Amazônia 60

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Ano 12 Nº 60 Janeiro/Fevereiro 2017

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00 Ano 12 Número 60 2017 R$ 12,00 5,00

50 anos da suframa 13º fórum de governadores da amazônia legal erupções preciosas


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VII Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica

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Sociedade de Restauração Ecológica (SER) realizará sua sétima conferência bienal mundial em Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, de 27 agosto a 1º de setembro de 2017, em parceria com a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e a Sociedade Ibero-Americana e do Caribe para Restauração Ecológica (SIACRE). O evento deve atrair mais de 1.500 participantes de todo o mundo, incorporando a grande diversidade profissional e cultural das três sociedades e representando todas as partes interessadas no tema restauração - desde pesquisadores, profissionais, tomadores de decisão, formuladores de política e até artistas, educadores, estudantes e líderes comunitários. São esperados participantes de todos os setores - agências governamentais, organizações intergovernamentais, ONGs e o setor privado - uma ampla gama de experiências profissionais nas ciências naturais e sociais, arquitetura paisagística, engenharia ambiental, planejamento urbano e regional e políticas públicas, entre outras. “Este evento se reveste da maior importância para o Brasil, não só pelo caráter técnico e científico, mas também pelo aspecto político. Estamos em um período favorável para discussão deste assunto no Brasil, com a consolidação da aplicação da Lei 12.651 de 2012 (Lei de Proteção da Vegetação Nativa) e recente lançamento da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg), em 23 de janeiro deste ano”, analisa a professora Vera Lex Engel, do Departamento de Ciência Florestal da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, câmpus de Botucatu, e presidente da Comissão Organizadora Geral do evento. revistaamazonia.com.br

“Além disso, o Brasil tem firmado todos os acordos internacionais de mudanças climáticas, ratificando os compromissos de restauração de 12 milhões de hectares até 2020”. O tema geral da SER2017 é Conectando a Ciência e a Prática para um Mundo Melhor. Fazer a ponte entre estes dois modos de engajamento no processo de restauração – ou seja, entre a perspectiva do ecólogo e a experiência dos praticantes – é o desafio permanente para o trabalho de restauração de ecossistemas degradados. A SER2017 visa fornecer uma plataforma dinâmica e envolvente para o compartilhamento de conhecimento não apenas entre os cientistas e profissionais, mas também com outras partes interessadas que

fazem parte desta equação, e ainda fortalecer a integração entre as três sociedades para ampliar a discussão através das escalas- nacional, regional e internacional. O programa da conferência SER2017 contará com palestrantes de renome mundial, bem como numerosos simpósios, workshops, sessões temáticas simultâneas e viagens técnicas de campo. Além da VII Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica, o evento congrega também a I Conferência Brasileira de Restauração Ecológica e o V Congreso Ibero-Americano y del Caribe de Restauración Ecológica. Para mais informações e submissão de trabalhos (até o dia 20 de março) acesse: http://www.ser2017.org/

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Jubileu de ouro da SUFRAMA e do modelo ZFM por Enock Nascimento

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capacidade de reinvenção e de superação do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) foi destacada durante a 278ª Reunião Ordinária do Conselho de Administração da SUFRAMA (CAS), realizada na quarta-feira 15/02, no auditório da autarquia. A solenidade, que marcou a abertura do calendário de atividades comemorativas aos 50 anos da SUFRAMA e da ZFM, foi presidida pelo ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, e contou ainda com as presenças da superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, do governador do Amazonas, José Melo, e do vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta, entre outros conselheiros e autoridades. Antes do início do encontro, o ministro Marcos Pereira, a superintendente Rebecca Garcia, o governador José Melo e o vice-prefeito Marcos Rotta participaram da solenidade de descerramento da placa em homenagem ao jubileu de ouro da SUFRAMA.

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Fotos: Layana Rios

A histórica 278ª Reunião Ordinária do Conselho de Administração da SUFRAMA (CAS)

A 278ª Reunião do CAS foi iniciada com a deliberação e aprovação de uma pauta com 36 projetos industriais e de serviços, sendo 15 de implantação e 21 de atualiza-

ção, diversificação e ampliação, que preveem investimentos fixos de US$ 309.2 milhões, investimentos totais de US$ 1.36 bilhão e estimam, ainda, a geração de 542 empregos ao longo dos próximos três anos no Polo Industrial de Manaus (PIM). Na sequência, a programação do evento contou também com as solenidades de lançamento da nona edição da Feira Internacional da Amazônia (FIAM 2017) e do selo postal comemorativo ao cinquentenário da SUFRAMA e do modelo ZFM, bem como com a outorga do Prêmio Cunhantã, conferido pela SUFRAMA a funcionários, personalidades e empresas que contribuíram para engrandecer o trabalho da autarquia e fortalecer o modelo Zona Franca de Manaus ao longo das últimas cinco décadas.

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Compromisso

Sendo que seis dessas medidas são iniciativas da SUFRAMA”, disse. Segundo o ministro, o governo federal vai lançar em março um pacote geral de desburocratização e 15 das 47 medidas sugeridas pelo MDIC foram escolhidas para integrar o programa.

História Reunião do CAS presidida pelo ministro Marcos Pereira aprovou US$ 1,36 bilhão em investimentos

O ministro do MDIC, Marcos Pereira, lembrou em seu discurso que esta foi a quarta reunião do CAS em que esteve presente, das últimas cinco realizadas, e reforçou o compromisso pessoal de comparecer aos próximos encontros do Conselho. Durante a reunião, ele também fez questão de puxar o canto de “Parabéns para você”, em homenagem ao aniversário da autarquia e da ZFM. Pereira ressaltou ainda uma série de medidas adotadas pelo governo federal para proporcionar a retomada do crescimento econômico do Brasil, bem como ações tomadas pelo MDIC, em conjunto com a SUFRAMA, visando ao fortalecimento da ZFM. “Uma delas é a criação da Taxa de Controle de Incentivos Fiscais (TCIF) e da Taxa de Serviços (TS), criadas com o intuito de estabelecer uma nova sistemática de arrecadação para a SUFRAMA, em substituição à Taxa de Serviços Administrativos (TSA)”, frisou. Pereira citou ainda que o MDIC criou um pacote de medidas “antiburocracia” com o objetivo de simplificar e desburocratizar procedimentos administrativos. “Recebemos 202 sugestões de empresas, delas chegamos a 47 medidas que vão ajudar a reduzir prazos e custos para a iniciativa privada. Conselho de Administração da Suframa aprovou 37 projetos industriais que devem gerar mais de 500 postos de trabalho

Fizemos questão de homenagear empresas e servidores que decidiram não deixar que a ZFM ficasse pelo caminho, resistiram e apostaram no modelo

A superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, destacou que os 50 anos do modelo ZFM e da autarquia são marcados por uma história de superação. “A ZFM tem uma trajetória de muita luta. O modelo sempre teve que se reinventar, buscar soluções e alternativas para se consolidar como um modelo de promoção do desenvolvimento sustentável regional. Por isso fizemos questão de homenagear empresas e servidores que decidiram não deixar que a ZFM ficasse pelo caminho, resistiram e apostaram no modelo”, explicou.Rebecca Garcia também destacou fatos marcantes da trajetória da SUFRAMA e da Zona Franca de Manaus, desde a sua idealização, em 1951, passando pela publicação de sua certidão de nascimento – o Decreto-Lei nº 288/1967 – até a prorrogação da sua vigência até 2073. A superintendente também elencou várias crises que o modelo teve que enfrentar e superar. “Esses fatos e momentos históricos nos levam a refletir sobre a capacidade de superação deste modelo de desenvolvimento e sobre as suas perspectivas para o futuro. Um projeto que inicialmente teria duração de 30 anos e que, meio século depois, tem garantida sua existência por, pelo menos, mais seis décadas”, observou.

Biotecnologia

Para governador do Amazonas, José Melo, o desafio futuro do modelo está no uso sustentável da biodiversidade revistaamazonia.com.br

O governador do Amazonas, José Melo, também fez uma retrospectiva histórica da ZFM e destacou seus efeitos socioeconômicos e ambientais positivos para o Brasil e para o mundo. “A ZFM foi a maior bênção que nosso Estado já recebeu. Antes, Manaus era apenas um porto de lenha. Devido ao débâcle da borracha, ficamos 50 anos praticamente sem luz e sem escolas. A ZFM veio, inicialmente como modelo para substituir importações. Já gerou 130 mil empregos diretos. Hoje, contribui com o Brasil como exportador líquido de receitas para a União. O modelo também preservou 97% da floresta nativa do Estado, o que contribui com o regime de chuvas e conserva o bioma amazônico para o mundo”, ressaltou. Para Melo, o desafio futuro do modelo está no uso sustentável da biodiversidade. “Nosso futuro é a biotecnologia. Sabermos transformar a riqueza da nossa fauna e flora em produtos fitoterápicos, de beleza, que saciem a fome e que salvem vidas”, complementou.

FIAM 2017

O selo traz a imagem da fachada da sede da SUFRAMA e resgata a primeira marca institucional da autarquia, com três folhas que simbolizam o tripé do modelo Zona Franca de Manaus: indústria, comércio e agropecuária

A nona edição da Feira Internacional da Amazônia (FIAM 2017), agendada para o período de 22 a 25 de novembro, teve seu lançamento oficial, com apresentação de vídeo institucional e convite aberto aos presentes e aos demais segmentos da sociedade para participação no evento. Com tema voltado aos 50 anos da SUFRAMA e da Zona Franca de Manaus, a FIAM 2017 objetiva relembrar e homenagear a trajetória vitoriosa do modelo ao mesmo tempo em que busca discutir os desafios futuros e estabelecer novas diretrizes de integração e desenvolvimento para a região. A autarquia também lançou durante a reunião o selo postal comemorativo ao seu cinquentenário e do modelo ZFM, que será utilizado, a partir de hoje, em todas as suas correspondências oficiais. Idealizado pelo servidor da Coordenação Geral de Comunicação Social da SUFRAMA, Fábio Alencar, e confeccionado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o selo resgata a primeira marca institucional da autarquia, REVISTA AMAZÔNIA

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Durante os primeiros atos de obliteração do selo comemorativo A superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, na obliteração do selo comemorativo

com três folhas que simbolizam o tripé do modelo Zona Franca de Manaus: indústria, comércio e agropecuária. Na ocasião, o ministro do MDIC, Marcos Pereira, a superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, o governador do Amazonas, José Melo, e o diretor regional dos Correios no Amazonas, Ageu Cavalcante, fizeram os primeiros atos de obliteração do selo comemorativo.

Prêmio Cunhantã

Troféus Cunhantã 2017

A 278ª Reunião do CAS também contou com o anúncio dos agraciados com o Prêmio Cunhantã 2017 nas modalidades Destaque Institucional, direcionada a servidores e colaboradores da SUFRAMA; Concessão Extraordinária, voltada

Servidores da SUFRAMA Ana Maria Souza, José Lopo Filho, Abelardo Rodrigues Júnior, Francimon Livino e José Bernardo de Melo foram agraciados com o Prêmio Cunhantã 2017 na categoria “Destaque Institucional”

A superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, destacou que os 50 anos do modelo ZFM e da autarquia são marcados por uma história de superação.

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Empresas

O ministro Marcos Pereira, a superintendente Rebecca Garcia, o governador José Melo e o viceprefeito Marcos Rotta participaram da solenidade de descerramento da placa em homenagem ao jubileu de ouro da SUFRAMA

a personalidades que prestaram contribuições relevantes ao longo da história da autarquia e do modelo; e Empresas do PIM, com seis categorias: Maior Exportadora, Maior Crescimento Exportador, Maior Performance, Maior Empregadora, Maior Diversificação e Empresa Pioneira em Atividade. A relação dos vencedores em cada modalidade está disposta abaixo:

• Maior Exportadora – Recofarma Indústria do Amazonas Ltda. • Maior Crescimento Exportador – Rexam Amazônia Ltda. • Maior Empregadora – Moto Honda da Amazônia Ltda. • Maior Perfomance – Samsung Eletrônica da Amazônia Ltda. • Maior Diversificação – Honda Componentes da Amazônia Ltda. • Empresa Pioneira em Atividade – BIC Amazônia S/A

CMM homenageia SUFRAMA Durante homenagem da CMM

Destaque Institucional: • Ana Maria Souza, da Coordenação Geral de Estudos Econômicos • José Lopo Filho, da Coordenação Geral de Análise de Projetos Industriais • Abelardo Rodrigues Júnior, da Coordenação Geral de Acompanhamento de Projetos Industriais • Francimon Livino, da Coordenação Regional de Vilhena-RO • José Bernardo de Melo, da Coordenação Geral de Recursos Logísticos

Concessão Extraordinária: • Paulo Takeuchi, diretor executivo da Honda • Toshio Shimazu (ex-conselheiro da Yamaha) • Jaime Benchimol (diretor presidente do Grupo Bemol) • Irani Bertolini (Empresa de Transportes Bertolini) • Raquel Bentes (ex-colaboradora da Coordenação Geral de Controle de Importação e Exportação) • Prof. Dr. Manuel Augusto Cardoso (Map Technology).

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A Câmara Municipal de Manaus (CMM) realizou recentemente, no Plenário Adriano Jorge, sessão solene em homenagem aos 50 anos da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), atendendo propositura do vereador Álvaro Campelo (PP). A solenidade foi conduzida pelo presidente da CMM, vereador Wilker Barreto, e contou com a presença da superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, e de servidores da autarquia, bem como de parlamentares e demais autoridades. O presidente Wilker Barreto entregou à superintendente Rebecca Garcia, em nome de todos os vereadores da Casa, placa de homenagem aos 50 anos da SUFRAMA. “A história da Zona Franca de Manaus hoje é um livro de tantas conquistas para o nosso Estado. Temos grandes desafios e acredito na manutenção e na preservação dos incentivos. Defendo a tese de que o modelo Zona Franca de Manaus é perene. O grande desafio para os próximos 50 anos é o desenvolvimento sustentável, e nós temos tecnologia pra isso. A SUFRAMA tem um papel importantíssimo de orientação de matrizes econômicas que possam alavancar principalmente os nossos amigos do interior”, disse, em seu pronunciamento. O autor da propositura, vereador Álvaro Campelo, lembrou, em seu discurso, que a Zona Franca de Manaus foi idealizada pelo deputado federal Francisco Pereira da Silva em junho de 1957 como uma espécie de porto livre e somente em 1967 houve a ampliação da legislação, reformulada para o formato atual. A superintendente Rebecca Garcia agradeceu a homenagem e a iniciativa do vereador Álvaro Campelo, em nome da SUFRAMA. “Vejo com grande entusiasmo a Câmara Municipal de Manaus abrir as portas para o debate do nosso modelo econômico. Sabemos que a ZFM, mesmo sendo de toda a Amazônia e de todo o Brasil, traz Manaus em seu nome e é a grande geradora de empregos da nossa região”, disse. REVISTA AMAZÔNIA

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Jaime Benchimol, diretor presidente do Grupo Bemol, teve suas contribuições à SUFRAMA e ao modelo ZFM reconhecidas na modalidade Concessão Extraordinária

Reconhecido na modalidade Concessão Extraordinária, o empresário Irani Bertolini, do grupo de logística Bertolini, recebeu a premiação das mãos do governador José Melo

Diretor industrial da BIC Amazônia, Jean Marc Hamon, foi cumprimentado pelo ministro Marcos Pereira, pela superintendente Rebecca Garcia e pelo governador José Melo após receber o prêmio na categoria “Empresa Pioneira em Atividade”

Diretor executivo da Moto Honda da Amazônia, Paulo Takeuchi foi premiado na modalidade Concessão Extraordinária

Genoir Pierosan, diretor da Yamaha da Amazonia, recebeu o prêmio Cunhantã 2017, na modalidade Concessão Extraordinária, em nome do exconselheiro da Yamaha, Toshio Shimazu

Recofarma Indústria do Amazonas, representada pelo gerente industrial Antônio Carlos Pereira, foi novamente a grande vencedora na categoria “Maior Exportadora”

Gigante do PIM, a Samsung Eletrônica da Amazônia, representada no ato pelo presidente Chong Keun Kim, teve o maior faturamento entre todas as empresas do Polo no ano passado

O professor doutor Manuel Augusto Cardoso, da empresa MAP Technology, foi reconhecido por suas contribuições ao desenvolvimento científicotecnológico da região

Moto Honda da Amazônia foi reconhecida, mais uma vez, como a empresa que mais gerou empregos no Polo Industrial de Manaus no ano de 2016

Rodrigo Libório dos Santos, gerente de produção da Rexam Amazônia, recebeu a premiação concedida à empresa com maior incremento no volume exportador entre os anos de 2015 e 2016

Celebração O calendário oficial de atividades comemorativas dos 50 anos da SUFRAMA e do modelo Zona Franca de Manaus prosseguirá ainda neste mês, com a realização de sessões especiais na Câmara Municipal

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de Manaus e na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. No mês de março, serão realizadas também a sessão conjunta do Congresso Nacional em homenagem à autarquia e ao modelo ZFM, em Brasília, e a quinta edição da Corrida Pedestre Ruy Lins.

Honda Componentes da Amazônia venceu a categoria “Maior Diversificação” por ter sido a empresa com a maior quantidade de produtos fabricados em sua trajetória no PIM

A partir de abril, o Conselho de Administração da SUFRAMA realizará, seguindo orientação do ministro Marcos Pereira, encontros itinerantes em Macapá e nas capitais dos Estados da Amazônia Ocidental buscando estender as comemorações por toda a área de atuação da SUFRAMA. revistaamazonia.com.br


Marcos Pereira: “Nosso presente para os 50 anos da Suframa foi a criação de quase 4 mil empregos no Polo Industrial de Manaus”

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Marcos Pereira, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC)

a minha última viagem à Amazônia, no dia 15 de fevereiro, demos início a uma série de eventos em homenagem aos 50 anos da Suframa e do modelo Zona Franca de Manaus que são comemorados no dia 28 de fevereiro. Na ocasião, presidi a reunião do Conselho de Administração da Suframa (CAS) que aprovou 37 projetos industriais e de serviços, com investimentos fixos estimados em US$ 310 milhões, e um total estimado em US$ 1,36 bilhão. Do total de projetos, 16 são de implantação de novas empresas e outros 21 de ampliação, atualização e diversificação do Polo Industrial de Manaus (PIM). A previsão é gerar 566 empregos.

Regularidade na aprovação de projetos Estes números positivos somam-se aos de 2016, ano marcado pela regularidade na apreciação de projetos para a ZFM. Aprovamos mais de US$ 2,5 bilhões em investimentos para o PIM com previsão de gerar 3.295 empregos diretos nos primeiros três anos de implantação dos projetos chancelados. Assim, estamos avançando na nossa principal pauta que é o emprego. Posso dizer que nosso presente para os 50 anos da Suframa foi a criação de quase 4 mil empregos no PIM. Numa ótica mais particular, uma prova do meu reconhecimento pessoal à relevância da Zona Franca é o fato de fazer questão de estar presente a todas as reuniões do CAS, ocasiões em que são aprovados novos projetos de implantação, diversificação, ampliação das empresas instaladas na região. No ano passado, eu presidi três reuniões do CAS em um intervalo de cinco meses, algo que nenhum ministro havia feito antes. Este é apenas um gesto mas simboliza o corrente comprometimento do governo federal com a ZFM em revistaamazonia.com.br

tudo que ela precisa realizar para continuar se fortalecendo e desempenhando seu papel de protagonismo no desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Avanços A Suframa, autarquia vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), celebra este cinquentenário com avanços. Um dos principais foi conquistado por nós no final de 2016: a simplificação do modelo de tributação. Com as novas taxas os empresários passam a ter mais agilidade e segurança na internalização de mercadorias. Além disso, outras medidas de simplificação serão implementadas para agilizar o desembaraço aduaneiro e reduzir custos. Também serão feitas alterações nos processos de acompanhamento e fiscalização dos projetos industriais e agropecuários da ZFM para reduzir o prazo de emissão de Laudos de Operação e Produção. São esforços que estamos fazendo para desburocratizar pois a burocracia tira a competitividade das nossas empresas. Nesta data tão simbólica, reafirmo o que digo desde minha primeira visita: vamos trabalhar para que a ZFM continue trazendo desenvolvimento sustentável e emprego para esta importante região do País. Estamos confiantes que a economia do Brasil voltará a crescer a partir do próximo trimestre, especialmente no próximo semestre o que fará com que as cerca de 600 empresas do PIM também voltem a crescer.

