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ISSN 1809-466X

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Ano 13 Nº 70 Setembro/Outubro 2018

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Ano 13 Número 70 2018 R$ 12,00 5,00

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A LUTA CONTRA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


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Descobridores encontraram rios. Redescobridores conservam esses rios com ajuda da tecnologia.

Paulo Pontes, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale, Belém - PA

Com os estudos do Instituto Tecnológico Vale, redescobrimos formas de fazer uma mineração cada vez mais sustentável. Como a pesquisa realizada na bacia do Rio Itacaiúnas, no sudeste do Pará, que monitora a qualidade e a quantidade das águas na região. Ao investir em tecnologia, a Vale ajuda a proteger o meio ambiente para as gerações de hoje e de amanhã. Acesse vale.com/redescobridores

Redescobrir é a nossa natureza. 12

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EXPEDIENTE

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Cúpula Global de Ação Climática, em São Francisco, Califórnia (EUA)

A cúpula climática internacional convocada pelo governador da Califórnia, Jerry Brown, de 12 a 14 de setembro, contou com uma onda de novos anúncios climáticos ambiciosos de atores subnacionais de todo o mundo, incluindo autoridades de estados, regiões, cidades, empresas, investidores e sociedade civil dos EUA. Mais de 4000 participantes compareceram ao encontro de San Francisco, em um esforço para aumentar a resposta coletiva à mudança climática...

Planeta em risco de entrar em estado de Terra Estufa

A “Terra estufa” pode ser uma realidade mais próxima do que se imagina, mesmo se a humanidade conseguisse parar completamente as emissão de CO2. Esse é o alerta feito por uma equipe internacional de cientistas após analisarem o risco de os sistemas do planeta entrarem em um ponto de não retorno climático caso a temperatura aumente em 2ºC com relação aos níveis pré-industriais. Os pesquisadores publicaram na revista científica Proceedings of the...

90% da população mundial respira ar muito poluído

Os níveis de poluição do ar permanecem perigosamente altos em muitas partes do mundo. Novos dados da OMS mostram que 9 em cada 10 pessoas respiram ar contendo altos níveis de poluentes. Estimativas atualizadas revelam um alarmante número de mortes de 7 milhões de pessoas todos os anos, causadas pela poluição ambiental (externa) e doméstica do ar. “A poluição do ar ameaça a todos nós, mas as pessoas mais pobres e marginalizadas suportam...

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Cimone Barros, Batista Souza Filho, Elton Lima, IPCC, OMS, Ronaldo G. Hühn, WNA FOTOGRAFIAS Alexander Lees, Andre Botto, Antonio Crus/Agência Brasil, Augut Sprimht, Berthold Francis, Carbon Brief, Cimone Barros, Dymamics Laboratiry, Divulgção, ESA, Ingryd Ramos, Instituti Scripps, Lamont Doherty, Letícia Misna, Luciana Gatti / IPEN, IISD, IUGS, Freder Yasg, GWEC, INPE, ITER, Karen Robson, Klevim Krajck, NASA, NASA / JPL-Caltech, NASA/ SDO, Observatórioda Terra, Oline Nielsen, Royal Swedish Academy of Sciences, Rodrigo Baleia, Rosamund Peace, Rudy_ Ath, Rudolph Hühn, Seam Wu, Ulisses Matandos, Vitor Porcelli EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle CIC I NOSSA CAPA LE ESTA REV Logo dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, na revolução de dados para um mundo sustentável, que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030

Gráficos mostram o crescimento emocionante da indústria da energia eólica em todo o mundo

O Conselho Global de Energia eólica divulgou recentemente (14/02) suas estatísticas anuais do mercado. O mercado de 2017 manteve-se acima de 50 GW, com a Europa, a Índia e o setor offshore com anos recorde. As instalações chinesas caíram ligeiramente: “apenas” 19,5 GW - mas o resto do mundo compensou a maior parte disso...

II Fórum de Dados Mundiais da ONU 2018

Mais de 2.000 líderes de dados do governo, empresas e sociedade civil se reuniram de 22 a 24 de outubro para lançar soluções inovadoras para melhorar os dados sobre migração, saúde, gênero e muitas outras áreas-chave do desenvolvimento sustentável. Todos esses peritos em dados - dos institutos nacionais de estatística, setor privado, ONGs, universidades e organizações internacionais e regionais - se reuniram para colaborar e resolver as lacunas e...

MAIS CONTEÚDO [10] Prêmio Nobel de Economia 2018 e as Mudanças Climáticas [12] 48º IPCC pede mudanças “rápidas e sem precedentes” para limitar mudanças climáticas [20] Floresta Amazônica reduz capacidade de absorção de carbono chegando à quase zero [22] O tempo está se esgotando nos trópicos – pesquisadores alertam para o colapso global da biodiversidade [28] Novo capítulo na história da Terra [30] Mudanças orbitais da Terra modificaram clima durante 215 milhões anos [32] Aquecimento global modifica eixo de rotação da Terra [34] Aquecimento de 2°C terá grande incidência sobre o planeta [37] Ambientalistas planejam lançar um satélite com sensor de metano [38] Alterações climáticas vão impor um futuro nuclear? [40] Mundo deve ter onda de calor a cada dois anos [46] O aquecimento global avança em direção ao perigoso “ponto de inflexão”, uma vez que enfraquece a circulação oceânica chave [48] ONU adota estratégia inicial de redução das emissões de gases de efeito estufa dos navios [50] Terra está, aos poucos, se afastando do Sol [53] Universo cresce mais rápido do que o esperado [56] Em 2050, cientistas preveem que o nosso Sol esteja mais frio [62] Maior projeto de energia solar do mundo

FAVOR POR

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A necessidade de implementação de um mercado de carbono e a urgência do melhor uso e tratamento dos recursos hídricos são, atualmente, alguns dos principais desafios que o Brasil enfrenta para alcançar um modelo sustentável de crescimento nos próximos anos. Essas foram algumas das principais conclusões entre os participantes do Congresso Sustentável 2018, realizado recentemente, pelo...

EDITORA CÍRIOS

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CEBDS reúne empresários para debater desafios de sustentabilidade

PUBLICAÇÃO Período (Setembro/Outubro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

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CEBDS reúne empresários para debater desafios de sustentabilidade Fotos: Ulisses Matandos

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necessidade de implementação de um mercado de carbono e a urgência do melhor uso e tratamento dos recursos hídricos são, atualmente, alguns dos principais desafios que o Brasil enfrenta para alcançar um modelo sustentável de crescimento nos próximos anos. Essas foram algumas das principais conclusões entre os participantes do Congresso Sustentável 2018, realizado recentemente, pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no Teatro Santander, em São Paulo. Durante o evento, que reuniu a mais alta de liderança de grandes empresas brasileiras – responsáveis por gerar mais de 1 milhão de postos de trabalho no Brasil em diversos segmentos –, foi apresentada a Agenda CEBDS por um País Sustentável.

Marina Grossi, destacou que a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável depende conjuntamente do indivíduo, do coletivo, da empresa e do governo

“Independentemente da polarização e das paixões políticas, o momento das eleições é para questionarmos: para onde estamos indo? Essa crise tem solução? Tem algo que eu possa fazer?”, provocou a presidente do CEBDS, Marina Grossi, durante a abertura do evento, destacando que a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável depende conjuntamente do indivíduo, do coletivo, da empresa e do governo. “A viabilidade do velho modelo econômico está ultrapassada. O setor empresarial brasileiro tem demonstrado na prática que é possível ampliar os investimentos em processos mais sustentáveis e economicamente viáveis”, afirmou. O documento, que pode ser baixado no http://cebds.org/ , contém 10 propostas elaboradas pelos CEOs das próprias empresas associadas à organização e destinadas aos candidatos à Presidência da República. Aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética, segurança hídrica, expansão do saneamento básico, soluções para transição a uma economia de baixo carbono, mecanismos financeiros de estímulo a práticas sustentáveis e equidade de gênero mercado de trabalho são alguns dos temas abordados.

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Mercado de carbono A adoção do modelo de mercado de carbono como instrumento eficiente para estímulo à redução de emissões foi um dos consensos entre os empresários participantes do congresso. A falta de um engajamento maior do setor público para a aplicação de um sistema, contudo, foi mencionada como um obstáculo a ser superado. “Somos a favor da precificação de carbono, e entendemos que a melhor forma de fazer isso é olharmos para o crédito de carbono como uma solução que movimenta a economia. O CEBDS tem liderado essa discussão para que metas de intensidade e previsibilidade para o investimento sejam reguladas e mensuradas”, disse André Lopes de Araújo, presidente da Shell Brasil.

Marina Grossi, presidente do CEBDS, durante a abertura do evento: “A viabilidade do velho modelo econômico está ultrapassada. O setor empresarial brasileiro tem demonstrado na prática que é possível ampliar os investimentos em processos mais sustentáveis e economicamente viáveis”

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Painel 1. Grande Diálogo Empresarial: Agenda por um País Sustentável

Painel 2. Grande Diálogo da Sociedade: Cooperação de agendas e o fomento à inovação

As falhas nos sistemas existentes de tratamento de água foram colocadas pela presidente da BRK Ambiental, Teresa Vernaglia. Ela lembrou que são despejados em rios, mananciais e córregos o equivalente a seis mil piscinas olímpicas de esgoto bruto em todo o País, enquanto 27% dos reservatórios monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANA) estão secos. “A considerar a baixa evolução que tivemos no saneamento nos últimos 10 anos, vamos ter uma grande frota de carros elétricos andando em ruas com esgoto a céu aberto. Essa é a dicotomia, entre tecnologia avançada de energia, por exemplo, e o uso da água”, comparou a executiva.

Energia renovável

Painel 3. Qual a influência das Mudanças Climáticas no acesso ao capital?

Painel 4. Que sociedade nossos negócios estão construindo?

Saneamento O presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, destacou o alto engajamento da sociedade durante as eleições deste ano, que propicia conscientização da população sobre o seu papel no processo de transformação. O executivo destacou, contudo, que o Estado precisa estabelecer condições básicas para garantir a segurança dos investimentos a serem feitos pelo setor privado, e citou o setor de saneamento como exemplo. “Por que o setor elétrico cresce? Porque existe um arcabouço confiável e claro e, assim, as empresas vêm investir com retorno aceitável. Por que questão financeira é conturbada quando se trata do saneamento? Porque esse problema não está na nossa tela, mas temos milhões de brasileiros sem água e esgoto”, disse Rial.

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“É impossível investir no setor sem ter que negociar com 5.600 municípios brasileiros. Assim, o Estado não provê algo fundamental, que é saneamento básico. Não falta dinheiro, não faltam investidores, por isso a sociedade deve se mobilizar”.

O presidente da Vestas Brasil & Cone Sul, Rogerio Zampronha, observou que a energia eólica já representa 9% da matriz energética brasileira. “No ano passado, o volume de emissões de carbono que deixou de ocorrer por causa da fonte eólica é o mesmo que se teria se deixassem de circular 16 milhões de veículos, o que equivale a 85% da frota hoje no estado de São Paulo”. O diretor de Relações Institucionais da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Mário Sérgio Vasconcelos, apresentou um estudo de viabilidade de financiamento para projetos de energia solar fotovoltaica, realizado em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “A Febraban vem buscando os caminhos possíveis para uma economia de baixo carbono, e temos avançado nos últimos quatro anos. Cerca de 27% dos empréstimos do setor já são destinados a investimentos de baixo carbono”. A superintendente de Sustentabilidade e Negócios do Banco Itaú, Denise Hills, estimou que nos próximos cinco anos o setor financeiro no Brasil deverá ter um avanço significativo na incorporação de aspectos socioambientais.

André Clark, CEO da Siemens no Brasil, com a Amazônia, Marina Grossi, presidente do CEBDS, e Rodrigo Hühn, nosso diretor

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Para Sergio Rial, presidente do Santander Brasil: “ Quando se trata de saneamento, é impossível investir no setor sem ter que negociar com 5.600 municípios brasileiros. Assim, o Estado não provê algo fundamental, que é saneamento básico. Não falta dinheiro, não faltam investidores, por isso a sociedade deve se mobilizar”

Para André Clark, CEO da Siemens, o Brasil caminha para um powerhouse de geração de energia. “A transição energética passa por três coisas: tecnologia, mudanças climáticas e mercado consumidor. O Brasil foi protagonista em estabelecer marcos, estamos no centro dessas mudanças. Estados Unidos, China e Europa, fazem a transição por causa do carvão. Nós fazemos pelo uso da terra e da água”, compara. O Sustentável 2018 foi patrocinado pelo Santander, Itaú, Braskem, Philip Morris Brasil, Instituto Clima e Sociedade e Instituto Arapyaú, e contou com apoio da Nespresso, Filtros Europa. O evento terá suas emissões de carbono compensadas, através de compra de créditos de carbono ou plantio de árvores, em parceria com a Neutralize Carbono.

CEO da Siemens no Brasil, André Clark, defendeu: “A transição energética passa por três caminhos: tecnologia; mudança climática, que tem protagonismo brasileiro em estabelecer marcos; e o terceiro é o foco no consumidor. Se o Brasil fizer as escolhas certas vai ser referência no setor de energias renováveis”

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CEBDS premia lideranças femininas em causas sustentáveis

Durante o Sustentável 2018 aconteceu a cerimônia de entrega do prêmio às vencedoras das três categorias do Prêmio Liderança Feminina: Empresas Associadas, Iniciativa Novas Líderes e Voto Popular. O prêmio reconhece a atuação de mulheres de empresas, organizações do terceiro setor e governo que trabalham em sinergia com um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pela ONU. Segundo o Fórum Econômico Mundial, homens e mulheres terão salário e representatividade iguais no mercado de trabalho somente em 2234. O relatório “Global Gender Gap Report 2017” ainda destaca que, em muitos dos países pesquisados, o principal motivo para tanta disparidade econômica é a pura discriminação. Mulheres ocupam a mesma função de homens e ganham menos para desempenhar a mesma tarefa. “O estudo do Fórum Econômico Mundial analisou, além da disparidade salarial entre homens e mulheres, que a renda masculina está aumentando de forma mais rápida. Enquanto a renda anual de uma mulher em 2017 foi de 12 mil dólares, a média do homem foi de 21 mil dólares. Esses dados por si só justificam a premiação voltada para reconhecer o trabalho das mulheres, tantas vezes invisibilizadas em seus locais de trabalho”, analisa a presidente do CEBDS, Marina Grossi.

O presidente da Vestas Brasil & Cone Sul, Rogerio Zampronha, observou que a energia eólica já representa 9% da matriz energética brasileira. “No ano passado, o volume de emissões de carbono que deixou de ocorrer por causa da fonte eólica é o mesmo que se teria se deixassem de circular 16 milhões de veículos, o que equivale a 85% da frota hoje no estado de São Paulo”

Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, comparou: “A considerar a baixa evolução que tivemos no saneamento nos últimos 10 anos, vamos ter uma grande frota de carros elétricos andando em ruas com esgoto a céu aberto. Essa é a dicotomia, entre tecnologia avançada de energia, por exemplo, e o uso da água”

André Lopes de Araújo, presidente da Shell Brasil, disse: “Somos a favor da precificação de carbono, e entendemos que a melhor forma de fazer isso é olharmos para o crédito de carbono como uma solução que movimenta a economia. O CEBDS tem liderado essa discussão para que metas de intensidade e previsibilidade para o investimento sejam reguladas e mensuradas”

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O presidente da Cervejaria Ambev, Bernardo Paiva, quando questionado sobre a emissão de CO2 por consumo de diesel, disse: “Queremos em cinco anos ter mais de um terço da nossa frota com caminhões elétricos. É um caminho sem volta e o sonho é ter 100% da frota. É energia limpa e garantia de qualidade do campo ao copo”

O diretor de sustentabilidade da Vale, Alberto Ninio, externou: “Um questionamento que fazemos é: será que não chegou a hora de irmos além das licenças obrigatórias para operação? Se não tivermos uma mudança de mentalidade e uma postura de parceria com as comunidades não conseguiremos mais operar”

Roberta Carneiro, Head de Proteção Ambiental, Saúde e Segurança da Siemens, uma das vencedoras da categoria Empresas Associadas Na categoria Empresas Associadas, Solange Ribeiro, Diretora Presidente Adjunta da Neoenergia, engajada em causas sociais. Em 2017, foi uma das mentoras do projeto “As Líderes do Amanhã”

Heliana Kátia Tavares Campos, presidente do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal, escolhida pelo Voto Popular, entre as 18 candidaturas, foi idealizadora do Fórum Nacional Lixo e Cidadania

Beatriz Oliveira, Gerente Corporativa de Meio Ambiente da Ambev, outra das vencedoras da categoria Empresas Associadas

Na categoria Iniciativas Novas Líderes, a grande vencedora foi o projeto Diversidade e Inclusão Total, da Schneider Electric Brasil

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O tema, inclusive, faz parte das 10 propostas elaboradas pelo CEBDS, e que estão sendo entregues aos presidenciáveis, dentro da Agenda CEBDS por um País Sustentável, elaborada pelos CEOs das empresas associadas. A proposta de número 10 da Agenda propõe ao poder público visibilidade aos dados quantitativos de cargo, escolaridade e remuneração do funcionalismo público no Portal da Transparência para promover a equidade hierárquica e salarial de gênero e raça. A inclusão dessa parcela da população na economia e na política tem o potencial de gerar ganhos significativos para os setores públicos e privado. Somente considerando a questão de gênero, se as mulheres tivessem papel semelhantes aos dos homens no mercado de trabalho, observaríamos um incremento de pelo menos US$ 28 trilhões no PIB mundial.

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Prêmio Nobel de Economia 2018 e as Mudanças Climáticas Veja por que o trabalho deles é importante Fotos: Royal Swedish Academy of Sciences, Vitor Porcelli

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o dia em que o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que só restam 12 anos para evitar a catástrofe climática, um economista climático americano citado pesadamente no relatório do IPCC foi nomeado um dos dois vencedores do relatório deste ano. Prêmio Nobel de Ciências Econômicas. William Nordhaus, professor de economia em Yale, foi reconhecido pela Real Academia Sueca de Ciências por seu trabalho - que remonta à década de 1970 na compreensão e modelagem de como a economia global e o clima interagem. Nordhaus compartilha o prêmio Nobel de US $ 1 milhão com Paul Romer - professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York - que ganhou por seu trabalho demonstrando a importância fundamental de fatores internos, como a inovação tecnológica, para impulsionar o crescimento econômico de uma nação. Juntos, o Comitê do Prêmio Nobel diz que os dois laureados “projetaram métodos que abordam algumas das questões mais fundamentais e urgentes de nosso tempo: crescimento sustentável a longo prazo na economia global e o bem-estar da população global”. Nordhaus começou seu trabalho sobre a mudança climática na década de 1970, quando as evidências do aquecimento global causado pelo homem começaram a surgir. Ele desenvolveu um conjunto de modelos simples, mas dinâmicos, da relação entre a economia global e o clima. Essas ferramentas - chamadas de “modelos de avaliação integrada” - nos permitem simular as consequências, tanto para a economia quanto para o clima, das decisões, premissas e políticas feitas e aprovadas hoje. O trabalho de Nordhaus levou-o a concluir que a melhor maneira de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar seus efeitos é um sistema de impostos de carbono imposto globalmente - um curso de ação é recomendado no relatório do IPCC.

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William Nordhaus, professor de economia em Yale, agradecendo com o prêmio Nobel de Economia deste ano: inovação tecnológica, para impulsionar o crescimento econômico de uma nação

“O que acontece com a tecnologia está sob nosso controle”

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Como quatro políticas tributárias de carbono afetarão as futuras emissões de CO2, de acordo com os modelos de William Nordhaus

O trabalho de Romer, por sua vez, levou-o a desenvolver um conjunto de ideias chamado teoria do crescimento endógeno. Tradicionalmente, os economistas afirmam que o crescimento econômico de uma nação é impulsionado em grande parte por fatores externos - investimento externo, por exemplo. Mas a teoria de Romer afirma que o oposto é verdadeiro; que são fatores internos - ou endógenos - que detêm a chave da prosperidade de um país. Isso é importante porque demonstra aos governos e formuladores de políticas que o crescimento sustentável é possível direcionando recursos e investimentos internamente para os impulsionadores da inovação tecnológica, como educação e pesquisa. Enquanto o trabalho de Nordhaus é o mais abertamente preocupado com o combate à mudança climática, o de Romer também é fundamental, porque precisamos da inovação tecnológica do nosso lado na luta contra a mudança climática. Solicitado a nomear a lição mais importante de sua durante a entrevista com o Comitê do Prêmio Nobel incluída acima, Romer respondeu: “O que acontece com a tecnologia está sob nosso controle”. “Se coletivamente definirmos nossas mentes para melhorar a tecnologia”, diz ele, “podemos melhorá-lo em uma direção que parece ser importante para nós e em um ritmo mais rápido… Em vez de tratá-lo como o clima, podemos tratar [tecnologia] como algo que nós controlamos. ” revistaamazonia.com.br

Paul Romer, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, também prêmio Nobel de Economia 2018: inovação tecnológica na luta contra a mudança climática

As contribuições desses dois economistas são “passos cruciais para abordar questões centrais sobre o futuro da humanidade”, disse o Comitê do Nobel. Para avançar em direção a um sistema de crescimento

econômico global sustentável, precisamos entender a melhor direção das viagens. Romer e Nordhaus ajudaram a apontar o caminho - e seus sinais de trânsito não podiam ser mais oportunos. REVISTA AMAZÔNIA

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48º IPCC pede mudanças “rápidas e sem precedentes” para limitar mudanças climáticas

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o Relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, de 728 páginas, a organização da ONU detalhou como o clima, a saúde e os ecossistemas da Terra estariam em melhor forma se os líderes mundiais pudessem de alguma forma limitar o futuro aquecimento causado pelos seres humanos a apenas 0,9 graus Fahrenheit (meio grau Celsius) a partir de imediato, do objetivo globalmente acordado de 1,8 graus F (1 grau C). Entre outras coisas:

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Metade das pessoas sofreriam com a falta de água.

Haveria menos mortes e doenças causadas por calor, poluição e doenças infecciosas.

Fotos: IISD, NASA, Rudolph Hühn, Sean Wu

Hoesung Lee, presidente do IPCC, na abertura da 48ª sessão do IPCC, “uma das reuniões mais importantes da história do IPCC” Co-Presidentes Debra Roberts, África do Sul, e Hans-Otto Pörtner, Alemanha, no Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas – IPCC

Mares subiriam quase 4 polegadas (0,1 metros) a menos.

Metade dos animais com ossos das costas e plantas perderiam a maioria dos seus habitats. Haveria substancialmente menos ondas de calor, chuvas torrenciais e secas. O lençol de gelo do oeste da Antártida pode não causar um degelo irreversível.

E isso pode ser o suficiente para salvar a maioria dos recifes de corais do mundo da morte.

