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Ano 11 Nº 56 Maio/Junho 2016

Ano 11 Número 56 2016

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EXPEDIENTE

Cientistas anunciam que na foz do rio há um recife de coral “gigantesco”, ocupando área de 9.300 quilômetros quadrados, entre 30 e 120 metros de profundidade, numa zona de água turva – cerca de 20% maior que as áreas metropolitanas do Rio e de São Paulo. Revelação quebra paradigma vigente e pode ajudar a estudar ecossistemas semelhantes...

Prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016

Na abertura do evento, Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, recordou que o concurso busca aliar a criatividade das ONGs de todo país e a tecnologia para promover impacto social. “Nós somos viabilizadores do talento das pessoas”, disse Fabio...

COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Alexandre Marco da Silva, Ana Lúcia Assad, Andrea Cunha Freitas, ComCSIRO, Daniel Hiroshi, Denise de Araujo Alves, Ludmila Araujo Bortoleto, Vítor Belanciano FOTOGRAFIAS Árni Sæberg, Camilla Carvalho / Instituto Butantan, Cristian Sardet, Cristiane Snak, Daniel Bailey, Divulgação, F. Moraes, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, J. Matter, Lance Willis, Marco Springmann, Marcos Issa/Argosfoto, Modis/Nasa, Najib Nafib, Nara Lina Oliveira, Noan LeBescot/Tara Oceans, gSA/ Johnson Space Center, NASA, R. Myneni/BostonUniversity, Rodrigo Moura/Ufrj, Ronaldo Rosa/Embrapa Amazônia Oriental, Rui Peralta, State of the World’s Plants2016, Victor Gama, Katie Kline, Kevin Krajick / Lamont-Doherty Earth Observatory Jason Landrum, Kirsty FAVOR Wigglesworth POR EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA CIC

DESKTOP Mequias Pinheiro

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Recife Amazônia, o recife de coral do rio Amazonas

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn

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NOSSA CAPA Ecologização da Terra. Ilustração de origem desconhecida

Uma em cada cinco espécies de plantas estão em risco de extinção

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De acordo com o primeiro censo global da flora elaborado pelo centro botânico Kew Gardens de Londres, 21% das plantas de todo o mundo estão em perigo de extinção R AIO PU M

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Pela primeira vez, geólogos compilaram um mapa global dos movimentos chamados “correntes de convecção” dentro do manto da Terra. Eles descobriram que essas correntes estão se movendo até dez vezes mais rápido do que se imaginava...

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Avistar Brasil 2016 O Instituto Butantan, órgão da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, recebeu entre os dias 20 e 22 de maio um dos maiores encontros de observação de aves da América Latina, o Avistar Brasil 2016. A programação gratuita incluiu exposições, palestras, oficinas de observação de aves e atividades voltadas para as crianças...

MAIS CONTEÚDO [06] Aumento dos níveis de CO² estão ecologizando a Terra [30] Energias renováveis empregam 8,1 milhões de pessoas no mundo [34] 5ª EnerSolar + Brasil [38] ExpoAlumínio 2016 – Congresso Internacional do Alumínio [42] Sustentabilidade: indústria do aço reaproveita 88% dos resíduos gerados [44] Feconati- Feira Internacional de Construção Sustentável [52] O papel estratégico das abelhas na conservação da biodiversidade [56] Alterações climáticas vão alterar dieta humana [61] A selva amazônica entra na Gulbenkian pela ópera de Victor Gama [64] Plânctons – responsáveis por metade do oxigénio que respiramos

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Mudanças em relação ao que acontece dentro do manto da Terra

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DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn

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Rápida mineralização do carbono para a eliminação permanente das emissões de dióxido de carbono antropogênico. Nova técnica desenvolvida na Islândia propõe armazenar emissões de CO2 no solo transformando-as em pedra e não apenas enterrando-as como gás

EDITORA CÍRIOS

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Pela primeira vez, CO2 foi transformado em pedra

PUBLICAÇÃO Período (maio/junho) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

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Aumento dos níveis de CO² estão ecologizando a Terra A Terra está mais verde do que 33 anos atrás graças ao CO². Estudo calcula que o planeta se enverdeceu em 36 milhões de quilômetros quadrados

Fotos: NASA, R. Myneni/Boston University

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abemos muita coisa sobre as consequências da quantidade cada vez maior de gases de efeito-estufa acumulados na atmosfera. Estima-se que eles já representam quase 0,04% do ar que respiramos. Mas essa taxa seria maior ainda se não fosse a capacidade que as plantas possuem de atraí-lo. E são justamente os vegetais os mais beneficiados pelos altos níveis de presença desses gases tóxicos na atmosfera. Segundo um estudo de uma equipe internacional de 32 autores de 24 instituições em oito países, publicado recentemente, usando dados dos sensores de satélite da NASA-MODIS e NOAA-AVHRR dos últimos 33 anos: a Terra ganhou 36 milhões de quilômetros quadrados de superfície verde, o equivalente a três vezes a área da Europa ou duas vezes, aproximadamente, a dos Estados Unidos. O estudo, que contou com a participação

do CREAF, um centro de pesquisas vinculado à Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), adota como referência os últimos 33 anos. Nesse período, a biomassa

Padrão espacial dos condutores dominantes de tendência na estação de crescimento integrado LAI

A quantidade de CO² no ar tem aumentado desde a era industrial e atualmente está em um nível não visto em pelo meia-milhões de anos pelo menos. É o principal culpado das mudanças climáticas

Dados de satélite mostram a percentagem montante que a cobertura de vegetação mudou em todo o mundo no período 1982-2010

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Graças às plantas, o aumento da concentração de gases de efeito-estufa foi contido A área de superfície da Terra coberta por vegetação de folhas verdes aumentou dramaticamente ao longo das últimas décadas devido às emissões de carbono em excesso, dizem cientistas. Esta imagem mostra a mudança na área das folhas em todo o mundo a partir 1982-2015, mostrando a mudança de vegetação. O estudo constata que o dióxido de carbono fertilizou e enverdecimento da Terra

Josep Penuelas, no CREAF, Centro de Pesquisas vinculado à Universidade Autónoma de Barcelona (UAB)

terrestre cresceu em 40% da superfície da Terra, tendo diminuído em apenas 4% dela. Os cientistas atribuem esse crescimento às altas concentrações de CO², um poderoso fertilizante cuja ação, em nível mundial, se desconhecia até o momento. “Com essa pesquisa, pudemos atribuir o enverdecimento (aumento nas folhas de plantas e árvores) do planeta ao aumento revistaamazonia.com.br

Tendência na estação de crescimento LAI

dos níveis de CO², atmosféricos provocado pelo consumo de combustíveis fósseis. Com mais dióxido de carbono, as plantas puderam gerar mais folhas capturando-o da atmosfera durante a fotossíntese. Graças a isso, o aumento da concentração desse gás de efeito-estufa foi contido”, explica o cien-

tista do CREAF Josep Pañuelas. De acordo com o estudo, o dióxido de carbono é responsável em cerca de 70% pelo enverdecimento da Terra. Mas os cientistas evocam outras razões além desta para explicar o aumento da biomassa: a mudanREVISTA AMAZÔNIA

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Níveis aumentados de dióxido de carbono é causa do enverdecimento da Terra

ça climática (8%), o nitrogênio atmosférico (9%) e as mudanças no uso do solo (4%). Mas nem tudo que é bom para as plantas o é para o restante do planeta. Os cientistas já alertaram amplamente a respeito dos efeitos da emissão de CO², na atmosfera. Um deles é a mudança climática, que inclui o aumento da temperatura global, a subida do nível do mar, o degelo e a radicalização das tempestades tropicais. Efeitos que já estamos sofrendo e que, segundo Pañuelas, não recuarão se não deixarmos de usar combustíveis fósseis. Além disso, o crescimento da biomassa vegetal decorrente do fertilizante carbônico tem um limite. “O efeito do dióxido de carbono vai diminuindo à medida que as plantas se habituam com esse aumento”, afirma o especialista, acrescentando que os vegetais também necessitam de outros recursos para crescer. A fórmula é simples: quanto mais biomassa houver, mais as plantas necessitarão de água e de outros nutrientes – em especial o fósforo –, que são recursos limitados e vitais para o planeta. 08

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“Embora a detecção de enverdecimento é baseado em medições, a atribuição a vários controladores é baseada em modelos, e esses modelos têm conhecido deficiências. Trabalhos futuros, sem dúvida, podem questionar e refinar nossos resultados “, diz o co-autor Dr. Josep Canadell, Ph.D. Biology (Terrestrial ecology), do CSIRO Oceanos e Atmosfera Divisão em Canberra, Austrália e líder do Global Carbon Project. Dr. Josep Canadell, Ph.D. Biology (Terrestrial ecology)

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O aumento da cobertura das folhas na Terra nos últimos 35 anos é equivalente a uma área duas vezes o tamanho dos Estados Unidos continental

Folhas verdes usam a energia da luz solar através da fotossíntese para combinar quimicamente o dióxido de carbono aspirado do ar com água e nutrientes aproveitado a partir do solo para a produção de açúcares, que são a principal fonte de alimentos, fibras e combustível para a vida na Terra. Diversos estudos têm mostrado que o aumento da concentração de dióxido de carbono aumento da fotossíntese, estimulam o crescimento das plantas. No entanto, a fertilização de dióxido de carbono não é a única causa do aumento crescimento de plantas de nitrogênio, mudanças de cobertura da terra e mudanças climáticas por meio da temperatura global, precipitação e luz do sol muda, tudo contribui para o efeito enverdecimento. Para determinar a extensão da contribuição do dióxido de carbono, os investigadores checaram os dados do dióxido de carbono e cada uma das outras variáveis no isolamento através de vários modelos de computador que imitam o crescimento da planta observada nos dados de satélite. Os resultados mostraram que a fertilização de dióxido de carbono explica 70 por cento do efeito enverdecimento, disse o co-autor Ranga Myneni, professor do Departamento de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Boston. “O segundo piloto mais importante é azoto, a 9 por cento. Assim, vemos o papel descomunal que o CO², desempenha neste processo”. Cerca de 85 por cento das terras livres de gelo da Terra é coberta por vegetação. A área coberta por todas as folhas verdes na Terra é igual a, em média, 32 por cento da área total da superfície da Terra – oceanos, terras e camadas de gelo permanentes combinadas. A extensão do enverdecimento nos últimos 33 anos “tem a capacidade de mudar fundamentalmente a ciclagem de água e de carbono no sistema climático”, disse o principal autor Zaichun Zhu, pesquisador da Universidade de Pequim, China, que fez o primeiro semestre deste estudo com Myneni como professor visitante na Universidade de Boston. revistaamazonia.com.br

Todos os anos, cerca de metade dos 10 bilhões de toneladas de carbono emitido para a atmosfera por atividades humanas permanece armazenado temporariamente, em partes aproximadamente iguais, nos oceanos e plantas. “Embora nosso estudo não aborda a ligação entre o armazenamento de enverdecimento e carbono em plantas, outros estudos têm relatado um aumento de sumidouro de carbono em terra desde os anos 1980, o que é inteiramente consistente com a ideia de uma Terra enverdecida”, disse o co-autor Shilong Piao da faculdade de Ciências urbanas e ambientais da Universidade de Pequim. Embora o aumento das concentrações de dióxido de carbono no ar pode ser benéfico para as plantas, também é o principal culpado das mudanças climáticas. O gás, que prende o calor na atmosfera da Terra, tem vindo a aumentar desde a era industrial devido à queima de petróleo, gás, carvão e madeira para energia e continua a atingir concentrações não vistos em pelo menos 500.000 anos. Os impactos das mudanças climáticas incluem o aquecimento global, o aumento dos níveis do mar, derretimento de geleiras e do gelo do mar, bem como eventos climáticos mais severos. Os impactos benéficos de dióxido de carbono em plantas também podem ser limitados, disse o co-autor Dr. Philippe Ciais, diretor associado do Laboratório de Clima e Ciências do Ambiente, Gif-suv-Yvette, França. “Estudos têm demonstrado que as plantas se aclimatam, ou ajustam-se, ao aumento da concentração de dióxido de carbono e o efeito de fertilização diminui ao longo do tempo”. “Embora a detecção de enverdecimento é baseado em dados, a atribuição a vários controladores é baseada em modelos”, disse o co-autor Josep Canadell dos Oceanos e da Atmosfera em Canberra, Austrália. Canadell acrescentou que enquanto os modelos representam a melhor simulação possível de componentes do sistema Terra, eles estão continuamente a ser melhorados. REVISTA AMAZÔNIA

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Pela primeira vez, CO2 foi transformado em pedra

Rápida mineralização do carbono para a eliminação permanente das emissões de dióxido de carbono antropogênico. Nova técnica desenvolvida na Islândia propõe armazenar emissões de CO2 no solo transformando-as em pedra e não apenas enterrando-as como gás Fotos: Árni Sæberg, J. Matter, Kevin Krajick / Lamont-Doherty Earth Observatory

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ma equipe de cientistas e engenheiros de uma central elétrica na Islândia mostrou pela primeira vez ser possível enterrar emissões de dióxido de carbono no subsolo transformando-as num elemento sólido ( pedra) em apenas alguns meses. O estudo da descoberta foi recebido com otimismo, pois até aqui, os projetos de captura e o sequestro de carbono (CCS, na sigla inglesa) separam numa central a água do CO2 que depois é conduzido por uma conduta que o leva por um poço onde é injetado no subsolo. O receio era de que o gás poderia de algum modo “escapar” e regressar à atmosfera. No modo convencional, o CO2 é armazenado como gás em rochas sedimentares que, ao contrário do basalto utilizado neste estudo, não contém os minerais necessários para converter o CO2 em pedra. O projeto piloto Carbonfix começou em 2012 na central de Hellisheidi, na Islândia, a maior central geotérmica do mundo. Cientistas misturaram os gases com a água quente vulcânica que retiravam do solo, injetando-o novamente no subsolo de basalto. Na

Cientistas descobrem método para armazenar CO² e evitar efeito estufa, bombeando dióxido de carbono em poços profundos na Islândia

natureza, quando o basalto é exposto ao dióxido de carbono e à água, e em uma reação química natural transforma o carbono em calcário. A expectativa inicial era a de que um processo pudesse demorar centenas ou milhares de anos. Essa foi uma das surpresas do estudo: O aproveitamento do basalto subterrâneo de Hellisheidi se revelou ótimo, com 95% do CO2 injetado solidificado em Armazenado permanentemente o dióxido de carbono como minerais em rochas basálticas em que mais de 95% de CO2 injetado é mineralizado (empedrado) dentro de dois anos, em vez de séculos ou milênios como se pensava anteriormente

Seção geológica do local da injeção da CarbFix. CO2 e o H2S são injetados completamente dissolvido em água no poço de injeção HN02 a uma profundidade entre 400 e 540 m

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menos de dois anos. “Isso significa que podemos bombear para o subsolo grandes quantidades de CO2 e armazená-lo de uma maneira muito segura em um curto período de tempo”, disse o coautor do estudo Martin Stute, hidrologista no Observatório da Terra da Universidade de Columbia. A água de baixo pH (3.2) serviu para dissolver os íons de cálcio e magnésio nas camadas de basalto, que reagiram com o dióxido de carbono para gerar os carbonatos de cálcio e magnésio. Tubos inseridos no local dos testes coletaram pedras com os caracrevistaamazonia.com.br


Na central de Hellisheidi, na Islândia

Sistema de tubulação do bombeio subterrâneo na usina de energia geotérmica por injeção do gás de efeito estufa em rochas de lava basáltica

