Amazônia 72

Page 1

AM

AÇÃO IC

O

N O RT E

R$ 15,00

ISSN 1809-466X

D

Ano 14 Nº 72 Janeiro/Fevereiro 2019

23

OR PUBL AI

Ano 14 Número 72 2018 R$ 15,00 5,00

www.revistaamazonia.com.br

100 95

NÃO POLUA O MEU FUTURO

75

ECONOMIA CIRCULAR

25

PERDA DE BIODIVERSIDADE AMEAÇA O FUTURO DOS ALIMENTOS

5 0


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


EXPEDIENTE

05 14 20

28 42

Perda de biodiversidade no mundo causa “ameaça severa” ao Futuro dos alimentos

O primeiro informe mundial sobre o estado da biodiversidade que sustenta nossos sistemas alimentares elaborado pela organização especializada das Nações Unidas apresenta provas “crescentes e preocupantes” de que a biodiversidade está desaparecendo e, o mais grave, que “não pode ser recuperada”. Esse fenômeno “põe em grave perigo o futuro de nossos alimentos e meios de subsistência, de nossa saúde e do meio ambiente”, aponta a entidade. A biodiversidade...

Campus Party Brasil 2019 – CPBR12 A Campus Party Brasil, o maior evento de tecnologia do país, este ano foi em local novo, na – Expo Center Norte. A coletiva de abertura contou com grandes nomes envolvidos na organização do evento – eles contaram um pouco sobre os desafios dee fazer um evento desse porte que o público pudesse ver.Com com mais de mil horas de conteúdo, a CPBR12 apresentou uma série de palestras e workshops dentro de temas como Internet das Coisas, blockchain, cultura maker, educação e empreendedorismo. A organização contabiliza uma...

A economia circular A Economia Circular por definição é como um sistema regenerativo em que a entrada de recursos e resíduos, emissões e energia vazamento são minimizados pela desaceleração, rotações, fechamento e estreitamento de material e energia. Isto pode ser conseguido através de design duradouro, manutenção, reparação, reutilização, remanufatura, recondicionamento e reciclagem. Os recursos naturais são finitos e os impactos do descarte incorreto no meio ambiente não podem mais ser ignorados, por isso, hoje as...

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Alejandra Martins, Arlindo Oliveira, Cam Welleres, Circle Economy 2019, Christopher Koch, Richard de Grijs, Ronaldo G. Hühn, Royal HaskoningDHV, WEForum FOTOGRAFIAS Australian Science Teachers Association (ASTA), Banco Mundial/ Nick van Praag, BAS, Bioversity International / D. Caçador, Circle Economy 2019, Chi Chen, China News, Dar Y Kuntz, Divulgação/ Campus Party Brasil, ESA / CNES - sentinela: G. Berthier, ESA - S. Corvaja, GEOGLAM, IISD / ENB | Kiara Worth, Hiroshi Kitamura, INPE, ISRO, Sally Thure, Lincoln Yoshihashi, NASA Earth Observatory, Nasa Earth Observatory, Nasa Goddard’s Visualization Studio, NCBI, Nik Neves, Pesquisa Fapesp, Rajesh Kumar Singh, Reprodução/Google Maps, Tania Rego; EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle NOSSA CAPA Na floresta do Médio Juruá- Amazonas Foto: Bruno Bimbato/ICMbio

Estratégias de economia circular na batalha contra as mudanças climáticas

Com mais de 90% das matérias-primas utilizadas globalmente não recicladas na economia, nosso planeta fica com uma enorme pressão sobre seus recursos naturais e o clima que precisa ser urgentemente aliviado, de acordo com o relatório inovador lançado recentemente pela Circle Economy durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial 2019. Essa estatística alarmante é a principal saída do primeiro Relatório de Lacuna de Circularidade no qual a Economia...

Amazonia-1, o primeiro satélite de observação da Terra integralmente projetado, montado e testado no Brasil A vasta Floresta Amazônica é difícil de penetrar e, portanto, de monitorar, mas, do céu, é possível observar com satélites o abate das árvores e o avanço da fronteira agrícola. É o que fazem os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE), em São José dos Campos, a milhares de quilômetros da floresta. “É o único projeto no mundo que realiza vigilância em tal...

MAIS CONTEÚDO [09] Nasa mostra que o planeta está mais verde que há 20 anos [12] Ciência, tecnologia e o futuro do planeta [32] Terreno fértil para a inteligência artificial [34] 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos [39] Sustentabilidade faz bem para os negócios, diz setor privado [44] Satélite brasileiro de alta resolução vai aprimorar monitoramento agrícola [46] O futuro lançamento espacial em Kourou, na Guiana Francesa [48] Do SAARA à AMAZÔNIA: 4 impactos bons e ruins da poeira que viaja do deserto até a América Latina [50] Aquecimento global causará perdas de colheitas causadas por insetos e pragas [52] Apenas cinco países detêm 70% da natureza remanescente do mundo [54] Sequenciando a vida para o futuro da vida [56] Mudança climática ligada à antiga extinção em massa [58] Microplásticos em humanos [62] O Relógio do JUÍZO FINAL [64] Nossa galáxia é mostra novo mapa da Via Láctea

Portal Amazônia

www.revistaamazonia.com.br

FAVOR POR

CIC

RE

25

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) traduziu para o português duas publicações internacionais sobre o impacto de substâncias químicas e questões ambientais sobre o bem-estar das pessoas. Entre as publicações, está a pesquisa Não polua o meu futuro! Em 2015, morreram 5,9 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade (Estimativas baseadas em uma combinação de Avaliações de Riscos Comparativas, sínteses de evidências, cálculos epidemiológicos e a avaliação de especialistas). As principais causas de morte de...

EDITORA CÍRIOS

ST A

Não polua o meu futuro

PUBLICAÇÃO Período (Janeiro/Fevereiro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

I LE ESTA REV


Não polua o meu futuro

ONU divulga publicações sobre como a poluição afeta a saúde e o bem-estar das pessoas, revelando um grande impacto sobre as crianças Fotos: Banco Mundial/Nick van Praag

seus órgãos e sistema imune estão em desenvolvimento, além de possuírem um corpo e vias aéreas menores. A exposição a fatores nocivos pode começar ainda no útero. Além disso, a amamentação pode ser uma importante fonte de exposição a certos produtos químicos em crianças (4,5); no entanto, esta não é uma razão para desencorajar a amamentação,

A

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) traduziu para o português duas publicações internacionais sobre o impacto de substâncias químicas e questões ambientais sobre o bem-estar das pessoas. Entre as publicações, está a pesquisa Não polua o meu futuro! Em 2015, morreram 5,9 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade (Estimativas baseadas em uma combinação de Avaliações de Riscos Comparativas, sínteses de evidências, cálculos epidemiológicos e a avaliação de especialistas). As principais causas de morte de crianças em todo o mundo são pneumonia, prematuridade, complicações relacionadas com o parto, sepse neonatal, anomalias congênitas, diarreia, traumatismos e malária (2). A maioria dessas doenças e condições é causada, ao menos parcialmente, pelo ambiente. Em 2012, estimou-se que 26% das mortes e 25% da carga de doença total em crianças menores de cinco anos poderiam ser evitadas pela redução dos riscos ambientais, como a poluição do ar, a água contaminada, a falta de saneamento básico, a higiene inadequada e a exposição a substâncias químicas1 (3). As crianças são particularmente vulneráveis a riscos ambientais, pois

revistaamazonia.com.br

que tem muitos efeitos positivos sobre a saúde e o desenvolvimento (4). Proporcionalmente ao seu tamanho, as crianças ingerem mais alimentos, bebem mais água e respiram mais ar que os adultos. Além disso, certos comportamentos, tais como colocar as mãos e objetos na boca e brincar ao ar livre, podem aumentar a exposição de crianças a contaminantes ambientais.

Carga de doença total (em AVAIs) em crianças com menos de cinco anos de idade atribuíveis ao ambiente, por doença, 2012

Meninos coletam água potável no Quirguistão

REVISTA AMAZÔNIA

05


O impacto do ambiente na saúde das crianças, aponta que por ano, 361 mil meninas e meninos com menos de cinco anos perdem a vida por diarreia, como resultado da falta de acesso a água potável, saneamento e higiene. O relatório também revela que, anualmente, 570 mil crianças na mesma faixa etária morrem por infecções respiratórias, como pneumonia. A doença é uma atribuível à poluição do ar interno e externo e ao fumo passivo. Por ano, outras 200 mil meninas e meninos também não chegam ao seu quinto aniversário por conta de lesões fatais e acidentais que podem ser associadas ao meio ambiente, como intoxicações, quedas e afogamentos. Ainda segundo o documento, 200 mil falecimentos de crianças por malária poderiam ser evitados com ações ambientais, como a redução de criadouros de mosquitos ou o armazenamento adequado de água potável. As crianças são particularmente vulneráveis a riscos ambientais, pois seus órgãos e sistema imune ainda estão em desenvolvimento. Meninos e meninas também possuem um corpo e vias aéreas menores. Essa situação — somada a certos comportamentos típicos da idade, como colocar mãos e objetos na boca e brincar ao ar livre — pode

aumentar a exposição a produtos tóxicos dispersos no meio ambiente. A publicação destaca a necessidade de os países adotarem ações inter setoriais em áreas como saúde, energia, transportes, indústria e comércio, habitação e água, a fim de reduzir os riscos ambientais. Cerca de 26% das mortes na infância e 25% da carga total de doenças em crianças com menos de cinco anos de idade foram atribuídas a exposições ambientais em 2012. Essa estimativa indica a carga de doença que poderia ser evitada por intervenções ambientais. A carga de doenças relacionada aos riscos ambientais baseada nesses cálculos é especialmente elevada em crianças com menos de cinco anos de idade e é composta, em grande parte, de doenças infecciosas e parasitárias e condições neonatais e nutricionais. Em crianças com idade entre 5 e 15 anos, as lesões e as doenças não transmissíveis se tornam relativamente mais importantes. Os maiores fatores contribuintes para a perda de AVAIs por razões ambientais em crianças com menos de cinco anos são as infecções respiratórias, seguidas das doenças diarreicas e das condições neonatais. A maior parte da carga de doença em crianças atribuível ao ambiente ocorre em países de renda baixa e média.

O impacto de substâncias químicas sobre a saúde pública

Acesse a pesquisa completa: http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/49123/OPASBRA180023-por.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Projeção da produção (venda) de substâncias químicas por região; cenário na “linha de base”, 2010-2050

06

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Uma cena ancestral – um trabalhador trata o couro com cinzas antes de ser tingido (Fez, Marrocos). Muitas substâncias químicas utilizadas na indústria do couro foram ligadas a várias formas de câncer

O segundo relatório traduzido pela OPAS, “O impacto de substâncias químicas sobre a saúde pública: Fatores conhecidos e desconhecidos”, mostra que a produção de substâncias químicas continua a crescer e, por mais que muitas delas sejam “inofensivas ou até benéficas, outras são uma ameaça à nossa saúde e ao meio ambiente”. Entre os compostos avaliados na publicação, estão agrotóxicos, amianto, chumbo, arsênico e tabaco. A exposição a várias substâncias químicas ocorre todos os dias e através de muitas vias diferentes,como ingestão, inalação, contato com a pele e através do cordão umbilical do nascituro. Muitas substâncias químicas são inofensivas ou até benéficas; outras são uma ameaça

à nossa saúde e ao meio ambiente. A produção de substâncias químicas continua a crescer e, com ela, o potencial de exposição a tais substâncias. As substâncias químicas avaliadas nesta publicação são perigosas para a saúde humana, e a exposição a elas pode ser reduzida ou eliminada através da gestão ambiental. Elas incluem agrotóxicos, amianto, várias outras substâncias químicas domésticas e ocupacionais, poluição atmosférica ambiental e doméstica, tabagismo passivo, chumbo e arsênico.Apresentamos aqui estimativas sobre o impacto de um conjunto de substâncias químicas sobre a saúde, nos casos em que há evidências suficientes para uma quantificação global.

A remoção dos agrotóxicos mais tóxicos utilizados na agricultura e a redução do acesso aos agrotóxicos evitariam muitos casos de intoxicação

revistaamazonia.com.br

Impactos ambientais sobre a saúde da população, por grupo de doença Pouco mais de um terço (35%) dos casos de doença cardíaca isquêmica, a principal causa de morte e incapacidade em todo o mundo, e cerca de 42% dos acidentes vasculares cerebrais, o segundo maior contribuinte para a mortalidade global, podem ser prevenidos pela redução ou eliminação da exposição a substâncias químicas, tais como a poluição do ar ambiental, a poluição do ar doméstico, o tabagismo passivo e o chumbo. Substâncias químicas como metais pesados, agrotóxicos, solventes, tintas, detergentes, querosene, monóxido de carbono e fármacos provocam intoxicações não intencionais em casa e no local de trabalho. Estima-se que a intoxicação não intencional provoque 193.000 mortes por ano, sendo a maior parte por exposição evitável a substâncias químicas. A lista de substâncias químicas classificadas como carcinógenos humanos que contam com evidências suficientes ou limitadas é longa. Estima-se que os carcinógenos ocupacionais causem entre 2% e 8% de todos os cânceres. Na população em geral, estima-se que 14% dos cânceres de pulmão sejam atribuíveis à poluição do ar ambiental, 17% à poluição do ar doméstico, 2% ao tabagismo passivo e 7% aos carcinógenos ocupacionais. A exposição a certas substâncias químicas, como o chumbo,

REVISTA AMAZÔNIA

07


está associada a um pior desenvolvimento neurológico em crianças e aumenta o risco de transtorno do déficit de atenção e deficiência intelectual. A doença de Parkinson foi associada à exposição aos agrotóxicos. Existem suspeitas de outras associações com transtornos mentais, comportamentais e neurológicos, embora as evidências sejam mais limitadas. A poluição do ar e o tabagismo passivo são fatores de risco para resultados adversos da gravidez, como baixo peso ao nascer, prematuridade e morte ao nascer. Por exemplo, foi estimado que a exposição pré-natal ao tabagismo passivo aumenta em 23% o risco global de morte ao nascer e em 13% o risco de malformações congênitas. Além disso, existem possíveis associações entre várias substâncias químicas e resultados adversos da gravidez ou malformações congênitas, embora as evidências sejam limitadas. A catarata, a mais importante causa de cegueira em todo o mundo, pode ser causada pela exposição à poluição do ar doméstico. Foi estimado que a exposição à fumaça de fogões domésticos é responsável por 35% da carga de doença por catarata em mulheres e por 24% da carga global de doença por catarata.O tabagismo passivo e a poluição do ar também são responsáveis por 35% das infecções respiratórias inferiores agudas, incluindo pneumonia, bronquite e bronquiolite, as mais importantes causas de morte em crianças, e também estão ligados a infecções respiratórias altas e otite média. Mais de um terço (35%) da carga global de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é causado pela exposição a substâncias químicas no tabagismo passivo, na poluição do ar ou por gases, fumaças ou pós ocupacionais. O tabagismo passivo e a poluição do ar podem reduzir a função pulmonar e predispor nascituros e crianças

pequenas a doenças pulmonares. O tabagismo passivo e a poluição do ar podem provocar asma e aumentar a sua morbidade. Além disso, a poluição do ar provoca exacerbações de asma e aumenta as internações hospitalares relacionadas à doença. A asma provocada por exposição ocupacional é uma das doenças mais frequentes relacionadas com o local de trabalho.

Mais de 800 000 pessoas morrem por suicídios a cada ano. Cerca de 20% dos suicídios poderiam ser evitados limitando-se o acesso a venenos (estimativa baseada num inquérito com especialistas e em dados epidemiológicos limitados). A autointoxicação com agrotóxicos é a principal forma de suicídio na Índia, na China e em alguns países da América Central.

Total de mortes atribuíveis a substâncias químicas por doença (inclui os riscos avaliados na Tabela 1 e a carga ambiental adicional causada exclusivamente por substâncias químicas)1

Além da exposição ocupacional, o descarte inadequado de materiais de construção pode expor as comunidades mais pobres ao amianto câncer

08

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Nasa mostra que o planeta está mais verde que há 20 anos Fotos: Chi Chen, China News, NASA Earth Observatory, Rajesh Kumar Singh

China e Índia lideram a ecologização ou esverdeamento do mundo por meio do gerenciamento do uso da terra

O

Nas últimas duas décadas, a Terra tem visto um aumento na folhagem ao redor do planeta, medido em área média de folhas por ano em plantas e árvores. Dados de satélites da NASA mostram que a China e a Índia estão liderando o aumento do greening esverdeamento da terra. O efeito decorre principalmente dos ambiciosos programas de plantio de árvores na China e da agricultura intensiva em ambos os países

mundo é literalmente um lugar mais verde do que era há 20 anos, e os dados dos satélites da NASA revelaram uma fonte contra-intuitiva para grande parte dessa nova folhagem: China e Índia. Um novo estudo mostra que os dois países emergentes com as maiores populações do mundo estão liderando o aumento do esverdeamento em terra. O efeito decorre principalmente dos ambiciosos programas de plantio de árvores na China e da agricultura intensiva em ambos os países. Em conjunto, o esverdeamento do planeta nas últimas duas décadas representa um aumento na área foliar de plantas e árvores, equivalente à área coberta por todas as florestas tropicais da Amazônia. Atualmente, há mais de dois milhões de quilômetros quadrados de área extra de folhas verdes por ano, em comparação com o início dos anos 2000 - um aumento de 5%.

O fenômeno do greening foi detectado pela primeira vez usando dados de satélite em meados da década de 1990 por Ranga Myneni, da Universidade de Boston, e seus colegas, mas eles não sabiam se a atividade humana era uma de suas principais causas diretas. Essa nova percepção foi possível graças a um registro de dados de quase 20 anos de um instrumento da NASA que orbita a Terra em dois satélites. É chamado de Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, ou MODIS, e seus dados de alta resolução fornecem informações muito precisas, ajudando os pesquisadores a descobrir detalhes do que está acontecendo com a vegetação da Terra, até o nível de 500 metros, ou cerca de 1.600 pés.

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

09


Tendência na área foliar média anual (% por década, 2000-2017)

“A China e a Índia respondem por um terço da ecologização ou greening ou esverdeamento, mas contêm apenas 9% da área terrestre do planeta coberta por vegetação – uma descoberta surpreendente, considerando a noção geral de degradação da terra em países populosos da superexploração”, disse Chi Chen, da China e do Departamento de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Boston, em Massachusetts, e principal autor do estudo. Uma vantagem do sensor de satélite MODIS é a cobertura intensiva que ele oferece, tanto no espaço como no tempo: o MODIS capturou até quatro fotos de todos os lugares da Terra, todos os dias nos últimos 20 anos. “Esses dados de longo prazo nos permitem ir mais fundo”, disse Rama Nemani, pesquisador do Centro de Pesquisa Ames da NASA, no Vale do Silício, na Califórnia, e co-autor do novo trabalho. “Quando o greening da Terra foi observado pela primeira vez, pensamos que era devido a um clima mais quente e mais úmido e à fertilização do dióxido de carbono adicionado na atmosfera, levando a mais crescimento das folhas nas florestas do norte, por exemplo. Agora, com os dados do MODIS que nos permitem entender o fenômeno em escalas realmente pequenas, vemos que os humanos também estão contribuindo ”. A contribuição desmedida da China para a tendência global de ecologização vem em grande parte (42%) dos programas para conservar e expandir as florestas. Estes foram desenvolvidos em um esforço para reduzir os efeitos da erosão do solo, poluição do ar e mudanças climáticas. Outros 32% - e 82% do greening visto na Índia - vêm do cultivo intensivo de culturas alimentares. A área de terra usada para cultivar é comparável na China e na Índia - mais de 770.000 milhas quadradas - e não mudou muito desde o início dos anos 2000.

10

REVISTA AMAZÔNIA

Nas últimas décadas, a China implementou programas para aumentar sua cobertura vegetal

No entanto, essas regiões aumentaram muito sua área foliar total anual e sua produção de alimentos. Isto foi conseguido

através de múltiplas práticas de cultivo, onde um campo é replantado para produzir outra colheita várias vezes por ano.

revistaamazonia.com.br


Dados recentes de satélite (2000-2017) revelam um padrão de esverdeamento que é notavelmente proeminente na China e na Índia e se sobrepõe a terras agrícolas em todo o mundo. Somente a China responde por 25% do aumento líquido global na área foliar, com apenas 6,6% da área global com vegetação. O greening na China é de florestas (42%) e plantações (32%), mas na Índia é principalmente de terras agrícolas (82%) com menor contribuição das florestas (4,4%). A China está criando programas ambiciosos para conservar e expandir florestas com o objetivo de mitigar a degradação da terra, a poluição do ar e as mudanças climáticas. A produção de alimentos na China e na Índia aumentou mais de 35% desde 2000, principalmente devido a um aumento na área colhida através de múltiplas culturas, facilitada pelo uso de fertilizantes e irrigação de águas superficiais e / ou subterrâneas. Nossos resultados indicam que o fator direto é um fator-chave da ‘Terra Verde’, respondendo por mais de um terço, e provavelmente mais, do aumento líquido observado na área foliar verde. A descoberta significa que “a China e a Índia, os dois países mais populosos e emergentes, ao invés das nações desenvolvidas, são líderes em tornar as terras mais verdes”, disse Chen. “Foi surpreendente descobrirmos que a agricultura intensiva está levando tanto ecologismo na China e na Índia, porque pensávamos anteriormente que as emissões de gases de efeito estufa eram os principais propulsores do esverdeamento global por meio de níveis mais altos de carbono atmosférico (também conhecido por mais alimentos para plantas) produzido pela queima de combustíveis fósseis. Isto é consistente com o trabalho de outros grupos de pesquisa que recentemente forneceram evidências adicionais fortes para a conexão entre o uso da terra humana e o fenômeno de greening observado na África Subsaariana e em toda a Europa”, segundo Chi Chen, pesquisador graduado da Universidade de Boston, e Ranga Myneni , professor da BU em terra e meio ambiente – os principais autores do artigo na Nature Sustainability que revela como os seres humanos estão influenciando a planta e a cobertura vegetal da Terra. Na Índia, o aumento da vegetação é tributário principalmente da ampliação da agricultura; esta, no entanto, não contribui para a captura do carbono, como é o caso das florestas

revistaamazonia.com.br

Produção de grãos, legumes, frutas e muito mais aumentaram cerca de 35-40% desde 2000 para alimentar suas grandes populações. Como a tendência de ecologização pode mudar no futuro depende de vários fatores, tanto em escala global quanto no nível humano local. Por exemplo, o aumento da produção de alimentos na Índia é facilitado pela irrigação de águas subterrâneas. Se a água subterrânea estiver esgotada, esta tendência pode mudar. “Mas, agora que sabemos que a influência humana direta é um dos principais impulsionadores da ecologização da Terra, precisamos incorporar isso aos nossos modelos climáticos”, disse Nemani. “Isso ajudará os cientistas a fazer melhores previsões sobre o comportamento dos diferentes sistemas da Terra, o que ajudará os países a tomar melhores decisões sobre como e quando agir”. REVISTA AMAZÔNIA

11


Ciência, tecnologia e o futuro do planeta

A solução para os desafios ambientais que enfrentamos é mais e melhor tecnologia, e não um retrocesso a formas de vida mais simples por *Arlindo Oliveira

Fotos: Australian Science Teachers Association (ASTA), Hiroshi Kitamura, Sally Thure

O

desenvolvimento da sociedade industrial, nos últimos 250 anos, tem causado alterações profundas no nosso planeta, que têm causado justificadas preocupações ambientais. Está em causa, em particular, a sustentabilidade de todo um ecossistema, ameaçado pela poluição do ar, da água e do solo, pela exploração excessiva de recursos animais, vegetais e minerais, pela agricultura intensiva e pela impermeabilização dos solos. De entre todos os impactos, porém, talvez nenhum mereça tanta atenção atualmente como à questão do aquecimento global, justamente por ser um problema que não conhece fronteiras. Apesar de ainda existir um número (cada vez mais reduzido) de cépticos, existem poucas dúvidas que a extração e utilização de combustíveis fósseis, e o consequente impacto na concentração de gases de efeitos de estufa na atmosfera, entre os quais o dióxido de carbono, está causando o aquecimento do planeta.

