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APROVEITE QUE O MUNDO EXPERIMENTOU VIVER COM MENOS POLUIÇÃO E MOSTRE QUE É POSSÍVEL MELHORAR AINDA MAIS

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SÃO PAULO EXPO DE 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2020 revistaamazonia.com.br

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EXPEDIENTE PUBLICAÇÃO

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Alterações no regime de inundação ameaçam árvores centenárias da Amazônia

A implantação da hidrelétrica de Balbina e as mudanças climáticas alteraram o regime de inundação de florestas alagáveis pobres em nutrientes causando mortalidade de árvores centenárias da Amazônia, como a macacarecuia ou cueira (Eschweilera tenuifolia), árvore símbolo dos igapós de águas pretas e altamente adaptada ao pulso de inundação (subida e descida anual das águas dos grandes rios da Amazônia Central). É o que aponta o artigo publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia...

Ciência e evolução social na cafeicultura Amazônica

A pesquisa científica tem um ciclo de constante retroalimentação simbiótica com a sociedade. Em alguns momentos, apresenta inovações e tecnologias que modificam o meio. Em outros, é a própria evolução social e comportamental que mostra os caminhos a serem seguidos pela pesquisa. Ao longo das últimas décadas, o processo de melhoramento genético do café canéfora – conilons e robustas – era baseado em critérios voltados para os aspectos agronômicos, como o aumento...

Fungo da Amazônia melhora crescimento e desenvolvimento de soja

Um fungo que ocorre no solo da Floresta Amazônica revelou ser um importante estimulante do desenvolvimento de plantas. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) avaliaram mais de mil linhagens do fungo Trichoderma aplicadas em conjunto com duas fontes de fósforo, e constataram que muitas delas promovem o crescimento de plantas de soja. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports do grupo Nature O microrganismo solubiliza o fósforo presente...

Cultivos e plantas alimentícias indígenas no Acre

Os Kaxinawá têm uma agricultura que dialoga muito mais com a floresta do que a convencional. Conhecer todo esse processo é uma oportunidade de gerar soberania alimentar e uma agricultura sustentável para Amazônia”, conclui o pesquisador Tomaz Lanza. Seu estudo de doutorado registrou os modos de cultivo, de uso da terra e espécies alimentícias consumidas pelo povo Huni Kuin, também conhecido como Kaxinawá. A pesquisa foi desenvolvida no programa...

Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

EDITORA CÍRIOS

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Alex Thornton , Ana Laura Lima, Cimone Barros, Cristina Tordin, Dr. Flemming Dahlke, Dr. Martin Sullivan, Embrapa Amazônia Oriental, Enrique Anastácio Alves, Fabiano Estanislau, Juliana Caldas, Kakani Katija, Kélem Cabral , Laura Bononi, Maurício Meyer, Neo.sci.gsfc.nasa.gov, Neide Furukawa, Rob Jordan, Ronaldo Hühn, Síglia Souza , Universidade de Leeds

FOTOGRAFIAS Adriano Gambarini, Alfred-Wegener-Institut, André Minitti, Angélica Resende, Antônio Carlos Pereira Góes, Bioreports , CC0 Public Domain, Cristian Echeverría, Cristiano Menezes, Divulgação, Enrique Alves, Felipe Santos da Rosa, Fernando Goss, Flemming Dahlke, Gabriel Faria, HT Photo, Ingride Jarine Santos da Silva, Joao Luiz Lourenco, Jochen Schongart, Kelen Cabral, Kim Reisenbichler / Instituto de Pesquisa do Aquário de Monterey Bay, Liliam Alves, Lúcio Cavalcanti, Marcia Motta Maués, Maria José Tupinambá, Nejc Košir/Pexels, Paula Moreira, Ricardo Figueiredo, Robert Heilmayr, Sabrina Gaspar, Shrey Gupta, Siglia Souza, Tayane Carvalho, Tomaz Lanza, Unsplash / DesignEcologist, USGS/Nasa, Valter Campanato/Agência Brasil OR FAVOR P

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle

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O Ministério do Meio Ambiente criou recentemente o Programa Floresta+ para valorizar quem preserva e cuida da floresta nativa do país. O projeto-piloto vai começar destinando R$ 500 milhões para conservação da Amazônia Legal. O programa conta com a participação do setor privado e de recursos de acordos internacionais. “Esse é o maior programa de pagamento por serviços ambientais no mundo, na atualidade. Os R$ 500 milhões recebidos do Fundo Verde do Clima vão remunerar quem preserva. Vamos pagar pelas boas práticas e reconhecer o mérito de quem cuida adequadamente do...

ST A

Programa Floresta+

I LE ESTA REV

NOSSA CAPA Floresta alagada na comunidade de Igarapé Açu, em frente à Santarém-Pará, pelo Rio Tapajós. A Floresta Amazônica é úmida e quente, em sua grande parte. A umidade relativa do ar é bastante elevada, com média de 88% na estação chuvosa e 77% na estação seca. Todos os anos, a floresta amazônica recebe chuvas torrenciais - entre 1.500 mm e 3.000 mm, provenientes dos ventos alísios orientais que sopram do Oceano Atlântico – responsáveis por cerca de metade dessas chuvas, com a outra metade devido à evapotranspiração – perda de água do solo por evaporação e pela transpiração das plantas. A sua umidade contribuem para a formação de nuvens de chuva e geram até 75% de sua própria chuva, segundo algumas estimativas. Fotos: Celso Lobo

Ilhas artificiais pré-coloniais na Amazônia É construção de índio’, explicaram os ribeirinhos sobre o lugar onde moram: as cerca de 20 ilhas artificiais recentemente descobertas por arqueólogos do Instituto Mamirauá na região do Médio e Alto Solimões, na Amazônia. As ilhas são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em áreas de várzea nos períodos pré-colonial e colonial. Nomeadas pelas populações locais como ‘aterrados’, as estruturas de terra ficam próximas a áreas com depressões, chamadas de ‘cavadas’...

MAIS CONTEÚDO [05] FOGO [06] Agricultura do Brasil: ciúmes, retaliações e muito esperneio [10] Manter matas ciliares ajuda a reduzir impactos na Amazônia [12] Eventos climáticos aumentam mortalidade em florestas tropicais [14] Cepal escolhe projeto da Embrapa entre os mais transformadores para a sustentabilidade [20] As florestas tropicais podem lidar com o calor, até certo ponto [23] Consórcio com fruteiras nativas amplia a manutenção da biodiversidade amazônica [29] Mais de 90% da polinização do açaí é realizada por abelhas da Amazônia [32] Novos microrganismos de interesse econômico são encontrados em rios amazônicos [40] Pessoas estão plantando pequenas florestas urbanas para aumentar a biodiversidade e combater as mudanças climáticas [42] Neutralizando suas emissões de GEEs [44] Quando o plantio de árvores ameaça a floresta [49] Terra pode atingir limiar crítico do clima nos próximos cinco anos Mesmo o objetivo mais ambicioso [50] A árvore botânica evolutiva mais completa [56] As 10 árvores mais antigas do mundo [60] Fotógrafo do Ano da NASA [62] O aumento da temperatura da água pode pôr em risco o acasalamento de muitas espécies de peixes [64] Revelando estruturas enigmáticas do fundo do mar

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FOGO

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Essas informações e Fotos, foram extraídas do Site da NASA em: bit.ly/FOGO270720

a Terra, algo está sempre queimando. Os incêndios são iniciados por raios ou acidentalmente por pessoas, e as pessoas usam incêndios controlados para gerenciar terras agrícolas e pastagens e limpar a vegetação natural das terras agrícolas. Os incêndios podem gerar grandes quantidades de poluição por fumaça, liberar gases de efeito estufa e degradar involuntariamente os ecossistemas. Mas os incêndios também podem eliminar os arbustos mortos e moribundos, o que pode ajudar a restaurar um ecossistema à boa saúde. Em muitos ecossistemas, incluindo florestas boreais e pradarias, as plantas co-evoluíram com o fogo e requerem queima periódica para se reproduzir. Os mapas de incêndio mostram mensalmente os locais de queima ativa de fogueiras em todo o mundo, com base nas observações do espectrorradiômetro de imagem com resolução moderada (MODIS) no satélite Terra da NASA . As cores são baseadas na contagem do número (e não no tamanho) de incêndios observados em uma área de 1.000 quilômetros quadrados. Pixels brancos mostram o ponto mais alto da contagem - até 30 incêndios em uma área de 1.000 quilômetros quadrados por dia. Pixels laranja mostram até 10 fogos, enquanto áreas vermelhas mostram apenas 1 fogo por dia. Alguns dos padrões globais que aparecem nos mapas de incêndio ao longo do tempo são o resultado de ciclos naturais de chuvas, secura e raios. Por exemplo, incêndios que ocorrem naturalmente são comuns nas florestas boreais do Canadá no verão. Em outras partes do mundo, os padrões são o resultado da atividade humana. Por exemplo, a intensa queima no coração da América do Sul de agosto a outubro é resultado de incêndios provocados por seres humanos, intencionais e acidentais, na Floresta Amazônica e no Cerrado (um ecossistema de pastagens / savanas) ao sul. Em toda a África, uma faixa de queimadas agrícolas espalhadas de norte a sul revistaamazonia.com.br

incêndios observados em uma área de 1.000 quilômetros quadrados. Pixels brancos mostram o ponto mais alto da contagem - até 30 incêndios em uma área de 1.000 quilômetros quadrados por dia. Os pixels laranja mostram até 10 incêndios, enquanto as áreas vermelhas mostram apenas 1 incêndio em uma área de 1.000 quilômetros quadrados por dia. sobre o continente, à medida que a estação seca progride a cada ano. A queima agrícola ocorre no final do inverno e no início da primavera todos os anos no sudeste da Ásia. “Na região amazônica, os incêndios são raros durante grande parte do ano, porque o tempo úmido os impede de iniciar e se espalhar. No entanto, em julho e agosto, a atividade normalmente aumenta devido à chegada da estação seca. Muitas pessoas usam o fogo para manter terras agrícolas e pastagens ou para limpar a terra para outros fins. Normalmente, as atividades atingem o pico no início de setembro e, na maioria das vezes, param em novembro”.

OBS: O que as cores significam? Os pixels vermelho, laranja e amarelo nesses mapas mostram os locais onde o instrumento MODIS detecta incêndios ativamente ativos. Não se deixe enganar pelo tamanho de algumas das manchas brilhantes nesses mapas. As cores representam uma contagem do número de

Sobre este conjunto de dados O fogo é uma parte recorrente da natureza. Os incêndios florestais podem ser causados por raios atingindo um dossel da floresta ou, em alguns casos isolados, por lava ou rochas quentes ejetadas de vulcões em erupção. A maioria dos incêndios em todo o mundo é iniciada por seres humanos, às vezes acidentalmente e às vezes de propósito. Nem todos os incêndios são ruins. O fogo elimina os arbustos mortos e moribundos, o que pode ajudar a restaurar os ecossistemas florestais a uma boa saúde. Os seres humanos usam o fogo como uma ferramenta na agricultura de corte e queima para acelerar o processo de decomposição da vegetação indesejada no solo. Os seres humanos também usam o fogo para limpar as florestas antigas e criar espaço para espaços de vida, estradas e campos para a criação de colheitas e gado. Mas nem todos os incêndios são bons. Incêndios florestais podem destruir recursos naturais e estruturas humanas. Globalmente, o fogo desempenha um papel importante no ciclo de carbono da Terra, liberando carbono no ar, e consumindo árvores que de outra forma absorveriam carbono do ar durante a fotossíntese. Esses mapas mostram os locais de queima ativa de foguetes em todo o mundo, detectados por instrumentos a bordo dos satélites da NASA.

Visualize, baixe ou analise mais desses dados das Observações da Terra da NASA (NEO) em: bit.ly/ACTIVE_FIRES

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Este mapa mostra a distribuição de terras agrícolas em todo o mundo em uma resolução nominal de 30 metros

Agricultura do Brasil: ciúmes, retaliações e muito esperneio O estudo da NASA demonstra que o Brasil protege e preserva vegetação nativa em mais de 66% de seu território e cultiva apenas 7,6% Fotos: USGS/Nasa

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odo brasileiro deve se recordar dos ataques grosseiros e infundados dos mandatários da França, Alemanha e outros..., ano passado, nessa mesma época. Como o período é propício, está pra começar novamente os ataques. Sabemos todos, pelo menos os que honram suas cidadanias, que todo o “blá... blá... blá”, é para defender a indústria agrícola da União Europeia do desenvolvimento do Agro brasileiro, a meta deles é frear a nossa produção e proteger o sharemarket deles. O Brasil já protege qse metade de seu território (48,9%), o q equivaleria a 28 países da Europa! O Brasil já é uma potência da preservação ambiental. Chega de ecoterrorismo contra o nosso Agro. Toda a produção de grãos (milho, arroz, soja, feijão…), fibras (algodão, celulose…) e agroenergia (cana-de-açúcar, florestas energéticas…) ocupa míseros 9% do território brasileiro. Para recordar reproduzimos o estudo que a NASA – agência espacial americana, divulgou em meados de 2017, comprovando

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que a nossa vegetação nativa é preservada em mais de dois terços da superfície do

Brasil ficando as lavouras com cerca de 64 milhões de hectares, um cenário bastante diferente do que continuam a dizer de forma desonesta e descabida muitos por aí já que com investigação profissional se percebe Os 8 Tipos de Agricultura no Mundo

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que o percentual de área destinada à agricultura no Brasil está extremamente abaixo da média mundial. O estudo da Nasa revela ainda que em média entre 20 e 30 por cento do território de cada país é destinada ao cultivo agrícola chegando a extrapolar em muito esse resultado em alguns casos na União Europeia por exemplo entre 45% e 65 %, do território local é destinado à agricultura. Na Dinamarca a área cultivada corresponde a 76,8 por cento do território. No Reino Unido é de 63,9 por cento e na Alemanha a 56,9 por cento. Na Índia a ocupação chega a 60,5 por cento e nos Estados Unidos o maior concorrente do Brasil no comércio internacional de produtos agro, a agricultura ocupa 18,3 por cento do território e chega a 17,7 por cento. No Brasil a área destinada ao cultivo agrícola é de apenas 7,6 por cento, isso mesmo, apenas 7,6 por cento do território nacional, como terras agrícolas, num total de 63.994.479 hectares. O estudo da NASA demonstra que o Brasil protege e conserva a vegetação nativa em mais de 66% de seu território e cultiva apenas 7,6% de terras.

Na abertura do recente Congresso Brasileiro do Agronegócio, a ministra da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, Tereza Cristina, voltou a defender a Sustentabilidade do Agronegócio brasileiro: “O Brasil é o único país do mundo que consegue produzir e preservar. Nossa pecuária vem crescendo muito sem desmatar”. Enfatizou ainda o papel da Embrapa, que fornece tecnologias para o produtor evoluir nas práticas agrícolas: “Nenhum país tem tecnologia e pesquisa de ponta como a Embrapa oferece”.

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Espaço do território ocupado pela agricultura em diversos países, segundo a Nasa

A Dinamarca cultiva 76,8%, dez vezes mais que o Brasil; e Irlanda, 74,7%; na Holanda, 66,2%; Reino Unido, 63,9%; e Alemanha, 56,9%. Segundo Evaristo Miranda, doutor em Ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial, as áreas cultivadas variam de 0,01 hectare por habitante - em países como Arábia Saudita, Peru, Japão, Coréia do Sul e Mauritânia - a mais de 3 hectares por habitante no Canadá, na Península Ibérica, na Rússia e na Austrália. O Brasil possui uma pequena área cultivada de 0,3 hectare por habitante e está na faixa de 0,26 a 0,50 hectare por habitante, como é o caso da África do Sul, Finlândia, Mongólia, Irã, Suécia, Chile, Laos, Níger, Chade e México . A pesquisa da NASA também lança luz sobre a segurança alimentar no planeta, com cálculos sobre a extensão dos cultivos, áreas irrigadas e áreas secas e intensificação do uso da terra com duas / três colheitas ou mesmo cultivo contínuo. As florestas plantadas e o reflorestamento foram deixados de fora de tais estimativas. No Brasil, apenas as lavouras foram medidas. Segundo o estudo, a área da Terra ocupada por áreas de cultivo é de 1,87 bilhão de hectares. A população mundial atingiu 7,6 bilhões em outubro passado, de modo que cada hectare, em média, alimentaria 4 pessoas. Na realidade, o rendimento por hectare varia muito, assim como o tipo e a qualidade das culturas. “Os europeus desmataram intensamente e exploraram seu território. A Europa, sem a Rússia, costumava conter mais de 7% das florestas originais do planeta. Hoje existem apenas 0,1%. A soma da área cultivada da França (31.795.512 hectares) com a da Espanha (31.786.945 hectares) equivale à cultivada no Brasil (63.994.709 hectares) ”, explica o especialista da Embrapa. A maioria dos países utiliza entre 20% e 30% do seu território na agricultura.

Os da União Europeia usam entre 45% e 65%; nos Estados Unidos, 18,3%; China, 17,7%; e Índia, 60,5%. “Os agricultores brasileiros cultivam apenas 7,6%, com muita tecnologia e profissionalismo”, tranquiliza Evaristo Miranda. As maiores áreas cultivadas estão na Índia (179,8 milhões de hectares), Estados Unidos (167,8 milhões de hectares), China (165,2 milhões de hectares) e Rússia (155,8 milhões de hectares). Esses quatro países combinados totalizam 36% da área cultivada do planeta. O Brasil ocupa o 5º lugar, seguido pelo Canadá, Argentina, Indonésia, Austrália e México.

Como já disse nosso Presidente Jair Bolsonaro: “O Brasil é verde, o Brasil é agro, e produz com responsabilidade ambiental. Somos o celeiro do mundo e ninguém irá frear a nossa economia usando discursos e artifícios ideológicos. Essa farra acabou!”

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Programa Floresta+ Programa Floresta+ começa com projeto-piloto no Norte do país Fotos: Divulgação, Valter Campanato/Agência Brasil

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Ministério do Meio Ambiente criou recentemente o Programa Floresta+ para valorizar quem preserva e cuida da floresta nativa do país. O projeto-piloto vai começar destinando R$ 500 milhões para conservação da Amazônia Legal. O programa conta com a participação do setor privado e de recursos de acordos internacionais. “Esse é o maior programa de pagamento por serviços ambientais no mundo, na atualidade. Os R$ 500 milhões recebidos do Fundo Verde do Clima vão remunerar quem preserva. Vamos pagar pelas boas práticas e reconhecer o mérito de quem cuida adequadamente do meio ambiente”, disse o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Podem participar do programa pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, grupo familiar ou comunitário que, de forma direta ou por meio de terceiros, executam atividades de serviços ambientais em áreas mantidas com cobertura de vegetação nativa ou sujeitas à sua recuperação. A conferência apresentou o programa Floresta+ para representantes do governo federal, dos estados da Amazônia Legal, além de instituições públicas, universidades, fundações, centros de inovação, doadores do Fundo Verde do Clima e de povos indígenas.

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Cadastro Nacional O Brasil conta com 560 milhões de hectares de floresta nativa no território brasileiro e o próximo passo do governo é criar o Cadastro Nacional de Serviços Ambientais e a regulamentar o pagamento por serviços ambientais, previstos no Código Florestal.

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Dentre os serviços ambientais considerados essenciais estão o monitoramento, vigilância, combate a incêndio, pesquisa, plantio de árvores, inventário ambiental e sistemas agroflorestais para conservação e a proteção da vegetação nativa. Dentre os benefícios estarão a conservação da biodiversidade, a proteção do solo e das águas e a regulação do clima.

Florestas

Funções não muito divulgadas das florestas para o planeta. 1. Elas abastecem supermercados Muitas frutas, verduras e legumes têm origem nas florestas. O mesmo vale para nozes e as especiarias que são obtidas de árvores.

2. Protegem comunidades carentes

As florestas brasileiras desempenham importantes funções sociais, econômicas e ambientais, por meio da oferta de uma variedade de bens e serviços. Por isso, manter a floresta em pé está entre as linhas de ações prioritárias do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A atuação do MMA na agenda de florestas inclui a coordenação dos Planos de Controle e Prevenção do Desmatamento (PPCDAm e PPCerrado), da Estratégia Nacional para Redução de Emissões Provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal (ENREDD+), estabelecida pela Portaria nº 370, de 2 de dezembro de 2015, dentre outros programas e projetos desenvolvidos. Destaca-se também a atuação do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), responsável por atividades como concessão e manejo sustentável nos biomas De acordo com o SFB, cerca de 61% do território nacional é coberto por vegetação nativa, distribuída nos 5 biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal. Cada um destes biomas possui características particulares, englobando desde áreas de campos naturais a florestas densas.

Definição de Floresta Cotidianamente, denomina-se “floresta” qualquer vegetação que apresente predominância de indivíduos lenhosos, onde as copas das árvores se tocam formando um dossel. No entanto, existem diversas definições, criadas para atender objetivos específicos, como a definição de floresta da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) ou da UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). O Serviço Florestal Brasileiro, no desenvolvimento de seus trabalhos e na elaboração dos relatórios nacionais e internacionais sobre os recursos florestais do país, tem considerado como floresta as tipologias de vegetação lenhosas que mais se aproximam da definição de florestas da FAO.

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Aproximadamente 40% das pessoas extremamente pobres que vivem em zonas rurais — cerca de 250 milhões de pessoas — estão em áreas de floresta e savana. Para essas populações, as florestas são importantes por fornecerem a maior parte de seus alimentos.

3. Fornecem energia É estimado que um terço da população mundial utilize madeira como fonte de energia para necessidades como cozinhar, ferver água e aquecimento. A madeira vinda das florestas fornece cerca de 40% da energia renovável global, motivo pelo qual é importante enfatizar o uso sustentável desses recursos.

4. Atuam contra o aquecimento global As florestas são peças fundamentais na luta contra a mudança climática e o aquecimento global, resfriando naturalmente o ar e removendo poluentes.

5. “Sequestram” o carbono A vegetação das florestas absorve o equivalente a cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono a cada ano. Mas quando as árvores são cortadas, elas liberam esse dióxido de carbono de volta ao ar. O desmatamento é, de fato, a segunda principal causa da mudança climática após a queima de combustíveis fósseis.

6. Fonte de saúde As árvores ajudam a apaziguar o estresse e também são fontes de lazer e recreação. A taxa de obesidade de crianças que vivem em áreas com bom acesso a espaços verdes é menor do que daquelas que têm acesso limitado ou nenhum acesso.