Na Usina geotérmica Hellisheidi da Reykjavik Energy, as emissões atuais do motor são: 40.000 toneladas de CO2 / ano e 12.000 toneladas H2S / ano. O local de injeção de CO2 piloto CarbFix I está ligado ao motor através de uma conduta que entregues alguns dos gases CO2 e de H2S que foram injetados dentro de um reservatório de armazenamento de basalto em ~ 500 m de profundidade abaixo da superfície

terísticos carbonatos brancos ocupando os poros das rochas. Os pesquisadores também “marcaram” o CO2 com carbono-14, uma forma radioativa do elemento. Desta maneira puderam verificar se parte do CO2 injetado estava voltando à superfície ou escoando por algum curso d’água. Nenhum vazamento foi detectado. “No futuro, poderíamos pensar em usar isso para usinas nucleares em lugares onde há muito basalto - e há muitos lugares assim”. O basalto compõe a maior parte do relevo oceânico do mundo e cerca de 10% das rochas continentais, segundo os pesquisadores do estudo. Um relatório de 2014 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas aler-

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tou que se não dominássemos a tecnologia de captura e armazenamento de gás carbônico, poderia ser impossível limitar adequadamente o aquecimento global. A maioria dos experimentos anteriores não foram bem-sucedidos porque injetaram CO2 puro em arenito (rocha sedimentar) ou

Visão geral antiga, das opções de armazenamento geológico de CO2, pelo IPCC

aquíferos salinos, em vez de misturar o gás com água e armazená-lo no basalto. O basalto, uma rocha porosa, é rico em cálcio, ferro e magnésio, minerais que são necessários para solidificar o carbono para o armazenamento, de acordo com os pesquisadores. “Você pode encontrar basaltos em todo continente, e certamente em alto-mar, porque a crosta oceânica, abaixo do leito oceânico, é todo de rocha basáltica. Não há problemas em termos de disponibilidade de basalto para dar conta das emissôes globais de CO2.” Ainda há, no entanto, o problema do custo. Capturar CO2 em usinas e outros complexos industriais é caro – sem incentivos, o processo estaria condenado ao prejuízo. Outro ponto a ser considerado é a infraestrutura necessária para bombear gás até o local em questão. Os processos de captura e o sequestro de carbono podem ter um papel relevante na mitigação das alterações climáticas: em 2050, a Agência Internacional de Energia estima que estas tecnologias possam reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa em 19%. “Precisamos lidar com as crescentes emissões de carbono e o seu armazenamento permanente – transformá-las novamente em pedra”, defende Jureg Matter, investigador que liderou o estudo do projeto islandês.

A co-autora Sandra Snaebjornsdottir, segurando um núcleo de perfuração experimental atado com carbonato solidificado, aparentemente produzido pelo novo processo que converte as emissões de carbono em pedra quando há bombeamento subterrâneo REVISTA AMAZÔNIA

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Mudanças em relação ao que acontece dentro do manto da Terra

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ela primeira vez, geólogos compilaram um mapa global dos movimentos chamados “correntes de convecção” dentro do manto da Terra. Eles descobriram que essas correntes estão se movendo até dez vezes mais rápido do que se imaginava. A descoberta pode ajudar a explicar de tudo, desde como

Atividade dentro do interior da Terra

a superfície da Terra muda com o passar do tempo à formação dos depósitos de combustíveis fósseis, além da mudança climática de longo prazo. “Em termos geológicos, a superfície da Terra vai para cima e para baixo como um ioiô,” explicou o geólogo Mark Hoggard da Universidade de Cambridge em um comu-

nicado. Hoggard é o autor principal de um artigo científico. O interior profundo do nosso planeta é um grande mistério científico. Nunca perfuramos mais do que alguns quilômetros abaixo da superfície da Terra, e assim geólogos dependem de medições indiretas e modelos para ter ideia do que acontece lá embaixo.

Viscosidade, velocidade e estrutura de densidade do manto

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Mapas sísmicos e residuais de bancos dados topográficos. Mapa global dos movimentos ondulatórios dentro do manto da Terra. De cima para baixo como um ioiô

O manto é uma camada de quase 3000 km de uma gosmas e rochas comprimidas, e a atividade convectiva dentro dele tem grande impacto na superfície da Terra. “Além das placas tectônicas normais, o interior das placas devem ser bem entediantes e estão sendo forçados para cima e para baixo pela convecção mantélica”, explicou Hoggard ao Gizmodo. “Sabemos que isso ocorre há muito tempo, mas não tínhamos dados nos últimos 30 anos para medir.” Isso está mudando graças a novos perfis de reflexão sísmica de alta resolução criados pela indústria do petróleo. Perfilamento de reflexão sísmica é uma técnica que geólogos usam para verificar as profundezas da crosta da Terra, ao medir a reflexão e refração das ondas sísmicas conforme elas viajam para baixo. O método pode revelar mudanças em escala precisa da espessura da crosta, que por sua vez se relaciona com a convecção do manto. Ao analisar mais de 2000 medições de reflexão sísmica feitas pelos oceanos do mundo, Hoggard e seus colegas criaram o primeiro banco de dados global da convecção mantélica. Eles se surpreenderam ao descobrir mudanças frequentes na espessura da crosta no fundo do oceano, o que indica que a convecção mantélica ocorre com mais frequência do que imaginávamos – pense em uma panela com água borbulhando viDentro do manto da Terra

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gorosamente em vez de uma sopa de efervescência lenta. Essa novidade sobre o interior profundo da Terra pode ajudar a explicar todos os tipos de coisa que acontecem aqui. A formação das reservas de petróleo, por exemplo, depende do enterro e compactação de sedimentos repletos de matéria orgânica em decomposição. “Esses movimentos ajudam a controlar quão rápido rochas contendo compostos orgânicos são enterrados e cozinhados até virarem petróleo,” explicou Hoggard. A convecção mantélica também pode ter um impacto surpreendente no clima da Terra, ao afetar os padrões de circulação oceânica de grande escala que movem calor ao redor do mundo. A Corrente do Golfo, por exemplo, carrega água quente do Golfo do México para a costa da Europa ocidental, antes de esfriar e afundar perto da Islândia. “Tem esses canais estreitos ao redor da Islândia que permitem que a água afunde,” explicou Hoggard. “Se você elevar ou pressioná-los, você pode afetar toda a circulação oceânica.” Por fim, a convecção mantélica é responsável pela formação de sistemas geotérmicos, como Yellowstone, nos EUA, e

Transectos ao longo crosta oceânica mais antiga das margens do Atlântico Sul

arquipélagos de ilhas, como o Havaí, que aparecem no meio de placas tectônicas. As descobertas de Hoggard vão ajudar a explicar como e por que partes da crosta localizada muito distantes dos limites das placas estão subindo, caindo e aquecendo. “É uma grande mudança no ponto de vista,” ele explicou. “Muitos geólogos olham

Mark Hoggard, geólogo da Universidade de Cambridge

lugares distantes dos limites das placas e acham que eles são bem estáveis. O que mostramos é que essas regiões frequentemente ignoradas são provavelmente bem ativas.”

Imagens da crosta oceânica

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Topografia dinâmica observada revistaamazonia.com.br


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Recife Amazônia

o recife de coral do rio Amazonas

Cientistas anunciam que na foz do rio há um recife de coral “gigantesco”, ocupando área de 9.300 quilômetros quadrados, entre 30 e 120 metros de profundidade, numa zona de água turva – cerca de 20% maior que as áreas metropolitanas do Rio e de São Paulo. Revelação quebra paradigma vigente e pode ajudar a estudar ecossistemas semelhantes Fotos: F. Moraes, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Jason Landrum, Lance Willis, Modis/Nasa, Nara Lina Oliveira, SA/Johnson Space Center, Rodrigo Moura/Ufrj

O mundo não cessa de nos surpreender

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água doce do rio Amazonas, repleta de sedimentos, desemboca no Oceano Atlântico (ver Box “Origem da bruma”, abaixo). Até agora, acreditava-se que a pouca luminosidade e o baixo nível de oxigênio, assim como a elevada acidez do rio, resultavam numa espécie de ruptura nos recifes de corais que ocupam a costa do continente americano. Mas uma equipe de cientistas acaba de revolucionar essa crença. A pesquisa, liderada por Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, e por Fabiano Thompson, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com cientistas de diversas universidades brasileiras e americanas, revelaram revistaamazonia.com.br


O recife de coral enorme, foi descoberto na foz do rio Amazonas, abaixo de suas águas lamacentas. Uma das maiores descobertas da Oceanografia brasileira, formação se estende por 9,300 km quadrados e está repleta de espécies, como esponjas com mais de 100 kg. Surpreende cientistas, governos e empresas petrolíferas que já estão explorando em cima dele

a existência de um recife de coral com cerca de mil quilômetros de extensão na foz do rio Amazonas, entre a fronteira da Guiana Francesa e o estado do Maranhão.

São necessários estudos mais abrangentes sobre a bela e multicolorida biodiversidade do recife da Amazônia

Inusitado da descoberta “Esta é a primeira vez que um recife foi descoberto em tais condições”, disse Fabiano Thompson, um dos cientistas da equipe. “Consta nos livros que é impossível haver recifes em áreas desse tipo, que recifes não se formam na foz de grandes rios, como o Amazonas e o Ganges, por causa das águas ácidas e repletas de sedimentos e a falta de luz, por exemplo”, disse. A falta de luminosidade se explica pela espessa pluma de sedimentos e de matéria orgânica que esses grandes rios despejam incessantemente nos oceanos, revistaamazonia.com.br

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A pluma do Rio Amazonas e seus efeitos sobre o orçamento global do carbono convergem com a descoberta do sistema de recife para fornecer aos cientistas uma visão mais ampla da comunidade do recife, a sua variação e mudanças. Microorganismos que prosperam nas águas escuras sob a pluma rio pode fornecer a conexão trófica entre o rio e do recife. “O papel não é apenas sobre o recife, mas sobre como a comunidade do recife muda conforme você viajar para o norte ao longo da quebra da plataforma, em resposta à quantidade de luz que recebe sazonalmente pelo movimento da pluma”, disse Yager, que passou dois meses no Brasil como professor visitante, em uma Ciência sem Fronteiras. “No extremo sul, ele recebe a exposição mais luz, muitos dos animais são mais típicos corais de recife e coisas que fotossíntese para o alimento. Mas como você se move para o norte, muitos dos que se tornam menos abundantes, e as transições recife para esponjas e outros construtores de recifes que estão propensos crescentes sobre os alimentos que a pluma do rio oferece. Assim, os dois sistemas estão

intrinsecamente ligados.” Lá os pesquisadores encontraram mais de 60 espécies de esponjas (esponjas gigantes com até 2 metros de diâmetro e que pesam mais de 100 kg), 73 espécies de peixes de recife, muitos deles carnívoros, lagostas, estrelas e muito outra vida recife. A equipe pretende voltar em breve ao recife, usando o navio oceanográfico Alpha Crucis, o Cruzeiro do Sul, da Marinha brasileira, ou outra embarcação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Mas, infelizmente, os recifes já podem estar ameaçados. Desde a acidificação dos oceanos e o aquecimento do oceano aos planos para a exploração de petróleo no mar bem em cima destas novas descobertas, todo o sistema está em risco de impactos humanos. A descoberta do recife amazônico tem maior relevância porque os corais responsáveis pela formação dos recifes mundiais estão entre as espécies mais ameaçadas pela mudança do clima e outros fatores de estresse provocados pelo homem.

Uma das incomuns esponjas.

Um novo sistema de recife foi encontrado na foz do rio Amazonas por uma equipe de cientistas brasileiros e americanos

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tornando as águas quase impenetráveis à luz solar. Sem luz solar não pode haver fotossíntese, que é a base da cadeia alimentar nos recifes de coral das águas tropicais. Sem fotossíntese, há uma redução drástica na quantidade de oxigênio em suspensão, uma vez que o processo é responsável pela liberação do oxigênio no meio ambiente, seja ele aéreo ou aquático. Daí a ideia de que não poderiam existir recifes em desembocaduras de rios tropicais com grande aporte de sedimentos, os chamados rios barrentos. Os pesquisadores contam que tal ideia revistaamazonia.com.br


Mapa da plataforma Amazônica mostrando os mega habitats bentónicos e efeitos sazonais da pluma do rio e as estruturas de recifes recém-descobertas em amarelo

Setor Norte, na Costa do Amapá Pluma de água barrenta variando de 5 a 25 metros de espessura Aqui a pluma é mais espessa; por isso a água é mais escura e tem menor Biodiversidade Fundo lamacento, com recifes antigos, em processo de erosão, povoado por esponjas gigantes

Setor Central, frente ao Marajó Espessura e extensão da pluma variam ao longo do ano nesta região; por isso é um setor mais heterogêneo Fundo arenoso, coberto de rodolitos, com uma grande diversidade de esponjas e muita lagosta

Setor Sul, ainda no Pará A pluma de sedimentos quase não chega a essa área; por isso sua composição é mais “tradicional” Há mais algas, tanto duras (calcárias) quanto moles (macroalgas), favorecidas pela abundância de luz

permanece válida no caso dos recifes coralinos, aqueles cujas estruturas são formadas pelo acúmulo do esqueleto de corais mortos e que dependem da fotossíntese. Ocorre que recifes coralinos não são os únicos tipos de recifes. Há também os recifes formados por esponjas e algas calcárias. E é exatamente esse o caso do grande recife que floresce entre 60 e 120 metros de profundidade, a cerca de 200 quilômetros da foz do rio Amazonas. A maior parte dos 300 mil m3 de água barrenta que o Amazonas despeja a cada

segundo no Atlântico é carregada pelas correntes marítimas na direção norte e isso contribui para o novo recife não ser homogêneo, destacam os cientistas.

uma pluma permanente cuja espessura chega aos 25 metros de profundidade. Abaixo desta pluma, a luminosidade é de apenas 2%. Em tais condições praticamente não há fotossíntese. Apesar disso, há coral, esponjas gigantes, peixes e lagostas. O setor norte é o mais interessante do ponto de vista científico, justamente por ser o mais improvável. Na falta de fotossíntese, os pesquisadores já sabem que a cadeia alimentar é baseada na quimiossíntese, a capacidade que algumas bactérias muito simples

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Rico ecossistema O recife descoberto é dividido em três setores. O setor norte, que vai do Amapá até a Guiana Francesa e além (os pesquisadores acreditam que ele prossegue nas águas do Suriname), é o que se formou abaixo de

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Patricia Yager, da Universidade de Georgia, ao centro, supervisiona equipamento de amostragem oceano a bordo do RV Atlantis antes de ser abaixado em pluma do Rio Amazonas

têm de usar compostos nitrogenados e amônia para produzir energia. Essas bactérias são a base de alimentação de microrganismos, esponjas e moluscos. O setor central do recife, que fica diante da ilha do Marajó, caracteriza-se por uma pluma menos espessa que aquela do setor norte. Sua densidade é variável e decresce na direção sul. A diminuição da pluma reduz o bloqueio aos raios solares. Daí o setor central exibir uma transição entre os recifes de esponjas e algas calcárias que prevalecem ao norte e os recifes de formação coralina de águas tropicais claras que prevalecem no setor sul, entre o Pará e o Maranhão. É nessa região que se encontra o Parcel de Manoel Luiz, o maior recife de corais do Atlântico Sul, cuja existência é coPatricia Yager, esquerda, da Universidade de Georgia e Debbie Steinberg, do Instituto de Ciências Marinhas Virginia com uma amostra de água recolhida na foz do rio Amazonas

nhecida há décadas, por ser o local do maior cemitério de navios do Brasil. “Aparentemente, o recife que acaba de ser descoberto começou a se formar entre 14 mil e 12 mil anos atrás. Em termos geológicos, é recentíssimo

Novidades No recife do Amazonas, os pesquisadores identificaram 61 diferentes tipos de espon20

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Rodrigo Moura em um artigo de 1970 mencionou a captura de um peixe de recife ao longo da plataforma continental e disse que queria para tentar localizar estes recifes. Os instintos de Rodrigo Moura já diziam que o recife existia no local

jas – incluindo três novas espécies – e 73 espécies de peixes, assim como lagostas e ofiuroides. Devido à baixa luminosidade, o recife contém poucos corais, sendo dominado pelas esponjas e por um tipo de alga marinha de aparência semelhante à dos corais. Diferentemente dos recifes de coral trorevistaamazonia.com.br


Cientistas acreditam que recife da Foz do Amazonas seja mais resistente à acidez que a Grande Barreira de Corais australiana

picais, o do Amazonas depende menos da fotossíntese de mais da quimiossíntese – processo bioquímico e microbiano que produz matéria orgânica a partir de minerais, e não da luz. “A fotossínteses não desempenha um pa-

A estudante de graduação brasileira Nara Oliveira e Rodrigo Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro separando animais do recife tirados pela draga, a bordo do RV Atlantis

pel importante na base da cadeia alimentar. É uma quebra de paradigma encontrar um recife baseado na quimiossíntese”, disse Thompson. Segundo o pesquisador, recifes semelhantes podem estar “escondidos em muitos lugares do mundo”.

