Cásper 22

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Setembro, outubro, novembro e dezembro de 2017

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DÁ UM LIKE Os influenciadores digitais viram celebridades e as marcas estão desesperadas atrás deles

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A TRADIÇÃO QUE O MERCADO BUSCA E A FLEXIBILIDADE QUE VOCÊ PRECISA Referência em Comunicação, a Cásper Líbero oferece cursos de Pós-Graduação com uma grade flexível e adaptável ao seu tempo e às suas necessidades.

JORNALISMO

Cursos de Especialização

COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS MARKETING E COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA

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´ CASPER ISSN 2446-4910

FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO PRESIDENTE Paulo Camarda SUPERINTENDENTE GERAL Sérgio Felipe dos Santos

FACULDADE CÁSPER LÍBERO DIRETOR Carlos Costa VICE-DIRETOR Roberto Chiachiri Filho REVISTA CÁSPER NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS COORDENADORA DE ENSINO DE JORNALISMO Helena Jacob EDITOR-CHEFE Eduardo Nunomura EDITORES Carolina Moraes e Guto Martini CONSELHO EDITORIAL Dimas Künsch, Helena Jacob, Joubert Brito, Marcelo Rodrigues, Patrícia Salvatori, Roberto Chiachiri Filho, Roberto D’Ugo e Sonia Castino REPORTAGEM Ana Rivas, Beatriz Fialho, Carolina Moraes, Felipe Sakamoto, Giulia Gamba, Guilherme Guerra, Guto Martini, Lyssa de Miranda, Mariana Martucci, Paula Calçade e Tatiana Ferraz EDITORA DE ARTE E FOTOGRAFIA Giulia Gamba PROJETO GRÁFICO Giulia Gamba DIAGRAMAÇÃO Beatriz Fialho, Giulia Gamba e Guilherme Guerra COLABORADORES Daniel Zimmermann e José Augusto Dias NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS Avenida Paulista, 900 – 5º andar 01310-940 – São Paulo – SP (11) 3170-5874/5814 revistacasper@casperlibero.edu.br revistacasper.casperlibero.edu.br CAPA Giulia Gamba IMPRESSÃO E ACABAMENTO Eskenazi Indústria Gráfica CC

BY

Se não houver um © explicitado, você pode copiar, adaptar e distribuir os conteúdos desta revista, desde que atribua créditos

A TEORIA

E A PRÁTICA Contar boas histórias é um mantra repetido à exaustão por profissionais da Comunicação. Seria uma espécie de Shangri-La, a promessa de um mundo novo para dar conta das transformações profundas que a internet provocou na área comunicacional. Uma nova propaganda tem de passar uma mensagem bacana, dizem. Já uma reportagem impressa, digital, radiofônica ou televisiva não pode abrir mão de bons personagens, fontes e dados estatísticos. Em uum evento, o palestrante é treinado para transmitir um recado por meio de histórias envolventes. Esta é a teoria. A prática nos conta outra história, e ela não é necessariamente bonita. Há uma legião de pessoas se tornando influenciadores digitais, que ganham muito bem para falar de qualquer assunto e, às vezes, de qualquer jeito. Empresas estão desesperadas atrás deles para estrelarem campanhas publicitárias mais, digamos, “reais”. Um jovem que frequenta um curso de comunicação poderia estar imaginando que valeria mais a pena apostar numa carreira de influenciador digital, mas a verdade é que ele só pensa em seu estágio. Voltado para complementar a formação profissional e educacional, o estágio tem se tornado cada vez mais cobiçado pelos alunos, ao mesmo tempo em que vira uma mão de obra barata para os setores público e privado. A revista CÁSPER que tem em mãos se propõe a refletir sobre esses temas atuais. As duas reportagens principais servem de convite para a leitura de outras saborosas histórias, como os desafios enfrentados pelos repórteres de guerra, os nomes que viram moda por causa das novelas, o fenômeno das distopias e como os curadores são peças-chave para os festivais de cinema. Um infográfico, em especial, merece ser citado aqui. Ele mostra a constelação dos teóricos da Comunicação, os autores de obras referenciais. Eis uma forma criativa de contar uma boa história que nossa heróica equipe presenteia a vocês.

EDUARDO NUNOMURA

Editor-chefe


DIVULGAÇÃO

SUMÁRIO

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PORTFÓLIO

O trabalho do coletivo YVY Mulheres da imagem

INFLUENCIADORES 14 Magá Moura e Igor Saringer vivem

© OLGA VLAHOU

do sucesso e engajamento na internet

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06 :: POR ONDE ANDA :: As narrativas audiovisuais de Daniel Tupinambá

REPÓRTER DE GUERRA

Os desafios de jornalistas que cobrem conflitos armados

20 MUNDO PUBLICITÁRIO Saiba como funciona uma agência em seus principais setores

08 :: POR CONTA PRÓPRIA :: 24 DA TV PARA A VIDA A comunicação em prática e o incentivo aos projetos acadêmicos

Um mapa mental das principais teorias e teóricos da comunicação

34 DOMINIQUE WOLTON Entrevista com o sociólogo francês da Comunicação

10 :: BITS & BYTES ::

28 DESAFIOS NO CINEMA

46 FRONTEIRAS TURVAS

12 :: FEITO À MÃO ::

30 DISTOPIAS

58 CASPERIANAS

De frente para as novas realidades do plano virtual

Como funciona o arrecadamento de dinheiro pela internet

4

O impacto das novelas brasileiras nos nomes registrados em cartórios

32 PENSADORES

setembro • outubro • novembro • dezembro 2017

O trabalho dos curadores em festivais brasileiros

As histórias da ficção que não contam finais felizes

As várias realidades dos estagiários nas áreas da Comunicação

60 RESENHAS 62 :: SAIBA MAIS ::


FESTIVAL DE JORNALISMO

O QUE APRENDI Os repórteres que se chocaram com a história. 7 E 8 OUT / 2017 SÃO PAULO 18h-19h20

20h-21h20

CÁRMEN LÚCIA

The New Yorker (Estados Unidos)

RYAN LIZZA

GÜLSIN HARMAN On the Line (Turquia)

NATHALIE ALVARAY

Univision (Estados Unidos)

Universidade Columbia (Estados Unidos)

Mediação: Leandro Demori (Piauí) e Guga Chacra (GloboNews)

Mediação: Fernando Barros (Piauí) e Ariel Palacios (GloboNews)

Mediação: Consuelo Dieguez (Piauí) e Eugênio Bucci (ECA - USP)

JACOB WEISBERG

DAVID FAHRENTHOLD

Mediação: João M. Salles (Piauí) e João Gabriel de Lima (Época)

Mediação: Daniela Pinheiro (Piauí) e Bernardo Mello Franco (Folha de S.Paulo)

7/10

16h-17h20

SAMUEL LAURENT

SÁBADO -

14h-15h20

Mediação: Bernardo Esteves (Piauí) e Marcelo Lins (GloboNews)

8/10

12h-13h20

YEVGENIA ALBATS

DOMINGO -

10h-11h20

New Times (Rússia)

PAULO MALUF

Mediação: Rafael Cariello (Piauí) e André Petry (Veja)

CONVERSA COM A FONTE

Le Monde (França)

com Consuelo Dieguez CONVERSA COM A FONTE

com Roberto Kaz

CURADORIA: DANIELA PINHEIRO

Informações:

REALIZAÇÃO:

Mediação: Malu Gaspar (Piauí) e Renata Lo Prete (GloboNews)

MICHAEL ORESKES NPR (Estados Unidos) Mediação: Paula Scarpin (Piauí) e Ricardo Gandour (CBN)

The Slate Group (Estados Unidos)

STEVE COLL

The Washington Post (Estados Unidos)

ATENÇÃO: Programação sujeita a alteração sem aviso prévio.

www.festivalpiauiglobonews.com.br

Vendas:

APOIO:

sympla.com.br/festival


Atrás das câmeras ::: AUDIOVISUAL ::: A hora e a vez das plataformas digitais nos projetos do diretor formado pela Cásper

D

06

aniel Tupinambá sempre soube que um dia

G Show, das Organizações Globo. Entre outros

estaria atrás das câmeras. Ex-casperiano

projetos recentes de Tupinambá, destacam-se alguns

formado no curso de Rádio, TV e Internet,

videoclipes, o curta Estro, com Marisa Orth, e A Vida

começou a se envolver com projetos audiovisuais logo

de Picon, uma comédia para a internet baseada na

no começo da graduação, ocasião em que estagiou

vida do influenciador digital Leo Picon. “Falar sobre

com cineastas do calibre de Amílcar Oliveira e André

um influenciador me empolga muito, estamos vivendo

Sturm, atual secretário municipal de cultura de São

essa tendência muito intensamente no mundo da

Paulo. Hoje, dez anos após concluir a Faculdade,

comunicação e gosto de fazer conteúdo para internet.

Tupinambá é dono de uma trajetória robusta. Em

É algo que eu ainda quero explorar bastante”, afirma.

2015, dirigiu e roteirizou o seriado da TBS, Longa

Desde agosto de 2016, Tupinambá e sua sócia

Metragem, estrelado por Fábio Rabin. A produção

Gabi Lopes comandam a Young Republic Films,

chamou a atenção do roteirista Diego Tavares, que o

uma produtora que se define como “um coletivo de

convidou para ser o diretor da websérie Põe na Conta.

artistas, sonhadores e profissionais criativos, unidos

Protagonizada pela atriz Julianne Trevizol, o programa

para fomentar cultura e entretenimento através do

de sete capítulos pertence à plataforma digital da

cinema, tv e internet”. (Guto Martini)

setembro • outubro • novembro • dezembro 2017

CREDITO

POR ONDE ANDA


CHAPÉU | CHAPÉU

Daniel Tupinambá (de camiseta regata) acompanha as filmagens de mais um dia de produção

CÁSPER

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POR CONTA PRÓPRIA

Ideias em ação

Marcelo Douek e Henry Grazinoli: os sócios da Social Docs ÃO

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Narrativas sociais. Em novembro de 2016, eles se uniram para contar as histórias de clientes com causas sociais e, logo nos primeiros sete meses de parceria, faturaram 400 mil reais. A Social Docs, de Marcelo Douek e Henry Grazinoli, é uma produtora e agência focada em atender unicamente instituições não lucrativas com projetos sociais. O trabalho da dupla consiste em elaborar vídeos, infográficos ou qualquer outra técnica de comunicação em diferentes plataformas. Por meio do storytelling, Marcelo e Henry ajudam as instituições a difundir seus ideais e alcançar seus objetivos. Para os que não podem arcar com os custos, a Social Docs oferece workshops ensinando alguns conceitos e práticas de seus trabalhos a preços mais acessíveis: uma maneira de repassar os conhecimentos e continuar ajudando os projetos sociais. (Guto Martini)

DIVULGAÇÃO

::: DO BEM ::: Comunicação em causas sociais, financiamento coletivo para novos projetos e a vez das plataformas regionais

De volta ao local? Com a atenção voltada ao Planalto, áreas de conflito e eleições internacionais, os grandes veículos deixaram um gap. Preenchê-lo é a proposta do PorAqui, site e aplicativo de notícias hiperlocais no Recife. A plataforma surgiu há um ano como parte do projeto de mestrado de Misael Neto, que hoje é seu desenvolvedor-chefe. O foco é trazer informações em um plano micro, tratando de pautas que ocorram apenas em comunidades e bairros. Quem manda é o interesse dos moradores de cada região. Ao todo, nove jornalistas fixos cuidam dos conteúdos de cada região, além de possuírem o auxílio de colaboradores locais. O plano de expansão é ambicioso: atingir mil bairros das 150 maiores cidades do país. (GM)

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Colocando a teoria na prática. É estudante de curso superior ou técnico e sonha em transformar seu projeto acadêmico em realidade? A Juntar Juntos pode ser uma solução. Trata-se de uma plataforma de crowdfunding fundada em junho de 2015 pelos sócios Verinaldo Dantas e Carina C.S. Neves. A intenção da startup é tirar os projetos dos estudantes do papel e colocá-los em prática por meio do financiamento coletivo. A plataforma conta com quase dois mil usuários de diferentes instituições de ensino. Quer saber mais sobre crowndfunding? Confira na coluna Feito a Mão. (GM)


CÁSPER

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BITS & BYTES REALIDADE AUMENTADA

Entre o físico e o virtual

::EM BREVE:: Há mais de um ano, a realidade aumentada (AR, na sigla em inglês) era pouco conhecida em relação à realidade virtual. Até que a febre do Pokémon Go invadiu o mundo. O jogo consiste em caçar os conhecidos monstrinhos virtuais dos anos 2000 com o uso da geolocalização (o GPS) do celular. O que parecia brincadeira de criança representa hoje uma das maiores apostas das gigantes do Vale do Silício.

