EDITORIAL
TEORIA, PRODUÇÃO E CRÍTICA A Revista Arkhé inicia o ano de 2018 alterando o período de lançamento para o mês de abril. Esta modificação foi importante para conseguir reportar todos os eventos realizados no ano de 2017, uma vez que apenas os registros até meados de agosto compunham a revista, lançada desde seu primeiro número entre os meses de setembro a dezembro.
JÂNIO VICENTE RECH
Para marcar esta nova etapa, convidamos os arquitetos e urbanistas do criativo escritório paulista de arquitetura, FGMF - FORTE, GIMENES E MARCONDES FERRAZ para a seção Perfil do Arquiteto, trazendo um pouco da história do grupo, sua produção e uma entrevista exclusiva sobre os desafios de produzir arquitetura conceitual no Brasil. “Teoria, Produção e Crítica” de arquitetura, mais especificamente sobre o objeto arquitetônico, é a temática eleita para orientar a discussão nesta edição. Desejamos contribuir refletindo as diferentes opiniões sobre arquitetura, se todo o espaço físico produzido pelo homem é arquitetura, ou se a atividade de projeto arquitetônico, isto é, sua produção sem sua materialização, também pode ser considerada arquitetura. Essas visões são demonstradas ao longo das seções da revista e o leitor poderá formular relações entre as temáticas apresentadas. O “Papel da Crítica na Arquitetura” é abordado na seção Entrevista pelo arquiteto e urbanista peruano Manuel Cuadra, membro do C.I.C.A. (Comitê Internacional de Críticos de Arquitetura), hoje secretário geral da entidade e palestrante na abertura da XVI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires em outubro de 2017. Na seção Opinião, o renomado teórico arquiteto e urbanista espanhol Josep Maria Montaner, também palestrante na mesma Bienal, contribui significativamente com nossa ampliação de repertório através do artigo denominado: “Atualização da mutação pragmática da crítica da arquitetura”. A seção Novos Arquitetos é representada por três egressos com destaque para seus trabalhos de conclusão de curso, premiados no Prêmio CAU-IAB SC 2016 e 2017. Também são apresentadas as produções de alunos na seção Trabalhos Acadêmicos, enfatizando a qualidade dos trabalhos de diversos períodos do curso. Contamos ainda com um professor externo convidado e um professor do curso para prestigiar o espaço de Artigos Científicos, com temas relevantes do cotidiano de Arquitetos e Urbanistas. Desfrutem a revista e boa leitura!
Foto: Guilherme Llantada
Jânio Vicente Rech, Prof. Dr. Arq. Urb. Editor Responsável
EXPEDIENTE
ARKHÉ | 04
REVISTA DE ARQUITETURA E URBANISMO — UNIVALI CONSELHO EDITORIAL Carlos Alberto Barbosa de Souza, Me. Arq. Urb. (Presidente) Jânio Vicente Rech, Dr. Arq. Urb. Lisete Terezinha Assen de Oliveira, Dra. Arq. Urb. Stavros Wrobel Abib, Dr. Arq. Urb. Luciano Pereira Alves, Me. Arq. Urb. Guilherme Guimarães Llantada, Me. Arq. Urb.
JORNALISTA RESPONSÁVEL Carlos Alberto Praxedes dos Santos (DRT SC 740 JP) EDITOR EXECUTIVO / DIRETOR DE ARTE / EDITOR DE FOTOGRAFIA/ PRODUTOR Guilherme Guimarães Llantada EDITAL Luciano Pereira Alves PROJETO GRÁFICO Guilherme Guimarães Llantada (Coordenação) Of Design – Oficina Acadêmica de Design UNIVALI DIAGRAMAÇÃO Of Design – Oficina Acadêmica de Design UNIVALI
Reitor da UNIVALI VALDIR CECHINEL FILHO, Prof. Dr. Vice-Reitor de Graduação e Desenvolvimento Institucional CARLOS ALBERTO TOMELIN, Prof. Dr. Vice-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação ROGÉRIO CORRÊA, Prof. Dr. Vice-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários JOSÉ CARLOS MACHADO, Prof. Dr. Procurador Geral da Fundação UNIVALI RODRIGO DE CARVALHO, Prof. Dr. Secretária Executiva da Fundação UNIVALI LUCIANA MERLIN BERVIAN, Profa. Dra. Chefe de Gabinete de Gestão Integrada JOSÉ ROBERTO PROVESI, Prof. Dr. Diretora da Escola de Artes, Comunicação e Hospitalidade BIANKA CAPUCCI FRISONI, Msc. Diretora dos Campi Balneário Camboriú e Tijucas SILVIA REGINA CABRAL, Prof. Dra. Diretor dos Campi da Grande Florianópolis RENATO BÜCHELE RODRIGUES, Prof. Me. Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo – Campus Balneário Camboriú CARLOS ALBERTO BARBOSA DE SOUZA, Msc. Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo – Campus Florianópolis MARIA CRISTINA BITTENCOURT, Prof. Dra.
REVISÃO DE TEXTOS Guilherme Guimarães Llantada SECRETÁRIO João Santana Neto IMPRESSÃO Tipotil – 2.000 Exemplares COMITÊ CIENTÍFICO
Andrea de Aguiar Kasper, Dr. Arq. Urb. Diva de Mello Rossini, Dr. Arq. Urb. Gilcéia Pesce do Amaral e Silva, Dr. Arq. Urb. Josildete Pereira de Oliveira, Dr. Arq. Urb. Lisete Terezinha Assen de Oliveira, Dr. Arq. Urb. Luciano Torres Tricárico, Dr. Arq. Urb. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Dr. Arq. Urb. - UFSC Marcia do Valle Pereira Loch, Dr. Arq. Urb. Maria Cristina Bittencourt, Dr. Arq. Urb. Renato Saboya, Dr. Arq. Urb. - UFSC
REVISTA DIGITAL: WWW.ISSUU.COM/REVISTAARKHE
FICHA CATALOGRÁFICA
A48 Arkhé : revista de arquitetura e urbanismo. - v. 1, n. 1 (2014) – Itajaí, SC : Ed. da Universidade do Vale do Itajaí, 2018 144 p.: il.; 28 cm Anual Editor responsável : Jânio Vicente Rech
A revista tem acesso livre por meio do site (http://issuu.com/revistaarkhe)
Revista do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí. ISSN versão impressa: 2359-3849 ISSN versão online: 2359-3857
1. Arquitetura - Periódicos. 2. Arquitetos. 3. Paisagismo. 4. Urbanismo. I. Revista do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí. II. Título.
CDU: 72(051)
Produção e realização
Contatos
revistaarkhe@univali.br
Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Comunitária UNIVALI Balneário Camboriú
EDITOR RESPONSÁVEL Jânio Vicente Rech
UNIVALI — UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ Coordenações EACH (Bloco 1) 5ª Avenida, 1100. Bairro Municípios. Balneário Camboriú — SC. 88337-300 | Tel.: 47 3261.1219 | Fax: 47 3261.1245. E-mail: arquitetura@univali.br
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SUMÁRIO
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ARKHÉ NEWS Um curso vitorioso de Arquitetura e Urbanismo Bibliografia Recomendada Pratas da Casa VIDA ACADÊMICA NCPRO – Núcleo de Projetos UNIVALI Prêmio Concurso Nacional DECA Vencedores do concurso Projetar.org Trip Curitiba - Viagem técnica de estudos Arq em Cena ENCAC e ELACAC 2017 X Bienal José Miguel Aroztegui
42 50
Infografia/Maquete Eletrônica: Matheus Passos (render) - FGMF - Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos
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ENTREVISTA Manuel Cuadra (Perú) XVI Bienal Internacional de Arquitectura de Buenos Aires OPINIÃO Josep Maria Montaner (Espanha) Atualização da Mutação Pragmática da Crítica da Arquitetura PERFIL DO ARQUITETO FGMF | Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz NOVOS ARQUITETOS Gustavo Pereira Mello, Arq. Urb. Bettina Luiza Santos, Arq. Urb. Eduardo João Berté, Arq. Urb. PROJETOS ACADÊMICOS Jeferson Branco, Acad. Arq. Urb. Bruna Regina Corrêa, Acad. Arq. Urb. Dhéssica Neidiele Rezende Lima, Acad. Arq. Urb. Karina de Souza Loch, Acad. Arq. Urb. Geniana Finatto, Acad. Arq. Urb. Isadora Bechert de Modesti, Acad. Arq. Urb. Leandro José de Souza Faqueti, Acad. Arq. Urb. Micheli Carla Durante, Acad. Arq. Urb. ARTIGOS CIENTÍFICOS Teoria, História e Crítica: apontamentos para um olhar latino americano sobre a Arquitetura. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Prof. Dr. Arq. Urb. (UFSC)
Recomendações para projetos arquitetônicos concebidos com o sistema estrutural de lajes planas protendidas Marina M. Duarte, Prof. Me. Eng. Júlia Paula Girelli, Acad. Arq. Urb. Lucas Mincaroni Neto Radatz, Acad. Arq.Urb.
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CORPO DOCENTE – ARQUITETURA E URBANISMO
***O conteúdo dos artigos, imagens e textos é de total responsabilidade dos autores. A revista Arkhé não se responsabiliza por eventuais desacordos com os conteúdos, ou direitos autorais relacionados.
ARKHÉ NEWS
UM CURSO VITORIOSO DE ARQUITETURA E URBANISMO É MUITO MAIS QUE UM CONCEITO 5 DO MEC!! Por Carlos Alberto Barbosa de Souza, Prof. Me. Arq. Urb. Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI
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NEWS
êm-se muito a comemorar nesta quarta edição da revista Arkhé do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali. Em abril de 2017 o curso recebeu a comissão de avaliadores do Ministério da Educação (MEC) para a revalidação de seu reconhecimento. Pelo histórico de ensino e produção de arquitetura e urbanismo de 21 anos, não se esperava menos do que o conceito máximo nesta avaliação. E assim foi: CONCEITO 5 – CONCEITO MÁXIMO.
O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI está presente nas redes sociais. O espaço virtual traz as principais novidades do curso, avisos importantes, lembretes, além é claro de mais interatividade entre alunos, professores e colegas do curso. BLOG: arqdesignunivali.wordpress.com FACEBOOK: ArquiteturaeUrbanismoUnivali INSTAGRAM: arqurb.univali
Esta conquista encheu de orgulho toda a comunidade acadêmica. Professores, alunos e funcionários são os merecedores desta nota máxima! Porém, um curso vitorioso e comprometido com o verdadeiro ensino de Arquitetura e urbanismo é muito mais que um conceito 5 do MEC! Este reconhecimento é feito diariamente!! Dentro da sala de aula, na discussão constante do papel do Arquiteto e Urbanista dentro na sociedade moderna; no pensamento cotidiano dos conceitos que embasam os projetos propostos; na vivência acadêmica de projetos integrados com o olhar indissolúvel do pensamento arquitetônico-urbanístico; nos inúmeros prêmios (acadêmicos e de mercado) recebidos durante este período; nos variados encontros, seminários, eventos científicos da área; nas pesquisas e projetos de extensão realizados por professores e alunos do curso que contaram com suporte de várias agências de fomento; na quantidade de aulas práticas desenvolvidas nos laboratórios e ateliers do curso onde teorias e conceitos são aplicados em exercícios projetuais... Assim como, na própria revista Arkhé, primeira revista acadêmica de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina e uma das poucas do Brasil, que tem por objetivo a discussão acadêmica e de mercado da produção dentro de uma escola de Arquitetura e Urbanismo. Um grupo de 800 alunos, 78 professores e vários funcionários administrativos se encontram nos campi de Balneário Camboriú e Florianópolis durante várias horas semanais para construir este reconhecimento!! São estes indicadores que comprovam sua excelência!! Este conceito máximo alcançado, não é somente o resultado do trabalho e esforço para receber uma comissão de avaliação, é bem mais que isto. Ele demonstra e coroa o envolvimento de 21 anos de um grupo que realmente é comprometido com o ofício do ensino e da prática profissional da Arquitetura e Urbanismo!! Parabéns para a comunidade acadêmica do curso!
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Aprofundamento teórico sobre Arquitetura: teoria, produção e crítica ARQUITETURA E CRÍTICA
AUTOR: JOSEP MARIA MONTANER (Editora: GGBrasil | Ano 2007 | 160 páginas)
O que é a crítica? Quais são seus objetivos e significados? Ela tem algum sentido? Este livro pretende responder a essas questões de uma maneira concisa e didática, centrando-se nas relações entre arquitetura e critica. Esta introdução à crítica arquitetônica fornece o contexto necessário para podermos entender os mecanismos utilizados pela crítica, seus limites e seus objetivos. Desde os pioneiros da crítica arquitetônica do século XX até os personagens-chave da historiografia moderna, como Sigfried Giedion, ou os textos de arquitetos protagonistas, como Adolf Loos ou Le Corbusier. Desde as diferentes Interpretações derivadas do existencialismo, da fenomenologia, da iconografia ou do estruturalismo. Até o atual panorama pós-estruturalista, em que se destacam os nomes Peter Eisenman, Rem Koalhaas ou Kenneth Frampton, em um percurso ao longo do século XX que permite compreender as chaves utilizadas pela crítica desde as suas origens até a atualidade.
ARQUITETURA E POLÍTICA
AUTORES: JOSEP MARIA MONTANER E ZAIDA MUXI (Editora: GGBrasil | Ano 2014 | 253 páginas)
Arquitetura e política aborda uma das questões-chave da arquitetura contemporânea: a responsabilidade dos arquitetos para com a sociedade. Nestes cinco capítulos - Histórias, Mundos, Metrópoles, Vulnerabilidades e Alternativas - a obra segue um percurso histórico, que abrange desde o papel social dos arquitetos e urbanistas até a atual era da globalização. Por meio de temas como vida comunitária, participação, igualdade de gênero e sustentabilidade, o livro trata das vulnerabilidades contemporâneas como das alternativas já experimentadas. Daí seu subtítulo Ensaios para mundos alternativos.
CRÍTICA DE CHOQUE
AUTOR: FREDY MASSAD (Editora: Bisman Ediciones | Ano 2017 | 128 páginas)
"No meio do naufrágio ideológico desta sociedade pós-moderna, cercada pela - sem razão de nossa cultura contemporânea, surge o «crítica de choque» que consegue sair incólume e que causticamente ataca essas publicações, prêmios, obras construídas. e discursos funcionais irreversíveis à constelação imposta das estrelas do céu arquitetônico. Fredy Massad expõe com palavras intransigentes e agudas, as formas de oferecer arquitetura a essa insaciável sociedade do espetáculo, cada vez mais destrutiva e que toda segunda-feira exige o novo, o melhor, o fabuloso." (Edgardo C. Freysselinard)
AS APARÊNCIAS EM ARQUITETURA
AUTORES: MARIA LÚCIA MALARD (Editora: UFMG | Ano 2006 | 144 páginas)
Esse ensaio relaciona a Arquitetura ao ambiente socioeconômico, político e cultural no qual ela é gerada, com o propósito de fundamentar a atividade de elaboração de projetos. Isso porque uma das grandes dificuldades que o estudante de Arquitetura encontra ao projetar é a de associar formulações teóricas (enunciados verbais) a configurações espaciais (enunciados plásticos ou visuais). Muitas vezes a descrição das ideias em palavras (texto) não tem a menor conexão com o que é descrito pelo desenho (o projeto). Uma das questões cruciais do processo de projeto é a construção da ponte entre a intenção e o gesto, isto é, entre o pensamento e o projeto. Esse livro pretende contribuir exatamente nessa direção.
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ARCHITIZER AWARDS 2017
1o lugar voto popular categoria: "architecture + prefab" Autor: Rodrigo Kirck, Me. Arq. Urb. e equipe
Créditos: Projeto Arquitetônico - Arquitetos: Rodrigo Kirck, Syndi Bastos, Mariana Pegoretti Projeto executivo Arquitetura: Rodrigo Kirck e Samuel Romitti Cálculo / Estrutura: Rodrigo Kirck Instalações: Eng. Civil Leonardo Meneguetti Iluminação / Projeto de Interiores: Rodrigo Kirck e Marina Ortiz Paisagismo / Modelagem: Rodrigo Kirck Fotos - Alexandre Zelinski Materiais utilizados - Placas Saint Gobain (revestimentos de concreto de paredes) - Hunter Douglas (Persianas) - Mosarte (Mosaicos Decorativos) - Docol (Equipamentos Sanitários) - Todeschini (Mobiliário Planejado) - Portobello (Revestimentos Hidráulicos)
O
Fachada principal
projeto "Container”, sede do escritório Rodrigo Kirck Arquitetura, desenvolvido por Kirck e sua equipe em Itajaí, está entre os vencedores da 5º edição anual do prêmio Architizer Awards, um dos mais importantes prêmios de arquitetura do mundo. A obra ganhou pelo voto popular na categoria ‘Architecture + Prefab’ que avaliou projetos de construção modular industrializada. O A + Awards é um importante prêmio internacional que reúne centenas de profissionais de inúmeras as áreas e forte representatividade em mais de 100 países. Na lista de avaliadores há CEOs, curadores de arte, jornalistas especializados e profissionais de tecnologia e inovação. Ao final do concurso, os vencedores participaram do evento de premiação que, além de reunir os maiores profissionais da área, conta com a presença de celebridades e grandes CEOs de empresas famosas num evento de Gala, ao estilo tapete vermelho, que aconteceu durante a semana do NYCxDesign, em Nova York. Os premiados irão compor ainda um livro que se propõe a destacar os melhores trabalhos de 2016/17 pelo mundo. Localizado na cidade portuária de Itajaí (SC), o projeto Container intervém em um modelo conceitual, interagindo com as questões de sustentabilidade, propondo uma construção modular industrializada permitindo, simultaneamente, através da arquitetura e criatividade a abordagem com arquitetura, natureza e arte. 8
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Com dois volumes monolíticos entrepostos, utilizando dois conjuntos de containers empilhados, afastam-se por um "vão" entre estes volumes, acolhendo as circulações verticais. Sobre este espaço criado para as circulações fora estruturado o sistema de iluminação zenital, projetado para reduzir o uso de iluminação artificial. Sobre os containers estão instalados dois grandes telhados-jardins, dos quais proporcionam as funções de: reduzir o impacto da radiação solar, captação de águas pluviais para reutilização e espaço para armazenagem de água da chuva, reduzindo o impacto sobre o sistema de coleta pública pluvial. Aos vizinhos, também é proposto como uma "gentileza urbana" as cores e conforto visual, que os telhados jardins proporcionam aos habitantes de edifícios do entorno. Container é um laboratório, por assim dizer. Neste espaço cheio de significados e memórias, foram discutidos e projetados com a equipe de arquitetos do escritório Rodrigo Kirck Arquitetura, sobre a prerrogativa das experiências de escritórios anteriores, um espaço multidisciplinar com estações de trabalho para profissionais da área de criação em design, fotografia e arte. O resultado desta conta é verdadeira multiplicação de inspirações traduzidos em projetos. Tudo no Container tem uma razão de ser, a partir do logotipo, o qual menciona a origem indígena do arquiteto, o vínculo que tem com a cidade de Itajaí e sua conexão com a indústria da construção naval, representada pelos próprios containers.
Recepção
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No projeto de interiores, tudo é muito simples e ao mesmo tempo de grande refinamento. Aconchego, conforto térmico, visual e integração; são prioridades que recebem tratamento especial através da decoração. Lâmpadas com design próprio, partes funcionais, materiais recuperados, cores em harmonia e arte, tendo arte em todos os ambientes. Pinturas em telas? Nada, as pinturas são eternizadas nas paredes e portas, cada obra é parte do cenário que não deixa dúvidas: O Container é um escritório criativo e que pulsa sobre os projetos diferentes, fora do comum, onde o ser é mais importante do que ter. Estudo volumétrico
Execução / obra
Sala de produção 10
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Acesso principal / Circulação vertical
Copa
Volume tridimensional / Projeto arquitetônico
OUTRAS PRODUÇÕES DO ESCRITÓRIO
Benvenutti Business Center
Residência Cunico
Edifício SunSky
Edifício SunSky
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1º LUGAR - CONCURSO NACIONAL PARA HABITAÇÃO SOCIAL EM BRASÍLIA – DF Autores: Térreo Arquitetos - Arquitetos e Urbanistas Felipe Kaspary, Paula Dilli e Rodrigo Reche Colaboradora: Anamélia Adriano, Eng.
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Concurso Nacional de Projeto de Arquitetura para Habitação de Interesse Social foi divulgado no dia 17 de agosto. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB-DF) dividiu o concurso para habitações unifamiliares econômicas e casas sobrepostas em três categorias. Os grupos 1, 2, e 3 tiveram que criar unidades com um dormitório com expansão para mais um, dois dormitórios com expansão para mais um e três dormitórios, respectivamente.
Perspectiva externa
Estar social
Estar / Acesso piso superior
Fachadas frontais do conjunto
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O objeto do concurso consistiu na seleção de 03 (três) melhores propostas de habitação de interesse social para 03 (três) tipologias divididas em três grupos: habitação unifamiliar econômica, casa sobreposta e habitação coletiva econômica. Foi necessária também que se apresentassem propostas mínimas para as instalações necessárias (projetos elétricos, hidrossanitários, telefonia, tv), compatibilizadas com o sistema estrutural, informações gerais e determinantes da implantação do projeto, do sistema construtivo, da manutenção dos materiais aplicados, bem como orçamento sintético estimativo, tudo de maneira a demonstrar a viabilidade financeira e técnica das habitações. A cidade possui o seu desenho marcado por histórias, sendo resultado de suas relações de tempo e espaço. A arquitetura neste contexto não se apresenta como imposição, mas sim transformação, adaptando-se conforme as necessidades e oportunidades surgem. Como já disse Koetter, a cidade se apresenta perfeita em sua “imperfeição”, com suas colagens, frutos de intervenções livres em sua forma mais democrática, a ocupação e apropriação do ser humano perante sua morada. A arquitetura é reflexo das relações sociais, transformações temporais, culturais e politicas de cada geração, porém o modelo econômico, dependente e concentrador, que vigorou durante décadas no Brasil foi o fator responsável pelo acelerado processo de urbanização desordenada e teve como consequência a situação caótica das cidades e formação de um cinturão de miséria em sua periferia. O direito à moradia constitui um direito social e humano, é elemento de grande importância para o desenvolvimento dos espaços urbanos, enquanto elemento indispensável ao desenvolvimento dos cidadãos e suas comunidades. Propõe-se uma leitura de morada baseada em senso de comunidade, entendendo que as relações sociais associadas à infraestrutura básica e tipologia digna, devem ser os pilares para a produção da habitação. Oportunizar a apropriação e democratizar as decisões espaciais e espaços de convívio proporcionando ferramentas para sentimento de pertencer. A proposta parte de um módulo habitacional embrião. A planta embrião é organizada em bloco íntimo e social, assim o programa é distribuído de acordo com os usos. Os blocos ficam desalinhados, resultando na produção de dois pátios externos para cada unidade habitacional. O pátio frontal é um espaço multiuso, possibilita diversas atividades comunitárias ou individuais, como; utilização de garagem ou jardim é um local de uso indeterminado pelo projeto, que permite a escolha livre de cada morador. Já o pátio posterior, configura uma área de apoio e lazer intimo para a habitação, possui compartimento fechado para instalação da área de serviço e oportuniza o uso de horta ou lazer recreativo. Esquema de modulação e possibilidades de montagem.
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3º LUGAR - CONCURSO PÚBLICO NACIONAL PARA O MOBILIÁRIO URBANO DE SÃO PAULO - SP Autores: Térreo Arquitetos - Arquitetos e Urbanistas Felipe Kaspary, Paula Dilli e Rodrigo Reche
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Concurso Público Nacional de Ideias para Elementos de Mobiliário Urbano da Cidade de São Paulo, organizado pela SP Urbanismo, teve seus vencedores anunciados em 29 de novembro. O concurso buscou selecionar as melhores propostas para nove elementos ou famílias de elementos mobiliários: quiosques, sanitários públicos, abrigos em ponto de parada de táxi, papeleiras, bebedouros, paraciclos, balizadores e guarda-corpos.
Mobiliários propostos isolados
Quiosque
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Banheiro público
Banheiro público
Abrigo ponto de táxi
Abrigo ponto de táxi
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Banheiro público
Abrigo ponto de táxi
Outras aplicações do quiosque
Bancos, lixeiras e bicicletário
A cidade de São Paulo vive em seu cotidiano uma intensa pluralidade, de informações, culturas, classses sociais, acontecimentos e pessoas. É a cidade mais influente da América Latina e a cidade brasileira com maior atuação no cenário mundial. Considerada uma cidade-global, possui uma rede de conexões que extrapola os limites territoriais, abrindo margens para uma grande atuação e importância econômica. Mas não podemos esquecer das condições oferecidas por este grande tecido urbano que se formou ao longo da história, onde alguns lugares ficaram esquecidos e muitas vezes excluídos do contexto de cidade. Deste modo, a proposta busca o estreitamento entre as diversas realidades, promovendo maior conectividade entre os transeuntes e propondo um espaço mais democrático, onde todos possam se sentir uma parte importante deste grande coletivo. Os painéis que compõe a família de mobiliário são formados por uma modulação de 45cm x 90cm, possui vários furos circulares que permitem diversificados usos e encaixes, estes furos são o resultado dos pontos de encontro das conexões de uma rede (colmeia). Simbolizando as intenções de união e encontro entre as diferenças que irão ser promovidas pelos equipamentos. As placas são trabalhadas com superfícies em distintas cores, o que permite efeito lúdico relacionado a ótica e ângulo do observador, garantida através do movimento, como em painéis lenticulares (alteram conforme a posição observada). Alguns momentos a relação de luz e sombra é inserida com o mesmo fim, a busca de gerar movimento e interação. A montagem das peças garante flexibilidade e movimento, uma vez que permite diferentes disposições, assim como a troca e reorganização de elementos vinculados ao mobiliário.
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CONCURSO CULTURAL DE NOVOS MOBILIÁRIOS E EQUIPAMENTOS PARA BALNEÁRIO CAMBORIÚ 1o lugar categoria profissional Autores: Eduardo Baptista Lopes, Profo. Me. Arq. Urb. Marcelo Galafassi, Profo. Me. Arq. Urb. Eduardo João Berté, Arq. Urb. Ana Cristina Meirinho Neves, Arq. Urb.
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Concurso Cultural de Novos Mobiliários e Equipamentos para Balneário Camboriú foi promovido e organizado pelo Casa Hall, IAB Litoral Norte e BC Criativo, para o evento Design Days, que ocorreu entre os dias 1º e 4 de Agosto, em Balneário Camboriú. O certame foi dividido em duas categorias, profissional e estudante, e era aberto a todo território nacional. Na categoria profissional, foram submetidos 18 trabalhos para avaliação. O concurso tem âmbito cultural, portanto não necessariamente será executado. Contudo, existe um movimento e interesse entre a organização do concurso e vencedores em levar esse projeto adiante, mostrando às autoridades competentes, como a Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, já que a escolha pelos mobiliários e equipamentos foi feita de forma legítima e democrática. A equipe foi formada pelos professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI, Eduardo Baptista Lopes e Marcelo Galafassi, e pelos egressos do curso Eduardo João Berté e Ana Cristina Meirinho Neves. O projeto, intitulado ENTRELINHAS, foi resultado de uma intensa leitura sobre a realidade da cidade. Balneário Camboriú é palco para um movimento social diferenciado. É uma cidade onde o transitório faz morada constante, exemplificado na sazonalidade em épocas de veraneio, quando as segundas residências passam a ser ocupadas, aumentando consideravelmente a população da cidade. Para completude deste viés transitório, também citam-se aqueles que ali vivem apenas durante os anos de universidade, e os migrantes diários, que trabalham em Balneário, mas residem em cidades vizinhas. Em razão da procura incessante pela sua personalidade em meio a esta efemeridade, a cidade é, por vezes, classificada como não-Lugar. Ainda que envolvida pela natureza e localização exuberantes, onde um choque singular de infraestrutura natural e edificada formou uma paisagem única, a cidade busca sua identidade utilizando-se de símbolos extravagantes, importados de outras culturas, em
Perspectiva Ilustrativa da inserção da proposta na paisagem
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diferentes locais e momentos da história. O Cristo Luz e a insistência na produção de edifícios neoclássicos são exemplos de uma busca por remontar na história da cidade pequenos recortes do enredo de outras narrativas. Posto isso, percebe-se que a cidade não precisa de mais pontos atrativos, mas objetos que a façam ser vista por sua identidade real. Uma identidade heterogênea feita pelas próprias pessoas, que de forma efêmera, sempre deixam seu posto para algo novo se estabelecer e ser sucessivamente substituído. A proposta busca permitir que esse movimento da cidade passe por entre sua estrutura, não sendo mais um, dentre tantos objetos que buscam destaque. A neutralidade dos elementos e formas adotadas são o retrato da busca pelo ponto focal que está além dos mobiliários, de maneira que não seja criada mais uma barreira na cidade, mas sim, algo que convide o olhar a passear livremente. Essa permeabilidade aflora por meio das linhas horizontais do mobiliário, inseridas como uma folha em branco. Uma tela intocada, sem limites físicos e temporais. Um canvas sem bordas, aguardando para ser preenchido por alguma manifestação artística, cultural ou social, efêmeras no tempo. Diante disso, o mobiliário torna-se afago para esta cidade que está constantemente à procura da sua personalidade, permitindo que a essência de Balneário Camboriú seja revelada através da arte e por entre arte, nas entrelinhas, por meio da expressão materializada pelas próprias pessoas que a habitam. Fisicamente, o projeto baseou-se em módulos que podem ser adaptados para diversas situações, sejam de uso ou de implantação do equipamento. O mesmo módulo pode ser adaptado para as paradas de ônibus, quiosques e banheiros, através de uma modulação básica de 1,50 x 3,00m, que eventualmente pode ser estendida ou duplicada de acordo com a demanda. Os equipamentos serão executados em estrutura metálica com fechamento de vidro, e em determinadas situações, em drywall. A cobertura, solta do conjunto, permite que ocorra ventilação cruzada, garantindo a salubridade dos ambientes. As linhas horizontais do módulo são brises metálicos, que podem
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ser dimensionados e posicionados nas fachadas dependendo da orientação solar, diferenciados para possibilitar a incidência da radiação desejada. A folha em branco, materializada através dos brises e painéis de vidro, permite que existam as diversas manifestações artísticas, que preenchem o espaço e tornam cada equipamento único e exclusivo. Uma primeira coleção de obras de arte foi desenvolvida para o projeto, como forma de ilustrar as possibilidades de apropriação dos objetos através da arte. São obras autorais, que demonstram diversas faces da realidade vivida pela cidade de Balneário Camboriú. Arte 2 - Sanitário Público
PARADA DE ÔNIBUS A parada de ônibus possui a modulação de 1,50m x 3,00m, e conta com bancos em madeira e aço, fixados e encaixados na estrutura. Os bancos comportam três pessoas sentadas, e um espaço adaptado para cadeira de rodas. Junto a eles existem tomadas, e a estrutura também será um ponto de distribuição de internet wireless. A estrutura é em aço, com pintura eletrostática preto fosco, com vigas e pilares em perfil I e calha em perfil J. O fechamento é feito com vidro laminado incolor de 4mm. A cobertura deslocada da estrutura permite que a ventilação permeie o equipamento, e os brises estão posicionados nas fachadas que recebem maior incidência da radiação solar. Tais estratégias oferecem condições adequadas para conforto térmico. A sinalização luminosa, dotada de um sistema de retroiluminação, uma chapa de aço e vidro leitoso, apresenta ícones de fácil legibilidade relativos ao itinerário dos ônibus e serviços oferecidos. Os demais equipamentos propostos possuem a mesma base estrutural e de fechamentos, diferenciando-se convenientemente na materialidade e componentes.
Arte 1 - Parada de ônibus
Arte 1 - Balneário Distópico: “Inspirado na verticalização inconsequente da cidade, a distopia de elementos desconexos se funde à fantasia e beleza do meio natural, como o céu encantador.”
Arte 1 - Parada de ônibus
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SANITÁRIO PÚBLICO
QUIOSQUE MULTIUSO
O banheiro representado utiliza dois módulos construtivos, um para banheiro masculino e outro para banheiro feminino. Ambos são equipados com fraldário e adaptados para utilização de PCD. Foram previstas cubas internas e cubas externas, bem como chuveiros externos em banheiros juntos às praias. Entre a cobertura e a estrutura, propõe-se a instalação de um reservatório com capacidade para 500 litros por cabine, destinado a armazenar água. A configuração dos módulos pode adaptar-se para uma implantação linear, quando o espaço disponível não permitir que os módulos sejam colocados em hélice. Em espaços maiores e que recebem maior público, como praças e parques, os banheiros também podem ser unidos a cada quatro módulos, suprindo as demandas necessárias. Diferentemente da parada de ônibus, o banheiro recebe fechamento de drywall e em vidro leitoso branco, como forma de garantir privacidade e permitir a passagem das infraestruturas hidráulicas.
O quiosque representado possui 25m² e foi pensado para apara a utilização do comércio de alimentos e bebidas, abrigando área para preparo de alimentos, lavatório, área de atendimento com balcão e bancada, freezers e geladeira. Além disso, possui bancadas e banquetas para alimentação no local, com visual sempre voltado para a paisagem. O banheiro proposto é externo, uma vez que o equipamento abriga atividades de manipulação de alimentos, e utiliza-se do módulo básico do banheiro público. Possui fechamentos em drywall nas paredes e fechamento de madeira nas boquetas de atendimento. O equipamento pode ser adaptado para ser usado como quiosque de aluguel de cadeiras e guarda-sóis ou como ponto de informações turísticas, dependendo da organização modular. Em qualquer destas situações, pode funcionar isoladamente ou pode ser anexado, por exemplo, ao módulo do banheiro externo.
Arte 2 - Cardume “O coração reúne seus peixes, como a cidade nasce do mar, pulsa simplicidade, mas se esquece e se perde dentro de si.”
Arte 3 - Cosmo “Em meio à urbanidade cosmopolita, uma pessoa é capaz de assumir e incorporar vários "eus", o coletivo é individual.”
Arte 3 - Quiosque multiuso
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VIDA ACADÊMICA
PROJETO VENCEDOR 2017 NACIONAL CONCURSO DE ESTUDOS DECA PARA ESTUDANTES DE ARQUITETURA Autor: Jeferson Branco, Acad. Arq.Urb. Orientador: Eduardo Baptista Lopes, Profo. Me. Arq. Urb.