[*] Com informações do Ministério do Meio Ambiente e FAO

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Manter matas ciliares ajuda a reduzir impactos na Amazônia por *Cristina Tordin

Fotos: iStok, Ricardo Figueiredo

Geleira Steenstrup da Groenlândia, com o sol do meio da manhã brilhando no Estreito da Dinamarca ao fundo. A imagem foi tirada durante uma pesquisa aérea da região da NASA IceBridge da região

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conservação da floresta ripária (a mata ciliar) pode fazer diferença na mitigação dos impactos das mudanças no uso da terra em bacias hidrográficas de diferentes tamanhos na Amazônia brasileira. Foi o que comprovaram pesquisas realizadas nas bacias hidrográficas naquele bioma ao longo de 20 anos. Resumo dos resultados foi publicado no periódico científico internacional de acesso livre Water. Os autores discutem os resultados de pesquisas em bacias onde se encontram pequenas propriedades rurais familiares e grandes fazendas. Em todas, foram analisados os chamados processos hidrobiogeoquímicos (veja quadro abaixo). Além disso, os pesquisadores encontraram evidências de que a floresta secundária (a capoeira) tem um importante papel tanto para mitigar esses impactos quanto para ajudar na conservação da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos. Os cientistas fizeram uma revisão de dezenas de pesquisas publicadas em revistas científicas e teses acadêmicas, com o objetivo de congregar os principais resultados e discuti-los. Com isso, eles obtiveram um diagnóstico para a recomendação de alternativas no uso agrícola atualmente praticado na região. “Analisamos estudos realizados por diversos grupos de pesquisa do Brasil e de parceiros internacionais, que utilizaram metodologias científicas variadas”, conta o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ricardo Figueiredo, que participou do estudo. Ele explica que a atividade agrícola costuma provocar impactos nos rios, cuja intensidade vai depender do manejo adotado. “Quando não se adotam técnicas de conservação de solo, manutenção da vegetação ripária (vegetação ao longo do curso d’água) e o uso racional de insumos, os impactos tendem a ser relevantes para a qualidade e o volume da água dos rios, assim como para o ecossistema aquático atingido”, alerta. Em geral, de acordo com Figueiredo, um dos efeitos mais comuns é a entrada de sedimentos nos rios provocando assoreamento. O manejo inadequado das terras agrícolas também gera impactos associados, como a entrada de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, podendo provocar a eutrofização e, consequentemente, a queda de oxigênio e da qualidade da água.

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O que são processos hidrobiogeoquímicos? Quando a chuva cai, parte da água é retida pela vegetação e outra parte chega ao solo. No solo, a água infiltra e a parte que não é absorvida pelas raízes das plantas segue seu caminho pelos poros do solo em direção aos terrenos mais baixos, aumentando a umidade deles. Essa água também flui verticalmente até o chamado lençol freático, ambiente subterrâneo muito importante para suprir os rios na estiagem. Por outro lado, a água, em vez de infiltrar, pode seguir superficialmente, por escoamento lento ou enxurradas, até chegar ao leito do rio. E ocorre também a evaporação que, em taxas diferenciadas, promove o retorno da água para a atmosfera, e assim influencia o clima. Dessa maneira, a água em seus diferentes caminhos interage, por meio de ações físicas e químicas, com os organismos vivos e os nutrientes que estão presentes na atmosfera, na vegetação, nos solos e nas rochas, resultando em fluxos de uma solução líquida constituída por elementos dissolvidos e sedimentos, a qual pode ser transportada até os rios. Os processos hidrobiogeoquímicos nada mais são do que essas transformações na química da água que ocorrem no ambiente durante o ciclo hidrológico, envolvendo além da própria água (HIDRO), os sistemas biológicos (BIO) e o a ciclagem dos elementos químicos presentes na atmosfera, vegetação, solos e rochas (GEO).

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ou mitigados de acordo com as condições de relevo, solo e clima, por exemplo”. As pesquisas continuam tanto na Amazônia como no restante do País. “De fato, a agricultura também é beneficiada com a conservação ambiental nas bacias hidrográficas, uma vez que essas suprem a demanda hídrica para a irrigação, por exemplo. E, adicionalmente, se beneficia em aspectos não discutidos no âmbito desse trabalho publicado, como a regulação do regime local de chuvas e a manutenção da biodiversidade, que é um antídoto comprovado no combate a pragas e doenças”, enfatiza o pesquisador. [*] Embrapa Meio Ambiente

Área de floresta nativa na Amazônia

Soluções De acordo com o pesquisador, para contribuir com a saúde dos ecossistemas, poderiam ser adotados novos incentivos para a produção agropecuária sustentável, como os programas de pagamento por serviços ambientais, e também para a adoção de sistemas alternativos de produção, cujos benefícios já estão consolidados tanto no aspecto produtivo quanto de conservação ambiental. As soluções agrícolas podem contribuir como parte de um conjunto de recomendações para políticas de gestão de territórios, que tenham como fim associar a contínua produção de alimentos com práticas de conservação das florestas e de recursos hídricos nas áreas de fronteira agrícola da Amazônia. Os cientistas defendem que sistemas sustentáveis podem ajudar na conservação da floresta e, ao mesmo tempo, atender às necessidades das populações que habitam as bacias hidrográficas do bioma. Para as pequenas propriedades rurais, o uso do fogo como preparo do solo para o cultivo permanece como um problema e precisa ser enfrentado com programas de informação e esclarecimento. Já nas grandes propriedades, o maior desafio é a conversão da floresta em pastagens ou produção agrícola o que, por vezes, tem ocasionado um efeito adverso na qualidade das águas fluviais. O estudo conclui que a expansão da agricultura na Amazônia brasileira é influenciada não apenas pelas demandas de pequenas propriedades rurais tradicionais, mas também por grandes produtores agropecuários, pois ambos promovem pressão considerável sobre a conservação das florestas remanescentes e das bacias hidrográficas. “Apesar de os estudos nessas bacias terem aumentado bastante o entendimento sobre o tema em pauta, ainda existem lacunas importantes em nossa capacidade de fornecer recomendações adequadas para o gerenciamento ambiental nessas áreas e para as políticas públicas relacionadas”, admite o pesquisador da Embrapa. “Trata-se de uma revisão qualitativa e não quantitativa dos impactos e das soluções que se apresentam como sistemas de produção sustentáveis”, diz. O cientista lembra que é conveniente observar o bioma ou a ecorregião para considerar ou não as conclusões dos estudos, pois, segundo ele, “certos impactos são potencializados

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Por que se preocupar com os rios? Uma grande preocupação ambiental é a escassez de recursos hídricos. A qualidade da água dos rios, assim como seu volume disponível, são estratégicos para a qualidade de vida e o desenvolvimento das sociedades. Por isso, pesquisas científicas que estudam a utilização desses recursos e a ocupação de áreas rurais nas bacias hidrográficas são de extrema importância. É necessário, portanto, compreender os diversos processos naturais relacionados, assim como os impactos ocasionados pelas atividades humanas. A produção agrícola, por sua vez, deve ser pensada não apenas em seu aspecto produtivo. Há de se levar em conta, também, a sua interação com os processos naturais que ocorrem na bacia onde essa agricultura é praticada. Os agroquímicos aplicados são disponibilizados com o preparo dos solos (aração, gradagem e outras práticas), e são transportados em parte (sub e superficialmente) até os rios, ou até os estoques subterrâneos que eventualmente suprem os corpos d’água superficiais em épocas de baixa pluviometria. A agricultura, além de essencial para as populações humanas por prover energia e alimentos, também tem o importante papel de interagir com o ambiente de maneira a contribuir com o ciclo hidrológico em suas terras como nenhuma outra atividade humana faz, evitando entradas significativas de agentes poluidores. Por essa razão, estudos como esse oferecem subsídios para a elaboração de políticas públicas e de sistemas sustentáveis para uso dos produtores rurais.

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Eventos climáticos aumentam mortalidade em florestas tropicais Fotos: Daniel Papa, Diva Gonçalves, Felipe Santos da rosa

Árvores de grande porte são mais vulneráveis

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Escalada para coleta de dados referentes à copa das árvores

studos sobre a dinâmica florestal, realizados pela Embrapa, nos estados do Acre e Amazonas, comprovam que eventos climáticos atípicos como El Niño e La Niña elevam as taxas de mortalidade de árvores e afetam o desenvolvimento das florestas em áreas tropicais. Resultados de 20 anos de pesquisa revelaram que com a ocorrência desses fenômenos, a média de mortalidade de árvores subiu de 2% para 5%, em função do déficit hídrico causado por esses fenômenos. Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Marcus Vinício d’Oliveira, em florestas não manejadas da Amazônia a mortalidade de árvores varia entre 1% e 2% por ano. Mesmo em áreas bem manejadas, após o corte florestal é esperado um aumento na mortalidade de árvores, que cessa com o tempo. Nas florestas estudadas foram identificadas taxas superiores a 5%, com maior incidência em árvores maiores. “Ao contrário de uma redução paulatina, observamos picos de mortalidade, apesar do uso de técnicas adequadas de manejo. Em diversas localidades, esse aumento ocorreu em um período de tempo superior a dez anos, após a extração madeireira. Portanto, acreditamos não estar associado à atividade de manejo florestal, mas a períodos mais longos de seca, decorrentes da passagem do El Niño e La Niña nesse intervalo de tempo”, relata.

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Os estudos também mostraram que espécies florestais com diâmetro superior a 50 centímetros são mais susceptíveis aos efeitos de eventos climáticos. “Situações de estresse hídrico alteram os mecanismos hidráulicos das árvores.

No interior do tronco da planta, a pressão que possibilita o transporte da seiva bruta das raízes para as folhas diminui. Em árvores de grande porte, essa redução é mais acentuada, podendo resultar na vaporização de líquidos pela formação de bolhas, fenômeno conhecido como cavitação, que causa a falência hidráulica e pode levar a planta à morte”, explica o pesquisador Luís Cláudio de Oliveira. As pesquisas também revelaram que a elevação do índice de mortalidade de árvores influencia a taxa de meia vida da floresta, ou seja, o tempo estimado para substituição de metade da sua população original. Segundo Marcus d’Oliveira, nas áreas manejadas, foco do estudo, esse tempo ficou em torno de 20 anos, enquanto em florestas não manejadas, com mortalidade anual de até 2%, estima-se que o processo de regeneração demore entre 35 e 70 anos. “Por outro lado, a elevada mortalidade de árvores abre clareiras na floresta que aumentam a disponibilidade de luz e diminuem a competição por nutrientes. Isso permitiu o ingresso e estabelecimento de novas plantas, fator que favoreceu a regeneração da floresta e o ganho de biomassa em árvores menores, com diâmetro entre 20 e 50 centímetros”, afirma.

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Efeitos climáticos são maiores do que se imaginava Estudos sobre dinâmica de crescimento em florestas tropicais brasileiras, realizados no âmbito da Rede TMFO (Tropical Managed Forests Observatory), também indicam a influência de eventos climáticos atípicos sobre esses ambientes. “No Sudoeste da Amazônia, entretanto, os efeitos são mais visíveis devido à existência de uma estação seca mais demarcada do que em outras faixas dessa região”, diz Marcus d’Oliveira. Para o especialista, a constatação de que os eventos climáticos podem causar mais impactos na floresta do que a extração de madeira foi uma surpresa e evidencia a necessidade de incorporar novas práticas de manejo para aumentar a resiliência das florestas tropicais frente a essas ocorrências.

Uma das estratégias recomendadas pela pesquisa para reduzir a taxa de mortalidade e aumentar a produtividade em florestas manejadas é a aplicação de práticas silviculturais, de forma individual ou em grupos de espécies florestais com comportamento semelhante. “Intervenções como retirada de árvores de grande porte, sem valor comercial ou malformadas, e corte de cipós favorecem o crescimento de espécies comerciais e aumentam a sua densidade na floresta. Esses procedimentos permitem que as árvores atinjam o diâmetro mínimo recomendado para o manejo (50 centímetros), com melhor aproveitamento do potencial econômico das espécies e garantia do seu ciclo de vida na floresta”, ressalta Luís Oliveira.

Árvores de grande porte são mais afetadas

Manejo adequado é capaz de mitigar impactos

Pesquisa de longo prazo Fenômenos climáticos extremos são acontecimentos com impactos globais no meio ambiente. Pesquisas sobre mudanças climáticas revelam que El Niño ocorre em intervalos de dois a sete anos, podendo apresentar intensidade fraca, moderada ou forte. Nos últimos 40 anos seus efeitos mais intensos foram registrados em 1987, 1997, 2005, 2010, 2011 e 2015, dados confirmados pelas pesquisas da Embrapa. Compreender a dinâmica de crescimento das florestas, os seus mecanismos de resistência e suas vulnerabilidades a eventos naturais tem sido um desafio para a pesquisa. Esses conhecimentos são a base para a definição de modelos mais sustentáveis para o manejo florestal, por permitirem estabelecer parâmetros adequados para o volume de madeira a ser retirado e o tempo de descanso necessário para a floresta se recuperar e repor seu estoque, entre outros aspectos essenciais para reduzir impactos na atividade florestal. Além disso, ajudam a indicar caminhos eficientes para mitigação dos impactos de eventos climáticos sobre a floresta.

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Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Marcus Vinício d’Oliveira, em florestas não manejadas da Amazônia a mortalidade de árvores varia entre 1% e 2% por ano

Segundo Marcus d’Oliveira, esses resultados indicaram uma tendência desse evento climático se tornar cada vez mais frequente, com alterações na composição e estrutura das florestas. “No entanto, como as pesquisas sobre dinâmica florestal são um processo de longo prazo, duas décadas é um tempo relativamente curto para inferências definitivas. Para entender de forma mais completa o comportamento das florestas em relação a esses fenômenos precisamos avançar em análises que considerem séries temporais mais abrangentes”, pondera o especialista.

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Cepal escolhe projeto da Embrapa entre os mais transformadores para a sustentabilidade por *Kélem Cabral

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Sistemas agroflorestais estão entre as tecnologias previstas no Projeto Tipitamba

m projeto desenvolvido na região amazônica pela Embrapa há quase três décadas foi selecionado entre os de maior potencial para impulsionar a sustentabilidade ambiental no País. O Tipitamba, voltado a orientar produtores familiares a adotar práticas sustentáveis, está entre as 15 propostas selecionadas pelo Big Push Ambiental no Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), braço da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Fotos: Ronaldo Rosa, Sabrina Gaspar

Com isso, o trabalho passou a compor a publicação “Investimentos transformadores para um estilo de desenvolvimento sustentável: estudos de casos de grande impulso (Big Push) para a sustentabilidade no Brasil”. O Tipitamba nasceu em 1991 propondo viabilizar um futuro sustentável aos produtores familiares da Amazônia, por meio do manejo sustentável da mata secundária, a capoeira, no preparo da área para plantio e no pousio.

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Essa vegetação deu nome ao projeto. Tipitamba, na língua dos índios Tyriós, significa vegetação secundária, exatamente as áreas que eram tradicionalmente derrubadas e queimadas para o plantio, principalmente, das culturas de mandioca. Além de ambientalmente mais sustentáveis, as tecnologias passadas aos produtores familiares se mostraram mais rentáveis que os métodos anteriores, melhorando a qualidade de vida dessas populações. As ações do Tipitamba envolvem transferência de tecnologias voltadas a recuperação de áreas alteradas, redução do uso de agrotóxicos, transição produtiva agroecológica, sistemas agroflorestais, diversificação da produção agrícola, segurança e soberania alimentar, melhoria da renda, mitigação dos impactos ambientais e o compartilhamento de conhecimento entre todos os atores envolvidos.

29 anos de transformação participativa O projeto teve início quando a Embrapa Amazônia Oriental (PA) assinou uma cooperação técnico-cientifica com as universidades alemãs de Göttingen e de Bonn por meio do programa Studies of Human Impact on Forest and Floodplains in the Tropics (Shift). Ao longo dos anos, o Tipitamba transformou-se em uma rede mantendo o objetivo de propor alternativas tecnológicas, socioeconômicas e ambientalmente sustentáveis para a agricultura familiar amazônica. A pesquisadora da Embrapa Tatiana Sá, uma das idealizadoras do projeto, se emocionou com a seleção e considera que o reconhecimento se deu por causa de seu pioneirismo e pela trajetória continuada. “Nossa atuação aborda, ao longo dos anos, em caráter multidisciplinar e interdisciplinar, temas associados às diversas dimensões da sustentabilidade, como a formação de pessoal, em vários níveis, e a preocupação com formulação e aplicação de políticas públicas”, explica a cientista.

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O artigo científico que permitiu à experiência paraense figurar entre os 15 mais do Big Push Sustentabilidade da Cepal foi intitulado “Projeto Tipitamba – Transformando paisagens e compartilhando conhecimento na Amazônia”. “Esse resumo diz muito sobre a própria evolução e transformação do projeto,” lembra o pesquisador Osvaldo Kato. “O aprendizado é que é possível viver essa transformação, com trabalhos de longa duração, promovendo ações de desenvolvimento territorial sustentável para pequenas e médias propriedades na Amazônia. Tipitamba é a prova de que o sonho da sustentabilidade é realizável”, enfatiza Kato. A mudança responsável pelo sucesso do programa, de acordo com o cientista, é a valorização do conhecimento do agricultor, o que possibilita que ele seja o agente da transformação. “De produtor para produtor, com a pesquisa atuando como mediadora, sistematizando processos e tecnologias, é mais fácil fazer a inovação chegar aos produtores e ser aceita por eles”, pondera o pesquisador, ressaltando que a participação do produtor continua sendo uma das características mais fortes do projeto.

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Vidas e paisagens transformadas Luciano Braga Rocha, agricultor familiar e técnico agrícola de 38 anos, ainda era um menino quando acompanhava a dura lida do pai, Elias Pinto Braga, no sítio de 25 hectares, no município de Igarapé-açu, nordeste do Pará. Todos os anos, ele via o pai derrubar a capoeira e tocar fogo para plantar mandioca, feijão e milho. Trabalho penoso que exauria o chefe da família, mas também a terra, que ficava menos produtiva e menos verde. A mudança começou a ocorrer quando em meados da década de 1990 pesquisadores da Embrapa chegaram à região propondo uma mudança no modo tradicional de cultivo da terra. No princípio, Rocha lembra que a família desconfiou e demorou a aceitar a ideia de “plantar pau”, como chamavam o plantio de árvores, e não mais queimar a capoeira para fazer as roças. Aos poucos e com muita conversa, foram transformando e adaptando o modo de fazer, aliando as novas tecnologias que eram propostas pelos pesquisadores ao estilo de vida e cultivo tradicional da região.

O fogo deu lugar ao corte e à trituração da vegetação para a limpeza das áreas de plantio. Mudas de espécies florestais e frutíferas, já conhecidas e até comuns nos quitais ao redor das casas, foram enfileiradas no terreno que antes só recebia as culturais anuais, que também continuaram lá. Só que o feijão, o milho e a mandioca passaram a ser consorciados com uma variedade de espécies. Passados quase 30 anos, a propriedade se transformou em modelo e vitrine para os vizinhos e hoje colhe uma diversidade de produtos, que vão de frutas, horta, farinha e grãos até pequenos animais. O verde voltou ao sítio, assim como melhorou a qualidade de vida e renda da família Rocha.

A seleção

Autores do artigo

Foram inscritas 131 experiências e projetos. Destes, 66 foram selecionados e incluídos no Repositório de casos sobre o Big Push para a Sustentabilidade no Brasil. Além de figurar nesse grupo, o projeto desenvolvido pela Embrapa ainda se classificou entre os 15 estudos de casos mais transformadores. De acordo com a Cepal, para integrar essa última lista, os projetos precisavam comprovar indicadores reportados nas dimensões social, econômica e ambiental, além de se submeterem à análise dos vínculos do caso estudado com o Big Push para a Sustentabilidade e com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Participaram da elaboração do paper sobre o projeto: Osvaldo Ryohei Kato, Anna Christina Roffé Borges, Célia Maria Calandrini de Azevedo, Débora Veiga Aragão, Grimoaldo Bandeira de Matos, Lucilda Maria Sousa de Matos, Maurício Kadooka Shimizu, Steel Silva Vasconcelos e Tatiana Deane de Abreu Sá.

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Foram escolhidos trabalhos que apresentam uma abordagem renovada para apoiar os países da região na construção de estilos de desenvolvimento mais sustentáveis e baseados na coordenação de políticas de promoção de investimentos transformadores. “Unindo teoria e prática, esses casos ilustram as amplas possibilidades para a realização de investimentos sustentáveis em várias práticas e

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tecnologias sustentáveis (desde sistemas agroflorestais até o desenvolvimento da indústria eólica) e por meio de uma rica pluralidade de medidas, políticas, arranjos de governança, fontes de financiamento e escalas de atuação”, ressalta o texto oficial da Cepal. [*] Embrapa Amazônia Oriental

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Alterações no regime de inundação ameaçam árvores centenárias da Amazônia

Estudo do Inpa mostra que degradações do ambiente provocadas pela construção de hidrelétricas em combinação com mudanças do clima podem alterar permanentemente o pulso de inundação abaixo das barragens, prejudicando ecossistemas inteiros por *Cimone Barros

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Fotos: Angélica Resende, Jochen Schongart, Tayane Carvalho

Igapó do Rio Jaú (Parque Nacional do Jaú). População de árvores vivas da espécie estudada (Eschweilera tenuifolia)

implantação da hidrelétrica de Balbina e as mudanças climáticas alteraram o regime de inundação de florestas alagáveis pobres em nutrientes causando mortalidade de árvores centenárias da Amazônia, como a macacarecuia ou cueira (Eschweilera tenuifolia), árvore símbolo dos igapós de águas pretas e altamente adaptada ao pulso de inundação (subida e descida anual das águas dos grandes rios da Amazônia Central).

É o que aponta o artigo publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) na revista científica New Phytologist. O trabalho tem como primeira autora a egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas - Botânica do Inpa, Angélica Resende, como um dos frutos da sua tese, além dos pesquisadores Jochen Schöngart (orientador principal de Resende), Maria Teresa Piedade, e a pós-doutoranda Flavia Durgante.

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Piedade e Schöngart são coordenador e vice, respectivamente, do projeto Ecológico de Longa Duração executado pelo Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Peld-Maua/Inpa), grupo que há décadas estuda as áreas alagáveis da Amazônia. No artigo “Perturbações do pulso de inundação como ameaça a árvores centenárias da Amazônia” (Flood-pulse disturbances as a threat for long-living Amazonian trees), buscou-se elucidar a relação de distúrbios climáticos e antrópicos com o crescimento e a mortalidade da macacarecuia, pertencente à mesma família da castanha-do-pará (Lecythidaceae), que durante períodos evolutivos desenvolveu adaptações sofisticadas para sobreviver às inundações prolongadas. A espécie pode passar até dez meses do ano total ou parcialmente submersa, porém precisa de um a dois meses em terreno seco para executar suas atividades fisiológicas. Á árvore forma madeira densa, possui crescimento lento e alta longevidade (no estudo foi encontrada uma árvore de mais de 800 anos).