POR GUILHERME GUERRA

Post-its? Jogos de tabuleiro? Televisões? Os quase 2 bilhões de usuários do Facebook poderão fazer tudo isso dentro das timelines. O objetivo de Mark Zuckerberg é que todos permaneçam por mais tempo em seu mundo expandido

Imagine apontar a câmera do celular para um monumento histórico e o Google Lenses se prontificará a mostrar o que é, quando e por quem foi feito. A companhia quer sepultar o fracasso do Google Glass, que prometia quase a mesma coisa, só que em realidade virtual

A Microsoft aposta no que chama de “Windows Mixed Reality”, conceito que une as realidades virtual e aumentada. Para esta “realidade misturada” será necessário o par de óculos Hololens, que mapeia o ambiente e projeta holografias

DE VOLTA AO ANALÓGICO As concorrentes Atari e Sega lançaram no Brasil os clássicos consoles em versão 2.0 para as televisões modernas: a Atari Flashback 7 e o Mega Drive, ambos por 449 reais. Os videogames vêm com diversos jogos clássicos, como Space Invaders e Sonic 3. No aniversário de 80 anos, a Polaroid lançou as Polaroid Pop, novas câmeras de fotos instantâneas com tela touch, conexão a smartphones, gravação de vídeos e têm 128 GB de armazenamento

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A Apple é a última a chegar na corrida da AR, mas a primeira a liberar o “AR Kit” para que milhares de desenvolvedores amadores e profissionais criem seus próprios aplicativos, usando e abusando das câmeras de alta qualidade de iPhones e iPads

A ONDA VIRALIZANTE Vídeos têm alto poder de engajamento nas redes sociais. Mas criar um não é tão fácil quanto parece. De olho nesse filão, a empresa Wibbitz criou um software que produz imagens, gráficos e narração a partir de um texto enviado pelo usuário. E a empresa faz isso tudo em tempo quase instantâneo: 5 segundos. Há versões gratuitas e pagas



por Giulia Gamba

FEITO À MÃO

FINANCIAMENTO

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Vaquinha virtual ::TUDO ONLINE:: O crowdfunding consolida-se como uma forma de obter recursos para projetos de comunicação no Brasil

MUITA GRANA Em todo o mundo, o crowdfunding arrecada 2 milhões de dólares por dia, ou seja, em torno de 6 milhões de reais. Isso é o equivalente a 87 mil dólares por hora, ou 1,4 mil dólares a cada minuto!

POP ENGLISH Os 3 países mais populares para o crowdfunding são:

1. EUA 2. Reino Unido 3. Canadá

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consolidado No início, o modelo crowdfunding foi usado em mais de 80 plataformas diferentes. Hoje em dia, cerca de 24 se consolidaram e são conhecidas em toda a internet

os sites Entre as plataformas mais utilizadas estão Catarse, juntos.com.vc, Sibite e Social Beer. O dinheiro movimentado em campanhas por esses quatro sites em 2015 passa de 39 milhões de reais

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GAMES No Catarse, as campanhas que mais atraem doações são as da categoria jogos, seguido de literatura. Cinema e vídeo está em 10º lugar, com um total de 112.841 reais movimentados

NA TELONA O cinema utilizou do meio crowdfunding para bancar produções audiovisuais recentes como Veronica Mars, Inocente e Deixe as luzes acesas


CÁSPER

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CHAPÉU | CHAPÉU CO M U N I C A Ç Ã O D I G I TA L

OS QUERIDI BEATRIZ FIALHO

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NHOS

Para além dos números de seguidores, os influenciadores digitais estão conquistando o mercado da comunicação e estreitando relações com as marcas que mais casam com seus estilos POR GUTO MARTINI E GIULIA GAMBA

No Prêmio Influenciadores Digitais, a imagem ao lado vale mais que as milhões de curtidas

CÁSPER

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NÃO ESTAMOS no YouTube, Instagram, Facebook ou em qualquer outra plataforma online. Em mãos, você folheia uma revista impressa e está em contato direto com um texto. A narrativa aqui tende a ser mais tradicional e, por esse motivo, a introdução acima soa um tanto deslocada. Mas se você está conectado ao universo digital por meio de qualquer rede social, é possível que já tenha aberto o vídeo de alguém que se introduziu em uma linguagem semelhante a essa. Se ainda não viu nada parecido, basta abrir os vídeos tutoriais de moda ou maquiagem que pululam a internet. Ou até mesmo algum canal de humor e cotidiano como, por exemplo, o da jornalista Jout Jout ou o da atriz Kéfera Buchmann, o famosíssimo 5inco Minutos. Basicamente, o que encontrará nesses vídeos serão pessoas comuns falando descontraidamente dos mais variados assuntos. Não gostou de nenhum deles? Sem problemas! Uma coisa é quase certa: se procurar vai encontrar alguém que faça você ficar feliz por perder (ou ganhar) alguns minutos de sua vida. A democratização das tecnologias de publicação de conteúdo - como blogs, Facebook e Instagram - virou do avesso o cenário da propaganda e do marketing online ao escancarar o modo como os consumidores vêem os produtos e serviços. Essas pessoas do outro lado da tela de seu computador e smartphone, conhecidas como influenciadores digitais, estão revolucionando o universo da comunicação das marcas. A atividade deles é produzir conteúdo na internet, pagos ou não. Por manterem um estilo, assunto ou tema recorrente em seus canais, cativam um certo tipo de público que se identifica com suas ideias. Essas personalidades, no sentido literal do termo, impactam, em muitos casos, a maneira de pensar certos assuntos e as escolhas de seus seguidores. É por esse motivo que as empresas estão atrás delas. Em 2016, uma pesquisa da IBM com a Chief Marketing Officers (CMOs), dos Estados Unidos, mostrou que o investimento em conteúdos produzidos pelos influenciadores digitais superou o da propaganda tradicional. É só o começo... Fenômeno mundial, a onda chegou ao Brasil com força total. Um levantamento feito pelo Snack Intelligence apontou que dos 100 canais mais influentes do YouTube,

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DIVULGAÇÃO

“Oi, meninas! Tudo bom com vocês? Nesta edição vamos falar sobre influenciadores digitais! Acompanhe o texto até o final e não se esqueçam de compartilhar para ajudar a divulgar.”

O MACR

Igor Saringer Youtube:

/avidaquelevo

Seguidores:

1.465.109

Segmento:

Lifestyle

24 são de terras tupiniquins. E não para por aí. Nesse mesmo ranking, o segundo e terceiro colocados são brasileiros vistos como estrelas no meio digital: Whindersson Nunes e Felipe Neto. Tamanha popularidade tem engordado o bolso de muitos desses comentaristas virtuais. Segundo a revista Forbes, um grande influenciador brasileiro ganha de 50.000 a 150.000 reais por campanha veiculada em seus canais. Gostou da ideia e até começou a pensar em tentar a sorte como influenciador digital? A boa notícia é que, com os aparatos das redes sociais, a chance de qualquer um entrar nessa é real. Leila Gasparindo, pesquisadora da Universidade de São Paulo e diretora-executiva da agência Trama Comunicação, explica o básico necessário para se tornar um influenciador atraente para as marcas que querem fazer negócio:“É fundamental ter criatividade para poder entreter sua audiência, mas sempre dentro de uma narrativa que seja coerente com a sua.” Do que as marcas gostam. Leila trabalha com influenciadores digitais há quase quatro anos na Trama. Em 2014, a agência realizou um case integrado com relações públicas e marketing de conteúdo para a marca de antivírus AVG. A ação, que contou com a participação de influenciadores, garantiu um prêmio Aberje de Comunicação Integrada à agência. O sucesso dessa iniciativa motivou a agência a desenvolver uma pesquisa de campo para lançar um ebook sobre o tema. Encaixar a narrativa das marcas com a história dos influenciadores digitais é a alma desse negócio. “Não basta ter grandes audiências, é preciso


ter um arquétipo coerente com o do produto. Se a marca adota uma narrativa de ‘herói’, não cabe apostar em um influenciador do estilo ‘fora da lei’”, explica Leila. O que a especialista quer dizer é que o número de seguidores tem se tornado bem menos interessante do que a capacidade desse comunicador mobilizar uma audiência em determinada direção. Durante o evento Influent Minds - Fórum de Negócios Digitais de 2017, Renata Zveibel, diretora de comunicação externa da marca de cerveja Heineken, explicou que a empresa procura por pessoas que provoquem conversas e discussões no público. “É necessário que o influenciador acredite no projeto. Precisa ser algo relevante, verdadeiro e que faça sentido para sua base de seguidores”, disse. Na prática, o influenciador cria o conteúdo a partir do que lhe foi pedido e dentro do estilo e da proposta do seu canal. É isso que fará atingir o seu público cativo da maneira mais eficiente e natural possível. Para chamar a atenção de seus consumidores para o Dia Internacional do Consumo Responsável, a Heineken lançou uma campanha com o youtuber PC Siqueira. “A gente sabia que ele estava começando a rever algumas questões pessoais. Inclusive, a maneira como se relacionava com o álcool. Então, tinha tudo a ver ele ser o porta voz dessa mensagem sobre beber de uma maneira mais consciente e segura”, contou Renata Zveibel.

Desde que lançou seu vlog (blog de vídeos) em 2010, Maspoxavida, PC Siqueira, um rapaz magrelo de jeitão niilista, conquistou um público que hoje alcança os 2,2 milhões de seguidores no YouTube e 835 mil no Instagram. Chegou a ser chamado para encabeçar programas de televisão em diversos canais como MTV e TBS Brasil, tornando-se conhecido até por aqueles que não o acompanhavam na internet. A união entre a Heineken e PC Siqueira se deu pela afinidade que havia entre ambos naquele momento. Em outras ocasiões, porém, há também uma grande aposta nos chamados microinfluenciadores. “Em muitos casos é preferível um canal com uma base de seguidores menor, mas que seja extremamente engajada com o tema”, diz Renata. Há três tipos de influenciadores, cuja diferença se dá pela quantidade de seguidores. No estudo de Leila Gasparindo, um microinfluenciador possui entre 5 mil e 99 mil seguidores, o middle entre 100 mil e 999 mil e o macroinfluenciador extrapola a marca do 1 milhão. Se a empresa busca atingir a grande massa, compensa a parceria com um macro; por outro lado, se o objetivo é um engajamento efetivo com um nicho, um micro pode sair mais em conta e ter mais efeito. De olho nesse filão, os empreendedores Ariel Alexandre, Bruno Pires e Rafael Stavarengo fundaram a Celebryts. Trata-se de uma plataforma de busca que possibilita

O DIVULGAÇÃO

MACR

PC Siqueira Youtube:

/maspoxavida

Seguidores:

2.289.419

Segmento:

Cotidiano

“A gente sabia que ele (PC) estava começando a rever algumas questões pessoais. Inclusive, a maneira como se relacionava com o álcool. Então, tinha tudo a ver ele ser o porta voz dessa mensagem sobre beber de uma maneira mais consciente e segura” RENATA ZVEIBEL, HEINEKEN CÁSPER

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às empresas e agências encontrarem o influenciador que mais se encaixa em seus negócios. A proposta é que, pela plataforma, a marca entre em contato e negocie diretamente com a pessoa de seu interesse. Para Ariel, esse é um mercado que dificilmente morrerá. “São pessoas que vão surgir a cada tempo. A internet possibilita isso. Dentro da nossa área de interesse, sempre vai ter um influenciador, uma ‘estrela’, que a gente segue e se inspira”, explica. A vida deles. “Demorei um ano pra conseguir 10 mil inscritos no YouTube. Hoje, depois de quatro anos, tenho 1,4 milhões”, conta Igor Saringer, estudante do terceiro ano de Publicidade e Propaganda da Cásper Líbero. O influenciador abriu o canal quando ainda estava no ensino médio. No começo, postava apenas vídeos de aplicativos de jogos, mas com o tempo foi direcionando o conteúdo para temas de Life Style. “Falo de diversos assuntos, mas todos têm a ver com estilo de vida”, diz. Saringer é um macroinfluenciador e, por isso, não é raro ser interpelado na rua por algum adolescente que o acompanha. “Geralmente, as pessoas me reconhecem como o garoto da Disney”, conta. Isso porque um de seus maiores sucessos de engajamento foi a série de 18 vídeos que lançou na época em que trabalhou no parque nos Estados Unidos. Ainda assim, apesar de certa fama, leva uma rotina normal: “Acordo às 6h40, vou para a faculdade, faço minhas coisas lá e quando volto pra casa gravo meus víde-

