EDITORIAL
"ARQUITETURA: ESPAÇO + TEMPO" A Revista ARKHÉ, neste terceiro número, ano em que o curso de Arquitetura de Urbanismo comemora 20 anos de sua implantação, tem a honra de publicar na seção Perfil do Arquiteto, entrevista e projetos do vencedor do Prêmio Priztker de Arquitetura do ano de 2016 e diretor da 15ª Bienal Internacional de Arquitetura 2016, em Veneza, o arquiteto chileno Alejandro Aravena. Na coordenação do escritório Elemental, Aravena implementou centenas de unidades de habitação social e participa de políticas públicas habitacionais em seu país, bem como é autor de grandes obras em outros países.
JÂNIO VICENTE RECH
“Arquitetura: Espaço + Tempo”, tema abordado nesta edição, tem sido ao longo do tempo, essencial no processo de ensino da teoria e prática da arquitetura e urbanismo, a fim de que se possam formular relações entre espacialidade e temporalidade. Na seção Entrevista, o Arquiteto João Filgueiras Lima – Lelé (in memorian) foi entrevistado em meados de 2013, cerca de um ano antes de seu falecimento, por um grupo formado pelos profissionais: Vicente Weissenbach - editor e critico de arquitetura; fundador do Jornal ARQUITETO, revistas Projeto. Design & Interiores, Cadernos Brasileiros de Arquitetura e criador do premio Opera Prima, além de curador de exposições de arquitetura no Brasil e no exterior e a jornalista Ledy Valporto que a cederam gentilmente para esse número comemorativo da revista Arkhé # 3. Também, a professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), pesquisadora e arquiteta Gisela Barcelos de Souza reflete sobre o tema na seção Opinião, com um olhar particular sobre o urbanismo de arquitetos. Quatro matérias se destacam na seção Vida Acadêmica. O Prêmio Deca para estudantes, vencido pelo acadêmico Artur Guilherme Bernardoni, orientado pelo NcPRO (Núcleo de Projetos da UNIVALI), além da exposição Coletivos Criativos da Bienal Brasileira de Design de Florianópolis. Outro destaque foi o Seminário Internacional de Urbanismo, realizado em junho deste ano, no campus da Univali em Balneário Camboriú, em parceria com a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e a Politécnica da Cataluña, da Espanha. Ainda, esta seção apresenta um artigo, registro da viagem à Brasília, conteúdo da disciplina de Planejamento Urbano do 6º período, que neste ano completou a 35ª visita técnica para a Capital Federal. Neste número da Revista apresentamos ainda os Novos Arquitetos, com a inclusão de mais egressos apresentando seus trabalhos premiados em concursos nacionais e regionais. Na seção Projetos Acadêmicos, ampliamos o espaço de participação para enfatizar a qualidade dos trabalhos de períodos iniciais do curso. Já na seção Artigos Científicos, os trabalhos apresentados dissertam sobre as temáticas da configuração arquitetônica das escolas infantis ao longo do tempo e, sobre a evolução histórica da verticalização de Balneário Camboriú-SC. Boa leitura a todos!
Foto: Guilherme Llantada
Jânio Vicente Rech, Prof. Dr. Arq. Urb. Editor Responsável
EXPEDIENTE
ARKHÉ | 03
REVISTA DE ARQUITETURA E URBANISMO — UNIVALI CONSELHO EDITORIAL Carlos Alberto Barbosa de Souza, Me. Arq. Urb. (Presidente) Jânio Vicente Rech, Dr. Arq. Urb Lisete Assen de Oliveira, Dra. Arq. Urb. Gilcéia Pesce do Amaral e Silva, Dra. Arq. Urb. Luciana Noronha Pereira, Me. Arq. Urb. Luciano Pereira Alves, Me. Arq. Urb. Guilherme Guimarães Llantada, Me. Arq. Urb. EDITOR RESPONSÁVEL Jânio Vicente Rech JORNALISTA RESPONSÁVEL Carlos Alberto Praxedes dos Santos (DRT SC 740 JP) EXECUÇÃO / ARTE / FOTOGRAFIA/ PRODUÇÃO Guilherme Guimarães Llantada EDITAL Luciano Pereira Alves PROJETO GRÁFICO Guilherme Guimarães Llantada (Coordenação) Of Design – Oficina Acadêmica de Design UNIVALI DIAGRAMAÇÃO Of Design – Oficina Acadêmica de Design UNIVALI
UNIVALI — UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ Coordenações Ceciesa — CTL (Bloco 1) 5ª Avenida, 1100. Bairro Municípios. Balneário Camboriú — SC. 88337-300 | Tel.: 47 3261.1219 | Fax: 47 3261.1245. E-mail: arquitetura@univali.br Reitor da UNIVALI MÁRIO CESAR DOS SANTOS Vice-Reitora de Graduação CÁSSIA FERRI Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional CARLOS ALBERTO TOMELIN Vice-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura VALDIR CECHINEL FILHO Procurador Geral da Fundação UNIVALI VILSON SANDRINI FILHO Diretor Administrativo da UNIVALI RENATO OSVALDO BRETZKE Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação, Turismo e Lazer RENATO BÜCHELE RODRIGUES Coordenador dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e Superior de Tecnologia em Design de Interiores – Campus Balneário Camboriú CARLOS ALBERTO BARBOSA SOUZA Coordenadora de Apoio Pedagógico – Campus Balneário Camboriú PATRÍCIA DUARTE PEIXOTO MORELLA Gerente Administrativa – Campus Balneário Camboriú CLEUNICE APARECIDA TRAI Secretária da Direção do Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação, Turismo e Lazer - Campus Balneário Camboriú GIORGIA TOAZZA DE CONTO
SECRETÁRIO João Santana Neto IMPRESSÃO Tipotil – 1.500 Exemplares COLABORADORES
Fotógrafos: Cristobal Palma, Diego Torres Torriti, Felipe Diaz Contardo, Martín Bravo, Nina Vidic, Tadeuz Jalocha e Elemental (Seção Perfil do Arquiteto); Celso Brando, Nelson Kon e Joana França (Seção Entrevista João Figueiras Lima); Eduardo Aigner, Luciana Noronha e Agência Focus (Vida Acadêmica TripBrasília); Ricardo Braescher e Guilherme Llantada (Bienal Brasileira de Design de Floripa 2015); Sergio Sandullo (Vida Acadêmica - 8° SIIU); Marcus Quint /ISP (Artigo Verticalização de Balneário Camboriú) e Anderson Astor, Eduardo Aigner e Marcelo Curia (Seção Arkhé News - Memopoa).
REVISTA DIGITAL: HTTP://ISSUU.COM/REVISTAARKHE
A48 Arkhé : revista de arquitetura e urbanismo. - v. 3, n. 2 (2016) – Itajaí, SC : Ed. da Universidade do Vale do Itajaí, 2015 136 p.: il.; 28 cm Anual Editor responsável : Jânio Vicente Rech
A revista tem acesso livre por meio do site (http://issuu.com/revistaarkhe)
Revista do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí. ISSN versão impressa: 2359-3849 ISSN versão online: 2359-3857
1. Arquitetura - Periódicos. 2. Arquitetos. 3. Paisagismo. 4. Urbanismo. I. Revista do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí. II. Título.
CDU: 72(051)
Produção e realização
Contatos
contato@revistaarkhe.com.br
Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Comunitária UNIVALI Balneário Camboriú
FICHA CATALOGRÁFICA
REVISÃO DE TEXTOS Conselho Editorial
12 30 CAPA: UC INNOVATION CENTER | Projeto Arquitetônico Arquiteto Alejandro Aravena | Foto Capa: © Felipe Diaz Contardo | Foto contracapa: © Cristobal Palma
SUMÁRIO
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ARKHÉ NEWS 20 anos do Curso de Arquitetura e Urbanismo UNIVALI Perfil dos Ex-alunos | Depoimentos Projeto MemoPoa Bibliografia Recomendada VIDA ACADÊMICA NCPRO – Núcleo de Projetos UNIVALI Prêmio Concurso Nacional DECA para Equipamento Urbano Bienal Brasileira de Design | Floripa 2015 | Coletivos Criativos Trip Brasília - Cidade Moderna, Cidade Eterna 8º SIIU - Seminário Internacional de Investigação em Urbanismo ENTREVISTA João Figueiras Lima, O Lelé por Vicente Wissenbach e Ledy Valporto Leal Opinião Gisela Barcellos de Souza, Profª. Dr. Arq. Urb. UFMG Cronologia do Urbanismo Pós-Moderno - Nan Ellin Perfil Do Arquiteto Alejandro Aravena - Prêmio Pritzker 2016 Novos Arquitetos Lucas Noal de Farias, Arq. Urb. Felipe Braibante Kaspary, Arq. Urb. Débora Mikulski, Arq. Urb. Projetos Acadêmicos Anderson Beuting, Acad. Arq. Urb. Diego Gorges, Acad. Arq. Urb. Eduardo João Berté, Acad. Arq. Urb. João Gabriel Feres Dagostini, Acad. Arq. Urb. Maria Eduarda Zucki, Acad. Arq. Urb. Victor Fernando Loch, Acad. Arq. Urb. Luiza Bertoncini Gamba, Acad. Arq. Urb. Viktoria Soares Nunes, Acad. Arq. Urb. Artigos Científicos Configuração Arquitetônica de Escolas para primeira Infância Ludicidade, Flexibilidade e Permeabilidade. Lauana Valentini Wichoski; Arq. Urb. e outros
Evolução Histórica da verticalização de Balneário Camboriú Anderson Beuting, Acad. Arq. Urb e outros
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CORPO DOCENTE – ARQUITETURA E URBANISMO
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arkhé news
tempo! Arquitetura é um dos Deuses mais lindos!
NEWS
Por Carlos Alberto Barbosa de Souza Prof. Me. Arq. Urb. Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI
N
o ano em que o curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali comemora seus 20 anos de existência, o tema da revista Arkhé, em sua terceira edição, é ARQUITETURA: ESPAÇO + TEMPO. Tema apropriado para refletirmos sobre a importância da boa Arquitetura e do bom Urbanismo no decorrer do tempo e da urgência da boa formação de arquitetos e urbanistas nas escolas brasileiras. Nesta visão o tempo foi nosso aliado!! Este curso já formou mais de 800 profissionais arquitetos e urbanistas, que se encontram atuando nas mais diversas vertentes da profissão e nas mais variadas regiões do Brasil e do mundo. Nestes últimos 20 anos, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali já modificou seu currículo quatro vezes, na busca da contemporaneidade e conteúdos atualizados. Já conquistou inúmeras premiações, através de seus alunos e professores, e já apresentou sua estrutura didática em vários encontros e congressos, sempre com reconhecimento pela comunidade acadêmica. Estes dados só nos alegram na comprovação da eficiência e qualidade de nosso ensino de arquitetura e urbanismo. Formado, deste seu inicio, por pessoas com uma visão além de seu tempo, tanto alunos como professores procuram sempre a inovação nas temáticas discutidas, na produção de projetos dentro de sala de aula e também de projetos de pesquisa e extensão. O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI está presente nas redes sociais através de sua Fanpage do Facebook. O espaço virtual traz as principais novidades do curso, avisos importantes, lembretes, além é claro de mais interatividade entre alunos, professores e colegas do curso.
BLOG: arqdesignunivali.wordpress.com FACEBOOK: ArquiteturaeUrbanismoUnivali
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Num tempo em que a quantidade de escolas de arquitetura se multiplica, o que de certa forma é positivo, pois torna este oficio mais conhecido e acessível, devemos zelar pela inovação e pela qualidade. É hora de propormos novos paradigmas para estes profissionais arquitetos e urbanistas que estamos formando. Que eles sejam os protagonistas de uma nova sociedade, onde o coletivo, o social e a preocupação com as cidades e seus espaços sejam o mais importante. Somos os profissionais do ambiente construído e das cidades! Estes são os locais onde a história da humanidade acontece! O tempo demonstra isto! Vinte anos na história da Arquitetura e Urbanismo é quase nada! Em vinte anos de um curso de Arquitetura e Urbanismo se realiza muita coisa! No meu caso, 20 anos na vida de um profissional dedicado ao oficio de ensinar Arquitetura e Urbanismo é quase uma vida!! Parabéns Arkhé! Parabéns ao curso de Arquitetura e urbanismo da Univali! Que venham os próximos 20 anos!
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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVALI NOS ÚLTIMOS 20 ANOS Foto: Wagner Jose Mezoni / Divulgação
Por Mário Cesar dos Santos, Dr. Reitor da UNIVALI
A
inda que pelos séculos os modelos arquitetônicos revelados nos diferentes continentes, países, cidades identifiquem períodos da história e gravem características que são lembradas pela definição de traços dos respectivos momentos, tendências e escolas, há, nas últimas duas décadas, um certo consenso de que o modelo construtivo mais recente atende, em boa parte, aos interesses comerciais, que revelam algum modismo na dependência da estrutura dos empreendimentos que são identificados, normalmente, pelo poder econômico. É corrente na literatura que nos últimos anos houve uma mudança estrutural, de certa forma inovando escolas e tendências, idealizando edifícios que deveriam ser mais limpos, com menos espaços ociosos, o que implica torná-los mais econômicos e, neste sentido de ocupação, mais racionais ou úteis. Nestas décadas, a que fechou o século passado e a outra que abriu o presente, as técnicas e as tecnologias construtivas, a evolução dos materiais e equipamentos e o desenvolvimento tecnológico à disposição dos profissionais revolucionaram o novo tempo da humanidade, dando às cidades e à conurbação que as envolve, bem como a seus acessos viários, suas paisagens e obras de arte, a estrutura que nos revela os novos arranjos para a configuração socioeconômica. Nossas necessidades urbanas passam a ser atendidas com estruturas mais adequadas, planificadas que estão sob os cuidados dos novos profissionais, que põem à prova suas novas ideias em confronto com a experiência cinquentenária dos que, em menor número, orientavam o planejamento que havia. A respeitabilidade profissional daqueles e a inquietude jovial destes dão origem a uma concretude urbana que, a uns, causa admiração e a outros, quase afronta. A cultura arquitetônica também é revelada nos prédios, praças e equipamentos urbanos públicos e privados, que recebem dos profissionais os traços de sua arte, influenciados que estão pelas escolas ou mestres reconhecidos do segmento. Algumas regiões e cidades se tornam cenários da influência e do bom gosto de seus arquitetos, tanto no exterior como no Brasil.
Em Santa Catarina temos algumas urbanizações que revitalizaram cidades e se tornaram destaques paisagísticos com um conjunto de obras para as quais a idealização do poder público foi muito bem qualificada com obras privadas que reconheceram e enriqueceram aquele espaço, concebendo-o com suntuosidade e bom gosto. Pense numa Avenida Beira-Mar Norte em Florianópolis, numa Avenida Atlântica em Balneário Camboriú ou numa Avenida Beira Rio em Itajaí — e exemplos semelhantes de reurbanização encontrariam em outras cidades e regiões do estado e do país. Quando, na década de 1990, a UNIVALI implantou o seu Campus em Balneário Camboriú, a urbanização daquele bairro dos Municípios ainda tinha suas precariedades, que foram, nos últimos anos, replanejadas e implementadas pelas diferentes administrações municipais, modificando o paisagismo urbano e melhorando, de forma considerável, a vida e os serviços no bairro. Neste sentido, além de o Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI passar a reunir um conjunto de professores arquitetos que refletiam, por seus diferentes e atentos olhares, sobre o Município e a região e socializavam essas análises e percepções, ajuda a influenciar um grande grupo de acadêmicos por lhes dar a formação, já orientada para os mais diversos aspectos envolvidos nesta missão de formação, e o treinamento dos novos arquitetos e urbanistas. Para responder ao movimento da arquitetura moderna brasileira, necessariamente seus professores fomentaram, na concepção dos novos 800 (oitocentos) arquitetos formados, as preocupações com o conforto ambiental, como os novos materiais e técnicas construtivas, com os meios de demonstrar as concepções criativas com as melhores formas da expressão visual e o paisagismo, dando ainda mais frescor à arquitetura moderna brasileira.
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arkhé news
Pratas da casa Camila Cesário Pereira de Andrade
Depoimento dos egressos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali
Prof. Me. Arq. Urb UNIVALI
" Ingressei na 7°
Rodrigo Kirck
Escritório Rodrigo Kirck Arquitetura
"
Primeiro dia de aula, na primeira semana de março de 1998, ouvimos uma afirmação do nosso antigo coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI – Prof. Germano: - Boa tarde à todos... não foi fácil passar no vestibular para estarem aqui hoje? Sim! Mas, o mais difícil vem agora! Entrei no curso, pouco sabendo o que me aguardava, pois gostava de desenhos técnicos, artísticos e na época era o que mais se aproximava do curso de mecatrônica – que apenas era ofertado no ITA; E não é que após os primeiros semestres, não me via fazendo outro curso? Completamente apaixonado pela estrutura e disciplinas da arquitetura e urbanismo! Fiz parte das primeiras turmas, de uma faculdade a qual sempre fora uma referência para mim e grandes amigos e mestres, estes que conheci e fiz no percurso da graduação... caminho que me levou ao final da faculdade, ganhar o primeiro lugar no concurso nacional promovido pela Alcoa, com meu trabalho de conclusão de curso! Neste ano fazem vinte anos que o curso abriu suas portas, e é com grande satisfação e gratidão que me orgulho de ter feito parte desta histórica caminhada!"
Juliano Marini de Oliveira ImoveLine Arquitetos e Presidente IAB/SC Litoral Norte
"Os desafios que esta profissão incrível nos apresenta todos os dias é o que me fascina. Poder proporcionar o bem estar e a realização do sonho das pessoas, seja através da Arquitetura ou do Urbanismo foi o que me levou a trilhar o caminho desta profissão. Quando entrei no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali não tinha a plena certeza do que iria encontrar pela frente, com o passar dos anos pude ver que a minha escolha da época foi precisa e o que mais me chamou atenção foi a qualidade do ensino que a Universidade poderia me oferecer e a capacidade de direcionamento profissional, me preparando para os desafios que a vida profissional iria colocar a minha frente e contribuindo para que estes fossem superados. Parabéns ao curso pelos seus 20 anos e espero que o compromisso com a qualidade do ensino permaneça sempre como prioridade, formando além de Arquitetos e Urbanistas, seres humanos conscientes e responsáveis pelo ambiente em que vivem." 8
turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI em 1999. Como todo jovem, as certezas sobre a profissão ainda não eram claras. Aos poucos descobri a multidisciplinariedade, os trabalhos práticos, os textos densos, os exercícios de criatividade, enfim, foram 05 anos de muito crescimento. Assim que conclui a graduação no final de 2003 iniciei a Especialização na mesma UNIVALI. No ano de 2004, me associei a uma ex-colega e abrimos um escritório de projetos. Paralelamente, trabalhei em Prefeituras desenvolvendo Planos Diretores e grandes Projetos para Licitações. A criação de Projetos Arquitetônicos despontou como minha principal área de atuação. No ano de 2009 me tornei Mestre em Engenharia Civil, pela UFSC e tive o desejo de me tornar docente. Em 2012 iniciei esta trajetória na UNIVALI, e desde então venho lecionando disciplinas diretamente ligadas a Projetos no curso de Arquitetura e Urbanismo. Ensinar projeto urbanístico e arquitetônico é tema reconhecidamente importante e complexo, pois estimulamos o aluno a realizar uma experiência projetual responsável com pouco instrumental e conhecimento teórico ainda em formação, mas a recompensa é muito gratificante."
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Marcelo Salum Marcelo Salum Arquitetos Associados
" Tenho muito orgulho de ter sido aluno da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da Univali de Balneário Camboriú. Desde o início, toda a equipe acadêmica não mediu esforços para a excelência do curso, através de professores altamente qualificados, modernos laboratórios, espaços agradáveis para o aprendizado, uma vasta biblioteca, etc. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que saí confiante e preparado para o mercado de trabalho. Ao olhar pra trás, após esses 20 anos, vejo quão importante foi essa época na minha vida. Muitas amizades e aprendizados que conservo em meu coração até hoje! "
Karine Lise Schäfer Prof. Me. Arq. Urb UNIVALI
" Imaginei
falar sobre arquitetura como grande parte do que sou e do que penso. Mas realmente é uma tarefa quase impossível. Entender arquitetura é vivenciá-la. E, talvez essa seja a melhor forma de descrever a profissional de arquitetura e urbanismo que almejo ser, dedicando mais tempo para viver e conviver com a cidade e com as pessoas.
Tive a oportunidade de ter mestres encorajadores e admiráveis que me instigaram para uma visão integrada da arquitetura. Hoje sinto-me imensamente lisonjeada em retornar à instituição Univali na qualidade de mestre e, de alguma forma, tocar o coração de futuros arquitetos e urbanistas ao instigar uma inquietação projetual e um pensamento integrado nos problemas projetuais apresentados. O entusiasmo e as indagações dos estudantes proporcionam um constante amadurecimento que reflete, inclusive, nos projetos que desenvolvo. O projeto, na escala micro ou macro, é a oportunidade do convívio com o cliente e de refletir e vivenciar arquitetura em sua forma mais complexa. "
DIVA Rossini
Prof. Dr. Arq. Urb UNIVALI
Todos as imagens apresentadas nesta seção são de arquivos pessoais / divulgação
"
A história do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí esta ligada as potencialidades turísticas de Balneário Camboriu, que promoveram o acelerado crescimento do mercado da construção civil e imobiliário da região. O vestibular, para este curso foi realizado fora de época, no mês de março e as aulas iniciaram em abril do ano de 1996, com trinta alunos provindos de diversas partes do Brasil, inclusive das capitais do Estado de Santa Catarina, Florianópolis e do país, Brasília. O corpo docente foi sendo formados pouco a pouco, com professores experientes oriundos de universidades renomadas de diversas partes do país, assim como, arquitetos a pouco graduados, e com muita de vontade de fazer com que o curso, por meio de sua excelência, realmente viesse a se consolidar. Aos poucos, a sociedade organizada, representada por comerciantes e associações, passou a reconhecer a importância deste curso, integrando-o a programações sociais e tecnico-científicas. Durante os primeiros cinco anos, muitos outros cursos foram surgindo e a área física do campus cresceu significativamente, em virtude das particularidades que cada núcleo de formação exigia e também do numero de alunos. Ao termino dos cinco anos, chegou a hora da colação de grau, momento em que apenas quatro, dos trinta alunos que ingressaram em 1996 participaram. Os demais, aqueles que não desistiram ou trocaram de curso, vieram concluindo a matriz curricular ao longo dos anos. A necessidade de formar um corpo docente com profissionais da região possibilitou com que os egressos, já pós-graduados, ingressassem na academia e passassem a construir uma carreira profissional que associasse a academia com o mercado. O sucesso das atividades acadêmicas atuou como um agente de mobilização, estimulando a estes egressos a buscar níveis mais altos de conhecimentos, por meio de cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado que foram realizados tanto no Brasil, como no exterior."
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arkhé news
projeto memopoa Documentação Fotográfica Arquitetônica através do tempo Por Guilherme Llantada, Prof. Me. Arq. Urb
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uando tratamos do assunto “Arquitetura: Espaço + Tempo”, falamos de objetos arquitetônicos que participam de um cenário em constante movimento, e que, através de suas dinâmicas refletem o comportamento de uma sociedade em uma determinada época e caracterizam fisicamente seus valores individuais e coletivos. O projeto fotográfico idealizado e realizado pelo grupo de fotógrafos gaúchos Anderson Astor, Eduardo Aigner e Marcelo Curia, realizado na capital gaúcha, “retrata” de forma singular estes conteúdos e oferece ao público uma comparação entre tempos históricos distintos e as arquiteturas e histórias resistentes a eles. Comparando os tempos através das imagens captadas exatamente do mesmo ângulo das originais do início do Séc. XX, pertencentes ao arquivo do Museu Joaquim José Felizardo, em Porto Alegre, percebe-se claramente as alterações das estruturas físicas do espaço e suas novas relações, estimulando reflexões diversas da forma como construímos a cidade e como nos apropriamos de seus espaços.
Biblioteca Pública do Estado – 2014
Biblioteca Pública do Estado – Déc. de 1920/30
Paço Municipal
Paço Municipal - sem data
Praça Parobé
Praça Parobé – década de 1880/90
O projeto fotográfico foi financiado pelo Fumproarte, da Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre. Mais informações: www.memopoa.com.br
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Aprofundamento Teórico Sobre Arquitetura: Espaço+Tempo
Sistemas arquitetônicos contemporâneos
AUTOR: Josep Maria Montaner (Editora: GGBrasil | Ano 2015 | 224 páginas)
Apresenta-nos uma nova visão da arquitetura contemporânea – desde o início do século XX até o início do século XXI. Tomando como ponto de partida a crise do objeto arquitetônico isolado, enfatiza especialmente as relações entre os edifícios e os valores do espaço público por eles definido. Baseando-se no conceito de sistema, reescreve a história recente da arquitetura segundo a capacidade dessa de desenvolver formas que se adaptem melhor ao contexto. Os exemplos estudados neste livro situam-se na escala comum entre a arquitetura, o urbanismo e a paisagem, naquele âmbito em que a arquitetura configura a cidade, e as obras nele analisadas são de autoria de arquitetos reconhecidos por sua postura intelectual, humanista e contextualizada. Uma Nova Agenda para a Arquitetura - Antologia Teórica
Todos os textos e imagens apresentados nesta seção foram extraídos diretamente dos sites institucionais das respectivas Editoras.
AUTORES: Nesbitt,Kate (Editora: Cosac Naify | Ano 2008 | 664 páginas)
Esta antologia reúne os 51 mais influentes ensaios de teoria contemporânea publicados internacionalmente no âmbito das exposições, revistas e periódicos acadêmicos de arquitetura dos últimos 30 anos. Pensado originalmente para um público de profissionais, estudantes e professores de arquitetura, é uma excelente introdução aos temas e teorias da arquitetura mais importantes produzidos a partir dos anos 1960. Os textos, escolhidos em função de sua capacidade de revelar as questões centrais do debate teórico pós-moderno, foram escritos por arquitetos, historiadores, críticos e teóricos como Eisenman, Tschumi, Colquhoun, Argan, Agrest, Koolhaas, Gregotti, Tafuri, Frampton, entre outros. ESPAÇO, TEMPO E ARQUITETURA
AUTOR: Sigfried Giedion (Editora: WMF Martins Fontes | Ano 2003 | 950 páginas)
Este livro influenciou a formação de várias gerações de estudiosos da arquitetura. Publicado pela primeira vez em 1941 este livro sofreu várias atualizações e ampliações ao longo de sua história de sucesso culminando na edição que data de 1982. "Espaço, Tempo e Arquitetura" faz uma análise da arquitetura moderna do surgimento do que o autor chama de nova tradição da arquitetura a interrelação com outras atividades humanas e a semelhança com métodos empregados na construção pintura urbanismo e ciência.
Arquitetura da Cidade contemporânea. Centralidade, estrutura e políticas públicas. AUTORES: ASSEN DE OLIVEIRA, Lisete, DO AMARAL E SILVA, Gilcéia Pesce e ROSSETTO, Adriana Marques (org.) (Editora: Univali | Ano 2011 | )
Nas palavras de Benny Shasberg: “Pela porta de entrada da cidade contemporânea a obra nos oferece acesso a um mosaico complexo de imagens sob a percepção de olhares brasileiros, chilenos, argentinos e portugueses, da realidade urbana latino-americana.”
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vida acadêmica
CONCURSO NACIONAL DECA PARA EQUIPAMENTO URBANO Banheiro público modular para praias de Balneário Camboriú Acadêmico: Artur Guilherme Bernardoni Orientador: Eduardo Baptista Lopes, Prof. Me. Arq. Urb.
