Ago/Out 2015 Ano III • Nº 16 R$ 10,00
30 ANOS EM CARTAZ
Eficiente e consagrada no mercado de mídia externa, após três décadas sem sair de cena, a PATTY PAINEIS respira evolução e começa a vivenciar o processo de sucessão diretiva
MÍSSEIS FILOSÓFICOS Professor lista armas básicas para guerrear contra a crise
IS T Á GR RÍFICO LO 1 CO ANETA 1C
Eduardo Pinho, diretor-fundador da PATTY, prepara o filho Vitor para sucedê-lo na administração
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CARTA AO LEITOR
Vamos (nos) virar O que seria do nosso negócio se não houvesse em nós um negócio chamado amor? É este sentimento caro, de tantas formas interpretado (mas nunca tão perfeitamente elucidado ou traduzido no ambiente da limitação humana), que ainda hoje nos move e entusiasma. A nosso modo, que esperamos ser o modo que mais se identifique com os leitores, amamos o que fazemos. E por isso nos desdobramos para manter viva e vigorosa esta chama chamada ATITUDE. Uma vez mais, nossos braços não estão encolhidos e se abrem para milhares de abraços. É certo que, também nesta edição, não economizamos afetos, independente de quem os receba, e esta talvez seja a melhor notícia para aqueles que se têm descoberto endurecidos ou desorientados diante da intimidadora rigidez dos dias atuais.
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Bola pra frente, amigos. Não devemos nos desiludir ou desfalecer, por mais que escasseiem em nossa sociedade mercantilista e cibernética as expressões autênticas de franqueza, ao mesmo tempo em que abundam e proliferam em níveis epidêmicos os cabeças-de-bagre de sempre, acompanhados dos piores rascunhos de hipocrisia – sejam eles na vida pública ou mesmo nos íntimos círculos de relacionamento. Acreditamos que, no fim das contas, a fórmula para prosseguir seja a boa inspiração somada com bastante transpiração, menos Dunga. Isto tende a desintegrar quaisquer arremedos de insegurança ou ameaças de vexame que a conjuntura teime em produzir. E, cá pra nós: não é possível que ainda haja algo pior do que levar de sete da Alemanha. Façamos de conta que este jogo nunca aconteceu, embora o YouTube esteja aí para mostrar , todos os dias, que tudo é bem real.
DIRETOR E EDITOR-CHEFE Luiz Carlos Kadyll Registro Profissional - JP 00141/MG (31) 8586-7815/3824-4620 REPORTAGENS Luiz Carlos Kadyll kadyll.revistaatitude@gmail.com Alexandre Paulino alexandre.revistaatitude@gmail.com Janete Araújo janete.revistaatitude@gmail.com FOTOGRAFIAS Luiz Carlos Kadyll Sérgio Roberto Marlon da Silva DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL Fábio Heringer ASSISTENTE DE ARTE Ellen Villefer de Carvalho Almeida ellen.revistaatitude@gmail.com
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DIRETORA COMERCIAL Edileide Ferreira de Carvalho Almeida edileide.revistaatitude@gmail.com (31)8732-8287 COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ed Carlos, assessoria de Comunicação da Cenibra, Dr. Mário Márcio ENDEREÇO POSTAL R. Bororós, 125 - Jardim Panorama Ipatinga - Minas Gerais CEP: 35.162-034 PARA ANUNCIAR: (31) 8732.8287 - 3824.4620 TIRAGEM 3.000 exemplares
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LUIZ CARLOS KADYLL Editor-chefe
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SUMÁRIO
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ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO Cuidados como verdadeiros bebês, os cães cada vez mais se misturam com os filhos (quando não os substituem nos inúmeros lares sem crianças).
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AS GÊMEAS DO VÔLEI Ainda meninas, Monique e Michelle eram levadas religiosamente para a natação. Mas a paixão delas era outra.
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COLECIONADOR DE DINHEIRO Para o ex-jogador de futebol Wilson Balmant, o vil metal
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tem muito mais valor como objeto de contemplação e é
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prazeroso não ser tão apegado a ele.
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Com uma rígida política de qualidade e em permanente
O filósofo Mário Sérgio Cortella ensina que, em
evolução, a PATTY PAINEIS chega aos 30 anos como uma
tempo de tormentas econômicas, ficar estático é pedir
das maiores e mais modernas empresas de mídia externa
para se afogar.
REPORTAGEM DE CAPA
COMO NAVEGAR NA TEMPESTADE
de Minas Gerais.
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HOMENAGEM TRIPLA: Isaac e sua “Ana Luiza”, junção dos nomes da filha caçula e duas netas
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PADRÕES COMPORTAMENTAIS
Os novos “bebês” Os filhos (poucos, é verdade) vão para a escola. E quem é que educa os cães?
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Marido e mulher trabalham fora, ter uma babá já não é tão simples, nos dias de hoje, e assim as creches e escolas infantis são chamadas para ajudar a dar conta do recado. Enquanto os pais estão ausentes, é óbvio que o cuidado com o bem-estar e a educação dos rebentos precisa ser assumido por alguém de responsabilidade. Mas, nesse mesmo tempo, como é que fica a situação dos cães, cuja população, no Brasil, desde 2013 já supera a das crianças? Não há escapatória: esse é um trabalho para os super adestradores. Ou a família inteira pode pagar um alto preço. Ocorre que, como é baixo o número de filhos nos lares – por razões inclusive econômicas –, há um vazio afetivo natural, e são os pets que vão ocupar o espaço. Numa cidade como Ipatinga, por exemplo, com seus 250 mil habitantes, já há 42 mil cães, um animal para cada seis moradores. Bem recentemen-
te, essa relação era de um para dez. “Eu mesmo – brinca o veterinário Rômulo Edgard, um dos mais conceituados profissionais da área na cidade – tenho só uma filha e cinco cachorros”. Segundo ele, a queda da taxa de natalidade no país veio acompanhada de sucessivas etapas de aproximação e intimidade das famílias com os animais. “O cão vai migrando do quintal para a casa e da casa para a cama, é o que acontece em muitos domicílios”, explica. Mas na visão de Rivander Vendramine Bonfim, 42, adestrador há 20 anos, é preciso ter mais critério com o povoamento de cães nos lares. “O ideal é a pessoa ter um cachorro educado, treinado, bem alimentado, com assistência veterinária, ao invés de ter dez e não ter como garantir saúde, bons tratos e bons modos”, teoriza, para acrescentar: “Às vezes a pessoa já tem três cães treinados e tudo vai bem. Então traz um quarto para atrapalhar o treinamento dos outros.
Isto quando não fica comprometida também a qualidade da alimentação”. O mais trágico – diz Rivander – é que um cão sem educação pode fazer até mesmo a separação de marido e mulher. “Num caso em que fui chamado a intervir, o animal estava comendo portas, até os pára-choques do carro. Isto criou um sério conflito conjugal, porque o marido reclamava, ao passo que a mulher dizia que ele era só um cachorro, sem culpa de nada. Às vezes o animal deixa de ser apenas especial para a família para se tornar uma espécie de filho. Só que um filho ainda por cima desobediente, mal-educado”. Rivander morou nove anos na Europa e lá também pode aperfeiçoar suas técnicas. Trabalhou como segurança e adestrador na Espanha, na Alemanha e na França. O curioso “e até engraçado” – ele revela – é que começou a adestrar cães por causa de um furto de que foi vítima, quando morava em Goiânia. Ele era vendedor de carros e, terminada uma cansativa mudança, caiu num sono profundo. Um ladrão entrou em sua casa e fez a festa. Levou tudo e mais um pouco. Ele conta que, revoltado, comprou cinco cães ferozes, das raças Boxer e Pastor Alemão. Mas cuidar deles e fazê-los eficientes se revelou um tormento e foi assim que descobriu que mesmo os cães de guarda precisavam ser treinados. Um amigo policial foi quem o ajudou a preparar os animais, daí o seu gosto pela coisa. Desde então, não
parou mais de procurar aprender sobre o assunto, que também já lhe rendeu muitas mordidas. “Os pequenos quase sempre são os que mais me machucam, pegam-me mais desprevenido”, confessa.
FALTA DE PREVENÇÃO
O problema do brasileiro, diz o adestrador, é que diferentemente do europeu ele só procura os profissionais quando os cães já estão super problemáticos. “São os latidos que incomodam os vizinhos, aqueles que fogem quando o portão se abre, que avançam nas pessoas na rua, destroem coisas, fazem necessidades nos locais errados. É como procurar o dentista só quando o dente está doendo, sem se preocupar com a prevenção. O ideal é que o adestramento seja feito entre os seis meses e os quatro anos de idade. Depois disso os resultados não são tão completos”, defende. A correção comportamental é o que mais leva as pessoas aos adestradores, vindo em segundo lugar as necessidades de guarda, afirma Rivander, que é dono de Bela (uma Border Collie de quatro anos que também ajuda a crianças autistas e com síndrome de down), Cacau (uma Lhasa Apso de três anos que a antiga dona julgava irrecuperável por destruir tudo e até comer fezes) e Zeus (um Rottweiller de dois anos).
RIVANDER entrou para a atividade há 20 anos, depois de ser vítima de um roubo
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PADRÕES COMPORTAMENTAIS
“Um cão treinado e cansado é um cão feliz” Camila com sua Border Collie cor Sable Merle (Bianca), a viralatas Mel e o vira-latas mestiço de Labrador chocolate (Cacau): integrados e felizes
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Apesar de ter abraçado a profissão há apenas um ano, a jovem Camila Arcanjo, 27, é outra conceituada adestradora do Vale do Aço. Formada em administração de empresas, antes de entrar definitivamente para o ramo ela foi funcionária da Usiminas em Ipatinga e BH. Também teve uma loja de móveis planejados. Mas sempre cuidou de cães e confessa-se apaixonada por eles. O cuidado e carinho com os cachorros já era desenvolvido por meio do empenho em ajudar animais abandonados nas ruas e com necessidade de resgate para tratamento. Recentemente, juntou um grupo de pessoas que, assim como ela, amam incondicionalmente os animais (denominado “Anjos das Ruas”), somando forças aos organismos protecionistas já existentes. “Quando decidi abraçar a profissão em tempo integral – diz Camila –, dediquei-me de corpo e alma aos estudos, focada no comportamento e adestramento de cães. Busquei minha formação através de cursos com profissionais-referências no país, como Alexandre Rossi (o Dr. Pet do Programa da Eliana), Rodrigo Marques (Show com Patas), Leo-
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nardo Ogata (Tudo de Cão), Murilo Garcia ( Pet Expert) e Subro Portes (Subro Dog Training). Espelho-me e tenho como alvo o conhecimento, a experiência e os resultados deles”. A maior demanda dos tutores de cães hoje é para a correção de comportamentos indesejados, assim como a reabilitação, e este é o foco principal do trabalho de Camila. Contudo, ela entende que é preciso quebrar o paradigma de que “cão adestrado é um robozinho”, e afirma: “Um cão treinado e cansado é um cão feliz e automaticamente sua família é feliz. Um cão não lhe trará problemas se tiver suas quatro necessidades básicas atendidas. São elas: uma boa alimentação (ração boa, na hora certa, quantidade certa), atividades físicas (esportes, caminhadas, brincadeiras etc), atividades mentais (aulas de adestramento, brinquedos interativos etc) e atividades sociais (socialização com outros cães, pessoas, barulhos, situações etc)”. Mas como se pode assegurar ao animal esse nível de bem-estar? O primeiro passo, orienta Camila, é buscar ajuda profissional, agendando uma visita gratuita. “Nessa visita o profissional lhe dará as di-
cas necessárias e sugestão de opções como uma Consultoria Comportamental, reabilitação ou aulas de adestramento, de acordo com a necessidade”. “Hoje o meu trabalho com o adestramento de cães é mais voltado para a integração do animal na sociedade e na família. Capacitá-lo para um bom convívio”, diz ela, que é dona de uma Border Collie cor Sable Merle (Bianca), uma vira-latas (Mel) e um vira-latas mestiço de Labrador chocolate (Cacau). “Os cães aprendem através de dois tipos de condicionamento, conhecidos como Condicionamento Clássico e Condicionamento Operante. Trabalho com a metodologia positiva, com o SER - Sistema de Equilíbrio de Reforços. Atualmente existem diversas metodologias de trabalho para o adestrador, assim como cada um acaba por desenvolver sua própria metodologia com o passar do tempo”, explica a adestradora. Ela detalha: “Na metodologia positiva, usamos recompensas como petiscos, carinhos, brinquedos, e o que mais for motivacional para o cão em questão. Inclusive, uso muito as recompensas ambientais,
como passear de carro, cheirar ou urinar em uma árvore ou poste etc”. Camila Arcanjo afirma que hoje não se usa mais a Metodologia de Adestramento Tradicional, na qual os animais aprendem com maior ocorrência de punições, como puxar a guia/enforcador pra cima para que o cão tenha o comportamento de se sentar. “Na metodologia positiva, conseguimos criar, alterar e extinguir comportamentos, ensinar comandos básicos (sentar, deitar, ficar, vir e andar junto); ‘gracinhas’ como dar a patinha, fingir de morto, comando ‘toca aqui’, girar, pular etc. Também conseguimos acabar com comportamentos indesejados como pular nas pessoas, latir em excesso, roubar comida na mesa, destruir objetos, fugir quando a porta ou portão são abertos etc”. Camila Arcanjo conta que o adestramento varia de um a cinco meses, dependendo das necessidades do animal (se o caso é apenas de correções ou requer completa reabilitação) e de práticas constantes dos próprios tutores. “Se passo um dever de casa para o tutor e ele não cumpre, mesmo que ele diga que fez o cachorro me conta que ele não fez (risos)”, garante, para esclarecer que é preciso muita interação e vínculo entre os tutores e seus cães para um bom resultado dos treinos. “Na maioria dos casos, os problemas comportamentais desenvolvidos pelos cães são consequência de
condicionamentos que nós, tutores, geramos por falta de conhecimento e informação sobre comportamento canino”, observa.
