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Ouvidoria Itinerante levará Disque 100 e Ligue 180 de barcoaté comunidades ribeirinhas
Em uma parceria entre a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o Governo Federal utilizará as agências-barcos do banco para levar o serviço a ribeirinhos de municípios do estado do Amazonas (AM) e do arquipélago da Ilha do Marajó (PA). O acordo de cooperação técnica entre os órgãos foi assinado no Marajó, na agência- -barco da Caixa, com a presença do presidente da República Jair Bolsonaro, pela titular do MMFDH, ministra Damares Alves, e pelo presidente...
Na Agência-Barco Ilha do Marajó, Caixa anuncia medidas para estimular a economia e preservar o meio ambiente
Durante visita à Agência-Barco da CAIXA Ilha do Marajó, ancorada no município de Breves (PA), ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, lançou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf CAIXA) e o CAIXA Refloresta, que vai financiar projetos de plantio de árvores...
Abrace o Marajó levará internet e energia elétrica a ribeirinhos A população do arquipélago do Marajó (PA) terá acesso à internet, energia elétrica e será beneficiada por outras 108 iniciativas previstas no plano de ação do programa Abrace o Marajó. O planejamento que será executado até 2023 foi entregue pela titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), ministra Damares Alves, ao presidente Jair Bolsonaro.A cerimônia de lançamento das ações ocorreu no município marajoano de Breves...
EDITORA CÍRIOS
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Alain BejjaniDiretor, Elisângela Santos, Jobson Marinho, Kate MacDonald, Laurie Tamye, Layana Rios, Lofred Madzou, Ronaldo Hühn, Stefan Stern, Theresa Machemer, Universidade da Califórnia - Santa Cruz; FOTOGRAFIAS Alan Santos/PR, Alfred-Wegener-Institut / Steffen Graupner, Conover E. Sb Munch / Ciência 2002, Chris Pickerell / CCE Condado de Suffolk, Copernicus EU / Sentinel-2, Domínio público, ESA/NASA, Flammang Et Al./Relatórios Científicos, Gabriel Perez, Instituto de Astrofísica de Canarias, IUCN, Kirezci et al., Layana Rios, Luciana Ganeco, Markus Spiske in Unsplash, Michael Scudder, NASA / SOFIA / L. Cook / L. Proudfit, Nature, NWF, Pierre Markuse, Ronaldo Rosa, Scientific Reports Kirezci et al., Scientific Reports, 2020, Terry Blackburn, Tom Koerner / USFWS, Zachary Randall / Museu da Flórida, Willian Meira/MMFDH, WEF FAVOR POR
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle
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O programa Abrace o Marajó lançado em março deste ano, entra em uma nova fase durante evento realizado na cidade de Breves (PA), o Governo Federal lançou o Plano de Ação 2020-2023 com 110 iniciativas voltadas à geração de empregos e promoção da melhoria da dignidade, da educação e da saúde da população da região. As atividades previstas até 2023 devem ainda proporcionar oportunidades de capacitação em direitos humanos para gestores municipais e estimular novos...
Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
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Plano de ação do Abrace o Marajó tem 110 ações previstas até 2023
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NOSSA CAPA Área de produção de açaí. Sítio São Miguel Miry, às margens do Rio São José Ponta de Pedras – Marajó. Foto: Flávio Contente
Premiação reconhece atuação da Alubar no desenvolvimento local
A Alubar, empresa líder na fabricação de cabos elétricos de alumínio da América Latina, uma das maiores produtoras de vergalhões de ligas de alumínio do continente e fabricante de condutores de cobre para todo o Brasil, recebeu amplo reconhecimento no 8º Prêmio REDES de Desenvolvimento. Promovido pela REDES Inovação e Sustentabilidade (REDES/FIEPA), a premiação é destinada às grandes indústrias do Pará que mais compram dentro do estado e que apresentam boas...
Bradesco adere à iniciativa global para avaliar impactos climáticos dos negócios O Bradesco anuncia sua adesão à Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), tornando-se o primeiro banco brasileiro a fazer parte da iniciativa. A PCAF é uma colaboração internacional entre bancos, investidores e gestores de fundos com foco em desenvolver uma metodologia para mensurar e divulgar as emissões de carbono geradas pelas atividades financiadas pelas instituições. A participação do Banco na colaboração está em linha com sua estratégia frente às mudanças...
MAIS CONTEÚDO [12] Praças do Marajó terão Internet gratuita [12] Queremos transformar a Amazônia em um paraíso de biodiversidade [16] Pesquisadores do CBA desenvolvem catalisador a partir do lodo para produção de biocombustíveis [18] Como construir um futuro sustentável para todos [22] AI está aqui. É assim que pode beneficiar a todos [25] CFCC15 – Nosso Futuro Comum Sob as Alterações Climáticas [28] No Tocantins o primeiro banco ativo de germoplasma de peixes do Brasil [30] Cientistas dizem que pesca intensiva causa rápida evolução evolutivas nos peixes [32] Espécies de peixes que podem caminhar por terra [34] Água, água, em todos os lugares - e agora os cientistas sabem a origem [36] Para proteger o gelo que desaparece no mundo [40] Extinções que surgem da perda de habitat [44] Herbívoros com maior risco de extinção entre mamíferos, aves e répteis [48] Espécies exóticas invasoras podem em breve causar perda dramática de biodiversidade global [50] Pegadas humanas na Arábia Saudita podem ter 120.000 anos [52] PSP-MIL-53, invenção que converte (de forma sustentável) a água do mar em água potável em apenas meia hora [55] Níveis extremos do mar e as inundações costeiras ao longo do século XXI [58] Cientistas atmosféricos identificam ar mais limpo da Terra [60] A maior expedição ártica de todos os tempos [62] Recuo da camada de gelo da Antártida Oriental durante períodos quentes anteriores [65] Incêndios de zumbis estão atingindo o Ártico, causando queima recordes [66] O gelo do mar Ártico atinge o segundo nível mais baixo já registrado
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Plano de ação do Abrace o Marajó tem 110 ações previstas até 2023
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programa Abrace o Marajó lançado em março deste ano, entra em uma nova fase durante evento realizado na cidade de Breves (PA), o Governo Federal lançou o Plano de Ação 2020-2023 com 110 iniciativas voltadas à geração de empregos e promoção da melhoria da dignidade, da educação e da saúde da população da região. As atividades previstas até 2023 devem ainda proporcionar oportunidades de capacitação em direitos humanos para gestores municipais e estimular novos empreendimentos. O lançamento ocorrerá com a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro, e da titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), ministra Damares Alves. O programa é coordenado pelo MMFDH e hoje conta com a parceria de diversos outros órgãos e instituições para a realização das ações previstas no Plano.
Fotos: Alan Santos/PR, Ronaldo Rosa, Willian Meira/MMFDH Abrace o
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O Plano de Ação 2020-2023 para o Abrace o Marajó prevê a implantação de rede de comunicação para levar banda larga e conectividade 4G e 5G para todo o arquipélago com eficiência e segurança. A iniciativa será concretizada por meio de uma parceria do Ministério das Comunicações e do Governo do Pará. Com a ação Mais Luz para a Amazônia, o Ministério de Minas e Energia (MME) vai disponibilizar o serviço público de energia elétrica nas comunidades isoladas do Marajó por meio de sistemas de geração de fontes renováveis. A medida deve beneficiar 9 mil novos consumidores de energia com fontes 2020 - 2023 alternativas para a população. Versão final Por meio do Banco Nacional de DesenBrasília/DF, setembro de 2020 volvimento Econômico e Social (BNDES), o Abrace o Marajó vai implementar a modernização das 16 prefeituras do arquipélago. O objetivo é aprimorar os meios de atendimento ao cidadão, às empresas e das obrigações não financeiras junto ao Governo Federal e ao Governo Estadual. A previsão é que a iniciativa seja entregue em 2022.
PLANO DE AÇÃO
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Do total de iniciativas voltadas para o programa, 15 são coordenadas pelo MMFDH. Entre os projetos, está a Ouvidoria Itinerante, que levará o Disque 100 e Ligue 180 em barcos para atender a população marajoara. A ação é da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), que integra a estrutura do ministério, em parceria com a Caixa Econômica Federal. Além disso, o ministério vai fazer a doação de cestas de alimentos e de itens de higiene por meio da Operação Pão da Vida, que promove a segurança alimentar e apoio institucional à população marajoara em tempos de pandemia. A meta é entregar 96 mil cestas em todas as localidades do arquipélago. Cerca de 28,5 mil já foram entregues e mais de 200 mil itens de higiene foram doados.
Ações em outros ministérios
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Comunidades marajoaras serão atendidas no programa
O programa Criado pelo Governo Federal em março deste ano, o programa busca o desenvolvimento socioeconômico dos 16 municípios que compõem a Ilha do Marajó (PA). As ações são uma resposta estratégica para a recuperação da dignidade humana da população marajoense. O Marajó possui cerca de 550 mil habitantes. É o maior arquipélago flúvio-marítimo do planeta. Formado por cerca de 2.500 ilhas e ilhotas, tem potencial de desenvolvimento e crescimento, mas, atualmente, conta com oito municípios na lista daqueles com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.
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Ouvidoria Itinerante levará Disque 100 e Ligue 180 de barco até comunidades ribeirinhas Os canais de denúncias do Disque 100 e do Ligue 180 vão chegar às localidades mais longínquas do país
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m uma parceria entre a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o Governo Federal utilizará as agências-barcos do banco para levar o serviço a ribeirinhos de municípios do estado do Amazonas (AM) e do arquipélago da Ilha do Marajó (PA). O acordo de cooperação técnica entre os órgãos foi assinado no Marajó, na agência-barco da Caixa, com a presença do presidente da República Jair Bolsonaro, pela titular do MMFDH, ministra Damares Alves, e pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães. A iniciativa, no âmbito do projeto Abrace o Marajó, é uma resposta estratégica para a recuperação da dignidade humana da população marajoense. A agência-barco Ilha do Marajó possui infraestrutura e serviços disponíveis para operar como ponto de atendimento nos municípios paraenses de Belém, Salvaterra, Soure, Ponta das Pedras, Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Curralinho, Bagre, Breves, Melgaço e Portel. Atualmente, o trecho de ida e volta para os atendimentos nessas localidades é percorrido em 26 dias. Já a agência-barco Chico Mendes, navega durante 20 dias para atender às populações dos municípios amazonenses de Anamã, Anori, Beruri, Careiro, Codajás e Manaquiri. Coordenado pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do MMFDH, o atendimento dos canais de denúncias de violações será realizado de forma presencial. Em cada um dos dois barcos, que passarão por 17 municípios no Norte do país, será disponibilizada uma sala de atendimento. “Estamos trabalhando duro para levar serviços de extrema relevância, como os canais de denúncias da Ouvidoria do nosso ministério, aos quatro cantos do país. Temos um compromisso com quem mais precisa. As comunidades ribeirinhas precisam saber que podem contar com o Disque 100 e com o Ligue 180. No governo do presidente Jair Bolsonaro, ninguém fica para trás”, afirma a ministra Damares Alves.
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Além de abrir uma possibilidade de denúncias de violações de direitos humanos para os grupos vulneráveis nesses municípios, o projeto tem o objetivo de disseminar informação e orientar a população sobre a importância do trabalho da ONDH. A ação também pretende sensibilizar a rede de proteção local para incentivar a utilização, o atendimento a denúncias recebidas e o retorno para a Ouvidoria das providências tomadas. “É um projeto muito interessante tanto para a realização de denúncias, como para a divulgação do nosso trabalho e atendimento. Ribeirinhos, quilombolas, população indígenas, ciganos e muitos outros grupos vulneráveis sofrem inúmeras violências no país. O nosso objetivo é melhorar esse canal de atendimento que pode auxiliar na diminuição das violações de direitos humanos no Brasil”, ressalta o ouvidor nacional de direitos humanos, Fernando Ferreira.
Ouvidoria Itinerante A chegada do Disque 100 e do Ligue 180 aos ribeirinhos dos municípios do Amazonas e do arquipélago da Ilha do Marajó é o projeto-piloto da iniciativa Ouvidoria Itinerante. Em 2020, serão realizadas duas viagens - uma para cada estado. A partir de janeiro do ano que vem, a previsão é que o projeto seja implementado de forma permanente nas viagens das agências-barcos às localidades.
Na próxima etapa do projeto, a Ouvidoria Itinerante deve ser levada para garantir o atendimento e o recebimento de denúncias de violações de direitos humanos em eventos de grande porte, como o Carnaval de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. A previsão é de que o serviço também seja oferecido durante a Festa de Barretos e o Festival de Parintins.
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Ouvidoria Itinerante levará Disque 100 e Ligue 180 de barco até comunidades ribeirinhas.indd 7
Na ocasião, serão atendidos outros grupos vulneráveis, como quilombolas, ciganos, comunidades carentes e de cidades interioranas.
Disque 100 e Ligue 180 O Disque 100 e o Ligue 180 são serviços gratuitos para denúncias de violações de direitos humanos e de violência contra a mulher, respectivamente. Qualquer pessoa pode fazer denúncias pelos canais, que funcionam 24h por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Além de cadastrar e encaminhar os casos aos órgãos competentes, a ONDH recebe reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. Entre os grupos atendidos pelo Disque 100, estão crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, população LGBT e população em situação de rua. O canal também está disponível para denúncias de casos que envolvam discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais. Já o Ligue 180 é um canal específico de atendimento para mulheres. Além de denúncias de violência, como a doméstica e familiar, o serviço compartilha informações, recebe reclamações sobre a rede de atendimento e acolhimento à mulher em situação de violência e orienta as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente.
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Na Agência-Barco Ilha do Marajó, Caixa anuncia medidas para estimular a economia e preservar o meio ambiente Banco lança o Pronaf CAIXA, o CAIXA Refloresta e assina acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Fotos: Willian Meira/MMFDH
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urante visita à Agência-Barco da CAIXA Ilha do Marajó, ancorada no município de Breves (PA), ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, lançou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf CAIXA) e o CAIXA Refloresta, que vai financiar projetos de plantio de árvores em todas as regiões do país. O banco fechou ainda parceria inédita com o Ministério da Mulher, Família e Direito Humanos (MMFDH) para que a pasta possa utilizar as dependências das Agências-Barco da CAIXA para levar os serviços de atendimento oferecidos pelo Ministério às mulheres ribeirinhas. “A CAIXA apresenta grandes ações e resultados graças ao empenho dos empregados e dos nossos parceiros. Nós temos a missão de ajudar o país a se desenvolver, gerar renda, emprego, manter a sustentabilidade e ser o braço direito na execução das políticas públicas do Brasil”, afirmou o presidente Guimarães.
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Na Agência-Barco Ilha do Marajó, Caixa anuncia medidas para estimular a economia e preservar o meio ambiente.indd 8
Agências-Barco Na oportunidade, o presidente da República, Jair Bolsonaro, a convite do presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, conheceu as instalações da Agência-Barco Ilha do Marajó, uma das duas unidades itinerantes da CAIXA. A Agência-Barco preenche a necessidade de atendimento bancário de populações ribeirinhas da Amazônia. Elas sofrem pelas dificuldades de acesso às regiões e as Agências-Barco diminuem os gastos de deslocamento da população até os centros urbanos.
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Os barcos fazem uma viagem por mês, partindo de seus locais de origem e ficam, em média, dois dias em cada localidade. Possuem os mesmos serviços de uma agência convencional em terra e o mesmo horário de funcionamento. Além da Agência-Barco Ilha do Marajó, que navega por diversos municípios do Pará, a CAIXA possui a Agência-Barco Chico Mendes, que percorre cidades do Amazonas. “A CAIXA é o banco de todos os brasileiros. E, por isso, estamos em todos os cantos do país com mais de 55 mil pontos de atendimento à população, disse Guimarães.
A taxa de juros será de 4% ao ano e o cliente terá 14 meses para pagar. O valor máximo do empréstimo será de R$ 250 mil. “A agricultura familiar é a base do nosso agronegócio. E a CAIXA não poderia deixar de ajudar o homem do campo que movimenta a economia do país”, avalia Guimarães. O Pronaf CAIXA vai atender as seguintes culturas: café, cana-de-açúcar, maçã, milho, soja e uva. Para contratar, basta que o cliente procure a agência do banco de sua preferência.
CAIXA Refloresta O CAIXA Refloresta tem como objetivo financiar a execução de projetos de plantio de árvores em todas as regiões do país. Ao todo, serão milhões de árvores que vão contemplar os principais biomas brasileiros, dentre eles: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Para isso, devem ser investidos recursos do Fundo Socioambiental CAIXA (FSA CAIXA) por meio da assinatura de Acordos de Cooperação Financeira com os agentes executores selecionados. “A proteção do meio ambiente é um dos pilares do desenvolvimento sustentável. Por isso, a CAIXA vai investir no plantio das árvores de maneira integrada com o desenvolvimento social e econômico”, explica o presidente Pedro Guimarães.
Pronaf CAIXA
O primeiro passo do programa foi a assinatura de um Protocolo de Intenções entre a CAIXA e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), recentemente, em Brasília. Com a formalização da parceria, será elaborado, em conjunto com o SFB, um edital de chamamento público destinado a selecionar instituições responsáveis pela execução das ações de plantio.
Acordo de Cooperação com o MMFDH Com o acordo de cooperação técnica da CAIXA com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), o banco passa a disponibilizar o espaço das Agências-Barco para a realização do atendimento itinerante dos Serviços Disque Direitos Humanos - Disque 100 e o Atendimento à Mulher em Situação de Violência - Ligue 180, de responsabilidade da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do MMFDH. As comunidades ribeirinhas e a moradores de cidades dos estados do Amazonas e do Pará, que não dispõem dos canais presenciais destes atendimentos, poderão ser acolhidas pelos servidores do MMFDH nas dependências das embarcações, com toda a comodidade oferecida pelo banco. O Acordo de Cooperação tem duração de 24 meses, podendo ser prorrogado. Durante visita à Agência-Barco da CAIXA
O lançado Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) CAIXA vai disponibilizar R$ 1,4 bilhão para o financiamento dos custos de produção. O agricultor familiar poderá utilizar os recursos para aquisição de sementes, fertilizantes, vacinas, entre outros insumos.
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Abrace o Marajó levará internet e energia elétrica a ribeirinhos Fotos: Willian Meira/MMFDH
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população do arquipélago do Marajó (PA) terá acesso à internet, energia elétrica e será beneficiada por outras 108 iniciativas previstas no plano de ação do programa Abrace o Marajó. O planejamento que será executado até 2023 foi entregue pela titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), ministra Damares Alves, ao presidente Jair Bolsonaro.
A cerimônia de lançamento das ações ocorreu no município marajoano de Breves (PA)e contou com a presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Também estiveram presentes os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de Comunicações, Fábio Faria, e do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. “Eu acredito no povo brasileiro. Juntos vamos sair dessa para outra muito melhor. O povo brasileiro é trabalhador, é responsável e esse povo é cristão. Quem tem Deus no coração supera qualquer obstáculo. Breves, já estou com saudade de vocês. O que fazemos por vocês não é virtude, é obrigação. Contem com o nosso governo”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro na cerimônia. As ações do plano são voltadas à geração de empregos e promoção da melhoria da dignidade, da educação e da saúde da população da região. O programa é coordenado pelo MMFDH e hoje conta com a parceria de diversos outros órgãos e instituições para a realização das ações previstas. “Nós declaramos Breves a capital do Brasil por 24h.
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Presidente, é uma honra e um sonho o senhor estar aqui no Marajó para lançarmos a entrega do plano de ação do programa Abrace o Marajó”, disse a ministra.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria e o ministro de Minas e Energia responsáveis pelo provimento do acesso à internet e à energia elétrica a população do arquipélago do Marajó
Ações O plano que será implementado em até três anos prevê a implantação de rede de comunicação para levar banda larga e conectividade 4G e 5G para o arquipélago com eficiência e segurança. A iniciativa será concretizada por meio de uma parceria do Ministério das Comunicações com o Governo do Pará. “O presidente tem feito um governo de entregas e realizações importantes em todo o Brasil”, afirmou o ministro das Comunicações, Fábio Faria no evento. Outra ação chamada Mais Luz para a Amazônia, do Ministério de Minas e Energia (MME), vai disponibilizar o serviço público de energia elétrica nas comunidades isoladas do Marajó por meio de sistemas de geração de fontes renováveis. A medida deve beneficiar cerca de 10 mil novos consumidores de energia com fontes alternativas. “É com muita alegria que me junto à equipe do governo para trazer esse importante programa para a Ilha do Marajó e para toda a Amazônia.
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A ministra Damares Alves e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, assistem o presidente do Grupo Equatorial Energia, Augusto Miranda assinar o Mais Luz para a Amazônia
Serão atendidas mais de 400 mil pessoas, mais de 80 mil famílias. Só no Marajó serão 42 mil pessoas beneficiadas. São investimentos de R$ 3 milhões. É um dia especial para o Marajó e para o Brasil”, declarou Albuquerque. Além do ministro de Minas e Energia, assinaram o termo de autorização para a implementação de obras do programa Mais Luz para a Amazônia , o presidente da República, a ministra Damares Alves e o presidente da empresa Equatorial Energia, Augusto Miranda.
