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ISSN 1809-466X
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Ano 13 Nº 67 Março/ Abril 2018 OR PUBL AI
Ano 13 Número 67 2018 R$ 12,00 5,00
COBERTURA DO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA RELATÓRIO DA UNESCO SOBRE ÁGUA SÍNODO DOS BISPOS NA AMAZÔNIA ÁGUA CRUA OU ÁGUA BRUTA
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EXPEDIENTE
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Relatório da Unesco sobre água propõe soluções baseadas na natureza A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, durante a abertura oficial do Fórum Mundial da Água, em Brasília. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza (SbN), que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo. O documento mostra que...
Líderes mundiais cobram programa para acelerar ações sobre a água Um Painel de Alto Nível da ONU sobre Água, composto por 11 Chefes de Estado e um Consultor Especial emitiu uma Nova Agenda para a Ação da Água, pedindo uma mudança fundamental na forma como o mundo administra água para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs ), e em particular SDG6, pode ser alcançado. Isso segue um mandato de 2 anos para encontrar formas de acelerar as soluções para a crise urgente da água. “Making Each Drop Count...
Água acessível e de qualidade: um objetivo para o mundo
A construção de agendas globais é uma excelente maneira de fazer avançar temas relevantes para a sociedade e o planeta, pois nos incentiva não apenas a assumir compromissos, mas também a agir em busca de soluções palpáveis. Nesse sentido, a Agenda 2030 das Nações Unidas é uma referência exemplar na medida em que alia compromissos amplos, por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a metas e indicadores mais concretos, que...
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Agência FAPESP, FAO, José Graziano da Silva, Karina Toledo, Lidia Neves, Marina Grossi, MIT, Peter Moon, Ronaldo G. Hühn, WBG FOTOGRAFIAS Acervos de lse Walker e Lucia-Rapp, Agência Brasil, Andrew Mirosf, Antonio Cruz, De Pinna et al. 2017, DTU Space, ESA/AOES, Fabio Rodrigues Pozzebom e Wilson Dias /Agência Brasil, CC0, Jorge Cardoso/ 8th WWF, GOAmazon e Projeto CHUVA, Goddard Space Flight Center/NASA / Kathryn Mersmann, Guillaume Souvant, Jessica Hochreiter, Licia Rubinstein, Marth Smith, Montanus Photography, Nasa Earth Observatory, Nasa Goddard’s Visualization Studio, NOAA, Kate A. Brauman, Olivier Asselin, ONU/Logan Abassi, ONU/Martine Perret, ONU/Ilyas Ahmed, Reprodução/Google Maps, Rudolph Hühn, Steve Nerem, Toninho Tavares/Agência Brasília, UNICEF DATA, Visões planetárias EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle CI
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C LE V NOSSA CAPA ESTA RE Cachoeira do Salto Augusto, no interior do Parque Nacional do Juruena, na Amazônia Meridional, ao norte do Mato Grosso e sudeste do Amazonas. Foto: WWF-Brasil/ Adriano Gambarini
Brasil consome 6 litros de água para cada R$ 1 produzido pela Economia
Dos 6,2 trilhões de m3 de água que configuravam os recursos hídricos renováveis do país em 2015, houve uma retirada total (para atendimento próprio e captação de água para distribuição) de aproximadamente 3,2 trilhões de m³. Já o Consumo total de água em 2015 foi de 30,6 bilhões de m³. O valor da produção de água de distribuição e Serviços de esgoto foi R$ 42,5 bilhões, sendo a água de distribuição responsável por 67,2% desse total. O custo médio...
2º Simpósio Internacional sobre Agroecologia
No discurso de abertura de José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, no 2º Simpósio Internacional de Agroecologia, em Roma, pediu sistemas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, e disse que a agroecologia pode contribuir para essa transformação. Ele disse que a maior parte da produção de alimentos tem sido baseada em sistemas agrícolas com altos insumos e recursos, a um alto custo para o meio ambiente, e como resultado, o solo, florestas...
MAIS CONTEÚDO [18] MIT cria peixe robótico para salvar os oceanos [26] Sínodo Extraordinário dos Bispos na Amazônia [36] Água crua ou água bruta [40] Dia Mundial da Meteorologia [41] Partículas ultrafinas de aerossol intensificam as chuvas na Amazônia [44] Deserto do Saara participa do regime de chuvas da Amazônia, a 5 mil km de distância [47] Alta do nível dos mares está se acelerando [50] Placa solar produz água potável através do ar [52] Descoberta nova família de peixes amazônicos, a primeira em 40 anos [54] Uma chance para a esperança [60] O mapa da gravidade da Terra [63] Terra: misterioso rio de ferro líquido descoberto no seu interior
FAVOR POR
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A abertura do 8º Fórum Mundial da Água, com o tema “Compartilhando Água”, em Brasília, contou com a presença de 12 chefes de estado e governo, além de representantes de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas e suas agências, a União Europeia, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. O Fórum também contou com a presença de 56 ministros e 14 vice-ministros de 56 países, 134 parlamentares de 20 nações diferentes, além de autoridades locais como prefeitos e governadores...
EDITORA CÍRIOS
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8º Fórum Mundial da Água
PUBLICAÇÃO Período (Março/Abril) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
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Fotos: Antonio Cruz, Fabio Rodrigues Pozzebom e Wilson Dias /Agência Brasil, Jorge Cardoso, Toninho Tavares/Agência Brasília, Kate A. Brauman, ONU/Logan Abassi, ONU/Martine Perret
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abertura do 8º Fórum Mundial da Água, com o tema “Compartilhando Água”, em Brasília, contou com a presença de 12 chefes de estado e governo, além de representantes de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas e suas agências, a União Europeia, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. O Fórum também contou com a presença de 56 ministros e 14 vice-ministros de 56 países, 134 parlamentares de 20 nações diferentes, além de autoridades locais como prefeitos e governadores.
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Rio Amazonas visto de satélite da NASA: “A água é a força motriz de toda a natureza ”, Leonardo da Vinci
Chefes de Estado e autoridades ligadas a organismos internacionais chamaram a atenção, na abertura do 8º Fórum Mundial da Água
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Gestão compartilhada da água foi destaque na abertura do 8º Fórum
Outra inovação citada foi a participação do Poder judiciário, com a presença de 83 juízes, promotores e especialistas de 57 países. Ao abrir o evento, o presidente do Brasil, Michel Temer, enfatizou o ambiente proporcionado pelo Fórum para troca de experiências e aprendizado. “A sustentabilidade hídrica requer ações integradas dentro de nossos países e entre nossos países. As soluções que buscamos são coletivas, com diálogo e cooperação”, indicou. Além disso, Temer destacou que assegurar o acesso à água é questão de dignidade e que é esse o propósito que une todos em Brasília neste momento. O esforço em prol do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foi apontado como essencial pelo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. Segundo ele, isso passa pelo diálogo e pela busca de soluções conjuntas. “Precisamos compartilhar água, para isso precisamos compartilhar saberes, culturas, opiniões, ideias e experiências. Devemos cooperar, governos e sociedade, como propõe um dos ODSs. Devemos ouvir as vozes de todos os lugares do mundo”, pontuou. Para o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, a oitava edição do Fórum deve comprovar que o compartilhamento é um incentivo para melhorar a governança. “A água precisa estar no centro da agenda dos governos, com comprometimento de vários setores. Precisamos de investimentos para garantir a segurança hídrica, além de um pensamento inovador e adaptativo que possa prevenir crises vindouras. Isso pode ser feito por meio da gestão compartilhada de recursos hídricos”, indicou Braga.
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A cerimônia no Itamaraty contou com a presença de vários chefes de Estados e outros líderes mundiais. Estiveram também presentes os presidentes da Hungria (János Áder), de Cabo Verde (Jorge Carlos Fonseca), da Guiana (David Granger), da Guiné-Bissau (José Mario Vaz) e de São Tomé e Príncipe (Evaristo Carvalo), os primeiros-ministros da Coreia do Sul (Nak-yeon Lee), do Marrocos (Saad Dine el Otomani), do Senegal (Mouhammed Dione) e Mônaco (Serge Telle), além do príncipe-herdeiro do Japão (Naruhito).
A cerimônia ainda teve a participação do presidente da Assembléia Geral da ONU (Miroslav Lajcák ) e da diretora-geral da Unesco (Audrey Azoulay), entre outras autoridades internacionais. O diretor executivo da Agência Nacional de Águas (ANA), Ricardo Andrade, relembrou a trajetória de construção democrática desta oitava edição do Fórum e a extensa programação do evento até o dia 23 de março. “Nesta semana, Brasília não será apenas a capital do Brasil, será também a capital mundial da água”, destacou Andrade, que também é diretor executivo do 8º Fórum Mundial da Água. Paulo Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), também chamou atenção para os aspectos relacionados à temática geral do Fórum. “O compartilhamento é também de responsabilidades sobre a água. É isso que queremos deixar como um dos mais importantes legados do fórum: não existe compartilhamento sem diálogo”, afirmou Salles, que é co-presidente do Comitê Organizador do 8º Fórum Mundial da Água. A abertura lotou auditório do CCUG, que tem capacidade para cerca de três mil pessoas, e contou com transmissão da cerimônia fechada, que ocorreu no Palácio do Itamaraty, onde autoridades brasileiras e chefes de Estado estrangeiros fizeram pronunciamentos aos participantes do 8º Fórum.
Manifestação contra a privatização da água
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A embaixadora do 8º Fórum Mundial da Água, a jornalista Rosana Jatobá, conduziu a apresentação no auditório do CCUG e destacou que o Fórum é o ambiente ideal para se discutir o tema e firmar um compromisso em prol da gestão hídrica. Estiveram presentes também na cerimônia de abertura, no auditório do CCUG, o diretor da ANA, Ricardo Andrade; o presidente da Adasa, Paulo Salles; o presidente honorário do Conselho Mundial da Água, Loic Fauchon; o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini; o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Erik Solheim; o diretor da Itaipu Binacional, Pedro Domaniczky; e o gerente de infraestrutura e energia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), José Agustin Aguerre. A programação da abertura contou com a apresentação musical da Orquestra Brasília Cello Academia e da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Durante a cerimônia, os Correios lançaram o selo especial do 8º Fórum Mundial da Água pelos Correios, em formato arredondado, com a marca do evento
Escassez e risco de conflitos O primeiro-ministro do Principado de Mônaco, Serge Telle, também manifestou preocupação com o risco de a escassez resultar em desentendimentos regionais e na morte de milhões de pessoas ao redor do mundo. “A escassez de recursos nutre conflitos em um mundo que usa milhares de litros de água para a produção de bens de consumo. É uma necessidade ecológica que se reduza dia após dia o uso de nossos recursos de água potável”, disse Serge Telle. Ele acrescentou que a falta de água potável “é fator de subdesenvolvimento e de desigualdade entre homens”, e que a escassez de água que acarreta em “milhões de mortes” a cada ano. A crise no mundo, segundo ele, acaba por “sacrificar o futuro em nome do presente”. “A água dá uma realidade a perigos abstratos. Podemos ver isso em imagens de enchentes, nas águas impróprias ao consumo, que propagam doenças e induzem as populações a se deslocarem. A água também mostra a solução a esses problemas, pelo domínio da água e do saneamento”, completou. O vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mangue, ressaltou que não se pode subestimar a importância da água para qualquer atividade humana.
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Fórum Alternativo Mundial da Água faz manifestação contra a privatização da água e em comemoração ao Dia Mundial da Água
Abertura da Expo e da Feira da oitava edição do Fórum Mundial da Água. Presença do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, do governador do DF, Rodrigo Rollemberg, do presidente da ADASA, Paulo Salles e do diretor da ANA,
Depleção (Perda ou diminuição) de água: Uma métrica melhorada para incorporar a escassez de água sazonal e do ano seco nas avaliações de risco da água
“A água provocou enfrentamento em diferentes comunidades e é a base de inumerosos conflitos.
Tratar essa questão não é apenas uma questão de abordagem de seu uso. Tem influência sobre a paz universal”, disse.
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Compartilhando Água
Justiça social e futuras gerações Representando o país que sediará o 9º Fórum Mundial da Água, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Senegal, Sidiki Kaba, afirmou que o acesso universal à água “é uma questão de justiça social”, e que não se pode considerar esse recurso como sendo inesgotável. “Governos, sociedade e setor privado têm de trabalhar por uma gestão eficiente e sustentável. A água não deve ser causa de doença. Ela é fonte de vida que deve estar disponível a todos, estancando a sede, nutrindo e cuidando e purificando o bem da humanidade” disse. Já o primeiro-ministro de Marrocos, Saad Dine el Otomani, manifestou preocupação com a disponibilidade da água para as futuras gerações. “A água não pertence apenas à atual geração. Temos de deixar para as gerações futuras”.
Otomani destacou o engajamento de seu país em promover premiações a projetos que tratam da distribuição e do uso eficiente da água. É o caso do Prêmio Mundial para a Água Hassan II, que foi entregue ao secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría. A premiação, oferecida pelo governo de Marrocos, é entregue a cada três anos na abertura do Fórum Mundial da Água e em 2018 tem como objetivo reconhecer iniciativas que garantam solidariedade, inclusão e a segurança hídrica global. Como não pôde comparecer, Gurría enviou um vídeo agradecendo a homenagem e destacando que há pelo menos uma década tem defendido que a organização se debruce sobre a água, junto com outros temas, como a migração.
Gestão de recursos hídricos ganhará reforço com acordos internacionais
Christianne Dias Ferreira, presidente da ANA-Agência Nacional de Águas, com Rodrigo Hühn, nosso diretor e a Revista Amazônia
Cooperação entre Brasil, Portugal e as Nações Unidas permitirá troca de experiências. O Governo Federal firmou acordos internacionais de cooperação técnica visando o fortalecimento de ações que possam garantir segurança hídrica ao País. As parcerias foram formalizadas durante o 8º Fórum Mundial da Água, pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, e por representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa (LNEC).
Premiação
Prêmio Mundial para a Água Hassan II, ao secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría
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As parcerias foram formalizadas pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, e por representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa (LNEC)
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A experiência brasileira no Projeto de Integração do Rio São Francisco será um dos objetos de colaboração do Ministério, que atua para reduzir desigualdades regionais promovendo o desenvolvimento econômico e socialmente inclusivo. “Nós estamos trabalhando em conjunto com organizações internacionais para fortalecer iniciativas de parceria do Governo Federal no sentido de garantir segurança hídrica para o Brasil. Segurança hídrica que permita mais produção, oferta de alimentos e que o nosso país possa colaborar com essa luta coletiva para o planeta”, disse Helder Barbalho. Os acordos vão permitir a troca de informações técnicas, o intercâmbio de especialistas entre as instituições e a elaboração de planos de ação conjunta com propostas a partir das experiências de cada membro. O Projeto São Francisco, maior obra hídrica do País e que hoje já atende a um milhão de pessoas nos estados da Paraíba e de Pernambuco, é um dos temas de destaque para a cooperação entre os países.
País passa a proteger 25% dos oceanos
O ministro lembrou que, com a criação das UCs marinhas, o Brasil amplia de 1,5% para 25% a sua área protegida na zona costeira-marinha, ultrapassando os 17% recomendados pelas Metas de Aichi, um conjunto de ações que devem ser assumidas pelos países para deter a perda de biodiversidade planetária. “É um salto fundamental para protegermos os nossos oceanos dos riscos da degradação”, reforçou Sarney Filho.
Painel de Alto Nível Água e Desastres Naturais Durante o Painel, foram compartilhadas experiências de países como Hungria, Japão e Myanmar em relação ao tema, além de recomendações para que se possa avançar no combate aos desastres relacionados à água. De forma resumida, as recomendações foram: necessidade de uma maior articulação internacional para questões relacionadas aos recursos hídricos; disponibilizar mais recursos financeiros para a área, sendo necessário dobrar o investimento para políticas de água; além do desenvolvimento de educação, ciência e tecnologia para criar conhecimento sobre o tema. O presidente da Hungria, János Áder, destacou que a mudança climática anda de mãos dadas com a mudança dos ciclos hidrológicos e que os gastos com desastres naturais aumentaram drasticamente em relação à década de 90.
“Governos nacionais não podem economizar com investimentos em infraestrutura. A prevenção é sempre mais barata”, ressaltou. Para o príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, a comunidade internacional deveria se unir para contra-atacar as ameaças que estão ocorrendo em escala global. Além disso, citou a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que são norteadores das ações e frisou que “os objetivos só serão alcançados se a relação causa e efeito entre água e outros setores forem completamente entendidos”. O ministro de Recursos Naturais e Conservação do Meio Ambiente de Myanmar, Ohn Win, sinalizou que a segurança hídrica é fortemente impactada pelas mudanças climáticas e, por isso, a Agenda 2030 deve promover uma mudança integrando atores de diversos setores. “Enchentes e chuvas intensas têm sido relacionadas com grandes epidemias de doenças relacionadas à água”, disse Win ao falar de outro problema causado pelos desastres naturais. O principal objetivo do Painel foi traduzir os acordos globais em compromissos políticos e ações concretas, com um foco especial em temas como reforço de financiamento e investimentos para redução de risco de desastres relacionados à água e à promoção da ciência e da tecnologia.
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, anunciou a criação oficial de dois mosaicos de unidades de conservação (UCs) marinhas
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, anunciou a criação oficial pelo governo brasileiro de dois mosaicos de unidades de conservação (UCs) marinhas – as áreas de proteção ambiental (APA) e monumentos naturais (Mona) dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo (PE) e de Trindade de Martim Vaz (ES). O decreto de criação das unidades já foi assinado pelo presidente da República, Michel Temer.
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Durante o Painel
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Painel “Água e migrações”
O ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, no Painel “Água e migrações”
“A água é a primeira em questão de vida, necessária para a sobrevivência. Os números mostram bem a escassez, pois apenas 2,5% da água no mundo são doces. Desses, cerca de 70% encontram-se em forma de gelo ou neve. O que resta é 0,7%, que está adequada para o consumo humano, mas encontra-se em nível profundo ou atmosférico”, declarou a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e do Desenvolvimento de Portugal, Teresa Ribeiro. “Esses números são importantes para as questões geopolíticas, pois 90% da população mundial têm que compartilhar obrigatoriamente os recursos hídricos disponíveis. E isso gera um conflito”, completou. O debate destacou que muitas vezes a falta de acesso à água é um fator impulsionador de migração, mas que também pode ser um fator de esgotamento do fenômeno.
Ao centro o ministro Helder Barbalho com Roberto Otto P. Massler, diretor de Infraestrutura Hídrica, outros diretores e engenheiros do DNOCS, tomando ciência que a transposição do rio São Francisco , eixo norte, levará água para o Ceará, com “previsão até o fim do ano”
A sessão mostrou as relações entre água e os movimentos migratórios globais, além de identificar as causas de migração relacionadas à água em diferentes regiões do mundo e o papel da migração como estratégia de adaptação às mudanças climáticas. Para o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, a relação água e migração não tem tanta evidência no Brasil. Mas ele destacou a questão de acesso a água. Na ocasião, Barbalho lembrou da transposição do Rio São Francisco, que está completando um ano e já atendeu 1 milhão de pessoas em Pernambuco e na Paraíba. O Ministério da Integração prever beneficiar ainda 11 milhões de cidadãos.
Conectando Água e Clima
A nossa vida, a sobrevivência, a saúde, o ecossistema e até o clima dependem fortemente da água. A natureza e a biodiversidade proporcionam muitas soluções de baixo custo para as questões da qualidade da água e da quantidade em todo o mundo
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O painel abordou a água e o clima como questões centrais para atender a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) e metas nacionais de adaptação e mitigação do clima. O professor Dogan Altinbilek, vice-presidente do Conselho Mundial da Água, abriu o painel apontando que mais de 90% dos países em fase de adaptação reconhecem a relevância de colocar a pauta da gestão da água de forma estratégica. Segundo ele, os países consideram que a água deve ser abordada como um risco potencial e como um vetor de soluções, em nível da escala nacional, local e de projeto. As questões trazidas pelo painel resultaram na seguinte definição: o setor da água não está preparado para as questões do clima.