TODOS APRENDEM
Sobre raças mais, ou menos dóceis, Camila afirma: “Dizem que Pittbull é muito bravo, agressivo. Porém, não tem como afirmarmos isso simplesmente porque já conhecemos alguns casos de ataques de cães dessa raça. Temos casos de cães da raça Golden Retriever – que, todos sabem, geralmente é docilidade pura -, e que em decorrência do tratamento dado dentro de casa, pela falta de boa e correta socialização, por não terem suas necessidades básicas supridas, se tornam cães agressivos, estressados, e muito pior que muitas raças consideradas perigosas por aí. Tudo passa pelos níveis de educação e interatividade vivenciados pelo cão junto ao seu tutor e à sociedade em geral”. Camila adestra cães de todas as raças, portes e idades, e dá a dica: o ideal é começar a educar os cães enquanto filhotes, até mesmo na primeira fase da vida, entre seus 2 e 3 meses, “porque assim não precisamos nos preocupar no futuro em corrigir comportamentos errados. Nos antecipamos a isso, educando-os desde já”. Contudo, ele faz uma ressalva: “É claro que isso não significa que não seja possível ensinar truques novos para cães velhos. Isso não é uma verdade. Cães adultos apren-
dem tanto quanto cães filhotes. A diferença está exatamente no tempo de aprendizado, que pode ser maior devido a correções de comportamentos indesejados já existentes”. Cães das raças Border Collie, Golden Retriever, Labrador Retriever, Pastor Alemão e Poodles possuem um nível mais elevado de aprendizado, facilitando e agilizando o processo de aprendizagem. “Tanto para coisas boas como também para comportamentos ruins, que fique claro” – ressalta a adestradora. O Border Collie – animal de pastoreio originalmente inglês – é considerado no ranking o cão mais inteligente do mundo. “Tenho uma Border Collie de seis meses e desde os 45 dias de vida ela é treinada. A Bianca tem todos os comandos básicos, algumas gracinhas, e também estamos na iniciação de treinos esportivos como Frisbee e Agility. Porém, os cães são indivíduos e isso não quer dizer que um vira-latas não vai aprender tão fácil quanto um Border Collie. Eu me surpreendo muito com os vira-latas, e acho incrível a capacidade de assimilação e aprendizado deles. Tenho dois, inclusive, que me provam isso todos os dias. Claro que não podemos deixar de lado a questão de genética, mas este não é um fator predominante, uma vez que os indivíduos sofrem variações nos seus comportamentos de acordo com o ambiente em que vivem”, advoga.
BELA, A BORDER COLLIE de Rivander, pega pênaltis e faz oração, é usada também na terapia de crianças autistas e síndrome de down
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ENDURECER, SEM PERDER A TERNURA “VIVER NA NEGATIVIDADE faz mal, sentir muito medo também faz mal”, ensina a Ternurinha da Jovem Guarda
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Em clima de grande emoção, quem aportou em Governador Valadares, no último dia 21 de março, foi a cantora Wanderléa. A eterna “Ternurinha” está comemorando em turnê os seus 50 anos de carreira desde o surgimento da Jovem Guarda. Mas o que poucos sabem é que, ali mesmo, nesta cidade, ela nasceu há 69 anos. Batizada como Wanderléa Charlup Boere Salim, no seio de uma família de origem libanesa residente no distrito de Santo Antônio do Pontal, a fiel parceira de Roberto e Erasmo Carlos é de 5 de junho de 1946. Contudo, apesar de todo o glamour que a fama proporciona, a trajetória de vida da artista é marcada por uma série de infortúnios, episódios que se constituíram verdadeiras “provas de fogo”, como é o título de um de seus maiores sucessos. Wanderléa sofreu duras perdas desde que se mudou com os pais da cidade de Lavras – onde ela passaria a infância, após sair de Valadares. A primeira delas foi aos 10 anos de idade. Ela já ganhava concursos em rádios, quando se desesperou ao descobrir que sua irmã mais velha fora morta por uma bala perdida. O fato abalou toda a família (constituída de 13 irmãos), que então já residia na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. No início de sua carreira, aos 16 anos, Wanderléa começou a namorar Zé Renato, filho do animador de programas Chacrinha. Em poucos meses ficaram noivos. Após sete anos juntos, Zé sofreu um acidente e ficou paraplégico. A cantora entrou em grave depressão e com o tempo o relacionamento entrou em crise. Ele dizia que não queria ser um peso na vida dela e, afinal, se separaram. Conhecido como ‘Nanato’, José Renato Barbosa
de Medeiros morreu no final do ano passado, aos 63 anos, após complicações respiratórias e cardiológicas. Era irmão gêmeo de Leleco Barbosa, produtor e apresentador de TV, e morava com a mãe, de 94 anos.
OUTRAS TRAGÉDIAS
Após a separação, Wanderléa namorou alguns cantores e compositores da época. Antes, já havia tido um curto namoro com Roberto Carlos. Depois conheceu o guitarrista chileno Lalo Califórnia. Os dois começaram a namorar e em pouco tempo se casaram. Em 1982, ela tinha 37 anos e achava que ainda era cedo para ser mãe, mas nasceu o primeiro filho do casal: Leonardo. Em 1984, outra tragédia: com apenas dois anos de idade, o garoto morre afogado. Estava andando de triciclo e acidentalmente caiu na piscina da casa. Chegou a ser socorrido, mas já era tarde. A cantora teve nova crise depressiva, tendo que tomar remédios fortes. A partir daí o casamento se desestruturou, e eles passaram a viver entre idas e vindas, até se reconciliarem. Já com mais de 40 anos, a maternidade poderia parecer então um sonho inatingível, mas ela ainda teria outras duas filhas, Yasmin e Jadde, nascidas no fim dos anos 80. Só que as perdas não pararam por aí: abalaram-na muito a morte do pai e, pouco tempo depois, em 1996, a do irmão, vítima de AIDS. Sua depressão foi tão forte que amargou um câncer no útero, tendo que fazer uma histerectomia. Ela continua casada com Lalo até hoje, mas os dois moram em casas separadas. Ele é produtor e toca na banda que a acompanha. No entanto, mesmo nos hoteis, usam quartos separados.
ENDURECER, SEM PERDER A TERNURA
Provas de fogo Com os 70 anos batendo à porta - e ainda na estrada, para comemorar 50 anos de carreira -, Wanderléa vivenciou tragédias em cima de tragédias, que requereram vigorosas respostas de superação Ag o /out 2015
AO LADO DE TARCÍSIO MEIRA e Erasmo Carlos, Wanderléa era sucesso em fotonovelas e também no cinema
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ESTICANDO A VIDA
Quanto à fama, Wanderléa afirma que lhe trouxe problemas com o tempo. Por exemplo: ao passar na rua com seus carros importados (teve o primeiro Mustang conversível comprado no Brasil, além de um Cadillac presidencial à prova de balas, “só para competir com Roberto e Erasmo”), viu muitas pessoas humildes apontarem para ela, comentando que seria madame e que tinha boa vida. Isso a chateava, então resolveu se desapegar deste capricho. “Também já fui muito pobre. Entendo o sofrimento dos humildes”, assegura.
A artista lembra que desde criança, ouvindo rádio, dizia para a mãe que queria ser cantora e, assim, entende que seu sucesso é consequência desse sonho nunca abandonado, apesar de todos os revezes. “Acho que quem quer esticar um pouco a vida aqui neste planeta precisa se cuidar desde a mocidade” – ensina, para acrescentar: “Sem nenhum radicalismo, mas tomar cuidado com a alimentação, essas coisas. Procuro passar isso para as minhas filhas. E tem o emocional... Viver na negatividade faz mal, sentir muito medo também faz mal”.
APESAR DE TER GANHADO muito dinheiro, Wanderléa recorda: “Nós éramos muito ingênuos. Para que se tenha uma idéia, fui boneca da Estrela. Para mim era uma homenagem. Não era um negócio!”
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COM ZÉ RENATO, filho de Chacrinha, que ficou paraplégico em um acidente de carro
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TRAUMA DE INFÂNCIA TRAUMA DE INFÂNCIA
MUDANÇA DE ROTA
Belas e desenvoltas Gêmeas univitelinas pularam das piscinas para as quadras por aversão às águas geladas e hoje dão show entre as estrelas do vôlei nacional
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IDÊNTICAS, para que a própria mãe as reconhecesse, Monique e Michelle tinham que usar uma fita no braço quando bebês
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Com 1,78m de altura e 29 anos a completarem em 30 de outubro, as cariocas Monique e Michelle Pavão são o exemplo perfeito de que, em se tratando de esportes, o melhor que os pais têm a fazer para ver seus filhos felizes é respeitar suas escolhas. Impor-lhes preferências pode ser um martírio, por mais que até mesmo os professores vejam neles potencial para esta ou aquela modalidade. Gêmeas univitelinas, é no voleibol que as garotas, afinal, se realizam e hoje viajam o mundo jogando pela seleção brasileira. Mas, até os 12 anos, elas praticavam natação terminantemente contra a sua vontade, e já haviam se entediado com outras atividades. Depois de se virem no espelho dia após dia com os cabelos em coque e vestindo as roupas de bailarina que muitas mães sonham como mundo encantado para suas pequenas princesas, Monique e Michelle ainda passaram pela ginástica olímpica e o tênis. Contudo, foi nas piscinas que elas mais se enfadaram. “Eu tomava um choque ao cair na água gelada e achava um saco as repetições. Meu maior objetivo era nadar o mais rápido possível para sair dali” – confessa Monique. “Quanto a mim, só chorava, fazendo os óculos embaçarem. Já tínhamos enjoado. Apesar do técnico ver futuro na gente, nós não aguentávamos mais. Inventamos várias desculpas para sair mais cedo”, completa Michelle.
A família morava nas vizinhanças do clube e, assim, as meninas eram incentivadas pelo pai a se tornarem atletas de esportes aquáticos. Só que os olhos delas brilhavam de maneira diferente ao acompanhar o que a irmã mais velha, Danielle, realizava. “A gente esperava a Danielle acabar o treino, e nessa de esperar, a professora chamou para fazer aula, alimentando mais nossa paixão [pelo vôlei] aos 12 anos” – lembra Michelle. Com verdadeira paixão pelas quadras, o desenvolvimento das duas loiras foi meteórico e logo elas se viram premiadas com convocações para a seleção brasileira, somando vitórias atrás de vitórias na carreira e conquistando títulos mundiais. O crescimento em estatura não chegou a ser tão exuberante, abaixo dos 1,80m, mas sua formidável impulsão fez com que os 2,24m da rede feminina fossem impetuosamente vencidos, numa fusão de técnica e explosão corporal. Michelle foi campeã mundial sub-20, em 2005, e estava na conquista do Grand Prix de 2013. Monique subiu ao primeiro lugar do pódio em dois Grand Prix, em 2013 e 2014. As garotas têm também formação de sargento e, integrando a seleção brasileira militar, faturaram o título mundial em 2011, numa competição que envolveu 11 países. Contando com a confiança e o reconhecimento de José Roberto Guimarães, neste mês de julho, em Toronto, Michelle ajudou a seleção nacional a ser medalha de prata no Pan. Na disputa do Grand Prix, Monique e suas companheiras ficaram em terceiro, sob o comando do auxiliar técnico Paulo Coco, após uma vitória de 3 a 1 sobre a Itália. Os Estados Unidos faturaram os dois títulos. Michelle é ponteira-passadora e agora está de volta ao Praia Clube, de Uberlândia, que já defendeu de 2012
a 2014. Já a oposta Monique acaba de trocar o Sesi-SP pelo Rio de Janeiro, equipe onde jogou entre 2007 e 2010, na época reserva. Monique namorou por dois anos com o agora ex-goleiro de futsal Guilherme Damaceno, e eles estão casados desde 2013. A irmã gêmea está na fila para subir ao altar e, já que se parecem tanto, é de se esperar que não demore a trocar seu status.
