16
17
18
AM
O
D
15
CAÇÃO LI
Ano 12 Nº 61 Março/Abril 2017
N O RTE
20 R$ 12,00
Em 19 de abril não celebramos apenas o Dia do Índio, mas o nosso compromisso diário com a cultura indígena e a Amazônia Legal por meio dos programas indígenas Waimiri Atroari, no Amazonas, e Parakanã, no Pará, e também do apoio a projetos produtivos na Terra Indígena São Marcos, em Roraima. Conheça esses programas em www.eletronorte.gov.br
www.revistaamazonia.com.br
PARA A ELETRONORTE, UM DIA É POUCO PARA RECONHECER A IMPORTÂNCIA DAS NAÇÕES INDÍGENAS
ISSN 1809-466X
14
ABRIL 19
OR PUB AI
Ano 12 Número 61 2017 R$ 12,00 5,00
Índios no brasil A Carta de Belém A Água Invisível Microplásticos matando os oceanos
Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2017
Quando a tecnologia melhora a vida das pessoas, merece um prêmio. Inscreva-se no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2017.
Realização:
Apoio:
Empoderando vidas. Fortalecendo nações.
2
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Inscrições de 28/03 a 31/05 www.fbb.org.br/premio A melhor ideia é compartilhar. revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
3
EXPEDIENTE
52 54
De pneus a roupas e cosméticos, o microplástico se encontra praticamente em todos os objetos do dia a dia. E seu impacto sobre as águas do planeta é catastrófico: calcula-se que, dos 9,5 milhões de toneladas de matéria plástica que flutuam nos mares, até 30% sejam compostos por partículas minúsculas. Invisíveis a olho nu, elas constituem uma fonte de poluição mais grave...
TAP Portugal Stopover O Stopover da TAP Portugal agora está com mais uma novidade, a companhia passou a incluir em seu programa mais quatro cidades de Portugal e que são destinos domésticos da TAP, são elas Açores, Algarve, Faro e Madeira. Assim será possível que passageiros com destino final para essas três cidades passe até 3 dias em Lisboa ou Porto.Esse programa da TAP visa que clientes da companhia consigam fazer uma pausa de até 3 dias em outras cidades de Portugal para voos de longa distância com conexão em Lisboa...
COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES BVRio, Dani Filgueiras, Damien Friot, David Fernández, Inara Soares, IPSOS, Julien Boucher, Lidiane Sousa, Lílian Beraldo, Luciete Pedrosa, Miguel Angel Criado, Ronaldo G.Hühn, Vanio Pedroza FOTOGRAFIAS Acervo da Pesquisadora Carolina Levis, Acervo de Katie Mähler, Adan Ronan, Alexander Lees, Amanda Lelis, Antônio Silva / Ag. Pará, Banco Mundial/Arne Hoel, Bernardo Flores, Cimone Barros/INPA, Cláudio Santos, Cristino Martins/Ag. Pará, Davis Y. A. Chiaradia, Diogo Lagroteria, Divulgação, Eduardo Neves-Projeto Amazônia Central, ESA, F. Ramires, Jessica Hochreiter, Jordi Burch/Kameraphoto, Joseph W. Duris; Henrik Hamrén, I. Afran, IUCN, Karyn Ho; Kate Brauman, Long Wei / EPA, Mark de Rond, Paulo de Araújo/MMA, Patrick Grosner/MDSA, Marcelo Camargo/Agência Brasil, Peter Charaf, Peder Engstrom , ONU, Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil, Tom Gleeson, Unesco, Universidade de Manchester, Victoria Turk FAVOR POR
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle
CIC
I LE ESTA REV
NOSSA CAPA Adaptação da grande onda de plástico, do artista Bonnie Louis Monteleone
MMA reforça política de concessão florestal O Ministério do Meio Ambiente (MMA) quer intensificar as concessões florestais e as ações conjuntas de monitoramento para frear o desmatamento na Amazônia. A declaração foi feita pelo ministro Sarney Filho em Belém (PA), durante encontro com parlamentares e autoridades do governo paraense. O ministro anunciou que as concessões florestais tiveram incremento de...
Pará dá exemplo ao país com a criação do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental O Governo do Pará inaugurou o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental Gabriel Guerreiro (Cimam), que tem como objetivo a coleta de dados e produção de conhecimento sobre os fatores que geram impacto no meio ambiente. O governador Simão Jatene, acompanhado do Ministro do Meio...
MAIS CONTEÚDO [10] ONU critica desperdício e pede ações de reaproveitamento [22] Água invisível: como a produção de alimentos – e até de celulares – pode reduzir ainda mais as reservas de água [28] Peneira de grafeno transforma água do mar em água potável [30] 52% dos brasileiros acreditam que as águas residuais ameaçam o abastecimento da água potável [32] Água, bem precioso e escasso [36] Água solar experiências em comunidades indígenas [38] Rio Amazonas tem menos, 9 milhões de anos. É muito mais velho do se pensava [40] Riqueza cultural entre índios no Brasil [44] O que a mudança climática está fazendo com o mar [48] Seminário Pan-Amazônico de Proteção Social [56] Lançamento de guia prático para a análise do atendimento ao Código Florestal [57] Dia Internacional das Florestas destaca relação com fontes de energia [58] Estudo liderado pelo Inpa afirma que povos pré-colombianos moldaram a flora da floresta amazônica [62] O que está acontecendo sob a copa das árvores da Amazônia [64] Falta de acesso à água potável preocupa população brasileira
N O RTE
PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn
RE
26
Microplástico presente em “quase tudo” está matando os oceanos
O
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn
Portal Amazônia
www.revistaamazonia.com.br
PA-538
ST A
12
Em um mundo onde a demanda por água continua a crescer e o recurso é finito, um novo relatório das Nações Unidas argumenta que as águas residuais descartadas no ambiente todos os dias, uma vez tratadas, podem ajudar a atender as necessidades de água doce, bem como de matérias-primas para a energia e agricultura...
CAÇÃO LI
08
ONU diz que as águas residuais devem ser reconhecidas como um recurso valioso
OR PUB AI
D
05
Depois de alertar para os riscos de desabastecimento e desemprego no planeta sem uma melhor gestão dos recursos hídricos, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) chama atenção para a necessidade de se reaproveitar a água residual doméstica, agrícola e industrial para suprir a...
EDITORA CÍRIOS
AM
80% da água residual no mundo é despejada sem tratamento, diz Unesco
PUBLICAÇÃO Período (Março/Abril) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
80% da água residual no mundo é despejada sem tratamento, diz Unesco Ao redor do mundo, apenas 20% desses recursos passam por tratamento sanitário. O resto volta à natureza, levando poluição
Fotos: Joseph W. Duris; Unesco
D
epois de alertar para os riscos de desabastecimento e desemprego no planeta sem uma melhor gestão dos recursos hídricos, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) chama atenção para a necessidade de se reaproveitar a água residual doméstica, agrícola e industrial para suprir a escassez e o aumento da demanda. Hoje, 80% dos efluentes do mundo são despejados sem o devido tratamento no meio ambiente, segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2017, divulgado 22 de março, em Durban, na África do Sul, por ocasião do Dia Mundial da Água. Com o nome “Águas Residuais: o recurso inexplorado”, o relatório argumenta que, uma vez tratadas, as águas residuais poderiam se tornar fontes importantes para satisfazer a crescente demanda por água doce e outras matérias-primas.
revistaamazonia.com.br
“As águas residuais são um recurso valioso em um mundo no qual a água é finita e a demanda é crescente”, afirma Guy Ryder, presidente da ONU Água e diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Todos podem fazer a sua parte para alcançar a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para reduzir pela metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentar a reutilização de água potável até 2030”, completa. Segundo o estudo da Unesco, 56% de toda água doce captada no planeta se torna água residual, ou seja, esgoto ou efluente industrial ou agrícola. Mas, enquanto países de renda alta tratam cerca de 70% das águas residuais urbanas e industriais que produzem, essa proporção cai para 38% nos países de renda média-alta, 28% nos países de renda média-baixa e para apenas 8% nos
países de renda baixa, o que resulta em uma média global de somente 20% do total. No Brasil, estima-se que entre 40% e 50% dessa água seja tratada. “Nos países de renda alta, a motivação para o tratamento avançado das águas residuais diz respeito à manutenção da qualidade do meio ambiente ou à busca por uma fonte alternativa de água para fazer frente à escassez desse recurso. No entanto, o despejo de águas residuais não tratadas continua sendo uma prática comum, especialmente nos países em desenvolvimento, devido à falta de infraestrutura, de capacidade técnica e institucional, e de financiamento”, afirma o relatório. Segundo o estudo, 2,4 bilhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso a saneamento básico e quase 1 bilhão ainda praticam a defecação ao ar livre.
REVISTA AMAZÔNIA
05
Volta à natureza, levando poluição
Riscos Oficial de Meio Ambiente da Unesco no Brasil, o biólogo Massimiliano Lombardo explica que o despejo de águas residuais sem o devido tratamento compromete a saúde da população e pode até levar pessoas à morte ao longo do tempo se consumidas. “Os números mostram que 760 mil crianças morrem todos os anos antes de completarem cinco anos de vida por causa de diarreia provocada pelo contato com água contaminada”, diz. Além disso, solventes e hidrocarbonetos produzidos por atividades industriais e de mineração, bem como a descarga de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio pela agricultura intensiva, aceleram a eutrofização da água potável e dos ecossistemas costeiros e marinhos. Estima-se que 245 mil km² de ecossistemas marinhos - quase o tamanho do Reino Unido - são atualmente afetados por esse fenômeno. Lombardo explica que por causa do crescimento populacional e dos processos de industrialização e urbanização, o despejo de água residual tem crescido em todo o mundo e que ampliar seu tratamento é algo urgente. “A mensagem central do relatório é a de que as águas residenciais não são um problema, mas sim recursos valiosos que podem ser reutilizadas como fonte de abastecimento seja para irrigação, produção industrial, de energia e até para consumo humano. É uma mudança de paradigma. Em vez de pensar como um problema, algo a descartar, essa água pode ser a solução de muitas cidades que sofrem com escassez hídrica”, afirma.
As águas residuais têm suas características naturais alteradas
06
REVISTA AMAZÔNIA
Guy Ryder, presidente da ONU Água e diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Escassez Segundo o documento, atualmente, dois terços da população mundial vivem em áreas com escassez de água ao menos durante um mês por ano e que cerca de 500 milhões de pessoas moram em áreas nas quais o consumo de água excede em duas vezes os recursos hídricos renováveis localmente. Lombardo afirma, contudo, que para reaproveitar as águas residuais para consumo humano, países como o Brasil precisam regular o reúso por meio de lei e esclarecer à população sobre a confiabilidade do tratamento. “Temos de começar agora a desenvolver um marco regulatório e aumentar a consciência social sobre o reúso da água”, afirma. Atualmente, as águas residuais são mais utilizadas para a irrigação agrícola, prática adotada por ao menos 50 países que representam cerca de 10% de todas as terras irrigadas. O método, porém, levanta preocupações de saúde quando a água contém patogênicos que podem contaminar as culturas. Dessa forma, o desafio é passar de uma
irrigação informal para um uso planejado e seguro, como a Jordânia tem feito desde 1977, sendo que 90% das suas águas residuais tratadas são utilizadas para a irrigação. Na indústria, essa água residual pode ser reutilizada para aquecimento e resfriamento, por exemplo, ao invés de ser descartada no meio ambiente. Já no caso de reúso para abastecimento de água potável, os exemplos mais conhecidos no mundo são o de Windhoek, capital da Namíbia, na África, que reaproveita 35% da água residual desde 1969. Os habitantes de Cingapura e de San Diego, nos Estados Unidos, também bebem, com segurança, água que foi reciclada.
Desperdício A Organização das Nações Unidas (ONU) chama atenção para o desperdício: as águas residuais restantes do uso humano que se tornam, então, impróprias para consumo, podem ser reaproveitadas em atividades que não exigem água potável, como sistemas de aquecimento e resfriamento. Práticas como essa evitam o desperdício e são essenciais, pois, até 2030, a demanda por água deve aumentar 50%, o que exigirá mais esforços para melhorar os sistemas de coleta e tratamento de águas residuais e garantir o reaproveitamento máximo. Individualmente, cada pessoa pode fazer sua parte para evitar o desperdício de recursos hídricos, como coletar água da chuva para atividades domésticas, de irrigação ou lavagem de veículos, por exemplo. A ANA destaca que, diante da escassez hídrica verificada em muitas regiões, antes mesmo de se pensar em reúso, deve-se dar preferência a equipamentos e processos que utilizem menor volume de água e que gerem o menor volume possível de águas residuais.
revistaamazonia.com.br
Reutilização de águas residuais e reciclar infográficas
Com recursos de água doce e densidades populacionais distribuídas de forma desigual no mundo inteiro, as demandas de água já superam o suprimento em regiões com mais de 40% da população mundial. Como resultado, a agricultura vem cedendo gradualmente sua participação a usos não-agrícolas. Como o uso de água doce para atividades não-agrícolas gera águas residuais, o volume de águas residuais vem aumentando, proporcional ao crescimento rápido da população, à urbanização, à melhoria das condições de vida e ao desenvolvimento econômico. A irrigação com águas residuais apoia a produção agrícola e os meios de subsistência de milhões de pequenos agricultores em muitas partes do mundo. Muitos agricultores de água escassas, em países em desenvolvimento, irrigam com águas residuais porque: 1. É a única fonte de água disponível para irrigação ao longo do ano, 2. A irrigação de águas residuais reduz a necessidade de compra de fertilizantes, 3. A irrigação de águas residuais envolve menos custo de energia se a fonte alternativa de água potável for águas subterrâneas profundas, ou
revistaamazonia.com.br
4. As águas residuais permitem aos agricultores das zonas peri-urbanas produzir legumes de valor elevado para venda nos mercados locais. Embora a reciclagem de águas residuais tratadas e a otimização da entrada de nutrientes em solos irrigados com águas residuais devam ser desenvolvidas como uma prática comum nas áreas escassas de água, a maioria das águas residuais nos países em desenvolvimento está a ser utilizada em formas não tratadas e inadequadamente tratadas para cultivar uma variedade de culturas. Por conseguinte, a proteção da saúde pública e do ambiente são as principais preocupações associadas à reutilização de águas residuais não tratadas ou tratadas de forma inadequada. Esta situação justifica repensar as formas pelas quais as águas residuais são manipuladas e utilizadas para sistemas de produção agrícola nos países em desenvolvimento. A implementação de opções técnicas baseadas na investigação para o tratamento e reutilização de águas residuais, apoiadas por intervenções de nível político pertinentes, oferece grandes promessas para a proteção do ambiente e da saúde, bem como a resiliência dos meios de subsistência.
Apesar da importância da irrigação com as águas servidas no apoio aos meios de subsistência dos pequenos agricultores, a informação sobre a quantidade de águas residuais geradas, tratadas e utilizadas em escala nacional não está disponível, limitada ou ultrapassada em numerosos países. Uma pesquisa abrangente, publicada em uma revista internacional “Agricultural Water Management” identifica uma escassez global de dados sobre a geração, tratamento e uso de águas residuais. Outra obra publicada na revista ‘News & Views of Nature’, afirma que remediar esta situação ajudará os decisores políticos a legislar melhor para a gestão deste precioso recurso. Além disso, haveria necessidade de abordagens específicas e rentáveis para o reuso da água, mas a lacuna de dados deve ser fechada antes que essas políticas possam ser efetivamente projetadas. Isso foi enfatizado no relatório Catalyzing Water for Sustainable Development and Growth, produzido pelo Instituto Universitário das Nações Unidas para a Água, Meio Ambiente e Saúde (UNU-INWEH) e o Escritório de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em colaboração com o Stockholm Environment Institute. Para saber mais, veja o infográfico acima!
REVISTA AMAZÔNIA
07
ONU diz que as águas residuais devem ser reconhecidas como um recurso valioso
E
m um mundo onde a demanda por água continua a crescer e o recurso é finito, um novo relatório das Nações Unidas argumenta que as águas residuais descartadas no ambiente todos os dias, uma vez tratadas, podem ajudar a atender as necessidades de água doce, bem como de matérias-primas para a energia e agricultura. É desnecessário mencionar que o tratamento de águas residuais e a remoção de poluentes também podem reduzir consideravelmente o impacto no meio ambiente e na saúde. “Melhorar a gestão de águas residuais é tanto sobre como reduzir a poluição na fonte, como a remoção de contaminantes dos fluxos de águas residuais, a reutilização da água recuperada e recuperação de produtos úteis por meio da aceitação social do uso de águas residuais”, observou Irina Bokova, Diretora-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Diretora Geral, em seu prefácio ao Relatório Mundial 08
REVISTA AMAZÔNIA
sobre o Desenvolvimento da Água 2017 Águas Residuais: Um recurso inexplorado. O relatório, lançado em Durban, África do Sul, por ocasião do Dia Mundial da Água, também destaca que a melhoria da gestão de águas residuais é essencial para alcançar a Agenda de 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Guy Ryder, Diretor Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Presidente da UN-Water, pediu para que “a gestão e a reciclagem da água que percorre nossas casas, fábricas, reduzindo e reutilizando com segurança mais águas residuais. “Todo mundo pode fazer a sua parte para atingir a Meta de Desenvolvimento Sustentável meta de reduzir para metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentar a reutilização segura de água até 2030.” Desenvolvimento Sustentável Meta 6 (SDG6) tem metas específicas de reduzir para metade a proporção de águas residuais não tratadas e substancialmente reciclagem e reutilização segura em todo o mundo (meta 6.3), bem como apoiar os países nas tecnologias de tratamento, reciclagem e reutilização de águas residuais (meta 6.a). O relatório também revelou que os países de baixa renda são particularmente afetados pela liberação de águas residuais para o meio ambiente sem serem tratados ou coletados, onde, em média, apenas 8% das águas residuais domésticas e industriais são
tratadas, em comparação com 70% nos países de alta renda. Como resultado, em muitas regiões do mundo, a água contaminada por bactérias, nitratos, fosfatos e solventes é descarregada em rios e lagos que terminam nos oceanos, com consequências negativas para o ambiente e para o ambiente e a saúde. Por exemplo, na América Latina, Ásia e África, a poluição causada por agentes patogênicos de excretas humanas e animais afeta quase um terço dos rios, pondo em perigo a vida de milhões de pessoas. Além disso, a crescente conscientização sobre a presença de hormônios, antibióticos, esteróides e disruptores endócrinos em águas residuais representa um novo conjunto de complexidades, já que seu impacto sobre o meio ambiente e a saúde ainda não foram totalmente compreendidos. Estes conjuntos de desafios sublinham a necessidade de uma ação urgente sobre a recolha, tratamento e utilização segura das águas residuais. As águas residuais como uma fonte de matérias-primas, além de fornecer uma fonte alternativa segura para água doce, as águas residuais também é uma fonte potencial de matérias-primas, observou o relatório. Devido à evolução das técnicas de tratamento, certos nutrientes, como fósforo e nitratos, podem agora ser recuperados a partir de esgotos e lamas e transformados em
Na abertura do Dia Mundial da Água os líderes mundiais foram convidados a “priorizarem urgentemente a melhoria do acesso a serviços essenciais de água e saneamento”
revistaamazonia.com.br
fertilizantes. Estima-se que cerca de 22 por cento da demanda global de fósforo (um recurso mineral empobrecedor) pode ser atingido pelo tratamento da urina humana e excrementos. Da mesma forma, as substâncias orgânicas contidas nas águas residuais podem ser usadas para produzir biogás, que poderia alimentar as instalações de tratamento de águas residuais, bem como contribuir para as necessidades energéticas das comunidades locais. Além disso, o uso de águas residuais tratadas está crescendo para irrigação agrícola. Pelo menos 50 países ao redor do globo estão usando agora águas residuais tratadas para este propósito, representando cerca de 10 por cento de todas as terras irrigadas. Por último, o relatório também mencionou que as águas residuais tratadas podem aumentar o abastecimento de água potável, embora esta seja ainda uma prática marginal.