1 º prêmio
Imagens: Divulgação Prêmio Deca
O
Núcleo de Concursos de Projeto – NCPro, da UNIVALI, é um laboratório colaborativo idealizado e coordenado pelos professores arquitetos Eduardo Baptista Lopes e Carlos Alberto Barbosa de Souza, onde professores e alunos participam de certames nacionais e internacionais de arquitetura e urbanismo. Criado no ano de 2014, o Núcleo já concorreu em nove concursos, ministrou palestras, participou de eventos, prestou consultoria, já publicou em mídias digitais e impressas, bem como foi notícia em jornais, rádio e televisão, envolvendo mais de trinta alunos durante o processo. Quando completou dois anos de existência, em Outubro de 2016, foi premiado com o Primeiro Lugar no Concurso Nacional da Deca, em evento realizado no Espaço de Design Deca, em São Paulo, SP. O prêmio é o coroamento para o trabalho incessante do Núcleo, e de extrema importância para a continuidade de um grupo que busca frequentemente a difusão do conhecimento através de um modalidade de projeto democrática e desafiadora. Perspectiva externa banheiro público para orla de Balneário Camboriú.
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O concurso é uma modalidade da arquitetura e urbanismo utilizado sobremaneira para contratação de projetos para edificações e espaços públicos ou com viés cultural e social importantes. Atualmente no Brasil existe um grande esforço da comunidade arquitetônica ao exigir a utilização de concurso de projeto para a contratação de novas edificações públicas, o que abre um extenso nicho de mercado.
Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos do Estado de Santa Catarina, apresenta claros problemas na oferta de equipamentos públicos na orla de suas dez praias, principalmente na Praia Central. Atualmente, os únicos banheiros locados na orla fazem parte de quiosques ou restaurantes, que só podem ser utilizados por consumidores ou a partir de pagamento de taxas.
Imagem: Artur Bernardoni
Imagem: Artur Bernardoni
Neste semestre o NCPro desenvolve o projeto para o 21° Concurso Nacional Deca para Equipamentos Urbanos, na categoria “Banheiro público para praia”, desenvolvido pelo acadêmico Artur Guilherme Bernardoni, a intenção em selecionar esse tema é através do potencial a qual o tema oferece a região, bem como a necessidade do mesmo.
A Deca, ao criar um concurso para um projeto de banheiro de praia, cria uma oportunidade única para se trabalhar equipamentos públicos numa realidade frequentemente presenciada no litoral brasileiro. A baixa qualidade arquitetônica ou total inexistência desse tipo de espaço é extremamente prejudicial para o desenvolvimento do turismo, muitas vezes principal atividade econômica das cidades litorâneas.
Esquema de modulação e possibilidades de montagem.
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vida acadêmica
A defasagem constatada influencia negativamente na imagem da cidade que, apesar de ter apenas 120 mil habitantes, possui uma população flutuante que chega a mais de um milhão na alta temporada. Dessa forma, foi verificada a necessidade imediata da implantação do equipamento na Praia Central, cuja solução possa ser replicada ao longo de todas as suas praias.
O módulo adotado possui dimensões internas de 90cm x 180cm, que permitem a perfeita acomodação das diversas configurações possíveis de cabine, bem como das áreas de circulação e de cubas. A solução modular encontrada inspirou o nome do equipamento, M90180, que expressa o “M”, de modular, e o “90180”, que faz alusão às dimensões utilizadas.
Imagem: Artur Bernardoni
A iniciativa de trabalhar com construção modular surge a partir da sazonalidade de demanda verificada no município, proveniente de seus fluxos turísticos. Os módulos podem sofrer variação de acordo a necessidade de adaptação do layout, podendo variar entre cabine de banheiro, áreas
de circulação e lavatórios, duchas, depósitos, fraldário, mictórios e banheiro acessível. Junto com a variação do layout, a disposição dos módulos pode criar diversas composições, que respondem a necessidades de demanda de quantidade de cabines, projeção de espaço disponível para implantação, tamanho e geometria.
Esquema detalhado de montagem e peças.
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A cobertura é deslocada verticalmente das áreas fechadas, permitindo iluminação e ventilação natural. Essa cobertura é composta por uma estrutura metálica ligada ao steel frame, e revestida com telhas sanduiches preenchidas com poliuretano. A cobertura terá uma outra função importante na edificação: devido a grande verticalização da orla da praia, a face superior da cobertura é facilmente visível das janelas das
edificações, tornando-se um espaço ideal para divulgação e propagandas. A renda gerada pelo espaço publicitário poderia ser revertida na própria manutenção e conservação do equipamento. O equipamento conta com uma separação física entre banheiros masculinos e femininos. Para ambos, foram posicionadas bacias sanitárias, sendo uma para portadores de necessidades físicas, um
lavatório com espelho, reservatório d’água e duas duchas na face externa da cabine. As placas com frente para a Av. Atlântica poderão fornecer informações turísticas e de localização, como distância entre o M90180 e os principais pontos turísticos, informações de possibilidade de acesso aos mesmos, temperatura, umidade e outros dados térmicos.
Planta baixa humanizada.
Imagem: Artur Bernardoni
Imagem: Artur Bernardoni
Perspectiva interna banheiro público para orla de Balneário Camboriú.
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Trip Brasília Cidade moderna, cidade eterna Viagem técnica à Capital Federal Luciana Noronha Pereira – Prof. Me. Arq. Urb. Jânio Vicente Rech - Prof. Dr. Arq. Urb.
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o seu terceiro número, a revista Arkhé do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali, traz como temática central “Arquitetura: Espaço + Tempo”, nos convidando a investigar, questionar e propor a arquitetura e o urbanismo como expressão sócio-espacial de determinado tempo e sociedade. Neste sentido, o resgate temático inicia-se no “empréstimo” do título de Holanda (2010) – Brasília: cidade moderna, cidade eterna - que registra a permanência de Brasília ao longo do tempo, apontando a viagem técnica obrigatória à Brasília como oportunidade única de vivenciar uma cidade pensada e construída segundo os princípios modernistas, seja em seu urbanismo, seja em suas obras de arquitetura, e seu entorno, nas regiões administrativas, construída em diferentes momentos e com dinâmicas próprias. Urbanismo como ciência moderna As intervenções nas cidades centraram-se ao longo do tempo e história da humanidade em assegurar proteção e sobrevivência, dar ênfase e destaque às edificações de poder de cada momento – o palácio, a catedral. Até o período moderno, as intervenções podem ser vistas essencialmente como arte urbana. É somente a partir de Idelfonso Cerdá e sua proposta para Barcelona que o urbanismo surge como ciência moderna, analisando aspectos ambientais, de infraestrutura, coerência ambiental, convívio social, entre outros, segundo uma coleta sistemática de informações (CHOAY, 2003). Já no contexto do período entre guerras, o movimento moderno tem o período de mais intensa construção de conhecimentos no campo da arquitetura e do urbanismo, nos debates ocorridos por ocasião dos CIAMs (Congrés Internationaux d’Architecture Moderne), especialmente o 3º, em 1933, quando foi publicada a Carta de Atenas. Este tratado de arquitetura e urbanismo pretendia definir e conceituar o entendimento e as formas de expressão da arquitetura e do urbanismo em um documento orientador, que pode ser entendido enquanto síntese dos princípios difundidos por tal movimento. Entre estes, ressalta-se a definição da cidade organizada segundo funções urbanas – habitar, recrear, trabalhar e circular – a partir de zoneamento funcional (CIAM, 1933; ACIOLY & DAVIDSON, 1998; BAAN, 2010), modelo então seguido no plano piloto de Brasília. Edificio Sede do Banco Central (1976-1981), Brasilia, DF. Projeto do arquiteto Helio Ferreira Pinto. Foto: Eduardo Aigner
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Foto: Agência de Viagens Focus | Divulgação
Idealização, construção e consagração de Brasília como patrimônio da humanidade O início das obras de Brasília se deu em 1955, como parte das ações do programa de governo desenvolvimentista do então presidente Juscelino Kubitschek, seguido do concurso realizado nos anos de 1956 a 1957, cujo projeto escolhido foi o plano piloto proposto por Lúcio Costa (HOLANDA, 2010). Este plano vencedor, é posto por Lúcio Costa como indagador das próprias diretrizes dadas pelo edital, a que faltaria ocupar-se do “daqui que de fato importa”, lançando os pontos principais da solução apresentada (ARPDF et al, 1991, p. 22). O urbanista apresenta o plano organizado a partir de uma estrutura rodoviarista, segundo as escalas monumental, residencial, gregária e bucólica. Oscar Niemeyer é convidado pelo presidente JK para integrar a equipe, ficando responsável pelos projetos dos edifícios da então futura capital brasileira.
O plano piloto é conhecido especialmente pelas superquadras e unidades de vizinhança que definem sua estrutura espacial diferenciada, na qual cada unidade de vizinhança é composta por 4 superquadras que, por sua vez, ocupam uma área de 7 a 8 ha cada, com edificações multifamiliares sobre pilotis de até 6 pavimentos, concentrando a densidade habitacional nas Asas Sul e Norte, entre 150 e 250 hab/ha (ACIOLY & DAVIDSON, 1998). Este contexto torna Brasília uma das cidades de maior interesse aos arquitetos e urbanistas e seus estudantes, seja por seu valor enquanto patrimônio da humanidade (UNESCO, 1987), seja pela referência construída aos princípios do urbanismo moderno da Carta de Atenas (CIAM, 1933), ou ainda pela forte presença das obras de arquitetura moderna de Oscar Niemayer.
Sua construção foi realizada em tempo recorde, totalizando quatro anos e oito meses, tendo sido inaugurada em 21 de abril de 1960, mesmo com parte significativa das obras ainda inacabadas (HOLANDA, 2010). Ainda atualmente o Plano Piloto e suas edificações não foram totalmente concluídos, o que não impediu seu reconhecimento enquanto patrimônio da humanidade pela Unesco (1987). Entretanto, as dinâmicas próprias da cidade, as necessidades de modernização e atualização e modificações sentidas após sua implantação tem implicado na alteração de algumas das características originais do plano de Lúcio Costa, acrescentando polêmica na discussão e refletindo-se no risco da perda do título conferido pela Unesco. Edificio sede do Forum do Meio Ambiente e da Fazenda Publica do TribTJDFT - Projeto do escritório Siegbert Zanettini - Foto: Eduardo Aigner
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Foto: Luciana Noronha Pereira
Vivenciando a cidade moderna de JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer A visitação de Brasília pelos alunos é estruturada de maneira a permitir o reconhecimento e a experiência espacial de cada um dos setores do Plano Piloto, assim como as regiões administrativas. A caminhada em alguns pontos da cidade - no eixo monumental, nas Asas Sul e Norte, no Setor Sudoeste, nas cidades satélites, hoje denominadas de Regiões Administrativas – RA, como Taguatinga, Ceilândia e Águas Claras, entre outros – permite tomar contato com a paisagem, apropriar-se dela enquanto exercício estético (CARERI, 2013) e ter contato com o resultado espacial das orientações da Carta de Atenas (CIAM, 1933). Ao longo da viagem técnica são desenvolvidas algumas atividades que tem como princípios orientá-la para a apropriação do conhecimento na área de arquitetura e urbanismo, incluindo a compreensão da forma urbana e seus processos de origem (LAMAS, 2004), o contexto histórico e o meio técnico-cientifico informacional (SANTOS, 1994) que possibilitou a construção de Brasília, enquanto artefato arquitetônico e social, o repertório de obras arquitetônico-urbanísticas a partir da produção de Lucio Costa e Oscar Niemayer, ali materializada, além de estimular as capacidades de percepção e representação do espaço e das noções de escala e relações verificadas in loco. Viagem técnica como estratégia de ensinoaprendizagem em arquitetura e urbanismo Foto: Luciana Noronha Pereira
Assim, o primeiro item integrante das atividades da viagem é a pesquisa prévia pelos alunos de obras e locais que serão visitados, objetivando a formação de conhecimento preliminar sistematizado em um caderno de viagem. Do mesmo modo, a apresentação das primeiras informações acerca dos locais visitados pelos próprios alunos que pesquisaram o item em questão, seguida da complementação e atualização feita pelo guia especializado e pelos professores da disciplina, propiciam a construção de um ambiente de estudo colaborativo, crítico e dinâmico na produção e disseminação do conhecimento.
Acadêmicas exercitando a leitura arquitetônica através da prática do croqui.
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De outro lado, os alunos produzem um número significativo de croquis a partir da vivência dos locais visitados. Estes croquis, além do exercício desta clássica e importante prática de expressão gráfica da arquitetura e urbanismo, possibilitam a identificação das características de edificações, escalas e espaços modernistas, incentivam a análise da forma permitindo maior compreensão espacial, incluindo sua ambiência e escala urbana.
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Congresso Nacional ao entardecer Projeto de Oscar Niemeyer - 1958 - Foto: Eduardo Aigner
Por último, ao retorno da viagem, cada aluno produz o seu relatório técnico da viagem descrevendo e ilustrando com esquemas, croquis e fotografias, informações sobre a viagem e estabelecem relações analíticas entre Brasília, Carta de Atenas (CIAM, 1933) e critérios de desenho urbano após o modernismo (BENTLEY et al, 1999; GEHL, 2014; JACOBS, 2000; LYNCH, 2010; entre outros). Retomando a temática deste número “Arquitetura: Espaço + Tempo” e buscando o avanço desta atividade ao encontro das possibilidades geradas pelas novas tecnologias de informação e comunicação, está prevista ainda, a inclusão de novas tecnologias de informação e comunicação nas atividades da viagem técnica obrigatória para Brasília,
originando a construção de um Geoálbum de viagem que permita a geolocalização em uma imagem de satélite ou base cartográfica dos locais visitados, contendo imagens e análises realizadas em campo. Por fim, a viagem técnica à Brasília, enquanto parte das atividades da disciplina de Planejamento Urbano com escopo na elaboração de Planos Diretores pretende, além do que já foi citado anteriormente, fornecer elementos para a proposição do plano e projeto urbano em desenvolvimento pela turma, que gera uma maquete, em escala 1:1.000, de aproximadamente 2m x 3m, a qual contribui significativamente para a discussão da temática urbana, da qualidade dos espaços públicos e do acesso/direito à cidade.
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Referências bibliográficas A C I O LY, C . ; D AV I D S O N , F . Densidade urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. 107p. A R P D F ; CO D EP L A N ; D EP H A . Relatório do Plano Piloto de Brasília. Brasília: Gdf, 1991. Disponível em: <http://www.brasiliapoetica.blog. br/site/media/relatorio_plano_piloto_ de_brasilia_web2.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2016. BAAN, Iwan. Brasília - Chandigarh: Livi n g with mo dern ity . B a den , Switzerland: Lars Müller Publishers, 2010. 239 p. BENTLEY, Ian ; ALCOCK , Alan ; M U R R A I N , P a u l ; M C G LY N N , Sue & SMITH, Graham. Entornos Vitales: hacia in diseño urbano y a rquitectón ico má s hu ma no . Barcelona: Gustavo Gili, 1999. 151 p. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2013. CHOAY, Françoise. O urbanismo. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. Congresso Internacional de A rq u itetu ra M o d e r n a - CIAM . Carta de Atenas. Atenas: 1933. 38p. Disponível em: <http://portal.iphan. gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ Carta%20de%20Atenas%201933 . pdf>, acesso em 11 de agosto de 2016. GEHL, Jan. Cidade para pessoas. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. 280 p. HOLANDA, Frederico de. Brasília: Cidade moderna, cidade eterna. Brasília: Fau Unb, 2010. 152 p. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Lamas, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade (2ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2004. Cap. I e II. p. 17-129. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010. Santos , M . Té c n ica , Esp a ço , Tempo: globalização e meio técnicocientífico-informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Patrimônio Mundial no Brasil: O Plano Piloto de Brasília/ DF. [s.l.]: UNESCO, 1987. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/ pt/brasilia/culture/world-heritage/ li st- of-world- heritage - i n - bra zil / brasilia/#c1464972>, acesso em 10 agosto 2016.
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Bienal Brasileira de Design floripa 2015 Revisitando a exposição Coletivos Criativos Por Kátia M. Veras Prof. Me. Arq. Urb Simone Bobsin Jornalista (Curadoras)
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ste texto foi escrito a quatro mãos e propõe fazer um relato sobre a experiência no “Coletivos Criativos”, uma das exposições da Bienal Brasileira de Design Floripa 2015. Passado mais de um ano, sentimos a necessidade de registrar essa ação e levantar o debate acerca das intenções, do processo e dos resultados propostos, sobre a exposição que abordava o design urbano e pretendia deixar legados para a cidade. A Bienal Brasileira de Design 2015 foi realizada na cidade de Florianópolis (SC), de 15 de maio a 12 de julho de 2015, com a curadoria geral de Freddy Van Camp, a partir do tema “Design para Todos”. Tinha o objetivo de chamar a atenção para a presença do design no cotidiano das pessoas e propor discussões sobre o design democrático, inclusivo e colaborativo, formulado a partir das diretrizes da Design for all Foundation segundo a qual:
Espaço da exposição / Coletivos Criativos, no museu da imagem e do som no CIC/ Centro Integrado de Cultura do Estado de Santa Catarina Foto: Ricardo Braescher
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“Design para todos é a intervenção em ambientes, produtos e serviços com o objetivo de que qualquer pessoa, incluindo as gerações futuras, e independentemente da idade, gênero, aptidões ou background cultural, possa contribuir na construção da nossa sociedade com oportunidades iguais, participando de atividades econômicas, sociais, culturais, recreativas e de entretenimento, e tendo condições de acessar, usar e entender qualquer parte do ambiente com o maior grau de independência possível”.
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Design Participativo - Coletivos Criativos Apontando para o futuro, escolheu-se incentivar o design participativo como um dos eixos da bienal, voltado especificamente para a constituição de projetos que deixassem legados tangíveis e intangíveis para a cidade que receberia o evento - Florianópolis. Tangíveis porque a intenção era deixar legados físicos, por meio de protótipos e instalações as mais variadas. Intangíveis porque acreditávamos que a movimentação para a realização dessas ações participativas certamente resultaria num saldo positivo para a população na busca de uma cidade com maior qualidade de vida pública.
Banco onda / Coletivos Criativos, em frente ao CIC/ Centro Integrado de Cultura do Estado de Santa Catarina Foto: Guilherme Llantada
A partir do conceito de apropriação do espaço por meio do design, foram escolhidos alguns bairros a serem contemplados com projetos instalados e ações a serem desenvolvidas: Mont Serrat, Jurerê, Centro e Agronômica. Considerando as características de cada local, pensou-se em intervenções que atendessem às necessidades e especificidades da cada região, portanto flexíveis em suas tipologias e conteúdo. No centro, foi instalado o Estar Urbano que ocupou uma vaga de carro. No Mont Serrat, um semi-banco/corrimão para auxiliar a subida íngreme da rua de acesso ao morro, uma necessidade da comunidade constatada por um dos coletivos convidados, o Design Possível.
Em Jurerê, uma das alamedas na parte antiga do bairro foi ocupada com elementos como o banco Onda, o Estar Urbano e o balanço Ninho; e em frente ao CIC (Centro Integrado de Cultura), bancos, balanços e a primeira montagem da geodésica itinerante, estrutura que serviu de dispositivo móvel para a realização de oficinas que complementavam as ações geradas pelos “Coletivos Criativos”. Acreditávamos que o design representado pelos equipamentos propostos pelo grupo seria gerador de lugar e a partir da oferta destes elementos urbanos, aconteceria a apropriação pelas pessoas.
Balanço Ninho / Coletivos Criativos, na alameda em Jurerê Foto: Ricardo Braescher
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A documentação do processo de elaboração coletiva foi posteriormente exposta no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Centro Integrado de Cultura (CIC), durante a realização da Bienal, por meio de desenhos, vídeos e instalações. Além de retratar o pensamento do grupo, a intenção foi instigar as discussões a respeito das intervenções. Novembro de 2014 – o começo
Integravam o grupo inicial a designer e professora e coordenadora da Univali, Bianka Cappucci Frisoni, que seria a gestora do grupo; a artista plástica e professora do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), Isabela Sielski; a arquiteta e professora da Univali, Katia Véras; o psiquiatra e artista visual Marcelo Fialho; o artista visual Marco D. Júlio; e a jornalista Simone Bobsin. Tínhamos à frente uma longa jornada na organização da exposição.
Fevereiro de 2015 – a mudança A condução de um trabalho à frente de uma Bienal é resultado de muitos esforços e pessoas, no entanto o olhar que define o caráter geral da exposição é o do curador convidado. Por discordar da condução do processo, Adélia Borges afastou-se das funções de curadora geral - para surpresa de todos envolvidos - e deixou um rastro de insegurança e desconforto. Assumiu o processo, a três meses da abertura, o designer carioca, professor no Campus Petrópolis da ESDI UERJ (Escola Superior de Design Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Freddy Van Camp. Especificamente relacionadas ao “Coletivos Criativos” - mostra idealizada e conduzida diretamente por Adélia com reuniões frequentes -, aconteceram mudanças no grupo inicial com a saída espontânea dos artistas Marcelo Fialho e Marco D. Julio. Da nossa parte, a decisão de permanecer passou por muitas reflexões, com o apoio de Adélia, cujo argumento era o nosso papel como articuladoras locais do setor e nossa contribuição à exposição.
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Protótipos em maquetes e projeção interativa, na exposição Coletivos Criativos no MIS/CIC.
Decidimos permanecer e dar continuidade ao projeto inicial, onde já havíamos mapeado pessoas e coletivos que estavam desenvolvendo ações significativas de intervenção urbana em vários campos: da arte à arquitetura, da academia às manifestações independentes. Maio de 2015 – parte I – o processo Os primeiros encontros com as pessoas convidadas a se integrarem ao projeto foram para troca de conhecimento e experiências sobre os trabalhos individuais e coletivos. Surpresas aconteceram em relação às muitas maneiras de intervir nos espaços urbanos e muitas sugestões foram postas à mesa: estares urbanos, horta comunitária, geodésica para debates, estante de trocas, bancos, corrimão, arte de rua, balanço, entre outras. O trabalho iniciou entusiasmado com as possibilidades de refletir sobre a contribuição do design para a sociedade no que concerne ao seu desenvolvimento cultural, social, econômico e ambiental. Mais ainda: tínhamos a esperança de contribuir para aumentar a percepção consciente por parte da comunidade sobre a importância do design como promotor da democratização dos espaços públicos.
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Foto: Ricardo Braescher
O processo coletivo nunca é unânime, ao contrário, o caráter da coletividade é o debate e a construção a partir da diversidade. E tudo iniciou em novembro de 2014, com o convite a um pequeno grupo feito pela curadora escolhida pelo comitê gestor da Bienal, a pesquisadora Adélia Borges. O encontro tinha como intenção expor a proposta dos “Coletivos Criativos” e reforçar o convite para participação do coletivo curatorial.
No início, foram definidas metodologias de estudo, cronograma, saídas de imersão e conhecimento de potenciais espaços públicos e comunidades a receberem a intervenção como parte da exposição do “Coletivos Criativos”. Seriam os legados tangíveis da Bienal. Calendário apertado, debates acirrados e gestão tumultuada conduziram o grupo a um momento de inércia, que resultou em decisões imediatas para dar conta de aprontar a mostra para a data prevista. Decisões que merecem ser refletidas após mais de um ano da realização da Bienal. Maio de 2015 – parte II - o exercício do coletivo
Foto: Guilherme Llantada
Não foi uma tarefa fácil materializar o pensamento de um grupo muito diverso, com interesses individuais ou coletivos latentes, acostumados a práticas menos divergentes e plurais. O exercício do trabalho coletivo demanda uma condução firme e objetiva, no entanto democrática e participativa, com debate quanto às diretrizes a serem seguidas pelo grupo e a própria divisão das tarefas. Freddy Van Camp, curador geral da Bienal Brasileira de Design de Florianópolis 2015
Nos encontros, realizados primeiro há cada 15 dias e depois semanais, aconteceram muitos enfrentamentos por conta de opiniões divergentes em relação a questões como: identidade, definições de conceito e nomes, mapeamento de locais para intervir, desenho dos equipamentos. Uma das principais polêmicas foi a respeito da autoria do projeto, ou seja, se a construção do elemento representativo urbano seria uma criação de grupos pertencentes ao próprio “Coletivo” ou seria uma ideia construída e assinada por todos. Qual estratégia iríamos adotar?
A inércia e as discussões calorosas tomaram conta das exaustivas reuniões até poucos dias antes da abertura oficial da exposição. Em duas semanas era necessário dar conta do conceito da exposição, já debatido e em parte definido, dos elementos a serem representados na mostra que se daria no MIS (Museu da Imagem e do Som do Centro Integrado de Cultura), para a qual iríamos apresentar o processo criativo do grupo, e da execução dos equipamentos, definidos pela curadoria em sintonia com todo o grupo convidado: dois bancos, três balanços de dois tamanhos diferentes, dois estares urbanos e a geodésica itinerante.
Com o tempo além do limite, definimos representantes responsáveis por finalizar os desenhos, prototipar quando necessário, e acompanhar a execução e montagem dos equipamentos. Para a exposição no MIS, percebeu-se a urgente necessidade de um projeto expositivo assertivo e coerente com os debates do “Coletivo”, dando conta de ficar pronto em menos de 15 dias. O arquiteto Guilherme Llantada, professor da Univali, encarou o desafio de organizar e montar a exposição, ajudando a conceituar e representar todas as ideias que tiveram como ponto focal a figura de uma árvore. Maio 2015 – parte III – a exposição A exposição “Coletivos Criativos” no MIS tinha como propósito revelar o processo criativo do grupo no desenvolvimento das soluções e equipamentos para as intervenções realizadas na cidade. A árvore e sua simbologia evidente – associada à vida, à fertilidade, ao arquétipo da verticalidade – foi o elemento forte e ao mesmo tempo singelo que definiu o conceito de espaço/lugar. A mostra pretendia instigar o debate sobre espaço, lugar, apropriação, e contribuir para a percepção sobre a importância do design como elemento transformador do próprio espaço e de interferência direta no dia a dia das pessoas.
Foto: Ricardo Braescher
Depois de fazermos o levantamento dos projetos e ações que consideramos relevantes trazer a público por meio da exposição, iniciamos uma agenda de encontros para definir quais grupos e pessoas teriam interesse em permanecer e desenvolver o trabalho colaborativo a partir dessas experiências mapeadas. No decorrer do processo, alguns saíram espontaneamente e outros somaram. Nossa intenção sempre foi a de agregar pessoas interessadas no debate sobre como utilizar a ferramenta do design a favor do coletivo.
Caixa de Ideias / Exposição Coletivos Criativos
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Além disso, a exposição no MIS propôs não só trazer à tona o pensamento do grupo, ao apresentar produtos acabados, protótipos e projetos, mas também abrir espaço para a participação dos visitantes na “Caixa de Ideias”, ambiente planejado para registrar sugestões de intervenção urbana para a cidade construídas coletivamente pelo público que visitou a mostra. Proposta assertiva com ampla participação dos visitantes!
Foi surpreendente e emocionante encontrarmos a caixa preta – sala escura que projetava imagens (no piso) de exemplos de objetos de design urbano -, repleta de inscrições expressando desejos, críticas, desenhos feitos com giz pelos visitantes, demonstrando a vontade dos cidadãos em responder à nossa provocação: o que eu posso fazer pela cidade? Qual a minha contribuição?
No âmbito da cidade, os quatro pontos de intervenção realizados deixariam um legado tangível. E é aqui que o debate começa.
Buscamos atrair os visitantes a pensar e propor, suscitando a todos a possibilidade de participar da construção da cidade. Na caixa de ideias, ambiente final que contava com depoimentos dos coletivos e uma bancada que disponibilizava material de desenho, era possível projetar o que seria o sexto elemento da mostra, uma produção coletiva e participativa. Do lado de fora, as pessoas de fato apropriaram-se do espaço antes vazio em frente ao CIC, usando bancos e balanços que ficaram como legado permanente.