Perspectiva 2
Perspectiva 1
o Brasil o transporte público coletivo, sobremaneira o transporte via trem e metrô, é extremamente ultrapassado e subdimensionado. São frequentes os relatos dos péssimos serviços oferecidos, inclusive nas estações, onde o descaso é aparente. Este projeto desenvolvido para o Concurso Estudos Deca, tem a pretenção de ser criativo e inovador, contrapondo o sistema ultrapassado e engessado vivenciado hoje, trazendo ideias encaradas como motor de transformação para a reestruturação dos espaços públicos, imbuídas de significado, linguagem contemporânea e boas práticas, através de soluções sustentáveis e inclusivas. Um projeto assim, deve então, ir a locais onde estes problemas sejam mais evidentes. Foi preciso então, encontrar um lugar que sirva de exemplo para a transformação de uma realidade maior, em escala nacional.
a demanda da cidade inteira. Hoje, 36 anos após, apenas uma linha está em operação, e outras duas ainda estão em fase de execução. Realizou-se então um levantamento das estações da cidade, e foi escolhida a Estação Central para o projeto, sediada em um edifício histórico, sendo a estação de maior importância dentro do sistema de metrô de Belo Horizonte. Entende-se que, devido a essa importância dentro do cenário da cidade, a Estação Central seria o lugar ideal para uma intervenção que fosse o exemplo a ser seguido pelas demais. O banheiro da Estação sofre do mesmo descaso do sistema de transporte público onde é implantado. Possui diversos fatores negativos facilmente visíveis, que vão desde a má distribuição de espaço até a qualidade dos acabamentos e sua manutenção. Contrapondo este atraso e descaso, a proposta conceitual aplicada no projeto é a de pensarmos sobre o futuro: como seria o banheiro ideal? A quem ele se destina? Ele deve continuar do jeito que está? Como ele pode ser seguro? Como ele pode ser inclusivo? Como o projeto de um banheiro pode ser um objeto de discussão e crítica aos problemas que vivenciamos?
N
OPORTUNIDADE - Em busca deste lugar onde estes problemas são mais evidentes chegamos no sistema de metrô de Belo Horizonte que hoje é considerado o mais atrasado do Brasil. Seu projeto, datado de 1981, prevê o total de 9 linhas suprindo
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SOLUÇÃO - Trazendo um questionamento contemporâneo quanto a diversidade de gêneros; segurança; conforto; e quanto ao modelo de banheiro público que conhecemos hoje concebido ainda no séc. 19, o “BANHEIRO(A)” literalmente abre a barreira que existia entre os banheiros divididos por sexo anteriormente, deixando essa parede quebrada de forma explicita e dramática para que as pessoas notem essa quebra de paradigma e mudança comportamental que está acontecendo na sociedade, propondo então um ambiente único, democrático e sem nenhum tipo de discriminação. Um banheiro para pessoas, não mais especificamente para homens e mulheres. Um banheiro seguro e inclusivo. O banheiro “sem gênero” vem sendo discutido sob diversos aspectos, sendo importante citar que, de modo geral, seus principais objetivos são a segurança e a igualdade entre todas as pessoas, com todas as suas diferenças e particularidades que cada usuário possui. Nas pesquisas desenvolvidas sobre o tema, são citados desde problemas que podem ser considerados de menor relevância, como a diferença no tempo de espera entre banheiros masculinos e feminino - deixando sempre o masculino em vantagem, como também problemas seríssimos sobre privacidade e segurança que poderiam ser facilmente resolvidos sem levantar toda uma discussão, mas sim através de uma boa arquitetura. Problemas esses como o de crianças, adultos ou idosos que necessitam de auxílio constante de uma segunda pessoa e uma vez que essa segunda pessoa seja do sexo oposto, a pessoa em necessidade fica totalmente desamparada e privada do seu simples direito de ir e vir e de utilizar instalações públicas de maneira livre e confortável que deveria ser garantido a todos sem exceções. Além dessas questões, a importância de garantir o direito de utilizar qualquer espaço público de forma
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livre, sem sofrer repressão e intimidação para as pessoas transgêneras, ou que simplesmente não se identificam com qualquer gênero, é um ponto muito delicado e que deve ser trabalhado com urgência. SOLUÇÕES TÉCNICAS, CONSTRUTIVAS E NORMATIVAS - Para garantir então essa segurança e conforto a todos os usuários que agora utilizam essa mesma instalação sanitária de maneira democrática, primeiramente o projeto foi pensado para funcionar através de uma rota de fuga, tendo então duas entradas nos lados opostos, evitando que qualquer pessoa má
intensionada consiga encurralar um usuário de bem que esteja dentro do banheiro obstruindo a entrada, o que pode facilmente acontecer hoje nos banheiro do modo que conhecemos tradicionalmente. Foram também trabalhadas solução construtiva e espaciais das cabines, foram completamente fechadas, do chão ao teto, e com materialidade favorecendo o controle acústico, visual e de odores, oferecendo assim, conforto, segurança e privacidade aos usuários neste momento mais íntimo de utilização do banheiro. Ainda quanto a segurança do usuário, o projeto foi concebido de forma a não ter barreiras visuais,
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como por exemplo, não foram utilizados os tradicionais espelhos logo a cima das pias, para então garantir uma permeabilidade visual através da ilha de lavatórios e por toda a área comum do banheiro, induzindo a troca de olhares e o cuidado mútuo entre as pessoas, expondo também as individualidades e particularidades de cada indivíduo e celebrando essa diversidade e o respeito entre elas. Já a parte hidráulica dessa ilha de lavatórios ao centro do projeto é abastecida por uma tubulação aparente, com canos pintados de forma a remeter ao diagrama das linhas de metrô de Harry C. Beck que, em seu tempo, revolucionou a forma com que utilizamos o metrô hoje, simplificando o que antes era feito através de mapas complexos da cidade inteira, e viabilizando o entendimento e acesso a utilização do metrô para a população em geral, da mesma forma que o banheiro(a) é proposto, simplificando a utilização deste e oferecendo igualdade a todos. O fraldário do banheiro(a) então é o único espaço que possui alguma espécie de barreira visual, gerando maior privacidade para os responsáveis e suas crianças. Essa barreira foi concebida por uma sequencia de espelhos de diferentes tamanhos, inspirado nas diferenças das pessoas que ali serão refletidas, e a utilização de espelhos ainda dá a alusão de que a barreira não existe.
Salvo a tubulação e as cabines, o restante do banheiro foi composto por elementos monocromáticos indo do preto ao branco, para enfatizar os protagonistas do projeto -tubulação exposta-, considerando também que essas cores culturalmente não expressam gênero de nenhuma forma. O banheiro ainda é provido de ventilação permanente e natural tanto da área comum por não possuir portas quanto das cabines através de cobogós. Os banheiros sem gênero também permitem a ocupação de menor espaço, principalmente quando concebidos do zero. Já neste caso específico, mesmo se tratando da apropriação de um local já construído, observa-se a otimização de espaço pela adequação do banheiro a norma brasileira, onde no projeto anterior, com um total de 8 vasos sanitários, tinha apenas 6 pias, enquanto no novo, o número de vasos corresponde exatamente ao número de pias, adequando-se a NBR9050. Além dos aspectos comportamentais considerados, houve também uma preocupação em utilizar produtos Deca que viabilizam a economia de água, fechando o projeto não somente com uma responsabilidade social mas também ambiental.
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VENCEDORES DO CONCURSO #020 PROJETAR.ORG ITINERANTE
Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo Artur Bernardoni, Julia Schneider de Lima, Guilherme Kretzer Trindade, Mariah Vieira Mafra e Mikaella Schvambach
O
desafio proposto aos estudantes era pensar como seria um espaço Projetar.org a ser instalado em seus respectivos campi. Para fomentar ainda mais o potencial dos acadêmicos de arquitetura e urbanismo do país, o Portal Projetar.org, a partir de 2017, pretende promover e participar de eventos in loco para discutir o futuro da profissão, as dificuldades do presente, e outros temas que permitirão entender a realidade de cada região e ser mais efetivo nos futuros concursos. Neste contexto, o Concurso Convidou os estudantes a pensarem como seria o espaço da Projetar.org a ser instalado em seus respectivos campi. Um pavilhão efêmero, onde mesas redondas, apresentações e atividades extracurriculares pudessem acontecer. O concurso contou com 166 propostas entregues por equipes compostas de acadêmicos de diversos estados brasileiros. Integraram o júri os arquitetos Caio Smolarek Dias, sócio fundador e idealizador do portal projetar.org, Olavo Amaro da Silveira Neto, especialista em Projeto Arquitetônico pela Ecole d'Architecture de Paris-Conflans, Paris/ França e Thorsten Nolte, da Lompreta Nolte Arquitetos.
Para o jurado Caio Dias, a proposta é concisa, o arquétipo da casa foi muito bem solucionado e as possibilidades de utilização do espaço permitem que diferentes usos ocorram de forma confortável. Além disso, a inserção no espaço foi muito feliz pois permite dialogar de forma harmônica com os diferentes campi Brasil afora. Olavo Neto acrescenta que a proposta faz boa referência à casa, ao "abrigo". A solução tipológica do projeto propicia fácil leitura da edificação, flexível e modular.
Perspectiva ilustrativa da proposta inserida na paisagem
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[CASA] 330 O desenvolvimento criativo e técnico inerente ao ofício de arquiteto e urbanista é extremamente relacionado à qualidade do espaço em que ele exerce suas atividades. Dessa forma, o pavilhão efêmero [casa]330 deve contemplar espaços dinâmicos, lúdicos, e que expressem as boas práticas da arquitetura através de sua linguagem e de suas estratégias de sustentabilidade. Este pavilhão, que deverá ser implantado dentro de universidades, deverá suportar inúmeras metodologias de ensino e de desenvolvimento pleno das atividades do estudante de arquitetura e urbanismo. Assim como os espaços que facilitam a aprendizagem das disciplinas do curso, o próprio edifício deve ser uma lição de arquitetura. Portanto, buscou-se na forma a linguagem que expressa à primeira função da arquitetura na vida da humanidade, a habitação, na sua forma mais simples e pura.
Campus UNIVALI Balneário Camboriú | local de intervenção
SIMPLICIDADE – PRINCÍPIOS – ICONE - REPETIÇÃO A estrutura proposta é um pórtico extrudado, que cria um espaço vazio no seu interior. Seu propósito é de apropriação livre pelos estudantes através da flexibilidade de layout interno e da repetição da estrutura, que é modular e adaptável às necessidades de cada Campus. * forma remetendo aos princípios desconstrução da forma replicação remetendo ao ideal de icone e reconhecimento ESTRATÉGIAS DE CONFORTO AMBIENTAL Através da desconstrução da forma e da utilização do desalinhamento do telhado, será possível a ventilação e iluminação natural. Além disto, a ventilação ocorrerá através do efeito chaminé, auxiliada pelos espaços deixados na dimensão dos painéis de fechamento externo, resultando em espaços abertos e contínuos de 0,70m, ao longo da estrutura. Com o auxílio de placas fotovoltaicas aplicadas nos painéis modulares de fechamento da cobertura, será necessária uma análise do local de implantação para sua melhor aplicação. Em relação ao conforto acústico, será possível anexar painéis com material absorvente às faces internas das placas de fechamento lateral, auxiliando na redução da reverberação ocasionada pela amplitude e versatilidade do espaço. Tornando o espaço tratado adequadamente em relação à atividade proposta.
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JUSTIFICATIVA DE IMPLANTAÇÃO | UNIVALI CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ Esse pavilhão efêmero foi desenvolvido para adaptar-se a diferentes possiblidades de implantação em escolas de arquitetura brasileiras. Contudo, destaca-se nesse trabalho a implantação no Campus da Universidade do Vale do Itajaí, em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Ele deverá ser implantado em um caminho que possui grande potencial de conexão entre duas áreas importantes da Universidade - conjunto de edifícios dos cursos de design, arquitetura e gastronomia, e o conjunto de edifícios dos cursos de direito e administração - mas que, entretanto, não apresente características espaciais e de usos que atraiam os usuários. A implantação dessa arquitetura ao longo do eixo deverá ser um motor de transformação que, ao mesmo tempo em que qualifica a apropriação do espaço, fortalece os vínculos de pertencimento ao lugar. MODULAÇÃO O sistema modular viabiliza a implantação do equipamento nos mais variados espaços dentro das universidades, sendo assim, cria-se flexibilidade e dinâmica no leiaute e volume construído.
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FLEXIBILIDADE Uma vez que é estudada a demanda variável devido ao número de alunos e frequentadores do campus e possivelmente do espaço, deve-se prever a quantidade de módulos a ser utilizados prevendo a otimização do espaço. Com os vãos internos livres e os painéis móveis, que sobem e descem por sistemas de roldanas suspensos à cobertura, pode-se criar grande variação de leiaute, desde pequenos espaços de estudos individuas, passando por salas de produção conjunta de projeto até por fim, o auditório com capacidade mínima para 40 pessoas. Porém, essas divisórias não chegam até o chão, ficando a uma altura de 0,40m, mantendo a privacidade, porém, não tornando totalmente fechado o espaço, totalizando uma altura de 2,10m. ADAPTABILIDADE A flexibilidade do edifício é permitida através da adoção de um sistema de modulação funcional / espacial e estrutural baseada em um módulo de 1,00m x 3,30m, extraído a partir das dimensões de placas voltaicas tradicionais de fornecedores locais. Como fechamento, podem ser utilizados quatro tipos diferentes de painéis: chapas perfuradas (pegboard), translúcidas, sólidas e fotovoltaicas. Todas serão trabalhadas na posição vertical, logo, a disposição dos pilares terá distanciamento de 3,30m em 3,30m. Com o intuito de ser adaptável a diferentes usos e atividades, esses painéis permitem diversas apropriações, como sentar, ler/estudar, suspender bicicletas (bicicletário), criar hortas verticais, entre outros.
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DETALHAMENTO | ESTRUTURA
DETALHAMENTO | PAINÉIS
Conexão entre caibro e pilar, dada pela tensão aplicada na rosca que conecta os dois elementos, possibilitando o travamento, fácil desmontagem e armazenamento.
Com as possíveis personificações dos ambientes internos, os painéis de absorção acústica podem ser utilizados a medida de em que há necessidade de criar espaços menos hostis, reduzindo a reverberação na acústica do pavilhão, podendo serem adicionados aos painéis de fechamento.
DETALHAMENTO | FECHAMENTO Encaixe entre o módulo de fechamento e o pilar da estrutura, por meio de fixação parafuso - porca, possibilitando a personificação do ambiente.
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CURITIBA, PR, BRASIL COMO SIGNO PARA A DISCIPLINA DE PAISAGISMO VIAGEM TÉCNICA DE ESTUDOS
Texto: Luciano Torres Tricárico, Prof. Dr. Arq. Urb. Fotografias: Rafael Alves de Campos, Prof. Me. Arq. Urb.
CURITIBA: SIGNO DE CIDADE CONTEMPORÂNEA PARA O ESTUDO DE PAISAGISMO.
A
cidade de Curitiba, PR, Brasil, é um caso brasileiro significativo para o estudo da Paisagem e a verificação dos seus conteúdos contemporâneos; daí ser objeto de visita técnica de estudos; alocada na disciplina de Paisagismo III, porque possui conteúdos de ementa ligados ao planejamento ambiental e gestão ambiental da paisagem. Nesse viés, o objeto de estudo são os espaços públicos mais notórios da cidade de Curitiba, PR; a saber: Universidade Livre do Meio Ambiente (UNILIVRE); Jardim Botânico, Parque Barigui, Parque Tanguá, Parque Tingui e Bosque do Papa. JUSTIFICA-SE, PORTANTO, A APROPRIAÇÃO DE CURITIBA PORQUE: Os alunos podem compreender in loco os conteúdos de ecologia da paisagem e da infra-estrutura planejada a partir da paisagem; sejam para áreas de permeabilidade do solo, sejam pelos equipamentos de lazer, sejam pelos sistemas de espaços livres públicos, sejam pelos sistemas de macro e micro drenagem de bacias de contenção de águas pluviais, sejam pelos sistemas de espaços públicos configurando corredores verdes e ecológicos, sejam pelos sistemas de espaços públicos configurando “vasos comunicantes” para o escoamento necessário das águas até as bacias de contenção, entre outros.
Universidade Livre do Meio Ambiente
Universidade Livre do Meio Ambiente
Universidade Livre do Meio Ambiente
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necessidades configuram o escopo essencialmente do trabalho do arquiteto urbanista paisagista em sua formação acadêmica, além de ser o “instrumental” próprio deste arquiteto urbanista paisagista quando “chamado” para propor uma equidade ambiental. Assim, a metodologia de ensino e aprendizagem da visita técnica vai essencialmente ao encontro da percepção sintática, morfológica, do uso de escalas, hierarquias e proporções do e no espaço público; ainda que se desdobrem em interpretações semânticas (evidentemente). METODOLOGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA VISITA TÉCNICA
Jardim Botânico
Até o momento a disciplina de Paisagismo III já aplicou três instrumentos de abordagem para o ensino e a aprendizagem dos alunos na visita técnica à Curitiba: visão serial, um roteiro de levantamento de dados e a elaboração de um folder turístico para cada parque visitado.
Jardim Botânico
Os alunos podem compreender in loco a aplicação de instrumentalidades de planejamento ambiental e gestão ambiental que viabilizam o desenho do espaço livre público (que deve se configurar como corredor verde ou corredor ecológico). Nesse sentido também, há a compreensão de que fatores fundiários privados não é, necessariamente, um empecilho para a configuração do desenho do espaço público devidamente compatibilizado com o ideal de corredor ecológico; inferindo-se, inclusive, que a dotação de espaços públicos pode “agregar valor” imobiliário ao fundiário. Verificação in loco pelos alunos das apropriações de escalas e proporções do desenho do espaço público; da locação e dotação do programa de necessidades do espaço público, da dotação de equipamentos urbanos, da dotação de mobiliário urbano, da dotação de iluminação pública e “cenográfica” do espaço público; da dotação de elementos de programação visual; da identificação de linhas projetuais das escolas de Paisagismo; tudo se configurando como uma identidade visual da paisagem. Entende-se que este último aspecto é o que mais pode ser evidenciado para uma visita de estudos de Paisagismo, uma vez que o desenho do espaço público e a sugestão do seu programa de
Quanto à visão serial, pretende-se uma interpretação qualitativa e até quantitativa, no intuito de possibilitar uma análise dos elementos da paisagem urbana de espaços públicos emblemáticos na cidade de Curitiba, PR, relacionando-os com as características morfológicas de sua formação, atrelados ao mote da natureza enquanto aspectos geográficos do território. Para análise desses elementos é utilizado o método de percepção da paisagem urbana de Gordon Cullen (1971), que subsidiou a interação do observador (representado pelos alunos da disciplina de Paisagismo III do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI). Essa percepção demonstra como os elementos da paisagem urbana são essencialmente construídos com sintaxes da natureza (daí os espaços públicos atrelados ao “verde”), exercendo impacto de ordem visual nos observadores, despertando emoção ou interesse, entre outras revelações como atributos formulados por Gordon Cullen (1971). São formuladas placas com estímulos sugeridos por Cullen (1971): impedimento, conexão, estreitamento, estreitamento preparando para alargamento, amplidão, realce, alargamento lateral, estreitamento lateral, direcionamento, visual fechada, emolduramento, aconchego, etc, os quais são apresentados aos alunos observadores. A maior quantidade de concordância entre os alunos de um determinado estímulo será então predominante daquela estação de paisagem da análise; e assim se faz com outras
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estações. Ao final, se houver uma diversidade de estímulos ao longo de um percurso nas várias estações, é que se caracterizará então uma paisagem de qualidade, conforme as proposições de Cullen (1971). Faz-se a marcação de estações a partir de um repertório adquirido pelos professores ao entender que a estação é quando um estímulo muda bruscamente. Cada estação deve contemplar: distância percorrida em metros até próxima estação, tempo percorrido em minutos até próxima estação, estímulo no “aqui”, estímulo no “além” olhando em direção à próxima estação.
Neste caso, entende-se que um mesmo roteiro para cada um desses casos pode levar à comparação necessária, no intuito de entendimento do programa de necessidades, opção por linhas projetuais do Paisagismo, soluções de infra-estrutura da paisagem, sustentabilidade da paisagem, entre outros. Segue abaixo o roteiro de visita utilizado para cada parque visitado: Universidade Livre do Meio Ambiente (UNILIVRE); Jardim Botânico, Parque Barigui, Parque Tanguá, Parque Tingui e Bosque do Papa.
Vale lembrar que a visão serial esteve pautada por atividades de pesquisa vinculadas às estratégias de ensino que se desdobraram em artigos científicos. Quanto ao instrumento de relatório de viagem técnica de estudos, valendo-se de um roteiro de levantamento de dados, deve-se ressaltar que ele se configura tal como o roteiro utilizado para o diagnóstico da área de intervenção de projeto de espaço livre público da disciplina de Paisagismo III, bem como para a análise de um estudo de caso referencial (geralmente internacional). Alunos visitando escritório do Arquiteto e Urbanista Jaime Lerner
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Parque Tanguá
Parque Barigui
Parque Tingui
Parque Barigui
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PAISAGISMO III - Relatório de Viagem Técnica Roteiro para visita técnica de estudos 1. Entorno: identificar e mapear: pólos geradores de tráfego; principais equipamentos urbanos; uso do solo (usos por predominância); itinerário do transporte coletivo; hierarquia viária; permeabilidade e acessibilidade à área do parque; unidades do entorno (massa de edificações, linguagem arquitetônica, tipologia) 2. Equipamentos e mobiliário urbano: analisar e mapear: adequabilidade (utilização, quantidade, funcionalidade e distribuição); interferência no conjunto; estética/design 3. Sinalização e comunicação visual: analisar e mapear: sinalização de direcionamento (trânsito, sinalização indicando atividades realizadas na área, sinalização de posturas 4. Vegetação: mapear: elenco vegetal (estratos arbóreos e arbustivos, forrações); coerência paisagística e composição 5. Análise propositiva: análise geral da área de intervenção (potencialidades e deficiências); definição dos eixos de projeto paisagístico; elaboração de plano de massas. O folder turístico tem por objetivo fazer com que os alunos elaborem um roteiro de visitação como estratégia de programação visual a ser entregue a um turista. O folder é feito por uma equipe de alunos para cada um dos parques visitados – Universidade Livre do Meio Ambiente (UNILIVRE); Jardim Botânico, Parque Barigui, Parque Tanguá, Parque Tingui e Bosque do Papa –, é avaliado conjuntamente com todos os alunos, e ao se deparar com a realidade do lugar, podem reinterpretar a formulação da visitação porque descobrem outros espaços atrativos.
Referências bibliográficas CULLEN, G. (1971). Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70.
Museu Oscar Niemeyer - Curitiba | PR
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ARQ EM CENA
EXIBIÇÃO DE FILMES RELACIONADOS À ARQUITETURA E URBANISMO Autora: Giselle Carvalho Leal, Prof. Me. Arq. Urb.
O
ARQ em CENA é um evento que tem como objetivo exibir filmes relacionados à Arquitetura e Urbanismo, e através dos mesmos promover debates entre docentes e discentes a fim de ampliar o repertório, gerar discussões e oportunizar o desenvolvimento do senso crítico acadêmico. O evento foi idealizado a partir da necessidade dos alunos em ter um momento de lazer dentro do curso, que também propiciasse aprendizado.
As cinco edições que aconteceram durante o ano de 2017, foram organizadas pela Profa. Giselle Carvalho Leal, como parte das ações do Núcleo de História, Teoria e Conservação – NHAU. Nas cinco edições, buscou-se exibir filmes e documentários atuais para que o aluno consiga relacionar os assuntos mostrados e discutidos com o contexto no qual está inserido.
PRIMEIRA EDIÇÃO – ABSTRACT
SEGUNDA EDIÇÃO – MEDIANERAS
Primeira edição – Abstract: Série documental apresenta oito ícones do design mundial, que revelam detalhes do que pensam e suas inspirações. Artistas das áreas de design, ilustração, fotografia, arquitetura e cenografia mostram como seus trabalhos são capazes de influenciar o cotidiano das pessoas. O quarto episódio da série "Abstract: The Art of Design", que aborda a trajetória do arquiteto Bjarke Ingels e de seu escritório BIG, o qual revoluciou a arquitetura Dinamarquesa.
Medianeras é o nome dado àquelas paredes sem janelas dos edifícios, também chamadas de paredes cegas. O tema é a solidão urbana que todo mundo aprendeu a suportar, aquela sensação de estar só no meio da multidão. A narrativa traça um paralelo entre o planejamento urbano, estilos arquitetônicos, irregularidades estéticas e éticas da cidade.
PROF. CONVIDADO: Eduardo Baptista Lopes
“A participação como professor convidado do I Arq em Cena foi uma experiência muito gratificante. Iniciativas como essa aproximam alunos e professores, através de um ambiente de ensino informal, que incentiva formas de aprendizagem mais dinâmicas sobre assuntos nem sempre tratados dentro da sala de aula.”
PROF.CONVIDADO: Marcelo Galafassi
É uma ótima iniciativa. Foi uma experiência interessante, tanto do ponto de vista do aprendizado quanto pela possibilidade de interação entre alunos e professores. Assistir um filme, debater sobre ele e contextualizar com a Arquitetura, nos mostra como nossa profissão é importante socialmente e como ela é apaixonante!!! Obrigado pela experiência proporcionada!!!" Prof. Marcelo Galafassi
Prof. Eduardo Baptista Lopes TERCEIRA EDIÇÃO – A EXPERIÊNCIA DO PROF. JULIANO EM SANTIAGO E BUENOS AIRES PROF.CONVIDADO: Juliano Darós Amboni
“Relembrar e compartilhar as experiências vividas em cidades importantes do Chile e em Buenos Aires, na Argentina foi uma ótima experiência. É como se cada lugar fosse visitado novamente, agora com a crítica de quem analisa a soma das visitas às experiências do cotidiano. Ter o retorno de quem assiste e poder discutir as nuances das sensações que cada lugar proporciona ao indivíduo permite um maior enriquecimento de todo o processo, além de trazer a tona o espírito de “dever cumprido”. O Arq em Cena é uma atividade essencial para a formulação de repertório no curso de Arquitetura. Tanto para professores como alunos, em um convívio mútuo ímpar, de soma de olhares e contextos fora do momento da aula.” Prof. Juliano Darós Amboni
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QUARTA EDIÇÃO – SKETCHES OF FRANK GEHRY PROF. CONVIDADO: Luiz Eduardo de Andrade
Sydney Pollack, um dos maiores cineastas do mundo que conhecia pouco sobre arquitetura a não ser o que admirava, foi convidado por seu amigo, o notório arquiteto Frank Gehry, para fazer um filme sobre sua vida e métodos de trabalho. O resultado dessa parceria é muito especial: armado com uma câmera, Pollack mergulha na vida do criador do museu de Guggenheim em Bilbao, rastreando sua juventude, seu primeiro casamento e sua crescente fama. O filme apresenta um retrato muito próximo e observador de Gehry quando interage com colegas de trabalho desenvolvendo meticulosamente maquetes até encontrar a perfeição. "Sou um entusiasta do 'Circuito Off', no curso de Arquitetura e Urbanismo, entendo que as atividades extra curriculares, são fundamentais na formação de nossos alunos. O filme trata não somente da produção do renomado arquiteto, mas das pessoas, lugares e 'coisas' que vivenciou ou influenciaram na sua formação, dos seus processos e métodos, depoimentos de clientes, famosos, críticos e anônimos, da sua percepção e crítica a sua própria produção. Estes momentos e situações que os alunos vivenciaram, remetem-me a uma citação de Jim Jarmusch... 'roube qualquer coisa que ressoe em você, que inspire ou abasteça sua imaginação. Devore filmes antigos, filmes novos, música, livros, pinturas, fotografias, poemas, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura, pontes, árvores, nuvens, luz e sombras. Para roubar, selecione coisas que falam diretamente à sua alma. Se você assim fizer, seu trabalho será autêntico'. Ótima experiência e até a próxima.” Prof. Luiz Eduardo de Andrade
QUINTA EDIÇÃO – URBANIZED
PROFA. CONVIDADA: Luciana Noronha Pereira
Este espetacular documentário mostra o estado atual das nossas cidades, e o futuro que nos espera. O filme tenta introduzir a problemática do rápido crescimento demográfico e a concentração das populações nas grandes cidades, em oposição ao quase desaparecimento de outras cidades, o documentário mostra exemplos ao redor do mundo, conversas com arquitetos e urbanistas, como Norman Foster, Rem Koolhaas, Oscar Niemeyer ou Alejandro Aravena. “O Arq em Cena é uma oportunidade muito especial para articular os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula aos conteúdos e abordagens disponíveis em outras mídias. Neste caso, nos filmes, no cinema, constituindo-se em relevante estratégia pedagógica no processo de ensino-aprendizagem. Nesta atividade, a professora Me. Giselle Carvalho com o apoio da monitora do LAREH, acadêmica Nathália Ferracioli, escolhem um filme e convidam um professor para condução das atividades, bem como das discussões posteriores, em uma atividade leve e lúdica e interativa. No caso de minha participação, o filme escolhido foi 'Urbanized', que discute diversos aspectos relativos às cidades, iniciando pelas forças que as constituem – forças econômicas, forças ambientais e forças sociais – assim como os diversos agentes em seu processo de urbanização. Estas questões são lançadas a partir da perspectiva de diversos arquitetos e urbanistas consagrados em todo o mundo, bem como das diferentes formas de atuação nas cidades ao longo do tempo. A riqueza e amplitude do debate que o documentário traz em 2 horas e meia inclui linhas gerais e conceitos de desenho urbano, a partir de temas como: habitação popular, design participativo, democracia, espaço público, mobilidade urbana, novas tecnologias, entre outros, possibilitando um rico debate envolvendo os alunos e professores presentes.” Prof. Luciana Noronha Pereira
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XIV ENCAC X ELACAC 2017
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Encontro Nacional e LatinoAmericano de Conforto no Ambiente Construído realizou-se entre os dias 27 a 29 de Setembro de 2017 no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas no Campus de Balneário Camboriú da Universidade do Vale do Itajaí. O ENCAC e ELACAC é um evento bianual promovido pelo Grupo de Trabalho de Conforto Ambiental de Eficiência Energética da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), e que abre espaço para apresentação de pesquisas e discussões sobre conforto térmico, iluminação natural e artificial, acústica arquitetônica e urbana, eficiência energética, ergonomia e avaliação pós-ocupação. O evento teve sua primeira edição no ano de 1990 e após 28 anos, o ENCAC/ ELACAC se consolidou como o principal fórum brasileiro e um dos mais importantes da América Latina, em sua área de abrangência, graças à crescente qualidade dos artigos submetidos e selecionados, minicursos e palestras proferidas por arquitetos e especialistas de renome internacional – um conjunto que tem possibilitado riquíssima troca de experiências e de atualização dos participantes. Por ocasião do ENCAC/ELACAC ocorre também a Bienal “José Miguel Aroztegui”, 34
XIV ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO X ENCONTRO LATINO AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDOS Por Carolina Rocha Carvalho, Prof. Me. Arq. Urb. Marcelo Galafassi, Prof. Me. Arq. Urb. Fotografias: Luciano Voltolini
um concurso de projeto de arquitetura bioclimática, para estudantes de graduação de universidades brasileiras e latino-americanas. Organizado pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI Campus Balneário Camboriú, com apoio do Curso de Engenharia Civil Campus Itajaí, FAPESC (Fundação de Apoio e Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), SINDUSCON (Sindicato da Indústria de Construção Civil) em Camboriú e Balneário Camboriú, o XIV ENCAC e X ELACAC tiveram sua formatação idealizada pelos Professores Carolina Rocha Carvalho, Marcelo Galafassi, Alexandre Reis Felippe, Karine Lise Schäfer e Carlos Alberto Barbosa de Souza da Univali. A temática do Encontro, “Habitat Humano: Em busca de conforto ambiental, eficiência energética e sustentabilidade no século XXI”, foi definida visando o resgate histórico e abrindo espaço para discussões sobre a forma de morar atual, onde o formato das cidades compactas vêm se consolidado como alternativa. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente mais da metade da população mundial vivem em centros urbanos. No Brasil, segundo dados
do Censo de 2010, organizado pelo IBGE, este número é ainda maior, abrangendo em torno de 85% da população brasileira. Além da problemática de compactação das cidades, o processo de verticalização também está associado à necessidade do mercado imobiliário em gerar excedentes econômicos, frente ao fato que a conformação do espaço urbano advém de um processo especulativo. A promoção de uma densificação urbana responsável exige uma série de contrapartidas, tanto da municipalidade quanto dos investidores privados. Visto que a disposição, dimensões, afastamentos e tipologias das edificações verticais influenciam na disponibilidade de recursos naturais do ambiente construído, tanto de espaços privados quanto de uso público. Deste modo, os investidores privados e gestores públicos devem oferecer e garantir a formação de espaços e redes de serviços, que aliados à distribuição racional dos edifícios sobre os terrenos demonstrem comprometimento com a ocupação urbana trazendo salubridade e qualidade de estar às edificações e aos espaços urbanos que as circundam. A adoção de práticas que visam a redução do consumo de energia com o uso de recursos renováveis é uma alternativa para transformar as cidades atuais em sustentáveis e ambientalmente responsáveis.
