Amazônia 63

Page 1

Anúncio Revista 20,5 x 27 cm.pdf 1 27/07/2017 11:02:37

AM

CAÇÃO LI

Ano 12 Nº 63 Julho/Agosto 2017

OR PUB AI

D

O

N O RTE

R$ 12,00

C

M

Y

CM

MY

CY

K

www.revistaamazonia.com.br

Para mais informações acesse:

w w w. f a d c. o rg. br /FundacaoAbrinq

/fundabrinq

ISSN 1809-466X

CMY

Ano 12 Número 63 2017 R$ 12,00 5,00

A MÃE DE TODAS AS FLORES, RECONSTITUIÇÃO CERCA DE 140 MILHõES DE ANOS FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTIS RECORDE DE QUEIMADAS NA AMAZÔNIA


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Foto Roberto Roberto Ribeiro Ribeiro Foto

EKO EKO

Abelhas: importantes para o mundo, importantes para a gente Contém: Cuidado com o planeta Estudos com abelhas nativas

As abelhas são marcadas com microchip numa pesquisa inédita

Compromisso sustentável As abelhas são grandes responsáveis pela vida no nosso planeta e respondem pela polinização de até 80% das plantas cultivadas no mundo. Por saber da importância desses pequenos animais como um bioindicador ambiental, a Vale realiza, por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV), um estudo com tecnologia de ponta. Nossos pesquisadores analisam as abelhas nativas da Amazônia, seus raios de voo e o seu papel na manutenção da biodiversidade da floresta. Assim, crescemos cuidando e colaborando cada vez mais com o meio ambiente. Um projeto, várias pesquisas e só um objetivo: inovar fazendo mais e melhor pelo planeta.

Conheça essas e outras histórias no vale.com/ladoalado

revistaamazonia.com.br

02-Abelha-Revista Amazônia - 20,5 x 27cm.indd 1

REVISTA AMAZÔNIA

3

19/07/17 12:15


EXPEDIENTE

06 10 18

48 50

Natura e Fundação Banco do Brasil firmam parceria inédita para beneficiar comunidades da Amazônia A Natura e a Fundação Banco do Brasil assinaram recentemente, parceria inédita para fortalecer o uso de produtos e serviços da sociobiodiversidade da Amazônia, a partir do apoio a projetos nas áreas de inovação, pesquisa e produção sustentável, atendendo diretamente às comunidades agroextrativistas da região...

69ª Reunião Anual da SBPC Asolenidade de abertura da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – maior encontro de divulgação científica da América Latina, que teve como tema: Inovação, Diversidade, Transformações, aconteceu no campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte. O evento marcou as celebrações dos 90 anos da UFMG. Houve discursos e homenagens, além de apresentação do coral ARS da UFMG. Um dos homenageados da noite foi o prof. Ângelo Machado, pesquisador...

Magia, encantamento e ilusionismo, em Parintins, na Amazônia Lílian Beraldo Com o bumbódromo lotado, o boi Garantido abriu a primeira noite do Festival Folclórico de Parintins. A apresentação começou pontualmente às 21h30 de sexta-feira (30) e apresentou o tema “Magia e Fascínio no Coração da Amazônia” e sub tema “ Amazônia, Mágica e Fascinante”. De um grande coração que se abriu no meio da arena, o boi vermelho apareceu agitando a galera, como...

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Carolina Octaviano, Climeworks, Daniel Scheschkewitz, EMBRAPA, FAPESP, IBAMA,ICMBio, INPE, Júlia M. Neves, Luciete Pedrosa, Manuel Alves Filho, Paulo Ferreira, Rainforest Interfaith, Ronaldo G. Hühn, Walter Cabral FOTOGRAFIAS Acervo Mario Cohn-Haft_INPA, Antoninho Perri | João Marcos Rosa | Amazonface, Anselmo D’Affonseca, Arquivo ICMBio, Barbara Fraser, Bianca Paiva, Centro de Pesquisa Florestal Internacional, Claus G. Berving, Climeworks, Dante Buzzetti, Diogo Brito/Fapemig, Divulgação, Divulgação/ Luciana Aith, Foca Lisboa, Fred Lamego, Google Earth Divulgação, Herivelto Batista/MCTIC, Hervé Sauquet/Jürg Schönenberger, IBAMA, ICMBio, Jorge Macedo, Julia Dunlop, Karen Robinson, Laboratórios VTT, Laurie Nygren, Layana Rios, Léo Rodrigues/Agência Brasil, Lise Aserud, Lucas Braga, Marcos Amend , NASA, Pietro Sitchin / SBPC, Rainforest Foundation Norway, Raíssa César /UFMG, Sauquet et al, doi: 10.1038 / ncomms16047, SupCom/ ALERR, Teemu Leinonen / Lappeenranta University of Technology – LUT, Thyssenkrupp, túlio M. Nunes, Unicamp FAVOR EDITORAÇÃO ELETRÔNICA POR Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle

I LE ESTA REV

NOSSA CAPA Reconstituição em modelo 3D, de como seria a primeira flor de há cerca de 140 milhões de anos. Autoria de pesquisadores da Universidade Paris-Sud com o principal autor Dr. Hervé Sauquet

Amazônia – previsão de recorde de queimadas A Amazônia deverá ter neste ano a pior temporada de queimadas de sua história desde o início dos registros, em 2001. A previsão foi divulgada recentemente pela Nasa, a agência espacial americana, e pela Universidade da Califórnia em Irvine (EUA). O risco de incêndios graves é maior do que 90% em todas as dez regiões analisadas, que incluem seis Estados da Amazônia brasileira...

ICMBio pronto para combater incêndios florestais Com a chegada do período mais crítico da seca em boa parte do País (meses de agosto e setembro), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) montou estrutura para prevenir e combater incêndios florestais, muito comuns nessa época do ano. Segundo a Coordenação de Emergências Ambientais do ICMBio, foram contratados 1.170 brigadistas para atuar em 78...

MAIS CONTEÚDO

[12] Fundo Amazônia vai investir R$ 150 milhões em novos projetos de conservação [14] Posse da nova diretoria do Parlamento Amazônico [16] Indústria 4.0 máquinas conectadas em todas as etapas da cadeia produtiva [26] A economia do futuro: a nanotecnologia [28] Cientistas criam proteína usando eletricidade e dióxido de carbono [30] Pesquisadores da Unicamp obtêm extrato de jambu para a fabricação de anestésicos [36] A mãe (e o pai) de todas as flores [40] O mel eterno [42] Rainhas de abelhas sem ferrão, controlam reprodução de operárias sem castração [44] Pesquisa possibilita controlar a contaminação de castanhas [52] Floresta amazônica, resiliência ou colapso [54] Ciência e religião unidas para defender florestas [56] Pesquisadores criam método para calcular impactos de mudanças de uso da terra no Brasi [58] Florestas nas nuvens [62] Estudo mapeia recuperação de carbono após a exploração madeireira na Amazônia [64] Filtro retira CO2 do ar e ainda ajuda no cultivo de plantas

CIC

RE

32

Recentemente, o novo Google Earth, lançou globalmente 11 mapas interativos abordando diferentes aspectos da região amazônica, onde vivem 25 milhões de pessoas e oferece uma vasta diversidade cultural. A nova plataforma permite monitorar áreas desmatadas e conhecer melhor as 580 terras indígenas demarcadas no Brasil. Baseada no Google Earth, o Eu sou Amazônia traz, além dos mapas...

EDITORA CÍRIOS

ST A

Eu sou Amazônia: o novo Google Earth

PUBLICAÇÃO Período (Julho/Agosto) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

Portal Amazônia

www.revistaamazonia.com.br


www.ce2017.org revistaamazonia.com.br

(55 11) 3897.2400

atendimento@ethos.org.br REVISTA AMAZÔNIA

5


Eu sou Amazônia: o novo Google Earth Fotos: Divulgação/Luciana Aith, Google Earth Divulgação

R

Eu sou Amazônia: novo Google Earth lança primeiras histórias do Brasil

ecentemente, o novo Google Earth, lançou globalmente 11 mapas interativos abordando diferentes aspectos da região amazônica, onde vivem 25 milhões de pessoas e oferece uma vasta diversidade cultural. A nova plataforma permite monitorar áreas desmatadas e conhecer melhor as 580 terras indígenas demarcadas no Brasil. Baseada no Google Earth, o Eu sou Amazônia traz, além dos mapas, 11 vídeos com as histórias dos moradores da floresta, de indígenas a quilombolas. Tudo começou em 2007, quando o cacique Almir Suruí, da tribo Suruí, conheceu o Google Earth e se questionou por que não havia informações sobre a Amazônia. No ano seguinte, Almir Surui foi até o Vale do Silício, e na sede do Google propôs uma parceria para combater o desmatamento e mapear o estoque de carbono em suas terras (matéria publicada na Revista Amazônia nº 36 de janeiro de 2013). O Google atendeu e mapeou todas as áreas indígenas da Amazônia. Com informações levantadas e reunidas pelo Instituto Socioambiental (ISA). Dos 11 vídeos, nove foram feitos por Fernando Meireles, um dos maiores diretores do Brasil., e dois pelo ISA. Os vídeos tem as temáticas: Eu Sou Água, Eu Sou Mudança, Eu Sou Alimento, Eu Sou Raiz, Eu Sou Inovação, Eu Sou Liberdade. Eu Sou Resistência, Eu Sou Resilência, Eu Sou Aventura, Eu Sou Conhecimento, Terras Indígenas.. Podem ser acessadas em português, espanhol e inglês. Cada história do Eu sou Amazônia captura a complexidade da floresta que produz 20% do oxigênio do planeta e abriga uma em cada 10 espécies de animais. É possível conhecer a cadeia de produção de iguarias da floresta, como a castanha-do-pará e o açaí (nas prateleiras de supermercados de todo o mundo), ou descobrir como comunidades, que antes dependiam da extração ilegal, agora se reestruturaram com esforços sustentáveis. 06

REVISTA AMAZÔNIA

A nova experiência mostra o cotidiano dos Quilombolas, conta como a educação e a cultura reergueram diferentes povos e o papel da tecnologia na Amazônia, ampliando essas vozes para o mundo todo e abrindo a possibilidade para que qualquer pessoa, de qualquer lugar, possa se informar e aprender mais sobre a maior floresta tropical. As 11 histórias trazem uma experiência detalhada sobre a Amazônia, contemplando desafios e ameaças a esse ecossistema e, por consequência, de todo o planeta. É uma jornada profunda contada por meio de vídeo, mapas, áudio e realidade virtual em 360°, disponível para desktops e dispositivos móveis em g.co/EuSouAmazonia.

Rodrigo Hühn, e Fábio Coelho, presidente do Google Brasil com nossa Amazônia

Ubiratan Suruí usando o Eu sou Amazônia.

revistaamazonia.com.br


Eu sou Amazônia: uma experiência interativa entre as pessoas e a floresta Eu sou Água: O volume de água que a floresta amazônica joga no ar percorre milhares de quilômetros, fazendo chover em toda área centro sul da América Latina. Entenda o processo de formação das chuvas que abastecem os reservatórios e irrigam as fazendas que produzem boa parte do alimento do mundo. Eu sou Mudança: Após 40 anos de destruição desenfreada, Paragominas, no Pará, foi o primeiro município a adotar ações concretas para o controle do desmatamento e, hoje, trabalha para tornar-se a primeira cidade verde da região. Esta é a história da transformação de Paragominas. Eu sou Alimento: A história dos produtos da floresta que alimentam não só os povos que vivem na região, mas também pessoas ao redor de todo o mundo. Fortalecer a cadeia de produtos alimentícios da Amazônia é uma das maneiras mais eficazes de manter a floresta em pé. Eu sou Raiz: Há cem anos, a cultura dos Yawanawá quase se perdeu. Nos anos 1980, sua história mudou e a demarcação de seu território foi o primeiro passo. Esta é a história do povo Yawanawá e seus exemplos de empoderamento feminino e economia sustentável.

Eu sou Água

Nosso diretor Rodrigo Hühn, e o Cacique Almir Surui, durante o lançamento do Google Earth Amazônia

Chefe Almir Surui, com Juliana Dib Rezende, gerente de parcerias do Google Brasil

Eu sou Amazônia

Eu sou Alimento

Eu sou Raiz

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

07


Eu sou Inovação. O verdadeiro povo da Amazônia

Eu sou Inovação: Os Paiter Suruí são formados por aproximadamente 1,5 mil integrantes que protegem 248.147 hectares de floresta entre Rondônia e Mato Grosso. Seu povo quase foi dizimado, mas encontrou na liderança de Chefe Almir Suruí o caminho para se fortalecer. Eu sou Liberdade: A Amazônia brasileira é o lar de muitos quilombolas, descendentes de africanos escravizados. No Pará, fugindo da escravidão, eles estabeleceram suas comunidades e lutaram pelos seus direitos territoriais. Eu sou Resistência: Os Tembé possuem uma história de resistência de 40 anos pelo direito à sua terra. Hoje, eles usam novas tecnologias para realizar a gestão e proteção do seu território, e garantir o futuro das próximas gerações.

Eu sou Liberdade. Quilombolas na Amazônia

Eu sou Resiliência. Xingu

Tomás Nora, gerente de projeto do Google, em demonstração

08

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Eu sou Resiliência: O desmatamento, o uso de agrotóxicos e as mudanças climáticas estão ameaçando os povos indígenas e as florestas do Xingu, a primeira grande terra indígena reconhecida no Brasil e, hoje, lar de 16 etnias. Eu sou Aventura: Os Yanomami estão se preparando para levar turistas ao Pico da Neblina, em uma trilha de 36 km de caminhada pela floresta e que apresenta elevação que vai de 95 metros à 2.995 metros de altitude. Eu sou Conhecimento: O povo Cinta Larga vive na Amazônia brasileira em um território demarcado de 2,7 milhões de hectares. Hoje, eles avançam na proteção de seu território por meio de seus projetos de educação. Terras Indígenas: As Terras Indígenas representam cerca de 13,8% do território nacional e são essenciais para a sobrevivência dos povos e da conservação ambiental em todos os biomas brasileiros.

Eu sou Aventura. Os Yanomami

Terras Indígenas

Rebecca Moore, Diretora do Google Earth, disse durante o evento de lançamento do projeto: “O Google Maps é uma ferramenta para se achar”. “O Earth é uma ferramenta para se perder”.

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

09


Natura e Fundação Banco do Brasil firmam parceria inédita para beneficiar comunidades da Amazônia Convênio possibilitará ações conjuntas de apoio a projetos nas áreas de inovação, pesquisa e produção sustentável

Valter Coelho de Sá, diretor de Gestão de Pessoas, Controladoria e Logística da Fundação Banco do Brasil, e Josie Romero, vice-presidente de Operações e Logística da Natura, assinando a parceria inédita para fortalecer o uso de produtos e serviços da sociobiodiversidade da Amazônia

A

Natura e a Fundação Banco do Brasil assinaram recentemente, parceria inédita para fortalecer o uso de produtos e serviços da sociobiodiversidade da Amazônia, a partir do apoio a projetos nas áreas de inovação, pesquisa e produção sustentável, atendendo diretamente às comunidades agroextrativistas da região. O primeiro projeto do convênio, com ênfase na produção sustentável, irá atender mais de 200 famílias de quatro comunidades da região do Baixo Tocantins, no Pará, contribuindo para a capacitação técnica das cooperativas e à adoção de tecnologias sociais adaptadas à agricultura familiar e ao agroextrativismo sustentável. O investimento inicial no projeto, de R$ 190 mil, será aportado pela Fundação Banco do Brasil para a construção de 10 secadores solares de alta eficiência, que vão melhorar a qualidade da produção de andiroba e murumuru, ingredientes da biodiversidade usados pela Natura em seus produtos. A parceria prevê ainda fornecimento de 40 cadeiras para a coleta de patauá das palmeiras pelas comunidades extrativistas da região.

10

REVISTA AMAZÔNIA

Selando a parceria Durante visita à Cofruta, em Abaetetuba, seus diretores, Jonatas e R. Brito, em conversa com visitantes

revistaamazonia.com.br


O primeiro projeto do convênio, com ênfase na produção sustentável, irá atender mais de 200 famílias de quatro comunidades da região do Baixo Tocantins, no Pará

A Natura irá fornecer, capacitações e assistência técnica para as famílias consiguirem melhorar a qualidade dos óleos e tenham maior segurança na coleta do patauá Visão de parte do parque fabril da Natura, em Benevides

Em contrapartida a Natura irá fornecer, por meio de sua área de Gestão de Relacionamento e Abastecimento com Comunidades, capacitações e assistência técnica para essas famílias, de forma que consigam melhorar a qualidade dos óleos e tenham maior segurança na coleta do patauá. A iniciativa será desenvolvida no âmbito do Programa Amazônia, criado pela Natura em 2011, com o objetivo de impulsionar um novo modelo de desenvolvimento, mais inclusivo e sustentável, partindo do princípio de que a floresta pode ter mais valor em pé do que derrubada. Ao longo dos últimos seis anos, a Natura já investiu mais de R$ 1 bilhão na região por meio do programa, beneficiando mais de 2 mil famílias em 28 comunidades. “O convênio entre Natura e Fundação Banco do Brasil soma esforços; ela é uma sinergia entre empresas que acreditam que os negócios podem estar à serviço da geração de impacto positivo no meio ambiente e na sociedade”, afirma Josie Romero, vice-presidente de Operações e Logística da Natura. “Lado a lado, vamos alavancar a inovação na região amazônica, contribuir com a capacitação técnica de cooperativas e beneficiar a população local”, complementa. Segundo o diretor de Gestão de Pessoas, Controladoria e Logística da Fundação Banco do Brasil, Valter Coelho de Sá, “a parceria inédita com a Natura agrega esforços para trazer a melhoria de vida das pessoas por meio de iniciativas que promovam a inclusão socioprodutiva e o desenvolvimento sustentável. Além disso, reaplica tecnologias sociais, metodologias simples que têm baixo custo e alta eficiência na solução de problemas sociais. A experiência e a atuação das duas empresas na região possibilitam uma maior transformação social”. Essa iniciativa destaca a importância de alianças multissetoriais para o fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis do bioma da Amazônia. As comunidades beneficiadas no Pará pelo primeiro projeto são: - Cooperativa Mista Agroextrativista de Santo Antônio do Tauá – Camtauá - Santo Antonio do Taúa - Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta) - Abaetetuba - Cooperativa de Resistência de Cametá (CART) – Cametá - Associação de Moradores e Agricultores de Jauari Caminhando com Cristo – J Mojú

Esse projeto contempla quatro Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte da Agenda da Organização das Nações Unidas com metas para o ano de 2030

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

11


Fundo Amazônia vai investir R$ 150 milhões em novos projetos de conservação

O

Fundo Amazônia abriu recentemente chamada pública para projetos de conservação e uso sustentável da floresta com foco em atividades produtivas sustentáveis. Serão selecionados até dez projetos na Amazônia Legal, que receberão de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões. O total financiado será de R$ 150 milhões.

