Amazônia 62

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Ano 12 Nº 62 Maio/Junho 2017

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00 Ano 12 Número 62 2017 R$ 12,00 5,00

Biodiversidade e o Turismo Sustentável Conferência dos oceanos Respiração do solo em ecossistemas


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5 de Junho

Dia Mundial do Meio Ambiente A G EN TE AC R ED ITA Q UE O RESPEITO AO MEIO A MBIEN TE É O MELH OR CA MIN H O PAR A UM FUTUR O SUSTEN TÁVEL. N OSSA S EQU IPES D ESEN VOLVEM AÇÕES D E GESTÃO AMB IEN TAL Q UE PR O MOV EM A SU STEN TA BILIDA D E N A PRÁTICA E QU E FA ZEM PA RTE DA HISTÓ R IA D O S N O SSO S PROJETOS D E TRA N SMISSÃO E GERAÇÃO D E EN ERG IA . P E N SAR E M SU STENTA BILIDA D E TOD OS OS D IA S.

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Dia Mundial do Meio Ambiente

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn

O homem é criatura e moldador de seu ambiente, o que lhe dá sustento físico e oferece-lhe a oportunidade de crescimento intelectual, moral, social e espiritual. Na longa e tortuosa evolução da raça humana neste planeta, um palco foi alcançado quando, através da rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar seu meio ambiente de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes. As Nações Unidas, conscientes de que a proteção e melhoria do meio ambiente....

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn

Biodiversidade e Turismo Sustentável A Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas escolheu “Biodiversidade e Turismo Sustentável” como tema para o Dia Internacional da Diversidade Biológica. A celebração acontece anualmente no dia 22 de maio. A decisão visou apoiar o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, que está sendo comemorado em todo o mundo em 2017. O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, enfatiza...

II Prêmio Nacional de Biodiversidade Sete iniciativas de conservação da biodiversidade brasileira receberam o troféu do Prêmio Nacional da Biodiversidade. Ao todo, 17 finalistas, divididos em seis categorias (Academia, Empresas, Imprensa, Ministério do Meio Ambiente, Órgãos Públicos e Sociedade Civil) participaram da cerimônia de entrega do prêmio, realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. “Esse prêmio é um reconhecimento e uma força para iniciativas de conservação da biodiversidade. Espero que se torne um incentivo para mais ações...

COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Aliança REDD+ Brasil, Andrea Cunha Freitas, Ascom EnerSolar + Brasil, BGCI, Ciro Antonio Rosolen, Global Tree Search, João Cunha, Lars Laestadius, Naomi van den Berg, Ronaldo G. Hühn, Síglia Regina dos Santos Souza FOTOGRAFIAS Amanda Lelis, Andre Schuiteman, Antônio Silva e Cristino Martins / Ag. Pará, Anspach, Ascom Semas, Bastin et al. 2017, Bill Holsten, BGCI, Bruno Corsino, Carla Lima, CLME+Project, Colin Harris, Cultura RM / Alamy, Divulgação, Eric Baccega, Ésio Mendes/Secom/Gov. de Rondônia, Felipe Rosa, Francis Dejon, Geoprocessamento / Instituto, Gilberto Soares/MMA, Gilvan Coimbra, John Dransfield/Kew, Jorg Matschullat-projeto Ecorespira, Kyle Dexter, M. Edliadi/CIFOR, M. Lopez, Márcio Gallo, Museu Goeldi, Museu de História Natural, NASA/JPL, Nara Mota, ONU Meio Ambiente, P. Pleul, Pedro Viana, PNUD, Royal Kew Gardens, Rudolph Hühn, Sebastian Westermann , Síglia Souza, TERN Ausplots Nasa, UNEP, UNFCCC, Vaticano, Yusuf Menemen FAVOR EDITORAÇÃO ELETRÔNICA POR Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle

I LE ESTA REV

NOSSA CAPA Pintura acrílica de Felix Murillo (San Jose, Costa Rica) em 173 x 147cm, representando 2 rostos de peixes com olhos humanos como seus, em cores vívidas e brilhantes

A vegetação da Serra de Carajás, no Pará O projeto “Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil”, é o resultado do trabalho de 55 botânicos e mais de 22 instituições do Brasil e do exterior, que reuniram informações sobre 139 gêneros e 248 espécies da flora da região. Desenvolvido desde 2015, contou com a colaboração de 74 botânicos taxonomistas do Brasil e do exterior. Segundo o Museu Goeldi, é possível que, ao final de...

Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas da UNFCCC Diplomatas de todo o mundo se reuniram na Alemanha para a última rodada de negociações climáticas da ONU. Os negociadores fizeram importantes progressos no desenvolvimento de um esboço de diretrizes que ajudarão a transformar o Acordo de Paris em ação. As conversações “interseções”, que se realizam anualmente em Bonn a meio caminho entre a conferência anual de partidos...

MAIS CONTEÚDO

[14] Oceanos: Conferência da ONU [20] Alubar recebe premiações da CEMAR e do programa REDES / FIEPA [22] Florestas “perdidas/ escondidas”, encontradas [24] Entre as 1730 novas espécies de plantas de 2016 há alimentos e curas [28] De olho na floresta: Instituto Mamirauá realiza monitoramento do uso de florestas na Amazônia [29] Nova Agenda Urbana na Amazônia [32] Pesquisa global de árvores (GlobalTreeSearch ) – a primeira base de dados global completa de espécies arbóreas e distribuições de países [38] Pesquisas estudam respiração do solo em ecossistemas na Amazônia [41] Certificação agrícola: por quê? [42] Green Rio 2017 movimenta R$ 10 milhões para economia verde [46] Meta de Paris – 1.5°C, pode ser ultrapassada em 2026 [48] O limite de aquecimento de 1,5°C economizaria enormes extensões de permafrost [52] REDD+ Integrado modelo financeiro para viabilizar as metas do Acordo de Paris [54] O derretimento de geleiras está levando ao ressurgimento de doenças [56] Carbono, carbono, carbono e bilhões de árvores [58] Enersolar+Brasil 2017: o futuro das energias renováveis [60] Pesquisadores começam testes de som e imagem para monitoramento de fauna na Amazônia [62] Uso da Biodiversidade Questões Regulatórias e Oportunidades [64] As cores dos pássaros

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Os governos dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal definiram, através de protocolo de intenções, a criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal. A confirmação da iniciativa ocorreu durante o 14º Fórum de Governadores da Amazônia, realizado recentemente em Porto Velho, capital de Rondônia. A criação do bloco precisa, à exemplo...

EDITORA CÍRIOS

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14º Fórum de Governadores da Amazônia

PUBLICAÇÃO Período (Maio/Junho) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

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14º FÓRUM DE GOVERNADORES AMAZÔNIA LEGAL Governadores da Amazônia definem criação de Consórcio para defender interesses da região Fotos: Ascom / Semas, Bruno Corsino, Ésio Mendes / Secom / Governo de Rondônia

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s governos dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal definiram, através de protocolo de intenções, a criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal. A confirmação da iniciativa ocorreu durante o 14º Fórum de Governadores da Amazônia, realizado recentemente em Porto Velho, capital de Rondônia. A criação do bloco precisa, à exemplo de outros modelos semelhantes, de aprovação pela Assembleia Legislativa dos Estados para ser formalizado e terá como objetivo a busca de parcerias e ações para garantir o desenvolvimento harmônico e sustentável da região, através de medidas de integração e realizadas em conjunto entre os Estados. Embaixatriz da Noruega, Audi Marit Wig

Ao final da reunião, os representantes dos estados assinaram a Carta de Porto Velho, em que fazem constar o compromisso com a defesa dos interesses da região a partir da união

O governador de Rondônia, Confúcio Moura, anfitrião do evento, afirmou que os estados amazônicos são pressionados para preservar as riquezas naturais, mas não há, da parte dos demais estados e países a adequada e proporcional contrapartida pela contribuição ambiental que a região oferece ao mundo. “Queremos que nossa população também tenha bons serviços, atenção à saúde das populações indígenas, ribeirinhas e isoladas, por exemplo. Para isso, precisamos de mais recursos e os mecanismos para isso precisam ser consolidados”, defendeu. Para o governador Simão Jatene, do Pará, o objetivo final do consórcio será o de superar os desafios através do enfrentamento da pobreza e da desigualdade. “Apesar de sermos campeões em biodiversidade, produção de alimentos, minérios e água, por exemplo, convivemos com a pobreza e as desigualdades, que precisa ser enfrentada urgentemente”, destacou. revistaamazonia.com.br

Jatene aproveitou para convidar os demais governadores a participar de discussão que está sendo programada por diversas instituições internacionais, entre elas a ONU Habitat (Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos) para este mês, em Belém, reunindo especialistas que vão tratar a respeito da implementação da Nova Agenda Urbana aplicada para a região amazônica. “Mais da metade da nossa população vive em cidades. Estivemos em Quito (Equador), ano passado, e reiteramos a necessidade de verificar um modelo de agenda urbana que possa ser adequado para a realidade amazônica, que possui peculiaridades absolutamente distintas de outras regiões em relação às necessidades para garantir melhoria de qualidade de vida para as pessoas”, comentou Simão Jatene. O governador ainda complementou dizendo que o consórcio é fundamental para que os governos estejam juntos nessas discussões e busca de parcerias, “para que REVISTA AMAZÔNIA

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Governador de Rondônia, Confúcio Moura

o padrão de desenvolvimento das nossas cidades tenha um conceito e um modelo diferente do de outras realidades e regiões. Vamos discutir a formatação de um ecossistema de fundos, com recursos públicos e privados que, pode nos ajudar a construir parcerias e que reponham a união como a palavra-chave para enfrentar nossos desafios”, destacou.

Turismo Na abertura do Fórum de Governadores, que contou ainda com presença da embaixatriz da Noruega, Audi Marit Wig e da diretora do GCF - Governors’ Climate & Forests Task Force (Força-Tarefa de Governos para o Clima e Florestas, em tradução livre), Coleen Lyons, o ministro do Turismo, Marx Beltrão, apresentou a campanha de mídia é resultado de solicitação feita pelos governos estaduais ao ministério, através das secretarias de comunicação e de turismo dos Estados. O secretário de Turismo, Adenauer Goes, foi um dos articuladores dessa campanha. O investimento em mídia é da ordem de R$ 20 milhões, tendo como mote “Descubra uma nova Amazônia”. A ação publicitária também sugere que se viva a região, conhecendo sua cultura, seus sabores e a multiplicidade de “amazônias que existe na Amazônia”, conforme explicou o ministro. “Queremos ajudar na possibilidade de que o Brasil conheça mais o país e especialmente essa região que é tão fundamental para todos. Por isso cumprimento os governadores pela união e destacamos que esse esforço conjunto pela Amazônia é também nosso objetivo”, destacou o ministro do Turismo. 06

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O encontro de governadores contou ainda com debates através das câmaras setoriais de segurança pública, ambiental e de comunicação, os representantes dos estados membros do bloco (Rondônia, Amapá, Pará, Acre, Amazonas, Maranhão, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Roraima). Para Tião Viana, governador do Acre, a articulação conjunta dos estados do bloco demonstra que é possível atravessar um momento de crise com agenda positiva, e este exemplo deve ser apresentado ao País. Ele também advertiu para o avanço do crime organizado nas fronteiras da região. Ao final da reunião, os representantes dos estados assinaram a Carta de Porto Velho (veja ao lado), em que fazem constar o compromisso com a defesa dos interesses da região a partir da união. Ficou definido ainda que o próximo Fórum de Governadores será realizado em agosto, em Cuiabá, capital do Mato Grosso.

Debatendo ações de combate ao desmatamento As ações de combate ao desmatamento do Governo do Pará, realizadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Programa Municípios Verdes (PMV), Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio), foram destaques no 14º Fórum de Governadores da Amazônia Legal, em Porto Velho, Rondônia. O evento foi promovido recentemente, tendo como público mais de 40 técnicos e secretários dos estados do Pará, Rondônia, Amazonas, Acre, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins, Amapá e Roraima. Os investimentos em monitoramento, aquisição de equipamentos e as operações subsidiadas pela Assessoria de Inteligência da Semas foram citados na

fala dos secretários, ficando definida reuniões técnicas no Pará, para o compartilhamento de expertise. O trabalho dos órgãos ambientais e de segurança do Pará gerou, de 2016 até o primeiro trimestre de 2017, a apreensão de mais de 35.809,749 metros cúbicos (m³) de madeira em tora e 5.593,808 m³ de madeira serrada, além de 122 maquinários.Na ocasião, o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (Cimam) do Pará, inaugurado no último mês de março, foi disponibilizado para todos os estados que pretendem o compartilhamento da informação rápida e qualificada. O Cimam tem o propósito de desenvolver metodologias para produção de conhecimentos na esfera ambiental. São utilizadas ferramentas de acompanhamento e controle do desmatamento, dispondo de imagens de satélite com precisão de até três metros da área monitorada, em tempo real. O trabalho subsidia ações preventivas. O secretário extraordinário do Programa Municípios Verdes do Pará, Justiniano Netto, participou do Fórum, explanando sobre a situação do monitoramento e do desmatamento no Estado. Justiniano considerou que o Governo atua para equiparação entre as variáveis de desmatamento e recuperação. A secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Tocantins, Luzimeire Ribeiro de Moura, elogiou as ações do Pará, colocando-o como referência para os demais estados. “Tivemos uma oficina, e a secretaria teve oportunidade de conhecer mais profundamente o trabalho feito lá”, disse. O secretário de Meio Ambiente do Acre, Edegard de Deus, ressaltou ainda que o Pará deve encabeçar as ações e ser referência para o andamento do processo da plataforma integrada de informações e de inteligência entre os estados.

A criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal foi confirmado no 14º Fórum de Governadores da Amazônia

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Ministro do Turismo, Marx Beltrão

Para o governador Simão Jatene, do Pará, o objetivo final do consórcio será o de superar os desafios através do enfrentamento da pobreza e da desigualdade

a qualificação de informações sobre as alterações na cobertura vegetal na Amazônia Legal, foram amplamente discutidos com o propósito voltado ao combate do desmatamento na Amazônia Legal. A criação de um Programa integrado para Gestão das Águas da Bacia Amazônica e os Mecanismos e as Estratégias para uma política regional de REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) também tiveram destaque nos painéis de discussão, assim como a Segurança Pública, a inteligência estratégica e as operações integradas nas fronteiras e gestão de conflitos agrários. Por fim, avançaram as deliberações sobre a criação do Fórum Permanente de Comunicação Pública Governamental.

Público de mais de 40 técnicos e secretários das câmaras setoriais de segurança pública, ambiental e de comunicação, dos representantes dos estados membros do bloco (Rondônia, Amapá, Pará, Acre, Amazonas, Maranhão, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Roraima)

Deliberações Os secretários de Estados da Amazônia Legal, com a assessoria dos seus técnicos, discutiram sobre a assinatura de um Protocolo de Intenções, para criação do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, que

visam esforços para o uso sustentável dos Recursos Naturais na Amazônia. Na área ambiental, o compartilhamento de metodologia, tecnologias e informações, para o fortalecimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), implementação do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e

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Fotos: Gilberto Soares/MMA, M. Edliadi/CIFOR, UNEP, Vaticano

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homem é criatura e moldador de seu ambiente, o que lhe dá sustento físico e oferece-lhe a oportunidade de crescimento intelectual, moral, social e espiritual. Na longa e tortuosa evolução da raça humana neste planeta, um palco foi alcançado quando, através da rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar seu meio ambiente de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes. As Nações Unidas, conscientes de que a proteção e melhoria do meio ambiente humano é um problema importante, que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico em todo o mundo, designado 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. A celebração deste dia nos proporciona uma oportunidade de ampliar a base para uma opinião esclarecida e uma conduta responsável por indivíduos, empresas e comunidades na preservação e melhoria do meio ambiente. Desde que começou em 1974, tornou-se uma plataforma global para divulgação pública que é amplamente celebrada em todo o mundo.

O valor da natureza

“Conectando Pessoas à Natureza”

Conectados à natureza

Cada Dia Mundial do Meio Ambiente é organizado em torno de um tema que enfoca a atenção em uma preocupação ambiental particularmente premente. O tema para 2017, “Conectando as pessoas à natureza”, nos leva a entrar ao ar livre e à natureza, a apreciar a beleza e a pensar sobre como somos parte da natureza e com a nossa dependência. Ele nos desafia a encontrar maneiras divertidas e emocionantes de experimentar e apreciar esse relacionamento vital. Milhares de pessoas rurais em todo o mundo passam todos os dias úteis “conectados à natureza” e apreciam bem a dependência dos recursos naturais de água e como a natureza fornece seus meios de subsistência sob a forma de solo fértil. Eles estão entre os primeiros a sofrer quando os ecossistemas estão ameaçados, seja por poluição, mudança climática ou sobre-exploração. 08

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Nas últimas décadas, os avanços científicos, bem como os crescentes problemas ambientais, como o aquecimento global, estão nos ajudando a compreender as inúmeras formas pelas quais os sistemas naturais apoiam nossa própria prosperidade e bem-estar. Por exemplo, os oceanos, florestas e solos do mundo atuam como vastas lojas de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano; Agricultores e pescadores aproveitam a natureza em terra e sob a água para nos fornecer comida; os cientistas desenvolvem medicamentos usando material genético extraído de milhões de espécies que compõem a surpreendente diversidade biológica da Terra. Milhares de pessoas rurais em todo o mundo passam todos os dias úteis “conectados à natureza” e apreciam bem a dependência dos recursos naturais de água e como a natureza fornece seus meios de subsistência sob a forma de solo fértil. Eles estão entre os primeiros a sofrer quando os ecossistemas estão ameaçados, seja por poluição, mudança climática ou sobre-exploração. Os presentes da natureza são muitas vezes difíceis de avaliar em termos monetários. Como o ar limpo, eles são frequentemente considerados como garantidos, pelo menos até ficarem escassos. No entanto, os economistas estão desenvolvendo formas de medir o valor de vários trilhões de dólares de muitos dos chamados “serviços ecossistêmicos”, de insetos que polinizam árvores frutíferas nos pomares da Califórnia para o lazer, a saúde e os benefícios espirituais de uma caminhada até um vale do Himalaia. revistaamazonia.com.br


Temer amplia e cria unidades de conservação

O presidente também assinou decreto que torna o Acordo de Paris sobre Mudança do Clima parte da legislação brasileira e lançou o Programa Plantadores de Rios

No Dia Mundial do Meio Ambiente, o presidente Michel Temer assinou decretos que ampliam três unidades de conservação: Cria o Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, no Pará, outro decreto cria o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás; a Estação Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul; e a Reserva Biológica União, no Rio de Janeiro. Durante evento no Palácio do Planalto, o presidente também assinou decreto que torna o Acordo de Paris sobre Mudança do Clima parte da legislação brasileira e lançou o Programa Plantadores de Rios, para proteger e recuperar nascentes e Áreas de Preservação Permanente (APP) de cursos d’água.

Entre as inovações do programa Plantadores de Rios está um aplicativo interativo que permite a conexão de proprietários de imóveis rurais inscritos no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) com pessoas e instituições que queiram investir na proteção e recuperação de florestas. O Sicar já mapeou 15 milhões de hectares de áreas de preservação permanente, dos quais 6 milhões precisam ser recuperados. O sistema já cadastrou 1,5 milhão de nascentes. “O Sicar é uma importante fonte de dados para o programa. Apoiamos a construção do programa em três eixos: manejar para disponibilização de insumos; iniciativas para recuperação de APPs hídricas, e o aplicativo”, disse o minsitro referindo-se ao Plantando Rios. Para o ministro do Meio Ambiente, o programa vai ajudar a combater a crise hídrica em algumas regiões do país: “o programa Plantando Rios protegerá e recuperará nascentes e áreas de preservação permanentes de cursos de água, de forma a combater a crise hídrica que tem atingido o país mais e com maior gravidade a cada ano. Não dá para combater apenas o que está entre o reservatório e a torneira. Temos de ir à raiz do problema”.

Papa pede proteção ao Meio Ambiente Que a humanidade tenha respeito pela natureza

Plantadores de Rios

No Dia Mundial do Meio Ambiente, o papa Francisco fez um apelo em sua conta no Twitter para que a humanidade tenha respeito pela natureza. “Nunca esqueçamos que o ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos”. “As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade”, escreveu Francisco no documento.