A Meta de Desenvolvimento Sustentável-Meta 6 (SDG6), tem metas específicas de reduzir para metade a proporção de águas residuais não tratadas e substancialmente reciclagem e reutilização segura em todo o mundo
Cidades como Cingapura, San Diego (Estados Unidos) e Windhoek (Namíbia) têm vindo a tratar as águas residuais para complementar as reservas de água potável.
Irina Bokova, Diretora-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Águas residuais tratadas usada há muito tempo por astronautas, como os da Estação Espacial Internacional que têm reutilizado a mesma água reciclada há mais de 16 anos revistaamazonia.com.br
Um grande exemplo é o uso de águas residuais tratadas, há muito praticadas por astronautas, como as da Estação Espacial Internacional que têm reutilizado a mesma água reciclada há mais de 16 anos. REVISTA AMAZÔNIA
09
ONU critica desperdício e pede ações de reaproveitamento
A previsão da Organização das Nações Unidas (ONU) é que, até 2030, a demanda por água no mundo aumente em 50%. Ao mesmo tempo, mais de 80% do esgoto produzido pelas pessoas volta à natureza sem ser tratado por *Lílian Beraldo
Fotos: Divulgação, ONU, Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil
Reúso industrial
D
iante desse cenário, no Dia Mundial da Água 2017, a organização mobiliza governos, setor privado e sociedade civil contra o desperdício, por melhoria nos sistemas de coleta e tratamento de esgoto e pelo reaproveitamento máximo das águas residuais urbanas. As águas residuais são os recursos hídricos utilizados em atividades humanas que se tornam impróprios para o consumo, mas podem ser utilizados para outros fins após tratamento. Segundo a ONU, os benefícios para a saúde humana e para o desenvolvimento e sustentabilidade ambiental são muito maiores que os custos da gestão dessas águas, fornecendo novas oportunidades de negócios. Na avaliação do coordenador de Implementação de Projetos Indutores da Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir Garcia dos Santos, para o Brasil, é essencial discutir o reúso da água já que o recurso, apesar de abundante, não é distribuído uniformemente em todas as regiões do país. “Temos regiões que têm carência de água e que têm potencial de fazer reúso. Muitas demandas poderiam ser atendidas com o reúso”. Segundo ele, além de atender às necessidades por água limpa, o reúso também significa o tratamento de esgotos e dos efluentes domésticos. “O Brasil tem um problema sério, a área atendida hoje é pequena. Em torno de 35% da população é atendida com tratamento de esgoto, mas isso está concentrado nos grandes centros. 10
REVISTA AMAZÔNIA
As capitais dos estados têm capacidade de tratamento. Quando se pega municípios com menos de 200 mil ou menos de 50 mil habitantes, praticamente tem muito pouco tratamento nessas áreas”, explicou o coordenador da ANA. Segundo a ONU, cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo usam fontes de água contaminadas por fezes para beber, e, a cada ano, 842 mil mortes são relacionadas a falta de saneamento e higiene, bem como ao consumo de água imprópria. Por isso, para garantir a utilização sustentável dos recursos hídricos, é preciso implementar políticas eficazes de saneamento e de reúso. A organização aponta que as águas residuais podem ser reaproveitadas na indústria, em setores que não precisam tornar a água potável para utilizá-la como insumo. É o caso de sistemas de aquecimento e resfriamento, por exemplo.
Sozinha, a indústria é responsável por 22% do consumo de água mundial. Segundo Garcia, o reúso praticamente inexiste no Brasil, exceto em algumas iniciativas da grande indústria, que está se organizando e fazendo tratamento de esgoto para a reutilização. “A indústria tem um disciplinamento bom. Em tese, você tem um normativo que não deve utilizar água de boa qualidade, a não ser que esteja sobrando muito, para usos onde você tem condição de atender com água de qualidade inferior. É um ponto importante da gestão da água que precisamos observar e o reúso possibilita isso”, disse. Ele deu como exemplo uma iniciativa público-privada para a produção de água de reúso industrial, o Aquapolo, em São Paulo. Resultado de uma parceria entre a Odebrecht Ambiental e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o sistema fornece por contrato 650 litros por segundo de água de reúso para o Polo Petroquímico da região do ABC Paulista, que a utiliza para limpar torres de resfriamento e caldeiras, principalmente. Isso equivale ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes. Há ainda iniciativas industriais localizadas que também são exemplos de boa gestão dos recursos hídricos. No Distrito Federal, o Grupotecno faz o reúso da água em sua usina de concreto.
Para a ONU, cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo usam fontes de água contaminadas por fezes para beber
revistaamazonia.com.br
A ONU mobiliza governos, setor privado e sociedade civil contra o desperdício, por melhoria nos sistemas de coleta e tratamento de esgoto e pelo reaproveitamento máximo das águas residuais urbanas
O sócio-proprietário Fábio Caribé conta que cerca de 30 mil litros de água são reutilizados por dia, provenientes do sistema de pulverização dos caminhões betoneira. Durante o processo de carregamento, eles precisam ser pulverizados com água para evitar a dispersão de poeira de cimento no ar. “Não estamos retirando essa água do meio ambiente. A minha preocupação sempre foi de implantar um sistema que utilize o mínimo necessário de água para operar. A água utilizada no abafamento dessa poeira volta para o sistema e fica indo e voltando”, disse, contando que a empresa entrou em atividade em 2013 já com o sistema de reciclagem de água.O processo de limpeza da água é feito através de separação física por decantação dos elementos contaminantes e por filtragem. A água residual é, então, utilizada no próprio sistema de pulverização e na manutenção da empresa, como umedecimento e limpeza dos pátios e lavagem dos caminhões. “Nós temos uma outorga que nos permite utilizar 100 mil litros de água por dia do solo. Dessa água utilizamos hoje de 75 a 89
revistaamazonia.com.br
mil litros de água por dia. Desse volume, 30 mil nós reciclamos por dia. Ou seja, é como se eu tivesse um reserva técnica para ampliar a produção da empresa sem necessariamente retirar mais água do subsolo”, explicou Caribé. Segundo ele, o custo de R$ 100 mil, em três anos, desse sistema de reciclagem está amortizado. “Já tivemos um retorno financeiro. E nosso passivo ambiental é muito menor do que seria se não tivéssemos o sistema”, explicou. Além da reciclagem de água, o Grupotecno também trabalha a
reutilização de concretos excedentes em obras e pesquisa a utilização de materiais, como restos de plásticos, para incorporar ao concreto fabricado, sem que haja baixa na resistência e durabilidade. A empresa tem ainda uma tecnologia de concretos permeáveis, que permite a passagem da água, que podem ser instalados em calçadas e estacionamentos, por exemplo, além de desenvolver projetos residenciais com eficiência elétrica, térmica e hidráulica. “Nós temos tecnologia, o que falta é conhecimento e busca pelo uso. O Brasil é o país mais rico do mundo, a nossa vocação é ser um país de ponta, mas isso depende de decisões políticas. Vale a pena ser sustentável. Não é só a gente que agradece, é a coletividade. Se todo mundo pensasse assim, acho que teríamos uma realidade diferente”, destacou Caribé.
O Grupotecno, além da reciclagem de água, também trabalha a reutilização de concretos excedentes em obras e pesquisa a utilização de materiais
REVISTA AMAZÔNIA
11
Microplástico presente em “quase tudo” está matando os oceanos As micro partículas representam 15-31% dos estimados 9,5 milhões de toneladas despejadas nos oceanos, diz a IUCN
Pneus
Têxteis Sintético
Revestimentos Marinhos
Marcações de Estrada
Produção de cuidado pessoal
Pellets plásticos
Poeira da cidade
D
Fotos: Henrik Hamrén, IUCN, Peter Charaf
e pneus a roupas e cosméticos, o microplástico se encontra praticamente em todos os objetos do dia a dia. E seu impacto sobre as águas do planeta é catastrófico: calcula-se que, dos 9,5 milhões de toneladas de matéria plástica que flutuam nos mares, até 30% sejam compostos por partículas minúsculas. Invisíveis a olho nu, elas constituem uma fonte de poluição mais grave do que se pensava, como mostra o mais recente relatório da International Union for Conservation of Nature (IUCN): Microplásticos primários nos Oceanos: Uma avaliação global de fontes; dos autores: Julien Boucher, Damien Friot. “Nossas atividades diárias, como lavar roupas e andar de carro, contribuem significativamente para a poluição que sufoca os nossos oceanos, tendo efeitos potencialmente desastrosos para a rica diversidade que vive neles e para a saúde humana”, afirma a diretora geral da IUCN, Inger Andersen. Segundo o estudo da organização, cerca de dois terços do microplástico encontrado nos oceanos são originados dos pneus de automóveis e das microfibras liberadas na lavagem de roupa. Outras fontes poluidoras são a poeira urbana, marcações rodoviárias e os barcos.
12
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
PLÁSTICOS NOS
OCEANOS
BARCOS / REDES MICROPLÁSTICOS
As redes de pesca podem se transformar em detritos marinhos quando são perdidas ou abandonados.
Os microplásticos são pequenos plásticos com menos de 5mm. Podem vir de plásticos grandes que quebram, ou podem ser produzidos como os plásticos pequenos tais como micromiçangas, que podem ser encontrados nos produtos como pasta de dentes e de lavagem e limpeza do rosto.
INGESTÃO Os animais podem facilmente confundir detritos plásticos com comida.
EMARANHAMENTO Vida marinha pode ser pego e morto em redes de pesca abandonados e outros detritos de plástico.
Perigo invisível As imagens de tartarugas presas em redes de pescar e pássaros com anéis de latas de cerveja em volta do pescoço há muito correm mundo. O problema do microplástico, contudo, é invisível, só tendo sido recentemente detectado como tal. Assim, ainda se sabe relativamente pouco sobre sua escala e verdadeiro impacto ambiental. Ao contrário do lixo plástico convencional, que se degrada na água, o microplástico já é lançado no ambiente em partículas tão microscópicas que driblam os sistemas de filtragem das estações de tratamento de água. É exclusivamente nesse tipo de dejeto que o relatório da IUCN se concentra. A atual quantidade de microplástico nas águas é de 212 gramas por ser humano, o equivalente a se cada pessoa do planeta jogasse uma sacola plástica por semana no oceano. Ingeridos por peixes e outros animais marinhos, os minigrãos podem ter sério impacto sobre seus sistemas digestivos e reprodutivos, e há sérias suspeitas de que acabem chegando aos humanos, cadeia alimentar acima.
revistaamazonia.com.br
Estratégias globais de combate à poluição marítima se concentram em reduzir o tamanho dos fragmentos do lixo plástico convencional
REVISTA AMAZÔNIA
13
Ao pensar em lixo nos oceanos costumamos lembrar de macroplástico, como sacolinhas, mas o micro plástico, liberado quando lavamos roupas sintéticas também prejudica o meio ambiente
Para Alexandra Perschau, da campanha “Detox” da organização ambiental Greenpeace na Alemanha, o real problema não é o tipo de casaco que se compra, mas sim quantos. “O sistema de moda como um todo é o problema, é excesso de consumo”, comentou à DW. “Em diversos levantamentos, seja na Ásia ou na Europa, grande parte dos consumidores admite possuir mais roupas no armário do que precisam, mas continua comprando mais e mais.” A produção mundial de vestuário dobrou a partir do ano 2000, excedendo os 100 bilhões de peças em 2014, de acordo com uma sondagem da Greenpeace. Além disso, atualmente as peças de vestuário tende a ser de difícil reciclagem. “Temos cada vez mais peças confeccionadas com fibras mistas de poliéster e algodão, portanto nem temos como reciclá-las devidamente. No momento a tecnologia não está tão avançada que possamos separar esses tipos de fibras”, explica Perschau.
Maus hábitos de consumo Como lembra João de Sousa, diretor do Programa Marinho Global do IUCN, as estratégias globais de combate à poluição marítima se concentram em reduzir o tamanho dos fragmentos do lixo plástico convencional. No entanto essa concepção precisa ser revista. “As soluções devem incluir design de produtos e de infraestrutura, assim como o comportamento do consumidor. Pode-se projetar roupas sintéticas que liberem menos fibras, por exemplo, e os consumidores também podem agir, optando por tecidos naturais, em vez de sintéticos.” Segundo outros especialistas, contudo, essa estratégia não tem o alcance necessário, e se precisa também abordar outros hábitos de consumo.
Restos de plásticos flutuam nas águas da baía de Hanauma, Havai
Principais fontes de Microplásticos Primários Identificado na Literatura
Transporte de passageiros
Transporte de mercadorias
Atividades domésticas
Atividades comerciais
Atividade na Terra
Atividade em Mar
14
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Entre a moda e meio ambiente O relatório da IUCN saúda os esforços para banir as microesferas de plástico dos produtos cosméticos, inspirados por relatórios recentes. Trata-se de uma “iniciativa bem-vinda”, porém com impacto restrito, uma vez que esse tipo de material só responde por 2% da poluição com microplástico. Em vez disso, seria necessária uma investida mais ampla e de impacto real contra as atividades geradoras das minúsculas partículas, segundo Maria Westerbos, diretora da Plastic Soup Foundation, que luta para que se pare de despejar matéria plástica no oceano. “Somos todos responsáveis: é a ciência, a indústria, são os legisladores – e os consumidores. Todos nós precisamos fazer algo. Todos estamos usando plástico e todos o jogamos fora”, pleiteia Westerbos, sugerindo o desenvolvimento de tecidos que não desfiem e a adoção de novos filtros nas máquinas de lavar roupa – que só devem ser usadas com carga completa e de preferência com sabão líquido. Perschau, da Greenpeace, acrescenta a importância de aumentar a vida útil das roupas. Em vez de jogar fora as que não se deseja mais, faria mais sentido trocá-las por outras ou entregá-las nas lojas de segunda mão. “Não estamos dizendo que não
Plástico susceptível a uma maior fragmentação através biodegradação e ação das ondas; gerando centenas de pequenos fragmentos de um grande item macroplástico
se deva usar roupa da moda, mas sim ser mais inteligente, vivendo de acordo com os próprios desejos sem comprometer os recursos do planeta.” Com 7 bilhões de seres humanos e uma população crescente, será preciso mudar nossas atitudes em relação ao plástico, se quisermos salvar os oceanos, observa Westerbos: Não compre maçãs embaladas em plástico, não use sacolas plásticas descartáveis, nem canudinhos para descarte imediato. Há um monte de modos de evitar usar plástico, vamos começar por aí.
Relatórios globais de Microplásticos primários nos Oceanos Mundiais Por fonte (em%)
Têxteis sintéticos
revistaamazonia.com.br
Pneus
Poeira da cidade
Marcações Revestimentos Produção rodoviárias marinhos de cuidados pessoais
Pelota de plástico
REVISTA AMAZÔNIA
15
Lançamentos globais de microplásticos para os oceanos do mundo: Divisão por tipo de atividades e fases do ciclo de vida
Plástico CICLO DE VIDA
Produção e ransformação de plástico
Reciclagem de plástico
Fabricação de produtos
Eliminação do produto
Uso do produto
Manutenção do produto
Manutenção de produtos plásticos
Manutenção de produtos plásticos
Transporte de passageiros
Casa
16
REVISTA AMAZÔNIA
Atividades Domésticas
Transporte de mercadorias
Atividades econômicas
Indústrias
revistaamazonia.com.br
Microesferas e outros microplásticos nas praias do mundo está matando os oceanos, diz o mais recente relatório da International Union for Conservation of Nature (IUCN)
Limitar o impacto A UICN pede aos fabricantes de pneus e vestuário, especialmente, que mudem seus métodos de produção e façam produtos que poluem menos. Lundin apontou que os fabricantes de pneus poderiam, por exemplo, voltar a usar principalmente a borracha, enquanto os fabricantes de têxteis poderiam parar de usar revestimentos plásticos na roupa. Os fabricantes de máquinas de lavar roupa também
poderiam instalar filtros que poderiam capturar micro e até nano partículas de plástico, disse ele. Essas medidas são vitais para limitar os danos, disse ele, alertando que a situação é particularmente preocupante no Ártico - a maior fonte de alimentos do mar na Europa e América do Norte. “Parece que o microplástico está congelando no gelo marinho, e desde que você realmente diminui o ponto de fusão do gelo quando você tem pequenas partículas nele, você tem um desaparecimento mais rápido do gelo do mar”, disse ele.
Relatórios Globais dos Oceanos Mundiais: Comparação com os plásticos originários de resíduos mal geridos
ÍNDIA E ÁSIA DO SUL AMÉRICA DO NORTE EUROPA E ÁSIA CHINA ÁSIA ORIENTAL E OCEÂNIA AMÉRICA DO SUL ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO
revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
17
Relatórios Globais dos Oceanos Mundiais:
América do Sul
China
Ásia Oriental e Oceania
Índia e Ásia do Sul
África e Oriente Médio
América do Norte
Europa e Ásia Central
Comparação com os plásticos originários de resíduos mal geridos
RESÍDUOS PLÁSTICOS mtons / ano
MICROPLÁSTICOS PRIMÁRIOS
mtons / ano
Os microplásticos A maioria de todos nós, provavelmente reconhecemos que a poluição plástica no meio marinho é um grande problema. Qualquer um que possui uma TV ou computador não pode evitar de cruzar com imagens de aves marinhas capturadas em seis-pack anéis, tartarugas alimentando em sacos de plástico, ou garrafas flutuando no mar aberto. Desde a década de 1970, pesquisas descobriram que esta poluição macroplástica (tamanho>25mm) era a principal causa de emaranhamento de plástico, que pode prejudicar a vida marinha por sufocação, laceração, afogamento e aptidão geral reduzida. Uma vez que eram 80% dos detritos de plástico marinho. Uma maior atenção pública e jurídica tem felizmente agora conduzido aos macroplásticos, sendo cobertos – pelo menos nos países desenvolvidos – por muitos regulamentos internacionais e operações de limpeza de praia, que visam reduzir insumos de plástico de resíduos para o ambiente marinho. Sem o conhecimento da maioria, porém, o oceano está escondendo um poluente plástico ainda mais preocupante e menos óbvio: os microplásticos.