12

REVISTA AMAZÔNIA

“Queremos aumentar a base de projetos e entidades que possam receber do Fundo Amazônia e fazer uma aplicação de recursos mais ágil e efetiva”, disse a diretora de Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marilene Ramos. O fundo é gerido pelo banco, em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, e mantido com recursos de doações, destinadas a projetos de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável da floresta. Em seus 8 anos de atuação, o Fundo Amazônia já investiu cerca de R$ 1,4 bilhão em 89 projetos de diferentes segmentos e regiões da Amazônia Legal. Os projetos da nova chamada pública deverão trabalhar para o fortalecimento da atividade econômica de comunidades que possam atuar como guardiões da floresta, como povos e comunidades tradicionais, populações ribeirinhas, famílias assentadas pela reforma agrária, projetos de agricultura familiar, povos indígenas e quilombolas que vivem na Amazônia Legal. Para o BNDES, essas comunidades têm um papel fundamental na defesa da Amazônia, pois trabalham de forma natural com os recursos da sociobiodiversidade florestal,

gerando renda e desenvolvimento econômico e social. Ou seja, elas valorizam a floresta em pé, pois tiram de lá o seu sustento. Os projetos poderão ser apresentados por associações, cooperativas, fundações de direito privado e empresas privadas, na modalidade aglutinadora. Ou seja, a entidade proponente deverá aglutinar pelo menos três subprojetos de outras organizações, de forma integrada e coordenada. Eles terão que abranger pelo menos uma das seguintes atividades econômicas: manejo florestal madeireiro e não madeireiro, incluindo manejo de fauna silvestre; aquicultura e arranjos de pesca; sistemas alternativos de produção de base agroecológica e agroflorestal; e turismo de base comunitária. O período de inscrição termina em 7 de dezembro de 2017 e a divulgação final dos aprovados está prevista para 13 de abril de 2018. As informações estão no site do Fundo Amazônia: www.fundoamazonia.gov. br Outras duas chamadas serão feitas pelo fundo este ano. A primeira voltada para os municípios e a segunda para ações de restauração de áreas degradadas, o que vai contribuir para o compromisso brasileiro no Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares de florestas degradadas até 2030. Há a previsão ainda de outra chamada para apoiar projetos de assentamentos rurais. As iniciativas vão reforçar as ações de preservação da floresta, após dois anos seguidos de aumento do desmatamento na Amazônia Legal. Desde 2004, o desmatamento na Amazônia foi reduzido em mais de 70%, após o segundo pico mais alto da história do monitoramento do bioma, com 27.772 km² de floresta derrubada naquele ano. De 2009 a 2015, o ritmo do desmatamento manteve-se estagnado em um patamar médio de 6.080 km² por ano. A nova seleção de projetos foi anunciada durante a apresentação do Relatório de Atividades 2016 e dos resultados do Fundo Amazônia, para dar transparência e publicidade sobre os recursos do fundo, principalmente para os seus doadores. Desde 2009, o Fundo Amazônia já recebeu um aporte de mais de R$ 2,8 bilhões, provenientes de três fontes: do governo da

revistaamazonia.com.br


Noruega, cerca de 97,4% do total (aproximadamente R$ 2,775 bilhões); da Alemanha, com 2,1% (cerca de R$ 60,697 milhões); e da Petrobras, com 0,5% (R$ 14,7 milhões). Em junho, durante a visita do presidente Michel Temer à Noruega, a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, disse que o aumento do desmatamento na Amazônia, vai levar à redução das contribuições ao fundo este ano. Em 2016, foram mais de R$ 330 milhões, mas os valores para 2017 ainda não foram divulgados. Durante o evento, a embaixadora da Noruega no Brasil, Aud Marit Wiig, confirmou que os pagamentos ao fundo refletem os resultados na redução do desmatamento, mas disse que o governo norueguês está satisfeito com os resultados do fundo. “As conquistas do Brasil nas últimas décadas são impressionantes e fizeram do país uma liderança global em questões de mudanças climáticas. Até 2015, os resultados eram massivos e enchiam os olhos. As recentes tendências do aumento do desmatamento não são encorajadoras e merecem reflexão, boas estratégias e esforços para reverter a situação”, disse.

Os projetos da nova chamada pública deverão trabalhar para o fortalecimento da atividade econômica de comunidades que possam atuar como guardiões da floresta

Os projetos terão que abranger pelo menos uma das seguintes atividades econômicas: manejo florestal madeireiro e não madeireiro, incluindo manejo de fauna silvestre; aquicultura e arranjos de pesca; sistemas alternativos de produção de base agroecológica e agroflorestal; e turismo de base comunitária

revistaamazonia.com.br

O primeiro compromisso da Noruega de doar até US$ 1 bilhão foi cumprido. Com o sucesso da pareceria, o país anunciou o aporte de mais aproximadamente US$ 600 milhões durante Conferência das Partes de Paris (COP-21). Entretanto, as doações vão acontecendo anualmente conforme as regras estabelecidas pelo governo do país, de atrelar os valores ao desmatamento do ano anterior, em comparação aos últimos dez ou cinco anos. A diretora do BNDES, Marilene Ramos, explicou que a redução dessas doações não restringe os projetos que estão em execução pelo Fundo Amazônia e nem os que estão sendo planejados, já que o fundo ainda tem R$ 1,4 bilhão para serem investidos. Segundo Marilene, com a declaração da primeira-ministra norueguesa, ficou a ideia errada de que os governos doadores têm ingerência sobre as políticas para a Amazônia. Ela explicou que o fundo é brasileiro e a definição de projetos é feita por um comitê orientador tripartite e estão em conformidade com as diretrizes do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e a Estratégia Nacional de REDD+ (ENREDD+). “Toda atuação do Fundo Amazônia é feita totalmente ancorada em política pública nacional”, disse.

REVISTA AMAZÔNIA

13


Posse da nova diretoria do Parlamento Amazônico

E

m sessão solene realizada recentemente no plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), tomou posse a nova diretoria e conselho fiscal do Parlamento Amazônico. O deputado coronel Chagas (PRTB), é o novo presidente para o biênio 2017-2018. Também tomaram posse os novos membros integrantes da diretoria e do conselho fiscal. A gestão do biênio 2015/2016 foi presidida pelo deputado estadual do Amazonas, Sinésio Campos, que conduziu os trabalhos da posse da nova diretoria. A solenidade contou com as presenças do superintendente da SUFRAMA, Appio Tolentino, de deputados dos nove estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins), unidades da federação que integram aquele colegiado, ou seja, um terço dos estados do Brasil. “O Parlamento representa mais de 250 deputados estaduais da região Norte”, lembrou o deputado Chagas. O Parlamento Amazônico tem como objetivo buscar alternativas que aliem desenvolvimento sustentável e crescimento econômico para os desafios vivenciados na Amazônia. O deputado Coronel Chagas (PRTB) disse, após ser empossado, que as maiores dificuldades enfrentadas pelos estados da região norte são as barreiras relacionadas ao meio ambiente e à questão indígena, que comprometem o desenvolvimento dos estados. A mesa oficial durante o Hino Nacional

14

REVISTA AMAZÔNIA

Fotos: Layana Rios, SupCom/ALERR Coronel Gerson Chagas: “Quem tem que falar e saber o que é bom para os amazônidas somos nós”

Ressaltou ainda que nessas duas últimas décadas acompanhou diversas ações orquestradas por organizações não-governamentais – Ongs, patrocinados com recursos públicos, que ele considera crime de lesa pátria. Citou como exemplo a corrente da BR-174 na divisa dos estados Amazonas e Roraima, a obra do Linhão de Tucuruí, que vai interligar Roraima ao Sistema Nacional de Energia – SNE, a criação e ampliações de áreas indígenas e de parques nacionais na Amazônia e a construção de hidrelétricas.

“O setor produtivo é que mais sofre. Isso se verifica na pecuária, piscicultura, produção de grãos e suinocultura. É difícil criar empregos, gerar renda e produzir riquezas aqui no Norte do nosso País, em razão da atuação do aparato ambiental e indigenista que aparelhou certos órgãos da administração pública federal. Em razão disso, os estados da nossa região enfrentam problemas para crescer economicamente”. Chagas ressaltou ainda: “Nossa entidade busca contribuir para o crescimento econômico da nossa região discutindo políticas que visam o interesse coletivo e o bem comum. Estas foram, são e continuarão sendo bandeiras do nosso Parlamento Amazônico”, complementou Coronel Chagas disse ainda que irá ouvir as demandas de todos os estados da Amazônia Legal para que juntos busquem soluções para os entraves que impedem o desenvolvimento econômico e social da região. Durante a solenidade o superintendente da SUFRAMA, Appio Tolentino, destacou que está trabalhando na criação de um plano de gestão do desenvolvimento econômico da Amazônia Ocidental e Amapá, que deverá descentralizar o foco do Polo Industrial de Manaus, espraiando desenvolvimento a toda a área de abrangência da autarquia.”Nossa equipe técnica está trabalhando para captar parcerias com as federações das indústrias,

revistaamazonia.com.br


academia e governos em todos os Estados de abrangência da SUFRAMA para trabalharmos na construção desse plano. Um dos pontos que podemos trabalhar em conjunto é o fortalecimento da Zona Franca Verde e dos incentivos da Amazônia Ocidental, que dissemina o desenvolvimento para toda a área de atuação da autarquia, impulsionando a economia desses Estados”, observou o superintendente Appio Tolentino.

Próximo encontro será em Brasília (DF) Encerrando a programação da solenidade de posse da diretoria do Parlamento Amazônico para o biênio 2017/2018, foi realizada a primeira Assembleia Geral e, entre as sugestões apresentadas pelos parlamentares, ficou definido que o próximo encontro será em Brasília (DF). Nesta primeira reunião os parlamentares discutiram algumas pautas e mudaram o regimento do Parlamento Amazônico, aprovando a reeleição para os mesmos cargos. Definiram também que os pagamentos dos custos do parlamento serão autorizados a partir de agora pelo presidente e tesoureiro. Antes eram feitos com a autorização do presidente e do coordenador. Os membros também aprovaram que a partir deste mandato tanto o presidente quanto o tesoureiro e o primeiro-secretário sejam do mesmo Estado. “Isso vai facilitar a assinatura de documentos, uma vez que esses parlamentares moram na mesma cidade”, disse o deputado Coronel Chagas. Eles definiram também que a eleição para a escolha da próxima diretoria do Parlamento Amazônico seja anual. “Sendo realizada a cada ano, o revezamento entre os parlamentares será mais rápido, dando oportunidades para todos os deputados da Amazônia Legal”, complementou Coronel Chagas O deputado Joaquim Ruiz (PTN) propôs que na pauta da próxima reunião, o parlamento discuta a aviação civil na região Norte, por conta dos inúmeros problemas enfrentados pelos passageiros. “É uma situação que precisa ser discutida de forma urgente, pois somos prejudicados pelas decisões do setor aéreo”, finalizou.

Durante a posse do deputado estadual de Roraima, Coronel Chagas, na presidência do Parlamento Amazônico para o biênio 2017/2018

O superintendente da SUFRAMA, Appio Tolentino, disse que está trabalhando na criação de um plano de gestão do desenvolvimento econômico que deverá descentralizar o foco do Polo Industrial de Manaus, espraiando desenvolvimento a toda a área de abrangência da autarquia

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

• Econômico para você que quer abrir uma empresa; • Ideal • Flexível para quem precisa fazer reuniões eventuais; • Prático Ligue agora! (92) 3878.2600

revistaamazonia.com.br

Rua Salvador, 120 - 12º Andar Vieiralves Business Center Adrianópolis - Manaus/AM

REVISTA AMAZÔNIA

15


Indústria 4.0: máquinas conectadas em todas as etapas da cadeia produtiva O termo Indústria 4.0 é de origem alemã e vem simbolizando o que chamamos de a 4ª Revolução Industrial Fotos: Thyssenkrupp

T

em por base a integração digital de todas as etapas da cadeia produtiva. O movimento Indústria 4.0 representa a quarta geração de mudanças disruptivas no conceito industrial, sendo elas citadas abaixo: 1.0: Introdução das máquinas a vapor no processo de manufatura; século XVIII 2.0: Advento da energia elétrica e a possibilidade de produção em massa (seriada), século XIX 3.0: Era da Automação, com a inclusão de controles numéricos, robôs, sensores, etc; século XVIII 4.0: Digitalização da indústria, com interconexão de equipamentos e fábricas, big data, etc; dias atuais Como dito anteriormente sobre a origem do termo Indústria 4.0, a Alemanha é o berço da Industria 4.0. Naquele país, iniciativas públicas e também privadas fomentam o desenvolvimento de melhores práticas para a digitalização industrial, que incluí a promoção de ideais como interoperabilidade, transparência da informação e tomada descentralizada de decisões. O termo abrange tecnologias para automação e troca de dados e utiliza conceitos de Big Data, IoT e Robótica.

A indústria 4.0, também referida como a quarta revolução industrial, e da mesma forma importante hoje como o motor a vapor foi há 250 anos

Big Data

Do conceito, é permitido extrair informações e também conclusões a partir do elevado número de dados que são gerados ao longo de toda a cadeia produtiva. Como por exemplo, transformar insights coletados a partir de sensores, movimentações do mercado, ou até mesmo do balanço de produtividade das plantas em melhorias para o negócio.

IoT

A linha inteira de produção da Thyssenkrupp é monitorada em um ambiente todo virtual, com o processo de montagem feito por robôs industriais que trabalham em velocidade altíssima

Internet das coisas

Internet das Coisas, termo bastante cogitado nos dias atuais, este possibilita a comunicação e a interconexão em tempo real entre fábricas, máquinas e até mesmo produtos, independentemente de sua localização geográfica.

16

REVISTA AMAZÔNIA

Indústria 40 máquinas conectadas em todas as etapas da cadeia produtiva.indd 16

revistaamazonia.com.br

23/08/2017 16:08:25

Indústri


16:08:25

Robótica Que os robôs estão cada vez mais compatíveis com o ser humano, ninguém tem dúvida né? Eles detectam a presença do operador e trabalham em conjunto com ele, sempre de forma inteligente e claro, autônoma. Como podemos ver, a Indústria 4.0 irá facilitar a visão e execução de chamadas “Fábricas Inteligentes” com as suas estruturas, que por sua vez são modulares, os sistemas

revistaamazonia.com.br

Indústria 40 máquinas conectadas em todas as etapas da cadeia produtiva.indd 17

ciber-físicos monitoram todos os processos físicos, criam assim uma cópia virtual do mundo físico e tomam decisões que são descentralizadas. Já com a Internet das Coisas, os sistemas ciber-físicos irão se comunicar e cooperar entre si e com os humanos em tempo real, e através da computação em nuvem. A empresa que vem liderando esse movimento, o da Indústria 4.0, é a empresa alemã Thyssenkrupp. Citando exemplo, a fábrica da Thyssenkrupp de componentes automotivos

que foi inaugurada em 2015 em Poços de Caldas, interior de Minas Gerais, que na qual produz eixos de comando de válvula para veículos leves, tecnologias modernas estão em harmonia e processos estão interconectados em toda as etapas da cadeia de produção. Assim, é possível relacionar o mundo dos sistemas físicos com as redes de dados, constituindo o “sistema ciber-físico”. Pra se ter uma ideia, a linha inteira de produção da Thyssenkrupp é monitorada em um ambiente todo virtual, com o processo de montagem feito por robôs industriais que trabalham em velocidade altíssima, fornecendo uns aos outros peças que precisam trabalhadas. Cada etapa do processo é cuidadosamente e rigorosamente monitorado por sensores que enviam dados em tempo real a um sistema de controle. Só assim, com esse alto nível de precisão as características finais de cada unidade pode ser garantida. Outro grande benefício da Indústria 4.0, empregada no caso na planta da Thyssenkrupp em Poços de Caldas, MG, é que o modelo de produção é totalmente adaptável e flexível. As linhas e os equipamentos de montagem podem sofrer influência, isto é, serem remodeladas em qualquer momento para uma nova formulação, resultando assim em maior flexibilidade, com ganhos resultantes na eficiência, otimização da qualidade e claro, na redução de custo.

REVISTA AMAZÔNIA

17

23/08/2017 16:08:28


ExpoT&C

A

solenidade de abertura da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – maior encontro de divulgação científica da América Latina, que teve como tema: Inovação, Diversidade, Transformações, aconteceu no campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte. O evento marcou as celebrações dos 90 anos da UFMG. Houve discursos e homenagens, além de apresentação do coral ARS da UFMG. Um dos homenageados da noite foi o prof. Ângelo Machado, pesquisador e divulgador científico. Ao ser agraciado, ele quebrou o protocolo e pediu a palavra. Agradeceu e brincou com a plateia: “Depois de 45 anos estudando libélulas, descobriu sua função: fazer do Ângelo Machado um velho feliz”. Mario Neto Borges, presidente do CNPq, entregou ao jornalista Reinaldo José Lopes o prêmio José Reis de Divulgação Científica. Em sua fala, Mario Neto destacou a importância do prêmio e da divulgação científica para a valorização da ciência, tecnologia e inovação. Helena Nader fez um discurso emocionado, relembrando sua trajetória de 10 anos na diretoria da SBPC. Ela lembrou que o último ano foi muito difícil para todos os brasileiros devido à crise política e a perda de valores éticos e morais. “Está sendo difícil para todos, mas em especial para a educação e a ciência”. Segundo ela, é preciso continuar repetindo o mantra: “educação e ciência são investimento, e não despesa”. Uma de suas tristezas ao deixar o cargo é perceber que alguns ministérios ainda não se convenceram disso. Jaime Arturo Ramirez, reitor da UFMG, destacou que receber a SBPC é um presente para a universidade, que comemora seus 90 anos. Ele também citou a crise pela qual passa o Brasil, convocando para a reflexão sobre que país almejamos para o futuro e qual herança queremos deixar para as gerações que irão nos suceder.

Na Abertura da 69ª Reunião Anual da SBPC

Na Abertura da 69ª Reunião Anual da SBPC Com ciência e tecnologia de qualidade, podemos ter o Brasil que queremos, afirmou Helena Nader. Helena Nader fez um discurso emocionado, relembrando sua trajetória de 10 anos na diretoria da SBPC.

18

REVISTA AMAZÔNIA

Na abertura da ExpoT&C

Fapemig estava com um estande de 64 metros quadrados divididos em quatro áreas temáticas, com exposições de projetos apoiados ou desenvolvidos pela Fundação: espaço institucional, SIMI e Trilha Mineira de Inovação, Rio Doce e Inova Minas formam um verdadeiro circuito científico, que estava disponível para ser explorado e descoberto durante a feira. Oito integrantes da Camerata de Ukulele participaram divulgando o processo evolutivo do projeto com uma sessão musical. A apresentação faz parte da programação na tenda da ExpoT&C, um pavilhão climatizado de 4.600 m2, onde 26 instituições expuseram trabalhos, produtos e serviços. No estande do Inpa na Exposição de Ciência e Tecnologia da SBPC, o Instituto mostrou as publicações mais recentes, vídeos de apresentação aos visitantes das principais atividades da Instituição. O visitante também podia degustar geleias de frutos amazônicos, como cubiu com pimenta e araçá-boi, e sentir aromas de plantas amazônicas, como pau-rosa, preciosa, copaíba, sacaca e buriti. O slogan do estande é “Somos Ciência, Somos Amazônia, Somos Inpa”.

Rastros Digitais: Moeda de troca Contemporânea ‘Que tipo de conhecimento tem sido produzido sobre nós pelas grandes corporações de internet?’ A partir dessa pergunta, Fernanda Bruno, professora da UFRJ, explica a forma como os rastros deixados na rede mundial de computadores são coletados e como eles são trabalhados para gerarem lucro para as grandes empresas. Em sua palestra ‘Rastros digitais e vigilância nas redes sociais’, na manhã desta segunda-feira, 17, a pesquisadora apontou que toda ação realizada na internet deixa um conjunto de pistas, as quais, após analisadas, geram um perfil de comportamento. Esse padrão, embora as empresas digam usá-lo apenas para melhoria da usabilidade das plataformas, é utilizado para orientar as práticas de marketing das corporações e também para predizer nossos hábitos, especialmente os de compra. Segundo Fernanda, ‘os rastros digitais são a principal moeda de troca da internet atualmente. Eles produzem um arquivo, ou uma memória, polifônico e muito bem detalhado sobre nosso modo de vida’.

revistaamazonia.com.br


“Não destruam a ciência”

Cidades mais humanas, inteligentes e sustentáveis (CHIS)

Físico e químico Sérgio Mascarenhas, 89 anos de idade

Pesquisador Eduardo Moreira Costa, da UFSC

O apelo, feito, sintetiza o que permeia grande parte das atividades do evento, e que tem colocado o espaço da UFMG como epicentro das discussões e exposições sobre a produção científica e tecnológica brasileira, nesta semana de 16 a 22 de julho. O seu autor: o físico e químico Sérgio Mascarenhas, 89 anos de idade, 70 deles dedicados à atividade científica e considerado exemplo da convergência entre humanismo e técnica. Em sua conferência, Mascarenhas deixou o seu libelo: “O futuro da ciência brasileira está nas crianças da favela, na solução da desigualdade. O futuro da ciência está na compaixão”.

Ética na ciência Participantes da mesa-redonda sobre ética na ciência

Segundo o pesquisador Eduardo Moreira Costa, da UFSC, esse conceito surgiu para se contrapor ao modelo de composição das cidades surgido na era industrial e também para se diferenciar das chamadas cidades inteligente, que tem seus fundamentos muito atrelados ao uso indiscriminado de tecnologia. De acordo com Moreira, são três os pilares da construção de uma CHIS. O primeiro é a realização de uma urbanização inteligente. Isso se dá quando o espaço é projetado com o objetivo de fornecer aos moradores, dentro daquele mesmo território, opções satisfatórias de moradia, trabalho e lazer. Os outros dois pontos cruciais para a existência da CHIS é o atendimento aos desejos, interesses e necessidades da população e a desindustrialização mental. ‘É preciso pensar no cidadão e não nos fornecedores industriais no momento de solucionar os problemas’, aponta o pesquisador. Segundo ele, para desatar os nós urbanos é preciso lançar sobre eles um olhar diferente, em que se priorize a sociedade de uma forma geral. ‘Os engarrafamentos não são solucionados porque especialistas, em suas tentativas, se perguntam – como melhorar o trânsito? – sendo que o ideal seria se questionar – como melhorar a mobilidade?’, explica.