Incentivo às exportações Para discutir ações de incentivo ao incremento da competitividade da Zona Franca de Manaus como plataforma de exportação, o MDIC criou um Grupo Técnico com o intuito de alavancar as exportações a partir da Zona Franca de Manaus. O GT tem um papel importante na consolidação de um espaço central

de Governo, até então inexistente, de reflexões e discussões para o tema exportação no âmbito do modelo da ZFM. Temos grandes desafios a enfrentar para diminuirmos a burocracia. O trabalho de facilitação de comércio está sendo intensificado no MDIC, porque existe uma relação direta entre eliminação de entraves e aumento da competitividade das exportações. Estamos investindo na implementação completa do Portal Único de Comércio Exterior, que vem simplificando e desburocratizando rotinas e procedimentos. A redução de custos com documentos e procedimentos, em consequência da implantação da janela única brasileira de comércio exterior, pode chegar a US$ 22 bilhões. Será um grande incentivo para o aumento da nossa competitividade na indústria brasileira como um todo. Além disso, desde que assumi o comando do MDIC, tenho orientado a equipe técnica sobre a importância de ampliar a rede de acordos bilaterais de comércio e investimentos. Por isso, posso dizer que o MDIC está firmemente engajado no aprofundamento de acordos já firmados e no avanço das negociações em curso entre o Mercosul e a União Europeia. Estamos trabalhando para que 2017 seja um excelente ano para todos nós. Um abraço a todos.

Agenda de Reuniões Itinerantes O calendário oficial de atividades comemorativas dos 50 anos da Suframa e do modelo Zona Franca de Manaus prosseguirá ainda neste mês de fevereiro, com a realização de sessões especiais na Câmara Municipal de Manaus e na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. No mês de março, serão realizadas também a sessão conjunta do Congresso Nacional em homenagem à autarquia e ao modelo ZFM, em Brasília, e a quinta edição da Corrida Pedestre Ruy Lins.A partir de abril, o Conselho de Administração da Suframa realizará, seguindo orientação do ministro Marcos Pereira, encontros itinerantes em Macapá e nas capitais dos Estados da Amazônia Ocidental buscando estender as comemorações por toda a área de atuação da Suframa. No dia 6 de abril, ocorrerá a 279ª Reunião Ordinária, em Macapá (AP); no dia 30 de junho (sexta-feira), a 280ª Reunião, em Boa Vista (RR); no dia 25 de agosto (sexta-feira), a 281ª Reunião, em Porto Velho (RO); no dia 20 de outubro (sexta-feira), a 282ª Reunião, em Rio Branco (AC); e, no dia 6 de dezembro (quinta-feira), a 283ª Reunião e última de 2017, novamente em Manaus. REVISTA AMAZÔNIA

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Durante a sessão solene em homenagem aos 50 anos da ZFM e da SUFRAMA

A homenagem da ALEAM à SUFRAMA por Márcio Gallo

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Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) realizou uma sessão solene em homenagem aos 50 anos do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) e da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), no plenário Ruy Araújo, com a presença da superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, do secretário de Estado de Planejamento e Desenvolvimento (Seplan), José Jorge do Nascimento Júnior, de deputados estaduais do Amazonas, de representantes dos setores industriais e do comércio e de servidores da SUFRAMA. A sessão solene foi proposta pelos parlamentares Adjuto Afonso, Alessandra Campêlo, José Ricardo, Josué Neto, Serafim Correa e Sinésio Campos. Em seus discursos, os proponentes parabenizaram a SUFRAMA pelo trabalho exercido em prol da economia local e regional e pela grande contribuição socioeconômica com reflexos na geração de emprego e renda aliada à preservação da floresta amazônica no Estado do Amazonas. A deputada estadual Alessandra Campelo ressaltou “o compromisso da SUFRAMA para o desenvolvimento de sua área de abrangência” e citou “o apoio da atual gestão no sentido de dar uma crescente importância aos servidores da autarquia, valorizando o trabalho daqueles que ajudam e ajudaram a fortalecer a economia local”. Já o parlamentar José Ricardo destacou a contribuição do modelo que possibilitou a instalação de um parque industrial em Manaus, mas disse que “é preciso fomentar a discussão de alternativas para a economia local, que dê garantias de geração de mais empregos”.

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Fotos: Márcio Gallo

Rebecca Garcia finalizou seu discurso destacando a capacidade de superação e renovação do modelo Zona Franca de Manaus e da SUFRAMA

A superintendente Rebecca Garcia aproveitou o momento para agradecer a todos os servidores, colaboradores e superintendentes que atuaram na SUFRAMA pelo comprometimento em desenvolver a região, reconhecendo que cada profissional que passou pela autarquia deixou importante contribuição. Rebecca ainda lembrou dos constantes desafios enfrentados pelo modelo de desenvolvimento regional e fez questão de ressaltar as garantias constitucionais que permitem que a Zona Franca de Manaus exista e que possa beneficiar não apenas a região na qual está inserida, mas todo o Brasil, uma vez que abastece o mercado interno com produtos de alta qualidade e promove a geração de empregos em todo o País. Rebecca Garcia finalizou seu discurso destacando a capacidade de superação e renovação do modelo Zona Franca de Manaus e da SUFRAMA. “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. Peço e desejo que todos nós sejamos abençoados por Deus para que

tenhamos nos próximos anos a capacidade de mudar e se adequar às exigências que o mundo nos impõe, para que transformemos o modelo do Polo Industrial de Manaus em um modelo forte, competitivo, consolidado e que tenhamos números cada vez mais positivos na geração de renda e emprego”. O secretário de Estado de Planejamento e Desenvolvimento, José Jorge do Nascimento Júnior, representou o governo do Amazonas na homenagem e, por ter feito parte do quadro de colaboradores da SUFRAMA por mais de 13 anos, afirmou que foi na autarquia que aprendeu “a lutar pelos interesses do nosso Estado e da nossa região”. O secretário ressaltou que “o trabalho realizado pela autarquia é gratificante, desafiador e os resultados só são alcançados devido à valorosa atuação do quadro técnico da SUFRAMA”. Jorge Júnior fez questão de afirmar que o “projeto Zona Franca de Manaus é o modelo de desenvolvimento mais bem sucedido do País que permitiu que o Amazonas alcançasse um dos maiores crescimentos econômicos do Brasil, com a conservação de 97% da floresta”.

Homenagens Durante a sessão solene, o deputado estadual Abdala Fraxe entregou placa à superintendente da SUFRAMA, Rebecca Garcia, em comemoração aos 50 anos da autarquia e do modelo ZFM. Também foram prestadas homenagens às seguintes personagens, empresas e entidades, em reconhecimento aos anos de dedicação e de contribuições à SUFRAMA e ao modelo Zona Franca de Manaus: José Azevedo, fundador do grupo TV Lar; Francisco Peixoto, proprietário da Granja São Pedro; Gracilene Belota (in memoriam), ex-coordenadora geral de Comércio Exterior da SUFRAMA; Moto Honda da Amazônia Ltda; Associação de Consultores Econômicos do Amazonas; Elilde Menezes, ex-superintendente adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Regional da autarquia; e Flávia Grosso, ex-superintendente da SUFRAMA. revistaamazonia.com.br


A nova ordem é se reinventar por *Eduardo Braga

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Zona Franca de Manaus chega aos 50 anos com o duro e desafiante dever de se reinventar. Lutamos pela prorrogação do nosso principal modelo econômico e garantimos a permanência de seus incentivos fiscais até o ano de 2073, mas isso foi apenas o início de um trabalho maior. Temos mais 53 anos para encontrar os caminhos que vão garantir a consolidação da economia regional sem a dependência fiscal do modelo. Precisamos rever alguns Processos Produtivos Básicos para que possamos ter ainda mais atratividade no Polo Industrial de Manaus para fabricar novos produtos no Amazonas. Além da questão industrial, defendo que a Zona Franca precisa agregar novos mercados que possam gerar emprego e renda para o povo amazonense. Quando estávamos no Governo do Estado, por exemplo, trabalhamos duro para implantar o programa Zona Franca Verde, que permite um mercado de madeira legal, manejada e organizada. Pensamos e implantamos um modelo econômico que gera empregos na extração, transporte e beneficiamento dessa madeira em forma de tábuas, pisos e móveis, portas e janelas. O programa Zona Franca Verde é um arranjo produtivo que pode gerar milhares de novos empregos em nosso Estado, principalmente nos municípios do interior. Empregos esses que hoje, infelizmente, não existem mais no Amazonas. Outro setor que o nosso Estado pode entrar é o da mineração. Mas, para isso, é necessária, em conjunto com o Congresso Nacional, uma revisão na legislação brasileira para que possamos explorar nosso solo de forma responsável e consciente.

Fotos: Chico Batata O modelo Zona Franca de Manaus gera e reparte riquezas, fortalece a economia e a indústria nacional, além de preservar a floresta amazônica em pé

A mineração é, literalmente, uma mina de recursos para nossos municípios, para nosso Estado e para toda a nação brasileira. Também temos que estar atentos à ameaças externas, como a transferência de indústrias da Zona Franca de Manaus para outros polos industriais, como o Paraguai, por exemplo. Nosso país tem, hoje, uma carga tributária que está fundamentada em dois princípios: tributação sobre salários e tributação sobre produção. O Brasil precisa fazer um ajuste nisso. É necessária a redução da carga tributária em cima da produção e do salário, para que possamos ser mais competitivos e nossa população ter mais poder aquisitivo para poder voltar ao consumo. É preciso que todos nós, brasileiros, tenhamos condições de voltar a consumir os produtos da Zona Franca de Manaus, do televisor à motocicleta. Em visita à Samsung

Vale destacar que a queda da inflação é um caminho para isso, porque faz cair os juros e melhora a capacidade de renegociar o endividamento das pessoas, abrindo espaço para mais consumo. Da mesma forma, temos que revisar o sistema tributário no sentido de aumentar os impostos sobre ganhos financeiros, como os dividendos, por exemplo, que hoje não pagam tributos no Brasil. E, para finalizar, senhores e senhoras, tenho orgulho de ter trabalhado e alcançado os números que atingimos na Zona Franca de Manaus, com mais de 120 mil empregos. Ao mesmo tempo em que fico extremamente preocupado com a queda absurda do número de postos de trabalho no Polo Industrial de Manaus para menos de 80 mil, atualmente. O modelo Zona Franca de Manaus gera e reparte riquezas, fortalece a economia e a indústria nacional, além de preservar a floresta amazônica em pé. É um modelo econômico preocupado com o verde, ou seja, essa contabilidade ambiental precisa fazer parte dessa equação quando discutimos os incentivos fiscais da ZFM. O exercício de se reinventar é árduo, difícil, desafiador. Mas a garra e a coragem de nossos trabalhadores, junto com a ousadia, inteligência e visão de futuro de nossos empresários farão com que a Zona Franca de Manaus, essa jovem senhora no alto de seus 50 anos, encontre o caminho da prosperidade e sua consolidação nos anos que virão. [*] Senador da República

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ZFM, 50 anos de luta por *Antonio Silva

Fotos: Miguel Ângelo/CNI, DCM Presidente da FIEAM, Antonio Silva, no Qualishow 2015

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eio século completa o principal indutor do crescimento econômico e da preservação ambiental do Estado do Amazonas. A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) comemora no dia 28 de fevereiro deste ano mais um aniversário. Podemos afirmar que o balanço da sua existência é positivo, em que pese às deficiências logísticas regionais, a pesada carga burocrática e as várias crises até aqui superadas. As transformações ocorridas ao longo desse período foram muitas. Os adversários do Projeto Zona Franca de Manaus nunca aceitaram este modelo de desenvolvimento pacificamente, porque concorremos e disputamos a atração de investimentos estrangeiros e de outras regiões com outros estados mais desenvolvidos e setores influentes compostos por grandes grupos localizados no Sudeste e Sul do país. Originalmente criada para

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atuar como um porto e armazém de mercadorias estrangeiras destinadas ao consumo interno da Amazônia, pela Lei nº 3.173, de 6 de junho de 1957, não teve grandes influências na mudança da economia amazonense, visto que se tratava de uma pequena estrutura localizada no Porto de Manaus e a nossa base econômica resumia-se ao extrativismo de produtos naturais da floresta. Com a edição do Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, foi revogada a Lei nº 3.173/1957, e estabelecidas novas disposições para a instalação da Zona Franca de Manaus, como “uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia, um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância que se encontram os centros consumidores de seus produtos”.

Portanto, em que pese às alterações posteriores, estava criada a Zona Franca de Manaus com o elenco de incentivos fiscais que beneficia a produção. Por isso se festeja o dia 28 de fevereiro de 1967 como o início de sua implantação. Naquela época, a arrecadação federal no Amazonas era muito pequena, vindo a se tornar anos depois, mesmo com os incentivos fiscais, em mais de 50% da arrecadação federal da região Norte. As fases que vivenciamos da vida da Suframa vão desde o início da indústria de montagem, passando pelo estabelecimento de Índice de Nacionalização (IN), momento no qual aqui se implantou uma das mais importantes indústrias de manufatura da ZFM, a Moto Honda que foi obrigada a cumprir Índice de Nacionalização de peso e valor na produção de motocicletas e que, na impossibilidade de ter fornecedor nacional que oferecesse preço e qualidade, teve que verticalizar sua produção, fabricando também revistaamazonia.com.br


Na comemoração dos 25 anos de fundação, da Ação Pró-Amazônia, associação formada pelas Federações das Indústrias dos Estados da Amazônia Legal

alguns componentes necessários ao cumprimento desses índices e tornando-se mais verticalizada do que a própria matriz no Japão. Depois com a abertura da economia brasileira, passamos ao sistema de Processo Produtivo Básico (PPB), o qual é exigido até hoje e que na realidade decide qual produto deve ser produzido na Zona Franca de Manaus, contrariando o que estabelece o art. 1º do Decreto-Lei nº 340, de 22 de dezembro de 1967, que diz: “Os favores previstos nos artigos 3º, 4º, 7º e 9º do Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, não se aplicam aos seguintes produtos, destinados à Zona Franca de Manaus ou dela procedentes: armas e munições, perfumes, fumo, bebidas alcoólicas e automóveis de passageiros, compreendidos, respectivamente, nos capítulos 93.33.24.22 (posições 32.03.22.05 a 22.07 e 22.09, incisos 2 a 7) e 87 (posição 87.02. incisos 1 e 2), da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, alterada pelo Decreto-Lei nº 34, de 18 de novembro de 1966”. Contraria porque o PPB é quem na realidade define qual produto pode ser produzido na Zona Franca de Manaus, com os incentivos fiscais estabelecidos pela legislação vigente e não como estabelece o Decreto-Lei nº 340/67, que exclui apenas os cinco especificados. Com o lançamento da pedra fundamental do Distrito Industrial, em 30 de setembro de 1968, o início da indústria na ZFM foi acanhado, com atividades baseadas em CKD – Completely Knocked Down e SKD – Semi Knocked Down (produtos totalmente ou semi-desmontados) e com liberdade de importação revistaamazonia.com.br

de insumos. Tínhamos duas fábricas de joias, a BETA e a TREVES, uma de perucas, a LE TOUPET e a Companhia Industrial Amazonense (CIA), processadora de minérios. Mais tarde começaram a chegar as empresas do subsetor eletroeletrônico, como a SHARP, CCE, EVADIN, SEMP, GRADIENTE, SANYO, dentre outras, que tornaram esse segmento a maior expressão em termos de faturamento e geração de empregos. Hoje temos um parque industrial de grande importância no cenário nacional e na América Latina, que produz os mais variados bens com tecnologia de ponta, com qualidade e preços competitivos no mercado nacional, capazes de substituir importações de produtos que se não fossem produzidos pela ZFM, certamente seriam adquiridos no exterior. Foram muitas as dificuldades para se chegar ao que hoje representa a Zona Franca de Manaus, em termos econômicos e sociais. As mutilações na legislação original se sucederam e embates políticos foram se multiplicando, gerando desgastes e estresses incalculáveis para todos quantos participaram de discussões em gabinetes em Brasília e em Manaus. No entanto, aqui estamos na luta, completando 50 anos sem ter conseguido que o país como um todo, entenda a real importância da Zona Franca de Manaus para o Brasil, para sua integridade geográfica, para sua preservação ambiental e por sua riqueza natural praticamente intacta. A Zona Franca de Manaus é importantíssima não só para a região Norte, mas para todo o Brasil.

Estudos demonstram que a concessão de incentivos fiscais a regiões menos favorecidas, em termos de crescimento econômico — não de desenvolvimento econômico — provocam modificações visíveis, no decorrer dos anos. Com a implantação da ZFM, o produto interno bruto (PIB) de Manaus passou a estar entre os cinco maiores do País. Manaus, onde está localizada a ZFM, deve ser a sétima cidade mais populosa a nível nacional, com mais de dois milhões de habitantes, no entanto, possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), se não me falha a memória é a vigésima terceira colocada entre as capitais estaduais do país. Os resultados apresentados pelo Projeto Zona Franca de Manaus poderiam ser melhores, caso não tivessem ocorrido erros na sua condução, tanto a nível estadual como federal, não restam dúvidas, mas, convenhamos, ele gerou importante atividade econômica, investimentos e grande número de empregos, ajudando na diminuição da pressão sobre o meio ambiente, permitindo que o Estado do Amazonas mantenha mais de 97% da sua cobertura florestal preservada. Deveremos superar mais uma crise econômica que afeta grandemente a Zona Franca de Manaus, não prescindindo da industrialização de produtos de alta tecnologia, mas também, explorando os recursos naturais com equilíbrio. Priorizando investimentos em pesquisas e tecnologias, descobriremos novos nichos de produção capazes de promover o desenvolvimento sustentável sem agressões irresponsáveis à natureza. A Zona Franca de Manaus é um projeto exitoso de modelo de desenvolvimento econômico implantado pelo governo brasileiro, objetivando viabilizar uma base econômica na Amazônia Ocidental, promover a melhor integração produtiva e social dessa região ao país, garantindo a soberania nacional sobre suas fronteiras. Por tudo que significa para o Amazonas, para a Amazônia Ocidental e para o Brasil, damos graças a Deus pela iniciativa de verdadeiros brasileiros, que souberam enxergar as necessidades prementes da população que habita a região e que têm na Zona Franca de Manaus mais uma importante opção econômica para sua subsistência. [*] Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas

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Encontro debateu integração de ações entre governos da Amazônia

por Secom/AP/PA

Fotos: Jorge Costa/SecomAP, Ruan Alves, Secom PA

Pela primeira vez, o eixo foi discutido e inserido na Carta de Macapá, documento que os governadores assinam, conjuntamente, focado no desenvolvimento da Amazônia

A reunião foi marcada pela assinatura da Carta de Macapá – documento ratificado pelos governantes dos estados que firma diretrizes, considerações básicas e pleitos cruciais definidos pelo Pará, Amazonas, Mato Grosso, Acre, Tocantins, Amapá, Rondônia, Roraima e Maranhão para os próximos anos.

Trabalhos

G

overnadores, secretários de Estado e dirigentes ligados aos setores de segurança pública, meio ambiente, saúde, educação, promoção social e comunicação do Pará, Amazonas, Mato Grosso, Acre, Tocantins, Amapá, Rondônia, Roraima e Maranhão se reuniram em Macapá (AP). Eles participaram do 13º Fórum de Governadores da Amazônia Legal.

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A construção de uma integração mais efetiva de políticas públicas nos estados que compõem a Amazônia brasileira, além da decisão pelo estabelecimento de um consórcio interestadual de governos da região como ferramenta estratégica para garantir mais recursos federais e também promover avanços mais sólidos em áreas como segurança, educação, saúde, desenvolvimento sustentável, garantia de direitos e assistência social, foram a tônica do encontro.

Antes do encontro dos governadores, secretários de estado e comandantes, ligados aos setores de segurança pública, meio ambiente, saúde, educação, promoção social e comunicação, se reuniram em duas sedes da capital amapaense para realizar plenárias. Na Residência Oficial da Beira Rio (sede do governo do Amapá), ocorreu a plenária do Fórum Integrado pelo Desenvolvimento da Amazônia, reunindo secretários de saúde, educação, promoção e assistência social. Também durante toda quinta-feira, a Escola de Administração Pública do Amapá (EAP) sediou três encontros: a Reunião de Secretários de Meio Ambiente da Amazônia, a Reunião de Secretários de Segurança Pública da Amazônia e a Reunião do Comitê de Proteção da Amazônia Legal. As minutas e principais pontos destacados pelas atas desses encontros de secretários de estado e comandantes foram consolidados para a formulação da Carta de Macapá, assinada no mesmo dia pelos governadores em encontro realizado no CetaEcotel.