O rio Amazonas se encontra com o Oceano Atlântico e cria uma pluma, onde água doce e sal se misturam. A pluma afeta uma ampla área do Oceano Atlântico Tropical Norte em termos de salinidade, pH, a penetração da luz e sedimentação, condições que normalmente se correlacionam com uma lacuna importante nos recifes do Atlântico ocidental revistaamazonia.com.br

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A Foz do Rio Amazonas é o lar de uma impressionante variedade de criaturas

O recife do Amazonas fica na plataforma continental, a cerca de 80 quilômetros da costa, numa profundidade de até 120 metros – mais fundo do que recifes de coral costumam ocorrer. Peixes e esponjas associados a corais foram registrados na área pela primeira vez em 1977, e em 1999, corais foram encontrados no extremo sul da foz do rio. Mas esta é a primeira vez que o recife, descrito por Thompson como “gigantesco”, foi confirmado e mapeado.

“Havia uma pequena evidência nos estudos de 1977 e 1999. Mas isso não garantia a existência do recife e que ele era funcional. O recife está totalmente vivo, abrigando grande quantidade de peixes e lagostas”, diz o cientista.

Exemplo útil Thompson e sua equipe acreditam que estudar o recife poderia fornecer insights sobre como ecossistemas de corais lidam com

condições não ideais, com implicações para outros corais mundo afora, que enfrentam pressão crescente das mudanças climáticas e da acidificação dos mares. Na semana passada, cientistas australianos relataram que 93% da Grande Barreira de Coral – o maior sistema de recifes do mundo – foi afetado pelo processo de branqueamento, que ocorre como resultado da elevação da temperatura dos mares. Segundo Thompson, pode ser que recifes profundos sob condições marginais, como o Esponjas coletadas durante a expedição

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Dia a dia no convés, na viagem de pesquisa em 2014

Sedimentos do Rio Amazonas da Foz ao longo da costa da Guiana Francesa, Amapá e Pará

Origem da bruma Minúsculos riachos escorrem do lado leste dos picos cobertos por geleiras dos Andes, convergindo em uma série de pequenos rios. Enquanto os rios fluem juntos, eles acabam em todo os 6,516 km (4.049 milhas) de floresta densa para formar o maior rio do mundo, a Amazônia. Cerca de 219.000 metros cúbicos (7,740,000 pés cúbicos) de água-aproximadamente o equivalente a 88 piscinas olímpicas piscinas de fluxo do rio no Oceano Atlântico a cada segundo. Com esta rápida corrida de varreduras de água através da Floresta Amazônica, ele junta e pega folhas, sementes, fungos, animais e vários outros pedaços de matéria orgânica, bem como do solo e minerais e despeja tudo no equatorial do Oceano Atlântico. O enorme afluxo de nutrientes tem um enorme impacto sobre a vida no oceano Atlântico. Nutrientes com microscópica pluma de alimentação, superfície-moradia, oceano plantas (fitoplâncton), que por sua vez alimentam uma população diversificada de peixes. revistaamazonia.com.br

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Descarga de sedimentos, na Foz do Amazonas, mostrando onde o rio Amazonas se encontra com o Oceano Atlântico, fotografia de ônibus espacial em agosto 1992

Fragmentos de Carbonato (A e B) e rhodoliths (C e D) amostrados ao largo da foz do rio Amazonas. Observe manchas rosadas, indicando algas calcárias vivas incrustantes (fotos tiradas logo após a coleta). (A) Sector Norte, a 120 m; (B) Sector Sul, 23 m; (C) Sector Central, 95 m; (D) Sector Sul, 55m.

do Amazonas, sejam mais resistentes à acidificação que recifes de coral tropicais. No entanto, o próprio recife amazônico pode estar em risco diante de uma ameaça ainda mais imediata que o aquecimento global: a prospecção de petróleo. Num artigo 24

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Rodrigo Leão Moura, da UFRJ, inspeciona uma rede de arrasto recheada de esponjas coloridas revistaamazonia.com.br


A imagem acima foi obtida pelo sensor MODIS sobre Aqua em 30 de Agosto de 2003 e mostra a pluma do Rio Amazonas estendendo-se a 1000 quilômetros da costa

Espécies representativas de Esponjas coletadas ao largo da foz do rio Amazonas. (A) Clathria nicoleae; (B) oceanapia bartschi; clathrodes (C) Agelas; (D) Aplysina fulva; (E) Callyspongia vaginalis; (F) Monanchora arbuscula (anexado a viver em rhodoliths Mortas); (G) Neptuni Geodia

O Amazonas deposita cerca de três milhões de toneladas de sedimentos por dia no Oceano Atlântico

publicado na revista Science Advances, os cientistas apontam que 125 blocos petrolíferos foram oferecidos para perfuração ao longo da plataforma amazônica. Desses, 20 “em breve estarão produzindo petróleo próximo do recife de coral”. Portanto, seriam necessários estudos

mais abrangentes sobre a biodiversidade da área. “Atividades industriais de larga escala desse tipo representam um grande desafio ambiental. Empresas deveriam catalisar uma avaliação socioecológica mais completa sobre o sistema [de recifes]”, escreveram os pesquisadores.

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Até agora, os cientistas mapearam mil quilômetros quadrados – cerca de um nono da área total do recife, que é maior do que as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O impacto da pluma Amazônica é ilustrada por esta imagem, feitas a partir de dados coletados pelo MODIS – satélite do Aqua da NASA. A água dentro da REVISTA AMAZÔNIA

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Espécies representativas de peixe de recife recolhidos ao largo da foz do rio Amazonas. (A) Xyrichtys splendens; (B) Sparisoma frondosum; (C) Halichoeres dimidiatus; (D) Chaetodon ocellatus; (E) Densidade de operações de pesca dirigidas cioba (L. purpureus), em 2010, ao largo da boca Amazon. concentração Aviso de operações na plataforma externa e talude ao longo de toda região

pluma tem um volume tão alto e está se movendo tão rápido que ele não dispersa no Atlântico, e matéria vegetal de terra é provável que ainda concentrada dentro da pluma. Na verdade, a pluma Amazônica permanece concentrada o suficiente para que ele pode ser visto sinuoso vários qui-

lômetros através do Atlântico na imagem em cor natural. A pluma é uma banda de água escura que as primeiras varreduras norte de Corrente Norte do Brasil, uma corrente oceânica costeira semelhante ao Gulf Stream fora do sudeste dos Estados Unidos.

Os autores e suas instituições Rodrigo L. Moura1, Carlos E. Rezende2, Gilberto M. Amado-Filho3, Fernando C. Moraes3, Poliana S. Brasileiro3, Paulo S. Salomon1, Michel M. Mahiques4, Alex C. Bastos5, Marcus G. Almeida2, Jomar M. Silva Jr.2, Beatriz F. Araujo2, Frederico P. Brito2, Thiago P. Rangel2, Bráulio C. V. Oliveira2, Ricardo G. Bahia3, Rodolfo P. Paranhos1, Rodolfo J. S. Dias4, Eduardo Siegle4, Alberto Figueiredo6, Eduardo Hajdu7, Nils Asp8, Gustavo Gregoracci9, Sigrid N. Leitão10, Patricia Yager11, Ronaldo B. Francini-Filho12, Adriana Froes1, Mariana Campeão1, Bruno S. Silva1, Ana Paula Moreira1, Louisi Oliveira1, Ana Carolina Soares1, Renato C. Pereira6, Laís Araujo1, Nara L. Oliveira1, João B. Teixeira1, Cristiane C. Thompson1, Rogério Valle1, Fabiano L. Thompson1 1-Inst. de Biologia e SAGE-COPPE, Univ. Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2-Lab. de Ciências Ambientais, Univ. Estadual do Norte Fluminense (UENF) 3-Inst. de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) 4-Inst. Oceanográfico, Univ. de São Paulo (IO-USP) 5-Dep. de Oceanografia, Univ. Federal do Espírito Santo (UFES) 6-Univ. Federal Fluminense (UFF) 7-Museu Nacional, Univ. Federal do Rio de Janeiro (MNRJ) 8-Inst. de Estudos Costeiros, Univ. Federal do Pará (UFPA) 9-Inst. de Ciências do Mar, Univ. Federal de São Paulo (UNIFESP) 10-Dep. de Oceanografia, Univ. Federal de Pernambuco (UFPE) 11-Dep. of Marine Sciences, Univ. of Georgia, USA (UGA) 12-Univ. Federal da Paraíba (UFPB)

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Vencedores, juízes e organizadores do Desafio de Impacto Social Google 2016, no palco do evento

Prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016 Cinco ongs brasileiras receberão R$ 1,5 milhão cada do Google para transformar seus projetos em realidade

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a abertura do evento, Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, recordou que o concurso busca aliar a criatividade das ONGs de todo país e a tecnologia para promover impacto social. “Nós somos viabilizadores do talento das pessoas”, disse Fabio. Nessa 11ª edição do Desafio em escala mundial e a segunda edição da premiação no Brasil, foram cinco os vencedores do Desafio de Impacto Social Google. Cada um dos vencedores levou R$ 1,5 milhão para investir nos projetos e aumentar sua escala de atuação no país, em aplicativo com impacto social e projetos inovadores para a mudança social, transformando-os em realidade. 28

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O anúncio aconteceu em um evento realizado no escritório do Google, em São Paulo, no qual dez ONGs finalistas – selecionadas entre as 1052 inscritas – apresentaram suas ideias para uma bancada de juízes composta por personalidades do mundo sem fins lucrativos, dos setores artístico e cultural: a

atriz e apresentadora Regina Casé; Denis Mizne, Diretor Executivo da Fundação Lemann; Walela, que veio representar seu pai, o chefe Almir, Líder do povo indígena Paiter Suruí; Adriana Varejão, artista plástica brasileira e Jacquelline Fuller, Diretora do Google.org. Os juízes anunciaram quatro vencedores que receberão R$ 1,5 milhão cada. Em cima da hora, Jacquelline Fuller, Diretora do Google.org, incluiu mais um prêmio de R$ 1,5 milhão, ficando cinco os premiados com R$ 1,5 milhão. A estrela do futebol Marta, que não pôde comparecer ao evento, também participou da seleção dos vencedores. As ONGs e os projetos selecionados: • ITS-Rio (região Sudeste): plataforma revistaamazonia.com.br


Jacquelline Fuller, Presidente do Google.org, com nosso diretor Rodrigo Hühn

Ronaldo Lemos da ITS-Rio, um dos vencedores, com Rodrigo Hühn

Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, com a jurada Walela Surui, do povo indígena Paiter Suruí

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para empoderar cidadãos no debate e na criação de políticas públicas; Vetor Brasil (região Centro Oeste): portal para conectar jovens a cargos públicos de alto impacto; Arredondar (região Sudeste): solução para transformar toda compra em uma oportunidade de doação para ONGs; IPAM Amazônia (região Norte): plataforma para ajudar comunidades indígenas a se adaptarem às mudanças climáticas; e Transparência Brasil (região Nordeste): projeto para monitorar os gastos públicos na infraestrutura escolar. O grande vencedor foi escolhido pelo público em uma votação aberta realizada no site: https://desafiosocial.withgoogle.com/brazil2016, entre os dias 23 de maio e 13 de junho. O vencedor do voto popular foi – Transparência Brasil, com mais de um milhão de votos, pelo desenvolvimento de um aplicativo que monitora os gastos públicos na região Norte em infraestrutura escolar. Os cinco finalistas restantes, ganharam cada um, uma quantia de R$ 650.000 para colocar seus projetos em prática. Foram eles: Themis (região Sul): app que fornece conhecimento e ferramentas para trabalhadoras domésticas. WWF-Brasil (região Norte): projeto de rastreamento coletivo para impedir a propogação de doenças como zika e dengue; Inovagri (região Nordeste): sistema que ensina agricultores a não desperdiçar água; Aliança da Terra (região Centro Oeste): ferramenta para conectar pequenos agricultores às informações que eles precisam para melhorar seus negócios; e Centro de Valorização da Vida (região Sul): app que torna o apoio emocional acessível para pessoas em momentos difíceis.

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Denis Mizne, Diretor Executivo da Fundação Lemann, um dos juizes, com Rodrigo Hühn

Todas as dez organizações receberão assistência técnica do Google, bem como mentoria da ponteAponte, uma empresa social especializada no desenvolvimento de projetos. “Esta é a segunda vez que realizamos o Desafio de Impacto Social Google no Brasil”, disse Jacquelline Fuller, Presidente do Google.org, lembrando o Desafio de 2014. Para tornar a competição “verdadeiramente nacional”, desta vez Google reforçou a divulgação em todo o Brasil e selecionou duas ONGs finalistas de cada uma das cinco regiões do país. “O resultado foi surpreendente: as inscrições cresceram 40%, provando que as soluções baseadas em tecnologia estão sendo desenvolvidas em todo lugar para combater de maneira inovadora uma grande variedade de problemas”, explica. O “Desafio de Impacto Social Google no Brasil”, visa premiar ideias e projetos que ajudem a mudar o mundo de forma positiva.