Fitorremediação como ferramenta para a agricultura mais sustentável quanto ao uso de herbicidas

Especialistas discutiram o que está sendo feito para coibir a má conduta científica. “Essas iniciativas são crescentes e as instituições de pesquisa têm o dever de acompanhar a discussão sobre boas práticas científicas, monitorar os problemas e solucioná-los com transparência, para que a sociedade saiba que problemas existem, mas que o sistema tem tentado se organizar da melhor maneira para resolvê-los”, indicou. Na avaliação da pesquisadora, a discussão sobre má conduta científica tem ganhado maior fôlego à medida que as instituições envolvidas na produção e difusão do conhecimento têm sido cobradas a assumir maiores responsabilidades nesse campo. Um dos desdobramentos da maior preocupação das instituições com a ética na ciência e do aumento da sensibilidade dos pesquisadores para esse tema é a forma como o artigo científico tem sido concebido hoje e como a revisão dos dados de pesquisa vem sendo administrada pela própria comunidade científica, avaliou. “O peer review [revisão por pares] dos artigos científicos, após a publicação, tem se tornado cada vez mais intenso, de modo a manter a confiabilidade nos dados científicos. E se, por exemplo, a correção da literatura científica, por meio de artigos retratados, tem crescido, é um sinal de que o processo de autorregulação da ciência tem caminhado, com todas as dificuldades naturais do sistema, para se organizar e solucionar os problemas”, avaliou.

revistaamazonia.com.br

José Barbosa, professor da UFVJM falou sobre a fitorremediação

É impossível a produção de alimentos hoje no Brasil sem o uso de herbicidas’, afirma José Barbosa, professor da UFVJM. Contudo, continua o pesquisador, os danos que eles causam ao solo podem ser reduzidos com o uso da fitorremediação, técnica que utiliza o plantio de determinadas culturas de plantas para purificar o solo de substâncias tóxicas. Segundo Barbosa, os herbicidas são prejudiciais ao ambiente, pois são utilizados em larga escala. Porém, os estudos da área têm reduzido bastante esse impacto negativo. ‘Enquanto na década de 1970 eram necessários 2 quilos de herbicida para se combater plantas daninhas em um determinado espaço, em 1990 a quantidade necessária já era de 270 gramas’, explica. O prejuízo ao meio ambiente tem sido ainda mais mitigado pelo grande desenvolvimento da fitorremediação. De acordo com o professor, tem havido aumento considerável de grupos de pesquisas e trabalhos voltados para o estudo desta técnica. Cada vez mais as universidades brasileiras têm avaliado as plantas e elencado as mais indicadas para combate dos diversos tipos de toxinas disponíveis no mercado, aponta.

REVISTA AMAZÔNIA

19


Vista aérea do Campus Pampulha, que abrigou as atividades da 69ª edição do SBPC

A complexidade do fazer ciência em 10 palavras ou De onde vem, mesmo, o conhecimento?

UFMG é homenageada em sessão especial

Comandante José Augusto Abreu de Moura, capitão de mar e guerra reformado da Marinha do Brasil, defendendo o projeto de submarino nuclear

Na Sessão Especial 90 anos da UFMG

Ressaltar os aspectos subjetivos, morais e políticos inerentes à prática científica. Esse foi o objetivo de Aldo Zarbin, presidente da Sociedade Brasileira de Química, durante sua palestra. Entre os elementos pessoais necessários para a pesquisa científica, o pesquisador destacou a criatividade. ‘Só por meio da criatividade é possível fazer novos arranjos de ideias e conceitos já existentes’, explica. Contudo, destaca Zarbin, as características individuais do pesquisador devem estar condicionadas pela conduta ética. Explica o professor que a obtenção de bons resultados é o objetivo de qualquer trabalho, porém isso não pode acontecer mediante a manipulação irregular do objeto estudado. Outro ponto importante para o avanço da ciência, segundo Zarbin, é a importância do investimento público. ‘O país só se desenvolve de fato com a investimento em ciência e tecnologia’, diz. Todavia, para o pesquisador, entre os elementos necessários para a prática científica, esse é o único que tem sido negligenciado atualmente. ‘O cenário científico voltou a ser aquele existente na década de 1980. Recuperar essa perda não será fácil’, lamenta.

20

REVISTA AMAZÔNIA

Reitores de diversas gestões da UFMG participaram, da Sessão Especial 90 anos da UFMG. Em clima descontraído, Tomaz Aroldo da Mota Santos, reitor entre 1994 e 1998, Francisco César de Sá Barreto, da gestão 1998-2002, Ronaldo Tadêu Pena, da gestão 2006-2010, Clélio Campolina Diniz, reitor entre 2010 e 2014, e Jaime Ramírez, atual reitor, relembraram a história da UFMG e momentos marcantes que deram à instituição posição de destaque no desenvolvimento do ensino superior gratuito. Tomaz Aroldo da Mota Santos destacou que a UFMG foi o sonho dos inconfidentes que participavam das rebeliões do século 18, em Ouro Preto. Segundo ele, o surgimento da universidade era um sinal de modernidade para o estado de Minas Gerais e sua capital, Belo Horizonte. Os reitores presentes à mesa destacaram que o desenvolvimento da UFMG se deve ao fato de que as gestões sempre se complementaram. “O que diferencia a UFMG das outras universidades é a continuidade dos projetos e dos programas, que não são interrompidos com a mudança dos reitores. O Campus 2000 é um bom exemplo disso, visto que foi um projeto concretizado em várias gestões”, afirmou o reitor Francisco César de Sá Barreto. Helena Nader, diretora da SBPC, homenageou a UFMG pelos seus 90 anos com a entrega de uma placa ao atual reitor, Jaime Ramírez. A diretora destacou os 90 anos de contribuição da Universidade para o desenvolvimento da ciência brasileira.

revistaamazonia.com.br


Na apresentação do coral ARS da UFMG

Homenagem aos que fizeram a história da SBPC

“A educação é o único modo de resolvermos a crise atual brasileira, e a UFMG sempre teve um projeto de Estado que transcendia os projetos dos governos federais. A UFMG é motivo de orgulho para todos”, elogiou. Emocionado, Jaime Ramírez agradeceu a homenagem e reafirmou o compromisso da Universidade com o progresso da ciência nacional. “A história da UFMG é coletiva e continuaremos no nosso objetivo de criar uma universidade cada vez mais inclusiva e a serviço da sociedade”, concluiu.

Ângelo Machado, pesquisador e divulgador científico, um dos homenageados da noite

“Muito prazer, eu sou a onça-pintada”

Instituto Mamirauá lançou livro sobre conservação na Amazônia e produtos para público infantil

Informações textos, imagens e um jogo especial sobre esse fascinante animal

Protagonistas, lançado durante a EXPOT&C

O livro “Protagonistas: relatos de conservação do Oeste da Amazônia”, foi lançado durante a EXPOT&C. Com 176 páginas, tem o objetivo de divulgar práticas sustentáveis de conservação de recursos naturais, desenvolvidas pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do MCTIC e financiadas pelo Fundo Amazônia. A versão digital da publicação já está disponível para download em www.mamiraua.org.br/protagonistas

Aprendendo sobre a várzea e a terra-firme Foi distribuido, durante a EXPOT&C, o jogo de quebra-cabeça “Ecossistemas da Amazônia: várzea e terra-firme. “Os quebra-cabeças várzea e terra firme, desenvolvidos pelo Instituto Mamirauá, trazem algumas informações sobre os dois dos principais ecossistemas da região amazônica, esses representam uma parte significativa do Bioma Amazônia.

Estande da Fapemig na ExpoT&C

revistaamazonia.com.br

O informativo, dedicado ao público infantil, traz informações textos, imagens e um jogo especial sobre esse fascinante animal e é um dos lançamentos do Instituto Mamirauá na EXPOT&C. A versão digital de “O Macaqueiro Kids - Onça-pintada” já está disponível para download em http://www.mamiraua.org.br/omacaqueirokids77

5º Salão Nacional de Divulgação Científica O 5º Salão Nacional de Divulgação Científica, organizado pela Associação Nacional de Pós-Graduandos, aconteceu durante a 69ª Reunião Anual da SBPC. Com o tema “Impacto da ciência na sociedade”, o 5º Salão teve como objetivo principal a promoção da divulgação científica, da cultura nacional e a integração entre estudantes, professores, pesquisadores e comunidade em geral. Além disso, as atividades que foram realizadas durante o evento buscaram aproximar a produção de conhecimento acadêmico da realidade social brasileira. Visou contribuir com a análise do papel da ciência e suas contribuições para a transformação da sociedade nos seus mais diversos contextos. Outras informações podem ser obtidas no site www.salaonacional.org.br.

REVISTA AMAZÔNIA

21


Vanderlan da Silva Bolzani, professora da Unesp empossada vice-presidente da SBPC Povos indígenas celebraram evento

Fernanda Bruno, professora da UFRJ, explica a forma como os rastros deixados na rede mundial de computadores são coletados e como eles são trabalhados para gerarem lucro para as grandes empresas Integrantes da mesa na qual foi discutido o novo Marco Legal

Físico Ildeu de Castro Moreira tomou posse como presidente da SBPC A SBPC deve ser polo aglutinador, defende novo presidente

Vencedor do 37º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, o jornalista Reinaldo José Lopes fez uma palestra na 69ª SBPC

Em nome da UFMG, reitores foram homenageados pela presidente da SBPC, Helena Nader

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) empossou a nova diretoria da entidade durante assembleia geral dos sócios. O físico Ildeu de Castro Moreira assumiu o cargo de presidente. Ele substitui a bióloga Helena Nader, que estava à frente da entidade desde 2011. Professor e pesquisador Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu era vice-presidente da última gestão da SBPC e foi o único candidato à presidência. Ele recebeu 980 votos dos associados da entidade em eleição ocorrida no mês passado. Houve, ainda, 73 em branco e 48 nulos. Sua gestão vai, inicialmente, até 2019, quando haverá novas eleições e ele poderá se recandidatar.

22

REVISTA AMAZÔNIA

Em atmosfera que permeou o evento até em seus instantes finais, os participantes foram homenageados em cantos e ritual celebratório de representantes dos povos indígenas guarani, maxakali, pataxó, pataxó hã hã hãe e xakriabá e dos reinados dos Arturos, do Jatobá e Treze de Maio

revistaamazonia.com.br


14º Prêmio de Destaque do Ano na Iniciação Científica

Ildeu de Castro Moreira, no centro, o novo presidente, durante a posse da nova gestão da SBPC

O minicurso Encontros, desencontros e estranhamento: Quem é indígena? estimulou reflexões sobre o real valor de ser indígena no contexto brasileiro. A diferença entre os termos afro-indígena e povos indígenas, a representação da cultura e o imaginário social do índio brasileiro foram temáticas abordadas No estande da Vale - Gustavo Freitas, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Vale, apresentou o espeleólogo robô, tecnologia desenvolvida para ajudar na inspeção e monitoramento de cavidades

O 14º Prêmio de Destaque do Ano na Iniciação Científica recebeu ao todo 450 trabalhos, envolvendo 154 instituições de pesquisa. Os vencedores receberam R$ 7 mil em dinheiro e bolsas de mestrado ou doutorado. Na categoria Ciências da Vida, foram seis agraciados: o pesquisador Ícaro Sarquis, da Universidade Federal do Amapá (Ufap), apostou no óleo da semente de sucupira, que levou ao desenvolvimento de um larvicida contra o mosquito Aedes aegypti, além da pesquisadora Ana Luiza Martins Karl, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), que desenvolveu uma modelagem molecular computacional de inibidores para a acetilcolinesterase, uma enzima cuja disfunção está associada ao mal de Alzheimer e outras enfermidades. Na categoria Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, Laura Olguins de Moura, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi premiada por um trabalho com o uso de digitalização tridimensional, usada geralmente em jogos digitais e em cinema ou para reprodução de modelos 3D em museus. A pesquisadora Eliana Lins Morandi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também foi premiada na mesma categoria por um estudo sobre a segregação territorial e racial. Gabrielle Pierangeli, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), recebeu o prêmio na categoria Ciências Exatas, da Terra e Engenharias por avaliar o efeito da inoculação de determinados fungos e bactérias no desenvolvimento de mudas de cana-de-açúcar. Também nesta categoria, Daniel Schwalbe Koda, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), desenvolveu estudo sobre materiais bidimensionais, se aprofundando em um ramo da ciência que vem ajudando a encontrar novas aplicações em dispositivos eletrônicos e na nanotecnologia.

O Instituto Tecnológico Vale (ITV) esteve com um stand exclusivo na Expo&Tec, apresentando cinco projetos desenvolvidos por pesquisadores do instituto nas unidades de Belém (PA) e de Ouro Preto (MG)

No estande da Vale - Gustavo Freitas, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Vale, apresentou o espeleólogo robô, tecnologia desenvolvida para ajudar na inspeção e monitoramento de cavidades

Em seu pronunciamento, Ildeu listou alguns desafios da nova gestão. Ele manifestou preocupação com os cortes e contingenciamentos de recursos que atingem o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O físico terá como vice-presidentes Carlos Roberto Jamil Cury, professor emérito da Faculdade de Educação da UFMG; e Vanderlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também tomaram posse os conselheiros eleitos e os escolhidos para as secretarias, a tesouraria e demais cargos da diretoria. Por sua vez, a ex-presidenta Helena Nader recebeu o título de presidente de honra. A honraria é concedida pela SBPC a pessoas de notável saber que hajam prestado relevantes serviços à ciência brasileira.

revistaamazonia.com.br

Ildeu Moreira e Jaime Ramírez receberam bênçãos na celebração

REVISTA AMAZÔNIA

23


Ensino das atividades circenses nas escolas foi o foco da mestranda em Educação Física da Unicamp, Leonora Tanasovici Cardani

SBPC reuniu em cientistas e jovens de todo o país em Belo Horizonte

Encerramento da 69ª Reunião Anual da SBPC

A SBPC aprovou moções a favor da convocação de eleições diretas e da reposição orçamentária do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A entidade também se posicionou em defesa da revogação da Emenda Constitucional 95, que fixou no ano passado um teto para os gastos públicos no país pelos próximos 20 anos. Na entrada da UFMG foi fixado um “tesourômetro”, equipamento criado pela SBPC que pretende medir as perdas financeiras para ciência desde 2015, considerando os cortes nos orçamentos do MCTIC, das universidades federais e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Segundo os idealizadores da medida, a pesquisa brasileira vem tendo uma perda média de R$ 500 mil por hora em recursos federais com a crise financeira. Desde o início do ano, o governo federal contingenciou recursos de várias áreas por causa do ajuste fiscal. De acordo com Ildeu Moreira, os efeitos devem ser mais sentidos a longo prazo. “Nós estamos tendo evasão de cérebros do país. O risco é termos projetos descontinuados e de pesquisadores irem para o exterior e não retornarem mais. Alguns já foram”, afirma. No entanto, ele diz que sai da reunião com otimismo. “Toda esta movimentação dos cientistas nos dá esperança. Agora vamos dar continuidade às nossas ações no Congresso e ampliar as mobilizações para convencer os deputados a reverem algumas medidas. Esse diálogo com o Parlamento é importante, para chegarmos na próxima edição deste evento com um quadro mais favorável”. O novo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira, afirmou que sai da 69ª Reunião Anual com “esperança renovada”, por acreditar na capacidade da atuação da comunidade científica e dos “milhões de jovens que não têm a oportunidade de estar na universidade brasileira, mas vão fazer a diferença”. Moreira, que citou as principais decisões aprovadas em assembleia geral da Sociedade, em prol da ciência e da educação brasileiras, enfatizou que “o Brasil é muito maior do que as dificuldades que temos”. Coordenadora da comissão local, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida recorreu ao poeta Manoel de Barros para lembrar que a importância de uma coisa “se mede pelo encantamento que ela produz” e afirmou: “a Reunião foi um grande encantamento para nós”. A 70º Reunião Anual da SBPC, que ocorrerá no ano que vem, será realizada na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em Maceió.

Pós-graduação

Na cerimônia de encerramento, os organizadores destacaram a qualidade da programação e o engajamento de toda a comunidade

Mais de 11 mil pessoas participaram da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), deste total, se inscreveram 6.439 participantes, provenientes de 501 municípios distribuídos dos 26 estados e do Distrito Federal. A inscrição só era obrigatória para apresentação de pôsteres e matrícula em mini-cursos. A Reunião Anual da SBPC tem como objetivo debater políticas públicas e difundir os avanços da ciência nas diversas áreas do conhecimento. Trata-se do maior evento científico do Hemisfério sul. Esta edição teve como tema Inovação – Diversidade – Transformações e sua programação ocorreu ao longo de toda a semana no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Na programação, 69 conferências, 82 mesas-redondas e 55 minicursos, além de assembleias, reuniões de trabalhos, apresentação de

24

REVISTA AMAZÔNIA

A presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naíz, também fez um balanço positivo do evento. Dentro da programação da Reunião Anual da SBPC, foi realizado o 5º Salão Nacional de Divulgação Científica, debateu o impacto da ciência na sociedade. “Nós defendemos que a ciência que não esteja encastelada apenas nas prateleiras das bibliotecas, mas que seja capaz de intervir na realidade e se traduza em transformações e em bem-estar social. Tanto a reunião da SBPC quanto o nosso salão apontaram nessa direção”, disse. Doutoranda em história econômica da Universidade Federal de Goiás (UFG), Tamara também manifestou preocupação com o atual cenário. Segundo ela, o Brasil está investindo na ciência menos que países mais pobres. “Isso leva a uma desconstrução do futuro. Na ciência não tem tempo parado. Se cortarmos recursos hoje, mesmo que exista investimento no ano que vem as coisas não se mantêm. Como dizem os chineses, é preciso transformar a crise em oportunidades. É o momento de pensar saídas. E não faz sentido responder a uma crise cortando as nossas possibilidades de futuro”, avalia.

revistaamazonia.com.br


Cortejo de povos indígenas e guardas de reinado no encerramento da 69ª Reunião da SBPC

Av. Duque de Caxias esq. com a Tv. Curuzú, 1377 Av. 25 de Setembro, 2085 atrás do Bosuqe

tokyotemakeria

25

D E L I V E RY (91) 3246-5644 / 3031-1174 REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


A economia do futuro: Nanotecnologia Como aconteceu com as passadas revoluções industriais, a nanotecnologia vai ser um divisor de águas na História por *Paulo Ferreira

Fotos: Divulgação

I

magine dissociar o seu corpo nos seus ingredientes mais básicos. Seria capaz de colecionar uma porção significativa de gases e encher umas botijas de hidrogênio, oxigénio e azoto. Poderia também empilhar quantidades de carbono e cálcio. E talvez, inesperadamente, iria encontrar pequenas frações de praticamente tudo, como por exemplo ferro, ouro, prata, arsénico, urânio e cobre. Contudo, se fosse à bolsa de valores de Nova Iorque vender estes ingredientes, chamados átomos, não conseguiria mais do que 100 euros. É este o nosso valor? De fato não, dado que é a quantidade precisa destes ingredientes e a forma como se ligam que permite ao ser humano comer, falar, pensar e até reproduzir-se. Neste contexto, podemos colocar a questão: e se nós conseguíssemos construir objetos seguindo este processo da natureza, controlando a adição de cada átomo? Em 1959, o físico Richard Feynman já dizia que “o ideal numa cirurgia seria ter o cirurgião dentro do meu corpo, a diagnosticar e a reparar o problema”. De fato, a alusão de Feyman relacionava-se com a possibilidade de ter máquinas miniaturizadas (nano-máquinas) capazes de passear pelos nossos vasos sanguíneos e fazer o papel de cirurgião. Esta transformação produzirá alterações significativas na forma como produzimos, consumimos, comunicamos e vivemos

26

REVISTA AMAZÔNIA

O termo “nanotecnologia” foi inicialmente usado em 1974 por Norio Taniguchi mas a sua origem advém da palavra “nano”, que significa em grego “anão” e representa um bilionésimo da unidade. A nanotecnologia é, portanto, a tecnologia relacionada com estas ínfimas dimensões, entre 1000 e 100 mil vezes menores que o diâmetro de um cabelo humano. Embora a nanotecnologia tenha nascido há pouco tempo, prevê-se que o seu impacto seja semelhante à descoberta da eletricidade. De fato, a nanotecnologia é o elo que faz convergir o mundo digital, físico e biológico, definido como a quarta revolução industrial. Pela primeira vez estes três mundos conseguem comunicar entre si, porque os seus intervenientes (células, transístores, metais, cerâmicos) transferem informação à escala nano. revistaamazonia.com.br