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Avanços sociais

Na reunião de secretários de Meio Ambiente, Segurança Pública da Amazônia e do Comitê de Proteção da Amazônia Legal

Prioridades O 13º Fórum dos Governadores abordou pautas ligadas ao desenvolvimento social e sustentável, ao combate ao desmatamento e às agendas ambientais do Brasil e do mundo, discutiu medidas para fortalecer a proteção e a promoção de direitos da criança e de adolescentes na Amazônia e também alinhou propostas de ações conjuntas para avanços de políticas nas áreas de segurança, educação e saúde e atenção às fronteiras e às áreas de limites entre estados. E embora todos os temas sejam de vital importância na agenda de debates, este ano a Carta dos Governadores cedeu especial atenção aos desafios impostos pela área de segurança pública: a maior parte de seu texto foi dedicada ao tema. “Estamos diante de um desafio nacional, um problema que, por muito tempo e até recentemente, se continuou dizendo que era só das unidades federativas, o que é muito mais fácil: transferir a responsabilidade para esconder fragilidades”, justificou o governador Simão Jatene, se referindo aos recentes episódios envolvendo a população carcerária nacional. “Esse é um tema que precisa, nesse momento, ter um tratamento diferenciado, incluindo o que diremos na Carta de Macapá”, asseverou. Além de propor o estabelecimento de acordos entre os estados que permitam atuações conjuntas na área de segurança, o texto acordado pelos governadores decidiu que o Fórum de Governadores da Amazônia Legal deve passar a abrigar em todas as suas edições uma reunião de gestão da segurança pública, envolvendo os poderes Executivo, Judiciário e o Ministério Público. A Carta de Macapá também detalhou treze medidas e considerações para que avanços sejam concretizados. Entre esses tópicos, se citou a necessidade de descentralização dos repasses de recursos federais para a segurança pública e de maior

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presença da União nas fronteiras - especialmente para combater o tráfico de drogas e armas -, além de reforço de investimentos nos órgãos federais de polícia, como a Polícia Rodoviária Federal. O documento também propõe o fortalecimento e a ampliação do patrulhamento fluvial. O texto ainda propõe a criação de um Plano Integrado de Segurança Pública da Amazônia Legal e a busca de outros caminhos para a ampliação do financiamento da segurança pública na região - através da identificação de novas fontes de recursos para fortalecimento do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Também foi solicitada a inclusão do setor de segurança pública na medida provisória que autoriza a transferência de recursos da União para os estados, bem como contratações de pessoal. Ao ressaltar a necessidade de definição de uma política da União para o combate ao crime organizado na Amazônia Legal, a Carta de Macapá propôs a construção, na Amazônia Legal, de presídios de segurança máxima e de presídios federais para cumprimento integral de penas por criminosos ligados a facções, além da criação do Banco Nacional de Dados dos Integrantes do Crime Organizado. Os governadores também pedem que sejam abertas investigações federais sobre as facções que atuam no Brasil, com o compartilhamento de informações entre os estados.

Reforçando o compromisso dos estados da Amazônia Legal em reduzir a pobreza e a desigualdade, em consonância com os objetivos de desenvolvimento sustentável para a região, o Fórum de Governadores de Macapá ressaltou ainda em sua carta final a necessidade de se fortalecer nos municípios as redes de proteção integral e de promoção dos direitos humanos de crianças, adolescentes e de outros segmentos vulneráveis. “O maior exercício proposto por esse encontro foi extrair das mais diversas áreas definidas como prioritárias uma agenda mais integradora, e não apenas integrada, para os governos da Amazônia Legal”, destacou em sua apresentação à plenária final a titular da Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais do Pará (Seips), Izabela Jatene. Ela ficou responsável por apresentar os pontos prioritários eleitos pela plenária do Fórum Integrado pelo Desenvolvimento da Amazônia para os tópicos ligados à saúde, educação, assistência e promoção social do encontro. Além de propor a revisão de parâmetros para os repasses, feitos pela União, para a saúde e educação na Amazônia, através do reconhecimento do chamado “fator amazônico”, a Carta de Macapá lançou também o Núcleo de Práticas Integradoras dos governos - que tem atenção dirigida ao atendimento da Agenda Criança Amazônia, estabelecida em parceria com o Unicef, e que lista sete desafios ratificados junto às administrações estaduais da região desde o Fórum de Governadores da Amazônia Legal, realizado em 2008, em Belém.

Durante os debates dos governadores, o secretário de Comunicação do Pará, Daniel Nardin, foi escolhido para fazer uma breve apresentação dos objetivos e das propostas do grupo

Na reunião de secretários de Meio Ambiente, Segurança Pública da Amazônia e do Comitê de Proteção da Amazônia Legal REVISTA AMAZÔNIA

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Assistência Social

As minutas e principais pontos destacados pelas atas dos encontros de secretários de estado e comandantes foram consolidados para a formulação da Carta de Macapá

Consórcio O Fórum de Governadores do Amapá também apontou caminhos como o modelo de consórcios interfederativos, alternativa que permite boas saídas a problemas da região como a aquisição conjunta, feita por várias administrações, de medicamentos de alto custo, a valores mais em conta. Por isso mesmo, a decisão firmada na Carta de Macapá, de instituir e implantar o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, reunindo os nove estados da região, foi um dos grandes legados deixados pelo encontro - com desdobramentos que permitem saídas para várias áreas atendidas pelos governos, da educação à segurança pública. “Essa é a melhor forma de nos associarmos, tendo em vista que temos muitos objetivos em comum”, disse em umas das plenárias Noêmia Jacob, secretária Extraordinária de Estado de Gestão Estratégica - que apresentou ao Fórum de Governadores o esboço de minuta que deve ser discutida pelos próximos meses pelos governos estaduais para a criação do consórcio, de natureza pública, que reunirá legalmente os estados da Amazônia Legal - aos moldes do que já foi feito pelo Consórcio Brasil Central, que congrega estados do Centro-Oeste. “Há vantagens diversas, da formação de convênios e contratos a até as regras ligadas à Lei de Licitações. Além de compras compartilhadas de equipamentos, os consórcios entre estados permitem gestões associadas e prestações de serviços, entre muitos outros mecanismos e recursos”, ressaltou Noêmia Jacob.

A partir da apresentação da proposta ao Fórum de Governadores de Macapá, o modelo de contrato do Consórcio da Amazônia Legal será estruturado e debatido para que já possa ser ratificado na próxima reunião anual dos governadores da Amazônia Legal. “A primeira etapa será assinar esse protocolo de intenções, que deve também ser ratificado pelas assembleias legislativas de cada um dos estados”, esclareceu a secretária Extraordinária de Estado de Gestão Estratégica do Pará. “A criação do Consórcio da Amazônia Legal é fundamental para os 25 milhões de habitantes que aqui vivem e também para termos uma Amazônia cada vez mais respeitada pelo País e pela comunidade internacional”, avaliou o governador do Amapá, Waldez Góes. “Precisamos alinhar nossas ações com os municípios e essa ferramenta é crucial também para a integração com esses novos gestores, que querem discutir políticas públicas nesse país”, ponderou por sua vez Marcelo Miranda, governador do Tocantins. “Todas essas parcerias, inclusive as internacionais, são extremamente importantes. Não conseguiremos mudar a condição dos desafios ao nosso desenvolvimento se não enfrentarmos juntos nossos maiores adversários, que são a pobreza e a desigualdade”, ressaltou o governador Simão Jatene durante a cerimônia de assinatura da Carta de Macapá. “A melhor forma de a Amazônia contribuir para o enfrentamento dos problemas nacionais é trabalhar pelo seu próprio desenvolvimento. É unir esforços para atendermos aqueles que mais precisam de nossas políticas públicas, a população mais pobre”.

Encontro reuniu em Macapá (AP), oito dos nove governadores dos estados da Amazônia Legal. Segurança Pública é prioridade no documento assinado pelos governadores

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As discussões da Câmara Temática da Assistência Social foram em torno da rede de proteção para o combate à exploração, tráfico, abuso, aliciamento e prostituição de crianças e adolescentes na Amazônia Legal e a Criação do Fundo Nacional para financiar/ subsidiar as ações relacionadas à socioeducação. Durante as discussões, foram apresentados alguns programas voltados para o segmento abordado e defende o pacto entre os governadores para a instituição da Agenda para Proteção e Garantia dos Direitos das Crianças dos estados amazônicos.

Segurança Pública Tratado pela primeira vez em conjunto pelo grupo amazônico, o tema Segurança Pública foi debatido pelos secretários de Segurança Pública, comandantes das Polícias Militares e dos delegados gerais de polícia dos estados que compõem o fórum. Em destaque, temas a exemplo da Segurança Pública nas fronteiras; a segurança nas divisas; a formalização de Termo de Cooperação entre as Polícias Militares e Polícia Civil para operações nas regiões de divisa entre os Estados; e o sistema prisional e crime organizado.

Indicadores O coordenador do Unicef para a Amazônia Legal, Unai Sacona, apresentou indicadores para subsidiar o debate pelo desenvolvimento social da região. Segundo os dados, existem 9,6 milhões de crianças e adolescentes na Amazônia Legal. Mais de 50% deles vivem em famílias pobres. Em média, por dia, segundo o Unicef, quatro crianças e adolescentes são vítimas de homicídio na região. A mortalidade materna é outro índice que preocupa: Na Amazônia Legal, mulheres negras têm quatro vezes mais risco de morrer durante a gestação se comparado com a média nacional. No caso de mulheres indígenas, o risco é duas vezes maior.

Ao assinar o documento, o governador do Pará disse que “a razão primeira desse fórum é a proposição de um modelo de desenvolvimento harmônico e sustentável para toda a Amazônia” revistaamazonia.com.br


A maioria das crianças indígenas vive na Amazônia. Elas têm duas vezes mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças no País. Esse risco chega a ser oito vezes maior do que a média nacional no Distrito Sanitário Indígena Yanomami. Sacona também destacou que na Região Norte 18% das crianças ainda são invisíveis aos olhos do Estado. No restante do País, esse percentual é de 5%. Isto resulta em outras problemáticas, como crianças fora da escola. Segundo o indicador apresentado por Sacona, 10% das crianças e dos adolescentes em idade escolar obrigatória (4 a 17 anos) não estão em sala de aula. “Tivemos avanços. O Mato Grosso avançou na proteção das crianças indígenas, o Pará melhorou no pacto pela educação. De certa forma, houve avanços desde o compromisso assumido na Agenda da Criança Amazônica, mas os estados podem apertar o passo e avançar com mais velocidade”, evidenciou Sacona.

Carta de Macapá

Comunicação - Criação do Fórum Permanente de Comunicação Pública Governamental da Amazônia. - Fomento para a comunicação voltada ao cidadão (canal direto entre a população e os governos). Segurança Pública - Definir de forma clara as fontes do Fundo Nacional de Segurança Pública. - Operação policial de 90 dias nas divisas e fronteiras dos Estados amazônicos contra o tráfico. - Atuação permanente das forças armadas nas fronteiras. - Construção, pela União, de 27 presídios de 150 vagas a serem administrados pelos Estados. - Construção de cinco presídios federais para condenados faccionados. - Criação de um Banco Nacional de Dados sobre o crime organizado. - Atuação da Força Nacional, por 90 dias, em apoio a Polícia Rodoviária Federal.

Na reunião de secretários de Meio Ambiente, Segurança Pública da Amazônia e do Comitê de Proteção da Amazônia Legal

Além da firmação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, a Carta de Macapá também destacou a necessidade da União descentralizar os recursos para financiamento da segurança pública. Esta medida, segundo a Carta, resultaria em mais ações nas fronteiras amazônicas para coibir o narcotráfico e melhorias no sistema carcerário nesses Estados. O documento também reconhece as ações do governo federal para implementar a Política Nacional de Mudanças Climáticas e cobra da União mais celeridade na regulamentação do Art. 41 da Lei 12651/2012, que trata da concessão de incentivos fiscais para os Estados que adotarem medidas para redução da emissão de gases de efeito estufa, como a diminuição do desmatamento. As ações, por eixo, pelas quais os governos irão buscar apoio do governo federal, definidas na Carta de Macapá são:

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- Definição da política da União para o combate ao crime organizado na Amazônia Legal. Saúde - Ampliar o atendimento nas fronteiras e divisas entre os Estados. - Intensificar o combate ao Aedes aegypti nas fronteiras. - Ações preventivas de redução da mortalidade infantil e população indígena.

Os tópicos ligados à saúde, educação, assistência e promoção social do encontro foram apresentados pela titular da Seips, Izabela Jatene

- Plano conjunto com a União para reduzir a mortalidade materno-infantil. - Financiamento diferenciado para programa de saúde na região amazônica. - Implantar consórcios interfederativos para aquisição de medicamentos de alto custo. Criança e Adolescente - Fortalecimento de uma rede de proteção integral e dos direitos humanos da criança e adolescente, incluídos os sistemas judiciário e policial. - Reafirmação da Agenda da Criança Amazônica do Unicef. Educação - Criação de uma Câmara Técnica Regional Integrada com compromisso das metas da Agenda Criança Amazônica voltadas ao segmento. - Subsidiar decisões políticas considerando o “fator amazônico” para a educação. Assistência Social - Mais políticas de prevenção. - Cofinanciamento para as políticas do setor. - Gestão integrada no desenvolvimento das políticas. - Criação de núcleo de integração de políticas. - Fortalecer as gestões municipais na assistência social. Desenvolvimento Sustentável - Grupo de estudos para definir a regulamentação do Art. 41 da lei 12651/2012, tendo a participação do Ministério do Meio Ambientes. - Maior sintonia entre os Estados amazônicos e o Fundo Amazônia antes da aprovação de projetos. - Outras providências.

Secretários de estado participaram de debates em câmaras temáticas, voltadas à educação, saúde, assistência e proteção REVISTAsocial AMAZÔNIA 19 a crianças e adolescentes


Negócios sustentáveis podem gerar pelo menos US$ 12 trilhões e reparar o sistema econômico O relatório diz que os SDGs poderiam criar 380 milhões de novos empregos em todo o mundo em desenvolvimento

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ais de 35 CEOs e líderes da sociedade civil da Business & Sustainable Development Commission (Comissão de Desenvolvimento Sustentável e Empresarial) revelaram recentemente que os modelos de negócios sustentáveis poderiam abrir oportunidades econômicas no valor de pelo menos US$ 12 trilhões e gerar até 380 milhões de empregos por ano até 2030. Colocar as Metas de Desenvolvimento Sustentável, ou Metas Globais, no centro da estratégia econômica mundial, poderia desencadear uma mudança radical no crescimento e na produtividade, com um boom de investimento em infraestrutura sustentável como um fator crítico. No entanto, isso não acontecerá sem uma mudança significativa na comunidade empresarial e de investimento. É necessária uma verdadeira liderança para que o setor privado se torne um parceiro confiável no trabalho com governos e com a sociedade civil para consertar a economia. 20

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Em seu principal relatório, Better Business, Better World, a comissão reconhece que, embora nas últimas décadas centenas de milhões de pessoas tenham sido retiradas da pobreza, houve também um crescimento desigual, mais insegurança no campo do emprego e um endividamento cada vez maior. Esses fatores alimentaram uma reação antiglobalização em muitos países, com interesses empresariais e financeiros considerados centrais para o problema, minando o crescimento econômico de longo prazo que o mundo precisa. A Comissão passou o último ano analisando uma questão central: “O que será necessário para que as empresas sejam fundamentais para criar uma economia de mercado sustentável, que possa ajudar a atingir os Objetivos Globais?”. O Better Business, Better World, programado para ser lançado junto o Fórum Econômico Mundial, em Davos, e a posse presidencial nos Estados Unidos, mostra como. “Este relatório é um apelo à ação para líderes empresariais.

Mais de 150 milhões de crianças trabalham sem ser visto ou protegidos

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Nós estamos no limite e não mudar resultará em mais oposição política e em uma economia que simplesmente não funciona para um número suficiente de pessoas. Temos que mudar para um modelo de negócio que funcione para um novo tipo de crescimento inclusivo”, afirma Mark Malloch-Brown, presidente da Business & Sustainable Development Commission. “O Better Business, Better World mostra que existe um incentivo convincente para que o mundo não seja apenas bom para o meio ambiente e para a sociedade, mas que ele faça sentido em termos de negócios também”, complementa. No centro da discussão da Comissão estão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ou Objetivos Globais) - 17 objetivos para eliminar a pobreza, melhorar educação e saúde, criar melhores empregos e enfrentar os principais desafios ambientais até 2030. A Comissão acredita que os Objetivos Globais oferecem ao setor privado uma nova estratégia de crescimento que abre oportunidades de mercado valiosas ao criar um mundo que seja sustentável e inclusivo. E as possíveis recompensas para fazer isso são significativas. O relatório revela que 60 grandes oportunidades em mercados sustentáveis e inclusivos em apenas quatro áreas econômicas importantes poderiam gerar pelo menos US$ 12 trilhões, valor acima de 10% do PIB atual. A discriminação das quatro áreas e seus valores potenciais são: energia, com US$ 4,3 trilhões; cidades: com US$ 3,7 trilhões; alimentos e agricultura, com US$ 2,3 trilhões; e saúde e bem-estar, com US$ 1,8 trilhão.

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Essas grandes oportunidades dos Objetivos Globais identificadas no relatório têm o potencial de crescer 2 a 3 vezes mais rapidamente do que o PIB médio nos próximos 10 a 15 anos. Além dos US$ 12 trilhões estimados diretamente, a análise conservadora mostra potencial para mais US$ 8 trilhões de criação de valor em toda a economia se as empresas incorporarem os Objetivos Globais a suas estratégias. O relatório também mostra que, se o custo das externalidades (impactos negativos das atividades de negócios, como emissões de carbono ou poluição) for levado em conta, o valor global das oportunidades aumenta em quase 40%. “Em um momento em que nosso modelo econômico está desafiando os limites de nossas fronteiras planetárias e condenando muitos a um futuro sem esperança, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nos oferecem uma saída”, diz Paul Polman, CEO da Unilever, e membro da comissão. “Muitos estão agora percebendo as enormes oportunidades que existem para empresas esclarecidas e dispostas a enfrentar estes desafios urgentes. Mas cada dia que passa é mais uma oportunidade perdida para a ação. Devemos reagir de forma rápida, decisiva e coletiva para garantir um mundo mais justo e próspero para todos”, afirma Polman. Embora as oportunidades sejam convincentes, a Business

& Sustainable Development Commission deixa claro que duas condições críticas devem ser atendidas para criar esses novos mercados. Primeiro, será necessário um financiamento inovador de fontes públicas e privadas para liberar os US$ 2,4 trilhões necessários anualmente para alcançar os Objetivos Globais. “Como gestores de capital de longo prazo, a indústria de investimentos e seus clientes podem apoiar a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, criando métricas de sustentabilidade simples e padronizadas, integrantes do processo de investimento”, explica Hendrik du Toit, CEO da Investec Asset Management e membro da Comissão. “Também precisamos de novas parcerias otimizadas com governos e comunidades que possam reduzir os riscos para todos e trazer mais investimento privado a um custo mais baixo para o desenvolvimento de infraestrutura sustentável”, complementa o CEO. Ao mesmo tempo, a Comissão acredita que um “novo contrato social” entre empresas, governo e sociedade é essencial para definir o papel das empresas em uma nova economia mais justa. O Edelman Trust Barometer 2017, recentemente lançado, reforça esta ideia. Ele mostra que, embora a credibilidade do CEO esteja em forte queda, 75% dos entrevistados da população em geral concordam que “uma REVISTA AMAZÔNIA

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empresa pode adotar ações específicas que aumentam os lucros e melhoram as condições econômicas e sociais na comunidade onde ela opera”. Elas podem fazer isso de formas que se alinham com as recomendações e ações descritas no Better Business, Better World: reconquistar a confiança criando empregos dignos, recompensando os trabalhadores de forma justa, investindo na comunidade local e pagando uma parcela justa de impostos. “A promessa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e do Acordo Climático de Paris é um mundo livre de carbono e com pobreza zero. Para alcançar esses Objetivos Globais, precisamos recuperar confiança. Um novo contrato social para as empresas onde as pessoas, seu meio ambiente e desenvolvimento econômico sejam reequilibrados pode garantir que todos os filhos e filhas sejam respeitados com liberdade, salário mínimo adequado, acordos coletivos e trabalho seguro garantido. Somente um novo modelo de negócios baseado em antigos princípios de direitos humanos e justiça social irá apoiar um futuro sustentável”, explica Sharan Burrow, Secretária-Geral da International Trade Union Confederation e também integrante da Comissão. Ao longo de 2017, a Comissão focará seus esforços em trabalhar com as empresas para reforçar o alinhamento delas com os Objetivos Globais, incluindo: orientar a próxima geração de líderes de desenvolvimento sustentável; criar roteiros setoriais e tabelas que classifiquem o desempenho corporativo em relação aos Objetivos Globais; e apoiar medidas para a liberação de financiamentos que viabilizem investimentos em infraestruturas sustentáveis. “Precisamos mostrar que essas ideias funcionam não apenas em um relatório, mas na linha de frente dos negócios”, ressalta a Dra. Amy Jadesimi, CEO da LADOL, uma empresa nigeriana de desenvolvimento de infraestrutura e logística, e membra da Comissão. 22

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SDGs - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

“Os Objetivos Globais fornecem um modelo de crescimento sustentável e lucrativo para as empresas e têm o potencial de desencadear uma nova ‘corrida competitiva para o topo’. Quanto mais rápido os

CEOs e conselhos fizerem dos Objetivos Globais seus objetivos de negócios, melhor será para o mundo e suas empresas”, finaliza Jeremy Oppenheim, diretor de Programa da Comissão. revistaamazonia.com.br


Ouro e platina vieram do espaço

Cientistas dizem que metais preciosos, incluindo ouro e platina, vieram do espaço bilhões de anos atrás.