Ouvidoria Itinerante Durante a cerimônia, a ministra também destacou uma ação do plano que já está sendo realizada, o projeto Ouvidoria Itinerante. A iniciativa da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) utilizará as agências-barcos da Caixa para
levar o Disque 100 e o Ligue 180 até os ribeirinhos de municípios do arquipélago da Ilha do Marajó (PA) e do estado do Amazonas (AM). Leia mais.
“Hoje nós inauguramos essa iniciativa. Dentro do barco da Caixa tem uma sala com servidores da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH). O Disque 100 e o Ligue 180 estão no barco para protegermos as crianças e mulheres. Vou dar o recado: abusadores, acabou para vocês no Marajó!”, disse a titular do MMFDH.
Auxílio emergencial O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o secretário especial da Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, também fizeram parte da comitiva em Breves. Eles mostraram os números do auxílio-emergencial que o governo disponibilizou para a população em razão da pandemia do novo coronavírus. Pouco antes, o próprio presidente da República realizou um dos atendimentos para o fornecimento do auxílio emergencial na Agência-Barco Ilha do Marajó (PA).
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Praças do Marajó terão Internet gratuita Fotos: Alan Santos/PR
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ampliação do acesso à internet é parte das entregas do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, dentro do programa Abrace o Marajó, que tem por objetivo melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano na região. Na cerimônia de entregas do governo federal, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, inaugurou o programa Wi-Fi na Praça, na comunidade Corcovado, município de Breves, localizado na ilha do Marajó, no Pará. Fábio Faria também anunciou a cobertura de internet, com tecnologia 4G, em localidades da Ilha. Os anúncios foram feitos em evento público e contou com as presenças do presidente Jair Bolsonaro e de ministros de Estado.
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O projeto Wi-Fi na Praça permite o acesso gratuito e ilimitado à internet por meio de antena satelital instalada em praças públicas de comunidades com baixíssima ou inexistente conexão de internet. “Essa antena aqui, da Telebras, vai trazer internet de graça e pega em um raio de 200 metros”, pontuou o ministro. Fábio Faria lembrou que a comunidade paraense é a segunda localidade a receber o Wi-Fi na Praça. Há cerca de um mês, o ministro estreou o projeto no município de Ipanguaçu, no Rio Grande do Norte. Na ocasião, os moradores da pequena comunidade rural de Angélica passaram a ter um sinal de internet permanente, com acesso totalmente gratuito.
O plano que será implementado em até três anos prevê a implantação de rede de comunicação para levar banda larga e conectividade 4G e 5G para o arquipélago com eficiência e segurança. A iniciativa será concretizada por meio de uma parceria do Ministério das Comunicações com o Governo do Pará. “O presidente tem feito um governo de entregas e realizações importantes em todo o Brasil”, afirmou o ministro das Comunicações, Fábio Faria no evento.
Cobertura 4G Mais seis localidades da Ilha do Marajó também passaram a receber cobertura banda larga móvel, com tecnologia 4G. Grande parte, em área rural, com precário acesso à internet. Foram beneficiados os distritos de Mainard, Câmara do Marajó, Retiro Grande, Piriá, São Miguel do Pracuúba e Joanes. “Com essa medida, mais de sete mil habitantes serão atendidos com internet 4G”, comemorou o ministro. TAC Tim - O ministro das Comunicações ainda lembrou que a Ilha de Marajó está contemplada no TAC - Termo de Ajustamento de Conduta - celebrado entre o governo federal, por meio da Anatel, e a Tim. O acordo prevê a cobertura 4G, financiada pela operadora, em 350 municípios do norte, nordeste e centro-oeste do país. A previsão é que essa estrutura de conexão esteja concluída até 2022.
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Queremos transformar a Amazônia em um paraíso de biodiversidade
A intenção é de transformar a Amazônia em um paraíso de biodiversidade
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m participação no webinar “Beyond the Headlines: the New U.S.-Brazil Opportunity”, promovido e organizado pelo Milken Institute, (instituto de pesquisa econômica independente, com sede em Santa Monica, Califórnia), o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a argumentar que há uma má interpretação sobre as queimadas na Amazônia e disse que Brasil está interessado em desenvolver mercado de carbono e obter ajuda internacional para preservar a floresta. O ministro também disse que o Brasil é mal interpretado quanto ao compromisso com o meio ambiente e com os indígenas. “Nossa bandeira é verde e amarela, então somos um país verde. Temos uma matriz energética limpa e estamos reavaliando projetos de investimentos”, completou. “Queremos desregular o mercado e desestatizar diversos setores. Queremos mais investimentos estrangeiros”, afirmou. “Queremos transformar a Amazônia em um paraíso de biodiversidade. Queremos transformar Manaus na capital mundial da bioeconomia e da economia sustentável. Vamos desenhar políticas econômicas que preservem a região amazônica”, respondeu, no evento que não constava na agenda do ministro e nem havia sido informado pela assessoria da pasta. Paulo Guedes voltou a garantir que a equipe econômica está comprometida com o cumprimento da regra fiscal do teto de gastos. “Não vamos abandonar o teto”, enfatizou.
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O ministro também repetiu que o governo tem o desafio de transformar a atual política fiscal anticíclica em um crescimento sustentável por meio do fomento aos investimentos privados. Para Guedes, o Brasil tem potencial para ser o maior e melhor destino de investimentos na saída da atual crise.
Mudança de perfil No evento, o ministro da Economia destacou a mudança de perfil da economia brasileira, que tem passado de investimentos públicos para investimentos privados. Ele voltou a citar a aprovação de novos marcos regulatórios para destravar
o capital privado em setores como saneamento, energia, gás natural e petróleo. “Por 40 anos, os investimentos no Brasil foram dirigidos pelo Estado, mas agora é o contrário. Em apenas um mês, o volume de IPOs no Brasil superaram o orçamento de investimentos do Ministério da Infraestrutura”, afirmo. Guedes repetiu que o governo estuda a criação de um instrumento de seguro cambial para grupos internacionais que realizarem investimentos de longo prazo em infraestrutura no País. “O investidor se preocupa em fazer um investimento de dez anos e perder dinheiro em uma semana por causa de uma crise política. Podemos prover aos investidores um mecanismo de seguro cambial”, externou. Guedes falou ainda que a recessão brasileira de 2020 causada pela pandemia de covid-19 deve ser menor que a prevista nos primeiros meses da crise, quando analistas chegaram a prever um tombo de até 10% no Produto Interno Bruto (PIB). “O PIB deve cair 4% ou 4% e pouco neste ano. Temos ainda dois meses para confirmarmos esse desempenho”, afirmou, no evento, que não constava na agenda do ministro e nem havia sido informado pela assessoria da pasta.
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Premiação reconhece atuação da Alubar no desenvolvimento local Empresa foi destaque na 8ª edição do Prêmio REDES de Desenvolvimento, ao vencer uma das categorias e figurar no top 3 de outras duas categorias por Jobson Marinho
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Alubar, empresa líder na fabricação de cabos elétricos de alumínio da América Latina, uma das maiores produtoras de vergalhões de ligas de alumínio do continente e fabricante de condutores de cobre para todo o Brasil, recebeu amplo reconhecimento no 8º Prêmio REDES de Desenvolvimento. Promovido pela REDES Inovação e Sustentabilidade (REDES/FIEPA), a premiação é destinada às grandes indústrias do Pará que mais compram dentro do estado e que apresentam boas práticas de relacionamento com fornecedores locais. A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu na última quinta-feira (24), na qual a Alubar ganhou em uma categoria e figurou no top 3 de outras duas.
A Alubar foi a grande vencedora da categoria Case de Desenvolvimento de Fornecedores, ao lado da fornecedora Construservice
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Os Presidentes da FIEPA, José Conrado Santos, e o do Centro das Indústrias do Pará, José Maria Mendonça, com os representantes da Alubar e Construservice, no Premio REDES de Desenvolvimento
Na categoria Absolutus, que reconhece as empresas que mais compraram em valores totais, a Alubar ficou em 3ª lugar. Foi a primeira vez que a empresa alcançou o pódio nesta categoria, que se destina às indústrias que mais movimentam a economia local.
Na categoria Percentum, que premia as empresas que mais compraram em termos percentuais, a Alubar esteve entre as vencedoras pelo quarto ano consecutivo, conquistando o 3º lugar. Em ambas as categorias, a premiação leva em consideração os resultados obtidos em 2019. “Esse prêmio para nós é a prova do nosso compromisso de desenvolver os fornecedores locais onde estamos instalados. Em todas as nossas unidades, no Pará ou fora, nossa alegria é desenvolver quem está próximo de nós. Este reconhecimento é a prova do retorno que nós podemos dar para o Estado”, disse o Diretor Executivo da empresa, Maurício Gouvea, ao receber o prêmio. Também pela primeira vez, a Alubar foi a grande vencedora da categoria Case de Desenvolvimento de Fornecedores, ao lado da fornecedora Construservice Construção & Serviços EIRELI, com uma melhoria na destinação final das embalagens de madeira que protegem os cabos elétricos de alumínio durante a estocagem e transporte. revistaamazonia.com.br
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Os Representantes da Alubar: Maurício Gouveia, Diretor Executivo, ao centro, entre Dorcas Xavier, Coordenadora de Suprimentos e Fábio Rezende, Gerente de Suprimentos
Ao final da vida útil, os carretéis de madeira são doados para a Construservice, empresa de Barcarena, que os recicla e os transforma em cunhas. Além de reduzir a zero o custo da destinação deste resíduo, a Alubar passou a adquirir essas cunhas recicladas a um preço menor em comparação com outros fornecedores. Com a melhoria, a empresa deixa de extrair da natureza cerca de 100m³ de madeira por ano, contribuindo para a preservação das florestas e para a redução no consumo de água e energia utilizados na extração. “É muito importante para gente a premiação e o apoio que a Alubar nos deu. A Alubar mostrou para nós uma oportunidade. Nós cuidamos do resíduo da empresa e transformamos isso num produto, utilizando logística reversa e a prática da produção mais limpa”, afirmou Shara Alexandre, Engenheira Ambiental e de Segurança do Trabalho da Construservice.
A Coordenadora de Suprimentos da Alubar, Dorcas Xavier, ressalta que o desempenho da empresa na 8ª Edição do Prêmio REDES reflete não apenas o crescimento da empresa no período, mas também o compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentável do Pará. “O ano de 2019 foi muito forte de expansão dentro da fábrica e faz parte da nossa política priorizar o desenvolvimento da região. Esse prêmio é um bom resultado do trabalho da área de Suprimentos da Alubar, que envolve também capacitar, desenvolver e prestar consultoria para que os fornecedores locais estejam qualificados a nos atender, alinhados a uma sólida política de segurança, meio ambiente e qualidade”, afirmou. O Diretor Executivo da REDES/FIEPA, Marcel Souza, destacou o avanço da Alubar ao longo dos anos com relação às compras internas.
“É muito difícil uma empresa estar entre as vencedoras em todas as categorias, em números absolutos quanto percentuais. A Alubar tem essa dupla parabenização e, além da parte de suprimentos, também avançamos muito na comunicação, em mostrar as boas práticas da indústria com relação a suprimentos e compras locais”, disse. Já o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Pará (FIEPA), José Conrado Santos, ressaltou a importância da premiação para reconhecer as empresas que desenvolvem o estado. “A Alubar, há vários anos, vem se destacando. Esse reconhecimento mostra as indústrias que fazem esse desenvolvimento do Pará, gerando emprego e renda para a nossa população”, relatou durante a cerimônia. [*]Analista - Temple
Alubar ganhou em uma categoria e figurou no top 3 de outras duas
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Complexo de coleta e tratamento de esgoto da capital amazonense
Pesquisadores do CBA desenvolvem catalisador a partir do lodo para produção de biocombustíveis por *Layana Rios
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m fungo que ocorre no solo da Floresta Amazônica revelou ser um importante estimulante do desenvolvimento de plantas. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) avaliaram mais de mil linhagens do fungo Trichoderma aplicadas em conjunto com duas fontes de fósforo, e constataram que muitas delas promovem o crescimento de plantas de soja. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports do grupo Nature. A utilização do lodo proveniente de estações de tratamento de esgoto (ETEs) como um catalisador para a produção de biocombustível mostrou-se possível a partir de uma pesquisa chefiada pelo Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) em parceria com outros institutos de pesquisa. O artigo foi publicado este mês na revista científica
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Fotos: Layana Rios
Energy, periódico internacional multidisciplinar em engenharia e pesquisa de energia de grande notoriedade mundial. A pesquisa foi chefiada pelo pesquisador do CBA, Flávio Freitas, pós-doutor em Química, e contou, ainda, com o biólogo Edson Silva, pós-doutor em Ciências de Alimentos, também integrante da equipe do CBA, além de pesquisadores do Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifam), Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Edith Cowan University, da Austrália. De uma forma bem simplificada, para produzir um biocombustível é necessária uma reação entre o álcool e a gordura que somente ocorre na presença de um catalisador. “O que fizemos na pesquisa foi modificar o lodo, que é um rejeito, para utilizá-lo como catalisador na reação”, explicou o chefe da pesquisa, Dr. Flávio Freitas.
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Flávio Freitas e Edson Silva
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Resumo gráfico
Para chegar ao resultado, os testes de laboratório e validação da pesquisa foram realizados nas dependências do CBA e das instituições parcerias. A pesquisa concluiu que utilização do catalisador a partir lodo pode reduzir em até 30% o custo na produção do biocombustível, além de se mostrar um catalisador reutilizável e com possibilidade de regeneração. “Como produzimos a partir de um rejeito (lodo), há uma diminuição nos custos finais do biocombustível. Também observamos que o catalisador a partir do lodo pode ser reutilizado e regenerado, diferente dos catalisadores disponíveis no mercado, que
podem ser reutilizados, mas em uma proporção menor e também não possuem a capacidade de regeneração”, explicou Freitas. Segundo dados do artigo, as estações de tratamento de água de Manaus produzem cerca de 20 toneladas de lodo diariamente. “O Plano Nacional de Saneamento Básico já prevê a questão do tratamento do esgoto e as empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), em sua maioria, precisam terceirizar o tratamento dos rejeitos, enquanto, a partir da pesquisa, observa-se que esse mesmo lodo poderia até ser comercializado para uma empresa de produção de biocombustível, por exemplo”, observou o Dr. Edson Silva.
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Os pesquisadores explicam que o protótipo da pesquisa abre diferentes nichos de mercado, com a possibilidade do uso do catalisador a partir do lodo nas empresas que já trabalham com biocombustível, a criação de novas empresas, ou ainda da própria produção de biocombustível na fábrica para abastecer a frota interna de veículos, por exemplo. “Essa pesquisa vai ao encontro da proposta do CBA, de transformar o que antes era um rejeito, em um produto de alto valor agregado (biocombustível), trazendo, ainda, uma solução ambiental, economicamente rentável para as empresas do Polo e gerando empregos na região”, disse Silva.
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Como construir um futuro sustentável para todos O setor privado tem um papel fundamental no apoio a start-ups no espaço da inovação social. Negócios sustentáveis, modelos financeiros e cadeias de suprimentos são essenciais para resistir aos choques do mercado por *Alain BejjaniDiretor
1. Cadeias de abastecimento mais sustentáveis
As cadeias de suprimentos globais têm estado em destaque desde o bloqueio das fronteiras
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pandemia de coronavírus tem sido uma época sombria e difícil para todos nós: nossas comunidades, nosso pessoal e nossas empresas foram prejudicados econômica e socialmente à medida que a velocidade do movimento físico, interação e comércio diminuiu. Apesar disso, acredito que vivemos um momento de grandes oportunidades, um momento em que podemos reconstruir nosso mundo de uma forma que terá um impacto duradouro e positivo. Por quê? Porque a pandemia demonstrou que as empresas têm consciência e estão dispostas e são capazes de trabalhar para o bem maior. Vamos desenvolver isso agora, garantindo que o setor privado aborde o outro desafio urgente de nosso tempo - a necessidade de priorizar a sustentabilidade e a proteção de nosso planeta para as gerações futuras. Enquanto nos reunimos na Cúpula do Impacto do Desenvolvimento Sustentável virtual do Fórum Econômico Mundial , há muito a discutir - mobilidade urbana, a descarbonização das indústrias pesadas e o futuro da aviação e do turismo, para citar apenas alguns dos tópicos da agenda.
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Acredito que todos devemos nos comprometer com melhores práticas de negócios a fim de criar um mundo mais sustentável e inclusivo para todos. Em particular, é hora de cadeias de suprimentos mais sustentáveis, um foco maior em finanças verdes e um compromisso mais forte com a inovação social.
As cadeias de abastecimento globais têm estado em destaque desde que o bloqueio interrompeu fábricas, fechou fronteiras e reduziu o número de voos de passageiros capazes de transportar mercadorias. Isso está resultando em uma revisão significativa do status quo. De fato, uma pesquisa da McKinsey com 60 executivos seniores da cadeia de suprimentos descobriu que 93% deles estão planejando aumentar o nível de resiliência em suas cadeias de suprimentos. Tem havido muita discussão sobre o encurtamento das cadeias de abastecimento, reshoring ou near-shoring e centros emergentes de manufatura, como Filipinas, Hungria ou Costa Rica. Gostaria de me concentrar aqui, no entanto, no potencial da tecnologia para ajudar a reduzir a pegada de carbono das cadeias de abastecimento. Na pesquisa da McKinsey, 85% dos entrevistados lutaram com tecnologias digitais insuficientes na cadeia de suprimentos, enquanto 90% agora pretendem aumentar o talento da cadeia de suprimentos digital internamente.
Como encorajar os rebentos verdes de um futuro sustentável
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Vamos usar este momento, então, não apenas para impulsionar a confiabilidade e a segurança dos suprimentos, mas também para colocar a sustentabilidade no centro da reconstrução de nossas cadeias de suprimentos. Na indústria de navegação, por exemplo, vamos acelerar os esforços para encontrar embarcações de alto mar comercialmente viáveis que operem com combustíveis de emissão zero , ao mesmo tempo em que adotamos a digitalização dos portos para que os navios possam viajar na velocidade que permite a eficiência de combustível ideal. O Blockchain também ajudará a aumentar a eficiência, reduzindo a burocracia e as emissões de CO2. Um exemplo da minha região é a conexão de duas plataformas de blockchain independentes que permitiram à Bee Dee Industries, sediada em Hong Kong, enviar uma remessa para uma das marcas de varejo do Landmark Group nos Emirados Árabes Unidos.
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Espera-se que isso seja um plano para futuras remessas internacionais com blockchain no setor de varejo, reduzindo drasticamente o tempo de transação. Importa porque liberta navios, reduzindo assim a necessidade de um maior número de voos cargueiros, mais prejudiciais ao ambiente.
2. Melhores práticas de finanças verdes De fazendas de energia solar a defesas contra enchentes, o mundo precisa construir uma infraestrutura mais sustentável. E para construí-lo, precisamos ter metas específicas para a emissão de financiamento verde. Alguns dos países mais pobres do mundo costumam ser os que mais sofrem com os estragos das mudanças climáticas. Precisamos adotar uma abordagem multilateral - com governos, setor privado e ONGs se unindo para financiar projetos verdes. A construção de um futuro sustentável não pode acontecer sem crescimento econômico. E para ajudar o crescimento a florescer, devemos resistir à tentação de ser protecionistas e egoístas, mas antes trabalhar para uma maior integração, desregulamentação e livre circulação de mercadorias. Ao mesmo tempo, o setor privado deve concordar coletivamente sobre um conjunto comum de métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) para promover o fi-
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nanciamento verde. Acredito que devemos introduzir metas baseadas na ciência para as emissões de carbono, ao mesmo tempo que devemos adotar as diretrizes que estão sendo desenvolvidas pela Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima . Ao permitir que investidores, credores, seguradoras e outras partes interessadas tenham conhecimento e transparência em torno das implicações climáticas de iniciativas específicas, o fluxo de dinheiro será direcionado para longe de projetos poluentes e para aqueles com um impacto positivo nas comunidades e, na verdade, no mundo mais . Assim que essas métricas forem estabelecidas, também acredito que devemos integrar os relatórios de sustentabilidade às atualizações financeiras como uma coisa natural. Como visto durante o coronavírus, o objetivo das empresas foi além do lucro para ajudar a criar um mundo melhor. Nossos resultados financeiros devem refletir essa realidade.
3. Inovação social avançada Por fim, sustentabilidade também significa criar um mundo mais justo para todos, tornando nossas comunidades mais equitativas, acessíveis e inclusivas.
