localizado no bairro do Horto, no Rio de Janeiro, da cerimônia de entrega dos prêmios. A edição de aniversário do prêmio evidenciou a Biodiversidade e a Importância do Patrimônio Genético, tema em foco na pauta de governos e organizações devido à crescente necessidade de proteger e promover o aproveitamento sustentável dos recursos naturais. Ao todo, seis projetos entre os 41 inscritos foram contemplados nas categorias: Emissões Atmosféricas, Gestão de Resíduos Sólidos, Inovação Ambiental, Preservação e Manejo de

Ecossistemas, Responsabilidade Socioambiental e Uso Racional dos Recursos Hídricos. “Hoje, a grande questão para as organizações é a de se transformar e repensar a maneira de empreender de forma saudável e segura no futuro. Vivemos um momento que requer decisões importantes em direção a um modelo de produção e consumo mais sustentável. Nesse sentido, o setor privado pode e deve contribuir para influenciar e, por que não, conduzir positivamente essa transformação”, afirmou Roberto Ramos, presidente AmCham Rio.

Roberto Ramos, presidente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio)

Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Brasil PNUMA, e Kárim Ozon, presidente do Comitê de Meio Ambiente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio)

Rafael Lourenço, diretorsuperintendente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio) 54 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Vencedores do 10º Prêmio Brasil Ambiental: Marcelle Azeredo, assistente do Programa Jogue Limpo (Sindicom); Thais Soares, assessora da presidência da ARCADIS Logos S.A. (GDF SUEZ ENERGY BRASIL); Veríssimo Neto, gerente de meio ambiente da Energia Sustentável do Brasil (GDF SUEZ ENERGY BRASIL); José Carlos Cauduro Minuzzo, diretor de produção (Tractebel Energia); José Lourival Magri, gerente de meio ambiente (Tractebel Energia); Romildo Fracalossi, gerente de meio ambiente (Vale) e Alejandro Duran, diretor técnico comercial (Schlumberger)

“O Prêmio Brasil Ambiental é extremamente importante, pois serve de exemplo para outras empresas. O desconhecimento dos impactos ambientais colaborou para que ações de sustentabilidade fossem negligenciadas durante anos. Já passou da hora de compreendermos que nossa economia depende da exploração adequada dos recursos naturais e que preservá-los é fundamental”,

afirmou o presidente do Instituto Brasil PNUMA, Haroldo Mattos de Lemos, convidado especial da premiação. Neste ano, o espaço do evento contou com a colaboração do Galpão das Artes Urbanas Hélio G. Pellegrino, projeto voltado para a prática de reciclagem e reaproveitamento de materiais. Nove artistas do coletivo expuseram seus trabalhos, com móveis construídos a partir de materiais reciclados, em dois lounges. Também participaram do evento a diretora do Departamento do Patrimônio Genético da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Takagaki Yamaguishi, a presidente do Comitê de Meio Ambiente da AmCham Rio, Karim Ozon, e presidente do Comitê de Responsabilidade Social Empresarial da entidade, Silvina Ramal.

EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! revistaamazonia.com.br

Ana Takagaki Yamaguishi, diretora do Departamento do Patrimônio Genético da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente

MATRIZ: ANANINDEUA-PA BR 316 - KM 5, S/N - ANEXO AO POSTO UBN EXPRESS ÁGUAS LINDAS - CEP: 67020-000 FONE: (91) 3321-5200

FILIAIS:

GUARULHOS-SP FONE: (11) 2303-1745

MACAPÁ-AP FONE: (96) 3251-8379 REVISTA AMAZÔNIA 55


CONFIRA A SEGUIR OS PROJETOS VENCEDORES DA 10ª EDIÇÃO DO PRÊMIO BRASIL AMBIENTAL Mapa de Sinergias da Pan-Amazônia

CATEGORIA: INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL (INOVAÇÃO AMBIENTAL) Projeto: O Fundo Vale e o Mapa de Sinergias da Pan-Amazônia. Empresa: Vale Resumo: O projeto foi criado para promover o desenvolvimento sustentável, com o objetivo de identificar o trabalho de pessoas e organizações que atuam em prol do desenvolvimento sustentável do bioma amazônico.

Romildo Fracalossi, gerente de meio ambiente da Vale

CATEGORIA: PRESERVAÇÃO E MANEJO DE ECOSSISTEMAS Projeto: A importância dos Programas Ambientais da UHE Jirau para o conhecimento da fauna silvestre da região amazônica. Empresa: ARCADIS Logos S.A. (GDF SUEZ ENERGY BRASIL) Resumo: Programa voltado para o monitoramento da fauna silvestre da região amazônica. Foram feitos estudos genéticos com o objetivo de subsidiar a tomada de decisão referente à mitigação dos possíveis impactos. Resgate ictiofauna

Thais Soares, assessora da presidência da ARCADIS Logos S.A. (GDF SUEZ ENERGY BRASIL)

CATEGORIA: EMISSÕES ATMOSFÉRICAS Projeto: Ações para Controle e Redução de Emissões Atmosféricas. Empresa: Tractebel Energia Resumo: Programa de elaboração de política própria sobre mudanças climáticas que prioriza fontes renováveis na expansão do parque gerador, com investimento em projetos de pesquisa e desenvolvimento dedicados à conservação do meio ambiente. Redução de Emissões Atmosféricas

José Carlos Cauduro Minuzzo, diretor de produção da Tractebel Energia 56 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


CATEGORIA: USO RACIONAL DOS RECURSOS HÍDRICOS Projeto: Gestão de Aquíferos: Benefício para mais de 1 mi de pessoas no semiárido baiano. Empresa: Schlumberger Resumo: O programa realizou estudos para implantação de projeto de abastecimento de água. O objetivo é evitar a superexplotação dos recursos, evitando danos significativos aos reservatórios e, consequentemente, aos seus usuários. Implantação de projeto de abastecimento de água

Alejandro Duran, diretor técnico comercial da Schlumberger

CATEGORIA: GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Projeto: Jogue Limpo - Logística Reversa de Lubrificantes. Empresa: Sindicom Resumo: Programa de logística reversa das embalagens de plásticas de lubrificantes, com coleta e tratamento dos resíduos. O objetivo é conscientizar o consumidor da responsabilidade compartilhada no processo de descarte consciente.

Marcelle Azeredo, assistente do Programa Jogue Limpo (Sindicom)

CATEGORIA: RESPONSABILIDADE SOCIOAM Projeto: Ações para Controle e Redução de Emissões Atmosféricas (Parque ambiental Tractebel). Empresa: Tractebel Energia Resumo: Projeto sobre a criação do Parque Ambiental Tractebel, iniciativa voluntária da companhia para oferecer um novo destino à uma área recuperada da degradação ambiental. Restauração do local por meio da correção da topografia do solo e resgate da fauna e da flora. Parque ambiental Tractebel

José Lourival Magri, gerente de meio ambiente (Tractebel Energia) revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 57


XII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação Fotos: Agência Rodrigo Moreira, Celso Antunes, Giovanni Chamberlain

C

onsiderado o maior evento da área em todo o País, teve como tema “Educação, Tecnologia e Formação do Professor”. Foi promovido pelo Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE e patrocinado pelo Sebrae-PE e pela Caixa Econômica Federal, no Centro de Convenções de Pernambuco, no Chevrolet Hall. o Congresso recebeu mais de 4 mil inscrições. “É um prazer para nós poder reunir professores do país inteiro. Esperamos que vocês possam ser o exemplo para seus alunos. Que possam fazer da educação um caminho de oportunidades” afirmou o presidente do SistemaFecomércio/Sesc/Senac, Josias Albuquerque, durante a solenidade de abertura, com congressistas de todos os estados do Brasil, e com a presença de pesquisadores internacionais. É o caso dos três professores americanos Kelci Reyes-Brannon, Alexander Knoblock e Kelsey Adkins, que souberam do Congresso através das redes sociais. Também na abertura houve a conferência do professor Içami Tiba, com o tema “Educação Familiar: Presente e Futuro”, comentando sobre a relação fundamental existente entre o que é aprendido em casa e o que é aprendido na escola. “A educação é um desafio que começa com a família. E, como todo desafio, é preciso utilizar a mente fora da zona de conforto”, afirmou Içami na conferência. Em seguida foi prestada uma homenagem com entrega Içami Tiba, na palestra de abertura

Professor Josias Albuquerque – presidente do Sistema Fecomércio/ Sesc/Senac Pernambuco, durante a abertura do evento

do prêmio para a família do homenageado deste ano, professor Lucilo Ávila , merecedor do troféu por seus notáveis serviços prestados à educação. Após a participação da bailarina Viviane Macedo, pentacampeã de dança em cadeiras de rodas, com o parceiro de dança Luiz Cláudio em três ritmos diferentes: bolero, zouk e samba .

Salão de Tecnologia e Inovação Uma área com 50 estandes cheios de opções, voltada para exposição e comercialização de produtos e serviços 58 REVISTA AMAZÔNIA

que vão de artesanato e culinária aos produtos de alta tecnologia – entre livros, periódicos, softwares educacionais, sistemas de ensino, projetos pedagógicos e até artigos de robótica.

Palestras simultâneas Estiveram presentes, os do professor da Universidade Autônoma de Barcelona, Antoni Zabala; e de Eduardo Lyra, autor do projeto empreendedor Jovens Falcões, que fez painel com o professor Josias Albuquerque. Já a da pesquisadora paranaense Isabel Parolin, abordou o uso revistaamazonia.com.br


Na abertura do XII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação

de tecnologias como responsabilidade de pais e filhos. A agenda contou ainda, com oito opções de minicursos, espalhados pelas áreas de matemática, estratégias de escrita e práticas da oralidade.

Espaço do Conhecimento Conhecido como pré-congresso, o Espaço do Conhecimento, também no Centro de Convenções, reuniu cerca de 100 estudantes, professores, técnicos e pesquisadores em apresentações de trabalhos sobre tecnologia na educação. As pesquisas passeavam pelos temas de educação formal e informal; profissional, superior, inclusiva, TICs e educação de jovens e adultos.