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Para isso, Resende comparou o crescimento e a mortalidade da espécie em um ambiente não perturbado (Parque Nacional do Jaú) e em outro ambiente perturbado pela alteração do pulso de inundação, causado pela implementação da hidrelétrica de Balbina (a jusante da barragem), no Rio Uatumã, na década de 1980, no município de Presidente Figueiredo. “A usina foi um dos piores desastres socioambientais brasileiros. A construção inundou uma área de floresta nativa de 2,4 mil km2 e quando entrou em operação não atendeu nem metade da demanda de energia elétrica da capital amazonense, que continuou dependente de usinas térmicas”, destaca Schöngart. Conforme o estudo, o patrimônio genético de uma das espécies arbóreas mais adaptadas à inundação está ameaçado. “Isso representa o risco de perda de indivíduos que durante séculos passaram por diferentes eventos de cheias e secas, bem antes da chegada dos europeus à região amazônica, mas que agora morrem em consequências da atuação do ser humano moderno que vem alterando direta (usina hidrelétrica) ou indiretamente (mudanças climáticas) o regime de inundação da maior bacia hidrográfica do mundo”, destacam os autores no artigo.

Resultados As árvores que cresciam na área não perturbada apresentaram diferenças no crescimento após 1975, quando se sucederam períodos de intensas cheias nos rios da Amazônia Central, e grandes mudanças climáticas no panorama global se intensificaram, o que afetou até mesmo as áreas remotas de igapó da Amazônia.

Localização da área de estudo na Bacia Amazônica Brasileira e detalhes do local do estudo, desde a barragem de Balbina até a foz do rio Uatumã

“Ainda na área não perturbada, algumas árvores morreram em períodos distintos, muitas vezes associados a eventos de La Niña e nas fases frias da Oscilação Interdecadal do Pacífico, que é o resfriamento das águas superficiais do Oceano Equatorial do Pacífico a curto (ano) e em longo (décadas) prazos, respectivamente, resultando no aumento das chuvas e cheias na Amazônia Central, como observada nas décadas recentes”, explicou Schöngart. Quanto às árvores crescendo na área perturbada pela alteração no pulso de inundação, causada pela hidrelétrica de Balbina, houve alterações distintas no padrão de crescimento após a implementação da hidrelétrica, período no qual ocorreu mortalidade em massa de macacarecuia, e também de outras espécies como o arapari.

População de árvores de diferentes tamanhos, conhecidas como macacarecuias ou cuieiras (Eschweilera tenuifolia) em igapó do Rio Uatumã, a jusante da barragem hidrelétrica de Balbina. Estas árvores morreram em decorrência da alteração no pulso de inundação provocado pela hidrelétrica

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Estudo anterior feito pelos autores deste artigo mostrou por meio de análises de imagens de satélite alta mortalidade de árvores em igapós que ficam até 125 km abaixo da barragem de Balbina (publicado em 2019 em Science of the Total Environment), chegando a ter áreas baixas de florestas alagadas dominadas por milhares de árvores mortas, conhecidas como paliteiros. Neste estudo os autores já evidenciavam que as árvores desta espécie morreram em consequência da construção e operação da barragem de Balbina. Para chegar a esses resultados, foram usados dados de campo, coleta de amostras de árvores vivas e mortas para analisar os anéis de crescimento no Laboratório de Dendroecologia do Inpa e no laboratório de isótopos de carbono do Instituto Max Planck de Biogeoquímica com o qual o grupo MAUA tem um longo histórico de cooperação técnico-científica. A partir dessas análises, foram feitas análises estatísticas cruzando as informações com eventos históricos de alterações climáticas e antrópicas nas duas unidades de conservação. Conforme Resende, parte das árvores morreram no período da construção da barragem, quando houve uma grande redução na disponibilidade de água nos igapós a jusante da barragem, como consequência do represamento do Rio Uatumã, para a criação do Reservatório de Balbina. Outro momento que causou a morte de árvores foi durante a operação da barragem que criou condições permanentes de inundação, ultrapassando a capacidade adaptativa da espécie, e resultando em mortalidade massiva, ou seja, extremos de falta ou excesso de água, causam a mortalidade desta espécie superadaptada à inundação regular.

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“A previsão é que a frequência e magnitude desses dois extremos de falta e excesso de água deverão aumentar, devido às mudanças climáticas em curso e dos planos de implementação de dúzias de grandes usinas hidrelétricas nos rios amazônicos”, diz Resende, que é engenheira florestal e atualmente faz pós-doutorado na Embrapa Amazônia Oriental, no Pará.

Recomendações Em conjunto com outros resultados obtidos no âmbito do projeto Peld-Maua do Inpa, os resultados evidenciam os impactos em florestas alagáveis de igapó na Amazônia Central, causados por alterações

do pulso de inundação em consequência de mudanças do clima e do uso de terra (usinas hidrelétricas). Os autores recomendam em termos de políticas públicas que os tomadores de decisão considerem os potenciais impactos nas áreas alagáveis a jusante das usinas hidrelétricas planejadas, quando da realização do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Também sugerem que haja ajuste na geração de energia das usinas existentes e em construção, de forma a considerar a manutenção de um pulso de inundação nas áreas alagáveis a jusante da barragem assegurando a sobrevivência dos organismos e dos importantes processos ecológicos desses ambientes críticos.

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Para a mitigação das mudanças climáticas globais na Amazônia, os autores entendem que isso exige ações concretas em nível internacional, reduzindo as emissões de gases de efeito de estufa em nível global e regional e, simultaneamente, reflorestando áreas degradadas em grande escala.

Financiamento O estudo foi financiado pelo CNPq-Fapeam, no âmbito de projetos do Programa Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), PELD e INCT-Adapta. [*] *INPA

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As florestas tropicais podem lidar com o calor, até certo ponto Sensibilidade térmica a longo prazo das florestas tropicais da Terra

Fotos: Dr. Lindsay F. Banin, Jake Bryant, Pauline Kindler,

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s florestas tropicais enfrentam um futuro incerto sob as mudanças climáticas, mas novas pesquisas publicadas na Science sugerem que elas podem continuar armazenando grandes quantidades de carbono em um mundo mais quente, se os países limitarem as emissões de gases de efeito estufa. As florestas tropicais do mundo armazenam um quarto de século de emissões de combustíveis fósseis apenas em suas árvores. Há receios de que o aquecimento global possa reduzir esse estoque se o crescimento das árvores diminuir ou a morte das árvores aumentar, acelerando as mudanças climáticas . Uma equipe de pesquisa internacional mediu mais de meio milhão de árvores em 813 florestas nos trópicos para avaliar quanto carbono é armazenado por florestas que crescem sob diferentes condições climáticas hoje. A equipe revela que as florestas tropicais continuam a armazenar altos níveis de carbono sob altas temperaturas, mostrando que, a longo prazo, essas florestas podem lidar com o calor até um limiar estimado de 32 graus Celsius na temperatura diurna.

Vista do dossel da floresta de charneca de Gunung Mulu, dominada por Shorea albida. Sarawak, Bornéu

No entanto, essa descoberta positiva só é possível se as florestas tiverem tempo para se adaptar, permanecerem intactas e se o aquecimento global for estritamente limitado para evitar levar as temperaturas globais a condições além do limite crítico. O principal autor, Dr. Martin Sullivan, da Universidade de Leeds e da Universidade Metropolitana de Manchester, disse: “Nossa análise revela que até um certo ponto de aquecimento de florestas tropicais é surpreendentemente resistente a pequenas diferenças de temperatura. Se limitarmos as mudanças climáticas, elas poderão continuar a armazene uma grande quantidade de carbono em um mundo mais quente. “O limiar de 32 graus destaca a importância crítica de cortar urgentemente nossas emissões para evitar empurrar muitas florestas além da zona de segurança. “Por exemplo, se limitarmos as temperaturas médias globais a um aumento de 2°C acima dos níveis pré-industriais, isso empurrará quase

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três quartos das florestas tropicais acima do limiar de calor que identificamos. Quaisquer novos aumentos de temperatura levarão a perdas rápidas de carbono florestal”. As florestas liberam dióxido de carbono na atmosfera quando a quantidade de carbono adquirida pelo crescimento das árvores é menor do que a perdida pela mortalidade e decadência das árvores. O estudo é o primeiro a analisar a sensibilidade climática a longo prazo com base na observação direta de florestas inteiras entre os tópicos. A pesquisa sugere que, a longo prazo, a temperatura tem o maior efeito sobre os estoques de carbono da floresta, reduzindo o crescimento, com a seca matando as árvores o segundo fator-chave. Os pesquisadores concluem que as florestas tropicais têm capacidade de longo prazo para se adaptar a algumas mudanças climáticas, em parte devido à sua alta biodiversidade, pois as espécies de árvores mais capazes de tolerar novas condições climáticas crescem bem e substituem espécies menos bem adaptadas a longo prazo. Mas maximizar essa resiliência climática potencial depende de manter as florestas intactas. A coautora Beatriz Marimon, da Universidade Estadual de Mato Grosso, no Brasil, estuda algumas das florestas tropicais mais quentes do mundo no Brasil central. Ela observou: “Nossos resultados sugerem que florestas intactas são capazes de suportar algumas mudanças climáticas. No entanto, essas árvores tolerantes ao calor também enfrentam ameaças imediatas de incêndio e fragmentação. “Atingir a adaptação climática significa antes de tudo proteger e conectar as florestas que restam”.O professor Marimon observa os limites claros da adaptação.

Medindo Ceiba gigante na floresta tropical de Choco- Colômbia

Coleta de espécies arbóreas para identificação, floresta de nuvens andinas no Peru 2011

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“O estudo indica um limiar de calor de 32 graus Celsius na temperatura diurna. Acima deste ponto, o carbono da floresta tropical diminui mais rapidamente com temperaturas mais altas, independentemente de quais espécies estão presentes. “Cada aumento de grau acima desse limite de 32 graus libera quatro vezes mais dióxido de carbono do que seria liberado abaixo do limite”. As idéias sobre como as florestas tropicais do mundo respondem ao clima só foram possíveis com décadas de cuidadoso trabalho de campo, geralmente em locais remotos. A equipe global de 225 pesquisadores combinou observações florestais na América do Sul (RAINFOR), África (AfriTRON) e Ásia (T-FORCES). Em cada parcela de monitoramento, o diâmetro de cada árvore e sua altura foram usados para calcular a quantidade de carbono armazenada.

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As parcelas eram revisadas a cada poucos anos para ver quanto carbono estava sendo absorvido e quanto tempo foi armazenado antes da morte das árvores . Para calcular as mudanças no armazenamento de carbono, foi necessário identificar quase 10.000 espécies de árvores e mais de dois milhões de medições de diâmetro, em 24 países tropicais. De acordo com o professor Simon Lewis, da Universidade de Leeds e da University College London: “A quantidade de carbono absorvido e armazenado pelas florestas é um elemento crucial na forma como a Terra responde às mudanças climáticas”. “O estudo sublinha por que a colaboração em pesquisa de longo prazo é essencial para entender os efeitos das mudanças ambientais. Os cientistas precisam trabalhar juntos mais do que nunca, pois o monitoramento da saúde das grandes florestas tropicais do planeta é vital para todos nós”. Cortar as emissões de carbono o suficiente para manter as florestas dentro da zona de segurança será muito desafiador. O autor do estudo, professor Oliver Phillips, da Universidade de Leeds, disse: “Manter nosso planeta e nós mesmos saudáveis nunca foi tão importante. No momento, a humanidade tem uma oportunidade única de fazer a transição para um clima estável. “Ao não simplesmente voltar aos ‘negócios como de costume’ após a crise atual, podemos garantir que as florestas tropicais continuem sendo enormes reservas de carbono . Protegê-las das mudanças climáticas,

Variação espacial do carbono da floresta tropical

(A) As redes de plotagem RAINFOR (América do Sul), AfriTRON (África), T-FORCES (Ásia) e australiana. Preenchidas os símbolos mostram 590 gráficos multicêntricos usados na análise principal; símbolos abertos mostram 223 gráficos de censo único usados como um conjunto de dados independente. Cor do símbolo indica a região: verde, América do Sul; laranja, África; roxo, Ásia; e rosa, Austrália. (B) Variação no carbono entre os continentes. Os boxplots mostram variação bruta, enquanto os pontos azuis mostram valores médios estimados (± SE) após contabilizar a variação ambiental. As letras indicam diferenças estatisticamente significativas entre continentes (P <0,05) com base em dados brutos (preto) ou após contabilizar os efeitos ambientais (azul entre parênteses). do desmatamento e da exploração da vida selvagem precisa estar no centro de nosso esforço global pela biossegurança. “Imagine se tivermos essa chance de redefinir

a forma como tratamos nossa Terra. Podemos manter nossa casa fresca o suficiente para proteger essas magníficas florestas - e manter todos nós mais seguros”.

Alteração de longo prazo nos estoques de carbono devido apenas aos efeitos da temperatura para o aquecimento global da temperatura do ar na superfície de 2°C.

Os mapas mostram a mudança absoluta e relativa prevista nos estoques de carbono das florestas tropicais.

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Consórcio com fruteiras nativas amplia a manutenção da biodiversidade amazônica Inserir fruteiras nativas na cultura preserva a biodiversidade e diversifica a renda do produtor

Fotos: Fernando Goss, Maria José Tupinambá, Maria José Tupinambá, Ronaldo Rosa O plantio consorciado de fruteiras nativas com culturas alimentares de ciclo curto é uma opção economicamente viável para agricultores familiares da região amazônica. Reduz os custos de implantação de pequenos pomares e estimula a diversificação alimentar

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plantio consorciado de fruteiras nativas com culturas alimentares de ciclo curto, como macaxeira, abóbora e maxixe, é uma opção economicamente viável para agricultores familiares da região amazônica porque reduz os custos de implantação de pequenos pomares, ao mesmo tempo em que estimula a diversificação alimentar. A Embrapa Amazônia Ocidental (AM) investe há cinco anos nessa prática com produtores rurais de municípios da região metropolitana de Manaus, tendo como carro-chefe o cupuaçuzeiro. Além de contribuir para a preservação da biodiversidade, a iniciativa tem potencial para aumentar a oferta desses frutos nas feiras e mercados das cidades da Região Norte, abrindo novos nichos de mercado para velhos sabores locais. Segundo a pesquisadora da Embrapa Aparecida das Graças Claret, usando as entrelinhas dos cupuaçuzeiros, os agricultores estão diversificando os pomares com outras espécies nativas, algumas pouco conhecidas dos jovens consumidores, mas com sabor bastante apreciado pelos antigos amazônidas que coletavam seus alimentos na floresta.

Entre as fruteiras nativas que fazem parte do projeto estão a sorva, abiu, biribá, bacaba, caramuri, sapota, mapati (uva da Amazônia), castanha-de-galinha, castanha-de-cutia, araçá-boi, araçá-pera, castanha-do-brasil e açaí.

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“O agricultor pode agora diversificar a sua alimentação, vender o excedente e ainda colher e beneficiar o cupuaçu”, comenta. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e também levou aos produtores a ideia de plantar nas entrelinhas dos cupuaçuzeiros culturas alimentares como mandioca, abóbora, melancia, maxixe, entre outras de rápido crescimento, criando alternativas de alimento, ocupação e renda no campo, até o cupuaçu começar a produzir, entre dois a três anos após o plantio. “Com isso, se aproveita as entrelinhas plantando as culturas anuais, como macaxeira, mandioca, milho e feijão, que servem não apenas como alimento, mas também para garantir retorno econômico dos investimentos”, explica Ferdinando Barreto, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental. No projeto, ele tem trabalhado nas atividades com mandioca, macaxeira, milho e no próximo ano pretende levar o feijão-caupi. Durante o desenvolvimento da cultura perene, é possível obter vários ciclos de culturas anuais. A mandioca, que tem um ciclo mais longo, vai precisar de cerca de um ano, mas o milho pode levar dois a três ciclos até a cultura perene crescer e começar a produzir. “Por isso, essa prática é tão positiva. Permite aproveitar a mão de obra, melhorar o uso da terra e obter maior retorno financeiro”, explica Barreto.

A castanha-de-galinha é uma das opções para o plantio consorciado

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Novos mercados para velhos sabores As frutas nativas, apesar de apreciadas por grande parte da população, ainda são raras e caras nas feiras e mercados de Manaus. A pesquisadora atribui esse fato à baixa produção e, por isso, acredita que o projeto de incentivo ao cultivo em áreas próximas à capital amazonense pode reverter esse quadro. “Quanto mais os produtores plantam, mais diversidade haverá no mercado à disposição do consumidor, que passa a conhecer e testar novos sabores. Com o aumento da demanda, o setor produtivo terá motivos para aumentar a oferta”, explica. Portanto, é de grande importância mostrar aos agricultores o valor das fruteiras nativas. “O conhecimento do potencial dessas espécies é fundamental para a sua conservação”, comenta Claret. O que não é conhecido nem utilizado acaba se perdendo na história. Muitas vezes, as pessoas cortam uma planta porque não conhecem o seu valor e a importância para a biodiversidade”, comenta Aparecida. A vantagem de escolher o cupuaçu como principal cultura é porque muitos agricultores já conhecem a espécie e sabem que terão mercado garantido, além de ser uma fruteira precoce que começa a produzir entre dois e três anos, enquanto outras levam de sete a oito anos. Do cupuaçu se produz várias iguarias na forma de geleias, doces, bebidas, entre outras. Suas amêndoas contêm elevado teor de gordura, sendo muito utilizadas na produção de cosméticos e cupulate (chocolate).

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O espaçamento recomendado pela pesquisa é de 7 x 7 metros entre cada pé do cupuaçuzeiro, quando intercalado com outras fruteiras. Mas não há de fato um padrão fixo e as formas de plantio podem variar de acordo com as espécies escolhidas. Pode se usar também uma cobertura com puerária, cuja massa vegetal pode ajudar na recuperação do solo.

Incentivo governamental ao cupuaçu Segundo dados do Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Amazonas tem aproximadamente 81 mil estabelecimentos agropecuários. Desses, 70.358 mil desenvolvem algum tipo de agricultura familiar.

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A banana foi a principal fruta produzida no estado, com 69.613 toneladas colhidas. Em seguida, vieram o açaí (21.321 t) e o cupuaçu (6.002 t). O Amazonas possui uma área plantada de seis mil hectares de cupuaçuzeiros, envolvendo cinco mil agricultores familiares, com um volume de produção em torno de 10 milhões de frutos, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), o órgão de assistência do estado. Apesar de ter uma grande aceitação no mercado, os agricultores familiares tiveram que diminuir suas áreas de cultivo devido ao aparecimento de pragas (vassoura-de-bruxa e broca do fruto), que causaram grandes prejuízos econômicos. Mas, de acordo com o Idam, as cultivares de alta produtividade desenvolvidas pela Embrapa, que variam de sete a dez toneladas de frutos por hectare, elevando o rendimento de polpa e amêndoa, por serem resistentes à vassoura-de-bruxa, têm contribuído para minimizar esses problemas. Embora as indústrias de beneficiamento já dominem técnicas de produção de polpas, doces, sucos e mix com o fruto, há outros problemas que enfraquecem a cadeia produtiva do cupuaçu, como a perda de produto in natura por deficiência de estruturas de beneficiamento primário e armazenamento nas regiões produtoras. Por isso, o Idam pretende ampliar os serviços de Ater aos agricultores familiares e produtores rurais nos sete municípios maiores produtores de cupuaçu. A previsão de recursos entre 2019 e 2022 é de R$ 3 milhões para crédito rural e R$ 1,5 milhão? para custeio de Ater. Com essas medidas, espera aumentar a produção de 274,4 toneladas em 2019 para 4.019 toneladas em 2022, e a produtividade de 0,4 t/hectare para 3 toneladas por hectare.

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Para o agricultor Raimundo Nonato Pereira dos Santos, cultivar as espécies nativas tem também o sentido de proteção à natureza

Diversificação de sabores: ciência busca novos “açaís” e “cupuaçus” na Amazônia A rica biodiversidade da Amazônia também pode contribuir em termos nutricionais e com novos sabores, possibilitando ao mercado aumentar a variedade de alimentos, como aconteceu com o açaí, cuja oferta vem crescendo nos últimos 30 anos, e é exportado para vários países devido, principalmente, à divulgação de seus subprodutos. “Precisamos incentivar a sociedade a conhecer as espécies nativas, senão vamos perder essas riquezas”, pondera a cientista. “Percebo que muitos produtores não conhecem as fruteiras nativas, não sabem que podem consumir e terminam cortando essas plantas”, lamenta. Como exemplo, cita o araçá-boi, que é uma cultura que produz bastante, com plantas precoces e tem uma diversidade de uso muito grande na produção de sucos, geleias, doces, licores e outros. Nas suas visitas aos agricultores, a pesquisadora repassa essas informações, mostra a importância de investir em produção para atender ao mercado. “Se não dá para atender ao mercado regional, atenda ao local, que já é um incentivo à conservação dessas espécies”, recomenda Claret.

Temos que pensar em atender pelo menos o mercado local, como acontece com o tucumã, usado como recheio do sanduiche caboquinho, a pupunha e o cará cozidos, muito apreciados nos lanches e cafés da manhã de Manaus e redondezas. As fruteiras nativas têm como vantagens a adaptação às condições locais e exigência de poucos cuidados de manejo. Entre as ações do projeto, os pesquisadores da Embrapa realizaram cursos de compostagem para produção de adubação orgânica, aproveitamento dos materiais disponíveis, cursos de culturas anuais de milho e mandioca. O próximo curso será com base nas fruteiras nativas que já estão produzindo e em um levantamento do que têm em suas áreas. Atualmente, está em desenvolvimento uma pesquisa com o público amazonense para saber seu nível de conhecimento e consumo das frutas do bioma Amazônia. Com base nos resultados, será realizado um evento de divulgação das fruteiras.