Foto: Ricardo Braescher
É fundamental considerar que a experiência com o equipamento implantado no Mont Serrat foi resultado de um trabalho longo desenvolvido pelo coletivo “Design Possível”, que tem à frente a professora e ceramista Isabel Sielski. O semibanco/ corrimão era um desejo da comunidade, para enfrentar a dificuldade de subir o morro e dispor de intervalos de descanso. A intervenção foi um sucesso!
Maquetes Protótipos da Intervenção Urbana na Alameda de Jurerê. Estar Urbano, Balanço Ninho e Banco Onda
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O Estar Urbano da Rua Luiz Delfino, em frente ao condomínio Juarez Machado, teve garantida a sua instalação por conta da disponibilidade da vaga de carro já autorizada pelo poder público. Normalmente instalado em regiões de grande movimento e densidade, o espaço no qual ficou de forma permanente é uma rua calma, residencial, onde não há necessidade de uma mini praça ocupando a vaga de carro. Por outro lado, estamos vivendo um momento de ocupação dos espaços públicos e criar pontos de vitalidade pela cidade é uma ação desejável.
Resultado e pontos de reflexão
O caso de Jurerê
O resultado da exposição “Coletivos Criativos” no MIS diante da plateia que a visitou – designers, estudantes, público em geral – foi excelente, considerando o início conturbado do processo e a estética proposta. Protótipos das instalações, grandes painéis com fotos dos locais e a própria árvore, foram trazidos para dentro do museu, suscitando uma experiência sensorial aos visitantes e fortalecendo as percepções de espaço transformado em lugar pela apropriação das pessoas – conceito da exposição.
A experiência da implantação em Jurerê merece uma reflexão à parte. O local recebeu o maior número de equipamentos: banco Onda, Estar Urbano e balanço Ninho. O objetivo dessa intervenção era resgatar uma rede de passeios públicos (alamedas) que acontecem no interior das quadras do bairro, desenhada pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer, pouco percebida e utilizada até mesmo pelos próprios moradores.
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As intervenções pretendiam dar visibilidade às alamedas e para isso elegeu-se uma das nove existentes no interior das quadras, localizada em frente a um pequeno centro comercial da região, um dos poucos locais “vivos” do bairro. O grupo apoiava-se na possibilidade de gerar novos espaços de convívio, trocas, inclusão e mudança de paisagem e paradigma de ocupação, já que muitas das alamedas são tratadas como resíduo urbano: vegetação fechada e obstáculos para tornar difícil o acesso ou, em alguns casos onde era possível perceber serem mantidas pela vizinhança, tratadas como áreas exclusivas ou privadas. Já na instalação dos equipamentos começaram as dificuldades e olhares de desconfiança por parte dos moradores. Contudo, durante a permanência dos equipamentos no local, estes foram muito utilizados pelo público em geral. A insistência do grupo em responder aos questionamentos e reclamações - buscando esclarecer e ressaltar a importância das intervenções - possibilitaram vitalidade nesses espaços de vocação social, mas não evitaram que os equipamentos tivessem que ser retirados. Para tanto, as justificativas foram as mais variadas: desde as de que “geravam ruído e atraiam muita gente”, até de que “estariam danificando a grama”.
Emblemático lembrar que no local onde foi instalado o Estar Urbano, em frente à entrada da alameda, havia um carro estacionado há sete meses, com pneus arreados e um aviso de “vende-se”, com a alegação do proprietário de que ele “morava no prédio em frente”, portanto teria “direito de utilizar a vaga”. Como reflexão é vital entender que a dinâmica de projetar para os espaços públicos é complexa, e que na cidade coexistem as diferenças. Para estabelecer uma relação de apropriação e pertencimento, ou seja, para que este espaço se transforme em lugar e faça parte do conjunto de referências de uma comunidade, criando identidade, afetividade e bem-estar, é necessário que a condução do processo considere fatores como interatividade, tempo de convívio com a comunidade, pesquisa e que o resultado se transforme em uma coprodução. Fazendo um paralelo ao processo encarado pelo “Coletivo”, a experiência foi transformadora do ponto de vista individual ao proporcionar a prática do trabalho coletivo, entendendo que todos os atores dessa produção - designers, usuários, pesquisadores e gestores - são parceiros para um mesmo fim, em um processo constante de melhorar nossa qualidade de vida urbana e cidadã.
Foto: Ricardo Braescher
Caixa preta / Intervenções expontâneas dos visitantes nas paredes da exposição Coletivos Criativos
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8° Seminário Internacional de Investigação em Urbanismo Cidade, território e paisagem como objetos de pesquisa e projeto Por Lisete Assen de Oliveira, Prof. Dr. Arq. Urb Almir Francisco Reis, Prof. Dr. Arq. Urb (UFSC)
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8° SIIU realizou-se nos dias 6 e 7 de junho de 2016, na Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, Espanha e nos dias 20 e 21 de junho, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas no Campus Balneário Camboriú da Universidade do Vale de Itajaí. Os Seminários Internacionais de Investigação em Urbanismo, idealizados pelo Departamento de Urbanismo y Ordenación del Territorio de la Universitat Politècnica de Catalunya (UPC, España) têm sido realizados em duas sedes, desde a sua quinta edição em 2013. Por um lado, Barcelona e, por outro, uma cidade latino-americana. Assim aconteceram, desde então, o 5° SIUU em Buenos Aires (2013), o 6° SIIU em Bogotá (2014) e o 7° SIIU em Montevideo (2015). O 8° SIIU em Balneário Camboriú (2016) foi organizado em parceria com o Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI, com apoio da FAPESC (Fundação de Apoio e Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina) e da Universidade Federal de Santa Catarina, através dos Cursos de Pós-Graduação PGAU (Cidade História, Urbanismo e Arquitetura da Cidade) e Pós-ARQ (Arquitetura e Urbanismo). O 8° SIIU teve sua formatação idealizada pelo Prof. Dr. Joaquin Sabaté Bel, da UPC, e foi coordenado, na Sede Balneário Camboriú, pelos Professores Lisete Assen de Oliveira e Carlos Alberto Barbosa de Souza da Univali. A realização da oitava edição deste evento, desta vez com sedes em Barcelona e Balneário Camboriú, reafirma um esforço que há muito vem sendo desenvolvido: a criação de um ambiente internacional de intercâmbio acadêmico, experiência consolidada nas versões anteriores, em especial aquelas que tiveram como sedes, além de Barcelona, outras cidades latino-americanas. Divulgando trabalhos realizados e em andamento e ainda incentivando jovens pesquisadores, esses Seminários têm criado condições objetivas para a difusão de avanços e possibilidades da pesquisa na área, abrindo caminhos também para a colaboração e trocas institucionais, representadas pela participação do Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo, MSC Carlos Alberto de Souza, na Sede Barcelona, nos dias 6 e 7 de junho e do Dr. Joaquim Sabaté Bel, Diretor do Seminário, em Balneário Camboriú.
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Nesta perspectiva, o tema do Seminário, Cidade, Território e Paisagem como Objetos de Pesquisa e Projeto, foi abordado segundo cinco eixos: Teoria e História da Cidade, Morfologias Urbanas, Espaço público e Projeto Urbano na Metropole Contemporânea, Análise e Projeto Territorial e Análise e Ordenação da Paisagem. Os trabalhos apresentados em Balneário Camboriú para esses diferentes eixos de abordagem foram analisadas e selecionados por Comitê Científico Internacional formado por 30 pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa, alguns dos quais participaram, também, coordenando e comentando os artigos apresentados nas 5 Mesas de Trabalho. Foram selecionadas, pelo Comitê Cientifico , 74 artigos entre as 195 propostas recebidas, o que por si só demonstra uma grande receptividade do evento por nosso meio acadêmico . Por outro lado, a grande diversidade de temáticas trabalhadas ofereceu um painel extremamente relevante da pesquisa acadêmica na área, permitindo a visualização e troca de conceitos e metodologias e expondo a diversidade empírica que caracteriza nossa realidade urbana. Vale reforçar aqui o acerto do formato dos grupos de trabalho idealizado, com a presença de dois pesquisadores-coordenadores com a tarefa de comentar os trabalhos, de maneira a conduzir a discussão, pontuando os avanços e contribuiçoes apresentadas.
Foto: Sergio Sandullo Prof. Dr. Joaquim Sabaté Bel | Diretor do Seminário
Como contribuições destacadas o Seminário contou com três palestras . A palestra de Abertura, ministrada pelo Prof. Dr. Joaquim Sabaté Bel , intitulada "Seis líneas, cinco equívocos, cuatro proyectos y tres conclusiones" na qual o palestrante pontuou e exemplificou eixos e escalas de abordagem no trabalho com a cidade e o território, demonstrando sua pertinência e importância na atuação projetual e, o que talvez seja o mais desafiante, expressando possibilidades de superação da clássica dicotomia entre pesquisa e projeto, ainda presente no mundo da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Foto: Sergio Sandullo
No campo de pesquisas acadêmicas em Arquitetura e Urbanismo, o Brasil e a América Latina têm dispendido enormes esforços no sentido da sua consolidação. No Brasil são hoje já cerca de duas dezenas de cursos de pós-graduação, que se juntam àqueles consolidados em áreas afins – Geografia, Sociologia, Antropologia, Ciências Ambientais. Nossa realidade urbana, caracterizada pelas desigualdades físicas e sociais e pela destruição ambiental, continua clamando por uma atuação consciente e comprometida. A qualificação dessa atuação passa, necessariamente, pela crítica constante e aprofundada sobre nossas escolas, bem como pela redefinição dos pressupostos epistemológicos que embasam a formulação do conhecimento e práticas na área.
Prof. Dr. Arq. Sergio Ferraz Magalhães | Presidente do IAB Brasil
A segunda palestra, “Uma cidade de cidades misturadas. O arquiteto nas encruzilhadas da metrópole brasileira contemporânea”, foi proferida pelo Prof. Dr. Arq. Sergio Ferraz Magalhães que destacou as muitas demandas sociais que o arquiteto é chamado a responder e o quanto suas respostas estão em aberto, dependendo de nossas pesquisas e efetiva experimentação. Mostrou também que embora os problemas estejam em escalas e temáticas análogas, devemos ter atenção aos contextos locais na busca de respostas efetivamente enraizadas em realidades sócio-espaciais que contêm muitas especificidades.
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vida acadêmica
Foto: Sergio Sandullo
paisagem e ao projeto urbano e territorial. O conjunto dos artigos apresentados está disponível online no link. De outro lado, o Seminário, através da exposição de pôsteres, procurou incentivar novos e futuros pesquisadores e pesquisas em fases iniciais, o que resultou de grande interesse aos participantes e um lugar de trocas informais.
E a terceira, a palestra de encerramento, “Imágenes de la metrópolis en América Latina” da Profª. Dra Alicia Novick, da Universidade de Buenos Aires/Argentina nos apresentou um percurso historicamente situado desde a tensão entre ordem e desordem, que abre um olhar novo sobre nossos tão conhecidos contextos. E, nos desafia a pensar que “o que está em jogo é projetar na desordem, projetar considerando a incerteza, e os desafios que implica conhecer o território; em suas desordens e tratar de operar neste marco”
Profa. Lisete Assen de Oliveira | Organizadora do Seminário na UNIVALI
A Cidade, o Território e a Paisagem, temas centrais do Seminário, permitiu congregar pesquisas, revelando semelhanças e especificidades nos aportes acerca do meio urbano e do urbanismo em ambos os lados do Atlântico. Neste contexto, a realização do 8° Seminário Internacional de Investigação em Urbanismo em Santa Catarina, e mais especificamente em Balneário Camboriú, aponta importante perspectiva no sentido de disseminar a discussão em nossa ampla e complexa realidade territorial. Dando divulgação a trabalhos e grupos de pesquisas que se dedicam a refletir sobre as políticas urbanas adotadas pelo país nas últimas décadas, trazem à tona temáticas regionais, que dão especial colorido a nosso diverso e complexo território. Os trabalhos apresentados exemplificam algumas dessas experiências, às quais se somam os estudos no âmbito de outros paises ibero-americanos com os quais temos tantas diferenças territoriais e enormes desafios comuns, notadamente quanto à ordenação da
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Foto: Sergio Sandullo
Profa. Dra Alicia Novick
Importante ressaltar os vínculos acadêmicos possibilitados pela realização do Seminário. Inicialmente, o engajamento interno do Comitê de Organização e montagem, formada por professores, alunos e funcionários da UNIVALI, que constituiu um coletivo solidário, fraterno e eficiente, sem o qual não seria possível estabelecer um ambiente de trabalho intenso e produtivo.
Em segundo lugar, o trabalho conjunto com a Universidade Politécnica da Catalunha demonstra o quão profícuas podem ser essas experiências, especialmente quando as distâncias são cada vez mais diminuídas pelas tecnologias de informação.
Pós-ARQ (Arquitetura e Urbanismo) que representa um efetivo patamar para o desenvolvimento de iniciativas institucionais conjuntas, imprescindíveis no contexto de instituições que se debruçam por sobre uma realidade territorial comum.
Em terceiro, a parceria estabelecida pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí com a Universidade Federal de Santa Catarina, e em especial com os Cursos de Pós-Graduação PGAU (História, Urbanismo e Arquitetura da Cidade) e
Por fim, há que se ressaltar o fundamental e decisivo papel do Prof. Dr. Joaquín Sabaté Bel, idealizador e impulsionador do Seminário, sempre um entusiasta a construir pontes que aproximam abordagens diferenciadas e geografias distanciadas.
Foto: Fulano
Foto: Sergio Sandullo
Exposição de Pôsteres selecionados para o 8º SIIU
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Croqui do Arquiteto LelĂŠ Menezes
entrevista & opinião João Filgueiras Lima nasceu em 1932, no Encantado, um subúrbio Rio de Janeiro. Ganhou o apelido de Lelé, na época em que jogava nas “peladas” da Ilha do Governador, por conta de um craque do Vasco da Gama, que jogava na mesma posição que a sua, como lembra Carlos de Queiroz, professor e ex-diretor da FAU UnB.
Sustentabilidade e pré-fabricação Haroldo Pinheiro, que trabalhou com Lelé durante mais de 40 anos, lembra que desde os primórdios de Brasília, “ele já antecipava suas motivações nos canteiros de obras pré-construídos, com galpões reaproveitáveis, e na construção de casas e edifícios que primavam pela agilidade e redução de desperdício. Nas últimas décadas, as fábricas públicas que idealizou produziram escolas e pontes em Abadiânia ou no Rio de Janeiro; creches e equipamentos urbanos em Salvador ou Belo Horizonte; primorosos hospitais para a Rede SARAH em Brasília e outras várias cidades brasileiras… Em tudo e sempre, a progressiva evolução no domínio das tecnologias mais contemporâneas e inventivas, atentas às condições sociais e culturais locais, sempre aplicadas a fazer mais – e melhor – com menor utilização dos recursos que a Natureza oferece e baixo impacto sobre o sítio preexistente.
Cursou a disputada Escola Militar do Rio de Janeiro, onde conseguiu uma boa base em matemática, além de destreza inata em desenho. Por desenhar bem foi aconselhado por amigos a estudar arquitetura. Em 1951 ingressou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde se formou em arquitetura em 1955. Filho único, foi arrimo da família humilde ao perder cedo seu pai. Enquanto estudante de arquitetura ganhava dinheiro desenhando perspectivas. Aos sábados tocava acordeão em bailes e casas noturnas. Já era também bom em flauta e piano.
entrevista
João Filgueiras Lima, o Lelé "Temos que ser construtores" por Vicente Wissenbach e Ledy Valporto Leal
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enhum outro arquiteto brasileiro soube unir com tanto entusiasmo arte e tecnologia quanto João Filgueiras Lima, o Lelé. Falecido em maio de 2014, aos 82 anos, deixou um legado inestimável para a Arquitetura Brasileira. Suas obras se destacam pelas técnicas inovadoras, pelo apuro estético e pelo seu grande alcance social: em mais de 50 anos de atividade profissional, Lelé projetou e construiu edificações nas mais diversas escalas. Desde escolas, hospitais, universidades, habitações , equipamentos urbanos e inúmeros prédios públicos. Em sua maioria com grande alcance social. Foto: Celso Brando
Seu aprendizado fundamental sobre o espaço foi com Oscar Niemeyer . Mas, lembram os amigos, não descartava a admiração inspiradora percebida nas construções de Le Corbusier, Mies van der Rohe, Frank Lloyd, Alvar Aalto e Neutra. Da mesma forma, ele estudava a arquitetura gótica, a japonesa e a nórdica, se admirando da árabe e de sua totalidade arquitetural, feita de sombra, luz, ventilação natural, domínio dos ventos e integração das artes. Ao mesmo tempo se rendia à essencialidade da construção típica do Xingu, com suas varas estruturais protendidas e harmonia natural, adequadas.
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Lelé e um exemplo como pessoa e de postura profissional. Sua obra merece ser estudada e analisada pelo meio acadêmico e profissional. Para ele, o arquiteto deve conhecer profundamente materiais, estruturas e técnicas construtivas. “Ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz”, diz, com a autoridade de quem inventou materiais e métodos inovadores para atender às necessidades específicas de cada projeto. Em outubro de 2012, ele concedeu uma extensa entrevista ao CAU/BR, inédita até agora, onde fala da profissão de arquiteto, o alcance social da profissão e o papel do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. A entrevista foi coordenada e editada pelos jornalistas Vicente Wissenbach e Ledy Valporto Leal e contou com a participação dos arquitetos Hugo Segawa e Haroldo Pinheiro, seu companheiro de trabalho por mais de 40 anos.
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Hospital Sarah Kubitscheck, Lago Norte 2003 Foto: Celso Brando
HUGO - Você trabalhou com reurbanização de favelas em Salvador e no Rio de Janeiro, com periferias, marginalidade e nas escolas no Rio. Hoje favela é assunto para assistentes sociais, polícia ou para o exército. Como o arquiteto deve tratar este tema? A favela é um submundo, com suas regras e suas leis próprias, principalmente com relação ao tráfico que existe lá. Tive a oportunidade de implantar ações transitórias, como drenagem. Isso, convivendo com a população. É impossível atuar numa favela sem conviver com a população, mergulhar nos problemas do dia a dia deles, na sensibilidade, no problema de relacionamento entre eles, especialmente no problema do tráfico, uma coisa terrível, muito difícil de encarar. É possível reorganizar as favelas sem retirar os moradores do local. Isso porque é o lugar onde se relacionam, onde têm uma condição de vida melhor. Recursos como creches e escolas são vitais para a sobrevivência da família. Eles estruturam essa forma de viver e, então, é impossível de repente tirá-los para jogá-los noutro canto. Antigamente, eu achava que a intervenção devia ser exclusivamente transitória: fazíamos uma escola que depois pudesse ser desmontada. Hoje eu tenderia a fazer uma ação mais profunda, mais duradoura. Na proposta que fiz para “Minha Casa, Minha Vida”, mantive os moradores, mas reurbanizando, criando através da tecnologia recursos que pudessem favorecer aquele tipo de implantação. Principalmente nas encarapitadas nos morros, como as favelas do Rio e Salvador, mas essas ideias podem ser adaptadas para qualquer cidade brasileira. Mas é fundamental que haja o convívio.
LEDY - Os bondinhos que você propôs são os mesmos feitos para deficientes? Os primeiros instalados na rede Sarah de Brasília. E tínhamos proposto não só incorporá-los nesse projeto “Minha Casa, Minha Vida” como no Pelourinho, em Salvador. É uma tecnologia simplíssima, qualquer um pode fazer. Nós mesmos poderíamos fabricá-los no Centro de Tecnologia da Rede Sarah, o CTRS. HUGO - Você acha que o arquiteto deve transformar o lugar? Sim, mas não de forma radical. Deve procurar uma transformação que seja absorvida pelos moradores. Por exemplo, o projeto “Minha Casa, Minha Vida”, que fiz na Bahia há uns três anos, foi inspirado no que eles fazem: um pavimento, depois outro em cima, dois, três, cinco. A topografia de Salvador facilita isso, o morro tem uma estabilidade muito boa. É claro que precisei empregar uma tecnologia mais leve, de acordo com o suporte do terreno. Então, o aço foi usado como estrutura – uma intervenção com certa qualidade, capaz de subsistir por mais tempo. Infelizmente, a proposta do “Minha Casa, Minha Vida” não se consumou, mas não por motivos técnicos, e sim políticos. HUGO - Que tipo de atuação os jovens deveriam ter nesse cenário? Em primeiro lugar, os governos deveriam estimular uma proposta desse tipo. Minha intenção no Instituto do Habitat foi envolver uma série de profissionais, inclusive os muitos jovens, como fiz no Rio de Janeiro, onde cerca de cinquenta profissionais recém-formados se habilitaram a montar as escolas nas favelas. Se o governo tivesse vontade de implantar uma iniciativa desse tipo, acho
que os jovens seriam absorvidos, porque eles têm o sonho. Entregam-se a uma proposta, uma coisa bonita de se ver. HUGO – Você trabalhou nas favelas com o Darcy Ribeiro, que criou as escolas com apoio do Brizola, e em Salvador, com o Mario Kertész. Que outro governo poderia embarcar numa proposta dessas? Qualquer governo. Criar essas condições não é difícil, embora os políticos hoje não tenham mais esse idealismo, que vão perdendo gradualmente. Em outras épocas, os governantes queriam fazer fábricas de escolas, e nós fazíamos. Há uma porção de cidades pequenas em que se pode atuar de uma forma mais direta, mas desde que o prefeito seja sensível. Então, tudo acaba numa vontade política. Falando nisto, lembro-me da experiência piloto de Abadiânia (Goiás). Foi a que mais me comoveu profissionalmente, muito mais rica de convivência do que as favelas do Rio de Janeiro ou de Salvador. Convivemos com uma população muito carente, com quem podíamos trabalhar melhor, pois não tinha os vícios das comunidades dos grandes centros urbanos. Abadiânia foi uma experiência importante; essa sim, ao alcance de qualquer jovem profissional. Acho que eu ainda estaria em Abadiânia se o Brizola não tivesse inventado a fábrica de escolas do Rio de Janeiro.
Abadiânia, primeiras experiências com ferrocimento Foto: Arquivo Arquiteto / Celso Brando
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entrevista
VICENTE - E como você define a profissão do arquiteto? Basicamente acho que o arquiteto nunca deve deixar de ser o construtor, como o foi durante toda a Antiguidade. Penso que se ele perder essa condição, nossa profissão vai entrar num declínio total, como já começa a acontecer. Vivemos hoje um momento difícil, porque nos preocupamos muito pouco com a construção, principalmente em função dessas tecnologias cheias de glamour. Como consequência, o arquiteto está se desinteressando, limita-se a especificar, não desce ao detalhe, não sabe mais como se constrói. Considero que as faculdades também têm uma parcela de responsabilidade nesse quadro. HUGO - E as tecnologias importadas, não interferem nisso?
Proposta para o programa habitacional "Minha casa, Minha Vida", no bairro Pernambués, em Salvador
Veja a prática, por exemplo, de envelopar os prédios com essas superfícies de vidro. Essa tecnologia foi inventada na Alemanha quando houve a incorporação da Alemanha Oriental. Eles queriam mudar a cara dos prédios; então os alemães inventaram essa prática de envelopá-los. E estão nos vendendo essa tecnologia até hoje; o prédio por dentro é uma porcaria, depois lançam uma estrutura metálica por fora e põem mármore, vidro, o que você quiser. São programas de computador que fazem esses prédios de especulação imobiliária com programas previamente estabelecidos. O arquiteto não participa mais. Ele faz um jogo de fachadas. Ele quer uma fachada pós-moderna e o programa cria uma fachada pós-moderna. Há prédios sem grande beleza, feitos por arquitetos sem muita sensibilidade, mas que são discretos; prédios que podem ser perfeitamente incorporados à paisagem urbana sem ofender ninguém. Não precisa ser uma coisa estonteantemente bela, ela pode ser discreta, mas bonita por dentro também. A beleza é só por fora?
A inspiração veio dos bairros populares: um pavimento, depois outro em cima, um terceiro...
LEDY - Como você está vendo o trabalho desses jovens arquitetos? Eles têm uma ansiedade enorme, uma ansiedade de saber construir, mas com o tempo vão perdendo esse interesse. Quando eu montei, nesses últimos anos, um grande escritório para fazer os prédios do Tribunal Regional do Trabalho de Salvador, todos os jovens da equipe ficaram ávidos para entender o processo construtivo e como a gente o pratica. E todos muito envolvidos com o problema da construção, iam sempre para o CTRS com enorme interesse. Mas se as escolas e o próprio meio não oferecem condições deles se desenvolverem, acabam embarcando na sedução do computador, no risco de fazer maquiagem. O próprio cálculo está 34
Passarelas padronizadas em elementos pré-fabricados de aço, Salvador. Foto: Nelson Kon
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sendo feito assim. Os calculistas não têm mais interesse em desenvolver uma nova forma. Não são como o Roberto Vitorino, por exemplo, que tem esse lado de se aprofundar, de querer entender a estrutura que ele está fazendo. Isso é importante. Esse diálogo que tem que haver entre o arquiteto, o calculista, o instalador. Hoje o arquiteto faz o prédio e depois o instalador faz a instalação, independente do que o arquiteto propôs, e as coisas são tratadas assim, separadamente, tudo fragmentado.
LEDY - Estamos vivendo num mundo fragmentado?
VICENTE - E quanto ao acompanhamento da obra?
Sem dúvida. É uma tendência da especialização, do conhecimento que se aprofunda, que se diversifica; mas o arquiteto, como generalista, não pode deixar de integrar essas informações. Pode até não saber, mas ele tem que desenvolver uma capacidade de integrar essas informações e continuar coordenando, porque a função dele é coordenar.
É fundamental. Antigamente, eu achava que tinha que acompanhar a obra; hoje, acho que tem que fazer a obra. Estou ficando cada vez mais radical. O arquiteto tem que fazer a obra, porque, infelizmente, as empresas construtoras não têm mais interesse em fazer o melhor, só pensam nos lucros. O diálogo com as empreiteiras está muito difícil. Então, é preferível fazer a obra – para defender o cliente e para defender a gente também.
Fotos: Arquivo Instituto Habitat / Arquivo Arquiteto O conjunto do Tribunal Regional do Trabalho, Salvador/BA, parcialmente construído.
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entrevista
LEDY - A sustentabilidade, hoje na moda, sempre foi uma preocupação em seus projetos. O que mudou? Sempre esteve, mas de uma forma diferente dessa que é abordada hoje em dia. Para mim, sustentabilidade em Arquitetura é um bom projeto. Um projeto feito, por exemplo, para se evitar sol nas fachadas envidraçadas, pois elas acabam armazenando calor, tornando necessário o uso do ar condicionado, que gasta muito mais energia para tornar o ambiente confortável. Sustentabilidade é algo totalmente diferente. Por exemplo, não se construir um prédio que gaste mais energia ou matéria-prima do que o necessário. A boa Arquitetura tem que ser sustentável por principio. Isso tem que estar no projeto. As condições podem variar de lugar para lugar. Essas iniciativas têm que ser uma ação coletiva, integrando, como no caso da captação de energia, para que ela seja distribuída de forma correta. Ponte sobre o Parque Pituaçu: a preocupação principal foi não se restringir à superação da área alagada da represa, mas garantir a integridade do parque. Foto: Arquivo Arquiteto
HAROLDO - Qual a importância do detalhamento do projeto, quando hoje muitos arquitetos acham que sua tarefa acaba quando o projeto é aprovado na prefeitura? Todos os países da Europa fazem esse tipo de detalhamento. Acho que todo arquiteto tem que fazê-lo, não pode fugir disso, é parte da profissão levar o projeto às últimas consequências. Mas o que chamo de detalhamento não é um detalhamento de desenho, é mais aprofundado, algo de quem conhece todas as etapas da obra e sabe como fazer. Ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz. O desenho é resultado de uma pesquisa, de um conhecimento anterior. Por exemplo, a estrutura da passarela que vai passar por cima do centro histórico e das casas, em Salvador. O detalhamento dessa estrutura tem que ser feito levando em conta as condições muito diferentes de obras que se tem, não pode cair uma peça e derrubar uma casa. Então é preciso esse tipo de rigor no detalhamento. Essa estrutura tem de ser pensada de forma diferente daquela que se faz por aí e se executa de qualquer forma. Por ser montada por cima das casas, não é como uma ponte que passa por cima da água; ela requer um detalhamento diferente, uma proposta diferente. A proposta que eu fiz, de uma ponte estaiada, não foi apenas pelo vão, mas foi pela condição de execução, o projeto estaiado foi feito rigorosamente levando em conta a montagem.