O

s pesquisadores da Universidade de Bristol chegaram à conclusão após analisar amostras de algumas das pedras mais antigas do mundo, na Groenlândia. Análise das rochas mais antigas da Terra corrobora teoria de que os metais preciosos do nosso planeta tiveram origem extraterrestre. Segundo eles, os isótopos encontrados nessas formações – átomos que identificam a origem e idade dos materiais – são claramente diferentes daqueles que se originaram na Terra. Isso confirmaria a teoria de que os metais preciosos que usamos hoje chegaram ao planeta em uma violenta chuva de meteoros quando a Terra tinha apenas 200 milhões de anos. “Nosso trabalho mostra que a maior parte dos metais preciosos nos quais se baseiam nossas economias e muitos processos industriais foram adicionados a nosso planeta por coincidência, quando a Terra foi atingida por cerca de 20 bilhões de toneladas de material espacial”, diz Mathias Willbold, que liderou a pesquisa da Universidade de Bristol. Ouro e platina chegaram à Terra do espaço, afirmam os cientistas

A maior parte do ouro está inalcançável, no centro da Terra

Ouro que exploramos na superfície e no manto terrestre…

Tecnologia

Núcleo dourado Durante a formação da Terra, o planeta era uma massa de minerais derretidos, que era constantemente atingida por grandes corpos cósmicos. O centro da Terra foi criado a partir de metais em estado líquido que afundaram. De acordo com os cientistas, a quantidade de ouro e outros metais preciosos presente no coração do planeta seria suficiente para revistaamazonia.com.br

cobrir toda a superfície da Terra com uma camada de quatro metros de profundidade. A concentração de todo o ouro e outros metais no centro do planeta deveria ter deixado as camadas externas da Terra praticamente livres da presença desses materiais, por isso a origem do ouro que exploramos na superfície e no manto terrestre (a camada imediatamente abaixo da crosta terrestre) já havia sido motivo de especulações no mundo científico.

O estudo publicado na revista científica Nature foi o primeiro, segundo os pesquisadores, a conseguir realizar as medidas isotópicas com a qualidade necessária para descobrir que os metais preciosos vieram do espaço. Os cientistas dizem que estudos futuros podem tentar descobrir mais sobre os processos que fizeram com que os meteoros que atingiram a Terra se misturassem ao manto terrestre. Em seguida, processos geológicos formaram os continentes e concentraram os metais preciosos nos depósitos de minerais que são explorados hoje. REVISTA AMAZÔNIA 23


Erupções preciosas

Riqueza mineral da Amazônia pode ter origem em vulcões que existiram bilhões de anos atrás por Everton Lopes Batista

Fotos: Léo Ramos, Teodoro Isnard De Almeida / Usp

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erca de 4 mil quilômetros separam a sala repleta de caixas com fragmentos de rochas dentro da Universidade de São Paulo (USP) do local de onde elas foram retiradas – a Floresta Amazônica. Caetano Juliani, o geólogo que faz do pequeno espaço no Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, no Instituto de Geociências, seu local de trabalho, toma um pedaço de rocha na mão medindo não mais do que 15 centímetros de comprimento, que cintila com pequenos pontos prateados.“Pode tocar. Isso aqui brilhando é molibdênio”, diz o pesquisador, apontando para o elemento usado na confecção de ligas metálicas muito resistentes, com boa demanda no mercado internacional. Desde 1998 o geólogo pesquisa feições que poucos brasileiros associam ao norte do país: os vulcões que existiram no território onde hoje está a Amazônia. O festival de erupções começou há cerca de 2 bilhões de anos, na era geológica conhecida como Paleoproterozoica, mas suas consequências perduram até hoje. A região presenciou eventos intensos de diferentes formas de vulcanismo, sobrepostos ao longo de milhões de anos, que presentearam o solo de uma área estimada em cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados com depósitos de ouro e diversas ocorrências de cobre e molibdênio trazidos das profundezas da Terra à superfície pela lava. “Essa foi provavelmente a maior área de vulcanismo com tamanha intensidade no mundo”, afirma o geólogo. Recentemente o grupo da USP estuda vestígios de vulcões carbonatíticos, que dão origem a rochas com minerais como calcita e dolomita, no município de São Félix do Xingu, no Pará. A região está na parte sul do cráton amazônico, uma área tectonicamente estável nos últimos 800 milhões de anos que começou a se formar há cerca de 3 bilhões de anos. Esses vulcões, de um tipo raro no mundo, lançavam magma associado a grandes depósitos de fósforo, elemento utilizado na produção de fertilizantes para a agricultura. De acordo com Juliani, os vulcões amazônicos foram formados por diferentes processos entre 2 e 1,87 bilhão de anos atrás. 24

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Mapa geológico das formações Sobreiro e Santa Rosa na região de São Félix do Xingu-Pará, segundo Juliani e Fernandes

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Até os anos 1980 acreditava-se que o vulcanismo na região havia sido apenas aquele típico de regiões estáveis, com poucos terremotos e vulcões – chamado de anorogênico. Com a obtenção de mais material e novos estudos, ficou claro que essas formações foram mais complexas, acrescentando ao pacote o vulcanismo orogênico, característico de áreas instáveis, semelhantes às dos Andes, às do México e às do oeste dos Estados Unidos. A água quente liberada durante a consolidação do magma dá origem às mineralizações conhecidas como hidrotermais, estudadas pelo grupo de Juliani. Essas alterações na região sul do Pará estão descritas em artigo publicado no Journal of Volcanology and Geothermal Research. Para que o processo aconteça, é necessário que uma fonte transporte os metais para mais perto da superfície, papel desempenhado pelo vapor-d’água que acompanha o magma. A criação de um depósito mineral, como de fósforo ou de molibdênio, pode levar mais de 500 mil anos, nos quais os metais são carregados para próximo à superfície, onde ficam acumulados. Mas isso só ocorre se as condições geológicas do local permitirem. “Não conhecemos o tamanho dos depósitos na Amazônia. O que sabemos é que os metais certamente foram transportados e, pelas características mapeadas, temos fortes indícios de que houve acumulações nas regiões entre o rio Tapajós e o rio Xingu”, afirma.

Impactos na saúde A rotina dos pesquisadores na região é pesada, com grandes dificuldades de acesso a certas partes da floresta. O material que precisa ser transportado de volta ao laboratório para análise são pedaços de rochas e, para não correr o risco de perder fragmentos no caminho ou deixar algo para trás no aeroporto, Juliani conta que muitas vezes preferiu fazer o longo trajeto de caminhonete. O potencial da região para a descoberta de depósitos de minérios, reafirmado com os recentes estudos, é uma das motivações, embora seja necessário cuidado para evitar danos excessivos à floresta. “Não existem novas descobertas de recursos minerais suficientes para manter a produção de quase tudo que é utilizado nos dias de hoje, incluindo os equipamentos eletrônicos. Encontrar novas jazidas é uma necessidade para manter o bem-estar da sociedade”, diz o geólogo. “Por causa da dificuldade de acesso, pouca gente se interessa em fazer pesquisa como essa na região”, afirma Carlos Marcello Dias Fernandes, geólogo do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará, que desenvolve pesquisas com Juliani. Segundo

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Províncias geocronológicas, bem preservadas dos centros vulcânicos do Paleoproterozóico Tardio na região de São Félix do Xingu, Cráton Amazônico

Ouro sob a floresta No sul do Pará, entre os rios Tapajós e Jamanxim, dois morros discretos escondem dois dos mais antigos vulcões do mundo, formados há quase 1,9 bilhão de anos, quando a Terra tinha pouco mais da metade da idade atual. Debaixo deles, a uma profundidade que varia de 100 metros a um quilômetro, podem existir, em meio às rochas, amplos depósitos de ouro, prata, zinco, cobre e molibdênio, como sugerem estudos recentes realizados por geólogos da Universidade de São Paulo Revista Pesquisa FAPESP

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Há 2 bilhões de anos, vulcões reinavam onde agora é a Amazônia

Rochas com pontos brilhantes de molibdênio, além de cobre e outros minerais em menor quantidade Restos de vulcões junto ao rio Xingu, vistos por satélite

ele, nenhum outro lugar no mundo apresenta vestígios de eventos vulcânicos tão antigos com tão boa preservação. “Nem todos os locais mapeados se tornarão minas para ser exploradas economicamente, mas esses estudos nos dão informações importantes sobre como a Amazônia se formou. É uma questão para a qual ainda faltam muitas respostas”, diz. Fernandes destaca ainda o trabalho em conjunto que geólogos têm estabelecido com mineradoras brasileiras e estrangeiras na região. Os cientistas ajudam as empresas a encontrar os locais onde mais provavelmente estão os depósitos, e as companhias podem iniciar a sondagem, cara demais para os pesquisadores bancarem sozinhos. Cada metro de sondagem – perfuração das rochas para coleta de amostras – custa mais de R$ 2 mil e algumas delas podem atingir mais de 300 metros de profundidade. Em contrapartida, os geólogos ganham novas e melhores informações do que está debaixo da terra e foi encoberto pelo tempo para continuar a jornada e, quem sabe, desvendar novos mistérios dos ancestrais vulcões amazônicos. 26

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Cientistas descobrem rio fervendo na Amazônia por Gizmodo Brasil

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em no coração da Amazônia, lendas falam de um rio tão quente que ferve a partir de baixo. O geocientista Andrés Ruzo foi treinado para acreditar que essas histórias não podiam ser verdade. Mas isso foi antes de ele ver o rio com os próprios olhos. É incrível pensar que existem maravilhas naturais do planeta ainda não conhecidas pela ciência, mas tal era o caso do rio em Mayantuyacu, descrito em detalhes no livro Rio em Ebulição: Aventura e Descoberta na Amazônia. O livro é uma história cativante e real sobre descoberta, aventura, ciência e misticismo, contada por um homem que foi levado a explicar algo impossível, e que agora está em uma missão para preservá-lo. revistaamazonia.com.br

Fotos: Andrés Ruzo, Devlin Gandy , Peter Koutsogeorgas, YouTube

O geocientista Andrés Ruzo

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Ruzo tinha 12 anos e morava no Peru quando seu avô lhe contou uma história estranha. Depois que conquistadores espanhóis mataram o último imperador inca, eles se dirigiram para as profundezas da floresta amazônica em busca de ouro. Poucos desses homens jamais retornariam, e aqueles que voltaram mencionavam um pesadelo vivo: água envenenada, cobras que comiam pessoas, fome, doenças e um rio em ebulição, como se fervido por uma grande fogueira.

O rio em ebulição em Mayantuyacu

Qualquer coisa que sobrevive aqui poderia oferecer pistas sobre como a vida começou há bilhões de anos, quando a Terra era um planeta muito mais quente

A imagem daquele rio fervente ficou marcada na mente de Ruzo. Mas não foi até anos mais tarde, como um candidato a PhD em Geofísica da Southern Methodist University (EUA), que ele começou a se perguntar se a lenda poderia ser verdade. Isto não era apenas curiosidade: o projeto de tese de Ruzo estava inicialmente focado em criar o primeiro mapa geotérmico detalhado do Peru, incluindo partes da Amazônia. Se um rio fervente existisse, isso certamente mereceria reconhecimento.

Mas seus colegas de posição mais elevada descartaram a ideia como absurda. Seria preciso uma tremenda quantidade de calor geotérmico para ferver até mesmo uma pequena seção de um rio – e a bacia amazônica encontra-se a centenas de quilômetros de qualquer vulcão ativo. Um orientador até mesmo sugeriu que Ruzo parasse de fazer “perguntas estúpidas” se ele quisesse terminar o doutorado. Mas Ruzo não parou de perguntar. E ele acabou encontrando alguém que levou a

sério suas perguntas sobre um rio fervente: a tia dele. É porque ela viu um rio assim. Afinal, o rio não era lenda, e sim o local sagrado de cura geotérmica de Mayantuyacu, escondido na floresta tropical peruana e protegido por um poderoso xamã. Ruzo não conseguiu acreditar até ver por si próprio, e depois de fazer isso, a vida dele mudou. Com 25 metros de largura e 6 metros de profundidade, o rio avança por 6 km em temperaturas quentes o suficiente para cozinhar todos os animais infelizes de caírem na água. E sim, uma pequena parte dele é tão quente que realmente ferve. Há fontes termais documentadas na Amazônia, mas nada tão grande como este rio. “Você está cercado pelos sons da floresta tropical”, disse Ruzo ao Gizmodo. “Você sente essa água fluindo à sua frente, e as plumas de vapor subindo. É realmente um lugar espetacular.” Mayantuyacu é visitado todos os anos por alguns turistas, que vêm experimentar as práticas medicinais tradicionais do povo Asháninka. Fora algumas referências obscuras em revistas sobre petróleo da década de 1930, a documentação científica do rio é inexistente. De alguma forma, esta maravilha natural conseguiu passar despercebida por mais de 75 anos. Muitos se voltam para a ficção a fim de escapar da banalidade no mundo real.

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Cientistas descobrem rio lendário em ebulição na Amazônia

Mas como ilustra o rio fervente, descobertas fantásticas estão à espreita em torno de nós. É preciso um tipo especial de persistência, e um pouco de loucura, para identificar as pistas perdidas em meio à rotina diária. Quando Ruzo fez isso, ele foi recompensado com a maior aventura da vida dele. E esta aventura está apenas começando. Após estabelecer um forte relacionamento com a comunidade local, Ruzo está agora realizando estudos geotérmicos detalhados do rio fervente, tentando colocá-lo no contexto da bacia amazônica. Ele também está colaborando com ecólogos microbianos para investigar os organismos extremófilos que vivem nas águas escaldantes. Qualquer coisa que sobrevive aqui poderia oferecer pistas sobre como a vida começou há bilhões de anos, quando a Terra era um planeta muito mais quente. Destruição da floresta amazônica próximo ao rio fervente

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Contemplando o rio Mayantuyacu

E o mais importante: Ruzo está tentando salvar o rio fervente. “No meio do meu doutorado, eu percebi que este rio é uma maravilha natural”, disse Ruzo. “E ele não continuará assim, a menos que façamos algo a respeito.” Desde que Ruzo visitou Mayantuyacu pela primeira vez, em 2011, a floresta tem sido dizimada pela exploração ilegal de madeireiras. Se medidas não forem tomadas, o local – considerado sagrado

por gerações de praticantes culturais da Asháninka – poderá em breve desaparecer. Ruzo espera obter o interesse público e apoio financeiro necessários para garantir a sobrevivência do rio a longo prazo. Mayantuyacu enfrenta muitas ameaças, de madeireiras a empresa de energia, mas uma coalizão para proteger o patrimônio natural e cultural se torna mais forte a cada dia.

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Portos paraenses movimentam 3 bi

Dados do setor portuário estão consolidados no 4º Anuário dos Operadores Portuários do Estado do Pará 2016/2017

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o acumulado dos últimos quatro anos, os portos públicos paraenses movimentaram 3 bilhões de reais de cargas, mais de R$ 670 milhões de reais somente no ano de 2016. Mesmo num ano difícil em diversos segmentos da economia, o que impactou diretamente na diminuição do volume de importação exportação, os portos de Vila do Conde, Miramar, Santarém, Belém e Outeiro movimentaram mais de 19 milhões de toneladas de produtos, principalmente de alumínio, animais vivos, caulim e produtos químicos inorgânicos. Os dados foram compilados pelo Sindicato dos Operadores Portuários (Sindopar) e estão no 4º Anuário dos Operadores Portuários do Estado do Pará, lançado em uma noite de festa na Fábrica 242. Desta vez, a publicação que já se tornou uma tradição no meio empresarial trouxe os dados da movimentação de cargas no ano passado e dos últimos quatro anos ao lado de reflexões feitas por especialistas, autoridades e acadêmicos. “Entre tantas opiniões, pode-se dizer que os entrevistados são unânimes em relação ao talento do Pará para o transporte de cargas hidroviário e de sermos uma solução logística para o país”, afirma Alexandre Carvalho, presidente do Sindopar. De acordo com Carvalho, a publicação contribui para atrair investimentos e mostrar a importância das atividades portuárias

Fotos: Thiago Queiroz

Alexandre Carvalho, presidente do Sindopar, apresentando o 4º Anuário dos Operadores Portuários do Estado do Pará

na economia paraense. “Nós nos esforçamos para trazer informações que deixam mais transparente o trabalho realizado nos portos, que geram riquezas e rendas no Pará. Mas muito ainda tem que ser feito. Acreditamos que o Pará pode se tornar o principal corredor logístico do país, mas para isso é necessário muito trabalho e esforço, e a sociedade tem papel fundamental nesse processo, pois é dela que será o principal legado dessa conquista”, disse o presidente da entidade. Assuntos como o desenvolvimento do Arco Norte, a importância da implementação de obras de infraestrutura e à segurança na navegação permeiam a literatura. O livro bilíngue também apresenta gráficos e tabelas com informações privilegiadas da movimentação de cargas nos portos paraenses, que muito interessa a empresários e investidores que pretendem tornar o Pará o seu corredor para cabotaMinistro da Integração Nacional, Helder Barbalho, homenageado gem e exportação para os da noite, manda mensagem para principais mercados conos portuários e convidados sumidores do planeta.

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Lançamento A festa de lançamento também prestou homenagens a diversas personalidades que atuam no setor portuário do Pará e do país. A honra do mérito portuário foi entregue a 26 personalidades e autoridades escolhidas em Assembleia Geral Extraordinária em reconhecimento àqueles que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da navegação, abrangendo também o transporte de passageiros. Dentre os presentes , Flávio Acatauassu, diretor técnico do Movimento Pró-Logística do Pará (MPL-PA) , e seu pai, Carlos Acatauassu, empresário de longa carreira no setor portuário, inclusive já tendo sido presidente da Companhia Docas do Pará nos anos 1990. Flávio considera o anuário como guia fundamental para quem quiser entrar no ramo. “Tem tudo que facilita a quem pensa em entrar no setor logístico, de navegação e atividade portuária, já que possui informações precisas, mostra onde investir e como investir, além de matérias e editoriais que nos mantém sempre atualizados”, afirma. Seu pai, por sua vez, foi uma das 26 personalidades que receberam o troféu de mérito, por ter desenvolvido trabalho há décadas que hoje impacta diretamente na movimentação da área. revistaamazonia.com.br


“Em 1995, fizemos negociações que permitiram que o Porto de Vila do Conde poderia ser a oportunidade de expansão do Pará. Hoje, é de carga geral, contêiner e todo tipo de mercadoria, diferente das limitações da época”, lembra. Para o presidente da Fenop, Sérgio Aquino, ser um dos homenageados da noite foi uma surpresa. “Vivemos um momento muito importante, com a ampliação das atividades portuárias e a flexibilização dos terminais, e a expectativa para 2017 é que o setor possa reagir junto à economia nacional”, destaca. Além desses, o Sindopar entregou placas a seis homenageados considerados especiais agraciados pelas contribuições e apoio ao setor, incluindo autoridades do legislativo e executivo, como ministros os ministros Helder Barbalho, Ministro da Integração Nacional e Maurício Quintella, Ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil. A principal comenda, o Troféu Zezinho Canto foi entregue ao atual Diretor Geral da ANTAQ, a Adalberto Tokarski, pelo trabalho que vem sendo exercendo na agência reguladora a qual o sindicato mais se reporta. Para o setor, o lançamento também significou a comemoração pela boa expectativa para a movimentação de cargas no Pará neste ano. “As perspectivas para 2017 são boas, em determinados aspectos muito boas, digo isto principalmente em termos de capacitação, já que estamos em pleno vapor e andando muito bem e rapidamente com o processo do SENAP que será o Serviço Nacional de Aprendizado Portuário, no mesmo molde do SENAC e do SENAI”, antecipa sobre a iniciativa que será desenvolvida pela Federação dos Operadores Portuários (FENOP).

