revista Área - Fatos & Feitos

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FATOS & FEITOS

Uma competição pela

sustentabilidade Brasil estreia no Solar Decathlon com um projeto que pretende inaugurar uma nova ética social no desenho da arquitetura residencial

Nos últimos dois anos, 41 estudantes de Arquitetura, orientados por 19 professores e pesquisadores de seis universidades brasileiras passaram horas debruçados sobre pranchetas para desenvolver o projeto da Casa Solar Flex para concorrer ao Solar Decathlon Europe 2010. Dentre as milhares de propostas enviadas por equipes do mundo todo, o protótipo da Casa Solar Flex foi um dos 20 selecionados para participar da etapa final, em junho em Madri (ES). Esta será a estreia do Brasil na competição, criada há oito anos pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos com o objetivo de sensibilizar estudantes, autoridades e a sociedade sobre as vantagens e as possibilidades do uso de energias renováveis e das construções energeticamente eficientes. O Solar Decathlon já foi realizado em 2002, 2005 e 2007, sempre em Washington, e chega agora, pela primeira vez, ao continente europeu. Na capital espanhola, as 20 equipes montarão suas casas na Vila Solar, para a visita do público e para avaliação dos jurados. Como nas edições anteriores, elas ficarão lado a lado e os alunos que ajudam a montar o projeto vão simular o dia-a-dia na residência, cozinhando, lavando roupa, utilizando computadores e acionando outros equipamentos que dependem da energia filtrada pelos painéis de captação. As habitações devem ter entre 42 a 74m2 e serão avaliadas pela melhor relação entre energia captada e energia consumida. A equipe Consórcio Brasil é formada por estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de São Paulo (USP). E conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com patrocínio de diversas empresas, como Eletrobrás, Petrobrás, Philips e Weiko. “Para a universidade, este concurso é positivo porque envolve pesquisadores de várias áreas e laboratórios”, afirma o professor José Kós, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. “As discussões geradas pelo projeto e o fato de envolver alunos que sairão da instituição com outra visão de construção de residências também é importante”, complementa. Independente do resultado da competição, a Casa Solar Flex, que já esteve em exposição na USP no ano passado, deverá percorrer o Brasil numa exposição itinerante ainda em 2010. “O projeto terá um caráter educativo, pela proposta ecológica e porque prevê o uso de menos cimento, concreto e tijolos do que as moradias convencionais”, avalia. A intenção da equipe brasileira é que uma versão mais simples da casa seja depois oferecida ao mercado, considerando a realidade local e o público-alvo dessas edificações.

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O projeto brasileiro Sem revelar muitos detalhes, a equipe conta que a Casa Solar Flex

tricas, configurando, também, um espaço mais privado e protegido.

une pesquisas em tecnologias sustentáveis com a essência das

Outros dois módulos pré-fabricados, mais flexíveis, são acoplados ao

tradicionais casas brasileiras. Um espaço íntimo e protegido e ou-

primeiro para abrigar as principais atividades diárias. Enquanto os

tro intermediário, semiprivado, onde cada morador define como a

três módulos constituem-se como o espaço íntimo da casa, a varan-

casa se conecta com o espaço público, podendo ser mais fechado

da expande o espaço interno da casa, regulando a relação com o es-

e introspectivo, mas também pode ser bem aberto e convidativo. A

paço exterior. Para a equipe brasileira, a Casa Solar Flex, assim como

tecnologia representa um papel significante na imagem da casa. Os

os demais protótipos que participam da competição, tem a responsa-

brises, automatizados por um sistema de controle de temperatura e

bilidade de aproximar as novas tecnologias aos ciclos naturais. “Nós

iluminação, dividem a fachada externa da casa com os painéis foto-

desenvolvemos um sistema de automação residencial que ajuda os

voltaicos móveis. Estes se movem ao longo da varanda e fachadas,

visitantes a controlarem a casa e, mais do que isso, informa como

seguindo o movimento do sol e, com isso, permitem uma maior visi-

a casa se relaciona com o meio ambiente. Ele também informa aos

bilidade desde a parte sombreada da fachada. Embora a maior parte

usuários sobre o impacto das suas decisões no consumo de energia

da energia produzida seja oriunda dos painéis da cobertura, estes

da casa e, também, o impacto disso nos recursos naturais. Desta

painéis móveis transmitem a ideia de como a energia solar é produ-

maneira, este sistema foi desenhado para facilitar as decisões dos

zida. Os brises permitem controlar a iluminação e a incidência de luz

usuários e para promover a mudança de seus hábitos”, descrevem os

no interior da casa, ou seja, nos dias quentes eles filtram a radiação

estudantes. A pesquisa do grupo por uma nova ética no desenho da

solar sem impedir a ventilação natural no interior da casa.