Podemos e devemos alterar o nosso estilo de vida, por forma a escolher meios de transporte mais eficientes, consumir bens com menor impacto ambiental e usar energia de forma mais racional

12

REVISTA AMAZÔNIA

O resultado final deste processo de aquecimento, que poderá atingir diversos graus centígrados no fim do século XXI, não é totalmente conhecido, mas sabe-se que causará profundas alterações, aumentando os riscos de fenómenos meteorológicos extremos e colocando em causa a sobrevivência de centenas ou milhares de espécies.

A consciência deste problema levou à adoção de diversas resoluções, entre as quais o Acordo de Paris, que tem como objetivo principal limitar o aumento da temperatura média a um máximo de dois graus centígrados, mas idealmente a não mais de 1,5 graus. Para atingir este objetivo, será necessário reduzir significativamente o nível de emissão de gases de efeito de estufa, para cerca de 40 mil milhões de toneladas, por ano, em 2030, uma redução de mais de 20% relativa a 2017. Muitos acreditam que a solução do problema reside, simplesmente, em fazermos adaptações ao nosso estilo de vida que resultem numa redução do impacto ambiental, em geral, e no volume de emissões de gases de efeito de estufa, em particular. Medidas recentemente anunciadas, apontam exatamente nesse sentido. A ideia subjacente é que se comermos menos carne e tivermos menos incêndios, a nossa contribuição para a emissão de gases de efeito de estufa será menor, e poderemos dormir com a consciência tranquila. A realidade, porém, é bem diferente, e demonstra que estas abordagens incrementais, embora úteis, terão necessariamente um impacto muito limitado. Se dividirmos o valor que representa o total de emissões pretendido para 2030, pela população projetada, de cerca de 8,5 mil milhões de habitantes, obtemos cerca de 4,5 toneladas de emissões de gases de efeito de estufa, por pessoa, por ano, o que corresponde a menos de quatro toneladas de dióxido de carbono por ano por cada habitante do planeta. Parece muito, mas, realmente, não é.

revistaamazonia.com.br


Uma viagem de avião, de ida e volta, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, corresponde a cerca de três toneladas de dióxido de carbono emitido, por cada passageiro. Usar um carro a gasolina, ou a diesel, durante um ano, corresponde também a cerca de três toneladas (uma tonelada se for elétrico, dependendo da origem da energia utilizada). A produção e distribuição da comida consumida pelo cidadão médio durante um ano corresponde a cerca de 2,5 toneladas de emissões, ou cerca de 1,5 toneladas para um vegetariano. O consumo de eletricidade por habitante por ano, em Portugal, corresponde a cerca de duas toneladas de emissões. Estes valores são indicativos e dependem de diversos pressupostos, mas o objetivo é indicar a ordem de grandeza dos mesmos. Ficam ainda de foram muitas atividades relevantes, como a construção (a produção de cimento liberta muito dióxido de carbono), a produção industrial e a distribuição. Tudo somado é fácil verificar que ajustes menores no estilo de vida não nos permitirão atingir os objetivos do Acordo de Paris. Na realidade, o problema é muito mais complexo porque a tão almejada neutralidade carbónica só será realmente atingida quando conseguirmos tirar da atmosfera a mesma quantidade de gases de efeito de estufa que lá colocamos, como resultado da atividade humana. As quatro toneladas por pessoa, por ano, terão de tornar-se zero, ainda durante este século. É óbvio que simples alterações no estilo de vida não nos permitirão atingir este objetivo. A única via para o atingirmos, e evitarmos que o aquecimento global se torne um problema dramático, reside no desenvolvimento de novas e revolucionárias tecnologias, que consigam minimizar o impacto global do nosso estilo de vida. Podemos estar dispostos a comer menos carne ou a usar carros eléctricos. Mas deixar de consumir eletricidade, de viajar de avião e de climatizar as casas corresponderia a alterações tão profundas que, simplesmente, não vão acontecer. Não adianta pensar que podemos regressar a um estilo de vida mais simples, com menor impacto ambiental, onde as viagens de longa distância desapareçam e o conforto de uma casa climatizada seja sacrificado. Não só isso não vai acontecer no mundo ocidental como, em cada ano, milhões de pessoas, na Ásia, África e América do Sul, ganham acesso a estes benefícios, tornados possíveis pelas modernas tecnologias. A única solução para estes desafios, criados pelo aumento de população e pelo desenvolvimento tecnológico, é, exatamente, mais e melhor tecnologia, desenvolvida a partir de mais e melhor ciência.

revistaamazonia.com.br

Para vencermos o desafio da sustentabilidade do planeta, é necessário o desenvolvimento científico e tecnológico, caso contrário será cortado o cordão umbilical de nossa vida compatível com a da Mãe Terra

Podemos e devemos alterar o nosso estilo de vida, por forma a escolher meios de transporte mais eficientes, consumir bens com menor impacto ambiental e usar energia de forma mais racional. Mas a verdade é que o nosso estilo de vida só será sustentável se desenvolvermos as tecnologias necessárias para gerar e distribuir energia de forma mais limpa, eliminar a dependência de combustíveis fósseis, tornar a mobilidade mais eficiente, capturar e armazenar gases de efeito de estufa e, possivelmente, limitar a quantidade de radiação solar recebida pelo planeta, usando sombreamento ou outros mecanismos análogos.

A solução para os desafios ambientais que enfrentamos é algo paradoxalmente, mais e melhor tecnologia, e não um retrocesso a uma forma de vida mais simples, via que muitos defendem, de forma romântica mais irrealista. É necessário apostar no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, mas também adoptar as medidas políticas que dinamizem a criação das tecnologias necessárias. Entre estas medidas está, seguramente, a adopção de uma taxa que reflita adequadamente os custos ambientais da emissão de gases de efeito de estufa, uma decisão que tarda, que deve ser global e que exige muita coragem política. Se conseguirmos tudo isso, não será a primeira vez que o desenvolvimento tecnológico suportará o desenvolvimento e progresso da humanidade, evitando a catástrofe ou mesmo a extinção. A revolução agrícola, que teve lugar há mais de 10.000 anos, permitiu alimentar um número crescente de seres humanos. A revolução industrial permitiu massificar os bens de consumo e melhorar o nível de vida de milhões de pessoas, para os padrões elevados que temos agora. As tecnologias de informação e comunicação deram-nos acesso instantâneo a níveis anteriormente impensáveis de informação e conhecimento. A próxima etapa não será diferente. Para vencermos o próximo desafio, o da sustentabilidade do planeta, o desenvolvimento científico e tecnológico não é só a nossa melhor opção. É, de fato, a única. [*] Presidente do Instituto Superior Técnico, em Portugal

REVISTA AMAZÔNIA

13


Perda de biodiversidade no mundo causa “ameaça severa” ao

Futuro dos alimentos

José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, apresenta com orgulho o novo relatório sobre o estado da biodiversidade mundial para a alimentação e a agricultura

A ONU/FAO alertou recentemente, sobre a perda drástica de biodiversidade no mundo, principalmente na América Latina, onde se registra o declínio do maior número de espécies de alimentos silvestres

Fotos: Bioversity International / D. Caçador, FAO-ONU, GEOGLAM, IISD / ENB | Kiara Worth

Durante o lançamento do relatório

14

REVISTA AMAZÔNIA

Na solenidade de lançamento do relatório, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, destacou a riqueza de informações que o relatório reúne, observando que ele cobre uma lacuna no conhecimento e estabelece uma linha de base para o futuro. Bernard Lehmann, Secretário de Estado da Agricultura da Suíça, enfatizou a necessidade de motivar os agricultores a fortalecer a coexistência da biodiversidade e da agricultura.

revistaamazonia.com.br


Ram Kumari Chaudhary, Ministro de Estado da Agricultura e Pecuária, Nepal, destacou que nenhum país é auto-suficiente em espécies de alimentos. Naoko Ishii, diretora executiva e presidente da GEF, descreveu o programa do GEF sobre restauração de alimentos e uso da terra com foco no planejamento abrangente do uso da terra, uma abordagem de paisagem e gestão da cadeia de valor. Normita Ignacio, Diretora Executiva do SEARICE, Filipinas, pediu aos delegados que usassem o relatório para inspirar ações reais, observando que “os pequenos agricultores alimentam o mundo, por isso devemos colocar seus interesses diante de todos os outros”. Através de mensagem de vídeo, a Secretária Executiva da CDB, Cristiana Paşca Palmer, encorajou a FAO e a Comissão a continuarem a sua participação ativa no desenvolvimento do quadro de biodiversidade pós2020 usando o relatório SOWBFA. Phil Hogan, Comissário da UE para Agricultura e Desenvolvimento Rural, disse que o relatório ajudará os decisores políticos, as partes interessadas e os cidadãos a compreender melhor as ligações entre a biodiversidade e a agricultura. René Castro-Salazar, DirectorGeral Adjunto do Clima, Biodiversidade, Terras e Gestão das Águas, elogiou o lançamento do relatório SOW-BFA, expressando a sua confiança de que as decisões tomadas durante a sessão permitiriam “transformar palavras em atos”. A secretária do CGRFA, Irene Hoffmann, pediu aos delegados a “distribuir, reiterar e reenviar” as mensagens do SOW-BFA para dar-lhe um impacto real. O Presidente Wigmore sublinhou a importância da colaboração entre a Comissão e outros acordos relacionados com a biodiversidade na construção do quadro de biodiversidade pós-2020 e encerrou a sessão.

revistaamazonia.com.br

O

primeiro informe mundial sobre o estado da biodiversidade que sustenta nossos sistemas alimentares elaborado pela organização especializada das Nações Unidas apresenta provas “crescentes e preocupantes” de que a biodiversidade está desaparecendo e, o mais grave, que “não pode ser recuperada”. Esse fenômeno “põe em grave perigo o futuro de nossos alimentos e meios de subsistência, de nossa saúde e do meio ambiente”, aponta a entidade. A biodiversidade para a alimentação e a agricultura inclui todas as plantas e animais silvestres e domésticos - que nos proporcionam alimentos, combustível e fibra, explica a entidade, preocupada com a ameaça que sua perda representa para o sistema alimentar. Danos e perdas para setores agrícolas causados por tipos específicos de perigo abiótico (2006–2016) Pecuária

Colheita 1% 20%

14%

9%

Inundações

Florestal

Pesca e Aquicultura 11%

1% 6%

5% 31%

86%

65% Secas

4% 1%

Tempestades

38% Terremotos

44%

64%

Tsunamis

Menos biodiversidade significa que as plantas e os animais são mais vulneráveis a pragas e doenças. A perda crescente de biodiversidade para a alimentação e a agricultura, agravada por nossa dependência de cada vez menos espécies para nos alimentarmos, está levando nossa já frágil segurança alimentar à beira do colapso», denuncia a FAO. Segundo os dados, o maior número de espécies de alimentos silvestres em declínio se encontra em países da América Latina e do Caribe, seguidos pela Ásia e o Pacífico e pela África. O informe, elaborado pela direção da Comissão de Recursos Genéticos para a Alimentação e a Agricultura da FAO, se baseia em informações fornecidas por 91 países.

Mudança climática e produção concentrada A mudança climática, a eliminação das espécies que polinizam o solo, a concentração da produção em poucas espécies e a ação dos mercados estão pondo em risco a segurança alimentar do planeta. O informe denuncia a diminuição da diversidade vegetal nas explorações agrícolas, o aumento do número de raças de gado em risco de extinção e o incremento da proporção de populações de peixes que sofrem com a sobrepesca. “De cerca de 6.000 espécies de plantas que cultivamos para obter alimentos, menos de 200 contribuem substancialmente com a produção alimentar mundial, e apenas nove representam 66% do total da produção agrícola”, denuncia a FAO. “A produção de gado mundial se baseia em cerca de 40 espécies animais, das quais só um punhado nos proporciona a maior parte da carne, leite e ovos”, destacam os especialistas no relatório. REVISTA AMAZÔNIA

15


Biodiversos produtos e alimentos no Festival Indígena de Culinária de Colombo, Sri Lanka

De insetos a ervas marinhas, crustáceos e fungos, quase um quarto das cerca de 4.000 espécies de alimentos silvestres estão em declínio, com as regiões mais afetadas sendo a América Latina, Ásia e África, segundo o relatório. A produção global de alimentos deve se tornar mais diversificada e incluir espécies que não são muito consumidas, mas que podem estar melhor equipadas para suportar climas e doenças hostis. “Composta por nossa dependência de menos e menos espécies para nos alimentar, a crescente perda de biodiversidade para alimentos e agricultura coloca a segurança alimentar e a nutrição em risco”, acrescentou Graziano da Silva.

Festivais de comida e feiras organizadas nos países do projeto fornecem oportunidades de sensibilização e promoção de culturas e espécies órfãs

Ameaças relacionadas às mudanças climáticas à biodiversidade associada, (A) por região e (B) pelo sistema de produção A 40

Number of countries

35 30 25 20 15 10 5 0

Africa Asia Europe Latin America and the Caribbean Near East and North Africa North America Pacific

B 60 50 Número de respostas

Quase um terço das populações de peixes são exploradas em excesso e mais da metade atingiram seu limite de exploração sustentável», segundo as cifras da agência da ONU, que trabalha em mais de 130 países. A informação revela que algumas espécies silvestres vitais para a alimentação e a agricultura estão desaparecendo rapidamente. Causam forte preocupação os polinizadores - como abelhas, formigas e aranhas -, assim como os organismos do solo e os inimigos naturais das pragas. As florestas, pastos, mangues, prados marinhos, recifes de coral e os pântanos em geral, todos essenciais para os ecossistemas e que prestam muitos serviços para a alimentação e a agricultura, também estão diminuindo rapidamente. A FAO lançou assim um pedido aos governos e à comunidade internacional para que sejam “mais contundentes” na aprovação de medidas e incentivos para promover a biodiversidade. Paralelamente pediu aos consumidores que optem por produtos cultivados de forma sustentável, comprem nos mercados camponeses e boicotem alimentos considerados não sustentáveis. “Em vários países, os ‘cientistas cidadãos’ desempenham um papel importante para proteger a biodiversidade para a alimentação e a agricultura”, apontou.

40 30

Sistemas de culturas Sistemas florestais

20

Sistemas pecuários Aquicultura Pescas

10

Agricultura (não especificado) Não especificado

M

ud a

as

E (n ven ão to es s e pe xt no cifi rem sc ca o icl do s os s) de nu tr ie nt Er es os ão do In cê so nd lo io sfl M or ud es an ta ça is sn a fe no lo gi a M ud an Ou ça tr os sn o ní ve ld o m ar In un da ç õe Pr s ag as e do en ça s M ud an Se ça ca sn s a M pr ud ec an ip ça ita sn çã a o te m pe ra tu ra

0

Sistemas mistos

16

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


A diversificação também poderia ajudar a combater a desnutrição em todo o mundo, trazendo alimentos pouco conhecidos, mas altamente nutritivos, para o mainstream, como o fonio, que é um grão pequeno que é adequado para climas quentes com padrões climáticos imprevisíveis. A ONU disse que os países devem dobrar a produtividade e a renda dos produtores de alimentos em pequena escala até 2030 para eliminar a fome e garantir que todas as pessoas tenham acesso à comida. Uma em cada nove pessoas já não tem comida suficiente e a população mundial deve chegar a 9,8 bilhões em 2050. Espécies exóticas invasoras relatadas pelos países estão afetando a biodiversidade para alimentos e agricultura, por tipo de organismo e (B) por região A Outros Cromáticos artrópodes 2% 1%

Mapa do Índice de Biodiversidade do Solo

Índice de biodiversidade do Solo Alto Baixo Não disponível Água Gelo

Fonte: Orgiazzi et al., eds., 2016. © European Union, 2016.

Mapa de ameaças potenciais à biodiversidade do solo Insetos 16% Crustáceos 2% Peixes com nadadeiras 12%

Plantas 50%

Aves 3% Mamíferos 5% Moluscos 4% Outros animais 3% Fungos 2%

Ameaças potenciais à biodiversidade do Solo Muito baixo Baixo Moderado Muito alta Alta Não disponível Água Gelo

Fonte: Orgiazzi et al., eds., 2016. © European Union, 2016.

B

Conclusões

Africa Asia Europe and Central Asia

Latin America and the Caribbean Near East and North Africa North America Pacific 0

50

100

150

200

250

300

350

Number of responses

Para um futuro mais diversificado e sustentável O BFA (biodiversidade para alimentação e agricultura) e os serviços ecossistémicos que apoia são fundamentais para os esforços para aumentar a resiliência, sustentabilidade e produtividade dos sistemas alimentares e agrícolas, sustentar os meios de subsistência e melhorar a segurança alimentar e nutricional em todo o mundo. No entanto, grande parte do BFA (biodiversidade para alimentação e agricultura) do planeta - ecossistemas, espécies e diversidade genética dentro da espécie - está sendo erodida, muitas vezes em um ritmo alarmante. São necessárias medidas urgentes e compromissos a longo prazo, tanto para reforçar as múltiplas contribuições que o BFA faz para o desenvolvimento sustentável, como para enfrentar as múltiplas ameaças que actualmente estão a causar perdas. Isso exigirá o envolvimento de partes interessadas em todos os níveis, nacional e internacionalmente. Os governos terão de tomar medidas concretas para garantir que as suas responsabilidades neste domínio sejam cumpridas, particularmente à luz da importância do BFA para os esforços para cumprir o Plano de Desenvolvimento Sustentável de 2030. revistaamazonia.com.br

O estado da biodiversidade do mundo para as ameaças à agricultura e à alimentação, incluindo aquelas relacionadas à perda de biodiversidade, e por outro lado, as tendências de aumento nos níveis de adoção de várias práticas de manejo que potencialmente contribuem para a conservação e utilização sustentável do BFA(biodiversidade para alimentação e agricultura) . Esses desenvolvimentos precisam ser construídos pela comunidade global. As lacunas de conhecimento precisam ser preenchidas, a cooperação reforçada, incluindo os recursos intersetoriais e internacionais, e financeiros, humanos e técnicos mobilizados. Estruturas legais e políticas eficazes precisam ser implementadas. O processo conduzido pelo país de preparação da Biodiversidade para Alimentos e Agricultura do Estado do Mundo levou à identificação de inúmeras lacunas, necessidades e ações potenciais na gestão do BFA(biodiversidade para alimentação e agricultura). O próximo passo é agir. Ao longo dos anos, a Comissão de Recursos Genéticos para Alimentação e Agricultura supervisionou o desenvolvimento de planos de ação globais para recursos genéticos nos setores de plantas, animais e florestas. A implementação desses instrumentos precisa ser intensificada. Também é preciso considerar como a comunidade internacional pode promover mais efetivamente sinergias na gestão de todos os componentes da biodiversidade, em todos esses setores e outros, no interesse de uma agricultura e alimentação mais sustentáveis. O lançamento do relatório sobre o estado da biodiversidade mundial para a alimentação e a agricultura deu-se durante a realização da 17ª Sessão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre Recursos Genéticos para Alimentação e Agricultura. [*] Leia na íntegra o relatório completo de 546 páginas em: http://www.fao.org/3/CA3129EN/CA3129EN.pdf REVISTA AMAZÔNIA

17


Distribuição global de manguezais (Os manguezais dão enormes contribuições para segurança alimentar e meios de subsistência – peixes, camarões, caranguejos e moluscos, sustentam a nutrição e a subsistência de milhões de pessoas pobres, contribuindo imenso quantidades de proteína para dietas)

30° 45°N

135°W

90°W

45°W

0°W

45°E

90°E

135°E

180°E

45°S

Observação: Linha de base do manguezal do Global Mangrove Watch para 2010 e distribuição de manguezais por longitude e latitude. Fonte: Bunting et al., 2018.