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Nesta edição do ENCAC/ELACAC, além do movimento de compactação e verticalização das cidades, também se discutiu a apropriação do clima no planejamento do ambiente construído, visando melhores condições de conforto ambiental, sustentabilidade e eficiência energética. Fomentando a adoção de medidas sustentáveis que possam amenizar os impactos causados ao meio-ambiente, a busca por conforto ambiental e a redução dos gastos energéticos foram objetivos desta edição do evento. O Congresso apresentou 7 eixos temáticos de pesquisa: Acústica Arquitetônica e Urbana, Clima e Planejamento Urbano, Conforto Térmico no Ambiente Construído, Desempenho Térmico do Ambiente Construído, Eficiência Energética, Iluminação Natural e Artificial, e Avaliação pós-ocupação aplicada ao conforto ambiental e à ergonomia. Os trabalhos apresentados foram analisados e selecionados por um Comitê Científico Internacional já constituído e regular, formado pela Coordenadora Profa. Dra. Roberta Vieira Gonçalves de Souza (UFMG), Vice-cooredenador Prof. Dr. Aldomar Pedrini (UFRN), oito subcoordenadores e mais 168 Membros do comitê. Nesta edição foram submetidos 296 artigos científicos completos e foram selecionados, pelo Comitê Científico, 189 artigos para apresentação oral. Durante o evento as apresentações orais ocorreram em 7 salas simultâneas com a presença de
Prof Dra Denise Helena Silva Duarte (FAUUSP)
um pesquisador-coordenador, de forma a conduzir as discussões durante a apresentação dos trabalhos. Das 293 inscrições, entre alunos de graduação, pós-graduação, profissionais e professores, 241 pesquisadores marcaram presença no evento. Como contribuições destacadas o ENCAC e ELACAC contou com seis palestras, sendo 2 nacionais e 4 internacionais, duas mesas redondas (internacionais), além de sete salas simultâneas de apresentação e 3 minicursos ofertados. Os minicursos ofertados eram gratuitos e tiveram as temáticas: “Simulação de Iluminação Natural de Precisão”, “Diseño de Sombras para edificaciones y espacio público”, e “Aplicação do novo método de avaliação de eficiência energética com base em energia primária de edificações comerciais, de serviços e públicas”. A palestra de Abertura, ministrada pela Profa. Dra. Denise Helena Silva Duarte (FAUUSP), intitulada “O papel do planejamento, do desenho urbano e do projeto de edifícios nos microclimas urbanos”. A palestrante contextualizou historicamente a evolução do planejamento urbano, apresentando dados atuais que evidenciam a aplicação de diferentes estratégias de planejamento urbano e como estas influenciam no clima urbano. Apresentou também a interdependência entre forma urbana, adensamento e microclima, destacando estratégias sobre como conciliar a ocupação urbana com a criação de espaços
Prof Dr Christoph Reinhart, (MIT Sustainable Design Lab)
de amenidades climáticas nas grandes cidades. A segunda palestra foi realizada pelo Prof. Dr. Christoph Reinhart, (MIT Sustainable Design Lab) sob a temática “Housing the Millennials”, destacando que o modo de morar e trabalhar atual precisam ser flexíveis, pois atualmente não vivemos mais de forma compartimentada e diversas atividades podem ser desempenhadas em um mesmo espaço. Além dessa mudança de comportamento das gerações atuais há a evolução das pesquisas e utilizam-se cada vez mais softwares para simular o desempenho ambiental de forma a suprir as necessidades atuais. Além deste contexto o palestrante apresentou trabalhos recentes desenvolvidos no MIT Sustainable Design Lab sobre análise de desempenho ambiental em nível urbano sobre consumo energético de edificações, iluminação natural, conforto térmico externo e edificações integradas à agricultura, demonstrando como as ferramentas desenvolvidas podem ser utilizadas de forma produtiva na interface entre arquitetura e planejamento urbano e reflete sobre quais tipos de novas vivências urbanas podem surgir a partir dessas explorações em projeto. O segundo dia iniciou com a palestra do Prof. Jorge Hernán Salazar Trujillo (Universidad Nacional de Colombia) “De factores energéticos a factores humanos: arquitectura bioclimática en Colombia” apresentando trabalhos que desenvolveu
Prof. Jorge Hernán Salazar Trujillo (Universidad Nacional de Colombia)
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VIDA ACADÊMICA
Prof Dr Roberto Lamberts (IBPSA-Brasil), Prof Dr Martin Ordenes (IPBSA-Chile), Prof Dr Raul Ajmat (IBPSA-Argentina)
Profa. Dra. Susan Roaf (Sue Roaf - Heriot-Watt University)
Profa. Dra. Denise Helena Silva Duarte (FAUUSP), Profa. Dra. Veridiana Atanasio Scalco (UFSC), Prof. Dr. Fernando Oscar Ruttkay Pereira (UFSC), Prof. Jorge Hernan Salazar Trujillo (Universidad Nacional de Colombia)
Profa. Dra. Claudia Naves David Amorim (UNB)
Arq. Robert Jacob Berkebile (Bob Berkebile - BNIM)
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durante sua atuação no mercado, com destaque à consultorias e elaboração de projetos urbanos e arquitetônicos, com ênfase ambiental ou uma abordagem bioclimática precisa através de um olhar crítico sobre o processo de maturação do mercado ambiental na arquitetura na Colômbia. Ao mesmo tempo, abordou as atividades acadêmicas, de pesquisa e profissionais durante 25 anos de atuação, apresentando reflexões sobre as decisões tomadas visando o desenvolvimento futuro. Esta palestra apresentou diversas tomadas de decisão analisadas através de maquetes e experimentos, aplicação de conceitos físicos e pouca simulação computacional, destacando a importância do conhecimento teórico. Após esta palestra houve uma mesa redonda intitulada “Compartilhar experiências e discutir o momento atual da simulação computacional de edificações na Argentina, Brasil e Chile” sob organização da IBPSA (International Building Performance Simulation Association), composta por Prof. Dr. Roberto Lamberts, como presidente da IBPSA-Brasil, Prof. Dr. Raúl Ajmat, presidente da IBPSAArgentina, e Prof. Dr. Martin Ordenes, representante do IBPSA-Chile. Nesta mesa redonda os pesquisadores discutiram sobre os avanços nas pesquisas envolvendo simulação computacional sobre desempenho de edificações, as oportunidades em pesquisas, incentivos de governo e empresas privadas e suas implicações no mercado. A Profa. Dra. Susan Roaf (Heriot-Watt University), autora de diversos livros, entre eles “Ecohouse”, “A Adaptação de Edificações e Cidades Às Mudanças Climáticas” e “Closing the Loop”, encerrou o segundo dia com a apresentação da palestra “How to Design a Comfortable Building”. Levantou diversas questões sobre a aplicação de estratégias bioclimáticas
em edificações e suas implicações. Foi uma palestra bastante instigadora, pois não teve o intuito de trazer respostas, mas de abrir mais espaço para questionamentos sobre o papel do arquiteto e o efeito de suas decisões. O último dia do evento iniciou com uma mesa redonda sobre “Compartilhar experiências sobre Ensino de Conforto Ambiental aplicado em Projeto” com os professores Dr. Fernando Oscar Ruttkay Pereira (UFSC), Profa. Dra. Veridiana Atanasio Scalco (UFSC), Profa. Dra. Denise Helena Silva Duarte (FAUUSP) e Jorge Hernan Salazar Trujillo (Universidad Nacional de Colombia). Esta mesa redonda discutiu o papel do professor orientador e como este profissional impacta na formação de arquitetos e urbanistas, além das expectativas e desafios desta profissão e a importância de disciplinas de conforto ambiental para a formação do arquiteto. A palestra com a temática “Iluminação natural e projeto: tendências e perspectivas rumo à qualidade ambiental” da Profa Dra. Claudia Naves David Amorim (UNB), Coordenadora da Divisão 3 do CIE-Brasil (Comission Internationale del`Eclairage) e pesquisadora da Task 50 da IEA ( International Energy Agency) apresentou a importância da iluminação natural tida atualmente apenas com foco em economia de energia, mas que impacta diretamente na saúde dos usuários. Discutiu sobre as tendências em pesquisas, normas e regulamentos no cenário internacional e os impactos e perspectivas no contexto nacional. A última palestra sob a temática “Regenerative Compact Cities: Urban Acupunture And Human Purposed Design” foi ministrada por Bob Berkebile. Bob é arquiteto, ganhador de diversos prêmios, um dos fundadores do BNIM escritório que
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Após uma breve descrição de seu trabalho, apresentou uma discussão humana! Bob iniciou falando do papel do arquiteto e relatou uma passagem no início de sua vida profissional, em que se deparou com muitas pessoas desabrigadas e em situação precária após uma tragédia em sua cidade. A partir daquele momento ele decidiu trabalhar pelo bem estar coletivo, decidiu fazer projetos de arquitetura e urbanismo para as pessoas. O nome de seu escritório veio desta visão, ao observar bnim em frente a um espelho lê-se mind. A arquitetura seria uma ferramenta utilizada com intenção de tocar as pessoas. E ao longo de mais de 40 anos de empresa pôde-se comprovar este objetivo. A palestra foi emocionante e em meio a projetos e intenções Bob finalizou o evento com uma imagem dos olhos de uma criança com a frase: “O que ela verá em 2020?” Bob encerrou com chave de ouro o ENCAC e ELACAC 2017.
do congresso. Em primeiro lugar foi premiado o artigo “Comportamiento energético de mosaicos urbanos representativos de la ciudad de La Plata (Bs As. Argentina) em función de las condiciones térmicas externas” dos autores Graciela Viegas; Pedro Chévez; Gustavo San Juan; Carlos Discoli. Em segundo lugar destacou-se a pesquisa “Estudo piloto para análise de elementos de controle solar com formas complexas” dos autores Rafael Prado Cartana (professor da UNIVALI); Fernando Oscar Ruttkay Pereira; Adir Mayer (aluno da graduação UNIVALI). E em terceiro lugar o estudo “Influência do índice de massa corpórea e frequência de atividades físicas no conforto térmico humano em edificações comerciais localizadas em Florianópolis” dos autores Matheus Cezar O Menegatti; Ricardo Forgiarini Rupp; Enedir Ghisi. O prêmio IBPSA-Brasil destacou o melhor artigo científico publicado no congresso em que utilizou como ferramenta a simulação computacional, assim a pesquisa realizada pelo Professor Rafael Prado Cartana (UNIVALI), também ganhou esta premiação. O tema definido para o Congresso, “Habitat Humano: Em busca de conforto ambiental, eficiência energética e sustentabilidade para o século XXI” trouxe discussões inovadoras sobre novas técnicas e ferramentas que permitem a análise
precisa de informações sobre o projeto, considerando as edificações e a cidade, e apresentou olhares muito humanos no trato dos problemas atuais. Além disso, permitiu reunir pesquisas de diversas áreas correlatas de países latinos americanos, onde disponibilizar espaço para que todos os trabalhos aprovados fossem publicados permitiu a troca de informações e incentivar novos e futuros pesquisadores, ampliou o contato entre pesquisadores, auxílios em desenvolvimentos de pesquisa, o que resultou em grande interesse aos participantes e um lugar de trocas informais. Importante destacar o trabalho incansável do Comitê Científico ao avaliar a grande quantidade de artigos enviados por até 3 revisões; o engajamento interno do Comitê de Organização e montagem, formada por professores, alunos e funcionários da UNIVALI, que trabalharam arduamente e de forma sincronizada e eficiente garantindo a organização e bom andamento do evento; o trabalho exemplar do Comitê Organizador Local da Bienal Miguel Aroztegui que organizaram os trabalhos internacionais recebidos e coordenaram com os membros do júri de forma a tornar a avaliação mais ética possível; o apoio de professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que auxiliaram o desenvolvimento das atividades prévias ao evento.
Ao final houve as premiações da Bienal Miguel Aroztegui, Prêmio Maurício Roriz, Prêmio IBPSA-Brasil. A premiação Maurício Roriz tem por objetivo homenagear um professor destaque no meio científico através de um prêmio para os melhores artigos científicos publicados ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
Equipe de alunos e professores que trabalharam no ENCAC e ELACAC 2017
recebeu o prêmio 2011 AIA Firm Award. É o presidente e membro fundador do American Institute of Architects’ National Committee on the Environment (AIA / COTE), tendo contribuído também na formação do US Green Building Council e seu sistema de certificação LEED. Em 2009, recebeu um Prêmio Heinz por seu papel na promoção do projeto de construção ecológica e pelo seu compromisso e ação para restaurar a vitalidade social, econômica e ambiental para as comunidades americanas através de arquitetura e planejamento sustentável.
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VIDA ACADÊMICA
X BIENAL
JOSÉ MIGUEL AROZTEGUI Por Marcelo Galafassi, Prof. Me. Arq. Urb. Carolina Rocha Carvalho, Prof. Me. Arq. Urb. Fotografias: Luciano Voltolini
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e maneira simultânea ao XIV ENCAC e X ELACAC, ocorreu a décima edição da Bienal José Miguel Aroztegui, concurso estudantil Ibero-americano de Arquitetura Bioclimática. O objetivo do concurso é desenvolver um anteprojeto arquitetônico que demonstre o emprego de estratégias bioclimáticas no projeto de arquitetura como um dos elementos definidores de sua identidade formal e qualidade espacial. Além disso, deve-se ter em mente a integração entre a proposta arquitetônica e o ambiente local, a apresentação de evidências do desempenho bioclimático da proposta, a expressão arquitetônica e desempenho funcional e a abrangência das soluções em relação a outros temas do projeto, como sistema construtivo e questões associadas à sustentabilidade ambiental e social do projeto.
Vista superior da exposição
Exposição dos projetos da Bienal José Miguel Aroztegui
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O tema da X BIENAL JOSÉ MIGUEL AROZTEGUI foi “Edifícios Verticais de Uso Misto”. Entende-se o tema como: edificações que possuem duas ou mais funções em sua única estrutura, podendo estas serem de caráter comercial, residencial, cultural e/ou institucional, agrupadas de maneira sobreposta. A proposta para a X Bienal José Miguel Aroztegui teve a intenção de promover a elaboração de soluções arquitetônicas para edificações que trabalhem a diversidade
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de usos, buscando uma resposta ao crescimento das cidades, por meio de uma tendência arquitetônica que procura dar soluções para as questões de moradia, lazer e trabalho em uma mesma edificação. Esta tendência evidencia o aumento no aproveitamento do espaço público e a necessidade reduzida de deslocamento, fatores fundamentais para uma melhor qualidade ambiental e de vida para as cidades. Deve-se ter em mente a setorização dos diferentes usos, relações público-privado, soluções para acessos, circulações verticais, uso nos pavimentos térreo, tipo e cobertura, incluindo áreas destinadas ao lazer e áreas destinadas ao uso público. Esperou-se passar também que o tema estimule-se as potencialidades da arquitetura bioclimática, no que tange a necessidade das diferentes atividades que determinado uso exige. A incorporação destas soluções é, portanto, fundamental e decisiva no projeto, uma preocupação profissional de arquitetos e estudantes de arquitetura, com o propósito de melhoria da qualidade de vida. Os projetos devem considerar: que o condicionamento passivo seja empregado sempre que possível, garantindo e comprovando o conforto ambiental; que os sistemasativos (quando necessários) sejam substituídos por sistemas híbridos; que estes sistemas ativos sejam usados apenas quando
Comissão julgadora dos projetos - Prof.ª Denise Helena Silva, Arq. Urb. Nelson de Campos Teixeira Neto e Prof.ª Maria Andrea Triana.
Comissão julgadora dos projetos e coordenadores do evento - Arq.Urb. Nelson de Campos Teixeira Neto, Prof.ª Maria Andrea Triana, Prof. Marcelo Galafassi, Prof.ª Denise Helena Silva e Prof. Fernando O. Ruttkay Pereira
estiverem esgotados os recursos passivos; que haja uma redução das dimensões dos sistemas artificiais e do consumo de energia, decorrentes da redução da demanda destes sistemas; a responsabilidade ambiental e incorporação de outras questões de sustentabilidade ao projeto.
Ruttkay Pereira, e o Prof. MSc. Marcelo Galafassi, coordenador local da X Bienal. Entre os 38 trabalhos, 6 foram premiados (1º, 2º e 3º lugares) e 3 receberam Menção Honrosa.
A escolha dos trabalhos premiados ficou sob a incumbência da comissão julgadora formada pela arquiteta e urbanista Prof.ª Dra. Denise Helena Silva Duarte, da FAU-USP, a arquiteta e urbanista Prof.ª Dra. Maria Andrea Triana, UFSC e pelo arquiteto e urbanista Nelson de Campos Teixeira Neto, proprietário do escritório NTN Arquitetura e Urbanismo.
Prof. Marcelo Galafassi - Coordenador local da X Bienal
A divulgação dos vencedores e cerimônia de premiação ocorreram no dia 29 de setembro de 2017, com a participação do Coordenador da Bienal Dr. Fernando O.
Prof. Marcelo Galafassi (coordenador local da X Bienal), Prof. Carolina Rocha Carvalho (organizadora do XIV ENCAC e X ELACAC) e Prof. Fernando O. Ruttkay Pereira (Coordenador geral da Bienal) na divulgação e premiação dos vencedores.
O primeiro lugar ficou com o trabalho de Cristian Camilo Marín e Valentina Franco Flórez, da Universidad Nacional de Colombia – UNAL (sede Medellin). Foi orientado pelo Prof. Luis Guilhermo Hernandéz, e teve como título “PGE – Parque Gastronômico Experimental”. Segundo o parecer da comissão Julgadora, “O trabalho integra os aspectos de desempenho ambiental associados à expressão arquitetônica, onde as principais estratégias de decisão projetual relacionam o prédio e seus espaços com o contexto urbano, hierarquizando a conexão e qualificação dos espaços públicos. É uma solução criativa de como as edificações que consideram de forma mais científica as condicionantes bioclimáticas podem se utilizar do repertório histórico/conceitual que a Arquitetura possui. As decisões projetuais combinando as soluções formais, funcionais, estruturais e espaciais com as estratégias bioclimáticas que reforçam um ecossistema urbano e sua biodiversidade é um raro exemplo de referência”.
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VIDA ACADÊMICA
Primeiro lugar
O segundo lugar ficou com o trabalho de Pamela Pérez Palacio e John Fredy Vásquez, da Universidad Nacional de Colombia – UNAL (sede Medellin). Foi orientado pelo Prof. Eléazar Gómez Fernandez, e teve como título “Instituto de Ciências Ambientales del Área Metropolitana”. Segundo o parecer da comissão Julgadora, “O projeto considera as condicionantes naturais e
construídas do entorno, libera espaços para uso público com inserção de vegetação na quadra, ao mesmo tempo em que propõe uma maior densidade de ocupação com o edifício principal em altura. A volumetria é elaborada, incluindo espaços diferenciados ao longo da altura do edifício. Há também uma preocupação com o detalhamento de materiais e componentes construtivos”.
Segundo lugar
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O terceiro lugar ficou com o trabalho de Manuel Berke e Belém Dalmaso, da Universidad de La Republica – DEAPA. Foi orientado pelo Prof. Evandro Sarthou, e teve como título “El Proyecto com las Energias”. Segundo o parecer da comissão Julgadora, “O projeto se destacou pelo tratamento do edifício com o contexto, conciliando a edificação com um tratamento adequado do espaço público. Dessa forma, foi deixado em evidência o programa proposto para o concurso. O processo de projeto e as decisões tomadas na proposta mostraram as questões bioclimáticas como orientadoras do projeto, dando-se destaque ao tratamento diferenciado das fachadas. Tipologias arquitetônicas diferenciadas são mostradas em parte da edificação, resultado da adoção de estratégias bioclimáticas. O projeto mostrou qualidade na sua apresentação e forma de expor as decisões arquitetônicas”. Os trabalhos premiados com Menção Honrosa foram:
Título: “Transverso Peatonal”, de autoria de Edyvan M. de Jesus, Maicon Jordan S. Lima e Márcio Henrique A. Souza, da Universidade Tiradentes – UNIT, orientados pela Profª. Maria Clara Giacomet. Título: “El Proyecto com las Energias”, de autoria de Adriana Mayo e Stephanie Pereira, da Universidad de la Republica - DEAPA, orientados pelo Prof. Evandro Sarthou. Título: “Algarroba: Edifício Multifuncional”, de autoria de Adriana Mayo e Stephanie Pereira, da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, orientados pelo Prof. Raoni Venâncio dos Santos Lima. Por fim, vale ressaltar os resultados positivos no que tange a participação de alunos do Brasil e do exterior, e qualidade dos trabalhos premiados.
Terceiro lugar
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ENTREVISTA & OPINIÃO
Representação gráfica Prof. Dr. Manuel Cuadra
ENTREVISTA
XVI BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITECTURA DE BUENOS AIRES
Foto: Andres Negroni
por Prof. Dr. Manuel Cuadra - Universität Kassel / Architekturgeschichte – GdgU Entrevistado por Prof. Guilherme Llantada, Me. Arq. Urb.
Nascido em 1952 na cidade de Lima, Manuel Cuadra estudou arquitetura na Universidade Nacional de Engenharia de Lima, doutorando-se na Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha. Em sua tese de doutorado dedicou-se aos fundamentos históricos da arquitetura e em particular aos Séculos XIX e XX nos países andinos. O trabalho da universidade ao lado de Günter Behnisch em Darmstadt deu origem ao estudo das bases construtivas do projeto arquitetônico tomando como exemplo a arquitetura alemã do século XX. Ensinar na Städelschule em Frankfurt com Enric Miralles proporcionou uma oportunidade para aprofundar as tendências contemporâneas. Outras estações como professor foram o Instituto de História da Arte da Universidade de Heidelberg e as faculdades de arquitetura da Universidade de Belgrano em Buenos Aires e a Universidade de Talca no Chile. Desde 2005 Manuel Cuadra é Professor de História da Arquitetura / História do Meio Ambiente Construído na Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Universidade de Kassel. Entre suas publicações " World Airports – Vision and Reality, Culture and Technique, Past and Present" e "Der Kindergarten - Seine Architektur em Geschichte und Gegenwart" temáticas sociais e questões tipológicas. "RheinMainRegionale", "Berlim Karl Marx Allee" e "Bitterfeld 44
Braunkohlebrachen" investiga os limites da arquitetura, urbanismo, paisagismo e land art. Também "Architektur in Frankfurt - Die Bauten, das Leben, die Stadt am Ende der Neunziger Jahre" apresenta arquitetura no contexto cultural, o lugar, o tempo e a sociedade que serve. Os aspectos pedagógicos estavam no primeiro plano do livro "Planen und Bauen: Meine Schule", preparado para apoiar o tratamento de questões de arquitetura no nível da escola. Sobre assuntos latino-americanos, a série de artigos escritos para o "Lexikon der Weltarchitektur" de Nikolaus Pevsner, Hugh Honor e John Fleming, assim como os livros "Clorindo Testa Architect" publicados pelo Netherlands Architecture Institute NAI em Rotterdam e "Architecture in Latin America: Peru, Bolívia, Equador e Chile nos séculos XIX e XX ", publicado pela Universidade Nacional de Engenharia. Por seu trabalho crítico, Manuel Cuadra foi eleito membro honorário da Associação Alemã de Arquitetos BDA, bem como membro do Comitê Internacional de Críticos de Arquitetura da CICA; desde 2005, ele é membro do conselho da CICA desde 2008, seu secretário geral. Desde 2005, ele é diretor de experiências urbanas - documenta anteriormente urbana - em Kassel. Por sua obra, em 2011 recebeu o título “Doctor honoris de la Universidad Nacional de Ingeniería”.
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urante a XVI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em outubro de 2017, logo após a palestra de abertura proferida pelo Prof. Dr. Manuel Cuadra, tivemos a oportunidade de nos aproximar e convidá-lo a dividir sua experiência conosco, ajudando a desvendar os caminhos da crítica da arquitetura através de uma entrevista para a revista Arkhé. Com enorme gentileza, Manuel colocou-se à disposição, e após enviarmos algumas indagações, o Prof. Cuadra, durante uma viagem de trem, dedicou-se a provocar seus pensamentos e o resultado foi este agradável mergulho nas entranhas do papel do crítico de arquitetura e de outros pensamentos que envolvem o assunto. A gravação original em espanhol, feita no dia 13 de dezembro de 2017, foi transcrita e traduzida pelo Prof. Guilherme Llantada, que havia elaborado as questões com uma determinada antecedência. Segue abaixo a íntegra da gravação para desfrutarem um pouco do pensamento do Prof. Manuel Cuadra... Manuel Cuadra: “Estimado Guilherme, este tempo passa tão rápido, te deixei esperando uns dias a mais e agora sentado no trem espero que a qualidade da gravação permita que tudo isto faça sentido para ti. Pensei muito nas perguntas que fizestes porque me permitiram organizar meus pensamentos ao redor destas questões...” Llantada: Há uma estreita relação entre teoria e crítica? Na sua visão, pode existir arquitetura sem teoria? E fundamentalmente este objeto pode ser avaliado criticamente? A construção vernácula, sem o papel do arquiteto em suas bases teóricas, pode ser considerada “arquitetura”? Pode ser objeto de crítica?
desenvolve de forma unidimensional, onde se trata de resolver problemas através da construção, porém não chegam a ter uma dimensão humana, social, ou ainda uma dimensão material que vai investigar a solução de problemas construtivos, onde por certa hora mostram indiferença frente ao momento em que são construídas e frente aos lugares em que são construídas, então há limites, onde podemos falar de infraestruturas ou de obras de engenharias, enfim... E num caso extremo uma obra concreta nos obriga a pensar se merece ou não a expressão arquitetônica, isto é arquitetura vernácula me parece um destes temas, não? Vejo muito claramente a arquitetura vernácula assim, e entendendo que nos referimos a uma arquitetura que tem lugar também no presente, mas não na medida que foi presente no passado, digamos que arquitetura vernácula que dispensa da individualização de um objeto arquitetônico para inseri-lo dentro de uma linha de desenvolvimento, onde suas origens estão em um passado levemente distante, mas num primeiro momento tem atendido a dimensão humana, levando esta ao desenvolvimento de certas tipologias, sendo atendida também a dimensão material, levando estas a soluções construtivas tão racionais que foram repetidas depois por muitas gerações, e levando também a desenvolver formas de relacionar-se entre si, digamos as casas, formando conjuntos, fazendo cidades de uma maneira tão convincentes que igualmente devemos valorizar a arquitetura vernácula como resultado de processos a nível social de produção de arquitetura. São processos sociais diferentes dos profissionais que conhecemos hoje em dia, sim por certo, mas não são menos valiosas.
Cuadra: Arquitetura. Que queremos chamar de arquitetura? O que faz sentido chamar de arquitetura? Há os extremos de chamar todo o construído de arquitetura e por outro lado, chamar de arquitetura somente as obras mais requintadas, que se propõe a resolver uma situação funcional, construtiva, de contexto, de uma maneira racional e depois desenvolve como num nível filosófico em que desempenha através da arquitetura posições frente ao que é uma sociedade, frente à natureza, frente à cultura, frente ao que é a cidade, e tudo isto à um nível artístico alto de comunicação direta através dos nossos sentidos...
Arquitetura sem teoria? Bom... arquitetura sem uma dimensão que transcenda o banal, poderia ser outra formulação disto, não? Creio que o curso do tema da arquitetura vernácula obriga a refletir sobre isto, ou seja, isto de transcender o banal me parece importante e a arquitetura vernácula transcende o banal, e por outro lado também se poderá ver no caso contrário de uma sobrecarga de uma arquitetura enfatizando uma dimensão teórica supostamente presente que não chega a comunicar-se conscientemente. Por fim, sobre isto se pode discutir bastante...
Enfim, eu tendo a abrir a ideia de arquitetura e de utilizar o termo arquitetura associado à adjetivos, podendo ter uma arquitetura vernácula, por exemplo; ou uma arquitetura industrial; ou arquitetura comercial; não que não deva haver limites para a arquitetura, penso que há limites, que há situações que devemos falar de construção, ou por exemplo, há onde algo se
Llantada: Arquitetura, como ciência humana aplicada, dialoga simultaneamente com o campo das artes, da filosofia, da sociologia, e com o campo racional da construtividade do objeto, sendo sem dúvida uma forte manifestação da cultura de uma sociedade em seu determinado tempo histórico. Neste aspecto, a obra arquitetônica em si pode ser considerada uma forma de crítica?
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ENTREVISTA
Em geral, Guilherme, penso que deve perceber que sou arquiteto, sempre dedicado a história, a teoria, a crítica, mas sempre como arquiteto, e como arquiteto me sinto em primeiro lugar como servidor e estou à serviço da sociedade. Isto soa como servil, é um aspecto digamos a entregar-se a atender ao que a sociedade necessita, demanda, por um lado... e por outro lado, ser servidor, entendo que somos especialistas responsáveis por certos campos, como recebemos encargos da sociedade como responsáveis por abordar e enfrentar certos temas, isto é o que justifica a influência que podemos ter, nós os arquitetos, a hora de fazer a cidade, fazer casas... me perguntam sempre em que consiste o bem público? Em que consiste o interesse da sociedade? No interesse humano? No interesse na conservação do meio natural? No meio ambiente que vivemos? Entender isto e a partir disto, conceber cidades e arquiteturas... Llantada: O que é crítica? Quais são os objetivos e os seus significados? A crítica tem algum sentido? Estas questões seriam um bom ponto de partida para introduzir o assunto? Cuadra: Bom, a relação entre teoria e crítica? A teoria se refere a exatamente isto, teoria no sentido de construções intelectuais destinadas a entender situações e desenvolver perspectivas de
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lidar com estas situações de maneira mais adequada. Penso que o crítico requer um pensamento próprio, entendendo próprio e nunca individualista, sendo um pensamento social, um pensamento integral, uma visão da cidade, uma visão da sociedade e do nosso tempo, uma visão dos potenciais que envolvem nosso tempo, também uma visão dos problemas que cercam este tempo. Não queria ver o crítico ou o teórico como um tolo, um intelectual, em Perú diríamos “intelectualóide”, ou seja, creio que é importante sentirmos como servidores e com uma certa humildade e muita responsabilidade. Penso que neste sentido, a tarefa dos críticos, e dos teóricos e ainda dos arquitetos é fazer possível boa arquitetura, contribuir cada um no seu lugar para uma arquitetura melhor, neste sentido de melhorar a qualidade do serviço que oferecem à sociedade, no sentido de contribuir para termos cidades mais estimulantes e também casas mais vivas para mais gente. Arquitetura, assim como entendemos hoje, tem a ver com ação e com reflexão, um segue com o outro.
Foto: Guilherme Llantada
Cuadra: Arquitetura pode ser crítica? Bom, o que significa pode ser crítica? Pode ser crítica com quem? Com quê? Há a ideia, digamos convencional, de que a arquitetura não pode ser crítica enquanto não pode contradizer ao que dá ordem e financia a construção. Bom, mas a posição desta pessoa ou instituição pode ser crítica para com outros integrantes da sociedade ou para com as condições da sociedade. Eu gosto de enfatizar da possibilidade que a arquitetura pode ser crítica, neste sentido em que a arquitetura ajude e o trabalho do arquiteto ajude a entender situações como a que nos vemos confrontados em nossa sociedade, a relação com o ambiente em nossas cidades, em nossas casas e a própria arquitetura pode nos ajudar a entender o momento em que estamos e que digamos pode ajudar a sociedade a entender o que vivemos e que isto é um produto de uma relação crítica, o arquiteto que entende uma situação dada e presente, concreta e a contrapõe a uma situação ideal... ideal em um sentido de meio ambiente, ideal no sentido social, ideal no sentido cultural, ideal no sentido de favorecer relações humanas, enfim, em muitos sentidos... então, é contrastar uma situação ideal com as condições existentes e um momento dado pode ser considerada uma atitude crítica e que a arquitetura através da proposta que significa pode ajudar a entender problemas.