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“Estamos testemunhando as mudanças climáticas e acontecem cada vez mais fortes, conforme o nível da água. É preciso fazer uma boa gestão para propor soluções viáveis de ligação entre clima e água”, destacou Altinbilek. Além do professor, todos os participantes concordaram que a gestão estratégia da água é o ponto de partida para cumprir os compromissos em relação aos recursos naturais. Foi abordado, ainda, que os conceitos tradicionais de água nem sempre são adaptados às necessidades e as especificações são cada vez mais exigidas por fundos específicos de doadores e clima. O painel contou também com a participação de participantes de Portugal, Marrocos, Africa do Sul, Comissão Europeia, Polônia, El Salvador, além entidades ligadas ao tema.
Painel discute água para produção de alimentos
Painel Água para Agricultura e Produção de Alimentos
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirma que a água e a justiça são direitos fundamentais, durante o Fórum Alternativo
Onze líderes espirituais discutiram a relação da humanidade com a água por meio dos conhecimentos ancestrais, tradicionais e sagrados
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O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse que 90% da produção agrícola no país utilizam água das chuvas. Segundo ele, apenas 10% do setor utilizam água captada por sistemas de irrigação. “A água é reciclada no processo [agrícola], não há exportação de água. Às vezes, falam que precisa de 15 mil litros de água para fazer um quilo de carne. Isso não é verdade, é uma lenda urbana. É uma coisa que começou e continua a ser dita e não tem explicação científica. A verdade é que o quilo de carne não leva um quilo de água. Nós fazemos agricultura no Brasil sem irrigação, é apenas um aproveitamento natural das chuvas que nós temos”, disse Maggi, ao encerrar os debates. Já o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, ressaltou que a produção agropecuária brasileira, nos últimos 40 anos, tem se baseado em processos tecnológicos. “A tecnologia nos ajudou a intensificar o uso da terra e garantiu o equilíbrio entre a conservação dos nossos biomas e a capacidade do país de seguir produzindo alimentos. A forma para chegarmos até isso foi um grande investimento em produção de geração de conhecimento, treinamento e capacitação”, disse. Maurício Lopes apontou ainda o sistema desenvolvido, por especialistas da Embrapa, utilizado nas lavouras, pecuária e floresta como uma das soluções para preservar o solo e produzir água.
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Marina Grossi, presidente do CEBDS, com Rodrigo Hühn, nosso diretor e a Revista Amazônia
“É uma forma de manter o solo protegido 365 dias por ano, garantindo a recomposição das nossas reservas de água e o lençol freático em uma agricultura essencialmente produtora de água”, assegurou. Para Lopes, o desafio no país está em levar tecnologia e informação às áreas que ainda não têm acesso aos sistemas modernos de produção agrícola e pecuária. “Nós ainda temos regiões no Brasil onde prevalece uma agricultura pobre, que tem dificuldade de acessar esse conhecimento e essa informação. Nós temos que trabalhar no sentido de ajudar essa agricultura, de estar no local. Na região do Brasil mais carente em água, o Nordeste brasileiro, a nossa empresa vem fazendo uma série de esforços de levar conhecimento e tecnologia”, afirmou.
Produção agrícola De acordo com o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, lançado pela Unesco), a agricultura consome 70% da água disponível no mundo, a indústria outros 20% (incluindo a geração de energia elétrica) e o consumo doméstico, 10%. O documento aponta que o mundo precisará aumentar em 50% a produção de alimentos até 2050, caso mantenha o atual padrão de consumo. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza, que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo.
Água e Espiritualidade Helder Barbalho, Ministro da Integração, com Rodrigo Hühn, nosso diretor e a Revista Amazônia
João Martins da Silva Junior, presidente da CNA, com Rodrigo Hühn, nosso diretor e a Revista Amazônia
Um ritual de consagração da água marcou a abertura da sessão especial Água e Espiritualidade, em um auditório lotado, onze líderes espirituais discutiram a relação da humanidade com a água por meio dos conhecimentos ancestrais, tradicionais e sagrados. O espaço rompeu os debates formais sobre recursos hídricos no mundo e permitiu a discussão de aspectos subjetivos da relação da humanidade com a água, por meio de ensinamentos de religiões como budismo, cristianismo, espiritismo, islamismo, tradições indígenas e de matrizes africanas. Também participaram do encontro o antropólogo e reitor da Universidade da Paz, Roberto Crema, a representante do Conselho das 13 avós, Maria Alice Campos Freire, a Coordenadora da Secretaria de Igualdade Racial do Estado da Bahia, Ekedi Rose Mery e o Babá PC, líder da Casa de Oxum Maré, na Bahia.
Cristianismo O cristianismo foi representado no evento por dois líderes religiosos: Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar de Brasília e o pastor da igreja evangélica Sara Nossa Terra, Vagner Pagani. Dom Stein citou o Papa Francisco, que defende o cuidado e o cultivo na Encíclica sobre Ecologia. Para ele, a sociedade deve mudar a relação que tem estabelecido com a água e inverter a lógica de consumo para cuidado. “[Não posso tratá-la como] uma criatura que me serve, que está quase à minha disposição ou como vemos hoje nos relacionamentos com a água da forma como lidamos com dinheiro, com entrega, com dominação”, disse.
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“É preciso uma nova compreensão de relação com a água, que deve ser essencialmente de cuidado”, completou.Já o pastor evangélico Vagner Fagani ressaltou que é necessário ter uma postura responsável diante de um bem deixado por Deus aos homens.
Espiritismo Para o representante da Federação Espírita de Brasília (FEB), Arismar León, a sociedade vive um momento importante na vida da humanidade “em que vamos decidir pra que lado iremos”. Segundo ele, as pessoas têm valorizado excessivamente os bens materiais e negligenciado aspectos sagrados e espirituais. Somo seres espirituais em uma vivência humana, isso é muito maior, mais significativo, muda com o sagrado, com a água que nos dá a vida, nos dá energia”, assegurou.
Budismo O líder do templo Shin budista Terra Pura, monge Sato, afirmou que o contato com a água implica sempre em regeneração – tanto espiritual quanto física – e que ela não pode ser tratada como mercadoria. Segundo ele, a água é a fonte de todas as possibilidades de existência. Para o presidente do Conselho Superior para Assuntos Islâmicos do Brasil, Sheik Abdel Halim, a água é um instrumento de purificação enviado por Deus. Segundo ele, é necessário que a humanidade volte para o caminho ensinado por Deus como a ética, moralidade, boa conduta, justiça e o bom caráter.
No último dia de atividades do 8º Fórum Mundial da Água
Comunidades tradicionais e as mudanças climáticas A adaptação de comunidades tradicionais e indígenas às mudanças climáticas e aos impactos de grandes empreendimentos foi discutida em uma sessão especial , mas não havia lideranças indígenas brasileiras presentes ao debate, mas a representante do Canadá, Sunny Lebourdais, contou que foi necessário um processo de dois anos para que o governo local e as autoridades federais do
O diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do ICMBio, Cláudio Maretti, fala durante sessão especial: Desafios para proteger biomas específicos que reforcem o uso sustentável da água
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Canadá determinassem o cancelamento de um projeto que colocaria em funcionamento uma mina a céu aberto. Segundo Victor Salviati, coordenador da Fundação Amazonas Sustentável, as estratégias de convencimento das comunidades amazonenses para o cuidado com as mudanças do clima passam por três pontos: engajamento social por meio de oficinas, soluções práticas e eficientes e a adaptação nos sistemas produtivos para a realidade dos povos. “Não funciona nada [se a solução for] trazida pelo homem branco ou outras pessoas de fora. Tem que ser uma coisa adaptada à realidade da comunidade”, explicou. Sunny Lebourdais, como parte da cultura dos índios canadenses, lembrou que, no passado, algumas queimadas eram utilizadas pelos antecedentes dos indígenas do Canadá, tendo como objetivo a caça de animais. Ela observou, porém, que os recentes incêndios têm ocorrido de forma mais intensa. “Há um grande acúmulo de calor no chão. Notamos que ele queima mais forte. Algumas das lideranças e conhecedores da terra dizem que vai levar muito mais anos porque a vida microbial e elementos do solo não estão mais presentes”, alertou. Também participaram do encontro o antropólogo e reitor da Universidade da Paz, Roberto Crema, a representante do Conselho das 13 avós, Maria Alice Campos Freire, a Coordenadora da Secretaria de Igualdade Racial do Estado da Bahia, Ekedi Rose Mery e o Babá PC, líder da Casa de Oxum Maré, na Bahia.
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A escassez de água e as secas aumentarão dramaticamente no futuro
Tecnologia de reuso: podemos lidar com inovações? Durante esse painel, o engenheiro ambiental Luis Marinheiro, de Portugal, explicou que o processo de reaproveitamento hídrico envolve tecnologia, capacitação, inovação, infraestrutura, entre outros conceitos, e apontou o cenário crítico no setor. “Embora 72% da superfície da Terra esteja coberta de água, apenas 3% é adequada para consumo e irrigação. A escassez de água e as secas aumentaram drasticamente nas últimas décadas e provavelmente se tornarão mais frequentes e mais severas no futuro. É preciso avançar nas tecnologias de reuso”, disse Marinheiro. Foram apresentadas diversas propostas de reuso de água. Entre elas, a implantação de política de reuso de efluente sanitário tratado, de forma progressiva, propondo metas de curto, médio e longo prazo. Segundo Marlos de Souza, da Organização Alimentar e Agrícola das Nações Unidas, a ideia promete contribuir para o aumento da oferta de recursos hídricos em regiões com escassez, para o estabelecimento de um modelo de financiamento adequado que fomenta o reuso sustentável. Isso irá contribuir também com pequenos e grandes projetos, principalmente para a agricultura em municípios pequenos e áreas rurais. Participaram do painel: Ernani Miranda, do Ministério das Cidades; Hiromasa Yamashita, do Ministério da Terra, Infraestrutura, Transporte e Turismo do Japão; Luis Marinheiro, engenheiro ambiental de Portugal; Claudio Ternieden, da
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Federação do Meio Aquático dos Estados Unidos (Water Environment Federation); Helena Kubler, da Jacobs/CH2M; Paula Kehoe, diretora de Recursos Hídricos da San Francisco Public Utilities Commission; Claus Homann, da Aarhus Water Utility LTD da Dinamarca; Renato Ramos, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES); Marlos de Souza, da Organização Alimentar e Agrícola das Nações Unidas; Eduardo Pedroza, da Ecocil Engenharia; e Percy Soares Neto, coordenador da Rede de Recursos Hídricos na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Brasil defende proteção dos recursos naturais
A preservação dos recursos naturais é uma prioridade do governo federal. Disse o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, durante cerimônia em homenagem ao Dia Mundial da Água. Organizada pelo Conselho Mundial da Água, Organizações das Nações Unidades e Unesco, a agenda contou com a presença do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, do presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, do vice-presidente da ONU Água, Joakim Harlin, e de representantes de populações indígenas. “O Brasil é um país que, embora pródigo em biodiversidade, sabe dos riscos que a mudança do clima acarreta”, afirmou Sarney Filho. Ele ressaltou que sua gestão à frente do Meio Ambiente tem olhado para os biomas brasileiros de uma forma que nunca aconteceu antes e está à altura da responsabilidade que isso representa. Como exemplos das políticas ambientais implantadas, Sarney Filho destacou as que envolvem os recursos hídricos, como a assinatura, pelo presidente da República, Michel Temer, do decreto que criou dois mosaicos de áreas protegidas marinhas nos arquipélagos de Trindade e Martim Vaz, no Espírito Santo, e São Pedro e São Paulo, em Pernambuco. Com isso, o país terá mais quatro unidades de conservação, que serão geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Com a criação dessas áreas, que totalizam 90 milhões de hectares, o Brasil passa de apenas 1,5% de suas áreas marinhas protegidas para 26,3%, superando as metas da Convenção sobre Diversidade Biológica e da agenda 2030, da ONU”, destacou.
No Dia Mundial da Água, Sarney Filho reforça a necessidade de fortalecer a gestão ambiental frente aos efeitos da mudança do clima
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Proteção
Estande de Ministério da Integração
Sarney Filho destacou os esforços do país, no âmbito da Comissão Internacional da Baleia, para a criação do Santuário das Baleias do Atlântico Sul e do Plano de Manejo de Baleias do Atlântico Sul. De acordo com ele, o número de unidades de conservação designadas como Sítio Ramsar no Brasil praticamente duplicou nos últimos dois anos, passando de 13 para 25.
Sinergia Para o ministro, é necessário tratar os problemas de forma sistêmica, integradas e em sinergia com todas as áreas para fazer frente à mudança do clima. Nesse sentido, ele afirmou que o ministério intensificou ações já consagradas como o Programa Água Doce, que por meio da instalação de dessalinizadores em comunidades difusas do semiárido brasileiro, garante o acesso da população à água de boa qualidade. Os programas Conversão de Multas e Plantadores de Rios também foram citados por ele. “São ações valiosas pois o engajamento do conjunto da sociedade é fundamental para cuidar da água, recurso mais precioso para a vida, direito e responsabilidade de todos nós”, concluiu Estande da Petrobrás
Estande da CAIXA
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Estande do BNDES
ONU defende equilíbrio entre infraestruturas verde e cinza para uso da água Todos os documentos do Processo Político, assim como de outras comissões, estão ou ainda estarão disponíveis em http://www.worldwaterforum8.org/pt-br/ comiss%C3%A3o-do-processo-politico]. Ainda no encerramento, o coordenador do Fórum Cidadão, Lupercio Antônio, apresentou os dez princípios pactuados durante o evento, como a educação e o acesso a informação para a efetiva participação social na gestão da água. Ele também comemorou o sucesso da Vila Cidadã, espaço que recebeu a visita de 40 mil crianças. O presidente do comitê do Processo Temático, Torkil Jønch Clausen, também apresentou os resultados das 95 sessões realizadas durante o evento. As mensagens que serão detalhadas no relatório do fórum abrangem questões sobre clima, desenvolvimento, cidades, ecossistemas, finanças, compartilhamento, capacitação e governança. As autoridades brasileiras organizadoras do fórum também passaram a bandeira do Conselho Mundial da Água para os organizadores da nona edição, que será realizado em Dacar, no Senegal, em 2021.
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Atingimos plenamente nosso objetivo, afirmou Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água, no encerramento do 8º FMA O diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Ricardo Andrade, durante divulgação do balanço geral do 8º Fórum Mundial da Água
O Fórum da Água do Japão e o Conselho Mundial da Água divulgaram o vencedor do Grande Prêmio Mundial da Água de Quioto
Grande Prêmio Mundial da Água de Quioto Também no encerramento, os representantes do Fórum da Água do Japão e do Conselho Mundial da Água entregaram o Grande Prêmio Mundial da Água de Quioto. A organização vencedora da quinta edição foi a Caridade Cristã para pessoas em Situação de Risco (CCPD, sigla em inglês), do país africano Togo. A organização capacita indivíduos e grupos comunitários para melhorar o acesso a água potável e saneamento por meio da construção e remodelação de instalações de água potável e saneamento. Além disso, a CCPD organiza campanhas e oficinas de conscientização e educação. O trabalho, que vem sendo realizado desde 2013, conseguiu diminuir doenças e mortes relacionadas à água e ao saneamento em comunidades de Togo. Ao todo, foram 144 projetos inscritos de 46 países. A CCPD receberá o equivalente a US$ 18 mil dólares, que servirão para implementar o projeto e promover a gestão da água em Togo. O prêmio é entregue desde 2003. O objetivo é encontrar e desenvolver boas práticas em todo o mundo relacionadas com o tema água. A quinta edição buscou homenagear organizações que vêm trabalhando para resolver problemas críticos de água nos países em desenvolvimento.
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Encerramento/Balanço do 8º Fórum Mundial da Água O 8º FMA, terminou em Brasília, com a participação de quase 100 mil pessoas durante os sete dias de evento. O tendo os coordenadores dos diversos segmentos temáticos apresentados os principais resultados das discussões acerca dos recursos hídricos, durante esse encerramento. O balanço é que as ações realizadas até agora em relação ao tema são insuficientes para garantir segurança hídrica para toda a população. Foram mais de 6,7 mil participações nas 59 sessões do Processo Regional e os relatórios apresentam os esforços no compartilhamento de ideias, práticas, desafios e soluções para a água. Desafios esses que, para o coordenador do Processo Regional, Irani Braga Ramos, do Ministério da Integração, tendem a continuar aumentando devido às mudanças climáticas. A coordenadora do Grupo Focal de Sustentabilidade, Marina Grossi, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, ressaltou o senso de urgência e a transversalidade de outros setores em torno do tema água. “Não adianta brigar e não colaborar com os setores que pegam mais água. Nosso alimento também chega mais caro se a água não chega à agricultura”, exemplificou ela. Para Marina, é preciso dar sustentabilidade e melhorar a cooperação entre os setores. “Trabalhar fora da caixa”, disse. “Se a gente não fizer ações muito mais agressivas e significativas toda essa agenda [dos ODS] não será cumprida até 2030”, ressaltou, cobrando mais apoio das Nações Unidas para o desenvolvimento de um diálogo político de alto nível.
Cerimônia de encerramento do 8º Fórum Mundial da Água No encerramento do 8º FMA, entrega da Declaração de Sustentabilidade, construída com base em contribuições dos participantes
Para o coordenador do Processo Político, ministro Reinaldo Salgado, do Ministério das Relações Exteriores, a grande inovação Cerimônia de passagem da bandeira do Fórum à comitiva do Senegal, próxima sede do FMA 2021
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foi a realização de um segmento de juízes e procuradores. “Isso fecha um ciclo de inclusão no processo político com todos os principais agentes públicos”, disse. “O balanço geral é de um grande êxito tanto em quantidade e nível de delegações, quanto em qualidade dos debates”, avaliou. Já para o senador Jorge Viana (PT-AC), que coordenou a Conferência Parlamentar, é importante deixar um legado do fórum, por isso, ele apresentou uma proposta de emenda à Constituição para incluir a água como direito humano. “Esse é um ponto fundamental de partida”, disse ele, lamentando ainda a ausência de representantes do países mais ricos no fórum. Após apresentação de resultados, entrega do prêmio Quioto e dos pronunciamentos das autoridades, foi feita a passagem da bandeira do Fórum mundial da Água para a comitiva do Senegal, onde será a edição de 2021
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MIT cria peixe robótico para salvar os oceanos Roboticista Robert Katzschmann com seu SoFi, no Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do MIT (CSAIL)
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oFi é um soft robotic fish, isto é, peixe robótico flexível – criado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para vasculhar os oceanos de todo o mundo. Com seu tamanho pequeno e semelhança de animal marinho, ele consegue acessar espaços pequenos em corais e circula pelo mar sem espantar tais cardumes. Por isso, consegue imagens que um mergulhador humano ou robô convencional não conseguiria. A velocidade de nado do SoFi no entanto não é muito alta, mas mesmo assim ele parece ser uma tecnologia promissora, que ainda deve melhorar no futuro. Seus desenvolvedores querem que ele seja capaz de seguir um peixe em particular para que seus hábitos sejam então estudados.
Além do mais, os pesquisadores querem coletar mais dados sobre a poluição e outras intervenções humanas ocasionadas no fundo do oceanos. Em um artigo científico publicado na revista Science Robotics, pesquisadores do MIT dão mais detalhes sobre a evolução deste peixe robótico. Os pesquisadores enfrentaram três grandes problemas no desenvolvimento deste projeto: o primeiro é relacionado à comunicação. Veículos que se movem embaixo da água tipicamente acabam presos a um barco porque as ondas de rádio não viajam bem na água. Por isso os inventores do SoFi optaram por usar som em sua comunicação. “Comunicação com radiofrequência embaixo d’água funciona por apenas alguns centímetros.