Interconexão entre ecossistemas costeiros

Recifes de corais

Manguezal

Leito de ervas marinhas

Planalto

Peixes e invertebrados migram para o habitat vizinho como adultos, apoiando as pescarias locais e marítimas

Exportação de material orgânico e nutrientes fornece alimentos para organismos afastado da costa

Escoamento de: – sedimentos – nutrientes e poluentes – água fresca

Peixes e invertebrados chegam para alimentar, apoiando a pesca local

Reduz a energia das ondas

Reduz a energia das ondas

Estabiliza e liga sedimentos, absorve poluentes e excesso de nutrientes

Fonte: UNEP-WCMC

A ONU disse que os países devem dobrar a produtividade e a renda dos produtores de alimentos em pequena escala até 2030 para eliminar a fome e garantir que todas as pessoas tenham acesso à comida. Uma em cada nove pessoas já não tem comida suficiente e a população mundial deve chegar a 9,8 bilhões em 2050

18

REVISTA AMAZÔNIA

Distribuição geográfica das áreas terrestres, marinhas e costeiras protegidas do mundo

Áreas Terrestres Protegidas

Áreas protegidas marinhas e costeiras

Fonte: UNEP-WCMC and IUCN, 2018, WEForum

revistaamazonia.com.br


Área de Milho (% da área total)

Área de Arroz, (% da área total)

Área de Trigo (% da área total)

Área de Soja (% da área total)

< 01 01 - 20 20 - 40 40 - 60 >60

< 01 01 - 20 20 - 40 40 - 60 >60

< 01 01 - 20 20 - 40 40 - 60 >60

< 01 01 - 20 20 - 40 40 - 60 >60

Três culturas - milho, arroz e trigo - são responsáveis por mais da metade das calorias e proteínas que derivamos das plantas

CULTURAS: Milho

Trigo

CONDIÇÕES:

Soja

Excepcional Favorável Assistir Pobre

Arroz

PAÍSES:

Fora de temporada

AMIS dos países

Nenhum dado

Sem AMIS, dos países

DIVERSOS: Molhado

Seco

Quente

Gelado

Evento Extremo

* AMIS=Serviços de Informações do Mercado Agrícola

Alimentar o mundo no futuro, à medida que as populações globais atingem mais de 11 bilhões no próximo século, provavelmente será uma tarefa hercúlea. Mas os pesquisadores estão trabalhando em como resolver o problema. Mapa mostrando as condições das culturas nas principais áreas de cultivo de trigo, milho, arroz e soja. Áreas com culturas que estão em condições menos favoráveis são exibidas no mapa com as culturas específicas afetadas e os principais fatores climáticos que afetam as condições das culturas revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

19


Campus Party Brasil 2019 – CPBR12 Fotos: Divulgação/Campus Party Brasil, Lincoln Yoshihashi

A

Campus Party Brasil, o maior evento de tecnologia do país, este ano foi em local novo, na – Expo Center Norte. A coletiva de abertura contou com grandes nomes envolvidos na organização do evento – eles contaram um pouco sobre os desafios de se fazer um evento desse porte que o público pudesse ver. Com mais de mil horas de conteúdo, a CPBR12 apresentou uma série de palestras e workshops dentro de temas como Internet das Coisas, blockchain, cultura maker, educação e empreendedorismo. A organização contabiliza uma média de 130 mil visitantes durantes os cinco dias de evento, sendo 12 mil deles os chamados campuseiros, que podiam acessar a feira por completo e ainda passar as noites no setor de acampamento. A CPBR12 foi dividida em três áreas principais: o Open Campus que podia ser visitado gratuitamente por qualquer pessoa e contou com uma arena de drones, uma mostra com projetos acadêmicos, um palco onde rolou uma maratona de bandas amadoras, uma arena gamer com campeonatos amadores de DOTA 2 e Counter Strike: Global Offensive e muito mais.

20

REVISTA AMAZÔNIA

A área chamada Arena só podia ser acessada mediante a compra do ingresso. Lá dentro: sete palcos e oito espaços para workshop, com destaque para as palestras de Uri Levine, criador do Waze; Ivair Gontijo, físico mineiro que participou dos projetos que levaram o veículo Curiosity ao planeta marte; Poppy Crum, chefe da Dolby Laboratories e professora adjunta da Universidade de Stanford, falou sobre como novas tecnologias podem aproveitar a fisiologia humana para aprimorar experiências e a forma como interagimos com o mundo e Joana D’Arc Felix, uma das pesquisadoras brasileiras mais premiadas internacionalmente recordou fatos sobre sua história marcada por uma grande superação de preconceitos. Além da área de Camping, onde os campuseiros “moraram” durante o período do evento. Estavam montadas cerca de 5 mil barracas simples e 1,5 mil barracas duplas para abrigarem quem estava se dedicando integralmente às atrações da CPBR12. Francesco Farrugia, presidente do Instituto Campus Party, no palco do galpão principal da Expo Center Norte, deu o início oficial da 12ª edição do principal evento de ciência, tecnologia e internet do País

revistaamazonia.com.br


MCTI e SEBRAE O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), João Henrique de Almeida Sousa, esteve no palco principal da Campus Party Brasil 2019 principal da Campus Party Brasil 2019, no painel “Ciência e tecnologia para o desenvolvimento do Brasil”, Sousa participou de um bate-papo sobre o futuro do empreendedorismo ao lado de Vinícius Lage, diretor técnico do Sebrae Nacional, e do astronauta e ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. Em sua fala, o presidente do Sebrae ressaltou a importância de se pensar diferentes modelos de negócio. O ministro Marcos Pontes apresentou três pilares fundamentais para o desenvolvimento por meio de novas tecnologias. Segundo ele, gerar conhecimento, produzir riqueza e oferecer qualidade de vida às pessoas devem estar no espírito de todos, desde pequenos. “Já produzimos uma série de conhecimentos. Precisamos agora transformá-los em coisas práticas, como novas empresas, novos produtos e novos serviços. O Sebrae está aqui para mostrar que o empreendedorismo é feito com um processo de educação”, finalizou. O ministro contou sobre sua vida e convocou os presentes “a acreditarem em seus sonhos”

Marcos Pontes, na Campus Party Brasil O ministro da Ciência e Tecnologia e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, incentivou os jovens presentes na 12ª Campus Party Brasil a criarem startups e ajudar o País a ingressar em era regida pelas novas tecnologias. Durante os 20 minutos da palestra Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento do Brasil, o ministro contou sobre sua vida e convocou os presentes “a acreditarem em seus sonhos”contou sobre sua vida e convocou os presentes “a acreditarem em seus sonhos”. e defendeu uma aproximação maior com pesquisadores e a academia para solucionar os problemas. Ele não deixou de dizer que há entraves para o incentivo da pesquisa hoje no País. “Precisamos melhorar a infraestrutura dos laboratórios de pesquisa e resolver os problemas das bolsas para os pesquisadores CNPq”, disse. “Mas esse primeiro ano de governo é mais difícil, temos recursos escassos e por isso estamos em busca de parceiros do setor privado.” O ministro convocou os jovens presentes a ajudarem o Brasil a ingressar no mercado de novas tecnologias. Ele citou a familiaridade dos campuseiros com assuntos como inteligência artificial e ciência de dados como um diferencial para “desafios” do governo como Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e cidades inteligentes. Pontes também comentou da importância da Secretaria do Empreendedorismo e Inovação do MCTIC, que deverá oferecer apoio a tecnologias estruturantes, ecossistemas inovadores, ciência, tecnologia e inovação digital. “O papel do MCTIC será de criação de projetos e programas que definem padrões e implantam infraestruturas. Um incentivo a pesquisa principalmente no campo da tecnologia, com ampla colaboração”, finalizou. “Precisamos de empreendedores que usem suas criatividades para encontrar soluções que ajudem o Brasil. Queremos startups sustentáveis, que usem os materiais existentes e que privilegiem a reciclagem”, disse. Finalizou dizendo: “Não dê ouvido para quem diz que seu sonho não vai ser realizado. O primeiro passo é acreditar em você mesmo. Se eu não tivesse feito isso, não estaria aqui hoje”.

revistaamazonia.com.br

O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes e o presidente do Sebrae João Henrique de Almeida Sousa

Precisamos agora transformá-los em coisas práticas, como novas empresas, novos produtos e novos serviços. O Sebrae está aqui para mostrar que o empreendedorismo é feito com um processo de educação

REVISTA AMAZÔNIA

21


A CPBR12 apresentou os resultados e próximos passos do Include, projeto promovido pelo Instituto Campus Party, que consiste na criação e montagem de laboratórios de robótica para aproximar jovens (menores de 18 anos) moradores de comunidades carentes da tecnologia. O objetivo é identificar talentos dentro de comunidades menos favorecidas do país, criar vias para que possam estudar em escolas especiais, encaminhá-los ao mercado de trabalho para que saiam com emprego após a participação no programa e, mais do que isso, prepará-los para que consigam levar soluções para a própria comunidade usando a tecnologia, sem depender da ajuda externa. O Include nasceu na primeira edição da Campus Party Bahia em outubro de 2017 e teve sua primeira unidade inaugurada em Canudos. Ainda esse ano, serão inaugurados mais 100 laboratórios em 11 estados brasileiros.

Orientando carreiras e alimentando o desejo de empreender, principalmente daqueles que buscam se desenvolver

Campus Jobs Esse novo espaço ofereceu ao público presente na área Open palestras e outras atividades relacionadas à formação profissional, além da possibilidade de participar de processos seletivos que resultaram, inclusive, em contratação efetiva. “Nosso objetivo foi o de oferecer subsídios para orientar a carreira, não apenas daqueles que já alimentam o desejo de empreender na área de inovação, mas principalmente daqueles que buscam se desenvolver”, conta Barbara Duran, diretora de RH da MCI.

O MCTIC aproveitou a Campus Party para lançar uma campanha de arrecadação de resíduos eletrônicos e alertar a sociedade para o reaproveitamento e o descarte correto desse tipo de material

Educação para o Futuro

Francesco Farruggia, anuncia iniciativa Include, do Instituto Campus Party, tem por objetivo construir 10 mil laboratórios para estimular empreendedorismo em comunidades carentes

22

REVISTA AMAZÔNIA

Debater os novos caminhos da educação e construir com todos uma nova forma de se olhar para a formação das crianças e adolescentes. Essa é a premissa do espaço Educação para o Futuro, uma das áreas mais visitadas na Open Campus. O projeto, que conta com a parceria da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, que representa o Laboratório Lifelong Kindergarten do MIT Media Lab no Brasil, contou com uma arena com palestras e oficinas de pesquisadores e educadores, além da exposição de equipamentos de experiência científica, em parceria com o Museu Catavento. Já o espaço RobotiCampus, em parceria com o Centro Paula Souza, abrigou modalidades de competição robótica e workshops. Na área Maker, aconteceram oficinas de Franzininho, Arduíno, e também o primeiro encontro da Rede FabLab Brasil. Pela primeira vez na Campus Party, o F1 in School, projeto educacional que reúne atividades de aprendizagem ativa e empreendedorismo no ambiente da Fórmula 1, sucesso pelo mundo há 15 anos, e operado no Brasil pela Associação Projetando o Futuro, foi um sucesso de audiência. revistaamazonia.com.br


Governo recolhia doações de eletrônicos usados na Campus Party Brasil 2019

Edição Sustentável Quem tivesse uma eletrônicos em casa já sem uso podia praticar o desapego na CPBR12 para fazer isso. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) estava com um estande de arrecadação dos chamados “resíduos eletroeletrônicos”. Segundo o ministério, todos os equipamentos arrecadados serão encaminhados para Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs) e poderão ser utilizados na produção de novos aparelhos — todos reaproveitados em centros de formação ou pontos de inclusão, como bibliotecas e escolas públicas. Quem fizesse doações de grande porte podia levar para casa até um passe válido para um dos dias do evento. Eram válidos objetos como teclados, mouse, caixas de som, celulares, CPUs, laptops e impressoras. Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party, com nosso Diretor Rodrigo Hühn e a Amazônia

Diego Christiano Pila, gerente de Relações Corporativas, Eventos e Patrocínios da Petrobras com Rodrigo Hühn e a Amazônia Nosso diretor Rodrigo Hühn e Gustavo Lima, Coordenador de gestão administrativa e financeira do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que coordenava o recolhimento e doações de eletrônicos

A campanha criada pela Campus Party, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC), culminou na arrecadação de mais de 20 toneladas de resíduos eletrônicos, tais como monitores, CPUs, impressoras, teclados, aparelhos celulares e de ar condicionado, caixas de som, notebooks e outros acessórios de informática. Todos os resíduos arrecadados serão levados para os Centros de Recondicionamento de Computadores do MCTIC e, posteriormente, doados a pontos de inclusão digital, como bibliotecas, escolas públicas e telecentros espalhados em todo o território nacional.

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

23


1º Fórum Brasileiro de Empreendedorismo Social e Periférico Através de workshops, palestras e rodas de conversa, o Fórum apresentou iniciativas reais e de sucesso que acontecem no Brasil e no mundo, a partir de cinco grandes pilares: Empreendedorismo Popular, Potenciais Periféricos, Tecnologias de Impacto, Inclusão Social e Diversidade. Os participantes participaram da elaboração coletiva de um manifesto, que será entregue às autoridades. O documento final ratifica ‘o vácuo de conhecimento e de formação no campo da educação, que não é preenchido desde o ensino básico até o superior’. Ainda segundo o manifesto, ‘o empreendedorismo social precisa carregar dentro de si e de seus produtos e serviços seu caráter ativista e transformador, a fim de que o negócio impacte positivamente a sociedade e ajude a romper barreiras de preconceito e discriminação’. “A criação de espaços como esse Fórum é importante para a promoção de um ‘hub do bem’, que permita interações e troca de conhecimentos em torno da urgência do fomento ao empreendedorismo social e, consequentemente, o estímulo à produção de ações e iniciativas que despertem esperança nas periferias quanto à possibilidade de mudança de sua realidade e história”, afirma Francesco Farruggia, presidente do Fórum e do Instituto Campus Party.

Principais números da Campus Party Brasil 2019 Público presente:

Barracas:

Atividades: mais de

1.000 horas de

130 mil pessoas Total de campuseiros: 12.500 acampados: 8.000

5.000 Simples 1.500 Duplas

Palestrantes:

Produção e Tecnologia:

40 GBps Velocidade da internet

conteúdo

Envolvidos na organização mais de

3.000 de Pessoas

231

workshops

mais de

900

Outros Números: Patrocinadores, Apoiadores, Parceiros, Media Partners e Influenciadores

147 empresas; Universidades – 40 instituições

Jornalistas, blogueiros e profissionais de imprensa cadastrados para cobertura – Mais de 800 Programa Campus Future: 41 projetos selecionados para participar do programa Destaques Campus Future: MinervaBots, Polimex e Ex Machina Prótese Mioelétrica Programa Startup&Makers Selecionados para a Campus Party Brasil: 120 startups, sendo 60 growthstage, 60 earlystage. Destaques Startup & Makers: Growth – Desquebre, Keepz e Cuboz; Early – Print Green 3D, Smart Capacete e Verifactt

Cases de Computadores mais criativos 1, 2, 3 e 4

24

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


A economia circular por * Christopher Koch , Dan Wellers

A

Economia Circular por definição é como um sistema regenerativo em que a entrada de recursos e resíduos, emissões e energia vazamento são minimizados pela desaceleração, rotações, fechamento e estreitamento de material e energia. Isto pode ser conseguido através de design duradouro, manutenção, reparação, reutilização, remanufatura, recondicionamento e reciclagem. Os recursos naturais são finitos e os impactos do descarte incorreto no meio ambiente não podem mais ser ignorados, por isso, hoje as empresas modernas e sustentáveis optam pela economia circular, ou seja, uma economia regenerativa e restaurativa. A economia circular é um dos aspectos mais importantes dos esforços de cada empresa pela sustentabilidade porque promove o crescimento, ao mesmo tempo, que gerencia a escassez de recursos, a volatilidade da cadeia de produção e as mudanças de regulações globais.

revistaamazonia.com.br

Fotos: HP, Renault, Royal HaskoningDHV

Em uma economia circular, você deve evitar a situação de que a reciclagem de baixo valor seja a única alternativa, mas se você for confrontado com a escolha, não seria melhor aceitar que o aterro ou a incineração seja a alternativa mais ambientalmente responsável. Dentro da estrutura de uma economia circular não pode ser justificado parar tantas matérias-primas, energia e trabalho na reciclagem ineficiente de um material. Na economia circular o crescimento econômico se separa do uso crescente de novos recursos naturais e matérias primas, aproveitando os recursos já em utilização na cadeia produtiva, ou seja, após o uso ou consumo final, tais recursos retornam como reparo/reuso, remanufaturas, ciclo acima ou superciclagem. O conceito “Economia Circular” continua cada vez mais a ganhar força com os formuladores de políticas, influenciando governos e agências intergovernamentais em nível local, regional, nacional e nível internacional. A Alemanha foi pioneira na integração da Circular Economia em leis nacionais, já em 1996, com a promulgação da “Lei de Gestão de Resíduos e Ciclo de Substâncias Fechadas”. Em 2002, seguiu-se a Lei Básica do Japão para Estabelecer uma Base de Reciclagem e em 2009, a “Lei de Promoção de Economia Circular da China”, na República Popular da China ”. Supra nacionalmente, a Comissão Europeia, em 2015, também incorporaram preocupações de economia circular - mais notavelmente a Estratégia de economia circular da EU. Quarta Revolução Industrial e Economia Circular, novo paradigma de sustentabilidade?

REVISTA AMAZÔNIA

25


Um ótimo negócio O argumento a favor da Economia Circular, do ponto de vista dos negócios, é instigante. Análise realizada pela McKinsey estima que uma mudança para um modelo circular poderia adicionar $1 trilhão para a economia global até 2025 e criar 100.000 novos empregos nos próximos cinco anos. De acordo com a Visão de Economia Circular 2020 proposta pela Waste & Resources Action Programme, a União Européia pode ter um acréscimo de 90 trilhões de libras na sua balança comercial, e criar 160.000 empregos novos. O setor industrial será possivelmente o que verá e terá os benefícios mais rapidamente, dada sua dependência por matéria prima – a McKinsey argumenta que certos subsetores da indústria europeia poderia economizar até $630 trilhões anualmente em reduções de custo de matéria prima, até o ano de 2025.

Economia circular: Percepção e Realidade Exemplo 1

Percepção: É um conceito radical e não comprovado. Realidade: Uma alternativa ao tradicional modelo linear de consumo industrial - fazer, usar, dispor - surgiu em 1972 em Kalundborg, uma pequena cidade industrial na costa da Zelândia, na Dinamarca. Uma refinaria de petróleo começou a transportar o excesso de gás para um fabricante de placas de gipsita nas proximidades, criando um circuito no qual o resíduo de uma empresa se tornou a entrada de outra matéria-prima. Hoje, 13 empresas diferentes em Kalundborg trocam 30 fluxos diferentes de material, água

e energia, economizando para as empresas mais de US $ 95 milhões por ano. Enquanto isso, a montadora Renault, que em 1949 começou a vender caixas de engrenagens recondicionadas e outras peças de uma fábrica fora de Paris, levou o conceito circular ainda mais, incorporando uma desmontagem mais rápida em projetos de peças para facilitar a remanufatura. A Fundação Ellen McArthur, que cunhou o termo economia circular em 2009, relata que a Renault reduziu seu consumo de energia e água e resíduos em 80%, 88% e 70%, respectivamente.

Reciclagem de tinta instantânea HP

26

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Exemplo 2 Percepção: É apenas um nome moderno para reciclagem. Realidade: A reciclagem é uma parte essencial de uma estratégia comercial de economia circular, mas os modelos de negócios também são construídos em torno da reutilização. Até mesmo os campeões mundiais deos recicladores: Áustria e Alemanha, conseguem reciclar apenas pouco mais de 60% de seus resíduos, segundo a organização ambientalista Planet Aid. Em uma economia circular, o desperdício - em vez de ser esperado e tolerado - é considerado um fracasso. Para otimizar o uso de recursos e reduzir o desperdício, os designers de produtos escolhem materiais que podem ser facilmente reutilizados, recondicionados ou compostados. Considere o programa de tinta instantânea da HP: os clientes pagam pela tinta pelo número de páginas impressas por meio de um programa de assinatura. Novos cartuchos de tinta são enviados automaticamente quando os antigos estão acabando. Os clientes enviam cartuchos antigos de volta à HP gratuitamente, e a empresa os recicla para reutilização.

adoção de modelos de negócios circulares, de acordo com o autor e consultor Peter Hesseldahl. Idealmente, as empresas participantes tornam-se dependentes umas das outras para cumprir as promessas feitas aos clientes. Isso exige muita confiança e investimento. Mas os avanços na tecnologia, como IoT, computação em nuvem, Big Data, blockchain e analytics estão permitindo que empresas ainda mais distantes se tornem mais conectadas e interdependentes

- e a um custo menor - o que as levará a um modelo mais circular. De fato, algumas das empresas mais valiosas de hoje não exigem propriedade de ativos ou proximidade física com parceiros. Uber e Airbnb incentivam a conservação e reutilização de recursos aproveitando os veículos e casas existentes. À medida que as empresas aprendem a equacionar a redução do desperdício com lucros crescentes, os modelos de negócios circulares terão uma chance melhor de florescer.

Exemplo 3 Percepção: Há pouco incentivo para mudar. Realidade: A exigência de que as empresas estejam fisicamente próximas umas das outras e integrem fortemente suas operações constitui uma grande barreira à

Economia circular na Renault

Uber

Na Renault, todos os anos, 15.000 motores e 18.000 caixas de velocidades são recuperados em toda a rede de vendas europeia. Mais da metade dos componentes do motor e mais de 70% dos componentes da caixa de engrenagens são remontados para produzir peças mecânicas com desempenho garantido como as novas, mas com preços em média 40% menores. Os materiais restantes são reciclados em nossas fundições para produzir novas peças.

A Cidade Limpa, empresa de proteção ambiental opera a 20 anos no Estado do Pará e está devidamente licenciada pelos órgãos competentes: SEMA, IBAMA, ANVISA, CAPITANIA DOS PORTOS, CREA-PA, Corpo de Bombeiros e Prefeitura Municipal de Belém. A empresa está apta a dar destinação final, de forma correta a resíduos industriais líquidos, pastosos e sólidos, além de resíduos hospitalares.

Rod. 316 - Estrada Santana do Aurá, s/n - Belém-PA revistaamazonia.com.br 55 (91) 3245-1716 / 3245-5141

20 anos

de Excelência

www.cidadelimpa-pa.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

27


Estratégias de economia circular na batalha contra as mudanças climáticas Novo relatório lançado em Davos mostra que nosso mundo é apenas 9% circular

Fotos: Divulgação, Relatório Circle Economy 2019, We Forum

C

om mais de 90% das matérias-primas utilizadas globalmente não recicladas na economia, nosso planeta fica com uma enorme pressão sobre seus recursos naturais e o clima que precisa ser urgentemente aliviado, de acordo com o relatório inovador lançado recentemente pela Circle Economy durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial 2019. Essa estatística alarmante é a principal saída do primeiro Relatório de Lacuna de Circularidade, no qual a Economia do Círculo explora uma métrica para o estado circular do planeta, o que nos permite começar a medir o progresso anual para preencher a lacuna entre o que usamos e o que percorremos. O relatório segundo o CEO do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), e o CEO e co-autor da Circle Economy, Harald Friedl, dizem: “Ser capaz de rastrear e direcionar o desempenho através da Métrica Global de Circularidade nos ajudará a atingir objetivos uniformes. definir e orientar a ação futura da maneira mais impactante”.

O mundo pode maximizar as chances de evitar mudanças climáticas perigosas ao mudar para uma economia circular, de acordo com esse relatório da Circle Economy. Ele destaca o vasto escopo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa através da aplicação de princípios circulares – reutilização, remanufatura e reciclagem – para setores-chave, como o ambiente construído. No entanto, observa que a maioria dos governos mal considera medidas de economia circular em políticas destinadas a atingir a meta da ONU de limitar o aquecimento global a 1,5 ° C. O Relatório Circle Economy 2019 concluiu que a economia global é apenas 9% circular - apenas 9% das 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa que entram na economia são reutilizadas anualmente.

