ARTESTUDIO 42

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Ano X I - nº 42 | Junho / Julho / Agosto 2013

www.artestudiorevista.com.br

arquitetura & estilo de vida

A

FELICIDADE TRADUZIDA PELA

ARQUITETURA

Passado e futuro de mãos dadas

APARTAMENTO DE SOLTEIRO Um refúgio de bem estar e conforto

CONHEÇA A

TAILÂNDIA As cores e a riqueza dos detalhes

ORIENTE EM MADEIRA

Uso do material marca projeto de restaurante japonês

A VIDA NUM CASTELO

A REGRA

A importância da arquitetura na série Downton Abbey

CLARA

Como arquitetos e engenheiros vão se

adaptar á nova Norma

de Desempenho 15.575

MÁXIMO

DE PRATICIDADE

Ambiente pequeno rendeu desafio do aproveitamento do espaço

CLEAN E MULTIFUNCIONAL Residência com três níveis marca pela ausência de supérfluo e valorização do espaço

E +: Estilo Retrô, Fábrica de Vinhos Tito Silva, Acústica , Arquitetura Paramétrica e Tecnologia BIM








SUMÁRIO

Junho / Julho / Agosto 2013

DICAS & IDEIAS 24 A HISTORIA DE...

Como o metrô se tornou um importante meio de transporte

28 AMBIENTAÇÃO

Uma visita ao passado com o estilo retrô

24 ARTIGOS VISÃO PANORÂMICA 12

CONHEÇA 18 LIVRO

Dimensionamento em Arquitetura aborda relações de espaço

76 GRANDES ARQUITETOS

A história de Toyo Ito, vencedor do Pritzker 2013

A importância de brincar para a educação do arquiteto

URBANISMO 14

Rossana Honorato fala da vista desde seu sétimo andar

VIDA PROFISSIONAL 16

Dicas para a comunicação institucional

80 ACÚSTICA

Poluição sonora, um problema crescente nas cidades

84 ACERVO

O sabor de caju na Fábrica de Vinhos Tito Silva

86 VIAGEM DE ARQUITETO

As belezas e mistérios da Tailândia

ENTREVISTAS

90 ARQUITETURA E ARTE ENTREVISTA

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O arquiteto Gianpietro Sanzi fala do retail design e a contrução de uma identidade comercial

CONVERSA FRANCA 97

Fábio Sinval Ferreira, presidente do Sinduscon na Paraíba, fala sobre o mercado de imóveis no estado

SOCIEDADE REPORTAGEM 92

As novidades da Norma de Desempenho 15.575

ESPECIAL 94

Arquitetura paramétrica: a tecnologia BIM ajuda profissionais a criarem projetos tridimensionais

OUTRAS ÁREAS 100

A sólida carreira de Sebastião Vasconcelos

Em ‘Downton Abbey’, a estrela é a residência

76



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arquitetura & estilo de vida ANO XI - Junho/Julho/Agosto 2013

EXPEDIENTE Diretora/ Editora Geral- Márcia Barreiros Editor Responsável - Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores - Alex Lacerda, Débora Cristina,

Lidiane Gonçalves, Renato Félix e Thamara Duarte

Diretor de criação - George Diniz Diretora comercial - Márcia Barreiros Arte e diagramação - George Diniz / Welington Costa Fotógrafos desta edição - Diego Carneiro / MB / Cácio Murilo Impressão - Gráfica JB

QUEM SOMOS

PROJETOS NACIONAL

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INSPIRAÇÃO NA MEMÓRIA

36

CORES MASCULINAS

44

Biblioteca Brasiliana expõe acervo do empresário José Mindlin Projeto de arquitetura e interiores buscou representar a alma da cliente

Projeto de ambientação buscou refletir a personalidade do proprietário também nos materiais

O MÁXIMO DO ESPAÇO

50

Projeto de escritório uniu funcionalidade e inspiração

O SABOR DO ORIENTE 54

Projeto de restaurante japonês marca pelo uso diferenciado da madeira

NOSSA CAPA

60

A ARTE EM SEU LUGAR

72

Residência com três pavimentos é clean e multifuncional

Nossa capa: Foto: Cácio Murilo Projeto: Sandra Moura

Projeto final em universidade planeja requalificação do Centro Cultural Piollin

ARTESTUDIO é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato: +55 (83) 3021.8308 / 9921.9231 / 9957.1615

c o n t a t o a r t e s t u d i o @ y a h o o. c o m . b r c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r d i r e t o r i a @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r R. Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados João Pessoa / PB , CEP 58.025-000 @revARTESTUDIO Artestudio Márcia Barreiros

www. artestudiorevista. com. br As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site: www.artestudiorevista.com.br com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos


EDITORIAL

PASSADO E FUTURO A Norma de Desempenho NBR 15.575 levou alguns anos de debates e revisões até ter sido finalmente publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ela traça novas diretrizes para as construções e esta edição da Revista AE procurou saber dos impactos no nosso mercado. Mas o equlíbrio entre futuro e passado faz parte da vida e a ARTESTUDIO reflete essa busca. Assim, não só o estilo retrô é o tema da seção Ambiente, como um projeto que propõe uma otimização dos espaços no Centro Cultural Piollin sem perder suas características históricas – e tombadas – são assuntos desta edição. Voltando ao futuro – ou melhor, ao presente – também enfocamos a arquitetura paramétrica, um modelo cada vez mais comum de apresentar projetos de arquitetura em três dimensões. Um programa que ajuda os profissionais a tratarem suas ideias ainda no computador como se fossem edificações já prontas, no que diz respeito aos cálculos e alterações. A anos-luz das plantas feitas a lápis no papel. Esse equilíbrio está por toda a edição, nos projetos arquitetônicos apresentados e também nas nossas seções fixas, como, por exemplo, a arquitetura da série Downton Abbey e seu castelo de verdade que serve como cenário. Boa leitura!

Márcia Barreiros

Editora geral e diretora executiva

ARTESTUDIO

Colaboradores desta edição:

Renato Félix Editor de jornalismo

Alex Lacerda Jornalista

George Diniz Diretor de criação

Débora Cristina Jornalista

Wellington Costa Prod. e diagramador

Cácio Murilo Fotógrafo

Diego Carneiro Fotógrafo

Amélia Panet Arquiteta

Jean Fechine Arquiteto

Rossana Honorato Arquiteta

Lidiane Gonçalves Jornalista

Thamara Duarte Jornalista

Edu Cop Profiss. marketing 13


VISÃO PANORÂMICA

Foto: divulgação

EDUCAÇÃO DO ARQUITETO

“U

m poeta contemporâneo disse que para cada homem existe uma imagem que faz o mundo inteiro desaparecer; para quantas pessoas essa imagem não surge de uma velha caixa de brinquedos?” (BENJAMIN,W. 1985, p. 253). Esse pequeno trecho do primeiro volume de Obras Escolhidas, de Walter Benjamin, é o mote para que eu possa refletir sobre um aspecto da educação do arquiteto e, talvez, não só do arquiteto, mas de todo profissional que precisa articular diversas habilidades e conhecimentos na resolução de problemas. O que teria

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uma velha caixa de brinquedos, com a educação desse profissional? Muita coisa eu diria. Parece que tudo começa com ela ou, com o exercício da imaginação, com o aprender a ver. E, como fazem bem as crianças! Com certeza, quando possuem as condições necessárias para o seu desenvolvimento. Condições essas, que não dependem apenas de brinquedos, mas de estrutura material adequada, de condições emocionais e de uma educação que lhes estimule em vários sentidos. Quando falo de educação, não estou me referindo apenas à educação escolar, mas também, aquela primordial, que vem do seio da família.


Com isso me lembrei do prazer que tive ao ler a autobiografia do arquiteto americano Frank Lloyd Wright, conhecido por todo estudante de arquitetura como o arquiteto que projetou a “Casa da Cascata”. Num dos trechos de sua biografia, ele relata sua emoção ao brincar com blocos de madeira: “Um pequeno mundo interior de cor e forma veio apoderar-se dos pequenos dedos. Cor e padrões, no plano e no contorno. Formas escondidas atrás da aparência de todas elas”. Percebe-se o quanto foi importante para o arquiteto, durante a sua infância, ter contato com os blocos de Frederick Froebel. Eram blocos de madeira que, na sua simplicidade, possibilitaram a sua aproximação inicial com as formas e - porque não? - com os sentimentos. Na sua infância, em 1876, sua mãe Anna Wright, em visita à Filadélfia, adquiriu um jogo desses blocos para brincar com os seus filhos. Os blocos de madeira eram vendidos com instruções de uso e transmitiam a filosofia pedagógica de Froebel. Anna Wright foi à Boston tomar lições sobre essa filosofia para aprender a manuseá-los, proveitosamente, em benefício do desenvolvimento cognitivo dos seus filhos. Com as instruções recebidas e explorando as possibilidades dos

Fotos: divulgação

coloridos blocos, sua mãe despertou o futuro arquiteto que, mais adiante, seguiria pelo mundo das formas, cores, texturas, sombras, vazios e sonhos. Provavelmente para Wright a imagem sugerida por Walter Benjamin, aquela que faz o mundo inteiro desaparecer, são as reminiscências infantis relacionadas aos blocos de madeira, como ele próprio registrou em sua biografia: “As formas leves de madeira árce, com as quais se podia construir, cuja textura os dedos jamais esquecerão: a forma torna-se sentimento”. Essa experiência marcou profundamente a infância do arquiteto, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades que mais tarde seriam essenciais para a sua profissão. Nesse pequeno mundo de cor, formas e sentimentos, Wright nos conta que descobriu algo que poderia ser utilizado para contribuir com a invenção, e ser criado para essa finalidade. Os blocos Froebel e a filosofia pedagógica conduzida por sua mãe foram, respectivamente, os instrumentos, a maneira e o meio pelos quais as condições para a criação foram possibilitadas. Criar faz parte do contexto existencial da criança e, quase sempre, um pequeno estímulo é suficiente para desencadear a imaginação. No entanto, quando essa imaginação é conduzida por meios, maneiras e objetos adequados, ela passa a ter um propósito. Brincando, fazemos associações, analogias e é isso o que fazem os arquitetos, para conceberem os seus projetos. Para que o pensamento analógico possa ser explorado em toda a sua potencialidade e dentro do campo da abstração, saber ver é uma habilidade essencial para o bom desempenho desse pensamento. O saber ver, dentro da observação refletida e crítica, ou mesmo por meio da abstração, possibilita o desenvolvimento do pensamento lateral, tão importante para que possamos descobrir novas perspectivas de enxergar um problema, ou novas maneiras de encaminharmos um processo, ou ainda, uma nova visão de mundo. Saber ver é uma das principais habilidades para um arquiteto.

Amélia Panet

Arquiteta e urbanista Mestre em arquitetura e urbanismo Doutoranda em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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URBANISMO

O CANTO DE ONDE CONTO

Fotos: Rossana Honorato

O

mar é uma referência marcante no canto onde moro. O bairro foi sensivelmente batizado com um nome que traduz as suas características territoriais, felizmente sem reproduzir homenagens, reconhecíveis ou não, a personalidades imortalizadas em nossa história, sem qualquer consulta pública. Miramar é lugar com o qual eu passei a conviver há menos de dois anos. Escolhido por sua localização geográfica estratégica no ordenamento da cidade, privilegiado por uma meia distância entre o antigo centro e a praia mais famosa da cidade, Tambaú, e abastecido de serviços de bairro que dão um pouco de autonomia à vida local: supermercado, farmácia, posto de combustível, paradas de ônibus de várias linhas... Minha nova moradia foi resultado de uma busca no mercado imobiliário por praticamente dois anos. Havia mais desejo no olhar especializado da arquiteta do que poder aquisitivo para concluir a procura com satisfação. Como comprei “na planta” – como o mercado denomina a negociação antes de iniciar-se a construção –, ao conhecer o projeto, me encantei: um edifício monocromático – apesar de eu adorar as composições coloridas, eu temia esgotar o meu prazer de olhá-lo ao longo da vida –, situado em uma rua sem saída e paralela a uma grande arterial que liga o Centro ao litoral, grandes janelões, quase de piso a teto, que, mais que ventilam, abrem-se à paisagem ao redor e adornam serenamente três de suas fachadas, e uma quase perfeita área de lazer: faltam árvores, sombras naturais.

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Dezesseis andares estruturam a verticalidade do edifício onde mora esta militante, integrada à luta de ambientalistas em defesa da conservação da normativa municipal que regula o gabarito de altura das edificações na orla, e era no mais alto deles que eu desejava residir, para desfrutar por mais tempo das visuais da bela paisagem do lugar. As rédeas do bolso racionalizaram que o, rodeado de misticismos, número 7, seria bastante simpático, assim como é meu filho que nasceu em uma data recheada de números 7. A empreitada desafiadora me fez conferir, pós-instalada, a identidade privada de minha nova morada: 8 - um numeral que simboliza o infinito universal. Dia a dia, a paisagem vista do andar me convida a parar um minuto que seja ao longo do dia. Se eu quiser, posso tomar meu café da manhã mirando a linha do horizonte. E eu prossigo reconhecendo como transita o astro solar, de um equinócio ao outro ao longo de calendário anual, e sempre me surpreendendo com a súbita aparição de nosso satélite em sua maior pujança: a bela lua cheia. Vez em quando, os arredores de meu novo lar remontam a memória o bairro de minha vida: a Torre, onde vivi da infância até o ano de 2011; com rápidos e dispersos saltos por outras regiões da cidade, variando de experiências de morar, da residência unifamiliar à coletiva. Em minha vizinhança, há um grande parque adornando a vista do litoral à frente: o Jaguaribe, lamentavelmente engolido, pouco a muito, pelo processo de expansão urbana sem planejamento e sem uma deferência aos reinos da natureza.


Da janela de meu quarto-escritório também paro, quando em vez, para observar a comunidade Yayá Amorim, uma das zonas especiais de interesse social da cidade, que parece assustar parte de meus vizinhos, mas, para mim é motivo de muita curiosidade e de oportunidade de “praticação” democrática, por me fazer escutar um repertório musical que vai do funk ao brega, do sertanejo ao rap e ao romântico popular. Noutras circunstâncias, brigas de vizinhos mais parecem vozes emitidas por novelas globais, as mais dramáticas. Se o silêncio ainda impera em meu lugar, já me deixam perplexa as recentes autorizações de adensamento do uso do solo em uma rua tão curta e sem saída. Um outro residencial multifamiliar e uma instituição pública recém-instalada ao lado de um edifício educacional demonstram conflitos nascentes, em tão pouco tempo, da falta de controle do potencial construtivo do bairro; ao contrário do que eu imaginara garantir uma rua sem saída: a não atração exercida sobre parte das pessoas. Em minha varanda, um sinaleiro diariamente transmite mensagens dos ventos. Sinto que ele acalma minha pequena família e agrada os ouvidos das amizades que me visitam sem cerimônias. Em minha morada tento exercitar novas relações de sociabilidade; antes negadas em minha juventude. A proximidade da comunhão da vida em habitações coletivas me incomodava. Hoje, eu desconstruo o desconforto anterior com um exercício diário de alteridade frente a tantas realidades familiares distintas, acomodadas sobre um “mesmo” teto. Também curto diariamente a pequenina pessoa que cresce no apartamento ao lado. Procuro priorizar as reuniões e festas do condomínio e desenvolvo um esforço de disciplina que esse jeito de morar obriga. Moro na cidade em que nasci: João Pessoa, capital do estado da Paraíba, e me regozijo somente com o fato de a ela pertencer. Território carregado dos mais diversos contrastes se reúne às singularidades do lento desenvolvimento socioeconômico do município e da, relativamente recente, expansão urbana que ainda resguarda parte da fisionomia de sua geografia, que mistura rios a mares, a maceiós e a lagoas, parques de mata nativa e um sítio fundador que ajuda a contar a história urbana do Brasil. Se há tanto verde e azul a içar meus olhos do sétimo andar, aos poucos e tão rápido, observo como

Foto: divulgação

o azul do mar se dissipa, decretando, para mim, que eu ainda vou perambular em busca da morada de meus sonhos. Submersa em meio à mata densa de um modesto sítio urbano, um hiato cercado por uma fortaleza verde que distancia, em poucos passos, o meu desejo de me preservar do meu desejo de me misturar. Nele, sei que me acostumarei a conviver com as primas das muriçocas mais famosas do mundo, que reúnem em meu bairro, uma vez ao ano, gentes de todas as partes da cidade a entoar um mantra coletivo: João Pessoa sonha...