Jacquelline Fuller, ficou surpresa com a qualidade dos projetos brasileiros REVISTA AMAZÔNIA

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Energias renováveis empregam 8,1 milhões de pessoas no mundo Novo relatório da IRENA mostra que os empregos em energia renováveis continuam a crescer mesmo com a queda na geração de empregos registrada no setor de energia em geral

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ais de 8,1 milhões de pessoas no mundo estão agora empregadas pela indústria de energias renováveis – um aumento de 5% desde o ano passado – de acordo com um relatório divulgado recentemente pela Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) durante sua 11ª Reunião do Conselho. O relatório Energia Renovável e Empregos - Revisão Anual 2016 também fornece uma estimativa global do número de postos de trabalho relacionados com grandes hidrelétricas que, em uma estimativa conservadora, representam um adicional de 1,3 milhão de empregos diretos em todo o mundo. Os países com o maior número de empregos em energias renováveis em 2015 são China, Brasil, Estados Unidos, Índia, Japão e Alemanha. Dentro do setor de energias renováveis, o segmento de energia solar

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fotovoltaica (PV) continua a ser o maior empregador em todo o mundo, com 2,8 mi-

lhões de postos de trabalho (acima de 2,5 milhões na última contagem) com empregos na fabricação, instalação e operações e manutenção. Biocombustíveis líquidos são o segundo maior empregador mundial com 1,7 milhões de empregos, seguido por energia eólica, que cresceu 5% e chegou a 1,1 milhões de postos de trabalho em todo o mundo. “O crescimento contínuo do emprego no setor das energias renováveis é significativo porque está em contraste com a tendência do mercado de energia como um todo”, explica Adnan Z. Amin, diretor geral da IRENA. “Este aumento está sendo impulsionado pela queda dos custos de tecnologia das energia renováveis e por políticas públicas mais favoráveis. Nossa expectativa é que esta tendência continue à medida que as renováveis cada vez mais se provem economicamente viáveis e os países se movimen-

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tem para alcançar seus objetivos climáticos estabelecidos em Paris.” O número total de postos de trabalho em energias renováveis em todo o mundo aumentou em 2015, enquanto os empregos no setor energético em geral caíram, de acordo com o relatório. Nos Estados Unidos, por exemplo, os empregos em energias renováveis aumentaram 6% , enquanto o emprego em petróleo e gás diminuiu 18%. Na China, a energia renovável emprega 3,5 milhões de pessoas, enquanto o setor de petróleo e gás emprega 2,6 milhões de pessoas. Como nos anos anteriores, políticas públicas favoráveis continuam a ser um motor essencial do emprego. Leilões nacionais e estaduais na Índia e no Brasil, créditos fiscais nos Estados Unidos e políticas favoráveis na Ásia têm contribuído para o aumento do emprego nesse setor. “À medida que a transição energética se acelera, o crescimento dos empregos em energias renováveis continuará forte”, disse Amin. “A pesquisa de IRENA estima que duplicar a quota das energias renováveis no mix energético global até 2030 - o suficiente para atender às metas climáticas e de desenvolvimento global - resultaria em mais de 24 milhões de empregos em todo o mundo.”

Algumas conclusões do relatório:

Índia, Alemanha e Brasil. • A energia solar fotovoltaica é a maior empregadora dentro do segmento de energias renováveis, com 2,8 milhões de empregos em todo o mundo, um aumento de 11% desde a última contagem. Os empregos cresceram no Japão e nos Estados Unidos, se estabilizaram na China, e diminuíram na União Europeia. • Fortes taxas de instalação de energia eólica na China, Estados Unidos e Ale-

manha levaram a um aumento de 5% no número de postos de trabalho em todo o mundo, que chegou a 1,1 milhão. Só nos Estados Unidos os empregos em eólica aumentaram 21%. • Empregos em biocombustíveis líquidos, aquecimento solar e grandes e pequenas hidrelétricas diminuíram devido a vários fatores, incluindo o aumento da mecanização, mercados imobiliários mais lentos, a eliminação de subsídios e a queda no número de

• Com 821 mil empregos, o Brasil continua a ser o líder em empregos em biocombustiveis líquidos. • A China responde por quase metade dos empregos em energia eólica no mundo, seguida pela Alemanha, Estados Unidos, Brasil e Índia. No Brasil, eram 41 mil empregos nesse setor em 2015, um crescimento de 14% em relação ao ano anterior – em um período no qual o desemprego recrudesceu em toda a economia. • A China lidera também em aquecimento solar, seguida por Índia, Brasil, Turquia e os Estados Unidos. • Metade dos empregos nas pequenas hidrelétricas são na China, que é seguida pela

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novas instalações. • Respondendo por mais de um terço da capacidade global de energia renovável adicionada em 2015, a China liderou o emprego com 3,5 milhões de postos de trabalho. • Na União Europeia, o Reino Unido, Alemanha e Dinamarca foram os líderes globais em emprego de energia eólica offshore. No geral, os dados de emprego na UE diminuíram pelo quarto ano devido ao fraco crescimento econômico. Os empregos nesse setor caíram 3% para 1,17 milhão em 2014, o último ano para o qual há dados disponíveis. A Alemanha continua a ser o maior empregador em energias renováveis

na União Europeia - empregando quase tantos trabalhadores como França, Reino Unido e Itália juntos. • Nos Estados Unidos, os empregos em energias renováveis aumentaram 6%, impulsionados pelo crescimento em energia eólica e solar. Empregos em solar cresceram 22% - 12 vezes mais rápido do que a criação de empregos na economia dos Estados Unidos como um todo - superando os empregos em petróleo e gás. A geração de empregos na indústria eólica também cresceu 21%. • O Japão teve ganhos impressionantes na energia solar fotovoltaica nos últimos anos, resultando em um aumento de 28% nos em-

pregos em 2014. • Na Índia, os mercados de solar e eólica têm tido uma movimentação substancial, como as ambiciosas metas de energias renováveis sendo traduzidas em políticas públicas concretas. • A África também tem visto muitos desenvolvimentos interessantes que levam à criação de empregos, incluindo o desenvolvimento de energia solar e eólica no Egito, Marrocos, Quênia e África do Sul. • As primeiras pesquisas de IRENA indicam que o setor de energia renovável empregam mais mulheres do que o setor de energia como um todo.

Energia Renovável bate recorde de crescimento em 2015 A capacidade de geração de energia renovável cresceu 8,3% em 2015, a maior taxa já registrada. No geral, a capacidade aumentou em cerca de um terço ao longo dos últimos cinco anos, com a maior parte desse crescimento vindo de novas instalações de energia eólica e solar. Em termos de distribuição regional, o crescimento mais rápido veio em países em desenvolvimento. América Central e do Caribe expandiu a uma taxa de 14,5%. 58% das novas adições vieram da Ásia, onde a capacidade de se expandiu a uma taxa de 12,4%. Capacidade aumentou 24 GW (5,2%) na Europa e 20 GW (6,3%) na América do Norte. 2015 destaca pela tecnologia: A energia eólica cresceu 63 GW (17%) graças à redução dos preços de turbinas em terra de até 45% desde 2010. Cerca de 95% da capacidade eólica agora está localizado na Ásia, Europa e América do Norte; e 90% da nova capacidade foi instalado nessas regiões em 2015 (57,1 GW). A energia Solar aumentou 47 GW (26%) graças à queda de preços de até 80% para os módulos solares fotovoltaicos. O grande desenvolvimento energia solar em 2015 foi o aumento de 48% na capacidade de energia solar na Ásia. Um aumento de 8 GW na América do Norte também ultrapassou o nível de novas instalações na Europa (7,6 OE) pela primeira vez. A energia hidrelétrica aumentou 35 GW (3%). Três quartos de nova capacidade hídrica foi instalado no Brasil, China, Índia e Turquia (26,3 GW no total). A Bioenergia aumentou cerca de 5%. Quase 40% da capacidade de bioenergia está na Europa, com mais de 30% na Ásia e no resto do Norte e América do Sul. A Geotérmica aumentou cerca de 5% (600 MW), em 2015. Quatro países (Itália, México, Turquia e Estados Unidos da América) foram responsáveis por quase todo este aumento.

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5ª EnerSolar + Brasil Até 2040, o Brasil deverá atrair cerca de US$ 300 bilhões em investimentos para a geração de energia, segundo dados Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Estima-se que 70% serão destinados a projetos solares e eólicos

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principal feira de energias renováveis do setor, reuniu recentemente em São Paulo, toda a cadeia produtiva dos segmentos de energia solar, eólica e de biomassa, com soluções voltadas para indústria dos setores de GTDC (Geração, Transmissão, Distribuição e Comercialização), 80 expositores apresentaram as mais recentes tecnologias, produtos e serviços como: micro inversores de frequência, painéis solares, estruturas de fixação, conexões, aquecedores solares, placas termo solares, painéis fotovoltaicos, aerogeradores, inversores, máquinas para transporte e manuseio de biomassa, caldeiras e queimadores. Como destaque a feira trouxe soluções “chaves na mão” de sistemas fotovoltaicos, ou seja, prontas para serem utilizadas, incluindo todos os equipamentos, mão-de-obra, documentação e o que mais for necessário para o sistema funcionar; os módulos poli-cristalinos, que apresentam maior eficiência na captação da luz solar; inversores inteligentes; e sistemas para atender o comércio e indústria de pequeno porte e de autoconsumo. Durante o Congresso Ecoenergy

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Abertura da principal feira de energias renováveis do setor. Thomas Steward, gerente da EnerSolar+ Brasil, Rodrigo Sauaia, Diretor Executivo da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), Tatiana Dalben, coordenadora do congresso Ecoenergy e Ruberval Baldini, Presidente da ABEAMA (Associação Brasileira de Energias Alternativas e Meio Ambiente)

Segundo Thomas Steward, gerente da EnerSolar + Brasil, a feira mostrou ao mercado o que há de mais recente em soluções tecnológicas. “O Brasil possui grande potencial no setor de energias renováveis. Além da excelente incidência solar, temos ventos contínuos para a geração de energia eólica em diversos Estados como no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul e estas oportunidades devem ser aproveitadas. Neste sentido que atua a feira, trazendo inovação, conhecimento e o mais importante de tudo, soluções para que estas oportunidades possam se concretizar”, destacando ainda que o sucesso da EnerSolar + Brasil foi conquistado através de diversos fatores como qualificação do público presente, a realização simultânea do Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia e a presença das principais empresas e associações do setor. Realizados pela Cipa Fiera Milano, os eventos conjuntos receberam 12 mil profissionais do setor. revistaamazonia.com.br


6º Ecoenergy – Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia No momento em que o Brasil vive uma forte desaceleração econômica, a busca pela redução de custos através da geração de energia própria tem sido uma das alternativas das empresas, e até de consumidores, para enfrentar a crise. Talvez esse seja um dos motivos pelo qual o setor de energia solar fotovoltaica tenha apresentado crescimento de mais de 300% nos últimos dois anos, contrastando com o panorama atual do mercado brasileiro. Outro fator importante é que para cada megawatt instalado, gera-se entre 25 a 30 empregos diretos, seja de instaladores de painéis, projetistas, fabricantes e montadores de sistemas fotovoltaicos. Mas para que o setor de energia solar se consolide no Brasil é preciso maior acesso das empresas a financiamentos, por meio de bancos federais ou regionais, que concedam prazo elástico de amortização e taxas de juros mais baixas; que se reduza a tributação proporcionalmente aos investimentos no setor e que se invista também na educação para formação de profissionais técnicos qualificados no País. Estas, entre outras, foram as sugestões debatidas e apresentadas durante a realização do 6º Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia, em paralelo à EnerSolar + Brasil. O tema central foi “Ações e políticas públicas, soluções para o financiamento, inovação tecnológica, venda de exce-

Grandes marcas do setor e lançamentos e tendências da indústria de alternativas em fontes energéticas sustentáveis, fizeram o sucesso da 5ª EnerSolar + Brasil

dentes e novos negócios em energia solar”. “A 6ª edição do Ecoenergy propôs a discussão dos temas mais atuais e relevantes para quem atua na área ou avalia a viabilidade de investir em energia solar. Foram abordadas e debatidas propostas, soluções e desafios nas áreas de políticas públicas de incentivo à geração solar fotovoltaica e fontes complementares, geração distribuída e financiamento de projetos e a capacitação profissional, regulamentação e gestão da comercialização de energia”, destacou a coordenadora do congresso, Tatiana Dalben. “A realização simultânea da feira também criou um ambiente de sinergia onde os profissionais puderam trocar experiências e ter acesso a informação, através do congresso, e conhecer as últimas tecnologias do setor, na EnerSolar + Brasil”.

Desafios e oportunidades Nelson Colaferro Jr., presidente da AB-

SOLAR - Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica destacou que “o setor de energia solar pode dar ao consumidor a independência de escolher sua própria fonte de fornecimento”, bastando a instalação de um painel com células fotovoltaicas, que converte a luz do sol em energia elétrica, sobre seu telhado. “Hoje temos mais de 2.500 sistemas de energia fotovoltaica conectados à rede elétrica. Há centenas de investidores dispostos a atuar no Brasil, mas para isso é necessário segurança jurídica que garanta o cumprimento dos contratos”. Colaferro argumenta que planejamento, financiamentos de médio e longo prazo, redução tributária e maior incentivo à formação de mão de obra qualificada são gargalos que precisam ser superados para o crescimento. “A energia solar é uma ótima alternativa à matriz energética brasileira. Temos um sol fantástico que brilha, em todo o território nacional, na maior parte do ano e que pode gerar eletricidade, independente se o tempo está nublado

Durante o Congresso Ecoenergy

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ou não. Mas para isto, precisamos de um setor forte e unido”. Rodrigo Sauaia, diretor executivo da ABSOLAR, defendeu maior disseminação das energias limpas e renováveis na sociedade. “Ainda falta conhecimento das pessoas sobre os benefícios da energia fotovoltaica, sistema que pode ser implantado nas residências, condomínios e lojas, gerando economia significativa na conta de luz”. Sauaia destacou que mesmo com a atual conjuntura econômica, o setor de geração solar fotovoltaica para sistemas de micro e mini-geração distribuída vem apresentando crescimento considerável, chegando a cinco vezes o volume de cotações em 2016, comparado com 2015. “No ano passado o mercado já apresentou um crescimento relevante de 308% ante 2014, e em 2016 a tendência também é de expansão”. O engenheiro disse ainda que o Estado tem o papel de contribuir para que as fontes alternativas sejam cada vez mais difundidas no País. “É preciso envolvimento do governo federal no estímulo à implantação de sistemas de energia solar fotovoltaicos nos prédios públicos como sedes administrativas, escolas e hospitais. Isto, além de ser um bom exemplo, estimularia a produção nacional de equipamentos para o setor, gerando também emprego e renda”.

Exemplos estaduais

de Minas Gerais, apontou a isenção fiscal como uma das formas diretas de incentivar os investimentos que, num primeiro momento, envolve custos mais elevados, já que grande parte dos insumos para a produção dos sistemas é importada, mas depois, segundo ele, o retorno do investimento é obtido em menos de cinco anos. “As oscilações do dólar, que ocorrem em razão da instabilidade no País também contribuem para a cautela dos investidores, especialmente das empresas de médio porte que querem implantar sistemas independentes de geração de energia”, ponderou Pereira, acrescentando que Pirapora, uma importante cidade mineira se prepara para inaugurar a maior planta de energia solar da América do Sul, com geração de 240 megawatts, prevista para entrar em operação em 2017.

Debates em pauta Ponto alto do congresso os desafios e as oportunidades da geração distribuída foram discutidos por diversos especialistas do setor. Maura Galuppo Botelho Martins – Superintendente de Regulação Econômico Financeira da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) apresentou as oportunidades neste mercado destacando que as condições geográficas e climáticas do Brasil permitem inferir que o País

tem um imenso potencial solar ainda não explorado. A executiva mostrou um comparativo entre a Alemanha, referência no setor, e o Brasil, enfatizando que o território alemão corresponde a 5% da área territorial do Brasil; que a irradiação solar média do Brasil equivale a quase o dobro da alemã; e que o País possui em atividade apenas 0,4% da capacidade solar já instalada na Alemanha. Reafirmando as grandes oportunidades e perspectivas na área, o Presidente da ABGD – Associação Brasileira de Geração Distribuída, Carlos Evangelista, chamou a atenção do público para um dado divulgado pela ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, de que haverá 1.200.000 consumidores em GD até 2024. Outro dado relevante apresentado pelo executivo e divulgado pela EPE - Empresa de Pesquisa Energética, é que 13% das residências no País terão energia proveniente de fonte FV até 2050.