Bom exemplo, a produção de plásticos de origem biológica, ou seja, produzidos usando plantas e, portanto, biodegradáveis

28

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Sete elementos-chave da economia circular Priorize os recursos regenerativos

Preserve & estenda o que já é feito

Desenhar para o futuro

Incorporar Tecnologia Digital

Repensar o modelo de negócio

Colabore para criar valor conjunto

Use resíduos como um recurso

Priorizar os Recursos Regenerativos: Garantir que recursos renováveis, reutilizáveis e ​​ não tóxicos sejam utilizados como materiais e energia de uma maneira eficiente Preserve e estenda o que já foi feito: Mantenha, conserte e atualize os recursos em uso para maximizar sua vida e dar-lhes uma segunda vida através de estratégias de devolução, quando aplicável. Use Resíduos como Recurso: Utilize fluxos de resíduos como uma fonte de recursos secundários e recupere resíduos para reutilização e reciclagem. Repensar o modelo de negócios: considere oportunidades para criar maior valor e alinhar incentivos por meio modelos de negócios que se baseiam na interação entre produtos e serviços.

As mudanças climáticas e o uso de materiais estão intimamente ligados. A Circle Economy calcula que 62% das emissões globais de gases de efeito estufa (excluindo as de uso da terra e florestas) são liberadas durante a extração, processamento e fabricação de mercadorias para atender às necessidades da sociedade; apenas 38% são emitidos na entrega e uso de produtos e serviços. No entanto, o uso global de materiais está se acelerando. Mais do que triplicou desde 1970 e poderá dobrar novamente até 2050 sem ação, de acordo com o Painel de Recursos Internacionais da ONU. O CEO da Circle Economy, Harald Friedl, disse: “Reciclagem e maior eficiência de recursos e modelos de negócios circulares oferecem grande espaço para reduzir as emissões. Uma abordagem sistêmica para aplicar essas estratégias traria o equilíbrio na batalha contra o aquecimento globa”l. “As estratégias de mudança climática dos governos se concentraram em energia renovável, eficiência energética e evitar o desmatamento, mas negligenciaram o vasto potencial revistaamazonia.com.br

O mundo pode maximizar as chances de evitar a mudança climática mudando para uma economia circular, diz o Relatório Circle Economy

Desenhar Para o Futuro: Adotar uma perspectiva sistêmica durante o processo de design, para empregar o direito materiais para uma vida útil adequada e uso futuro prolongado. Incorporar Tecnologia Digital: Rastreie e otimize o uso de recursos e fortaleça as conexões entre atores da cadeia de suprimentos por meio de plataformas e tecnologias digitais e on-line. Colabore para criar valor conjunto: Trabalhe em conjunto em toda a cadeia de fornecimento, internamente em organizações e com o setor público para aumentar a transparência e criar valor compartilhado

da economia circular. Eles devem reprojetar as cadeias de suprimentos até os poços, campos, minas e pedreiras onde nossos recursos se originam para consumir menos matéria-prima. Isso não apenas reduzirá as emissões, mas também impulsionará o crescimento, tornando as economias mais eficientes ”. O relatório pede aos governos que tomem medidas para passar de uma economia li-

near “take-to-waste” para uma economia circular que maximiza o uso de ativos existentes, reduzindo a dependência de novas matérias-primas e minimizando o desperdício. Ele argumenta que a inovação para estender a vida útil dos recursos existentes não apenas reduzirá as emissões, mas também reduzirá a desigualdade social e promoverá o crescimento de baixo carbono. REVISTA AMAZÔNIA

29


Os princípios fundamentais de um ambiente construído circular incluem:

Cortando emissões e resíduos do ambiente construído Estratégias circulares para reduzir o desperdício são particularmente importantes no ambiente construído, que responde por um quinto das emissões globais. A Circle Economy calcula que quase metade de todos os materiais destinados à economia – 42,4 bilhões de toneladas por ano – são usados na ​​ construção e manutenção de casas, escritórios, estradas e infraestrutura. A oportunidade requer coordenação global, pois os países precisarão adotar estratégias diferentes. Nas economias emergentes, onde o alto crescimento populacional e a rápida urbanização estão impulsionando um boom massivo de construção, o desafio é adotar práticas de construção que minimizem o uso de matérias-primas e consequentes emissões. Na China, por exemplo, a maioria das casas e estradas que as pessoas usarão nos próximos 10 a 50 anos ainda não foram construídas. A Circle Economy calcula que seu ambiente construído emite 3,7 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa a cada ano e deve ter mais que o dobro do tamanho em 2050, de 239 para 562 bilhões de toneladas de material. Embora menos de 2% dos insumos de construção da China consista atualmente em materiais reutilizados ou reciclados, o relatório observa que o aumento dessa proporção pode ter um impacto enorme nas emissões. De forma promissora, a taxa de reciclagem de resíduos de construção e demolição aumentou para 10% até 2015 e continua a aumentar. Na Europa e em outras economias desenvolvidas com um parque habitacional maduro, o crescimento no ambiente construído é muito mais lento. O relatório pede que esses países maximizem o valor dos edifícios existentes, ampliando sua vida útil, melhorando a eficiência energética e encontrando novos usos para eles quando necessário. Também é importante aumentar a reutilização e a reciclagem de material no ambiente construído da Europa do nível atual de 12%. Harald Friedl disse: “Há muito trabalho a ser feito em economias estabelecidas, onde a prioridade é fazer melhor uso da infraestrutura existente. Ao mesmo tempo, é crucial que trabalhemos com economias emergentes para evitar erros cometidos no passado. Agora é a hora de substituir os métodos tradicionais de construção por práticas de última geração que não trarão altas emissões nas próximas décadas. Os países farão o máximo impacto projetando não apenas casas, prédios e infraestrutura, mas cidades inteiras para a máxima eficiência de recursos”.

30

REVISTA AMAZÔNIA

Decisões de financiamento e investimento que reconhecem o valor a longo e futuro dos ativos construídos;

Reutilizar materiais de construção existentes;

Projeto modular de novos materiais de construção para permitir a reutilização e remontagem;

Alternativas para materiais de carbono intensivo, como cimento;

Otimizando a vida útil dos edifícios e projetando-os para uso flexível.

O aterro é a pior opção para o gerenciamento de resíduos, tanto em termos ambientais quanto econômicos

Três estratégias-chave para a economia circular O relatório destaca três estratégias-chave que podem ser adaptadas em toda a economia e dá exemplos: 1. Otimizando a utilidade dos produtos maximizando seu uso e prolongando sua vida útil. O compartilhamento de carros e o compartilhamento de carros já tornam menos importante. A condução autônoma acelerará essa tendência, aumentando potencialmente o uso de cada veículo por um fator de oito. Ao mesmo tempo, motores elétricos, programas de manutenção inteligentes e integração de software podem melhorar a vida útil dos carros. 2. Reciclagem aprimorada, usando resíduos como recurso. Até 2050, estima-se que haverá 78 milhões de toneladas de painéis solares desativados. O projeto modular permitiria que os produtos fossem facilmente desmontados, que os componentes fossem reutilizados e que materiais valiosos fossem recuperados para aumentar seu valor econômico e reduzir o desperdício. 3. Projeto circular, reduzindo o consumo de material e usando alternativas de baixo carbono. Bambu, madeira e outros materiais naturais têm o potencial de reduzir a dependência de materiais intensivos em carbono, como cimento e metais na construção. Em vez de emitir carbono, esses materiais armazenam e duram décadas. Eles podem ser queimados para gerar energia no final da vida.

revistaamazonia.com.br


Recomendações para os governos

Declarações sobre o Relatório Circle Economy 2019

Harald Friedl, CEO da Circle Economy, explicou: “Um mundo de 1,5 grau só pode ser um mundo circular. Reciclagem, maior eficiência de recursos e modelos de negócios circulares oferecem grande espaço para reduzir as emissões. Uma abordagem sistêmica para aplicar essas estratégias traria o equilíbrio na batalha contra o aquecimento global. O design de produtos é de importância crucial na economia circular. Maioria dos impactos do ciclo de vida do produto são – ambiental, econômico ou social

A maioria dos governos mundiais ainda precisa despertar para o potencial da economia circular. O relatório pede aos governos que assegurem que as estratégias de mudança climática e economia circular sejam unidas para alcançar o máximo impacto, através do uso de impostos e planos de gastos para impulsionar a mudança. Eles deviam: •

Abolir incentivos financeiros que incentivem o uso excessivo de recursos naturais, como subsídios para exploração, extração e consumo de combustíveis fósseis;

Aumentar os impostos sobre emissões, extração excessiva de recursos e produção de resíduos, por exemplo, implementando um aumento gradual do imposto sobre o carbono;

Reduzir os impostos sobre mão-de-obra, conhecimento e inovação e investir nessas áreas. Impostos trabalhistas mais baixos estimularão partes de mão-de-obra intensiva de uma economia circular, como esquemas de recuperação e reciclagem.

Kate Raworth, pesquisadora visitante sênior do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford e Associada Sênior do Instituto Cambridge de Liderança em Sustentabilidade: “O século XX foi governado pela métrica do dinheiro, que exigiu um crescimento sem fim. Este século exige novas métricas - naturais e sociais - que permitam à humanidade prosperar dentro dos meios do planeta. Este relatório fascinante apresenta exatamente o tipo de números poderosos necessários para começar a tornar essa nova economia real”. Jyrki Katainen, Vice-Presidente da Comissão Europeia para o Emprego, o Crescimento, o Investimento e a Competitividade: “Este relatório oferece uma análise muito concreta e tangível e um caminho para a economia circular e é uma boa contribuição, apoiando os esforços de muitos formuladores de políticas. A Comissão Europeia está muito dedicada à realização dos ODS e está empenhada em transformar a economia europeia num futuro mais sustentável, com baixo consumo de carbono e eficiente em termos de recursos. Estamos convencidos de que só podemos conseguir isso juntos através de uma ampla colaboração de todas as partes interessadas - além das fronteiras nacionais - para tornar nossos sistemas adequados aos desafios atuais. Este relatório ilustra quanto mais esforços ainda são necessários”.

Mark Watts, Diretor Executivo, C40 Cities Climate Leadership Group: Este Relatório de Circularidade marca um importante passo para repensar o gerenciamento tradicional de recursos lineares, a fim de fazer a transição para modelos inovadores de reutilização contínua. O relatório destaca o papel fundamental das cidades nesta transição, apoiando a pesquisa do C40 que melhorou a gestão de resíduos e materiais é uma área vital de intervenção para os prefeitos e uma prioridade urgente para prevenir os piores efeitos da ação climática.

Surpresa de Xangai: Embora menos de 2% dos insumos de construção da China consista atualmente em materiais reutilizados ou reciclados, o relatório observa que aumentar essa proporção pode ter um impacto enorme nas emissões

Países precisam se tornar circulares para evitar mudanças climáticas

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

31


Terreno fértil para a inteligência artificial Fotos: Divulgação, Nik Neves / Pesquisa FAPESP

A expectativa é de que o AI² promova projetos voltados às mais diversas aplicações

32

REVISTA AMAZÔNIA

E

m constante crescimento, principalmente nesta década, a inteligência artificial (IA) começa 2019 com mais um incentivo no Brasil. A partir da inauguração oficial do Instituto Avançado de Inteligência Artificial (AI²), prevista para fevereiro, surge mais uma ponte entre universidade e empresa para o desenvolvimento de pesquisas em parceria. A expectativa é de que a organização promova projetos voltados às mais diversas aplicações, em consonância com a própria multidisciplinaridade desse ramo da ciência da computação. “A IA busca simular a inteligência humana utilizando não apenas conhecimentos da computação, mas também de biologia, engenharias, estatística, filosofia, física, linguística, matemática, medicina e psicologia, apenas para citar algumas áreas”, enumera o cientista da

computação André Carlos Ponce de Leon Carvalho, vice-diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), coordenador do Núcleo de Pesquisa em Aprendizado de Máquina em Análise de Dados, ambos da Universidade de São Paulo (USP), e um dos integrantes do futuro instituto. revistaamazonia.com.br


Mais uma ponte entre universidade e empresa para o desenvolvimento de pesquisas em parceria

Organizado como um consórcio de pesquisadores de inteligência artificial, o AI² reúne especialistas de algumas das maiores universidades do país – todas localizadas no Estado de São Paulo – que oferecerão sua expertise para o desenvolvimento de projetos de interesse acadêmico e comercial. O físico Sérgio Novaes, do Núcleo de Computação Científica da Universidade Estadual Paulista (NCC-Unesp) e organizador do grupo, explica que o instituto não pretende se limitar aos pesquisadores de São Paulo ou mesmo do Brasil: “Nossa meta é agregar parcerias no mundo inteiro para a realização de projetos de grande impacto socioeconômico”. Segundo Novaes, o suporte financeiro do instituto virá de seus parceiros privados. “O dinheiro será utilizado no recrutamento de recursos humanos, organização de eventos, mobilidade de pesquisadores e, eventualmente, aquisição de software e hardware”, explica. A intenção é estabelecer colaborações que envolvam interesses recíprocos e convergentes para que o AI² possa desenvolver atividades relevantes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e não apenas como meros prestadores de serviços para o setor privado. O instituto não terá sede própria. “O modelo envolve espaços de coworking nas instituições participantes ou fora delas, conectados por meio de um sistema de telepresença”, detalha. Os professores que atuarão como mentores dos projetos com o setor privado deverão ficar em suas instituições de origem e o pessoal das empresas continuará em suas respectivas sedes.

Inteligência artificial (IA) começa 2019 com mais um incentivo no Brasil revistaamazonia.com.br

Não é por acaso que o AI² reúne, inicialmente, pesquisadores paulistas. O estado e, em especial, a cidade de São Paulo apresentam uma grande concentração de empresas, pesquisadores e mão de obra qualificada, o que representa um poderoso atrativo para o desenvolvimento de novas tecnologias. Historicamente, o estado também concentra pesquisadores nessa área de conhecimento. O Departamento de Matemática da USP tem visto as pesquisas em IA triplicarem nos últimos três anos, afirma o cientista da computação Roberto Marcondes Cesar Junior, do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e coordenador do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP. “Muitos de nossos alunos são absorvidos por startups do setor”, relata. Essa é a mesma percepção da cientista da computação Ana Carolina Lorena, da Divisão de Ciência da Computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP). “Alunos de graduação e orientandos de pós-graduação estão sendo contratados por empresas para desenvolver sistemas de IA”, conta a pesquisadora. O apoio de agências de fomento como a FAPESP tem sido determinante para a evolução do setor no Estado de São Paulo, sobretudo por meio de programas como o Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). “Entre as agências de fomento, a FAPESP é a que mais apoia startups avançadas”, ressalta Sérgio Queiroz, coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da FAPESP e professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A partir de 2012, o número de projetos PIPE concedidos em IA apresentou um significativo crescimento. Foi o que constatou o engenheiro eletrônico Marcelo Finger, chefe do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP. No dia 26 de novembro, em evento realizado pela Fundação com o Instituto do Legislativo Paulista – o Ciclo ILP-FAPESP –, coube a Finger dar um panorama da pesquisa em IA em São Paulo.

“A FAPESP apoia projetos de inteligência artificial desde 1992. Em 1997, quando começou o PIPE, havia uma média de cinco projetos por ano nessa área do conhecimento. Nos últimos dois anos esse número saltou para 40”, relata. Entre os projetos é possível encontrar pesquisadores estrangeiros atraídos pelo alto nível da pesquisa realizada e pelas boas condições de trabalho. Um exemplo é o inglês Brett Drury, que desenvolve, com apoio do PIPE, um sistema inteligente de análise de risco para a agricultura. “Vim para o Brasil por causa do grande mercado agrícola, da excelente reputação da USP e do meu orientador, Alneu de Andrade Lopes”, lembra. Drury conta que conheceu o cientista da computação Lopes, do ICMC-USP, em 2013, quando fazia seu doutorado na Universidade do Porto, em Portugal, trabalhando em um sistema de previsão voltado ao mercado de ações. No estágio de pós-doutorado trocou o mercado de ações pelas commodities: sob supervisão de Lopes, com bolsa da FAPESP, estudou rendimentos da cana-de-açúcar.

Com a crescente evolução da ferramenta tecnológica, consórcio de pesquisadores cria instituto dedicado a estabelecer parcerias entre universidades e empresas

Agora, como pesquisador-chefe da empresa SciCrop, com sede em São Paulo, desenvolve uma ferramenta computacional para avaliação do risco envolvido em cultura agrícola, com base em dados provenientes de fontes textuais, satélites, meteorologia, séries históricas de produtores e até mesmo notícias relacionadas a fatores econômicos e sociais. “O sistema ajudará na decisão de hedging [a adoção de estratégias para proteger o investimento contra possíveis perdas]”, diz. Além desse tipo de apoio, este ano a FAPESP vai financiar 10 minicursos, com seis a oito horas cada um, com pesquisadores estrangeiros e brasileiros no IME-USP, sobre aprendizado de máquina, aprendizagem estatística, sistemas de bancos de dados e computação de alto desempenho e aplicações com impacto social. Os cursos ocorrerão dentro da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada. [*] Revista Pesquisa FAPESP

REVISTA AMAZÔNIA

33


1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Estudo mostra como preservação ambiental pode ser um bom negócio para a economia Fotos: Divulgação/Tânia Rego, Fábio R.S. / Wikimedia, José Sabino/Natureza em Foco

O

lançamento do “Sumário para Tomadores de Decisão” do “Primeiro Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”, apresentado recentemente no Museu do Amanhã, no Rio, marca um momento tão crítico quanto oportuno para a agenda do desenvolvimento sustentável nas conjunturas internacional e nacional. No âmbito global, os olhares sempre se voltam para o Brasil que, por ser o detentor da maior biodiversidade do planeta, exerce um papel central nas discussões-macro e cujo declínio da riqueza biológica gera impactos para além de suas fronteiras.

Bióloga Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora da BPBES

O Primeiro Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos é composto por cinco capítulos:

Professor Carlos Joly (Unicamp)

O cenário político do país, com a alternância de mandatos que irá ocorrer nos poderes executivo e legislativo, também sinaliza para um leque de possibilidades e rumos, a depender das deliberações dos novos planos de governo e das propostas a serem pautadas e aprovadas no Congresso Nacional. O Sumário é um documento que visa apoiar a tomada de decisão nas esferas pública e privada e traz os principais resultados consolidados no Primeiro Diagnóstico, elaborado por um grupo de mais de 120 pesquisadores reunidos na Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos - BPBES.

34

REVISTA AMAZÔNIA

1) Apresentando o Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos 2) Natureza e qualidade de vida 3) Tendências e impactos dos vetores de degradação e restauração da biodiversidade e serviços ecossistêmicos 4) Interações atuais e futuras entre natureza e sociedade 5) Opções de governança e tomada de decisão através de escalas e setores

Professores Fabio Scarano (UFRJ), Carlos Joly (Unicamp) e Mercedes Bustamante (UnB), coordenadores da Plataforma, no lançamento do Sumário para Tomadores de Decisão

revistaamazonia.com.br


Os serviços ecossistêmicos são os benefícios proporcionados pela natureza que sustentam a vida no planeta, como água limpa, ar puro, alimentos, regulação do clima e proteção contra desastres naturais, energia, polinização, lazer e até bens culturais e valores emocionais. Por isso, o impacto da perda de biodiversidade para a qualidade de vida é grande, assim como o desafio premente de mostrar para a sociedade a importância desses serviços prestados pelos sistemas naturais para o ser humano. “A elaboração de um documento dessa magnitude para o Brasil tem uma repercussão mundial pela relevância que o país tem nesse tema e é um passo marcante para o reconhecimento da Plataforma e para influenciar os tomadores de decisão, especialmente no momento em que estamos vivendo, por se tratar de um relatório isento”, avalia o consultor e ambientalista Fábio Feldmann, ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. O biólogo Carlos Joly, coordenador da Plataforma e professor da Unicamp, revela que o documento reforça os resultados que vêm sendo apontados desde 2005 pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio, primeira análise da saúde dos ecossistemas do planeta e sua relação com o bem-estar humano. “Ali ficou claro que eram as atividades humanas, principalmente a mudança no uso da terra e as mudanças climáticas, os principais vetores de perda de biodiversidade, seja por perda de habitat, por poluição, por demanda de exploração. E a realização do Primeiro Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos confirmou que esse cenário também é uma realidade no Brasil e que vem se acentuando de uma forma bastante rápida, talvez porque sejamos justamente o país com a maior biodiversidade do planeta”, explica.

Criança na Amazônia em Lazer com benefícios oferecidos pela natureza Desmatamento em Porto Velho - Restauração de ecossistemas nativos emerge como uma estratégia promissora para mitigar, e em alguns casos, reverter efeitos da degradação ambiental

revistaamazonia.com.br

Megadiversidade ameaçada A dimensão continental proporciona ao Brasil uma grande heterogeneidade espacial e de recursos naturais. Estima-se que o país abrigue 42 mil espécies vegetais e cerca de 9 mil vertebrados, incluindo altas taxas de endemismo, ou seja, espécies que só existem em seu território. Em relação a invertebrados são conhecidas cerca de 130 mil espécies, mas as estimativas do número total ainda são muito imprecisas. Além disso, o Brasil possui uma diversidade cultural tão rica quanto a biológica, contendo mais de 500 sítios naturais sagrados associados a múltiplas manifestações culturais. Segundo o IBGE, vivem no país 900 mil indígenas, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas.

REVISTA AMAZÔNIA

35


Cerca de 40% da cobertura vegetal do Brasil está contida em 400 municípios, que representam 7% do total de municípios no país e onde vivem 13% da população brasileira economicamente mais carente. Em outros municípios similares a remoção da cobertura vegetal e a transformação dessas áreas em plantações agrícolas ou pastagens não se traduziriam na melhoria das condições de vida da população dessas regiões. Estudos mostraram que, historicamente, a substituição da floresta por atividades agropastoris no Brasil nas últimas décadas não resultou em um aumento significativo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos moradores previamente instalados nessas regiões, ponderam os pesquisadores. “Isso ocorre porque essas pessoas não são beneficiadas pela implantação da atividade agropecuária nessas áreas onde havia cobertura vegetal. Elas acabam engrossando o êxodo rural, ao serem empurradas para a periferia das grandes cidades, onde vão viver em condições muito piores do que as que tinham no campo”, disse Joly. Por meio da ampliação significativa de políticas de geração de renda a partir da natureza conservada – como a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade, aplicada a produtos florestais não madeireiros extraídos, em sua maioria, por populações tradicionais e agricultores familiares – seria possível manter essas pessoas assentadas nessas regiões de floresta e melhorar suas condições de vida, estimam os pesquisadores. “É preciso possibilitar a exploração de forma sustentável de produtos florestais pelas comunidades locais de modo que a floresta possibilite melhorar suas condições de vida, e não substituir a floresta por um sistema de produção que não irá beneficiar a população local”, disse Joly.