Estratégias educacionais em foco As estratégias das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) deram o tom de boa parte das palestras e conferências. O professor espanhol Antonio Zabala comentou sobre as necessidades das estruturas tecnológicas solucionarem problemas reais em salas de aula. Ele afirma que a eficiência de qualquer aprendizado só é possível quando toda a estrutura é pensada de forma personalizada, inovadora e adaptável às realidades de cada projeto de ensino. O professor Miguel Arroyo também colocou as soluções de problemas reais como meta para formação de educadores. ”Professores não são resistentes à novas estratégias de ensino, eles apenas precisam ter o subsídio de seus gestores para adotá-las”, afirmou o palestrante.

vista Forbes Brasil, contou sobre o trabalho realizado com jovens da periferia de todo o país. “As estatísticas diziam que eu, pobre, favelado, cujo pai já havia sido preso, não teria nenhuma chance na vida. Minha vitória foi superar essas probabilidades”, afirmava ele. Hoje, Eduardo viaja o país para fazer trabalhos culturais e esportivos com jovens moradores de favelas. “Minha função é dizer a essas pessoas que elas podem ser o que quiserem. Elas podem voar mais alto. Esse é o meu jeito de mudar o mundo. E

eu acredito que cada um pode mudar o mundo. Para vocês, professores, o mundo pode ser a sala de aula. Façam a diferença dentro dela”, disse o escritor.

Minicursos Um deles foi do professor Celso Antunes, que apresentou o tema “As cinco questões significativas para um ensino eficiente”. De acordo com o educador, o apren-

Participação da bailarina Viviane Macedo, pentacampeã de dança em cadeiras de rodas, com o parceiro de dança Luiz Cláudio

Empreendedorismo social para mudar o mundo O painel duplo que contou com professor Josias Albuquerque e o escritor Eduardo Lyra foi um dos destaques da programação. No primeiro tempo, o professor contou como a sua história de vida contribuiu para desenvolver nele um espírito empreendedor social. No segundo painel, o escritor paulista Eduardo Lyra apresentou o trabalho que ministra à frente da ONG Gerando Falcões. Ele, que é autor do livro Jovens Falcões, e chegou a ser considerado um dos 30 jovens mais influentes do país pela re-

MATERIAIS ELÉTRICOS MATERIAIS HIDRÁULICOS AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

Av. Dr Freitas, 101

entre Pedro Alvares Cabral e Pass. 3 de Outubro revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 59


em diversos livros sobre gestão, redes e tecnologia, na palestra “Sociedade do conhecimento: redes e o papel do professor”. “As nações de liderança do futuro não serão mais as produtoras de matéria-prima, mas sim, aquelas que produzem informação”, dizia Marcos. Ao passear pela história, ele comentou sobre a transformação das nações líderes no mundo a cada época. Em 1500, Portugal e Espanha dominavam o espaço global ao passo que hoje, perderam espaço para nações produtoras de conhecimento. Cavalcanti reafirmou a importância do conhecimento como motor da produção humana. “Se eu der dinheiro a vocês, vocês sairão daqui mais ricos e eu mais pobre. Mas se eu compartilhar conhecimento com vocês, todos nós saímos daqui mais ricos. E com ideias multiplicadas”.

É possível fazer mais da tecnologia

Na palestra do professor Antoni Zabala, da Universidade Autônoma de Barcelona

dizado só é eficiente quando o conteúdo cognitivo se torna propriedade do aluno. Outro minicurso foi o da professora Fernanda Bérgamo, que abordou estratégias comunicacionais como uma maneira de compreensão. Fernanda avalia que a contextualização é um processo fundamental para que a mensagem seja passada de forma adequada.

Educação plural como método de aprendizado Nas épocas passadas, cinco fatores de produção ditavam o desenvolvimento do mundo: terra, capital, trabalho, energia e matéria prima. Hoje, o conhecimento tornou-se protagonista da sociedade. Essa foi a temática apresentada pelo professor Marcos Cavalcanti, doutor em informática pela Universidade de Paris XI e tem coautoria

O professor paulista Caio Dib, abordou o tema “Desenvolvimento de habilidades não cognitivas com tecnologias na educação”, falando sobre as diversas possibilidades voltadas para estudantes utilizarem os dispositivos tecnológicos que estão cada vez mais ao alcance de todos. Caio citou o exemplo da escola Santi. Ao dar aula para uma turma de crianças de 11 anos, ele percebeu que a tecnologia, para funcionar dentro de sala de aula, precisa fazer sentido.

Ética e cidadania como pilares essenciais da educação A capacidade de cuidar é o motivo do desenvolvimento humano. Esse foi a principal temática abordada pela palestra do professor da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e doutor em Filosofia Érico Andrade. O palestrante conversou com congressistas a respeito da importância do investimento na ética e na cidadania como base de qualquer projeto de ensino. “Mais do que pensar em novos componentes curriculares, precisamos pensar em uma forma interdisciplinar de educação”, disse Érico. “A escola precisa ser o espaço da transformação. A gente precisa quebrar o discurso hegemônico, parar de aceitar tudo sem pensar em mudanças e reconhecer, na escola, todas as formas de diversidade”.

Conferências, palestras e minicursos lotaram salas

Receptivo em Manaus Reservas de hotéis Passeio de lancha para o encontro das águas Traslado para o aeroporto City tour

Presidente figueiredo Mergulho com botos Ritual indígena Aluguel de veículos

Olimpio Carneiro olimpio.carneiro@hotmail.com (92) 9261-5035 / 8176-9555 / 8825-2267 60 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Celso Antunes, apresentou o tema “As cinco questões significativas para um ensino eficiente”

O papel do educador em meio ao mundo de informações Em um mundo de facilidade ao acesso da informação, em que os alunos têm a possibilidade de saber novidades antes do professor e estarem mais informados acerca de determinado tema, se faz necessário repensar o papel do professor. O palestrante Marcos Cavalcanti, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, começou a palestra “Pra que escola no mundo das redes sociais e do Google?” afirmando que o papel do educador atualmente é o de provocar. É preciso que se tenha a consciência de formar os alunos para o presente, pois a mentalidade atual despreza a velocidade com que as formas de se relacionar com o conhecimento mudaram. “O professor e a escola como meros transmissores de educação estão com os seus dias contados”, alerta Cavalcanti. Marcos Cavalcanti faz uma comparação com índios e O Salão de Genebra 2012 “marca o início de uma profunda reestruturação ecológica do Grupo Volkswagen”, disse Martin Winterkorn

Espaço do Conhecimento apresentou trabalhos aprovados

caciques: hoje em dia os índios não precisam mais do intermédio dos caciques para se comunicar – agora os índios se comunicam entre si. Mas então, qual seria a função do professor neste meio aparentemente completo e blindado de informações? Resposta: o professor tem o papel de filtrar e selecionar qualitativamente estas informações, de modo a questionar a credibilidade de esta ou aquela fonte de informação. O professor se configura como o guia que conduza a multidão, sem esquecer de qualificar-se como parte integrante deste mundo informatizado.

Os professores e a sua formação – Um tempo novo? O ex-reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, foi um dos destaques do último dia do XII Congresso de Tecnologia na Educação, com a palestra “Novos desafios para a profissão docente”. Comentou sobre três principais passos para revolucionar os métodos de ensino – a ampliação da aprendizagem, a renovação da escola e da pedagogia e a construção de um novo contrato social. “Estamos presenciando uma transformação muito rápida. O quadro negro, fixo, vazio e vertical perdeu lugar para o tablet, cheio de informações, móvel e horizontal. Isso representa uma série de inovações de conexões entre os indivíduos”, afirma o professor. De acordo com ele, os educadores não devem ter medo das novas tecnologias. revistaamazonia.com.br

Eduardo Lyra, autor do projeto empreendedor Jovens Falcões, contou como a sua história de vida contribuiu para desenvolver nele um espírito empreendedor social

“Ironicamente, nós, que muitas vezes temos receio desses novos dispositivos, podemos perceber que está na tecnologia a solução para os nossos sonhos”, completou. Nóvoa reforçou, também, as diferenças da nova geração para as gerações anteriores. “Os nossos alunos não aprendem como nós aprendemos, eles têm outro ritmo de assimilação. Precisamos investir na formação dos professores para atender a esse novo método de aprendizagem”. Na palestra, o professor afirma que a sala de aula tradicional precisa ser substituída por esses novos métodos. “Existe agora uma teia comunicacional. Não trata-se mais de transmitir conhecimentos, mas sim de fazer os alunos assimilá-los. É isso que nossos alunos estão a nos dizer e nós não estamos a ouvir”.

A escola e os desafios contemporâneos “O que a tecnologia fez no mundo e como ela influencia na educação”. Esta foi a problemática a ser resolvida durante a palestra da professora carioca Viviane Mosé. Segundo a palestrante, ao mesmo tempo que a tecnologia aumenta nossa instabilidade ela também nos dá a oportunidade de mudar o mundo e a educação. O diferencial é ter uma escola que pense, não uma escola que repita. Viviane mostrou que nem sempre é preciso uma escola cheia de equipamentos eletrônicos para tornar as atividades escolar mais atuais e modernas. REVISTA AMAZÔNIA 61


47º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel Vicente Falconi, único latino-americano eleito pela American Society for Quality como “Uma das 21 vozes do século 21”, falando sobre Competitividade e Liderança

O

setor de celulose e papel é muito especial para a economia brasileira, sendo o mais competitivo mesmo em um momento adverso do mercado externo, estagnado desde 2010.” Disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, na Sessão de Abertura do Congresso, em São Paulo, organizado pela ABTCP – Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel, com mais de 400 profissionais do setor do Brasil e exterior e imprensa nacional e estrangeira. Borges comentou também que o setor ainda é a grande estrela, sendo até uma referência no processo de reestruturação industrial para outros setores. “Apesar da forte concorrência com a China, o segmento de celulose e papel tem uma grande capacidade produtiva e tecnológica”, ressalta. Para suportar todos os investimentos, o ministro citou a importância do suporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Darcio Berni, diretor executivo da ABTCP, falou sobre o tema deste ano do evento: “Competitividade: sua empresa está preparada para o futuro”