Sem isso, corremos o risco de alienar os jovens, aprofundar a exclusão digital e deixar muitos para trás, criando mais divisões quando deveríamos estar juntos em vez de nos separar. Acredito que o setor privado tem um papel fundamental aqui no apoio a start-ups no espaço da inovação social, ao mesmo tempo que ajuda a garantir que todos tenham acesso às ferramentas digitais de que precisam. A Microsoft, por exemplo, lançou uma iniciativa para ajudar 25 milhões de pessoas em todo o mundo a adquirir as habilidades digitais necessárias em uma economia COVID-19 . Mas não são apenas as empresas de tecnologia que podem ajudar aqui.
Ao emprestar nossa experiência e apoio aos empreendedores, podemos fortalecer os ecossistemas de start-ups onde quer que estejamos. Um projeto inovador que me chamou a atenção é o Liter of Light , que ensina comunidades marginalizadas a usar garrafas plásticas recicladas para criar uma lanterna movida a energia solar , transformando casas, empresas e ruas com acesso limitado ou nenhum acesso à eletricidade. É um exemplo de empoderamento de empreendedores de base e seu trabalho já se espalhou por 15 países e 353.000 lares em todo o mundo. O Fórum Econômico Mundial tem sua própria rede de Jovens Líderes Globais que buscam trazer mudanças positivas, com uma miríade de projetos diferentes, incluindo combate à corrupção por meio de iniciativas de dados abertos, compartilhamento de conhecimento entre pequenos agricultores, uso de biomassa para criar combustíveis sintéticos verdes ou desenvolver alternativas de proteínas baseadas em plantas. O setor privado bem estabelecido deve apoiar ativamente esses empreendedores, para que uma inovação mais transformadora seja realizada.
Seguindo em frente juntos As lições do COVID-19 são múltiplas - e há muito trabalho pela frente. Muitos na comunidade empresarial aprenderam, embora tarde demais, que modelos de negócios e finanças sustentáveis, cadeias de suprimentos sustentáveis e capitalismo de partes interessadas são essenciais para resistir aos choques do mercado. Se não levarmos essas lições a bordo e repensarmos o papel dos negócios na sociedade, cairemos na mesma armadilha quando a próxima crise surgir, seja ela financeira, de saúde, cibernética ou outra. Agora é a hora de unir forças e garantir que a sustentabilidade esteja no centro de todos os nossos esforços de reconstrução. [*] Executivo, Majid Al Futtaim [**] Em WEF
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Bradesco adere à iniciativa global para avaliar impactos climáticos dos negócios Banco entra na Partnership for Carbon Accounting Financials, iniciativa de aproximadamente 80 instituições financeiras que somam US$ 13,8 trilhões em ativos
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Bradesco anuncia sua adesão à Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), tornando-se o primeiro banco brasileiro a fazer parte da iniciativa. A PCAF é uma colaboração internacional entre bancos, investidores e gestores de fundos com foco em desenvolver uma metodologia para mensurar e divulgar as emissões de carbono geradas pelas atividades financiadas pelas instituições. A participação do Banco na colaboração está em linha com sua estratégia frente às mudanças climáticas e histórico de avanços na gestão do tema na Organização. Desde 2015, o Bradesco faz parte de iniciativas com o Financial Stability Board (FSB) e a Organização das Nações Unidas (ONU) para estudar os impactos climáticos nos negócios. Em 2019, o Banco foi a única entidade brasileira a participar da construção dos Princípios para Responsabilidade Bancária da ONU, compromisso que busca fortalecer o apoio dos bancos ao Acordo Climático de Paris. Já esse ano, o Bradesco assumiu as metas de, ainda em 2020, ter 100% de suas operações abastecidas por energia de fontes renováveis e de neutralizar 100% das emissões de carbono geradas pelas atividades operacionais da Organização.
Alinhado ao compromisso com a sustentabilidade, o Bradesco anunciou duas novas iniciativas para fortalecer a atuação da Organização frente aos desafios trazidos pelas mudanças climáticas.
Energia limpa
Mudanças Climáticas As mudanças climáticas vêm causando cada vez mais impactos no meio ambiente, na sociedade e na economia – não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
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Bradesco adere à iniciativa global para avaliar impactos climáticos dos negócios.indd 21
Ainda este ano, o Bradesco se tornará uma das primeiras grandes instituições financeiras nomundo a ter 100% das operações abastecidas com energia de fontes renováveis.
Neutralização de carbono O Bradesco passará a ser o primeiro grande banco brasileiro a neutralizar 100% das emissões de gases de efeito estufa (equivalentes a carbono) geradas pelas operações do banco de 2019 em diante. Desde 2006, o Bradesco compensa as emissões de Escopos 1 e 2. Agora, irá ampliar para fontes de Escopo 3, também chamadas de emissões indiretas. Para mais informações, conheça nosso inventário clicando aqui. As ações ajudam a reduzir os impactos ambientais da Organização e aprimoram a gestão de aspectos relativos às mudanças climáticas. Afinal, para desafiar o futuro é necessário se comprometer e tomar atitudes que o tornem melhor.
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É hora de aprender sobre inteligência artificial e usá-la com sabedoria
AI está aqui. É assim que pode beneficiar a todos A Inteligência Artificial pode melhorar vidas, mas para evitar questões como precisão, controle humano, transparência, preconceito e desafios de privacidade, seu uso precisa ser administrado com cuidado e ética. Uma maneira de fazer isso é criar um “Centro de Excelência” nacional para defender o uso ético da IA e ajudar a implementar o treinamento e a conscientização.Vários países já têm centros de excelência - aqueles que não têm, deveriam. por *Kate MacDonald , **Lofred Madzou
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IA pode ser usada para aumentar a precisão e a eficiência da tomada de decisões e melhorar a vida por meio de novos aplicativos e serviços. Pode ser usado para resolver alguns dos espinhosos problemas de políticas de mudança climática, infraestrutura e saúde. Não é nenhuma surpresa que os governos estejam, portanto, procurando
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maneiras de construir conhecimento e compreensão em IA, tanto no setor público, mas também na comunidade em geral. Para liberar o potencial da IA com segurança, no entanto, questões como precisão, controle humano, transparência, preconceito e privacidade precisam ser abordadas. Portanto, os governos devem modelar o uso ético da IA e educar seu
Fotos: Markus Spiske no Unsplash, WEF
pessoal sobre IA e como estar pronto para as oportunidades e desafios. Uma forma de os países fazerem isso seria criando um órgão que seja um foco visível para a IA: um centro de excelência. Nosso projeto recomenda isso como uma forma de aumentar o uso ético da IA em um país e construir o apoio público para isso em toda a economia e sociedade.
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O que faria um centro de excelência? O centro seria solidário e educacional e seria capaz de moldar o desenvolvimento ético das práticas de IA. Para isso, pode incluir as seguintes funções: *Reúna informações e inteligência sobre o uso de IA internacional e forneça aconselhamento e apoio com base nessa coleta de inteligência (por exemplo, para o governo, setor privado, organizações individuais, sociedade civil, projetistas de IA, compradores de IA, etc.) *Trabalhar com agências e ministérios individuais para auxiliar no desenvolvimento e aquisição de algoritmos; fornecer relatórios de erros (por exemplo, para produtos comerciais para ajudar na segurança do produto) *Atuar como um ombudsman para destacar problemas no uso de algoritmos e IA de maneira transparente ou identificar riscos e soluções *Desenvolver sandboxes regulamentares e fornecer suporte aos usuários *Atuar como um centro para reunir experiência no desenvolvimento e uso de soluções de IA *Buscar soluções centradas no cidadão, por meio do uso de habilidades e abordagens de design centradas no ser humano e desenvolver princípios e abordagens baseadas em princípios que reflitam a diversidade das comunidades, incluindo as visões indígenas *Trabalhar com a indústria e o governo para desenvolver práticas tangíveis e reais que atendam às necessidades dos desenvolvedores e aos requisitos legais *Identificação e iteração contínua das melhores práticas que podem ser escaladas no governo e no setor privado
Exemplos de países que já desenvolvem ferramentas e estruturas de IA Existem alguns grandes exemplos de uma série de governos que oferecem lições, tanto em termos de criação de órgãos que atuam como centros de excelência, mas também no desenvolvimento de funções-chave ou ferramentas que apoiarão um centro de excelência. O Reino Unido é um pioneiro nessa área com o Office for AI , que foi criado para impulsionar a adoção responsável e inovadora de tecnologias de IA para o benefício de todos no país. Isso envolve garantir que a IA seja segura por meio de boa governança, bases éticas sólidas e compreensão de questões-chave, como o futuro do trabalho; apoiar a adoção de IA em todos os setores; e certificando-se de que os blocos de construção básicos, como habilidades, dados, investimento e liderança, estejam disponíveis. A AI Singapore está reunindo todas as instituições de pesquisa sediadas em Cingapura e as start-ups e empresas do ecossistema AI para “catalisar, sinergizar e aumentar” a capacidade de Cingapura de impulsionar sua economia digital. Seu objetivo é usar a IA para enfrentar os principais desafios que afetam a sociedade e a indústria.
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Índice de prontidão de inteligência artificial governamental 2019
A Índia também lançou um Centro de Excelência em IA para melhorar a entrega de serviços eletrônicos governamentais de IA. O Centro será uma plataforma de inovação e atuará como uma porta de entrada para testar e desenvolver soluções e capacitar departamentos governamentais. O Canadá, o primeiro país do mundo a desenvolver uma Estratégia Nacional de IA, estabeleceu centros de excelência em pesquisa e inovação em IA em três de suas
universidades em 2018. Este investimento em acadêmicos e pesquisadores construiu a reputação do Canadá como um importante centro de pesquisa em IA . Malta criou a Malta Digital Innovation Authority, que é uma autoridade reguladora responsável pelas políticas governamentais destinadas a posicionar Malta como um centro de excelência e inovação em tecnologias digitais. Ele define e aplica padrões e implementa proteções para os usuários.
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Após gerações de crescente desigualdade, podemos ensinar os líderes de tecnologia a amar seus vizinhos mais do que algoritmos e lucros?
Exemplos de países explorando a ética A ética de dados tem sido uma área rica para muitos países. O grupo de especialistas dinamarqueses em ética de dados da Dinamarca forneceu uma série de recomendações ao governo para garantir que os valores essenciais sustentem o uso de dados; enquanto o Reino Unido também estabeleceu um Centro de Ética e Inovação de Dados , para conectar formuladores de políticas, indústria, sociedade civil e o público para garantir que o Reino Unido desenvolva o regime de governança certo para tecnologias baseadas em dados. A beleza de um centro de excelência é que ele é uma ferramenta flexível e ágil, que pode ser ajustada de acordo com as necessidades e demandas de cada época e lugar. Existem muitos exemplos para observar e extrair para desenvolver um corpo que melhor reflita seu ambiente e valores estamos nos ombros de gigantes! [*] Membro do Governo da Nova Zelândia, no WEF [**] Líder de projeto, IA e aprendizado de máquina, no WEF
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CFCC15 – Nosso Futuro Comum Sob as Alterações Climáticas
Os alertas da comunidade científica Fotos: Andrew C. Revkin, Christophe Maitre, Rudolph Hühn
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om cerca de 2.000 participantes de uma centena de países, a CFCC15 é a maior conferência científica internacional organizado antes da COP 21 em Paris. Abrangeu todos os campos da ciência relacionados com a mudança climática. Ela fez um balanço do estado atual do conhecimento sobre todos os aspectos da mudança climática, e avaliou todas as opções susceptíveis de oferecer soluções sustentáveis e equitativas para todos os países e todas regiões. O principal objetivo da COP 21, a realizar-se em dezembro de 2015, é estabelecer um quadro de cooperação entre os governos que garantem o crescimento constante da ambição individual e coletiva, para enfrentar o desafio da mudança climática. O novo regime de governança global deve construir a confiança, apoiar a implementação de políticas e medidas para maximizar os benefícios da cooperação internacional e fortalecer a consciência de que um novo modelo de desenvolvimento está surgindo (para de carbono baixo ou zero, e resistentes às mudanças climáticas). Para os cientistas, isso não é mais apenas avaliar os riscos e oportunidades para a ação. Eles também são incentivados a estudar e facilitar as várias disposições transitórias para economias e sociedades sustentáveis e resilientes. Esta declaração resume a base científica como base para a ação climática, com base em soluções de conhecimento atual e problemas. A mudança climática é o maior desafio do século 21. Suas causas estão profundamente enraizadas na nossa maneira de gerar e utilizar a energia, produzir nossos alimentos, transformar territórios e consomem mais do que o necessário. Seus efeitos são susceptíveis de afetar todas as regiões da Terra, todos os ecossistemas e muitos aspectos da atividade humana. Soluções requerem um compromisso corajoso para o nosso futuro comum. Desde o aquecimento induzido por CO2 continua durante vários séculos, qualquer limitação do mesmo a uma temperatura máxima significa que as emissões de CO2 revistaamazonia.com.br
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Michel Jarraud, Secretário-Geral da OMM, disse “As temperaturas estão aumentando. O ciclo d’água está sendo alterada. O gelo e a neve estão derretendo. Os níveis do mar estão subindo. Oceanos estão se aquecendo e tornando-se mais ácidos. Eventos climáticos extremos, como ondas de calor estão se tornando mais frequentes e mais intensos. São os pobres e os vulneráveis que estão pagando o preço mais alto”
Ségolène Royal, ministra francês da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia
deve, eventualmente, cair para zero. Há duas chances em cada três poder conter o aquecimento global a 2°C ou mais baixo se limitar as emissões de CO2 para 900 milhões de toneladas, ou cerca de 20 vezes o montante emitido durante o ano de 2014. Para somente limitar o aquecimento a 2°C, as emissões devem ser zero ou mesmo negativo no final do século 21. É necessário que a gestão da política inteligente e redução do risco associado à mudança climática sejam justas e reflitam a importância da história, as capacidades de cada um, uma distribuição justa dos recursos e da riqueza da experiência humana. O ano de 2015 é crucial
para o progresso. As possibilidades de encontrar soluções viáveis economicamente e oferecendo uma perspectiva razoável de limitar o aquecimento a um máximo de 2°C diminuem rapidamente. Cada país tem um papel a desempenhar. A adoção de medidas ambiciosas em 2015 pode revelar-se crucial para assegurar o nosso futuro comum em economias sustentáveis e robustas, sociedades equitativas e comunidades vibrantes. A ciência é a base sobre a qual deve ser apoiada para tomar decisões inteligentes na COP 21 e no período seguinte. Respondendo ao desafio das alterações climáticas exige ambição, a dedicação e empenho não só por parte da comunidade científica, mas também de governos, setor privado e sociedade civil. Nós, os representantes da comunidade científica, somos bastante determinados a analisar todos os aspectos do problema, para alinhar o programa de investigação sobre possíveis soluções, para informar o público e para apoiar o processo político.
O espaço das soluções 1. Um objetivo de atenuação ambicioso para limitar o aquecimento a 2°C acima dos níveis pré-industriais é possível economicamente. Mas qualquer atraso na redução drástica das emissões, esperada por parte de alguns países ou exclusão de determinadas tecnologias de energia limpa, vai aumentar as medidas de custos e complexidade. As estratégias de mitigação para limitar o aquecimento a 2°C com boa relação custo-eficácia exigem uma redução das emissões de gases de efeito estufa em 40 a 70% dos níveis atuais até 2050. 2. Mitigação das próximas décadas serão cruciais para determinar a importância de aquecimento de longo prazo e os riscos associados. Mas mesmo com uma política ambiciosa de mitigação, muito das mudanças climáticas observadas nas próximas décadas será inevitável devido ao clima e tecnologias de processo de ciclo normais de funcionamento e infraestrutura. Adaptar-se a curto e longo prazo certamente vai se preparar para riscos de impactos inevitáveis, mas tem seus limites. 3. Os investimentos em adaptação e mitigação da REVISTA AMAZÔNIA
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Nebojsa Nakicenovic, analista de longa data das tendências de energia e do clima, descreve caminhos para uma relação humana mais segura com o clima em uma ciência e política na CFCC15
mudança climática pode oferecer muitas vantagens relacionadas com o reforço da proteção contra a variabilidade climática atual, reduzindo os danos causados pela poluição do ar e água, e promover o desenvolvimento sustentável. Respostas à mudança climática inteligentes concebidos para maximizar os benefícios relacionados e minimizar os efeitos colaterais, pode ser parte de uma estratégia integrada para o desenvolvimento inclusivo e sustentável. 4. Uma meta ambiciosa de mitigação irá exigir uma série de medidas, incluindo o investimento em investigação, desenvolvimento e transferência de tecnologia; a eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis fósseis; e o estabelecimento de um preço do carbono. Precificação do carbono ajuda a criar condições de concorrência equitativas para as diferentes tecnologias de energia através do pagamento para os danos causados pelas alterações climáticas e por premiar outros benefícios resultantes de atividades de mitigação. 5. Até o final do século, os investimentos globais em energia e infraestrutura energética irá representar vários milhares de bilhões. O investimento adicional necessário para a transição para a energia limpa pode representar uma pequena fração desse montante. Para a aplicação efetiva, esse custo adicional pode contribuir em grande medida para o crescimento econômico inclusivo e sustentável. 6. É mais fácil de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em alguns setores do que em outros. Por exemplo, é mais fácil agir na redução do desmatamento, eficiência
Discurso de Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional, Presidente da COP 21, no encerramento da CFCC15
energética, geração de energia, edifícios e carros. Isto torna-se mais complexo nas áreas de aviação, caminhões, navios, agricultura e oceânicos. As tecnologias com forte potencial de gestão preocupação demanda, eficiência energética, energia solar e eólica, bioenergia e energia nuclear; todos têm o potencial para grandes avanços. Melhor gestão do mundo oferece grandes oportunidades, não só para o clima, mas também para os serviços dos ecossistemas e da biodiversidade.
todos os continentes, a partir do equador para os polos e montanhas até a costa. A mudança climática contribui para uma variedade de condições extremas: ondas de calor, chuvas intensas, incêndios, secas, derretimento de neve e gelo. Eles impedem o aumento da produção agrícola e alteram localizações geográficas e atividades de plantas e animais, tanto em terra, em lagos e rios, ou oceanos. 3. As populações e regiões do mundo são vulneráveis e expostos às alterações climáticas, mas os riscos variam conforme a localidade. A vulnerabilidade é particularmente alta em áreas onde a pobreza, a desigualdade, a falta de infraestrutura e governança ineficaz são aditivos e, assim, limitar as possibilidades de ação. 4. Um nível elevado de emissões de gases de efeito estufa aumenta o risco de impactos graves, generalizadas e irreversíveis. Os riscos para as pessoas, as economias e os ecossistemas serão todos, muito mais importante em um mundo em que as emissões permanecem elevados e onde o aquecimento global pode chegar a 4°C ou mais acima dos níveis pré-industriais até o final do século, em comparação a um mundo onde os esforços de mitigação seriam ambiciosos. Os riscos mais sérios dizem respeito ao impacto sobre a segurança do abastecimento de água e alimentos, saúde e bem-estar, biodiversidade e serviços ecossistêmicos, desigualdade e pobreza, algumas culturas, as atividades econômicas e infraestrutura, e cruzando principais limiares quanto aos feedbacks do nível do mar, biodiversidade e clima.
Problemas de espaço 1. O aquecimento do sistema climático é inequívoco. Até agora é em grande parte atribuível às atividades humanas. 2. Os impactos das alterações climáticas já se fazem sentir são generalizadas e de grande alcance. Eles tocam
Carlos Nobre, membro do Conselho Consultivo do Secretário-Geral das Nações Unidas, diretor do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do CEMADEM/MCTI, no CFCC15
Debatedores concluíram que para mitigação, os impostos de carbono podem ser mais eficientes na obtenção de receitas públicas do que outra forma de tributação, pois os resultados são menos distorção do que os impostos sobre os fatores domésticos de produção, como capital ou trabalho. Separadamente, notou-se que a adaptação bem-sucedida pode ajudar a sustentabilidade das finanças públicas através de dois mecanismos: evitando futuras despesas de recuperação pósdano, e através da redução de perdas futuras do PIB e perdas de receita fiscal. Desta forma, o investimento em adaptação pode se tornar financeiramente sustentável, numa perspectiva de médio prazo, mesmo que financiado pela emissão de dívida pública. 26
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No Tocantins o primeiro banco ativo de germoplasma de peixes do Brasil O primeiro Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de peixes nativos do Brasil é formado por centenas de peixes vivos, além de um banco genético conservado em nitrogênio líquido e ultrafreezers a 80 graus negativos por *Elisângela Santos
Fotos: Luciana Ganeco
O primeiro Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de peixes nativos do Brasil é formado por centenas de peixes vivos, além de um banco genético conservado em nitrogênio líquido e ultrafreezers a 80 graus negativos
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ara acompanhar as mudanças ambientais, as flores em todo o mundo estão mudando suas cores. Uma nova pesquisa publicada na revista Current Biology liderada por cientistas da Universidade Clemson, mostra como a cor das flores respondeu à rápida degradação da camada de ozônio nos últimos 75 anos. A Embrapa Pesca e Aquicultura acaba de colocar em funcionamento, em Palmas (TO), o primeiro Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de peixes nativos do Brasil, direcionado especificamente para dar suporte à aquicultura. O plantel é formado por centenas de peixes vivos, além de um banco genético conservado em nitrogênio líquido e ultrafreezers a 80 graus negativos. “O BAG inicia suas atividades conservando principalmente três espécies estratégicas para o setor aquícola: o tambaqui (Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e a caranha (Piaractus brachypomus), as quais serão mantidas in situ (vivas) e ex situ (por meio de material genético - sêmen criopreservado),” destaca o pesquisador da Embrapa Luiz Eduardo Lima de Freitas, coordenador do projeto.
