revista Área - Bioarquitetura

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BIOARQUITETURA

Um estímulo à eficiência energética Eletrobrás e Inmetro lançam etiqueta específica para edificações e projetos catarinenses lideram as certificações. Adesão, hoje voluntária, passará a ser obrigatória em alguns anos. 8 | ÁREA


Esquema da ventilação no projeto do Cetrágua/UFSC, da arq. Eliane Klenner

Localização no terreno de acordo com a melhor insolação e aproveitamento dos ventos; uso da vegetação existente para sombreamento da edificação; instalação de placas fotovoltaicas; especificação de materiais certificados; aproveitamento da água da chuva; e soluções de conforto ambiental em conformidade com as Normas Brasileiras de Desempenho de Edifícios (NBR 15575-2). Estas são algumas características comuns dos primeiros projetos a receberem a Etiqueta de Eficiência Energética em Edificações. A entrega da etiqueta, simbolizada por uma placa de aço, aconteceu em meados do ano passado, durante a solenidade de lançamento realizada na sede do Sinduscon São Paulo. Foram contemplados os projetos do Centro de Tecnologias Sociais e de Governança da Água (Cetrágua) vinculado ao Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis; do Centro Tecnológico do Carvão Limpo da Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (CTCL/SATC), em Criciúma; da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça (Fatenp), em Palhoça; e o da sede administrativa da Caixa Federal, em Belém (PA); além do prédio da agência da Caixa em Curitiba (PR). A Etiqueta de Eficiência Energética em Edificações faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem e foi desenvolvida em parceria pela Eletrobrás, por meio do Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel), e pelo Inmetro. A metodologia aplicada para a certificação foi desenvolvida pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), da UFSC, com a participação de uma comissão formada por representantes de diversas instituições, incluindo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) e Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Para receber a etiqueta, as edificações são avaliadas em três níveis de eficiência: envoltória, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar, classificados de ‘A’ a ‘E’, sendo ‘A’ o mais eficiente, a exemplo das já conhecidas etiquetas conferidas aos eletrodomésticos. Inicialmente implantada de forma gradual e voluntária e abrangendo apenas as construções públicas e de serviços, a etiquetagem passará a ser obrigatória, também para prédios residenciais. “Já temos a regulamentação para os edifícios

comerciais de metragem superior a 500 m²”, explicou Solange Nogueira, chefe da Divisão de Eficiência Energética em Edificações, da Eletrobrás, no lançamento da Etiqueta. Segundo ela, as edificações em geral são responsáveis por cerca de 45% do consumo de energia elétrica no Brasil, que se dá, principalmente, em forma de iluminação artificial e climatização de ambientes. A economia de eletricidade conseguida por meio da arquitetura bioclimática pode chegar a 30% em edificações já existentes (se passarem por readequação e modernização) e a 50% em prédios novos, que contemplem essas tecnologias desde a fase de projeto. Na agência bancária da Caixa em Curitiba (PR), por exemplo, a redução do consumo foi de 24% em energia e 65% em água em comparação ao desempenho de outras agências do banco no País, durante seis meses. Desde o lançamento, muitos outros projetos catarinenses candidataram-se à etiqueta. “A procura está aumentando, principalmente com o ProCopa Turismo, do BNDES”, conta o engenheiro civil Roberto Lamberts, PhD, coordenador geral do LabEEE/UFSC, referindo-se à linha de crédito lançada em fevereiro deste ano pelo Ministério do Turismo e pelo Banco Nacional do Desenvolvimento para financiar a construção de hotéis e pousadas a fim de atender a demanda para a Copa do Mundo de 2014. Os empreendimentos que possuírem certificações creditadas pelo Inmetro quanto à sua eficiência energética e a sua sustentabilidade têm prazos, taxas e juros mais favoráveis. Lamberts espera que a procura seja crescente, com mais laboratórios acreditados e com a expansão efetiva do programa para todo o País. “E que se torne mesmo obrigatória no futuro”, acrescenta. O arquiteto Cassiano Pitol Zaniratti, responsável pelo projeto da Fatenp, em Palhoça, considera que a conquista da etiqueta é uma garantia de um projeto eficiente. “Mas o que mais nos satisfaz é termos encontrado soluções simples, viáveis economicamente, sem tornar a obra cara”, ressalta. Para o projeto, ele contou com a consultoria das arquitetas Carolina Carvalho e Raphaela Fonseca. A arquiteta Elianne Klenner, autora do projeto do Cetrágua da UFSC, avalia que esta iniciativa é um estímulo aos profissionais. “A etiqueta vem a solidificar a imagem que viemos construindo, a de trabalhar com projetos cada vez mais sustentáveis”, afirma.

