Ano 12 Nº 64 Setebro/Outubro 2017 CAÇÃO LI
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ISSN 1809-466X
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Ano 12 Número 64 2017 R$ 12,00 5,00
O AMANHÃ NA AMAZÔNIA É HOJE O VULCÃO MAIS ANTIGO DO MUNDO ESTÁ NA AMAZÔNIA CONGRESSOS DE AGROECOLOGIA E AGROINFORMÁTICA
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IV Congresso Mundial sobre Áreas Marinhas Protegidas, Impac4 A equação é simples: 60% da humanidade come peixe, por isso preservar os oceanos é a única forma de assegurar a dieta alimentar global, alertou a presidente do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Yolanda Kakabadse. Na cidade chilena de La Serena (centronorte), na costa do oceano Pacífico, Kakabadse, ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, diz que a pesca ilegal, a superexploração, os efeitos das implacáveis mudanças climáticas e a falta de vontade...
O Amanhã na Amazônia é Hoje “O desafio da Amazônia não é um desafio de ONGs, é um desafio de cada um de nós, brasileiros, e inclusive dos bancos”. A afirmação é de Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, a instituição financeira internacional com maior presença no Brasil, e foi feita durante a abertura do evento “O Amanhã da Amazônia é Hoje”, organizado em parceria com a The Nature Conservancy, maior organização ambiental do mundo. As duas entidades lançaram mão do protagonismo em suas respectivas áreas de atuação para chamar...
Futurecom 2017
O evento mais importante de Telecomunicação e Tecnologia da Informação na América Latina celebra o encerramento de sua 19ª edição com público recorde de 15 mil visitantes. Foram 220 empresas expositoras e mais cinco auditórios, onde foram debatidas as questões que balizam a influência da tecnologia na vida das pessoas, com destaque para a Internet das Coisas (IoT). O evento reafirmou sua importância nas discussões das políticas públicas voltadas aos setores de tecnologia e das comunicações...
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Ascom ABES Fenasan, Ascom INPE, Cole Genge, Christian Stumg, FAO/Olivier Asselin, Gust Mirren, Karen Canto, Kélem Cabral, Nadir Rodrigues, Ronaldo G. Hühn, Silvio Anunciação, Steffen Dejn, Wilian França Costa FOTOGRAFIAS ABES Fenasan, Adilvane-Spezia-Campo-Unitário, Ana Cintia GAZZELLI/WWF-Brasil, Andrea Cantillanes, Antonio Scarpinetti/Dilvulgação, Divulgação EBC, Caetano Juliani / Acervo pessoal, Camila López, Cat Distasio, Diego Felipe Gómez Gutiérrez, Divulgação, FAO, Futurecom, Gabriel Jabur/ Agência Brasília, Indigri Chris, IFSA, Julio Pupim, Karen Canto - Ascom Inpa, Karina Bahamonde, Lilian Alves, Marcos Corrêa/ PR, Mário Vilela/Funai, Mauricio Boff/WRI Brasil, Nadir Rodrigues, NASA/JPL-Caltrch, Paulo de Araújo/MMA, Paulo H. Carvalho/Ascom Sead, Rafael Araújo/ Instituto Peabiru, Renato Suzuki, SER2017, SFB, Soeren Stache / ZB / DPA, Walter Hasenack, WRI, WWF FAVOR EDITORAÇÃO ELETRÔNICA POR Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle
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NOSSA CAPA Canoas de ribeirinhos no interior do Amapá. Foto de Gilmar Silva
Congresso de Agroecologia 2017 Iniciou com uma mística repleta de emoção envolvendo os participantes, entorno de 4 mil pessoas vindas de todos os rincões do Brasil e também, delegações internacionais. Durante a mística de aberta os Movimento Sociais ocuparam o palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília e afirmam que a Agroecologia tem um lado, tem sujeito e ela é fundamental para a sobrevivência da vida na Terra.“A caminha até aqui foi longa, mas não foi de quilômetros, foi longa porque é uma caminhada...
Na Amazônia, o vulcão mais antigo do mundo A região amazônica abriga o vulcão mais antigo já descoberto, com cerca de 1,89 bilhão de anos. Ele é parte de uma província de rochas vulcânicas chamada de Uatumã, que se espalhava sobre Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima e até Venezuela e Suriname. A altura original do vulcão, próximo ao rio Tapajós, pode ter chegado a 400 metros. Além de ser considerado o primeiro...
MAIS CONTEÚDO
[05] Dia Mundial da Alimentação 2017 [06] Estudo produz o maior acervo já reunido de informações geoespaciais da Amazônia [22] Cientistas revelam a diversidade de plantas da Amazônia [24] Vulnerabilidades da Amazônia [39] Turismo na Amazônia fatos e perspectivas [40] XI Congresso Brasileiro de Agroinformática [44] Congresso ABES Fenasan 2017 [48] Protegendo e restaurando o estoque global do carbono da floresta [50] Na Amazônia, a insolação é mais importante que a chuva na produção de folhas [52] Modelagem torna INPE protagonista em pesquisas sobre mudanças climáticas [54] Segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar [58] FAO denuncia contaminação da água pela agricultura [60] Uma nova agricultura [62] Relatório diz que Indústria de árvores plantadas ajuda a reduzir efeito estufa [64] Mudança climática projetada ameaça os polinizadores e a produção de culturas no Brasil
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O evento foi organizado pela Sociedade Internacional de Restauração Ecológica (SER), a Sociedade Brasileira de Ecologia da Restauração (SOBRE) e a Sociedade Iberoamericana e do Caribe de Restauração Ecológica (SIACRE), na Tríplice Fronteira, onde Brasil, Argentina e Paraguai se encontram. Mais de 1.000 delegados representantes de 66 países do mundo inteiro, incorporando grande diversidade...
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7ª Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica
PUBLICAÇÃO Período (Setembro/Outubro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
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O desenvolvimento rural pode abordar fatores que obrigam as pessoas a se mover, criando oportunidades de negócios e empregos para jovens que não são apenas baseados em culturas (como pequenas empresas de produção leiteira ou de aves de capoeira, processamento de alimentos ou horticultura). Isso também pode levar a um aumento da segurança alimentar, meios de subsistência mais resilientes, melhor acesso à proteção social, redução do conflito sobre os recursos naturais e soluções para degradação ambiental e mudanças climáticas. Ao investir no desenvolvimento rural, a comunidade internacional também pode aproveitar o potencial da migração para apoiar o desenvolvimento e construir a resiliência das comunidades deslocadas e de acolhimento, estabelecendo assim o terreno para uma recuperação a longo prazo e um crescimento inclusivo e sustentável.
FAO e migração
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mundo está em movimento. Mais pessoas foram forçadas a fugir de suas casas do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra Mundial devido ao aumento do conflito e instabilidade política. Mas a fome, a pobreza e o aumento dos eventos climáticos extremos ligados às mudanças climáticas são outros fatores importantes que contribuem para o desafio da migração. Grandes movimentos de pessoas hoje estão apresentando desafios complexos, que exigem ação global.
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ONU ressalta contribuição de migrantes ao desenvolvimento sustentável
Muitos migrantes chegam aos países em desenvolvimento, criando tensões onde os recursos já são escassos, mas a maioria, cerca de 763 milhões, se deslocam nos seus próprios países e não no exterior. Três quartos das pessoas de extrema pobreza baseiam seus meios de subsistência na agricultura ou em outras atividades rurais. Criar condições que permitam que as pessoas rurais, especialmente a juventude, fiquem em casa quando sentem que é seguro fazê-lo e ter meios de subsistência mais resilientes, é um componente crucial de qualquer plano para enfrentar o desafio da migração.
Os impulsionadores e os impactos da migração estão intimamente ligados aos objetivos globais da FAO de combater a fome e alcançar a segurança alimentar, reduzir a pobreza rural e promover o uso sustentável dos recursos naturais. A FAO tem um papel único a desempenhar na redução da migração rural, tendo em vista a sua experiência no apoio à criação de melhores condições e meios de subsistência resilientes nas áreas rurais. Juntamente com os seus parceiros, a FAO também compromete-se a expandir ainda mais o seu trabalho no sentido de fortalecer o contributo positivo que os migrantes, refugiados e deslocados estão trazendo para redução da pobreza, segurança alimentar e nutrição e resiliência das famílias rurais.
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Estudo produz o maior acervo já reunido de informações geoespaciais da Amazônia por *Kélem Cabral (1), Nadir Rodrigues (2)
Fotos: Divulgação, Nadir Rodrigues
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ma coleção de 800 mapas, 28 documentos sobre zoneamentos ecológico-econômicos com dados sobre solos, clima, vegetação, aptidões agronômicas e aspectos socioeconômicos, legais e institucionais, mapas de aptidão agrícola e gestão fazem parte de um volume gigantesco de informações sobre a região amazônica gerado pelo projeto Uniformização do Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal e Integração com Zoneamentos Agroecológicos da Região (UZEE-AML) que se encerra em agosto e deixa como legado o mais completo acervo sobre dados geoespaciais de toda a Amazônia Legal. A maior parte desses dados pode ser acessada de forma gratuita na internet. O sistema on-line permite ao usuário consultar, de modo interativo, todo esse acervo de dados georreferenciados sobre uma determinada área, como também manipular diferentes níveis de informação, de acordo com o interesse ou necessidade. Liderado pela Embrapa Amazônia Oriental (PA), o trabalho também gerou dezenas de publicações científicas e de transferência de conhecimento e promoveu cursos de capacitação para centenas de agentes multiplicadores em nove estados.
O Siageo Amazônia é uma plataforma que permite olhar para a região como um todo e não mais de forma fragmentada, com informações dispersas, além de agregar vários serviços
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Só apenas 5% estão vocacionalmente voltadas à agricultura, o que demonstra subutilização de grande parte das terras com potencial produtivo e consequente geradores de desenvolvimento e renda nos nove estados da região
“O projeto entrega não só as ferramentas, mas centenas de pessoas capacitadas a operá-las e aposta na adoção dos conhecimentos gerados para que, assim, conhecendo melhor o território amazônico, os tomadores de decisão possam avaliar as potencialidades produtivas e estimular a preservação ambiental”, avalia Adriano Venturieri, líder do projeto e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental. O projeto foi iniciado em 2013 e desde então congregou esforços de diversas Unidades Descentralizadas da Embrapa em todo o Brasil, em parceria com o governo federal por meio dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA), Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além dos governos dos nove estados da Amazônia Legal, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe).
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Aptidão agrícola Um dos produtos mais recentes do UZEE-AML e que revela a necessidade de readequação produtiva para fins de desenvolvimento na regional e uso racional da terra é o Mapa de Aptidão Agrícola das Áreas Alteradas da Amazônia Legal, elaborado pela Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Solos, lançado em Belém no início de agosto, durante o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. O mapa foi construído com base na análise e caracterização dos solos somente das áreas antropizadas da Amazônia Legal, ou seja, aquelas que já sofreram algum tipo de alteração humana. Esse recorte abrange 2.179.923,68 km2, o que equivale a cerca de 40% dos 5.020.000 km² da região e os dados revelam que 90% dessas terras estão aptas à implantação de sistemas produtivos agrícolas, como a agricultura e pecuária. A pesquisa revela ainda que das áreas mais nobres, por isso, vocacionalmente voltadas à agricultura, apenas 5% estão ocupadas com esse tipo de atividade, o que demonstra subutilização de grande parte das terras com potencial produtivo e consequente geradores de desenvolvimento e renda nos nove estados da região, conforme argumentou Adriano Venturieri. “O mapa é mais uma ferramenta de planejamento e gestão estra-
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Entre os produtos elaborados no âmbito do projeto estão o mapa de solos e aptidão agrícola do estado do Pará
tégica que indica aos tomadores de decisão as áreas mais aptas, reduzindo riscos, aumentando o retorno dos produtores, e auxiliando no planejamento de estados e municípios”, defende o cientistaEntre os produtos elaborados no âmbito do projeto estão o mapa de solos e aptidão agrícola do estado do Pará e o mapa com sugestão de gestão dos territórios,
este fazendo um refinamento das dez unidades territoriais estabelecidas pelo MacroZEE do MMA, tendo como base de análise as potencialidades sociais, vocações produtivas regionais e a vulnerabilidade natural das áreas, de forma a garantir o desenvolvimento econômico e manter a sustentabilidade dos ecossistemas amazônicos.
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Experiência será ampliada para todo o Brasil O UZEE-AML deixa uma base sólida de informações que instrumentaliza governos e demais tomadores de decisões para um planejamento mais racional do território e segue inspirando novas ações. Um fruto importante é a ampliação do Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal (Siageo), originalmente voltado à Amazônia, para todo o território nacional, conforme adiantou Bruno Abe Saber, coordenador do programa de zoneamento ecológico-econômico do Ministério do Meio Ambiente. “O MMA quer, com a Embrapa, fazer a transição do Siageo Amazônia para o Siageo Brasil, sistematizando as iniciativas de ZEE existentes em todo o território nacional”, anuncia Abe Saber. O Siageo agrega, em um único ambiente, um conjunto de informações espaciais de todos os estados da região resultantes do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da Amazônia Legal. Além de passar para o formato digital documentos como legislações e mapas, o Portal Siageo Amazônia organiza as informações, dando acesso público e gratuito a todo o seu conteúdo. “O Siageo Amazônia é uma plataforma que permite olhar para a região como um todo e não mais de forma fragmentada, com informações dispersas, além de agregar vários serviços”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP) João Vila, que coordenou o desenvolvimento do sistema, em parceria com o MMA. Essa visão integrada é essencial para a elaboração de políticas públicas focadas no desenvolvimento sustentável. Qualquer pessoa pode consultar e usar os dados geoespaciais fornecidos pelos nove estados brasileiros que integram a região: Acre, Amapá, Amazonas,
Dados revelam que 90% dessas terras estão aptas à implantação de sistemas produtivos agrícolas
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Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Oeste do Maranhão. A plataforma foi construída com base no conceito de open source, isto é, em formato aberto, para que os usuários possam baixar os mapas georreferenciados e elaborar seus projetos de empreendimentos na região, seja a regularização de uma propriedade rural ou a instalação de uma indústria. No caso de necessidade de crédito rural, é possível incluir no sistema os dados da propriedade, para a geração de relatório de análise espacial referente às condições ambientais, facilitando a avaliação por agentes do sistema financeiro sobre a concessão dos recursos. Os dados abertos, disponíveis na internet, também são úteis para gestores e pesquisadores, permitindo tomar decisões de forma mais rápida e desenvolver estudos sobre o uso dos recursos naturais. “Com isso, ainda estamos oferecendo às pessoas a oportunidade de criar outros conhecimentos”, afirma Vila. Assim, de acordo com o pesquisador, o Siageo também cumpre uma função social, atendendo aos princípios da Lei de Acesso à Informação, que garante aos cidadãos o direito a informações produzidas pelo governo.
Informação acessível aos tomadores de decisão O UZEE-AML oferece acesso não apenas a técnicos e especialistas de governos, mas a todos os agentes tomadores de decisão, como instituições de ensino, produtores, agências de fomento e sociedade civil, segundo conta o líder do projeto, Adriano Venturieri. “Uma das estratégias foi organizar cursos de capacitação de multiplicadores nos nove estados da Amazônia Legal”, enfatiza. Ele lembra ainda que os produtos gerados adotam linguagem acessível a todos os públicos. Os cursos ocorreram ao longo de 2015 e 2016 com a participação de cerca de 300 representantes de governos como agentes públicos, fiscais ambientais, consultores e projetistas, além de representantes do setor produtivo e da sociedade civil. Bruno Abe Saber, do MMA, considera os cursos importantes para difusão do acesso à informação ao sensibilizar e nivelar sobre o que é e a importância do zoneamento ecológico-econômico e de que forma as informações subsidiam o planejamento estratégico dos territórios. “A meta agora é solidificar alianças, conquistar a adesão dos estados ao mostrar, por meio de todo o trabalho desenvolvido pelo UZEE-AML, que há espaço para a conservação assim como para a produção”, defende. “Acreditamos, e a pesquisa reitera, que resguardar áreas mais vulneráveis, identificadas pelos zoneamentos, traz também a garantia da continuidade das atividades produtivas agropecuárias na Amazônia. Os serviços ecossistêmicos que são fundamentais à própria manutenção da atividade produtiva e o projeto UZEE-AML fornecem acesso à informação e capacitação, propiciando a aliança necessária entre conservação e produção”, afirma. *Veja o vídeo sobre o UZEE da Amazônia Legal produzido por MMA e Embrapa: https://youtu.be/WpbgWd6fjjM [*] (1) Embrapa Amazônia Oriental, (2) Embrapa Informática Agropecuária
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Fotos: Mauricio Boff/WRI Brasil, SER2017
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Conectando a Ciência e a Prática para um Mundo Melhor
evento foi organizado pela Sociedade Internacional de Restauração Ecológica (SER), a Sociedade Brasileira de Ecologia da Restauração (SOBRE) e a Sociedade Iberoamericana e do Caribe de Restauração Ecológica (SIACRE), na Tríplice Fronteira, onde Brasil, Argentina e Paraguai se encontram. Mais de 1.000 delegados representantes de 66 países do mundo inteiro, incorporando grande diversidade profissional e cultural das três sociedades que organizaram o congresso e que representam todas as partes interessadas na restauração – de pesquisadores, profissionais e formuladores de políticas, a artistas, educadores, estudantes e líderes comunitários.
Na abertura da SER2017, a mesa oficial, aplaude Joaquim Levy (Banco Mundial)
José Marcelo Torezan, presidente do Conselho de Administração da SOBRE
Joaquim Levy (Banco Mundial), Catalina Santamaria (Convention on Biological Diversity), Stephen Rumsey (Permian Global) e Rosa Lemos (Funbio)
Tereza Spósito do IBAM participando de debates
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“A tentativa do governo brasileiro de reverter a proteção ambiental no Brasil, incluindo a Amazônia, não representa a vontade do povo brasileiro, o consenso científico e as necessidades das gerações futuras. Não só o Brasil deve fortalecer suas proteções ambientais, mas devemos aumentar o compromisso do nosso país com a restauração de alta qualidade “, disse José Marcelo Torezan, presidente do Conselho de Administração da SOBRE.
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Reconhecendo a importância crítica das florestas e de todos os outros ecossistemas como parte de nossa infra-estrutura ecológica global, no encerramento da SER2017
Entre os conferencistas estrangeiros na SBIAgro estava Fedro Zazueta, professor da Universidade da Flórida, EUA, que ministrou uma mesa no congresso sobre os desafios contemporâneos da agroinfo
Cara Nelson, Presidente de SER International; Diretora do programa de Restauração Ecológica da Universidad de Montana (EE.UU.)