Agricultores familiares apoiam a diversificação das fruteiras Raimundo Nonato Pereira dos Santos (foto) plantou nas entrelinhas dos cupuaçuzeiros resistentes levados pela Embrapa

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pés de açaí, maracujá, castanha-de-cutia e castanha-de-galinha. Nascido em Manaus e criado no município de Manacapuru, no interior do Amazonas, não conhecia as duas últimas fruteiras. Para ele, a importância de cultivar as espécies nativas será também para alimentar os “seus bichinhos” que andam pela plantação e vivem na floresta: macacos e cutias. “Ainda estarei protegendo a natureza”, orgulha-se. O agricultor José Inês Marcelino Machado, desde 1998, planta macaxeira, banana, coco, laranja, limão e cupuaçu em seu sítio Santa Rita, de 100 hectares, em Presidente Figueiredo (AM). Há cinco anos, ingressou no projeto mesmo sem conhecer as espécies. Apostou no potencial produtivo e na possível comercialização das frutas nativas e está satisfeito com a variação dos plantios. “A gente plantou e a nossa intenção é ver como vai produzir e aumentar os plantios, além disso, não requer muita mão de obra”, comenta. Ele já colheu mapati, araçá-boi, biribá, abiu e agora as castanheiras-de-cutia estão carregadas de frutos. Nem mesmo as cutias que vivem na mata e comem todos os frutos que caem da planta desanimam o agricultor, já que fazem parte do ciclo: comem, disseminam as sementes e colaboram com a biodiversidade.

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Café BRS 2314

Ciência e evolução social na cafeicultura Amazônica

O ciclo virtuoso da interação entre pesquisa e setor produtivo na geração de tecnologias e transformação social por *Enrique Anastácio Alves

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pesquisa científica tem um ciclo de constante retroalimentação simbiótica com a sociedade. Em alguns momentos, apresenta inovações e tecnologias que modificam o meio. Em outros, é a própria evolução social e comportamental que mostra os caminhos a serem seguidos pela pesquisa. Ao longo das últimas décadas, o processo de melhoramento genético do café canéfora – conilons e robustas – era baseado em critérios voltados para os aspectos agronômicos, como o aumento da produtividade das plantas. A qualidade, quando era mencionada no processo, estava voltada para aspectos físicos, como forma e tamanho dos grãos. O melhoramento e a seleção genética dos cafés canéforas eram resultados de uma época em que esses grãos eram mais valorizados e comercializados em função dos seus defeitos físicos e não pela sua qualidade sensorial.

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Fotos: Enrique Alves, Joao Luiz Lourenco

Sendo assim, o importante era que as plantas tivessem todas as ferramentas biológicas para se desenvolverem de forma vigorosa, saudável e fossem responsivas ao manejo de água e fertilidade do solo. Isso não mudou. Obviamente, estes ainda são critérios importantes, mas não são os únicos. A relação social com o alimento evoluiu. Além de sustentar uma vida saudável, ele precisa gerar prazer sensorial nesse processo. Houve sim, ao longo dos anos, trabalhos científicos mais aprimorados em relação à qualidade de bebida para a espécie canéfora. Mas, esses trabalhos, de forma geral, procuravam grãos com característica sensorial de neutralidade. Uma época em que a demanda da cadeia de transformação era por cafés que se misturassem aos da espécie arábica de segunda linha, agregando corpo e não influenciando no aspecto sensorial. Os cafés canéforas serão sempre importantes para os “blends”, ou misturas, e a indústria de solúveis.

Mas, com o uso de novas tecnologias de processamento e secagem na produção de canéforas, novos aromas e sabores estão sendo descobertos. Essa mudança trouxe para a pesquisa novas demandas e desafios. Alimentar o corpo e a alma dos amantes de café ao redor do mundo. Em conversa com os mais destacados melhoristas de Coffea canephora do país, se observa que, os próximos anos de pesquisa serão uma espécie de garimpagem genética no que a cafeicultura nacional tem de mais precioso: os bancos de germoplasmas mantidos por importantes instituições de pesquisa como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper e o Instituto Agronômico de Campinas - IAC. São novos tempos de revisitar as coleções genéticas em busca de preciosidades relegadas ao ostracismo, em função das demandas vigentes em épocas passadas.

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BRS 2314, o pequeno e notável

Inovação científica e evolução social na Amazônia Os novos lançamentos da Embrapa Rondônia, para a cafeicultura na Amazônia, representam exatamente este ciclo virtuoso e integrado entre inovação científica e evolução social. No ano de 2019, foram lançadas dez variedades clonais individuais híbridas – cruzamento entre as variedades botânicas conilon e robusta. Estes novos materiais trazem em si uma nomenclatura de grande significado econômico e científico: os Robustas Amazônicos. Se trata de um caso muito emblemático de como a ciência e a sociedade precisam andar juntas. Graças à pesquisa, foi possível subsidiar, com critérios científicos, a nomenclatura de todo o café produzido no Estado de Rondônia, responsável por 97% da produção do grão na Amazônia e segundo maior produtor da espécie canéfora do Brasil. A pesquisa científica realizada pela Embrapa e parceiros demonstrou que os cafés amazônicos tinham origem e genética diferentes dos produzidos em outras regiões. Assim como seria cientificamente correto e mercadologicamente interessante que os cafés produzidos na Amazônia tivessem a nomenclatura de robustas.

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Também, devido às características edafoclimáticas – clima e solo – e sociais do seu ambiente de produção, era importante vincular esta espécie à região em que essas plantas foram adaptadas e selecionadas por mais de quatro décadas.Outra inovação presente no último lançamento da Embrapa foram as variedades em clones individuais. As plantas de café canéfora são alógamas, isto é, tem a necessidade da fecundação cruzada de suas flores. Explicando de forma resumida, existem três grupos de compatibilidade genética e as plantas, além de não se autofecundarem, também não fecundam flores de plantas do seu mesmo grupo de compatibilidade. Portanto, esta é uma das diferenças entre as espécies canéfora e arábica e que tem um reflexo no manejo em campo. A autoimcompatibilidade dos canéforas cria uma exigência de que as lavouras formem uma verdadeira coleção de clones diferentes, plantados em linhas alternadas, para garantir a troca de grão de pólen de plantas entre os três grupos de compatibilidade. Antes de ter o conhecimento da compatibilidade, a recomendação era que o cafeicultor efetuasse o plantio de diversos clones em linhas alternadas para garantir uma boa produtividade. Com o lançamento dos novos híbridos em 2019, tudo mudou.

Com a definição de um protocolo viável para detectar o grupo de compatibilidade de cada clone, a Embrapa conseguiu disponibilizar ao setor produtivo variedades clonais individuais com características distintas quanto à produção, resistência a pragas e doenças e características físicas e sensoriais dos grãos. Agora, os cafeicultores vão poder escolher os clones que mais os interessam por suas características agronômicas e também sensoriais, assim como definir o arranjo espacial de forma a potencializar uma boa fecundação cruzada. Isso refletirá diretamente na produtividade e qualidade. A pesquisa entendeu a necessidade da cadeia produtiva e direcionou seus esforços para tratar o cafeicultor como cliente e parceiro em geração de tecnologias. Todo avanço em conhecimento é importante. Mas, se ele não atinge o público alvo é como se o ciclo não se fechasse por completo. Por isso tanto a sociedade quanto a comunidade científica precisam entender o seu papel na evolução tecnológica e, assim como a fecundação dos canéforas, precisam existir trocas de informação entre os diferentes grupos. Sem isso e sem o reconhecimento de importância mútua, não existe a geração de bons frutos.

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Esta característica, aliada ao porte alto, poderia ser um fator de exclusão dessa variedade em detrimento de outras com características combinadas mais interessantes. Então, por que isso não aconteceu? Sinal dos novos tempos para os canéforas brasileiros: a valorização da qualidade de bebida. A BRS 2314 passou com louvor em todos os testes de qualidade de bebida realizados em oito diferentes regiões do Estado de Rondônia. Obteve a impressionante nota média de 85 pontos para qualidade de bebida, segundo o Protocolo de Degustação de Robustas Finos. Além disso, apresentou-se com baixa variabilidade em diferentes ambientes produtivos e isso indica uma robustez interessante para as características de qualidade. Ao se analisar as nuances e atributos sensoriais da bebida dessa variedade para o padrão cereja natural temos: chocolate, caramelo, amêndoas e frutas. A expectativa é compreender o que novos processamentos, como as fermentações controladas, podem trazer e agregar a essa bebida naturalmente excelente.Constantemente em busca por novidades, os produtores de Robustas Amazônicos Finos buscam na Embrapa Rondônia materiais genéticos selecionados com atributos para qualidade de bebida. Apesar de existirem clones excelentes desenvolvidos pelos próprios produtores no estado, sem sombra de dúvidas, a BRS 2314 tem tudo para se tornar uma das preferidas dos cafeicultores e degustadores. É a ciência demonstrando que os melhores aromas e também sabores, podem vir em pequenos invólucros.

BRS 2314: o pequeno e notável Os novos híbridos lançados pela Embrapa Rondônia em 2019 trazem mais um belo exemplo de como as trocas entre ciência e sociedade podem ser benéficas para a evolução de ambos. A busca por canéforas de qualidade superior e finos aumentam anualmente e estes grãos são considerados a grande novidade da cafeicultura atual, despertando encantamento e curiosidade da indústria e consumidores. Este cenário fez com que houvesse uma nova forma de encarar o melhoramento de robustas. Os critérios de qualidade agora tem grande peso no momento de seleção das melhores plantas pela pesquisa. Fruto disso é a nova variedade clonal BRS 2314. Ela está classificada no grupo 2 de compatibilidade, possui porte alto, ciclo de maturação tardio, potencial produtivo superior a 100 sacas, resistência a ferrugem, pouco susceptível a cercosporiose e muito resistente a nematóides. Todas estas características faziam desse material genético um perfeito candidato a lançamento da Embrapa. 28

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Não fosse por um, literalmente, pequeno detalhe. A BRS 2314 tem peneira média 14, considerada baixa para o padrão robusta.

[*] Jornalista científica de Boston e produtora sênior do Story Collider. Ph.D. em Microbiologia e Imunobiologia pela Universidade de Harvard, e foi bolsista do AAAS Mass Media 2018 da revista Smithsonian em 2018

À esquerda grão da BRS 2336, com peneira 16; e à direita grão da BRS 2314, com peneira 14

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Mais de 90% da polinização do açaí é realizada por abelhas da Amazônia

Mais de 70 espécies de insetos transportam pólen de açaí. Porém, abelhas nativas carregam, pelo menos, oito vezes mais que os demais insetos. A polinização da planta é feita, majoritariamente (90%), por abelhas sem ferrão e solitárias da família Halictidae. Presença da floresta nativa é fundamental para manter a biodiversidade dos polinizadores. Descobertas são importantes para a cultura, pois afetam a produtividade e a própria reprodução da planta. O valor da polinização animal para a agricultura brasileira é estimado em R$ 43 bilhões anuais. por *Ana Laura Lima

Fotos: Cristiano Menezes, Marcia Motta Maués, Ronaldo Rosa

Visitantes florais

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A equipe de pesquisa, ao estudar o número de grãos de pólen de açaí transportados pelos insetos, descobriu que as abelhas nativas são o grupo de polinizadores mais eficaz

s abelhas nativas são os principais polinizadores do açaí (Euterpe oleracea). É o que afirma um estudo que acaba de ser publicado na revista científica Neotropical Entomology pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). O trabalho mostra que elas representam mais de 90% do trabalho de polinização nas flores da palmeira e são mais eficientes no transporte do pólen que os outros insetos, o que impacta diretamente na cadeia produtiva do açaí. O estudo foi realizado em oito áreas nos municípios paraenses de Barcarena e Abaetetuba. Foram analisadas quatro áreas manejadas de açaí de várzea e outras quatro de plantios em terra firme. Nos locais, foram coletados insetos

de 74 espécies diferentes que visitaram as flores da palmeira. Autora principal do artigo, a agrônoma da UFRA Leilane Bezerra conta que ao estudar o número de grãos de pólen de açaí transportados pelos insetos, a equipe descobriu que as abelhas nativas são o grupo de polinizadores mais eficaz.

Oito vezes mais pólen “Descobrimos que mais de 70 espécies de insetos, incluindo abelhas, moscas, vespas, formigas e besouros, transportam pólen de açaí. Mas as abelhas nativas, incluindo espécies sem ferrão (Meliponinae) e solitárias (como as da família Halictidae), carregam pelo menos oito vezes mais pólen do que os outros insetos e representam seis em cada dez visitas de insetos às flores de açaí”, revela.

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A pesquisa analisou todos os visitantes da palmeira durante a fase feminina, cujo período é de quatro a oito dias, no período de maior floração da palmeira, entre março e junho. Isso, segundo Maués, serviu para facilitar a identificação dos potenciais polinizadores, “pois apenas os insetos que transferem pólen para as flores femininas podem polinizar”, detalha. Ela explica que o açaí é uma espécie que depende de polinização cruzada entre flores masculinas e femininas em diferentes palmeiras. Ao buscarem alimento, os insetos carregam o pólen das flores masculinas para as femininas e é nesta última que acontece a polinização. “Todos são insetos visitantes, mas uns são coletores e outros, polinizadores. Nosso estudo focou no segundo grupo”, complementa. O primeiro resultado encontrado pelos cientistas foi que mais da metade (51%) dos 596 insetos visitantes coletados na palmeira são abelhas nativas. As abelhas sem ferrão representam 38%; as moscas são 16%; outras abelhas (solitárias e em sua maioria nativas) somam 13%; vespas, 12%; formigas, 8%; e 6% são besouros.

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ferrão do gênero Trigona, a arapuá (Trigona branneri Cockerell) e a olho-de-vidro (Trigona pallens Fabricius). As abelhas sem ferrão apresentaram ainda vantagens em relação às solitárias, como afirma Campbell. “Elas visitam com mais frequência as flores, quase sempre carregam pólen e possuem colônias mais populosas. São as espécies mais consistentes na polinização do açaí e podem ser criadas e manejadas”, detalha. O cálculo feito pelos cientistas considerou carga polínica e a frequência de visitas.

Nada substitui a floresta

De acordo com a bióloga Márcia Maués, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA), coautora do trabalho, até agora cientistas sabiam pouco sobre o percentual das contribuições dos diferentes grupos de insetos à polinização do açaí. Esse conhecimento, segundo ela, é fundamental para embasar recomendações aos agricultores sobre a polinização e manejo de polinizadores dessa palmeira tão importante para a economia do Pará e do Brasil. “A polinização é um processo essencial para a produção de sementes e frutos em três quartos dos cultivos globais. Mas para muitos cultivos tropicais como o açaí, o conhecimento sobre polinização ainda era limitado, dificultando o desenvolvimento de práticas agrícolas amigáveis para os polinizadores’”, comenta a cientista.

Campbell explica ainda que há pouco conhecimento sobre o manejo das abelhas solitárias e que muitas delas constroem seus ninhos no chão. No caso das abelhas Trigona, o manejo também não é fácil, pois, apesar de não terem ferrão, são agressivas e exigem mais cuidado. No entanto, existem outros meliponíneos que podem ser manejados. O cientista afirma que manter a floresta ao redor de plantios, contribuindo para a polinização natural, ainda é a melhor opção ao produtor. Inserir colmeias em áreas de açaí plantado em terra firme e em áreas manejadas de várzea é uma estratégia para aumentar a produção de frutos, especialmente quando há desmatamento no entorno, segundo Campbell. Porém, nada substitui a preservação da floresta na manutenção da biodiversidade. “A gente nunca vai conseguir reproduzir o esforço da floresta”, afirma o cientista. “Os resultados mostram que a produção de açaí depende de um conjunto diverso de abelhas para obter altas colheitas. Algumas delas podem ser manejadas em colmeias.

A etapa seguinte foi quantificar os grãos de pólen presentes no corpo de cada inseto, o que a pesquisa chama de carga polínica. Essa atividade revelou a média de dois grãos por animal, pois em 25% deles não foi detectado pólen. “Porém, encontramos abelhas solitárias que carregavam até cinco mil grãos de pólen em seu corpo. Era como se tivesse mergulhada em farinha”, compara o biólogo Alistair Campbell, pesquisador visitante em atuação na Embrapa Amazônia Oriental.

As mais eficientes O estudo comprovou que as abelhas nativas representam mais de 90% da polinização do açaí, e entre elas estão as sem ferrão (60%) e as solitárias (35%). Das quatro espécies nativas que se destacaram na carga polínica e abundância nas flores, duas são abelhas solitárias dos gêneros Augochloropsis e Dialictus; e outras duas espécies sem

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Mas é importante que os produtores mantenham florestas preservadas perto das áreas de produção para promover polinizadores silvestres e a alta produção de frutos”, reforça o biólogo Cristiano Menezes, da Embrapa Meio Ambiente, coautor do trabalho. Ele diz ainda que os produtores podem investir em polinizadores manejados, mas isso envolve custos de compra de colmeias e manutenção de colônias. “Ainda assim os polinizadores silvestres presentes na floresta são mais eficientes. É melhor ter áreas menores de açaí cercadas por florestas que produzem mais frutos por touceira do que plantações maiores que produzem muito menos”, conclui Menezes.

“O valor total da polinização animal para a agricultura brasileira é estimado em R$ 43 bilhões por ano. E nos trópicos, 90% das plantas com flores dependem, pelo menos parcialmente, de polinizadores para produzir seus frutos e sementes”, afirma Maués. Para chegar ao estudo recente, a equipe de pesquisadores vem trabalhando desde 2016. Maués conta que são nove projetos que estudam as abelhas e polinização, financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (Abelha). “Trata-se do primeiro edital do CNPq com aporte de parcerias público-privadas. Entre os objetivos do projeto está o estudo do papel das abelhas na polinização de diferentes espécies frutíferas e arbóreas e o impacto na produtividade de plantios e de áreas manejadas”, conta Maués, coordenadora do trabalho.

Produtor teve mais produtividade e maior rendimento de polpa

Grãos de pólen do açaizeiro no microscópio. Imagem feita por Marcia Motta Maués

Serviço de alto valor Os autores reforçam a necessidade de mais pesquisas sobre a polinização do açaí para transformar essas descobertas em práticas agrícolas que protejam a biodiversidade e o bem-estar humano.

Que o açaí é um bom negócio não é novidade. Mas manejar abelhas sem ferrão nos plantios foi a inovação que o produtor Fernando Miranda buscou na Embrapa. Ele possui um plantio de 12 hectares de açaí no município de Santa Bárbara, na Região Metropolitana de Belém (PA). Quando iniciou sua produção de açaí, Miranda buscou técnicas e ações que pudessem aumentar a produtividade de sua área. “Passei a me interessar pela polinização realizada pelas abelhas sem ferrão e, em dezembro de 2017, realizei um treinamento na Embrapa sobre a criação e manejo desses insetos”, conta.

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BRS Pai d’Égua - cultivar de açaizeiro irrigado de terra firme

Ele lembra que teve dificuldade de encontrar fornecedores de colônias em caixas específicas. ”Por isso, optei por realizar um trabalho de identificação das espécies que ocorriam naturalmente no meu açaizal e manter a preservação das colônias”, relata. Foi assim que se estabeleceu a parceria do agricultor com a Embrapa. Os técnicos da instituição passaram a avaliar a área de Miranda e a realizar estudos no local, onde foi instalado um meliponário. “Os resultados são, sem dúvida alguma, muito animadores”, comemora o produtor. Ele diz que houve um aumento na quantidade da produção de frutos de aproximadamente 30% quando a plantação foi exposta às novas colônias trazidas pela Embrapa. Além disso, as palmeiras passaram a produzir frutos com mais qualidade e melhor rendimento de polpa. [*] Embrapa Amazônia Oriental

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É o primeiro estudo em grande escala que utiliza microrganismos cultiváveis e não cultiváveis de sedimentos da Bacia Amazônica

Novos microrganismos de interesse econômico são encontrados em rios amazônicos

Mais de 6 mil km de rios amazônicos foram percorridos para coletar sedimentos dos quais foram extraídos os microrganismos. Foram selecionados fungos e bactérias de interesse agrícola capazes de combater fitopatógenos e disponibilizar nutrientes para as plantas. Enzimas produzidas por eles podem ser úteis também em indústrias como a têxtil, alimentícia e papeleira por *Síglia Souza

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ientistas da Embrapa, em Manaus (AM), estão realizando pesquisas com microrganismos coletados de sedimentos de rios amazônicos e identificaram bactérias e fungos com potencial biotecnológico. Esses pequenos seres podem gerar valiosas moléculas para uso médico e agrícola ou para aplicação em processos industriais, segundo explica o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Gilvan Ferreira da Silva, que coordena o trabalho. Ele destaca que esse é o primeiro estudo em larga escala utilizando microrganismos cultiváveis e não cultiváveis presentes nos sedimentos da Bacia Amazônica. Segundo o cientista, o trabalho combina diferentes ferramentas em uma pesquisa multidisciplinar integrando microbiologia,

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Fotos: Arte de Lúcio Cavalcanti, Felipe Santos da Rosa, Ingride Jarine Santos da Silva, e Siglia Souza

química e genômica (sequenciamento de genomas completos, edição gênica e metagenômica). “O interesse não está apenas na identificação de microrganismos com potencial biotecnológico”, esclarece o pesquisador, acrescentando que para o grupo é importante fazer a identificação química das moléculas com bioatividade e identificar os genes e vias de biossíntese desses compostos. Com isso, será possível maximizar a produção dos compostos de interesse por meio da edição gênica. Após a coleta, a equipe do Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Amazônia Ocidental realizou a análise de mais de mil microrganismos obtidos dos sedimentos dos rios. No Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) está sendo realizado o isolamento

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dos microrganismos cultiváveis e as extrações de DNA para estudos de metataxonomia e metagenômica funcional. Estima-se que apenas 5% dos microrganismos são cultiváveis. Para eles, a meta para este ano é obter o genoma completo de mais de 60 bactérias já selecionadas. Silva informa que no caso dos microrganismos não cultiváveis (aqueles incapazes de crescer em meio de cultura) e que são a maioria da microbiota, o projeto pretende extrair o DNA dos sedimentos e, por meio de diferentes plataformas de sequenciamento, obter os genomas ambientais e por eles identificar genes e vias metabólicas. O grupo vem ganhando expertise na análise de genomas voltados para produção de metabólitos secundários.

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Silva informa que os microrganismos foram selecionados de acordo com a atividade que apresentam. “Os mais promissores estão sendo identificados por meio da morfologia e da filogenia molecular”, acrescenta ele.

Possível aplicação agrícola e no setor têxtil

À procura de moléculas com ação antiparasitária e anticâncer No ano passado, foi realizado o sequenciamento de nove genomas completos de fungos isolados da Amazônia com potencial biotecnológico, dos quais cinco são novas espécies. Esses genomas estão em análise para identificação das vias metabólicas relacio-

nadas à produção de moléculas de interesse, principalmente de ação antimicrobiana, antiparasitária e anticâncer. Além de contribuir para o estudo da biodiversidade amazônica e identificação de novas espécies de microrganismos, a pesquisa está permitindo a capacitação e maior domínio no uso de tecnologias de ponta na biologia molecular e também o avanço para resultados com aplicação prática para diversos segmentos industriais.