O Soft Robotic Fish, também conhecido como SoFi, é uma máquina hipnótica, do tipo que o mar nunca viu antes. Como um Moby Dick em miniatura, o peixe branco balança lentamente sobre o recife, mergulhando sob os corais e subindo, depois descendo novamente, para cima e para baixo e ao redor. Suas entranhas, no entanto, não são carne, mas eletrônica. E sua cauda flexível sacudindo para frente e para trás não é de músculo e escamas, mas de elastômero. 18feita REVISTA AMAZÔNIA
Sinais acústicos podem viajar por maior distância e com menor consumo de energia”, explica o autor principal do projeto, Robert Katzschmann. Utilizando som, mergulhadores podem pilotar o peixe-robô de uma distância de 21 metros. O segundo problema tem a ver com os motores elétricos do robô, chamados de atuadores. Os pesquisadores precisavam de um atuador flexível para que então o movimento do peixe seja suave como o animal de verdade. Por isso, o rabo do Sofi tem duas câmaras vazias em que uma bomba injeta água. “Tudo o que você faz é criar um ciclo de água de um lado para o outro, e isso causa uma ondulação e a movimentação do rabo”, diz o autor. Problema número três: nadar custa caro energeticamente falando. Os peixes precisam se “agarrar” a uma determinada profundidade, e usam a bexiga natatória para controlar a habilidade de boiar ou não. Então o SoFi usa um tipo de bexiga natatória, um cilindro que comprime e descomprime ar com a ajuda de um pequeno pistão.Além de tudo isso, o robô não tem todos os espaços com ar que uma máquina típica tem. “Os compartimentos que normalmente seriam hermeticamente fechados e cheios de ar, nós enchemos com óleo”, diz Katzschmann. Isso dá integridade estrutural ao peixe e permite que ele atinja profundidade de até 18 metros. Por enquanto, o SoFi é controlado remotamente. Mas a ideia é que versões futuras usem a visão mecânica para capturar peixes individuais e acompanhá-los, tudo sem levantar suspeitas. Isso poderia ajudar os cientistas a estudar a dinâmica da escola ou monitorar a saúde das populações de peixes em oceanos cada vez mais insalubres. “Ele irá nos ajudar com a fuga e atração de peixes que estão associadas com outras formas de monitoramento como robôs e mergulhadores”, diz Hanumant Singh, da Northeastern, que desenvolve veículos submarinos autônomos, mas não esteve envolvido na pesquisa. Por agora, os pesquisadores observaram que peixes às vezes nadam ao lado do robô, mostrando Asim ser curiosos. Enquanto isso, outros peixes ignoravam o SoFi e seguiam com sua rotina normalmente, sem fugir como aconteceria se houvesse um mergulhador presente. Veja o peixe em funcionamento no vídeo: https://youtu.be/Dy5ZETdaC9k
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Relatório da Unesco sobre água propõe soluções baseadas na natureza
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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, durante a abertura oficial do Fórum Mundial da Água, em Brasília. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza (SbN), que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo. O documento mostra que apesar da disseminação das tecnologias que envolvem a conservação ou a reabilitação de ecossistemas naturais, esses processos correspondem a menos de 1% do investimento total em infraestrutura para a gestão dos recursos hídricos. Segundo a oficial do Programa Mundial de Avaliação de Recursos Hídricos da Unesco, Angela Ortigara, o objetivo da publicação é incentivar a adoção de soluções baseadas na natureza para que sejam sejam efetivamente consideradas na gestão da água.
Fotos: Antonio Cruz /Agência Brasil, Jorge Cardoso/ 8th WWF, ONU/Logan Abassi, ONU/Martine
É importante para preservar a qualidade e a quantidade da água que, depois, o ser humano vai utilizar
“O que acontece, muitas vezes, é que, por facilidade, praticidade ou falta de conhecimento, ninguém pensa que se pode utilizar a natureza para gerenciar, por exemplo, enchentes ou prevenir um caso de seca. A vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água, diz o relatório da Unesco
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E, no entanto, o que a gente quer nesse relatório é mostrar que não é preciso necessariamente construir grandes obras de infraestrutura para melhorar a gestão da água”, afirmou Angela. O relatório da Unesco ressalta que abordagens tradicionais não permitem que a segurança hídrica sustentável seja alcançada. Já as soluções baseadas na natureza trabalham diretamente com a natureza, não contra ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens tradicionais, de modo a aumentar os ganhos em eficiência social, econômica e hidrológica no que diz respeito à gestão da água. “As SbN são especialmente promissoras na obtenção de progressos em direção à produção alimentar sustentável, à melhora dos assentamentos humanos, ao acesso ao fornecimento de água potável e aos serviços de saneamento, e à redução de riscos de desastres relacionados à água.
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Gilbert Houngbo, Presidente da UN-Water e Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola
“Por muito tempo, o mundo voltou-se para a infra-estrutura humana ou cinzenta para melhorar a gestão da água. Ao fazê-lo, muitas vezes afastou o conhecimento tradicional e indígena que adota abordagens mais ecológicas. Três anos na Agenda 2030 Para o Desenvolvimento Sustentável, chegou a hora de reexaminar as soluções baseadas na natureza (NBS) para ajudar a atingir os objetivos de gestão da água ”, escreve Gilbert Houngbo, Presidente da UN-Water e Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola no prefácio de o relatório Elas também podem ajudar na resposta aos impactos causados pela mudança climática sobre os recursos hídricos”, diz a publicação. “O relatório quer que as pessoas abram os olhos para soluções que talvez não estejam tão claras do ponto de vista de engenharia, não sejam tão conhecidas, mas que podem trazer soluções que não são banais. Se decidir reflorestar uma área, a primeira coisa que vai pensar é: essa área estará coberta, terá animais, mas também ajudará a recarregar a água subterrânea, os aquíferos”, disse a oficial da Unesco. “Há uma série de benefícios que são difíceis de ser quantificados economicamente e talvez essa seja uma das razões pelas quais essas soluções não venham sendo utilizadas. No entanto, são benefícios que têm que ser considerados se pensarmos em longo prazo”, completou Angela. Entre os exemplos dados pela publicação está a ampliação de banheiros secos, aqueles que evitam o lançamento de dejetos em tubulações ligadas a centros de tratamento de água ou em rios. Esse tipo de banheiro também permite a produção de composto orgânico ao final do processo. Em uma proposta de solução mais ampla, o relatório apresenta a experiência das cidades-esponjas, na China, em que construções absorvem água da chuva de forma rápida e segura.
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O vice-presidente da ONU Água, Joakim Harlin; o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim; o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg; a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay; o coordenador e diretor do Programa de Avaliação dos Recursos Hídricos da Unesco, Stefan Uhlenbrook, no lançamento mundial do Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água das Nações Unidas
Economia De acordo com o relatório, as soluções baseadas na natureza apoiam a “economia circular”, aquela considerada restauradora e regenerativa, que busca reduzir os desperdícios e evitar a poluição, inclusive por meio do reúso e da reciclagem. Além disso, a tecnologia apoia os conceitos de crescimento verde e de economia verde, que promovem o uso sustentável dos recursos naturais e aproveitam os processos naturais como fundamento das economias. “Essa utilização das SbN no setor hídrico também gera benefícios no campo social, econômico e ambiental, incluindo a melhoria da saúde humana e dos meios de subsistência, o crescimento econômico sustentável, empregos dignos, a reabilitação e a manutenção de ecossistemas, e a proteção/desenvolvimento da biodiversidade”,
ressalta a publicação. O relatório diz que a demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento populacional, ao desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas décadas. No entanto, ao mesmo tempo, o ciclo hídrico mundial está se intensificando devido à mudança climática, com a tendência de regiões já úmidas ou secas apresentarem situações cada vez mais extremas. Atualmente, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) vivem em áreas que apresentam potencial escassez de água de, pelo menos, um mês por ano. A expectativa, segundo a publicação, é de que essa população poderá aumentar para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050.
A escassez de água pode afetar 5 bilhões de pessoas até 2050. É possível uma mudança positiva se houver um movimento em direção a soluções baseadas na natureza (NBS) confiando mais no solo e nas árvores do que no aço e no concreto
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“Soluções para a água baseadas na natureza
O documento prevê que a deterioração da qualidade da água se ampliará ainda mais durante as próximas décadas, o que aumentará as ameaças à saúde humana, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. O relatório prevê ainda que o aumento de exposição a substâncias poluentes será maior em países de renda baixa e média-baixa, principalmente devido ao crescimento populacional e econômico e à ausência de sistemas de gestão das águas residuais. A publicação também estima que o número de pessoas que se encontram em situação de risco de inundações aumentará do atual 1,2 bilhão, para cerca de 1,6 bilhão, em 2050 – o correspondente a aproximadamente 20% da população mundial. A população atualmente afetada pela degradação e/ou pela desertificação e pelas secas é estimada em 1,8 bilhão de pessoas, o que torna essa categoria de “desastres naturais” a mais significativa, com base na mortalidade e no impacto socioeconômico relativo ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita
Uso do solo De acordo com o documento, os ecossistemas exercem importante influência no ciclo das chuvas, em escala local e continental. Em vez de ser considerada uma “consumidora” de água, a publicação ressalta que a vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água. Em âmbito mundial, até 40% da precipitação terrestre são gerados pela transpiração vegetal e pela evaporação do solo, também responsáveis pela maior parte das precipitações em algumas regiões. “Portanto, as decisões relativas ao uso do solo em um determinado lugar podem ter consequências significativas para os recursos hídricos, as pessoas, a economia e o meio ambiente em lugares distantes – o que indica as limitações das bacias de drenagem (em oposição às “bacias de precipitação”) em servir como bases para o gerenciamento da água”, diz o texto.
Desafios De acordo com o relatório da Unesco, a degradação dos ecossistemas é uma das principais causas dos desafios relativos à gestão da água. A publicação estima que, desde 1900, entre 64% e 71% das zonas úmidas de todo o mundo foram perdidas devido às atividades humanas. Todas essas mudanças têm gerado impactos negativos na hidrologia, desde a escala local até a escala regional e mundial. Outro desafio mostrado pela publicação é a qualidade da água. Desde a década de 1990, a poluição hídrica piorou em quase todos os rios da América Latina, da África e da Ásia.
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Sessão especial Mecanismos e procedimentos internacionais para alcançar os direitos humanos para a água e o saneamento
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Riscos relacionados à água
O que vai acontecer é que áreas que nunca vivenciaram desastres naturais também poderão viver esses fenômenos
Atualmente, o mundo todo tem presenciado os riscos de desastres relacionados à água, como inundações e secas associadas a uma crescente mudança temporária de recursos hídricos em virtude de alterações climáticas. Segundo o relatório, cerca de 30% da população mundial vive em áreas e regiões afetadas rotineiramente por inundações e secas. A degradação dos ecossistemas é a principal causa dos crescentes riscos e eventos extremos relacionados à água e, além disso, ela reduz a capacidade de aproveitar plenamente o potencial das soluções baseadas na natureza. “Vemos que cada vez mais estão se intensificando os eventos extremos, desastres naturais, justamente nas áreas que já estão sujeitas a esses desastres. Onde há seca, em zonas extremamente áridas, haverá cada vez mais secas, com cada vez mais impactos. Onde há inundações, vai ter cada vez mais inundações.
Como alternativa, o relatório indica a parceria entre a tecnologia tradicional com o uso de infraestrutura verde, voltada para os recursos hídricos, que usa sistemas naturais ou seminaturais para oferecer opções de gestão da água, com benefícios equivalentes ou similares à tradicional infraestrutura hídrica cinza (construída/física).“Em algumas situações, as abordagens baseadas na natureza podem oferecer a principal ou a única solução viável (por exemplo, a recuperação de paisagens para combater a degradação do solo e a desertificação), ao passo que para outras finalidades apenas uma infraestrutura cinza funcionaria (por exemplo, o fornecimento de água para uma casa por meio de canos e torneiras). Contudo, na maioria dos casos, as infraestruturas verdes e as infraestruturas cinzas podem e devem trabalhar em conjunto”, acrescenta a publicação. O que vai acontecer é que áreas que nunca vivenciaram desastres naturais também poderão viver esses fenômenos. Isso é o principal desafio, que em parte pode ser controlado, mas grande parte, não”, afirmou o oficial de projetos de Meio Ambiente da Unesco, Massimiliano Lombardo. Para a Unesco, a infraestrutura verde é capaz de desempenhar importantes funções relacionadas à redução de riscos. A combinação de abordagens de infraestrutura verde e cinza pode levar à redução de custos e a uma redução geral dos riscos. “As SbN podem melhorar a segurança hídrica geral, aumentando a disponibilidade e a qualidade da água e, ao mesmo tempo, reduzindo os riscos de desastres relacionados à água e gerando cobenefícios sociais, econômicos e ambientais. Elas permitem a identificação de resultados positivos para todos os setores”, diz o texto.
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A importância das zonas úmidas As zonas úmidas cobrem apenas cerca de 2,6% da superfície do planeta, mas têm um papel desproporcionalmente grande na hidrologia. Elas impactam de forma direta a qualidade da água, filtrando substâncias tóxicas, de pesticidas a descargas industriais e da mineração. Há evidências de que as zonas úmidas sozinhas podem remover de 20% a 60% dos metais na água e reter de 80% a 90% dos sedimentos de escoamento. Alguns países chegaram a criar zonas úmidas para tratar as águas residuais industriais, ao menos parcialmente. Durante os últimos anos, a Ucrânia, por exemplo, tem realizado experimentos com zonas úmidas artificiais para filtrar produtos farmacêuticos de águas residuais. No entanto, os ecossistemas sozinhos não são capazes de executar a totalidade das funções de tratamento da água. Eles não podem filtrar todos os tipos de substâncias tóxicas despejadas na água, e suas capacidades têm limites. Existem pontos críticos além dos quais os impactos negativos da carga de poluentes em um ecossistema se tornam irreversíveis, daí vem a necessidade de se reconhecer os limites e gerenciar os ecossistemas adequadamente.
Inércia política De acordo com o relatório, ainda existe uma inércia histórica contra as soluções baseadas na natureza, devido ao predomínio contínuo de soluções de infraestrutura cinza nos atuais instrumentos dos países em relação às políticas públicas, aos códigos e normas de construção. A consequência disso, em conjunto com outros fatores, é a frequente percepção de que as soluções baseadas na natureza são percebidas como menos eficientes, ou mais arriscadas do que os sistemas construídos (com infraestrutura cinza). “Muitas vezes, as SbN exigem cooperação entre as várias partes e instituições interessadas, o que pode ser difícil de alcançar. Os arranjos institucionais atuais não evoluíram, levando em consideração a cooperação no que diz respeito às SbN. Faltam conscientização, comunicação e conhecimento em todos os âmbitos, das comunidades aos planejadores regionais aos formuladores de políticas nacionais, sobre o que as SbN realmente podem oferecer”. “Continuam a existir mitos e/ ou incertezas sobre o funcionamento da infraestrutura natural ou verde, assim como sobre o que significam os serviços ecossistêmicos, em termos práticos.
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Manguezal derrubado no Timor-Leste
Também não é totalmente claro, às vezes, o que constitui uma SbN. Faltam orientação técnica, ferramentas e abordagens para
determinar a combinação correta de opções de SbN e infraestrutura cinza”, adverte o documento.
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Limites
3 em 10 pessoas em todo o mundo não têm água potável segura em casa
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O relatório alerta que é necessário reconhecer os limites da capacidade de suporte dos ecossistemas e determinar os valores a partir dos quais pressões adicionais causarão danos irreversíveis aos próprios ecossistemas. “Há limites ao que os ecossistemas são capazes de alcançar, e esses limites devem ser identificados com maior precisão. Por exemplo, os “pontos críticos”, além dos quais as mudanças negativas nos ecossistemas se tornam irreversíveis, são bem estudados na teoria, mas raramente são quantificados”, indica a publicação. Segundo o documento as soluções baseadas na natureza não necessariamente exigem recursos financeiros adicionais, mas normalmente envolvem o seu redirecionamento, ou o uso mais efetivo dos financiamentos já existentes. “Investimentos em infraestrutura verde estão sendo mobilizados graças ao crescente reconhecimento do potencial dos serviços ecossistêmicos em oferecer soluções que tornam os investimentos mais sustentáveis e mais custo-efetivo no longo prazo”. “O investimento nas soluções verdes é ainda muito baixo. Se você tiver que tomar uma decisão para o gerenciamento da água, eu diria: por favor, considere coisas que são diferentes das usuais. Pense em soluções mais verdes, que possam trazer benefícios não só para levar água do ponto A para o ponto B, mas para que nesse caminho possa gerar benefícios para o meio ambiente”, avaliou Angela Ortigara. “É necessário, principalmente para um país grande como o Brasil, em que a gente sempre pensa que tem muita água, suficiente para tudo, e acontece como em 2015, a seca em São Paulo, e a gente não sabe por quê”, completou. O documento apoia ainda a incorporação de conhecimentos e práticas tradicionais às já consolidadas por comunidades locais sobre o funcionamento dos ecossistemas e a interação natureza-sociedade. Nesse sentido, a publicação sugere que devem ser feitas melhorias quanto à incorporação desses conhecimentos nas avaliações e no processo decisório. “O relatório demonstra que o ser humano pode fazer uma parceria com a natureza, em vez de lutar e querer que ela se conforme com as nossas necessidades, é [importante] tentar acomodar a necessidade da natureza, no caso da água, de se espalhar, inundar uma planície, porque isso é importante para preservar a qualidade e a quantidade da água que, depois, o ser humano vai utilizar”, concluiu o oficial de projetos Massimiliano Lombardo.
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Sínodo Extraordinário dos Bispos na Amazônia “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”
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Papa estabeleceu que a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região do Pan-Amazônia, que terá lugar em outubro de 2019, terá o tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O Gabinete de Imprensa da Santa Sé informou que o Papa também nomeou 18 membros do Conselho Pré-Sinodal que colaborarão com a Secretaria-Geral na preparação da Assembleia Especial, tema sobre o qual o papa sempre se mostrou preocupado, como refletiu na sua segunda encíclica, Laudato Sì (2015). O conselho preparatório estará integrado pelos seguintes membros: Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (Brasil), presidente do Red Eclesial Panamazônica; Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Departamento de Desenvolvimento Integral do Desenvolvimento Humano; Cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo do México (México); Mons. Pedro Ricardo Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo (Peru), vice-presidente do Red Eclesial Panamazônica; Mons. Paul Richard Gallagher, arcebispo de Hodelm, secretário de Relações com os Estados; Mons. Edmundo Ponciano Valenzuela MelliD, arcebispo de Assunção (Paraguai); Mons. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, Rondônia (Brasil); Mons.
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Óscar Vicente Ojea, bispo de San Isidro, presidente da Conferência Episcopal (Argentina); Mons. Neri José Tondello, bispo de Juína, Mato Grosso (Brasil); Mons.
Karel Martinus Choennie, bispo de Paramaribo (Suriname); Mons. Erwin Kräutler, prelado emérito de Xingu, Pará (Brasil); Mons. José Ángel Divassón Cilveti, ex-vigário apostólico de Puerto Ayacucho (Venezuela), bispo titular de Bamaccora; Mons. Rafael Cob García, vigário apostólico de Puyo, bispo titular de Cerbali (Equador); Mons. Eugenio Coter, vigário apostólico de Pando, bispo titular de Tibiuca (Bolívia); Mons. Joaquín Humberto Pinzón Güiza, vigário apostólico de Puerto Leguízamo-Solano, bispo titular de Ottocio (Colômbia); Mons. David Martínez De Aguirre Guiné, Vigário Apostólico de Puerto Maldonado, Bispo Titular de Izirzada (Peru); Ir. Maria Irene Lopes Dos Santos, delegada da Confederação Latino-Americana e Caribeña de Religiosas e Religiosas (CLAR); Mauricio LÓPEZ, Secretário Executivo da REPAM (Equador).