18
REVISTA AMAZÔNIA
Os microplásticos são geralmente definidos como partículas de plástico menores do que 5 mm, e por isso são incrivelmente difíceis de ver a olho nu, e ainda mais difíceis de controlar. Eles também são uma dupla ameaça; entrando em nossos oceanos através de fontes primárias e secundárias. Os microplásticos primários são fabricados especificamente para serem de tamanho microscópico, tais como as micro-contas frequentemente adicionadas como esfoliantes para cosméticos, cremes dentais e esfrega facial. As microesferas podem ser pequenas o suficiente para através de processos de filtragem de água em plantas de tratamento de resíduos, e assim finalmente acabam em nossos sistemas naturais. Para colocar o problema em perspectiva, um estudo de 2015 nos EUA estimou que 19 toneladas de micro-contas foram lavadas para baixo do dreno cada ano no estado de Nova York sozinho. A quantidade significa que mesmo se 99% forem filtrados com sucesso para fora, o número que poderia potencialmente ser liberado no outro 1% é ainda estarrecedor. No entanto, os avanços já foram feitos para combater os microplásticos primários, uma vez que fortes evidências científicas, combinadas com campanhas públicas que ganharam um ímpeto significativo nas mídias sociais no início
revistaamazonia.com.br
As sete regiões consideradas em todo o estudo
África e Oriente Médio América do Sul Europa e Ásia Central Ásia Oriental e Oceania América do Norte China Índia e Ásia do Sul
Microesferas usadas em produtos cosméticos causadoras da poluição plástica
revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
19
A atual quantidade de microplástico nas águas é de 212 gramas por ser humano, o equivalente a se cada pessoa do planeta jogasse uma sacola plástica por semana no oceano
deste ano, levaram a que as microbiotas fossem banidas nos EUA e no Canadá. Em 2017. Assim que sobre microplásticos secundários? Bem, enquanto as propriedades dos plásticos lhes emprestam para persistir, por séculos, eles não tendem a persistir em sua forma original. Depois de entrar no ambiente marinho, macroplásticos grandes tornam-se frágeis e quebram em pedaços menores através fragmentação e fotodegradação (onde a radiação UV do sol quebra as ligações químicas dentro do plástico). Isto torna o plástico susceptível a uma maior fragmentação através biodegradação e ação das ondas; gerando centenas de pequenos fragmentos de um grande item macroplástico. Os microplásticos são descritos por cientistas como omnipresentes e persistentes nos oceanos do mundo, e a terrível realidade é que se estima que haja mais de 5,25 trilhões de pedaços de detritos plásticos flutuantes no oceano, pesando uma enorme 268.940 toneladas (ou quase 45.000 elefantes africanos para comparação). Um grande número de partículas flutuantes são transportadas por correntes para o oceano aberto e acumulam-se nas zonas de convergência dos cinco giros subtropicais da Terra, que são grandes sistemas de correntes oceânicas rotativas. Outros permanecem presos perto de áreas industriais plásticas, como áreas costeiras da Indonésia e da China, onde 75 a 90% dos resíduos de plástico terrestres são inadequadamente descartados. O fundo do mar pode também tornar-se o local de repouso final para plásticos ainda previamente flutuantes, uma vez que o desenvolvimento de películas microbianas sobre as partículas pode aumentar a
20
REVISTA AMAZÔNIA
O tamanho é importante, especialmente se se trata do impacto dos micro-plásticos nos oceanos e pesca
sua densidade em relação à água do mar, fazendo-as afundar. Com esta enormidade plástico em nossos oceanos, você pode ver porque nós estamos sendo descritos como na idade plástica. Os perigos dos microplásticos primários e secundários manifestam-se em todos os níveis da cadeia de alimentação marinha, e pode até voltar a nos afetar de volta em terra. Na base da cadeia alimentar, os microplásticos, assemelham-se ao minúsculo zooplâncton e são frequentemente consumidos acidentalmente por moluscos, crustáceos maiores e peixes zooplânctos (onde a incidência de plástico ingerido pode atingir 35%). Os fragmentos de plástico comidos por pequenos peixes
revistaamazonia.com.br
Invisíveis microplásticos que poluem nossos oceanos
afundam-se no leito do mar com os corpos de peixes mortos, defecadas ou transferidas para predadores maiores. Foram encontrados fragmentos de plástico dentro dos tratos digestivos de uma grande variedade de espécies predatórias; incluindo mamíferos marinhos, aves marinhas e até espécies de peixes comumente consumidas por seres humanos. Sim, o plástico que você joga fora, poderia acabar de volta em seu prato. Além do dano obstrutivo óbvio que pode ser causado por plástico ingerido, que pode levar ao bloqueio gastrointestinal e redução do consumo de alimentos, os plásticos podem ter efeitos químicos ocultos nos organismos. Em primeiro lugar, contêm frequentemente aditivos destinados a melhorar o desempenho dos materiais, que podem penetrar nos tecidos de um organismo e ter efeitos adversos na reprodução, metabolismo, função e comportamento hormonal. Em segundo lugar, os fragmentos microplásticos também podem absorver poluentes químicos aquáticos chamados POP; que são tóxicos, persistentes no ambiente e potencialmente podem ser transportados longas distâncias sobre partículas de plástico contaminado. POPs representam uma ameaça adicional para os seres humanos e vida marinha se uma partícula contaminada é consumida, como altas concentrações foram encontrados para causar perturbação hormonal e toxicidade do fígado e rim. Todos os dia, plástico é algo que todos nós usamos, e ninguém vai começar a dizer-lhe para jogar fora todos eles. No entanto, há tantas mudanças simples que a pessoa média pode fazer para ajudar a reduzir o desperdício de plástico, o que inevitavelmente limitará o plástico disponível que poderia entrar em nossos oceanos.
revistaamazonia.com.br
Aqui algumas dicas: 1. Evite produtos contendo microesferas. Para saber, você precisa acessar: http://www.beatthemicrobead.org/, que produziu algumas listas de produtos específicos para cada país, para levar com você nas compras e até mesmo um aplicativo de digitalização para seu telefone. 2. Compre uma garrafa de água reutilizável. Você sabia que mais de 25% da água engarrafada é água purificada? Para isso usam: BPA-livre (ou bisfenol A – uma propriedade química de certos plásticos que é temida de ser correlacionada com vários problemas de saúde. 3. Reciclar. A maioria das pessoas não percebe que quase todos os plásticos podem ser reciclados. A medida em que isso ocorre através da reciclagem doméstica realmente depende das capacidades logísticas, já que alguns tipos de plásticos não podem ser misturados. Verifique on-line para locais em grandes lojas como supermercados, para que você possa se livrar de sua reciclagem enquanto você faz suas compras. 4. Reduzir o uso de plásticos de uso único. Plásticos de uso único são fáceis de cortar do seu dia-a-dia. Muitos itens de uso único agora têm alternativas reutilizáveis ou biodegradáveis, como talheres e pratos de piquenique, ou saquetas de chá sem plástico (sim, saquetas de chá também contêm plástico ...). ** Se mudarmos nosso pensamento para considerar se realmente precisamos usar um item de plástico, podemos reduzir os insumos plásticos para o ambiente marinho e focar em erradicar as partículas microplásticas existentes usando novas tecnologias – mantendo nossos oceanos simplesmente cheios de vida.
REVISTA AMAZÔNIA
21
Água invisível: como a produção de alimentos – e até de celulares – pode reduzir ainda mais as reservas de água No Dia Mundial da Água (22/3), o Instituto Akatu convida a população a refletir sobre os gastos de água na produção do que ela consome Fotos: Divulgação
A
s ações cotidianas para economizar água envolvem, geralmente, hábitos como diminuir o tempo no banho, fechar a torneira na hora de escovar os dentes ou usar um balde em vez da mangueira para lavar o carro ou a calçada. No entanto, grande parte da população desconhece a chamada água invisível, usada em processos como a produção de alimentos e até de celulares, e que pode reduzir ainda mais as reservas hídricas em tempos de crise de abastecimento. Hoje, vivemos novas condições hídricas. Lugares com regimes regulares de chuva passaram a ter períodos de estiagem. No Brasil, as atuais crises hídricas que o Nordeste brasileiro e Brasília
(DF) vivem, sem contar com a de São Paulo em 2015, associadas a campanhas de conscientização, incentivaram o consumidor a usar a água com mais moderação. Porém, de uma forma geral, quando se pensa em quanto de água é consumida ao longo do dia, é comum lembrarmos apenas das ações cotidianas, como tomar banho, preparar a comida, escovar os dentes, lavar o carro ou as roupas. Em geral, não nos ocorre que existe também o “gasto invisível”, que é a quantidade de água usada durante a produção de praticamente tudo o que é consumido. É fundamental ter consciência sobre esse consumo invisível de água, que é tão ou até mesmo mais importante quanto os gestos de
consumo da água que a gente vê. Segundo dados da ONU, cada pessoa consome diariamente de 2 a 5 mil litros de “água invisível” contida nos alimentos. Para chegar a esses números, os pesquisadores analisam toda a cadeia de produção de um bem de consumo, com cálculos baseados em padrões que variam conforme os processos e a região de cada produtor. Por esses cálculos, por exemplo, uma única maçã, por exemplo, consome 125 litros de água para ser produzida, segundo a Waterfootprint, rede multidisciplinar de pesquisadores e empresas que estudam o consumo de água nos processos produtivos. A pecuária também é responsável por um consumo alto de água. Para cada quilo de carne bovina, são gastos mais de 15 mil litros de água.
Contêineres saem diariamente de portos na costa brasileira abarrotados de carne bovina, soja, açúcar, café, entre outros produtos agrícolas exportados para o mundo. Dentro deles há um insumo invisível, cujo valor ultrapassa cálculos estritamente econômicos
22
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Essa quantidade se refere à água e alimentação utilizadas para o gado até que ele atinja a maturidade e também a tudo que é gasto no processo do frigorífico, como limpeza e resfriamento do ambiente. E a “água invisível” não está presente apenas na produção de alimentos. De acordo com pesquisa da Mind your Step, produzida pela Trucost a pedido da Friends of the Earth, entidade de proteção ao meio ambiente, a produção de um único smartphone consome cerca de 12.760 litros de água, valor equivalente à quantidade transportada por um caminhão-pipa médio. Um item básico no guarda-roupa de todo brasileiro é a calça jeans. Para produzir uma simples unidade são consumidos 10.850 litros de água durante toda a cadeia de produção – quantidade suficiente para suprir o consumo de uma residência média no Brasil por mais de três meses. Essa quantidade contabiliza desde a água gasta na irrigação do algodoeiro, material usado para fabricar o tecido, até a água da confecção da peça. “Melhorar os processos de produção para conseguir usar a água de forma mais eficiente é um dever, e é certamente de interesse, das empresas. Do ponto de vista empresarial, é preocupante ser dependente desse recurso que é cada dia mais escasso. E essa preocupação não deve ser só das empresas. As políticas públicas devem contribuir para evitar desperdícios hídricos e garantir a preservação dos mananciais. E, além disso, cada pessoa e cada família pode fazer a sua parte buscando consumir apenas o necessário, evitando o desperdício desse recurso tão essencial”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. Você sabia? Se toda a água da Terra coubesse em uma garrafa de 1 litro, a água doce disponível equivaleria a pouco mais de uma gota!
revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
23
Algumas dicas do Instituto Akatu que podem evitar o gasto excessivo da “água invisível”: *Antes de fazer qualquer compra, reflita sobre a necessidade de adquirir um novo item. Pense se você não pode pegar o item emprestado, comprar o produto usado, ou fazer uma troca com outra pessoa; *Promova uma feira de trocas com os amigos e familiares; inúmeros artigos como roupas, acessórios, bijuterias, livros, entre outros, podem ser reaproveitados e ganhar uma nova vida nas mãos de outra pessoa; *Dê preferência aos itens duráveis mais do que os descartáveis; *Faça o uso compartilhado de bens e serviços. Se possível, alugue-os temporariamente ou combine o uso comunitário, entre várias pessoas; *Produtos concentrados, como de higiene ou limpeza, utilizam menos água em sua produção e transporte; por isso, devem ser preferidos em relação aos produtos diluídos; *Dê preferência aos alimentos produzidos próximos ao local onde você mora e compre aqueles que são da estação, pois isso fará com que durem mais e não haja desperdício; *Aproveite cascas, sementes, talos e folhas de legumes, verduras e frutas. Essas partes que muitas vezes são jogadas fora desconsiderando que têm nutrientes e podem ser aproveitadas em inúmeras receitas; *Diminua o consumo de carne bovina, que exige muita água em sua produção. Você não precisa eliminá-la de sua dieta, mas pode consumi-la com menos frequência, substituindo-a por outras fontes de proteína – e assim diminuir o impacto negativo de sua produção no meio ambiente e, consequentemente, na vida das pessoas. Reserva de água: imprescindível
Instituto Akatu Criado em 15 de março de 2001, o Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para estilos sustentáveis de vida com consumo consciente e mais bem-estar para todos. As atividades do Instituto estão focadas na mudança de comportamento do consumidor em duas frentes de atuação: Educação e Comunicação, com o desenvolvimento de campanhas, conteúdos e metodologias, pesquisas, jogos e eventos. O Akatu também atua junto a empresas que buscam caminhos para a nova economia, ajudando a identificar oportunidades que levem a novos modelos de produção e consumo – modelos que respeitem o ambiente e o bem-estar, sem deixar de lado a prosperidade. 24
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
22
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Uma oportunidade única de visitar dois lugares pelo preço de um
O
Stopover da TAP Portugal agora está com mais uma novidade, a companhia passou a incluir em seu programa mais quatro cidades de Portugal e que são destinos domésticos da TAP, são elas Açores, Algarve, Faro e Madeira. Assim será possível que passageiros com destino final para essas três cidades passe até 3 dias em Lisboa ou Porto. Esse programa da TAP visa que clientes da companhia consigam fazer uma pausa de até 3 dias em outras cidades de Portugal para voos de longa distância com conexão em Lisboa ou Porto. Assim o cliente pode realizar um voo de Guarulhos para Lisboa, com destino final em Paris, e incluir uma parada de até 3 dias em Lisboa ou Porto. “Com este aumento do leque de destinos domésticos no programa Portugal Stopover, a empresa reforça uma vez mais o seu papel de embaixadora do destino Portugal no mundo, tirando partido das vantagens geoestratégicas do hub”, disse Fernando Pinto, CEO da TAP. “Trazer turistas a Portugal sempre foi um dos desígnios da TAP e com esta proposta de Stopover com inclusão dos Açores, Algarve e Madeira, a companhia procura reforçar ainda mais esse desígnio”, completou Fernando. Rótulos de Vinho do Porto para incentivar um brinde na chegada
Torre de Belém-Lisboa
Castelo de São Jorge, na colina mais alta de Lisboa, com vistas privilegiadas sobre a cidade
Mosteiro dos Jerônimos-Lisboa
Estação de São Bento-Porto
26
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Estrelas Michelin a bordo A TAP associou-se a cinco Chefs com estrelas Michelin para, em conjunto com o Chef Vítor Sobral, consultor gastronômico da Companhia, enriquecer ainda mais a experiência de viagem dos seus Clientes. A Empresa reforça assim a sua missão de embaixadora de Portugal no mundo, ampliando o conhecimento dos sabores portugueses pela mão dos mais conceituados Chefs de Portugal. A partir de setembro, estará a bordo a criação de cada um dos Chefs Michelin que aceitaram este desafio: promover o melhor da gastronomia portuguesa. “Portugal é muitas vezes apresentada pela imprensa internacional como – o segredo gastronômico mais bem guardado da Europa. O compromisso que a TAP hoje reforça com este anúncio é bem claro: vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para que Portugal deixe de ser um segredo”, revelou Fernando Pinto, em Lisboa. Segundo o presidente da TAP, este compromisso conjunto com os seis Chefs “vai permitir que mais pessoas vivam a experiência da excelência gastronômica e se apaixonem por Portugal: pelos aromas, pelos sabores, pelos vinhos, pela gastronomia e pela cultura”. “A TAP, como os portugueses, tem uma paixão enorme por Portugal. Não só trazemos o mundo a Portugal como, conosco, esta paixão não conhece fronteiras e vamos levá-la a todo o mundo”, concluiu Fernando Pinto. Por meio do projeto, chamado de “Taste the Stars”, a TAP também promoverá outros talentos Como afirmado pelo CEO da TAP, o programa Stopover é importantíssimo para Portugal, o pais deve movimentar €150 milhões só com esse programa e os 150 mil turistas a mais estimados para 2017. A TAP Portugal lançou esse programa durante o verão de 2016, e até agora cerca de 40 mil passageiros já aproveitaram a parada sem custos em Lisboa e Porto. O programa Stopover também contempla 150 parcerias que dão até 15% de desconto para os passageiros participantes do programa. Garantindo assim, aos clientes Stopover, preços exclusivos em hotéis, oferta de uma garrafa de vinho em restaurantes e experiências gratuitas, nomeadamente, passeios de tuk tuk, visita a museus, observação de golfinhos no Sado e degustações. revistaamazonia.com.br
Fernando Pinto, presidente da TAP, com os seis Chefs Michelin
da gastronomia – jovens recomendados pelos Chefs da TAP, que poderão apresentar as suas criações e sugestões para o serviço a bordo. O “Taste the Stars” é mais um dos compromissos assumidos pela TAP para promover o melhor de Portugal ao mundo. Em conjunto com alguns dos mais renomados intérpretes da gastronomia portuguesa, a TAP, reconhecidamente uma das maiores promotoras e embaixadoras de Portugal, dos seus destinos turísticos, da gastronomia, vinhos, patrimônio, tradições e cultura, vai contribuir para a valorização e notoriedade a nível mundial deste valioso e inigualável patrimônio. Brevemente, a Companhia aérea vai também revolucionar a sua carta de vinhos, num novo modelo de seleção que vai dar também oportunidade a pequenos e médios produtores portugueses que pretendam promover internacionalmente os seus vinhos.
Com o projeto “Taste the Stars”, os chefs Henrique Sá Pessoa, José Avillez, Miguel Laffan, Rui Paula e Rui Silvestre, vão criar refeições para os passageiros da TAP, descobrir, promover e incentivar novos talentos da culinária portuguesa, reinventar a utilização de produtos das várias regiões nacionais nas refeições de bordo, participar em eventos nacionais e internacionais da TAP (em Nova Iorque e São Paulo, por exemplo) de promoção da gastronomia portuguesa e realizar showcookings no lounge da TAP. Adicionalmente, os restaurantes dirigidos pelos chefs passam a fazer parte do Stopover. Voe com a TAP e aproveite as vantagens de fazer uma pausa a meio caminho, com tudo o que este país tem de melhor! Mais informações, acesse: http://www.flytap.com/Brasil/PTBR/ stopover e se encante com Portugal. Rabelos e a ponte Dom Luís I-Porto
REVISTA AMAZÔNIA
27
Peneira de grafeno transforma água do mar em água potável Fotos: Long Wei / EPA, Universidade de Manchester, Victoria Turk
A
s membranas de óxido de grafeno têm atraído considerável atenção como candidatos promissores para novas tecnologias de filtração. Agora, o muito procurado desenvolvimento de fazer membranas capazes de peneirar sais comuns foi conseguido. Uma nova pesquisa demonstra o potencial real de fornecer água potável para milhões de pessoas que lutam para ter acesso a fontes de água potável adequadas. As novas descobertas de um grupo de cientistas da Universidade de Manchester foram publicadas na revista Nature Nanotechnology. Anteriormente, as membranas de óxido de grafeno mostraram um potencial excitante para separação de gás e filtração de água. As membranas de óxido de grafeno desenvolvidas no Instituto Nacional do Grafeno já demonstraram o potencial de filtragem de pequenas nanopartículas, moléculas orgânicas e até grandes sais. Até agora, no entanto, eles não podiam ser usados para peneirar sais comuns usados em tecnologias de dessalinização, que exigem peneiras ainda menores.