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Alguns têm atividade antimicrobiana contra fitopatógenos de interesse agrícola. Como exemplo, foram selecionados produtores de moléculas antimicrobianas com potencial de aplicação em diversas cadeias produtivas da agricultura, como no controle de fitopatógenos para as culturas do guaranazeiro, fruteiras amazônicas (cupuaçu, cacau) e hortaliças. O controle de doenças em culturas agrícolas, por exemplo, é capaz de melhorar a produção e renda de pequenos e grandes agricultores e também reduzir o uso de defensivos químicos com consequentes impactos positivos ao meio ambiente e à saúde humana. Foram selecionados microrganismos que agem na produção de enzimas, como protease, amilase, lipase e celulase, que por sua vez têm aplicação em diversas indústrias. As celulases são usadas para amaciamento de fibras de jeans e para a indústria de celulose e também para uso no bioetanol. Já a lipase, além de aplicação no setor têxtil, também são usadas na produção de detergentes, indústria do couro e flavorizantes para alimentos. A amilase é utilizada na indústria alimentícia e a protease tem várias aplicações, como na produção de detergentes e biodiesel.

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Também foram selecionados microrganismos que agem na produção de sideróforo (moléculas quelantes de íons férricos que permitem assimilação de ferro do solo). Essas moléculas de sideróforo formam ligações estáveis com o ferro, permitindo torná-lo solúvel e transportá-lo para locais de interesse. Foram encontrados ainda microrganismos que agem na solubilização de fosfatos, ou seja, permitem a disponibilização do fósforo, que se encontra normalmente em sua forma insolúvel nos solos. Essas atividades são importantes para disponibilizar nutrientes para as plantas. Silva destaca que nesses estudos está sendo adotada a integração de técnicas de ponta, como sequenciamento em larga escala para a obtenção de genomas completos e a edição gênica via CRISPR-CAS9, combinada à identificação química das moléculas produzidas pela microbiota amazônica. “Essa integração permite avançar na análise funcional das rotas bioquímicas relacionadas às moléculas de interesse e na obtenção de linhagens de microrganismos superprodutores de moléculas de alto valor, assim como em estudos de ponta integrando genômica e química”, explica. A futura aplicação desses resultados servirá ao desenvolvimento de bioprodutos com base na microbiota amazônica. Além disso, o trabalho tem importância científica, permitindo avanços nas áreas de biologia molecular, química e genômica aplicadas à microbiologia.

Esforço conjunto para prospectar bioativos amazônicos A realização desse trabalho na Embrapa Amazônia Ocidental (AM) conta com mais de 20 estudantes, entre bolsistas de pós-doutorado, doutorado, mestrado e graduação, que atuam no Laboratório de Biologia Molecular, coordenados pelo pesquisador Gilvan Ferreira da Silva (foto à direita).

Após a coleta, a equipe do Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Amazônia Ocidental realizou a análise de mais de mil microrganismos obtidos dos sedimentos dos rios

A pesquisa é realizada em parceria com mais de dez instituições nacionais e estrangeiras. As atividades começaram por meio do projeto “Microoma - Microbiomas Amazônicos: uma abordagem para sustentabilidade e prospecção de bioativos”, que realizou pesquisas visando à identificação de moléculas e vias metabólicas

Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Gilvan Ferreira da Silva, que coordena o trabalho, os microrganismos podem gerar valiosas moléculas para uso médico e agrícola ou para aplicação em processos industriais

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relacionadas à produção de compostos de interesse biotecnológico. E a partir desse trabalho com os sedimentos amazônicos foram articulados outros projetos de pesquisa, com a liderança da Embrapa Amazônia Ocidental e participação de sete instituições brasileiras de ensino: Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Sudoeste do Pará (Ufopa), Universidade Federal de Viçosa (UFV), além da universidade alemã Technische Universität München (TUM), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de outras duas unidades da Embrapa: Informática Agropecuária e Agroindústria Tropical. O projeto é apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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Fungo da Amazônia melhora crescimento e desenvolvimento de soja

Resultado reforça a importância da Amazônia para a bioeconomia como fonte de matérias-primas valiosas. Descoberta pode dar origem a biofertilizante. Microrganismo atua disponibilizando às plantas o fósforo presente no solo. Ação reduz aplicações de fertilizantes fosfatados na lavoura. Além da economia para o produtor, tecnologia é capaz de ajudar o Brasil a diminuir dependência de importação fósforo fertilizante. Traz mais sustentabilidade ambiental por reduzir riscos de carreamento de fósforo para corpos d’água por *Cristina Tordin A floresta amazônica também abriga uma vasta diversidade microbiológica. É uma fonte valiosa de bioprospecção de fungos e de produtos gerados por eles

Fotos: André Minitti, Antônio Carlos Pereira Góes, Laura Bononi, Maurício Meyer, Neide Furukawa

O microrganismo solubiliza o fósforo presente no solo, permitindo que esse mineral possa ser absorvido facilmente pela planta. Como consequência, a soja cresce mais rápido e o produtor pode economizar na aplicação desse nutriente. Além da economia ao produtor, seu uso reduz riscos de carreamento do fósforo para corpos d’água, proporcionando sustentabilidade à produção. A descoberta pode dar origem a um biofertilizante, em formato de inoculante, para importantes culturas agrícolas.

Os bioinoculantes de Trichoderma são formulados à base de estruturas do fungo, geralmente por esporos. Sua aplicação é por meio do tratamento de sementes ou diretamente aplicado ao solo. São utilizados em diversas culturas de importancia econômica, beneficiando a germinação e o crescimento inicial das plantas. O uso crescente de fertilizantes minerais tem contribuído para reduzir a saúde do solo, causando contaminação. Assim, os biofertilizantes à base de microrganismos benéficos podem anular esses problemas, e também reduzir os custos de produção.

O produto a base do fungo Trichoderma pode ser aplicado em diferentes culturas agrícolas. Tem o potencial de colonizar o sistema radicular e a rizosfera, requisito básico para que o microrganismo se estabeleça e promova o crescimento das plantas, aumentando o suprimento de fósforo

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m fungo que ocorre no solo da Floresta Amazônica revelou ser um importante estimulante do desenvolvimento de plantas. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) avaliaram mais de mil linhagens do fungo Trichoderma aplicadas em conjunto com duas fontes de fósforo, e constataram que muitas delas promovem o crescimento de plantas de soja. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports do grupo Nature.

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O produto à base do fungo Trichoderma pode ser aplicado em diferentes culturas agrícolas, desde hortaliças a grandes culturas como soja, milho e feijão. Além do mais, tem o potencial extraordinário de colonizar o sistema radicular e a rizosfera, requisito básico para que o microrganismo se estabeleça e promova o crescimento das plantas, aumentando o suprimento de fósforo. “Para futuro produtos, a escolha da tecnologia de aplicação do fungo dependerá do desenvolvimento de formulações. Nesse caso, ainda não dispomos de uma formulação padronizada”, explica o pesquisador da Embrapa Itamar Melo. “Temos, sim, um método eficiente de produção de esporos. Linhagens desse fungo, aqui estudadas, esporulam muito rapidamente, entre três e seis dias em meios de cultivo naturais, uma vantagem adicional aos produtos ora disponíveis no mercado. Algumas ações inovadoras quanto ao desenvolvimento de um eficiente biofertilizante seriam potencializar a associação de linhagens da mesma espécie fúngica com funções específicas para promoção do crescimento de plantas, melhoramento da estruturação e saúde do solo e controle de patógenos habitantes do solo”.

A descoberta pode dar origem a um biofertilizante, em formato de inoculante, para importantes culturas agrícolas

A importância do fósforo O cientista explica que o nitrogênio e o fósforo são os nutrientes que mais limitam a produção agrícola e são essenciais no desenvolvimento inicial das plantas. Porém, os solos brasileiros possuem, naturalmente, baixa quantidade desse elemento, o que exige aplicações de fosfato em grandes quantidades.

A pesquisa Plantas de soja inoculadas com linhagens selecionadas de Trichoderma foram cultivadas no solo com fosfato de rocha e superfosfato triplo. Os pesquisadores observaram um aumento de mais de 40% na biomassa das plantas inoculadas com o microrganismo. E a eficiência da absorção de fósforo pelas plantas foi elevada em até 141% em comparação ao grupo que não contou com o Trichoderma sp. A bióloga Laura Bononi, que utilizou a pesquisa em seu doutorado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), revela que o fungo foi capaz de produz diferentes ácidos orgânicos durante o processo. “Esses ácidos são importantes para liberar o fósforo retido em óxidos de ferro e alumínio, ou seja, de converter o fosfato presente no ambiente em fosfatos di ou monobásicos, que estão prontamente disponíveis para a absorção”, conta a bióloga, que foi orientada por Melo. O fósforo exerce funções vitais em todas as fases do desenvolvimento das plantas e sua deficiência pode reduzir o crescimento e a produtividade de muitas culturas agrícolas. Solos ácidos, bastante comuns no Brasil, retêm rapidamente esse mineral aplicado como fertilizante e não o deixam disponível para as plantas. “O uso de microrganismos solubilizadores de fosfato é uma estratégia sustentável e promissora para gerenciar essa deficiência em solos agrícolas”, afirma Melo, ressaltando que essa tecnologia permite aproveitar o uso de diferentes tipos de fosfatos de rochas oriundos de minas brasileiras. Atualmente, esses fosfatos são pouco aplicados como fertilizantes, o que faz o País importar esse insumo.

Amazônia, celeiro de espécies Além da vasta biodiversidade vegetal e animal, a Floresta Amazônica também abriga uma vasta diversidade microbiológica. Os fungos, em especial, participam do constante processo de degradação da biomassa gerada no bioma, o que faz da Amazônia uma fonte valiosa de bioprospecção desses microrganismos e de produtos gerados por eles. A aplicação de microrganismos como biofertilizantes é uma abordagem promissora para auxiliar na produção agrícola. Essas aplicações contribuíram para o crescimento de várias espécies de culturas, aumentaram a biomassa das plantas e o conteúdo total de fósforo e participaram da ciclagem de fósforo sem afetar o meio ambiente. No ano passado, o Brasil lançou seu primeiro inoculante voltado a solubilizar o fósforo. Fruto de parceria entre Embrapa e a empresa Bioma, o BiomaPhos resulta da ação de duas bactérias e é voltado à cultura do milho.Os solos agrícolas e de pastagem são compostos por comunidades maiores desses microrganismos envolvidos na disponibilidade de fósforo. Eles são essenciais para fornecer o nutriente que é retido no solo para as plantas por meio dos processos de mineralização e solubilização. Os fungos têm vantagem sobre as bactérias pois conseguem manter um agregado no solo proporcionado pelo crescimento de suas hifas (filamentos). Dessa forma, ele auxilia a planta na aquisição de nutrientes, água e protege do ataque de fitopatógenos.

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O fósforo está associado a três processos bioquímicos fundamentais: produção de energia, respiração e fotossíntese. Ele também participa de processos enzimáticos e compõem estruturas das células vegetais, como os ácidos nucléicos e as membranas celulares. Embora exista uma grande quantidade de fósforo no solo, sua baixa disponibilidade para as plantas é um dos principais obstáculos à produtividade agrícola. As lavouras só conseguem absorver entre 10% e 40% do total do mineral aplicado ao solo. Esse fenômeno é devido a um alto grau de reatividade que ocorre entre o fósforo e os constituintes do solo, causando a fixação do mineral ou a sua precipitação com as partículas do solo, tornando-o indisponível para a absorção das plantas. Milho, soja e cana-de-açúcar são as culturas que recebem a maior parte dos fertilizantes fosfatados empregados no Brasil.

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A Embrapa estima que aproximadamente dez milhões de hectares de cultivo de soja estejam infestados pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, que provoca o mofo-branco

Trichoderma para controlar o mofo-branco em soja Entre as várias espécies presentes na natureza, o Trichoderma harzianum é a mais comumente empregada no controle biológico de doenças de plantas, prevalecendo em restos vegetais em várias regiões geográficas. “O Trichoderma tem importante mecanismo de ação sobre patógenos que atacam culturas agrícolas importantes como Fusarium spp. (podridão vermelha da raiz), Sclerotinia sclerotiorum (mofo-branco) e Rhizoctonia solani (podridão radicular)”, explica o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja.

A Embrapa estima que aproximadamente dez milhões de hectares de cultivo de soja estejam infestados pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, que provoca o mofo-branco (foto à direita). Essa doença se manifesta com maior severidade em anos chuvosos, temperatura amena e constante umidade do solo. A principal forma de infecção das plantas pelo fungo ocorre preferencialmente nas pétalas de soja, que servem de substrato para o fungo no início da infecção, antes de atingir hastes e pecíolos. A doença atrapalha o desenvolvimento da planta e reduz produtividade. O Trichoderma tem sido empregado com sucesso como agente de controle biológico do Sclerotinia na soja. Para isso, é necessário um condicionamento de solo para promover o máximo de colonização pelo Trichoderma e, assim, reduzir o potencial da doença na área. Meyer ressalta que o controle biológico é importante, pois somente a adoção do controle químico não é suficiente para um bom manejo do mofo-branco na sojicultura, é necessário a integração de práticas. “Temos que considerar que mesmo com a maior eficiência de controle químico, ainda ocorre produção de inóculo. Por isso, as demais medidas de manejo devem ser adotadas em conjunto, para inviabilizar a manutenção do fungo durante a entressafra”, explica. O pesquisador reforça a importância do condicionamento de solo pelo sistema de semeadura direta sobre palha de gramíneas. “A palhada funciona como filtro, evitando que os esporos de S. sclerotiorum atinjam as plantas de soja e iniciem a infecção.

A principal forma de infecção das plantas pelo fungo causador do mofo-branco ocorre nas pétalas de soja, que servem de substrato para o fungo no início da infecção, antes de atingir hastes e pecíolos. A doença atrapalha o desenvolvimento da planta e reduz produtividade

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Outros benefícios da palhada sobre o solo são o aumento da matéria orgânica, que serve de substrato para o Trichoderma, e a manutenção de umidade e redução da temperatura superficial do solo, condições fundamentais para o estabelecimento do agente de controle biológico”, destaca.

O fungo As cepas de Trichoderma têm sido um dos fungos mais estudados para melhorar a produção e o desenvolvimento de várias espécies de culturas, principalmente devido à sua capacidade para associações simbióticas e de controle de doenças das raízes. Trichoderma é comumente estudado para o controle de fitopatógenos e como biofertilizante, uma vez que está envolvido na colonização da rizosfera, na produção de substâncias antifúngicas e de fitohormônios, atributos que o tornam um dos mais bem sucedidos agentes de biocontrole de doenças de plantas. Ele tem um papel crucial na hidrólise da matéria orgânica do solo, principalmente a celulose, melhorando sua estruturação. Além disso, é de fácil isolamento, de crescimento rápido e capaz de se desenvolver em diferentes substratos, e de produzir uma grande quantidade de metabólitos, como antibióticos e auxinas. [*] Agência FAPESP

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Roçado tradicional com plantação de mandioca

Cultivos e plantas alimentícias indígenas no Acre

Pesquisa identifica quatro sistemas agrícolas e 115 espécies comestíveis em terra indígena por *Fabiano Estanislau

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s Kaxinawá têm uma agricultura que dialoga muito mais com a floresta do que a convencional. Conhecer todo esse processo é uma oportunidade de gerar soberania alimentar e uma agricultura sustentável para Amazônia”, conclui o pesquisador Tomaz Lanza. Seu estudo de doutorado registrou os modos de cultivo, de uso da terra e espécies alimentícias consumidas pelo povo Huni Kuin, também conhecido como Kaxinawá. A pesquisa foi desenvolvida no programa de pós-graduação em Agronomia da Unesp em parceria com a Embrapa Acre.

Fotos: Embrapa, Tomaz Lanza

Os dados foram coletados entre os anos de 2016 e 2020 na Terra Indígena (TI) Kaxinawá de Nova Olinda, localizada no Alto Rio Envira, no município de Feijó, interior do Acre. Lanza realizou visitas de campo nas áreas de produção agrícola e entrevistas com indígenas de ambos os sexos, desde jovens a idosos. Também fez um diagnóstico socioeconômico da comunidade, a fim de compreender

a forma com que o conhecimento vem sendo difundido entre as diferentes famílias no decorrer do tempo. A maior parte das pessoas que trabalham com agricultura são jovens entre 18 e 40 anos e a média das famílias é composta por três filhos. Com as conversas e com outras técnicas de observação, elaborou um calendário de sazonalidade de produção das plantas alimentícias silvestres. De acordo com o pesquisador, uma das motivações para o trabalho é dar visibilidade a essas experiências que são transmitidas pela oralidade de geração para geração. “Esses indígenas fazem agricultura há séculos, estão aí, resistindo, se alimentando bem. Não vi problemas de desnutrição, de falta de alimento. Uma agricultura ancestral muito produtiva, diversificada e com certeza se eles continuarem nesse processo, terão muito alimento”.

Sistemas e espécies cultivadas Para a realização do inventário, Lanza fez quatro viagens e 35 entrevistas com famílias que trabalhavam com agricultura nas cinco aldeias que compõem a TI Kaxinawá de Nova Olinda. As incursões duravam entre 15 e 30 dias e contavam com apoio e participação efetiva dos indígenas. O estudo identificou quatro sistemas de cultivo principais: corte e queima, ou roçado, que envolvem as culturas de ciclo curto como milho e macaxeira, cultivados em área de capoeira ou mata virgem; agricultura de praia, atividade peculiar entre os Kaxinawá, com plantações de amendoim, melancia e feijão; os bananais às margens do rio, onde predominam solo argiloso; e os quintais agroflorestais ao redor das casas, compostos principalmente por espécies frutíferas.-

Tomaz Lanza subindo o rio Envira para chegar à TI Kaxinawá de Nova Olinda

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De acordo com o coordenador do projeto e pesquisador da Embrapa Acre Moacir Haverroth, a grande variedade de espécies agrícolas cultivadas no Acre acontece devido à diversidade de povos indígenas presentes no estado, que conta com 16 etnias. “Essa inter-relação entre diversidade étnica cultural e biodiversidade do ambiente cria uma série de formas de lidar com a natureza das relações entre as populações locais e o ambiente em que eles vivem”, conta o pesquisador que atuou também como co-orientador do estudo.

Ao todo, foram encontradas 115 espécies vegetais comestíveis, sendo que 50 delas são cultivadas nesses sistemas agrícolas. Algumas espécies ganham destaque pelo número de variedades identificadas: 20 de banana, 19 de mandioca e 11 de milho. Em relação às plantas alimentícias silvestres, existentes na mata, foram catalogadas 65 espécies que são utilizadas e manipuladas por meio extrativismo. “A maioria dessas plantas são árvores de grande porte, principalmente as palmeiras. Percebi que eles não fazem grandes colheitas pois costumam consumir os frutos no dia a dia durante as caçadas e andanças nas trilhas”, explica. Lanza acredita que a variedade de espécies contribui para a soberania alimentar da comunidade pesquisada, por meio de uma agricultura diversificada e resiliente. Alguns alimentos são provenientes da cidade, mas a maior parte da alimentação é oriunda dos roçados cultivados pelos próprios indígenas.“O caminho de desenvolvimento agrícola da Amazônia passa pela diversificação dos sistemas agroflorestais, principalmente nesse momento em que culturas de grande escala estão entrando na Amazônia, como a soja e a cana”, conclui.

Parcerias O projeto de doutorado é fruto de cooperação entre a Unesp, a Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Embrapa, por meio do projeto “Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda - Fase II”.

Variedades de Taioba

Para o professor da Unesp e orientador da pesquisa, Lin Chau Ming, os sistemas agrícolas indígenas contribuem para a conservação da agro biodiversidade local, e sua disponibilização para as futuras gerações. “No Brasil, há vários tipos de agricultura e a indígena seguramente oferece informações agronômicas importantes para uma agricultura mais limpa e ambientalmente mais adequada”, avalia. Entre 2011 e 2019, a Embrapa desenvolveu ações de pesquisa e transferência de tecnologias na TI Kaxinawá. O trabalho realizado nas aldeias, envolveu diversas equipes compostas por profissionais de diferentes áreas do conhecimento com foco na gestão territorial e ambiental, oferta de alimentos, conservação dos recursos genéticos, valorização da cultura local e dos serviços ecossistêmicos prestados à luz da legislação específica do Estado do Acre. Mamão Jacaré

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Inspirados por um botânico japonês, esses mantos de espécies mistas podem absorver mais carbono do que as florestas de coníferas

Pessoas estão plantando pequenas florestas urbanas para aumentar a biodiversidade e combater as mudanças climáticas Resultado reforça a importância da Amazônia para a bioeconomia como fonte de matérias-primas valiosas. Descoberta pode dar origem a biofertilizante. Microrganismo atua disponibilizando às plantas o fósforo presente no solo. Ação reduz aplicações de fertilizantes fosfatados na lavoura. Além da economia para o produtor, tecnologia é capaz de ajudar o Brasil a diminuir dependência de importação fósforo fertilizante. Traz mais sustentabilidade ambiental por reduzir riscos de carreamento de fósforo para corpos d’água por *Alex Thornton

A

s florestas urbanas em miniatura plantadas usando um método inventado por um botânico japonês na década de 1970 estão crescendo em popularidade. Copas densas repletas de biodiversidade podem prosperar em áreas do tamanho de uma quadra de tênis.

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Fotos: HT Photo, Shrey Gupta, Unsplash / DesignEcologist

Conhecidas como florestas ‘Miyawaki’, as árvores crescem mais rapidamente e absorvem mais CO2 do que as plantações cultivadas para madeira. Quanto espaço você acha que precisa para cultivar uma floresta? Se sua resposta for maior que algumas quadras de tênis, pense novamente.

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Florestas em miniatura estão surgindo em áreas urbanas ao redor do mundo, frequentemente plantadas por grupos comunitários locais, usando um método inspirado nos templos japoneses.A ideia é simples - pegue áreas de campo, plante-as densamente com uma grande variedade de mudas nativas e deixe-as crescer com intervenção mínima.

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A floresta perto de Yamuna cresceu consideravelmente desde 2018

O resultado, de acordo com os proponentes do método , são ecossistemas complexos perfeitamente adequados às condições locais que melhoram a biodiversidade, crescem rapidamente e absorvem mais CO2. O método é baseado no trabalho da botânica japonesa Akira Miyawaki .

