Amazônia 69

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Ano 13 Nº 69 Julho/agosto 2018

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00 Ano 13 Número 69 2018 R$ 12,00 5,00

FLORESTA AMAZÔNICA HÁ 4500 ANOS UIRAPURU O SENTINELA DA FLORESTA TRANSIÇÃO À ECONOMIA VERDE 70ª R.A DA SBPC


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24/08/18 14:11


EXPEDIENTE

Partes da Amazônia, que antes eram consideradas quase desabitadas, eram realmente o lar de populações prósperas de até um milhão de pessoas, mostram novas pesquisas Arqueólogos descobriram evidências de que havia centenas de aldeias na floresta tropical longe dos principais rios, e eles eram o lar de diferentes comunidades que falavam idiomas variados e que tinham impacto no ambiente...

PUBLICAÇÃO Período (Julho/Agosto) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

Uirapuru o sentinela da Amazônia

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn

Essa estratégia foi descoberta por pesquisadores-biólogos da Universidade Estadual de São Francisco, dos Estados Unidos, pode explicar a existência de revoadas tão coloridas na região. Normalmente, pássaros voam juntos – mas na Amazônia, alguns bandos apresentam dezenas de variadas espécies de aves, com diferentes cores e formas. Um deles trabalha como vigia, cantando um alarme quando há a aproximação de predadores, atua como sentinela, fornecendo chamadas de alarme amplamente...

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn

Amazônia: lar de um milhão de pessoas antes de 1500

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ARTICULISTAS/COLABORADORES Alexandra P. Coelho, Ana L. Lima, Ascom/MCTIC, Ascom SBPC, Célia Rodrigues, Claudia C. Silva, Elton Alisson, FAO-SOFIA, Gustavo Almeida, Júlio Bernardes, Lúcia Müzell, Mike Shanahan/ BBC, Rachel Biderman, Secom Maceió

Uma ONG norte-americana aliou-se à Google para reutilizar celulares obsoletos no combate à deflorestação É impossível patrulhar em permanência a imensidão da floresta amazónica e protegê- -la contra as actividades madeireiras ilegais e a caça a espécies protegidas. Outro problema sem relação aparente: o que fazer com milhares de celulares que se tornam obsoletos e indesejados a cada lançamento de um smartphone mais avançado? A organização não-governamental norte- -americana Rainforest Connection tem em marcha um...

FOTOGRAFIAS Alexander Lees, Arquivo da professora Maria Anice Mureb Sallum,Ascom MMA, Ascom/MCTIC, CCO Public Domain, Cortesia da Universidade Estadual de São Francisco, Cristino Martins / Arquivo / Ag. Pará, Divulgação, Divulgação/IEA, Doug Morton/NASA, Dr Yoshi Maezumi, EMBRAPA, FAO-SOFIA, FAPEAM, Funverde, Golden Saint International, Google, INPE, Eliseo Parra, Jardel Rodrigues/SBPC, Jose Moura UFAL, Jenny Watling, João Cunha/ Instituto Mamirauá, IRINA, José Iriarte, Landsat, Rainforest Connection, Pei Fon/ Secom Maceió, Roy Scott, Universidade de Exeter, USP

É possível erradicar a fome no mundo até 2030?

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA

A exploração excessiva dos recursos pesqueiros no mundo, assim como a poluição que os microplásticos estão causando no mar, estão entre os maiores desafios para o futuro do setor, segundo o novo relatório “O Estado da Pesca e Aquicultura do Mundo (SOFIA)”, divulgado recentemente, em Roma, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A produção global de peixes continuará a se expandir na próxima década, embora...

70º Reunião Anual da SBPC Congresso da Ciência

DESKTOP Rodolph Pyle CI

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C LE V NOSSA CAPA ESTA RE Alto Maués: Preservação garantida em 670 mil hectares da Floresta Amazônica, através da Estação Ecológica Alto Maués, em área totalmente livre de ocupação humana. A unidade abriga importantes espécies da biodiversidade brasileira, entre elas uma das maiores concentrações de primatas. Foto: Divulgação ICMBio

A abertura do 70º Encontro Anual da SBPC – maior encontro científico do país, foi realizada pela primeira vez em Maceió, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá, teve um forte tom político. Ao chegar ao campus de Maceió da UFAL, Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações foi recebido por autoridades acadêmicas sob protesto de servidores que pediam mais concursos na área, inclusive para a reposição...

O Estado da Pesca e Aquicultura do Mundo (SOFIA)

A exploração excessiva dos recursos pesqueiros no mundo, assim como a poluição que os microplásticos estão causando no mar, estão entre os maiores desafios para o futuro do setor, segundo o novo relatório “O Estado da Pesca e Aquicultura do Mundo (SOFIA)”, divulgado recentemente, em Roma, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A produção global de peixes continuará a se expandir na próxima década, embora...

MAIS CONTEÚDO [05] Floresta amazônica há 4.500 anos [11] Uirapuru o sentinela da Amazônia [14] Sensores captam primeiras imagens e sons em tempo real na Amazônia [20] Um quilômetro quadrado desmatado na Amazônia equivale a 27 novos casos de malária [23] Como as florestas e as árvores podem contribuir para os ODS [24] Floresta amazônica pode virar savana antes do que se pensava [26] Árvores de florestas tropicais úmidas estão morrendo mais rápido em todo o planeta [28] Fumaça das queimadas da Amazônia pode causar câncer, comprovam pesquisadores [30] A árvore que guiou a história humana e sustenta vida de milhares de espécies [32] A “árvore tecnológica” que filtra poluição substituindo o trabalho de 275 árvores comuns [38] “Arca de Noé” já tem dez anos e um milhão de sementes [42] PANCs, alimentos do futuro [44] Transição para economia verde custará 180 mil empregos no Brasil, mas criará outros 620 mil [51] Dia de superação da Terra [54] Conservação focada no carbono pode deixar de proteger as florestas tropicais mais biodiversas [56] Os Andes moldaram a biodiversidade da Amazônia [60] Rios Limpos para Mares Limpos

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À escuta pela floresta

COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn

ST A

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EDITORA CÍRIOS

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Floresta amazônica há 4.500 anos Cientistas descobrem indícios de que Amazônia tinha agricultura há 4,5 mil anos. Agricultura de vários vegetais diferentes. Fogo. Desmatamento controlado. Uso de fertilizantes Fotos: Dr Yoshi Maezumi, Golden Saint International, University Exeter

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m pesquisa conduzida pela Universidade de Exeter, do Reino Unido, pelos arqueólogos, ecologistas, botânicos e paleoecologistas – S. Yoshi Maezumi, Daiana Alves, Mark Robinson, Jonas Gregorio de Souza, Carolina Levis, Robert L. Barnett, Edemar Almeida de Oliveira, Dunia Urrego, Denise Schaan e José Iriarte, descobriram que a Floresta Amazônica, ao contrário do que se supunha, não era um santuário verde intocado pelas mãos humanas há 4,5 mil anos Desde essa época, no mínimo, houve interferência do homem na natureza da região. E, conforme o estudo mostra, efeitos dessa interação estão presentes ainda hoje. “Os agricultores ancestrais da Amazônia souberam como enriquecer o solo com nutrientes, criando a chamada Amazon Dark Earth (ADE)”, comenta a paleoecologista e arqueóloga Yoshi Maezumi, da Universidade de Exeter. “Em vez de expandir a terra desmatada, para aumentar a agricultura, eles melhoraram o solo, em uma forma mais sustentável de produção”. Uma análise detalhada dessas amostras revelou que os agricultores da Amazônia plantaram milho, batata-doce, abóbora e mandioca há pelo menos 4.500 anos, disse a paleoecologista e arqueólogo Yoshi Maezumi, da Universidade de Exeter, em Alter do Chão, Pará

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Os pesquisadores apontam evidências de extensa agricultura antiga e domesticação de safras em toda a bacia amazônica que, segundo eles, ocorre desde cerca de 3.000 aC. O mapa acima mostra locais onde evidências de agricultura antiga foram encontradas em áreas agora cobertas pela famosa floresta tropical

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Sim, havia sustentabilidade na mentalidade dos primeiros agricultores da Amazônia. Essa ADE é conhecida popularmente como terra-preta ou terra-preta-de-índio. Trata-se de um tipo de solo muito escuro, como o nome indica, e extremamente fértil. É encontrado principalmente na Amazônia. Ao longo das últimas décadas, uma série de estudos buscou explicar a origem dessa terra. Hipóteses foram aventadas: seria um solo resultante de cinzas vulcânicas oriundas dos Andes e depositadas na Amazônia. Ou resultado de sedimentação em lagos formados em antigos períodos geológicos. Mais recentemente, muitos cientistas vinham sugerindo uma origem antrópica - ou seja, resultante da ação humana. Análises profundas desse solo permitem identificar uma combinação de matéria orgânica vegetal e animal, vegetais carbonizados e resquícios de cerâmica. A pesquisa, publicada recentemente no periódico científico Nature Plants, concluiu que essa ação humana ancestral, portanto, teve impacto duradouro - já que o solo é presente até hoje na região. “O trabalho dos primeiros agricultores amazônicos deixou um legado duradouro”, comenta o arqueólogo e botânico José Iriarte, também da Universidade de Exeter. “A forma como comunidades indígenas administraram a terra há milhares de anos ainda molda ecossistemas florestais modernos”. A equipe diz que os primeiros fazendeiros usaram as terras da Amazônia extensivamente para cultivar alimentos para suas populações crescentes. No entanto, diferentemente dos agricultores industriais de grande porte, as comunidades primitivas mantinham uma floresta de dossel fechado alimentando continuamente o solo para evitar que ele se esgotasse de nutrientes.

Variedade dos cultivos na Amazônia

Pesquisadores da Universidade de Exeter em pesquisa na Amazônia

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A agricultura era de múltiplos vegetais. Com base nos indícios encontrados em carvão, pólen e plantas em sítios arqueológicos e sedimentos de um lago, a equipe de cientistas concluiu que os seres humanos que ocupavam a região plantavam milho, batata-doce, abóbora e mandioca, pelo menos. Para melhorar a produtividade do solo, esses agricultores ancestrais tinham suas técnicas de adubação: realizavam queimadas organizadas e adicionavam à terra esterco animal e restos de comida. Eis a provável origem da terra-preta, portanto. De acordo com os pesquisadores de Exeter, foi esse desenvolvimento do solo que propiciou que, na época, a agricultura amazônica não se circunscrevesse às várzeas dos rios, naturalmente

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Pesquisadores descobriram que antigas comunidades agrícolas plantaram milho, batata-doce e outras culturas na floresta tropical amazônica, há 4.500 anos

mais férteis, e pudesse adentrar para regiões onde o solo, originalmente, era mais pobre. “Essas comunidades provavelmente removeram algumas árvores e ervas daninhas a fim de terem espaço para seus cultivos. Mas mantiveram uma floresta primária fechada, que se transformou ao ser enriquecida com plantas comestíveis”, explica Maezumi. “Ou seja: era uma maneira muito diferente da atual exploração da Amazônia.” A pesquisadora se refere aos desmatamentos contemporâneos, em que grandes extensões de terra amazônica dão lugar a plantações de grãos e criação de gado.“Os conservacionistas modernos podem tirar lições de como os indígenas usavam a terra amazônica. E esse manejo pode ajudar a proteger as florestas modernas”, diz ela. “É importante lembrar como o desmatamento moderno e as plantações agrícolas se expandem pela Bacia Amazônica”, complementa Iriarte.

Culturas plantadas na Amazônia Os pesquisadores estudaram amostras de pólen, plantas e carvão extraído do solo em sítios arqueológicos, bem como sedimentos retirados de um lago próximo. Uma análise detalhada dessas amostras revelou que os agricultores da Amazônia plantaram milho, batata-doce, abóbora e mandioca há pelo menos 4.500 anos. As primeiras comunidades também dependiam da pesca nos lagos e afluentes do rio Amazonas. À medida que os agricultores aumentaram a quantidade de culturas que plantaram, também melhoraram os níveis de nutrição no solo pela queima e adição de estrume e outros resíduos. Nenhuma dessas comunidades agrícolas sobreviveu. No entanto, o impacto de suas atividades na Amazônia pode ser visto como plantas mais comestíveis são vistas em áreas onde antes viviam.

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Os agricultores ancestrais da Amazônia souberam como enriquecer o solo com nutrientes, criando a chamada Amazon Dark Earth (ADE)

Terra Rica em Nutrientes A autora principal, Yoshi Maezumi, paleoecologista da Universidade de Exeter, diz que os agricultores desenvolveram o que hoje é chamado de Terras Escuras da Amazônia. Estes ADEs são um solo rico em nutrientes que permitiu que as comunidades agrícolas iniciassem a agricultura sem esgotar o solo dos seus nutrientes. Também ajudou a cultivar milho e outras culturas em áreas com solos geralmente pobres. Embora esses agricultores indígenas provavelmente cortassem algumas árvores abaixo do dossel, eles mantinham um dossel fechado reutilizando o solo em vez de derrubar árvores

para expandir sua produção para outras áreas. “Este é um uso muito diferente da terra para a de hoje, onde grandes áreas de terra na Amazônia são desmatadas e plantadas para grãos em escala industrial, cultivo de soja e pastagem de gado”, diz Maezumi. “Esperamos que os conservacionistas modernos possam aprender lições sobre o uso da terra indígena na Amazônia para informar as decisões administrativas sobre como proteger as florestas modernas”. A floresta amazônica não é tão intocada depois de tudo. Pesquisadores descobriram que antigas comunidades agrícolas plantaram milho, batata-doce e outras culturas na floresta tropical há 4.500 anos.

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Amazônia: lar de um milhão de pessoas antes de 1500 Fotos: Jenny Watling, José Iriarte, Landsat, Universidade de Exeter

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artes da Amazônia, que antes eram consideradas quase desabitadas, eram realmente o lar de populações prósperas de até um milhão de pessoas, mostram novas pesquisas Arqueólogos descobriram evidências de que havia centenas de aldeias na floresta tropical longe dos principais rios, e eles eram o lar de diferentes comunidades que falavam idiomas variados e que tinham impacto no ambiente ao seu redor. Enormes partes da Amazônia ainda são inexploradas por arqueólogos, especialmente áreas longe dos principais rios. As pessoas haviam assumido que as comunidades antigas preferiam viver perto desses canais, mas as novas evidências mostram que esse não era o caso. A descoberta preenche uma lacuna importante na história da Amazônia, e fornece mais evidências de que a floresta tropical que antes se pensava ser intocada pela agricultura ou ocupação humana - foi de fato fortemente influenciada por aqueles que nela viviam. Arqueólogos já descobriram provas da existência de 81 aldeias na Amazônia, segundo uma divulgação da Universidade de Exeter, no Reino Unido.

Partes da Amazônia pensadas desabitadas eram na verdade lar de até um milhão de pessoas. Vista aérea de vestígios encontrados na Amazônia, no Sítio de Jacó Sá

Algumas zonas da floresta tropical, que se pensava terem sido praticamente desabitadas, foram o lar de comunidades que chegaram a ter cerca de um milhão de pessoas, há 800 anos, de acordo com os resultados da investigação.

Imagem aérea de vestígios encontrados na Amazônia

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Anteriormente, pensava-se que as comunidades ancestrais tinham ocupado as áreas perto dos principais rios, pelo que as zonas mais afastadas continuam bastante inexploradas. No entanto, as novas provas mostram que este não era o caso e que existiram dezenas de aldeias na floresta tropical, longe dos rios, que acolheram diferentes comunidades, que falavam inclusivamente vários idiomas. O artigo científico, publicado na revista Nature Communications, acrescenta que estas comunidades tiveram impacto no ambiente, provando que a Amazônia – que se acreditava não ter sido influenciada, de forma significativa, pela agricultura ou ocupação humana – foi, na verdade, moldada por aqueles que nela viveram. “Concluímos que os interflúvios e afluentes menores do Sul da Amazônia mantinham elevadas densidades populacionais, exigindo uma reavaliação do papel desta região nos desenvolvimentos culturais e no impacto ambiental na era pré-colombiana” ? – período temporal anterior à colonização europeia –, lê-se na publicação. Os arqueólogos da Universidade de Exeter descobriram vários vestígios, nomeadamente vilarejos, fortificações, objetos de cerâmica, machados de pedra e geoglifos – escavações com formas geométricas (quadradas, circulares ou hexagonais) feitas no solo pelos humanos.

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Há um equívoco comum de que a Amazônia é uma paisagem intocada, lar de comunidades nômades dispersas. Este não é o caso. Descobrimos que algumas populações longe dos grandes rios são muito maiores do que se pensava anteriormente, e essas pessoas tiveram um impacto no meio ambiente que ainda podemos encontrar hoje

Cientistas da Grã-Bretanha e do Brasil descobriram evidências de centenas de aldeias fortificadas na floresta tropical longe dos principais rios - áreas até então consideradas intocadas pela civilização humana antes da chegada dos europeus, no final do século XV

A Cidade Limpa, empresa de proteção ambiental opera a 19 anos no Estado do Pará e está devidamente licenciada pelos órgãos competentes: SEMA, IBAMA, ANVISA, CAPITANIA DOS PORTOS, CREA-PA, Corpo de Bombeiros e Prefeitura Municipal de Belém. A empresa está apta a dar destinação final, de forma correta a resíduos industriais líquidos, pastosos e sólidos, além de resíduos hospitalares.

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Os especialistas ainda não descobriram o propósito destas escavações, uma vez que alguns geoglifos não mostram indícios de terem sido ocupados. No entanto, é possível que tenham sido também usados para rituais cerimoniais. As provas foram descobertas no estado brasileiro de Mato Grosso e levaram à conclusão de que um trecho de 1800 quilômetros na margem sul da Amazônia foi ocupado por comunidades entre 1250 e 1500. Os arqueólogos estimam que existiram naquela zona entre mil e 1500 aldeias fortificadas, sendo que dois terços ainda não foram descobertas. A investigação mostra que existem cerca de 1300 geoglifos ao longo de 400 mil quilômetros quadrados no Sul da Amazônia, tendo sido encontrados 81 geoglifos na zona abarcada por este trabalho. Os vestígios das aldeias encontram-se principalmente nas proximidades ou dentro dos geoglifos, sendo que as povoações estavam conectadas por uma rede de caminhos, alguns construídos ao longo de muitos anos, o que demonstra uma espécie de urbanismo primitivo.

19 anos

de Excelência

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Imagens de satélite revelaram a existência de vilas “perdidas” na floresta tropical. Um dos fossos circulares encontrados na bacia do Rio Tapajós, na Amazônia

a) Geoglifos e aldeias aneladas, um modelo de terreno digital do sítio de Jacó Sá, mostrando compartimentos geométricos com valas, cercas muradas e avenidas. Barra de escala = 100 m; b) Foto aérea de uma das estruturas no local de Jacó Sá; c) Foto aérea do site de Fonte Boa mostrando uma vila de anel com estradas radiantes (à direita) construídas ao lado de um recinto geométrico anterior (esquerda).