Um pedaço de aerogel de grafeno – pesando apenas 0,16 miligramas por centímetro cúbico – é colocado em cima de uma flor
Pesquisas anteriores da Universidade de Manchester descobriram que, se imersas em água, as membranas de óxido de grafeno se tornam ligeiramente inchadas e os sais menores fluem através da membrana juntamente com a água, mas íons ou moléculas maiores são bloqueados.
Uma membrana de grafeno
28
REVISTA AMAZÔNIA
O grupo baseado em Manchester desenvolveu ainda mais estas membranas de grafeno e encontrou uma estratégia para evitar o inchaço da membrana quando exposto à água. O tamanho de poro na membrana pode ser controlado com precisão que pode peneirar sais comuns de água salgada e torná-la segura para beber. Como os efeitos da mudança climática continuam a reduzir o abastecimento de água da cidade moderna, os países ricos modernos também estão investindo em tecnologias de dessalinização. Após as graves inundações na Califórnia grandes cidades ricas também estão procurando cada vez mais soluções alternativas de água. Quando os sais comuns são dissolvidos na água, eles sempre formam uma “concha” de moléculas de água em torno das moléculas de sais. Isso permite que os capilares minúsculos das membranas de óxido de grafeno para bloquear o sal de fluir junto com a água. Moléculas de água são capazes de passar através da barreira da membrana e fluxo anomalamente rápido que é ideal para a aplicação destas membranas para dessalinização.
revistaamazonia.com.br
Quando os sais comuns são dissolvidos na água, uma “concha” de moléculas de água se forma em torno das moléculas de sal. Isso permite que os capilares minúsculos das membranas de óxido de grafeno para bloquear o sal de fluir junto com a água
Dr. Rahul Nair demonstrando estrutura de grafeno
O professor Rahul Nair, da Universidade de Manchester, disse: “A realização de membranas escaláveis com tamanho de poro uniforme até a escala atômica é um passo significativo em frente e abrirá novas possibilidades para melhorar a eficiência da tecnologia de dessalinização. “Esta é a primeira experiência clara neste regime. Temos O filtro de grafeno pode ser particularmente útil em países que não podem pagar grandes instalações de dessalinização
revistaamazonia.com.br
também demonstrdo que existem possibilidades realistas para expandir a abordagem descrita e massa produzir membranas à base de grafeno com tamanhos de peneira necessários. O Sr. Jijo Abraham e o Dr. Vasu Siddeswara Kalangi foram os autores conjuntos no trabalho de pesquisa: “As membranas desenvolvidas não são apenas úteis para a dessalinização, mas a tunabilidade da escala atômica do tamanho dos poros também abre novas oportunidades para fabricar membranas com demandas de filtragem capaz de filtrar os íons de acordo com seus tamanhos”, disse o Sr. Abraham. Em 2025, a ONU espera que 14% da população mundial enfrente escassez de água. Esta tecnologia tem o potencial de revolucionar a filtragem de água em todo o mundo, em particular nos países que não podem comprar grandes instalações de dessalinização. Espera-se que os sistemas de membrana de óxido de grafeno possam ser construídos em pequenas escalas tornando esta tecnologia acessível a países que não têm a infraestrutura financeira para financiar grandes plantas sem comprometer o rendimento de água doce produzida.
REVISTA AMAZÔNIA
29
52% dos brasileiros acreditam que as águas residuais ameaçam o abastecimento da água potável Brasil, junto com a Colômbia, ocupa penúltimo lugar em ranking dos 24 países que confiam nas práticas atuais dos recursos hídricos residuais
C
riado pela ONU, o Dia Mundial da Água é celebrado neste ano, com o tema é “Águas Residuais” – que são as que procedem de uso doméstico, comercial ou industrial. Tendo em vista a importância do tema, a Ipsos realizou uma Pesquisa Global, em 24 países e o estudo aponta que 34% dos participantes mundiais confiam no sistema e não acreditam que as águas residuais sejam uma ameaça ao abastecimento de água potável em seu país.
30
REVISTA AMAZÔNIA
Os mais otimistas sobre as práticas atuais dos recursos hídricos residuais são Hungria (67%), Alemanha (60%) e Grã-Bretanha (52%). Por outro lado, o Brasil está em penúltimo lugar no ranking, empatado com a Colômbia, e a Sérvia na última colocação. Nos dois países, apenas 17% da população confiam que as águas residuais são efetivamente tratadas. Para 52% dos brasileiros, águas residuais podem representar uma ameaça ao abastecimento de água limpa, porque não concordam que elas sejam efetivamente tratadas.
Já quando os entrevistados foram questionados se o crescimento industrial e residencial vai colocar o abastecimento de água limpa em risco daqui 5 a 10 anos, 48% concordam com o pensamento. As nações que mais se preocupam com o impacto do aumento residencial são Colômbia (69%), Sérvia (68%) e Argentina e Chile, empatados na terceira colocação, com 64%. No Brasil, 49% se afligem com este crescimento enquanto 19% não acreditam que o aumento residencial impactará negativamente. “Cada vez mais, governos e organizações do setor privado estão implementando mudanças com o intuito de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável indicados pela ONU. Assegurar um tratamento adequado das águas residuais ajudará os países a garantirem a disponibilidade, a gestão sustentável da água e do saneamento para todos. Este estudo mostra que a maioria dos cidadãos mundiais não têm confiança nos atuais sistemas de tratamento de águas residuais e estão preocupados com o impacto
revistaamazonia.com.br
do crescimento, visto o risco que ele representa para o abastecimento de água potável no futuro. Especificamente os brasileiros são pessimistas com essa prática, pois historicamente o Brasil é um país relapso com seus recursos hídricos e carente de planejamento urbano, causando sérios impactos na gestão sustentável de seus recursos e comprometendo a qualidade de vida das pessoas”, afirma Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs. Realizada entre 17 de
fevereiro e 3 de março, a pesquisa aconteceu em 24 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, México, Peru, Polônia, Rússia, Sérvia, Suécia e Turquia. Foram entrevistadas 18.070 pessoas, sendo adultos de 18 a 64 anos nos Estados Unidos e no Canadá e de 16 e 64 anos nos demais países. A margem de erro é de 3,5%.
Águas residuais, uma ameaça ao abastecimento de água potável do país?
revistaamazonia.com.br
Ipsos
A Ipsos é uma empresa independente global na área de pesquisa de mercado presente em 88 países. A companhia tem mais de 5 mil clientes e ocupa a terceira posição na indústria de pesquisa. Maior empresa de pesquisa eleitoral do mundo, a Ipsos atua ainda nas áreas de publicidade, fidelização de clientes, marketing, mídia, opinião pública e coleta de dados. Os pesquisadores da Ipsos avaliam o potencial do mercado e interpretam as tendências. Desenvolvem e constroem marcas, ajudam os clientes a construírem relacionamento de longo prazo com seus parceiros, testam publicidade e analisam audiência, medem a opinião pública ao redor do mundo. Para mais informações, acesse: www.ipsos.com.br REVISTA AMAZÔNIA
31
Água,
bem precioso e
escasso Água para o Crescimento Sustentável
E
specialistas de todo mundo se encontraram, como o fazem anualmente em Estocolmo, para a Semana Mundial da Água – o ponto de referência anual para as questões da água do globo (de agosto à 02 de setembro). Apesar de vital, o acesso fácil à água potável ainda não é algo normal e evidente no planeta Terra. Este ano, o tema foi: Água para o Crescimento Sustentável. Era também o 20º jubileu do Prêmio Estocolmo Júnior de água. Especialistas, profissionais, decisores, os inovadores de negócios e jovens profissionais de uma gama de setores e países foram a Estocolmo, trocar idéias, novos pensamentos, fomentar e desenvolver soluções para os desafios relacionados com a água mais prementes de hoje. Acreditamos que a água é fundamental para a nossa prosperidade futura, e que juntos, podemos alcançar um mundo sábio sobre a água.
Muita água, pouca para beber A sobrevivência humana depende da água e, apesar de mais de 70% da Terra ser coberta pelo líquido, isso não significa que ela esteja disponível em abundância. Dos 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos existentes em nosso planeta, apenas 2,5% são potáveis. E das reservas globais de água doce, apenas 0,3% é de acesso relativamente fácil, em rios ou lagos.
Mais gente precisa de mais água
Desde 1950, a demanda mundial por água cresceu cerca de 40%, e aumentará ainda mais devido ao crescimento populacional global. O uso excessivo e a poluição tornam as reservas de água doce cada vez mais raras. A escassez severa afeta principalmente os países ao sul da Linha do Equador. 32
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Alimentos de alto consumo hídrico
Escassez apesar do Amazonas Até mesmo em países como o Brasil – cujo Amazonas é o rio mais rico em água doce do planeta – sofrem com a escassez do fluído precioso. O contínuo desmatamento da floresta amazônica alterou as condições climáticas no continente sul-americano, resultando em cada vez menos chuvas no restante do país
Também na Europa o cultivo de consumo hídrico intensivo é um problema; especialmente na Espanha, onde, em cerca de 30 mil hectares de plantações, se produz grande parte dos produtos agrícolas da Europa. Volta e meia, poços são drenados ilegalmente e deixados secos ou salobros. O tratamento das águas subterrâneas é extremamente caro e depende de subsídios públicos.
Seca do século Em 2015, a falta de chuva no Brasil até acarretou a pior seca dos últimos 80 anos. Durante o verão inteiro praticamente não houve nenhuma precipitação pluvial. Os grandes reservatórios ficaram vazios, e a população de São Paulo sofreu racionamento. Apesar disso, os grandes plantadores de frutas seguiram sendo abastecidos com enormes volumes d’água para a rega de seus campos. revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
33
Baixo estresse (<10%) Baixo ao médio estresse (10-20%) Médio a alto estresse (20-40%) Alto estresse (40-80%) Extremamente alto estresse (> 80%)
70% da nossa Terra é coberta de água e desses 70%, apenas 2,5% é água doce Dessa quantidade minúscula de água doce, menos de 1% é acessível aos humanos em fontes como rios, riachos e lagos. Muitos americanos subestimam o valor da água doce. Então, quando você adicionar variáveis como a água contaminada para a pequena quantidade de água limpa em determinadas áreas, torna-se ainda mais difícil de alcançar com áreas como a África Sub-Sahariana que sofrem as consequências negativas de água insalubres. A forma como as pessoas tratam o nosso mundo, destruindo o meio ambiente muito mais rápido do que podemos limpá-lo, nossas fontes de água estão diminuindo todos os dias e algo deve ser feito sobre isso. Aqui no mapa acima, para colocar em perspectiva o quanto de estresse certos países têm para encontrar água doce.
15.400 litros para um quilo de carne
Mais água ainda é empregada na produção de carne bovina. Para um quilo de carne, são necessários 15.400 litros d’água, principalmente no cultivo da comida para o gado. Com a melhora da qualidade de vida em países como a China e o consequente aumento do consumo de carne, estima-se que o dispêndio crescerá acentuadamente nos próximos anos. 34
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Mudança climática agrava escassez As perspectivas futuras do planeta tampouco inspiram otimismo: devido à mudança climática, 40% mais seres humanos serão afetados pela falta d’água, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam. A escassez será sentida principalmente no sul da China, sul dos EUA, Oriente Médio e na região do Mar Mediterrâneo.
Canais entre sul e norte da China O país mais populoso do mundo já enfrenta problemas suficientes com o “ouro líquido”: em algumas províncias do norte da China, os cidadãos têm menos água per capita do que nas regiões desérticas do Oriente Médio. O governo compensa transportando a água doce do sul para o norte em enormes canais. Contudo também se estima que 80% das águas subterrâneas do país estejam contaminadas.
/OlimpioCarneiro @olimpiocarneiro
Receptivo em Manaus
revistaamazonia.com.br
www.olimpiocarneiro.com.br reservasolimpiocarneiro@gmail.com (92) 99261-5035 / 98176-9555 / 99213-0561 REVISTA AMAZÔNIA 35
“Água solar: experiências em comunidades indígenas” A mostra destaca a tecnologia social água Box e os espaços de aplicação do que equipamento de desinfecção solar de água. A fotógrafa alemã Katie Mähler acompanhou de perto a instalação do purificador de água em 12 comunidades da Amazônia por *Luciete Pedrosa
Fotos: Acervo de Katie Mähler e Cimone Barros/INPA
P
ara a instalação de unidades do purificador solar de água – o Água Box, em áreas remotas da Amazônia, a equipe do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTIC) contou com a colaboração de ribeirinhos e indígenas, num trabalho em regime de mutirão, fortalecendo os laços entre as comunidades e a ciência. Através de suas lentes, a fotógrafa Katie Mähler registrou esta história que está em cartaz no Paiol da Cultura, no Bosque da Ciência. Katie Mähler retratou a sociedade, a saúde e o ambiente durante as instalações do Água Box nas comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia. Foram registrados desde os ajustes dos componentes do equipamento e ensaios de campos que apontavam a necessidade de melhorias que foram aperfeiçoadas no laboratório do Inpa pelo pesquisador Roland Vetter, até o esforço da comunidade em superar obstáculos encontrados na floresta, como cortar troncos para erguer a base onde ficaria o Água Box. “A participação comunitária, fornecendo materiais e mão-de-obra local ajudou na redução do custo de instalação dos equipamentos”, diz a fotógrafa que registrou vários momentos como este. Uma das 22 fotos da exposição “Água solar: experiências em comunidades indígenas” mostra o Centro
MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.
Algumas das belas fotos de Katie Maehler mostrando o Água Box nas comunidades
• Econômico para você que quer abrir uma empresa; • Ideal • Flexível para quem precisa fazer reuniões eventuais; • Prático Ligue agora! (92) 3878.2600
36
REVISTA AMAZÔNIA
Rua Salvador, 120 - 12º Andar Vieiralves Business Center Adrianópolis - Manaus/AM
revistaamazonia.com.br
a;
s;
Mostrando a instalação de um aparelho do Água Box
Embaixador da Alemanha no Brasil Georg Witschel (de azul) em visita a exposição
A fotógrafa alemã Katie Mähler
Comunitário Deni, na reserva indígena dos Deni, onde o Água Box foi instalado. A versatilidade do equipamento, por meio da aplicação de um sistema simples e eficaz de filtragem, permite o consumo de água de qualidade sem riscos à saúde humana. O equipamento é um sistema de desinfecção solar de água que proporciona aos povos da floresta água saudável e a certeza de saúde para as famílias. Já na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Catuá/ Ipixuna, em Tefé, foi registrada a ajuda da comunidade que também foi fundamental para a correta instalação, num flutuante às margens do rio Solimões, da placa solar que otimiza o funcionamento do sistema revistaamazonia.com.br
de purificação da tecnologia social desenvolvida por Rolland Vetter, que idealizou a tecnologia social com apoio do Inpa em Manaus (AM) e de colaboradores na Alemanha. Até o momento, o Inpa instalou cerca de 36 aparelhos do Água Box em 17 comunidades, na Amazônia, incluindo Moçambique, na África. Em visita ao Inpa, a comitiva do embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, aproveitou a oportunidade para prestigiar a exposição fotográfica “Água solar: experiência em comunidades indígenas”, da alemã Katie Mähler, que acontece no Paiol da Cultura. [*] Ascom Inpa
Segundo a fotógrafa, as imagens foram captadas no período de março a agosto do ano passado, em pelo menos 12 comunidades ribeirinhas próximas a Tefé (distante a 523 quilômetros de Manaus-AM) e nas aldeias indígenas Deni e Kanamari (no rio Xeruã, afluente do rio Juruá, a dez dias de barco da capital amazonense) onde o purificador de água foi instalado. “A exposição mostra o benefício que o Água Box trouxe para as comunidades”, diz a fotógrafa. “Ainda hoje as pessoas sofrem com doenças diarréicas, e muitas já morreram porque não tinham água limpa”, conta Mähler, que atuou como colaboradora nas atividades do inventor do água Box, o pesquisador do Inpa, o alemão Roland Vetter. Ao todo, são 22 fotos de tamanhos variados que são resultados, principalmente de um “intensivão” de dois meses de convivência da fotógrafa nas aldeias e nas comunidades ribeirinhas, além de outras duas semanas confinada em um barco. O água Box é considerado um modelo de utilidade por utilizar materiais e equipamentos para melhorar a vida das pessoas. Até o Exército Brasileiro se interessou pela tecnologia social, que por meio de uma parceria firmada em novembro de 2015 possibilitou a adaptação do purificador para uma mochila para ser usado por militares em operações de selva. Para a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Denise Gutierrez, a mostra é uma oportunidade de divulgação das experiências de campo que o Instituto desenvolve. “O Inpa tem estado presente em comunidades do interior e esta é uma maneira de dar visibilidade a este tipo de trabalho com uma linguagem visual e de uma maneira artística”, diz a coordenadora. Ainda de acordo com Gutierrez, o projeto da fotógrafa Katie Mähler é importante para registrar o trabalho do Inpa e sensibilizar a sociedade para a questão da falta de acesso a água potável, especialmente a comunidade indígena que é mais negligenciada. A exposição ficará em cartaz no Paiol da Cultura até o dia 7 de abril, das 9h às 17h. REVISTA AMAZÔNIA
37
Rio Amazonas tem menos, 9 milhões de anos. É muito mais velho do que se pensava Estudos anteriores apontavam para que o rio tivesse “apenas” 2,6 milhões de anos
Fotos: ESA, Jordi Burch/Kameraphoto, Mark de Rond
o professor Farid Chemale, autor sênior da Universidade de Brasília (atualmente na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo)
Os resultados mostram uma mudança na composição do sedimento e na matéria residual da planta durante o Mioceno tardio (9,4 a 9 Ma). Isto representa uma mudança na área de fonte do rio das planícies tropicais aos Andes altos, que é diagnóstico do início do Rio Amazonas transcontinental. Os novos dados contradizem estimativas mais recentes (cerca de 2,6 Ma) que foram propostos na literatura recente e estimativas posteriores a um estudo anterior deste furo em cerca de 1 a 1,5 milhões de anos.
Dra. Carina Hoorn, autora principal e pesquisadora do Instituto de Biodiversidade e Dinâmica do Ecossistema da UvA
Sedimentos registram história evolutiva
P
O Hamza, uma corrente de água subterrânea passa por baixo do rio Amazonas, no Brasil
esquisadores da Universidade de Amsterdã (UvA) e da Universidade de Brasília, determinaram a idade de formação do rio Amazonas entre 9,4 e 9 milhões de anos atrás (Ma) com dados que refutam de forma convincente estimativas mais recentes. 38
REVISTA AMAZÔNIA
O estudo compreendeu análises geoquímicas e palynological de sedimentos de um furo de exploração de hidrocarboneto, localizado offshore do Brasil, que atingiu mais de 4,5 quilômetros abaixo do nível do mar (provavelmente no Hamza, uma corrente de água subterrânea passa por baixo do rio Amazonas).