Ele descobriu que as áreas protegidas ao redor de templos, santuários e cemitérios no Japão continham uma enorme variedade de vegetação nativa que coexistia para produzir ecossistemas resilientes e diversos. Isso contrastava com as florestas de coníferas - árvores não indígenas cultivadas para madeira - que dominavam a paisagem.

Seu trabalho se desenvolveu no método Miyawaki - uma abordagem que prioriza o desenvolvimento natural das florestas usando espécies nativas. As florestas de Miyawaki podem se transformar em ecossistemas maduros em apenas 20 anos - surpreendentemente rápido quando comparado aos 200 anos que uma floresta pode levar para se regenerar por conta própria. Eles atuam como oásis de biodiversidade, sustentando até 20 vezes mais espécies do que florestas não nativas e manejadas. Polinizadores locais como borboletas e abelhas, besouros, caracóis e anfíbios estão entre os animais que prosperam com uma maior diversidade de comida e abrigo. Esverdear espaços urbanos em todo o mundo. A popularidade das florestas de Miyawaki está crescendo, com iniciativas na Índia , na Amazônia e na Europa. Projetos como Florestas Urbanas na Bélgica e França e Tiny Forest na Holanda, estão reunindo voluntários para transformar pequenos trechos de terreno baldio. [*] Escritor Sênior, Conteúdo Formativo [**] Em Plataforma de Ação COVID do Fórum Econômico Mundial

Recriar ecossistemas salvos pelo homem As florestas que emergem graças a Akira Miyawaki são assim diferenciadas das florestas obtidas por um método convencional de reflorestamento por três aspectos principais: Um desenvolvimento 10 vezes mais rápido, graças à emulação criada entre as plantas; Uma densidade 30 vezes superior , que permite absorver uma maior quantidade de CO2; Uma biodiversidade 100 vezes maior , graças à densidade da vegetação que não permite ao homem acessar a floresta.

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Protegendo a terra

Poços de carbono, santuários naturais de animais ... As florestas do Dr. Miyawaki também são milagrosas em sua capacidade de proteger a terra, melhor do que qualquer muralha construída por humanos, contra desastres naturais. Após o terremoto de Fukushima em 2011, o botânico observa que alguns templos costeiros foram poupados da fúria das ondas graças às florestas primárias que os protegiam. No Japão, o Dr. Miyawaki comprometeu-se a erguer as paredes das árvores contra os tsunamis. Suas florestas, espalhadas por todo o país, são projetadas para limitar os efeitos das marés costeiras ou ciclones no porto de Yokohama, ou para limitar a erosão do solo.

Restaurando florestas tropicais Mas sua ação excede o único Japão: no total, o Dr. Miyawaki plantou mais de 40 milhões de árvores em mais de quinze países, como Tailândia, Brasil ou China. Desde 1990, ele trabalha para restaurar florestas tropicais muito degradadas, como Bintulu, na Malásia. Honrado com dez prêmios, incluindo o Blue Planet Award em 2006 por seu envolvimento na conservação da natureza, ele continua trabalhando por um mundo melhor, uma árvore de cada vez.

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Neutralizando suas emissões de GEEs

Fazendas podem neutralizar todas as suas emissões de GEEs destinando apenas 15% de sua área à ILPF. Sistema integrado foi capaz de neutralizar emissões de metano e de óxido nitroso, gases produzidos na pecuária por *Juliana Caldas

Fotos: Gabriel Faria, Lílian Alves, Paula Moreira, Kelem Cabral

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sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) implantado em apenas 15% da área de produção já é o suficiente para compensar todas as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) gerados pelos animais e pela pastagem, deixando um saldo positivo de carbono na fazenda. Esse resultado foi registrado em pesquisas conduzidas pela Embrapa Cerrados (DF), e comprovou que a produção de animais, árvores e lavouras/pastagem em um mesmo local tem um elevado potencial de gerar saldos positivos de carbono. O estudo procurou averiguar a capacidade de o sistema ILPF compensar os GEEs emitidos pela atividade agropecuária, principalmente pela pecuária. O estudo utilizou duas áreas experimentais, com medições de balanço de carbono. Publicados em circular técnica, os resultados mostram que o componente arbóreo é fundamental para aumentar o estoque de carbono na propriedade. Um sistema de ILPF com uma população de 417 árvores de eucalipto por hectare distribuídas na forma de renques (linhas) em apenas 15% da área da propriedade tem potencial para neutralizar as emissões de metano (CH4), produzido por fermentação entérica dos bovinos, e de óxido nitroso (N2O), proveniente do solo e das excretas (urina e fezes) dos animais. “Para que haja a compensação das emissões de gases de efeito estufa, uma propriedade com mil hectares de pastagem, por exemplo, deve destinar 150 ha ao sistema ILPF com 417 árvores/ha e taxa de lotação de 1,7 cabeça/ha”, detalha o pesquisador da Embrapa Kleberson de Souza. Caso o sistema seja de integração lavoura-pecuária (sem as árvores), o produtor teria de destinar 850 hectares da mesma propriedade para conseguir a neutralização das emissões, considerando uma taxa de lotação de três cabeças por hectare.

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O especialista observou também que a quantidade de árvores pode ser menor, desde que o sistema ILPF seja adotado na área total de produção. Nesse caso, é possível manter aproximadamente 70 árvores por hectare, com taxa de lotação de 1,7 cabeça/ha, isto é, 0,7 unidade animal (UA). A taxa de lotação diz respeito ao número de unidades animais (UA) que pode ser colocado por hectare e cada UA corresponde a 450 kg de peso vivo. Os estudos foram realizados em experimento com ILPF implantado em 2009 na Unidade da Embrapa localizada em Planaltina (DF).

Na área, foram feitas as medições de emissão de gases do solo, emissão de metano (CH4) por fermentação entérica dos animais e estoque de carbono do solo e da biomassa vegetal. As excretas dos animais emitem óxido nitroso (N2O) após serem depositadas no solo e, por isso, contribuem para aumentar as emissões de gases de efeito estufa na atividade pecuária. Embora tenha menor concentração na atmosfera, o óxido nitroso apresenta potencial de impacto 310 vezes maior quando comparado ao dióxido de carbono (CO2), além do tempo de permanência na atmosfera, de 150 anos.

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Na fase de implantação do sistema (fase silviagrícola), durante a consorciação do eucalipto com cultivos agrícolas, a interferência do componente florestal foi baixa e as emissões de óxido nitroso (1,06 kg de N2O/ha) foram atribuídas ao cultivo de grãos (soja e sorgo). Já a pastagem na fase silvipastoril (componentes pecuário e florestal integrados) do sistema ILPF emitiu anualmente 1,02 kg de N2O e o sistema ILP, 1,42 kg de N2O. Por outro lado, as emissões de metano entérico (CH4), após dois anos de estabelecimento do experimento, foi de 2.672 kg de carbono-equivalente por hectare por ano para o sistema de ILPF, e de 4.072 para o sistema de ILP. As emissões de metano no sistema de produção podem variar de acordo com a taxa de lotação da área e a qualidade da pastagem ingerida pelos animais. Em área com sistema ILPF, a taxa de lotação é menor que em área sem árvores (sistema ILP). Portanto, a tendência é que haja, nesses casos, menor emissão desse gás. No experimento em que foram realizadas as análises, a taxa de lotação na ILPF foi de 1,7 cabeça/ha (1,1 UA-unidade animal), o que culminou em uma emissão de 2.000 kg de CO2eq/ha ao ano na forma de CH4. Já na área de ILP, a taxa de lotação foi de três cabeças/ha (2,0 UA-unidade animal), proporcionando uma emissão de 3.400 kg CO2eq/ha ao ano na forma de CH4.

A importância das árvores no balanço Os estudos comprovaram que para que se tenha um saldo positivo significativo de carbono é preciso que o componente florestal seja inserido no sistema de produção agrícola. Isso porque as árvores têm grande capacidade de armazenar carbono. “São menos comuns os casos em que os estoques de C no solo sob os sistemas agrícolas superam os estoques da vegetação nativa adjacente. Ou seja, é difícil obter saldo positivo de carbono caso o componente florestal não seja inserido no sistema de produção agrícola”, afirma o pesquisador Kleberson de Souza. No experimento de ILPF da Embrapa Cerrados, uma única árvore do híbrido de Eucalyptus urograndis, com sete anos de idade, foi capaz de acumular, em média, 30,2 kg de C/ano (considerando 45% de C da massa seca de biomassa aérea da planta). Isso equivale ao sequestro de 110,5 kg de CO2/ano da atmosfera por cada árvore inserida no sistema. No sistema ILP, esse tipo de sequestro de carbono ocorre, em grande parte, devido ao sistema de raízes da pastagem e da palhada depositada sobre o solo, e tende a se estabilizar com o tempo.

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Pesquisa evidenciou o importante papel das árvores no balanço de carbono de uma fazenda

Segundo os especialistas, se por um lado é possível dizer que um sistema ILPF será mais produtivo para sequestrar carbono da atmosfera quanto mais árvores por hectare o sistema tiver, por outro lado o produtor deve ter cautela para que um número excessivo de árvores não impacte negativamente os demais componentes, “especialmente a pastagem, devido à competição

por luz, água e nutrientes”, ressalta a pesquisadora Karina Pulrolnik, também da Embrapa Cerrados.Também participaram dos estudos os pesquisadores Roberto Guimarães Júnior, Robélio Marchão, Lourival Vilela, Arminda de Carvalho, Giovana Maciel, Sebastião Pires e Alexsandra Duarte. [*] Embrapa Cerrados

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Quando o plantio de árvores ameaça a floresta O estudo pioneiro revela que subsídios para o plantio de plantações de árvores comercialmente valiosas no Chile resultaram na perda de florestas naturais biologicamente valiosas e em pouco ou nenhum sequestro de carbono adicional por *Rob Jordan

Fotos: CC0 Public Domain, Cristian Echeverría, Nejc Košir/Pexels, Robert Heilmayr

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s campanhas para plantar um grande número de árvores podem sair pela culatra, de acordo com um novo estudo que é o primeiro a analisar rigorosamente os efeitos potenciais dos subsídios nesses esquemas. A análise, publicada recentemente na Nature Sustainability , revela como esforços como a campanha global Trillion Trees e uma iniciativa relacionada (HR 5859) sob consideração pelo Congresso dos EUA podem levar a mais perda de biodiversidade e pouca ou nenhuma mudança climática positiva . Os pesquisadores enfatizam, no entanto, que esses esforços podem ter benefícios significativos se incluírem fortes restrições de subsídios, como proibições contra a substituição de florestas nativas por plantações de árvores. Último remanescente das florestas chilenas de Nothofagus alessandrii cercadas por plantações florestais

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“Se as políticas para incentivar as plantações de árvores são mal projetadas ou mal aplicadas, há um alto risco de não apenas desperdiçar dinheiro público, mas também liberar mais carbono e perder a biodiversidade”, disse Eric Lambin, co-autor do estudo, Eric Lambin, Professor Provostial George e Setsuko Ishiyama. na Escola de Ciências da Terra, Energia e Meio Ambiente de Stanford. “Esse é exatamente o oposto do objetivo dessas políticas”. Não há dúvida de que as florestas têm um grande papel a desempenhar nos esforços para diminuir a perda global de biodiversidade e combater as mudanças climáticas, sequestrando carbono como biomassa. Portanto, faz sentido que o plantio de árvores como solução tenha ganhado força nos últimos anos com compromissos ambiciosos, como o Desafio de Bonn, que busca restaurar uma área de floresta com mais de oito vezes o tamanho da Califórnia até 2030, e Trillion Trees, que procura plantar tantas árvores quanto o próprio nome indica.

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Um olhar mais atento revela falhas nos planos otimistas. Por exemplo, quase 80% dos compromissos com o Desafio de Bonn envolvem o plantio de monoculturas de árvores ou uma mistura limitada de árvores que produzem produtos como frutas e borracha, em vez de restaurar florestas naturais. As plantações normalmente têm um potencial significativamente menor de seqüestro de carbono, criação de habitat e controle de erosão do que as florestas naturais. O benefício potencial diminui ainda mais se as árvores plantadas substituírem florestas naturais, pradarias ou savanas - ecossistemas que evoluíram para apoiar uma biodiversidade local única. No novo estudo, os pesquisadores examinaram criticamente outro aspecto de alguns esforços de plantio de árvores em massa: subsídios projetados para incentivar proprietários privados a plantar árvores. Tais pagamentos são amplamente propostos como uma solução promissora para uma variedade de desafios ambientais. Portanto, os cientistas analisaram uma das políticas de subsídios de florestação mais antigas e mais influentes do mundo, o Decreto-Lei 701 do Chile. A lei, em vigor de 1974 a 2012 e atualmente sendo considerada para reintrodução, serviu de modelo para políticas semelhantes em um número de países da América do Sul e projetos de desenvolvimento internacional. “À luz do entusiasmo global em plantar um trilhão de árvores, é importante refletir sobre o impacto das políticas passadas”, disse o principal autor Robert Heilmayr, professor

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assistente da UCSB, que trabalhou no estudo enquanto era aluno de doutorado no Programa Interdisciplinar Emmett em Meio Ambiente e Recursos na Escola de Ciências da Terra, Energia e Meio Ambiente de Stanford. “A experiência do Chile pode nos ajudar a entender o clima, os impactos ecológicos e econômicos que podem ocorrer quando os governos pagarem aos proprietários de terras para estabelecer plantações maciças de árvores”. O Decreto-Lei 701 do Chile subsidiou 75% dos custos de florestação e forneceu suporte para o gerenciamento contínuo das plantações. A aplicação frouxa e as limitações orçamentárias impediram o uso de subsídios em terras já florestadas,

levando a situações nas quais o governo subsidiou a substituição de florestas nativas por plantações lucrativas de árvores. Evidências anedóticas indicaram que os subsídios da lei reduziram ainda mais a cobertura florestal nativa, incentivando o estabelecimento de plantações em matagais ou terras agrícolas marginais onde as florestas poderiam ter se regenerado naturalmente. Os pesquisadores decidiram quantificar o impacto total dos subsídios à florestação e calcular seus efeitos nas mudanças líquidas de carbono e biodiversidade em todo o país. Eles compararam a área de florestas chilenas em três cenários: padrões reais de subsídios observados, nenhum subsídio e subsídios combinados com restrições totalmente aplicadas à conversão de florestas nativas em plantações. Eles descobriram que, em relação a um cenário sem subsídios, os pagamentos de florestamento expandiram a área coberta por árvores, mas diminuíram a área de florestas nativas. Como as florestas nativas do Chile são mais densas em carbono e biodiversas do que as plantações, os subsídios falharam em aumentar o armazenamento de carbono e acelerar as perdas de biodiversidade. “As nações devem elaborar e aplicar suas políticas de subsídio florestal para evitar os impactos ecológicos indesejáveis resultantes do programa do Chile”, disse o coautor do estudo Cristian Echeverría, professor da Universidade de Concepción no Chile. “Os subsídios futuros devem procurar promover a recuperação de muitos ecossistemas naturais ricos em carbono e biodiversidade que foram perdidos”. [*] Instituto De Meio Ambiente De Stanford Woods [**] Stanford University

O plantio de árvores é amplamente proposto para conter as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. No entanto, o exame dos resultados de uma política de reflorestamento no Chile revelou que o plantio de árvores pode ter efeitos mínimos no seqüestro de carbono e efeitos negativos na biodiversidade

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Ilhas artificiais pré-coloniais na Amazônia As ilhas são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em áreas de várzea

por *Júlia de Freitas

Fotos: Adriano Gambarini, Amanda Lelis, Júlia de Freitas/Divulgação, Márcio Amaral/Divulgação

Pesquisadores atribuem construções monumentais a populações indígenas da Amazônia Antiga

É

construção de índio’, explicaram os ribeirinhos sobre o lugar onde moram: as cerca de 20 ilhas artificiais recentemente descobertas por arqueólogos do Instituto Mamirauá na região do Médio e Alto Solimões, na Amazônia. As ilhas são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em áreas de várzea nos períodos pré-colonial e colonial. Nomeadas pelas populações locais como ‘aterrados’, as estruturas de terra ficam próximas a áreas com depressões, chamadas de ‘cavadas’, de onde foi retirado o material para a construção das ilhas, há centenas de anos. Na Amazônia, construções similares foram encontradas na Ilha do Marajó, no Pará, e em Llanos de Mojos, na Bolívia. Agora, mais uma vez, a comunidade científica encontra evidências do que foi visto e descrito no século 16 por cronistas europeus que percorreram os rios e matas do interior da Amazônia e que também é corroborado pela tradição oral das populações do presente.

Primeiras descobertas As primeiras informações sobre essas construções na região do Médio Solimões, no Amazonas, foram coletadas em levantamentos de campo realizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, em 2015. 46

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Os fragmentos de cerâmica encontrados em uma das ilhas artificiais servem de pistas sobre as etnias que construíram as ilhas

Em julho de 2018, um aterrado foi encontrado durante uma expedição ao rio Juruá, na mesma região. A descoberta foi possível após a indicação de um ribeirinho de uma comunidade da Reserva de Desenvolvimento Mamirauá, unidade de conservação da região e uma das principais áreas de atuação do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Depois disso, foram encontradas mais três no rio Jutaí e outras cinco nos rios Japurá e Auatí-Paraná.

O conjunto Guiado por informações de um morador da cidade de Tonantins (AM), o arqueólogo do Instituto Mamirauá Márcio Amaral subiu, em outubro, para a região do rio Içá, no Alto Solimões. revistaamazonia.com.br

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Márcio Amaral, arqueólogo do laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá

Depois de cinco dias de viagem a barco, o pesquisador descobriu um conjunto de treze ilhas artificiais. “Esse número, que pode ser ainda maior, configura um padrão de ocupação em uma área ainda maior do que as ilhas encontradas no Marajó”. Cada uma apresenta área entre 1 e 3 hectares e medem de seis e sete metros de altura. “Faz a gente ponderar a quantidade de pessoas necessárias para construir, movimentar milhares de metros cúbicos de terra e fazer uma organização desse tipo. É preciso ter pessoas, organização para coordenar essas pessoas e é preciso ter engenheiros que projetaram essas estruturas para elas se sustentarem”, afirma o arqueólogo. Os achados corroboram a teoria de que a Amazônia era densamente populosa e composta por sociedades complexas e organizadas antes da chegada dos europeus.

Vestígios arqueológicos foram encontrados de fragmentos de cerâmica do estilo Hachurada Zonada, tipo ainda mais antigo – acredita-se que por volta de mil a.C.

As construções das ilhas estão em uma área atribuída aos antigos omáguas, povo indígena do tronco tupi que figura também nas crônicas antigas de navegadores espanhóis e portugueses que passaram pela região entre os séculos 16 e 19. Acredita-se que os omáguas são ascendentes dos atuais kambebas, etnia amazônida com aproximadamente 1.500 indivíduos em território brasileiro. Foram encontradas cerâmicas do estilo corrugado, caracterizado esteticamente pelas ‘rugas’, camadas modeladas nos vasos e peças. O estilo cerâmico datado do século 15 e 16 é comum a grupos tupis.

Testemunhos dos ribeirinhos da região dão mais pistas sobre a história das ilhas da região Há relatos de reocupação das ilhas artificiais ao final do século 19 e início do século 20 por um grupo indígena que teria sido dizimado pela varíola, sobrevivendo apenas uma criança. O indígena sobrevivente foi adotado por uma família do município de Santo Antônio de Içá e teve um filho, hoje um pedreiro de cerca de 70 anos. “É necessário localizarmos ele e tentar descobrir a que grupo pertencia o pai dele, se eram kambeba é uma evidência fascinante e indicativo de que descendentes dos omáguas estariam provavelmente reocupando os aterrados até o início do século passado”, explica o arqueólogo. Também foram identificados fragmentos de cerâmica do estilo Hachurada Zonada, tipo ainda mais antigo – acredita-se que por volta de mil a.C.

Estratégias de sobrevivência

Cerâmicas indicam ocupações milenares

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Não fosse a construção das ilhas, a área onde elas estão ficariam completamente inundada por ao menos seis meses do ano pela dinâmica de secas e cheias da várzea. Espécies encontradas abundantemente nos locais de terra firme e cultivada pelas populações tradicionais da Amazônia, como o açaí, não prosperariam nessa região. Os ribeirinhos atuais relatam a existência de antigos currais de quelônios na região. As cavadas, áreas de onde foi retirada a terra para formar a ilha, podem ter sido utilizadas com este propósito. REVISTA AMAZÔNIA

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As ilhas artificiais são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em terras firme, em áreas de várzea

Seria um modo de garantir fonte de proteína animal nas chamadas entressafras, quando o alimento é escasso. Em varreduras de superfície das ilhas também foram encontrados vestígios do chamado ‘pão de índio’, material orgânico que indica técnica tradicional de armazenamento de alimentos de origem vegetal. Além disso, As localizações dos aterrados não eram escolhidas ao acaso. “Os aterrados estão posicionados em bocas de paranás e lagos com uma quantidade enorme de recursos pesqueiros. Tem muito peixe, quelônios, jacarés, é uma fauna muito rica. Então é uma localização estratégica”, diz o pesquisador. Márcio afirma que os dados são importantes para entender como os indígenas moldavam a paisagem, manejavam os recursos naturais e desenvolviam estratégias de sobrevivência adequadas ao ambiente em que viviam.