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Biodiversidade e Turismo Sustentável

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Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas escolheu “Biodiversidade e Turismo Sustentável” como tema para o Dia Internacional da Diversidade Biológica. A celebração acontece anualmente no dia 22 de maio. A decisão visou apoiar o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, que está sendo comemorado em todo o mundo em 2017. O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, enfatiza, entre outros aspectos, o papel do setor do turismo na preservação dos ecossistemas e na sensibilização para a singularidade da biodiversidade. Seguindo estes princípios, a Convenção sobre a Diversidade Biológica das Nações Unidas decidiu dedicar o Dia Internacional da Diversidade Biológica, celebrado anualmente em 22 de maio, para “Biodiversidade e Turismo Sustentável”. Conforme declarado pelo Secretário-Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), Taleb Rifai, “Saudamos muito a decisão tomada pela Convenção sobre a Diversidade Biológica de enfatizar a ligação entre turismo e biodiversidade. O turismo é um dos setores mais bem colocados para contribuir para um desenvolvimento inclusivo e sustentável e, com as políticas adequadas, preservar os ecossistemas, a biodiversidade e o patrimônio natural”. A contribuição do turismo para a conservação é cada vez mais reconhecida pela comunidade internacional. A Declaração de Cancún sobre a Integração da Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade para o Bem-Estar, divulgada por ocasião da COP 13 (13ª Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica), realizada no México em dezembro passado, lembra que “o turismo é um excelente veículo para divulgar a consciência ambiental em todo o mundo, para não mencionar o apoio aos meios de subsistência que presta às comunidades que vivem nas reservas e áreas naturais”, e reconhece que o turismo pode ser

um agente facilitador da mudança. A monitorização, o ordenamento do território, o desenvolvimento da riqueza biocultural e a promoção de tecnologias para transformar o turismo numa ferramenta de preservação da diversidade biológica são alguns dos componentes integrados nas abordagens do turismo sustentável. Esta visão também enfatiza o potencial do turismo para aumentar a consciência ambiental em todo o mundo sobre o valor das áreas protegidas. A este respeito, a OMT trabalha há muito tempo para reforçar

a capacidade de monitorizar o impacto do setor do turismo e construir abordagens baseadas em evidências para o desenvolvimento do turismo. A Rede Internacional de Observatórios de Turismo Sustentável (INSTO) da OMT é uma rede de observatórios turísticos que monitorizam o impacto económico, ambiental e social do turismo ao nível do destino, comprometidos com o acompanhamento regular do turismo, A gestão responsável do turismo. Existem 16 observatórios atualmente em operação em todo o mundo.

Secretário-Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), Taleb Rifai

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revistaamazonia.com.br Último Barômetro Mundial do Turismo da OMT


Dia Internacional da Diversidade Biológica 2017 Há mais de 70 anos, a UNESCO vem trabalhando para promover o conhecimento científico e a cooperação em biodiversidade e ecossistemas, como florestas tropicais, oceanos, montanhas. Nos últimos anos, o efeito das atividades humanas – ampliadas pelo crescimento populacional e pela mudança climática global – reduziu profundamente a biodiversidade nos ecossistemas em todo o mundo. Precisamos juntar forças e encontrar novas formas de proteger e promover a biodiversidade como nosso patrimônio comum e uma condição para um futuro sustentável para todos. O turismo sustentável é uma ferramenta poderosa para aumentar a consciência sobre a biodiversidade e protegê-la para as gerações presentes e futuras. Este é o espírito da Declaração de Cancún, adotada na Décima Terceira Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica realizada no México em 2016, que afirma: “há caminhos para garantir a sustentabilidade a longo prazo do turismo, Garantindo que contribui positivamente para a biodiversidade”. A UNESCO trabalha com todos os seus parceiros para explorar esses caminhos. Apoiamos o treinamento de guia de ecoturismo para jovens na Reserva da Biosfera Mata Atlântica no Brasil. Na Bielorrússia, programas de turismo baseado na natureza foram adaptados para atividades como a observação de aves e canoagem, em cooperação com a Reserva da Biosfera Vosges du Nord, na França. A preservação da biodiversidade é vital para vidas humanas e ecossistemas – é também uma fonte de crescimento verde e empregos decentes. O Programa Homem e Biosfera da UNESCO, como a iniciativa “Destinos da Biosfera”, traz destinos verdes, certificados e turismo certificado, mostrando também uma taxa de crescimento de emprego de quase 70% em Portugal. Através do Programa de Turismo Sustentável Patrimônio Mundial, a UNESCO também trabalha para fortalecer políticas e estruturas que apoiem o turismo sustentável para melhorar a gestão do patrimônio natural. Recentemente, foram organizadas várias oficinas de capacitação em quatro sítios naturais do património mundial da Humanidade em Lesoto, no Malawi, na África do Sul, na República Unida da Tanzânia, na Zâmbia e no Zimbabué. Biodiversidade é vida. É também uma condição-chave para ecossistemas resilientes, capazes de se adaptar a um ambiente em mudança e desafios inesperados. A biodiversidade é tão necessária para a natureza e a humanidade quanto a diversidade cultural, para construir sociedades mais fortes e mais resilientes, equipadas com as ferramentas necessárias para responder aos desafios de hoje e de amanhã. Precisamos fomentar esta cultura da diversidade em todas as suas formas como uma oportunidade e uma força para todos. Vejo isso como uma condição-chave para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas.

Irina Bokova

Diretora-Geral da UNESCO

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II Prêmio Nacional de Biodiversidade Fotos: Gilberto Soares/MMA

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ete iniciativas de conservação da biodiversidade brasileira receberam o troféu do Prêmio Nacional da Biodiversidade. Ao todo, 17 finalistas, divididos em seis categorias (Academia, Empresas, Imprensa, Ministério do Meio Ambiente, Órgãos Públicos e Sociedade Civil) participaram da cerimônia de entrega do prêmio, realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. “Esse prêmio é um reconhecimento e uma força para iniciativas de conservação da biodiversidade. Espero que se torne um incentivo para mais ações como estas”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. Durante a premiação, o diretor do Departamento de Conservação e Manejo de Espécies, Ugo Vercillo, destacou que a emoção estava no palco. “O Prêmio reconhece anos e anos de trabalhos. Espero que esse reconhecimento siga traduzindo em novas iniciativas, crescendo e prosperando pelo Brasil. Nosso objetivo é garantir a preservação das espécies para as presentes e futuras gerações”, afirmou o diretor.

A partir deste ano, o projeto assumiu compromisso de executar o Programa Nacional para a Conservação do Papagaio-de-peito-roxo.

Com duração prevista de quatro anos, a iniciativa busca executar metas previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios (PAN Papagaios), que será realizado em áreas prioritárias já identificadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Nêmora Pauletti Prestes, do Instituto de Ciências Biológicas da UPF e uma das coordenadoras do projeto, se emocionou ao receber o prêmio. “Passados 25 anos, aplicando estratégias de conservação com ênfase no incentivo à criação de áreas protegidas, foi possível manter uma população em torno de 20 mil papagaios-charão. A experiência com o charão habilitou a equipe para hoje conduzir o Programa Nacional de Conservação do Papagaio-de-peito-roxo, desde o Rio Grande do Sul até Minas Gerais, orientado pelas metas do PAN Papagaios”. “Esse prêmio é um reconhecimento e uma força para incitavas de conservação da biodiversidade. Espero que se torne um incentivo para mais ações como essas”, afirmou o ministro Sarney Filho

Júri Popular Todos as iniciativas concorreram, ainda, na categoria especial Júri Popular. A iniciativa vencedora, “Dois papagaios ameaçados da Floresta com Araucárias: um esforço de conservação comum”, parceria da Associação dos Amigos do Meio Ambiente (AMA) e da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul, recebeu mais de 20 mil votos. Com quase 25 anos de estrada, a iniciativa atua pela conservação da natureza, com foco em pesquisa e educação ambiental para a conservação da Floresta com Araucárias e sua biodiversidade, representada pelos papagaios-de-altitude (charão e peito-roxo). 12

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Os finalistas do Prêmio Nacional da Biodiversidade

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Na categoria Ministério do Meio Ambiente, quem levou o prêmio foi o ICMBio, com o Plano de Ação Nacional para a Conservação da Biodiversidade

A vencedora da categoria Júri Popular, foi a Associação dos Amigos do Meio Ambiente (Universidade de Passo Fundo), com o projeto “Papagaios ameaçados da floresta com araucárias: um esforço de conservação comum”. O prêmio foi entregue pela especialista em Biodiversidade do Banco Mundial, Adriana Moreira

O representante da IUCN no Brasil, Márcio Dionísio, fez a entrega do prêmio à Aquasis, vencedora na categoria Sociedade Civil

Homenagem A secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos, fez a entrega do prêmio à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vencedor da categoria Órgãos Públicos, com o projeto Saúde Silvestre e Inclusão Digital

Na categoria Academia, o vencedor da noite foi a UNESP, com o Programa de Conservação do cervo-do-pantanal O prêmio na categoria Sociedade Civil foi para a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), com o Projeto Periquito Cara-Suja

O gerente executivo de meio ambiente da CNI - Confederação Nacional da Indústria, Shelley Carneiro, fez a entrega do prêmio à Votorantim, na categoria Empresas.

Na categoria Empresas, quem levou o prêmio foi a Reservas Votorantim, com o projeto Legado das Águas O ministro Sarney Filho faz a entrega do troféu ao casal Guy e Neca Marcovaldi, do Projeto Tamar, uma das ações de conservação marinha mais bem sucedidas do mundo

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O ex-presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, que faleceu em outubro do ano passado, foi homenageado durante a cerimônia de entrega do Prêmio. Sarney Filho entregou para Solange Maria Mello, esposa de Rômulo, um troféu em reconhecimento à dedicação e trabalho desenvolvido pelo ex-presidente do ICMBio em favor da biodiversidade brasileira.“Assim que fui convidado novamente para assumir o Ministério do Meio Ambiente, chamei o Rômulo para conversar e perguntei se ele toparia esse desafio. Disse-lhe que a gente tinha uma causa e tínhamos que defendê-la. Ele compreendeu a necessidade de se integrar para evitarmos retrocessos e avançarmos. Ele me ajudou muito. Era um técnico de visão, experiente e que, seguramente, está fazendo muita falta”, disse o ministro.

Os vencedores: O artista plástico Darlan Rosa, criador do troféu, entrega o prêmio ao jornalista Herton Escobar, pela iniciativa Fauna Invisível, do Estadão.

O time do ICMBio subiu ao palco para receber, das mãos do superintendente da Caixa Econômica, Jucemar José Imperatoni, o prêmio na categoria Ministério do Meio Ambiente, com o Plano de Ação Nacional para a Conservação da Biodiversidade

O ex-presidente do ICMBio, Rômulo Mello, que faleceu em outubro do ano passado, foi homenageado durante a cerimônia de entrega do Prêmio. Rômulo foi resposnável pela criação de mais de 30 unidades de conservação (UCs)

O vencedor da categoria Órgãos Públicos foi a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o projeto Saúde Silvestre e Inclusão Digital

Imprensa: Fauna Invisível – O Estado de São Paulo – Herton Escobar Sociedade Civil: Projeto Periquito Cara-Suja – Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos – Aquasis Empresas: Legado das Águas Reservas – Votorantim Ltda. Ministério do Meio Ambiente: Planos de Ação Nacional para a Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Órgãos Públicos: Saúde silvestre e inclusão digital: participação comunitária no monitoramento da biodiversidade – Fundação Oswaldo Cruz Academia: Programa de conservação do cervo-do-pantanal – UNESP – FCAV – Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos Júri Popular: Dois papagaios ameaçados da Floresta com Araucárias: um esforço de conservação comum – Associação dos Amigos do Meio Ambiente. REVISTA AMAZÔNIA

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secretário-geral António Guterres da ONU, na abertura da conferência, alertou governos que, a menos que eles superem interesses territoriais e de recursos no curto prazo, o estado dos oceanos continuará se deteriorando. “Melhorar a saúde de nossos oceanos é um teste para o multilateralismo, e não podemos nos dar ao luxo de falhar nisso”, disse o secretário-geral em sua primeira grande conferência da ONU desde que assumiu o cargo, no início deste ano. “Precisamos enfrentar conjuntamente os problemas de governança que nos contiveram”, disse, pedindo novas visões estratégicas sobre como governar os oceanos e os recursos marinhos. Um dos principais desafios, disse, é acabar com a “dicotomia artificial” entre empregos e saúde dos oceanos. “A conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos são dois lados da mesma moeda”. Ele pediu forte liderança política e novas parcerias, baseadas nos marcos legais existentes, e passos concretos, como expandir as áreas marinhas protegidas e reduzir a poluição causada por lixo plástico. Entre outras ações específicas, Guterres pediu que governos destinassem os recursos prometidos para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o Acordo de Paris para o clima e a Agenda de Ação Addis Ababa, assim como melhorassem a coleta de dados e o compartilhamento das melhores experiências.

Fotos: Karen Robinson

Nossos oceanos, nosso futuro: parceria para a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14

Esse trabalho é apoiado pela ONU, acrescentou, que entre suas atividades, está construindo parcerias com governos, setor privado, sociedade civil e outros, e trabalhando com instituições financeiras internacionais para alocar recursos. O presidente da Assembleia Geral, Peter Thomson, das ilhas Fiji, que organizou o evento ao lado da

Suécia disse: “Chegou a hora de corrigirmos nossos erros”. Ele criticou ações “injustificáveis”, como jogar o equivalente a um caminhão de lixo plástico nos oceanos a cada minuto todos os dias, ampliar os estoques de peixes a ponto de colapso, e destruir a vida marinha por meio da acidificação e da desoxigenação. O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, diz que salvar os oceanos é “preservar a própria vida”, ao abrir a primeira conferência global do oceano da ONU

Encerramento. Resultados da conferência

Antonio Guterres diz que um estudo recente adverte que o lixo plástico descartado poderia superar os peixes até 2050 se nada for feito

Os 193 Estados membros das Nações Unidas concordaram unanimemente em um conjunto de medidas que irão começar a reverter o declínio da saúde do oceano. O documento final, juntamente com mais de 1.300 compromissos de ação, marca um avanço na abordagem global da gestão e conservação do oceano. A primeira conferência da ONU sobre o assunto levantou a consciência global de problemas oceânicos que vão desde a poluição marinha até a pesca ilegal e sobrecarregada, desde a acidificação dos oceanos até a falta de governança do alto mar. Ao incluir todas as partes interessadas nas discussões, a Conferência produziu uma gama abrangente


e acionável de soluções. “A Conferência do Oceano mudou nosso relacionamento com o oceano”, disse o presidente da Assembleia Geral da ONU, Peter Thomson. “Daqui em diante, ninguém pode dizer que eles não estavam cientes do mal que a humanidade fez com a saúde do oceano. Agora estamos trabalhando em todo o mundo para restaurar um relacionamento de equilíbrio e respeito pelo oceano”. Wu Hongbo, Secretário-Geral Adjunto dos Assuntos Econômicos e Sociais e Secretário Geral da Conferência Oceânica, disse que a Conferência marcou um importante passo em frente para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Participantes de Estados membros, ONGs, sociedade civil, setor privado, comunidade científica e academia participaram de ampla discussão e conhecimentos compartilhados de última geração e informações mais recentes sobre ciência e desafios marinhos”, afirmou. “Eles mostraram e apresentaram muitas soluções inovadoras, que podem nos ajudar a alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, e através de suas interligações os outros SDGs e alvos”.

Conclusões Reconhecendo que o bem-estar das gerações presentes e futuras está inextricavelmente ligado à saúde e à produtividade do oceano, os países concordaram coletivamente na Chamada à ação “para agir de forma decisiva e urgente, convencido de que nossa ação coletiva fará uma diferença significativa para o nosso povo, para o nosso planeta e para a nossa prosperidade”.

Enquanto os diálogos da parceria oceânica se concentraram nos múltiplos problemas e desafios que o oceano enfrenta, todos os participantes ofereceram soluções e compromissos para reverter esses desafios. A Chamada à ação, foi formalmente aprovado na conclusão da Conferência, bem como os relatórios dos sete diálogos de parceria que se concentraram na ampliação de soluções e nos compromissos voluntários de ação. Na Chamada à ação, os países concordam em implementar estratégias de longo prazo e robustas para reduzir o uso de plásticos e microplásticos, como sacos plásticos e plásticos de uso único. Os países também concordaram em desenvolver e implementar medidas eficazes de adaptação e mitigação que atendam a acidificação oceânica e costeira, aumento do nível do mar e aumento das temperaturas do oceano e metas para os outros impactos prejudiciais das mudanças climáticas no oceano. Reconhecem a importância do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. A Chamada à ação, também inclui medidas para proteger os ecossistemas de carbono costeiro e azul, como manguezais, pântanos de marés, ervas marinhas e recifes de corais, e ecossistemas interconectados mais amplos, além de melhorar a gestão sustentável das pescas, inclusive para restaurar os estoques de peixes no menor tempo possível, pelo menos para níveis que podem produzir o rendimento máximo sustentável. Os países são chamados a proibir decisivamente certas formas de subsídios à pesca que contribuem para o excesso de capacidade e a sobrepesca e eliminam os subsídios que contribuem para a

pesca ilegal, não declarada e não regulamentada. Os compromissos, por sua vez, abordam todas as questões necessárias para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 – Conserve e use de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos – e produziu resultados significativos: Os compromissos assumidos na Conferência indicam que o mundo está bem encaminhado para proteger mais de 10% das áreas marinhas do globo até 2020. Os compromissos assumidos durante a conferência aumentam 4,4% das áreas marinhas para o número existente. Muitos países anunciaram etapas para reduzir ou eliminar vários plásticos de uso único, como sacolas de plástico, que, em última instância, encontram seu caminho para o oceano. Numerosos países anunciaram que estavam intensificando seus esforços para reduzir a quantidade de esgoto e poluição que entram no oceano a partir de atividades terrestres. Muitos compromissos centraram-se na expansão do conhecimento científico sobre o oceano e no desenvolvimento e compartilhamento de tecnologias inovadoras para enfrentar os desafios oceânicos. Havia novos compromissos para proteger e gerenciar pescarias. Alguns países anunciaram “zonas de não retirada” para determinadas pescarias. Foram criados compromissos para estabelecer sistemas que permitam aos consumidores produzir peixes sustentáveis. Também foram feitos novos compromissos para combater a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada e para reduzir os subsídios de pesca que estão trabalhando para esgotar as unidades populacionais de peixes. Colônia de corais em manguezais em Raja Ampat, na Indonésia. Foto: Alex Lindbloom/USA/Prêmio do Dia Mundial dos Oceanos 2016


A vegetação da Serra de Carajás, no Pará Vale e Museu Emílio Goeldi lançam o primeiro volume sobre os estudos da vegetação da Serra de Carajás, no Pará Fotos: Carla Lima, Museu Goeldi, Nara Mota, Pedro Viana

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a. Aniseia cernua - flor. b. Cuscuta insquamata - inflorescência. c. Evolvulus filipes - inflorescência. d-e. Ipomoea carajasensis - d. detalhe do cálice; e. ramo com folhas e flor. f-g. Ipomoea cavalcantei - f. flores; g. ramo florido. h. Ipomoea cavalcantei × marabaensis - da esquerda para a direita, variação na corola em indivíduos de I. cavalcantei, híbridos e I. marabaensis. Fotos: a-c. N.F.O. Mota; d-e. M. Pastore; f. C.T. Lima; g-h. P.L. Viana.

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projeto “Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil”, é o resultado do trabalho de 55 botânicos e mais de 22 instituições do Brasil e do exterior, que 16

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reuniram informações sobre 139 gêneros e 248 espécies da flora da região. Desenvolvido desde 2015, contou com a colaboração de 74 botânicos taxonomistas do Brasil e do exterior. Segundo o Museu Goeldi, é

possível que, ao final de 2017, as pesquisas sejam responsáveis por catalogar quase 10% das 7.071 espécies da flora referidas para o estado. A pesquisa também conta com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Este primeiro volume, dos três a serem publicados pela Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, uma das revistas nacionais mais tradicional na área de botânica, é composto por 55 monografias em nível de família botânicas, incluindo 139 gêneros e 248 espécies tratadas. As monografias incluem descrições taxonômicas, ilustrações, distribuição geográfica e chaves de identificação para os gêneros e espécies. É o resultado do primeiro ano de pesquisa do projeto, que inclui um extensivo programa de coletas na área. Através da sistematização da informação e do resgate de registros do passado, o estudo atual contribui para disponibilização de informação correta e autenticada, substituindo listas desatualizadas e propiciando o uso dessa informação para os mais variados fins. Os coordenadores do projeto, os botânicos Pedro Viana, do Museu Emílio Goeldi, e Ana Maria Giulietti, do ITV, estimam que até a conclusão da pesquisa serão monografadas mais de 600 espécies vegetais. A informação gerada é resultado de coletas de campo em Carajás e em outros pontos do Pará, levantamento bibliográfico, e consulta a coleções botânicas de várias partes do mundo, que detêm dados sobre a vegetação de canga. Todo o material coletado desde 2015 já está incluído em banco de dados, com 8.800 amostras depositadas no herbário do Museu Goeldi, em Belém. Com essas informações, os pesquisadores esperam organizar informações muitas vezes dispersas ou incompletas sobre as espécies. Considerada uma referência no estudo da flora brasileira, Ana Giulietti ressalta que “o trabalho permitiu atualizar e sistematizar os dados sobre a flora desta importante região que é a canga de Carajás. revistaamazonia.com.br


Cangas São ecossistemas vegetais associados a locais onde ocorre o afloramento de rochas ferruginosas. As cangas são encontradas em vários locais do Brasil e são conhecidas por abrigarem seres vivos muito específicos e adaptados às características desses lugares. Por geralmente estarem associadas às principais jazidas de ferro do país, as cangas representam desafios para a pesquisa e o planejamento que concilie a conservação da biodiversidade e a exploração dos recursos naturais. As cangas de Carajás localizam-se imersas na Floresta Amazônica, considerada a grande lacuna de conhecimento florístico do Brasil. A organização da Flora das cangas da Serra dos Carajás visa suprir parte dessa lacuna e também auxiliar o diálogo entre a ciência, o setor produtivo e órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental na região, trazendo informações detalhadas sobre taxonomia (que classifica os seres vivos), morfologia e distribuição das espécies ocorrentes nas cangas de Carajás. g

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a. Ipomoea decora - folha e flor com corola em vista lateral. b. Ipomoea goyazensis - flor com corola em vista frontal. c. Ipomoea hederifolia - corola e botão em vista lateral. d-e. Ipomoea marabaensis - d. folhas e inflorescência; e. cápsulas. f. Jacquemontia tamnifolia - inflorescência. g-h. Merremia macrocalyx - g. ramo com folhas e flor; h. detalhe da cápsula. i. Operculina hamiltonii - ramo com folhas e flor. j-k. Turbina cordata - j. flores; k. detalhe do cálice. Fotos: a, f. N.F.O. Mota; b. D.C. Zappi; c, d, e, g, h. M. Pastore; i. P.L. Viana; j, k. L.V. Vasconcelos.