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MONIQUE E MICHELLE com apenas um ano (e a segunda com o dedo para cima, já respondendo sobre a idade)
ESPELHO UMA da outra, as irmãs são facilmente confundidas e até o técnico Bernardinho foi tapeado
RECONHECIDAS como as principais estrelas, as irmãs já jogaram juntas em Uberlândia
Os ônus da profissão 24
Para quem pensa que ser craque de vôlei é fácil, há que se registrar: do currículo das atletas também constam dolorosas contusões, sem contar as longas horas de treinamento e as privações familiares. Rompimentos de ligamentos e tornozelos torcidos não são raros. Duras broncas de técnicos também fazem parte. O que não impediu que, certa vez, Monique e Michelle tivessem a audácia de enganar o exigente Bernardinho. Com a cumplicidade do auxiliar técnico Helio Griner e das demais companheiras, as duas inverteram todos os acessórios do corpo. Brinco, anéis, prendedores de cabelo, tênis, tudo foi trocado para confundir o comandante. O time inteiro entrou na onda, e ele não percebeu. Achou que tinha algo estranho, mas pensou que só ele achava aquilo e deixou pra lá. No final do treino é que foi informado. “E até que levou numa boa”, elas garantem.
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AS DUAS ATLETAS também conquistaram título mundial em 2011 competindo como militares
Vôlei, uma invenção americana O vôlei foi criado em 9 de fevereiro de 1895 por William George Morgan, nos Estados Unidos. O objetivo de Morgan, que trabalhava na “Associação Cristã de Moços” (ACM), era criar um esporte de equipes sem contato físico entre os adversários, de modo a minimizar os riscos de lesões. Inicialmente jogava-se com uma câmara de ar da bola de basquetebol e foi chamado Mintonette, mas rapidamente ganhou popularidade com o nome de vol-
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leyball. O criador do voleibol morreu em 1942, aos 72 anos de idade. Em 1947 foi fundada a Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Dois anos mais tarde foi realizado o primeiro Campeonato Mundial. Na ocasião só houve o evento masculino. Em 1952, o evento foi estendido também ao voleibol feminino. No ano de 1964 o voleibol passou a fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos, tendo-se mantido até a atualidade.
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RICO DE RECORDAÇÕES
26 WILSON BALMANT começou a colecionar notas e moedas quando tinha apenas sete anos
RICO DE RECORDAÇÕES
Dinheiro que não se gasta Colecionador de cédulas e moedas desde criança, ex-empresário e mestre de obras acredita que um abraço sincero vale mais que mil tostões Apesar de ter vivido apenas 46 anos (1854-1900) e, portanto, não ser exatamente o exemplo de maturidade mais indicado para os padrões dos nossos dias, o influente escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde cunhou uma frase sarcástica, confessando que “quando era jovem pensava que dinheiro fosse a coisa mais importante do mundo; hoje, tenho certeza”. Para descrever essa mesma natureza hipnotizante do vil metal ou a compulsão humana para ambicionar coisas alheias, o poeta romano Ovídio já havia concluído na primeira década da história depois de Cristo que “ficamos mais Ag o /out 2015
Empresário durante cerca de 30 anos na área de pré-moldados, tendo produzido, entre outros materiais, postes para várias companhias de energia elétrica em Minas Gerais e Espírito Santo, Wilson conta ser fascinado desde criança pela plasticidade e curiosidades acerca de cédulas e moedas. Nascido em Conceição de Ipanema, na divisa da Zona da Mata com o Vale do Rio Doce, cidade que experimentou grande fluxo de imigrantes europeus, na década de 20, começou a colecioná-las quando tinha apenas sete anos de idade e, desde então, não parou mais. Ainda um adolescente de 14 anos, ao chegar ao Vale do Aço em 1966, juntamente com a família – o pai trabalhava desde 1963 na fundição da siderúrgica Usiminas e a mãe, antiga funcionária dos Correios, só pode vir três anos depois, ao obter transferência para a agência de Ipatinga –, já era um aficionado da numismática, embora nem passasse pela sua cabeça o que o termo poderia significar. O avô, de origem suíça (Balmant é uma corruptela de Belo Monte), foi quem lhe despertou a veia de colecionador, presenteando-o com moedas da época do império. Em seguida, a mãe também passou a municiá-lo de raridades. E assim é que sua coleção hoje reúne cédulas e moedas de mais de 100 países. “Tenho todas da América do Sul, inúmeras da Europa e da Ásia. Uma das que considero mais especiais, iraquiana, exibe a esfinge de Saddam Hussein. Da Alemanha, tenho marcos emitidos por três bancos diferentes, moedas datadas de 1915 e 1919, no transcurso do conflito e posteriores à Primeira Guerra Mundial”, detalha. Wilson Balmant, que há oito anos reside com a esposa em Guarapari-ES e é também apaixonado por obras de arte em madeira, dirigindo a elaboração de maquetes sob encomenda ou supervisionando a construção
de casas estilo Tarzan, revela ainda que morou por três anos na Holanda, e assim é que pode ampliar bastante a sua coleção. “Conversando com um e com outro, viajando para aqui e ali, a gente acaba entrando no assunto e sempre tem alguém que tem uma novidade. Foi desse modo que adquiri uma cédula que pra mim é das mais raras. Tenho entre minhas preferidas uma nota de 5 mil réis. Para que se tenha uma idéia, muita gente comprou grandes fazendas que custaram 12 mil réis. Já estive com várias pessoas acima de 90 anos de idade e todas elas me asseguram ser mesmo um troféu, já que não conheceram a cédula. Ela é bem maior que os formatos atuais, com a figura do Barão de Rio Branco. Creio que não haja uma pessoa viva que a tenha conhecido. Dessa mesma época, tinha uma moeda de ouro de 5 mil réis que valia quanto pesava e, obviamente, ficava guardada a sete chaves. Era o sonho de consumo de todo mundo, comprava-se terrenos com ela”. E onde foi que ele encontrou o espécime tão especial? Balmant sorri e lembra o bom negócio que fez ao conhecer numa situação ocasional um senhor que guardava entre objetos de recordação duas destas notas: “Ele possuía uma até mais nova, mas fiquei um tanto penalizado e dei em troca da mais surrada delas uma moeda de mil réis, que lhe interessava. Na verdade eu tinha três quilos desta moeda de mil réis”, conta. Outra relíquia é uma moeda especial da Holanda, fabricada a partir da criação de um artista plástico que concorreu num concurso mundial. “O princesa e o príncipe-herdeiro tiveram um bebê e abriram esta competição para elaboração da moeda comemorativa. Nesta peça vencedora, vê-se o príncipe e a princesa. Mas quando você roda a moeda, aparece a figura do bebê no meio”, ilustra.
DUAS DAS PAIXÕES de Wilson: as maquetes e o dinheiro de época
seduzidos por aquilo que não possuímos. A safra sempre é mais rica no campo dos outros e o rebanho vizinho tem as tetas mais cheias”. Porém, nem todos têm uma relação tão materialista com as cédulas, moedas ou tudo que seus valores monetários sejam capazes de bancar. O mestre de obras Wilson Balmant faz parte de um grupo praticamente em extinção nos dias atuais, pessoas que se definem como “desapegadas” do dinheiro, ao mesmo tempo em que o admiram e o retêm pela riqueza de aspectos contemplativos, em reconhecimento de suas características históricas e culturais. Ag o/ ou t 2015
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RICO DE RECORDAÇÕES
A NOTA DE 1 real, até pouco tempo muito comum e agora também uma raridade
MAIS DE 100 PAÍSES
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O colecionador explica que, embora este não seja o foco da maioria dos numismatas, algumas moedas, marcadas por erros de cunhagem, valem algumas centenas de reais. “Vamos supor que no momento da fabricação foi identificado um problema. Mas aí já foram cunhadas 15 moedas, digamos. Então elas ganham o mercado assim mesmo. E então se tornam valiosas. Em 1955, uma moeda de 50 centavos de cruzeiro sofreu um deslize na palavra Brasil. Vinte e sete unidades já haviam sido cunhadas e hoje essa moeda custa mais de 200 reais”, exemplifica, para observar em seguida: “Alguns jogaram fora ou deram para outros essa moeda rara, imaginando que talvez nem prestasse”. Entre as moedas e cédulas de mais de 100 países, Wilson Balmant revela possuir algumas de 1817, com esfinge de Dom João, feitas em cobre e já bastante finas e desgastadas, o que faz aumentar o interesse dos entendidos em apreciá-las. “Em se tratando de moedas, quanto mais surradas e gastas, mais elas chamam a atenção. Já em relação às notas, tenho muitas novíssimas, como saídas da fabricação e que nunca foram dobradas”, orgulha-se. Entre várias estampas nacionais, Balmant reúne notas de cruzeiro emitidas de 1942 a 1967, assim como de cruzeiro novo, utilizadas até 1970. Ele observa que “as mudanças são tantas que para uma nota ficar rara é daqui para ali. Hoje já não se encontra, por exemplo, a nota de 1 real, que outro dia mesmo era tão comum e depois foi substituída pela moeda”. Ag o /out 2015
Wilson lamenta muito não ter guardado no seu “tesouro” a moeda de 1 cruzeiro do sesquicentenário da independência (150 anos), que na época do lançamento, em 1972, era vendida nos bancos por 200 cruzeiros. “Uma moeda grande, linda”, diz, com pesar.
RELAÇÃO COM O DINHEIRO
Perguntando sobre sua relação com o dinheiro em circulação, Balmant confessa que, quando menino, até chegou mesmo a pensar que um dia pudesse ficar rico guardando notas e moedas. Mas sua vida adulta, garante, é de total desapego. “Minha família inclusive diz que só não tenho muita coisa porque tudo que conquisto, acabo dividindo ou dando para alguém”. Emocionado, o mestre de obras lembra que em sua trajetória como empresário de pré-moldados, certo dia observou que havia muito desperdício de concreto no fim do dia. E então teve o privilégio de fabricar centenas de caixas d’água por certo período, presenteando mães num alto de morro onde o líquido só caía durante a noite e as famílias passavam por sérios apuros. “Hoje, ao me encontrar com estas mulheres e seus filhos criados, todos sorrindo, me sinto recompensado. Não há dinheiro que pague um abraço de gratidão”, reflete Wilson, que na década de 70 também foi reconhecido como um dos melhores meio-campistas do futebol amador no Vale do Aço, conquistou cinco títulos por três clubes diferentes e chegou a jogar profissionalmente pelo Botafogo e Bonsucesso, no Rio.
A MOEDA comemorativa do sesquicentenário da Independência, de 1972
Sal e açúcar como moeda Antes das moedas, o sal servia como pagamento de trabalho; dele derivou a palavra “salário”. O açúcar chegou a ser adotado em 1614 como dinheiro legal no Brasil. Mas o ouro, a prata e o bronze foram escolhidos universalmente como referência de valor, chegando como tal aos nossos dias. Originalmente, as peças tinham formas como barras ou lingotes, anéis, brincos etc. Aos poucos, a moeda tomou a forma de placa circular no Ocidente, enquanto no Oriente eram utilizadas outras como as quadradas, poligonais, perfuradas, ou feitas de outros materiais, como a porcelana. As barras de cobre circularam na Meso-
potâmia e no Egito. Antes da invenção da moeda no século VII a.C., as operações de compra e venda eram efetuadas à base de troca ou com uso da balança, para pesar quantidade de metal precioso. O padrão monetário do Brasil provém do real português, cunhado em prata por D. João I. Desvalorizações sucessivas originaram o padrão do mil reis, de onde se derivou o cruzeiro. Ainda no Brasil, os holandeses cunharam moedas no Recife, antes que os portugueses iniciassem a produção na Casa da Moeda, na Bahia.