No primeiro encontro histórico entre o papa Francesco e a Amazônia, no Perú
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Evangelização, povos indígenas, crise da floresta tropical
É o lar de 2.779.478 indígenas, que compõem 390 tribos indígenas e 137 povos isolados (sem contato) com suas valiosas culturas ancestrais e 240 línguas faladas pertencentes a 49 famílias linguísticas”. É “um território devastado e ameaçado pelas concessões feitas pelos Estados às empresas transnacionais. Os projetos de mineração em grande escala, monoculturas e mudanças climáticas colocam suas terras e ambiente natural em grande risco “, levando à destruição das culturas, minando a autodeterminação dos povos e, acima de tudo, afrontando o Cristo encarnado nas pessoas que ali moram (indígenas e povos ribeirinhos, camponeses, afrodescendentes e populações urbanas).
Antecedentes Papa convoca Sínodo para a Amazônia em 2019: novos caminhos para a evangelização
O objetivo principal do sínodo da Amazônia, explicou o Papa, será “identificar novos caminhos para a evangelização do povo de Deus nessa região”. Uma atenção especial, acrescentou, será dada aos indígenas que são “muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta tropical amazônica, um” pulmão “de primordial importância para o nosso planeta”.
REPAM
O REPAM é constituído não apenas pelas Conferências Episcopais regionais, mas também por sacerdotes, missionários de congregações que trabalham na selva amazônica, representantes nacionais da Caritas e leigos pertencentes a diversos corpos da Igreja da região. Conforme relatado no site REPAM “O território amazônico é a maior floresta tropical do mundo. Abrange seis milhões de quilômetros quadrados e inclui os territórios da Guiana, Suriname e Guiana Francesa, Venezuela, Equador, Colômbia, Bolívia, Peru e Brasil.
Ano passado, durante o Ângelus, depois da Missa de canonização durante a qual ele canonizou 35 novos santos, incluindo três crianças indígenas martirizadas no México do século 16, o Papa Francisco anunciou a Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazônica. Ela se concentrará nas necessidades de seus povos indígenas, em novos caminhos para a evangelização e na crise da floresta tropical. “Aceitando o desejo de algumas Conferências dos Bispos Católicos na América Latina, bem como a voz de vários pastores e fiéis de outras partes do mundo, decidi convocar uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazônica, que acontecerá em Roma no mês de outubro de 2019 “, afirmou. Recentemente no encontro com os povos da Amazônia em Puerto Maldonado-Perú
Em 2014, a Igreja Católica na Pan-Amazônia fundou uma Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM - como “A resposta de Deus a essa necessidade sincera e urgente de cuidar da vida das pessoas para que elas possam viver em harmonia com a natureza, a partir da presença generalizada e variada de membros e estruturas da Igreja na Pan-Amazônia”.
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Líderes mundiais cobram programa para acelerar ações sobre a água
É necessário um deslocamento fundamental para evitar consequências devastadoras, diz painel de alto nível sobre a água
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m Painel de Alto Nível da ONU sobre Água, composto por 11 Chefes de Estado e um Consultor Especial emitiu uma Nova Agenda para a Ação da Água, pedindo uma mudança fundamental na forma como o mundo administra água para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs ), e em particular SDG6, pode ser alcançado. Isso segue um mandato de 2 anos para encontrar formas de acelerar as soluções para a crise urgente da água. “Making Each Drop Count: Uma Agenda para a Ação da Água” apresenta muitas recomendações como parte de um Relatório de Resultados do Painel, que foi convocado em janeiro de 2016 pelo Secretário-Geral das Nações Unidas e pelo Presidente do Grupo do Banco Mundial. “Os líderes mundiais agora reconhecem que enfrentamos uma crise global da água e que precisamos reavaliar como valorizamos e gerenciamos a água”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “As recomendações do painel podem ajudar a proteger os recursos hídricos e tornar o acesso a água potável e melhorar o saneamento uma realidade para todos”. O relatório do painel constatou que a crise da água tem muitas dimensões. Hoje, 40% das pessoas do mundo são afetadas pela escassez de água, com até 700 milhões de pessoas em risco de serem deslocadas pela intensa escassez de água até 2030. Mais de dois bilhões de pessoas são obrigadas a beber água insegura e mais de 4,5 bilhões de pessoas não tem serviços de saneamento gerenciados com segurança.
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Mulheres e meninas sofrem desproporcionalmente quando a água e o saneamento faltam, afetando a saúde e muitas vezes restringindo as oportunidades de trabalho e educação. 80% das águas residuais são descarregadas sem tratamento no meio ambiente e as catástrofes relacionadas com a água representam 90% das 1.000 catástrofes naturais mais devastadoras desde 1990. “Os ecossistemas em que a própria vida se baseia - a nossa segurança alimentar, sustentabilidade energética, saúde pública, empregos, cidades - estão em risco devido à forma como a água é gerida hoje”, disse o presidente do Grupo do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “O trabalho deste painel ocorreu ao nível dos chefes de estado e governo porque o mundo não pode mais dar ao luxo de dar água por certo”. Como parte das recomendações para enfrentar esses desafios, o Painel está defendendo políticas baseadas em evidências e abordagens inovadoras a nível global, nacional e local para tornar a gestão da água e os serviços
de água e saneamento atraentes para investimento e mais resistentes a desastres. O Painel também solicita políticas que permitam pelo menos uma duplicação do investimento em infra-estrutura da água nos próximos cinco anos.O relatório do painel estabelece uma nova abordagem para catalisar a mudança e criar parcerias e cooperação, descrevendo por que é necessária uma abordagem integrada e inclusiva que engloba setores como a agricultura e outras partes interessadas, como prefeitos da cidade. O relatório mostra que as formas de trabalhar entre, por exemplo, governos, comunidades, setor privado e pesquisadores, são essenciais. Em uma Carta Aberta, os membros do painel concluem: “Quem quer que você seja, seja lá o que fizer, onde quer que você mora, pedimos que você se envolva e contribua para enfrentar este grande desafio: água potável e saneamento para todos e nossos recursos hídricos gerenciado de forma sustentável. Faça cada contagem de anotações. É hora da ação”.
H.E. Mrs. Ameenah Gurib-Fakim, President of Mauritius (Co-Chair) • H.E. Mr. Enrique Peña Nieto, President of Mexico (Co-Chair) • H.E. Mr. Malcolm Turnbull, Prime Minister of Australia • H.E. Ms. Sheikh Hasina, Prime Minister of Bangladesh • H.E. Mr. JánosÁder, President of Hungary • H.E. Mr. Hani Al-Mulki, Prime Minister of Jordan • H.E. Mr. Mark Rutte, Prime Minister of The Netherlands • H.E. Mr. Pedro Pablo Kuczynski Godard, President of Peru • H.E. Mr. Jacob Zuma, President of South Africa • H.E. Mr. MackySall, President of Senegal • H.E. Mr. Emomali Rahmon, President of Tajikistan • H.E. Special Adviser, Dr. Han Seung-soo, Former Prime Minister of the Republic of Korea
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Citações no Painel de Alto Nível sobre Água
Presidente, H.E. Sra. Ameenah Gurib-Fakim: “O acesso a água limpa e saneamento deve ser o objetivo de cada líder responsável em um esforço para não deixar ninguém para trás. Deixe-nos agir de forma solidária para assegurar o gerenciamento sábio e sustentável deste precioso recurso”.
Presidente do Peru, H.E. Sr. Pedro Pablo Kuczynski Godard: “Bilhões de pessoas ainda não têm água limpa correndo e esgotos em suas casas. Este é um grande desafio para a saúde humana e, sem dúvida, o maior desafio de desenvolvimento para a próxima década. As mudanças climáticas e o aquecimento global tornam o desafio da água muito mais complexo: desertificação, geleiras derretidas, inundações e clima imprevisível. É por isso que devemos lutar por um ambiente sustentável. Para implementar o objetivo de desenvolvimento sustentável N° 6 sobre água limpa e saneamento, precisamos de cooperação e parcerias em todo o mundo. É uma tarefa muito urgente”.
A Cidade Limpa, empresa de proteção ambiental opera a 19 anos no Estado do Pará e está devidamente licenciada pelos órgãos competentes: SEMA, IBAMA, ANVISA, CAPITANIA DOS PORTOS, CREA-PA, Corpo de Bombeiros e Prefeitura Municipal de Belém. A empresa está apta a dar destinação final, de forma correta a resíduos industriais líquidos, pastosos e sólidos, além de resíduos hospitalares.
Rod. 316 - Estrada Santana do Aurá, s/n - Belém-PA revistaamazonia.com.br 55 (91) 3245-1716 / 3245-5141
Primeira-Ministra de Bangladesh, H.E. Sra. Sheikh Hasina: “O acesso a água potável melhora a qualidade de nossa vida e um comportamento mais positivo traz imensa oportunidade com esse recurso finito. Exorto os líderes de todo o mundo a contar o nosso pedido de ações urgentes para entender, valorizar, administrar e investir o melhor em água para a posteridade a quem devemos o presente”.
Primeiro-Ministro dos Países Baixos, H.E. Sr. Mark Rutte:”Temos de trabalhar para enfrentar as crises globais da água agora. Não há outra opção. As soluções inovadoras das mentes criativas de hoje podem salvaguardar o futuro das gerações. O Painel de Alto Nível da ONU sobre Água lançou a Coalizão de Liderança de Água de Valorização, para reunir a experiência global e a liderança dos setores público e privado para mudar a forma como o mundo valoriza a água. Junte-se a nós e, em conjunto, construamos uma coalizão global para um mundo seguro de água”.
19 anos
de Excelência
www.cidadelimpa-pa.com.br
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Água acessível e de qualidade: um objetivo para o mundo por *Marina Grossi
Fotos: Divulgação, Kelly Lima
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construção de agendas globais é uma excelente maneira de fazer avançar temas relevantes para a sociedade e o planeta, pois nos incentiva não apenas a assumir compromissos, mas também a agir em busca de soluções palpáveis. Nesse sentido, a Agenda 2030 das Nações Unidas é uma referência exemplar na medida em que alia compromissos amplos, por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a metas e indicadores mais concretos, que facilitam a ação local e individualizada de empresas e organizações da sociedade civil. Um bom exemplo de como essa integração pode se dar está expressa no ODS 6, voltado para a disponibilidade de água potável e saneamento, tema que deve ser prioridade global máxima pela sua influência na qualidade de vida e no desenvolvimento social e econômico, e que se desdobra por outros 13 dos 17 ODS propostos. É por meio da água também que, segundo Estudo da Agência Nacional da Água (ANA),
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Marina Grossi, presidente do CEBDS, lançando o Compromisso Empresarial para a Segurança Hídrica, durante o painel de altas lideranças, no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília
publicado em 2016, a população mundial deverá perceber mais rápida e fortemente os efeitos das mudanças climáticas. Tendo recém terminado de participar do 8º Fórum Mundial da Água, mais importante evento voltado ao tema e pela primeira vez realizado na América Latina, uma reflexão sobre as principais metas relacionadas ao ODS 6 – acesso universal, melhoria da qualidade, uso eficiente, gestão integrada e proteção dos ecossistemas, entre outros – indica que ainda há enormes desafios a serem enfrentados por governos, pelo setor produtivo e também pela sociedade civil. Afinal, a missão de bom gerenciamento hídrico depende cada segmento e ações conjuntas entre todos. Mas, se o problema é global e coletivo, as soluções serão necessariamente locais e individualizadas: não há receitas genéricas e são poucas as respostas que conseguem unir relevância e aplicação universal. No entanto, quando se atua em uma instituição como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), como eu faço há sete anos, é possível ver que empresas brasileiras têm experiências relevantes, que dialogam com metas e indicadores propostos pelo ODS 6, e que apontam para caminhos viáveis para a superação dos dilemas relacionados.
Esse é o caso dos estudos das condições de disponibilidade e perdas na distribuição de água, conduzidos sob a liderança da Braskem em parceria com a Sanasa e o Instituto Trata Brasil, em São Paulo e Rio de Janeiro. Outro importante estudo diz respeito ao cálculo do real valor da água que, quando considerado todos os riscos socioambientais, mostram Marina Grossi, presidente do CEBDS
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Marina Grossi e alguns dos representantes das empresas associadas ao CEBDS, signatárias do Compromisso Empresarial Brasileiro para a Segurança Hídrica
que a água de reúso possui vantagens efetivas e representa importante redução de consumo, permitindo a manutenção da produtividade mesmo em cenários de escassez, diminuindo também o impacto ambiental. Isso pode ser verificado na prática pelo uso de água de reúso pela Braskem do projeto Aquapolo da BRK Ambiental em São Paulo, que permitiu a empresa aumentar os ciclos de uso de água de resfriamento de 04 para 08 e não sentir os impactos da crise de 2014/15 na sua produção. Os resultados apresentados pelo projeto intensificam a necessidade de discutirmos fatores que deveriam ser levados em conta no cálculo do custo da água para os mais diversos usos. Somente uma gestão responsável pode garantir o acesso universal. A compreensão de que a água não é mais um recurso abundante como no passado exige correta valoração e estímulo à medição.
Nesse sentido, várias empresas associadas ao CEBDS apresentam tecnologias e práticas que aumentam a produtividade, diminuem as perdas e intensificam a recirculação da água em seus processos industriais. O aprendizado de muitas dessas experiências já está registrado no Guia de Eficiência e Economia Circular da Água, que lançamos durante o Fórum, como forma de replicar as ações para outras empresas. Além disso, lideradas pelo CEBDS, essas empresas assinaram um Compromisso Empresarial Brasileiro para a Segurança Hídrica, também lançado no evento, que servirá de base para a construção de uma plataforma que concentrará, de maneira transparente, as ações e metas das empresas em relação a sua gestão hídrica. Por meio dessa plataforma, será possível
Rodrigo Hühn, nosso diretor, presenteando Marina Grossi, com exemplar da Revista Amazônia
ampliar o alcance das boas práticas empresariais, de forma a influenciar atitudes no dia-a-dia da sociedade, e especialmente de outras empresas. Absolutamente alinhados ao propósito de compartilhamento da água, principal lema do Fórum, os dois documentos serão um legado empresarial, especialmente considerando que no Brasil ainda convivemos com cenários que remontam ao século XIX, como na questão do saneamento, por exemplo. Mais do que nunca, as mudanças do clima e seus desdobramentos em relação à água nos obrigam a agir com senso de urgência. [*] Presidente do CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
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Brasil consome 6 litros de água para cada R$ 1 produzido pela Economia Em 2015, a atividade econômica Água e esgoto correspondeu a 0,5% do Valor Adicionado Bruto (VAB) total da Economia. O consumo de água para cada R$ 1,00 de Valor Adicionado Bruto foi de 6 litros Fotos: Agência Brasil, Licia Rubinstein
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os 6,2 trilhões de m3 de água que configuravam os recursos hídricos renováveis do país em 2015, houve uma retirada total (para atendimento próprio e captação de água para distribuição) de aproximadamente 3,2 trilhões de m³. Já o Consumo total de água em 2015 foi de 30,6 bilhões de m³. O valor da produção de água de distribuição e Serviços de esgoto foi R$ 42,5 bilhões, sendo a água de distribuição responsável por 67,2% desse total. O custo médio por volume de água distribuída e serviços de esgoto da economia foi de R$ 2,49/m³. Excluindo as atividades de Eletricidade e gás e de Esgoto e atividades relacionadas (que têm volume de retirada e retorno ao meio ambiente quase equivalentes), as principais atividades que captam água diretamente foram: a Agricultura e pecuária (32,5 bilhões de m³); a Captação, tratamento e distribuição da água (17,1 bilhões de m³); e a Indústria de transformação e construção (6,1 bilhões de m³). As Famílias foram as principais responsáveis pelo uso de água de distribuição (68%) e serviços de esgoto (78,6%). O uso per capita de água pelas famílias foi de 108,4 litros/dia. De 2013 para 2015, houve uma queda acumulada de 3,8% no volume de água retirada do meio ambiente para distribuição. O volume de água fornecido pela Atividade Água e Esgoto para uso das Famílias e demais atividades (seus dois maiores usuários) recuou 4,3% e 3,4% respectivamente. Já as despesas de consumo final de água de distribuição pelas famílias aumentaram 8,8% e as de consumo intermediário do grupo Demais atividades, 10,4%. Essas são algumas das informações das Contas Econômicas Ambientais da Água do Brasil 2013-2015 (CEAA), elaboradas pela primeira vez pelo IBGE. A publicação e o material de apoio dessa divulgação estão à direita desta página.
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Brasil dispunha de 6,2 trilhões de m3 de água em 2015 O total de recursos hídricos renováveis no país - ou seja, toda a água disponível e renovável - sofreu algumas oscilações no período analisado pelas CEAA, que vai de 2013 a 2015. Esse total era de 7,4 trilhões de m3 em 2013, subiu para de 7,6 trilhões de m3 em 2014 e recuou para 6,2 trilhões de m³ em 2015. Considerando-se os recursos hídricos disponíveis em 2015 e a população do país, o Brasil tinha naquele ano cerca de 30,3 mil metros cúbicos de água por habitante.
Retirada total de água da economia foi de 3,2 trilhões de m³ Dos 6,2 trilhões de m3 de água disponíveis no país em 2015, cerca de 3,2 trilhões de m3 foram retirados da natureza para serem usados em alguma atividade econômica. Na média, o país utiliza apenas pouco mais da metade de seus recursos hídricos na Economia. Ainda assim, mais de 99% dessas retiradas são devolvidas à natureza (um exemplo disso são as hidrelétricas).
Somente 0,5% dos recursos hídricos (ou 30,6 bilhões de metros cúbicos) são, de fato, consumidos pelas famílias e pelas empresas. Eletricidade e gás, devido à grande quantidade de água turbinada pelas hidrelétricas, foi a atividade econômica que mais contribui para esse volume (97,3% do total), porém o uso da água nessa atividade é predominantemente não consuntivo (a quantidade de água devolvida para o meio ambiente é igual a quantidade de água retirada). Excluindo a atividade de Eletricidade e gás e a de Esgoto e atividades relacionadas (em que a retirada pela atividade Serviços de esgoto corresponde à coleta de água da chuva escoada pelas redes pluviais, com volumes equivalentes de retirada e retorno ao meio ambiente ), as principais atividades que captaram água diretamente foram: a Agricultura e pecuária (32,5 bilhões de m³); a Captação, tratamento e distribuição da água (17,1 bilhões de m³); e a Indústria de transformação e construção (6,1 bilhões de m³). Na tabela abaixo, alguns dos principais indicadores das Contas Econômicas Ambientais da Água. Um hectômetro cúbico (hm3) equivale a 1 milhão de metros cúbicos (m3). Nas atividades econômicas, a
Em função de atividades como a irrigação, o setor agropecuário foi o que teve a maior demanda hídrica na geração de renda: 91,58 litros de água para cada Real produzido. Nas Indústrias de transformação e construção, o consumo proporcional foi de 3,72 litros/R$ e nas Indústrias extrativas, 2,54 litros/R$. De 2013 para 2015, houve uma queda de 4,3% no uso de água de distribuição das Famílias e um aumento de 8,8% nos gastos. Em 2015, o uso de água per capita das famílias foi de 108,4 litros/ dia e o custo médio de volume de água utilizada foi de R$ 2,35/ m³.Na média geral, para cada mil litros (m³) de água que consome, a economia brasileira gera R$ 169,00. Os dados são de 2015. As Contas Econômicas Ambientais da Água são o resultado de uma cooperação entre o IBGE, a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente (SRHQ/MMA), com o apoio técnico da Secretaria de Biodiversidade (SBIO) do MMA e da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH. participação da captação direta no total de água utilizada é de 95,7%, nas indústrias de transformação e construção, de 99,3% nas indústrias extrativas e de 96,6% na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e agricultura. Já o uso de água pelas Famílias tem 91,1% recebidos pela Captação, tratamento e distribuição da água.
Consumo total de água no Brasil em 2015 foi de 30,6 bilhões de m³
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O consumo total de água (água utilizada menos a água que retorna para o meio ambiente) foi de 30,6 bilhões de m³. Nesse período, as atividades econômicas que registraram maior consumo de água foram a Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (com 77,6% do total); indústria de transformação e construção (11,3%); e Água e esgoto (7,4%). Em 2015, o retorno total da água para o meio ambiente foi de 3,17 trilhões de m³. Excluindo a atividade Eletricidade e gás e as águas de chuva, houve um retorno total de 26,98 bilhões de m³. Desse número, 25,6% ocorreu através dos Sistemas de esgoto (Atividade Água e esgoto) e 74,4% foram lançados diretamente no meio ambiente.