Espécies que não apareciam nas listas anteriores foram encontradas e espécies consideradas como ameaçadas e raras foram recoletadas”. Vera Fonseca, coordenadora do projeto pelo ITV, complementa ao explicar que muitas plantas tiveram uma única amostra coletada antes de 2015. “Agora, coletamos várias amostras para ampliarmos este conhecimento, estudarmos as populações, pois cada uma carrega um embasamento genético diferenciado, além de marcarmos matrizes para coletas de sementes”. Pedro Viana, curador do Herbário do Museu Goeldi e editor responsável pelo volume especial da Rodriguésia, pontua outros impactos da pesquisa. “Com os trabalhos de campo do projeto, o acervo botânico de Carajás no herbário do museu praticamente dobrou e novos materiais foram coletados”, afirma. revistaamazonia.com.br

Perspectivas O desenvolvimento do projeto também desencadeou uma série de outros estudos que estão em andamento. Essas pesquisas envolvem o aprofundamento do conhecimento da distribuição das espécies consideradas ameaçadas, endêmicas e raras. Entre os estudos em curso, há também o projeto pioneiro de implantação de um banco de dados com identificação molecular das plantas já certificadas por meio do código de barras de DNA, trabalho conduzido por pesquisadores do ITV, em Belém. Ao término do projeto e após a compilação completa das espécies ocorrentes em canga na Serra dos Carajás, será possível estabelecer uma

“Ipomoea cavalcantei”, a flor de Carajás; parte das espécies só é encontrada na região do Carajás

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Ipomoea decora

visão comparativa desta flora com outras áreas de formações rupestres já inventariadas na Amazônia, como o Parque Estadual do Cristalino (Mato Grosso) e a Serra do Aracá (Amazonas). Também será de grande importância para a comparação com outras áreas de cangas e de campos rupestres na Amazônia e em outras partes do país onde essas ocorram, e espera-se que seja um incentivo para novos inventários em áreas com flora ainda inexplorada. Os dados anteriores a este novo levantamento faziam referências a três espécies de Ipomoea como nativas de Carajás, consideradas endêmicas da região: Ipomoea carajasensis, Ipomoea cavalcantei (a flor-de-Carajás) e Ipomoea marabaensis. O trabalho atual refere mais quatro espécies de Ipomoea como nativas, mas de distribuição ampla. Com o novo levantamento, foi possível atualizar este dado, sabendo-se agora que há um total de sete espécies deste gênero da região de canga. Outros casos semelhantes também já foram registrados para outros grupos de planta. 18

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Histórico O início das investigações botânicas na Serra dos Carajás é relativamente recente. As primeiras coletas registradas datam de 1969, quando o botânico Paulo Bezerra Cavalcante, do Museu Goeldi, realizou sua primeira expedição à região para coleta de material. Por meio de seus registros, foram descobertos e posteriormente descritos gêneros e diversas espécies até então desconhecidas para a ciência, a exemplo do Monogereion carajensis. Nos anos seguintes, as coletas de material botânico na região foram intensificadas por pesquisadores do Museu Goeldi, com o apoio da então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atual Vale, que mantém os estudos para conservação de espécies nativas. A empresa desenvolveu o Estudo Fenológico de Espécies Vegetais da Província Mineral de Carajás e faz o monitoramento contínuo do ciclo e desenvolvimento das espécies a fim de analisar e implantar programas para contribuir para a sua proteção.

Decorrente desses esforços, foi publicada em 1983 a primeira listagem florística para a vegetação de canga da Serra dos Carajás, organizada por Ricardo Secco (MPEG) e Antônio Mesquita (Instituto de Tecnologia da Amazônia). A publicação serviu como base para estudos com diversas abordagens. Mais tarde, em 1991, Manoela da Silva (MPEG), no estudo “Análise florística da vegetação que se cresce sobre canga hematítica em Carajás-PA (Brasil)”, lista 58 famílias, 145 gêneros e 232 espécies para a vegetação de canga. Nesta listagem, 31% dos táxons (usados no sistema de classificação dos seres vivos) não foram identificados até o nível de espécie ou carecem de confirmação na determinação. Grande parte do material botânico testemunho desses trabalhos encontra-se depositado no herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (Herbário MG).A partir do final de 2007, consultores, professores e estudantes vinculados ao herbário BHCB, da Universidade Federal de Minas Gerais, revistaamazonia.com.br


Lepidaploa paraensis

Maria Giulietti, uma botânica reconhecida mundialmente e que já atuou na elaboração e organização de várias floras nacionais – como a Flora da Serra do Cipó, a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, Flora de Grão-Mogol e Flora da Bahia. O MPEG e o ITV firmaram um Acordo de Cooperação Técnica para o desenvolvimento do projeto “Flora das cangas da Serra dos Carajás” visando a retomada dos estudos sistemáticos sobre essa flora, uma parceria público-privada que permitiria uma produção muito mais rápida de resultados.

Museu Goeldi e ITV

Ipomoea carajasensis

desenvolveram estudos sobre a flora das cangas de Carajás, visando, principalmente, a elaboração de relatórios do impacto ambiental nas abrangências da Flona Carajás. As análises florísticas e fitossociológicas desta vegetação resultaram num incremento de aproximadamente 5 mil amostras, depositadas no acervo da Universidade de Minas revistaamazonia.com.br

Gerais. Em 2014, pesquisadores do MPEG tiveram aprovação de auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para iniciar a elaboração da Flora de Carajás, um projeto a médio e longo prazo. No início de 2015, o projeto da Flora de Carajás ganhou força com a contratação da pesquisadora Ana

O Museu Goeldi é a instituição mais antiga da Amazônia, fundada em 6 de outubro de 1866 e pioneira na investigação científica sobre a flora de Carajás, com a primeira expedição de coleta na região realizada em 1969. Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, ele mantém 18 coleções científicas principais com mais de 4,5 milhões de itens tombados e seis programas de pós-graduação. Já o ITV foi criado há oito anos pela Vale, que opera minas de ferro, cobre e níquel no sudeste do Pará. O instituto tem o objetivo de buscar soluções inovadoras que auxiliem o desempenho operacional da empresa respeitando o meio ambiente e as comunidades tradicionais da região. REVISTA AMAZÔNIA

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Alubar recebe premiações da CEMAR e do programa REDES/FIEPA

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Alubar recebeu duas premiações que reconhecem a qualidade dos cabos elétricos produzidos pela empresa e o compromisso com o desenvolvimento da região. A empresa foi um dos destaques do Programa de Excelência em Gestão Fornecedores 2016 da CEMAR (Companhia Energética do Maranhão), onde a fábrica conquistou o segundo lugar no segmento Fornecimento de Materiais no dia 27 de abril, e no Prêmio Redes Fiepa, ao levar o segundo lugar no dia 04 de maio, como empresa que mais compra no Pará em termos percentuais.

Prêmio REDES de Desenvolvimento Em 2016, a Alubar realizou 70% de todas as compras da Fábrica junto a fornecedores paraenses. Este índice garantiu à empresa o segundo lugar na categoria Percentum no V Prêmio REDES de Desenvolvimento, realizado no auditório da Federação das Indústrias do Pará (FIEPA), no dia 04 de maio. A premiação reconhece as mantenedoras do programa REDES/Fiepa que mais compraram no Pará em termos percentuais. “Para nós da Alubar receber o prêmio é o reconhecimento de todo o esforço que nós fazemos para desenvolver os fornecedores locais. É um compromisso da empresa o desenvolvimento dos parceiros locais e, por consequência, o Estado do Pará e assim gerar mais emprego e renda na região. Alubar tem esse compromisso e por isso é uma enorme felicidade poder participar deste evento e mais ainda conquistar esta premiação”, afirmou Maurício Gouvea, Diretor Executivo da Alubar durante a solenidade de entrega do troféu. O Gerente de Suprimentos da Alubar, Fábio Rezende, também acredita que o recebimento do prêmio Redes de Desenvolvimento vem confirmar o compromisso do Grupo Alubar com o crescimento e o desenvolvimento da região. “Sempre que possível direcionamos nossos investimentos para o mercado regional, no intuito de fortalecermos a economia local e a do Estado. Toda a equipe de suprimentos, especialmente o setor de compras, está bastante motivada de ter seu trabalho reconhecido pelo fortalecimento dos nossos parceiros locais. E muito feliz em poder participar de mais essa conquista da Alubar”, relata Fábio. 20

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Ao centro, diretor executivo da Alubar, Maurício Gouvea, recebe prêmio REDES

Programa de Excelência em Gestão (PEG) Em São Luis (MA), a premiação da CEMAR (Companhia Energética do Maranhão) teve como objetivo fomentar a cultura de gestão para os fornecedores da concessionária e reconhecer o melhor desempenho como forma de estímulo ao contínuo aprimoramento. “Como um dos principais fatores para que a Alubar se consagrasse como um dos vencedores do Programa de Excelência em Gestão (PEG) destaca-se o excelente atendimento, bem como o cumprimento dos prazos de entrega, fator muito importante para o perfeito funcionamento das operações da companhia. Também vale destacar a aderência a todas as exigências

técnicas, comerciais e fiscais exigidas pela CEMAR. O prêmio foi justo e merecido”, ressalta o Gerente Corporativo de Desenvolvimento de Fornecedores da Equatorial Energia, Carlos Afonso Melo. Para Fábio Camargo, Gerente Comercial do Norte/Nordeste da Alubar, o prêmio é um indicativo de que a empresa está no caminho certo. “Ficamos muito felizes por essa conquista, pois para nós a CEMAR, assim como todo o Grupo Equatorial, é um parceiro muito estratégico. Já trabalhamos com eles, há alguns anos, fornecendo cabos de baixa tensão, cobertos, para as linhas de transmissão e, mais recentemente, cabos de cobre. Vamos continuar nos esmerando a cada dia para oferecer produtos com excelência e confiabilidade para o mercado”, afirmou.

O gerente comercial Norte Nordeste, da Alubar, Fábio Camargo, ao centro, recebe prêmio da CEMAR

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Florestas “perdidas/ escondidas”,encontradas

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ma nova análise global da distribuição de florestas no mundo, “encontrou” 4.670.000 km² ou 467 milhões de hectares de floresta que nunca foram relatados antes (não declarados anteriormente) – uma área equivalente à metade da área territorial do Brasil (8.516.000 km²), quase toda a floresta amazônica (5.500.000 km²) e a 60% do tamanho da Austrália. A descoberta aumenta a quantidade conhecida de cobertura florestal global em cerca de 9%, e aumentará significativamente as estimativas de quanto carbono é armazenado em plantas em todo o mundo. As novas florestas foram encontradas através da pesquisa de “terras secas” – assim chamado porque recebem muito menos água na precipitação do que perdem por evaporação e transpiração da planta. Essas áreas secas contêm 45% mais floresta do que foi encontrado em pesquisas anteriores.Encontrámos novas florestas secas em todos os continentes habitados, mas principalmente na África Subsaariana, ao redor do Mediterrâneo, na Índia central, na Austrália costeira, no oeste da América do Sul, no Nordeste do Brasil, no norte da Colômbia e Venezuela e no norte das florestas boreais no Canadá e Rússia. Na África, o estudo duplicou a quantidade de floresta seca conhecida. Com as atuais imagens de satélite e técnicas de mapeamento, pode parecer incrível que essas florestas tenham permanecido escondidas à vista por tanto tempo. Mas este tipo de floresta era anteriormente difícil de medir globalmente, devido à densidade relativamente baixa de árvores. Floresta nos biomas das terras secas

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Fotos: Bastin et al., 2017, TERN Ausplots, Nasa Uma floresta seca de eucalyptus victrix na região de Pilbara de Austrália ocidental

Além disso, os inquéritos anteriores baseavam-se em imagens de satélite mais antigas e de baixa resolução que não incluíam validação no solo. Em contraste, o estudo atual, publicado na Science, utilizou imagens de satélite de resolução mais alta disponíveis através do Google Earth Engine – incluindo imagens de mais de 210.000 sítios de zonas secas – e utilizou uma simples interpretação visual do número de árvores e da densidade. Uma amostra desses sítios foi comparada com informações de campo para avaliar a precisão.

Oportunidade única Dado que as terras secas – que constituem cerca de 40% da superfície terrestre – têm mais capacidade de suportar árvores e florestas do que anteriormente percebemos, temos uma oportunidade única para combater as alterações climáticas, conservando estas florestas anteriormente não apreciadas. As terras secas contêm alguns dos ecossistemas mais ameaçados, mas desconsiderados, muitos dos quais enfrentam pressão das mudanças climáticas e da atividade humana. A mudança climática fará com que muitas dessas regiões se tornem mais quentes e até mais secas, enquanto a expansão humana poderia degradar ainda mais essas paisagens. Os modelos climáticos sugerem que os biomas das terras secas poderiam se expandir em 11-23% até o final deste século, o que significa que eles poderiam cobrir mais de metade da superfície terrestre da Terra. Tendo em conta o potencial das florestas de secas para evitar a desertificação e lutar contra as alterações climáticas através do armazenamento de carbono, será crucial continuar a monitorizar a saúde destas florestas, agora que sabemos que estão lá. revistaamazonia.com.br


Terras secas do mundo: áreas florestadas mostradas em verde; áreas não florestadas em amarelo

Regiõs de “terras secas”

41,5%

“Florestas escondidas”

da superfície terrestre são de “terras secas”

Áreas sem floresta

Aumento da política climática A descoberta irá melhorar drasticamente a precisão dos modelos utilizados para calcular a quantidade de carbono armazenado nas paisagens da Terra. Isso, por sua vez, ajudará a calcular os orçamentos de carbono pelos quais os países podem medir seu progresso em direção aos objetivos estabelecidos no Protocolo de Quioto e seu sucessor, o Acordo de Paris. Nesse estudo aumenta as estimativas de estoques globais de carbono florestal global em qualquer lugar entre 15 gigatoneladas e 158 gigatoneladas de carbono – um aumento entre 2% e 20%. Este estudo fornece informações de linha de base mais precisas sobre o estado atual dos sumidouros de carbono, sobre os quais a futura modelagem de carbono e clima pode ser baseada. Isto irá reduzir os erros de modelagem de regiões de terras áridas em todo o mundo.

*Em Mha (milhões de hectares)

Terras secas mais verdes e com florestas do que se pensava

Essa descoberta também destaca a importância da conservação e do crescimento da floresta nessas áreas. As florestas em terras secas são muito mais extensas do que as relatadas anteriormente e cobrem uma área total semelhante à das florestas tropicais ou florestas boreais

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Autores Jean-Francois Bastin, Nora Berrahmouni, Alan Grainger, Danae Maniatis, Danilo Mollicone, Rebecca Moore, Chiara Patriarca, Nicolas Picard, Ben Sparrow, Elena Maria Abraham, Kamel Aloui, Ayhan Atesoglu, Fabio Attore, Çağlar Bassüllü, Adia Bey, Monica Garzuglia, Luis G. García-Montero, Nikée Groot, Greg Guerin, Lars Laestadius, Andrew J. Lowe, Bako Mamane, Giulio Marchi, Paul Patterson, Marcelo Rezende, Stefano Ricci, Ignacio Salcedo, Alfonso Sanchez-Diaz Paus, Fred Stolle, Venera Surappaeva, Rene Castro. Essa extensa equipe internacional de 31 pesquisadores de 13 países analisou dados de satélites e concluiu que a Terra tem 9% mais florestas do que se estimava. REVISTA AMAZÔNIA

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Entre as 1730 novas espécies de plantas de 2016 há alimentos e curas É a segunda edição do relatório anual produzido pelos Jardins Botânicos Reais de Kew sobre o Estado das Plantas do Mundo que envolveu 128 cientistas de 12 países diferentes por Andrea Cunha Freitas

Fotos: Andre Schuiteman, John Dransfield/Kew, Royal Kew Gardens, Yusuf Menemen

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ais de 28 mil espécies têm os seus usos medicinais documentados e o número de plantas com genomas completos sequenciados aumentou 60% em relação ao ano anterior, chegando agora às 225 espécies. Todos estes dados e muitos outros estão na segunda edição sobre o Estado das Plantas do Mundo (State of the World’s Plants), elaborado pelos Jardins Botânicos Reais de Kew, perto de Londres, divulgado recentemente. “Um conhecimento detalhado das plantas é fundamental para a vida humana na Terra”, diz o relatório. “As plantas sustentam todos os aspectos do nosso dia-a-dia, desde os alimentos que comemos até as roupas que usamos, os materiais que usamos, o ar que respiramos, os medicamentos que tomamos e muito mais”. Os cientistas descobriram 1730 espécies novas de plantas em 2016, entre elas há algumas que podem começar a fazer parte da nossa dieta. É o caso das cinco novas espécies brasileiras que pertencem ao gênero Manihot, o mesmo da conhecida e consumida mandioca, garri, ou tapioca, que é um alimento básico para milhões de pessoas nos trópicos. “Estas espécies têm o potencial necessário para desenvolver a cultura da mandioca, diversificando-a, permitindo

Begonia rubrobracteolata, uma das 29 novas begônias das florestas da Malásia.

que esta seja cultivada em climas mais secos do que os atuais e fornecendo defesas contra vírus, que estão a reduzir a produção deste recurso alimentar importante em algumas partes do mundo”. É o terceiro lugar de importância mundial depois do milho e do arroz, e oferece mais segurança alimentar do que os cereais, porque os tubérculos podem ser deixados no chão até serem necessários, disse Kew.

Porpax verrucosa. Nova espécie de orquídea do Camboja. Foto: Andre Schuiteman/Royal Kew Gardens

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Tibouchina rosanae P.J.F.Guim. & Woodgyer. Descoberta por uma equipe de botânicos brasileiros e de Kew no Xingu, Matto Grosso, Brasil, esta nova espécie de 1,5 m de Tibouchina é única no gênero por ter estômatos em ambas as superfícies das folhas, o que pode indicar um caminho fotossintético incomum

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Pastinaca erzincanensis, uma nova espécie de pastinaca da Turquia

Mas há mais novas plantas que podem ser alimentos. Também foram descobertas sete novas espécies Aspalathus, da família das leguminosas e conhecida sobretudo por causa do chá sul-africano rooibos. Outra novidade é uma nova espécie de cherovia, Pastinaca erzincanensis, descrita em 2016 na Turquia. As novas plantas identificadas podem servir para fins que não passam pelo prato ou chávenas, desta vez, com objetivos medicinais. Aqui, o relatório Estado das Plantas do Mundo destaca as noves espécies de trepadeiras do género Mucuna, provenientes do Sudeste Asiático e da região neotropical (América Central e América do Sul), que “são utilizadas no tratamento da doença de Parkinson”. Elas contêm L-DOPA, um precursor de dopamina. No capítulo dedicado às plantas medicinais, revela-se que, pelo menos, 28.187 espécies estão atualmente identificadas como tendo algum tipo de uso medicinal. Um número que, admitem, estará muito longe do verdadeiro potencial terapêutico das muitas plantas que crescem no planeta. O documento sublinha ainda que “apenas 16% (4478) das espécies utilizadas em medicamentos à base de plantas estão citadas em publicações relativas à regulação de medicamentos”. Por outro lado, notam os especialistas, “existem atualmente 15 nomes alternativos para cada espécie de planta medicinal, o que causa uma enorme confusão e risco no setor das plantas medicinais”. Assim, o processo deve ser simplificado e melhorado através do recurso a bases de dados como o Serviço de Nomes de Plantas Medicinais de Kew, defendem. “Muitas das mais de 28 mil espécies com potencial medicinal deram à medicina moderna algumas das mais importantes descobertas, mas poucas foram realmente listadas oficialmente devido ao uso de rótulos ambíguos”, lamenta a cientista e Presidente da Maurícia Gurib-Fakim. revistaamazonia.com.br

“É um momento especial para se investigar a fundo o universo das plantas”, considera Kathy Willis, diretora de ciência dos Jardins Botânicos Reais de Kew, acrescentando que “a partir dos avanços tecnológicos que nos permitem desvendar de forma mais profunda os mistérios das plantas e investigar as suas características com maior detalhe – tanto moleculares como morfológicas – somos agora capazes de obter um quadro mais detalhado do que nunca sobre o que temos, o seu valor e vulnerabilidade”. Um desses avanços será seguramente do campo da genética. O relatório assinala que o número de plantas com genomas sequenciados chega agora a 225 espécies, o que representa um aumento de mais de 60% em relação ao ano anterior.