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HUGO – Você trabalhou nas favelas e periferias e com obras sofisticadíssimas na rede Sarah. Para enfrentar esses diferentes aspectos, você tem metodologias diferentes? Quando incorporamos a ideia de que somos generalistas, raciocinamos em cada situação de uma forma diferente. Lógico que, mexendo com hospital, principalmente esses da rede Sarah, me aprofundei muito na questão médica. Ao ponto de, certa vez, ao ser atendido no Hospital do Câncer, no Rio de Janeiro, uma enfermeira com quem conversava ter pensado que eu fosse médico. Claro que é necessário se aprofundar no tema para entender e poder dialogar com quem nos contrata. É preciso o diálogo, como também é preciso saber como falar com os moradores de uma favela e suas lideranças. Até com um traficante. É uma coisa horrível? É, mas é preciso. Na última cama-maca que eu fiz, foram seis meses descendo, subindo, empurrando a cama-maca. Foi feito assim. Tecnicamente existem maneiras de mudar o motor, essa parte tecnológica é fácil. Mas tornar o equipamento eficiente é difícil. É preciso integrar
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uma série de informações do usuário. Tem sempre uma forma mais tranquila e equilibrada para se chegar ao fim. É inevitável. Sem isso, é impossível chegar a um bom termo.
incorporadas pela cidade de Salvador, que tem uma topografia completamente diferente e a passarela tem outras funções, além de ligar um ponto a outro passando por cima da via.
civil deve absorver e gerar empregos. Ela emprega, mas não qualifica ninguém.
HUGO - A construção das passarelas de Salvador ainda segue fiel à sua ideia?
HAROLDO - Você foi pioneiro na industrialização da construção. Como você vê essa questão hoje?
É moda. As pontes estaiadas são exuberantes. Não quero fazer uma crítica, pois se trata de uma tecnologia que está disponível, que pode ser usada. Mas ela está sendo usada com uma arrogância que não cabe na Arquitetura.
Hoje, o que me deixa feliz é constatar que elas continuam sendo feitas, não mais por mim, mas como eu as concebi. A linguagem da passarela foi absorvida pela população e ninguém mais admite que ela seja modificada. O objeto continua com a mesma proposta. A concepção da passarela foi mantida, são coisas que foram
Considerada a demanda de nosso país, a industrialização da construção seria imprescindível, mas infelizmente nos deparamos com um sério obstáculo: a necessidade de absorção da mão de obra desqualificada. Então, a primeira condição que se estabelece é que a construção
LEDY - O que você acha das pontes estaiadas que surgem a todo o momento?
HAROLDO RESPONDE - É uma tecnologia disponível, que se deve usar quando for apropriado. No início dos anos 80, a passarela do São Joaquim tinha um
Residência Roberto Pinho Foto: Arquivo Arquiteto Edifício Colina, Brasília, três pavimentos sobre pilotis, projetado em 1963, quando o arquiteto e urbanista era professor da Universidade de Brasília.
Foto: Arquivo Arquiteto
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problema e você propôs todo o sistema para não ter escoramento nenhum. São técnicas que devem ser utilizadas adequadamente, ainda mais quando é ponte ou passarela que não é obra de arte, é estrutura pura. Eu fico muito feliz em ter o Haroldo Pinheiro como presidente do CAU. Acho que uma das missões mais importantes que ele tem é a de colocar nossa arquitetura nos trilhos. Não que não aceite as coisas que são feitas. Existem muitos arquitetos excelentes, fazendo a melhor arquitetura possível. Mas no geral a qualidade é muito ruim e isso se deve em parte ao baixo nível das escolas. Principalmente as particulares, que têm apenas o lucro como objetivo.
VICENTE - Na questão do exercício profissional, que papel o CAU pode exercer? Em primeiro lugar, tentar valorizar, não proteger. O bom profissional precisa de algum tipo de proteção, ele está muito desprotegido. Isso é a primeira ação, e não a de proteger o mau profissional. Não criar uma regra que seja igual para todos, porque existe o bom profissional e o mau profissional. Aqui se cria norma para tudo, não há discernimento. Infelizmente, com essas normas, muitas delas importadas e, por isso, absurdas, se estabelece uma série de regras para fazer arquitetura e elas são interpretadas por profissionais absolutamente despreparados. Exemplos não faltam. VICENTE - Mas se trata de uma norma ou de uma lei? O CAU precisa agir no sentido de saber até que ponto essas normas que estão se estabelecendo no setor público estão adquirindo, indevidamente, força de lei. Norma não é lei: norma é uma referência, que pode ser usada ou não. É um equívoco utilizar uma norma como lei. Examinar essa maneira de se formalizar um projeto de arquitetura é uma tarefa importante do CAU. O CREA pouco se interessava por isso. Agora há uma regra que ninguém contesta: as passarelas, em função da acessibilidade, têm de ter uma inclinação de 8,33% e um patamar a cada metro de desnível. Isso significa que nas passarelas, como as de Salvador, a menor rampa que poderíamos ter seria de uns 120 metros. Agora, veja bem: segundo as pesquisas que fizemos no Sarah, um deficiente físico não tem condições
Capela do Centro Administrativo da Bahia, Salvador, 1975 Foto: Arquivo Arquiteto | Celso Brando
Centro Administrativo da Bahia, Salvador, 1975 | Foto: Arquivo Arquiteto | Celso Brando
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Fotos: Arquivo Arquiteto | Celso Brando
de subir uma passarela dessas. Então, devido a uma lei estabelecida para o atleta deficiente, você obriga todas as pessoas a subir 120 metros. Isso faz com que elas desistam e prefiram atravessar pela rua, com o perigo de atropelamento. VICENTE - E qual seria o segundo passo do CAU? Acompanhar essas escolas despreparadas. Saber se essas escolas estão preparando arquitetos como é preciso. É necessária alguma avaliação neste sentido. Se o sujeito sai despreparado de uma escola de arquitetura, como vai exercer a profissão? Então o CAU deve encontrar uma forma de atuar neste assunto. Em primeiro lugar, tinha que ser sobre o próprio exercício profissional. A questão do conhecimento geral para o profissional é fundamental. Como se vai formar um arquiteto que não conhece nada de nada, apenas cursou a escola, e muito mal? O ensino está cada vez mais decadente em todas as áreas. O próprio exame que se faz na conclusão do curso seria desnecessário se o ensino fosse bom. Se reformular o ensino, não precisará disso. Se quisermos valorizar mais nossa profissão, esse tipo de medida é inexorável. Estamos em um funil. Veja os números alarmantes: cerca de 270 cursos de Arquitetura no país, hoje.
Mais de quarenta escolas foram construídas em ferrocimento com cobertura plana e iluminação zenital, pela Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC)
Lúcio Costa, por exemplo, quando criou as normas para Brasília, ressaltou que deveriam ser feitas do modo mais simples possível. O bom senso é que deveria prevalecer. VICENTE - E a questão da aprovação de projetos? O CAU poderia reexaminar essas questões. Na Alemanha, por exemplo, se entrega um pacote e ninguém aprova ou desaprova. O profissional é responsável pelo trabalho. Isso é uma renovação fantástica; se você faz uma porcaria, você assume a responsabilidade ou, se não assume, você será processado pelo proprietário. Mas se você cria uma lei, não é você o responsável, e sim o setor público que impede a criação de um bom projeto de arquitetura. Só para ilustrar: recentemente, ao fazer o mercado São Miguel, em Salvador, eu criei uma super escada
Capela de São José do Ribamar Foto: Arquivo Arquiteto
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helicoidal, com 4,5m de diâmetro, ligando o pavimento cultural à parte de cima. Não é uma escadinha em caracol, e tem papel importante na composição, do ponto de vista estético. Pois a prefeitura vetou, simplesmente porque há uma proibição de escada helicoidal. Tive que fazer um memorial explicando que não é uma escada utilitária, mesmo porque já há duas outras para fazer a ligação. Mas este é um detalhe importante do ponto de vista cultural, artístico e arquitetônico, numa área onde estão o auditório, os objetos de candomblé, uma área de lazer. Acabaram aceitando meus argumentos e aprovando, mas ficou claro que o profissional da prefeitura não teve sensibilidade pra ver tudo isso, e tratou uma escada de 4,5m de diâmetro, com funções específicas, como se fosse uma de 1,5m! HAROLDO RESPONDE - O sistema de aprovação de projetos no Brasil tornou-se radical, tanto que o analista de projetos se transforma em um coautor do projeto. A responsabilidade da qualidade do projeto é transferida para a prefeitura, e isso tem o resultado oposto do visado. Um profissional que não sabe fazer um bom projeto, por exemplo, de um hospital. Ele faz o projeto e leva para o analista, que fala que não está de acordo com a norma e o devolve. Aos poucos, o profissional vai fazendo aos pedaços e, ao final, sai um hospital que não vai funcionar, mas está aprovado. E se o arquiteto for acionado, ele responde que quem mandou fazer assim foi o agente de aprovação. Isso resulta no tal do custo Brasil. Demora dois anos para sair um alvará e gera a corrupção, além de o arquiteto perder a responsabilidade sobre seu trabalho. Se ele não defende seu trabalho, passa a ser um trabalho com coautoria de um fiscal e com código de obra, normalmente burro. A defesa que temos feito é no sentido de
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Hospital Sarah Kubitscheck, Brasília, Lago Norte, 2003 | Foto: Nelson Kon
Rede Sarah Kubitscheck, Rio de Janeiro, 2001 Foto: Celso Brando
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retomar a responsabilidade do projeto, que deve abranger a coordenação dos projetos complementares, o detalhamento e até a direção da obra. Não é preciso ir à Europa e aos Estados Unidos para ter exemplos de como se faz. Basta atravessar o rio da Prata e ir até a Argentina. É preciso recuperar essa responsabilidade ao invés do arquiteto ser substituído por engenheiros, construtoras, seus administradores e compradores.
Rede Sarah Kubitscheck, Rio de Janeiro, 2001 Foto: Celso Brando
Ao lado esquerdo abaixo: Rede Sarah Brasília, Asa Sul, 1980; Abaixo: Rede Sarah Brasília, Lago Norte, 2003 | Fotos: Celso Brando
Rede Sarah Kubitscheck, Rio de Janeiro, 2001 Foto: Celso Brando
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VICENTE - Bastaria então o arquiteto declarar que o projeto dele obedece a todas as exigências legais? Ele não pode apenas declarar. Ele tem que ser o responsável. Ser responsável por uma coisa que ele ignora é inaceitável. É uma reformulação necessária, sem dúvida. Por exemplo, na Dinamarca, o preço do projeto de um hospital gira em torno de 25% do valor da obra. Quando você visita o escritório do arquiteto, constata que ele é muito maior do que o escritório do construtor. Afinal, é ele quem controla toda a obra, tem toda a responsabilidade sobre ela. É difícil entregar para um menino, que faz envelopamento de prédio, essa responsabilidade. Por isso, acho que as intervenções têm que ser conjuntas, você tem que obrigar a escola a ter um ensino melhor. HUGO - Como você encara a beleza e a estética, esse outro lado que não é só a construção? Quando enfatizo os aspectos construtivos, é porque os considero a grande lacuna do arquiteto; ele está abrindo mão cada vez mais. E ele abre mão disso para valorizar uma beleza que, em minha opinião, também é falsa. A beleza é algo fundamental para qualquer atividade humana, é uma busca constante. Se você conceber arquitetura sem beleza, está cometendo um crime cultural. HAROLDO - Arquitetura e arte já foram entendidas como uma coisa só. Esse entendimento se perdeu? A integração com obras de arte foi sempre uma característica da Arquitetura, e tem que ser respeitada. Veja o caso do Athos Bulcão: com uma linguagem muito mais moderna, conseguiu fazer essa integração com muitos arquitetos. O Athos interferia no espaço, não colocava nenhum complemento. Em relação à cor, aprendi também muita coisa com o Athos; ele tinha um domínio incrível da cor. Sabia exatamente o que usar além de me receitar leituras para estudo das cores.
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diferentes. Se analisarmos os primeiros prédios com estruturas metálicas que você fez, muito rígidos e cartesianos, e depois o desenvolvimento, particularmente dessa sequência de projetos da rede Sarah, depois o TCU, até culminar com esse prédio do Rio de Janeiro, que infelizmente foi o único em que eu não tive participação, percebemos saltos e evoluções. No projeto do Rio de Janeiro, houve um novo salto. Nos anteriores, havia uma evolução natural de um passo atrás do outro, sempre buscando um desenho mais suave e rigoroso em termos estruturais. Isso combinado com as questões de ventilação, luz natural, essa coisa toda, até explodir nesse do Rio. Então, não é só essa aplicação da obra de arte, mas a construção em si que assume essa condição de arte. O que você está dizendo é fundamental. É preciso que essa evolução do desenho esteja acompanhada de uma evolução tecnológica e de uma resposta melhor. É claro que no princípio da rede Sarah nós não tínhamos a tecnologia disponível. Não podia nem pensar em uma cúpula que abre e fecha. Seria uma aventura, um risco que a rede Sarah não poderia correr. Eu acho que temos que correr riscos calculados. HAROLDO - Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, as consultorias de estádios e de obras de grande porte estão nas mãos de empresas estrangeiras. Como você vê essa situação? Isso é extremamente ofensivo para nós brasileiros, se considerarmos o conhecimento tecnológico exigido pela construção civil. Observe-se que não se criam paralelos com outros conhecimentos tecnológicos que precisam ser mais aprofundados, como na biomecânica.
HUGO - Você lembra quais livros ele recomendava?
Um exemplo são os cabos pênseis. Fabricamos cabos para estruturas atirantadas – uma tecnologia que dominamos há bastante tempo –, mas não fabricamos cabos pênseis, temos que importá-los da Alemanha. Então o sujeito acha que, se importamos o cabo, devemos importar também o calculista. Mas a ponte pênsil não tem essa dificuldade, tanto que a Golden Gate está lá há mais de cem anos.
Tem um que até hoje eu leio: ”A função da pintura”, de Fernand Léger.
VICENTE - E o Brasil tem calculistas com competência para essas tarefas?
HAROLDO RESPONDE - Podemos observar na evolução do seu trabalho que, no próprio desenho da estrutura, conforme a tecnologia vai se desenvolvendo, novos equipamentos industriais vão surgindo, o que possibilita diminuir os custos e buscar soluções
Claro que tem; só não temos os cabos. As pontes atirantadas também estão nesse pé. Nós só temos uma empresa multinacional que fornece esses cabos. Por enquanto, ela fornece os dados para
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um calculista nosso, mas daqui a pouco não vai fornecer mais. Ficaremos todos nas mãos de um calculista estrangeiro. Veja o caso do estádio da Fonte Nova, em Salvador: toda tecnologia é alemã, nada ali foi proposto por brasileiros. Agora estão falando cobras e lagartos da sua cobertura, que será montada com cabos e não sei o quê. Os romanos faziam isso. LEDY - Que autocrítica você faz da sua carreira? Eu sou muito rigoroso em relação à minha atuação profissional. Policio-me muito. E acho que errar é necessário, errar é humano. Sem erros não se consegue evoluir. Essa coisa de acertar sempre é impossível. Mas quando a gente erra, a gente sofre. Eu acho que sofri demais na profissão, tem coisas que ainda me recrimino por ter feito. Mas isso tudo faz parte do trabalho, qualquer desenvolvimento tem que ser sofrido. Não tenho do que me queixar; hoje eu penso Arquitetura muito melhor do que eu pensava há 30 anos. Um amadurecimento. Mas eu sempre me considerei um arquiteto medíocre e normal, todos os arquitetos poderiam fazer o trabalho que eu fiz.
LEDY - Arquiteto correto ou gênio, trabalho intenso ou intuição? Existem arquitetos que têm um grau de intuição e genialidade, como é o caso do Oscar Niemeyer. Mas são aves raras, surgem uma vez só. Atualmente, tenho o maior respeito pelo Renzo Piano, mas não sei avaliar bem o seu trabalho. O que estamos buscando na Arquitetura é criar um sujeito, um arquiteto que faça esse dia a dia de modo correto. É isso que devemos almejar: construir, e não o gênio que nasce feito. A minha proposta sempre foi buscar esse meio termo, onde todo mundo pudesse se enquadrar. O que eu aprendi de tecnologia foi trabalhando e não por intuição. Nada surgiu por intuição. Costumo dizer que sou um tubarãozinho, que passei a vida inteira sem parar para não cair no fundo. E se tivéssemos um cardume de tubarões na Arquitetura, eu acho que estaríamos satisfeitos. É formidável termos o Oscar Niemeyer; imitá-lo, no entanto, é impossível. Mas ter tubarões é fácil, é só ter água, deixá-los sobreviver e não matá-los. Esse é o nosso dever profissional.
LELÉ: A arquitetura poderia ser mais conjunta, o trabalho em equipe é insuperável.
Fundação Darcy Ribeiro Foto: Joana França
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OPINIÃO
Sobre o urbanismo de arquitetos: Noções, lógicas e suas derivações temporais Por Gisela Barcellos de Souza; Profª. Dr. Arq. Urb/UFMG
As profissões e os seus nomes
A
história do surgimento de novas profissões envolve processos complexos, cuja datação nem sempre pode ser indicada com precisão. Se, por vezes, trata-se de uma bifurcação de um tronco de conhecimento original para o qual se reconhece coletivamente a autonomia, por outras, revela-se de uma nova denominação para um conjunto de práticas e saberes preexistentes. Quais são os processos e as negociações que subjazem, no entanto, surgimento de uma nova denominação para uma antiga e consolidada profissão?
arquitetos. Este curto texto não se destina, no entanto, ao reexame do processo de institucionalização e regulamentação da profissão de arquiteto no país. Interessa-nos, aqui, tecer algumas reflexões e especulações sobre a denominação de “arquitetourbanista”. Quais lógicas conduziram ao surgimento desta denominação? E, mais especificamente, quais as implicações e os significados possíveis da afirmação de um urbanismo sob a perspectiva do arquiteto?
Como sabemos, os arquitetos no Brasil receberam diferentes títulos ao longo do curso do século XX e, em diversas ocasiões, estas denominações chegaram a coexistir temporalmente – relembremos, por exemplo, que, nas primeiras décadas daquele século aqueles formados na Politécnica e nas Escolas de Engenharia recebiam o título de engenheiros-arquitetos, enquanto os graduados nas Escolas de Belas Artes eram chamados simplesmente de
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Ora, em sua condição de prática, o urbanismo possui, entre nós arquitetos, uma longa tradição e enraizamento cultural. Seja no contexto das Renovatio Urbis ou no projeto de cidades ex novo (Secchi, 2006), a contribuição dos arquitetos – com fins civis e militares (Lima, 2009) – na história das intervenções urbanas, ainda que não seja exclusiva, é significativamente expressiva e antecede, em muito, o processo de institucionalização do urbanismo como disciplina. Por outro lado, não podemos esquecer que a denominação de arquiteto-urbanista não é recente. Esta surge no início do século XX na França, justamente no momento em que se buscava a afirmação da figura do plural urbanista por meio do reconhecimento de uma “convergência de práticas e conhecimentos” oriundos de diversas formações e temporalidades (Secchi, 2006). Foto: Gisela Barcellos
Conjunto Habitacional Eastwood na Ilha Roosevelt, em Nova York, projeto de Sert, Jackson & Associate’s (1969-76). Fonte: fotografia da autora, janeiro de 2015.
Os primeiros Arquitetos-Urbanistas
Coetaneamente ao surgimento das primeiras revistas, dos primeiros cursos e das primeiras instituições profissionais que trataram de legitimar o urbanismo como disciplina; a Sociedade Francesa dos Urbanistas, criada em 1911, foi registrada, em 1914, sob o título de Société Française des Architectes Urbanistes,
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tendo como primeiro presidente e vicepresidente os arquitetos Eugène Henard e Alfred Agache. Como destacou Calabi, tal denominação, sinalizava a “importância e o papel que o ensino das Beaux Arts [tinha] para alguns associados fundadores” (Calabi, 2012, p.163), ainda que a sociedade reunisse diferentes profissionais em seu escopo. A diferença no papel do arquiteto no nascente Urbanisme francês, daquele do Town Planning praticado do meio angófono foi, por diversas vezes utilizada para diferenciar a própria forma de denominação desta disciplina. Almandoz (2015), por exemplo, utiliza-se da substituição do termo urbanismo – adotado entre os anos 1920 e 1930 na América Latina – pelo termo planejamento, no segundo pós-guerra, como indício de uma ressonância maior neste subcontinente do planejamento regional norte-americano. U rban D esign e L’ unittà architettonica-urbanistica Portanto, se, por um lado, desde da afirmação do urbanismo como disciplina se reconhecem as origens ecléticas de seus profissionais; por outro, a figura do arquiteto em meio a este foi reiteradamente revisitada e inquirida. Dentro deste contexto, destacamos duas construções teóricas que, em meados do século XX, buscaram definir o lugar do arquiteto neste conjunto de práticas e de conhecimentos e que tiveram uma importância significativa para o que, posteriormente, se buscou identificar como “urbanismo de arquitetos” (Solà-Morales, 1984). Uma delas foi a proposição de um novo conceito, o Urban Design, por Josep Lluis Sert em conferência realizada na Harvard em 1956. Frente a dificuldade de inserir sua prática no contexto de progressiva a afirmação do urbanismo como ciência e de ampla difusão do Regional Planning
norte-americano – lembremos que Sert emigrou para os EUA em 1939 e que, com seu sócio Wiener, desenvolveu uma série de Master Plans para países Latino-americanos no pós-guerra (cf. Arango, 2013) –, o arquiteto catalão propunha um novo campo como “parte do planejamento urbano que lida com a forma física da cidade” (Sert, 2008). Não se tratava, naquele contexto, de negar os aportes científicos do city planning, nem das contribuições oriundas de outras disciplinas como a geografia, a sociologia e a economia, mas sim de colocar em discussão novamente a importância do aspecto artístico no urbano. Por meio do Urban Design codificava-se, portanto, a “fase mais criativa do city planning na qual a imaginação e as habilidades artísticas podem desenvolver um papel importante” (Sert, 2008), campo disciplinar que congregaria arquitetos, paisagistas e urbanistas e que, por sua vez, ultrapassaria o escopo destas três profissões. Como decano da Harvard Graduate School of Design – posição que manteve entre 1953 e 1969 –, Sert foi responsável por implantar, com a colaboração de Jacqueline Tyrwhitt e de Giedion, o primeiro, e por muito tempo único, curso de Urban Design (Krieger e Saunders, 2008). A consolidação e consagração deste campo disciplinar – com a incorporação dos aportes do Townscape Movement, encabeçado por Gordon Cullen; das pesquisas desenvolvidas por Lynch junto ao Center for Urban Studies do MIT; das críticas de Janes Jacobs, entre outros –, viria apenas nas décadas seguintes. No outro lado do Atlântico, no contexto italiano de revisão do Movimento Moderno sob a perspectiva das preexistências históricas (Sainz Gutierrez, 2006), Giuseppe Samonà – arquiteto que
ZAC Bercy, em Paris, projeto urbano executado sob as normativas elaboradas pelo arquiteto Jean-Pierre Buffi. Fonte: fotografia da autora, janeiro de 2009 | Foto: Gisela Barcellos
desenvolveu diversos planos reguladores na Itália – teorizava a respeito de “l’unittà architettonica-urbanistica” (Biraghi, 2008). Em sua condição de diretor do Istituto Universitario di Architettura di Venezia (IUAV) – cargo que manteve entre 1947 e 1971 –, conseguiu reunir em torno desta escola diversos protagonistas da cultura disciplinar italiana e constituir um forte vínculo entre o projeto arquitetônico e a prática de planejamento urbano, contrariando a visão sistêmica então vigente no planning (Almandoz, 2008). Durante os primeiros anos em que Samonà esteve a frente deste instituto, Saverio Muratori desenvolveu seu “Studi per una storia urbana di Venezia”, publicado em 1959, no qual estabeleceu os princípios para os estudos tipo-morfológicos subsequentes e para a vinculação entre a prática de análise urbana e o projeto arquitetônico. Estes aspectos seriam, na sequência, retomados e desenvolvidos por dois outros importantes arquitetos que atuaram como professores do IUAV: Aldo Rossi e Carlo Aymonino.
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OPINIÃO
O Urbanismo de Arquitetos e a Cultura do Projeto Urbano As questões supracitadas estiveram nas bases de constituição do Laboratori d’Urbanisme de Barcelona (LUB), em 1969, na Escola de Arquitetura da Politécnica de Barcelona, sob a coordenação de Manuel de Solà-Morales. Em um contexto de ampla divulgação do planejamento anglo-saxão e de afirmação da multidisciplinaridade do urbanismo, o grupo de docentes e alunos reunidos em torno do LUB vislumbrava a impossibilidade de abarcar a amplitude urbanística no quadro do curso de Arquitetura e decidiu que seria necessário focar em um “urbanismo de arquitetos”. Tratava-se, portanto, de “aceitar que o arquiteto tem um modo específico de se aproximar dos problemas urbanos e, consequentemente, um instrumental próprio para analisar a cidade e intervir nela” (Sainz Gutierrez, 2006, p.88). A contrafluxo do debate urbanístico predominante, portanto, retomava-se a ideia de unidade arquitetônico-urbanística e se inseria na diretamente da polêmica entre planners e designers (cf. Solà-Morales, 1984). Entre o final anos 1970 e ao longo dos anos 1980, os aportes dos trabalhos desenvolvidos a partir dos estudos tipo-morfológicos italianos – aos quais logo se somaram aqueles realizados por arquitetos franceses e espanhóis –, bem como aqueles oriundos das construções teóricas abordadas ao longo deste texto, constituíram o núcleo duro na emergência do debate sobre o projeto urbano. Neste contexto, Manuel de Solà-Morales definia, em 1987, o Projeto Urbano “como campo de trabalho intermediário em que as escalas se entrelaçam e no qual o arquiteto constitui a autoridade adequada na forma da cidade porque, precisamente, traz à tona a edificação arquitetônica” (Solà-Morales, 1987). Ainda que a contribuição catalã – prática e teórica – tenha sido basilar para a constituição da “cultura do projeto urbano”, foi um arquiteto francês o responsável por propor a realização de projetos urbanos por meio de um dispositivo urbanístico que serviria de referência para as Operações Urbanas Consorciadas (OUC) no contexto jurídico brasileiro (cf. Brasil, 2009). Ao final dos anos 1970, Christian Devillers, em texto que definia a noção de “projeto urbano” como alternativa à prática do planejamento urbano, indicava as Zones d’Aménagent Concertés (ZAC) – instrumento existente desde 1967 na disciplina urbanística francesa – como forma de viabilizá-lo (Ingallina, 2001). Não obstante a acumulação de textos que buscaram definir o “projeto urbano” desde os anos 1980 e a abundância de
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intervenções urbanísticas que se apoiou nesta noção de a partir dos anos 1990, a tarefa de definição de seus limites semânticos permanece aberta. Reconhecendo o caráter contraditório e ambíguo do que se entende por “projeto urbano”, Tsiomis e Ziegler afirmariam que: Na realidade, trata-se de uma noção que de acordo com o país ou a cidade em questão, devido aos diferentes dispositivos, às legislações particulares e às interpretações que destes são feitas, toma novos significados e se apoia em critérios distintos” (Tsiomis e Ziegler, 2007, p.25). O lugar do arquiteto no urbanismo ou à guisa de conclusão A despeito de a prática do urbanismo ter longa inserção histórica entre nós arquitetos, o percurso de sua afirmação como campo disciplinar – constituído por meio da convergência de técnicas e de saberes multidisciplinares – afastou-o, progressivamente, dos antigos contornos. Neste processo, não somente as lógicas e as matérias do urbanismo foram constantemente colocadas em questão, como, também, a própria inserção do arquiteto. Entre tensões e negociações das fronteiras entre os diversos profissionais urbanistas, muitos foram aqueles que buscaram refletir sobre o papel do arquiteto neste campo, seja buscando sua aproximação com as demais áreas de conhecimento que dele participam, seja afirmando a sua especificidade dentro da multidisciplinaridade. Ao longo deste breve texto, resgatamos alguns exemplos que se enquadram neste segundo caso. No Brasil, a progressiva adoção do título “arquiteto-urbanista” pelos cursos de graduação brasileiros, a partir da virada dos anos 1960 para os 1970 (Del Rio, 2013), não esteve diretamente vinculada a debates como aqueles que aqui revistamos. Ao contrário, a nova denominação acompanhou o processo de regulamentação profissional que incorporou atribuições do urbanismo ao profissional arquiteto. Contudo, a permanência desta denominação frente à multiplicidade de profissionais que participam do urbanismo, leva-nos ao questionamento constante sobre o lugar do arquiteto neste contexto. Passados quinze anos da aprovação do Estatuto da Cidade, parece-nos o momento adequado para se repensar as formas de atuação do arquiteto-urbanista. Por um lado acumulam-se numerosas críticas às OUC (cf. Cuenca; Vainer; Novais, 2013) – dispositivo que, originalmente, tratava de viabilizar projetos urbanos. Por outro, o recém-aprovado Plano Diretor Estratégico
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Foto: Gisela Barcellos
de São Paulo propõe uma série de novos mecanismos e instrumentos e aponta novas possibilidades de incorporação de aportes do “urbanismo de arquitetos”. Em meio a críticas de instrumentos urbanísticos recentes e a intentos de novas alternativas, o reexame, a partir da perspectiva histórica, dos percursos trilhados pelos arquitetos neste campo disciplinar, de suas lógicas e especificidades, pode mostrar-se oportuno. Capa do livro Lecture d’une ville: Versailles (1980), de Castex, Panerai e Céleste. Fonte: fotografia da autora, janeiro de 2014. Páginas 106 e 107 do livro Studi per una storia operante di Venezia (1959) de Saverio Muratori. Fonte: fotografia da autora, janeiro de 2014.