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BIOARQUITETURA Projeto do edifício Cetrágua: nível A de eficiência envoltória em função das proteções solares diferenciadas

Soluções inteligentes “Apostar na chamada arquitetura bioclimática, escolher materiais e equipamentos que valorizem o uso inteligente da energia e preferir uma tecnologia construtiva que privilegie a redução de gastos com eletricidade são medidas desejáveis”, ressaltou Solange Nogueira, da Eletrobrás, no evento de lançamento. A arquiteta Maria Andrea Triana, Mestre em Arquitetura e pesquisadora do LabEEE, lembra que estratégias utilizadas nos projetos devem responder às variáveis temperatura, umidade, ventos, insolação e nível pluviométrico da região onde será implantado. Quanto ao desempenho térmico da edificação, além de considerar as cargas térmicas internas, é preciso pensar nos tipos de materiais e cores empregadas; no uso de materiais para isolamento em paredes e na cobertura; na orientação da edificação em relação à insolação; no tamanho das aberturas e no vidro especificado; na existência ou não de sombreamento; e nas propriedades dos materiais utilizados. Especificar materiais considerando seu ciclo de vida e impactos no meio ambiente igualmente é uma decisão importante. E Maria Andrea ainda acrescenta a questão da taxa de ocupação e da permeabilidade do solo. “Pode-se colaborar para a redução das ilhas de calor pela especificação de materiais adequados, tanto para a pavimentação quanto para as coberturas. Deveria ser considerado o uso de teto jardim e de coberturas com baixo índice de absorvidade, o que geralmente está associada ao uso de cores claras”, sugere. Essas são apenas algumas questões a serem consideradas na fase de projeto no planejamento de uma edificação candidata à Etiqueta de Eficiência Energética – um diferencial competitivo e um importante aliado do meio ambiente. 10 | ÁREA

Projeto Cetrágua O edifício Cetrágua foi avaliado pelo método prescritivo para a envoltória, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar. A envoltória, classificada com nível de eficiência A (5,00), tem destaque neste projeto devido às proteções solares diferenciadas e orientação. Específicas para cada fachada, garantiram ângulos ponderados de sombreamento de 21º para as proteções horizontais e 13º para as proteções verticais. A cobertura central do edifício também contribui no sombreamento das janelas das fachadas laterais. O pórtico azul projetado na entrada reduziu a área envidraçada inserida no cálculo do Indicador de Consumo, que totalizou 335,36, um pouco abaixo do limite máximo para nível A. Os projetistas submeteram antecipadamente à etapa de inspeção do edifício construído as amostras de cerâmica do revestimento das fachadas para medição da absortância solar. Este procedimento garante que estes materiais estejam de acordo com absortâncias limites do RTQ-C (máximo de 0,4 para nível de eficiência A e B) desde a sua especificação e evita não conformidades na etapa de inspeção, após o edifício construído. Classificado em nível de eficiência B (4,17), o sistema de iluminação é composto por ambientes com subssistemas que variam dos níveis A aos níveis E. O nível E ocorre em alguns sanitários de pequenas dimensões. Níveis C e D ocorrem em ambientes de circulação e depósitos, enquanto a grande maioria dos ambientes de permanência prolongada apresenta níveis A e B. Já o sistema de condicionamento de ar, classificado em nível A (5,00) é composto por condicionadores do tipo split hi-wall, etiquetados com nível A pelo Inmetro. As suas unidades condensadoras são todas sombreadas em área técnica exterior ao edifício, que apresenta ventilação natural suficiente para atender ao prerrequisito específico. Cabe ressaltar que o edifício poderia obter outros pontos decorrentes de uso de energia solar ou aproveitamento de água pluvial, caso os projetos tivessem sido submetidos. No entanto, estes não foram necessários para o edifício alcançar nível A de eficiência energética, com uma pontuação final de 4,67.


A cobertura de telhas metálicas verdes abrange toda a circulação central, ventilada naturalmente

Projeto Fatenp A avaliação do edifício da Fatenp alcançou nível de eficiência A (5,00) nos itens envoltória, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar. A ventilação natural obteve nível de eficiência B (4,36). Para avaliação da envoltória, considerou-se o sombreamento gerado pelas proteções solares, que gerou um Indicador de Consumo de 126,5, abaixo do limite máximo para o nível A (129,06). Os prerrequisitos específicos foram alcançados, com destaque para a cobertura de telhas metálicas verdes. Ela cobre principalmente a circulação central ventilada naturalmente, cujo limite máximo de transmitância térmica é de 2,00 W/ m²K. A sua parcela que cobre as salas também deve atender a este limite, enquanto a sua parcela que cobre os laboratórios (ambientes condicionados) deve atender ao limite de 1,00 W/m²K. Os sistemas de iluminação de ambientes de escritórios apresentam iluminâncias entre 302 lux e 330 lux, e os de salas de aula entre 410 lux e 450 lux. Os níveis de eficiência dos ambientes são ou nível A ou nível B, sendo que a ponderação pela área dos ambientes para o sistema de iluminação completo do edifício resultou em um equivalente numérico de 4,71, nível A de eficiência energética. O sistema de condicionamento de ar do tipo split está presente na administração, na biblioteca, no auditório e em três laboratórios. Todos os equipamentos especificados são nível A, alcançando assim o equivalente numérico com 5 pontos sem a necessidade de ponderação pela área. Por fim, destaca-se a simulação de ventilação natural realizada para as salas de aula, que representam 29% da área útil do edifício e 48% da área de permanência prolongada. Considerando 8.760 horas por ano, constatou-se que a o prédio da Fatenp apresentará conforto térmico em 78,2% das horas.

PROJETO ARQUITETÔNICO

Ventilação cruzada nas salas de aula

VÃOS NA ESTRATÉGICOS COBERTURA PARA PARA AUMENTAR AUMENTAR A A VENTILAÇÃO CRUZADA NAS SALAS DE AULA VENTILAÇÃO NATURAL

VentilaçãoLuminoso Conforto Natural

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