As novas mandiocas são arbustos anões atingindo 15-45 cm de altura, com flores pendentes e folhas lobuladas. Encontrada em plantios de Cerrado na região da Chapada dos Veadeiros, no Estado de Goiás, em colinas com solos argilosos e argilosos, a altitudes entre 705 e 1028 m acima do nível do mar

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Já em 2017, notam, foi revelada a sequenciação molecular de alcaçuz, um dos mais usados remédios provenientes de ervas medicinais. Mas para que serve o conhecimento do genoma das plantas? “Quando adicionadas as informações que estão a ser reunidas sobre os parentes silvestres de culturas como o arroz, trigo, amendoim, batata, tomate, soja, batata-doce e outros, teremos uma imagem bastante precisa do que precisamos fazer para sustentar a crescente população global num mundo em aquecimento”, refere o comunicado. Em resumo, estes dados poderão servir para melhorar a produção, qualidade e rendimento das culturas. Echinochloa australis, um novo tipo de bambu de Madagascar

Alguns dos cientistas de 12 países diferentes procurando e descobrindo detalhes das plantas tão fundamentais para a vida humana na Terra

Madagáscar, um caso especial O país de destaque da segunda edição do relatório é Madagáscar, a quarta maior ilha do mundo e o único país fora do Reino Unido onde os Jardins Kew tem uma presença permanente. Os dados analisados permitiram concluir que 83% das mais de 11 mil espécies de plantas vasculares (com tecidos especializados no transporte de água e seiva) nativas de Madagáscar não existem em mais nenhum lugar da Terra. A ilha acolhe cinco famílias de plantas únicas e três vezes mais espécies de palmeiras do que a África continental. E eis mais um momento para um exemplo: Madagáscar tem alguns dos raros e ameaçados exemplares da espetacular Tahina spectabilis, conhecida como palmeira-gigante-suicida, uma planta que chega a atingir os 20 metros de altura e que se autodestrói, morrendo após gastar todas as suas energias numa impressionante despedida que envolve uma única e final produção de centenas de flores minúsculas.

Engleropytum paludosam, espécie de sapotáceae, na Nigéria

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A espetacular Tahina spectabilis, conhecida como palmeira-gigante-suicida, na impressionante despedida que envolve uma única e final produção de centenas de flores minúsculas

Uma das novas espécies de mandioca encontradas no Brasil (Manihot debilis), da Alto Paraíso-Goiás

Madagáscar é um caso especial mas o relatório sobre o Estado das Plantas do Mundo também inclui, obviamente, dados de Portugal. Cátia Canteiro, uma investigadora portuguesa que faz parte da equipe dos jardins de Kew e que participou neste trabalho dedicando-se ao capítulo que fala do risco de extinção das plantas, das mais de 450 famílias de plantas vasculares atualmente descritas a nível mundial, cerca de 113 ocorrem em Portugal (o que representa um total de 532 espécies de plantas). “Das 1730 espécies novas de plantas vasculares registadas na base de dados do International Plant Names Index, 141 foram listadas para a Europa e apenas uma para Portugal, a Carex lucennoiberica. Esta espécie foi descrita como endémica da Península Ibérica e em Portugal é conhecida apenas uma população na serra da Estrela, sendo considerada bastante ameaçada e sensível a alterações climáticas e destruição de habitat (especificamente nitrificação do solo)”, diz a bióloga.

De resto, ainda sobre as ameaças do mundo, o relatório dos jardins de Kew realça que há espécies de plantas que parecem estar a revelar uma maior capacidade de adaptação às mudanças climáticas, o que é uma boa notícia. Para responder ao aumento das temperaturas, às secas e aos elevados níveis de dióxido de carbono no ar, as plantas estão a engrossar as suas folhas e a “inventar” novas estratégias para melhor uso da água, levando, por exemplo, as raízes para locais mais profundos. Porém, também há más notícias. Os especialistas notam que a falta de controle das pragas e doenças invasoras pode representar prejuízos para a agricultura que podem chegar aos 450.000 milhões de euros e que há 340 milhões de hectares da superfície terrestre cobertos por vegetação que são varridos anualmente por incêndios florestais. Neste lado negro do estado das plantas há ainda o capítulo do comércio ilegal de plantas raras que “não mostra sinais de abrandar”.

Estima-se que o comércio ilegal de espécies selvagens na União Europeia represente algo entre 8000 e 20.000 milhões de euros anualmente. Apesar dos riscos e ameaças, todos os anos os cientistas descobrem cerca de duas mil novas espécies de plantas. No total, existirão no planeta mais de 392 mil espécies de plantas vasculares. Plantas bonitas e feias, que se comem ou são carnívoras, que nos curam ou envenenam, das mais minúsculas às gigantes, algumas raras e outras vulgares. Muitas ameaçadas. Todas importantes.

/OlimpioCarneiro @olimpiocarneiro

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De olho na floresta: Instituto Mamirauá realiza monitoramento do uso de florestas na Amazônia O monitoramento ambiental une a observação na floresta com o uso de imagens de satélite. O projeto é financiado pelo Fundo Amazônia por João Cunha

Arte: Claudioney Guimarães

Fotos: Marcelo Ismar Santana

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adê a mata que estava aqui? As florestas estão mudando todos os dias. Algumas mudanças são maiores, como a queimada de uma região, e outras tão minúsculas que são difíceis de perceber a olho nu. É para acompanhar a dinâmica da paisagem e auxiliar no gestão da conservação dos recursos naturais, que o projeto “Mamirauá: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação”, o BioREC, realiza o monitoramento ambiental. “Monitoramento Ambiental é o acompanhamento e a observação ao longo do tempo das mudanças e variações ambientais, influenciadas por um determinado fator, como neste caso, a agricultura migratória”, diz a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Jéssica dos Santos. Essas variáveis vão apontar se o nível de transformação da floresta em áreas de criação de gado ou de agricultura, influenciam no estado de conservação, ou degradação desta região estudada. O BioREC realiza o monitoramento ambiental na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, uma das maiores áreas protegidas das Américas, localizada no estado do Amazonas.

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No espaço e com os pés no chão - os tipos de monitoramento Não é fácil observar os 2.350.000 hectares da Reserva Amanã. Por isso, o projeto BioREC escolheu áreas da reserva onde a agricultura e a pecuária são mais intensas. São dois tipos de monitoramento ambiental: a observação em campo e por sensoriamento remoto. A equipe do Insituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, faz viagens peródicas à unidade de conservação para coletar e analisar dados das transformações ocasionadas pela conversão florestal em áreas agrícolas. A parceria que o Instituto cultiva com os comunitários da Reserva Amanã, que agem como guardiões da terra, é fundamental na observação em campo. Já os dados de sensoriamento remoto vêm de muito mais longe. Do espaço, para ser mais específico. O projeto BioREC usa imagens de satélite para essa etapa do Monitoramento Ambiental. As imagens, com alta qualidade de detalhes, são produzidas com sensores óticos que captam a energia refletida e emitida pela superfície, e permitem aos pesquisadores extrair informações físicas que ajudam na análise como, por exemplo, mapear a diferença entre áreas de florestas primárias (que tiveram pouca alteração do homem), florestas secundárias (aquelas que se recuperam depois de uma perturbação) e roçados.

No projeto BioREC, a observação de campo não vive sem o sensoriamento remoto e vice-versa. “Os dois tipos de Monitoramento trabalham juntos o tempo todo, porque um ajuda a validar a informação do outro”, explica Jéssica dos Santos. “A observação em campo confirma dados que as imagens de satélite apontam e o sensoriamento amplia em muito a área de monitoramento, que nós não conseguiríamos fazer pessoalmente”.

O BioREC e o monitoramento ambiental O monitoramento ambiental contribui para entender e acompanhar o uso do solo e a dinâmica florestal nesta unidade de conservação. Ele também ajuda a ver a contribuição da agricultura de pequena escala para liberar ou estocar carbono nos solos e florestas, que é um dos principais objtetivos do projeto BioREC. Todo esse trabalho vai gerar mapas de apoio à pesquisa e gestão da Reserva Amanã. Para reduzir e transformar práticas que geram conversão florestal, degradação ambiental e emissões de gases de efeito estufa, o Instituto Mamirauá desenvolve, desde 2013, o BioREC. O projeto é financiado pelo Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e tem duração de cinco anos. revistaamazonia.com.br


Nova Agenda Urbana na Amazônia Fotos: Antônio Silva, Cristino Martins / Ag. Pará

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implementação da Nova Agenda Urbana, documento com diretrizes e objetivos para alcançar sustentabilidade e qualidade de vida nas cidades, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU Habitat), foi tema de reunião técnica durante encontro realizado em Belém, no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Ao todo, cerca de 60 especialistas de diversas instituições públicas e privadas debatem o tema, buscando identificar fontes de financiamento de projetos, e promover maior integração e sinergia entre as ações. Estiveram presentes representantes da ONU Habitat, PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), empresários, gestores de prefeituras e governos estaduais da Amazônia, além de membros de organizações do terceiro setor. A reunião também representou um desdobramento da proposta feita pelo Pará durante a III Conferência das Nações Unidas para a Habitação e o Desenvolvimento Urbano Sustentável (III ONU Habitat), realizada em Quito, capital do Equador, em outubro do ano passado. Durante o encontro, foi discutida a formação do chamado Ecossistema de Fundos, elaborado conceitualmente pelo Instituto Dialog, em parceria com a ONU Habitat. O sistema se fundamenta na premissa de que pode existir complementariedade entre as ações, sempre pensadas de forma articulada.

Por um futuro urbano melhor

A reunião em Belém foi um desdobramento da proposta feita pelo Pará durante a III Conferência das Nações Unidas para a Habitação e o Desenvolvimento Urbano Sustentável realizada em Quito, no Equador

Harmonia e sustentabilidade O governador do Pará, Simão Jatene, lembrou que a Amazônia precisa, antes de tudo, ser base de vida digna para as pessoas que vivem na região, e que para isso é preciso reunir esforços na busca do desenvolvimento harmônico e sustentável. “Essa conclusão nos empurra para a direção de que a Amazônia pode e deve contribuir para o desenvolvimento dos países à qual pertence; pode e deve contribuir em escala global para a construção de um planeta melhor; para a reprodução da própria vida no planeta, mas para isso só temos um caminho, que é o nosso próprio desenvolvimento”, defendeu Jatene.

O governador acredita que essa é a única forma ética para a Amazônia contribuir para o desenvolvimento dos países, e que este é um desafio que deve ser encarado de forma global. “Momentos como esse encontro enchem o coração de esperança. Porque eu acho que nós estamos tentando ousar e avançar também na questão de como construir novas formas de gestão e governança, porque nós entendemos que a velha forma de governança não tem condições de subsidiar um padrão de novo desenvolvimento”, afirmou Simão Jatene, para quem a sociedade precisa passar por uma tripla revolução, pelo conhecimento, pela produção e por novas formas de gestão e governança.

O evento reuniu no Hangar representantes da ONU Habitat, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, BNDES, Banco de Desenvolvimento da América Latina, empresários, gestores de prefeituras e governos estaduais da Amazônia, além de membros de organizações do terceiro setor

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“Rumo à Sustentabilidade das Cidades e dos Assentamentos Humanos na Região Amazônica e um Sistema de Fundos para o Desenvolvimento UrbanoTerritorial Sustentável no Estado do Pará” O secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero, participou representando o ministro Sarney Filho, e destacou a importância de fazer com que os recursos disponíveis para projetos na área de meio ambiente cheguem aos municípios, que é onde impactam na vida das pessoas. “O Pará está tomando a dianteira de implantar uma nova agenda urbana. É uma iniciativa estadual alinhada a uma iniciativa urbana que tem um forte componente ambiental”, disse o secretário. Ele enfatizou que o MMA também está alinhado com essa visão e dará apoio institucional e técnico. Citou, inclusive, o Fundo Amazônia, que tem por finalidade captar doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal.

O governador do Pará, Simão Jatene, enfatizou que a Amazônia precisa ser base de vida digna para sua população, e para isso é preciso reunir esforços na busca do desenvolvimento harmônico e sustentável

A participação das agências multinacionais possibilitou definir uma agenda que deve pautar os órgãos financiadores e orientar a implantação de projetos na Amazônia, para a formação do chamado Ecossistema de Fundos Liane Freire, da Dialog

Elkin Velasquez, diretor regional para América Latina e Caribe da ONU Habitat

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O ministro Marcos Bemquerer Costa, do Tribunal de Contas da União – TCU

Encerramento Durante os dois dias de evento, o grupo conheceu e compartilhou experiências para a formação do chamado Ecossistema de Fundos. A iniciativa, elaborada conceitualmente pelo Instituto Dialog, em parceria com a ONU Habitat, é baseada na complementariedade de financiamentos e em ações pensadas de forma conjunta. Uma oportunidade para articular investidores que já atuavam em projetos de sustentabilidade no Estado, para rediscutir e planejar novos investimentos na área ambiental que tem como projeto central o “Pará Sustentável”. O governador Simão Jatene recordou que a III Conferência das Nações Unidas para a Habitação e o Desenvolvimento Urbano Sustentável (III ONU Habitat), realizada em Quito, marcou o início das articulações para a criação do Modelo de Financiamento “Ecossistema de Fundos”. “Nós tivemos a oportunidade de mostrar que era preciso ter um olhar particular sobre Amazônia, sobre os aglomerados humanos nessa região. Isso terminou ensejando a que programássemos esse evento, que reúne especialistas do mundo inteiro para discutir e identificar o que nos impede de fazer com que as nossas riquezas se transformem também em qualidade de vida para a nossa gente”, relatou Jatene. revistaamazonia.com.br


Entre os pontos ressaltados nos debates está a utilização da tecnologia para garantir melhorias de vida à população. “Estamos muito próximos de dar um passo adiante na construção dessa nova forma de pensar a Amazônia. Teremos que lidar com desafios que incluem a questão da água, energia, mobilidade, coleta e destinação de lixo, entre outros, sempre tendo a sustentabilidade como base para esta mudança. E quanto mais a sociedade se apropriar desta ideia, mais êxito teremos”, ressaltou o governador. O governador considerou importante a realização do “Mais Amazônia – Encontro de Especialistas para a Nova Agenda Urbana”. “Me sinto muito feliz em participar desse debate com especialistas nacionais e internacionais, que contribui para redefinir o modelo de desenvolvimento para Amazônia. O mais importante é que isso não é uma coisa para um futuro distante, é um programa que tem uma política pública, que tem objetivos de curto, médio e longo prazos e que nós já podemos começar a implementar juntos com os municípios aqui no Pará”, afirmou o governador Simão Jatene. A participação das agências multinacionais foi outro ponto importante do evento, visto que isso possibilitou definir uma agenda que deve pautar os órgãos financiadores e orientar a implantação de projetos na Amazônia.

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Izabela Jatene, titular da Secretaria Extraordinária de Estado de Municípios Sustentáveis

Ao final do evento foram montados grupos para uma discussão mais afinada das propostas e possibilidades de investimentos e de ações propostas durante as reuniões. No intervalo do painel de debates, os participantes do evento fizeram uma visita ao Parque do Utinga, um dos espaços mais procurados em Belém por quem aprecia o

contato com a natureza, e que representa bem a sinergia entre cidade e floresta, além de ser um importante exemplo de desenvolvimento econômico sustentável na capital paraense. O espaço está passando por uma revitalização completa que habilitará a área como um dos mais importantes espaços para o turismo na Amazônia.

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Trezentas espécies estão seriamente ameaçadas, por terem menos de 50 exemplares na natureza

Pesquisa global de árvores (GlobalTreeSearch ) – a primeira base de dados global completa de espécies arbóreas e distribuições de países O Brasil tem a maior biodiversidade de espécies arbóreas do mundo

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esquisa global de árvores - a primeira base de dados global completa de espécies de árvores e distribuições de países, um estudo de E. Beech, M. Rivers, S. Oldfield & P.P. Smith, nos dá uma visão geral de todas as espécies de árvores conhecidas por nome científico e distribuição no nível de país, e descreve uma base de dados on-line. Com base em análise abrangente das fontes de dados publicados e da contribuição dos especialistas, o número de espécies de árvores atualmente conhecidas pela ciência é de 60.065, representando 20% de todas as espécies de plantas angiospermas e gimnospérmicas. Quase metade de todas as espécies arbóreas (45%) são encontradas em apenas dez famílias, sendo as três famílias mais ricas em árvores Leguminosae, Rubiaceae e Myrtaceae. Geograficamente, Brasil, Colômbia e Indonésia são os países 32

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Fotos: BGCI, Kyle Dexter

com maior número de espécies arbóreas. Os países com as espécies mais endêmicas refletem tendências mais amplas de diversidade de plantas (Brasil, Austrália, China) ou ilhas onde o isolamento resultou em especiação (Madagascar, Papua Nova Guiné, Indonésia). Quase 58 por cento de todas as espécies de árvores são endêmicas de um único país. A intenção do estudo é que a Pesquisa global de árvores (GlobalTreeSearch) seja usado como uma ferramenta para monitorar e gerenciar a diversidade de espécies arbóreas, florestas e estoques de carbono em nível global, regional e / ou nacional. Também será utilizado como base da Avaliação Global de Árvores, que visa avaliar o estado de conservação de todas as espécies arbóreas do mundo até 2020. revistaamazonia.com.br


Compilação e Gestão de Dados

Digitalização de dados permitiu fazer levantamento inédito de espécies

Metodologia/Definição de árvore Como os hábitos de crescimento do tipo árvore têm evoluído muitas vezes em diferentes famílias de plantas, existem muitas definições de uma árvore. Para os propósitos do GlobalTreeSearch, foi usada a definição de árvore acordada pelo Grupo Global de Especialistas em Árvores (GTSG) da IUCN: uma planta lenhosa com geralmente um único tronco crescendo a uma altura de pelo menos

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dois metros, ou então, pelo menos uma haste vertical de cinco centímetros de diâmetro à altura do peito. Foram excluidos árvores menores e também alguns arbustos maiores. Os arbustos foram removidos manualmente numa base de espécie por espécie. Algumas espécies de plantas têm formas de vida variáveis, mas todas as espécies que são registradas como crescendo naturalmente como uma árvore em algum lugar foram incluídas.

Os dados das espécies arbóreas foram acessados a partir de uma variedade de fontes, incluindo: Lista Mundial de Famílias de Plantas Selecionadas (WCSP, 2016WCSP) (2016) Lista de verificação mundial de famílias de plantas selecionadas Facilitado pelos Jardins Botânicos Reais, Kew Retirado em 31 de dezembro de 2016, , Da Flora da China (Wu Zhengyi, e outros (Eds.), 19942013), Base de Dados de Plantas Africanas (Conservatoire et Jardin Botaniques Ville De Genebra, 2016), FloraBase (Herbário Australiano Ocidental, 1998 Herbário Australiano Ocidental. (1998) FloraBase-A Flora Australiana Ocidental Departamento de parques e animais selvagens Recuperado 01 de setembro de 2016, from https: //florabase. dpaw.wa.gov .au/ [Google Scholar]), Plantas da África Austral (SANBI, 2014SANBI. (2014). Plantas da África Austral - uma lista de verificação on-line Recuperado 01 de setembro de 2016, de http://posa.sanbi.org/ searchspp.php [Google Scholar]), o banco de dados PLANTAS (USDA, 2016USDA, NRCS. (2016) .O banco de dados PLANTS. Obtido em 7 de dezembro de 2016 from http: //plants.usda.gov [Google Scholar]), Flora

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Brasileira 2020 (Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2016 Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (2016). Flora brasileira em construção. Recuperado em fevereiro de 2017, de http: //floradobrasil.jbrj.gov.br [Google Scholar]), e Tropicos (Jardim Botânico do Missouri, 2016Missouri Jardim Botânico (MBG). (2016). Obtido em 07 de dezembro de 2016 from http : //www.tropicos.org [Google Scholar]). Além dessas importantes fontes publicadas, foi estendido o chamado para informação à comunidade botânica e foram contatados mais de 80 especialistas no GTSG e instituições membros da Botanic Gardens Conservation International (BGCI), sendo recebido uma ampla gama de regional, taxonômica, e país- Listas de verificação de árvore específicas. Foram consultadas mais de 500 fontes publicadas, todas referenciadas nas Fontes de Referência de Banco de Dados listadas no Apêndice A. A colação e compilação dos dados levou mais de dois anos de trabalho em tempo integral.

As 10 famílias com maior número de espécies arbóreas

Resultados Existem 60.065 espécies arbóreas registradas em todo o mundo. Com base nos conhecimentos taxonômicos atuais e nos níveis de exploração botânica, acredita-se que esta compilação representa o melhor registro disponível do número total de espécies arbóreas e uma base sólida para o planejamento da conservação. Mais de 45% (27.203) espécies arbóreas são encontradas em apenas dez famílias. A família com mais espécies arbóreas é Leguminosae, com 5.405 espécies arbóreas, seguidas por Rubiaceae (4.827) e, em seguida, Myrtaceae (4.330).

