revista Área - Papo Sério

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PAPO SÉRIO Por Fah Maioli

Capitalismo Natural:

trend passageiro ou novo modus-vivendi? Embora muitos de nós concordem com as teorias do Prof. Fagan em “The Great Warming”, reconhecendo que o aquecimento global, o descongelamento das geleiras, a redução da camada de ozônio e a extinção da perereca transparente da Tanzânia são eventos causados muitas vezes pela própria “evolução” do sistema Terra, sabemos que o consumo desenfreado e inconsciente de nossa espécie nada sapiens é parte importante deste terrível processo. E sabemos também que precisaremos de muito tempo, empenho e paixão para enfrentarmos as mudanças que temos que realizar, todas elas de fronte a nossos olhos, ao alcance real de nossas mãos e bolsos, para podermos reaver um planeta mais limpo, mais habitável, digno de ser presenteado a nossos filhos, a nossos netos.

Fabiana Maioli é designer e trend reseacher, Mestre em Management of Creative Process pela Libera Universitá di Lingue e Comunicazione (IULM) e Especialista em Trendsetting pelo Istituto Europeu di Design (IED). Ela atua como pesquisadora e analista de tendências e cenários futuros para Tea Trends, na Itália. Fah Maioli, como é conhecida, escreve para a revista ÁREA direto de Milão.

Então, se você se preocupa com o meio ambiente, pode querer mostrar a maneira que gasta o seu dinheiro e, possivelmente, compre em uma loja de alimentos orgânicos em vez de um supermercado convencional. Provavelmente, você confira as etiquetas de eficiência energética antes de comprar um novo laptop. E, se você for realmente sério, pode até estar concentrando suas economias em fundos de investimento “verde”, como “carbon free”, por exemplo. Todas estas decisões podem ajudar a orientar-nos para uma economia verdadeiramente verde – mas, somente se os consumidores e os investidores tiverem uma boa ideia do que as empresas fazem para realmente minimizar seu impacto sobre o meio ambiente. A nossa pergunta é: - Será que as empresas que se beneficiam de nossa compra com consciência ambiental merecem a sua “auréola verde”? Empresas que fazem propaganda enganosa são muitas, mas, felizmente, há hoje mais bons do que maus exemplos e um destes faz-se quase concreto nas palavras de seu presidente: “Produziremos só aquilo que é belo, respeitoso do planeta e do homem”. Centazzo, presidente de Valcucina, tem em sua missão conciliar ética, ecologia, estética e produção de bens de consumo essenciais. Nas suas próprias palavras, é responsabilidade dos industriais se somos chegados a este ponto. Do capitalismo que deve sempre aumentar o capital, este feito de recursos financeiros, humanos, energéticos e onde, a um certo ponto, começou-se a usar o ambiente, natural reserva para o ser humano, que não pode ser exaurida. Em sua visão, o empobrecimento do ambiente foi confundido com o progresso. Não pode mais ser assim. Concretamente, ele trouxe para o seu estúdio em Pordenone um Prêmio Nobel, Richard Dingo, que codividiu o tema “Emergência Clima e a Economia Verde” porque crê que para realizarmos mudanças reais no modo de produzir e consumir, serve primeiro uma revolução no pensamento, que deve se voltar para o Capitalismo Natural, conceito nato em um livro homônimo de Paul Hawken, muito debatido aqui na Europa no

final dos anos 90. O Capitalismo Natural tem o ambiente como estratégico e objetiva produzir mais com menos. Redesenha as lógicas industriais sobre um modelo que exclui o desperdício e a produção de sobras, joga a economia verso um fluxo de valores e serviços e investe na proteção e expansão do capital natural. Na prática, sua empresa realiza “pequenos grandes gestos”, como, por exemplo, realizar somente projetos recicláveis a 100%, tornar todos os produtos “leves” no peso, como, por exemplo, a realização da porta mais leve do mundo – apenas 2mm e focar na duração a longo prazo de seus produtos. Segundo ele, a obsolência programada é um pecado mortal para quem deseja deixar um mundo limpo para as próximas gerações. Outro detalhe é a redução das emissões tóxicas, como, por exemplo, usando vernizes a base d´água. Detalhes que deram a Valcucina a primazia italiana na obtenção do selo alemão GS. Estas ações estão fazendo escola, sendo condivisas por um público sempre mais vasto e pela parte saudável dos empreendedores. Os desafios dos concorrentes vão sendo transformados em um estímulo para reformular a própria filosofia empresarial, pontuando sobre a excelência e aprimoramento contínuo, como sempre foi feito pelo melhor “made in Italy” . Outras empresas podem usar esta tendência ECO como maquiagem oportunista para o lançamento de novos produtos portando um novo senso de responsabilidade. Mas convém lembrar que a responsabilidade é filha da consciência. E a consciência ambiental é um processo cultural que requer tempo, e que não se pode improvisar. Bastam pequenos gestos, mas começando ontem. E sendo a Itália a “ditadora” do estilo de design mais apreciado mundo afora, auguramos que esse capitalismo natural se inicie imediatamente na indústria de mobiliário mundial, antes que o seu concorrente faça primeiro ou que o mundo acabe. Ocorrendo uma destas duas alternativas, esteja certo de que você não sobreviverá.

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