Llantada: Qual o papel da crítica de arquitetura no Século XX e nos dias atuais? Cuadra: A pergunta sobre o papel da arquitetura no Século XX? Antes disto... o que é a crítica? Qual o sentido da crítica??? Creio que acabei de descrever. O particular é sermos conscientes que vivemos no século XXI, ou seja, vivemos na era industrial e a era industrial oferece condições muito particulares para o desenvolvimento urbano e da arquitetura. Sentimos hoje, muito por um lado temos o desenvolvimento da economia, no que se refere a produção, e também ao que se refere o consumo e os mercados e ainda ao que se refere ao capital e as inversões dos pensamentos dos economistas, que por um lado, digamos, oferece o desenvolvimento das condições de vida materiais e
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por outro lado impõem limites alarmantes de manutenção de recursos naturais e de recursos sociais, além da migração da condição humana. E por outro lado os mercados que se ampliam e da produção à nível global que se expande, vai fornecendo o surgimento de postos de trabalho e a integração de partes cada vez mais amplas da sociedade. Tudo vai unindo muitas ambivalências porque o desenvolvimento é relativamente lento no período pré-industrial, num período determinado mais pela agricultura, os ofícios e o comércio, assim foi sendo constituído por outro nível, onde os países de terceiro mundo sofreram muito os aspectos negativos da transformação. Bom, é próprio da era industrial a ideia que a arquitetura é obra de arquitetos e que a arquitetura está à disposição de toda a sociedade. Antes disto teríamos por um lado, estamos falando esquematicamente, a arquitetura vernácula e por outro lado a arquitetura das elites, políticas, sociais, religiosas... enfim. E hoje em dia temos a ideia que os arquitetos têm que estar encarregados por todas as obras de arquitetura, de toda a sociedade, em todo um país. Então, claro que nos países de terceiro mundo estamos num ponto intermediário, mas um país como a Alemanha, digamos que tem sido alcançado num nível bastante alto e o digo sendo consciente que isto não significa que as arquiteturas das cidades alemãs sejam excelentes em todas as partes e em todos os momentos. Bom, isto de que os arquitetos estão encarregados do todo, significa que os arquitetos almejam ter uma presença social e não somente dentro de uma elite, mas fundamentalmente como uma ferramenta de transformação social. Este nível social, o experimentamos na nossa vida diária, através dos meios de comunicação, no momento em que as sociedades não são grandes ou gigantescas e há uma comunicação mais ou menos
direta e passa a um segundo plano e isto é discutida pela comunicação através dos meios. Então o trabalho dos críticos hoje em dia, nos referimos geralmente a um trabalho que se faz através dos meios de comunicação, dos meios impressos, da rádio e da televisão, não? Digamos que é nesse sentido que os críticos são muito importantes para a reflexão da arquitetura a um nível social e coletivo. Isto é muito especial, isto tem a ver com o momento que acabamos de ver. Antes do período industrial tudo isto, ou seja, esta questão de ação e reflexão podia resolver-se pelas elites, no interior das elites, digamos que por um contato pessoal direto entre as diversas manifestações das elites: políticas, sociais, culturais, enfim religiosas... que dão trabalhos aos seus arquitetos. Hoje em dia tudo isto fazemos numa escala muito maior, em que muitas vezes não há nem o contato pessoal entre as estas diferentes entidades ou estamos entre entidades anônimas, então há processos diferentes de formação da opinião pública e os críticos pois, tem uma matéria muito importante a este nível. Llantada: Há uma metodologia ou processo que oriente uma boa crítica no campo da arquitetura? Cuadra: Em que consiste este a matéria do crítico? Primeiro eu gostaria de diferenciar a crítica em termos muito gerais. Pode-se falar de crítica construtiva e de crítica destrutiva, ou seja, o digo para enfatizar a ideia da crítica construtiva, que é a que eu gosto. Como arquiteto dedicado à reflexão me interessa a ideia da crítica construtiva, no sentido que tenho em mente melhorar a qualidade da cidade e da arquitetura da cidade, e das casas... no fim das contas a meta é positiva! Na prática me vejo confrontado com diferentes situações, digamos no caso mais delicioso é o de
ocupar-se de grandes obras da arquitetura. No momento presente se produz obras de alto nível de qualidade, porém, mas muitas vezes não se entendem de imediato, e não se entendem em modo particular por gente que não tem a oportunidade de experimentá-las diretamente. Como crítico nossa tarefa seria saber ser muito elementar, temos a obrigação de mergulharmos no que é a obra que iremos trabalhar e mais ainda, mergulharmos na situação na qual esta obra é gerada, neste sentido mais amplo da situação, uma tarefa que se encarrega até a cidade, enfim... para através dos meios, poder comunicar de maneira que se entenda daquilo que se trata. O desafio que enfrentou o arquiteto no momento da prancheta e a resposta que terá dado a este desafio. Então, o trabalho do crítico numa situação assim, pode reduzir-se ao desafio, entre outras coisas, de compreender o projeto arquitetônico, valorizando o que o projeto oferece. Mais adiante, do que parece evidente, a gente acredita que algo é ou vale mais a nível de percursos do que pelo entendimento arquitetônico. Eu penso que a arquitetura de alto nível não é fácil de entender. Temos que entender toda sua complexidade e o desafio que se apresenta, neste sentido temos que levar o nosso pensamento ao mesmo nível do pensamento do arquiteto sobre o que vamos a escrever. É assim! Se queremos estar à altura de uma obra de quem seja, temos que estar à altura de seu pensamento. Este é um desafio grande e talvez muito bonito, pois nos obriga a aprender e refletir sobre nós mesmos. Bom, entender o desafio é primordial, é entender a contribuição do arquiteto que depois em diferentes graus chegará a atender ou não os diferentes aspectos deste desafio e aí, digamos, vamos vendo que não necessariamente todos os aspectos são atendidos de maneira igual e satisfatória,
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ENTREVISTA
e que ocasionalmente o trabalho do crítico consistirá em pôr o dedo na ferida. Mas, como amante que sou da arquitetura e do trabalho dos arquitetos, eu creio muito no valor da arquitetura e da dimensão cultural e artística que transcende o momento da arquitetura e pelo tanto sinto muito respeito frente a obra concreta e estou disposto a acertar, mesmo com diferença de opinião entre o arquiteto e minha pessoa como crítico, digamos, que esta relação de respeito é fundamental. Nós somos servidores da sociedade e neste sentido não se trata de por nosso eu em primeiro plano e sim de ajudar a sociedade entender sua própria posição. Para isto, comunicamos nossa própria posição como uma das diferentes posições possíveis, porque finalmente é a sociedade que tem que ir desenvolvendo-se e encontrando seu caminho. Llantada: Que qualidades deve possuir um texto crítico de arquitetura? Que atributos constrói uma “boa crítica de arquitetura”? Cuadra: Temos falado aqui também sobre muitos atributos da boa crítica. Sobre uma metodologia? Olha, o importante é deixar claro que sou um autodidata e a ideia de ser um autodidata me parece ser fundamental no sentido de que o olhar realmente tem que ser seu e fazer todo o necessário entender e valorizar os desafios que surgem da arquitetura e das relações desta mesma arquitetura. Então, por outro lado eu penso que sou muito disciplinado, mas a metodologia como uma ferramenta independente não a consigo, mas me parece fundamental aprofundar-se na situação em que foi realizada a obra arquitetônica, fundamental conhecer a sociedade, a gente, o bairro, o cenário, a nível social, ambiental, etc. mergulhar mesmo, também entender a tarefa concreta e o jogo dos caminhos que
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passou o arquiteto e o seu entendimento de lugar e o seu entendimento do desafio e seu entendimento do que pode ser uma estratégia. Sempre fui e sou consciente que cada personalidade vê uma faceta de uma realidade e esta faceta pode ser diferente a que eu vejo num primeiro plano e depois pode ser tão ou mais interessante que a minha. Então, digamos que tudo isto vai unir-se e abrir-se muito ao que se está sendo confrontado. Como a arquitetura que criticamos, o leitor digamos da crítica, não necessariamente a conhece e é fundamental a parte descritiva, não uma ideia banal de descrição, mas realmente encontrar a forma de identificar as vivências decisivas de uma obra arquitetônica. Muito se deixa também para comunicar-se com as fotografias, ou imagens em movimento, ou comunicar através de desenhos, das intenções através de croquis e diagramas, mas eu penso que o relato verbal, a partir de um relato visual, é muito importante para pôr o leitor em condições de ordenar o pensamento em relações as situações e a um projeto específico. Sendo assim, a metodologia é tudo o que ajuda a chegar a tudo isto e o atributo para uma boa crítica, para mim, é a ajuda que ela pode dar para que se faça uma boa arquitetura, e ajudar a entender os desafios, e põe o leitor em condições de entender tudo isto e de sentir que possa formar uma opinião própria, que pode ser oposta à do crítico. Neste sentido vejo um demasiado individualismo pelo lado crítico, me parece tão contraproducente como demasiado individualismo pelo lado do próprio arquiteto. Llantada: Fredy Massad em seu recente livro “Crítica de Choque”, argumenta que o exercício da crítica de arquitetura atual oscila complacente entre nostalgia e farsa. Salienta da necessidade da recuperação da crítica como ferramenta de choque, como estado de alerta e que deve provocar a dúvida, questionar mitos e
gerar debates que possam provocar novos dogmas e desestabilizar. Você concorda com esta linha de raciocínio? Cuadra: Se a crítica desestabiliza? Bom, desestabiliza a quem? Eu acredito que a meta da crítica é estabilizar o bom e o necessário num sentido social para o momento em que vivemos e desestabilizar o negativo. Então, se vivemos numa sociedade muito corrompida em todos os níveis, seguramente a muito mais o que desestabilizar, mas as vezes é fundamental desenvolver perspectivas, então a crítica não pode ser em sua finalidade destrutiva, pode ser destrutiva, mas com uma meta de construir o que se necessita e gerar estabilidade e não somente de apresentarse com uma meta de desestabilizar. Não somos tão importantes assim... Llantada: Há um limite para a crítica arquitetônica? Cuadra: Se há limite para a crítica arquitetônica? Bom, eu creio que já falei sobre isto antes... Acredito que uma crítica que se entende como servidora, tem seu limite aí, quando deixa de ser serviço. Llantada: A obra arquitetônica é essencialmente o objeto da crítica. Um projeto arquitetônico é uma obra arquitetônica no seu entendimento? E este projeto está no mesmo campo do olhar crítico que o objeto construído? Cuadra: Um projeto é uma promessa, enquanto o objeto edificado é um resultado final que inclui a promessa até certo ponto, porém o resultado final chega em um lugar muitíssimo mais significativo. Então no meu ver, sim, há diferença! Sem dúvida. Porém no momento pós-industrial que se vive muito da discussão que se realiza e se faz ao nível do projeto. Publicamente isto acontece, não somente no nível do escritório de
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arquitetura, mas a nível social. Ou seja, se requer uma opinião pública que há de formar-se seriamente e adequadamente através dos meios. Isto requer que nós críticos se ocupemos também sobre os projetos, mas conscientes que estamos falando de projetos, como uma receita de uma comida, que vamos cozinhar a partir de uma receita, porém sem cozinhar realmente. Muito a nível de projeto depende da nossa experiência e de suposições que são parte da discussão do hipotético e que esta discussão de projetos necessita muita experiência e sensibilidade, ou seja, é inevitável que estabelecemos este nível, igualmente no nível do ensino. Hoje em dia formamos arquitetos a partir de um ensino universitário, próprio da ideia industrial, diferente dos tempos pré-industrial, a nível de estudos que é próprio do nível acadêmico. Um ensino a nível de receitas... que trata exclusivamente de projetos. Se bem tratamos de poder imaginar nas melhores situações através de maquetes que construímos, mesmo assim, sabemos que continuamos “nadando em seco”. E neste nível, onde se nada em seco, é a base da reflexão e da crítica.
Foto: Guilherme Llantada
Voltando ao início, digamos que para todas estas definições no que consiste a arquitetura, em que consiste a ordem do arquiteto, no que consiste a crítica, o papel do crítico... digamos, eu tendo a observar de que maneira funciona nossa sociedade hoje em dia, de que maneira funciona a produção da cidade e da arquitetura, de que maneira é necessário que interferimos para ajudar a humanização da produção contemporânea da cidade e da arquitetura e seja compensada através da nossa intervenção, através da discussão que possibilitamos com nosso trabalho crítico e a partir daí, digamos, desenvolver o próprio trabalho...
Llantada: Algumas outras considerações que gostaria de fazer? Cuadra: Um ponto mais que gostaria de ampliar a dimensão artística da arquitetura. A arquitetura com um container cultural, arquitetura que inclui uma dimensão muito maior que o racional e que vai muito além do que se pode falar e que tem na obra do arquiteto uma expressão através de suas intuições e não como
resultado de um manuseio de um sistema de fórmulas ou como resultado de um cálculo, mas sim, tem em si, tudo que é próprio do ato criativo, esta é uma dimensão missionária, que eu tenho muito respeito a este nível. É um nível que nós gostamos de deixar de lado no mundo contemporâneo e parte deste materialismo banal que vivemos, este “economísmo” que se traduz num materialismo banal e que exclui tudo que não é mensurável. Se queremos uma dimensão profundamente cultural em arquitetura não podemos excluir este aspecto. Requer muita sensibilidade nossa para detectar e aprender a medir sua consistência, porque não se trata de acertar racionalidades, simplesmente como tais, o caminho deste nível é um caminho de exigências muito alto e neste sentido devemos cultivar-nos com muitos sistemas e desenvolver nossos sentidos pelo que é o ser humano, o que é a condição humana, o que somos nós como seres humanos, de uma maneira mais completa e digamos, ser humanos no mundo de hoje e isto é muito difícil. Digamos, que é um aspecto muito negativo da sociedade de massas que vivemos, somos degradados através dos meios também, do consumo, do nosso trabalho, e tudo que envolve o trabalho e o consumo, e o que os maios querem fazer de nós. Então, a realização humana, no mundo de hoje, é muito difícil, requer tudo que podemos desenvolver e o que é permitido. Requer também da arquitetura uma dimensão poética. Esta dimensão poética podemos encontrar em qualquer tipo de obra, mas a nível social, nos interessam as obras sociais, nos interessam as obras que estão a serviço de muitos. Em algum momento foram as catedrais, os templos... e os vemos hoje referidos ou repartidos a mais tarefas, como a produção dos espaços públicos e de lugares públicos que exigem na realidade, muito da arquitetura, para chegar a constituir o que queremos e resgatar a condição humana hoje em dia, e temos que desenvolver muito ainda para que a gente a entenda assim. A arquitetura tem que ter este nível de refinamento muito alto, pois é a mais social de todas as artes, e atende ao que é, não se trata de atender a uma elite, nem a uma elite cultural, nem tão pouco aos críticos de arquitetura, tem que ir mais além. Nós críticos temos que estar em condições de reconhecer isto quando estamos no momento de agir, teremos que saber ascender a estes níveis, de entendimento da arquitetura, no qual não é fácil, porque muitas vezes as obras que desfrutam da crítica, são obras críticas, que não confirmam as expectativas, se não se implantam de maneira original os desafios, confrontando os espectadores, com imagens, espaços, formas, cores, texturas, etc., que provocam e que as vezes parecem ofender. Então, entender isto, requer intermediário e os críticos fazem este papel de intermediários entre as obras e os espectadores.
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OPINIÃO
ATUALIZAÇÃO DA MUTAÇÃO PRAGMÁTICA DA CRÍTICA DA ARQUITETURA por Josep Maria Montaner
Traduzido do texto original em espanhol pelo NELLE (Núcleo de Estudos de Língua e Literatura Estrangeira)
Foto: © Fran Russo
N
Josep María Montaner (Barcelona, 1954) formou-se bacharel em arquitetura (1977) e possui doutorado (1983) pela Escola de Arquitetura de Barcelona (ETSAB-UPC), da qual é catedrático da disciplina Teoria da Arquitetura. É autor de mais de quarenta livros, entre eles, Sistemas arquitetônicos contemporâneos (2008) e Do diagrama às experiências, para uma arquitetura da ação (2014). Recebeu, entre outros, o Premio Nacional de Urbanismo à iniciativa periodística 2005 do Ministério da Habitação; publica em revistas de arquitetura e urbanismo; e ministra cursos e conferências em cidades da Europa, das Américas e Ásia. Atualmente é Secretário de Habitação da Prefeitura de Barcelona.
as últimas décadas e na mudança do século, ocorreu uma forte transformação das coordenadas da teoria e da crítica da arquitetura. Este texto analisa as características e os motivos dessa transformação, tentando estabelecer um mapa confiável em um mundo atomizado e em transformação. RUMO À "PÓS-CRÍTICA" Reconhece-se que, entre os anos sessenta e oitenta do século passado, houve o período dourado da teoria e da crítica da arquitetura e do urbanismo contemporâneos, com o objetivo fundacional de construir a crítica do movimento moderno: com as contribuições de Manfredo Tafuri, Carlo Aymonino, Aldo Rossi, Jane Jacobs, Marina Waisman, Alison e Peter Smithson, Robert Venturi, Denise Scott Brown, Colin Rowe ou Kenneth Frampton, passando do espectro mais radical e marxista até o formalista, nostálgico e defensor da autonomia formal da arquitetura; e com a edição de revistas como Oppositions, Assemblage, Lotus International ou Architectures bis. Foi um período de partida para um projeto crítico de valor incontestável.
Revista Oppositions
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Como esse período já faz parte da história, a atual situação de transformação pode ser avaliada de duas maneiras. De maneira otimista, entendendo que não se trata de uma crise, mas de uma transformação, que implica na aparição de novas interpretações da crítica que superarão este período fundacional contemporâneo. Ou de forma nostálgica, perdendo os valores que teve este período crítico e sustentando que se passou da transcendência do marxismo e do estruturalismo, com alguns referentes, à leveza do pragmatismo e da dispersão.
Martin Pawley
Na linha nostálgica se encontra o livro póstumo de Martin Pawley, La extraña muerte de la crítica de arquitectura (2007), que leva o título de um de seus últimos ensaios, pondo em sintonia sua própria decrepitude com a da crítica da arquitetura. Pawley foi um dos críticos britânicos da segunda metade do século XX, juntamente com Reyner Banham e J.M. Richards. De qualquer forma, seu título expressa um fato chocante e perturbador:
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a crítica da arquitetura, tão influente décadas atrás, tem um papel pouco relevante nos últimos anos. É nesse sentido, de estar depois do surgimento de uma primeira grande geração de críticos contemporâneos, que a cultura anglo-americana argumentou uma superação do período anterior e cunhou o termo de "pós-crítica", tal como nas últimas décadas do século XX foram utilizados os termos era pós-industrial ou pós-modernidade. Nessa direção de revisão, a linha editorial anglo-americana dos Readers sobre teoria e crítica da arquitetura publicada consecutivamente é muito emblemática, expressando a vontade de avaliação final de um período já passado: o de Kate Nesbitt (1996), o de Neil Leach (1997), o de Michael Hays (1998) e os volumes de Henry Francis Mallgrave e Christina Contandriopoulos (2008). Também temos os livros escritos para repensar uma nova agenda para a teoria e a crítica da arquitetura, como os publicados por Jane Rendell, Jonathan Hill, Murray Fraser e Mark Dorrian (2007) e o de C. Craig Crysler, Stephen Cairus e Hilde Heynen (2012).
Este processo faz parte do fenômeno mais geral da perda de papel representativo da intelectualidade progressista e comprometida que, embora exista, tem menos possibilidades de expressar-se na mídia dominante do que há anos atrás. Ao mesmo tempo, o mundo da Internet potencializou uma "realidade expandida", com inumeráveis protagonistas. Não há mais referentes míticos, como em outros tempos, mas o panorama é totalmente aberto, com a entrada de mais mulheres e autores procedentes da esfera pós-colonial, com muitas correntes alternativas - ecologistas, feministas, "queer", etc. -, embora sua influência e alcance possam ser reduzidos a certas áreas. Porque, embora seja verdade que os meios de expressão se multiplicaram, também é verdade que a mídia tradicional foi assumida por grupos de pressão de mídia e por certos personagens. No campo da arquitetura, este processo de transformação se nota mais profundamente, quando comparado com o período do projeto crítico e ao necessitar-se uma reavaliação de critérios que responda às mudanças estruturais. Além disso, isso se produz num contexto no qual o saber da arquitetura perdeu o papel decisório e de liderança em relação ao que teve no período das vanguardas de entre guerras e no pós-guerra. Então, as políticas de habitação e equipamentos foram inspiradas, em grande parte, por arquitetos e lançaram as bases do estado do bem-estar. Hoje, a arquitetura e o urbanismo tendem a ser fiéis aos objetivos financeiros e imobiliários e tem escassa iniciativa para apresentar alternativas aos interesses dominantes impostos. A cumplicidade, a especulação, a corrupção e o alarde de poder contribuíram com esse descrédito. E se esta vontade social da arquitetura e do urbanismo existem, agora se dá nas cidades, com as novas políticas municipais na Europa e América. O NOVO PRAGMATISMO
C. Craig Crysler, Stephen Cairus e Hilde Heynen (2012)
CRÍTICA E CRISE Além do fato de que, na sua raiz grega, haja uma grande proximidade nos conceitos de crítica e crise, atualmente, podemos estabelecer que, no caso da crítica arquitetônica, somam-se duas crises culturais: a geral e a própria.
Nessas condições, as características que distinguem as novas gerações de críticos têm relação com o pragmatismo e a operabilidade. Já se consolidou há algum tempo uma direção copernicana em relação a algumas das características da teoria e da crítica dos anos sessenta e setenta: dos teórico-teóricos, como Manfredo Tafuri ou Colin Rowe, se passou ao predomínio dos teórico-práticos, como Peter Eisenman, Rafael Moneo e Rem Koolhaas, embora tenham iniciado suas carreiras como teóricos. Agora, este novo pragmatismo se conecta, precisamente, com uma corrente filosófica essencialmente norte-americana: o pragmatismo de Charles Sanders Pierce, William James ou John Dewey. No entanto, hoje, pode haver múltiplas interpretações. Não deveríamos entendê-lo como um pragmatismo pouco reflexivo e anti-intelectualista, alheio ao planejamento, regulamentação e sistematização, liderado pela cultura norte-americana, mas como um pragmatismo baseado na experiência e destinado à ação, que sabe aprender com a realidade e transferi-la ao conhecimento teórico.
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OPINIÃO
No pragmatismo atual, é emblemática a contribuição do filósofo norte-americano John Rajckman, que desde 1997 fala sobre "pragmatismo diagramático". E os livros “recompilatórios” de Joan Ockman, The Pragmatist Imagination são sintomáticos. Think about “things in the making" (2000), com textos de John Rajchman, Bernard Tschumi, Teresa Caldeira, Saskia Sassen e Hashim Sarkis; e de William S. Sanders, The New Architectural Pragmatism (2007), no qual se dá a palavra a autores como Alejandro Zaera-Polo, Robert Somol, Sarah Whiting, James Corner e Roemer van Toorn. Este novo pragmatismo selou uma espécie de aliança entre a escola holandesa, representada por Koolhaas, MVRDV e UNStudio, bem como, a equipe dinamarquesa da BIG e a academia norte-americana. Desde o período pós-guerra, a cultura arquitetônica norte-americana tentou vampirizar algum contexto cultural para seus benefícios: tentou com o México e o Brasil, conseguiu com o pós-estruturalismo e a desconstrução francesa, e agora se expande elogiando o neopragmatismo dos arquitetos holandeses. E não esqueçamos que, nesse processo, a criação em Roterdã do Instituto Berlage em 1990 foi fundamental para promover este novo pragmatismo mitificador de uma prática profissional glamorosa, depreciativa com a teoria acadêmica. Do ponto de vista progressista, seria desejável que este pragmatismo se vinculasse com o que Antonio Gramsci, autor de cabeceira de Lina Bo Bardi, entendia por "filosofia da práxis" e do que o filósofo e psicanalista Félix Guattari reclamava, que ao longo de sua vida, compaginou suas propostas teóricas - várias delas escritas com Gilles Deleuze -, com seu trabalho como psiquiatra na Clínica de La Borde. Em seus escritos, Guattari procurou uma
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"nova pragmática" e, por isso, propôs a "ecosofia" como uma nova práxis. A ecosofia envolve uma visão holística que exige uma transformação radical que inter-relaciona três níveis: o do meio ambiente; o das relações sociais e interpessoais e o mental da subjetividade humana, de uma nova estrutura do sujeito. É verdade que a operabilidade tem a vertente otimista de reivindicar um ativismo sistemático e vital. É uma operabilidade que exige uma crítica desinibida da arquitetura contemporânea, que supera o mandamento político e moral de Manfredo Tafuri, quem se opunha radicalmente à “crítica operacional”. Tafuri insistiu em que a crítica operacional sempre legitima as produções arquitetônicas e urbanas do capitalismo, e não pode evitar de contribuir com sua ideologia. A crítica contemporânea se liberou desta cautela e, embora continue sendo manipulada e sirva de justificativa às produções do capitalismo, hoje as condições mudaram: já não predomina o relato das vanguardas e do movimento moderno ao que Tafuri se opunha com sua repulsa à crítica operacional. CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA Portanto, podemos recapitular apontando características inter-relacionadas que diferenciam uma boa parte da teoria e da crítica contemporâneas em relação ao momento fundacional dos anos sessenta e setenta.
dedicam exclusivamente à pesquisa, são muito menos reconhecidos do que aqueles que são arquitetos profissionais, que além de projetar e criar obras reconhecidas, escrevem. O projeto e a construção predominam. Aqui está um trabalho pendente da crítica para exigir a revalorização de sua contribuição, demonstrando como o pensamento crítico não só constitui uma forma de transmitir conhecimento, mas que revitaliza a pesquisa, a ação social, a defesa do patrimônio, a promoção de grupos e de redes, em suma, o reforço do senso de prática. A crítica deveria superar essa servidão à qual os profissionais a reduziram. Terceira: uma parte dos textos contemporâneos, feitos a partir de um trabalho profissional que precisa da promoção pública e privada para poder existir, renuncia à natureza política e comprometida da crítica. O conteúdo dos textos da crítica dominante contemporânea raramente é político. Quarta: os escritos, raramente, partem de questões conceituais ou teóricas, mas partem, empiricamente, das obras. O conteúdo deve entrar por meio dos olhos e os discursos são construídos a partir das imagens e não do raciocínio. Veja, neste sentido, a linha de publicações iniciada por Rem Koolhaas com seu Delirious New York (1978), seguida por MVRDV ou por BIG, e culminadas nas plataformas de arquitetura na Internet.
Primeira: a "operabilidade" é um requisito presente nos escritos contemporâneos. Hoje, uma posição que teme o uso ideológico da escrita não é compreensível, embora esta instrumentalização ocorra. Segunda: Os críticos que atuam apenas a partir da crítica, isto é, aqueles que se
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Delirious New York (1978), Rem Koolhaas
E quinta: o novo pensamento pragmático, mais presente na internet do que no papel, é baseado em redes de comunicação e debate, cumplicidade e colaboração. Teorizações como a de Emil Kaufmann sobre a revolução da arquitetura a partir dos arquitetos da Ilustração, como Boullée, Ledoux e Lequeu, que desenharam muito e construíram pouco; ou argumentações como as de Tafuri sobre o papel tão representativo de Gian Batista Piranesi, cujas gravuras são muito mais conhecidas do que suas poucas e magníficas obras realizadas que, hoje, estão muito distantes ... Além disso, uma característica não menor, relevante no caso espanhol, é que parte da teoria já não nasce nas instituições públicas, mas, sim, pertence à esfera privada. Era inimaginável nos anos sessenta e setenta que teóricos e teóricas europeus não ministrassem aulas e pesquisassem em universidades públicas. Hoje, isso mudou e é possível distinguir entre a docência, a pesquisa e a publicação que continua sendo produzida dentro da cultura crítica das universidades públicas e a que é gerada em universidades privadas, que têm o ensino como negócio e que, em sua produção teórica, promovem uma pragmática que seja operacional para o sistema produtivo e que reforce posições de poder. O trabalho dos arquitetos é muito sintomático dessas posições pragmáticas e operacionais. É muito revelador o papel altamente relevante que foi concedido a um arquiteto como Peter Zumthor, cujo trabalho qualificado é baseado na construção e na materialidade, mas em seus escritos ele expressa exposições conceituais e sociais conservadoras e nostálgicas nas quais se escondem as referências utilizadas e tudo quer parecer como resultado de sua experiência subjetiva. A obra construída
tornou-se a referência legitimadora no lugar do projeto experimental. E por sua síntese pragmática, Rem Koolhaas continua sendo a maior referência da atual situação. DIVERSIDADE DE POSIÇÕES Podem ser estabelecidas diversas posições e previsões de rotas, reconhecendo previamente a influência de teóricos pertencentes a uma geração similar, já sejam clássicos, como Karsten Harries (1937), professor de Filosofia da Arte e da Arquitetura na Universidade de Yale e que legitimou os princípios conceituais da pós-modernidade na arquitetura; Dalibor Vesely (1934), que propôs uma crítica conceitual às insuficiências na evolução da arquitetura, do Renascimento às vanguardas, baseada na fenomenologia e na hermenêutica; ou Juhani Pallasmaa (1936), que com sua defesa de uma arquitetura que intensifica todos os sentidos tenta reinventar o indivíduo contemporâneo, isolado e que percebe, que não está em sociedade. Há uma certa polarização de posições: as que permanecem sendo críticas e as que se desenvolveram nesta área de uma pós-crítica neoliberal. E dentro de cada um dos polos, as posições também são subdivididas. Na sequência do projeto crítico, temos os representantes de uma posição mais acadêmica, como Michael Hays (1952), de raízes marxistas e "tafurianas", que dirigiu Assemblage (1986-1990); Beatriz Colomina (1952), que partiu dessas posições, mas que evoluiu para uma visão entusiasta do mercado capitalista e que é autora de livros-chave sobre a mídia ou a sexualidade do espaço; ou Pier Vittorio Aureli, (1972) o mais jovem, que em seu texto The Project of Autonomy. Politics and Architecture
within and against Capitalism (2008) iniciou a recuperação e reinterpretação do projeto crítico dentro e contra o capitalismo na década de 1960. Aureli analisa em profundidade e comparativamente o pensamento dos "operistas" ou "autónomos italianos", como Tronti, Cacciari, Negri, Tafuri e Rossi, argumentando que, naquele período, a defesa da autonomia tinha relação com a argumentação da "autonomia operária" como projeto cultural e político. Parafraseando Mario Tronti, Aureli conclui seu livro com o chamado para trabalhar em um projeto teórico feito "com a paciência da pesquisa e a urgência de dar respostas".
Para dar sequência, mas num campo mais alternativo e hipercrítico, na linha do urbanismo radical, como o do marxista David Harvey ou do anarquista Mike Davis, estariam as contribuições de Dolores Hayden, que defende a visão feminista e a história das propostas de vida comunitária contra a sprawl, o individualismo consumista e a poluição do território; e de Zaida Muxí, especialista em urbanismo e gênero, que em The Architecture of the Global City (2004) demonstrou como a coesão da cidade compacta se dissolve nos locais isolados e dispersos das tipologias da cidade global.
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OPINIÃO
e Barcelona lutam para manter um certo papel, que está perdendo força.
Por outro lado, na linha liberal também se daria uma posição mais acadêmica, a póscritica herdeira do formalismo analítico de Colin Rowe, Peter Eisenman, Tony Vidler e Rem Koolhaas, e que está representado, especialmente, por Robert Somol e sua ênfase nos diagramas. Na linha produtivista estão os neopragmáticos ou tecno-administradores, que na Espanha foram representados por Alejandro Zaera-Polo, Federico Soriano ou o grupo Metápolis. Seu objetivo foi legitimar os argumentos das administrações para ganhar espaço nos pedidos oficiais. Deve-se levar em conta, no entanto, que o fator que complementa essa morte tão hegeliana decretada por Pawley é que a crítica que tem peso é dominada pela cultura anglo-americana e que esses autores da língua espanhola só podem ter influência se publicarem em Inglês e derem aulas em universidades norte-americanas. A partir de uma forte presença de alemão, do italiano e do francês na teoria e crítica do século XX, passou –se no final do século XX e início do século XXI para uma predominância total do inglês. Não só isso, mas que as instituições acadêmicas e as editoras, totalmente acomodadas e bem colocadas na lógica neoliberal, estão concentradas em Londres, a leste e oeste da América do Norte e da Austrália. Capitais culturais e arquitetônicas como Paris, Veneza, Berlim, Roterdã-Amsterdã-Delft 54
Na Europa, os focos da crítica não aumentam, além do grupo editorial da revista Lotus de Milão, com Pier Luigi Nicolin no comando, e de faculdades de arquitetura como a Delft University of Technology, com professores como Max Risselada ou Dirk van den Heuvel; como a faculdade de Arquitetura na Universidade Católica de Lovaina, com Hilde Heynen; ou como a Architectural Association de Londres, que seguindo sua tradição vanguardista criou a coleção de ensaios Architecture Words, dirigida por Brett Steele. DIVERSIDADE DE PRAGMATISMOS No contexto deste novo pragmatismo e da chamada "pós-crítica", poderíamos considerar que existem quatro tendências possíveis. Há uma pós-teoria afirmativa, que enfatiza a "performance", organização e operabilidade dentro do pensamento neoliberal e das regras do mercado, representada por arquitetos como Alejandro Zaera-Polo ou Jacobo Garcia-Germain, entre outros. A partir da revolução digital tomou forma a nova lógica que insiste, à maneira de Marshall McLuhan, na proeminência dos meios de comunicação, dentro da lógica da "city of bites" de William Mitchell e da "smart city", defendida pelas multinacionais e alguns arquitetos desse novo pragmatismo. Outra via é a que representa a nova sensualidade, com base na percepção individual e que propõe uma arquitetura da experiência e das atmosferas na linha autobiográfica da obra de Peter Zumthor e da teoria fenomenológica de Juhani Pallasmaa.
Finalmente, diante dessas três tendências mais marcantes, Rem Koolhaas é um exemplar de uma posição adicional na direção de uma síntese de opostos. Capaz de sintetizar todos os tipos de tendências contemporâneas, mesmo as aparentemente incompatíveis, Koolhaas continua sendo o representante máximo do novo pragmatismo. CRÍTICA DA CRÍTICA Além deste novo pragmatismo e da póscrítica, existe o campo frutífero das novas epistemologias que assumem novos referentes como a ecologia, a participação, os direitos humanos, a igualdade de gênero e as condições das sociedades pós-industriais. E todas essas críticas foram sendo construídas sobre a crise dos conceitos e mecanismos que articularam as posições predominantes nos anos sessenta e setenta, na era dourada da crítica. E cada uma das posições, sejam elas do novo pragmatismo ou da busca de novas epistemologias críticas, começam a partir de uma crítica a esses conceitos obsoletos. Entre os conceitos e mecanismos mais criticados estariam: a compreensão equivocada do conceito de autonomia da arquitetura, que conduziu a um caminho solipsista; a insistência excessiva na linguagem e na semiótica, reduzindo a arquitetura, de John Summerson a Charles Jencks, passando por Bruno Zevi, a uma questão de combinatória de linguagens; a frieza e o pretendido objetivismo do estruturalismo, que negou a experiência subjetiva e a visão fenomenológica; a excessiva problemática dos pós-estruturalistas e semióticos, como Manfredo Tafuri, com sua posição niilista e contra qualquer crítica operacional e a nostalgia localista do regionalismo critico, proposta como um reconhecimento consolador das periferias.
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Tudo isso reforçou visões universalistas, tecnológicas, pragmáticas e laicas que sustentam a "pós-crítica". CRÍTICA E PESQUISA Esse predomínio do pragmatismo, com a omnipresença do projeto, levou, nos últimos anos, à falsa afirmação de que o mesmo processo de design é um processo de pesquisa e criação de conhecimento; que quando se projeta, se está teorizando. Os neopragmáticos Alejandro Zaera-Polo, Philippe Starck e Robert Somol, entre outros, argumentam, no livro editado por Sanders, dando a primazia ao projeto ao invés de outorga-la à teoria. E, segundo eles, o trabalho de crítica e pesquisa não seria mais necessário.
Foi o arquiteto, teórico e ativista Jeremy Till, quem respondeu a esta premissa banal da pós-crítica, argumentando que ele a considera o terceiro mito sobre a pesquisa em arquitetura. O primeiro mito seria que a arquitetura é autônoma; o segundo, que a arquitetura não é arquitetura, isto é, que não é suficiente por si só e deve buscar sua legitimação na autoridade de outras disciplinas, como a arte ou a ciência; e o terceiro mito argumenta que o simples
fato de construir um edifício consiste em pesquisa. Till, refuta, contundentemente, o terceiro mito, argumentando que o edifício, por si só, nunca fala, mas, que exige todo um trabalho de pesquisa: exige toda uma análise dos processos do projeto e, acima de tudo, dos usos, dos significados, da relação com o contexto e da vida do edifício depois de concluído. Um bom edifício não implica numa boa pesquisa, mas ela tem a ver com essa análise e conceptualização profundas sobre a obra. A chave é que o conhecimento deve ser comunicável e muitas vezes os arquitetos pragmáticos, por mais que realizem boas obras, não são capazes de comunicar processos, significados e usos. E aqui surge outra questão: a transmissão do conhecimento por meio dos novos meios de comunicação, especialmente pela Internet. Por um lado, essas redes de comunicação estão mudando os caminhos e ritmos da transmissão do conhecimento, mas, por outro, sua grande variedade faz com que alguns tenham um rigor acadêmico e outras sejam superficialidade e panegírico. Como introduzir nessas mídias as diretrizes dos métodos de pesquisa e transmissão do conhecimento, e como incorporar os valores do que é publicado nesses meios nos critérios de avaliação acadêmicos? Deveria ficar visível em que medida esses sites, blogs e outros tiveram a capacidade de mudar as coordenadas, recorrendo a especialistas nestes novos formatos, com critérios críticos comparáveis aos que já têm as publicações convencionais para selecionar. Porque essa transformação não só se reflete nas formas de trabalhar em grupos e na rede, mas também, na produção de comunicação e crítica por meio de novos meios de comunicação. O papel representativo das revistas de arquitetura foi
relevado pelas páginas web e pelos blogs, localizados em qualquer lugar do mundo e com um alcance global, como Vitruvius em São Paulo/ Barcelona ou Plataforma arquitetura em Santiago do Chile. Alguns deles são especialmente críticos e comprometidos, como o de Owen Hatherley, nestybrutalistandshort.blogspot.com.es, que trata de maneira muito critica os fenômenos da atualidade e que é o autor do Guide to the New Ruin of Great Britain; o de Léopold Lambert, The Funambulist, um seguidor de Foucault, Deleuze, Guattari; o blog coletivo anarquista An Architecktur, com sede em Berlim; ou o site Design as Politics, radicado na TUDelf e dirigido por Wouter Vanstiphout e Marta Relats, que estudou, entre outros temas, o fenômeno dos "riots" nas cidades francesas, em Londres e em Estocolmo; ou o blog feminista "Un día, una arquitecta", liderado por Ines Moisset, Florencia Marciana, Cecilia Kesman y Gueny Ojeda na Argentina, e Daniela Arias e Zaida Muxí na Espanha. Trata-se de uma longa lista e em contínua transformação. Na ausência de grandes relatos e referentes, a eles corresponde a proliferação e multiplicidade de páginas web e blogs. POR UMA NOVA RELAÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA Este contexto exige que as novas teorias partam de outras coordenadas: rejeição à pretendida autonomia da forma arquitetônica em relação ao político e social; sintonia com todos os tipos de mídia e com as possibilidades das indústrias locais; incorporação de novos modos de trabalho coletivo e de cooperação. Isso se desenvolve no meu livro Del diagrama a las experiencias, hacia una arquitectura de la acción (2014). Ao mesmo tempo em que a arquitetura avança em uma abstração que recorre ao mecanismo versátil e
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abstrato dos diagramas, deve enraizar-se na vida e na experiência, reencontrando-se com a vertente ativista, social e experimental que teve em outros momentos de transformação.
otimismo da estratégia, da pragmática e da operabilidade: esta arquitetura de cooperação está sendo aprendida por meio da experiência e da ação, mas foi uma forte base teórica inicial que resultou na criação do coletivo e da atividade.