Os dez gêneros com maior número de espécies arbóreas

Mapa da densidade de árvores em todo o mundo

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Conclusões Talvez seja surpreendente que tenha levado até 2017 a compilar o GlobalTreeSearch, a primeira lista global autoritária de espécies arbóreas. No entanto, vale a pena reconhecer que GlobalTreeSearch representa um enorme esforço científico que abrange a descoberta, coleta e descrição de dezenas de milhares de espécies de plantas. Esta é a “grande ciência” que envolve o trabalho de milhares de botânicos durante um período de séculos, e o advento de listas de verificação digitais e bancos de dados ao longo das últimas décadas fizeram a colação e refinamento de tantas fontes de dados possíveis. Além disso, o GlobalTreeSearch não é uma lista estática; Continuará a ser refinado, revisto e adicionado. Algumas regiões geográficas permanecem relativamente inexploradas botanicamente e, mesmo quando o trabalho de campo completo foi realizado, pode haver um atraso substancial entre a descoberta e a publicação. Da mesma forma, a taxonomia vegetal está em constante mutação com novas descobertas e revisões taxonômicas aumentando nosso conhecimento. O GlobalTreeSearch tem valor imediato para uma ampla gama de comunidades de usuários e permitirá a avaliação e monitoramento da diversidade de espécies arbóreas em um nível global, regional e / ou nacional ao longo do tempo.

Os dez países com maior número de espécies endêmicas

Com 8.715 espécies arbóreas diferentes, somos o país com a maior biodiversidade de árvores do mundo Há 8.715 espécies de árvores no território brasileiro, 14% das 60.065 que existem no planeta. Em segundo na lista vem a Colômbia, com 5.776 espécies, e a Indonésia, com 5.142. O estudo foi realizado pela Botanical Gardens Conservation International-BGCI na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos,

Os dez países com maior número de espécies arbóreas

com base nos dados de sua rede de 500 jardins botânicos ao redor do mundo. A expectativa é que a lista, elaborada a partir de 375,5 mil

Você imagina a gente faz.

registros e ao longo de dois anos, seja usada para identificar espécies raras e ameaçadas e prevenir sua extinção.

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Árvores por quilômetro quadrado

Paul Smit, secretário-geral do BGCI-Jardim Botânico Conservação Internacional (BGCI)

Ameaça

Número de espécies de árvores por bioma

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A pesquisa mostrou que mais da metade das espécies (58%) são encontradas em apenas um país, ou seja, há países que abrigam com exclusividade, certas espécies – podem ser centenas ou milhares -, o que indica que estão vulneráveis ao desmatamento gerado por atividade humana e pelo impacto de eventos climáticos extremos. Trezentas espécies foram consideradas seriamente ameaçadas, por terem menos de 50 exemplares na natureza. Também foi identificado que, com exceção dos polos, onde não há árvores, a região próxima do Ártico na América do Norte tem o menor número de espécies, com menos de 1,4 mil. O secretário-geral da BGCI, Paul Smit, disse que não era possível estimar com precisão o número de árvores existentes no mundo até agora porque os dados acabam de ser digitalizados. “Estamos em uma posição privilegiada, porque temos 500 instituições botânicas entre nossos membros, e muitos dos dados não estão disponíveis ao público”, afirma. “A digitalização destes dados é o auge de séculos de trabalho.” Uma parte importante do estudo foi estabelecer referências e coordenadas geográficas para as espécies de árvores, o que permite a conservacionistas localizá-las, explica Smith. “Obter informações sobre a localização dessas espécies, como os países em que elas existem, é chave para sua conservação”, diz o especialista. “Isso é muito útil para determinar quais devemos priorizar em nossas ações e quais demandam avaliações sobre a situação em que se encontram.” revistaamazonia.com.br


Pelo menos 15 por cento das espécies de árvores do mundo estão sob ameaça de extinção Pelo menos 15 por cento das espécies de árvores do mundo estão sob ameaça de extinção

As principais ameaças para as espécies arbóreas são o desmatamento e a superexploração humana

De acordo com a primeira base de dados global das árvores do mundo, revelada pelo Botanic Gardens Conservation International-BGCI, a organização britânica, cujos membros incluem centenas de instituições botânicas em todo o mundo, disse que extraiu dados de mais de 500 fontes publicadas para criar a base de dados on-line GlobalTreeSearch, a primeira "lista mundial autorizada de espécies arbóreas". A União Internacional para a Conservação da Natureza-IUCN, identificou 60.065 espécies de árvores que atualmente vivem na Terra. Desse número, mais de metade foi encontrado para ocorrer apenas em um único país, o que poderia sugerir uma maior vulnerabilidade a ameaças, disseram os autores do banco de dados. Os pesquisadores descreveram suas descobertas em um artigo publicado esta semana no Journal of Sustainable Forestry. De acordo com o artigo, o estado de conservação de apenas cerca de 20.000 espécies arbóreas, ou 30 por cento das árvores do mundo, são atualmente conhecidos. Mas dos avaliados, quase metade - ou 9.600 espécies arbóreas - são consideradas ameaçadas de extinção. Isto significa que cerca de 15 por cento de todas as espécies de árvores estão sob ameaça. Mais de 300 espécies estão em perigo crítico, com apenas 50 ou menos árvores individuais deixadas no planeta, disseram os pesquisadores. Uma espécie particular, a Karomia gigas, ou árvore de chapéus chineses, foi encontrada para ter apenas uma população de árvores ainda vivem - apenas seis árvores em uma parte remota da Tanzânia. Os investigadores disseram que a árvore tinha sido conduzida à extinção da colheita excedente para a construção e o furniture-making. O desmatamento e a exploração excessiva foram as principais ameaças enfrentadas pelas árvores do mundo, de acordo com o jornal.

Conservação Entre as espécies em extinção identificadas pela BGCI está a Karoma gigas, nativa em uma região remota da Tanzânia. No fim de 2016, uma equipe de cientistas encontrou apenas um único conjunto formado por seis exemplares. revistaamazonia.com.br

Eles recrutaram habitantes da área para proteger essas árvores e monitorá-las para que sejam alertados caso produzam sementes. Assim, as sementes poderão serão levadas para jardins botânicos da Tanzânia, o que abre caminho para sejam reintroduzidas na natureza depois.A BGCI diz esperar que o número de ár-

vores da lista cresça, já que cerca de 2 mil novas plantas são descritas todos os anos. A GlobalTreeSearch, uma base de dados online criada a partir do levantamento, será atualizada toda vez que uma nova espécie for descoberta. Acesse: http://www.bgci.org/global_tree_search. php?sec=globaltreesearch REVISTA AMAZÔNIA

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Pesquisas estudam respiração do solo em ecossistemas na Amazônia por Síglia Regina dos Santos /

Fotos: Felipe Rosa, Gilvan Coimbra, Jorg Matschullat-projeto Ecorespira, Síglia Souza

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esquisadores brasileiros e alemães estão juntos buscando entender os processos que regulam a respiração do solo em diferentes modelos de uso da terra em áreas da Bacia Amazônica. Com base nessas informações, os pesquisadores pretendem oferecer subsídios para tomada de decisão sobre quais modelos são mais adequados para a recuperação ambiental de áreas rurais na região. A respiração do solo é um conjunto de fenômenos bioquímicos, no qual são envolvidos fatores naturais como temperatura, umidade, nutrientes e níveis de oxigênio, assim como são influenciados por ações humanas como, por exemplo, a forma de manejo do solo e do ambiente. O processo envolve a liberação de dióxido de carbono (CO2) e outros gases como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que são alguns dos gases de efeito estufa (GEE).O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Roberval Lima considera que a pesquisa dispõe de resultados relevantes e inéditos por quantificar emissão de gases CO2, CH4 e N2O, na Bacia Amazônica. “Com essa mensuração, vai ser possível refletir e ter entendimento sob o ponto de vista pedogeoquímico das diferentes mudanças de uso da terra na região central e sul do Amazonas”, afirma.

Estudo é feito em áreas de floresta amazônica

A iniciativa envolve dois projetos complementares: um deles é o Eco Respira Amazon, liderado pela universidade alemã Techinische Universität Bergakademie Freiberg (Tubaf), em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental, que pretende entender como é a respiração do ecossistema e o efluxo de gases do solo na Bacia Amazônica, e como isso varia comparativamente em diferentes ambientes e modos de uso da terra no bioma Amazônia. Já o projeto “Modelos ecologicamente sustentáveis para adequação ao Código Florestal Brasileiro Coleta de dados feita em área de agricultura.

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das propriedades rurais no Estado do Amazonas (ModelCF Amazon)”, liderado pela Embrapa Amazônia Ocidental, tem como objetivo usar os dados relacionados à respiração do ecossistema para propor e implementar modelos de recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs), Áreas de Reserva Legal (ARLs) e Áreas de Uso Restrito (AURs), que possam possibilitar a adequação ambiental das propriedades rurais no Estado do Amazonas. “Queremos reunir esse conhecimento e transformá-lo em solução tecnológica para uso nos processos de restauração florestal que possam atender ao Código Florestal”, afirma um dos coordenadores do projeto Model CFAmazon, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Roberval Lima. Os projetos são executados em parceria pelo Centro de Pesquisa Interdisciplinar do Meio Ambiente da Universidade alemã Techinische Universität Bergakademie Freiberg (Tubaf) e a Embrapa Amazônia Ocidental, no estado do Amazonas. Também participam o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e colaboram o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). revistaamazonia.com.br


Coleta de dados feita em área de floresta

Demonstração de uso do equipamento para medir respiração do solo, com parte da equipe do projeto

Equipamento utilizado nas medições quantifica o efluxo de gases

Tecnologia avançada na medição Segundo o pesquisador Jörg Matschullat, da universidade alemã Tubaf e coordenador do projeto Eco Respira Amazon, um diferencial dessa pesquisa é a metodologia usada para medir a respiração do solo e do ecossistema. Matschullat explica que o equipamento utilizado nas medições quantifica o efluxo de gases, por meio de um espectrômetro com alta acurácia que pode medir tanto o dióxido de carbono quanto outros gases. Mas a questão não é apenas saber sobre emissões. “O efluxo de gases é somente indicador, nada mais. A gente estuda muito mais que isso: caracteriza a química do solo, a física do solo, e todas essas informações juntas são combinadas para obter uma visão complexa sobre o funcionamento do sistema”, diz. A equipe utiliza um sistema de câmara portátil que contém um tubo fechado e é implantado dentro do solo. A portabilidade do equipamento permitiu à equipe de pesquisadores maior mobilidade para realizar as medições, indo a 13 diferentes localidades, na região revistaamazonia.com.br

central e no sul do Amazonas, contemplando solos de floresta e áreas com diversos modelos de agricultura e áreas de pastagem. O trabalho de campo começou em 2016 e se estendeu até início de 2017. As medições foram repetidas no período seco e chuvoso. “E agora temos dados representativos sobre a Bacia Amazônica, no mínimo, que a meus olhos também são válidos para outras áreas do mesmo tipo de bioma como África central e partes da Ásia”, comemora Matschullat. “Os dados coletados na Amazônia vão suprir uma lacuna importante para compreensão dos climas tropicais e contribuir para maior entendimento dos ecossistemas na Bacia Amazônica”, afirma o pesquisador. “Faltam dados no Hemisfério Sul sobre esses biomas que desempenham papel de grande relevância no funcionamento do nosso planeta”, considera o pesquisador alemão, que trabalha com geoquímica ambiental, climatologia e reação química de ecossistemas. A equipe do projeto conta ainda com outros profissionais de biogeoquímica, geoecologia, agronomia e ciência florestal. O próximo desafio é a análise dos dados para elaboração de publicações técnicas e científicas. Durante essa fase, o pesquisador da Embrapa Roberval Lima ficará na Alemanha até o final de 2017, junto com pesquisadores da Universidade Tubaf. Segundo o pesquisador da Embrapa, nessa interpretação dos dados serão analisados os melhores modelos agrícolas do ponto de vista ambiental e como podem ser adequados para gerar renda de modo sustentável. Até o momento foram executadas medições em diversos modelos como: Sistemas Agroflorestais (Saf) com castanha-do-brasil, monocultivo de castanha-do-brasil para produção de frutos e madeira, sistema para produção de frutos de açaí, pastagens, monocultivo de laranjeira em diferentes tipos de solo, entre outros. O modelo básico de comparação é a floresta nativa com pouca perturbação. Lima explica que se pretende ampliar a representatividade dos modelos e isso será proposto em futura fase do projeto. Os resultados desses estudos servirão

para identificar quanto cada modelo de uso da terra contribui para o armazenamento de carbono no solo, além de servir de base para validar quais modelos são mais adequados e eficientes para recuperação ambiental. “Esse trabalho em parceria trará contribuições científicas de alto nível e respostas práticas aos governos e agricultores,” espera o pesquisador Matschullat. O cientista acredita que os resultados poderão oferecer alternativas para apoiar o gerenciamento do solo na Amazônia e em regiões tropicais úmidas.

Sobre os projetos Ambos os projetos fazem parte de cooperação internacional Brasil-Alemanha, por meio do programa Novas Parcerias (Nopa II). Pelo lado brasileiro, a parceria é financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e financiando a participação do país europeu estão as agências Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

Modelos de restauração florestal para a Amazônia Segundo a gerente de controle agropecuário do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão de fiscalização ambiental no estado, Alexandra Bianchini, há expectativa do órgão ambiental de que os resultados desses projetos possam ajudar na execução da Política de Regularização Ambiental dos imóveis rurais ao indicar parâmetros técnicos a respeito de quais modelos são mais efetivos para recuperação de áreas degradadas. “Os resultados dos projetos são bastante esperados e vão ser importantes para que o órgão responsável possa avaliar o plano de recuperação ambiental com a segurança de que está aprovando uma proposta capaz de dar uma resposta ecológica ao ambiente que está sendo recuperado”, avalia Alexandra. Ela acrescenta que é importante que os modelos de recuperação ambiental promovam também ganhos econômicos ao produtor. [*] Embrapa Amazônia Ocidental

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Certificação agrícola: por quê?

Sobre o CCAS

por Ciro Antonio Rosolem

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mportante parcela da população mundial se preocupa cada vez mais não só com a qualidade dos produtos consumidos, como também como eles foram produzidos. Foi respeitado o ambiente? Trabalho infantil? Foram respeitados os direitos de todos os envolvidos? E ainda outros detalhes. Bom, mas não é suficiente que o produtor assegure: meu produto é bom, ou o famoso “la garantia soy yo”. Alguém, ou alguma instituição, independente, precisa analisar o processo produtivo e atestar que certos requisitos e regras foram cumpridos. Isso é certificação de produtos. Os consumidores já têm à disposição uma série de produtos brasileiros certificados. Os mais comuns e conhecidos são os produtos orgânicos e biodinâmicos, disponíveis em todo o país. Mas há muitos outros, voltados principalmente para a exportação, uma vez que a preocupação com a rastreabilidade dos produtos, com o bem estar das populações e conservação ambiental é maior nos países desenvolvidos, mais ricos. Dentre outros, são mais conhecidos o Fair Trade e Rainforest Alliance, com maior atuação na área de cafeicultura; o Selo FSC, mais ligado à exploração da madeira e castanhas; UTZ Certified, Ethical Trading Initiative, e outros. 40

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Em culturas anuais a prática de certificação tem sido menos difundida, mas existem iniciativas, tais como a RTRS (Round table on Responsible Soybean Association), Algodão Brasileiro Responsável e Soja Plus. Cada programa de certificação tem objetivos específicos, mas em todas, o princípio básico é que a legislação oficial tenha sido obedecida, mas as metas são mais rigorosas que isso. A diferença é que são feitas auditorias para se certificar que as regras foram cumpridas. As preocupações mais comuns são com o ambiente, trabalho infantil e remuneração justa, mas podem ir muito além, como exigir desmatamento zero, mesmo que o produtor possa, de acordo com a legislação, ainda aumentar a área explorada. Assim, a certificação procura “vender” uma característica que seja do interesse de um grupo de consumidores, seja um vinho, café madeira, frango, frutas, enfim, qualquer produto. Apesar de não garantir a qualidade alimentar do produto, a certificação garante a qualidade do processo produtivo. Alguns mercados pagam mais por isso. Por exemplo, os orgânicos, cafés gourmet, madeira certificada, vinhos biodinâmicos. Para as chamadas commodities, isso já não é tão comum. É que se consegue facilmente melhor preço por um café certificado, pela madeira, pelo vinho.

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça

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BNDES libera recurso para fortalecer cadeias produtivas na Amazônia

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou recentemente, contrato com o Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal (Imaflora) para a realização de ações de fortalecimento das cadeias produtivas e valorização de produtos em áreas protegidas na Amazônia. O Imaflora é uma organização não governamental com sede em Piracicaba (SP) que trabalha pelo uso sustentável dos recursos naturais e a geração de benefícios sociais. No valor de R$ 17,3 milhões, os recursos não reembolsáveis, provenientes do Fundo Amazônia, que é gerido pelo banco, serão utilizados também para apoiar a produção sustentável de cacau no entorno do Rio Xingu. Serão beneficiados 5 mil agricultores familiares. Segundo informação do BNDES, o projeto denominado Florestas de Valor – Novos Modelos de Negócio para a Amazônia, prevê a consolidação e expansão do sistema de garantia de origem denominado Origens Brasil, com o objetivo de fortalecer as cadeias produtivas e valorizar os produtos da sociobiodiversidade. Destaque para a castanha, o cacau e o óleo de copaíba, que são produzidos no território do Xingu e na calha norte, nos estados de Mato Grosso e do Pará, que abrangem os maiores conjuntos de áreas protegidas de floresta tropical do mundo, totalizando área estimada de 52 milhões de hectares, onde vivem mais de 23 mil pessoas, entre índios, comunidades tradicionais e extrativistas.

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Mais difícil conseguir isso para a soja, milho, algodão, que são matérias primas. Então porque certificar, por exemplo, a soja ou algodão? Embora isso não tenha importância para muitos produtores, a imagem pode ser um fator interessante em algumas negociações. Portanto, a primeira vantagem da certificação seria a construção de uma imagem favorável. Outro fator seria a segurança de gestão. A legislação ambiental, trabalhista, contábil é complicada, mas fazendas certificadas têm uma espécie de “certificado de boa conduta”, pois os programas exigem o cumprimento de toda legislação. Mais um fator, bem palpável em algumas situações, seria uma vantagem em financiamentos, principalmente em volume financiável e juros menores. Alguns grandes bancos já estão trabalhando assim. Conquista, ou preferência de mercados é outro fator importante. Alguns países têm optado pelo algodão brasileiro em função da iniciativa Algodão Brasileiro Responsável. E, finalmente, vantagem financeira direta. Embora exista vantagem para produtos como café e madeira, para produtos como soja e algodão esta ainda não é uma generalidade. Consegue-se vantagem financeira em alguns casos, mas o produtor não deve se iludir e certificar sua propriedade pensando nisso, pelo menos não em curto prazo. Enfim, os consumidores estão cada vez mais exigentes, com estilos de vida mais sustentáveis, e precisam de alguém que lhes assegure que os produtos consumidos estejam de acordo com suas escolhas de vida. Assim surgem os programas de certificação, e as fazendas certificadas. O valor econômico da certificação para produtos como a soja, milho e algodão certamente um dia será reconhecido. Ganhará quem estiver pronto. [*]Vice-Presidente de Estudos do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)

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Green Rio 2017 movimenta R$ 10 milhões para economia verde

Evento reuniu conferências sobre bioeconomia com palestrantes brasileiros e internacionais, feira de produtos e atrações com representantes da economia verde Fotos: Divulgação

Durante a abertura da 6ª edição do Green Rio

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Marina da Glória recebeu a 6ª edição do Green Rio, evento de economia verde e do setor orgânico, reconhecido como plataforma para negócios sustentáveis. Os cerca de 70 expositores comprometidos com alimentação e produção sustentável e bioeconomia receberam mais de 3 mil visitantes. A feira somou um volume de R$ 10 milhões para o setor, volume 20% maior que o alcançado com as rodadas de negócios de 2016. Neste ano, o tema central do evento foi a bioeconomia, que movimenta no mercado mundial 2 trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. O grande destaque ficou por conta das conferências com palestrantes internacionais e brasileiros que aconteceram ao longo do evento. No primeiro dia, o francês Jean Luc Anesel, presidente do maior cluster de cosméticos da União Europeia, Cosmetic Valley, apresentou ao público o conceito de Cosmetopeia, que tem o objetivo de criar um registro completo de todas as plantas e conhecimentos tradicionais utilizados para fins cosméticos. No segundo dia, houve muita discussão sobre bioeconomia e os desafios para os produtores rurais e também foi apresentado um panorama do setor na América Latina e Caribe. Já o Sebrae mostrou as iniciativas de bioeconomia que estão apoiando em todo o país. Também entrou em pauta o empreendedorismo jovem. 42

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Durante a palestra do coordenador geral de Agroecologia e Produção Sustentável da Sead, Marco Pavarino. Sustentabilidade e direito agrário foram temas da mesa

A organizadora do evento, Maria Beatriz Costa, aproveitou para lembrar que o Green Rio estava com um espaço dedicado para startup de bioeconomia, que entre outros produtos estava apresentando uma prancha de stand up paddle, produzida com garrafas pet. Cerca de 200 pessoas lotaram a plateia no último dia de evento para prestigiar a apresentação de uma delegação vinda diretamente da Alemanha, que precedia um workshop para discutir potenciais parcerias

Dalton Gripp, do Apiário Gripp’s, de Nova Friburgo (RJ) é um dos expositores da evento e conta com o apoio da Sead revistaamazonia.com.br


entre os dois países no cenário da bioeconomia, com destaque para Florestas, Orgânicos, Biomassa e Bioenergia. Muito simpáticos, os alemães começaram se desculpando pelos 7 a 1 que eliminou o Brasil da última Copa do Mundo e afirmaram que o Brasil vai retribuir no futuro. A delegação, liderada pelo diretor de bioeconomia e florestas do Ministério da Agricultura da Alemanha, Clemens Neumann, explicou que o conceito de bioeconomia para eles é transversal, vai além do setor econômico. Os projetos envolvem governo, consumidores, parceiros e setor privado. Para implementação da estratégia intitulada “Bioeconomia 2030”, o governo federal alemão disponibilizou 2,4 bilhões de euros para a pesquisa. E o Brasil é visto como um parceiro importante para a cooperação internacional em educação e pesquisa. Beatriz também fez referência ao placar do jogo na Copa do Mundo, mas para fazer uma analogia com a questão da bioeconomia nos dois países. “Em vez de retribuir o resultado, vamos jogar juntos esse jogo. Assim teremos um grande campeão”, disse. A última palestra foi dedicada à Alimentação Saudável. Sead leva experiências positivas à Green Rio 2017, como a Dodani e a Juruá Cosméticos da Amazônia

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Cerca de 70 expositores comprometidos com alimentação e produção sustentável e bioeconomia receberam mais de 3 mil visitantes. Painéis de bioeconomia com a presença de delegação alemã foram os grandes destaques da Green Rio

Entre os participantes estava o ator Marcos Palmeira, dono de uma fazenda que produz e vende alimentos orgânicos.