Durante cinco dias de debates científicos, oficinas práticas, discussões políticas e viagens de campo, delegados de 55 países discutiram o estado da restauração ecológica em todo o mundo
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Chamado à Ação – Call to Action, SER 2017 Parem a degradação, cumpram a promessa de restauração Durante a cerimônia de encerramento, as três Sociedades emitiram em conjunto um Call to Action em nome dos delegados da conferência. Este Call to Action exorta firmemente todos os governos, indústrias, produtores agrícolas, financiadores, ONGs, comunidades e outras partes interessadas a atuarem com rapidez para cumprir os compromissos e as aspirações incorporados nas iniciativas globais de restauração, e para fazê-lo enquanto se comunica abertamente, garantindo a integridade da ciência, e incorporando todas as partes interessadas no processo. O mundo está entrando em uma “era de restauração ecológica”, com governos em todo o mundo assumindo compromissos impressionantes com a restauração de ecossistemas degradados. Os delegados da 7ª Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica da Sociedade para a Restauração Ecológica, a 1ª Conferência Brasileira de Restauração Ecológica e o 5º Congresso Iberoamericano e do Caribe de Ecologia da Restauração (SER 2017) parabenizam e incentivam a colaboração global emergente por seu trabalho para elevar a importância dos programas de restauração em todas as escalas em todo o mundo. Da ambiciosa agenda de restauração florestal do Desafio de Bonn, incluindo Iniciativa 20x20 na América Latina, ao Plano de Ação de Curto Prazo para a Restauração do Ecossistema da Convenção sobre Diversidade Biológica, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas de 2030 e o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, nunca houve um impulso para mudar a maré da degradação do ecossistema para a restauração ecológica ao redor do mundo. Reconhecendo a importância crítica das florestas e de todos os outros ecossistemas como parte de nossa infra-estrutura ecológica global, os delegados exortam fortemente todos os governos, setores industriais, produtores agrícolas, financiadores, ONGs, comunidades e outras partes interessadas envolvidas a atuarem com rapidez para cumprir os compromissos e aspirações incorporadas em iniciativas de restauração global, mas também para: Indicar claramente em todas as comunicações que a restauração ecológica, a restauração do ecossistema e as atividades restauradoras relacionadas nunca devem justificar a destruição ou a degradação dos ecossistemas restantes do mundo; Assegurar que todos os projetos e programas de restauração se baseiem na melhor ciência disponível, que equilibrem efetivamente a prestação de benefícios à biodiversidade e à sociedade humana e que a comunicação livre e aberta entre cientistas, público, governos e mídia seja mantida; Desenvolver, adotar, utilizar e refinar ferramentas de orientação, como os Padrões Internacionais do SER para a Prática de Restauração Ecológica e outros padrões nacionais e locais baseados em princípios de ecologia de restauração, para ajudar a estabelecer prioridades, implementar projetos e melhorar a eficácia de todos os aspectos ecológicos. restauração e atividades restauradoras relacionadas; Planejar projetos de restauração florestal para favorecer uma mistura de espécies nativas de biodiversidade sobre plantações monotípicas e / ou não-autônomas, e proteger ecossistemas íntegros, nativos e não florestados (por exemplo, pastagens, savanas), desde a conversão até cobertura florestal até projetos de florestamento; Implementar a restauração ecológica em conjunto com atividades de apoio para melhorar a conectividade dentro e entre áreas protegidas e em todo o espectro de ecossistemas que são críticos para a conservação da biodiversidade; Projetar projetos de restauração ecológica para melhorar a saúde humana e o bem-estar, aumentar a segurança alimentar e alimentar, e entregar bens, serviços e prosperidade econômica; Enfatizar o uso da restauração ecológica como ferramenta em estratégias de adaptação e mitigação baseadas em ecossistemas visando: 1) aumentar a resiliência social e ecológica; e 2) e capacidades crescentes para armazenamento a longo prazo de carbono na vegetação e solos de paisagens em recuperação; Assegurar que as comunidades locais e indígenas tenham um papel ativo no planejamento e implementação de restauração e salvaguardar seu direito a um futuro saudável e sustentável; Facilitar a criação de capacidade no terreno e a transferência de fundos, conhecimentos, ferramentas e tecnologias entre e entre eleitores globais, regionais e locais, incluindo comunidades indígenas; Promover o desenvolvimento de centros locais de materiais vegetais que treinam e empregam membros da comunidade local para identificar, coletar, salvar e cultivar materiais de plantas de alta qualidade para projetos de restauração próximos. Aumentar a capacitação e o investimento financeiro em todas as fases de restauração ecológica, desde a avaliação e projeto até a implementação e monitoramento, do Banco Mundial, do Fundo Global para o Meio Ambiente, dos bancos de desenvolvimento nacionais e internacionais e de outras instituições de financiamento públicas e privadas; Assegurar que os países desenvolvidos façam esforços significativos para comprometer seus próprios territórios para a restauração e não apenas contribuir para a restauração global, apoiando projetos em países em desenvolvimento. Integrar a restauração ecológica em quadros legislativos e regulamentares e em agendas políticas a nível nacional e local, que incluem todos os setores da sociedade que utilizam e gerenciam o capital natural. A restauração ecológica na escala global está passando da promessa para a realidade, mas permanecem desafios significativos. Somente comunicando abertamente, garantindo a integridade da ciência e incorporando todas as partes interessadas no processo, podemos garantir que a restauração ecológica conserva a biodiversidade, aborda as mudanças climáticas e melhora o bem-estar humano em todo o mundo.
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Disse Joaquim Levy, na palestra inicial: “Ter biodiversidade e iniciativas de integração da agricultura com reflorestamento diminui o risco do crédito agrícola”
“Restauração florestal é vetor de crescimento, não é ônus para a sociedade” “Florestas podem aumentar a resiliência, contribuir com o gerenciamento de riscos de desastres, têm papel crucial para a segurança alimentar e energética, além de ajudar a reduzir a pobreza”. O autor desta frase é Joaquim Levy, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff em 2015 e hoje diretor geral e diretor financeiro do Banco Mundial, o segundo na hierarquia da instituição. Levy, que é engenheiro naval com doutorado em economia. Disse: a restauração florestal tem um enorme potencial econômico e que pode se tornar um vetor de crescimento para o Brasil. “Grandes financiamentos virão se atores públicos e privados investirem em pesquisa e desenvolvimento e tiverem estratégias de restauração com impactos que sejam mensuráveis e de longo prazo”. Levy ressaltou a importância da floresta para a preservação do clima, fator essencial para a expansão do agronegócio brasileiro: “Ter biodiversidade e iniciativas de integração da agricultura com reflorestamento diminui o risco do crédito agrícola. Porque se diminui o risco de perder safras e, ao mesmo tempo, aquela commodity pode ter valor de mercado mais alto se estiver em uma cadeia de valor diferenciada”. “Financiamento sempre aparece quando o projeto é bom, não tem risco de pragas, está adequado às regras ambientais. Cada vez mais o financiador olha isso porque estes dados dão segurança ao empréstimo. “A degradação ambiental afeta os mais vulneráveis e perpetua a pobreza”, disse em sua palestra. “Estima-se que 42% das pessoas mais pobres no mundo vivam em terras classificadas como degradadas. O cenário se agrava a cada ano. Calcula-se que 24 bilhões de toneladas de solos férteis sofrem com processos de erosão e 12 milhões de hectares estão degradados pelas secas.” “Por sorte esses danos podem ser revertidos. Cerca de 2 bilhões de hectares de florestas degradadas podem ser restauradas criando ecossistemas funcionais e produtivos, com perspectiva de desenvolvimento, de ajuda a pessoas e de ajuda ao planeta”, finalizou.
Mais de 1000 delegados no SER 2017
“Cumprir esses compromissos internacionais exigirá uma expansão incrível e consistente dos investimentos em recursos humanos e financeiros para restauração, tanto do setor público como privado”, disse Consuelo Bonfil, presidente do Conselho de Administração da SIACRE. Os delegados eram de todos os setores – agências governamentais, organizações intergovernamentais, ONGs e setor privado – com uma ampla gama de competências profissionais em ciências naturais e sociais, arquitetura paisagística, engenharia ambiental, planejamento urbano e regional e políticas públicas, entre outras. Eles discutiram o estado da restauração ecológica em todo o mundo. Inspirados pelo extraordinário poder da natureza de Iguaçu, o maior conjunto de quedas d’água do mundo, eles se para enviar uma poderosa mensagem ao mundo: parem com a degradação ecológica e restaurem os ecossistemas – agora é o momento de reverter a maré da destruição ambiental.
A iniciativa 20x20 na América Latina, ao Plano de Ação de Curto Prazo para a Restauração do Ecossistema da Convenção sobre Diversidade Biológica, no SER 2017
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IV Congresso Mundial sobre Áreas Marinhas Protegidas, Impac4 Deterioração dos oceanos ameaça segurança alimentar global. A pesca ilegal, a superexploração, os efeitos das implacáveis mudanças climáticas e a falta de vontade política para priorizar a conservação formam um coquetel explosivo para os mares
Fotos: Andrea Cantillanes, Camila López, Karina Bahamonde
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equação é simples: 60% da humanidade come peixe, por isso preservar os oceanos é a única forma de assegurar a dieta alimentar global, alertou a presidente do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Yolanda Kakabadse. Na cidade chilena de La Serena (centro-norte), na costa do oceano Pacífico, Kakabadse, ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, diz que a pesca ilegal, a superexploração, os efeitos das implacáveis mudanças climáticas e a falta de vontade política para priorizar a conservação formam um coquetel explosivo para os mares. Com este panorama sombrio é inadiável que o IV Congresso Mundial sobre Áreas Marinhas Protegidas, Impac4, que acontece esta semana em La Serena, gere um roteiro claro que estabeleça planos de gestão viáveis para proteger ao menos 30% dos mares.
O objetivo do Impac4 É de reunir os especialistas em questões marinhas e deveria ser feito com mais frequência, porque devemos acordar ações muito mais fortes. Nos propomos a conservar 10% da área marinha dos oceanos, como área protegida, mas 10% não é nada. É muito suave, devemos ser mais radicais em nossa ambição de proteger o oceano.
Cerca de 60% da humanidade come peixe. Se não cuidarmos deste recurso que são os oceanos e todas as suas espécies estamos ameaçando a segurança alimentar do ser humano. As mudanças climáticas são um dos fatores que mais estão influenciando. As águas dos oceanos estão aquecendo e estão destruindo (...) os recifes de coral. Neste momento, 50% dos recifes de coral estão afetados e se não fizermos alguma coisa logo, (...) na metade deste século terão desaparecido. O representante dos rapanuis na solenidade, Poky Tane Haoa
Há um excesso de pesca inquestionável em todas as partes do mundo. A poluição que derramamos nos oceanos de substâncias químicas de vertentes que vêm de áreas urbanas, de plásticos, cada um desse elementos que derramamos no mar como se fosse um grande depósito de lixo estão destruindo as espécies e a qualidade do oceano. Quando digo espécies, quero dizer as espécies que nos alimentam, os peixes estão sendo poluídos e quando chegam à mesa do consumidor já vêm afetados por poluição química.
A situação na América Latina Todos os nossos países sabem quais são as áreas que deveriam ser protegidas, o que faz falta é a decisão política de proteger mais áreas marinhas. Falo pela América Latina, onde sinto que poderíamos fazer muito mais. Não serve de nada que declaremos áreas marinhas se nossos rios continuam levando poluentes para o oceano. Não serve de nada protegê-las se não impusermos regulações ao setor pesqueiro. Não serve de nada declará-las sem as pessoas, as comunidades.
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Acordos a alcançar com o Impac Esperamos chegar a um acordo para aumentar as áreas marinhas protegidas, mas com planos de gestão. Um segundo acordo é que temos que prestar muito mais atenção às comunidades que vivem das áreas protegidas ou nelas. E a única maneira de conseguir bons resultados é fazer acordos internacionais e penalizações fortes. Já temos penalizações estabelecidas nos acordos, mas temos que aplicá-las. Para se ter uma ideia do tamanho da tarefa, o Brasil – com uma costa de quase 11 mil quilômetros de extensão – atingiu apenas um e meio por cento de sua meta de conservação para esses ecossistemas. “E não se trata apenas de ampliar as áreas no papel. É preciso que as áreas protegidas marinhas sejam manejadas de modo eficiente, para beneficiar toda a sociedade”, disse a colombiana Yolanda Kakabadse, presidente do WWF Internacional, na abertura do evento. Segundo ela, é preciso avançar para novas formas de gestão das áreas protegidas marinhas e criar modelos que possam abarcar a complexidade que é o tema marinho.
60% da humanidade come peixe, por isso preservar os oceanos é a única forma de assegurar a dieta alimentar global
A importância das comunidades locais Na abertura do Congresso Internacional de Áreas Protegidas Marinhas, o Chile anunciou a criação da área de proteção de reserva marinha ao redor da Ilha de Páscoa
A criação da reserva já tinha sido anunciada pela presidente do Chile, Michelle Bachelet em 2015. Porém, o governo chileno permitiu que a decisão final fosse tomada pelo povo indígena rapanuis, habitantes ancestrais da Ilha, cujo nome tradicional é Rapa Nui. Na votação estiveram presentes 642 pessoas do povo rapanui. 64% votaram pela criação da área de proteção, que será administrada conjuntamente por representantes rapanuis e pelo governo chileno. O representante dos rapanuis na solenidade, Poky Tane Haoa, aplaudiu o “sucesso” da criação da reserva. “Como povo, continuamos gritando: não à pesca ilegal, não à pesca industrial e não à mineração”. O território corresponde a quase três vezes o estado de São Paulo e é maior que o estado de Minas Gerais.
Sucessos de conservação? O Triângulo de Corais na Ásia no Pacífico Oriental, onde vários países que estão em volta deste triângulo concordaram que o mais importante para sua economia era o turismo e que não haveria nada de turismo se não se preservasse. Outro exemplo é Galápagos (arquipélago do Equador). Foi um sucesso porque conseguimos recuperar o equilíbrio de algumas espécies, mas continua havendo ameaças.
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No simpósio, especialistas internacionais debateram a importância das comunidades locais na geração de áreas marinhas protegidas e como elas se beneficiam, mesmo quando um setor se declara protegido. Neste sentido, John Armor, o moderador geral, disse que os painéis do dia são compostos por uma diversidade de especialistas especialmente escolhidos em todo o mundo para falar sobre o tema diário. Por exemplo, Gustavo Cabrera, membro do Corpo de Conservação da Honduras, explicou que as AMPs foram até agora uma espécie de mito administrado pelas autoridades, que criou barreiras e desconfianças entre as comunidades, uma vez que prejudica o desenvolvimento econômico .
Cinco especialistas foram responsáveis por levantar o tema do relacionamento das AMP com as comunidades costeiras
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“Em Honduras mudamos essa ideia e envolvemos as comunidades, porque são elas que sofrem se o recurso está perdido. Agora, nas AMPs, eles não são vistos como uma ameaça, mas como uma oportunidade e isso deve ser através do consenso, não como uma imposição. Isso foi integrado em Honduras e pode ser replicado em outras partes do mundo “, explicou.
A presidente do WWF International, Yolanda Kakabadse, no IV Congresso Mundial sobre Áreas Marinhas Protegidas Impac4 em La Serena, Chile
Por um triz Os ambientes costeiros e marinhos são berçários de vida, abrigam tanta ou mais biodiversidade que as florestas, têm papel chave no equilíbrio climático e ainda abastecem a humanidade de alimentos e uma infinidade de recursos naturais. Mesmo assim, esses ambientes estão gravemente ameaçados. Estima-se que quase a metade dos mares e oceanos que circundam ilhas e continentes já estejam altamente impactados pelo homem.Uma das razões é o excesso de pesca. Mais de 75% dos estoques pesqueiros marinhos com valor comercial estão em franco declínio em todo o mundo devido ao excesso de captura.
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O aquecimento global provocado pelas emissões de CO2 altera a química das águas, tornando-as mais ácidas, com consequente branqueamento dos corais. Se o ritmo de poluição continuar, os cientistas estimam que até 2030, cerca de 90% dos corais do mundo vão branquear, ameaçando de morte a vida marinha no planeta. “Não podemos prever o tamanho do colapso que virá da degradação costeira e marinha.
O que podemos fazer é agir rapidamente, repensar os sistemas de pesca e ampliar a proteção desses ambientes”, adverte Ana Carolina Lobo, coordenadora do Programa Marinho do WWF-Brasil. No caso brasileiro, segundo ela, o país precisa aumentar urgentemente sua rede de áreas protegidas marinhas. E mais: diversificar ao máximo as categorias de áreas protegidas ao longo da costa e nas águas jurisdicionais.
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Sua mensagem para todos foi clara e transparente:
Sylvia Earle, comanda o time de cientistas conselheiros do Google Ocean Advisory Council, do projeto Ocean, do Google Earth
Uma voz em defesa dos oceanos Durante IMPAC4, a bióloga marinha Sylvia Earle convocou cientistas, comunidades, ONGs e governos a reforçar a luta para que se restabeleça o que ela chama de “tecido de vida” que a humanidade está rompendo ao poluir e degradar mares e oceanos. “A vida está morrendo, as águas estão mais ácidas devido ao aquecimento global. Isso acelera a perda da biodiversidade marinha. Os corais sofrem com o branqueamento. É sinal de que ultrapassamos a capacidade de resiliência nos oceanos. Toneladas de lixo são despejadas diariamente nos mares. A pesca excessiva está levando à extinção peixes vitais para a alimentação de milhões de pessoas em todo o mundo”, adverte. Aos 81 anos, ela é a principal estrela do documentário Mission blue, que o público brasileiro pode assistir pelo Netflix.O filme mostra trajetória desta incansável ambientalista que dedica sua carreira de quase meio século à defesa dos mares e à vida aquática.
Sylvia foi primeira mulher nomeada cientista chefe da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e considerada Heroína pelo Planeta pela Time Magazine. Ao longo de sua trajetória, criou a Mission Blue Foundation e tornou-se diretora de uma dúzia de fundações e ONGs voltadas à conservação das águas. A bibliografia de seu punho já soma mais de 150 títulos de teor científico, com destaque para o desenvolvimento de tecnologias de acesso a ambientes marinhos remotos. Sylvia Earle comanda o time de cientistas conselheiros do Google Ocean Advisory Council, do projeto Ocean, do Google Earth. No campo, ela foi também foi longe. E fundo. São cerca de 70 expedições e quase sete mil horas debaixo d’água. Visitou mais de 60 países para expor sobre a importância dos oceanos na vida humana. Ela sabe do que está falando. Sylvia foi uma das palestrantes de honra do IMPAC4, promovido pela União Internacional a Conservação da Natureza (IUCN) e governo do Chile, com apoio do WWF.
No plenário “Áreas de proteção marinha, gerenciamento efetivo e bem-sucedido”
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“Se quisermos estabilizar o acelerado processo de degradação marinha e oceânica, precisamos fazer um esforço mundial e pontuar o globo com áreas protegidas”. Criar e gerir áreas protegidas marinhas e costeiras tem sido apontado pelos cientistas como a principal e mais eficaz estratégia para conservar a vida nos mares.“ As reservas marinhas são também reservas climáticas. Os oceanos ajudam a estabilizar o clima do planeta, absorvendo gás carbônico da atmosfera, assim como fazem as florestas. Precisamos dessa ajuda dos oceanos para continuarmos vivos. Extraímos dos oceanos a nossa existência”. Para a estudiosa, não basta olhar para a vida selvagem que há no continente e tentar salvá-la. “Temos de estar atentos também para a vida que se extingue nos mares e oceanos”. “Se os oceano vão mal, nós vamos mal. Se os oceanos estiverem com problemas, nós estaremos em apuros”, diz ela, ciente de que é a vida existente na água – e não a água em si – que torna a Terra um planeta que se distingue dos demais. Nós “devemos”, usando para isso a expressão em inglês “ We must”, cuja carga semântica nos fala de uma obrigatoriedade, quase uma emergência. “As áreas de proteção integral são fundamentais para a conservação, mas temos de pensar cada vez mais em áreas que permitam o manejo sustentável dos recursos marinhos, incluindo as comunidades que vivem diretamente nesses ambientes e tiram dele o seu sustento”, diz Ana Carolina, fazendo coro com o mote do encontro no Chile. Segundo ela, outra estratégia necessária para o Brasil cuidar de sua zona costeira é estabelecer áreas em que a pesca fique temporariamente suspensa até a recuperação dos estoques.
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Proposta é de reunir esforços para conservação de áreas protegidas marinhas, ambiente em que o Brasil ainda não atingiu metas internacionais. Os mares do Brasil são o lar de 1,6 mil espécies de peixes, 100 espécies de aves marinhas, 2,3 mil de invertebrados e outras 54 espécies de mamíferos. Entretanto, apenas 1,5% (3,5 milhões de hectares) do nosso território marinho-costeiro está protegido. A expectativa é de atingir 10% da zona marinho-costeira até 2027, cumprindo compromissos internacionais na área de meio ambiente, dentre eles, o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) e a Meta de Aichi Nº 11. Dos biomas brasileiros, as áreas marinhas são as que possuem a menor porcentagem de proteção. Amazônia está em primeiro lugar, com 27,3%; Mata Atlântica em segundo, com 9,1%; Cerrado em terceiro, com 8,2%; seguidos pela Caatinga (7,6%), Pantanal (4,6%), Pampa (2,7%) e Áreas MaDurante a apresentação rinhas (1,5%). Por razões ecológicas, esta Iniciativa considera os ecossisIniciativa Azul, em La Serena temas costeiros junto com as áreas francamente marinhas, cujas áreas, em conjunto, têm 2,8% de sua área total protegida. Como parte desse esforço, o Brasil apresentou, a Iniciativa Azul. A estratégia é focada nas áreas protegidas e mecanismos financeiros em aliança com comunidades locais, sociedade civil e setores econômicos utilizando dinâmicas de inovação e execução de projetos, gestão de áreas protegidas e compartilhamento de resultados a nível regional e internacional. A Iniciativa Azul foi anunciada pela delegação formada por representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a presença de parceiros, como o WWF e a Conservação Internacional. Os principais pontos a serem abordados serão a pesca sustentável, as mudanças climáticas e suas consequências, as espécies invasoras e exóticas, a sedimentação excessiva das áreas costeiras e conservação da biodiversidade marinha. ONGs, cientistas, governos locais também deverão compor a iniciativa. “Não será uma operação centrada nas mãos do governo. Nosso papel será o de direcionar a criação das áreas seguindo critérios de prioridade para a conservação das espécies, o potencial turístico e econômico, com foco na sustentabilidade”, esclarece Cláudio Maretti, diretor do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Muito mais do que um fundo convencional de financiamento para a conservação, a Iniciativa Azul Brasileira é uma arquitetura de ideias e soluções, uma espécie de plataforma de investimentos com flexibilidade para absorver recursos provenientes de cooperação internacional, empresas e ONGs e direcionar os investimentos sob a coordenação do governo brasileiro, explica o diretor. Segundo ele, seria um erro olhar apenas para a conservação dos ecossistemas terrestres, deixando desprotegidas as áreas marinhas. Além da extraordinária biodiversidade – estuários e mangues são chaves para manter a vida em equilíbrio –, as áreas marinhas também são sumidouros carbono, ajudando no equilíbrio do clima, e geram alimentos e fonte de renda para milhões de brasileiros. “Este é o programa mais ambicioso e abrangente com foco na conservação costeira e marinha do país, e é o primeiro a lidar com esses desafios na escala apropriada”, afirma Guilherme Dutra, Diretor de Estratégia Costeira e Marinha da Conservação Internacional no Brasil.