LE

DIVULGAÇÃO

MIDD

Magá Moura Instagram:

@magavilhas

Seguidores:

169.000

Segmento: Moda e beleza negra

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setembro • outubro • novembro • dezembro 2017

os e edito. Faço tudo sozinho. Às vezes tem os eventos e viagens que eu sou chamado pra ir e que eu adoro”, conta. Quanto à sua relação com as marcas, o influenciador explica: “No começo eu era sozinho, recebia a proposta das empresas e eu mesmo negociava. Depois entrei em uma agência que cuidava de youtubers, mas fiquei só oito meses porque os trabalhos que chegavam eram mais voltados para o público feminino. Faz pouco tempo que estou com uma assessora que trabalha só comigo”. Com quatro anos de canal, o youtuber já consegue se manter financeiramente. É ele quem banca a mensalidade da faculdade, as viagens e outros gastos pessoais. Como Saringer, Beatriz Parizotto também conta com a ajuda de uma assessora. A influenciadora, que está enquadrada na categoria middle, é uma instagramer com 242 mil seguidores e seu conteúdo é voltado para a área de moda, beleza e fotografia.“Tenho um mídia kit e minha assessora ajuda com as parcerias. Se eu gosto muito da marca, negocio assim: eu recebo seis peças e faço um post. Se me mandarem menos que essa quantidade e quiserem que faça mais de um post, eu passo a cobrar 200 reais por publicação ”, explica. Com apenas 16 anos, Beatriz é supervisionada: “Meus pais acompanham tudo. Ambos têm acesso ao meu Instagram e monitoram o que vale a pena e o que não vale”, diz. Também na categoria middle, Magá Moura não é agenciada. Ela mesma faz seus contatos, networking e projetos. “Mesmo que às vezes venham coisas para mim, eu também vou atrás de parcerias que me interessam”, explica. Formada em Relações Públicas pela Cásper Líbero, Magá teve uma experiência de dez anos no mercado. “Hoje, sou influenciadora digital em tempo integral. Essa é minha fonte de renda. Não trabalho com permutas, apenas com dinheiro”, explica. Negra, empoderada e com cabelos trançados, Moura conta que tudo começou há três anos com seu blog e com o Instagram, plataforma que conta com 169 mil seguidores.

“Hoje, sou influenciadora digital em tempo integral. Essa é a minha fonte de renda. Não trabalho com permutas, apenas com dinheiro” MAGÁ MOURA,

INFLUENCIADORA


LE DIVULGAÇÃO

MIDD

“Meus pais acompanham tudo. Ambos têm acesso ao meu Instagram e monitoram o que vale a pena e o que não vale ” BEATRIZ PARIZOTTO,

INFLUENCIADORA E ESTUDANTE

A partir de suas fotos, passou a chamar a atenção e decidiu postar videos no YouTube tirando dúvidas de seu público, além de tutorias de como fazer os penteados afros. Hoje, seu canal de vídeos cresceu e, semanalmente, a influenciadora posta conteúdo sobre moda, beleza, eventos e empoderamento negro. Tapete Vermelho. A consolidação e reconhecimento do trabalho árduo que esses comunicadores fazem é uma tendência crescente, e isso podemos observar no Prêmio Influenciadores Digitais organizado pela revista Negócios da Comunicação. Em julho, aconteceu a segunda edição do evento, e os planos já começaram para 2018. Com direito a um coquetel requintado, regado a champanhe e comida à vontade, a premiação recebeu os indicados (dos micros aos macros) como verdadeiras estrelas. Não faltaram momentos para fotos e eventuais networks entre marcas, agências e influenciadores. Márcio Cardial, diretor da revista, afirma que é importante para o momento de concretização do trabalho

Beatriz Parizotto Instagram:

@trizparizc

Seguidores:

243.000

Segmento:

Moda

desses comunicadores existir esse tipo de reconhecimento. Para ele, os influenciadores também têm sua relevância social e ajudam as pessoas a se aceitarem. “Blogueiras que falam sobre cabelos enrolados ou blogueiras plus size, por exemplo, dão força aos jovens”, explica o diretor. Valorizar o empreendedorismo que os influenciadores promovem também faz parte da missão do evento. “Eles estão fazendo escola para a comunicação.” E a pergunta que vale um milhão de dólares: o que fazer para ser um influenciador digital? “Se eu soubesse, estaria rico”, brinca Cardial. É um universo aberto de possibilidades, mas a originalidade é o que mais pesa, um desafio diante da montanha informativa da internet. Abordagem, linguagem e narrativa própria são características que contam na hora de investir nessa carreira. O importante é encontrar um diferencial, se dedicar na produção e divulgar seu trabalho – e esperar pela vinda dos likes. De preferência, um milhão ou mais de likes dispostos a seguir suas ideias. @

CÁSPER

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BASTIDORES

POR GUTO MARTINI FOTOS DE PEDRO CARAMURU

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maio • junho • julho • agosto 2017


LANÇAR UMA PEÇA publicitária não é brincadeira. Requer muita criatividade, conhecimento de mercado e trabalho árduo. Dentro de uma agência, os profissionais se dividem em setores para entregar as melhores campanhas aos clientes. Cada um em sua área, mas todos em sintonia e focados no desenvolvimento do projeto, que envolve algumas etapas importantes. A revista CÁSPER foi até a DPZ&T, uma das principais agências de publicidade do Brasil, para mostrar como funciona a dinâmica dos profissionais da propaganda. É no ambiente que você verá a seguir que a equipe pensa, planeja e cria campanhas e peças para corporações como McDonald’s, Natura e Itaú.

1. MÍDIA E ATENDIMENTO Para levar um projeto publicitário adiante é necessário que haja um elo entre a agência e a marca atendida. A área responsável por levantar os dados que orientarão a campanha de divulgação de algum produto e por manter o diálogo constante com os clientes é conhecida como “Atendimento”. Selecionar os veículos de comunicação que mais se adequam ao produto para poder difundir a campanha, além de negociar a compra de espaço para anúncios nas mais diversas mídias é função do setor de Mídia e Assessoria

CÁSPER

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2. PLANEJAMENTO Elaborar e acompanhar os processos de pesquisa de mercado junto aos institutos especializados (Kantar Ibope Mídia, Ipsos, Nilsen e etc.) é uma das responsabilidades dos profissionais que trabalham nesta área. São eles também que pensam nas orientações e direcionamentos das campanhas, além de esquematizar as estratégias de venda.

3. CRIAÇÃO Este trabalho é encabeçado pelos diretores de arte e redatores que, juntos, elaboram a peça publicitária que mais se enquadra com o produto do cliente. Enquanto os redatores ficam responsáveis por produzir os títulos e textos das campanhas, a direção de arte cuida de toda parte visual, como ilustrações, fotografias e outros tipos de imagens.

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4. PRODUÇÃO Os jingles que ouvimos nas propagandas, as peças audiovisuais entre os intervalos das novelas e vídeos do YouTube, bem como os outdoors e totens que vemos por aí, são responsabilidades do departamento de Produção. É esta área que torna palpável o que foi planejado e criado nos outros setores. Em outras palavras, é a grande gráfica de uma agência.

CÁSPER

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TELEVISÃO

NOME DE VILÃ OU DE MOCINHA? As telenovelas são um fenômeno cultural. Olhar os registros e as certidões de nascimento pode ser um jeito de medir sua influência. Um cruzamento do Censo de 2010 do IBGE e personagens de novelas da Globo revelou que, mais do que no imaginário social, as novelas estão presentes nos nossos nomes POR ANA RIVAS, BEATRIZ FIALHO, LYSSA DE MIRANDA E MARIANA MARTUCCI

DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

A interpretação de Sônia Braga em Gabriela (1975) fez o nome da protagonista brilhar: no ano seguinte à exibição, o número de Gabrielas registradas foi 6 vezes maior

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DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

1970

QUE CASAL!

Cristiano e Simone, o casal principal da novela Selva de Pedra (1972), definitivamente cativou o público. O nome do mocinho, interpretado por Francisco Cuoco, foi o que mais se popularizou na década. Logo atrás no podium, em quinto lugar, está o nome de sua companheira, interpretada por Regina Duarte. Em número de registros, ela aparece entre os nomes mais registrados na década de 1970, com aproximadamente 143 mil novas Simones.


1980 DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

Se na década de 1980 Jordana não era comum, na década seguinte, 5320 foram registradas graças à atuação de Glória Menezes na novela Jogo da Vida

100000 80000

TAL MÃE, TAL FILHA?

60000

A GRANDE VILÃ

40000

0

Raquel

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20000 Fátima

Vale Tudo (1988) também apresentou a maior vilã da teledramaturgia brasileira, Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall. O número de registros diminuiu 67% e continuou despencando nas décadas seguintes

8000 7000 6000 5000

O nome da heroína de Vale Tudo (1988) Raquel (Regina Duarte) se popularizou após a novela enquanto o nome de sua filha megera, Fátima (Glória Pires) caiu em desuso

4000 3000 2000 1000 0

Década de 70

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Década de 2000

100000

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1970

Raquel

Fátima CÁSPER

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1990

DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

NOME INÉDITO

A novela Tieta (1990), nome da personagem interpretada por Betty Faria, trouxe ineditismo aos cartórios: antes os registros sequer atingiam o mínimo contabilizado. Na década de exibição foram registradas 20 novas Tietas

GÊMEA BOA, GÊMEA MÁ

Juma, da novela Pantanal, também deixou sua marca: a personagem de Cristina Oliveira deu nome a mais 368 bebês, número 12 vezes maior que os registros anteriores

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SELVAGEM

DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

MAIS CIGANAS

Dara, protagonista da novela Explode Coração, foi interpretada pela atriz Tereza Seiblitz. Com um aumento de 4000%, os registros saltaram de 163 para 7610 depois da exibição da novela

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setembro • outubro • novembro • dezembro 2017

+ 27%

- 17%

As irmãs Rutinha e Raquel, de Mulheres de Areia, despertaram o sentimento maniqueísta do Brasil. A personagem boa, Ruth, fez com que o número de registro dos nomes subisse 27%. Já a má, Raquel, teve uma queda de 17% depois de um curioso período de ascensão do nome


DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

2000 DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

DAS ÍNDIAS

Nazaré Tedesco, de Senhora do Destino, foi uma das grandes vilãs brasileiras. A personagem interpretada por Renata Sorrah fez com que os registros caíssem pela metade nos anos posteriores à novela

500 400

DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

300 200 Raj e Maya, interpretados por Rodrigo Lombardi e Juliana Paes 100 em Caminho das Índias (2009), também0 inspiraram muitos pais. Na década posterior à exibição, 60 57 novos Rajs e 456 novas Mayas 50 foram registrados

Como esquecer de Serena, a mocinha de Alma Gêmea 500 (2005), interpretada por Priscila Fantin? 400 Nos anos seguintes, 2000 crianças foram 300 registradas, um aumento de 1157% em relação à década 200 anterior

40 30

Antes da novela

20

Depois da novela

10

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456

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0

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40

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AUDIOVISUAL

MARATONA

FÍLMICA

Os desafios enfrentados pelos curadores dos mais importantes festivais de cinema do Brasil POR GUILHERME GUERRA Ver 150 filmes em seis semanas não é para qualquer um. É preciso não só paixão, mas disciplina. Essa maratona cinéfila faz parte da realidade de quem trabalha com curadoria em festivais de audiovisual pelo país. Mas o esforço é por uma boa causa: selecionar a melhor safra de longa-metragens para um público cada vez mais exigente e afastado das salas de cinema. “É um processo muito vivo, orgânico e vibrante”, diz Eduardo Valente, diretor artístico do Festival de Brasília, somente um dos quase 600 que ocorrem Brasil afora. Em 2017, aniversário de 50 anos do Festival de Brasília, a mostra com-

petitiva recebeu 778 inscrições de longas e curtas-metragens, número 70% maior que no ano passado. Trata-se do primeiro festival de cinema do Brasil, criado por Paulo Emílio Sales Gomes com o objetivo de expandir a Sétima Arte para além dos clubes de cinema – linha de pensamento essencial na carreira do crítico e historiador. Para Paulo Emílio, era fundamental haver um festival em que a banca de jurados não fosse composta por diretores e atores envolvidos com o cinema, mas por deputados, engenheiros e advogados – pessoas que, enfim, fossem o retrato do Distrito Federal. Isso só ocorreu quando o mentor do festival

estava vivo. De lá para cá, o festival manteve apenas como principal característica dar o Prêmio Candango a filmes de forte cunho político, desde O Bandido da Luz Vermelha (1968) a Branco Sai, Preto Fica (2014). “Há hoje um real amadurecimento de uma consciência de política pública, principalmente a partir do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)”, explica Valente. Criado há dez anos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), o FSA é um órgão de fomento que concede 1 bilhão de reais a produtores para financiar projetos audiovisuais. Esse volume de recursos fez a produção dar um grande salto nos últimos