Arqueologia e tradição oral “É importante ressaltar que as pessoas já conheciam, mas isso era ignorado ou desconhecido pela comunidade científica”, diz Márcio que, antes de qualquer coisa, conversa com moradores da região onde busca fragmentos e indícios de ocupações milenares. “A arqueologia precisa se voltar para quem mora nessas áreas porque essas pessoas são as conhecedoras e tem uma tradição oral que a gente consegue rastrear até há quatro, cinco gerações”, complementa. 48

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História em construção. Esforços de especialistas em parceria com as comunidades locais estão ajudando a contar asnarrativas do passado da Amazônia até o contemporâneo. Uma jornada muito mais movimentada e povoada do que se pensava até pouco tempo

Os pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia do Instituto Mamirauá ainda devem voltar ao conjunto de ilhas para dar continuidade às pesquisas, ampliando o levantamento e o mapeamento das ilhas artificiais. Os campos contam com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).O custo, entretanto,

é alto, e os pesquisadores carecem de recursos para as expedições científicas até as ilhas, que têm grande relevância para a compreensão da história da Amazônia. “É como se fossem pirâmides, mas construções de terra, não por isso menos importante. São também complexas e indicam um padrão de ocupação humana amplamente distribuída nas regiões do médio-alto Solimões”. revistaamazonia.com.br

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Terra pode atingir limiar crítico do clima nos próximos cinco anos Mesmo o objetivo mais ambicioso de interromper o aquecimento planetário a 2,7 °Fahrenheit tem sérias consequências. Um incêndio na região de Yakutia, na Sibéria, no início de junho, visto do Como Brad Plumer e Nadja Popovich rear. Uma onda de calor de junho viu as temperaturas em Verkhoyansk, lataram em 2018, as temperaturas médias uma cidade em Yakutia, atingir 100 °C Fahrenheit (37,78°C) globais 2,7°Fahrenheit acima dos níveis pré-industriais exporiam mais 350 milhões de pessoas a secas severas. Em 2100, 31 a 69 milhões de pessoas adicionais estarão sujeitas a inundações devido à elevação do nível do mar. Enquanto isso, os recifes de coral sofreriam eventos de mortalidade em massa semelhantes aos vistos recentemente na Grande Barreira de Corais da Austrália “com muita frequência”. Com um aumento de 3,6°Fahrenheit, essas previsões se tornam ainda mais terríveis. “É possível limitar o aquecimento a 1,5°C [2,7°F] dentro das leis da química e da fím dezembro de 2015, o Acordo de Os países participantes concordaram em sica”: disse Jim Skea, do Imperial College Paris sobre as mudanças climáticas manter o aumento da temperatura média London, um dos autores do relatório do estabeleceu 1,5°C de aquecimento global “bem abaixo de 2°Celsius [3,6 graus IPCC de 2018, mas fazendo isso, exigiria acima dos níveis pré-industriais Fahrenheit] acima dos níveis pré-industriais alterações sem precedentes”. como um objetivo-chave para limitar as con- e em buscar esforços para limitar o aumenOs modelos que a OMM usou para criar sequências negativas das mudanças climáti- to da temperatura ainda mais a 1,5°Celsius sua previsão climática de cinco anos não incas causadas pelo homem. Agora, um novo [2,7 ° Fahrenheit]”. Em 2018, o Painel In- corporaram as reduções nas emissões de carrelatório sugere que as temperaturas globais tergovernamental de Mudanças Climáticas bono associadas à pandemia de coronavírus. anuais podem ultrapassar esse limiar pela pri- (IPCC) divulgou um relatório histórico de- Porém, é improvável que a queda temporária meira vez nos próximos cinco anos, relatam talhando os impactos de 2,7 e 3,6 ° Fahre- nas emissões associada às medidas de bloNadine Achoui-Lesage e Frank Jordans. nheit graus de aquecimento. queio destinadas a conter a disseminação do Há aproximadamente 20% de vírus altere significativamente o chance de que, nos próximos cinco futuro climático da Terra. anos, a média anual da Terra suba “Devido à vida útil muito lonpara pelo menos 2,7 ° Fahrenheit ga do CO2 na atmosfera, não se acima dos níveis pré-industriais, espera que o impacto da queda de acordo com o relatório da Ornas emissões neste ano leve a ganização Meteorológica Mundial uma redução nas concentrações (OMM) . As chances de atingir atmosféricas de CO2 que estão esse marco sombrio de mudança impulsionando o aumento da climática nos próximos cinco anos temperatura global”. “A OMM “aumentarão com o tempo”, espeenfatizou repetidamente que a cifica o relatório, acrescentando desaceleração econômica e indusque há 70% de chance de que um trial de Covid-19 não substitui a ou mais meses nos próximos cinco ação climática sustentada e cooranos cheguem a 2,7 ° Fahrenheit. denada”. E apesar do imediatismo A temperatura média da Terra já e da severidade da pandemia do aumentou 1,8 ° Fahrenheit acima COVID-19, “o fracasso em enda era pré-industrial (1850-1900) frentar as mudanças climáticas e os últimos cinco anos foram copode ameaçar o bem-estar huletivamente a meia década mais mano, ecossistemas e economias quente já registrada, relata Ron por séculos”. A OMM instou os Brackett. Limitar o planeta a apeO gráfico abaixo, produzido pelo Carbon Brief em 2019, governos globais a “aproveitar a nas 2,7 graus Fahrenheit de aqueilustra a queda cada vez mais vertiginosa das emissões glooportunidade para adotar a ação cimento foi o mais ambicioso dos bais de dióxido de carbono necessárias para evitar 2,7 ° climática como parte dos progradois objetivos estabelecidos pelo Fahrenheit do aquecimento planetário. mas de recuperação e garantir que Acordo de Paris de 2015. voltemos a crescer melhor”. Veja o Vídeo em: bit.ly/PNUMA2027 Fotos: Bioreports

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A árvore botânica evolutiva mais completa Um grupo internacional de cientistas desenvolveu a árvore botânica evolutiva mais completa até hoje a partir dos dados genéticos de 1147 espécies

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Fotos: Eric Zamora / Museu da Flórida, Jean François Gaffard, Cc By-Sa 3.0, Jason Hollinger, Cc By 2.0, Michael Melkonian, Mike Baker, Naziha Mestaoui, Walter S. Judd. Todas as ilustrações botânicas são de domínio público

tualmente, existem mais de meio milhão de espécies de plantas, que evoluíram a partir de um ancestral comum. A árvore evolutiva contribuirá para esclarecer como ocorreu esse salto em frente na biodiversidade. A história e a evolução das plantas podem ser rastreadas até 1.000 milhões de anos atrás, quando as algas foram os primeiros organismos capazes de realizar fotossíntese e aproveitar a energia solar. A partir desse ancestral, as plantas derivaram em uma infinidade de espécies diferentes, tanto terrestres quanto aquáticas.

Algumas espécies começaram a surgir e evoluir várias centenas de milhões de anos atrás. Mesmo assim, hoje temos as ferramentas necessárias para olhar para trás e ver o que aconteceu naquele momento”, disse Marcel Quine, pesquisador da Universidade Martin Luther, em Halle-Wittenberg (Alemanha).

Um dos principais objetivos do projeto é identificar possíveis conexões genéticas e inovações importantes no reino vegetal, como o desenvolvimento de flores e sementes. A árvore evolutiva que eles desenvolveram conseguiu descobrir uma presunção com a qual os cientistas trabalharam que se mostrou imprecisa. As plantas são campeãs da evolução, dominando os ecossistemas da Terra por mais de um bilhão de anos e tornando o planeta habitável por inúmeras outras formas de vida, inclusive nós. Agora, os cientistas concluíram uma busca genética de nove anos para esclarecer a longa e complexa história das plantas terrestres e das algas verdes, revelando as reviravoltas na trama e o ritmo furioso da ascensão desse super grupo de organismos. As inferências filogenéticas foram baseadas na análise ASTRAL de 410 famílias de genes nucleares de cópia única extraídas de dados do genoma e do transcriptoma de 1.153 espécies, incluindo 1.090 espécies de plantas verdes (Viridiplantae)

Juntamente com especialistas em bioinformática, Quine contribuiu para o desenvolvimento de um projeto no qual cerca de 200 pesquisadores participaram em todo o mundo. A equipe coletou amostras de 1147 plantas terrestres e aquáticas e analisou seus padrões genéticos. A partir desses dados, eles reconstruíram a evolução de cada uma das plantas, incluindo algumas amostras que não haviam sido estudadas até agora com esse nível de detalhe, como certas algas, musgos e angiospermas (plantas com flores).

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Até agora, pensávamos que a maior expansão genética ocorreu durante a transição para as angiospermas, porque esse grupo inclui a maioria das espécies existentes hoje”, disse o pesquisador Martin Porsh, da Universidade Martin Luther.

O esforço colaborativo de quase 200 cientistas, abrange as algas verdes para as plantas terrestres, fornecendo uma estrutura para examinar 1 bilhão de anos de evolução das plantas

O projeto, conhecido como Iniciativa de Transcriptomas de Mil Plantas (1KP), reuniu quase 200 biólogos de plantas para sequenciar e analisar genes de plantas que abrangem a árvore verde da vida. Um resumo das descobertas da equipe publicadas recentemente na Nature.

Estas imagens mostram algas verdes Lacunastrum gracillimum, cones femininos de gimnosperma, Gnetum gnemon e flor de cerejeira, Prunus domestica. A duplicação de genomas e a expansão das principais famílias de genes contribuíram para a evolução da multicelularidade e complexidade em plantas verdes

As plantas com flores são conhecidas por fazer várias cópias de seu genoma. Os cientistas levantam a hipótese de que a duplicação do genoma contribui para a evolução de novas funções genéticas

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“Na árvore da vida, tudo está inter-relacionado”, disse Gane Ka-Shu Wong, investigador principal do 1KP e professor do departamento de ciências biológicas da Universidade de Alberta. “E se queremos entender como a árvore da vida funciona, precisamos examinar as relações entre as espécies. É aí que entra o sequenciamento genético”. Grande parte da pesquisa de plantas concentrou-se em culturas e algumas espécies-modelo, obscurecendo a história evolutiva de um clado com quase meio milhão de espécies. Para ter uma visão panorâmica da evolução das plantas, a equipe do 1KP sequenciou os transcriptomas - o conjunto de genes que são ativamente expressos - para iluminar os fundamentos genéticos das algas verdes, musgos, samambaias, samambaias, coníferas, plantas com flores e todas as outras linhagens de plantas verdes .

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“Isso dá uma perspectiva muito mais ampla do que se poderia apenas observar as culturas, que estão todas concentradas em uma pequena parte da árvore evolutiva”, disse Pamela Soltis, professora da Universidade da Flórida e ilustre professora do Museu de Natural da Flórida. Curador de história. “Ao ter uma visão mais ampla, você pode entender como as mudanças ocorreram no genoma, o que permite investigar mudanças nas características físicas, químicas ou em qualquer outro recurso no qual você esteja interessado”. Um desafio foi o tamanho do projeto, disse Douglas Soltis, co-autor do estudo, professor ilustre da UF e curador do Museu da Flórida. “Olhar para muitos genomas é incomparável”, disse ele. “Não é tanto um salto em tecnologia quanto um salto de escala”. Os transcriptomas de sequenciamento requerem tecidos recém-coletados, e foi assim que Soltis se viu caminhando pela vegetação de Gainesville com recipientes de nitrogênio líquido. De volta ao laboratório, uma equipe extraiu material genético dos recortes de plantas congeladas e enviou as extrações para a China para sequenciamento. Em todo o mundo, seus colegas seguiram o exemplo. A análise das seqüências também exigiu uma reformulação do software existente, que não foi projetado para lidar com um volume sem precedentes de dados genéticos, e sem financiamento para a análise, os pesquisadores analisaram os dados, pois tinham tempo livre. Mas o trabalho valeu a pena, disse Pamela Soltis.

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Embora o objetivo da duplicação de todo o genoma ainda não esteja claro, os cientistas suspeitam que isso possa impulsionar a inovação evolutiva: se você tem duas cópias de genes, uma cópia pode gradualmente evoluir para uma nova função. Abordar a frequência da duplicação de todo o genoma nas plantas era um dos objetivos da 1KP, disse Douglas Soltis. Embora as plantas com flores e as samambaias já fossem famosas pela duplicação do genoma, Soltis disse que o 1KP descobriu vários eventos de duplicação anteriormente desconhecidos nesses grupos, bem como nas gimnospermas, o grupo de plantas que inclui coníferas. Outras linhagens de plantas seguiram um caminho diferente, expandindo certas famílias de genes em vez de copiar todo o seu genoma. Pensa-se que isso também forneça novos caminhos para o desenvolvimento evolutivo e, não surpreendentemente, a A iniciativa fornece uma estrutura para equipe de pesquisa descobriu examinar 1 bilhão de anos de evolução uma grande expansão de genes pouco antes do aparecimento “A comunidade das plantas obteve mais de de plantas vasculares, plantas terrestres 1.000 conjuntos de sequências”, disse Soltis, com xilema e floema - células especiais que também dirige o Instituto de Biodiversi- para o transporte de água e nutrientes. dade da UF. “Quem poderia argumentar com Douglas Soltis, porém, disse que as exisso? Todos esses galhos da árvore da vida ve- pansões de genes nem sempre correspongetal foram preenchidos.” Uma característica dem aos principais marcos evolutivos das da evolução das plantas - e uma característica plantas. “Não há muita expansão antes raramente vista em animais - é a frequência que as sementes apareçam ou para plantas da duplicação do genoma. Repetidas vezes, com flores”, disse ele. as linhagens dobraram, triplicaram ou até “De fato, as plantas com flores encolhequadruplicaram todo o seu conjunto de genes, ram certas famílias de genes, o que pode ser resultando em tamanhos maciços de genoma. um sinal de que eles simplesmente cooptaram os genes existentes para novas funções”. Outra descoberta surpreendente foi que musgos, hepáticas e hornworts formam um único grupo relacionado, confirmando uma hipótese secular que havia sido revertida nas últimas décadas.“Fizemos uma análise parcial em 2014 que sugeria que essas plantas eram parentes próximos, mas muitas pessoas não acreditavam nisso. Esses resultados reforçam essas descobertas”, disse Pamela Soltis. “Vai abalar o mundo do musgo.” Embora o projeto refine nossa compreensão da evolução das plantas e das relações entre linhagens, esses dados também são ferramentas valiosas para o avanço da ciência das culturas, medicina e outros campos, disseram os pesquisadores.

Diphasiastrum digitatum pertence aos licófitas, também chamados aliados das samambaias. Das mais antigas linhagens de plantas vasculares existente

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As hepáticas crescem em todo o mundo. Enquanto a maioria é encontrada em ambientes úmidos, algumas espécies prosperam nos desertos e no Ártico

Muitas plantas têm genomas grandes, partes significativas dos quais são genes não codificadores - material que não é usado ativamente. Sequenciar apenas o conjunto de genes que é expresso é uma maneira mais barata e rápida de obter uma captura instantânea de um genoma de planta

Hornworts têm gerações alternadas, uma assexuada e outra sexual. Eles são nomeados por suas estruturas semelhantes a chifres, conhecidas como esporófitos, a fase assexuada Os musgos são plantas sem flores que se reproduzem através de esporos. Eles já foram agrupados com hepáticas e hornworts em um grupo relacionado, mas nas últimas décadas, os cientistas separaram os três. O projeto 1KP os reúne

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Identificar genes duplicados em plantas com flores pode ajudar os cientistas a entender melhor sua função, o que pode levar a melhorias nas culturas, disse Pamela Soltis. E como muitas plantas têm benefícios medicinais, os dados genéticos oferecidos pelo projeto 1KP podem levar a novas descobertas que melhoram a saúde humana. “Nosso foco era obter muitas amostras silvestres coletadas de linhagens vegetais conhecidas por possuírem química importante, na esperança de que as pessoas pudessem extrair esse material para novos compostos”, disse Douglas Soltis. As sequências geradas pela equipe do 1KP são acessíveis ao público pelo CyVerse Data Commons. “Provavelmente centenas de artigos usaram os dados de maneiras que nem conhecemos”, disse Pamela Soltis. “Esse é um aspecto super legal deste estudo”. Mas a equipe do 1KP tem pouco tempo para comemorar sua conquista. O próximo objetivo? Sequenciando 10.000 genomas.

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Mil genomas vegetais: compreendendo um bilhão de anos de evolução A planta verde da árvore da vida é construída sobre muitas inovações evolutivas. As plantas percorreram um longo caminho desde que começaram como organismos unicelulares, um bilhão de anos atrás. Eles fizeram a transição da água para a terra e conseguiram se tornar os seres bonitos, altos, floridos e frutíferos que são a espinha dorsal da vida na Terra. Eles têm histórias de vida complexas - criando sistemas vasculares, cutículas de cera, esporos, sementes e flores. Essas inovações definem os principais pontos de virada na história das plantas verdes e são o que separam os principais grupos de plantas: algas verdes, musgos e hepáticas, samambaias, gimnospermas e plantas com flores. A Iniciativa de Transcriptomas de Mil Plantas, também conhecida como a iniciativa 1KP.

a - e , algas verdes. a , Acetabularia sp. (Ulvophyceae). b , Stephanosphaera pluvialis (Chlorophyceae). c , Botryococcus sp. (Trebouxiophyceae). d , Chara sp. (Charophyceae). e , ‘ Spirotaenia sp’. (taxonomia em análise) (Zygnematophyceae). f - p , plantas terrestres. f , Notothylas orbicularis (Anthocerotophyta (hornwort)). g , Conocephalum conicum (Marchantiophyta (erva hepática talóide)). h, Sphagnum sp. (Bryophyta (musgo)). i , Dendrolycopodium obscurum (Lycopodiophyta (musgo de clube)). j , Equisetum telmateia (Polypodiopsida, Equisetidae (cavalinha)). k , Parablechnum schiedeanum (Polypodiopsida, Polypodiidae (samambaia leptosporangiada)). l , Ginkgo biloba (Ginkgophyta). m , Pseudotsuga menziesii (Pinophyta (conífera)). n , Welwitschia mirabilis (Gnetophyta). o , Bulnesia arborea (Angiospermae, eudicot, rosídeo). p ,Paphiopedilum lowii (Angiospermae, monocot, orquídea). a , Fotografia reproduzida com permissão de Thieme Verlag, Stuttgart 66 . b - e , Fotografias cortesia de M. Melkonian. f - j , l - n , p. Fotografias cortesia de k AMAZÔNIA , Fotografia cortesia de R. Moran. o , Fotografia cortesia de W. Judd. revistaamazonia.com.br 54DWS REVISTA

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Desenvolvimento sustentavel Em parceria com Representante Autorizado

O sistema é alimentado com resíduos orgânicos

Bactérias decompõem o resíduo orgânico no biodigestor

O fertilizante líquido pode ser usado em jardins e plantações

O biogás é armazenado no reservatório de gás para ser usado em um fogão

O sistema tem capacidade de receber até 12 Litros de resíduos por dia.

O equipamento produz biogás e fertilizante líquido diariamente.

Totalmente fechado mantendo pragas afastadas.

Em um ano, o sistema deixa de enviar 1 tonelada de resíduos orgânicos para aterros e impede a liberação de 6 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) para atmosfera.

O QUE COLOCAR NO SISTEMA

O QUE NÃO COLOCAR NO SISTEMA

Carne, frutas, verduras, legumes e restos de comida. OBS: Máximo de duas cascas de cítricos por dia.

Resíduos de jardinagem, materiais não orgânicos (vidro, papel, plástico, metais). Resíduos de banheiro, produtos químicos em geral.

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As 10 árvores mais antigas do mundo Embora a humanidade esteja destruindo o planeta mais rapidamente do que a Mãe Natureza pode se recuperar, felizmente, ainda existem maravilhas naturais neste mundo que sobreviveram por milhares de anos Fotos: Geograph.org.uk, Novo Atlas, Wikimedia Commons, Wikipedia

T

odas as árvores desta lista têm / tinham pelo menos 3.500 anos – infelizmente, alguns desses gigantes antigos foram destruídos por mãos humanas. O restante das árvores sobreviventes nesta lista é protegido para evitar sua destruição e uma das árvores individuais mais antigas possui um local secreto não divulgado ao público. Com os esforços de conservação continuados, espero que essas árvores vivam por milhares de anos a mais.

Em 2014, um clone de 50 pés de altura do The Senator (uma das 10 árvores clonadas do The Senator na década de 1990) foi plantado no parque e chamado “The Phoenix”.

8. Sarv-e Abarkuh

9. Gran Abuelo (bisavô)

10. O senador

Idade : estimada em 3.500 anos Espécie: Cipreste da lagoa (Taxodium ascendens) Localização: Longwood, Flórida Ainda Vivo: Não O senador era um dos ciprestes mais antigos e maiores do mundo, com uma idade estimada em 3.500 anos. Antes de sua morte, o Senador tinha 36 m de altura e uma circunferência de 10,7 m - a árvore tinha originalmente 50 m de altura, mas o topo foi danificado por um furacão em 1925. Infelizmente, o senador foi destruído por um incêndio em 2012, iniciado por Sarah Barnes e uma amiga que fumava dentro da árvore; ela deixou o fogo aceso que destruiu a árvore de dentro para fora.

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Idade : 3,646 anos Espécie: Cipreste da Patagônia (Fitzroya cupressoides) Localização: Parque Nacional Alerce Costero, Chile Ainda Vivo: Sim O Gran Abuelo (em espanhol “bisavô”), localizado no Parque Nacional Alerce Costero, no Chile, é a árvore viva mais antiga da América do Sul. A árvore tem mais de 60 m de altura (196 pés) com um diâmetro de 4 m (13 pés) e um perímetro de 11 m (36 pés). A idade de Gran Abuelo foi determinada em 1993, depois que os pesquisadores usaram um anel de crescimento para verificar sua antiguidade - eles estimaram que a árvore tinha cerca de 3.622 anos na época. Sua idade significa que o Gran Abuelo germinou em torno de 1.500 aC. Existe a possibilidade de o Gran Abuelo não ter sido a árvore mais antiga do bosque, já que muitas das maiores foram derrubadas no passado.

Idade : estimada entre 4.000 e 5.000 anos Espécie: Cipreste do Mediterrâneo ( Cupressus sempervirens) Localidade: Abarkuh, Irã Ainda Vivo: Sim Acredita-se que o Sarv-e Abarkuh (Abarkuh Cypress) seja uma das árvores mais antigas do mundo, pois sua idade é estimada entre 4.000 - 5.000 anos. É difícil estabelecer uma idade exata na árvore, mas ela é cultivada há muitos anos. A lenda diz que o Sarv-e Abarkuh foi plantado por Zoroastro , um profeta iraniano, ou Jafé, o terceiro filho da figura bíblica Noé. O Sarv-e Abarkuh é um monumento natural nacional e é protegido pela Organização do Patrimônio Cultural do Irã. O tamanho grande da árvore, a lendária história e idade a tornaram uma das atrações mais populares da cidade de Abarkuh.

7. Llangernyw Yew

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Idade : estimada entre 4.000 e 5.000 anos Espécie: Teixo comum ( Taxus baccata) Localização: Conwy, Wales Ainda Vivo: Sim A idade de Llangernyw Yew é estimada entre 4.000 - 5.000 anos. O namoro de teixos (Árvore conífera da família das Taxáceas – Taxus baccata) é muitas vezes difícil, pois o núcleo se perde, com várias ramificações grandes crescendo fora da área central da árvore. O teixo está localizado no cemitério da igreja de St. Digain, na vila de Llangernyw, e a igreja possui um certificado assinado por David Bellamy, botânico inglês, autor, radialista e ativista ambiental, dizendo que a árvore tem entre 4.000 e 5.000 anos de idade, com base em milhares de anos de registros escritos. O Llangernyw Yew ocupa um lugar especial na mitologia galesa, pois está associado ao espírito Angelystor (o “Anjo da Gravação”) que vem todo dia das Bruxas para predizer qual dos paroquianos morrerá no ano seguinte.