SINDOPAR O Sindicato dos Operadores Portuários do Pará foi fundado em 1993 por força da Lei 8.630 do mesmo ano, com o objetivo de defender os interesses dos Operadores Portuários do Estado do Pará. De lá para cá, o sindicato conquistou mudanças históricas, impondo a importância das operações portuárias como solução logística no Estado e no país. Desde 2013, o sindicato investe no Anuário como ferramenta de comunicação com a sociedade. A intenção era desde sempre proporcionar uma literatura acessível não só para o setor, mas também para a sociedade em geral. “Nele dispomos a estatística do setor, número a número, mostrando o tipo de carga que movimentamos, os volumes dos últimos anos, entre outras diversas informações importantes”, declara Alexandre Carvalho. revistaamazonia.com.br

Homenageados

Autoridades e personalidades homenageadas com o Mérito Portuário

Alexandre Araújo – Presidente da ASPLAM e Diretor Executivo do MPL-Pará Movimento Pró-Logistíca Pará; Antonio Carlos Sepulveda – CEO Santos Brasil; Representado pelo Sr. Ricardo Molitzas – Diretor Executivo de Operações da Santos Brasil; Antonio Marcos Campos Lima – Auditor Fiscal da Receita Federal – Inspetor da Alfândega do Porto de Belém; Carlos Acatauassu – Engenheiro Civil & Ex presidente da CDP, Ex Presidente da CPH e Ex presidente ARCON; Carlos Frisoli – Conselheiro FENOP; Dilermando Dantas Jr – Diretor do grupamento fluvial;Erick Moura de Medeiros – Diretor de Infraestrutura Aquiviária do DNIT;Fabio Lucio Costa – Presidente da ACP e da FACIAPA;Fernando Fialho – Ex Diretor Geral da ANTAQ, Diretor Presidente da Modal Consult;Hilton Celson Benigno de Souza – Coronel da Policia Militar e Subsecretário de Segurança Publica do Estado do Pará; Representado pelo Coronel Reginaldo Pinheiro;João Emmanuel Poggi De Lemos Neto – Consultor Sindop – PE; Linésio Gomes Barbosa Junior – Presidente da Cooperativa de Práticos UNIPILOT; Marcos Antônio Lins Siqueira – Presidente SINDOP PE;Miguel Fortunato Gomes dos Santos Junior – Coordenador Geral da Administração Hidroviária da Amazônia Oriental - AHIMOR; Miguel de Jesus Salgado – Praticagem da Barra do Pará; Plinio Brayner Plinio Neto – Capitão de Mar e Guerra - Ex comandante da Sinalização Náutica; Representado por João Bittencourt; Querginaldo Alves de Camargo - Diretor Executivo OGMO Santos; Ramiro Fernandes Nazaré – Economista, Professor e Escritor Roberto Teller – Presidente da SOPESP; Ronaldo Lopez Garcia – Consultor SINDOP/PR; Silvio Lobato – Gestor Executivo do OGMO Belém/Vila do Conde & Presidente do Grupo S Lobato, Silvio Guilherme Lopes Portugal – Técnico Administrativo do Porto de Vila do Conde – CDP; Watson Valamiel – Presidente SINDOPE. ES

Homenagens Especiais

Sérgio Aquino, presidente da Fenop, agradecendo em nome dos homenagem

Sergio Aquino – Presidente da FENOP Federação Nacional dos Operadores Portuários; Joaquim Passarinho – Deputado Federal; Lucio Vale – Deputado Federal; Marcio Miranda – Presidente ALEPA; Fábio Lucio Costa – Presidente ACP; Maurício Quintella Lessa– Ministro do Transporte, Portos e Aviação Civil, Representado pelo Sr. Erick Moura de Medeiros – Diretor de Infraestrutura Aquaviária do DNIT; Helder Zahluth Barbalho – Ministro da Integração Nacional, Representado pelo Sr. Rodrigo Mendes – Secretário Nacional de Política Portuária. REVISTA AMAZÔNIA

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Arco Norte: a solução logística para o país Muito falado no meio político e empresarial, o Arco Norte é uma das maiores apostas logísticas para os empresários graneleiros escoarem as commodities agrícolas para o mercado consumidor internacional. Formado pelos principais portos da Amazônia, o Arco Norte é estratégico e tido como uma solução para o país aumentar o valor agregado dos seus produtos e se tornar mais competitivo no exterior. Nesta entrevista, Alexandre Carvalho, presidente do Sindopar, comenta o assunto que aparece com muita relevância nesta edição do Anuário.

Como o Sindopar vê a importância do Pará no desenvolvimento do Arco Norte?

Alexandre Carvalho, presidente do Sindopar

Claro que o Arco Norte é a saída mais apropriada para o país. É aqui que estão os portos mais bem localizados e de menor custo para os produtos da região central, isso ninguém tem duvida, é fato. Porém, a carga ainda não vai para os portos mais bem localizados, e sim para os portos mais competitivos, onde o custo é menor. Para se colocar a carga no Porto de Vila do Conde, que é notadamente o porto mais pujante do Pará, a logística é complexa e os custos ainda são altos e impeditivos.

Qual é a movimentação desses terminais hoje e as perspectivas para os anos seguintes?

Em 2015, só os portos públicos movimentaram quase 22 mi de toneladas de carga, recorde histórico de movimentação. Em 2016 este número caiu para 19 mi de toneladas, também apenas os portos públicos, uma redução de 13%, que esperamos ser compensada neste ano, que promete uma melhoria junto com a reação da macronomia nacional.

O Pará está se consolidando como o grande corredor logístico do arco norte?

O Pará não é apenas importante para o desenvolvimento do Arco Norte, o Pará é fundamental, mas sem as obras de infraestrutura que pedimos há anos, infelizmente o Arco Norte não acontece. Precisamos de vontade politica para que as obras de infraestrutura possam consolidar esta vantagem geográfica.

Navegação como solução sustentável para a Amazônia O maior homenageado da noite de lançamento do Anuário, Adalberto Tokarski, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), defendeu a navegação como uma solução de desenvolvimento sustentável na região amazônica.

A Amazônia tem um talento natural para a navegação, porém a região ainda não se consolidou como referência. Por que este modal ainda não se transformou no principal modelo de transporte da região?

O transporte de passageiros é mais crítico. Apesar das embarcações regulares serem hoje fiscalizadas ainda existe um grande problema que são os acessos nos terminais. Precisávamos só para Belém de quatro terminais semelhantes ao Terminal Hidroviário Luiz Rebelo Neto. Neste aspecto, temos quatro elementos que podem contribuir: Governo Federal, Governo Estadual, Prefeituras e iniciativa privada, sendo o papel do estado mais forte.

E qual a importância do transporte de cargas hidroviário na região? O transporte de cargas é muito importante, porque o mundo inteiro utiliza o transporte sobre rios e canais por ser mais eficiente, ser menos poluidor e ter o custo mais barato que outros. Isso fica mais evidente ainda quando há o transporte de carga multimodal, envolvendo outros meios, como rodoviário e ferroviário. Temos bons exemplos no Brasil, como o trecho Tietê-Paraná. No Pará o transporte de grãos do Mato Grosso até Miritituba, está bom, mas pode melhorar com o asfaltamento da BR163.

Onde está o gargalo no Pará?

Precisamos que se invista mais na segurança da navegação. Investir em dragagem no tempo certo, sinalização, balizamento.Precisamos disso no rio Tapajós, no rio Tocantins e precisamos 32

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Adalberto Tokarski, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), foi homenageado com a principal comenda o Troféu Zezinho Canto. Na foto entre Alexandre Carvalho e Renato Pinto

de investimento para o derrocamento do Pedral do Lourenço. Também é necessário investir em segurança no stritu sensos, que significa uma navegação sem ter piratas, bandidos, que é algo que preocupa muito as empresas na Amazônia.

Como a navegação poderia ajudar a transformar a economia e a sociedade paraense?

O Pará ganha, mas precisa ganhar mais, precisa ganhar de valor agregado. Isso depende de rios com mais segurança, com mais balizamento, pois dará para circular mais produtos de valor agregado, com isso baixa o preços dos produtos e a sociedade inteira ganha. Para quem conhece a Amazônia não dá pra pensar em desenvolvimento sustentável se não pensar na utilização da forma coerente da navegação fluvial. revistaamazonia.com.br


Alexandre Carvalho e Marcio Miranda, Presidente ALEPA, um dos homenageados especiais

Deputado Joaquim Passarinho, um dos homenageados

Fabio Tinoco e Alexandre Carvalho

Gilberto Andrade e Alexandre Carvalho

Alexandre Carvalho, Dep. Federal Lúcio Vale, um dos homenageados da noite e o Professor Hito Braga

Vice-almirante Alípio Jorge Rodrigues da Silva, Comandante do 4º Distrito Naval, ao centro, entre Márcio Miranda, Alyrio Sabba, Carlos Nascimento e José Rebelo III

Fatima Canto, Alexandre Carvalho, Naira Carvalho, Cinthia Canto e Pablo Canto;

Edmilson Moraes, Rose Moraes, Joaquim Passarinho, Nadia Khaled, pároco Cônego Ronaldo Menezes

Miguel Fortunato, Alexandre Carvalho, Lucio Vale, Fabio Lucio e Olavo das Neves

Bernardo José Fernandes, Fernanda Fernandes, Naira e Alexandre Carvalho

Alexandre Carvalho, Naira Carvalho, Maria José Salgado, Miguel Salgado

Alexandre Carvalho, Naira Carvalho, Mytz Barbosa, Linésio Gomes Barbosa Junior

Ligia Moura, Erick Moura, Naira, Alexandre Carvalho, Miguel Fortunato, Lura Amalia, Girlane Araújo e Alexandre Araújo

Alexandre Carvalho, Fábio Lúcio, homenageado e Fernando Oliveira

Sérgio Aquino, presidente da Fenop, recebe a homenagem especial dos portuários

Alexandre Carvalho, Naira Carvalho, Neide Sirotheau da Fonseca e Dr Vicente Malheiros

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Rodrigo Salim, Grazi Salim, Alexandre Carvalho, Naira Carvalho, Alexandre Pereira, Marcela Pereira e Flavia Valim

Antonio Marcos Campos Lima e Marcia Andréa Lima

Naira Carvalho, Alexandre Carvalho e Elianna Homobono

Convidados assistem a cerimônia REVISTA 33 de apresentação daAMAZÔNIA publicação


Necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento sustentável para a Amazônia A Amazônia necessita de um novo modelo de desenvolvimento econômico, fundamentado na combinação de tecnologias digitais e biológicas avançadas com os ativos biológicos do bioma

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avaliação foi feita por participantes do “Simpósio Internacional de Bioeconomia”, realizado recentemente, em São Paulo. Promovido pelo Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com apoio da FAPESP, o evento teve como objetivo debater experiências internacionais bem-sucedidas em bioeconomia – que reúne segmentos econômicos que utilizam recursos biológicos de forma sustentável – e estabelecer parcerias com outros países a fim de dinamizar o setor no Brasil. O simpósio integrou um dos encontros preparatórios para a realização do “Summit Bioeconomy 2017”, previsto para ocorrer este ano, em São Paulo, com o objetivo de consolidar estratégias de bioeconomia para a formulação de políticas públicas no Brasil voltadas para estimular o setor no país. “Em vez de olhar só para os recursos naturais e para os serviços ecossistêmicos oferecidos pela Amazônia, é preciso focar nos ativos biológicos do bioma que representam uma grande oportunidade para o desenvolvimento de tecnologias avançadas integrantes da chamada Quarta Revolução Industrial”, disse Juan Carlos Castilla-Rubio, presidente do conselho da Space Times Ventures – uma empresa de tecnologia brasileira especializada em incubar e escalonar mudanças em sistemas de produção de indústrias baseadas no uso intensivo de recursos. O empreendedor peruano é um dos autores de um artigo publicado em agosto na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), liderado por Carlos Afonso Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e membro da coordenação executiva do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). No artigo, os pesquisadores propõem um plano para mudar os paradigmas de desenvolvimento sustentável, transformando o bioma em um polo de inovação tecnológica em grande escala. 34

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O novo paradigma consistiria em empregar tecnologias digitais e biológicas avançadas da chamada Quarta Revolução Industrial – como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, genômica, edição genética, nanotecnologias, impressão 3D –, associando-as ao conhecimento tradicional da região, a fim de criar produtos e serviços inovadores de alto valor agregado. “Na nossa visão, a combinação de tecnologias digitais e avançadas da Quarta Revolução Industrial com os ativos biológicos e biomiméticos [que imitam a natureza para criar produtos] poderia dar origem a uma economia talvez de vários trilhões de dólares na Amazônia, e não de dezenas de milhões de dólares que temos hoje na região, focada em recursos naturais”, estimou Castilla-Rubio. De acordo com ele, um dos exemplos de ativos biológicos, como plantas e animais, existentes na Amazônia e nos quais as indústrias já têm se inspirado para desenvolver novos produtos usando tecnologias digitais, como impressão 3D e computação quântica, é o das borboletas morpha. Consideradas algumas das borboletas mais belas do mundo, as asas desse gênero de abelhas apresentam uma coloração azul metálica, produzida não pela pigmentação, mas pela interação da luz com estruturas nanométricas (da bilionésima parte do metro) de diferentes índices de refração, que reforçam a reflexão de determinados comprimentos de onda.

Dessa forma, as características da coloração das borboletas morpha pode mudar de acordo com o ângulo de incidência da luz e de observação – fenômeno chamado de coloração iridescente. “As estruturas nanométricas e o movimento de asas das borboletas morpha têm sido objeto de diversas pesquisas voltadas a desenvolver tecidos, revestimentos e painéis solares de altíssimo desempenho”, afirmou Castilla-Rubio. Outro exemplo, segundo ele, é de uma espuma produzida pela rã-tungara (Physalaemus pustulosus) para servir de abrigo para seu ovos ou girinos em pequenos lagos ou poças d’água na Amazônia. Composta por enzimas, que protegem os ovos e os girinos contra patógenos presentes na água e da luz solar, a estrutura do material tem inspirado o desenvolvimento de materiais fotossintéticos capazes de converrevistaamazonia.com.br


As plantas da Amazônia podem levar a avanços em antissépticos, medicamentos e drogas anti-inflamatórias, se combinado com novas tecnologias

Flor do Jambu, erva típica da região norte do Brasil, mais precisamente no Pará

Para impulsionar a nova revolução industrial, investigadores estrangeiros e brasileiros estão estudando os mecanismos de políticas de mitigação ambiental e social, em toda parte, inclusive na bacia do rio Amazonas

ter energia solar em biocombustíveis e para capturar dióxido de carbono da atmosfera, apontou Castilla-Rubio. “Acreditamos que combinando as tecnologias digitais e avançadas com os recursos biológicos da Amazônia poderemos gerar novos produtos, soluções e plataformas tecnológicas não só para os mercados já existentes, como também criar outros totalmente novos”, avaliou. “Temos discutido esse novo modelo de desenvolvimento econômico da Amazônia nos últimos seis meses no âmbito não só do Conic da Fiesp, como também no Fórum Econômico Mundial, do qual sou membro do conselho consultivo, e recebido amplo apoio”, afirmou.

Proteção da biodiversidade

Os autores do estudo ponderam, contudo, que os ativos biológicos encontrados na Amazônia só poderão contribuir para impulsionar a nova revolução industrial se a biodiversidade da floresta for protegida. De acordo com dados apresentados por Nobre, o modelo de desenvolvimento implementado na Amazônia nos últimos 50 anos, calcado na substituição de áreas de floresta para produção agrícola, causou grandes transformações ambientais no bioma amazônico. “A fronteira agrícola avançou muito rapidamente sobre a floresta, baseada em uma agricultura primitiva, além de insustentável e de baixa produtividade, caracterizada pelo uso do fogo, que é o principal agente de modificação do espaço amazônico e também de uma forma bastante rápida de extrair madeira, em grande parte ilegal”, afirmou Nobre. A temperatura na Amazônia aumentou 1,1º C nas últimas décadas, apontou o pesquisador. Se a temperatura do bioma aumentar 4º C ou se o desmatamento passar de 40%, o bioma pode atingir um ponto de ruptura,

Os cientistas dizem que a rica diversidade de vida da Amazônia e o conhecimento de seus povos indígenas poderiam ser emparelhados com os recentes avanços nas tecnologias biológicas, digitais e de ciência de materiais para alimentar ainda mais a Quarta Revolução Industrial em andamento. resultando em um processo de savanização irreversível.“Estamos observando que a estação seca em parte da Amazônia – que dura entre três e quatro meses, no máximo – está ficando mais longa. Se isso se tornar uma tendência há o risco de a Amazônia savanizar”, avaliou Nobre. [*]Agência FAPESP

Os ativos biológicos encontrados na Amazônia só poderão contribuir para impulsionar a nova revolução industrial se a biodiversidade da floresta for protegida

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Bolsa de Madeira Responsável

é apontada como uma das iniciativas que pode ajudar a combater o desmatamento no Brasil

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Bolsa de Madeira Responsável da BVRio é um dos participantes do relatório final sobre transparência na cadeia de commodities, resultado do encontro organizado pela EU REDD Facility, European Forest Institute, Stockholm Environmental Institute e pelo Global Canopy Project na COP22. A plataforma lançada em novembro de 2016 é mencionada como uma das iniciativas com big data que podem combater o desmatamento. O relatório aponta que há necessidade de unir os governos e as empresas para promover uma “transparência radical” no mercado de commodities. Por isso, durante o evento promovido na COP22, foi apresentado a Transparency for

Sustainable Economies (Trase), plataforma aberta com dados sobre a origem de produtos como carne, óleo de palma e soja. As informações sobre a cadeia de custódia da madeira são fornecidas pela Bolsa de Madeira Responsável da BVRio. Além disso, o documento traz uma contribuição do presidente da BVRio, Pedro Moura Costa, sobre legalidade no mercado de madeira. Ao lado de representantes de empresas, organizações não-governamentais e de governos, ele aprofunda a discussão sobre transparência, a situação do Brasil e como a Bolsa de Madeira Responsável pode ajudar a diminuir a ilegalidade no setor madeireiro.

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A Plataforma Trase plataforma mostra como imagens radicalmente diferentes podem surgir da propagação de risco ao longo de uma cadeia de suprimento, dependendo se uma remessa está ou não contaminada quando passa pelas mãos de um ator com um registro conhecido de atividade ilegal. Uma vez que a madeira que é comercializada por um determinado fornecedor é proveniente de várias localidades e processada por várias serrarias, a garantia de legalidade de um lote de madeira não garante que o próximo lote de madeira vendido pelo mesmo fornecedor irá satisfazer os mesmos níveis de legalidade e conformidade ambiental. Ao clicar no mapa de fluxos de madeira negociada no estado do Pará, é acessada uma plataforma interativa com um conjunto de dados de exemplo. A seleção de um nó específico (seja concessão madeireira ou serraria) destaca os fluxos comerciais associados a esse nó, bem como o nível de risco associado a esse nó baseado na avaliação de ilegalidade da BVRio (vermelho, laranja, verde).

A Bolsa de Madeira Responsável (www.bvrio.com/madeira/negocio/negocio/lista.do), lançado recentemente pelo Instituto BVRio (www.bvrio.org/ madeira), é uma plataforma que ajudará compradores e vendedores do setor madeireiro a encontrar produtos de origem legal ou certificada no mundo inteiro. A plataforma é integrada ao sistema de Due Diligence e Análise de Risco da BVRio para facilitar o rastreamento de toda cadeia de custódia dos produtos madeireiros. A tecnologia, baseada em Big Data, é capaz de realizar 2 bilhões de cruzamentos por dia e tem a precisão de 99% de acerto no Brasil. O objetivo deste lançamento foi facilitar a aquisição de produtos madeireiros de origem responsável de forma eficiente, segura e rentável, aumentando a liquidez e a demanda neste segmento. Ao mesmo tempo, ajudar a promover a transparência, a legalidade e a sustentabilidade no setor de madeira. Uma série de parcerias estão sendo construídas pela BVRio. Com isso, os participantes da Bolsa de Madeira Responsável vão ter acesso a um conjunto de serviços adicionais que agregam valor às suas transações. Entre eles estão classificação e controle de qualidade, auditorias de campo, além do sistema de due diligence, financiamentos, seguro, serviços de logística e exportação. A plataforma será particularmente útil para compradores e vendedores que operam nos mercados europeu e americano. A bolsa foi concebida para facilitar a adequação e o cumprimento de regulamentações como o EU Timber Regulation (UE) e o Lacey Act (EUA). A plataforma está pronta para identificar produtos madeireiros de origem responsável no Brasil, Indonésia (baseada na licença FLEGT), assim como aqueles que têm certificação FSC e PEFC. Em breve, o sistema também permitirá transações com madeira de origem responsável proveniente do Peru e do Oeste da África (começando por Ghana). Produtos com outras procedências também poderão ser encontrados na bolsa mas os participantes terão que contratar seus serviços de due diligence dentro do site. No caso dos produtos madeireiros do Brasil, os usuários poderão conduzir a verificação da cadeia de custódia usando o sistema de Due Diligence e Análise de Risco da BVRio. revistaamazonia.com.br

A extração ilegal causa diversos danos ambientais e sociais nos países produtores de madeira de origem nativa. A exploração irresponsável da floresta é uma atividade que agrava a perda de biodiversidade ao extrair árvores de áreas protegidas. Além disso, através do desflorestamento descontrolado e dos incêndios florestais, pode contribuir para o agravamento das mudanças climáticas, sem falar dos impactos negativos sobre a população local, empobrecendo as comunidades rurais que dependem dos produtos florestais para a sua manutenção. Na foto acima o Ibama interrompeu uma exploração ilegal de madeira em uma floresta com cerca de 1,5 mil hectares, a 140 km de Sinop, no norte do Mato Grosso. Na ação, os agentes ambientais apreenderam três tratores adaptados para o arraste de madeira, uma caminhonete D20 com rádio de comunicação, um caminhão-toreiro, quatro motosserras e 270 m³ de toras recém-derrubadas (o equivalente a onze caminhões cheios).