Construtores de terra pré-colombianos se estabeleceram ao longo de toda a margem sul da Amazônia. Distribuição de recintos afundados na área pesquisada. Outros quatro locais foram registrados ~ 150-200 km a oeste e leste e não são mostrados. Pequenos círculos são buffers de ~ 25 km, correspondendo ao território de locais médios e grandes com base na distância média entre eles. Os grandes círculos ao redor dos grandes centros são buffers de ~ 85 km com base na distância média entre os locais dessa classe. Os círculos tracejados destacam os potenciais sistemas de sites regionais ocidentais e orientais. Imagens de plano de fundo de paisagem de 2017 mostrando florestas (cinza) e manchas desmatadas (brancas), no sul da Amazônia

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A terraplanagem – movimentação do solo com vista à construção de canais ou caminhos – terá sido elaborada durante as secas sazonais, período em que seria possível proceder a uma desflorestação. No entanto, as secas não comprometiam a fertilidade dos solos, pelo que os agricultores poderiam cultivar e plantar árvores de fruto como a castanha-do-pará, de acordo com os investigadores. Jonas Gregório de Souza, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter, e membro da equipa de investigação, afirmou que “existe uma ideia errada comum de que a Amazônia é uma paisagem intacta, lar de comunidades nómadas dispersas”. Os arqueólogos descobriram que “algumas das populações [que se encontravam] longe dos principais rios eram muitos maiores do que se pensava anteriormente e essas pessoas tiveram um impacto no ambiente que ainda hoje podemos verificar”, acrescentou o investigador, citado no comunicado de imprensa. O estudo alerta ainda para a importância da Amazônia na biodiversidade e regulação do clima da Terra, pelo que “uma compreensão do papel histórico dos seres humanos na moldagem das paisagens amazônicas e até que ponto essas florestas foram resistentes a distúrbios históricos é fundamental para tomar decisões políticas conscientes” sobre a sustentabilidade das florestas tropicais no futuro, lê-se no artigo científico. José Iriarte, da Universidade de Exeter e membro da equipa de investigação, afirmou que “a maior parte da Amazônia ainda não foi explorada, mas estudos como o nosso significam que estamos gradualmente a juntar mais e mais informações sobre a história da maior floresta tropical do planeta”, revelando ainda que é necessário reavaliar a pegada humana na floresta. “Certamente não era uma área apenas habitada junto às margens de grandes rios e as pessoas que lá viviam mudaram a paisagem. A área que investigamos tinha uma população de pelo menos dezenas de milhares”, concluiu o investigador. A equipa acredita que o estudo poderá ajudar a perceber como era a Amazônia no período que precedeu a ocupação por parte dos europeus, assim como as diferentes culturas que lá habitaram.

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Uirapuru o sentinela da Amazônia Aves de vigia amazônicas ajudam outras espécies a viver em locais perigosos. O uirapuru-de-garganta-preta alerta outros pássaros sobre a proximidade de predadores e eles fogem juntos da ameaça Fotos: Cortesia da Universidade Estadual de São Francisco, Divulgação, Eliseo Parra O pássaro-chave é o uirapuru-de-garganta-preta

E

ssa estratégia foi descoberta por pesquisadores-biólogos da Universidade Estadual de São Francisco, dos Estados Unidos, pode explicar a existência de revoadas tão coloridas na região. Normalmente, pássaros voam juntos – mas na Amazônia, alguns bandos apresentam dezenas de variadas espécies de aves, com diferentes cores e formas. Um deles trabalha como vigia, cantando um alarme quando há a aproximação de predadores, atua como sentinela, fornecendo chamadas de alarme amplamente utilizadas por outros membros do bando. As chamadas de alarme fornecem informações de ameaças sobre predadores de emboscada, como falcões e falcões. Dessa forma, os vizinhos do bando, escapam juntos do perigo. O pássaro-chave é o uirapuru-de-garganta-preta (Thamnomanes ardesiacus), que tem em média 14cm de comprimento e pesa cerca de 18g. Para começar o estudo, os pesquisadores coletaram dados sobre o número de espécies em oito rebanhos mistos no sudeste do Peru e colocaram pulseiras coloridas nas aves. “Isso nos ajudou a identificar os membros do bando individualmente no caso de eles se mudarem para grupos vizinhos ou outras partes da floresta”, explica Eliseo Parra, coautor do artigo, que destaca uma das razões pela qual esses bandos extraordinariamente diferentes existem:

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Entre eles, uns são espécies de sentinelas-vigia, que chamam a atenção quando detectam predadores perigosos, como um mecanismo de proteção – um alarme, quando há a aproximação de predadores. Dessa forma, eles escapam juntos do perigo.

Pesquisadores têm ponderado a existência desses bandos de espécies mistas por décadas, especialmente por causa de sua estabilidade. “Você volta para o mesmo habitat depois de 20 anos, e os mesmos rebanhos estão usando as mesmas áreas da floresta”, explicou o professor de Biologia Vance Vredenburg: “Isso desafia muitas expectativas”. Mas os cientistas tiveram algumas pistas. Um grupo onipresente de membros do bando são espécies cujas chamadas alertam seus vizinhos para a presença de ameaças como falcões ou falcões. “ As pessoas têm pensado por um tempo que talvez essas “sentinelas” promovam a capacidade de outras espécies de usar áreas arriscadas-perigosas da floresta”, disse o principal autor do estudo, Ari Martinez, que foi pesquisador de pós-doutorado no Estado de São Paulo durante o estudo. Ao abrir novos habitats para seus vizinhos, eles também podem reunir espécies que normalmente se aglomerariam sozinhas.

Uirapuru-de-garganta-preta. O novo estudo da Universidade Estadual de São Francisco, mostra que aves que anunciam o alarme, como o Uirapuru-de-garganta-preta (Thamnomanes ardesiacus), ajudam seus vizinhos a viverem em partes “arriscadas” da floresta amazônica

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O fenômeno em bandos de espécies mistas aviárias em florestas tropicais da Amazônia. Até 70 espécies se juntam a estes bandos, presumivelmente seguindo pistas comportamentais

Para testar essa ideia, a equipe capturou Uirapuru-de-garganta-preta, selvagens (Thamnomanes ardesiacus) de oito bandos de espécies mistas no sudeste do Peru e manteve cada ave em um aviário por vários dias. Depois que a equipe removeu os vigias, os pássaros de cada grupo responderam em questão de horas. Em três rebanhos, os pássaros recuaram para áreas de cobertura mais densa no mesmo nível vertical da floresta, enquanto em outro os membros se juntaram a novos rebanhos no alto do dossel, outra área que oferece mais proteção contra os predadores.

Intervalos de oito bandos diferentes no local são liderados por Antshrike de ardósia azulada (números vermelhos, n = 8) ou o Antshrike Dusky-throated (números azuis, n = 8). Cada cor representa um território floco individual

Quando as espécies sentinelas foram removidas: A) Controle: os membros do bando deslocaram o uso do habitat para habitats avessos ao risco, contendo maior cobertura vegetal, e B) Remoção: A coesão do lote diminuiu. Foi concluido que a espionagem em espécies de sentinela pode permitir que outras espécies se alimentem com segurança em habitats de alto risco, aumentando o seu nicho percebido que pode influenciar a biodiversidade global em uma paisagem diversificada 12

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Aves de rapina (predadores) treinadas ao vivo para comparar a probabilidade sentinela a produzir chamadas de alarme, e codificar informações sobre magnitude e tipo de ameaça em tais chamadas de alarme

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Conduzindo o experimento de remoção de curto prazo em uma floresta amazônica de terras baixas para avaliar se o uso do habitat e a coesão do lote foram influenciados pela presença de sentinela

Pássaros em bandos de controle, onde os pesquisadores capturavam os insetos, mas os libertavam imediatamente, tendiam a ficar em campo aberto. Os resultados apoiam a ideia de que espécies de alarme podem permitir que seus vizinhos morem em áreas perigosas. “Esses bandos ocupam uma camada intermediária da floresta tropical que não é exatamente o solo e não o dossel”, explicou o co-autor Eliseo Parra, professor e pesquisador do Estado de São Francisco. “Muita literatura sugere que esta área é mais perigosa. Há mais oportunidades para um predador ficar oculto e ainda ter uma rápida rota de voo.” Remova os intrusos e seus ex-companheiros de bando são deixados expostos, para que eles se retirem para habitats mais seguros. Outra consequência da remoção é que quase todos os membros de bandos de espécies mistas passaram menos tempo com a maior parte do rebanho. “Algumas espécies se retirariam para um habitat e algumas para outro”, disse Parra. “De uma perspectiva anedótica, você não viu mais um rebanho.” Mesmo que eles não pareçam o papel, isso faz com que os pássaros que chamam o alarme sejam parecidos com “espécies-chave” que têm um efeito extraordinariamente grande em seu ambiente, como castores e lobos. Os vigias podem não ter um grande impacto em seu ambiente físico, mas influenciam o comportamento de muitas outras espécies criando uma zona segura a partir de predadores. “É uma forma que a diversidade de espécies pode ser mantida na floresta”, disse Martinez, acrescentando que isso poderia torná-los alvos valiosos para os esforços de conservação.

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Revoada de pássaros mudou de configuração Normalmente, pássaros voam juntos - mas na Amazônia, alguns rebanhos apresentam dezenas de espécies de todas as formas e cores.

Um novo estudo aponta uma razão pela qual esses rebanhos extraordinariamente diferentes existem: espécies de vigia que chamam a atenção quando detectam predadores perigosos. Outra constatação dos biólogos da Universidade Estadual de São Francisco é de que, com a remoção da ave sentinela, a revoada de pássaros mudou de configuração. Animais trocaram de hábitat ou de bando. Dessa forma, mesmo não tendo muito impacto no ambiente físico, o uirapuru-de-garganta-preta tem influência sobre comportamento de muitos outros pássaros. “Às vezes, até mais de 60 espécies o seguem e respondem aos seus alarmes”, complementa Eliseo Parra. “Nosso estudo ajuda a entender como complexas relações comportamentais e ecológicas entre as espécies podem impulsionar as comunidades de animais da floresta tropical.” O principal benefício para as espécies seguidoras do uirapuru-de-garganta-preta é o aumento na taxa de forrageamento. “Ou seja, esses indivíduos se beneficiam por poder gastar menos tempo levantando a cabeça para ver se não há nenhum predador por perto e podem passar mais tempo com a cabeça no meio da folhagem procurando alimentos”, explica.

Ari Martinez, principal autor do estudo, na Amazônia peruana, em Pantiacolla, Peru

Eliseo Parra, coautor do artigo, professor e pesquisador, durante os estudos na floresta amazônica

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Sensores captam primeiras imagens e sons em tempo real na Amazônia Registros de tecnologia inédita de monitoramento da Amazônia

Fotos: João Cunha/ Instituto Mamirauá O pesquisador Emiliano Ramalho e uma tecnologia de imagem do sistema

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om o filhote a tiracolo, uma fêmea de macaco-prego faz seu caminho pela floresta até subir numa árvore em busca de alimento. Este pode até parecer um registro comum, mas a cena ganha contornos inéditos por representar um importante passo no conhecimento sobre a Amazônia. Trata-se do primeiro registro oficial de um sistema pioneiro para monitorar a biodiversidade em tempo real. Em abril, os pesquisadores concluíram os testes para o funcionamento desta tecnologia inédita, que pode ser uma poderosa aliada na conservação das espécies na Amazônia. O projeto Providence, colaboração científica internacional liderada no Brasil pelo Instituto Mamirauá, é formado por uma rede de 10 sensores instalada na floresta amazônica. Os equipamentos foram colocados numa área de 3,5 milhões de hectares onde estão as reservas Mamirauá e Amanã – duas das maiores unidades de conservação do país. Os módulos da tecnologia Providence são equipados com câmeras e microfones, que vão captar, 24 horas por dia, o movimento e o comportamento da vida que habita o interior da floresta. O grande avanço trazido pela tecnologia é a sua capacidade de identificar espécies de animais por imagem e som e enviar essas informações automaticamente, por satélite, wifi ou 3G, de qualquer lugar para um banco de dados.

A ideia é criar um observatório da biodiversidade da Amazônia de fácil acesso para a sociedade. Segundo o pesquisador Emiliano Ramalho, do Instituto Mamirauá, na próxima fase, o projeto Providence terá uma plataforma online para acesso livre e gratuito à informação gerada a partir da tecnologia. “Queremos que essas informações sejam úteis para outros pesquisadores, para que a ciência avance. Que o sistema seja usado como ferramenta de educação, de manejo de recursos naturais e conservação pelas comunidades locais e gestores de unidades e, de maneira geral, ser usado para enviar uma mensagem para todo o mundo sobre o que está acontecendo com a biodiversidade na Amazônia”, afirma Ramalho, que é coordenador do projeto Providence. Ele ressalta que o Providence foi criado para superar os desafios que as ações de conservação da Amazônia exigem. “Um sistema inteligente, eficaz e sustentável, com alcance e resultados mais amplos que os métodos tradicionais de monitoramento.” Tecnologia inédita faz primeiro registro de monitoramento de animais na Amazônia. Fêmea de macaco-prego carregando filhote é primeira imagem oficial do projeto

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Módulo sonoro da tecnologia Providence

Tecnologia O Providence é composto por dois módulos de imagem e som que operam em conjunto para gravar e identificar espécies da fauna. Graças ao clima quente e úmido da Amazônia, o sistema é alimentado com painéis de energia solar. Para evitar consumo desnecessário, parte dos dispositivos funciona em estado semidormente, ou seja, é ativada somente quando um animal se aproxima. Completando a estrutura, antenas transmitem o material – fotos e áudios – para o banco de dados do projeto. Para a comunicação ser bem-sucedida, as antenas da tecnologia foram instaladas em pontos altos da floresta, em geral, árvores de grande porte, a exemplo da urucurana e do apuí.

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“Um módulo sonoro também foi implantado dentro de um lago para registrar sons de espécies subaquáticas, como o boto cor-de-rosa e o tucuxi”, explica o pesquisador Michel André, do Laboratório de Aplicações Bioacústinas da Universidade Politécnica da Catalunha, que integra a colaboração científica Providence. André lembra que as tecnologias de som são um valioso recurso de monitoramento uma vez que conseguem alcançar distâncias maiores de captação do que os dispositivos de imagem. “Então, mesmo que não tenhamos a imagem do animal, seremos capazes de identificá-lo pelo som que emite.” Os módulos de som do Providence têm dois microfones – um para frequências sonoras audíveis por seres humanos e outro para sons que escapam aos nossos ouvidos, como os produzidos por morcegos. Já os módulos de imagem são “os olhos” do sistema e estão habilitados para firmar bichos à luz do dia, na escuridão da mata à noite (com o auxílio de lentes infravermelho) e mesmo em condições climáticas adversas, como em temporais. “Com os testes feitos ao longo do ano passado até o momento, conseguimos adaptar os equipamentos às condições desafiadoras da Amazônia”, ressalta o cientista Paulo Borges, da organização científica CSIRO, da Austrália.

Controlador de bateria do projeto Providence. O equipamento evita perdas de energia

Parceria entre Instituto Mamirauá e centro de pesquisas internacionais

O sistema, de acordo com a pesquisadora Eulanda Santos, está sendo treinado para reconhecer mais de dezespécies de animais característicos da Amazônia, como a onça-pintada e duas espécies de mutum. Com os testes realizados em março na Reserva Mamirauá, o projeto Providence encerra a primeira fase de suas atividades. Nela, dez sensores foram instalados em diversas partes da reserva, provando que a tecnologia funciona em uma das regiões mais desafiadoras do mundo – as florestas inundáveis de várzea da Amazônia.

Revolução Módulo visual da tecnologia Providence para registrar e identificar animais

A identificação das espécies é feita por um sistema de inteligência artificial desenvolvido pelo Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas.

Pesquisador da UPC, Michael André, testa uma tecnologia para gravar sonso de espécies subaquáticas

Painel solar no topo de uma árvore. Sistema de energia do projeto é sustentável

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Na próxima fase, serão instalados cem sensores para monitorar toda a extensão da Reserva Mamirauá, “tornando a primeira reserva do mundo a ser monitorada 24 horas por dia”, segundo o pesquisador Emiliano Ramalho. Nesta etapa, também será lançado o site do projeto Providence, para acesso público.

A terceira fase completa o projeto com a instalação de mil sensores ao longo de toda a Amazônia brasileira e, possivelmente, em outros países. Além disso, segundo Ramalho, a ideia é expandir o Providence para unidades de conservação do governo federal por meio de uma parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio). “Será um avanço imenso, uma revolução na forma como se faz monitoramento de biodiversidade no Brasil”.

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À escuta pela floresta A luta contra o desmatamento ilegal com o TensorFlow

Fotos: Google, Rainforest Connection Telefones celulares reciclados ajudam na luta contra o desmatamento

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ma ONG norte-americana aliou-se à Google para reutilizar celulares obsoletos no combate à deflorestação É impossível patrulhar em permanência a imensidão da floresta amazónica e protegê-la contra as actividades madeireiras ilegais e a caça a espécies protegidas. Outro problema sem relação aparente: o que fazer com milhares de celulares que se tornam obsoletos e indesejados a cada lançamento de um smartphone mais avançado? A organização não-governamental norte-americana Rainforest Connection tem em marcha um projeto que oferece uma solução para os dois problemas: transformar celulares antigos em postos de escuta alimentados a energia solar que são colocados na floresta para ouvir atividades ilegais. A iniciativa corre desde 2014 mas ganha agora um novo impulso através de uma parceria com a Google, que vai disponibilizar à ONG a sua ferramenta de aprendizagem automatizada.

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Já na floresta, para colocação dos Guardiães

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O TensorFlow vai analisar os sons registados por milhares de celulares espalhados pela Amazônia e encontrar padrões não detectáveis pelo ouvido humano: por exemplo, a presença silenciosa de um jaguar, identificável pela agitação de outras espécies.A deflorestação em países tropicais é um dos principais fatores na base das alterações climáticas, da desertificação e da perda de biodiversidade.

Rainforest Connection

Escondemos smartphones modificados alimentados com painéis solares chamados de dispositivos “Guardian”

Segundo o fundador e CEO Topher White da Rainforest Connection, muitos de nós acreditam que a tecnologia tem um papel crucial no combate à mudança climática, mas poucos sabem que “salvar a floresta tropical” e combater as mudanças climáticas são quase uma só coisa. Pelos números, a destruição de florestas responde por quase um quinto de todas as emissões de gases de efeito estufa a cada ano. E na floresta tropical, o desmatamento da floresta tropical acelerou-se na esteira da extração excessiva - até 90% da qual é feita ilegalmente e sob o radar. Parar a extração ilegal de madeira e proteger as florestas tropicais do mundo pode ser a maneira mais rápida e barata para a humanidade desacelerar a mudança climática. E quem é o mais adequado para proteger a floresta tropical? Os moradores e as tribos indígenas que viveram lá por gerações.

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White, desenvolveu um aplicativo para ajudar a salvar as florestas tropicais após uma descoberta feita enquanto se voluntariava em Bornéu para um programa de proteção do gibão. Ele aprendeu que quase metade do orçamento do conservacionista local foi usado para combater os madeireiros ilegais. White estava determinado a encontrar uma solução. A tecnologia atual usada contra o desmatamento é por satélite, que só pode mostrar onde as árvores foram cortadas. O foco de White é localizar e abordar madeireiros ilegais antes que as árvores sejam cortadas e as estacas sejam altas. Sua solução é detectar veículos, caminhões e motosserras usando áudio gravado a partir de telefones celulares plantados nas copas das florestas tropicais. Guardas-florestais da floresta tropical serão então notificados da localização em seus próprios telefones celulares, a fim de encontrar e rastrear madeireiros antes da extração ilegal de madeira. O dispositivo criado por White, chamado de guardian phones, usa telefones celulares androidizados de cinco a seis anos de idade, movidos a energia solar. Os telefones Guardian operam 24 horas por dia para gravar áudio da floresta tropical. O áudio é analisado em tempo real para motosserras, caminhões de madeira, veículos, tiros e espécies animais específicas. Essa tecnologia também está sendo oferecida como uma plataforma para os ecologistas de florestas tropicais usarem para pesquisa. Qualquer pessoa terá a capacidade de usar o aplicativo para ouvir sons em tempo real das florestas tropicais. O aplicativo também enviará alertas sobre o que está acontecendo nas áreas próximas. White e sua equipe já possuem um serviço de assinatura projetado para enviar alertas em tempo real sempre que um orangotango estiver em perigo devido ao registro em log. Isso dará às pessoas uma compreensão precisa do que está em jogo. (Obtenha o aplicativo móvel, Rainforest Connection, no iOS ou Android.) Basicamente, as pessoas pensam no valor da floresta de duas maneiras, diz White. Um é extrativo – quanto posso obter por uma árvore? E o outro emocional – como conhecer uma floresta tropical me faz sentir? Se você puder ouvir uma floresta, ele supõe, é mais provável que você queira salvá-la. E há isto: os telefones de White coletaram recentemente os sons que as araras fazem diretamente antes de um evento de corte de corrente acontecer em sua região direta. Seu “comportamento de vocalização muda”, diz White, “potencialmente nos dizendo que a extração de madeira vai ocorrer”. Identificar e capturar comunicação como essa poderia ser revolucionário. Entre os telefones celulares e os pássaros, não temos escolha a não ser ouvir. Veja como é o processo. https://www.popsci.com/sites/popsci.com/ files/images/2017/06/1-li5lmhyyrhx5kj7tgn0axg_0.gif

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O hardware de construção que sobreviverá na floresta tropical é desafiador, mas estamos usando o que já está lá: as árvores. Escondemos smartphones modificados alimentados com painéis solares - chamados de dispositivos “Guardian” - em árvores em áreas ameaçadas, e monitoramos continuamente os sons da floresta, enviando todo o áudio para os nossos servidores baseados em nuvem sobre o padrão local, celular-¬ rede telefônica. Quando o áudio está na nuvem, usamos o TensorFlow, a estrutura de aprendizado de máquina do Google, para analisar todos os dados auditivos em tempo real e ouvir motosserras, caminhões e outros sons de atividades ilegais que podem nos ajudar a identificar problemas na floresta. O áudio é despejado constantemente de todos os telefones, 24 horas por dia, todos os dias, e os riscos das detecções perdidas são altos. É por isso que usamos o TensorFlow, devido à sua capacidade de analisar todas as camadas do nosso processo de detecção de dados. A versatilidade da estrutura de aprendizado de máquina nos permite usar uma ampla gama de técnicas de IA com o Deep Learning em uma plataforma unificada. A Rainforest Connection é um grupo de engenheiros e desenvolvedores focados na construção de tecnologia para ajudar os locais – como a tribo Tembé da Amazônia central – a proteger suas terras e, no processo, proteger o resto de nós dos efeitos da mudança climática. O chefe Enaldo Tembé me procurou há alguns anos atrás, buscando colaborar em maneiras pelas quais a tecnologia poderia ajudar a impedir que madeireiros ilegais destruíssem suas terras. Juntos, embarcamos em um plano ambicioso para tratar dessa questão usando telefones celulares reciclados e aprendizado de máquina. Nossa equipe criou o primeiro sistema de detecção e alerta escalonável em tempo real do mundo para registrar e preservar o meio ambiente na floresta tropical.