Valor da Produção de água de distribuição e Serviços de esgoto foi R$ 42,5 bilhões Os valores de consumo intermediário e final de água de distribuição referem-se exclusivamente ao uso de água proveniente da atividade Água e esgoto. Já os valores de consumo intermediário e final dos serviços de esgoto se referem aos efluentes recolhidos via rede pela atividade Água e esgoto. Esses valores não incluem o pagamento pela água captada diretamente no ambiente através da cobrança pelo uso de recursos hídricos.
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Em 2015, a atividade econômica Água e esgoto correspondeu a 0,5% do Valor Adicionado Bruto (VAB) total da Economia. O consumo de água para cada R$ 1,00 de Valor Adicionado Bruto foi de 6 litros/R$. O valor da produção de água de distribuição e Serviços de esgoto foi R$ 42,5 bilhões, sendo a água de distribuição responsável por 67,2% desse total. O custo médio por volume de água e esgoto da economia foi de R$ 2,49/m³.
O uso per capita de água pelas Famílias foi de 108,4 litros/dia Pelo lado da demanda, ou seja, dos gastos, observou-se que as Famílias, em 2015, foram as principais responsáveis pelo uso de água de distribuição (58,7%) e serviços de esgoto (58,8%). O uso das Famílias per capita foi de 108,4 litros/dia. Também é possível relacionar os gastos de consumo intermediário com água de distribuição com as vazões de água recebidas da atividade Água e Esgoto para a obtenção de um custo médio por volume de água utilizado. Esse custo médio, em 2015, para a agropecuária foi de R$ 0,11/m³ (o volume de água desse setor foi oriundo predominantemente dos perímetros públicos de irrigação); e para o conjunto das outras atividades, excluindo a atividade Água e esgoto, foi de R$ 5,18/m³. Para as Famílias o consumo final foi de R$ 2,35/m³.
Volume de água retirada para distribuição teve queda acumulada de 3,8% de 2013 para 2015 De 2013 para 2015, houve uma queda acumulada de 3,8% no volume de água retirada para distribuição pela Atividade e esgoto, influenciada pela crise hídrica e a diminuição da produção em diversas atividades econômicas ocorridas no período. As Famílias e Demais atividades (os dois maiores usuários) apresentaram, para o mesmo período, variações no volume usado de água de distribuição de -4,3% e -3,4% respectivamente. Já pelo lado dos gastos, de 2013 para 2015, o consumo final de água de distribuição das famílias aumentou 8,8% e o consumo intermediário do grupo Demais atividades, 10,4%. O indicador de intensidade hídrica de consumo mostra a vazão consumida de água (em litros) para cada real de Valor Adicionado Bruto gerado pelas atividades. Em 2015, o resultado desse indicador para atividade Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi de 91,58 litros/R$, o de Indústrias de Transformação e construção de 3,72 litros/R$, enquanto o de Indústrias Extrativas foi de 2,54 litros/R$. Já eletricidade e gás foi de 1,18 litros/R$ e das Demais atividades 0,20 litros/R$. [*] Gráficos adaptados do informativo Contas econômicas ambientais da água, produzido pelo IBGE/CDDI/GEDI
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Água crua ou água bruta
A nova moda no Vale do Silício. Em alguns supermercados da costa oeste dos Estados Unidos, marcas de água que chegam a custar US$ 36,99 (R$ 118,8) por garrafa de 2,5 litros estão se tornando populares a ponto de frequentemente esgotarem das prateleiras Fotos: Andrew Mirosf, Marth Smith, Rudolph Hühn Água diferente por não receber nenhum tipo de tratamento ou filtragem
E
ssa água é diferente por não receber nenhum tipo de tratamento ou filtragem. É vendida como “água crua”. Coletada diretamente de mananciais, ela é propagandeada como “pura” e cheia de propriedades que beneficiariam a saúde. Há algum sentido..., o que há por trás da última moda de saúde do Silicon Valley? Garantir o acesso a recursos sustentáveis é um dos maiores desafios que o nosso mundo enfrenta hoje – então talvez não seja surpreendente que, em uma tentativa de sair da rede, estamos buscando alternativas à água engarrafada e de torneira. Insira o chamado “movimento consciente da água”.
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Água crua ou água bruta. A nova moda no Vale do Silício
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Os devotos afirmam que a água crua ou “viva” tirada diretamente de sua fonte natural tem uma série de benefícios para a saúde, graças à presença de compostos minerais e probióticos. Uma das marcas, a Live Water, afirma que a “água crua” “hidrata a pele”, “reduz as rugas” e “aumenta a flexibilidade e a força das articulações”. A própria página da marca na internet reconhece que nenhuma dessas alegações foi comprovada pelo FDA (Food and Drugs Admnistration), o órgão americano que regula os setores de alimentos e remédios.
O “movimento consciente da água” representa uma séria ameaça à nossa saúde?
A “água crua” é retirada de fontes naturais
Quanto a bactérias nocivas, parasitas e vírus e o risco de infecção? De acordo com uma investigação do New York Times publicada recentemente, as águas não esterilizadas, não tratadas e não esterilizadas estão atualmente sendo engarrafadas e comercializadas em San Francisco por US $ 36,99 por 2,5 galões e por US $ 14,99 por recarga, por uma pequena start-up com sede em Oregon chamada Live Water . É dito ser extremamente popular de acordo com um comerciante calcado na peça - em parte graças à sua “doçura vagamente suave” e “boa sensação de boca lisa, nada que suba”. A Live Water, afirma que a “água crua” “hidrata a pele”, “reduz as rugas” e “aumenta a flexibilidade e a força das articulações”. A própria página da marca na internet reconhece que nenhuma dessas alegações foi comprovada pelo FDA (Food and Drugs Admnistration), o órgão americano que regula os setores de alimentos e remédios. Neste ponto, você seria perdoado por ter lembrado o episódio dos Só Fools e Horses, no qual Del Boy decide embalar a água da torneira e vendê-la sob o nome “Peckham Springs”. Então, a água crua realmente possui benefícios de saúde o suficiente para nos levar a beber?
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“Nós passamos gerações de ciência e esforço para tentar proteger as pessoas de beber água bruta. Parece extraordinário que as pessoas desejam voltar para a época medieval, quando milhões de pessoas morreram de infecções que foram transportadas por ela”, diz Val Curtis , Professor de Higiene e Diretor do Grupo de Saúde Ambiental da London School of Hygiene and Tropical Medicine. A Live Water alega que a água fresca que ela vende contém minerais e probióticos que são destruídos por esterilização em outras águas nascentes filtradas e engarrafadas.
“A água viva é a chave para desbloquear um equilíbrio perfeito de microbiomas”, afirma. “Ansiedade, ganho de peso, fadiga e inúmeras outras doenças estão ligadas a um desequilíbrio de bactérias intestinais adequadas”. Mas de acordo com o especialista em saúde global Curtis, a finalidade da água não é a nutrição – é a hidratação. “Precisamos de H20”, diz ela. “Se precisamos de outros minerais ou compostos mágicos, obtê-los de nossos alimentos. A água não é para a nutrição, e os perigos da água bruta ultrapassam os benefícios até agora”. A água da Live Water é naturalmente alcalina, abundante em sódio, potássio, magnésio e cálcio e alta em sílica natural – que os estados da Live Water podem manter a pele hidratada e reduzir as rugas, manter o cabelo e as unhas saudáveis e até aumentar a articulação força e flexibilidade. Para o que Curtis diria: “Nós também podemos acreditar em fadas se quisermos. Podemos dizer às pessoas que saem e lambem uma pedra se precisamos de mais sílica, ou vendamos rochas de estimação como curas para doenças. Está no mesmo campo que os cristais , essa crença nas propriedades do ambiente natural para torná-lo saudável “.
Cientistas refutam a água bruta
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A água é transportada em “recipientes reutilizáveis de vidro sem chumbo”
Mas e as críticas da água na torneira da Live Water? “A água da torneira tem chumbo, cloro, flúor e a maioria das drogas prescritas, porque é água reciclada de drenos de outras pessoas. Beber que, quando tiver uma escolha, é loucura”, disse o fundador da Live Water, Mukhande Singh, em uma recente entrevista. Na visão de Curtis, é muito fácil assustar – mas a água da torneira é a maneira mais segura de acessar a água de acordo com a melhor ciência que temos (e o fluoreto adicionado é para melhorar a saúde dental). Enquanto isso, a água engarrafada de qualquer tipo está longe de ser ambientalmente consciente, graças à embalagem e transporte envolvidos.
Ela também enfatiza uma preocupação real de que beber água crua não é apenas perigosa para o consumidor, mas para outras pessoas com as quais eles entram em contato, que então arriscam a infecção como resultado. “Há toda uma gama de agentes patogênicos que podem ser transmitidos na água”, adverte. “As molas precisam, pelo menos, ser protegidas de qualquer tipo de animais, aves ou gado ou contato com solos.Você poderia ter, por exemplo, Campylobactor de excremento de pássaros, Cryptosporidium de bovinos, E. coli que vive no meio ambiente e giardíase (a causa de uma infecção intestinal que pode causar cólicas abdominais, inchaço, náuseas e ataques de diarreia aquosa).
Marcas
Tourmaline Spring, do Maine, de Bryan Pullen Live Water, da fonte Opal Spring
Em busca da água perfeita
Apesar dos riscos, a moda parece estar pegando no Vale do Silício e em outros lugares conhecidos por terem uma população jovem e rica. A marca Live Water coleta água da fonte Opal Spring, no Estado do Oregon, no noroeste do país. Conhecidos empreendedores do Vale do Silício estão entre seus clientes. Um dos grandes entusiastas da tendência é o empreendedor Doug Evans, famoso depois da falência da sua start-up Juicero, que vendia máquinas de suco. Em seu Instagram, ele relatou sua “caçada” por fontes naturais de água limpa. E participar da nova moda não é barato. Mesmo ao comprar a água pela internet é preciso encomendar pelo menos quatro galões de 9 litros, a U$ 16 (R$ 51) cada. A Live Water diz em sua página que a água é colocada em “recipientes reutilizáveis de vidro sem chumbo” e “transportada rapidamente em contêiners refrigerados” para ser distribuída. Outra marca de “água crua” é a Tourmaline Spring, do Maine. Bryan Pullen, criador da empresa, diz que toda a água distribuída é testada para verificar se ela é saudável e se atende aos requerimentos do FDA.
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A agência de controle exige que os produtores protejam as fontes de água de bactérias e outros contaminantes, que processem, envasem e transportem a água em condições sanitárias adequadas e que apliquem processos de controle de qualidade e análise.
Cloro e flúor Para Pullen, “a água de mananciais é muito melhor que a água da torneira, que contém cloro e flúor”. As substâncias são adicionadas em pequenas quantidades justamente para eliminar bactérias. O flúor ajuda a fortalecer os dentes. A água engarrafada normal também costuma vir de mananciais – a diferença é que passa por tratamentos e filtragens, o que não acontece com o produto das novas empresas. “A água da torneira é coquetel químico, carregada de substâncias como cloro e flúor, e muitas são cancerígenas”, diz Pullen. No entanto, o empresário não apresenta estudos que corroborem essas afirmações, que Hill, do CDC, considera errôneas. “Pesquisas científicas mostram que tomar água com pequenas quantidades de cloro não tem efeito nocivo para a saúde”, afirmou o cientista. “Isso ainda garante proteção contra as doenças transmitidas pela água.”
Beber água bruta, selvagem, dá risco de propagação de infecção e doença? Poderíamos dizer às pessoas para sair e lamber a rocha se precisar de mais sílica...
Conclusão Vicent Hill, chefe do departamento de doenças transmitidas pela água do CDC (Center for Disease Control), a entidade americana de controle de doenças, também advertiu para os perigos da nova moda. A maior preocupação com o abastecimento de água ainda deve ser o perigo de microrganismos patogênicos e agora, com o atual marketing sofisticado
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“Beber água contaminada pode levar a doenças causadas por micro-organismos como o Cryptosporidium,a Giardia, a Shigella”, disse Vicent Hill. Curtis também enfatiza uma preocupação real de que beber água crua não é apenas perigosa para o consumidor, mas para outras pessoas com as quais eles entram em contato, que então arriscam a infecção como resultado. “Há toda uma gama de agentes patogênicos que podem ser transmitidos na água”, adverte. “As molas precisam, pelo menos, ser protegidas de qualquer tipo de animais, aves ou gado ou contato com solos. Você poderia ter, por exemplo, Campylobactor de excremento de pássaros, Cryptosporidium de bovinos, E. coli que vive no meio ambiente e giardíase (a causa de uma infecção intestinal que pode causar cólicas abdominais, inchaço, náuseas e ataques de diarreia aquosa).
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Dia Mundial da Meteorologia
Eventos climáticos extremos geraram gastos de US$ 320 bilhões em 2017, diz ONU Fotos: ONU/Ilyas Ahmed
Aquecimento crescente
O
ano de 2017 foi o mais dispendioso por causa de eventos climáticos extremos, segundo um relatório da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), divulgado na véspera do 23 de março, Dia Mundial da Meteorologia. Entre os vários fenômenos adversos, destacaram-se a grave temporada de furacões no Atlântico Norte, cheias extremas no subcontinente indiano e a continuação da seca na África Ocidental. Segundo o estudo, os prejuízos causados são estimados em cerca de US$ 320 bilhões. O relatório da agência especializada das Nações Unidas para a Meteorologia sublinha o impacto que estes eventos tiveram no desenvolvimento econômico, segurança alimentar, saúde e migração internacional. O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que “2018 começou da mesma forma que 2017 terminou – com um clima extremo a roubar vidas e destruir formas de subsistência”. Os eventos climáticos já provocaram o deslocamento de cerca de 23,5 milhões de pessoas. O risco de contrair doenças relacionadas com temperaturas altas aumentou de forma constante desde os anos 80. Hoje, 30% a população vive em locais com temperaturas potencialmente mortais durante, pelo menos, 20 dias do ano. ONU estima que recuperação do Caribe, após furacões, pode levar décadas. Furacões Irma e Harvey podem superar prejuízo gerado pelo Katrina, diz estudo. Segundo o relatório da OMM, os impactos do clima afetam nações vulneráveis de forma mais forte. Os autores garantem, por exemplo, que “a época de furacões erradicou décadas de ganhos de desenvolvimento nas ilhas do Caribe”. 40
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Numa declaração, o chefe da OMM citou o aumento dos níveis de dióxido de carbono na Terra e disse que “estes níveis devem manter-se nas próximas gerações, condenando o nosso planeta a um futuro mais quente, com mais extremos meteorológicos, climáticos e de água.” O documento confirma que 2017 foi o terceiro ano mais quente desde que há registros. Se não for tida em conta a influência do El Niño, foi o ano mais quente. Os nove anos com calor mais intenso de que há registro aconteceram todos depois de 2005. Os cinco anos mais quentes aconteceram todos depois de 2010. A temperatura dos oceanos baixou em relação aos dois anos anteriores, mas 2017 ainda foi o terceiro ano mais quente que se tem notícia. O estudo diz que “a magnitude de todos os componentes que provocam a subida do nível dos mares aumentou nos últimos anos”. E a extensão do gelo, tanto no Ártico como na Antártida, foi a menor já medida.
Preparação
Este ano, a agência especializada da ONU sublinha a necessidade de fazer um planeamento informando previamente sobre acidentes, como cheias, assim como para a variação normal do clima e as mudanças de longo prazo. O secretário-geral da OMM disse que este tema é importante porque “as mudanças climáticas de longo prazo estão a aumentar a intensidade e a frequência dos eventos climáticos extremos.” revistaamazonia.com.br
Partículas ultrafinas de aerossol intensificam as chuvas na Amazônia
Estudo revela que, na floresta tropical, as partículas de poluição emitidas pelas cidades afetam substancialmente a formação das nuvens de tempestade por *Karina Toledo
Fotos: GOAmazon e Projeto CHUVA, Montanus Photography
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studo recente divulgado na revista Science revelou como a presença atmosférica de partículas ultrafinas de aerossol – aquelas com diâmetro menor do que 50 nanômetros (ou bilionésimos de metro) – pode intensificar o processo de formação de nuvens e também as chuvas que caem sobre a região amazônica. De acordo com os autores do artigo, sempre se acreditou que essas nanopartículas tinham papel desprezível na regulação do ciclo hidrológico – o que, de fato, é verdade em regiões continentais poluídas, como as cidades europeias, norte-americanas ou mesmo São Paulo. Na Amazônia, porém, seu papel é diferente. “A descoberta permite compreender melhor como a poluição urbana afeta os processos relacionados à formação de tempestades convectivas na Amazônia e deve aumentar a acuidade dos modelos climáticos e de previsão do tempo”, disse Luiz Augusto Toledo Machado, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coautor do estudo. O apoio da FAPESP ao trabalho agora publicado se deu por meio de três projetos – um coordenado por Henrique de Melo Jorge Barbosa, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), outro por Paulo Artaxo, também do IF-USP, e o terceiro por Machado. Como explicou Barbosa, os dados usados no artigo foram coletados durante a estação chuvosa de 2014 – entre os meses de março e abril –, período em que a Amazônia está livre das queimadas e, portanto, em que a única fonte de poluição relevante é a cidade de Manaus. “Manaus é uma cidade com cerca de 2 milhões de habitantes, mais de 500 mil veículos e abastecida por termelétricas. É, portanto, uma grande fonte poluidora cercada de floresta pristina. Nosso principal sítio experimental foi instalado em Manacapuru – cidade situada a 80 quilômetros da capital amazônica e que, alternadamente, recebe a pluma de poluição carregada pelos ventos alísios e também ar limpo da floresta”, disse Barbosa.
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Partículas de aerossol são essenciais no processo de formação de nuvens
Estudo revela que partículas de poluição emitidas pelas cidades intensificam as chuvas na Amazônia
Com o auxílio de instrumentos capazes de medir a concentração de aerossóis na atmosfera e calcular o tamanho das partículas, bem como o de radares que medem o tamanho das gotículas de nuvem, a quantidade de chuva e a velocidade com que o vapor é levado da superfície terrestre para a nuvem, o grupo comparou como ocorria o processo de convecção (movimento vertical dos gases causado pela transferência de calor) e de formação de nuvens quando a pluma de Manaus estava ou não presente sobre Manacapuru.
“As partículas de aerossol são essenciais no processo de formação de nuvens porque são elas que oferecem uma superfície para o vapor d’água se condensar. As gotículas formadas pela condensação são pequenas, mas elas acabam colidindo umas com as outras e, assim, crescendo. As gotas aumentam de tamanho e, quando ficam pesadas o suficiente, precipitam”, explicou Barbosa. Normalmente, apenas as partículas maiores do que 50 nanômetros atuam como núcleos de condensação de nuvens (CCN, na sigla em inglês).
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Segundo os pesquisadores, é mais fácil para o vapor se condensar nas partículas grandes por ser menor a menor tensão superficial, a força de atração entre as moléculas de água que permite aos mosquitos pousar na superfície de um lago. “Em cidades mais poluídas, ou na época seca na Amazônia, há muitas partículas na atmosfera e, portanto, existe uma forte competição pelo vapor d’água que emana da superfície terrestre. Portanto, a população de gotículas que se forma tem maior número e menor tamanho do que teria se não houvesse poluição. Assim, ela demora mais tempo até crescer o suficiente para chover”, explicou Machado. Por esse motivo, acrescentou o pesquisador, a nuvem acaba se desenvolvendo muito no sentido vertical e, como a parte de cima é mais fria, ocorre a formação de gelo.
WRF, foi o modelo atmosférico usado
O modelo de previsão (WRF) é um sistema de previsão do tempo numérico de mesoescala da próxima geração, projetado para atender a pesquisa atmosférica e necessidades de previsão operacional. Possui dois núcleos dinâmicos, um sistema de assimilação de dados e uma arquitetura de software que facilita a computação paralela e a extensibilidade do sistema.