Co-Presidentes Debra Roberts, África do Sul, e Hans-Otto Pörtner, Alemanha, no Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas – IPCC

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“Para algumas pessoas, essa é uma situação de vida ou morte sem dúvida”, disse Natalie Mahowald, cientista do clima da Cornell University, autora principal do relatório. Limitar o aquecimento a 0,9 graus a partir de agora significa que o mundo pode manter “um semblante” dos ecossistemas que temos. Adicionando mais 0,9 graus além disso - a meta global mais solta - essencialmente significa uma Terra diferente e mais desafiadora para pessoas e espécies, disse outro dos principais autores do relatório, Ove Hoegh-Guldberg, diretor do Instituto de Mudança Global da Universidade de Queensland, Austrália.

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Celebrando a adoção do Resumo para os formuladores de políticas do Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5°C, no encerramento do IPCC48

O Relatório diz que já estamos vendo as consequências de cerca de 1°C de mudança nas temperaturas globais devido às atividades humanas. Advertiu que “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade” são necessárias para limitar o nível de aquecimento global. Os pesquisadores disseram ainda, que os efeitos do aquecimento global até agora incluem mais incidentes de condições climáticas extremas, aumento do nível do mar e diminuição do gelo marinho no Ártico. No entanto, o relatório - que foi aprovado durante recente reunião do IPCC na Coréia do Sul - alerta que uma grande ação internacional será necessária para limitar o aquecimento global a 1,5°C, em vez de 2°C ou mais. Estima-se que uma mudança de 1,5°C faria com que os recifes de coral diminuíssem em até 90% - mas a 2°C isso aumentaria para 99% ou mais. Os cientistas estimam que a menor mudança de temperatura significaria que o Oceano Ártico estaria livre de gelo marinho no verão uma vez por século - saltando para uma vez por década se for maior. O relatório também sugere que, até 2100, a elevação global do nível do mar seria 10 cm mais baixa com o aquecimento global de 1,5°C em comparação com 2° C.

Os seres humanos precisam começar a fazer “mudanças sem precedentes” agora para salvar a Terra das mudanças climáticas de vida ou morte

Mas cumprir a meta mais ambiciosa de um aquecimento um pouco menor exigiria cortes draconianos imediatos nas emissões de gases que aprisionam o calor e mudanças drásticas no campo energético. Embora o painel da ONU diga que tecnicamente isso é possível, viu poucas chances dos ajustes necessários acontecerem. “Cada pequeno episódio de aquecimento adicional importa, sobretudo porque superar os 1,5°C aumenta o risco de mudanças profundas ou até irreversíveis, como a perda de alguns ecossistemas”, explica Hans-Otto Pörtner, co-presidente desta reunião do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC por suas siglas no inglês), em que participaram pesquisadores e representantes dos Estados na Coreia do Sul. Caso o aquecimento “continue crescendo no ritmo atual” por culpa das emissões de gases de efeito estufa, haverá um aumento das temperaturas mundiais de 1,5°C “entre 2030 e 2052”, aponta o relatório baseado em mais de 6.000 estudos.

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E se os Estados não cumprirem os compromissos de redução de emissões que apresentaram no Acordo de Paris sobre o clima, em 2015, o aumento das temperaturas será de 3°C no final do século XXI. Para evitar esse cenário, o IPCC indica que as emissões de CO2 deverão cair em 45% até 2030 para limitar o aquecimento a 1,5°C, e o mundo deverá alcançar em 2050 uma “neutralidade de carbono”, ou seja, terá que deixar de emitir mais CO2 do que se retira da atmosfera.

Durwood Zaelke, presidente do Instituto de Governança e Desenvolvimento Sustentável, explicou: Meio grau não parece muito até que você o coloque no contexto certo. “É 50 por cento mais do que temos agora.” A ideia de deixar o aquecimento se aproximar de 2°C é cada vez mais desastrosa nesse contexto

O novo relatório de 1,5°C do IPCC, vai alimentar um processo chamado “Talanoa Dialogue”, no qual as partes do acordo de Paris começam a considerar a grande lacuna entre o que eles dizem que querem alcançar e o que estão realmente fazendo. O diálogo se desenrolará em dezembro em uma reunião climática anual da ONU em Katowice, REVISTA na Polônia. AMAZÔNIA 13


Visão da cerimônia de abertura

Representantes de mais de 130 países e cerca de 50 cientistas lotaram um grande centro de conferências perto da capital sul-coreana e analisaram cada linha de um importante relatório com uma pergunta em mente: que chances o planeta tem de manter o clima? mudar para um nível moderado e controlável? Quando não conseguiram concordar, formaram “grupos de contato” fora do salão, tentando chegar a um acordo e levar o processo adiante. Eles estavam tentando chegar a um consenso sobre o que significaria - e o que seria necessário - limitar o aquecimento do planeta a apenas 1,5° C, quando 1° C já ocorreu e as emissões de gases do efeito estufa permanecem em níveis recordes. Antônio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas disse “Não é impossível limitar o aquecimento global a 1,5°C, de acordo com o novo relatório do IPCC. Mas isso exigirá uma Ação Climática urgente, inédita e coletiva em todas as áreas. Não há tempo a perder”. O IPCC diz que é necessário agir em todas as áreas da sociedade, como terra, energia, transporte e energia, para evitar uma mudança de temperatura global mais alta. Segundo os especialistas, as emissões de dióxido de carbono causadas pelo homem (CO2) precisariam cair cerca de 45% dos níveis de 2010 até 2030 – antes de chegar ao ‘net zero’ em 2050, significando que as emissões remanescentes teriam de ser equilibradas pela remoção de CO2 do ar”.

“Este relatório fornece aos formuladores de políticas e profissionais as informações necessárias para tomar decisões que abordam as mudanças climáticas enquanto consideram o contexto local e as necessidades das pessoas. “Os próximos anos são provavelmente os mais importantes da nossa história.” O relatório diz que a limitação da mudança climática teria grandes impactos para a sociedade – como ajudar a erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade. Reagindo ao relatório, o especialista em mudança climática John Sweeney - Professor Emérito da Universidade de Maynooth – sugeriu que o fracasso em enfrentar o desafio de limitar as mudanças climáticas terá grandes conseqüências para a sociedade humana e para todo o planeta. Ele explicou: “Grandes extinções de plantas e animais irão acelerar e os riscos relacionados ao clima aumentarão em frequência em quase todos os lugares. “Para a Irlanda, ultrapassar 1,5°C acentuaria problemas emergentes de extremos climáticos e prejudicaria as perspectivas econômicas de nossos jovens atuais.” Ele acrescentou: “O relatório confirma que apenas realizando medidas radicais hoje para descarbonizar nossas sociedades podemos deixar um legado de um mundo sustentável para a próxima geração”.

Evitar um grau extra de calor poderia fazer uma diferença de vida ou morte nas próximas décadas para multidões de pessoas e ecossistemas neste planeta de rápido aquecimento

“Anos mais importantes da nossa história” Após a reunião, o IPCC sugeriu que a limitação do aquecimento global é possível e muitas ações já estão em andamento para lidar com a questão – mas alertou que tais ações precisam ser aceleradas. Debra Roberts, Co-Presidente do Grupo de Trabalho II do IPCC, observou:

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Cientistas argumentam que manter abaixo de 1,5°C é um limite muito mais seguro para o mundo

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Cientistas acreditam que muitos dos efeitos negativos da mudança climática poderiam ser evitados se metas mais ambiciosas forem tomadas de imediato

“Não estamos condenados a uma alta de 3°C!” Os especialistas da ONU pedem a todos os setores implicados que façam “uma transição rápida” e de uma magnitude “sem precedentes” para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Eles insistem na energia, já que o carvão, o gás e o petróleo são responsáveis por três quartos das emissões, e propõem vários cenários que incluem distintas ações possíveis. “O relatório dá aos representantes políticos a informação que eles precisam para tomar decisões para lutar contra as mudanças climáticas sem esquecer das necessidades das populações”, explica a sul-africana Debra Roberts, outra co-presidente dessa reunião, que considera o relatório “um chamado à coordenação”. “Os próximos anos serão os mais determinantes de nossa história”, assegura. Para sua colega francesa, a especialista Valérie Masson-Delmotte, que também esteve na Coreia do Sul, o relatório traz um “balanço lúcido e difícil: a política dos pequenos passos não basta”. “Se não atuarmos agora, nos dirigiremos a um mundo em que estaremos sempre administrando crises”, afirma. “A boa notícia é que há ações em curso no mundo, mas elas precisam ser aceleradas para haver transições suaves. A verdadeira pergunta é esta: estarão as pessoas dispostas a atuar e haverá bastante vontade política coletiva?”. “Não estamos condenados a uma alta de 3°C “, opina o especialista em clima Myles Allen. “Estamos ligados a nossas ações passadas, mas tudo é possível no futuro”, disse o pesquisador britânico. Jim Skea, do Imperial College de Londres, disse que tentaram “ver se as condições necessárias para manter 1,5ºC estavam reunidas”. “Sim, as leis da física e da química permitem isso, assim como as tecnologias, a mudança dos modos de vida e os investimentos. O último, e sobre o que os cientistas não podem responder, é se é possível politicamente e institucionalmente. Enviamos a mensagem aos governos, lhes damos as provas, agora é com eles”. A Aliança dos Pequenos Estados Insulares, que pressionou pela meta de +1,5°C no Acordo de Paris, pediu “às nações civilizadas que tomem suas responsabilidades aumentando seus esforços para reduzir as emissões”.

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“O relatório mostra que nos resta somente uma oportunidade, muito pequena, para evitar danos impensáveis para o sistema climático que nos faz viver”, diz Amjad Abdula, representante dos pequenos países insulares. “Os historiadores observarão essas conclusões como um momento-chave na história dos homens”. A 48ª sessão do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC48) concluiu em 6 de outubro de 2018 em Incheon, República da Coreia, após ter adotado o Resumo para os Responsáveis pelas Políticas (SPM) do Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1.5° C (SR15). Embora a reunião estivesse inicialmente marcada para terminar em 5 de outubro, os delegados acabaram trabalhando durante a noite para concordar linha-a-linha com a SPM na primeira sessão conjunta dos Grupos de Trabalho I, II e III, que então encaminharam a SPM à Assembléia para aceitação. O SR15 SPM inclui quatro seções:

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Compreender o aquecimento global de 1,5° C

Mudanças Climáticas Projetadas, Impactos Potenciais e Riscos Associados;

Vias de Emissão e Transições do Sistema Consistentes com o Aquecimento Global a 1.5°C Fortalecer a resposta global no contexto do desenvolvimento sustentável e os esforços para erradicar a pobreza. Através da adoção do SPM e da aceitação do relatório subjacente, o IPCC responde a uma decisão de 2015 da Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que convidou o Painel a fornecer um especial relatar os impactos do aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e das vias de emissão de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas.

Além do SPM, o IPCC-48 também adotou decisões sobre o Programa de Bolsas de Estudo do IPCC e sobre o Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Estabilidade Financeira. “Os riscos relacionados com o clima para a saúde, meios de subsistência, segurança alimentar, abastecimento de água, segurança humana e crescimento econômico devem aumentar com o aquecimento global”, disse o relatório, acrescentando que os pobres do mundo são mais propensos a serem atingidos mais duramente. O cientista climático da Universidade de Princeton, Michael Oppenheimer, disse que o clima extremo, especialmente as ondas de calor, será mais mortal se a meta mais baixa for ultrapassada. Atingir o objetivo mais difícil de atingir “pode resultar em cerca de 420 milhões de pessoas a menos sendo frequentemente expostas a ondas de calor extremas, e cerca de 65 milhões a menos de pessoas expostas a ondas de calor excepcionais”, disse o relatório. As ondas de calor que atingiram a Índia e o Paquistão em 2015 se tornarão eventos praticamente anuais se o mundo alcançar o mais quente dos dois gols, disse o relatório. Corais e outros ecossistemas também estão em risco. O relatório disse que os recifes de coral mais quentes “desaparecerão em grande parte”. O resultado determinará se “meus e nossos netos iriam ver belos recifes de corais”, disse Oppenheimer, de Princeton. Para os cientistas, há um pouco de “pensamento positivo” que o relatório estimulará os governos e as pessoas a agir com rapidez e força, disse um dos líderes do painel, disse o biólogo alemão Hans-Otto Portner. “Se a ação não for tomada, levará o planeta a um futuro climático sem precedentes”. O IPCC-49 se reunirá em maio de 2019 em Kyoto, no Japão, para aprovar o Refinamento de 2019 das Diretrizes de 2006 sobre os Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa. Durante a sessão plenária de encerramento, o Presidente do IPCC Lee agradeceu a todos aqueles que contribuíram para o “muito aguardado” SR15 e seu SPM. Ele disse que os governos poderiam começar a usar o Resumo imediatamente, inclusive no Diálogo de Talanoa durante a COP 24 da UNFCCC.

Hans-Otto Pörtner, da Alemanha, encerra a 48ª sessão do IPCC

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Cúpula Global de Ação Climática, em São Francisco, Califórnia (EUA) Fotos: Antonio Cruz / Agência Brasil, NASA Goddard, Rudolph Hühn

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cúpula climática internacional convocada pelo governador da Califórnia, Jerry Brown, de 12 a 14 de setembro, contou com uma onda de novos anúncios climáticos ambiciosos de atores subnacionais de todo o mundo, incluindo autoridades de estados, regiões, cidades, empresas, investidores e sociedade civil dos EUA. Mais de 4000 participantes compareceram ao encontro de San Francisco, em um esforço para aumentar a resposta coletiva à mudança climática, proporcionando um fórum paralelo aos quadros intergovernamentais existentes com o mesmo objetivo. Ocorrendo apenas três dias depois da reunião da ONU em Bangcoc, na Tailândia, pouco avançou no desenvolvimento das diretrizes práticas para a implementação do Marco de 2015 sobre as Mudanças Climáticas. Os atores subnacionais e não-estatais são uma peça cada vez mais importante no quebra-cabeça da ação climática, especialmente quando os compromissos assumidos pelos governos nacionais sob o acordo climático da ONU, conhecido como contribuições determinadas nacionalmente (NDCs), estão significativamente aquém do necessário para evitar piores impactos da mudança climática. Um relatório de 2017 da ONU Ambiental adverte que NDCs atuais só entregariam um terço dos cortes de emissões necessários para limitar o aumento nas temperaturas médias globais a bem abaixo de dois graus Celsius em comparação aos níveis pré-industriais - a meta superior da meta de temperatura conferência climática de Paris em 2015.

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Jerry Brown, governador da Califórnia, denunciou Trump como “um mentiroso, um criminoso e um tolo”, Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, ouvia durante uma coletiva de imprensa

Os compromissos dos países para cumprir essas promessas estão sendo examinados, já que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende retirar os EUA do Acordo de Paris até o final de 2020 e outros países estão aquém de atingir suas metas climáticas. A Austrália, por exemplo, está a caminho de perder sua meta em Paris, já que as emissões atingem altas recordes, segundo a consultoria NDEVR Environmental. A nação oceânica se comprometeu a reduzir as emissões em 26 a 28 por cento a partir dos níveis de 2005 até 2030.

Ação climática de baixo para cima traz promessa dos EUA para Paris ao alcance Vários governadores, prefeitos e líderes de empresas dos EUA estão avançando com as medidas climáticas, na tentativa de preencher o vazio deixado pelo governo federal. Somente suas ações podem levar os EUA quase a meio caminho para atingir sua meta de 2025, estabelecida pelo governo anterior sob o presidente Barack Obama, de reduzir as emissões em 26-28% abaixo dos níveis de 2005, segundo um relatório lançado na cúpula.

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Grupo de prefeitos com o co-presidente do evento e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg

A iniciativa foi criada por Brown e pelo ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg em 2017, após o anúncio de Trump de seus planos de retirar os EUA do Acordo de Paris. Bloomberg é também o enviado especial do Secretário-Geral da ONU para a Ação Climática. Contando mais de 3.000 cidades, estados, empresas e outros grupos entre seus membros, o grupo forma o equivalente à terceira maior economia do mundo, com as populações dessas comunidades cobrindo mais da metade da população total dos EUA, que tem uma soma total de 325 milhões. Os compromissos existentes de baixo para cima em todos os EUA ajudarão a alcançar cortes de 17% até 2025, ou cerca de dois terços da NDC- Contribuição Nacionalmente Determinada, observa o relatório, delineando estratégias para elevar ainda mais isso. As soluções propostas incluem, entre outras coisas, políticas de energia renovável mais rigorosas, implantação de precificação de carbono, aceleração da utilização de veículos elétricos, eliminação mais rápida de gases refrigerantes altamente poluentes e eliminação de vazamentos de metano de gasodutos . “Hoje, anunciamos que esse movimento” de baixo para cima “nos colocará à distância do compromisso dos EUA com o Acordo de Paris, mesmo com o apoio zero do nosso governo federal”, disse Bloomberg, segundo comentários do The Nation.

Dirigindo-se a um futuro de transporte limpo Por exemplo, mais de 100 cidades, estados e empresas se comprometeram a atingir a neutralidade de carbono até 2050, o mais tardar. Isso inclui mais de 70 grandes cidades como Acra, Los Angeles, Tóquio e Cidade do México, que abrigam 425 milhões de cidadãos no total. A ação dessas cidades reduzirá as emissões globais em 2,5% ao ano, evitando 12 bilhões de toneladas de dióxido de carbono até 2050. Além disso, o número de empresas comprometidas com metas científicas de redução de emissões testemunhou um aumento de quase 40% para 488. desde o ano passado. Juntas, essas empresas respondem por US $ 10 trilhões da economia global. A cúpula também lançou a “Agenda do Investidor” para alinhar fluxos financeiros com objetivos climáticos. A coalizão reúne cerca de 400 investidores que administram US $ 32 trilhões em ativos - pouco mais de um terço do que a economia dos EUA, Responsável pela terra que tem um PIB de US $ 19,4 trilhões.

Os compromissos de seus membros variam de promessas de aumentar investimentos de baixo carbono a metas de redução da intensidade de carbono de seus portfólios ou de encerrar investimentos relacionados ao carvão. Em um movimento para impulsionar investimentos sustentáveis, o prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, anunciou que o fundo de pensão de Nova York dobraria seus investimentos climáticos para US $ 4 bilhões em três anos. Isto segue o seu anúncio no início do ano para alienar o fundo de combustíveis fósseis. Juntamente com o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de Blasio recentemente pediu a outras cidades que seguissem sua liderança no desinvestimento de combustíveis fósseis. Impulsionando um futuro de transporte limpo o transporte rodoviário, que está entre as principais fontes de emissões, esteve no topo da agenda da cúpula. Uma aliança de mais de 60 CEOs, prefeitos e líderes estaduais e regionais uniu forças para garantir 100% de transporte zero de emissões até 2030.

O ex-prefeito da cidade de Nova York, Michael Bloomberg, co-fundador da cúpula climática internacional

Iniciativas climáticas transformadoras Analistas dizem que as promessas feitas na cúpula recentíssima, terão um papel importante em aproximar os Estados Unidos de seu NDC de Paris e reduzir a lacuna de emissões global deixada pela soma das promessas nacionais existentes sob o Acordo de Paris. Governos subnacionais, empresas, investidores e organizações da sociedade civil apresentam mais de 500 compromissos em cinco áreas prioritárias, que incluem sistemas de energia saudáveis; crescimento econômico inclusivo; comunidades sustentáveis; terra e mordomia do ocean

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Crescente impulso

O governador Edmund G. Brown Jr, da Califórnia, no encerramento da Cúpula Global de Ação Climática, disse que se unirá à Planet Labs (Planet), para desenvolver e lançar um satélite que rastreie mudanças climáticas, detecte poluentes com precisão sem precedentes para ajudar o mundo a reduzir drasticamente essas emissões.

Isso inclui um compromisso de 12 regiões, representando mais de 80 milhões de pessoas e respondendo por mais de 5% do total mundial. O PIB, para transitar completamente para as frotas públicas de emissões zero, bem como um compromisso de 26 cidades, representando 140 milhões de pessoas, para comprar apenas ônibus de emissão zero a partir de 2025 e estabelecer áreas livres de emissões em 2030. Permitir regimes de comércio e investimento papel na condução de tais take-ups em grande escala de veículos elétricos, alguns especialistas argumentam. Na cúpula, as empresas se comprometeram a instalar mais de 3,5 milhões de pontos de recarga adicionais para veículos elétricos até 2025.

Responsável pelo manejo da terra

Isso inclui um compromisso de mais de 100 atores da cadeia de fornecimento, gerenciando US $ 6,5 trilhões, para deter o desmatamento e a perda de vegetação nativa no Cerrado, Brasil, que é conhecido por ser a maior savana do continente. Esse compromisso também inclui compromissos adicionais para acabar com o desmatamento em todo o mundo por meio de fontes mais sustentáveis de óleo de palma, papel e celulose. Para lidar com as emissões relacionadas a alimentos, um grupo de estados e cidades na Costa Oeste dos EUA uniu forças para reduzir o desperdício e a perda de alimentos em 50% até 2030, o que tem o potencial de economizar 25 milhões de toneladas de emissões anualmente.

Ao receber os compromissos da cimeira, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, destacou o imperativo econômico para intensificar a ação climática. “Estamos experimentando enormes perdas econômicas devido às mudanças climáticas”, disse Guterres, acrescentando que “a Cúpula Global de Ação Climática reuniu atores demonstrando a vasta oportunidade proporcionada pela ação climática” que “estão apostando no verde porque entendem que este é o caminho Para a prosperidade e a paz em um planeta saudável. ”O documento final da cúpula,“ Apelo à Ação Climática Global ”, apela aos líderes nacionais para ampliar a ação climática até 2020, momento em que as emissões globais devem atingir um pico e começar a declinar rapidamente. O documento pede especificamente aos governos que apresentem planos de emissão líquidos de meio século, enviem PNCs mais ambiciosos até o prazo de 2020 e desenvolvam políticas nacionais de clima fortes.

Califórnia pretende estabelecer exemplo de neutralidade de carbono No período que antecedeu a Cúpula de Ação Climática, o governador Jerry Brown assinou um projeto de lei em 10 de setembro exigindo que a Califórnia descarbonize seu sistema de eletricidade

Para redução na emissão em 600 milhões de toneladas, o Brasil concederá créditos a distribuidoras de combustíveis. Desmatamento na região de Gurupá-Melgaço

Florestas, terra e sistemas alimentares não são apenas severamente afetados pela mudança climática, mas também podem desempenhar um papel crucial na mitigação. A cúpula, portanto, lançou uma nova aliança de mais de 100 organizações da sociedade civil, empresas, governos estaduais e locais e grupos indígenas para implementar estratégias de mitigação climática em todos esses setores com o objetivo de fornecer 30 por cento da redução de emissões até 2030.