Fotos: Gisela Barcellos
Páginas 314 e 315 do livro La Cittá di Padova. Saggio di analis urbana (1970) de Aymonino, Rossi et all. Fonte: fotografia da autora, janeiro de 2014.
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perfil do arquiteto
Croqui do Arquiteto Alejandro Aravena
Perfil do arquiteto
Alejandro Aravena Prêmio Pritzker de Arquitetura 2016
Entrevistado pelo Conselho Editorial da Revista Arkhé com a colaboração e produção de Ana Paula Jeffe Prof. Me. Arq. Urb Foto: © Cristobal Palma
Traduzido do texto original em inglês pelo NELLE (Núcleo de Estudos de Língua e Literatura Estrangeira)
lejandro Aravena nasceu em 22 de junho de 1967, em Santiago, Chile. Formou-se arquiteto pela Universidade Católica do Chile, em 1992. Em 1994, ele montou seu próprio escritório, Alejandro Aravena Architects. Desde 2001, Alejandro é o líder da equipe do ELEMENTAL, um “Do Tank” com foco em projetos de interesse público e impacto social, incluindo habitação, espaços públicos, infraestrutura e transporte. O ELEMENTAL realizou obras no Chile, Estado Unidos, México, China e Suíça. Depois do terremoto e do tsunami que atingiram o Chile em 2010, o ELEMENTAL foi chamado para trabalhar na reconstrução da cidade de Constitución. Os parceiros de Aravena no ELEMENTAL são Gonzalo Arteaga, Juan Cerda, Victor Oddó e Diego Torres. Alejandro Aravena é o diretor da Bienal de Arquitetura de Veneza 2016. Ele foi um dos palestrantes na TEDGlobal no Rio de Janeiro, no Brasil, em 2014. Foi membro do jurado do Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2009 até 2015.
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Em 2010, foi nomeado International Fellow do Royal Institute of British Architects e identificado como um dos 20 novos heróis do mundo pela revista Monocle. Ele é membro do Conselho do Programa de Cidades da Escola de Economia de Londres desde 2011; Membro Regional do Conselho Deliberativo do Centro David Rockefeller para Estudos LatinoAmericanos; Membro do Conselho da Fundação Holcim da Suíça desde 2013; Membro Fundamental da Sociedade Chilena de Políticas Públicas; e Líder do Helsinki Design Lab para SITRA, o Finnish Government Innovation Fund. Foi uma das 100 personalidades que contribuiu para a Cúpula Mundial Rio +20 em 2012. Aravena foi professor na Harvard Graduate School of Design (2000 e 2005); também lecionou no Istituto Universitario di Architettura di Venezia (2005), na Architectural Association em Londres (1999), e na London School of Economics. Participa do ELEMENTAL Copec Chair na Universidade Católica do Chile desde 2006.
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Foto: © Cristobal Palma
A
Acreditamos que a Arquitetura deva se preocupar com a melhoria da qualidade do ambiente construído, e consequentemente, com a qualidade de vida das pessoas. Arquitetura significa dar forma aos lugares onde vivemos. Não é nada mais complicado do que isso, mas também nada mais fácil. Não é fácil, porque esses lugares vão desde casas até escolas, de escritórios a lojas, de museus a prédios institucionais, estações de metrô, pontos de ônibus, praças, ruas, árvores ao longo das ruas (ou não), calçadas, estacionamentos, e toda a gama de programas e peças que constituem o nosso ambiente construído. Todo lugar onde desenvolvemos nossas vidas deve ter uma forma, inevitavelmente. A forma desses lugares é definida não apenas pela tendência estética do momento ou pelo talento de um determinado designer; ela é consequência de regulamentos, restrições econômicas e políticas, necessidade de eficiência ambiental, e até mesmo da falta de coordenação, indiferença e o simples acaso. A forma que esses lugares assumem pode melhorar ou destruir a vida das pessoas. A dificuldade das circunstâncias (escassez de meios, restrições desumanas, urgências de todos os tipos) é uma ameaça constante ao resultado de qualidade. Os poderes em jogo também não são necessariamente amigáveis: a ganância e a impaciência do capital, ou resistências e conservadorismo da burocracia tendem a produzir ambientes construídos banais, medíocres e sem graça.
práticos e concretos à interpretação e realização dos desejos humanos, do respeito ao indivíduo ao cuidado do bem comum, do abrigo eficiente a atividades diárias à expansão das fronteiras da civilização. Então, a questão mais relevante com a qual os arquitetos devem se preocupar é a síntese: a capacidade de integrar este complexo conjunto de demandas, ao invés de escolher uma ou outra. Em nosso contexto latino americano, você reconhece identidades ou questões comuns nas cidades e nas arquiteturas latino americanas? Na América do Sul estamos habituados a ter de lidar com escassez de recursos e condições adversas. É um estado crítico das coisas, típico de países em desenvolvimento. No entanto, este estado pode gerar grande quantidade de novas soluções significativas e inovadoras. Nas cidades, não há dinheiro ou espaço suficiente. Você precisa estabelecer prioridades. Isso é algo que eu acho muito saudável na estrutura urbana. Você precisa ser muito claro sobre o que melhora o bem público e o que vai beneficiar apenas um determinado grupo político em um nível privado.
Além disso, a noção de qualidade de vida varia de necessidades físicas muito básicas até as dimensões mais intangíveis da condição humana. Consequentemente, a melhoria da qualidade do ambiente construído é um esforço que precisa lidar com diversas frentes: da garantia de padrões de vida
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Foto: Diego Torres Torriti / ELEMENTAL
Como você interpreta a atuação da categoria profissional em relação às demandas e anseios sociais, ou como você enfrenta/interpreta em seus projetos estas demandas e anseios? Quais você apontaria como mais importantes? A arquitetura atual atende aos anseios sociais contemporâneos?
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Perfil do arquiteto
Ao mesmo tempo, está muito evidente para todos que o mundo está enfrentando problemas difíceis para os quais os nossos instrumentos tradicionais não são mais suficientes. Por isso, a Bienal de Veneza de 2016 visa proporcionar um viés ligeiramente diferentes e apresentar propostas muitas vezes provenientes dos países mais inesperados. Dada a complexidade e variedade dos desafios enfrentados pela arquitetura, “Reporting from the Front” dá a voz a essas pessoas, oferecendo know-how e experiência e proporcionando à sociedade contemporânea uma nova visão sobre como lidar com os problemas que enfrenta.
respostas mais abrangentes. Por outro lado, ele promove um projeto sustentável que combina tecnologia e inovação com o senso comum arcaico, primitivo. Desta forma, o design não depende de modismo, mas resiste ao teste do tempo. Você tem um método ou etapas no seu processo de projeto que você acredite que favoreça o êxito de seus projetos? Que etapas você destaca como fundamentais no processo de criação e desenvolvimento dos seus projetos?
Ao dar forma a um lugar, para nós a inovação tem a ver com olhar rigorosamente para a pergunta certa a ser respondida e usar de forma estratégica o design para canalizar até mesmo as forças contraditórias em uma determinada proposta. Simples o suficiente para ir do papel à realidade, sem reduzir a complexidade e a riqueza do ponto de partida.
No ELEMENTAL, a primeira pergunta que nos fazemos quando temos a página em branco a nossa frente é sempre: O que comunica a forma deste projeto? Neste estágio, a Forma (X) é um ponto de interrogação. Olhamos estrategicamente para o que será mais relevante para a concepção e quais são as forças em jogo. Portanto, “carregamos” a questão (X=?) com o maior número de restrições e informações possíveis, a fim de identificar por que um edifício deve acabar por ter uma determinada forma, e não uma forma diferente. Nós nos reunimos com clientes e usuários, interpretamos o local e o contexto, e tentamos compreender as dimensões intangíveis não expressas do problema, as entrelinhas.
Por um lado, esse caminho incentiva um tipo de arquitetura que é pertinente para a sociedade, lidando com os problemas que importam. A partir das fases mais iniciais, a coordenação entre todas as partes envolvidas é fundamental, pois permite
Não temos medo de ter forças eventualmente puxando em direções opostas. Se existe qualquer poder no design, esse é o poder da síntese. Isto não é um diagnóstico, mas uma forma de organizar as restrições (orçamento, cronograma, questões legais),
Fazer arquitetura é inovar? Como na sua prática projetual você considera a questão da inovação? O que seria atualmente uma arquitetura de vanguarda?
Escola de Arquitetura da Universidade Católica do Chile, Santiado, 2004. | Foto: Martín Bravo
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os conflitos (riscos potenciais ou resistência por parte de diferentes grupos), e as aspirações (o intangível e as certezas indescritíveis que orientam todas as coisas importantes na vida), a fim de traduzi-las em uma proposta. A forma final é uma consequência dessas forças, algumas delas muito concretas e pragmáticas, algumas bastante tangíveis e misteriosas. Em seu processo de trabalho, como se colocam e relacionam as tradicionais Etapas de Conceituação, Montagem do Programa e Partido Arquitetônico do projeto? Nossas construções têm que funcionar. Elas têm que estar dentro do orçamento, têm que cumprir um propósito. Começamos na tentativa de compreender todas as ameaças: legislação, meio-ambiente, prazo, materiais, expectativas. Começamos a projetar a pergunta antes de ir para a resposta. Isto é, basicamente, tentar compreender as forças em jogo.
É por isso que no ELEMENTAL estamos trabalhando no desafio fundamental da construção de uma visão para as nossas cidades. Como serão nossas cidades depende não somente da amplitude de visão de nossas instituições públicas, mas também da consciência e do ativismo da sociedade civil. Os arquitetos, em particular, podem desempenhar um papel significativo. Graças ao poder de síntese do design, os arquitetos têm a possibilidade de traduzir para formas todas as forças conflitantes em jogo e fornecer soluções para a complexidade da sociedade contemporânea. Frente a esses desafios, as cidades podem funcionar como atalhos para a igualdade. Teremos que ser criativos o suficiente para identificar estrategicamente oportunidades e traduzi-las em propostas e projetos de espaços públicos, transporte público, infraestrutura multifuncional, habitação incremental. Com bom design, o envolvimento de capital paciente (aquele que busca mais previsibilidade do que rentabilidade), e o ordenamento jurídico correto, as cidades poderiam se transformar em um veículo de desenvolvimento. O que está claro é que estas questões são difíceis. E questões difíceis exigem profissionais de qualidade e não profissionais de caridade.
Como você relaciona as escalas da arquitetura e da cidade, a partir da habitação como tecido extensivo e a cidade contemporânea em aceleradas mudanças? Vamos começar dizendo que estamos experimentando um desafio global de urbanização. Sabe-se que as pessoas estão se mudando para as cidades, e embora possa parecer contra intuitivo, isso é uma coisa boa. Cidades intrinsicamente significam atritos e barreiras, mas são também a possibilidade de oferecer uma melhor qualidade de vida, uma vez que a prosperidade econômica nas últimas décadas tem gerado recursos e políticas públicas que assumiram essas questões. No entanto, a escala, a velocidade e a escassez de recursos que temos disponíveis para responder a este fenômeno não têm precedentes em toda a nossa história. Em 2030, dos cinco bilhões de pessoas que estarão vivendo em cidades, dois bilhões estarão abaixo da linha da pobreza. Isto significa que teremos que construir cidades para milhões de novos habitantes durante os próximos quinze anos, com recursos de U$10.000 por família. E não resolver o problema não irá impedir as pessoas de migrarem para as cidades. Elas simplesmente irão viver em favelas, comunidades pobres, em condições precárias. ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI
Centro Cultural "Constituición" 2014 Constituición, Chile Foto: Felipe Diaz
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Perfil do arquiteto
Centro de Inovação da Universidade Católica do Chile ANACLETO ANGELINI (Angelini Innovation Center) Arquiteto responsável: Juan Ignacio Cerda Colaboradores: Samuel Gonçalves, Cristián Irarrázaval, Álvaro Ascoz, Natalie Ramirez, Christian Lavista, Suyin Chia, Pedro Hoffmann Projeto/ Período de Construção: 2011-2014 Área de Construção: 8.176 m2 (construção), 12.494 m2 (estacionamento) Localização: Santiago, Chile
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Foto: © Cristobal Palma
Angelini Innovation Center virou do avesso o plano de escritório convencional por 3 motivos: em primeiro lugar, o clima de Santiago necessita evitar a radiação solar direta em superfícies de vidro, caso contrário, o consumo de energia pelo sistema de ar condicionado é absurdo. Por isso, a torre de escritórios com fachada de vidro quase onipresente foi substituída por um edifício com a massa no perímetro com aberturas profundas embutidas, que permitem a ventilação cruzada. O consumo de energia deste edifício é de 1/3 o de uma torre com a típica. Em segundo lugar, a inovação e a criação de conhecimento necessitam do aumento de encontro entre as pessoas, do contato cara a cara. Por isso, os lugares onde as pessoas podem se encontrar foram multiplicados, substituindo o centro tipicamente opaco, por um pátio aberto que permite que as pessoas vejam no que os outros estão trabalhando, ou introduzindo quadrados elevados em toda a altura do edifício. Finalmente, a maior ameaça para um centro de inovação é a obsolescência. Portanto, este edifício é mais uma peça de infraestrutura do que de arquitetura, neutro e claro o suficiente para que as mudanças na maneira como ele é usado com o passar do tempo sejam fáceis de implementar. O caráter monolítico é uma tentativa de substituir contemporaneidade pela intemporalidade.
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Foto: © Nina Vidic
Foto: © Felipe Diaz Contardo
Foto: © Felipe Diaz Contardo
Foto: © Felipe Diaz Contardo
Foto: © Cristobal Palma
Perfil do arquiteto
Escola Ayelén (Ayelén School)
Foto: © ELEMENTAL
Foto: © ELEMENTAL
Arquiteto responsável: Diego Torres Equipe: Matías Magnelli, Natalie Ramirez, Natalia Echeverri Projeto/ Período de Construção: 2013-2015 Área de Construção: 6.937m2 Localização: Rancagua, Chile
Foto: © ELEMENTAL
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Ayelén School foi recentemente criada pela NPO Fundación Impulsa para fornecer acesso gratuito à educação de qualidade, em um país onde acesso à boa educação depende muito da renda familiar. A educação de qualidade é baseada em uma abordagem metodológica clara e a arquitetura deve contribuir para espaços que não só devem facilitar as atividades de ensino, mas também contribuir para a construção de valores e identidade comunitária, especialmente no caso de uma nova instituição. Edifícios escolares são, muitas vezes, o resultado da repetição da unidade de sala de aula. Na Ayelén School, as instalações maiores, como o ginásio e o refeitório, estão localizadas ao longo da fachada pública, que tem acesso por um hall de entrada externo. Isso permite que a escola compartilhe esses espaços com a comunidade local para outras atividades, além das atividades escolares normais. As salas de aula, por outro lado, estão localizadas em dois andares, circundando um pátio parcialmente coberto por um telhado com uma abertura circular, uma estratégia para maximizar a área local para uso como área de lazer. A abertura circular em um pátio quadrado contribui para uma sensação de abertura e de unidade, ao criar cantos para área de lazer com sombra. Foto: © ELEMENTAL
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Parque Infantil Bicentenário (Bicentennial Children’s Park) Arquiteto responsável: Víctor Oddó Equipe: Juan Cerda, Fernando García-Huidobro, Gabriela Larraín, Rebecca Emmons Projeto/ Período de Construção: 2008-2012 Área: 40.000m2 Localização: Santiago, Chile
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Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
projeto consiste em uma área de lazer para crianças com mais de 1.800m2, incluindo casa na árvore, balanços, uma floresta com bolhas d’água, uma cascata de tobogã com mais de 60 tobogãs arranjados em uma encosta da montanha. A proposta utiliza as dificuldades do relevo do terreno para resolver um dilema clássico das áreas de lazer infantis: torná-las seguras ou divertidas? A inclinação da encosta permitiu chegar a uma altura suficiente para deixar os brinquedos divertidos, sem ser uma ameaça para a segurança das crianças. Além disso, a cerca de perímetro do parque é uma área de lazer de 130m.
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Perfil do arquiteto
Escola de Matemática (Mathematic School) Arquiteto: Alejandro Aravena Colaborador: Luis Lucero Projeto/ Período de Construção: 1998-1999 Área de Construção: 2.000m2 Localização: Santiago, Chile
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Foto: © Tadeuz Jalocha. Couresy of ELEMENTAL
Foto: © Tadeuz Jalocha. Couresy of ELEMENTAL
“Um matemático é uma máquina que transforma café em equações”. Acreditamos que esta brincadeira expresse uma das dimensões através da qual o conhecimento é produzido: o encontro casual das pessoas. Além da cafeteria, identificamos o corredor como uma oportunidade de design, como o momento em que você vê outras pessoas antes que elas desapareçam no retiro isolado de sua unidade de trabalho individual. Decidimos adicionar um novo edifício aos dois já existentes, de modo que após a execução tivéssemos menos elementos do que no início.
Foto: © Tadeuz Jalocha. Couresy of ELEMENTAL
1+2=1
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Dormitório da Universidade St. Edwards (St. Edwards University Dorms)
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ós precisávamos acomodar 300 leitos, algumas áreas sociais e alguns serviços para todo o campus, em um lote estreito. Fizemos três coisas: criamos um pedestal usando as instalações públicas para ativar o piso térreo, esculpimos o centro do volume e colocamos ali as áreas sociais e articulamos o perímetro da construção tanto quanto possível, aumentando os metros lineares da fachada, garantindo vista e luz natural para cada quarto. Para resistir ao ambiente difícil, optamos por uma sequência de revestimentos duros e duráveis na camada exterior, mas suaves e delicados no centro.
Foto: © ELEMENTAL
Foto: © Cristobal Palma
Arquiteto parceiro: Ricardo Torrejón Arquitetos Locais do Texas: Cotera + Reed Colaboradores do Chile: Victor Oddó, Rebecca Emmons Colaboradores do Texas: Tiffani Erdmanczyk, Travis Hughbanks, Leyla Shams, Joyce Chen, Deb Ebersole Projeto/ Período de Construção: 2006-2008 Área de Construção: 30.000m2 (12.000m2 dormitórios + 18.000m2 estacionamento) Localização: Austin-Texas, USA
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
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Perfil do arquiteto
Torres Siamesas (Siamese Towers) Equipe: Alejandro Aravena, Charles Murray, Alfonso Montero, Ricardo Torrejón Colaborador: Emilio de la Cerda Projeto/ Período de Construção: 2003-2005 Área de Construção: 5.000m2 Localização: Santiago, Chile
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Foto: © Martin Bravo. Courtesy of ELEMENTAL
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
Foto: © Cristobal Palma
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ediram-nos para projetar uma torre de vidro. O vidro é muito impróprio para o clima de Santiago, porque gera o efeito estufa, embora seja um material bom na resistência à chuva, à poluição e ao envelhecimento. Então pensamos em utilizar vidro do lado de fora, para aquilo em que ele é bom e, em seguida, fazer uma outra construção no interior, com um desempenho eficiente de energia e que permita que o ar circule entre as duas construções. A convecção de ar quente cria um vento vertical, que é acelerado pela “parte acinturada” do edifício pelo efeito Venturi, eliminando o calor indesejado antes que ele atinja a construção interior.
Conjunto Habitacional Villa Verde (Villa Verde Housing) 484 UNIDADES HABITACIONAIS Arquiteto responsável: Cristián Martínez Colaboradores: Philip Zurman Projeto/ Ano de Construção: 2010-2013 Área: 5.688 m2 Primeira casa: 57m² Última casa: 80 m²
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Arauco Forest Company nos pediu para desenvolvermos um plano para apoiar seus funcionários e contratados para que eles pudessem ter acesso à casa própria, no contexto das políticas habitacionais chilenas. Isso nos permitiu trabalhar pela primeira vez com o topo da política habitacional. Dada a maior disponibilidade de recursos, em vez de usar como base uma de nossas unidades habitacionais mais baratas e entregá-la com acabamento melhor, aplicamos mais uma vez o mesmo princípio de incrementalidade, mas com um cenário de crescimento inicial e final de padrão mais elevado: de 57m2 (área inicial de cada unidade), elas podem crescer até 85m2. Fotos: © ELEMENTAL
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novos arquitetos
Croqui do Arquiteto Felipe Kaspary
Novos arquitetos
Requalificação da área central de Balneário Camboriú Em busca da escala humana e dos cenários urbanos Autor: Lucas Noal de Farias Arq. Urb Orientadora: Luciana Noronha Pereira, Prof. Me. Arq. Urb Ano 2014/02
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emelhantemente ao fenômeno observado em diversas cidades brasileiras, Balneário Camboriú também sofre com a falta de áreas públicas destinadas ao lazer, encontro e socialização dos pedestres, de modo que possibilite a percepção da cidade e a experiência espacial na escala humana (GHEL, 2013). Tais fatos ocorrem principalmente devido à especulação imobiliária e a disputa dos espaços públicos entre pedestres e automóveis. Deste modo, a requalificação urbana tem por princípio o aprimoramento destes espaços para o ser humano, de maneira que possam desempenhar sua função principal de encontro e das práticas sociais, permitindo às pessoas sociabilizar e observar este processo acontecendo. É Através destes conceitos que torna-se possível alcançar um objetivo ainda maior: a cidade democrática, tornando o espaço público mais igualitário, digno e inclusivo. A proposta de intervenção no centro de balneário vem de encontro a estes valores e conceitos básicos, mas que pouco estão presentes em nossos espaços urbanos. Através de levantamentos e de estudos de diversos autores, tais como (Jan Gehl, Jane Jacobs, Pierre Lèvy, entre outros) buscou-se entender o funcionamento da cidade de Balneário Camboriú e as possibilidade ainda existentes que permeiam a cidade já consolidada. Dentre os vários elementos pesquisados, podemos ressaltar dois em especial, as vias como elementos de conexão e, os vazios como principais pontos de oportunidades para gerar novas áreas de atividades para os pedestres. Uma vez que os principais potenciais vazios urbanos da cidade foram escolhidos, possíveis conexões destes espaços foram traçadas, de modo a compor um grande sistema de espaços públicos que articulasse por todo o território urbano.
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Dentro deste grande sistema de espaços verdes, alguns quesitos espaciais básicos, para gerar qualidade atrativa, foram abordados. Seguem alguns deles: Caminhos e Espaços - A hierarquização é fundamental para uma melhor legibilidade, facilitando a localização dos principais pontos de uma área, pela sua composição e/ou por seu tamanho. Públicos Variados - Para isso é necessário propor ambientes que contemplem uma variedade de atividades, de modo a convidar toda a população a frequentar e vivenciar o bem público. Fachadas – As fachadas desempenham uma série de relações com os pedestres, circulando pela sua frente, ou através dela, de modo a gerar uma série de atividades, tais como entrar e sair de um ambiente, observar uma vitrine, comprar, interagir com terceiros, permanecer em pé ou sentado. Espaços de Estar - É fundamental pensar em locais de maior permanência e de como esses locais devem contemplar os diferentes usuários possíveis, assim como as diversas atividades encontradas nas proximidades. Para isso, deve-se compor os eixos visuais mais interessantes para uma contemplação tanto da vida urbana ocorrendo, como também explorar as morfologias espaciais existentes em uma certa localização. Arte Urbana - A arte urbana possui a capacidade da democratização da cultura uma vez que ela está disposta a qualquer público que deseja aprecia-la. Utilizando a arte urbana como um meio atrativo e de caráter transitório, podemos produzir uma metamorfose nos ambientes, de maneira que as intervenções artísticas uma vez executadas, mudem de tempos em tempos, transformando o espaço em um processo de múltiplos autores, fazendo com que a experiência de visitar um local com este tipo de intervenção, esteja em permanente mudança, proporcionando a cada nova visita uma nova experiência ao usuário (LÉVY, 2008).
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PROJETO H2O + O2 I SISTEMA DE CONTENÇÃO DE CHEIAS EM MEIO AO ESPAÇO PÚBLICO
Autor: Felipe Kaspary, Arq. Urb. Orientadora: Lisete Assen de Oliveira, Prof. Dra. Arq. Urb
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Trabalho Final de Graduação – 2015/2 Prêmio para Estudantes Graduados em Arquitetura e Urbanismo. CAU SC/IAB SC (2015)
projeto proposto é para o Município de Rio do Sul (SC), e tem como objetivo promover uma maior valorização e conscientização ambiental sanando o problema gerado pelas cheias do Rio Itajaí-Açú (enchentes), ou seja, se antes as cheias causavam sofrimento perda e desgaste ambiental, com o projeto proposto passaria então a ser um elemento potencializador para o município, no sentido social (deixaria de existir perdas materiais edesgaste emocional), de paisagem (enchimento dos “bolsões” gerando flexibilidade na paisagem), ambiental (reuso do excesso de água pluvial) e social. O projeto mescla os sistemas de infraestrutura, espaços públicos e propostas urbanísticas, sendo estes três os estruturadores da proposta, onde em conjunto farão um maior alcance dos ideais lançados, tendo o projeto como um meio e parte do processo de formação da cidade. A proposta ainda engloba alguns usos de diferentes escalas, sempre vinculados aos interesses esportivos, culturais, educacionais, sociais e ambientais, inseridos na área onde estão locados os bolsões de retenção de água, fazendo com que estes ganhem ainda mais potenciais, além de sanar o principal problema ambiental do município, tem a função de fornecer a cidade espaços de cultura, esportes, educação e moradia. Formando assim um processo embasado em princípios de sustentabilidade, estimulando o equilíbrio dos fatores ambientais, sociais e econômicos.