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Vista aérea da estrutura do BAG (tanques, coleção ativa)
Ele conta que o objetivo do BAG é apoiar a realização de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias e inovações para a aquicultura nacional, além de iniciar a implantação de um banco de germoplasma para conservação das espécies nativas da região amazônica. As novas instalações ocupam uma área aproximada de três hectares com 32 tanques escavados: 27 destinados à manutenção dos peixes, um para abastecimento dos viveiros, dois para recepção quarentenária dos animais e duas unidades de tratamento de efluentes. O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pesca e Aquicultura, o pesquisador Eric Arthur Bastos Routledge, explica que o BAG possui diversas funções no apoio à pesquisa.
“Ele vai funcionar como um ‘backup’ para o qual poderemos recorrer em caso de problema ou, eventualmente, no futuro, trocar material genético com outras instituições para trabalhos de pesquisa. O banco de germoplasma ainda poderá servir para o estabelecimento de parcerias com produtores, a fim de que eles possam melhorar a diversidade genética de seus plantéis”, planeja, acrescentando que essa é uma perspectiva de longo prazo para o uso da coleção.Os pesquisadores planejam utilizar o material do BAG em programas de melhoramento genético e desenvolver diferentes trabalhos na área de genética e reprodução, como o estabelecimento e melhorias nos protocolos de criopreservação, com os quais serão testadas, por exemplo, diferentes substâncias para melhor conservação do sêmen.
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Qualificação de germoplasma pode beneficiar mercado
Semen de tambaqui
Estratégico e valioso Em boa parte do mundo, o banco de germoplasma é tratado como uma questão de segurança nacional. A conservação da biodiversidade é considerada estratégica em muitos países para garantir a segurança alimentar da população e para manter a diversidade das espécies. O material genético de peixes soma-se aos bancos de germoplasma já mantidos pela Embrapa que preservam materiais capazes de originar seres vivos. “É uma decisão estratégica porque o peixe é uma das principais fontes de proteína animal no mundo, é a base alimentar para a maioria da população da Região Norte, que consome dez vezes mais do que nas outras regiões do País”, comenta o pesquisador da Embrapa Eduardo Sousa Varela, um dos responsáveis pelo BAG. O cientista afirma que a ideia é aproveitar a biodiversidade brasileira de peixes para que o País não dependa de espécies importadas. “A Embrapa possui o maior banco genético da América do Sul e há muito tempo já havia a necessidade de incorporar o peixe no portfólio de conservação da Empresa”, afirma ele, acrescentando que até então só havia iniciativas pontuais de conservação de peixes nas unidades da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), Embrapa Pantanal (MS) e Embrapa Amazônia Ocidental (AM).
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Diferentemente do mercado de sêmen bovino, que movimenta milhões de reais por ano, o Brasil ainda não comercializa material genético de peixes nativos – a produção de peixes baseia-se basicamente na coleta de alevinos produzidos naturalmente. Segundo Routledge, isso causa transtornos para a piscicultura nacional. “Por se tratar de animais muito pequenos, não é possível saber, com certeza, a espécie do peixe. O piscicultor encomenda alevinos de tambaqui puro, por exemplo, mas não dá para saber se é mesmo puro ou misturado com pirapitinga. Só com o tempo, ele conseguirá distinguir pela aparência do peixe. O mercado ainda está se profissionalizando nessa área, porque ninguém faz essa qualificação de germoplasma”, comenta. Um dos resultados da qualificação do material genético é a garantida de identificação da espécie. É como se fosse um atestado de origem com base na análise genética. “Para o leigo é tudo sardinha e tilápia, mas do ponto de vista técnico e zootécnico é diferente: há várias espécies de sardinha e de tilápia, por exemplo. Na hora em que se está introduzindo um peixe achando que é puro, utilizando um tambaqui macho e um tambaqui fêmea, é produzido um alevino que não se tem certeza de que os pais são de tambaquis puros”, explica Routledge.
Na prática, detalha o cientista, o produtor de alevinos pode vender gato por lebre sem nem saber. Assim, o ideal seria o produtor ter a certeza de que o peixe é filho de pais certificados daquela espécie, qualificados e reconhecidos como tal. É o famoso pedigree do animal. Enquanto isso, o empirismo prevalece na piscicultura, sobretudo com os peixes redondos. “O mercado ainda não exige um certificado de pureza, tal como acontece quando alguém vai comprar um cachorro de raça. O setor ainda precisa avançar nesse sentido”, declara. As tecnologias desenvolvidas pela pesquisa, coordenadas pelo Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), estão ajudando a mudar esse quadro. Cenário diferente acontece na produção de salmão, que é das espécies mais comercializadas do mundo e com mercado mais amadurecido. Com aquela espécie é possível encontrar alevinos não apenas com pedigree, mas melhorados geneticamente, com resistência a doenças e engorda rápida. No entanto, no Brasil a realidade ainda está longe disso. “Costumo dizer que nossos produtores fazem milagre, porque eles não têm material qualificado e estão produzindo, engordando e vendendo um peixe praticamente selvagem. Imagine quando eles tiverem um material qualificado e melhorado? Imagine um tambaqui, por exemplo, resistente ao acantocéfalo que a gente não tem aqui, mas pode vir a ter”, prevê o cientista. [*] Embrapa Pesca e Aquicultura
Coleta de sêmen de tambaqui
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Para esses silversides do Atlântico, os cientistas descobriram as mudanças genômicas que estimulam a evolução induzida pela pesca
Cientistas dizem que pesca intensiva causa rápida evolução evolutivas nos peixes Fotos: Conover E Sb Munch / Ciência 2002, Chris Pickerell / CCE Condado de Suffolk
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ecentemente e pela primeira vez, os cientistas revelaram mudanças genéticas que causam rápida evolução dos peixes devido à pesca intensiva. Anteriormente, essas mudanças eram invisíveis para os pesquisadores Nas últimas décadas, muitos peixes colhidos comercialmente cresceram mais lentamente e amadureceram mais cedo, o que resultou em rendimentos mais baixos e menor resiliência à superexploração. Os cientistas suspeitam há muito tempo que mudanças evolutivas rápidas nos peixes são causadas por intensa pressão de colheita. “A maioria das pessoas pensa na evolução como um processo muito lento que se desenrola em escalas de tempo milenares, mas a evolução pode, de fato, acontecer muito rapidamente”, diz a principal autora Nina Overgaard Therkildsen, professora da Universidade de Cornell.
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O artigo intitulado “Contraste de mudanças genômicas subjacentes à evolução fenotípica paralela em resposta à pesca” foi publicado na revista Science. Os seres humanos causam mudanças evolutivas generalizadas na natureza, mas ainda sabemos pouco sobre as bases genômicas da rápida adaptação no Antropoceno. Rastreamos alterações genômicas em todos os genes codificadores de proteínas em populações experimentais de peixes que evoluíram mudanças acentuadas nas taxas de crescimento devido à colheita seletiva de tamanho em apenas quatro gerações. Comparações de linhas replicadas mostram mudanças paralelas na frequência do alelo que recapitulam respostas a gradientes de seleção de tamanho na natureza em centenas de variantes não relacionadas concentradas em genes relacionados ao crescimento. No entanto, um superaglomerado de genes também aumentou rapidamente em frequência e dominou a dinâmica evolutiva em uma linha replicada, mas não em outras. Alterações fenotípicas paralelas mascararam respostas genômicas altamente divergentes à seleção.
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Em 2002, um experimento realizado em SUNY Stony Brook descobriu que a remoção seletiva de peixes maiores ou menores de populações experimentais de silverside do Atlântico ( Menidia menidia) poderia criar uma diferença dupla no peso corporal após quatro gerações. (Esquerda: peixe da população original. Parte superior direita: população em que pequenos indivíduos foram removidos. Parte inferior direita: população em que grandes indivíduos foram removidos.) Em 2019, uma equipe incluindo os autores originais fez uma análise genética de alguns dos peixes. , que haviam sido armazenados em um freezer após o experimento. Eles descobriram que muitos genes relacionados ao crescimento estavam envolvidos nas mudanças, mas que a natureza exata das mudanças diferia de um experimento para o outro. Em alguns casos, blocos inteiros de genes mudaram juntos, permitindo uma resposta rápida à pressão seletiva exercida pelo experimento. As descobertas imitam os tipos de efeitos que a pesca seletiva poderia criar e mostram que há mais de uma maneira genética para o peixe evoluir para se tornar menor ou maior.
A pesca quase sempre tem como alvo os maiores indivíduos. “Os peixes de crescimento mais lento serão menores e escaparão melhor das redes, tendo assim uma maior chance de transmitir seus genes para as próximas gerações. Dessa forma, a pesca pode causar rápidas mudanças evolutivas nas taxas de crescimento e em outras características”, afirmou Therkildsen. “Vemos muitas indicações desse efeito nos estoques de peixes selvagens, mas ninguém sabia quais eram as alterações genéticas subjacentes”. A boa notícia para as pratas do Atlântico é que a seleção da pesca foi capaz de explorar o grande reservatório de variação genética existente na faixa natural dessa espécie, da Flórida ao Canadá, disse Therkildsen: “Esse banco genético alimentou uma rápida adaptação no rosto forte pressão de pesca. Respostas semelhantes podem ocorrer em resposta a mudanças induzidas pelo clima em outras espécies com grande variabilidade genética.” Além de Conover e Munch, colaboradores de “ Contraste de mudanças genômicas subjacentes à evolução fenotípica paralela em resposta à pesca ” incluíram a ex-pesquisadora de pós-doutorado de Cornell Aryn P. Wilder, atualmente pesquisadora do Instituto de Conservação do Zoológico de San Diego; Hannes Baumann, Universidade de Connecticut; e Stephen R. Palumbi, Universidade de Stanford. Este trabalho foi financiado pela National Science Foundation.
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Espécies de peixes que podem caminhar por terra O estranho peixe pode ajudar os pesquisadores a visualizar os passos dos primeiros vertebrados terrestres Fotos: Flammang Et Al. Relatórios Científicos, Zachary Randall / Museu da Flórida A forma pélvica única do peixe anjo das cavernas foi documentada pela primeira vez em 2016. Sua anatomia incomum permite que ele ande com todos os quatro apêndices da mesma forma que uma salamandra ou um lagarto
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ma equipe internacional de cientistas identificou pelo menos 11 espécies de peixes suspeitos de terem a capacidade de andar em terra. As descobertas são baseadas em tomografias computadorizadas e um novo mapa evolutivo da família Balitoridae ou Torrent Loach, que inclui as únicas espécies de peixes vivas capturadas no ato de andar: um raro e cego peixe das cavernas conhecido como Cryptotora thamicola. , ou o peixe anjo das cavernas. Identificar quais espécies de botias do rio têm a capacidade de andar pode ajudar os cientistas a reconstruir como podem ter se tornado os primeiros vertebrados a andar na Terra. Em um novo estudo, pesquisadores do Museu de História Natural da Flórida, do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, da Louisiana State University e da Maejo University, na Tailândia, analisaram a estrutura óssea de quase 30 espécies de botias torrent, descrevendo pela primeira vez três categorias de formas pélvicas.
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Com base na forma do osso que conecta as espinhas de algumas botias às suas nadadeiras pélvicas, a equipe descobriu que outras 10 espécies de botias compartilhavam a cintura pélvica invulgarmente robusta do peixe-anjo da caverna.
“Os peixes geralmente não têm nenhuma conexão entre a coluna vertebral e a nadadeira pélvica”, disse o biólogo Zachary Randall, gerente do laboratório de imagens do Museu da Flórida e um dos co-autores do estudo, em um comunicado. “Mas antes, a ideia era que o peixe-anjo das cavernas era totalmente único. O que é realmente bom sobre este artigo é que ele mostra em detalhes que cinturas pélvicas robustas são mais comuns do que pensávamos na família do loach torrent. “ Mas nem todas as botias são tão talentosas: embora mais de 100 espécies de botias sejam encontradas em todo o sudeste da Ásia, o peixe-anjo das cavernas é o único cujas habilidades de locomoção foram observadas e estudadas. Seu movimento semelhante ao de uma salamandra, impulsionado por costelas alargadas reforçadas com conexões musculares estabilizadoras, foi descrito pela primeira vez em Relatórios Científicos em 2016 por Brooke Flammang, professor assistente de biologia no NJIT e investigador principal do estudo. Randall disse que a habilidade do peixe-anjo das cavernas de andar é uma adaptação chave para sobreviver a riachos de caverna. Ele pode se agarrar à rocha e mover-se entre habitats, até mesmo cachoeiras, pois os níveis de água flutuam na estação seca.
A forma pélvica única do peixe anjo das cavernas foi Peixe anjo das cavernas da Tailândia, Cryptotora thamicola
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A maior mobilidade do peixe-anjo das cavernas poderia ajudá-lo a acessar regiões de riachos bem oxigenadas com poucos ou nenhum ocupante. Mesmo assim, pouco se sabe sobre a espécie, incluindo o que ela come. “Essas botias convergiram em um requisito estrutural para apoiar a caminhada em terra que não é visto em outros peixes”, disse a autora do estudo e Ph.D. do NJIT Callie Crawford em um comunicado. “As relações entre esses peixes sugerem que a capacidade de adaptação a rios rápidos pode ser o que foi transmitido geneticamente”, em vez de um conjunto de características físicas específicas. A equipe usou tomografia computadorizada e análise de DNA para traçar a história evolutiva da família das botias e descobriu que, em vez de evoluir de uma única origem, uma região pélvica robusta apareceu várias vezes na família das botias. torrente. -“Embora o peixe-anjo das cavernas tenha sido descrito pela primeira vez em 1988, esta é a primeira vez que ele foi incluído na árvore genealógica do loach torrent”, disse Randall. “Com nossos colaboradores tailandeses e usando análise de DNA, fomos capazes de usar centenas de genes para rastrear como as formas pélvicas evoluíram nesses peixes ao longo do tempo. Agora, temos uma árvore muito mais precisa que adiciona uma estrutura para estudar quantas espécies podem andar. e até que ponto eles podem fazer isso. “ “Este estudo reuniu uma equipe de pesquisadores com interesses e níveis de experiência que vão desde aqueles de nós fazendo trabalho de campo e estudando peixes em seus habitats naturais até geneticistas e anatomistas comparativos”, acrescentou Lawrence Page, Curador de Peixes no Museu de Florida e um co-investigador principal do estudo. “O resultado é uma compreensão muito melhor da evolução de um evento extremamente raro: a capacidade de um peixe andar na terra”.
A pelve do peixe anjo das cavernas está fortemente conectada à sua espinha, semelhante a alguns anfíbios. Isso é o que permite seu andar de salamandra
O Homaloptera bilineata não tem uma pelve robusta semelhante à de Cryptotora thamicola, mas usa suas nadadeiras para se impulsionar para a frente. Até que ponto ele pode “andar” ainda é desconhecido
Randall e sua equipe observaram recentemente peixes-anjo das cavernas em uma excursão em cavernas de 2019 no noroeste
da Tailândia. Dada a raridade de ver um peixe-anjo da caverna no campo, Randall disse que a equipe ficou surpresa ao encontrar seis deles agarrados ao leito de um riacho raso e rápido entre estalagmites brilhantes em uma das câmaras da caverna. Ele acrescentou que a raridade do peixe-anjo das cavernas significa que as amostras de museu e os dados de tomografia computadorizada foram essenciais para mapear a evolução da família. “A beleza da tomografia computadorizada é que ela pode capturar diferentes tipos de dados de alta resolução sem comprometer a integridade da amostra”, disse Randall. “Para espécies raras como essa, permite até capturar coisas difíceis de observar no campo, até mesmo o que você come”. A equipe publicou seu trabalho no Journal of Morphology. Protopterus annectens, um sarcopterígio que vive na África, também é capaz de andar
O peixe ambulante, filmado na Indonésia, procura comida no fundo arenoso. Dois raios de suas barbatanas peitorais são usados para liberar pedaços de comida ou presas enterradas, e talvez para avançar
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O Oceano Pacífico visto do espaço. Tanto na forma líquida quanto na forma congelada, a água cobre a maior parte da superfície da Terra, e tem havido um debate entre os cientistas sobre a origem de toda a água
Água, água, em todos os lugares - e agora os cientistas sabem a origem
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Fotos: Gabriel Perez, Servicio MultiMedia, Instituto de Astrofisica de Canarias, Tenerife, Espanha, NASA / SOFIA / L. Cook / L. Proudfit
água na Terra é onipresente e essencial para a vida como a conhecemos, e ainda assim os cientistas permanecem um pouco perplexos sobre de onde veio toda essa água: ela estava presente quando o planeta se formou ou o planeta se formou e só mais tarde obteve sua água de impactos com objetos ricos em água, como cometas? Um novo estudo na revista Science sugere que a Terra provavelmente obteve grande parte de sua preciosa água dos materiais originais que construíram o planeta, em vez de a água chegar mais tarde de longe. Os pesquisadores que fizeram este estudo procuraram por sinais de água em um tipo raro de meteorito. Apenas cerca de 2% dos meteoritos encontrados na Terra são os chamados meteoritos condritos enstatitas. Sua composição química sugere que eles são próximos ao tipo de material primordial que se aglutinou e produziu nosso planeta 4,5 bilhões de anos atrás.
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Ilustração de um cometa, grãos de gelo e oceanos da Terra. SOFIA encontrou pistas nos grãos de gelo do cometa Wirtanen que sugerem que a água nos cometas e nos oceanos da Terra pode ter uma origem comum
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Você não saberia necessariamente o quão especiais esses meteoritos são à primeira vista. “É um pouco como uma rocha cinzenta”, diz Laurette Piani , pesquisadora na França do Centre de Recherches Pétrographiques et Géochimiques. O que ela queria saber sobre essas rochas é a quantidade de hidrogênio que havia ali porque era isso que poderia produzir água. Em comparação com planetas como Júpiter e Saturno, a Terra formou-se perto do sol. Os cientistas há muito pensavam que as temperaturas deviam ser altas o suficiente para impedir que qualquer água assumisse a forma de gelo. Isso significa que não haveria gelo para se juntar aos pedaços rodopiantes de rocha e poeira que estavam se chocando e lentamente construindo a jovem Terra. Se tudo isso for verdade, nosso planeta natal deve ter sido regado mais tarde, talvez quando foi atingido por cometas gelados ou meteoritos com minerais ricos em água vindos de partes mais distantes do sistema solar. Embora essa seja a visão predominante, alguns cientistas planetários não acreditam nisso. Afinal, a história da água da Terra seria muito mais simples e direta se a água estivesse apenas presente para começar. Piani e seus colegas recentemente examinaram de perto 13 desses meteoritos incomuns, que também se acredita que se formaram perto do sol. “Antes do estudo, quase não havia medição do hidrogênio ou da água neste meteorito”, diz Piani. As medições que existiam eram inconsistentes, diz ela, e foram feitas em meteoritos que poderiam ter sofrido alterações depois de cair na superfície da Terra. “Não queremos meteoritos que foram alterados e modificados pelos processos da Terra”, explica Piani, dizendo que eles selecionaram deliberadamente os meteoritos mais primitivos possíveis. Os pesquisadores então analisaram a composição química do meteorito para ver quanto hidrogênio havia nele. Como o hidrogênio pode reagir com o oxigênio para produzir água, saber
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Esta ilustração mostra o asteroide 24 Themis flanqueado por dois pequenos fragmentos que se quebraram após um acidente há mais de 1 bilhão de anos. A cauda em forma de cometa do fragmento inferior vem da sublimação do gelo de sua superfície
quanto hidrogênio está nas rochas indica quanta água esse material poderia ter contribuído para o crescimento da Terra. O que eles encontraram foi muito menos hidrogênio do que em meteoritos mais comuns. Ainda assim, o que foi que haveria o suficiente para explicar a abundância da água da Terra - pelo menos várias vezes a quantidade de água nos oceanos atuais da Terra. “É uma quantidade muito grande de água no material inicial”, diz Piani. “E isso nunca foi realmente considerado antes.” Além do mais, a equipe também mediu a proporção de deutério para hidrogênio nos meteoritos e descobriu que é semelhante ao que se sabe que existe no interior da Terra - que também contém muita água. Esta é uma evidência adicional de que existe uma ligação entre a água do nosso planeta e os materiais básicos de construção que estavam presentes quando se formou. As descobertas agradaram Anne Peslier , uma cientista planetária do Johnson Space Center da NASA em Houston, que não fazia parte da equipe de pesquisa, mas tem um interesse especial pela água.