Voluntários plantaram 3 árvores no centro de San Francisco e + 80 novas árvores para embelezar dois bairros centrais da cidade e destacar que através do processo natural de fotossíntese, absorvem dióxido de carbono - um dos principais contribuintes do aquecimento global - e liberam oxigênio, Uma única árvore madura pode consumir mais de 40 libras de dióxido de carbono por ano, mantendo-a fora da atmosfera. Belo exemplo a segir

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progressivamente até 31 de dezembro de 2045, quando deverá extrair 100% de sua energia de fontes limpas. Aprovado pelo Senado da Califórnia no ano passado e pela Assembleia do Estado no final de agosto, o projeto testará a viabilidade de uma transição energética de larga escala sem precedentes. A Califórnia abriga quase 40 milhões de pessoas e abriga a quinta maior economia do mundo. O projeto de lei segue um movimento semelhante do Havaí, que exige 100% de energia renovável até 2045. O estado insular do Pacífico não tem meios de se conectar à rede elétrica dos Estados Unidos e, devido à limitação de seus recursos energéticos, deve investir pesadamente na importação de petróleo. Passou a legislação em 2015. A lei californiana, no entanto, abre as portas para fontes além do vento e da energia solar, embora não esteja claro nesse estágio quais delas isso possa acarretar. Além da conta de eletricidade limpa, Brown emitiu uma ordem executiva para atingir a neutralidade de carbono em todo o estado até 2045. Alcançar uma meta tão ambiciosa exigirá uma transformação de longo alcance em todas as áreas da economia e da sociedade, particularmente o transporte responsável por 40 por cento das emissões no estado da costa oeste dos EUA. Embora a ordem executiva não inclua quaisquer mandatos, os defensores dizem que ela define uma visão clara que é um passo importante na direção da neutralidade de carbono.

Queima de combustíveis fósseis é o início do fim da Humanidade, afirmam pesquisadores em Stanford

Brasil tem desafio para cumprir meta de emissão de carbono, mas avança A menos de dois anos do prazo para iniciar o cumprimento das metas assumidas no chamado Acordo de Paris para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, e em meio a um cenário de incerteza eleitoral, o Brasil vive o desafio de conter o desmatamento, adaptar o modelo de produção econômica, readequar a infraestrutura urbana e gerar energia limpa para diminuir a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. No caso do Brasil, a meta ratificada pelo governo, conhecida como Contribuição Nacionalmente Determinada – NDC, prevê que até 2025 as emissões de

O mundo pode atingir um ponto crítico que faz com que o aquecimento saia do controle

Acompanhando os desastres

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gases de efeito estufa sejam reduzidas a 37% em relação a 2005, ano em que o país emitiu aproximadamente 2,1 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2). Para 2030, a meta é que a redução seja de 43%. O Ministério do Meio Ambiente informou que as emissões líquidas de gás carbônico foram reduzidas em 2,6 bilhões de toneladas entre 2016 e 2017 no país. O volume de redução foi alcançado, segundo a pasta, considerando as remoções de gás carbônico da atmosfera pelo processo de fotossíntese nas áreas de florestas preservadas, como terras indígenas e unidades de conservação. Considerando essa compensação entre emissões e o estoque de gás carbônico nas áreas florestais, o país já teria atingido a meta de reduzir em 1,2 bilhão de toneladas para o ano de 2020. Mas especialistas alertam que, em valores absolutos, o país ainda não atingiu as meta firmada em âmbito internacional, que seria de cerca de 1,3 bilhão de toneladas de CO2. Na área de energia, o secretário afirma que o país também tem condições de alcançar as metas. Esta semana, o governo federal lançou linha de financiamento para iniciativas de produção de energias renováveis, em especial fotovoltaica. Desse montante, o MMA vai destinar R$ 228 milhões para micro e pequenas empresas e pessoas físicas que coloquem painéis solares em suas casas. As taxas de financiamento serão de 4% a ano para quem recebe menos de R$ 90 mil por ano e de 9,5% para quem recebe mais. “Vamos colocar à disposição do mercado, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES), com fundos do ministério, R$ 1,2 bilhão para energias renováveis. A nossa expectativa é que a gente consiga dar um incentivo para estruturação da cadeia de produção de energia fotovoltaica no país, em especial em comunidades rurais e produção domiciliar”, disse o o secretário do MMA.

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Floresta Amazônica reduz capacidade de absorção de carbono chegando à quase zero Há cerca de 20 anos, a floresta amazônica era considerada um sumidouro de carbono, retendo todos os anos meia tonelada de carbono por hectare por Cimone Barros

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undamental para a estabilidade do clima do planeta, a floresta amazônica, que até alguns anos absorvia carbono em quantidades muito significativas, do ponto de vista de balanço de carbono total, reduziu essa capacidade e hoje está chegando à zero. Os cientistas consideram a situação preocupante. Em um cenário futuro de mudanças climáticas, em que eventos extremos de secas e grandes inundações são mais frequentes, é possível que a floresta comece a perder carbono para a atmosfera piorando o já grave aquecimento global. O alerta foi feito no Workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, recentemente, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento foi organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Inpa e Instituto Wilson Center. As pesquisas na região mostram que a Amazônia é um ecossistema altamente crítico no clima global, controlando o ciclo 20

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Fotos: Cimone Barros, Ingrydd Ramos e Letícia Misna, Luciana Gatti / IPEN

hidrológico, a chuva sobre a própria Amazônia e sul do Brasil, e que armazena uma quantidade enorme de carbono. A ciência estima que a Bacia Amazônica abrigue 16 mil espécies de plantas arbóreas. Já se sabe também que a estação seca na Amazônia está se ampliando em seis dias por década, o que pode parecer pouco, mas é uma alteração significativa. Segundo o coordenador do workshop e

professor da Universidade de São Paulo, Paulo Artaxo, a floresta amazônica até cerca de 10 a 20 anos fazia um serviço ambiental muito importante de reter todos os anos meia tonelada de carbono por hectare. Este serviço ambiental agora está indo para zero. “Nosso medo é que, a partir de agora, a floresta, além de perder carbono para a atmosfera, e como ela corresponde a dez anos da queima de combustíveis fósseis, perca

Paulo Artaxo, coordenador do workshop, professor da USP e gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa/MCTIC): “precisamos urgentemente reduzir o desmatamento na Amazônia até chegar ao desmatamento zero, e isso é possível”

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Participantes da mesa de abertura do Workshop

mais 2%, 3% ou 4% do carbono, pois isso vai aumentar muito o efeito estufa”, disse Artaxo, que também é gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa/MCTIC). Segundo o cientista, hoje a floresta é neutra do ponto de vista do carbono. Mas se forem diminuídas as emissões haverá possibilidade de voltar a ter a floresta retendo mais carbono do que emite. “É por isto que temos de lutar hoje”, afirmou. As florestas tropicais são o lugar do mundo em que mais se estoca carbono na Terra. O carbono é o quarto elemento mais abundante na atmosfera e é um dos gases de efeito estufa. De acordo com o pesquisador da USP, Luiz Martinelli, se a floresta faz mais fotossíntese do que ela perde carbono pela respiração, essa floresta tende aumentar sua biomassa. “É disso que estamos precisando, porque, devido ao grande aporte de carbono e CO2 na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, o clima da Terra está mudando. Então, é extremamente benéfico para o clima que a Amazônia continue limpando esse excesso de carbono na atmosfera, mesmo que lentamente”, explicou Martinelli. As pesquisas apoiadas pela Fapesp e realizadas em colaboração com o Inpa serão apresentadas em um Workshop nos mesmos moldes deste de Manaus em Washington, no dia 25 de setembro. A proposta é apresentar para o Banco Mundial e o Fundo Amazônia quais as necessidades de pesquisas que se tem na Amazônia atualmente. Participaram da mesa de abertura do Workshop o Comandante do 9º Distrito Naval, o Vice-Almirante Carlos Alberto Matias; o pesquisador da USP Paulo Artaxo; o diretor administrativo da Fapesp, Fernando Almeida; o coordenador de Pesquisas do Inpa, Paulo Maurício; o diretor-técnico e científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Décio Reis; o coronel Washington Rocha Triani, do Comando Militar da Amazônia (CMA); e o diretor do Brazil Institute Wilson Center, Paulo Sotero. revistaamazonia.com.br

“O Inpa desenvolve pesquisas em várias áreas, desde questões climáticas, agricultura sustentável até tecnologias sociais, que no seu conjunto podem ser aproveitadas para se ter desenvolvimento com base sustentável na região. A questão central é conseguirmos ter ressonância com os políticos quando vão construir os caminhos para a Amazônia”, destacou o coordenador de Pesquisas do Inpa, o pesquisador Paulo Maurício Alencastro. No evento ainda foram debatidas iniciativas empresariais e de organizações não-governamentais de pesquisas e seus papeis no desenvolvimento sustentável na Amazônia, além do importante apoio logístico das Forças Armadas à pesquisa na Amazônia, especialmente com o programa do CMA, o Proamazônia.

Ponto de não retorno De acordo com a pesquisadora do Inpa, Maria Teresa Fernandez Piedade, empresários, políticos e tomadores de decisão precisam entender que a devastação da Amazônia está chegando a um ponto de não retorno, e que isso será prejudicial para todos. Há fortes componentes atuando no desmatamento em níveis muito altos, juntamente com mudanças climáticas globais e ainda uma ação continuada de fogo. Estudos mostram que a floresta já foi desmatada em 20% e se aumentar mais cinco pontos percentuais vai perder sua resiliência, alterando o ciclo hidrológico de maneira irreversível – ponto de não retorno, conforme artigo publicado na revista Science Advances assinado pelo professor da George Mason University, nos Estados Unidos, Thomas Lovejoy, que participou do Workshop via vídeo, e o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, o brasileiro Carlos Nobre. “Esse conjunto de pressões, que antigamente não se considerava como interagindo nos modelos, agora mostra que com 25% de desmatamento da região algumas partes da

Amazônia vão atingir um ponto no qual a cobertura vegetal será transformada em um tipo de vegetação mais aberta e pobre em espécies, no processo chamado de savanização. E esse processo não vai ser revertido de forma banal”, alerta Piedade, que é coordenadora do projeto Pesquisa Ecológica de Longa Duração – Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Peld/ Maua). Na parte central da Amazônia, onde se encontra Manaus, há previsões de modelos climáticos que mostram que a temperatura pode aumentar 5°C até 2050.

Valor econômico dos serviços ambientais O Brasil não recebe compensação financeira pelos serviços ambientais que a Amazônia realiza. Só os serviços ambientais produzidos na América do Sul são estimados em 14 trilhões de dólares. “Não há dúvidas de que, do ponto de vista econômico, o vapor de água que Amazônia processa e se transforma em chuva irrigando as culturas de soja no Mato Grosso, culturas de alimento no Rio Grande do Sul, Goiás e em São Paulo, todo esse serviço ambiental vale trilhões de dólares”, afirmou o pesquisador Paulo Artaxo. Nas próximas décadas, as previsões são de alterações profundas no planeta que afetarão a economia do mundo, e o Brasil precisa se adaptar para esse novo cenário, segundo os cientistas, com a implementação de políticas públicas, melhorando a sustentabilidade, e implantando outras matrizes energéticas como solar e eólica, para as quais o Brasil tem grande potencial. “Hoje a mais importante dessas políticas é reduzir a taxa de desmatamento da Amazônia que está em cerca de 8 mil km2 por ano, quando era há três anos de 4,5 mil km2 por ano. Essa taxa está aumentando e precisamos urgentemente reduzir o desmatamento na Amazônia até chegar ao desmatamento zero, e isso é possível”, destacou Artaxo.

Maria Teresa Fernandez Piedade, pesquisadora do Inpa: “a devastação da Amazônia está chegando a um ponto de não retorno, e que isso será prejudicial para todos”

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Os ecossistemas tropicais – florestas, savanas, rios e lagos e recifes de coral – concentram mais de três quartos das espécies do planeta

O tempo está se esgotando nos trópicos – pesquisadores alertam para o colapso global da biodiversidade Fotos: Alexander Lees, Berthold Francis, Lancaster University

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m colapso global da biodiversidade é iminente, a menos que tomemos medidas urgentes e coordenadas para reverter a perda de espécies nos trópicos, de acordo com um importante estudo científico na Nature “O futuro dos ecossistemas tropicais hiperdiversos”, uma equipe internacional advertiu que a falta de ação rápida e decisiva aumentará enormemente o risco de perda de espécies sem precedentes e irrevogáveis nas mais diversas partes do planeta. O estudo é o primeiro relatório de alto nível sobre o estado de todos os quatro ecossistemas tropicais mais diversos do mundo - florestas tropicais, savanas, lagos e rios e recifes de corais. Os autores descobriram que, embora os trópicos cubram apenas 40% do planeta, eles abrigam mais de três quartos de todas as espécies, incluindo quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves do mundo. A maioria dessas espécies não é encontrada em nenhum outro lugar, e outros milhões ainda são desconhecidos para a ciência.

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Recifes de coral cobrem apenas 0,1% dos oceanos, mas são responsáveis pela sobrevivência de mais de 200 milhões de pessoas

Espécies nos trópicos podem ser perdidas em breve por causa da atividade humana e do aquecimento global, mas são menos ‘lembradas’ do que as de regiões polares, segundo pesquisadores

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“Com a atual taxa de descrição de espécies - cerca de 20.000 novas espécies por ano - pode-se estimar que pelo menos 300 anos serão necessários para catalogar a biodiversidade”, disse o Dr. Benoit Guénard, professor assistente da Universidade de Hong Kong e um dos autores. do estudo. E através dos ecossistemas tropicais, muitas espécies enfrentam o ‘duplo risco’ de serem prejudicadas por pressões humanas locais - como pesca excessiva ou extração seletiva de madeira - e secas ou ondas de calor ligadas à mudança climática. Alexander Lees, da Universidade Metropolitana de Manchester, explicou que, embora a captura excessiva de animais selvagens tenha sido responsável pela perda anual de milhões de animais altamente traficados, como os pangolins, também afetou muitas outras espécies menos conhecidas. Ele disse: “Mesmo muitos pequenos pássaros estão em risco de extinção global iminente devido à sua captura para o comércio de animais no Sudeste Asiático. As florestas tropicais onde vivem estão cada vez mais em silêncio”.

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O Brasil tem 16% das aves de todo o planeta; 91% das aves do mundo passa ao menos parte da vida nos trópicos

O declínio da saúde dos ecossistemas tropicais também ameaça o bem-estar de milhões de pessoas em todo o planeta. “Apesar de cobrir apenas 0,1% da superfície do oceano, os recifes de corais fornecem recursos pesqueiros e proteção costeira para até 200 milhões de pessoas. E entre eles, florestas tropicais úmidas e savanas

armazenam 40% da superfície do oceano.” o carbono na biosfera terrestre e apoiar as chuvas em algumas das regiões agrícolas mais importantes do mundo. Embora as conclusões sejam sombrias, o estudo também delineou as ações necessárias para transformar a saúde desses ecossistemas vitais. Os pesquisadores pediram uma mudança nos esforços para apoiar o desenvolvimento sustentável e intervenções de conservação eficazes para preservar e restaurar os habitats tropicais que foram o lar e último refúgio para a esmagadora maioria da biodiversidade da Terra por milhões de anos. Professor Barlow disse: “O destino dos trópicos será em grande parte determinado pelo que acontece em outras partes do planeta. Embora a maioria de nós esteja familiarizada com o impacto da mudança climática nas regiões polares, também está tendo consequências devastadoras nos trópicos - e sem ação urgente poderia prejudicar as intervenções de conservação locais “. A Dra. Christina Hicks, da Universidade de Lancaster, disse que, como um poderoso impulsionador econômico da mudança, o papel dos países desenvolvidos também era sentido profundamente nos trópicos. Ela disse: “As estratégias de conservação devem abordar os impulsionadores subjacentes da mudança ambiental, evitando ao mesmo tempo exacerbar as desigualdades

Um colapso global da biodiversidade é iminente a menos que tomemos medidas urgentes e concertadas para reverter a perda de espécies nos trópicos

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A degradação dos corais impacta a vida de milhares de comunidades pesqueiras. Documentando corais mortos na Ilha Lizard, na Grande Barreira de Corais da Austrália

profundamente enraizadas. A ajuda ambiental permaneceu estática nos últimos anos e continua sendo uma queda no oceano em comparação com a renda gerada pela extração de recursos.” O Dr. Toby Gardner, pesquisador sênior do Stockholm Environment Institute, destacou a importância da inovação. Ele disse: “Nas últimas décadas, houve um boom de propostas, inovações e insights sobre ciência, governança e gerenciamento

de ecossistemas tropicais, desde sensoriamento remoto e big data até novas estruturas jurídicas para empresas. O tempo está passando por essas propostas e insights ser devidamente testado “. Dra. Joice Ferreira, pesquisadora da equipe de pesquisa agrícola da Embrapa, enfatizou que grande parte da solução precisa estar no fortalecimento da capacidade das instituições de pesquisa nos trópicos. Ela disse: “Apesar de algumas no-

táveis exceções, a grande maioria dos dados e pesquisas relacionados à biodiversidade está concentrada em países ricos e não tropicais”. “Uma abordagem internacional da ciência é vital para ajudar a evitar a perda da biodiversidade tropical”. O professor Barlow disse: “Há cinquenta anos atrás, os biólogos esperavam ser os primeiros a encontrar uma espécie, agora eles esperam não ser o último.”

Mapa global mostrando hotspots de biodiversidade tropical e não tropical e onde a floresta foi desmatada

Os trópicos contêm a esmagadora maioria da biodiversidade da Terra: seus ecossistemas terrestres, de água doce e marinhos abrigam mais de três quartos de todas as espécies, incluindo quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das aves terrestres. No entanto, os ecossistemas tropicais também estão sujeitos a estressores invasivos e interativos, como desmatamento, sobrepesca e mudanças climáticas, e estão inseridos em um contexto socioeconômico que inclui crescente pressão de um mundo cada vez mais globalizado, populações tropicais maiores e mais ricas e fraca governança e capacidade de resposta. Ações locais, nacionais e internacionais concertadas são urgentemente necessárias para evitar um colapso da biodiversidade tropical. 24

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Há risco da Terra entrar em condições de “ Efeito Estufa Terrestre”, onde o clima a longo prazo se estabilizará a uma média global de 4-5°C acima das temperaturas préindustriais. e nível do mar 10-60 m mais alto que hoje

Planeta em risco de entrar em estado de Terra Estufa Fotos: Augut Sprimht, Freder Yasg, Rudy_Ath

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“Terra estufa” pode ser uma realidade mais próxima do que se imagina, mesmo se a humanidade conseguisse parar completamente as emissão de CO2. Esse é o alerta feito por uma equipe internacional de cientistas após analisarem o risco de os sistemas do planeta entrarem em um ponto de não retorno climático caso a temperatura aumente em 2ºC com relação aos níveis pré-industriais. Os pesquisadores publicaram na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), recentemente, um estudo sobre as consequências do aquecimento global e a dimensão das mudanças climáticas, que podem atingir um ponto a partir do qual a ação humana seja inútil para deter o aumento de temperatura no planeta. Se esse aumento chegar a 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, o equilíbrio de forças naturais da Terra pode ser drasticamente afetado, de modo que florestas, oceanos e porções de terra que atualmente absorvem carbono se tornem fontes emissoras de CO2. Mesmo que as reduções de carbono previstas em 2015 pelo Acordo de Paris sejam cumpridas (o que não tem acontecido) e a população mundial reduza o seu consumo de combustíveis fósseis, o estudo mostra que há um risco elevado de a Terra reunir as condições necessárias para se transformar em uma “estufa” e não conseguir retroceder.

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Mapa global de possíveis cascatas de tombamento

O garfo na estrada é mostrado aqui como os dois caminhos divergentes do Sistema Terrestre no futuro (setas quebradas). Atualmente, o Sistema Terrestre está no caminho da Terra da Estufa impulsionado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa e degradação da biosfera em direção a um limiar planetário a ~2° C (linha horizontal quebrada a 2 ° C na Fig. 1), além do qual o sistema segue uma via essencialmente irreversível impulsionada por feedbacks biogeofísicos intrínsecos. O outro caminho leva à Terra Estabilizada, um caminho da administração do Sistema Terrestre, guiado por feedbacks criados por humanos, para uma bacia de atração quase sempre mantida pelo homem. A “estabilidade” (eixo vertical) é definida aqui como o inverso da energia potencial do sistema. Sistemas em um estado altamente estável (vale profundo) têm baixo potencial de energia, e energia considerável é necessária para movê-los para fora deste estado estável. Os sistemas em um estado instável (topo de uma colina) têm alta energia potencial, e requerem apenas um pouco de energia adicional para empurrá-los para fora do morro e para 25 REVISTA AMAZÔNIA baixo, em direção a um vale de menor energia potencial.


Paisagem de estabilidade mostrando o caminho do Sistema Terrestre para fora do Holoceno e, assim, do ciclo limite glacial-interglacial para sua posição atual no Antropoceno mais quente

O garfo na estrada é mostrado aqui como os dois caminhos divergentes do Sistema Terrestre no futuro (setas quebradas). Atualmente, o Sistema Terrestre está no caminho da Terra da Estufa impulsionado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa e degradação da biosfera em direção a um limiar planetário a ~2° C (linha horizontal quebrada a 2 ° C na Fig. 1), além do qual o sistema segue uma via essencialmente irreversível impulsionada por feedbacks biogeofísicos intrínsecos. O outro caminho leva à Terra Estabilizada, um caminho da administração do Sistema Terrestre, guiado por feedbacks criados por humanos, para uma bacia de atração quase sempre mantida pelo homem. A “estabilidade” (eixo vertical) é definida aqui como o inverso da energia potencial do sistema. Sistemas em um estado altamente estável (vale profundo) têm baixo potencial de energia, e energia considerável é necessária para movê-los para fora deste estado estável. Os sistemas em um estado instável (topo de uma colina) têm alta energia potencial, e requerem apenas um pouco de energia adicional para empurrá-los para fora do morro e para baixo, em direção a um vale de menor energia potencial. Basta que continuem o derretimento do gelo continue, a diminuição das áreas florestais (por conta do desmatamento ou incêndios) e os aumento dos gases de efeito estufa – condições que se verificam todos os anos. Os cientistas defendem que isso pode acontecer dentro de algumas décadas, motivo pelo qual é necessário acelerar a transição para uma economia mundial livre de gases. Em um cenário hipotético, caso a Terra atinja esse ponto de não retorno, o planeta se transformaria em uma autêntica estufa. A temperatura média seria 4 a 5 graus maior que as temperaturas pré-industriais; as florestas desapareceriam e dariam lugar a savanas e desertos; o nível médio do mar subiria de 10 a 60 metros, de tal forma que muitas regiões costeiras desapareceriam; e haveria maior incidência de fenômenos meteorológicos extremos, como a onda de calor que tem afetado a Europa na última semana ou as ausências prolongadas de chuva em várias regiões do Brasil.