Sobre a BVRio

A Bolsa de Valores Ambientais BVRio (www.bvrio.com) é uma empresa de impacto criada para operar os mercados ambientais promovidos pelo Instituto BVRio (www.bvrio.org), facilitando o cumprimento de leis ambientais e o desenvolvimento de uma economia verde. A Bolsa de Madeira Responsável BVRio é uma plataforma de negociação de produtos florestais de origem legal ou certificada com possibilidade de gestão de risco e due diligence (www.bvrio.org/madeira). A BVRio foi vencedora do prêmio Katerva Awards 2013 (Economia), nomeada Líder em Ação Climática pela R20 – Regions of Climate Action, e integra a Forest Legality Alliance. REVISTA AMAZÔNIA 37


As últimas fronteiras do deserto Número de “florestas virgens” paisagens florestais intactas – (IFL), cai mais de 7% em 13 anos. Cêrca de 19 países perderão toda sua área intacta em 60 anos Fotos: Carla Schaffer / AAAS, Google Earth, Peter Potapov

América do Sul, tropical Eurasia, boreal do sul e temperado África

Winterkorn, Globalmente, a extração de madeira e a expansão agrícola causaram a maior perda de IFL’s, mas as causas regionais variaram amplamente. Crédito: Potapov et al. Sei. Adv. 2017; 3: e1600821

América do Norte, boreal norte Sudeste Asiático América do Norte, boreal e temperada Eurasia, boreal do norte Austrália América do Sul, temperado

Incêndio

exploração madeireira

A

agricultura / pastagem

área intacta da paisagem florestal mundial, sem nenhum indício de atividade humana caiu 7,2% entre 2000 e 2013, segundo um estudo recentemente publicado. Liderada pelo professor de geografia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Peter Potapov, a pesquisa utilizou imagens de satélites do Google Earth e dados do governo para monitorar as mudanças durante os anos. 38

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energia / mineração - outros transportes

De acordo com os especialistas, nos 13 anos foram perdidos 919 mil quilômetros quadrados de terrenos formados por mosaicos de ecossistemas florestais e de árvores de forma natural. O estudo informou que as regiões tropicais foram responsáveis por 60% da redução total da área “virgem”, enquanto 21% dessa perda foram causadas nas regiões boreais, e 19% no norte das florestas de Eurasia e da América do Norte. Mais da metade da redução desta paisagem intacta está concentrada em apenas três países: Rússia, Brasil e Canadá, que tiveram perdas de 179 mil Km²; 157 mil Km²; e 142 mil Km² respectivamente. A América Latina foi a responsável por mais de um terço dessa perda, o que faz dela a líder entre os continentes que mais desmataram florestas. Entre 2000 e 2013, o Paraguai destruiu 80% desse tipo de vegetação, seguido do Brasil, que ocupa o segundo lugar no ranking de desmatamento mundial.Entre as principais causas desse fenômeno estão a extração de madeira (37%);

Percentagem de redução de IFL’s entre 2000 à 2013 nos países com maior perda absoluta. Entre todos os países, o Paraguai teve a maior perda proporcional de IFL’s, perdendo quase 90 por cento de seus IFL’s entre 2000 e 2013. Crédito de dados: Potapov et al. Sei. Adv. 2017; 3: e1600821

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IFL, é um mosaico sem costura de florestas e ecossistemas naturalmente sem árvores, sem sinais detectados remotamente de atividade humana e uma área mínima de 500 km2. As IFLs são críticas para estabilizar o armazenamento de carbono terrestre, abrigando a biodiversidade, regulando os regimes hidrológicos e fornecendo outras funções do ecossistema. Embora as IFLs restantes representem apenas 20% da área de floresta tropical, elas representam 40% do carbono total da floresta tropical acima do solo. O estudo mostra que a extensão IFL global foi reduzida em 7,2% desde 2000. Uma taxa crescente de redução da área IFL gloAs paisagens florestais intactas – grandes mosaicos de ecossistemas ancorados bal foi encontrada, em grande parte impulsionapelas florestas e não afetados pelos seres humanos – estão em declínio em todo o da pela triplicação da perda de floresta tropical mundo, de acordo com uma nova análise de dados de satélites IFL em 2011-2013, em comparação com a de 2001-2003. A exploração madeireira industrial, a expansão agrícola, o incêndio e a extração de minerais/recursos foram as principais causas da redução da área de IFL. Verificou-se que as áreas protegidas (União Internacional para a Conservação da Natureza, categorias I a III) têm um efeito positivo na diminuição da redução da área de IFL da colheita de madeira, mas foram menos eficazes na limitação da expansão agrícola. A certificação das concessões madeireiras sob gestão responsável teve um impacto insignificante sobre o abrandamento da fragmentação do IFL na Bacia do Congo. A fragmentação de IFLs pela exploração madeireira e estabelecimento de estradas e outras infraestruturas, inicia uma cascata de mudanças que levam à transformação da paisagem e à perda de valores de conservação. Dado que apenas 12% da área IFL global é protegida, nossos resultados ilustram a necessidade de planejamento e investimento em sequestro de carbono e esforços de conservação da biodiversidade que visam as florestas remanescentes mais valiosas, identificadas usando a abordagem IFL.

a expansão agrícola (27%); e a propagação dos incêndios florestais devido a construção de infraestrutura (21%). Além disso, há a fragmentação para rotas minerais, de extração de petróleo, gasodutos e linhas elétricas, e a expansão da rede de estradas. Entre 2011 e 2013, a taxa de redução de áreas florestais intactas triplicou em comparação a década anterior. No entanto, as zonas conhecidas como “áreas protegidas” sofreram uma diminuição “significativamente menor”. Segundo o estudo, as paisagens florestais virgens são importantes por estabilizarem o armazenamento de carbono terrestre e a biodiversidade, além de proporcionar habitat natural para animais. Entretanto, os pesquisadores alertaram que se este número continuar a reduzir na mesma proporção, ao menos 19 países perderão toda sua área de floresta virgem nos próximos 60 anos. revistaamazonia.com.br

Quantificando a Mudança Global da Capa Florestal

A análise foi possível graças a equipe: Peter Potapov,Matthew C. Hansen, Lars Laestadius, Svetlana Turubanova, Alexey Yaroshenko, Christoph Thies, Wynet Smith, Ilona Zhuravleva, Anna Komarova, Susan Minnemeyer e Elena Esipova, com a colaboração do Google Earth Engine, que implementaram os modelos desenvolvidos na Universidade de Maryland, para caracterizar os conjuntos de dados Landsat. O Google Earth Engine é uma tecnologia massivamente paralela para processamento de dados geoespaciais de alto desempenho e abriga uma cópia de todo o catálogo de imagens Landsat. O que teria levado um único computador 15 anos para executar foi concluído em questão de dias usando a computação do Google Earth Engine REVISTA AMAZÔNIA

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Sistema de dados espaciais é ampliado para todos os estados amazônicos por Nadir Rodrigues e Beatriz Guimarães

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erramenta de gestão territorial da região Amazônica brasileira, o Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal (Siageo Amazônia) foi atualizado e ampliado com dados completos dos nove estados brasileiros que o abrangem: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e o oeste do Maranhão. Em sua versão inicial, somente o Acre estava com informações completas. A capacitação de 150 técnicos do governo em sete estados permitiu expandir a base de informações para toda a região. O Portal Siageo Amazônia é uma plataforma integrada de dados geoespaciais que pode ser acessada por qualquer pessoa interessada e é particularmente útil para pessoas e instituições que atuam em áreas relacionadas a planejamento territorial: agentes públicos, empreendedores rurais, agrônomos e diferentes esferas do governo. Lançado em setembro de 2015, o sistema disponibiliza na web diversas informações resultantes do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da Amazônia Legal, como mapas de gestão, solos, geologia, cobertura vegetal e uso da terra, áreas protegidas, etc. Agora com uma base mais completa de dados atualizados da região, qualquer pessoa pode usar o módulo bancário e carregar os 40

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Fotos: Alexandre Coutinho, Nadir Rodrigues

dados de sua propriedade ou empreendimento que o sistema emite um relatório de análise espacial contendo subzonas de gestão, unidades de conservação, terras indígenas e solo (pedologia), indicando as áreas no mapa e as respectivas legendas. Esse recurso auxilia na tomada mais rápida de decisão pelos fazendeiros e empreendedores e também facilita análises para concessão de crédito rural pelos agentes do sistema financeiro. O sistema beneficia especialmente os gestores, produtores e consultores ambientais. Um empreendedor pode, por exemplo, identificar rapidamente em que tipo de solo se encontra a sua propriedade ou a que distância se localiza determinada terra indígena ou unidade de conservação. Da mesma forma, o agente financeiro pode elaborar um relatório espacial referente às condições ambientais de uma fazenda para melhor análise sobre a concessão de crédito rural. Para o pesquisador João Vila, da Embrapa Informática Agropecuária (SP), o Siageo é uma ferramenta de planejamento e de conhecimento. “Para qualquer lugar da Amazônia Legal, com um simples clique posso saber qual é o tipo de solo e de vegetação desse ambiente e qual é o planejamento que o governo, em conjunto com a sociedade, indicou para a região. revistaamazonia.com.br


Acesso on-line e gratuito O Siageo é um sistema on-line gratuito e de fácil acesso, podendo ser consultado na internet a partir de um simples cadastro. Outra vantagem é que não há necessidade de o usuário instalar ou manter qualquer software em seus computadores. É preciso apenas um microcomputador com navegador e internet para usar as funcionalidades do sistema, que é interativo e possibilita a visualização e o download de mapas georreferenciados. A plataforma é dividida em seções: Atlas, WebGIS, Relatórios, Publicações e Projeto UZEE. Nelas, é possível realizar consultas espaciais com base em qualquer uma das camadas temáticas disponíveis no catálogo do Siageo, como áreas protegidas, indígenas e outras relacionadas à gestão territorial. Ainda podem ser obtidos relatórios com as análises espaciais, além de mapas gerados de acordo com a solicitação de cada usuário.

O Siageo traz esse conjunto de informações, de forma fácil e rápida, o que ajuda a fazer uma análise integrada e a decidir como produzir com segurança e menor impacto ambiental”, explica. A ferramenta, um dos produtos do projeto “Uniformização dos ZEE da Amazônia Legal (UZEE-AML)”, valoriza as particularidades dos estados e dos municípios ao mesmo tempo que possibilita uma visão macrorregional. O sistema permite disseminar o conhecimento técnico sobre a Amazônia Legal e subsidiar a formulação e a implantação de planos, programas e políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da região. Na visão do gerente de ZEE do Ministério do Meio Ambiente, Bruno Siqueira Abe Saber Miguel, um dos pontos fracos do Zoneamento Ecológico-Econômico era a ausência de disponibilização das informações geradas à sociedade. “A principal contribuição do Siageo foi tornar essas informações acessíveis aos diferentes usuários, sem nenhuma restrição de uso tanto para o governo quanto para a sociedade civil, e que eles possam se valer dessas informações para tomar melhores decisões sobre uso dos recursos naturais”, afirma o gerente. A base de informações inclui dados sobre zoneamentos ecológicos-econômicos, solos, clima, vegetação, aptidões agronômicas e aspectos socioeconômicos, legais e institucionais que são úteis aos gestores públicos, instituições de fomento e secretarias de estado e municipais, constituindo-se no mais completo e acessível portal de dados geoespaciais da Amazônia Legal. Com isso, é possível conhecer melhor o território amazônico, avaliar potencialidades produtivas e estimular a preservação ambiental. O sistema está disponível gratuitamente via internet

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O sistema está disponível gratuitamente via internet

Desenvolvido pela Embrapa, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o Siageo é um dos resultados do projeto de pesquisa UZEE-AML, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental (PA). Conta com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A iniciativa também busca atender à Lei do Acesso à Informação, que garante aos cidadãos o direito a informações produzidas ou detidas pelo governo. “O Siageo é uma importante plataforma para acesso aos dados do zoneamento”, conta Átila de Araújo Magalhães, chefe da Divisão de ZEE da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) do Acre. “Os técnicos do estado terão acesso a dados úteis nas atividades pré-campo e poderão fazer um planejamento adequado, já que esses são dados fidedignos e homologados sobre o território”, explica. Além disso, o governo e a Embrapa promovem capacitações para que esses técnicos também possam multiplicar o conhecimento sobre a tecnologia para outros profissionais.

Zoneamento Ecológico-Econômico O ZEE é um instrumento criado para orientar políticas públicas relacionadas ao planejamento, uso e ocupação do território. Os dados gerados pelos estados da Amazônia Legal durante a elaboração de seus zoneamentos alimentam o Siageo, que conta com a parceria de secretarias de meio ambiente, planejamento e desenvolvimento regional nas nove capitais da região amazônica. Esse instrumento é essencial para a definição de estratégias compartilhadas de gestão do território entre o governo e a sociedade. Por isso, o ZEE considera as potencialidades e limitações do meio

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O ZEE facilitou a construção do zoneamento pedoclimático da banana

físico, biótico e socioeconômico, tendo como eixo norteador os princípios do desenvolvimento sustentável. A intenção é racionalizar o uso do território e organizá-lo em torno de premissas ambientais, econômicas e sociais que respeitem e valorizem a vocação da Amazônia Legal. O trabalho da Embrapa apoia os governos estaduais na elaboração do ZEE. “A Embrapa tem uma grande base de dados da região, já que estamos presentes em todos os estados da Amazônia Legal. Isso permite que a nossa rede dê apoio à execução desse trabalho tão importante para a região amazônica, para o Brasil e para o mundo”, comenta o chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri. O ZEE integra os potenciais natural e socioeconômico da região amazônica, possibilitando a identificação das melhores áreas para produção e das áreas degradadas que demandam recuperação. “O ZEE permite a formulação de uma série de políticas de desenvolvimento sustentável, proteção dos recursos naturais e recuperação ambiental. Também permite que os produtores tenham mais acesso a crédito e mais segurança no investimento”, completa Venturieri. Na Fazenda São João, em Senador Guiomard, município do interior do Estado do Acre, os cultivos de café, milho e seringueira, a criação de gado, a área de reserva e as demais atividades estão cada qual no seu lugar, segundo o produtor rural João Evangelista Ferreira. “A gente vivia desorientado e agora temos o zoneamento; nós estamos organizando as coisas e isso vai ajudar a melhorar mais”, conta o produtor, que possui financiamento governamental. “Além de preservar, a gente está tentando conviver melhor com a natureza”, diz.

No Acre, a ferramenta é adotada pelo governo como principal instrumento de planejamento e gestão territorial. O objetivo é impulsionar a implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável, que envolva o combate à pobreza, aumento do bem-estar da população e geração de emprego e renda. Outros pontos de destaque são o fortalecimento da identidade cultural acreana e a manutenção do equilíbrio ambiental. “O Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre é uma referência para todos os programas e projetos que estamos implantando no território, seja na área de produção, seja na área ambiental, seja na área de terras”, afirma o secretário da Sema Acre, Carlos Edegard de Deus. “O Siageo veio como um instrumento importante porque permite dar dinâmica ao zoneamento, na medida em que se tem os diagnósticos e os prognósticos; à medida que se vai fazendo os projetos e os planos, pode-se estabelecer os limites e as possibilidades concretas de usar o território de uma forma sustentável.” O ZEE facilitou a construção do zoneamento pedoclimático da banana e do café no estado, contribuindo para diminuir os riscos climáticos e pedológicos da condução destas culturas de grande importância para a economia acreana. A Embrapa Acre (Rio Branco, AC) ajudou nos estudos temáticos e na construção da metodologia, além de participar da coordenação dos estudos de recursos naturais, do comitê técnico de sistematização e como membro dos conselhos de meio ambiente, florestal e de desenvolvimento rural. [*] Embrapa Informática Agropecuária

Rua dos Pariquis, 1635

(entre 42 padre Eutiquio e Apinagés) REVISTA AMAZÔNIA

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Curso de botânica tropical na Floresta de Carajás Alunos coletaram e classificaram espécies endêmicas da UC durante o trabalho de campo Fotos: Alysson de Sousa, João Marcos Rosa

A aluna de mestrado Amanda Reis, que desenvolve pesquisa de genética de populações com uma família vegetal que ocorre na UC, ressalta que os dados coletados são de extrema importância para seu trabalho, uma vez que “possibilitam caracterizar a distribuição das espécies e suas alterações gênicas dentro da unidade de conservação”.

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rofessores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), realizaram um curso de botânica tropical na Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação (UC) administrada pelo ICMBio no estado do Pará. As atividades, desenvolvidas em meados de janeiro, contaram com o apoio do Instituto Chico Mendes, que já vem implementando em cooperação com essas instituições projetos de pesquisa relacionados à fauna e flora do ambiente de canga encontrado na unidade. Durante o curso, 13 alunos – entre mestrandos e doutorandos do programa de pós-graduação em Ciências Biológicas da UFRA – participaram das práticas conduzidas pelos professores doutores Pedro Viana, Aluisio Júnior, Júlia Meirelles e Climbiê Hall. Os estudantes estiveram em contato com o ambiente de canga e floresta, realizando coletas, identificação e classificação de espécies vegetais, muitas delas endêmicas da Floresta Nacional de Carajás, isto é, com ocorrência apenas na área desta UC.

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Floresta de Carajás Floresta Nacional de Carajás, área de conservação ambiental federal, no sul estado do Pará

MPEG e UFRA realizaram um curso de botânica tropical na Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação (UC) administrada pelo ICMBio no estado do Pará

Localização da Flona Carajás

“Os dias de campo foram surpreendentes, pois as coletas apresentaram a rica diversidade de espécies endêmicas do ambiente de canga e da Floresta de Carajás, contribuindo para os estudos das dissertações e teses desenvolvidas pelos alunos da pós-graduação”, destaca o professor Pedro Viana, responsável pelo curso.

Além de proporcionar a caracterização da flora local através das pesquisas e levantamentos de campo, o curso produziu e apresentou dados que serão utilizados nos programas de conservação da flora de Carajás, desenvolvidos e apoiados pelo ICMBio e instituições parceiras.

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Anéis de crescimento de árvores nativas vão aferir alterações no clima da Amazônia Fotos: Amanda Tromley, NASA, OKE Pesquisador coleta filamento do tronco de uma árvore da Amazônia para estudos sobre mudanças climática. Não sendo preciso cortar a arvore inteira para ter acesso a esses dados

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ientistas do Instituto Mamirauá em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) estão adotando uma nova estratégia para medir o impacto das mudanças climáticas na floresta de várzea da Amazônia: por meio da análise dos anéis de crescimento de três espécies de árvores. “O que já sabemos é que o aumento da temperatura média do planeta é fruto da alta concentração de gases produzidos pelo homem. Por meio dos anéis de crescimento, temos a oportunidade de entender este fenômeno e ter mais informações sobre estas oscilações e seus efeitos sobre a floresta e as espécies que ocorrem lá”, afirma o pesquisador Claudio Anholetto, do Instituto Mamirauá. Ele explica que algumas árvores formam anéis de crescimento ano a ano. Os círculos, que podem ser observados em alguns troncos de árvores, carregam uma série de informações sobre as espécies.

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É possível decifrar a idade de uma árvore e até as condições climáticas do ambiente em cada ano de vida da espécie estudada. A partir da análise estatística realizada com a utilização de softwares, os pesquisadores conseguem interpretar parte do histórico da árvore e relacionar as informações encontradas com os eventos climáticos, já registrados por pesquisadores em várias regiões do mundo. As três espécies escolhidas para o estudo foram a Seringa Barriguda (Hevea spruceana), o Mututi (Pterocarpus sp.) e o Arapari (Macrolobium acaciifolium), tradicionalmente encontradas na Amazônia. As coletas foram feitas na Reserva Mamirauá por meio de um trado, instrumento de aço em forma de T, que possui uma hélice cortante em sua ponta. O material será analisado no Laboratório de Anatomia, Identificação e Densitometria de Raios X da USP.

Para garantir a confiabilidade das informações, são coletadas amostras em uma série de árvores. A partir dos padrões encontrados, a informação sobre o clima ao qual as árvores estavam submetidas em determinado espaço de tempo é filtrada. “Não só o clima local, como também padrões e anomalias climáticas globais”, ressalta Anholetto.

Software Para obter as informações a partir dos anéis de crescimento, são utilizados softwares de análise estatística. O pesquisador explica que os programas sincronizam as informações das amostras e retiram as tendências biológicas de crescimento, relacionadas às fases de vida das árvores. Cada medida de largura de anéis de crescimento é convertida em índices, e as variações de crescimento são comparadas com a média de crescimento de todas as árvores.

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Como as árvores acompanham essas informações?