Professor Fabio Scarano (UFRJ)

As comunidades tradicionais (tais como caiçaras, quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco-babaçu, pantaneiros, dentre outros) constituem cerca de 5 milhões de brasileiros e ocupam 1/4 do território. Os povos indígenas e as comunidades tradicionais dependem diretamente da natureza para manter seus modos de vida e sua cultura e, por isso, têm um conhecimento riquíssimo sobre as dinâmicas dos ecossistemas e sobre as interações homem-meio ambiente. Tais povos são detentores de conhecimento e práticas de agrobiodiversidade, pesca, manejo do fogo e medicina natural, dentre outras de valor comercial, cultural e espiritual.

36

REVISTA AMAZÔNIA

Helder Queiroz (diretor geral do Instituto Mamirauá) + Ima Vieira (pesquisadora sênior do Museu Paraense Emílio Goeldi), na plateia do evento de lançamento

Ainda que milenares, muitas vezes estas são desconhecidas da sociedade em geral. Jean Paul Metzger (USP, também coordenador da Plataforma)

“Incorporar conhecimentos indígenas e tradicionais sobre a biodiversidade brasileira ao dia-a-dia da sociedade representa uma grande oportunidade”, conta a bióloga Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora da Plataforma. Ex-ministra Izabella Teixeira na plateia do evento de lançamento

revistaamazonia.com.br


De acordo com Bustamante, nas duas últimas décadas os biomas brasileiros têm sofrido mudanças críticas, resultantes tanto de impactos de atividades humanas mal planejadas, quanto de desastres naturais, que ocasionam crescentes perdas de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos que, por sua vez, repercutem diretamente na economia e no bem-estar humano. A lista nacional de espécies ameaçadas conta hoje com 1.173 espécies da fauna e 2.118 da flora. Bustamante aponta que mudanças no uso da terra que geram conversão e fragmentação de habitat naturais para introdução de novos ambientes (áreas agrícolas e urbanas, sobretudo) estão entre os principais fatores de perda de biodiversidade e de degradação ambiental no Brasil. Ela lembra, no entanto, que outros vetores diretos de pressão se somam a esse contexto, como mudança climática, poluição e invasão biológica. “Por isso, a conservação e o manejo dos recursos naturais demandam uma articulação entre diferentes setores da economia e da sociedade para garantir as bases de um desenvolvimento sustentável para o Brasil”, alerta Bustamante.

revistaamazonia.com.br

Governança bipolar Segundo os autores do Diagnóstico, a governança oficial da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos no Brasil é bipolar. Se, por um lado, o país tem instituições fortes e capazes, por outro, sobram problemas de infraestrutura, processos lentos, conflitos jurídicos, sociais e ecológicos e há ineficiência nas ações. Joly observa ainda que o Brasil tem uma posição dúbia em relação aos acordos internacionais. “É protagonista no exterior, como foi o caso em Nagoya, quando as Metas de Aichi foram estabelecidas, e na discussão climática mundial do Acordo de Paris. Deu um grande apoio na discussão

dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que nasceram na RIO+20, em 2012. No entanto, tirando esse protagonismo internacional, internamente o país faz exatamente o contrário do que pregam esses acordos. O Brasil vem, sistematicamente, num processo de desmonte de sua política ambiental”, pontua Joly. O documento também salienta que no país os recursos naturais recebem tratamento no âmbito de políticas setoriais. “A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos são percebidos como um obstáculo ou no máximo um apêndice ao processo de desenvolvimento quando, na verdade, constituem a base de ganho de competividade em um ambiente global”, destaca um dos pontos do Diagnóstico. O relatório alerta que a forma de governança sobre o território afeta diretamente a biodiversidade e os ecossistemas com consequências para o bem-estar dos brasileiros. “As decisões e a forma como são tomadas determinam o estado atual e futuro do ambiente. Por isso, um dos principais desafios do Brasil para os próximos anos é o alinhamento de políticas de desenvolvimento, sobretudo a política agrícola, com o uso e a conservação da biodiversidade. Adicionalmente, a restauração de ecossistemas nativos emerge como uma estratégia promissora para mitigar, e em alguns casos, reverter efeitos da degradação ambiental, mas ainda carece de mecanismos e políticas apropriadas para sua efetivação”, afirma Bustamante. Oportunidade com data de validade – Ainda segundo o documento, a janela de tempo e de oportunidades para consolidar a base de um futuro sustentável no Brasil é limitada. Requer que a biodiversidade seja prontamente colocada no centro das discussões, e de maneira transversal, e que seus fatores de ameaça sejam efetivamente combatidos e atenuados. Há urgência nas escolhas por esse futuro sustentável e é essencial também assegurar o cumprimento de leis existentes através de mecanismos regulatórios e de incentivo, em consonância com os compromissos internacionais de sustentabilidade assumidos pelo país. “As pressões globais e nacionais atuais, nos campos social, econômico e ambiental, são inúmeras e crescentes e o modelo de desenvolvimento vigente está prescrevendo. É preciso um novo modelo que incorpore os desafios de um planeta em rápida transformação socioambiental e climática”, diz o texto. Plateia do evento de lançamento

REVISTA AMAZÔNIA

37


Tomada de decisão fundamentada O Primeiro Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos compilou a síntese do conhecimento disponível acerca da temática, ao longo dos últimos 10 anos. Após uma análise de todos os resultados de estudos realizados sobre o assunto, os cientistas passam a ter uma base sólida para subsidiar o aperfeiçoamento de políticas públicas e privadas e indicar caminhos e opções possíveis, para que a trajetória de perda contínua de biodiversidade possa ser revertida. “Ao longo das últimas décadas, estudos científicos geraram bases de dados que nos mostram com clareza tendências e cenários. Com as ferramentas disponíveis hoje, como a modelagem por exemplo, nós conseguimos também prever qual seria a trajetória de uma determinada política baseada em evidência científica, se ela for aplicada corretamente. Ou seja, nós podemos dar ao tomador de decisão a opção de avaliar qual será o impacto futuro da decisão que ele está tomando hoje”, explica Joly. “Se indicarmos uma política de proteção aos polinizadores que mostre com clareza que esse resultado vai não só proteger as

Se indicarmos uma política de proteção aos polinizadores que mostre com clareza que esse resultado vai não só proteger as espécies de polinizadores, mas irá também aumentar a nossa produtividade agrícola, o tomador de decisão tem dados reais na mão para discutir com diferentes setores e chegar a decisões que sejam aplicáveis e de fato implementadas

espécies de polinizadores, mas irá também aumentar a nossa produtividade agrícola, o tomador de decisão tem dados reais na mão para discutir com diferentes setores e chegar a decisões que sejam aplicáveis e de fato implementadas”, complementa.

Uso sustentável dos recursos naturais é fundamental para assegurar o desenvolvimento econômico e social do país, apontam autores do Sumário para Tomadores de Decisão do 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade & Serviços Ecossistêmicos

38

REVISTA AMAZÔNIA

O engenheiro florestal Fabio Scarano, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também é um dos coordenadores da Plataforma, revela que a expectativa é a de que o governo federal, os governos estaduais e o congresso eleitos se informem sobre a oportunidade que significa o país possuir a maior diversidade de espécies do planeta. “Caso os novos governantes não entendam ou tenham dúvidas, estamos à disposição para esclarecer e dialogar. Como a elaboração do Diagnóstico contou com mais de uma centena de cientistas e com avaliações, críticas e diálogo com setores diversos da sociedade, acreditamos que ele é representativo e que, portanto, terá caráter informativo aos nossos novos dirigentes e, com isso, esperamos orientar suas ações em relação à biodiversidade, um dos maiores patrimônios do país”, afirma Scarano. O ex-secretário nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e professor da UnB, Carlos Klink, salienta a importância do envolvimento dos tomadores de decisão no processo. “Síntese do conhecimento é um passo importante, mas não pode bastar-se em si mesma. A narrativa torna-se mais relevante para os setores quando é escrita com eles, não para eles; deve ser um instrumento de engajamento com os setores. Através da construção de pontes entre a ciência e os tomadores de decisão, surgirão proposição de soluções realistas e factíveis para as questões ambientais tão prementes no mundo de hoje”, comenta.

revistaamazonia.com.br


Sustentabilidade faz bem para os negócios, diz setor privado Fotos: IISD, ONU/Yasmina Guerda

D

urante anos, setores relacionados à construção, ao transporte, às atividades agrícolas e ao varejo foram apontados como os maiores contribuintes das emissões globais de gases causadores do efeito estufa e por colocarem lucros antes da proteção ambiental. Porém, cada vez mais, novas tecnologias e modelos estão transformando o setor privado para que líderes empresariais não tenham mais que escolher entre lucrar e cuidar melhor do planeta. Esta foi uma das principais questões discutidas na conferência COP 24, onde foram feitas negociações sobre a implementação do acordo de ação climática adotado em Paris em 2015, quando 197 partes se comprometeram a tentar limitar aquecimento global para 1,5°C acima de níveis pré-industriais. Convocamos todas as partes em todos os setores e regiões a estabelecerem suas metas com base na ciência

revistaamazonia.com.br

Empresas do mundo todo não devem mais ser vistas apenas como culpadas por emissões de gases causadores do efeito estufa, mas como parceiras indispensáveis para a ação climática. Esta foi uma das mensagens da conferência das Nações Unidas sobre o clima, a COP 24, realizada recentemente na Polônia

para um novo nível de ambição, uma que se alinhe com a meta de 1,5°C, afirmou Lise Kingo, que comanda o Pacto Global da ONU, uma rede de 9.500 pequenas e grandes companhias privadas que se comprometeram a investir mais em desenvolvimento sustentável. Falando em entrevista à imprensa na COP 24, junto aos chefes da Maersk companhia dinamarquesa de transporte global assim como a gigante norte-americana da confeitaria Mars e o conglomerado sediado na França de gerenciamento de água e lixo, Suez, Kingo destacou que esta é a única maneira para que possamos alcançar a ambição do Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030. De acordo com o Pacto Global, quase metade das corporações norte-americanas listadas na Fortune 500 estabeleceu metas de energia limpa ou objetivos para redução de gases causadores do efeito estufa. Além disso, em 2016, 190 destas companhias tiveram um total de 3,7 bilhões de dólares em poupanças graças às medidas de redução de emissões.

REVISTA AMAZÔNIA

39


1000 soluções para proteger o planeta enquanto ganha dinheiro Para facilitar que o setor privado adote soluções ambientalmente amigáveis, enquanto também impulsiona lucros, uma organização não governamental a Solar Impulse Foundation se esforçou para juntar 1 mil soluções já em operação e examiná-las de acordo com impactos ambientais positivos e rentabilidade antes de apresentá-las a governos e ao setor privado. Isto é onde podemos fazer uma grande diferença para a proteção do meio ambiente mostrando que isto é rentável, que pessoas podem criar empregos e ganhar dinheiro com isto, disse o fundador da fundação, Bertrand Piccard, que também foi a primeira pessoa a completar um voo de volta ao mundo apenas com energia solar, em 2016. Buscando estreitar a distância entre ecologia e economia, a iniciativa de 1 mil soluções eficazes foi lançada há mais de um ano e, até o momento, mais de 1.500 se juntaram, com mais de 600 projetos em andamento. Até agora, 58 soluções já receberam o Selo Solar Impulse de Eficácia em sustentabilidade e rentabilidade.

Bertrand Piccard, fundador da Solar Impulse Foundation, na COP 24

Tento mostrar que a maior oportunidade do século no mercado industrial e financeiro é a transformação de aparatos, sistemas e infraestruturas velhos que são ineficazes e poluentes, em processos industriais, aparatos, sistemas, tecnologias e soluções eficazes e limpos e muito mais rentáveis, disse Piccard em entrevista na COP 24. De soluções que tornam residências neutras em carbono, ao desenvolvimento de sistemas de refrigeração mais limpos, ou produção mais eficaz e econômica de aço

Nova geração de turbinas eólicas foram expostas no pavilhão austríaco da COP 24, na Polônia, recentemente

inoxidável, Piccard disse esperar que a iniciativa ajude a comprovar que ação climática pode acontecer agora. Hoje vemos que as soluções mais rentáveis precisam de um pouco mais de investimentos iniciais e depois trazem muito mais dinheiro, ressaltou Piccard. Use ônibus elétricos como exemplo: um ônibus elétrico é um pouco mais caro para compra do que um ônibus a diesel, mas durante dez anos, que é o tempo médio de vida de um ônibus, ele traz cerca de 400 mil dólares em economia se for elétrico.

Carro elétrico autônomo no pavilhão britânico. Caminho rápido para a ‘e-mobilidade’ e para um futuro sustentável

EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! www.expressovida.com.br SÃO PAULO Av. Guinle nº 1277 - Guarulhos Bairro: Cidade Industrial Satélite revistaamazonia.com.br 40 REVISTA AMAZÔNIA Cep: 07221-070 - Fone: (11) 2303-1745

MATRIZ BELÉM BR 316 - Km 5, s/n - Anexo Posto UBN Express Águas lindas - Cep: 67020-000 REVISTA AMAZÔNIA 40 revistaamazonia.com.br Fone: (91) 3013-5200 / 99260-5200 - Ananindeua - Pa


De soluções que tornam as casas neutras em carbono, desenvolvendo sistemas de refrigeração mais limpos ou produzindo aço inoxidável de forma mais eficiente e econômica, o pioneiro espera que a iniciativa ajude a afirmar que a ação climática pode acontecer agora. Ele disse que não deveria ter que esperar até 2050, e pode ser “ganhar, não perder” - algo que ele acredita ser particularmente crítico para as comunidades mais pobres e remotas do mundo, que muitas vezes são dependentes de outras pessoas por toda a energia. necessidades. “A energia - se fizer localmente com sol, com vento, com biomassa, com ondas, com hidroeletricidade em um pequeno rio - lhes permitiria desenvolver sua riqueza, sua estabilidade social e paz. Eles não precisariam lutar pela energia, como eles próprios a produziriam ”, explicou ele, reconhecendo que tal mudança exigiria um investimento inicial de uma entidade externa disposta a compartilhar os lucros com as comunidades.

Mulher, se locomovendo de scooter. Atualmente São Paulo já está adotando...

Para corrigir o curso, na COP 24, dezenas de companhias líderes na indústria da moda incluindo Adidas, Burberry, Esprit, Guess, Gap, Hugo Boss, H&M, Levi Strauss, Puma, Inditex dona de marcas como Zara e Bershka e a varejista Target assinaram a Carta da Indústria da Moda para Ação Climática. A indústria da moda está sempre dois passos à frente no que diz respeito a definir a cultura do mundo, então estou satisfeita em ver que agora está liderando o caminho em termos de ação climática, disse a chefe da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Patricia Espinosa. [*] Fonte: ONU Brasil

Abordagem inovadora para tornar nossa terra mais sustentável, limpa e mais verde

O Grupo BMW Group afirmou na COP 24, que vai se abastecer com eletricidade de fontes renováveis ​​em todo o mundo até 2020. Comprometendo-se com a descarbonização no setor de transporte

“Hoje estamos vendo que as soluções mais rentáveis precisam ​​ de investimento um pouco mais adiantado e, depois, trazem muito mais dinheiro de volta”, observou Piccard. “Apanhar ônibus elétricos: um ônibus elétrico é um pouco mais caro para comprar do que um ônibus a diesel, mas em dez anos, que é a vida útil habitual de um ônibus, se é elétrico, gera economia de US $ 400 mil”. Junto aos setores ligados à construção, assim como produtores de energias de combustíveis fosseis, a indústria da moda é frequentemente criticada por práticas poluentes, insustentáveis e que promovem o desperdício.

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

41


Amazonia-1, o primeiro satélite de observação da Terra integralmente projetado, montado e testado no Brasil Será usado para observar e monitorar o desmatamento especialmente na região amazônica e, também, a diversificada vegetação e agricultura em todo o território nacional Fotos: INPE, ISRO

A

vasta Floresta Amazônica é difícil de penetrar e, portanto, de monitorar, mas, do céu, é possível observar com satélites o abate das árvores e o avanço da fronteira agrícola. É o que fazem os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE), em São José dos Campos, a milhares de quilômetros da floresta. “É o único projeto no mundo que realiza vigilância em tal escala”, explica o coordenador do programa, Cláudio Almeida. “Toda a União Europeia e um pouco mais caberiam na Amazônia. Então, monitorar toda a área significa que você tem que manejar perfeitamente a tecnologia de sensoriamento remoto”, aponta. O programa é o principal instrumento para rastrear o desmatamento. “Isso permite dinamizar e acelerar a vigilância”. A espionagem do céu possibilita a captura rápida de madeireiros ilegais, ressalta Almeida. Mas, às vezes, os instrumentos de precisão servem apenas para medir com impotência a dimensão da destruição. O desmatamento da Amazônia atingiu um máximo de 10 anos em 2017: 7.900 quilômetros quadrados, ou um milhão de campos de futebol foram cortados, segundo o INPE. “Isso é preocupante, porque estamos bem acima da meta estabelecida para 2020. O governo prometeu reduzir o desmatamento para 3.500 quilômetros quadrados até aquele ano”, diz Almeida.

42

REVISTA AMAZÔNIA

Pesquisadores acompanham o satélite Amazônia-1 no Inpe, em São José dos Campos

Satélite brasileiro: Definido o lançamento do satélite brasileiro Amazonia-1 O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) concluiu o processo para a contratação dos serviços que colocarão em órbita o Amazonia-1, o primeiro satélite de observação da Terra integralmente projetado, montado e testado no Brasil. A empresa norte-americana Spaceflight Inc venceu a concorrência internacional e realizará o lançamento com o foguete PSLV (Polar Satellite Launch Vehicle), a partir de uma base na Índia, em 2020.

Primeiro sistema espacial de alta complexidade totalmente brasileiro, o Amazonia-1 está atualmente em fase de ensaios pré-lançamento no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos (SP). Atualmente, o Modelo Elétrico do satélite encontra-se em fase final de integração e testes. Em breve, se iniciarão os trabalhos com o Modelo de Voo! O Amazonia-1 possui uma massa de cerca de 625 kg, e será colocado em uma órbita com altitude média de 760 km. A configuração básica do foguete (PSLVCA) seria suficiente, mas é possível que seja utilizado o PSLV-XL, com maior

revistaamazonia.com.br


capacidade, levando assim outros satélites como carga secundária. As imagens do satélite brasileiro serão usadas para observar e monitorar o desmatamento especialmente na região amazônica e, também, a diversificada vegetação e agricultura em todo o território nacional. Com o Amazonia-1, o Brasil passa a dominar o ciclo completo de desenvolvimento deste tipo de satélite, desde o projeto até a integração e operação em órbita. O projeto impulsiona a indústria aeroespacial do Brasil, ao promover tecnologias 100% nacionais. O lançamento do Amazonia-1 representa também a validação em voo da Plataforma Multimissão (PMM), que pode ser utilizada em diversas missões de satélites (meteorológicas, científicas e de sensoriamento remoto, entre outras). A reprodução da PMM para uso em missões futuras trará reduções significativas de prazos e custos nos próximos satélites.

Cláudio Almeida, coordenador do programa Amazonia-1

O foguete lançador será o Polar Satellite Launch Vehicle (PSLV)

A Missão Amazonia irá fornecer dados (imagens) de sensoriamento remoto para observar e monitorar o desmatamento especialmente na região amazônica e, também, a diversificada agricultura em todo o território nacional com uma alta taxa de revisita, buscando atuar em sinergia com os programas ambientais existentes. Os dados gerados serão úteis para atender, ainda, outras aplicações correlatas, tais como: monitoramento da região costeira, reservatórios de água, florestas naturais e cultivadas, desastres ambientais, entre outros. Os dados estarão disponíveis tanto para comunidade científica e órgãos governamentais quanto para usuários interessados em uma melhor compreensão do ambiente terrestre. A Missão prevê três satélites de sensoriamento remoto: Amazonia-1, Amazonia-1B e Amazonia-2, estando o primeiro em fase final de desenvolvimento. revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

43


Satélite brasileiro de alta resolução vai aprimorar monitoramento agrícola Fotos: Divulgação, Landsat / Sentinel / World View, Suzi Carneiro

Projeto Carponis-1

O tenente Bruno Mattos apresentou para pesquisadores e analistas da Embrapa o trabalho da FAB para colocar o satélite Carponis em órbita

U

ma cooperação entre a Embrapa e a Força Aérea Brasileira (FAB) vai viabilizar a operação do Carponis-1, satélite brasileiro de alta resolução, capaz de gerar imagens com detalhes de até 70 cm e de dar uma volta ao redor do planeta a cada uma hora e meia. O projeto está a cargo da FAB e a Embrapa será operadora civil do equipamento. A Empresa empregará as imagens espaciais nos estudos da produção de alimentos, fibras e energia no País. De acordo com o tenente Bruno Mattos, da FAB, o satélite brasileiro tem potencial para gerar uma economia de mais de 75% no custo por km² das imagens, em comparação aos valores pagos pelo governo em licitações. A Embrapa Territorial (SP) utiliza imagens de satélites em seus trabalhos há quase 30 anos. No entanto, a dependência de imagens de alta resolução adquiridas por satélites controlados por outros países im-

44

REVISTA AMAZÔNIA

põe limitações, além de custos elevados. Normalmente, trabalha-se com as imagens que estão disponíveis nos catálogos das empresas que as comercializam. Outra possibilidade é encomendar os registros, porém, isso demanda tempo entre a solicitação e a entrega. A operação de um satélite pelo Brasil possibilitará mais autonomia e rapidez. “Poderemos programar e direcionar o satélite para aquisição de imagens de alvos específicos. Isso evitará a compra de imagens obsoletas e otimizará o tempo de resposta no recebimento dessas imagens”, observa a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Territorial, Lucíola Magalhães. Ela também é membro do Grupo de Assessoramento da Comissão de Coordenação de Implantação de Sistema Espaciais (CCISE), colegiado que articula o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE).