A CÉDULA DE 5 mil réis: verdadeira fortuna quando em circulação
A CÉDULA iraquiana com a esfinge de Saddam Hussein
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Como nasceu a nossa “fábrica” de dinheiro
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Seis mil soldados franceses (para que se tenha uma ideia, um contingente que corresponde a quase a população inteira do município de Vargem Alegre, no Vale do Aço) bem armados e equipados e 17 navios de guerra invadiram o Rio de Janeiro em 1711. Comandados pelo Almirante René Du GuayTroin, para deixar a Cidade Maravilhosa os invasores exigiam nada menos que um milhão de cruzados, mais 100 caixas de açúcar e 200 bois. Após negociação, foram pagos em ouro e dinheiro mais de 600 mil cruzados, dos quais a Casa da Moeda contribuiu com cerca de 275 mil. Esta é a parte da história de uma das mais tradicionais instituições brasileiras, com 321 anos de existência, completados em 8 de março de 2015. Em 1694, D. Pedro II, vigésimo terceiro rei de Portugal, criava na Bahia a nossa primeira “fábrica” de dinheiro. Ela foi transferida para o Rio em 1698, para Pernambuco em 1700, e definitivamente instalada no Rio de Janeiro em 1703. Curiosamente, ganhou prédio próprio com estrutura e projeto importados da França – os antes invasores –, em 1868. E, mais curioso ainda: houve erro no embarque. O navio que aportou no Rio levava prédio semelhante para a sede do governo chileno, o Palacio de la Moneda.
Inicialmente a Casa da Moeda cunhava apenas o dinheiro metálico. Poucas cédulas foram produzidas no padrão mil-réis. Após a introdução do cruzeiro, em 1942, a Casa da Moeda carimbou notas antigas com a nova unidade impressa na imagem de uma rosa desabrochada. Hoje estas são muito procuradas pelos colecionadores e algumas atingem faixas de preços equivalentes a milhares de dólares. O carimbo do cruzeiro novo de 1966 também foi aplicado em notas antigas reaproveitadas. Outra cédula que marcou época tinha a figura de um índio. No valor de 5 cruzeiros, começou a ser emitida em 1961 num total de 111 séries. Deixavam muito a desejar tecnicamente, e, nesse aspecto, foram um fracasso. O público, no entanto, gostou da nota ao ponto de julgar que ela trazia sorte. Por isso foi muito guardada. Passamos de importadores a exportadores de dinheiro a partir de 1974, na Ditadura Militar. O Paraguai foi nosso primeiro cliente. O conhecimento brasileiro ajudou a implantar parques industriais para a fabricação de valores na Venezuela, Argélia e China. Hoje a Casa da Moeda exporta, além de moedas e cédulas, também selos e passaportes.
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Alguns termos da numismática BC Bem conservada - moeda com riscos, detalhes das figuras quase totalmente apagados, algumas letras e números desgastados. PATACA moeda de 320 réis TOSTÃO moeda de 100 réis PECUNIÁRIO de pecus - boi MONETÁRIO de moneta - moeda e também aquele que coleciona moedas DINHEIRO de denarius - nome de moeda romana
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33 ROSÂNGELA junto ao governador e vicegovernador, representando o presidente da Assembleia, e enumerando reivindicações, durante o Fórum Regional no Vale do Aço
NOVELA DA MINASCAIXA
Enfim, a escritura de posse Deputada comemora resposta do Estado para problema que se arrastava há quase 30 anos, tirando o sono de cerca de 600 famílias
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Para muitos a mais diligente liderança política empenhada na solução do histórico problema, a deputada estadual Rosângela Reis (PROS) celebrou como uma das maiores vitórias de seu mandato, neste mês de julho, o decreto assinado pelo governador Fernando Pimentel que garante a quase 600 famílias a posse definitiva de imóveis adquiridos por meio de financiamentos da extinta Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais (MinasCaixa). Cerca de 400 imóveis estão na Região Metropolitana do Vale do Aço, sendo 286 em Santana do Paraíso.
Várias famílias carentes chegaram a ser despejadas em função de leilões que vinham sendo promovidos, e a insegurança era geral entre os moradores, que além de não poderem ter suas escrituras estavam impedidos de fazer melhorias nas casas e apartamentos. O problema se arrastava há quase três décadas. A solução final foi anunciada durante a realização, em Ipatinga, da primeira rodada do Fórum Regional de Governo, evento que superlotou o teatro do Centro Cultural Usiminas e reuniu, além do próprio Pimentel, o vice-governador Toninho Andrade, inúmeros prefeitos, dirigentes de autarquias e quase duas dezenas de autoridades do primeiro escalão do governo. A deputada Rosângela Reis foi designada pelo presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, para representá-lo na cerimônia, na qual também discursou elencando outras reivindicações locais. Além de Santana do Paraíso, o decreto governamental beneficia ex-mutuários e outros ocupantes dos imóveis nos municípios de Bom Jesus do Galho, Coronel Fabriciano, Dionísio, Marliéria, Minas Novas, Palmópolis, Pingo D’Água, Rio Piracicaba, São Domingos do Prata, São Geraldo da Piedade e São José do Goiabal. Os
débitos acumulados e que estavam sendo cobrados, desde que o banco foi liquidado, eram bastante significativos, representando milhares de reais. A aflitiva situação perdurava desde 1999. Uma comissão especial da Assembleia estudou pormenorizadamente o assunto em 2010, até elaborar um relatório final propondo alternativas. Em fevereiro de 2012, Rosângela Reis apresentou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o Projeto de Lei 2.893/12, passo decisivo para a regularização dos imóveis. Por meio deste projeto (que alterou a Lei 19.091, de 2010), a administração dos imóveis foi transferida da Minas Gerais Participações (MGI) – que realizava a execução dos débitos – para o Fundo Estadual de Habitação (FEH), e este foi o ponto de partida para a tranquilização dos moradores quanto ao cessamento das ações de despejo. Já em abril do mesmo ano, a parlamentar comandou audiência pública para debater com os interessados e expor os avanços em relação à situação, ocasião em que muitos moradores que corriam o risco de perder suas moradias estiveram presentes. Como resultado desta mesma audiência, foram suspensos os leilões que estavam agendados. Ag o/ ou t 2015
NOVELA DA MINASCAIXA
A assessoria da deputada Rosângela Reis informa que ela se reuniu por diversas vezes com o então secretário de Estado da Fazenda, e também com o diretor-presidente da Minas Gerais Participações S.A (MGI), para tratar do problema. Sem que houvesse ainda um desfecho satisfatório, gestões também foram feitas pela deputada diretamente junto ao governador e vice-governador anteriores. A questão é que os possuidores dos imóveis estavam sujeitos a possíveis ações judiciais de desapropriações patrocinadas pelo próprio Estado ou por futuros adquirentes em leilão, o que vinha ocorrendo desde 2007.
PROBLEMA ANTIGO
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O drama dos moradores começou com a extinção da Minascaixa pelo Governo do Estado, em 1998. Alguns mutuários deixaram de pagar suas prestações, alegando não terem sido informados sobre como proceder. Outros revenderam os imóveis por meio de contratos particulares de compra e venda, sem a transmissão de posse e a quitação do financiamento. No entanto, por força de lei, os imóveis, direitos e créditos remanescentes do banco passaram a ser administrados pela empresa estadual MGI Participações, que iniciou a liquidação desses ativos. Como resposta às gestões feitas pela deputada, o governo do Estado encaminhou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei nº 4.390/2013, definindo a liberação dos imóveis aos moradores que atendessem a determinadas condições. Seu conteúdo foi difundido em reuniões nas cidades, através de audiências da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização. Foi esse projeto que gerou a Lei 21.100, de 30 de dezembro de 2013 e sancionada em 2014. A lei especificou os imóveis integrantes do ativo patrimonial do Estado advindos da extinta MinasCaixa e que deveriam ser doados aos respectivos ocupantes. Os beneficiários são pessoas em risco social, enquadrados em critérios legais definidos. Ag o /out 2015
NUM TEMPLO da Assembleia de Deus no Residencial Paraíso, reunião com moradores para discutir o Projeto 4.390/2013
Um núcleo para captar documentações
Quem é que se beneficia Foi no mesmo dia de abertura do Fórum Regional do Vale do Aço, em 8 de julho último, que o governador Pimentel assinou o Decreto 46.795, que regulamentou a Lei nº 21.100, oficializando a autorização para doação dos imóveis. O decreto foi publicado dois dias depois, no Diário do Executivo (Minas Gerais). Veja quem tem direito a receber os imóveis em doação: Ocupantes que sejam ex-mutuários da MinasCaixa ou pessoas que sejam vinculadas a eles. Por exemplo, cônjuge, filhos, netos, genro ou nora de ex-mutuário ou de seu cônjuge. Além disso, são beneficiários os ocupantes dos imóveis com contrato de promessa de compra e venda assinado com os ex-mutuários. No caso de ocupante do imóvel sem vínculo com o mutuário, o morador deve possuir contrato de promessa de compra e venda assinado com terceiro.
Nesse caso, deverá apresentar o contrato assinado pelas partes e documento de identidade e comprovar estar na posse do imóvel há pelo menos cinco anos. Se o ocupante do imóvel tiver contrato de locação, deverá apresentar o contrato assinado pelas partes e comprovar residir no imóvel há pelo menos cinco anos, mediante apresentação de contas de água, luz e impostos ou taxas. Caso não tenha vínculo contratual que comprove a posse do imóvel há pelo menos cinco anos, mediante apresentação de contas de água, luz e pagamento de impostos, bem como declaração por instrumento público de cinco pessoas idôneas confrontantes ou vizinhas do imóvel pretendido pelo ocupante, que atestarem a ocupação do imóvel pelo prazo mínimo de cinco anos.
O JORNAL ‘MINAS GERAIS’, informativo oficial do Estado, divulga audiência promovida por Rosângela, à qual compareceram muitos mutuários Deputada Rosângela Reis mostra foto de casas de ex-mutuários em audiência pública realizada em 18 de abril de 2012
No decreto que oficializa a doação dos imóveis financiados pela MinasCaixa consta que é proibida aos beneficiários a venda ou cessão das moradias a terceiros, pelo prazo de cinco anos, exceto no caso de falecimento do titular do imóvel e de sua transferência para os herdeiros. A documentação requerida para andamento do processo deverá ser encaminhada à sede da MGI – Minas Gerais Participações S/A, na Cidade Administrativa de Minas Gerais (rodovia Prefeito Américo Gianetti, 4001, Prédio Gerais, 6º andar, Bairro Serra Verde – Belo Horizonte-MG - CEP – 31.630-901) no prazo de até seis meses contados da data de publicação do Decreto, impreterivelmente. Os ocupantes de imóveis que não se manifestarem ou não apresentarem nesse período os documentos comprobatórios da posse precária serão considerados desistentes, proporcionando ao Estado a imediata propositura de ação de imissão na posse e a avaliação do imóvel para licitação nos termos da legislação vigente. O prazo estabelecido para a transferência é de mais um ano, contado a partir do final dos seis meses dados para entrega da documentação. Conforme Rosângela Reis, “a MGI estuda uma forma para viabilizar o acesso das pessoas, já que todas são do interior”. Pode ser que seja estabelecido algum núcleo nas cidades de maior concentração populacional e, nesse caso, Santana do Paraíso seria bastante provável. Ag o/ ou t 2015
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EM SÃO JOSÉ DO GOIABAL, reunião com moradores em escola municipal também para tratar da regularização dos imóveis
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Durante o primeiro Fórum Regional (o quinto realizado pelo Governo do Estado, entre 17 agendados para cidades estratégicas), Rosângela Reis chamou atenção para o fato de que “o Vale do Aço passa por um momento difícil, com desaceleração econômica e desemprego, em função principalmente da concorrência desleal do mercado chinês e dos incentivos tributários de outros Estados, dentro da chamada guerra fiscal”. Ela entende que há necessidade de uma revisão de impostos para que as empresas tenham maior competitividade, listando ainda como demandas regionais carências nas áreas de saúde, educação, segurança pública e infra-estrutura. Entre providências mais urgentes, ela enumerou: construção de centro de perícias integradas (a edificação atual é da década de 70, tendo sido feita pelo Rotary Club, sem infra-estrutura para atender às necessidades atuais); construção do Centro de Atendimento ao Adolescente, autor de ato infracional, em caráter permanente (o terreno já foi disponibilizado pela Cenibra em Santana do Paraíso); construção do Hemocentro (terreno já disponibilizado pela Usiminas); a retomada da pavimentação da MG-760, que liga Timóteo à BR-262 (a obra foi paralisada por questões ambientais); construção da regional de Polícia Civil para Coronel Fabriciano; elevação da segunda companhia do Corpo de Bombeiros Militar à categoria de batalhão em Ipatinga, para ampliar e melhorar o efetivo; instalação do programa Olho Vivo em Ipatinga; unidade da Universidade Estadual de Minas Gerais na região; melhor policiamento e ampliação da telefonia celular nos distritos; viabilização do hospital regional; recuperação da antiga ponte entre Coronel Fabriciano e Timóteo, interditaAg o /out 2015
da há mais de três anos para veículos pesados.