O Prêmio Candango homenageia as pessoas que construíram Brasília, reafirmando o tom político do festival

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maio • junho • julho • agosto 2017


Branco Sai, Preto Fica, ficção científica de forte crítica social, foi o grande vencedor do Festival de Brasília em 2015

anos. Em 2016, houve o recorde de 143 filmes lançados nos cinemas. Selecionar os filmes de um festival é um trabalho árduo. Em um primeiro momento, uma comissão de cinco ou seis membros assiste aos filmes inscritos e discute quais têm o melhor potencial para integrar as exibições. A triagem acontece sem critérios objetivos de qualidade técnica ou temática. Valente frisa que ele e sua comissão fazem um trabalho subjetivo e, por isso, discussões são comuns entre os membros, escolhidos por sua pluralidade regional e ideológica. “Um consenso total entre os integrantes seria vazio. Seria a mesma coisa que ter um único integrante”, defende. Em seguida, com um número reduzido de filmes, a comissão se reúne em Brasília para formalizar as produções que integrarão a lista de contemplados. Na mostra de documentários paulista, o É Tudo Verdade, que ocorreu em abril, cerca de 1.800 filmes de todo o mundo se inscreveram para concorrer a um lugar nas exibições em São Paulo, uma quantia considerável para um gênero pouco comercial. O criador Amir Labaki enumera fatores que explicam esse crescimento, como

“a renovação e revalorização do gênero e a revolução digital, que barateou custos de captação, finalização e distribuição”. Parcerias com a televisão por assinatura também entram nessa conta, mas Labaki considera sua inserção no mercado “ainda tímida”. “O curador hoje cumpre fundamentalmente dois papéis: de filtro e de formação”, afirma Labaki, há 22 anos à frente do É Tudo Verdade. Títulos mais “esteticamente empenhados” e ampliação do repertório de “espectadores, realizadores e crítica para autores e tendências importantes na história passada e presente do cinema” são as principais tarefas, ainda que hoje a telona não seja mais tão atraente quanto o home video para o público. O ano de 2016 teve um grande número de documentários políticos mundialmente e isso ficou evidente durante o Curta Kinofórum, o maior festival de curta-metragens no Brasil. “Eles refletem as demandas do momento”, diz o coordenador do festival Mateus Nagime. Neste ano, Nagime já adianta que a maioria traz ares de “desespero”, mas não é qualquer um que entra para a seleção do festival. Neste ano foram 3.340

inscritos das origens mais diversas: internacional, latinos, brasileiros, paulistas e universitários. Obras rejeitadas pelos grandes festivais sempre podem encontrar espaço em outras casas. A Mostra Desobediente (ou, para os íntimos, Mostra O Seu Que Eu Mostro O Meu) recebe curtas-metragens completamente independentes, que não contam com editais ou dinheiro de produtoras. A falta de orçamento não é um problema, mas deve ser levada em conta na triagem. Eduardo Menin, um dos três curadores da Mostra Desobediente, acredita que um bom roteiro deve prevalecer sobre um filme de técnica mais elaborada, mas com pouco significado. Produções tecnicamente melhores (câmeras, iluminação, equipe) são mais caras, o que dificulta ainda mais o cinema independente. “Nosso festival é uma maneira de lançar pessoas novas”, comenta Menin. Dentro do universo dos independentes, o curador acredita que há muita coisa boa que não é valorizada pelos grandes festivais. E é aí que entra A Mostra Desobediente: dar um espaço dentre os grandes peixes da produção nacional. “Fomentar o que essa galera faz é ir contra a maré”, conclui. @

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FICÇÃO DISTÓPICA

O PIOR POSSÍVEL

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setembro • outubro • novembro • dezembro 2017

Histórias com perspectivas perturbadoras voltam a tomar fôlego no universo da ficção. Seria um reflexo de nossa realidade? POR GUTO MARTINI


possível. “Não é bem um gênero, mas um conceito usado em diversos gêneros. A literatura fantástica como um todo se apropria desse conceito para construir histórias em que o sistema é altamente nocivo ou a situação social é devastadora”, explica Raphael Fernandes, autor do quadrinho distópico Apagão – Cidade sem lei/luz. A HQ é ambientada em uma São Paulo que, após sofrer um blackout e ficar na escuridão por meses, passa a ser controlada por gangues que disputam o poder na base da violência. Fernandes estudou história na Universidade de São Paulo, mas trabalha com edição de quadrinhos há mais de dez anos. Ficou quase uma década na Revista MAD; hoje em dia, é sócio da Editora Draco e responsável por comandar a linha de HQs do selo. Para o editor, a ficção pessimista é, além de um reflexo da realidade, um jeito de encarar as crises sociais: “A cultura cyberpunk e outras narrativas que se apropriam das distopias sempre foram um tipo de leitura apreciado por desajustados e inconformados com a nossa sociedade”, afirma. A ascensão de Trump e de Michel Temer no Brasil, assim como o fortalecimento da extrema direita em todo o mundo, fez esse tipo de narrativa fazer mais sentido. “Por meio dessas histórias, podemos perceber nossos defeitos como sociedade caricaturados ou mesmo desmascarados. Dói, mas é real.” O cineasta uruguaio radicado no Brasil César Charlone, produtor e diretor do seriado 3%, concorda com Fernandes. “Toda essa guinada à direita e o fortalecimento de figuras radicais vêm de um descrédito da política e de um esvaziamento dos projetos democráticos. A juventude que vê isso acontecendo entende que estamos vivendo uma realidade distópica”, diz o cineasta que já havia tido experiência com esse tipo de ficção ao trabalhar como diretor de

YUMIKRUM

MARGARET Atwood terminou de escrever O Conto da Aia em 1984, mas, apesar do ano casar bem com o título da magnum opus de George Orwell, sua publicação só ocorreu um ano depois. O romance elevou-a ao status de uma grande contadora de histórias do fim do século XX. Eis que, três décadas após chegar às livrarias, a obra volta para a lista dos best-sellers. Em janeiro de 2017, durante a Marcha das Mulheres nos Estados Unidos, que direcionou ácidas críticas ao presidente Donald Trump, cartazes em referência ao livro foram empunhados pelas manifestantes. A história das aias submetidas a estupros ritualizados num futuro catastrófico e sombrio era a deixa para condenar as posições machistas do republicano eleito. Em abril, o serviço de streaming Hulu lançou The Handmaid’s Tale, série baseada no romance da autora. A produção ganhou em oito categorias no Emmy. A obra de Atwood está longe de ser uma avis rara nas reações culturais contra a onda conservadora pelo mundo. Antes mesmo do resultado das eleições norte-americanas, séries como Black Mirror, Westworld e 3% começaram a pipocar nos canais de televisão e serviços on demand. Segundo a Netflix, a brasileira 3% se tornou a série de língua não-inglesa mais assistida nos Estados Unidos. O clássico 1984, de Orwell, subiu para o topo da lista dos best-sellers da Amazon 69 anos após ser publicado. A Signet Classics, editora da publicação, afirmou que logo após a posse de Trump as vendas do livro aumentaram 200 vezes. Essas obras ficcionais apresentam um futuro em que as coisas viraram um verdadeiro pesadelo. Elas são chamadas de distópicas. Representam o oposto da utopia, que se referia à idealização de uma sociedade perfeita no futuro. A distopia é, portanto, a ideia de que tudo deu errado e caminha da pior maneira

fotografia em Ensaio Sobre a Cegueira, longa baseado na obra homônima do escritor português José Saramago. O historiador e professor da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, José Augusto Dias, explica que por muito tempo tivemos uma rica tradição de literatura que descrevia uma sociedade ideal e perfeita, sendo que só depois de um tempo começaram a surgir as narrativas pessimistas. Uma das primeiras foi A Nova Utopia, de Jerome K. Jerome, ficção escrita no fim do século XIX como reação do autor ao medo que o discurso socialista lhe causava na época. Na obra, o mundo é descrito como um lugar onde todos são forçados a ser iguais e se comportar da mesma maneira. “Mas foi só com o impacto que a Primeira Guerra exerceu sobre a sociedade que as distopias começaram a surgir com maior força. As coisas mudam brutalmente. Depois dessa experiência, ficou muito difícil para as pessoas serem otimistas em relação ao futuro”, explica o professor. Colocando em perspectiva, após os conflitos que marcaram o início do século XX, grandes autores surgiram trabalhando com os conceitos da distopia. Desde então, obras como a já citada 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica, entre muitas outras de diferentes gêneros e linguagens, trouxeram seu quinhão de pessimismo e reflexão acerca de um futuro incerto. Nem todas essas obras possuem um mote semelhante, pois trabalham a partir de um ponto de vista único e podem tratar de problemas distintos. São vários os motivos que podem levar nossa sociedade ao colapso no universo das distopias. Porém, os títulos mais perenes são aqueles que tratam de problemas persistentes em nossa maneira de lidar com as questões sociais, os que mostram as coisas que estão acontecendo diante de nossos olhos e a que ponto podemos chegar se nada mudar. Afinal, como disse George Orwell, “os melhores livros são aqueles que nos contam o que já sabíamos”. @

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AS REFERÊNCIAS

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Lippman e Park

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surgem no país

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Lasswell

Shannon e Weaver

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Teoria da bala

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Psicologia comportamentalista

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maioria marxistas, se

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fundamentais com Liraucio Girardi Júnior, Roberta Brandalise, José Eugênio O. Menezes e Sá Martino, todos docentes da Cásper Líbero. As linhas contínuas indicam uma influência direta e as pontilhadas, secundária. As cores são um recurso meramente visual:

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origens e desdobramentos de pensadores cujas ideias foram pontos de inflexão na área. Este infográfico é baseado em um esquema previamente elaborado por Luís Mauro Sá Martino, e foi possível se concretizar pela consulta a seu livro, Teoria da Comunicação, e das conversas

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influências para esta metodologia

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Definir o que é Teoria da Comunicação não é simples. A pluralidade de disciplinas que atravessam e são atravessadas pela área são muitas. Assim, a tarefa de elaborar um mapa que dê conta de todas as teorias e suas conexões entre si é quase impossível. Mas dá para propor uma apresentação das

Bordieu foi fortemente influenciado por Marx, weber, durkheim e pelos que derivam de Saussure

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31


E N T R E V I S TA

COMO SALVAR A COMU NICA ÇÃO Especialista em vinculação comunicativa, o francês Dominique Wolton fala de sua preocupação com a liberdade excessiva das redes sociais e os riscos para a democracia POR TATIANA FERRAZ E ROBERTO CHIACHIRI

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31 © CENTRO DE EVENTOS


DOUTOR EM ciências sociais, Dominique Wolton tem ressalvas sobre o futuro da comunicação. Entusiasta da vinculação comunicativa, um dos maiores especialistas franceses na área olha com temor para o abusivo uso das redes sociais, tanto no cotidiano quanto especialmente na política. De passagem por São Paulo para participar da aula magna do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, em junho, o sociólogo nos alerta sobre os perigos de uma comunicação baseada em excesso de informações, quando o fator humano não é explorado. Segundo Wolton, há uma grande confusão nas redes sociais quando a democracia é confundida com liberdade total: “Por que nas redes sociais nós podemos tudo, sem proibições?”, pergunta. A seguir essa e outras respostas instigantes sobre o nosso tempo.