Este texto resultou de exercício apresentado à disciplina: “Estado, Planejamento e Território II”, ministrada pelo arquiteto e professor do IPPUR, Doutor Mauro Kleiman.

Rossana Honorato

Arquiteta e urbanista Mestre em Ciências Socias Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB

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VIDA PROFISSIONAL

CANAIS PARA DIVULGAÇÃO Como aparecer melhor no mercado

Q

uando falamos em canais, devemos obrigatoriamente ajustar o foco. Todos nós já definimos como queremos nossa vida profissional? Já temos um portfólio para apresentar? Ou vamos inicialmente pesquisar nichos de mercado disponíveis para desenvolver nossa profissão?

A primeira constatação que devemos fazer diz respeito à nossa reputação, pois em torno dela é que daremos rumo à nossa carreira; também é o pressuposto básico para que os atuais clientes testemunhem a favor, avalizando nosso trabalho. As indagações acima podem nos dar as três respostas básicas para a comunicação antes de definir os canais, que vêm à tona na forma de ferramentas. A primeira resposta é o perfil do profissional, a segunda é o que ele faz e a terceira é para quem vamos trabalhar.~Estou deixando de lado a figura do generalista, que teria outra abordagem, a partir da premissa de o mercado estar buscando mais especialistas.

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Já abordei anteriormente o tema marketing de relacionamento, que sugiro que seja relembrado, pois relacionamento é nosso primeiro e mais importante canal. Como não temos domínio de toda a rede de relacionamentos diretos e indiretos, saber construir uma imagem profissional e pessoal é premissa fundamental para que a mensagem que iremos transmitir nos canais escolhidos possa ter valor. Boas parcerias estruturadas dentro da cadeia produtiva da arquitetura e do design são muito bem vindas e devem ser cultivadas. Em segundo lugar, vamos fugir da famosa “casa de ferreiro, espeto de pau”. Devemos construir uma identidade visual para compor nossa comunicação, com logomarca, assinatura institucional, papelaria de modo geral (timbrados, envelopes, cartões de visita) além de banners, fachada, etc. Este é um trabalho especializado e, caso não se sinta à vontade para desenvolvê-lo, procure um especialista no assunto. Terceiro, não há possibilidade de estar fora do mundo digital: website, hotsite, redes sociais, blogs, endereço eletrônico, sempre com o desenvolvimento de um bom especialista. Lembre-se de não abrir mão da qualidade na sua comunicação, pois ela leva junto o conceito de seu trabalho. Devemos destacar também que, ao entrar no mundo digital, é obrigatório acompanhar sua velocidade, fazer atualizações constantemente, além de monitorar e responder tempestivamente as manifestações. É um bom diferencial levar informações, novidades, interagindo com seus públicos e mostrando-se atualizado.

Fotos e imagens: divulgação

O conteúdo deve ser claro, mostrando suas habilidades e competências, Trabalhos que obtiveram projeção, concursos ganhos, atividades acadêmicas, e outros diferenciais devem ser escolhidos para divulgar sua atividade profissional. Finalmente, temos a participação em eventos e publicações especializadas, tanto de sua área como nas atividades de seus potenciais clientes, onde é possível acompanhar o mercado e estabelecer novos relacionamentos, sempre, é claro, divulgando seu trabalho. Os canais sugeridos são investimentos quase que obrigatórios para estar atuando no mercado. Podemos, em outra oportunidade, abordar a viabilidade de utilizar os grandes veículos, como televisão, rádio, jornais, periódicos de grande circulação, pois requerem um volume muito grande de investimento. Para fechar, uma pequena dica: não descuide da gestão do seu negócio, pois ele pode comprometer toda a sua atuação profissional.

Edu Cop

Profissional de Marketing

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LIVRO

PREENCHENDO

OS ESPAÇOS Dimensionamento em Arquitetura estuda como pessoas, objetos e espaços interferem no ambiente Texto: Alex Lacerda | Fotos: MB e Divulgação

U

ma ferramenta de fácil acesso e efetiva para os designers de interiores, engenheiros e arquitetos, o livro Dimensionamento em Arquitetura, de Emile Pronk, é uma das poucas referências publicadas em português destinadas a auxiliar no planejamento e nos layouts dos ambientes. O livro é um apanhado de informações sobre o espaço arquitetônico que pessoas e objetos ocupam e necessitam. O autor mostra, fazendo uso de ilustrações proporcionais, como dimensionar ambientes observando a escala humana como altura de assentos, bem como a relação distancia/ dimensão. Pronk apresenta uma avaliação de dimensões de objetos, pessoas e espaços e de como a presença de cada um destes elementos interfere no ambiente. Desta forma, o profissional pode planejar a que distância pode colocar uma cadeira num ambiente para se assistir televisão, ou avaliar as dimensões de um carro e espaço livre para trabalhar no momento de construir uma garagem. A primeira edição do livro data de 1984, com desenhos feitos à mão em papel vegetal. Em sua atual oitava edição, o livro sofreu diversas ampliações e adaptações em função das mudanças ocorridas no cotidiano das pessoas. O material facilita o trabalho de profissionais e estudantes que trabalham com dimensionamento, reduzindo tempo com pesquisa no assunto. A própria encadernação do livro, com capa em papel duplex 250gr, com laminação fosca e garra de arame duplo revestido, tem uma função de agilizar a consulta do leitor, que pode ter suas mãos livres enquanto trabalha. As imagens estão na escala 1:50 e contam com planta baixa, elevação e tabelas. O livro está dividido em capítulos, o que também favorece a rápido acesso à informação. Em cada capítulo o autor aborda diversos ambientes de

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uma construção, como sala de estar, home office, sala de jantar, cozinha, garagem e até mesmo escadas. Emile Pronk, arquiteto, é formado na Holanda no Hoger Technisch Instituut Amsterdam, em 1973. Desde 1976 trabalha na Divisão de Estudos e Projetos da Prefeitura da UFPB e é autor de outros dois livros na área.

Emile Pronk Autor

Dimensionamento em Arquitetura, de Emile Pronk, Editora da UFPB, 2012


collection O tapete que respira.

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ENTREVISTA

GIANPIETRO SANZI CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE O arquiteto fala do retail design, área em que trabalha há 20 anos, criando a identidade visual de empresas e profissionais liberais

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

G

ianpietro Sanzi, arquiteto, especialista em design de produto e CAD para a arquitetura, MBA em Comunicação Empresarial, mestre em Administração de Empresas com ênfase em Marketing e professor de pós-graduação do IPOG. O profissional tem uma experiência plural: antes mesmo de se formar, trabalhava supervisionando obras; estudou na Faculdade de Arquitetura La Sapienza, na Itália, onde aprofundou os conhecimentos sobre uso do computador nas metodologias de projeto tanto de arquitetura como de urbanismo, considerado moderníssimo na década de 1980. Este conhecimento permitiu que ele trabalhasse em Roma no escritório do arquiteto Maurizio Frangipane e que obtivesse a experiência de lidar com a prática da criação de um banco de dados

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cadastral do território para os municípios da região da Toscana. O domínio pioneiro da ferramenta CAD abriu portas no Brasil para a disseminação deste conhecimento atuando como instrutor e colaborador em escritórios de arquitetura de variados campos de atuação. Fato que culminou na autoria da obra Projetando com Arqui 3D e na co-autoria de Apresentação de Projetos para Arquitetos e Designers, ambos os livros da Editora Érica. Usando o CAD e a nova tecnologia BIM como ferramentas, hoje, além do ensino, seu foco está no design, seja em projetos de ambientação para interiores residenciais e comerciais, como também na criação de identidade visual para empresas, lojas, profissionais liberais e empreendimentos imobiliários. E é sobre isso que o gaúcho de Porto Alegre nos conta nesta entrevista: retail design, área que trabalha há 20 anos.

Loja Hermes

ARTESTUDIO – Como definir o retail design? Gianpietro Sanzi – Traduzindo do inglês “retail” é “varejo” e “design” é “projeto”. Numa tradução livre podemos compreender então que retail design é o projeto de lojas. Mas o processo de design pede uma contextualização, pois sua abrangência transcende os notórios aspectos perceptivos. Está no foco do design, além da estética, os anseios e limitações de um usuário, aspectos de sustentabilidade, acessibilidade universal, culturais, comunicativos, tecnológicos e econômicos, como também condicionantes legais. Todos estes fatores são contemplados simultaneamente em qualquer solução de design, seja para artefatos, moda, programação visual ou interiores. No contexto do design de interiores, o espaço é produzido com elementos compositivos nos quais se destacam materiais, cores, mobiliários, equipamentos, luzes, sinalização. A composição de tais elementos é capaz de manifestar o life style de um grupo familiar e tangibilizar conceitos tais como posicionamento e imagem de marca para espaços comerciais e corporativos.

tratava especificamente de um retail design, mas trazia muitos de seus princípios. Já no Brasil, uma primeira oportunidade de trabalho foi integrar a equipe que projetou e implementou um centro gastronômico em Porto Alegre. Depois disso, dentre as assessorias de CAD, surgiu a oportunidade de integrar a equipe da arquiteta Patrícia Blascke, à época responsável pelos projetos para uma rede lojas de calçados, profissional com a qual compartilho projetos, ainda hoje. Um exemplo desta parceria é a loja Ipiran em São Marcos (RS).

AE – Como você começou a trabalhar com retail design? GS – Meu fascínio pela área do design de interiores começou na Itália, quando tive a oportunidade de integrar a equipe do arquiteto Bruno N. Rapisarda, que desenvolveu a arquitetura de interiores para o Ministério do Interior em Riad, Arábia Saudita. Não se

AE – O que está em voga na atualidade para o retail design? GS – Atualmente as palavras chave do varejo são: experiência, interatividade e sedução. É o que pode se concluir a partir do que foi dito em dois importantes eventos do setor: o NRF – evento realizado pela National Retail Federation, em Nova York, em janeiro

AE – Qual a importância do retail design para as vendas das lojas que aderem a este tipo de design? GS - Na minha opinião, é fundamental. Entre as motivações dos varejistas no investimento em retail design estão a de comunicar, através do espaço, uma imagem que reflita o posicionamento e diferenciação do seu ponto de venda para o mercado e concorrência e, principalmente, aumentar o tempo de permanência do shopper na loja e, assim incrementar as vendas.

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–, e o Redesign – evento realizado em São Paulo, em maio. Em tempos de redes sociais, o varejo digital poderia preconizar o fim das lojas físicas, mas não é isso que se tem observado. As marcas cada vez mais vêm investindo para oferecer uma experiência completa no ponto de venda. No varejo físico é possível perceber o consumidor e capturar insights estratégicos do seu comportamento de compra. Além da visão, são usados apelos multissensoriais para envolver o shopper. Atributos de sedução – tais como atitude, mistério e sensibilidade – são invocados para conquistar empatia. Além disso, novos recursos tecnológicos facilitam a decisão de compra e o desempenho dos vendedores, oferecendo informações detalhadas sobre os produtos à venda. O varejo é considerado, depois da casa e do trabalho, o terceiro lugar para se estar. E deixou de ser um entreposto comercial para assumir um papel de entretenimento. Especialistas no setor recomendam: “Venda histórias, não produtos”. O ambiente da loja pode criar um profundo e fascinante halo em torno do produto, engajando a mente do consumidor em outras questões além do que se espera dos produtos em si, tais como funcionalidade e preço. A exemplo da Disney onde se adquire produtos como souvenir de uma experiência memorável. AE – Qual a diferença entre uma loja que contrata um profissional para fazer o retail design e uma loja que não faz esse tipo de planejamento? GS – Acredito que todo varejista reconheça a importância do design para o varejo, mesmo que não contrate os serviços de um designer, aplica intuitivamente seus princípios. É uma questão de sobrevivência diante de uma concorrência acirrada e de outros canais de venda que todos temos a disposição hoje através da internet. AE – Por que as vendas podem ser maiores para quem “aplica” o retail design? GS – Há muitas evidências e pesquisas que comprovam isso. Os setores de visual merchandising e marketing têm indicadores para mensurar a eficácia de um bom projeto de retail, tais como o tempo de permanência do shopper na loja e ticket médio. A minha dissertação de mestrado avaliou o impacto de elementos visuais na percepção de valor de clientes de lojas de autosserviço. Mesmo com as limitações do método adotado, a pesquisa sugeriu que a sensação de organização e limpeza do ambiente são elementos preponderantes para percepção de valor. AE - O retail design incorpora outros tipos de design? GS – O retail design é um trabalho em equipe. Envolve as competências do design de interiores, lighting design, design gráfico, visual merchandising e arquitetura. O espaço da loja abriga a sinalização de setores e de identificação e, dentro dos princípios da comunicação integrada, todos estes elementos devem estar coordenados também com outras manifestações de uma marca tais como embalagens, sacolas e site.

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Loja Lupo

AE – O espaço deve ser adaptado para o tipo de produto a ser vendido? GS – O produto deve ser o protagonista de um projeto de retail design. É para facilitar, induzir e incrementar a sua venda que o espaço é criado. Cores, texturas, luzes e materiais devem ser escolhidos para salientar os produtos à venda. AE – O design retail é uma forma de ter exclusividade na loja? É também uma identidade para cadeias de lojas? GS – Dar um caráter de exclusividade a uma loja e construir uma identidade visual para uma rede de lojas de determinada marca são exemplos de aplicação do retail design. Podemos reconhecer de longe, em qualquer grande centro, lojas de varejo popular ou mesmo sofisticadas lojas de grife. Isso se dá através de um manual de identidade corporativa adotado especialmente por franquias. Quero deixar uma reflexão. Citando os Titãs: “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”. Além de subsistir, não importa a idade, queremos ser sempre jovens na busca de inovação. Um ponto de venda deveria ir ao encontro deste anseio para incrementar as vendas. O retail design pode emprestar as ferramentas para saciar, celebrar, dar prazer e aliviar a dor.


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Estocolmo, Suécia

A HISTÓRIA DE...

New York

MUNDO SUBTERRÂNEO

O metrô foi criado em Londres ainda no século XIX e se tornou um dos principais meios de transporte nas grandes metrópoles Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

H

oje, cerca de 140 cidades em todo mundo possuem uma rede de metrôs. Um dos meios de transportes mais eficientes em grandes cidades, é capaz de conduzir uma grande quantidade de passageiros ao mesmo tempo e a distâncias variadas. No entanto, mais do que uma facilidade, o metrô é uma necessidade para

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metrópoles com muitos habitantes, onde os ônibus não dão conta da demanda da população, nem as ruas comportam mais veículos. O próprio metrô nasceu dessa necessidade. No início do século XIX, a cidade de Londres, então a maior do mundo, teve um aumento de 1 milhão de habitantes para 6,5 milhões. As ruas não conseguiam dar conta do grande número de carruagens e ônibus de dois andares puxados a cavalos. Os engenheiros urbanos ingleses não podiam construir um transporte público sobre trilhos na superfície, pois teriam que destruir grande parte da cidade. A solução, a menos ortodoxa para a época, foi de construir túneis embaixo da terra para abarcar os trens. Foi assim que, em 1863, os comboios movidos a vapor passaram a funcionar em um trecho de 6,5 km, apenas parcialmente subterrâneo. Em 1890, com o invento da eletricidade, o metrô inglês passou a ser todo subterrâneo.

