QUEM FAZ
Edson e Ronaldo Lima, do Lima & Lima Arquitetos Associados, reproduzem em seus projetos a afinidade familiar que os une. Criando juntos há mais de duas décadas, os irmãos tornaramse referência em Jaraguá do Sul.
A quatro mãos Croqui a mão livre, foi feito para um concurso em Porto Alegre (RS). 46 | ÁREA
Do prazer comum de desenhar e pintar, Edson e Ronaldo foram trilhando sua
produtos que especifica. “Acredito que, em pouco tempo, essa realidade vai
trajetória profissional desde a infância. Um sonhava em ser ilustrador de gibis
mudar”, frisa, esperançoso.
e o outro até personagem de histórias em quadrinhos já tinha criado. Esco-
Jaraguá do Sul detém um dos principais parques fabris do Estado e é
lheram Arquitetura como por instinto e uniram seus talentos. A cumplicidade
berço de grandes indústrias como WEG, Marisol, Malwee, Duas Rodas, só para
é evidente.
citar algumas. A natureza exuberante e a qualidade de vida construída desde
“Dizem que irmãos dificilmente são sócios de uma empresa”. “Temos a
a chegada dos colonizadores alemães, italianos, poloneses e húngaros, faz
felicidade de sermos sócios. Primeiro vem a afinidade pessoal e, depois, a
com que a cidade tenha um dos Índices de Desenvolvimento Humano mais
possibilidade de projetar a quatro mãos”, avalia Edson. Para ele, o processo de criação é muito mais rico, com ideias mais maduras. “E os resultados melhoram, especialmente quando um ‘detona’ o projeto do outro”, complementa, entre risos. “Essa é a melhor parte”, apressa-se em acrescentar o irmão. Naturais de Florianópolis, Edson e Ronaldo formara-se na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Há 20 anos escolheram Jaraguá do Sul para morar e trabalhar – juntos, num escritório de Arquitetura. Em 1997 fundaram a sua própria empresa, a Lima & Lima Arquitetos Associados e passaram a desenvolver projetos nas áreas comercial, industrial, corporativa e residencial. Recentemente, passaram a projetar produtos, desenvolvendo uma linha de luminárias para uma indústria catarinense. “Por estarmos numa cidade ainda considerada pequena, precisamos criar uma estrutura que atenda a diferentes demandas, ao invés de ter uma única área
altos do País (IDH-M 0,85). Emancipada de Joinville em 1934, sua urbanização inicial provocou alguns problemas de planejamento. “Os dois rios que cortam a cidade acabaram se tornando empecilhos ao crescimento, e não aliados”, exemplifica Edson. Os rios Jaraguá e Itapocu correm nos fundos dos terrenos das casas e das indústrias. “Não se pode contemplá-los como mereceriam. Alguém com mais sensibilidade poderia ter pensado em avenidas beira-rio. Seria fantástico”, avalia. Ronaldo aponta a possibilidade de um melhor aproveitamento da ciclovia, na área de abrangência da ferrovia, “numa cidade com tanta carência de áreas públicas de lazer”. Para Edson, pouquíssimas pessoas preocupam-se, de verdade, com a ordenação do crescimento da cidade. “Quase tivemos, há bem pouco tempo, a aprovação de edifícios de 16 andares no centro da cidade, o que aceleraria o caos”, conta. Para ele, mais um motivo
de atuação”, argumenta Edson, levando em conta a população de 130 mil
para os arquitetos terem cuidado com o que projetam. “Zelamos por uma ar-
habitantes. Apesar do elevado poder aquisitivo de boa parte da sua popula-
quitetura responsável, não comercial, cujo produto final agrade tanto a quem
ção, Jaraguá do Sul é uma cidade de hábitos comuns. “O que remete a uma
nos contrata, quanto a quem vê a obra. A responsabilidade na Arquitetura
pequena cidade, no quesito consumo. Mas está crescendo. O mercado vai se
transcende a técnica - ela tem a ver com o legado que se deixa impresso na
diversificando, inclusive o de fornecedores para o nosso ramo”, afirma Edson,
paisagem urbana. É um privilégio ajudar a desenhar a paisagem e a cidade”,
que ainda precisa recorrer a outros municípios para encontrar os materiais e
considera Edson.
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QUEM FAZ O desenho é um talento natural dos irmãos e um hobby cultivado desde a infância. Na imagem ao lado, croqui de um edifício projetado pelo escritório e construído há alguns anos em Jaraguá do Sul.
Foto da Arena Jaraguá, projeto desenvolvido em 2005 pela dupla em parceria com os arquitetos Giorgio Bayer, Raphael Cavalcanti da Silva, Renato Escobar, Ruth Borgmann e Valério Tadeu dos Santos
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Transformações Nestes treze anos, os irmãos acompanharam a evolução do mercado e da
vam fazer estágio aqui, principalmente em função desta nossa característica.
profissão, até dentro do próprio escritório. “Muita coisa mudou. A internet, os
Confesso que fiquei feliz e lisonjeado”, completa.
hardwares, softwares e outras tecnologias são ferramentas que revolucionam
Apesar da transformação evidente do mercado, os irmãos avaliam que
a cada dia a forma de desenvolver um projeto e de apresentá-lo, de vendê-lo,
muito ainda têm de mudar em relação aos sistemas construtivos no País. “Ain-
ao cliente”, destaca Ronaldo. Apesar da resistência, as maquetes eletrônicas
da são empilhados muitos tijolos pra se obter uma parede e, infelizmente, o
tornaram-se uma realidade no Lima & Lima. “Sempre gostamos de desenhar
desperdício ainda é assustador no saldo final de uma obra”, lamenta Ronal-
a lápis, à mão livre mesmo. São traços diferentes, mas a mesma paixão pela
do. E a dupla pretende participar dessa evolução. O Lima & Lima Arquitetos
arte”, explica Edson. Essa preferência faz da dupla um referencial para es-
Associados acaba de se tornar o primeiro escritório de Arquitetura de Santa
tudantes de Arquitetura do Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ).
Catarina membro do Green Building Council Brasil, participando ativamente do
“Outro dia, um de meus funcionários disse que muitos de seus colegas espera-
processo de consolidação da construção sustentável.
Arquitetura industrial Entre os mais recentes trabalhos do escritório está o projeto da nova sede da Gráfica e Editora Avenida, em Jaraguá do Sul, inaugurada em maio do ano passado. O novo prédio é a menina dos olhos de seu diretor, Udo Wagner, de acordo com Edson Lima. “Isso nos abriu espaço para inovar nas formas do prédio administrativo, que fica em frente ao galpão da fábrica”, argumenta o arquiteto. E explica: “as curvas de concreto lembram o papel passando nas máquinas de impressão - numa clara alusão à matéria-prima do segmento da empresa, quebrando a rigidez dos tradicionais parques fabris”. A opção pelo uso do concreto armado atende à intenção de obter resultados estéticos na arquitetura. “Moldado in loco, resgata a força e a maleabilidade desse material tão importante na construção civil, abrindo mão dos já comuns revestimentos metálicos”, alega. A indústria, com 5.052m2 de área construída, está implantada num terreno de 70.542,53m2 às margens da BR 290.
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