Eventos paralelos Além do anúncio da Iniciativa Azul, o Brasil apresentou outros destaques na área de conservação marítima. Pesquisadores da Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Cassurubá (BA) apresentaram o programa Monitoramento Ambiental Comunitário. A analista ambiental Ana Paula Prates participou do diálogo sobre “O mundo científico e as áreas marinhas protegidas – gerando os fundamentos para a conservação”, promovido pela Redeparques, rede latina de cooperação técnica em parques nacionais, outras áreas protegidas, flora e fauna silvestres.Ana Paula apresentou as bases científicas das estratégias de conservação do ICMBio, em especial da Avaliação do Estado de Conservação da Fauna Brasileira, Planos de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN), e Áreas Marinhas Protegidas.
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Especialistas em conservação marinha participaram do IMPAC4
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O trabalho realizado pelos Centros Especializados do ICMBio foram destacados durante o diálogo, bem como a importância da participação social no planejamento e implementação das estratégias de conservação. No Simpósio “Iniciativas nacionais e Parcerias Internacionais para contribuir com alcance das Metas de Aichii da CDB e dos objetivos de desenvolvimento sustentável no Brasil” foram apresentados os resultados do GEF Manguezais coordenado pelo ICMBio. No contexto do Projeto, vários parceiros foram convidados para divulgar as ações desenvolvidas para conservação dos manguezais e garantia da efetividade da participação social para o fortalecimento das áreas marinhas e costeiras protegidas.
Encerramento Um balanço positivo foi feito por aqueles que participaram do congresso internacional de Áreas Marinhas Protegidas, ou IMPAC4, que aconteceu em Enjoy Coquimbo. Não só milhares de especialistas na relação de seres humanos com o mar chegaram à nossa região, mas também centenas de participantes de mais de 80 países do mundo, que participaram de mais de 50 palestras, exposições e simpósios realizados. Dos agradecimentos, as emoções para a despedida e os apertos de mão carinhosos marcaram o dia. No ano de 2021, o país escolhido era o Canadá, o segundo maior país do mundo, e aquele que tem a particularidade de limitar o oceano Ártico; com o Alasca, com os oceanos Atlântico e Pacífico. O término, de forma cerimonial, foi através de uma “Reunião de Alto Nível”, com o fechamento do IMPAC na cidade de Viña del Mar, onde o Príncipe de Mônaco, Alberto II, a Presidente Michelle Bachelet e as autoridades do governo chileno e outros países estiveram presente.
Representante da FAO, na abertura do IMPAC4
No fechamento do IMPAC4, os palestrantes fizeram um balanço e voltaram a receber a iniciativa das áreas educativas marinhas! Durante o encerramento em Viña del Mar
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O Amanhã na Amazônia é Hoje
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desafio da Amazônia não é um desafio de ONGs, é um desafio de cada um de nós, brasileiros, e inclusive dos bancos”. A afirmação é de Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, a instituição financeira internacional com maior presença no Brasil, e foi feita durante a abertura do evento “O Amanhã da Amazônia é Hoje”, organizado em parceria com a The Nature Conservancy, maior organização ambiental do mundo. As duas entidades lançaram mão do protagonismo em suas respectivas áreas de atuação para chamar à ação representantes do governo, do setor rural, de comunidades indígenas e da indústria de base, entre outros agentes econômicos e sociais presentes ao seminário realizado no Dia da Amazônia no Museu do Amanhã, no Rio. “O presente da Amazônia é resultado das decisões que foram tomadas no passado. O futuro está sendo construído hoje, e se quisermos que seja sustentável, produtivo e inclusivo, precisamos reunir todos os atores em torno dessa causa”, comentou Antonio Werneck, diretor da TNC para o Brasil.
Fotos: Renato Suzuki
Sérgio Rial declarou ainda que, em uma conjuntura econômica de juros mais baixos, os bancos privados tornam-se “parte da solução de problemas importantes do País”. E lançou ideias para a preservação da Amazônia, entre elas: A criação de um fundo de investimento para a proteção da Amazônia, a ser financiado por qualquer brasileiro interessado em preservar a floresta;
Na conclusão do seminário, a ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira afirmou: “Todos entendem que a Amazônia pode e deve ser usada, mas o Brasil terá que fazer escolhas, tomar decisões e planejar a transição a transição para uma economia de baixo carbono”
Com mediação de Antonio Werneck, diretor executivo, TNC, “Amazônia hoje, abraçando o desenvolvimento de forma sustentável”
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Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, na abertura do “O Amanhã da Amazônia é Hoje”
A formação de um centro de excelência de pesquisa e educação na Amazônia, a exemplo da Esalq, em São Paulo; O aumento planejado das concessões florestais, apoiado nas melhores práticas de preservação e controle de manejo; A implantação de modelos agroflorestais que permitam o cultivo de lavouras sustentáveis, como cacau e café, ao lado da preservação e plantio de árvores nativas e O fim da política de regularização de áreas invadidas, ou “Refis da perpetuação de nosso desastre ecológico”, como chamou o presidente do Banco, que também é membro do Conselho de Conservação da América Latina (LACC, sigla em inglês).
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Na palestra “Amazônia hoje, abraçando o desenvolvimento de forma sustentável”, com mediação de Antonio Werneck, diretor executivo, TNC
Gil Maranhão Neto, diretor da Engie Energia e Kleber Karipuna, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
A TNC trouxe para o debate uma visão pioneira sobre a avaliação do impacto dos projetos de infraestrutura na Amazônia a partir de seu impacto cumulativo, em vez de se discutir o mérito dos pedidos de licenciamento caso a caso, com base apenas nas compensações ambientais. A proposta da organização dá ênfase aos recursos hídricos como elemento central no planejamento territorial da região, e se baseia no trabalho elaborado para a Bacia do Rio Tapajós, que abrange uma área equivalente a 6% do território nacional. “Temos um ponto de partida de uma visão integrada, que só será efetiva se houver pertencimento dos atores. Se conseguimos fazer no Tapajós, será uma grande diferença para trabalhar o futuro da Amazônia”, explicou Pedro Bara, coordenador de conservação do Tapajós da TNC. Reforçando a importância da fiscalização na região, Luciano Evaristo, vice-presidente e diretor de Proteção Ambiental do Ibama, destacou que as práticas irregulares na exploração da Amazônia inviabilizam a competitividade dos produtores que seguem as regras de manejo e conservação. “Para o amanhã da Amazônia existir, precisamos dar as mãos e combater o crime ambiental”, conclamou. O pensador Juan Carlos Castilla-Rubio, membro do Conselho Global de Recursos Naturais do Fórum Econômico Mundial, deu um passo adiante ao ressaltar o imenso potencial de geração de valor a partir da biodiversidade amazônica. “Precisamos de uma revolução empreendedora para mudar o paradigma e tornar visível o valor real dos ativos biológicos da floresta”, propôs o especialista.
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Além de pensar novos modelos de desenvolvimento, o evento trouxe novos olhares sobre as atividades tradicionais, em especial o agronegócio, que é diretamente responsável pela fixação de parte da população no interior do País, evitando a concentração nas cidades.
“O urbano e o rural são como irmãos siameses: um não vive sem o outro. Da mesma forma, produção e conservação podem caminhar lado a lado”, explicou o coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. O seminário foi concluído em uma grande mesa de debate, moderado pela ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira, que reuniu Kleber Karipuna, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Hector Gomez, country manager da International Finance Corporation (IFC) no Brasil, Alexandre De Marco, produtor de soja do Grupo BDM, Arnaldo Eijsink, pecuarista do Grupo JD, Eduardo Bastos, diretor executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau, e Gil Maranhão Neto, diretor de Estratégia, Comunicações e Responsabilidade Social Corporativa da Engie Energia. “Todos entendem que a Amazônia pode e deve ser usada, mas o Brasil terá que fazer escolhas, tomar decisões e planejar a transição a transição para uma economia de baixo carbono”, resumiu Izabella.
Luciano Evaristo, vice-presidente e diretor de Proteção Ambiental do Ibama: “Para o amanhã da Amazônia existir, precisamos dar as mãos e combater o crime ambiental”
Pedro Bara, gerente de Infraestrutura Inteligente, TNC Brasil: A nova fronteira de avanço sobre a floresta se dá às margens do Rio Tapajós, em toda a sua extensão
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Cientistas revelam a diversidade de plantas da Amazônia Fotos: NASA/JPL-Caltech
do Jardim Botânico Real de Edimburgo, Escócia, com a colaboração dos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Dra. Rafaela Campostrini Forzza e Dr. Haroldo Cavalcante de Lima. Um diferencial deste estudo, segundo os autores, foi o uso de informações taxonômicas atualizadas, verificadas por centenas de especialistas do mundo todo durante a produção de catálogos de espécies de plantas nacionais, como o Flora do Brasil 2020. “Essa plataforma digital representa o acúmulo de centenas de anos de trabalhos de campo na região, o esforço de centenas de taxonomistas. Catálogos
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Amazônia abriga a maior floresta tropical úmida do mundo, com valor inestimável para a manutenção do equilíbrio do planeta. Por ser um dos principais hotspots de biodiversidade, a Amazônia sempre atraiu a atenção de cientistas, conservacionistas e da população mundial. Ainda assim, não se sabia ao certo o número de espécies de plantas conhecidas em suas florestas, com estimativas variando de dezenas a centenas de milhares apenas para as angiospermas (plantas com flores). Estudos que buscam compreender a origem, evolução e ecologia dessa região hiperdiversa têm sido limitados pela falta de
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como esse, taxonomicamente validados, fornecem bases sólidas para o entendimento sobre a evolução e a ecologia dessa floresta monumental frente às mudanças climáticas e outras mudanças ambientais”, eles complementam. Um destaque desse trabalho é a grande participação de autores que atuam no Brasil (26 dos 44 autores). “Esse catálogo [Flora do Brasil 2020] só foi possível devido ao apoio que o Brasil deu aos trabalhos em biodiversidade, ampliando a formação de taxonomistas e incrementando as coleções biológicas com programas
Floresta Amazônica em toda a sua extensão, incluindo áreas de outros países, além do Brasil
informações básicas confiáveis, como a composição de espécies da flora amazônica. Esse conhecimento sobre a biodiversidade é fundamental para uma série de medidas, não só para a conservação de áreas prioritárias, mas também para o avanço de estudos evolutivos e ecológicos que buscam compreender sua própria formação. O levantamento criterioso e detalhado, com base em dados taxonomicamente verificados a partir de coleções de herbários e museus, realizado por uma equipe de 44 cientistas de países amazônicos, da Europa e dos Estados Unidos, foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O estudo revelou que a diversidade conhecida de plantas com sementes (angiospermas e gimnospermas) na bacia amazônica abrange 14.003 espécies. Menos da metade dessas espécies (6.727) são árvores, um número bem menor do que aqueles apresentados em trabalhos publicados até então. Ele mostra, também, que ervas, arbustos e epífitas (plantas que, como algumas orquídeas, vivem sobre outras plantas) são igualmente diversos, embora sejam frequentemente negligenciados em estudos de diversidade tropical. O trabalho foi liderado pelo Dr. Domingos Cardoso, da Universidade Federal da Bahia, e a Dra. Tiina Särkinen,
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específicos, como o PROTAX, o REFLORA e o SISBIOTA, financiados por agências de fomento como o CNPq”, afirma o Dr. Luciano Paganucci de Queiroz, da Universidade Estadual de Feira de Santana, um dos autores do artigo. Domingos Cardoso e Tiina Särkinen acrescentam, que “este é, realmente, um momento de celebração para a comunidade botânica”. Os autores enfatizaram que a publicação desta lista não significa que a flora amazônica já esteja completamente conhecida. Muitas espécies novas de plantas são descobertas todos os anos, tanto no campo como em herbários e museus, e grande parte da vasta Amazônia continua pouco conhecida ou mesmo inexplorada. Como ressalta o professor Domingos, “as diferenças entre as estimativas anteriores e os números apresentados neste novo estudo não diminuem de forma alguma a Amazônia como reconhecida pela sua magnífica diversidade de plantas; elas apenas ressaltam a enorme lacuna no conhecimento taxonômico que ainda precisamos preencher”. Assim, o estudo mostra de maneira emblemática a importância da taxonomia para o conhecimento da nossa biodiversidade e a necessidade de apoio contínuo aos estudos taxonômicos. “A taxonomia é responsável por estabelecer unidades biológicas, sendo base e, ao mesmo tempo, síntese de tudo que se conhece sobre biodiversidade”, ressalta o Dr. Alessandro Rapini, da Universidade Estadual de Feira de Santana, que também participou do trabalho; “as coleções biológicas, em museus e herbários, são testemunhos materiais desse conhecimento”, conclui. O trabalho publicado na PNAS mostra o papel fundamental dos catálogos de espécies taxonomicamente verificados por especialistas para os estudos em biodiversidade. “Sem essa base científica podemos colocar em risco nossa biodiversidade, patrimônio único e insubstituível, simplesmente por falta de um conhecimento realmente qualificado” finaliza Domingos Cardoso.
Delineação biologicamente significativa do bioma da floresta tropical de planície em toda a Amazônia (contorno verde-claro). As áreas > 1.000 m de altitude são mostradas em preto os rios principais são mostrados por linhas de luz azul, e a bacia hidrográfica amazônica é delineada com uma linha pontilhada azul escuro . As áreas com cobertura de copa de árvore > 90% são mostradas em verde com base em dados de satélite a partir de 2000. A delineação (linha roxa) foi derivada através da visualização de áreas dentro das múltiplas bacias hidrográficas ≤ 1.000 m de elevação que têm > 1.203 mm de precipitação média anual [ligeiramente abaixo do limiar de Malhi et al. (46)], 18 ° C mínimo e 24 ° C temperatura média anual máxima (limite inferior segue a classificação Koppen para florestas tropicais) e balanço hídrico climático (precipitação menos evapotranspiração potencial) > 0 ao longo do ano. O limite do norte mostra complexidade, com múltiplas áreas excluídas ao redor dos tepuis devido à alta elevação e / ou baixa precipitação média anual. São excluídas as grandes áreas destacadas em branco, notadamente no norte da Bolívia (Beni savana / llanos de Moxos) e na área fronteiriça da Venezuela, Guiana e Brasil (savanas guianenses) devido a maiores temperaturas médias anuais (> 24 ° C).
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Vulnerabilidades da Amazônia Pesquisa apresentada recentemente no ICMBio, em Brasília, mostra que, das 388 áreas protegidas distribuídas entre os países que abrigam o bioma, 112 enfrentam riscos por causa das ações do homem
Fotos: Ana Cintia GAZZELLI/WWF-Brasil, Divulgação, IBAMA, Rafael Araújo/ Instituto Peabiru, WWF
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aior ecossistema terrestre do planeta, a floresta amazônica é conhecida como “pulmão do mundo” por deter 56% da biomassa aérea, importante para o armazenamento de carbono, do globo. Além disso, 29% do volume de água doce em todo o planeta está na Bacia Amazônica. Entretanto, todo esse patrimônio está ameaçado e os seres humanos podem ser os maiores responsáveis. Um estudo realizado pelo WWF, apoiada pelo governo alemão, aponta as principais vulnerabilidades do bioma. Os resultados, que já foram apresentados em conferências ambientais em Paris (França), Havaí (EUA) e Cancún (México), foram mostrados recentemente, a técnicos do ICMBio, em Brasília. “Análise de Vulnerabilidade da Amazônia e suas áreas protegidas” é um estudo dentro da filosofia de Pan-Amazônia, capitaneada pela Rede Parques. “O principal intuito é pensar a Amazônia dentro de um contexto transnacional, pois é um bioma que agrega nove países sul-americanos”, disse o diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do ICMBio, Cláudio Maretti.
Combate à ação antrópica (do homem) que compromete o bioma amazônico
“Não adianta um ou outro país cumprir suas metas se o bioma todo está ameaçado, pois temos de pensar de uma forma integrada”, explica a analista de serviços ecossistêmicos e clima da WWF Colômbia, Johanna Uribe, que apresentou o estudo ao ICMBio.
Áreas protegidas na Amazônia do Programa Arpa
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“No caso das vulnerabilidades, estamos pensando num contexto de adaptação de mudanças, de forma a gerenciar os planos de manejo, a proteção e as demais ações de manutenção para a conservação”, afirmou Maretti. Expectativas otimistas apontam para um aumento entre 0,3ºC e 3ºC na temperatura da região. Estima-se que 12% do território amazônico vai experimentar mudanças climáticas severas. Esse aumento pode afetar o delicado equilíbrio ambiental da Amazônia, desregulando as precipitações, aumentando a ocorrência de secas e enchentes e influenciando nos processos ecológicos, como na ocorrência de determinadas espécies de fauna e flora em algumas regiões. As populações tradicionais também podem ser severamente impactadas. Nas últimas décadas, as secas estão mais drásticas e as enchentes maiores, afetando diretamente as cheias dos rios, essenciais para a economia das comunidades ribeirinhas, extrativistas, indígenas e quilombolas. “Isso empurra as comunidades de menor poder tecnológico agrário para o que chamamos de Amazônia firme, aumentando a pressão da agricultura em territórios não-desmatados e gerando conflitos com outras comunidades e até proprietários maiores”, disse Maretti.
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Para WWF é urgente a adoção de uma abordagem regional na Amazônia, integrando a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável nos países da região para manter as funções ecológicas do bioma Amazônia, essenciais para a região e para o mundo.
Áreas Protegidas As áreas protegidas têm um papel crucial no combate à ação antrópica (do homem) que compromete o bioma amazônico. Aproximadamente 27% possui algum nível de proteção, incluindo sítios Ramsar (zonas úmidas) e terras indígenas. Das 388 unidades de conservação em toda a Amazônia, 145 são de proteção integral. O Brasil é o campeão tanto no número de UCs como de área total protegida. Entretanto, 112 dessas unidades estão classificados como risco alto ou muito alto. Há também o desafio de terras indígenas, que segundo Uribe necessitam de estratégias complementares de proteção. Mas os principais desafios ainda estão no campo político. Uribe dá o exemplo recente da Colômbia, seu país de origem. “Agora temos um sistema forte de áreas protegidas, mas também temos muitos desafios, o processo de paz trouxe muitas mudanças de dinâmicas sociais e precisamos compreendê-las para combater riscos como desmatamento e mineração ilegal”, conta. Além da estabilidade política, outros aspectos influenciam a coordenação de ações integradas de proteção como dados georreferenciados e a disponibilidade de informações de dados socioeconômicos, políticos e culturais. “Neste aspecto, o Brasil é destaque dentre os países sul-americanos”, enfatiza Uribe.
Vivendo a Amazônia A Amazônia é única. É o maior sistema de floresta e rios do mundo e contém um décimo das espécies do mundo. Mais de 2.000 novas espécies de plantas e vertebrados foram descritas desde 1999. O carbono armazenado na vegetação e nos solos é de importância global na redução da mudança climática e o vapor de água liberado da floresta cria vastos “rios voadores” na atmosfera que influenciam a precipitação no centro e sul da América do Sul. A Amazônia é o lar de 34 milhões de pessoas, incluindo mais de 350 grupos indígenas, 60 deles vivendo em isolamento voluntário. O bioma abrange oito países e um território ultramarino na América do Sul: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
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Bioma A WWF foi pioneira em ações de conservação integrada, biomatica e transfronteiriça na região amazônica. Em toda a sua vastidão e complexidade, a Amazônia é essencialmente uma única unidade ecológica que não pode ser conservada por meio de atividades de nível nacional por causa da natureza multinacional e multi-escala das pressões. Devemos abordar as partes interdependentes do bioma como um todo para garantir a viabilidade de todo o sistema e os bens e serviços que presta às pessoas locais, aos países da região e ao mundo. Com base na visão do bioma em toda a Amazônia, o relatório do WWF Living Amazon 2016 descreve uma série de recomendações específicas de questões (por exemplo, áreas protegidas e clima, conectividade de água doce, fluxos financeiros sustentáveis, contenção do desmatamento) que combinam desenvolvimento e conservação, e incorporam esta integrada abordagem no planejamento nacional e regional. O WWF também desenvolveu uma série de ferramentas e abordagens para o planejamento sustentável e o desenvolvimento de intervenções de uso da terra e da água, com base em uma perspectiva bioma-largo. Essas ferramentas e abordagens são projetadas para oferecer uma oportunidade de fazer as coisas de forma diferente e garantir uma via mais sustentável para o desenvolvimento na Amazônia.