62 REVISTA AMAZÔNIA

Para finalizar, o ministro discursou sobre as perspectivas de futuro do Governo em relação ao segmento de celulose e papel e dos novos projetos para os próximos anos. “Essa indústria não pode esperar. O Governo sempre foi muito atento a isso e sabe qual é a agenda do setor”, conclui. A Sessão de Abertura do ABTCP 2014 também contou com as presenças de Darcio Berni, diretor executivo da ABTCP, Larry Montague, presidente da TAPPI, Carlos

Aguiar, presidente do Conselho Deliberativo do Ibá, Francisco Valério, presidente do ABTCP 2014, e Germano Vieira, presidente do IPEF. “A capacidade de inovar faz toda a diferença e deve ser o alvo das organizações. É preciso estar à frente dos principais debates para o futuro, pois o setor de papel e celulose tornou-se uma referência global”, diz Darcio Berni, diretor executivo da ABTCP, que em seu pronunciamento falou sobre o tema deste ano do evento: “Competitividade: sua empresa está preparada para o futuro?”, ressaltando ainda que todo o conteúdo informativo do ABTCP 2014 estará voltado para aumentar a capacidade produtiva. O trabalho que a ABTCP tem realizado nos últimos anos foi elogiado por Larry Montague, CEO e presidente da TAPPI - Technical Association of Pulp and Paper Industry, entidade congênere da ABTCP e correalizadora do evento deste ano. “Acredito muito na força de trabalho dos jovens”, disse. Além disso, para ele, tal como as empresas do setor de papel e celulose, as associações desta cadeia produtiva também tiveram de se reinventar diante dos desafios econômicos e da competitividade do mundo globalizado. Para isso, a TAPPI ampliou suas atividades em vários segmentos, aproximou-se dos seus associarevistaamazonia.com.br


dos, bem como reviu toda a sua estrutura. “No Brasil, muitas coisas mudaram de quatro anos para cá, de maneira muito positiva. O setor de papel e celulose se tornou mais competitivo, explorando todo o seu potencial, impulsionado ainda por grandes acontecimentos, como a Copa, sediada este ano no País, e as Olimpíadas que acontecerão em 2016, trazendo grandes oportunidades para a nossa atividade.” Já o setor norte-americano de papel, nos últimos anos, segundo o CEO da TAPPI, enfrentou o fechamento de 124 empresas, estimadas em 60% a 70% delas sendo fabricantes de papel para imprimir e escrever, além de deixar de ocupar o primeiro lugar do ranking como maior fabricante mundial de papel. Em volumes, essa fase resultou na retirada de 27 milhões de toneladas de papel do mercado. “Toda a pressão deste cenário impulsionou uma forte consolidação do setor com 73 grandes fusões e aquisições”, comentou Montague sobre os desafios enfrentados pelo setor de papel a partir dos anos 2000 e, em especial, pós-crise de 2008 nos EUA. “Para se adaptar às mudanças, a produção norte-americana passou a apostar em novos mercados como papel cartão e embalagem, bem como tissue e papel toalha e papéis especiais, sendo fundamental para recuperar o seu crescimento. Durante os últimos seis anos, o capital começou a se recuperar gradativamente, indicando, de modo geral uma indústria mais saudável”, comentou sobre a busca das empresas norte-americanas em ganho de competitividade. Para finalizar, perguntou: “O que esperar no futuro? Novas tecnologias”. Carlos Aguiar, presidente do Conselho Deliberativo do IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores também falou sobre a perspectiva de futuro que acredita ser ideal: reunir os setores. “Mesmo com bons resultados, o setor perdeu competitividade, devido ao custo crescente, impostos, problemas de logística, inflação e câmbio”, ressaltou, comentando ainda que acredita muito na biotecnologia e na nanotecnologia como avanços tecnológicos no setor.

Francisco Valerio, presidente do Congresso ABTCP 2014, entregou uma placa de homenagem para Larissa Quartaroli, Engenheira Ambiental, ganhando a premiação do Congresso deste ano revistaamazonia.com.br

Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na Sessão de Abertura do ABTCP 2014

“O setor cresceu muito. O passado serve como referência, mas não deve ser copiado. O setor e o País só vão crescer e serem mais competitivos se tivermos pessoas mais preparadas.” Além dos pronunciamentos das autoridades presentes, foi feito o reconhecimento do trabalho técnico melhor avaliado, intitulado “Avaliação da flotação por ar dissolvido como alternativa de pré-tratamento de efluente de indústria de celulose e papel submetido a sistemas de membranas de microfiltração”, com a entrega de uma placa de homenagem para Larissa Quartaroli, Engenheira Ambiental, mestre em Ciências Florestais e doutoranda em Engenharia Civil – Saneamento e Meio Ambiente, que representou a Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. Após a Sessão de Abertura foi realizado um talk show com um dos maiores especialistas em gestão do País fala sobre Competitividade e Liderança, Vicente Falconi, único latino-americano eleito pela American Society for Quality como “Uma das 21 vozes do século 21”.

Cenário positivo O primeiro debate contou com palestras de Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Carlos Alberto Farinha, vice-presidente da Pöyry, e André da Hora, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A sessão teve moderação de Nestor de Castro Neto. Elizabeth iniciou sua apresentação explicando sobre o surgimento da entidade. “A Ibá surgiu a partir de quatro Associações, que mesmo tendo em comum a mesma matéria prima, atuavam separadamente. O objetivo foi criar uma única interlocução com o Governo Federal, já que o privado e público são intrínsecos, muitas vezes. Não foi apenas juntar [as Associações], é um novo entendimento de mercado, que agrega um grande valor business à árvore. Fortalecemos assim, o produto agroindustrial”, comenta. A Ibá reúne à agroindústria (Indústria), à brasilidade

(Brasileira) e o produto (Árvores). De acordo com Elizabeth, “essa é a indústria mais preparada para entrar no topo de maior expertise do mundo”, completando ainda que o Brasil é o primeiro, e por enquanto único país, do mundo a exportar o carvão vegetal. Mas, segundo a executiva, a nova Associação tem muita lição de casa, ainda mais quando se fala em crise mundial, crise interna (que parece pior que a internacional), medidas paliativas públicas causadas pela pressão industrial, terreno para estrangeiros, entre outros. “No Brasil, há apetite de investimentos. Por outro lado, há produtos com tributações que chegam a 18%”, ressalta, complementando que nenhuma economia moderna atribui tributos dessa forma aos investimentos. “Nem Argentina, nem Chile. O Governo brasileiro precisa amadurecer neste sentido. Se o Brasil quer ficar no mercado internacional precisa mudar.” Já para Carlos Alberto Farinha, vice-presidente da Pöyry, o Brasil tem uma indústria conservadora, que dificilmente terá um salto quântico. Ele prevê uma melhora até 2025, quando haverá uma demanda de 100 milhões de toneladas de papel no mundo. “Com as mídias digitais, a demanda de papéis para embalagem sobe e os de imprimir e escrever caem. Enquanto que o Tissue é o grande impulsionador do setor”, afirma. Ele acredita que a competitividade industrial do Brasil não tem muito que mudar no setor. Há uma produção estável, com expansões industriais e florestais. “Mas com os custos de produção, pode-se pensar em subprodutos, que não apenas o papel, como embalagens mais inteligentes e novos produtos. E aí sim, o setor poder dar um pulo quântico.” Para André da Hora, do BNDES, dos 133 milhões de toneladas de papel que serão adicionadas nos próximos anos, cerca de 70 serão exportadas para a China. Ele questiona: “O modelo de negócios que o Brasil escolheu [Celulose de Mercado] é válido? Na questão competitividade, é viável pensar em usos múltiplos para a madeira”, conclui. De acordo com o moderador da Sessão, Nestor de Castro

Carlos Aguiar, presidente do Conselho Deliberativo do IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores também falou sobre a perspectiva de futuro que acredita ser ideal: reunir os setores REVISTA AMAZÔNIA 63


Larry Montague, CEO e presidente da TAPPI Technical Association of Pulp and Paper Industry, entidade congênere da ABTCP

Neto, “a ABTCP fez um mix perfeito nesta sessão. Tecnologia, mercado e economia são pontos importantes e fundamentais em qualquer congresso”, afirmou Neto, referindo-se aos palestrantes. “Como todos disseram aqui hoje, temos sim um mercado positivo. O fato de sermos “dependente” da China é bom por um lado, que mantém as exportações mesmo com a crise, e ruim por outro, que pode sugerir um aumento de preço no futuro,” finaliza.

Premiações/ comemorações

celulose e papel pelas suas ações institucionais e/ou atuação no desenvolvimento de produtos e serviços. Há 14 anos este Prêmio é entregue ás empresas que dia a dia desenvolvem o setor de celulose e papel. Este ano foram 16 empresas distribuídas em 20 categorias: Categoria Automação: Metso Automation do Brasil Ltda. Categoria Fabricante de Celulose de Mercado: Fibria Celulose S A Fabricante de Pasta Mecânica e de Alto Rendimento: Melhoramentos Florestal S A Fabricante de Papel para Embalagem: Klabin S A

Fabricante de Papéis Especiais: Oji Papéis Especiais Ltda. Fabricante de Papéis com Fins Sanitários: Kimberly Clark Brasil Ind. E Com. de Produtos de Higiene Ltda. Fabricante de Papéis Gráficos: International Paper do Brasil Ltda. Fabricante de Produtos químicos: Buckman Laboratórios Ltda. Fabricantes de Vestimentas: Albany International Tecidos Técnicos Ltda. Fabricantes de Máquina e Equipamentos para Papel: Voith Paper Máq. e Equipamentos Ltda. Fabricantes de Máquina e Equipamentos para Celulose: Valmet Celulose, Papel e Energia Ltda. Fabricantes de Equipamentos e Acessórios para Conversão e Acabamento: Fábio Perini Ind. e Com. de Máq. Ltda. Fabricantes de Equipamentos e Sistemas para Recuperação de licor e Geração de Energia: Cbc Indústrias Pesadas S A Prestadores de serviços de Manutenção e Montagem: Irmãos Passaúra S A Prestadores de Serviços de Engenharia e Consultoria: Pöyry Tecnologia Ltda. Inovação (P&D e Tecnologia): Fibria Celulose S A Desenvolvimento Florestal: Fibria Celulose S A Responsabilidade Social: Suzano Papel e Celulose S A Sustentabilidade: Klabin S A Desenvolvimento Humano e Organizacional: International Paper do Brasil Ltda.