Ele garantiu: “se as escolas onde estudam os filhos de produtores agrícolas comprassem os alimentos desses pais já seria um ganho enorme para todos”, conta. O dinamarquês Bent Mikkelsen contou que na Dinamarca eles fazem uma ligação entre o hábito alimentar e o aprendizado. Deu o exemplo de um aplicativo que remete a um Pokemon Go, em que as crianças brincam de caçar alimentos saudáveis. “O importante é criar o hábito”, explicou. No primeiro dia, em parceria com a Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA), com a presença de compradores internacionais. No segundo dia, em parceria com Rio Alimentação Sustentável e caterings que participarão dos Jogos Olímpicos. E no terceiro dia, em parceria com o programa Sebrae no Pódio que capacitou pequenas e médias empresas para o fornecimento dos Jogos 2016.Segundo Maria Beatriz Martins Costa, coordenadora do Green Rio, as rodadas somarão um volume de R$ 8 milhões para o setor, volume 30% maior que o alcançado em 2015.

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Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas da UNFCCC A última rodada de negociações sobre o clima foi concluída em Bonn, Alemanha e o compromisso mundial com o Acordo de Paris continua firme

Fotos: UNFCCC

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iplomatas de todo o mundo se reuniram na Alemanha para a última rodada de negociações climáticas da ONU. Os negociadores fizeram importantes progressos no desenvolvimento de um esboço de diretrizes que ajudarão a transformar o Acordo de Paris em ação. As conversações “interseções”, que se realizam anualmente em Bonn a meio caminho entre a conferência anual de partidos (COP), visam avançar as negociações antes da reunião maior que terá lugar no final do ano. Uma série de tópicos foram sobre a mesa este ano, incluindo o detalhado “livro de regras” sobre como implementar o Acordo de Paris, que deve ser finalizado na COP24 em 2018. Os negociadores trabalharam para resolver os detalhes de um exercício de inventário em 2018, que irá medir o progresso em direção aos objetivos de Paris, e avançar com a questão pegajosa de financiamento da adaptação. Tudo isso enquanto os países continuam a lidar com a incerteza sobre se o presidente dos EUA Donald Trump vai ou não retirar do Acordo de Paris.

Delegados do Brasil, da Argentina e Uruguai

Delegados se reunidos para o primeiro dia da Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas

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Na recente Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas da UNFCCC

Os principais temas e pontos de controvérsia para a preparação à COP23, em novembro, segundo Yamide Dagnet, associado sênior do World Resources Institute: “Os negociadores deixaram Bonn com um roteiro para a COP23”. Dagnet disse que as negociações foram marcadas pela determinação de progredir. “Isto foi tão longe quanto poderíamos ter esperado”.

Conclusões O Acordo de Paris definiu os objetivos gerais e o quadro para a ação climática internacional, mas deixou muitos detalhes a serem preenchidos mais tarde. Essas questões, coletivamente conhecidas como o “livro de regras” de Paris, incluem quem deve fazer o quê, quando, como e com que apoio financeiro. Por exemplo, abordará como os países comunicam seus esforços em matéria de mitigação e adaptação, financiamento climático, transferência de tecnologia e capacitação, como eles serão responsabilizados por seus compromissos e como os esforços coletivos serão revistos (e a ambição aumentada) ao longo do tempo. O processo de elaboração desses detalhes começou com seriedade na COP22, em Marrakesh em novembro passado. Ele continuou nas últimas duas semanas em Bonn. As conclusões oficiais da reunião, publicadas, começam por reiterar o prazo firme para completar o livro de regras de Paris pela COP24, em novembro de 2018, o mais tardar. As conclusões afirmam que “os progressos substanciais foram alcançados” nas últimas duas semanas, com este progresso capturado numa série de notas informais. No entanto, com típica hesitação diplomática, explica que estas notas: revistaamazonia.com.br


“Tentativa de capturar informalmente as opiniões expressas por algumas Partes até à data ... [e] não refletem necessariamente a visão de todas as Partes. As notas não pretendem prejudicar os trabalhos futuros que as Partes podem querer realizar ou impedir as Partes de expressar outras opiniões que possam vir a ter no futuro. As opiniões apresentadas nas notas ... não significam qualquer consenso entre as Partes ou implicam a base para futuras negociações “. Finalmente, as conclusões apresentaram uma série de passos para a COP23, que também será realizada em Bonn, em novembro deste ano. Sob cada tópico, as partes são convidadas a apresentar suas opiniões até setembro de 2017. Essas opiniões serão reunidas em outra série de documentos, com o objetivo de definir opções para o projeto de texto sobre o livro de regras, bem como áreas de acordo e desacordo. “Os negociadores [agora] sabem quais são os obstáculos e onde o pensamento criativo será necessário ... para avançar o pensamento”, disse Dagnet, da WRI. Os negociadores então se reunirão novamente em uma série de workshops de mesa redonda, realizados no início de novembro e antes da COP23 em Bonn. Note que, de acordo com a tradição das negociações climáticas da ONU, as negociações operam sob um conjunto de títulos e descrições cheios de jargões. A trilha de negociação de regras é chamada de Grupo de Trabalho Ad-hoc sobre o Acordo de Paris, ou APA. O trabalho da APA continua de acordo com uma agenda acordada, com grupos de trabalho para cada item da agenda. Segundo Paula Caballero, Diretora Global, Programa Clima do Instituto de Recursos Mundiais: “Em Bonn, os negociadores trabalharam de forma construtiva para elaborar com êxito um esboço para o manual operacional que vai ajudar a transformar o Acordo de Paris em ação no terreno. “A incerteza em torno da participação dos Estados Unidos no Acordo de Paris não diminuiu o progresso em Bonn. Em qualquer caso, os países foram encorajados a avançar com mais determinação e mostrar que a ação climática internacional não será influenciada pelos ventos políticos mutáveis de qualquer país. “Os delegados moveram a bola para frente em todas as frentes, com algumas pistas de negociação amadurecendo mais rapidamente do que outras, como era esperado. Na conclusão, havia um consenso claro de que as conversações climáticas da ONU devem enviar um sinal claro no próximo ano de que os países vão propor compromissos climáticos ainda mais fortes até 2020. revistaamazonia.com.br

Fórum climático alerta que limitar temperatura é questão de sobrevivência

O Fórum de Vulnerabilidade Climática (CVF), grupo que reúne 50 nações especialmente vulneráveis ao aquecimento global, advertiu (um dia antes da conclusão da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Bonn, na Alemanha, que limitar esse fenômeno a um máximo de 1,5 graus centígrados é “questão de sobrevivência”. “Para os países-membros do fórum, cumprir com a meta de 1,5 graus é simplesmente uma questão de sobrevivência”, declarou Debasu Bayleyegn Eyasu, que comanda a Direção de Coordenação de Mudança Climática do Ministério de Meio Ambiente da Etiópia, país que preside atualmente o CVF. Eyasu acrescentou que já está ocorrendo “significativo impacto climático” com o atual nível de aquecimento. Ele falou em entrevista transmitida pela internet e realizada em Bonn, onde ocorreu a reunião dos países do Acordo de Paris para preparar a próxima Conferência do Clima, marcada para novembro nessa cidade alemã. Um aquecimento adicional “não fará mais do que aumentar os riscos de impactos graves, generalizados e irreversíveis”, afirmou. A presidência etíope destacou que apesar dos graves riscos que enfrentam, os países-membros do CVF, que representam mais de 1 bilhão de pessoas nos cinco continentes, veem em uma “ambiciosa ação climática a oportunidade para prosperar”. “Temos enorme déficit em ação climática”, advertiu Emmanuel M. De Guzman, da Comissão de Mudança Climática do Escritório da Presidência das Filipinas, país que precedeu a Etiópia à frente do CVF. Segundo De Guzman, enquanto existe a possibilidade de frear a mudança climática é preciso aproveitá-la, pois “o fracasso não é uma opção”. Para ele, são necessárias ações imediatas e drásticas. “Os 1,5 graus são nosso limite de oportunidade e esperança”, acrescentou. Segundo Eyasu, “a ação climática pode reduzir riscos, limpar o ambiente, gerar novos trabalhos verdes, limitar a instabilidade econômica e potencializar o uso sustentável de recursos nacionais”. A falta de uma ambiciosa ação climática, disse, “prejudicará muito seriamente” o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a chamada universal à adoção de medidas para pôr fim à pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas gozem de paz e prosperidade Para os países-membros do fórum, cumprir com a meta de 1,5 graus é simplesmente uma questão de sobrevivência

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Meta de Paris – 1.5°C, pode ser ultrapassada em 2026

O mundo pode ultrapassar a barreira de 1,5oC de aquecimento em relação à era pré-industrial daqui a menos de uma década. Tudo depende de como o Oceano Pacífico vai se comportar nos próximos anos – e as indicações não são nada boas

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alerta vem de uma dupla de pesquisadores australianos Benjamin Hanley e Andrew King, da Universidade de Melbourne, projeções de computacionais de temperatura global indicam que o limite de aquecimento consagrado como ideal no Acordo de Paris será atingido entre 2025 e 2027 caso um ciclo natural conhecido como IPO (Oscilação Interdecadal do Pacífico) entre em sua fase quente.

As projeções continuam de onde as observações terminam em 2016, menos o impulso para temperaturas de El Niño (0.1C)

Gráficos mostram a) temperatura média global da superfície (relativa a 1850-1900); b) índice IPO, para 1900 a 2016. A cor de fundo indica índice IPO

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Protestos da sociedade civil

Se o oposto acontecer e o Pacífico entrar numa fase fria, a Terra ganhará algum tempo de respiro, mas não muito: a ultrapassagem do limite de 1,5ºC acontecerá entre 2030 e 2031. Em ambos os casos, o planeta entrará num estado climático sem precedentes em milhões de anos. Eventos extremos, como ondas de calor, tempestades e secas ficarão ainda mais frequentes. E os grandes mantos de gelo da Groenlândia e do oeste antártico estarão sujeitos ao colapso, o que poderia causar uma elevação do nível do mar superior a 1 metro neste século. O teto de 1,5ºC foi estabelecido como uma espécie de “centro da meta” do Acordo de Paris. No documento, assinado em 2015, o mundo se compromete a estabilizar o aquecimento global num nível “bem abaixo de 2oC” e “envidar esforços para limitar o aumento de temperatura em 1,5ºC”. Esse grau de ambição partiu de pressão política dos países insulares, que veem em 2oC uma ameaça à sua existência – diversos estudos vêm mostrando que 2oC de aquecimento poderiam causar instabilidade catastrófica nos mantos de gelo e acelerar a subida do oceano, condenando essas nações à extinção. Como não há muita evidência científica de como seria um mundo a 1,5ºC, o IPCC, o painel do clima da ONU, recebeu em Paris a encomenda de entregar em 2018 um relatório mostrando os impactos evitados desse limite em relação aos 2oC e das trajetórias de corte de emissões necessárias para a Terra chegar lá. O relatório do IPCC é considerado fundamental para embasar a revisão das metas nacionais (NDCs) do acordo do clima, um processo revistaamazonia.com.br


que ocorrerá a partir de 2023 para aumentar a ambição do corte de emissões de gases de efeito estufa. O estudo sugere que isso pode ser pouco demais e tarde demais. Afinal, as NDCs só começam a rodar a partir de 2020. O primeiro ciclo de cumprimento de quase todas as grandes economias do mundo vai até 2030. E os únicos dois países que têm metas antecipadas, para 2025, estão hoje no rumo oposto de seu cumprimento: o Brasil, onde a bancada ruralista no Congresso e o governo federal promovem o aumento do desmatamento, e os EUA de Donald Trump, que deram uma banana para a ação climática e podem até mesmo anunciar a saída do acordo do clima nos próximos dias. Os dados compilados pela dupla de Melbourne indicam que, quando o mundo entrar no segundo ciclo de NDCs, mais estritas, o planeta já poderá estar 1,5oC mais quente. Torçam pela IPO. A Oscilação Interdecadal do Pacífico é um ciclo natural e de causas desconhecidas. Ela pode durar de uma a quatro décadas. Em cada fase, as temperaturas do Pacífico tropical ficam anormalmente mais quentes ou mais frias. Isso pode ajudar a acelerar ou a retardar o aquecimento causado pelos gases-estufa.Ao longo de quase todo este século, a IPO esteve provavelmente em sua fase fria. Vários cientistas acham que essa é a principal causa do fenômeno erroneamente chamado de “pausa” no aquecimento global – o fato de as temperaturas da Terra desde 1998 terem subido muito menos que as concentrações de gás carbônico na atmosfera. “É possível que uma fase negativa da IPO desde a virada do século tenha amortecido os impactos do aquecimento global sobre eventos extremos, como ondas de calor”, escreveram Henley e King. Eles advertem, porém, que essa maré de sorte pode estar no fim. O El Niño monstro de 2015 e 2016, que causou a quebra de dois recordes seguidos de temperatura global, sugere, segundo os cientistas, que há muito calor

O mundo pode ultrapassar a barreira de 1,5oC de aquecimento em relação à era pré-industrial daqui a menos de uma década

O que parece ser uma mudança recente para uma fase positiva da Oscilação do Pacífico Interdecadal é susceptível de acelerar o aquecimento global, quebrando a meta de Paris acordada de 1,5 ° C por tão cedo como 2026. Desde 1999, o IPO está em uma fase negativa, mas consecutivos recorde de anos quentes em 2014, 2015 e 2016 levaram pesquisadores do clima a sugerir que isso pode ter mudado. No passado, essas fases positivas coincidiram com o aquecimento global acelerado. “Mesmo que o IPO permaneça em uma fase negativa, nossa pesquisa mostra que provavelmente ainda veremos as temperaturas globais quebrarem a barreira de 1,5 ° C até 2031”, disse o autor principal Ben Henley. “Para que o mundo tenha alguma esperança de alcançar a meta de Paris, os governos precisarão adotar políticas que não apenas reduzam as emissões, mas retirem carbono da atmosfera”. “Devemos ultrapassar o limite de 1,5 ° C, porém, devemos ainda tentar restabelecer as temperaturas globais e estabilizá-las a esse nível ou abaixo”. No passado, vimos IPOs positivos de 1925-1946 e novamente de 1977- 1998. Estes foram ambos períodos que viram aumentos rápidos nas temperaturas médias globais. O mundo experimentou o inverso - uma fase negativa prolongada - de 1947-1976, quando as temperaturas globais pararam.... Dr. Henley disse ... “Os decisores políticos devem estar conscientes de quão rapidamente estamos aproximando-se de 1,5 ° C. A tarefa de reduzir as emissões é muito urgente” acumulado na superfície do Pacífico tropical – um sinal de que a IPO estaria virando para sua fase quente. Isso poderia “iniciar um período de aquecimento acelerado na próxima década ou duas”. A estabilização do aquecimento em 1,5ºC no longo prazo, prosseguem os australianos, envolveria duas coisas: uma ultrapassagem do limite durante algumas décadas e um esforço global de “emissões negativas”, ou seja, de sequestrar mais carbono do que se emite. Muita gente boa prefere nem ouvir falar nisto, já que “emissões negativas” hoje são sinônimo de esquemas de engenharia planetária, cujos efeitos colaterais são desconhecidos e potencialmente graves.

Reconstrução da temperatura média global da Terra nos últimos 784.000 anos, à esquerda do gráfico, seguida de uma projeção para 2100 baseada em novos cálculos da sensibilidade do clima aos gases de efeito estufa (Friedrich et al.) revistaamazonia.com.br

[*] Gráficos: Henley & King (2017)

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O limite de aquecimento de 1,5°C “economizaria” enormes extensões de permafrost Fotos: Sebastian Westermann Permafrost na Gronelândia

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custo de permitir que a temperatura global aumente para 2C, ao invés de limitar o aquecimento a 1,5ºC, é uma área de permafrost do tamanho do México, de acordo com uma nova pesquisa. O estudo, realizado por uma equipe de cientistas da Suécia, da Noruega e do Reino Unido, é o primeiro a determinar o que significam os objetivos ambiciosos contidos no Acordo de Paris para a perda de permafrost. Enquanto o aquecimento de 2°C acabaria por ver as terras cobertas de permafrost em mais de 40%, estabilizar a 1,5°C “salvaria” aproximadamente 2 milhões de quilômetros quadrados, diz o novo estudo. O documento, alerta que a descongelação do permafrost destrói grandes quantidades de CO2 e metano, que poderiam ser liberados para a atmosfera.

Com o aquecimento do Ártico duas vezes mais rápido que o resto do mundo, grandes áreas de permafrost já estão começando a descongelar. Com cerca de 35 milhões de pessoas vivendo na zona de permafrost, a paisagem de descongelamento ameaça as comunidades, colocando estradas e edifícios em risco de colapso. Além disso, há consequências potencialmente graves para o clima. Estima-se que o permafrost contenha mais carbono do que existe atualmente na atmosfera, alguns dos quais podem ser liberados como CO2 e metano à medida que os solos congelados começam a descongelar.

Como a Dra. Christina Schaedel, uma pesquisadora associada em efeitos do aquecimento no permafrost na Northern Arizona University, escreveu: “À medida que os solos descongelam, os micróbios que contêm são despertados de sua hibernação induzida pelo gelo. Os micróbios se alimentam do carbono orgânico, convertendo-o em dióxido de carbono e metano, que é liberado na atmosfera “. Enquanto os modelos climáticos prevêem o degelo do permafrost enquanto as altas regiões do norte se aquecem, diferem quanto ao grau de severidade dos impactos, explica o documento. Por exemplo, simulações de modelos de mudanças passadas predizem uma cobertura de permafrost atual de qualquer lugar entre 0,1 e 1,8 vezes o tamanho daquele realmente observado. Os autores se propuseram a examinar o quanto o permafrost seria perdido com cada grau de aquecimento adicional. Primeiro, a equipe analisou como a atual distribuição do permafrost varia em relação à temperatura do ar. Em seguida, eles usaram essa relação para inferir o padrão provável sob níveis específicos de aquecimento, especificamente 1.5°C e 2°C acima dos tempos pré-industriais. O permafrost não é determinado exclusivamente pela temperatura do ar, com a topografia, as propriedades do solo e a profundidade da neve desempenhando um papel, reconhecem os autores. No entanto, a temperatura do ar oferece uma boa indicação da probabilidade de encontrar permafrost em uma região, explica o artigo. Imagem de drone: um platô da turfa do permafrost descongelando em Noruega do norte

Descongelação Permafrost é o nome dado ao solo congelado que esteve a uma temperatura inferior a 0°C durante pelo menos dois anos consecutivos. Atualmente, cobrindo uma área de aproximadamente 15 milhões de quilômetros quadrados em altas latitudes, o permafrost representa 24% das terras expostas no hemisfério norte. Mas o permafrost também é conhecido por ser sensível ao aumento das temperaturas. 48

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Encolhimento De acordo com os resultados, espera-se que a área coberta por terra congelada rica em carbono no Ártico encolha em 4m km2 para cada grau extra que a temperatura média global da superfície sobe. Mesmo considerando as incertezas na temperatura do ar, neve e outros fatores, isso sugere que o permafrost é cerca de 20% mais suscetível ao aquecimento do que se pensava anteriormente, diz o documento. Para o aquecimento 2°C, o estudo sugere que 6,6m km2 de permafrost seriam perdidos, em comparação com uma linha de base de 1960-1990. Isso corresponde a mais de 40% da área de permafrost de hoje, deixando pouco mais de 8 milhões de quilômetros quadrados intactos. Captação de aquecimento a 1.5°C provavelmente “salvaria” cerca de 2m quilômetros quadrados de permafrost, deixando a extensão total em torno da marca de 10m quilômetro quadrado.