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DESCENTRALIZAÇÃO
Em seu discurso, o governador Fernando Pimentel disse que “é preciso reduzir as desigualdades regionais, e não há como fazer isso de maneira centralizada, não há como pensar o desenvolvimento do Estado como se fosse uma tese acadêmica”. Ele garantiu que, em sua gestão, “criar espaços de participação popular é política de Estado”, acrescentando: “O Estado não será um ente invisível que empurra a sua responsabilidade para o governo federal ou os prefeitos”. É dentro dessa filosofia que foram planejados os Fóruns Regionais, que acontecem em 17 centros urbanos que contêm 78 microrregiões de saúde. O microterritório do Vale do Aço envolve ainda Caratinga e Fabriciano e a segunda rodada do Fórum Regional já aconteceu em 1º de agosto. As reuniões promovidas pelo governo serão itinerantes e sistêmicas, a cada dois ou três meses. Avaliando a realização dos Fóruns Regionais no interior, Rosângela Reis considerou que a iniciativa vem ao encontro dos interesses e das necessidades da população, “porque é fundamental ouvir para governar com a participação da sociedade”. Em sua visão, “a estratégia proposta pelo governo atual, com a divisão do Estado em 17 regiões, foi acertada, pois corrige um erro histórico. Assim prevalecem as características de semelhança e vocações”, resumiu. Ela ainda acrescentou: “Os deputados conhecem bem as suas regiões, as potencialidades e as necessidades, mas isso nem sempr2e é suficiente caso o Executivo não nos ouça”. Ag o/ ou t 2015
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DISFUNÇÕES CEREBRAIS
Desmistificando a epilepsia Neurocirurgião contextualiza os sintomas da doença e explica que, com bom acompanhamento, pacientes podem levar uma vida normal
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O pintor holandês Vincent van Gogh, os escritores Fiódor Dostoiévski e o brasileiro Machado de Assis não tinham em comum apenas o talento artístico-literário. Esses gênios compartilhavam também uma doença que atinge cerca de 50 milhões de pessoas no mundo: a epilepsia, que tem como sintoma mais conhecido entre a população o ataque epilético. Machado de Assis, por exemplo, chegou a descrever a epilepsia em uma de suas obras, em Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Não digo que se carpisse; não digo que se deixasse rolar pelo chão, epiléptica (...)”. Dr. Luiz Daniel Cetl, neurocirurgião especialista em epilepsia, explica que a doença é uma síndrome caracterizada por um conjunto de sintomas que são originados de um grupo de neurônios disfuncionantes, que emitem sinais atípicos ou irregulares. No Brasil, a taxa de epilepsia é de aproximadamente 1,8%, sendo mais comum na infância. “As crises da doença podem ser divididas em parciais, que atingem apenas uma parte do cérebro, ou generalizadas, que afetam todo o órgão”. A epilepsia não é contagiosa, nem uma doença mental, esclarece Cetl, especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da diretoria da Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP). O médico subdivide ainda as crises parciais, que podem ser divididas em simples, sem o comprometimento da consciência, e complexas, em que há algum grau de comprometimento da consciência, como seu enfraquecimento ou até mesmo a sua perda. “Outro tipo da doença é caracterizado como crise parcial complexa, quando o paciente epiléptico pode apresentar ‘desligamentos’, mostrar olhar fixo e perder o contato por alguns segundos com o meio que o cerca, fazendo movimentos automáticos. Quando ocorrem esses movimentos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falar de modo incompreensível ou andar sem direção definida. Em geral, o paciente não se recorda do que aconteceu”, conta o neurocirurgião. Luiz Daniel diz que, apesar do sintoma da epilepsia mais conhecido entre a população ser caracterizado como “ataque epiléptico”, em que a pessoa perde a consciência e cai no chão, apresentando contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar, os Ag o /out 2015
41 sintomas da doença podem ser variados, dependendo da localização do grupo de neurônios, como vulnerabilidade a flashes e luzes à movimentação espontânea e incontrolável de mãos, braços e pernas. O tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e com efeitos colaterais diminutos. Quando não há controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia, a estimulação do nervo vago e dieta cetogênica. No entanto, apenas um profissional, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado.
QUALIDADE DE VIDA
Por fim, o neurocirurgião ressalta que o objetivo do tratamento é garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente. “Quando não tratadas, a qualidade de vida do epiléptico é fortemente afetada. Por não ter controle das crises, muitas vezes o paciente não consegue manter o emprego e/ou os estudos, além de estar mais propício a acidentes. Outra grave consequência é relacionada ao estado de mal convulsivo (várias convulsões seguidas, sem recuperação entre elas), que se não tratado rapidamente, pode levar a danos cerebrais definitivos. No entanto, com acompanhamento médico e, consequentemente, com o devido tratamento, pacientes com epilepsia levam uma vida normal, muitos alcançando destaque profissionalmente”. Ag o/ ou t 2015
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SEM SAIR DE MODA
Há 30 anos em cartaz Patty Painéis completa sua terceira década de existência respirando modernização e como uma das mais respeitadas empresas de mídia externa do Estado Em se tratando do ser humano, a cultura popular costuma retratar os 30 como os melhores anos da vida. É quando estaríamos livres da insegurança financeira e pessoal dos 20 e longe dos desafios da meia-idade. Os 30 seriam o melhor em termos de liberdade e responsabilidade, além de representar ocasião ímpar para fazer uma espécie de “auditoria da vida”, para avaliar satisfação e conquistas. Mais ainda, segundo a ciência, revelam-se inspiradores para a busca de novos significados, oferecendo oportunidades decisivas para esAg o /out 2015
tágios mais consistentes de crescimento. A soma de todos estes fatores parece traduzir bem o momento histórico vivido pela Patty, que em três décadas de ascensão constante evoluiu ao patamar de uma das mais importantes empresas de mídia externa de Minas Gerais. Com sede no Distrito Industrial de Ipatinga, a Patty continua galgando degraus importantes tanto em estrutura organizacional quanto em desenvolvimento tecnológico e esbanja vitalidade no competitivo mercado dos nossos dias.
“PARECE QUE FOI ontem, mas nosso primeiro painel eletrônico foi instalado há 16 anos”, recorda o fundador
Ainda dirigida por um de seus sócios-fundadores, Eduardo Antônio de Pinho, 56 anos, e sua esposa Maria Aparecida Teixeira de Pinho, 50, a Cida, com quem ele se casou em 1985, a Patty gravita cada vez mais em torno de uma sólida e bem definida estrutura familiar. A passagem do bastão da presidência vai se desenhando naturalmente, jornada após jornada, com o decisivo envolvimento do primogênito Vitor, de 28 anos, formado em Administração e já um dos importantes pilares da organização. Pais também de Laila, de 25 anos, e Ana Laura, de 16, Eduardo e Cida não escondem a satisfação de terem ainda, interessadíssima e ligada à hierarquia diretiva, a sua filha do meio. Publicitária pós-graduada em Marketing e Comunicação Empresarial, fervilhando em idéias (inclusive com a perspectiva palpável de criar uma
grife de roupas), ela dirige a Ênfase, agência que é braço criativo prioritariamente a serviço da Patty e funciona na antiga sede da empresa, no bairro Veneza. Apenas a filha caçula, como se diz, decidiu se apartar da manada, convicta de vocação para a medicina. Com todo incentivo e interagindo diariamente com os pais, Vitor já está praticamente pronto para assumir o leme dos negócios. Depois de um MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV ), ainda segue perseguindo um diploma de Direito na Fadipa, enquanto já comanda a área da Patty voltada para a produção e logística. Ele cresceu dentro da empresa e sempre soube que seu futuro seria trabalhar no negócio, admite. Ag o/ ou t 2015
CONQUISTAS
A sede da Patty no Distrito Industrial de Ipatinga, construída há seis anos, é um orgulho para Eduardo e toda a família. As instalações foram projetadas com a participação de toda a equipe de 30 funcionários, de forma a atender com praticidade o fluxo de trabalho. Todos os setores são integrados. Atualmente a Patty possui mais de duas centenas de unidades de outdoors no Vale do Aço e cidades em um raio de 100 quilômetros, além de dezenas de painéis de estrada e frontlights, mais sete painéis eletrônicos incluindo o Patty Móvel, instrumento mais requisitado para eventos. Outra grande conquista da equipe Patty foi a certificação ISO 9001, de Gestão da Qualidade. Foram quase dois anos de trabalho até a obtenção do certificado, em 2013, segundo Eduardo de Pinho. “Hoje, todos os processos da empresa têm o seu procedimento definido. Por menor que seja o serviço, ele tem todas as fases registradas desde que entra na empresa até ser colocado
na rua. Se alguma coisa fugir do padrão de qualidade, é aberta uma não-conformidade, e todos dentro da empresa têm sua parcela de responsabilidade”, explica o diretor.
SEM SAIR DE MODA
NEGÓCIO FECHADO
Com objetivos expansionistas dentro do mesmo ramo publicitário, a Patty adquiriu no início deste ano o jornal regional Negócio Fechado, que circula com duas edições semanais, oferecendo pequenos anúncios gratuitos. A aquisição foi feita exatamente no dia em que o veículo impresso completava 18 anos de mercado, inaugurando a sua maioridade. Ao assumir o jornal, Eduardo de Pinho decidiu, com apoio de sua equipe de criação, promover uma reforma gráfica em suas páginas, começando pela reformulação da logomarca. Novos clientes, principalmente dos segmentos imobiliário e automobilístico, foram conquistados. A gestão atual está sob a responsabilidade de Cida.
EDUARDO E O FILHO VÍTOR: diálogos e ensaios diários para passagem do bastão da presidência
Do Córrego do Sabiá para a capital do aço
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A NOVA SEDE da Patty, inaugurada no Distrito Industrial: concepção moderna e prática
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Quarto filho de uma família de sete irmãos, Eduardo de Pinho nasceu na fazenda do seu pai, junto ao Córrego do Sabiá, na localidade de Felicina, município de Açucena, cuja fotografia ele faz questão de manter pendurada numa moldura atrás de sua mesa de trabalho. Na roça, onde permaneceu até os 11 anos, Eduardo diz que levantava às 4 horas da manhã para buscar animal no pasto. “Meu pai tinha criações, tirava leite, fazia queijo, rapadura. Eu trabalhava muito. Também puxava cana para moer no engenho”, lembra. Foi em 1971 que o hoje bem-sucedido empresário se mudou com a mãe e os irmãos para Ipatinga, a fim de estudar. O pai permaneceu no campo, desdobrando-se para cobrir as despesas. A primeira morada foi de favor, no Canaã, e depois eles se mudaram para mais umas sete casas, até que um imóvel fosse comprado, no bairro Cidade Nobre. Na cidade, o primeiro trabalho de Eduardo foi vender na rua, dentro de balaios, pastéis feitos pela mãe. A subsistência não parecia fácil e, assim, levou os estudos com certa dificuldade, sem cursar uma faculdade, sonho que acabou ficando para os filhos. Em busca do próprio sustento, o jovem de Felicina ainda trabalhou como servente de pedreiro e também, como ele mesmo diz, ‘peão orelha seca’ numa empreiteira, dentro da Aciaria da Usiminas. “Tive oportunidade de entrar para a siderúrgica, mas como tenho um problema congênito no coração, não passei nos exames físicos. Embora não existisse risco de morte, foi suficiente para impedir a minha admissão”, confidencia. Em 1979, Eduardo conseguiu um emprego no escri-
tório da tradicional Pedreira Rolim. Foram três anos de aprendizado até se abrir a porta que iria mudar a sua vida. Em 1982, aos 23 anos de idade, ganhou a oportunidade de trabalhar como motorista da Rádio Vanguarda AM e se tornou pessoa de confiança do falecido advogado e empresário Ronaldo de Souza, proprietário da empresa de comunicação. “Dr. Lafaiete, advogado pai de um grande amigo meu, foi quem me levou na rádio e me apresentou ao Dr. Ronaldo. Ele perguntou se eu tinha carteira e aí já saí de lá dirigindo a Brasília dele”. Por sua dedicação, de simples motorista Eduardo passou a realizar também toda a cobrança da rádio. “Dr. Ronaldo tinha muita confiança em mim. Passei inclusive a buscar os filhos dele na escola, precisava ser pontual. Era uma atividade que ele fazia pessoalmente, mas que às vezes complicava porque ele tinha muitos compromissos”, explica. O emprego na Vanguarda mudou de forma radical a vida de Eduardo, porque ali é que ele foi convidado pelo radialista Luiz Omar para abrirem em sociedade uma agência, a Patty Publicidade, abraçada inicialmente também pelo patrão de ambos.