Ilustração do efeito de partículas de aerossol ultrafinas (UAP <50) em nuvens convectivas tropicais
Nas nuvens que não possuem UAP <50 (à esquerda), as nuvens são altamente saturadas, como resultado de coalescência de queda rápida que forma chuva morna e reduz a área de superfície de gotícula integrada para condensação. Com UAP <50 (direita, pontos vermelhos), um número adicional de gotículas de nuvem é nucleado acima da base da nuvem, o que diminui a saturação intensamente por condensação melhorada, liberando calor latente adicional em níveis baixos e médios, intensificando assim a convecção. O condensado adicional aumenta tanto a chuva morna como a água da nuvem super-resfriada; quando o congelamento ocorre no alto, esta adição aumenta ainda mais a convecção (isto é, um pequeno aumento na convecção, mas o aumento da precipitação e a eletrificação da tempestade).
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“A intensa formação de gelo favorece o desenvolvimento de tempestades, ou seja, de nuvens intensas com raios”, disse. O processo descrito pelo pesquisador é conhecido pelos especialistas em clima como cloud invigoration, algo como intensificação da nuvem. O trabalho revelou que na região amazônica as nanopartículas também podem influenciar nesse processo, o que era desconhecido. Como na floresta tropical a umidade relativa e a temperatura do ar são muito altas, e como há poucas partículas grandes na atmosfera no período chuvoso, o vapor em excesso acaba se condensando também nas nanopartículas e o processo de cloud invigoration ocorre na parte baixa da nuvem, onde a água está no estado líquido. Esse processo de formação de gotas de chuva libera calor latente que acelera o movimento vertical do ar, aumentando a intensidade da tempestade. “Para se ter uma ideia, a velocidade do vento dobrava quando havia muitas nanopartículas na atmosfera”, disse Rodrigo Souza, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) que também participou do estudo. Trabalhos de modelagem foram feitos pelo grupo para confirmar a hipótese levantada com base nos dados atmosféricos coletados. O modelo atmosférico usado foi o Weather Research and Forecasting (WRF), um programa de última geração, mas que falhava em representar alguns aspectos importantes do ciclo hidrológico da Amazônia por ter sido desenvolvido com base em observações do hemisfério Norte. “Foi preciso adaptar o modelo para a nossa região”, disse o professor Helber Gomes, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
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O novo estudo mostra que nuvens como estas podem ser semeadas por partículas ultrafinas de aerossol quando condições específicas - alta umidade, calor e falta de partículas maiores no ar - estão presentes
Preenchendo lacunas “Nunca entendemos como podem ocorrer aguaceiros tão frequentes na Amazônia se a região tem tão poucos núcleos de condensação de nuvens – algo na ordem de 300 ou 350 partículas por centímetro cúbico [São Paulo, por exemplo, chega a ter de 10 mil a 20 mil]. Mas é porque nunca havíamos considerado o papel dessas partículas ultrafinas de aerossol”, comentou Artaxo, coautor do artigo. De acordo com o pesquisador, a descoberta mostra que os cientistas que estudam as regiões tropicais não devem se basear apenas em conceitos desenvolvidos em países de clima temperado. “Precisamos olhar para as particularidades da Amazônia. É possível que no passado, quando a atmosfera global ainda não estava poluída pelas emissões humanas, esse fenômeno de intensificação de tempestades também ocorresse em outras regiões do planeta.
Mas não sabemos ao certo e precisamos aprofundar as investigações”, disse Artaxo. Na avaliação de Machado, os achados deverão alterar não apenas os modelos climáticos como também o modo como teorias são formuladas e dados atmosféricos são coletados. “Agora que foi mostrada a importância das nanopartículas no processo de intensificação da chuva nunca mais vamos estudar as nuvens da mesma maneira. Isso modifica a forma de pensar todo o processo”, comentou. O grupo ainda pretende trabalhar em novos dados e modelos para investigar até que ponto as conclusões válidas para a Amazônia podem ser extrapoladas para outras regiões do globo. “Sabemos que é preciso uma energia brutal para levar todo esse vapor d’água para 12 a 14 quilômetros de altura. Essa energia vem do sol e está disponível na Amazônia”, disse Artaxo.O trabalho de coleta e análise dos dados contou com a participação de cientistas do Brasil, Estados Unidos, Israel, China e Alemanha.
Parte das medidas foi feita com o avião americano Gulfstream-1 (G1), pertencente ao Pacific Northwest Laboratory (PNNL). Também apoiaram a campanha GOAmazon a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), além de outros parceiros. Realizado em 2014 e 2015, o experimento teve entre seus objetivos investigar o efeito da poluição urbana de Manaus sobre as nuvens amazônicas e avançar no conhecimento sobre os processos de formação de chuva e a dinâmica da interação entre a biosfera amazônica e a atmosfera. Com base nos achados, os pesquisadores pretendem estimar mudanças futuras no balanço radiativo, na distribuição de energia, no clima regional e seus impactos para o clima global. [*] Agência FAPESP
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Deserto do Saara participa do regime de chuvas da Amazônia, a 5 mil km de distância Fotos: Divulgação, Nasa Earth Observatory, Nasa Goddard’s Visualization Studio, Reprodução/Google Maps
Satélite revela quanto a poeira sahariana alimenta as plantas da Amazônia
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ouco mais de 5,3 mil km e o Oceano Atlântico separam as cidades de Manaus (AM) e Nouakchott, a capital da Mauritânia, no deserto do Saara. Apesar da distância, o deserto do norte da África e a floresta amazônica têm uma relação mais estreita do que senso comum nos leva a acreditar. Tão inesperado quanto esta ligação é o fato de ser o deserto que beneficia a mata, e não o contrário - sendo responsável pela maior parte das chuvas torrenciais que caem sobre a região, mantendo sua exuberância e biodiversidade. Além de enviar toneladas de nutrientes para sua vegetação, como o fósforo. Os “núcleos de condensação”, a parte da nuvem em que o vapor de água se condensa, são formados, entre outros elementos, por partículas em suspensão no ar - poeira, por exemplo. No caso da floresta amazônica, uma parcela desses aerossóis é proveniente do Saara.
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Nuvens de poeira e de vapor d’água sobre o deserto do Saara
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“Este fenômeno de transporte ocorre principalmente na parte norte da Amazônia, mas já foi registrado também na área central da região, como, por exemplo, ao sul de Manaus”, explica o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). Ele é um dos integrantes de uma equipe de pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha que vem desenvolvendo, há uma década, um trabalho que levou à descoberta de que a poeira do deserto ajuda a formar nuvens sobre a Amazônia Central, onde se localiza Manaus, que são responsáveis por cerca de 80% das chuvas que caem na região.
As medidas da concentração de partículas do Saara foram feitas na Amazon Tall Tower Observatory (ATTO), ou Torre Alta de Observação da Amazônia
Mas como o deserto cria precipitações a milhares de quilômetros de distância?
Torre Alta de Observação da Amazônia, com 325 metros altura-ATTO Foto de satélite mostra a onda de poeira, no outro lado do Atlântico, se deslocando a partir da costa do norte da África
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Segundo Artaxo, o fenômeno ocorre todos os anos. Ele começa com as tempestades no Saara, que levantam toneladas de poeira e areia. Esse material é transportado de lá, por cima do Oceano Atlântico, até a floresta amazônica, numa distância mínima de pelo menos 5 mil km - entre a parte mais ocidental do deserto e Manaus. “Isso ocorre de fevereiro a maio, pois, nesta época, a chamada Zona de Convergência Intertropical (ITCZ, na sigla em inglês), fica ao sul de Manaus, favorecendo o transporte de massas de ar do hemisfério Norte para a Amazônia Central”, explica Artaxo. Ele diz que, para que haja chuva, são necessários três ingredientes básicos: vapor de água, condições termodinâmicas ideais e as partículas que servirão de meio para que o vapor possa se condensar. “Os grãos de poeira do Saara, que também podem ser chamados de aerossóis, operam como uma destas partículas em que o vapor de água se condensa”, explica Artaxo, mencionando a hipótese mais aceita para a explicação do fenômeno. “Ou seja, eles atuam como núcleos de condensação de gelo, fazendo com que gotas líquidas, ao atingirem altas altitudes e temperaturas menores que 10ºC negativos, congelem e formem gotas de gelo, que são eficientes no processo de formação de chuva na Amazônia.” Artaxo conta que as medidas da concentração de partículas do Saara foram feitas na Amazon Tall Tower Observatory (ATTO), ou Torre Alta de Observação da Amazônia, com 325 metros altura, o equivalente a um prédio de 80 andares. Erguida na reserva ambiental do Uatumã, no município de São Sebastião do Uatumã, a cerca de 180 km de Manaus, é a maior torre de monitoramento ambiental e atmosférico do mundo. O objetivo dela é coletar dados sobre a interação entre a vegetação e atmosfera.
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Mais de 5 mil km separam a borda do deserto da floresta amazônica
Teste químico Para testar sua hipótese, os pesquisadores realizaram experimentos em laboratório. Parte das partículas coletadas na torre ATTO foi injetada em uma câmara, na qual é possível simular a formação das nuvens convectivas - nuvens com grandes altitudes verticais, que podem chegar a 15 km da base ao topo, responsáveis chuvas torrenciais e rápidas. Segundo Artaxo, essa câmara reproduz as condições da atmosfera a até 18 km acima do solo, onde prevalecem as baixas pressões e temperaturas - de até 70ºC negativos. Na natureza, é num ambiente parecido que se formam as nuvens convectivas. A certeza de que a poeira encontrada no local vem do Saara e não de um terreno próximo à torre é dada pela sua composição química, mais especificamente, pela presença e proporção de alguns elementos, como alumínio, manganês, ferro e silício. De acordo com Artaxo, a quantidade desses elementos nas partículas coletadas na Amazônia é igual a encontrada na poeira do Saara. “Além disso, há a correlação entre a presença desses aerossóis e o movimento das massas de ar”, diz. “Isso prova que eles vieram mesmo do deserto africano.”
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Os cientistas ainda não têm 100% de certeza sobre o mecanismo pelo qual os aerossóis do Saara ajudam a formar as nuvens e, por consequência, as chuvas que caem torrencialmente na região. A hipótese mais provável é que o ferro, presente na poeira do deserto, pode funcionar como um suporte, sobre o qual o vapor d’água se condensa, formando núcleos de gelo, que depois se transformam em gotas de chuva.
Fertilizante natural Não são apenas simples grãos de poeira, entretanto, que o Saara manda para a Amazônia. Em 2015, a Nasa, a agência espacial americana, divulgou um estudo segundo o qual todos os anos o deserto envia, junto com o pó, 22 mil toneladas de fósforo, nutriente encontrado em fertilizantes comerciais e essencial para o crescimento da floresta. É quase a mesma quantidade que a mata produz, com a decomposição das árvores caídas e, em seguida, perde com as chuvas e inundações. Segundo o levantamento da Nasa, todos os anos 182 milhões de toneladas de poeira - mais ou menos o equivalente a 690 mil de caminhões de areia - saem do
Saara para as Américas do Sul e Central. Desse total, cerca de 28 milhões de toneladas - ou 105 mil caminhões - caem na Bacia Amazônica, e, junto com elas, o fósforo. A poeira mais rica em fósforo vem da depressão de Bodélé, no Chade, que é um antigo leito de lago, hoje seco. Devido a sua geografia, o local é atingido por constantes e gigantescas tempestades, que levantam a areia, que depois é transportado para o outro lado do Oceano Atlântico. A descoberta é parte de uma pesquisa maior para compreender o papel da poeira e dos aerossóis no meio ambiente, no clima local e global. Os pesquisadores da equipe da qual Artaxo faz parte estão agora empenhados em descobrir se o aquecimento global pode interferir no fenômeno do transporte de poeira do Saara para a Amazônia e, consequentemente, na formação e no volume de chuva na região da floresta brasileira. “Um dos efeitos do aquecimento global é mudar a dinâmica da atmosfera, e o transporte em larga escala”, diz. “Isso pode, sim, afetar o transporte de partículas do Saara para a Amazônia, pois toda a dinâmica atmosférica pode ser alterada”. Mas são necessários mais estudos para saber como isso ocorrerá.
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Alta do nível dos mares está se acelerando
A
alta do nível dos mares está se acelerando, dentro das estimativas das Nações Unidas, podendo provocar danos significativos para cidades costeiras. O derretimento de geleiras e blocos de gelo na Groenlândia e na Antártica está acelerando o ritmo já acelerado do aumento do nível do mar, mostra a nova pesquisa por satélite. A equipe de pesquisa detectou uma aceleração no registro dos 25 anos do nível do mar por satélite. O aumento do nível do mar global está acelerando um pouco a cada ano, de acordo com uma nova avaliação poderosa liderada por Steve Nerem, membro da CIRES. Ele e seus colegas aproveitaram 25 anos de dados de satélite para calcular que a taxa está aumentando em cerca de 0,08 mm / ano a cada ano - o que poderia significar uma taxa anual de aumento do nível do mar de 10 mm / ano, ou mesmo mais, até 2100.
Fotos: CC0, Goddard Space Flight Center/NASA / Kathryn Mersmann , NOAA, Steve Nerem, Visões planetárias
Aumento acelerado do nível do mar conduzido pela mudança climática detectado na era do altímetro
A missão satélite Jason-3 ajudou a detectar uma aceleração no aumento do nível do mar
A avaliação é baseada em dados de como o nível do mar vem mudando
O gelo do mar é visto de um avião de pesquisa da Nasa, na região da Península Antártica, em 3/11/2017
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“Esta aceleração, impulsionada principalmente pelo derretimento acelerado na Groenlândia e na Antártica, tem o potencial de duplicar o aumento total do nível do mar em 2100 em comparação com as projeções que assumem uma taxa constante - para mais de 60 cm em vez de cerca de 30.” disse Nerem, que também é professor de Ciências da Engenharia Aeroespacial na Universidade do Colorado Boulder. “E isso é quase certamente uma estimativa conservadora”, acrescentou. “Nossa extrapolação pressupõe que o nível do mar continua a mudar no futuro, como tem nos últimos 25 anos.Dadas as grandes mudanças que estamos vendo nos lençóis de gelo hoje, isso não é provável”. Se os oceanos continuem a mudar a este ritmo, o nível do mar aumentará 65 centímetros (26 polegadas) até 2100 – o suficiente para causar problemas significativos para as cidades costeiras, de acordo com a nova avaliação de Nerem e vários colegas da CU Boulder, da Universidade do Sul da Flórida , NASA Goddard Space Flight Center, Universidade Old Dominion e o Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica. A equipe, levada a entender e a prever melhor a resposta da Terra a um mundo de aquecimento, publicou seu trabalho na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
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As descobertas estão “de acordo com as projeções modelo do 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)”, afirma o estudo, baseado em 25 anos de dados de satélites. O aumento do nível do mar é causado pelo aquecimento do oceano e pela formação de geleiras e gelo. A pesquisa, baseada em 25 anos de dados de satélites, mostra que o ritmo acelerou, principalmente devido ao derretimento de enormes blocos de gelo. Isso confirma as simulações computacionais dos cientistas e está de acordo com as previsões das Nações Unidas, que liberam relatórios periódicos sobre mudanças climáticas. É um grande negócio “porque o aumento projetado do nível do mar é uma estimativa conservadora e é provável que seja maior, disse o principal autor, Steve Nerem, da Universidade do Colorado. O aumento do nível do mar, mais do que a temperatura, é um indicador melhor das mudanças climáticas em ação, disse Anny Cazenave, diretor de Ciência da Terra do Instituto Internacional de Ciências Espaciais da França, que editou o estudo. Cazenave é um dos pioneiros da pesquisa espacial baseada no espaço. Os níveis globais do mar foram estáveis por cerca de 3.000 anos até o século 20, quando eles se elevaram e depois aceleraram devido ao aquecimento global causado pela queima de carvão, petróleo e gás natural, disse o cientista climático Stefan Rahmstorf, do Instituto Potsdam na Alemanha, que não fazia parte do estudo. A Antártica parece menos estável do que pensávamos alguns anos atrás “, afirmou Robert Kopp, cientista do clima de Rutgers. Steve Nerem, membro do CIRES, professor de Ciências da Engenharia Aeroespacial na Universidade do Colorado Boulder
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O aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera da Terra aumenta a temperatura do ar e da água, o que faz com que o nível do mar aumente de duas maneiras. Em primeiro lugar, a água quente se expande, e essa “expansão térmica” dos oceanos contribuiu com cerca de metade dos 7 cm do aumento do nível do mar global médio que vimos nos últimos 25 anos, disse Nerem. Em segundo lugar, o gelo de terra derretida flui para o oceano, aumentando também o nível do mar em todo o mundo. Esses aumentos foram medidos usando medidas de altímetro de satélite desde 1992, incluindo as missões satelitais TOPEX / Poseidon, Jason-1, Jason-2 e Jason-3. Mas a detecção de aceleração é desafiadora, mesmo em um registro tão longo. Episódios como erupções vulcânicas podem criar variabilidade: a erupção do Monte Pinatubo em 1991 diminuiu o nível médio global do mar, pouco antes do lançamento do satélite Topex / Poseidon, por exemplo. Além disso, o nível global do mar pode flutuar devido a padrões climáticos como El Niño e La Niñas (as fases opostas da Oscilação do Sul de El Niño, ou ENSO) que influenciam a temperatura do oceano e os padrões de precipitação global. Assim, Nerem e sua equipe usaram modelos climáticos para explicar os efeitos vulcânicos e outros conjuntos de dados para determinar os efeitos do ENSO, descobrindo finalmente a taxa e aceleração subjacente ao nível do mar ao longo do último quarto de século. Eles também usaram dados da missão de gravidade do satélite GRACE para determinar que a aceleração é em grande parte conduzida pelo derretimento do gelo na Groenlândia e na Antártida. A equipe também usou dados do indicador de maré para avaliar potenciais erros na estimativa do altímetro. “As medidas do medidor de maré são essenciais para determinar a incerteza na estimativa de aceleração do GMSL (nível médio do mar)”, disse o co-autor Gary Mitchum, USF College of Marine Science. “Eles fornecem as únicas avaliações dos instrumentos de satélite a partir do solo”. Outros usaram dados de medidores de maré para medir a aceleração de GMSL, mas os cientistas têm lutado para retirar outros detalhes importantes de dados de medidores de maré, como mudanças nas últimas duas décadas devido à derretimento de gelo mais ativo. “Este estudo destaca o importante papel que podem ser desempenhados pelos registros de satélites na validação das projeções do modelo climático”, disse o co-autor John Fasullo, cientista do clima no National Center for Atmospheric Research.
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Gráfico que mostra a curva de aceleração para cima
Note-se que a porção Jason-3 (roxo, superior direito) é plana - mostrando nenhuma mudança significativa no nível do mar desde o início de sua missão
“Ele também demonstra a importância dos modelos climáticos na interpretação de registros de satélites, como no nosso trabalho onde eles nos permitem estimar os efeitos de fundo da erupção de 1991 de Mount Pinatubo no nível global do mar”. Embora esta pesquisa seja impactante, os autores consideram que suas descobertas são apenas um primeiro passo. O recorde de 25 anos é apenas o tempo suficiente para fornecer uma detecção inicial de aceleração - os resultados se tornarão mais robustos, pois os satélites de altimetria Jason-3 e subsequentes prolongam as séries temporais. Em última análise, a pesquisa é importante porque fornece uma avaliação baseada em dados de como o nível do mar vem mudando e esta avaliação concorda em grande parte com projeções usando métodos independentes. A pesquisa futura incidirá na refinação dos resultados neste estudo com séries temporais mais longas, e ampliando os resultados para o nível do mar regional, para que possam prever melhor o que acontecerá em seu quintal. O crescimento do oceano é causado pelo aquecimento, derretimento do gelo e influência vulcânica, como estes fluxos de água de fusão e rios na superfície da área ocidental da folha de gelo da Groenlândia
Catástrofe global ? Os dados de satélites recebidos durante os últimos 25 anos, prognosticam o aumento no nível do mar. Foi revelado ainda, que desde 1993, os oceanos vêm aumentando nível da água a incríveis 0,084 mm por ano. Levando em consideração que o crescimento médio nesse período tenha correspondido a 2,9 mm por ano, acredita-se que de 2005 a 2100 o nível do mar se eleve mais 65 centímetros.