Agenda EnerSolar + Brasil e Ecoenergy 2017 A 6ª EnerSolar + Brasil | Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar e o 7º Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia serão realizados de 23 a 25 de maio de 2017, no São Paulo Expo, em São Paulo.

Atualmente, 16 Estados brasileiros aderiram ao convênio 16/2015 do Confaz que concede desconto do ICMS pela energia gerada na conta do consumidor. Minas Gerais, Pernambuco e mais recentemente, Roraima adotaram a redução de impostos na micro-geração de energia. De acordo com a ABSOLAR, já foram beneficiadas nesta modalidade cerca de 80 mil habitantes, que tiveram seus custos reduzidos com energia em até 15%. Sobre os desafios do setor, o representante do Estado de Minas Gerais, Gil Pereira, que presidiu a comissão de minas e energia 36

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ExpoAlumínio 2016 – Congresso Internacional do Alumínio

Maior evento do setor de alumínio da América Latina, promovido pela Reed Exhibitions Alcantara Machado e realizada pela Associação Brasileira do Alumínio (Abal), no São Paulo Expo Fotos: Divulgação

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urante a cerimônia de abertura do 7º Congresso Internacional do Alumínio, a narrativa e a exposição de dados dos convidados comprovam uma expectativa de retomada a partir de uma nova conjuntura econômica no país – anseio tanto da própria indústria do alumínio como dos segmentos consumidores. O presidente do Conselho da ABAL, Alberto Fabrini, reforçou esse cenário ao dizer que o metal é o segundo mais consumido no mundo, seja por substituição a outros materiais, por suas vantagens como reciclabilidade e leveza ou pela sua utilização em novos mercados como painéis fotovoltaicos. E finalizou com um alerta: “O Brasil precisa enxergar a indústria de base como estratégica e apresentar uma política industrial permanente, clara e estável que permita ao setor estabelecer um planejamento de longo prazo. É imprescindível, ainda, o fomento à inovação, com um ambiente regulatório definido e seguro e um arcabouço tributário mais racional, que não penalize quem produz”. Durante o Congresso Internacional do Alumínio

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Na Ilha do conhecimento, a palestra de Eric Thurston, gerente especialista em reciclagem de metal da Tomra

Nessa mesma linha, o Secretário-executivo do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Fernando de Magalhães Furlan, afirmou que “o que fazemos com nossas riquezas concerne a nós para agora e para as futuras gerações” e lembrou que o Brasil possui a terceira maior reserva de bauxita do mundo - minério que dá origem ao alumínio. Frisou a importância de um trabalho conjunto para se encontrar soluções para o setor, como os já fechados acordos para a indústria automobilística em mercados como Peru, Colômbia e México. Para traduzir em números e mostrar o peso da indústria para a economia nacional, o Economista Gustavo Loyola trouxe alguns cenários da economia internacional e doméstica. Segundo ele, os problemas que hoje o Brasil enfrenta são internos e não causados por fatores econômicos externos. Otimismo e confiança foram as duas palavras que envolveram o discurso do economista Gustavo Loyola. Com informações sobre macroeconomia, desafios e tendênrevistaamazonia.com.br


Na abertura do 7º Congresso Internacional do Alumínio

cias, ele conseguiu revelar alguns caminhos para o futuro da indústria do alumínio. Mesmo com a retração dos principais mercados consumidores com a queda do PIB e o atual momento econômico, o mercado não se mostrou acanhado, pelo contrário, continuou com investimentos no nível de 2,1 bilhões em 2015. Esse fato mostra que as empresas já conseguem enxergar que continuar apostando nessa indústria trará um diferencial maior para competir futuramente. Loyola explicou que, no médio a longo prazo, cenário alternativos têm como gatilho principalmente a melhoria do ambiente político e consequentemente força para implementação de agenda de reforma estrutura. O que explica as apostas no uso do alumínio, pois comparado com outros materiais concorrentes, ele mostra um comportamento melhor no desenvolvimento de produtos mais leves, eficientes e sustentáveis. A força desse crescimento torna-se mais visível observando o consumo no Brasil, que hoje está por volta de 7 quilos por pessoa em confronto com os 35 quilos por cada alemão (a Alemanha é um dos países que o revistaamazonia.com.br

O economista Gustavo Loyola, em seu discurso: Otimismo e confiança foram as duas palavras que envolveram o discurso do economista na abertura do 7º Congresso Internacional do Alumínio

processo de utilização do alumínio está em estágio mais avançado). O economista também disse que agora é o início de uma retomada a partir de investimentos e não mais de fomento ao consumo, já que há um excesso de oferta global. Além disso, lembrou que o período de maior retomada deve coincidir com as próximas eleições. Finalizando a abertura do evento, representantes dos três maiores mercados consumidores de alumínio - Automotivo, Bens de Consumo e Construção Civil demonstraram como o metal contribui para melhorar a competitividade de cada um. O presidente da Anfavea, Antonio Carlos Botelho Megale, mostrou que o Brasil caminha para se tornar uma plataforma de exportação de automóveis, inclusive com importantes acordos comerciais sendo fechados com outros países. A indústria de cosméticos e higiene pessoal representada pelo Vice-presidente de Inovação da Natura, Gerson Pinto, mostrou a presença do metal em suas embalagens - segmento com melhor desempenho para a indústria do alumínio. Mercado em expansão, os aerossóis são um bom exemplo dessa parceria que, segundo o executivo conquistam os consumidores por prolongar a vida útil do produto, conferir maior beleza e leveza às embalagens, além de permitir o desenvolvimento de novas tecnologias. A ExpoAlumínio 2016 – Exposição Internacional do Alumínio reuniu os principais players do mercado de alumínio para o Brasil e toda América Latina, e as mais importantes tecnologias para esse setor industrial e mais de 10.200 mil visitantes entraram em contato com mais de 160 marcas nacionais e

Carina Arita, gerente comercial da Tomra, na Ilha do conhecimento, na palestra de Eric Thurston, gerente de Reciclagem de Metais da Tomra Sorting, que explanou sobre as soluções que a empresa utiliza para a separação da sucata de alumínio utilizada em automóveis REVISTA AMAZÔNIA

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Novidade de mercado na ExpoAlumínio, o semirreboque feito 100% de alumínio (tipo silo) para transporte de carga a granel

internacionais, nos três dias de evento. O evento recebeu patrocínio máster da Bastou o árbitroBrasileira autorizar começo do combate para a brasileira Jennifer esticar o braço e esperar pelo Alcoa, CBA - Companhia deoAlumínio, Hydro e Novelis e apoio de mais de típico dos profissionais quando iniciam a luta. Mas a adversária alemã toque de luvas (cumprimento) 30 associações do mercado. Ao participar não quis nem saber e partiu para cima com inúmeros socos até alcançar o nocaute em pouco mais de do congresso e exposição, a Tomra obteve dez segundos. ‘Fair play zero no evento realizado em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos)! retorno positivo em duas frentes, de acordo com a gerente de vendas Carina Arita. “O E a PERGUNTA que fica, obviamente: falta de esportividade do tipo deveria ser sempre punida ? Opine! Brasil tem muito potencial para aumentar a reciclagem do alumínio. Por isso, estar na ExpoAlumínio é interessante, pois apresentamos nossas soluções em triagem e seleção automática de sucata. Recebemos clientes de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, O estande da Alcoa Brasil, líder mundial Argentina e Venezuela. Além disso, partiem tecnologia, engenharia e fabricação cipamos do Congresso e foi espetacular a de metais leves, dentre os produtos que o resposta que tivemos”. visitante podia encontrar estavam: produtos

Eventos paralelos Os eventos, que aconteceram paralelamente, reuniram especialistas da área e de mercados consumidores, além de estudantes. Mais de 930 congressistas assistiram às palestras e painéis divididos em mais de 90 temas. Por seu caráter internacional, o Congresso trouxe especialistas de diferentes entidades e nacionalidades, como o vice-secretário geral do IAI – International Aluminium Institute, Chris Bayliss, que abordou o manejo de resíduos da mineração, bem como Eric Thurston, gerente de Reciclagem de Metais da Tomra Sorting, que explanou sobre as soluções que a empresa utiliza para a separação da sucata de alumínio utilizada em automóveis. Ou, ainda, o diretor da Global Aluminium FoilRollerInitiative (GLAFRI), Stefan Glimm, que apontou formas para impulsionar o crescimento de embalagens metálicas por meios de iniciativas globais. Conteúdos sobre fundição, novas normas técnicas, extrusão, refratários e utilidades domésticas também fizeram parte da programação do evento que se consolida como o principal do setor nas Américas.

primários, extrudados, laminados, rodas, sistemas de fixação e aeroespacial

O estande da Hydro no Brasil apresentou seu trabalho no Pará e demonstrando a importância do estado para a indústria do alumínio

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Sustentabilidade: indústria do aço reaproveita 88% dos resíduos gerados Instituto Aço Brasil divulga Relatório de Sustentabilidade durante o Congresso Brasileiro do Aço. Preocupado em criar uma relação de responsabilidade solidária com os terceirizados do ramo de carvão vegetal, setor reporta evolução de Protocolo e lança cartilha de orientação ambiental e social

Fotos: Marcos Issa/Argosfoto No lançamento da cartilha Boas Práticas na Produção de Carvão Vegetal

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urante o processo produtivo da indústria brasileira do aço cerca de 20 milhões de toneladas de coprodutos e resíduos são gerados por ano, mas em 2014 e 2015 o setor conseguiu reaproveitar, respectivamente, 87% e 88% deste material em sua própria produção ou nas indústrias da cadeia, como a do cimento. Apesar da crise, as empresas do setor mantiveram seus investimentos em ações de proteção ambiental, que alcançaram R$ 2,5 bilhões nestes dois anos. Metade da energia consumida nos processos produtivos, por exemplo, já é gerada pelas próprias indústrias e mais de 95% da água doce utilizada está sendo reutilizada. Estes dados estão relatados no Relatório de Sustentabilidade, que acaba de ser divulgado pelo Instituto Aço Brasil, durante o Congresso Brasileiro do Aço, em São Paulo. De edição bianual, o relatório demonstra que a indústria do aço está comprometida com os princípios da economia circular, baseada na regeneração e na reciclagem dos recursos naturais e na valorização dos recursos humanos. “O Brasil vem cumprindo seu dever de casa e não deixa a dever a nenhum parque industrial do mundo”, destaca Luiz Paulo Barreto, Diretor Corporativo Institucio-

Marco Polo de Mello Lopes, Presidente Executivo do Instituto Aco Brasil

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Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, na abertura do Congresso Brasileiro do Aço

nal da Companhia Siderúrgica Nacional. A CSN é, inclusive, a primeira empresa a aderir à rede de economia circular da Fundação Ellen MacArthur, se comprometendo a avançar em práticas sustentáveis.

Carvão Vegetal Também foi lançada no congresso a cartilha Boas Práticas na Produção de Carvão Vegetal. A publicação será distribuída nas regiões Sudeste e Norte do Brasil, onde se concentra a maior parte dos produtores de carvão, e tem como finalidade esclarecer e orientar sobre medidas que podem evitar danos ao meio ambiente e proteger os trabalhadores de acidentes e de problemas de saúde provocados pela atividade. A indústria do aço brasileira ainda não é autossuficiente na produção de carvão vegetal para a produção de ferro gusa e aço. Da madeira utilizada para a produção de carvão vegetal, em 2014, 85% foram oriundos de florestas próprias, 8% de florestas plantadas por terceiros e 7% de resíduos florestais legalizados. Já em 2015, 86% eram oriundas de florestas plantadas próprias, 10% de terceiros e 4% de resíduos florestais devidamente legalizados. Preocupado em construir uma relação de responsabilidade solidária com os terceirizados deste ramo, o Aço Brasil criou o Protocolo do Carvão Vegetal em 2012, cujo reporte de atividades integra o Relatório de Sustentabilidade das empresas associadas. A cartilha contém instruções sobre temas

No Painel “Industria Nacional - retomada do crescimento – o que fazer” Esq. p/ Dir: Robson Braga de Andrade, Presidente da CNI; Marco Antônio Saltini, Vice-Presidente da Anfavea; Marco Polo de Mello Lopes, Presidente Executivo do Instituto Aco Brasil; Jose Carlos Rodrigues Martins, Presidente da Camara Brasileira da Industria da Construcao e Decio da Silva, Presidente do Conselho da WEG

No Painel “Futuro da Industria Brasileira do Aco – A visao dos CEOs” Esq.p/dir: Andre B. Gerdau Johannpeter, Conselheiro Aco Brasil / DiretorPresidente (CEO) da Gerdau, Jefferson De Paula, Conselheiro do Aco Brasil / CEO da ArcelorMittal Acos Longos - Americas Central e do Sul, Antonio Delfim Netto, Economista, Benjamin Steinbruch, Conselheiro Aco Brasil / Diretor-Presidente da CSN, Sergio Leite, Conselheiro do Aco Brasil / DiretorPresidente da Usiminas e Germano de Paula, Univ. Fed. de Uberlandia

como replantio de florestas e origem da madeira, uso de equipamentos de segurança e direitos dos trabalhadores. revistaamazonia.com.br


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Feconati- Feira Internacional de Construção Sustentável Fotos: Divulgação A Edição de 2016 aconteceu entre os dias 01 a 04 de junho em Atibaia, São Paulo

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m sua terceira edição Feconati – Feira Internacional de Construção Sustentável organizada pelo Grupo Perfil comemora resultados positivos tanto na visitação quanto para o ciclo de palestras que aconteceu durante o evento, quando estiveram presentes, empresários, engenheiros, arquitetos, construtores de vários estados. Além de muitos estudantes que marcaram presença na feira. “A Feconati é uma feira que além de apresentar produtos ecológicos e tecnologias sustentáveis também atrai pelas palestras que promove com conteúdo altamente técnicos, esclarecedores com temas e cases ministrados pelos mais importantes especialistas em sustentabilidade do país”, afirma Eliane Pires Dias, organizadora da Feconati. Segundo a arquiteta e proprietária da Casa Micura, especializada em construção Light Steel Frame, Heloisa Pomaro, a edição de 2016 da Feconati foi boa em termos de qualidade de visitantes no seu stand, fez muitos contatos que gerarão futuros negócios. “Durante a feira distribuímos 90% de nossos panfletos”, diz a arquiteta. “Outro dado importante, estudantes de arquitetura e técnicos vieram ao nosso espaço, é muito importante o interesse desta nova geração e futuros clientes já se aprofundarem na construção sustentável”, concluiu. Para David William, engenheiro elétrico e diretor da Nyfan Service, empresa que atua em geração de energia solar, eólica e convencional que participou da feira disse que fez diversos contatos potenciais com

Durante a palestra “Uso do Bambu na Construção”

