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AsBEA-SC realiza exposição e discute a produção latino-americana
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Fotos Vicente Schmitt/Divulgação
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Os catarinenses puderam conhecer em detalhes os projetos de arquitetura e de intervenção urbana voltados para o turismo e lazer que integraram a exposição “Litoral de Santa Catarina – arquitecturas para el ócio”, apresentada na XII Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em outubro do ano passado. O material fez parte da segunda edição da mostra Destaques das Bienais realizada pela regional da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-SC) em paralelo à Casa Cor SC. Com entrada gratuita, a exposição ocupou as dependências da sala Lindolfo Bell, no CIC, totalmente reformada pela entidade e empresas parceiras, doada oficialmente à comunidade no dia 27 de abril, no evento de encerramento da Casa Cor SC. A mostra Destaque das Bienais reuniu nove exposições de trabalhos destacados nas Bienais Internacionais de Arquitetura de São Paulo e de Buenos Aires, como o projeto de novo urbanismo da Pedra Branca, em Palhoça; os novos edifícios culturais da capital paulista; o projeto do edifício de escritórios Harmonia 57, em São Paulo, do Estúdio Triptyque; e o Centro Cultural Max Feffer, no interior de São Paulo, da arquiteta Leiko Motomura – estes dois últimos premiados na Bienal de São Paulo. Nas exposições latino-americanas, estavam os trabalhos do colombiano Laureano Forero, do chileno Cristian Boza e do argentino Roberto Converti. A mostra foi idealizada pelo jornalista e crítico de arquitetura Vicente Wissenbach e pelo vice-presidente da AsBEA-SC, arquiteto André Schmitt, também curadores da exposição. A intenção dos dirigentes da AsBEA-SC é tornar a mostra itinerante, levando-a às principais cidades do Estado.
em debate 1 O arquiteto chileno Cristian Boza explicando projetos nas lâminas da mostra Destaque das Bienais. 2 Parte do material foi exposto na reitoria da UFSC, destacando os trabalhos dos participantes do ciclo de palestras. 3 Na abertura da mostra, o jornalista Vicente Wissenbach e os arquitetos Enrique Cordeyro, Giovani Bonetti e André Schmitt. 4 Abertura do evento, paralelo à Casa Cor SC. 5 Vicente Wissenbach, curador da exposição, e o arquiteto Enrique Cordeyro. Na foto acima, a então presidente da FCC, Anita Pires, confere a exposição.
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Fotos Divulgação
Ciclo de palestras Em paralelo à mostra Destaque das Bienais, a AsBEA-SC promoveu um ciclo de palestras com alguns dos profissionais participantes. No dia 25 de março, arquitetos e estudantes reuniram-se no auditório da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para ouvir conceitos e conhecer projetos como os de Roberto Converti, um dos responsáveis pela revitalização de áreas como os portos de Santa Fé e de Buenos Aires. “O trabalho do urbanista é complexo e demanda muita paciência, pois o território está em constante evolução”, define Converti, que hoje desenvolve projeto de urbanização da bacia do Rio da Prata entre os municípios de Avellaneda e Quilmes, próximo à capital argentina.
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Premiado na categoria ‘Revelação da Jovem Geração’ na XII Bienal de Buenos Aires, Ângelo Bucci apresentou projetos inovadores e que já são referências internacionais, como a casa de praia suspensa entre a copa de árvores em Ubatuba (SP); a casa Santa Teresa, no Rio de Janeiro, erguida a 50m do nível da rua; e uma “Midiateca” projetada para a PUC do Rio de Janeiro (leia entrevista). “A sustentabilidade começa no projeto, na escolha do local, na seleção de materiais, com a escolha dos processos construtivos e continua durante toda a vida útil da edificação”, defendeu a arquiteta Leiko Motomura em sua palestra. No Centro Cultural Max Feffer, localizado em Pardinho, ela demonstrou que componentes de baixa tecnologia, como a alvenaria de abobe
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reforçada com pneu picado; matérias de demolição, entulho, podem conviver com materiais de alta tecnologia, como iluminação com Leds e painéis fotovoltaicos. Também não limitam a criatividade dos arquitetos, como demonstra a linda cobertura projetada por ela e executada com 1, 3 mil varas de bambu. Além do prêmio na 8ª BIA, o projeto recebeu certificação LEED Gold, emitida pelo US Green Building Council (USGBC). O arquiteto David Douek atuou como consultor no projeto arquitetônico e na execução da obra para a adequação dos requisitos exigidos para a certificação LEED. O arquiteto Cristian Boza apresentou projetos como o do Centro da Justiça,