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Placa solar produz água potável através do ar
A cada placa solar é possível produzir água potável para o consumo básico de uma família de até quatro pessoas Fotos: Jessica Hochreiter
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empresa norte-americana Zero Mass Water tem trabalhado uma tecnologia que pretende levar água potável ao mundo inteiro de maneira simples acessível. O sistema criado pela companhia usa placas solares para produzir água potável através da umidade do ar. O equipamento foi apelidado de Source e usa de maneira muito eficiente os conceitos já conhecidos e aplicados em outras soluções. A lógica é simples: com um material que absorve passivamente a água do ar, o sistema aproveita a energia solar para fazer funcionar um processo interno de evaporação e purificação, para a remoção de possíveis poluentes. Segundo Cody Friesen, CEO da empresa, o processo é bastante semelhante ao que acontece nos sistemas de ar-condicionado. Para ele, isso não é nenhum tipo de mágica. Este é um processo que ocorre em diversas situações. O que difere a estrutura é o resultado. Após todo o processo de destilação da água, o recurso fica extremamente puro. Para garantir ainda mais a qualidade da água, o sistema conta com uma purificação através de minerais, onde são acrescentados cálcio e magnésio, para melhorar o sabor e evitar a proliferação de doenças. Este equipamento não necessita de qualquer conexão com as redes de transmissão, já que a própria energia solar garante todo o necessário para o processo de produção, purificação e distribuição da água, que sai direto em na torneira, que, inclusive, pode ser instalada dentro da residência.
O dispositivo, chamado Source, puxa a umidade da atmosfera para fornecer água potável. A instalação usa energia solar para produzir água potável para uma família de quatro pessoas ou um hospital inteiro, dependendo de quantos painéis estão em uso
Programa piloto já instalou os sistemas em casas em regiões carentes do Equador, México, Jordânia e EUA
De acordo com a empresa, um programa piloto já instalou os sistemas em casas em regiões carentes do Equador, México, Jordânia e EUA. A cada placa solar é possível produzir
A Zero Mass Water usa para produzir água potável somente a tecnologia da energia solar.
água potável para o consumo básico de uma família de até quatro pessoas. Mas, eles já preveem para o próximo ano testes em larga escala, para instalações em hospitais ou empresas.
Cody Friesen, diretor executivo da Zero Mass Water
O sistema pode potencialmente permitir serem produzidos em locais inacessíveis e sem a necessidade da infraestrutura, de ser ligado a sistemas de abastecimento de água. Cody Friesen, tem 32 patentes em todo o mundo e 11 patentes nos Estados Unidos, em 2009 foi nomeado um dos principais inovadores do mundo com idade inferior a 35 anos, pela revista MIT Technology Review. Recentemente, ele começou seu segundo mandato no Conselho do Departamento de Comércio dos EUA. 50
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Descoberta nova família de peixes amazônicos, a primeira em 40 anos É o Tarumania walkerae, um “mini-pirarucu” que demorou 20 anos para ser descoberto no Tarumã-Mirim e que já “nasce” ameaçado por *Peter Moon
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m peixe fino e comprido, com um corpo que lembra vagamente o de uma enguia, porém mais curto, como se estivesse sem a parte traseira. Acrescente dois pares de nadadeiras ventrais, uma nadadeira dorsal e uma cauda delicada e transparente, como aquela dos peixinhos de aquário. Agora, reduza essa imagem fazendo-a caber na palma da sua mão. O peixe em questão tem cerca de 10 centímetros. Seu nome é Tarumania, e sua aparência em nada lembra as piranhas ou lambaris, parentes seus que habitam os rios das bacias hidrográficas sul-americanas. Ele foi encontrado pela primeira vez nas águas do Tarumã-Mirim pela pesquisadora Ilse Walker, hoje aposentada e que foi homenageada com o nome da espécie.
Fotos: Acervos de lse Walker e Lucia-Rapp, De Pinna et al. 2017, Divulgação Com aparência de enguia, mas filogeneticamente próxima da traíra, Tarumania vive submersa em poços de folhas. Exemplar usado na descrição foi encontrado no período da seca na Amazônia
Configuração única de sua bexiga natatória, composta por 11 câmaras separadas que, em conjunto, têm uma semelhança estranha com uma série de pérolas lse Walker, bióloga suíça, então pesquisadora das coordenações de pesquisa em Ecologia e Biologia Aquática do INPA, hoje aposentada, encontrou o Tarumania, pela primeira vez nas águas do Tarumã-Mirim
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Tarumania walkerae é a única espécie de uma nova família que acaba de ser descrita. Isso mesmo, uma nova família de peixes, Tarumaniidae. Espécies novas de peixes amazônicos são descritas todos os meses, por vezes duas ou três. Um novo gênero surge algumas vezes ao ano. Mas a descrição de uma nova família inteira de peixes é algo surpreendente e muito menos frequente. Apenas cinco novas famílias de peixes foram descobertas nos últimos 50 anos. Dessas, apenas uma é da América do Sul (Scoloplacidae, descrita em 1976). A descrição de Tarumaniidae é, portanto, a primeira de uma família de peixes sul-americanos em mais de 40 anos. “Por que levou tanto tempo para ele ser descoberto? Há biólogos coletando naquela região há muito tempo”, disse o ictiólogo Mario Cesar Cardoso de Pinna, professor titular no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Nos idos de 1850, o naturalista britânico Alfred Russell Wallace (1823-1913) já havia coletado peixes no rio Negro. De Pinna explica que a Tarumania vive enterrada, às vezes a metros de profundidade, em lodaçais preenchidos com a folhagem que cai das árvores e vai se acumulando e apodrecendo.
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“Ele vive escondido. A espécie nunca foi coletada com rede, pela razão óbvia de que não habita as águas abertas do rio, mas passa a sua vida inteiramente submersa nos poços de folhas, e fundo, 1 a 2 metros abaixo da superfície, podendo na época da cheia estar coberta por 6 a 7 metros de coluna d’água”, disse.“Esses poços, às vezes muito profundos, preenchem as margens do igarapé Tarumã-Mirim, um pequeno curso intermitente que, quando não está seco, deságua no rio Tarumã, um afluente da margem esquerda do rio Negro, distante poucos quilômetros de Manaus”, explicou o pesquisador. De Pinna e seus colegas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Jansen Zuanon e Lucia Py-Daniel, são autores da descrição da nova família Tarumaniidae, que pertence à ordem dos Caraciformes, um grupo com mais de 2 mil espécies, como piranhas, pirabas, pacus, lambaris e traíras, e distribuído entre a América do Sul e a África. A pesquisa, com resultados publicados no Zoological Journal of the Linnean Society, tem apoio da Fapesp.
Exemplares coletados
O primeiro exemplar de Tarumania, um indivíduo jovem, foi coletado em 1999 no igarapé Tarumã-Mirim pela bióloga suíça Ilse Walker, pesquisadora do Inpa desde 1976. Walker doou o exemplar à coleção de peixes do instituto em 1999. Ela não se recordava com exatidão em quais condições aquele peixinho havia sido coletado. O exemplar era obviamente diferente de tudo o que os ictiólogos do Inpa conheciam, mas faltavam elementos para descrever a espécie. Para tanto, era necessário um indivíduo adulto. O mistério sobre o local onde se encontrariam outros espécimes durou até 2006, quando finalmente descobriu-se onde o peixinho se escondia. Zuanon coletou um exemplar adulto em uma piscina cheia de folhas nas margens do Tarumã-Mirim. Era o período da seca na Amazônia e a poça se encontrava no meio da mata e a centenas de metros do igarapé – durante a época da cheia, toda aquela área permanece inundada. “Tarumania é uma descoberta rara e muito instigante. Trata-se de uma espécie extraordinária, sob diversos sentidos. O ambiente em que vive, por exemplo, é inusitado”, disse De Pinna.
A bióloga suíça Ilse Walker, em uma das observações de Ecologia e Biologia Aquática, nos Igarapés de Manaus
Existem outras características curiosas, como as escamas imbricadas reversas da cabeça ..., as escamas da cabeça voltam para frente em vez de para trás
O peixe vive em um ambiente de água intersticial, coberto por metros e metros de folhas e material em decomposição. Na cheia, esse tapete encharcado tem muitos metros de profundidade. Na seca, a água é absorvida pelo subsolo ou então evapora, de modo que a porção encharcada onde vive o peixe acaba reduzida a uns 2 metros. Diversas outras coletas foram feitas em 2010 e 2016. Por que levou tanto tempo para descrever a nova espécie e a nova família Tarumaniidae? “Para propor uma família nova, você precisa demonstrar que ela é filogeneticamente equivalente a outros grupos de peixes”, disse De Pinna. Segundo o professor, foi preciso fazer uma nova filogenia dos caraciformes, um empreendimento trabalhoso e demorado, pois significou reestudar dezenas de espécies, comparando a sua morfologia com a dos tarumanídeos. Só assim se pôde identificar quais são as semelhanças que eles guardam com os restantes dos caraciformes, bem como distinguir quais são as suas características próprias, aquelas que não dividem com nenhum outro grupo, e que justificam a nomeação de uma nova família. “Encontramos o lugar de Tarumania na ‘Árvore da Vida’. O peixe está claramente próximo das traíras”, disse De Pinna. A descrição ora publicada foi baseada em filogenia morfológica. Um segundo trabalho, desta vez mergulhando na biologia molecular do grupo, está em preparação. “Os resultados preliminares sustentam a nova família”, disse De Pinna. Agora que se sabe que Tarumania walkerae habita piscinas de folhas nas margens do Tarumã, tal ambiente passará a fazer parte dos locais de coletas dos ictiólogos que trabalham na Amazônia. Sim, porque piscinas de folhas encharcadas não são de forma alguma exclusividade das margens do Tarumã. Elas existem por toda a Amazônia. “É praticamente certo que a família dos tarumanídeos vai crescer. A descoberta de uma espécie tão distinta em um local de relativamente fácil acesso é uma indicação do quanto ainda temos a aprender sobre a diversidade de peixes no Brasil”, disse De Pinna. [*] FAPESP
Descoberto debaixo das folhas e das águas do Tarumã-Mirim
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Uma chance para a esperança Em 2016, depois de mais de uma década de sucessivos recuos que reduziram a população subalimentada do planeta, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) constatou uma inflexão ascendente por * José Graziano da Silva
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o seu último relatório “O Estado da Segurança Alimentar e a Nutrição no Mundo”, a FAO contabilizou um acréscimo de quase 40 milhões de vidas capturadas pela engrenagem da fome, elevando-se o total global de 777 milhões (em 2015) para 815 milhões de pessoas (em 2016).
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Fotos: UNICEF Data
O rebote da fome no mundo não pode ficar sem resposta e a hora de construí-la não admite protelações. Esse jogo não terminou. Ele está sendo jogado nesse momento em vários pontos do planeta, com resultados que se alteram a cada minuto. O saldo traduz o ocaso de milhões de vidas humanas. A omissão diante de um retrocesso ainda
reversível, a um custo ainda irrisório, seria descabida em qualquer circunstância. Mais ainda agora, quando finalmente avolumam sinais de uma retomada econômica global. A experiência ensina que um ciclo de alta da economia facilita, mas não corrige sozinho as perdas e danos da etapa negativa que o precedeu. A qualificação do crescimento em desenvolvimento para toda a sociedade persiste como um apanágio das políticas públicas e da ação coordenada de instituições voltadas à cooperação internacional. No entanto, o que se passa hoje é mais complicado do que simplesmente resgatar o que se perdeu. A retomada em curso talvez não produza um novo e abrangente ciclo de expansão do emprego associado a vagas de qualidade, com ganhos reais de poder de compra por um longo período. Ao declínio do emprego na década crítica iniciada em 2008, soma-se agora um inédito degrau de automação trazido pela quarta revolução industrial. O conjunto maximizará a produtividade, mas também o desafio histórico de redistribuir a riqueza por ela gerada. É nessa fronteira de múltiplas encruzilhadas que a FAO constrói um repto à inquietante recidiva da fome na atualidade. Um bilhão de dólares em contribuições internacionais pode salvar 30 milhões de vidas em 26 países e reverter o núcleo duro da insegurança alimentar em nosso tempo. O apelo encerra múltiplas dimensões. Se a cooperação internacional não for capaz disso, que chance terá a meta do desenvolvimento sustentável na equação do clima no século XXI, como previsto no Acordo de Paris? Que espaço restará à meta daí inseparável de zerar a fome e a pobreza extrema nos próximos doze anos, com base em novos padrões produtivos previstos nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável? A agenda da FAO em 2018 está integralmente centrada na construção cooperativa das respostas a essas perguntas, que vão selar o destino do século XXI. Não se trata apenas de acudir a emergência. As causas da fome precisam ser compreendidas para que se possa agir com a rapidez necessária no presente e prevenir réplicas no futuro.
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A desnutrição contribui para quase metade de todas as mortes em crianças menores de 5 anos e é generalizada na Ásia e África Quase metade de todas as mortes em crianças menores de 5 anos são atribuíveis à desnutrição, traduzindo na perda de cerca de 3 milhões de vidas jovens por ano. A desnutrição coloca as crianças em maior risco de morrer devido a infecções comuns, aumenta a freqüência e gravidade de tais infecções e contribui para a recuperação tardia. A interação entre desnutrição e infecção pode criar um ciclo potencialmente letal de piora da doença e deterioração do estado nutricional. A má nutrição nos primeiros 1.000 dias da vida de uma criança também pode levar a um crescimento atrofiado, que está associado a habilidade cognitiva prejudicada e a redução do desempenho escolar e profissional.
Infelizmente, os dados preliminares que a FAO está coletando para 2017 apontam para um novo crescimento do número de pessoas com fome no mundo
A fome no século XXI deixou de ser um alvo estático. Há tempos não se traduz a fome por escassez de alimento, como foi até meados do século XX. Tampouco a insegurança alimentar atual decorre apenas das dificuldades de acesso dos pobres à abundância conquistada. Guerras fratricidas, desequilíbrios climáticos recorrentes, vulnerabilidade agrícola e derivas populacionais combinam-se hoje em diferentes pontos do planeta para impulsionar a regressão detectada pela FAO em 2016.
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Infelizmente, os dados preliminares que a FAO está coletando para 2017 apontam para um novo crescimento do número de pessoas com fome no mundo. Conflitos intermináveis no Iraque, Sudão do Sul, na Síria e no Iêmen, assim como a escalada da violência na República Centro-Africana, no Congo e em Mianmar, tornaram evidente a correlação entre a ausência da paz e o desmanche de sistemas alimentares, com impactos irreversíveis na vida das populações locais e de seus meios de subsistência. Consequências semelhantes acarretam acidentes climáticos extremos cada vez mais frequentes. Os furacões no Caribe, ou as secas devastadoras na África, mostram que o custo do desequilíbrio ambiental já está sendo pago pelos mais pobres. Os recursos que a FAO busca junto à cooperação internacional tem o aval de uma bem-sucedida experiência em acudir e semear a resiliência justamente no flanco mais sensível à instabilidade formado pelas comunidades rurais. Na Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Iêmen, mais de 6 milhões de famílias receberam sementes, equipamentos, fertilizantes e capacitação para plantar e colher mesmo em condições adversas. Outros 2 milhões de agricultores em situação de extrema vulnerabilidade tiveram acesso a recursos financeiros para evitar a venda de suas terras e animais, o que tornaria impossível a sua regeneração produtiva. Parcerias com a FAO garantiram a vacinação de mais de 43 milhões de cabeças de bovinos e caprinos nesses países, além do abastecimento de água perene, sem o qual seria impraticável dar resiliência à economia comunitária. A FAO tem experiências, estruturas e vínculos locais para dobrar a aposta nessas iniciativas e converter o repto em um duplo ganho. De um lado, redimir a segurança alimentar de milhões de seres humanos elevando sua capacidade de produzir em sintonia com a natureza; de outro, provar a nós mesmos que o futuro sustentável continua a ser o nome da esperança no século XXI.
O futuro sustentável continua a ser o nome da esperança no século XXI
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2º Simpósio Internacional sobre Agroecologia
A agroecologia para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Fotos: FAO, Guillaume Souvant, Olivier Asselin,
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o discurso de abertura de José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, no 2º Simpósio Internacional de Agroecologia, em Roma, pediu sistemas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, e disse que a agroecologia pode contribuir para essa transformação. Ele disse que a maior parte da produção de alimentos tem sido baseada em sistemas agrícolas com altos insumos e recursos, a um alto custo para o meio ambiente, e como resultado, o solo, florestas, água, qualidade do ar e biodiversidade continuam a degradar. O foco no aumento da produção a qualquer custo não foi suficiente para erradicar a fome “e estamos vendo uma epidemia global de obesidade”, acrescentou. “Precisamos promover uma mudança transformadora na maneira como produzimos e consumimos alimentos. Precisamos apresentar sistemas alimentares sustentáveis que ofereçam alimentos saudáveis e nutritivos, além de preservar o meio ambiente. A agroecologia pode oferecer várias contribuições para esse processo ”, afirmou Graziano da Silva. Combinando conhecimento tradicional e científico, a agroecologia aplica abordagens ecológicas e sociais aos sistemas agrícolas, concentrando-se nas interações ricas entre plantas, animais, seres humanos e o meio ambiente. Graziano da Silva pediu aos formuladores de políticas nacionais que forneçam maior apoio à agroecologia.
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“Para avançar, precisamos do engajamento de mais governos e formuladores de políticas em todo o mundo”, disse ele. Stéphane Le Foll, ex-ministro da Agricultura francês, fez o discurso principal e pediu diálogo e ação para criar uma nova “revolução duplamente verde” na produção agrícola baseada na natureza, conhecimento local e ciência. “Estamos em um divisor de águas na história da humanidade e cabe a nós fazer nossas escolhas - grandes escolhas - que serão essenciais para o nosso futuro coletivo”, disse ele. José Graziano da Silva, premiou Stéphane Le Foll, com a medalha do 70º aniversário da FAO
Durante o evento, o diretor-geral da FAO premiou o ex-ministro francês da Agricultura, Stéphane Le Foll, com a medalha do 70º aniversário da FAO, em reconhecimento aos esforços para promover a causa da fome zero. Graziano da Silva elogiou o trabalho de Le Foll para impulsionar a agroecologia na Europa e em todo o mundo. Le Foll, fez o discurso principal para mais de 700 participantes reunidos no evento e pediu diálogo e ação para criar uma nova “revolução duplamente verde” na produção agrícola baseada na natureza, conhecimento local e ciência. “Estamos em um divisor de águas na história da humanidade e cabe a nós fazer nossas escolhas - grandes escolhas - que serão essenciais para o nosso futuro coletivo”, ressaltou.
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Ainda na abertura, disse Gilbert F. Houngbo, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA): “Transformar sistemas alimentares em sustentabilidade significa mudanças que são ao mesmo tempo econômicas, sociais e culturais”. “É por isso que os projetos apoiados pelo FIDA adotam uma abordagem holística, apoiando o investimento com apoio político, conhecimento e atividades de treinamento. Porque a produção diversificada tem que se adaptar a dietas diversificadas e ser aceita por consumidores preocupados com a nutrição e clima.”
Um diálogo global
O Simpósio reuniu 700 formuladores de políticas, profissionais de agroecologia, acadêmicos e representantes do governo, da sociedade civil, do setor privado e de agências da ONU para discutir os principais elementos e ações para apoiar o aumento da agroecologia. O simpósio se concentrará na identificação de necessidades, desafios e oportunidades para promover políticas, práticas e investimentos em agroecologia. No último dia, a Iniciativa de Ampliação foi lançada.