Aqui no Brasil vivemos uma dicotomia política, uma situação muito especial: existe um “ódio” na internet. Pessoas que são a favor e contra as políticas e a mentalidade implementadas pela era Lula/Dilma. Por causa disso há uma disseminação de falsas informações que se tornam verdades. Na sua opinião, isso pode representar um perigo no processo de comunicação que não existia antes do advento das redes sociais? A curto prazo é um perigo. A internet aumentou o espaço da expressão, acessível a todos, sendo muito conveniente para todos usar esse espaço. Qualquer um pode dizer o que quiser, não há controle sobre verdades compartilhadas nem sobre os insultos proferidos. Esses movimentos são vistos como liberdade de expressão, mas penso que isso possa ser, no futuro, um grande contrassenso. A democracia não é exatamente um lugar onde todos se expressam, mas onde todos podem se expressar em espaços onde há regras criadas pelas instituições. As redes sociais, que no início davam uma ideia fantástica de democracia, podem facilmente perverter-se, e é o que está acontecendo em todos os lugares. Como não existe uma regra qualquer pessoa pode influenciar as redes sociais. Trata-se de uma concepção errada do sentido de liberdade. Não existe liberdade sem contrariedade e sem regras. Os jornalistas são os primeiros a confiar nas redes sociais, os políticos são obcecados por elas, uma parte das elites passa seu tempo vendo as redes sociais. Isso não é democracia. A internet passa a ser uma perversão. Como podemos melhorar esse quadro? É preciso estar vigilante, criar regras. Não podemos dizer o que queremos, nem ofender pessoas ou propagar rumores e, mais ainda, não podemos inventar fatos que não existem. Na vida, não podemos passar o farol vermelho quando queremos, nem podemos machucar e matar alguém se nós queremos. Por que nas redes sociais podemos tudo, sem proibições? Por que esse é o único espaço sem

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proibições? A liberdade deve existir com as interdições e é justamente esse o problema político imposto pelas redes sociais. E os principais responsáveis por tamanha perversão são os homens da política, os jornalistas e as elites que dão demasiada importância às redes. O excesso de informações facilita a formação da opinião pública ou dificulta? Está em marcha um mecanismo sobre o qual não havíamos pensado ainda. É a perversão do cidadão. Quer dizer que pensamos em um esquema democrático onde quanto mais existe verdade, menos existem rumores. Nunca houve tanta informação quanto temos atualmente e também nunca houve tantos segredos e rumores. Os homens são meio perversos quando dizem verdades pela metade e ouvimos em todas as partes do mundo esse argumento amedrontador: Se dizemos isso, automaticamente escondemos aquilo. É uma democracia em que nos dizem alguma coisa para nos esconder o resto. A teoria do complô é proporcional à expressão. É preciso ter responsabilidade com relação à opinião pública, como você citou. E nisso tudo qual é o papel dos jornalistas? Espero que eles mudem, mas a maioria desses profissionais ama e usa as redes sociais sem nenhum espírito crítico. Em vez de dizer “ótimo, é um novo espaço para a expressão, mas o nosso trabalho não tem nada a ver com isso, produzimos informações todos os dias balizadas pela nossa assinatura, pelo nosso jornal, rádio ou televisão”, eles dizem “oh! é a verdade, é a verdade secreta que se revela, é a alma escondida da população”. Infelizmente hoje os jornalistas, em geral, não têm espírito crítico. Os políticos também estão fora da realidade dizendo que as redes sociais são formidáveis, que é a chance de ter contato direto com o eleitorado. Mas a verdade é que nem todo mundo pode se expressar, é preciso haver limites.


“Na vida, não podemos passar o farol vermelho quando queremos, nem podemos machucar e matar alguém se nós queremos. Por que nas redes sociais podemos tudo, sem proibições? Por que esse é o único espaço sem proibições? A liberdade deve existir com as interdições e é justamente esse o problema político imposto pelas redes sociais”

© CENTRO DE EVENTOS

Wolton cobra dos jornalistas o uso crítico das redes sociais

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Em evento anterior na Faculdade Cásper Líbero, sua fala foi a de que os homens estão ‘menos humanos’, por causa das redes sociais. Será que estamos também ‘menos cidadãos’ pelo mesmo motivo? Sim, porque ser humano e ser cidadão significa se engajar na vida, andar, ver pessoas, discutir, debater. Estamos escondidos atrás de uma tela, não vemos mais ninguém e podemos dizer qualquer bobagem. Não há mais vida social sem telas. E eu não entendo como os jornalistas, que sabem o perigo de tudo isso, e também os políticos, não enxerguem a “crise da verdade”. Não é fácil compreender a realidade de hoje, mas não são as redes sociais que nos farão compreendê-la melhor, pois elas refletem não mais do que 10% da realidade. O resto é narcisismo, ódio, julgamento, acerto de contas. O homem não é naturalmente “bom”. Então quando temos demasiada liberdade de expressão – caso das redes sociais - damos a condição ao mundo de falta de regras. E as grandes redes de televisão? No Brasil, temos a Rede Globo, que já admitiu ter distorcido e escondido informações importantes em passado recente. Acho que esconder não é a palavra certa, porque daria a entender que existe um complô e cada telespectador constrói a compreensão daquela informação de maneira particular. Não se pode dizer que todos que assistem à TV Globo aderem à TV Globo; as pessoas assistem e fazem suas escolhas depois. Todos têm a sua cultura, a sua ideologia, enquanto que nas redes sociais todos pensam que aquilo é realidade. Não existe uma distância crítica. Quando assistimos à TV Globo desconfiamos, mas quando vemos algo nas redes sociais criamos confiança. É pior nas redes sociais porque ao menos nas grandes emissoras sabemos que existe intencionalidade. E como é esse processo na França? Igual. Penso que as redes sociais são uma falsa boa ideia para a crise da democracia. Em todos lugares existe crise de representação, crise de confiança e as redes são realmente uma falsa boa solução. Não existe mistério. Se quisermos restabelecer a confiança nas instituições, é preciso fazer algo fora da rede. É preciso dar confiança aos representantes políticos, mostrar que nem todos são salafrários, criar confiança nas pessoas. Mas as redes sociais só fazem crescer os complôs, a desconfiança e os rumores. Exatamente o inverso. Existe um ideal para a comunicação? Uma classe política que seja mais aberta, não tão afastada da realidade, mais honesta. É normal que os homens políticos disputem entre si, mas que consigam brigar mais pelo futuro do país, fazendo com que todas as classes sociais participem da política. @Uma realidade na qual tentem defender o Brasil diante da mundialização e a mundialização diante do Brasil. Na minha hipótese, pensando no

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futuro, para melhorar a democracia é fazer com que cada um respeite seu espaço. Os políticos, a ação; os jornalistas, a informação e a crítica. E que a opinião pública não se transforme em julgamento. Porque as redes sociais são isso, as opiniões de pessoas que se transformam em juízes. O senhor acha que as redes sociais tiveram um papel importante nas últimas eleições da França, dos Estados Unidos e de outros lugares do mundo? Os meios de comunicação tradicionais tiveram menos ‘potência’ que as redes sociais para formar opinião? Não acho que influenciaram muito. Excitou a curiosidade, é algo novo, tudo o que é novo é maravilhoso. Mas em algum momento as redes encontram a ideologia das pessoas. A gente não sabe ao certo o que se passa na cabeça das pessoas quando elas recebem tanta informação. E se a gente pensar que as redes sociais são capazes de influenciar o resultado das eleições isso quer dizer que as redes têm uma influência direta na cabeça das pessoas. Se a TV e os políticos não têm influência direta, por que as redes teriam? Poderíamos responder que as redes têm mais influência porque representam a igualdade dos cidadãos. Isso é verdade, mas no entanto é também uma ilusão. A grandiosidade da democracia é que todos podem dar uma opinião. As opiniões são igualitárias. Mas a democracia e as competências, não. A igualdade absoluta só existe no momento do voto. No resto do tempo existe uma certa hierarquia. Podemos reduzir as desigualdades, mas não as suprimir. Se quisermos ver a evolução da democracia no Brasil precisamos aumentar a educação. Reduzir as desigualdades, reduzir a corrupção. Esses são os verdadeiros fatores que influenciam a confiança na democracia e não as redes sociais. Será que desprezamos um pouco a consciência política dos homens, subestimando-os pelas redes sociais? As redes sociais são reações: hoje posso expressar uma opinião e amanhã publicar outra completamente diferente. Não é a “expressão” que diz a verdade, pois o receptor é manipulado pela reação coletiva. No final, são 100 pessoas xingando outras 100. As redes sociais acabam apenas reforçando a vaidade. É narcísico e é o que eu chamaria de “ilusão de competência”. O senhor já disse várias vezes que o tempo da tecnologia não é o mesmo tempo do ser humano. Podemos mudar isso? Parece muito pessimista esta afirmação. Não, não sou pessimista. Penso que é uma moda, que está agradando muito, mas tem uma certa finitude. Temos que pensar em tudo o que é político por meio da sua duração. Então podemos imaginar que dentro de dois ou três anos as pessoas vão estar fartas disso. O rádio e a televisão sempre foram criticados e de repente a internet se tornou a idolatria da democracia. @


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REPÓRTER DE GUERRA

NO FRONT Os desafios da cobertura jornalística em conflitos armados POR FELIPE SAKAMOTO

“O TEMPO pareceu congelar, a bomba não exalava nenhum cheiro”, recorda Joel Silva, que fotografou o bombardeio de tropas de Muammar al-Gaddafi, na Líbia, enquanto o colega Marcelo Ninio olhava para o céu a fim de determinar a posição do caça aéreo. Quando os rebeldes começaram a atirar para o alto, o segurança que acompanhava a dupla de jornalistas da Folha de S.Paulo ordenou que partissem imediatamente dali. Com Ninio já no veículo, o fotógrafo Joel correu para entrar no carro em movimento. Na câmera, levava uma foto tirada instantes antes e que seria comprada pela agência de notícias Reuters para correr o mundo. Aquela foi uma das primeiras imagens de bombardeio em um momento que Gaddafi negava o ataque a civis.

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© JOEL SILVA/ FOLHA PRESS

Flagrante de um bombardeio que desmentia Gaddafi fez a imagem de Joel Silva ganhar o mundo

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jornalista e automaticamente será conduzido para um hotel com alguém das Forças Armadas. Você até tem autorização para trabalhar, mas só sai do hotel acompanhado de algum militar ou tropa. Essa tropa vai te levar para onde eles querem te levar. Então, você não sabe se o que eles estão te mostrando é verdade ou não”, alerta. Cobrir um conflito exige que se coloque tudo em xeque e se policie. O jornalista freelancer Yan Boechat, conta que não é permitido tirar foto de soldado ferido, mostrar fragmento de bomba e nem lançador de míssil em determinados conflitos. O Exército não quer que entreviste pessoas cuja casa foi bombardeada, ou dirão que foi o Estado Islâmico, no caso da Síria. “Você sabe que não é verdade. O EI não tem avião, não tem artilharia pesada. Você vê uma casa rachada no meio e sabe que foi um ataque aéreo”, diz Yan. Ele, que já realizou coberturas em países como Afeganistão, Ucrânia, República Democrática do Congo, Tunísia, Egito, Venezuela, avalia que a cobertura da mídia é voltada para a agenda dos governos. E o alvo principal são os grupos terroristas, enquanto bombardeamentos dos Estados Unidos não são tão noticiados. “Se filmar algo que eles não gostem e colocar no ar, você não entra mais (no país). Se alguém te flagrar tirando uma foto de um soldado ferido vai tomar sua câmera. Aconteceu comigo e com todo mundo”, conta Yan. Em uma manhã, ele parou em um checkpoint (barreira do Exército), cuja regra é nunca fotografar o espaço. A chegada de um carro agitou os soldados, que apontaram suas armas. Yan e seu parceiro se esconderam atrás do veículo achando que o motorista ia detonar uma bomba. Os dois repórteres começaram a fotografar enquanto o capitão pegou o motorista, colocou-o no chão e posicionou a pistola na nuca. Os equipamentos dos profissionais, apreendidos depois da ação, foram recuperados. Mas sem os cartões de memória. Coragem e covardia. “Você não pode ser tão corajosa a ponto de morrer e nem ser tão covarde a ponto de