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PROPOSTA DE PROJETO
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INFRAESTRUTURA
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CLUSTER CRIATIVO COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECÔNOMICO E CULTURAL PARA A CIDADE DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ - SC Autora: Débora Mikulski, Arq. Urb. Orientador: Guilherme Guimarães Llantada, Prof. Me. Arq. Urb. Ano 2015/02
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projeto urbanístico-arquitetônico apresentado como Trabalho Final de Graduação (TFG), pela estudante Débora Mikulski, no segundo semestre de 2015, teve como principal objetivo a criação de um “Distrito de Criatividade” no município de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Cluster Criativo FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
A proposta abrangeu diversas escalas, agindo a partir da macroestrutura da região, alterando a morfologia urbana de um bairro e suas conexões, tanto com a rodovia BR 101, como com a borda d'agua do Rio Camboriú e propondo novas tipologias de usos diversificados. O surgimento de novos programas arquitetônicos recriam significados urbanos através de suas estratégias e
intervenções, servindo para “catalisar” estas transições ou ainda justificar suas permanências. Débora propõe, com seu estudo urbanístico arquitetônico, um “Lado B” para Balneário Camboriú, isto é, uma oportunidade de ambientar a criatividade, demarcando seu espaço no território urbano, estruturando e estreitando as relações entre “tribos” que compartilham de ideais complementares, fortalecendo a socialização e formação de redes e suas economias, enfim, incentivando uma cultura que surge como alternativa aos restritos padrões de consumo impostos, gerando uma identidade local e ao mesmo tempo global, para produtos e produtores dentro do seu tempo.
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A sociedade contemporânea se transforma rapidamente, fenômeno que reflete na concepção, produção e gestão de cidades e do território. Essas transformações somente estão começando e, no âmbito do urbanismo, acarretam em uma nova revolução urbana moderna, a terceira desde a revolução da cidade clássica e da cidade industrial (ASCHER, 2010). Repensar e refletir como, numa nova era, o futuro das cidades será construído fica evidente, já que nos encontramos numa fase de transição sociedade urbano-industrial para uma sociedade da informação e do conhecimento. A questão é qual metodologia de intervenção no espaço urbano será adotada a fim de amparar essas transformações sociais? Neste contexto, emerge o fenômeno da globalização e da Revolução da Tecnologia e Informação, e com isso a Indústria e a Economia Criativa ganham destaque no cenário mundial (UNCTAD, 2004). Com um novo modelo econômico, “as origens do crescimento e do desenvolvimento urbanos na sociedade moderna residem acima de tudo na dinâmica da produção econômica e do trabalho. (…) É certo que as cidades atuais são sempre muito mais do que simples acumulações de capital e trabalho, já que também são arenas nas quais outros tipos de fenômeno florescem – sociais, culturais e políticos.” (SCOTT, 2006, pp 4-5).
Balneário Camboriú, cosmopolita cidade litorânea de Santa Catarina, com apenas 54 anos possui uma população de 124.557 pessoas (IBGE, 2010) e chega a ultrapassar um milhão de turistas em alta temporada, atuando como Polo Turístico Regional. Assim atrai pessoas de outras localidades que procuram no município um local para trabalhar, estudar e viver, transformando a cidade em um mosaico de tradições, valores e identidades, onde a cada 5 moradores, apenas 1 é natural da cidade.
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Justificativa da Temática e Espacial FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
A partir da nova configuração urbana ligada aos meios de produção e como palco das interações sociais, surge o termo Cidade Criativa, que começa a se tornar um tema amplamente discutido. O tema ganha destaque depois que a Austrália oficializa a economia criativa como um setor econômico, em 1994. Em seguida, este caminho é seguido por outras potencias mundiais, como Inglaterra, Estados Unidos e Canadá (REIS, 2011).
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longo dos próximos anos, possa ser reconhecido culturalmente, socialmente e economicamente como um novo Polo Criativo Regional, assumindo uma abordagem mais abrangente que os tradicionais clusters.
Leitura Propositiva FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Para tal, o projeto em questão propõe uma significativa intervenção urbanística com interface arquitetônica no município de Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina, que tem como principal objetivo, estabelecer uma nova centralidade local, através da implantação de um Cluster Criativo, para que ao
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O aporte teórico que estrutura este trabalho e adota-se como eixo norteador tem como base a Crise do Objeto, em que ‘’... um sistema é um conjunto de elementos heterogêneos (materiais ou não), em distintas escalas, relacionadas entre si, com uma organização interna que tenta estrategicamente adaptar-se à complexidade do contexto, constituindo um todo que não é explicável pela mera soma das partes’’ (MONTANER, 1997; pp.11, 79).
Através das leituras realizadas em cada escala - região, cidade, bairro, local - estas impulsionam a ocupação na região pós implantação da BR-101, que apresenta um caráter a ser potencializado. A configuração urbana é condicionada pelo sistema viário existente, apresenta como eixos estruturadores uma via arterial - 5º Avenida - e uma rodovia - BR-101, as quais delegam a função e uso do solo atualmente, serviços e comércios. Em contrapartida, existem as vias locais transversais a esta estrutura, que denotam a zonas residenciais.
Corte Urbano e Compatibilização de Usos FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Processo Criativo e Estruturação da Proposta FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Com o princípio de adequação ao sistema pré estabelecido propõe-se a estruturação de um Cluster Criativo, que além de acolher as empresas e indústrias criativas inclui organizações sem fins lucrativos, instituições culturais, centros de artes e artistas individuais. Ou seja, clusters criativos são locais de residência e trabalho, nos quais os produtos culturais são produzidos e consumidos , sempre abertos, para trabalho e lazer. Alimentam-se de diversidade e mudança e, portanto, prosperam em ambientes urbanos ativos, multiculturais, que têm suas distinções locais, mas estão conectados ao mundo (Creative Clusters Conference, 2003) .
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A partir disso ficam evidente as principais conexões e os principais eixos estruturadores da cidade. Além disso, nota-se a importância da relação entre a cidade e a água, sendo que poderia ser potencializada como meio de transporte além do atrativo turístico e diversificando os modais ao sistema de mobilidade existente: o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e o catamarã; também se propõe a qualificação e conexão dos trechos de ciclovias existentes, a fim de incentivar o transporte público e sustentável.
Planta de Implantação Distrito Criativo FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Planta de Implantação Distrito Criativo FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
A compreensão da dinâmica da cidade também leva em conta que cidade de Balneário Camboriú já é reconhecida como Polo
Regional do Turismo, sendo que as diretrizes urbanísticas são de incentivo ao turismo e à cultura local. A proposta está baseada na criação e oficialização de Percursos Turísticos, rotas que instigam aos moradores e turistas, onde a Serendipidade Urbana leva a diferentes lugares numa investigação da cultura e dos atrativos locais. Portanto, inclui, nessa rica gama turística, o Turismo Criativo, com pontos estratégicos: Equipamentos Âncoras voltados ao desenvolvimento de cada setor da Economia Criativa, amparados por um Terminal Intermodal e um mega equipamento de capacitação e comercilização, onde reflete toda efervescência e vitalidade urbana do Distrito Criativo.
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Corte Esquemático AA FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Planta Baixa Térreo FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Processo Criativo FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
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Fachada Noroeste FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Planta Baixa Térreo Elevado FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Vista Praça Externa FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Vista Praça Externa FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
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Vista Praça Interna FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Vista Entrada Principal FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Fachada Sudeste FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
Vista Salas Comercias FONTE: Elaborada pela autora em 2015.
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projetos acadêmicos
Croqui do Acadêmico Victor Loch
Projetos acadêmicos
TRANSGRESSÕES RIZOMÁTICAS EXPERIMENTAIS DISCIPLINA PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 9º PERÍODO Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo Anderson Beuting, Diego Gorges, Eduardo João Berté e João Gabriel Feres Dagostini. Professores Orientadores Stavros Wrobel Abib, Prof. Dr. Arq. Urb Carolina Schmanech Mussi, Prof. Me. Oceanógrafa Nelson Saraiva da Silva, Prof. Dr. Arq. Urb
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m uma das exposições de encerramento do 8ª Seminário Internacional de Investigação em Urbanismo, ocorrido no presente ano de 2016, o Professor Dr. Sérgio Magalhães compartilhou com os presentes suas reflexões e questionamentos acerca do que significará projetar no Brasil nas próximas décadas. O trabalho intitulado Transgressões Rizomáticas Experimentais, desenvolvido ao longo do primeiro semestre de 2016 na disciplina de Planejamento Estratégico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali, em parte tem buscado pensar o significado do ato de projetar, em especial, do ato de projetar o território contemporâneo no contexto regional do litoral catarinense. Segundo esta perspectiva, percebem-se alguns pressupostos. O primeiro, de que existe algo denominado projeto contemporâneo. O segundo de que há um território, ou territórios, com feições contemporâneas em formação no litoral. Terceiro, de que se há que pensar e pôr em prática um modo de projetar o território contemporâneo. Todos estes pressupostos envolvem uma complexa e densa discussão que escapa ao escopo desta investigação. De igual modo, salienta-se que antes de pretender lançar uma resposta definitiva à questão posta pelo palestrante, este será um cenário de reflexão incompleto a respeito de um de seus aspectos, sendo sua contribuição a que uma metanarrativa é capaz de apresentar: já que é a apresentação de uma proposta de projeto que reflete acerca da possibilidade de projetar. Iniciaremos a partir da construção do marco teórico da proposta para então passar a construção metodológica e por fim a resposta projetual resultante das duas etapas anteriores. De modo geral é possível registrar no primeiro uso do conceito de cidade-região, feito por Patrick Geddes há pouco mais de 100 anos, o início da narrativa segundo a qual perceber-se-á um desenvolvimento deslocado entre urbanização e limite
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Imagem 01 – Marco teórico e síntese dos autores realizadas pelo grupo.
político-administrativo. Naquela oportunidade, ganhou-se um olhar regional acerca do fenômeno da urbanização. Ainda que o estudo da rede urbana estivesse se desenvolvendo, e imperasse uma visão geopolítica na composição do conceito de território, a percepção de que há zonas urbanas que ultrapassam sua hinterland e se conectam a outros centros urbanos, em um regime de dominação territorial, é essencial à construção da ciência regional. Nesta observação estaria a base para compreender a
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transição entre um pensamento moderno e outro contemporâneo, no que tange às dinâmicas territoriais. Argumenta-se que boa parcela do século XX viveu a disjunção entre um olhar intra-urbano e um urbano-regional, agora sendo paulatinamente substituído. Identifica-se nos discursos de Soja uma reinterpretação do fenômeno aferido por Gueddes, acerca de Londres no início do século XX, agora substanciado em uma visão geográfica na qual o espaço pode ser interpretado não mais enquanto uma abstração filosófica como propõe Montaner, em sua obra de 1997, A Modernidade Superada: arquitetura, arte e pensamento do século XX, mas como fenômeno social. Este autor utiliza a tríade analítica de Lefébvre e a obra Economia Urbana de Jacobs para compreender como se vive um momento histórico pósmetropolitano, no qual há um domínio da urbanização-regional nas dinâmicas territoriais. Nesse sentido, ao estudar a rede urbana de Santa Catarina, segundo uma perspectiva contemporânea, Rosa Moura identifica no litoral catarinense o que denomina de arranjos dinâmicos contemporâneos. Para isso se vale da noção de difusão de Indovina, principalmente. Associa a este o estudo de Castells sobre a sociedade em rede, ainda que não o enfatize, no qual as redes urbanas passam a obedecer uma lógica global, algo possível dado o desenvolvimento de tecnologia sofisticada (especialmente a de comunicação). Neste sentido, a noção de rede transcende o escopo territorial e passa a ser empregado na própria organização da sociedade. O P rojeto – Transgressõ es R izomáticas Experimentais Tendo como base a necessidade de interpretar o fenômeno de ocupação do litoral catarinense, buscou-se construir um marco teórico que pudesse orientar nossa pesquisa analítico-projetual. De fato, questionávamos se seria possível encontrar dinâmicas contemporâneas de urbanização neste território. Para tanto, fizemos um esforço inicial de interpretação sobre o que seriam e de como aconteceriam as dinâmicas contemporâneas. Como resultado se sistematizou um marco teórico, o qual pode ser visto na imagem 01. A partir da articulação teórica e do estudo das categorias e variáveis empregadas buscamos elaborar as bases analíticas para identificar se haveria evidências de tal fenômeno em nosso contexto, inclusive buscando formas de mapeá-las. A justaposição dos olhares (individuais) de cada autor consultado, em uma sucessiva observação e interpretação do material resultante do mapeamento nos levou a: 1) o emprego de método de pesquisa
Imagem 02 – Dinâmicas territoriais contemporâneas, composta pelas características históricas e evolução e mutação das dinâmicas contemporâneas.
interpretativo, no qual o aprendizado sobre o fenômeno se dá através de consecutivas leituras, em um viés hermenêutico; 2) síntese (Imagem 02). Nesta síntese observamos que o litoral catarinense experimenta, ao mesmo tempo, elementos das dinâmicas territoriais contemporâneas interpenetradas por dinâmicas que chamaremos aqui de anteriores, históricas. Nesse sentido, segundo nossa pesquisa, há evidências de que possuímos dinâmicas territoriais contemporâneas em curso.
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A construção do saber sobre o fenômeno nos levou a pensar sobre como projetá-lo: o que significaria projetar um fenômeno com estas dimensão e complexidade e como fazê-lo. Nesse sentido, está posta a questão sobre o que significa projetar na contemporaneidade. Partimos para uma análise epistemológica, ou, para projetar a contemporaneidade, precisávamos nos apropriar da contemporaneidade. As leituras realizadas do autor indiano Parag Khanna, nos trouxeram a conectividade
enquanto orientação para o projeto: a conexão entre pontos no território é, muitas vezes, mais importante do que qualquer outra característica (connectography). Em Deleuze e Guattari complementamos o entendimento de como poderíamos tornar palpável a connectography. Utilizamos o conceito do Rizoma e das 6 características principais de uma estrutura rizomática: Conexão; Heterogeneidade; Multiplicidade; Ruptura Inócua; Cartografia; e Decalcomania. Todas são exemplificadas na Imagem 03, abaixo:
Imagem 03 – As 6 características do rizoma segundo Deleuze e Guattari.
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Por fim, novamente interpretamos. Fez-se necessário algumas provocações pessoais, que resultaram no que passamos a denominar de Transgressões Experimentais: são tentativas, investimentos, concentrações de motivos em um determinado ponto, que acabam gerando um efeito no conjunto como um todo – seja ele bom ou ruim – através de mutações do processo. O resultado alcançado é a evolução, pois uma série de transgressões ao longo do tempo ocasiona mutações, que auxiliam ao sistema a pôr-se em um estado de transição contínuo, na qual estágios característicos sobrescrevem-se levando a situações mais complexas que as anteriores (Imagem 04).
Deste modo, moldamos uma diretriz geral: ‘Infraestrutura como elemento articulador e catalisador, que altera a probabilidade de como o rizoma ocorre’. Ou seja, deixando a infraestrutura disponível nas maiores escalas (Imagens 05,06 e 07), o processo desenvolver-se-ia de acordo com o que fosse gestado pelo e para o sistema como um todo, naquele momento no tempo, de acordo com aquelas variáveis e situações ativas ou ativadas naquele instante e contexto.
Imagem 04 – Síntese do conceito principal.
Imagem 05 – Propostas no campo de visão mais abrangente.
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O primeiro campo, sendo a Vocação Temporal, seria o mais mutável de todos, sendo possível sua alteração de acordo com a necessidade local da população (imagem 09), esta não teríamos como projetar à priori, mas obteríamos a informação via e-participação.
Imagem 06 – Propostas no campo de visão intermediário.
Imagem 09 – Adequação da proposta de acordo com as necessidades da população
Imagem 07 – Propostas em um cenário hipotético de campo de visão local – tornando-se um algoritmo genérico.
Justaposta e simultânea a esta dinâmica seis campos conduziriam o projeto nas multiescalas derivadas.
Imagem 08 – Campos de atuação da proposta de intervenção.
Nos demais, seríamos cautelosos o suficiente para prover a infraestrutura necessária de modo que as vocações do momento e contexto pudessem ocorrer. O cenário projetado e seus passos são exemplificados entre as imagens 10 e 21, que seguem abaixo. Frisamos que este cenário de intervenção proposto em Balneário Camboriú é um exemplo de entrada no Rizoma. A escolha deste local deve-se a ao fato de estar em um meio urbano, na divisa entre dois municípios, cortado por um grande eixo de conexão (Rodovia federal BR-101), e com vazios urbanos dispersos, o que permite relacionar os campos projetuais apresentados. Além disso, há potencial de imprevisibilidade na forma da apropriação do projeto (tem potencial de variação), o que desafia a articulação de conceitos e meios de projeto proposta. Ao término, avaliamos que há possibilidade de desenvolvimento de campos de atuação para modos contemporâneos de projeto no Brasil no que tange ao projeto territorial multiescalar. No campo das possibilidades percebemos um potencial ainda pouco explorado e com capacidade de congregar esforços intelectuais para contribuir para com este momento de indefinição acerca do ato de projetar no Brasil, como nos propôs o Prof. Sérgio Magalhães.
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De acordo com o próprio conceito do rizoma, qualquer ponto é porta de entrada para seu interior, não havendo distinção de escalas e, sim, campos de visão que abrangem diferentes vistas, tomando este conceito como base, a própria escolha do terreno para desenvolvimento de um projeto arquitetônico urbanístico, que permita o surgimento de vocações temporais, dá a resposta à necessidade fractal da proposta. O recorte escolhido situa-se no município de Balneário Camboriú, em um ponto onde percebemos sua relação com Camboriú, com a região onde se insere, e do Estado como um todo, trata-se das principais entrada e saída do município, que em docas de grande demanda, apresenta problemas multiescalares em todas as camadas de infraestrutura. E, uma região que possui objetos de grande referência para o entorno imediato, município e estado, e que merece uma transgressão experimental, uma mutação que a faça evoluir. Portanto, a proposta se baseia principalmente na exploração da infraestrutura não desenvolvida ou inexplorada do local, de maneira que favoreça o surgimento das vocações não somente locais, como também nos campos de visão superiores. Imagem 10 – Exemplo de entrada no Rizoma.
Imagem 11 – Local de intervenção na cidade de Balneário Camboriú.
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Imagem 12 – Propostas de mobilidade urbana para o trecho.
Imagem 13 – Propostas de produção de energia e captação de recursos hídricos.
Imagem 14 – Propostas de revitalização de espaços naturais.
Imagem 15 – Propostas de coleta e manejo do lixo e esgoto.
Imagem 16 – União de todos os campos de visão, de maneira que as Transgressões Fractais Orientadas sejam viáveis.
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Imagem 17 – A materialização dos conceitos na forma de projeto, com a infraestrutura dando suporte para que as vocações consigam aflorar.
Imagem 18 – Definição dos pontos onde o sistema aflora, sendo visível em suas diversas estruturas.
Imagem 19 – Características relacionadas a infraestrutura de cada um dos pontos onde o sistema é visível.
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Imagem 20 – Perspectiva evidenciando o ponto número 2 de intervenção, mostrando a integração dos usos provisórios com a estrutura rígida e os edifícios existentes.
Imagem 21 – Perspectiva que mostra o primeiro ponto de intervenção, com uma edificação que tenta trazer de volta a topografia que existiu no local, de modo a utilizá-la para auxiliar na conexão com o sistema proposto.
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NOVA CENTRALIDADE PARA O NORTE DA ILHA DE FLORIANÓPOLIS -sc EIXO PARQUE CENTRAL DE INTERRELAÇÕES ESPACIAIS Disciplina: Projeto Integrado II - 7º Período Acadêmica: Maria Eduarda Simas Zucki Professores Orientadores: Luciano Pereira Alves, Prof. Me. Arq. Urb (Urbano/Infra); Marcelo Galafassi, Prof. Me. Arq. Urb (Arquitetônico/Sistemas Estruturais); Tiago Dell' Agnolo, Prof. Me. Eng. (Tecnologia) João Luis Pacheco, Prof. Me. Eng. (Conforto Ambiental)
A Nova centralidade Urbanístico Arquitetônica O projeto a seguir foi elaborado no âmbito da disciplina de Projeto Integrado II, sétimo período do curso de Arquitetura e Urbanismo, 2016/1, cujo objetivo é propor soluções de organizações físicoespaciais e construtivas para projetos urbanos complexos, do tipo urbanísticoarquitetônico. A problemática para a intervenção urbanístico-arquitetônica é a centralidade urbana à escala do território no Município de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, cidade de serviços, de novas tecnologias de TI e de turismo. No desenvolvimento da disciplina, os alunos consideram estes aspectos para delimitação de uma área de intervenção de aproximadamente 70ha. O presente trabalho não se trata, portanto, de somente dar condições de execução à arquitetura e aos espaços abertos pensados, mas principalmente de entender esta construtividade como a própria arquitetura na e da Cidade. A Arquitetura participa do projeto urbanístico a partir das soluções do sistema edificado, predominantemente fechado e suas relações e transições para com a escala da cidade. Por um lado, temos o sistema 102
habitacional como fator extensivo e repetitivo de construção das cidades. Por outro, temos os programas singulares de equipamentos públicos, comuns ou coletivos - que carregam a expressividade da paisagem urbana – e que podem ser explorados em situações urbanas particulares e estruturantes. Horizonte Conceitual O horizonte norteador do desenvolvimento deste projeto tem relação com fundamentos do campo disciplinar Arquitetônico e Urbanístico, posto que estes se desdobram de maneira única, de modo a alcançar resultados eficazes. Assim, tem-se a associação entre o desempenho social para a cidade e o desempenho ambiental, ligados com a construção de uma nova percepção do espaço e seus conformadores, transformando-o em um ambiente de relevância e referência para os usuários. O aglomerado urbano de Florianópolis é conformado pela fragmentação do espaço, onde tem-se uma centralidade metropolitana consolidada e demais áreas urbanas de multicentralidade, o que resulta na segregação sócio espacial do município. Este cenário mostra a necessidade de conexão entre os fragmentos da cidade com falha de estruturação e atendimento, valorizando suas potencialidades e consolidando uma nova centralidade na área Norte da Ilha, a qual possui 41,6% da população do município. Assim, a intervenção tem como objetivo criar uma centralidade com habitabilidade e urbanidade, trazendo ao local novas condições de mobilidade e acessibilidade urbana.
Canasvieiras - Florianópolis – Santa Catarina Brasil
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A Proposta O projeto de uma centralidade urbana impunha condições acerca da qualidade do partido e da funcionalidade dos sistemas que este gera, deste modo, pensando em uma economia futura baseada no conhecimento e nas tecnologias, propõe-se espaços para produção de inovação e também disseminação do que é produzido, de maneira a promover a inovação através de uma universidade e de um centro de desenvolvimento tecnológico.
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O Subtrecho O recorte do projeto detalhado abrange parte do parque central e suas vias perimetrais. Os edifícios conformam o espaço urbano e relacionam-se diretamente com o mesmo, de maneira a resultar em eixos de locomoção, estares urbanos e pocket parks.
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Projetos acadêmicos
É través das multifacetas das camadas espaciais das edificações que se garante vitalidade e se eleva a atenção e a importância do local, de maneira a promover relações vívidas que variam entre as diversas possibilidades de leitura, vivência e deslocamento através do espaço.
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Edifícios localizados junto ao espaço aberto, criando uma relação favorável à contenção espacial e ambiência.
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Aproveitamento de águas de precipitação e águas cinzas a aplicação de painéis solares fotovoltaicos.
Mescla de usos e atividades, formando uma teia de interação social.
Relação Interespacial, convite à participação.
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Na escala das UHs de Interesse Social Tem-se os módulos, compostos em uma variedade de soluções para cada situação e necessidade. Cada unidade é dividida em área social, área privada e áreas molhadas.
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As necessidades de iluminação num ambiente estão relacionadas a uma percepção visual adequada, a qual será conseguida se houver luz em quantidade e qualidade suficientes (Mascaró e Mascaró, 1989). Considerando tais pontos e sabendo que pela proporção das aberturas a luminância ficaria prejudicada, optou-se pelo uso de prateleiras de luz, as quais, são de grande eficiência para a situação, como ilustrado nos esquemas abaixo, desenvolvidos em uma das UHs do projeto.
Uma das alternativas sustentáveis de relevância é a aplicação de painéis solares fotovoltaicos, suprindo a necessidade de energia nas áreas comuns dos edifícios.
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ARQUITETURA RESIDENCIAL RESIDÊNCIA DAVID E CAMILLE Disciplina: Projeto Arquitetônico II - 3º período
Acadêmico: Victor Fernando Loch Professores Orientadores: Carolina Pinto, Prof. Me. Arq. Urb. Carlos Alberto Barbosa de Souza, Prof. Me. Arq. Urb.
O
terceiro período do curso de Arquitetura e Urbanismo traz aos alunos o contato com um tema que muitos dos futuros arquitetos encontrarão ao longo de sua vida profissional: desenvolver um projeto residencial. Por este motivo também traz muitas expectativas para o resultado final. No semestre 2016/1, a disciplina de Projeto Arquitetônico II em associação com a disciplina de Composição Arquitetônica, solicitou que os alunos determinassem o perfil do usuário com base no filme “Nova York, Eu Te Amo” (que trata-se de diversos curtas com vários diretores, onde os personagens misturam histórias de amor, medo, humor). Um destes personagens constrói sua residência em um terreno no Morro da Cruz, Centro de Florianópolis. O terreno com grande declividade e as condicionantes legais são elementos fundamentais ao desenvolvimento do estudo em nível de ante-projeto. A disciplina de Composição Arquitetônica auxiliou no processo de elaboração do projeto com a definição de palavra-conceito e com estudos de partido volumétrico para a residência a ser proposta. Através do estudo de planos de massa, a maquete facilitou o entendimento da declividade do terreno e a volumetria. Perfil do usuário David é um músico com dificuldades para criar, está sempre atrasado e vive em meio a uma grande bagunça. Ele conhece Camille (a secretária do chefe) somente por telefone, mas quando ela vai até a casa de David, a troca de olhares deixa evidente que é um caso de amor à primeira vista. A cena termina, deixando espaço para a continuação desta história, onde o amor pode ser uma luz de recomeço na vida de David, uma fonte de inspiração e libertação, e assim poderão começar uma nova vida em uma nova casa.
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Estudos volumétricos iniciais.
Desenvolvimento da proposta O perfil do jovem casal proporciona o desenvolvimento de uma proposta de ambientes integrados e o programa de necessidades possui além dos ambientes esseciais a uma residência, a inclusão de um estúdio de música e espaço para leitura. A palavra “conceito escolhida para o projeto foi “ritmo”, que surge a partir da derivação da palavra música. O resultado arquitetônico incorpora os significados da palavra, através de movimentos e repetições formais que deem a ideia de periodicidade. Nos estudos iniciais a ideia era uma casa desconstrutivista formada por rasgos e ângulos nos telhados. A proposta evoluiu ao longo da execução da maquete volumétrica, onde foi possível compreender melhor o relevo do terreno, as formas se tornaram mais puras para se encaixarem ao longo dos desníveis, criando patamares dentro da casa.
Planta baixa pavimento térreo.
Fachada Leste.
Após os estudos volumétricos a forma resultou em uma edificação em dois pavimentos com aplicação de revestimentos em materiais naturais, formando uma composição contemporânea e respeitando o relevo. Os espaços específicos solicitados pelo “cliente” como o estúdio e o espaço de leitura ficam integrados e conectados com a casa e com a varanda. As principais vistas do terreno se encontram na fachada oeste e sudoeste, por isso foram feitos brises horizontais e verticais para proteção dos raios solares ao longo da parede envidraçada. Desta forma é possível proteger o quarto e a sala sem perder a vista do alto do Morro da Cruz. O teto verde também foi utilizado como estratégia de conforto térmico. Os desenhos foram desenvolvidos à mão com nanquim, alguns deles em papel quadriculado e a técnica de pintura utilizada foi o uso de marcadores e lápis de cor.
Planta baixa pavimento superior.
Fachada Oeste.