“Fomos capazes de diminuir a idade de início do Rio Amazonas, porque nós amostrados o intervalo de transição em uma seção clássica do fã submarino da Amazônia, onde os sedimentos transportados por este rio são depositados e, como resultado registrar com precisão a sua história evolutiva. Aplicamos técnicas analíticas de alta resolução, não realizadas anteriormente na região “, diz o professor Farid Chemale, autor sênior da Universidade de Brasília (atualmente na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo). O estudo também dá novos insights sobre as mudanças globais na composição das plantas na bacia de drenagem da Amazônia. Particularmente, o aumento de relva continua a sugerir que as mudanças climáticas do Monte e do Quaternário afetaram fortemente a paisagem e provavelmente abriram novos habitats para a colonização da gramínea. revistaamazonia.com.br
Mudanças dramáticas “As mudanças detectadas no registro de sedimentos levam à tentadora questão de se a região amazônica poderia ter mudado dramaticamente durante o resfriamento global Plio-Pleistoceno”, diz a Dra. Carina Hoorn, autora principal e pesquisadora do Instituto de Biodiversidade e Dinâmica do Ecossistema da UvA. “Nossos novos dados confirmam uma velhice para o rio Amazonas e também apontar para uma expansão de pastagens durante o Pleistoceno que não era conhecido antes. Outras investigações sobre a terra e sobre o mar podem dar mais respostas, mas exigirão investimentos em perfurações continentais e marítimas.
Rio Amazonas, pelo satélite da ESA
A maior bacia hidrográfica de todos os rios
O rio Amazonas contribui cerca de um quinto do total de água doce que chega aos oceanos
O Rio Amazonas contribui com um quinto do abastecimento total de água doce para os oceanos globais e tem a maior bacia de drenagem de todos os rios ao redor do mundo. O início do rio é um momento decisivo na reorganização da paleogeografia da América do Sul, formando uma ponte e um divisor para a biota na paisagem amazônica. A história do Rio Amazonas e sua bacia de drenagem são difíceis de desvendar, já que o registro continental é escasso e fragmentado. O registro marinho é mais completo, mas é igualmente difícil de acessar. Os aventais do sedimento na proximidade dos rios principais prende frequentemente registros contínuos do material terrestre acumulado pelo rio sobre o tempo. Esses registros fornecem uma visão única sobre o clima histórico, geografia e bioma evolução da terra. O Rio Amazonas tem a maior bacia de drenagem de todos os rios ao redor do mundo
Projeto Clim-Amazon
A pesquisa foi realizada no contexto do projeto Clim-Amazônia, uma iniciativa científica conjunta Brasil-Europa para a pesquisa climática e geodinâmica no sedimento da Bacia Amazônica e é apoiada pela União Européia (UE) através do FP7 (Sétimo Programa-Quadro Investigação e Desenvolvimento Tecnológico). revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
39
Riqueza cultural entre índios no Brasil
900 mil índios se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas por Denise Griesinger
O
Atlas Digital do Brasil 2016, integra o mais detalhado estudo já feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os povos indígenas brasileiros, baseado no Censo de 2010. O Censo de 2010 constatou que, de uma população de 899,9 mil indígenas existentes em todo o país, 517,4 mil (57,8%) viviam em Terras Indígenas oficialmente reconhecidas na época da realização da pesquisa,
40
REVISTA AMAZÔNIA
Fotos: Divulgação,IBGE, Marcelo Camargo/Agência Brasil
Atlas Digital do Brasil 2016, mostra riqueza cultural entre índios no Brasil
outros 298,871 mil (33,3%) viviam em áreas urbanas, principalmente nos grandes centros; e outros 80,663 mil (8,9%) habitavam áreas rurais, aí incluídas terras indígenas não reconhecidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Os dados fazem parte do primeiro Caderno Temático sobre a população indígena e constam do Atlas Digital do Brasil 2016, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou com mapas interativos com o aprimoramento do Censo Demo-
gráfico 2010, sobre a distribuição da população indígena no território nacional. De acordo com os dados, a maioria destes 57,7% se concentra nas regiões Norte e Centro-Oeste. Na Região Norte, este percentual chega a 73,5% e no Centro-Oeste 73,5% dos indígenas estão em território demarcado. Roraima é o estado brasileiro que detém o maior percentual de indígenas em terras demarcadas (83,2%) e o Rio de Janeiro, o menor, com apenas 2,8% do total.
revistaamazonia.com.br
Taxa de Fecundidade Segundo a demógrafa de mapeamento populacional Indígena do IBGE Nilza de Oliveira Martins, existe uma variação na taxa de fecundidade entre as populações indígenas que moram na cidade, em áreas rurais e em reservas oficialmente reconhecidas pela Funai, sendo maior entre este último grupo. Para o levantamento, o IBGE considerou a proporção de crianças até quatro anos, em relação a mulheres entre 15 e 49 anos. Em terras indígenas, essa proporção era de 74 crianças para cada grupo de 100 mulheres, o que resulta em taxa de fecundidade de aproximadamente 5 filhos para cada mulher. Nas áreas rurais, a proporção cai um pouco: são 54 crianças para cada grupo de 100 mulheres (4,2 filhos por mulher). Já nos centros urbanos a média cai para menos da metade: 20 crianças para cada 100 mulheres (1,6 filho por mulher). “Isto comprova que há um envelhecimento significativo da população indígena que vive em áreas urbanas do país, principalmente nos grandes centros. Esta taxa de fecundidade entre os indígenas que vivem nas áreas urbanas é ainda maior do que a taxa de fecundidade para o total da população brasileira de uma maneira geral, que é de 1,9 filhos por cada mulher”, disse.
Reconhecimento
A taxa de fecundidade entre as populações indígenas é maior em áreas rurais e em reservas oficialmente reconhecidas pela Funai
a dar maior visibilidade a esse segmento da população e mapear estas informações. O Caderno Temático identificou 274 línguas indígenas no Brasil. Em áreas demarcadas, 57,3% de indígenas com mais de cinco anos falam ao menos uma dessas línguas, enquanto em áreas urbanas, o percentual cai para 9,7%. Em áreas rurais, este percentual chega a 24,6%. Em uma análise regional, as línguas indígenas são faladas em maior porcentagem nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. Esta última região concentra o percentual mais elevado do país, com 72,4% dos indígenas que vivem em Terras Indígenas demarcadas falando alguma dessas línguas.
De acordo com o Atlas Digital do Brasil, 75% das pessoas que se declararam indígenas no país souberam informar o nome de sua etnia ou o povo ao qual pertencem. As etnias mais representativas, segundo as unidades da federação, revelaram características determinantes de possíveis padrões de distribuição espacial de algumas delas. Os Xavantes, por exemplo, estão entre os mais numerosos em todos os estados da região Centro-Oeste, e os Guarani Kaiowá, com penetração em toda região Sul e parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste. A publicação, cujo lançamento inaugura a política do IBGE de divulgação anual do Atlas Nacional Digital do Brasil, analisa as características sociodemográficas dentro e fora das Terras Indígenas, de forma
Atlas O Atlas Nacional Digital do Brasil 2016 incorpora, em ambiente interativo, as informações contidas no Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, publicado em 2010, acrescidas de 170 mapas com informações demográficas, econômicas e sociais atualizadas e o Caderno Temático sobre a população indígena no Brasil. Segundo o IBGE, o Atlas “revela as profundas transformações ocorridas na geografia brasileira, acompanhando as mudanças observadas no processo de ocupação do território nacional na contemporaneidade”. O Atlas se estrutura em torno de quatro grandes temas: o
Versão digital do Atlas permite navegar e fazer o download de 780 mapas. O aprimoramento do Censo Demográfico 2010 permite análises regionais das informações através do um amplo cruzamento de dados sociodemográficos
Brasil no mundo; Território e meio ambiente; Sociedade e economia; e Redes geográficas. Além do texto escrito, o Atlas utiliza mapas, tabelas e gráficos, “o que permite um amplo cruzamento de dados estatísticos e feições geográficas que tornam flexível e abrangente a seleção de informações, permitindo o entendimento aproximado da diversidade demográfica, social, econômica, ambiental e cultural do imenso território brasileiro”.
revistaamazonia.com.br
O IBGE identificou 274 línguas indígenas no Brasil
REVISTA AMAZÔNIA
41
Roraima é o estado brasileiro que detém o maior percentual de indígenas em terras demarcadas (83,2%)
Aplicativo O IBGE lançou também um aplicativo que para navegação em ambiente interativo que permite aos usuários - que queiram ter acesso somente ao conjunto de mapas ou aos que possuem conhecimento mais
Há um envelhecimento significativo da população indígena
avançado quanto à busca de informações geográficas on line - ter acesso a todas as páginas da publicação, podendo fazer download e consultar dados geográficos, estatísticos e metadados. “A aplicação possibilita também analisar os 780 mapas do Atlas em um ambiente
interativo, que permite a navegação pelo mapa, alterar a escala de visualização, ver e exportar tabelas e arquivos gráficos, personalizar o mapa superpondo temas de várias fontes, gerar imagens, salvar o ambiente de estudo para posterior análise e abrir um ambiente personalizado de estudo”.
Mapas com informações demográficas, econômicas e sociais atualizadas sobre a população indígena no Brasil. O IBGE atualizou os mapas digitais e fez um caderno temático sobre a população indígena
42
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
revistaamazonia.com.br
Enersolar Anuncio Credenciamento 20,5x27.indd 1
REVISTA AMAZÃ&#x201D;NIA
1
14/12/16 16:39
O que a mudança climática está fazendo com o mar Impactos climáticos em pontos quentes globais da biodiversidade marinha por Miguel Ángel Criado
C
Fotos: F. Ramírez, I. Afán, L. S. Davis Y A. Chiaradia
O mapa mostra as regiões com maior riqueza de espécies, em vermelho, e as que têm menos biodiversidade
ientistas identificam seis áreas a proteger do aquecimento global para salvar a vida marinha. A mudança climática está alterando as condições de vida em todos os mares do planeta. A temperatura das águas superficiais está aumentando, o fitoplâncton, base de toda a cadeia alimentar, está diminuindo, e as correntes marinhas estão mudando. Somados, todos esses fatores já estão tendo um impacto sobre as espécies marinhas. Um estudo identificou seis grandes áreas do planeta que precisariam ser protegidas para que continue havendo vida no mar. Pesquisadores australianos, neozelandeses e espanhóis usaram dados colhidos ao longo de 30 anos por uma constelação de satélites para saber o que a mudança climática está causando nos mares do planeta. O mapa resultante desse trabalho tem uma resolução geográfica inédita. 44
REVISTA AMAZÔNIA
Índice de impacto cumulativo de mudanças igualmente ponderadas em SST, CHL (um proxy para a produtividade primária) e correntes oceânicas. As cores representam um índice sem dimensão de impacto global (Índice de Impacto Acumulativo) que varia de 0 (sem alteração) a 1 (alteração máxima), proporcionando uma medida de heterogeneidade espacial na magnitude das alterações ambientais e destacando as áreas marinhas que sofreram as maiores alterações Em suas condições ambientais
revistaamazonia.com.br
Embora a física básica diga que as condições em um meio líquido acabam sendo iguais em todas as partes, na imensidão do oceano as coisas não são bem assim. Por isso, o aquecimento global não está sendo igual em todas as águas, e não é só uma questão da latitude. “Na coluna de água, a mais quente e menos densa sobe à superfície, enquanto a mais fria afunda”, explica o ecologista Francisco Ramírez, da Estação Biológica da Doñana,no sur da Espanha, ligada ao Conselho Superior de Pesquisas Científicas desse pais, e principal autor do estudo. “O aquecimento oceânico afeta especialmente as águas superficiais”, acrescenta. É nessa fina camada de água onde a vida marinha começa. É aqui onde ocorre o milagre: o encontro entre a luz e a água, ingredientes necessários para que a clorofila do fitoplâncton marinho faça a fotossíntese. Esse verdor é o que sustenta toda a cadeia trófica, do krill às baleias, passando pelos albatrozes e os tubarões. O estudo, publicado na Science Advances, mostra duas tendências contrapostas. Por um lado, que o aquecimento das águas superficiais não parou de aumentar desde a década de 1980. Por outro, que a concentração de clorofila por metro cúbico vem diminuindo desde então. O trabalho também mediu uma terceira variável: as correntes marinhas, responsáveis por distribuir o calor por todo o planeta, afetando o clima como um todo. Embora haja uma grande heterogeneidade, em geral esses rios marinhos estão se desacelerando. Combinando esses três grandes fenômenos e sua manifestação concreta em cada zona, os pesquisadores puderam medir o impacto da mudança climática em escala regional e até local. Assim, as regiões polares são as que estão sofrendo um maior aumento relativo da temperatura das suas águas.
Os pontos quentes marinhos (topo) foram identificados com base na informação espacialmente explícita sobre a distribuição igualmente ponderada de peixes (1729), mamíferos marinhos (124) e espécies de aves marinhas (330). As cores representam um índice adimensional de biodiversidade que varia de 0 (ausência de espécies) a 1 (riqueza máxima de espécies). Os pontos quentes incluem 0,5 ° pixels com valores de biodiversidade sobre o percentil 95 superior. As parcelas de densidade representam a distribuição das alterações ambientais que ocorrem nos pontos quentes da biodiversidade marinha eo Índice de Impacto Cumulativo derivado, ou seja, o número de 1 ° pixels dentro de cada ponto quente e com um determinado valor para as magnitudes estimadas de cada alteração ambiental. Desta forma, objetivou-se ressaltar a idéia de que os impactos climáticos podem variar localmente dentro de pontos quentes definidos, uma vez que as parcelas de densidade se estendem sobre uma faixa de valores abaixo e acima de zero, o que não significa mudança.
EXPRESSO
MATRIZ: ANANINDEUA-PA BR 316 - KM 5, S/N - ANEXO AO POSTO UBN EXPRESS ÁGUAS LINDAS - CEP: 67020-000 FONE: (91) 3321-5200
VAMOS + LONGE POR VOCÊ !
revistaamazonia.com.br
FILIAIS: GUARULHOS-SP FONE: (11) 2303-1745
MACAPÁ-AP FONE: (96) 3251-8379 REVISTA AMAZÔNIA
45
A mudança climática está alterando as condições de vida em todos os mares do planeta
As capturas médias de capturas (em toneladas métricas) para o período 2000-2013 estão representadas por país e AMF (topo). As tendências das capturas de pesca (inclinação da tendência linear para o período 1950-2013) também estão representadas por país e AMF (meio). Os países que mais contribuem para capturas de pesca nas AMF que se sobrepõem em grande medida com os pontos quentes da biodiversidade marinha são destacados em cinza escuro (parte inferior). Todos eles possuem ZEEs soberanas sobrepostas a pontos quentes marinhos, com exceção da Espanha. Lá, além do mais, entra na equação a água doce do degelo. No caso do Hemisfério Norte, isso está alterando o arranjo das correntes marinhas. Tanto o Atlântico norte como a faixa mais setentrional do Pacífico estão sofrendo um aquecimento cujo impacto sobre a biodiversidade marinha ainda está por determinar. “Enquanto isso, nas regiões próximas ao Equador, em particular no Pacífico, a velocidade da corrente oceânica está se reduzindo”, comenta Ramírez. Os pesquisadores argumentam que ainda é cedo para determinar 46
REVISTA AMAZÔNIA
o impacto dessas mudanças sobre a vida marinha. “Haverá espécies que sairão perdendo e outras que vão se dar bem”, acrescenta o ecologista espanhol. Mas a soma total dos impactos poderia provocar uma homogeneização dos ecossistemas. As espécies mais especializadas ou dependentes das condições locais poderiam sucumbir diante da maior capacidade de adaptação das mais generalistas. Partindo dessa situação, os pesquisadores identificaram seis grandes áreas marinhas que, por sua riqueza de vida, teriam de ser
protegidas a fim de assegurar um mínimo de biodiversidade. Para isso usaram dados de outras pesquisas sobre a distribuição global de 1.729 espécies de peixes, 124 espécies de mamíferos marinhos e 330 espécies de aves. O estudo destaca a região marinha do Pacífico oriental, na costa do Peru e ao redor das ilhas Galápagos. Na América, destaca-se também a região da costa argentina e arredores das ilhas Malvinas. Na África, a região alimentada pela corrente de Benguela, no Atlântico sul, e a que sobe pelo Índico, em frente a Madagascar. Outra das regiões a proteger é banhada pelos mares da China e Filipinas, no Sudeste Asiático. Uma quinta vai do sul da Austrália até o leste da ilha-continente, acompanhando a Grande Barreira de Coral. A sexta região fica no Pacífico central e banha as ilhas da Polinésia. “O problema é que, em geral, o impacto da mudança climática está sendo mais intenso nessas áreas”, destaca Ramírez. E há outro problema também de origem humana: dada sua grande riqueza biológica, essas regiões são as que mais atraem a indústria pesqueira. Duas delas, por exemplo, estão nas chamadas zonas econômicas exclusivas da China, Indonésia e Peru, as três principais potências pesqueiras, segundo a FAO. E outras, como a área do sul da África, recebem navios de outras potências mais longínquas, como a Espanha.
revistaamazonia.com.br
6º Prêmio Fecomercio de SuStentabilidade
O 6º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade já está com suas inscrições abertas. O prêmio tem como objetivo conscientizar e reconhecer iniciativas sustentáveis inovadoras para contribuir e melhorar o processo produtivo e poupar os recursos para as futuras gerações e criar novos modelos de negócios. categorias Empresa, Entidade empresarial, Indústria, Órgão público, Academia e Jornalismo
regulamento, inscrições e mais informações www.fecomercio.com.br/premio/sustentabilidade
Com os objetivos de conhecer as necessidades da população em situação de vulnerabilidade social que vive na Amazônia e buscar soluções para os problemas sociais da região por Inara Soares, Lidiane Sousa
Fotos: Cláudio Santos, Cristino Martins/Ag. Pará, Patrick Grosner/MDSA
O
evento, realizado no Hotel Princesa Louçã, em Belém, com a participação de representantes de instituições da área no Brasil e mais oito países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru, República da Guiana, Suriname e Venezuela, debateu as necessidades da população em situação de vulnerabilidade social que vive na Amazônia e busca soluções para os problemas da região. A cerimônia de abertura, contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra e do governador Simão Jatene, entre outras autoridades locais e internacionais. “Esta é uma nova articulação que se faz na área social para trocar experiências e convergir agendas. Os desafios aqui são enormes, mas podem ser equacionados e podemos avançar e melhorar muito o que se faz hoje. Nós temos muita coisa para conversar e para aprender e até para sugerir para os países vizinhos também”, afirmou o ministro Osmar Terra. O governador Simão Jatene festejou a realização do evento e a oportunidade de discussão entre representantes dos países e Estados que compõem a Amazônia para a melhoria das condições de vida da população da região. Esta é uma nova articulação que se faz na área social para trocar experiências e convergir agendas, afirmou o ministro Osmar Terra
48
REVISTA AMAZÔNIA
Osmar Terra, Ministro do Desenvolvimento Social e Agrátrio (MDSA), abriu o Seminário Pan-Amazônico
“A Amazônia tem sido muito fértil na produção de mitos, mas isso não tem contribuído para que se tenha efetivamente uma agenda global e uma agenda nacional que compreenda que esse País jamais será desenvolvido se 60% de seu território (Amazônia) não estiver integrado e integrando efetivamente um projeto de desenvolvimento nacional”, afirmou. “Este é um momento para valorizarmos o que nos aproxima e não o que nos diferencia. Lamentavelmente o planeta e todos nós não fomos sábios ainda o suficiente para utilizarmos a nossa diversidade para reduzir as nossas desigualdades. E o grande desafio ainda é reduzir a pobreza e desigualdade”, pontuou o governador Simão Jatene. Para Jatene essa é uma oportunidade ímpar para traçar estratégias de um desenvolvimento atrelado cada vez mais à preservação ambiental, ponto que já vem sendo trabalhado pelo governo do Estado com o “Pará Sustentável”. “Esse é um programa que busca um novo padrão de desenvolvimento para a Amazônia e que, no nosso modo de ver, exige o que chamamos de uma tripla revolução, feita pelo conhecimento, produção e novas formas de gestão e governança”, destacou.