© MARCELO NINIO

Jornalistas em zonas de conflito se equilibram entre o desafio de cobrir uma pauta e ter de sair vivo para contar a história. Pode parecer trivial, mas na prática é mais complicado do que se imagina. Em 3 de março de 2011, Joel Silva e Marcelo Ninio acompanhavam um posto de rebeldes que se manifestavam contra o governo de Gaddafi. A alguns quilômetros à frente da base, avistava-se o Exército. Foi quando o caça da Força Aérea rasgou o céu e bombardeou uma cidade próxima. Não demorou mais de dois minutos para que a aeronave retornasse e lançasse mais uma bomba, mas daquela vez a 100 metros dos repórteres. Joel e Ninio sobreviveram para contar essa história. Mas nos últimos dez anos, segundo a ONG Committee to Protect Journalists, 308 jornalistas foram mortos em guerras no mundo todo. Apesar do perigo real, reportar conflitos armados faz parte do sonho de muitos profissionais. O fotojornalista Joel começou a carreira cobrindo homicídios e tráfico de drogas nas periferias de São Paulo. Dessas experiências, surgiu a inquietação com a violência na sociedade e que o levou aos campos de guerra. Em 2000, cobriu seu primeiro conflito, acampando por 22 dias com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Joel conta que é fundamental para o jornalista entender o embate, a região e seus atores antes de pisar no território para não ser surpreendido. Mas é somente no campo que se tem contato com a realidade da guerra: “Uns dias antes de sair do acampamento, fotografei um guerrilheiro. Ele foi morto três dias depois pelas Forças do país”, lembra. “Na guerra, a verdade é a primeira vítima”. A frase do dramaturgo grego Ésquilo sintetiza um dos principais desafios dessa cobertura: a propaganda. Em uma guerra existem sempre dois lados e nenhum deles está disposto a demonstrar fraqueza. A função do jornalista é desvelar esse trabalho nebuloso. Joel conta que procura encontrar as diversas versões de uma verdade. “Se você for para a Síria agora e desembarcar no aeroporto de Damasco, vai se apresentar como

Joel Silva cobriu conflitos em Honduras, Egito, Colombia e Oriente Médio

“Se filmar algo que eles não gostem e colocar no ar, você não entra mais (no país). Se alguém te flagrar tirando uma foto de um soldado ferido vai tomar sua câmera. Aconteceu comigo e com todo mundo” Yan boechat, fotojornalista


perder a pauta”, aconselhou Hélio Campos Mello para a filha. Jornalista de guerra, Hélio foi preso pelas tropas de Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo, em 1990. Dezesseis anos depois, Patrícia Campos Mello embarcava para sua primeira cobertura em uma zona de conflito. Desde aquela viagem para cobrir as tropas americanas no Afeganistão pelo jornal O Estado de S. Paulo, ela jamais perdeu uma pauta. Acumula 50 viagens para diversos lugares, alguns dos quais a maioria das pessoas preferiria manter distância. Repórter especial da Folha de São Paulo e jornalista formada pela Universidade de São Paulo, Patrícia procura reportar diversas histórias que formam um mosaico para entender o contexto de uma guerra, distanciando-se das estatísticas de mortes e bombardeios, como fez com o caso das mulheres da etnia yazidis que são sequestradas pelo Estado Islâmico. Em 2015, a jornalista visitou um campo de refugiados em Khanke e Sharia, no norte do Iraque. As tendas brancas disponibilizadas pelo Departamento Executivo para Gestão de Desastres e Emergência do primeiro-ministro turco abrigam histórias de uma guerra política e religiosa. O Estado Islâ-

mico persegue os yazidis, pois acreditam que sejam “adoradores do Diabo”. A facção islamita afirma, oficialmente, que as mulheres yazidis não são como as judias e cristãs, que seguem as religiões de Abraão, e podem ser escravizadas. De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em junho de 2016, cerca de 3 mil yazidis são mantidas como escravas sexuais pelo EI. Por ser mulher, Patrícia teve algumas entrevistas facilitadas, já que as vítimas não vão conversar com homens sobre casos tão pessoais. Mas, mesmo nessas situações, há alguns obstáculos a serem superados, como a de ter de estar acompanhada de algum homem para entrar em alguns locais ou usar, no Quênia e na Somália, o niqab, o véu que deixa aparente apenas os olhos. O esforço da jornalista valeu a pena. Patrícia conseguiu entrevistar a refugiada Khazal Sharif, que ficou presa sem comida e água por três dias com outras mulheres e fugiu um dia antes de ser vendida. E as personagens Sanaa, de 21 anos, e suas irmãs Hanaa e Hadya, 25 e 18 anos, que foram levadas do vilarejo de Kojo para Mossul e ficaram presas com mais de cem mulheres, onde foram estupradas pelos combatentes.

Quem paga a conta? Nas experiências de Patrícia e Joel, a Folha de São Paulo arcou com as despesas da cobertura: passagem aérea, acomodação, contratação de segurança, motorista, seguro de vida e indenização. Afinal, eram contratados fixos do veículo impresso. Não é o caso do jornalista freelancer Yan Boechat, que, desde a época em que cursou jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina em 1998, tinha o sonho de cobrir guerras. Entre 2002 e 2003, viajou por mais de 20 países na América do Norte, Europa, Oriente Médio e Ásia. Tentou cobrir a invasão norte-americana ao Iraque, mas foi sem sucesso que chegou ao Afeganistão para estrear sua cobertura in loco de conflitos. Pautar-se e vender as matérias é tarefa fundamental para quem não vai com o auxílio de uma empresa. “Foi difícil perceber quais eram as pautas. Tinha dificuldade em identificar as pequenas matérias, só conseguia ver o macro. Perdi pequenas histórias com as quais poderia ter rentabilizado mais”, comenta. Yan Boechat nunca teve o perfil de quem prefere ficar dentro de uma redação. Quando trabalhou na revista IstoÉ, entre 2009 e 2011, realizou um

© FÁBIO BRAGA

Patrícia Campos Mello não acredita que ser jornalista mulher estrangeira no Oriente Médio seja um impeditivo

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© ANDREA DICENZO

Sem apoio da grande mídia, Yan Biechat banca todos os gastos durante suas viagens, mas tem maior liberdade editorial

acordo com os chefes. “Vocês me dão um mês, sem descontar do meu salário, e eu vou por conta própria e banco a produção. Entrego a vocês uma matéria de capa”. O jornalista, para não ter prejuízo, colocou no acordo que poderia vender suas reportagens para revistas da casa e para concorrentes não diretos. “Eu acho que foi rentável para os dois lados. Fiz um investimento e quase sempre conseguia recuperar. Eu fui de graça. Não gerei lucro, mas também não tive prejuízo”, lembra. Dinheiro e logística são os principais desafios para quem é freelancer. Yan se aventurou, nas primeiras coberturas, sem seguro de vida. Comprou com suas economias o capacete e o colete à prova de balas e fuzil, que custa por volta de 900 libras na Inglaterra ou 250 dólares no Iraque. O aluguel fica em torno de 30 a 40 dólares por dia. O custo da contratação do fixer, companheiro inseparável do

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repórter estrangeiro, geralmente um morador da região que apresenta o local, traduz, coloca o jornalista no melhores locais, pode variar. No Congo, o jornalista pagou 100 dólares por dia; na Ucrânia, 200 dólares. Em Mossul, o valor chegou a 500 dólares. Boechat conta que os freelancers dividem o preço de um fixer e vão em grupo para o front do conflito. “É muito difícil trabalhar sem fixer, praticamente impossível. Além de ser perigoso”, afirma. Diante dessas experiências tão violentas, fica uma questão: e o medo da morte? Yan avalia que o jornalismo de guerra é romantizado. Joel diz que vale a pena fazer esse trabalho: “Descemos no porão da sociedade e trazemos à luz tudo que ela não quer ver, ou não consegue”. Patrícia acredita que sentir medo é desrespeitoso. Ela tem a garantia de voltar para sua casa, enquanto os civis vivem com a sorte: ou morrem durante a guerra ou tentando escapar dela.

A jornalista não se esquece de quando viu a foto do menino Aylan Kurdi afogado no mar Mediterrâneo. Decidiu ir até a cidade de Kobane, na Síria, para conhecer os avós da criança. O casal mostrou onde ficava a barbearia do pai, Abdullah Kurdi, destruída por um morteiro, os quartos e os brinquedos que restaram dos netos. Patrícia avalia que aquela foto que rodou o mundo foi sensacionalista, mas serviu para abrir os olhos do mundo para os acontecimentos do país árabe. Na viagem, em 2014, ela conheceu a história do casal de sírios Raushan Khalil e Barzan Iso que, depois de quatro dias de casados, viram sua cidade, Kobani, invadida pelo Estado Islâmico. Este último episódio é, inclusive, tema de seu próximo livro intitulado provisoriamente de Lua de Mel em Kobani, no qual contará a história da guerra contra o Estado Islâmico na Síria. @


POR COMUNICADORES PARA COMUNICADORES A Cásper é sinônimo de cultura ,comunicação e atualidades. Sempre com reportagens de grande profundidade, investindo na boa apuração e no debate de ideias.

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MERCADO | ESTUDANTES

ESTAGIARIOS AMADURECEM

SÃO EXPLORADOS

SÃO FORMADOS

aprendem

GANHAM DINHEIRO

fazem amigos

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O mundo dos estagiários não é mais o mesmo. As mudanças da Lei do Estágio, do mercado de trabalho e das relações entre chefes e subordinados ditaram novos rumos para os que já trabalham durante a graduação. Na Comunicação, outros desafios se somam: a diluição de fronteiras entre Jornalismo, Publicidade, Rádio, TV e Internet e Relações Públicas e as mudanças radicais do papel de alguns profissionais fazem do estágio um lugar de incertezas. Mas ainda fundamental para a formação dos estudantes. POR CAROLINA MORAES E PAULA CALÇADE

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PAULA TORRES estava no time que, em dois finais de semana, botou de pé a produção realizada pela TV Bandeirantes do programa The X-Factor. Havia muito a ser feito. As dezenas de holofotes e painéis iluminados adaptados da versão britânica tinham de ficar prontos para receber os milhares de próximos candidatos a talentos a serem descobertos pelo reality show. Nos dias em que precederam as apresentações nos estúdios Quanta, em São Paulo, a carga horária dela chegou a 12 horas diárias. Paula comemorou o resultado de seu profissionalismo, mas uma vez finalizada a tarefa saiu sem receber um tostão. A atividade era voluntária. Para a aluna do terceiro ano de Rádio, TV e Internet da Cásper Líbero, essa oportunidade a destacará para futuras seleções de estágio. “Entre meus colegas de curso é consenso que arranjar um bom estágio é muito difícil, sempre exigem qualificação, como domínio avançado de programas de edição”, justifica. A preocupação da casperiana é concreta. Segundo a Associação Brasileira de Estágios (Abres), dos 17,6 milhões de possíveis estagiários brasileiros, menos de 6% dos estudantes conseguem uma vaga. Estimulados por colegas, professores e familiares, os alunos se sentem quase na obrigação de estagiar durante a faculdade. É uma forma de ter um dinheiro extra e ganhar a exigida experiência profissional. O difícil é escapar desse cenário. Se a expectativa de efetivação dos que estagiam já é desalentadora, a chance de inserção no mercado de um aluno que não estagiou é ínfima. E ainda há questões específicas para as profissões de Comunicação. Os cursos de Comunicação Social estão atrás apenas dos de Administração e Direito quando se trata de vagas de estágios oferecidas. O problema é como as empresas encaram o estágio. Trabalhos que exploram a mão-de-obra de estudantes fazem parte da cultura da área. Isso porque os mais de 280 mil alunos matriculados em cursos de Comunicação no país não se deparam com as mesmas oportunidades. Enquanto os estagiários de Jornalismo sofrem a ressaca da precarização da profissão, os de Relações Públicas estão no ranking do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) das 10 melhores remunerações – mesmo que em último lugar. A realidade de estagiários do Brasil de 2008, quando a Lei n° 11.788, ou Lei do Estágio, foi aprovada, não é mais a mesma. Os 715 mil estagiários de ensino superior daquele ano aumentaram em 3,5%: somavam, já em de-

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zembro de 2015, 740 mil. Nos últimos anos não só houve um aumento de alunos em salas de aula da graduação, que totalizavam mais de 8 milhões em 2015 segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, mas também da postura no ambiente de trabalho. Não se trata mais de ser quem pega o cafezinho, mas de fazer parte da engrenagem da equipe. “Os estagiários devem ter autonomia para se colocar no ambiente de trabalho e planejar sua carreira”, define Rafaela Gonçalves, representante dos Recursos Humanos do Nube. Os estágios se tornaram um passo importante na formação dos jovens porque, na maioria das instituições educacionais, a sala de aula não consegue simular os desafios que aparecem em um ambiente de trabalho. E chegar ao mercado com um currículo bem preenchido, depois de formado, é vital. A Lei do Estágio surgiu para disciplinar essa atividade que só tende a crescer nos próximos anos. No papel, a nova legislação trouxe mudanças fundamentais. Agora existe a limitação da carga horária – de seis horas diárias e trinta semanais –, o estágio em uma mesma empresa não pode ultrapassar dois anos e o recesso deve ser remunerado. Mas o ponto fundamental está logo no primeiro artigo da Lei. A definição de estágio como um “ato educativo escolar” é crucial para afastar o estudante de