A partir desta quarta revolução industrial, surgirão implantes celulares, nano máquinas capazes de entrar no nosso corpo e navegar para identificar e eliminar vírus, bactérias ou células cancerígenas, impressão a 3D de órgãos humanos, materiais ultra resistentes e auto reparáveis, sensores subcutâneos capazes de identificar qualquer alteração no nosso corpo, novos materiais capazes de armazenar, transportar e fornecer energia, e muitas outras invenções impossíveis de imaginar. Esta transformação produzirá alterações significativas na forma como produzimos, consumimos, comunicamos e vivemos. Tal como aconteceu com as revoluções tecnológicas passadas, a quarta revolução industrial irá colocar desafios imprevisíveis à sociedade atual. Contudo, as mudanças serão maiores, mais rápidas e mais abrangentes. O que se espera então do impacto da nanotecnologia na sociedade? As primeiras estimativas apontam para desenvolvimentos drásticos em termos de recursos humanos, inovações e valor econômico. No que diz respeito às pessoas, uma extrapolação feita pela iniciativa nacional de nanotecnologia norte-americana indica que em 2020 cerca de seis milhões de postos de trabalho sejam relacionados com nanotecnologia. Este capital humano, mesmo aquele associado às zonas de produção das empresas, necessita de possuir conhecimento tecnológico, manter-se em formação contínua e demonstrar flexibilidade nas suas capacidades técnicas para se adaptar às novas exigências do mercado. Dada a velocidade estonteante com que a tecnologia avança, assim como as flutuações bruscas na economia, estes recursos humanos vão ser exigidos a reinventarem-se rapidamente. Relativamente às inovações, de acordo com o relatório da StatNano, temos assistido desde 2011 a um número médio de publicações de cerca de 120 mil por ano, enquanto o número médio de patentes publicadas tem atingido as 11 mil por ano. Quanto ao mercado relacionado com a nanotecnologia, as vendas relacionadas com esta área cresceram, entre 2012 e 2014, de 167 mil milhões dólares para 453 mil milhões de dólares, segundo um relatório publicado pela Lux Research. Em particular, o mercado atual centra-se em materiais compósitos para a indústria automóvel e desporto de alta competição, revestimentos antibacterianos, filmes finos para dispositivos eletrônicos e fotovoltaicos, assim como nanopartículas para cosméticos, tintas, adesivos e medicamentos. No futuro, a ideia da nanotecnologia é fazer parte da solução dos grandes desafios que nos enfrentam, tais como as questões da energia, saúde, educação o ambiente e o desenvolvimento global. revistaamazonia.com.br

No futuro, a ideia da nanotecnologia é fazer parte da solução dos grandes desafios que nos enfrentam, tais como as questões da energia, saúde, educação o ambiente e o desenvolvimento global. O câncer em particular

Neste contexto, a nanotecnologia requer a participação atenta do governo, indústria e universidades. Em primeiro lugar, o governo precisa de criar um cluster ligado à nanotecnologia, capaz de promover a troca livre de ideias e conhecimento entre cientistas, investigadores, empreendedores, empresas, clientes e fornecedores, criando sinergias entre estes atores. O Instituto Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) em Braga poderá ser o elo de ligação entre os vários setores. Quanto ao setor empresarial, as grandes e médias empresas deverão incluir na sua estrutura departamentos e/ou gabinetes que possam explorar esta vertente tecnológica. Para isso é essencial contratar e reter recursos humanos especializados capazes de desenvolver ideias inovadoras. Em muitos casos, o talento em bruto já existe dentro da empresa, a questão consiste em entender como está organizado, reconhecer-lhe valor e mobilizá-lo para inovar. Este processo passa também por uma aproximação efetiva ao sector acadêmico. Neste contexto, a ideia de separar o trabalho teórico do trabalho prático é hoje em dia um conceito verdadeiramente obsoleto. Pelo contrário, nesta nova economia o espectro do conhecimento é contínuo, onde as empresas

Injetar o corpo humano com Nanorobots

necessitam de conceitos teóricos para desenvolver os seus produtos, enquanto as universidades precisam de considerar a aplicação das suas teorias. Para além disso, as universidades terão que refletir sobre os curriculum acadêmicos, os quais requerem uma constante atualização, de forma a criar futuras gerações de profissionais com as competências necessárias para integrar o mercado de trabalho. Se esta preparação acadêmica for deficiente, o nível de desemprego aumentará, pelo que é provável que cause ruturas sociais e econômicas, elevando assim a diferença relativa às economias mais industrializadas e desenvolvidas. Conforme aconteceu com as passadas revoluções industriais, a nanotecnologia vai ser certamente um divisor de águas na História, onde praticamente todos os aspectos da vida quotidiana irão ser impactados pelo desenvolvimento desta tecnologia. Contudo, o futuro, esse será difícil de imaginar. Afinal de contas, Thomas Watson, presidente da IBM, dizia em 1943: “Eu acho que o mundo não terá mais de cinco computadores.” Hoje existem dois mil milhões. [*] Professor catedrático, Universidade do Texas em Austin, EUA

REVISTA AMAZÔNIA

27


Cientistas criam proteína usando eletricidade e dióxido de carbono

Cientistas da Universidade de Tecnologia Lappeenranta (LUT) e VTT Centro de Pesquisa Técnica da Finlândia desenvolveram um processo único que permitiu a produção de proteína. O estudo usou eletricidade e dióxido de carbono para desenvolver o procedimento inovador que será adequado ao consumo humano e animal. Fotos: Laboratórios VTT, Laurie Nygren, Teemu Leinonen / Lappeenranta University of Technology

A

s proteínas produzidas desta forma podem ser desenvolvidas para uso como alimentos e ração animal. O método libera a produção de alimentos de restrições relacionadas ao meio ambiente. A proteína pode ser produzida em qualquer lugar, energia renovável, como a energia solar, quando disponível. “Na prática, todas as matérias-primas estão disponíveis no ar. No futuro, a tecnologia pode ser transportada para, por exemplo, desertos e outras áreas que enfrentam fome. Uma alternativa possível é um reator doméstico, um tipo de aparelho doméstico que o consumidor pode usar para produzir a proteína necessária”, explica Juha-Pekka Pitkänen, cientista principal da VTT. A proteína criada com eletricidade pode ser usada como substituição forrageira, liberando áreas para outros fins, como a silvicultura. Permite que os alimentos sejam produzidos onde é necessário. “Em comparação com a agricultura tradicional, o método de produção atualmente em desenvolvimento não exige uma localização com as condições para a agricultura, como a temperatura certa, a umidade ou um certo tipo de solo – não exige solo agrícola fértil. Isso nos permite usar um processo completamente automatizado para produzir a alimentação animal.

Este diagrama mostra como o bioreator da equipe funciona

Jero Ahola, professor - LUT O produto final do processo de eletricidade, o alimento proteína

28

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Diminuição de eficiência energética

Ainda durante o processo

Ainda durante o processo 2

De acordo com estimativas dos pesquisadores, o processo de criação de alimentos a partir da eletricidade pode ser quase 10 vezes mais eficiente em termos energéticos que a fotossíntese comum, que é utilizada para o cultivo de soja e outros produtos. Para que o produto seja competitivo, o processo de produção deve tornar-se ainda mais eficiente. Atualmente, a produção de um grama de proteína leva cerca de duas semanas, usando equipamentos de laboratório que são do tamanho de uma xícara de café. O próximo passo para o qual os pesquisadores estão apontando é começar a produção piloto. Na fase piloto, o material seria produzido em quantidades suficientes para o desenvolvimento e teste de forragens e produtos alimentares. Isso também permitiria que uma comercialização fosse feita. “Estamos atualmente nos concentrando no desenvolvimento da tecnologia: conceitos de reator, tecnologia, melhoria de eficiência e controle do processo. O controle do processo envolve o ajuste e modelagem de energia renovável para permitir que os micróbios cresçam o melhor possível. Desenvolver o conceito em um produto em massa, com um preço que cai à medida que a tecnologia se torna mais comum. O cronograma de comercialização depende da economia “, afirma Ahola.

50 por cento de proteína Jero Ahola, professor - LUT

Isso nos permite usar um processo completamente automatizado para produzir a alimentação animal necessária em uma instalação de contêiner, por exemplo. O método não requer substâncias de controle de pragas. Somente a quantidade necessária de nutrientes semelhantes a fertilizantes é usada no processo fechado. Isso nos permite evitar impactos ambientais, como escorrências na água sistemas ou a formação de gases de efeito estufa poderosos “, diz o professor Jero Ahola, explicando como sua tecnologia de produção de alimentos pode trabalhar de forma eficaz em vez de uma produção agrícola.

revistaamazonia.com.br

“A longo prazo, a proteína criada com eletricidade deve ser usada na culinária e nos produtos de ração animal. A mistura é muito nutritiva, com mais de 50 por cento de proteína e 25 por cento de carboidratos. O resto são gorduras e ácidos nucleicos. A consistência do produto final pode ser modificada alterando os organismos utilizados na produção “, explica Pitkänen. O estudo faz parte do amplo projeto de pesquisa de Energia Neo-Carbono realizado conjuntamente pelo LUT e VTT. O objetivo do projeto é desenvolver um sistema de energia que seja completamente renovável e livre de emissões. O estudo Food from Electricity é financiado pela Academia da Finlândia, e funciona por quatro anos. Jero Ahola, professor - LUT

REVISTA AMAZÔNIA

29


Pesquisadores da Unicamp obtêm extrato de jambu para a fabricação de anestésicos Tecnologia, recentemente licenciada, rende produto mais puro e de alta qualidade por * Carolina Octaviano

Fotos: Divulgação, Unicamp O pesquisador Rodney Rodrigues mostra os equipamentos usados para obter o extrato de jambu. O processo de extração permite um extrato mais potente e livre de pigmentos

P

esquisadores do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) e da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp desenvolveram um processo que permite a obtenção de extrato de jambu mais puro, com a presença de espilantol – principal responsável pelo efeito anestésico – e livre de clorofila. Também chamado de Agrião, Agrião-Pará ou Agriãozinho, o extrato da planta é utilizado não apenas como ingrediente culinário – especialmente no Pará -, mas também como anestésico e antibiótico em tratamentos, via oral, para dor de dente e de garganta, por exemplo. Outra utilização possível é na fabricação de cosméticos e produtos anti-idade.

30

REVISTA AMAZÔNIA

O processo foi licenciado, em caráter não-exclusivo, para a Brasil Aromáticos. A empresa, que atua no desenvolvimento de cosméticos e produtos voltados para o mercado de bem-estar, teve interesse pela tecnologia ao esbarrar em um problema comumente encontrado na indústria: a pouca oferta de matéria-prima na consistência desejada, antes comercializado por apenas um fornecedor, caracterizando uma espécie de monopólio de mercado. Nós temos um produto importante da empresa que utiliza extrato de jambu. Pago 10 mil reais, o quilo, pela matéria-prima. Mas, por ser um simples extrato de uma planta e não ser algo tão tecnológico, não justifica ser tão caro”, avalia Raquel da Cruz, sócia-fundadora da Brasil Aromáticos.

O pesquisador Rodney Alexandre Ferreira Rodrigues, que atuou no desenvolvimento do processo, revela que, além de possibilitar um barateamento na extração do jambu, a tecnologia também apresenta inúmeros benefícios. “Nosso processo de extração permite um extrato mais potente e livre de pigmentos, é simples, rápido, barato e ‘verde’ por não usar produtos tóxicos ou cancerígenos, por exemplo”, afirma Rodrigues. Raquel conta que chegou até a tecnologia da Unicamp após efetuar uma busca na Internet, visando uma solução que possibilitasse, efetivamente, uma redução nos gastos para a produção de um produto específico, cujos nomes e a finalidade a empresa não pôde revelar por estratégia de mercado.

revistaamazonia.com.br


Jambu: planta é muito utilizada na região Norte do país, agora com múltiplas aplicações para a planta da culinária paraense

“Com o uso da tecnologia, nós vamos reduzir drasticamente o custo de produção do extrato de jambu. A minha expectativa é que os valores sejam reduzidos em até 70%. Eu vi que tinham outras opções, mas todas eram muito diluídas e não tinham a presença do espilantol. Ao pesquisar por esta última substância, encontrei todo o trabalho desenvolvido pelo Rodney, na área de odontologia, com o extrato de jambu e o espilantol”, lembra. Também participaram do desenvolvimento do processo os professores Francisco Carlos Groppo e João Ernesto de Carvalho e a doutora Verônica Santana de Freitas Blanco. Somado à redução dos custos, o licenciamento da tecnologia também teve o objetivo de melhorar a performance do produto já vendido pela Brasil Aromáticos. “Atualmente, todo extrato de jambu obtido é na coloração verde, o que dificulta sua aplicação. Como a tecnologia desenvolvida pela Unicamp não resulta na presença da clorofila, o resultado é um extrato sem cor, o que flexibiliza a sua utilização. Outro ponto interessante também é que o extrato de jambu obtido com a tecnologia conta com propriedades estimulantes e não apenas anestésicas, como as demais”, corrobora Raquel. Já Rodrigues aposta na simplicidade da tecnologia como ponto positivo para sua utilização. “Por ser simples, permite aplicação industrial sem requerer equipamentos complexos e sofisticados, é também segura e rápida. Ela é inovadora para anestésicos de plantas”, comenta.

revistaamazonia.com.br

Embora a tecnologia já tenha sido licenciada pela empresa, Raquel conta que ela ainda não está sendo utilizada, pois demanda novas pesquisas para avaliar mais a fundo os níveis de espilantol, principal ativo do extrato de jambu com função anestésica e substância importante para o produto a ser comercializado, presentes no extrato de jambu obtido. Os estudos serão conduzidos em desenvolvimento complementar entre a universidade e a empresa. A sócia da empresa revela que, para as próximas etapas, as pesquisas receberão aporte financeiro do programa PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Por se tratar de um processo de extração, Raquel comenta que a empresa tem o intuito, inclusive, de testá-la para obter extratos de outras plantas. A porta-voz da empresa avalia a atuação da Inova como primordial para gerar inovações de interesse para o mercado. “Se eu tivesse que resumir o papel da Inova em uma só palavra, seria conexão. A Inova tem essa habilidade de conectar interessados em levar as pesquisas da universidade para a indústria”, aponta. A Feitiços, que detém a marca Brasil Aromáticos, é um grupo que existe há 16 anos e conta com 15 colaboradores em seu quadro de funcionários. A Feitiços Brasil está situada na região de Itaquera, em São Paulo. A empresa foi ganhadora do Prêmio Empresas Mais Conscientes em 2014, por suas ações socioambientais e por promover o desenvolvimento local.

Planta do jambu seca, que tem mostrado aplicabilidade em produtos médicos, além do uso na culinária

REVISTA AMAZÔNIA

31


Magia, encantamento e ilusionismo, em Parintins, na Amazônia 52ª edição do Festival Folclórico de Parintins

C

om o bumbódromo lotado, o boi Garantido abriu a primeira noite do Festival Folclórico de Parintins. A apresentação começou pontualmente às 21h30 de sexta-feira (30) e apresentou o tema “Magia e Fascínio no Coração da Amazônia” e sub tema “ Amazônia, Mágica e Fascinante”. De um grande coração que se abriu no meio da arena, o boi vermelho apareceu agitando a galera, como é chamada a torcida. Nesse primeiro dia, o Garantido quis mostrar a criação da Amazônia e o encanto que isso gera nas pessoas. Uma grande floresta encantada foi retratada em uma alegoria que chamou a atenção pela mobilidade e expressões faciais. Rayssa Bandeira, defendeu pela primeira vez o título de cunhã-poranga no Bumbódromo. O boi da baixa do São José levou ainda o auto do boi (contava a história do boi com emoções ao público). Durante a encenação, o pajé, André Nascimento, reviveu o Garantido, que “sobrevoou” o Bumbódromo, levando a arena ao delírio. O bumbá Garantido apresentou ainda ritual da Escarificação e terminou sua primeira noite com quase 2h30 de apresentação, faltando poucos segundos para o prazo final, de acordo com o regulamento.

Fotos: Bianca Paiva, Divulgação

Boi Garantido abriu a primeira noite do 52º Festival Folclórico de Parintins

O primeiro dia do Festival de Parintins contou com a presença do ministro do Turismo, Marx Beltrão, que conversou com a imprensa no intervalo entre as apresentações. Ele ressaltou a grandeza da festa e informou que a cidade amazonense será promovida no restante do país como destino cultural e turístico. “Nós vamos levar a imagem de Parintins e divulgar todo esse festival pelo Brasil inteiro para que todas as regiões do país, cada estado, conheça cada vez mais esse festival e cada ano possa trazer mais turistas para cá.

O Garantido apresentou o tema Magia e Fascínio no Coração da Amazônia Boi Garantido, - o boi vermelho, apareceu agitando a galera

32

REVISTA AMAZÔNIA

Assim como vamos levar também todas as imagens daqui, desse belíssimo festival que é impressionante para todos os países que nós fazemos promoção através da Embratur para que todos os anos turistas internacionais também venham conhecer a cidade de Parintins”, destacou o ministro. O boi Caprichoso entrou na Arena quase uma hora da madrugada com o tema a Poética do Imaginário Caboclo. Com uma alegoria gigantesca, o boi azul apresentou as influências da cultura cabocla o encontro de diversos povos. O “Cine Teatro Brasil de Parintins” foi representando na Arena pelo artista Glaucivan Silva e homenageou o cineasta Silvino Santos. O Caprichoso também chamou a atenção do público com números de ilusionismo, resultado de uma parceria com um dos maiores ilusionistas do país Issao Imamura. “A gente quer mostrar que o folclore, quando contado em uma história, é uma história mágica. Então o ilusionismo tem tudo a ver para ilustrar essa magia que a gente tem em relação ao folclore brasileiro”, explicou Imamura. A novidade agradou Mateus Sabá, que é torcedor do Caprichoso desde criança. Ele lembra, entretanto, que a tradição não deve ser esquecida. “Com toda essa tecnologia a arte precisa acompanhar tudo isso. Uma manifestação artística que é tão tradicional colocar essas inovações no espetáculo é muito legal porque acompanha as tendências. É importante ter cuidado de nunca perder a tradição para que a gente reconheça o espetáculo e a história”, ressaltou.

revistaamazonia.com.br


O Garantido quis mostrar a criação da Amazônia e o encanto que isso gera nas pessoas

A história da origem do Caprichoso foi o destaque da segunda noite de apresentações do boi bumbá azul. A primeira alegoria, confeccionada pelo artista Jucelino Ribeiro, retratou a lenda de Dom Sebastião, rei de Portugal, que, aos 24 anos de idade resolveu ir para o Marrocos converter os mouros ao cristianismo. O monarca desapareceu misteriosamente, e reza a lenda que ele costuma surgir em noites de lua cheia, como um boi com uma estrela brilhante na testa, na praia dos Lençóis, na parte amazônica do Maranhão. Durante todo o espetáculo, o Caprichoso mostrou que investiu em tecnologia e inovação. “A gente pensou muito em trazer um espetáculo jamais visto, inovador. Trazendo uma estrutura nova, apresentada nas olimpíadas, com ilusionistas, iluminação de ponta, com guindaste e com uma equipe que trabalha o ano todo pra mostrar um espetáculo a nível nacional”, ressaltou Ronaldo Barbosa, membro do Conselho de Arte do boi azul. A galera do Caprichoso estava muito animada e interagindo com o espetáculo. O Garantido entrou na Arena do Bumbódromo por volta de 23h15.

O boi vermelho abordou na segunda noite o “Folclore e a resistência cultural”, como um clamor pela cultura do boi bumbá amazônico, suas origens e tradições. A degradação da floresta amazônica também foi lembrada em uma toada clássica “Lamento de Raça” que emocionou a galera encarnada na voz do levantador de toadas Sebastião Júnior.