No Jantar de Confraternização do ABTCP 2014, houve a entrega do Prêmio Destaques do Setor, seguida pelas homenagens aos associados honorários técnicos e pela comemoração especial pelos 25 anos do Curso de Pós-Graduação em Celulose e Papel da ABTCP. Nestor de Castro Neto e Lucinei Damálio foram os profissionais que receberam homenagens como Associados Honorários em reconhecimento às relevantes contribuições técnicas para o desenvolvimento do setor e pelos serviços voluntários prestados à ABTCP.

Prêmio Destaques do Setor Destinado a fabricantes e fornecedores da indústria de

A Exposição aconteceu no Transamérica Expo Center

Foram mais de 100 expositores 64 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZテ年IA 1


INTERSOLAR SOUTH AMERICA 2014

65 marcas expositoras levaram aos visitantes as principais novidades em equipamentos voltados ao mercado de energia solar Expositores na Intersolar South America 2014

Fotos: Izilda França

A

Intersolar South America 2014, a principal série de feiras do mundo para o setor de energia solar e seus parceiros, realizado em São Paulo/SP, no Expo Center Norte, superou as expectativas de expositores e público participante. Nos três dias, estiveram presentes ao evento 9.000 profissionais participaram a Intersolar South America e, em paralelo do XV Encontro Nacional de Instalações elétricas (ENIE). Por meio dos dois eventos, os organizadores puderam introduzir o tema da energia solar para diferentes públicos-alvo. Uma vez que a indústria fotovoltaica ainda está em desenvolvimento na região, não é

66 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


de admirar que o workshop “Fotovoltaica: Fundamentos e Aplicações” tenha recebido grande adesão. A construção de centrais fotovoltaicas e sua manutenção exigem trabalho qualificado nesta área, algo que ainda é pouco encontrado no Brasil. Mas o interesse não foi apenas voltado para os fundamentos básicos. A conferência de alto nível, com 18 palestras sobre o mercado fotovoltaico da América Latina e sobre as tecnologias de aplicação para aquecimento solar, recebeu grande público. Mais de 500 participantes ouviram as tendências inovadoras do exterior e sobre a situação energética atual e futura no Brasil. Atualmente, existem apenas cerca de 200 sistemas de geração de energia solar – entre pequenos e médios –conectadas à rede elétrica brasileira. Isso ainda está abaixo das expectativas da ANEEL (Agência Nacional de Eletricidade) e EPE (Empresa de Pesquisa de Energética). Embora ainda haja barreiras para o esquema de “net-metering” por meio da política fiscal, leilões específicos solares poderiam acelerar as instalações fotovoltaicas no país. “A perspectiva é positiva”, diz Markus Elsässer, CEO da Solar Promotion Internacional e fundador da Intersolar, “O Brasil teve o seu primeiro leilão de energia solar bem sucedido em dezembro de 2013, no estado de Pernambuco, com um total de 122,8 MW contratados. Este ano, há grandes expectativas com o primeiro leilão de energia solar nacional, que deverá contratar entre 500 MW e 1.000 MW em 31 de outubro. Um pipeline total de 10,8 GW de projetos já se registraram para participar do leilão”, lembra o executivo. Além de três dias de debates sobre energia fotovoltaica e fabricação de componentes, o mercado de energia solar térmica também foi discutido nos dois últimos dias da

Mais de 500 participantes ouviram as tendências inovadoras do exterior e sobre a situação energética atual e futura no Brasil

Mais de 71 reconhecidos palestrantes internacionais brasileiros participaram das conferências

conferência. O mercado de produtos solares térmicos no Brasil é um dos maiores mercados do mundo em termos de novas instalações e está crescendo muito rápido. Em 2013 houve um crescimento de 20% levando a 1,4 milhões de euros. m² de área de coletor recém-instalado. Os debates solares térmicos foram organizados pelo CB-Sol / DASOL-ABRAVA. Mais de 71 reconhecidos palestrantes internacionais brasileiros participaram das conferências. Entre os conviO mercado de produtos solares térmicos no Brasil é um dos maiores mercados do mundo em termos de novas instalações e está crescendo muito rápido

revistaamazonia.com.br

dados, estiveram presentes: Alexandre Comin, diretor do Departamento de Competitividade Industrial, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e vice-coordenador do Comitê de Energias Renováveis do Plano Brasil Maior, Eduardo Azevedo, secretário executivo da Energia, Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco, Jürgen Beigel, diretor de Energias Renováveis e Eficiência Energética, da Sociedade Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). De acordo com Klaus W Seilnacht, CEO da FMMI GmbH e um dos organizadores da Intersolar South America, a feira e conferência deste ano atendeu as necessidades de ampliar as discussões sobre a matriz energética brasileira. “O Brasil enfrenta sérios desafios no que diz respeito à matriz energética, causados pela crescente demanda por energia devido à crescente prosperidade e o crescimento populacional e, ao mesmo tempo, devido a problemas com energia hidroeléctrica, causada pela seca prolongada. E um país deste tamanho, o privilégio de ser banhado pelo sol quase todo o ano é capaz de entrar a energia solar total em sua sede”, disse o executivo. A edição 2015 da Intersolar South America já tem data definida: de 01 a 03 de setembro, também no Expo Center Norte, em São Paulo/SP. REVISTA AMAZÔNIA 67


2º CB-Sol

Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar

A

ABRAVA - Associação Brasileira de Ar Condicionado, Refrigeração, Ventilação e Aquecimento realizou a 2ª edição do CB-Sol - Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar, para discutir os caminhos da energia solar térmica. Na programação do congresso foram abordados temas relevantes de aspectos técnicos direcionados a profissionais do setor de aquecimento solar, energias renováveis, construções sustentáveis e arquitetura. Durante o evento destaque para temas como aplicação de aquecedores solares em habitações de interesse social, contribuição da energia solar em programas do governo, ações de eficiência energética, inovações tecnológicas de materiais e padrões construtivos. O evento aconteceu em parceria com a Feira Intersolar South América, na cidade

de São Paulo. Para o secretário executivo do DASOL e membro do comitê técnico - cientifico do CB-Sol, engenheiro Marcelo Mesquita, “o evento foi um sucesso e discutiu vários temas de interesse do público, como políticas públicas, avanços da tecnologia e seus desafios, trazendo novas perspectivas ao setor, que já representa mais de 1% na matriz elétrica nacional, e que estará ainda mais integrado às construções com a participação da ABRAVA no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-H, coordenado pelo do Ministério das Cidades”. Entre os presentes, empresários do setor, profissionais da área, além de representantes dos Governos do Estado de São Paulo e Federal e também da Eletrobrás, EPE -

Empresa de Pesquisa Energética, Inmetro, Ministério das Cidades e Ministério de Meio Ambiente que discutiram temas como a Energia Solar Térmica na Matriz Energética, as contribuições dos 20 anos do Selo Procel, certificação compulsória Inmetro de coletores e reservatórios, normas técnicas e ensaios de produtos, políticas públicas, sistemas de aquecimento solar no Programa Minha Casa, Minha Vida, avanços da tecnologia e capacitação de profissionais. Um dos destaques do Congresso foi à entrega de ofício pelo presidente da ABRAVA, Wadi Neaime, a Secretária Nacional da Habitação, representada pela Dra. Maria do Carmo Avesani, por meio do qual a Associação manifesta seu interesse em fazer parte do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-H a fim de

Feira Intersolar South America

Jean Rodrigues Benevides, Gerente nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental da CAIXA, na palestra: A experiência e desafios da CAIXA em HIS

Maria do Carmo Avesani, Diretora do Departamento de Produção Habitacional da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades O Aquecimento Solar em Edifícios Multifamiliares (cases de sucesso)

Eng. Paulo José Schiavon Ara, Profa. Rosely Campos, Eng. Amaurício Gomes Lucio, Alexandre Novgorodcev, Fábio Ferreira Real e Marcelo Madeira, na palestra: Certificação e Compulsoria

complementar o Programa setorial da entidade - Qualisol Brasil e os atributos dos equipamentos fabricados pelas indústrias do setor, já participantes voluntariamente do Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE do Inmetro. Durante os dois dias do congresso, dividido em mercado 68 REVISTA AMAZÔNIA

e questões técnicas, foram realizados oito painéis, entre eles: Panorama e Aspectos Institucionais do Aquecimento Solar; Certificação e Compulsoriedade; Treinamento e Qualificação no Aquecimento Solar; Aquecimento Solar nas Políticas Públicas de HIS - Habitações de Interesse Social;

Wadi Tadeu Neaime, Maria do Carmo Avesani e Luís Augusto Ferrari Mazzon, na entrega do Ofício da ABRAVA manifestando o interesse da entidade no PBQP-H

O Aquecimento Solar em Edifícios Multifamiliares (cases de sucesso); Tecnologias de Aplicação em Aquecimento Solar I; Tecnologias de Aplicação em Aquecimento Solar II; e Normas e Regulamentações Aplicadas ao Aquecimento Solar. As palestras serão ministradas por profissionais renomados do setor, e convidados nacionais e internacionais apresentaram projetos inovadores de aquecimento solar desenvolvidos no Brasil e do mundo. revistaamazonia.com.br


º

1º Lugar 2013 - Osmarino Souza

2º Lugar 2013 - Antônio Cicero

3º Lugar 2013 - Leonardo Lopes Monte

iro

4º Lugar 2013 - Rogério Dantas Reis

Para concorrer, as fotos deverão ter a temática “Nossa Senhora de Nazaré, seus Círios, Ecumenismo, Devoção, Folclore Popular e Artesanato”. Referentes às Festividades Nazarenas em qualquer dos Círios em homenagem e louvor à Virgem de Nazaré, em 2014.