Mapa indicando a quantidade de carbono nos três primeiros metros de solo permafrost. Os vermelhos e as áreas alaranjadas contêm, situados através de muita de Sibéria e de Canadá, contém a maioria de carbono. Fonte: Shuur et al., (2015) O permafrost da Terra está descongelando muito mais rápido do que pensávamos e é muito mais sensível ao aumento das temperaturas globais. Na foto permafrost siberiano

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Há grandes incertezas sobre quanto do carbono do solo vai se decompor

Alterações na extensão do permafrost sob aquecimento futuro As áreas sombreadas mostram a distribuição histórica (1960-1990), com a escala do cinza ao azul indicando uma fração de permafrost alta crescente. Os contornos mostram o limite do permafrost com 1.5°C (à esquerda) e 2°C (à direita) do aquecimento. Fonte: Chadburn et al., (2017). A figura acima compara a extensão máxima do permafrost (linha contínua vermelha) em 1.5°C (esquerda) e 2°C (direita). O sombreamento representa a cobertura de permafrost durante o período de referência de 1960-1990, os quadrados laranja indicam três cidades construídas em permafrost contínuo, que enfrentarão riscos variáveis para sua infra-estrutura, dependendo do nível de aquecimento. O degelo do permafrost não aconteceria imediatamente, observam os autores. Haveria provavelmente um atraso enquanto as temperaturas do solo travaram acima com temperaturas do ar. Um estudo recente sugere que o resultado é provável que seja uma liberação gradual de gases de efeito estufa durante muitas décadas, ao invés de um pulso abrupto. Embora os efeitos não sejam sentidos assim que ultrapassarmos o limiar de 1,5°C ou 2°C, os novos resultados são muito relevantes para as discussões climáticas em torno do Acordo de Paris, dizem os autores. 50

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O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) produzirá um Relatório Especial em 2018, por exemplo, projetado especificamente para abordar a questão dos impactos relativos em 1,5°C vs 2°C. O novo trabalho analisa outros níveis de temperatura também. Com o 5°C do aquecimento (semelhante ao cenário do RCP8.5 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) até 2100, a grande maioria do permafrost desapareceria, deixando apenas 0.3-3 quilômetros quadrados sem afetar, dizem os autores.

Perdas de carbono Embora esse documento seja o primeiro a comparar a extensão do permafrost com 1,5°C e 2°C de aquecimento, não vai tão longe quanto a elaboração das prováveis consequências para as emissões de carbono. Com mais de 1000 bilhões de toneladas de carbono estimado a ser trancado em solo permafrost, os impactos para o clima poderia ser muito significativo, diz a Dra. Sarah Chadburn, especialista em modelagem de permafrost ártico na Universidade de Exeter e autor principal no novo estudo. Ela diz: “É muito provável que haja emissões de carbono do permafrost, mas é difícil dizer quanto.” Isso porque a conversão da perda de permafrost em emissões de carbono está longe de ser trivial, diz o professor Pierre Friedlingstein, professor de ciclagem mundial de carbono na Universidade de Exeter e co-autor da nova pesquisa. Há grandes incertezas sobre quanto do carbono do solo vai se decompor, ele diz: “A descongelação do permafrost não significa que todo o permafrost seja finalmente perdido. Uma quantidade maior (mais profunda) de carbono será acessível aos decompositores, mas certamente não toda a coluna do solo.” Uma outra complicação é que os gases de efeito estufa liberados pelo permafrost poderiam criar condições mais quentes e desencadear a remineralização de nutrientes, diz Friedlingstein. Ambos podem ajudar a apoiar o crescimento da vegetação, bloqueando potencialmente parte do carbono no solo. Juntamente com seus colegas, Chadburn e Friedlingstein têm um documento atualmente em revisão que tem como objetivo lançar alguma luz sobre as consequências do degelo permafrost no clima futuro. O estudo examina as emissões de carbono do permafrost em vários modelos climáticos e sob diferentes cenários, descobrindo que o aumento extra ao aquecimento do permafrost descongelado poderia ser 0,2-12% da mudança na temperatura média global. A equipe também tem um projeto separado, chamado Climate feedbacks from wetlands and permafrost thaw em um mundo em aquecimento (CLIFFTOP), que tem como objetivo quantificar a quantidade de metano provável de ser liberado de descongelamento de emissões de metano permafrost em 1.5°C e 2°C cenários. Este é um dos vários projetos curtos financiados em 2016 pelo Conselho de Pesquisa de Meio Ambiente Natural, projetado para alimentar diretamente para o relatório especial do IPCC sobre o 1.5°C. revistaamazonia.com.br


6 EDIÇÕES, 10 ANOS NO BRASIL 26 E 27 DE JUNHO DE 2017 WTC EVENTS CENTER - SÃO PAULO

CONFIRA AS PLENÁRIAS QUE SERÃO DESTAQUE DESTA EDIÇÃO, ESCOLHA SEU PAINEL PREFERIDO E FAÇA SUA INSCRIÇÃO

27 DE JUNHO

26 DE JUNHO PLENÁRIA 1 O SETOR SUCROENERGÉTICO E A RETOMADA ECONÔMICA

PAINEL 1 30 ANOS DE BIOELETRICIDADE: REALIZANDO O POTENCIAL Luiz Augusto Barroso – Presidente, EPE – Empresa de Pesquisa Energética Newton Duarte – Presidente Executivo, COGEN – Ass. da Indústria de Cogeração de Energia Moderador – Zilmar de Souza – Gerente de Bioeletricidade, UNICA

Fernando Coelho Filho Ministro de Minas e Energia Chris Garman Diretor Geral, Eurasia Group

PAINEL 2 CANA E INOVAÇÃO: NOVOS USOS E PRODUTOS John Melo – Presidente e CEO, Amyris Valeria Michel – Diretora de Meio Ambiente, TetraPak Moderador – André Nassar – Diretor de Desenvolvimento de Negócios, Agroícone

PLENÁRIA 2 2030: PERSPECTIVAS PARA A CANA-DE-AÇÚCAR Roberto Jaguaribe Presidente, Apex-Brasil

PAINEL 3 ABASTECIMENTO E MEIO-AMBIENTE: O PAPEL DO ETANOL Moderador - Luciano Rodrigues – Ger. de Economia e Análise Setorial, UNICA

José Roberto Mendonça de Barros Sócio-Diretor, MB Consultoria

27 DE JUNHO PLENÁRIA 3 OS BIOCOMBUSTÍVEIS E O FUTURO DA MOBILIDADE

PAINEL 4 PERSPECTIVAS PARA 2030: O PAPEL DO ETANOL CELULÓSICO Carlos Cavalcanti – Chefe, Depto. de Biocombustíveis, BNDES Martin Mitchell – Gerente de Desenvolvimento para Biocombustíveis, Clariant Moderador – Bernardo Silva – CEO, ABBI – Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial PAINEL 5 INFRAESTRUTURA NO SETOR SUCROENERGÉTICO: INVESTINDO PARA CRESCER Moderador – Antonio de Padua Rodrigues – Diretor Técnico, UNICA

Ricardo Bacellar Líder do Setor Automotivo, KPMG Brasil Henry Joseph Vice-Presidente, Anfavea

PAINEL 6 PERSPECTIVAS PARA 2030: ESTRATÉGIAS PARA O ETANOL Moderador – Alfred Szwarc – Consultor, Tecnologia e Emissões, UNICA

PLENÁRIA 4 ETANOL NO MUNDO: DEMANDA, PRODUÇÃO E PERSPECTIVAS Karin Haara Diretora Executiva, Associação Mundial de Bioenergia Bob Dinneen Presidente e CEO, Associação dos Combustíveis Renováveis (EUA) Elizabeth Farina Diretora-Presidente Executiva, UNICA

PAINEL 7 AVANÇOS TECNOLÓGICOS E A IMAGEM GLOBAL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Daniel Bachner – Diretor Global para Cana-de-Açúcar, Syngenta Moderadora – Geraldine Kutas – Ass. Senior, Assuntos Internacionais, UNICA PAINEL 8 BIOCOMBUSTÍVEIS NA AVIAÇÃO: SOLUÇÃO DE BAIXO CARBONO Moderador – Rodrigo Lima – Diretor Geral, Agroícone PAINEL 9 A EXPANSÃO DO ETANOL NA AMÉRICA LATINA Moderador – Eduardo Leão de Sousa – Diretor Executivo, UNICA PAINEL 10 MAIS PRODUTIVIDADE E MENOR CUSTO: CAMINHOS PARA CRESCER Em Breve

Emmanuel Desplechin Secretário Geral, ePure (União Européia)

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“REDD+ Integrado: modelo financeiro para viabilizar as metas do Acordo de Paris”

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Aliança REDD+ Brasil publicou recentemente o relatório “REDD+ Integrado: modelo financeiro para viabilizar as metas do Acordo de Paris“ com o objetivo de contribuir para o debate sobre a inclusão doREDD+ em mercados, descrevendo uma proposta de mercados de carbono distintos, mas, complementares, como solução para a viabilização da inclusão de REDD+ e apoio ao cumprimento do Acordo de Paris. No momento de crise que o Brasil passa, onde o orçamento do Ministério do Meio Ambiente foi reduzido em mais de 50%, o mecanismo de REDD+ é uma ferramenta importante para gerar recursos para o governo, produtores, comunidades tradicionais e indígenas de modo a proteger nossos recursos naturais e pôr fim no desmatamento ilegal.

O modelo “REDD+ Integrado” “REDD Integrado” é uma proposta de criação de mercados distintos mas complementares nos quais o REDD+ seria associado a portfólios balanceados com a inclusão de outros projetos não-florestais, semelhante à exigência de “suplementaridade” adotada pelo Protocolo de Quioto. Dessa forma, a Aliança REDD+ Brasil propõe uma arquitetura de mercado de carbono que inclua REDD+ integrado a outras atividades não-florestais, baseado em uma estratégia de proteção florestal, produção agropecuária e descarbonização de outros setores da economia – o “REDD Integrado”. 52

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Se bem administrada a inclusão de oferta de REDD+, o Brasil tem potencial para captar até US$ 70 bilhões para a conservação florestal na Amazônia até 2030, sem afetar outros setores da economia, e suas contribuições para o processo de inovação e descarbonização da economia como um todo. O Brasil tem todas as condições de adotar o conceito de REDD+ Integrado, seja no âmbito doméstico ou mesmo internacional, basta incorporar este conceito na estratégia de implementação da Política Nacional de Mudanças do Clima. Até hoje, as reduções de emissões por desmatamento alcançadas pelo Brasil são resultado de um esforço conjunto entre Governo Federal, Estados, municípios, produtores rurais, comunidades indígenas, populações tradicionais e tantos outros atores. A diversificação e a ampliação das fontes de financiamento têm o poder de emancipar os proprietários rurais, as comunidades tradicionais e os povos indígenas para sejam recompensados e continuem conservando os recursos florestais, mantendo os ativos ambientais para as futuras gerações brasileiras e para o mundo.

Ambiente da Amazônia (Imazon), a Aliança REDD+ Brasil trabalha para divulgar o REDD+ como ferramenta voltada a pôr fim no desmatamento ilegal e gerar recursos para governo, produtores, comunidades tradicionais e indígenas. O Brasil tem potencial para captar até US$ 70 bilhões por meio de REDD+ na Amazônia até 2030, e a Aliança quer contribuir para que o país esteja em posição de liderar o crescente mercado de compensação de emissões de carbono por nações, unidades subnacionais, setores produtivos e grandes eventos.

Sobre a Aliança REDD+ Brasil Formada por BVRio (Bolsa de Valores Ambientais do Rio de Janeiro), Biofílica Investimentos Ambientais, Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM), Environmental Defense Fund (EDF) e Instituto do Homem e Meio revistaamazonia.com.br


6º Prêmio Fecomercio de SuStentabilidade

O 6º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade já está com suas inscrições abertas. O prêmio tem como objetivo conscientizar e reconhecer iniciativas sustentáveis inovadoras para contribuir e melhorar o processo produtivo e poupar os recursos para as futuras gerações e criar novos modelos de negócios. categorias Empresa, Entidade empresarial, Indústria, Órgão público, Academia e Jornalismo

regulamento, inscrições e mais informações www.fecomercio.com.br/premio/sustentabilidade


O derretimento de geleiras está levando ao ressurgimento de doenças “adormecidas” Seres humanos, bactérias e vírus têm coexistido ao longo da história. Da peste bubônica à varíola, nós evoluímos para resistir a eles, e em resposta eles desenvolveram novas maneiras de nos infectar

Fotos: Cultura RM / Alamy, Colin Harris, Eric Baccega e Wild Wonders da Europa/naturepl.com, Museu de História Natural, NASA/JPL

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á faz mais de um século que temos os antibióticos, desde que Alexander Fleming descobriu a penicilina. Mas as bactérias não deixaram por menos: elas responderam evoluindo sua resistência aos antibióticos. A batalha parece sem fim: nós passamos tanto tempo com patógenos, que às vezes desenvolvemos um tipo de impasse natural. No entanto, o que aconteceria se nós, de repente, ficássemos expostos a bactérias e vírus mortais que ficaram ausentes por milhares de anos - ou então que nunca vimos antes? É possível que estejamos perto de descobrir que aconteceria. As mudanças climáticas estão derretendo o solo da região do ártico que existiram ali por milhares de anos e, conforme o solo derrete, ele vai liberando antigos vírus e bactérias que, depois de ficarem tanto tempo “dormentes”, voltam à vida. Em agosto de 2016, em uma região remota da tundra da Sibéria chamada Península Iamal no Círculo Ártico, um garoto de 12 anos morreu e pelo menos 20 pessoas foram hospitalizadas após terem sido infectadas por antraz. A teoria é que, há mais de 75 anos, uma rena infectada com antraz morreu e sua carcaça congelada ficou presa sob uma camada de solo também congelado, chamado de permafrost.

Camada de terra congelada em Svalbard

Lá ela ficou até a onda de calor que invadiu a região no verão de 2016 - e derreteu o permafrost. Isso expôs a carcaça da rena infectada e liberou o vírus para a água e para o solo do local - e, consequentemente, para os alimentos que as pessoas que viviam lá comiam. Mais de 2 mil renas nasceram infectadas ali, e houve um número menor de casos em humanos. O medo agora é que esse não tenha sido um caso isolado. Doenças escondidas no gelo estão acordando. As mudanças climáticas podem trazer de volta à vida antigos vírus e bactérias que já não existiam mais

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Conforme a Terra vai aquecendo, mais camadas do permafrost vão derretendo. Sob circunstâncias normais, cerca de 50cm das camadas de permafrost mais superficiais derretem no verão. Mas com o aquecimento global, camadas mais profundas e antigas têm derretido também. O permafrost congelado é o lugar perfeito para as bactérias se manterem vivas por um longo período de tempo, talvez até um milhão de anos. Isso significa que o derretimento das geleiras pode abrir a caixa de pandora das doenças. A temperatura no Círculo Ártico está aumentando rapidamente, cerca de 3 vezes mais rápido do que no resto do mundo. Conforme o permafrost derrete, outros agentes infecciosos podem ser liberados. “O permafrost é um bom lugar para preservar micróbios e vírus, porque ele é frio, não tem oxigênio e é escuro”, explica o biólogo evolucionista Jean-Michel Claverie da Universidade Aix-Marseille, na França. “Vírus patogênicos que podem infectar humanos ou animais podem ser preservados revistaamazonia.com.br


Bactérias foram encontradas dormentes no gelo antártico

Renas, (Rangifer, tarandus), emigrando Os neandertais viveram na Sibéria

Cientistas da NASA encontraram micróbios de 10 a 50 mil anos dentro de cristais em uma mina mexicana

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em camadas antigas de permafrost, inclusive alguns que podem ter causado epidemias globais no passado.” Só no início do século 20, mais de um milhão de renas morreram por causa de infecção por antraz. Não é fácil cavar tumbas muito profundas, então a maioria das carcaças dos animais são enterrados perto da superfície, espalhados pelos 7 mil cemitérios no norte da Rússia. No entanto, o maior medo é o que mais pode estar escondido sob o solo congelado. Pessoas e animais têm sido enterrados em permafrost por séculos, então é plausível dizer que outros agentes patogênicos e doenças infecciosas podem ser desencadeados se o derretimento do solo continuar. Por exemplo, cientistas descobriram fragmentos de DNA da gripe espanhola de 1918 em corpos enterrados em valas comuns na tundra do Alasca. A varíola e a peste bulbônica também podem estar enterradas na Sibéria. Em um estudo em 2011, Boris Revich e Marina Podolnaya escreveram: “Como consequência do derretimento do permafrost, vetores de doenças infecciosas mortais dos séculos 18 e 19 podem voltar, especialmente próximo aos cemitérios onde as vítimas dessas infecções foram enterradas.” Por exemplo, na década de 1890, houve uma epidemia grande de varíola na Sibéria. Uma cidade perdeu praticamente 40% de sua população. Seus corpos foram enterrados sob o permafrost nas margens do rio Kolyma. Cerca de 120 anos depois, a enchente do rio começou a erodir as margens e o derretimento do permafrost acelerou o processo de erosão. Em um projeto que começou nos anos 1990, cientistas do Centro Estadual de Pesquisa de Virologia e Biotecnologia em Novosibirsk analisaram os restos de pessoas da Idade da Pedra que foram encontrados no sul da Sibéria, na região de Gorny Altai. Eles também testaram amostras de cadáveres de homens que haviam morrido durante epidemias virais no século 19 e foram enterrados no permafrost russo.

Esporos de antrax podem sobreviver por décadas REVISTA AMAZÔNIA

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Carbono, carbono, carbono e bilhões de árvores por *Naomi van den Berg

Estudo vê a maior oportunidade (74%) na restauração de mosaico que significa que a paisagem florestal será uma mistura composta de pessoas, terras agrícolas e outros usos da terra e não apenas florestas

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UNFCCC derrama-o com um número de palavras extravagantes que se repetem sem cessar: mitigação, adaptação, facilitação, estrutura, negociações e, é claro, carbono. O carbono, o elemento da vida, mudou drasticamente a sua reputação nas últimas décadas ou assim, transformando-se em prejudicial para mudar o nosso clima. Mas isso não é notícia (exceto para os céticos entre nós – oi Trump!). Agora, existem duas maneiras de abordar essa questão do carbono: ou aumentamos nossa eficiência energética para limitar nossas emissões de carbono e/ou capturamos o carbono do ar, visando uma chamada “emissão negativa”. Uma emissão negativa, contrariamente intuitivamente, significa utopia climática: descreve uma situação em que mais carbono é absorvido do ar do que é emitido. 56

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Não subestimemos o potencial das florestas

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O maior potencial de armazenamento de carbono reside em terras degradadas / desmatadas: Lars Laestadius Muitas vezes, estes foram limpos para dar lugar a pastagens; aqueles que não servem mais a uma finalidade agrícola frequentemente permanecem sistemas de pastagem devido à intrincada dinâmica de equilíbrios de ecossistemas alternativos (para os fanáticos hardcore da floresta entre nós, eu recomendo a leitura de Scheffer et al., 2001). As gramíneas, naturalmente, capturam menos carbono que as plantas lenhosas A boa notícia é que essas terras de oportunidade ocorrem em todo o mundo, e – de acordo com os palestrantes – principalmente no continente africano. A maior oportunidade encontra-se no chamado mosaico-tipo de restauração: uma mistura de pessoas, culturas, animais e florestas. No entanto, como salientaram os palestrantes, precisamos redefinir o tipo de floresta que buscamos durante a restauração: precisamos nos desviar das florestas no sentido clássico (intocada e intocada pela humanidade), simplesmente porque as estratégias mais eficazes de restauração florestal têm realmente comprovada para ser aqueles que envolvem as comunidades locais e permitir-lhes participar na partilha dos muitos benefícios da floresta. Todos os oradores concordaram: não subestimemos o potencial das florestas: especialmente os fantasmas das florestas. E: o sucesso nos esforços de restauração só pode ser alcançado se os benefícios locais forem concedidos. Lars Laestadius, da Universidade sueca de Ciência Agrícola

Este atlas interativo é uma ferramenta de gerenciamento de informações, que visa ajudar as partes interessadas e decisores a identificar oportunidades de restauração

Restauração e proteção das florestas são fundamentais para a segurança do lugar da humanidade neste planeta

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Fantástico, mas como poderíamos perceber esta emissão negativa? Bem, como você deve ter adivinhado, as árvores contribuem para a resposta. Na sessão intitulada “Protegendo e Restaurando o Estoque Mundial de Carbono Florestal”, um esforço conjunto entre o Greenpeace e a Rainforest Foundation Norway, vários especialistas compartilharam sua experiência em pesquisa e divulgação sobre o assunto. Todos os oradores concordaram: a fim de alcançar a meta do Acordo de Paris de ficar abaixo de 1,5 ° C, precisamos abordar as florestas. Mais especificamente, precisamos abordar fantasmas de florestas. Por mais assustador que isso possa parecer, uma oportunidade promissora está por vir. REVISTA AMAZÔNIA

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Enersolar+Brasil 2017: o futuro das energias renováveis A 6ª edição da Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar, realizada de 23 a 25 de maio de 2017, reuniu a cadeia de energia solar, eólica, biomassa, GTDC e afins em um grande encontro do setor

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onhecimento, debates e geração de oportunidades de negócio marcaram a 6ª edição da EnerSolar + Brasil | Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar, realizada no São Paulo Expo, em São Paulo. Em mais uma edição a feira mostrou sua força ao mercado ao trazer novidades tecnológicas para toda a cadeia de energia solar, eólica, biomassa, GTDC e afins, e se consolidou como plataforma única de conteúdo qualificado através da realização simultânea do 7º Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia. “A EnerSolar + Brasil 2017 trouxe resultados expressivos acompanhando a tendência do setor de energias renováveis. Foram mais de 80 expositores, nacionais e internacionais, com tecnologia de ponta e produtos diferenciados”, afirmou Rimantas Sipas, Diretor Comercial da Cipa Fiera Milano, organizadora da feira e do Congresso. O Ecoenergy também ganhou destaque ao trazer ampla programação com mais de 40 palestras, unindo ao longo de três dias lideranças empresariais, presidentes de associações do setor de energias renováveis e profissionais da área. “O Ecoenergy fomentou debates com foco em negócios, tecnologia e aspectos jurídicos e, de acordo com feedback espontâneo dos empreendedores, superou as expectativas e contribuirá para a construção de parcerias no desenvolvimento de projetos em energias renováveis”, explicou Tatiana Dalben, Coordenadora do Ecoenergy.