“Não queremos ser apenas um corredor de passagem ou um grande produtor de matérias-primas. A base extrativista que historicamente marcou a economia da região precisa ser rediscutida no sentido de garantir a internalização dos resultados e a melhoria da qualidade de vida da população que nela vive”, acrescentou. Para que o trabalho seja intensificado, é importante fazer articulações e parcerias estratégias. “São inúmeros os desafios para oferecer serviços púbicos para uma população geograficamente extensa, com difícil acesso e tamanha diversidade étnica e cultural. O Banco mundial é parceiro do MDSA há mais de uma década e esperamos que essa parceria possa gerar ainda mais frutos também no âmbito da região amazônica. Neste momento estamos reformulando a nossa estratégia de parceria com o Brasil e um dos eixos do documento vai ser como integrar o crescimento verde e o desenvolvimento sustentável, particularmente aqui na região amazônica”, adiantou o diretor do Banco Mundial para o Brasil, Martin Raiser. Mais de 200 pessoas devem participar da programação durante os cinco dias de encontro. Na oportunidade serão trabalhados,
revistaamazonia.com.br
Desafios na implantação de políticas sociais na Amazônia O O governador Simão Jatene reafirmou que os estados da Amazônia não querem ser apenas um corredor de passagem ou um grande produtor de matérias-primas
por meio de palestras e debates, temas que vão desde a assistência social até inclusão produtiva das populações, passando pela segurança alimentar e nutricional na Amazônia, pela transferência de renda, os cuidados com a primeira infância, entre outros. O encontro é direcionado a gestores públicos, representantes de povos e comunidades tradicionais e movimentos sociais, além de pesquisadores, acadêmicos e representantes de organizações internacionais.
Para que o trabalho seja intensificado, é importante fazer articulações e parcerias estratégicas afirmou o diretor do Banco Mundial para o Brasil, Martin Raiser
“É importante podermos discutir políticas públicas, experiências, vivências, conflitos, mas acima de tudo daqui se tirar um norte. Mas a programação não se dará apenas na teoria. Ela também inclui a visita a um Cras (Centro de Referência em Assistência Social) na área ribeirinha, em Outeiro, a uma área do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) dentro de uma área rural em Barcarena, e a uma área quilombola, no município do Acará, para que os participantes possam ver como as políticas públicas são trabalhadas na região amazônica”, acrescentou a secretária de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, Ana Cunha. O chamado Fator Amazônico deve ser considerado para a efetivação do Sistema Único de Assistência Social (Suas), destacou a secretária de estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, Ana Cunha
revistaamazonia.com.br
Palestrantes e representantes de outros países e estados discutiram os desafios para promover a sustentabilidade, igualdade, garantia de direitos e proteção social na região. “Grandes distâncias, curso dos rios como única opção de acesso, variações climáticas expressivas, a complexidade das vias de acesso aos municípios compromete o tempo de ação e eleva os custos de deslocamento. A variedade de grupos étnicos, como quilombolas, seringueiros, povos indígenas e ribeirinhos, compõe um verdadeiro mosaico sociocultural e merece atenção especial acerca de suas necessidades muito particulares. O chamado Fator Amazônico deve ser considerado para a efetivação do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Para bons resultados, é preciso considerar a extensão territorial e sua especificidade cultural”, destacou a secretária de estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, Ana Cunha. Segundo o palestrante e coordenador do programa Pará Social, Heitor Pinheiro, o programa se alinha integralmente com o objetivo do seminário pois, ao pensar numa proteção social com sustentabilidade, o evento traz a discussão num contexto mais amplo. “O tripé hoje remete para sustentabilidade, que é o desenvolvimento econômico, social e proteção ambiental. O fator amazônico também é uma realidade em outros países e por isso estamos discutindo ele para a região pan-amazônica, e não apenas para o Brasil”, ressaltou. Atualmente, 123 lanchas fluviais são utilizadas pelas equipes da assistência social na Amazônia no atendimento de famílias em situação de vulnerabilidade ou risco social, especialmente aquelas em situação de extrema pobreza
Segundo Douglas Carneiro (falando), que discorreu sobre o tema “Os desafios da oferta de políticas sociais na Amazônia”, as organizações têm papel fundamental na busca por alternativas de mobilidade
O Seminário debateu a exploração da Região ao longo de diversos períodos
A secretária de Trabalho e Assistência Social do Estado do Tocantins, Patrícia Amaral, destacou a importância do seminário para que o governo federal tenha um olhar mais diferenciado para as peculiaridades no que se refere aos serviços e proteção na Amazônia. “Temos uma mistura de cultura e de conhecimentos. Através desse seminário começamos a defender nossas diferenças pois, apesar de sermos um ser único em unidade territorial, temos as nossas peculiaridades que devem ser respeitadas para que as políticas públicas deixem de ser construídas voltadas apenas para o que Brasília quer, e sim pelo que as famílias, pessoas e todos os representantes de culturas diferentes precisam. Começamos aqui a dar som a uma voz que há muito tempo vinha calada”, destacou Patrícia. Segundo Douglas Carneiro, que discorreu sobre o tema “Os desafios da oferta de políticas sociais na Amazônia”, as organizações têm papel fundamental na busca por alternativas de mobilidade. “De fato o desafio da mobilidade nos territórios da Amazônia é um tema tanto para as organizações públicas quanto para as organizações da sociedade civil. Ambas têm uma potencialidade que pode ser explorada no sentido de conseguir apoio de parceiros que possam facilitar e disponibilizar formas de acesso às comunidades de uma forma mais ágil, por meio de tecnologias alternativas”, explicou.
Durante os debates sobre os desafios da implantação de políticas sociais e ambientais para a Amazônia
REVISTA AMAZÔNIA
49
A Secretária nacional de Assistência Social, Carminha Brant
Segundo Olave, o trabalho infantil apresenta muitas características comuns entre os países, como estar concentrado em atividades perigosas, nas zonas rurais, em setores econômicos como agricultura e pecuária, e até em atividades familiares.
Durante a abertura do Seminário Pan-Amazônico de Proteção Social
Trabalho infantil da América Latina A grande região amazônica, com seus nove países, concentra 50% do trabalho infantil de toda a América Latina. A estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é que a Amazônia tenha aproximadamente sete milhões de crianças e adolescentes que trabalham. De acordo com a secretária técnica da Iniciativa Regional da América Latina e Caribe de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Maria Olave, este dado ainda é uma estimativa já que as informações sobre o trabalho infantil na região ainda são imprecisas. A exploração sexual de crianças e adolescentes também foi abordado no debate “A proteção a crianças e adolescentes na Amazônia”.
A secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Justiça, Cláudia Vidigal, e a oficial de projetos da Iniciativa Regional América Latina e Caribe de Prevenção ao Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Maria Olave, durante o debate sobre a “Proteção a Crianças e Adolescentes na Amazônia”
Participam do encontro mais de 200 especialistas, gestores da assistência social, representantes de povos e comunidades tradicionais, movimentos sociais e organizações internacionais. O encontro foi promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrátrio (MDSA), em parceria com o Banco Mundial, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), Iniciativa Brasileira de Aprendizagem por um Mundo sem Pobreza (WWP), Marinha do Brasil, Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda do Pará (Seaster) e prefeituras de Belém, Barcarena e Acará. 50
REVISTA AMAZÔNIA
Mais de 200 pessoas participaram da programação durante os cinco dias de encontro no Hotel Princesa Louçã
“Entendeu-se na América Latina que o trabalho infantil se origina por múltiplos fatores. Temos uma conjunção de elementos como a pobreza, a percepção cultural e a valorização do trabalho, a debilidade de acesso aos direitos universais como saúde e educação, e cada vez temos um mercado de trabalho mais informal - mais precário - que afeta a capacidade da unidade familiar de satisfazer suas próprias necessidades”, apontou. Por ter diferentes raízes, o trabalho infantil também deve ser enfrentado de maneira multisetorial. “Não se pode esperar que o governo central responda. É necessária uma resposta de toda a sociedade como as diferentes esferas dos governos, empresários, sindicatos e entidades da sociedade civil”, alertou. A exploração sexual é outro problema grave que afeta a vida de milhares de crianças e adolescentes na Amazônia. A secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Cláudia Vidigal, explicou que a exploração sexual acontece de várias maneiras diferentes e na Amazônia a situação pode ser resultado do impacto das grandes obras na região Norte.
A grande região amazônica, com seus nove países, concentra 50% do trabalho infantil de toda a América Latina
Para Cláudia, a experiência com a conscientização dos caminhoneiros nas rodovias federais e estaduais que passaram a denunciar pontos de prostituição infantil pode servir de exemplo para a Amazônia.
Debatendo sobre os desafios do acesso de povos e comunidades tradicionais da Amazônia às políticas públicas
A vulnerabilidade das populações são geradas de modelos exógenos de exploração econômica e da omissão e conivência do poder público
“O que a gente está fazendo é uma parceria com a Marinha mercante para mapear os pontos de maior vulnerabilidade e atuar nestes pontos, conversar com quem trabalha naquele ponto. Os caminhoneiros eram considerados como os principais violadores de direitos. Hoje eles são os principais agentes de proteção. Não vou dizer que não existam violadores. Mas eles de fato fizeram uma transição: quando veem uma menina na beira da estrada ligam disque 100 e denunciam”, afirmou. As fronteiras tênues entre os países da Amazônia também foram analisadas pelas duas palestrantes. Segundo elas, muitas crianças e adolescentes cruzam as fronteiras para trabalhar e se prostituir. Por esse motivo são necessárias ações conjuntas dos países nas fronteiras. Segundo o coordenador do programa Pará Social, Heitor Pinheiro, o programa Pará Social se alinha integralmente com o objetivo do seminário
revistaamazonia.com.br
Países assinam Carta de Belém pela proteção social dos povos da Amazônia
Documento aponta os compromissos dos países para promover justiça social, igualdade e o uso sustentável dos recursos naturais da região Após cinco dias de debates, terminou o Seminário Pan-Amazônico de Proteção Social, e ao final, os países assinaram a Carta de Belém, documento que aponta os compromissos dos países em promover a justiça social, igualdade, proteção social e o uso sustentável dos recursos naturais da região.
Raios X A Região Amazônica, com 6,9 milhões de quilômetros quadrados, passa por nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. O bioma que corta essa região é responsável pela sobrevivência de mais de 24 milhões de pessoas, incluindo mais de 342 mil indígenas de 180 etnias distintas, além
de ribeirinhos, extrativistas e quilombolas. Já a bacia hidrográfica do rio Amazonas é constituída pela mais extensa rede hidrográfica do mundo, com uma área total da ordem de 6.110.000 km², desde suas nascentes nos Andes Peruanos até sua foz no oceano Atlântico (na região norte do Brasil). Essa bacia continental se estende sobre vários países da América do Sul: Brasil (63%), Peru (17%), Bolívia (11%), Colômbia (5,8%), Equador (2,2%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%).
Amazônia Legal Para planejar e promover o desenvolvimento social e econômico dos estados da Região Amazônica, o governo brasileiro criou, em 1953, o conceito de Amazônia
Legal, elaborado com base em análises estruturais e conjunturais, assim seus limites territoriais tem um viés sociopolítico, e não geográfico, ou seja, a Amazônia Legal não é definida pelo bioma Amazônia, mas pelas necessidades de desenvolvimento identificadas na região. A Amazônia Legal é uma área de 5.217.423 km², que corresponde a cerca de 61% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do estado do Maranhão. Essa região tem aproximadamente 21.056.532 habitantes, ou seja, 12,4% da população nacional. Segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), cerca de 55,9% da população indígena brasileira, 250 mil pessoas, moram nessa região.
Carta de Belém Nós, cidadãos dos países Amazônicos e participantes do Seminário Pan-Amazônico de Proteção Social, realizado em Belém, Brasil, no período de 27 a 31 de março de 2017: * Reconhecemos os desafios inerentes ao desenvolvimento social da Amazônia e a necessidade de os governos da região, em todos os seus níveis, e a sociedade civil empenharem ainda mais esforços para promover a justiça social, a igualdade, a proteção social e o uso sustentável dos recursos naturais da região. * Recordamos que, mais que desafios à oferta de políticas públicas, o fator amazônico apresenta potencialidades para apoiar e fortalecer a proteção social nos âmbitos familiar, comunitário e político. * Recordamos que o direito à proteção social é inerente a qualquer ser humano e, portanto, não depende de nacionalidade, raça, etnia, credo, gênero, idade e cultura. * Recomendamos que os processos de formulação e implementação de políticas sociais para a Amazônia, em todos os níveis governamentais, contem sempre com a participação de povos e comunidades tradicionais da região, organizados institucionalmente ou não, de modo a se respeitar não só o direito a participação social, mas, sobretudo, as diferentes formas de organização da vida social e comunitária, os modos de produção, os saberes, as práticas e as potencialidades locais. * Enfatizamos a necessidade de se promover o acesso de todos os povos e comunidades da Amazônia a políticas, programas, benefícios, serviços e direitos sociais, sobretudo daqueles localizados em áreas isoladas ou de difícil acesso e, portanto, recomendamos o investimento em equipes volantes, em inovação em tecnologias sociais e em ampliação da infraestrutura de comunicação. * Recomendamos aos governos da região Amazônica, em todos os seus níveis, a articulação de recursos e a integração de políticas sociais, de forma a se aperfeiçoar a identificação de públicos mais vulneráveis da região e superar lacunas na provisão de proteção social. * Enfatizamos a importância de se investir na capacitação e formação continuadas dos trabalhadores e gestores das políticas de proteção social no território amazônico, com especial atenção às peculiaridades da região. * Instamos os governos da Região Amazônica a aumentarem seus esforços de mitigação de ilícitos transnacionais, os quais geram vulnerabilidade e risco social a sua população, a exemplo do tráfico de pessoas, do narcotráfico, do contrabando e do tráfico de armas. * Recomendamos que os países da Região Amazônica estabeleçam e aprofundem canais de cooperação e diálogo em temas de proteção social e firmem protocolos de atuação para a provisão de proteção social nas regiões de fronteira. 10. Recomendamos que os governos dos países da região e os organismos internacionais a convergirem esforços para a produção de dados sobre a realidade social da Amazônia continental. * Incentivamos as universidades e núcleos de pesquisa a investirem na produção de dados e conhecimentos sobre proteção social e sustentabilidade na Amazônia. * Recomendamos a realização de novas edições do Seminário Pan-amazônico de Proteção Social com sede alternada entre países, com vistas a maior difusão de ideias e envolvimentos de atores. revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÔNIA
51
MMA reforça política de concessão florestal
Sarney Filho anunciou aumento de 22% na concessão de florestas e inaugurou centro de excelência para monitorar o desmate. Fotos: Antônio Silva / Ag. Pará, Paulo de Araújo/MMA
O
Ministério do Meio Ambiente (MMA) quer intensificar as concessões florestais e as ações conjuntas de monitoramento para frear o desmatamento na Amazônia. A declaração foi feita pelo ministro Sarney Filho em Belém (PA), durante encontro com parlamentares e autoridades do governo paraense. O ministro anunciou que as concessões florestais tiveram incremento de 22% nos últimos seis meses. Ele aposta neste modelo sustentável para avançar Sarney Filho esteve na sede da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) onde se reuniu com na conservação do bioma.“Por mais que a líderes do setor produtivo e parlamentares ilegalidade seja reprimida pelo comando e pelo controle (poder de polícia das fiscalizações), ela sempre existirá onde não houver alternativas legais de desenvolvimento sustentável. A concessão florestal é importante, pois com o manejo sustentável é possível gerar emprego e renda, lançar no mercado madeira legal, e inibir de forma direta o desmatamento”, ressaltou Sarney Filho. Junto ao aumento das concessões, o ministro defendeu a ampliação das unidades de conservação e das reservas extrativistas. Esse modelo de gestão ambiental, segundo ele, é fundamental para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, região onde habitam mais de 22 milhões de brasileiros. “Queremos construir um desenvolvimento que valorize os bens que a floresta pode oferecer de pé e não no chão.”
O ministro e o governador na inauguração do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (Cimam)
52
REVISTA AMAZÔNIA
Antes da partida, Sarney Filho, para promover a sustentabilidade, realizou a troca de garrafa pet por ingresso
Ainda antes da partida, Sarney Filho fez o plantio de mudas de açaí nas cercanias do estádio revistaamazonia.com.br
No jogo pelas Águas, iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), visando conscientizar a população sobre a necessidade de preservação dos recursos hídricos
Ações Neste primeiro semestre, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e o Batalhão de Polícia Ambiental do Pará assinarão acordo para intensificar as ações de controle sobre o desmatamento no estado. O instituto já participa de ações desta natureza na BR 163 e na Terra do Meio. Sarney Filho também anunciou que está negociando com o Fundo Amazônia recursos para serem aplicados em ações de combate ao desmatamento. O estado do Pará conta, atualmente, com 868 mil hectares sob concessão florestal nas flonas (florestas nacionais) Saracá-Taquera, Altamira, Crepori e Caxiuanã, com potencial de produção de 450 mil metros cúbicos por ano e geração de R$ 4 milhões de receita para o estado e os municípios. As concessões geram mais de 500 empregos diretos e um mil indiretos. Três contratos de concessão florestal na Flona de Caxiuanã foram celebrados em novembro de 2016. Segundo o ministro, até maio, serão publicados os editais das Flonas Itaituba I e II, totalizando 295 mil hectares.
Segundo o ministro, o Cimam fornecerá informações de alta qualidade para os gestores locais e para o governo federal definirem políticas públicas conjuntas de defesa do meio ambiente
Monitoramento O ministro participou da inauguração do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (Cimam), um dos mais modernos do país. O espaço foi criado pelo governo paraense para a produção de dados e o monitoramento das ações ambientais no estado e na Amazônia. “Este centro é o que há de mais avançado do país e um dos mais avançados do mundo em termos de tecnologia”, elogiou o ministro. Segundo ele, o Cimam fornecerá informações de alta qualidade para os gestores locais e para o governo federal definirem políticas públicas conjuntas de defesa do meio ambiente. Para o governador do Pará, Simão Jatene, as informações coletadas no centro serão decisivas para conter o desmatamento. “Só é possível intensificar as ações de governança se tivermos dados precisos e atuarmos de maneira integrada com o governo federal. Pelo sistema, a população também poderá
revistaamazonia.com.br
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, declarou que destinará verbas internacionais para a proteção ambiental, incentivando a sustentabilidade e o combate ao aquecimento global, por meio da manutenção da floresta em pé
acompanhar as informações”, declarou. No fim da manhã, Sarney Filho esteve na sede da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) onde se reuniu com líderes do setor produtivo e parlamentares. O ministro disse que a formulação da Lei Geral de Licenciamento Ambiental está em estágio avançado e dará transparência e segurança jurídica aos processos de licenciamento. “O licenciamento precisa ser feito de forma desburocratizada, mas sem que isso represente descontrole. A lei não facilitará a ilegalidade”, afirmou. O encontro teve a presença do presidente da Fiepa, José Conrado Santos.