Bioma Amazônia Nas últimas décadas, as secas estão mais drásticas e as enchentes maiores, afetando diretamente as cheias dos rios, essenciais para a economia das comunidades ribeirinhas, extrativistas, indígenas e quilombolas
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Em busca de um futuro sustentável
Um futuro sustentável para a Amazônia: como fazê-lo?
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Florestas: proteger áreas prioritárias de florestas e sua biodiversidade, combater o desmatamento integrando conservação ambiental e uso sustentável, e adotar o princípio do Desmatamento e Degradação Líquidos Zero. Água doce: conservar o equilíbrio hídrico (precipitação, descarga, evaporação); assegurar a qualidade da água, principalmente por meio do enfrentamento da contaminação por mercúrio proveniente da mineração de ouro; manter o fluxo hidrológico nos rios prioritários da Amazônia e em suas cabeceiras; e proteger as áreas úmidas e sua biodiversidade. Clima: desenvolver a resiliência do bioma e acordar uma política energética regional que reduza as emissões de gases de efeito estufa, sem destruir a ecologia da Amazônia devido ao uso excessivo da energia hidrelétrica. Marinho: manter os sistemas costeiros únicos produzidos pelo Rio Amazonas, garantir a manutenção de níveis normais de aporte de sedimentos fluviais e da hidrologia na foz do rio. Pessoas: fortalecer a capacidade dos povos indígenas, comunidades tradicionais e comunidades locais, garantir o respeito ao direito original às suas terras e manter seus meios de vida sustentáveis. Economia: assegurar uma economia próspera para todas as populações que vivem na Amazônia, com base no uso sustentável dos recursos naturais e no bom cuidado das florestas e da água doce.
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Governança: incorporar a conservação ambiental no planejamento do uso da terra e nos processos de planejamento dos setores econômicos, dos governos locais, e das empresas do setor privado que atuam na Amazônia. Financiamentos: incorporar salvaguardas socioambientais e melhores práticas nas políticas de empréstimos e investimentos das instituições financeiras nacionais e internacionais que investem na Amazônia, a fim de assegurar que os fluxos financeiros à região contribuam para o seu desenvolvimento sustentável.
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A Amazônia é o lar da maior extensão de floresta tropical que permanece na Terra, com grande diversidade biológica - 5 dos 9 países com territórios na Amazônia são considerados mega-diversificados de acordo com as Nações Unidas 1. Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa são os 8 países e territórios que compartilham o Bioma Amazônia, cuja superfície cobre aproximadamente um total de 6.851.583,24 km2
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Estima-se que 12% do território amazônico vai experimentar mudanças climáticas severas
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Futurecom 2017 Fotos: Futurecom, Marcos Corrêa/PR
Cerimônia de abertura da Futurecom 2017
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evento mais importante de Telecomunicação e Tecnologia da Informação na América Latina celebra o encerramento de sua 19ª edição com público recorde de 15 mil visitantes. Foram 220 empresas expositoras e mais cinco auditórios, onde foram debatidas as questões que balizam a influência da tecnologia na vida das pessoas, com destaque para a Internet das Coisas (IoT). O evento reafirmou sua importância nas discussões das políticas públicas voltadas aos setores de tecnologia e das comunicações desde sua abertura, que contou com a presença do presidente da República, Michel Temer; dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles; da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), Gilberto Kassab e da Cultura, Sérgio de Sá Leitão; do secretário de Telecomunicações do MCTIC, André Borges; do secretário de Política de Informática (Sepin) do MCTIC, Maximiliano Martinhão; e do presidente da Anatel, Juarez Quadros. “A participação do primeiro presidente da República em exercício no Futurecom e de três ministros reforça a valorização do nosso setor. O evento demonstrou com clareza que o mundo de TICs está mudando e que as empresas que compreenderem essas transformações estarão abrindo novos horizontes, com extraordinárias oportunidades no mundo dos negócios, afirma Laudalio Veiga, fundador do Futurecom. No discurso o chairman do evento, Laudálio Veiga Filho, mostrou os números do evento e destacando as novas áreas dedicadas à Internet das Coisas, a reestruturação das salas de congresso, os tours guiados de 5G e IoT, além do seu primeiro Hackaton.
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“A estrutura do Futurecom está organizada de uma forma moderna, abrangente e com visão de futuro. O Futurecom é hoje um evento que engloba toda a cadeia de valor de tecnologia: os mercados de telecomunicações, Internet das Coisas, provedores de internet, OTTs e o ambiente corporativo”. Em seguida, as falas do Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente, Michel Temer, seguiram para ressaltar as reformas promovidas pelo governo.
O Futurecom foi palco para o lançamento do Plano Nacional de Internet das Coisas do governo federal. Os temas mais abordados pelos 320 palestrantes foram Internet das Coisas (IoT) e conexão 5G. Foram 31 paineis, 112 palestras e eventos paralelos como os da Abranet, Abrint, Ciena, Forum China Brasil de Telecomunicações, Startup Session, hackatons e Design Thinking. “Trouxemos este ano uma série de novidades, como os tours guiados, onde os visitantes tiveram a oportunidade de conferir as novas tecnologias – 5G e IoT – nos estandes dos expositores, além de interagir com especialistas sobre as possibilidades de novas aplicações”, destaca Luis Veiga, diretor do Futurecom. Outra inovação para a edição deste ano foi o IoT Applications, espaço de 200m2 dedicado a várias demonstrações. “O objetivo é incentivar a adoção de IoT em diversos segmentos, tais como: Indústria 4.0, Saúde, Educação, Cidades Inteligentes e Agronegócio. A revolução digital está cada vez mais pujante”, disse André Veiga, diretor do Futurecom. Além dos visitantes e congressistas, mais de 400 jornalistas tiveram a oportunidade de conhecer os vários benefícios aos usuários em aplicações que envolvem inteligência artificial e realidade aumentada na cobertura das mídias impressas e eletrônicas. “Futurecom reforça sua posição como o ponto de encontro e de negócios de todo o ecossistema das TICs na América Latina.
Mesa Oficial da abertura da 19ª Edição do Futurecom: Laudálio Veiga Filho, Gilberto Kassab, Michel Temer, Henrique Meirelles e Juarez Quadros
Laudálio Veiga Filho, chairman da Futurecom
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A 19ª edição da Futurecom, bateu recorde de público
Operadoras destacam que preparar o Brasil para a 5G demanda resolver os problemas de legislação relativos tanto à instalação de antenas, já que na 5G, todos os sites terão que ser conectados por fibras
Esperamos repetir o sucesso de 2017 no próximo ano, quando completaremos 20 edições do evento”, comemora Hermano Pinto, Diretor da Informa/Futurecom. Entre as empresas expositoras, o resultado do networking foi positivo. “O Futurecom é o momento de a nossa indústria mostrar sua relevância e o evento tem o papel de desafiar esse presente e mostrar o que o futuro nos reserva. Os expositores, juntos, são o motor da economia e dessa nova era digital, que já está transformando a sociedade” afirma André Eletério, diretor de marketing e comunicação da NEC. Segundo Jaqueline Lee, diretora de marketing da Qualcomm para a América Latina, o evento deste ano se destacou por seu caráter inovador, pela busca de novas oportunidades de negócios para as empresas participantes e pela introdução de temas que começam a ganhar relevância no mercado, como a Internet das Coisas, ou IoT. “A Qualcomm vem participando há vários anos, através de nossas novas tecnologias e visão de futuro para o segmento de tecnologia e telecom. Procuramos viabilizar a participação de executivos internacionais e talentos locais no congresso e buscamos colaborar com temas e tendências de interesse ao setor. O Futurecom é um evento de excelente nível, feito com muito profissionalismo e estamos bastante satisfeitos com o resultado obtido”, ressalta. Para André Magno, diretor de produtos de data center da Level 3 Brasil, o “Futurecom é uma ótima oportunidade para a Level 3 reforçar o posicionamento de empresa estratégica para os negócios de outras empresas e ampliar a visibilidade das soluções no setor de tecnologia, alinhando-se assim à estratégia global da companhia. A transformação digital não pode ocorrer sem uma sólida estrutura de redes para sustentá-la.
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É nesse momento que a Level 3 com sua experiência e magnitude contribui oferecendo um serviço de telecomunicações e transferência de dados robusto, confiável e eficaz para atender a todas as tendências e desafios no mercado de TI”.
“Futurecom 2017 foi uma oportunidade muito interessante para a ZTE, pois conseguimos estreitar o relacionamento com diversos clientes e encaminhar novos negócios. É um espaço excelente para demonstrarmos nossas soluções e inovações. Além de reforçar nossa liderança com o 5G, nós também conseguimos fechar um contrato com um dos nossos principais clientes. Durante o evento nós também celebramos os 15 anos de ZTE no Brasil, com uma comemoração especial, durante o Festival da Lua chinês”, diz Fabiano Chagas, gerente de produtos e marketing da ZTE. Geraldo Guazzelli, diretor no Brasil da Arbor Networks, ressalta que “estamos buscando preencher lacunas do mercado, em segmentos menores, porém não menos atraentes. O momento e o local se apresentaram muito interessantes para esta ação, principalmente olhando-se para a retomada iminente da economia”. Edição comemorativa de 20 anos já tem data marcada – 15 a 18 de outubro de 2018, em São Paulo.
A Qualcomm participando através de novas tecnologias e visão de futuro para o segmento de tecnologia e telecom
MCTIC e BNDES apresentaram estudo para implementação do Plano Nacional de Internet das Coisas
O Futurecom foi palco para o lançamento do Plano Nacional de Internet das Coisas do governo federal
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Congresso de Agroecologia 2017 Fotos: Adilvane-Spezia-Campo-Unitário, SFB, Gabriel Jabur/Agência Brasília, Mário Vilela/Funai, Paulo de Araújo/MMA, Paulo H. Carvalho/Ascom Sead
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niciou com uma mística repleta de emoção envolvendo os participantes, entorno de 4 mil pessoas vindas de todos os rincões do Brasil e também, delegações internacionais. Durante a mística de aberta os Movimento Sociais ocuparam o palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília e afirmam que a Agroecologia tem um lado, tem sujeito e ela é fundamental para a sobrevivência da vida na Terra. “A caminha até aqui foi longa, mas não foi de quilômetros, foi longa porque é uma caminhada de gerações. Nós não estamos aqui somente por nós, mas porquê acreditamos que as gerações que ainda virão, e virão, tem o direito de viver com qualidade, dignidade e soberania. A agroecologia tem a função revolucionária de cuidar do nosso planeta que está enfermo, doente, mas que ainda existe possibilidade e ainda existe a necessidade dele se curar e continuar a viver e produzir. Estamos aqui, porquê a Agroecologia tem sujeito, tem gente, porquê a Agroecologia tem lado, porquê a Agroecologia tem cheiro, a cor e o sabor da Terra, porquê a Agroecologia tem o cheiro, a cor e o suor do trabalhador e da trabalhadora.
Estamos aqui, porquê pela vida na Terra necessitamos de Agroecologia”, explica Bruno Pilon durante a mística de abertura do evento, enquanto dos Movimentos Sociais e organizações do Campo Unitário ocupavam o palco do evento. Mariane Carvalho Vidal, pesquisadora da Embrapa falou em nome da Comissão Organizadora do Congresso, “aquele setembro de 2017 chegou, aquela semana do Cerrado, ela chegou!”. Segundo ela “a Agroecologia, ela é poema. É poema porquê ela fala de amor, por que ela fala de entrega. Muitos falam que Agroecologia, aqueles da Agroecologia, são apaixonados e poucos científicos militam mais do que fazem e provam.
Abertura do X Congresso de Agroecologia
Durante a Abertura do Congresso Latinoamericano de Agroecologia
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Somos assim, apaixonados pelo que fazemos”.Clara Nicholls, da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia (SOCLA) destaca que o propósito comum deste X Congresso de Agroecologia: “fortalecer a Agroecologia e o Bem Viver na América Latina”. Ela aponta ainda que é urgente a necessidade de uma transformação do Sistema Agroalimentar dominante, para fortalecer o bem estar dos sistemas econômicos, sociais, tecnológicos e culturais da imensa maioria que promove a agricultura campesina, é preciso desmontar a Agricultura Industrial e o poder político das multinacionais que muitas vezes atuam em conivência com nossos governos”, denuncia Nicholls. Ela ainda destaca a resistência dos movimentos sociais camponeses e indígenas, o papel da mulher na Agroecologia, bem como, a Agricultora Campesina e Indígena na produção de alimentos agroecológicos e na conservação ambiental e cultural por um “bem viver”. “Não há dúvida que, como uma Ciência, a Agroecologia expande seus resultados com interessantes processos de inovação cognitiva, tecnológica e sociopolítica”, afirma Clara. A representante da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Irene Maria Cardoso, afirma que “no Brasil entendemos que a Agroecologia como Ciência, Movimento e Prática, e, são os movimentos sociais os motores para a transformação dos Sistemas Agroalimentares e esses sistemas serão transformados com nosso saberes, com a nossas memórias, e precisamos dessa transformação para que consigamos chegar ao bem viver, não só na América Latina mas em todos os cantos desse planeta”. Apesar do Congresso ser protagonizado pelas organizações que compõe o CBA 2017, Irene afirma que a partir desse momento, este evento é de todos os participantes e ele precisa ser desfrutado. revistaamazonia.com.br
Prêmio vai alavancar a agroecologia no Brasil
A presidente do 10º Congresso Brasileiro, pesquisadora Embrapa Mariane Vidal
Por sua vez, Nívia Regina, representante da Via Campesina e Campo Unitário, destaca o sentimento de resistência e luta pelos povos do campo, das floretas e das águas que tem sofrido violações dos direitos. “Esperamos, quanto movimentos do Campo Unitário que esse Congresso de Agroecologia possa simbolizar que a Agroecologia é algo de prática social, de ciência, de luta e resistência para uma outra sociedade, trazendo para cá o sentimento de todos os povos que estão na construção prática da Agroecologia no dia a dia”. Nívia reforça a importância do sujeito político da Agroecologia, do sujeito político que é a Agricultura Familiar Camponesa, um sujeito político que tem trazido o conhecimento como resultado da prática social cotidiana, é um processo na qual trazemos nessa atualidade que a questão ambiental, a questão ecológica ela traz condições da existência desse seres camponeses e comunidades tradicionais. “A questão ecológica na atualidade determina a continuidade ou a interrupção das condições da reprodução da social da existência da Classe Trabalhadora e de todo Campesinato, nós entendemos que a Agroecologia cumpre um papel estrutural, ela cumpre um papel estratégico na luta, pois contribui na permanência dos povo camponeses, indígenas e quilombolas no processo de reprodução social da vida humana, e por isso que nós do Campo Unitário compreendemos a importância da nossa unidade camponesa nesse momento histórico, porque nós compreendemos que a Agroecologia é em defesa da vida, da produção de alimentos saudáveis, mas também, é um processo de elevação de consciência de toda a sociedade, uma consciência política que faz uma contribuição nesse momento histórico da Aliança dos povos do campo e da cidade”. revistaamazonia.com.br
A primeira noite do evento – que abrangeu o VI Congresso Latino-Americano de Agroecologia, o X Congresso Brasileiro de Agroecologia e o V Seminário de Agroecologia do DF e Entorno – foi marcada pelo anúncio de um prêmio do BNDES, que vai proporcionar reconhecimento internacional aos sistemas agrícolas tradicionais brasileiros, além do lançamento de diversas publicações que se relacionam com o tema principal do evento.
Um dos destaques da noite, o Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais selou também um acordo de cooperação entre as instituições que participaram da sua elaboração: FAO, Embrapa e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O prêmio foi anunciado pelo chefe do Departamento de Orçamento da Instituição, Gabriel Visconti; o representante da FAO e ex-diretor da Embrapa, Gustavo Chianca, e pelo atual diretor-executivo de TT da Embrapa, Cléber Oliveira. Durante a solenidade, o diretor da Embrapa ressaltou que o Congresso de Agroecologia 2017 é o local perfeito para o lançamento do prêmio, que vai contribuir para que as práticas de agricultura tradicional do Brasil concorram, pela primeira vez, a um importante reconhecimento internacional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).Cleber ressaltou o apoio que a FAO tem dado a iniciativas sustentáveis no Brasil, culminando com esta que vai conceder o título de “Sistema Agrícola Tradicional Globalmente Importante” (Globally Important Agricultural Heritage System, GIAHS) a Sistemas Agrícolas Tradicionais (SATs) brasileiros.
No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, afirmam que a Agroecologia tem um lado, tem sujeito e ela é fundamental para a sobrevivência da vida na Terra Mulheres camponesas participando
Mulheres camponesas participando
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Livros refletem a diversidade do evento
Tenda da Sociobiodiversidade
Os 15 livros impressos e eletrônicos lançados durante a primeira noite do Congresso Brasileiro de Agroecologia refletem a diversidade do evento, com temas que vão do candomblé a direito ambiental. A Embrapa participou com três impressos e um eletrônico. Durante os quatro dias, de terça a sexta-feira, os participantes tiveram a oportunidade de aprofundar e conhecer sobre os princípios da agroecologia e sua aplicação prática em temas importantes para a sociedade como água, sociobiodiversidade, saúde e alimentação, entre outros, como adianta a presidente do Congresso e pesquisadora da Embrapa, Mariane Vidal. Além disso, esses eventos irão potencializar os processos participativos e de amplo diálogo entre sociedade civil, academia e poder público; fortalecer as redes e teias de agroecologia; dar visibilidade às experiências agroecológicas da América Latina; contribuir para a construção do conhecimento de base agroecológica e para os avanços teóricos, práticos e políticos. Dentro da programação do congresso foram realizados painéis, mesas-redondas, plenárias, oficinas, rodas de conversa, apresentação de trabalhos, feira de produtos, feira de troca de sementes, caminhos do saber, atividades culturais, visitas técnicas, mostra de filmes, lançamentos de livros, editais, revistas, entre outras.
Mesa Agroecologia, Saúde e Alimentação, composta por: Bela Gil, Bel Coelho, Neide Aparecida dos Santos Rigo, Clara Brandão e Mariane Vidal
A Organização já concedeu o título de GIAHS a 36 sistemas agrícolas históricos de 17 países, mas o Brasil ainda não havia sido contemplado. Além desse reconhecimento, os agricultores receberão prêmios em dinheiro e capacitação da Embrapa. O objetivo é estimular os agricultores do País a manterem seus sistemas de cultivo tradicionais, evitando a perda da diversidade genética. No mundo, os dados atuais são alarmantes e apontam que, nos últimos 100 anos, agricultores de todo o mundo perderam entre 90% e 95% de suas variedades e práticas agrícolas. 32
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Apresentação de Trabalhos O X Congresso de Agroecologia recebeu mais de 2500 trabalhos para serem apresentados, o que mostra que a Agroecologia é real, gera frutos, resultados, revela experiências. Recebeu mais de 160 filmes que retratam as histórias de superação e Agroecologia, não só do Brasil mas também do mundo todo, revelando o que a Agroecologia faz e transforma por esses países à fora. Também, são mais de 80 experiências de todos os Biomas brasileiros representados nas Bancas da Feira Agroecológica e da Solidariedade. “Visitem, apreciem, cheiram, comam, vivam, celebrem os resultados da Agroecologia”, sugere Mariane. No site do Congresso já é possível consultar os trabalhos científicos, relatos de experiências técnicas e populares que foram aprovados e suas metodologias de apresentação. No total, foram cerca de 500 apresentações orais (em sala, rodas de conversa ou em diálogos) e 1,7 mil por meio de pôsteres. Segundo o vice-coordenador do Congresso e coordenador do programa de Agroecologia da Emater-DF, Roberto Guimarães Carneiro, a maior parte dos trabalhos inscritos são do Brasil, mas também há participação de países como Argentina, México, Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha, Holanda, Ilhas Maurício, São Cristóvão e Neves e Benin. “Isso enriquece o conteúdo científico e as experiências a serem compartilhadas no Congresso”, diz. O Congresso trouxe outras inovações, como por exemplo, a relatoria colaborativa online. Com o objetivo é dar visibilidade e facilitar o amplo acesso ao conhecimento produzido ao longo do evento, de forma simples, participativa e ágil. Para isto, era possível a participação dos congressistas na confecção da memória das atividades, por meio dos comentários no blog e assim, de forma colaborativa, será possível registrar a riqueza dos diferentes olhares e aprendizados.