U-bahn HafenCity University, Hamburgo, alemanha

Estocolmo, Suécia

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Lisboa, Portugal

Londres, Inglaterra - 150 anos do metrô

Shanghai Hongqiao Railway Station

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Hoje, a maior rede do mundo é o metropolitano de Pequim, que conta com 442 km de extensão. O metrô de Londres tem agora 408 Km e é um pouco menor que os de Xangai (420 km) e Nova York, com 418 km de extensão. O Brasil está muito abaixo. Aqui a maior rede é a do metrô de São Paulo com (74,3 km), construído em 1974. Em dimensões, é seguido pelo metrô de Brasília com (42,38 km), do Rio de Janeiro (40,9 km), o do Recife (39,5 km) e pelo metrô de Porto Alegre (38,7 km). Os sistemas de metrô são organizados em rede. As várias linhas estão desenhadas para que o tráfego de passageiros seja feito da melhor e mais rápida forma possível. O metrô também é responsável por fazer uma ligação com os demais. Muitos usuários das periferias das metrópoles utilizam ônibus, trens e bondes para chegar ao metrô, que os conduz até o centro das cidades, contribuindo para o reduzir o excesso de carros e ônibus nas ruas. O metrô vem do termo “metropolitano”, também no Brasil. Em outros países é conhecido como subway, underground, U-Bahn ou T-bana. O idealizador do metrô é o inglês Charles Pearson. O engenheiro da construção dos túneis foi o também inglês “sir” John Fowler. Uma tecnologia de transportes que mais dá resultado em todo mundo, mas que, no Brasil, ainda precisa ir muito mais longe.


Refletir o futuro em cada projeto

projeto arquitetônico Falanstério, fotografia Rui Miguel

JOÃO PESSOA Av. Geraldo Costa 601, Manaíra Encontre um de nossos showrooms através do www.lightdesign.com.br 29


AMBIENTAÇÃO

Foto de projeto de Turíbio e Zezinho Santos

O ANTIGO REVISITADO Estilo retrô permite reviver a beleza do passado, mas é preciso cuidado para não perder a contemporaneidade Texto: Débora Cristina | Fotos: MB e Divulgação 30


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uem gosta de decoração sabe bem que um dos estilos com maior aceitação é o retrô. Com ele, é possível mesclar essas peças retrô e o contemporâneo, o antigo e o atual, tudo, é claro, na medida certa, dando um toque de irreverência com a saudade dos tempos de infância. O termo “retrô” significa “para trás”, ou seja, é um estilo que resgata tendências que fizeram sucesso no design das décadas passadas. A partir disso, o design lança um olhar diferente com objetos repaginados que trazem elementos nostálgicos e marcantes. Ainda assim, estes elementos antigos podem ser repensados e até mesmo incluídos nesses elementos tecnológicos. Um exemplo disso são os rádios e as vitrolas. Com estilo retrô, estas peças são muito cobiçadas na decoração. Hoje em dia, elas fogem do motivo somente decorativo, pois podem aliar um design nostálgico e marcante com a riqueza em detalhes e tecnologias como entrada USB, CD player, toca discos e muito mais. Outra tendência que sempre é bem aceita e bastante requisitada é a decoração retrô inspirada nos anos 1940 e 1950. Não é à toa que eletrodomésticos antigos, penteadeiras, louças, banheiras tipo bacia, papeis de parede, estampas florais, rendas, molduras trabalhadas, babados nas cortinas, banquetas e acessórios da época voltaram com tudo, dando um ar romântico, divertido e cheio de personalidade aos mais variados ambientes. O motivo de tanto sucesso desse estilo? O arquiteto Zezinho Santos explica facilmente: Casa Cor SP - 2013

Casa Cor SP - 2013

“Porque o que é bonito, o que tem boas qualidades estéticas, sempre é bom. Simples assim. Todas as épocas produzem coisas boas e coisas ruins. Acontece que o que fica das décadas passadas é o bom. O ruim geralmente é esquecido. Portanto, quando olhamos para o passado, vemos apenas uma seleção natural apenas do que é belo e bom. E isso sempre tem apelo, sempre está na moda”. Mas o ideal é ficar atento, principalmente na hora de misturar o retrô com um estilo mais contemporâneo. “Hoje é muito difícil você entrar num ambiente totalmente retrô, mas se for mesclado dentro de uma decoração contemporânea é possível conseguir excelentes resultados como contrapontos enriquecendo todo um conjunto, e

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Foto: Divulgação

isso é que é o imporante na decoração: a mixagem de elementos sem o medo de usar e ousar”, afirmou o decorador Alain Moskowicz. E ele cita outros exemplos de peças que podem ser escolhidas na hora utilizar esse estilo: “Quem não gostaria de ter uma radiola de ficha dentro da sala ou uma luminária de pé com braços em hastes em formas de tulipas? E tudo isso em cores fortes, amarelos, vermelhos ou azuis? Acho que o retrô caminha sempre muito tranquilo com o contemporâneo, quem não se apaixona com os

Para não errar, siga essas dicas: - Atualmente quase todas as linhas (móveis, eletrodomésticos, revestimentos,etc) lançaram alguma coisa retrô. - Na cozinha, o centro das atenções são as torradeiras, batedeiras e liquidificadores com design dos anos 1950 e 1960 - Aposte em estampas geométricas e revestimentos com patchwork - Se tiver um espaço mais neutro, pode investir em tecidos para almofadas e poltronas. Os de estampas geométricas, que lembram azulejos antigos, são uma boa pedida para quem não pretende gastar muito. 32

banheiros, com uso de azulejos geométricos e piso com cabuchones? A decoraçao retrô total remente sempre a uma referência do passado com uma nova roupagem, pois as lembranças boas não se apagam e sim se reciclam. Fica muito interessante o uso de cabeceira de cama com um desenho antigo, laqueada em cor forte, ou seja, é o antigo na forma com a cor do contemporâneo”. Outros exemplos citados por Alain são as geladeiras com pinguim, o patchwork (aqueles retalhos de tecidos unidos que hoje estão vestindo cadeiras de alta contemporaneidade). No quarto, por exemplo, você pode combinar uma penteadeira do estilo da década de 1960 com uma moderna cama box ou colocar uma cama e uma cabeceira na cor vermelha, entre dois criados-mudos. Por último, encontre uma inspiração que combina com você, aposte nos objetos retrô e tenha uma decoração autêntica. Para que isso funcione, é preciso pesquisar muito, escolher as peças certas, para evitar deixar o ambiente com cara Kitsch. Para o arquiteto Turíbio Santos, a única forma de não errar é evitar o exagero. “A arquitetura e os interiores devem sempre expressar a época em que vivemos − e incluir, dentro dela, uma seleção de boas coisas do passado. O estilo deve ser usado inserido no aqui e agora. E não como um pastiche do passado”, concluiu.


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NACIONAL

UM LAR PARA O ACERVO MINDLIN

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á mais de 30 anos o empresário José Mindlin e sua mulher Guita tiveram a ideia de tornar público seu acervo. O projeto dos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb (neto do casal) deu paredes e teto e muita sofisticação, apesar de suas linhas simples, à Biblioteca Brasiliana, doada à Universidade de São Paulo (USP) e inaugurada em março deste ano. A exposição permanente sobre a vida do casal Mindlin e sua luta para tornar a biblioteca uma realidade será permanente, mas o prédio abrigará outras obras e exposições. A edificação é imponente, com linhas simples, bauhausianas. São 21.950 m² dentro da cidade universitária da USP. Considerado funcional, suas linhas também o fazem discreto, apesar do tamanho e da imponência. Ao contrário dos excessos, ele tem

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mobiliário elegante, assinado por de Sérgio Rodrigues, Zalsupin, Carlos Motta e Claudia Moreira Salles. A inspiração para os mais de 21 metros quadrados veio de conceituadas bibliotecas de outros países. Alguns prédios de bibliotecas famosas foram consultados para que as diretrizes de conservação das obras da Brasiliana pudessem ser definidas. Os arquitetos que conceberam a Brasiliana estudaram projetos como Library of Congress (Biblioteca do Congresso), de Washington. Para o conceito, a Beinecke Rare Book & Manuscript Library (Biblioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros), da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e a Biblioteca Saint Geneviève, de Paris, na França. A Library of Congress (Biblioteca do Congresso), de Washington, foram vistas. A sustentabilidade também fez parte do projeto, cujo um dos autores é neto do casal idealizador da


A Biblioteca Brasiliana, na USP, foi criada para tornar público um acervo de 180 mil livros Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

biblioteca. Os espaços são ligados por uma cobertura lanternim central de vidro laminado. Esse “detalhe” permite a entrada de luz natural, que traz economia de energia. Além disso, há filtros UV e um plano de chapa perfurada, que protegem os livros de radiação solar direta. Além disso, há um projeto de de geração de energia fotovoltaica na cobertura do edifício, feito pelo Instituto de Elétrica e Eletrônica (IEE) da USP, que tem potência de 150kw e deve suprir a demanda do complexo durante o dia. Além do replantio de algumas árvores, a construção foi compensada com o plantio de milhares de mudas no bairro do Butantã, que farão parte de um bosque no entorno da edificação. Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb não esqueceram da acessibilidade arquitetônica, que torna a Brasiliana um espaço para a circulação de estudantes e do grande público. Quem visitar o local encontrará

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o valioso acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). São 450 mil documentos, 180 mil livros e oito mil objetos, a instituição guarda ainda a coleção Mário de Andrade, também representado com originais na Brasiliana de Mindlin. Para Rodrigo Mindlin Loeb, a Brasiliana é um edifício de 21.950 m2, com uma implantação horizontal, permeável visual e fisicamente, estruturado a partir de uma esplanada pública, praça coberta que articula duas alas do conjunto. Desenvolvido em concreto, aço e vidro, estabelece um diálogo com a cultura arquitetônica brasileira e a arquitetura contemporânea. “A Brasiliana é um projeto de grande envergadura e importância para o sentido de cidadania e identidade do Brasil, muito mais do que um projeto arquitetônico ou um edifício”, disse. Ele afirma ainda que o projeto nunca foi refeito. “Elaboramos três projetos distintos em 3 momentos do processo que durou 13 anos, do início até a concluso da primeira etapa da obra. Essa biblioteca faz parte da história da minha vida”, comentou

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A USP ganhou uma acirrada disputa pela Brasiliana, já que, com seus 32 mil títulos (em 60 mil volumes) a biblioteca foi disputada por universidades estrangeiras. E não foi apenas o volume de documentos, mas especialmente o valor histórico dos documentos que estão sendo colecionados a mais de 80 anos. São obras raras e importantes, como a primeira edição de Os Lusíadas, a revisão de Grande Sertão: Veredas com escritos a mão de Guimarães Rosa e o manuscritos originais corrigidos de Vidas Secas, que tinha como primeiro título (colocado no papel pelas mãos do autor Graciliano Ramos) O Mundo Coberto de Pennas. Grande parte deste acervo já está digitalizada, cerca de 3.600 títulos, mas a intenção é digitalizar o acerto o mais rápido, isso em parceria com outros órgãos. O idealizar da biblioteca, o bibliófilo José Mindlin morreu em 2010, aos 95 anos, sem ver a sua biblioteca de pé, mas certamente ficaria muito feliz com o resultado do prédio que abriga tão importantes e valiosas obras.

Arquitetos:

Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb

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ARQUITETURA

EM BUSCA DA FELICIDADE Interiores de uma casa em um condomínio horizontal buscou inspiração nas memórias da cliente e no futuro Texto: Lidiane Gonçalves | Imagens: Cacio Murilo

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or, charme, originalidade e personalidade estão impregnados no projeto que o arquiteto e artista plástico Jonas Lourenço fez em uma casa de um condomínio horizontal em João Pessoa. A determinação da cliente era clara e precisa: ela necessitava de uma casa que refletisse sua identidade. Desafio aceito, o arquiteto conseguiu, fazer um projeto diferente e na ambientação uniu objetos comprados em lojas diversas com outros que já pertenciam à família, transformando uma casa em um lar. Jonas Lourenço conta que o primeiro convite surgiu para projetar a casa, mas a sintonia entre cliente e arquiteto foi tamanha, que depois da construção houve o convite para a execução do projeto de interiores. “Assim, pudemos usar uma só linguagem na casa”, comentou. Jonas revela que foi procurado para que a cliente, insatisfeita com outros projetos, cansada de

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ver casas convencionais e impessoais, tivesse uma casa com alma. “Ela queria uma ‘casa com cara de casa’. Como também sou artista plástico e estudei psicologia, ela acreditou que eu conseguiria dar alma à casa. Para mim foi um desafio, pois se tratava de algo bem particular, alguém que tem identidade própria e que queria isso refletido nas paredes da sua casa. Uma casa para ela e seu filho de sete anos”, contou. Para chegar ao resultado tão esperado, o arquiteto traçou os primeiros esboços à mão e encheu a cliente de perguntas não-convencionais para uma conversa entre arquiteto e cliente. Ele queria saber quais cheiros remetiam a infância dela, suas brincadeiras preferidas, suas cores, seus filmes. “Usei algo conhecido como design emocional. Daí passei a materializar estes conceitos. Primeiro, traçando caminhos dentro da casa que a fizessem sentir feliz”, disse. Cozinha aberta para sala, uso de materiais como madeira e pedra – por trazer as raízes da cliente de


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cidade de interior, a rusticidade e brasilidade que a cliente desejava – , uso de porcelanato que imitasse cimento queimado, revestimentos retrô, como o ladrilho hidráulico e até tapete de cerâmica Brennand. Madeiras de demolição foram usadas na obra e pé direito bem alto em função do conforto, por se tratar de uma casa térrea. “Entre todos os ambientes o meu preferido é o living (salas de estar, conviver, jantar, tudo junto), pois as áreas sociais estão integradas. Isso é um conceito novo que reflete o jeito contemporâneo de se usar a casa, sem barreiras, paredes ou portas que impeçam a casa de fluir nos seus espaços abertos. Tudo dialoga e

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está à vista. A casa tem apenas 200 metros quadrados, mas parece ter uns 300, por conta das poucas paredes e o pé direito duplo com mezanino que resguardam apenas as áreas íntimas”, ressaltou. Uma peculiaridade nesta obra de Jonas Lourenço é não deixar a casa pronta. “Nunca deixo a casa pronta, pois considero um organismo vivo, para ser construída ao longo dos anos, com paredes que dialoguem, objetos de viagens que virão. Ainda estou trabalhando os jardins. De acordo com a convivência diária dos moradores iremos juntos descobrindo o que é melhor, até que tipo de pássaros vem visitar a casa”, contou.


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Cores e vida Muita madeira foi usada no teto e na escada da casa. Com isso, o ambiente ficou muito marrom, mas, para quebrar isso, o arquiteto usou cores, que levaram vida a cada ambiente da casa. “A paleta de cores foi se adequando às obras de arte, que deram uma dimensão de alegria à habitação. O repouso, o descanso, o ócio, são momentos em que podemos refletir, vagar… mergulhar no campo imaginário das nossas especulações, sonhos, desejos e delírios. A cor favorece isso. O espaço que estimula essa ‘humanização’ diária é o que podemos chamar de ‘centro’, o lugar de recolhimento, de auto-conexão. Esta casa oferece espaços preservados.