Premiações: 1º e 2º colocados Notebooks 3º, 4º e 5º colocados Tablet 10” Fique por dentro

ImagensdeCirios

Ou na Editora Círios: Rua Timbiras, 1572 (Pe. Eutíquio e Apinagés) Batista Campos. Belém-PA Fones: (91) 3223.0799 / 3083.0973 PARCEIROS

REALIZAÇÃO

Revista

Editora Círios

INSCRIÇÕES E REGULAMENTO NOS SITES:

www.cirios.com.br ou www.paramais.com.br


Energia elétrica para consumo próprio a partir de fontes renováveis e alternativas com sistemas de geração ligados diretamente às instalações elétricas de residências, escolas, empresas e todos os tipos de consumidores comuns

Residências produzem sua própria eletricidade com a energia do sol A resolução estabelece que cada cidadão brasileiro ou empresa poderá ter em seu telhado uma usina fotovoltaica produzindo eletricidade para consumo próprio

S

eguindo uma tendência que já ocorre na Europa e nos Estados Unidos, residências brasileiras agora vão começar a produzir sua própria eletricidade a partir da luz solar com os sistemas fotovoltaicos instalados nos telhados, contribuindo para a sustentabilidade energética e a preservação do meio ambiente. Além dos benefícios ambientais, a instalação de um sistema fotovoltaico residencial tem benefícios econômicos e proporciona ao proprietário o prazer de possuir um imóvel diferenciado e sustentável. O sistema fotovoltaico instalado no telhado possui perfeita integração com a arquitetura, proporcionando um aspecto futurista e agregando valor ao imóvel. No Estado de São Paulo já existem exemplos de residências empregando este tipo de tecnologia. O custo é acessível e a instalação é rápida e simples. Os sistemas

70 REVISTA AMAZÔNIA

por Marcelo Gradella Villalva* fotovoltaicos podem ser agregados a residências ainda em construção ou mesmo em residências já existentes, com pequenas adaptações nas instalações elétricas, que

devem ser feitas por profissionais especializados. Os sistemas fotovoltaicos são formados por placas ou painéis que captam a luz solar e produzem corrente elétrica - são

Residências brasileiras vão começar a produzir sua própria eletricidade a partir da luz solar com os sistemas fotovoltaicos instalados nos telhados

revistaamazonia.com.br


diferentes das placas de aquecimento solar, que apenas aquecem a água com o calor do sol. A corrente elétrica produzida pelas placas fotovoltaicas é coletada e processada por um inversor eletrônico, podendo ser utilizada para reduzir a conta de eletricidade ou tornar a residência totalmente independente em energia elétrica. Os sistemas residenciais de autoprodução de eletricidade são muito vantajosos diante da inflação das tarifas de eletricidade. Uma residência que instala um sistema fotovoltaico em seu telhado fica imune aos aumentos de preços e garante o abastecimento de eletricidade por pelo menos 25 anos, que é o tempo mínimo de vida de um sistema fotovoltaico. O investimento no sistema fotovoltaico se paga em poucos anos com a energia por ele produzida. Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica forne-

cem eletricidade para a residência junto com a rede elétrica. Toda a eletricidade produzida a partir do sol pode ser usada para o consumo próprio. Quando existe luz do sol a residência usa sua própria energia. Nos períodos em que não existe luz solar a residência continua sendo abastecida normalmente pela rede elétrica pública. Durante o dia, nos períodos em que o consumo da residência é baixo, pode ocorrer excedente de energia - ou seja, o sistema fotovoltaico produz mais energia do que a residência precisa. Neste caso a residência exporta energia para a rede pública, tornando-se uma geradora de eletricidade. Ao exportar eletricidade a residência recebe um crédito de energia. Este crédito pode ser utilizado posteriormente através de um desconto na conta de eletricidade do próximo mês, podendo também ser acumulado em meses posteriores caso não seja utilizado.

O sistema fotovoltaico residencial não utiliza baterias para armazenamento de energia, pois a própria rede elétrica é utilizada como meio de armazenamento através do sistema de créditos de energia. Toda a energia gerada pelo sistema fotovoltaico é imediatamente injetada na rede elétrica, sendo consumida internamente ou exportada para a concessionária, de acordo com os níveis de geração e consumo instantâneos. O sistema de créditos de energia foi criado no Brasil com a publicação da resolução Nº 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - em abril de 2012. Essa resolução autorizou a micro e a minigeração de energia elétrica para consumo próprio a partir de fontes renováveis e alternativas com sistemas de geração conectados às redes elétricas de baixa tensão, ou seja, ligados diretamente às instalações elétricas de residências, escolas, empresas e todos os tipos de consumidores comuns. A publicação da resolução Nº 482 constituiu um marco regulatório em nosso país, beneficiando a população e obrigando as concessionárias de energia elétrica a aceitar a entrada de sistemas próprios de geração fotovoltaica em suas redes de distribuição de eletricidade. A resolução estabelece que cada cidadão brasileiro ou empresa poderá ter em seu telhado uma usina fotovoltaica produzindo eletricidade para consumo próprio e determina as condições para a implantação dos sistemas de autoprodução de eletricidade. A instalação em massa de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica vai contribuir para o aumento da disponibilidade de eletricidade em nosso país, ajudando a poupar água nos reservatórios das hidrelétricas nos períodos de seca. Além disso, os sistemas fotovoltaicos vão reduzir a necessidade de construir usinas baseadas em fontes poluentes, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida em nosso planeta. [*] Docente e pesquisador da Unesp, câmpus de Sorocaba Contato: mvillalva@sorocaba.unesp.br

A instalação em massa de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica vai contribuir para o aumento da disponibilidade de eletricidade em nosso país, ajudando a poupar água nos reservatórios das hidrelétricas nos períodos de seca

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 71


9º Congresso Internacional de Bioenergia Fotos: Divulgação

R

eunindo cerca de mil congressistas, o evento – considerado o mais importante fórum de discussões sobre energias renováveis do Brasil e da América Latina, contou com 34 palestras, de especialistas nacionais e também do exterior, e a apresentação de 50 trabalhos técnicos, dentre os 350 inscritos, envolvendo mais de dois mil pesquisadores e acadêmicos. Na abertura do Congresso, que teve como tema principal o uso mais intenso de fontes para produção de energia renovável, o diretor geral do Grupo Cipa Fiera Milano, Marco Antonio Mastrandonakis, anunciou oficialmente que, em 2015, o Congresso acontecerá paralelamente a outros importantes eventos com o escopo em energias renováveis, numa mesma data e local. “Em 2015 faremos a fusão dos mais representativos eventos para o setor de energias renováveis com a realização simultânea da EnerSolar + Brasil – Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar; do Ecoenergy – Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia; da BioTech Fair – Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustíveis; da Eolica Brasil Small Wind, voltada para o segmento de pequenos e micro geradores; além do lançamento da primeira edição da Hidro Power Expo, feira de tecnologias e serviços para Luis Fernando Machado Martins, Eletrobrás, na palestra: Geração de Energia a partir do biogás: Resultados práticos e perspectivas

72 REVISTA AMAZÔNIA

centrais hidrelétricas e da 10a edição do Congresso Internacional de Bioenergia. Todos acontecem de 22 a 24 de julho de 2015, no Centro de Exposições Imigrantes”, concluiu. Participaram também da abertura Clóvis Rech, diretor da Porthus Eventos, empresários, representantes de associações do setor, pesquisadores, acadêmicos e congressistas. Projeções mostram que 65% dos investimentos mundiais, realizados para o segmento energético, até o ano 2030, estarão concentrados em fontes renováveis, especialmente biomassa, eólica e solar. A queda dos preços dessas tecnologias atraiu para o Brasil uma série de

novos investidores dispostos a implementar projetos de energia limpa. Apesar de o país sustentar um índice crescente no uso de energias renováveis, ao manter desde os anos 70, sua matriz energética próxima a 50% originada de fontes renováveis, o Brasil necessita de mais investimentos e pesquisa para uso da biomassa, biocombustíveis e biogás, bem como para melhor aproveitamento do sol e do vento, na geração de energia contínua e não poluidora.

Inovações pautam o Congresso

Mario A. Coelho - presidente da ABBM Associação Brasileira de Biogás e Metano, na palestra: Mercado e tendência no uso do biogás e metano

O futuro do biodiesel e a necessidade do Brasil em expandir sua capacidade energética, marcaram a temática de várias palestras apresentadas durante o Congresso, bem como a apresentação de novas soluções para o mercado. Um dos temas de maior interesse foi a abordagem das novas tecnologias para o segmento da biomassa. O Brasil é um dos maiores produtores de biomassa do mundo, composto orgânico (de origem animal ou vegetal) que pode ser utilizado na produção de etanol, biodiesel e biogás. Segundo o pesquisador, Gerhard Ett, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, que apresentou palestra sobre “Cenários da Produção Brasileira de Biocombustíveis e Biogás”, a produção de biomassa,

Tiago Quintela Guiliani, da Secretraria de Produção e Agroenergia - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na palestra: Uso da biomassa agrícola para a geração de energia

revistaamazonia.com.br


Carlos Alberto Labate, diretor do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE – CNPEM da Unicamp, na palestra “Presente e Futuro da Bioenergia

composta por resíduos agrícolas (maior parte); resíduos florestais, oleaginosas plantadas (eucalipto, palma, girassol, etc.), resíduos orgânicos domésticos, entre outros, somam cerca de 573 milhões de toneladas/ano, aproximadamente. O maior desafio desta fonte orgânica é reduzir os impactos ambientais decorrentes da combustão da massa de resíduos em fornos e caldeiras, a qual é submetida para gerar energia. Para aumentar a eficiência e reduzir estes impactos, a tecnologia de conversão tem sido aprimorada nos últimos anos através de processos como gaseificação e pirólise, tecnologias que também foram abordadas durante o congresso. “Toda forma de energia gera impurezas. A tecnologia tem evoluído muito os processos de conversão, o problema principal da utilização da biomassa é que todo elemento agrícola depende do clima. Além disso, a purificação de um dos subprodutos, o biogás, que poderia substituir o gás convencional (GPL), ainda é muito custosa”, destaca Gerhard. De acordo com dados de 2014, apresentados por ele, no país existem apenas 22 usinas de biogás instaladas, gerando 67 MGWTh (gigawatt térmico). Durante o Congresso também foram debatidos os grandes desafios do setor de bioenergia como, por exemplo, como produzir energia barata para que a indústria e a economia brasileira possam crescer. Carlos Alberto Labate, diretor do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE – CNPEM da Unicamp, que apresentou palestra sobre “Presente e Futuro da Bioenergia”, estima que o Brasil possua 357 milhões de hectares de terras agricultáveis e que a produção de energia a partir de matérias-primas agrícolas não afetaria a produção de alimentos. “Hoje o Brasil ocupa cerca de 77 milhões de hectares para agricultura. Apenas 10% poderiam ser usados para produção de biomassa, ou seja, não compete com a agricultura tradicional”, defendeu. Segundo Labate, a produção de etanol (2013/2014) no Brasil foi de 27,1 bilhões de litros. Outro destaque do Congresso foi a palestra do engenheiro químico José Railton Souza de Lima, internacionalmente reconhecido por desenvolver um novo método de reaproveitamento de resíduos tóxicos, o Raitec, que diminui a liberação de gases poluentes na atmosfera.