ASSUMINDO O NEGÓCIO
Eduardo se lembra de uma conversa que teve com Ronaldo de Souza em que o bem-sucedido empresário disse para ele que, na sua visão, o negócio da agência não daria para três pessoas e dificilmente atenderia aos interesses de duas. “Ele entrou na sociedade para nos ajudar mesmo. Pouco depois, se afastou”, conta Eduardo de Pinho. Ag o/ ou t 2015
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A saída de Luiz Omar da sociedade aconteceu quando a empresa estava com quatro anos. Luiz decidiu ir para os Estados Unidos e Eduardo também faria o mesmo, acompanhado da esposa e do filho Vitor. Contudo, Cida engravidou de Laila e assim o casal e o primogênito desistiram de ir. Isso foi em abril de 89. Eduardo conta que nesse instante surge a oportunidade de adquirir a parte do sócio e teve que fazer grande esforço para conseguir os recursos necessários: “Vendi carro, alguma criação que eu tinha. Meu pai precisou me socorrer, amigos também. Era muita coisa, mas enxerguei ali uma grande oportunidade e não queria desperdiçá-la. Entretanto, depois os desafios foram grandes. O mercado estava ruim, e o outdoor, até então, era uma mídia pouco conhecida na região. Foi com muito trabalho e persistência que conseguimos seguir adiante”, descreve o empreendedor, para acrescentar em seguida: “Cida era professora da rede municipal e ainda não parecia seguro deixar o
magistério. Mas quando a Patty chegou à sua primeira década de mercado tomamos a decisão de ela se ocupar inteiramente do negócio”. “Na verdade, primeiro quis fazer um teste para ver se dava certo nós trabalharmos juntos”, recorda a mulher de Eduardo. “Tirei licença da escola por certo tempo. Então chegamos à conclusão de que já valia a pena deixar de lecionar e ganhei coragem para me demitir”. Hoje envolvida nas áreas administrativa e financeira, Cida lembra que fez estágio em todos os processos da empresa, conhecendo-a inteiramente, desde a base. “Conheci tudo primeiro, fui aprendendo na prática: departamento de pessoal, controle de estoque, produção, comercial, criação. A conclusão a que chegamos, a certa altura, era que o Eduardo, que tem uma facilidade muito grande de fazer amizades e ampliar os relacionamentos, precisava ficar mais liberado para os contatos externos, o que de fato aconteceu e funcionou bastante na nossa estratégia de crescimento”.
Como tudo começou
SEM SAIR DE MODA convidamos para a sociedade o Dr. Ronaldo de Souza, nosso patrão na emissora, e ele topou. A partir daí, conseguimos as primeiras liberações de áreas para a colocação das placas. Importante, também, na época, foi a Imobiliária Santanense, do pioneiro Jair Gonçalves, que disponibilizou muitas áreas para a Patty.
Recordo-me que o primeiro outdoor foi da loja de cosméticos Relva, localizada no JG Shopping, na avenida 28 de Abril, centro de Ipatinga. Em seguida, vieram os das tradicionais Óticas Maria José e a escola de idiomas Number One. Foram estes os nossos primeiros clientes de outdoors.
A evolução tecnológica O PATTY MÓVEL, instrumento versátil da empresa que vem sendo utilizado sobretudo em eventos
POR EDUARDO DE PINHO
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COM O MODERNO processo de impressão digital dos outdoors, hoje os quadros são produzidos com rapidez, em grande formato OS DIRETORES da Patty e o corpo de funcionários: muitos deles estão na empresa desde a fundação
Um dia, o Luiz Omar Magalhães, amigo e colega de trabalho, que apresentava um programa na Rádio Vanguarda, me chamou e convidou para montarmos uma agência de publicidade. Ele já estava indo embora e naquela hora eu tive um repente. Falei: ‘Luiz, é amanhã hein!’ Ele se assustou e perguntou: ‘Amanhã o quê?’ Eu disse: ‘Que nós vamos montar a agência, ora!”. E foi mesmo assim, de supetão. Logo no outro dia já procurei um contador e partimos pra cima. Arrumamos os documentos e montamos a dita agência. A data da Ag o /out 2015
criação da Patty é 1º de julho de 1985. Iniciamos tudo há três décadas. Na verdade, nós começamos vendendo comerciais para jornal, rádio e televisão. Vendíamos publicidade para a Rádio Vanguarda, o Diário do Aço e a TV Minas, afiliada da extinta Rede Manchete. Em 1986, eu e o Luiz Omar participamos de um seminário de publicidade em Belo Horizonte e foi aí que surgiu a idéia de iniciarmos o negócio dos painéis em Ipatinga. Como não tínhamos dinheiro na época,
Quando entrou no mercado de mídia externa, em 1986, a Patty, que ostenta modernos painéis eletrônicos em regiões estratégicas de sua área de abrangência, ainda fazia a impressão dos outdoors em serigrafia e silk-screen, processos muito artesanais e que representavam longo tempo de trabalho ininterrupto, virando noites. Os quadros de papel que, unidos na colagem, compunham a imagem do outdoor, ganhavam forma com gravações de figuras e inscrições numa tela de nylon. Com um rodo, a tinta era espalhada por essa tela e então vazava no papel embaixo. “Mesmo para aqueles tempos, nós tínhamos um trabalho diferenciado. No início, o original para gravar a tela era feito em sistema de traço. Mas em nossa equipe havia pessoas extremamente hábeis, que produziam um desenho muito próximo da foto. Quase não dava para perceber a diferença”, lembra Cida. A impressão em policromia começou a acontecer
nos trabalhos da Patty a partir de 1996, mas ainda em serigrafia. Nessa fase entra no processo a retícula, que permitiu um avanço significativo, viabilizando o uso da fotografia nos outdoors. Entretanto, a impressão ainda se fazia com a junção de telas separadas nas cores básicas: azul (cyan), vermelho (magenta), amarelo (yellow) e preto (black). Com o surgimento de novas tecnologias, os pontos da retícula foram gradualmente sendo reduzidos, dando cada vez mais qualidade à imagem. Cida lembra que, na execução serigráfica da policromia, a elaboração de um conjunto de dez outdoors consumia nada menos que dois dias. E isto se a temperatura ajudasse. Em dias frios, a secagem da tinta exigia um prazo ainda maior. Hoje, com o moderno processo de impressão digital dos outdoors, os quadros são produzidos com rapidez, em grande formato. Um outdoor chega a ser produzido em apenas 40 minutos. A evolução tam-
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bém representou naturalmente uma melhor condição de trabalho para toda a equipe. O início de operação da Patty se deu com um modesto escritório na Avenida 28 de Abril. A oficina de produção funcionou primeiro na própria casa de Eduardo de Pinho. Num outro estágio de evolução, a empresa passou a funcionar na área de estacionamento diante da Associação Comercial, na rua Uberlândia, até se mudar para a primeira sede própria, em frente à Faculdade de Direito de Ipatinga (Fadipa), no bairro Veneza. Mas a mudança mais significativa aconteceu há seis anos, com a inauguração de instalações integradas no Distrito Industrial de Ipatinga. Sempre movida por um espírito de aperfeiçoamento constante de sua prestação de serviços à comunidade, e buscando diferenciais vanguardistas em meio à acirrada competição do mercado publicitário, a Patty diversificou
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suas opções de mídia externa. Vieram, na seqüência, os painéis de backlight, frontlight e triedro, painel de estrada, painel eletrônico, empena, Patty Móvel e mobiliário urbano. “Parece que foi ontem, mas nosso primeiro painel eletrônico foi instalado há 16 anos, no estacionamento do Shopping do Vale do Aço, logo que o complexo de compras foi inaugurado”, recorda Eduardo de Pinho, ressaltando que também houve notável evolução mesmo nesse recurso tecnológico. “No início, usávamos apenas as cores vermelha e verde. E nós conseguíamos até formar figuras humanas com aquilo”, diz, orgulhoso do trabalho desenvolvido por sua equipe, que ainda hoje reúne nomes da formação original, pessoas cujo talento, prática e competência profissional têm sido decisivos no crescimento da empresa.
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ATITUDE – Como fazer para sobreviver nos momentos de crise a que todos estão sujeitos? EDUARDO – Bom, pra mim o fato inquestionável é que você só vence os momentos difíceis se trabalhar mais. A dificuldade requer maior esforço, maior dedicação, é a lógica. O mercado é amplo e diversificado, e muitas vezes ele precisa ser melhor explorado. ATITUDE – Fale-nos um pouco sobre a relação da direção da Patty com sua equipe de trabalho. EDUARDO – Creio que um bom sinal de como, à nossa maneira, nos fazemos bem compreendidos é que temos vários funcionários que começaram conosco e
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Ingredientes para o sucesso ATITUDE – Que conselhos você daria para uma pessoa que está iniciando no mundo dos negócios? EDUARDO DE PINHO – Você tem que ser honesto, isto é fundamental, mas não pode ser inocente. Agindo com retidão e vigilância, você tem como colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo. Outra coisa é ser perseverante no que faz. Mais: ter foco, levantar cedo. Com esses ingredientes, creio que o empreendedor tem tudo para, como se diz, partir para o abraço mesmo.