Ele diz ainda que a interação com o cliente para a compra dos novos móveis e objetos é fundamental para que o projeto se torne um caso de sucesso, como é o desta casa. “Além das coisas que vieram de suas casas anteriores, novos móveis foram adquiridos em lojas diferentes, de acordo com a atmosfera que queríamos trazer ao ambiente, independente de grifes. Isso deu personalidade à casa. Alguns objetos adquiridos em brechós, outros em antiquários, outros ainda em bazares, enfim, uma colcha de retalhos que se harmoniza muito mais pelo que representam para a dona da casa, a sua relação afetiva com o espaço construído. Sempre deixo o cliente livre para ser feliz, afinal, ele é quem vai fazer uso do espaço muito mais que eu. No caso desta casa, não segui tendências, segui a necessidade da cliente, sem modismos”, afirmou.

Colcha de retalhos que harmoniza Objetos antigos desta cliente foram usados por toda a ambientação da casa, as lembranças e as afinidades deles dão um jeito e um aconchego de lar à casa dos sonhos, com cara de casa. “Esta casa guarda pequenos segredos e isso parece nos atrair e encantar. Não entendo como as pessoas descartam suas histórias do passado fazendo casas com cara de lojas para serem aceitas pela sociedade de consumo”, comentou.

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Sustentabilidade A sustentabilidade esteve presente todo o tempo na construção e na escolha que o arquiteto fez dos materiais. Na concepção desta casa levouse em conta a orientação da construção do terreno e da natureza que a rodeia, levando-a a ser autosuficiente.


“As construções ecológicas estão na moda nos países mais avançados e ajudam a preservar o meio ambiente. Nesta obra, a madeira utilizada possui certificado de origem correto. Para manter a casa a uma temperatura equilibrada foram feitas janelas maiores que o padrão necessário e para o aquecimento de água, podem-se utilizar as energias oriundas de painéis solares. Busquei conseguir um conforto térmico e acústico, com um ótimo consumo energético, em que a geração de resíduos fosse mínima e que nesta casa estejam previstos métodos de reciclagem. Busquei compensar a estética interior com a funcionalidade, tendo em conta a cor, a luz, os espaços e as dimensões. Dei prioridade a móveis de madeira de demolição ou ecologicamente sustentáveis”, explicou.

realmente é essencial. Simbolicamente falando, nossa motivação para explorar o mundo tem a intensidade e a dimensão dos sonhos que a nossa casa nos permite abrigar. Esta casa reúne esses elementos em função da liberdade projetual que a cliente me permitiu dar. Isso é o conceito que chamo de arquitetura da felicidade”, conclui.

Personalizar Para satisfazer o cliente, neste caso e em outros projetos, Jonas diz que busca levar felicidade no projeto. “Isso não é palpável, por isso me anulo de conceitos pré-estabelecidos para focar naquilo que

Arquiteto: Jonas Lourenço Arquiteta colaboradora: Taísa Deininger Projeto: Arquitetura e ambientação de residência unifamiliar Piso: Portobello • Móveis modulados: Italínea • Telas: Louro & Canela Revestimentos: Espaço Revestt • Móveis: Top Design • Esquadrias: Fecimal Arte em Madeira + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTERIORES

AR MASCULINO Cores e materiais buscam refletir personalidade do cliente e deixar ambiente acolhedor

Texto: Débora Cristina | Fotos: Diego Carneiro

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m refúgio de bem estar e conforto. Esse é o sentimento de quem entra nesse apartamento de 180m2, localizado numa área privilegiada da capital paraibana. Em cada canto do imóvel é possível perceber o planejamento minucioso dos espaços feitos pelas arquitetas Vannessa Luna e Helenir Vieira.

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“É importante que haja sintonia entre o arquiteto e o cliente, já que é dessa interação que nascerá um projeto adequado às suas necessidades e que agrade ao seu gosto. Buscamos isso desde a primeira conversa, quando fazemos o que chamamos de briefing, colocando-nos no lugar do cliente”, explicou Vannessa.


“O preto traz consigo a masculinidade e deixa o ambiente elegante. As cores terrosas dão ar de conforto ao lugar”, disse Helenir. Em um único espaço, as arquitetas integraram equilibrada e harmoniosamente os três ambientes: jantar, estar e varanda. Deixando o lugar mais amplo, capaz de acomodar confortavelmente um número considerável de pessoas. “Um dos fatores mais importantes é entender o perfil do usuário. Considerando o fato de ser o proprietário um homem, mantivemos o ar masculino equilibrando beleza, sobriedade e sofisticação, sem prejudicar os ambientes projetados para a família, descanso, leitura e lazer”, ressaltaram as arquitetas.

A mesa de jantar quadrada de laca preta - a primeira peça com a qual se encantou o cliente - foi o ponto de partida das profissionais. A sala de jantar é marcada pela madeira de demolição, e por diferentes texturas em preto: laca preta, madeira na cor preta e vidro com película preta. As arquitetas acrescentaram a cor prata para equilibrar, como é possível observar no painel da TV, e no do barzinho próximo a mesa de jantar. As cadeiras, assim como o lustre de cristais, são na cor bronze. Foram usados espelhos na parede para dar leveza e amplitude. O tapete completa o espaço, assim como todos os elementos de decoração, que deram uma pincelada de cor. 51


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A sala de estar continua com o preto no mobiliário do home theater, bem como a madeira de demolição, seguindo a leitura da sala de jantar. O sofá é em tom neutro, com as mesinhas de centro e lateral espelhadas na cor bronze para dar sofisticação. O tapete realça o espaço e absorve o som, contribuindo também com a acústica do ambiente. Já a utilização do papel de parede off-white, por trás do sofá, delimita o espaço. Na varanda, os móveis em fibra e as paredes em cimentício na cor canela, imitando pedrinhas, junto ao salgueiro-chorão – em um vaso vietnamita – e a textura da cortina dão a sensação de tranqüilidade e paz, criando uma atmosfera bastante acolhedora. O cliente pediu pouca iluminação, por isso as arquitetas optaram por plafons e algumas dicróicas de LED, assim como a iluminação indireta do abajur, das

lanternas e do pendente com cristais, mergulhando o ambiente numa atmosfera mais intimista e sofisticada. Na decoração, muito preto, branco e bronze, com destaque para o verde nas plantas e para a cor azul, cor predominante entre tons neutros. “Buscamos criar algo único, singular, feito sob medida para nosso cliente, satisfazendo seus anseios íntimos e suprindo as necessidades da vida cotidiana moderna. Identidade e originalidade, como fruto do conhecimento técnico e da inspiração de profissionais que amam o que fazem. A satisfação do cliente é nossa recompensa”, finalizou Vannessa.

Arquitetas: Helenir Vieira e Vannessa Luna Projeto: Ambientação de apartamento Móveis Modulados: Bentec • Decoração: Bazaart Móveis e tapetes: Top Design • Móveis em fibra: Tidelli + fotos do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br 54


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INTERIORES

PRATICIDADE NO TRABALHO Escritório teve o máximo de espaço aproveitado mesmo em um ambiente pequeno

Texto: Débora Cristina | Fotos: Divulgação

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ormadas há três anos em Arquitetura e Urbanismo pela UFPB, as arquitetas Ana Luisa Azevedo e Thaciana Almeida sempre trabalharam juntas, até que sentiram a necessidade de ter um escritório físico para desenvolver os projetos. Foi então que escolheram uma sala localizada na Avenida Esperança, uma das principais do bairro de Manaíra, em João Pessoa, Paraíba.

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O projeto foi desenvolvido para aproveitar bem os espaços, de forma que o escritório ficasse funcional, confortável e também inspirador. Foi então que elas optaram por uma ambientação leve, prática, utilizando materiais nobres e objetos de design. “O diferencial desse projeto é um ambiente de trabalho jovem e descontraído, mas que também atende às nossas necessidades, com os espaços bem aproveitados mesmo se tratando de um ambiente pequeno”, disse Ana Luisa.


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A sala foi dividida em quatro ambientes: área de produção, área de reunião, lavabo e copa. Por se tratar de um ambiente pequeno a divisão entre a área de produção e de reunião foi feita através de uma estante vazada que ao mesmo tempo integra e divide através dos nichos vazados. A área da copa foi separada por uma porta de correr de madeira com espelho fumê que dá continuidade ao painel da área de reunião.

A iluminação realizada por Thaciana Almeida, que é lighting designer pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG), foi projetada de forma pontual nas áreas decorativas e funcional nos ambientes de trabalho. Foram utilizadas lâmpadas dicroicas e fluorescentes. Já os móveis foram projetados de maneira a atender a todas as necessidades das arquitetas, principalmente quando o assunto é guardar

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e expor objetos, material de escritório, amostras e documentos. A mesa de reunião é de vidro temperado incolor com película na cor vermelha, para dar um ponto de cor, juntamente com as cadeira coloridas do designer Philippe Starck para Missoni e as cadeiras brancas DKR de Charles e Ray Eames, que harmonizam com a madeira dos móveis e do piso, o cinza e o branco. Na parede da área de trabalho as arquitetas colocaram um papel de parede em preto e branco, do artista Ronaldo Fraga. A inspiração, segundo elas, veio do tema croquis que tem tudo a ver com arquitetura. “Após projetar o escritório, elaboramos uma maquete eletrônica, recurso que também utilizamos para expor nossos projetos, de maneira que tivéssemos a certeza que os espaços corresponderiam as nossas expectativas de projeto”, explicou Thaciana. E o resultado final foi além do esperado: um ambiente aconchegante, prático e que provoca muita inspiração para criar novos projetos.

+ fotos do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

Arquitetas: Ana Luísa Azevedo e Thaciana Almeida Projeto: Ambientação de escritório Marcenaria: Marcenaria Irmãos Figueiredo • Iluminação: Stilluz Piso: Oca Revestimentos • Vidros e Espelhos: Cristal Box Objetos Decoração: Bazaart

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ARQUITETURA

TRADIÇÃO E

MODERNIDADE Projeto para um restaurante japonês aposta na madeira e no contraste entre claro e escuro

Texto: Débora Cristina | Fotos: Lufe Gomes

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m restaurante japonês, com 250 m², localizado no bairro Itaim-Bibi, em São Paulo, recebeu projeto arrojado, feito pelo arquiteto Naoki Otake. Assim é o Restaurante Nakka, que tem sua personalidade marcada pelo uso diferenciado da madeira em diversas formas e tonalidades. “Todo bom restaurante japonês tem a marcenaria como principal elemento. No caso do

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Nakka, numa linha progressiva do que realizamos em outros projetos, desta vez trabalhamos a questão do claro/escuro, que é um elemento muito importante na arquitetura japonesa. Daí o uso de madeiras escuras contrastando com madeiras claras e paredes escuras contrastando com grande quantidade de iluminação natural”, explicou Naoki. Este projeto venceu o Prêmio Casa Cláudia 2013 na categoria “Restaurantes”.


Para a fachada do Nakka, a proposta foi fazer uso de um desenho minimalista e negro onde se ressalta o pano de vidro que chama a atenção pela a escala de altura baixa, apenas 1,80m, que é a medida das portas de shoji no Japão. Esta escala reduzida dentro da fachada negra é muito marcante. É através desse vidro que se vislumbra em primeiro plano o lounge bar mais moderno e nem por isso menos japonês.

Na entrada temos uma pequena espera com bar. É um ambiente mais contemporâneo composto por uma mesa coletiva onde os clientes compartilham o mesmo espaço. O balcão do sushi é o grande destaque. Todo feito de madeira clara, possui desenho reto e minimalista. No salão, por outro lado, usamos madeiras mais escuras. Usamos no piso um porcelanato cinza grafite, áspero, para dar aspecto de pedra natural.

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No teto, não temos forro, apenas réguas de madeira vazadas de onde saem as luzes. “Todos os elementos da casa japonesa que valorizamos em outros projetos, também se fazem presentes como o jardim de entrada, o acesso, o ikebana recebendo as visitas, a transparência entre os ambientes e o uso de materiais que remetem ao bruto como o piso, o granito apicoado, as paredes e os revestimentos”, afirmou o arquiteto. A iluminação também ganhou atenção especial de Naoki Otake nesse projeto. Para ele, a luminotecnia é importante em todo ambiente, pois ela confere clima diferenciado durante o dia e à noite, valorizando o que deve ser mostrado e conferindo conforto visual. Toda a parte de marcenaria foi desenhada pelo escritório de Otake, onde é possível destacar o balcão do sushi e as diversas divisórias de ripados com desenhos diversos. As mesas e sofás também são desenhos exclusivos. “Este é um projeto minimalista com aspectos da arquitetura japonesa contemporânea e tradicional que se coexistem. O mais importante é que deixou o cliente completamente satisfeito com o resultado final e isso pra nós é extremamente gratificante”, concluiu Otake.

Arquiteto: Naoki Otake Projeto: Arquitetura e ambientação de restaurante Construtora: Kross Engenharia Marcenaria: Marcenaria Taniguchi Cadeiras: Fernando Jaeger e Casa das Cadeiras Luminotecnia: Cristiane Veltri / Labluz Piso: Roca • Painel dourado da entrada: Castelatto + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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BONTEMPO



CAPA

UM MORAR CONTEMPORÂNEO Projeto de residência em três pavimentos usa conceito clean e multifuncionalidade

Texto: Débora Cristina | Fotos: Cacio Murilo

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m conceito clean de morar, com ausência de supérfluo, valorização da amplitude, pouca informação visual, leveza nos detalhes, luz natural e multifuncionalidade fazem parte desse projeto da arquiteta Sandra Moura. Localizada na beira-mar de Areia Dourada, na cidade de Cabedelo (Paraíba), esta casa tem três pavimentos e possui elementos sustentáveis e que caracterizam um morar contemporâneo. A casa tem espaços generosos, complementando e dialogando o interno com o externo, pois o fechamento da casa possibilita a abertura total das suas esquadrias, a transparência do espaço das áreas sociais para o mar refletindo o desejo dos seus moradores de literalmente o espaço da casa virar um “mar de transparência”.

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Na fachada oeste, com visão para a rua, Sandra Moura criou uma estrutura em alumínio, que faz alusão a uma rede de pesca, pois o mar sempre traz algo que lembra poesia e este elemento atua como anteparo para o sol poente. No térreo temos hall de entrada, sala de estar, jantar, cozinha gourmet, varanda, área de serviço, suítes de serviços, garagem e lavabo. No 1º pavimento ficam localizadas as seis suítes, além das varandas. Já no 2º pavimento estão o espaço gourmet, além da área de lounge, banheiros masculino e feminino, piscina, deck da piscina. Por último, no 3º pavimento, estão as áreas técnicas, gramado, mirante para visualizar o mar e o céu. “Definitivamente este espaço provoca todos os sentidos humanos, para os ouvidos o barulho do mar e dos pássaros, para o olfato, as fragrâncias da natureza, e para os olhos o deleite de mirar para o infinito, e os peitoris em vidro remetem uma sensação de liberdade e simbiose com a natureza”, afirmou Sandra.

Iluminação inovadora Em relação à iluminação, o segundo andar apresenta características bastante inovadoras, pois a arquiteta deixou o concreto do teto aparente com um pé direito de 3,8m e 6 grandes luminárias foram atirantadas neste espaço com uma característica de iluminação indireta e direta, transformando este local de forma surpreendente com a luz. Nas suítes foram utilizadas sancas de iluminação e perfis em frente ao guarda-roupa, revelando sensações únicas, apresentando uma atmosfera intimista e acolhedora. Em todo o hall e na escada a iluminação permaneceu intimista e indireta. “Nós procuramos investir no projeto materiais naturais, refletindo o estilo de vida dos seus usuários. A madeira, nas esquadrias e nos revestimentos de paredes. O concreto aparente expondo uma estrutura nua e crua dando a sensação de despojamento à casa, pois o concreto é sinônimo de versatilidade e simplicidade e foi ‘redescoberto’ por criar um projeto impositivo com características fortes e marcantes na paisagem urbana”, explicou a arquiteta.