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do Chile. À Revista ÁREA falou sobre o terremoto que afetou o País havia um mês. “O sistema estrutural das construções no Chile é extremamente rigoroso e é baseado nas normas da Califórnia, criadas há 60 anos, quando nasceu o concreto armado. Todas as construções erguidas antes da norma foram destruídas pelos diversos terremotos”, explica, lembrando que o País sempre registrou tremores de terra, porém de menor intensidade que este que sacudiu o Chile em fevereiro deste ano. Segundo ele, algumas questões começam a ser revistas, mas a mudança mais significativa deverá ser a eliminação de processos construtivos como alvenaria e adobe (feitos de barro e palha), comuns nas cidades chilenas. “E sim ao concreto armado, bem calculado”, acrescenta. Boza ressalta que os profissionais têm percebido o potencial dos contêineres – material em abundância no País. “Há praias com casas de contêineres de dois e três pisos que são verdadeiras cidades”, conta. E reconhece: “nos demos conta que esse contêiner, com as instalações adequadas, porta e janela pode ser transformado numa casa, extremamente barata”. Participaram também do ciclo de palestras o arquiteto argentino Enrique Cordeyro, um dos curadores da Bienal de Buenos Aires, que apresentou trabalhos recentes de arquitetura e urbanismo; e o arquiteto André Schmitt, que falou sobre o projeto para a Baía Sul de Florianópolis e a arquitetura para o turismo em Santa Catarina. 26 | ÁREA
Cordeyro transformou uma estrutura abandonada de boxes para cavalos de corrida na sede de uma empresa (fotos 1 e 2). Separou os setores gerencial, comercial e administrativo por dois pátios, que permitem a integração dos jardins. Nestes trechos, criou rasgos na laje de concreto armado para aproveitamento a luz natural. Nas demais fotos, o Centro Cultural Max Feffer, onde Leiko utilizou 1,3 mil varas de bambu na execução da cobertura.
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Referência
Foto Divulgação
da nova geração
Ele representa a nova geração de arquitetos brasileiros. Seu traço expressivo
de uma obra”, explicou. A economia de ações traz ganhos como praticidade
e elegante carrega as influências do modernismo paulista. Não é à toa. Ângelo
durante a obra e controle de custos mais eficiente. Isso explica a escolha e
Bucci saiu de Orlândia (SP) para estudar na Faculdade de Arquitetura e Urba-
confiança no concreto, que segundo ele, “é um sistema extremamente desen-
nismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), a 400 km de distância, e se
volvido e econômico, com mão-de-obra qualificada”.
tornar uma referência na arquitetura nacional, confirmada pelo prêmio Jovem
Professor convidado de universidades como Harvard e Veneza, Bucci pro-
Geração de Arquitetos, concedido pela XII Bienal Internacional de Arquitetura
jetou casas em Portugal e nos Estados Unidos. No Brasil, se destaca a partir
de Buenos Aires em 2009 (BA09).
de um olhar contemporâneo para a arquitetura nacional. A casa construída na
A Revista ÁREA aproveitou a sua passagem por Florianópolis, como um
encosta do morro Santa Tereza, bairro da área central do Rio de Janeiro, é um
dos palestrantes do Ciclo de Palestras Destaques das Bienais, promovido pela
exemplo de desenho de linhas depuradas, de uma obra permeável à paisagem
AsBEA-SC, para saber mais sobre o seu trabalho. Na palestra, Bucci falou de
com vista panorâmica para a cidade. A obra foi exposta na Bienal de Arquitetu-
sua trajetória e contou como se tornou um ‘especialista’ em obras a distância.
ra de Buenos Aires juntamente com o projeto da Midiateca da PUC Rio, prevista
Uns amigos o convidaram para desenvolver um projeto em Ribeirão Preto (SP).
para ser concluída em 2011 e que será 100% financiada pela Lei Rouanet. A
Desafio aceito, o arquiteto enviou o projeto pelo Correio direto para o mestre
aplicação de soluções ecológicas na biblioteca, segundo o arquiteto, garantirá
de obras. “Aprendi a ser radical nas ações que eram demandadas na execução
quatro meses de uso por ano sem a necessidade de ligar o ar condicionado.