Indústria e sustentabilidade A cultura da cana de açúcar, presente em quase todos revistaamazonia.com.br

Representantes do curso de Engenharia de Energias Renováveis, da FIPMoc – Faculdades Integradas Pitágoras, apresentaram o trabalho “Sintese de biodiesel a partir óleo de frituras”

e que as usinas investiram muito nos últimos anos para o desenvolvimento do etanol e de outros produtos biocarbonetos. Já o diretor-superintendente da APROBIO – Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil, Julio Cesar Minelli, que falou sobre “Cenário do Biodiesel no Brasil”, enfatizou que o apoio do Governo Federal é essencial no processo de desenvolvimento e implementação de novos projetos e na criação de incentivos.

Desafios para a produção verde

Alfred Szwarc, coordenador do Centro de Meio-Ambiente da Única – União da Indústria da Cana de Açúcar

Carlos Vendrix - Kuttner do Brasil - Núcleo de Meio Ambiente e Energia em Tratamento Mecânico-Biológico através da Tecnologia de Biodigestão

os estados brasileiros, ocupa cerca de 9% do território agrícola – ficando atrás apenas da soja e do milho – cujos resíduos são os mais utilizados para produção de biomassa orgânica. Alfred Szwarc, coordenador do Centro de Meio-Ambiente da Única – União da Indústria da Cana de Açúcar, entidade que representa 60% da produção de cana, açúcar e etanol no Brasil, apresentou palestra sobre “O Setor Sucroenergético no Contexto da Economia Nacional”. Além de destacar que o setor representa hoje 2% do PIB Nacional, movimentando US$ 43,8 bilhões por ano, Szwarc disse que a bioletricidade representa 3,3% do consumo energético total no Brasil

Segundo o presidente da Associação da ABBM – Associação Brasileira de Biogás e Metano, Mario Coelho, a produção de biogás é bastante viável já que a matéria-prima para sua fabricação pode ser tanto uma planta como milho ou sorgo, quanto resíduos orgânicos. O desafio, porém, consiste em como transportar este gás até os consumidores, apontando o lixo orgânico doméstico como uma das saídas para consolidar a tecnologia de biogás. “O Brasil é campeão em reciclagem de materiais como alumínio, papel e plástico. Entretanto, os resíduos não aproveitáveis tornaram- se um grande problema urbano. É preciso organizar as cooperativas de reciclagem e a indústria de transformação em um projeto de coleta seletiva e processamento, encontrando uma solução viável para a destinação dos materiais orgânicos”, enfatizou. Com elogios à realização do Congresso Internacional de Bioenergia, que oferece um ambiente adequado para o debate e troca de informações entre profissionais do mercado, Tiago Q. Giuliani, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, enfatizou a atenção do Governo no desenvolvimento de novas fontes para compor a matriz energética brasileira, afirmando que um dos fatores cruciais para a expansão do setor sucroenergético é a rentabilidade do etanol.

Exemplo japonês Dentre os palestrantes internacionais convidados pelo evento, o professor Hiroyuki Yamamoto, da Universidade de Nagoya, no Japão, relatou o acidente da Usina Nuclear de Fukushima. Segundo o acadêmico, mais de 240 bilhões de dólares foram gastos na reconstrução do país. Hiroyuki Yamamoto mostrou, em sua palestra, que mesmo com todas as consequências da tragédia, o governo japonês decidiu REVISTA AMAZÔNIA 73


Hoje 46% da energia consumida no país provém de fontes renováveis. Entretanto, para evoluir nestas fontes alternativas o país necessita urgente de mais investimentos e pesquisa para uso da biomassa, biocombustíveis, biogás, bem como melhor aproveitamento do sol e vento, para geração de energia contínua e não poluidora. Um recente estudo europeu aponta três países com grande potencial na oferta de matéria prima para produção de biomassa com fins energéticos: Austrália, África do Sul e Brasil. O Brasil desponta por já possuir um setor agroflorestal extremamente desenvolvido. Além disso existe o potencial dos resíduos sólidos urbanos. No Brasil, mais de 40% do lixo produzido pelas cidades não possui destino correto, e são encaminhados a lixões a céu aberto. São 74 mil toneladas de lixo por dia depositados em locais inadequados e com potencial de grande danos ao meio ambiente. Levantamentos confirmam que o uso deste resíduo para geração de eletricidade poderia ultrapassar 280 MW, volume suficiente para abastecer uma população de cerca de 1,5 milhão de pessoas.

Exposição de trabalhos cientificos

Elton Busarello, especialista em biomassa da Komatsu Forest, que recebeu o prêmio em nome da empresa. Prêmio de Inovação e Tecnologia Biomassa BR

Troféus entregues pelo Dr. Hiroyuki Yamamoto – Universidade de Nagoya / Japão

que, embora esteja investindo no desenvolvimento de alternativas energéticas, dificilmente o país, que é pobre em recursos naturais e rico em tecnologia, poderá abrir mão da energia nuclear.

Acássio Moraes, estudante do Instituto Federal de Alagoas em Arapiraca participou do Congresso apresentando o trabalho “Uma alternativapromissora para obtenção de energia elétrica”, fruto da pesquisa desenvolvida sobre células de combustível

Marcos Tadeu Tibúcio, da UNESP, na entrega de um dos Prêmios

Trabalhos Premiados Estudos acadêmicos, apontando a utilização de biomassa como fonte alternativa para a produção de energia no Brasil, destacaram-se como vencedores do concurso que reuniu 347 trabalhos técnicos sobre o tema, durante o Congresso. Dentre os 20 projetos finalistas, elaborados por graduandos, pesquisadores, professores e analistas de todo o país, estavam propostas para “Reestruturação das Usinas de Bioeletricidade no centro da crise”, desenvolvido por Yolanda Vieira de Abreu e equipe da Universidade Federal do Tocantins (UFT); dissertações sobre “Separação de Microalgas produzidas com efluente 74 REVISTA AMAZÔNIA

Tocantins (IFTO), além de um estudo sobre “Modelagem e simulação dos processos de bioconversão de biomassas regionais para produção de energia de biogás, biofertilizantes e adubo orgânico no setor agroindustrial brasileiro”, realizado pelo professor da Universidade Federal do Amazonas, Johnson Pontes de Moura. Os vencedores, representando suas equipes, receberam placas comemorativas das mãos do professor Marcos Tadeu Tibúcio, da UNESP, e do professor Hiroyuki Yamamoto, da Universidade de Nagoya, no Japão. O coordenador geral do evento, Clóvis Rech, elogiou a qualidade dos trabalhos. “Foi difícil para a comissão avaliadora, formada por professores e mestres, escolher entre quase 350 estudos apenas 20 finalistas. Isto mostra que nosso país está avançando em conhecimento no setor”. Além da premiação técnica, houve também a realização da segunda edição do prêmio Inovação e Tecnologia Biomassa – BR 2014, promovido pela FRG Mídia. As empresas consagradas foram: Marrari Automação, Morbak Komatsu, Vermeer Brasil, Pesa (CAT) Equipamentos e o Núcleo Tecno-Ambiental Railton Faz.

Agenda 2015

de cervejaria utilizando o tanino vegetal como agente floculante”, apresentada por Marta Cecato Armando e equipe da Unioeste (PR); “Importância da Utilização do Esgoto Doméstico para a produção de energia”, por Sóstenes Fernandes Santos e equipe, do Instituto Federal do

A 10ª edição do Congresso Internacional de Bioenergia já tem data marcada. O evento será realizado de 22 a 24 de julho de 2015, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, simultaneamente à EnerSolar + Brasil – Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar; Ecoenergy – Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia; BioTech Fair – Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustíveis; Eolica Brasil Small Wind e Hidro Power Expo. revistaamazonia.com.br


Pnuma, alerta que o ritmo de destruição dos manguezais é de 3 a 5 vezes maior do que o das florestas em todo o mundo. 90% dos manguezais do mundo encontram-se em países em desenvolvimento

Destruição de manguezais é até cinco vezes maior que das florestas

O

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, afirma que é necessária ação global para impedir mais perdas; especialistas dizem que danos chegam a US$ 42 bilhões por ano; Brasil concentra 7% de todos os manguezais do planeta. Agência da ONU, alerta que o ritmo de destruição dos manguezais é de 3 a 5 vezes maior do que o das florestas em todo o mundo. Segundo relatório, “Importância dos Manguezais: Pedido para Ação”, lançado recentemente, em Atenas, Grécia, os revistaamazonia.com.br

danos econômicos chegam a US$ 42 bilhões, o equivalente a R$ 101 bilhões, por ano.

Brasil Os manguezais são encontrados em 123 países e cobrem uma área de 152 mil km². Mais de 100 milhões de pessoas vivem a uma distância de 10 km dessas regiões e se beneficiam de seus recursos. O relatório mostra que o Brasil abriga 7% dos manguezais no mundo. Segundo o Pnuma, o país registra uma

das taxas mais baixas de perda porque mais de 70% dessas áreas estão em regiões protegidas. A cidade de Caeté é citada no documento como um dos exemplos. Com uma população de 13 mil habitantes, o Pnuma afirma que 83% tiram seu sustento do manguezal da região.