O auto do boi, que é a lenda que deu origem ao festival, ganhou destaque com uma gigantesca alegoria do boi vermelho. A manauara Selma Dadi, fã do Garantido, está confiante na vitória do seu boi. “Hoje eu acho que o Garantido veio pra ser campeão. A energia da galera, da batucada, isso diz muito no festival. Contagiou muito. Até os jurados estavam pré brincando com a gente, isso diz muita coisa”, afirmou a torcedora. Há 30 anos a técnica de enfermagem Ana Paula Oliveira Fernandes é integrante da Batucada, a bateria do boi vermelho. Ela que é de uma família apaixonada pelo Garantido conta que, a cada ano, é sempre uma emoção participar do festival. “A minha família é praticamente toda da Batucada. Meu irmão toca surdo, minha irmã toca palminha. A cada ano é uma emoção diferente. Cada noite dá um frio na barriga”, disse Ana Paula. O Garantido encerrou a segunda noite do Festival Folclórico de Parintins 1h45 da madrugada. No domingo, último dia do 52º Festival Folclórico de Parintins, com o tema ‘Magia e Fascínio no Coração da Amazônia’, o Garantido – boi-bumbá vermelho e branco iniciou a apresentação com foco na tradição e religiosidade. Boi Caprichoso chamou a atenção do público com números de ilusionismo

/OlimpioCarneiro @olimpiocarneiro

Receptivo em Manaus

revistaamazonia.com.br

www.olimpiocarneiro.com.br reservasolimpiocarneiro@gmail.com (92) 99261-5035 / 98176-9555 / 99213-0561 REVISTA AMAZÔNIA 33


Uma grande imagem de Nossa Senhora do Carmo, que é padroeira de Parintins, entrou no Bumbódromo – arena onde ocorrem as apresentações – e emocionou o público acompanhada da interpretação da música “A Padroeira”, na voz de Márcia Siqueira. O ceramista da Amazônia foi a figura típica exaltada durante a terceira noite. Outro destaque da apresentação ficou por conta da encenação do ritual indígena “O Eldorado”. O Caprichoso - boi-bumbá azul e branco, foi o segundo a entrar na arena do Bumbódromo, encerrando a edição deste festival. Nossa Senhora também foi homenageada durante o espetáculo do “touro negro”, que desenvolveu o tema: “A Poética do Imaginário Caboclo”. Um dos momentos de destaque da apresentação foi a participação de duas ex-cunhãs-poranga (itens que representam as mulheres mais bonitas da tribo). Elas surgiram durante a encenação da lenda “Icamiabas”. O festival foi encerrado após o ritual “Transcendência Tariana”, que exalta tradições da etnia.

Luxo, efeitos especiais, lindos figurinos e muita tecnologia, encantaram o público que lotou o bumbódromo

Boi Caprichoso – vencedor do Festival de Parintins 2017 Deu azul e branco – o “touro negro”, na 52º edição do Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas. As notas dos jurados somaram 1257,9 pontos para o Caprichoso contra 1255,5 do Garantido.

Venceu o azul – o “touro negro”, a 52º edição do Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas O Caprichoso entrou na Arena com o tema a Poética do Imaginário Caboclo

34

REVISTA AMAZÔNIA

Apuração dos votos foi realizada no Bumbódromo da cidade. A nação azulada defendeu em 2017 o tema “A poética do Imaginário Caboclo”, valorizando a cultura, a arte, a origem do festival e o homem amazônico. Emocionado, o presidente do Caprichoso, Babá Tupinambá, ressaltou a harmonia da equipe e o esforço em promover mudanças este ano. “O nosso boi é uma família, o nosso boi é como se fosse sangue do nosso sangue. Todas as mudanças que nós fizemos foi para o bem do Caprichoso, não foi para denegrir ninguém porque nós vimos que estava em um momento de mudança. E nós vamos lutar cada vez mais para buscar o bicampeonato, pode acreditar. O Caprichoso vinha numa crescente a cada noite, trabalhou para ser melhor a cada noite. Ele superou a ele mesmo” afirmou Tupinambá. Logo após o resultado, a galera do Caprichoso saiu pelas ruas de Parintins debaixo de muita chuva para comemorar a vitória. A festa vai continuar até o fim do dia no curral do boi azul.

O Touro Negro venceu com o tema “A Poética do Imaginário Caboclo”, em inspiração na obra do poeta João de Jesus Paes Loureiro

revistaamazonia.com.br


O boi Caprichoso com tecnologia, arte e beleza também empolgou a multidão

Há dez anos, o torcedor azulado Felipe Aires, que é de Manaus, acompanha o festival na ilha Tupinambarana. Mesmo doente, ele vai festejar o título do seu boi preferido. “A gente lutou bastante. É aquela emoção. A gente sempre espera ser campeão e chegamos lá. Estou aqui gripado, com febre, mas já estou aqui nessa chuva saindo atrás da galera”, disse o torcedor. O Caprichoso conquistou neste ano o 22º título de sua história no Festival Folclórico. Durante os três dias de festa, o boi mostrou que investiu em inovação tecnológica, iluminação, criatividade e ainda em números de ilusionismo. Segundo a prefeitura, o festival injeta R$ 50 milhões na economia local por ano e gera, pelo menos, 5 mil empregos diretos e indiretos.

O boi Caprichoso, na primeira noite do Festival de Parintins

Cada boi reúne, em média, 600 brincantes e seus elementos como rituais, celebração folclórica, figuras típicas, lendas e tribos. As técnicas empregadas nas coreografias e alegorias dos bois e demais personagens durante as

apresentações do festival de Parintins influenciaram até os desfiles de Carnaval, com a inclusão de movimentos e alegorias articuladas. [*]Agência Brasil

Apresentação do Boi Caprichoso no 52º Festival Folclórico de Parintins

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

35


A mãe (e o pai) de todas as flores A história das plantas com flor é um autêntico enigma. Surge agora uma nova reconstituição de como seria essa primeira flor de há cerca de 140 milhões de anos e, com ela, novas interrogações Fotos: Hervé Sauquet/Jürg Schönenberger, Sauquet et al, doi: 10.1038 / ncomms16047

A

Modelo 3D da flor ancestral reconstruída pela equipe eFLOWER

primeira flor que apareceu ao longo do caminho da evolução das plantas, durante a época dos dinossauros, era uma hermafrodita com órgãos de pétala dispostos em círculos concêntricos. Olhamos para ela e nem parece assim tão diferente das flores que conhecemos hoje em dia. Mas essa flor branca tem cêrca de 140 milhões de anos. Este novo modelo do antepassado das flores de agora é um dos resultados de um estudo recentemente publicado na Nature Communications. Nesta investigação, reconstituiu-se a evolução das plantas com flor ao longo de pelo menos 140 milhões de anos. Entre os cientistas de todo o mundo que fizeram parte deste trabalho está a portuguesa Patrícia dos Santos, estudante de doutoramento no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ce3C), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A reconstrução, baseada no maior conjunto de dados de traços de flores já reunidos de 792 espécies existentes - desafia os pressupostos científicos de que a flor ancestral teria seus órgãos sexuais e “pétalas” dispostas em uma espiral. A maioria das flores hoje tem quatro folhas ou sépalas exteriores, seguidas pelas pétalas, que encerram os órgãos masculinos chamados estames, com os órgãos femininos ou carpelos no centro.

36

REVISTA AMAZÔNIA

A flor ancestral provavelmente não tinha sépalas e pétalas separadas, em vez de tepais esportivos - uma mistura entre os dois órgãos do sexo no centro.

Flores modernas com tepals em vez de pétalas incluem tulipas e lírios. “Os resultados são realmente emocionantes”, disse Maria von Balthazar, especialista em morfologia floral da Universidade de Viena, que participou da pesquisa. “Esta é a primeira vez que temos uma visão clara para a evolução precoce das flores em todas as angiospermas” - o termo científico para as plantas com flores. Ainda não conhecemos a cor da flor ( foi-lhe atribuída a cor branca), o que cheirava ou o tamanho que se supunha ter sido inferior a um centímetro (0,4 polegadas) de diâmetro. Os especialistas acreditam que as plantas terrestres emergiram de plantas de água ancestral há cerca de 470 milhões de anos atrás - mais de três bilhões de anos após a primeira vida ter surgido quando a Terra tinha cerca de um bilhão de anos. Se há mistério na história evolutiva é a origem e a diversificação das plantas com flor (angiospérmicas).

Reconstrução do estado ancestral do sexo funcional das flores nas angiospermas: os resultados do estudo mostram que as flores bissexuais são ancestrais e que as flores unissexuais evoluíram muitas vezes de forma independente; Os gráficos no centro da figura indicam a probabilidade proporcional de estados ancestrais reconstruídos em 15 nós de chave revistaamazonia.com.br


derivam de um único antepassado ( a flor ao centro) que viveu cerca de 140 milhões de anos atrás. Para descobrir o que essa flor ancestral como pode ter aparecido e rastrear a evolução das flores desde então, o novo estudo usou a árvore evolutiva (aqui simplificada) que conecta todas as espécies vivas de plantas com flores

revistaamazonia.com.br

Sabemos pelo registo fóssil que as primeiras plantas com flor surgiram há cerca de 130 milhões de anos, no início do período Cretácico. E são o grupo de plantas mais diversas da Terra com cerca de 300 mil espécies, representando cerca de 90% das plantas de todo o planeta. O projeto internacional eFLOWER, do qual resultou este artigo científico, dá-nos agora uma nova perspectiva de como seriam as primeiras flores. “Este estudo resulta de um esforço internacional inédito para combinar informação sobre a estrutura das plantas com a última informação sobre a árvore evolutiva de plantas com flor com base no ADN”, refere um comunicado da Universidade de Viena (Áustria), envolvida no estudo. O trabalho foi feito usando modelos matemáticos e uma base de dados sobre as características morfológicas das flores de todo o mundo. Que resultado teve então este estudo? “Os investigadores reconstituíram a aparência das flores em todas as divergências-chave na árvore evolutiva das plantas com flor”, refere um comunicado do Ce3C. Esta reconstituição incluiu a evolução inicial dos dois maiores grupos de angiospérmicas: as monocotiledóneas (orquídeas, lírios e gramíneas) e as eudicotiledóneas (papoulas, rosas e girassóis).

REVISTA AMAZÔNIA

37


Mas a rainha de todas estas reconstituições é a da flor ancestral a que foi atribuída a cor branca. Esta flor é apresentada como bissexual, porque tinha partes femininas (carpelos) e masculinas (estames). E ainda tinha vários verticilos (círculos concêntricos) de órgãos petalóides, que estão dispostos em grupos de três. “Os resultados são absolutamente inesperados. Até hoje, sempre se pensou que os órgãos das flores ancestrais tinham uma inserção em espiral, e não em verticilos”, diz por sua vez Patrícia dos Santos no comunicado do Ce3C. A portuguesa participou neste trabalho através de uma escola de Verão na Universidade de Viena em Julho de 2013, que foi organizada pelo projeto eFLOWER. Essa escola de Verão ajudou a construir a base de dados sobre as características florais, a Proteus. Foi aí que se conseguiu registar metade de todos os dados da Proteus, segundo o comunicado do Ce3C. Mas os cientistas não se ficaram apenas pelo registo fóssil. É que os fósseis confirmados das plantas mais antigas não têm mais do que 130 milhões de anos. Ora os novos dados da equipe, que juntaram informação genética com modelos matemáticos, permitiram estimar que o antepassado comum mais recente de todas as angiospérmicas terá surgido há pelo menos 140 milhões de anos. Mas os cientistas põem mesmo a hipótese de recuar esse início de um mundo florido até há 250 milhões de anos, segundo se lê no artigo científico. Agora é preciso encontrar fósseis que sustentem esta hipótese.

Um novo mistério “Ninguém tinha realmente pensado sobre a evolução inicial das flores desta forma, ainda assim ela é facilmente explicada pelo novo cenário que surge nos nossos modelos”, diz Hervé Sauquet, da Universidade de Paris Sul (na França) e o primeiro autor do trabalho, no comunicado da Universidade de Viena. Mesmo com esta reconstituição, a história das angiospérmicas ainda permanece um mistério. “A origem das flores continua a ser um dos temas mais difíceis e um dos principais tópicos não resolvidos na biologia evolutiva”, lê-se no artigo.

Reconstruções do estado ancestral de máxima verossimilhança de quatro caracteres florais representativos

Mesmo assim, os autores salientam: “Estes resultados são um grande passo em frente para se perceber a origem da diversidade floral e a evolução das angiospérmicas como um todo.” A investigadora portuguesa ainda acrescenta: “Este estudo revela que aquilo que sabemos até hoje sobre a origem e a diversificação das flores terá de ser revisto.

Contudo, há ainda muito por explorar, muitos grupos taxonómicos e linhagens que não são ainda contemplados na base de dados (nomeadamente fósseis de flores correspondentes a espécies já extintas), uma vez que a diversidade angiospérmica é enorme, tratando-se de um trabalho minucioso e absolutamente colossal.” Por enquanto, ficamos com a imagem desta flor tão velha mas que parece que foi apanhada num campo perto de nós.

eFLOWER é um projeto científico colaborativo destinado a responder a questões-chave sobre a evolução da flor

38

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Coletando o néctar das flores

O mel eterno O que faz o mel ser “eterno” e não estragar?

E o mais assustador é que, se o autor dessa pintura oito milênios atrás tivesse deixado um pote de mel no mesmo lugar, é muito provável que ele ainda estivesse bom para comer – no caso, o professor Jaime Garí Poch, que descobriu as cavernas onde estava a pintura no início do século 20, teria sido o agraciado com o pote.

Desenho antigo mostra um homem pendurado em um cipó e alcançando uma colmeia para coletar mel de abelhas selvagens

A

imagem acima é de uma pintura rupestre, talvez a mais famosa, que ficava nas paredes de cavernas de Araña em Valência, na Espanha. Ela mostra uma pessoa pendurado em uma espécie de cipó, se esticando para alcançar uma colmeia e coletar mel de abelhas silvestres. Estima-se que foi pintada há cerca de 8 mil anos, prova de que, ao menos desde então, nós nos arriscamos para conseguir essa delícia que as abelhas produzem com a ajuda das flores. O sabor do mel, a segunda coisa mais doce que se encontra na natureza depois das tâmaras, encanta o ser humano desde que ele passou a ficar na posição ereta.

40

REVISTA AMAZÔNIA

Tornou-se em muitas culturas e religiões antigas uma ligação simbólica entre o céu e a terra. Um produto nobre, repleto de simbolismos

Ao longo da história, a humanidade já se alimentou, se banhou e até se tratou com mel. Em uma tábua de argila de Nippur, o centro religioso dos sumérios no Vale do rio Eufrates, que data aproximadamente do ano 2000 a.C., há uma receita escrita para cuidar de machucados desta forma: “Moer até que a areia do rio vire pó (faltam algumas palavras) e amassar com água e mel, azeite puro e óleo de cedro e colocar quente sobre a ferida”. No Antigo Testamento, a terra de Israel é chamada “terra que corre leite e mel”. Depois, no Novo Testamento, conta-se que João Batista comia gafanhotos com mel silvestre. O grande guerreiro cartaginês Aníbal deu ao seu exército mel e vinagre quando cruzaram os Alpes em elefantes para lutar contra Roma. Para a medicina chinesa, o mel tem uma característica equilibrada (não é yin nem yang) e atua de acordo com os princípios do elemento Terra, entrando no pulmão, no baço e nos canais intestinais, segundo textos antigos. Durante a dinastia Zhou Oriental (770-256 a.C.), um dos manjares reservados para a realeza era uma mistura de mel com larvas de abelha. Nas Poesias de Chu, uma antologia antiga (século 11 a.C-223 a.C.), se fala de vinho e mel. E, no antigo Egito, os faraós partiam para outro mundo carregados de mel. Arqueólogos modernos encontraram uma vez ou outra nas antigas tumbas egípcias vasilhas de mel de milhares de anos que estavam perfeitamente conservadas. São poucos os alimentos que sobrevivem com o passar do tempo. As batatas dessecadas dos incas são um exemplo, mas, diferentemente do mel, elas foram processadas. Se você encontra sal ou arroz seco em uma tumba antiga, no meio do nada, é

revistaamazonia.com.br


provável que você consiga utilizá-los para preparar um prato sem problemas. Mas a diferença está aí: você precisará preparar algo. O mel guardado de maneira apropriada dura por um tempo indefinido, e, se você encontra um pote em uma tumba no meio do nada, supostamente pode se deliciar e se lambuzar com ele.

Gravura de 1774 de Johann Georg Krünitz, mostrando como era a coleta de mel nas árvores

O mel também é um produto misterioso – tornou-se em muitas culturas e religiões antigas uma ligação simbólica entre o céu e a terra. Entre os egípcios, as abelhas nasceram lágrimas do deus sol Ra, e o consumo de mel é reservado para as castas superiores e sacerdotes. Na Grécia antiga e no Império Romano, o mel é frequentemente utilizado como uma oferenda aos deuses. Ele também é usado como alimento, muitas vezes misturado com frutas ou queijo e vai para a preparação de muitas receitas, incluindo hidromel, uma bebida fermentada feita de mel. Aristóteles dedicado para as abelhas em sua História dos animais mais páginas do que qualquer outra espécie. Ele considera a abelha como um animal divino, e afirma que o consumo de mel prolonga a vida. No consumo de mel Antigo Testamento também está associada com a longevidade e a palavra de Deus é comparado ao mel. No judaísmo, o mel é um símbolo de renovação e é tradicionalmente consumido para celebrar o novo ano. Um capítulo inteiro é dedicado às abelhas no Alcorão: “De seus corpos uma bebida de cores variadas, em que há cura para as pessoas. “ Na religião hindu, o mel é um dos cinco ingredientes do elixir da imortalidade, enquanto o mel Maya foi utilizado para cerimônias religiosas e na farmacopeia.

Como é possível? A “magia” acontece por uma série de fatores que operam na mais perfeita harmonia. O mel é um açúcar, e os açúcares são higroscópicos. Isso significa que eles têm pouca água, mas podem absorver a umidade se expostos a ela. São raros os microorganismos que podem sobreviver em um ambiente assim. Para que algo estrague, é preciso haver algo que gere esse processo - mas o mel é um “hospedeiro” ruim para eles, então, costumam se manter longe dele. Ao mesmo tempo, o mel é extremamente ácido. Seu pH fica entre 3 e 4,5 (7 seria neutro), e essa acidez mata microorganismos. Quando as abelhas fazem o mel, elas coletam com o néctar das flores e, depois, o regurgitam no favo. Ao fazer isso, há uma mistura com uma enzima que elas têm no estômago, a glicose oxidase. O néctar se decompõe em ácido glucônico e peróxido de hidrogênio, a famosa água oxigenada, muitas vezes usada para limpar feridas por matar bactérias e que protege o mel de coisas que queiram “crescer” nele. Assim, esse “tesouro dourado” é eterno por ser extremamente doce e ácido, o que impede que qualquer bicho sobreviva - além disso, tem um antiséptico natural. Regurgitando no favo

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

41


Rainhas de abelhas sem ferrão, controlam reprodução de operárias sem castração Estudo se contrapõe à visão da castração forçada das abelhas operárias pela rainha

Fotos: Divulgação, Túlio M. Nunes

F

eito na USP, trabalho foi publicado na Nature Ecology & Evolution. As razões da organização e do funcionamento das colônias de insetos sociais são tema de estudo e de encantamento de cientistas desde os tempos de Charles Darwin (1809 –1882), que investigou com a ajuda de seus cinco filhos as colmeias de abelhas próximas a sua casa, em Kent, na Inglaterra. Instigados pela teoria da evolução, desde então pesquisadores dissecaram os mais diversos aspectos da vida das abelhas. Descobriram há décadas, por exemplo, que em muitas espécies de abelhas melíferas europeias (gênero Apis), nas colmeias onde há rainhas jovens e saudáveis pondo ovos regularmente, estas fazem uso de compostos químicos chamados feromônios para inibir a reprodução das operárias. Desse modo, as operárias terão que cuidar principalmente dos filhos das rainhas e não de seus próprios. Nos casos em que as rainhas envelhecem, adoecem ou então morrem, na ausência do feromônio operárias especializadas geram novos zangões que irão fecundar as ninfas que se tornarão futuras rainhas.