Topher White instala um dispositivo de escuta de celular. White agora lidera a Rainforest Connection, uma organização sem fins lucrativos que transforma smartphones Android doados em sentinelas florestais

O TensorFlow vai analisar os sons registados por milhares de celulares espalhados pela Amazônia e encontrar padrões não detectáveis pelo ouvido humano

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Montando um aparelho de escuta de celular

Topher White montando um transceptor Guardião. Em oficina simples, o telefone Android reciclado é transformado em um dispositivo de monitoramento acústico movido a energia solar que ouve sons de extração ilegal de madeira na área

Isso nos permite ajustar nossas entradas de áudio e melhorar a qualidade da detecção. Sem a ajuda do aprendizado de máquina, esse processo é impossível. Ao combater o desmatamento, cada melhoria pode significar mais uma árvore salva. O próximo passo é envolver aqueles que herdarão o planeta de nós: crianças. Hoje, estamos lançando o programa “Guardiões do planeta” com centenas de alunos de programas científicos da STEM em Los Angeles. Esses alunos falarão com a Tribo Tembé local por meio do Google Hangouts e criarão seus próprios dispositivos Guardião para serem enviados à Amazônia. Esperamos que os dispositivos Guardian construídos por esses estudantes de LA protejam quase 100.000 acres até o ano 2020. Com a tecnologia e as possibilidades que o TensorFlow abre para nós, a Rainforest Connection continuará a fazer nossa parte na luta contra as mudanças climáticas. E programas como “Guardiões do Planeta” vão garantir que a próxima geração faça parte dessa luta também.

Topher White: O que pode salvar a floresta tropical? Seu celular usado

Conectando o mundo com florestas tropicais em tempo real

Alunos participam de uma discussão em hangoutsworkshop, do Google com membros da tribo Tembé

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As florestas tropicais podem parecer lugares mágicos, sobrenaturais, mas têm um valor tangível que afeta o mundo inteiro. No entanto, é difícil para as pessoas que nunca viram uma floresta tropical, ou sentir a umidade caindo das folhas de árvores gigantes, para se conectar com elas em um nível emocional. “Temos que defender e educar”, diz White. E a melhor maneira de fazer isso é trazer os sons da floresta – o mesmo ruído que esconde o zumbido das motosserras – para os telefones de pessoas a milhares de quilômetros de distância.

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Um quilômetro quadrado desmatado na Amazônia equivale a 27 novos casos de malária

Pesquisa buscou demonstrar a correlação entre incidência de malária e o padrão de fragmentação da mata nativa causado pela criação de assentamentos rurais e extração de produtos da floresta. Incidência da doença é maior em pequenos focos de desmatamento próximos a assentamentos rurais por *Júlio Bernardes

Fotos: Arquivo da pesquisadora, Leonardo Suveges Moreira Chaves / FSP

Professora Maria Anice Mureb Sallum, pesquisa sobre malária pela Faculdade de Saúde Pública (FSP)

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ada quilômetro quadrado de floresta tropical nativa derrubado na Amazônia está associado a 27 novos casos de malária por ano, no período entre 2009 e 2015, revela pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. A comparação da incidência da doença com dados sobre áreas impactadas pelo homem também mostra que a ocorrência é maior quando há abundância de pequenas áreas devastadas, detectadas por imagens de satélite. O risco é aumentado pela capacidade do mosquito vetor da malária se adaptar às áreas impactadas, aliada à maior presença tanto de pessoas suscetíveis como infectadas pelo parasita que causa a doença. A essa situação podem se somar as condições precárias de vida da população, baixo nível educacional, desconhecimento sobre a transmissão da infecção e difícil acesso aos serviços de saúde. “A pesquisa buscou demonstrar a correlação entre incidência de malária e o padrão de fragmentação da mata nativa causado pela criação de assentamentos rurais e extração de produtos da floresta”, afirma a professora Maria Anice Mureb Sallum, da FSP, que supervisionou a pesquisa.

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“Para isso, foi feito um cruzamento dos dados de casos de malária notificados de 2009 a 2015 nos nove Estados da Amazônia (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima),

fornecidos pelo Ministério da Saúde, com os dados de desmatamento ao longo dos anos, disponibilizados na plataforma digital do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)”. Os pesquisadores demonstraram que há uma correlação positiva entre o tamanho da área desmatada e o aumento de casos de malária. “O impacto é maior quando o desmatamento acontece em extensões menores que cinco quilômetros quadrados (km²), pois em vários casos a derrubada é feita por pessoas ligadas à precarização e alta rotatividade da mão de obra, em total desacordo com a legislação”, relata a professora. “A formação dos assentamentos movimenta pessoas que muitas vezes residiram em áreas com transmissão de malária e podem abrigar o parasita sem ter a doença, atuando na sua dispersão. Para cada quilômetro quadrado (km²) de desmatamento, acontecem 27 novos casos de malária.”

Produção de carvão vegetal pela queima lenta de madeira, ocasiona grande parte da mata nativa derrubado na Amazônia

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Maria Anice explica que quando a floresta é contínua e íntegra, sem áreas de desmatamento, o mosquito anofelino, transmissor do protozoário causador da doença (Plasmodium), quando está presente, é em baixa densidade e somente onde as condições ambientais são adequadas. “Mas com o desmatamento, ocorrem mudanças ecológicas importantes que favorecem o mosquito vetor”, ressalta. “Por ser uma espécie oportunista e generalista, ela se adapta com facilidade ao ambiente modificado, e se dispersa rapidamente.”

Habitações inadequadas Como o mosquito tem afinidade por áreas próximas à margem da mata, onde ficam os domicílios das comunidades rurais, ele passa a viver próximo do ambiente humano, que oferece muitas fontes de sangue para os insetos. “Além de picar as pessoas, os mosquitos também se alimentam do sangue de animais domésticos como cães, gatos, cabras, porcos, galinhas, papagaios e macacos”, destaca a professora. “As habitações em geral são inadequadas, feitas com pedaços de madeira, folhas secas de palmeiras ou até uma simples lona apoiada em troncos de árvores derrubadas. Os abrigos dos animais são tão precários que não impedem o contato dos mosquitos com fontes de sangue, fato que favorece o aumento da população do vetor e a exposição do homem às picadas.” Segundo Maria Anice, o modelo de ocupação da Amazônia nem sempre permite a melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais, entretanto facilita a maior transmissão e distribuição da malária. “Normalmente, são populações muito pobres, com nível educacional baixo, que vivem em processo contínuo de migração, devido à malária, condições precárias de vida e falta de recursos financeiros para se estabelecerem”, diz. “A migração gera novos assentamentos em áreas de floresta, causando mais alterações nos ambientes naturais e a expansão da malária.” Com as migrações constantes, as pessoas infectadas levam o parasita, muitas vezes sem ter sintomas de malária, para novas áreas desmatadas, expandindo a área de transmissão da doença e dificultando o controle. “Quando várias pessoas passam a conviver em uma mesma região, com a presença do mosquito vetor, em geral a maioria é suscetível”, destaca a professora. “Portanto, ao mesmo tempo em que o agente é introduzido no novo ambiente, ocorrem surtos da doença.”

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Mapa dos principais municípios com casos autóctones de malária (2009 a 2015), sua rede de vínculos geopolíticos e sociais no bioma amazônico brasileiro. Em vermelho no mapa estão indicados os focos de desmatamento com menos de 5 km2 de extensão; os municípios com mais casos de malária são marcados com as cores mais claras

Mapa da área geográfica estudada. Destaque: os estados amazônicos brasileiros e as áreas de distribuição de madeira, desmatamento / degradação e conectividade entre regiões de exploração florestal e transporte, regiões comerciais de produção florestal estabelecida e novas fronteiras de exploração

Produção de carvão vegetal pela queima lenta de madeira, ocasiona grande parte da mata nativa derrubado na Amazônia

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Maior incidência de malária está associada a áreas de floresta nativa devastadas com menos de 5 km2 de extensão Mosquito transmissor da malária tem afinidade por áreas na margem da mata, próximas a assentamentos rurais em áreas devastadas; na foto, criadouro do mosquito em São Gabriel da Cachoeira-Amazonia

“Além de picar as pessoas, os mosquitos também se alimentam do sangue de animais domésticos como cães, gatos, cabras, porcos, galinhas, papagaios e macacos”, destaca a professora

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Maria Anice enfatiza que os programas de controle da malária deveriam levar em conta fatores da ecologia humana que atuam na dinâmica de transmissão, como atividades de trabalho, condições de moradia e migração. “Por exemplo, é necessário melhorar a condição de vida e as moradias, para diminuir o contato do homem com o mosquito”, aponta. “Também é preciso ampliar o acesso à educação de qualidade e voltada para as necessidades locais, intensificar programas de controle, facilitar o acesso aos testes diagnósticos e ao tratamento e fortalecer pesquisas sobre a ecologia da transmissão, que poderiam gerar novos conhecimentos e auxiliar no delineamento de programas para o controle de vetores.” A pesquisa é descrita na tese de Leonardo Suveges Moreira Chaves, doutorando do Departamento de Epidemiologia da FSP. As conclusões do estudo também foram relatadas no artigo “Abundance of impacted forest patches less than 5 km² is a key driver of the incidence of malaria in Amazonian Brazil”, publicado no site Scientific Reports em 4 de maio. O trabalho integra um projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) intitulado Genômica de paisagens em gradientes latitudinais e ecologia de Anopheles darlingi.

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Anchovas que secam no sol. A maior parte da pesca marinha do planeta (59,9%) está sendo pescada em níveis sustentáveis; 33,1% por cento não são

Imagem de 31 de maio de 2018 mostra pescador em seu barco na Ilha de Gouqi, ao sudeste de Xangai

Como as florestas e as árvores podem contribuir para os ODS Garantir vidas saudáveis e promover o bem-estar tudo em todas as idades. Os benefícios de saúde do lazer e acesso a florestas, incluindo florestas urbanas, são cada vez mais bem reconhecido. Exemplos incluem práticas de “banho de floresta” no Japão e na República da Coreia, que se baseiam no benefícios de saúde física e mental de estar na floresta. Plantas da floresta medicinal têm benefícios para a saúde e pode ser especialmente importante em áreas rurais com acesso limitado aos serviços de saúde convencionais.

Garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. A educação ambiental para crianças é importante, especialmente porque um número crescente moram em áreas urbanas. O uso de florestas, bosques e árvores para a aprendizagem ao ar livre está crescendo em um número de países, particularmente na América do Norte, Escandinávia e Europa Ocidental. Enquanto isso, crianças que vivem em comunidades rurais e que usam produtos florestais e serviços precisam.

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Educação ambiental para ajudá-los a entender a importância da gestão sustentável.

Construa infraestrutura resiliente, promova a inclusão e industrialização sustentável e fomentar inovação. A madeira é amplamente disponível em material de construção com menor incorporação de energia do que outros materiais, como concreto e aço, e pode contribuir para a infra-estrutura e construções temporárias associadas. A infraestrutura é vital para ajudar a resolver problemas de distanciamento para pessoas dependentes da floresta. Além disso, há novas tecnologias desenvolvimentos que levarão ao aumento do uso de madeira como parte da bioeconomia.

Reduzir a desigualdade dentro e entre os países. Muitas comunidades locais marginalizadas, pequenos proprietários e povos indígenas vivem em áreas florestais remotas; a contribuição que as florestas e as árvores podem fazer para melhorar seus meios de subsistência ajudará a resolver a desigualdade.

Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares recursos marinhos para a sustentabilidade desenvolvimento. As florestas de mangue têm um papel vital na proteção costeira, na pesca e na pesca meios de subsistência locais associados.

Promover sociedades pacíficas e inclusivas para desenvolvimento sustentável Fornecer acesso a justiça para todos e construir uma gestão eficaz e responsável e instituições inclusivas em todos os níveis, abordagens descentralizadas e participativas associado ao manejo florestal comunitário contribuiem para esse objetivo. O alvo 16.4 também é relevante, uma vez que o comércio internacional de madeira pode ser uma fonte de fluxos financeiros ilícitos.

Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento Existem muitos exemplos de parcerias público-privadas e da sociedade civil que foram desenvolvidos para promover a gestão de florestas para entregar bens públicos.

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Floresta amazônica pode virar savana antes do que se pensava por *Lúcia Müzell

Fotos: Cristino Martins / Arquivo / Ag. Pará, Funverde

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floresta mais rica do planeta se aproxima perigosamente de um limite de degradação que a transformaria em savana, com uma perda brutal de biodiversidade e consequências para o clima da América Latina e o combate mundial contra o aquecimento global. Uma pesquisa realizada por dois dos maiores especialistas na Amazônia chegou à conclusão alarmante de que mais da metade da floresta pode virar savana antes do que os cientistas imaginavam. Pela primeira vez, foram analisados diferentes cenários de projeção de desmatamento e incêndios florestais em conjunto com as estimativas de aquecimento global até o fim do século. O resultado é que, se entre 20 e 25% da Amazônia for destruída ao mesmo tempo em que a temperatura global subir ao menos 2°C, a savanização do bioma será um caminho irreversível. Atualmente, a degradação está em 17%. Os estudos anteriores apontavam para uma devastação de no mínimo 40% e uma elevação de ao menos 4°C da temperatura, em uma época em que os efeitos conjugados dos dois fatores ainda eram desconhecidos, indica Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e coautor da pesquisa, ao lado de Thomas Lovejoy, professor da George Mason University (EUA).

A savanização do bioma será um caminho irreversível

“Só mais recentemente nós começamos a entender os efeitos ‘sinergísticos’, ou seja, o que significa se somamos todas as ações humanas. Nós realmente não tínhamos uma noção muito clara de quais seriam os limites”, afirma Nobre, um dos nomes mais respeitados no tema. “Como é muito difícil controlar o aquecimento global nesse século, nós temos que tomar cuidado com os outros fatores.” Carlos Afonso Nobre, professor e pesquisador da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

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Até 60% da floresta atingida Isso significa que, no lugar da floresta, uma fisionomia semelhante ao Cerrado, porém mais empobrecida, se instalaria em uma parte considerável na Amazônia. A perda da biodiversidade seria inestimável: apenas as espécies mais resistentes a altas temperaturas e ao clima seco resistiriam. “As partes mais vulneráveis a essa mudança para uma savana degradada são o leste, sul e sudeste, ou seja, do centro da Amazônia para o lado brasileiro. Os lados mais vulneráveis são o brasileiro e da Bolívia. A parte andina, no Peru, na Colômbia e um pouco da Bolívia, é mais resistente”, pontua o cientista. “Dependendo da escala do aquecimento global e dos desmatamentos, a perda de floresta pode chegar a até 60%, ou mesmo ultrapassar 60%”, alerta. A perda de mais da metade do “pulmão do mundo” ocasionaria consequências não só para o clima regional, como para o esforço global de redução de emissões de gases de efeito estufa. A queda do volume de chuvas na Amazônia geraria uma diminuição de até 20% das precipitações em toda a bacia do Prata – que vai do sul do Brasil ao Uruguai, Paraguai e Argentina –, no período do inverno.

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Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe)

Participação no combate global de redução de emissões Além disso, explica Nobre, a Amazônia tem um papel importante na redução de emissões de gases poluentes, ao capturar entre 100 e 120 bilhões de toneladas de carbono. Em um cenário de destruição de 60% da floresta, 50 bilhões de toneladas de carbono a mais seriam jogados na atmosfera. “Isso é o equivalente a cinco ou seis anos de emissões globais, ou seja, tornaria mais complexa a mitigação do aquecimento global, já que a emissão da perda de florestas representa entre 10 a 15% das emissões mundiais. Apesar dos riscos, o arsenal legislativo de proteção do bioma só se enfraqueceu nos últimos anos, desde a aprovação do Novo Código Florestal, considerado permissivo demais pelos ambientalistas. A última derrota dos defensores da floresta foi em março, quando o STF manteve o perdão de multas a fazendeiros por desmatamento em áreas protegidas – o que, para Nobre, representa um permanente incentivo à ilegalidade.

Desmatamento relacionado à exploração madeireira e expansão da fronteira agrícola, contribu para a destruição das florestas

“Nós tivemos uma grande redução do desmatamento de 2005 a 2012 mas depois ele voltou a crescer a níveis preocupantes, não só no Brasil como em vários outros países amazônicos. E nos últimos anos, nesse governo, estamos vendo um ataque frontal à lei ambiental, que fragiliza demais os controles para conciliar a agricultura moderna

com conservação”, lamenta o pesquisador aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A ameaça mais recente é um projeto que tramita no Senado e visa liberar o plantio de cana de açúcar em áreas degradas da Amazônia. A votação do texto, criticado até pelo próprio setor, já foi adiada duas vezes.

A perda de mais da metade do “pulmão do mundo” ocasionaria consequências não só para o clima regional, como para o esforço global de redução de emissões de gases de efeito estufa

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A mortalidade de árvores individuais dentro de florestas intactas e antigas vem crescendo durante as últimas décadas na Bacia Amazônica

Árvores de florestas tropicais úmidas estão morrendo mais rápido em todo o planeta Revisão científica publicada com participação do IPAM, mostra que mudanças climáticas estão relacionadas a todas as causas

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omo se o desmatamento já não fosse suficientemente ruim, uma série de outras ameaças mata num ritmo cada vez mais intenso as árvores da Amazônia e de outras florestas tropicais úmidas da Terra. Uma revisão de artigos científicos feita por especialistas no tema, incluindo o pesquisador brasileiro Paulo Brando, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), indica que a taxa de mortalidade dessas árvores mostra sinais de aceleração nos últimos anos. Os motivos são o aumento da temperatura, secas longas e piores, ventos mais fortes, incêndios mais extensos, mais cipós e até a abundância de gás carbônico na atmosfera – uma das causas do efeito estufa e elemento fundamental da fotossíntese. As mudanças climáticas estão relacionadas a todos os problemas apontados. “O trabalho mostra que há indícios fortes que relacionam a mortalidade das árvores de florestas tropicais úmidas às alterações esperadas para essas regiões, em escalas global e regional”, afirma Brando.