O nome é formado pela junção das palavras gregas “karpos”, que significa fruto; e “ornis”, pássaro. O Carponis-1 faz parte das constelações de satélites do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que integra o Programa Espacial Brasileiro. A iniciativa é gerenciada pela Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE), da Força Aérea Brasileira, e está alinhada à Estratégia Nacional de Defesa para o setor espacial. O PESE prevê a implantação de uma constelação de satélites, além da infraestrutura de controle e de operação. O Carponis-1 será o primeiro, com previsão para lançamento em 2022 revistaamazonia.com.br


Intervalos menores de captação

O satélite Carponis-1 será o primeiro satélite de sensoriamento remoto de alta resolução espacial brasileiro. Faz parte de uma das constelações do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) que integra o Programa Espacial Brasileiro e deve integrar as metas estratégicas para a inovação da Embrapa

Melhor monitoramento de ILPF e aquicultura O diferencial do Carponis-1 está na alta resolução espacial e temporal. A previsão é que os sensores acoplados ao satélite gerem imagens nítidas abaixo de um metro e com intervalo de três a cinco dias. Hoje, o Brasil opera apenas um sistema espacial, em parceria com a China. Mas a melhor resolução obtida a partir dele é de cinco metros e intervalo de até 26 dias entre os registros. Para se ter uma ideia do ganho com a escala submétrica, nas imagens com resolução de quatro metros, cada pixel equivale a uma área de 16 m². Já as de um metro de resolução refletem 1 m² por pixel. Com imagens melhores e mais facilmente disponíveis, a Embrapa Territorial espera avançar, por exemplo, no monitoramento das áreas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF),

sistema produtivo em expansão no País. “É muito difícil com satélites de média resolução conseguir identificá-las. Mesmo com os de alta resolução, esse mapeamento não vai ser uma tarefa simples”, adianta Magalhães. Os trabalhos com aquicultura também seriam beneficiados com um satélite brasileiro de alta resolução. Atualmente, a Embrapa está desenvolvendo um sistema de inteligência territorial estratégico para o segmento. O primeiro passo é identificar, em imagens espaciais, a localização dos tanques escavados para criação de animais aquáticos. “Quando você trabalha com imagens de média ou baixa resolução, é difícil ter certeza de que determinado ponto corresponde a um tanque para aquicultura, tendo em vista os diferentes tipos existentes”, conta a chefe-adjunta. A expectativa é que, com material de melhor definição, o trabalho ganhe assertividade.

Os pesquisadores também esperam incremento nos estudos pela geração de material com menor intervalo de tempo. O maior ganho é a chance de obtenção de imagens livres de nuvens, um dos principais fatores que comprometem a visibilidade em regiões de alta umidade, como na costa brasileira e região amazônica. Na agricultura, fazer imagens com mais frequência torna-se ainda mais importante, já que as principais fases de desenvolvimento das culturas ocorrem justamente no período de chuvas. O tempo entre a captura da imagem em território nacional e o seu download pelo usuário deve ser menor do que duas horas, adianta o tenente Bruno Mattos, coordenador do projeto Carponis-1. Se a área de interesse estiver fora do Brasil, esse intervalo aumenta, mas, ainda assim, não deve chegar a 12 horas. O tipo de sensor embarcado no satélite também é determinante para os trabalhos em agricultura. Além das bandas que geram a fotografia em cores dos terrenos (vermelho, verde e azul - RGB), “é indispensável, no mínimo, uma banda no infravermelho próximo (NIR)”, diz Magalhães. A presença dela é o primeiro passo para utilizar as imagens em agricultura de precisão. Com esse recurso, além da interpretação visual, os técnicos contam com informações espectrais que podem dar indicações sobre a saúde da plantação em uma determinada área, por exemplo. Identificação de deficiências nutricionais e estimativas de produtividade são outras aplicações. “Quanto mais bandas espectrais, mais informações conseguimos sobre um objeto terrestre”, explica. * Com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

O mosaico é um retrato da mesma área de 9 km² do município de Artur Nogueira, SP, em imagens com três resoluções espaciais diferentes. Da esquerda para a direita, a primeira é do satélite Landsat 8, com pixel de 30 m; a segunda, do Sentinel 2, com 10 m; a terceira vem dos sensores de alta resolução do World View 3, com pixel de 0,30 m

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

45


O futuro lançamento espacial em Kourou, na Guiana Francesa Fotos: ESA / CNES - sentinela: G. Berthier, ESA - S. Corvaja

E

stão em andamento trabalhos para completar o complexo de lançamento do Ariane 6 no Espaçoporto da Europa, em Kourou, na Guiana Francesa. O pórtico móvel é uma estrutura metálica móvel de 90 metros de altura, pesando 8200 toneladas quando totalmente equipada, que rola em trilhos equipados com plataformas para acessar os níveis adequados de lançadores para integração na plataforma de lançamento. O pórtico é afastado pouco antes do lançamento.

O primeiro voo do Ariane 6 está programado para 2020. Animação do Ariane 6

A ESA e a indústria europeia estão atualmente desenvolvendo um lançador de nova geração: Ariane 6. Isto segue a decisão tomada na reunião do Conselho da ESA a nível ministerial em Dezembro de 2014, para manter a liderança da Europa no mercado de serviços de lançamento comercial em rápida mutação, respondendo ao necessidades das missões institucionais europeias. Esta mudança está associada a uma mudança na governação do setor dos lançadores europeus, baseada numa partilha de responsabilidade, custo e risco pela ESA e pela indústria. Os estados participantes são: Áustria, Bélgica, República Tcheca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Romênia, Espanha, Suécia e Suíça.

Ariane 6 objetivos e principais missões O objetivo principal do Ariane 6 é fornecer acesso garantido ao espaço para a Europa a um preço competitivo sem exigir o apoio do setor público para a exploração.

Video: http://revistaamazonia.com.br/Ariane6.mp4 Um lançador modular de três estágios (sólido-criogênico-criogênico) com duas configurações usando: quatro boosters (A64) ou dois boosters (A62)

Ariane 6 elementos Visão do artista de Ariane 6 e Vega-C

Pórtico móvel em construção Nesta imagem você vê a construção do pórtico móvel que irá abrigar e proteger o Ariane 6 antes do lançamento. As plataformas de trabalho permitirão que os engenheiros acessem os níveis do veículo para posicionar verticalmente o núcleo central do Ariane 6 diretamente na mesa de lançamento, adicionar dois ou quatro boosters dependendo da configuração de lançamento e integrar a carenagem que abriga a carga útil. O pórtico móvel dá aos engenheiros melhor acesso ao lançador, permitindo que eles façam ajustes sem mover o foguete de volta para o edifício de montagem - ao contrário do Ariane 5, que é movido em uma mesa para o bloco no dia do lançamento.

46

REVISTA AMAZÔNIA

O futuro lançamento espacial em Kourou, na Guiana Francesa.indd 46

revistaamazonia.com.br

12/03/2019 12:57:42


Conceitos diferentes foram examinados para o Ariane 6, como cargas úteis simples e duplas, propulsão sólida ou criogênica para o palco principal e o número de estágios (três ou mais), tudo para cobrir uma ampla gama de missões: GEO, em especial GTO e LEO, Polar / SSO, MEO ou MTO, de outros. O desempenho de carga útil do Ariane 6 é superior a 4,5 t para missões órbitas polar / solar-sincronizadas a 800 km de altitude e a injeção de dois satélites Galileo de primeira geração. O Ariane 6 pode elevar uma massa útil de 4,5 a 10,5 toneladas em órbita equivalente de transferência geoestacionária. O custo de exploração do sistema de lançamento do Ariane 6 é o seu principal motor. Zona de lançamento em construção do ELA-4 no Espaçoporto da Europa, em Kourou, na Guiana Francesa, quando ainda em fase de reconstrução em preparação para o veículo de lançamento Ariane 6 da Europa

Charlotte Beskow, chefe da ESA, em Kourou, Guiana Francesa Para Charlotte Beskow, o pórtico móvel foi projetado para realizar as operações de montagem final do veículo de lançamento Ariane 6, incluindo: a montagem do estágio central usando o guindaste; a instalação dos propulsores de foguete sólido P120C e a a integração do estágio superior com o guindaste. Desde o início, o futuro sistema de lançamento do Ariane 6 foi firmemente focado no aumento da competitividade. Para dificultar as trocas técnicas, o feedback das operações das plataformas de lançamento da Soyuz e da Vega foi levado a bordo, especialmente no que diz respeito à implementação de soluções técnicas que garantem os custos operacionais mais baixos e recorrentes. É maravilhoso ver tanto trabalho duro se unir. Vendo o quanto todos já trabalharam, será ainda mais emocionante ver o voo inaugural do Ariane 6 em 2020 Durante o recente teste do motor P120C no Espaçoporto da Europa, em Kourou, foi um sucesso. O motor será usado para o Ariane 6 e o Vega-C . O motor atingiu um empuxo máximo de 4650 kN durante um tempo de gravação de 135 segundos

Pórtico móvel Ariane 6, atualmente Treze meses após ao seu início, a montagem da estrutura metálica do pórtico móvel Ariane 6 está chegando ao fim. O edifício agora chega a 100 metros de altura, dominando 150 hectares da plataforma de lançamento a ser construída no Espaçoporto da Europa, em Kourou, na Guiana Francesa. A oitava e última armação de telhado para compor a armação do telhado foi montada. O pórtico será equipado com plataformas móveis, dando acesso aos diferentes níveis do veículo de lançamento, bem como uma ponte rolante de 45 toneladas. Uma vez equipado, o edifício terá uma massa de 7.000 toneladas – em comparação, esse é o peso aproximado da Torre Eiffel, e será movido sobre rodas.

revistaamazonia.com.br

O futuro lançamento espacial em Kourou, na Guiana Francesa.indd 47

Os custos do serviço de lançamento serão reduzidos pela metade, mantendo a confiabilidade ao reutilizar os mecanismos confiáveis do Ariane 5. O primeiro voo está previsto para 2020. Na onda do sucesso de Vega, os Estados-Membros na reunião ministerial da ESA em dezembro de 2014 concordaram em desenvolver o Vega-C mais poderoso para responder a um mercado em evolução e a necessidades institucionais a longo prazo. O Vega-C deverá estrear em meados de 2019, aumentando o desempenho dos atuais 1,5 t da Vega para cerca de 2,2 t em uma órbita polar de referência de 700 km, cobrindo as necessidades de missão dos usuários institucionais identificados, sem aumento no serviço de lançamento e custos operacionais.

REVISTA AMAZÔNIA

47

12/03/2019 12:57:46


Do SAARA à AMAZÔNIA: 4 impactos bons e ruins da poeira que viaja do deserto até a América Latina Mais de 5 mil km separam a borda do deserto da floresta amazônica

por Alejandra Martins

O deserto do Saara está a milhares de quilômetros da Amazônia, mas as duas localidades são ligadas todos os anos por um fenômeno que desafia a imaginação

Fotos: Nasa Earth Observatory, Nasa Goddard’s Visualization Studio, Reprodução/Google Map

C

entenas de milhões de toneladas de poeira deixam os desertos da África, cruzam o Oceano Atlântico e alcançam a América do Norte, o Caribe e a América do Sul, onde impactam desde a saúde dos habitantes até a fertilidade do solo. “Para se ter uma ideia da distância que a poeira do Saara percorre, da costa nordeste da África até o Caribe são cerca de 6.000 km”, explica Santiago Gassó, geofísico argentino e pesquisador da Nasa, que se especializou no uso de satélites para detectar a poeira. “E ela também atinge o norte da Amazônia entrando pelo lado da Venezuela”, ressalta o pesquisador. “Mas a que viaja por cima do Atlântico é cem vezes menor que isso: um grão não é visível a olho humano, o que é visível é o acúmulo deles.” Santiago Gassó listou à BBC alguns dos efeitos mais notáveis da poeira do Saara nas Américas Central e do Sul. “É uma poeira muito, muito pequena. Se tomarmos como referência a espessura de um fio de cabelo, podemos dizer que a poeira doméstica que vemos em nossa casa, por exemplo, é dessa espessura, do tamanho da areia”, explicou Gassó.

1. Fertiliza os solos da Amazônia “O pó é basicamente rocha triturada, muito fina, e é composto de diferentes elementos químicos”, explica o geofísico argentino. Gassó disse que também é provável que exista um fenômeno de fertilização no oceano. “Quando o pó se deposita sobre o oceano, em termos gerais podem acontecer duas coisas. Uma delas é que o pó é muito pesado e começa a submergir em direção ao fundo do oceano. Mas se a poeira demora a descer (seja porque é muito leve ou porque há muita agitação na água), na área onde estão microorganismos como o fitoplâncton ou bactérias, eles podem fazer uso dele (do pó) e liberar todos esses nutrientes que são úteis”. 48

REVISTA AMAZÔNIA

A poeira do Saara é basicamente rocha triturada, muito fina e está composta por diferentes elementos químicos

Representação artística da camada de poeira na atmosfera da Terra

revistaamazonia.com.br


e, portanto, ele fica com uma temperatura mais baixa.” O oceano, explica, não se aquece tanto e isso muda a forma como a água evapora. “E a evaporação da água é o que alimenta os furacões, é uma sucessão de eventos”. Gassó acrescenta que há outro aspecto que está sendo descoberto agora: a relação entre a poeira e as nuvens. “Parece que a poeira induz a formação de granizo nas nuvens e as faz se desenvolver mais verticalmente. Uma nuvem quando cresce, se torna mais poderosa, então a chuva pode ser mais intensa, o granizo pode ser maior e causar mais destruição”.

4. Pode prejudicar os corais

Na Costa Rica, o Instituto Meteorológico Nacional soltou um alerta sobre os perigos da poeira para alergias e crises asmáticas

2. Afeta a qualidade do ar na América do Norte, Caribe e América do Sul “Aqui nos Estados Unidos, a agência ambiental, a EPA, registra aumentos de contaminação quando a nuvem de poeira chega à Costa Leste, especialmente mais próximo do Caribe”, disse Gassó. “O pó também atinge o Norte da América do Sul e do Caribe, o que é bem visto do satélite. Mas é difícil medir a poeira na superfície no Caribe e no Norte da América do Sul porque não há uma rede de observação de superfície, como a que existe nos Estados Unidos.” O impacto do pó na saúde é claro nos alertas divulgados recentemente na Costa Rica. O Instituto Nacional de Meteorologia da Costa Rica (IMN, na sigla em espanhol) informou em julho do ano passado sobre a presença da substância no país, e em grande parte do resto da América Central, de uma nuvem de poeira do Saara que representa, como observado, um risco para pessoas alérgicas ou asmáticas. O IMN informou que a concentração de poeira no Saara está na faixa de 30 a 50 microgramas por metro cúbico, um número muito alto, comparável ao de grandes metrópoles com alta poluição atmosférica. O Instituto da Costa Rica acrescentou que, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, o perigo gerado pela poeira está em seu conteúdo de bactérias, vírus, esporos, ferro, mercúrio e pesticidas. “Essas tempestades, quando conseguem se concentrar e atingir áreas populosas das Américas, podem provocar o surgimento de alergias e ataques de asma em muitas pessoas, especialmente aquelas que já sofriam com problemas respiratórios”, disse o instituto em comunicado.

Assim como a poeira pode carregar substâncias químicas que são úteis para alimentar ou cultivar plantas, também pode conter elementos tóxicos. “Por exemplo, o cobre é tóxico para certas bactérias e outros micro-organismos importantes na base da pirâmide ecológica marinha. Verificou-se que os corais também podem ser atacados por fungos que estão na poeira. Em seguida, quando esses elementos viajam para o outro lado do Atlântico, se depositam sobre o Mar do Caribe e, por causa de seu peso, o sedimento vai caindo e atinge os corais que assimilam esse elemento tóxico e adoecem.” Gassó explicou que a poeira atravessa o Atlântico a cada ano, em um processo que “se correlaciona com o ciclo da água, ou seja, a estação chuvosa e a evaporação que ocorre no Saara”. “Apesar haver chuvas ocasionais no Saaara, há também temporadas que são mais secas do que outras. Isso é o que permite mais suspensão e levantamento da poeira.” O cientista da Nasa disse que a estação seca no Saara ocorre nos meses de maio, junho e julho. “No Saara, existem muitas regiões com depressões. Eram antigos lagos há milhares de anos que secaram.” “As chuvas ocasionais acumulam água da chuva nessas depressões e trazem sedimentos, rochas, poeira. Todos os verões, esses lagos evaporam e, ao evaporarem, fica o sendimento, que é o que voa.” Segundo Gassó, há muito que ainda não se sabe sobre a poeira do Saara e os eventos que ela provoca na natureza. “Gostaria de aprender mais sobre fenômenos indiretos, por exemplo, sobre fertilização, que é um processo muito complicado.” “Porque não está muito claro como é a interação que acontece com a parte biológica, já que existem organismos que reagem à presença de novos nutrientes, e outros não”. [*] BBC News Mundo

3. Pode mudar os furacões Essa possível consequência tem dois aspectos, explica Gassó. Ele diz que, quando há muita poeira em suspensão sobre o Atlântico, ela pode ser vista por satélites. “O fato de você poder vê-lo por satélite significa que a poeira está refletindo a luz solar e que a luz não está atingindo o oceano. Quando há poeira em suspensão, parte da energia solar não está chegando à superfície do oceano revistaamazonia.com.br

Gassó também estuda o impacto da poeira fria que se produz, por exemplo, na Patagônia

REVISTA AMAZÔNIA

49


Aquecimento global causará perdas de colheitas causadas por insetos e pragas O aumento das temperaturas globais torna os insetos “ainda mais famintos e mais numerosos

Insetos causarão mais danos às plantações pelas mudanças climáticas

O

s cientistas já avisaram que a mudança climática provavelmente impactará os alimentos que cultivamos. Do aumento da temperatura global a eventos meteorológicos “extremos” mais frequentes, como secas e inundações, espera-se que a mudança climática afete negativamente nossa capacidade de produzir alimentos para uma população humana em crescimento. Mas novas pesquisas estão mostrando que a mudança climática deve acelerar as taxas de perda de safra devido à atividade de outro grupo de criaturas famintas – os insetos. Em um artigo publicado recentemente na revista Science, uma equipe liderada por cientistas da Universidade de Washington relata que a atividade de insetos nas regiões temperadas e de cultivo de hoje aumentará com a temperatura. Pesquisadores projetam que esta atividade, por sua vez, aumentará as perdas mundiais de arroz, milho e trigo em 10 a 25 por cento para cada grau Celsius em que as temperaturas médias da superfície aumentam. Apenas um aumento de 2 graus Celsius nas temperaturas da superfície elevará as perdas totais dessas três safras a cada ano para aproximadamente 213 milhões de toneladas. “Esperamos ver uma crescente perda de colheitas devido à atividade de insetos por 50

REVISTA AMAZÔNIA

duas razões básicas”, disse o co-autor e autor correspondente Curtis Deutsch, professor associado de oceanografia da UW. “Primeiro, temperaturas mais altas aumentam as taxas metabólicas de insetos exponencialmente. Segundo, com exceção dos trópicos, temperaturas mais altas aumentam as taxas reprodutivas de insetos. Você tem mais insetos e eles comem mais.” Em 2016, as Nações Unidas estimaram que pelo menos 815 milhões de pessoas em todo o mundo não têm o suficiente para comer. O milho, o arroz e o trigo são culturas básicas para cerca de 4 bilhões de pessoas e respondem por cerca de dois terços da ingestão de alimentos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. A pesquisa é baseada em estimativas de um aumento de 1.7Cº à 2Cº na temperatura global – um cenário possível, mesmo que todos os países cumpram suas metas não vinculantes, conforme acordado no acordo climático de Paris. Mas a equipe alertou que os modelos que avaliam os efeitos agrícolas da mudança climática raramente consideram perdas devido à mudança de populações e comportamentos de insetos. No futuro próximo, um clima mais quente significa que devemos esperar que os insetos “fiquem ainda mais famintos e mais numerosos”, adverte o estudo. “Temperaturas mais quentes mostraram acelerar a taxa metabólica de um inseto individual, levando-o a consumir mais alimentos durante sua vida útil.” “Os impactos do aquecimento global nas infestações de pragas vão agravar os problemas de insegurança alimentar e danos ambientais causados pela agricultura em todo o mundo”, disse o co-autor Rosamond Naylor, professor do Departamento de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade de Stanford e diretor fundador do Centro de Segurança Alimentar. e o meio ambiente. “O aumento de aplicações de pesticidas, o uso de OGMs e práticas agronômicas como

a rotação de culturas ajudarão a controlar as perdas de insetos. Mas ainda parece que sob praticamente todos os cenários de mudança climática, as populações de pragas serão as vencedoras, particularmente em regiões temperadas altamente produtivas”. fazendo com que os preços reais dos alimentos subissem e as famílias com insegurança alimentar sofressem “. Para investigar como a herbivoria de insetos em plantações pode afetar nosso futuro, a equipe analisou décadas de experimentos de laboratório sobre taxas metabólicas e reprodutivas de insetos, bem como estudos ecológicos de insetos na natureza. Ao contrário dos mamíferos, os insetos são ectotérmicos, o que significa que a temperatura do corpo deles rastreia a temperatura do ambiente. Assim, a temperatura do ar afeta o consumo de oxigênio, as necessidades calóricas e outras taxas metabólicas. As experiências anteriores que a equipe estudada mostram conclusivamente que o aumento da temperatura irá acelerar o metabolismo dos insetos, o que aumenta o apetite deles, a uma taxa previsível. Além disso, temperaturas crescentes aumentam as taxas reprodutivas até certo ponto, e então essas taxas se nivelam em níveis de temperatura

Danos causados por insetos podem aumentar até 75%

revistaamazonia.com.br


semelhantes aos que existem hoje nos trópicos. Deutsch e seus colegas descobriram que os efeitos da temperatura no metabolismo dos insetos e na demografia eram bastante consistentes entre as espécies de insetos, incluindo espécies de pragas, como afídeos e brocas de milho. Eles dobraram esses efeitos metabólicos e reprodutivos em um modelo de dinâmica populacional de insetos e analisaram como esse modelo mudou com base em diferentes cenários de mudança climática. Esses cenários incorporaram informações com base em onde o milho, o arroz e o trigo - as três maiores culturas básicas do mundo - são cultivados atualmente. Para um aumento de 2 graus Celsius nas temperaturas médias da superfície global, seu modelo prevê que as perdas médias no rendimento devido à atividade de insetos seriam 31% para o milho, 19% para o arroz e 46% para o trigo. Sob essas condições, as perdas anuais totais de culturas atingiriam 62, 92 e 59 milhões de toneladas, respectivamente. Os pesquisadores observaram diferentes taxas de perda devido às diferentes regiões de cultivo, disse Deutsch. Por exemplo, grande parte do arroz do mundo é cultivada nos trópicos. As temperaturas já estão em condições ideais para maximizar as taxas reprodutivas e metabólicas dos insetos. Assim, aumentos adicionais de temperatura nos trópicos não aumentariam a atividade dos insetos na mesma proporção que nas regiões temperadas – como o “cinturão de milho” dos Estados Unidos. A equipe observa que fazendeiros e governos poderiam tentar diminuir o impacto do aumento do metabolismo de insetos, como o deslocamento onde as plantações são cultivadas ou a tentativa de cruzar plantações resistentes a insetos. Mas essas alterações vão levar tempo e custear suas próprias despesas. “Espero que nossos resultados demonstrem a importância de coletar mais dados

sobre como as pragas afetarão as perdas das colheitas em um mundo em aquecimento porque coletivamente, nossa escolha agora não é se vamos ou não permitir que o aquecimento ocorra, mas quanto aquecimento nós estou disposto a tolerar “, disse Deutsch. “É hora de uma grande iniciativa repensar a agricultura globalmente, pensar em como desacelerar a evolução, como manter as pestes melhor isoladas, como confiar em todos os benefícios da biodiversidade selvagem e como, ao mesmo tempo, comer e cultivar alimentos de forma sustentável ”. O estudo segue pesquisas indicando insetos voadores que as culturas são dependentes de polinização também enfrentam grandes ameaças. No ano passado, os cientistas alertaram sobre o “Armageddon ecológico”, já que o número de insetos voadores despencou 75% nos últimos 27 anos, mesmo em reservas protegidas na Europa. Dunn disse: “Os pesticidas de amplo espectro tendem a matar insetos em geral, sem levar em conta o seu nível trófico, mas são pulverizados de forma a favorecer a evolução mais rápida nas espécies mais abundantes e reproduzidas mais rapidamente. Na maioria dos casos, são as pragas. “O resultado em tais cenários pode ser a perda das espécies que mais precisamos e a hiperabundância das espécies que menos queremos. “Ao mesmo tempo, estamos aquecendo, secando e mudando o planeta, o que novamente tende a favorecer espécies que são abundantes e boas em ir de um lugar para outro - mais uma vez, muitas vezes, as pragas. “Uma sociedade inteligente descobriria uma maneira de favorecer a evolução e a persistência da biodiversidade em geral, e particularmente espécies benéficas, mas não das espécies que ameaçam destruir nossas colheitas de volta ao solo. Ainda não nos provamos, globalmente, como tal sociedade”.