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Palestra Geração de Energia Solar - David William

construtores, engenheiros e empresários do varejo. “A Feconati é uma vitrine onde podemos expor nossos produtos e esclarecer dúvidas e orientar o funcionamento de todo funcionamento do sistema de energia solar. Durante minha palestra sobre este tema pude perceber que ainda há muitas dúvidas sobre esta tecnologia e que foram sanadas”, disse David. Para o engenheiro a captação de energia

solar é uma tendência, atualmente existem dois mil sistemas instalados em todo país, mas a estimativa é que em três e quatro anos o número suba para 10 a 15 mil aquisições do sistema instalado. Minimizar os impactos na natureza e buscar alternativas para construção civil, uma das áreas que mais geram resíduos, faz com que mais profissionais do setor pesquisem sobre os novos materiais e novas tecnologias sustentáveis. É o caso do representante de uma empresa de construção de São José dos Campos, Leandro Bravo que visitou a Feconati “é muito importante ter este vinculo entre os métodos construtivos convencionais e sustentáveis e por isso vim até Atibaia conhecer o que os expositores estão apresentando”, conclui. A cada ano a Feconati vai se posicionando como uma feira focada no setor de construção e tecnologias sustentáveis e se consolida como uma vitrine para os expositores e também para técnicos estarem cada revistaamazonia.com.br


vez mais a par das novidades por meio das palestras promovidas. O presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Atibaia e Região, José Roberto Dobrado Junior, que esteve presente na palestra ministrada pelo CREA- SP, disse que a implantação de projetos sustentáveis é fundamental, embora ainda seja muito caro elaborar um projeto totalmente dentro deste conceito. “Há ainda muita dificuldade por causa do alto custo nos projetos, é necessário que haja mais incentivos do governo para adoção dessas práticas, para que os preços sejam adequados, pois ainda é inviável implantar. Necessitamos de mais subsídios”, diz o engenheiro. “Na Feconati as empresas que comercializam geração de energia solar já possuem financiamentos via BNDES, mas eu desconheço essas linhas de crédito, por exemplo, em recursos de reuso e captação de água de chuva”, continua Junior. O engenheiro civil Joni Matos Incheglu, conselheiro CREA-SP apresentou em sua palestra cases do projeto este desenvolvido pela Apemec - Associação de Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo. “Aplicação do Sistema de Água de Reuso implantado em Creches da Prefeitura de São Paulo”. Para Incheglu, a sustentabilidade não é mais uma opção e sim uma questão de sobrevivência para qualquer organização que busque o Feconati – Feira Internacional de Construção Sustentável foi organizada pelo Grupo Perfil

Na palestra ministrada pelo representante do CREA- SP

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Estudantes de engenharia, arquitetura e técnicos foram presença constante

sucesso em seu ramo de atuação, além do retorno a própria sociedade que pode desfrutar de um ambiente menos nocivo. A preocupação do CREA-SP com o tema sustentabilidade fez com que a entidade criasse o projeto “Casa de Engenharia” inaugurada em todo estado de São Paulo, com uma mesma identidade visual com condições de acessibilidade e visibilidade servindo de modelo para os projetos verdes com construção Steel Frame, geração de energia solar, captação de água pluvial, ventilação cruzada e uso de climatizados. Investir em construções sustentáveis é uma via sem volta, pois aumenta o bem-estar, o conforto e a produtividade, além de melhorar as condições do Meio Ambiente e evitar desperdícios de recursos naturais. São investidos no Brasil cerca de R$ 13 bilhões em construção verde e investir em susten-

Nosso diretor Rodrigo Hühn com o professor Lívio Giosa, presidente do Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental, após ministrar a palestra Sustentabilidade nos Negócios com Resultados

tabilidade é agregar valor ao empreendimento e à marca. “É um fator importante nas empresas atuais que precisam encontrar o equilíbrio entre a geração de lucro e responsabilidade social e ambiental, para que seus negócios se desenvolvam de forma a obterem resultados sustentáveis e gerar valores agregados aos seus produtos e marcas. O mercado da construção sustentável está em crescimento e é um mercado que gera uma economia criativa que busca soluções e alternativas. As empresas que se conscientizarem que há necessidades emergenciais e fizerem investimentos na economia verde, certamente, serão lembradas e estarão contribuindo tanto na sustentabilidade como no crescimento e resultados positivos para seus negócios”, falou Livio Giosa, presidente do Ires – Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental, em sua palestra durante a Feconati. A expectativa para o próximo ano é um aumentar ainda mais a adesão de público e expositores, “A Feconati que acontece em um excelente momento para o mercado da Construção Sustentável: profissionais do setor e consumidores de forma geral estão mais atentos aos novos produtos e buscam soluções para a crise hídrica e energética”, afirmou Eliane Dias Pires. REVISTA AMAZÔNIA

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Uma em cada cinco

espécies de plantas estão em risco de extinção revela primeiro censo global da flora mundial De acordo com o primeiro censo global da flora elaborado pelo centro botânico Kew Gardens de Londres, 21% das plantas de todo o mundo estão em perigo de extinção

Canavalia reflexiflora, espécie brasileira de leguminosa, encontrada em um local ameaçado pela expansão da cultura cafeeira. É incomum, por ser polinizada por beija-flores e não por abelhas

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Cientistas britânicos alertam que a agricultura – como os mangues sendo transformado em fazendas de camarão – representam grande ameaça de extinção de espécies de plantas

Fotos: Cristiane Snak, State of the World’s Plants, 2016, Kirsty Wigglesworth

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censo catalogou a existência de quase 391 mil espécies de plantas em todo o mundo. Não são só bonitas ou feias, grandes ou pequenas, vulgares ou raras. São importantes para o planeta, são usadas na medicina, no ambiente, na comida para pessoas e animais, roupas, biocombustíveis e até para a produção de venenos. “Já havíamos elaborado relatórios sobre a situação global das aves, tartarugas marinhas e até mesmo de pais de família. Mas, apesar de sua grande importância, esperávamos ainda um censo sobre as plantas. Ele já está feito”, disse a professora Kathy Willis, diretora científica dos jardins botânicos reais de Kew, no oeste de Londres. “Dada a importância fundamental das plantas para o bem-estar humano, para a alimentação, combustível e regulação do clima, é importante sabermos o que acontece”, acrescentou Willis sobre o primeiro relatório, que terá uma periodicidade anual. Mais de 391.000 espécies de plantas vasculares – que possuem raiz, caule e folhas, e um sistema vascular que permite a circulação de água e elementos nutritivos – foram pesquisadas para o relatório “Estado das plantas no mundo”, um número que poderia crescer nas próximas edições, porque a cada ano 2.000 novas plantas são descobertas,

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Centro botânico Kew Gardens, Royal Botanic Gardens, em Londres

principalmente no Brasil, Austrália e China. Cerca de um décimo dessas plantas servem para alimentar ou curar. Estudos anteriores haviam apresentado conclusões muito díspares sobre o número de plantas ameaçadas de extinção, de 10% a 62%. Para os botânicos do Kew Gardens, trata-se de 21% das espécies. O interesse de publicar anualmente o estudo “é o de observar as tendências”, disse Steve Bachman, coordenador do relatório.

“Se nós não examinarmos essas informações, preenchermos as lacunas do conhecimento e fazermos algo, estaremos em uma situação perigosa”, disse Willis.

Mais fácil sensibilizar sobre a extinção dos elefantes Sensibilizar o público sobre a ameaça a uma planta é muito mais difícil do que no caso dos elefantes africanos, tigres de BenREVISTA AMAZÔNIA

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Mapa do estado das plantas do mundo

Índice de Vegetação de sensibilidade (com as alterações climáticas (2000-2013)

Regiões verdes que representam aquelas potencialmente mais resistentes às mudanças climáticas Fontes: Royal Botanic Gardens Kew, Seddon et al.

Mais do que 10% das áreas de vegetação são muito sensíveis às mudanças climáticas

1 em 5 plantas está sob a ameaça de extinção

gala ou florestas tropicais. E, no entanto, “as florestas cobrem apenas uma pequena parte do mundo vegetal”, afirmou a diretora científico do Kew Gardens. “Acho extraordinário que nos preocupemos com o estado global das aves, mas não das plantas”, disse Willis. De acordo com o relatório, a principal ameaça para as plantas vem da agricultura, por causa da lavoura excessiva. A construção, doenças e pesticidas são outros fatores prejudiciais. Em contrapartida, as alterações climáticas têm tido, até agora, um papel marginal. “No entanto, não devemos esquecer que às vezes leva trinta anos para a próxima geração de plantas produzirem flores e pólen. Orquídeas de batata-doce: relatório Kew insta comunidade científica global para garantir a saúde do planeta. O primeiro relatório anual de plantas do mundo, envolveu mais de 80 cientistas e levou um ano para ser produzido

31.128 espécies de plantas conhecidas pela ciência, utilizadas como medicinal, alimentar ou material de construção...

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Portanto, não podemos medir o impacto real das mudanças climáticas até 2030”, disse Willis, que pediu “vigilância”. O documento tem 80 páginas e uma versão na web que reúne informações de outros estudos para criar um banco de dados. “Foi um trabalho enorme que envolveu mais de 80 cientistas. A ideia era recolher, condensar e tornar legível o conhecimento disperso para atingir o maior número possível de pessoas”, explicou Steve Bachman. O relatório a partir de agora será publicado anualmente. O Kew Gardens espera que assim possam ter comparações sobre como preservar as plantas do mundo. revistaamazonia.com.br


Kew Gardens, no sudoeste de Londres tem uma das maiores coleções de plantas do mundo

Carlos Magdalena, horticultor botânico, olha para a flor da Ramosmania rodriguesi, uma das planta em extinção, no Royal Botanic Gardens, em Londres

Outras ameaças vieram de espécies invasoras, represa de construção e os incêndios. “Nunca houve um estudo de plantas do mundo”, disse Kathy Willis, diretora de ciência em Kew, que tem uma das maiores coleções de plantas do mundo em suas estufas e jardins. “Dado como absolutamente fundamental, as plantas são essenciais para o bem-estar humano, produção de alimentos, de combustível, regulação do clima, por isso, é

Paphiopedilum Rothschildianum, outra planta em extinção, no Royal Botanic Gardens, Kew, em Londres

Professora Kathy Willis, diretora científica dos jardins botânicos reais de Kew

Amazônia (Floresta Amazônica) No norte e centro-oeste do Brasil, compreende uma grande variedade de formas de vegetação, dos quais – inundados e terra firme. Florestas baixas predominam. Cobertura: 49,3% do território brasileiro, estendendo-se muito além das fronteiras do Brasil na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e as Guianas. Ameaças: O chamado arco do desmatamento se estende pela Bacia sudeste da Amazônia. Muitos projetos hidrelétricos afetam grandes rios, e danos mais localizados é causada pela mineração em diferentes locais dentro da Bacia. revistaamazonia.com.br

Como vastas extensões desse bioma são ainda pouco exploradas é possível que uma proporção razoável de sua biodiversidade permaneça sem registro, enquanto grandes vãos deste bioma sofrem modificações grave. O estudo, estima que há um total de 390.900 plantas conhecidas pela ciência, descobriu que a agricultura é a maior ameaça de extinção, o que representa 31 por cento do risco total para as plantas. Exploração madeireira e coleta de plantas, seguido de 21,3 por cento, com o trabalho de construção atribuindo para 12,8 por cento do risco. A ameaça das alterações climáticas e tempo severo foi estimado em tornando-se 3,96 por cento, embora os cientistas achem que pode ser muito cedo para medir os efeitos a longo prazo.

Seis biomas de vegetação são reconhecidos no Brasil

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Exploração madeireira na Amazônia e outras florestas tropicais representam 21,3 % do risco de extinção do total de plantas, de acordo com o Royal Botanic Gardens

muito importante que saber o que está acontecendo. O relatório diz que 1.771 áreas do mundo têm sido identificadas como “áreas de plantas importantes”, mas muito poucos têm sido as medidas de proteção e de conservação do lugar. Kathy Willis, também disse que 2.034 plantas vasculares – que excluem os musgos e algas – foram descobertos só no ano passado, incluindo uma enorme comedora

de insetos sundew Drosera (1,5 metros (5 pés) de altura em uma montanha de Minas Gerais, em 2015, um novo tipo de cebola e uma orquídea gigante. A maioria das novas descobertas estão na Austrália, Brasil ou China.

Parentes selvagens As 5538 espécies de plantas que servem para consumo humano, são muito poucas

ainda. É preciso encontrar mais e apostar também na procura de parentes próximos das culturas tradicionais. “Dependemos de duas ou três espécies que fazem a produção do milho, do centeio e do trigo. Estamos tentando fazer mais investigação com as chamadas parentes de culturas selvagens, espécies que existem nas florestas e que são parentes próximos de culturas tradicionais, como os feijões, a batata ou a banana”. Estes “primos selvagens” dos feijões ou de

A expansão da agricultura e da produção de óleo de palma estão entre as maiores ameaças à vida vegetal

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Pygmaea Rebutia no berçário tropical nos jardins de Kew

A Nymphaea thermarum, uma planta em extinção, cresce no Royal Botanic Gardens, Kew

Ferocactus fordii preservado no Herbário de Kew, Royal Botanic Gardens Ipomoea, uma espécie da família da batata doce

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Cerca de 2.000 novas espécies de plantas também são descobertas a cada ano, como esta enorme planta Brasileira “comendo insetos” (Drosera magnifica) de 1,5 metro de altura

outra coisa qualquer que vivem nas florestas normalmente não são comestíveis mas podem ter genes importantes para resistir a doenças e responder a outras ameaças das culturas tradicionais. É mais um motivo para preservar a biodiversidade. Mais um motivo para dar importância às plantas. “As plantas representam um dos componentes mais importantes da biodiversidade, a base da maioria dos ecossistemas existentes. Têm ainda o potencial de resolver grande parte dos problemas que existem hoje e de responder a desafios futuros da humanidade”, considera Richard Deverell, diretor dos Reais Jardins Botânicos de Kew. No próximo ano, os cientistas vão apresentar novo relatório com os dados atualizados. “O interesse é fazer uma avaliação do estado das plantas ao longo do tempo e criar um barómetro para o perigo de extinção das plantas, como se faz há muito tempo para as aves ou os mamíferos. Há muito mais plantas do que animais ou aves e, por isso, esta é uma tarefa muito mais difícil. Os cientistas esperam ainda conseguir alargar o alcance deste documento que se centra apenas nas plantas vasculares para que passe a incluir também o estado dos briófitos (pequenas plantas sem flor ou semente), das algas e dos fungos no mundo. REVISTA AMAZÔNIA

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O papel estratégico das abelhas na conservação da biodiversidade por Ana Lucia Assad* Denise de Araújo Alves**

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s polinizadores possuem um papel crucial na conservação da biodiversidade. Quase 90% das plantas com flores são dependentes de animais para a transferência de grãos de pólen em quantidade suficiente para a fertilização dos óvulos e a consequente formação de frutos e sementes, permitindo sua multiplicação. Sempre pensamos nas abelhas como insetos exclusivos da polinização, contudo existem muitos outros que fazem parte desta cadeia, a exemplo de pássaros, morcegos, besouros, borboletas e mariposas. Das 115 culturas agrícolas que lideram a produção global, 70% se beneficiam da ação desses polinizadores, o que representa 35% do suprimento alimentar para a população humana. Esse benefício é refletido na produção de frutos maiores, mais pesados e vistosos, com maior número de sementes, maior teor de nutrientes e maior valor de mercado, o que se traduz em lucro direto para o agricultor. No Brasil, cerca de 60% das culturas agrícolas de importância econômica – para alimentação humana, vestuário, pecuária, biocombustível – dependem, em algum grau, de polinizadores, que contribuem com quase 30% do valor anual da produção agrícola nacional. Por sua importância, vamos nos concentrar nas abelhas. Elas são elementos e elo importante na cadeia produtiva e reprodutiva mundial. As abelhas formam um grupo numeroso de insetos, com cerca de 20 mil espécies descritas no mundo. O alto número de espécies também reflete na diversidade de tamanhos, cores, preferências florais e locais para fazerem seus ninhos. E, ao contrário do que muitos pensam, a maior parte das espécies é solitária. Isso significa que uma fêmea faz todas as tarefas: procura um local apropriado para fundar seu ninho, o defende, busca material para construir as células de cria, coleta alimento para sua cria e põe os ovos. Entre as abelhas com sociedades avançadas, aquelas que formam colmeias, estão as conhecidas abelhas melíferas (“abelha 52

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Fotos: Divulgação, Ronaldo Rosa / Embrapa Amazônia Oriental, Katie Kline

Abelha Apis mellifera africanizada visitando a flor da laranjeira

Abelha Xylocopa sp. (mamangava) coletando pólen na flor da goiabeira

africanizada”, “africana”, “europeia”) e as abelhas sem ferrão. Elas produzem o mel,

a própolis, a cera, e também atuam diretamente na polinização de plantas, sejam elas revistaamazonia.com.br


Abelha nativa solitária polinizando flores da castanha do Pará

Abelha polinizando uma flor de Maracujá Abelha polinizando uma flor de limoeiro

de ambientes naturais ou de interesse agrícola (frutas, legumes, fibras, castanhas), ou seja, prestam um importante serviço cujo valor econômico e desconhecido para a grande maioria das pessoas. No Brasil já existem mais de 1.830 espécies identificadas, mas com certeza existe um número muito superior a este, distribuídas nas florestas, pantanal, cerrados, caatinga, pampa. Possuem diferentes tamanhos, cores, e formas de organização – solitárias e sociais. Entre as abelhas sem ferrão (apenas no Brasil, conhecemos 240 espécies), as mais conhecidas são a jataí, a uruçu, a mandaçaia. Contudo, a mais conhecida ainda é a Apis mellifera (conhecida como abelha africanizada), muito utilizada para a produção de mel, própolis, geleia real e para polinização dirigida. Mas ela não é nativa do Brasil, e é um híbrido das subespécies europeias (A. mellifera carnica, A. mellifera ligustica), introduzidas pelos jesuítas no século XIX, com a subespécie africana (A. mellifera scutellata), introduzida em 1956, com a finalidade de alavancar a apicultura nacional.