Vale a pena destacar as vozes que criticaram as interpretações que recorrem a este pragmatismo no pior dos sentidos, relegando o papel da teoria, da história e da crítica. Autores tão diversos como Michael Hays, John Rajchman, Roemer van Toorn, Sanford Kwinter, Jeremy Till, Ruth Verde Zein, Florencia Rodríguez, Ana Maria Duran e outros argumentaram que esse pragmatismo deve favorecer a adaptação às condições em transformação e deve elaborar uma nova práxis. Uma nova relação entre teoria e prática, capaz de enquadrar as obras no seu contexto histórico, social e significativo.
É neste panorama de mutação que as propostas alternativas relacionadas com o ativismo social foram capazes de avançar: ONGs, grupos ativistas, coletivos, experiências de cooperação, etc. Por outro lado, a esfera acadêmica corre o risco de pretender abster-se da política, de ficar presa ao seu mundo de elite, de auto satisfazer-se com o consumo do novo, esquecendo o que requer a radicalidade de um projeto crítico, que deve passar, necessariamente, pela renovação dos sistemas de ensino. Um risco que pode ser superado pela recuperação do compromisso da universidade pública com a construção de interpretações e propostas críticas em relação à sociedade e à práxis; com a construção de uma nova relação dialética entre a teoria e a prática dentro dessas novas coordenadas.
Cabe observar, como exemplo emblemático, os livros que explicam as intervenções da ONG Architecture for Humanity, escritos por seus fundadores, Cameron Sinclair e Kate Stohr, marcados por esse
Josep Maria Montaner
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Foto: Guilherme Llantada
Foto: Divulgação Montaner
Este processo de transformação, altamente esperançoso, é caracterizado por este pragmatismo que foge de teorias prévias e tenta aprender com a experiência. Hoje, não é mais um momento de grandes propostas ou teorias, mas de aprender a registrar a realidade de forma crítica e criativa. A insistência na pragmática é uma característica positiva e está relacionada ao fato de que a arquitetura, nas últimas décadas, intensificou sua dose de realismo, de capacidade de interpretar e intervir em realidades concretas. A partir da lógica
produtivista e impositiva da pré-fabricação e dos aprioris platônicos da crítica tipológica, passou-se à reabilitação, a operações versáteis de menor tamanho e a uma maior capacidade de inserção no contexto e de criação da vida de bairro.
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PERFIL DO ARQUITETO
Croqui do Projeto Casa Grelha | FGMF
PERFIL DO ARQUITETO
FGMF ARQUITETOS Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz Entrevistado por Guilherme Llantada, Prof. Me. Arq. Urb.
O ESCRITÓRIO FGMF Criado em 1999 por colegas da FAU-USP, o escritório Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF) nasceu com o propósito de produzir uma arquitetura contemporânea, sem restrições ao uso de materiais e técnicas construtivas diversas, e também de investigar a relação entre a arquitetura e o Homem. OS SÓCIOS Fernando FORTE Arquiteto e Urbanista pela FAU-USP, co-fundou o FGMF em 1999. Com especialização em sistemas estruturais, no FGMF divide a criação com os demais sócios, e responde pela coordenação da equipe de obras e fiscalização de execução. Foi professor de Projeto Arquitetônico na UNIP e colabora regularmente com revistas e sites de arquitetura. Lourenço GIMENES Sócio fundador do FGMF Arquitetos, é graduado e Mestre pela FAUUSP, onde também cursou doutorado. Atualmente professor da FAAP, foi professor de Projeto nos cursos de graduação da UNIP, do Instituto Europeo di Design e da FAU-USP (PAE); de pós-graduação no Mackenzie e IMED; e foi professorconvidado de workshops do International Honors Program (IHP), Columbia e MIT. Acumula experiência em escritórios de médio e grande porte como Architectures Jean Nouvel (Paris), Cabinet Alliaume (Paris), Índio da Costa (Rio de Janeiro) e Baggio Pereira & Schiavon (Curitiba). No escritório, responde como arquiteto titular e coordena as áreas de urbanismo e internacional. Rodrigo MARCONDES FERRAZ Formado também pela FAU-USP, cursou mestrado no departamento de Projeto desta Universidade. Trabalhou anteriormente no escritório Zanettini Arquitetura (São Paulo) e teve experiência docente como professor de Projeto na Unip. No escritório, desempenha papel na criação e na coordenação de equipes complementares de projeto.
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Embasado na experiência profissional e acadêmica dos sócios, o FGMF busca uma proximação diferente e inovadora em todos os projetos propostos. Não há fórmulas pré-definidas ou rígidas: a cada desafio, partimos do zero e fazemos do desenho o nosso instrumento de pesquisa para elaborar uma nova visão de edifício, de objeto e de cidade. Em nossos diversos projetos tivemos a oportunidade de lidar com um amplo espectro de programas e escalas arquitetônicas. Isso sempre reforçou nossa crença de que, como a vida, a arquitetura deve ser plural, heterogênea e dinâmica. Todo esse trabalho e dedicação resultam na satisfação de receber relevantes prêmios, dentre os quais se destacam diversos prêmios nacionais e internacionais. Em 2009, o FGMF foi escolhido como o primeiro e único escritório brasileiro a fazer parte no Architects Directory da revista britânica Wallpaper, que apresenta anualmente os 30 escritórios de arquitetura ‘mais talentosos do mundo’. Nesta década estivemos entre os escritórios mais premiados do país, além de ter sido apontado pela prestigiosa revista americana Architectural Record como um dos ‘emerging architects’ do mundo. Entre os prêmios recentes, tivemos o orgulho de receber alguns internacionais: o italiano Dedalo Minosse, os americanos Chicago Athenaeum e Bloomberg Americas Properties Awards, o alemão AIT Awards e o WAN Awards 21 for 21, concurso que
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elegeu os 21 jovens lideres da arquitetura do século XXI. No Brasil, recebemos, entre outros, em 2016 a premiação máxima da ASBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) sua honraria máxima, o prêmio Roberto Aflalo, pelo conjunto da obra do biênio 2015-2016. Além disso, nossos projetos vêm sendo publicados em países tão diferentes como Inglaterra, Estados Unidos, Itália, China, Eslovênia, Coréia, Índia, Grécia, Espanha, Argentina e Equador, entre outros, e também têm participado de exposições e bienais nacionais e internacionais. Mais do que o reconhecimento por um trabalho bem feito, isso é um estímulo para o nosso foco em projetos criativos e eficientes.
Casa Maracujá
Desde o início do FGMF, perseguimos o sonho de uma arquitetura verdadeiramente ‘completa’. Significa, para nós, o desenvolvimento de edifícios que respondem não somente a uma abordagem estética e sensorial, mas também inclui um sentido de forte coerência entre estrutura, programa, paisagem, materiais e sustentabilidade de forma ampla. Pelo fato de envolver aspectos subjetivos, talvez não exista essa tal arquitetura ‘completa’. Para nós, porém, a busca perdura como um ideal que nos guia através de cada concepção arquitetônica. O que vemos em edifícios ao redor do mundo, especialmente no Brasil, é o uso do termo ‘sustentabilidade’ de duas formas diferentes: enquanto a primeira investe em cálculos como elemento estruturador do partido, almejando alcançar as melhores taxas de consumo de energia, a segunda desenvolve a forma e depois tenta encaixar uma série de equipamentos instrumentos para controlar e melhorar o desempenho energético do edifício. Uma privilegia o instrumento em detrimento do espaço, e a outra encarece a obra ao tentar corrigir distorções causadas pelo próprio projeto. Em ambos os casos, não poderíamos discordar menos dos resultados. Entendemos a sustentabilidade da nossa própria forma. Nossa crença é que a boa arquitetura já nasce sustentável no seu significado mais profundo – considerando aspectos sociais, de eficiência energética, conforto, durabilidade e relação com a paisagem e a infraestrutura do entorno. Mais que a justaposição de badulaques para o controle da qualidade do ar, da iluminação e da temperatura, um edifício bem concebido prevê as respostas a esses problemas através da própria arquitetura. Um equilíbrio social efetivo começa com a criação de espaços públicos mais inclusivos e democráticos, e também com a incorporação de trabalhadores e técnicas locais na construção. Da mesma forma, melhor que tratar resíduos é buscar formas de reduzi-los. E assim por diante. Portanto, o conceito de sustentabilidade está, de alguma forma, sempre presente em nosso trabalho. Sem arrogância, mas com o interesse e o compromisso de fazer uma arquitetura competente.
Casa Laje
Edifício Kenneth Butler
Sofá 4x30
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PERFIL DO ARQUITETO
ENTREVISTA Llantada: A revista traz ao debate uma sequência que estrutura o fazer arquitetônico: teoria, produção e crítica. Como produtores culturais de arquitetura e urbanismo, o que norteia filosoficamente o trabalho do grupo FGMF? Que bases teóricas influenciam as decisões na prancheta? Há referências bibliográficas que acompanham o pensar arquitetônico dos arquitetos? Como acontece o lançamento da ideia norteadora? FGMF: Como procedimento, quando começamos um novo trabalho, buscamos sempre iniciar um projeto do zero, analisando o terreno, o entorno, o programa, desejos do cliente, condições climáticas em que o projeto está envolvido, etc. Buscamos sempre estudar no aprofundamento de algum aspecto da arquitetura que nos interesses e propor uma resposta contemporânea aos problemas propostos. As primeiras ideias são lançadas pelos três sócios no início do trabalho, meio que numa espécie de Brainstorm, em que testamos diversas possibilidades a fim de encontrar a ideia norteadora do projeto. Acredito que mais do que referências bibliográficas específicas, trabalhamos com um arcabouço de referências e informações diversas (não somente de arquitetura propriamente ditas), que embasam os nossos trabalhos. Nunca realizamos uma seleção de referências nem nada dessa natureza. E para projetos com alguma especificidade, sempre recorremos para uma bibliografia mais técnica, a fim de solucionar problemas com que não nos deparamos anteriormente. Como filosofia, teoria, somos bastante influenciados pelo movimento moderno brasileiro, até por termos estudados na mesma escola, que na época ainda carregava muita influência da escola paulista de arquitetura. No entanto sempre buscamos adequar esses preceitos para
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nossa realidade atual, contemporânea. Acreditamos muito na relação da arquitetura om o homem, na escala, e nas relações do objeto construído com o espaço não construído, com o entorno e a cidade. Um outro aspecto que consideramos que acaba influenciando muito em nossa obra até o momento é um certo entusiasmo, quase inocente, com os novos projetos que surgem; sempre queremos tentar alguma técnica nova, um material que nunca usamos anteriormente, ou uma solução de organização programática nova – recebemos isso quase como um grupo universitário se lançando a um novo trabalho proposto por um professor – Isso gera uma certa diversidade entre os projetos que marcar nosso trabalho até o momento. Talvez no futuro encontremos uma linha investigativa mais clara entre um projeto e outro, uma prática de ir trabalhando uma mesma solução repetidas vezes.... Mas acreditamos que ainda não é esse momento. Llantada: A partir do conceito gerado e as diretrizes traçadas, como o escritório se organiza como empresa de produção arquitetônica? Do lançamento ao canteiro, como o grupo lida com o fluxo de trabalho para que a arquitetura aconteça como imaginada? FGMF: Essa organização do fluxo do projeto dentro do escritório até a obra pronta está sempre em constante mudança dentro de nosso escritório. Atualmente o processo é após o primeiro input criativo, que como citado, acontece sempre com a presença dos três sócios do escritório, um destes é eleito o gestor do projeto (essa decisão de quem é o gestor pode advir da experiência com determinado programa, atendimento ao cliente, ou ainda meramente da quantidade de trabalho que cada um já possui). Esse gestor é o responsável pelo andamento do projeto, e depois do input, é quem passa para o
coordenador responsável (são três grupos de projeto e um de obras no escritório, portanto 4 coordenadores), que geralmente está junto com o arquiteto de sua equipe que vai desenvolver o projeto. Com essa “passagem” o coordenador e seus arquitetos trabalham em plantas ou modelos tridimensionais conforme solicitação do gestor. Esse trabalho ainda preliminar é então devolvido ao gestor que mostra para os demais sócios, e são propostas mudanças, acontece um aprofundamento natural do projeto. É nesse continuo vai e vem da equipe com os sócios que o projeto de fato começa a tomar mais corpo. Quando o gestor acredita que o projeto já tem maturidade suficiente, ele é apresentado ao cliente (em formato de estudo preliminar), com os envolvidos diretamente presentes na reunião para absorção das impressões e discussões. Mudanças são introduzidas, o projeto é rediscutido (eventualmente se não agradou ao cliente é até refeito) e passamos a abordar com mais profundidade outros aspectos do trabalho, em esquema similar ao explicado até a apresentação do anteprojeto. Após aprovação do anteprojeto o trabalho vai ganhando corpo técnico, complementares são sugeridos, orçados e contratados, compatibilizações são realizadas pela equipe de projeto e tudo avança ao executivo (passando pelo projeto básico) englobando uma série de minucias técnicas ou programáticas. Quando o projeto está próximo de sua conclusão, um “pacote para orçamento” (Há casos, como projetos para incorporadoras, por exemplo, que não há essa etapa) é enviado para a equipe de obras que aciona construtoras ou parceiros, apresenta-os aos clientes e cuida de uma evolução final do projeto para sua execução. Mais tarde enquanto a obra acontece, há arquitetos do escritório encarregados de acompanhar, tirar dúvidas, apontar
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equívocos e assim por diante, no canteiro ou no apoio. A intenção sempre é o de garantir que o resultado final seja o mais próximo possível ao projeto. Construir de fato os projetos é sempre um dos principais objetivos de nosso escritório. Eventualmente, dependendo do tipo de projeto, ainda podemos realizar a organização final da etapa de interiores, mas isso é a minoria de nossos trabalhos. Llantada: O que se pode abrir mão no processo do fazer arquitetônico e o que não se abre mão? FGMF: Essa é uma pergunta bastante difícil – como trabalhamos do cliente final a grande incorporadora, do mobiliário até edificações maiores acabamos já passando por todo tipo de situação (espero! Haha), mas sempre é difícil colocar isso em palavras. Vamos tentar aqui abaixo – O que não abrimos mão em nosso escritório é de liberdade projetual, dentro de um limite razoável. É claro que há projeto que sabemos que serão menos investigativos do que outros, mas queremos sempre clientes que partam da premissa que vamos propor um projeto com personalidade, que tenha uma intenção e razões por trás dessa intenção. O partido é para nós sempre importantíssimo e o defendemos com unhas e dentes. Se o cliente entender que não está adequado, não há problema algum de propor outra solução do zero. O que evitamos ao máximo é aceitar cortes e mudanças que inviabilizem ou fragilizem o partido arquitetônico. O que podemos abrir mão – Acho que muitas coisas, desde que claras desde o princípio – as vezes são desejos do cliente, o apreço ou o ódio por determinado material ou técnica construtiva. As possibilidades projetuais são tão vastas que se conversado de antemão, as coisas tendem a apenas ser mais uma entre muitas variáveis a serem apreciadas antes do início
dos trabalhos arquitetônicos, sem grandes problemas. Talvez a resposta tenha ficado um pouco vaga, então vou colocar dois exemplos aqui – Certa vez nos convidaram para realizar a reforma da praça setenco, um local privado na Avenida Paulista, mas aberto ao público, muito famoso e importante na cidade. Ficamos muito felizes em um primeiro momento, mas aí o cliente falou – Muito bem, queremos a praça bonita, refeita, mas desejamos cercar tudo. O cerceamento dessa praça iria contra tudo que acreditamos importante, sobretudo em local existente e de tanto sucesso. Argumentamos contra e o cliente bateu o pé. Então recusamos o projeto através de uma carta que especificava e explicava nossas razões para tanto. Já falando em questões que podemos abrir mão – Quando realizamos a casa Mirante, por exemplo, gostaríamos de realizar as lajes em acabamento laje zero, tudo de concreto. Os clientes não gostavam e tivemos que estudar diversos revestimentos até o escolhido no final, um porcelanato importado na cor concreto – que não nos agrada tanto, mas que nos parece uma questão menor no âmbito geral do trabalho. Llantada: De que forma as tecnologias construtivas vem sendo decisivas na definição da linguagem da arquitetura produzida pelo grupo? FGMF: O ponto de partida de um projeto varia bastante no escritório, mas diversas vezes as técnicas construtivas fazem parte dessa origem... ou pelo menos são estudadas logo na sequência mesmo. É o caso do uso da estrutura metálica em muito de nossos projetos, técnica que nos agrada muito, por exemplo. Ou um elemento que nos ajuda a expressar melhor o partido arquitetônico, como no caso da casa das pérgolas deslizantes, e que para
ser sincero, de quebra nos permite estudar um sistema novo (painéis de concreto estruturais pré-moldados. A verdade é que somos bastante curiosos e gostamos de aprender técnicas novas. Não sabemos dizer se são definitivas em relação a linguagem, mas certamente são uma questão. No geral ainda nos sentimos jovens, querendo experimentar um pouco de tudo ainda, então talvez seja cedo para dizer. O que é fato é que acolhemos com entusiasmo novas técnicas, apesar de isso gerar desespero em algumas empresas que executam nossos trabalhos depois! Llantada: Apesar de jovem, menos de 20 anos, o escritório tem uma produção consistente e diversificada. Como o grupo vê o mercado de arquitetura brasileiro neste momento social e político do país? Quais os próximos passos? FGMF: Acredito que enxergamos o atual momento sócio-político do país com desgosto e muita tristeza. Para nós foram anos e anos de raras oportunidades desperdiçadas em todas as esferas, inclusive na arquitetônica. O resultado do crescimento do pais para a arquitetura brasileira são pífios perto do que poderia ter ocorrido.... No entanto temos esperança no futuro. Enxergamos, ainda que de forma tímida, um maior interesse e esclarecimento da população sobre arquitetura.... E também um interesse dos incorporadores privados por uma arquitetura mais contemporânea, projeto pensados para determinado terreno, gentilezas urbanas.... Acreditamos que na própria inciativa privada, talvez por conta da própria crise econômica há uma busca maior por projetos autorais e investigativos, aspecto que nos parece fundamental para o desenvolvimento da arquitetura brasileira e melhoria de nossas cidades.
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PERFIL DO ARQUITETO
CASA GRELHA Autores: Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos (Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz) Colaboradores: Renata Davi, Renata Buschinelli Goes, Luiz Florence, Adriana Junqueira, Paloma Delgado, Ivo Magaldi, André Malheiros, Luciana Muller, Débora Zeppellini, Marília Caetano, Nilton Rossi, Bruno Araujo. Paisagismo: CAP – Fernando Chacel e Sidney Linhares Projeto/Construção: 2005/2007 Localização: Serra da Mantiqueira, SP Fotógrafos: Ale Schneider, Ivo Magaldi, Rafaela Netto
N
o terreno de 22 alqueires, apenas uma área de 65mil m2 não é coberta pela exuberante mata virgem, de proteção permanente. Nessa área de topografia bastante acidentada, onde afloram grandes pedras cercadas de araucárias, escolheu-se um pequeno vale protegido dos ventos e próximo à mata. Esse lugar é o encontro dos trajetos naturais do pedestre: é o local para onde se dirige aquele que chega ao terreno, é por ali que se acessa a trilha que adentra a mata e por onde se acessa o trecho mais alto do terreno que descortina impressionante vista. Três importantes questões nortearam a concepção do projeto: a demanda por uma casa térrea, a vontade de se estabelecer relação direta com o terreno e a natureza, e ainda a necessidade de se observar a privacidade entre os membros da família, embora o programa principal da residência devesse estar em uma única construção. Outro fator considerado é a grande umidade da região, que sugeria uma casa elevada do solo. Uma grelha estrutural em madeira, com módulos de 5,5x5,5x3m é suspensa sobre esse núcleo de acessos, conectando os caminhos existentes e criando novos. Assim, atravessa-se a estrutura-ponte é
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atravessada de três formas: por cima (pelo teto-jardim que é uma continuidade do terreno), por baixo (através de um jardim com espelho d’água e pedras naturais) e pelo meio da casa (através de uma circulação externa coberta). Essa grelha possui módulos ora ocupados por ambientes fechados, ora totalmente vazados, permitindo que árvores do jardim inferior atravessem a estrutura. O programa contido na grelha é composto de um núcleo com áreas de serviço, sociais, quarto de hóspedes e apartamento do proprietário, e três módulos isolados, com dois quartos cada, para os filhos. Entre eles, módulos vazios exaltam a continuidade estrutural e valorizam os vãos por onde o jardim se faz presente Esse jogo de cheios e vazios permite a organização fragmentada do programa, de forma a resguardar a privacidade dos usuários e ao mesmo tempo permitir a compreensão do conjunto como unidade coesa. Suspensa sobre o vale e fundida nos morros, a casa se transforma em terreno e o terreno em casa, construindo uma nova paisagem. O vazio construído, simultaneamente interno e externo, permite ver as pedras e jardim sob a grelha, a mata virgem, as árvores do entorno e os arrimos em pedra, onde a casa mergulha.
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A grelha de madeira está apoiada em um conjunto de pilares de concreto e está engastada no morro em duas laterais, quase como se brotasse do solo. Nesse ponto de contato o terreno é desenhado por grandes muros de gravidade executados com pedras retiradas do próprio local. Para evitar um número excessivo de pilares nos 2000m2 de projeção da estrutura, e para se conseguir visuais mais abertas no jardim inferior, ensaiou-se a utilização de grandes vigas vagão a cada dois módulos, executadas em aço cor-ten e com 11m de comprimento cada. Essas vigas, juntamente com o paisagismo, formam um conjunto importante desta obra. Sobre o morro mais alto, de onde se tem a vista mais generosa do horizonte montanhoso, foi projetado o pavilhão de lazer, dividido em dois blocos com a mesma modulação da residência principal. O pavilhão se apóia em vigas metálicas de aço cor-ten na forma de asa, que permitem balanços de 100% do vão, nas bordas do morro. Entre os dois blocos de lazer, um pátio convida os moradores a atividades externas. O pavilhão de lazer e o bloco da residência, que têm a mesma grelha estrutural, evidenciam situações antagônicas da ocupação do terreno – seja no vale como no morro, o módulo é capaz de dialogar claramente com a topografia. Outros 3 pavilhões de serviço com garagens, casa de caseiro, quartos de empregada, vestiários, depósitos etc. são construções pavilhonares com o mesmo módulo de 5,5x5,5m, mas com estrutura de pedra. Grandes empenas paralelas de pedra fincam-se no solo e suspendem as lajes. Enquanto as construções de madeira são leves e etéreas, esses blocos evidenciam sua função diversa através do claro apoio das pesadas empenas sobre o solo. Foram definidas três escalas de intervenção paisagística. A proposta é reconstituir as margens da mata e criar uma transição entre o campo aberto e floresta fechada através da utilização de espécies vegetais nativas e compatíveis com a região. Ao mesmo tempo, no restante da área descampada, cria-se uma ocupação de parque, com percursos e descansos nos principais pontos de interesse visual. Por último, nos locais próximos às construções, acontece um jardim de pré-arquitetura. Na cobertura, em que cobertura dá continuidade ao terreno, existe um espelho d’água linear que evita o uso de guarda corpo e se relaciona com o grande espelho d’água que está localizado no jardim inferior, ao redor da maior pedra existente no local.
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PERFIL DO ARQUITETO
EDIFÍCIO CORUJAS FGMF Arquitetos – Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz Coordenadores: Ana Paula Barbosa, Marilia Caetano, Sonia Gouveia, Renata Davi Colaboradores: Gabriel Mota, Juliana Nohara Estagiários: Rodrigo de Moura, Bruno Milan, Felipe Bueno, Gabriel Ribeiro, Marina Almeida Localização: São Paulo - SP - Brasil Área do terreno: 3470m2 Área construída: 6880m2 Projeto/Construção: 2012/2014 Fotógrafos: Rafaela Netto, Fran Parente, Renato Caiuby
O
Edifício Corujas, localizado na Vila Madalena, é um edifício de escritórios de diversos tamanhos e formatos. A proposta para essa edificação é a de criar um espaço mais humanizado para o trabalho, indo na contramão dos tradicionais cubos de vidro espelhado localizados em regiões de São Paulo como Avenida Faria Lima ou Avenida Berrini. O gabarito do local, de apenas nove metros, nos levou a uma solução horizontal, e o formato do lote, a desmembrar o prédio em duas edificações, frontal e posterior. O ponto de partida do projeto surgiu do desejo de criar uma arquitetura que possibilitasse que os escritórios tivessem, além de suas áreas fechadas, espaços avarandados generosos para reuniões externas, e jardins próprios, privativos. Para tanto utilizamos alguns recursos como: tetos jardins, grandes panos envidraçados, generosos vãos e varandas pouco convencionais. Os conjuntos localizados no nível térreo tratam-se de escritórios com pé direito duplo, aproveitando a inclinação natural do terreno. Assim o visitante chega através de um mezanino e pode descer para a área principal de trabalho, onde há varanda e seu jardim privativo no recuo posterior, local onde já existem árvores frutíferas originais do local. A construção no térreo possui um determinado volume que denominamos “embasamento”, e este volume chega a encostar-se aos limites dos vizinhos e é mais largo do que o restante da construção. Para intensificar essa diferenciação, esse nível é todo envelopado em madeira. Os andares acima do embasamento não chegam às divisas, e são menores que o andar inferior. Nestes trechos optamos por deixar a estrutura de concreto pré-moldada aparente, e no piso intermediário, que é realizado em estrutura metálica, a estrutura aparente em branco. Todo esse trecho é totalmente 68
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envidraçado, contrastando com o fechamento do embasamento, muito mais opaco. Sobre os trechos do embasamento que são maiores do que os pavimentos superiores surgem tetos jardins que são os jardins privativos dos escritórios do primeiro pavimento. Já as grandes varandas, ora com pé direito simples, ora com pé direito duplo surgem entre conjuntos, em meio aos pilares pré-moldados. Já o último andar possui o mesmo sistema de varandas do pavimento inferior, mas nestas varandas existem escadas metálicas independentes de acesso a cobertura. Essa cobertura funciona como um teto jardim privativo de cada um dos conjuntos do segundo pavimento, possibilitando que mesmo os andares mais altos possam desfrutar de jardins próprios. Os mecanismos de organização descritos acima permitiram uma espacialidade muito própria, rara em edifícios de escritórios em São Paulo. Essa espacialidade nos parece extremamente adequada para o clima de São Paulo e em especial ao local, no bairro boêmio e cultural da Vila Madalena, em que a escala do pedestre e o convívio entre as pessoas está em primeiro plano. Há na edificação, no intuito de reforçar essas questões, muitas áreas de convívio, bicicletário, vestiários comuns e até um café para que os usuários se conheçam e possam inclusive trabalhar nas áreas comuns, criando quase uma micro-comunidade. É o total oposto dos modernos prédios de escritório, que segregam ao máximo os usuários uns dos outros. O aspecto construtivo também é outro aspecto interessante dessa edificação. Embora se trate de um edifício de escritórios de altíssimo padrão, ele foi concebido em uma estrutura de pré-moldados de concreto, que em quase toda construção é deixado aparente. É uma forma de afirmar que o material pré-moldado pode ser tão interessante quanto qualquer outro. Há também grandes trechos em estrutura metálica, também aparentes, que deixam o andar intermediário surpreendente leve na edificação, quase como se tivesse repousado ali. Essa estrutura metálica, em conjunto com caixilhos piso teto com grandes aberturas e leves brises metálicos formam uma espécie de miolo, de recheio transparente da estrutura pré-moldada que poderá ser observado da rua pelo visitante, fazendo com que a dinâmica do que ocorre dentro do prédio participe do cotidiano do bairro.
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PERFIL DO ARQUITETO
FDE - FUNDAÇÃO PARA DESENVOLVIMENTO DO ENSINO ESCOLA VÁRZEA PAULISTA FGMF Arquitetos – Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz Coordenadores: Renata Davi Colaboradores: Adriana Junqueira, Ana Paula Barbosa, Fernanda Alpiste Estagiários: Paloma Delgado, Luciana Muller Localização: Várzea Paulista, SP - Brasil Área do terreno: 6.344 m2 Área construída: 2.703 m2 Projeto/Construção: 2007/2008 Fotógrafo: Nelson Kon
F
ruto de um programa recente da FDE, Fundação para Desenvolvimento do Ensino, as escolas estaduais de primeiro e segundo grau construídas pelo Governo do Estado de São Paulo apresentam em comum a escolha do sistema construtivo, dos componentes industrializados, o programa de salas e áreas de convivência, a articulação entre os espaços e a intenção de criar para os ocupantes das escolas, um lugar confortável e com arquitetura de qualidade para a prática do ensino.
A intenção, desde o princípio, foi a de criar uma grande integração entre os espaços públicos e os semi-públicos, entre o espaço interno e o externo. Desta forma, o acidentado terreno foi tratado de forma a proporcionar uma grande praça de acesso à escola que, quando tem seus portões abertos, se transforma em um agradável espaço de convivência para a comunidade. Este espaço é complementado por todo o térreo da edificação, que possui quadra poliesportiva, galpão coberto para atividades diversas e pátio de recreação na porção posterior do terreno. Durante os finais de semana, todos estes espaços articulados servem como área de lazer para a população do local que tanto carece deste tipo de espaço. A estrutura da escola é toda composta de elementos pré-moldados de concreto. Este sistema, escolhido em função da garantia da qualidade de execução, da rapidez da montagem e do custo acessível, dá o caráter da escola. A estrutura é modular e corresponde às dimensões dos ambientes principais internos. O edifício possui um bloco com três pavimentos e outro só com o piso térreo, onde se localiza a quadra poliesportiva com grande pé-direito. O térreo do prédio concentra funções administrativas, 70
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refeitório cozinha e banheiros. Os demais pavimentos são ocupados pelas salas de aula, salas-ambiente, informática e depósitos, além de salas de professores e diretores. O galpão coberto, no térreo, tem pé-direito duplo e é totalmente aberto para a área de lazer externa. A estrutura de concreto do edifício extrapola os limites do prédio, sustentando também os elementos de sombreamento. Na parte frontal, elementos vazados de concreto com aberturas irregulares são agrupados de modo a formar um grande mosaico que filtra a luz. Este mosaico de concreto garante interessantes visuais, tanto pelo lado interior, que parece emoldurar a paisagem, quanto do lado de fora, quando se assemelha a um gigantesco painel. Durante a noite, quando as salas de aulas estão acesas, o mosaico perde sua força e a escola ganha um caráter mais leve e diáfano. Na porção posterior, no trecho com pé direito duplo do galpão, o sombreamento é feito por telhas perfuradas de alumínio. O galpão, elemento organizador de toda a escola, é um local de múltiplo uso, que é usado por alunos para diversas atividades, mas também pela comunidade nos finais de semana e eventos especiais. Ele fica totalmente aberto para o espaço exterior e o elemento de sombreamento é aplicado mais ao alto. As telhas perfuradas permitem que durante o dia a luz entre de tal forma que as telhas fiquem praticamente transparente para quem está dentro do galpão, aumentando a sensação de que não há um limite claro entre o exterior e interior do prédio. Durante a noite, com a iluminação interna, essa sensação se inverte, e o observador que está no jardim externo tem a sensação de que a escola está toda aberta para a comunidade.
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PERFIL DO ARQUITETO
COMPLEXO DOM PEDRO FGMF Arquitetos – Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos Autores : Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz Coordenadores: Gabriel Mota, Luciana Bacin, Marília Caetano, Sonia Gouveia Colaboradores: Carla Facchini, Carmem Procópio, Juliana Fernandes, Juliana Nohara, Priscylla Hayashi, Thiago Pimentel, Vera Silva Estagiários: Beatriz Proença, Nara Diniz, Luiz Henrique Falavigna, Otávio Araújo, Yara Bello Localização: Campinas, SP, Brasil Área do terreno – D. Pedro II : 12800 m2 Área construída – D. Pedro II : 1296 m2 Área do terreno – D. Pedro III : 18456 m2 Área construída – D. Pedro III : 1300 m2 Projeto/Construção: 2012/2016 á alguns anos fomos convidados para realizar Fotógrafa: Rafaela Netto os projetos do complexo Dom Pedro, dois clubes completos, com sedes, acessos, e áreas externas de esporte e lazer. A arquitetura deveria propor uma identidade única, mas propor de forma independente organizações de fluxos, espaços e dimensões, relações com vistas e entorno, quase como dois projetos em um.
H
Após diversos estudos, decidimos dar início ao projeto pelas áreas externas – organizamos o espaço de quadras, campos, playgrounds, piscinas e acessos, e previmos os espaços mais adequados para cada edificação sede. Como partido para as construções partimos de um pressuposto simples – Adotamos uma espécie de “unidade volumétrica” a partir de uma decupagem do programa original. Com essa redução programática obtivemos uma clareza de setorização de cada área importante da edificação – vestiários, sala de ginástica, hall, salão de festa, serviços, acesso e assim por diante. Cada uma dessas unidades do programa foi organizada buscando a melhor localização para cada uma das edificações, e sua relação com os espaços externos e fluxos internos. Para cada unidade criamos um volume que varia em dimensões e alturas, mas sempre segue a regra de ter duas faces abertas, uma para o acesso principal, e outra para as piscinas e vistas. Passamos então a entrelaçar os volumes e criar construções contínuas. Esse entrelaçamento hierarquiza a setorização do programa possibilitando a identificação de cada área à distância, enquanto cria uma volumetria quase escultórica, que cria diferentes e interessantes visuais para o usuário que se encontra em diferentes locais do complexo. 72
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As paredes internas, porventura necessárias, foram recuadas do volume principal unitário e revestidas de madeira preservando a volumetria principal. Todos os volumes receberam revestimento cimentício integral – piso, paredes, tetos. No entanto buscamos três variações leves de cinzas entre esses revestimentos para ressaltar a independência entre a função de cada espaço. Como embasamento para cada construção foram utilizados muros de arrimo em gabiões de pedra aparente, normalmente utilizados na construção de infraestrutura como um contraste com a pureza dos volumes acima. Esses volumes ficam recuados ou em balanço sobre essas contenções, debruçando-se para a vista ou para as piscinas. O resultado geral do projeto foi o de um partido único e forte para as duas construções do complexo resultando em volumetrias quase escultóricas. Apesar da clara relação entre as construções, e partidos iguais, cada uma delas possui um caráter único e relações muito intimas com o programa externo e a natureza circundante.