“Fiquei feliz porque torna tudo simples e agradável”, diz Peslier. “Não precisamos invocar modelos complicados nos quais temos que trazer material rico em água da parte externa do sistema solar.” Ela diz que o fornecimento de tanta água de lá teria exigido algo incomum para perturbar as órbitas desse material rico em água, como Júpiter fazendo uma pequena viagem dentro do sistema solar interno. “Então, aqui, simplesmente não precisamos de Júpiter. Não precisamos fazer nada estranho. Apenas pegamos o material que estava lá onde a Terra se formou e é daí que vem a água”, diz Peslier. Mesmo que houvesse muita água no início, ela acha que alguma deve ter chegado mais tarde. “Acho que são os dois”, diz ela. Apesar desses resultados convincentes, ela diz, ainda há muitos mistérios aquáticos para sondar. Por exemplo, os pesquisadores ainda estão tentando determinar exatamente quanta água está trancada nas profundezas da Terra, mas é certamente substancial - vale vários oceanos. “Há mais água sob nossos pés”, diz Peslier, “do que você vê na superfície”.
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Memórias antigas presas nas geleiras do mundo
Para proteger o gelo que desaparece no mundo Glaciologistas armazenam e preservam amostras importantes do paleoclima
Fotos: Cortesia de Uga Fonda, Ipev/Fondation Uga, Sarah Del Ben/Wid Touch /Uga Fondation
A
s geleiras das montanhas registram nosso clima e nosso ambiente, capturados no gelo. Eles são os únicos registros naturais diretos que temos de variações na composição atmosférica, uma contribuição vital para a ciência ambiental e climática. No entanto, essa lembrança da história de nosso planeta está desaparecendo, pois muitas geleiras se retraem sem cessar em todo o mundo, devido às mudanças climáticas. O projeto Ice Memory constitui a primeira biblioteca mundial de gelo de geleiras arquivadas, para preservar esse patrimônio científico inestimável para as próximas gerações, quando técnicas futuras puderem obter ainda mais dados dessas amostras. Esse projeto, gerenciado pela Fundação Universidade de Grenoble Alpes, em colaboração com vários parceiros franceses e italianos, a Universidade de Veneza, se beneficia de uma comunidade internacional dinâmica de cientistas e, mais particularmente, de glaciologistas.
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As geleiras estão derretendo sob o efeito do aquecimento global: até o final do século 21, as geleiras atingindo um pico abaixo de 3.500 metros nos Alpes e abaixo de 5.400 metros nos Andes, todas terão desaparecido (fonte : Instituto de Geociências Ambientais, Universidade Grenoble Alpes). Compostas por inúmeras camadas de neve estratificadas ao longo de milênios, as geleiras são testemunhas únicas das mudanças atmosféricas e ambientais do passado. Seu elenco, já avançado, leva consigo páginas inteiras da história planetária. Agora é urgente salvaguardar esses arquivos frágeis, que são um capital científico comum e um patrimônio cultural. Em particular, são essenciais para entender nosso clima e antecipar mudanças futuras. Nas próximas décadas, o projeto planeja levar núcleos de gelo de cerca de 20 geleiras que desaparecem. É dada prioridade ao Monte Elbrouz (Rússia) e Kilimanjaro (Tanzânia), cuja fusão é particularmente avançada. Para cada geleira, três núcleos
são extraídos: um é analisado sistematicamente para criar um banco de dados de referência, enquanto os outros dois (chamados de “cenouras do patrimônio”) devem ser transportados para as terras altas da Antártica, na base franco-italiana Concordia, e armazenado em uma adega a uma temperatura constante de -54°C, pelos próximos séculos. “Precisamos preservar esses arquivos realmente importantes porque eles estão derretendo”, diz Margit Schwikowski, químico ambiental do Instituto Paul Scherrer, na Suíça. “É realmente óbvio se você for às geleiras que elas estão sofrendo. Está acontecendo em todos os lugares da Terra”. Schwikowski é um dos líderes do Ice Memory, que visa coletar núcleos de gelo de geleiras que desaparecem e enterrá-los permanentemente em um cofre coberto de neve na Antártica (que foi projetado, mas ainda não construído). A ideia é que a Antártica seja o congelamento mais duradouro da Terra e, portanto, o melhor local para armazenar núcleos de gelo científicos a longo prazo.
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Existem outros locais de gelo em todo o mundo. Os congeladores de universidades e instalações nacionais mantêm estoques de gelo perfurados nas regiões polares e nas geleiras das montanhas, que os cientistas podem facilmente visitar e estudar. Mas essas lojas nem sempre são seguras. Em 2017, um mau funcionamento do congelador na Universidade de Alberta, em Edmonton, derreteu parte da maior coleção de núcleos de gelo do Ártico canadense. É aí que surge a ideia de um cofre antártico. Desde 2015, a equipe da Ice Memory perfura e recupera núcleos de gelo de geleiras em quatro montanhas: Mont Blanc, nos Alpes franceses, Nevado Illimani, na Bolívia, Belukha, no russo Altai, e Mount Elbrus no Cáucaso. Estes são garantidos em freezers comerciais na Rússia, França e Suíça. O plano final é perfurar dois ou três núcleos de 20 a 30 geleiras. Um núcleo de cada geleira seria analisado agora e os outros enviados para armazenamento permanente na Antártica. A tecnologia usada para analisar os núcleos de gelo está avançando ano após ano, diz Schwikowski, e por isso é razoável supor que os especialistas no futuro terão ferramentas ainda mais poderosas. Isso lhes dará a chance de realizar análises mais sensíveis do que é possível hoje.
Histórias do passado Recuperar o gelo é um trabalho árduo. Os perfuradores normalmente extraem seções cilíndricas de gelo com cerca de 1 metro de comprimento e 10 centímetros de largura (cerca de 3 pés por 4 polegadas). Começando na superfície da geleira, os cientistas continuam perfurando e removendo as seções, com o objetivo de alcançar todo o caminho até a rocha.
O Mer de Glace (“Mar de Gelo”) recuou dramaticamente em seu vale nos Alpes franceses, como pode ser visto nessas fotografias de 1895 e 2018. À medida que o gelo derrete, o mesmo acontece com sua memória do passado - incluindo o que o ambiente era como no momento em que o gelo se formou
Trabalhar em altitude nessas condições é imprevisível. Ao perfurar o segundo núcleo da geleira Belukha em 2018, a equipe Ice Memory bateu em uma fenda e teve que parar cedo, a 60 metros da rocha. E no mesmo ano, o tempo no Monte Elbrus era tão ruim que a perfuração em dois núcleos teve que ser interrompida, novamente antes de chegar ao leito rochoso. “Ficamos sentados em nossas barracas durante uma tempestade de neve por 10 dias”, diz Stanislav Kutuzov, glaciologista do Instituto de Geografia de Moscou, que participou da expedição.
Cientistas com seções dos núcleos de gelo do Col du Dôme
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Quanto mais fundo os cientistas perfuram, mais antigo é o gelo que recuperam. Núcleos de gelo recuperados da Antártica transportam informações de até 800.000 anos atrás. Acredita-se que a maior parte do gelo das geleiras das montanhas, incluindo núcleos perfurados nos Alpes, data da era glacial mais recente e tem entre 5.000 e 10.000 anos de idade. A maioria dos núcleos de gelo estudados são dos pólos e da Groenlândia, porque esse gelo antigo apresenta uma imagem do clima a longo prazo. Mas o gelo das geleiras das montanhas é particularmente útil, diz Schwikowski, porque revela uma imagem da variação regional em todo o mundo, especialmente para partículas de poluição que não tendem a viajar muito longe. “Os núcleos de gelo são uma maneira inestimável de entender o clima passado”, concorda Gavin Foster, geoquímico do Centro Nacional de Oceanografia da Universidade de Southampton, Reino Unido, que co - autor de um artigo de 2018 Annual Review of Marine Science sobre estudos paleoclimáticos . “Parece não haver limite para o que eles podem nos dizer sobre as condições globais e locais”. Por exemplo, em um estudo publicado no ano passado, uma equipe do Japão e de Idaho analisou grãos de pólen em um núcleo de gelo de 87 metros perfurado na calota de gelo Grigoriev nas montanhas Tien Shan da Ásia Central.
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Os cientistas da Ice Memory querem enviar os núcleos de gelo perfurados das geleiras das montanhas que desaparecem para a estação de Concordia, na Antártica (mostrada), onde eles imaginam a construção de um congelamento subterrâneo mais seguro
Este núcleo de gelo foi amostrado da montanha Nevado Illimani, na Bolívia, onde as geleiras estão encolhendo com o aumento da temperatura. O projeto internacional Ice Memory perfurou o núcleo como parte de seu esforço para coletar e preservar os registros do clima passado encontrados no gelo das geleiras e agora ameaçados pelo aquecimento global
Isso revelou quantas partículas de nucleação de gelo - poeira, pólen, bactérias, esporos de fungos - estavam na atmosfera nos últimos 500 anos e, portanto, qual a probabilidade de formação de diferentes tipos de nuvens.
Mais frio é mais seguro A equipe da Ice Memory ainda está trabalhando para determinar o que seus quatro primeiros núcleos de geleiras podem lhes dizer sobre o clima dos locais de onde foram perfurados. Mas os cientistas já estão sonhando com o local onde irão esconder os núcleos a longo prazo. O local alvo é a estação de pesquisa franco-italiana Concordia, que fica a cerca de 3.300 metros de altura no planalto antártico, a cerca de 1.000 milhas do Polo Sul. A temperatura média é de cerca de -50 graus C - crucial para a preservação dos núcleos de gelo. Eles encontraram cinco tipos diferentes de pólen, que flutuavam com a profundidade do núcleo. Como o gelo mais profundo é mais antigo, eles poderiam criar uma imagem de como a vegetação da região mudou nos últimos 220 anos. Os resultados indicaram que as pastagens se expandiram perto da calota de gelo, provavelmente devido às temperaturas mais altas e às chuvas no final do século XX. Em outro projeto, pesquisadores da Alemanha, Dinamarca e Suíça exploraram quantas partículas formadoras de nuvens flutuaram pelo céu do Ártico - um importante desconhecido dos climas passados. Os cientistas derreteram o gelo de núcleos perfurados no glaciar e no glaciar no Ártico, e depois resfriaram essas gotas de água para registrar as temperaturas nas quais a água de diferentes profundidades no gelo se congelou.
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Glaciologista examina os núcleos de gelo perfurados na Estação Concordia
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Em Concordia, os cientistas querem construir uma caverna com neve artificial que abrigaria os núcleos 10 metros abaixo do solo. Lá, eles planejam instalar um cofre de armazenamento feito de uma dúzia de contêineres vazios e conectados à superfície por escadas em espiral em cada extremidade, para permitir que as pessoas entrem e saiam. Os contêineres repousam sobre trenós móveis, que podem ser trocados se as paredes da caverna de gelo começarem a se deformar com o tempo, diz Jérôme Chappellaz, diretor do Instituto Polar Francês e outro líder do projeto. A equipe esperava construir a gruta de contêineres durante o verão antártico de 2021–22, com os primeiros núcleos de gelo entregues na temporada de campo seguinte. A pandemia do Covid-19 provavelmente atrasará isso em um ano ou dois, no entanto. A logística é outro grande desafio para a construção do cofre: embora as agências de pesquisa polar enviem rotineiramente suprimentos e equipamentos para todo o mundo e, em seguida, na caravana de trator que atravessa o gelo até a base de Concordia, o espaço é limitado e muito procurado. Nem todo mundo pensa que os núcleos precisam ir até a Antártica. “Não estou convencido de que é prático armazenar núcleos de gelo na Antártida a partir desses topos
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das montanhas”, diz Lonnie Thompson, glaciologista da Ohio State University que foi pioneira nos estudos de núcleos de gelo de geleiras fora das regiões polares. (Os núcleos de gelo de sua equipe são armazenados em freezers, inclusive no estado de Ohio, que possuem geradores de backup caso a energia acabe.) Os cientistas que voam de um lado para o outro na Antártica quando desejam estudar amostras não são muito econômicos, diz Thompson. E a pandemia em curso “traz à tona o fato simples de todos nós sobre o quão longe a Antártica realmente está e ninguém tem nenhuma garantia de como será o mundo daqui a 100 anos”. Bess Koffman, geóloga do Colby College, no Maine, também expressa dúvidas.
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Os perfuradores extraem um núcleo de gelo próximo ao cume de Nevado Illimani, na Bolívia, durante a expedição de 2017 da Ice Memory lá
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“Gostaria de saber o plano de longo prazo para garantir que alguém volte em 20 anos ou mais para o futuro e o mantenha”, diz ela. “Quem vai atropelar a neve para que você possa descer até os contêineres?” Tais questões destacam o desafio de colocar um projeto destinado a rodar por séculos em um dos lugares mais remotos e internacionais do mundo. Na Noruega, os cientistas guardam sementes agrícolas em um cofre enterrado no permafrost em Svalbard - mas o governo norueguês é o proprietário e gerencia o projeto. A falta de soberania nacional na Antártica torna a Memória do Gelo mais complicada. Chappellaz observa que o projeto é endossado pela UNESCO e que a base de Concordia está sujeita a regras sob o sistema internacional de tratados antárticos. Esses tipos de órgãos governamentais internacionais devem poder supervisionar um projeto de longo prazo como o Ice Memory, diz ele. Atualmente, o projeto é um esforço de uma colcha de retalhos de financiadores privados e organizações nacionais de pesquisa, gerenciadas por um comitê diretor internacional e assistidas pela Fundação da Universidade de Grenoble Alpes. Embora os institutos nacionais de pesquisa forneçam pessoas e recursos, a maior parte do apoio financeiro para expedições e análises de perfuração vem de empresas e fundações que doam ou pagam pelo patrocínio. Instituições francesas, italianas e suíças estão trabalhando para criar uma fundação que possa arrecadar mais dinheiro de doadores privados. A cada ano que passa, a tarefa de salvar a memória do gelo fica mais difícil. A água derretida em algumas geleiras já está chegando da superfície ao gelo mais profundo, potencialmente destruindo o sinal útil. Os núcleos de gelo perfurados na Geleira Belukha em 2001 e 2003 mostraram camadas em que o gelo derretera e congelara novamente na parte superior da geleira, relacionado a um aumento acentuado das temperaturas no verão. E as temperaturas de cerca de 50 metros dentro do glaciar Col du Dôme, no Mont Blanc, subiram 1,5 graus C entre 1994 e 2017.
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Extinções que surgem da perda de habitat A perda de espécies através do declínio de habitat segue o mesmo padrão, independentemente de a área perdida fazer parte de um habitat grande ou pequeno? Uma análise lança luz sobre esse longo debate, com suas implicações para estratégias de conservação por *Centro Alemão para Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv) Halle-Jena-Leipzig
Fotos: AYaron ZivFurukawa
O evento reuniu no Hangar representantes da ONU Habitat, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, BNDES, Banco de Desenvolvimento da América Latina, empresários, gestores de prefeituras e governos estaduais da Amazônia, além de membros de organizações do terceiro setor
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declínio contínuo da biodiversidade global levou a políticas para proteger e restaurar habitats para minimizar as extinções de animais e plantas. No entanto, as previsões de biodiversidade usadas para informar essas políticas são geralmente baseadas em suposições de um modelo teórico simples que descreve como o número de espécies muda com a quantidade de habitat. Um novo estudo publicado na revista Nature mostra que a aplicação desse modelo teórico subestima quantas espécies são extintas localmente quando há perda de habitats. Cientistas do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv), da Universidade Martin Luther Halle-Wit-
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tenberg (MLU) e do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental (UFZ) usaram dados de 123 estudos de todo o mundo para definir o caminho para a próxima geração de previsões de biodiversidade em face da perda e restauração de habitats. Uma das teorias mais fundamentais da ciência da biodiversidade descreve como o número de espécies aumenta à medida que a área do habitat aumenta; por outro lado, como o habitat é destruído, as espécies são perdidas. Essa teoria permite que os ecologistas prevejam quantas espécies serão extintas à medida que os seres humanos destroem os habitats naturais, e quantas espécies serão protegidas quando os habitats forem protegidos.
Há uma falha potencial, no entanto, em como a teoria é aplicada às previsões de biodiversidade. “Deterioração do ecossistema” refere-se ao caso em que algumas espécies têm maior probabilidade de se extinguir quando o habitat é perdido do que o previsto pela teoria. O biólogo pioneiro da conservação, Thomas Lovejoy, cunhou o termo para descrever os resultados de estudos em pequenas ilhas florestais deixadas para trás após o corte na Amazônia brasileira. Altos níveis de luz solar invadiram o sub-bosque normalmente escuro da floresta, prejudicando as plantas adaptadas às condições de pouca luz. Animais maiores, como macacos e felinos, saíram ou foram extintos localmente.
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Uma análise global Usando ferramentas estatísticas rigorosas e um banco de dados de 123 estudos de ilhas de habitat de todo o mundo, o Dr. Jonathan Chase, chefe do grupo de pesquisa em Biodiversidade Síntese do iDiv e professor da MLU, e colegas fornecem evidências conclusivas de que a deterioração do ecossistema é generalizada. a uma maneira de desenvolver modelos de previsão da biodiversidade mais realistas. Especificamente, os cientistas encontraram menos indivíduos, menos espécies e menos comunidades em amostras colhidas em um pequeno habitat em comparação com amostras do mesmo tamanho e esforço colhidas em um habitat maior. Jonathan Chase disse: “Os modelos matemáticos usados para as previsões da biodiversidade geralmente ignoram os efeitos da deterioração do ecossistema. Isso ocorre porque, até agora, não possuímos evidências sistemáticas de quão fortes são seus efeitos nos ecossistemas e grupos de espécies”. Ele acrescentou: “Isso significa que a maioria das previsões subestima a quantidade de biodiversidade perdida e os habitats perdidos”. Os cientistas passaram anos compilando dados de estudos publicados sobre perda de habitat de todo o mundo. Isso incluiu dados de ilhas de florestas tropicais deixadas em matrizes agrícolas de dendezeiros, café, chocolate e bananeiras.
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a , Mapa global, indicando o grupo de táxons e a localização dos estudos ( n = 123) incluídos em nossas análises. b - d , Amostras padronizadas mostram que o número de indivíduos ( b ), a riqueza de espécies ( c ) e a uniformidade ( d ) aumentam em função do tamanho do fragmento. Linhas pretas sólidas e sombreamento mostram relações gerais e intervalos credíveis de 95% para cada métrica; o coeficiente da inclinação ( β ) para cada métrica e seu intervalo credível de 95% são mostrados na parte superior. Linhas coloridas mostram relacionamentos no nível de estudo para diferentes grupos de táxons (como mostrado na legenda do mapa).
De ilhas em lagos que foram criados durante a construção de barragens para hidroeletricidade. E de reservas naturais isoladas na expansão da agricultura e urbanização em todo o mundo. Eles incluíram dados de estudos sobre plantas e uma grande variedade
de animais, incluindo pássaros, morcegos, sapos e insetos. Em muitos casos, os dados que Chase e colegas precisavam não estavam disponíveis no artigo publicado. “Frequentemente voltamos aos autores dos estudos. Muitos deles foram além e além.
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Variação nos padrões Embora o efeito geral da deterioração do ecossistema tenha sido claro, os cientistas encontraram algumas variações interessantes em seus conjuntos de dados. “A qualidade da terra entre as ilhas de habitat, que chamamos de matriz, influenciou o quão forte foi o efeito da deterioração do ecossistema”, disse Felix May, ex-iDiv e agora cientista sênior da Freie Universität Berlin. May acrescentou: “Quando a matriz era muito distinta das ilhas de habitat, como em paisagens com intensa agricultura ou urbanização, a deterioração do ecossistema nas ilhas de habitat era bastante intensa. No entanto, quando a matriz era menos hostil, como em aves e abelhas agricultura amigável, encontramos menos extinções nas ilhas de habitat “. Outro co-autor, a Dra. Tiffany Knight, da MLU, UFZ e iDiv, acrescentou: “Uma surpresa foi o fato de termos encontrado uma deterioração mais fraca do ecossistema em estudos da Europa, onde a perda de habitat costumava ocorrer há centenas de anos, em comparação com estudos de outros lugares onde as perdas ocorreram mais recentemente “. Knight continuou: “Esperávamos o contrário, porque acredita-se que a deterioração do ecossistema surja lentamente à medida que as espécies se extinguem. Mas o que descobrimos é que espécies diferentes substituem as que foram perdidas”.
Ilhas de habitat de matagal cercadas por uma matriz agrícola em Israel
Um caminho a seguir Os resultados deste novo estudo podem ser vistos como terríveis, pois concluem que muitas previsões de perda de biodiversidade são otimistas demais. Mas os autores preferem ver o lado positivo. “O que descobrimos é que é possível fazer projeções mais realistas de como a biodiversidade será perdida à medida que os habitats forem perdidos”, disse Chase. Ele acrescentou: “Isso nos permitirá fazer políticas mais informadas sobre a proteção do habitat e fornece incentivos adicionais para a restauração de habitats para restaurar a biodiversidade”.