Abelhas melíferas e sem ferrão Lestrimelitta limao Rainhas e operárias da espécie Scatotrigona aff depilis

42

REVISTA AMAZÔNIA

“Um tema importante no estudo dos insetos sociais é entender como fazem para resolver conflitos dentro das colônias, em especial conflitos de interesses reprodutivos. Em algumas espécies de abelhas, as operárias são capazes de gerar zangões, mas tal adaptação poderia gerar conflito entre rainha e operária para ver quem gera zangões”, disse o biólogo Túlio Marcos Nunes. Nunes, que fez pós-doutoramento no Departamento de Física e Química da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo, é o primeiro autor de um trabalho publicado no periódico Nature Ecology & Evolution, que procura responder se essa adaptação também ocorre entre as cerca de 600 espécies de abelhas sem ferrão (tribo Meliponini), distribuídas pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta. revistaamazonia.com.br


“O conflito ocorre como resultado da relação genética diferencial entre os filhos das rainhas e os filhos das operárias. Para as operárias, é mais interessante, do ponto de vista evolutivo, produzir os próprios filhos [com os quais elas se relacionam geneticamente em cerca de 50%]do que cuidar dos filhos da rainha [relação genética de 25%]”, disse . O investigador responsável pela pesquisa é o supervisor de Nunes, o professor Norberto Peporine Lopes, chefe do Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos da FCFRP, e coordenador do Projeto Temático “Metabolismo e distribuição de xenobióticos naturais e sintéticos”, apoiado pela FAPESP. Peporine Lopes explica que a pesquisa buscou investigar se o comportamento observado (operárias não botando ovos na presença da rainha) é positivo do ponto de vista genético para a operária – os compostos que indicam a presença da rainha no ninho são chamados de sinais de rainha. “Se esse comportamento for negativo para a operária, ou seja, caso ela tenha maior retorno genético botando e está sendo impedida quimicamente de fazer, nesse caso é um feromônio de castração”, disse. As abelhas melíferas europeias são um exemplo claro de castração química e o trabalho buscou responder se, no caso das abelhas sem ferrão, tratava-se de castração ou de sinalização. Para tanto, os pesquisadores trabalharam com 23 espécies de abelhas sem ferrão. Algumas poucas já estavam presentes no meliponário (criadouro de abelhas sem ferrão) da FCFRP. Outras, Nunes teve que ir a campo coletar, no Brasil e também na Austrália. As colônias geralmente ficam em buracos de troncos ou dentro de troncos caídos na floresta. Foi preciso abrir os troncos, localizar as colônias e colocá-las dentro de caixas para transporte. “Apesar de não possuírem ferrão, elas sabem se defender. Mordem, depositam resina e algumas espécies expelem ácido fórmico em alta concentração”, disse Nunes. As 23 espécies estudadas foram divididas em três categorias: espécies nas quais as operárias são estéreis e nunca botam ovos (quatro espécies); espécies nas quais as operárias sempre botam ovos, mesmo na presença da rainha (14); e espécies nas quais as operárias botam ovos somente em colônias onde a rainha está ausente (três). Esta última categoria difere das outras pelo fato de as operárias responderem diante da presença da rainha com a não ativação de seus ovários. A pesquisa foi feita em duas frentes. Os pesquisadores primeiro procuraram entender como se deu a evolução do comportamento reprodutivo das operárias na presença ou ausência da rainha. revistaamazonia.com.br

Abelhas Plebeia mínima, melíferas e sem ferrão

Além disso, buscaram descobrir qual ou quais seriam os compostos químicos responsáveis pela sinalização das rainhas às operárias. O comportamento reprodutivo das operárias de 21 espécies era conhecido da literatura científica. Das outras duas, Lestrimelitta limao e Plebeia mínima, Nunes e colegas estabeleceram no meliponário três colônias de cada. O comportamento das operárias férteis foi observado diariamente ao longo de três meses em presença da rainha nas colmeias. A seguir, retirada a rainha, o comportamento foi investigado por mais três meses. “Quando retiramos a rainha do ninho, as operárias começam a botar”, disse Nunes.

Castração química Com respeito aos feromônios, foram analisados os hidrocarbonetos cuticulares produzidos pela rainha. São os feromônios usados para a sinalização química com as operárias. Foram identificados 128 compostos químicos diferentes. “Os hidrocarbonetos cuticulares são feromônios ou sinalizadores químicos. São ceras não voláteis, não se dispersam no ar. Conseguimos mapear no corpo da rainha onde estão essas substâncias. Estão principalmente na cabeça.

Daí se concluir que a sinalização química entre a rainha e as operárias férteis só pode ocorrer por contato físico entre elas”, disse Peporine Lopes. Nas três espécies nas quais isso foi observado, Friesella schrottkyi, Leurotrigona muelleri e Plebeia lucii, as operárias férteis passaram a botar ovos quando a rainha foi removida do ninho. “A conclusão a que se chega é que as operárias dessas espécies não foram castradas quimicamente pela rainha. A presença do sinal químico da rainha desestimula a ovulação das operárias”, disse Peporine Lopes.Nunes conta que a seguir foi mapeado esse comportamento reprodutivo das operárias ao longo da evolução, para saber como era o comportamento ancestral das abelhas sem ferrão. “Pudemos, com isso, inferir que a modulação da esterilidade das operárias em resposta ao feromônio da rainha [ou à presença e à ausência da rainha] evoluiu de modo independente ao menos três vezes, nas linhagens que resultaram nas espécies F. schrottkyi, L. muelleri e P. lucii”, disse. “O que eu acho importante neste trabalho é que ele vem estabelecer um contraponto na visão tradicional da castração forçada das operárias pela rainha. É por isso que conseguimos publicar em um periódico da Nature”, disse Peporine Lopes. REVISTA AMAZÔNIA

43


Pesquisa possibilita controlar a contaminação de castanhas-dopará por micotoxinas

A

castanha-do-brasil, conhecida popularmente como castanha-do-pará, pode ser altamente suscetível à contaminação por micotoxinas (substâncias tóxicas produzidas por fungos), desde o momento em que cai no solo na floresta amazônica, ao despencar da castanheira (Bertholettia excelsa), até chegar ao consumidor. A fim de investigar os pontos críticos de contaminação desse produto por micotoxinas, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas – órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo –, em colaboração com colegas da Technical University of Denmark (DTU), rastreou os fungos presentes na castanha-do-pará com potencial de produzir essas substâncias tóxicas, desde a etapa da coleta até a comercialização. Os resultados do estudo, realizado por meio de um projeto apoiado pela FAPESP, contribuíram para a realização de um diagnóstico do problema e para o desenvolvimento de estratégias de controle de contaminação da castanha-do-pará por micotoxinas. Além disso, contribuíram para o estabelecimento de regulamentos nacionais e internacionais sobre limites máximos tolerados dessas substâncias tóxicas no produto. O estudo foi descrito em dois artigos publicados nas revistas Food Microbiology e International Journal of Food Microbiology. “A pesquisa possibilitou identificar os pontos críticos na contaminação de castanhas-do-pará por aflatoxinas [micotoxinas produzidas por espécies de fungos do gênero Aspergillus] e estabelecer medidas para reduzi-la por meio de melhorias na cadeia produtiva”, disse Marta Hiromi Taniwaki, pesquisadora do Ital e coordenadora do estudo. De acordo com a pesquisadora, o estudo foi motivado por um problema de exportação da castanha-do-pará para a União Europeia em 2003. Naquele ano, o bloco de países europeu passou a rejeitar lotes do produto importado do Brasil sob a alegação de que apresentavam níveis de aflatoxinas superiores aos estabelecidos em sua regulamentação – de 4 microgramas (µg) de aflatoxinas totais por quilo de castanha ou de 2 µ de aflatoxina B1 (considerada a mais tóxica) por quilo do produto. 44

REVISTA AMAZÔNIA

Fotos: Barbara Fraser, Claus G. Berving, Divulgação

“Os limites máximos tolerados de contaminação de castanhas-do-pará por aflatoxinas estabelecidos pela União Europeia eram muito baixos. Por outro lado, a cadeia desse produto extrativista é muito complexa e os controles de contaminação não eram eficientes. O Brasil também não possuía uma norma que estabelecesse os limites máximos tolerados de contaminação dessas castanhas por micotoxinas”, afirmou Taniwaki.

Estratégia de controle

Frutos da Castanheira

Com isso, o Brasil, o maior produtor mundial desse tipo de castanha, passou a ter dificuldades de exportar o produto para o mercado europeu porque não conseguia atender aos rigorosos limites de contaminação por aflatoxinas propostos.

A fim de definir uma estratégia de controle de contaminação, os pesquisadores decidiram realizar inicialmente um diagnóstico da cadeia de produção de castanha-do-pará para conseguir isolar e identificar os fungos responsáveis pela produção das aflatoxinas encontradas no produto, verificar em qual etapa o fungo tem mais condições de produzir a substância tóxica e o que poderia ser feito para minimizar a contaminação. Para realizar o estudo, eles coletaram amostras do produto em diferentes fases da cadeia produtiva – abrangendo a floresta amazônica, comunidades quilombolas, mercados de rua e fábricas de processamento nos estados do Pará e do Amazonas, (Bertholletia excelsa), em destaque. É da Família Lecythidaceae

revistaamazonia.com.br


Fontes de contaminação

Fotografias estereoscópicas de castanhas-do-Pará: Cada uma de várias cavidades separadas da castanha em testes, com as diversas seções em detalhes e as diferentes infecções por fungos

além de supermercados no Estado de São Paulo – a fim de verificar quais amostras apresentavam maiores níveis de contaminação e por que isso ocorria. Os resultados das análises indicaram a presença de uma grande diversidade de espécies de fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium, além de Eurotium spp., Zygomycetes e fungos dematiáceos – conhecidos como “fungos negros” – e de toxinas produzidas por algumas espécies de Aspergillus nas amostras de castanhas coletadas em todos esses lugares. Os maiores níveis de contaminação por aflatoxinas foram encontrados em amostras coletadas, respectivamente, em unidades de processamento – antes de as castanhas passarem por um sistema de seleção manual, chamado sorting – e nos mercados de rua no Pará e no Amazonas. “Constatamos que a triagem manual ou mecânica e a secagem eliminaram mais de 98% do total de aflatoxinas nas castanhas coletadas”, disse Taniwaki. “A triagem é uma maneira muito eficaz de diminuir a contaminação de castanhas-do-pará por aflatoxinas”, avaliou. revistaamazonia.com.br

Os pesquisadores também identificaram que os fungos produtores das aflatoxinas que contaminam as castanhas-do-pará provêm tanto do solo como da vegetação rasteira e de abelhas que visitam as castanheiras e espalham esporos desses microrganismos para todo o ambiente. Constataram também que a alta temperatura, a elevada umidade e o tempo que as castanhas permanecem na floresta amazônica sob essas condições favorecem o crescimento desses fungos produtores de aflatoxinas. Ao cair da castanheira, de uma altura que pode chegar a 60 metros, em um período de chuva – entre janeiro e março –, os ouriços das castanhas-do-Pará, que têm quase o tamanho de um coco, permanecem no solo molhado por semanas até serem colhidos e transportados para uma unidade de armazenamento. Durante esse período em que os ouriços estão úmidos, os fungos produtores de aflatoxinas podem se desenvolver, observaram os pesquisadores. “Dependendo do tempo que leva para as castanhas serem transportadas da floresta para uma unidade de processamento para serem secas, elas podem ser contaminadas em maior ou menor grau por esses fungos toxicogênicos”, disse Taniwaki. “Por isso, quanto mais cedo as castanhas forem transportadas e secas, em um nível que identificamos como o mais seguro, maior a possibilidade de impedir o desenvolvimento dos fungos e a produção de toxinas”, afirmou. Flores da Castanheira

REVISTA AMAZÔNIA

45


Os pesquisadores observaram que algumas comunidades coletoras de castanhas realizam o processo de secagem. A umidade na floresta amazônica é tão alta, contudo, que elas não conseguem realizar esse processo em um nível considerado seguro. Por isso, o processo de secagem mais indicado é o realizado em secadoras, nas unidades de processamento. “Começaram a surgir algumas iniciativas após a realização da nossa pesquisa para a instalação de secadoras nas comunidades coletoras. O problema, contudo, é que o custo desse equipamento é muito alto e a geração de energia nesses locais é precária. Por isso, é preciso transportar o quanto antes as castanhas da floresta para as unidades de processamento para a realização da triagem e da secagem”, apontou Taniwaki.

Reflexos na legislação Os resultados do estudo contribuíram para que o Brasil conseguisse que o Codex Allimentarius – uma coletânea de padrões sobre alimentos reconhecida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como referência para a solução de disputas sobre segurança de alimentos e proteção do consumidor – estabelecesse níveis mais realistas de tolerância máxima de contaminação de castanhas-do-pará por aflatoxinas que atendessem aos padrões apontados pelos países produtores – além do Brasil, a Bolívia e o Peru. O Codex estabeleceu como limites máximos de aflatoxinas em castanhas 15 µg de aflatoxinas totais por quilo do produto para posterior processamento e 10 µg de aflatoxinas totais por quilo do produto pronto para o consumo. Com isso, a União Europeia teve que revisar suas normas e seguir os padrões estabelecidos pelo código internacional, voltando a importar castanhas-do-pará do Brasil. “A partir do estabelecimento desses novos níveis de tolerância máxima pelo Codex, se o Brasil tiver qualquer problema de exportação relacionado à contaminação de castanha por aflatoxinas pode recorrer à OMS, que seguirá o que determina o código internacional”, explicou Taniwaki. Com base nos resultados da pesquisa e de outros estudos realizados no Brasil, em 2011 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também estabeleceu uma norma – a RDC 7 – com limites máximos para presença de micotoxinas em alimentos comercializados no Brasil em consonância com o Codex Allimentarius. “A norma permitiu diminuir o risco de um lote do produto rejeitado no exterior, por exemplo, eventualmente ser comercializado no mercado brasileiro”, disse Taniwaki. “Com essa legislação o consumidor brasileiro também passou a ter maior 46

REVISTA AMAZÔNIA

Estudo realizado por pesquisadores do Ital também contribuiu para estabelecer regulamentos nacionais e internacionais sobre limites máximos tolerados dessas substâncias tóxicas produzidas por fungos no fruto da castanheira

segurança de consumir castanha-do-pará comercializada nos supermercados”, avaliou. As amostras de castanha coletadas em supermercados em São Paulo para realização do estudo, por exemplo, apresentaram um dos níveis de contaminação por aflatoxina mais baixos, apontou a pesquisadora. “Tanto as castanhas comercializadas nos supermercados, como as que são exportadas, são as melhores selecionadas”, afirmou.

O maior gargalo hoje está na comercialização das castanhas em mercados populares, onde o produto é comercializado pelo próprio coletor, sem passar por uma unidade de processamento, comparou a pesquisadora. “Mas, mesmo no caso dessas castanhas, o consumidor é capaz de selecionar as que estão apropriadas para o consumo e descartar as deterioradas, minimizando os riscos de contaminação”, ponderou.

Beneficiando, tirando a casca dura

A venda das castanhas-do-pará. Nessa foto o preço ainda muito baixo. Hoje, por volta de R$90,00 revistaamazonia.com.br


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Amazônia – previsão de recorde de queimadas Previsão divulgada pela Nasa e pela Universidade da Califórnia aponta que solo da floresta está mais seco

Fotos: Centro de Pesquisa Florestal Internacional, Ibama, NASA

A

Amazônia deverá ter neste ano a pior temporada de queimadas de sua história desde o início dos registros, em 2001. A previsão foi divulgada recentemente pela Nasa, a agência espacial americana, e pela Universidade da Califórnia em Irvine (EUA). O risco de incêndios graves é maior do que 90% em todas as dez regiões analisadas, que incluem seis Estados da Amazônia brasileira, a Bolívia e o Peru. O risco mais alto é em Mato Grosso (97%) e no Pará (98%), justamente os Estados tradicionalmente campeões de desmatamento. No Amazonas, onde a floresta queima relativamente menos, o risco neste ano é de 96%. Análises feitas com auxílio de satélites mostram que a quantidade de água no solo na floresta este ano é a mais baixa desde o início das medições, com 2016 superando 2005 e 2010, anos em que a Amazônia viveu duas de suas piores secas de todos os tempos. A temporada de queimadas da Amazônia geralmente começa no inverno – o período seco, chamado de “verão” amazônico. O pico de focos de calor ocorre em setembro, com um declínio a partir de novembro, quando começa a estação de chuvas (o “inverno” amazônico). Em 2016, porém, mesmo os meses de “inverno” registraram queimadas acima da média. No Amazonas, foram 3.469 focos de calor registrados por satélites em fevereiro, um dos meses mais chuvosos do ano. O recorde para o mês na série histórica foi 250, em 2004. Mesmo em 2015, o ano mais quente da história até aqui, o número de queimadas no Amazonas em fevereiro foi apenas 130.

48

REVISTA AMAZÔNIA

Incêndios na floresta amazônica

Temporada de fogo da Amazônia 2017

No gráfico, o fogo conta com a Amazônia para 2017 pode ser visto em roxo como uma entrada adicional no 2016 Amazon Fire Season Charts. A temporada de fogo de 2017 está apenas começando.

revistaamazonia.com.br


Pará, Maranhão e Mato Grosso lideram queimadas na Amazônia Legal em julho Juntos os três estados somaram mais de 10 mil focos de incêndio, segundo o Inpe. De acordo com dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Pará, Maranhão e Mato Grosso lideraram os números de focos de queimadas na Amazônia em julho. De acordo com os números do instituto, os três estados juntos somam mais de 10 mil focos de incêndios nos últimos 30 dias. O estado do Pará lidera o ranking com 4 mil 978 registros. Em segundo aparece Mato Grosso com duas mil e 790 queimadas, seguido pelo Maranhão,Tocantins e Amazonas com mil 975 registros. Rondônia, Acre, Amapá e Roraima apresentaram redução no número de queimadas de janeiro até aqui, enquanto os demais estados tiveram aumento. No total, foram registrados em julho mais de 16 mil focos de queimadas na Amazônia.

A temporada de queimadas da Amazônia geralmente começa no inverno – o período seco, chamado de “verão” amazônico A previsão climática para o trimestre Agosto, Setembro e Outubro de 2017 indica maior probabilidade do total trimestral de chuva ocorrer na categoria abaixo da normal climatológica na área que se estende de Roraima ao norte do Pará, incluindo o Amapá, com a seguinte distribuição de probabilidades: 25%, 30% e 45%, daí a previsão de recorde de queimadas

Monitoramento dos Focos Ativos de Queimadas na Amazônia – julho 2017. Comparativo dos dados do ano corrente com os valores máximos, médios e mínimos, no período de 1998 até 12/08/2017

revistaamazonia.com.br

Probabilidade de El Niño (vermelho), La Niña (azul) e condições neutras (verde) para 2017. O último índice Oceanic Niño Index (ONI) mostra que o evento El Niño-Oscilação do Sul (ENSO) permanece neutro. Todos os modelos climáticos pesquisados indicam que o Oceano Pacífico tropical provavelmente permanecerá neutro em ENSO para o resto de 2017

REVISTA AMAZÔNIA

49


ICMBio pronto para combater incêndios florestais

Mais de mil brigadistas foram contratados para atuar em 78 unidades de conservação. Além disso, foram feitos cerca de 2.500 km de aceiros. Confira as recomendações para evitar o fogo

C

om a chegada do período mais crítico da seca em boa parte do País (meses de agosto e setembro), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) montou estrutura para prevenir e combater incêndios florestais, muito comuns nessa época do ano. Segundo a Coordenação de Emergências Ambientais do ICMBio, foram contratados 1.170 brigadistas para atuar em 78 unidades de conservação (UCs), situadas majoritariamente em estados do bioma Cerrado, a região mais vulnerável nesse período. Além disso, foram feitos cerca de 2.500 quilômetros de aceiros (faixa de terra roçada para evitar que o fogo que surge na parte de fora entre na unidade de conservação). Os aceiros são considerados uma medida preventiva fundamental para evitar os incêndios.

50

REVISTA AMAZÔNIA

Equipamentos Por outro lado, as unidades estão dotadas de veículos, moto-bombas, abafadores, bombas costais, radiocomunicação, entre outros equipamentos, os equipamentos de proteção individual (EPI) usados pelas brigadas anti-incêndio. O ICMBio mantém, ainda, contratos para uso de aviões air tractor (que lançam água sobre a vegetação em chamas). Os contratos funcionam por demanda. As aeronaves só são chamadas a entrar em ação nos casos mais graves e em locais de difícil acesso por terra. Juntamente a essas medidas, o ICMBio integra o Centro Integrado Multi-Agências (Ciman), que faz parte da estratégia do governo federal de controle de emergências civis e ambientais.

O Ciman é composto, ainda, pelo Ibama, Funai, Inpe e Defesa Civil Nacional. Há ainda articulações com estados para garantir o apoio dos bombeiros militares em caso de necessidade.

revistaamazonia.com.br


O ICMBio mantém, ainda, contratos para uso de aviões air tractor (que lançam água sobre a vegetação em chamas)

Incêndios florestais queimaram 974,4 mil hectares em unidades de conservação federais, localizadas nos mais diferentes biomas, no ano passado

ICMBio montou estrutura para prevenir e combater incêndios florestais, muito comuns nessa época do ano

Capacitação Desde a sua criação, há dez anos, o ICMBio tem se esforçado na capacitação de servidores para melhorar as respostas às ações de prevenção e combate a incêndios florestais.