Simulação de perdas Avaliar as perdas agrícolas adicionais é um exercício difícil, mas o pesquisadores o fizeram simulando o impacto de um aumento de 2°C no metabolismo dos insetos e calculando o novo apetite. Isso não leva em conta o uso adicional de pesticidas ou outras mudanças para prevenir esses estragos. Uma espécie invasora se beneficiaria particularmente: o pulgão russo do trigo. Esse inseto verde, de entre 1mm e 2mm, colonizou os Estados Unidos na década de 1980 e atacou o trigo e a cevada. Apenas exemplares fêmeas do inseto foram encontrados. “Estes insetos nascem já gestando suas filhas, cada uma estando já grávida de suas netas”, disse à AFP Scott Merrill, especialista em insetos na Universidade de Vermont.

O poder das fêmeas Cada fêmea pode dar à luz oito filhotes por dia, que se multiplicam por oito pelo número de netas.”Imaginem o quão rápido a população desses pulgões pode explodir”, diz. “Um ou dois pulgões podem dar à luz bilhões de insetos, se as condições são ideais”, acrescenta. Até agora, o efeito do aquecimento global no desenvolvimento das plantas era o principal foco de pesquisas. Deutsch espera que este trabalho estimule mais cientistas a estudarem o efeito sobre os insetos em regiões particulares. Lagarta e broca de milho. Muitos insetos ficam mais famintos e se reproduzem mais rapidamente em temperaturas mais quentes

O tempo mais quente ocasiona pragas de insetos, reduzindo a capacidade de produzir alimentos

revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

51


Local sem vestígios de atividades humanas entre os rios Dvina do Norte e Pinega, na região de Arkhangelsk, no noroeste da Rússia

Apenas cinco países detêm 70% da natureza remanescente do mundo

Rússia, Canadá, Austrália, Estados Unidos e Brasil, abrigam a grande maioria. Estes cinco países terão um papel desmedido a desempenhar no futuro do nosso planeta Fotos: Taylor Weidman, WCS

B

ilhões de anos se passaram, incontáveis espécies surgiram e desapareceram, mas bastou apenas uma para colocar em risco toda a história evolutiva da Terra ao espalhar a destruição e degradação do meio ambiente. Um século atrás, apenas 15% da superfície da Terra era usada para cultivar e criar gado. Hoje, mais de 77% das terras (excluindo a Antártida) e 87% do oceano foram modificadas pelos efeitos diretos das atividades humanas. Apesar dos esforços de conservação e proteção ambiental nas últimas décadas, menos de um terço das áreas terrestres do permanecem selvagens, sem impacto de atividades humanas, e esses remanescentes da natureza estão sob risco crescente. O alerta vem de um artigo da Universidade de Queensland, na Austrália, e da organização não-governamental norte-americana Wildlife Conservation Society (WCS), publicado recentemente na Nature. Entre 1993 e 2009, uma área florestada

52

REVISTA AMAZÔNIA

maior que a Índia — impressionantes 3,3 milhões de quilômetros quadrados — foi perdida para a expansão de cidades, agropecuária, mineração e outras pressões associadas a atividades humanas. No oceano, áreas livres de pesca industrial, poluição e navegação estão quase completamente confinadas às regiões polares. Segundo o estudo, mais de 77% das terras (excluindo a Antártica) e 87% dos oceanos já foram modificados pela intervenção humana. E a maior parte dos remanescentes se concentram em apenas cinco nações: Austrália, Estados Unidos, Brasil, Rússia e Canadá. “As áreas selvagens são agora os únicos lugares que possuem combinações de espécies próximas da sua abundância natural” e, por isso, são espaços únicos que “apoiam o processo ecológico” fundamental para “manter a biodiversidade numa escala evolutiva”, escreveram os pesquisadores na publicação. A pesquisa foi divulgada há poucas semanas da Conferência das Partes da Con-

Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Ártico, no Alasca-Estados Unidos

revistaamazonia.com.br


Mulher Xikrin caminha de volta para sua aldeia do rio Cateté no Brasil

venção sobre Diversidade Biológica (COP/ CDB), que aconteceu no Egito de 13 a 29 de novembro. Tendo em vista a perda de biodiversidade sem precedentes, o encontro assumiu uma importância particular: as nações vão rever o atual Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, a fim de definir uma visão a longo prazo e preparar um plano mundial para além de 2020 a fim de reverter a perda de ecossistemas e espécies. Os pesquisadores afirmam que as áreas selvagens remanescentes só podem ser protegidas “se forem reconhecidas dentro de estruturas de políticas internacionais” e

demandam um esforço global para a criação de um acordo internacional que proteja 100% de todos os ecossistemas intactos remanescentes. Além disso, eles defendem que políticas globais se traduzam em ações locais. “Uma intervenção óbvia que essas nações podem priorizar é o estabelecimento de áreas protegidas de forma a retardar os impactos das atividades humanas sobre a paisagem terrestres e marinha”, disse o principal autor do estudo, o professor James Watson, da Escola de Ciências Ambientais e da Terra, em comunicado da Universidade de Queensland.

O artigo na Nature foi divulgado na mesma semana em que a organização ambiental WWF revelou que as populações de animais do planeta diminuíram 60% desde 1970, sobretudo devido à ação humana. A perda de biodiversidade, associada à degradação ambiental, é uma ameaça à civilização tão grande quanto às mudanças climáticas, segundo a Organização das Nações Unidas. “O mundo deve lançar um novo acordo para a natureza nos próximos dois anos, ou a humanidade pode ser a primeira espécie a documentar a própria extinção”, afirmou a ONU.

dos

O mapa mostra a distribuição dos ecossistemas marinhos e terrestres ainda intactos no mundo revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA

53


Sequenciando a vida para o futuro da vida

Cientistas vão mapear genes de toda a vida complexa na Terra – vasto projeto para mapear o código genético (DNA) de todas as 1,5 milhão de espécies conhecidas Fotos: Jeremy Sykes, Juan Carlos Castilla-Rubio, Mirhee Lee, NCBI

“Tendo o roteiro, as plantas… serão um tremendo recurso para novas descobertas, compreendendo as regras da vida, como a evolução funciona, novas abordagens para a conservação de espécies raras e ameaçadas e… novos recursos para pesquisadores em campos agrícolas e médicos, ”Ele disse em uma entrevista em Londres.

A

O Projeto BioGenome da Terra tem como objetivo sequenciar todas as espécies eucarióticas. Este super reino da vida inclui todos os organismos, exceto bactérias e archaea

umentar nossa compreensão da biodiversidade da Terra e administrar responsavelmente seus recursos está entre os desafios científicos e sociais mais cruciais do novo milênio. Esses desafios exigem novos conhecimentos fundamentais da organização, evolução, funções e interações entre milhões de organismos do planeta. Visa sequenciar, catalogar e caracterizar os genomas de toda a biodiversidade eucariótica da Terra ao longo de um período de 10 anos. Os resultados da EBP informarão uma ampla gama de questões importantes que a humanidade enfrenta, como o impacto das mudanças climáticas na biodiversidade, a conservação de espécies e ecossistemas ameaçados de extinção e a preservação e melhoria dos serviços ecossistêmicos. Eles descreveram o Earth BioGenome Project (EBP) como “o próximo plano para a biologia” depois do Projeto Genoma Humano, um esforço de 13 anos e US $ 3 bilhões para mapear o DNA humano que foi concluído em 2003.

54

REVISTA AMAZÔNIA

O PBE deve custar US $ 4,7 bilhões e “acabará por criar uma nova base para a biologia para impulsionar soluções para preservar a biodiversidade e sustentar as sociedades humanas”, disse Harris Lewin, professor da Universidade da Califórnia e presidente do EBP.

Os benefícios do projeto monumental prometem ser uma transformação completa da compreensão científica da vida na Terra e um novo recurso vital para inovações globais em medicina, agricultura, conservação, tecnologia e genômica

Harris Lewin, professor da Universidade da Califórnia e presidente do EBP - Projeto BioGenome da Terra

“Intervenções humanas serão cada vez mais cruciais à medida que a mudança climática acelera”, explica Lewin. “A razão pela qual a maioria dos cientistas pensa que estamos no meio de um sexto evento de extinção em massa é porque as espécies não conseguem se adaptar com rapidez suficiente às mudanças em seu ambiente. Quando a mudança ocorre em um ritmo natural, a evolução pode acompanhar, mas agora as espécies não terão tempo de se adaptar apenas através da seleção natural. Cabe a nós tomar decisões inteligentes sobre quais genes incentivar”.

revistaamazonia.com.br


Este plano vai atrair grandes esforços de pesquisa de todo o mundo, incluindo um projeto liderado pelos EUA com o objetivo de sequenciar o código genético de todos os 66.000 vertebrados, um projeto chinês para sequenciar 10.000 genomas de plantas e Global Antomossomos da Aliança. 200 genomas de formigas. Na Grã-Bretanha, sequências de genoma para esquilos vermelhos e cinzentos, o robin europeu, a aranha fen jangada e a amora-preta serão adicionadas ao vasto banco de dados. Espera-se que o volume de dados biológicos que serão coletados esteja no “exascale” - mais do que o acumulado pelo Twitter, YouTube ou toda a astronomia. Jim Smith, diretor de ciência da organização beneficente de saúde global Wellcome Trust, disse que o projeto será “internacionalmente inspirador” e - como o Projeto Genoma Humano - tem o potencial de transformar a pesquisa em saúde e doença. “Da natureza, vamos obter insights sobre como desenvolver novos tratamentos para doenças infecciosas, identificar drogas para retardar o envelhecimento, gerar novas abordagens para alimentar o mundo ou criar novos biomateriais”, disse ele. Até agora, menos de 3.500 espécies de vida complexas, ou apenas cerca de 0,2%, tiveram seus genomas sequenciados. Menos de 100 deles foram feitos para o nível de “referência de qualidade” para os pesquisadores acessarem e aprenderem. O plano é que a EBP acrescente mais milhares de sequências de genoma de qualidade de referência, que os cientistas dizem que vão revolucionar a compreensão da biologia e da evolução, impulsionar os esforços de conservação e proteger a biodiversidade. Lewin disse que sinais de rápida redução na biodiversidade e aumento no número de espécies ameaçadas ou extintas ressaltam a urgência do projeto. “Precisamos desesperadamente catalogar a vida em nosso planeta agora”, disse ele. “Nós vamos fazer isso não porque é fácil, mas porque é difícil e porque é importante fazer”.

revistaamazonia.com.br

O Earth BioGenome Project (EBP) quer coletar a sequência genética do mundo natural - e permitir que os países ganhem dinheiro com os avanços científicos que resultariam, em vez de vender seus recursos naturais

Benefícios

Status atual do sequenciamento da vida

Árvore aberta da vida síntese da filogenia para toda a vida com resolução ao nível do género, e mostrando informações filogenéticas para Archaea (vermelho), Bacteria (púrpura), Fungi (laranja), Plantae (azul), Protista ( marrom) e Animalia (verde). O estado atual da informação genômica disponível no GenBank do NCBI é mostrado no círculo interno, com genomas completos coloridos em vermelho, nível cromossômico em azul, andaimes em cinza escuro e contig em cinza claro. O segundo círculo mostra os transcriptomas disponíveis no Banco de Dados de Sequências de Assembléias Transcriptômicas de Filmagem do NCBI

O EBP visa sequenciar o DNA de todas as espécies eucariotas conhecidas na Terra, um grupo massivo que inclui plantas, animais, fungos e outros organismos

Os benefícios potenciais de longo alcance da criação de um repositório digital aberto de informações genômicas para a vida na Terra podem ser realizados apenas por um esforço internacional coordenado. e a estrutura proposta para atingir os objetivos do projeto. Os benefícios potenciais de longo alcance da criação de um repositório digital aberto de informações genômicas para a vida na Terra podem ser realizados apenas por um esforço internacional coordenado e a estrutura proposta para atingir os objetivos do projeto. Os benefícios potenciais de longo alcance da criação de um repositório digital aberto de informações genômicas para a vida na Terra podem ser realizados apenas por um esforço internacional coordenado. Para Juan Carlos Castilla-Rubio, empresário, Doutor em Engenharia Química e Mestrado em Engenharia Bioquímica pela Universidade de Cambridge, ao registrar os ativos biológicos da região em uma blockchain pública, ele acha que pode estimular uma economia nova e ambientalmente mais benigna. As plantas e animais da Amazônia contêm recompensas de código genético e potenciais projetos biomiméticos que poderiam um dia ser usados para criar novos medicamentos e tecidos, inteligência artificial e sistemas de energia, diz ele. No futuro, pode haver menos necessidade de reduzir tantas árvores e construir tantas hidrelétricas danosas. “Achamos que há uma oportunidade de inovação multibilionária se tornarmos esses ativos visíveis para empreendedores e corporações ao redor do mundo. Podemos desenvolver uma nova bioeconomia baseada nesses ativos”. Os benefícios do projeto monumental prometem ser uma transformação completa da compreensão científica da vida na Terra e um novo recurso vital para inovações globais em medicina, agricultura, conservação, tecnologia e genômica. Essencial para o desenvolvimento de novos medicamentos para doenças infecciosas e hereditárias, bem como para a criação de novos combustíveis biológicos sintéticos, biomateriais e fontes de alimento para o crescimento da população humana.

REVISTA AMAZÔNIA

55


Mudança climática ligada à antiga extinção em massa A Terra sofreu um aquecimento e quase nada sobreviveu Fotos: Géry Parent / Flickr, H. Zell / Wikimedia, James St. John / Flickr, Jonathan Payne / Stanford University, Justin Penn e Curtis Deutsch / Universidade de Washington

Esta ilustração mostra a porcentagem de animais marinhos que foram extintos no final da era Permiana por latitude, a partir do modelo (linha preta) e do registro fóssil (pontos azuis). Uma porcentagem maior de animais marinhos sobreviveu nos trópicos do que nos polos. A cor da água mostra a mudança de temperatura, com o vermelho sendo o aquecimento mais severo e o amarelo menos aquecido. No topo está o supercontinente Pangea, com grandes erupções vulcânicas emitindo dióxido de carbono. As imagens abaixo da linha representam alguns dos 96 por cento das espécies marinhas que morreram durante o evento

U

m grande evento de extinção (quando a Terra quase morreu) ocorrido há 252 milhões de anos pode ter sido causado pela mudança climática, sugere uma nova pesquisa. As descobertas lançam uma nova luz sobre o ritmo da extinção em massa e implicam que mudanças relativamente pequenas nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera podem ser suficientes para desencadear um evento de extinção. O estudo, financiado em parte com uma bolsa de mobilidade Marie Curie do sexto programa-quadro da UE (FP6), foi publicado na revista Science. O evento de extinção Triássico-Jurássico é um dos cinco marcos da extinção em massa na história da Terra. Naquela época, muitas espécies marinhas morreram e os primeiros dinossauros apareceram. Os cientistas pensavam anteriormente que as extinções em massa ocorriam lentamente, ao longo de milhões de anos. Neste estudo, cientistas da Irlanda, do Reino Unido e dos EUA estudaram seis grupos de plantas fossilizadas encontradas na área do Kap Stewart Group no leste da Groenlândia. 56

REVISTA AMAZÔNIA

Eles aplicaram uma nova técnica de análise nas rochas para ver o que estava acontecendo antes e durante o evento de extinção em massa. Suas investigações revelaram que havia sinais de alerta de que os ecossistemas estavam em declínio muito antes de as espécies começarem a se extinguir. Durante o período estudado, tanto o número de comunidades vegetais quanto o número de plantas individuais caíram.

O aquecimento global roubou o oxigênio dos oceanos, o que acabou matando muitas espécies. E nós podemos estar repetindo o processo, advertem. Se assim for, então a mudança climática está “certamente na categoria de um evento de extinção catastrófico”, disse Curtis Deutsch, cientista da Terra da Universidade de Washington e coautor do novo estudo. Esse novo estudo é um alerta importante para os seres humanos ao longo dos próximos séculos. Os vulcões siberianos liberaram muito mais dióxido de carbono na atmosfera do que jamais emitimos por meio da queima de combustíveis fósseis. Mas a nossa taxa anual de emissão de carbono é de fato maior. O carbono que produzimos nos últimos dois séculos já deixou a atmosfera mais quente, e o oceano absorveu muito desse calor. E agora, assim como durante a extinção do Permiano-Triássico, o oceano está perdendo oxigênio. Nos últimos 50 anos, os níveis de oxigênio diminuíram 2%

Dente de tubarão espiralado fossilizado é do Helicoprion, um tubarão incomum que viveu durante o Permiano. A espiral do dente estava localizada dentro da mandíbula inferior do tubarão. O fóssil está em exposição no Museu de História Natural de Idaho

revistaamazonia.com.br


“A perda abrupta de diversidade de plantas é [...] consistente com as respostas esperadas das plantas a uma mudança ambiental catastroficamente rápida e não gradual”, escrevem os pesquisadores.“As diferenças na abundância de espécies nos primeiros 20 metros das falésias de onde os fósseis foram coletados são do tipo que você pode esperar”, comentou Peter Wagner, do Instituto Nacional Smithsoniano de História Natural, nos EUA. “Mas os 10 metros finais mostram dramáticas perdas de diversidade que excedem em muito o que podemos atribuir ao erro de amostragem: os ecossistemas estavam apoiando cada vez menos espécies”. Além disso, o declínio nas antigas comunidades de plantas coincidiu com o aumento dos níveis de dióxido de carbono e o aquecimento global. No entanto, os cientistas observam que níveis mais altos de dióxido de enxofre de erupções vulcânicas também poderiam ter desempenhado um papel no evento de extinção. “Não temos nenhuma maneira atual de detectar mudanças no dióxido de enxofre no passado, por isso é difícil avaliar se o dióxido de enxofre, além do aumento do dióxido de carbono, influenciou esse padrão de extinção”, disse Jennifer McElwain, da University College Dublin, na Irlanda. Outras possíveis causas do evento de extinção incluem um meteorito e uma liberação maciça de metano. No entanto, devemos aprender com o que aconteceu no passado, alertam os cientistas. “Devemos tomar cuidado com os primeiros sinais de alerta de deterioração nos ecossistemas modernos”, afirmou o dr. McElwain.

Fóssil do Marrocos de um Diademaproetus, um dos trilobitas que eram abundantes nos oceanos do mundo, mas foi extinto no final do Permiano

Fóssil de um Paramblypterus, uma espécie de peixe que foi extinto durante o Permiano. Este fóssil está em exposição no Museu Estatal de História Natural em Karlsruhe, Alemanha

“Aprendemos com o passado que altos níveis de extinção de espécies - tão altos quanto 80% - podem ocorrer muito subitamente, mas são precedidos por longos intervalos de mudança ecológica”.

Crinóides fossilizados, invertebrados marinhos que viveram durante o Período Permiano, encontraram no oeste da Austrália. Os cientistas dizem que a Grande Morte, que aniquilou 96% de toda a vida nos oceanos, foi causada pelo aquecimento global, que privou os oceanos de oxigênio

Pedaço de pedra de 1,5 metro do sul da China mostra a fronteira Permiano-Triássica. A seção inferior é calcário pré-extinção. A parte superior é calcário microbiano depositado após a extinção revistaamazonia.com.br

Os cientistas agora precisam de bons registros dos níveis antigos de dióxido de carbono e dióxido de enxofre para descobrir com mais precisão o que aconteceu há 252 milhões de anos. “A maneira como o sistema terrestre está respondendo agora ao acúmulo de CO² é exatamente igual à que vimos no passado”, disse Kump. Quão mais quente o planeta vai ficar, depende de nós. Será necessário um esforço internacional tremendo para manter esse aumento abaixo de 2,2ºC. Se consumirmos todos os combustíveis fósseis da Terra, ela poderia ficar 3,8ºC mais quente até 2300. À medida que o oceano aquece, seus níveis de oxigênio continuam a cair. Se a história serve de guia, as consequências para a vida, especialmente a vida marinha nas partes mais frias do oceano, serão desastrosas. “Se nada for feito, o aquecimento climático vai colocar nosso futuro no mesmo patamar de alguns dos piores acontecimentos da história geológica”, disse Deutsch REVISTA AMAZÔNIA

57


Microplásticos em humanos Foram detectados em fezes humanas, segundo pesquisa apresentada na 26ª semana da UEG em Viena

Fotos: Christine Kelvin, NOAA, Philipp Schwabl , Umweltbundesamt - Environment Agency Austria / S. Koeppel, VCG

A

26º Congresso de gastroenterologia realizado em Viena (Áustria), diz que Exame das fezes das pessoas de vários países continham partículas de uma dezena de plásticos

mostras de fezes de pessoas de países tão distantes e diferentes como o Reino Unido, Itália, Rússia e Japão continham partículas de policloreto de polivinila (PVC), polipropileno, polietileno tereftalato (PET) e até uma dúzia de plásticos diferentes. Embora este seja um estudo-piloto com um pequeno grupo de pessoas, a diversidade geográfica dos participantes e os tipos de plásticos identificados leva os autores da pesquisa a destacar a urgência em determinar o impacto desses materiais na saúde humana. Desde os anos 60 do século passado a produção de plásticos cresceu quase 9% a cada ano. Só em 2015, foram produzidas 322 milhões de toneladas, segundo dados da ONU. Mais cedo ou mais tarde, grande parte desse plástico acaba no meio ambiente, principalmente nos mares: cerca de oito milhões de toneladas por ano. A ação da água, microrganismos e a luz do sol gradualmente degradam o plástico até reduzi-lo a pequenas partículas de algumas micras de comprimento (um mícron equivale a um milésimo de milímetro).