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Herbívoros com maior risco de extinção entre mamíferos, aves e répteis Estudo mostra que mamíferos, aves e répteis cuja dieta depende principalmente de plantas estão em maior risco de extinção
Fotos: IUCN, Paul Owens , Science Advances
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m fungo que ocorre no solo da Floresta Amazônica revelou ser um importante estimulante do desenvolvimento de plantas. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) avaliaram mais de mil linhagens do fungo Trichoderma aplicadas em conjunto com duas fontes de fósforo, e constataram que muitas delas promovem o crescimento de plantas de soja. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports do grupo Nature. Quando se trata de vulnerabilidade, herbívoros, carnívoros e onívoros não parecem estar no mesmo barco. Ao contrário da ideia estabelecida de que os grandes predadores correm um risco especial de extinção, um estudo com mais de 24.000 espécies de aves, mamíferos e répteis revela que os herbívoros, especialmente as variedades de corpos grandes, vivem uma existência mais perigosa, correndo maior risco de extinção, sejam mamíferos, pássaros ou répteis. As razões para esse efeito diferencial ainda são pouco conhecidas, mas certos fatores, como a presença de espécies invasoras ou a degradação de habitats, podem contribuir para isso. O relatório foi veiculado recentemente na Science Advances.
Três filhotes de cegonha-branca, perto de Horsham, sul da Inglaterra, em 5 de junho de 2020. A cegonha-branca foi reintroduzida na Inglaterra após mais de oitocentos anos de ausência
As silhuetas indicam grupos tróficos e classes taxonômicas com maiores proporções de espécies ameaçadas em uma determinada região em comparação com a fração de fundo. Regiões sem símbolos tinham proporções semelhantes ou inferiores de espécies ameaçadas em comparação com a fração de fundo. As cores ilustram as regionais terrestres e marinhas. revistaamazonia.com.br 44fronteiras REVISTA AMAZÔNIA
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As proporções médias (± 95% CI) de espécies extintas para aves, mamíferos e répteis extintos recentemente combinados (todas as espécies) e separadamente e mamíferos extintos do Pleistoceno. Asteriscos indicam onde as proporções de espécies extintas são significativamente diferentes da fração de fundo (linha horizontal tracejada). Os números indicam o número total de espécies dentro de cada grupo. As cartas indicam os resultados para comparações entre o grupo trófico usando os testes post hoc de Tukey. Letras diferentes indicam diferenças significativas entre os grupos tróficos (P <0,05).
A análise dos pesquisadores foi baseada em dados de 22.166 espécies vivas - incluindo 4.858 mamíferos, 10.910 aves e 6.398 répteis - listadas na lista vermelha estabelecida em 2019 pela IUCN, que acompanha o estado da biodiversidade no mundo. Este trabalho não se concentrou nas espécies de peixes, pois apenas 59% delas foram avaliadas pela IUCN (contra 100% para aves, 91% para mamíferos e 70% para répteis), que é “insuficiente” , de acordo com Trisha Atwood, para permitir uma análise em larga escala de seus riscos de extinção. Para verificar se os predadores eram realmente os animais terrestres com maior risco de extinção, a equipe comparou as proporções de espécies vivas de herbívoros, onívoros e predadores que eram consideradas de risco pela IUCN com os rótulos “vulnerável”, “ameaçado de extinção” ou “ criticamente em perigo. “ Para sua surpresa, foram os herbívoros, com aproximadamente 25% das espécies em risco, que chegaram ao topo - aproximadamente 8% maior que a proporção de onívoros e 10% maior que os predadores. “Ficamos bastante chocados quando recuperamos os resultados”, diz Atwood. Mas, não importa como eles dissecaram os dados - discriminando-os por grupo taxonômico (aves, mamíferos, répteis), área geográfica ou habitat - os herbívoros, em quase todos os casos, foram os mais vulneráveis.
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Mesmo quando a equipe analisou as extinções históricas dos últimos 500 anos listados pela IUCN e do Pleistoceno documentado na literatura, descobriu que os herbívoros tinham maior probabilidade de desaparecer do que os onívoros ou predadores. Atwood e seus colegas investigaram os fatores de extinção que poderiam explicar a suscetibilidade particular dos herbívoros. Eles descobriram que o tamanho do corpo estava correlacionado positivamente com o risco de extinção para todos os mamíferos e aves, independentemente do grupo trófico, bem como para répteis herbívoros e onívoros. Embora “sabemos que os herbívoros em geral tendem a ter um corpo maior”, diz Atwood, “isso não explica tudo.” Assim, a equipe também analisou os efeitos das atividades humanas, incluindo caça, alteração de habitat e poluição, usando dados de ameaças antropogênicas específicas da espécie da IUCN. Na maioria das vezes, eles não conseguiram estabelecer vínculos estatisticamente fortes. “Eu vou ser sincero com você. Ficamos meio perplexos ”, diz Atwood. A incapacidade de encontrar correlatos particulares causados por seres humanos “certamente não nos decepciona”, diz o ecologista Dave Hodgson, da Universidade de Exeter, que também não participou do estudo, explicando que uma provável explicação é que as influências humanas são tão variadas e entrelaçados que os efeitos de indivíduos são impossíveis de detectar. O estudo pode não explicar, em última análise, por que os herbívoros são vulneráveis, mas, diz Hodgson, “a emoção do artigo é afirmar que está derrubando algumas verdades classicamente presumidas: que são os predadores deste mundo - os dentes afiados, os afiados. criaturas com garras - que são as mais ameaçadas. ” Ao desafiar esse preconceito, acrescenta, “esperamos que provoque as pessoas a estudarem a extinção de herbívoros mais profundamente”.
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Este artigo chama a atenção de que os herbívoros, que desempenham um papel fundamental no ciclismo de nutrientes, na regeneração florestal e em outros serviços essenciais do ecossistema, são extremamente vulneráveis às atividades humanas”, afirmou o ecologista Mauro Galetti, da Universidade de Miami, que não participou da pesquisa. Há um número preocupante de espécies animais que foram levadas à extinção, ou próximas a ela, por atividades humanas, como caça e destruição de habitats. Uma visão geralmente aceita no campo da biologia da conservação é que os principais predadores, como tigres e ursos polares, podem estar particularmente em risco, diz a ecologista Trisha Atwood, da Universidade Estadual de Utah, que liderou o trabalho. De fato, a própria Atwood trabalha com esses predadores, mas ela diz que percebeu que as evidências que sustentavam essa noção eram frágeis. Havia alguns documentos sobre tubarões ou predadores terrestres específicos, ela explica, e “todo mundo apenas os considerou evangélicos. . . e comprei a ideia de que eram predadores [que estavam em risco]. “ Mas faltava uma ampla análise dos tipos de animais terrestres mais ameaçados. “Isso realmente nos motivou” a investigar, ela diz. A equipe reuniu dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a autoridade global sobre risco de extinção de espécies. A organização lista espécies que desapareceram recentemente e fez avaliações de risco para todas as espécies vivas de pássaros e mamíferos e para 70% dos répteis vivos. A IUCN também tem avaliações de risco para espécies de peixes, anfíbios e insetos, mas para elas as listas estão longe de estar completas, diz Atwood, portanto a equipe excluiu esses dados do estudo.
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Os gansos do Canadá estão agora bem estabelecidos na Europa, representando uma séria ameaça à biodiversidade. Eles também danificam as terras agrícolas e foram envolvidos em uma série de ataques de pássaros
Espécies exóticas invasoras podem em breve causar perda dramática de biodiversidade global Especialistas coletaram dados de 36 especialistas que investigam invasões biológicas e descobriram que o transporte, as mudanças climáticas e o uso da terra são fatores importantes. Um aumento de 20 a 30% no número de espécies não nativas pode ter grandes consequências globais Fotos: NWF, Tom Koerner / USFWS
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m aumento de 20 a 30% das espécies invasoras não nativas (exóticas) levaria a uma dramática perda futura de biodiversidade em todo o mundo. Esta é a conclusão de um estudo de uma equipe internacional de pesquisadores liderada por Franz Essl e Bernd Lenzner da Universidade de Viena. Foi publicado na revista Global Change Biology . As atividades humanas, intencional e involuntariamente, introduzem cada vez mais espécies vegetais e animais em novas regiões do mundo - por exemplo, via transporte de mercadorias ou turismo. Algumas dessas espécies exóticas têm conseqüências negativas para a biodiversidade e o bem-estar humano, por exemplo, deslocando espécies nativas ou transmitindo doenças. No entanto, embora tenhamos informações relativamente boas sobre a disseminação histórica de espécies exóticas, ainda há pouco conhecimento sobre seu desenvolvimento futuro. “No momento ainda não é possível gerar previsões precisas com base em modelos de computador sobre como a propagação
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e o impacto de espécies exóticas mudarão no futuro. Portanto, avaliações de especialistas por meio de pesquisas padronizadas são uma ferramenta importante para obter uma melhor compreensão das as causas e consequências da propagação e impacto de espécies exóticas nas próximas décadas “, diz Franz Essl. O estudo mostra que um aumento de 20 a 30% no número de espécies exóticas recém-introduzidas é considerado suficiente para causar perda maciça de
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biodiversidade global - um valor que provavelmente será alcançado em breve, pois o número de espécies introduzidas está constantemente aumentando.
Mudança climática e aumento do impulso comercial Além disso, os seres humanos são o principal motor da propagação futura de espécies exóticas. Os especialistas identificam três razões principais, principalmente o aumento do transporte global de mercadorias, seguido pelas mudanças climáticas e, em seguida, os Igualmente como o ganso do Canadá ou o buttonwood japonês no Reino Unido - podem expulsar espécies locais e até espalhar doenças
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impactos do desenvolvimento econômico, como consumo de energia e uso da terra. O estudo também mostra que a propagação de espécies exóticas pode ser bastante mais lenta por contramedidas ambiciosas. Os pesquisadores investigaram adicionalmente a influência do aumento de espécies exóticas em diferentes regiões do mundo: por exemplo, o turismo é um importante fator de invasões biológicas em regiões tropicais e subtropicais, enquanto as mudanças climáticas favorecem a sobrevivência e o estabelecimento de espécies exóticas no futuro. , especialmente em regiões polares e temperadas. “Nosso estudo ilustra o espaço de opções que atualmente temos para reduzir os impactos futuros de espécies exóticas”, diz Bernd Lenzner. “Os resultados formam uma base científica importante para o desenvolvimento de acordos internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou a Convenção sobre Diversidade Biológica. Dessa forma, seremos capazes de reduzir os impactos negativos de espécies exóticas na biodiversidade global e em nossa sociedade”. O estudo envolveu 38 pesquisadores de toda a Europa, América do Norte e do Sul, Nova Zelândia e África do Sul. Helen Roy, do Centro Britânico de Ecologia e Hidrologia, um dos co-autores, diz: “Houve uma rápida escalada no número de
Píton birmanesa nos Everglades, na Flórida
espécies não-nativas sendo transportadas e introduzidas por seres humanos em todo o mundo; os efeitos adversos de algumas Destas espécies não nativas invasoras na biodiversidade e nos ecossistemas tem sido amplamente documentada.
“Agora é fundamental que trabalhemos colaborativamente para prever padrões futuros, para que possamos informar as ações apropriadas no futuro - como a biossegurança aprimorada para evitar novas introduções das espécies não- nativas invasoras mais prejudiciais”.
A ameaça do comércio eletrônico de aquários que introduz plantas invasoras no Brasil - Número de espécies anunciadas, nativas (dois círculos internos) e exóticas (círculo externo), com contribuição de cada região biogeográfica para a quantidade de espécies anunciadas no Brasil
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Pegadas humanas na Arábia Saudita podem ter 120.000 anos Pegadas humanas fornecem um instantâneo da última ecologia interglacial no interior da Arábia
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m dia, há cerca de 120.000 anos, alguns humanos vagaram ao longo da margem de um antigo lago no que hoje é o deserto de Nefud, na Arábia Saudita. Eles podem ter feito uma pausa para um gole de água doce ou para rastrear manadas de elefantes, jumentos selvagens e camelos que pisoteavam os lamaçais. Poucas horas depois de passar, as pegadas de humanos e animais secaram e eventualmente fossilizaram. Agora, essas pegadas antigas oferecem uma rara evidência de quando e onde os primeiros humanos habitavam a Península Arábica. “Estas são as primeiras pegadas humanas genuínas da Arábia”, disse o arqueólogo e líder da equipe Michael Petraglia, do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana. A Península Arábica há muito é considerada a rota óbvia que os primeiros membros de nossa espécie seguiram ao saírem da África e migrarem para o Oriente Médio e a Eurásia. Ferramentas de pedra sugerem que os humanos antigos exploraram a Península Arábica em vários momentos da pré-história, quando o clima era mais úmido e seus desertos severos foram transformados em pastagens verdes pontuadas por lagos de água doce. No entanto, até agora, os pesquisadores encontraram apenas um único osso de dedo humano datado de 88.000 anos para provar que os humanos modernos, ao invés de algum outro fabricante de ferramentas hominídeo, viviam lá.
Fotos: Projeto Palaeodeserts, Stewart Et Al ., 2020
Os pesquisadores identificaram sete pegadas humanas pré-históricas em Alathar, um lago seco na Arábia Saudita
Os sedimentos, pegadas e fósseis do paleolake de Alathar
Após uma década vasculhando a Península Arábica usando imagens de satélite e verificações no solo, Petraglia e seus colegas internacionais identificaram dezenas de milhares de antigos lagos de água doce, incluindo um no Nefud apelidado de “ Alathar “, que significa “o traço” em árabe. Aqui, eles avistaram centenas de pegadas em uma superfície de leito fortemente pisoteada, que tinha sido recentemente exposta quando os sedimentos sobrejacentes erodiram. Quase 400 rastros foram deixados por animais, incluindo um burro selvagem, um búfalo gigante, elefantes e camelos. Apenas sete foram identificados com segurança como pegadas humanas.
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( A ) Vista plana dos depósitos de paleolake Alathar com pesquisadores indicados por pontas de flechas brancas. ( B ) Primeira seção estratigráfica (unidades FS1 a FS3). ( C ) Segunda seção estratigráfica (unidades SS1 a SS3) sobreposta à primeira, mas localizada em direção ao centro do paleolake. ( D e E ) Exemplo de uma trilha de elefante e rastros, Proboscipeda isp. ( F ) Pista de camelídeo, Lamaichnum isp. ( G ) Pé de camelídeo ( H ) Pé de camelídeo. ( I ) Pista de Equid, Hippipeda isp. ( J) Vértebra do eixo bovino erodindo do sedimento paleolake. Crédito da foto: Gilbert Price, Universidade de Queensland e Richard Clark-Wilson, Royal Holloway, Universidade de Londresrevistaamazonia.com.br
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Essas pegadas foram feitas por pés enlameados de humanos antigos enquanto eles cruzavam a margem de um lago na Arábia Saudita há cerca de 120.000 anos. A primeira pegada humana encontrada em Alathar
Mas, comparando o tamanho e a forma dessas pegadas com as feitas por humanos modernos e neandertais, os pesquisadores concluem que as pegadas provavelmente foram feitas por pessoas com pés mais longos, estatura mais alta e massa menor: Homo sapiens , em vez de neandertais, como relatam na Science Advances . A idade dos sedimentos também sugere que o H. sapiens fez as pegadas, dizem os pesquisadores. Usando um método chamado luminescência estimulada opticamente, que mede os elétrons para inferir quando as camadas de sedimento foram expostas à luz pela última vez, a equipe datou os sedimentos acima e abaixo das pegadas em 121.000 e 112.000 anos. Os sedimentos, pegadas e fósseis do paleolake de Alathar
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Naquela data, “os neandertais estavam ausentes do Levante [Oriente Médio]”, disse o co-autor Mathew Stewart do Instituto Max Planck de Ecologia Química. “Portanto, argumentamos que o H. sapiens provavelmente foi o responsável pelas pegadas.” Muito depende das datas, entretanto. O geocronologista Bert Roberts, da Universidade de Wollongong, observa algumas incertezas com os métodos de datação no local - incluindo idades mais antigas para fósseis de animais e problemas potenciais com o cálculo da taxa precisa de decomposição do urânio nos sedimentos. As datas para as pegadas “podem estar na estimativa certa”, diz ele, “mas mais poderia ser feito para validá-las”.
A equipe não pode excluir totalmente os neandertais, diz a paleoantropóloga Marta Mirazón Lahr, da Universidade de Cambridge, porque o registro fóssil é muito irregular na Arábia. Mas ela acha que H. sapiens é o candidato mais provável. Ainda mais intrigante, ela observa, as pegadas mostram que os humanos eram capazes de se mover por longas distâncias entre a África e a Arábia e devem ter tido grupos de forrageamento bastante grandes para conseguir penetrar nas profundezas dos pântanos do interior da Arábia. Mais de 100 pegadas são de camelos e 43 de elefantes. Este último é particularmente surpreendente, pois esses animais foram considerados extintos na região por 400.000 anos. Os pesquisadores também encontraram vestígios de búfalos, antílopes e cavalos. São precisamente esses grandes mamíferos que devem ter tornado a região, e em particular esses lagos, interessantes para os caçadores, escreve a equipe e conclui: “Os movimentos e o uso da paisagem por humanos e animais estavam inseparavelmente ligados na Arábia”. A rara associação de pegadas humanas e animais estabelecidas no mesmo dia ou mais também oferece um raro vislumbre de um dia na vida de um ser humano antigo. Normalmente, fósseis de animais e humanos encontrados no mesmo leito fóssil foram enterrados com centenas, senão milhares, de anos de intervalo e nunca se viram. “Essas pegadas nos dão uma imagem única dos humanos que vivem nesta área ao mesmo tempo que os animais”, diz o paleoantropólogo Kevin Hatala, da Chatham University em Pittsburgh, um especialista em pegadas antigas. “Essa associação estreita no tempo é o que é tão emocionante para mim”.
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PSP-MIL-53, invenção que converte (de forma sustentável) a água do mar em água potável em apenas meia hora Fotos: Cortesia Huanting Wang, Domínio público, Nature
“Os processos de dessalinização térmica por evaporação consomem muita energia e outras tecnologias, como osmose reversa, têm uma série de desvantagens, incluindo alto consumo de energia e uso de produtos químicos na limpeza e descloração da membrana”, disse o engenheiro químico Huanting Wang da Monash University. “A luz solar é a fonte de energia mais abundante e renovável na Terra. Nosso desenvolvimento de um novo processo de dessalinização baseado em adsorvente através do uso da luz solar para regeneração fornece uma solução de dessalinização com eficiência energética e ambientalmente sustentável.” Os pesquisadores criaram um novo MOF chamado PSP-MIL-53, que era parcialmente feito de um material chamado MIL-53, já conhecido pela forma como reage à água e ao dióxido de carbono.
Ilustração da configuração proposta de coluna única para dessalinização no escuro e regeneração sob luz. Em condições de escuridão, a tecnologia adsorve íons da água em 30 minutos e, com iluminação solar, libera rapidamente esses sais adsorvidos em quatro minutos
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tecnologia que pode converter água salgada do mar ou salobra em água potável e segura tem o potencial de transformar milhões de vidas em todo o mundo, razão pela qual tantos cientistas estão ocupados trabalhando em projetos para fazer exatamente isso . Agora, uma nova inovação desenvolvida por cientistas na Austrália pode ser a mais promissora até o momento, com pesquisadores usando compostos de estrutura metal-orgânica (ou MOFs) junto com a luz do sol para purificar a água em apenas meia hora, usando um processo que é mais eficiente do que o existente técnicas. É barato, é estável, é reutilizável e produz água que atende aos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) para dessalinização . Cerca de 139,5 litros (quase 37 galões) de água limpa podem ser produzidos por dia a partir de um quilograma (2,2 libras) de material MOF, com base em testes iniciais. Após apenas quatro minutos de exposição à luz solar, o material libera todos os íons de sal que foi absorvido da água e está pronto para ser usado novamente. A equipe por trás do novo processo diz que ele fornece várias atualizações sobre os métodos de dessalinização existentes.
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Estruturas orgânicas metálicas (MOFs) são materiais sintéticos feitos de carbono e compostos de metal, que formam uma estrutura de favo de mel porosa Estruturas metal-orgânicas são uma classe de compostos que consistem em íons metálicos que formam um material cristalino com a maior área de superfície de qualquer material conhecido
“A dessalinização tem sido usada para lidar com a crescente escassez de água em todo o mundo”, disse Wang . “Devido à disponibilidade de água salobra e do mar, e porque os processos de dessalinização são confiáveis, a água tratada pode ser integrada aos sistemas aquáticos existentes com riscos mínimos à saúde.” Novas soluções não podem vir rápido o suficiente - de acordo com a OMS , globalmente cerca de 785 milhões de pessoas carecem de uma fonte limpa de água potável a meia hora de caminhada de onde vivem. À medida que a crise climática se instala, esse problema está piorando. Com a água salgada representando cerca de 97% da água do planeta, esse é um vasto recurso inexplorado de água potável, se soluções como o PSP-MIL-53 puderem ser encontradas para torná-lo adequado e seguro para uso humano.