Oficinas, trocas de saberes A troca de saberes e informações aconteceu em rodas de conversa, palestras, painéis de trabalhos, oficinas, batucadas e conversas informais. O destaque do dia foi a cozinheira e apresentadora de televisão Bel Gil, estrela da alimentação natural e consciente, que participou de mesa redonda no maior auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. “Precisamos procurar as vitaminas e nutrientes na natureza e não em alimentos ultra processados e enriquecidos”, defendeu Bela Gil. A especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural revistaamazonia.com.br
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Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Suiá Kafure da Rocha, foi responsável pela produção, organização e programação das tendas Água; Educação e Sustentabilidade; Sociobiodiversidade; e Tecnologias Sociais, no espaço Caminhos do Saber. Além dessas quatro tendas, o MMA produziu as duas tendas do Ministério do Desenvolvimento Social - Alimentação Saudável e Saberes e Práticas de Saúde e Cura. “Montamos um espaço gratuito, totalmente aberto para a sociedade. O evento promoveu a integração de órgãos públicos do DF, de outros estados, organizações da sociedade civil e público entorno de temas comuns”, enfatizou Suiá Kafure. Segundo ela, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se relacionam diretamente com a agroecologia. “A prefeitura de Alto Paraíso, que esteve aqui esta manhã, está querendo ser a cidade modelo dos ODS”, declarou. Na tenda Água, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) apresentou para crianças e o público em geral o projeto Minimundo, com terrários que reproduzem a vida no planeta Terra. O sistema, dentro de potes fechados, com plantas, água e microrganismos, produz tudo o que precisa para viver.
A Feira de Troca de Sementes Crioulas tendo como objetivos: fortalecer a rede de conservação e troca de sementes crioulas e florestais, promover diálogos sobre agrobiodiversidade e práticas agroecológicas
Ali, o ciclo de água ocorre como no planeta, em grande escala. Por meio do experimento, pode-se perceber que é preciso equilíbrio para que as necessidades sejam supridas e o ciclo se renove. Outro experimento apresentado pela Caesb tratava do tema assoreamento, ilustrado com três galões de água cortados ao meio, o primeiro com terra apenas, o segundo com terra e material orgânico e o terceiro com vegetação.
“Esse experimento mostra como é importante proteger as matas ciliares. Quando chove, se não tem árvores, a água vai levando tudo e não penetra no solo”, explicou a engenheira química da área de educação ambiental da Caesb, Karina Bassan. Já na tenda Sociobiodiversidade, o MMA liderou rodas de conversa sobre agroextrativismo, gestão territorial e ambiental em territórios quilombolas e implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (PNGATI). “Falamos das políticas públicas do MMA e surgiram perguntas bem básicas como o que é agroextrativismo. Gostamos muito de responder. Muita gente não sabe que o MMA trabalha com esse tema”, explicou a analista ambiental Paula Sivelli.
Programação aberta ao público
Na Plenária de Encerramento do VI Congresso Latino-Americano, X Congresso Brasileiro e V Seminário do DF e Entorno Participação da CONTAG
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“Uma edição muito popular e que teve grande parte de sua programação aberta ao público em espaços como a Feira Agroecológica e da Sociobiodiversidade, apresentações culturais e os caminhos do Saber”. A estrutura da feira contou com 80 bancas que representarão os seis biomas terrestres brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Os expositores eram compostos por agricultores familiares oriundos da reforma agrária, povos indígenas e comunidades tradicionais. A programação cultural aconteceu na praça de alimentação durante os almoços agroecológicos e a partir das 18h. Bandas, grupos e manifestações culturais estiveram presentes. Outro espaço aberto a população eram os Caminhos do Saber. “Criamos espaços para que as pessoas que não estiveram inscritas no Congresso também pudessem participar da construção e troca de conhecimentos no tema da agroecologia”, com nove temáticas dentro dos Caminhos do Saber. revistaamazonia.com.br
Além de poder visitar a casa da reforma agrária que contará a história da reforma agrária no Brasil e a Escola da Natureza (Parque da Cidade) que debateu o tema Agricultura urbana e periurbana. O Congresso de Agroecologia 2017 foi promovido pela Sociedade Científica Latino-Americana de Agroecologia (SOCLA) e pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia). Em Brasília, a organização esteve a cargo de uma comissão formada por representantes da Embrapa, Universidade de Brasília, Emater-DF, GDF, IBRAM e ISPN. Contou com o apoio de vários ministérios, organizações e movimentos sociais. O evento foi patrocinado por BNDES, Itaipu Binacional e Fundação Banco do Brasil.
Os expositores eram compostos por agricultores familiares oriundos da reforma agrária, povos indígenas e comunidades tradicionais
Foram apresentados dezenas de filmes no Cine Agroecologia. Participaram da cobertura colaborativa 28 redes com profissionais de comunicação. 156 mil pessoas foram alcançadas com as publicações. Foram registradas 1500 visitas à feira nos dois primeiros dias de evento, onde foram montadas 80 bancas, sendo três internacionais. A feira de troca de semente crioulas contou com 77 guardiões e guardiãs. Foram apresentados mais de mais de 2.200 trabalhos. Nívia Regina, representante da Via Campesina e Campo Unitário, destaca o sentimento de resistência e luta pelos povos do campo, das floretas e das águas que tem sofrido violações dos direitos
Mariane Vidal, da Embrapa, apresentou os números finais do X CBA 2017
Encerramento Mariane Vidal, pesquisadora Embrapa, presidente do 10º CBA 2017, apresentou os números finais do Congresso de Agroecologia 2017, realizado em Brasilia, de 12 a 15 de setembro de 2017: Foram 4.200 pessoas inscritas de 22 países. 800 agricultores,1600 estudante, 450 camponeses do campo unitário, entre outros. O Distrito Federal foi a unidade da federação com mais representantes, seguido por Minas Gerais. Houve 150 vagas pela rede de hospedagem solidaria, 2 mil vagas em acampamento. Foram construídos oito sanitários e 20 chuveiros ecológicos nos acampamentos do Parque da Cidade. Todos serão doados para a continuidade de capacitação e formação. revistaamazonia.com.br
Roda de conversa sobre o Reaf 2017, sua importância e suas ações
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Na Amazônia, o vulcão mais antigo do mundo
Amazônia brasileira esconde vulcões inativos de até 2 bilhões de anos *
O vulcão Amazonas é o mais antigo do mundo, datado de 1,9 bilhão de anos atrás
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Fotos: Diego Felipe Gómez Gutiérrez e Caetano Juliani /Acervo pessoal
A
região amazônica abriga o vulcão mais antigo já descoberto, com cerca de 1,89 bilhão de anos. Ele é parte de uma província de rochas vulcânicas chamada de Uatumã, que se espalhava sobre Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima e até Venezuela e Suriname. A altura original do vulcão, próximo ao rio Tapajós, pode ter chegado a 400 metros. Além de ser considerado o
primeiro e único brasileiro, o vulcão Amazonas é o mais antigo do mundo. Datado de 1,9 bilhão de anos atrás, seu cone chegou a ter 400 metros de altura no auge das erupções e hoje possui uma cratera de aproximadamente 22 km de diâmetro. Localizada entre os rios Jamanxin e Tapajós, numa região que é conhecida como Uatumã, a área é formada por rochas vulcânicas que mostram a potência das antigas erupções.
A seta da direita indica um cocuruto de pórfiro, uma rocha ígnea intrusiva que corresponde à antiga câmara magmática do vulcão. A cratera. A seta da esquerda indica o que restou do flanco do antigo vulcão: depósitos de rochas vulcânicas, sobretudo ignimbritos
Mapa geológico esquemático que mostra a distribuição da LIP Uatumã, , entre os rios Jamanxin e Tapajós, no norte do Brasil
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A cidade mais próxima é Itaituba, Descoberto em 2002, já foi ativo num passado remoto e oferece risco quase zero de entrar em erupção. Imagine um cenário desértico, inóspito, sem vida e cheio de vulcões ativos. É exatamente dessa forma que os cientistas acreditam que Amazônia era há cerca de 1,9 bilhão de anos. “Na época (2002) em que encontramos o primeiro, nós achávamos que todos tinham por volta de 1,88 bilhão de anos. Hoje já estamos vendo vulcões de até 2 bilhões de anos”, diz o geólogo Caetano Juliani, professor do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo. revistaamazonia.com.br
Os pesquisadores foram surpreendidos pelo estado de conservação e a antiguidade da estrutura encontrada. Até agora, os cientistas ainda não sabem exatamente quantas estruturas existem na região localizada entre os rios Tapajós e Jamanxim, no Pará. Perto dali, na região do Xingu e também no Mato Grosso, foram encontradas outras estruturas mas de períodos distintos. “Na Amazônia, sabemos que as atividades vulcânicas eram muito explosivas. Você tem, caldeiras vulcânicas com 20 km de diâmetro, os materiais eram expelidos para a atmosfera com volumes absurdos”, diz Caetano Juliani, que estuda a região desde 1998. As pesquisas são realizadas em parcerias com grupos de pesquisa brasileiros, como da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), e universidades da Europa e dos Estados Unidos. Segundo o geólogo, os vulcões amazônicos, quando ativos, eram semelhantes ao que hoje são as estruturas do oeste dos Estados Unidos e da Sierra Madre Ocidental, no México. Também se sabe que o cenário da região era muito diferente da vegetação densa e da grande biodiversidade encontrada atualmente na Amazônia brasileira.
Caetano Juliani, geólogo, professor do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental do Instituto de Geociências da USP
Vulcões carbonatíticos
Dão origem a rochas com minerais como calcita e dolomita, no município de São Félix do Xingu, no Pará. A região está na parte sul do cráton amazônico, uma área tectonicamente estável nos últimos 800 milhões de anos que começou a se formar há cerca de 3 bilhões de anos. Esses vulcões, de um tipo raro no mundo, lançavam magma associado a grandes depósitos de fósforo, elemento utilizado na produção de fertilizantes para a agricultura.
Mais parecido com um deserto
Geólogo escala elevação formada por rocha vulcânica na Amazônia
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“A vegetação vem, na história da Terra, muito tempo depois, de uns 400 milhões para cá. Então, quando os vulcões da Amazônia estavam ativos, a atividade biológica era só bactérias, algas. Temos alguns indícios de que a região que se aproximava mais de um deserto do que de um terreno mais úmido e com rios. O clima era bem quente, tinha uma evaporação muito alta”, explica. Os cientistas investigam ainda a relação entre a intensa atividade vulcânica na região e a possível formação de metais preciosos. Já há indicações, segundo Juliani, de que existam depósitos de ouro, cobre e molibdênio -- não existem minas desse último componente, que é essencial para a indústria do aço, no Brasil. REVISTA AMAZÔNIA
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Outros vulcões em solo brasileiro Se hoje podemos agradecer porque vivemos em uma calmaria geológica, saiba que o Brasil já viveu tempos de vulcões e terremotos. Na Amazônia, as atividades se encerraram há mais de um bilhão de anos, mas, ao sul do país, há registros de atividades mais “recentes”. Entre o Mato Grosso do Sul e o Uruguai, as terras roxas de basalto são resquícios de um evento vulcânico que aconteceu há 130 milhões de anos. “Esse tipo de atividade não forma exatamente vulcões, mas é o que chamamos de vulcanismo fissural, semelhante ao que existe hoje na Islândia. Foi uma tentativa de quebra de uma placa, que começou onde hoje é a bacia do rio Paraná e extravasou um volume grande de magma”, diz o cientista. A Região Metropolitana de São Paulo também guarda indícios de atividade vulcânica. Segundo o professor da USP, há 1,4 bilhão de anos onde hoje existe a cidade de Guarulhos era um assoalho marinho com vulcões. Em Pirapora de Bom Jesus, também em SP, as estruturas existiram mais ou menos há 800 milhões de anos. Os vulcões mais “jovens” identificados em solo brasileiro ficam na região onde se situam as cidades de Poços de Caldas e Araxá , em Minas Gerais, local em que a estabilidade data 60 milhões de anos, quando as erupções cessaram. O professor explica que a Terra vive ciclos geológicos e que, se hoje não temos vulcões nem sentimos os reflexos de grandes terremotos, é porque no futuro a nossa região pode se tornar novamente ambiente de eventos desse tipo. “Hoje estamos em uma região bastante estável e demora umas centenas de milhões de anos para que algo volte a acontecer aqui no Brasil”, diz.
No Tapajós, do município de Itaituba à Serra do Cachimbo, no Pará, há muitas rochas vulcânicas e vulcanoclásticas
Vista do rio Xingu mostra rochas que são resultado do vulcanismo na região há cerca de 1,9 bilhão de anos
Corredeiras do Rio Jamanxim
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Turismo na Amazônia: fatos e perspectivas por Karen Canto - Ascom Inpa
Fotos: Karen Canto - Ascom Inpa
É
vital a necessidade de ampliar a formação em turismo, superando aquela visão estritamente tecnicista para a formação dos discentes, diz a professora da UEA, Cristiane Barroncas. Qual o turismo que temos na Amazônia e o por quê de tanto potencal ainda não ter engrenado? Esses questionamentos foram o foco da palestra da professora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Cristiane Barroncas, durante a 48ª Reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). Com o tema “Turismo na Amazônia: fatos e perspectivas”, Barroncas afirma que é preciso, antes de tudo, evitar a fragmentação do turismo enquanto área do conhecimento. “Entender que a vocação da Amazônia é o contato com a cultura local e as belezas naturais, seja por meio do ecoturismo, do turismo de base comunitária ou do turismo cultural é essencial para que possamos ter um sucesso turístico regional”, diz. Teatro Amazonas: A região amazônica tem tudo para se tornar uma potência no segmento turístico mundial
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Professora de turismo da UEA fala na 48ª Reunião do GEEA
Para o diretor do Inpa, Luiz Renato de França, a palestra da professora Cristiane é um tema atual, importante e complexo. “É um assunto importante para a Amazônia e que tem que ser trabalhado”, diz. “É uma área, não só multidisciplinar, mas transversal a outras áreas, mas um dos pontos centrais é ter pessoas cada vez mais especializadas para oferecer e receber serviço de qualidade”, destaca. Na opinião da professora, existe a necessidade de ampliar a formação em turismo, superando aquela visão estritamente tecnicista para a formação dos discentes. “Fazer com que os alunos enxerguem o turismo como fenômeno complexo e, não, exclusivamente, uma atividade econômica, mas, acima de tudo, um fenômeno social”, diz Barroncas.
“É preciso incentivar o diálogo entre os diferentes saberes, fazendo dessa parceria oportunidade de aprendizado e de um desenvolvimento ético identitário, solidário e justo”. Durante a reunião do Geea, a mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) vê uma excelente oportunidade de dialogar sobre turismo na Amazônia dentro do Inpa, pois significa, segundo ela, que o Instituto começa a se abrir para a possibilidade, também, do turismo. “E dentro desse turismo, o que pode ser trabalhado a partir das pesquisas das áreas de conhecimento que ele (Instituto) investiga”. Na opinião da professora esse diálogo no turismo tem uma relevância significativa. “Vejo com muito bons olhos a iniciativa e agradeço profundamente ao Geea por me permitir dialogar e trazer a minha visão do que penso sobre o turismo na Amazônia”, diz Barroncas. Sobre os fatores que impedem a região amazônica de se tornar uma potência no segmento turístico mundial, Barroncas acredita um dos motivos é a dependência de uma visão limitada de que o Amazonas só pode se desenvolver através do Polo Industrial de Manaus (PIM). A professora acredita que a maioria das pessoas não consegue ver as possibilidades que a região possui. “O turismo como área farmacêutica, artesanato, turismo de base comunitária, ecoturismo, enfim, são tantas possibilidades que temos”, diz ao explicar que por estarem limitada ao Polo Industrial de Manaus, muitos acreditam que não iremos sobreviver a uma crise se não tiver o PIM.
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XI Congresso Brasileiro de Agroinformática Ciência de Dados na Era da Agricultura Digital
O
XI Congresso Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro 2017), principal evento científico da área de Informática aplicada à Agricultura no Brasil, realizado no Centro de Convenções e Casa do Lago da Unicamp, Campinas, SP, foi promovido pela Associação Brasileira de Agroinformática (SBIAgro) com o apoio da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), e como parceiros de organização a Embrapa Informática Agropecuária e a Unicamp, representada pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e Instituto de Computação (IC). O congresso promoveu o compartilhamento de resultados de pesquisas, troca de ideias sobre trabalhos em andamento e a inovação em AgroInformática. A abertura do SBIAgro 2017 contou com a presença de autoridades, como o pró-reitor de pesquisa da Unicamp, Munir Salomão Skaf, o assessor de gabinete da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Carlos Henrique de Barros, o secretário de desenvolvimento econômico, social e de turismo de Campinas, André von Zuben, o coordenador da Agência Paulista de Tecnologias dos Agronegócios (Apta), Orlando Melo de Castro, e o diretor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), Zigomar Menezes de Souza.
Fotos: Lilian Alves
O presidente da Embrapa, Maurício Lopes,no SBIAgro 2017: configura-se um novo paradigma de desenvolvimento que passa de uma economia linear para uma circular
Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, na abertura do SBIAgro 2017
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Também estiveram na mesa de abertura o presidente da Embrapa e os pesquisadores da Embrapa Informática Agropecuária Silvia Masshurá, chefe-geral, Carlos Meira, presidente da Associação Brasileira de Agroinformática (SBIAgro) e chefe de Transferência de Tecnologia, e Luciana Alvim Santos Romani, presidente da comissão organizadora do congresso. O evento contou com mesas redondas, painéis, palestras, apresentação de trabalhos científicos e concurso. Tudo com a intenção de integrar diferentes perfis, resultantes da interdisciplinaridade inerente à AgroInformática, para promover um ambiente propício para o surgimento de projetos, parcerias, negócios, inovação, entre outros.
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O SBIAgro 2017 reuniu especialistas para discutir IoT e inovação tecnológica, agricultura digital, e relações entre universidade e indústria
Interpretar os dados e transformá-los em soluções que ajudem a produção agrícola é uma das dificuldades As novas tecnologias de informação e a internet das coisas (IoT), caracterizada pela comunicação entre máquinas, têm grande potencial de melhorar os processos produtivos e trazem oportunidades, tanto sob o aspecto da pesquisa agropecuária como das aplicações no campo. Mas os desafios para o desenvolvimento e a implantação também são enormes, de acordo com especialistas que participaram do SBIAgro 2017. Tornar a agricultura cada vez mais digital é um objetivo que depende de diversos fatores que vão da criação de soluções, conectividade até a capacitação da mão de obra. As aplicações para a tomada mais assertiva de decisão pelo produtor rural envolvem coletas de milhares de dados por sensores e robôs ou máquinas automatizadas, alto processamento de informações e de imagens, e análises.
O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Thiago Teixeira Santos explica que com a redução dos custos da microeletrônica e das telecomunicações, uma série de alternativas de IoT se tornaram viáveis e deve surgir uma nova onda de desenvolvimento no agronegócio. Há uma variedade enorme de soluções computacionais e mecanizadas, como aplicação de defensivos e irrigação de forma mais racional, plantio e colheita conforme condições meteorológicas locais, sem falar nos sistemas de gerenciamento das propriedades. Entretanto, interpretar essa quantidade imensa de dados para extrair informações relevantes e integrar tudo isso em soluções que garantam o aumento da qualidade da produção agrícola é um dos principais desafios para as instituições e profissionais que atuam no setor. Pesquisas com comunicação a longa distância usando dispositivos móveis e a IoT oferecem muitas potencialidades para o agronegócio, com economia de recursos naturais e impacto no aumento da produtividade, conforme a professora do Instituto de Computação da Unicamp Juliana Borin.
Entre os conferencistas estrangeiros na SBIAgro estava Fedro Zazueta, professor da Universidade da Flórida, EUA, que ministrou uma mesa no congresso sobre os desafios contemporâneos da agroinformática
A professora do Instituto de Computação da Unicamp Juliana Borin, a consultora de software na ThoughtWorks Brasil Desiree Santos, o pesquisador da Universidade do Porto Alípio Jorge, o pesquisador da Embrapa Instrumentação Ricardo Inamasu, o pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) Fabrício Lira Figueiredo e o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Thiago Teixeira Santos no Painel IoT
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“A tecnologia é bastante intensiva no Brasil no agronegócio”, afirma Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação. Ele conta que o setor é muito receptivo às inovações, pois incorporou a agricultura de precisão com facilidade, e que existe grande potencial para a informatização. Apesar de reconhecer as oportunidades da quarta revolução baseada em IoT e big data, com uso de satélites, sensoriamento remoto e grandes bases de dados, Inamasu diz que ainda é preciso uma estratégia mais eficiente para coletar os dados no campo. Os drones estão vindo com muita força, mas é uma tecnologia que está amadurecendo, na visão do pesquisador. “Todas essas informações precisam estar integradas e aumentar a eficiência da produção”, defende.