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No lado sul, disse Sandra, a ideia foi colocar esquadrias que recolhem todas dando para um jardim vertical. Este jardim foi elaborado com estrutura em madeira e vasos cerâmicos com plantas, integrando a natureza ao espaço social de sala, elemento importante que se caracteriza por ser um grande antídoto contra um plano desnudo de uma parede dando a sensação de uma obra de arte viva e mutante. “Acredito que um profissional de arquitetura precisa escutar todos os desejos e anseios dos seus clientes e realizar o sonho conquistado com o fruto do trabalho, reafirmando a dignidade, amparo e respeito dos seus donos”, concluiu Sandra.

Arquiteta: Sandra Moura Engenheiro: Paulo Henrique

Projeto: Arquitetura de Residência Unifamiliar Esquadrias, escada e decks: Fecimal Arte & Madeira • Iluminação: Stiluz Móveis planejados: Florense • Persianas: Uniflex • Móveis: Dedon By Collectania Piso: Porto Bello • Mármore e granito: Cristal Mármores e Granitos Revestimento: Oca Revestimento + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br 82


FECIMAL

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PROJETO FINAL

POTENCIALIZANDO A ARTE Projeto final de curso de Arquitetura busca soluções para unir acessibilidade, preocupação histórica e a natureza no Centro Cultural Piollin Texto: Renato Félix | Imagens: Lara Carvalho

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m local apropriado para que a arte se desenvolva. Foi buscando esse espírito que, para seu trabalho final de graduação no Centro Univeristário de João Pessoa (Unipê), em 2011, a arquiteta Lara Carvalho optou em ter o Centro Cultural Piollín, de João Pessoa, como tema. “A arte sempre esteve presente em minha vida e é de grande relevância a propagação dela”, explica. “A arte transforma, sensibiliza, educa e encanta. Conheço o trabalho do Centro Cultural Piollin desde criança e admiro o seu ideal, envolvendo jovens de comunidades carentes ao meio artístico e cultural”. A Piollin, que já foi tema da ARTESTUDIO na seção “Acervo”, ocupa o antigo Engenho Paul e é, antes de tudo, o berço do Grupo de Teatro Piollin, responsável pelo maior êxito de crítica dos palcos paraibanos: Vau da Sarapalha. Mas também tem forte esse direcionamento educacional voltado às crianças e jovens da área onde

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se situa: o bairro do Roger. Uma história que começou em 1977 e tem ligados a ela nomes como Luiz Carlos Vasconcelos e Everaldo Pontes. O projeto de Lara, com orientação de José Vanildo de Oliveira Junior, tem o objetivo é a requalificação e a ampliação do centro cultural. “Observei que o centro vem lutando por melhorias em termos de infra-estrutura há bastante tempo, com edificações precárias, ambientes pequenos e falta de acessibilidade, sendo seu solo muito desnivelado”, diz Lara. “Por se tratar de um equipamento situado em um sítio tombado e por possuir poucos recursos, a equipe vem buscando projetos que valorizem sua história, e que se tornem reais”. Lara procura pensar em soluções para dar maior suporte às atividades da Piollin, sem comprometer o local, que é tombado. “Minha proposta se baseia no reconhecimento do valor histórico e cultural da Piollin, oferecendo infraestrutura adequada, requalificando suas edificações tombadas, ampliando e criando ambientes culturais e dinâmicos, propondo integração com a natureza e com o Parque Arruda Câmara, gerando animação urbana ao bairro, promovendo acessibilidade, entre outras propostas”. Mas haviam outros desafios. “A princípio, a preocupação era de como tratar de um equipamento social dentro de um sítio tombado e localizado em uma reserva florestal, pois existem restrições e precauções. Mas a dificuldade maior foi em solucionar a falta de acessibilidade e em como vencer as variações de altura, presentes em todo o terreno”, explica. A proposta de Lara Carvalho tenta trabalhar com esses fatores de dificuldade, não evitá-los. “Estas dificuldades foram revertidas em fatores positivos, e se


tornaram as principais diretrizes para a concepção da proposta”, conta ela. “Utilizei os desníveis para dar forma às novas edificações propostas e serem aproveitados para acessar os diferentes pavimentos existentes. Evidenciei as duas edificações históricas nos patamares superiores (a casa grande e o teatro) e os demais equipamentos em níveis mais baixos, para promover a interação com a natureza, gerando grandes terraços e mirantes, entre outros fatores”. Assim, o estacionamento foi planejado para o início o lote, com 57 vagas, e dez vagas para o estacionamento dos funcionários. A casa grande, agora a Área de Exposições Permanentes, e o teatro ficam próximos ao acesso principal, contemplados com a paisagem de entorno. Novas edificações acolhem os setores administrativos, a escola e o circo. Espelhos d’água acompanham os prédios, interligados por espaços de vivência e beneficiados por vistas privilegiadas e a ventilação natural. O bloco da escola brinca com a fachada, com caixas em diferentes ângulos e sentidos. É também aí que se destaca as preocupações ecossustentáveis, com a utlização do ecotelhado e do Sistema Ecoparede Externa: “Jardins verticais que reduzem a emissão de carbono, diminuem a temperatura, geram conforto térmico e acústico para os ambientes, além de proporcionar o convívio com atitudes sustentáveis em função do bem estar da natureza”, como explica o próprio projeto. Passarelas, escadas, rampas e plataformas elevatórias driblam os desníveis do terreno, com inclinações indicadas pela norma de acessibilidade (NBR 9050, de 2004). O centro cultural participou da elaboração do projeto. “Foram feitas entrevistas com alunos

e a equipe do centro, além de visitas frequentes ao local. Dividi idéias, ouvi opiniões e na apresentação do trabalho final, uma das diretoras esteve presente e demonstrou grande satisfação com o resultado”, diz a arquiteta. O próximo passo – quem sabe? – é que o que foi proposto se torne realidade. “Ainda pretendo realizar uma apresentação a toda a equipe e aos alunos, para que possamos aproveitar ao máximo o conceito da proposta e tentar torná-la real”, afirma Lara. “Seria um sonho realizado”. Trabalho vencedor do concurso na categoria estudante da revista AE.

Arquiteta: Lara Carvalho Projeto de conclusão do curso: Arquitetura do Centro Cultural Piollín

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GRANDES ARQUITETOS

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O AUTOAPRIMORAMENTO COMO

OBJETIVO CONSTANTE A arquitetura inovadora de Toyo Ito é responsável até por uma edificação que resistiu ao terremoto do Japão Texto: Wendell Lima | Imagens: divulgação

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ascido na Coréia do Sul e naturalizado japonês, o arquiteto Toyo Ito ganhou em 2013 o prêmio Pritzker, um dos mais prestigiados da área e amplamente reconhecido como o Nobel da Arquitetura. Conhecido internacionalmente por sua arquitetura conceitual e aclamado como “um dos arquitetos mais inovadores e influentes do mundo”, Ito tem trabalhado com uma grande variedade de materiais e formas nos últimos 40 anos, e já recebeu diversos outros prêmios de renome além do Pritzker, como a Medalha de Ouro Real do Royal Institute of British Architecture em 2006. Já a Associação de Arte Japonesa lhe concedeu o Praemium Imperiale em 2010. Ito foi agraciado ainda por seu projeto do pavilhão japonês na Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2012. Arquiteto pósmoderno, seu trabalho nunca ficou preso a um único estilo. Ele é “um criador de prédios atemporais, que funde seu design com uma dimensão espiritual cuja poética transcende toda a sua obra”, afirmou o júri do prêmio Pritzker sobre o arquiteto. Ainda segundo este júri, “qualquer um que avalie os trabalhos de Ito percebe não apenas uma variedade de programas funcionais, mas também um amplo espectro de linguagens arquitetônicas. Suas formas não seguem uma abordagem minimalista nem paramétrica. Circunstâncias diferentes levam a respostas diferentes. Desde o início, ele desenvolveu trabalhos que eram modernos, usando materiais industriais padronizados e componentes para suas estruturas de grande leveza, tais como tubos, telas expandidas, chapas de alumínio perfurado e telas permeáveis. Seus últimos projetos de expressão foram construídos usando principalmente concreto reforçado e, embora os prédios resultantes pareçam estar naturalmente em equilíbrio, eles são resultado do profundo conhecimento que Ito tem de sua arte, e de sua habilidade de lidar com todos os aspectos da arquitetura simultaneamente”. A agenda criativa de Ito está sempre de mãos dadas com responsabilidade pública. De acordo com ele, um dos grandes objetivos de seu trabalho é desafiar o que chama de “arquitetura desumana”, que se fincou nas cidades, e criar obras humanizadas capazes de abraçar a história, a natureza e a cultura 91


tradicional. Para realizar obras assim, diz o arquiteto, “é preciso apagar as fronteiras entre interior e exterior, tirando proveito de materiais e energia naturais, e adotando uma geometria leve, inerente à configuração das formas da natureza”. Em 2011, quando o Japão foi atingido por um tsunami, o arquiteto se destacou com a realização do projeto Home-For-All, de espaços comunitários para desabrigados. Na mesma época, chamou a atenção do público o vídeo que mostrava o prédio da Midiateca de Sendai, outra obra de Ito, resistindo ao terremoto que originou o tsunami. Os sete andares da estrutura de alumínio de desenho modular e irregular permaneceram intactos, apesar dos tremendos abalos sísmicos. Os prédios projetados por Ito geralmente surpreendem por sua estética e inovação, a exemplo da Tower of Winds, em Tóquio, que faz alusão aos ventos que atingem e renovam a cidade constantemente. Como uma escultura grandiosa, a torre tem em sua composição vidro sensível, material que, associado ao design, faz com que o prédio pareça interagir com o vento através de sua iluminação. Outras obras destacadas do arquiteto são as a Torre Realia e o hotel Porto Fira, em Barcelona, cujo estilo orgânico e cores fortes proporcionam um espetáculo visual, e o estádio

dos Jogos Mundiais, em Taiwan, caracterizado por sua arquitetura fluida e estrutura helicoidal, e pelo uso ostensivo de energia natural captada por uma rede de painéis solares. A despeito de seus muitos prêmios e do grande renome que obteve ao longo de sua carreira, Toyo Ito não acredita em repousar sobre seus louros. Para ele, auto-aprimoramento é um objetivo a ser sempre perseguido, não importa o grau de sucesso que se atinja. “Arquitetura é construída por várias limitações sociais. Eu tenho feito arquitetura tendo em mente que seria possível fazer mais espaços confortáveis se nos libertássemos de todas as restrições, por pouco que seja. No entanto, quando um edifício é concluído, eu fico dolorosamente consciente da minha própria inadequação, e isso se transforma em energia que desafia meu projeto seguinte. Provavelmente, esse processo continuará se repetindo no futuro. Portanto, eu nunca ajustarei meu estilo arquitetônico e nunca me contentarei com meus trabalhos”, afirma o arquiteto.

Arquiteto: Toyo Ito 92


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ACÚSTICA

PELO CONFORTO ACÚSTICO Atenção às normas técnicas melhoram desempenho das edificações Texto: Jean Fechine | Fotos: divulgação

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Brasil conta com uma extensa lista de Normas Técnicas Regulamentadoras que compõem a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) apresentando inúmeros critérios, que vão desde uma simples padronização das dimensões de um cartão de visita, até os requisitos complexos aplicados em operações insalubres por exemplo. No entanto, são observadas negligências tanto no que respeita ao conhecimento e a sua aplicação, por parte dos profissionais técnicos, quanto à fiscalização acerca do emprego dessas normas técnicas por parte dos órgãos competentes.

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Tais negligências resultam na ocorrência de transtornos, dos mais simples aos mais graves quando o caso não se resume a um simples incômodo em termos de audição, mas se transforma em um acidente. Em face desta realidade serão focados aqui apenas os critérios normativos referentes aos aspectos quantitativos e qualitativos para a obtenção do conforto acústico no ambiente construído. Este assunto, de bastante relevância, é tratado na escala urbana como poluição sonora e tem sido um problema crescente nas cidades atingido níveis consideráveis com prejuízo à saúde de seus habitantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a


poluição sonora ocupa o terceiro lugar no planeta, perdendo apenas para a poluição do ar e da água ,causando perdas auditivas em aproximadamente um milhão de pessoas ou gerando problemas de ordem comportamental, contribuindo, por exemplo, para o aumento do estresse. São várias as fontes de ruído que se enquadram na realidade supracitada e, não se trata apenas do ruído gerado pelas pessoas ou por estabelecimentos privados como fábricas, bares, entre outros, mas também da contribuição significativa oriunda das vias e rodovias dentre outros espaços públicos, a exemplo de aeroportos nos arredores das cidades. Tais ruídos, alem de deixarem o espaço urbano confuso, desconfortável e perigoso, levando, em alguns casos, ao comprometimento da acuidade auditiva dos envolvidos diretamente nestas condições, conseguem por sua vez atingir o interior das edificações do entorno, deixando-as desconfortáveis em relação a esta variável de conforto. Para se atestar o nível de conforto acústico em um ambiente construído é necessário levar em consideração a quantidade e a qualidade das fontes sonoras externas, de modo que seja possível quantificar o que passa pelas vedações, para em seguida comparar com os valores de referências. Tais valores, bem como os procedimentos para as verificações dos níveis de ruído constam das NBR-10151 (Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas) e NBR-10152 (Níveis de ruído para conforto acústico). A NBR-10151 fixa as condições exigíveis para a avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, independente da existência de reclamações, e especifica um método para a medição de ruído. Os valores de referência devem ser respeitados como ilustram os números no quadro abaixo: QUADRO 01 - Valores de referência para ruídos em áreas habitadas. LOCALIDADES

Referência dB(A)

Áreas de sítios e fazendas

40 35

Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas

50 45

Área mista, residencial

predominantemente

55 50

Área mista, com vocação comercial e administrativa

60 55

Área mista, com vocação recreacional

65 55

Área predominantemente industrial

70 60

Fonte: NBR- 10151 - Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas

Os ruídos produzidos nestas áreas não devem ultrapassar os valores de referência citados. No entanto, é comum verificar a presença de ruídos acima das referências citadas produzidos por fábricas, bares e até mesmo por vias públicas pois, no Brasil, não são

Barreira para contenção de ruído em via pública.

comuns planejamentos e soluções para este problema a exemplo das barreiras para evitar a propagação de ruídos gerados em vias públicas. Já a NBR-10152 fixa os níveis de ruído compatíveis com o conforto acústico em ambientes diversos, medidos na curva de ponderação “A” conforme - Integrated averaging sound level meters IEC-60804:1985. Seguem alguns valores de referência: Quadro 02 - Valores de referência para conforto acústico RESIDÊNCIAS

Referência dB(A)

Dormitórios

35 a 45

Salas de Estar

40 a 50

ESCOLAS Salas de aula e Laboratórios

40 a 50

Bibliotecas

35 a 45 Fonte: NBR-10152 - Níveis de ruído para conforto acústico

O valores inferiores apresentados no quadro 02 representam os níveis sonoros para conforto, enquanto que os valores superiores significam os níveis sonoros aceitáveis. Cabe, portanto, aos projetistas de edificações verificarem os níveis de ruído externo para especificarem vedações constituídas de materiais que garantam a estanqueidade sonora dentro dos níveis recomendados.