Os materiais podem formar folhas ou formas 3D e os cientistas estão investigando maneiras de aplicar a tecnologia. Os cientistas acreditam que as áreas que podem se beneficiar com seu uso incluem o armazenamento de hidrogênio e a tecnologia fotovoltaica - usada na energia solar. Mas os MOFs também podem fornecer avanços em outras áreas, incluindo a remoção de moléculas tóxicas da atmosfera. A escassez de recursos de água doce e a necessidade de suprimentos adicionais de água já são críticas em muitas regiões áridas do mundo. Muitas áreas áridas simplesmente não têm recursos de água doce na forma de água superficial, como rios e lagos. Eles podem ter apenas recursos hídricos subterrâneos limitados, alguns que estão se tornando mais salobras à medida que a extração de água dos aquíferos continua. A evaporação por dessalinização solar é usada pela natureza para produzir chuva, que é a principal fonte de água doce do planeta.
Embora não seja de forma alguma a primeira pesquisa a propor a ideia de usar uma membrana MOF para limpar o sal da água do mar e água salobra, essas descobertas e o material PSP-MIL-53 por trás delas darão aos cientistas muito mais opções para explorar. MOFs em geral são materiais muito porosos - apenas uma colher de chá do material quando comprimido pode ser aberta para cobrir uma área do tamanho de um campo de futebol - e este novo sistema poderia ser instalado em canos e outros sistemas de água para produzir água potável.
Não está claro o quão perto os pesquisadores estão de colocar seu sistema em uma forma prática e funcional, mas é encorajador ver outra abordagem sendo testada - junto com as que usam luz ultravioleta, filtros de grafeno e luz solar e hidrogéis . Os cientistas estão até procurando métodos para tirar a água do ar. “Nosso trabalho oferece uma nova e estimulante rota para o projeto de materiais funcionais para o uso de energia solar para reduzir a demanda de energia e melhorar a sustentabilidade da dessalinização de água”, disse Wang . “Esses MOFs que respondem à luz do sol podem ser potencialmente funcionalizados para meios de baixo consumo de energia e ecologicamente corretos de extração de minerais para mineração sustentável e outras aplicações relacionadas’. O MOF dedicado chamado PSP-MIL-53, é fotoreversível, o que significa que suas funções podem ser alteradas de uma para outra pela luz.
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O PSP-MIL-53 foi sintetizado pela introdução de poli (acrilato de espiropirano) (PSP) nos poros do MIL-53 - um MOF especializado bem conhecido por seus efeitos de respiração e transições na adsorção de moléculas como água e dióxido de carbono. O PSP-MIL-53 foi capaz de render 139,5 litros de água doce por quilo de MOF por dia, com baixo consumo de energia, proveniente de um rio, lago ou aquífero. “Este estudo demonstrou com sucesso que os MOFs fotorresponsivos são um adsorvente promissor, com eficiência energética e sustentável para dessalinização”, disse o professor Wang. “Esses MOFs responsivos à luz solar podem ser potencialmente funcionalizados para meios de baixo consumo de energia e ecologicamente corretos de extração de minerais para mineração sustentável e outras aplicações relacionadas”. Os processos de dessalinização térmica por evaporação geralmente consomem muita energia, enquanto outras tecnologias, como osmose reversa, apresentam algumas desvantagens. Na osmose reversa, a água, contendo moléculas de sal dissolvidas, é forçada através de um filtro de membrana semipermeável. Moléculas maiores de sal não passam pelos orifícios da membrana, mas as moléculas menores de água, sim.
Espectro de espectros de SP e MC ativados sob diferentes níveis de pH em 10.000 ppm de solução de cloreto de sódio
A osmose reversa é um meio eficaz de dessalinizar água salina, mas é mais cara do que outros métodos e tem alto consumo de energia. A nova tecnologia é diferente de um destilador solar, no qual a água evapora e se condensa em água limpa. ‘[Isso] leva muitas horas para produzir água limpa suficiente para uso doméstico’, disse o professor Wang ao MailOnline.
“Nosso material adsorve sais e outros contaminantes da água, o que leva de 20 a 30 minutos sem a necessidade de luz solar, produzindo água doce. “Leva alguns minutos para remover os sais do material com uma pequena quantidade de água sob a luz do sol”. A pesquisa foi publicada na Nature Sustainability.
A água salobra tem mais salinidade do que a água doce, mas não tanto quanto a água do mar. A dessalinização tem sido cada vez mais usada para resolver a crescente escassez de água, devido à grande disponibilidade de água salobra e água do mar
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Níveis extremos do mar e as inundações costeiras ao longo do século XXI As inundações costeiras aumentarão em até 50% globalmente devido às mudanças climáticas até 2100 - pondo em risco milhões de vidas, alerta um novo relatório Fotos: Kirezci et al., Scientific Reports Kirezci et al., Scientific Reports, 2020
Distribuição global mostrando que valores superiores a 5m ocorrem ao longo das partes norte das costas do Atlântico e do Pacífico da América do Norte, do Atlântico e do Mar do Norte da Europa e da China
( a ) Distribuição global do período histórico de 100 anos de retorno nível extremo do mar ( ) nos locais da DIVA com base nos dados do modelo para o período de 1979 a 2014. (Figura gerada usando o ArcGIS v.10.5.1.7333, www.esri.com ). ( b ) . Distribuição global do período de retorno projetado para 100 anos nível extremo do mar ( ) nos locais da DIVA para RCP8.5 em 2100 (figura gerada usando o ArcGIS v.10.5.1.7333, www.esri.com ).ESeuH100T+ S+ WSESLT+S+WSH100ESL_ {T + S + WS} ^ {F100}ESeuF100T+ S+ WSESLT+S+WSF100 REVISTA AMAZÔNIA 55 revistaamazonia.com.br
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odelos globais de maré, aumento de tempestades e configuração de ondas são usados para obter projeções de inundações costeiras episódicas ao longo do próximo século. Os modelos são amplamente validados com relação aos dados do medidor de marés e ao impacto de incertezas e suposições nas projeções estimadas em detalhes. Os “hotspots” globais em que é projetada uma mudança significativa nas inundações episódicas até o final do século são identificados e estão concentrados principalmente no noroeste da Europa e na Ásia. Os resultados mostram que, no caso de não haver proteção ou adaptação costeira e um cenário médio de RCP8.5, haverá um aumento de 48% da área terrestre do mundo, 52% da população global e 46% dos ativos globais em risco de inundações até 2100. Os resultados mostram que a área de terra regularmente exposta a “eventos extremos de inundação” aumentará em mais de 250.000 quilômetros quadrados (96.000 milhas quadradas) globalmente nos próximos 80 anos uma área do tamanho do Reino Unido. Os pesquisadores dizem que isso significaria que cerca de 77 milhões de pessoas correm o risco de sofrer inundações, um aumento de 52% para 225 milhões.
Uma inundação global está chegando. Inundações costeiras ameaçam 20% da economia global até 2100. Na baía de Langland, perto de Swansea, no sul de Gales, em fevereiro deste ano
O risco de inundação custa à economia global US $ 14,2 trilhões (£ 10,9 trilhões) 20% do PIB global, segundo o estudo. A análise, liderada por cientistas da Universidade de Melbourne, na Austrália, e envolvendo pesquisadores da Universidade de East Anglia (UEA), é baseada em um cenário climático em que as concentrações de
dióxido de carbono na atmosfera continuam a aumentar rapidamente. O principal autor do estudo, Ebru Kirezci, um candidato a PhD na Universidade de Melbourne, disse. “Um clima quente está impulsionando o aumento do nível do mar porque a água se expande à medida que aquece e as geleiras estão derretendo.
Distribuição global mostrando que valores superiores a 5 m ocorrem ao longo das partes norte das costas do Atlântico e do Pacífico da América do Norte, do Atlântico e do Mar do Norte da Europa e da China
Regiões globais de “hotspot” de mudanças nas inundações costeiras episódicas em 2100 para o RCP8.5. Ou seja, a diferença entre a inundação episódica projetada em 2100 menos a inundação episódica atual. Círculos preenchidos mostram locais onde a mudança na inundação normalizada (ou seja, mudança na área inundada dividida pelo comprimento da costa) é maior que 1 km2 / km. O tamanho do círculo está relacionado à mudança na magnitude da inundação normalizada. A cor do círculo está relacionada ao nível extremo do mar projetado em 2100 (ESLF100T + S + WS) (figura gerada usando o ArcGIS v.10.5.1.7333, www.esri.com). Nota: para adicionar clareza, onde os pontos se sobrepõem, nem todos os pontos são mostrados na figura. 56
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Pontos coloridos mostram a magnitude do nível extremo do mar projetado na costa - áreas de inundação. Extensão de inundação mostrada pelo sombreamento azul
Áreas regionais mostrando as inundações projetadas associadas a um evento de nível extremo do mar de período de retorno de 100 anos para 2100 ( T + S + WS + RSLR ). Um cenário RCP8.5 é assumido. Pontos coloridos mostram a magnitude do nível extremo do mar projetado ( \ (ESL_ {T + S + Ws} ^ {F100} \) ) na costa. Extensão de inundação mostrada pelo sombreamento azul (figura gerada usando o ArcGIS v.10.5.1.7333, www.esri.com ). “As mudanças climáticas também estão aumentando a frequência de mares extremos, o que aumentará ainda mais o risco de inundações. “O que os dados e o nosso modelo estão dizendo é que, em comparação com agora, o que vemos como um evento de inundação extrema em um ano a cada 100 anos será dez vezes mais frequente devido às mudanças climáticas”. O principal autor do estudo, o professor do Reino Unido, Robert Nicholls, diretor do Centro Tyndall de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas na UEA, disse: “Esta análise mostra a urgência de ações para lidar com a elevação do nível do mar por meio da mitigação climática, para reduzir a elevação e a adaptação, como melhores condições defesas, pois parte do aumento é inevitável. “ O co-autor Prof Yan R. Young, da Universidade de Melbourne, disse que, embora o noroeste da Europa esteja “particularmente exposto” ao aumento do risco de inundação, o estudo mostra outras áreas de risco importantes em todos os continentes, com pontos de acesso na Austrália, Nova Zelândia, China, Índia , Sudeste Asiático, Sudeste da África e América do Norte.
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O risco econômico em termos de infraestrutura exposta aumentará em até US $ 14,2 trilhões (£ 10,9 trilhões)
Young disse ainda: “Esta é uma pesquisa crítica do ponto de vista político, porque fornece aos políticos uma estimativa credível dos riscos e custos que estamos enfrentando, e uma base ou ação. “Esses dados devem funcionar como um alerta para informar as políticas nos níveis de
governo global e local, para que mais defesas contra enchentes possam ser construídas para proteger a vida e a infraestrutura costeira”. A equipe de pesquisa explicou que a análise não leva em conta as defesas de inundação existentes que em locais como o norte da Europa já oferecem proteção “significativa”.
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Cientistas atmosféricos identificam ar mais limpo da Terra Os piores cenários climáticos podem não ir longe o suficiente, mostram dados da nuvem
Fotos: ESA / NASA, Kathryn Moore, Universidade Estadual do Colorado, Ryan Tong / EPA
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Especialistas dizem que as projeções podem ser “incrivelmente alarmantes”
s piores cenários de aquecimento global podem precisar ser revistos para cima, à luz de uma melhor compreensão do papel das nuvens, disseram os cientistas. Dados recentes de modelagem sugerem que o clima é consideravelmente mais sensível às emissões de carbono do que se pensava anteriormente, e especialistas disseram que as projeções têm o potencial de ser “incrivelmente alarmantes”, embora eles enfatizem que mais pesquisas serão necessárias para validar os novos números. Os resultados da modelagem de mais de 20 instituições estão sendo compilados para a sexta avaliação pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que deve ser lançado no próximo ano. Comparado com a última avaliação de 2014, 25% deles mostram uma mudança acentuada de 3C para 5C na sensibilidade climática - a quantidade de aquecimento projetada pela duplicação do dióxido de carbono atmosférico do nível pré-industrial de 280 partes por milhão. Isso chocou muitos observadores veteranos, porque as suposições sobre a sensibilidade climática permanecem relativamente inalteradas desde os anos 80. “Essa é uma preocupação muito profunda”, disse Johan Rockström, diretor do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam. “A sensibilidade climática é o santo graal da ciência climática.
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É o principal indicador de risco climático. Por 40 anos, tem sido em torno de 3C. Agora, de repente, começamos a ver grandes modelos climáticos nos melhores supercomputadores, mostrando que as coisas poderiam ser piores do que pensávamos. ”
Ele disse que a sensibilidade climática acima de 5 ° C reduziria o escopo da ação humana para reduzir os piores impactos do aquecimento global. “Não teríamos mais espaço para um pouso suave de 1,5 ° C [acima dos níveis pré-industriais]. O melhor que podemos buscar é o 2C ”, disse ele. As projeções de pior caso acima de 5C foram geradas por vários dos principais organismos de pesquisa climática do mundo, incluindo o Hadley Centre, do Met Office do Reino Unido, e o Modelo de Sistema Terrestre Comunitário da UE. Timothy Palmer, professor de física climática na Universidade de Oxford e membro do conselho consultivo do Met Office, disse que o número elevado inicialmente deixou os cientistas nervosos. “Estava muito fora das estimativas anteriores. As pessoas perguntaram se havia um erro no código ”, disse ele. “Mas tudo se resumia a mudanças relativamente pequenas na maneira como as nuvens são representadas nos modelos”. O papel das nuvens é uma das áreas mais incertas da ciência climática, porque são difíceis de medir e, dependendo da altitude, temperatura das gotículas e outros fatores, podem desempenhar um papel de aquecimento ou resfriamento.
À luz da pandemia de Covid-19 em andamento, o IPCC está produzindo o sexto relatório de avaliação (AR6) com contribuições de seus três grupos de trabalho e um relatório de síntese, três relatórios especiais e um aprimoramento para o seu mais recente relatório de metodologia. O Relatório de síntese será o último dos produtos AR6, com lançamento previsto para 2022
A sensibilidade climática permanecem relativamente inalteradas desde os anos 80: com os gases de efeito estufa na temperatura reduzindo a faixa de resultados possíveis em mais da metade
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Durante décadas, esse tem sido o foco de disputas acadêmicas ferozes. Relatórios anteriores do IPCC tendiam a supor que as nuvens teriam um impacto neutro porque os feedbacks de aquecimento e resfriamento se cancelariam. Mas, no último ano e meio, um conjunto de evidências vem crescendo, mostrando que o efeito líquido estará se aquecendo. Isso se baseia em modelos de computador com resolução mais fina e microfísica avançada em nuvem. “As nuvens determinarão o destino da humanidade - se o clima é uma ameaça existencial ou um inconveniente com o qual aprenderemos a conviver”, disse Palmer. “Os modelos mais recentes sugerem que as nuvens piorarão as coisas.” Em um artigo recente na revista Nature, Palmer explica como o novo modelo do Hadley Center que produziu a figura 5 + C sobre sensibilidade climática foi testado, avaliando sua precisão na previsão do tempo a curto prazo. Essa técnica de teste havia exposto falhas em modelos anteriores, mas no último caso, os resultados reforçaram as estimativas. “Os resultados não são tranquilizadores eles apóiam as estimativas”, escreveu ele. Ele está pedindo que outros modelos sejam testados de maneira semelhante. “É realmente importante. A mensagem para o governo e o público é que você deve levar a sério essa alta sensibilidade climática. [Nós] devemos reduzir as emissões o mais rápido possível ”, disse ele.
Impacto de aerossóis fabricados pelo homem em nuvens de baixo nível Partículas microscópicas chamadas aerossóis são liberadas na atmosfera pela atividade humana; uma pluma de aerossol de uma fábrica é mostrada aqui. Nuvens de baixo nível que se formam na presença dessas partículas contêm gotículas menores e mais numerosas que o normal. Como resultado, essas nuvens refletem mais luz solar e têm um efeito de resfriamento maior na Terra do que as nuvens não poluídas. Toll et al . 3 mostram que os aerossóis produzidos pelo homem também levam a uma redução média fraca no conteúdo de água nas nuvens (e, portanto, na frequência das chuvas) em comparação com as nuvens não poluídas. Esse efeito reduz levemente o aumento geral da reflexão da nuvem induzida por aerossol Espera-se que o IPCC inclua o índice de sensibilidade climática 5 + C em seu próximo relatório sobre a gama de possíveis resultados. Os cientistas alertam que este é um trabalho em andamento e que ainda restam dúvidas porque um número tão alto não se
Os amostradores de filtro de aerossol sondam o ar sobre o Oceano Antártico no R / V Investigator da Australian Marine National Facility
Céu nublado, visto do espaço. É difícil prever como as nuvens se ajustam ao clima quente, mas Williams et al . 1 ter usado previsões meteorológicas de curto prazo para avaliar se as revisões recentes a longo prazo modelos climáticos estão nos recebendo mais perto da verdade
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encaixa nos registros históricos. Catherine Senior, chefe de entendimento das mudanças climáticas no Met Office Hadley Center, disse que são necessários mais estudos e mais dados para entender completamente o papel das nuvens e aerossóis. “Este número tem o potencial de ser incrivelmente alarmante, se estiver certo”, disse ela. “Mas como cientista, minha primeira resposta é: por que o modelo fez isso? Ainda estamos na fase de avaliar os processos que conduzem a resposta diferente”. Sobre o Oceano Antártico, as emissões de spray do mar dominam o material disponível para formar gotículas de nuvens líquidas. As concentrações de partículas nucleantes no gelo, raras na água do mar, são as mais baixas registradas em qualquer lugar do planeta. O ar sobre o Oceano Antártico era tão limpo que havia muito pouco DNA para trabalhar. Hill atribuiu a qualidade de seus resultados ao processo de laboratório limpo de Uetake e Moore. Embora reconheça a incerteza contínua, Rockström disse que os modelos climáticos ainda podem estar subestimando o problema porque não levaram totalmente em consideração os pontos críticos da biosfera. “Quanto mais aprendemos, mais frágil o sistema terrestre parece e mais rápido precisamos nos mover”, disse ele. “Isso dá argumentos ainda mais fortes para sair dessa crise do Covid-19 e acelerar a descarbonização da economia”.
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A maior expedição ártica de todos os tempos O navio de pesquisa alemão Polarstern voltou ao porto depois de mais de um ano flutuando em meio à diminuição do gelo do mar Ártico Fotos: Alfred-Wegener-Institut / Steffen Graupner O navio de pesquisa alemão Polarstern conduzindo pesquisas perto do Pólo Norte
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uando o navio de pesquisas alemão “Polarstern” retornar ao seu porto de origem, Bremerhaven, na segunda-feira (12 de outubro), após um ano no Ártico, o líder da expedição Markus Rex também estará a bordo. O físico atmosférico acompanhou três das cinco etapas da expedição « MOSAiC » e foi, portanto, uma das mais longas a bordo. Atrás dele e de sua equipe está uma das jornadas mais aventureiras da história da pesquisa no Ártico, que começou na Noruega em 20 de setembro de 2019 - e que estava temporariamente à beira da pandemia.
Por dez meses, o “Polarstern” navegou pelo Ártico, ancorado em um enorme bloco de gelo. Observando, medindo e documentando todo o ciclo do gelo, do congelamento ao derretimento - os cientistas foram capazes de fazer isso pela primeira vez. Eles esperam que os dados obtidos forneçam informações importantes sobre o Oceano Ártico - e sobre as mudanças climáticas. Quase nenhuma outra região da Terra pode senti-lo tão claramente quanto o Ártico. Depois que o floe quebrou no ártico de verão no final de julho, a última etapa levou o «Polarstern» a motor mais uma vez em direção ao Pólo Norte.
O RV Polarstern chegando em Bremerhaven, Alemanha, no final de sua expedição
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O que Rex viu lá o chocou: “O gelo no Pólo Norte havia derretido completamente e havia áreas de mar aberto até pouco antes do pólo.” Onde normalmente havia gelo espesso e multianual, o «Polarstern» passou em tempo recorde. “Assistimos ao gelo morrer”, diz Rex. É uma das experiências que ele e sua equipe vão lembrar de uma viagem de superlativos. Com um orçamento de 140 milhões de euros, foi a expedição mais cara e logisticamente complexa ao Ártico Central até hoje. Quase 500 pessoas de todos os cantos do mundo estiveram a bordo em etapas. Rex, que trabalha para o Alfred Wegener Institute (AWI), se sente responsável pelo bem-estar de todos. Ele agora está feliz porque a jornada terminou sem ferimentos graves. O pior foi a perna quebrada de um colega logo no início a bordo. Além disso, houve congelamento leve no rosto de alguns dos participantes - nada incomum em temperaturas tão baixas quanto menos 42 graus. “Mas eles se curaram sem problemas”, diz Rex. Muito poderia ter acontecido. Houve muitos encontros com ursos polares no floe. Rex lembra de um particularmente complicado: “O urso estava a apenas 40 metros de distância do guarda do urso polar”.