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Fotos: Christian Elke, Chris Opfer, INPE Secas e temperaturas mais altas ainda podem levar as árvores a definharem de fome, também num mecanismo de defesa que acaba se tornando um algoz

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O foco do estudo foram as florestas intactas, primárias ou antigas, na América do Sul, África e Sudeste Asiático. Porém, ele tende a focar na Amazônia brasileira, pois é o local mais estudado de todos, com mais volume de dados. “Na Amazônia, todas essas causas de mortalidade de árvores estão presentes”, diz Brando. “Mas é difícil dizer que uma é mais relevante do que outra, porque todas têm um papel. Secas causam picos de mortalidade, enquanto o aumento de CO2 provoca mudanças de fundo. Já eventos de tempestades de vento impactam mais áreas fragmentadas, e o fogo causa muitos danos no sudeste da Amazônia.”

As secas tornaram-se cada vez mais longas e severas - na Amazônia

A equação da morte É impossível estabelecer qual desses ataques é pior. As secas, por exemplo. Elas têm se tornado cada vez mais longas e severas – na Amazônia, episódios anômalos ocorreram em 1997, 2005, 2010 e 2015. Como defesa imediata, as árvores tomam atitudes extremas, como fechar os estômatos (células por onde ocorre a respiração das plantas) e perder mais folhas. Essas folhas, por sua vez, se acumulam em abundância no solo e servem de combustível para incêndios florestais, que se alastram facilmente e por mais tempo. Secas e temperaturas mais altas ainda podem levar as árvores a definharem de fome, também num mecanismo de defesa que acaba se tornando um algoz. Ao fechar os estômatos para salvar água em seu interior, ela deixa de capturar o gás carbônico do ar, sua fonte de alimentação, enquanto consome o que tem dentro.

O regime forçado as deixa mais suscetíveis a ataques de pestes, como insetos, ou à competição por comida com os cipós – que por sua vez têm se proliferado ainda nesses ambientes. E, mesmo que a dieta não aconteça, o excesso de gás carbônico no ar também não significa que as florestas crescerão abundantemente. “Quando há muito gás carbônico, algumas árvores podem dominar o pedaço e roubar os recursos dos vizinhos. Assim, há um aumento esperado na mortalidade de árvores mas não necessariamente mudanças drásticas nos estoques de carbono”, explica o pesquisador do IPAM. “Outra explicação é que a floresta se torna mais dinâmica com mais CO2; cresce mais rapidamente e morre Folhas se acumulam em abundância no solo e servem de combustível para incêndios florestais, que se alastram facilmente e por mais tempo

mais rapidamente, tanto pelo metabolismo quanto por mudanças na estrutura da floresta.” Tampouco o fato de estarem próximas à linha do Equador traz vantagem para as florestas tropicais úmidas num planeta mais quente: um novo regime de temperatura, esperado para os próximos anos devido às mudanças climáticas, pode mudar o metabolismo das árvores. Os autores do estudo abrem uma discussão sobre cenários que possam reverter o quadro, como um aumento da precipitação anual, mas não entram na discussão sobre como a ação humana pode reverter o quadro. Segundo Brando, reduzir a taxa de mudança no clima e estabilizar o processo o quanto antes, que envolve derrubar os níveis de emissão de CO2 mas também do desmatamento, são fatores essenciais para manter as florestas tropicais do mundo. “Quanto menor a área de borda de floresta, comum em paisagens fragmentadas, menor o impacto da seca, fogo e ventos.” Ele também destaca a importância de se aprofundar as análises. “As redes de observação são extremamente importantes para entendermos se as nossas florestas estão saudáveis, e o Brasil tem feitos avanços importantes”, diz. “Precisamos saber o que realmente está acontecendo, para fechar buracos nas observações que ainda existem e nos preparar para os efeitos das mudanças climáticas.” A revisão foi liderada por Nate McDowell, do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico (EUA), e publicada na revista científica especializada “New Phytologist” ((www.newphytologist.org). [*] Ipam

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Fumaça das queimadas da Amazônia pode causar câncer, comprovam pesquisadores

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s partículas carregadas de toxinas, liberadas durante queimadas na Amazônia, se inaladas involuntariamente por longo período, podem causar estresse oxidativo das células e danos genéticos irreversíveis, resultando até mesmo em câncer de pulmão. A descoberta é resultado de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Fundação Oswaldo Cruz e Universidade Federal de Rondônia(Ufro). A pesquisa é referente a uma tese de doutorado da bióloga Nilmara de Oliveira Alves, da USP. A equipe coletou amostras de material particulado fino em Porto Velho, uma das áreas mais afetadas pelas queimadas na região amazônica.

Fotos: Divulgação/IEA , Doug Morton/Nasa, Fapeam

A floresta amazônica está sendo destruída por muitos incêndios florestais (ilustrados por pontos vermelhos). Os pontos vermelhos retratam incêndios florestais e uma grande nuvem de fumaça pode ser vista (inferior esquerda)

A Global Forest Watch mostra centenas desses incêndios, que a queima ainda persiste na Amazônia. Embora o estudo mostre que as comunidades mais próximas dos incêndios tendem a experimentar os piores efeitos sobre a saúde ( cancêr), as direções do vento podem explodir as partículas longe de seus incêndios de origem A pesquisa comprovou que o dano no DNA pode ser tão grave a ponto de a célula perder o controle e evoluir para câncer de pulmão

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Para entender como ocorre a contaminação, os pesquisadores expuseram em laboratório linhagem de células pulmonares às partículas, compostas por material tóxico, em concentração semelhante com as encontradas nas queimadas da Amazônia, analisadas com técnicas bioquímicas avançadas. Essas análises permitiram medir o grau de inflamação e de lesão no DNA. Foi comprovado que o dano no DNA pode ser tão grave a ponto de a célula perder o controle e começar a se reproduzir desordenadamente, evoluindo para câncer de pulmão. Para a pesquisadora Sandra Hacon, da Escola Nacional de Saúde Pública, as conclusões do trabalho são inéditas. Segundo ela, pela primeira vez foi possível demonstrar que as partículas de queimadas da Amazônia, ao entrarem nos alvéolos pulmonares, causam danos genéticos nas células, podendo leva ao câncer de pulmão. Sandra Hacon e o pesquisador Christovam Barcellos coordenaram o projeto Clima & Saúde da sub Rede de Mudanças Climáticas do INPE/ INCT Rede Clima. O estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports. O projeto da Rede Clima envolve os efeitos das queimadas com alterações climáticas. Sandra informou que algumas medidas podem ser adotadas pelas autoridades ambientais e de saúde, no sentido de evitar o agravamento de doenças respiratórias na população, exposta a fumaça das queimadas. revistaamazonia.com.br


Amostras do material emitido na atmosfera foram coletadas na região próxima a Porto Velho, uma das áreas mais atingidas por incêndios na Amazônia

Os incêndios não só destroem a floresta, mas também matam a vida selvagem e descarregam ainda mais carbono na atmosfera (este carbono se liga com oxigênio para formar dióxido de carbono) causando mais aquecimento global, tornando-se um ciclo vicioso e principalmente, está causando câncer. Se essas mudanças de temperatura, secas e incêndios florestais continuam a aumentar, assim haverá uma terra seca e deserta onde a floresta amazônica já se encontrava e sem vida humana.

A queima de biomassa na região amazônica provoca danos no DNA e morte celular em células pulmonares humanas

Os testes mostraram que as partículas de incêndios florestais e de culturas na Amazônia induziram inflamação, estresse oxidativo e danos genéticos nas células do pulmão humano

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“ É uma questão de bom senso. Não faz sentido continuar esse processo de queimadas na Amazônia. A situação estava controlada, mas houve aumento acentuado nos últimos três anos. Uma alternativa é a montagem, pelas secretarias municipais de Saúde, de um sistema de vigilância das doenças respiratórias, de modo a ajudar a população das cidades onde as queimadas vem ocorrendo de forma sistemática.” Nos meses de agosto, setembro e outubro os focos de incêndios dissipam uma nuvem de fumaça tóxica sobre a região amazônica. A população mais vulnerável é formada por crianças e idosos. De acordo com Sandra Hancon, as crianças menores de cinco anos, prejudicadas pelo impacto das partículas com componentes cancerígenos da fumaça das queimadas, desenvolvem alergias respiratórias, que comprometem o aprendizado escolar. Conforme a pesquisadora, os mais atingidos são principalmente famílias de baixa renda, que estão em áreas de risco sem alternativa de sair. Sandra Hacon disse ainda que a divulgação do trabalho pode incentivar as autoridades a instituir na região um programa de melhoria da qualidade do ar e monitoramento dessas partículas finas provenientes das queimadas, decorrentes da ocupação desordenada para atender a interesses econômicos. Dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, indicam que em 2017 ocorreram mais de 275 mil focos de incêndio em todo o território nacional, sendo mais de 132 mil em estados amazônicos. A pesquisa é referente a uma tese de doutorado da bióloga Nilmara de Oliveira Alves, da USP, com mestrado e doutorado em Bioquímica e Biologia Molecular. Pós-doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, atualmente trabalha na França em colaboração com a Agência Internacional de Pesquisa ao Câncer. Concentra atividades de pesquisa em projetos interdisciplinares nas áreas de biologia, genética, reparo do DNA, mutagênese ambiental, biologia celular, biologia molecular, bioquímica, patologia, epidemiologia e química atmosférica. Tem experiência com estudos ambientais e os seus efeitos na saúde utilizando diferentes testes tanto in vitro quanto in vivo.

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A árvore que guiou a história humana e sustenta vida de milhares de espécies Há mais de 2 mil anos, o galho de uma importante árvore foi cortado sob ordens de Ashoka, o Grande, imperador da Índia

Testemunha da história

por Mike Shanahan / BBC Earth

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iz-se que foi embaixo dessa mesma árvore que Buda alcançou a iluminação Ashoka deu status de realeza ao galho e o plantou em um vaso de ouro. Essa história, baseada no poema épico Maja-vansha (“A grande linhagem”, em tradução livre), fala da espécie de figueira que os cientistas chamam de Ficus religiosa. Mas ela não é a única que existe. Há mais de 750 tipos de figueira - e nenhuma outra planta influenciou tanto a imaginação no transcorrer da história.

Raízes aéreas A maioria das espécies da Ficus enterra suas raízes abaixo da superfície, mas algumas preferem mostrá-las ao público. Um exemplo são as figueiras estranguladoras, plantas extraordinárias que crescem a partir de sementes soltas por aves e outros animais no topo das árvores. Em seguida, elas lançam suas raízes aéreas, que vão se tornando cada vez mais grossas até cobrirem a árvore que lhes serviu como anfitriã. Algumas vezes, elas se tornam uma espécie de parasita, chegando a um tamanho tão grande que chegam a matar a árvore que invadiram. Dois países têm as figueiras estranguladoras em seu brasão.

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A imponente Ficus religiosa

Um deles é a Indonésia, onde a árvore simboliza a unidade dentro da diversidade - suas raízes despontando para fora representam as inúmeras ilhas que compõem a nação. O outro é Barbados, que deve seu nome à imagem que o explorador português Pedro a Campos viu quando seu barco chegou à ilha, em 1536. A embarcação passou por muitas figueiras estranguladoras que cresciam ao longo da costa, do tipo chamado Ficus citrifolia. Era uma massa de raízes marrons e avermelhadas saindo dos galhos das árvores, como grandes mechas de pelos emaranhados - e foi por isso que Campos chamou a ilha de Barbados.

Mas as figueiras estranguladoras já haviam conquistado a mente humana havia muito tempo. Budistas, hindus e jainistas têm venerado essa árvore por mais de dois milênios. Ela também aparece nos hinos de guerra cantados pela civilização védica há 3,5 mil anos. E, 1,,5 mil anos antes, apareceu na mitologia e na arte da civilização do Vale do Indo. Estão presentes ainda em histórias de ficção, folclore e ritos de fertilidade. A mais notória é a figueira-de-bengala (Ficus benghalensis), uma árvore tão grande que de longe parece um pequeno bosque. Dizem que uma figueira-de-bengala do Estado de Uttar Pradesh, na Índia, é imortal. Outra, mais ao sul, teria florescido no lugar onde uma mulher desesperada se jogou na pira funerária do marido, morrendo queimada - essa árvore, em Andhra Pradesh, pode abrigar 20 mil pessoas.

Alimento indispensável Os primeiros europeus a desfrutarem da sombra de uma figueira-de-bengala foi Alexandre, o Grande e seus soldados, que chegaram à Índia em 326 a.C. As histórias dessa árvore logo chegaram ao filósofo grego Teofrasto, o fundador da botânica moderna. Teofrasto estava estudando a figueira comestível, Ficus carica, e notou pequenos insetos que entravam e saíam dos figos.

A figueira é reverenciada por vários povos

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Mais de 2 mil anos se passaram até que os cientistas se deram conta de que cada espécie de figo tem suas próprias vespas polinizadoras. Cada espécie de vespa de figueira só pode colocar seus ovos nas flores de seus figos correspondentes, uma relação que começou há mais de 80 milhões de anos e mudou o mundo. As espécies da árvore devem produzir figos durante o ano inteiro para garantir que suas vespas polinizadoras sobrevivam, o que é uma ótima notícia para os animais que comem a fruta, já que eles teriam dificuldade para encontrar comida em todo o período. Dessa forma, os figos sustentam mais animais do que qualquer outro tipo de fruta. Há mais de 1,2 mil espécies que comem figos, incluindo um décimo de todas as aves do mundo, quase todos os morcegos que se alimentam de frutas e dezenas de tipos de primatas. Por isso, ecologistas acreditam que, se essa fruta desaparecesse, todo o resto entraria em colapso. Acredita-se ainda que presença de figos maduros durante todo o ano teria ajudado a sustentar nossos primeiros antepassados. Além disso, o alimento estaria relacionado ao desenvolvimento de cérebros maiores nos nossos antecessores. Há até uma teoria sugerindo que as nossas mãos evoluíram como ferramentas para avaliar quais figos são mais macios e, portanto, doces e ricos em energia. A filha de Ashoka, a Grande, Sanghamitta, que acompanha a figueira sagrada ao Sri Lanka

A deusa egípcia Hathor dando as boas-vindas no paraíso

Domesticadas

Ruínas escondidas

As espécies de figueira estavam entre as primeiras plantas domesticadas, há vários milhares de anos. Os egípcios antigos dominaram uma espécie chamada Ficus sycomorus, cujas vespas polinizadoras estavam extintas ou nunca haviam chegado ali, o que os impedia de produzir figos maduros. Mas graças à sorte ou à engenharia, os agricultores desenvolveram um método para enganar a árvore e amadurecer seus figos: tirar um pedaço delas com uma faca. Em pouco tempo, os figos viraram a base da agricultura egípcia - eles até treinaram macacos para subir nas árvores e cortá-las. Os faraós levavam figos secos às suas tumbas para alimentar suas almas durante a viagem à outra vida. Além disso, acreditavam que a deusa Hathor surgiria de uma figueira mítica para dar as boas-vindas ao paraíso. O rei Nabucodonosor 2º plantou várias Ficus carica nos jardins suspensos da Babilônia. O rei Salomão, de Israel, homenageou-as com músicas. Os gregos e romanos antigos diziam que os figos eram um presente dos céus. Sua atração talvez se deva a outra característica crucial. Além de ser doce e saborosa, a fruta contém fibras, vitaminas e minerais. Um exemplo famoso do poder dos figos é descrito na Bíblia. Ezequiel, rei de Judá, estava à beira da morte com uma praga de furúnculos, mas conseguiu se recuperar depois que suas servas aplicaram uma espécie de pomada feita com figos picados na sua pele. Medicamentos desenvolvidos durante milênios utilizaram não apenas o fruto, mas também sua casca, folhas, raízes e o látex que desprende dela.

As figueiras não apenas ajudaram civilizações, mas também testemunharam seu declínio e até ajudaram a ocultar suas ruínas. As grandes cidades da civilização do Vale do Indo se multiplicaram entre 3300 e 1500 a.C. e desapareceram até 1827, quando um desertor da Companhia das Índias Orientais chamado Charles Masson as encontrou. Na época, árvores estranguladoras gigantescas dominavam a paisagem - as ruínas saíam de misteriosos montes delas. O colapso dessa civilização se deve a uma prolongada seca, o mesmo que aconteceu nas pirâmides maias de Tikal, na Guatemala. Na ilha de Krakatoa, na Indonésia, a vida foi extinta em 1883, logo após a erupção de um vulcão. Os figos foram excelentes veículos para estimular a formação de áreas arborizadas novamente. Com base nisso, os cientistas estão replicando esse efeito nos trópicos, plantando figueiras para acelerar a regeneração da floresta tropical em áreas que perderam árvores devido ao desmatamento.

As figueiras existem há 80 milhões de anos

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Arma contra mudanças climáticas A capacidade de regenerar a vegetação não é o único elemento que permite às figueiras ajudar no combate às mudanças climáticas. No noroeste da Índia, as pessoas estimulam as raízes a cruzarem os rios, formando pontes naturais para serem usadas nas temporadas de chuvas, que frequentemente deixam vários mortos. Na Etiópia, as árvores ajudam os agricultores a cultivar durante a seca, proporcionado sombra vital às plantações e abrigo para as cabras, algo que também poderia ser aplicado em outros lugares com condições extremas. A longa história de 80 milhões de anos das figueiras é uma lembrança de que somos os últimos a povoar a Terra. E de que, sem dúvidas, nosso futuro estará mais seguro se incluirmos essas árvores nos nossos planos.

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A “árvore tecnológica” que filtra poluição substituindo o trabalho de 275 árvores comuns Fotos: Roy Scott

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poluição urbana é um grande problema em diversas cidades ao redor do mundo. Uma solução óbvia é a criação de mais espaços verdes, pois as plantas podem ajudar a melhorar significativamente a qualidade do ar, mas com os imóveis urbanos cada vez mais caros, é mais provável que a terra seja transformada em moradia e não em parques. Mas, uma startup alemã propõe uma solução intrigante: uma “árvore tecnológica” que combina o poder da biologia e a facilidade da tecnologia automatizada de Internet de coisas (IoT) para criar o que é chamado de CityTree. O CEO da Green City Solutions, Dénes Honus, explica por que o CityTrees poderia ser uma peça para acabar com a poluição urbana, veja abaixo: A engenhoca economiza 99% do espaço que as árvores tradicionais precisariam para fazer o mesmo trabalho. A eficácia é de 30% de melhora em um raio de 50 metros. Além disso, a CityTree faz o trabalho equivalente de 275 árvores tirando até 240 toneladas métricas por ano de dióxido de carbono do ar. Todo seu funcionamento é feito a partir de energia solar e ela também pode servir como outdoor analógico, exibindo letras, imagens ou dados digitais. Segundo a CNN, as cidades podem investir em CityTrees por um valor de US $ 25.000 cada, a empresa instalou cerca de 20 dessas unidades em Oslo, Paris, Bruxelas e Hong Kong, com planos para expandir para a Índia e a Itália.

O que a poluição atmosférica traz? A poluição do ar leva a muitas complicações no corpo humano, como causar espasmos respiratórios, distúrbios como asma, pneumonia e outros problemas respiratórios e, em alguns casos, mesmo câncer e morte por efeitos diretos ou indiretos e a longo prazo. Não são apenas seres humanos afetados por isso, até plantas e animais estão na linha do fogo.