“Os estagiários devem ter autonomia para se colocar no ambiente de trabalho e planejar sua carreira Rafaela Gonçalves, nube


1.017 REAIS

É A MÉDIA DE BOLSA-AUXÍLIO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL*

*SEGUNDO O NÚCLEO BRASILEIRO DE ESTÁGIOS (NUBE)

uma relação trabalhista – mesmo com toda autonomia que venha a ter no ambiente de trabalho. Empresas e escolas costumam fechar os olhos para essa questão e os alunos arcam com as consequências. Depois de três estágios, dois deles em redação, a aluna de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo Raíssa Rivera não esperava estar em uma função distante do coração da profissão e tão próximo de Publicidade e Propaganda. Mais do que isso, o monitoramento de redes sociais para a empresa E.Life, sua atual ocupação enquanto termina o último semestre do curso, é home office e o contato com profissionais que tornem a experiência uma fração importante de sua carreira é basicamente nulo. Não que a presença física seja o ponto de inflexão nesses casos. A falta do cunho educativo atravessou sua trajetória de estagiária. No começo do terceiro semestre da graduação, Raíssa entrou para um pequeno portal de notícias, em que cuidava do site inteiro replicando conteúdo de agências de notícia. Em sua segunda experiência, pouco mudou: a pressão por resultado continuava grande no portal iG e o processo de aprendizagem era difícil. Apesar de estar em um ambiente real de trabalho ser fundamental para qualquer jornalista, o fato é que diante das muitas mudanças da profissão, o estagiário vem sendo encarado como uma mão-de-obra barata e altamente competente em muitos casos. “O estágio não pode virar uma engrenagem de precarização da profissão”, alerta o jornalista e presidente do sindicato da categoria, Paulo Zocchi. Longe do papel educativo, o estudante acaba por exercer funções que seriam função de responsabilidade dos efetivados, com carteira assinada e holerite no fim do mês. A diluição das fronteiras entre as formações em Comunicação Social é uma tendência recente e parece não ter volta. Mercados internacionais, como o dos Estados Unidos e da Europa, já seguem esse padrão. A chegada dessa flexibilização, para o presidente-executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), Carlos Henrique Carvalho, é sinal de amadurecimento do

mercado brasileiro. “É importante que os estudantes experimentem diferentes estágios e que as empresas contratem estudantes com maior fluidez de perfil”, esclarece. Seguindo essa lógica, um aluno de Jornalismo que domina as funções exigidas em Assessoria de Imprensa tem maiores chances de inserção no mercado, principalmente em cenário de crise econômica. O estágio serviria para “treinar” o futuro profissional em diferentes funções. Na prática, a alternativa do jovem universitário parece ser voltar os olhos para as outras áreas da Comunicação, ampliando seu leque de habilidades. “Os cursos de Jornalismo, em todas as faculdades de uma maneira geral, vêm abrindo os olhos dos alunos e inserindo matérias nas grades que mostrem que Jornalismo não é só redação”, pontua Patrícia Paixão, professora da Anhembi Morumbi e idealizadora do portal Formando Focas. As grades com disciplinas de Jornalismo empresarial, corporativo e assessoria surgiram como necessidade do mercado e desejo dos alunos. Essas disciplinas, historicamente vinculadas ao trabalho de Relações Públicas, não estão em alta à toa. Segundo Mauro de Oliveira, diretor de Comunicação da Abres, a média elevada de remuneração de um estagiário – de 1.153,34 reais – se dá pela inserção em grandes empresas, em que a comunicação é essencial. É o caso de Guga Sandin, aluno de Relações Públicas da Universidade de São Paulo, que, mesmo sem ter começado o estágio logo nos primeiros anos do curso, hoje faz parte da equipe de Comunicação da General Motors no Brasil. O jovem tem de, literalmente, “se virar nos 30”: organiza eventos, produz releases, edita textos e mantém contato direto com jornalistas, como faz qualquer profissional contratado. Antes de entrar para a equipe da multinacional norte-americana e colocar em prova sua competência, Guga já tinha participado de projetos com caráter profissionalizante durante o curso. A Agência Júnior, que atende clientes reais e é comandada apenas por alunos da graduação, foi uma delas. Segundo Patrícia, há um visível aumento de agências experimentais e veículos laboratoriais dentro das próprias faculdades, uma alternativa para casar a vivência

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NO RANKING DE VAGAS OFERECIDAS, COMUNICAÇÃO ESTÁ EM

terceiro lugar

FICANDO ATRÁS DE ADMINISTRAÇÃO E DIREITO

“O papel do estágio não pode ser reduzido à contratação de alguém como executor. Acredito que é um movimento de conscientização que nós professores, profissionais que estamos na área, temos que fazer Patrícia paixão

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universitária com experiência profissional. Mas a maturidade desenvolvida no dia-a-dia de uma empresa sempre terá maior força de sedução. No quarto semestre de Publicidade e Propaganda na ESPM, Juliana Barnabé entrou para o time de marketing da rede de alimentação Boali. Dos cinco estagiários que integravam a equipe, três saíram da empresa. Quando o último funcionário, o estagiário de Design, entrou em férias, foi questão de dias para que Juliana tivesse que negociar sozinha o bugdet com a agência da qual são clientes. Entre troca de e-mails e telefonemas, os detalhes da campanha do mês seguinte só saíram das mãos da então aluna do quarto semestre para uma única aprovação no setor financeiro da empresa. Assumir grandes responsabilidades comum na área de Publicidade e a demanda por tomar frente de grandes decisões não deixam de ser conflituosas com os horários de aula e de estudo. "A cobrança é muito maior. Então tem que ter uma flexibilidade na faculdade. Mas em relação à postura, ao profissionalismo e aos conhecimentos técnicos, só há coisas boas", diagnostica o coordenador do curso de PP da Faculdade Cásper Líbero, Joubert Brito. "A minha vivência na faculdade mudou totalmente! Muitos dos meus colegas não entendiam a minha rotina porque ainda não estavam trabalhando. Mas a gente se ajusta: no último semestre, conciliei as aulas e estágio com um plano de marketing para entregar na faculdade", explica Juliana. Quando se fala em Comunicação Social, a área desponta como a mais bem colocada ocupando mais de 40% das vagas de estágios, segundo a Abres. O motivo é simples: “O profissional de PP é o cara que vai trabalhar na área de vendas, de marketing. Então ele é a pessoa que consegue entrar em quase todas as empresas. Não são todas as que precisam de um RP, um jornalista e um profissional de Rádio, TV e Internet”, explica Mauro de Oliveira, da Abres. Carlos Henrique Carvalho, da Abracom, ressalta que muitos estudantes podem entrar na faculdade com a ambição de trabalhar em grandes empresas de Comunicação e as pequenas agências viram uma segunda opção, o que pode ser um erro. Estes setores são justamente os que mais contratam. Há seis meses na Boali, a vaga que, inicialmente, era para social media, nas palavras de Juliana, já se tornou um "faz tudo". Desenvolvimento de


ações, comunicação interna e endomarketing são tão presentes em seu dia-a-dia na empresa como as mídias sociais. Entre os projetos que simulam casos com clientes reais e conversas com profissionais da área de Publicidade e Propaganda na própria graduação, a expectativa de efetivação ao fim do curso é geral. "Sinto que a faculdade nos prepara muito para o mercado de trabalho e coloca a gente em contato com empresas. Pessoas próximas que já estão formadas estão muito bem colocadas no mercado", diz Juliana. Mesmo com os olhos em vagas nas agências com nome de peso, empresas menores como a que a estudante estagia são um espaço precioso para crescer profissionalmente. Se nas áreas de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda o cenário é mais otimista, quando se trata de ser um trampolim para a carreira, o terreno do mercado de

HÁ UM MÁXIMO

DE 1 A 5 EMPREGADOS, 1 ESTAGIÁRIO

DE 11 A 25 EMPREGADOS, ATÉ 5 ESTAGIÁRIOS

trabalho de Jornalismo e RTVI é movediço. Para a professora Patrícia Paixão, há portais online que estão abertos para a contribuição de universitários, como o portal Comunique-se e Imprensa, plataformas gratuitas para publicação de vídeos, textos, podcasts, e a internet é um possível universo a ser explorado por jovens dessas duas áreas. Antes de repensar áreas de atuação, é preciso defender a importante conquista do aumento de estágios no Brasil - desde 2009, aumentou em 67% o número de estágios intermediados pelo Ciee, o Centro de Integração Empresa-Escola.“O papel do estágio não pode ser reduzido à contratação de alguém como executor. Os empregadores que pensam que o perfil do estagiário é o mesmo de um formado estão errados. Acredito que é um movimento de conscientização que nós professores, profissionais que estamos na área, temos que fazer”, enfatiza Paixão. @

DE ESTAGIÁRIOS PERMITIDOS PELA LEI DO ESTÁGIO

DE 6 A 10 EMPREGADOS, ATÉ DOIS ESTAGIÁRIOS

ACIMA DE 25 EMPREGADOS, ATÉ 20% DE ESTAGIÁRIOS

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O coletivo YVY Mulheres da Imagem fortalece o trabalho feminino e já articula mais de duas mil integrantes pelo Brasil POR CAROLINA MORAES

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© VALDA NOGUEIRA

PORTFÓLIO


POTENCIALIZAR VOZES

A fotografia faz parte da convocatรณria da YVY denominada Amor e foi usada para ilustrar artes visuais do coletivo

Cร SPER

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© ANA CATARINA LUGARINI

Tuane Fernandes foi uma das fotógrafas que participou da Cobertura conjunta da Parada LGBT de São Paulo

© TUANE FERNANDES

Ainda sobre ela: Ana Catarina Lugarini foi selecionada para o primeiro Desafio YVY #MulherEspelho


© OLGA VLAHOU

NO LIVRO History of Women Photographers, a pesquisadora Naomi Rosenblum é categórica: “A fotografia tem desempenhado um papel de determinar como várias questões estéticas, políticas e sociais foram percebidas dentro de uma cultura, e, entre essas questões, o papel em constante mudança das mulheres.” Fortemente ativas na área desde 1839, quando a fotografia foi introduzida, os nomes femininos ainda não têm a mesma visibilidade. A ideia de valorizar e articular as mulheres que trabalham não só com a fotografia, mas com a imagem nos dias de hoje, é o que move o coletivo YVY Mulheres da Imagem. O grupo com mais de 2 mil integrantes pelo país promove ações colaborativas também para criar um diálogo com a sociedade. “Através da mobilização, fazemos formação”, conta Marizilda Cruppe, fotojornalista brasileira e jurada do World Press Photo. Cruppe, que começou o coletivo, já teve outra experiência com coletivos de mulheres fotógrafas quando, em 2005, o britânico Gare Knight a apresentou para outras cinco com trabalhos similares ao seu. “Nessa época, eu já sugeria um nome indígena (YVY, em tupi, quer dizer terra), mas chegamos a um nome em inglês, acessível a mais pessoas”, diz ela. As mulheres da Eve, que durou até 2010, deram voos altos desde que se juntaram. Para ficar apenas com um exemplo, a iraniana Newsha Tavakolian hoje é associada à Magnum, a maior agência de fotógrafos do mundo. A intenção de Cruppe se articular novamente com suas colegas de profissão surgiu em um encontro no centro do Rio de Janeiro, na Cinelândia. A reunião aconteceu no fim de 2016, desde então, aproveita as viagens para reunir mais mulheres a essa rede. A história ganhou outra dimensão depois de uma reunião com a fotojornalista curitibana Isabella Lanave, selecionada pela revista Time como uma das 34 fotojornalistas com trabalhos relevantes mundialmente. “Em 5 minutos de conversa com a Isa, deu para perceber que não seria de fotógrafas, e sim de mulheres da imagem. A minha geração era uma que usava apenas uma linguagem, mas as mais novas usam milhares ao mesmo tempo”, afirma. As chamadas para ações temáticas e cobertura colaborativa, como a do Dia Internacional da Mulher, reúne vídeos, ilustrações, fotografias e quaisquer outras produções da área.