Atualmente, existem 80 servidores que atuam como instrutores de brigada, inúmeros peritos de investigação de causas e origem de incêndios florestais e gestores capacitados no exterior em planejamento de ações de combate e prevenção.

Recomendações Para garantir a proteção do meio ambiente, os gestores da coordenação dão as seguintes recomendações: Moradores ou vistantes de áreas verdes – Evite o uso do fogo, que deve ser substituído por lanternas ou outros equipamentos não inflamáveis. – Evite, também, a queima de lixo e entulho em áreas de vegetação. O ideal é que esse tipo de material tenha destinação adequada, como aterros sanitários, coleta seletiva, compostagem (técnica de reciclagem do lixo orgânico), entre outras. Agricultores e pecuaristas – Adote medidas preventivas para que o fogo não se torne um incêndio. Produtores rurais usam o fogo para limpar o terreno para plantio, combater pragas e renovar a pastagem. A queima controlada é passível de autorização em alguns estados. – Para realizar uma queima dentro da legalidade, o produtor rural deve antes obter uma autorização no órgão ambiental competente, que fornecerá todas as orientações necessárias (período e horários permitidos, por exemplo). Porém, o fogo para agricultura e pecuária deve ser evitado nos meses mais secos e quentes do ano. revistaamazonia.com.br

A cada ano, o Instituto forma aproximadamente 3.000 brigadistas, residentes no interior ou entorno das unidades de conservação. Muitos deles, mesmo não contratados, integram brigadas voluntárias para ajudar nas emergências.

Ação humana No ano passado, os incêndios florestais queimaram 974,4 mil hectares em unidades de conservação federais, localizadas nos mais diferentes biomas. Além de mobilizar recursos humanos e financeiros, o fogo causa, principalmente, enormes danos à biodiversidade brasileira. O mais trágico de tudo isso, segundo a Coem, é que a quase totalidade dos incêndios é provocada pela ação humana, em alguns casos por negligência (condutas irresponsáveis) e em outros por intenções deliberadamente criminosas. Entre as principais causas de incêndios florestais, ainda de acordo com a Coem, estão a limpeza de pastagem para agricultura e pecuária, a queima de entulho, as fogueiras e a prática ilegal de soltar balões. REVISTA AMAZÔNIA

51


Floresta amazônica, resiliência ou colapso? Experimento científico investiga o comportamento do ecossistema frente à oferta extra de gás carbônico por Manuel Alves Filho

Fotos: Antoninho Perri | João Marcos Rosa | Amazonface É a primeira vez que a ciência busca, numa região tropical, resposta para esta pergunta

N

os anos iniciais da escola, aprendemos que as plantas realizam o processo de fotossíntese para produzir a energia necessária à sua sobrevivência. Dito de maneira simplificada, elas utilizam o gás carbônico (CO2) da atmosfera e a luz do sol para produzir glicose, espécie de açúcar que garante suas atividades vitais. De quebra, enquanto produzem glicose, as plantas devolvem oxigênio para o ambiente. Esse processo é tão importante que, sem ele, não haveria vida na Terra, dado que tais organismos estão na base da cadeia alimentar do homem e dos animais. Mas se o CO2 é tão importante para a fotossíntese, o que aconteceria se as plantas recebessem uma dose extra desse gás? Elas se tornariam mais produtivas? As respostas a estas e outras perguntas estão sendo investigadas por um grupo formado por cientistas brasileiros e estrangeiros, que participam do programa AmazonFACE, financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 52

REVISTA AMAZÔNIA

O AmazonFACE nasceu da iniciativa de um grupo de cientistas, entre eles o ecólogo David Montenegro Lapola, recentemente contratado como pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. Lapola é o atual presidente do Comitê Científico do programa. De acordo com ele, a principal questão trabalhada

pelo grupo é: até que ponto a fertilização proporcionada pela oferta extra de CO2 pode aumentar a resiliência de uma floresta, no caso a amazônica, num contexto de mudanças climáticas, no qual ocorrem aumento de temperatura e alteração no regime de chuvas? “É a primeira vez que a ciência busca, numa região tropical, resposta para esta pergunta”, assinala Lapola. Segundo ele, experimentos assemelhados foram realizados em florestas temperadas, nos Estados Unidos e Europa, que obviamente apresentam características distintas da floresta amazônica. Em terras brasileiras, foram feitos dois experimentos do gênero, mas em menor escala e voltados para cultivos agrícolas. O AmazonFACE, assinala o pesquisador do Cepagri/Unicamp, foi dividido em três fases. A primeira, iniciada em 2014, está sendo finalizada. Durante dois anos, os cientistas delimitaram e caracterizaram a área experimental, localizada no interior da floresta, a uma distância de 70 quilômetros ao norte da cidade de Manaus. Foram definidas oito áreas, em formato circular (anéis), cada uma com 30 metros de diâmetro.

Pesquisadores em campo

revistaamazonia.com.br


Quatro servirão de controle e outras quatro receberão uma dose 50% maior de CO2, o que fará com que a concentração em cada uma delas chegue a 600 partes por milhão (ppm). “Na segunda fase, que queremos iniciar no segundo semestre de 2017, vamos operar inicialmente com apenas dois dos anéis, sendo um deles controle. Nosso propósito é acompanhar como o anel fertilizado com CO2 se comportará em relação ao que receberá somente ar ambiente”, detalha Lapola. A segunda fase, continua o ecólogo, deverá durar mais dois anos. Ao final dela, virá a terceira e última etapa, quando as outras seis áreas experimentais entrarão em operação. Nesta, os testes se estenderão por dez anos. No Raio X que realizaram no sítio experimental, os cientistas já levantaram uma massa enorme de dados sobre o ecossistema local. “Nós medimos dezenas de parâmetros, o que nos permitirá analisar com precisão a resposta das plantas aos ensaios que promoveremos. Para dar uma ideia do que já foi feito, nós aferimos desde a velocidade e direção do vento até o nível de radiação solar, passando pelo ritmo de crescimento das raízes, o fluxo de seiva nos caules e a quantidade de fotossíntese realizada pelas folhas das árvores”, elenca o pesquisador do Cepagri/Unicamp.

Cenários Mas qual seriam, afinal, o melhor e o pior cenário que o AmazonFACE poderia delinear sobre a floresta amazônica? A situação mais positiva, pondera Lapola, seria constatar que, a despeito da tendência do aumento da concentração de CO² na atmosfera e do possível agravamento das mudanças climáticas, a floresta é capaz de se mostrar resiliente, ou seja, de resistir a essas situações adversas, mantendo-se produtiva e sem perda significativa de biomassa. “Entretanto, podemos chegar a uma conclusão diferente. Estudos realizados nos Estados Unidos e Europa indicam que a fertilização por gás carbônico estimula a produtividade das plantas por um determinado período. Depois, no entanto, o organismo chega ao seu limite e ocorre uma inversão na curva de desenvolvimento, limitado sobretudo pela falta de nutrientes no solo”, adverte, para completar: “Nesse sentido, vale lembrar que os solos amazônicos são bastante pobres em nutrientes, sobretudo fósforo”. Quando uma situação como essa ocorre em relação a uma floresta, continua o ecólogo, todo o ecossistema corre o risco de entrar em colapso. No caso da floresta amazônica, isso poderia levar, num período de uma a algumas décadas, à transformação daquele ecossistema em uma paisagem própria de savana ou cerrado. revistaamazonia.com.br

Pesquisadores já mediram diversos parâmetros do ecossistema local, como direção e velocidade do vento, nível de irradiação solar e a quantidade de fotossíntese realizada pelas folhas das árvores

“Nosso objetivo é obter dados que possam refinar esse tipo de predição, de modo a oferecermos subsídios para a tomada de decisões por parte das autoridades públicas”, esclarece o presidente do Comitê Científico do AmazonFACE. Para dar sequência ao estudo, os pesquisadores estão tentando obter novos recursos financeiros. Uma das iniciativas nesse sentido será a realização de uma reunião na sede do BID, no início de junho, em Washington, durante a qual os cientistas apresentarão os resultados obtidos até agora com o AmazonFACE para instituições de fomento de diversos países. O objetivo é levantar recursos da ordem de R$ 10 milhões para a execução da segunda fase do programa. A primeira fase consumiu investimentos de aproximadamente R$ 3 milhões.

Implicações políticas e socioeconômicas Embora o AmazonFACE esteja voltado ao entendimento dos processos ecológicos envolvendo a floresta amazônica, as pesquisas desenvolvidas pelo programa também têm importantes implicações políticas, sociais e econômicas, como reconhece Lapola. A floresta, registre-se, está distribuída por nove países e abriga aproximadamente 25 milhões de pessoas, população semelhante à da Coreia do Norte. Caso os prognósticos mais sombrios para a floresta se confirmem, a temperatura naquele ecossistema pode aumentar até seis graus e o volume de chuvas pode ser reduzido em 60%.

Nesse cenário, observa o pesquisador do Cepagri/Unicamp, haveria uma situação de seca prolongada, o que afetaria a rotina dos moradores e as atividades produtivas. “Uma alteração climática tão drástica secaria os rios, que são as principais vias de transportes de passageiros e cargas na região. Com menor volume de água nos rios, as hidrelétricas instaladas na região também seriam impactadas, o que refletiria na produção industrial. Uma das consequências da conjugação desses fatores poderia resultar até mesmo em uma migração em massa dos moradores das áreas de florestas para os centros urbanos, o que por sua vez alteraria a dinâmica de urbanização dessas grandes cidades amazônicas. Na hipótese de tudo isso se confirmar, os países teriam que criar políticas públicas para tentar minimizar todos esses impactos negativos”, alerta Lapola. Embora essas predições estejam no campo das hipóteses, o AmazonFACE, entende Lapola, deve alavancar a discussão e a elaboração de políticas de adaptação a essas eventuais mudanças. O programa conta atualmente com um grupo formado por 13 cientistas, que atuam no Brasil, Estados Unidos, Austrália e Europa. No Brasil, estão envolvidas nas pesquisas as seguintes instituições: Unicamp, Unesp, USP (São Paulo e Ribeirão Preto), Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), UFAM (Universidade Federal do Amazonas), EMBRAPA Amazônia Oriental e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A coordenação institucional do programa é feita pelo Inpa, que é vinculado ao MCTIC. REVISTA AMAZÔNIA

53


Ciência e religião unidas para defender florestas Inspirado pelo Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato Si” em 2015, sobre o aquecimento global o evento inovador foi realizado em Oslo e apoiado pelo rei Harald V Fotos: Lise Aserud, Foto cortesia da Rainforest Foundation Norway

E

m Oslo, católicos, judaicos, muçulmanos, budistas, hindus e taoistas organizam plano de ação para proteger florestas tropicais. Linguagem espiritual se alia ao conhecimento científico e aos saberes indígenas. Em frente ao Centro Nobel da Paz, em Oslo, a chegada de Sônia Guajajara chama a atenção de quem transita pela via tomada por pedestres, de frente para o mar. O cocar usado pela líder indígena tem penas de arara azul e é usado pelos guajajara em diferentes ocasiões e rituais. Mas a motivação agora é inédita. Sônia, que é coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), participa de um encontro com líderes de diversas religiões – católica, muçulmana, budista, judaica, hindu e taoista – para discutir como agir para preservar as florestas tropicais. “Ainda há muita lembrança dos ataques que sofremos das religiões no passado. Mas as igrejas têm um poder de convencimento e, se assumirem a defesa dos direitos e conservação das florestas, pode ser que mais pessoas ouçam”, afirma. A iniciativa é considerada de “alto risco”, admite Lars Lovold, diretor da Fundação Rainforest da Noruega, uma das organizadoras do encontro. “O objetivo é elaborar um plano de ação concreto, mostrando o que os grupos religiosos podem fazer nos seus países, como apoiar povos indígenas e sociedade civil. E as propostas virão deles”, explica. O governo da Noruega diz estar pronto para apoiar. “Pode ser ajuda financeira ou uma parceria, depende do que precisam. A nossa experiência mostra que, muitas vezes, processos influentes precisam de relativamente pouco dinheiro para se tornarem realidade”, afirma Fredrik Pharo, diretor da Iniciativa Internacional para Clima e Floresta da Noruega.

54

REVISTA AMAZÔNIA

Líderes religiosos e indígenas, pediram o fim do desmatamento no primeiro argumento internacional multicultural e multi-cultural para reduzir as emissões que alimentam a mudança climática.

União de antigas rivais Mary Evelyn Tucker, pesquisadora da Universidade de Yale, acumula duas décadas de experiência no debate sobre religião e meio ambiente. “A ciência e a política são necessárias, mas não suficientes. Precisamos dos valores morais, espirituais e culturais, e a ligação deles com a ciência é fundamental para assegurar o futuro do planeta”, argumenta. Apesar das interpretações diferentes sobre Deus, as religiões representadas no lançamento da iniciativa carregam alguns valores básicos: a natureza como obra divina; todos os seres têm valor aos olhos de Deus; ambição e destruição são condenáveis. “O movimento ambiental não pode recusar a força e quantidade que o movimento religioso tem”, fala sobre a importância da colaboração Kusumita Pedersen, do Parlamento das Religiões do Mundo. “Cientistas, especialistas e políticos não conseguem usar a mesma linguagem espiritual sobre o valor da vida, sobre a ética e os valores que as religiões pregam”, acrescenta. O esforço de conciliar religião e ciência tem sido a missão da Pontifícia Academia de Ciências desde 1603, defende seu diretor Monsenhor Marcelo Sanchez Sorondo.

“A Encíclica Laudato Si escrita pelo papa explicou em palavras simples a importância de preservar e como estamos destruindo a natureza. O documento religioso foi importante para que Acordo de Paris fosse assinado”, exemplifica o líder católico. “Na área do clima, o papa é um herói”, comenta Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas a relação entre ciência e fé ainda tem raízes traumáticas, como a Inquisição, que perseguiu todos os que questionavam os dogmas da Igreja Católica. “Muitas dessas marcas estão vivas até hoje. No âmbito acadêmico, falar sobre a necessidade de dialogo entre ciência e religião causa reações fortes em alguns pesquisadores”, admite Nobre. Já o reconhecimento dos saberes tradicionais dos indígenas é crescente. “Na Amazônia, podemos dizer que o diálogo amplo com os indígenas economizaria milhares de dólares – porque o que os cientistas estão tentando descobrir em suas pesquisas, esses povos muitas vezes já sabem faz tempo”, afirma Nobre, que também é ligado ao Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

revistaamazonia.com.br


“Se continuarmos desmatando, será um suicídio. Nós, como mensageiros de Deus e guardiões da criação, temos que promover a proteção de nossa casa comum”. O Arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, abriu a primeira mesa de debate com essa afirmação, que seria depois compartilhada por seus acompanhantes no palco do Nobel Peace Center da capital norueguesa. Indígenas, budistas, judeus, muçulmanos, hindus e católicos acreditam que a Terra é uma criação divina que deve ser cuidada. Um sentimento e um objetivo comuns numa época em que o entendimento entre as crenças parece pouco provável. Mas deve ser, afirmou o prelado. “Não é fácil rezar juntos, mas temos que agir unidos para conservar o planeta que Deus nos deu”. Metropolitan Emmanuel, vice-presidente da Conferência Europeia de Igrejas, aceitou o desafio: “O cuidado da Terra deve nos unir. Isso vai além das diferenças doutrinarias”. “A Bíblia nos diz: mesmo quando é preciso defender o próprio país, não tem sentido destruir a fonte de sua própria sobrevivência”, agregou o rabino David Rosen, diretor internacional de assuntos inter-religiosos do Comitê Judaico Americano em Israel. “Quando Deus criou o primeiro ser humano, levou-o entre as árvores do Éden e lhe disse: ‘Olha minha obra, quão maravilhosa e digna de reconhecimento. E tudo o que criei é para teu benefício. Tem cuidado para não saquear nem destruir meu mundo, porque, se o fizeres, não haverá quem o recupere depois”, prosseguiu, lendo o Eclesiastes Rabá para ressaltar que não há desculpas para causar um prejuízo irreparável ao planeta. Ainda assim, é isso o que ocorre na prática: todos os anos, é desmatada uma área de floresta tropical do tamanho da Áustria. E, tal como a adverte a Rainforest Foundation Noruega com evidências científicas, os danos podem levar décadas, séculos ou até milênios para serem sanados (se é que isso é possível).

Se continuarmos desmatando, será um suicídio. Nós, como mensageiros de Deus e guardiões da criação, temos que promover a proteção de nossa casa comum Arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo, Chanceler da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano

Metropolita Emmanuel, vicepresidente da Conferência das Igrejas Europeias, falando durante a Iniciativa Rainforest Interfaith em Oslo, na Noruega

Conclusões Ao deixar de lado suas diferenças religiosas, os líderes cristãos, muçulmanos, judeus, hindus, budistas, taoístas, e indígenas de 21 países conversaram com defensores das florestas, cientistas climáticos e especialistas em direitos humanos, lançaram um esforço global para desenvolver metas e ações, além de marcos para marcar seu progresso e acabar com o desmatamento. Eles esperam acompanhar um plano de ação e uma cúpula internacional de floresta inter-religiosa em 2018. “A história da criação no livro de Gênesis nos diz sobre árvores que são lindas para contemplar e uma fonte de sustento. As florestas tropicais são fundamentais para a vida na terra, provisionando as necessidades das pessoas, promovendo a biodiversidade e protegendo o clima “, disse o secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas, Rev. Dr. Olav Fykse Tveit. “Hoje, quando as florestas tropicais são ameaçadas pelo desmatamento impulsionado por uma economia de visão curta e lucrativa, devemos usar o conhecimento do que é bom e nossa ação baseada na fé para proteger e cuidar das florestas tropicais e, portanto, da Terra e de toda a vida”.

O legislador indonésio Din Syamsuddin, à esquerda e o Bispo Marcelo Sanchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano.

revistaamazonia.com.br

Vaticano/Israel

Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, em Oslo

Os líderes disseram que a iniciativa trará a atenção moral e o compromisso espiritual necessários para enfrentar os esforços globais para acabar com o desmatamento e proteger as florestas tropicais - florestas fundamentais para a vida humana, a saúde do planeta e a redução das emissões que alimentam a mudança climática. Isso marca a primeira vez que os líderes religiosos de um amplo espectro de fé estão trabalhando de mãos dadas com os povos indígenas, os principais guardas da floresta tropical do mundo, para invocar e ativar bilhões de pessoas de fé em todo o mundo para defender florestas tropicais. Com a capacidade de armazenar bilhões de toneladas de carbono, a preservação das florestas tropicais é amplamente vista como fundamental para travar a mudança climática. As florestas tropicais também fornecem alimentos, água e renda para 1,6 bilhão de pessoas. Eles contêm a maior parte da biodiversidade terrestre do planeta e ajudam a regular as chuvas e a temperatura global, regional e local. REVISTA AMAZÔNIA

55


Pesquisadores criam método para calcular impactos de mudanças de uso da terra no Brasil Fotos: Arquivo Ibict, Novaes et al “LUC in Brazil”

C

ientistas acabam de desenvolver a primeira ferramenta capaz de estimar de forma consistente os impactos provocados por mudança de uso da terra (LUC, na sigla em inglês) para todo o território brasileiro. Criado em parceria entre Embrapa e o instituto KTH, da Suécia, o BRLUC é um método capaz de estimar taxas de emissão de gás carbônico (CO2) associadas aos 64 cultivos disponíveis na base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisadores acreditam que o método deve se tornar fonte fundamental para estudos nacionais de pegada de carbono e avaliação de ciclo de vida (ACV). Informações sobre mudança do uso da terra são obrigatórias nesses trabalhos, porém seu cálculo é bastante complexo. Além disso, essas mudanças costumam representar considerável parcela de emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. Esse é o caso do Brasil. Isso aumenta a importância de um meio que forneça estimativas confiáveis e que considerem as condições brasileiras. Existem várias metodologias e estimativas internacionais de LUC para o Brasil, mas geralmente utilizam dados e premissas globais e de baixa representatividade da dinâmica da agricultura brasileira. Muitas não consideram, por exemplo, a existência de mais de uma safra por ano e a enorme heterogeneidade do território nacional. Com isso, é comum que os resultados sejam muito distantes da realidade e deixem de expressar os avanços de sustentabilidade implementados no País. Conforme Renan Novaes, analista da Embrapa Meio Ambiente (SP) e um dos criadores do BRLUC, a metodologia foi desenvolvida seguindo a lógica do pensamento de ciclo de vida e está baseada em padrões internacionais. “Basicamente, o objetivo de métodos nessa linha é estimar quais os tipos de uso da terra (agricultura, pecuária, silvicultura ou vegetação nativa) cederam área para a expansão de um cultivo ‘X’ nos últimos 20 anos.