Redução da população A diminuição das populações de abelhas, assim como de muitas outras espécies de animais, tem sido registrada e tem causarevistaamazonia.com.br

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Abelhas atuam diretamente na polinização de plantas e biodiversidade vegetal

ção, degradação ambiental, perda de áreas naturais; b) a intensificação agrícola: extensas monoculturas, uso abusivo de agrotóxicos e de fertilizantes inorgânicos, redução de margens com flores nas plantações; c) a disseminação e a transmissão de parasitas e doenças: pode ocorrer dentro da mesma espécie e, ainda mais preocupante, entre espécies diferentes; d) as mudanças climáticas: causam incompatibilidades espaciais e temporais entre as abelhas e as plantas que fornecem seu alimento; e) a introdução de espécies em ambientes onde elas não ocorriam antes.

Ações amigáveis

do preocupação pública crescente. Várias matérias estão sendo divulgadas, muitos cientistas têm se dedicado a esse assunto e

diversos fatores estão sendo apontados. Os principais são: a) a alteração da paisagem: fragmenta-

Assim, muitos estudos apontam não se tratar de um evento único, mas de uma interação entre eles. Ao conhecermos os impactos ambientais e econômicos da redução das abelhas, medidas de mitigação devem ser implantadas e estimuladas, a fim de garantir serviços de polinização sustentável em um planeta que está em constante e acelerada mudança. Essas medidas podem ser realizadas por

Abelhas são elementos e elo importante na cadeia produtiva e reprodutiva mundial

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toda a sociedade: cidadãos, produtores rurais, criadores de abelhas, cientistas, professores, políticos. São medidas simples, que tanto podem ser utilizadas no campo como nas cidades. Ações como plantar flores e árvores nos jardins e praças do bairro, fazer a manutenção destes espaços urbanos, são essenciais para fornecer continuamente alimentos para as abelhas. Na área rural, um conjunto de ações é essencial para a conservação das abelhas e de outros polinizadores e podem promover melhorias nos serviços ecossistêmicos. Entre elas: • Conhecer e identificar as abelhas nativas e os locais que elas habitam nas propriedades rurais, como troncos, solos, barrancos, orifícios abandonados por outros insetos; • Manter áreas naturais que abriguem o máximo possível uma diversidade de espécies de plantas, fornecendo uma variedade de alimentos aos insetos, e próximas às áreas de cultivos; • Recuperar a vegetação nativa, utilizando plantas que atraiam e mantenham os polinizadores e criando mosaicos/áreas

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de refúgio; Cultivar plantas atrativas aos polinizadores próximos às lavouras e nos jardins, plantas estas que irão fornecer e enriquecer a oferta de alimentos às abelhas; Colocar e manejar os ninhos de abelhas próximas às áreas de culturas que necessitam de polinização, melhorando a qualidade e rendimento da lavoura; Não aplicar defensivos agrícolas nos horários de visitas das abelhas aos cultivos, para tanto é importante conhecer o processo da polinização; Adotar práticas agrícolas amigáveis aos polinizadores como minimizar o uso de inseticidas; adotar sistema de manejo de solo que minimizem seu revolvimento, como plantio direto; aumentar a oferta de alimentos aos polinizadores por meio do cultivo de plantas atrativas próximas às culturas; e principalmente promover o diálogo contínuo entre os criadores de abelhas (apicultores e meliponicultores) e agricultores na busca de práticas sustentáveis e de respeito à produção. Os estudos e pesquisas sobre as abelhas

Flores do Mangericão atraem abelhas que o polinizam, seu aroma e sabor inconfundível

e outros polinizadores não estão concluídos e muito ainda há a se conhecer, destaca-se que todas as propostas indicadas acima visam melhorar e promover a conservação da biodiversidade dos polinizadores e os serviços ecossistêmicos associados – que, além da polinização, incluem a ciclagem de nutrientes, a qualidade dos corpos d’água, a formação de solos, a decomposição de matéria orgânica, o controle biológico de pragas e a resistência a doenças e patógenos. Muitas delas são ações que demoram a apresentar resultados e dependem da paisagem local, da variedade de culturas e de mudanças nas práticas agrícolas. Contudo, são essenciais para a manutenção dos polinizadores e produção de alimentos e da diversidade vegetal. [*] Economista. Doutora em Política Científica e Tecnológica pela UNICAMP. Diretora Executiva da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas – A.B.E.L.H.A. [**] Bióloga. Doutora em Ecologia pelo Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo. Pós-doutora da Universidade de São Paulo.

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Alterações climáticas vão alterar dieta humana

As alterações climáticas vão afetar as culturas agrícolas de tal forma que se prevê que, em 2050, mais de 500 mil pessoas morrerão por não terem acesso a uma dieta equilibrada, devido a mudanças na dieta e peso corporal, de acordo com um novo estudo Mapa: Marco Springmann

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pesquisa, publicada na revista médica The Lancet, é o primeiro de seu tipo para estimar o número de mortes que serão causados devido ao impacto das alterações climáticas na composição da dieta. O estudo modelou o impacto das alterações climáticas sobre a saúde de adultos em 155 países em 2050 se não forem tomadas medidas para reduzir as emissões globais, e comparou-a cenários em que quantidades variadas de ação é tomada. Constatou-se que a adoção de medidas para estabilizar o clima iria reduzir o número de mortes relacionadas com o impacto das alterações climáticas na dieta, entre 29 e 71 por cento, dependendo do rigor das medidas tomadas. Dr. Marco Springmann, pesquisador do Programa Martin Oxford sobre o Futuro da Alimentação na Universidade de Oxford e principal autor do estudo, disse que, embora as pesquisas anteriores sobre os impactos climáticos já olharam para a segurança alimentar, pouco tem-se centrado sobre os efeitos de saúde mais amplos de mudanças

na produção agrícola. “Nossos resultados mostram que mesmo com reduções modestas na disponibilidade de alimentos por pessoa poderia levar a mudanças no conteúdo de energia e composi-

266.000 mortes adicionais causadas por pessoas abaixo do peso

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O estudo constatou que a mudança climática poderia cortar o aumento na quantidade de comida disponível em 2050 em cerca de um terço

ção da alimentação, e essas mudanças terão consequências importantes para a saúde”, disse ele recentemente. Enquanto a disponibilidade de alimentos ainda estava projetada para aumentar apesar das alterações climáticas, o estudo constatou a mudança climática poderia cortar o aumento na quantidade de comida disponível em 2050 por cerca de um terço – levando a um de três por cento geral de redução, equivalente a 99kcal, na média quantidade de comida disponível por pessoa. Enquanto o modelo encontrado uma ligeira redução no consumo de carne vermelha poderia realmente produzir benefícios para a saúde e prevenir cerca de 30.000 mortes, estes seriam mais do que compensado em um número estimado de 530.000 mortes que provavelmente ocorrem devido a um quadro esperado por cento de redução no consumo de frutas e vegetais , disseram os pesquisadores. Da mesma forma, enquanto cerca de revistaamazonia.com.br


260.000 menos pessoas morreriam de obesidade em todo o mundo como resultado de impactos climáticos, menor disponibilidade de calorias iriam compensar esses ganhos, com um total 266.000 mortes adicionais causadas por pessoas que estão abaixo do peso. Países de renda média baixa teriam o pior hit geral, especialmente os da região do Pacífico Ocidental e Sudeste Asiático, previu o estudo. Quase três quartos de todas as mortes relacionadas com o clima foram projetadas para ocorrer na China ou na Índia, enquanto a Grécia e a Itália também foram consideradas vulneráveis em uma base per capita. Países de alta renda seriam mais afetados pelas mudanças na ingestão de frutas e vegetais, no entanto, enquanto o Sudeste da Ásia e África seriam mais atingidos pelas mortes relacionadas com baixo peso. Springmann disse que os resultados indicaram que os esforços de adaptação terão de ser rapidamente ampliados se as economias estão a limitar os impactos na saúde potencialmente graves. “As alterações climáticas são susceptíveis de ter um impacto negativo substancial sobre mortalidade futura, mesmo sob cenários otimistas”, disse ele. “Programas de saúde pública destinados a prevenir e tratar a dieta e fatores de risco relacionados com o peso, como o aumento de frutas e legumes,

“Não tem só a ver com obter poucas calorias”, disse Richard Choularton do Programa Alimentar Mundial da ONU, que não esteve envolvido no estudo. “As calorias não são suficentemente boas sem os micronutrientes. O desenvolvimento físico e cognitivo depende de se comer as coisas certas”, sublinhou. O declínio dos alimentos saudáveis é um dos principais responsáveis pela má nutrição. Os investigadores determinaram que o consumo de frutas e vegetais vai diminuir 4% em 2050 devido às alterações climáticas, que se vai sentir sobretudo nos países em vias de desenvolvimento mas também nos países mais ricos. Os autores do estudo apelam aos políticos que cumpram o acordo de Paris e reduzam as emissões poluentes, de forma a impedir que o planeta aqueça mais que 2ºC em 2100. devem ser reforçadas por uma questão de prioridade para ajudar a mitigar os efeitos na saúde relacionados com o clima.”

Mortes relacionadas com o clima por milhão de pessoas em 2050 para mudanças em todos os fatores de risco alimentares e relacionados a peso

Sistema alimentar

Comentando o estudo, o Dr. Alistair Woodward, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia e o Professor John Porter, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, disseram que as incertezas na qualidade dos dados e o uso de modelos para projetar cenários futuros podem realmente significar que o estudo subestime o tamanho dos riscos climáticos futuros. “Springmann e seus colegas mudaram o clima e debate sobre comida em uma direção necessária, destacando tanto a segurança alimentar e nutricional, mas uma montanha de perguntas políticas relevantes permanecem e exigem um exame minucioso”, escreveram eles em um comunicado conjunto. Nós também temos que pensar em como os alimentos afetam a saúde e o bem-estar, inclusive – alimentação, obesidade e segurança alimentar

O sistema alimentar global é um conjunto vasto e extremamente complexa de interações que envolvem a produção, processamento, transporte e consumo de alimentos em todos os países ricos e pobres. Temos que considerar a gestão e economia da produção de alimentos, a sua sustentabilidade, o grau em que nós desperdiçamos comida, e como a produção de alimentos afeta o meio ambiente natural. revistaamazonia.com.br

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Avistar Brasil 2

Instituto Butantan recebe maior evento de observação de aves da América Latina

Fotos: Camilla Carvalho / Instituto Butantan

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Instituto Butantan, órgão da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, recebeu entre os dias 20 e 22 de maio um dos maiores encontros de observação de aves da América Latina, o Avistar Brasil 2016. A programação gratuita incluiu exposições, palestras, oficinas de observação de aves e atividades voltadas para as crianças. Com atividades para todos os públicos, inclusive para quem é iniciante na observa-

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ção de aves. Nos dias 21 e 22, às 7h, aconteceu a atividade #vempassarinhar, quando os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer e observar como vivem as aves encontradas no parque do Instituto. Para as crianças, o espaço Avistar Kids funcionou diariamente das 10h às 17h, com oficinas, pinturas e educação ambiental. O destaque da programação infantil foi a construção no sábado, às 10h, pelo arquiteto Francisco Lima, de uma casinha de joão-de-

-barro em escala humana. As crianças entenderam como pássaro constrói o seu ninho e como ele vive naquele espaço. Distribuído auditórios e espaços ao ar livre por todo o parque do Butantan, o Avistar 2016 em contou com quatro exposições, com destaque para a primeira edição de “Árvore Ser Tecnológico”, que reproduz os memes ambientais mais famosos da internet para abordar a importância da conservação, e a exposição “Floresta Viva”, de Luciano revistaamazonia.com.br


l 2016

Visitantes tiveram a oportunidade de conhecer e observar como vivem as aves encontradas no parque do Instituto

Plantando Passarinho, atividade de plantio de árvores atrativas para a avifauna

Roda de Passarinho, oficina de sensibilização ambiental com foco em observação de aves

Avistar 2016, distribuído em auditórios e espaços ao ar livre por todo o parque do Butantan

Candisani, um dos maiores fotógrafos de natureza no Brasil. O Congresso Avistar contou com mais de 100 palestras em quatro auditórios, além de ciclos temáticos: “Arte, Natureza e Tecnologia”, “Cuidados em Campo”, “Diálogos” e “Biodiversidade e Trocas”. Haverá diversos lançamentos de livros e sessões de autógrafos. Além disso, food trucks estarão espalhados pelo parque durante todo o evento. Um dos momentos mais esperados desta revistaamazonia.com.br

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Um dos momentos mais esperados desta edição do evento foi o anúncio da redescoberta de uma das espécies de aves mais raras do planeta, que estava desaparecida há décadas, a rolinha-doplanalto (columbina cyanopis) que está criticamente ameaçada de extinção Rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), uma das aves mais raras do mundo, encontrada somente no Brasil, está criticamente ameaçada de extinção. Foto: Rafael Bessa/ SAVE Brasil

edição do evento foi o anúncio da redescoberta de uma das espécies de aves mais raras do planeta, que estava desaparecida há décadas. Entre os palestrantes do congresso Avistar Brasil 2016 estiveram renomados ornitólogos e cientistas, como John Fitzpatrick, Diretor do Laboratório de Ornitologia de Cornell, que apresentou os projetos de ciência voltados para a participação da sociedade nos EUA e Mario Cohn-Haft, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que falou sobre sua recente expedição à Serra da Mocidade (RR). Estiveram presentes, ainda, outros expoentes do estudo e divulgação das aves, como Wagner Nogueira, Luciano Lima, Vitor Piacentini, Cristian Dimitrius, Martha Argel e Haroldo Palo Jr. O Cine Butantan também participou desta edição do Avistar, com sessões especiais, ao ar livre, de filmes sobre aves. As sessões acontecem durante o evento, a partir das 18h. “A nossa missão de contribuir com a saúde pública ganha outra possibilidade muito importante de atuação. Nossa convivência com este parque resultou na criação do Observatório de Aves, de projetos ligados à botânica e manejo do parque e, principalmente, numa percepção ampliada de saúde pública, intrinsecamente ligada à biodiversidade. A ideia de ciência cidadã, que se beneficia da vivência de cada pessoa para a coleta de dados e a construção do conhecimento científico, está na origem do próprio Instituto Butantan e encontra em eventos como o Avistar uma perfeita sintonia”, destaca Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan. No AvistarKids, atividades para crianças

Durante a construção de uma casinha do joão-de-barro em escala humana

Durante o congresso Avistar Brasil 2016 estiveram renomados ornitólogos e cientistas

O tradicional ninho do joão-de-barro

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Jaime Kiriateke

A selva amazônica entra na Gulbenkian pela ópera de Victor Gama por Vítor Belanciano *

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urante quatro anos o compositor Victor Gama embrenhou-se na selva e na cultura amazônica, tomando consciência dos problemas ambientais que ali se vivem. A ópera multimídia 3 mil RIOS é resultante dessa experiência. Nos últimos quatro anos o compositor, designer de instrumentos e músico luso-angolano Victor Gama percorreu parte da Amazônia, escutando as vozes dos que habitam a floresta e sofrem os impactos da sua destruição ambiental, traduzindo agora essa experiência em música, vídeo e som na ópera multimídia 3 mil RIOS: Vozes na Floresta que estreou recentemente no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em revistaamazonia.com.br

Fotos: Najib Nafib, Rui Peralta, Victor Gama

Lisboa. Uma obra que resulta de uma encomenda da própria Fundação Gulbenkian e do Teatro Cólon de Bogotá na Colômbia. Em Portugal ele continua a ser em parte um segredo bem guardado. Mas quem se interessa pela sua arte sabe que o mundo o tem recebido com grande entusiasmo nos últimos anos, requisitando a sua música, os seus ensinamentos e as suas exposições, ao mesmo tempo que se deslumbra com os instrumentos que ele cria – pequenas maravilhas escultóricas e sonoras. Em tudo o que faz parece existir uma tentativa de fundir o mundo físico e o virtual de novas e profundas maneiras, congregando histórias, alusões, acontecimentos sociais e culturais com o mundo natural.