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ainda hoje estão entre nós. Nossa rotatividade é muito baixa. A equipe é comprometida com o que faz. ATITUDE – E de que maneira vocês lidam com a questão da sucessão na Patty, já que ela é uma empresa eminentemente familiar? EDUARDO – O meu filho mais velho, Vitor, abraçou a empresa de corpo e alma, e isso não como imposição, mas por convicção. Autonomamente, chegou um momento em que ele tomou a iniciativa de abrir a empresa todos os dias e, para mim, isto foi um sinal evidente do quanto ele se mostra interessado em contribuir para os resultados. Conversamos muito acerca de tudo, discutimos providências, divergimos eventualmente por uma questão até de conflito de gerações, mas os conceitos que ele tem introduzido em nossa estrutura são positivos, isto é inegável. Vejo também que ele amadureceu bastante após fazer o MBA e estou certo de que a transição se dará de forma natural. ATITUDE – Como é trabalhada a responsabilidade social na Patty? EDUARDO – É norma da empresa não passar um mês sequer sem uma campanha de cunho social na rua,
EDUARDO, Laila, Ana Laura, Cida e Vítor: família unida em torno de um processo de gestão compartilhada
sejam elas assistenciais, de conscientização ou de valorização de categorias profissionais importantes no dia a dia das pessoas. A comunidade regional tem sido sempre muito generosa conosco e fazemos questão de estar presentes nas causas coletivas. Desenvolvemos campanhas voltadas para a prevenção de doenças, contra acidentes de trânsito, de solidariedade, defesa do meio ambiente, enfim, disponibilizamos outdoors a serviço da comunidade, apoiamos entidades filantrópicas. É preciso ressaltar também que toda madeira usada nas estruturas dos outdoors é de reflorestamento e todo lixo que produzimos tem destinação adequada. ATITUDE – E que balanço pode ser feito de sua experiência como presidente da Associação de Empresas do Distrito Industrial de Ipatinga - AEMDI, já em seu segundo mandato? EDUARDO – Com o apoio de todos os filiados, nós conseguimos fazer diversas benfeitorias no Distrito Industrial ao longo de três anos, cuidamos de uma série de detalhes organizacionais e temos procurado atender a necessidades pontuais dos empreendedores. Mas a maior conquista foi a doação de uma área, pelo município, para a construção da sede da AEMDI. Trinta e sete empresas estão instaladas atualmente no Distrito
e regularizamos a situação de todas as áreas que se encontravam ociosas, garantindo a plena ocupação. Nossas atenções agora estão voltadas para a expansão que está prevista. O terreno, nas imediações do DI atual, já foi disponibilizado. A área é três vezes maior que a do atual Distrito Industrial e não há dúvida de que este será mais um passo importante para revitalização da economia local, com geração de novos empregos e melhores perspectivas para a população. ATITUDE – Fale-nos também um pouco sobre sua experiência como presidente da ASDOOR (Associação das Empresas de Outdoor e Similares do Interior de Minas Gerais). EDUARDO – A ASDOOR é um organismo criado para promover o desenvolvimento das atividades das empresas associadas, fortalecendo a mídia exterior com ética e responsabilidade sócio-ambiental. Tive o privilégio de estar na presidência no período de 2006 a 2009 e, com o apoio de todos, pudemos estabelecer uma integração muito interessante dos filiados com o mercado, de uma forma geral, e também com os governos estadual e federal. Nesse tempo, foi elaborado ainda o planejamento estratégico da associação, com relevante colaboração do Sebrae. Ag o/ ou t 2015
VIDA DE GESTANTE
As dúvidas mais freqüentes durante a gestação Especialista responde alguns dos principais questionamentos das futuras mamães PARA AS MULHERES que já praticavam alguma atividade física, é importante mantê-la, porém, sempre com a supervisão de um profissional
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Uma gravidez vem sempre acompanhada de medo, dúvidas e anseios. Afinal, é nesta fase da vida que a gestante vive situações únicas e que jamais serão esquecidas. A fim de descobrir todos os segredos da maternidade, as mulheres acabam trocando ideias com as mães, com familiares, com amigas que já são mães e, certamente, com seu médico. Mas, até que chegue o momento do parto, tudo será novidade, e mesmo diante de tantos conselhos e recomendações, algumas dúvidas acabam sendo inevitáveis. Portanto, para falar um pouco mais sobre a vida das gestantes, ATITUDE ouviu um ginecologista, que comenta os principais questionamentos das futuras mamães. Confira abaixo o que o médico diz. POSIÇÃO PARA DORMIR. O mais indicado é que a grávida durma virada para o lado esquerdo. Esta posição ajuda na circulação do sangue; porém, vale lembrar que a melhor posição é aquela em que a gestante se sinta mais confortável e que a faça relaxar; Peso. A média de quanto a gestante deverá engordar é de 9 a 12 Kg. Entretanto, isso depende muito de quanto a mulher pesava antes de estar grávida. Sendo assim, o melhor a fazer é conversar com o médico para que ele calcule seu IMC (Índice de Massa Corporal) antes da gestação; ALIMENTAÇÃO. Uma das grandes dúvidas que a gestante tem é saber se está se alimentando adequadamente, de forma saudável, e se o bebê está recebendo todos os nutrientes necessários. Por isso, é essencial manter uma dieta balanceada, bem colorida e repleta de frutas, legumes e verduras. É importante que a grávida reduza o consumo de açúcar (por conta dos riscos com o diabetes gestacional e ganho de peso) e de sal (para que
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a pressão não suba acima do normal; ATIVIDADE FÍSICA. Para as mulheres que já praticavam alguma atividade física, é importante mantê-la, porém, sempre com a supervisão de um profissional, que poderá dizer a necessidade de se diminuir o ritmo. A hidroginástica e a caminhada são boas alternativas para as mulheres que não realizavam exercícios antes da gestação; SEXO NA GESTAÇÃO. Ter relações sexuais durante a gestação não prejudica o bebê. As relações só devem ser evitadas em casos de contrações e sangramentos; FUMO. O hábito de fumar já é prejudicial à saúde, e principalmente durante a gravidez. A gestante que fuma pode ter sérios problemas de circulação sanguínea em nível de placenta. Isto pode prejudicar muito a chegada de oxigênio para o bebê, causando não só retardo de crescimento do feto, como um descolamento prematuro da placenta; BEBIDA ALCOÓLICA. O álcool é prejudicial ao bebê e não deve ser consumido durante a gravidez. A ingestão contínua de bebidas alcoólicas próximas ao parto pode levar o bebê a ter a síndrome de abstinência alcoólica fetal; COSMÉTICOS. Antes de fazer o uso de cosméticos, é essencial que a grávida consulte um especialista, já que algumas substâncias presentes nas fórmulas podem ser absorvidas pelo corpo e cair na corrente sanguínea; ESTRIAS. É possível combater as estrias com tratamentos ou cremes específicos, sempre recomendados por médicos especialistas. Uma pele hidratada é sempre mais elástica e com menos chances de formar novas estrias; SALTO ALTO. À medida que a barriga cresce o ponto de equilíbrio da mulher também se altera. É recomendável usar sapatos confortáveis, de salto baixo e de base larga, evitando chances de quedas.
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DITO E FEITO
Homens e Mulheres de “Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida”. 52
Bob Marley ou Robert Nesta Marley (1945-1981), cantor, baixista e compositor jamaicano, o mais conhecido músico de reggae de todos os tempos. Vendeu mais de 75 milhões de discos. Pai de doze filhos (dois deles adotados), foi eleito pela revista Rolling Stone o 11º maior artista da música de todos os tempos. A maior parte do seu trabalho lidava com os problemas dos pobres e oprimidos.
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“As únicas desgraças completas são aquelas com as quais nada aprendemos”. William Ernest Hocking (1873 -1966), engenheiro e filósofo idealista estadunidense, doutorado em Harvard. Sua área principal de estudo foi a filosofia da religião, mas os seus 22 livros incluem discussões sobre direitos humanos, política, liberdade de imprensa e educação, entre outras. Em 1958 atuou como presidente da Sociedade Metafísica da América.
“Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas: jamais jogue alguém fora”. Audrey Hepburn (1929-1993), premiada atriz e humanista nascida na Bélgica, filha de um banqueiro irlandês e uma baronesa holandesa que se separaram quando tinha nove anos. Ícone de estilo, lenda feminina do cinema, morreu na Suíça, com câncer de apêndice. Durante a Segunda Guerra, na Holanda, comeu folhas de tulipa para sobreviver e viu vários parentes serem assassinados por nazistas à sua frente. Bailarina, carregava mensagens da resistência em sapatilhas.
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FILMES/LIVROS
O ATOR David Oyelowo atua no papel principal, valorizando a determinação e o talento estratégico do líder negro norte-americano
Selma - Uma Luta pela Igualdade
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Selma - Uma Luta Pela Igualdade sem dúvida tem lugar de destaque em meio a dezenas de biografias que chegaram aos cinemas recentemente. O filme reúne uma série de qualidades incomuns que merecem ser destacadas. Em primeiro lugar, seria fácil abordar o líder Luther King pelo prisma de sua morte prematura (o que contribuiu especialmente para fazer dele um mártir, mas já é clichê nas abordagens cinematográficas acerca do personagem) ou tomando como ponto de partida o célebre discurso “I Have a Dream”. Mas o filme da diretora Ava DuVernay prefere um momento igualmente importante, mas menos midiático, e muito complexo do ponto de vista político: a marcha de Selma a Montgomery, no Alabama, pelo direito do voto aos cidadãos negros. Outro detalhe é que a fotografia é espetacular. O tratamento da luz em cenas escuras, como nos quartos das casas ou na prisão, impressiona, assim como o primeiro enfrentamento na ponte – talvez a cena mais bela e poderosa. O que pode desencorajar parte do público a embarcar no filme (produzido em 2014) é o tom sisudo. Quem gosta de história tende a ser mais recompensado, naturalmente. Um aspecto bem retratado nesta trama é o uso da religião - cristã, no caso - como ferramenta política. O pastor protestante Martin Luther King lutava pela autêntica cidadania, pela redução das desigualdades. Esta é uma louvável bandeira, ainda mantida por parte das comunidades do meio. É muito interessante ver em ação um líder que efetivamente elevou o nível da fé e colocou o homem público num mais digno patamar de identificação com as massas através de sua marcante atuação em prol da coletividade. Ag o /out 2015
Sobrevivente do Holocausto Levou 70 anos para que a holandesa Nanette Blitz Konig, hoje com 86, pusesse no papel os horrores que ela e sua família viram e viveram a partir de 1940, quando os soldados alemães chegaram a seu país. Foram cerca de três anos de apreensão até uma manhã de setembro de 1943, quando as batidas na porta anunciaram que chegara a vez deles. Eles sabiam que seriam levados a algum campo – se de extermínio ou de trabalho forçado não tinham idéia. E aí começa o fim da história dessa família (pai, mãe, uma menina de 14 anos, um menino de 16) de origem judaica, mas não muito religiosa, que seria exterminada, como tantas outras, pelo capricho de Hitler. Nanette não sabe como, mas agüentou firme até o final. Quando os ingleses libertaram Bergen-Belsen, ela pesava 31 quilos. Estava viva – e sozinha no mundo. Este é o enredo principal de “Eu Sobrevivi ao Holocausto”, com lançamento neste dia 11 de agosto, pela editora Universo dos Livros. A autora está desde os anos 1950 em São Paulo, onde recomeçou a vida e construiu uma nova família – sem nunca se esquecer dos pais e do irmão, de quem nunca pode se despedir. Apenas em 1945 ela saberia da morte dos familiares, após três anos de tratamento de saúde. O livro ganha ainda mais significado porque Nanette conviveu com Anne Frank (da célebre obra ‘O Diário de Anne Frank’, publicada em 1947), sendo uma de suas últimas amigas vivas.
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AOS 86 ANOS, Nanette Blitz foi a única de sua família a sobreviver ao Holocausto
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EXTRA! EXTRA! Dubai capixaba
Guarapari, vedete do litoral capixaba, foi visitada por um magnata do oriente e sonha em receber um megaempreendimento turístico, no estilo do que existe de mais luxuoso atualmente em Dubai, nos Emirados Árabes. O investimento seria feito pelo príncipe árabe Khaled Bin Alwaleed Al Saud, que planeja a construção de um resort na área do Siribeira Iate Clube, entre as praias da Areia Preta e das Castanheiras. Há ainda a previsão da construção de um hotel de luxo com duas torres de 250 apartamentos cada, quatro restaurantes internacionais, centro de convenções com capacidade para 10 mil pessoas e estacionamentos. O príncipe já investe no complexo portuário da PetroCity, em São Mateus, no norte do Estado. No projeto do complexo turístico para a área do Siribeira Iate Clube está prevista a construção de um porto com capacidade para receber navios. É que o príncipe saudita tem cinco navios de viagens de turismo internacional.
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Valorização humana
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Neste dia 13 de setembro, com uma importante marca de atuação gravada especialmente em projetos socioambientais mantidos nos 54 municípios em que atua, a CENIBRA está completando seu 42º ano de fundação. Uma das razões do sucesso da empresa é a consciência de cidadania da JBP – um grupo de empresas japonesas, de larga experiência no relacionamento com o Brasil –, que desde 2001 assumiu o controle acionário, após ter adquirido a participação da CVRD, atual Vale. Entre inúmeras ações de valorização humana apoiadas pelo Instituto CENIBRA, nas mais diversas áreas, um dos destaques é o Projeto Luthier, em Barão de Cocais, que viabilizou a formação de uma Orquestra de Viola Caipira. Adolescentes carentes são ensinados a construir e tocar seu próprio instrumento, recebendo também formação moral e comunitária. São acolhidos jovens de baixa renda ou em vulnerabilidade social, na faixa de 9 a 18 anos.