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PERFIL DO ARQUITETO
CASA FAUGÈRES FGMF Arquitetos – Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz Coordenadores: Luciana Bacin, Gabriel Mota Colaboradores: Fabiana Kalaigian, Daniela Zavagli, Diogo Mondini, Frederico Branco, Eduardo Vale, Guilherme Prado Localização: Porto Feliz - SP Área do terreno: 2.923 m2 Área construída: 757m2 Fotógrafos: Matheus Passos (render)
N
um terreno em declive e com vista para uma densa mata, a casa divide-se em dois níveis. O inferior abriga as 5 suítes, sala íntima, lavanderia e garagem, constituindo um volume denso, onde as aberturas são escavadas de maneira precisa. Esse volume revestido de pedra está semi-enterrado no terreno, abrindo-se para a mata. No nível superior, que é o nível de acesso de pedestres, dois volumes leves de estrutura metálica e vidro pousam delicadamente sobre o maciço embasamento. O maior, pronunciando-se em balanço em direção à copa das árvores, abriga os espaços sociais e cozinha; o menor, por sua vez, pendura-se discretamente na borda da piscina, e contém um espaço de apoio à piscina, com churrasqueira e espaço de comer. Protegendo os volumes envidraçados, lâminas de aço corten criam um brise irregular que os envolve e filtra a insolação. O contraste entre os três volumes denuncia o programa: as áreas íntimas são mais reservadas, enquanto as sociais são generosamente abertas para a paisagem e para o pátio elevado formado pela laje de cobertura do bloco inferior. Um recorte no volume dos quartos permite uma árvore abrir sua copa na altura do usuário do pátio, onde uma generosa piscina reflete a mata.
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LOJA LÍDER FGMF Arquitetos – Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetos Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz Coordenadores : Gabriel Mota, Luciana Bacin Colaboradores: Adriana Pastore, Desyree Niedo, Diogo Mondini, Priscylla Hayashi, Wanessa Simoe Estagiários: Frederico Branco, Rafael Colombo, Nara Diniz Localização: São Paulo, SP - Brasil Fotógrafo: Raphael Briest
O
programa necessário para a Flagship dessa tradicional loja de mobiliário previa amplos espaços para diferentes layouts que fossem modificados conforme o lançamento das novas coleções, área de mobiliário para exteriores, cozinha funcional para eventos e área administrativa. Havia o desejo de ter uma arquitetura contemporânea, atraente, que trouxesse consigo valores da marca, mas que a colocasse entre as mais valorizadas do país. Uma dicotomia entre a sensação de abrigo, de aconchego e transparência de vitrine também era uma questão muito importante a ser abordada, assim como uma arquitetura que causasse curiosidade, convidando os arquitetos, decoradores e clientes finais a entrarem para conhecer os produtos. Estudamos as lojas existentes consideradas mais bem resolvidas do ponto de vista organizacional e em paralelo estudamos profundamente a complicada legislação do terreno, seus arredores e insolação. Tratamos o volume com grandes vãos de 15 metros, através de uma estrutura mista de aço e concreto aparentes. Uma série de “platôs aéreos” foram projetados, sendo o principal um grande mezanino flutuante (é estruturado apenas por 6 tirantes metálicos) no centro da loja. Esses platôs são, em sua maioria, jardins de espécies nativas e começam quase rentes a calçada exterior, e são cuidadosamente empilhados adentrando a loja, se transformando em uma espécie de forro da vitrine, projetam-se ao exterior novamente em um balanço de mais de 5 metros, se transformando em uma marquise de pedestres que marca a entrada. Esses platôs formam em seu conjunto uma espécie de semi espiral, que garante bastante transparência na fachada, ao mesmo tempo que funcionam como um brise-soleil protegendo a loja da insolação poente. O resultado do projeto é de alto impacto na paisagem, evitando tradicionais envelopamentos ou fachadas completamente em vidro tão comuns em nossa paisagem. É um projeto que utiliza um conceito simples e que através de posicionamento e repetição cria uma volumetria complexa alinhada a conceitos de sustentabilidade, proteção solar e garante a visibilidade e atratividade desejadas pelos clientes. ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
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NOVOS ARQUITETOS
Representação gráfica sobre projeto do Arquiteto e Urbanista Gustavo Pereira Mello
NOVOS ARQUITETOS
ARQUITETURA EMERGENCIAL: a catástrofe natural como oportunidade para reestruturação de assentamentos precários Autor: Gustavo Pereira Mello Arq. Urb. Orientador: Guilherme Guimarães Llantada, Profo. Me. Arq. Urb. CATÁSTROFES NATURAIS
D
e acordo com os dados do Governo Federal a ocorrência de desastres no Brasil aumentou 268% na década de 2000. Com isto aumentou também o número de vítimas e pessoas atingidas por estas catástrofes. Os desastres naturais são forças presentes a cada ano na vida de muitos brasileiros, em 2015 eles atingiram uma a cada cinco cidades. A natureza tem se mostrado implacável nestas últimas décadas, o número de perdas, tanto materiais como de pessoas, tem aumentado a cada ano no mundo, e os motivos são vários, desde fatores climáticos até o mais importante: a atuação humana sobre o ambiente onde vive. A ocupação humana em locais inadequados e o uso incorreto dos recursos naturais colaboram para a intensificação dos fenômenos catastróficos, um exemplo disto são as quedas de encostas e deslizamentos de terra, como ocorreu na enchente de 2008 em Santa Catarina, e as construções às margens de rios em áreas alagáveis, como ocorreu também em 2008, e nas chuvas de outubro de 2015, onde o estado contabilizou um prejuízo de mais de 500 milhões de reais (G1 SC). Outro fator que provoca a catástrofe é a ação direta do homem, conhecida como ação antrópica, tem-se o exemplo 78
do rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana, Minas Gerais, que despejou sobre o Rio Doce grande quantidade de lama e minérios que contaminaram o próprio rio até chegar ao Oceano Atlântico pelo Estado do Espírito Santo (G1 MG). Os cenários para um desastre são vários e, pelas condições em que se encontra a sociedade brasileira dentro do seu território, são também inevitáveis, portanto é necessário às forças de resgate o preparo e o acesso a equipamentos e locais de trabalho adequados ao atendimento das vítimas destes fenômenos decorrentes seja no Brasil como no Vale do Itajaí, uma das regiões do país mais atingida por catástrofes. Em várias destas situações muitas pessoas perdem sua moradia e não tem mais para onde ir, e os abrigos são a única opção de amparo até terem condições de retornar ou reconstruir suas antigas moradias. ‘‘Os desastres naturais mais comuns no estado de Santa Catarina são enchurradas, vendavais e secas, sendo as inundações mais incidente no Norte e Vale do Itajaí, estes são os que mais causam estragos devido a sua frequência. Os mapas abaixo mostram os locais de maior incidência destes eventos:’’
9%
3%
34%
11%
13%
30% Desastres mais recorrentes entre 1991 e 2012 (%) em SC - fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Santa Catarina 2ª ed. Adaptado pelo autor
Número de desastres e vítimas no mundo - fonte: http://www. aquafluxus.com.br/desastres-naturais-estatisticas-recentes/. Adaptado pelo autor
Catástrofes naturais por município (catástrofes por município) fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Brasil 2ª ed
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ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS Para se ter um parâmetro de como a ocupação humana de locais inadequados para habitação é também fator que determina o impacto do desastre sobre a sociedade basta analisar os dados do IBGE e Secretaria Municipal de Habitação de Itajaí.
Enxurradas - fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Santa Catarina 2ª ed
Urbanização brasileira (milhões de pessoas) fonte: Tendências Demográficas, 2000, IBGE, 2001. Adaptado pelo autor
Vendavais - fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Santa Catarina 2ª ed
Aglomerados subnormais no Brasil: 6 329; População: 11 425 644. Aglomerados subnormais em Santa Catarina: 74; População: 75 737 Aglomerados subnormais em Itajaí: 51. População 15 684. Em Itajaí, dos 51, 11 assentamentos precários são não consolidáveis e em áreas alagáveis, nestes locais há 978 famílias, ou seja, em torno de 3423 pessoas.
Secas - fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Santa Catarina 2ª ed
Os abrigos provisórios passam a ter, portanto, um papel importante na condição de sobrevivência das pessoas. Esta foi a proposta deste Trabalho Final de Graduação; dar às vítimas de catástrofes as condições de suprimento de suas necessidades básicas fundamentais para a sua sobrevivência e a manutenção da dignidade humana. Mesmo que provisoriamente, este novo lar deve manter as suas relações sociais e de trabalho junto a sua comunidade para reconstruir os bens perdidos e a sua vida.
Inundações - fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais – Santa Catarina 2ª ed
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NOVOS ARQUITETOS
O MUNICÍPIO
O ASSENTAMENTO PROVISÓRIO/PERMANENTE
Para se ter um exemplo prático do que se propõe a implantação do projeto em um local com histórico de catástrofes utilizou-se o município de Itajaí.
A proposta do abrigo envolve uma área que pode variar conforme a necessidade da ocasião, neste caso, o abrigo a ser proposto no bairro Itaipava tem uma área de 31,68 hectares e poderá abrigar até 1098 famílias, ou seja, aproximadamente 3294 pessoas.
Área urbana inundada em 1983 e 2008, deslizamentos de terra e assentamentos precários. Em 2008 cerca de 80% da área territorial do município ficou coberta por água, praticamente todos os assentamentos precários foram atingidos pela água, aqueles que não foram estavam em região de encosta, onde acabam por sofrer com deslizamentos de terra. Com isto em vista é necessário escolher alguma das áreas menos atingidas nas duas últimas maiores enchentes que ocorreram em Itajaí, buscando evitar tanto as cheias como os deslizamentos. Selecionou-se uma no bairro Itaipava, junto à Rodovia Antônio Heil que liga o município à cidade de Brusque.
1) O acesso ao centro da cidade é simples, 8,6km, porém o transito em horários de pico e a rodovia não duplicada geram problemas quanto ao tráfego; 2) Há muita área disponível para expansão urbana, hoje ocupada por plantações de arroz, pastos ou inutilizados; 3) Há poucos equipamentos públicos no bairro, concentrando-se próximo ao terreno da proposta; 4) Predominância de residências no entorno do terreno; 5) Os edifícios de comércio/serviço não são maioria no local, mas seu tamanho é grande para uma região residencial.
1 3 2 4 5
Diagnóstico do entorno - fonte: elaborado pelo autor
DADOS DO TERRENO Área: 31,68 ha. Dimensões gerais: 981,85 x 379,86 metros. Acessos pela Rodovia Antônio Heil (SC 486), Avenida Itaipava e Rua Antenor Antônio Vieira. 80
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CHEIOS E VAZIOS
HIERARQUIA VIÁRIA
IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA
USOS
ÁREAS VERDES
1 COMÉRCIO
1 - Como a proposta consiste em criar um sistema de habitação provisório, podendo ser transformado em permanente, ele deve ser aplicado em campo. 2 - O projeto prevê pequenas quadras verdes, com as UHs uma ao lado da outra. No centro de cada grande quadra há uma Casa Comunal, onde se agrupam os equipamentos de uso comum. 3 - Cada UH possui um vazio na frente e nos fundos do edifício, a ser aproveitado conforme melhor prouver ao morador: sendo possível criar jardins, hortas e pomares.
2 CASA COMUNAL
4 - O Bloco Central tem o objetivo de concentrar as atividades criativas, artesanais e econômicas que possam proporcionar alguma renda para a comunidade local. 5 - E este mesmo módulo do Bloco Central pode criar pontos de ônibus, fábricas, ginásios e outros.
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NOVOS ARQUITETOS
3 CONJUNTO RESIDENCIAL
1
2
3
4 BLOCO CENTRAL
4
5
5 PONTO DE ÔNIBUS
(Implantação) fonte: elaborado pelo autor
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ESPAÇOS PROVISÓRIOS - ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
DORMITÓRIOS
Diante de uma catástrofe, o atendimento imediato aos atingidos será feito através do Abrigo Provisório montado em tendas.
Os dormitórios são espaços de 10,5m² que no conjunto chegam a 714,15m².
Este abrigo possui o básico para a sobrevivência dos desabrigados.
Este é o ponto de partida da UH final, neste local há um beliche com capacidade para acomodar até 4 pessoas confortavelmente. É importante para os desabrigados que eles não sejam separados de suas famílias e dos poucos pertences que lhes restam, por isso o espaço deve acomodar todos eles e ainda seus objetos de uso pessoal.
A partir deste momento, as UHs provisórias são montadas para então as pessoas poderem se mudar para um local mais adequado para acomodá-as.
Assentamento provisória - área total: 5800,00m fonte: elaborado pelo autor
REFEITÓRIO
UH para áreas cobertas Planta baixa - área total: 10,47m² Planta baixa refeitório - área total: 576,00m fonte: elaborado pelo autor
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NOVOS ARQUITETOS
CONCEPÇÃO GERAL – A EVOLUÇÃO DA FORMA
• Aberturas superiores para iluminação natural • Telhas de materiais reciclados ACOLHENDO O DESABRIGADO • Fechamento interno em placas de OSB e externo em PVC
A aparência dada à forma tem o propósito de assemelhá-la a uma casa, este arquétipo cria na mente do indivíduo as mesmas ideias e sensações que ele tem ao associar o edifício ao seu lar.
• Edifício solto do chão, evitando problemas com umidade e não interferindo na permeabilidade do solo
As construções possuem influência sobre as emoções das pessoas, portanto, a estética deve estar ligada a função para assegurar um conforto emocional através do ambiente. ‘‘ A arquitetura é fundamental para garantir o bem estar e a recuperação emocional dos desabrigados’’
Com isto desenha-se a primeira proposta do abrigo provisório, um espaço retangular de 23,31m² contendo os ambientes básicos para a vivência para um período de poucas semanas, com um programa de necessidades bem reduzido:
(módulo casa) fonte: Google Imagens/elaborado pelo autor
PREMISSAS PROJETUAIS ‘‘As construções falam, e suas personalidades estão ligadas às pessoas que nelas habitam’’, por isso que a possibilidade de alteração da forma, ampliação, cor e textura devem ser dadas ao usuário, para que ele crie o seu lugar e se identifique com aquele espaço. Planta baixa pavimento único área útil: 21,60m 2 área total: 23,31m 2
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MATERIAIS
A
Os materiais e a sua montagem são pensados de forma a facilitar tanto a produção como a construção dos módulos habitacionais. É importante que o usuário possa alterar a sua UH da forma que desejar, para isto ela é feita em módulos, permitindo a troca de materiais e de foram sempre que necessário.
B C
E D
F Chapas de OSB para revestimento interno
Chapas de PVC para revestimento externo
Estrutura de madeira protegida com PVC
Telhas de material reciclado
G Vista explodida (Vista explodida)
A - Telhas de material reciclado B - Travamento para o telhado C - Cobertura de OSB para o forro de caixas de leite D - Fechamento com placas de madeira E - Módulo do banheiro F - Piso em chapas de madeira com ripas para estruturação G - Estrutura de madeira impermeabilizada com proteção de PVC
MATERIAIS ALTERNATIVOS
COMPOSIÇÃO DA PAREDE
Reduz a temperatura dos ambientes em até 10ºC. Isto é possível pois sua composição contém 5% de alumínio, que reflete mais de 95% do calor. Outra vantagem do sistema é que o próprio morador pode confeccionar o seu forro.
a - Chapa de PVC b - Chapa de OBS c - Tecido d - Vedação de borracha e - Encaixe metálico
DETALHES CONSTRUTIVOS
a
Encaixes nas vigas e pilares para travamento da estrutura
b
c
Isolamento térmico com refugo têxtil
d e Forro de caixas de leite longa vida
Engates nas paredes e forros para fixação na estrutura
Possui isolamento acústico 30% superior à lã de vidro, porém com menor custo.
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NOVOS ARQUITETOS
MÓDULO FINAL
O modelo final das UHs é um módulo de dois pavimentos com uma área total de 53,97m². Os ambientes foram pensados de forma a garantir maior otimização dos espaços mais sem perder o conforto e a qualidade de uma residência comum, desta forma o usuário pode recomeçar sua vida com uma nova residência adequada às necessidades básicas do dia-a-dia.
Planta baixa térreo | área útil: 30,94m | área total: 33,14m
Planta baixa pavimento superior | área útil: 15,95m | área total: 20,83m
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A altura de cada pé-direito varia de acordo com o pavimento, por conta da estrutura do módulo e de seus componentes, tem-se a base de 2,78m, mas pode ser menor ou maior em alguns casos pontos.
As UHs podem ainda ser aprimoradas para acomodar diferentes usos, como comércio e serviço e também serem adaptadas para portadores de necessidades especiais.
UH flutuante
UH comercial 2
UH PNE
UH comercial 1
UH em desnível
CASA COMUNAL A Casa Comunal é usada em comunidades de moradia compartilhada (Cohousing community) e tem o objetivo de atender as necessidades comuns dos moradores como refeições, lavanderia, recreação e ate mesmo ensino de crianças e adultos. Este edifício de uso compartilhado serve para atender as demandas maiores da comunidade que o módulo habitacional não consegue comportar, assim também cria na sociedade a consciência de que uma vida comunitária e de preservação do meio onde vive é também primordial para diminuir o impacto dos desastres sobre a comunidade e que a integração entre vizinhos colabora muito para a recuperação e assistência em tempos de crise. LUZ E VENTILAÇÃO NATURAL
Saída de ar quente
Iluminação e ventilação interna
Entradas de luz natural
Corte A
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ARTICULAÇÕES URBANAS CONTEMPORÂNEAS Palimpsesto enquanto estratégia projetual na transição pós industrial Autora: Bettina Luiza Santos, Arq. Urb. Orientador: Stavros Wrobel Abib, Prof. Arq. Urb. INTRODUÇÃO/DEFINIÇÃO PROJETO
O
trabalho desenvolvido aborda um tema contemporâneo e propõe uma reflexão pertinente desenvolvida acerca de uma problemática de impacto e relevância para a arquitetura e para o urbanismo: projetar no interregno - delimitado aqui pela transição entre um mundo industrial e outro pós-industrial. O marco teórico utiliza alguns dos discursos mais recorrentes da reflexão urbano-arquitetônica da atualidade, mas ganha originalidade quando os articula entorno de uma base teórica que reconhece na transitoriedade do território uma opção de projeto. Logo, o projeto contemporâneo operaria sobre o resultado de dinâmicas de sobreposições e superposições das relações espaço-tempo, sendo ele mesmo efêmero. Há consistência no contexto escolhido para análise e desenvolvimento do projeto: o polo da Mesorregião Vale do Itajaí, Blumenau. O município enfrenta a transição de um passado industrial para uma proposta de vir a ser pós-industrial em função da mundialização da economia, o que permite identificar um território em mutação. A estratégia projetual dá uma resposta ao desafio de projetar no interregno ao propor uma rede dinâmica de lugares, com programas concatenados entre si e contextualizados, nos quais se projetam edifícios singulares cujo módulo espacial incorpora um sistema construtivo ao mesmo tempo padrão e customizável simbolicamente se lê a reprodutibilidade 88
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da indústria coexistindo com a capacidade de adaptação ao contexto, advinda dos modos de produção flexíveis da atualidade, uma expressão da transitoriedade. Os mesmos módulos possuem a aptidão de se adaptarem a usos variados e são distribuídos sobre o trajeto da rede de lugares, gerando uma linguagem identificável: o global e o singular se encontram na mesma matriz, o espaço de projeto. A proposta baseia-se na transição de territórios pós-industriais em polos tecnológicos, afim de que a cidade possa continuar desenvolvendo a partir de sua transformação. Tal ação seria realizada, como estudo de caso, no município de Blumenau, onde foi identificado após análises um potencial fabril em decadência e a ascensão de atividades voltadas a questões contemporâneas. Prevê-se então um conjunto de ações na micro e macro escala afim de criar espaços que suportem a inovação e criem vitalidade. Em tese, é criado uma sobreposição de redes - palimpsesto - onde sobrepõe se os tecidos da cidade, localizando as centralidades existentes, áreas de expansão, áreas de adensamento e necessidades espaciais. A partir disso implementa-se uma rede de equipamentos associada a uma rede de mobilidade integrada. Estes dois sistemas funcionariam de forma conjunta, respeitando os potenciais locais, espaços residuais e o uso de edifícios fabris em desuso, retendo as vias existentes como guias e interferindo de forma pontual, criando na cidade pontos de acupuntura urbana. Para isso desenvolve-se um sistema de padrões que pode ser utilizada na microescala e no macro escala, criando identidade e possibilidade de replicação em outros casos como este. O projeto foca nas trocas de conhecimento, cultura e informação, consolidando ambientes que promovam a geração destes fenômenos e um plano de inovação. ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
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PONTOS DE PROJETO CUBOS ARTICULADORES Localizados nos bairros mais afastados do circuito de equipamentos os cubos preveem a inclusão digital em espaços colaborativos. Implantados por iniciativas público-privadas, trazem novos usos aos bairros, que antes estavam concentrados apenas no centro do município. E criam espaços públicos de interesse para população. Os cubos utilizam a modulação proposta e criam 12 programas previamente definidos que podem ser combinados entre si, gerando tais equipamentos. Seguem os mesmos padrões de uso, insolação e inserção urbana. Os módulos são flexíveis e adaptáveis até para os equipamentos de grande porte. 01. EIXO CULTURAL - RUA XV DE NOVEMBRO + PRAÇA A rua xv de novembro é um importante eixo estruturador do município, tornou-se em uma via de comércio de pequeno porte tendo grande fluxo nos horários comerciais. O projeto prevê a reabilitação da rua xv através do fechamento das faixas de rolamento para veículo, tornando-se estritamente peatonal. os espaços de estacionamento nas vias recebem os parklets como salas urbanas. há uma reestruturação nas tipologias de comércio afim de gerar vitalidade durante todo período do dia. voltado para interação das pessoas, configurando espaços de lazer colaborativos, prevê a troca de experiências e informação. 02. EIXO CRIATIVO - TECHNO PARK CRIATIVO Reconhecendo que o século XXI promete novas relações produtivas entre a educação, a pesquisa, a indústria de forma criativa, projeta-se uma instalação capaz de fomentar a colaboração interdisciplinar e abrigar um emergente parque criativo no antigo ponto industrial Sulfabril. O projeto resultante reutiliza o espaço para configurar um ambiente colaborativo, inclui catalizadores estrategicamente situados para aumentar a interação e o potencial de colaboração entre todos os membros desta comunidade. Cria um parque elevado sob os trilhos da antiga linha férrea que cruza o complexo fabril. Prevê uma nova forma de lazer conectando fatos históricos a cidade contemporânea. ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
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Impacto gerado pelo equipamento: O equipamento será um forte gerador de vitalidade e de fluxo de pessoas, intensificando o caráter de comércio e serviço existente. com grande conexão física com os municípios do litoral, será um importante catalisador para o desenvolvimento regional. 04. EIXO TECNOLÓGICO - CENTRO DE INOVAÇÃO E DESCOBRIMENTO/MATERIAIS AVANÇADOS E ENERGIA Localizado ao norte de Blumenau, devido a proximidade ao município de Joinville e ao macrozoneamento que prevê uma zona de expansão. O programa foi definido a partir do dado de consumo de energia, onde Blumenau e Joinville possuem as maiores taxas do estado. O projeto prevê um centro de pesquisas de novos materiais e combustíveis limpos, buscando inovação e descobrimento de novos recursos. O terreno foi escolhido próximo a Eletrosul, responsável pela transmissão de Energia Elétrica do Sul do Brasil. IMPACTO GERADO PELO EQUIPAMENTO: Juntamente aos equipamentos existentes, cria um eixo de desenvolvimento voltado a tecnologia, inovação e troca de informação. O novo equipamento implantando funcionará como catalisador e conector da rede externa. 05. EIXO CONHECIMENTO - CENTRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento oferece uma presença positiva para a comunidade e servem como um imã para os reconhecidos pesquisadores nacionais e internacionais. Os talentos atraídos à nova instalação permitirá que o município alcance o status de uma cidade que busca devolver aos cidadãos o investimento que ela recebe. O complexo está projetado para abrigar uma ampla gama de iniciativas de pesquisa em variadas disciplinas, através do uso de uma infraestrutura modular que pode suportar os requerimentos de variados laboratórios. IMPACTO GERADO PELO EQUIPAMENTO: Unido a um caráter de comércio serviço e equipamentos, o centro de pesquisa estabelecerá forte conexão com a furb e incubadora já existente, atuando como catalisadores para fomentação de uma área de desenvolvimento ligado ao conhecimento.
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AUTOSSUFICIÊNCIA ORGÂNICA Centro de pesquisa, capacitação e difusão da agricultura orgânica Autor: Eduardo João Berté, Arq. Urb. Orientador: Marcelo Galafassi, Prof. Me. Arq. Urb.
A
retomada da agroecologia e da vertente de produção orgânica é uma resposta à necessidade de mudança no padrão nocivo da agricultura, que por um longo período originou problemas sociais, culturais e ambientais. Estas práticas vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil e no cenário mundial e devem ser ainda mais difundidas por pesquisas que aprimorem seus métodos. Além de garantir maiores benefícios nutricionais e ambientais, preserva o patrimônio da agricultura familiar de policultura.
Assim, tem-se os três principais pilares de um espaço de promoção científica, social e cultural, que serve como referência de tratamento socioambiental e de espaço público urbano. A pesquisa: pelo avanço profundo do conhecimento formal e informal dentro dos métodos científicos; A capacitação: como possibilidade de ensinar os métodos não agressivos a quem toca o campo diariamente; A difusão: do conhecimento e da visão orgânica agroecológica para aqueles que vivem na cidade, interagindo com a vida diária dessas pessoas.
Dentre as necessidades inerentes à transição agroecológica, estão a criação de sistemas mais eficientes, que visem o reaproveitamento natural, e a alteração de hábitos de produção e consumo. Para que isso seja possível, o resgate, a geração e a difusão de conhecimento são indispensáveis. Esses, podem ser incentivados por um local propício para a troca de ideias entre aqueles que possuem o domínio sobre a agricultura, sejam formados pela universidade, ou pela lida diária com a terra. Um centro de pesquisas em agricultura orgânica, então, deve ser o espaço para atrair e abrigar essa função de permuta intelectual. Chapecó/SC, município escolhido para a intervenção, localiza-se em um ponto estratégico do estado de Santa Catarina e se aproxima dos dois agentes responsáveis por essa troca. É o município referência em uma região que corresponde a origem de grande parte dos insumos agrícolas do estado, em sua maioria, em pequenas propriedades de terra. Além disso, Chapecó e a região que a circunda possuem diversas universidades que oferecem cursos abastecedores de instituições de pesquisa agrícola. Ao articular uma fenda do meio urbano chapecoense com seu entorno, o equipamento cria novos espaços públicos e interage com outros existentes (Ecoparque Chapecó e Bairro Passo dos Fortes). Desta forma, demonstra além da preocupação científica, a busca pelo despertar do sentimento de pertencimento ao lugar e a curiosidade em relação às práticas realizadas.
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CONTEXTO URBANO Como a instalação do equipamento poderia potencializar e ser algo notável para essa localidade e seus usuários? Jordi Borja (2003) comenta que a responsabilidade do urbanismo é produzir espaço público, que relacione tudo com tudo, que ordene as relações entre os elementos construídos e as múltiplas formas de mobilidade e de permanência de pessoas. Espaço público qualificado culturalmente para proporcionar continuidades e referenciais, marcos urbanos e entornos seguros, cuja força transcenda as funções aparentes. O espaço público concebido também como instrumento de redistribuição social, coesão da comunidade e autoestima coletiva.
A paisagem que circunda o terreno é bastante marcada pelo aspecto natural, onde o verde se faz presente na arborização das ruas, quintal das residências, mata ciliar e no Ecoparque. O rio que corta e faz margem ao terreno, no entanto, não é visto como um elemento estruturador a ser valorizado. As edificações variam em altura até quatro pavimentos, possuindo diversidade de usos que agregam considerável vitalidade ao bairro. O terreno está bem posicionado em relação as conexões urbanas disponíveis, porém, por ser um vazio urbano, acaba por configurar-se como descontinuidade entre bairro e parque.
A inserção urbana do centro de pesquisas, então, justifica-se não somente pelo oferecimento de infraestrutura. A lacuna urbana encontrada é o nó onde encontram-se o Ecoparque Chapecó, os pequenos grãos do Bairro Passo dos Fortes e os grandes grãos das edificações do Centro. O posicionamento do equipamento entre 3 tecidos urbanos distintos possibilitou a articulação deste entorno e permite apropriação pública frequente do local. Em uma zona limítrofe do centro, não prejudica seu fluxo e permite a proximidade a equipamentos que vão de encontro as necessidades dos usuários: hotéis, rodoviária, linhas de ônibus, Ecoparque, etc.
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CONCEITO E PARTIDO. O modelo informal também apresenta suas ressalvas. As cercas, por exemplo, tentam delimitar e proteger as propriedades, mas acabam por não garantir a total segurança dessas áreas de plantio, tornando-a apenas um limite tênue entre o seguro e o inseguro. Explorar a cultura, o contexto e o programa foi o caminho essencial para tornar tridimensional o conceito adotado. O primeiro passo para entender as relações técnicas e históricas foi observar os locais onde o conhecimento agrícola, formal e informal, é atualmente construído. Contrapuseram-se, então, um modelo comum de propriedade rural no oeste catarinense, como exemplo de instalação informal, e a sede da EMBRAPA Hortaliças, localizada próxima a Brasília/DF, como formal. A intenção foi a de extrair aspectos de ambos para definir a essência que o espaço deveria ter.
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Assim, o centro de pesquisas estudado trouxe as bases para o programa de necessidades de um local com essa finalidade. Porém, como espacialidade, apresentou diversos espaços residuais e grandes distâncias entre os diferentes usos internos, desfavorecendo os encontros informais entre usuários. Além disso, ao distanciar-se da rua e do centro urbano, não se comporta como um espaço convidativo.
Porém, as propriedades rurais nos relembram questões importantes. A forte relação com a rua, para manter a proximidade com os vizinhos, e a curiosidade por saber quem passa pela estrada de terra, são sentimentos materializados em sua organização. Essa, também relembra o senso de pertencimento sobre as terras, que podem ser observadas com muito apreço a partir das casas e demais instalações.
Encurtar distâncias, agrupar funções e eliminar vazios residuais, para sobrepor uma quantidade maior de fluxos entre diferentes usuários. Isso faz com que haja mais encontros informais e que as trocas de conhecimento possam ocorrer em todo o edifício.
Criar conexão entre bairro e parque por um caminho mais convidativo que faz escoar a diversidade de usos presentes no bairro. A curiosidade do usuário é explorada a medida que ele constrói a imagem do edifício ao contemplar seus diferentes ângulos.
Criar um espaço amplo em frente ao rio, distanciando-o da edificação, criando uma transição de espaços públicos, indo do Ecoparque para uma Horta Comunitária inserida no bairro. A altura do edifício foi limitada em relação aos 4 pvts. do entorno.
Abrir o espaço e moldar a geometria para criar novas vistas a partir do edifício, além de novos pontos de encontro com qualidades diferentes.
Proteger as áreas de plantio pela própria edificação, fazendo dela uma cerca viva, com olhos atentos para dentro e para fora, em todas as frentes do edifício. Faz-se valer do modelo rural informal e de todas as sensações que sua organização nos traz.
Fragmentar o volume para criar maior relação com a geometria das edificações do entorno e ampliar a área ensolarada para as estufas que localizam-se no topo da edificação.
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Dentre os fatores que determinam as características de trabalho em ambientes voltados a pesquisa e inovação, estão os seguintes: Incentivo a comunicação e interação, comunicação virtual, incentivo ao trabalho em equipe e multidisciplinaridade, assegurar privacidade, flexibilidade na forma de trabalho e flexibilidade e adaptabilidade do espaço físico (BATAGLIA, 2010). Para compor qualidades espaciais que favoreçam esses atributos, não somente a tecnologia e os materiais adequados foram observados.
1. Campo de testes 2. Jardim 3. Espelho d’água e fitorremediação 4. Zona de Raízes 5. Pomar e Hortas
6. Horta Comunitária 7. Docas 8.Carga/Descarga da Compostagem 9. Feiras
O programa de necessidades foi direcionado ao uso de pesquisadores, agricultores e à população em geral e disposto de maneira a gerar a maior quantidade de trocas físicas e visuais entre os usuários. Este contou, além de laboratórios, estufas e ambientes técnicos, com espaço para feiras de produtores locais e exposições, mercadão orgânico, restaurante, café, setor empresarial para incubadoras, salas de aula, ambientes de estudo individual e coletivo, central de compostagem, etc. A criação de programas comunitários foi um dos alvos do programa de necessidades. Por exemplo: o material orgânico trazido pela população em geral ou por fruteiras e mercados da cidade para compostagem, poderá ser trocado por créditos no mercadão orgânico do próprio centro de pesquisas. Assim, uma relação benéfica e mutua gera impacto na vida da cidade. A percepção diversificada dos usuários acerca da intimidade com seus espaços de trabalho, direcionou a setorização para alcance de variabilidade de ambientes de trabalho em diferentes níveis de privacidade. Assim, os laboratórios foram posicionados em duas alas diferentes, juntos das estufas, estando estas, condicionadas ao local com maior acesso a radiação solar (cobertura da edificação). Além disso, ambientes de estudo foram também dispostos na biblioteca e junto ao banco de sementes no 2º pavimento. Junto disso, buscou-se sobrepor diferentes fluxos intencionalmente, posicionando lugares comuns aos diferentes usuários (café, cantina, estares, sanitários) próximos aos pontos de circulação vertical, havendo maiores chances de encontros informais. As vedações leves e transpartentes/semi-transparentes auxiliaram no alcance de maior visibilidade entre e nos diferentes espaços do centro de pesquisas. Ademais, também permitiram o alcance de maiores níveis de iluminação natural.
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MODULAÇÃO E ESTRUTURA A escolha pela estrutura metálica visou a liberdade estrutural e adaptabilidade dos ambientes. Como pode ser percebido no Corte AA’, também se utilizou de piso elevado abaixo das estufas e laboratórios, para garantir versatilidade a estes espaços.