Caravana A visita ao Pará é parte da Caravana Verde de combate ao desmatamento, viagem oficial de Sarney Filho e equipe aos estados da Amazônia Legal. O ministro já percorreu Amapá, Amazonas, Acre, Rondônia e Mato Grosso. Em Belém, participaram o secretário-executivo, Marcelo Cruz, e os secretários Edson Duarte (Articulação Institucional e Cidadana Ambiental), Everton Lucero (Mudança do Clima e Florestas), Juliana Simões (Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável) e Jair Tannús (Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental).
REVISTA AMAZÔNIA
53
Pará dá exemplo ao país com a criação do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental por Dani Filgueiras
Fotos: Cláudio Santos / Ag. Pará
O
Governo do Pará inaugurou o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental Gabriel Guerreiro (Cimam), que tem como objetivo a coleta de dados e produção de conhecimento sobre os fatores que geram impacto no meio ambiente. O governador Simão Jatene, acompanhado do Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho e de outras autoridades, participou do evento, após encontro no Palácio do Governo onde foi apresentada a plataforma de funcionamento do Cimam. “Hoje o que está se buscando é utilizar a tecnologia e o conhecimento para o desenvolvimento da Amazônia”, destacou o governador Simão Jatene que disse acreditar que a superação dos desafios amazônicos precisa passar pelo que considera uma tripla revolução: “A revolução pelo conhecimento, pela produção e pelas novas formas de gestão e governança”, reiterou Jatene ao falar do esforço governamental nessa direção. “É o que nós estamos tentando fazer, mesmo com as limitações que a federação brasileira nos impõe e com as limitações que a crise fiscal nos determina. Essa é uma mudança de lógica e de ótica da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), que criou o projeto e o mais importante, o Cimam não é isolado, ele faz parte de um projeto mais largo e mais audacioso que é o Pará Sustentável”, contou o governador ao parabenizar
A Semas criou o projeto e o mais importante, o Cimam não é isolado, ele faz parte de um projeto mais largo e mais audacioso que é o Pará Sustentável
54
REVISTA AMAZÔNIA
“Este centro é o que há de mais avançado do país e um dos mais avançados do mundo em termos de tecnologia”, elogiou o Ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho
os profissionais envolvidos na criação do Centro. “Foi certamente fruto do esforço coletivo”, complementou.Após ouvir o detalhamento do funcionamento do Cimam o Ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho, disse que a explicação soava como música aos seus ouvidos e que o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental do Pará congrega tudo o que se tem discutido em nível Federal a respeito do aprimoramento do desmatamento na Amazônia. “Quando nosso avião se aproximava daqui, comentei com a minha equipe que eles estavam chegando em um Estado que está ajustado. Com essa iniciativa do Centro de Monitoramento da Amazônia, o Pará sai na frente dos demais e dá exemplo. Parabéns ao time por essa iniciativa”, afirmou o ministro Sarney Filho que solicitou que a Semas apresente o Cimam ao Ministério do Meio Ambiente. “É muito oportuno apresentar isso ao nosso pessoal porque nós estamos discutindo justamente a segurança da informação no processo de decisão. Quanto mais segurança nós tivermos, mais a gente pode desburocratizar, sem flexibilizar, o licenciamento das atividades”, disse o titular da pasta do ministério do Meio Ambiente.
Função O Cimam utiliza, de forma inédita, um sistema automatizado de monitoramento e controle do desmatamento, fazendo uso de imagens de satélite com precisão de até três metros de distância da área monitorada, o que possibilita ações tanto de combate, como de prevenção, segundo informou o secretário de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Luiz Fernandes Rocha. “Se trata de um monitoramento eficiente porque você não trabalha na correção como é feito normalmente. Com o Cimam nós temos imagens de qualidade a cada 48 horas, adquiridas pelo Governo Estadual, o que nos dá possibilidade de paralisar um desflorestamento, por exemplo, antes que ele aumente”, explicou Fernandes ao lembrar que no sistema anterior as imagens, por exemplo, eram fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial e chegavam com 120 dias. Todas as imagens coletadas pela ferramenta estarão disponíveis para outros órgãos através de uma plataforma web. Outra novidade será a utilização de diversos recursos tecnológicos, onde são apresentadas ferramentas de geoprocessamento e sistemas de informações geográficas voltadas para o processamento de imagens, informações
revistaamazonia.com.br
geoespaciais e a construção da interface de integração com as diversas bases de dados da Semas e de organismos estaduais. No Centro será possível fazer ainda uma análise detalhada e integrada dos dados fornecidos através do aplicativo Governo Digital – disponível para plataforma Android e iOS, no qual a população em geral pode fazer denúncias relacionadas a crimes ambientais. A Semas conta com o reforço de informações através do uso de novas tecnologias, como os Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), que cobrem grandes áreas e complementam o trabalho de profissionais em campo. Os dados coletados pelo Centro vão subsidiar medidas de planejamento, controle, recuperação, preservação dos recursos naturais e auxiliar na definição de políticas ambientais. Com esta iniciativa será possível gerenciar bases de dados atualmente em uso na Semas e promover integração com serviços de diversos órgãos estaduais, federais e municipais que atuam na questão ambiental. Esse intercâmbio será feito através do cruzamento de informações entre banco de dados e mapas, geração de relatórios e atualização de dados via web que servirão como subsídio para detectar ilícitos, emitir alertas e acionar imediatamente a fiscalização in loco, aperfeiçoando os mecanismos de monitoramento ambiental no Estado. A tecnologia deverá auxiliar para que os técnicos possam desenvolver ações como o monitoramento de empreendimentos e atividades potencialmente poluidoras do meio ambiente, gerando alertas e relatórios para subsidiar as ações de fiscalização ambiental. Além de trabalharem com um moderno sistema para o monitoramento e previsão meteorológica, hidrometeorológica e de eventos extremos relacionados ao tempo e clima no Estado do Pará. O principal destaque é a metodologia desenvolvida com olhar estratégico sobre o monitoramento ambiental da Amazônia. A Semas também trabalha na criação de uma Rede de Monitoramento Ambiental, que consiste na instalação de polos de integração ambiental em diversas regiões do Estado,
O Cimam utiliza um sistema automatizado de monitoramento e controle do desmatamento, fazendo uso de imagens de satélite com precisão de até três metros de distância da área monitorada
compostos por comunidades locais e entidades com atuação na área do meio ambiente, além do desenvolvimento de palestras de sensibilização ambiental em todo o Pará. O objetivo é incentivar o envolvimento ativo da comunidade e promover a sintonia entre população e órgão ambiental no trabalho de monitoramento e fiscalização ambiental. Com a implantação dessa nova proposta e a partir da produção de conhecimento, integrado com outros sistemas e bases de dados e participação da sociedade, o Estado espera ter conhecimento real e preciso dos ilícitos ambientais para fortalecer o trabalho de prevenção ambiental, incentivando o desenvolvimento sustentável da região e a integração entre meio ambiente e sociedade.
O prédio do Cimam comporta um auditório e 17 salas, com um total de 63 computadores. Desses aparelhos, 18 estão interligados para a realização do monitoramento ambiental. Tecnologias utilizadas, como o Sistema de Monitoramento, geram conhecimentos envolvendo todas as agendas ambientais e a vistoria de acompanhamento, por onde é feito o monitoramento de planos de manejo e de créditos florestais. Essas tecnologias auxiliam os técnicos no desenvolvimento de ações como o monitoramento de empreendimentos e atividades potencialmente degradadoras, por meio de alertas e relatórios, para subsidiar a fiscalização ambiental in loco. Outra ferramenta utilizada pelo
Todas as imagens coletadas pela ferramenta estarão disponíveis para outros órgãos através de uma plataforma web
Com essa iniciativa do Centro de Monitoramento da Amazônia, o Pará sai na frente dos demais e dá exemplo, destacou o ministro Sarney Filho
revistaamazonia.com.br
Tecnologia
Cimam é um sistema automatizado de acompanhamento e controle do desmatamento, com uso de imagens de satélite com precisão de até três metros de distância da área monitorada. Mais ferramentas usadas no geoprocessamento e no sistema de informações geográficas estão voltadas para o processamento de imagens e informações geoespaciais. Essas atividades são desenvolvidas pelo Cimam, com o intuito de determinar alterações na biomassa conforme o tempo de monitoramento ambiental. Assim, será possível determinar a causa do desmatamento e as respectivas soluções. REVISTA AMAZÔNIA
55
Lançamento de guia prático para a análise do atendimento ao Código Florestal Este documento tem por objetivo apoiar as equipes de compra de commodities agropecuárias e florestais brasileiras no processo de verificação do cumprimento do Código Florestal por fornecedores
D
urante a Segunda Assembleia Geral da Tropical Forest Alliance 2020, foi lançado por BVRio, Proforest e IPAM, sob a égide do Observatório do Código Florestal (OCF), o Guia Prático para a Análise do Atendimento ao Código Florestal nas cadeias de suprimento de commodities. Os mercados de commodities agropecuárias e florestais brasileiras têm um papel fundamental na implementação da legislação ambiental brasileira, e por conseguinte, na redução do desmatamento. Ao exigir conformidade ambiental aos produtores de commodities, o setor privado pode fornecer um forte impulso para a transição dos setores florestal e agrícola no sentido da sustentabilidade e da legalidade. Neste contexto, a BVRio, a Proforest e a IPAM, sob a égide do OCF, elaboraram um guia prático com o objetivo de ajudar os compradores de commodities florestais e agrícolas a verificarem o atendimento ao Código Florestal brasileiro nas suas cadeias de suprimento. Ao exigir o cumprimento da lei da parte dos seus fornecedores, compradores poderão demonstrar que os seus produtos derivam de fontes agrícolas sustentáveis e que não contribuem, por exemplo, ao desmatamento no Brasil. Para esse fim, o guia apresenta os instrumentos disponíveis para exigir o cumprimento do Código Florestal nas cadeias de suprimento. Faça o download do guia: http://www. bvrio.org/wp-content/uploads/2017/03/ BVRio-Proforest-Guia-Co%CC%81digo-Florestal-Observatorio-CF.pdf Durante a Segunda Assembleia Geral da Tropical Forest Alliance 2020
12
REVISTA AMAZÔNIA
Relatório Anual TFA 2016-17
BVRio
O Instituto BVRio (www.bvrio.org) é uma organização com o objetivo de criar e promover mecanismos de mercado para facilitar o cumprimento de leis ambientais e o desenvolvimento de uma economia verde. A Bolsa de Madeira Responsável da BVRio (www.bvrio.org/madeira) é uma plataforma de negociação de produtos florestais de origem legal ou certificada com possibilidade de gestão de risco e due diligence. O seu Sistema de Due Diligence e Análise de Risco ja foi utilizado por traders e agências
ambientais para triar mais de 15,000 containers de madeira no valor agregado de mais de US$ 1 bilhão de dólares. A BVRio foi vencedora do prêmio Katerva Awards 2013 (Economia), nomeada Líder em Ação Climática pela R20 – Regions of Climate Action, e é parceira da Forest Legality Initiative, e é integrante do programa de Key Accounts do Forest Stewardship Council®.
Observatório do Código Florestal
O Observatório do Código Florestal foi criado em 2013 pela instituições da Sociedade Civil. O objetivo é monitorar a implementação do Código Florestal (Lei Federal 12.651/12) pelo Brasil. Acima de tudo, monitorar a performance dos Programas de Regularização do Ambiental (PRAs) e do principal instrumento da lei, o Cadastro Ambiental Rural (CAR). A intenção é mitigar aspectos negativos do novo código e evitar futuros retrocessos. revistaamazonia.com.br
Dia Internacional das Florestas destaca relação com fontes de energia Nações Unidas defendem promoção de diversas formas energéticas; planeta perde mais de 3 milhões de hectares de florestas por ano; países em desenvolvimento consomem 90% da lenha e carvão do mundo
D
ebates, campanhas de reflexão e publicações especiais marcaram em todo o mundo o 21 de março, Dia Internacional das Florestas. Sob o lema Florestas e Energia, as Nações Unidas quizeram despertar a consciência sobre a importância de todos os tipos de bosques, que cobrem 30% da superfície da Terra. A conservação das árvores fora das matas é o outro objetivo das celebrações.
Fotos: Banco Mundial/Arne Hoel, Divulgação
Necessidade Em Nova Iorque, o diretor do Fórum sobre as Florestas do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas, Desa. Manoel Sobral Filho disse que haver 2 bilhões de pessoas dependentes de recursos energéticos dos bosques para atender as suas necessidades, uma tendência que afirmou aumentar os receios sobre a sustentabilidade. “Nós temos que promover a sustentabilidade, promover mais plantios de florestas e promover uma extração somente do que a floresta pode repor. É o que a gente chama de manejo florestal sustentado. Devo admitir que nós temos também que promover outras formas de energia, onde não se pode contar com a floresta de forma sustentada. A energia solar, por exemplo, já tem grandes avanços nessa área em algumas partes da Ásia, da África e da América latina.”
Para despertar a consciência sobre a importância de todos os tipos de bosques, que cobrem 30% da superfície da Terra revistaamazonia.com.br
Investimentos O especialista da ONU disse haver ainda esperanças de uma recuperação florestal a longo prazo, apesar da perda de mais de 3 milhões de hectares de bosques por ano. “Tem que haver maior cooperação Norte-Sul com investimento do Norte em plantações florestais, especialmente para energia para o atendimento de comunidades pobres. Eu acho que isso é possível. No âmbito do Acordo de Paris, uma série de países em desenvolvimento se comprometeu a aumentar sua área florestal em mais de 100 milhões de hectares de forma global, para armazenar carbono e ao mesmo tempo usar de forma sustentável esses recursos inclusive para a energia. Essa cooperação Norte-Sul é fundamental.
Com isso eu acho que a gente pode avançar bastante.” A ONU defende que as florestas são muitas vezes a única fonte de energia disponível para as populações das zonas rurais em países em desenvolvimento. A organização estima que 90% da lenha e carvão do mundo são consumidos pelo grupo de nações.
A ONU estima que 90% da lenha e carvão do mundo são consumidos pelo grupo de nações
2 bilhões de pessoas dependentes de recursos energéticos dos bosques para atender as suas necessidades REVISTA AMAZÔNIA
57
Estudo liderado pelo Inpa afirma que povos pré-colombianos moldaram a flora da floresta amazônica
Povos pré-colombianos domesticaram ao menos 85 espécies de árvores que até hoje estão concentradas em florestas próximas a antigos assentamentos por * Luciete Pedrosa
E
Fotos: Acervo da Pesquisadora Carolina Levis, Bernardo Flores, Diogo Lagroteria, Eduardo Neves-Projeto Amazônia Central
studo inédito liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) mostra que há uma relação entre a ocupação humana passada na Amazônia e a presença de plantas domesticadas na floresta. Isso indica que essas florestas podem ser em parte um patrimônio vivo dos povos pré-colombianos. O resultado da pesquisa publicada na Science põe abaixo a ideia que de as florestas amazônicas foram intocadas pelo homem. O estudo contou com a participação de um grupo internacional e interdisciplinar de 152 cientistas, incluindo 53 brasileiros, dentre eles 30 colaboradores do Inpa e 01 do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá. Tem como autora principal Carolina Levis, doutoranda pelo Inpa, no Amazonas-Brasil, e pela Wageningen University and Research Center, da Holanda. “O que fizemos foi cruzar os dados botânicos de parcelas de inventários florestais com dados arqueológicos”, diz Levis. “Por alto, são pelo menos 80 anos de pesquisas com centenas de pessoas trabalhando para conseguir coletar essas informações.
58
REVISTA AMAZÔNIA
Mulher ianomâmi faz uso de árvore medicinal Mamiqueira. Seres humanos moldaram a Amazônia plantando árvores para alimento, cura e abrigo
Foi a primeira vez na escala da Amazônia que juntamos esses dados”, acrescenta. A equipe de cientistas chegou à descoberta ao sobrepor dados de mais de mil inventários florestais da Rede de Diversidade das Árvores da Amazônia (ATDN) com o mapa da localização de mais de três mil sítios arqueológicos espalhados por toda a bacia amazônica. Ao comparar a composição de espécies em florestas situadas a diferentes distâncias de sítios arqueológicos, as análises geraram a primeira imagem do grau de influência dos povos pré-colombianos na biodiversidade amazônica atual. Os primeiros estudos tiveram início em 2010, nas regiões dos rios Purus e Madeira, durante o mestrado de Levis, orientada pelos pesquisadores do Inpa, Flavia Costa e Charles Clement, que começaram a trabalhar para entender o efeito humano passado na floresta Amazônica.
Contribuições relativas de variáveis humanas e ambientais para explicar a variação na abundância relativa e riqueza de espécies domesticadas em florestas amazônicas
(A e B) A divisão da variação na abundância relativa (A) e na riqueza relativa (B) das espécies domésticas explicada exclusivamente por fatores ambientais (cinza escuro) ou humanos (cinza claro) ea variação explicada em conjunto por ambos (cinza) . A divisão de variância foi realizada sobre os resultados das análises de regressão múltipla apresentadas na Fig. 3. A Amazônia foi dividida em seis regiões geológicas (NWA, noroeste da Amazônia, SWA, sudoeste da Amazônia, SA, sul da Amazônia, CA, Amazônia Central, GS, Escudo Guiana e EA, Amazônia Oriental).
revistaamazonia.com.br
“Mas mesmo assim com alguns vazios de amostragem, conseguimos relacionar dados florísticos e arqueológicos”, acrescenta. Para o estudo, foram utilizadas informações do banco de dados liderado pelo pesquisador Eduardo Kazuo Tamanaha, do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá. De acordo com o arqueólogo, que é coautor na publicação, os resultados ilustram a força da interdisciplinaridade e importância de correlação de dados científicos para o conhecimento da região Amazônica. “Pensando a longo prazo, a grande contribuição do trabalho é estreitar os laços entre as duas áreas, botânica e arqueologia. Demonstra a importância de cruzar e discutir estes dados, de diferentes pesquisadores, e de começar a propor hipóteses juntos”, comentou o arqueólogo.