Difusão da internet das coisas Os aspectos tecnológicos, socioeconômicos e regulatórios que representam uma barreira à introdução da IoT na agricultura foram analisados por integrantes do consórcio responsável pelo Plano Nacional de Internet das Coisas, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) Fabrício Lira Figueiredo afirma que a infraestrutura de conectividade é o maior entrave para a difusão da IoT na agropecuária. “É um desafio não só para o Brasil, mas para o mundo todo essa questão de conexão no campo”, disse Figueiredo durante o SBIAgro 2017. “Uma vez vencida a barreira da conectividade, vem a questão da sustentabilidade, algo extremamente crítico porque precisamos alimentar nove bilhões de pessoas até 2020. É preciso conhecer os limites e crescer de forma responsável”, enfatizou. Ele ainda destacou o crescimento significativo nos últimos dois anos das agtechs, startups ligadas ao agronegócio, principalmente nas regiões de Campinas e Piracicaba, que têm buscado formas mais simples de coletar dados no campo e processá-los. A consultora de software na ThoughtWorks Brasil Desiree Santos lembra que hoje o novo perfil dos produtores, mais abertos às mudanças tecnológicas, facilita a adoção das novidades. Para o pesquisador da Universidade de Porto Alípio Jorge, a inteligência artificial e o aprendizado de máquina – machine learning – já apresentam resultados impressionantes para resolver problemas enfrentados pelo agronegócio. Contudo, é importante avaliar os riscos relacionados à sustentabilidade do meio ambiente e os impactos da robotização no mercado de trabalho, pondera.
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A professora Cláudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Unicamp, o pesquisador Édson Bolfe, da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, o diretor da Falker, Marcio Albuquerque, a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, o analista de planejamento agrícola Adriano Lobato, da SLC Agrícola e o professor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp Jurandir Zullo Júnior no painel “O futuro da agricultura digital”
Futuro da agricultura O futuro será cada vez mais intensivo em dados; por isso, é fundamental extrair conhecimento deles para ajudar a sociedade, de acordo com a professora Cláudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Unicamp. Cláudia acredita que há muito potencial em pesquisa voltada à agricultura do ponto de vista social que ainda não é bem explorado. Também ressalta que o setor de saúde vem usando várias tecnologias digitais que podem ser adaptadas para o agrícola. A agricultura já passou por diversas revoluções, mas o diferencial é que essa transformação digital é capaz de convergir várias áreas, como a instrumentação, ferramentas de edição genômica, técnicas de melhoramento genético e bioinformática, por exemplo. O pesquisador Édson Bolfe, da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, aponta que a Empresa está trabalhando com o conceito de alimento e não apenas do ponto de vista da comida. Todas as questões relacionadas ao clima, ao solo e à planta devem estar integradas para se superar os desafios de uma demanda crescente por alimentos sem expansão de terras e num contexto de restrição de recursos naturais.
Como inserir tudo isso no processo produtivo? Para a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, é preciso refletir sobre essa questão e ajudar a encontrar caminhos para tornar a agricultura cada vez mais conectada, com a automação de processos e tecnologia de ponta no campo e em toda a cadeia produtiva, incluindo desde a fase de produção e o processamento até a logística de distribuição. No SBIAgro 2017, Silvia explicou que a Embrapa Informática Agropecuária desenvolve uma série de pesquisas em bioinformática, mudanças climáticas, automação e interoperabilidade de dados.
Participantes no Congresso Brasileiro de Agroinformática 2017 O futuro será cada vez mais intensivo em dados. Precisamos integrar tudo. A integração passa pelo desenvolvimento de pesquisas e equipamentos, oferta de infraestrutura e até mudanças culturais, falou Adriano Lobato, da SLC Agrícola, um dos painelistas do SBIAgro
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“A Embrapa tem um papel importante nesse contexto para fomentar essa agricultura digital. É preciso estabelecer parcerias, investir nas startups e pensar em novos modelos de negócios para fortalecer esse ecossistema de uma agricultura mais conectada e baseada em conhecimento digital”, pontua. “O produtor precisa ver o valor real para adotar a tecnologia”, falou o diretor da Falker, Marcio Albuquerque, durante o congresso. Ele ponderou que a revolução digital ocorre de forma acelerada em vários setores, mas que a agricultura não segue a mesma velocidade. Apenas 15% da agricultura brasileira está adotando a agricultura de precisão, embora essa tecnologia esteja disponível há mais de uma década”, ponderou. Além de investir em capacitação, há questões econômicas intrínsecas à atividade agrícola que precisam ser consideradas, como a falta de competição entre os produtores, diferente do que ocorre em outros mercados, na opinião do diretor. Mostrar para o produtor como essas ferramentas contribuem para a melhoria da gestão da propriedade é fundamental.
Também é importante desenvolver tecnologia nacional para que o País seja competitivo, segundo Albuquerque. O analista de planejamento agrícola Adriano Lobato, da SLC Agrícola, um dos painelistas do SBIAgro, confirmou que a adoção de tecnologia no campo pela empresa sempre leva em conta qual é o valor agregado. Por isso, usam sistemas de gestão e estão implantando um modelo piloto para coleta de dados climáticos na propriedade, desenvolvido por uma consultoria em parceria com uma universidade, a partir da demanda de produtores locais. Lobato reconhece que a informatização dos processos no campo é necessária, mas aponta que falta um sistema integrado. “São muitas máquinas, softwares, que não se conversam. Precisamos integrar tudo”, afirma. A integração passa pelo desenvolvimento de pesquisas e equipamentos, oferta de infraestrutura e até mudanças culturais. revistaamazonia.com.br
O diretor de Digital Farming da Bayer, André Salvador, o gerente de P&D da Samsung, Antonio Marcon, a diretora da Agrosmart, Mariana Vasconcelos, o desenvolvedor da Totvs, Guilherme Farto, o diretor da IBM Research Brasil, Ulisses Mello e a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Alaine Guimarães no painel “Indústria x Academia”
Especialistas defendem mais interação da indústria com o setor acadêmico Uma aproximação maior entre a indústria e o setor acadêmico é fundamental para que a produção de conhecimento possa gerar resultados mais efetivos que realmente beneficiem a sociedade. Essa é a opinião de vários especialistas que participaram do painel “Indústria e Academia”.Os palestrantes ainda discutiram os mecanismos de proteção da propriedade intelectual, destacando a importância de se aperfeiçoar os instrumentos para concessão de patentes, pois a morosidade do processo prejudica a competitividade do País.
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Mariana Vasconcelos defendeu políticas públicas que incentivem a inovação aberta e a colaboração.
O corte de recursos feito pelo governo para pesquisa em ciência e tecnologia foi um fator crítico citado pela professora Alaine Guimarães, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “Um país que não tem ciência e tecnologia é um país que nunca vai conseguir ter um destaque maior”, afirmou, lamentando que hoje praticamente não existe fundo de investimento público para pesquisa no Brasil. “É preciso o investimento da iniciativa privada nas universidades para o desenvolvimento de pesquisa aplicada e de pesquisa básica porque existe um custo para isso”, enfatizou. [*] Embrapa
Bolsista do Programa de Iniciação Científica - PIBIC, Davie Zampier apresentou o artigo com o tema ‘Influência da resolução espacial em imagens obtidas por RPA na estimativa de doenças na soja’, premiado com o primeiro lugar na modalidade artigo completo de iniciação científica
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A
edição de 2017 teve como convidado de honra o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso. Durante a palestra, FHC falou sobre as novas exigências da sociedade. O ex-presidente afirmou que eventos como o Congresso da ABES/ Fenasan 2017 são valiosos para retratar a consciência de um momento no qual a sociedade exige uma nova forma de governo. “Motivação para novos caminhos, sem medo de apontarmos o que queremos, pode nos levar a olhar um futuro com mais otimismo, porque há pontes, como a valorização da capacidade, da ética, do mérito e das tecnologias”, concluiu. O governador de São Paulo, Geraldo Alckimin, também discursou durante a cerimônia de abertura e destacou a importância que teve o saneamento para o aumento da expectativa de vida da população “principalmente em regiões em que temos profissionais que se dedicam ao desenvolvimento dessa base vital, como em São Paulo”. O presidente da ABES, Roberval Tavares de Souza, destacou a situação do Estado do Paraná em seu discurso. “Embora ainda tenha espaço para avançar, alguns estados brasileiros, entre eles o Paraná, têm índices acima da média nacional”, disse. A Companhia paranaense atende com água tratada 100% da população urbana dos municípios onde opera. A Sanepar trata todo o esgoto que coleta, o que representa 70% do esgoto gerado nas 345 cidades em que está presente. A média nacional de tratamento de esgoto é de 42%.
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Fotos: ABES Fenasan
O início oficial do Congresso ABES Fenasan 2017
O ex-presidente afirmou que eventos como o Congresso da ABES/ Fenasan 2017 são valiosos para retratar a consciência de um momento
Na cerimônia de abertura do Congresso ABES Fenasan 2017
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A cerimônia de abertura contou com a participação do maestro João Carlos Martins e da Camerata Bachiana
No painel de abertura, a questão inicial foi feita pelo presidente da ABES, Roberval Tavares de Souza
Painel de Abertura: “Saneamento Ambiental: Desenvolvimento e Qualidade de Vida na Retomada do Crescimento” Com auditório completamente lotado de participantes de todos os estados brasileiros, o painel “Saneamento Ambiental: Desenvolvimento e Qualidade de Vida na Retomada do Crescimento”, tema do evento em 2017, trouxe para discussão questões bem pertinentes, respondidas pelo senador da República, Roberto de Oliveira Muniz, pelo deputado federal, João Paulo Papa; pelo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga, e pelo presidente da Sabesp, Jerson Kelman. Os coordenadores foram os presidentes da ABES, Roberval Tavares de Souza, e da AESabesp, Olavo Alberto Prates Sachs. A questão inicial foi feita pelo presidente da ABES, Roberval Tavares de Souza: “o que é preciso ser feito para se atingir a universalização do saneamento, face aos baixos índices de cobertura do saneamento na maior parte do País”, que começou a ser respondida pelo senador Muniz, com ênfase nas necessidades de recursos para o setor “que vem caindo ano a ano. Ainda temos que acabar com o ambiente hostil com o setor privado e ampliar as parcerias”, argumentou. Na contrapartida, o deputado Papa explanou que o Brasil é um país muito complexo, no qual a metade da população é excluída do sistema de saneamento. Dessa forma, muito além de aportes financeiros, é preciso de vontade política, com ações responsáveis e realistas, para se reconhecer o setor numa condição especial de infraestrutura.
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Para ele, a intervenção do setor privado não é grande solução, que seria uma governança com mais lógica, citando a titularidade de regiões específicas, que prejudicam a consolidação de ações coletivas. “O saneamento precisa ocupar o local de política pública, para a civilização do País e não pode oferecer recursos ostensivos a uns e precários a outros”.
Concordando com Papa, o secretário Benedito Braga afirmou que “quando houver reconhecimento da classe política que o setor é importante, será muito mais fácil captar investimentos privados e subsídios públicos. Jerson Kelman, presidente da Sabesp, abordou que é preciso refletir de onde vem esses recursos, principalmente em relação ao cidadão contribuinte que paga uma tarifa e nem sempre conta com um atendimento adequado. “O contribuinte precisa ter certeza e confiança do ressarcimento do que está pagando. E a maneira de se responder isso é mostrar resultados. O recurso do setor privado também passa por esse crivo”, destacou. “Temos um país em que o saneamento é administrado por diferentes instâncias e desdobramentos. Temos alguns prefeitos que até podem passar saneamento para uma empresa sem comprometimento, em que o tratamento de água e esgoto, por exemplo, é só mais um custo. É preciso haver um pacto que atenda o desafio da regulação, uma tarifa real, uma hierarquia do que é necessário e um planejamento do percurso a ser desenvolvido. Dentro desse cenário, é possível a universalização com plano prazo”, concluiu.
No “Painel das Entidades”, que reuniu líderes da Abes, AESabesp, Assemae, Aesbe, Abcon, ABRH e Sinaenco
No Painel com o ministro das Cidades, Bruno Araújo, e lideranças do setor: ABES apresenta a Carta dos Sanitaristas Brasileiros
Troféu AESabesp Encontro Técnico(destinado à Unidade da Sabesp com o maior número de trabalhos inscritos). Vencedora: Unidade Metropolitana de Produção de Água (MA), representada pelo seu superintendente, Marco Antônio Lopes Barros
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Crise econômica A segunda abordagem do Painel foi colocada pelo presidente da AESabesp, Olavo Sachs, dirigida para a crise econômica no País e seus impactos no saneamento. Em resposta, o senador Roberto Muniz disse que o setor precisa de um debate mais claro do serviço que presta, seja do setor público ou do privado, pois de fato a união está sem dinheiro e 87% dos municípios brasileiros estão em endividamento. E assim como o saneamento, todos os setores querem subsídios mas não tem como suprir. Dessa forma, é necessária ampliar sim a participação de outros agentes pra desafogar o setor público. Tem que envolver as empresas privadas, por que elas não querem deixar de produzir por falta de segurança hídrica. Os empresários sabem que não há vida sem água”. O deputado Papa concordou com a necessidade de ampliação de recursos com a participação do setor privado. Porém, enfatizou que o saneamento tem que ser valorizado como setor público, para ser gerido na própria sociedade . “Construir o valor social do setor, até para se chegar a uma tarifa responsável”, Voltou a dizer que 2018 é o momento. Ainda abordou a necessidade do subsídio cruzado, exemplificando que graças à arrecadação de São Paulo muitos municípios conseguem viabilizar condições básica de saneamento que jamais conseguiriam com recursos próprios. “Construir uma agenda de compromisso é fundamental nesse momento de definição, com a expectativa de lideranças nas eleições de 2018 E a Abes e a AESabesp são entidades concentradoras dessas propostas”, afirmou.
A Fenasan 2017 novamente deixou os seus mais de 200 expositores bastante satisfeitos
Benedito Braga ainda trouxe para o debate, a crise fiscal, o desemprego e o quanto o saneamento colabora para o de trabalho, por empregar muita gente. Nesse contexto, Kelman apontou a falta de renda do cidadão como o principal agravante da crise. Sobre o subsídio cruzado admitiu que é essencial para algumas cidades, mas deve ser desestimulado para a administração de agências reguladoras municipais. “Existe uma sensação de insegurança para os investidores, sejam eles públicos ou privados, quando os sistemas de gestão de recursos são interdependentes. É preciso uma gestão hídrica coerente para todos. Outro entrave é a interpretação da questão ambiental, que a rigor deve ser instituída para defender a sociedade de interesses que agridem o meio ambiente, mas tem se adaptado mau ao saneamento, fazendo impedimentos equivocados em soluções nas quais o beneficiaria a sociedade e não poderia serem tratadas como empresas poluidoras.
Uma das inovações do Congresso ABES FENASAN 2017 foi a modelagem de apresentação dos trabalhos Posteres, expostos no espaço mezzanino do evento
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Sucesso absoluto Os expositores da Fenasan 2017 foram unânimes em reconhecer que neste ano houve mais público que nas edições anteriores, inclusive com a maior participação dos Congressistas, devido à posição dos auditórios de palestras magnas e paineis estarem no mesmo piso que a Feira. Portanto, a inovação na modelagem foi bem aprovada. Dentre os estandes que se destacaram, esteve o da empresa anfitriã, Sabesp, com a apresentação de maquetes de inovações tecnológicas, mostras virtuais e atividades de ponta no setor. Outras concessionárias também marcaram presenças em São Paulo e registraram suas impressões sobre o evento: “A junção da ABES com a Fenasan traz mais conhecimento e agrega um público maior. A Sanepar busca, com as inovações e informações desta feira avançar na área de resíduos sólidos, tratamento e coleta de esgoto e em tecnologia” (Ney Martins da Silva – assistente diretoria da Sanepar/PR). A Fenasan está servindo para acompanhar o desenvolvimento das tecnologias, ver novas soluções apresentadas e oxigenar o conhecimento, além de fazer contato com empresas e a partir das demadas solicitar a fabricação de produtos. É uma oportunidade de desenvolver soluções e um importante encontro entre pessoas do setor! Um encontro de gigantes num espaço físico e formato simultâneo muito conveniente e oportuna (Sinara Inácio Meireles Chenna- presidente da Copasa/MG). Temos um histórico de participação no evento que é de grande representatividade para a empresa e funcionários. Vieram 80 pessoas para representar o RS no ano passado e nesse ano esperamos mais visitação com um maior estante. Estamos nos saindo bem no campeonato de operadores e vencemos a prova de montagem de ramal de água.
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A interação maior do congresso com a feira atrai público deixando mais Interessante as palestras simultâneas, com a participação efetiva em todas as partes do evento. Dar visão à tecnologia é o que agrega mais, para que todos juntos possamos melhorar o saneamento e os serviços (equipe de assessoria de comunicação da Corsan/RS).
Resultado e Encerramento
Campeonato de Operadores Prova de Montagem de Padrão e Ramal de Ligação de Água – 1º – Cleber do Prado Diniz (RG/Sabesp); 2º – João Neves Silveira Filho (RG/Sabesp); 3º – Carlos Benedito da Silva (RV/Sabesp) Prova de Automação, Leitura e Entrega de Fatura – 1º – José Roberto Ferreira do Carmo (RT); 2º – Osvair Garcia Vais (RB); 3º – Benedito de Carmargo Junior (RM)
A solenidade foi aberta por Alceu Guérios Bittencourt, presidente do Congresso, que anunciou ao público as recomendações e moções da Câmara Técnica, obtendo a aprovação de todos os presentes. Na sequência, o presidente da AESabesp, Olavo Prates Sachs, saudou a todos, afirmando que esse evento ficará na história do saneamento. “O resultado animador é fruto da parceria ABES/AESabesp, que quebrando paradigmas, respeitando suas diferenças, conseguiram reunir em um único evento o melhor das duas Associações”, concluiu. Olavo anunciou ainda que a próxima Fenasan (prevista para 19,20 e 21 de setembro, no Expo Center Norte), contará com a parceria da IFAT - a maior Feira de soluções ambientais do mundo, administrada pela Messe München, em Munique, na Alemanha. “Fazer boas parcerias sempre é providencial, principalmente após esta experiência de 2017, em que a ABES e a AESabesp somaram experiência e esperança para que a universalização do saneamento básico seja alcançada o mais rápido possível”. O Congresso ABES Fenasan 2017, atingiu índices que superaram todas as edições anteriores, tanto das realizações da ABES, quanto da AESabesp, entidades promotoras do evento:
No estande da Sabesp, foi apresentado uma exposição histórica da Companhia, onde os visitantes eram convidados a colocarem óculos de dimensão ampliada, para ver detalhes minuciosos das grande ações da Companhia
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1.160 inscrições de trabalhos técnicos; 49 painéis; 4.000 congressistas; 25.000 visitantes na Fenasan; Recepção de visitantes e expositores de 25 países; Recepção de visitantes e expositores de todos os Estados brasileiros; Credenciamento de 180 profissionais da imprensa das principais mídias do País. Posteriormente, o presidente da ABES, Roberval Tavares de Souza, destacou os índices alcançados e o propósito político do evento, para o protagonismo do saneamento no cenário nacional. Entre as ações consistentes do Congresso, enfatizou a elaboração da Carta dos Sanitaristas, o lançamento de um Ranking Completo do Saneamento, além da presença e envolvimento de lideranças políticas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin; do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg; de ministros, senadores, secretários, gestores da Sabesp e de demais empresas do setor. Concluindo seu pronunciamento, afirmou que o “sanitarista gosta de duas coisas: paixão e emoção e é isso que foi mostrado”. Encerrado os pronunciamentos, foram feitas as premiações do evento: Prêmio Jovem Profissional AESabesp. Vencedores: Luisa Cardoso Maia (1º lugar), Lucas Covre Chiari (2º lugar) e Renato Augusto Costa dos Santos (3º lugar). Prêmio Espaço Startup. Vencedores: André Barreto (1º lugar), Mateus Oliveira (2º lugar) e Rodolfo de Almeida (3º lugar) Prêmio Aesabesp Fenasan/ Melhor Estande. Expositores vencedores: ESA/ Joplas/ Paques Brasil Prêmio Aesabesp Fenasan/ Inovação Tecnológica. Expositores vencedores: Aquamec / B&F Dias/ Iwaki do Brasil. Prêmio Aesabesp Fenasan/ Atendimento ao Cliente. Expositores vencedores: Conault/ Emec / FGS Brasil Prêmio AESabesp Destaque Fenasan. Expositor vencedor: Hygra do Brasil Também foram feitas as premiações da ABES às equipes do Campeonato de Operadores, Melhor Trabalho Técnico Rural, Melhor Trabalho Técnico Poster e Olimpíadas Jovem Profissional.