Destaque para as novas tecnologias e capacitação

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O 7º Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia apresentou temas variados e importantes quando o assunto é energia renovável. O objetivo do Congresso é gerar discussões de onde possam surgir novas oportunidades e projetos que atendam a demanda de energia através de métodos menos poluentes e gerando menor impacto ambiental. As palestras e debates com especialistas envolveram mais de 20 temas atuais relacionados diretamente à energia renovável: financiamento de projetos, questões regulatórias, avanço tecnológico, complementaridade com outras fontes de energias renováveis, superação de gargalos e capacitação de equipe. As transformações ocorridas no setor energético brasileiro têm incentivado o crescimento das fontes renováveis. A participação destas fontes totaliza 41,2% na matriz energética nacional, indicador

quase três vezes superior ao indicador mundial (13,8%). Os dados constam no boletim “Energia no Mundo”, divulgado anualmente pela Secretária de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME). Na programação foi apresentado e discutido o grande potencial de mercado que o Brasil apresenta, em especial, no campo de energia eólica e solar fotovoltaica. Sandro Yamamoto, Diretor Técnico da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica, apontou que “o Brasil possui um dos melhores ventos do mundo, com ótima intensidade, livre de rajadas, constante e predominância de direção”. No ano passado, a energia eólica abasteceu, em média, 17 milhões de residências mensalmente, ou seja, uma população de cerca de 52 milhões de pessoas. Em 2016, a geração de energia eólica foi de 33,15 TWh, valor este 55% maior que o de 2015. Neste período a indústria eólica foi responsável pelo investimento de US$ 5,4 bilhões. Hoje, a energia eólica no Brasil, possui 11,03 GW de potência instalada, são 443 parques, com mais de 5.700 aerogeradores. É responsável por 7,1% da matriz elétrica brasileira. Já no campo da energia solar fotovoltaica, as oportunidades apresentadas também foram inúmeras. Recentemente, a micro e minigeração distribuída atingiram a marca de 111 megawatts (MW) instalados, dos quais 77,6 MW são provenientes da fonte solar fotovoltaica. revistaamazonia.com.br


Biomass Day: programação exclusiva dedicada à energia de biomassa

Abertura da EnerSolar 2017

Durante as discussões, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), com base nos dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mostrou um mapeamento onde o Brasil já conta com o número recorde de mais de 10 mil instalações de geração distribuída em todo o país. Dados do EPE – Empresa de Pesquisa Energética, mostraram que o potencial técnico da geração distribuída solar fotovoltaica representa mais de 164 gigawatts (GW), considerando-se apenas os telhados de residências. Um enorme potencial através de uma tecnologia renovável e de baixo impacto ambiental.

Outro dado exibido por Nelson Colaferro Jr., Presidente da ABSOLAR, é a estimativa que em 2025 o Brasil produzirá 7 GW de energia solar fotovoltaica, o que corresponderá à 3,3% da matriz energética. Em 2030 serão 17 GW, ou 6,8% da matriz. Outros tópicos importantes colocados em debate foram a questão dos financiamentos, com o painel “Oferta de financiamento para empreendedores de energia solar e eólica”; e a capacitação de mão-de-obra “Como o país está se preparando e oportunidades de trabalho no mercado de energias renováveis”.

O Congresso ainda cotou com o inédito Biomass Day. Integrado à programação do segundo dia do Ecoenergy trouxe palestras e debates dedicados exclusivamente ao mercado de energia de biomassa. O Biomass Day abordou importantes temas, com especialistas do setor como a produção de energia elétrica a partir da biomassa, eficiência energética, manutenção de motores e turbinas, parcerias estratégicas e estudos de caso. Atualmente, a biomassa é a segunda fonte de geração mais importante do Brasil na Oferta Interna de Energia Elétrica (OIEE) – com o registro de 8,8% em 2016, superando os 8,1% de participação do gás natural. As informações são do Boletim Mensal de Energia (referência – dezembro/2016) elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Visitantes no São Paulo Expo, sempre lotado

Techshow – Palestras dos Expositores

Painel de abertura da 7ª edição do Ecoenergy | Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia

Cerca de 15 temas foram abordados no Techshow. Ministradas pelos expositores da feira, as palestras que fizeram parte da programação, abordaram temas importantes para as energias renováveis, com foco em apresentar novas tecnologias e oportunidades de mercado.

Entre os tópicos: Geração Distribuída no Brasil; Produção de Energia Solar no Brasil; Linha de crédito do Governo do Estado para Energia Sustentável; Sistemas de Inversores para Geração Distribuída; Baterias Estacionárias Freedom Controls; Geração Distribuída Aplicada; Inversores Ongrid; e Demanda e Formação de Profissionais para o setor de energia solar fotovoltaica. A próxima edição já tem data marcada: 22 a 24 de maio de 2018, no São Paulo Expo, em São Paulo.

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Pesquisadores começam testes de som e imagem para monitoramento de fauna na Amazônia Os testes aconteceram em uma unidade de conservação do estado do Amazonas e foram realizados em parceria por pesquisadores do Instituto Mamirauá, da Espanha e da Austrália por João Cunha

Fotos: Amanda Lelis, Geoprocessamento / Instituto

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magine ter informações sobre a biodiversidade da floresta amazônica em tempo real, tudo em seu computador ou smartphone, a poucos cliques de distância. Muito além de um item de curiosidade, essa pode ser uma maneira inovadora para monitorar e proteger a biodiversidade da maior floresta tropical do mundo. Essa é visão do projeto Providence, uma parceria internacional de pesquisa liderada pelo Instituto Mamirauá. Em abril, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas, tiveram início os primeiros testes das tecnologias que farão parte do projeto. Os experimentos foram conduzidos na floresta e na água em longos trechos dos aproximados 11.000 km² da reserva. Além dos pesquisadores do Instituto Mamirauá, participaram dos testes de tecnologias de imagem um grupo da australiana Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO). O componente acústico está a cargo do Laboratório de Aplicações Bioacústicas da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, por meio da Fundação Sense of Silence, representada pelo especialista em bioacústica, Michel André.

Os primeiros testes aconteceram na Reserva Mamirauá, localizada no Amazonas

Os resultados foram promissores para a equipe de cientistas. “Estamos muito animados com o andamento do projeto e os frutos que ele pode render para toda a sociedade”, disse o coordenador de monitoramento do Instituto Mamirauá e líder do projeto, Emiliano Esterci Ramalho.

Mapa Reserva Mamirauá

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Imagens da Amazônia para o mundo Foram testadas tecnologias de gravação e detecção de espécies de animais em vida livre, como um dispositivo, que conjuga a captação de imagens em alta definição com as de câmeras infravermelho. “A ideia é unir esses métodos para melhor realizar a identificação de espécies”, diz o pesquisador sênior Ash Tews, responsável pela tecnologia. O engenheiro sênior de software da CSIRO, Ross Dungavell, está desenvolvendo um sistema de comunicação entre os sensores do Providence que serão instalados na floresta. Ele contou que “a maioria dos testes feitos na floresta mostraram bom desempenho das tecnologias na captação de imagens de animais e também na transmissão de dados para diferentes distâncias”. De volta à Austrália, a equipe da CSIRO segue no desenvolvimento das tecnologias, tendo consigo, agora, o conhecimento das adaptações e novas estruturas que serão necessárias ao projeto. revistaamazonia.com.br


Os sons que vêm da floresta

Pesquisador sobe em árvores para instalar sensores, câmeras e microfones na Reserva do Instituto Mamirauá

Entre os componentes em desenvolvimento pelo projeto estão tecnologias de captação de imagem e transmissão de dados, que serão instalados em uma área na floresta amazônica

“Captamos sinais das diferentes espécies da vida natural na Reserva Mamirauá, como onças e macacos, incluindo morcegos, animais com frequências ultrassônicas, e sons subaquáticos que vêm dos botos”, explicou o cientista bioacústico, Michel André. Michel André é uma referência mundial em bioacústica. Reconhecido por seu longo trabalho sobre poluição sonora nos oceanos, ele recebeu em 2002, o Prêmio Rolex por um projeto que previne colisões de navios contra baleias. Agora, o cientista bioacústico transporta sua experiência do fundo dos mares para a floresta amazônica. “Temos uma equipe de doze cientistas fazendo a análise acústica dos dados coletados. O sistema que estamos construindo vai gravar todos os diferentes sons da fauna para classificar automaticamente as espécies tanto na floresta quanto na água, processá-los em tempo real e enviá-los ao mundo”, disse.

Próximos passos

Pesquisadores do projeto Providence, parceria internacional liderada pelo Instituto Mamirauá, monitoram em tempo real de fauna na Amazônia

Sensores de detecção de movimento da fauna em vida livre também estão entre os componentes que serão desenvolvidos e aperfeiçoados pelo projeto

Gravação e detecção de animais estão sendo desenvolvidas pela instituição australiana CSIRO

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O coordenador do projeto pelo Instituto Mamirauá, Emiliano Ramalho, ressaltou que o foco do projeto é criar uma tecnologia que permita, pela primeira vez, o monitoramento da biodiversidade da Amazônia em tempo real. “Estamos na primeira fase do projeto, desenvolvendo testes com foco específico na Reserva Mamirauá para comprovar que o conceito do projeto funciona”, afirmou. O objetivo final dos testes é chegar a um modelo de equipamento, chamado de “módulo Providence”, que vai unir os componentes de áudio e imagem para o melhor reconhecimento da fauna. “A meta inicial do projeto é construir dez módulos Providence e instalá-los em pontos diferentes da Reserva Mamirauá”. A primeira fase do Providence vai até o primeiro semestre de 2018. Nas próximas etapas, os pesquisadores pretendem expandir a abrangência dos testes para outras regiões da Amazônia. Junto com o Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, e as instituições internacionais, também faz parte do projeto Providence a Universidade Federal do Amazonas. O projeto conta com um financiamento de 1,4 milhão de dólares (cerca de 4,36 milhões de reais) da organização filantrópica e de apoio a ciência e biodiversidade Fundação Gordon and Betty Moore REVISTA AMAZÔNIA 61


Uso da Biodiversidade: Questões Regulatórias e Oportunidades Fotos: Márcio Gallo

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Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) realizou recentemente, no auditório do CBA, o seminário Uso da Biodiversidade: Questões Regulatórias e Oportunidades, que teve por objetivo divulgar e promover esclarecimentos sobre a nova Lei da Biodiversidade (Lei nº 13.123/2015 e Decreto nº 8.772/2016) por meio de apresentações de membros técnicos do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Durante o seminário foram debatidos temas relacionados ao uso da biodiversidade, acesso ao patrimônio genético, conhecimento tradicional associado e repartição de benefícios, além do esclarecimento a respeito das medidas adotadas por instituições públicas e privadas para a implementação da Lei da Biodiversidade. “Com este seminário queremos aproximar as Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), as empresas e a sociedade no sentido de promover a discussão sobre a implementação da Lei e limitar os impeditivos para o desenvolvimento tecnológico e a realização de estudos científicos que acessam o Patrimônio Genético (PG) e o Conhecimento Tradicional Associado (CTA) na região Amazônica”, disse Adrian Pohlit, coordenador geral do CBA.

(esq p/ dir) Rafael de Sá Marques - Diretor do Departamento de Patrimônio Genético do MMA, Manuela da Silva - Assessora da Vice-presidência de Pesquisa e de Coleções Científicas da FIOCRUZ, Francine Leal Franco - Consultora da GSS Sustententabilidade e Bioinovação

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Mesa de abertura do Evento: Estevão Monteiro de Paula - Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação da SEPLANCTI, Adrian Martin Pohlit - Coordenador geral do CBA, Marcelo de Souza Pereira - Superintendente Adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Regional da SUFRAMA, Rafael de Sá Marques - Diretor do Departamento de Patrimônio Genético do MMA, Teruaki Yamagishi - Consultor de gestão da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas e Luiz Marcelo Brum Rossi - Chefe geral da EMBRAPA Amazônia Ocidental

O superintendente adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Regional da SUFRAMA, Marcelo Pereira, representou a autarquia durante a abertura do seminário e reiterou a importância de se debater o tema proposto ao seminário e afirmou que “nesse evento possamos discutir a Lei da Biodiversidade, suas inovações e proposições de alterações que permitam um trabalho menos burocrático e um avanço dos trabalhos que envolvam a biotecnologia na região, especialmente”. Foram palestrantes do evento: Dr. Rafael Marques (Diretor do Departamento do Patrimônio Genético – Ministério do Meio Ambiente), Dra. Rosa Miriam Vasconcelos (Coordenadora de Assuntos Regulatórios – Embrapa), Dra. Manuela da Silva (Assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência – Fiocruz), Dra. Francine Leal (GSS Sustentabilidade e Bioinovação), Dra. Ana Viana (Gerência Científica da Gestão de Assuntos Regulatórios da Natura) e Dr. Paulo Benevides (CBA). O evento, também contou com a participação de Marcelo Rossi, diretor da Embrapa Amazônia Ocidental, e Adrian Pohlit, coordenador geral do CBA, além de representantes da Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento do Amazonas (Seplan/AM) e da Federação das Indústrias do Estado (Fieam). Conforme o

chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Luiz Marcelo Brum Rossi, o Seminário foi importante para “fazer a divulgação da nova legislação relacionada ao Acesso de Patrimônio Genético e principalmente debater a aplicação e operacionalização do marco legal diretamente com os usuários, ou seja, pesquisadores, instituições de pesquisa e empresas comerciais que acessam a biodiversidade como objetivo de executar pesquisa aplicada ou básica e principalmente para a geração de ativos de inovação que serão disponibilizados ao mercado”, disse.

(esq p/ dir) Manuela da Silva, Francine Leal Franco, Ana Viana - Gestora de Ciências em Biodiversidade, da NATURA, Rosa Mírian de Vasconcelos - Coordenadora de Assuntos Regulatórios da EMBRAPA e Paulo Benevides, Assessor de Assuntos Estratégicos do CBA revistaamazonia.com.br


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As cores dos

pássaros

Entre as aves, a plumagem colorida é mais comum nos machos, mas não é exclusiva deles. As penas vibrantes também são importantes nas fêmeas. Confira belos (e coloridos) resultados da evolução dos pássaros.

Urubu-rei da América do Sul

Fotos: Divulgação, Bill Holsten, M. Lopez, M.Hiekel, P. Pleul, R.Jensen, U. Anspach

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m muitas espécies de aves, glamour é coisa para os machos. Mas também algumas fêmeas podem exibir plumagem colorida. Entre elas, as cores estão presentes, sobretudo, em grandes espécies dos trópicos e em aves que formam comunidades para a reprodução, escreveram pesquisadores na revista Nature. “Mas quando a pressão ecológica ou social é menor sobre as fêmeas, elas perdem sua coloração vibrante.” Já se sabe que o colorido entre os machos é uma vantagem importante na concorrência pelas fêmeas. Mas, até agora, a plumagem colorida delas era tida pelos pesquisadores apenas como um efeito colateral das cores dos machos. Os cientistas liderados por Bart Kempenaers, do Instituto Max Planck (MPI) para Ornitologia, em Seewiesen, e James Dale, da Universidade de Massey, na Nova Zelândia, conduziram uma análise detalhada da coloração de 6.000 espécies de pássaros.

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Eles perceberam que não apenas as cores dos machos, mas também as das fêmeas influenciaram na seleção natural — às vezes, até em sentidos opostos. A pressão da seleção sexual sobre os machos faz com que suas cores se tornassem mais intensas. Porém, não apenas a seleção sexual influencia a evolução da cor da plumagem. Alguns fatores da vida social e da competição por comida ou território desempenham um papel importante, como explicam os pesquisadores. Geralmente, pássaros grandes não são presa fácil de predadores e, por isso, podem ter cores mais vibrantes. Nos trópicos, por sua vez, a competição por recursos é maior, e os pássaros, mais coloridos. Para o sexo feminino, espécies com parceiros permanentes são mais coloridas, assim como espécies em que, além dos próprios pais, outros membros adultos do grupo fornecem alimento para os filhotes. “A concorrência entra as fêmeas por uma

oportunidade de procriação é maior nesses casos”, diz o MPI.

Impressionante como uma arara Só pássaros machos são coloridos? Claro que não, em muitas espécies de aves, sequer há diferença de aparência entre machos e fêmeas. É o caso dessas araras-vermelhas das florestas tropicais da América do Sul.

Dimorfismo de gênero Em outras espécies, os machos têm cores realmente muito mais vibrantes do que as revistaamazonia.com.br


fêmeas, como o saíra-beija-flor, da América Central. É fácil diferenciar quem é quem: o da direita é o macho.

Depende da espécie Pesquisadores da Alemanha e da Austrália analisaram 6.000 espécies de aves sob as lentes de um microscópio. Eles queriam descobrir por que algumas aves do sexo feminino são têm tão pouca cor, em comparação com os machos

Dança do acasalamento Os machos da ave-do-paraíso se esforçam para impressionar as potenciais parceiras — não apenas com a cor, mas também com longas penas de formato incomum na cauda. Como a ave-do-paraíso-rei, na foto. Assim como todas da espécie, ela protagoniza uma impressionante dança de acasalamento, em que balança as penas da cauda e deixa-as fofas como uma bola de algodão.

Completamente diferente Às vezes, nem parece que machos e fêmeas pertencem a uma mesma espécie. Na Ramphocelus passerinii, o macho é preto com a parte traseira escarlate. A fêmea, no entanto, tem a cabeça cinzenta, um corpo cor verde-oliva e asas acastanhadas.

e podem exibir cores mais vibrantes. Além disso, as fêmeas são mais coloridas nos trópicos, ricos em recursos naturais. E não só os machos competem pelas fêmeas: segundo os pesquisadores, elas também concorrem entre si pelos parceiros.

Concorrência acirrada

Quanto maior o pássaro, maior a probabilidade de fêmea ser colorida. Grandes pássaros não são presas fáceis dos predadores

Flamingos, vermelhos de comida

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Único como um pavão

Único como um pavão

Para cortejar e impressionar a fêmea, o pavão abre suas penas em uma roda e balança para frente e para trás. Os pavões são, originalmente, da Índia e do Sri Lanka.

Urubu-rei Os urubus-rei da América do Sul têm, na verdade, uma plumagem discreta branca-cinza-preta. Sua cabeça calva, no entanto, é de uma coloração marcante. A espécie ganhou esse nome pelo hábito de empurrar outros abutres menores ao redor de uma carcaça para ter a comida só para ele.

Apenas um estorninho

Fauna alemã colorida

Na Alemanha, o estorninho-comum não é, necessariamente, muito colorido. Mas em outras partes do mundo, sim. Esse é um estorninho-soberbo da África Oriental.

Pássaros coloridos existe apenas nos trópicos? Longe disso! Mesmo na Alemanha, alguns pássaros se esforçam para serem notados. Por exemplo, o guarda-rios-comum. Bonito, não é?

Vermelho de comida Aves com chifres

Sim, isso é um pássaro: o calau. Todas as espécies de calau têm bicos de formato incomum e coloridos. Algumas espécies são caçadas por essas partes do corpo.

Flamingos não são vermelhos para impressionar os parceiros. Esse é um efeito secundário da sua alimentação: camarão e plâncton que eles filtram para fora da lama. Os corantes nesses animais marinhos conferem aos flamingos sua cor avermelhada.

O Calau, ave com chifre

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Ano 12 Nº 62 Maio/Junho 2017

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ISSN 1809-466X

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Biodiversidade e o Turismo Sustentável Conferência dos oceanos Respiração do solo em ecossistemas


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