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A modulação utilizada variou em múltiplos de 60cm, com vãos de 4,80m a 13,20m, com núcleos rígidos de concreto junto às circulações verticais e banheiros. Também foi feito o uso de estruturas treliçadas no último pavimento da edificação e na cobertura do espaço voltado a feiras.
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1. Circ. Vertical 2. Sanitários 3. Recepção Geral 4. Mercadão 5. Foyer
6. Auditório 7. Restaurante 8. Feiras 9. Espelho d’água + fitorremediação 10. Estar
11. Compostagem 12. Garagem 13. Campo de testes 14. Empresarial e Incubadoras 15. Banco de sementes
16. Administração 17. Depósito de Colheita 18. Laboratório 19. Serviços e apoios 20. Terraço Jardim
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21. Salas de Aula 22. Cantina 23. Estufa 24. Biblioteca 25. Café
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LINGUAGEM E MATERIALIDADE A busca pelo despertar da identidade com o local também foi relevante na definição da materialidade da edificação. Tomou-se base em elementos marcantes na paisagem rural do oeste catarinense: os galpões de roça. Utilizados para a secagem de fumo e abrigo de utensílios agrícolas, demonstram aspectos de qualidade em estética e funcionalidade. Eles, foram relembrados e utilizadas nas diretrizes de materialidade, estrutura e até mesmo conforto. Dois pontos relevantes foram a busca pela neutralidade cromática do construído, frente aos tons de verde das plantações e do entorno natural, e a manutenção do aspecto visceral arquitetônico, ao fazer questão de revelar a estrutura e os materiais como são. O centro de pesquisas também relembra a leveza pela configuração livre do térreo, junto a esbelteza e grandes vãos permitidos pelos pilares metálicos. Na questão do conforto ambiental, a utilização de elementos de proteção solar verticais e aberturas altas permitiram controle de radiação e melhor ventilação.
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Nas imagens e nos esquemas aqui retratados, estão alguns exemplos da variabilidade de espaços onde o encontro de diferentes públicos podem ocorrer. Espaços que privilegiam os visuais, a sobreposição de fluxos e o conforto ambiental.
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PROJETOS ACADÊMICOS
Representação gráfica sobre projeto do acadêmico Jeferson Branco
PROJETOS ACADÊMICOS
PARASIDUM ECO-VILLAGE - HOTEL & SPA Arquitetura imersa na natureza
Jeferson Branco, Acad. Arq. Urb. Professores Orientadores: Carlos Alberto Barbosa de Souza, Prof. Me. Arq. Urb. e Eduardo Baptista Lopes, Prof. Me. Arq. Urb. PROJETO ARQUITETÔNICO - HOTEL
PARASIDUM ECO-VILLAGE - HOTEL & SPA
projeto apresentado a seguir foi desenvolvido para a disciplina de Projeto Arquitetônico do oitavo período do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI, durante o primeiro semestre de 2017. O principal objetivo da disciplina é a proposição de um Hotel no Bairro Praia Brava, em Itajaí, que tivesse como enfoque o turismo de lazer e o turismo de negócios. Dessa forma, o hotel devia abrigar, além de suas áreas técnicas convencionais, unidades habitacionais de lazer, de lazer de luxo, e unidades habitacionais executivas, bem como um centro de convenções e um SPA.
Em meio ao caos de duas cidades altamente densas, localizado na Avenida Osvaldo Reis, principal via de conexão entre as cidades de Itajaí e Balneário Camboriú, foi proposta a implantação do Eco-Resort PARADISUM ECO-VILLAGE, Hotel & Spa, um refúgio em meio natureza.
O
O terreno onde o projeto foi implantado possui características geomorfológicas desafiadoras, com grandes desníveis, presença de talvegues, e grandes superfícies cobertas com densa Mata Atlântica. Além disso, o lote possui como características especiais a vista para o mar, e grande extensão com frente para a Avenida Osvaldo Reis.
A região possui grande notoriedade no campo do eco-turismo, com a presença de investimentos públicos e privados, como o complexo turístico do Morro do Careca e o Parque Unipraias, em Balneário Camboriú, e o Parque do Atalaia e a revitalização nas bordas do Rio Itajaí-Açú, em Itajaí. Dessa forma, o Hotel Paradisum pode inserir-se dentro desse circuito, incluindo atividades voltados ao turismo de natureza através dos conceitos de sustentabilidade aplicados.
Planta de principais acessos das edificações e setorização de usos.
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Isómetrica de usos.
Implantado em um sítio coberto pelo verde da Mata Atlântica, foi intuitivo idealizar possíveis formas de conexão entre a arquitetura, a natureza e o homem. Assim, o resort foi pensado de maneira a permear a natureza, enfatizando a relação entre o homem e o meio ambiente, valorizando também a preciosa vista que a topografia do local proporciona para o Oceano Atlântico, desconectando por completo o usuário do caos urbano, tão próximo. Atribuindo sempre o menor impacto ao ambiente natural, foram considerados materiais que, de alguma forma, reduzissem os danos a natureza comparado aos métodos tradicionais de construção civil da região. Assim, a estrutura do projeto foi definida por metálica, e para os fechamentos foram definidos materiais como a Canela, provinda de madeira de reflorestamento. A taipa aparece no projeto como protagonista nos materiais, executada com matéria-prima da própria movimentação de terra que se fez necessária diante da proposta de implantação.
Refúgio em meio a natureza. (Edifício de acesso principal ao fundo e unidades habitacionais de lazer a frente.)
Buscando sempre esta forte conexão da arquitetura com a natureza, imergindo-a em meio a densa mata do local, com a intensão de preservar o máximo das vegetações e forrações naturais, foram elevadas as edificações de acordo com que não prejudicasse seu programa e utilização pelo usuário.
Restaurante/bistrô público localizado no ponto mais alto do terreno, funcionando também como mirante valorizando vista para o oceano.
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PROJETOS ACADÊMICOS
Ao mesmo tempo que naturais e racionalizadas, as edificações elevadas do solo resultaram em formas ortogonais, mantidas assim por todo projeto a fim de criar uma linguagem única do conjunto. Já as áreas abertas, contrastando a arquitetura edificada, foram concebidas de forma orgânica, trazendo conceitos sensoriais do estudo de fenomenologia, o mesmo aplicado no já renomado Getty Center, localizado em Los Angeles. Considerando a grande extensão do terreno e os longos trajetos que os usuários
devem realizar, os caminhos devem ser vivenciados de forma agradável, reforçando o contato com a natureza, em meio a vegetação, passando por cima e por bordas d’agua, valorizando visuais diferenciados, etc. A distribuição dos edifícios foi concebida através de eixos que foram divididos e nomeados como eixos de lazer, eixo habitacional e a ligação entre eles, o eixo de serviço.
Arquitetura imersa na natureza - Conexão entre usuário e meio ambiente.
Área de lazer externa concebida de forma orgânica contrastando a arquitetura ortogonal.
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Este eixo de serviço é localizado na única cota totalmente arrasada do projeto, e foi pensado a fim de facilitar a dependência que um edifício tem do outro, como também o fluxo de serviço, que assim, possui apenas este caminho conectando o edifício de logística, localizado a margem da avenida, recebendo todos os tipos de mercadorias necessárias para o funcionamento do hotel, à todas as outras edificações, que seriam os destinos finais das mercadorias entregues.
Eixo estruturadores do projeto.
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PROJETOS ACADÊMICOS
Unidades habitacionais de luxo suspensas do solo preservando a forração natural do sítio.
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Bloco de lazer ao fundo como portal à área externa de lazer do Resort e praça principal.
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Circulação vertical “mirante" conectando o bloco principal (feito em taipa) ao restante do projeto.
Caminho de chegada a área central de lazer externo explorando as diversas sensações de caminhar em meio a natureza.
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PROJETOS ACADÊMICOS
BIBLIOTECA PARQUE HBR Intervenção arquitetônica em área de preservação histórica Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo Bruna Regina Corrêa, Dhéssica Neidiele Rezende Lima e Karina de Souza Loch Professores Orientadores: Luiz Eduardo de Andrade, Prof. Me. Arq. Urb. Maria Cristina Bittencourt Mincache, Prof. Dr. Arq. Urb.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A
disciplina de Projeto 3 (5º Período), do curso de Arquitetura e Urbanismo, da UNIVALI em Balneário Camboriú, tem como tema Equipamento Cultural/Biblioteca e Patrimônio, entendendo a nova dinâmica dos equipamentos culturais e sua importância na transformação das cidades. ”Pensar neste tema significa discorrer acerca da sociedade, da educação, da diversidade, do conhecimento, dos modos de fazer, usufruir e se apropriar das cidades e seus espaços com criatividade. É daí que emerge a relevância da cultura para o propósito da transformação nos centros urbanos, constituindo-se numa forma de transformar a cidade no lugar onde a criatividade e as relações humanas se fundem “.(DANILO SANTOS DE MIRANDA,São Paulo- Nov./2011)
O objetivo da disciplina é Projetar Equipamentos Culturais dentro de área de preservação histórico/cultural. A área/local escolhida para o 1º semestre de 2017 foi o Herbário Barbosa Rodrigues, na cidade de Itajaí. As acadêmicas Bruna Regina Corrêa, Dhéssica Neidiele Rezende Lima e Karina de Souza Loch, orientadas pelos professores Luiz Eduardo de Andrade e Maria Cristina Bittencourt Mincache, desenvolveram este tema, num primeiro momento, com outros grupos, propondo a elaboração de Estudos de Caso ( com novos conceitos de Biblioteca) e Leitura do local com obtenção de dados e percepções (fundamentado em alguns autores).O trabalho desenvolve-se em duplas/trios que definem, conceitos, intenções, desejos, condicionantes e estratégias, elaborando a partir daí Partido, e desenvolvimento do Projeto, através de Painéis preliminares e Maquetes Físicas (Entorno e em seguida explicitando equipamento). A última etapa do Processo desenvolveu-se o Ante-Projeto, atentando para detalhamento de Soluções arquitetônicas adotadas e Sistemas Sustentáveis.
Localização/ Situação
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BIBLIOTECA + HERBÁRIO BARBOSA RODRIGUES Preservar a memória e a cultura de uma sociedade vai muito além da história, estes aspectos se permeiam em vários âmbitos do nosso dia a dia; a nossa produção arquitetônica é um deles e cabe a nós identificar o que é de valor histórico e preservar para as gerações futuras. A complexidade da arquitetura vai muito além da edificação, esta por si só reúne em um único elemento inúmeros pormenores que refletem o saber de um povo; isto pode estar materializado nas técnicas construtivas, nos materiais, ou no programa da edificação, revelando conhecimentos e fatos que nos ajudam a entender o passado para assim termos parâmetros para construir as novas décadas. Atualmente a preservação de obras arquitetônicas históricas se encontra muito mais valorizada do que em épocas anteriores, entretanto, para ser preservado, um bem arquitetônico deve ser renovado, nunca descaracterizado, mas adaptado as novas necessidades do homem contemporâneo. O foco é preservar o histórico sem permitir que este caia em obsolescência. A proposta deste projeto é a criação de um equipamento cultural aliado ao Herbário Barbosa Rodrigues, localizado no município de Itajaí, visando valorizar uma edificação local, trazendo maior vitalidade e rentabilidade, com uma arquitetura que marca o período contemporâneo em que está sendo erigida.
Perfil do Usuário + Programa de Necessidades
Além do conceito escolhido, o Herbário é a condicionante que mais influencia no projeto, assim, utilizamos da sua modinatura para traçar um novo edifício. Isso se exemplifica através das linhas mais retas da nova edificação, das varandas do herbário que refletem nos jardins da biblioteca, e os vazados da fachada frontal que aparecem na biblioteca, tanto nas fachadas quanto na cobertura. No projeto também constam alguns ajustes no herbário, como a demolição do anexo, restauro da varanda original, repaginação dos antigos usos e a criação de novos.
Conceito
O Herbário possui um grande valor arquitetônico, carregando aspectos originais em sua construção, e levando em consideração que nossas necessidades e interesses estão em constante evolução, mantê-lo intacto acaba fazendo com que não haja um interesse da população sobre ele. Com base nisto, o tema é a criação de uma biblioteca parque, com espaços amplos e dinâmicos, potencializando a identidade cultural do local, unindo cultura, educação e áreas de lazer, com atividades que atendam a um público de todas as faixas etárias.
Condicionantes e Diretrizes
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PROJETOS ACADÊMICOS
Na criação do projeto procuramos aplicar conceitos relacionados à harmonia , interação, diversidade, conectividade e vitalidade, utilizando como estratégias a criação de percursos, espaços criativos, atividades com percepção multissensorial e aplicação de usos diversos que atinjam uma maior quantidade de usuários. A nova forma arquitetônica visa ocupar o terreno criando um ambiente comum entre o novo equipamento e o Herbário, e através de um percurso de atividades que acontece no pavimento térreo faz a costura entre o Herbário e a Biblioteca. Planta Baixa Pavimento Térreo
Planta Baixa Primeiro Pavimento
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A materialidade e o gabarito do projeto foram definidos de forma a criar uma atmosfera harmonioza, utilizando o vidro, placa cimentícia e placas de ACM com cores claras, sobre uma estrutura metálica.
Fachada Frontal
Fachada Lateral Direita
Fachada Posterior
Fachada Lateral Esquerda
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PROJETOS ACADÊMICOS
Corte Longitudinal Perspectivado
A volumetria final é marcada pela simplicidade das linhas retas que fazem o contorno do terreno, segmentando o novo e o antigo e conectando-se sutilmente. Esse volume único é interrompido pela criação de um percurso alternativo: a rampa. Começando de forma tímida na fachada frontal, ela se estende pelas laterais, adentra o corpo do edifício e chega na cobertura, um espaço que acontece além da biblioteca, com usos diferenciados que convidam o público, fazendo da rampa uma grande protagonista na forma edificada. Internamente, buscamos não criar barreiras, onde o próprio mobiliário delimita as atividades de cada setor mantendo os espaços visualmente permeáveis e os ambientes integrados.
Perspectiva Frontal
Esquina com Visibilidade do Herbário
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Área Interna Infantil
Lateral Esquerda
Área Destinada a Contação de Histórias
Segundo Pavimento
Escada Pavimento Térreo
Cobertura
Acervo / Leitura / Estudos
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PROJETOS ACADÊMICOS
CENTRO DE PARTO NORMAL CERES EM JOINVILLE: Harmonia entre as tecnologias de arquitetura e saúde em prol do parto humanizado Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo Geniana Finatto, Isadora Bechert de Modesti, Leandro José de Souza Faqueti e Micheli Carla Durante. Professora orientadora: Andrea de Aguiar Kasper, Prof. Dr. Arq. Urb.
APRESENTAÇÃO
A INTERFACE DO ANEXO CERES COM A MDV
projeto em questão contempla uma edificação anexa à Maternidade Darcy Vargas (MDV), situada no município de Joinville, no estado de Santa Catarina, elaborado durante a disciplina de Projeto Arquitetônico da nona fase do Curso de Arquitetura e Urbanismo, no semestre de 2017-01. O Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS) projetado comporta, entre outras Unidades, a do Centro de Parto Normal e de Alojamento Conjunto, o qual busca de um lado, alinhar-se ao seu contexto de inserção e, por outro, aprimorar o atendimento da demanda da MDV e da região, na qual está inserida. Para isto, baseou-se em condicionantes urbanísticos e arquitetônicos, e em um programa e demandas identificadas pelos autores. A ideia de “deixar a natureza fazer o seu trabalho” permeia a proposta arquitetônica, com a previsão de ambientes que favorecem ao parto humanizado e ao acolhimento dos pacientes, inclusive, dos acompanhantes e dos familiares. O projeto, dessa forma, busca atender às demandas da sociedade, especialmente, àquelas orientadas pela Rede Cegonha que é uma estratégia do Ministério da Saúde (MS). Dessa forma, planejar ambientes mais humanizados para a maternidade, constituíram-se na base para as estratégias projetuais. Estas, também, foram embasadas na metodologia de projeto proposta pela disciplina de Projeto Arquitetônico, a qual sugere permear questionamentos teóricos e culturais; técnicos e tecnológicos, abrangendo os âmbitos da arquitetura e da saúde; e de humanização para alcançar os objetivos de aprendizagem propostos por esta.
O nome Ceres faz alusão à deusa romana, que para Carvalho (2017), representa a experiência da maternidade. Seu nome está relacionado à fertilidade, ao nascimento e ao crescimento.
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Localizada no Bairro Anita Garibardi, em Joinville, a Maternidade Darcy Vargas passa por dificuldades no atendimento em virtude da infraestrutura antiga, que dificulta a ampliação e melhoria do hospital. A demanda existente não comportada, mostra a necessidade de uma solução para adequar e qualificar os serviços prestados. A proposta de um novo Estabelecimento Assistencial de Saúde próximo busca suprir essa necessidade, desafogando a superlotação da Maternidade e atendendo a demanda de Joinville e região.
Figura 1: Localização Centro de Parto Normal Ceres Maternidade Darcy Vargas. Fonte: Autoria própria, 2017.
O padrão arquitetônico adotado pela Maternidade Darcy Vargas é rompido na proposta. A verticalidade e as novas tecnologias utilizadas fazem com que o novo anexo se destaque na paisagem, mostrando a inovação não só construtiva, mas uma nova proposta de atendimento: humanizado e de qualidade.
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O novo anexo contará com instalações que irão complementar e qualificar os serviços prestados pela Maternidade Darcy Vargas. Serão realizados somente partos normais e com atendimento humanizado, para a gestante e o recém-nascido. Havendo intercorrências, o atendimento ao paciente será feito nas unidades da Maternidade Darcy Vargas, que conta com centro obstétrico e UTIs Adulto e Neonatal.
Figura 2: Perspectiva Centro de Parto Normal Ceres e Maternidade Darcy Vargas. Fonte: Autoria própria, 2017.
Figura 3 (à esquerda): Unidades do Centro de Parto Normal. Figura 4 (acima): Unidades da Maternidade Darcy Vargas que serão utilizadas também pelo Centro de Parto Normal Ceres. Fonte: Autoria própria, 2017.
Com o intuito de facilitar a conexão entre o existente e o proposto, o local escolhido para o desenvolvimento do projeto se encontra no entorno imediato. A conexão entre os dois edifícios se dará através de uma passarela elevada sobre a via, ligando o terceiro pavimento do novo EAS à uma torre criada na MDV.
Figura 5: Seção Transversal mostrando a conexão entre a torre criada na Maternidade Darcy Vargas (à esquerda) e o novo anexo Centro de Parto Normal Ceres (à direita). Fonte: Autoria própria, 2017.
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PROJETOS ACADÊMICOS
Figura 6: Planta Baixa Térreo. Fonte: Autoria própria, 2017.
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Figura 7: Planta Baixa Primeiro Pavimento. Fonte: Autoria própria, 2017.
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PROJETOS ACADÊMICOS
Figura 8: Planta Baixa Segundo Pavimento. Fonte: Autoria própria, 2017.
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DEFINIÇÃO DO CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS
MATERIALIDADE E TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS
A ideia de parto humanizado, levou à apropriação da frase: “Deixar a natureza fazer o seu trabalho”. Por um lado, o conceito pressupõe uma proposta arquitetônica que favorece ao parto humanizado e acolhimento das mães e bebês. Por outro, busca maior integração do projeto com o meio natural existente, neste caso, a vegetação nativa e a topografia acidentada. Ressaltam-se os terraços verdes e os jardins internos que remetem à continuidade das curvas de níveis, trazendo o morro para dentro do EAS, tornando os espaços agradáveis e humanizados.
A estrutura metálica com modulação de 7,50x7,50 metros, amplamente utilizada na área da saúde (GOÉS, 2011; CARVALHO, 2014), tem o fechamento horizontal com lajes Steel Deck e vertical com Drywall, junto da placa cimentícia. Como revestimento, foram priorizadas materiais na forma bruta, como a madeira e o concreto. Utilizada para marcar as fachadas das unidades Alojamento Conjunto e Centro de Parto Normal, a fachada cinética é composta por placas metálicas que se movimentam com o vento. A mesma também foi utilizada na torre criada na Maternidade, com o objetivo de minimizar o impacto da sua verticalidade. O vidro foi usado para demarcar as áreas de recepção, estares e a passarela de ligação.
Figura 9: Esquema Conceito. Fonte: Autoria própria, 2017.
Figura 11: Fachada Principal – Recepção Geral
CONCLUSÃO
Figura 10: Esquema de Diretrizes. Fonte: Autoria própria, 2017.
De modo geral, o objetivo de apresentar uma proposta de EAS que buscasse um alinhamento ao contexto de inserção e aprimorasse o atendimento da demanda da MDV e da região, foi alcançado. Para isso, a realização de pesquisas relacionadas ao tema e a orientação docente foram de fundamental importância. A inexperiência com projetos hospitalares e o pouco contato com termos da área da saúde, tornaram o processo mais demorado e laborioso. No entanto, aos poucos o projeto foi tomando forma e o trabalho foi se tornando prazeroso. A conexão direta com a Maternidade existente, a organização das atividades em ambos os edifícios, os espaços de convívio, as áreas verdes, o ordenamento dos fluxos e os ambientes projetados para cada atividade, fazem do novo EAS um equipamento com tecnologias da arquitetura e da saúde, favorável à um atendimento qualificado e à realização de partos normais humanizados. Por fim, saber projetar um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS), é essencial para a formação de um arquiteto e urbanista.
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ARTIGOS CIENTÍFICOS
Representação gráfica da Biblioteca Comunitária de Balneário Camboriú
ARTIGOS CIENTÍFICOS
TEORIA, HISTÓRIA E CRÍTICA: apontamentos para um olhar latino americano sobre a Arquitetura. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Prof. Dr. Arq. Urb. UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO O trabalho aborda o entrelaçamento conceitual entre Teoria, História e Critica. Através de uma Metodologia que privilegiou a investigação bibliográfica e o estudo de exemplos construídos, se objetivou estudar uma evolução do pensamento crítico em Arquitetura e as respectivas mudanças das mentalidades ao longo da história. Constatou-se que o pensamento eurocêntrico tem dominado as formulações estilístico-conceituais que ocorreram no continente latino americano. A hegemonia do Movimento Moderno como referência historiográfica orientou várias gerações de arquitetos latinos americanos. Concluiu-se que há possibilidade de uma abordagem do desenvolvimento de uma crítica em arquitetura proveniente da América Latina. Uma proposta de visão históricocrítica descentrada do foco das metrópoles e desobedecendo a periodizações exógenas se desenha, apelando para categorias próprias de análise do nosso espaço com atenção a valores culturais dos lugares da América Latina. Palavras-chave: teoria; história; crítica; arquitetura latino americana.
“Para estabelecer um método crítico podem seguir-se muitas vias: podemos confinar-nos à filosofia da arte, dela deduzindo métodos historiográficos, ou podemos orientar-nos para metodologias já consolidadas, para um empirismo mais ou menos rigoroso, ou para métodos de análise em moda. De qualquer forma, essas escolhas são avaliadas pela sua maior ou menor capacidade de penetração nas razões da história”. Manfredo Tafuri
INTRODUÇÃO Uma pesquisa bibliográfica, em fontes clássicas e atuais, a propósito de entender as relações conceituais ente Teoria, História e Crítica da Arquitetura nos levou a percorrer os meandros de uma evolução cronológica desses conceitos e proposições. Nesse sentido alguns pontos de inflexão se destacariam, assinalando mudanças de rumo, de acordo com o espírito de cada época. À parte da evolução tecnológica no campo da construção e dos sucessivos e diferentes programas arquitetônicos formulados ao longo do tempo procurou se investigar as principais fontes de leitura eurocêntricas, que nortearam por muito tempo, por exemplo, a periodização das variantes estilísticas na América Latina.
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No desenvolvimento dessas leituras e na constatação de que muitas das referências, comumente utilizadas na América Latina, seriam “ideias fora do lugar” (SCHWARZ, 2014), procurou-se indagar acerca de outras visões sobre a arquitetura a partir de estudiosos de nosso continente. Essa busca de coerência dos entrelaçamentos entre Teoria, História e Crítica, para nossa realidade cultural, levou-nos a crer da necessidade de estudarmos mais a fundo essa realidade e suas contradições. Concluiu-se, apoiado em autores já consagrados no âmbito acadêmico, da importância e urgência do estabelecimento de pensamentos e ações apropriados a uma pesquisa sobre a arquitetura latino americana.
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METODOLOGIA
funcionamento as exigências e necessidades correntes do edifício, imprime à sua forma certos caracteres veneráveis e belos (...)”.
Para problematizar a temática buscou-se uma revisão bibliográfica que contemplasse autores seminais e/ou clássicos da Teoria e História da arquitetura. Isso acarretou em uma viagem por leituras que revelaram, para além dos temas mais conhecidos, uma aproximação com as ideologias e conceitos por trás dos textos. A busca de exemplos de arquitetura, sempre em um recorte muito parcial, ligado à temática abordada, trouxe à luz possíveis comparações entre forma e conceito projetual, entre sítio de implantação e resultado construído, entre outras constatações. TEORIA E HISTÓRIA OU UMA BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA TEORIA. Uma primeira formulação de uma teoria da arquitetura certamente coube ao romano Vitruvius. No século I, esse pensador seminal propôs o trinômio Firmitas (solidez, firmeza, consistência), Utilitas (utilidade, uso, funcionalidade) e Venustas (beleza, elegância, estética) através do qual sistematizava todo um pensamento arquitetônico básico que, de alguma forma, reverbera até os dias de hoje. (VITRUVIUS,2007-séc. I).
Com a 2ª Revolução Industrial, do final do século XIX, e a inevitável ruptura com o mundo rural e gradual transformação da cidade na modernidade, a discussão funcionalista começou a ganhar fôlego. A negação dos valores ornamentais como meras “tatuagens”, enfatizada, por exemplo, por Adolf Loos em seu manifesto de 1908 (Ornamento e delito) iria encaminhar a formulação de novos ideais estético-funcionais ligados referencialmente ao paradigma da máquina e sua objetividade. As vanguardas europeias e o Movimento Moderno, que marcaram o século XX (até pelo menos os anos 1970) vieram a afirmar a hegemonia de um pensamento quase que estritamente funcionalista, pretendendo uma internacionalização dessa corrente, independentemente dos valores culturais regionais. Uma crise de significado, advinda de certa banalização das formulações plásticas modernas, pautaria as discussões (centradas na Europa e Estados Unidos) sobre uma crise dos valores plásticos da arquitetura e a busca de contextualização dessa no âmbito dos lugares de sua inserção.
Na Renascença, a arquitetura de Andrea Palladio, calcada nos valores humanistas clássicos, iria estabelecer outras bases teóricas. A simetria (especular) em planta e elevação viria a se consagrar como valor estético e um rigor compositivo, sistematizado em publicação manualística (De re aedificatoria), iria ser proposto por Leon Alberti.
Kenneth Frampton, por exemplo, defenderia um regionalismo crítico, como resposta à vulgarização e ao internacionalismo (anódino) da arquitetura do Movimento Moderno. Residiria aí um entendimento, por vezes semelhante ao dos críticos e historiadores italianos, Aldo Rossi e Giulio Argan, dos valores culturais regionais de uma arquitetura da cidade e dessa como obra de arte.
No decorrer do século XVIII, dos estudos de Ledoux e Durand, enfatizando uma teoria tipológica, racional e objetiva, até os ideais propagados na Academia de Belas Artes – Paris - (que, em seu conjunto pressupunham que essas Artes “criam beleza e comunicam emoções estéticas” (ECHAIDE,1976)) se deu uma série de reflexões teóricas sobre a arquitetura, sempre vinculadas aos momentos históricos correspondentes. Foram importantes teorizações, em um contraponto entre os aspectos estéticos e valores construtivos, ora predominando uns, ora outros. Ressalte-se aí a dupla função da arquitetura: uma expressão estética, simbólica, e outra de utilidade prática, objetiva.
A introdução de novas categorias da abordagem teórica da arquitetura, ao longo do século XX, levaria, no limiar de um novo século, a uma miríade de valores conceituais. Esses iriam de uma arquitetura contextualista, passando pela valorização do espaço projetado, ambientalmente sustentável até uma (proposta e radical) liquefação da arquitetura, encarada por esse viés, não mais como algo perene, mas sim como evento efêmero ou (veja-se a “starchitecture”) como algo espetacularizado e/ou icônico de movimentos da cidade e seu marketing.
A ideia de arquitetura como uma das Belas Artes (senão a maior delas) encontraria, mais adiante, em John Ruskin (1849) a afirmação de que “o nome de arquitetura deve reservar-se para a arte que, compreendendo e admitindo como condições de seu
Mesmo assim, com a variação sucessiva dos paradigmas conceituais, “a teoria da arquitetura permanece como um aspecto do processo histórico, e aquele que reflete sobre ele está integrado a esse processo”. (KRUFT, 2016). Fica assinalada então a impossibilidade de se exercer uma crítica a-histórica e a evidente parcialidade do processo crítico na arquitetura.
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Para o crítico catalão Josep Montaner, “história, crítica e teoria se complementam e são, ao mesmo tempo, totalmente diferentes em seus métodos e objetivos”. (MONTANER, 2014). A história utiliza documentos do passado, reconstruindo e reinterpretando os fatos (narrativas). Caberia à crítica trabalhar o contexto e o momento da obra contemporânea, para poder explica-la. Por fim, a teoria da arquitetura (elaboração conceitual) não prescinde do conhecimento histórico e da análise crítica. Sobre o momento atual e a impossibilidade de uma unidade conceitual moderna, outro importante crítico contemporâneo afirma que ”mais que corpos teóricos, o que encontramos são situações propostas que buscam consistência nas soluções particulares de cada acontecimento”. Pois hoje se vive “uma condição de conhecimentos fragmentários e dispersos nas diferentes manifestações culturais” (SOLÁ-MORALES, 1995). EM BUSCA DE UMA VISÃO NÃO EUROCÊNTRICA Uma abordagem não intensamente comprometida com a defesa de uma arquitetura internacionalizada e, por outro lado, analisando obras e autores colocados à margem da historiografia consagrada do moderno viria, por exemplo, no trabalho de Alan Colquhoun. Esse autor afirma que “muitos aspectos da teoria moderna seguem sendo válidos hoje em dia, mas boa parte dela pertence ao reino do mítico e resulta impossível de aceitá-la por si mesma. O próprio mito chegou a ser história e exige uma interpretação crítica”. (COLQUHOUN, 2005). Esse autor europeu não está só em sua necessidade de revisão dos paradigmas conceituais. No campo da crítica latino americana (em que pese a importância de Montaner, outro europeu, preocupado com os rumos dessa crítica) se destacam algumas figuras, vindas de um exercício intelectual aprofundado sobre questões como uma nossa identidade e a introjeção de uma visão europeizada, eurocentrada, em nossa produção regional. O crítico argentino Ramón Gutiérrez, ferrenho defensor de valores próprios de uma arquitetura latino americana, propõe alguns aspectos conceituais que seriam identitários dessa: “em primeiro lugar vem a noção de nosso espaço e a presença da paisagem” (GUTIÈRREZ, 1989). Para ele as teorias exógenas teriam sido apropriadas e reelaboradas no continente latino americano e submetidas ao “mesmo sistema empírico de formas culturais intangíveis (equilíbrio com a natureza, sistema de crenças e organizações supra estruturais 130
do espaço, os valores simbólicos e a sacralização de espaços e ambientes)”. (op. cit, 1989). Outra ideia, ligada à identidade da arquitetura latino americana, “se relaciona ao uso dos espaços comunitários ou públicos” (op cit, 1989). Seria vital, a presença, ainda que hoje rarefeita, do domínio do espaço externo das culturas nativas, como as praças centrais, as arcadas e os eixos processionais das cidades pré-hispânicas. Basta um breve olhar sobre esses espaços hoje, para constatarmos, em muitos centros urbanos fundacionais, a força desses lugares, em que pese a superposição da matriz hispânica sobre as antigas estruturas. Uma apropriação da Plaza Mayor, por exemplo, a recuperou, em sucessivas camadas temporais, como lugar do mercado, dos ritos religiosos e profanos, da vivência cotidiana dos povos submetidos ao poder hispânico. Gutiérrez é mais incisivo ao defender uma historiografia própria para a América Latina: “Uma visão cumulativa, finalista, cegamente amarrada à sorte da historiografia eurocêntrica, e ultimamente também ofuscada pela América do Norte, criou uma leitura de nós mesmos que serve não só para a autocomiseração, mas também como eficiente ferramenta para o ceticismo, a impotência e o complexo – ou seja, a dependência”. Mesmo a mídia cultural, hoje, parece aceitar a ideia de uma versão estilística latino americana, para além da influência ou dos paradigmas estrangeiros. Ao comentar uma recente mostra sobre o barroco brasileiro, o autor da matéria o coloca em termos de tropical e mestiço, onde as expressões artísticas desse estilo aqui encontrariam um viés único, carregado de alusões profanas e fantasiosas, em alegorias distintas às das metrópoles. (MARTI, 2017). Sobre a periodização com base eurocêntrica, onde tudo o que teríamos de mais expressivo seria tardio, Marina Waisman (editora da antiga revista argentina Summa) a problematiza, entendendo que “a ideia de contexto histórico articulado, perpassa a tarefa do historiador, havendo uma tentativa ou necessidade “natural” de denominar, caracterizar, periodizar os vários ciclos e trajetos das tendências e linguagens arquitetônicas”. (WAISMAN, 2013). Pode-se questionar hoje uma periodização “clássica” de origem europeia como sendo universal. Isso para Waisman ocasionou generalizações perigosas, como, em exemplo citado pela autora, a ideia de um “império maia” (que não teve nenhum imperador). Parece ser necessária a exigência vital de (re) construirmos
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uma historiografia latino americana. Nesse sentido, as unidades históricas devem ser criteriosas, acompanhando o ritmo cultural de nossos países. Assim não faria sentido, por exemplo, a denominação “tardia” para os estilos e linguagens aqui adotados ao longo de uma periodização própria da latinidade. Isso aconteceu com o caso do barroco, citado anteriormente que, assim como outras vogas estilísticas, chegou à América por força das metrópoles e aqui assumiu ser outra coisa, digamos produto antropofágico, resultante de processos complexos de assimilação e apropriação. Tal pensamento parece ser adequado para analisar, por exemplo, a produção da arquitetura moderna latino americana, reconhecidamente dotada de luz própria, em cuidadoso processo de ambientação aos lugares e paisagens locais, traduzindo-se em exemplares únicos, distintos das matrizes corbusianas e de outras procedências conceituais. Por outro lado, para o crítico argentino, Adrián Gorelik, estaria em curso uma “produtiva revisão das vanguardas latino americanas” que começou pelas áreas da literatura e da história cultural. Isso implicaria, apoiando o pensamento de Waisman, em perceber que há uma “defasagem de origem, que se traduziu, na crítica, na necessidade de adjetivação” dessas. Por não terem provindo de nossos epicentros culturais e sim, de uma forma ou de outra, importadas das metrópoles, não seriam aqui vanguardas simplesmente, mas “vanguardas atenuadas”, “vanguardas reativas”, “vanguardas classicistas”, “vanguardas oficiais” (apontando-se aí o paradoxo do adjetivo) ... (GORELIK, 2005). O autor questiona a valoração extrema das “influências” externas à produção de uma arquitetura latino americana, defendendo também que, nos campos historiográficos, isso estaria a muito superado. Teria havido realmente, como processo contínuo, uma sucessiva miscigenação cultural, típica de nossos países, com intermediações de várias procedências e níveis de importância. No caso da arquitetura moderna, desde o caso seminal do edifício do Ministério de Educação e Saúde (Rio de Janeiro,1936-1945) de Lúcio Costa e equipe, aconteceu uma (original) reinterpretação regional/tropical dos cânones corbusianos. Foi valorizada uma promenade arquitetônica que perpassa a edificação, à integrando com a trama urbana original, configurando o pavimento térreo (com pé direito de escala urbana) como extensão dos passeios públicos adjacentes. O edifício assume sua condição de ruptura
de implantação com a trama tradicional, criando uma tensão compositiva com as edificações tradicionais vizinhas, fazendo alusão à tradição dos espaços abertos de nossas cidades, muito distintos da realidade europeia. Quase ao mesmo tempo, provando que a circulação de ideias permeava a modernidade latino americana, duas obras viriam a marcar uma regionalidade na arquitetura moderna: no Uruguai, a pousada-restaurante Villa Ventorillo (projeto de Julio Vilamajó, 1946) (fig. 1) e o Park Hotel (Lucio Costa,1945) (fig.2) em Friburgo, Rio de Janeiro. Em ambas se deu a conjugação do uso de materiais construtivos tradicionais (madeira e pedra) com os postulados modernos como estrutura independente e uso das paredes somente como vedação, aliados a uma implantação inserida estrategicamente na paisagem serrana. Isso ajudaria a desmontar um dos mitos, o da necessidade – quase fetiche – do emprego exclusivo de novos materiais e técnicas, propalados pela modernidade central.