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O guarda só conseguiu afugentar o animal com um tiro logo acima da cabeça do urso polar. Os guardas protegeram permanentemente o torrão para que os cientistas pudessem trabalhar em paz. Na maioria das vezes, o barulho afugentava os convidados de quatro patas. Na noite de 10 de outubro de 2019, a fotógrafa da AWI Esther Horvath estava a bordo para essa visita. Da proa do «Polarstern», ela fotografou uma mãe urso polar e seu filhote explorando o campo de pesquisa. “Naquele momento tive a sensação de que seria uma foto importante”, diz ela. Na verdade, a imagem ganhou o prestigioso “World Press Photo Award” na categoria “Meio Ambiente”. Outros animais também vieram visitar. Christian Haas, cientista-chefe do segundo estágio, lembra: “Uma pequena raposa ártica fofa teria levado quase todo o projeto ao fracasso porque ele gostava de roer cabos de energia e dados no gelo e não queria ser expulso.” O fotógrafo Horvath ficou ainda mais impressionado com a noite polar do que os animais.
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Urso polar visitando o bloco de gelo no qual os pesquisadores da expedição Mosaic estavam montando campos de pesquisa
“Esse preto profundo me fascinava de novo a cada dia, era mágico”, diz ela. Desde meados de outubro do ano passado, esteve continuamente escuro. “No floe (massa de gelo flutuante), o ‘Polarstern’ e os faróis foram usados na luz. Sempre me senti como se estivesse em um cinema”. Quando o sol voltou lentamente em março, Horvath não estava mais a bordo. Mas o geofísico Haas testemunhou isso. Para ele, o início do “crepúsculo náutico” foi im-
pressionante: “Como essa luz pálida perto do Pólo Norte gira em torno de todo o horizonte ao nosso redor em um dia, você pode adivinhar que a Terra é uma esfera”. Christian Pilz, físico atmosférico do Instituto Leibniz de Pesquisas Troposféricas de Leipzig, experimentou o oposto da noite: o dia polar. Ficou dois meses a bordo no verão e tinha boas condições de trabalho devido ao brilho constante e temperaturas em torno de zero grau. “Estava quase quente demais em nossos trajes de segurança vermelhos.” Pilz e seus colegas colocaram um balão amarrado do tamanho de um ônibus público a uma altura de até 1000 metros para medir parâmetros atmosféricos como turbulência, radiação e concentrações de poeira fina. A Pilz deveria ter embarcado dois meses antes. Mas com o início da pandemia corona, inicialmente não estava claro se a expedição “MOSAiC” poderia continuar. Devido a restrições de viagem, não foi possível a troca planejada da equipe a bordo de avião. Em vez disso, dois navios de pesquisa com cientistas finalmente partiram de Bremerhaven. O «Polarstern» interrompeu a sua deriva, as tripulações puderam ser trocadas em Spitzbergen. O «Polarstern» voltou ao seu floe (massa de gelo flutuante) e continuou a deriva. O chefe Markus Rex está mais do que satisfeito com o andamento da expedição. “Nem mesmo Corona nos tirou do curso”, enfatiza. “Durante a ausência do ‘Polarstern’, importantes instrumentos de medição continuaram a trabalhar autonomamente no floe.” Inúmeras amostras e dados de gelo, neve, água e ar foram coletados ao longo do ano. “Eles manterão as futuras gerações de cientistas ocupadas”. Além de todo o trabalho, também houve tempo para noites de jogos, esportes e comemorações. Não só o Natal foi comemorado a bordo, mas também aniversários, como o de Markus Rex em novembro. Uma barra de gelo foi montada no Scholle, e vinho quente foi servido a menos 30 graus. Rex: “O primeiro gole ainda está quente, o segundo frio e o terceiro é sorvete”.
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Recuo da camada de gelo da Antártida Oriental durante períodos quentes anteriores
Evidências de recuo glacial na bacia de Wilkes, há 400.000 anos, sugerem que a perda de gelo nessa região pode adicionar de 3 a 4 metros ao futuro aumento global do nível do mar por *Universidade da Califórnia - Santa Cruz
Fotos: Michael Scudder, Terry Blackburn
A
o gelo perde contato com o solo e s perguntas sobre a começa a flutuar - se desloque para estabilidade da camao interior, explicou o primeiro auda de gelo da Antártor Terrence Blackburn, professor tica Oriental são uma assistente de Terra e ciências planeimportante fonte de incerteza nas tárias da UC Santa Cruz. estimativas de quanto o nível do “Nossos dados mostram que a mar aumentará à medida que a linha de aterramento na Bacia de Terra continuar aquecendo. Por Wilkes recuou 700 quilômetros décadas, os cientistas pensaram [435 milhas] para o interior duque o manto de gelo da Antártirante um dos últimos interglaciais ca Oriental permaneceu estável realmente quentes, quando as por milhões de anos, mas estutemperaturas globais estavam 1 a dos recentes começaram a colo2 graus Celsius mais quentes do car em dúvida essa idéia. Agora, que agora”, disse Blackburn. “Isso pesquisadores da UC Santa Cruz provavelmente contribuiu de 3 a 4 relataram novas evidências de No final do glaciar Taylor, uma salmoura hipersalina conhecida como metros para o aumento global do perda substancial de gelo na An“Blood Falls” flui para a superfície. A cor vermelha é do óxido de nível do mar, com a Groenlândia tártida Oriental durante um períoferro que precipita das águas subglaciais. Pesquisadores estudaram depósitos minerais formados no passado a partir desses fluidos e e a Antártica Ocidental contribuindo quente interglacial há cerca de encontraram evidências de recuo glacial cerca de 400.000 anos atrás do com outros 10 metros”. 400.000 anos. Em outras palavras, um período O estudo, publicado em 22 de julho na Nature , enfocou a Bacia de Wilkes, detém gelo suficiente para elevar o nível do de aquecimento global comparável ao esperado nos cenários atuais para emissões de gases uma das várias bacias semelhantes às de uma mar em 3 a 4 metros (10 a 13 pés). O gelo flui lentamente através das bacias do de efeito estufa provocados pelo homem rebacia nas bordas da camada de gelo que são consideradas vulneráveis ao derretimento interior do continente para as prateleiras flu- sultou em um aumento no nível do mar em porque o gelo repousa sobre a terra abaixo do tuantes nas margens. A perda de gelo faz com torno de 13 metros (43 pés). Claro, isso não nível do mar. Atualmente, a Bacia de Wilkes que a linha de aterramento - o ponto em que aconteceria de uma só vez - leva tempo para derreter tanto gelo. “Abrimos a porta do freGraham Edwards e o professor Slawek Tulaczyk, em frente ao Taylor ezer, mas esse bloco de gelo ainda está frio e Glacier na Antártica, investigaram a perda de gelo da camada de gelo da não vai a lugar algum no curto prazo”, disse Antártica Oriental durante os períodos quentes interglaciais anteriores Blackburn. “Para entender o que acontecerá em escalas de tempo mais longas, precisamos ver o que aconteceu em condições comparáveis no passado”. O problema com o estudo dos períodos interglaciais durante o Pleistoceno é que todos terminaram em outra era glacial quando a camada de gelo avançou novamente e encobriu as evidências. Para o novo estudo, Blackburn e seus colegas usaram uma nova técnica baseada em medidas de isótopos em depósitos minerais que registram alterações passadas nos fluidos subglaciais.
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Um precipitado subglacial da bacia de Wilkes. Os dados geocronológicos de diferentes camadas dessa amostra acompanham a evolução do fluido subglacial por uma duração de 150.000 anos, indicando quanto tempo o fluido foi isolado sob a camada de gelo da Antártica Oriental
O urânio-234 (U-234) é um isótopo de urânio que se acumula muito lentamente na água que está em contato com as rochas devido à decomposição de alta energia do urânio-238. Isso acontece em todos os lugares, mas na maioria dos lugares os processos hidrológicos levam a água longe de fontes de enriquecimento, e o U-234 é diluído em grandes massas de água. Na Antártica, no entanto, a água fica presa na base do manto de gelo e se move muito lentamente enquanto o gelo é estável, permitindo que o U-234 suba para níveis muito altos por longos períodos de tempo. Blackburn explicou que a camada de gelo age como uma manta isolante, de modo que o calor do interior da Terra causa o derretimento na base. Mas as temperaturas são mais frias, onde o gelo é mais fino nas margens da camada de gelo, fazendo com que a água subglacial volte a congelar. “A água que flui sob o gelo começa a congelar novamente nas bordas, o que concentra todos os minerais dissolvidos até que se torne supersaturado e os minerais precipitam para formar depósitos de opala ou calcita”, disse
ele. “Esses depósitos capturam o urânio-234, para que possamos datar os depósitos e medir sua composição, e podemos acompanhar isso ao longo do tempo para obter um histórico profundo da composição da água sob a camada de gelo”. O que essa história sugere é que o U-234 na água subglacial na Bacia de Wilkes foi liberado durante o período interglacial 400.000 anos atrás, quando o gelo derreteu e a linha de aterramento recuou. Isso redefiniu a concentração do U-234 para baixos níveis de fundo e a acumulação foi reiniciada quando o gelo avançou novamente. Blackburn observou que as evidências atuais para o acúmulo de U-234 em fluidos subglaciais podem ser encontradas nos Vales Secos McMurdo, o único local onde as geleiras da Antártica terminam em terra. Lá, salmouras altamente concentradas emergem das
Um precipitado subglacial da bacia de Pensacola que se formou 200.000 anos atrás. Combinada com dados de outras amostras, a idade e a composição isotópica de urânio desta amostra sugerem que partes da camada de gelo da Antártica Oriental foram deglaciadas durante um período interglacial quente cerca de 400.000 anos atrás
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geleiras em lugares como Blood Falls, onde a cor vermelho-sangue vem de altas concentrações de ferro na salmoura. “As composições isotópicas dessas salmouras são comparáveis aos precipitados que namoramos em vários locais, e todas elas compartilham o enriquecimento característico do U-234”, disse Blackburn. “Os salmões são o que resta quando os fluidos subglaciais chegam até a borda da camada de gelo “. Ele disse que o novo estudo foi inspirado em um artigo de 2016 no qual pesquisadores que estudam corais do fundo do mar relataram evidências de uma grande mudança na química dos oceanos, incluindo um pico no U-234, coincidindo com o fim da última era glacial, quando a vasta camada de gelo de Laurentide que cobria grande parte da América do Norte derreteu. “Eles especularam que ele se acumula sob as camadas de gelo e apontaram para alguns locais possíveis na Antártida onde isso poderia estar acontecendo”, disse Blackburn. “Eu estava em um desses lugares na época.” O mesmo aconteceu com seu colega, glaciologista Slawek Tulaczyk, professor de ciências da Terra e planetárias na UC Santa Cruz. Eles discutiram o artigo e começaram a planejar este estudo, que acabou envolvendo vários professores e alunos da UCSC. A equipe coletou algumas amostras de depósitos minerais, mas algumas das amostras mais importantes usadas no estudo foram coletadas na década de 1980 e arquivadas no Repositório de Rochas Polar Byrd da Universidade Estadual de Ohio.
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Incêndios de zumbis estão atingindo o Ártico, causando queima recordes A temporada de incêndios florestais no Ártico foi a pior desde o início da manutenção de registros Fotos: Copernicus EU / Sentinel-2, Pierre Markuse
Yakutia [foto] tem 83,4 por cento de floresta, tornando-a “uma das regiões russas com maior risco de incêndio
O
s incêndios florestais “zumbis” que ardiam sob o gelo do Ártico durante todo o inverno repentinamente ganharam vida neste verão, quando a neve e o gelo derreteram, revelam novos dados de monitoramento. E este ano foi o pior em registros de incêndios florestais no Ártico, desde que o monitoramento confiável começou há 17 anos. Os incêndios do Ártico neste verão liberaram tanto carbono na primeira metade de julho do que uma nação do tamanho de Cuba ou da Tunísia em um ano. Isso está de acordo com o monitoramento do Copernicus Atmosphere Monitoring Service , a organização de monitoramento da Terra da União Europeia. Mais de 100 incêndios ocorreram no Ártico desde o início de junho, de acordo com Copernicus. “Obviamente, é preocupante”, disse o cientista sênior do Copernicus, Mark Parrington, à BBC . “Nós realmente não esperávamos ver esses níveis de incêndios florestais ainda”.
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Zumbis atiram Os “incêndios de zumbis” rastreados por Copérnico provavelmente ardiam sob o gelo e a neve na turfa rica em carbono da tundra ártica. Quando o gelo e a neve derretem, esses pontos de acesso podem causar novos incêndios florestais na vegetação acima.
“A destruição da turfa pelo fogo é preocupante por muitos motivos”, disse Dorothy Peteet, pesquisadora sênior do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA em Nova York, ao Observatório da Terra . “À medida que o fogo queima as camadas superiores da turfa, a profundidade do permafrost pode se aprofundar, oxidando ainda mais a turfa subjacente.” Os incêndios, então, liberam carbono e metano da turfa, ambos gases de efeito estufa que contribuem ainda mais para o aquecimento do planeta. Mas os incêndios de zumbis não são a única causa da dura temporada de incêndios; quedas de raios e comportamento humano também estão causando conflagrações. Parrington e seus colegas já haviam rastreado a violenta temporada de incêndios florestais de 2019, mas ficaram surpresos com a forma como os incêndios se intensificaram este ano ao longo de julho, disse Parrington ao Observatório da Terra. A Sibéria não foi o único foco de incêndio florestal no Ártico neste verão. O norte de Alberta, no Canadá, também foi particularmente afetado. O incêndio em Chuckegg Creek no norte de Alberta, por exemplo, queimou mais de 1.351 milhas quadradas (350.134 hectares) e levou três meses para ser contido.
Uma visão de cima dos incêndios florestais queimando na Sibéria neste verão. Esta foi a pior temporada de incêndios florestais já registrada no Ártico
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Combinando essas observações com dados de satélite, eles descobriram que a maioria dos incêndios era muito pequena - menos de 11 hectares e, na maioria dos casos, menos de um - para ser detectada. Mas sete deles eram visíveis do espaço. Os surtos massivos no ano passado foram alimentados por um calor recorde. Partes da Sibéria e do Alasca ficaram até 10 graus Celsius mais quentes do que o normal por semanas a fio.
Incêndio florestal na República Sakha
Temporada de fogo A temporada de incêndios no Ártico vai de maio a outubro, com os piores incêndios geralmente ocorrendo entre julho e agosto. A temporada de incêndios de 2019 quebrou recordes para o número de incêndios e carbono liberado, com Copernicus relatando que só em junho, os incêndios liberaram 50 megatons de dióxido de carbono. Os incêndios de 2020 já estão ultrapassando as conflagrações de 2019. Ao todo, Copérnico estima que, entre janeiro e agosto, os incêndios liberaram 244 megatons de carbono. Isso é mais do que toda a nação do Vietnã liberada em 2017. Os incêndios também liberam outra poluição que piorou a qualidade do ar na Europa, Rússia e Canadá, de acordo com Copernicus. Os cientistas da Terra estão esperando condições semelhantes para 2021 e além. “Sabemos que as temperaturas no Ártico têm aumentado em um ritmo mais rápido do que a média global, e as condições mais quentes / secas fornecerão as condições certas para que os incêndios cresçam quando eles começarem”, disse Parrington em um comunicado divulgado pela Copernicus, acrescentando , “Nosso monitoramento é importante para aumentar a conscientização sobre os impactos em larga escala dos incêndios florestais e emissões de fumaça, que podem ajudar as organizações, empresas e indivíduos a planejarem com antecedência contra os efeitos da poluição do ar”.
Cientistas alertaram sobre incêndios de ‘zumbis’ na região Artctic
Retenção de Luzes As brasas profundas em solos orgânicos, como turfeiras, podem inflamar semanas, meses e até anos depois. Cientistas que monitoram o Alasca observaram um fenômeno semelhante. “Os gerentes de incêndio notaram um aumento nos casos em que os incêndios sobrevivem aos meses frios e úmidos do inverno, extinguindo-se e reaparecendo na primavera seguinte”, relatou o Alaska Fire Science Consortium, agrupando quatro universidades e institutos de pesquisa, em seu boletim informativo da primavera de 2020. Desde 2005, cientistas no Alasca identificaram 39 desses “incêndios residuais”, como também são chamados.
Foto de satélite de incêndios em curso na Groenlândia
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As temperaturas na Groenlândia aceleraram o derretimento da camada de gelo de quilômetros de espessura da ilha, resultando em uma perda líquida de 600 bilhões de toneladas de massa de gelo no ano - o que é cerca de 40% do aumento total do nível do mar em 2019.
Na Groenlândia Parte da Groenlândia, onde um recorde de calor foi registrado em julho, está pegando fogo, uma situação que levou a polícia a desaconselhar dirigir ali em duas áreas no sudoeste. As áreas afetadas estão localizadas acima do Círculo Polar Ártico e, segundo as autoridades, “os incêndios não devem parar nos próximos dias”. Os primeiros surtos foram relatados em 31 de julho neste território autônomo da Dinamarca, cuja vegetação é em grande parte composta por tundra. Em uma das áreas afetadas, desde segunda-feira e até novo aviso, é proibido fumar. “Muitos lugares são muito secos e a menor faísca ou negligência relacionada ao fumo pode iniciar um incêndio”, disse o município de Qaasuitsup. De acordo com o instituto meteorológico dinamarquês, BMI, o mês de julho foi “extremo” e um novo recorde de calor foi estabelecido. Um climatologista do instituto, John Cappelen, observou em 10 de agosto no Twitter uma temperatura de 24,8 graus Celsius no aeroporto de Nuuk, capital da Groenlândia. O Ártico é particularmente frágil e ameaçado pelo aquecimento global. REVISTA AMAZÔNIA
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O gelo do mar Ártico atinge o segundo nível mais baixo já registrado Ondas de calor, ventos e gelo fino contribuem para uma “nova normalidade” no clima do norte por *Alexandra Witze
Fotos: David Goldman
Em algumas regiões, os ventos quentes empurraram a borda do gelo marinho do Ártico mais para o norte do que nunca neste ano
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ste ano, o gelo marinho do Ártico encolheu até sua segunda menor extensão em mais de 40 anos de medições por satélite. Em 15 de setembro, o gelo cobriu apenas 3,74 milhões de quilômetros quadrados das águas do Ártico em seu mínimo anual no verão. Em apenas um outro ano - 2012 - a cobertura anual mínima de gelo marinho do Ártico caiu para menos de 4 milhões de quilômetros quadrados (consulte ‘Gelo fino’). “Durante minha vida, o gelo marinho no final do verão diminuiu 50%”, disse Cecilia Bitz, cientista atmosférica da Universidade de Washington em Seattle, em um comunicado. Com o aumento das temperaturas globais, a extensão mínima do gelo marinho do Ártico encolheu em média 13,4% por década desde 1979. O gelo que resta é frequentemente mais fino e mais frágil do que antes, tornando-o mais vulnerável ao derretimento no ano seguinte. A baixa quase recorde deste ano - relatada pelo US National Snow and Ice Data Center (NSIDC) em Boulder, Colorado, em 21 de setembro - começou no inverno passado, quando os ventos soprando da costa ao longo da costa norte da Rússia permitiram que apenas gelo marinho se formasse lá ; muito desse gelo derreteu quando a primavera chegou. E de maio a agosto, as ondas de calor da Sibéria causaram forte degelo nos mares de Kara e Laptev.
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A ambiciosa expedição de pesquisa MOSAiC, que está examinando o clima ártico do quebra-gelo alemão Polarstern , chegou
ao Pólo Norte em 19 de agosto, em condições de gelo mais leves do que o normal. O golpe final veio perto do final da temporada de degelo, no início de setembro, quando as temperaturas do ar no centro-norte da Sibéria subiram até 6 ºC acima do normal. Parte desse ar quente vazou para o norte, levando a uma maior perda de gelo. Durante seis dias, começando em 31 de agosto, quase 80.000 quilômetros quadrados de gelo marinho derreteram a cada dia, uma taxa de perda recorde para este período. Ao norte de ilhas como o arquipélago norueguês Svalbard, os ventos empurraram a borda do gelo marinho para trás até 85º ao norte, a latitude mais extrema vista na era das medições por satélite. A redução do gelo marinho marca parte de uma transição geral para um novo clima ártico, relataram pesquisadores este mês 1 . As temperaturas mais altas do ar já estão fazendo com que uma proporção maior da precipitação do Ártico caia como chuva em vez de neve - o que significa um ambiente mais quente e lamacenta do que os ecossistemas árticos estão acostumados. “No Ártico, o clima que costumava ser considerado extremo está se tornando a norma”, escreveu o NSIDC em seu relatório. “O verão de 2020 é claramente representativo deste novo Ártico.” A extensão caiu para 3,74 milhões de quilômetros quadrados em 15 de setembro
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