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Evidenciando a importância deste tema, entrará em vigência a NBR-15575/2013 (Desempenho de Edificações Habitacionais), que conterá critérios de desempenho a serem respeitados, contribuindo para que sejam projetadas vedações que cumpram o seu papel de estanqueidade sonora tendo como resultado edificações mais confortáveis. Em dormitórios, por exemplo, as vedações devem apresentar a seguinte capacidade de redução sonora: Quadro 03 - Valores de referência para desempenho de vedações Classe de ruído

Referência dB(A)

Localização da habitação

I

Habitação localizada distante de fontes de ruído intenso de quaisquer naturezas.

≥20

II

Habitação localizada em áreas sujeitas a situações de ruído não enquadráveis nas classes I e III

≥25

III

Habitação sujeita a ruído intenso de meios de transporte e de outras

≥30

Fonte: NBR-15575/2013 - Desempenho de Edificações Habitacionais

Estes valores de referencia acima citados exigirão dos profissionais da área da Arquitetura estudos sobre desempenho acústico dos materiais de construção, bem como estudos ambientais que apontem no sentido de mapear, nos aglomerados urbanos e suas possíveis expansões, o ruído neles existente de modo a fornecer parâmetros para que os projetistas, uma vez cientes das técnicas, das legislações específicas e dos parâmetros quantitativos de ruído possam, em seus projetos, especificar soluções que levem ao tão sonhado e pouco conseguido conforto acústico.

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ACERVO

INEBRIANTE CHEIRO DE CAJU O sucesso da Fábrica de Vinhos Tito Silva, sua decadência e a nova vida através da restauração Texto: Thamara Duarte | Imagens: divulgação

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urante quase cem anos, foi assim: todos os dias, logo de manhã bem cedo, o cheiro doce do caju inebriava os que passavam defronte ao casarão de nº 33, da Rua da Areia, no Varadouro, região mais antiga da velha Parahyba... Para os apreciadores dos prazeres da mesa, dos paladares em busca do mais puro vinho de caju, o local se tornou referência a partir de 1892, quando Tito Enrique da Silva inaugurou a Fábrica de Vinhos de Caju Tito Silva.

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Do limiar do final do século XIX e até 1917, apenas o fabricante, sua mulher e filhos trabalhavam na manufatura caseira, elaborando os processos de forma totalmente artesanal. Eram usados: açúcar, água, álcool, metabissulfito de sódio (material químico), cola e ácido cítrico. Após ser lavado, o caju era triturado numa máquina inventado pelo próprio fundador: uma espécie de ralador de mandioca. O bagaço era descartado, enquanto o suco servia de matéria-prima.


Somente a partir dos anos 1940 é que foram importadas, dos Estados Unidos e da Inglaterra, as primeiras máquinas industriais. A Fábrica Tito Silva viveu, então, sua época áurea. Cerca de 50 sacos de açúcar serviam para a produção de cinco tipos de vinhos. Em 50 tonéis de madeira eram acondicionados os mostos; os xaropes obtidos da mistura do suco do fruto com o açúcar e mais o metabis-sulfito, que é um material químico. Cada vez mais, o Vinho de Caju Tito Silva deixou de ser restrito às famílias paraibanas, passando a ser vendido em outras partes do Brasil. Mascates percorriam o Nordeste e o Centro-Sul (especialmente no Rio de Janeiro eram vendidas mais de quatro mil dúzias da bebida) “divulgando” as delícias e sabores etílicos. Após a Segunda Guerra Mundial, com a Europa em crise, a fábrica viveu uma nova expansão, atravessando os mares e aceitando encomendas para os Estados Unidos e a Alemanha. Pouco a pouco, os doces anos da fartura foram ficando para trás. O sabor amargo das dificuldades foi se tornando cada vez mais forte. A partir de 1964, o crescimento imobiliário mudou a paisagem urbana, derrubando inúmeras áreas de plantação do caju e dando lugar à construção das novas moradias. Os impostos aumentaram tanto que o empresário Tito Silva viu-se obrigado a contrair uma dívida junto à Receita Federal, mas não conseguiu o parcelamento do empréstimo. As máquinas ficaram sucateadas e não havia dinheiro para contratar novos empregados. A velha Fábrica de Vinhos Tito Silva voltou a prensar manualmente o caju, reduzindo em um terço a produção da bebida. Os descendentes do fundador tentaram, de todas as formas, voltar ao glamour de antigamente... Mas, apesar de todos os esforços, após uma lenta agonia, a velha fábrica fechou, definitivamente, suas portas. Era o ano de 1984, quase um século depois, quando a edificação da Rua da Areia deixou de sediar o sonho idealizado – e realizado - por Tito Enrique da Silva...

Tombamento e recuperação Quem passa no local, não imagina que, por quase vinte anos, a edificação esteve praticamente em ruínas. Mas, tombado, recuperado e revitalizado, no século XXI, a centenária história do casarão de número 33, da Rua da Areia pode ser conhecida das atuais gerações e das que farão o futuro. Com 1.820 metros quadrados e três blocos, o estilo eclético revela os elementos decorativos da art-decó e art-noveau. E a fachada, permanece ali no Varadouro; na parte mais antiga da velha Parahyba. Em 1981, com a fábrica praticamente desativada, o imóvel foi desapropriado pelo Governo do Estado. Em 1984, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) publicou o Decreto de Tombamento. O grande momento começou a se desenhar em 1995, quando o imóvel passou a abrigar a Oficina-Escola de João Pessoa, que havia surgido alguns anos antes, em 1991.

Com o lema; “Aprender a fazer fazendo”, a Oficina-Escola nasceu para resgatar os antigos ofícios e lançar um novo olhar sobre a recuperação do patrimônio material e imaterial da capital paraibana. Veteranos técnicos, arquitetos e restauradores tinham uma missão junto aos adolescentes pobres, oriundos das populações vizinhas à edificação: ensinar os segredos da carpintaria, serralharia, pintura e jardinagem. Projeto inovador e cidadão, a troca entre mestres e alunos possibilitou a restauração de dezenas de edificações e obras de arte. Nos últimos anos, as mãos dos artífices se voltaram para a Praça Anthenor Navarro, a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, a Igreja da Graça, a Igreja do Carmo, o Hotel Globo. Mas é uma obra, em particular, que toca o coração da arquiteta Náhya Caju. Primeira diretora da Oficina–Escola, foi ela quem seguiu, passo a passo, a recuperação do imóvel da Fábrica Tito Silva. Foram anos de obras – entre 1997 a 2003 – e que resultaram na possibilidade de se conhecer – e se deleitar – com as antigas portas, janelas e, especialmente a velha fachada da antiga Fábrica de Vinhos Tito Silva. A restauradora Piedade Farias, instrutora da oficina de bens móveis e integrados, resume, numa palavra, o sentimento que lhe provoca a lembrança da edificação. “Emoção! Primeiro, quando a conheci no início da década de 1970, com a fábrica ainda em funcionamento, já cambaleante, mas conservando o encanto das suas linhas arquitetônicas, ostensivas e amplas, cruzando de um lado ao outro o quarteirão; depois, com a fábrica já fechada. Veio a década de 1980 e a notícia do desabamento de toda a sua coberta e parte do pavimento superior. Triste emoção: por muitos anos a sua ruína me fez conviver com esse sentimento. Por fim, veio a decisão da restauração”. Piedade diz que não se sabe ao certo como surgiu, na década de 1990, a ideia de recuperar o imóvel, preferindo recorrer à poesia de Fernando Pessoa: ”Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Segundo ela, “a obra nasceu de muitas instituições e muito trabalho”. No turbilhão de tantos sentimentos e ações para recuperar o passado, ela lembra:“Havia mudado o século quando restaurei a placa de sua inauguração, imensa, em alvenaria emoldurada por frisos relevados, com letreiro desenhado, apontando o ano de 1892 como o ano de seu estabelecimento. Restaurei, também, uma placa em ferro revestido por ágata, onde estava pintado um rapaz erguendo uma garrafa de vinho. A placa foi afixada no seu local de original. O curioso é que uma pesquisa existiu, é certo, mas, como nada foi encontrado, Náhya Caju falou: ‘Acho que ela fica bem nesse local’. Somente em 2004, durante uma visita, uma velha operária da fábrica exclamou: ‘Essa placa ainda existe! E está no mesmo local onde Tito Silva a colocou!’”. O visitante que adentra no interior da edificação se depara, ainda, com uma exposição permanente. Estão reunidos fotos, rótulos de vinho e objetos de antigamente – barris, balança, relógio e mobiliário. Todos os dias, o passado se faz presente, na velha Fábrica de Vinhos Tito Silva, na cidade da Parahyba...

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VIAGEM DE ARQUITETO

O EXOTISMO DO PACÍFICO A Tailândia revela-se entre a agitação, a religiosidade e as praias de areia branca

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iajar à Tailândia é uma experiência atípica. Já da janela do avião nossa vista alcança a arquitetura dourada dos grandes templos, espelhada por vários pontos da cidade. Levávamos na bagagem uma certa ânsia de conhecer essa nova cultura. Iniciamos pela vibrante capital Bangcoc, atravessada pelo rio Chao Phraya. Trata-se de um lugar em que a paz e o caos coexistem, onde mais de dez milhões de habitantes vivem diariamente entre tradições e modernidade. As ruas agitadas pela essência do povo tailandês, com uma mentalidade firme em sua religião – a maioria é budista – ; as barracas com comidas exóticas cujo aroma é apimentado e estimulante desde o café da manhã; as massagens tailandesas ofertadas em todas as direções; os famosos tuk-tuks serpenteando por entre os carros; pessoas indo e vindo de todos os lugares do mundo, encantadas com a Tailândia. A simpatia “Thai” é algo marcante: é corriqueiro chegar em qualquer lugar, e ser recebido com um gesto simples de juntar as mãos e baixar a cabeça dizendo “sawasdee-kaa” (seja bem-vindo), acompanhado de muitos sorrisos. 100


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A cidade possui uma grande quantidade de templos (wat) cujo poder de sedução está em sua suntuosa arquitetura e na curiosidade sobre a sua história. Templos esses que portam de uma paz tão grande que quase pode ser tocada. Dedicamos o primeiro momento a conhecer os principais templos da cidade, com o Grand Palace, que serviu de moradia da família real tailandesa por muitos anos. Trata-se de um grupo de edifícios coloridos e ricamente ornamentados. As cores e a riqueza de detalhes que saltam aos olhos. Entre eles está o Wat Phar Kaew, como é conhecido o templo do Buda de esmeralda. É o templo mais sagrado da Tailândia,com seus telhados coloridos, minuciosamente decorado com seus dourados e as figuras míticas absurdamente encantadoras . Ficamos impressionados com a qualidade de conservação dos edifícios, a pintura dos telhados parecia ainda fresca. Em seguida nos dirigimos ao Wat Pho, conhecido como templo do Buda reclinado, com 46 metros de comprimento e 15 metros de altura,coberto com folhas de ouro. Partimos para o Wat Traimit, um outro templo que vale a pena incluir no roteiro por conta da estátua do Buda que ali fora instalada. Com 3 metros de altura e pesando 5,5 toneladas em ouro maciço, apresenta-se sentado na posição que o Buda assumiu quando recebeu a “iluminação”, depois de ficar 7 semanas meditando embaixo de uma figueira, árvore considerada sagrada na Tailândia.

Um pouco distante de Bangcoc, a antiga capital da Tailândia, Ayutthaya , guarda até hoje as magníficas ruínas de templos e palácios enlaçados pela pátina, vivendo um diálogo harmônico com o tempo onde percebe-se um verdadeiro respeito dos tailandeses às suas raízes. Foi declarada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Sua história termina e começa durante as invasões dos birmaneses quando todas as cabeças dos Budas foram destruídas resultando nas famosas ruínas . Curiosamente uma delas permaneceu entre as raízes de uma árvore e só fora descoberta séculos mais tarde. Trata-se de uma

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É fascinante estar diante de uma cultura distinta da nossa. Ver por todos os lados aqueles semblantes diferentes, a maneira de ir e vir, de falar e se apresentar, o conceito de certo e errado totalmente contrário ao que vivenciamos, sem dúvida é uma experiência que nos faz refletir a diversidade capaz de existir mundo afora.

cena enigmática. Por fim, estar em Ayutthaya é viver uma verdadeira viagem ao tempo. Seguimos para o paradisíaco sul do país, Phuket, de onde seguimos para Phi Phi Island, Maya Bay , onde foi filmado o filme A Praia, e James Bond Island, onde foi filmado o primeiro filme 007, entre outras. Nesse momento partimos para um intenso contraste em termos de roteiro. É a vez das praias de areias brancas, com vegetação exuberante e águas turquesas, as rochas com dimensões absurdas e volumes inacreditáveis. Sem dúvida um dos lugares mais belos do país, um verdadeiro prazer para os olhos e para alma. A paz outrora encontrada nos templos construídos pelo homem, dessa vez se finda na arquitetura natural. Apesar de nos deparamos com várias placas nos advertindo no caso de tsunami, o mar calmo e silencioso de Phuket possui ainda uma rica vida marinha para quem se aventura em mergulhar. Sendo um dos melhores mergulhos do planeta, os animais marinhos circulando em completa calma por entre as cores vibrantes e volumetrias utópicas dos grandes corais, formaram-se imagens extasiantes que não existiam nem mesmo em meu imaginário. Texto e fotos: Anne Elise Furtado + fotos no site: www.artestudiorevista.com.br

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ARQUITETURA E ARTE

CENÁRIO REAL

A série Downton Abbey mostra dramas, romances, nobres e serviçais a partir do lugar onde moram: um palacete verdadeiro Texto: Renato Félix | Arquiteta convidada: Valéria von Buldring | Fotos: Divulgação

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lar de um homem é o seu castelo, já dizia o velho ditado. O caso da série Downton Abbey é quase literal: a série é sobre um palacete, um pequeno castelo, e seus ocupantes – moradores e empregados. Com início em 1912 e atravessando os anos, o seriado britânico leva o nome da propriedade da família Crawley, chefiada pelo Lord Grantham (Hugo Bonneville): e a casa tem uma personalidade própria, com suas particularidades. “A personalidade do palacete está totalmente conectada com a história da família do nobre que cuida do povoado que habita a vila subordinada e seu entorno

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no campo”, explica a arquiteta Valéria von Buldring. “Quanto ao estilo, pode-se dizer que faz parte do contexto da época por toda a Europa e principalmente na Inglaterra. É a arquitetura historicista, nome dado a um conjunto de estilos arquitetônicos que centrava seus esforços em recuperar e recriar a arquitetura dos tempos passados, criando monumentos em prol da valorização da história, assumindo um caráter nacionalista romântico”. Valéria conta que esse movimento influenciou edificações importantíssimas da Inglaterra. “O auge desse movimento na Inglaterra se deu com o projeto e construção do Parlamento Britânico, com toda essa