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Protegendo e restaurando o estoque global do carbono da floresta por Steffen Dehn
Fotos: FAO, IFSA, WRI
A
delegação da IFSA participou de um evento paralelo que tratava da proteção e restauração do estoque mundial de carbono florestal. O primeiro painelista abordou o tema no contexto europeu. O painelista partiu com o fato de que, atualmente, na UE não há zero perda líquida de cobertura florestal. Ele ressaltou a importância de alcançar emissões negativas na Europa e como a floresta vai desempenhar um papel significativo na realização deste objetivo. A Alemanha aumentou seu estoque de carbono em 10% no período de 2002 a 2012. Embora haja uma grande quantidade de dados disponíveis que permite à Alemanha criar boas projeções que permitem um melhor planejamento, ainda é difícil às vezes como informações cruciais, como informações sobre o solo, piscinas de madeira morta e outros não são coletados. Com essas projeções, fica mais fácil entender as trad offs de diferentes cenários, como como um foco sobre sequestro de carbono afetará a biodiversidade. Ele ressaltou que, embora a UE não tenha realmente um plano de como conseguir isso, a UE ainda tenta dizer a outros países como devem gerenciar suas florestas e aumentar o estoque de carbono. Foi mencionado que as populações locais são muitas vezes vistas como uma ameaça para a floresta, mas muitas vezes não é levado em conta que eles também poderiam ser
O Brasil se comprometeu na restauração e o reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030
motor de sustentabilidade e manejo florestal sustentável. Para cumprir o objetivo de 2°C do Acordo de Paris, o desmatamento tem de ser interrompido e o estoque de carbono tem de ser aumentado. Um dos palestrantes elaborou os principais pontos e objetivos de boas práticas de restauração que foram os seguintes: * Aumentar o teor de carbono * Promove a biodiversidade * Respeita os direitos das populações locais * Promove a segurança alimentar
Para restauração sustentável das florestas e da paisagem e neutralidade da degradação dos solos
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Lars Laestadius, da universidade sueca da ciência agrícola tinha duas perguntas sobre a sua apresentação que eram simples: Restaurar a floresta onde e como? Para responder à questão do lugar, ele apresentou um mapa que mostrava que a floresta potencial se estendia se somente o clima e os solos decidissem em contraste com a extensão real da floresta. Ele destacou a necessidade e oportunidade de restaurar a floresta, bem como restrições devido à população e terras de cultivo. Segundo ele, há oportunidades de restauração em todo o mundo, especialmente na África. O estudo que ele apresentou vê a maior oportunidade (74%) na restauração de mosaico que significa que a paisagem florestal será uma mistura composta de pessoas, terras agrícolas e outros usos da terra e não apenas florestas. Para responder à questão de como ele levantou a questão que no passado, havia projetos de plantação e restauração em grande escala que não iam tão bem. Ele elaborou vários pontos para mostrar como o projeto futuro poderia levar em conta erros do passado para construir futuros melhores. revistaamazonia.com.br
Seus pontos eram os seguintes: • Foco na paisagem pensar e planejar em termos de grande escala e longo tempo e ter um conjunto diversificado dentro do mosaico. • Restaurar a funcionalidade ecológica preservar e melhorar os serviços ecossistêmicos • Permitir benefícios múltiplos • Reconhecer que um conjunto de intervenções é possível e necessário • Envolver as partes interessadas não controlar e controlar, mas ter um diálogo bidirecional para garantir a equidade • Adaptar os projetos às condições locais • Gerenciar adaptativamente • Evitar a conversão de ecossistemas naturais Ele enfatizou fortemente que, para que esses projetos sejam bem-sucedidos, são necessários benefícios e incentivos para a população local. Esses benefícios poderiam ser, por exemplo: • Melhorar a segurança alimentar • Aumento da prosperidade • Esclarecer os direitos das árvores de terra • Foco de longo prazo projetar paisagens e construir resiliência
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De acordo com a Parceria Global para a Restauração de Florestas e Paisagens (GPFLR), mais de 2 bilhões de hectares das paisagens desmatadas e degradadas do mundo têm potencial para a Restauração de Florestas e Paisagens (FLR). O desmatamento e a degradação da paisagem são um problema mundial. Cerca de 13 milhões de hectares de floresta foram convertidos para outros usos da terra ou perdidos por causas naturais de 2000 a 2010. A contínua degradação da paisagem representa sérios obstáculos para a eliminação da pobreza e da fome, a manutenção da biodiversidade e a capacidade dos agricultores e comunidades locais de se adaptarem Impacto das alterações climáticas. Este processo de degradação das terras também está aumentando a competição por recursos naturais escassos. Consequentemente, ameaça os meios de subsistência, o bem-estar, a alimentação, a água e a segurança energética das pessoas ea capacidade de resistência das pessoas e dos ecossistemas naturais.
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Na Amazônia, a insolação é mais importante que a chuva na produção de folhas
Estudo liderado por pesquisadores do Inpe, publicado na PLOS One, mostra que o aumento da radiação solar é o fator determinante para o verdejamento da floresta
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m aspecto da floresta amazônica que foi por muitas décadas dado como certo é que, com a chegada do período de chuvas, as árvores produzem novas folhas e a mata fica mais verde. Nas florestas temperadas, a maioria dos modelos usados em estudos mostra um decréscimo da fotossíntese na estação seca e cientistas estimavam que o mesmo ocorreria em regiões tropicais. Mas em 2006 entrou em cena a hipótese de que na Amazônia a produção de novas folhas não seguiria o padrão das florestas temperadas. Argumentou-se que o fator que levaria ao “verdejamento” (greening em inglês) da mata na maior parte da Amazônia não seria a chegada do período das chuvas, mas o aumento da radiação solar.
Padrão espacial de controles climáticos na iniciação da estação de crescimento foliar em florestas tropicais da América do Sul. Localizações com medições mensais de produtividade de caída de folhas são indicadas por números azuis
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Fotos: Cat Distasio, PLOS One
O verdejamento da mata, dá-se na maior parte da Amazônia, com o aumento da radiação solar e não no período das chuvas
A hipótese acaba de ser comprovada, como resultado de um estudo feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em colaboração com colegas da França, Camarões, Reino Unido, Finlândia e Estados Unidos. A pesquisa, detalhada em artigo publicado na PLOS ONE, parte da análise de imagens feitas por satélite e de dados de campo para comprovar que na maior parte da Amazônia é o aumento da radiação solar – e não a falta ou fartura de água – o fator determinante para o verdejamento da floresta, como explicam os principais autores, o francês Fabien Hubert Wagner e o carioca Luiz Eduardo Aragão, ambos do Inpe. O objetivo foi comprovar a possibilidade do uso de dados de satélites para verificar o verdejamento da Amazônia. O estudo foi realizado com apoio da FAPESP e do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Wagner atualmente recebe apoio da FAPESP por meio de auxílio e bolsa no âmbito do programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes. “Enquanto os ciclos tropicais são geralmente definidos em termos das estações seca e úmida, conseguimos demonstrar que a variação sazonal
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na produção visível de folhas é, em grande medida, desencadeada pelo aumento da insolação. Identificamos isso em 70,4% da área estudada”, disse Wagner. O estudo envolveu os estados do Amazonas, Roraima e Amapá, a parte oeste do Pará, a porção norte da Amazônia peruana, as Amazônias equatoriana, colombiana e venezuelana, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. “Nossa hipótese atual para explicar tal fenômeno é que na maior parte da Amazônia as plantas nunca sofrem de estresse hídrico, pois sempre existe água suficiente, mesmo na estação seca. Logo, na ausência da limitação de água, é o aumento da insolação o fator determinante para o crescimento das folhas”, disse Wagner. Em compensação, o estudo também apontou que em 29,6% da área analisada é o regime de chuvas que determina a produção de uma nova geração de folhas pelas árvores da floresta. Ou seja, na estação seca as plantas sofrem com o estresse hídrico e param de produzir novas folhas, o que só voltam a fazer com a chegada da estação úmida. Aí se incluem a porção sul da Amazônia peruana, o norte da Bolívia, os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso, além da porção centro-leste do Pará. “Até hoje ninguém conseguiu fazer esta modelização”, disse Wagner.
Áreas com limitação solar e hídrica Os resultados foram obtidos estabelecendo-se uma correlação entre os dados mensais de insolação e de precipitação da Amazônia e a expansão ou a retração da mancha verde de floresta que se observa desde o espaço a partir de dois satélites de sensoriamento remoto da Nasa, o Terra e o Aqua, que orbitam o planeta a 705 quilômetros de altitude. Foram usadas as imagens do índice de vegetação ampliado obtidas pelo sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), a bordo do Terra e do Aqua. Os instrumentos mapeiam todo o planeta a cada dois dias, fornecendo dados em escala da dinâmica global, o que inclui, por exemplo, mapas da vegetação global e mudanças na cobertura de nuvens sobre os oceanos e os continentes ou na baixa atmosfera. Na Amazônia, a estação seca vai de julho a outubro, dependendo da região que se observa
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Produção de folhas sazonais (aumento de EVI) e produtividade de lixo associada em 16 locais da floresta tropical
As imagens utilizadas cobrem a área compreendida entre as latitudes 10 ºN e 20 ºS, e as longitudes 80 ºO e 40 ºO. Foram analisados dados produzidos entre 2000 e 2012, com uma resolução espacial de 1 km. As medidas de precipitação, por sua vez, foram fornecidas mensalmente pela missão Tropical Rainfall Measuring (TRMM), um satélite da Nasa e da agência espacial japonesa Jaxa. A TRMM produz estimativas mensais de precipitação para as regiões tropicais e subtropicais do planeta, com resolução de 0,25 grau. Foram analisados dados entre 2000 e 2013. As temperaturas máximas da Amazônia foram levantadas em uma base de dados do clima global, disponível para o período entre 1901 e 2012. Foram usados ainda os dados mensais de radiação solar na superfície, cobrindo o período entre 2000 e 2012 e com
uma resolução espacial de 0,5 graus, estimados pelo sistema Ceres, um instrumento dos satélites Terra e Aqua. Os dados dos satélites Terra e Aqua, bem como da missão TRMM, estão disponíveis numa base de dados on-line de livre acesso. “Uma importante contribuição do estudo foi conseguir separar as áreas com limitação solar e hídrica”, disse Aragão. Na Amazônia, a estação seca vai de julho a outubro, dependendo da região que se observa. “Do meio para o fim da estação seca, as plantas já começam a produzir folhas, de modo que atinjam a maior cobertura folicular quando chegam as chuvas, maximizando a fotossíntese. Mas para produzir folhas na estação seca, as plantas precisam ter acesso à água. É o que ocorre em 70% da Amazônia, onde os solos possuem maior capacidade de retenção de água”, disse. Segundo Aragão, que também é professor associado na University of Exeter, no Reino Unido, o valor da pesquisa é muito maior do que apenas o de estabelecer uma relação estática entre os efeitos da insolação e da chuva no verdejamento da Amazônia. “A pesquisa permite identificar de que forma o bioma amazônico está reagindo às variações climáticas globais. Os próximos passos incluem tentar replicar esta modelagem para outras áreas de vegetação tropical”, disse.
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Modelagem torna INPE protagonista em pesquisas sobre mudanças climáticas
Pesquisa revela contradições e implicações no contexto do processo por Silvio Anunciação
Fotos: Antonio Scarpinetti/Dilvulgação, Divulgação EBC
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prática científica da modelagem climática se tornou central nas últimas décadas, influenciada pelo cenário das mudanças no clima e meio ambiente do planeta. Mas desenvolver modelos computacionais que permitam fazer previsões diárias, como as dos telejornais, ou mesmo as de longo prazo, requer infraestrutura de ponta e forte capacidade científica.
Paulo Nobre falando sobre a importância computador Tupã e o INPE
Marko Monteiro, orientador da pesquisa: “O principal achado da pesquisa revela que o INPE consegue hegemonizar a ciência climática no Brasil”
Jean Carlos Hochsprung Miguel, autor da tese: “O país que quer se manter na ponta tem que estar atualizando constantemente as suas infraestruturas”
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Para o pesquisador Jean Carlos Hochsprung Miguel, que estudou o tema na Unicamp, poucos centros de pesquisa no mundo exercem a capacidade de representar processos atmosféricos em modelos de computador. É o caso, segundo ele, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Com o desenvolvimento de modelos computacionais e focando neste tipo de ciência, o INPE se tornou protagonista nas redes de pesquisa sobre mudanças climáticas no Brasil. O instituto recebeu mais recursos, com os quais foi possível construir centros para estudos de alterações no clima. No momento, o INPE ambiciona fazer parte do seleto grupo de centros de pesquisa mundiais que desenvolvem modelos climáticos”, aponta o pesquisador. Jean Miguel defendeu recentemente tese de doutorado sobre as políticas e infraestruturas das ciências atmosféricas, desenvolvendo um estudo de caso sobre o INPE. No trabalho, ele investigou como os modelos climáticos se tornaram ferramentas centrais nas redes de pesquisa e operação meteorológica e na política científica e climática nacional. Conduzida junto ao Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG), a pesquisa foi orientada pelo docente Marko Synésio Alves Monteiro.
Redes de governança global O pesquisador afirma que o INPE passou a exercer hierarquia maior sobre as questões climáticas graças à produção de conhecimento em torno da modelagem. Ele acrescenta que o instituto brasileiro obteve desempenho não só científico, mas político nas redes sobre clima. Com o INPE, por exemplo, o Brasil foi o primeiro dos países emergentes a ter um modelo no IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Atualmente, apenas 11 nações, entre as quais o Brasil, contam com modelos climáticos junto ao órgão internacional. “Ao desenvolver estes modelos, o INPE reposicionou o país nas redes de governança global sobre o clima. Se há capacidade de produzir modelos e estudos de modelagem, há como contribuir efetivamente para esse painel na base científica. É evidente que isso está associado não só ao desenvolvimento científico, mas a arranjos políticos que criaram condições para o INPE alçar novas condições de pesquisa”. Jean Miguel esclarece que o IPCC congrega a base científica das mudanças climáticas no planeta, enquanto a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) constitui-se como uma arena política.
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“O meu trabalho aponta justamente para essa associação entre infraestrutura para pesquisa, produção de conhecimento relevante e a possibilidade de pautar as agendas nessa área, como acontece com o INPE.” Contradições e implicações O orientador do trabalho, Marko Monteiro, explica que após conquistar o protagonismo nacional, o INPE tem buscado a hegemonia global neste campo científico. Monteiro aponta, no entanto, para contradições e implicações no contexto deste processo. “O principal achado da pesquisa revela que o INPE consegue hegemonizar a ciência climática no Brasil, investindo na modelagem. Neste momento o órgão participa de uma disputa no cenário global. Mas por outro lado, com o auge da crise financeira no país, falta dinheiro para bancar, por exemplo, os custos com o Tupã, o supercomputador adquirido pelo instituto em 2011.” Jean Miguel acrescenta, por sua vez, que a modelagem climática exige infraestrutura de pesquisa de elevado custo e constante atualização. “O supercomputador do INPE, quando comprado, estava entre os 20 mais potentes do mundo. Hoje ele já caiu nessa lista. O país que quer se manter na ponta tem que estar atualizando constantemente as suas infraestruturas. Além disso, a busca pela hegemonização de uma ciência tão cara acaba criando uma centralização na produção de conhecimento apenas numa área de pesquisa”.
O computador Tupã: falta de verba compromete projetos
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Análise da carta sinótica de superfície das 06Z do dia 05/09
Previsões indicam a continuidade da condição de déficit pluviométrico para o Norte do Brasil
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Segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar
A primeira versão do Atlas, produzida pela unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em 2006, com dados compilados ao longo de dez anos, já apontava esse potencial de expansão. Agora, a quantidade de material obtido por meio de satélites permitiu uma análise mais profunda sobre a real capacidade do País. Segundo o coordenador dos estudos, Enio Pereira, o Atlas contribuirá para a tomada de decisões estratégicas nas políticas públicas do setor de energia elétrica, além de investimentos privados e outros estudos. “Para você usar qualquer forma de energia, tem de conhecer a disponibilidade dela”, explica o físico, que atua no Laboratório de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis de Energia do Inpe. Atualmente, a participação da fonte solar na matriz energética brasileira representa apenas 0,02% do total produzido no País. “O potencial para gerar energia solar no Brasil é gigantesco, especialmente no Cinturão Solar. Toda essa área tem um potencial enorme de geração, porque tem incidência de muita luz solar e durante um longo período, especialmente entre maio e setembro, que é uma época de seca na maior parte desse território”, afirma o físico.
Entraves
Segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar do INPE
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Um dos desafios encontrados pelo setor é conseguir manter a produção diante das variabilidades das condições atmosféricas, como em dias chuvosos ou com alta nebulosidade. Esse é considerado um entrave-chave para a expansão da produção solar, especialmente na comparação com a fonte hidrelétrica. “A hidrelétrica, tendo água, você consegue programar de forma constante a sua produção. Na solar, você não tem controle de quanto vai gerar porque tem uma nuvem passando. É uma energia que varia muito com o tempo.
Brasil tem grande potencial de geração de energia solar não explorado no chamado Cinturão Solar, área que vai do Nordeste ao Pantanal, incluindo o norte de Minas Gerais, o sul da Bahia e o norte e o nordeste de São Paulo. É o que indica a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A nova edição utilizou informações levantadas durante 17 anos. Os dados informam a quantidade e a disponibilidade da radiação solar, e a variação de potência dos raios, como os fatores climáticos – notadamente a presença de nuvens – que influenciam a disponibilidade e a influência da topografia para a incidência dos feixes de luz solar.
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Matriz elétrica brasileira em maio de 2017 de acordo com dados disponíveis no Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica
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Essa é uma questão que deve ser resolvida”, diz Enio Pereira. A alternativa apontada pelo Atlas Brasileiro de Energia Solar para resolver esse problema é distribuir a produção. Assim, é possível manter o volume de geração, mesmo que determinada área não tenha condições de gerar energia. Ele alerta, porém, que ainda há um longo caminho a ser trilhado para garantir uma técnica eficiente de produção. Para produzir o Atlas Brasileiro de Energia Solar, o Inpe contou com a participação de pesquisadores de várias instituições brasileiras, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).
Lançamento O lançamento do Atlas Brasileiro de Energia Solar, dos autores: Enio Bueno Pereira, Fernando Ramos Martins, André Rodrigues Gonçalves, Rodrigo Santos Costa, Francisco J. Lopes de Lima, Ricardo Rüther Samuel Luna de Abreu, Gerson Máximo Tiepolo, Silvia Vitorino Pereira e Jefferson Gonçalves de Souza, foi um dos destaques da comemoração do aniversário de 56 anos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Realizada na sede, em São José dos Campos (SP), a cerimônia teve a participação de cientistas e gestores do INPE e outras instituições de pesquisa, empresários e autoridades regionais, representantes de entidades nacionais e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, entre outras personalidades. O Atlas foi apresentado durante a cerimônia que homenageia servidores de diversas áreas, em reconhecimento a seus anos de trabalho e dedicação ao INPE, instituto criado em 3 de agosto de 1961. O estudo, iniciado em 2006 em parceria com outros institutos de pesquisa, tem o objetivo de mapear regiões do país com maiores incidências de raios solares, que ajudarão em estratégias energéticas. “O momento é propício, pois a expansão de energia solar no Brasil e no mundo é enorme. Os projetos precisam ser lucrativos, tem que ter um retorno de investimento. Para isso é preciso informações seguras para que tenhamos sucesso. Fornecemos a informação por meio do atlas”, comentou Ênio Bueno Pereira, coordenador do projeto. De acordo com os pesquisadores, o Brasil tem uma vantagem muito grande com relação a outros países da Europa, líderes em exploração de energia solar.
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O potencial de produção supera em 100 vezes o consumo nacional. “Isso já está acontecendo. A energia de maior expansão hoje é a solar, seguido da eólica. Embora tenhamos começamos tarde, outros países começaram antes de nós. Essa é a razão de nos atualizarmos, pois é um momento propício para toda esta comunidade”, cometa o coordenador. Os locais com mais incidência de raios solares estão entre o Nordeste e Centro-Oeste, que é considerado um “cinturão de radiação”. “O investidor precisa ter a certeza de médias históricas para dar segurança. Esse é o grande benefício do atlas”, ressalta Ricardo Duarte, diretor do Inpe.