Mulheres visibilizando a luta feminista: a cobertura conjunta do 8 de março

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CHAPÉU | CHAPÉU

“É muito importante saber que temos essa arma para contestar, criar, valorizar, se organizar... Podemos fazer muito através da imagem” FLÁVIA CORREIA, FOTÓGRAFA

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Primeiros momentos da ocupação feita por mulheres do MST, no dia 8 de março de 2017, em Itatiaiuçu-MG, no registro de Maíra Cabral (acima). Já o retrato de Dora, que perdeu o pai e o irmão durante a ditadura militar, foi a resposta de Mariana Capeletti à provocação da YVY para a pergunta “Quais imagens vê uma mulher?”


© MARIANA CAPELETTI

© MAÍRA CABRAL

A falta de visibilidade do trabalho feminino e de remuneração igualitária não é exclusivo dessa área. “A YVY vem num momento em que as mulheres não estão mais deixando nada passar em branco. Num país em que temos festivais de fotografia que, além de ainda serem ‘de fotografia’ e não da ‘imagem’, acabam se limitando a trabalhos tradicionalmente aceitos nesses ambientes.”, enfatiza Isabella. O Paraty em Foco, evento importante da fotografia que acontece em setembro no Rio de Janeiro, tem apenas homens em seu conselho curatorial. E entre os convidados, apenas 5 dos 17 são mulheres, a proporção acaba sendo maior se comparada à edição de 2016, em que o mesmo número de mulheres, 5, estavam entre quase o dobro de convidados, 39. Nas premiações, não é diferente. O prêmio Poy Latam deste ano, lembra a fotógrafa, teve apenas 7 mulheres entre os 83 ganhadores. A raíz dos problemas, para Isabella, é uma via de mão dupla: a ocupação desses espaços por mulheres é fundamental para vencer as inseguranças com o próprio trabalho construída socialmente. E por que, então, pensar a imagem? “O grande lance”, para a fotógrafa de Maceió e associada da YVY Flávia Correia, “é entender que trabalhamos com uma ferramenta muito poderosa. E podemos chamar atenção, ou, como temos usado, ‘dar voz’, através dessa ferramenta. É muito importante saber que temos essa arma para contestar, criar, valorizar, se organizar... Podemos fazer muito através da imagem.” Rosenblum, a partir da pesquisa sobre as mulheres na fotografia, defende que mais conhecimento sobre passado pode ser útil para valorizar o trabalho já feito ao longo dos anos. Mais conhecimento sobre o presente, também. @

CÁSPER

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CASPERIANAS

Momento para questionar Trigésima edição do evento PlugNoAr leva reflexão sobre a profissão e os desafios do mercado para novos publicitários na Cásper POR PAULA CALÇADE


Fazer a publicidade para um cliente inclui etapas básicas, como: criação, planejamento, produção, mídia e atendimento. O tempo em que essas etapas se dava apenas dentro das agências ou discutido em sala de aula se foi. O mercado e a academia se aproximam e, como resultado, o debate de temas atuais trazidos por profissionais de destaque ganham fôlego. Exemplo disso são as discussões em torno das campanhas que se direcionam às mulheres a ao público LGBT. Como forma de fomentar esses debates, o Teatro Cásper Líbero receberá a “PlugNoAr – Edição Brasil 2017 entre 4 e 7 de outubro. “Percebemos que os alunos demandam um contato cada vez maior com o mercado de trabalho, mas não deixam a reflexão de lado”, afirma Joubert Brito, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Cásper Líbero. Por meio de de-

bates e palestras, profissionais como João Unzer (diretor de Criação na agência de BBDO New York), Patrícia Weiss (CEO da BCMA South America) e Dani Rodrigues (gerente de Real Time na Coca-Cola) vão expor de forma prática a realidade do mercado, propondo intervenções e provocando questionamentos do público. A iniciativa de promover o evento veio do grupo Plugcitários, fundado por Erickson Monteiro, publicitário de Recife que já passou por sete agências e administra um site com novidades da área. Monteiro organiza ainda cursos e divulga eventos relacionados à profissão. Desde que foi lançada em 2012, a PlugNoAr reuniu mais de 12 mil participantes em diversas cidades do Brasil e da Argentina. “Nosso foco é trazer de forma interativa o que tem de melhor no mercado de publicidade, profissionais que estão ligados nisso se destacam”, ressalta Monteiro.

Workshops sobre social web e a produção de conteúdo para influenciadores digitais, que desafia o publicitário a conhecer profundamente seu público e a desenvolver uma comunicação atrativa, são os grandes destaques desta edição por serem oficinas muito procuradas no evento. O marketing digital e o relacionamento entre marca e consumidor, que já foram destaques em edições anteriores, fazem parte das pautas do PlugNoAr deste ano. Joubert Brito destaca que a imersão no mercado de trabalho será total e que os alunos poderão conversar e trocar experiências próprias com os palestrantes, que foram escolhidos pelos organizadores. “A oportunidade é única e, para quem está ingressando nas agências e empresas agora, será uma chance para refletir sobre a carreira e planejá-la”, diz o coordenador. @

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RESENHAS

UM NOVO CENÁRIO

O livro Relações Públicas na Contemporaneidade reflete sobre as necessidades atuais da área POR DANIEL DUBOSSELARD ZIMMERMANN

O livro Relações Públicas na Contemporaneidade, de Bianca Dreyer, professora de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero e no curso de Pós-graduação em gestão da comunicação digital no Digicorp, da Universidade de São Paulo, é uma análise crítica a diversas convicções referentes à atividade, mais especificamente utilizando como tema central a seguinte pergunta: “Como contextualizar a atividade de relações públicas na contemporaneidade?”. A autora questiona diversos conceitos e responde a algumas perguntas fundamentais para a atividade hoje, tais como “Qual é a ligação da sociedade em que vivemos hoje com a atividade de relações públicas?”, “O profissional de RP deve ainda defender a transparência das organizações?”, “Existem modelos que podem ajudar na gestão da comunicação?”, “Quais elementos devemos considerar para planejar a comunicação em tempos de mídias sociais digitais?”, “Como classificar os públicos no ambiente digital?” e “Qual a relação entre interação e visibilidade para as empresas?”. Fruto da pesquisa da autora na área de Teoria e Pesquisa em Comunicação e na linha de pesquisa: Comunicação e Ambiências em Redes Digitais, o trabalho reflete sobre a evolução das relações públicas - do início incipiente, na década de 1940, à comunicação nas mídias sociais-digitais – e seu papel não apenas como disciplina, mas também como função essencial para estabelecer a reconexão entre indivíduos e instituições. A obra é dividida em seis partes, nas quais são tratados assuntos referentes às mais atuais questões da atividade de relações públicas. Dreyer apresenta algumas características da sociedade na qual vivemos para refletir sobre os aspectos que devemos considerar em um planejamento de comunicação para as empresas no primeiro ca60

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Relações públicas na Contemporaneidade: Contexto, modelos e estratégias. Bianca Marder Dreyer Summus Editorial 159 páginas

pítulo. Tece, então, um percurso histórico sobre os principais acontecimentos da área de comunicação organizacional e relações públicas com a finalidade de entender as transformações que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) trouxeram aos processos comunicacionais. Na terceira parte do livro, a autora foca em como os públicos devem ser classificados e mapeados, considerando as mídias sociais digitais para então dar ênfase à evolução das relações públicas no contexto digital. Dreyer não apenas traz conceitos diversos interligados à evolução da internet e da web, mas reflete sobre a contemporaneidade digital e sua interrrelação com as relações públicas. Os últimos dois capítulos trazem um resgate de 15 modelos de gestão da comunicação estratégica nas organizações e negócios para que o leitor possa compreender as tendências da comunicação contemporânea e, assim, escolher a melhor opção para cada situação, sempre considerando as questões digitais. As interações e a visibilidade na comunicação contemporânea com foco nos resultados obtidos nos relacionamentos encerram o trabalho. A obra é inspiradora, relevante e é indicada a estudantes de graduação, pós-graduação, profissionais, professores e pesquisadores que pretendem entender não apenas a atividade de relações públicas na contemporaneidade, mas também desenvolver senso crítico sobre a comunicação nas organizações no cenário atual das mídias sociais digitais.

Daniel Dubosselard Zimmermann é professor das do curso de Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero e Pesquisador do Cecorp/USP


INIMIGOS ÍNTIMOS

Livro conta os cem anos da rivalidade entre Corinthians e Palmeiras POR JOSÉ AUGUSTO DIAS

Todo estudo histórico é uma versão do passado. Este princípio básico da Teoria da História sempre coloca questões novas e instigantes. Por exemplo: como elaborar um trabalho sobre o primeiro século de rivalidade entre Corinthians e Palmeiras em versão que possa ser considerada fidedigna e aceitável tanto por corintianos quanto por palmeirenses? O que talvez fosse problema insolúvel para os sábios da Sorbonne e de Harvard foi realizado com facilidade por dois jornalistas de São Paulo. Celso Unzelte e Paulo Vinícius Coelho são nomes de destaque da imprensa esportiva brasileira; amigos desde 1991, quando se conheceram na redação de uma revista sobre futebol, são também os autores do livro recém-lançado Derby – 100 Anos (São Paulo, Inbook Editora). Celso é corintiano e Paulo Vinicius é palmeirense; o primeiro se encarregou de apresentar e comentar os principais jogos em que o Corinthians levou a melhor sobre o Palmeiras, enquanto o segundo fez o mesmo só que invertendo a situação. O livro, inclusive, tem duas capas – uma dedicada a cada time. Isso quer dizer que o leitor mais emocional pode dedicar maior atenção à parte que lhe agrada, passando rapidamente por aquela que lhe traz mais dissabor. Os textos foram elaborados com maestria e equidade, em um caso talvez único de iniciativa que poderia concorrer tanto ao Prêmio Pulitzer quanto ao Nobel da Paz. As narrativas assumem a proporção de verdadeiras epopeias, dignas de um Homero (o outro, não o zagueiro que brilhou no Corinthians da década de 1950). Celso apresenta uma descrição épica do jogo disputado em abril de 1971, no qual o Corinthians chegou ao final do primeiro tempo perdendo por 2 a 0 para, no segundo, triunfar pelo pla-

Derby – 100 Anos Celso Unzelte e Paulo Vinícius Coelho Inbook Editora 146 páginas

car de 4 a 3, em uma virada histórica. O mesmo vale para o relato de Paulo Vinicius da partida em que o Palmeiras, que então não vencia o Corinthians havia quatro anos, bateu o rival por 2 a 0 em pleno campo de Itaquera, em maio de 2015 – primeira derrota dos corintianos em um clássico disputado em seu novo estádio. E assim sucessivamente, ao longo de todo o livro. A história de Corinthians e Palmeiras, de fato, se entrelaça das maneiras mais surpreendentes. Ademir da Guia, talvez o maior ídolo palmeirense, é filho de Domingos da Guia, zagueiro admirável e que jogou no Corinthians na década de 1940. Da mesma forma, Roberto Rivellino, para alguns o maior jogador que já vestiu a camisa do Corinthians, torcia ardentemente pelo Palmeiras em seus tempos de infância, como ele próprio admite. A relação de atração e repulsa entre corintianos e palmeirenses é das mais significativas e poderia até inspirar volumosos tratados psicanalíticos. Porque no final das contas não seria descabido concluir que, ao longo de suas histórias, Corinthians e Palmeiras não formaram times notáveis e vitoriosos meramente para orgulho de suas torcidas, nem que conquistaram tantos títulos expressivos unicamente para aumento da própria glória – cada triunfo serviu também para ser exibido, ostentado, alardeado, pavoneado, quase mesmo que dedicado ao rival. Caso típico de adversários que, mesmo não admitindo isso, não conseguiriam viver um sem o outro.

José Augusto Dias Júnior é professor de História Contemporânea nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero

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PARA ENTENDER MAIS

TERRA EM

TRANSE

::PERSPECTIVAS:: Conheça mais afundo alguns dos temas e histórias abordados por esta edição

NARRATIVAS O gosto da guerra,

de José Hamilton Ribeiro e Queda de Bagdá, de Jon Lee Anderson, são títulos essenciais para quem se interessa por jornalismo de guerra

ESTANTE A bibliografia de Dominique Wolton é extensa. Mas, se você se interessou pelo sociólogo francês, uma boa pedida para entender suas perspectivas sobre o universo digital é Internet, e depois? - Uma teoria crítica das novas mídias

ESTUDOS

A comunicação é um campo fascinante, mas também complexo. Se a partir do nosso mapa sentiu vontade de desbravar ainda mais esse universo, o livro Teoria da Comunicação - ideias, Conceitos e Métodos, do professor Luís Mauro Sá Martino, pode ser de grande ajuda

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