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mistura de estilos buscando o eclético, o neoclássico, art noveau e principalmente o neogótico, com seus arcos e imponentes volumes com diferenças de alturas e amplos pé direito”, afirma. “Essas mesmas características também podem ser observadas no palacete de Downton, até por se tratar da mesma época.Toda a rica decoração interior bem trabalhada em vários estilos, com predominâncias do detalhismo do rococó e art noveau nos mobiliários e nos bem trabalhados tetos e paredes”. O cenário de Downton Abbey é, em boa parte, real. E em mais de um sentido. O Highclere Castle é o local que faz as vezes de Downton em seu exterior e também em parte do interior. Fica em Hampshire e é o lar da família Carnarvon. Hoje, o local recebe visitas guiadas e uma parte do ano – boa parte impulsionada pelos fãs de Downton Abbey. As histórias se cruzam também porque a propriedade real foi salva, em determinado momento, pelo dinheiro de uma herdeira americana que se casou com o conde (na série, Cora, papel de Elizabeth McGovern). A série se aproveita bem da vantagem de ter exterior e interior em locações. Há planos-sequência que começam dentro de casa e nos quais a câmera sai para mostrar a fachada, ou o contrário. Já a cozinha, os ambientes dos empregados e quartos de cima foram construídos em estúdio. A diferença entre os cômodos de patrões e empregados – não só de luxo, mas geográfica dentro do palacete, com os patrões “em cima” e os serviçais “embaixo” – é emblemática das relações de classe daquela época. A série mostra, com a mesma importância, os dramas dos Crawley e de seus empregados. A história começa com um impasse jurídico: Robert e Cora têm três filhas (Mary, papel de Michelle Dockery; Edith, Laura Carmichael; e Sybil, Jessica Brown Findlay), mas, pela lei, só homens podem herdar a propriedade e o dinheiro. Porém, o herdeiro (um primo) morre e o posto fica vago. A trama vai, então, mostrar a adaptação do próximo na linha de sucessão, Matthew (Dan Stevens) a esse novo (velho) mundo, e desse mundo a ele. Os empregados, por sua vez, são liderados pelo mordomo Carson (Jim Carter) e a governanta Sra. Hughes (Phyllis Logan). Entre as várias histórias, destaca-se a do misterioso valete John Bates (Brendan Coyle) com a chefe das arrumadeiras, Anna Smith (Joanne Froggatt). Há normas rígidas sobre que serviçais podem estar presentes na sala de jantar, por exemplo. “Existe também uma ocupação para os empregados lateral, cujo acesso aos quartos necessita de uma subida de escadaria, pois assim sofre o valete, com problemas na perna, para subir tantas escadas”, observa a arquiteta. “A relação entre a nobreza e os empregados, nessas épocas difíceis para a plebe, está girando sempre dirigida às facilidades para os nobres. Projetualmente as dependências dos funcionários devem sempre estar para os acessos exteriores, para abastecer o interior e atender mais rapidamente os nobres. E, ao mesmo tempo, manter certa distância, através de subníveis com escadarias para que não haja

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muito contato, nem físico, nem com barulhos. Como é o caso do acesso à cozinha: fica bem mais trabalhoso e difícil subir e descer com travessas de prata com comidas muito pesadas. Mas, para que não haja nenhum som da equipe da cozinha chegando à sala, existe sempre essa distância”. O palacete é isolado – longe da vila e sem outra construção nos arredores. “Nesta época, sofisticação, luxo e nobreza estão ligados a grandes jardins exuberantes, com labirintos e exposições de flores exóticas. Principalmente os ingleses, que trazem nas raízes o cultivo por jardins e o campo verde aberto para cavalgadas e caçadas”, lembra Valéria, fazendo uma ressalva. “Não seria um isolamento pelo campo aberto e, sim, a imponência da construção com o verde em volta para realçar ainda mais a beleza da sua arquitetura sem nenhuma interferência ao redor”. Um detalhe importante é que o mundo de Downton Abbey está passando por transformações profundas diante de novidades como automóveis e telefones – um mundo personificado, mais do que por qualquer outro personagem, na figura da condessa viúva Violet, mãe de Robert, vivida pela lenda viva Maggie Smith. Ela chega a perguntar, quando a expressão é mencionada, o que é um “fim de semana”. Como os nobres não trabalham, essa noção simplesmente não existe para eles. “A mudança estava chegando aos poucos e, como toda mudança, há resistências. A condessa viúva simplesmente não gosta da energia por achar forte e dar dor de cabeça, a funcionária acha que é coisa do mal e tem medo”, conta Valéria. “Mas a maioria das mudanças sobre a ostentação sempre vem mais das cidades em processo de urbanização acelerado, com a Revolução Industrial a galope. No campo, os nobres continuam a resistir a qualquer mudança que mexam com suas vidas e suas rotinas. Por exemplo, seria muito plebe trabalhar e só ter tempo no fim de semana”. Os espaços dentro da casa refletem um código de conduta é rígido e inquestionável. “Mesmo os empregados possuem hierarquias, vivendo com regras internas e limpeza nos seus ambientes. Se reúnem para o chá como ingleses e protegem a reputação das funcionárias como damas”, diz a arquiteta. “Existe um certo respeito dos nobres para com seus funcionários no sentido de proteção para com os seus e para que sejam bem servidos. Os funcionários sempre participam ativamente da vida dos nobres e até interferem na vida deles, a partir do momento em que trocam informações com funcionários de outros nobres, levantando toda a rede de intrigas e fofocas da época”. Downton Abbey prepara a estreia de sua quarta temporada na Inglaterra. A série atravessa os anos e a I Guerra Mundial e não é raro um salto de meses na história entre um episódio e outro. As temporadas são curtas: entre seis e oito episódios, com um especial de Natal após o segundo e o terceiro anos. O canal pago GNT vem exibindo a série e a terceira temporada acaba de sair em DVD, assim como um box reunindo os três primeiros anos em 11 discos.

Não é uma febre a ser subestimada. Lá fora já há livros sobre a história do verdadeiro palacete, sobre os pratos da cozinha de Downton Abbey, sobre personagens em particular, e matérias sobre como os interiores da residência da família Crawley pode inspirar a sua própria (informando, por exemplo, que as cores do período Eduardiano – época da trama – são mais leves e brilhantes que as da era Vitoriana). Não faltam maneiras de desfrutar da companhia da família Crawley e conhecer melhor a casa onde vivem.

Downton Abbey, Temporadas 1, 2 e 3 em DVD Distribuição: Universal

+ fotos no site: www.artestudiorevista.com.br

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REPORTAGEM

TINTIM POR TINTIM A Norma de Desempenho 15.575 determina detalhes importantes para a construção de unidades habitacionais Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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partir do dia 19 de julho engenheiros, arquitetos e construtores tiveram que passar a dar mais atenção a uma série de normas. A Norma de Desempenho 15.575, que é uma compilação de outras 61 normas, dará mais conforto e garantias a quem está comprando um imóvel para morar. A maior novidade é que, agora, o proprietário do imóvel será o maior fiscal da obra. Cada unidade habitacional terá um manual, que será seguido tanto pela construtora, quando pelo proprietário, ajudando na vida útil do imóvel. De acordo com Corjesu Paiva, engenheiro civil e de segurança do trabalho, membro do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia e assessor institucional do Crea, a Norma de

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Desempenho é um conjunto de outras normas. “A ABNT resolveu fazer uma coletânea de normas técnicas que já existiam. Este é um resumo das que são mais úteis e mais utilizadas na construção civil. Hoje, existe mais de duas mil normas. Tudo é normatizado e essa norma juntou em um só documento tudo em relação a edificações habitacionais”, disse. Segundo Sergio de Oliveira, da Mega Construções e Incorporações, a norma de desempenho, também conhecida como norma 15.575, não tem o foco exclusivamente nos requisitos da edificação, ela tem objetivo de satisfazer, também, os requisitos dos usuários. “Principalmente segurança, habitabilidade e sustentabilidade, independentemente da forma ou dos materiais utilizados. Na realidade ela tenta atingir


a excelência do uso. O indivíduo deve usufruir do seu ambiente habitacional com o maior conforto possível, sem riscos e isso tudo durante, pelo menos, o tempo de vida útil especificado em projeto”. Sergio diz ainda que acredita que a Norma não vai mudar muita coisa, pelo menos na prática, para quem já faz tudo dentro das normas. Mas alguns itens vão precisar ser reavaliados e ensaiados para confirmação de alguns índices e parâmetros. “Legalmente, ela ratifica as responsabilidades de projetistas, construtores e incorporadores e, principalmente, dos usuários das unidades habitacionais. Por outro lado, para o consumidor, ela põe as nossas edificações em um patamar elevado de qualidade, patamar de países de sociedades mais desenvolvidas ou que se desenvolveram antes que a nossa”. Corjesu explicou ainda que essa norma é aplicada a todas as edificações habitacionais e com ela, alguns profissionais que procediam de maneira incorreta, por falta de conhecimento, terão todas as normas em um único local. “Para que uma unidade habitacional seja construída, terá que haver a descrição detalhada de cada um dos materiais a ser usado, desde as especificações do tijolo, até a marca e o modelo da maçaneta. Para começar a obra, deve existir estudo de área, de uso e ocupação do solo, vistoria de vizinhança”, disse. Uma das regras que vai agradar a todos, é a obrigatoriedade de material de tal qualidade, com qualidade acústica, que o piso não deixe que no andar de baixo se escute uma pessoa caminhando de salto alto. “O material adequado que evita a propagação do som, para tudo existe procedimento adequado para quer você tenha um conforto”, comentou Corjesu. O grande fiscal será o consumidor, que ao final da obra, antes de dá-la como recebida, verificará no seu manual quais são as especificações prometidas e o que foi feito no imóvel e como fazer a manutenção. “As empresas irão fornecer um manual, será como um carro novo, que no manual do proprietário diz quais os cuidados devem ser feitos e em quanto tempo, pois todo imóvel precisa de manutenção adequada. O consumidor para a ser co-responsável pela durabilidade do empreendimento”, disse o engenheiro. Ele garantiu ainda que os profissionais responsáveis pela construção do empreendimento podem responder civil e criminalmente caso algo seja feito de forma errada. “Essa norma acaba com aquela ‘lei’ da vantagem, dessa mania que alguns maus profissionais tinham de trocar o material prometido por um similar de menor qualidade”, comentou. Sergio diz que não vai haver uma fiscalização oficial desses parâmetros, pois não há estrutura e nem necessidade. “A fiscalização vai ficar a cargo do próprio consumidor e, acredito que, como hoje há uma grande parcela das unidades habitacionais financiada por empresas de crédito imobiliário, essas

empresas também se encarregarão disso. Elas não vão querer correr o risco de serem questionadas por terem financiado um imóvel em desacordo com a norma”. O empresário lembra que a norma pode ser dividida em seis partes, todas elas ligadas à durabilidade da obra e aos requisitos de usuário. “São exigências relativas à segurança, habitabilidade e sustentabilidade, que abordam o desempenho desde a vida útil da edificação até questões ligadas à propagação de incêndios, segurança no uso e manutenção do imóvel, estanqueidade (interna e externa), desempenhos térmico, acústico e lumínico da edificação em cada estação do ano, conforto tátil e antropodinâmico”, enumerou.

Algumas das regras que devem ser cumpridas NBR 15.575 • Entre as paredes de apartamentos vizinhos, o isolamento deve ser de 45 decibéis. Ou seja, a pessoa não pode entender o que o morador ao lado fala. ( ruído aéreo) • Os moradores de um apartamento inferior não poderão ouvir os ruídos de sapatos do andar superior, máximo de 80 dB. (ruído de impacto) • Os vizinhos não podem escutar quando outro morador acionar a descarga do banheiro. • Em paredes-cegas (sem portas) de salas e cozinhas entre uma unidade habitacional e áreas comuns de trânsito eventual, tais como corredores e escadaria dos pavimentos, o som não pode ultrapassar 39 decibéis. • Em

paredes-cegas

entre

uma

unidade

habitacional e áreas comuns de permanência de pessoas, atividades de lazer e atividades esportivas, além de cozinhas e lavanderias coletivas, o som não poderá ultrapassar 54 decibéis. • Em termos de área, não existe o mínimo, mas tem que acomodar bem todos os equipamentos e mobiliários. • No quesito durabilidade: Coberta 20 anos , Estrutura 40 anos, vedação de fachadas 40 anos, sistema hidrossanitário 20 anos e pisos internos 13 anos.

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ESPECIAL

TERCEIRA

DIMENSÃO A arquitetura paramétrica e a tecnologia BIM traçam novos parâmetros para projetos de arquitetura e engenharia Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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rquitetura paramétrica, mais uma expressão da arquitetura contemporânea, é uma categoria de arquitetura que se fundamenta em sistemas de desenho paramétrico, possibilitando a escolha de soluções mais adequadas. Esses desenhos por sua vez são um tipo de sistema de desenho digital que toma por base parâmetros para a definição de modelos bidimensionais e tridimensionais. E foi justamente usando este sistema que grandes arquitetos fizeram projetos urbanos como o One North Masterplan, em Cingapura; Zorrozaurre Masterplan, em Bilbao; o Kartal-Pendik Masterplan, em Istambul; e o Thames Gateway Masterplan, em Londres. Aliados à tecnologia BIM, que faz com que toda a informação de representação gráfica seja incorporada ao modelo durante o processo, o projeto fica mais dinâmico. É o que nos explica Robson Canuto da Silva, arquiteto e urbanista, mestre em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco, pesquisador nas áreas de Morfologia Urbana e Arquitetônica e Tecnologias Computacionais Aplicadas à Arquitetura e ao Urbanismo e co-autor do estudo “Urbanismo paramétrico: emergência, limites e perspectivas de nova corrente de desenho urbano”, fundamentada em sistemas de desenho paramétrico. O mestre esclareceu que, enquanto os tradicionais softwares de Projeto Assistido por Computador (CAD) se baseiam na representação de objetos geométricos elementares dentro de um sistema de coordenadas cartesianas (no qual tais objetos precisam ser redesenhados quando alterados), os sistemas paramétricos se baseiam em parâmetros manipuláveis. “Por isso, quando trabalhamos com o desenho paramétrico existe a capacidade de o modelo ser ajustado e reajustado durante todo o processo de projeto, aspecto pelo qual são ferramentas mais dinâmicas e interativas”, disse. Além disso, equações podem ser prescritas para estabelecer relações entre os modelos, definindo uma geometria associativa, em que os objetos estão interconectados e podem ser programados para desenvolver diferentes formas de alterações. “São ferramentas computacionais realmente poderosas como Grasshopper e Generative Componentes (GC)”, exemplificou. Robson pondera que existem aspectos formais que diferenciam a arquitetura paramétrica. “Ela evita a repetição de elementos padronizados, o desenho de objetos platônicos, linhas retas, e ângulos retos, em prol do emprego de geometrias complexas topológicas (Nurbs e Splines) e de uma busca exacerbada por variação formal, em que nada se repete e os componentes não têm necessariamente a mesma forma”, disse.

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Canuto diz ainda que Patrik Schumacher, sócio do escritório Zaha Hadid Architects, talvez o maior teorista do tema, tem defendido constantemente que existe, sim, um estilo paramétrico: o parametrismo. “Esse estilo supera o modernismo, o pós-modernismo e o desconstrutivismo. Porém, no meu ponto de vista, a arquitetura paramétrica é apenas mais uma expressão da arquitetura contemporânea, ela reflete as inquietações, técnicas e tecnologias do nosso tempo. É uma expressão do espírito do nosso tempo, mas isso não significa dizer que é a única abordagem recente para a arquitetura. A arquitetura contemporânea acolhe uma grande diversidade de abordagens e linguagens, o que é um legado muito positivo”, comentou. Para o arquiteto, o processo de projeto paramétrico apresenta a flexibilidade necessária para explorar múltiplas alternativas, possibilitando a comparação de diferentes opções e a escolha de soluções mais adequadas. Portanto, tem grande potencial para aprimorar a sistemática de produção, visando a concepção de artefatos arquitetônicos mais eficientes, especialmente do ponto de vista formal, espacial, funcional e ambiental. “Embora em projetos recentes os parâmetros formais sejam mais explorados, o resultado pode ser muito promissor quando se usa a modelagem paramétrica para investigar formas que tenham um desempenho ambiental melhor. Um excelente exemplo disso é a torre de escritórios da Swiss Re. Neste projeto, o grupo Foster & Partners explorou especialmente parâmetros formais e ambientais para determinar o design final da torre. Partindo de um layout típico de edifícios de escritórios – uma planta circular com núcleo de circulação vertical central – , o grupo gerou um modelo paramétrico cujo perfil, formado por sete arcos tangenciais, foi geometricamente associado às suas secções circulares. De modo que, variando a altura, os diâmetros e outros parâmetros similares, a silhueta do modelo era imediatamente recalculada e alterada”, disse, complementando que a variação desses parâmetros foi condicionada a diversos critérios de desempenho aplicados ao projeto, inclusive para um melhor escoamento da ventilação ao longo da fachada e do meio urbano.