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1. Pressão Atmosférica; 2. Calor e Luz do Sol; 3. Emissões Antropogênica; 4. Precipitação aumentada; 5. Temperaturas mais quentes e seca; 6. Humidade aumentada; 7. Evaporação aumentada; 8. Pólen no ar – esporos de mofo e a poeira

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As atividades na natureza também podem causar poluição do ar, mas não em níveis escalados como causas causadas pelo homem. As causas naturais da poluição do ar incluem como as principais causas de poluição do ar: o uso excessivo de inseticidas, pesticidas e fertilizantes, em processos agrícolas urbanos ou nos campos. Isso libera amônia e outros produtos químicos no ar que são extremamente prejudiciais. A mineração é outro fator. o uso e o impulso de partículas de poeira e produtos químicos no ar, e muitas vezes leva a uma má saúde nos trabalhadores, bem como aqueles que acomodam as áreas circundantes. Os produtos de limpeza doméstica, tintas e detergentes liberam substâncias nocivas no ar e atividades como combustão e produção de poeira resultam em outro grande poluente do ar - Materiais de partículas suspensas. Isso causa irregularidades no ar e contribui para muitos problemas respiratórios. As atividades na natureza também podem causar poluição do ar, mas não em níveis escalados como causas causadas pelo homem. As causas naturais da poluição do ar incluem transporte de poluentes e poeira das áreas afetadas, fumaça, etc. Por tudo isso, os humanos exigem mais espaço e recursos, o que resulta em muita destruição. As florestas são limpas para abrir espaço para terras agrícolas, indústrias e também para urbanização. Isso resulta não apenas na acumulação de muitos resíduos, mas também em vários tipos diferentes de poluição - O ar, a água e o solo são os mais afetados

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Medindo a redução da poluição do ar, no município de ÓbudaHungria, em um dos seus pontos mais movimentados

A árvore tecnológica, na cidade por soluções verdes vai ajudar a saúde do polvo nos espaços de vida O sistema de filtragem de cultura de musgo poderá “comer” a poluição

A árvore tecnológica combina o poder da biologia e a facilidade da tecnologia automatizada de Internet de coisas (IoT)

O pólen no ar, os esporos de mofo e a poeira podem desencadear doenças respiratórias, como asma, rinite alérgica, conjuntivite e dermatite.14 As altas contagens de pólen foram associadas em vários estudos para o aumento das visitas ao departamento de emergência em asma44. As crianças são particularmente suscetíveis à maioria doenças alérgicas Além de afetar nossa saúde, a poluição do ar também afeta a saúde global de nosso planeta. O aumento dos níveis de CFC, HCFC, CO, CO2, SO2 e partículas de poeira na atmosfera resultaram no esgotamento da camada de ozônio e do “efeito estufa”.Isso significa que um excesso de calor do sol que entra na atmosfera terrestre, está preso, aumentando assim a temperatura geral da Terra. Isso é referido como “mudança climática” ou “aquecimento global”; pelo que as calotas polares estão derretendo, os oceanos e as temperaturas estão subindo. Isso, por sua vez, afetou muita flora e fauna, resultando em um rápido aumento do número de espécies ameaçadas de extinção.

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CityTrees (Musgo + IoT) = cidades mais habitáveis poderia ser uma peça para acabar/diminuir com a poluição urbana

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É possível erradicar a fome no mundo até 2030? por Alexandra Prado Coelho e Célia Rodrigues

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comunidade internacional está empenhada em erradicar a fome e acabar com a mal nutrição até 2030. Depois de, durante anos, os números da fome terem caído, voltaram a subir nos dois últimos anos. No entanto, o fenómeno está circunscrito a zonas de conflitos militares ou afetadas por severas alterações climáticas.

População subnutrida, por país A subnutrição é um estado patológico causado pelo consumo insuficiente de alimentos para fornecer a quantidade de energia necessária para se manter uma vida normal, ativa e saudável

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas anunciados em setembro de 2015 durante a Cúpula das Nações Unidas., demonstram a escala e a ambição da nova Agenda universal. Eles se constroem sobre o legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e concluirão o que estes

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Pessoas Estamos determinados a acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e dimensões, e garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade, em um ambiente saudável.

Planeta Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras. não conseguiram alcançar. Eles buscam concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas. Eles são integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.

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Prosperidade Estamos determinados a assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de uma vida próspera e de plena realização pessoal, e que o progresso econômico, social e tecnológico ocorra em harmonia com a natureza.

Paz Estamos determinados a promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas que estão livres do medo e da violência. Não pode haver desenvolvimento sustentável sem paz e não há paz sem desenvolvimento sustentável.

Parceria Estamos determinados a mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda por meio de uma Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável revitalizada, com base num espírito de solidariedade global reforçada, concentrada em especial nas necessidades dos mais pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os países, todas as partes interessadas e todas as pessoas. Os vínculos e a natureza integrada dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são de importância crucial para assegurar que o propósito da nova Agenda seja realizado. Se realizarmos as nossas ambições em toda a extensão da Agenda, a vida de todos será profundamente melhorada e nosso mundo será transformado para melhor.

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Um mundo sem pobreza

Um artigo publicado recentemente na Revista Nature garante que “Infelizmente, nenhum país da África cumprirá o objetivo da ONU de erradicar a desnutrição até 2030. O estudo liderado pelo professor e pesquisador da Universidade de Washington, Simon Hay, detalha o impacto da desnutrição e do analfabetismo na população do continente africano, visando ajudar a identificar as regiões onde os objetivos de desenvolvimento não poderão ser alcançados.

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“Arca de Noé” já tem dez anos e um milhão de sementes Criada há dez anos, a caixa-forte do Ártico, tem como objetivo preservar as espécies vegetais para o caso de existir alguma catástrofe – natural ou humana. Mas o derretimento do gelo do Ártico, potenciado pelas alterações climáticas, pode ser um perigo para o depósito. por Claudia Carvalho Silva

Fotos: Cortesia Crop Trust, Jonas Bendiksen, Royal Norwegian Ministry of Agriculture and Food

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caixa-forte do Ártico, que guarda milhares de sementes, fez dez anos recentemente e recebeu uma encomenda especial: foram mais de 70 mil sementes que chegaram ao depósito e juntaram-se às mais de 980 mil que já lá estavam, totalizando mais de um milhão. “Chegar ao marco de um milhão é verdadeiramente importante”, disse o cientista Hannes Dempewolf da Crop Trust, a organização que gere o cofre-forte em conjunto com o governo norueguês. O banco mundial de sementes está localizado no arquipélago de Svalbard, na Noruega, a pouco mais de mil quilômetros do Polo Norte, e a sua origem surge de um esforço para preservar espécies vegetais para o futuro, em caso de catástrofe — ambiental ou humana.

Configuração interna do banco mundial de sementes, localizado no arquipélago de Svalbard, na Noruega, a pouco mais de mil quilômetros do Polo Norte. Foi concebido para durar 1.000 anos e suportar uma ampla gama de possíveis cenários do dia do juízo final, incluindo mudanças climáticas, guerra nuclear e até mesmo um ataque de asteroides

O cofre só é aberto para receber novas sementes duas a três vezes por ano. Lá dentro há espaço para muita variedade: estão conservadas, a uma temperatura de -18ºC, espécies mais tradicionais, mas também algumas mais exóticas e menos comuns, como a ervilha guandu ou o milho sorgo.

Nesta data comemorativa, o cofre recebeu mais variedades únicas de arroz, milho, cevada, trigo e ainda o feijão-bambara, que pode ser criado em regiões afetadas pela seca. Até hoje, as únicas sementes que foram tiradas do cofre foram pedidas por investigadores na Síria, depois de um banco de sementes do país ter sido afetado pela guerra civil em Alepo. A caixa-forte, feita para resistir ao tempo, foi inaugurada em 2008 no Ártico, numa zona onde não há vulcões e o risco de sismos é reduzido. Mesmo que haja um corte de eletricidade, permanecerá congelada durante pelo menos 200 anos. Vários países enviaram sementes para o depósito.

A ameaça das alterações climáticas

Este cofre cheio de sementes na Noruega poderá ajudar a salvar a Terra de um apocalipse

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As alterações climáticas foram um dos principais motivos para a construção do banco mundial de sementes. A ameaça da guerra e de outros tipos de catástrofes causadas pelo homem ou pela natureza levaram um consórcio internacional a constituir uma reserva para preservar a diversidade vegetal (e garantir que existe alguma forma de nós conseguirmos alimentar) em caso de cataclismo – como uma guerra nuclear ou efeitos drásticos das alterações climáticas.

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Ele e pesquisadores de outros cinco países – Noruega, Itália, Marrocos, Filipinas e Bósnia e Herzegovina – se reuniram em fevereiro deste 2018, para comemorar o aniversário de 10 anos do Banco. O Painel é composto por representantes de instituições que já depositaram material genético no Banco Global e outros públicos estratégicos. Os pesquisadores foram escolhidos pela capacidade de ancorar a missão do Banco, garantir o intercâmbio com outros bancos genéticos, fortalecer programas de recursos genéticos em seus países, além de prover consultoria científica de alta qualidade aos parceiros, em prol da gestão qualificada do banco nórdico. A Embrapa já depositou no Banco Global 514 acessos de feijão (2014), 264 acessos de milho e 541 acessos de arroz (2012). A escolha dessas culturas agrícolas atende a uma das recomendações do Banco quanto à relevância para a segurança alimentar e agricultura sustentável.

Se uma variedade desaparecer no seu meio natural, os países poderão recuperar as sementes que depositaram neste banco

Agora, o governo norueguês vai investir mais de dez milhões de euros para melhorar as condições da caixa-forte, que enfrenta alguns riscos devido às alterações climáticas e consequente derretimento do gelo. Em Maio do ano passado, o permafrost (solo permanentemente gelado, por definição) que rodeia a caixa-forte derreteu parcialmente, fazendo com que alguma água entrasse no túnel de acesso ao edifício, não chegando às sementes. Nessa altura, o cofre tinha 880 mil sementes guardadas (sendo que tem capacidade de armazenar até 2,5 mil milhões). “É razoável dizer que a agricultura nunca enfrentou maiores desafios do que aqueles que temos hoje”, disse Marie Haga, diretora-executiva da Crop Trust. No site desta organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo preservar a diversidade das colheitas, é possível fazer uma visita interativa ao cofre-forte das sementes, incluindo à zona exterior e ao túnel por onde são levadas as sementes.

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O Brasil em Svalbard O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Arthur Mariante representou o Brasil no Painel Consultivo Internacional sobre a gestão do Banco Global de Sementes de Svalbard.

Chegada das sementes no aeroporto de Lonyearbyen, a capital administrativa e econômica do arquipélago de Svalbard

A chegada de novas sementes no cofre da semente, sendo filmada REVISTA AMAZÔNIA

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Além disso, são culturas que apesar de não serem originárias do Brasil, são cultivadas no País há séculos e, por isso, possuem características de rusticidade e adaptabilidade às condições nacionais. Os outros membros do Painel Consultivo que representam bancos de genes depositantes são: Ahmed Amri, chefe do banco de genes no Centro Internacional de Pesquisa Agrícola em Áreas Secas (ICARDA, com sede em Marrocos); Teresita Borromeo, chefe da Divisão de Recursos Genéticos de Plantas da Universidade das Filipinas; e Gordana Djuric, chefe do Instituto de Recursos Genéticos da Universidade de Banja Luka, na Bósnia e Herzegovina. Além dos depositantes, faz parte também do Painel Ann Tutwiler, diretora-geral da Bioversity International, organização global de pesquisa sem fins lucrativos, com sede em Roma, Itália, e Kristin Børresen, diretora de comunicações da empresa norueguesa de melhoramento de plantas, Graminor. A presidente do Conselho de Administração do Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (TIRFAA) deverá ser o sétimo membro e presidir as reuniões do Painel. Parceiros do Ministério da Agricultura e da Alimentação da Noruega, do Fundo Global da Diversidade Agrícola, e do Nordic Genetic Resource Center (NordGen), que cooperam no financiamento, gestão e operações do Banco Global, participarão da reunião como observadores.

Banco norueguês garante ainda mais segurança para a conservação das sementes brasileiras A conservação das espécies vegetais de importância alimentar é uma preocupação da Embrapa desde a sua criação em 1973. Prova disso é que a Empresa possui hoje o maior banco genético vegetal do Brasil e da América Latina, com mais de 120 mil amostras de sementes de cerca de 670 espécies agrícolas de importância socioeconômica conservadas a 20ºC abaixo de zero na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O envio de amostras para Svalbard é mais uma garantia de segurança, já que o banco nórdico é o mais seguro do mundo em termos físicos e ambientais. Além de estar situado dentro de uma montanha na cidade de Longyearbyen foi construído com total segurança para resistir a catástrofes climáticas (enchentes terremotos, aquecimento gradual, etc.) e até mesmo a uma explosão nuclear.

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O total de sementes já recebido pelo Seed Vault - excluindo retiradas - é de 1.059.646, até a data do seu 10º aniversário

“O 10º aniversário é um marco importante para o Svalbard Global Seed Vault”, disse Jon Georg Dale Ministro da Agricultura para o governo norueguês, que administra conjuntamente as instalações com o Crop Trust e o Nordic Genetic Resource Center (NordGen). “Chega em um momento em que a agricultura enfrenta múltiplos desafios do clima extremo e as demandas de uma população mundial que deverá chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. Isso significa que é mais importante do que nunca assegurar que as sementes - a base do nosso abastecimento de alimentos e o futuro da nossa agricultura são conservados com segurança “. revistaamazonia.com.br


Mostras de sementes depositadas no Svalbard

A caixa forte da Noruega

Mostras de sementes depositadas no Svalbard

A caixa forte norueguesa tem capacidade para quatro milhões e quinhentas mil amostras de sementes. O conjunto arquitetônico conta com três câmaras de segurança máxima situadas ao final de um túnel de 125 metros dentro de uma montanha em uma pequena ilha do arquipélago de Svalbard situado no paralelo 780 N, próximo do Polo Norte. As sementes são armazenadas a 20ºC abaixo de zero em embalagens hermeticamente fechadas, guardadas em caixas armazenadas em prateleiras. O depósito está rodeado pelo clima glacial do Ártico, o que assegura as baixas temperaturas, mesmo se houver falha no suprimento de energia elétrica. As baixas temperatura e umidade garantem a baixa atividade metabólica, mantendo a viabilidade das sementes por um milênio ou mais.

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Válido até Julho 2018 revistaamazonia.com.br

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PANCs, alimentos do futuro por *Gustavo Almeida

Fotos: Divulgação, Luiz Bacchiega , Naturais, Valéria Farhat

Serralha. Contém vitamina C, cálcio e ferro. As folhas e os ramos novos devem ser consumidos logo após a colheita, refogados ou em substituição ao espinafre e à couve, ou em omeletes, quiches e tortas. Crua, pode ser ingerida junto a saladas verdes. Capuchinha. Lembram o sabor do agrião e da rúcula. Devem ser consumidas cruas, assim como também as flores. As sementes podem ser torradas e moídas e utilizadas para substituir a pimenta

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s chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) são plantas que, apesar de estarem amplamente disseminadas em nosso entorno, não são devidamente valorizadas enquanto alimento. Muitas destas plantas até mesmo tinham espaço na cultura gastronômica de diferentes povos, mas foram paulatinamente sendo substituídas por espécies comerciais produzidas em larga escala (cereais, alface, repolho, etc). As PANCs são, em boa parte das vezes, plantas espontâneas, que nascem e se desenvolvem sem maiores cuidados culturais. Isso se deve principalmente por serem comumente plantas autóctones da região em questão, acostumadas, portanto às condições de solo, temperatura e umidade. O motivo de considerar as PANCs um Alimento do Futuro é justamente estarem adaptadas ao contexto de cada região, minimizando desta maneira esforços agrícolas e utilização pesada de insumos em sua produção, além de apresentarem sua função ecológica dentro do ecossistema em que se inserem. Atualmente, estas plantas começam a receber, novamente, atenção dos meios acadêmico, científico e mesmo culinários. Trabalhos científicos têm abordado características nutricionais e mesmo medicinais promissoras no que diz respeito a estas plantas. 42

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Ora-pro-nóbis. Suas folhas possuem cerca de 25% de proteína, das quais 85% são digestíveis. Isto é um alto valor se comparado a outros vegetais – como o espinafre, que tem um teor de 2,2% de proteínas

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Salada de primavera fresca, com flores comestíveis Beldroega. Suas folhas e ramos podem ser consumidos crus, em saladas. Quando cozidos, servem de ingrediente para pratos refogados e assados, além de sopas

Hibisco. Tem um sabor azedinho muito bom. É possível utilizá-lo em chás, sucos verdes, saladas, geleias. Seus flavonoides tem efeito cardioprotetor e vasodilatador, ajudando a aumentar o colesterol bom e diminuir o colesterol ruim, triglicerídeos e pressão arterial.

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O livro publicado por Kinupp e Lorenzi, Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil, tem sido referência no reconhecimento, identificação botânica e modos de preparo das PANCs de diversas regiões brasileiras. Os autores encontraram em suas pesquisas centenas de plantas não convencionais potencialmente alimentícias, detectando características nutricionais relevantes em muitas delas. Vale lembrar que é essencial conhecer bem estas fontes alimentícias e saber diferenciá-las de plantas potencialmente tóxicas. Neste sentido, o livro indicado acima é uma ótima ferramenta. O reconhecimento da biodiversidade como fonte nutricional foi avaliado em um trabalho publicado em 2006 como um caminho comum para alcançarmos tanto o desenvolvimento sustentável quanto a segurança alimentar. Por isso, vamos conhecer melhor as alternativas alimentares que nos cercam! [*] Em blog Ciência Em Si, de divulgação científica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

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Transição para economia verde custará 180 mil empregos no Brasil, mas criará outros 620 mil

transição da economia mundial para um modelo mais verde e sustentável deverá criar 24 milhões de empregos, se países adotarem as políticas certas. No Brasil, a diferença entre fechamento de postos e abertura de novas vagas também é positiva e chega a 440 mil novos empregos, segundo informou a OIT. “Estamos falando de 620 mil novas vagas, o que mais do que compensa os 180 mil empregos que poderão ser perdidos (no Brasil)”, resumiu Guillermo Montt especialista da organização e pesquisador. A proporção é de 3,4 novas oportunidades para cada demissão em território nacional. O documento mostra que seis milhões de trabalhadores devem perder seus empregos no mundo, mas é otimista em relação ao saldo total, que deve ser positivo pela criação de outras 18 milhões de vagas. Uma das chaves será requalificar esses desempregados para ocuparem esses novos postos. A relação entre geração e extinção de empregos é de quatro para um, revelam os números do órgão da Organização das Nações Unidas. A principal mudança no mercado de trabalho ocorrerá no contexto do cumprimento do acordo climático de Paris 2015 - que prevê restringir o aumento da temperatura global a até 2°C acima de níveis pré-industriais. Para cumprir a meta, será necessário abandonar energias poluentes, transformar os meios de produção e repensar o modo de consumo como um todo. A abertura de novas vagas resultará da adoção de práticas sustentáveis na geração e no uso de energia nesse contexto. Será necessário, por exemplo, priorizar fontes energéticas renováveis, desenvolver o uso de veículos elétricos, além de construir e adaptar edifícios a padrões ecológicos.

Fotos: IRINA, OIT, Ascom MMA

O Brasil precisa aproveitar que tem uma natureza tão abundante e repensar seu desenvolvimento Tecnologias como a energia solar (gerada por fontes renováveis) vão criar novas oportunidades de emprego

A OIT também prevê que muitas posições se abrirão com a reestruturação do modelo mundial de consumo para o chamado “sistema circular”. Na economia circular, a dinâmica deixa de ser “extração-produção-consumo-descarte” e passa a ser “extração-produção-consumo-reaproveitamento-novo uso”. Somente nesse segmento, a OIT estima que seis milhões de novos empregos podem ser criados com a popularização de atividades de reciclagem como reparos, aluguel e remanufatura, exemplifica o documento.

Bolsa Verde – beneficiários recebem subsídios para gerir o ecossistema que habitam, principalmente direcionada às famílias que substituem queimadas e desmatamento por atividades de manejo e preservação ambiental

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Bolsa Verde

No contexto da sustentabilidade, o relatório elenca diversos modelos de políticas públicas e projetos da iniciativa privada bem-sucedidos que resultam em desenvolvimento sustentável. Entre os casos de sucesso, há dois exemplos brasileiros: o Bolsa Verde e o RenovAção.