Na abertura do 2º Simpósio Internacional de Agroecologia, em Roma
Compartilhar conhecimento ecológico tradicional
Com o objetivo de encorajar processos de transição agroecológicos mais inclusivos e holísticos através de ferramentas, conhecimento e processos políticos para a transformação de sistemas alimentares e agrícolas. Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, discursando no 2º Simpósio Internacional de Agroecologia
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Conhecimento e inovação para impulsionar a mudança Investir em conhecimento e inovação é fundamental para a realização do pleno potencial da agroecologia. O Simpósio inclui uma exposição que destaca inovações em agroecologia de todo o mundo. Uma equipe de cientistas espanhóis está exibindo o CONECT-e, que é uma plataforma online projetada para agricultores e outros para registrar e compartilhar conhecimento ecológico tradicional com cientistas. Uma exposição ganense destacava um projeto liderado por agricultores apoiado pela ActionAid que promove o acesso das mulheres aos serviços de extensão agrícola com foco na promoção da agroecologia. O projeto resultou em pequenas agricultoras que aumentaram sua produção agrícola por meio de agroecologia com menor dependência de insumos externos, como herbicidas.
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Vista aérea de agricultura intensiva na França Folhas de amoreiras alimentam bichos-da-seda, cujos resíduos são então usados para pescar
mudanças climáticas e além disso produza alimentos saudáveis que combatem a fome e a desnutrição. Uma exposição na sede da FAO ilustrava as maiores inovações feitas no setor da agroecologia no mundo todo. Entre elas, a criação de uma plataforma on-line para compartilhar informações ecológicas assim como a produção proveniente de campos agrícolas africanos a cargo de mulheres sem uso de herbicidas. Cerca de 30 países, entre eles a maioria dos países da América Latina, junto com Coreia do Sul, China, Costa do Marfim assim como Áustria, Alemanha, Dinamarca, França, Suíça e Itália, já adotaram um marco legislativo ou uma série de regulamentos para facilitar o desenvolvimento da agroecologia. “Há muito por fazer” para convencer a maioria dos agricultores convencionais de que o sistema é viável e rentável, comentou Le Foll. “Algo está mudando, devemos continuar a batalha”, afirmou.
Abandonar a agricultura intensiva Para os especialistas é preciso abandonar a ideia de que a produção de alimentos deve ser intensiva, com maquinaria e produtos químicos, e passar a uma agricultura sustentável, para o qual a informação e o conhecimento são fundamentais. “Transformar nossos sistemas alimentares para que sejam sustentáveis significa realizar mudanças tanto econômicas, como sociais e culturais”, advertiu Gilbert Houngbo, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), o chamado “banco” das Nações Unidas para a agricultura, que apoia esse novo modelo de produção diversificada. Entre os exemplos citados pelos especialistas está o dos camponeses chineses que utilizam folhas de morus alba para alimentar bichos-da-seda cujos resíduos corporais são usados, por sua vez, para os peixes. “Estamos em um momento decisivo na história da humanidade e depende de nós tomar decisões que serão essenciais para nosso futuro coletivo”, afirmou Stéphane Le Foll, ex-ministro francês da Agricultura, ao convocar uma “revolução duplamente verde”, agrícola e ecológica. Para isso é necessário implementar um diálogo mundial, que impulsione o conhecimento e a inovação em setores-chave. “Investir em conhecimento e inovação é essencial para aproveitar o potencial da agroecologia”, disseram os especialistas que esperam com isso abrir o caminho para um desenvolvimento sustentável, que proteja a biodiversidade, contribua para frear as
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A Mesa oficial da abertura do Simpósio
A agroecologia pode ajudar a mudar a produção mundial de alimentos para melhor
O 2º Simpósio Internacional de Agroecologia, em Roma, solicitou mudanças transformadoras
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O mapa da gravidade da Terra Gravidade da Terra revelou em detalhes sem precedentes
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epois de apenas dois anos em órbita, o satélite GOCE da agência espacial europeia (ESA) reuniu dados suficientes para mapear a gravidade da Terra com uma precisão inigualável. Os cientistas agora têm acesso ao modelo, conhecido como geoide, que define onde estão os níveis da superfície terrestre, esclarecendo se o sentido é “para cima” ou “para baixo”, produzido para promover nossa compreensão de como a Terra funciona. O geóide foi apresentado na Technische Universität München, em Munique, Alemanha. Os representantes dos media e cientistas de
todo o mundo têm sido tratados com a melhor vista da gravidade global. O geóide é a superfície de um oceano global ideal, na ausência de marés e correntes, moldada pela gravidade. É uma referência essencial para medir a circulação do oceano, a mudança do nível do mar e da dinâmica do gelo - de todos os afetados pela mudança climática. Os cientistas afirmam que os dados podem ser usados em inúmeras aplicações, entre elas nos estudos de mudança climática para ajudar a entender como a grande massa de oceanos move calor ao redor da Terra. O mapa foi desenhado a partir de medições precisas realizadas pelo satélite europeu Goce, sigla formada a partir
das iniciais da sonda exploradora de campo gravitacional e equilíbrio estacionário que circula na órbita terrestre a uma altitude de pouco mais de 250 km da superfície - a órbita mais baixa de um satélite de pesquisa em operação. O mapa define, em um determinado ponto, a superfície horizontal na qual a força da gravidade ocorre de maneira perpendicular. Estas inclinações podem ser vistas em cores que marcam
No antigo mapa da gravidade: América do Norte e do Sul. Crédito: NASA / JPL / Universidade do Texas Centro de Pesquisas Espaciais
A Gravidade e as Mudanças do Clima no Brasil: ao acompanhar as variações – mês a mês, na distribuição de água ao redor do globo, como na bacia da Amazônia, os dados dão aos cientistas uma nova ferramenta poderosa para estudar o clima da Terra e do tempo
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Nossa Terra sob os efeitos da Gravidade: A missão da ESA,através o satélite GOCE emitiu o modelo mais acurado da “geóide” já produzidos, que serão utilizados para promover nossa compreensão de como a Terra funciona
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como os níveis divergem da forma elíptica da Terra. No Atlântico Norte, perto da Islândia, o nível se situa a cerca de 80 metros sobre a superfície da elipsoide. No Oceano Índico, esse nível está 100 metros abaixo. Os cientistas dizem que o mapa permitirá aos oceanógrafos definir como seria a forma dos oceanos se não houvesses marés, ventos e correntes marítimas. Subtraindo a forma do modelo, ficam evidentes estas outras influências. Esta informação é crucial para criar modelos climáticos que levam em conta como os oceanos transferem energia ao redor do planeta.
Utilização
Fundo do oceano
Há outros usos para o geoide. O modelo fornece um sistema universal para comparar altitudes em diferentes partes da Terra, à semelhança dos aparelhos de nivelamento que, na construção, revelam aos engenheiros para onde um determinado fluido corre naturalmente dentro de um tubo ou cano. Cientistas geofísicos também podem usar os dados da sonda para investigar o que ocorre nas entranhas profundas da Terra, especialmente naqueles pontos susceptíveis a terremotos e erupções vulcânicas. “Os dados da Goce estão mostrando novas informações no Himalaia, na África Central, nos Andes e na Antártida”, explica o coordenador da missão da Esa, Rune Floberghagen. “São lugares bem inacessíveis. Não é fácil medir variações de alta frequência no campo gravitacional da Antártida com um avião, porque há poucos campos aéreos a partir dos quais operar.” A altitude extremamente baixa da Goce deveria limitar a utilização da sonda por no máximo mais dois anos. Entretanto, níveis relativamente baixos de atividade solar produziram condições atmosféricas calmas, fazendo o satélite consumir menos combustível que o estimado. A equipe crêe que a sonda poderia ser utilizada até 2014, quando a falta de combustível desaceleraria a missão, obrigando-a a sair de órbita.
} O satélite Goce O Goce carrega três pares de blocos de platina dentro de seu gradiômetro - o aparelho que mede o campo magnético da Terra - capazes de perceber acelerações leves da gravidade sentida na superficie. Em dois meses de observação, o satélite mapeou diferenças quase imperceptíveis na força exercida pela massa planetária em diferentes pontos do globo. 62
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Terra: misterioso rio de ferro líquido descoberto no seu interior
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Fotos: Cornell University School of Continuing Education and Summer Sessions, ESA/AOES medialab, ESA/ATG mediala, ESA/F.Diekman, European Space Agency, DTU Space
ientistas dizem ter descoberto um rio de ferro líquido no centro da Terra, correndo debaixo do Estado americano do Alasca e da região russa da Sibéria. Essa massa ambulante de metal foi detectada graças aos satélites europeus Swarm – um trio que está mapeando o campo magnético da Terra para entender seu funcionamento. O campo protege toda a vida do planeta contra a radiação espacial. Para os cientistas, a existência do rio de ferro líquido é a melhor explicação para uma concentração de forças no campo magnético terrestre que os satélites registraram no Hemisfério Norte. “É uma corrente de ferro líquido que se move ha 45 km por ano, cerca de cinco metros por hora. Esta velocidade triplicou nos últimos 15 anos”, explica Chris Finlay, da Universidade Técnica da Dinamarca. “É um líquido metálico muito denso e é preciso uma quantidade enorme de energia para movê-lo. É provavelmente o movimento mais rápido que temos no manto terrestre” disse ele.
O rio de ferro derretido descoberto sob Alaska e Sibéria, é quase tão quente quanto a superfície do Sol
O campo magnético e as correntes elétricas dentro e ao redor da Terra geram forças complexas que têm impacto imensurável na vida cotidiana. O campo pode ser pensado como uma bolha enorme, protegendo-nos da radiação cósmica e partículas carregadas que bombardeiam a Terra em ventos solares. O campo magnético da Terra, é um escudo que nos protege da radiação cósmica e das partículas eletricamente carregadas, emitidas pelo Sol
O campo magnético e as correntes elétricas dentro e ao redor da Terra geram forças complexas que têm impacto imensurável na vida cotidiana. O campo pode ser pensado como uma bolha enorme, protegendo-nos da radiação cósmica e partículas carregadas que bombardeiam a Terra em ventos solares revistaamazonia.com.br
Outras surpresas são prováveis. O campo magnético está mudando para sempre, e isso pode até fazer a direção do jato mudar REVISTA AMAZÔNIA
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Essa corrente de metal líquido é como o jet stream na atmosfera da Terra – a corrente de ar em altas altitudes usada por aviões para voar mais rápido. Este rio tem cerca de 420 quilômetros de largura, estende-se por 7000 quilômetros de comprimento e é provável que vá até aos 5000 quilômetros de profundidade. Os cientistas comparam-no a um fenômeno existente na atmosfera a grande altitude – as correntes de jato, que são correntes estreitas de vento forte e que corre de forma quase horizontal. “É uma descoberta fascinante. É a primeira vez que vimos esta corrente de jato de forma tão clara”, disse Christopher Finlay, referindo-se ao ferro líquido. “Esta corrente de jato pode ser importante no dínamo que gera o campo magnético da Terra. Também pode estar a causar mudanças na taxa de rotação do núcleo interno da Terra. Ao compreendermos melhor a física do núcleo, acabaremos por fazer melhores previsões sobre as mudanças futuras do campo magnético da Terra”, acrescenta o investigador. “É possível que a corrente tenha funcionado por centenas de milhões de anos”, diz Philip W. Livermore, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e um
Com base nos resultados da missão Swarm da ESA, a animação mostra como a força do campo magnético da Terra mudou entre 1999 e meados de 2016. O azul descreve onde o campo é fraco e o vermelho mostra regiões onde o campo é forte. O campo tem enfraquecido por aproximadamente 3.5% em latitudes elevadas sobre América do Norte, quando cresceu aproximadamente 2% mais forte sobre Ásia. A região onde o campo está em seu campo mais fraco – a Anomalia do Atlântico Sul – magnético está vagueando para o leste
Monitorando as equipes de missão Swarm na Sala de Controle Principal da ESOC A complexidade magnética começa a desembaraçar-se
Uma superposição da direção e magnitude do fluxo (setas) e o gradiente azimutal do campo radial (em μT por °) no CMB usando CHAOS-6 na época 2015
Visão de projeção polar da componente radial do campo principal e variação secular no CMB a partir da reconstrução de campo baseada em observação CHAOS-6 na época de 2015. a,b Mapa do campo principal, para o grau 13, para os hemisférios Norte e Sul, respectivamente. c, d, Mapa do SV, para o grau 16, para os hemisférios Norte e Sul, respectivamente
Vista polar norte da velocidade e direção do fluxo no CMB do jato de alta latitude com melhor ajuste e M = 1 na época de 2015
Segundo Chris Finlay, da Universidade Técnica da Dinamarca, é uma corrente de ferro líquido que se move cerca de 50 km por ano
O rio de ferro fundido de fluxo rápido, flui sob o manto da Terra
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Rune Floberghagen, gerente de missão Swarm da ESA
Este fenômeno incrível foi detectado pela primeira vez graças a um enxame de satélites minúsculos atualmente orbitando o planeta. Ao detectar pequenas mudanças no poderoso campo magnético da Terra, os cientistas têm esperado aprender mais sobre o misterioso núcleo do nosso planeta e, por sua vez, aprender mais sobre o campo de força magnético invisível do nosso planeta que nos protege da radiação solar. O que os cientistas da Agência Espacial Européia descobriram foi notável; Um “fluxo de jato” de metal líquido surgindo em torno de nosso planeta. Não parou por aí, o que eles descobriram em seguida, realmente os intrigou, você vê o campo de lava acelerar. Muito parecido com o “jato de fluxo” que empurra o ar quente em torno de nosso planeta, os cientistas acreditam que este enorme rio de metal líquido acelera e desacelera como um sistema meteorológico, mudando naturalmente ao longo de centenas de anos. Isso explicaria então as mudanças sutis (e drásticas) que ocorreram no campo magnético do nosso planeta. No caso de você estar se perguntando por que não tínhamos ideia sobre algo que estava bem abaixo de nossos próprios pés, Chris Finlay da Universidade Técnica da Dinamarca com um ponteiro útil, diz: “Sabemos mais sobre o Sol do que o núcleo da Terra porque o Sol não está escondido de nós por 3000 km de rocha.” O que sabemos, contudo é que, assim como o dínamo em uma luz de bicicleta, como este metal líquido gira em torno do nosso núcleo que gera um campo magnético imensamente poderoso, protegendo-nos da radiação nociva do sol. Então o que acontece depois? Bem, os satélites de enxame agora oferecem aos cientistas uma visão sem precedentes do mundo profundo sob nossos pés e é esperado que muitas descobertas mais emocionantes serão feitas nos próximos 18-24 meses. Rune Floberghagen, gerente de missão Swarm da ESA, acrescentou: “Outras surpresas são prováveis. O campo magnético está mudando para sempre, e isso pode até fazer a direção do jato mudar. “Esta característica é uma das primeiras descobertas da Terra profunda tornadas possíveis por Swarm. Com a resolução sem precedentes agora possível, é um momento muito emocionante – simplesmente não sabemos o que vamos descobrir a seguir sobre o nosso planeta”.
Graças ao trio de satélites minúsculos Swarm atualmente mapeando o campo magnético da Terra
dos autores do estudo detalhando a descoberta. Rainer Hollerbach, outro cientista envolvido no projeto, acredita que o líquido se move graças à força da flutuabilidade ou por conta de mudanças no campo magnético do núcleo terrestre. Lançados em novembro de 2013 pela ESA (Agência Espacial Europeia), os satélites Swarm estão fornecendo acesso sem precedentes à estrutura e ao comportamento do campo magnético terrestre. Com instrumentos altamente sensíveis, os satélites estão gradualmente analisando os vários componentes do campo, do sinal dominante vindo do movimento do ferro no núcleo externo à quase imperceptível contribuição feita pelas correntes oceânicas. Os cientistas esperam que os dados do satélite ajudem a explicar a razão pela qual o campo magnético da Terra tem enfraquecido nos últimos séculos. Alguns cientistas especulam que o planeta pode estar próximo de um inversão de polaridade, em que o sul se tornará norte e o norte se tornará sul. Isso ocorre a cada centenas de milhares de anos.
“Quanto mais entendemos o comportamento do núcleo em diferentes escalas temporais e espaciais, mais podemos esperar para entender o começo, a renovação e o futuro do nosso campo magnético”, diz William Brown, da equipe de geomagnetismo do British Geological Survey
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NÃO VAI SER NA PORRADA. NÃO VAI SER NA GRITARIA. NÃO VAI SER NA IGNORÂNCIA. VAI SER PELO VOTO QUE VAI NASCER UM NOVO CONGRESSO. Como você já deve ter notado, o texto deste anúncio é longo. Por isso, se você é daquelas raríssimas pessoas que têm orgulho da atuação do deputado ou deputada federal que elegeram ou que só têm aplausos para a postura do senador ou senadora que escolheram, nem precisa se dar ao trabalho de ir até o fim. Pode parar por aqui. Por outro lado, se você faz parte da gigantesca maioria da população brasileira que se envergonha do atual Congresso Nacional, não deixe de ler este texto até o fim. Ele é longo porque tem o tamanho da indignação de milhões de brasileiros. Indignação com a produção quase que diária de escândalos e negociatas de congressistas que, por definição, deveriam estar produzindo outra coisa: leis que tornem o Brasil socialmente mais justo, progressivamente mais inclusivo, economicamente mais próspero e ambientalmente sustentável. O Congresso Nacional é um dos pilares básicos da democracia. Qualquer país só pode ser chamado de democrático se tem um Congresso Nacional livre, isto é, formado por representantes não impostos por governantes autoritários ou ditadores, e sim eleitos diretamente pelo voto popular. Nenhum dos atuais 513 deputados e 81 senadores foi enfiado goela abaixo de nenhum de nós. Ninguém foi obrigado a escolher esse ou aquele candidato, essa ou aquela candidata. Gostemos ou não, o atual Congresso Nacional é resultado exclusivo das nossas próprias escolhas. Essa é uma das consequências da democracia: às vezes, elegemos representantes que, infelizmente, não nos representam.
Que dizem uma coisa antes da eleição e fazem outra completamente diferente depois de assumirem seus mandatos. Mas até em seus defeitos a democracia revela sua inigualável qualidade. Somente sob o regime democrático podemos acompanhar e verificar o comportamento daqueles que elegemos. Saber se o discurso vendido na campanha eleitoral virou verdade e descobrir quem honrou nosso voto ou quem nunca mais o merece de novo. A democracia, e só ela, nos permite corrigir civilizadamente e pacificamente os equívocos que porventura nossas escolhas tenham nos trazido. Este ano teremos eleição. No dia 7 de outubro, será possível mostrar, de fato, sua indignação e renovar mais de 95% do Congresso Nacional. Seu voto pode mudar praticamente tudo. Se é importante eleger para a Presidência da República alguém comprometido com a justiça social e a democracia, é fundamental eleger para o Congresso pessoas que representem também esses valores. Somente com um Congresso digno e capaz o futuro Presidente, seja quem for, poderá realizar suas promessas eleitorais, sem ficar à mercê das mesmas barganhas e chantagens a que assistimos nos dias de hoje. Isso não pode mais acontecer. Um novo Congresso é necessário. E, mais importante, um novo Congresso é possível. A internet permite que, em segundos, se tenha acesso à história e ao passado de todos os candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado. É fácil pesquisar as entrevistas, os discursos, as posições de cada um deles. Em breve, novas ferramentas estarão disponíveis ajudando você a alinhar suas expectativas e desejos com os programas dos candidatos, garantindo uma maior assertividade na escolha de seus deputados e deputadas, senadores e senadoras. Esta é uma campanha apartidária e foi criada para que o Congresso Nacional que nascerá a partir das eleições de 2018 possa ser formado por homens e mulheres que exerçam verdadeiramente sua real e insubstituível função: a partir do povo, fiscalizar e legislar para o povo e pelo povo. A campanha “Um Novo Congresso” tem como horizonte a Constituição de 1988: um Brasil justo, igualitário, democrático e respeitoso dos Direitos Humanos; uma sociedade pacífica e solidária; uma economia voltada para a redução das desigualdades e para o atendimento das necessidades humanas, em harmonia com a natureza e a sustentabilidade.
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Ano 13 Nº 67 Março/ Abril 2018 OR PUBL AI
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