Urbanismo paramétrico O urbanismo paramétrico, segundo Robson Canuto, é uma nova corrente de desenho urbano que surgiu no âmbito da prática do escritório Zaha Hadid Architects e no ambiente acadêmico da Architectural Association School, em Londres. Assim como a arquitetura paramétrica, ele também se fundamenta em ferramentas de desenho paramétrico. “Vários projetos urbanos de larga escala foram desenvolvidos nos últimos dez anos pelos arquitetos Zaha Hadid e Patrik Schumacher, empregando essas novas tecnologias”, citou. Além dessa possibilidade prática-projetual do urbanismo paramétrico, ele também pode também ser muito útil ao planejamento e gestão urbanos de nossas cidades. “Há um potencial rico, ainda pouco explorado. A modelagem paramétrica poderia ser mais empregada, por exemplo, para simular a aplicação dos parâmetros estabelecidos nas nossas legislações urbanísticas e, com isso, tornar visível o que de fato as legislações estabelecem em termos de forma urbana antes de aplicá-las. Isso é possível porque aspectos como densidade, uso, forma, espaço e tipologia, que são inerentes ao desenho urbano podem ser definidos parametricamente. Assim, o urbanismo paramétrico se aplica tanto ao projeto urbano quanto ao planejamento”, explica.

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Tecnologia BIM Robson explica ainda que a Building Information Model ou Building Information Modeling (BIM) é uma nova geração de ferramentas CAD que permite o desenvolvimento do projeto arquitetônico por meio da construção paramétrica de um modelo (um edifício virtual), de um modo que toda a informação de representação gráfica (bidimensional ou tridimensional) e necessária à análise estrutural, orçamento e construção é incorporada ao modelo durante o processo e se encontra nele por toda sua vida útil. “No BIM não interessa tanto plantas baixas, cortes e elevações, isto é, os meios de representação tradicional da arquitetura, mas, sim, o modelo tridimensional e as informações associadas a ele. As ferramentas BIM também são paramétricas em muitos aspectos e algumas ferramentas de desenho paramétrico são consideradas ferramentas BIM. Porém, nem todas as ferramentas que conhecemos como BIM permitem a modelagem de geometrias complexas de uma forma paramétrica. No entanto, vale destacar que, na arquitetura paramétrica fazer usos de ferramentas BIM é fundamental para tornar mais ágeis os processos de projeto e produção/ fabricação”, explicou o especialista.

Surgimento As ferramentas de desenho paramétrico surgiram a partir dos anos 1990, como forma de superar as limitações das ferramentas de modelagem digital disponíveis até aquele momento, que eram claramente limitadas, pois careciam de mecanismos apropriados para modificar interativamente o modelo uma vez que ele fosse criado. “Em função disto, a arquitetura continuava a ser produzida por meios tradicionais e os arquitetos usavam o computador apenas como ferramenta de desenho; poucos exploravam o potencial da tecnologia digital como ferramenta direta para criação de formas arquitetônicas”, disse Canuto. Ele lembra que esta realidade começou a mudar graças às contribuições de Robert Aish, Lars Hesselgren, J. Parrish e Hugh Whitehead que promoveram avanços significativos no desenvolvimento de ferramentas de desenho paramétrico com aplicação mais efetiva direcionada ao projeto arquitetônico. “Ao longo dos anos 1990 e 2000, diversos arquitetos exploraram essas ferramentas no desenvolvimento de projetos. Muitos projetos não ultrapassaram o nível da experimentação digital, mas outros se tornaram exemplares concretos de arquitetura paramétrica, como a torre de escritórios da Swiss Re, projetada pelo arquiteto Norman Foster, em Londres, e o museu Mercedes-Benz, projetado por Ben van Berkel e Caroline Bos, em Stuttgart. Assim sendo, a arquitetura paramétrica surgiu da prática da profissão, mas vale destacar que foi Branko Kolarevic, professor associado da University of Pennsylvania, quem apontou sua emergência no início dos anos 2000, estabelecendo definitivamente essa terminologia na literatura”.

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CONVERSA FRANCA

FÁBIO SINVAL

ENVOLVIMENTO DIRETO

Empresários ligados na produção e comercialização é uma vantagem no mercado de imóveis pessoense, segundo o presidente do Sinduscon Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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ngenheiro Civil formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pós-graduado em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o empresário Fábio Sinval Ferreira também é presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa (Sinduscon), entidade da qual faz parte há 20 anos. Fábio foi uma das cabeças que pensou o Salão Imobiliário para alavancar o mercado imobiliário, aproximando empresas e consumidores. A paixão pela construção civil e a dedicação ao que acredita, faz com que Fábio faça parte ainda da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), da Cooperativa de Compras Coopcon e da Unicred/JP, todas entidades focadas na construção. E é gabaritado por toda essa experiência que Fábio nos fala sobre o mercado imobiliário.

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ARTESTUDIO – Como está o mercado imobiliário na Paraíba? João Pessoa tem a mesma realidade de outras cidades do estado? FÁBIO SINVAL FERREIRA – Aquecido, porém sem movimento especulativo. Estamos vivendo um momento bom, porém os empresários têm que prestar atenção aos sinais que o mercado está emitindo, sendo mais ponderados em seus lançamentos e pesquisando melhor as oportunidades de negocio. João Pessoa naturalmente é o carro chefe do movimento imobiliário e o comportamento se reflete nas demais cidades da Paraíba, que também passa por bons momentos. AE – Estamos (ainda) passando pelo boom imobiliário? FS – Como falei anteriormente, não temos mais boom imobiliário, porém temos um mercado maduro e com boa velocidade de vendas. A fase do oba-oba já passou, e os empreendedores de oportunidades, aqueles que entraram no segmento para aproveitar o momento, fiquem atentos que vem mudanças bruscas, com a entrada da nova Norma de Desempenho, que vai valer a partir de 19 de julho de 2013. AE – O que é a Norma de Desempenho de Edificações Habitacionais, a NBR 15.575? FS – Com a Norma de Desempenho, teremos obras de melhor qualidade, com melhores garantias e grandes novidades nas áreas de sistemas estruturais, de revestimentos de pisos e paredes, de sistemas de vedação verticais e de sistemas hidro-sanitários. Serão observados nos sistemas, os desempenhos acústicos, térmicos e lumínicos, bem como, acessibilidade, estanqueidade, manutembilidade e outros mais, que terão grandes impactos no processo de produção das construções residenciais. Quero alertar aos

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construtores, da necessidade de observância desta nova norma, pois só terão financiamento aqueles imóveis que atendam os requisitos mínimos exigidos. AE – Como o consumidor pode exigir isso dos construtores a partir de julho de 2013? As construtoras vão ser obrigadas, a partir do dia 19 de julho, a entregar o manual do usuário ao cliente que comprou uma habitação? FS – O manual passará a ser entregue, obrigatoriamente, para os clientes dos projetos novos, que serão licenciados depois do dia 19 de julho, mas, muitas empresas já fornecem os manuais. No entanto, estes serão mais detalhados, em especial, enfocando as orientações de manutenção do imóvel individual e da edificação como um todo. AE – O que muda na relação com os síndicos e moradores desses edifícios? Suas obrigações na manutenção aumentaram muito? FS – Na verdade, o síndico terá que ficar mais atento à manutenção da edificação, para não perder as diversas garantias relativas aos sistemas hidrossanitário, elétrico, conservação de fachada, entre outros itens. Então, mais que um simples administrador das obrigações fiscais e previdenciárias do condomínio, o síndico será um gerente efetivo se preocupando com a manutenção do condomínio e, por conseqüência, preservando o patrimônio dos moradores. AE – O que o pessoense procura quando compra um imóvel? FS – O pessoense não quer comprar apenas um apartamento, ele quer uma estrutura de clube, com muitos equipamentos de lazer.


AE – Ele não tem a preocupação com os materiais empregados? FS – Os clientes, embora cada vez mais informados, preocupam-se, aos poucos, com itens que garantam sustentabilidade e economia, com o uso de cotidiano, como por exemplo, o uso de descargas econômicas, de lâmpadas econômicas, em alguns casos com uso de energia solar para aquecimento da água. Os processos construtivos atuais visam redução do desperdício com controle maior sobre a execução do projeto e melhoria da qualidade da obra, tanto com novos materiais, como um acabamento melhor. É importante observar que isso não acontece da noite para o dia, mas, de forma gradual. O produto da construção civil é um bem de longo prazo, deve ter durabilidade e as inovações devem ser muito testadas, para dar segurança ao cliente. AE – Quais os cuidados ou precauções que se deve tomar na compra de um imóvel? FS – Nos aspectos legais, ver se a empresa fez o registro da incorporação e pedir a certidão, bem como, exigir as certidões negativas de tributos nas esferas federal, estadual e municipal, certidões negativas de protestos e de falência e concordata. Nos aspectos técnicos, verificar quais as obras que a empresa fez e se possível visitá-las para constatar o acabamento e o grau de satisfação dos clientes. AE – A indústria de construção civil em João Pessoa têm a fama de ser mais honesta que de outras regiões, por entregarem as obras no prazo ou antes dele. Isso é verdade? Porque isso acontece? FS – Sim. Nosso índice de reclamação junto ao Procon é praticamente zero. O nosso mercado imobiliário é composto basicamente de pequenas e médias empresas, cujos proprietários estão diretamente

envolvidos no processo de produção e comercialização das unidades, onde existe uma proximidade com o consumidor, daí resultando uma melhor qualidade. AE – Mas o senhor acha que o consumidor conhece os seus direitos quando compra um apartamento, por exemplo? Não seria por causa da falta e informação que os índices de reclamação são tão baixos? FS – O Código do Consumidor se aplica também na construção civil. Como coloquei anteriormente, o cliente está mais informado e esclarecido. Os agentes financeiros e os órgãos licenciadores são rigorosos na liberação dos projetos e no financiamento dos imóveis, então, existe uma peneira rigorosa. Outro aspecto é que num mercado competitivo, quem não se qualifica fica para trás, assim, um vê o que o outro faz e quer fazer melhor, por isso esta evolução tanto nos imóveis de alto padrão como, inclusive, nos mais simples. AE – Existem bairros que antes eram predominantemente de casas e hoje estão migrando para edifícios com vários apartamentos? FS – Praticamente em todos os bairros existem o processo de verticalização, principalmente naqueles que tem toda a infraestrutura, como o Bairro dos Estados, Tambauzinho, Miramar, Jardim Luna e Bessa. Isto sem falar na zona sul, onde bairros como Bancários, Água Fria e Mangabeira, estão passando pela mesma situação.

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OUTRAS ÁREAS

UM GRANDE PAI Sebastião Vasconcelos marcou a TV com personagens paternos importantes em Mulheres de Areia e Tieta Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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loriano, o pai das gêmeas Ruth e Raquel, papéis de Glória Pires em Mulheres de Areia (1993). Zé Esteves, o pai da protagonista (Betty Faria) em Tieta (1989-1990). Salvador, pai de Raquel (Regina Duarte) e avô de Mária de Fátima (Glória Pires), cuja morte no primeiro capítulo desencadeia a trama de Vale Tudo (1988-

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1989). Clássicos da TV brasileira com participação marcante do ator paraibano Sebastião Vasconcelos. Ele não costumava ter o papel de protagonista, mas não precisava: era um sólido coadjuvante, ator respeitado e confiável e certamente um rosto e uma voz bastante familiares aos telespectadores por décadas.


Vale Tudo

O Clone

Vasconcelos nasceu em 1927, na cidade de Pocinhos. Seu começo na carreira de ator se deu em Recife, pelo teatro universitário. Nos anos 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, ainda fazendo teatro, mas não demorou a ligar-se no meio que o tornaria conhecido: a televisão. Em 1959, foi o protagonista na primeira versão de Cabocla, na TV Rio. Na Globo, ele teve destaque na primeira versão de Saramandaia (1976), como o coronel Tenório Tavares. Sua carreira de “grande pai” das novelas já começou aí: seu personagem tinha três filhos. Seu Tico, de Bebê a Bordo (1988-1989) era o pai dos irmãos Rei (Guilherme Fontes) e Rico (Guilherme Leme),

personagens importantes na trama. Era um homem ríspido, que começava a novela na prisão. Em Felicidade (1991-1992), protagonizava uma emocionante trama paralela: era João, o “homem do piano”. Precisando se desfazer de um amado piano e sem conseguir quem compre ou mesmo o receba de graça, arrasta o instrumento pelas ruas do bairro até a praia, sendo levado com ele pelo mar. Ele também fez minisséries importantes como Grande Sertão: Veredas (1985), Memorial de Maria Moura (1994) e Riacho Doce (1990). Mas os dois papéis pelos quais será mais lembrado são mesmo os

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de Floriano e Zé Esteves. Zé Esteves, o incrivelmente sovina pai de Tieta, que a escorraça da cidade quando ela ainda é jovem e faz de tudo para se aproveitar do dinheiro dela, quando ela volta endinheirada muitos anos depois. E Floriano, o oposto: um pai compreensivo e honesto, que tentava ser justo entre suas filhas gêmeas antagônicas. E era também o líder dos pescadores do balneário onde se passava a história. Sebastião Vasconcelos fez pouco cinema. Mas teve destaque com Inocência (1983), mais uma vez fazendo o pai severo – desta vez da personagem de Fernanda Torres. Por esse papel, ele ganhou o

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prêmio de ator coadjuvante no Festival de Brasília. Curiosamente, em O Clone (2001-2002) não foi pai, mas o Tio Abdul, um conservador defensor das tradições islâmicas. Teve contrato com a Globo até 2004. Depois disso, fez duas novelas na Record: Caminhos do Coração (2007) e Os Mutantes – Caminhos do Coração (2008). Aos 86 anos, Sebastião Vasconcelos estava internado desde abril. Tinha pneumonia e, no dia 15 de julho, sofreu um choque séptico. Um grande ator que mostrou como é possível brilhar, mesmo que seu nome não venha primeiro nos créditos. O que importa é o talento, e este não faltava a esse ator paraibano.


CARTA DO LEITOR A Artestudio quer ouvir você. É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco:

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A população da Paraíba está de parabéns pela excelente revista ARTESTUDIO - algo inovador, criativo e sobretudo saudável na arquitetura, ambientação e design. Pamella Thays Santos Macena Após ter visto a edição eletrônica do último número da revista Artestudio, venho lhes parabenizar pelo alto nível do produto final e, ao mesmo tempo, manifestar minha satisfação com a excelente edição da matéria resultante da entrevista que lhes concedi, razão pela qual gostaria de lhes agradecer pela oportunidade de participar deste importante veículo de comunicação, que já goza de expressivo reconhecimento da parte dos arquitetos e da sociedade paraibana. Sempre que precisarem de mim, estarei à disposição. Abraços,

JONAS LOURENÇO Av. João Maurício, 1443, Manaíra, João Pessoa/PB Fones: +55 (83) 3566.1172 / 9342.4023 LARA CARVALHO Av. Cabo Branco, 1690, Cabo Branco, João Pessoa/PB Fones: +55 (83) 3226.1481 / 8702.9181 lara.carvalho_@hotmail.com NAOKI OTAKE Rua Antônio Carlos, 396/407 - São Paulo/SP Fone: +55 (11) 3285.1488 naoki@naokiotake.com.br www.naokiotake.com.br

Chico Oliveira

Acabo de receber a nova AE, capa linda! parabéns , a cada edição, é visível o aprimoramento, coisa de quem ama o que faz. Marcia, beijos para você e para toda equipe. Wylnna Vidal

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