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O Bolsa Verde é um programa do Ministério do Meio Ambiente do tipo “PES” (Payment for Ecosystem Services, pagamento por serviços de ecossistema, em inglês). Nesse tipo de projeto, beneficiários recebem subsídios para gerir o ecossistema que habitam. Dependendo do local e da população, podem ser projetos relacionados ao uso do solo, à preservação de mananciais, à produção e autossuficiência de energia, entre outros. No programa brasileiro, por exemplo, a transferência de renda é principalmente direcionada às famílias que substituem queimadas e desmatamento por atividades de manejo e preservação ambiental. O programa está presente em 22 Estados, totalizando 904 áreas assistidas e distribuídas por um total de 30 milhões de hectares. Desde que entrou em funcionamento, em 2011, o Bolsa Verde já beneficiou cerca de 76 mil famílias. A região amazônica concentra o maior número de beneficiários (93%), com destaque para o Estado do Pará. Para participar é necessário comprovar baixa renda, atuar em área de ecossistema e estar também inscrito no Bolsa Família. Os participantes recebem R$ 300,00 por trimestre, ou seja, R$ 1.200,00 por ano, para adotar práticas sustentáveis nas suas comunidades. “Nas áreas abrangidas pelo programa houve visível redução do desmatamento e aumento da qualidade de vida das famílias. O monitoramento demonstrou uma queda de 30% nos desmatamentos”, informou Juliana Simões, secretária de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente. “Programas PES são uma forma de promover objetivos sociais e ambientais simultaneamente. Isso é particularmente relevante no caso do Brasil, um dos países mais mega-diversos do mundo”, defendeu Montt. “O Bolsa Verde é um exemplo nesse sentido, porque protege as famílias da pobreza ao mesmo tempo em que preserva as florestas. Os benefícios retornam não apenas para aqueles que são diretamente remunerados, mas para a sociedade como um todo”, elogia o especialista da OIT. Para ilustrar o caso brasileiro em particular, Montt cita a preservação das florestas como estratégia fundamental para “regular o clima e a precipitação de chuva em todo o país”. Ou seja, o programa desenvolvido nas matas acaba por gerar benefícios que impactam também as cidades. A OIT destacou também o programa RenovAção, que chamou de “importante iniciativa”. O projeto foi iniciado em 2009 com base em uma parceria da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e outras instituições de ensino.

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2,5 milhões de novos postos de trabalho serão criados nos setores de eletricidade gerada por fontes renováveis, compensando cerca de 400 mil vagas perdidas na geração de eletricidade baseada em combustíveis fósseis

Estresse térmico

Conclusões

O estudo também estima que a mudança climática deverá afetar profundamente o nível de produtividade dos trabalhadores, porque o aumento na temperatura fará com que o estresse térmico desencadeie condições médicas como exaustão e até mesmo derrames com maior frequência. Esses problemas de saúde ocupacionais relacionados ao aquecimento causarão uma perda global de 2% nas horas trabalhadas até 2030. Empregados da indústria agrícola nos países em desenvolvimento serão especialmente afetados. O relatório afirma, ainda, que a transição para a economia verde beneficiará a maioria dos setores pesquisados. Em todo o mundo, dos 163 setores produtivos analisados, apenas 14 perderão mais de 10 mil empregos. O fechamento das vagas se concentrará principalmente na indústria do petróleo.

Globalmente, 2,5 milhões de novos postos de trabalho serão criados nos setores de eletricidade gerada por fontes renováveis, compensando cerca de 400 mil vagas perdidas na geração de eletricidade baseada em combustíveis fósseis. A OIT sintetiza a recomendação de que países adotem uma combinação de políticas que inclua transferências de renda, seguros sociais mais fortes e limites no uso de combustíveis fósseis. Essa abordagem conjunta levaria a um “crescimento econômico mais rápido, com maior geração de empregos e com uma distribuição de renda mais justa”, bem como menores emissões de gases causadores do efeito estufa. “O Brasil precisa aproveitar que tem uma natureza tão abundante e repensar seu desenvolvimento. Não dá pra ficar vendendo commodities pra sempre. Acredito que a conservação vai ter no futuro um valor muito maior, muito mais relevante, do que a expansão das commodities”.

Estamos falando de 620 mil novas vagas, o que mais do que compensa os 180 mil empregos que poderão ser perdidos (no Brasil)”, resumiu Guillermo Montt especialista da organização

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Ciência, Responsabilidade Social e Soberania

Fotos: Ascom/MCTIC, Jardel Rodrigues/SBPC, Jose Moura UFAL, Pei Fon/ Secom Maceió

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abertura do 70º Encontro Anual da SBPC – maior encontro científico do país, foi realizada pela primeira vez em Maceió, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá, teve um forte tom político. Ao chegar ao campus de Maceió da UFAL, Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações foi recebido por autoridades acadêmicas sob protesto de servidores que pediam mais concursos na área, inclusive para a reposição daqueles que se aposentaram, e a recuperação de verbas para o setor. A jornalistas, o ministro disse entender e apoiar as reivindicações dos pesquisadores e servidores da área de ciência e tecnologia e afirmou que seu ministério é um dos que menos sofreu com os cortes. Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC, na sessão de abertura

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“Essas mobilizações, por vagas e contra os cortes, têm o nosso apoio. Não há país do mundo que consiga ter crescimento, desenvolvimento econômico e criação de empregos sem o avanço da pesquisa, da ciência e inovação. E esse avanço se dá cada vez mais com a participação do capital privado, mas é imprescindível, sempre foi e vai continuar sendo, a participação dos recursos públicos”. O ministro também falou sobre a fusão dos ministérios realizada pelo governo Temer, que uniu as áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação com Comunicações. A ação é vista como um retrocesso pelos pesquisadores. Para Kassab, houve um resultado positivo para ambas as áreas, com um ganho de visibilidade para as demandas e maior proximidade entre setores estratégicos. “O ministro é ministro das duas áreas em conjunto, dificilmente ele teria outra opinião”, afirma Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC. “A criação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação foi uma conquista brasileira depois de décadas de luta, e ele vinha funcionando muito bem. Nós achamos que a fusão não ajudou em nada e trouxe alguns prejuízos. Não se concentrou tanto na ciência quanto deveria”. “Nós continuamos com a posição de que é mais interessante fazer a separação dos ministérios, já que eles têm objetivos, estruturas e lógicas diferenciadas. É mais justo para o país, pela importância que a área tem. No entanto, nós estamos muito preocupados com uma questão maior de fundo, que é o desmonte do sistema de Ciência e Tecnologia com a redução drástica de recursos”. O orçamento do MCTI em 2009 era de R$ 7,9 bilhões (R$ 13,4 bilhões em valores atuais). Atualmente o valor disponível é de R$ 4,6 bilhões. Na abertura oficial do encontro, estudantes, servidores e pesquisadores vaiaram a participação do ministro da Educação Rossieli Soares da Silva e de representantes do MCTIC e protestaram contra o corte de verbas para os projetos de pesquisa. revistaamazonia.com.br


O físico e ex-presidente da SBPC Sérgio Mascarenhas, membro titular da ABC, em pé, disse para o ministro que ele poderia ser o defensor da ciência nacional, já que está dentro da “ditadura civil do governo Temer”

Nós vivemos um momento muito difícil: a ciência está sofrendo com os cortes drásticos de recursos, então estamos também discutindo na SBPC propostas de políticas públicas para os próximos governos.”, afirmou Ildeu de Castro. Para o presidente da SBPC, Ildeu de Castro, o objetivo do encontro em Maceió é de desenvolver a produção científica local. “Desejamos que o encontro traga um legado em torno do debate da ciência, tecnologia, educação para o estado.

Gilberto Kassab, inaugurou a Expotec – exposição científica organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) em parceria com os institutos de pesquisa vinculadas ao Ministério

Kassab, acompanhado de assessores e servidores do MCTIC, visitou os estandes das diversas entidades que participaram do evento

Também houve manifestações pedindo que o ex-presidente Lula, preso em Curitiba, seja libertado. O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, deu as boas-vindas ao público destacando que esta edição tem uma carga muito especial por celebrar os 70 anos de vida da instituição, que congrega 140 sociedades científicas de todas as áreas do conhecimento entre suas afiliadas. Mesmo assim, esta é a primeira vez que a reunião é realizada em Alagoas, promovendo uma interação entre a comunidade científica do estado e a nacional. “A reunião tem sempre esse papel de congraçamento e discussão da comunidade científica, também provoca a interrelação de Alagoas com a comunidade nacional, ao mesmo tempo que fomenta, discute, debate as questões locais e envolve mais a sociedade com a ciência. revistaamazonia.com.br

Autoridades prestigiam abertura da ExpoT&C e da Mostra Virtual Interativa dos 70 anos da SBPC Mostra de robótica da SBPC Jovem, robô para irrigação e robô guindaste

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No SBPC Jovem e na Experiment-AL – Feira de Ciências da Educação Básica do Estado de Alagoas No estande daTelebras, os visitantes puderam conferir uma réplica do SGDC, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas

Por isso convidamos toda a população a participar, o encontro é gratuito. O segundo objetivo é debater a situação do país. Somos uma entidade nacional e precisamos pontuar o momento que o Brasil se encontra no que concerne ao período eleitoral e as políticas públicas diante da grave crise que vivemos nas instituições de pesquisas em todo o país”, destacou. “É de uma importância tamanha, por ser a maior reunião científica de um país e porque não dizer da América Latina. Estamos no septuagésimo encontro da SBPC e comemorando essa data em Maceió, em Alagoas, é um motivo de muito orgulho. De fato, uma oportunidade de conhecer grandes nomes da ciência para nós que fazemos parte da Educação do município”, salientou a titular da Secretaria Municipal de Educação, Ana Dayse Dorea. Em sessão comemorativa dos 70 anos da SBPC, Kassab reconheceu perante o público de acadêmicos que falta apoio político para a ciência brasileira. 48

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“Falta apoio político, falta convicção, falta melhor relação com a sociedade para nos ajudar nessa importante missão de mostrarmos para nossas autoridades do campo da economia que eles têm uma visão errada em relação aos resultados que a ciência brasileira pode trazer para a recuperação da nossa economia”. O físico e ex-presidente da SBPC Sérgio Mascarenhas pediu a palavra e disse para o ministro que ele poderia ser o defensor da ciência nacional, já que está dentro da “ditadura civil do governo Temer”. “A democracia tem muito a ver com a verdade. E a verdade é que há um desgaste completo da ciência. Não só dela, mas da educação, da inovação. Vossa excelência falou que a inovação está crescendo no país, mas ela está sendo destruída por esse governo. Seria uma coisa maravilhosa se vossa excelência pudesse ser o herói dessa luta e representar verdadeiramente [a ciência].

Gostaria que vossa excelência fosse o herói de acabar com esse marco ilegal da ciência [referindo-se ao slide que mostra a queda de investimentos ao longo dos anos]. Falo como um admirador de sua gestão de acabar com o marco ilegal da ciência que nós estamos vivendo”. O ministro não respondeu a Mascarenhas e voltou à Brasília. Antes, ele, acompanhado de assessores e servidores do MCTIC, visitou os estandes das diversas entidades que participam do evento, como Finep, Marinha, Agência Espacial Brasileira, Cemaden, Inpa, entre outros.

Homenagens

No SBPC Jovem e na Experiment-AL – Feira de Ciências da Educação Básica do Estado de Alagoas

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Debate com os presidenciáveis

A cada Reunião Anual, a SBPC promove homenagens a cientistas que contribuíram para o desenvolvimento das ciências e da própria Sociedade. Neste ano, os homenageados foram os professores Ana Maria Fernandes e Elisaldo Carlini, o cientista pernambucano José Leite Lopes e a psiquiatra alagoana Nise da Silveira. Ao entregar a placa aos familiares de Nise, a reitora Valéria Correia destacou sua contribuição à ciência, abrindo as portas da luta antimanicomial. “É preciso imaginação, garra, força e sonho para fazermos as mudanças que Nise pensou para um mundo melhor”, disse a sanitarista Maria José de Almeida Lins, que fez a apresentação da história de Nise da Silveira durante a solenidade.

Assembleia Geral de Sócios da SBPC aprova nove moções

2) Em defesa da autonomia didático-científica das universidades brasileiras (aprovada por maioria, com 3 abstenções); 3) Repúdio a tentativas de censura, intimidação e restrição da autonomia e liberdade docente (aprovada por maioria, com três abstenções); 4) Em defesa da liberdade de cátedra! Suspensão da Comissão de Sindicância investigativa da UFABC (aprovada por unanimidade); 5) Em defesa dos 25% do Fundo Social do Pré-sal para a Ciência & Tecnologia (aprovada por maioria, com uma abstenção); 6) Contra a privatização das estatais: em defesa da Embraer, Eletrobras e Petrobras (aprovada por unanimidade); 7) Pela descriminalização do aborto (aprovada por maioria, com uma abstenção); 8) Moção pelo fim da guerra às drogas (aprovada por unanimidade); e, 9) Sobre a democracia no Brasil e a prisão de Lula (aprovada por maioria, com duas abstenções e alterações posteriores a serem feitas no texto). O diretor do Mamirauá, Helder Lima de Queiroz, recebe o Prêmio José Reis das mãos do presidente do CNPq, Mario Neto Borges

Durante a aprovação das moções

As moções são propostas pelos sócios ativos e votadas na Assembleia Geral de Sócios da SBPC, instância máxima deliberativa da entidade. Os textos aprovados serão revisados pela Diretoria e encaminhados aos dirigentes dos órgãos competentes. Confira abaixo as moções aprovadas: 1) Pela revogação da Lei do Ensino Médio e pela revisão da BNCC do Ensino Médio e pela garantia do cumprimento das metas do PNE (aprovada por unanimidade); revistaamazonia.com.br

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Encerramento Dia da Família na Ciência, encerra a 70ª Reunião Anual da SBPC

Durante a sessão de encerramento

No “Dia da Família da Ciência”, a SBPC realizou a cerimônia de encerramento da 70ª edição de sua Reunião Anual, sediada na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió. Durante a semana, o evento mobilizou toda a comunidade acadêmica, bem como público local. Mais de 12 mil pessoas visitaram a Universidade para participar das atividades do maior evento científico da América Latina. “As pessoas querem, sim, vir para universidade pública”, celebrou a pró-reitora de Extensão da Ufal e coordenadora da SBPC Jovem, Joelma Albuquerque, em seu discurso na cerimônia. O cenário geral de cortes orçamentário e crise no País não atrapalhou o sucesso desta Reunião Anual. De fato, o balanço geral do evento mostra que o contexto atual incentivou uma mobilização ainda mais intensa de toda a comunidade, para mostrar a pujança da ciência feita no Brasil e, principalmente, para debater os problemas do País e os rumos para a retomada do desenvolvimento científico e social. Só de inscritos, esta edição teve mais de 4 mil, oriundos de 355 cidades de toda a Federação – 25 estados e Distrito Federal. Um destaque foi a participação na sessão de pôsteres, que teve uma taxa recorde de trabalhos apresentados: 95%. Normalmente as abstenções giram em torno de 10 a 12%. Além disso, a qualidade das apresentações foi bastante ressaltada pelos avaliadores e visitantes, conforme contaram os organizadores. As atividades da programação científica, sem contar os minicursos, contabilizaram mais de 11 mil participantes. Ou seja, em média, cada sessão teve quase 100 pessoas assistindo. As conferências, em particular, tiveram uma média de público de 135 pessoas a cada apresentação. “Foi um sucesso estrondos esta Reunião”, declarou o secretário-geral da SBPC, Paulo Hoffman, ao apresentar o balanço da semana. 50

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Os coordenadores locais das atividades da Reunião Anual também apresentaram um balanço individual das sessões SBPC Educação, SBPC Jovem, SBPC Afro e Indígena e SBPC Cultural. Segundo contou a coordenadora da SBPC Educação e pró-reitora de graduação da Ufal, Sandra Regina Paz, mais de 2500 pessoas participaram das atividades realizadas nos campi da Ufal em Arapiraca, Delmiro Gouveia e Maceió, entre os dias 19 e 21 de julho. No total, foram oferecidas 100 atividades, além da apresentação de 270 trabalhos. Sobre a SBPC Jovem, Joelma Albuquerque estima que 12 mil pessoas visitaram as atividades. Para a diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Ufal e coordenadora geral da SBPC Afro e Indígena, Lígia Ferreira, realizar este evento dentro da SBPC, nos três campi da Ufal, com 74 atividades científicas e culturais, além de um espaço infantil, foi um desafio possível apenas graças às colaborações e parcerias. “Tivemos 2800 pessoas inscritas. Isto nos dá a noção da importância de um evento como este dentro da SBPC. As comunidades indígenas, quilombolas e do movimento negro ocuparam a nossa Universidade”, afirmou.

Legado “Os frutos desta Reunião Anual da SBPC não vão ser colhidos agora: eles vão amadurecer e se multiplicar muito pelos próximos anos”, avaliou o vice-reitor da Ufal e coordenador da comissão local da RA, José Vieira

Cruz. “A Ufal foi aberta à comunidade”, ressaltou. A reitora da Universidade, Valéria Correia acrescentou que a RA da SBPC foi um “presente” para a Ufal, especialmente neste contexto difícil por que passa o Brasil. “A gente se tornou uma vitrine para o País. O impacto deste evento é imensurável”. Correia também ressaltou a qualidade dos debates, dos temas levantados, que incentivaram a participação massiva dos estudantes e de toda a comunidade nas discussões. Ela também elogiou a coragem da SBPC de propor e conduzir discussões sobre a política nacional atual e a publicação, durante o evento, do “Manifesto SBPC em defesa da CT&I, da Educação, do Desenvolvimento Sustentável e da Democracia no País”. “Esse documento me emocionou. Foi uma SBPC militante em defesa da CT&I, mas principalmente em defesa da educação e das universidades”, afirmou. Para o presidente da SBPC, essa Reunião teve um papel importante de promover na Ufal uma discussão sobre a política nacional, ao apresentar as propostas de políticas públicas e convidar presidenciáveis para debatê-las. O “Debate com os presidenciáveis” foi um dos destaques da programação desta Reunião Anual. “A nossa entidade é apartidária, mas não é apolítica. A gente espera que, com essas discussões democráticas envolvendo toda a sociedade, a gente reverta o retrocesso que estamos vivendo em vários domínios da vida social brasileira e construa um país melhor para todos”, enfatizou Moreira. SBPC Afro e Indígena encerra atividades e celebra debates das relações étnicos-raciais

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Dia de superação da Terra Fotos: Divulgação

Como você vai #Mover a data ? Dê o primeiro passo hoje!

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Dia da Overshoot da Terra marca a data em que nós (toda a humanidade) usamos mais da natureza do que o nosso planeta pode renovar no ano inteiro. Estamos usando 1.7 Terras. Usamos mais recursos e serviços ecológicos do que a natureza pode regenerar através da sobrepesca, da exploração excessiva de florestas e da emissão de mais dióxido de carbono na atmosfera do que os ecossistemas podem absorver.

Cidades Oitenta por cento da população mundial deverá viver nas cidades até 2050. Consequentemente, as estratégias de planejamento urbano e desenvolvimento urbano são fundamentais para equilibrar a oferta de capital natural e a demanda da população. A campanha global pela sustentabilidade será vencida ou perdida nas cidades. Entre 70% e 80% de todas as pessoas devem viver em áreas urbanas até 2050. Consequentemente, o planejamento urbano inteligente e as estratégias de desenvolvimento urbano são fundamentais para garantir que haja capital natural suficiente e para evitar uma demanda humana excessiva que o erodiria. Os exemplos incluem construções energeticamente eficientes, zoneamento integrado, cidades compactas e opções efetivas para transporte público e movido por pessoas. Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas 11 As Cidades e Comunidades Sustentáveis apresentam várias metas para 2030, incluindo:

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Reduzir o impacto ambiental per capita adverso das cidades.

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Proporcionar acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, acessíveis e sustentáveis para todos, nomeadamente através da expansão dos transportes públicos.

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Melhorar a urbanização inclusiva e sustentável e a capacidade de planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis em todos os países.

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Em particular, o planejamento da cidade pode desempenhar um papel importante na formação de nossa necessidade de carros. É importante porque o transporte pessoal representa 14% da pegada de carbono da humanidade.

Se reduzirmos a direção em 50% em todo o mundo e assumirmos que um terço das milhas de carro é substituído por transporte público e o restante por ciclismo e caminhada, o Earth Overshoot Day voltaria para 12 dias.

Energia A descarbonização da economia é a nossa melhor chance possível de enfrentar as mudanças climáticas e melhoraria o equilíbrio entre a nossa Pegada Ecológica e os recursos naturais renováveis do planeta. A pegada de carbono representa 60% da pegada ecológica da humanidade.