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Tanto nessa hipótese como no mundo atual, este quadro é possível graças ao efeito dominó no planeta: todos os sistemas estão interligados. A Terra, em outras palavras, pode deixar de ser um mitigador do aquecimento global e se converter em agente ativo do fenômeno. Nesse contexto, duas questões centrais se impõem: 1)

A população humana conseguirá suportar esse aumento de temperatura? e 2) Se forem atingidas as metas de redução nas emissões de CO2 acordadas em Paris para 2020, conseguiremos manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 graus (ou, pelo menos, menor que 2 graus) e evitar atingir o ponto de inflexão climática referido no estudo? Entre o final da década de 1980 (quando foi cunhada a expressão “efeito estufa”) e 2018, a concentração de CO2 na atmosfera subiu de 350 para mais de 400 partes por milhão (ppm). Já a temperatura média da Terra continua a subir à velocidade de 0,17 graus por década. “As emissões humanas de gases de efeito estufa não são a única causa que determina a temperatura da Terra”, explica Will Steffen, um dos autores do estudo científico. “O nosso estudo sugere que o aquecimento global de 2 graus humanamente induzido pode provocar modificações nos outros sistemas naturais da Terra, normalmente intitulados de feedbacks, que podem aumentar ainda mais a temperatura média do planeta – mesmo se pararmos de emitir gases de efeito estufa”, frisa o professor da Universidade Nacional da Austrália e investigador do Stockholm Resilience Centre, na Suécia. “Evitar este cenário requer um redireccionamento das ações humanas de exploração do planeta para administração sustentável”, sugere o cientista. Porém, diminuir a emissão de gases de efeito estufa não bastará para evitar o ponto de não retorno do planeta, diz o estudo. Será necessário criar ou melhorar as concentrações naturais de carbono, através do aperfeiçoamento da gestão das florestas, agricultura e solo; apostar na conservação biológica; e tecnologias que consigam remover o dióxido de carbono na atmosfera e retê-lo subterraneamente, defende a pesquisa. Os autores listaram dez fenômenos naturais, os chamados feedbacks, que podem passar de “amigáveis” para “ameaças” caso o planeta chegue ao nível de inflexão.

Algumas partes da Terra correm o risco de se tornar inabitáveis, com temperaturas médias globais de até cinco graus Celsius acima dos níveis pré-industriais

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Ilustração esquemática de possíveis caminhos futuros do clima no contexto dos típicos ciclos glaciais-interglaciais (inferior esquerdo)

Alguns deles são o descongelamento do pergelissolo (solo típico da região ártica), a perda de hidratos de metano no solo oceânico e a redução de florestas tropicais e da neve no hemisfério norte, entre outros. São locais que atualmente estocam carbono e que podem atingir um ponto de colapso em que essas reservas de carbono sejam liberadas para a atmosfera, acelerando ainda mais o aquecimento global.“Esses elementos típicos podem atuar potencialmente como dominós”, esclarece Johan Rockström,

O estado interglacial do Sistema Terrestre está no topo do ciclo glacial-interglacial, enquanto o estado glacial está no fundo. O nível do mar segue a mudança de temperatura de forma relativamente lenta através da expansão térmica e do derretimento das geleiras e das calotas polares. A linha horizontal no meio da figura representa o nível de temperatura pré-industrial, e a posição atual do Sistema Terrestre é mostrada pela pequena esfera na linha vermelha próxima à divergência entre os caminhos da Terra Estabilizada e da Estufa. O limiar planetário proposto a ~ 2 ° C acima do nível pré-industrial também é mostrado. As letras ao longo dos caminhos da Terra Estabilizada / Terra da Estufa representam quatro períodos de tempo no passado recente da Terra que podem fornecer informações sobre as posições ao longo desses caminhos (Apêndice SI): A, Holoceno Médio; B, Eemian; C, Mid-Pliocene; e D, Mid-Miocene. Suas posições no caminho são apenas aproximadas

coautor do estudo e também pesquisador do Stockholm Resilience Centre. “Será muito difícil ou até impossível parar a fila inteira de dominós a cair”, defende. O cientista elucida que poderíamos nos adaptar ao processo de séculos de transformação de “estufa” da Terra, mas a realidade seria muito diferente: “sem pessoas a viver nos trópicos, com uma concentração de pessoas no Ártico e na Antártica, com formas completamente diferentes de gerar alimento, com escassez de água e uma normalização dos fenômenos extremos”,

resume em declarações ao jornal português Público. Os autores do estudo apostam em mudanças no comportamento da humanidade para deter a possibilidade da “Terra estufa”; outros estudiosos, no entanto, têm dúvidas com relação ao potencial humano de entender a gravidade do problema e tomar atitudes. As evidências históricas mostram um processo de negação das mudanças climáticas que é preocupante e pode afetar drasticamente a vida na Terra nos próximos anos, com os piores efeitos sendo sentidos dentro de um século ou dois.

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O Holoceno se destaca como um período de aquecimento após o final do último evento de glaciação, pouco mais de 11.500 anos atrás

Novo capítulo na história da Terra Os geólogos finalmente definiram um novo capítulo na história da Terra, e nós estamos vivendo nele Fotos: Divulgação, IUGS

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pós anos de debate, a atual época geológica foi finalmente dividida em três seções. A União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) ratificou recentemente a divisão do Holoceno nas idades de Meghalayan, Northgrippian e Gronelândia, depois de concordar com argumentos de que havia sinais claros de uma mudança global no registro geológico. Este é o cerne da questão: os cientistas descrevem a história do nosso planeta de acordo com eventos importantes que afetam a química do nosso planeta. Dependendo de quais eventos são considerados mais impactantes, os períodos podem ser divididos em etapas menores. Por exemplo, um aumento nos níveis de irídio depositados em estratos de rochas em todo o planeta há cerca de 66 milhões de anos, alinhados com o fim do reinado dos dinossauros. Isso foi o suficiente para convencer os geólogos a fechar o capítulo em um período conhecido como o Cretáceo e abrir um novo chamado Paleógeno. Neste momento estamos em um período chamado Quaternário, que é dividido em duas épocas - o Pleistoceno e o Holoceno de hoje. O Holoceno se destaca como um

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período de aquecimento após o final do último evento de glaciação, pouco mais de 11.500 anos atrás, quando o cenário estava pronto para a agricultura e a civilização se desenvolverem. Até agora, nossa época não teve mais subdivisões. Sinais de uma seca global que começou há cerca de 4.200 anos obrigaram a repensar se isso deveria continuar sendo o caso. A evidência foi coletada de vários locais em todo o mundo, mas o ponto de partida específico desta idade mais recente é baseado em diferenças de isótopos de oxigênio em uma estalagmite retirada de uma caverna no nordeste da Índia. “O deslocamento isotópico reflete uma redução de 20% a 30% nas chuvas de monções”, explicou o geólogo Mike Walker, da Universidade do País de Gales. Esse desvio agora define um limite entre duas novas eras intituladas Meghalayan e Northgrippian, uma época em que as mudanças nas monções obrigavam as civilizações a se separarem e as populações do Egito ao vale do rio Yangtze a migrar. “A Era Meghalayan é única entre os muitos intervalos da Geologic Time Scale em que seu início coincide com um evento cultural global produzido por um evento climático global”, diz o Secretário Geral da

IUGS, Stanley Finney. O início do Northgrippian foi estabelecido há cerca de 8.300 anos, definido pela água fria e fresca das geleiras derretendo as correntes oceânicas. Embora não haja nenhum argumento de que as mudanças no clima do mundo tenham algum significado, alguns argumentam se elas realmente são dignas de novas idades, o que levou a críticas de que os acréscimos foram muito apressados. “Depois do artigo original e passando por vários comitês, eles anunciaram de repente [o Meghalayan] e o colocaram no diagrama”, disse o geólogo da University College London, Mark Maslin.. “É oficial, estamos em uma nova era, quem sabe?” Há também um chamado em curso para acabar com o Holoceno e oficialmente reconhecer o início de uma época de mudança global induzida pelo homem chamada Antropoceno. As mudanças não descartam o acréscimo de toda uma nova época, potencialmente marcada por níveis de material radioativo de testes nucleares acima do solo que atingiram o pico em 1965. Mas eles demonstram que a ciência progride tanto pelo debate sobre o que os membros de uma comunidade acham valioso quanto pela própria evidência empírica. E tudo bem.

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Se você olhar o mapa da Índia, o minúsculo estado de Meghalaya, no nordeste, constitui apenas uma pequena porção dele, mas acontece que o estado tem um papel muito maior na história do nosso planeta Terra. Segundo os cientistas, estamos atualmente vivendo na “Era Meghalayan” da história da Terra. De acordo com os geólogos, essa fase da Terra começou há cerca de 4.200 anos e continua até hoje. O momento decisivo da história da Terra recebeu o nome do estado indiano, depois que uma estalagmite de uma caverna em Meghalaya ajudou a definir os eventos climáticos que marcaram o início da fase. “Nessas estalagmites, há um registro altamente detalhado da mudança climática, que é demonstrado pela geoquímica do material precipitado - o carbonato formado pelo gotejamento de água na caverna”, disse à Newsweek o secretário-geral da Comissão Internacional de Estratigrafia, Philip Gibbard. O que torna o Meghalayan único é que é o primeiro intervalo na história geológica da Terra a coincidir com um evento cultural humano. Na fronteira entre o Meghalayan e o Northgrippian, a seca devastadora e a mudança climática estavam fazendo É oficial, estamos vivendo na “era Meghalayan” da história da Terra com que as sociedades agrícolas lutassem e, em última análise, fracassassem. A seca destrutiva durou dois séculos e contribuiu para o desaparecimento de comunidades antigas no Egito, Grécia, Síria, Palestina, Mesopotâmia, Vale do Indo e Vale do Rio Yangtze. O conceito do Meghalayan foi proposto pela primeira vez há sete anos devido a assinaturas químicas específicas encontradas em estalactites e estalagmites. Em uma reunião realizada em junho, a Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS) anunciou a nova divisão no tempo, que agora aparecerá em todos os mapas oficiais que retratam o passado geológico da Terra. A era Meghalayan começou com uma mega seca global que devastou antigas civilizações agrícolas do Egito à China. Faz parte de um período mais longo conhecido como o Holocene Epoch, que reflete tudo o que aconteceu nos últimos 11.700 anos. O Meghalayan é único porque é o primeiro intervalo na história geológica da Terra que coincidiu com um grande evento cultural, pois as sociedades agrícolas lutavam para se recuperar da mudança climática, disse Stanley Finney, secretário-geral da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS). . Evidências do evento climático foram encontradas em sedimentos em todos os sete continentes, incluindo os de Meghalaya. As secas ao longo de um período de 200 anos resultaram em migrações humanas no Egito, na Grécia, na Síria, na Palestina, na Mesopotâmia, no vale do Indo e no vale do rio Yangtze. A mudança no clima global provavelmente foi desencadeada por mudanças na circulação oceânica e atmosférica. Duas outras idades - a Idade do Norte do Holoceno e a Idade Gronelandesa do Holoceno - com começos definidos em eventos climáticos que ocorreram há cerca de 8.300 anos e 11.700 anos atrás, também foram aprovadas pela Comissão Internacional de Estratigrafia, que é responsável pela padronização da escala de tempo geológico. Meghalaya tem um vasto sistema de cavernas, algumas delas que nem sequer foram exploradas e mapeadas. O sistema de cavernas de arenito natural é o mais longo do mundo e remonta a pelo menos 70 milhões de anos. “Temos cerca de 1.700 cavernas em Meghalaya a partir de agora e mais de 1.000 delas foram exploradas. Nós já mapeamos 491 km de Estalagmite de uma caverna passagem de cavernas - que em um estado pequeno como Meghalaya - é em Meghalaya ajudou a definir surpreendente ”, disse Brian Kharpran Daly, membro fundador da Assoos eventos climáticos que marcaram o início da fase ciação de Aventureiros Meghalaya.

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Mudanças orbitais da Terra modificaram clima durante 215 milhões anos

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ravidade de Júpiter e Vênus alonga a órbita da Terra a cada 405.000 anos, e durante os últimos 215 milhões de anos, as órbitas de Júpiter e Vênus afetam o clima da Terra Novo estudo de um grupo de cientistas americanos da Rutgers University, publicados nos Anais da Academia Nacional de Ciências, demonstram que a influência gravitaci de Júpiter e de Vênus provoca, a cada 405 mil anos, uma alteração na órbita da Terra que tem impactos no clima global. De acordo com os autores da pesquisa, esse ciclo havia sido previsto por cálculos de mecânica celeste, mas até agora ninguém havia apresentado evidências físicas de sua existência. Segundo os autores, o estudo, que se baseou em escavações feitas em rochas extremamente antigas do Arizona (Estados Unidos), comprovou que o fenômeno tem ocorrido regularmente há pelo menos 215 milhões de anos - antes do aparecimento dos dinossauros -, deixando a órbita mais “alongada”. “É um resultado espantoso, porque a existência desse longo ciclo, que já havia sido prevista a partir da análise dos movimentos dos planetas nos últimos 50 milhões de anos foi comprovada e já ocorre há pelo menos 215 milhões de anos. Agora os cientistas poderão ligar esse ciclo de 405 mil anos, de uma maneira muito precisa, às alterações clima, no ambiente e na evolução dos dinossauros e dos mamíferos, por exemplo”, disse o autor principal do estudo, Dennis Kent, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.

Fotos: NASA, Observatório da Terra, Kevin Krajick / Lamont-Doherty

Ciclo terrestre é resultado de uma complexa interação com as influências gravitacíonais de Vênus, Júpiter e outros objetos do Sistema Solar

Por várias décadas, os cientistas postulavam que a órbita da Terra em torno do Sol sofre uma modificação a cada 405 mil anos, passando de uma forma quase circular para uma forma 5% mais alongada, ou elíptica. O ciclo, segundo eles, é resultado de uma complexa interação com as influências gravitacíonais de Vênus, Júpiter e outros objetos do Sistema Solar, que em sua viagem em torno do Sol às vezes estão mais próximos e às vezes mais distantes uns dos outros. Segundo os astrofísicos, porém, o cálculo matemático desse ciclo só era confiável nos últimos 50 milhões de anos.

Dentro de rochas antigas no Parque Nacional da Floresta Petrificada do Arizona, cientistas identificaram sinais de uma variação regular na órbita da Terra que influencia o clima. Aqui, um dos autores perto do local da pesquisa

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Para além desse limite, o problema se torna complexo demais, porque há muitas variáveis em jogo. “Há outros ciclos orbitais mais curtos, mas quando olhamos para o passado, é muito difícil saber quais deles têm relações entre si, porque eles mudam muito com o tempo, a beleza desse ciclo maior é que ele não muda. Todos os outros ciclos é que mudam em relação a ele”, disse Kent.

Escrito nas rochas A evidência que demonstra a existência do ciclo há pelo menos 215 milhões de anos são amostras de rocha retiradas de até 500 metros de profundidade de uma colina no Parque Nacional da Floresta Petrificada, no Arizona, em 2013. As rochas do Arizona que foram estudadas se formaram durante o fim do período Triássico, entre 209 e 215 milhões de anos atrás, quando a área era coberta por rios que carreavam sedimentos. Nessa época, os primeiros dinossauros estavam começando a evoluir. Os cientistas determinaram a idade das rochas do Arizona analisando as camadas de cinzas vulcânicas em seu interior que contêm radioisótopos cuja emissão radioativa com uma taxa constante.

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O co-autor John Geissman, da Universidade do Texas, em Dallas, puxa um núcleo de rocha usado no estudo. A perfuração penetrou mais de 1.500 pés, voltando cerca de 250 milhões de anos

A partir dos sedimentos, eles também detectaram repetidas inversões na polaridade do campo magnético do planeta. Antes de escavar o solo no Arizona para obter os “testemunhos de rocha’ - como são chamados os “cilindros” de rocha de centenas de metros de comprimento - os cientistas já haviam obtidos testemunhos em Nova Jersey, que mostravam uma alternância entre períodos secos e úmidos ao longo de milhões de anos. Eles acreditavam que essas mudanças do clima registradas nas rochas de Nova Jersey eram controladas pelo ciclo de 405 mil anos, mas naquelas rochas não haviam camadas de Cinzas Vulcânicas que permitissem determinar as datas com precisão. Combinando os dois conjuntos de dados obtidos em Nova Jersey e no Arizona -, os cientistas demonstraram que os dois locais se desenvolveram ao mesmo tempo e que o intervalo de 405 mil anos de fato está ligado às variações do clima.

Profusão de ciclos

Este é um resultado surpreendente porque este longo ciclo, que havia sido predeterminado a partir dos movimentos planetários há 50 milhões de anos, foi confirmado há pelo menos 215 milhões de anos, disse o principal autor do estudo, Dennis Kent, da Universidade Rutgers New Brunswic of New Jersey revistaamazonia.com.br

Outro dos autores da pesquisa, o paleontólogo Paul Olsen, afirma que o ciclo não muda o clima diretamente, mas intensifica ou enfraquece os efeitos de outros ciclos de duração mais curta, que por sua vez afetam o clima diretamente.

Segundo os autores do novo estudo, a cada 405 mil anos, quando a excentricidade - ou “alongamento” - da órbita está em seu máximo, diferenças sazonais provocadas pelo ciclos mais curtos se tornam mais intensas, deixando os verões mais quentes, os invernos mais frios, os locais secos mais secos e os locais úmidos mais úmidos. Tudo se inverte 202,5 mil anos depois, quando a órbita da Terra se torna mais circular. Os cientistas explicam que Júpiter e Vênus exercem forte influência na órbita da Terra por causa do tamanho e da proximidade, respectivamente. Vênus é o planeta mais próximo da Terra, afastando-se dela no máximo 260 milhões de quilômetros. Júpiter está muito mais longe, mas é maior planeta do Sistema Solar, 2,5 vezes maior que a soma de todos os demais.

Efeito estufa é decisivo

Os sedimentos estabelecidos no que é hoje o Arizona, há mais de 200 milhões de anos, antes do surgimento dos dinossauros, foram comparados com núcleos anteriores semelhantes tomados em Nova York e Nova Jersey. Aqui, um núcleo recém-retirado

Em conjunto, esses ciclos mudam as proporções de energia solar que atingem a Terra em diferentes momentos do ano. Ele explica que há um ciclo menor a cada 100 mil anos, ligado à excentricidade da órbita da Terra, um de 41 mil anos, ligado à inclinação do eixo da Terra em relação à órbita em torno do Sol e um ciclo de 21 mil anos ligado a uma oscilação no eixo da Terra. Na década de 1970, cientistas revelaram que esses ciclos menores levaram à alternância entre períodos de aquecimento e resfriamento do planeta, produzindo as glaciações. Mas ainda há muita discussão sobre as inconsistências nos dados dos últimos milhões de anos e sobre as relações desses ciclos com o aumento e redução dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera - outro fator que controla o clima global. O que torna os resultados desses fenômenos ainda mais difíceis de entender é a interação constante entre eles. Eventualmente, um ciclo está fora de fase em relação aos outros e uns tendem a neutralizar os outros. Outras vezes, eles podem se combinar provocando mudanças drásticas e súbitas.

Segundo Olsen, o sistema é tão intrincado que ainda há muita pesquisa a ser feita para que se compreenda completamente as relações entre a órbita e o clima da Terra.”É uma coisa realmente complicada. Nós utilizamos basicamente o mesmo tipo de conhecimento matemático que é utilizado para enviar espaçonaves a Marte - e que funciona muito bem na prática. Mas quando começamos a estudar os movimentos interplanetários em um passado mais remoto e a ligá-los a mudanças no clima, temos que admitir que não entendemos todo o funcionamento”. Neste momento, segundo os cientistas, a órbita da Terra está no momento mais “circular” dos últimos 405 mil anos.”Para nós isso provavelmente não tem nenhum significado muito perceptível. Esse ciclo está bem longe do topo da lista de coisas que podem afetar o clima em escalas de tempo que nos afetem. Neste momento, todo dióxido de carbono que nós lançamos na atmosfera é um problema muito maior, com efeitos muito mais importantes nas nossas vidas. O ciclo planetário é bem mais sutil disse Kent.

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Aquecimento global modifica eixo de rotação da Terra Eixo de rotação da Terra se deslocou aproximadamente 10 centímetros por ano, cerca de 10 metros ao longo do século, parecendo estar à deriva. Cientistas da NASA identificam três causas desse desvio

Fotos: JPL-Caltech, Oline Nielsen

A linha azul clara mostra a direção observada do “movimento polar” - o desvio do eixo de rotação da Terra. A linha rosa representa a soma da influência da perda de gelo da Groenlândia (azul), rebote pós-glacial (amarelo) e a contribuição altamente incerta da convecção do manto profundo (vermelho). Essas linhas representam a direção da deriva, não a quantidade. Durante o século 20, a quantidade de deriva foi de 11 jardas (10 metros)

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m globo de mesa típico é projetado para ser uma esfera geométrica e girar suavemente quando você girar. Nosso planeta atual é muito menos perfeito - tanto na forma quanto na rotação. A Terra não é uma esfera perfeita. Quando gira no seu eixo de rotação - uma linha imaginária que passa pelos pólos norte e sul -, ele oscila e oscila. Esses movimentos do eixo de rotação são cientificamente referidos como “movimento polar”. As medições para o século XX mostram que o eixo de rotação se desloca cerca de 10 centímetros por ano. Ao longo de um século, isso se torna mais de 11 jardas (10 metros). Utilizando dados observacionais e baseados em modelos que abrangem todo o século XX, os cientistas da NASA identificaram pela primeira vez três processos amplamente categorizados responsáveis por essa deriva - a perda de massa contemporânea na Groenlândia, - a recuperação glacial e - a convecção do manto. “A explicação tradicional é que um pro32

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cesso, o ressalto glacial, é responsável por este movimento do eixo de rotação da Terra. Mas recentemente, muitos pesquisadores especularam que outros processos poderiam ter efeitos potencialmente grandes

sobre ele também”, disse o primeiro autor Surendra Adhikari, da NASA. Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia. “Montamos modelos para um conjunto de processos que são considerados impor-

Mudanças na orientação do eixo de rotação da Terra A terra mostrando o ângulo do eixo de rotação. Quando o ângulo aumenta, os verões tornam-se mais quentes e os invernos ficam mais frios. A Terra gira em torno de um eixo (imagine uma linha que une os pólos norte e sul), mas o eixo da Terra não está em pé, inclina-se em um ângulo. Este ângulo muda com o tempo e ao longo de 41 000 anos, passa de 22,1 graus para 24,5 graus e vice-versa. Quando o ângulo aumenta, os verões tornam-se mais quentes e os invernos ficam mais frios. revistaamazonia.com.br


tantes para impulsionar o movimento do eixo de rotação. Identificamos não um, mas três conjuntos de processos que são cruciais - e o derretimento da criosfera global (especialmente Groelândia) sobre o curso do século 20 é um deles”. Em geral, a redistribuição da massa dentro e dentro da Terra - como as mudanças na terra, nos lençóis de gelo, nos oceanos e no manto - afeta a rotação do planeta. Como as temperaturas aumentaram ao longo do século 20, a massa de gelo da Groenlândia diminuiu. De fato, um total de 7.500 gigatoneladas - o peso de mais de 20 milhões de Empire State Buildings - do gelo da Groenlândia derreteu no oceano durante este período de tempo. Isso faz da Groenlândia um dos maiores contribuintes de massa sendo transferido para os oceanos, fazendo com que o nível do mar suba e, consequentemente, um desvio no eixo de rotação da Terra. Enquanto o derretimento do gelo está ocorrendo em outros lugares (como a Antártida), a localização da Groenlândia faz dele um contribuinte mais significativo para o movimento polar. “Há um efeito geométrico de que se você tiver uma massa a 45 graus do Pólo Norte - que é a Groenlândia - ou do Pólo Sul (como as geleiras da Patagônia), terá um impacto maior na mudança do eixo de rotação da Terra do que uma massa que fica bem perto do Pólo “, disse o coautor

Iceberg gigante de 11 milhões de toneladas ameaça vila na Groenlândia. Moradores evacuaram suas casas na costa de Innaarsuit, no oeste da Groenlândia

Eric Ivins, também do JPL. hEstudos anteriores identificaram a recuperação glacial como o principal contribuinte para o movimento polar de longo prazo. E o que é rebote glacial? Durante a última era glacial, pesadas geleiras deprimiram a superfície da Terra, como um colchão deprime quando você se senta nela. Quando o gelo derrete ou é removido, a terra sobe lentamente de volta à sua posição original.