Ciência Sem Fronteiras Para usar um surrado bordão (mas que, afinal, nunca sai de moda), “filha de peixe, peixinho é”. Então, não é por acaso que a veterinária Bárbara Georgetti, formada - como o pai - pela Universidade Federal de Minas Gerais, decola neste mês de setembro em direção à Inglaterra. A unigênita de Dr. Rômulo Edgard e Rose foi selecionada como bolsista do programa “Ciência Sem Fronteiras”, que oferece intercâmbio no exterior a estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação. Bárbara estará enriquecendo seus conhecimentos com estágio de um ano em solo britânico. Ag o/ ou t 2015
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INTERDIÇÃO
Uma decisão dolorosa
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A TERCEIRA IDADE pode trazer problemas que impossibilitam o idoso de cuidar de seus direitos e deveres judiciais, daí a necessidade de um pedido de Curatela
Constatar que um filho será incapaz de agir e tomar decisões por si mesmo. Encontrar uma pessoa que se dedique aos cuidados dele, que seja responsável por sua sobrevivência, dê carinho, orientação e cuidado a este jovem como seus pais. Saber que quando morrer precisará haver alguém disposto a zelar por seu filho e empenhado em oportunizar todas as condições que um jovem especial necessita tanto no plano material como no imaterial - aulas de música, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, desenvolvimento espiritual, dentre outras coisas. Dilemas como estes são enfrentados por pais que não possuem alternativa que não seja a de interditar seus filhos. A interdição trata-se de uma forma de reconhecer, judicialmente, que uma pessoa é incapaz de gerenciar suas atividades e ações de cunho civil, tais como: casar, comprar uma casa, e decidir ter filhos. Uma pessoa interditada carece de um curador que tenha a competência de conduzir sua vida financeira e pessoal. Segundo a especialista em Direito Civil, advogada Luciane Lovato Faraco, ao menos 10% da população nacional vive com alguma limitação em usufruir individualmente de suas liberalidades, seja por conta da idade, necessidade especial ou doença mental. “A interdição é um instituto que se presta à garantia de uma vida digna, com atendimento das necessidades básicas e especiais de quem, por alguma patologia, está ou é, total ou parcialmente, impedido de fazê-lo devido à restrição de sua capacidade mental. Sendo assim, a Ag o /out 2015
Especialista afirma que cerca de 10% da população brasileira sofre de alguma patologia que, de forma total ou parcial, impossibilita ou prejudica o exercício pleno de sua capacidade civil
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Constituição Federal e o Código Civil asseguram a este indivíduo, com a interdição, uma perspectiva de vida assistida para melhor atender a sua condição e mantença”, esclarece a advogada. A especialista aponta que a interdição pode ser aplicada, por exemplo, em ocorrências de bipolaridade extrema, síndrome de down, pródigos e pessoas com senilidade. No entanto, ela lembra que em tais circunstâncias deve-se considerar que o regime de exceção precisa ser a regra, pois a legislação é para abrigar o indivíduo e não o patrimônio, até porque a disposição deste, não constatada situação de incapacidade, é livre. “É necessário considerar que seres humanos têm diferentes escolhas e decisões. Por isso, um requerimento de interdição impõe ao magistrado analisar e perquirir a procedência do fato apresentado e, ainda, a ponderação acerca da pessoa para quem será conferido o encargo da curatela. Neste caso, o fundamental é afiançar a garantia da assistência ao interdito da forma mais adequada à sua sobrevivência”, argumenta. O caminho para entrar com um processo de interdição não é difícil. Ter em mãos um laudo médico apontando que o indivíduo tem dificuldade de moderar a sua vida civil e indicando especificamente a patologia que o acomete é o primeiro essencial documento. Posteriormente, necessita-se contar com o apoio de um advogado ou da defensoria pública para iniciar a ação. O processo deve ser ajuizado na comarca onde reside o interditado. Ag o/ ou t 2015
CONJUNTURA
PARA MÁRIO SÉRGIO Cortella, “o resmungo é a aceitação da derrota numa situação difícil mas não impossível”
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CONJUNTURA
Bem-humorado, usando exemplos didáticos e de sua vida cotidiana, Cortella interagia a todo instante com o público, e assim mereceu total atenção. Citações famosas e históricas de motivação pontilharam suas reflexões. “Sentir medo neste momento é normal – admitiu –, mas não devemos entrar em pânico. Nos instantes de crise é que o verdadeiro líder mostra sua cara e usa a inteligência na capacidade de reinvenção. É quando ele se une a outros empresários e, de forma criativa, busca alternativas”, ensinou. Para o professor, a crise atual é difícil e agravada pelo momento tecnológico no qual o Brasil e o mundo estão inseridos. Contudo, não é inédita e tampouco invencível. Ele observou que nos anos 80 vivemos uma conjuntura muito pior, com juros de 3.000% ao ano, enquanto hoje ainda temos a nosso favor uma democracia e liberdade de expressão inexistentes no passado. “Nem todas as regiões do país vivem o mesmo panorama de desaceleração. No Sul, as indústrias moveleiras estão em alta e contratando, assim como quem vive do agronegócio”, ressalvou, para citar em seguida o filósofo grego Heráclito, segundo quem nenhum homem toma banho duas vezes no mesmo rio, simplesmente porque outras são as águas que correm nele. “Mudanças ocorrem sistematicamente e todos devem estar preparados para mudar também. Ter medo da mudança não é uma atitude inteligente. Em um mundo em que a globalização peneira o joio do trigo,
somente o mais autêntico sobrevive”, teoriza.
REINVENTAR SEMPRE
Mário Sérgio disse acreditar que esse seja um momento também de aperfeiçoar os conceitos nacionais de cidadania, porque são nas dificuldades que os indivíduos tendem a reconhecer a importância do outro, irmanando-se como nação. “Vivemos em uma democracia muito jovem, ainda um tanto incipiente. O povo não participou de forma ativa de momentos históricos do país como a sua libertação como colônia, e assim permaneceu à margem de muitos processos decisórios importantes. Mas com paciência vamos aprender”. Citando Einstein, o filósofo advertiu: “Tolice é fazer sempre as mesmas coisas, da mesma forma, e esperar resultados diferentes. É preciso ter iniciativa e se reinventar sempre, buscando na cooperação as saídas decisivas para enfrentar e vencer a tormenta”. Ele citou ainda Guimarães Rosa (“É junto dos bons que ficamos melhores”) para sugerir que um grupo unido seguramente terá mais força do que um empresário que decida investir sozinho. Mário Sérgio Cortella lembrou que São Bento, ao criar a Ordem Beneditina, também a organizou seguindo o lema “ora et labore” (ore e trabalhe). “Nada de contar com a sorte. A própria pessoa deve ir ao encontro de seus objetivos, visando à vitória, e para isso necessita ter fé e confiança”.
“Ora et labore” Filósofo cita santo criador da Ordem Beneditina para ensinar que, em tempo de crise, “é necessário ir ao encontro dos objetivos, assim como ter fé e confiança”. O que fazer no momento em que o país passa por uma crise política e econômica que muitos acreditam ser a mais séria vivida ao longo das últimas décadas? “Coragem não é ausência de medo”, “vaca não dá leite” (é preciso extrair dela) e “é proibido resmungar” – estes foram os três principais conceitos ou máximas deixados ao numeroso público que prestigiou, no último dia 2 de julho, no auditório da Federação das Indústrias de Minas Gerais - a palestra ministrada pelo filósofo, escritor e professor há 41 anos, Mário Sérgio Cortella. Ele esteve no Vale do Aço a convite do presidente regional da FIEMG, Luciano Araújo, e as cerca de 500 reservas de parti-
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cipação colocadas à disposição se esgotaram rapidamente. Paranaense de Londrina, Cortella, 61 anos, é um dos comunicadores-palestrantes brasileiros mais requisitados no momento, e abordou o tema “Da Oportunidade ao Êxito: Mudar é complicado? Acomodar é perecer”. Na visão do guru, a única coisa permanente na atualidade é a mudança, ou seja, o empresário deve lançar mão de todas as suas reservas de inteligência e criatividade, reciclando-se e unindo forças para combater a turbulência que para ele “é desafiadora, mas não impossível de ser vencida”.
HOUVE GRANDE envolvimento do empresariado local e as 500 inscrições para a palestra se esgotaram rapidamente
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CONSULTÓRIO
Quem é que pode ajudar? A infertilidade não é apenas uma dificuldade em engravidar. Ela acaba por envolver diversos aspectos da vida do casal.
DR. MÁRIO MÁRCIO DA PAZ mariomarcio.paz@providareproducao.com.br
Na visão do guru, a única coisa permanente na atualidade é a mudança, ou seja, o empresário deve lançar mão de todas as suas reservas de inteligência e criatividade. PROIBIDO RESMUNGAR
Ainda dentro da Ordem dos Beneditinos, o professor citou a regra 34 dos monges, que diz que é proibido resmungar. “O resmungo é a aceitação da derrota numa situação difícil mas não impossível. Podemos criticar, debater, questionar e até brigar, mas não podemos baixar a cabeça como derrotados e começar a resmungar, sem fazer nada a respeito. O pessimista se diz realista e condiciona-se a entender que a situação não tem mais jeito. O otimista, porém, luta, estuda, corre atrás mesmo, buscando sempre a luz no fim do túnel”, encorajou ele, que chegou a ser monge por três anos. “Eu queria vivenciar uma experiência religiosa mais significativa e menos superficial. Mas na clausura senti que tinha chegado a um limite e que era hora de seguir outro caminho. Então me tornei educador e filósofo. Eu não conseguiria continuar monge por mais 40 ou 60 anos”, entendeu.
VACA NÃO DÁ LEITE
– Eu eduquei meus quatro filhos – continuou Cortella – motivando cada um deles em separado. Todos
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os dias da infância, dizia a eles durante as refeições: ‘Quando você fizer 12 anos vou lhe contar qual é o segredo da vida’. Fiz então a revelação ao meu filho mais velho, que a aguardava de forma ansiosa no dia de seu aniversário: ‘Meu filho, vaca não dá leite, você tem que tirar. Há todo um trabalho e preparação necessários para se obter o resultado final, que é o leite”, considerou, para salientar que hoje existe uma geração que acredita que “vaca dá leite”. Ou seja, se conforma com a situação atual e não busca novas alternativas ou busca a reinvenção daquilo que tem, procurando ser melhor que seu concorrente. Para Mário Sérgio, em se tratando do Vale do Aço o empresariado deve explorar novos potenciais, tendo em vista a debilidade do horizonte siderúrgico, assim como outras regiões que não ficaram reféns de um único setor produtivo. “Não é hora de nos acomodar e seguir a máxima do Zeca Pagodinho: ‘Deixa a vida me levar, vida leva eu’. Devemos sair de nossa zona de conforto e ouvir a imortal sugestão que vem de outro músico, Geraldo Vandré: ‘Quem sabe faz a hora, não espera acontecer’”, concluiu.
O tratamento de reprodução assistida dura apenas quinze dias. Estimula-se os ovários da mulher a produzirem o maior número possível de óvulos, que são colhidos e fertilizados no laboratório com os espermatozóides do parceiro. O embrião formado desta união é transferido para o útero materno após três a cinco dias de incubação em estufas especiais. A partir deste momento se inicia as duas semanas mais angustiantes da vida do casal. A ansiedade gerada pela expectativa do resultado do exame que definirá o nascimento do filho tão desejado cria uma pressão enorme que somente é superada com muita união, dedicação e amor mútuo por parte do casal. Se o resultado for positivo a pressão se desfaz e tudo se transforma em festa e felicidade. Porém, quando o resultado é negativo a frustração pode levar a consequências desastrosas. A frustração é um sentimento muito difícil de se lidar. Torna-se mais difícil ainda quando estão envolvidas outras emoções e situações que transformam a vida normal do casal. Por exemplo, as relações sexuais que antes eram uma troca de afeto e carinho se transformam em uma ferramenta para obtenção do objetivo de engravidar. Todos os pensamentos estão voltados exclusivamente para a gravidez. Homens e mulheres que não se preparam psicologicamente para o tratamento se comportam de forma diferente diante do resultado negativo. As mulheres geralmente se sentem diminuídas em sua condição feminina, já que foram incapazes de cumprirem sua função essencial - que é a de se tornar mãe. Suas amigas e parentes que conseguem engravidar apenas reforçam seu sentimento de inferioridade. Isto sem falar naquelas que engravidam de forma acidental ou até toman-
do pílulas anticoncepcionais. Já os homens, além de se sentirem diminuídos diante dos amigos e parentes, têm um sofrimento adicional consequente de sua incapacidade em separar fertilidade de virilidade. Para muitos, a paternidade é uma representação inequívoca de sua potência sexual. A incapacidade em conseguir fazer sua mulher engravidar acaba por criar graves situações de inadequação sexual, com consequências desastrosas para a dinâmica conjugal. A infertilidade não é apenas uma dificuldade em engravidar. Ela acaba por envolver diversos aspectos da vida do casal. Coloca em xeque a capacidade de lidar com o imprevisto e de superar obstáculos. Quando se decide por um tratamento é preciso rever a relação conjugal e verificar se cada um está preparado emocional e psicologicamente para lidar com a ansiedade e as frustrações inerentes à terapia. É fundamental o companheirismo e cumplicidade, já que durante esta jornada somente poderão contar um com o outro e com o apoio de seu médico. Geralmente amigos e parentes são incapazes de compreender a dimensão do problema e seus comentários podem ser muito mais prejudiciais que benéficos. É muito comum comentários do tipo: “Com tanta criança no mundo para adotar, por que gastar tanto dinheiro em um tratamento assim?”. A medicina reprodutiva está aí para ajudar os casais a alcançarem o seu sonho de ter um bebê em casa e a formar uma família. Mas é preciso lembrar que os tratamentos, apesar de muito rápidos, também são fontes de grande ansiedade e tensão. Cada um deve fazer uma análise sincera de sua capacidade de lidar com estas emoções. Afinal, tratamento nenhum vale a felicidade e a harmonia entre duas pessoas que se amam.
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HUMOR