Anéis concêntricos de crescimento

Exemplo de tiras de filamentos de troncos das árvores para estudos dos anéis

“O software retira certas informações, que chamamos de ruído, deixando a maior quantidade de informações climáticas. Depois disso, comparamos essa variação de índices com os dados de equipamentos que medem precipitação, temperatura, etc. Com isso, conseguimos avaliar a influência do clima sobre o crescimento. Essa é uma das técnicas que usamos”, revela o pesquisador. Na Amazônia, Claudio Anholetto realiza o estudo no Pará e no Amazonas, mas pesquisas com foco nos anéis de crescimento para análises relacionadas às mudanças climáticas e estoque de carbono também foram feitas em outros ambientes, como Caatinga (Sergipe) e Mata Atlântica (São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe), além de outros países, como o Chile.

Consequências Como resultado do aumento da temperatura do planeta, decorrente da alta emissão de gases de efeito estufa, o pesquisador destaca que os eventos extremos de seca ou de cheia na Amazônia devem ficar mais frequentes até o final do século. “Os desmatamentos já produzem um clima mais quente e seco na região.

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Isto, aliado à elevação da temperatura relacionado às mudanças climáticas globais, aumentaria o risco de incêndios florestais”, diz. Anholetto acrescenta que estudos apontam que as regiões mais atingidas pelas mudanças climáticas são as tropicais, como a Amazônia, e o nordeste do país. “São regiões que possuem alto grau de vulnerabilidade, não somente em biodiversidade como também no componente social.” Os resultados do estudo com os anéis de crescimento das árvores também podem subsidiar estratégias com foco em políticas públicas para o Manejo Florestal Comunitário, por exemplo, com o estabelecimento do ciclo de corte, que é o período de repouso necessário para a recuperação da floresta, antes de um novo corte. E também a idade técnica de corte, que seria o diâmetro mínimo da árvore para a exploração. A pesquisa é realizada no âmbito do projeto de doutorado em Ecologia Aplicada desenvolvido por Claudio Anholetto na USP em parceria com o Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá, que conta com recursos do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na seção transversal de uma árvore há uma série de anéis concêntricos. Eles podem nos dar uma série de informações. Dizer quão velha a árvore é e como era o tempo durante cada ano da vida da planta. Os anéis de cor clara representam a madeira que cresceu na primavera e início do verão, enquanto os anéis escuros representam a madeira que se desenvolveu no final do verão e no outono. Um anel claro e outro escuro equivalem a um ano “terrestre” da vida da árvore. Como as árvores são sensíveis às condições climáticas locais, como chuva e temperatura, dão aos cientistas alguma informação sobre o clima local dessa área no passado. Por exemplo: os anéis de árvore geralmente crescem mais largos em anos quentes e úmidos e são mais finos quando o tempo está frio e seco. Se a árvore sofreu condições estressantes, como uma seca, ela dificilmente poderia crescer muito.

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Estudo desmente desaceleração do aquecimento global de 1998 a 2014 Cientistas analisaram conclusões de pesquisas da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos

Fotos: Cortesia da Argo, Nasa/SPL

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urante 15 anos, entre 1998 e 2014, uma aparente desaceleração do aquecimento global foi usada pelos céticos como argumento para afirmar que o fenômeno era “um engano”, mas um estudo recente, aponta que essa pausa foi uma ilusão. O trabalho dos pesquisadores das Universidades de Berkeley, na Califórnia, e de York, no Reino Unido, confirmam as conclusões de um estudo de 2015, elaborado pela Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). Pesquisador Zeke Hausfather, de Berkeley, principal autor do estudo

A análise de Berkeley da bóia do oceano (verde) e dos dados do satélite (laranja) e do ajuste NOAA 2015 (vermelho) é comparada aos dados de Hadley (roxo), que não foram ajustados para explicar algumas fontes de polarização fria. Os dados de Hadley ainda subestimam as mudanças na temperatura da superfície do mar Esta foto da NOAA Corps, mostra a implantação de um flutuador Argo para capturar dados de temperatura do oceano. Esses dados mostram que as bóias agora usadas para medir as temperaturas da água do oceano, tendem a relatar temperaturas um pouco mais frias do que os sistemas baseados em navios mais antigos

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“Nossos resultados significam basicamente que a NOAA tinha razão e que seus cientistas não alteraram os dados”, aponta o pesquisador Zeke Hausfather, de Berkeley, e principal autor do estudo. A análise feita em 2015 pelos cientistas da NOAA mostrou que as temperaturas medidas pelas boias usadas hoje nos oceanos são ligeiramente mais frias do que as registradas nas leituras feitas pelos navios no passado. Essas diferenças de temperatura entre o velho e o novo sistema de medição ocultaram a realidade do aquecimento global nesses 15 anos, concluíram os pesquisadores. Publicado em 2015, o trabalho da NOAA foi muito criticado pelos chamados céticos

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do clima, alegando que essa “pausa” era uma prova de que o aquecimento global era um “engano”. Um comitê da Câmara de Representantes, de maioria republicana, chegou a pedir aos cientistas da NOAA acesso aos e-mails relacionados com esse estudo. A agência concordou em transmitir os dados e responder a todas as perguntas científicas, mas se negou a entregar a correspondência eletrônica entre os autores do estudo. A decisão contou com o apoio da comunidade científica, preocupada com a inquisição política. Aparente desaceleração foi usada por céticos como argumento contra aquecimento

Flutuador da NEMO, da série Argo, implantado no Ártico a partir do quebra-gelo alemão Polarstern Bremerhaven

A análise de Berkeley da bóia do oceano (verde) e dos dados do satélite (laranja) e do ajuste NOAA 2015 (vermelho) é comparada aos dados de Hadley (roxo), que não foram ajustados para explicar algumas fontes de polarização fria. Os dados de Hadley ainda subestimam as mudanças na temperatura da superfície do mar

Uma nova análise da UC Berkeley da bóia oceânica (verde) e dados de satélites (laranja) mostram que a temperatura do oceano tem aumentado constantemente desde 1999, como NOAA concluiu em 2015 (vermelho) após o ajuste de uma polarização fria em bóia medições de temperatura. A avaliação anterior da NOAA (azul) subestimou as mudanças na temperatura da superfície do mar, sugerindo falsamente um hiato no aquecimento global. As linhas mostram a tendência ascendente geral nas temperaturas do oceano.

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Os telhados verdes figuram entre as ações prioritárias do plano de biodiversidade

Paris investe em “telhados verdes” para contribuir com a biodiversidade por Catherine Vincent

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arde de dezembro no 20º distrito de Paris: no teto do ginásio Vignoles, é dia de plantar. “Oi, Ludo! Trouxe os bulbos?” Sob o céu azul, em breve uma dezena de pessoas estará trabalhando 6 metros de terra, onde, na próxima primavera, deverá eclodir uma suntuosa composição de jacintos, narcisos, tulipas e outras plantas perenes. Olhando o ginásio a partir da rua des Haies, é impossível adivinhar que seu terraço oferece 600 metros de lotes cultiváveis. Nem que estes recebem os cuidados de tantos visitantes. No 20º distrito de Paris: no teto do ginásio Vignoles

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“Quatro dias por semana recebemos pessoas em situação de exclusão, a maior parte delas beneficiárias do RSA (renda de solidariedade ativa), a quem esse jardim dá a chance de retomar uma atividade coletiva. Na quarta-feira, são crianças pré-escolares da vizinhança que vêm jardinar. E no fim de semana, é uma associação de moradores do bairro que participa de sua manutenção”, resume Valérie Navarre, membro da associação La Fayette Accueil, que administra esse jardim coletivo de inserção social. Flores, legumes e ervas: os

que participam do empreendimento levam para casa parte de sua colheita. Às vezes, são organizadas refeições diretamente no local. É um lugar onde se cultiva a solidariedade, mas que também faz parte de um projeto mais amplo, de caráter ambiental. Isso porque esse “jardim de concreto” faz parte dos 3,7 hectares de verde abrigados pelos telhados de Paris, e cuja área deverá quase triplicar até 2020. Os telhados verdes figuram entre as ações prioritárias do plano de “biodiversidade” adotado recentemente pelo Conselho de Paris, como parte da política conduzida pela prefeitura “a favor do desenvolvimento sustentável da capital”. Qual o objetivo a longo prazo desse plano? “Antes de qualquer coisa, mudar o modo de pensar sobre a cidade de amanhã, e fazer com que a natureza volte a entrar nos prédios, nos terrenos”, detalha Fabienne Giboudeaux, vice-prefeita (Partido Verde) de Paris encarregada dos espaços verdes, que sonha em derrubar as barreiras entre arquitetos, urbanistas, naturalistas, paisagistas e horticultores. “Todos devem aprender a trabalhar um pouco mais juntos, a fim de que a biodiversidade esteja mais presente na cidade e de revistaamazonia.com.br


que aumente a qualidade de vida daqueles que a habitam”, ela argumenta. Mas esse plano prevê também metas ambiciosas, que visam a criação de espaços dedicados prioritariamente à biodiversidade. Entre elas: 40 novas áreas úmidas e 7 novos hectares de telhados verdes, sendo pelo menos 15 novos jardins em terraços. Para seus defensores, esse dossel urbano tem diversas vantagens: uma melhor regulação das águas de chuva, um melhor isolamento térmico e acústico dos prédios, um melhor equilíbrio paisagístico... Além disso, ele contribui para a manutenção e o desenvolvimento da diversidade biológica na cidade: a vida selvagem encontra habitats, equilíbrios naturais são recriados. Na última primavera, o ginásio da Rua des Haies abrigou duas colmeias.

Para que a biodiversidade esteja mais presente na cidade e de que aumente a qualidade de vida daqueles que a habitam

Esses espaços verdes são importantes, se prestarem um verdadeiro serviço ecológico

Na quarta-feira, são crianças pré-escolares da vizinhança que vêm jardinar

“Ou seja, mais de 100 mil abelhas que foram buscar pólen num raio de 5 quilômetros”, explica Valérie Navarre; Como a principal restrição dos tetos verdes é o peso do substrato de cultura (seco, e ainda mais encharcado), a estrutura deve ser forte o bastante para resistir. A técnica de cobertura verde, adaptada aos principais suportes de construção (madeira, aço corrugado, concreto) consiste em recobrir o telhado – que pode ser plano, ou de inclinação inferior a 30 – de tapetes pré-cultivados de sedum. Ou ainda de estruturas encaixáveis pré-vegetalizadas e autodrenantes, mas equipadas com uma pequena reserva de água. Para não ampliar o problema do peso, a vegetação será somente herbácea ou arbustiva, na maioria dos casos. Ela comportará, sobretudo, plantas perenes, rústicas e adaptadas a temperaturas extremas, a fim de criar um ecossistema estável com manutenção limitada. “Esses espaços verdes são importantes, se prestarem um verdadeiro serviço ecológico. Para isso é preciso que a terra seja espessa o suficiente para reter a água, e que a biodiversidade que eles abrigam seja um pouco mais rica que a dos telhados produzidos pela indústria da construção civil”, explica Giboudeaux. Para precisar as melhores condições de cultivo e as espécies de plantas mais bem adaptadas aos telhados de Paris, um laboratório experimental foi criado na Avenue de France número 103, sobre o prédio que abriga a administração dos espaços verdes e do meio ambiente: 140 metros quadrados de terraço, sobre os quais foram instalados 126 quadrados de diferentes culturas. Os primeiros resultados são esperados para a primavera (do hemisfério norte) de 2012. [*] Le Monde

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Edifício sustentável já é realidade na Itália Em Turim, o edifício “25 Verde” traz um pouco de verde e de sustentabilidade ao perímetro urbano. No prédio há 150 árvores

Fotos: Beppe Giardino

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a cidade de Turim, em Itália, foi erguido um edifício muito especial, uma casa na árvore urbana que se chama “25 Verde”. O arquiteto responsável pelo projeto chama-se Luciano Pia e é italiano. Este edifício é vivo: cresce, respira e altera-se ao longo do tempo, porque seus terraços são cobertos com 150 árvores, que, juntamente com 50 plantas, produzem cerca de 150 000 litros por hora de oxigénio, enquanto absorvem cerca de 200 000 litros de dióxido de carbono por hora. As árvores são de folha caduca, ou seja, perdem a folhagem no inverno, permitindo que a luz entre dentro das casas nos meses mais escuros e as proteja do sol quente no verão. A vegetação presente no 25 Verde retém ainda poeiras geradas pelos carros e protege os habitantes do barulho da cidade. Cria um microclima em volta do edifício, atenuando as diferenças de temperatura, tornando o espaço mais fresco no verão e ameno no inverno. As “lagoas” no pátio do edifício oferecem aos residentes um local refrescante para relaxar no verão. Um dos objetivos da intervenção é o de alcançar a eficiência energética. Para isso foram adotadas várias soluções: isolamento, paredes ventiladas, proteção contra a luz solar direta, sistemas de aquecimento e de arrefecimento que utilizam água subterrânea com um sistema a bomba

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O edifício 25 Verde

63 apartamentos revestidos por ripas, com tamanhos diferentes, sacadas irregulares rodeadas por árvores de espécies e tamanhos diversos

Planta do imóvel

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O projeto permite uma filtragem natural da poluição do ar e sonora

de calor, recolha de água da chuva, armazenamento e reutilização para a irrigação das plantas. O projeto é marcado pela fusão entre arquitetura e natureza. Em um terreno de 7,5 mil metros quadrados, o programa buscou criar um espaço de continuidade entre o interior e o exterior, por meio do uso abundante de folhagens. O prédio residencial apresenta estrutura de aço e colunas modeladas como troncos de árvores. Os 63 apartamentos revestidos por ripas de madeira possuem tamanhos diferentes e são equipados com sacadas irregulares rodeadas por árvores de espécies e tamanhos diversos. Além de um jardim no teto, o projeto contempla um pátio interno com 50 árvores, criando um tipo de floresta privada. Até as paredes “respiram” no 25 Verde, com ventilação que permite a penetração da luz solar durante o dia. A folhagem das árvores proporciona proteção quando o sol fica muito forte.

Ficha Técnica

Local: Via Chiabrera, Turim, Itália Ano do projeto: 2012 Área: 7.500 m2 Arquiteto: Luciano Pia Engenheiro estrutural: Giovanni Vercelli Projeto de energia: Andrea Cagni Projeto verde: Lineeverdi (Stefania Naretto & Chiara Otella)

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Arqueologia Futurista O mundo verde estará à tua disposição.. num museu por Daniel Scheschkewitz

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Mongólia está enfrentando uma triste e seria crise de identidade. Tradições que passaram de geração em geração – como a Vida nômade, que tem sido fundamental para a cultura tradicional mongol ao longo da história, estão ameaçadas de extinção. Assim mesmo, e com as mudanças trazidas pela urbanização dos recentes anos – 35% dos mongóis ainda vivem uma vida nômade e dependem de seu vasto território, para sua sobrevivência. E é cada vez mais difícil, porque o seu modo de vida tradicional está agora ameaçada devido as alterações clímáticas graves na terra. Sensibilizado por isso, o fotógrafo Daesung Lee traz a luz, para desafio geral do mundo, a sua única série de fotografias – “Arqueologia Futurista”. 52

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Fotos: Karen Robinson

Por milhares de anos, os nômades tem vivido fora dos gramados que salpicam a paisagem mongol. Os pastores e seus rebanhos dependem da grama para a sua subsistência, mas a mudança climática tem feito viver o estilo de vida nômade mais desafiador. Padrões climáticos incomuns levaram o solo ficar seco e a grama pobre, resultando em mortes de animais em grande escala nos últimos anos. Na capital do país, a urbanização está se movendo em um ritmo rápido. Ex-pastores expulsos de suas terras invadem um assentamento informal para a promessa de uma nova vida. Muitos fotógrafos têm documentado a cultura nômade ameaçada da Mongólia, capturando a vida cotidiana de nômades. Mas o fotógrafo sediado em Paris Daesung

Lee não queria documentar tanto quanto ele queria preservar. Para o segundo capítulo do seu projeto em curso sobre as alterações climáticas, Lee criou dioramas que vivem da paisagem mongol e encheu-os de nômades que tiveram que desistir de seu estilo de vida tradicional. “35% dos mongóis estão vivendo uma vida nômade”, escreveu Lee em sua declaração de artista. “De acordo com um levantamento feito pelo governo da Mongólia, cerca de 850 lagos e 2.000 rios e córregos secaram. Esta perda de água está contribuindo para a desertificação da Mongólia, como 25% de sua terra que já se transformou em deserto nos últimos 30 anos. Potencialmente 75% do território mongol está em risco de desertificação. revistaamazonia.com.br


Essas mudanças ambientais ameaçam diretamente a maneira nômade mongol da vida, que tem sido passado de geração em geração por milhares de anos”. Muito antes da era da informação, museus, são janelas para outros mundos. “A única maneira de realmente conectar as pessoas com a maravilha da natureza seria para recriá-lo dentro do museu – e o diorama foi o meio de escolha,” disse o artista Stephen C. Quinn, aposentado do Museu Americano de História Natural. Para criar dioramas os cientistas do museu e artistas passariam às vezes meses viajando para tirar fotografias e recolher amostras

antes meticulosamente criando uma imagem de um lugar distante peça por peça, preservando um momento congelado no tempo. Os dioramas de Lee mostram o que aconteceria se a cultura tradicional mongol desaparece e só é visto dentro de um museu. “A vida nômade na Mongólia é melhor viva ... e eu pensei que nós preservarmos melhor a sociedade e da cultura”, disse Lee. Essa cultura pode então ter “função e significado” em vez de ser “preservada como um fóssil em um museu”, disse ele. Para criar os dioramas em “Futurista Arqueologia,” Lee fotografou a “paisagem ambiental ideal.” Ele, então, colocou-as

em outdoors. Com a ajuda da Green Asia Network, uma ONG coreana que planta árvores na Mongólia para conter a desertificação, ele encontrou antigos nômades forçados pelas alterações climáticas a abandonar as formas tradicionais de vida. Lee em seguida, colocou-as nas terras degradadas para criar sua narrativa. Embora os nômades não tenham causado as alterações climáticas, eles são as suas primeiras vítimas, disse ele. “Espero que as pessoas percebam que estamos conectados a esses e a e outros impactos”, “enquanto não mudarmos isso, haverá a nossa vez de pagar”, disse Lee finalizando.

Arqueologia Futurista O fotógrafo sediado em Paris, Daesung Lee, fez uma série única de fotografias chamada “futurista Arqueologia”. A série é sobre a desertificação da Mongólia, afetando o ambiente em rápida mudança no estilo de vida nômade mongol tradicional. Por milhares de anos nômades e seus cavalos viveram fora das pradarias da Mongólia, mas a mudança climática e a propagação do deserto em todo o país tem tido um impacto dramático sobre o modo de vida nómada. A série foi criada usando uma coleção de fotografias de paisagens de outdoor’s de Daesung capturadas na Mongólia, e depois voltou com as gravuras de grandes dimensões para as planícies. “O conceito pode ser aplicado em qualquer local. Mas torna-se mais simbólico num país onde a tradição nômade está em risco. Considero aplicar a mesma abordagem em outros locais e outras temáticas”. Um dia, vamos recordar as paisagens verdejantes num espaço onde se apresentarão mortas, intocáveis e inatingíveis? Num museu de história natural?

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Lee contou como surgiu a ideia para o projeto: “Visitei um museu e grande parte da coleção era dedicada a uma cultura e sociedade que já não existia e que foi destruída durante tempos coloniais. A cultura e sociedade mongol terão o mesmo destino e será extinta pela mão de todos, devido às alterações climáticas”. A ação humana sobre o meio ambiente é uma das preocupações de Daesung Lee.