Relação entre o armazenamento de água continental e a oscilação no eixo de rotação da Terra

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No novo estudo, que contou fortemente com uma análise estatística de tal recuperação, os cientistas descobriram que a recuperação glacial provavelmente será responsável por apenas cerca de um terço da deriva polar no século XX. Os autores argumentam que a convecção do manto constitui o terço final. A convecção do manto é responsável pelo movimento das placas tectônicas na superfície da Terra. É basicamente a circulação de material no manto causado pelo calor do núcleo da Terra. Ivins descreve como semelhante a uma panela de sopa colocada no fogão. À medida que a panela, ou manto, aquece, os pedaços da sopa começam a subir e descer, formando essencialmente um padrão de circulação vertical - exatamente como as rochas que se movem pelo manto da Terra. Com esses três amplos colaboradores identificados, os cientistas podem distinguir mudanças de massa e movimentos polares causados por processos terrestres de longo prazo sobre os quais temos pouco controle daqueles causados pela mudança climática. Eles agora sabem que, se a perda de gelo da Groenlândia se acelerar, o movimento polar provavelmente também. O artigo na Earth and Planetary Science Letters é intitulado “O que impulsiona o movimento polar do século 20?” Além do JPL, as instituições co-autoras incluem o Centro Alemão de Pesquisa em Geociências, Potsdam; a Universidade de Oslo, na Noruega; Universidade Técnica da Dinamarca, Kongens Lyngby; o Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia, Copenhague, Dinamarca; e a Universidade de Bremen, na Alemanha. REVISTA AMAZÔNIA

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Aquecimento de 2°C terá grande incidência sobre o planeta Alta do nível do mar, perda de biodiversidade, acesso complicado a alimentos, padrão de vida mais baixo... Mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento a 2°C, as consequências serão significativas - apontam estudos divulgados recentemente

Fotos: Rosamund Pearce, Carbon Brief

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imitar o aquecimento global a 2°C não impedirá impactos climáticos destrutivos e fatais, como esperado, concluíram dezenas de especialistas em uma série de estudos científicos. Um mundo que se aquece a 2°C - considerado o teto de temperatura para um planeta seguro para o clima - poderia ver o deslocamento em massa devido à elevação dos mares, a queda na renda per capita, a escassez regional de alimentos e água fresca e a perda de espécies animais e vegetais a uma velocidade acelerada. Os países pobres e emergentes da Ásia, África e América Latina serão os mais afetados: “Detectamos mudanças significativas nos impactos climáticos em um mundo 2°C mais quente. Por isso, precisamos adotar medidas para evitar tal cenário”, explicou Dann Mitchell, da Universidade de Bristol, principal autor do texto que introduz esta edição especial da revista britânica “Philosophical Transactions of the Royal Society A”. Com apenas 1°C de aquecimento até agora, a Terra viu um crescendo de secas, ondas de calor e tempestades aumentadas pela elevação dos mares. Promessas nacionais voluntárias feitas sob o pacto de Paris para reduzir as emissões de CO2, se cumpridas, renderiam um aquecimento de 3 graus C na melhor das hipóteses. O tratado também exige que - até o final do século - a humanidade pare de adicionar mais gases de efeito estufa à atmosfera do que os oceanos e as florestas podem absorver, um limiar conhecido como “emissões líquidas zero”. Mais de dois anos após a assinatura do acordo climático de Paris, que visa a manter o aumento do termômetro abaixo de 2°C, ou mesmo de 1,5°C, em comparação com a era pré-industrial, os cerca de 20 estudos comparam o impacto de ambos os cenários.

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Hora de abandonar 2°C? Segundo Christopher Shaw, pesquisador da Universidade de Sussex , tal proposta ameaça minar os níveis já frágeis de confiança na ciência climática, simplesmente porque a realidade está divergindo das reivindicações atribuídas à ciência do clima. Os invernos severos experimentados no Reino Unido nos últimos anos não foram previstos por modelos climáticos, deixando as pessoas mais céticas perguntando: “o que aconteceu com o aquecimento global?” Continuar perseguindo um limite que não temos mais chance de alcançar simplesmente fará os proponentes dessa estratégia parecerem tolos. Pode ser possível manter a aspiração de dois graus, mas não mais falar sobre isso como um limite que separa a mudança climática segura de mudanças climáticas perigosas, embora, novamente, esse exercício de renomeação possa impactar negativamente na credibilidade daqueles que já defenderam dois graus como um limite perigoso. Decidir o que fazer sob condições de incerteza científica é sobre valores, valores, esperanças e preocupações que informam a narrativa em que todos nos engajamos constantemente. Agora, à luz do fracasso da ideia de dois graus, nosso foco deve ser trabalhar em como podemos começar uma conversa global sobre nossas opções. Essa é uma perspectiva excitante, porque através dessas deliberações começamos a nos apropriar de uma crise que, goste ou não, vai afetar a todos nós. Ninguém pode nos ajudar, a não ser nós mesmos. E essa é a boa notícia sobre a mudança climática.

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“Um dos desafios é a rapidez com que chegaremos a +2°C”, diz Mitchell, referindo-se ao tempo que o mundo terá, ou não, para se adaptar às múltiplas consequências do aquecimento global.O grupo de especialistas do clima da ONU (Giec) deve apresentar em outubro um relatório sobre o cenário de um planeta 1,5°C mais quente. Em janeiro, o projeto de texto estimava que, em função dos compromissos dos Estados e das trajetórias das emissões de CO2, era “extremamente improvável” alcançar a meta.

“Os impactos para o século 21 serão adiados, e não evitados”, observam os pesquisadores. Então, “adaptação é essencial”, adverte Robert Nicholls, da Universidade de Southampton.

Acesso a alimentos Um aumento das temperaturas levará a uma maior insegurança alimentar em todo o mundo, com inundações e secas mais severas, alerta um dos estudos.

Com um aquecimento de 2ºC, Omã, Bangladesh, Mauritânia, Iêmen e Níger seriam os países mais vulneráveis à escassez. Já Mali, Burkina Faso e Sudão veriam sua situação melhorar ligeiramente, uma vez que sofreriam com secas menos severas. Mas isso seria uma “exceção”, diz o professor Richard Betts, que liderou o estudo. No caso de um aquecimento de 1,5°C, “76% dos países estudados registrariam um aumento em sua vulnerabilidade à insegurança alimentar”.

Aumento dos oceanos Mesmo que o aumento da temperatura se estabilize em +1,5, ou +2°C, o nível do mar continuará a subir “por pelo menos três séculos”, de 90 a 120 centímetros até 2300, de acordo com um dos estudos. Isso resultará em inundações, erosão e salinização das águas subterrâneas. Quanto mais otimista for a situação, mais as ilhas do Pacífico, do delta do Ganges, ou as cidades costeiras, terão tempo para construir defesas, ou mover populações. Se nada for feito para limitar as emissões de CO2, a elevação média do nível do mar, causada pelo derretimento das geleiras e pela dilatação da água, chegará a 72 centímetros até 2100. Mas essa perspectiva é adiada em 65 anos no cenário a +2°C, e 130 anos, para +1,5°C.

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O aumento das temperaturas médias regionais em todo o mundo quando as temperaturas médias globais atingem 2°C acima dos níveis pré-industriais

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Crescimento das desigualdades Se +1,5°C não deve mudar muita coisa no crescimento econômico global, “um aquecimento de 2°C sugere taxas de crescimento significativamente menores para muitos países, especialmente em torno do equador”, diz à AFP Felix Pretis, economista da Universidade de Oxford. A diferença é ainda maior com o PIB per capita. Até o final do século, será 5% menor, se o aquecimento atingir 2°C em vez de 1,5°C, de acordo com este estudo. Além disso, “os países que hoje são pobres devem ficar ainda mais pobres com as mudanças climáticas, e ainda mais no caso de +2°C do que +1,5°C, enquanto os países ricos provavelmente serão menos afetados”, aponta Felix Pretis.

Sua superfície seria equivalente à da “rede atual de áreas protegidas”. Além disso, limitar o aquecimento poderia reduzir em até 50% o número de espécies em risco de ver reduzido pela metade seu hábitat natural.

Hora de abandonar 2°C? Segundo Christopher Shaw, pesquisador da Universidade de Sussex , tal proposta ameaça minar os níveis já frágeis de confiança na ciência climática, simplesmente

porque a realidade está divergindo das reivindicações atribuídas à ciência do clima. Os invernos severos experimentados no Reino Unido nos últimos anos não foram previstos por modelos climáticos, deixando as pessoas mais céticas perguntando: “o que aconteceu com o aquecimento global?” Continuar perseguindo um limite que não temos mais chance de alcançar simplesmente fará os proponentes dessa estratégia parecerem tolos. Pode ser possível manter a aspiração de dois graus, mas não mais falar sobre isso como um limite que separa a mudança climática segura de mudanças climáticas perigosas, embora, novamente, esse exercício de renomeação possa impactar negativamente na credibilidade daqueles que já defenderam dois graus como um limite perigoso. Decidir o que fazer sob condições de incerteza científica é sobre valores, esperanças e preocupações que informam a narrativa em que todos nos engajamos constantemente. Agora, à luz do fracasso da ideia de dois graus, nosso foco deve ser trabalhar em como podemos começar uma conversa global sobre nossas opções. Essa é uma perspectiva excitante, porque através dessas deliberações começamos a nos apropriar de uma crise que, goste ou não, vai afetar a todos nós. Ninguém pode nos ajudar, a não ser nós mesmos. E essa é a boa notícia sobre a mudança climática.

Mares em ascensão Sob um cenário de 2°C, os oceanos sobem cerca de 0,5m ao longo do século 21, mas bem acima de 1m em 2300. Isso levaria o oceano centenas, senão milhares, de anos para “responder plenamente” - más notícias para 500 milhões de pessoas que vivem em deltas de baixa altitude “altamente vulneráveis”, principalmente na Ásia, juntamente com cerca de 400 milhões de pessoas nas cidades costeiras, muitas das quais já estão afundando.

Biodiversidade Se um aumento das temperaturas perturbará parte da fauna e da flora, “conter o aquecimento a 1,5°C em vez de 2°C (...) aumentará de 5,5% para 14% as áreas do globo que poderiam servir como um refúgio climático para plantas e animais”, de acordo com outro estudo.

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Ambientalistas planejam lançar um satélite com sensor de metano

Cinquenta anos atrás, um astronauta da NASA tirou uma foto da órbita lunar mostrando a Terra se elevando acima da lua, e isso ajudou a inspirar um movimento ambientalista. Agora são os ambientalistas que estão enviando missões ao espaço

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Fundo de Defesa Ambiental anunciou recentemente, um plano para construir e lançar um satélite que medirá as principais fontes globais de metano, incluindo 50 regiões de petróleo e gás que compõem cerca de 80% da produção, além de confinamentos e aterros sanitários. A organização disse que ainda está trabalhando nos detalhes finais com os fabricantes de instrumentos e que o projeto deve chegar a dezenas de milhões de dólares e será financiado por filantropia. Pode levar três anos antes do lançamento, de acordo com Mark Brownstein, vice-presidente do programa de clima e energia da EDF. O presidente da EDF, Fred Krupp, apresentou o projeto de satélite em um evento da TED Conferences LLC em Vancouver. A poluição do metano é responsável por cerca de um quarto do aquecimento da Terra no último século. Molécula para molécula, é um gás de efeito estufa mais poderoso que o dióxido de carbono, que, por causa de seu volume muito maior, é a maior causa das mudanças climáticas. O ano passado trouxe maior atenção ao metano, uma preocupação dos cientistas. A Agência Internacional de Energia, em outubro passado, calculou que três quartos das atuais emissões de metano (76 megatons) são evitáveis. A Academia Nacional de Ciências, em março, documentou em um relatório de mais de 200 páginas as muitas maneiras pelas quais os EUA podem fazer um trabalho melhor, medindo de onde esse gás de efeito estufa está vindo. Fred Krupp, presidente da EDF, apresentou o projeto de satélite em um evento da TED Conferences 2018

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Fotos: Karen Robinson Ambientalistas planejam lançar um satélite com sensor de metano, o MethaneSAT, irá medir as principais fontes globais de metano

O MethaneSAT, como o EDF chama de projeto, está sendo desenvolvido em parceria com cientistas da Universidade de Harvard e do Smithsonian Astrophysical Observatory. Tom Ingersoll, um empresário que vendeu sua empresa de satélites, a Skybox Imaging Inc., para o Google em 2014, está liderando seu desenvolvimento. Ingersoll disse que foi atraído pelo projeto por causa de sua combinação incomum de fatores - uma missão científica ambiciosa, financiada por uma organização não-governamental e muito menos dispendiosa por reduções drásticas de custos em voos espaciais comerciais.

O fundo investiu pelo menos US $ 20 milhões desde 2012, que pagou pela pesquisa científica primária. Com base nas descobertas de mais de 140 pesquisadores de mais de 40 instituições, o trabalho gerou quase três dúzias de artigos revisados por pares que documentam vazamentos na infraestrutura de petróleo e gás dos Estados Unidos. Também patrocinou a detecção de metano aerotransportado e terrestre para refinar as avaliações da poluição causada pelo metano. A EDF usou a nova ciência ambiental para informar seu trabalho com os formuladores de políticas. Jason Bordoff, diretor fundador do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, disse que a contribuição da EDF para definir melhor as emissões de metano foi “muito valiosa e fez uma grande diferença”. Se a experiência dos EUA é uma indicação, os satélites - EDF e outros - ajudará a redefinir a compreensão global do problema do metano. A análise da Agência Internacional de Energia de outubro “nos lembrou quão pobre é nosso entendimento sobre a questão global”, disse ele. O Fundo de Defesa Ambiental diz que seu projeto deve trazer melhor resolução em uma área maior do que os esforços existentes, e seus gerentes estão trabalhando com a equipe Européia Tropomi.

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Alterações climáticas vão impor um futuro nuclear? Fotos: Divulgação

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mmanuel Macron, anunciou recentemente que a “maior central nuclear do mundo” na Índia (para diminuir a dependência de combustíveis fósseis) e a China querem triplicar a capacidade nuclear em 20 anos, mas o futuro ainda não está escrito. O Japão chorava na oportunidade, os que morreram há sete anos em Fukushima e em Taiwan há manifestações contra a energia nuclear. E onde ficam as energias renováveis? Se há países apostados em pôr fim à energia nuclear - a Alemanha já anunciou que pretende fechar todos os reatores antes de 2022 e o Japão, que recentemente lembrou as vítimas de Fukushima após o desastre há sete anos, também quer abandoná-la -, o mundo parece não estar de acordo e são vários os locais em que estão a ser construídas novas centrais. Neste momento, e de acordo com a World Nuclear Association, há 447 reatores nucleares no mundo e e há mais 61 em construção, com uma nova central a ter sido anunciada este sábado e a China a querer triplicar a sua capacidade nuclear nos próximos 20 anos.

O primeiro-ministro, Narendra Modi, e Emmanuel Macron, presidente da França, quando os dois países assinaram 14 pactos em áreas-chave de defesa, segurança e energia nuclear

O assunto voltou ao topo da agenda com o Presidente francês anunciando em Nova Deli, numa declaração conjunta com o primeiro-ministro indiano, a construção da “maior central nuclear do mundo”, na Índia. A ideia é juntar os esforços da empresa francesa EDF, do setor elétrico, e da sua homóloga indiana Nuclear Power Corporation of India (NPCIL) na criação de uma central em Jaitapur, na costa oeste do país e composta por seis reatores.

“Quando terminar, o projeto de Jaitapur será a maior central nuclear do mundo com uma capacidade total de 9,6 GW” (gigawatts), especificaram os responsáveis políticos sobre a central a construir. O projeto foi negociado durante uma década e tem sido contestado pelos habitantes locais por razões ambientais, que ainda este sábado se manifestaram na zona escolhida para a construção. Na declaração conjunta, os responsáveis políticos referem que, “além do abastecimento de energia renovável, [a central] permitirá à Índia atingir o seu objetivo de ter 40% de energia não fóssil até 2030”.

O Futuro será Atômico?

Os japoneses lembram os que morreram há sete anos na sequência de um terramoto que mergulhou o país numa crise nuclear

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A Índia é o país com a segunda maior população do mundo, com 1,25 mil milhões de habitantes - é apenas ultrapassada apenas pela China - e tem um grave problema de poluição. Os últimos números apontam o país governado por Narendra Modi como o terceiro maior poluidor do planeta — é responsável por 4% das emissões de gases com efeito de estufa, causadoras das alterações climáticas —, mas o gigante asiático já se comprometeu a melhorar o seu desempenho. A dependência de combustíveis fósseis é um dos maiores problemas do país, algo que partilha com os países desenvolvidos, e a energia nuclear está a ser vista como uma solução para o problema.

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A o d S P

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em 2022 em empréstimos e doações, para apoiar projetos nos sessenta países membros desta organização. Este esforço eleva para mil milhões de euros o compromisso de Paris desde a criação da Aliança Solar Internacional (ASI), uma coligação resultante da cimeira de Paris, da COP21. Sobre a aposta nas energias renováveis, o primeiro-ministro indiano expressou que “para incentivar o uso da energia solar, a tecnologia deve estar disponível”. “Recursos financeiros, baixos custos, desenvolvimento de tecnologia de armazenamento, produção em massa. Para a inovação é necessário um ecossistema”, considerou Narendra Modi. Se Ségolène Royal, antiga ministra da ecologia e enviada especial para a implementação do ASI, lembrou “o paradoxo” de os países entre os trópicos “serem os mais ensolarados do mundo ao mesmo tempo que não desfrutam da energia solar”, Macron pediu respostas. O chefe de Estado francês apelou ao setor privado, para que se envolva mais ativamente na produção de energia solar, até porque “os investimentos solares estão a tornar-se mais lucrativos”.

Manifestação contra a energia nuclear

Apesar das vantagens face aos combustíveis fósseis, a solução nuclear há muito que é contestada pelas organizações de defesa do ambiente, ao ponto de os protestos contra a energia atómica não deverem baixar nos próximos tempos. O risco de poluição de água e solos em caso de acidente nas centrais, assim como a inexistência de uma solução para os resíduos resultantes da atividade das unidades, são apontados pelos ambientalistas, que querem um mundo livre de energia nuclear. No mesmo dia, as ruas de Taiwan também receberam manifestações contra a energia atómica, com os manifestantes a pedirem ao governo para fechar as centrais existentes e apostarem nas energias renováveis.

Para o Presidente francês, trata-se de uma prioridade na luta contra as mudanças climáticas, numa altura em que as alterações provocadas pelo homem parecem estar a provocar fenómenos meteorológicos mais extremos. França compromete-se assim com 700 milhões de euros adicionais

Aposta francesa nas energias renováveis Mas não é apenas do lado da energia nuclear que está a aposta e Emmanuel Macron anunciou ainda em Nova Deli, que França vai aumentar significativamente o seu financiamento para promover a energia solar nos países emergentes.

Na Índia, maior usina de energia nuclear do mundo

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Mundo deve ter onda de calor a cada dois anos Onda de calor excepcional que afeta o hemisfério norte, como na Grécia, Escandinávia, Canadá e Japão, assolados por temperaturas elevadas recentemente, deixaram dezenas de mortos. A tendência é o mundo seguir esquentando – algo que se tornará cada vez mais frequente devido ao aquecimento global, com consequências dramáticas, alertam especialistas

Fotos: Karen Robinson

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uase todo o mundo adora os dias ensolarados e gosta de reclamar quando chove. No entanto, o céu azul e o brilho do sol do verão no Hemisfério Norte ocultam o fato nada agradável de que, em todo o globo, as temperaturas máximas alcançaram um nível preocupante. As consequências são incêndios florestais, safras destruídas e a morte de muitos seres humanos. O ano de 2016 acusou as temperaturas mais elevadas desde as primeiras medições. A culpa foi uma combinação do evento climático El Niño com o aquecimento global. Embora em 2018 se vivencie o fenômeno contrário, La Niña, que faz baixarem as temperaturas, este foi o junho mais quente já registrado, o que indica uma onda de calor. Tecnicamente, uma onda de calor é quando em pelo menos cinco dias seguidos as temperaturas ultrapassam as médias em 5ºC ou mais. Dias extremamente quentes isolados, por sua vez, não são atribuídos a uma onda de calor ou ao aquecimento global.

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Especialistas apontam ligação entre aquecimento global e incêndios florestais

Segundo a porta-voz da Organização Mundial de Meteorologia Clare Nullis, “a tendência é continuarmos tendo ondas de calor extremas, como consequência das mudanças climáticas”. Para os habitantes do sul da Europa, 30 ºC no verão não são nada demais. Para alguém do Reino Unido ou da Irlanda, em contrapartida, isso é mais do que fora do comum, pois lá as temperaturas em junho normalmente mal ultrapassam os 20 ºC.