arquitetura decorreu de uma questão: “é possível integrar tecnologia

A Casa Solar Flex é constituída por um núcleo técnico mínimo,

e beleza para gerar felicidade e igualdade para o ambiente da cons-

onde ocorrem a maioria das atividades dos usuários. Um módulo 3D

trução na sociedade global?”. Com a Casa Solar Flex eles tentarão

pré-fabricado contém as instalações mecânicas, hidráulicas e elé-

encontrar algumas respostas.

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FATOS & FEITOS Alemanha apresenta sua expertise Baseada no protótipo alemão que participou da última edição do Solar Decathlon, a Casa Ecoeficiente está percorrendo a América Latina este ano para apresentar as tecnologias desenvolvidas pela Alemanha no campo das energias renováveis e de eficiência energética aplicáveis no setor da construção civil. A capital paulista foi a primeira cidade a receber a exposição, em abril no Parque do Ibirapuera, organizada pelo governo alemão e viabilizada pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. O evento contou, também, com seminários e palestras sobre eficiência energética. O tour seguirá para mais 12 países. “O mundo encontra-se diante do desafio de atender às reivindicações econômicas e materiais da população global, mas também de cuidar das questões ambientais. A evolução dos acontecimentos tem demonstrado que economia e meio ambiente não atuam em campos opostos, mas são dependentes entre si”, afirma Julio Muñoz Kampff, vice-presidente da Câmara Brasil-Alemanha e coordenador da Comissão de Sustentabilidade. A Casa Ecoeficiente teve como base para seu desenvolvimento o projeto desenvolvido a partir das contribuições da Universidade Técnica de Darmstadt (TU Darmstad) ao concurso Solar Decathlon. Para facilitar o seu transporte e a montagem, o projeto original teve de sofrer algumas alterações; porém, preservando os conceitos básicos apresentados na competição.

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Fotos Hisao Suzuki/Divulgação SANAA

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SANAA leva o Nobel da Arquitetura Uma arquitetura que é, ao mesmo tempo, delicada e poderosa, precisa e fluida, engenhosa, mas sem exageros. Uma linguagem arquitetônica singular que resulta de um processo colaborativo único e inspirador. Assim definiu o júri do Prêmio Pritzker de Arquitetura ao anunciar os laureados da edição 2010: os arquitetos Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, do escritório SANAA, sediado no Japão. Além do país de origem, a dupla tem projetos na Alemanha, Espanha, Inglaterra, França, Países Baixos e Estados Unidos. Dentre os trabalhos citados pelo júri, destaque para o novo Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque (2007), descrito como “uma pilha de caixas escultural, dinamicamente deslocada fora do eixo em torno de um núcleo central de aço”; para o prédio da Christian Dior, em Tóquio (2003) (foto 3); e para o da Escola de Gestão e Design Zollverein, em Essen, na Alemanha (2006). Este último, construído num local histórico de mineração de carvão, é descrito como um cubo de grandes dimensões com um arranjo incomum de aberturas e janelas de quatro diferentes tamanhos (fotos 1 e 2). Entre os projetos mais recentes do SANAA está o Centro Rolex de Aprendizado da Escola Politécnica em Lausanne, na Suíça (2009). Os ambientes – biblioteca, restaurante, áreas de exposições e escritórios – não são separados por paredes, mas setorizados por ondulações de um piso contínuo, que sobe e desce para acomodar os diferentes usos (foto 4). Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, que trabalham juntos há 15 anos, receberam 100 mil dólares e medalhões de bronze na cerimônia de entrega do prêmio, no dia 17 de maio, na Ilha Ellis, em Nova Iorque (EUA). Esta é a terceira vez na história do prêmio, criado em 1979, que dois arquitetos foram nomeados no mesmo ano. A primeira vez foi em 1988, quando Oscar Niemeyer e o norteamericano Gordon Bunshaft foram laureados. E a segunda em 2001, entregue para Jacques Herzog e Pierre de Meuron, parceiros de uma empresa suíça. Vale lembrar que, além de Niemeyer, outro brasileiro já conquistou o Pritzker: Paulo Mendes da Rocha, em 2006.

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