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As plantas medicinais têm efeitos fisiológicos e podem interferir com a ação de medicamentos convencionais

O que é natural (não) é (necessariamente) bom Há coisas inacreditáveis que são mesmo verdade e outras que parecem certas mas que não resistem a uma análise crítica. São os produtos químicos que causam problemas, a natureza é só paz e amor. Os produtos naturais mal não fazem e não interagem com medicamentos. A sério? por David Marçal

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m estudante de 26 anos da Pensilvânia foi passar férias à Índia. Como tinha dores nas costas começou a tomar quatro remédios à base de plantas usados pela medicina aiurvédica, uma prática muito antiga com origem na Índia. Após o regresso aos Estados Unidos continuou com os tratamentos. Passados três meses deu entrada no hospital com vários sintomas, como náuseas e vômitos com sangue. Tinha um nível de chumbo no sangue nove vezes superior ao normal. Foi tratado com ácido dimercaptossuccínico, um medicamento nada natural, preparado através de reações químicas, que se liga ao chumbo e ajuda a removê-lo do 56

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Fotos: Adriano Miranda

corpo. Os sintomas desapareceram ao fim de três meses. E três anos depois os níveis de chumbo tinham baixado para valores próximos dos habituais. O caso foi contado em Junho p.p, em uma revista científica. E não é único. Uma investigação de 2015 revelou que 40% dos utilizadores de medicina aiurvédica dos Estados Unidos têm quantidades demasiado elevadas de chumbo no sangue. Isto acontece porque alguns tratamentos de medicina aiurvédica combinam metais com extratos de plantas. O ácido aristolóquico, presente nas plantas da família das aristolóquias, é outro exemplo de um produto natural com riscos

relevantes. Entre 1991 e 1992 cerca de 100 mulheres foram hospitalizadas em Bruxelas com falência renal grave e a necessitar de hemodiálise. Todas tinham tomado comprimidos para emagrecer, com duas ervas medicinais chinesas. Apesar de não constar no rótulo, os comprimidos continham extratos da raiz de uma planta da família das aristolóquias, que causa graves problemas nos rins. As plantas tinham sido acidentalmente trocadas por causa da semelhança dos nomes em chinês. Esse é outro problema dos remédios com plantas medicinais: por vezes não sabemos bem o que está lá dentro. Uma investigação realizada em 2013 nos Estados Unidos concluiu que 59% dos rerevistaamazonia.com.br


médios à base de plantas continham espécies não listadas no rótulo. É improvável que tal pudesse acontecer com os medicamentos convencionais, cuja produção e qualidade final é intensamente regulada e fiscalizada. Mas muitos remédios naturais são comercializados como suplementos alimentares. Por isso não têm de provar a sua eficácia e segurança do modo que é exigido aos medicamentos convencionais. Não se sabe se funcionam, se são seguros, nem muito bem o que está lá dentro. Mesmo assim muitas pessoas acreditam que são bons simplesmente porque são naturais. Já agora, o que é um produto natural?

Natural é… Cocaína. Morfina. Penicilina. Colesterol. Álcool. Cicuta. É o que tem em mente quando pensa em produtos naturais? São todos naturais, no sentido em que são produzidos por seres vivos sem necessidade de intervenção humana. Frequentemente “natural” define-se por oposição a “químico”, mas os produtos naturais também são necessariamente produtos químicos, cujos átomos se ligaram através de reações químicas. Nalguns países há regulamentos que restringem a utilização do termo “natural” em certos casos. Mas estes tendem a ser confusos e inconsistentes entre si. Uma diretiva comunitária de 2008 aplicável à indústria

Nos Estados Unidos, uma investigação realizada concluiu que 59% dos remédios à base de plantas continham espécies não listadas no rótulo

alimentar restringe o uso do termo “natural” a componentes de origem vegetal, animal ou microbiológica, obtidos por um processo de preparação tradicional. A Food and Drug Administracion (FDA), o organismo que nos Estados Unidos regula a indústria alimentar e farmacêutica, acha que a designação é tão confusa que teve aberto, até Maio deste ano, um processo de consulta pública em que pedia opiniões sobre o uso do termo “natural”: o que é um produto natural e quais os requisitos que um produto deve ter

Teosinto

Milho atual

para que possa exibir essa designação. Pesticidas, químicos sintéticos, organismos geneticamente modificados, são questões que se levantam quando se discute a definição de produto natural. Mas vamos a um exemplo: o milho de agricultura biológica deve ser considerado um produto natural? Mesmo admitindo que não foi modificado através de técnicas modernas de biologia molecular, é o resultado de milhares de anos de seleção de sementes feita por gerações sucessivas de humanos.

Mesmo quando tenha sido cultivado organicamente, o milho que comemos não é natural, e é bastante diferente do milho selvagem (teosinto). Nossas colheitas foram geneticamente modificadas através de milhares de anos de reprodução cuidadosa, e os frutos, vegetais e animais que comemos hoje contêm novos códigos genéticos que não são encontrados na natureza. Praticamente tudo o que hoje comemos foi geneticamente modificado, mesmo se não for tecnicamente considerado um organismos geneticamente modificados (OGM).

MATERIAIS ELÉTRICOS MATERIAIS HIDRÁULICOS AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

Av. Dr Freitas, 101

entre Pedro Alvares Cabral e Pass. 3 de Outubro revistaamazonia.com.br

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6º Encontro de Design & Inovação Evento, realizado no Rio de Janeiro, mostrou como freelancers podem se tornar empreendedores, a formação da mentalidade empreendedora e a relação de novos negócios no mundo digital com mão de obra qualificada por Sing Comunicação de Resultados

Gustavo Mota, cronwdsourcing a We Do Logos e palestrantes sobre Futuro da Mão de Obra na Era Digital, no 6º Encontro de Design & Inovação

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Encontro de

Design & Inovação

Fotos: Karen Robinson

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ara fechar o ano de 2016, a WeLancer, maior comunidade freelancer da América Latina, realizou o 6º Encontro de Design & Inovação. Com patrocínios da We do Logos, Xtech Commerce e do Instituto INFNET, o evento aconteceu na Escola de Comunicação e Design Digital (ECDD), no Rio de Janeiro, e reuniu importantes nomes do design e do empreendedorismo nacional. O Encontro, promovido há seis anos e sempre com o objetivo de abordar inovação, mercado e criação, teve como tema central o empreendedorismo. Entre os palestrantes convidados esteve Alfredo Soares, CEO e fundador da plataforma Xtech Commerce, que abordou o tema “Como ser um designer e empreender”.

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Palestra Marcas, Patentes e Plágio dada pela advogada Dra, Solimar Bertoletto

Durante sua apresentação, Soares apontou que antes de colocar em prática sua ideia, o mais importante é conhecer a fundo seus possíveis concorrentes e o cenário do negócio. Esses pontos tornam-se importantes para que o designer, podendo ele ser um freelancer, não seja reconhecido apenas como um ‘resolvedor de problemas’. “O verdadeiro empreendedor precisa ter bom plano de ação, além de diferenciar seu negócio com criatividade e qualidade. Além disso, ele precisa sempre ser guiado por quatro ações fundamentais: faça, falha, aprenda e refaça”, finalizou o executivo. Já Marcelo Macedo, executivo da Tangerina, empresa de design de estratégia e negócios, com 20 anos de experiência em empreendedorismo, falou sobre Design Thinking: mais do que uma metodologia, uma estratégia. Em seu bate-papo Macedo apontou os desafios de criar e desenvolver negócios inovadores.

“É comum encontrarmos negócios que são copiados de outros já existentes. O empreendedor acaba confundindo o que era para ser uma referência ou inspiração com um modelo padrão. Empresas iguais, que oferecem valores e serviços similares são diferenciadas apenas no quesito preço”, explicou o executivo. Em sua palestra Mentalidade Empreendedora, Pedro Quintanilha, empresário, growth hacker e fundador da empresa Mentalidade Empreendedora, apresentou as setes habilidades do empreendedor, sendo elas: transforme seu estilo de vida – alinhar a paixão pelo trabalho com prazer do que se acredita; faça network – se relacionar é fundamental para o negócio sempre crescer; gere valor ao seu negócio – faça algo para as pessoas e não seja aquela empresa que só pede; dê bons conselhos – não guarde a sete chaves aquilo que você aprendeu; elimine o preconceito de vender - o vendedor tem a missão de convencer, e convencer pode ser algo de revistaamazonia.com.br


vencer junto; construa uma marca pessoal forte – as pessoas acreditam primeiro em pessoas, depois em empresas; diferencie mentalidade empreendedora de mentalidade de empregado – empreendedor tem foco no resultado e o empregado tem foco na tarefa. “A mentalidade empreendedora tem o poder de ampliar os seus próprios recursos para fazer gerar resultado em seu negócio. O meu primeiro negócio empreendedor não deu certo, mas a essência das minhas ideias, que estavam voltadas com meios digitais, me fez recomeçar e me especializar em um novo negócio, transformei a Mentalidade Empreendedora em uma consultoria digital”, completa Quintanilha. A palestra que mais trouxe dúvidas para os participantes foi da advogada Solimar Bertoletto, sobre marcas, patentes e plágio. Com experiência na área do Direito de Propriedade Industrial e Intelectual e membro da ASPI – Associação Paulista da Propriedade Intelectual e da ABPI – Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, Solimar ressaltou que as pessoas, inicialmente, têm dificuldades para diferenciar marcas de patentes e, a partir deste ponto, surgem as mais diversas dúvidas na hora de registrar uma marca, empresa ou produto. “A ideia em si de um produto ou software não é passível de proteção. Ela será possível de ser protegida quando se torna algo tangível, materializada no produto caso seja uma patente ou materializada na linguagem de programação se for um software.

Interação entre participantes do 6º Encontro de Design & Inovação

Para modelos de negócio, não é possível qualquer proteção, visto vedação expressa da Lei de Direitos Autorais. Para a criação de logos, o designer gráfico que criou a imagem transfere o direito de propriedade material para uma empresa, ou seja, o direito de auferir lucros com aquela criação, todavia, a propriedade moral, constituída na paternidade, na autoria é do criador da figura desenvolvida”, esclareceu Solimar para todos os participantes. O encerramento do 6º Encontro de Design & Inovação foi marcado com a palestra Futuro da mão de obra, na era digital, apresentada por Gustavo Mota, cronwdsourcing a We Do Logos. Apaixonado por empreendedorismo e professor de inovação e planejamento, Mota falou sobre as transformações

digitais, mercado que vai movimentar US$2,7 trilhões com 540 milhões de pessoas beneficiadas com essas mudanças, e observou que a tecnologia mudou a forma como as pessoas se comunicam, consomem e se conectam com outras pessoas e com as oportunidades de trabalho desde emprego formal a freelancer. Durante a palestra Mentalidade Empreendedora de Pedro Quintanilha, empresário e growth hacker

Equipe da WeLancer durante evento 6º Encontro de Design & Inovação

“A transformação digital não trará todas as soluções para o mundo. Existe muita demanda, muita oferta, mas a questão principal é que as pessoas não são totalmente conectadas e essa relação digital com mão de obra ainda é tão interligada”, enfatizou Gustavo, que encerrou o evento comentando sobre a importância do 6º Encontro de Design e Inovação para os realizadores, parceiros e participantes. “Há seis anos realizamos esse encontro para nossa plataforma de designers da WeLancer e outros profissionais da área. Nele, buscamos um espaço inovador com pessoas inspiradoras para gerar conhecimento, atualização sobre o mercado e, claro, muita criatividade”. [*] Renata Tomasetti rtomasetti@singcomunica.com.br Fone: (11) 5091-7838 revistaamazonia.com.br

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A mamona contém ricina e está entre as plantas mais tóxicas do mundo

As plantas mais venenosas do planeta por Ella Davies*

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m 2014, o jardineiro de uma casa de campo na Grã-Bretanha morreu misteriosamente após sofrer falência múltipla de órgãos. Ainda não se sabe ao certo a causa da morte, mas uma investigação sugere que ele teria sido vítima de uma planta de floração bastante popular, que faz parte da família das ranunculáceas. As flores azuis da planta em questão, do gênero Aconitum, se assemelham ao capuz de um hábito de monge, de onde ganha o nome popular de capuz-de-frade. Mas, em muitos lugares, os acônitos também são conhecidos por nomenclaturas mais sinistras, como “mata-lobo” ou “capacete-de-júpiter”, ou ainda “rainha das peçonhas”, em inglês.E não é à toa: os acônitos estão entre as plantas mais letais do mundo.

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Fotos: David Jubb, Marcus Zhorgievich, Polyana Souza

Sua parte mais tóxica é a raiz, apesar de as folhas também concentrarem uma boa quantidade de veneno. Essas partes contêm uma neurotoxina que pode ser absorvida pela pele. Os primeiros sintomas de envenenamento são coceira e dormência no local de contato, ou vômitos e diarreia, se a planta for ingerida.

Queimaduras e desidratação Em 2010, Lakhvir Singh foi condenada pelo assassinato de seu namorado depois de envenená-lo com uma espécie de acônito indiano. Além de causar um grave mal-estar gastrointestinal, o veneno reduz os batimentos cardíacos lentamente, o que pode levar à morte.

Mas nem todos os casos são tão infelizes. Segundo o especialista em plantas venenosas John Robertson, o mecanismo do vômito permite que o corpo elimine as substâncias tóxicas. “Já conheci pessoas que comeram acônito por acidente e sobreviveram”, conta. A teoria popular é de que as toxinas evoluíram nas plantas como uma forma de defesa. Em algumas espécies, os compostos químicos produzidos para afastar insetos e outros microrganismos também podem prejudicar grandes animais. Os efeitos podem ser aumentados por causa de um fenômeno chamado fototoxicidade, pelo qual substâncias de plantas entram em contato com a pele humana e aí reagem com a exposição ao sol, resultando em queimaduras duradouras. revistaamazonia.com.br


Mamona

A “Heracleum mantegazzianum” provoca fortes queimaduras em leve contato com a pele

A Heracleum mantegazzianum é a planta com a pior reputação nesses casos, mas vegetais “inofensivos” como a cenoura, o aipo e o limão também podem danificar a pele sob certas condições.

Maçã da morte Uma das piores espécies intocáveis, independentemente da estação do ano, tem a dúbia honra de ser a árvore mais perigosa do mundo. A mancenilheira (Hippomane mancinella) cresce em uma faixa que vai do norte da América do Sul até a Flórida, passando pelo Caribe. Em algumas regiões, populações locais as identificam pintando-as com um “X” vermelho. A seiva leitosa produzida por essa árvore contém a substância forbol, que é altamente irritante. Um leve toque já é suficiente para provocar uma terrível queimadura. Usá-la como abrigo durante uma chuva normalmente é uma péssima ideia, já que mesmo a seiva diluída é capaz de causar uma coceira extrema.

E queimar essas árvores tampouco é a solução. A fumaça produzida pode deixar uma pessoa temporariamente cega e provocar graves problemas de respiração. O maior perigo da mancenilheira, no entanto, é o seu pequeno fruto redondo. Nos países hispânicos onde a planta vive, a iguaria é conhecida como “maçã da morte”, já que provoca diarreias e vômitos severos, levando a uma rápida desidratação.

O perigo da mamona Quando se fala em plantas que nunca deveriam ser levadas à boca, uma se destaca das demais e pode estar perto de você neste exato momento. A mamona (Ricinus communis) é um arbusto elogiado por trazer cores vibrantes aos jardins, graças a suas folhas verdes e roxas e suas inusitadas cápsulas de sementes. O óleo de mamona (ou olho de rícino), velho conhecido de quem sofre de prisão de ventre, é produzido a partir dessas sementes.

A Mamona está listado no Guinness Book of World Records como a mais venenosa do mundo. De acordo com especialistas, um único miligrama desta planta é suficiente para acabar com a vida de um adulto. Todas as suas partes são tóxicos; seus grãos contêm alguns dos venenos mais potentes conhecidas pelo homem. Estes são o alcalóide e toxalbumin ricinin ricina, sendo esta última ainda mais venenosas que o cianeto.

Aconitum “a rainha veneno”

Também conhecido como capacete do diabo, ou capacete-de-júpiter, esta planta tem aparência deslumbrante, mas também é uma das plantas mais perigosas do mundo. Sabe-se que as toxinas extraídas de Aconitum foram usadas para matar lobos em tempos antigos que ganham o nome de “amargura do lobo”. Segundo a Wikipedia, as raízes do Aconitum ferox fornecem o veneno nepalês chamado bikh, bish, ou nabee.

Nerium “assassino de aroma doce”

Na América Latina, o fruto da mancenilheira é conhecido como “maçã da morte” revistaamazonia.com.br

Esta flor é conhecida por sua beleza excepcional. Mas não se deixe enganar, ela é a beleza letal final! Nerium oleander, incluindo a seiva da planta é muito prejudicial. Sabese que uma única folha de esta flor é suficiente para matar um jovem humano. Os animais que consomem esta planta morrer dentro de dias de comê-lo. contém numerosos compostos tóxicos, muitos dos quais podem ser mortais. REVISTA AMAZÔNIA

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Flor de Drácula Quando floresce, esta flor libera um odor extremamente pungente semelhante a carne podre. Esta é também a sua forma de atrair moscas que ajudam na polinização. Todas as partes da planta são venenosas se ingeridas e tocando a planta pode resultar em irritação da pele ou uma reação alérgica. A Flor Dracunculus vulgaris do Drácula prospera em áreas sombreadas e não é amigável à luz do sol direta.

Mas é justamente por causa da proteína ricina que a planta tem a reputação de ser a mais venenosa do planeta. Depois que o óleo laxante é extraído, os resíduos das sementes formam um potente coquetel de toxinas. A ricina mata ao interferir no metabolismo celular, o processo químico mais básico para sustentar a vida. A criação de proteínas essenciais é bloqueada, levando à morte da célula. Vítimas de intoxicação por ricina costumam sofrer vômitos, diarreia e convulsões por até uma semana antes de morrer por falência de órgãos. As histórias em torno da planta são tão misteriosas que chegaram até à cultura pop, tendo aparecido no livro Morte à Espreita, de Agatha Christie, e no seriadoBreaking Bad, entre outras obras.

A dose certa Por que então podemos cultivar livremente essas plantas em jardins? “Há uma diferença entre venenoso e prejudicial. É preciso levar em consideração fatores como a probabilidade de alguém comer uma dessas plantas ou a facilidade de ministrar as substâncias presentes nelas”, afirma Robertson. A casca da mamona é tão dura que, se o fruto for ingerido inteiro, é capaz de passar pelo trato digestivo sem provocar danos letais. E a ricina é muito mais potente quando é injetada no organismo. Já um veneno da mesma família, o ácido ábrico, vem com uma espécie de alerta de perigo. As sementes da ervilha do rosário (Abrus precatorius) são ovaladas e têm uma

Na Amazônia

Em terra firme, boa parte das mortes é causada por uma só planta, Palicourea marcgravii, conhecida popularmente como cafezinho ou erva-do-mato, da família Rubiaceael. Na várzea, a principal planta responsável pelas mortes é a Arrabidaea bilabiata (gibata). bela cor vermelha, sendo usadas na fabricação de colares e pulseiras. O ácido ábrico é semelhante à ricina, mas ainda mais potente em sua forma pura. Felizmente, as ervilhas têm uma casca dura que impede que as toxinas sejam absorvidas pelo corpo. Morrer por causa do veneno de uma planta é algo bastante raro na atual medicina moderna, graças a um diagnóstico mais rápido. Além disso, muitas dessas toxinas precisariam ser purificadas para chegarem a uma dose letal. De qualquer forma, não custa abrir os olhos e tomar cuidado quando for explorar um jardim. [*] BBC Earth

Palicourea marcgravii, conhecida popularmente como cafezinho ou erva-do-mato, é considerado a planta tóxica mais importante do Brasil, devido a três fatores: sua extensa distribuição geográfica, boa palatabilidade, elevada toxidez e efeito cumulativo Arrabidaea bilabiata (gibata), o princípio tóxico da planta são glicosídeos do tipo esteróides cardioativos

O óleo de mamona é produzido a partir das sementes, mas por causa da proteína ricina a planta tem a reputação de ser a mais venenosa do planeta

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La Niña dissipou-se, mas El Niño pode estar chegando

Ainda não há certezas, mas os meteorologistas norte-americanos avisam que o fenômeno El Niño poderá regressar já em Março. E com ele, efeitos em todo o globo Fotos: Karen Robinson

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m observatório meteorológico norte-americano anunciou recentemente que o fenômeno meteorológico conhecido como La Niña está se dissipando. O Centro de Previsão Climatérica, uma agência do Serviço Meteorológico Nacional dos EUA, indica numa previsão mensal que as condições neutras regressaram e que vão continuar, pelo menos até ao início da Primavera no Hemisfério Norte. La Niña surgiu, pela primeira vez desde 2012, no ano passado. O fenômeno, caracterizado por temperaturas oceânicas invulgarmente baixas no Oceano Pacífico equatorial, está ligado a eventos extremos como cheias e secas em várias partes do globo. Mas ainda que as condições meteorológicas neutras sejam neste momento mais prováveis, há agora a hipótese do reaparecimento do El Niño entre Março e Maio de 2017, alerta-se. Se acontecer, o fenômeno ocorrerá menos de um ano desde que o último El Niño se dissipou, depois de ter causado danos graves nas colheitas agrícolas e provocado incêndios florestais e inundações gerais.Ao contrário do que acontece com La Niña, o El Niño resulta do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. Atinge particularmente a costa do Equador, Peru e do Norte do Chile, mas, na verdade, é um fenômeno global e afeta as condições meteorológicas de toda a Terra. 64

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A ONU sublinha a necessidade de agirmos para mitigar os impactos do fenômeno El Niño e expressa preocupação particular sobre as regiões da América do Sul e Central, a região do Pacífico e África Oriental e do Sul

Os anos de El Niño são normalmente mais quentes do que o anterior e o subsequente. La Niña, como referido, é o fenômeno oposto ao El Niño: no Hemisfério Sul, as águas do mar ficam mais frias, as temperaturas descem e a precipitação aumenta. No Hemisfério Norte, acontece o contrário: as temperaturas aumentam e a precipitação diminui. Normalmente, um episódio La Niña começa a desenvolver-se num certo ano e dissipa-se em meados do ano seguinte. revistaamazonia.com.br


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