Ocupação da Amazônia Mapas de distribuição de cinco espécies hiperdominantes domesticadas nas florestas amazônicas e suas prováveis origens de domesticação
(A a E) Foram estimados mapas de distribuição para cinco espécies domesticadas hiperdominantes: (A) Bertholletia excelsa, (B) Inga ynga, (C) Pourouma cecropiifolia, (D) Pouteria caimito, e (E) Theobroma cacao. A origem da domesticação é mostrada pelo símbolo “+++” para a origem conhecida e pelo símbolo “++” para a origem hipotética (13, 42). Os tamanhos de pontos pretos indicam a abundância relativa das espécies domesticadas em parcelas onde a espécie foi registrada. Pontos vermelhos indicam parcelas onde cada espécie domesticada não foi registrada. O sombreamento mostra a distribuição interpolada de cada espécie através da interpolação espacial do loess (17). O intervalo de abundância relativa em parcelas (RelAb) ea interpolação espacial de loess em células de grade individuais (fit) são relatados em porcentagem acima de cada mapa. Os mapas foram criados com scripts R personalizados. A Amazônia foi dividida em seis regiões geológicas (NWA, noroeste da Amazônia, SWA, sudoeste da Amazônia, SA, sul da Amazônia, CA, Amazônia Central, GS, Escudo Guiana e EA, Amazônia Oriental). [Fonte básica do mapa (country.shp, rivers.shp): Esri (www.esri. com/data/basemaps, copyright Esri, DeLorme Publishing Company.]
Espécies A pesquisa atual focou em 85 espécies de árvores, que foram domesticadas em algum grau pelos povos pré-colombianos, dentre elas cacau, castanha-do-Brasil, açaí, bacaba, patauá, mapati, seringueira, pupunha e muitas outras espécies que são fonte de alimentação, abrigo ou outros usos. Os pesquisadores descobriram que em toda a bacia amazônica essas espécies eram cinco vezes mais comuns em inventários florestais do que as espécies não domesticadas. As maiores abundância e diversidade de espécies domesticadas foram encontradas em florestas próximas de sítios arqueológicos. Levis explica que o sudoeste da Amazônia (Bolívia e Rondônia/Brasil) foi altamente transformado e habitado e é onde há uma densa concentração de plantas domesticadas.
revistaamazonia.com.br
“Já no Escudo das Guianas não encontramos essa mesma relação dos sítios arqueológicos com as plantas e não sabemos o motivo”, destaca.
Para a pesquisadora do Inpa e uma das coautoras do artigo, Flavia Costa, não é totalmente novo dizer que a Amazônia há muito tempo já era habitada. Segunda ela, ao olhar para outros estudos se vê que as pessoas usaram e modificaram a Amazônia somente perto dos grandes rios onde era bom para a pesca e pela facilidade de transporte, já nas áreas entre os rios (os chamados interflúvios) eram considerados vazios demográficos. “Mas o trabalho da Carolina mostra que nesses interflúvios também tinha gente usando e modificando a floresta. De verdade, o impacto da ocupação humana é muito mais espalhado do que se pensava”, diz Costa, acrescentando que o sudoeste e leste da Amazônia são as regiões onde concentram a maior abundância e diversidade de espécies domesticadas e, ao mesmo tempo, é onde a maior parte da degradação e desmatamento ocorre. A pesquisadora afirma que uma das implicações do trabalho é que essas regiões que estão sendo destruídas são também os reservatórios de plantas úteis para os seres humanos e lamenta não existir nenhum um tipo de política para conservação dessas áreas.
Trincheira cortada em uma antiga piscina com ossos de peixe-boi. Influências humanas passadas na floresta amazônica
REVISTA AMAZÔNIA
59
Origem da domesticação
A abundância relativa de espécies hiperdominantes em função de variáveis humanas e ambientais
(A a D) Coeficientes de regressão padronizados para (A) a abundância relativa de 20 espécies domesticadas que são hiperdominantes, (B) a abundância relativa de 20 espécies não domesticadas que são hiperdominantes e principalmente dispersas por primatas, (C) a abundância relativa de 20 Espécies não-domesticadas que são hiperdominantes e não dispersas pelos primatas e (D) a abundância relativa de 20 espécies não domesticadas que são hiperdominantes selecionadas aleatoriamente, em função de variáveis humanas (distância dos sítios arqueológicos e das regiões eco-arqueológicas e distância até a superfície navegável Rios) e variáveis ambientais (CEC do solo, pH do solo, número de meses secos e HAND). O tamanho do círculo representa a contribuição relativa dos preditores, demonstrada pelos coeficientes padronizados ao nível da Amazônia (Todos) e aos modelos de regressão regional (NWA, noroeste da Amazônia, SWA, sudoeste da Amazônia, SA, sul da Amazônia, CA, GS, Guiana Shield e EA, Amazônia Oriental). Círculos vermelhos indicam efeitos negativos e círculos azuis indicam efeitos positivos. Os coeficientes padronizados são apresentados apenas para as relações significativas analisadas nos modelos (P ≤ 0,05). Para o efeito de regiões ao nível de toda a Amazônia (All) e para todos os modelos de regressão, são apresentados os valores R2 e códigos significativos (*** P ≤ 0,001; ** P ≤ 0,01; * P ≤ 0,05; ns, P> 0,05)
Os cientistas também analisaram a origem da domesticação daquelas espécies e os locais onde as espécies se concentram, hoje, na floresta. A pesquisa se baseou nos estudos do Dr. Charles Clement, pesquisador do Inpa e também um dos coautores do trabalho. “Vimos que algumas vezes o local de origem da domesticação não se encontrava com o local onde tem mais concentração da espécie na floresta, o que poderia indicar uma dispersão humana”, diz Levis. Segundo Clement, na região do sudoeste da Amazônia, a pupunha, por exemplo, se originou como planta domesticada e depois foi dispersa para outras partes da Amazônia. “No oeste da Amazônia, o fruto é graúdo e seco e os índios não usam para comer, mas, sim, para fazer cerveja de pupunha”, revela.
Cerâmica pré-colombiana encontrada próximo ao rio Solimões
Carolina Levis no barco de volta de uma floresta domesticada
60
REVISTA AMAZÔNIA
revistaamazonia.com.br
Variação espacial de 85 espécies domesticadas na Amazônia
(A a D) Mapas mostrando (A) a variação espacial do número total de indivíduos de espécies do-
mesticadas (abundância) por hectare (ha), (B) a abundância relativa de espécies domesticadas,
(C) o número total de espécies domesticadas (Riqueza) por parcela e (D) a riqueza relativa de espécies domesticadas em parcelas de planície em seis regiões geológicas da Amazônia (NWA, noroeste da Amazônia, SWA, sudoeste da Amazônia, SA, sul da Amazônia, CA, Amazônia central, GS, Guiana Shield E EA, Amazônia Oriental). Os círculos negros mostram os valores observados de abundância absoluta (A) e abundância relativa (B), variando de 0 a 292 indivíduos de espécies domesticadas por 1 ha e 0 a 61% do número total de indivíduos e os valores observados de riqueza absoluta (C) e riqueza relativa (D), variando de 0 a 19 espécies domesticadas por parcela e 0 a 19% do número total de espécies. O fundo branco-esverdeado mostra a interpolação dos valores observados (em percentagem) em cada parcela modelada em função da latitude e da longitude numa escala de células de 1 ° por utilização de interpolação espacial de loess (17). Os mapas foram criados com scripts R personalizados. [Origem do mapa base (country.shp, rivers.shp): Esri (www.esri.com/data/ basemaps, copyright Esri, DeLorme Publishing Company)].
Palmeira pupunheira (Bactris gasipaes), que os povos pré-colombianos já tinham domesticado. Uma herança viva dos antigos povos indígenas
O novo estudo conclui que 20 espécies de árvores parcialmente ou totalmente domesticadas são muito mais comuns do que as espécies de árvores silvestres em algumas florestas amazônicas. Uma dessas espécies, a palma moriche – burití, (na foto) tem um fruto comestível com uma cobertura dura
“O trabalho de Carolina mostra que algumas espécies poderiam ter sido originadas lá no sudoeste, porque ocorre em maior abundância do que em outros lugares”, explica o pesquisador. “Essa ‘brincadeira’ (estudo) tem diferentes facetas. O estudo de Carolina usou a classificação das plantas domesticadas para orientar a seleção de espécies que permitem as análises”, completa. Para o pesquisador da
revistaamazonia.com.br
Naturalis Biodiversity Center e coordenador da ATDN, Hans ter Steege, a descoberta promete esquentar um debate de longa data entre cientistas sobre o grau de influência da história humana milenar da bacia amazônica na biodiversidade atual. “E desafia a visão que muitos de nós, ecólogos, tínhamos e ainda temos dessa imensa floresta”, diz, ao comentar que a imensidão verde das florestas amazônicas
camufla evidências das ocupações passadas e dá a falsa impressão de uma paisagem intocada. Com as crescentes pesquisas arqueológicas, particularmente, nas últimas décadas, centenas de novos sítios estão sendo descobertos em áreas aparentemente intocadas. [*] Com informações do Inpa, do Instituto Mamirauá e da Science
REVISTA AMAZÔNIA
61
O que está acontecendo sob a copa das árvores da Amazônia? Projeto internacional usa a inteligência artificial para medir a saúde da floresta com uma rede de sensores instalados debaixo da cobertura vegetal por David Fernández
Fotos: Adam Ronan, Alexander Lees, Amanda Lelis
Incêndios florestais degradam florestas no estado do Pará
A
atividade humana reduz a biodiversidade da Amazônia. Alguns estudos, apontam inclusive perdas próximas – ou superiores – à metade das espécies nas áreas onde a cobertura florestal foi reduzida em 20%. Mas, até que ponto esses resultados são precisos? Um projeto internacional procura responder à pergunta, pelo menos no que diz respeito ao conhecimento da fauna. Para conseguir isso, os pesquisadores que estão por trás da iniciativa instalarão uma rede de sensores na reserva natural de Mamirauá (Estado do Amazonas). Para os responsáveis pela iniciativa, chamada Providence, as ferramentas utilizadas até agora têm sérias limitações. A exploração com drones ou satélites permite conhecer exaustivamente o estado da cobertura florestal e saber, por exemplo, se uma área de floresta está sofrendo os estragos do desmatamento. No entanto, tudo o que acontece abaixo da copa das árvores escapa ao seu olhar. E, apesar de que as observações de campo permitem obter informações detalhadas sobre o estado da fauna, estas exigem que cientistas trabalhem em um ponto da floresta. Um método caro por causa dos investimentos necessários para realizar uma expedição e pelo risco que implica para os próprios cientistas. Além disso, tais estudos só permitem conhecer a situação de uma determinada porção da massa florestal. Para preencher a lacuna, os pesquisadores instalarão uma rede de sensores em diferentes pontos da reserva natural de Mamirauá, na região da Amazônia central. 62 REVISTA AMAZÔNIA
Cada um dos nós da rede terá microfones e câmeras, permitindo captar automaticamente imagens e sons de animais que vivem na área. Os dados coletados serão transmitidos via satélite em tempo real para que pesquisadores de todo o mundo possam aproveitá-los. A ideia é ter um método para coletar informações sobre o que acontece com a fauna no interior da floresta de forma contínua, ampliando ao máximo a área de estudo. Tudo isso reduz ao mínimo a presença humana e os custos decorrentes de colocá-la no terreno. Participam desse esforço cientistas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá; do Laboratório de Aplicações Bioacústicas da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), através da Fundação Sense of Silence, o centro de pesquisa australiano CSIRO e da Universidade Federal do Amazonas. De onde veio a ideia? A julgar pela explicação de Michel André, diretor do Laboratório de Aplicações Bioacústicas da UPC, o acaso teve muito a ver: “Há um interesse na preservação dos botos-cor-de-rosa em Mamirauá. Há dois anos, instalámos lá a primeira estação [de hidrofones] debaixo d’água [para medir a presença deles no local]. Uma vez lá, em contato com os pesquisadores, ouvindo as dificuldades que encontravam para fazer estudos sob a cobertura vegetal, propusemos colocar microfones em vez de hidrofones”. Na verdade, o centro dirigido por André usa, há 20 anos, esses aparelhos para investigar “o impacto acústico das atividades humanas na conservação dos ecossistemas marinhos”.
A) Perda proporcional de valor de conservação (CV) de perturbação no Pará (estimativa mediana, ver Métodos). As áreas de endemismo (AoE) são: Belém (BE), Guiana (GU), Rondônia (RO), Tapajós (TA) e Xingu (XI). Estes não incluem a ilha de Marajó (MA). O sombreado cinzento denota áreas estritamente protegidas. B, Proporção de perda de CV no Pará (PA) e seus AoEs decorrentes de perdas e perturbações florestais (estimativa mediana). As barras de erro mostram o intervalo sobre todas as abordagens para estimar o valor de conservação (ver Métodos). Números mostram perturbação relativa à perda de floresta (intervalo percentual sobre abordagens).
Um ponto de partida ideal: essa tecnologia permite obter dados a partir dos sons marinhos, embora no ambiente marinho o som se propague com muito menos nitidez do que no ar. Para a obtenção de imagens, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá entrou em contato com o centro CSIRO, especializado em reconhecimento automático de imagens. revistaamazonia.com.br
A experiência submarina dos pesquisadores da UPC também traz outra vantagem. Trata-se das máquinas preparadas para trabalhar em grandes profundidades sob “condições ambientais extremas”, como uma pressão várias vezes superior à da atmosfera terrestre: “Isso nos permitiu projetar equipamentos capazes de suportar o calor e a umidade da Amazônia, com manutenção mínima”. Até março 2018, dez desses sensores serão instalados em vários pontos da reserva de Mamirauá. O objetivo dessa primeira fase é constatar se a rede pode funcionar na prática, identificando a partir de amostras de sons e imagens animais como “onças, macacos e botos-cor-de-rosa. Espécies emblemáticas ou importantes porque estão em risco de extinção”, diz André. Para executar essa tarefa, o projeto conta com 1,4 milhão de dólares (cerca de 4,36 milhões de reais) da Fundação Gordon and Betty Moore. Se a rede for capaz de cumprir sua missão, entre março de 2018 e fevereiro 2019 serão instalados 1.000 nós de nova geração. Eles devem ser capazes de captar mais sinais acústicos e visuais a um custo menor. Os dados obtidos em tempo real, ademais, serão enviados a para uma plataforma online para ser disponibilizados ao público e à comunidade científica.
Numa terceira fase, a rede será expandida para 1.000 nós, que serão instalados por toda a Amazônia. “Quando estiverem funcionando entenderemos a biodiversidade. Isso deve ser visto como o início do projeto”, conclui. Até março 2018, dez desses sensores serão instalados em vários pontos da reserva de Mamirauá. Se a rede for capaz de cumprir sua missão, a ideia é distribuir 1.000 dispositivos por toda a Amazônia André está esperançoso. Além das observações com drones, as informações sobre o estado da fauna da reserva de Mamirauá estão escasseando. Há menos informações ainda sobre o impacto que a atividade humana pode ter tido nessa região: embora as condições do lugar – situado no cruzamento dos rios Japurá e Amazonas, facilmente inundável – tornem difícil que o corte de árvores seja uma prática florestal, a pesca excessiva é um problema. Se o projeto obtiver os resultados esperados, saber como a atividade humana afeta a fauna da Amazônia será um pouco mais fácil. Tanto na reserva quanto nas áreas do pulmão verde em que o corte descontrolado de árvores ressurge apesar dos esforços da Administração brasileira para detê-lo.
a): Valor de conservação em Paragominas (círculos) e Santarém (triângulos); b): perda total de valor de conservação devido a perturbação; c): Perda total de valor de conservação devido a perturbação expressa como uma proporção do valor de conservação esperado sem perturbação. As linhas tracejadas mostram expectativas sem perturbação. Linhas cinzas mostram todas as regressões, com a linha preta sólida mostrando a resposta mediana (ver Métodos). Os valores foram padronizados em todas as regiões estudadas. Não houve diferença significativa nos valores de conservação entre regiões na resposta mediana (F1, 26 = 1,45, P = 0,24, análise de covariância (ANCOVA)).
André explica que, graças à inteligência artificial, os nós da rede podem aprender a “associar um som a uma determinada espécie”. Inclusive nas ocasiões em que o som não seja completamente audível. “Existem muitos parâmetros de identificação relacionados com um som. É possível programar a rede para que ela busque nos parâmetros e seja capaz de calcular se é possível atribuir um som a uma determinada espécie”, explica. André explica que, graças à inteligência artificial, os nós da rede podem aprender a “associar um som a uma determinada espécie” revistaamazonia.com.br
Algumas imagens dos primeiros testes de tecnologias do projeto Providence, para experimentar quais poderão ser mais apropriadas ao que foi proposto pelo projeto, uma tecnologia para monitoramento de vida selvagem. Os testes continuam em andamento REVISTA AMAZÔNIA
63
Falta de acesso à água potável preocupa população brasileira
A
falta de acesso à água potável ainda é uma realidade para milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Um levantamento realizado recentemente pelo Instituto Datafolha em parceria com o Instituto Máquina de Pesquisa mostra que a questão é uma das principais preocupações da população brasileira. Em 2010, quase 20% dos domicílios particulares permanentes Brasil ainda não possuíam rede geral de abastecimento de água, de acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que cerca de 30 milhões de pessoas ainda sofrem com a falta de acesso potável em todo o país. No estudo, a falta de acesso à água aparece como o segundo problema estrutural mais grave enfrentado pelo país. Diante de seis problemas de infraestrutura apresentados pela pesquisa, 68% dos entrevistados indicaram a falta ou dificuldade de acesso à água como uma de suas
64
REVISTA AMAZÔNIA
três maiores preocupações, atrás apenas da ausência de rede de esgoto, que teve 78% das menções. O tema é mais sensível para a população no interior nas regiões Norte e Nordeste. Nessas áreas, a falta ou dificuldade para obter água potável foi indicada como um dos principais entraves do país por 84% e 71% dos entrevistados, respectivamente. No Sudeste, o número é mais baixo. Mesmo assim, 64% das pessoas consultadas na região consideram a dificuldade no acesso à água um grave problema estrutural para o país. A percepção da população é coerente com o mapeamento do problema. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 17,5% dos brasileiros não têm acesso à água tratada. Ou seja, 35 milhões de pessoas. O estudo coletou a opinião de mais de 2 mil pessoas, a partir de 16 anos e de todas as classes econômicas, entre os dias 20 e 24 de outubro. As entrevistas foram presenciais
Com base no mapa acima sobre o risco de escassez de água na América Latina, é possível buscar personagens em regiões vulneráveis, onde as distâncias percorridas para se obter a água do dia a dia são longas e a disponibilidade pequena.
e aconteceram em 120 munícipios, distribuídos geograficamente pelas áreas pesquisadas. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%
revistaamazonia.com.br
revistaamazonia.com.br
REVISTA AMAZÃ&#x201D;NIA
1
16
17
18
AM
O
D
15
CAÇÃO LI
Ano 12 Nº 61 Março/Abril 2017
N O RTE
20 R$ 12,00
Em 19 de abril não celebramos apenas o Dia do Índio, mas o nosso compromisso diário com a cultura indígena e a Amazônia Legal por meio dos programas indígenas Waimiri Atroari, no Amazonas, e Parakanã, no Pará, e também do apoio a projetos produtivos na Terra Indígena São Marcos, em Roraima. Conheça esses programas em www.eletronorte.gov.br
www.revistaamazonia.com.br
PARA A ELETRONORTE, UM DIA É POUCO PARA RECONHECER A IMPORTÂNCIA DAS NAÇÕES INDÍGENAS
ISSN 1809-466X
14
ABRIL 19
OR PUB AI
Ano 12 Número 61 2017 R$ 12,00 5,00
Índios no brasil A Carta de Belém A Água Invisível Microplásticos matando os oceanos