Em 28 de junho de 2018, os termômetros marcaram 31,9 ºC em Glasgow, na Escócia. Em Shannon, na Irlanda, eles chegaram aos 32 ºC, estabelecendo um novo recorde. Os alemães, por sua vez, já se acostumaram a mais de 30 ºC em maio e junho, e em parte até gostam do calor. Na Geórgia, por outro lado, mediu-se em junho o recorde absoluto de 40,5 ºC. Em Ouargla, cidade saariana na Argélia, registraram-se incríveis 51,3 ºC. Montreal, no Canadá, acusou no início de julho suas maiores máximas em 147 anos. A onda de calor custou a vida a mais de 70 pessoas, sobretudo devido a problemas circulatórios; da mesma forma que a 14 no Japão, onde mais de 2 mil tiveram que ser hospitalizadas. Com o ar mais quente e a vegetação mais seca, os incêndios também devem se multiplicar. Segundo a Comissão europeia, 2017 foi um dos piores anos de incêndios na Europa, com 800.000 hectares queimados em Portugal, Espanha e Itália. E um estudo europeu (PESETA II) estima que as superfícies suscetíveis a queimarem no sul da Europa poderiam aumentar de 50% a 100% durante o século XXI, segundo a intensidade do aquecimento global.

Do sono a insetos Em face do atual cenário de mudança climática global, ondas de calor deverão ocorrer “a cada dois anos, na segunda metade do século 21”, prediz Vladimir Kendrovski, responsável pelo departamento Mudança Climática e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nas últimas décadas, a onda de calor na Europa causou mais mortes do que qualquer outro fenômeno meteorológico extremo”. Os incêndios tendem a se multiplicar

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A razão para tal é que, sob certas condições, as temperaturas altas resultam em “smog veranil”, agravando afecções circulatórias e respiratórias, enquanto o pólen no ar provoca ataques de asma mais frequentes. O calor igualmente perturba o sono. Então, embora o corpo precise se recuperar urgentemente do estresse adicional, não consegue fazê-lo nem durante a noite. “Crianças pequenas e idosos são os que mais sofrem”, explica Simone Sandholz, do Instituto Universitário de Meio Ambiente e Segurança Humana das Nações Unidas. A maioria das vítimas das ondas de calor “vive em cidades densamente habitadas, com pouca ventilação”, complementa Sandholz. Segundo Nullis, a combinação de calor e umidade revela-se especialmente fatal. Até mesmo o cérebro deixa de funcionar devidamente, se o tempo é quente demais, podendo perder até 10% de sua velocidade. Uma pesquisa realizada em escolas de Nova York concluiu que, devido ao calor, 90 mil alunos talvez tenham fracassado em exames em que normalmente passariam. O clima quente igualmente oferece condições perfeitas à reprodução de vespas e outros insetos agressivos. Na Inglaterra, as chamadas de emergência devido a picadas de insetos quase duplicaram em julho. No entanto, bem mais perigoso do que os que provocam um doloroso calombo são os mosquitos, como potenciais transmissores de malária, dengue e outras doenças infecciosas. Kendrovski, da OMS, está seguro da correlação entre as mudanças climáticas e as moléstias transmitidas por esses vetores.

Florestas e colheitas destruídas Incêndios florestais são outra consequência do sol ardente. Só no Reino Unido, Suécia e Rússia, 80 mil hectares de florestas foram devastados devido a fenômenos meteorológicos extremos. Campos cultivados também secam e até pegam fogo. No Reino Unido, os fazendeiros estão tendo dificuldade de cobrir a demanda de verduras frescas e ervilhas, devido às safras insuficientes ou mesmo ausentes. Em menor escala, plantações de trigo, repolho e brócolis estão ameaçadas. Na Alemanha, os agricultores já se acostumaram com a ideia de que a safra de cereais será muito inferior à dos anos anteriores. “Novamente vamos ter uma colheita muito abaixo da média”, queixa-se Joachim Rukwied, presidente da Federação dos Agricultores Alemães (DVB). Ele revela que alguns fazendeiros consideram sequer fazer a colheita, mas sim destruí-la logo, já que o trabalho envolvido não compensaria.

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Os raios, força mais quente que o sol, se relacionam com incêndios florestais Incêndios florestais são outra consequência do sol ardente

Em face do atual cenário de mudança climática global, ondas de calor deverão ocorrer “a cada dois anos, na segunda metade do século 21”, prediz Vladimir Kendrovski, responsável pelo departamento Mudança Climática e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Adaptação e urbanismo Com tais temperaturas, o acesso a condicionadores de ar e refrigeradores parece ser um fator de grande importância. No entanto ele também tem seu lado negativo, uma vez que a eletricidade consumida por esses sistemas provém sobretudo de fontes fósseis. Portanto, quanto mais se refrigera, mais se contribui para a mudança climática e mais as temperaturas sobem, formando-se um círculo vicioso. Em termos de combate aos efeitos da mudança do clima global, Kendrovski ressalta que “se o sistema de saúde fosse mais bem adaptado aos sistemas meteorológicos, seria possível evitar muitos problemas de saúde causados pela onda de calor”. Lançando o apelo “Não devemos subestimar o calor”, Sandholz, por sua vez, prefere apostar no planejamento urbano: parques ou corredores de vento poderiam minorar o efeito das altas temperaturas sobre as cidades, defende a funcionária da ONU.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostraram que, a menos que medidas drásticas sejam tomadas para limitar as emissões de gases estufa, poderemos vivenciar, repetidamente, condições climáticas nas quais humanos não podem sobreviver desprotegidos por longos períodos de tempo. A questão não é somente a alta temperatura, mas o calor associado à umidade elevada. O clima quente junto à umidade também é um cenário perfeito para a proliferação de insetos. Isso é particularmente preocupante para países vulneráveis a doenças como a malária ou a dengue – doenças disseminadas por agentes vetores, ou seja, transmitidas pela picada de espécies como mosquitos, carrapatos ou pernilongos. “As doenças transmitidas por vetores estão associadas às mudanças climáticas, devido à sua ocorrência generalizada e à sensibilidade dos agentes vetores a seus habitats”, diz Vladimir Kendrovski, diretor técnico de saúde e mudança climática do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa.

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90% da população mundial respira ar muito poluído

Nove em cada dez pessoas no planeta respiram ar que contém altos níveis de poluentes e mata sete milhões de pessoas a cada ano, de acordo com um novo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS)

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s níveis de poluição do ar permanecem perigosamente altos em muitas partes do mundo. Novos dados da OMS mostram que 9 em cada 10 pessoas respiram ar contendo altos níveis de poluentes. Estimativas atualizadas revelam um alarmante número de mortes de 7 milhões de pessoas todos os anos, causadas pela poluição ambiental (externa) e doméstica do ar. “A poluição do ar ameaça a todos nós, mas as pessoas mais pobres e marginalizadas suportam o peso do fardo”, diz o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “É inaceitável que mais de 3 bilhões de pessoas - a maioria mulheres e crianças - ainda estejam respirando fumaça todos os dias por usarem fogões poluidores e combustíveis em suas casas. Se não tomarmos medidas urgentes sobre a poluição do ar, nunca chegaremos perto de alcançar o desenvolvimento sustentável”.

7 milhões de mortes todos os anos

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Poluição atmosférica ao ar livre foi associada a 4,2 milhões de mortes anualmente no relatório da OMS

A OMS estima que cerca de 7 milhões de pessoas morrem a cada ano de exposição a partículas finas em ar poluído que penetram profundamente nos pulmões e no sistema cardiovascular, causando doenças como derrame, doenças cardíacas, câncer de pulmão, doenças pulmonares obstrutivas crônicas e infecções respiratórias, incluindo pneumonia. Só a poluição do ar ambiente causou cerca de 4,2 milhões de mortes em 2016, enquanto a poluição do ar por cozimento com combustíveis poluentes e tecnologias causou uma estimativa de 3,8 milhões de mortes no mesmo período. Mais de 90% das mortes relacionadas à poluição do ar ocorrem em países de baixa e média renda, principalmente na Ásia e na África, seguidos pelos países de renda baixa e média da região do Mediterrâneo Oriental, Europa e Américas. Cerca de 3 bilhões de pessoas - mais de 40% da população mundial - ainda não têm acesso a combustíveis limpos e tecnologias em suas casas, a principal fonte de poluição do ar doméstico. A OMS monitora a poluição do ar por mais de uma década e, enquanto a taxa de acesso a combustíveis e tecnologias limpas está aumentando em todos os

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lugares, as melhorias não estão nem acompanhando o crescimento populacional em muitas partes do mundo, particularmente na África Subsaariana. A OMS reconhece que a poluição do ar é um fator de risco crítico para doenças não transmissíveis (DCNT), causando um quarto (24%) de mortes por doenças cardíacas, 25% de acidente vascular cerebral, 43% de doença pulmonar obstrutiva crônica e 29% de câncer de pulmão.

Mais países agindo Mais de 4300 cidades em 108 países estão agora incluídas no banco de dados de qualidade do ar ambiente da OMS, tornando-o o banco de dados mais abrangente do mundo sobre a poluição do ar ambiente. Desde 2016, mais de 1.000

cidades adicionais foram adicionadas ao banco de dados da OMS, o que mostra que mais países estão medindo e tomando medidas para reduzir a poluição do ar do que nunca. A base de dados coleta as concentrações médias anuais de material particulado fino (PM10 e PM2.5). O PM2.5 inclui poluentes, como sulfato, nitratos e carbono negro, que representam os maiores riscos para a saúde humana. As recomendações de qualidade do ar da OMS exigem que os países reduzam sua poluição do ar para valores médios anuais de 20 μg / m3 (para PM10) e 10 μg / m3 (para PM25). “Muitas das megacidades do mundo ultrapassam os níveis de referência da OMS para qualidade do ar em mais de 5 vezes, representando um grande risco para a saúde das pessoas”, diz Maria Neira,

O estudo é uma análise do que a OMS diz ser o banco de dados mais abrangente do mundo sobre a poluição do ar ambiente. A organização coletou os dados de mais de 4.300 cidades e 108 países, informa a CNN. As pessoas na Ásia e na África enfrentam os maiores problemas, de acordo com o estudo. Mais de 90% das mortes relacionadas à poluição do ar acontecem lá, mas cidades nas Américas, na Europa e no Mediterrâneo Oriental também têm níveis de poluição do ar que estão além do que a OMS considera saudáveis. Os novos dados da OMS mostram que as cidades dos EUA no lado mais poluído da lista incluem Los Angeles, Bakersfield e Fresno, Califórnia; Indianapolis; e a área de Elkhart-Goshen, em Indiana. revistaamazonia.com.br

diretora do Departamento de Saúde Pública, Determinantes Sociais e Ambientais da Saúde da OMS. “Estamos vendo uma aceleração do interesse político neste desafio global de saúde pública. O aumento das cidades que registram os dados de poluição do ar reflete um compromisso com a avaliação e o monitoramento da qualidade do ar. A maior parte desse aumento ocorreu em países de alta renda, mas esperamos ver um aumento similar dos esforços de monitoramento em todo o mundo ”. Enquanto os dados mais recentes mostram que os níveis de poluição do ar ambiente ainda são perigosamente altos na maior parte do mundo, eles também mostram algum progresso positivo. Os países estão tomando medidas para combater e reduzir a poluição do ar a partir de material particulado. Por exemplo, em apenas dois anos, o programa Pradhan Mantri Ujjwala Yojana da Índia forneceu cerca de 37 milhões de mulheres vivendo abaixo da linha da pobreza com conexões de GLP gratuitas para apoiá-las a mudar para o uso de energia doméstica limpa. A Cidade do México se comprometeu com padrões de veículos mais limpos, incluindo a mudança para ônibus sem fuligem e a proibição de carros a diesel privados até 2025. As principais fontes de poluição do ar a partir de material particulado incluem o uso ineficiente de energia por parte das famílias, da indústria, dos setores de agricultura e transporte e de usinas termoelétricas a carvão. Em algumas regiões, areia e poeira do deserto, queima de lixo e desmatamento são fontes adicionais de poluição do ar. A qualidade do ar também pode ser influenciada por elementos naturais, como fatores geográficos, meteorológicos e sazonais. A poluição do ar não reconhece fronteiras. Melhorar a qualidade do ar exige uma ação sustentada e coordenada do governo em todos os níveis. Os países precisam trabalhar juntos em soluções para o transporte sustentável, produção e uso de energia mais eficiente e renovável e gestão de resíduos. A OMS trabalha com muitos setores, incluindo transporte e energia, planejamento urbano e desenvolvimento rural para apoiar os países a enfrentar esse problema.

Principais conclusões:

A OMS estima que cerca de 90% das pessoas em todo o mundo respiram ar poluído. Nos últimos 6 anos, os níveis de poluição do ar ambiente permaneceram altos e aproximadamente estáveis, com concentrações decrescentes em alguma parte da Europa e nas Américas.

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Os níveis mais altos de poluição do ar são na Região do Mediterrâneo Oriental e no Sudeste da Ásia, com níveis médios anuais frequentemente superiores a 5 vezes os limites da OMS, seguidos por cidades de baixa e média renda na África e no Pacífico Ocidental.

África e alguns países do Pacífico Ocidental têm uma grave falta de dados sobre a poluição do ar. Para a África, o banco de dados agora contém medições de PM para mais de duas vezes mais cidades do que as versões anteriores, no entanto, os dados foram identificados para apenas 8 dos 47 países da região.

• •

A Europa tem o maior número de lugares que relatam dados.

Em geral, os níveis de poluição do ar ambiente são mais baixos nos países de alta renda, particularmente na Europa, nas Américas e no Pacífico Ocidental.Em cidades de países de alta renda na Europa, a poluição do ar reduziu a expectativa de vida média entre 2 e 24 meses, dependendo dos níveis de poluição. “Líderes políticos em todos os níveis de governo, incluindo os prefeitos da cidade, estão agora começando a prestar atenção e tomar medidas”, acrescenta o Dr. Tedros.

“A boa notícia é que estamos vendo mais e mais governos aumentando os compromissos para monitorar e reduzir a

poluição do ar, bem como uma ação mais global do setor de saúde e outros setores como transporte, habitação e energia.” Este ano, a OMS convocará a primeira Conferência Global sobre Poluição do Ar e Saúde (30 de outubro a 1º de novembro de 2018) para reunir governos e parceiros em um esforço global para melhorar a qualidade do ar e combater as mudanças climáticas. http://www.who.int/airpollution/events/conference/en/

Banco de dados de qualidade do ar da OMS O banco de dados se baseia principalmente em sistemas públicos de monitoramento da qualidade do ar bem estabelecidos como fonte de dados confiáveis em diferentes partes do mundo. A principal fonte de dados inclui relatórios oficiais dos governos. Outras fontes incluem a Clean Air Asia e a Agência Europeia do Ambiente para a base de dados de relatórios electrónicos da Qualidade do Ar da Europa, medições do solo compiladas para o projecto Global Burden of Disease e artigos de revistas com revisão por pares. O banco de dados, juntamente com o resumo dos resultados, a metodologia usada para compilar os dados e os agrupamentos de países da OMS podem ser encontrados aqui.

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Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente A OMS é a agência de custódia do Indicador de Metas de Desenvolvimento Sustentável para reduzir substancialmente o número de mortes e doenças causadas pela poluição do ar até 2030 (ODS 3.9.1), bem como dois outros indicadores relacionados à poluição do ar - ODS 7.1.2 Proporção da população com dependência primária de combustíveis e tecnologias limpas, e SDG 11.6.2. Todos os indicadores estão disponíveis aqui. A exposição modelada atualizada ao ambiente PM2.5 e à poluição do ar doméstica, desenvolvida em colaboração com a Universidade de Exeter, Reino Unido, bem como as estimativas de carga de doenças associadas para 2016 podem ser encontradas no local de poluição do ar.

Poluição atmosférica ao ar livre foi associada a 4,2 milhões de mortes anualmente no relatório da OMS

Campanha de poluição do ar “Respirar a vida” Em conjunto com o lançamento de dados, a campanha de comunicação global “Respirar a vida” lançou um desafio para incentivar os cidadãos a tomar medidas para reduzir a poluição do ar. O primeiro da série é “Maratona por mês”, que convoca as pessoas a se comprometerem a deixar o carro para trás e usar formas alternativas de transporte pelo menos a distância de uma maratona (42 km / 26 milhas) por um mês. A “Respirar a vida”, é uma parceria entre a OMS, o Ambiente da ONU e a Coalizão Clima e Ar Puro para Reduzir os Poluentes Climáticos de Vida curta, que visa aumentar a conscientização e a ação sobre a poluição do ar por parte de governos e indivíduos. www.breathelife2030.org.

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O aquecimento global avança em direção ao perigoso “ponto de inflexão”, uma vez que enfraquece a circulação oceânica chave Fotos: Carbon Brief, Instituto Potsdam, IPCC, Praetorius (2018), NASA/Goddard Space Flight Center

Impacto Climático em abril mostra mudanças observadas na temperatura do oceano. Cientistas da University College de Londres descobriram que a corrente marítima do Golfo diminuiu significativamente, atingindo o nível mínimo nos últimos 1.600 anos

A

desaceleração na circulação uma parte crucial do clima da Terra - havia sido prevista por modelos de computador, mas os pesquisadores agora podem observá-lo. Isso poderia gerar um clima mais extremo em todo o hemisfério norte, especialmente na Europa, e poderia elevar o nível do mar ao longo do leste da América do Norte. A desaceleração também aumenta a perspectiva de um desligamento completo da circulação, o que seria um perigoso “ponto de inflexão”, segundo o estudo publicado na revista Nature.

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Essa paralisação foi a premissa do desastre cientificamente impreciso de 2004, “O Dia Depois de Amanhã”. Os autores do estudo disseram que um colapso está a pelo menos décadas, mas seria uma catástrofe. “Sabemos que em algum lugar existe um ponto de inflexão em que esse sistema atual é provável de quebrar”, disse o coautor do estudo Stefan Rahmstorf, cientista do clima do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático na Alemanha. “Ainda não sabemos a que distância ou perto deste ponto de inflexão podemos estar. …

Este é um território desconhecido”. Alguns outros cientistas são céticos, citando uma escassez de dados. A circulação meridional do Atlântico (AMOC) é uma correia transportadora chave para a água e o ar do oceano. A água morna salgada se move para o norte dos trópicos ao longo da Corrente do Golfo da costa leste até o Atlântico Norte, onde esfria, afunda e segue para o sul. Quanto mais rápido ele se move, mais água é virada da superfície quente para esfriar as profundidades. “Esta circulação de viragem redistribui o calor em nosso planeta”, disse o principal autor do estudo, Levke Caesar, físico do Instituto Potsdam. “Isso traz calor dos trópicos para as altas latitudes”. O estudo de César e outro publicado na mesma edição da Nature por uma equipe diferente indicam que a circulação do Atlântico é a mais fraca em cerca de 1.500 anos. E a desaceleração está se intensificando. Desde meados do século 20, a velocidade com que o oceano movimenta a água no AMOC caiu 15%, segundo o estudo, usando temperaturas de água subpolar geladas como uma medida indireta. E despencou nos últimos anos, concluiu o estudo. A Corrente do Golfo, a corrente quente onde os furacões podem ligar, historicamente se distancia dos Estados Unidos em torno das Carolinas ou da Virgínia. A Corrente do Golfo agora está mais perto da costa de Nova York, e há um aumento significativo em torno do Maine, relacionado à desaceleração da circulação, disseram Rahmstorf e Caesar. As águas costeiras do norte dos EUA se aqueceram mais rápido do que a maioria das partes do oceano nas últimas décadas, disseram os pesquisadores. Os cientistas culpam o aquecimento global de duas maneiras. A água mais quente reduz a quantidade de resfriamento e dificulta que a água afunde e vire. Lençóis de gelo e geleiras na Groenlândia estão derretendo, e a água doce está derramando na área onde a água vira, tornando-a menos salgada, menos densa e, portanto, menos propensa a afundar. Há também mais chuva e neve nas áreas do norte e mais evaporação nas áreas do sul, alterando o fluxo, disse Rahmstorf.

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“É uma mudança lenta no momento, mas estamos mudando”, disse Caesar. “Um perigo está no desconhecido do que vai acontecer. Devemos esperar mudanças. Rahmstorf e César observaram uma mancha fria já estabelecida - cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, o tamanho da Índia e do México combinados - como medidas indiretas para a velocidade do AMOC, chamando-o de impressão digital da circulação oceânica. É claro que a circulação está enfraquecendo, disse Phil Klotzbach, especialista em furacões do Estado do Colorado, que não fez parte dos estudos. Décadas atrás, isso significaria uma atividade mais fraca do furacão do Atlântico, mas isso não está acontecendo. Isso pode significar que há uma diferença no enfraquecimento no inverno e no verão, disse ele. Andreas Schmittner, da Oregon State University, que também não fez parte dos estudos, disse que a análise do grupo Potsdam faz sentido, acrescentando que à medida que o mundo emite mais gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis, podemos esperar que ele diminua ainda mais. Mas Carl Wunsch, do MIT, disse que as “afirmações de enfraquecimento do artigo são concebíveis, mas não são sustentadas por nenhum dado”. E Kevin Trenberth, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, disse que seu trabalho recente falha ciclos regulares na atmosfera mais do que o oceano. Ele disse que o estudo de Potsdam não explica a variabilidade de ano para ano, enquanto os ciclos atmosféricos o fazem. Rahmstorf disse que seu estudo calcula os dados ao longo de uma década de cada vez para tornar as mudanças de ano para ano menos significativas.

As águas oceânicas circulam globalmente, aumentando em algumas regiões e afundando em outras

Isso é mostrado no gráfico abaixo, que mostra as TSMs no Atlântico Norte (linha azul) e ao longo da Costa Leste dos EUA (vermelho). O mapa à direita mostra esses locais específicos.

O trabalho mostra que é a circulação oceânica que impulsiona as mudanças na atmosfera, e não o contrário, disse ele. Esquema da circulação de correntes oceânicas

“Correia transportadora do Atlântico” (Circulação da ponta sul ) diminuiu 15% desde meados do século 20, a velocidade com que o oceano movimenta a água no AMOC caiu 15%, de acordo com o estudo, usando a temperatura da água gelada subpolar como uma medida indireta. E despencou nos últimos anos, concluiu o estudo

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ONU adota estratégia inicial de redução das emissões de gases de efeito estufa dos navios Estratégia ambiciosa da IMO para reduzir as emissões de transporte é o maior acordo climático de 2018

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reunião das Nações na Organização Marítima Internacional das Nações Unidas (OMI) em Londres, com mais de 170 países reunidos, adotou uma estratégia inicial de redução das emissões de gases de efeito estufa dos navios, definindo uma visão para reduzir as emissões de GEE do transporte marítimo internacional e eliminá-los o quanto antes. Neste século. Os navios, que são responsáveis pelo transporte de mais de 80% do comércio global, ficarão livres de combustíveis fósseis até lá. Mais especificamente, sob os “níveis de ambição” identificados, a estratégia inicial prevê pela primeira vez uma redução no total de emissões de GEE do transporte marítimo internacional que, diz, deve atingir o pico o mais rápido possível e reduzir as emissões anuais totais de GEE pelo menos 50% até 2050, em comparação com 2008, enquanto, ao mesmo tempo, buscam esforços para eliminá-los completamente. A estratégia inclui uma referência específica a “um caminho de redução de emissões de CO2 consistente com as metas de temperatura do Acordo de Paris”. A estratégia inicial foi adotada pelo Comitê de Proteção ao Meio Ambiente Marinho (MEPC) da IMO, durante sua 72ª sessão na sede da IMO em Londres, Reino Unido.