O próprio Victor Gama estava no palco, tocando vários dos seus instrumentos, acompanhado por sopranos, cantores tradicionais, percussionistas e a Orquestra Gulbenkian dirigida por Rui Pinheiro. Na origem da peça esteve 3 Mil RIOS: prelúdio, uma encomenda da Prince Claus Fund da Holanda, que a apresentou no Palácio Real de Amesterdão em 2013, dois anos depois de iniciada a pesquisa no terreno. “Era uma peça de cerca de vinte minutos”, lembra Victor Gama, que assinala que foi aí que a Gulbenkian se envolveu no projeto, embora a sua relação com a fundação viesse de trás, com Vela 6911 de 2012, numa encomenda da Orquestra Sinfônica de Chicago e MusicNOW, com apoio da Gulbenkian. REVISTA AMAZÔNIA

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“Existiram vários pontos de partida para este novo trabalho, a começar pelo fato de ter uma relação com a Colômbia de mais de 20 anos e de ali já ter vivido durante períodos da minha vida”, recorda. Victor Gama nasceu em Angola e tem vindo a viver entre Luanda, Bruxelas, Bogotá e Lisboa. “A Colômbia é um país fascinante pelos contrastes. Socialmente é um país complicado, mas, em termos de natureza, das pessoas e da sua cultura é riquíssimo, especialmente para alguém como eu, que sempre procurou a viagem, por amizade, paixão e procura”, afirma. Recorda que os cerimoniais, a cultura amazônica e a maneira de estar na

vida das diversas comunidades, incluindo os aspectos sociais, políticos e culturais foram uma das janelas que se abriram para o presente trabalho. A outra foi “a situação ambiental na extensa zona das florestas colombianas e não só”. “Há claramente uma nova onda impactante de industrialização da selva, da qual nós aqui não temos grande compreensão, apesar de alguns ecos.”

Realidade desconhecida No espetáculo, a música, o vídeo e o som transportam-nos para o interior mais profundo da floresta, fazendo-nos sentir o seu

A narrativa é construída através de histórias dos habitantes das florestas

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Victor Gama percorreu parte da Amazônia

envolvimento, mas também a urgência de a salvar da destruição. Ao longo de quatro anos, em parceria com organizações e comunidades locais nas florestas tropicais do Choco, montanhas dos Andes e Amazônia colombiana e brasileira, Victor Gama foi auscultando as vozes daqueles que habitam a floresta e sofrem os impactos diretos causados pela acelerada destruição ambiental que ocorre naqueles ecossistemas em plena onda de industrialização. Há alguns anos a luta contra a progressiva destruição da Amazônia tornou-se numa revistaamazonia.com.br


Victor Gama

bandeira ecológica. Parecia que se viviam tempos de maior consciência ambiental. Mas na prática pouco foi feito. “Durante algum tempo a Amazônia transformou-se numa metáfora dos problemas ambientais do mundo, mas continua a ser uma realidade desconhecida, apesar de notícias que vão surgindo aqui e ali. A grande verdade é que não temos noção do nível, da profundidade e da quantidade de projetos infra-estruturantes, de hidroelétricas a outros, que continuam a ser construídos na Amazônia ou acabarão por sê-lo nos próximos 20 anos.” A situação é de tal forma grave, afirma, que as organizações ambientais a operar no terreno têm vindo a mudar o seu discurso. “As estratégias têm vindo a transformar-se, porque a maior parte das organizações já percebeu que a destruição é imparável. Não há forma de voltar atrás. É preciso um outro tipo de abordagem do problema. Uma das organizações parceiras neste projeto, com que viajei nas suas missões junto das comunidades e dos líderes locais, trabalham com eles no sentido da preservação do conhecimento. Do ponto de vista social é quase impossível que uma comunidade índia da Amazônia que viva em isolamento voluntário não se desmorone socialmente ao integrar-se.” Durante essas incursões Victor Gama e os seus colaboradores faziam-se acompanhar de câmaras, microfones e gravadores, registando sons, vivências e experiências. “A ideia desde o início era contar uma história com o maior número possível de elementos e nesse sentido fomos recolhendo sons – há

ruídos na floresta, de pássaros a insetos, que são totalmente surreais – e encontrámo-nos com pessoas, entrevistámo-las ou limitámo-nos a estar com elas e tudo isso irá ter tradução na peça.” Por vezes nessa relação próxima com a natureza existe o perigo da idealização, como se ela representasse a possibilidade de harmonia, ou uma espécie de regresso mítico a um lugar rasurado de conflitualidade. “Essa romantização acontece inevitavelmente do lado de quem não a vive”, observa, “sendo ao mesmo tempo sintoma da separação com que vivemos essa relação. No fim de contas não conhecemos a natureza. Tal como não compreendemos a relação que outros seres humanos estabelecem com a floresta vivendo nela há milhares de anos de forma sustentável. Aquilo que eles conseguem vislumbrar é diferente do que nós vemos. Se fizermos um esforço em compreender a sua cosmovisão, percebemos que ela vai muito para além do que aquilo que é visível para nós e é aí que está a janela para se perceber essa cultura amazônica.” O texto e a partitura da ópera foram inspirados no livro Cariba Malo do antropólogo colombiano Roberto Franco e nos cantos rituais das cerimónias de ambiwasca, que são interpretados pelas sopranos Yetzabel Arias Fernandes, Betty Garces e Té Macedo, contando com as participações de Waira Nina Jacanamijoy e Jaime Lopes Kiriyateke, cantores das comunidades Inga e Murui-Muina da Amazônia colombiana. Pertencem a comunidades que habitam nas margens do rio Caquetá, esclarece Victor Gama. “Estão numa zona vizinha de áreas protegidas onde vivem comunidades em isolamento voluntário. São pescadores, entre outras atividades que praticam na sua aldeia. Às tantas, durante umas filmagens, um deles começou a cantar e fê-lo maravilhosamente bem e foi aí que pensamos que poderia fazer sentido integrá-los na peça.”

Trazer a floresta para a sala A narrativa é construída através de his-

Victor Gama é compositor, músico, designer de instrumentos musicais inovadores, engenheiro eletrônico

tórias dos habitantes das florestas, das suas lutas pela sobrevivência em territórios disputados por forças e poderes adversos, mas interligadas com a natureza e os rios. A partitura está dividida em três atos e a ação decorre ao longo de alguns dos grandes rios amazônicos como o Putumayo, o Caquetá, o Tocantins ou o Napi. Para traduzir artisticamente o que foi experienciando no trabalho de campo, Victor Gama estruturou uma composição escrita para músicos de orquestra, instrumentos que inventou, canto e espacialização multicanal, acabando a elaboração técnica da ópera por ter sido pensada durante uma residência de seis meses na Universidade de Stanford na Califórnia. A realidade que esta peça aborda interessa a muita gente. Não é apenas uma questão ambiental, mas sim política, social e civilizacional. Refletir esta realidade no presente, mostrando que é algo à qual estamos ligados, porque o nosso estilo de vida tem impacto na Amazônia e nas florestas do mundo, parece-me sem dúvida importante.” Depois de Lisboa seguir-se-ão apresentações no Teatro Cólon de Bogotá e para o ano está prevista uma iniciativa especial. “Queremos meter os músicos num barco e descer o rio, talvez até ao Amazonas e ir quem sabe até Manaus, para que as comunidades tenham acesso ao que produzimos. A eles faz sentido que o resultado seja partilhado. E a mim também.”

Turismo no Amazonas

Socorro Barroso

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A enorme diversidade do plâncton oceânico. Plâncton está na base da cadeia alimentar da Terra

Plânctons – responsáveis por metade do oxigénio que respiramos Fotos: Christian Sardet, Daniel Bailey, Noan LeBescot / Tara Oceans

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ntre 2009 e 2013, a Tara Oceans, navegando ao redor do mundo, foi a primeira expedição científica global para estudar o plâncton – organismos microscópicos fundamentais para o equilíbrio marinho. A expedição científica Tara Oceans, com 160 cientistas de 35 países, ao longo dos 140.000 quilômetros de viagem, recolheu amostras que revelam um mundo novo escondido nos oceanos, resultando até agora cinco estudos científicos. Mas este é ainda o início de um longo trabalho de análise que continua sendo feito. “Temos a mais completa descrição dos organismos do plâncton até hoje realizada: o que existe em termos de vírus, bactérias e protozoários”, afirmou Chris Bowler, coor-

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denador científico da expedição e investigador do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Paris. Os primeiros resultados das amostras recolhidas ultrapassam as expectativas da equipe. Até agora, foram encontradas 35.000 espécies de bactérias, de 210 regiões em todos os oceanos da Terra, 5.000 novos vírus e 150.000 diferentes plantas e criaturas unicelulares, que se acredita serem novidade para a ciência na sua quase maioria. Entre as bactérias, por exemplo, os cientistas identificaram 40 milhões de genes, a maioria nunca antes encontrados. E no que diz respeito aos vírus marinhos, de que se conheciam apenas 39 até agora, a equipe descobriu 5.437 nas amostras da expedição. A forma como se organizam e interagem

O veleiro de 36 metros da Tara Oceans

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Larvas de peixes e medusas também são organismos planctônicos

A expedição Tara Oceans recolheu estes pequenos animais zooplanctônicos

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A expedição científica Tara Oceans, percorreu 140.000 quilômetros de viagem, estudando e pesquisando e coletando cerca de 27 mil amostras da água em diferentes profundidades um dos grupos de organismos mais importantes e menos conhecidos da Terra, o plâncton

os organismos do plâncton e a influência da temperatura, especialmente nas bactérias, são outros temas de estudo. “É a temperatura que determina que tipo de comunidades de organismos encontramos. Se olharmos para os dados e virmos que organismos ali estão, conseguimos prever, com 97% de certezas, a temperatura da água na qual eles vivem”, explica Bowler, que alerta para o impacto das alterações climáticas nestes seres. As descobertas da expedição Tara Oceans vão ficar acessíveis para toda a comunidade científica, naquela que será uma das maiores bases de dados de DNA disponíveis em todo o mundo. Acredita-se que os minúsculos organismos do plâncton, muitos deles invisíveis a olho nu, formam 90% da massa de toda a vida marinha oceânica. Além de serem a base de toda a cadeia alimentar, produzem metade do oxigénio que respiramos, através da fotossíntese. Por outro lado, os genomas microbianos que se encontram no plâncton são apelidados, pela comunidade científica marinha, de “ouro azul”. Um gene proveniente de uma bactéria que habita as águas polares, por exemplo, é atualmente utilizado em produtos lácteos sem lactose. Entre os mais de 5.000 genes marinhos hoje patenteados, existem aplicações nos setores da saúde, energia, alimentar, cosmético. Mas os estudos estão ainda no início, pois falta analisar 98% das 35.000 amostras de plâncton e água recolhidas durante a viagem. REVISTA AMAZÔNIA

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Plânctons O plâncton é formado por organismos microscópicos: vírus, bactérias, protistas e pequenos organismos multicelulares que, além de produzirem metade do oxigênio do planeta por meio da fotossíntese, atuam como sumidouros de carbono, influenciam no clima e formam a base da cadeia alimentar de peixes e mamíferos marítimos. Foram eles os responsáveis pelo surgimento do oxigênio no planeta. Esses micróbios produziram o gás que saiu dos oceanos, migrou para a atmosfera e tornou possível a saída das primeiras formas de vida da água para ganharem a superfície da Terra. Além disso, todas as reservas de petróleo têm origem nesses micro-organismos, pois o combustível é o resultado da sedimentação de antigos mares e oceanos. Acreditávamos que existissem dezenas ou centenas de tipos desses micro-organismos, mas encontramos entre 2 mil e 4 mil tipos diferentes de plâncton. Em 1 mililitro de água do mar há 1 milhão de bactérias e 10 milhões de vírus. Os oceanos são os lugares onde habita a maior parte das formas de vida do planeta. Os microscópicos seres aquáticos são os principais responsáveis pela produção do oxigénio que respiramos. O plâncton é um dos principais alimentos para animais como as baleias e os investigadores centram-se agora no seu papel como “protetor do ambiente”. Os pesquisadores concluíram que milhares de minúsculas criaturas que vivem no fundo do mar estão sofrendo as consequências das mudanças do clima. E o que acontece com elas dentro d’água, tem impacto no ar que respiramos. Foram encontrados 35 mil espécies de bactérias, cinco mil novos vírus e 150 mil plantas e seres unicelulares

Plânctons transformam praia em céu estrelado, nas ilhas Maldivas pleno oceano Índico, ao sul da Índia e do Sri Lanka

O projeto desta expedição multinacional, onde participaram cientistas de 40 nações, custou cerca de 10 milhões de euros.

O começo Foi em 1995 que o diretor científico da expedição, Eric Karsenti, tomou a decisão de lançar o projeto, inspirado pela leitura do diário publicado por Charles Darwin em 1839 – A Viagem do Beagle. A ideia começou a ganhar forma apenas em 2007, quando a designer de moda francesa Agnès Troublé (dona da marca Agnès B.) cedeu o seu veleiro de 36 metros para ser utilizado como embarcação, numa iniciativa apoiado pelo Centro Nacional para a Investigação Científica, em França.

Chris Bowler, ao centro, recebendo o Prêmio cientifico 2015 da Fundação Louis D., da Academia de Ciências da França

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Ano 11 Nº 56 Maio/Junho 2016

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