Caranguejo Somente o caranguejo retirado do local é fonte de renda para 38% das famílias. A situação se repete na ilha de Caratateua, também no Pará. REVISTA AMAZÔNIA 75


A degradação dos manguezais está ocorrendo num passo alarmante

O relatório do PNUMA

O caranguejo é fonte de renda para 38% das famílias …

Steiner declarou que mais de 25% dos manguezais no mundo já foram perdidos. Para ele, esse fato tem efeitos devastadores sobre a biodiversidade, segurança alimentar e bem estar de várias comunidades que vivem nesses locais. O documento diz ainda que apesar das provas dos benefícios gerados pelas regiões de mangues, essas áreas continuam sendo um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta.

O novo relatório do PNUMA adverte sobre efeitos devastadores de destruição contínua nas florestas de mangues

O diretor-executivo da agência da ONU, Achim Steiner, afirmou que os serviços fornecidos pelos manguezais movimentam US$ 57 mil por hectare, por ano. Além disso, Steiner menciona a capacidade dos manguezais de absorver carbono, que de outra forma seria expelido na atmosfera. Segundo ele, “fica claro que a contínua destruição dessas áreas não faz nenhum sentido ambiental ou econômico”.

Os manguezais têm desenvolvido adaptações originais a fim de lidar com o seu ambiente, incluindo sementes flutuantes, raízes com respiração exposta, conhecidos como pneumatophores

Mudança climática A mudança climática representa outra ameaça ao manguezais. O relatório mostra que o fenômeno pode resultar numa perda de 10% ou 15% da região até 2100. O chefe do Pnuma disse que a destruição e a degradação dos manguezais está ocorrendo num passo alarmante, seja pela conversão do local para atividades de aquacultura, agricultura, desenvolvimento da costa ou poluição. 76 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Acidificação dos oceanos cresceu 26% nos últimos 200 anos

O

pH dos oceanos aumentou 26% em média nos últimos 200 anos, ao absorver mais de um quarto das emissões de CO2 geradas pela atividade humana, adverte um relatório publicado, em Seul, durante a COP 12. Pesquisadores ligados à Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) analisaram centenas de estudos existentes sobre este fenômeno para redigir o documento que apresentaram em Pyeongchang (Coreia) por ocasião da COP12 – 12ª reunião da convenção das Nações Unidas sobre a proteção da biodiversidade. O relatório destaca a gravidade do fenômeno, que apresenta uma rapidez sem precedentes e um impacto muito variado, que seguirá aumentando nas próximas décadas. “É inevitável que entre 50 e 100 anos as emissões antropogênicas de dióxido de carbono elevem a acidez dos oceanos a níveis que terão um impacto enorme, quase sempre negativo, sobre os organismos marinhos e os ecossistemas, assim como sobre os bens e serviços que proporcionam”, destacam os cientistas. A acidez dos oceanos varia naturalmente ao longo do dia, das estações, do local e da região, mas também em função da profundidade da água. “Os ecossistemas das costas sofrem uma maior variabilidade do que os que Acidificação oceânica

revistaamazonia.com.br

O pH dos oceanos aumentou 26% em média nos últimos 200 anos, ao absorver mais de um quarto das emissões de CO2 geradas pela atividade humana

estão em alto mar”, destacam os pesquisadores. Alguns trabalhos revelam que a fertilização de certas espécies é muito sensível à acidificação dos oceanos, enquanto outras são mais tolerantes. Os corais, moluscos e equinodermos (estrelas do mar, oriços, pepinos do mar e etc) estão particularmente afetados por esta mudança, que reduz seu ritmo de crescimento e sua taxa de sobrevivência, mas algumas algas e microalgas podem se beneficiar, do mesmo modo que alguns tipos de fitoplânctons. O relatório destaca o impacto sócio-econômico já visível em algumas regiões do mundo: na aquicultura do noroeste dos Estados Unidos e na criação de ostras. Os riscos para as barreiras de coral nas zonas tropicais também são uma “enorme preocupação, já que envolvem a subsistência de 100 milhões de pessoas, que dependem destes habitats”. Segundo os pesquisadores, “apenas a redução das emissões de CO2 permitirá deter o problema”. REVISTA AMAZÔNIA 77


Queimadas O tempo seco, a falta de chuva e o calor excessivo contribuem como combustível para o desencadeamento e a propagação de fogo na vegetação

Fotos: Ascom PrevFogo, Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr, Rodrigo Baleia/ Greenpeace

Queimada em área próxima a BR 163, na Santarém – Cuiabá

C

om o início do período de seca na Amazônia, começa também a “limpeza” das terras, feita antes do plantio de lavouras e pastagens com o uso de queimadas, que causam enormes impactos ambientais. A prática, apesar de em alguns casos ser ilegal, é intensificada entre agosto e setembro. De janeiro a agosto deste ano o número de focos de calor no Brasil já é 93% maior que o registrado no mesmo período de 2013, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O bioma amazônico concentra o maior número de focos, com 87,5% do total registrado nos últimos dois dias pelo Inpe. De janeiro a agosto deste ano, segundo oa instituição, o número de focos de calor no Pará subiu 363%, comparado ao mesmo período de 2013. A situação é alarmante, especialmente no entorno da BR 163, nos municípios de Novo Progresso e Altamira. “Alguns Estados criaram decretos recentes aumentando o rigor, mas a realidade mostra uma situação diferente. São milhares de focos acontecendo. Por trás de todos esses focos, há ação humana, de propósito ou descuido. Nada disso começa sozinho. Mas se a fiscalização for mais intensa, se queima menos”, observou o pesquisador Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de 78 REVISTA AMAZÔNIA

queimadas por satélite no País. “As queimadas destroem a vegetação do local e liberam dióxido de carbono, gás que contribui com o efeito estufa e consequentemente com as mudanças climáticas, colocando o Brasil na contramão de seu compromisso com a redução de emissões de gases do efeito estufa”, explica Cristiane Mazzetti, da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Além de gerarem grande impacto no meio ambiente, as queimadas tem efeito também no cotidiano das cidades da região, que tiveram piora na qualidade do ar. Segundo matéria do jornal Folha do Progresso, a cidade de Novo Progresso, no Pará, “as ruas estão tomadas por poeira e a sensação é de mal estar, difícil até para respirar. A fumaça com a poeira torna-se um problema de saúde pública”, relata a reportagem. revistaamazonia.com.br


O estado de emergência ambiental foi decretado pelo MMA

Focos de incêndio no Pará De acordo com análise do Greenpeace, baseada nos dados levantados pela NASA, Inpe, Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ibama, no Pará, os focos de calor concentram-se ao longo da BR 163, que liga o norte do Brasil, a partir de Santarém, ao Sul. O processo de pavimentação da estrada está quase concluído, o que a tornará o novo corredor norte de exportação de grãos. Os focos de incêndio nos arredores da BR-163 são sinais de que a grilagem e a especulação de terra podem estar aumentando na região, já que as áreas próximas à estrada pavimentada tendem a ser valorizadas e diminuem o custo de transporte e de produção. Infelizmente não são só os incendios que estão crescendo na região, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que indica tendências e alertas de desflorestamento, o Pará já havia registrado no mês passado o maior índice de derrubada de florestas da região, contabilizando 57% do total desmatado na Amazônia legal. A região teve, inclusive, áreas fiscalizadas e embargadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que agora estão queimando. “Essas regiões são áreas de expansão da fronteira agrícola e muitas estão dentro de Unidades de revistaamazonia.com.br

Os desmatamentos/queimadas são as principais preocupações com o fim do período das chuvas e o início do verão amazônico

Conservação, como as Florestas Nacionais do Jamaxim, e de Altamira, e nos arredores de Terras Indígenas. Outro fato relevante é que as detecções de desmatamento recentes estão coincidindo com áreas que apresentam focos de incêndio, o que mostra uma falha no controle de desmatamento”, afirma Mazzetti.

O contexto político de flexibilização de leis ambientais somado aos holofotes voltados às eleições podem ter contribuído para o aumento dos focos de incêndio na região Amazônica. Não podemos nos esquecer que em 2012 foi aprovado um novo Código Florestal que anistiou “desmatadores”, abrindo um precedente que incentiva o REVISTA AMAZÔNIA 79


Incêndios no país em outubro dobram em relação ao mesmo mês de 2013

O

número de focos de incêndio registrados em todo o país durante os primeiros 15 dias de outubro mais que dobrou em comparação ao mesmo período do ano passado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disponíveis no Portal do Monitoramento de Queimadas e Incêndios, apontam que, entre 1º e 15 de outubro deste ano, o total de focos chegou a 24.237, resultado 113% maior que os 11.375 casos verificados em 2013. Se o ritmo atual se mantiver pelas próximas duas semanas, o total de focos de incêndio ativos também será maior que os de agosto e setembro últimos. Ao longo de todo o mês passado, foram registrados 43.174 casos. Historicamente, setembro é o mês que concentra o maior número de ocorrências de todo o ano. De acordo com o coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Rodrigo Falleiro, o resultado de todo este ano já era esperado. “Como choveu muito, 2013 foi um dos anos em que tivemos menos focos de incêndio na história. Neste ano, foi bem mais seco. Por isso, já esperávamos o aumento do número de focos em comparação ao ano passado”, disse Falleiro, comparando os dados anuais consolidados. Ao longo dos últimos 15 dias, os estados que registraram o maior número de focos foram Mato Grosso (3.801), o Maranhão (3.578), Minas Gerais (3.408), o Pará (2.938), Tocantins (2.802) e a Bahia (1.594). A Amazônia teve 661 focos (18,5%), a Mata Atlântica. 642 (18%) e a Caatinga, 142 (4%).

O Ibama foi autorizado a contratar até 2.520 brigadistas para atendimento de emergências ambientais por até seis meses

crime ambiental e já vimos no final de 2013 um aumento do desmatamento na Amazônia Legal – que vinha diminuindo desde 2004. Somado a este cenário as inúmeras propostas de projeto de leis apresentadas pelos ruralistas para a diminuição dos limites das Unidades de Conservação também torna essas áreas frágeis e alvo de queimadas e desmatamento na esperança de que um dia abandonem o status de áreas protegidas, como ficou evidenciado no caso do Pará. A região sofre, ainda, com a falta de governança e especulação de terras tendo uma capacidade reduzida dos órgãos responsáveis pela fiscalização do desmatamento e todos estes fatores contribuem com a destruição da floresta.