Potencial Fotovoltaico A geração fotovoltaica de energia elétrica tem um grande potencial no Brasil, no local menos ensolarado do Brasil, é possível gerar mais eletricidade solar do que no local mais ensolarado da Alemanha, por exemplo. O rendimento energético anual máximo (medido em kWh de energia elétrica gerada por ano para cada kWp de potência fotovoltaica instalada) em todo o território nacional, tanto para usinas de grande porte centralizadas e instaladas em solo, como para a geração fotovoltaica distribuída integrada em telhados e coberturas de edificações. A taxa de desempenho médio anual de 80% foi adotada para simplificar a análise e representa o desempenho de um gerador solar fotovoltaico bem projetado e instalado com equipamentos de boa qualidade e etiquetados pelo INMETRO. A concentração populacional é também mostrada através dos círculos azuis espalhados pelo território brasileiro nesta figura. A sazonalidade da distribuição deste potencial de geração em 12 mapas mensais, onde se percebe como a distribuição da geração se comporta mês. Campo de coletores concentradores de uma instalação de refrigeração solar em uma arena esportiva em Doha, Qatar (Zahler et al., 2011). É importante notar que nos meses de verão, principalmente de dezembro a março, a geração é máxima nos estados do extremo Sul e Sudeste do Brasil e coincide com os máximos de demanda registrados pelo Operador Nacional do Sistema – ONS para essas regiões. Neste contexto e por sua natureza distribuída, a geração solar fotovoltaica tem também um grande potencial de contribuição para a redução dos picos de demanda dos sistemas de transmissão do Sistema Interligado Nacional – SIN. Nos próximos anos, com o aumento da penetração da geração solar fotovoltaica por todo o Brasil, a geração de eletricidade próxima ao ponto de consumo deverá ser reconhecida pelo sistema elétrico como um dos principais atributos desta tecnologia de geração. Com a acentuada redução de custos experimentada pela tecnologia fotovoltaica nos últimos anos, o cenário vem ficando cada vez mais favorável à sua adoção em escala crescente.
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Mapa do total anual de irradiação solar direta normal com destaque para regiões com maior potencial de aproveitamento da energia solar concentrada
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Síntese dos níveis de irradiação solar por região
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FAO denuncia contaminação da água pela agricultura
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elatório afirma que uso inadequado de pesticidas e produção de alimentos com grande impacto ambiental contribuem para a degradação da qualidade da água em todo o mundo. Além de ser responsável por 70% da extração de água no mundo, a agricultura desempenha um papel fundamental na poluição deste recurso vital. O uso inadequado de defensivos agrícolas ameaça a qualidade da água no mundo inteiro, afirma um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). De acordo com o relatório, produzido em parceria com o Instituto Internacional para a Gestão da Água (IWMI), o aumento da demanda por alimentos que causam grandes impactos ambientais durante sua produção, como a carne, contribuiu para a degradação da qualidade da água. O aumento da produção agrícola foi alcançado, nas últimas décadas, mediante o uso intensivo de adubos químicos e pesticidas, um mercado que movimenta mais de 35 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. O consumo de defensivos cresceu com rapidez em países como Argentina, Brasil, Malásia, África do Sul e Paquistão, segundo o relatório. Na maioria dos países em desenvolvimento e emergentes, a poluição agrícola superou a contaminação causada pela indústria e aglomerados urbanos como principal fator para a degradação da água, afirmou o diretor da FAO, Eduardo Mansur.
Essa contaminação ocorre com o despejo de produtos químicos, matéria orgânica, sedimentos, nitratos, patógenos e outras substâncias, afirma o relatório divulgado neste domingo (27/08). De acordo com o especialista do IWMI Javier Mateo-Sagata, em países emergentes foi detectado o uso elevado de pesticidas que são proibidos em países desenvolvidos, além do armazenamento incorreto de frascos de defensivos agrícolas. Aplicação de pesticidas em um campo na Alemanha. Produção agrícola aumentou mediante o uso intensivo de adubos químicos e pesticidas
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Criação de animais Mateo-Sagata afirmou que, no caso do gado, o principal problema deriva da incorreta gestão dos excrementos dos animais, que contêm patógenos e matéria orgânica que, se acabar nos rios, diminui o oxigênio da água. A criação de gado passou dos 7,3 bilhões de unidades em 1970 para 24,2 bilhões em 2011 e atualmente ocupa 70% do território do planeta usado pela agricultura, afirma a FAO. Problema semelhante ocorre na aquicultura, quando há excesso de nutrientes e matéria orgânica. Isso ocorre quando parte de ração não é consumida pelos peixes e acaba contaminando as águas. O estudo também aborda outras substâncias contaminantes que, nos últimos 20 anos, surgiram na forma de remédios para animais, como antibióticos, vacinas e hormônios de crescimento. Esses medicamentos passam das fazendas aos ecossistemas e às fontes de água potável, além de contribuir para um aumento das bactérias resistentes. Segundo o relatório, 38% dos corpos de água na União Europeia (UE) correm risco de contaminação agrícola.
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O uso inadequado de defensivos agrícolas ameaça a qualidade da água no mundo inteiro, afirma um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Na maioria dos países em desenvolvimento e emergentes, a poluição agrícola superou a contaminação causada pela indústria e aglomerados urbanos como principal fator para a degradação da água
Nos Estados Unidos a agricultura é a principal causa de poluição em rios e riachos, a segunda em terrenos úmidos e a terceira em lagos. Na China esta atividade está por trás de quase toda contaminação de águas subterrâneas por nitrogênio. Os especialistas recomendam, entre outras medidas, otimizar e limitar a utilização de agentes químicos nos cultivos para reduzir o risco de contaminação da água, estabelecer zonas de proteção ao redor das explorações agrícolas e sistemas de rega eficientes, que permitam recolher águas residuais. Os especialistas recomendam, entre outras medidas, otimizar e limitar a utilização de agentes químicos nos cultivos para reduzir o risco de contaminação da água
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[*] CN/efe/ots
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Uma nova agricultura É hora de imaginar uma agricultura ideal. por *Cole Genge
Fotos: Divulgação, FAO/Olivier Asselin
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este agricultura, a monocultura e a produção insustentável são substituídas por práticas que cuidam do solo e mantém sua cobertura de forma permanente, fazendo a rotação de culturas para não esgotar os nutrientes do solo. Nesta agricultura, os benefícios da terra alcançam todos aqueles que trabalham com suas mãos, e não caem nas mãos de um pequeno grupo de grandes empresas. Nesta agricultura, a produção rentável coexiste com a proteção do ambiente e dos recursos naturais, alterando minimamente o solo por meio do plantio direto e do cultivo mínimo e protegendo a sua cobertura com material orgânico. O que descrevo são os princípios básicos que inspiram a agricultura de conservação e que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) promove não apenas como um exercício de imaginação, mas como uma nova maneira de fazer as coisas. E, este modo de operação não é apenas uma opção, tornou-se uma necessidade urgente. Este tipo de agricultura é o que precisamos para enfrentar as mudanças climáticas e aumentar a renda dos pequenos agricultores. É também a que nos permitirá alimentar as 800 milhões de pessoas que sofrem de fome no mundo e nutrir de forma equilibrada mais de 600 milhões de pessoas que vivem com a obesidade. Avançar para uma forma holística de produção de alimentos requer vontade política e trabalhar de maneira muito próxima aos milhões de pequenos agricultores, mas requer, acima de tudo, a responsabilidade moral. Devemos ter sabedoria necessária para avançar em direção a um modelo de desenvolvimento que não favoreça o benefício imediato, mas que inspira-se de maneira harmoniosa no mundo, em seus tempos e ciclos naturais. Exige, da mesma maneira, desfazer os danos que fizemos, já que mais da metade das terras utilizadas para a agricultura no mundo estão degradadas. Recuperá-las não é apenas uma prioridade para o desenvolvimento rural e agrícola. É um dever humanitário porque 40% da população mundial depende diretamente da agricultura para a sua subsistência. 60
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Se for mudado a maneira de produzir e se adotar práticas da agricultura de conservação, os efeitos podem ser sentidos em todo o mundo
Seguir no caminho que temos percorrido até agora não é simplemente uma opção, já que nos levou à beira de um abismo. Hoje, a agricultura familiar é uma das maiores emissoras de gases de efeito estufa, ocupa até 70% da água doce e expande-se à custa dos próprios recursos dos quais se baseia nossa sobrevivência e bem-estar. Mas ainda temos tempo para gerar mudanças. Temos o conhecimento necessário para adotar uma forma de produção que faz a gestão dos recursos naturais de forma integrada, e que não somente produz, mas que também conserva e melhora. Entretanto, estas mudanças devemos fazer hoje, não quando a população mundial chegue aos 9 bilhões de habitantes e as mudanças climáticas tornem-se uma catátrofe mundial, já que gerar uma mudança na forma como produzimos alimentos não afetará apenas os agricultores. Pelo contrário, tem o potencial de revolucionar a forma como os seres humanos se relacionam com o meio ambiente, restaurar os danos causados aos recursos naturais e considerar os efeitos do nosso modelo de produção ao longo de toda a cadeia alimentar, desde o plantio de sementes até a chegada dos alimentos às nossas casas e, mais além, já que um terço da comida que produzimos acaba no lixo.A América Latina e o Caribe têm condições necessárias para desenvolver esta nova agricultura. A região possui uma biodiversidade e riqueza que a
tem permitido contribuir em 5% do crescimento da produção mundial de alimentos ao longo dos últimos 30 anos. No mesmo período, é a região que tem feito os maiores progressos na redução da fome. Se a região muda à sua maneira de produzir e adota práticas da agricultura de conservação, os efeitos podem ser sentidos em todo o mundo. Mas fazer isso não é fácil. Exige sistemas de inovação adaptados às condições locais e, também, requer muita técnica e científica e sistemas de apoio público aos pequenos agricultores. Mas quando são feitas as mudanças, os benefícios se sobressaem. Na América Latina e no Caribe, a FAO apoia inúmeras iniciativas nacionais que desenvolvem sistemas integrados de rotação de cultivos, que plantam leguminosas para incorporar nitrogênio ao solo. Outros desenvolvem cultivos adaptados localmente e incorporam gado, árvores, polinizadores e formas naturais de realizar controle de pragas e doenças. Os incentivos econômicos sempre buscarão manter o status quo. Por isso, depende de nossa geração lutar contra a inércia e gerar a agricultura que o mundo atual necessita. Uma agricultura que não somente nutre as pessoas, mas, também, o planeta. [*] Oficial da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) – Doutor em Políticas e Administração e Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade de Massachusetts e Engenheiro Florestal pela Universidade Estatal de Washington
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Relatório diz que Indústria de árvores plantadas ajuda a reduzir efeito estufa Fotos: Cassio Abreu, Divulgação
Relatório
As florestas plantadas no Brasil, representam menos de 1% do território nacional, sendo que 90% da madeira são usados para fins produtivos
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indústria de árvores plantadas no país pode trazer vantagens para o meio ambiente, principalmente no combate ao aumento da concentração de gases de feito estufa na atmosfera, mostra relatório divulgado recentemente, pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). As árvores plantadas demoram sete anos para serem colhidas, mas o modelo de produção das indústrias permite que todos os anos parte delas seja colhida. A sequência de plantações promove um estoque de carbono, que é removido da atmosfera, equivalente a 200 toneladas por hectare. “A floresta é um reciclador natural do carbono”, disse Fábio Marques, consultor do Ibá. O plantio de árvores absorve o gás carbônico (CO2), que é um dos gases de efeito estufa, e libera oxigênio (O2), essencial para a vida humana. Fábio explica que a necessidade de redução dos produtos de base fóssil no mundo vai aumentar a demanda por energias renováveis nos próximos anos. De acordo com ele, uma das formas de evitar a emissão de gases provenientes do produto fóssil é a substituição por biomassa florestal, como fonte de energia.
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Segundo Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Ibá, o Brasil é o maior produtor de celulose de fibra curta de eucalipto do mundo
A celulose também pode ser usada no lugar de polímeros, de origem fóssil. “É necessário pensar em mecanismos capazes de estimular a demanda sustentável, como o aumento de estoques de carbono em áreas de restauração, como plantações em um pasto abandonado”, disse.
O relatório da Ibá revela que as florestas plantadas no Brasil ocupavam 7,84 milhões de hectares em 2016, equivalente a 0,5% de crescimento em relação a 2015. Essas áreas representam menos de 1% do território nacional, sendo que 90% da madeira são usados para fins produtivos.
Os 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas do Brasil estocam 1,7 bilhões de toneladas de CO2eq – o que equivale a um ano das emissões nacionais de CO2eq (medida que expressa a quantidade de gases de efeito estufa (GEEs)
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Florestas plantadas e a ABAF Segundo Wilson Andrade, diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF): “O setor de base florestal continua com possibilidade de crescimento em termos de exportações e investimentos porque recebe alavancagem de diferentes setores que utilizam madeira plantada em seus processos produtivos: papel e celulose; construção civil; mineração; e energia de biomassa, entre outros. Mas, além dos reconhecidos benefícios econômicos, este setor gera impacto positivo no que diz respeito ao meio ambiente, compromisso social e qualidade de vida. É importante ainda destacar o papel das florestas plantadas no segmento de baixo carbono. Os 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas do Brasil estocam 1,7 bilhões de toneladas de CO2eq – o que equivale a um ano das emissões nacionais de CO2eq (medida que expressa a quantidade de gases de efeito estufa (GEEs) em termos Wilson Andrade, diretor executivo da Abaf equivalentes da quantidade de dióxido de carbono (CO2))”, acrescenta. Árvores plantadas são cultivadas atendendo a planos de manejo sustentável que tem como objetivo reduzir os impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades vizinhas. Plantadas para evitar a pressão e degradação de ecossistemas naturais, as florestas contribuem ainda para o fornecimento de biomassa florestal, lenha e carvão de origem vegetal. Os plantios de árvores desempenham importante papel na prestação de serviços ambientais: evitam o desmatamento de hábitats naturais, protegendo assim a biodiversidade; preservam o solo e as nascentes de rios; recuperam áreas degradadas; são fontes de energia renovável e contribuem para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa por serem estoques naturais de carbono. “Tudo isso também nos coloca em vantagem, inclusive, no que diz respeito ao Acordo de Paris. Por ele, o Brasil compromete-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, até 2030. Para isso, o país se compromete a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030”, informa Andrade. Árvores plantadas são cultivadas atendendo a planos de manejo sustentável que tem como objetivo reduzir os impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades vizinhas
As árvores resultam em papel, painéis de madeira, celulose, piso laminado, carvão vegetal, entre outros. O setor acumulou receita bruta de R$ 71 bilhões em 2016, respondendo por 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial. Foram gerados 3,7 milhões de empregos direitos e indiretos.
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A maior parte das árvores é de eucaliptos, que ocupam 5,7 milhões de hectares. Os principais estados produtores são Minas Gerais (24%), São Paulo (17%) e Mato Grosso do Sul (15%). Outra espécie de árvore, pinus, ocupa 1,6 milhão de hectares, sendo 42% no Paraná e 34% em Santa Catarina.
Segundo Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Ibá, o Brasil é o maior produtor de celulose de fibra curta de eucalipto do mundo, devido ao alto grau de desenvolvimento da genética arbórea no país. “As árvores plantadas no Brasil têm a maior produtividade do mundo, de 36 metros cúbicos de madeira por hectare ao ano”, disse a presidente.
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Mudança climática projetada ameaça os polinizadores e a produção de culturas no Brasil Estudo da Poli-USP mostra queda acentuada de polinização com impacto na agricultura
Fotos: Indigri Chris, Julio Pupim, Soeren Stache / ZB / DPA, Walter Hasenack
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aquecimento global e as mudanças no clima podem afetar a ocorrência de polinizadores naturais. Em artigo publicado na revista PLOS One, pesquisadores avaliaram 95 polinizadores de 13 culturas agrícolas dependentes de polinização.
Concluíram que quase 90% dos 4.975 municípios analisados enfrentarão perda de espécies polinizadoras nos próximos 30 anos, de acordo com informações da Assessoria de Comunicação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Em todo o país, a probabilidade de ocorrência de
Mudança de potencial na probabilidade de ocorrência de polinizadores relacionada à mudança climática projetada em 2050 nos municípios brasileiros onde as 13 culturas analisadas são produzidas
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polinizadores poderá ter uma queda de 13% até 2050, segundo o estudo. Assinado por um time multidisciplinar encabeçado pela bióloga e pós-doc da Poli-USP, Tereza Cristina Giannini, o artigo Projected climate change threatens pollinators and crop production in Brazil, aponta que a região Sudeste será a mais impactada, ao passo que na região Norte há possibilidade de um leve aumento da ocorrência de determinados polinizadores. Entretanto, como afirmou Giannini, atualmente pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, as perdas serão maiores que os ganhos. As culturas agrícolas estudadas foram acerola, urucum e maracujá (categorizados como culturas agrícolas em que a polinização é essencial); abacate, goiaba, girassol e tomate (muito dependentes da polinização); coco, café e algodão (modestamente dependentes); feijão, tangerina e caqui (pouco dependentes). A dependência se deve à morfologia da flor: há flores que não precisam de polinizador animal (o vento, por exemplo, já resolve). Outras precisam que o polinizador carregue o grão de pólen de uma flor para outra, garantindo, assim, a polinização. “Para as culturas agrícolas e os polinizadores que estudamos, esse foi o resultado. Isso não significa que esse resultado seja válido para todas as espécies”, afirmou Giannini, ponderando que no oeste da região Norte, ainda bem protegido por mata nativa, o impacto das mudanças de clima possa ser menor do que em áreas do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. “É importante ressaltar as seguintes descobertas: primeiro, as perdas maiores afetam municípios com baixo PIB, o que pode impactar ainda mais os níveis de pobreza dessas regiões; e segundo, ao mesmo tempo [e em menor grau], elas afetam também um grupo de municípios muito rico, com
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valores de PIB muito altos que podem ser potencialmente reduzidos pelas perdas de polinizadores”, afirmou a pesquisadora. Na pesquisa o grupo usou a Modelagem de Distribuição de Espécies (MDE), técnica que determina áreas potenciais de ocorrência de espécies e projeta sua distribuição futura. Para estimar a ocorrência e localização de cada espécie polinizadora, foram usados os bancos de dados do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) e do Global Biodiversity Information Facility (GBIF). “A modelagem de distribuição de espécies já tem sido usada há alguns anos. O ineditismo nesse trabalho foi a abordagem de cruzar a estimativa dos polinizadores do país, com foco nos municípios, com o impacto que isso tem na produção agrícola, município por município”, resume o professor Antonio Mauro Saraiva, do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação da Poli-USP. Supervisor de Tereza no pós-doutorado, ele afirma que o enfoque do trabalho ultrapassa o de um mero exercício científico. “Não se trata de entender apenas como as mudanças climáticas afetarão os polinizadores, mas como elas poderão impactar diretamente as culturas polinizadas e a produção agrícola, e os efeitos econômicos disso – algo que tem uma importância social grande.
Noventa por cento de quase 5 mil municípios analisados terão perdas de polinizadores em 30 anos. Regiões Sul, Sudeste e Nordeste serão mais afetadas
Esses resultados podem ser apresentados para tomadores de decisão e produtores e a metodologia tem potencial para tornar-se uma ferramenta de políticas públicas.” “De modo geral, achamos que a adaptação provavelmente vai acontecer com espécies que toleram amplas faixas de temperatura e precipitação. Mas isso é muito difícil de medir. Podemos mensurar a tolerância de um polinizador à mudança de calor, por exemplo. Mas como medir essa mesma tolerância se a mudança demorar 10 anos para acontecer?”
Entre as espécies estudadas pelo grupo, Tereza aponta como relevantes as abelhas sem ferrão do gênero Melipona e a Tetragonisca angustula (chamada de jataí); as espécies do gênero Bombus e Xylocopa (as mamangavas); e as abelhas do gênero Centris (abelhas coletoras de óleos). O artigo é assinado ainda por Wilian França Costa, também pós-doutorando na Poli, Guaraci Duran Cordeiro, Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, Jacobus Biesmeijer, da Holanda, e Lucas Alejandro Garibaldi, da Argentina, além do professor Antonio Mauro Saraiva.
Abelhas sem ferrão do gênero Tetragonisca angustula ou jataí
Melipona
Espécies do gênero Bombus (mamangava)
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Xylocopa (mamangava)
Xylocopa (mamangava)
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Ano 12 Nº 64 Setebro/Outubro 2017 CAÇÃO LI
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