Fig. 1 - Pousada-restaurante Villa Ventorillo, Uruguai. Arq. Julio Vilamajó, 1946 Fonte: Luiz Eduardo F. Teixeira
Fig. 2 – Park Hotel Friburgo – RJ. Arq.Lúcio Costa, 1945. Fonte: MINDLIN, 1956.
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Um caso contemporâneo, no deserto do Atacama no Chile é o do conjunto edificado de um hotel da rede Explora (projeto de Germán del Sol, 1995) (figs. 3 e 4) onde a composição se espalha na horizontalidade, configurando uma grande praça interna, como cidadela. Se valendo de artifícios como os ripados nas varandas, circulações, espaços abertos e de intermediação, a fruição protegida da paisagem imanente prevalece como continuidade do conjunto, quase que mimetizando a arquitetura com seu locus. Esse exemplo, e vários outros, demonstram a maturidade regional de muitos projetos, desmontando avaliações comparativas com possíveis referências exógenas e assumindo alguns valores culturais e ambientais próprios.
Essas exemplificações, que podem ser consideradas patrimônios críticos de nossa historiografia contemporânea da arquitetura, parecem corroborar Gorelik, quando esse afirma: “Graças a pesquisas que mostraram a força da circulação das ideias na modernidade, as noções de centro e periferia conjugam-se no plural, deixando para trás o tempo em que, para celebrar ou injuriar as vanguardas, eram tomadas como versões, mais ou menos bem-sucedidas, mais ou menos degradadas, de seus modelos de referência.” (GORELIK, 2005). Waisman também reforça esse anacronismo de uma crítica que se pauta por evidenciar as relações centro-periferia, muitas vezes introjetada em nosso campo cultural. Nessa ótica sempre seríamos dependentes das vogas da matriz, as reproduzindo como espelho embaçado. (WAISMAN, 2013).
Fig. 3 – Hotel Explora, Atacama, Chile: Implantação. Arq. Germán del Sol,1995.
Não se trataria de defender, tão somente, uma identidade própria (tão polemizada em tempos de globalização), mas assumir o caráter cultural da miscigenação, da mestiçagem, também no campo da apropriação dos valores arquitetônicos latino americanos. UMA CRÍTICA DE SABOR LATINO AMERICANO Teria que ser, ao que parece, através de um paradoxal olhar estrangeiro, que poderíamos estabelecer uma periodização da crítica de arquitetura na América Latina, extensiva ao Brasil. Montaner (2014) propõe, via cronologia, a ideia de três estágios, para essa: Um primeiro período seria o dos pioneiros, onde despontaria Gregori Warchavchik, com seu manifesto de 1925, intitulado
Fig. 4 – Hotel Explora, Atacama, Chile: Varanda – pátio. Arq. Germán del Sol, 1995.
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apropriadamente “Sobre a arquitetura moderna”. A partir das ideias de Adolf Loos e do manifesto (do mesmo ano) de Le Corbusier, o texto convoca os arquitetos brasileiros a assumirem o espírito de seu tempo, abrindo mão de cacoetes estilísticos e decorativos. Acrescente-se à indicação de Montaner, o conjunto de textos de Lucio Costa, onde despontaria “Razões da nova arquitetura” (1934), propagando uma nova e moderna espacialidade, em ruptura com as velhas formas. A consolidação de uma primeira geração de críticos configuraria um segundo período, nos anos 1970, onde as ideias de Marina Waisman, em defesa do regionalismo, conclamariam os arquitetos a produzirem, a enfatizarem nossos próprios espaços. Também aqui caberia o nome de Ramón Gutiérrez, autor já mencionado, defensor crítico dos valores identitários do espaço latino americano. Em um terceiro período, correspondente aos anos 1980-1990, autores como Jorge Liernur, Carlos Comas, Silvia Arango, Carlos Martins, Hugo Segawa e vários outros (de igual importância) cunhariam as bases de uma nova crítica, envolvendo três âmbitos; ensino, divulgação e pensamento. Essa crítica enfatizaria, ainda segundo Montaner, categorias como a escala do meio ambiente e território, do patrimônio como substrato, da casa como microcosmo urbano, de uma tecnologia socializadora e (não concluindo) da cidade como megalópole e seus problemas. CONCLUSÃO OU UM FINAL EM ABERTO Crítica, história e teoria se imbricam às vezes se confundindo, mas em contínua evolução conceitual, como se procurou evidenciar. A produção de arquitetura latino americana (particularmente no Brasil) parece ainda carecer de um maior rebatimento dessa massa crítica. Embora com o advento das publicações on-line e consequente democratização da divulgação das informações e artigos científicos, seja mais fácil ter acesso ao pensamento acadêmico e conceitual, o número de periódicos dedicados ao campo da arquitetura ainda é pequeno. Cabe ainda às escolas de arquitetura e urbanismo um papel nevrálgico nesse exercício da crítica, nos moldes aqui expostos, formando mentalidades que, no exercício da profissão, considerem esses nossos valores não como condicionantes, mas como reais potencialidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLQUHOUN, Alan. La arquitectura moderna, uma historia desapasionada. Barcelona, Espanha: Gustavo gili, 2005. CONRADS, Ulrich. Programas y manifiestos de la arquitectura del siglo XX. Barcelona, Espanha: Editorial Lumen, 1973. FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins fontes, 1997. GIMÉNEZ, Carlos G.; MIRÁS, Mirta; VALENTINO, Julio. A arquitetura cúmplice. Teorias da arquitetura contemporânea. Porto Alegre: Marquato Editora; Buenos Aires, Argentina:Nobuko, 2013. GORELIK, Adrián. Das vanguardas a Brasília. Cultura Urbana e Arquitetura na América Latina. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. GUTIÉRREZ, Ramón. Arquitetura latinoamericana. Textos para reflexão e polêmica. São Paulo: Nobel, 1989. KRUFT, Hanno-Walter. História da teoria da arquitetura. (Tradução: Oliver Tolle). São Paulo: Ed. USP, 2016. MARTI, Silas. Mostra exalta barroco tropical e mestiço.In Folha de São Paulo, 11/8/2017. Caderno Ilustrada p. C4 MINDLIN, Henrique E. Modern architecture in Brazil. Rio de Janeiro; Amsterdam: Colibris Editora,1956. MONTANER, Josep Maria. Arquitetura e crítica na América Latina. São Paulo Romano Guerra, 2014. RUSKIN, John. As sete lâmpadas da arquitetura. A lâmpada da memória.(1849).(Trad. Maria Lucia Bressan Pinheiro). Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial, 2008. SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. São Paulo: Cia das Letras; Penguin Books, 2014. SOLÁ-MORALES, Ignasi. Topografia de la arquitectura contemporânea. Barcelona, Espanha: Gustavo Gili, 1995. TAFURI, Manfredo. Teorias e História da Arquitectura.Lisboa:Ed. Presença, 1979. VITRUVIUS. Tratado de arquitetura. (Tradução e notas: M. Justino Maciel). São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Séc. I). WAISMAN, Marina. O interior da História. Historiografia arquitetônica para uso de latinoamericanos. São Paulo: Perspectiva, 2013.
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RECOMENDAÇÕES PARA PROJETOS ARQUITETÔNICOS CONCEBIDOS COM O SISTEMA ESTRUTURAL DE LAJES PLANAS PROTENDIDAS Marina M. Duarte, Prof. Me. Eng. Júlia Paula Girelli, Acad. Arq. Urb. Lucas Mincaroni Neto Radatz, Acad. Arq. Urb.
RESUMO Considerando o atual cenário de recessão econômica, o setor da construção civil está passando por um processo de adaptação e modernização, no qual construtoras buscam novos métodos e processos de execução que aumentem a produtividade dos serviços e reduzam o custo dos empreendimentos. Além disso, existe uma tendência de oferecer apartamentos com liberdade para a disposição dos ambientes, permitindo ao cliente personalizá-lo de acordo com sua identidade e estilo de vida. Uma solução que oferece maior produtividade e flexibilidade arquitetônica é o uso de lajes planas protendidas. Esse sistema é utilizado nos Estados Unidos e Europa há mais de 70 anos. No Brasil sua aplicação vem crescendo, principalmente no nordeste e sudeste. Na região sul verifica-se que, em quase sua totalidade, os empreendimentos são concebidos em concreto armado moldado ‘in loco’. Nos cursos de graduação em arquitetura há poucos projetos desenvolvidos com lajes planas protendidas e, consequentemente, existe uma carência de profissionais que dominam essa tecnologia. Diante deste contexto, observou-se a necessidade de explorar mais o assunto no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí. A partir de uma ampla pesquisa bibliográfica para o estudo da tecnologia e uma análise criteriosa de projetos arquitetônicos e estruturais empregando lajes planas protendidas, foi desenvolvido um material didático com recomendações e orientações para projetos arquitetônicos incluindo uma tabela com valores para pré-dimensionamento das lajes. A aplicação desse conteúdo nas disciplinas de Sistemas Estruturais, Projeto Integrado e Trabalhos Finais de Graduação do curso tem gerado um aumento significativo no número dos projetos desenvolvidos na graduação com a solução estrutural em lajes planas protendidas. Palavras-chave: Laje Plana Protendida, Arquitetura; Ensino-Aprendizagem. 1. INTRODUÇÃO Em função do atual cenário de recessão econômica, o setor da construção está passando por um relevante processo de adaptação e modernização, no qual construtoras buscam novos métodos e processos de execução que aumentem a produtividade dos serviços e reduzam o custo dos empreendimentos, de forma a ter um produto mais competitivo, sem perder a qualidade. Além disso, existe uma tendência de oferecer apartamentos que possibilitem maior liberdade para a disposição dos ambientes, permitindo ao cliente personalizá-lo de acordo com sua identidade e seu estilo de vida. Em função disso, torna-se fundamental um lançamento
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estrutural econômico e que, ao mesmo tempo, permita utilizar maiores vãos e com menor número de vigas. Uma solução que pode atender a estas necessidades de maior produtividade e flexibilidade arquitetônica é o uso de lajes planas protendidas. Neste sistema construtivo não são utilizadas vigas, sendo as lajes apoiadas diretamente sobre os pilares. A protensão das lajes permite empregar maiores vãos e proporciona um aumento da resistência à punção, favorecendo o sistema de lajes sem o apoio de vigas. Ademais, o sistema pode
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gerar uma economia significativa no empreendimento ao serem consideradas as reduções de áreas de formas, mão de obra e tempo de execução (NASCIMENTO, 2004). Almeida Filho (2002) afirma que essa tecnologia pode, inclusive, ser utilizada em edifícios de vãos pequenos, por exemplo, em apartamentos populares de um dormitório. No estado de Santa Catarina o emprego é muito incipiente ainda, provavelmente por existirem poucos profissionais com experiência no assunto e domínio da técnica envolvida (desde a concepção da forma à execução do empreendimento). O movimento atual da construção civil exige reflexão e mudança de postura. Para tal, é preciso romper paradigmas e atualizar o processo de ensino-aprendizado na área de estruturas para os cursos de arquitetura. Constata-se que há poucos projetos desenvolvidos com lajes planas protendidas ao longo dos cursos de graduação em arquitetura. Uma orientação a fim de conduzir as decisões quando da concepção arquitetônica, com o objetivo de empregar a tecnologia otimizando as suas potencialidades, torna-se conveniente dentro do contexto atual apontado. Neste trabalho são apresentadas considerações relevantes que objetivam direcionar o emprego de lajes planas protendidas nos projetos de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali. As recomendações documentadas são fontes de conteúdo abordado em disciplinas de Sistemas Estruturais e Projeto Integrado, além de servirem como orientação para os projetos desenvolvidos para a conclusão do curso. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PROTENSÃO A protensão pode ser definida como o artifício de introduzir, numa estrutura, um estado prévio de tensões, de modo a melhorar sua resistência ou seu comportamento, sob ação de diversas solicitações (PFEIL, 1984). Segundo Emerick (2002), existem basicamente dois sistemas de pós-tração empregados em estruturas protendidas, classificados em função da aderência entre o cabo e o concreto: protensão aderente e protensão não aderente. Protensão aderente é o sistema de protensão no qual a injeção de nata de cimento nas bainhas garante a aderência mecânica
da armadura de protensão ao concreto em todo o comprimento do cabo, além de assegurar a proteção das cordoalhas contra a corrosão. O cabo de protensão é composto por uma ou mais cordoalhas de aço inicialmente ‘soltas’ dentro de uma bainha, o que permite a sua movimentação na ocasião da protensão. As bainhas usadas neste tipo de protensão têm como principais funções possibilitar a movimentação das cordoalhas durante a operação de protensão e receber a nata de cimento, na operação de injeção. Após a concretagem da estrutura, os cabos são protendidos e é injetada nata de cimento no interior das bainhas (SCHMID, 2007). Protensão não aderente é o sistema de protensão no qual não existe aderência entre o aço de protensão e a estrutura de concreto. Os cabos são compostos basicamente por uma ancoragem em cada extremidade e uma cordoalha de aço envolta com graxa e capa de polietileno de alta densidade. A graxa possibilita a movimentação das cordoalhas nas bainhas, por ocasião da protensão. A protensão não aderente pode ser executada a partir de equipamentos leves, facilmente aplicáveis em obras de pequeno porte. Isso possibilita ao concreto protendido ser competitivo com o concreto armado em edifícios residenciais com vãos em torno de 5 metros, o que não acontece com a protensão aderente (SCHMID, 2007) 2.2. BREVE HISTÓRICO O primeiro registro de utilização da protensão no concreto é do final do século XIX. Nesse período algumas patentes e ensaios foram realizados com a finalidade de protender elementos de concreto, porém, sem êxito devido à utilização de aços de resistência comum, semelhantes aos utilizados em concreto armado, que perdiam seu efeito de protensão devido à fluência e retração do concreto (LEONHARDT, 1983). O desenvolvimento do concreto protendido se deu basicamente com o emprego de armaduras aderentes. No entanto, entre 1940 e 1942 surge, com Gustave Magnel da Bélgica, um processo diferente com o qual foi executada a primeira ponte em viga contínua com dois vãos de 62 m, onde empregou-se no concreto protendido armadura ativa sem aderência. (FERREIRA, 2013) Na década de 50, o concreto protendido teve grande avanço no processo de reconstrução da Europa após a segunda guerra mundial, principalmente para grandes obras com os sistemas aderente e não aderente. Paralelamente, os EUA e o Canadá
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passaram a utilizar extensivamente o conceito de lajes planas protendidas não aderentes para obras comerciais e residenciais, trazendo benefícios com relação ao tempo de execução, à possibilidade de se vencer vãos maiores, à segurança e à durabilidade (FERREIRA, 2013). No Brasil, a primeira obra em concreto protendido sem aderência foi a ponte do Galeão, no Rio de Janeiro, construída em 1948 (FERREIRA, 2013). Porém, somente em 1997 se iniciou a produção das monocordoalhas engraxadas no Brasil. A partir desta data que o sistema não aderente passou a ser utilizado no país para projeto de edifícios.
Laje plana lisa maciça
Laje plana maciça com capitéis
Atualmente, o emprego do sistema mostra-se em crescente ascensão. Na região de Fortaleza esta tecnologia já é adotada por praticamente todas as grandes construtoras de obras residenciais e comerciais. Da mesma forma, observa-se extensiva utilização do sistema protendido na região sudeste. No restante do país tem-se ainda um uso incipiente, salvo algumas exceções como Curitiba e Porto Alegre.
Laje plana nervurada com capitéis
Laje maciça com viga chata protendida em uma direção
Laje nervurada com viga chata protendida em duas direções
Laje nervurada com viga chata protendida em uma direção
2.3. LAJES PLANAS PROTENDIDAS A crescente aplicabilidade da protensão se dá, principalmente, em lajes planas com o emprego de cordoalhas engraxadas, em que não há aderência entre o concreto e o aço de protensão. Esse sistema estrutural apresenta grandes vantagens em relação ao sistema convencional em concreto armado. Entre os aspectos construtivos, a tecnologia apresenta um processo mais racional, que agiliza e simplifica a execução de diversas etapas como a produção e montagem de fôrmas, confecção de armaduras, concretagem e execução das instalações. Quanto aos aspectos arquitetônicos, permite um maior pé-direito disponível do pavimento, presença de tetos lisos com maior liberdade na definição dos espaços, maior esbeltez e melhores condições de ventilação e iluminação (MELLO apud ZILLI & BORTOLOTI, 2013). Estruturalmente, a protensão reduz significativamente as deformações e a fissuração, além de aumentar consideravelmente a resistência à punção (SCHEIBLER, 2012). A solução estrutural pode ser por meio de lajes maciças ou nervuradas protendidas, com ou sem engrossamento dos capitéis (lajes cogumelo), e ainda com vigas faixas protendidas, conforme ilustrado na Figura 1.
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Figura 1: Tipos de lajes planas. Adaptado de ALMEIDA FILHO (2014).
3. DESENVOLVIMENTO Para difundir o emprego de lajes planas protendidas no mercado regional e preparar os estudantes de arquitetura para desenvolver projetos que explorem toda a potencialidade desta tecnologia, fez-se necessário modificar os conteúdos abordados em algumas disciplinas de Sistemas Estruturais do Curso de Arquitetura. O trabalho teve início em uma ampla pesquisa bibliográfica para o estudo dessa tecnologia. Através de observação e uma análise criteriosa de projetos arquitetônicos e estruturais disponíveis em Ferreira (2013), Bortoloti (2013), Passos et al. (2016), Moura (2002) e Almeida Filho (2002), empregando lajes planas protendidas, foi desenvolvido um material didático que está sendo aplicado em disciplinas da área de estruturas, em diferentes períodos do curso. Para a análise quantitativa das seções transversais, vãos e distâncias empregadas fez-se necessário, em diversos momentos, redesenhar os projetos dos autores. Na sequência são apresentadas as principais recomendações para concepção do projeto arquitetônico no sistema com monocordoalhas engraxadas, de forma a utilizar toda a potencialidade desta tecnologia.
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3.1. LIBERDADE DE DISPOSIÇÃO DOS AMBIENTES No sistema convencional, onde são adotadas lajes apoiadas sobre vigas, há a preocupação de posicionar essas vigas onde há divisórias de ambientes e, consequentemente, paredes, de forma a minimizar as interferências no projeto arquitetônico. De certa forma, esse processo limita a possibilidade de alterações na disposição dos ambientes.
Observa-se que, em sua grande maioria, os pilares são locados recuados da fachada, com um trecho da laje em balanço da ordem de 25% do trecho interno. Isso se reflete em uma fachada mais leve, conforme visualizado na Figura 2.
Ao ser concebido um projeto com laje plana, há liberdade de personalização do pavimento em função do teto livre de vigas, com um aspecto plano que não enrijece a definição prévia do layout de uma área. Além disso, o sistema oferece grande flexibilidade arquitetônica devido aos vãos entre pilares, que comumente são afastados de uma distância em torno de 8m. 3.2. FACILIDADE NA DISPOSIÇÃO DAS VAGAS DE GARAGEM Um dos principais obstáculos na concepção da forma e distribuição dos espaços durante o projeto arquitetônico é atender o número de vagas de garagem solicitado. Tendo em vista que os vãos entre pilares, com o sistema de lajes planas protendidas, ficam próximos de 8m, verifica-se a facilidade de serem projetadas três amplas vagas de garagem em cada intervalo entre os apoios.
Figura 2: Fachadas com lajes em balanço. Fonte: Dos autores (2017).
3.4. SACADAS SEM COLETA D’ÁGUA Uma vez a estrutura concebida sem vigas de bordo, as áreas das sacadas normalmente são projetadas sem coleta d´água, com inclinação para fora do prédio, apenas com uma pingadeira. Os ralos, previstos em sacadas com lajes apoiadas em vigas, não aparecem mais nesse sistema em função da ausência das vigas e, consequentemente, da ausência de forros.
3.3. LAJES COM TRECHOS EM BALANÇO: PILARES RECUADOS DA FACHADA
3.5. AUMENTO DA ENTRADA DE LUZ E VENTILAÇÃO EM FACHADAS SEM VIGAS
A punção apresenta grande importância no caso das lajes planas. Para que seja possível obter uma melhor distribuição das tensões cisalhantes, é interessante que sejam previstos pilares recuados da fachada, de forma a ter uma maior área de apoio para a laje e de distribuição das armaduras de punção. Ademais, ao se conceber um trecho de laje em balanço, obtém-se uma melhor distribuição dos esforços de flexão na laje, reduz-se as flechas no vão e também os momentos transmitidos aos pilares de extremidade.
As fachadas sem vigas de bordo, concebidas apenas com lajes em balanço, têm aumentada a incidência de luz e, consequentemente, de calor, conforme ilustrado na Figura 3. Uma análise de conforto térmico considerando o clima do local de construção da edificação e a influência da incidência da luz nas diferentes fachadas é fundamental.
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a)
Isso se reflete também em um volume menor de escavação para a execução de um pavimento no subsolo, ao se manter fixo o nível do térreo, podendo significar em uma economia considerável dependendo da área da edificação nesse nível. Mantendo-se a mesma linha de raciocínio, verifica-se que há uma redução do número de degraus entre pavimentos, assim como do comprimento de rampas.
b)
3.7. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE PROJETOS
Figura 3: Incidência da luz natural nas fachadas a) com vigas e b) sem vigas. Fonte: Dos autores (2017).
Além do aumento da entrada de luz, há também maior ventilação. Ademais, a ausência de vigas de bordo amplia o ângulo de visão do exterior a partir das aberturas dos ambientes. 3.6. MENOR ALTURA TOTAL DA EDIFICAÇÃO A ausência de vigas proporciona uma redução da distância de piso a piso em relação ao sistema convencional de lajes apoiadas sobre vigas. Observando a Figura 4, identifica-se que, para um mesmo valor de pé-direito desejado, é possível trabalhar com uma distância menor entre pisos. Uma redução da ordem de 35 cm por andar proporciona o ganho de um novo pavimento a cada 8 andares.
É fundamental a compatibilização entre os projetos arquitetônico e estrutural e todos os demais (hidro-sanitário, elétrico, telefonia, SPDA, incêndio, ar condicionado, etc) uma vez que furos e shaft’s deverão ser previstos em projeto, não podendo ser realizados após a estrutura concretada (PASSOS, 2016). Por outro lado, o fato de se ter um teto sem vigas facilita muito a execução das instalações durante a construção. 3.8. MODULAÇÃO DOS VÃOS Emerick (2002) considera economicamente atraentes valores para vãos de lajes planas protendidas entre 7m e 9m. Além disso, recomenda para a modulação dos vãos os seguintes critérios: a) Vãos intermediários: iguais entre si; b) Vãos extremos: comprimentos entre 85% dos vãos internos; c) Balanços: 25% a 35% do vão interno;
2,55m
3,15m
A Figura 5 apresenta um desenho esquemático dos critérios citados.
85%Li
Li
Li
25% a 35% Li
Figura 5: Modulação dos vãos. Fonte: Dos autores (2017).
Quando se concebe uma estrutura com lajes apoiadas sobre vigas há a preocupação de serem locados pilares alinhados, a fim de uni-los com vigas e criar pórticos, de forma a enrijecer a edificação quanto a carregamentos horizontais de vento, garantindo a sua estabilidade.
2,55m
2,80m
3.9. PILARES NÃO NECESSARIAMENTE ALINHADOS
Figura 4: Distância entre pisos. Fonte: Dos autores (2017).
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Uma vez que se eliminam as vigas e empregam-se lajes planas apoiadas diretamente sobre pilares, não há mais a necessidade de alinhamento desses elementos, facilitando sua locação no projeto arquitetônico e diminuindo a interferência da estrutura nos ambientes. 3.10. PILARES MAIS QUADRADOS Cauduro (2007) recomenda que a seção dos pilares, quando do emprego de lajes planas protendidas, sejam mais quadrados, de forma a aumentar o perímetro crítico à punção e, consequentemente, ter maior resistência ao cisalhamento. 3.11. TRANSIÇÕES Emerick (2002) cita que os vãos entre pilares comumente aplicados quando do emprego das lajes planas protendidas quase elimina a necessidade de transições, havendo apenas elementos verticais contínuos desde a fundação até a cobertura. 3.12. ESTABILIDADE GLOBAL DA EDIFICAÇÃO No sistema de lajes planas, o contraventamento fica a cargo, pelo menos numa primeira análise, do conjunto de pilares que a compõem. Pois, sendo a estrutura desprovida de vigas, não haveria a priori a estabilização da edificação por pórticos espaciais. Neste caso, é comum a utilização de pilares-paredes no formato de “U” ou “L”, ilustrado na Figura 6, convenientemente posicionados na planta da edificação, conferindo a esta a rigidez necessária em ambas as direções para sua estabilidade. Levando-se em consideração que lajes protendidas apresentam uma espessura mínima de dezesseis centímetros (Item 13.2.4.1 da ABNT NBR 6118:2014), sendo comum o uso de pelo menos dezoito centímetros, entende-se que há uma contribuição do efeito de diafragma rígido e do travamento dos pilares, assegurando que todos trabalhem juntos na estabilização da estrutura (PASSOS et al, 2016).
Figura 6: Elemento vertical de grande rigidez confere rigidez à edificação.Fonte: Dos autores (2017).
3.13. RECOMENDAÇÕES PARA PRÉ-DIMENSIONAMENTO Na Tabela 1 apresentam-se valores de vãos máximos recomendados e um pré-dimensionamento da espessura de diferentes soluções de lajes. Tabela 1: Pré dimensionamento. Fonte: Dos autores (2017).
TIPO DE LAJE Laje plana lisa maciça Laje plana lisa maciça com capitéis Laje plana nervurada com capitéis Laje plana nervurada com viga chata unidirecional Laje plana nervurada com viga chata bidirecional Laje maciça com viga chata unidirecional
VÃO MÁXIMO 8m 10m
ALTURA h L/40 L/40 ≤ H ≤ L/45
13m 15m
L/35 L/30 ≤ H ≤ L/40
17m
L/35 ≤ H ≤ L/50
14m
L/35
L = vão da laje, h = altura da laje
Silveira (2007) recomenda que, no projeto arquitetônico, elementos de grande rigidez devem situar-se próximo ao centro de rigidez da planta. ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O emprego de qualquer tecnologia ou sistema construtivo exige que todos os profissionais envolvidos tenham o domínio de suas potencialidades e recursos. Para o uso de lajes planas protendidas apoiadas diretamente sobre pilares, o projetista da forma, que concebe a edificação, necessita de observar algumas particularidades do sistema com o intuito de elaborar projetos coerentes sob o ponto de vista técnico e financeiro. O material apresentado neste trabalho, resultado de uma ampla pesquisa bibliográfica e de análises de projetos arquitetônicos e estruturais, tem sido de grande valia em conteúdo de disciplinas da área de estruturas e com enfoque projetual. A discussão de questões que potencializam as vantagens desse sistema e que interferem diretamente no processo de criação, realizada desde o início do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Univali, tem gerado um aumento significativo do número de projetos desenvolvidos com essa solução estrutural. O movimento de trazer para os alunos essas orientações busca fomentar essa tecnologia no Brasil e, em particular na região de Balneário Camboriú, visto que se trata, inegavelmente, de uma potência em construção civil.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro, 2014. ALMEIDA FILHO, Fernando Menezes de Almeida; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Escola de Engenharia de São Carlos. Estruturas de pisos de edifícios com a utilização de cordoalhas engraxadas, 2002. 283 p, il Dissertação (Mestrado). CAUDURO, Eugenio Luiz. Mini-Curso: Prática de execução de edificações protendidas com cordoalhas engraxadas e plastificadas. IBRACON. Bento Gonçalves. RS, 2007. EMERICK, Alexandre Anozé; Projeto e execução de lajes protendidas, 2002. 119 p. FERREIRA, Wagner Badke; UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Centro Tecnológico Estudo de desempenho e critérios de abordagem para lajes lisas parcialmente protendidas com armaduras ativas não aderentes, 2013. 155 p, il Dissertação (Mestrado). LEONHARDT, F. Construção de Concreto: Concreto Protendido. Rio de Janeiro: Interciência, v. 5, 1983. MOURA, José Ricardo Brígido de; Recomendações para sistemas estruturais em edificações com a utilização de protensão com cordoalhas engraxadas. Jornadas SulAmericanas de Engenharia Estrutural. Brasília: UNB, 2002. NASCIMENTO, A. V. do. Concreto Protendido: O uso da protensão não aderente em edifícios comerciais e residenciais. 2004. 88p. (Graduação em Engenharia Civil) – Curso Superior em Engenharia Civil com ênfase Ambiental, Universidade Anhembi Morumbi. PASSOS, V. M., FEITOSA, L. A., ALVES, E.C., AZEVEDO, M. S.; Análise da instabilidade de edifícios altos com lajes protendidas e lajes nervuradas. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais, Espírito Santo, v.9, n.2, p. 244-262, 2016. PFEIL, W. Concreto Protendido. Rio de janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1985. SCHEIBLER, Matheus. Estudo comparativo entre estruturas em concreto convencional e estruturas em lajes planas protendidas para edifícios com múltiplos pavimentos: Análise do ponto de vista executivo, econômico e produtivo. REVISTA DA GRADUAÇÃO. Porto Alegre, v. 5. n.1, 2012. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/ article/view/11410 >. Acesso em: 19 setembro 2017. SCHMID, Manfred Theodor. Por que protender uma estrutura de concreto? In: Revista Concreto e Construções. Ed. IBRACON. n.45. São Paulo, p. 33-36, 2007. SILVEIRA, Marcelo A. A.; Práticas de projeto e execução de edifícios protendidos. 49º Congresso Brasileiro de Concreto, Bento Gonçalves/RS, 2007. ZILLI, Elizandro, BORTOLOTI, Franchubert; UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, Departamento Acadêmico de Construção Civil. Estudo comparativo entre uma estrutura com laje convencional em concreto armado e uma estrutura com laje plana lisa protendida: estudo de caso de um edifício residencial multifamiliar na cidade de Pato Branco - PR, 2013. 133 p, Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Civil.
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CORPO DOCENTE UNIVALI 2018/01
Adriano Meira, Me. Alessandra Devitte, Me. Alexandre Reis Felippe, Me. Ana Carolina Reis Lozovey, Esp. Ana Paula Magalhães Jeffe, Esp. Andrea Aguiar Kasper, Dr. Andrea Luiza Kleis Pereira, Me. Andreia Mara da Silveira Maia, Me. Anna Freitas Portela de Souza Pimenta, Me. Camila Cesário Pereira de Andrade, Me. Carlos Eduardo de Borba, Esp. Carolina Pinto, Me. Carolina Rocha Carvalho, Me. Carolina Schmanech Mussi, Dr. Cecilia Maria Serra Garcia, Esp. Cecília Ogliari Shaefer, Dr. Daniel Krobel, Esp. Diva de Mello Rossini, Dr. Eduardo Baptista Lopes, Me. Eliane Maria Benvegnu, Me. Emerson Antônio Penso, Me. Evandro Rocha Gaspar, Esp. Evaristo Marcos da Silva, Me. Franciele Fantini, Me. Gilcéia Pesce do Amaral e Silva, Dr. Giselle Carvalho Leal, Me. Guilherme Guimarães Llantada, Me. Janaina Nones da Silveira, Dr. Jânio Vicente Rech, Dr. João Luiz Pacheco, Me. José Angelo Casagrande Mincache, Esp. Josildete Pereira de Oliveira, Dr.
Juliano Darós Amboni, Me. Karine Lise Schafer, Me. Kátia Maria Véras, Me. Lisete Terezinha Assen de Oliveira, Dr. Luciana Noronha Pereira, Dr. Luciano Pereira Alves, Me. Luciano Torres Tricarico, Dr. Luís Vinícius Mundstock Porto de Souza, Me. Luiz Claudio Mazzola Vieira, Me. Luiz Eduardo de Andrade, Me. Maicon Anderson de Souza, Esp. Marcelo Galafassi, Me. Marcelo Nuernberg Schroeder, Me. Marcia do Vale Pereira Loch, Dr. Marcos Paulo Berribilli, Esp. Marcos Roberto Dalpiaz, Esp. Maria Cristina Bittencourt Mincache, Dr. Marina Martinelli Duarte, Me. Marina Otte, Me. Marshell Ferreira Almeida Ferraz, Me. Nelson Saraiva, Dr. Nivaldo Manoel de Maria Filho, Esp. Rafael Alves de Campos, Me. Rafael Prado Cartana, Me. Rudinei Carlos Scaranto Dazzi, Me. Stavros Wrobel Abib, Dr. Taiana Polli, Me. Tiago Dell'Agnolo, Esp. Timóteo Schroeder, Me. Umberto Grando Paganella, Me. Yáskara Beiler Dalla Rosa, Me.
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