Queimada na Amazônia tem impacto mais severo na seca É o que diz recente estudo internacional realizado ao longo de oito anos na Amazônia identificando que a flo80 REVISTA AMAZÔNIA

resta é severamente afetada por queimadas em anos de seca, que podem causar uma degradação permanente no bioma. A pesquisa foi feita na região do Alto Xingu, no Mato Grosso, em um trecho de floresta que foi queimado repetidamente durante o período estudado, em 2007,

quando a temperatura na região de MT ficou 2,5ºC acima da média e o volume de chuvas caiu 20%. A maior perda de vegetação, foi em um total de 12% da área analisada – equivalente a um milhão de campos de futebol. “O processo de degradação foi muito abrupto, a degradação foi severa e permitiu a entrada de gramíneas revistaamazonia.com.br


Por isso, o estudo destaca também a necessidade de incluir as interações entre os eventos climáticos extremos e o fogo, “na tentativa de prever o futuro da floresta na nova realidade do clima”.

Incêndios De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2013 o Brasil registrou 115.484 focos de incêndio. Pará, Mato Grosso e Maranhão registraram mais queimadas. As razões variam desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita agrícola, disputas por terras e protestos sociais. A instituição aponta que o fogo prejudica a fauna e a flora nativas, causam empobrecimento do solo e reduzem a

penetração de água no subsolo, além de gerar poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação. Ao menor sinal de queimada, a população deve telefonar para o número 190, Corpo de Bombeiros. Você pode também entrar em contato com as secretarias estaduais e municipais de meio ambiente. Veja abaixo alguns números que podem ajudar: Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam): (92) 2123-6715 ou (92) 2123-6729 Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) através do Linha Verde: 0800 092 2000 Sistema de denúncias de crimes ambientais do Pará no site: http://www.sema.pa.gov.br/denuncia/ Linha verde do Ibama: 0800-618080 Disk queimadas do Pará da Eletronorte: 0800911234

exóticas”, disse Paulo Brando, doutor em Ecologia Interdisciplinar pela Universidade da Flórida e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o Ipam – autor principal do estudo. Devido ao calor excessivo, o solo fica mais seco e as árvores não conseguem absorver água suficiente para se manterem vivas. Para ficarem mais leves e absorverem menos líquido, elas liberam folhas e galhos. Ao fazerem isto, soltam no chão material combustível para as queimadas – que são causadas pelo homem, seja de forma proposital ou acidental.

A nova realidade Segundo previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, o excesso de gases de efeito estufa na atmosfera, como o CO2, pode elevar a temperatura em determinados pontos da floresta, como o sul e leste amazônicos, que ficariam mais suscetíveis a incêndios e processos críticos de degradação. revistaamazonia.com.br

No detalhe, a região centro-sul do Pará, no entorno da BR 163, vem sendo alvo de queimadas, utilizadas para a preparação do solo para início do plantio de lavouras e pastagens. Em alguns casos, os focos de queimada ocorrem dentro ou próximos de Unidades de Conservação e Terras Indígenas REVISTA AMAZÔNIA 81


Os inovadores voltados ao desenvolvimento ambiental do País reconhecidos pelo 4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade

4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade

O

nze projetos inovadores voltados ao desenvolvimento ambiental do País foram os vencedores do 4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, na sede da entidade. O Prêmio é uma realização do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), e tem por objetivo destacar e incentivar ideias que contribuam com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. A cerimônia contou com a participação dos 46 finalistas ou seus representantes, além do presidente da FecomercioSP, Abram Szajman, do presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação, José Goldemberg, do professor da Fundação Dom Cabral, Cláudio Boechat, do secretário estadual do Meio Ambiente, Rubens Rizek e do ex-deputado federal e relator do primeiro Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos e jurado do Prêmio, Emerson Kapaz. A jornalista Rosana Jatobá foi a mestre de cerimônias e responsável pela entrega dos prêmios aos vencedores. Durante o evento, Szajman ressaltou a importância da iniciativa para redesenhar o progresso da humanidade. “O novo século impôs a cada um de nós o desafio de romper com um padrão ultrapassado de desenvolvimento. Os onze premiados são exemplos concretos de que a sociedade, quando estimulada a desenvolver novos valores, a trabalhar pelo bem comum, responde com entusiasmo e dedicação”. A quarta edição do Prêmio contou com 276 projetos inscritos, espalhados por 91 municípios de 21 estados brasileiros. Na cerimônia, Goldemberg comentou a importância de iniciativas sustentáveis vindas da sociedade. “As medidas têm sido tomadas pelos governos e têm sido progressistas, mas não se tornarão realidade se 82 REVISTA AMAZÔNIA

não houver compreensão e apoio da sociedade. E é o que estamos tentanto fazer por meio do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP e, agora, com o Prêmio. A ideia é que, além das medidas virem de cima para baixo, promovamos medidas de baixo para cima, com a quantidade de ideais novas, coerentes, práticas e que surgem nos lugares mais inesperados. Ideias brilhantes estão aparecendo e vão se converter aos poucos em realidade”. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, enviou um vídeo para a cerimônia comentando a importância da premiação. “Prêmio é sempre bom mas, particularmente prêmio na área ambiental ressalta que a iniciativa está dando certo e motiva a todos se engajarem. Gostaria de reconhecer e parabenizar os premiados e o esforço do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP de colocar em pauta a iniciativa que nos revela caminhos para o dia seguinte”. Confira abaixo a lista de vencedores do 4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade: - Microempresa: Ecotinta (produção de uma tinta acrílica feita a partir de um resíduo gerado pelas indústrias de fertilizantes - o fosfogesso). - Pequena e média empresa: Caxias Shopping Sustentável (Com o projeto que aplica práticas sustentáveis desde a construção até a operação do empreendimento). - Grande empresa: Rondobel ( melhorou a organização dos procedimentos internos e desenvolveu controles

para garantir a rastreabilidade da madeira, além de se adequar a padrões internacionais de manejo florestal). - Indústria: Joinville Sustentável - General Motors do Brasil (por adotar medidas como redução do consumo de água e energia, otimização do uso de recursos naturais, plantação de 720 árvores, além de outras adaptações do espaço para práticas ambientais). - Entidade: Sebrae Pernambuco (por conciliar a preservação dos recursos naturais com o grande afluxo de visitantes, visando diminuir os impactos ambientais, como o aumento do volume de resíduos sólidos e de esgotos). - Órgão Público: Prefeitura de Umuarama (troca de materiais recicláveis por alimentos produzidos na zona rural da cidade de Umuarama-PR). - Academia - Professor: Nildo da Silva Dias ( explorando, em Mossoró (RN), o potencial da água salina no cultivo de plantas típicas da região e para a criação de peixes que sobrevivem em águas com alto índice de sal) . - Academia – Aluno: Renato Tadeu Rodrigues (com o aplicativo de logística inteligente, que entrega mercadorias de maneira estratégica para consumidores vizinhos, otimizando o transporte de cargas). - Reportagem jornalística - Impresso: Júlio Lamas (pela matéria abordando o sofrimento vivido pelos moradores da maior metrópole do País quando o assunto é mobilidade). - Reportagem jornalística - Rádio e TV: André Trigueiro (pela série de reportagens “Empreendedores Sociais”, do programa Cidades e Soluções, da GloboNews). - Reportagem jornalística - Online: Guilherme Justino (por material publicado no portal Terra com objetivo de apresentar maneira interativa às principais alternativas de transporte público usadas nas grandes cidades do Brasil e do mundo). revistaamazonia.com.br


SUSTENTABILIDADE:

PRÁTICAS DE SEGURANÇA HÍDRICA, ALIMENTAR, SOCIOAMBIENTAL E ECONÔMICA NO SEMIÁRIDO. Fórum Multissetorial Feira de Tecnologia e Produção Limpa Eco Arte Cultura Rodada de Negócios Sustentáveis Livraria Ecológica Ecoturismo Esporte Natureza Fórum de Líderes Carta de Fortaleza O2015

Técnico Cientifico - Cursos - Conferência - Mesa Redonda - Apresentações de Casos Exitosos - Projetos Inovadores - Oficinas de Educação Ambiental - Visitas Técnicas

Homenagens - Embaixador O2 para a Natureza - Comenda Amigo das Águas - Medalha Honra ao Mérito O2

www.ihab.org.br +55 85 3262.1559

CONHECA, DIVULGUE E PARTICIPE. REALIZAÇÃO

PROMOÇÃO

PATROCÍNIO

INCENTIVO

APOIO

DIVULGAÇÃO

NEUTRALIZAÇÃO PLANEJAMENTO DE CARBONO E ORGANIZAÇÃO

AGÊNCIA OFICIAL

MONTADORA OFICIAL

®

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 1


Revista

HECTARES DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE (APP)

370 136.973

ESPÉCIMES DE 47 FAMÍLIAS BOTÂNICAS CATALOGADAS*

ANIMAIS RESGATADOS DESDE O INÍCIO DAS OBRAS**

*96% foram reintroduzidos na natureza. **93,35% foram encaminhados para as áreas de soltura.

RTE

AM

Editora Círios

Ano 9 Número 46 2014 R$ 12,00

www.revistaamazonia.com.br

O Centro de Estudos Ambientais (CEA) é o compromisso materializado com a preservação do meio ambiente na região do Xingu. É o ponto de referência para os projetos de preservação da fauna e flora e da produção do conhecimento científico. Tornou-se um legado do trabalho responsável da Norte Energia, que visa a conservação, manutenção e resgate dessas espécies. Garantindo o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

NO

ISSN 1809-466X

DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

DO

R$ 12,00

14 PLANOS 26 MIL

OR PUB AI

CAÇÃO LI

Ano 9 Nº 46 Setembro/Outubro 2014

PRESERVAÇÃO DA FAUNA E FLORA. COMPROMISSO NORTE ENERGIA.

5,00

COP 12 - BIODIVERSIDADE BIOLÓGICA MAGIA E SEGREDOS DA AMAZÔNIA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.