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Conclusão Os resultados atingiram os objetivos propostos demonstrando que as articulações entre as disciplinas permitem um aprofundamento no desenvolvimento dos estudos preliminares.
Fachada Norte.
A residência apropria-se do terreno, mas o respeita, evitando modificações muito grandes em seu relevo, valorizando a paisagem circundante.
Fachada Sul.
Perspectiva.
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PROJETO DE RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR PROJETO RESIDENCIAL: ESTUDO E ANTEPROJETO Disciplina: Projeto Arquitetônico II - 3º período Acadêmicas: Luiza Bertoncini Gamba e Viktória Soares Nunes Professores Orientadores: Eduardo Baptista Lopes, Prof. Me. Arq. Urb Rudinei Carlos Scaranto Dazzi, Prof. Me. Arq. Urb
A PROPOSTA DE PROJETO
O
projeto da residência unifamiliar composto para uma família de duas pessoas, proposta para o terceiro período do curso de arquitetura e urbanismo, na disciplina de projeto arquitetônico foi um grande desafio para os acadêmicos. O projeto deveria se encaixar num terreno extremamente estreito, que está inserido num centro urbano, ladeado por edificações de diversas linguagens arquitetônicas e tipologias diferentes, colocando em prova as estratégias que os alunos iriam utilizar para garantir conforto, originalidade e boa utilização do espaço. Além de exercitar as estratégias inovadoras exigidas pelo projeto, a residência unifamiliar coloca os estudantes do curso em contato direto com as dificuldades que serão enfrentadas na vida profissional de um arquiteto, sendo uma delas características especiais do terreno, que não devem prejudicar o resultado e a qualidade final da edificação.
Anteprojeto de residência unifamiliar O projeto localiza-se na cidade de Itajaí, litoral norte de Santa Catarina, cidade que possui um grande complexo portuário, devido ao encontro do Rio Itajaí-Açu com o mar. O lote em que o projeto foi implantado está localizado na Rua Camboriú, uma zona mista central da cidade de alta importância, com dimensões de 10,1m por 51,8m, totalizando uma área de 523,18m².
LOCALIZAÇÃO: Itajaí, Centro (Rua Camboriú).
O objetivo do projeto é aproveitar ao máximo a área do terreno de acordo com os índices urbanísticos, trazendo conforto, e empregando o bom uso das estratégias projetuais além de atender as necessidades dos usuários e apresentar características que remetam à palavra-conceito. Utilizando-se de métodos de análise de arquitetura de Simon Unwin, realizou-se um estudo sobre a Casa Smith, do arquiteto Richard Meier. O exercício da disciplina propunha que fosse escolhida uma palavra-conceito que remetesse a obra, e que posteriormente seria norteadora do projeto de residência unifamiliar. A palavra escolhida foi Contraste, uma vez que a Casa Smith, localizada em Connecticut, Estados Unidos, contrasta com seu entorno, devido à sua linguagem arquitetônica que se destaca em meio à natureza que a cerca. Posteriormente, foi definido o perfil do usuário da residência unifamiliar, um casal de confeiteiros que optou por não ter filhos, que gostam de viajar e de cozinhar para amigos e familiares. De acordo com suas características, o programa de necessidades consiste em uma grande área de lazer, sala de estar/jantar integrada com a cozinha, duas suítes, sala de cinema e uma garagem com vaga para dois carros.
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A proposta de ocupação no lote foi iniciada a partir da intercalação das volumetrias que compunham a casa, para que houvesse maior aproveitamento da luz e ventilação natural. As intercalações possibilitaram um pequeno pátio na área central da casa, que por meio da utilização de cobogós, ajuda a criar ventilação constante nos ambientes que o conformam. O local também serve como transição direta da garagem para a cozinha, para a facilitar o transporte de mercadorias e abastecimento de suprimentos dos donos da residência. ESQUEMAS DO PROJETO A sala de estar e jantar deveriam ser espaçosas, para abrigar jantares e comemorações especiais realizadas com frequência na casa. A área de lazer está presente no andar inferior e superior da residência, possibilitando diversas atividades recreativas para os donos e visitantes. No andar superior, foi projetada uma sala de cinema grande, para comportar vários visitantes. Os quartos
são igualmente espaçosos, sendo uma suíte para os visitantes da residência e outra para os donos. O andar também conta com uma área reservada para uma banheira de hidromassagem, que fica ao lado de um cômodo especial para um bar com terraço, tendo vista para a piscina e churrasqueira.
Esquemas do projeto
Corte Esquemático Pavimentos Térreos e Superior
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Planta baixa pavimento térreo
Planta baixa pavimento superior
O projeto procurou trabalhar o contraste em relação as edificações presentes em seu entorno. Em meio a duas construções de mesma tipologia, materialidade e mesmo tamanho, a residência se destaca pela utilização do preto e da madeira, com o emprego
de elementos de concreto na fachada, dando mais movimento ao projeto. Os pequenos espelhos da água acompanham a residência desde a fachada até os fundos, quebrando os estereótipos de paisagismo das residências da região.
Corte Perspectivado
Perspectiva varanda superior
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Perspectiva piscina
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Artigos cientĂficos
Artigos científicos
Configuração Arquitetônica de Escolas para Primeira Infância Ludicidade, Flexibilidade e Permeabilidade. Lauana Valentini Wichoski; Arq. Urb. Márcia do Valle Pereira Loch; Prof. Dr. Arq. Urb.
RESUMO A intenção do artigo é demonstrar um panorama sobre a evolução da arquitetura escolar infantil e apresentar alguns caminhos para contribuir com a melhoria da produção de projetos arquitetônicos de espaços escolares, facilitando o processo de ensinoaprendizagem nas escolas infantis. Apresenta considerações realizadas na pesquisa teórica que embasa o Trabalho Final de Graduação intitulado Centro de Referência para a Primeira Infância: um diálogo entre arquitetura e educação. Tem como objetivo estudar as novas lógicas arquitetônicas presentes na arquitetura escolar infantil e listar parâmetros para esta configuração espacial. Os parâmetros visam embasar partidos arquitetônicos escolares de forma a atender necessidades de interação entre edifícios, pedagogia e usuários, criando projetos voltados as necessidades do contexto, das atividades desenvolvidas e das crianças de zero a cinco anos. O estudo, dentro de uma lógica sistêmica, demonstra relações desejáveis entre a arquitetura e a educação e sintetiza parâmetros embasados por três conceitos: Ludicidade, Flexibilidade e Permeabilidade, para guiar o desenvolvimento de projetos arquitetônicos destinados às escolas de educação infantil. O processo metodológico para tal construção foi embasado na técnica de triangulação de dados entre Pesquisa Teórica, Estudos de Caso e Desenvolvimento de Anteprojeto Arquitetônico. Palavras-chave: Arquitetura escolar; Educação infantil; Parâmetros de projeto; Espaço-tempo escolar.
Introdução Este artigo apresenta considerações realizadas ao longo da pesquisa efetuada durante a etapa da fundamentação teórica que embasa o Trabalho Final de Graduação (TFG) intitulado Centro de Referência para a Primeira Infância: um diálogo entre arquitetura e educação. Este trabalho é de autoria da arquiteta Lauana Valentini Wichoski, com orientação da professora doutora Márcia do Valle Pereira Loch, realizado durante o segundo semestre de 2015 na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). A arquitetura escolar sofreu mudanças ao longo dos anos devido às novas necessidades do público alvo e das pedagogias que surgiram a partir de novas leituras e críticas ao modelo tradicional de ensino (LOCH, 2007). Sendo assim, tem-se como objetivo estudar as novas lógicas presentes na arquitetura escolar infantil e listar parâmetros para esta configuração espacial.
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A partir da revisão teórica construída, demonstra relações possíveis entre a arquitetura e a educação. Com base nos resultados do levantamento bibliográfico realizado, sintetizou-se um grupo de parâmetros embasados por três conceitos, Ludicidade, Flexibilidade e Permeabilidade, para guiar o desenvolvimento de projetos arquitetônicos destinados às escolas de educação infantil, levando em consideração a percepção da criança. O processo metodológico para tal construção foi baseado no método de triangulação entre Pesquisa Teórica, Estudos de Caso e Desenvolvimento de Anteprojeto Arquitetônico no TFG. BREVE TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Carvalho (2008) afirma que a educação infantil iniciou sua trajetória com um caráter assistencialista, que priorizava o atendimento às mães que necessitavam de um local para
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deixar seus filhos enquanto trabalhavam, devido as mudanças na estrutura social provenientes da Revolução Industrial, no século XIX. Desta forma, a partir da pressão exercida pelas operárias que exigiam locais apropriados para deixar seus filhos, foram criados os primeiros espaços destinados ao acolhimento das crianças. No Brasil, a vinda de imigrantes no início do século XX incentivou a criação de espaços apropriados para as crianças, e nesta época foram criadas creches destinadas as crianças carentes. Por volta da década de 70, com o crescimento industrial, surge a necessidade de um lugar para os filhos da massa operária, exigindo a ampliação na oferta de creches, ainda que em caráter assistencialista. Foi a partir de 1988, com a Constituição Federal, que a educação infantil teve seu devido reconhecimento, sendo complementada em 1990 pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, garantindo o direito ao atendimento educacional para crianças de até seis anos. Nos dias atuais, a inserção da mulher no mercado de trabalho e as novas dinâmicas da sociedade contemporânea mostram que a inserção da criança no ambiente escolar vem acontecendo cada vez mais cedo. Sabe-se que a escola é o primeiro espaço que insere a criança numa experiência coletiva após a vivência no ambiente familiar, e, portanto, passa a assumir um papel importante para o desenvolvimento de sua socialização, sendo esta experiência espacial de vital importância para o desenvolvimento de sua inteligência (AZEVEDO, 2002). ARQUITETURA ESCOLAR NO ESPAÇO-TEMPO
uma definição diferente para formalizar o ambiente de ensino. A partir do século XIX, a arquitetura escolar apresentou duas tendências: de um lado, o controle e a disciplina, e de outro, as influências pedagógicas que valorizavam a criatividade e a individualidade (KOWALTOWSKI, 2011). Escolano e Frago (1998) afirmam que na educação infantil, a partir do início do século XX, rompeu-se, de certa forma, o modelo de explicação simultânea e da disposição em fileiras, trazendo a organização das atividades em pequenos grupos e introduzindo espaços mais adaptáveis, rompendo com a ideia da sala de aula como espaço fechado. Sobre o espaço escolar atual, Kowaltowski (2011) traz conceitos e tendências para projetos de ambientes de ensino, voltados para a experimentação de novos modelos, levando em consideração as novas necessidades do século XXI, como a flexibilização do espaço. A autora critica os modelos atuais que desmotivam os alunos e valorizam a autoridade, entrando em desacordo com as novas metodologias educacionais. Dentro desta perspectiva, as tendências contemporâneas indicam a humanização da arquitetura, resgatando a tradição local e enfatizando as necessidades humanas, trazendo edifícios de portes menores, utilizando a figura humana como unidade de medida ideal, resgatando o contato com a natureza e fazendo uso de variações espaciais que permitam a manipulação pelo usuário. Além disso, esta humanização pode criar um espaço coletivo que traz a imagem da comunidade, estando associada a cultura local e aos moradores do entorno, criando um sentimento de pertencimento da comunidade. RELAÇÃO CRIANÇA-AMBIENTE NO ESPAÇO ESCOLAR
Sobre a arquitetura escolar, Escolano e Frago (1998), colocam que a escola é uma criação cultural, sujeita a mudanças históricas, assim como qualquer outro tipo de habitação. Desde o início, a arquitetura escolar apresentava configurações que priorizavam a ordenação. Foucault (1998 apud KOWALTOWSKI, 2011), referindo-se a sociedade panóptica submetida a um controle invisível, mostra que a organização dos espaços e a ordenação por fileiras imprimem valores de obediência, transformando a escola e a sala de aula em um espaço de vigilância, onde a disciplina assumia o controle dos alunos. Kowaltowski (2011) afirma que a evolução da arquitetura escolar está diretamente ligada à história da humanidade. Na Idade Média, o desenvolvimento dos ofícios traz a necessidade de um suporte físico para as atividades de ensino, tendo nos monastérios uma referência para as primeiras edificações escolares na Europa. Já na Revolução Industrial, novas demandas exigiram
Compreender a relação criança-ambiente é fundamental para projetar espaços que dêem suporte ao desenvolvimento infantil. Conforme consta nos estudos de Piaget (1978 apud GARDNER 1994), o desenvolvimento cognitivo da criança é construído a partir das interações do sujeito com o meio que o cerca, onde a criança, principalmente em seus primeiros cinco anos de vida, aprende a partir de suas ações e estímulos que recebe. Compreender a teoria de Piaget é importante para entender a interação entre a criança e o ambiente, pois este pode vir a estimular seu desenvolvimento e contribuir para sua aprendizagem futura. Piaget tinha claras críticas à escola tradicional, pois segundo ele, os sistemas educacionais muitas vezes objetivam acomodar a criança aos conhecimentos tradicionais, sem incentivar a formação de inteligências inventivas e críticas.
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Santos (2011) afirma que a inteligência da criança pode ser afetada pela interação com o espaço, principalmente nos primeiros anos de vida, de forma que a experiência espacial influencia no processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil, não somente no aspecto intelectual, como também no físico e sócio emocional. Existem pesquisas que reconhecem a importância de se estabelecer uma relação positiva entre o projeto arquitetônico e a proposta pedagógica, de modo a favorecer a criação de espaços propícios para o desenvolvimento infantil, estimulando e criando condições para a identificação da criança com o ambiente escolar (LOCH, 2007). EDUCAÇÃO INFANTIL NA ATUALIDADE Para reforçar a literatura acerca da arquitetura voltada para a educação infantil na atualidade, a pesquisa realizada baseou-se em duas abordagens para referenciar suas construções de Parâmetros para Arquitetura Escolar Infantil. Tais abordagens envolvem a Abordagem Educacional de Reggio Emília e a Neuroeducação, ambas apresentadas a seguir. ABORDAGEM EDUCACIONAL DE REGGIO EMÍLIA O programa educacional desenvolvido na cidade italiana de Reggio Emilia foi reconhecido internacionalmente em 1991 como uma das melhores experiências educadoras do mundo, e, a partir de teorias psicopedagógicas de Jean Piaget, John Dewey, Lev Vygotsky e Maria Montessori, tem Loris Malaguzzi como principal articulador do movimento. Atualmente, a abordagem de ensino de Reggio Emilia encontra-se totalmente sistematizada e difundida pelo Instituto Reggio Children - Centro Internacional pela Defesa e Promoção dos Direitos e Potencialidades de Todas as Crianças (RINALDI, 2012). Sá (2010) afirma que nessa abordagem a construção pedagógica se concretiza dentro de uma perspectiva sócio construtivista, onde as relações de ensino-aprendizagem se dão a partir do relacionamento entre crianças, pais e professores. A arquitetura é um dos aspectos mais relevantes da abordagem educacional de Reggio Emília, pois ao ambiente é atribuído um grande valor educativo. Os educadores veem o espaço como um ambiente de interação social, que deve ser carregado de estímulos para desenvolver a aprendizagem. Por meio da arquitetura das escolas, busca-se um diálogo entre interior e exterior, favorecendo as conexões através do uso intenso de transparências, paredes vazadas e níveis distintos, de modo a permitir a observação a partir de várias alturas e ângulos. Os principais fatores dessa abordagem podem ser sistematizados no Quadro 1. 122
NEUROEDUCAÇÃO A neuroeducação se apresenta como um novo campo de estudos dentro da educação, embasada no conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, na tentativa de melhorar e aperfeiçoar os processos de aprendizagem. Com o conhecimento da neurociência a respeito da emoção, curiosidade, atenção, consciência, processos mentais, aprendizagem e memória, relaciona-se a eficiência do ensino-aprendizagem, ajudando a fazer um melhor uso destas ferramentas. Segundo Mora (2010), o ambiente que cerca a criança se torna o primeiro “professor”, onde estímulos sensoriais como cores, formas, movimentos, odores, sons, texturas e sabores, ativam e estimulam o processo de aprendizagem. Dentre algumas considerações feitas pela neuroeducação, o controle da iluminação, ruído, temperatura e de qualquer elemento que possa produzir distrações em salas de aula se mostram muito importantes para potencializar o rendimento mental, influenciando o funcionamento do cérebro. Questionando a arquitetura das escolas, que muitas vezes não respondem aos requisitos do processo cognitivo e emocional das crianças, a neuroeducação propõe o estudo de novas perspectivas para romper com os espaços de educação “secos” e convertêlos em espaços “humanos”, promovendo formas inovadoras, que dialogam com o entorno e meio ambiente, contemplando iluminação, temperatura e ruídos adequados, fazendo com que as crianças se sintam bem no ambiente de ensino, oferecendo um espaço estável, estimulante e protetor, que pode contribuir para um ensino eficaz. METODOLOGIA O artigo trabalha dentro da lógica sistêmica, pois busca as interrelações entre a configuração arquitetônica da edificação escolar, a abordagem pedagógica adotada e a percepção espacial da criança. O tipo de pesquisa é exploratória, caracteriza-se como qualitativa e utiliza o processo descritivo. Realiza levantamento
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Quadro 1: Principais fatores da abordagem Reggio Emilia. Fonte: WICHOSKI, 2015, adaptado de RINALDI, 2012.
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bibliográfico em fontes diversas que discutem o tema e fenômeno em estudo. O processo metodológico para construção e síntese dos parâmetros foi estruturado na técnica de triangulação entre Pesquisa Teórica, Estudos de Caso e Desenvolvimento de Anteprojeto Arquitetônico no TFG. Após o estudo teórico que envolve a pesquisa e os estudos de caso, o conhecimento foi aplicado no desenvolvimento do projeto arquitetônico de uma escola para primeira infância no TFG, finalizando o processo de estudo e aplicação do conhecimento para formatação dos parâmetros de projeto desenvolvidos.
ESTUDOS DE CASO: ARQUITETURA ESCOLAR INFANTIL NA ATUALIDADE Dentre as ferramentas metodológicas necessárias para construção dos parâmetros propostos, o entendimento de edificações que abordassem as questões das pedagogias não tradicionais tornou-se essencial, e, assim, estudos de caso foram realizados. Os critérios para escolha das escolas analisadas foram projetos cujas edificações trabalhassem o lúdico, a relação interior/exterior e a flexibilidade. Tais critérios foram fundamentais para o entendimento das interrelações entre pedagogia, arquitetura e criança. Dos cinco estudos de caso apresentados neste artigo, itens relevantes foram listados no intuito de focar a reflexão e o processo de projeto nos elementos que dialogassem com os conceitos de projeto estudados. O Quadro 2 apresenta um quadro resumo dos estudos de caso realizados. CONCEITOS DE PROJETO Diante dos estudos efetuados selecionaram-se conceitos importantes que visam embasar as novas configurações arquitetônicas para a educação infantil. Com o atendimento das necessidades mínimas estabelecidas pela legislação vigente, é importante compreender que o ambiente escolar vai além do funcionalismo, não sendo
Quadro 2: Síntese dos Estudos de Caso. Fonte: WICHOSKI, 2015.
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apenas um cenário onde se desenvolve a educação, mas também um “programa educador, como um elemento do currículo invisível ou silencioso” (FRAGO, 1998). Portanto, a partir da compreensão da importância do ambiente para desenvolver as relações de ensino-aprendizagem, chega-se a três conceitos que se tornam a essência da humanização do edifício escolar para a primeira infância. A definição dos conceitos explorados encontra-se a seguir: LUDICIDADE: A ludicidade está ligada ao jogo. Torna o ambiente mais atrativo e estimulante para a criança, promovendo nos espaços internos e externos, o surgimento de atividades e situações lúdicas, como a diversidade de locais para exploração, aprendizado e brincadeira, percursos mais divertidos, espaços para performances e uso de texturas, cores e materiais diversificados (SANTOS, 2011). FLEXIBILIDADE: A flexibilidade deve permitir diversas configurações do espaço, de modo a permitir a transformação do espaço de acordo com a necessidade, acomodando uma variedade de formas de ensino-aprendizagem, articulando formas e espaços, trazendo uma diversidade de elementos articuladores que favoreçam a aprendizagem, permitindo ampliações e expansões futuras (SANTOS, 2011).
Um projeto voltado ao usuário, no caso da criança entre 0 a 5 anos, atende sua estrutura cognitiva, assim como respeita a escala da criança e sua relação simbólica com o espaço. Neste sentido, a ludicidade é fundamental para atender o público das escolas da primeira infância. A flexibilidade, por sua vez, permite que a criança crie novas apropriações espaciais e, desta maneira, desenvolva as diversas formas de inteligências existentes, além das questões lógicas e racionais. Já a permeabilidade, ou seja, a relação espacial entre o espaço interno e externo, expande os limites da criança e acentua as noções de liberdade, mesmo em uma edificação onde a segurança e privacidade são essenciais para a idade do usuário. Tais conceitos geraram uma lista de itens que, quando atendidos nos projetos arquitetônicos escolares, podem vir a garantir a qualidade espacial necessária para transformar a edificação. Os itens podem ser verificados na Figura 1. PARÂMETROS DE PROJETO ARQUITETÔNICO DESTINADO ÀS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL O processo metodológico para construção de parâmetros foi baseado no livro Arquitetura Escolar: O projeto do ambiente de ensino, da pesquisadora Dóris Kowaltowski (2011), que apresenta 32 critérios de projeto desenvolvidos a partir de literaturas estrangeiras que visam enriquecer a experiência humana no ambiente de ensino, criando orientações de projeto universais, que servem como um ponto de partida para projetos. De seu livro, foram selecionados parâmetros que condizem com
Figura 1: Síntese dos Parâmetros Construídos. Fonte: WICHOSKI, 2015.
PERMEABILIDADE: A permeabilidade transmite a ideia de uma aprendizagem visível, estabelecendo relações entre os espaços e criando diversas possibilidades de visibilidade e apropriação dos mesmos, promovendo a conectividade entre os espaços internos, externos, abertos e fechados, permitindo a expansão de horizontes da criança e a sua relação com os demais ambientes,
articulação de espaços com vistas interessantes e a entrada de luz e ventilação natural (SANTOS, 2011).
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Figura 2: Síntese dos Parâmetros Construídos. Fonte: WICHOSKI, 2015.
o espaço escolar infantil, enquanto que para a abordagem de Reggio Emília e a Neuroeducação, foram elaborados preceitos próprios a partir da leitura e síntese dos conceitos dos livros de Ceppi e Zini (2013) e Mora (2010). Os parâmetros, que podem ser visualizados na Figura 2, funcionam como diretrizes arquitetônicas básicas, guiando a elaboração de projetos arquitetônicos destinados às escolas de educação infantil a fim de promover espaços educativos que promovam experiências espaciais de qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve a intenção de apresentar um panorama sobre a evolução da arquitetura escolar infantil e apresentar alguns caminhos para contribuir com a melhoria da produção de projetos arquitetônicos de espaços escolares e do processo de ensino-aprendizagem nas escolas infantis. Para isso, foi necessário compreender o universo pedagógico em que a educação infantil está inserida, bem como o universo da própria criança. Apesar de intensos estudos e debates sobre a arquitetura escolar, como colocado por Faria (2012) e verificado durante a elaboração dos estudos apresentados, no Brasil, a prática ainda não reflete as necessidades das novas pedagogias e das novas demandas do século XXI. Quando se trata da rede pública de educação infantil, ainda existe o reflexo dos códigos e legislações que resultam em espaços de ensino silenciosos, onde predomina a disciplina, a segregação e o controle, não acolhendo e não promovendo a criatividade, as múltiplas inteligências e a liberdade daqueles que frequentam o ambiente escolar. A arquitetura escolar sofreu e vem sofrendo diversas mudanças ao longo do tempo, agora, cabe aos arquitetos, educadores e comunidade o debate para a criação de espaços físicos adequados às dinâmicas do ensino infantil.
Conclui-se enfim, que os intuitos deste artigo foram alcançados, pois o mesmo descreve a evolução da arquitetura escolar ao longo do tempo e decorre sobre as mudanças da configuração espacial das edificações escolares, principalmente, as voltadas a primeira infância. Também apresenta estudos conceituais para embasar partidos arquitetônicos escolares de forma a atender necessidades de interação entre edifícios, pedagogia e usuários, criando projetos voltados as necessidades do contexto, das atividades desenvolvidos, e, principalmente, a criança. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, G. A. N. Arquitetura Escolar e Educação: um modelo conceitual de abordagem interacionista. 2002. 236 pg. Tese. (Doutorado em Engenharia). Rio de Janeiro, 2002. CARVALHO, T. C. P. Arquitetura escolar inclusiva: construindo espaços para a educação infantil. 2008. 342 pg. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2008. CEPPI, G.; ZINI, M. Crianças, espaços, relações: como projetar ambientes para a educação infantil. Porto Alegre: Penso, 2013. ESCOLANO, A.; FRAGO, A. V. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. FARIA, A. B. G. Por outras referências no diálogo arquitetura e educação: na pesquisa, no ensino e na produção de espaços educativos escolares e urbanos. Em Aberto, Brasília, v. 25, n. 88, p. 99-111, jul./dez. 2012. GARDNER, H. A Criança Pré-Escolar:como pensa e como a escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1994. KOWALTOWSKI, D. C. C. K. Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. LOCH, M. V. P. Convergência entre Acessibilidade Espacial Escolar, Pedagogia Construtivista e Escola Inclusiva. 2007. 269 pg. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. MORA, F. Neuroeducación: solo se puede aprender aquello que se ama. Madrid: Alianza Editorial, 2010. RINALDI, C. Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012. SÁ, A. L. Um olhar sobre a abordagem educacional de Reggio Emilia. Revista Paidéia, Ano 7, n. 8 p. 55-80 jan./jun. 2010. Universidade FUMEC, Belo Horizonte, 2010. SANTOS, E. C. Dimensão lúdica e arquitetura: o exemplo de uma escola de educação infantil na cidade de Uberlândia. 2011. 362 pg. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011. WICHOSKI, L. V. Centro de Referência para a Primeira Infância: um diálogo entre arquitetura e educação. 2015. Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Vale do Itajaí. Balneário Camboriú, 2015.
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Evolução histórica da verticalização de Balneário Camboriú Orla da praia e área central da cidade. Autores: Anderson Beuting, Acad. Arq. Urb Bruno César Volpato Martins, Arq. Urb Jânio Vicente Rech, Prof. Dr. Arq. Urb
RESUMO Balneário Camboriú localiza-se em Santa Catarina, conta com 108.089 habitantes (IBGE 2010) e área territorial de 46 km², com 100% desta área em perímetro urbano. Este trabalho tem como objetivo o mapeamento e a análise da evolução histórica da verticalização, relativa a distribuição espacial dos edifícios na área central do município e dos índices urbanísticos presentes nos Planos Diretores vigentes desde a sua emancipação em 1964, como também, dos dados estatísticos demográficos dos censos ao longo desde período, levantados junto à prefeitura municipal e ao IBGE. Os resultados demonstram a crescente verticalização em bairros contíguos ao centro, a partir do desenvolvimento da orla e do aumento das populações fixa e flutuante, e consequentemente a demanda por novos empreendimentos – algo que já é visto como característica única de Balneário Camboriú no contexto em que está inserida. Palavras-chave: Plano Diretor. Verticalização. Evolução Histórica. Introdução Balneário Camboriú, cidade litorânea de Santa Catarina, famosa nos dias atuais por suas torres de apartamentos e por um turismo ativo na alta temporada, é relativamente nova. Fundada em 1964 a partir da emancipação junto ao município de Camboriú, possui hoje características morfológicas únicas, quando comparada a cidades litorâneas próximas. A economia gira em torno do turismo, ligado principalmente a Praia Central. Os diversos edifícios de apartamentos de alto padrão atraem os mais diferentes compradores, que fazem da cidade uma segunda casa durante o verão. Isto faz a população aumentar de tal maneira, que durante as festas de fim de ano a cidade chega a receber mais de 1 milhão de visitantes – quase 10 vezes a população atual do município – fazendo com que a cidade possua uma das maiores densidades demográficas do país durante o verão (IBGE, 2010).
