revista Área - Projeto

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PROJETO

Na concepção do projeto de um edifício residencial em Blumenau, Sérgio Bellicanta baseou-se na arquitetura bioclimática em benefício da sustentabilidade e da qualidade da construção

Estratégias verdes

A implantação de duas torres, com dois apartamentos por andar, permite melhor aproveitamento da iluminação natural e da ventilação cruzada, além de garantir maior privacidade aos moradores 42 | ÁREA


Ventilação cruzada em todos os apartamentos; aquecimento solar passivo e

de até 4,5 horas, reduzindo o pico de calor no verão e, no inverno, garante o

uso de massa térmica; e máxima iluminação natural. Este foi o partido arqui-

aquecimento solar passivo através da radiação solar direta sobre as paredes”,

tetônico definido para implementação da edificação, com base nas diretrizes

acrescenta. E as soluções adotadas não comprometeram financeiramente o

construtivas para a Zona Bioclimática do Litoral de Santa Catarina. O arquiteto

empreendimento, resultando num preço de venda de R$ 1.250/m2.

Sérgio Bellicanta adotou como estratégias a utilização de aberturas médias

Entre os benefícios adicionais do partido arquitetônico adotado estão a

para ventilação e sombreamento das aberturas; parede leve refletora e co-

vista privilegiada da natureza a partir de todos os apartamentos, maior pri-

bertura leve isolada como vedações externas; ventilação cruzada no verão e aquecimento solar da edificação e vedações internas pesadas no inverno, para condicionamento térmico passivo. “Partimos do estudo das características climáticas de Blumenau, onde foi identificado que se atinge conforto térmico em apenas 20% do ano em nossa região”, explica Bellicanta, que fundou a Habitat Construção e Incorporação há três anos. Segundo ele, os 80% restantes são de desconforto gerados pelo frio (40%) e pelo calor (40%). “Durante este período, o conforto térmico é atingido apenas através do uso do condicionamento artificial pela falta de consideração de estratégias de conforto térmico passivo adequadas, o que gera consumo de energia desnecessário”, argumenta.

vacidade aos moradores, melhor qualidade do ar, menor custo operacional, maior valor de mercado. “Sabe-se que os edifícios consomem entre 30% e 40% da energia global e são responsáveis por quase 35% das emissões dos gases do efeito estufa e contribuem com até 70% do consumo total de energia elétrica”, preocupa-se Bellicanta, cuja trajetória profissional e experiências internacionais contribuíram para a definição da sua linha de atuação. Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2001, Bellicanta fez estágio em dois grandes escritórios catarinenses: Marchetti + Bonetti e Mantovani e Rita. Recém-formado, trabalhou por cinco anos em Londres como arquiteto e gerente de projetos na elaboração de propostas e execução de obras

A partir deste estudo, definiu a implementação de duas torres de dois

de edifícios residenciais, hospitais, teatros e casas noturnas. Em 2006, um

apartamentos por andar, de forma a permitir a incidência do sol da manhã em

ano antes de criar a sua própria empresa, foi diretor de operações da empresa

todos os dormitórios e a ventilação cruzada em todas as unidades habitacio-

Luxe Interior International, voltada ao mercado do luxo, responsável pela im-

nais. “Além disso, optamos pela utilização de paredes internas com 17cm de

plementação de trabalhos de profissionais como o designer britânico Tom Dixon

espessura para uma maior inércia térmica. Isto proporciona um atraso térmico

e os arquitetos da Conran & Partners, com sede em Londres.

A disposição das torres também possibilita vista privilegiada do entorno a todas as unidades. Esquadrias de grandes dimensões atendem a necessidade de conforto térmico. A integração da cozinha com a sacada e o peitoril em vidro facilitam a incidência da luz natural.

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PROJETO

Itens de sustentabilidade A equipe adotou estratégias específicas de sustentabilidade no projeto para todo o empreendimento. Redução do consumo de energia: – Arquitetura Bioclimática, priorizando o sol da manhã nos quartos e a ventilação cruzada, para maior conforto térmico; – Esquadrias grandes para maior luminosidade dos apartamentos; – Sensores de presença nas áreas comuns com células fotovoltaicas; – Iluminação das áreas comuns com lâmpadas de baixo consumo. Redução do consumo de água: – Reaproveitamento de água das chuvas para as áreas comuns; – Sistema de descarga de 3 e 6 litros (dual flux) nos vasos sanitários das áreas comuns; – Temporizador nas torneiras das áreas comuns; – Hidrômetros individuais; – Reaproveitamento de água das chuvas durante a obra.

Áreas comuns com pé-direito duplo e fechamento em vidro, para potencializar o aproveitamento da iluminação natural. 44 | ÁREA

Áreas verdes: – Telhado branco. Em linha com a campanha 1 degree less (um grau a menos), contribuindo para a redução da ilha de calor nas cidades; – Pracinha; – 20% de área permeável e plantada de acordo com as melhores práticas recomendadas pelo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design); – Telhado verde; – Preservação e plantio de árvores que proporcionam sombra às áreas comuns. Reciclagem: – Coleta seletiva de lixo; – Gestão de resíduos da construção; – Adoção de estratégias para a redução de entulho e de desperdícios durante a obra; – Lâmpadas com garrafa PET para áreas de almoxarifado, rancho de obras, entre outras.


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