Fotos: IMO-International Maritime Organization, NOAA’s National Ocean Service, UNIMO

A estratégia inicial de GEE foi adotada pelo Comitê de Proteção do Meio Marinho (MEPC) da IMO, durante a sua 72.ª sessão na sede da IMO, em Londres. A reunião contou com mais de 100 membros da OMI

A reunião contou com mais de 100 membros da OMI. A estratégia inicial representa um quadro para os Estados-Membros, definindo a visão futura para o transporte marítimo internacional, os níveis de ambição para reduzir as emissões de GEE e os princípios orientadores; e inclui medidas adicionais a curto, médio e longo prazo com possíveis cronogramas e seus impactos nos Estados. A estratégia também identifica barreiras e medidas de apoio, incluindo capacitação, cooperação técnica e pesquisa e desenvolvimento (P & D).

Os navios, que são responsáveis pelo transporte de mais de 80% do comércio global, ficarão livres de combustíveis fósseis até lá

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O secretário-geral da IMO, Kitack Lim, disse que a adoção da estratégia é outra ilustração bem-sucedida do renomado espírito de cooperação da IMO e permitirá que o futuro trabalho da IMO sobre mudança climática seja enraizado em uma base sólida. Ele disse aos delegados: “Encorajo-vos a continuar seu trabalho através da recém-adotada Estratégia Inicial de GEE, que é concebida como uma plataforma para futuras ações. Estou confiante em confiar em sua capacidade de continuar incansavelmente seus esforços e desenvolver novas ações que em breve contribuirão para reduzir as emissões de GEE dos navios”. De acordo com o “Roteiro” aprovado pelos Estados-Membros da OMI em 2016, a estratégia inicial deverá ser revista até 2023. Continuando o impulso de trabalho nesta questão, o Comitê concordou em realizar a quarta reunião Intersessional do Grupo de Trabalho para Redução de Emissões de GEE de navios no final do ano. Este grupo de trabalho será encarregado de desenvolver um programa de ações de acompanhamento para a Estratégia Inicial; considerando ainda como progredir na redução das emissões de GEE dos navios, a fim de assessorar o comitê; e reportando-se à próxima sessão do MEPC (MEPC 73), que se reúne de 22 a 26 de outubro de 2018.

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Caminho de redução de emissões de CO2 consistente com as metas de temperatura do Acordo de Paris

A IMO já adotou medidas obrigatórias globais para lidar com a redução das emissões de GEE dos navios. A OMI também está executando projetos de cooperação técnica global para apoiar a capacidade dos Estados, particularmente os Estados em desenvolvimento, de implementar e apoiar a eficiência energética no setor de transporte marítimo.

Estratégia inicial da IMO sobre a redução das emissões de GEE dos navios

A IMO deve agir rapidamente para introduzir medidas que reduzirão as emissões profunda e rapidamente no curto prazo

Visão:

A OMI continua empenhada em reduzir as emissões de GEE da navegação internacional e, com urgência, pretende eliminá-las o mais rapidamente possível neste século.

Níveis de ambição

A Estratégia Inicial identifica níveis de ambição para o setor de transporte marítimo internacional, notando que a inovação tecnológica e a introdução global de combustíveis alternativos e / ou fontes de energia para o transporte marítimo internacional serão essenciais para alcançar a ambição geral. As revisões devem levar em conta as estimativas atualizadas de emissões, as opções de redução de emissões para remessas internacionais e os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

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Os níveis de ambição que direcionam a Estratégia Inicial são os seguintes: 1. Intensidade de carbono do navio a diminuir através da implementação de novas fases do índice de eficiência energética (EEDI) para novos navios revisar com o objetivo de fortalecer os requisitos de projeto de eficiência energética para navios com o percentual de melhoria para cada fase a ser determinado para cada tipo de navio, conforme apropriado; 2. Intensidade de carbono do transporte internacional para diminuir/reduzir as emissões de CO2 por trabalho de transporte, como uma média entre as remessas internacionais, em pelo menos 40% até 2030, buscando esforços de 70% até 2050, em comparação com 2008; e 3. Emissões de GEE do transporte marítimo internacional para o pico e declínio atingir o pico de emissões de GEE do transporte marítimo internacional o mais rápido possível e reduzir as emissões anuais totais de GEE em pelo menos 50% até 2050 em comparação com 2008, enquanto se esforça para eliminá-las conforme solicitado na

Visão como um ponto em uma rota de CO2 redução de emissões consistente com o acordo de Paris. * OMI – Organização Marítima Internacional, é a agência especializada das Nações Unidas responsável pela segurança e proteção dos navios e pela prevenção da poluição marinha por navios. Segundo John Maggs, presidente da Clean Shipping Coalition e conselheiro sênior de políticas, Seas At Risk: “Temos um acordo importante, e esse nível de ambição exigirá uma mudança setorial para novos combustíveis e tecnologias de propulsão, mas o que acontece a seguir é crucial. A IMO deve agir rapidamente para introduzir medidas que reduzirão as emissões profunda e rapidamente no curto prazo. Sem elas, os objetivos do Acordo de Paris permanecerão fora de alcance”. ** O Acordo de Paris em 2015, não inclui o transporte marítimo internacional, mas a IMO, como órgão regulador do setor, está comprometida em reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do transporte marítimo internacional.

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Terra está, aos poucos, se afastando do Sol Fotos: Goddard Space Flight Center da NASA, NASA / SDO

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ientistas revelaram que, aos poucos, a Terra está se afastando do Sol. O estudo reuniu informações de várias publicações acadêmicas e, principalmente, dados da missão Messenger da NASA coletados ao longo de 7 anos. De acordo com os cálculos divulgados na publicação, o esforço gravitacional exercido pelo Sol sobre os planetas que o orbitam tende a enfraquecer à medida que ele envelhece. Isso acontece por conta da massa que o astro perde ano após ano e que é levada pelo vento solar.

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Na prática, isso significa que as órbitas dos planetas do sistema solar se expandem lentamente conforme o tempo passa e, considerando que a atração gravitacional é uma função de massa e o Sol é responsável por esse papel, seu controle sobre tais planetas está diminuindo. Antes que você comece a entrar em pânico, saiba que a deriva, na verdade, é incrivelmente pequena.

A proximidade de Mercúrio ao Sol e o pequeno tamanho tornam-se esquisitamente sensíveis à dinâmica do Sol e sua atração gravitacional

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Mercúrio, entre o Sol e a Terra, o primeiro planeta a partir do Sol

Por ser o primeiro planeta a partir do Sol e estar localizado muito próximo ao nosso astro, poucos imaginam que seria possível viver em Mercúrio, mas o pequenino pode surpreender. O menor planeta do Sistema Solar normalmente se perde no intenso brilho solar, podendo ser observado a olho nu daqui da Terra somente em eclipses solares, ou ainda durante o crepúsculo matutino ou vespertino. E justamente por ser um planeta difícil de ser observado que se sabe pouco a respeito de Mercúrio - em comparação com o quanto de conhecimento que já temos dos demais planetas do nosso quintal. Os EUA enviaram a Mariner 10 para explorar o planetinha em 1974, e essa sonda mapeou quase metade de sua superfície, enquanto a sonda Messenger, enviada somente em 2008, terminou o serviço começado na década de 1970. Com aparência similar à Lua – repleta de crateras de impacto e planícies lisas -, o planeta não tem satélites naturais e nem conta com uma atmosfera substancial. Contudo, Mercúrio tem uma grande quantidade de ferro em seu núcleo, gerando um campo magnético cuja intensidade é de cerca de 1% do campo magnético da Terra.

Segundo os russos

A nave espacial Messenger da NASA enquanto a missão estava ativa

Segundo Antonio Genova, autor que lidera o estudo relacionado ao Sol e pesquisador do MIT, “a orbita da Terra se expande cerca de 1,5 centímetros por ano” – o que significa que nosso planeta está cerca de 150 milhões de quilômetros distante do astro-rei. Vale lembrar que todos estes números são estimativas aproximadas, pois a taxa de perda de massa do Sol varia ao longo de 10 bilhões de anos. Se o valor fosse fixo, a Terra se moveria aproximadamente 150 mil quilômetros antes que o astro-rei pudesse se extinguir – cerca de 0,1% de distância real. O efeito, porém, muda de acordo com a distância do Sol. Saturno, por exemplo, está dez vezes mais longe em comparação à Terra e se move mais de 14cm por ano, de acordo com Genova. Para calcular a taxa de perda de massa solar, a equipe de pesquisas mediu a posição de Mercúrio com dados retirados da sonda Messenger da NASA, já que o planeta é considerado o objeto de testes perfeito por conta de sua sensibilidade ao efeito gravitacional e à atividade do astro solar.

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Os cientistas da NASA e do MIT analisaram mudanças sutis no movimento de Mercúrio para aprender sobre o Sol e como sua dinâmica influencia a órbita do planeta. A posição de Mercúrio ao longo do tempo foi determinada a partir de dados de rastreamento de rádio obtidos enquanto a missão Messenger da NASA estava ativa

Como a cintura de uma batata na meia idade, as órbitas dos planetas em nosso sistema solar estão se expandindo. Acontece porque o aperto gravitacional do Sol enfraquece gradualmente à medida que nossa estrela envelhece e perde massa. Agora, uma equipe de cientistas da NASA e do MIT mediu indiretamente essa perda em massa e outros parâmetros solares, observando as mudanças na órbita de Mercúrio. Os novos valores melhoram as previsões anteriores, reduzindo a quantidade de incerteza. Isso é especialmente importante para a taxa de perda de massa solar, porque está relacionado à estabilidade de G, a constante gravitacional. Embora G seja considerado um número fixo, seja realmente constante ainda é uma questão fundamental na física. “Mercúrio é o objeto de teste perfeito para essas experiências porque é tão sensível ao efeito gravitacional e à atividade do Sol”, disse Antonio Genova, autor principal do estudo publicado na Nature Communications e pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts que trabalha na NASA Goddard Space Flight Center em Greenbelt, Maryland. O estudo começou por melhorar as efemérides cartográficas de Mercúrio - o mapa rodoviário da posição do planeta em nosso céu ao longo do tempo. Para isso, a equipe desenhou dados de rastreamento de rádio que monitoravam a localização da nave espacial Messenger da NASA enquanto a missão estava ativa. Curto para a superfície de mercúrio, o ambiente espacial, a geoquímica e a escala, a nave espacial robótica produziu três flybys de Mercúrio em 2008 e 2009 e orbitou o planeta de março de 2011 a abril de 2015. Os cientistas trabalharam para trás, analisando mudanças sutis no movimento de Mercúrio como uma forma de aprender sobre o Sol e como seus parâmetros físicos influenciam a órbita do planeta. Durante séculos, os cientistas estudaram o movimento de Mercúrio, prestando especial atenção ao seu periélio ou ao ponto mais próximo do Sol durante sua órbita. As observações revelaram há muito tempo que o periélio muda ao longo do tempo, chamado precessão. Embora os rebocadores gravitacionais de outros planetas representem a maior parte da precessão de Mercúrio, eles não contabilizam tudo isso. A segunda maior contribuição vem da deformação do espaço-tempo em torno do Sol por causa da própria gravidade da estrela, que é coberta pela teoria da relatividade geral de Einstein. O sucesso da relatividade geral na explicação da maior parte da precessão de Mercúrio ajudou a persuadir os cientistas de que a teoria de Einstein estava certa. Outras contribuições muito menores para a precessão de Mercúrio 52 REVISTA AMAZÔNIA são atribuídas à estrutura e dinâmica do interior do Sol.

Um desses é a oblação do Sol, uma medida de quanto eleva-se no meio - sua própria versão de um “pneu sobressalente” ao redor da cintura - em vez de ser uma esfera perfeita. Os pesquisadores obtiveram uma estimativa melhorada da oblação que é consistente com outros tipos de estudos. Os pesquisadores conseguiram separar alguns dos parâmetros solares dos efeitos relativistas, algo que não foi realizado por estudos anteriores que se baseavam em dados efêmeros. A equipe desenvolveu uma técnica inovadora que simultaneamente estimou e integrou as órbitas de Messenger e Mercury, levando a uma solução abrangente que inclui quantidades relacionadas à evolução do interior do Sol e aos efeitos relativistas. “Estamos abordando questões de longa data e muito importantes, tanto na física fundamental como na ciência solar, usando uma abordagem de ciência planetária”, disse o geofísico Goddard, Erwan Mazarico. “Ao chegar a esses problemas de uma perspectiva diferente, podemos ganhar mais confiança nos números e podemos aprender mais sobre a interação entre o Sol e os planetas”. A nova estimativa da taxa de perda de massa solar representa uma das primeiras vezes que este valor foi restringido com base em observações e não em cálculos teóricos. A partir do trabalho teórico, cientistas previram uma perda de um décimo de por cento da massa do Sol em 10 bilhões de anos; é o suficiente para reduzir a atração gravitacional da estrela e permitir que as órbitas dos planetas se espalhem por cerca de meia polegada, ou 1,5 centímetros, por ano por AU (uma UA, ou unidade astronômica, é a distância entre a Terra e o Sol: cerca de 93 milhões de milhas). O novo valor é ligeiramente inferior às previsões anteriores, mas tem menos incerteza. Isso possibilitou ao time melhorar a estabilidade de G por um fator de 10, em comparação com valores derivados dos estudos do movimento da Lua.“O estudo demonstra como fazer as medidas das mudanças da órbita planetária ao longo do sistema solar abre a possibilidade de futuras descobertas sobre a natureza do Sol e os planetas e, de fato, sobre o funcionamento básico do universo”, disse a co-autora Maria Zuber, vice presidente de pesquisa no MIT. O geofísico do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e coautor do artigo publicado, Erwan Mazarico, acrescentou que a pesquisa fornece questões de longa data muito importantes, tanto na física fundamental quanto na ciência solar, usando uma abordagem de ciência planetária, além de acrescentar mais credibilidade aos números e fornecer mais informações sobre a interação entre o Sol revistaamazonia.com.br e os planetas de seu sistema.


Universo cresce mais rápido do que o esperado

Descoberta pode mudar “Modelo Padrão” da Física – evidências para a nova física no Universo Fotos: A. Feild (STScI) e A. Riess (STScI/JHU), ESA, NASA

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velocidade de expansão do universo é 10% mais rápida do que se imaginava, As longas observações do telescópio espacial Hubble indicam que o universo está se expandindo mais rápido do que o previsto por modelos padrão que incorporam energia escura, a força misteriosa que faz com que a expansão se acelere, e que a constante cosmológica de Einstein, pensada por muitos para definir a energia escura, pode não ser tão constante depois de tudo. Mas as observações também podem significar energia escura, seja lá o que for, é mais forte do que a constante cosmológica incorporada nas equações de Einstein, ou que a matéria escura interage com a matéria normal mais forte do que se suspeitava anteriormente, ou mesmo que algumas sub-unidades ainda não identificadas, A partícula atômica é responsável. No entanto, a linha inferior é a mesma. Algo não está bem com o modelo padrão do big bang e suas consequências. “Se não desaparecer, isso argumenta por algum mal-entendido sobre a natureza do universo”, afirmou o premiado Nobel Adam Riess, uma co-descoberta de energia escura, em uma entrevista recente, por telefone.

Outra galáxia alvo Hubble mostrando estrelas variáveis Cepheid e uma supernova Tipo 1ª

Quão rápido o universo se expande ao longo do tempo é refletido em um número conhecido como constante do Hubble.

Hubble detectando aglomerados de estrelas novas em galaxy distante

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A espaçonave Planck da Agência Espacial Européia determinou a taxa de expansão do universo inicial, estudando a radiação de fundo cósmico, ou o calor, deixado no imediato após o big bang 13,8 bilhões de anos atrás. As previsões baseadas nos dados da Planck, levando em consideração os efeitos observados da energia escura, resultaram em uma constante do Hubble de 67 quilômetros por segundo por megaparsec. Dito de outra forma, todas as outras coisas sendo iguais, duas galáxias a 3,3 milhões de anos-luz separadas - uma mega-pirata - deveriam estar se afastando umas das outras a 67 quilômetros por segundo, devido à expansão de espaço presumivelmente constante. Os dados da Planck indicaram um limite máximo máximo de 69 quilômetros por segundo por megaparsec. Riess e Stefano Casertano, ambos com o Space Telescope Science Institute e Johns Hopkins University em Baltimore, Maryland, lideraram uma equipe de pesquisadores que usaram o Hubble nos últimos

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seis anos para aprimorar as medidas de distâncias galácticas para calcular com precisão a constante do Hubble. Eles chegaram com um valor de 73 quilômetros por segundo por megaparsec, uma discrepância de cerca de 9 por cento. “Você pode pensar que o universo cresce exatamente como uma criança crescendo, e você pode pensar no fundo do microfone cósmico como um instantâneo do que a criança parecia naquele momento”, disse Riess. “Nós medimos a altura em uma porta e marcamos a data. E então, os pais e o médico e todos os especialistas dizem que, seguindo gráficos de crescimento normais, essa criança atingirá um auge de seis pés dois, ou algo assim, quando estiverem crescidos. “Agora, é o dia de hoje, a criança está crescida, esse é o nosso universo presente, e agora medimos a taxa de expansão do universo e não são seis pés dois como previsto, é algo maior. Neste caso, é algo mais rápido, e isso está se tornando bastante significativo” . Anos atrás, disse Riess, os astrônomos poderiam ter assumido que a discrepância entre as medidas de Planck e Hubble provavelmente resultaria de medidas menos precisas e de erros inevitáveis. “Mas agora conseguimos o que chamamos no sigma do negócio, o que significa que realmente há apenas uma chance de 1 em 5.000 de que é apenas uma chance”, disse ele. “Nós também verificamos esse resultado muitas vezes e as outras equipes verificaram o fim dos resultados”. Em um artigo no The Astrophysical Journal, Riess e Casertano descrevem uma nova técnica para medir com precisão distâncias a estrelas e galáxias remotas, resultando em um valor presumivelmente mais preciso da constante do Hubble, “e ainda estamos conseguindo a mesmo discrepância”. Para determinar quão rápido o universo está a “voar”, os astrônomos devem primeiro saber o quão longe podem estar as várias galáxias. Para medir diretamente a distância a uma estrela, por exemplo, os astrônomos observam sua posição no céu de um lado da órbita da Terra e depois novamente do outro lado, criando um triângulo com uma linha de base conhecida - o diâmetro da órbita da Terra - e dois conhecidos ângulos. A partir daí a trigonometria do ensino médio dá a distância à estrela. Mas à medida que as distâncias aumentam, esses ângulos crescem extremamente pequenos e extremamente difíceis de medir. Para se afastar ainda mais, os astrônomos dependem de estrelas variáveis que, periodicamente, iluminam e diminuem de forma previsível. A taxa de pulsação de tais variáveis Cepheid está diretamente relacionada ao seu brilho

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Esta ilustração mostra três etapas que os astrônomos usaram para medir a taxa de expansão do universo (Hubble constante) para uma precisão sem precedentes, reduzindo a incerteza total para 2,3 por cento. As medidas agilizam e fortalecem a construção da escada de distância cósmica, que é usada para medir distâncias precisas para galáxias próximas e distantes da Terra. O último estudo do Hubble amplia o número de estrelas variáveis de Cepheid analisadas para distâncias de até 10 vezes mais em nossa galáxia do que os resultados anteriores do Hubble

O telescópio espacial Hubble procurou estrelas variáveis Cepheid pulsantes em 19 galáxias remotas, parte de um projeto para refinar a escala de distância cósmica e para melhorar a compreensão de quão rápido o Universo está se expandindo. Nesta imagem, as estrelas pulsantes conhecidas como variáveis Cepheid, marcadores críticos da milha na escada de distância cósmica, são circundadas em amarelo. O estudo Hubble indica que o universo está se expandindo mais rápido do que se pensava anteriormente. intrínseco e comparando o brilho observado de um Cepheid distante com o brilho real de um próximo a uma distância conhecida, os

astrônomos podem descobrir o quão longe o Cepheid mais distante deve ser. Movendo-se ainda mais longe, as explosões de supernova

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de Tipo 1a em galáxias remotas iluminam e desaparecem da mesma maneira previsível, permitindo que sirvam como “velas padrão” nas regiões mais remotas da escada de distância cósmica. Riess compartilhou um Prêmio Nobel pela utilização de supernovas Tipo 1a para mostrar que a expansão do universo começou a acelerar cerca de cinco bilhões de anos atrás, ajudando assim a descobrir energia escura. O Telescópio Espacial Hubble foi usado anteriormente para medir diretamente as distâncias para Cepheid’s na Via Láctea a distâncias até 1.600 anos-luz da Terra. Ao longo dos últimos seis anos, Riess, Casertano e sua equipe desenvolveram uma nova técnica de observação que ampliou o alcance direto do Hubble para Cepheids, a cerca de 12 mil anos-luz de distância. Isso, por sua vez, permitiu que eles determinassem mais precisamente o brilho real das estrelas e melhorassem o brilho aparente de Cepheids em galáxias que hospedavam supernovas Tipo 1a. O resultado é uma escada de distância mais precisa. Ao comparar essas distâncias revisadas com a expansão do espaço como visto na luz deslocada vermelha, ou “esticada”, das galáxias recuadas, a equipe apresentou um valor diferente da constante do Hubble, que indicou uma expansão mais rápida do que o esperado. “Estamos incorporando a aceleração (devido à energia escura)”, disse Riess sobre seus cálculos. “Ainda não entendemos a física da energia escura, então existem algumas possibilidades diferentes para a física. Mas a maioria de baunilha ou tipo de ingênuo que as pessoas usam com mais frequência é assumir que é a constante cosmológica de Einstein, que é uma energia constante do espaço vazio e que não muda ao longo do tempo. “E então, o que as pessoas fazem nestes dias é assumir que é o que é, e é isso que fizemos. Nós dizemos bem, digamos que a energia escura é a constante cosmológica, e isso fará com que o universo se acelere. No entanto, o resultado final, os resultados acumulados, mesmo com a aceleração, ainda estão sendo rápidos demais “. Então, o que está acontecendo? “Se você olha para os melhores dados que temos, apenas da parte da energia escura, realmente parece a constante cosmológica”, disse Riess. “Embora seja possível a energia escura desempenha um papel, para mim parece mais e mais como se fosse uma nova partícula ou algo sobre o modo como a matéria escura interage. “Nós normalmente assumimos que a matéria escura é algo que chamamos de WIMP, uma partícula maciça de interação fraca. Bem, talvez não seja tão fraco interagindo. Isso mudaria as coisas, isso causaria algo como o que vemos “.