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de interesses, que são do construtor, do arquiteto, do proprietário que devem ser convergentes, trabalhado às claras. O rigor estético numa obra vem da clareza das escolhas, que é dado pelos critérios de escolhas acertados. Muitas coisas são muito preciosas, as memórias, as experiências. Você faz uma obra também formada pelo rancor, pode fazer uma obra comandada pelo medo, mas não acredito que obras assim resultem esteticamente no que nós poderíamos desejar. ÁREA – E quais sentimentos envolvem o seu processo de desenvolvimento dos Foto Vicente Schmitt/Divulgação
projetos? Ângelo – Todos nós temos desgostos, mas eu procuro não guardar muito esses e valorizar mais as coisas positivas que a vida e as pessoas nos passam. Isso dá resultado, não só para fazer arquitetura, faz diferença no modo de vida. ÁREA – Você trabalha com o concreto como sistema construtivo. É um resgate dos princípios da arquitetura moderna? Ângelo – Duas casas são em concreto, mas uma delas havia sido desenhada em aço, ÁREA – O que representou a premiação na BA09?
porque me parecia mais razoável. Acabamos mudando para o concreto por uma razão
Ângelo – Representou muito, aos 46 anos receber um título oficial de juventude (risos)...
muito objetiva: o custo do aço se mostrou desvantajoso, contrariando a nossa expec-
A gente vai ganhando mais campos de diálogo para conversar com mais gente. Um
tativa. Não me desagrada, de jeito algum, porque os projetos têm que ter esse sentido
evento deste tipo, com trabalho de um curador, de um júri, tem valor por fazer o papel de
oportuno.
crítico. Coloca na pauta aquilo que aos olhos dessa crítica parece relevante discutir.
Fui formado num ambiente, estudei num prédio (FAU-USP) desenhado por Artigas (arquiteto João Batista Vilanova Artigas) nos anos 60 todo em concreto. Tudo isso constituiu
ÁREA – Qual foi a obra apresentada na Bienal?
aquele acervo que eu tenho para mobilizar e fazer projetos. Mas tem outra razão, que
Ângelo – Eu participei muito casualmente da exposição. Eu havia sido convidado pela
é muito objetiva, como o caso dessa casa e da biblioteca: a escolha do material, da
organização para fazer uma palestra e, pouco antes, ligaram dizendo que gostariam de
técnica é uma resposta sensível ao contexto que você trabalha. O concreto é um sis-
expor projetos meus. Eu mandei dois trabalhos, a Midiateca da PUC no Rio de Janeiro e a
tema extremamente desenvolvido e econômico. A mão-de-obra para concreto no Brasil
Casa Santa Tereza. Mas o prêmio não mencionava uma obra específica.
é bem qualificada. Então, há razões que são quase de infraestrutura, que faz com que o concreto armado seja uma opção vantajosa. Quando eu comentei que parte do meu
ÁREA – Como foi começar fazendo obras a distância?
aprendizado inicial foi moldado por essa experiência de construir a distância, uma das
Ângelo – Tem que confiar na eficiência dos desenhos. É muito circunstancial, é muito de
coisas que me admirava e eu gostava muito de ver, é que a parte das estruturas de
cada contexto. Já fizemos projetos em muitos lugares, em condições muito diferentes.
concreto, as execuções eram muito bem feitas, então fui confiando mais nisso porque
O que também me ensinou a apostar na economia de ações. Por exemplo, a primeira
eu media pela prática.
obra que fiz assim era estrutura de concreto, também de madeira, sem marcenaria, que chegava e colocava vidro sem caixilho e tava pronta a obra. Com quatro ou cinco
ÁREA – Como o concreto se comporta na questão de conforto para as residên-
ações, você liquida a obra. Não é um problema de minimalismo, de less is more... é
cias?
praticidade. De fato, não tem excessos, mas não é por uma questão a priori estética. No
Ângelo – Não tenho muitos dados, mas não há segredo. As questões relativas à sus-
excesso é onde se perde a obra. Por exemplo, casas onde faço a laje de 20cm e quero fazer um piso de granilite, qualquer mestre vai querer fazer um contrapiso para ficar plano perfeito, mas eu evito. Eu coloco normalmente granilite com 1cm de espessura diretamente sobre a laje de concreto. Então, as imperfeições do concreto vão existir no edifício no final. Se elas não criam um problema técnico, se são imperceptíveis, não há razão para fazer contrapiso. ÁREA – É uma questão de resultado estético? De a arquitetura assumir o material? Ângelo – Tudo é uma questão estética. Mas o que informa não é antes o desejo de um resultado formal; é mais uma compreensão dos trabalhos que estão envolvidos numa obra. Tudo tem um resultado que é estético e você começa a elaborar a partir dessas premissas. A aceitação existe e é boa. Acontece um paralelo que é importante: uma obra feita com poucas ações tem seu controle de custos mais eficiente. Você negocia três Divulgação
ou quatro coisas grandes, mas não fica catando milho para fazer uma casa. Também é onde se perde. Imagina fazer uma casa e negociar cada saco de cimento. Tem lá 150
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m3 de concreto e é isso que você compra de uma vez. Então, existem vantagens muito
Maquete do projeto da Midiateca da PUC/RJ.
importantes para quem paga a obra. Normalmente, a arquitetura é assim, é um encontro
Na página anterior, a famosa Casa Santa Teresa