56

REVISTA AMAZÔNIA

Ferramenta capaz de estimar de forma consistente os impactos provocados por mudança de uso da terra (LUC, na sigla em inglês) para todo o território brasileiro. A metodologia foi desenvolvida seguindo a lógica do pensamento de ciclo de vida e está baseada em padrões internacionais

A partir da obtenção de porcentagens de quanto cada uso da terra cedeu, calculam-se as emissões ou sequestros de CO2 que ocorreram devido a essa mudança e atribui-se essa alteração no balanço de CO2 ao produto X”, detalha. Novaes explica que cada uso da terra possui um estoque de carbono diferente e conforme o padrão de mudança de uso, o cultivo analisado apresenta um valor de emissão ou sequestro de CO2 por hectare. Esse número é então utilizado para compor a pegada de carbono dos produtos agrícolas. “O método BRLUC permite essa estimativa de acordo com padrões internacionais, porém considerando as particularidades do Brasil e utiliza bases de dados oficiais e mais detalhadas”, destaca o especialista.

Além disso, a ferramenta incorpora especificidades da agricultura tropical e lida com a escassez de informações sobre transições históricas de uso da terra para cada cultivo. Essas informações ou não estão disponíveis ou estão muito recortadas no espaço e no tempo. “Para contornar isso, desenvolvemos cenários de emissões mínimas e máximas nos últimos 20 anos para cada cultivo. Nossos resultados mostram que essa variação pode ser muito grande e ter impactos enormes nos resultados e a maioria dos standards internacionais não leva isso em conta”, explica Novaes. O método, de Renan Novaes, Ricardo Pazianotto e Marilia Folegatti-Matsuura, da Embrapa Meio Ambiente, Miguel Brandão, do

revistaamazonia.com.br


Alguns resultados foram apresentados recentemente em seminário voltado para especialistas da área. Os dados já estão sendo demandados por diversas instituições que desenvolvem estudos de pegada de carbono e ACV. “Como o cálculo desse fator é complexo, os especialistas têm de dispender muito tempo para obter esses números. O método facilitará muito esse trabalho,” afirma Novaes. Para Matheus Fernandes, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o método apresentado é de enorme importância para a comunidade, pois está alinhado às principais diretrizes internacionais que tratam do tema e, ao mesmo tempo, trabalha com base de dados nacional. “Ao considerar as características do País, o BRLUC trará um resultado mais fiel à realidade brasileira e aumentará a confiabilidade dos diagnósticos gerados por meio desse método,” acredita Fernandes. “Há algumas questões a serem melhoradas, porém é o primeiro passo para a consolidação de um método regionalizado”, considera o especialista. Otavio Cavalett, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, também conheceu esse método e o considera resultado do esforço de importantes profissionais brasileiros da área ambiental. “A ferramenta será importante não só para internalizar discussões mundiais acerca dos impactos climáticos oriundos das mudanças diretas e indiretas no uso do terra, como também propor alterações metodológicas importantes para melhor representar as especificidades dessa dinâmica dos usos da terra na agricultura brasileira”, afirma Cavalett.

A ferramenta incorpora especificidades da agricultura tropical e lida com a escassez de informações sobre transições históricas de uso da terra para cada cultivo

KTH (Suécia), Bruno Alves, da Embrapa Agrobiologia (RJ), e de Andre May, da Embrapa Milho e Sorgo (MG), acabou de ser publicado na Global Change Biology. Também estão disponíveis para download gratuito em página do do site da Embrapa: http://www.cnpma.embrapa.br/forms/BRLUC.php , um script de computador que permite que qualquer interessado rode ou customize o método e uma planilha para consulta de todos os resultados para qualquer cultivo ou estado.

revistaamazonia.com.br

Cristina Tordin (MTb 28499/SP) Embrapa Meio Ambiente meio-ambiente.imprensa@embrapa.br Telefone: (19) 3311-2608 Renan apresentando Modelo BRLUC

REVISTA AMAZÔNIA

57


Pico da Neblina, a maior montanha do país com cerca de 3 mil metros de altitude

“Florestas nas nuvens” Especialista em aves fala sobre pesquisas e descobertas

por *Luciete Pedrosa Fotos: Acervo Mario Cohn-Haft_INPA, Arquivo ICMBio, Anselmo D’Affonseca, Dante Buzzetti, Jorge Macedo, Marcos Amend

O

pesquisador Mario Cohn-Haft cita entre as serras mais famosas na região, o Pico da Neblina, o Monte Roraima, e várias outras serras, ao longo da divisa entre o Amazonas, Roraima e Venezuela, incluindo-se também a Serra da Mocidade (onde o pesquisador realizou uma grande expedição em 2016, quando foram descobertas mais de 80 novas espécies de animais e plantas). Quem pensa que a Amazônia é apenas uma enorme planície de floresta, não imagina que na região também existam montanhas. Para falar sobre as experiências e descobertas em serras amazônicas, o especialista em aves, Mario Cohn-Haft, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), foi o convidado do ciclo de palestras “O que eu faço pelo meio ambiente?”. O evento fez parte da Semana do Meio Ambiente do Instituto, que aconteceu no Bosque da Ciência. O pesquisador cita entre as serras mais famosas na região, o Pico da Neblina, a maior montanha 58

REVISTA AMAZÔNIA

Floresta nas nuvens

revistaamazonia.com.br


Monte Roraima 2800 Brasil Venezuela Guyana

do país com 3 mil metros de altitude, o Monte Roraima, que tem um formato de chapada (tepui), e várias outras serras, ao longo da divisa entre o Amazonas, Roraima e Venezuela, incluindo-se também a Serra da Mocidade (onde o pesquisador realizou uma grande expedição em 2016, quando foram descobertas mais de 80 novas espécies de animais e plantas) e a Serra do Apiaú. No início deste ano, o pesquisador realizou uma expedição até a Serra do Apiaú, que fica no estado de Roraima, no município de Iracema, próxima à cidade de Mucajaí. “É uma serra pequena, que chega a quase 1.500 metros de altitude, e tem um ambiente especial, que é o foco do meu interesse em serra: a floresta nebular”, diz Cohn-Haft. O pesquisador explica que quanto mais alta, mais fria e mais úmida é a floresta, e mais o ambiente difere do tipo encontrado na baixada. Segundo ele, a floresta montana - aquela que fica acima de mil metros e é “banhada” pelas nuvens (floresta nebular ou floresta nas nuvens) - é tão diferente das matas de terras baixas da Amazônia, que os animais e plantas também são diferentes. “Uma parte da diversidade da Amazônia é justamente a diversidade de tipos de ambientes. Em topos ou encostas de serra é um ambiente diferente das baixadas, e é por isso que vamos para conhecer a flora e a fauna desses lugares”, diz o pesquisador. revistaamazonia.com.br

A expedição precisa de helicóptero... Barco

REVISTA AMAZÔNIA

59


Mario Cohn-Haft, explica que quanto mais alta, mais fria e mais úmida é a floresta, mais o ambiente difere do tipo encontrado na baixada Floresta

Cancão da campina Cyanocorax hafferi

Floresta

Choquinha-lisa (Dysithamnus mentalis)

Araponga da Amazônia

Pula-pula (Basileuterus culicivorus)

Gaturamo-bandeira (Chlorophonia cyanea)

Pica-pau-oliváceo (Colaptes rubiginosus) Nuvens no Monte Roraima – marco da tríplice fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana

O pesquisador conta que na Serra do Apiaú, uma das coisas interessantes da expedição foi, de certa forma, a falta de descobertas. “A serra é pequena e muito isolada. É como se tivéssemos achado uma rocha no meio do mar e esperávamos encontrar nessa rocha toda a mesma exuberância de vida que tem numa ilha maior”, comenta Cohn-Haft. “Não tem. Tem menos tipos de bicho e menor diversidade”, destaca. Ele explica que isto é um fenômeno previsível previsto pela teoria da biogeografia de ilhas: quanto menor a ilha e mais isolada, menos espécies terão lá. O pesquisador revela que o mais gratificante, do ponto de vista científico, foi ver que os integrantes da expedição estavam certos de que esse lugar isolado tinha menos bicho do que num lugar maior ou mais conectado. “Mas a coisa mais legal dessa serra é que é um lugar que tem floresta nebular, linda e cheia de musgo e umidade pingando e de fácil acesso”, conta. Segundo o ornitólogo, de todas as serras amazônicas, onde para se chegar, a maioria precisa de helicóptero, ou entrar pelo lado venezuelano, ou andar vários dias a pés, na Serra do Apiaú a chegada é por via terrestre com a facilidade de se contratar alguém para guiar a subida e no mesmo dia estar numa floresta nebular totalmente diferente da mata que costuma-se ver na Amazônia. Na opinião de Cohn-Haft, a Serra do Apiaú é o cartão postal da floresta montana amazônica que precisa ser mostrada para o mundo. “Cabe a todos nós batalharmos para garantir o futuro daquele lugar e envolver o povo da região a se interessar pela proteção da serra”, ressalta o pesquisador. Cohn-Haft diz que pretende voltar e compartilhar com as comunidades que vivem no pé da serra os resultados da expedição. “Devemos a eles uma explicação sobre os resultados da nossa pesquisa e vamos sondá-los quanto à vontade de preservar a área, que oferece para eles a possibilidade de gerar uma alternativa de renda”, revela. [*] Ascom Inpa

60

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Realização

Agência de Comunicação

Secretaria Executiva e Comercialização EXPOSIBRAM

Organização EXPOSIBRAM

Patrocinador Diamante

Apoio Institucional

Patrocinador Ouro


Estudo mapeia recuperação de carbono após a exploração madeireira na Amazônia Dinâmica de recuperação de carbono após perturbação por abate seletivo em florestas amazônicas por Daniel Scheschkewitz

Fotos: Karen Robinson

O primeiro mapeamento da recuperação de carbono nas florestas amazônicas, após as emissões liberadas por atividades de exploração madeireira comercial, foi publicado na revista eLife, pesquisadores da Rede Pan-Tropical de Pesquisadores

F

oi realizado o primeiro mapeamento de recuperação de carbono nas florestas amazônicas e emissões lançadas pela atividade de colheita de madeira comercial na Amazônia. O estudo foi publicado no periódico eLife por pesquisadores da Rede Pan-Tropical de Pesquisadores chamada Observatório de Florestas Tropicais Manejadas – TmFO (http://www.tmfo.org/) que congrega 19 instituições internacionais, entre elas a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Entre os cientistas está o professor do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ, 62

REVISTA AMAZÔNIA

Edson Vidal, que explica que foram estudados dados de longo prazo de 133 parcelas permanentes de 13 sites experimentalmente perturbados em toda a Amazônia para modelar as alterações nos estoques de carbono acima do solo nas primeiras décadas após o manejo florestal com exploração de impacto reduzido. “Os resultados mostram que, para algumas florestas manejadas as árvores sobrevivendo podem ser mais confiável para armazenar as emissões de carbono do que árvores recém recrutadas (árvores juvenis que regeneraram naturalmente nas florestas manejadas)”.

Localização dos sítios experimentais, sendo cada local composto por parcelas florestais permanentes com intensidades de exploração madeireira, comprimento do recenseamento (cor) e área total (tamanho)

revistaamazonia.com.br


Quatro áreas foram arbitrariamente escolhidas para ilustrar quatro diferentes comportamentos geográficos

Segundo Vidal, a colheita de madeira por meio de manejo florestal com exploração de impacto reduzido fizeram com que as árvores das florestas ao norte da Amazônia recuperam sua capacidade de absorver CO2 da atmosfera mais rapidamente que as das florestas do sul. O docente enfatiza também as implicações práticas desses resultados para a conservação da Amazônia. “Os resultados levam ao reconhecimento de que o Manejo Florestal com Exploração de Impacto Reduzido pode ser uma atividade econômica que, além de gerar conservação e desenvolvimento, ainda poderá contribuir para redução das emissões de gases do efeito estufa quando árvores sadias sobrevivendo na floresta remanescente são preservadas”. Além da dinâmica de CO2 diante da atividade madeireira, o estudo contribui ainda com o conhecimento sobre o comportamento das florestas diante de incêndio. “Nossas descobertas também podem dar pistas úteis para prever respostas das florestas com relação

Alterações cumulativas previsíveis da ACS (Mg C ha-1-1) nos primeiros 10 anos após a perda de 40% da ACS. As alterações acumuladas da ACS são obtidas através da integração das alterações anuais da ACS ao longo do tempo. Os gráficos superiores são ganhos de ACS e os gráficos de fundo são perda de ACS. (A) ACS ganho de crescimento dos sobreviventes. (B) Ganho ACS de novos recrutas. (C) ganho de ACS do crescimento dos recrutas. (D) perda de SCA pela mortalidade de sobreviventes. (E) perda de ACS pela mortalidade dos recrutas. Pontos pretos são a localização dos nossos locais experimentais. Alterações ACS sobreviventes (a e d) mostram forte variações regionais ao contrário das mudanças ACS recrutas (b, c e e). *ACS = recuperação de estoques de carbono acima do solo

Recuperação de carbono após o registro

à perda de carbono por incêndios e outros eventos provocados pela mudança climática, que ironicamente é causada em parte pela perturbação em massa pelo desmatamento”, reforça. Os estudos nessa linha continuam procurando agora respostas sobre a recuperação do volume de madeira nas áreas manejadas na Amazônia internacional; o nível de resiliência das florestas tropicais a distúrbios do manejo florestal com exploração de impacto reduzido; valoração para a conservação das florestas naturais; relação entre sustentabilidade econômica e ambiental e a variação do comportamento florestal nas várias regiões e continentes.

EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! www.expressovida.com.br SÃO PAULO MACAPÁ Av. Guinle nº 1277 - Guarulhos Rodovia Duque de Caxias Km 06 nº 4379 Bairro: Cidade Industrial Satélite Bairro: Cabralzinho - Cep: 68906-801 revistaamazonia.com.br Cep: 07221-070 - Fone: (11) 2303-1745 Fone: (96) 3251-8379

MATRIZ BELÉM BR 316 - Km 5, s/n - Anexo Posto UBN Express Águas lindas - Cep: 67020-000 REVISTA AMAZÔNIA 63 Fone: (91) 3013-5200 / 99260-5200 - Ananindeua - Pa


Filtro retira CO2 do ar e ainda ajuda no cultivo de plantas

Cientistas da Escola Superior Técnica Federal de Zurique desenvolveram um filtro que retira o dióxido de carbono direto do ar. A máquina consegue filtrar uma tonelada de CO2 por hora Fotos: Climerworks, Julia Dunlop Filtro de CO2

A

tecnologia foi desenvolvida pela empresa Climeworks. Nela, filtros gigantes retiram o CO2 do ar. Ao mesmo tempo, a fábrica produz combustível, e usa o CO2 limpo para o cultivo de plantas. Tudo isso e ainda combate o aquecimento global.

Durante o processo de captura da Climeworks, o CO2 é depositado quimicamente na superfície do filtro. Uma vez que o filtro está saturado, o CO2 é então isolado a uma temperatura de cerca de 100 ° C. O gás de CO2 capturado puro pode então ser vendido a clientes em mercados-chave, incluindo: agricultura comercial, indústrias de alimentos e bebidas, setor de energia e indústria automotiva. Usando o CO2 Climeworks, os clientes podem reduzir suas emissões globais, além de diminuir sua dependência de energia fóssil. A Climerworks abriu a primeira planta de captura de CO2 numa instalação de recuperação de resíduos em Zurique, Suíça

Como funciona A tecnologia captura o carbono atmosférico com um filtro, usando principalmente calor de baixa qualidade como fonte de energia. Em Hinwil, a planta do DAC estava instalada no telhado de uma instalação de recuperação de resíduos. Com o seu desperdício de calor alimentando a planta enquanto os ventiladores no exterior sugam o ar ambiente. Dentro de cada uma das dezesseis unidades de coletor, o ar passa por um processo de adsorção e dessorção antes de ser expulso novamente com conteúdo reduzido de CO2. O processo captura 2.460 quilos de CO2 por dia, dependendo de fatores como condições climáticas e composição do ar. No total, a Climeworks, venderá 900 toneladas de CO2 anualmente a preços de mercado, para uma estufa próxima para ajudar a cultivar vegetais.

64

REVISTA AMAZÔNIA

Christoph Gebald (à esquerda) e Jan Wurzbacher (à direita), co-fundadores da Climeworks

revistaamazonia.com.br


O maior encontro de Saneamento Ambiental das Américas ntal: e i b m nto A e m a e San ento m i v l o v Desen Vida e d e d lida e Qua a do d a m o na Ret ento m i c s e r C

entral Tema c

INSCRIÇÕES ABERTAS!

2 a 6 de outubro de 2017 São Paulo Expo - SP 2 de outubro: Cerimônia de abertura 3 a 5 de outubro: Feira e Congresso 6 de outubro: Visitas Técnicas Pela primeira vez no Brasil, os dois maiores eventos de saneamento estarão juntos numa edição única e exclusiva. Em 2017, serão 25 mil m2 onde esperamos receber mais de 4 mil congressistas, 17 mil visitantes e mais de 200 expositores fazendo do Congresso ABES / Fenasan2017 o maior evento de Saneamento Ambiental das Américas. Empresas e profissionais de todo o Brasil estarão presentes trocando experiências, melhores práticas, discutindo as realidades e desafios regionais. Além disso, diversas delegações internacionais estarão enriquecendo ainda mais o debate e conhecimento.

www.abesfenasan2017.com.br

Realização

Patrocínio Supreme

Apoio

Organização

Estande Plus

Estande VIP

Apoio Especial

Apoio institucional

Revista

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

65


Efeito estufa No ano passado, quase 200 países assinaram o Acordo de Paris, se comprometendo a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A missão é evitar que as temperaturas globais aumentem mais de 2° C acima dos níveis pré-industriais antes do final do século. Mas não basta reduzir as emissões para atingir essa meta. São necessárias novas tecnologias que extraem CO2 da atmosfera.

Um único coletor de CO2 extrai da atmosfera a mesma quantidade emitida por mais de 20 carros

O carbono é um elemento central da economia, e com nossas plantas de captura de CO2, estamos fechando o ciclo do carbono. Uma possibilidade é o fornecimento de CO2 renovável para estufas. Outro é produzir combustíveis de hidrocarbonetos renováveis fora do CO2 capturado pelo ar ou para produzir plásticos. “Com a energia e os dados econômicos da planta, podemos fazer cálculos confiáveis para outros projetos maiores e aproveitar a experiência prática que ganhamos”. Disse Jan Wurzbacher, co-fundador da Climeworks e diretor-gerente.

Em Hinwil, a Climeworks, vista da estufa de vegetais a planta DAC atual

Cultivo de vegetais

A captura de carbono feita com tecnologia de emissões negativas

A Climeworks chamou a fábrica de “Direct Air Capture” – DAC. Em Hinwil, a Climeworks, na planta DAC atual, o CO2 puro é canalizado para uma estufa a 400 metros de distância, onde é usado para cultivar vegetais, através um fornecimento contínuo de CO2 por um gasoduto subterrâneo para uma estufa a 400 metros de distância, para ajudar com vegetais como tomates e pepinos, que são vendidos por meio de grandes retalhistas suíços, incluindo Migros e Coop. A planta de Hinwil funcionará como um projeto de demonstração de três anos. No entanto, a empresa afirmou que o gás também pode ser utilizado para uma variedade de outras aplicações industriais, como criar combustíveis neutros ou bebidas carbonatadas.

Futuro Para torná-la o mais eficiente possível, a planta DAC é alimentada pelo excesso de calor da instalação abaixo. Por enquanto, o sistema pode capturar até 900 toneladas de CO2 por ano. A fábrica vai funcionar como um projeto piloto por três anos. “Estamos quebrando a abordagem da economia circular a um nível atômico, disse Valentin Gutknecht, Diretor de Marketing e Comunicações da Climeworks.

66

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


22

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Anúncio Revista 20,5 x 27 cm.pdf 1 27/07/2017 11:02:37

AM

CAÇÃO LI

Ano 12 Nº 63 Julho/Agosto 2017

OR PUB AI

D

O

N O RTE

R$ 12,00

C

M

Y

CM

MY

CY

K

www.revistaamazonia.com.br

Para mais informações acesse:

w w w. f a d c. o rg. br /FundacaoAbrinq

/fundabrinq

ISSN 1809-466X

CMY

Ano 12 Número 63 2017 R$ 12,00 5,00

A MÃE DE TODAS AS FLORES, RECONSTITUIÇÃO CERCA DE 140 MILHõES DE ANOS FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTIS RECORDE DE QUEIMADAS NA AMAZÔNIA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.