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A colonização do sítio antecede muito a emancipação do município em 1964. Colonizadores açorianos datando de 1826 começaram povoando a região da atual cidade de Camboriú. Posteriormente, famílias alemãs chegaram, e foi neste momento que se formou uma pequena aldeia chamada “Arraial do Bom Sucesso”. As primeiras famílias a ocuparem o litoral se utilizavam da pesca como fonte principal de sustento e obtenção de alimento e se assentaram onde hoje encontra-se o bairro da Barra, local de grande importância histórica para o município. A localização naquela época era imprescindível – os grandes morros davam proteção contra os ventos e também causavam um bloqueio visual impedindo que os assentamentos fossem avistados de longe – e ainda hoje podem ser encontrados no local, grupos de pescadores morando em pequenas casas nas margens do Rio Camboriú.
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Em 1964, acontece a emancipação do município junto a Camboriú, e Balneário Camboriú é inserida no mapa, cidade que ao longo de seus 52 anos de história teve um desenvolvimento muito rápido de moradias e infraestrutura. Desenvolvimento este que não era regulamentado antes de 1970, data do primeiro Plano Diretor da cidade. Com a finalização da BR-101 em 1971, Balneário Camboriú, que já era alvo de turistas das cidades próximas, torna-se agora mais acessível a todo o estado, a região sul e a países vizinhos – Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile - visto que a rodovia corta a cidade no sentido norte-sul. A partir deste momento a ocupação passou a se densificar, tanto pelo aumento da procura imobiliária pelos turistas, quanto pelo aumento da população fixa da cidade e de seu poder aquisitivo. A partir de 1971 existiam leis que, de alguma forma, eram capazes de regulamentar a ocupação e o adensamento da cidade.
Ficou estabelecido, no parágrafo 1º do Art. 182 da Constituição Federal Brasileira de 1988, a obrigatoriedade de cidades com mais de 20 mil habitantes de possuírem um Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal e transformado em lei. Este seria o instrumento principal que regularia a política de desenvolvimento e expansão urbana. Para SABOYA (2007), o plano diretor é um documento – lei – que cobre todos os objetivos que se deseja alcançar em um determinado período de tempo em um município, trazendo à tona diretrizes que devem ser utilizadas como base num desenvolvimento urbano saudável, que finalmente ajudem na concretização dos objetivos principais iniciais. Hoje mais do que nunca, o plano diretor é indispensável para que uma cidade se desenvolva da melhor maneira possível, visando sempre boa qualidade de vida, infraestrutura adequada, mobilidade fluída, entre outras. Características estas que tornam uma cidade boa para morar. O plano age como um guia que vai além da própria administração do município – quando aprovado, torna-se lei, e deve ser cumprido como tal – de modo a criar um sistema de desenvolvimento e planejamento urbano, um sistema com objetivos e diretrizes que auxiliam profissionais da área a utilizá-lo da melhor maneira possível. Deve, sem exceções, ser revisado em um período de no máximo 10 anos, de modo a gerar um fluxo de planejamento contínuo, que ao mesmo tempo se adapte aos cidadãos e suas necessidades e crie um padrão que distinga a cidade em meio a tantas outras.
© Instituto Silva Paes ISP / Marcus Quint / 2011
Este estudo proporciona um aprofundamento do processo de desenvolvimento da cidade de Balneário Camboriú, comparando-se três linhas principais de estudo, quais sejam: legislações que já estiveram em vigor no município; levantamento de dados referente a localização e características dos edifícios na área estudada; e, dados de população obtidos nos censos realizados pelo IBGE. Aplicando-se estes quesitos primeiramente em áreas distintas, partindo da orla para o interior da cidade para que, posteriormente, seja possível obter uma visão ampla e fundamentada da influência das leis dos planos diretores e do crescimento populacional.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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Junto com o setor de planejamento municipal, deve fazer com que as mudanças sejam bem aplicadas, através da correta utilização dos índices urbanísticos, de modo que possa ser melhorado a cada revisão, dando continuidade as mudanças e ao desenvolvimento. A população geral tem o direito de participar e opinar nas revisões de planos diretores, trazendo consigo opiniões e situações de âmbitos locais para um contexto mais amplo, que pode futuramente modificar a maneira como toda uma região é tratada, trazendo potencialidades e deficiências que passariam despercebidas, não fossem os olhos das pessoas que convivem com o problema diariamente (Estatuto da Cidade, 2001). Balneário Camboriú é um caso atípico em que houve um alto crescimento populacional em apenas 50 anos. A alta procura – e oferta – do setor imobiliário, juntamente com o uso da praia, atrai milhares de pessoas anualmente para a cidade. Porém, com o pouco investimento em infraestrutura urbana e mobilidade, quando a população aumenta de 100 mil para um milhão de pessoas entre dezembro e fevereiro, a cidade simplesmente não consegue suportar a alta demanda. A cidade, tendo um dos maiores números de visitantes do país – em uma relação número de visitantes versus área da cidade - com foco principalmente nas faixas da Avenida Atlântica e Avenida Brasil, sofre do chamado crowding – termo em inglês que significa acúmulo de pessoas, ou amontoado – nos meses da alta temporada. Isto ocasiona desde vias congestionadas - pois não foram pensadas para tal fluxo, praia lotada e filas na maioria dos estabelecimentos. Quando se relaciona este aumento populacional repentino no mês de dezembro com a infraestrutura urbana subdimensionada disponível, chega-se a um problema. Analisando-se apenas um dos muitos aspectos da infraestrutura municipal, a EMASA (Empresa Municipal de Águas e Saneamento), responsável pelo abastecimento de água em Balneário Camboriú, possui dados que confirmam o aumento do consumo durante determinado período do ano: o consumo de água na cidade sobe de 30 milhões de litros de água por dia na baixa temporada, para
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quase 80 milhões por dia na alta temporada, entre dezembro e março. Um aumento de cerca de 165% causando interrupções no abastecimento pleno de água de toda a cidade. A situação se repete em muitos outros casos, como abastecimento de energia e coleta de esgoto. O que parece é que a infraestrutura disponível ainda é insuficiente para a alta densidade populacional que se obtém na alta temporada. Há uma divergência entre os investimentos e as necessidades da população, que acaba sendo prejudicada por tais acontecimentos. Outro fator importante que se pode analisar e relacionar com a expansão imobiliária e crescimento populacional é a questão da mobilidade urbana. Balneário Camboriú tem registrado 84.610 veículos urbanos (DETRAN, 2016) porém, juntamente com a frota flutuante, este número chega perto de 100 mil veículos. O resultado se vê nas ruas: tráfego intenso nas avenidas principais da cidade, gerando congestionamentos intermináveis. Devido ao desenho da malha urbana da cidade, muitas vezes ruas locais, que serviriam apenas para acesso das residências, agora servem de atalhos entre os congestionamentos, na esperança de cortar caminho. Isto acaba diminuindo a segurança nestas ruas locais, onde agora veículos passam em alta velocidade, causando grandes transtornos aos moradores. Por ser uma cidade turística, Balneário Camboriú ainda não está preparada com um plano de mobilidade eficiente. A cidade possui ciclovias, em diversos pontos, porém a grande maioria não é conectada não fechando um circuito, fazendo com que o ciclista tenha que atravessar ruas e avenidas em meio aos carros, para chegar a outro trecho da ciclovia. Balneário Camboriú é uma das cidades mais ricas do Estado de Santa Catarina e uma das que mais atraem turistas. Com a implantação de um eficiente sistema de transporte público que diminua a grande frota de veículos da rua e que, ao mesmo tempo utilize os recursos disponíveis, possivelmente se alcançaria uma boa qualidade na mobilidade urbana da cidade. Com uma população crescente – a taxa de crescimento vem diminuindo ao longo dos anos, porém ainda é positiva (IBGE 2015) – e uma população flutuante cada vez maior, devido a maior atratividade gerada pelos novos empreendimentos e disponibilidade dos mesmos, Balneário Camboriú necessita de investimentos principalmente em infraestrutura que se adaptem para combinarem melhor com a densidade populacional que aumenta cada vez mais (ACIOLY e DAVIDSON, 1998). METODOLOGIA Este trabalho faz parte de um conjunto de pesquisas que está sendo – ou será – realizadas na cidade de Balneário Camboriú. O trecho compreendido por este trabalho une os segmentos de número 01 e número 02 (no mapa a seguir) e agrega toda a área da orla da cidade, compreendida entre a Av. Atlântica e Av. Brasil e também o trecho central da cidade, composto pela Av. Brasil, Av. Central, Terceira Av. e Rua 2500. Torna-se possível a compreensão do início da verticalização, ao longo da história avançando
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de projeto na prefeitura e não puderam ser analisados de acordo com dados de área construída, área total, etc. Estes apenas foram computados em uma classe a parte.
Figura 1: Mapa ilustrando as etapas de pesquisa realizadas e a serem realizadas em Balneário Camboriú. Anderson Beuting (2015)
para as áreas internas da cidade. As demais áreas marcadas correspondem as pesquisas ainda não realizadas, e estão numeradas por ordem de interesse. Estas devem acontecer nos próximos anos, tendo por fim uma única pesquisa que integre todas as demais, obtendo-se um cenário completo da verticalização na área central de Balneário Camboriú. Esta pesquisa tem como base três vertentes principais a serem analisadas: a legislação de Balneário Camboriú no que tange aos Planos Diretores e Códigos de Obras; o levantamento e análise da morfologia urbana atual (tipologia de edifícios e desenho urbano) e seu desenvolvimento na área de estudo; e, a junção dos dados com as informações de população e densidades disponibilizadas pelos diversos censos do IBGE. Num primeiro momento, realizou-se o levantamento in loco para a obtenção do nome do edifício e localização exata no mapa disponibilizado pela prefeitura. Com estas informações em mãos, realizou-se um segundo levantamento na Prefeitura de Balneário Camboriú, onde, tendo o nome correto do edifício, possibilitou conseguir as informações adicionais do projeto, como altura oficial do edifício, número de pavimentos, altura do embasamento, área total, área computada, data do projeto, entre outras. Nesta etapa foram levantados 939 edifícios com 4 ou mais pavimentos, e estes foram utilizados no estudo e na maquete digital volumétrica. Entre os 939 edifícios, 149 não continham informações
Tabela 1: Tabela síntese contendo os dados relevantes coletados durante a pesquisa. Anderson Beuting (2015)
Todas estas informações foram então agrupadas e organizadas em uma tabela para posterior referência (Tabela 1), iniciando-se a etapa de mapeamento das informações. Para a melhor interpretação e visualização dos dados, os 939 edifícios foram organizados em 11 grupos de acordo com a data do projeto, sendo estes: 1964-1970, 1971-1975, 1976-1980, 1981-1985, 1986-1990, 1991-1995, 1996-2000, 2001-2005, 2006-2010, 2011-2013, e por fim uma categoria com os edifícios onde as informações necessárias não estavam disponíveis. Para se obter dados de população precisos, como densidade populacional do local e residentes fixos, foram consultados os censos do IBGE dos anos de 1970, 1980, 1991, 1996, 2000, 2007 e 2010. Com os dados em mãos, chega-se a conclusões de como se deu a ocupação da área estudada e como a morfologia urbana, junto com as legislações municipais, alteraram a forma como a cidade se desenvolveu. RESULTADOS E DISCUSSÕES Anterior a qualquer análise que possa ser feita sobre a verticalização na área central de Balneário Camboriú, é necessário entendermos o crescimento populacional pelo qual a cidade passou. Foi a partir da década de 1970 que Balneário Camboriú passou a acolher cada vez mais turistas à suas praias, e entrou de vez no cenário nacional como destino turístico na Região Sul do Brasil. Segundo dados do IBGE (2010), em dez anos a população de Balneário Camboriú praticamente dobrou, passando de 10.839 habitantes em 1970 para 21.854 habitantes no ano de 1980, um crescimento de 101,62% em 10 anos - como mostrado no gráfico abaixo. A população tem aumentado desde então, porém a cada censo, percebe-se um declínio na taxa de crescimento populacional, chegando a 14,57% no último realizado (IBGE, 2010), o que não deixa de ser uma alta taxa, quando comparada com a taxa de crescimento da população brasileira, que foi de 0,9% segundo o censo
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de 2010. Isto pode significar uma tendência de estabilização da população fixa da cidade, algo que pode ficar mais claro nos próximos anos.
Figura 2: Mapa de densidade por setor censitário. IBGE (2010)
Gráfico 1: Crescimento populacional e taxa de crescimento relativizado de Balneário Camboriú. IBGE.
Este crescimento populacional traduziu-se também num grande aumento das atividades da construção civil no município, tanto próximo à Praia Central quanto mais afastados da praia (por conta da abertura de novas avenidas na cidade como a Terceira e a Quarta Avenida). Ao mesmo tempo, o número de turistas também aumentava consideravelmente. Portanto, as novas residências construídas também apresentavam como finalidade abrigar os visitantes da cidade. Ao perceber estas necessidades, a Prefeitura Municipal passou a intervir legalmente, através do instrumento do Plano Diretor, para buscar melhores formas de crescimento para o município, de acordo com seu planejamento, seus interesses e suas expectativas. O aumento do número de visitantes ao longo dos anos, aliado com o crescente setor da construção civil, levou a construção de moradias que servissem o propósito de abrigar as pessoas que visitavam a cidade, além de abrigar sua população fixa. Um maior número de visitantes significou uma demanda maior de moradias, e devido a isto, ouve um grande aumento no número de novas construções nas últimas décadas. Estes edifícios de uso sazonal eram, em sua grande maioria, construídos nos locais mais valorizados e com a melhor vista – com o objetivo de atrair mais visitantes – sendo principalmente localizados na faixa entre a Avenida Atlântica e a Avenida Brasil (fazendo frente com o mar). Contendo apartamentos de veraneio, estes edifícios são utilizados principalmente entre os meses de novembro e março, permanecendo fechados durante o restante do ano. Sendo assim, as unidades habitacionais contidas neles não são computadas pelo IBGE no cálculo da densidade do município, e ficam evidenciados no mapa de densidade por setor censitário acima a direita:
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A partir do mapa, pode-se concluir que a área com a menor densidade (regiões amarelas possuem menor densidade, e regiões escuras com densidade mais elevada) na região central é a faixa da orla, compreendida entre as Avenidas Atlântica e Brasil, apesar desta mesma área ser a que mais possui edifícios construídos, algo que já vem acontecendo a muito tempo na história da cidade, como demonstrou este levantamento. Por outro lado, percebe-se que as áreas com maior densidade são as áreas compreendidas entre as Avenidas Brasil e Terceira, pois são nestas áreas que se encontra a maior parte da população fixa do município, assim como nas regiões adjacentes, compreendidas pelo Bairro das Nações e Bairro dos Municípios. Nestes locais, o preço dos apartamentos, em geral, é mais baixo, devido a distância em relação à praia, gerando uma maior procura destes apartamentos, por pessoas de renda mais baixa. Nestas áreas mais afastadas da Praia Central, a especulação imobiliária ainda não existe com tanta força como existe nas regiões voltadas ao mar. Porém, com o aumento do número de visitantes e uma demanda ainda maior de moradias para o verão, percebe-se uma internalização da especulação imobiliária, e consequente verticalização para áreas que antes não eram valorizadas. Este tipo de comportamento já não é novo na cidade de Balneário Camboriú e se repete desde a sua emancipação em 1964, quando o número de visitantes passou a ser computado. Foi logo em 1970 que a Prefeitura Municipal viu-se no dever de intervir no crescimento desordenado da
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cidade, através da implantação de leis que pudessem controlar a construção de novos edifícios na cidade. A primeira legislação existente no município que trouxe diretrizes de zoneamento de uso do solo foi a Lei nº 128/70. Estas diretrizes que guiariam a construção de edifícios, de modo que os órgãos públicos pudessem ter um controle do que acontecia. Aplicada na área de estudos, esta trouxe um Coeficiente de Aproveitamento - CA para edificações multifamiliares de 1,2 – o que resulta em uma densidade de aproximadamente 234 hab/ha - considerando todas as áreas do edifício computáveis a este coeficiente, e permitindo o gabarito livre. Atualmente, o zoneamento de uso do solo no município é definido pela Lei nº 2794/08, em vigor até que a nova lei do Plano Diretor seja aprovada (que se encontra em revisão desde 2014). Esta permite um CA na área de estudo de 6 (densidade de aprox. 1.170 hab/ha), incluindo neste índice, bônus adquiridos através de instrumentos urbanísticos, como a Outorga Onerosa e a Operação Urbana Consorciada. Para o cálculo da área permissível, são consideradas as unidades comerciais e residenciais, incluindo sacadas e paredes, apenas. Já em relação ao gabarito, é mantida a restrição de 70º do edifício em relação ao eixo da via, e o embasamento da edificação passa a ter um limite máximo de 16m de altura. Essa evolução dos índices urbanísticos e das áreas computáveis ou não ao Coeficiente de Aproveitamento pode ser observada mais claramente na tabela a seguir:
Tabela 2: Índices urbanísticos dos Planos Diretores e Código de obras de Balneário Camboriú. Bruno César Volpato Martins (2013)
Os índices urbanísticos adotados ao longo dos Planos Diretores, juntamente com suas aplicações, foram determinantes na caracterização dos diferentes edifícios construídos ao longo dos anos na área. Com o passar dos anos, estas características foram mudando. Apesar de o coeficiente de aproveitamento ter diminuído, áreas como pavimento térreo, pavimento de garagem e pavimento de lazer foram retirados do cálculo do coeficiente de aproveitamento. Isto encerrou a necessidade de grandes terrenos para que se pudesse construir grandes edifícios e consequentemente, aumentou o número de edificações surgiram, uma vez que terrenos menores eram mais facilmente comercializados. Este fato contribuiu também para uma crescente média de altura dos edifícios ao longo dos anos. No início dos anos 2000, a legislação municipal passou a adotar mecanismos definidos para o plano diretor vigente, que permitiam um aumento do coeficiente de aproveitamento para os empreendimentos. Também introduziu o ‘Fator K’, que é o Coeficiente para o cálculo da quantidade máxima de unidades habitacionais por lote. A inclusão destes mecanismos, aliados à tendência de poucas unidades habitacionais por pavimento, diminuindo a área de cada pavimento habitável e a manutenção das áreas não-computáveis ao coeficiente de aproveitamento existente, fez com que cada vez mais as torres pudessem atingir maiores alturas. Pode-se analisar a evolução da verticalização da orla da Praia Central também pela quantidade de edifícios construídos na área ao longo dos anos. Dentre as edificações que tiveram suas informações levantadas, percebe-se que o número de edifícios construídos apresenta duas distintas fases: uma de acréscimo deste número, e outra com um decréscimo. Se até o ano de emancipação do município a Praia Central possuía apenas quatro prédios construídos, Balneário Camboriú viveu três décadas com um grande crescimento do número de edifícios existentes na área, em que no período entre 1991 e 1995 chegou-se a construir cerca de 158 edificações verticais na área de estudo. Após este período este número foi decrescendo gradativamente, porém contando com uma quantidade ainda significativa de edifícios sendo construídos, mesmo com a escassez cada vez maior de grandes porções de terra para tais empreendimentos, o que levou a demolição de antigas edificações para a construção de novos edifícios. A partir dos dados levantados nesta pesquisa foi possível perceber a grande quantidade de edifícios construídos recentemente na cidade. Em um período de baixa atividade na construção civil pouco depois de sua emancipação, a cidade de Balneário
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Artigos científicos
Camboriú possui mais de 150 edifícios em construção (PMBC, 2014). Este número é distribuído pela cidade e não concentrado na área de pesquisa, mas é alto em consideração a área territorial reduzida do município e a situação consolidada dos edifícios na área central. Chega-se à conclusão que a tendência é que os edifícios mais antigos sejam eventualmente substituídos por grandes torres de apartamentos, visto que o público turístico tem aumentado ano após ano e os investimentos de construtoras são cada vez mais vultosos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACERVO HISTÓRICO DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ. Fotos - Balneário 1960/2011. Blogspot, 2011. Disponível em: <http://fredericarichter.blogspot.com.br/2011/03/ arquivo-historico-mostra-balneario.html>. Acesso em: 27 jan. 2015. ACIOLY, C; DAVIDSON, F. Densidade urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Com uma história recente e um apelo turístico desde sua emancipação, Balneário Camboriú passou por um desenvolvimento e crescimento populacional muito rápido, chegando a abrigar mais de um milhão de pessoas durante o verão. O alto fluxo de turistas desencadeou um processo de ocupação e verticalização com mais habitações e locais de entretenimento para os turistas, e o início desta ocupação foi realizado sem que um plano diretor fosse implementado. Apenas em 1970 foi aprovada a primeira lei na cidade que buscava restringir e orientar a construção de novos edifícios com restrições de área e gabarito. A evolução destas leis ao longo dos anos foi guiando o desenvolvimento e verticalização da cidade, de modo único na região, tal que hoje Balneário Camboriú possui uma paisagem urbana diferente de todas as praias da região. Altas torres de apartamentos de veraneio criam um “paredão de concreto” na orla da praia, e esta mesma verticalização está se espalhando para as demais áreas do município, como na área de estudo, onde edifícios mais altos foram destaque nos últimos anos. Nesta pesquisa percebe-se o quão rápido Balneário Camboriú cresceu. Estas análises são importantes, pois abrem opções a serem consideradas para o entendimento da cidade como um organismo vivo, mutante e dinâmico. Entender como a cidade se formou é fundamental para prever o que deve ser feito no futuro e auxilia na elaboração de Planos Diretores sempre mais eficientes, que visam um desenvolvimento sustentável da cidade a curto e longo prazo, de maneira coerente com os recursos disponíveis e com investimentos em infraestrutura. Balneário Camboriú está passando agora por um processo de revisão de plano diretor, e pesquisas como esta são importantes neste processo. É preciso entender como a cidade se formou para que seja possível orientar um desenvolvimento sadio que vá ao encontro com as expectativas econômicas e turísticas da região. Pesquisas com esta temática são escassas dentro do universo
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acadêmico, pois com um estudo de caso com a complexidade da situação urbana de Balneário Camboriú, é possível analisar as correlações importantes entre os trabalhos acadêmicos desenvolvidos e a cidade como se encontra.
BEUTING, A.; RECH, J. V. Evolução Histórica da Verticalização de Balneário Camboriú – SC; Polígono delimitado entre a Avenida Brasil, 3º Avenida, Avenida Central e Rua 2500. Pesquisa Científica Artigo 170/Governo SC, UNIVALI, 2015. BRASIL. Lei Federal º. 10.257. Dispõe sobre o Estatuto da Cidade. Câmara dos Deputados. Centro de Educação e Informação. Coordenação de Publicações. Brasília-DF. 2001. BRASIL. Art. 182 da Constituição Federal de 88. Dispõe sobre a Política de Desenvolvimento Urbano. Câmara dos Deputados. Centro de Educação e Informação. Coordenação de Publicações. Brasília-DF. 1988. GORGES, D.; RECH, J. V. Evolução Histórica da Verticalização de Balneário Camboríu - SC; Trecho compreendido pelas ruas 2500, 3ª Avenida, Rua 3100, Rua 3700 e Avenida Brasil. Pesquisa Científica Artigo 170/Governo SC, UNIVALI, 2016. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000. Dados demográficos do município de Balneário Camboriú-SC, 2002. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Dados demográficos do município de Balneário Camboriú-SC, 2012. MARTINS, B.C.V.; RECH, J. V. Evolução Histórica da Verticalização da Orla de Balneário Camboríu – SC. Pesquisa Científica Artigo 170/Governo SC, UNIVALI, 2014. PREFEITURA MUNICIPAL DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ-SC. Informações gerais do município. Disponível em: http://www.camboriu.sc.gov.br/. Consulta realizada em 23/04/2012. RECH, J. V. Desenvolvimento e teste de um método de análise de acessibilidade a serviços públicos de saúde, num contexto de demanda variável. PPGEC. Tese doutorado, UFSC, 2004.
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Corpo Docente univali 2016/02
Campus Balneário Camboriú Adriano Meira, Me Aílton dos Santos Junior, Dr Alcemir Medeiros da Silva, Esp Alessandra Devitte, Me Alessandra Pacheco Cavalheiro, Me Ana Carolina Reis Lozovey, Esp Ana Paula Magalhães Jeffe, Me Andrea Aguiar Kasper, Dr Andrea Luiza Kleis Pereira, Me Andréia Mara da Silveira Maia, Esp Camila Cesário Pereira de Andrade, Me Carlos Eduardo de Borba, Esp Carolina Pinto, Me Carolina Rocha Carvalho, Me Carolina Schmanech Mussi, Me Cecilia Maria Serra Garcia, Esp Cecília Ogliari Schaefer, Dr Daniel Krobel, Esp Diva de Mello Rossini, Dr Eduardo Baptista Lopes, Me Eliane Maria Benvegnú, Me Elza Aparecida de Oliveira, Me Evandro Rocha Gaspar, Esp Evaristo Marcos da Silva, Me Felipe Luiz, Esp Franciele Fantini, Me Francisco Antonio dos Anjos, Dr Gilcéia Pesce do Amaral e Silva, Dr Giovani Voltolini, Esp Giselle Carvalho, Me Gogliardo Vieira Maragno, Dr Guilherme Guimarães Llantada, Me Heloísa Figueiredo Moura, Esp Irineu Gallo Junior, Esp Jânio Vicente Rech, Dr João Luiz Pacheco, Me
José Angelo Casagrande Mincache, Esp Josildete Pereira de Oliveira, Dr Juliano Darós Amboni, Me Karine Lise Schäfer, Me Katia Maria Véras, Me Laércio Antônio Braggio, Me Lisete Terezinha Assen de Oliveira , Dr Lúcia Inês Teixeira Fernández, Me Luciana Noronha Pereira, Me Luciano Pereira Alves, Me Luciano Torres Tricárico, Dr Luís Vinícius Mundstock Porto de Souza, Me Luiz Claudio Mazzola Vieira, Me Luiz Eduardo de Andrade , Me Maicon Anderson de Souza, Esp Marcelo Galafassi, Me Márcia do Valle Pereira Loch, Dr Marcio Bittencourt, Me Marcos Paulo Berribilli, Esp Marcos Roberto Dalpiaz, Esp Maria Cristina Bittencourt, Dr Marina Martinelli Duarte, Me Marina Otte, Me Marshell Ferreira Almeida Ferraz, Me Nelson Saraiva da Silva, Dr Patrícia Trentin Colzani, Me Pedro Ernesto Andreazza , Me Rafael Alves de Campos, Me Rafael Prado Cartana, Me Rudinei Carlos Scaranto Dazzi, Me Stavros Wrobel Abib, Dr Taiana Polli, Me Teresa Cristina Botelho dos Santos, Esp Tiago Dell Agnolo, Esp Timóteo Schroeder, Me Umberto Grando Paganella, Me Yáskara Beiler Dalla Rosa, Me
Campus Florianópolis Alessandra Pacheco Cavalheiro, Me Alexandre Reis Felippe, Me Ana Paula Magalhães Jeffe, Me Andréia Mara da Silveira Maia, Esp Anna Freitas Portela de Souza Pimenta, Me Carolina Pinto, Me Cecília Ogliari Schaefer, Dr Evandro Rocha Gaspar, Esp Gogliardo Vieira Maragno, Dr Guilherme Guimarães Llantada, Me Juliano Darós Amboni, Me Katia Maria Véras, Me Lisete Terezinha Assen de Oliveira , Dr Luciano Pereira Alves, Me Luís Vinícius Mundstock Porto de Souza, Me Luiz Eduardo de Andrade, Me Maicon Anderson de Souza, Esp Márcia do Valle Pereira Loch, Dr Marcos Roberto Dalpiaz, Esp Maria Cristina Bittencourt, Dr Marshell Ferreira Almeida Ferraz, Me Rafael Prado Cartana, Me
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