58

REVISTA AMAZÔNIA

Algumas são tão pequenas que o plâncton microscópico as confunde com comida. Até recentemente, as microesferas presentes em vários produtos cosméticos não precisavam

da erosão para se tornar um problema, mas a sua remoção progressiva dos produtos está minimizando seu impacto. O resto da história é conhecido: o peixe grande come o pequeno. Era uma questão de tempo até que o plástico criado pelos humanos retornasse a eles. O estudo, apresentado recentemente no 26º Congresso de Gastroenterologia realizado em Viena (Áustria), contou com a participação de oito voluntários, cinco mulheres e três homens com idades entre 33 e 65 anos, moram na Finlândia, Holanda, Reino Unido, Itália, Polônia, Rússia, Japão e Áustria. Eles mantiveram um diário de nutrição por uma semana e depois deram uma amostra de fezes. Todos os participantes consumiam alimentos embalados em plástico ou bebidas de garrafas PET, a maioria deles consumia peixe ou frutos do mar, e ninguém se alimentava exclusivamente de comida vegetariana. Durante uma semana eles tiveram que comer e beber como de costume, anotando tudo o que ingeriam, se era fresco e o tipo de embalagem da comida. Depois disso, pesquisadores da Universidade Médica de Viena e da agência estadual do meio ambiente do país dos Alpes coletaram amostras de suas fezes.

O pesquisador chefe, Dr. Philipp Schwabl, disse que este é o primeiro estudo desse tipo e confirma o que há muito suspeitamos, que os plásticos também chegaram ao intestino humano. Particularmente preocupante é o que isso significa para nós e especialmente pacientes com doenças gastrointestinais

revistaamazonia.com.br


Os resultados mostram que, dos 10 plásticos pesquisados, nove foram encontrados. Os mais comuns eram o propileno, básico em embalagens de leite e sucos, e o PET, com o qual é feita a maioria das garrafas plásticas. O comprimento das partículas variou entre 50 e 500 micra. E, em média, os pesquisadores encontraram 20 microplásticos para cada 10 gramas de matéria fecal. De acordo com o diário dos participantes, sabe-se que todos consumiram algum alimento embalado e pelo menos seis comeram peixe. Mas a pesquisa não conseguiu determinar a origem das partículas encontradas nas amostras.

Pesquisadores encontraram 20 microplásticos para cada 10 gramas de matéria fecal

Pesquisadores encontraram 20 microplásticos para cada 10 gramas de fezes humanas, pela primeira vez

Uma amostra de fezes preparada em um filtro pronto para análise para detectar microplásticos

revistaamazonia.com.br

“É o primeiro estudo deste tipo e confirma o que suspeitamos há algum tempo, que os plásticos chegam ao intestino”, disse em nota o gastroenterologista e hepatologista Philipp Schwabl, da Universidade Médica de Viena, principal autor do estudo. “Embora em estudos com animais a maior concentração de plásticos tenha sido localizada no intestino, as menores partículas de microplástico podem entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e até alcançar o fígado”, acrescenta, concluindo que é urgente investigar o que isso implica para a saúde humana”. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação – FAO, de 2016 coletou dados sobre a presença de microplásticos na vida marinha: até 800 espécies de moluscos, crustáceos e peixes já sabem o que é comer plástico. Embora a grande maioria das partículas permaneça no sistema digestivo, uma parte do peixe que é descartada pelos humanos, existe o risco de ingestão nos casos em que é comido por inteiro, como mariscos, bivalves ou peixes menores. Além disso, um estudo publicado também recentemente pelo Greenpeace, mostrou que, particularmente na Ásia, a grande maioria do sal marinho para uso doméstico continha microplásticos.

REVISTA AMAZÔNIA

59


Estima-se que cerca de 2 a 5 por cento de todo o plástico produzido acabe no mar

A ciência ainda não determinou o limite a partir do qual a ingestão de microplásticos pode ser nefasta para os humanos. Mas a questão que a ciência ainda deve responder é qual a quantidade ingerida de plástico que pode ser um problema para a saúde humana. Aqui, existem dois riscos: por um lado, o impacto da presença física das partículas de plástico e, por outro, a possível toxicidade de seus componentes químicos. Em meados do ano, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins (EUA) publicaram uma revisão do que se sabe sobre os microplásticos no mar e seus possíveis riscos para a saúde humana. Um dos estudos estima que os seres humanos podem engolir até 37 partículas de plástico por ano procedentes do sal marinho. Não parece muito e menos ainda se acaba sendo expelido do corpo. Mas eles também notam que uma pessoa que goste muito de frutos do mar pode comer até 11 mil partículas em um ano.

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

Pequenos fragmentos de plástico, dispersos entre a areia da praia

• Econômico para você que quer abrir uma empresa; • Ideal • Flexível para quem precisa fazer reuniões eventuais; • Prático Ligue agora! (92) 3878.2600

60

REVISTA AMAZÔNIA

Rua Salvador, 120 - 12º Andar Vieiralves Business Center Adrianópolis - Manaus/AM

revistaamazonia.com.br

BR_Rev


Impactos na Saúde desconhecidos Os cientistas não envolvidos no estudo disseram que o escopo era muito limitado para tirar conclusões definitivas, especialmente sobre os impactos na saúde. “Não estou nem um pouco surpreso ou particularmente preocupado com essas descobertas”, comentou Alistair Boxall, professor de ciências ambientais da Universidade de York, na Grã-Bretanha. “Microplásticos foram encontrados em água da torneira, água engarrafada, tecido de peixe e mexilhão e até mesmo em cerveja”, acrescentou. “Portanto, é inevitável que pelo menos algumas dessas coisas entrem em nossos pulmões e no sistema digestivo”. Muito mais pesquisas são necessárias, disse ele, antes que possamos determinar a origem dos plásticos encontrados no intestino e, especialmente, se eles são prejudiciais. Para Stephanie Wright, pesquisadora do King’s College de Londres, a verdadeira questão é saber se os plásticos estão se acumulando no corpo humano. “O que é desconhecido é se a concentração de plástico a ser ingerida é maior do que a que sai, devido a partículas que atravessam a parede do intestino”, disse ela. “Não há evidências publicadas para indicar quais podem ser os efeitos para a saúde”.

Agora que temos a primeira evidência de microplásticos dentro de humanos, precisamos de mais pesquisas para entender o que isso significa para a saúde humana

Dr. Philipp Schwabl, da Universidade de Medicina de Viena, diz, por enquanto, não há estudos definitivos que sugiram um perigo para os seres humanos. Mas ele diz que em “estudos com animais, foi demonstrado que os microplásticos podem causar danos intestinais, remodelação das vilosidades

intestinais, distorção da absorção de ferro e estresse hepático”. A produção global de plástico cresceu rapidamente e atualmente é superior a 400 milhões de toneladas por ano. Estima-se que 2% a 5% dos plásticos acabam no oceano, onde grande parte se decompõe em partículas minúsculas. Veja o video:

O PRAZO DA PNRS VENCEU

Resíduos Sólidos Municipais

revistaamazonia.com.br

BR_Revista Amazonia_AUTOSORT_190312.indd 1

Orgânico

COM O AUTOSORT DA TOMRA VOCÊ PODE SE REGULARIZAR Tecnologia FLYING BEAM®

PET/PP

Para mais informações: TOMRA Brasil Ltda +55 (11) 3476-3500 // info-brasil@tomrasorting.com REVISTA AMAZÔNIA 61

3/12/2019 4:44:17 PM


Em uma de suas primeiras aparições públicas desde que deixou o cargo, o ex-governador da Califórnia, Jerry Brown, emitiu uma advertência terrível sobre a possível catástrofe global de um ataque nuclear no país

O Relógio do

JUÍZO FINAL São 23h58, faltam dois minutos para meia-noite – o relógio está mais próximo da catástrofe, desde 1953, diz o Bulletin of Atomic Scientists Fotos: BAS, DarY Kuntz

E

ssse boletim foi fundado por cientistas que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atômicas dos Estados Unidos. Seu Conselho de Ciência e Segurança decide sobre as mãos do relógio em consulta com seu conselho de patrocinadores, que inclui 15 ganhadores do Prêmio Nobel. Quando o relógio foi criado em 1947, foi definido em sete minutos à meia-noite. No ano passado, os ponteiros do relógio foram empurrados 30 segundos para o segundo ponto mais próximo da meia-noite - dois minutos e 30 segundos - após as declarações de Trump sobre a proliferação de armas nucleares e a perspectiva de usá-las. Todos os anos, esse grupo de cientistas americanos decide se ajusta ou não o icônico Relógio do Juízo Final (“Doomsday Clock”, em inglês), que de real não tem nada, é apenas uma forte metáfora que mostra quão próximo estamos de destruir o Planeta e, por tabela, aniquilar nossa civilização “com tecnologias perigosas criadas por nós mesmos”. Quanto mais perto da meia-noite estamos, mais perigos corremos. 62

REVISTA AMAZÔNIA

O que é o relógio do juízo final? O Relógio do Juízo Final é um projeto que adverte o público sobre o quão perto estamos de destruir nosso mundo com tecnologias perigosas Em 2019, o Relógio do Juízo Final marca dois minutos para a meia-noite (23h58), devido a duas ameaças existenciais simultâneas: os perigos das mudanças climáticas e a falta de progresso dos governos na redução de riscos nucleares, segundo anúncio dos cientistas na reunião realizada no dia 24 de janeiro em Washington. A decisão de mudar ou não a marcação do relógio é tomada por um grupo de pesquisadores e intelectuais, que incluem membros do Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas Atômicos e um grupo de 14 ganhadores do prêmio Nobel. O resultado então é publicado no Bulletin of Atomic Scientists, uma publicação sobre segurança global da Universidade de Chicago. O Relógio do Juízo Final foi criado em 1947, marcando sete minutos para meia noite, num tempo em que o maior perigo para a

humanidade vinha das armas nucleares, em particular da perspectiva de que os Estados Unidos e a União Soviética se encaminhassem para uma corrida armamentista nuclear. Ele foi alterado 23 vezes desde então, com diversos altos e baixos, chegando a marcar 17 minutos para a meia-noite em 1991, melhor ponto já registrado, quando EUA e União Soviética assinaram acordo histórico de desarmamento, que parecia prenunciar o fim da confrontação atômica entre as potências. Ano passado, em 2018, o Conselho de Ciência e Segurança fixou o tempo em dois minutos para a meia-noite (mesmo horário deste ano), em grande parte devido ao risco nuclear de uma guerra potencial incitada por trocas de declarações beligerantes entre Estados Unidos e Coreia do Norte, bem como declarações do governo americano contrárias aos compromissos de combate às mudanças climáticas. A única outra vez em que o horário chegou tão perto assim foi em 1953, quando o ponteiro dos minutos foi movido para 23h58 depois que os EUA e a União Soviética testaram suas primeiras armas termonucleares a menos de seis meses uma da outra. revistaamazonia.com.br


De acordo com o documento Declaração do Relógio do Juízo Final: A humanidade enfrenta agora duas ameaças existenciais simultâneas, sendo que ambas seriam motivo de extrema preocupação e atenção imediata. Essas grandes ameaças – armas nucleares e mudanças climáticas – foram exacerbadas no ano passado pelo aumento do uso da guerra de informações para minar a democracia em todo o mundo, ampliando o risco dessas e de outras ameaças e colocando o futuro da civilização em perigo extraordinário. O texto continua ressaltando que esse “novo anormal” é insustentável e extremamente perigoso, mas mesmo assim o poder de melhorar a gravidade da situação continua nas mãos dos líderes mundiais. O relógio pode se “afastar” da catástrofe se os líderes agirem sob pressão da sociedade civil. “Não há nada de normal na complexa e assustadora realidade que acabamos de descrever”, disse em comunicado Rachel Bronson, presidente e CEO do Boletim dos Cientistas Atômicos. “Apesar de inalterado desde 2018, esse cenário deve ser tomado não como um sinal de estabilidade, mas como um alerta severo para líderes e cidadãos em todo o mundo”, declarou Bronson. A declaração de 2019 enfatiza que é possível mudar o ponteiro do relógio e recomenda várias ações. Entre elas, a de que americanos e russos resolvam suas divergências em relação ao Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), adotando medidas para prevenir incidentes militares em tempo de paz nas fronteiras da OTAN, e que o governo Trump revise sua decisão de sair do plano de limitar o programa nuclear iraniano. Também recomenda que os países do mundo todo reduzam as emissões de gases do efeito estufa para alcançar a meta de temperatura do acordo climático de Paris, limitando o aquecimento do Planeta em 2 graus Celsius até 2100, e que, principalmente, os cidadãos americanos cobrem ação climática de seu governo. “Os seres humanos inventaram armas nucleares e as máquinas movidas a combustíveis fósseis que contribuem para as mudanças climáticas. Sabemos como eles funcionam, então, presumivelmente, podemos encontrar maneiras de reduzir ou eliminar o dano. Mas precisamos de cooperação em todo o mundo para evitar calamidades”, conclui o Boletim. revistaamazonia.com.br

O ex-governador da Califórnia, Jerry Brown, no anúncio anual do Doomsday Clock, anual Boletim dos Cientistas Atômicos criticou o que ele chama de “cegueira e estupidez” dos políticos em relação à questão de evitar uma possível catástrofe nuclear. “Estamos jogando roleta russa com a humanidade”. “Então, somos quase como passageiros no Titanic. Não vendo o iceberg à frente, mas apreciando o jantar elegante e a música. O negócio da política cotidiana cega as pessoas para o risco. Estamos jogando roleta russa com a humanidade. E o perigo e a probabilidade é crescente de que haverá algum incidente nuclear que matará milhões, se não iniciar as trocas que matarão bilhões ”, disse o ex-governador. Embora Brown tenha se aposentado da política estadual no início deste mês, após um recorde de quatro mandatos como governador, o homem de 80 anos não parece estar diminuindo o ritmo de seus esforços para aumentar a conscientização sobre as causas pelas quais ele é apaixonado. “E é isso que pretendo fazer, e passarei os próximos anos fazendo tudo o que puder para soar o alarme e nos levar de volta ao controle do diálogo, colaboração e controle de armas”, concluiu Brown.

Durante a reunião para anunciar o Bulletin of Atomic Scientists 2019

O precário futuro da Terra é medido em minutos no hipotético Relógio do Juízo Final, e seus ponteiros estão se aproximando perigosamente perto da meia-noite. Nuvem gigantesca é vista no céu do Texas (EUA) como uma explosão de bomba atômica em 11 de abril de 2015

REVISTA AMAZÔNIA

63


A galáxia espiral deformada ESO 510-G13 vista de lado

Nossa galáxia é “retorcida e deformada” mostra novo mapa da Via Láctea

A Via Láctea é realmente torcida e deformada como o “primeiro mapa 3D preciso” da nossa galáxia revela

por Richard de Grijs Fotos: Chen Xiaodian, Esa Gaia, Mark A. Garlick/Nasa, Nasa, NASA/Stscl/AURA, Richard de Grijs (Universidade Macquarie)

D

e uma grande distância, nossa Via Láctea se pareceria com um disco fino de estrelas que gira uma vez a cada poucas centenas de milhões de anos em torno de sua região central. Centenas de bilhões de estrelas fornecem a cola gravitacional para manter tudo junto. Mas a força da gravidade é muito mais fraca no disco externo mais distante da galáxia. Lá fora, as nuvens de hidrogênio que compõem a maior parte do disco de gás da Via Láctea não estão mais confinadas a um plano rarefeito. Em vez disso, eles dão ao disco uma aparência distorcida, tipo S. Embora a camada de gás hidrogênio deformado da Via Láctea fosse conhecida há décadas, em uma pesquisa publicada na Nature Astronomy , descobrimos que um disco de estrelas jovens e maciças também é deformado e em um padrão espiral progressivamente torcido. Fomos capazes de determinar essa aparência distorcida depois de termos desenvolvido a primeira imagem tridimensional precisa do disco estelar da Via Láctea para suas regiões mais distantes.

A Via Láctea como é geralmente apresentada – como uma espiral plana com cerca de 250 bilhões de estrelas

A missão Gaia da ESA produziu o mais rico catálogo de estrelas até hoje

64

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


Mapeando a Via Láctea Tentar determinar a forma real de nossa galáxia é como estar em um jardim de Sydney e tentar determinar a forma da Austrália. A Via Láctea está ao nosso redor, então, para determinar sua forma, precisaríamos mapear as distribuições de estrelas em todas as direções. Embora isso não seja particularmente difícil nas direções acima e abaixo do plano de disco estelar, ele se torna muito mais difícil ao longo do plano da Via Láctea. Além de estrelas e nuvens de gás hidrogênio no avião da Via Láctea, nossa visão é obscurecida por enormes quantidades de poeira. O material que os astrônomos chamam de poeira é composto de partículas de carbono. Não é muito diferente da fuligem que se acumula em sua casa se, por exemplo, você tem um fogo aberto. Grandes quantidades de poeira obscurecem nossa visão do que está além, mas a poeira também faz com que a luz pareça mais vermelha. Isso ocorre porque o tamanho dessas partículas de carbono é próximo ao comprimento de onda da luz azul. Portanto, a luz azul pode ser absorvida facilmente pela poeira, enquanto a luz vermelha passa sem muita dificuldade. Mas não é apenas a presença de poeira que dificulta o mapeamento da nossa galáxia na Via Láctea. É notoriamente difícil determinar distâncias do Sol a partes do disco externo da Via Láctea sem ter uma idéia clara do que realmente é esse disco.

Estrelas pulsantes Um dos pesquisadores da minha equipe internacional – Xiaodian Chen dos Observatórios Astronômicos Nacionais (Academia Chinesa de Ciências) em Pequim – compilou um novo catálogo de estrelas variáveis ​​bem comportadas conhecidas como cefeidas clássicas . Estas estrelas variam em brilho ao longo de um período de tempo. Essas estrelas estão entre os melhores pontos em astronomia: elas podem ser usadas para determinar distâncias muito precisas com incertezas de apenas 3 a 5%. Isso é tão bom quanto na astronomia, o que nos permite obter o mapa mais preciso da Via Láctea externa disponível até o momento. Nosso novo catálogo foi baseado em observações feitas com o Wide-field Infrared Survey Explorer ( WISE ) da NASA , um telescópio espacial equipado com óculos de comprimento de onda longo (infravermelho), ideal para olhar através de qualquer poeira no disco da Via Láctea. As Cefeidas mapearam desde o centro da Via Láctea até suas regiões mais externas, com a maioria no lado mais próximo do centro de nossa galáxia, devido às limitações observacionais. As cefeidas clássicas são estrelas jovens que são 4 a 20 vezes mais massivas que o nosso Sol e até 100.000 vezes mais brilhantes. Essas altas massas estelares implicam que essas estrelas vivem rapidamente e morrem jovens, queimando rapidamente através do combustível de hidrogênio em seus interiores estelares, às vezes em apenas alguns milhões de anos. As cefeidas mostram pulsações de um dia a um mês, que podem ser observadas facilmente como alterações no seu brilho. Combinado com o brilho médio observado da Cepheid, o período de seu ciclo de pulsação pode ser usado para obter uma distância precisa.

Nós todos entortamos juntos Um pouco para nossa surpresa, descobrimos que nossa coleção de 1.339 estrelas Cepheid e disco de gás da Via Láctea seguem uns aos outros de perto. Até o nosso estudo recente, não havia sido possível vincular tão bem a distribuição de estrelas jovens no disco externo da Via Láctea ao disco ondulante e entortado constituído de nuvens de gás hidrogênio. revistaamazonia.com.br

Distribuição 3D das estrelas variáveis ​​Cepheid clássicas no disco deformado da Via Láctea (pontos vermelho e azul) centrados na localização do Sol (mostrado como um grande símbolo laranja). As unidades kpc são kiloparsecs (1 kpc = cerca de 3.262 anos-luz) ao longo dos três eixos da imagem são usados ​​pelos astrônomos para indicar as distâncias nas escalas de largura da galáxia Mas talvez mais importante, descobrimos que o disco estelar é deformado em um padrão espiral progressivamente torcido. Muitas galáxias espirais são deformadas em extensões variadas, como a galáxia ESO 510-G13 na parte superior da constelação Hydra, a cerca de 150 milhões de anos-luz da Terra. No entanto, apenas uma dúzia de outras galáxias eram conhecidas por mostrar padrões igualmente distorcidos nos seus discos externos. Combinando nossos resultados com essas observações anteriores, concluímos que o padrão espiral deformado e torcido da Via Láctea é provavelmente causado por torques forçados do disco interno maciço da galáxia. O disco interno rotativo está, em essência, arrastando o disco externo, mas como a rotação do disco externo está atrasada, a estrutura resultante é um padrão em espiral. Este novo mapa fornece uma atualização crucial para estudos de movimentos estelares da nossa galáxia e as origens do disco da Via Láctea. Isso é particularmente interessante, dada a riqueza de informações que esperamos receber da missão de satélite Gaia da Agência Espacial Européia . Gaia pretende mapear a nossa Via Láctea em detalhes sem precedentes, com base nas determinações de distância mais precisas para as estrelas mais brilhantes da galáxia já obtidas. [*] Associate Dean (Global Engagement) and Professor of Astrophysics, Macquarie University

REVISTA AMAZÔNIA

65


12

REVISTA AMAZร NIA

www.paramais.com.br

revistaamazonia.com.br

Parรก+

14


12

REVISTA AMAZÔNIA

revistaamazonia.com.br


AM

AÇÃO IC

O

N O RT E

R$ 15,00

ISSN 1809-466X

D

Ano 14 Nº 72 Janeiro/Fevereiro 2019

23

OR PUBL AI

Ano 14 Número 72 2018 R$ 15,00 5,00

www.revistaamazonia.com.br

100 95

NÃO POLUA O MEU FUTURO

75

ECONOMIA CIRCULAR

25

PERDA DE BIODIVERSIDADE AMEAÇA O FUTURO DOS ALIMENTOS

5 0


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.