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Esta ilustração mostra o aumento rítmico e a queda da luz das estrelas da estrela variável Cepheid V1 durante um período de sete meses

Exploração do Universo pelo Hubble

Essas imagens do Hubble Space Telescope mostram duas das 19 galáxias analisadas em um projeto para melhorar a precisão da taxa de expansão do universo, um valor conhecido como constante do Hubble. As imagens compostas mostram: NGC 3972 (esquerda) e NGC 1015 (direita), localizadas em 65 milhões de anos-luz e 118 milhões de anos-luz, respectivamente, da Terra. Os círculos amarelos em cada galáxia representam a localização de estrelas pulsantes chamadas variáveis Cepheid

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Em 2050, cientistas preveem que o nosso Sol esteja mais frio Fotos: Instituto Scripps, NASA/GSFC/Solar Dynamics Observatory

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o que os cientistas chamaram de “grande mínimo” - um ponto particularmente baixo, que fará com que menos calor chegue à Terra, no que é, de outra forma, um ciclo estável de 11 anos. Ao longo desse ciclo, o coração tumultuado do Sol, pulsa, corre e repousa. Em seu ponto alto, a fusão nuclear no núcleo do Sol força mais loops magnéticos em sua atmosfera de ebulição – ejetando mais radiação ultravioleta e gerando manchas solares e alargamentos. Quando está quieto, a superfície do Sol fica calma. Ele expulsa menos radiação ultravioleta. Agora, cientistas descobriram os céus e a história por evidências de um ciclo ainda maior em meio a esses ciclos. Os cientistas do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos, analisaram dados recolhidos nos últimos 20 anos pelo Explorador Internacional de Luz Ultravioleta (IUE, na sigla em inglês) — um telescópio espacial orbital que opera na área desse tipo de raio. Ao medir a radiação emitida pelas estrelas do tipo solar, eles revelaram as condições que precedem as grandes temperaturas mínimas. Como resultado da investigação, eles descobriram que a diminuição da atividade solar pode ser prevista a partir da frequência da formação de manchas solares. De acordo com especialistas, a possibilidade da Terra enfrentar uma grande temperatura mínima no futuro próximo, é bastante alta. Laços magnéticos giram sobre o sol, de 23 a 24 de março de 2017

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Não obstante, este resfriamento global não será suficientemente forte para compensar o aumento da temperatura média do planeta causado pelo aquecimento global. Assim, o calor que a Terra recebe do Sol diminuirá, mas isso não impedirá o aquecimento global, revelam os pesquisadores. O resfriamento do grande mínimo, é um período em que o magnetismo do Sol diminui, manchas solares são formadas e menos radiação ultravioleta atinge a superfície terrestre.

O Grande Mínimo Um período particularmente no século 17 conduziu as pesquisas. Foi o forte resfriamento entre 1645 e 1715 que foi apelidado de “Mínimo Mínimo”. Na Inglaterra, o rio Tamisa congelou. O mar Báltico estava coberto de gelo – tanto que o exército sueco conseguiu atravessá-lo para invadir a Dinamarca em 1658. Mas o resfriamento não era uniforme: os padrões climáticos distorcidos aqueceram o Alasca e a Gronelândia. Esses registros foram combinados com 20 anos de dados coletados pela missão internacional Ultraviolet Explorer do satélite, bem como observações de estrelas próximas ao Sol. Agora, o físico Dan Lubin, da Universidade da Califórnia, em San Diego, calculou uma estimativa sobre a quantidade de variação da intensidade do Sol, que provavelmente ocorrerá quando o próximo grande mínimo acontecerá. O estudo da equipe, Ultraviolet Flux Diminuir sob um Mínimo Mínimo de IUE Observação de Longo Comprimento de Analogias Solar, foi publicado na revista Astrophysical Journal Letters.

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Laços magnéticos giram sobre o sol, de 23 a 24 de março de 2017

Enquanto a temperatura média global do ar da superfície parece arrefecer por “vários temores de um grau Celsius” nos anos iniciais, essa redução foi rapidamente ultrapassada por tendências cada vez maiores. “Um futuro grande mínimo solar pode diminuir a velocidade, mas não parar o aquecimento global”, conclui o estudo. “Agora, temos uma referência a partir da qual podemos realizar melhores simulações de modelos climáticos”, diz Lubin. “Nós podemos, portanto, ter uma idéia melhor de como mudanças nas radiações UV solares afetam a mudança climática”.

Acha que o Sol provavelmente será 7% mais frio do que o mínimo habitual. E outro grande mínimo provavelmente será em décadas, com base na espiral de resfriamento de ciclos solares recentes.

Efeitos Um Sol silencioso tem um efeito notável em seus planetas. Para a Terra, Lubin diz que isso melhora a camada de ozônio estratosférico. Isso afeta o efeito isolante da atmosfera, com efeitos de fluxo, incluindo grandes mudanças nos padrões de vento e clima. Mas não vai parar a atual tendência de alerta planetário, adverte Lubin. “O efeito de resfriamento de um grande mínimo é apenas uma fração do efeito de aquecimento causado pela crescente concentração de dióxido de carbono na atmosfera”, diz uma declaração da equipe de pesquisa. “Depois de centenas de milhares de anos de níveis de CO2 nunca exceder 300 partes por milhão de ar, a concentração do gás com efeito de estufa é agora superior a 400 partes por milhão, continuando a subir com a Revolução Industrial”. Uma simulação de um grande mínimo no clima atual da Terra prevê uma redução do aquecimento solar de 0,25 por cento durante um período de 50 anos entre 2020 e 2070.

Explorador internacional de ultravioleta da NASA

Dan Lubin, cientista físico do Instituto Scripps, explicando causas e efeitos do Mínimo Mínimo. O sol pode emitir menos radiação em meados do século, dando ao planeta Terra a chance de aquecer um pouco mais devagar, mas não interrompe a tendência das mudanças climáticas provocadas pelo homem O mínimo solar poderia levar invernos frios à Europa e aos EUA, mas não impedirá a mudança climática

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Gráficos mostram o crescimento emocionante da indústria da energia eólica em todo o mundo

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Conselho Global de Energia eólica divulgou recentemente (14/02) suas estatísticas anuais do mercado. O mercado de 2017 manteve-se acima de 50 GW, com a Europa, a Índia e o setor offshore com anos recorde. As instalações chinesas caíram ligeiramente: “apenas” 19,5 GW - mas o resto do mundo compensou a maior parte disso. As instalações totais em 2017 foram 52.573 MW, elevando o total global para 539.581 MW. “Os números mostram uma indústria em vencimento, em transição para um sistema baseado em mercado, concorrendo com sucesso com tecnologias incumbentes altamente subsidiadas”, disse Steve Sawyer, secretário geral da GWEC.

Fotos: GWEC

Distribuição da Capacidade Instalada no Brasil

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“A transição para uma operação totalmente comercial baseada no mercado deixou lacunas políticas em alguns países, e os números globais de 2017 refletem isso, assim como as instalações em 2018. “O vento é a tecnologia com preços mais competitivos em muitos, se não na maioria dos mercados; e o surgimento de híbridos eólicos / solares, gerenciamento de grade mais sofisticado e armazenamento cada vez mais acessível começam a pintar uma imagem de como será um setor de energia totalmente livre de fóssil. “ Os preços de tartaruga tanto para o vento offshore como para o exterior continuam a surpreender. Os mercados em locais tão diversos como Marrocos, Índia, México e Canadá variam na área de US $ 0,03 / kwh, com um recente concurso mexicano chegando com preços abaixo de US $ 0,02.

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Enquanto isso, o vento offshore teve seu primeiro concurso “sem subsídio” na Alemanha este ano, com propostas para mais de 1 GW de nova capacidade offshore que não recebem mais do que o preço de atacado da eletricidade. Na Ásia, a China continua a liderar. A Índia teve um ano muito forte, mas será a “vítima” de uma lacuna política em 2018. O Paquistão, a Tailândia e o Vietnã continuam a mostrar promessa, e há agilidade nos mercados desviados no Japão, e particularmente na Coréia do Sul como um resultado das políticas que estão sendo promulgadas pelo novo governo. A Europa teve seu melhor ano de sempre, liderada por mais de 6 GW na Alemanha, uma exibição muito forte no Reino Unido e um ressurgimento no mercado francês. Finlândia, Bélgica, Irlanda e Croácia também estabeleceram novos registros. Instalações offshore de mais de 3.000 MW são um presságio de coisas por vir. Os EUA tiveram outro ano forte com 7.1 GW, e um pipeline muito forte para os próximos anos. A compra direta corporativa de fontes renováveis desempenha um papel cada vez maior nesse mercado, já que a ladainha de marcas domésticas (Google, Apple, Nike, Facebook, Wal-Mart, Microsoft, etc.) assinala PPAs de energia eólica e solar continua a crescer. O Canadá e o México tiveram anos modestos em termos de instalações, mas um novo governo em Alberta está respirando a vida no mercado canadense e a sólida base política no México tornará um mercado de crescimento substancial para a próxima década. Na América Latina, o Brasil (veja abaixo) marcou mais de 2 GW, apesar das crises políticas e econômicas que ainda não foram resolvidas. O Uruguai completou sua construção e está se aproximando do objetivo de energia 100% renovável no setor de energia. Os resultados dos leilões de 2016 e 2017 na Argentina começarão a resultar em números de instalação sólida em 2018 e além.

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Houve muita atividade na África e no Oriente Médio, mas os únicos projetos concluídos foram na África do Sul, onde foram adicionados 621 MW de nova capacidade à rede. Grandes projetos no Quênia e Marrocos estão aguardando a conexão da rede neste ano. A região do Pacífico permanece calada e, embora tenham sido assinados muitos contratos novos em 2017. A Austrália, o único mercado ativo da região, apresentou um modesto 245 MW. “As quedas de preços dramáticas para a tecnologia do vento colocaram um grande aperto nos lucros para cima e para baixo toda a cadeia de suprimentos”, concluiu Sawyer. “Mas estamos cumprindo nossa promessa de fornecer a maior quantidade de eletricidade livre de carbono ao menor preço. Pequenas margens de lucro são um pequeno preço a pagar pela liderança da revolução energética”.

A Abeeolica estima que o Brasil, cuja capacidade instalada é 12 GW, tenha potencial eólico superior a 500 GW.A Região Nordeste aparece na frente na capacidade de produção de energia a partir dos ventos. Com 135 parques, o Rio Grande do Norte é o estado que mais produziu energia usando ao força dos ventos. São 3.678,85 MW de capacidade instalada. Em seguida, com 93 parques e 2.410,04 MW de capacidade instalada, vem a Bahia. Em terceiro lugar vem o Ceará, que conta com 74 parques e tem 1.935,76 MW de capacidade instalada. Em quarto lugar aparece o Rio Grande do Sul.

O estado tem 80 parques e 1.831,87 MW de capacidade instalada. Em seguida vem o Piauí, com 52 parques e 1.443,10 MW instalados, e Pernambuco com 34 parques e 781,99 MW de capacidade instalada. A expectativa é de que nos próximos seis anos devem ser adicionados mais 1,45 GW de capacidade eólica no país, decorrentes dos leilões de energia realizados em dezembro do ano passado. A Abeeolica estima que 18 milhões de residências sejam abastecidas com a energia eólica. Segundo a associação, os dados no ranking de nova capacidade instalada no ano, o Brasil está em

No Brasil O Brasil subiu uma posição, passando o Canadá, e agora ocupa o oitavo lugar no ranking mundial que afere a capacidade instalada de produção de energia eólica, segundo o Global Wind Statistic 2017, documento anual com dados mundiais de energia eólica produzido pelo Global Wind Energy Council (GWEC). Em 2017, o país conseguiu “adicionar 52,57 GW de potência eólica à produção mundial, totalizando 539,58 GW de capacidade instalada”, informou a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica), que reúne empresas do setor. Em 2016, o Brasil ultrapassou a Itália no ranking e passou ocupar a 9ª posição. Atualmente, o país conta com 12,76 GW de capacidade de energia instalada, contra os 12,39 GW do Canadá. A China, ocupa a primeira posição, com 188,23 GW; seguida pelos Estados Unidos, com 89,07 GW, e a Alemanha, com 56,132 GW de capacidade instalada. A India, Espanha, o Reino Unido e a França completam o ranking dos sete primeiros. Os números apontam para um crescimento da matriz de energia eólica no país. O segmento já é responsável por 8,3% da energia produzida no Brasil, percentual ainda distante dos 60,9% produzido pelas hidrelétricas, mas já próximo dos 9,3% da produção das usinas de biomassa, que ocupam o segundo posto no ranking nacional. A energia produzida pelas usinas eólicas chegou a ser responsável por 64% da energia consumida na Região Nordeste, no dia 14 de setembro do ano passado.

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sexto lugar, tendo instalado 2,02 GW de nova capacidade em 2016. O Brasil caiu uma posição, já que o Reino Unido subiu do nono para o quarto lugar, instalando 4,27 GW de capacidade de energia eólica em 2017. De acordo com a presidente da Abeeolica, Élbia Gannoum, o país pode cair de posição nos próximos anos, porque haverá menos projetos sendo concluídos entre 2019 e 2020. “Nesse ranking, o que conta é o resultado específico do ano, então há bastante variação. A tendência é que a gente ainda oscile mais, visto que em 2019 e 2020 nossas instalações previstas são menores porque ficamos sem leilão por quase dois anos no período 2016/2017, o que vai se refletir no resultado de 2019 e 2020”, disse Elbia.

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Solar Power, 200GW de capacidade solar na Arábia Saudita até 2030

Maior projeto de energia solar do mundo Vai ser 100 vezes maior do que qualquer outro Fotos: Jeenah Moon/Bloomberg

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00 GW de energia solar. US$ 200 bilhões. 100.000 empregos. Esses são os números ligados ao SoftBank Solar Project, que está prestes a se tornar a maior fazenda de energia solar do mundo, graças a um acordo assinado pela Arábia Saudita e pelo conglomerado japonês SoftBank. Os sauditas e SoftBank fizeram a assinatura do memorando de entendimento, e agora estão avançando no desenvolvimento de energia solar maciça que podem ver centenas de gigawatts instalados até 2030. O fundador da SoftBank, Masayoshi Son e príncipe saudita Mohammed Bin Salman apresentaram o plano no início desta semana; o príncipe disse: “É um grande passo na história da humanidade. É corajoso, arriscado e esperamos ter sucesso no que estamos fazendo.” O projeto está previsto para ser implementado no deserto da Arábia, e poderá ser em torno de 100 vezes maior que qualquer outra fazenda de energia solar do planeta e poderia gerar mais do que o dobro do que toda a indústria mundial de fotovoltaica gerou no ano passado. “O investimento de US$ 200 bilhões irá para a painéis solares, baterias de armazenamento, e instalação de uma fábrica de painel solar na Arábia Saudita. A fase inicial do projeto será de 7,2 gigawatts e custou US$ 5 bilhões.

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Plano prevê 200GW de capacidade solar na Arábia Saudita até 2030 A Arábia Saudita e o SoftBank Group Corp. assinaram um memorando de entendimento para construir um desenvolvimento de energia solar de US $ 200 bilhões, que é exponencialmente maior do que qualquer outro projeto. O fundador da SoftBank, Masayoshi Son, conhecido por apoiar ambiciosos empreendimentos com talento, revelou o projeto recentemente

em Nova York, em uma cerimônia com o príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman. O poderoso herdeiro do trono do maior exportador de petróleo do mundo está buscando diversificar a economia e se afastar da dependência do petróleo. O acordo é o mais recente em uma série de anúncios surpreendentes da Arábia Saudita, prometendo ampliar seu acesso a fontes renováveis. Embora o reino tenha procurado por anos ter uma energia limpa, foi apenas em 2017 que os ministros avançaram com os primeiros projetos, coletando propostas para uma usina de 300 megawatts em outubro. O SoftBank Solar Project poderá marcar um enorme passo para a geração de energia limpa na Arábia Saudita; porque o país tem atualmente apenas projetos de energia solar em pequena escala operando no momento e também geograficamente será vantajoso, pois não um dos países mais ensolarados do mundo.. “É um grande passo na história da humanidade”, disse o príncipe Mohammed. “É ousado, arriscado e esperamos conseguir fazer isso.” O fundador do SoftBank Group Corp, Masayoshi Son (esq) e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, assinando o contrato em Nova York

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Palestrantes do painel para a sessão “Novas Abordagens para a Governança de Dados no Século 21: Uma Visão de Países, Multilaterais e Fundações”

II Fórum de Dados Mundiais da ONU 2018

Encerrado com o lançamento da Declaração de Dubai para aumentar o financiamento para melhores dados para o desenvolvimento sustentável. Suíça selecionada para sediar o próximo Fórum em 2020 Fotos: Kiara Worth, Rudolph Hühn

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ais de 2.000 líderes de dados do governo, empresas e sociedade civil se reuniram de 22 a 24 de outubro para lançar soluções inovadoras para melhorar os dados sobre migração, saúde, gênero e muitas outras áreas-chave do desenvolvimento sustentável. Todos esses peritos em dados - dos institutos nacionais de estatística, setor privado, ONGs, universidades e organizações internacionais e regionais - se reuniram para colaborar e resolver as lacunas e desafios de dados, lançar novas iniciativas e identificar mecanismos para aumentar o financiamento e apoio para melhores dados para o desenvolvimento sustentável. Com mais de 80 sessões e eventos paralelos, o Fórum, foi realizado no Centro de Convenções Madinat Jumeirah, sendo uma oportunidade crucial para grandes produtores e usuários de dados e estatísticas encontrarem soluções inovadoras que forneçam melhores dados para os formuladores de políticas e para todos os cidadãos em todas as áreas do desenvolvimento sustentável e aumentar a confiança nos dados.

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Palestrantes do painel para a sessão Interoperabilidade de dados em ação Permitindo a integração de dados para o desenvolvimento sustentável nos ecossistemas

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Durante a sessão “Novas fontes de dados para a ação política: dos sonhos à realidade”

O preenchimento de lacunas de dados em áreas importantes do desenvolvimento sustentável foi abordado, inclusive sobre migração, saúde, gênero e meio ambiente, entre outros. No terceiro e último dia do segundo Fórum Mundial de Dados da ONU, os delegados participaram de vinte eventos paralelos abordando tópicos que vão desde o papel e perfil de cientistas de dados e jornalistas de dados até desafios e oportunidades relacionados a dados não oficiais, corrupção e governança, nacional plataformas de dados, e colaborações de múltiplas partes interessadas para o desenvolvimento sustentável na África.

Um falcão prateado é apresentado à delegação suíça após o anúncio de que o terceiro Fórum Mundial de Dados será realizado em Berna, na Suíça, em 2020

Encerramento O segundo Fórum Mundial de Dados da ONU foi concluído com o lançamento de uma Declaração de Dubai para aumentar o financiamento de melhores dados e estatísticas para o desenvolvimento sustentável. “Embora esteja claro que a revolução de dados está tendo um enorme impacto, ela não beneficiou a todos igualmente”, disse Amina J. Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas, em seu comunicado no Fórum. “Nossa tarefa é garantir que os dados estejam disponíveis para todas as pessoas. Temos de nos certificar de que é aproveitada para apoiar a implementação da Agenda 2030 a todos os níveis e em todas as regiões e países… Mas precisamos urgentemente de colmatar lacunas importantes. O financiamento para dados e sistemas estatísticos permanece limitado. E além do financiamento, precisamos de apoio político, técnico e de apoio em todas as áreas”.

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Os dados poderão impactar quando comunicados de uma forma que os formuladores de políticas possam entender

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Na plenária “Melhorando as estatísticas de migração - o caminho a seguir”

O lançamento de um guia de interoperabilidade de dados por uma colaboração liderada pela Divisão de Estatística da ONU e pela Parceria Global para Dados de Desenvolvimento Sustentável, que identifica medidas práticas para ajudar países e parceiros de desenvolvimento no caminho para a integração de dados de múltiplas fontes para melhor monitoramento e formulação de políticas para alcançar a Agenda 2030. Discussões importantes sobre a construção de confiança em dados e estatísticas mostraram que 70% dessa audiência especializada acredita que há uma crise na falta de confiança pública nos dados, 35% acham que a principal causa é que as estatísticas não se alinham com ideias pré-concebidas, e 37% disseram que era necessário melhorar a literacia de dados dos cidadãos para enfrentar este desafio. Essas sessões destacaram uma importante área de trabalho para o avanço da comunidade de dados, particularmente no que se refere à alfabetização de dados tanto para o público em geral quanto para os formuladores de políticas e a necessidade de garantir a relevância, abertura e qualidade dos dados. Uma sessão organizada pelo Data2x apresentou histórias de impacto sobre os dados de gênero, incluindo uma história comovente de como os resultados de uma pesquisa sobre violência doméstica no Vietnã chocaram as autoridades governamentais na promulgação de nova legislação e campanhas de conscientização que se tornaram um modelo em toda a Ásia. Esta história e as outras destacadas nesta sessão demonstram o impacto que os dados podem ter quando comunicados de uma forma que os formuladores de políticas possam entender. Esta história de impacto de dados é um exemplo importante para outros produtores de dados, membros da sociedade civil e jornalistas sobre como os dados podem ser usados para influenciar ações políticas.

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A Declaração de Dubai exige o estabelecimento de um mecanismo de financiamento inovador aberto a todas as partes interessadas, que terá como objetivo mobilizar fundos nacionais e internacionais e ativar parcerias e oportunidades de financiamento para fortalecer a capacidade dos sistemas nacionais de dados e estatística. O mecanismo de financiamento será criado sob a orientação de representantes de sistemas estatísticos e diferentes comunidades de dados e doadores que apoiarão a tomada de decisões sobre as modalidades operacionais e recursos para atender às necessidades de dados para a plena implementação da Agenda 2030. “O Fórum Mundial de Dados da ONU é o melhor lugar para lançar uma declaração sobre o financiamento de dados e estatísticas”, disse Liu Zhenmin, Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais. “Para alcançar as ambições estabelecidas no Plano de Ação Global da Cidade do Cabo, tanto o aumento dos recursos internos como o apoio internacional serão necessários. Minha expectativa é que a declaração, o resultado das discussões neste fórum, nos ajude a moldar o caminho a seguir para promover “mais e melhor financiamento” para dados e estatísticas. Os próximos passos imediatos serão traduzir essas ideias em ação e garantir que maximizemos a eficácia do financiamento para dados de desenvolvimento sustentável, pois isso é crucial para atender às necessidades de dados da Agenda 2030. ” “Estamos muito satisfeitos por ter hospedado líderes influentes, tomadores de decisão e especialistas de todo o mundo nos últimos três dias aqui nos Emirados Árabes Unidos”, disse H.E. Abdulla Nasser Lootah, diretor geral da Autoridade Federal de Competitividade e Estatística (FCSA) dos Emirados Árabes Unidos. “Os resultados positivos e perspicazes que alcançamos durante essa importante reunião são essenciais para unificar visões e capacitar indivíduos, instituições e governos a adotar tecnologias modernas e aproveitar os dados para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) local, regional e internacionalmente”.

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Ano 13 Nº 70 Setembro/Outubro 2018

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A LUTA CONTRA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


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