Explorar soluções adicionais

Energia

Cidades, alimentos, população e energia são quatro áreas-chave entre as soluções atualmente disponíveis para o #MoveTheDate of Earth Overshoot Day.

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Não apenas a descarbonização da economia é a melhor oportunidade possível para enfrentar a mudança climática, mas também melhoraria o equilíbrio entre a nossa Pegada Ecológica e os recursos naturais renováveis do planeta. De acordo com o Acordo de Paris sobre o Clima de 2015, limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2 ° C (ou mesmo 1,5 ° C) implica manter a concentração de CO2-atmosfera abaixo de 450 partes por milhão (ppm). Em 2017, a atmosfera continha 409 ppm de CO2. A atual pegada de carbono adiciona de 2 a 3 ppm de CO2 à atmosfera por ano. Isso significa que todos nós precisamos eliminar os combustíveis fósseis antes de 2050, se quisermos cumprir o acordo de Paris. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU 7, Energia Acessível e Limpa exige aumento substancial da participação de energia renovável no mix de energia global até 2030. Reduzir em 50% o componente de carbono da Pegada Ecológica da humanidade nos levaria de consumir os recursos de 1,7 Terras para 1,2 Terras. Isso corresponde a mover a data do Dia de superação para 93 dias ou mais de três meses.

Comida A forma como atendemos a uma das nossas necessidades mais básicas - a comida - é uma maneira poderosa de influenciar a sustentabilidade. Fornecer alimentos localmente e evitar alimentos altamente processados pode reduzir a Pegada Ecológica. A demanda por alimentos representa 26% da Pegada Ecológica global. Duas questões importantes ao abordar a suficiência alimentar, a desnutrição e a fome (Meta de Desenvolvimento Sustentável da ONU 2) são:

1. Ineficiência de recursos na produção de alimentos. As calorias animais são significativamente mais intensivas em recursos do que as calorias das plantas para produzir. Na verdade, o governo chinês está comprometido em reduzir o consumo de carne em 50% até 2030. Isso reduziria a Pegada Ecológica em mais de 126 milhões de hectares globais e atrasaria 1,5 dia a data do Overshoot Day (de acordo com os números atuais da Pegada Ecológica da China).

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2. Resíduos alimentares. Cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo para consumo humano 1,3 bilhão de toneladas a cada ano - são perdidos ou desperdiçados, com países de alta e baixa renda dissipando aproximadamente as mesmas quantidades de alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação-FAO. Isso é equivalente a 9% da Pegada Ecológica da humanidade.

Nos Estados Unidos, estima-se que 40% dos alimentos sejam desperdiçados. Isso é o equivalente da Pegada Ecológica total do Peru e da Bélgica combinada, ou a biocapacidade total do México. Uma meta do Objetivo 12 de Desenvolvimento Sustentável da ONU é reduzir pela metade o desperdício global per capita de alimentos nos níveis de varejo e consumo e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias produtivas e de fornecimento, incluindo perdas pós-colheita até 2030. pela metade

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Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.

Dia da Overshoot da Terra

em todo o mundo, nós moveríamos o Overshoot Day em 11 dias. Mover a data 5 dias gráficos, se reduzirmos o consumo global de carne em 50% e substituirmos essas calorias por uma dieta vegetariana, passaríamos o Dia do Overshoot 5 dias.

População Estar comprometido com todos que vivem em um mundo de recursos finitos requer o crescimento populacional. Capacitar as mulheres é essencial para a sustentabilidade global. Quanto mais de nós existem, menos planeta existe por pessoa. O endereçamento do tamanho da população também tem muitos benefícios sociais. Educar meninas e fornecer acesso a planejamento familiar seguro, acessível e eficaz são oportunidades de alta alavancagem. Além disso, capacitar as mulheres é essencial para a sustentabilidade. Quando as mulheres são respeitadas como parceiras iguais no lar, no trabalho e na comunidade, resultados sociais melhores para suas famílias, incluindo conquistas em saúde e educação, e taxas reprodutivas mais baixas invariavelmente ocorrem. Dadas as limitações de recursos, os países com populações que encolhem lentamente podem ter uma vantagem competitiva sobre países com populações em crescimento.

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Se o tamanho médio da família é metade da criança menor no futuro, ou seja, se cada segunda família tiver em média um filho a menos, haverá um bilhão a menos de nós no mundo do que os 9,7 bilhões que a ONU espera até 2050 e quatro bilhões a menos até o final do século. Dada a crescente longevidade, o final deste século está dentro da expectativa de vida das crianças nascidas hoje. A redução do tamanho da família nessa taxa equivale a retornar o Dia da Overshoot da Terra em cerca de 30 dias, ou um mês, até 2050. Os benefícios a longo prazo são ainda mais impressionantes. Esta redução contínua no tamanho da família resultaria em 50% mais biocapacidade por pessoa em 2100. Mais biocapacidade torna mais fácil ter vidas prósperas para todos dentro dos meios do planeta. Investir em famílias menores através do empoderamento das mulheres também é consistente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. SDG 5 Igualdade de Gênero exige o fim de todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em todos os lugares. Os alvos incluem

Até 1º de agosto de 2018, a Global Footprint Network antecipa que a humanidade terá esgotado mais recursos da Terra do que pode regenerar dentro de um ano. O Dia da Overshoot da Terra do ano passado caiu em 2 de agosto, apenas um dia antes da data anunciada para 2018. A data, que anteriormente era conhecida como Dia da Dívida Ecológica, ocorreu de forma constante desde 1971. Naquele ano, a data caiu em 21 de dezembro. “Estamos usando 1.7 Terras”, segundo o site da Global Footprint Network. “Utilizamos mais recursos e serviços ecológicos do que a natureza pode regenerar através da sobrepesca, da exploração excessiva de florestas e da emissão de mais dióxido de carbono na atmosfera do que os ecossistemas podem absorver.” Isso significa que agora o planeta leva cerca de um ano e meio para regenerar os recursos naturais que os humanos usam em um ano, de acordo com a Rede. “Com 7,5 bilhões de pessoas no mundo, nossas necessidades colocam uma enorme pressão sobre o planeta e a vida selvagem com a qual compartilhamos”, disse Stephanie Feldstein, diretora de população e sustentabilidade do programa de População e Sustentabilidade do Centro de Diversidade Biológica.Em países como os Estados Unidos, um consumo excessivo desenfreado está consumindo nossos recursos mais rápido do que o planeta pode reabastecê-los, e a dívida para com o planeta está sendo paga por meio da mudança climática, da seca e da extinção de vida selvagem, acrescentou Feldstein. “A demanda de recursos da humanidade em geral e o que a Terra é capaz de renovar não flutuam tão drasticamente”, disse o Dr. Mathis Wackernagel, CEO da Global Footprint Network e co-criador da Ecological Footprint.

*

Empreender reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como acesso à propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, heranças e recursos naturais, de acordo com as leis nacionais.

Espera-se que esgotem um ano dos recursos do planeta em 1 de agosto

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Conservação focada no carbono pode deixar de proteger as florestas tropicais mais biodiversas por *Ana Laura Lima

Fotos: Alexander Lees, Embrapa

Desprotegendo a biodiversidade

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roteger os estoques de carbono nas florestas tropicais, em especial na Amazônia, é um dos principais objetivos de políticas públicas e ações de organizações ambientais em todo o mundo na luta frente às mudanças climáticas. Porém, um estudo publicado recentemente na Nature Climate Change, principal revista sobre o tema no mundo, mostra que a conservação focada somente no carbono pode levar à perda de até 75% da biodiversidade presente nas florestas de maior valor ecológico. O trabalho, liderado por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e do Centro de Meio Ambiente da Universidade de Lancaster, no Reino Unido – Joice Ferreira, Gareth D. Lennox, Toby A. Gardner, James R. Thomson, Erika Berenguer, Alexander C. Lees, Ralph Mac Nally, Luiz E. O. C. Aragão, Silvio F. B. Ferraz, Julio Louzada, Nárgila G. Moura, Victor H. F. Oliveira, Renata Pardini, Ricardo R. C. Solar, Ima C. G. Vieira e Jos Barlow – partiu da seguinte questão: as medidas de proteção ao carbono nas florestas tropicais também garantem a sobrevivência das espécies de plantas e animais nesses locais? A resposta a essa pergunta é complexa, mas os pesquisadores descobriram que os investimentos destinados a evitar perdas maciças de carbono em florestas tropicais são menos eficazes para a biodiversidade nas florestas de maior valor ecológico.

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A floresta tropical é lar de rica biodiversidade

Ou seja, nessas florestas (que são as mais preservadas) a riqueza de espécies da biodiversidade não está protegida quando se considera somente os estoques de carbono. “Proteger os estoques de carbono das florestas tropicais deve permanecer um objetivo central em políticas de conservação e restauração florestal. No entanto, para garantir a manutenção da riqueza de espécies dessas áreas, a biodiversidade precisa ser tratada também como foco central desses esforços”, alerta a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, uma das autoras principais do artigo.

A relação entre carbono e biodiversidade Para chegar às principais conclusões, a equipe passou 18 meses realizando medições do conteúdo de carbono e da variedade de espécies de plantas, pássaros e besouros em 234 áreas nos municípios de Paragominas e Santarém, no Pará, região da Amazônia Oriental. Foram analisados quatro tipos de florestas: primária com pouquíssima ou nenhuma intervenção humana; floresta com extração madeireira; floresta com extração madeireira e queima; e floresta secundária, aquelas que já passaram por intervenções e estão em processo de recuperação. A equipe descobriu que mais carbono significava mais biodiversidade em florestas severamente danificadas, principalmente naquelas secundárias e as que sofreram a extração da madeira e a queima. Por outro lado, naquelas áreas onde os impactos humanos eram menos intensos, as quantidades crescentes de carbono não eram acompanhadas por mais riqueza de espécies. Na prática, os crescimentos dos estoques de carbono e de biodiversidade caminham juntos nas áreas mais danificadas, mas o mesmo não acontece nas áreas mais preservadas. Para a pesquisadora Joice Ferreira, a mudança na relação entre

Proteger os estoques de carbono das florestas tropicais deve permanecer um objetivo central em políticas de conservação e restauração florestal

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carbono e biodiversidade entre as florestas que sofreram diferentes níveis de distúrbios provocados por ação humana explica os resultados encontrados. Conforme as localidades desmatadas e altamente perturbadas se recuperam dos efeitos da exploração e de incêndios florestais graves, a biodiversidade também se recupera. No entanto, essa relação direta entre carbono e biodiversidade perde-se na etapa intermediária da recuperação. O resultado: as florestas com o maior teor de carbono não abrigam necessariamente a maioria das espécies. “Isso acontece porque nas áreas onde a ação humana é mais intensa, a perturbação é o principal fator que dirige as características das áreas. Então, carbono e biodiversidade se recuperam concomitantemente. No entanto, em uma floresta sem ação humana, por exemplo, os fatores que governam as características das plantas e dos animais são diversos, como o tipo de solo, a luminosidade, as chuvas, a competição entre espécies e outros. Por isso, nesse caso, carbono e biodiversidade não são correspondentes”, explica a especialista.

Ações de conservação e restauração florestal com foco duplo As florestas tropicais armazenam mais de um terço de todo o carbono terrestre do mundo. Fenômenos causados por ação humana, como o desmatamento e as perturbações florestais (extração seletiva de madeira, caça, incêndios e fragmentação

florestal) podem provocar a liberação do carbono e exacerbar os efeitos do aquecimento global. Por essa razão, a proteção do carbono das florestas tropicais é uma das principais metas das iniciativas internacionais de combate às alterações climáticas, atraindo dezenas de bilhões de dólares em financiamento todos os anos. “As medidas de proteção aos estoques de carbono não apenas podem desacelerar os efeitos das alterações climáticas, como também têm o potencial de proteger a vida selvagem

única e insubstituível das florestas tropicais. Mas para isso é fundamental colocar a biodiversidade no mesmo patamar de importância do carbono”, afirma Gareth Lennox, um dos autores principais do estudo e pesquisador da Universidade Lancaster. Toby Gardner, pesquisador do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, e também coautor do artigo, explica a importância de se ter uma abordagem de conservação mais abrangente. “Ao considerar carbono e biodiversidade juntos, descobrimos, por exemplo, que o número de espécies de árvores grandes que podem ser protegidas aumenta em até 15% em relação à abordagem com foco somente no carbono.” A pesquisa oferece diretrizes para o alinhamento dos esforços de conservação de carbono e biodiversidade, especialmente em ações de restauração florestal. “Os resultados podem orientar o governo na escolha de áreas prioritárias para programas de recuperação de florestas, para a compensação de passivos ambientais”, destaca Joice Ferreira, da Embrapa. “Embora algumas perdas sejam inevitáveis, os conflitos de estratégia entre o carbono e a biodiversidade podem ser reduzidos por um planejamento mais integrado em nível territorial”, pondera o cientista da Universidade de Lancaster, Jos Barlow, um dos coautores da pesquisa. [*] Embrapa Amazônia Oriental

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Os Andes são a maior cadeia de montanhas da Terra e a única cadeia trans-tropical. Eles se sentam ao lado da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta e bacia do rio. É por isso que a América do Sul tem uma biodiversidade tão exuberante “, diz Rangel.

Os Andes moldaram a biodiversidade da Amazônia Modelando a ecologia e a evolução da biodiversidade: berços biogeográficos, museus e sepulturas

Fotos: CC0 Public Domain,

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rupo internacional de cientistas – Thiago F. Range, Neil R. Edwards, Philip B. Holden, José Alexandre F. Diniz-Filho, William D. Gosling, Marco Túlio P. Coelho, Fernanda AS Cassemiro, Carsten Rahbek e Robert K. Colwell, com liderança brasileira, construiu modelo simulando os últimos 800.000 anos de evolução na América do Sul, incorporando esses fatores em um modelo dinâmico espacialmente explícito para explorar a geração geográfica da diversidade; a presença da cordilheira gerou as condições para que continente abrigasse maior diversidade de espécies do mundo. O modelo englobava apenas o Quaternário Tardio (últimos 800.000 anos), com seus repetidos ciclos glaciais-interglaciais, começando em uma época em que a América do Sul já era povoada por uma rica biota, compreendendo muitas linhagens distintas.

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Modelo identifica fatores que moldaram a evolução

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Número relativo de espécies de plantas com flor nas diferentes regiões usadas pela Lista Mundial de Famílias de Plantas Selecionadas. (A) Todas as espécies e (B) espécies endêmicas Número relativo de espécies de peixes de água doce nas diferentes ecorregiões de água doce. (A) Todas as espécies e (B) espécies endêmicas

Mapa superior: Riqueza de aves da América do Sul contemporânea (2967 espécies). Mapa inferior: Padrão espacial simulado para a riqueza cumulativa de espécies persistentes (museu), decorrentes do modelo. O mapa mostra resultados com média de todos os valores de parâmetros para um fundador da Mata Atlântica, excluindo os tratamentos experimentais de suavização do clima. A riqueza de espécies simuladas é altamente correlacionada com a riqueza de espécies observada para as aves (r2 = 0,6337). No entanto, o atual consenso sustenta que a flora contemporânea e a fauna de vertebrados da América do Sul incluem numerosas linhagens que passaram por uma rápida diversificação durante o Quaternário, particularmente nos Andes.

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Bem ao lado, a Amazônia abriga a maior floresta tropical e a maior bacia hidrográfica. Essa conformação geográfica única acabou produzindo também uma biodiversidade única”, disse Rangel. De acordo com o cientista, por reunir uma imensa gama de condições climáticas, a cordilheira funciona como um “seguro contra mudanças do clima” para os animais e plantas. “À medida que se sobe a montanha, vai ficando mais frio e há climas para todos os gostos. As espécies que estão próximas aos Andes podem mudar subir ou descer para acompanhar as mudanças climáticas de forma mais eficiente. Mas a cordilheira não é contínua e uma mesma espécie pode subir para diferentes montanhas, onde ficam isoladas por longos períodos. Quando elas descem, já houve diversificação e novas espécies surgiram”, explicou.

Mata Atlântica

Berços de especiação e túmulos de extinção no tempo e no espaço. O painel superior representa as taxas de especiação (riqueza do berço, em verde), extinção (riqueza grave, em vermelho) e temperatura média na América do Sul (azul) ao longo da simulação (o tempo passa da esquerda para a direita). Picos de especiação são marcados com linhas tracejadas verdes e picos de extinção com linhas tracejadas vermelhas. O painel inferior apresenta mapas de riqueza para berços, sepulturas, diversificação líquida (berços menos sepulturas) e riqueza total. Cada mapa é um resumo ao longo da simulação

Em nosso modelo, ao longo de cada simulação, uma filogenia completa emergiu de uma única espécie fundadora. Com base nos registros históricos completos para cada variedade de espécies, a cada intervalo de 500 anos, registramos padrões espaciais e temporais de especiação (“berços”), persistência (“museus”), extinção (“sepulturas”) e espécies riqueza. A América do Sul abriga a maior biodiversidade do planeta, especialmente na Amazônia. Por muitos anos, os cientistas têm especulado sobre os processos que levaram ao surgimento de um número tão grande de espécies na região. A partir de simulações da evolução nos últimos 800 mil anos, feitas em sofisticados modelos digitais, um grupo de cientistas acaba de mostrar que a Cordilheira dos Andes foi a força propulsora da inigualável exuberância biológica do continente. De acordo com Thiago Rangel, pesquisador da Universidade Federal de Goiás e primeiro autor do artigo publicado recentemente na revista Science, a biodiversidade sul-americana foi determinada por um processo evolutivo movido por fatores geológicos, biológicos e climáticos.

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Enquanto se alternavam longos períodos de glaciações e de aquecimento global na Terra, as espécies existentes se refugiavam do frio no interior floresta e subiam para os Andes nos períodos quentes. “Os Andes são mais longa cadeia de montanhas da Terra e a única que atravessa os trópicos.

Segundo Rangel, não só a Amazônia, mas também a Mata Atlântica, bem mais distante dos Andes, deve sua enorme biodiversidade à presença da cordilheira. “Nosso modelo mostra que os Andes e a Mata Atlântica têm uma parceria biogeográfica muito antiga. Nos períodos mais quentes, entre as glaciações, a Amazônia se expande gera uma conexão para que as espécies andinas migrem para a Mata Atlântica através do Pantanal e vice-versa”, disse. “Nos períodos glaciais, os trópicos não esfriam tanto, mas perdem umidade e o Cerrado é que se expande sobre a Amazônia e o Pantanal, isolando os Andes da Mata Atlântica . Com isso, as espécies que estão em cada lugar vão tomar rumos evolutivos independentes, gerando mais diversidade”.

Distribuição de espécies no gênero Conus. (A) os números de todas as espécies; (B) aqueles com intervalos menores que o tamanho do intervalo mediano; (C) aqueles ameaçados; e (D) espécies com deficiência de dados para as quais não há dados suficientes para avaliar seu status. A Figura S2 fornece um detalhe das ilhas de Cabo Verde, onde um grande número de pequenas espécies vive. O fundo terrestre é mostrado em aproximadamente cor verdadeira para mostrar a distribuição de florestas (verde escuro) e revistaamazonia.com.br terras secas (buff) e batimetria oceânica (cores mais escuras significam águas mais profundas)


Padrões em escala fina da diversidade de vertebrados terrestres. (A) O número de espécies de mamíferos ameaçadas e (B) aquelas com faixas menores que o tamanho do intervalo mediano. (C) e (D) mostram os mapas correspondentes para anfíbios

Mata Atlântica e da Amazônia, mas só havia hipóteses com base na observação, em vez de teorias mais sólidas. O que fizemos foi diferente: pegamos toda a teoria disponível e construímos um modelo do zero, de baixo para cima. Isso nos permitiu manipular as condições para avaliar cenários hipotéticos, como se estivéssemos em um laboratório virtual”, explicou.