Tom Harlan e Edmund Schulman. A árvore recebeu o nome da mais antiga figura bíblica, Matusalém, que viveu 969 anos. Esta árvore antiga cresce em Methuselah Grove, nas Montanhas Brancas do Condado de Inyo, Califórnia, onde é cercada por outras árvores antigas, e sua localização exata é desconhecida do público para manter a árvore protegida contra vandalismo. Com base na idade da árvore, estima-se que Matusalém germinou por volta de 2832 aC, tornando-a mais antiga que as famosas pirâmides egípcias.

Infelizmente, a extração de Currey deu errado e a árvore inteira foi cortada. Os pesquisadores contaram 4.862 anéis de crescimento na amostra principal, mas estimam que a árvore possa ter pelo menos 4.900 anos, pois provavelmente não cultivava um anel todos os anos devido às condições adversas da área.

4. Pinho Bristlecone da grande bacia

5. Prometeu

6. Matusalém

Idade : 4.850 anos Espécie: Pinheiro bristlecone da grande bacia ( Pinus longaeva) Localização: Condado de Inyo, Califórnia, EUA Ainda Vivo: Sim Até 2012, Methuselah era a árvore mais antiga conhecida no mundo e sua idade (4.789 anos na época) foi descoberta em 1957 por

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Idade : 4.862 - 4.900 anos Espécie: Pinheiro bristlecone da grande bacia ( Pinus longaeva) Localização: Wheeler Peak, Nevada, EUA Ainda Vivo: Não Antes de seu desaparecimento em 1964, Prometeu era uma das árvores mais antigas do mundo e, na época, era ainda mais antiga que Matusalém. A árvore estava localizada em um bosque de várias árvores antigas em Wheeler Park, Nevada. Em 1964, o geógrafo Donald R. Currey recebeu permissão do Serviço Florestal para colher uma amostra central da árvore para determinar sua idade, que ele suspeitava ter mais de 4.000 anos.

Idade : 5.071 anos Espécie: Pinheiro bristlecone da grande bacia ( Pinus longaeva) Localização: Condado de Inyo, Califórnia, EUA Ainda Vivo: Sim O Great Basin Pinheiro bristlecone, se acredita ser a árvore individual mais antiga do mundo. Foi nomeada a árvore mais antiga em 2012, batendo o recordista anterior por mais de 200 anos. A árvore foi cortada por Edmund Schulman no final dos anos 50, mas ele não teve a chance de datar sua amostra antes de falecer em 1958. A idade da árvore foi determinada mais tarde por Tom Harlan em 2010, que estava trabalhando nas amostras que Schulman coletou antes de morrer. Antes de sua morte, Harlan relatou que a árvore ainda estava viva e tinha 5.062 anos.

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2. Carvalho Jurupa Idade : mais de 13.000 anos Espécie: Carvalho de Palmer ( Quercus palmeri ) Localização: Jurupa Mountains, Crestmore Heights, Califórnia, EUA Ainda Vivo: Sim O carvalho Jurupa (carvalho de Palmer) é outra árvore de colônia clonal que sobreviveu por milhares de anos ao se clonar. Descoberto apenas na última década, o Jurupa Oak tem mais de 13.000 anos. Sua idade foi estimada pelos pesquisadores com base no tamanho da colônia e no crescimento de caules individuais. Outra coisa única sobre o Jurupa Oak é que ele é o único Palmer’s Oak na área, porque a espécie geralmente prefere viver em áreas mais úmidas e montanhosas - as Montanhas Jurupa são áridas e a uma altitude mais baixa. Em 2009, quando o Carvalho Jurupa foi descoberto pela primeira vez, a árvore tinha cerca de 70 grupos de hastes, tinha 2,5 quilômetros de largura e 1 metro de altura.

3. Tjikko Velho Idade : 9.550 anos Espécie: Abeto da Noruega ( Picea abies ) Localização: Província de Fulufjället Montanha da Dalarna na Suécia Ainda Vivo: Sim Quando o velho Tjikko foi descoberto na Suécia em 2008 , foi declarada a árvore mais antiga do mundo e estimada em 10.000 anos. Embora a Velha Tjikko seja conhecida como a “árvore mais antiga do mundo”, ela não é tão antiga quanto o Carvalho Jurupa (mais de 13.000 anos), que foi descoberto um ano depois. Além disso, Tjikko é apenas um oitavo dos 80 anos de idade, Pando! Como as duas árvores mais antigas, o Velho Tjikko também é um clone, mas não é uma colônia como Pando e o Jurupa Oak - em vez disso, o Velho Tjikko regenera novos troncos, galhos e raízes no mesmo local. O sistema radicular de Old Tjikko tem cerca de 10.000 anos, enquanto seus troncos geralmente sobrevivem apenas cerca de 600 anos antes que uma nova árvore de clones seja rebrotada em seu lugar. 58

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1. Pando Idade : ~ 80.000 anos Espécie: Tremendo Aspen ( Populus tremuloides ) Localização: Fishlake National Forest, Utah, EUA Ainda Vivo: Sim Com uma idade estimada em mais de 80.000 anos, Pando é a árvore mais antiga do mundo e também um dos organismos vivos mais antigos. Enquanto a maioria das outras árvores nesta lista são indivíduos, Pando é uma colônia clonal que compartilha um sistema radicular subterrâneo. Acima do solo, Pando pode parecer um bosque de árvores individuais, mas todos são clones geneticamente idênticos. Pando sobreviveu por tanto tempo porque conseguiu se clonar continuamente. No entanto, os pesquisadores disseram recentemente que Pando pode estar morrendo. Estudos de Pando mostram que a árvore está declinando há décadas e diminuiu a velocidade com a produção de árvores de substituição. O desenvolvimento humano na área e o excesso de pastagem de árvores jovens por animais locais contribuíram para a possível morte de Pando. revistaamazonia.com.br

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Fotógrafo do Ano da NASA As melhores fotos dos fotógrafos da Nasa, em 2019

Instalação de desenvolvimento e integração de sistemas espaciais do Centro. Toda a parede é composta por filtros HEPA que removem partículas menores que um glóbulo vermelho. Mil vezes mais limpa que a sala de operações de um hospital, a instalação é usada para testar instrumentos de alto valor, como o conjunto óptico do telescópio espacial James Webb. Vencedor “Categoria Lugares”. Foto de Chris Gunn, do Goddard Space Flight Center, em Maryland.

Técnicos instalando um novo ancinho de levantamento de fluxo para o túnel de vento supersônico do Plano Unitário (UPWT). Vencedor “Categoria Pessoas”. Foto de Harlen Capen, do Centro de Pesquisa Langley.

Tim Bencic, do Glenn Research Center, inventor de um sistema de tomografia para estudar gelo em aviões. Vencedor “Categoria Retrato”. Foto de Jordan Salkin.

Robert Markowitz, do Johnson Space Center, capturou o astronauta Reid Wiseman quando ele estava prestes a ser baixado para o Laboratório de Flutuação Neutra, onde os astronautas praticam caminhadas espaciais

O Elemento Óptico do Telescópio Webb está preparado para integração ao Elemento Nave espacial. Vencedor “Categoria Documentação”. Foto de Chris Gunn, do Goddard Space Flight Center.

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a maioria das vezes, tudo que você vê no crédito é “NASA”. Estejam eles capturando um lançamento espetacular, a intrincada engenharia de um veículo espacial de Marte ou as emoções da família de um astronauta se despedindo, os fotógrafos profissionais que tiram fotos nos mais ou menos dez centros da agência espacial permanecem quase anônimos para os milhões de nós que aprecie seu trabalho diariamente.

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Técnicos e engenheiros inspecionam a estrutura de suporte que mantém um dos espelhos do Telescópio Espacial James Webb no lugar, conforme documentado por Chris Gunn, do Goddard Space Flight Center

Os técnicos do traje ajustam o visor do astronauta Mike Fincke da NASA, enquanto ele é preparado para um retrato oficial em seu traje espacial “Boeing Blue”, nesta foto de Josh Valcarcel, do Johnson Space Center

Maura White queria mudar isso. Como chefe de imagens da missão no escritório de multimídia do Johnson Space Center em Houston , ela presidiu o 2º concurso anual de Fotógrafo do Ano da agência . “Como eles trabalham para o governo federal, o reconhecimento do trabalho de um fotógrafo da NASA geralmente passa despercebido”, explica ela. “Esta cerimônia de premiação permite competição amigável, direito de se gabar e reconhecimento por ser tão crucial para a missão da NASA”. Branco reuniu um painel de juízes especialistas, incluindo o astronauta Don Pettit e Air & Space ‘s Photo Editor Caroline Sheen, e pediu-lhes para rever submissões de cerca de 70 fotógrafos da NASA . T ele ganhar entradas ning em quatro categorias a ppear acima, com alguns dos vice-ups abaixo . A julgar pela qualidade deste ano, podemos esperar mais fotos excelentes no futuro . A astronauta Tracy Caldwell Dyson faz uma pausa enquanto veste seu traje espacial antes de um teste subaquático no Johnson Space Center da NASA, neste retrato de Bill Ingalls, da sede da NASA

[*] Airspacemag.Com

Tony Gray, do Centro Espacial Kennedy, capturou essa cena antes do amanhecer no Complexo de Lançamento 46, durante os preparativos para o teste do sistema de aborto de lançamento da espaçonave Orion

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O aumento da temperatura da água pode pôr em risco o acasalamento de muitas espécies de peixes Peixes mais vulneráveis ao aquecimento da água do que se pensava. Água mais quente retém menos oxigênio, dificultando a sobrevivência dos peixes Fotos: Alfred-Wegener-Institut, Flemming Dahlke

Embriões de bacalhau no ovo. O estudo mostrou que os peixes nesta fase são geralmente extremamente sensíveis a mudanças de temperatura. Como resultado das mudanças climáticas, o aumento da temperatura da água pode tornar impossível o desenvolvimento dos embriões e, portanto, a reprodução de muitas espécies em seu habitat atual

Isso significa que peixes, incluindo salmão, atum e bacalhau, podem “afogar-se” em oceanos, lagos e riachos mais quentes durante as fases vulneráveis de suas vidas. Os peixes adultos que se preparam para acasalar ficam repletos de óvulos ou espermatozóides, colocando uma pressão adicional em seus corações enquanto tentam fornecer oxigênio suficiente. E os embriões de peixes dentro dos ovos também podem morrer porque não têm brânquias - o que significa que eles serão incapazes de obter oxigênio suficiente para sobreviver.

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m aumento na temperatura da água pode deixar uma “proporção significativa” de peixes incapazes de acasalar e matar embriões em desenvolvimento, forçando-os a abandonar as atuais áreas de desova dentro de um século. À medida que a água aquece, ela perde oxigênio e aumenta o metabolismo, aumentando a demanda do corpo por oxigênio.

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As espécies de peixes, incluindo salmão (foto), atum e bacalhau, podem ser afetadas por águas mais quentes, pois possuem menos oxigênio

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Os cientistas estudaram as tolerâncias de temperatura de 694 espécies de peixes marinhos e de água doce para estabelecer o impacto que o aumento da temperatura terá. Eles analisaram as faixas de temperatura nas quais os peixes podem sobreviver em todas as fases da vida: embrião em um ovo, larva e adulto, dividido por durante e não durante a estação de acasalamento. Eles também analisaram as mudanças de temperatura previstas nas áreas de desova, para prever o impacto que isso pode ter. Os cientistas previram que dez por cento seriam afetados se as temperaturas subissem 1,5 ° C. Na foto acima, um atum rabilho

Um estudo publicado esta semana na Scientific Data adverte que a Terra já aqueceu a 1°C nos últimos 150 anos, e as temperaturas provavelmente continuarão subindo. Em resposta à mudança, os peixes serão forçados a se adaptar através da evolução biológica, que provavelmente levará muito tempo, ou se aproximar dos pólos. “Algumas espécies podem gerenciar com sucesso essa mudança”, disse Dahlke. “Mas se você considerar o fato de que os peixes adaptaram seus padrões de acasalamento a habitats específicos por períodos de tempo extremamente longos e adaptaram seus ciclos de acasalamento a correntes oceânicas específicas e fontes de alimentos disponíveis, deve-se presumir que são forçados a abandonar seus hábitos normais áreas de desova significarão grandes problemas para elas.” As espécies que habitam rios e lagos têm o problema adicional de serem limitadas por tamanho e geografia, tornando a migração para águas mais profundas ou áreas mais próximas dos pólos ‘quase impossível’.

“Nossas descobertas mostram que os peixes são muito mais sensíveis ao calor do que em seu estágio larval ou adultos sexualmente maduros fora da estação de acasalamento”, disse o primeiro autor e biólogo do Centro de Pesquisa Polar e Marinha Helmholtz, Dr. Flemming Dahlke. Se o aquecimento global puder ser limitado a 1,5°C até o final do século, os cientistas disseram que apenas 10% das espécies de peixes serão forçadas mais ao norte. Os adultos terão dificuldade para se reproduzir e os ovos se “afogarão” antes de eclodirem, previram os cientistas. Na foto acima estão o bacalhau do Atlântico

Um gráfico publicado em um estudo da Scientific Data recentemente, disse que as temperaturas já aumentaram 1°C nos últimos 150 anos

Mas as previsões atuais sobre mudanças climáticas sugerem que o aquecimento excederá rapidamente esse limite.

Também é esperado que qualquer migração de espécies de peixes cause uma queda na produtividade, à medida que elas se ajustam aos seus novos habitats. O estudo foi publicado na revista Science . O Instituto Alfred Wegener e o Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha (AWI) estiveram envolvidos no estudo.

Novo nível de detalhe para projeções aprimoradas “Se nós seres humanos pudermos limitar com sucesso o aquecimento climático a 1,5 graus Celsius até o ano 2100, apenas dez por cento das espécies de peixes que investigamos serão forçadas a deixar suas áreas de desova tradicionais devido ao aumento da temperatura”, explica o biólogo e co-autor da AWI Hans-Otto Pörtner. Por outro lado, se as emissões de gases de efeito estufa permanecerem em um nível alto ou muito alto (SSP 5 - 8,5), é provável que produza um aquecimento médio de 5 graus Celsius ou mais, o que colocaria em risco até 60% de todas as espécies de peixes. Larva recém-eclodida “Nossas análises detalhadas, que cobrem todos os estágios de desenvolvimento dos peixes, nos ajudarão a entender como essas espécies estão sendo afetadas pelas mudanças climáticas e até que ponto a perda de habitats adequados está sendo impulsionada pela transformação dos ecossistemas relacionados ao clima. “, diz Hans-Otto Pörtner. Onde quer que os peixes migrem ou suas taxas de reprodução diminuam, haverá novas interações entre as espécies e, em alguns casos, os ecossistemas sofrerão uma queda na produtividade. O IPCC publicou projeções correspondentes sobre o futuro dos estoques mundiais de peixes em seu Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um AMAZÔNIA 63 revistaamazonia.com.br clima em mudança. Segundo Pörtner: “Nossas novas avaliações detalhadas ajudarão a melhorar essasREVISTA projeções”.

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Muitos animais constroem estruturas complexas para ajudar em sua sobrevivência, mas muito poucos são construídos exclusivamente a partir de materiais que os animais criam. Nas parteiras do oceano, as estruturas mucoides são prontamente secretadas por numerosos animais e cumprem muitas funções vitais. A criatura azul, semelhante a um girino, delineada no centro dessa estrutura elaborada, feita de muco, é uma larvácea gigante

Revelando estruturas enigmáticas do fundo do mar Fotos: Kim Reisenbichler / Instituto de Pesquisa do Aquário de Monterey Bay

Novo sistema a laser fornece reconstruções em 3D de animais vivos do fundo do mar e filtros de muco

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ivendo em um ambiente essencialmente de gravidade zero, muitos animais de profundidade desenvolveram corpos moles e gelatinosos e coletam alimentos usando elaborados filtros de muco. Até agora, estudar essas estruturas delicadas era praticamente impossível. Um novo estudo publicado na revista Nature descreve um sistema exclusivo baseado em laser para construir modelos 3D de animais marinhos diáfanos e as estruturas de muco que eles secretam. Segundo Kakani Katija, engenheiro principal da MBARI e principal autor do novo artigo, “o muco é onipresente no oceano, e estruturas complexas de muco são feitas por animais para alimentação, saúde e proteção. Agora que temos uma maneira de visualizá-las estruturas profundas abaixo da superfície, podemos finalmente entender como elas funcionam e quais os papéis que desempenham no oceano”. Para este estudo, os pesquisadores se concentraram em um dos arquitetos de muco mais prolíficos, os animais de profundidade chamados larvaceanos.

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As larvas são abundantes em todas as bacias oceânicas do mundo e variam de menos de um centímetro a cerca de 10 centímetros de comprimento.

Os chamados larvaceanos “gigantes” criam teias de muco semelhantes a balões que podem ter até um metro de diâmetro. Dentro desses filtros externos, existem filtros internos menores, do tamanho de um punho, que os animais usam para se alimentar de pequenas partículas e organismos, variando de menos de um mícron a alguns milímetros de tamanho.

Pouco se sabe sobre essas estruturas mucoides devido aos desafios de observá-las no fundo do mar. Entre essas formas mucoides, as “casas” dos larváceos são maravilhas da natureza, e na zona oculta do crepúsculo os larváceos gigantes secretam e constroem estruturas de filtragem de muco que podem atingir diâmetros superiores 1 m. Criaturas oceânicas extraordinárias usam muco para ajudar a remover carbono e microplásticos

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Apesar de seus corpos não substanciais, os larváceas removem grandes quantidades de alimentos ricos em carbono da água ao redor. Quando os filtros de muco ficam entupidos, os animais liberam o muco, que afunda rapidamente no fundo do mar. Isso ajuda o oceano a remover o dióxido de carbono da atmosfera e leva os microplásticos da coluna de água até o fundo do mar. Pesquisadores, como o cientista sênior do MBARI e co-autor Bruce Robison, há muito se interessam em como os larvaceans podem filtrar uma ampla variedade de partículas enquanto processam grandes volumes de água (até 80 litros por hora). Estudos anteriores analisaram filtros larvaceanos menores em laboratório, mas este é o primeiro estudo a fornecer dados quantitativos sobre essas estruturas de muco no oceano aberto. Para reunir esses dados, Katija, que chefia o Laboratório de Bioinspiração da MBARI, trabalhou com uma equipe de engenheiros, cientistas e pilotos submersíveis para desenvolver um instrumento chamado DeepPIV (PIV significa velocimetria de imagem por partículas). Montado em um veículo operado remotamente (ROV), o instrumento DeepPIV projeta uma folha de luz laser que ilumina partículas na água, como partículas de poeira em um raio de sol. Ao gravar o movimento dessas partículas em vídeo, os pesquisadores podem quantificar pequenas correntes em torno de animais marinhos, bem como a água que flui através de seus filtros e corpos transparentes.

Kakani Katija na sala de controle de veículos operados remotamente a bordo do navio de pesquisa da MBARI Western Flyer. Na tela é um larvacean gigante

Durante implantações de campo do sistema DeepPIV, Katija e seus colegas descobriram que, à medida que o ROV se movia para frente e para trás, a folha de luz laser revelava uma série de seções transversais através dos corpos gelatinosos e transparentes e dos filtros de muco de larváceas gigantes. Ao montar uma série dessas imagens transversais, a equipe conseguiu criar reconstruções tridimensionais de larvaceans individuais e seus filtros, da mesma forma que os radiologistas fazem após uma tomografia computadorizada (CAT) de um corpo humano.

A coleta de imagens de vídeo de alta fidelidade exigiu a pilotagem especializada dos ROVs da MBARI. “Usar o DeepPIV para coletar essas seções transversais em 3D é provavelmente a coisa mais difícil que já fiz com um ROV”, disse Knute Brekke, piloto chefe do ROV Doc Ricketts. “Estávamos usando um robô de 12.000 libras para mover uma folha de laser de um milímetro de espessura para frente e para trás através de um larvácea e seu filtro de muco do tamanho de um punho que estava à deriva centenas de metros abaixo da superfície do oceano”.

Agora que existem ferramentas para estudar as estruturas de muco encontradas em todo o oceano, podemos lançar luz sobre algumas das formas mais complexas da natureza. Parecendo girinos do oceano constroem o equivalente a uma complexa casa de cinco andares que os protege de predadores, funis e filtra os alimentos para eles, tudo do ranho que sai de suas cabeças

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As criaturas mais estranhas do mar, agora com detalhes impressionantes

Combinando modelos tridimensionais de filtros larvaceanos com observações de padrões de fluxo através dos filtros, Katija e seus colaboradores conseguiram, pela primeira vez, identificar a forma e a função de diferentes partes do filtro interno do larvaceano. Usando o software de renderização em 3D, eles conseguiram “voar através” do filtro interno e estudar o fluxo de fluidos e partículas através de diferentes partes do filtro. “Agora temos uma técnica para entender a forma dessas estruturas complexas e como elas funcionam”, explicou Katija. “Ninguém fez reconstruções 3D in situ de formas de muco como essa antes”. “Entre outras coisas, esperamos entender como os

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larvaceanos constroem e inflam essas estruturas”, continuou ela. “Isso pode nos ajudar a projetar melhores impressoras 3D ou construir estruturas infláveis complexas que podem ser usadas em vários ambientes”, incluindo debaixo d’água e no espaço sideral. Expandindo esse trabalho, os membros do Laboratório de Bioinspiração estão experimentando novos sistemas de imagem plenóptica 3D que podem capturar informações altamente precisas sobre a intensidade, cor e direção da luz em uma cena. Eles também estão colaborando no desenvolvimento de novos robôs subaquáticos que serão capazes de seguir animais gelatinosos pela água por horas ou dias seguidos.

“Neste artigo, demonstramos um novo sistema que funciona bem com uma variedade de veículos subaquáticos e organismos de água intermediária”, disse Katija. “Agora que temos uma ferramenta para estudar os sistemas de filtragem de muco encontrados em todo o oceano, podemos finalmente trazer à luz algumas das estruturas mais complexas da natureza”. “O DeepPIV revelou uma maravilha da engenharia natural na estrutura dessas redes de filtragem complexas e intrincadas”, disse Robison. “E no DeepPIV, a engenharia humana produziu uma nova e poderosa ferramenta para investigar esses e outros mistérios do oceano profundo”.

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Ano 15 Nº 84 Julho/Agosto 2020

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