Cordilheira “deletada”

O mapa proporcional da riqueza de espécies que surge das simulações, centro, é notavelmente similar aos mapas do mundo real para pássaros, esquerda e mamíferos, à direita

Clima ancestral Produzir um modelo de simulação das mudanças na biodiversidade em 800 mil anos em escala continental não é uma tarefa fácil. Rangel tem trabalhado há 15 anos com esse tipo de modelagem, mas, além das limitações de poder computacional, os estudos esbarravam em um problema que parecia intransponível: a falta de dados sobre o clima do passado. O problema começou a ser resolvido quando Rangel estabeleceu uma parceria com o grupo liderado

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por Robert Colwell, professor de biologia evolutiva da Universidade do Connecticut (Estados Unidos). “Há cinco anos, enfim, achamos as pessoas certas”, disse Rangel. Sob a liderança de Rangel e Colwell, dois paleoclimatólogos - especialistas em climas do passado -, Neil Edwards e Philip Holden, da Open University (Reino Unido), construíram um modelo paleoclimático único no mundo, que foi aplicado ao contexto da América do Sul. “Já se falava há anos, na literatura científica, da possível importância dos Andes para a biodiversidade da

Com o modelo, os cientistas puderam estudar os complexos padrões de distribuição, diversificação e extinção das espécies ao longo de 800 mil anos, abrangendo os oito últimos períodos de glaciação. “Os mapas de biodiversidade reproduzidos pelo modelo são incrivelmente parecidos com os mapas reais que atualmente mostram a distribuição de espécies de aves, mamíferos e plantas. Tudo coincide com a realidade”, disse o cientista. Em uma das simulações inéditas, os cientistas chegaram a remover os Andes da paisagem para verificar sua importância na formação da biodiversidade sul-americana. “Confirmamos que a cordilheira é mesmo fundamental. Sem ela, a biodiversidade seria muito mais pobre”.

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Rios Limpos para Mares Limpos Cerca de 80% da poluição marinha é originada em terra. Esgotos, pesticidas, metais pesados e outros poluentes são conduzidos por cursos de água doce até o litoral e causam danos à saúde das pessoas e ecossistemas Fotos: Divulgação

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uando se fala em lixo plástico, especificamente, 13 milhões de toneladas chegam até os oceanos a cada ano, grande parte proveniente dos rios, que transportam o lixo das cidades e do campo até a praia. Com o objetivo de combater a poluição plástica desde o interior do território e reverter a maré de lixo que invade os nossos oceanos, a ONU Meio Ambiente lançou recentemente duas iniciativas inovadoras no Brasil. Em parceria com a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e com a Secretaria do Meio Ambiente do Governo do Estado do Amazonas (SEMA), dará início ao projeto “Rios Limpos para Mares Limpos”, uma mobilização para a conservação de rios, igarapés e outros afluentes no Amazonas. Já em Santa Catarina, as 11 cidades que compõem a Associação de Municípios da Foz do Rio Itajaí (AMFRI) aderiram à campanha Mares Limpos, comprometendo-se a desenvolver e implementar de forma inédita um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar com foco no Rio Itajaí. Ambas as atividades integraram as ações da agência da ONU para a semana do meio ambiente de 04 à 11 de junho.

O programa visa integrar a Amazônia ao combate à poluição plástica, que tem invadido os oceanos, garantindo a conservação dos rios, ao mesmo tempo que conserva os igarapés e outros afluentes da região. Além disso, cerca de 80% da poluição é marinha e originada em terra, ocasionando danos ao ecossistema e a saúde das pessoas. Os esgotos, pesticidas, metais pesados, lixos plásticos e outros poluentes chegam ao litoral através do curso das águas doces, gerando tal problema ao planeta. Segundo Virgilio Viana, superintendente geral da FAS, o desafio não é somente acabar com a poluição dos plásticos nas praias, mas também das margens dos rios que carregam enormes quantidades de plásticos poluentes, que contaminam e preocupam a vida marítima, pois afeta a saúde humana e a vida aquática.

A representante da ONU Meio Ambiente do Brasil, Denise Hamú, destacou a importância da Amazônia na campanha por sua representatividade e os desafios que o rio Amazonas enfrenta.

Aplicativo Litterari Junto ao lançamento da campanha, foi apresentado o aplicativo Litterari, criado por Jeff Kirschner, que qualifica e identifica marcas, rastreando o lixo em tempo real por meio de geolocalização. Ele busca de modo divertido mobilizar os usuários a respeito da responsabilidade com o lixo e o meio ambiente.

Em Manaus: Dos Rios Limpos para Mares Mais Limpos com os ODS A iniciativa foi lançada em 08 de junho de 2018 durante o seminário, “Dos Rios Limpos para Mares Mais Limpos com os ODS”, promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia (SDSN-Amazônia), ONU Meio Ambiente e Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).

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Em Manaus, a ação de limpeza nas margens do lago do Tarumã, no Rio Negro, com pranchas de stand up paddle, para retirar os resíduos

Limpeza no lago Tarumã

Durante o seminário, “Dos Rios Limpos para Mares Mais Limpos com os ODS”, Denise Hamú representante da ONU Meio Ambiente do Brasil e Virgilio Viana, superintendente geral da FAS

Na manhã seguinte ao evento, a ONU e a FAS, em ação organizada pelo Movimento Grito D’Água e com o apoio da Secretaria Municipal de Limpeza Pública, realizaram uma ação de limpeza às margens do lago do Tarumã, no Rio Negro. O mutirão de limpeza com pranchas de stand-up paddle (SUP) nos igarapés do Tarumã, na Zona Oeste de Manaus, reunindo diversos atores e comunidade para ações práticas de conservação.

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A palestra que encerrou com chave de ouro as atividades foi do renomado Capitão Americano Charles Moore

A atividade marcou o início da agenda do projeto na Amazônia. O superintendente técnico-científico da FAS, Eduardo Taveira, afirma que é importante a conscientização quanto ao destino do lixo. “É importante entendermos que quando se fala em descartar o lixo ou, simplesmente jogá-lo fora, não existe “fora”. Estamos em um sistema fechado, onde tudo permanece aonde está. Então rios, mares, todos estão conectados”, afirmou. A ação é voltada ao ODS número 6, que visa ao compromisso de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos, e ao ODS 14, que visa garantir até 2030 a conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

Em Santa Catarina: Oceano sem plástico – ações em terra que afetam o mar No estado de Santa Catarina, o seminário “Oceano sem plástico – ações em terra que afetam o mar” foi palco da adesão à campanha Mares Limpos por 11 municípios localizados às margens do rio Itajaí. O primeiro passo foi dado ainda em abril, com a adesão da cidade de Itajaí, durante a Volvo Ocean Race. Agora, os municípios vizinhos se uniram para desenvolver e implementar um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar. “Os rios apenas refletem as atitudes inconscientes dos indivíduos e nos fazem perceber a tamanha deficiência do sistema de gerenciamento dos resíduos nas cidades. Precisamos abordar essa temática de diferentes ângulos e de forma multidisciplinar. Os representantes locais e gestores das associações de bacias hidrográficas têm um papel fundamental neste processo buscando alternativas para viabilizar frentes de trabalho que contribuam para esta causa”, explica o presidente da Fundação do Meio Ambiente de Piçarras, Marcos Zaleski. O seminário promovido em Balneário Piçarras, contou com a participação de especialistas, como o capitão estadunidense Charles Moore, que descobriu a ilha de plástico flutuante no Pacífico, e Fernanda Daltro, gerente de campanhas da ONU Meio Ambiente.

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Rios Limpos para Mares Limpos A campanha da ONU, fica em vigor por 5 anos e espera sensibilizar a sociedade (governo, pessoas físicas e jurídicas) para o problema, afinal, estima-se que os mares recebam 8 milhões de toneladas de plásticos por ano! E este lixo impacta a vida nos oceanos: 600 espécies marinhas são afetadas por ingestão de plásticos ou sufocamento. E cada um de nós pode fazer sua parte: que tal levar sua sacola retornável nas compras? E que tal pedir para as indústrias de cosméticos banirem o uso de microesferas em seus produtos? E não se esqueça de reciclar produtos plásticos e cobrar de seu município uma política efetiva de reciclagem.

Quase todos os rios (e resíduos plásticos) vão para o mar Apesar das diversas aplicações do plástico, como na indústria e na medicina, a sociedade moderna está cada vez mais dependente de produtos plásticos descartáveis. Metade de todo o plástico produzido é projetado para ser usado apenas uma única vez — e jogado fora em seguida, o que pode ocorrer depois de 30 segundos. Quando itens como sacolas plásticas, canudos e embalagens de alimentos são descartados incorretamente nas ruas, eles voam com o vento, entopem bueiros, aumentam o risco de enchentes e acabam nos rios e nos mares. No mundo, dez rios carregam sozinhos mais de 90% dos resíduos plásticos que acabam nos oceanos. O maior rio da Ásia, o Yangtzé (China), é responsável pelo transporte de 1.469.481 toneladas. Já o Indo (Índia) conduz 164.332 toneladas, o Rio Amarelo (China) 124.249 toneladas e o Nilo (Egito) 84.792 toneladas. Na África, o Níger (Guiné, Mali, Níger, Benim e Nigéria) deságua 35.196 toneladas de plástico no mar.

Alerta da ONU Meio Ambiente

Se continuar a crescente e perigosa quantidade de plásticos nos rios e mares do planeta, e se nada for feito, em pouco mais de 30 anos haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Autoridades representando a AMFRI, o Museu Oceanográfico, a Prefeitura de Balneário Piçarras e a ONU, fizeram a abertura em Santa Catarina

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O Estado da Pesca e Aquicultura do Mundo (SOFIA) Fotos: FAO-SOFIA

Pesca excessiva e microplásticos, desafios para o mundo

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exploração excessiva dos recursos pesqueiros no mundo, assim como a poluição que os microplásticos estão causando no mar, estão entre os maiores desafios para o futuro do setor, segundo o novo relatório “O Estado da Pesca e Aquicultura do Mundo (SOFIA)”, divulgado recentemente, em Roma, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A produção global de peixes continuará a se expandir na próxima década, embora a quantidade de peixes capturados na natureza tenha estabilizado e o crescimento anteriormente explosivo da aquicultura esteja desacelerando, diz o relatório SOFIA, afirmando que, até 2030, a produção combinada da pesca de captura e da aquicultura crescerá para 201 milhões de toneladas. Isso representa um aumento de 18% em relação ao atual nível de produção de 171 milhões de toneladas.

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Garantir disponibilidade e sustentabilidade da gestão de água e saneamento para todos Florestas e árvores são parte integrante do ciclo da água: regulam o fluxo, apoiam a água subterrânea recarga, e através da evapotranspiração contribuir para a geração e precipitação de nuvens. Eles também atuam como purificadores naturais, filtrando a água e reduzindo a erosão do solo e sedimentação de corpos de água. De acordo com o Millennium Avaliação dos Ecossistemas (2005), mais de 75% dos a água doce acessível do mundo vem de bacias florestais; mais da metade da população da Terra depende dessas áreas para a água usada para uso doméstico, agrícola, industrial e fins ambientais. Portanto, os relacionados com a água serviços ecossistêmicos fornecidos pelas florestas e as árvores são essenciais para apoiar a vida na Terra Mas o crescimento futuro exigirá um progresso contínuo no fortalecimento dos regimes de gestão pesqueira, na redução de perdas e desperdícios e no combate a problemas como a pesca ilegal, a poluição dos ambientes aquáticos e a mudança climática, acrescenta o relatório.“O setor pesqueiro é crucial para atingir a meta da FAO de um mundo sem fome e desnutrição, e sua contribuição para o crescimento econômico e o combate à pobreza está crescendo”, disse o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva. “O setor não está sem seus desafios, no entanto, incluindo a necessidade de reduzir a porcentagem de estoques pesqueiros pescados além da sustentabilidade biológica”, continuou ele.

Tendências no suprimento global de pescado O relatório Situação Mundial da Pesca e Aquicultura registra que 90,9 milhões de toneladas de peixes foram capturados na natureza em 2016 - um leve decréscimo de 2 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, principalmente devido a flutuações periódicas nas populações de Anchoveta peruana associada ao El Niño. Geralmente, a quantidade de peixes capturados no planalto selvagem começa nos anos 90 e permanece estável desde então. Apesar disso, há décadas que o mundo consome quantidades cada vez maiores de peixe - 20,4 kg per capita em 2016 versus pouco menos de 10 kg / pc nos anos 60 graças, em grande parte, ao aumento da produção agrícola, um setor que se expandiu rapidamente durante os anos 80 e 90.

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Em 2016, a produção da aquicultura alcançou 80 milhões de toneladas, segundo a SOFIA 2018 - fornecendo 53% de todo o peixe consumido pelos humanos como alimento. Embora o crescimento da aquacultura tenha abrandado - registou um crescimento anual de 5,8% entre 2010 e 2016, face a 10% nas décadas de 1980 e 1990 continuará ainda a expandir-se nas próximas décadas, especialmente em África. Esforços para reduzir a quantidade de peixe a ser descartada no mar ou expelida após a captura - por exemplo, usando rejeitos e aparas para produzir farinha de peixe - também ajudarão a satisfazer os aumentos contínuos na demanda por produtos pesqueiros.

O estatuto das unidades populacionais de peixes selvagens Cerca de 59,9% das principais espécies de peixes comerciais que os monitores da FAO estão pescando agora em níveis biologicamente sustentáveis, enquanto 33,1% estão sendo pescados em níveis biologicamente insustentáveis - uma situação que a SOFIA 2018 descreve como “preocupante”. (Os outros 7% estão subaproveitados). Apenas 40 anos atrás, 90% das pescarias monitoradas pela FAO estavam sendo utilizadas em níveis biologicamente sustentáveis, e apenas 10% estavam sendo pescadas de maneira não sustentável.

As florestas são essenciais para a subsistência, disse José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação-FAO

Essas tendências não significam necessariamente que nenhum progresso foi alcançado para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, que insta a comunidade internacional a regulamentar efetivamente a pesca no final da pesca, a pesca ilegal e práticas destrutivas de pesca, e implementar planos de manejo baseados na ciência. na restauração de estoques.

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Mas o relatório da FAO adverte que o mundo divergiu em sua abordagem à pesca sustentável, com piora do excesso de capacidade e status de estoque - muitos barcos perseguindo muito poucos peixes nos países em desenvolvimento, compensando o melhor gerenciamento da pesca e

status de estoques nos países desenvolvidos. Contrabalançar isso exigirá a construção de parcerias efetivas, particularmente na coordenação de políticas, na mobilização de recursos financeiros e humanos e na implantação de tecnologias avançadas (por exemplo, para monitorar a pesca).

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Outros desafios As alterações climáticas e a poluição também são motivo de preocupação. Embora a pesquisa sugira que a mudança climática possa fazer com que os níveis globais de captura de peixe variem em menos de 10%, mudanças significativas no local onde o peixe é capturado são antecipadas, observa o SOFIA 2018. É provável que as capturas baixem em muitas regiões tropicais dependentes da pesca e aumentem nas áreas temperadas do Norte. Mudanças na distribuição da pesca terão implicações operacionais, gerenciais e jurisdicionais importantes, diz o relatório. Será necessária investigação para desenvolver estratégias que permitam que tanto a pesca como as espécies que exploram se adaptem suavemente às alterações climáticas. Também é necessário: colaboração fortalecida para resolver os problemas que abandonam os detritos das artes de pesca e a poluição por microplásticos está causando nos ecossistemas aquáticos. Deve ser dada prioridade a medidas preventivas que reduzam o lixo marinho e a microinfiltração de microplásticos, os esforços para atualizar os esquemas de reciclagem para “economias circulares”, bem como a eliminação gradual de plástico de uso único, diz o relatório da FAO.

Resumo dos principais resultados das projeções As seguintes principais tendências para o período até 2030 emergem das análises: A produção mundial de peixe, o consumo e o comércio devem aumentar, mas com uma taxa de crescimento que diminuirá com o tempo. Apesar da redução na produção pesqueira de captura na China, a produção pesqueira mundial deve aumentar ligeiramente devido ao aumento da produção em outras áreas, se os recursos forem adequadamente manejados. A expansão da produção mundial de aquicultura, apesar de crescer mais lentamente do que no passado, deve preencher a lacuna entre oferta e demanda. Todos os preços aumentarão em termos nominais, enquanto declinam em termos reais, embora permaneçam altos. O suprimento de peixes alimentícios aumentará em todas as regiões, enquanto o consumo per capita de peixes deverá declinar na África, o que aumenta as preocupações em termos de segurança alimentar. O comércio de peixe e produtos pesqueiros deverá aumentar mais lentamente do que na década passada, mas a proporção da produção de peixe que é exportada deverá permanecer estável.

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Números-chave do Estado da Pesca e Aquicultura Mundiais de 2018 ▪▪ Produção mundial total de pescado em 2016: 171 milhões de toneladas ▪▪ Participação na pesca de captura marinha: 79,3 milhões de toneladas ▪▪ Das capturas de água doce: 11,6 milhões de toneladas ▪▪ Da aquicultura: 80 milhões de toneladas ▪▪ Quantidade de produção consumida pelo homem como alimento: 151,2 milhões de toneladas ▪▪ Quantidade de produção perdida por deterioração descartada após o pouso e antes do con-

sumo: 27% de todos os pousos.

▪▪ Valor de primeira venda de toda a produção pesqueira e aquícola em 2016: US $ 362 bilhões ▪▪ Parte da aquicultura: US $ 232 bilhões ▪▪ Número de pessoas empregadas na pesca e na aquicultura: 59,6 milhões ▪▪ Percentagem de mulheres: 14 por cento ▪▪ Região com mais pescadores e piscicultores: Ásia (85% do total) ▪▪ Número de navios de pesca no planeta: 4,6 milhões ▪▪ Maior frota por região: Ásia (3,3 milhões de navios, ou 75% da frota global) ▪▪ Percentagem da produção mundial de peixe que entra no comércio internacional: 35% ▪▪ Valor das exportações de produção de peixe: US $ 143 bilhões ▪▪ As receitas líquidas de exportação para os países em desenvolvimento (US $ 37 bilhões) supe-

ram as receitas de suas exportações líquidas de carne, tabaco, arroz e açúcar combinadas

▪▪ Maior produtor e exportador de peixe do mundo: China ▪▪ O maior mercado mundial de importação de peixe e produtos pesqueiros: a União Européia.

Número dois: os Estados Unidos; Número três: o Japão.

▪▪ Pescarias mais insustentáveis: Mediterrâneo e Mar Negro (62,2% de sobrepesca), o sudeste do Pacífico (61,5%), o sudoeste do Atlântico (58,8%) ▪▪ Pescarias mais sustentáveis: Eastern Central, Western Central, NE, Noroeste e Sudoeste do Pacífico (todas as <17% das unidades populacionais de sobrepesca)

Pesquisas recentes sugerem que florestas subtropicais agem como grandes transportadores de umidade atmosférica, proporcionando um sistema de circulação que influencia a nuvem regional cobertura e precipitação (Ellison et al., 2017). Dentro da bacia amazônica este efeito é referido como “Rios que voam”. Um estudo descobriu que 70 por cento da precipitação no Rio da Bacia do Prata é originária da floresta amazônica (Van der Ent et al., 2010). Da mesma forma, a escala larga da perda dessas vastos e contíguas florestas tem sido associada à diminuição da precipitação (Fearnside, 2005; Nobre, 2014; Ellison et al., 2017). Muitas sub-regiões relatam aproximadamente 30% ou mais de suas florestas como sendo gerenciadas para o solo e conservação da água, incluindo o Caribe, América do Norte, Norte da África, Sul e Sudeste da Ásia e Ásia Ocidental e Central. Dos 13 países relataram que 100 por cento de suas florestas tem gerenciado o solo e conservação da água como objetivo principal, todos são ou nações insulares, montanhosas e / ou áreas de terra firme. Em outras palavras, todas áreas que são mais vulneráveis a choques. Florestas nestas áreas provavelmente agem como uma infra-estrutura revistaamazonia.com.br 66 são REVISTA AMAZÔNIA natural a fornecer resiliência de desastres naturais e / ou manutenção de abastecimento de água de alta qualidade.


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Ano 13 Nº 69 Julho/agosto 2018

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FLORESTA AMAZÔNICA HÁ 4500 ANOS UIRAPURU O SENTINELA DA FLORESTA TRANSIÇÃO À ECONÔMICA VERDE 70ª R.A DA SBPC


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