Revista Cásper #2

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Hérodoto Barbeiro Ele escolheu ser jornalista aos 40

O papel ainda pulsa E-books não enterrarão os livros impressos

Nº 2 – Dezembro de 2010

Roberto Gazzi editor-chefe do Estadão fala sobre o jornal na era digital

Comunicação Corporativa

Assessores de empresas ensinam como driblar crises

Marketing político

a internet na disputa presidencial



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A comunicação Fundação Cásper Líbero Presidente Paulo Camarda Superintendente Geral Sérgio Felipe dos Santos

Faculdade Cásper Líbero Diretora Tereza Cristina Vitali Vice-Diretor Welington Andrade

Revista Cásper Núcleo Editorial de Publicações Coordenador de Ensino de Jornalismo Carlos Costa Editor-chefe Ricardo Muniz Editora Aline Magalhães Reportagem Aline Magalhães, Ana Lucia Silva, Ayana Trad, Fernanda Patrocínio, Henrique Koller, Lidia Zuin, Luana Fagundes e Thiago Tanji Assistente de Arte Petrus Lee Diagramação Petrus Lee e Henrique Koller Colaboraram nesta edição Bruno Podolski, Carlos Costa, Gilberto Maringoni, Helena Jacob, Leo Lucca, Luís Mauro Sá Martino, Paulo Pacheco, Renata Miwa, Tiago Tateyama e Welington Andrade Agradecimentos especiais Carlos Costa, Helena Jacob e Welington Andrade Projeto Gráfico Danilo Braga e Gilberto Maringoni Redação Avenida Paulista, 900 — 5º andar 01310-940 — São Paulo — SP Tel.: (11) 3170-5874 E-mail: revistacasper@casperlibero.edu.br Site: http://www.casperlibero.edu.br Capa Petrus Lee

seus meios e fins A revista Cásper chega ao seu segundo número, propondo-se a não somente discutir algumas questões candentes que têm marcado o mercado do Jornalismo, da Publicidade e Propaganda, das Relações Públicas, do Rádio e da TV, como também mostrar algumas boas realizações da Faculdade Cásper Líbero no âmbito do ensino e da pesquisa em Comunicação Social no Brasil. Os apocalípticos de plantão podem relaxar um pouco. A matéria “A persistência de Gutemberg” mostra que os livros eletrônicos vão conviver com os livros de papel durante um bom tempo ainda. A entrevista com o editor Roberto Gazzi, do Estadão, retrata a boa fase vivida pelos jornais brasileiros, destacando os projetos e as estratégias de atuação de um dos veículos mais tradicionais do País para garantir seu espaço na era da modernidade digital. Os casos das empresas que tiveram suas imagens arranhadas e souberam sair da crise provam que a transparência no mundo corporativo é fundamental. Findas as eleições, é hora de avaliar, agora com isenção e distanciamento, como se deu, de fato, a condução dos palanques on-line. Assim, a matéria sobre marketing político na web identifica os limites e as possibilidades das campanhas eleitorais na rede. Com o intuito de retratar a atuação didático-pedagógica de uma instituição como a Cásper Líbero – que forma profissionais da Comunicação há seis décadas –, o presente número da Cásper dá destaque ao curso de Rádio e TV que, embora não tenha completado ainda dez anos de existência, já é capaz de mostrar aos alunos e aos profissionais do mercado muitos de seus diferenciais. Também apresenta os desafios da pós-graduação, tanto na área da especialização quanto da formação de novos mestres. A matéria sobre os primeiros passos de um recém-formado trata de casos bem-sucedidos de alguns ex-alunos que contam suas experiências no mercado de trabalho. Aos poucos, a Cásper vai assumindo seus objetivos: retratar a experiência de alunos e profissionais e discutir a natureza da formação universitária em Comunicação nos dias de hoje, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto da prática vivenciada no mercado de trabalho. Tereza Cristina Vitali Diretora

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Sumário

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‘O jornal nunca foi tão universal’

Roberto Gazzi, editor chefe d’O Estado de S. Paulo, fala sobre a crise dos jornais e revela detalhes do processo de reformulação gráfica e de conteúdo do Estadão.

O fim do papel?

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Tablets ganham espaço no mercado de livros, mas publicação impressa continua sendo a preferência entre os leitores

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Aos novatos

Veteranos revelam as alegrias e percalços do cotidiano da profissão e dão dicas para quem entra no mercado

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O novo papel do palanque virtual As vantagens e limitações do uso da internet nas campanhas eleitorais na hora de conquistar votos

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Transparência faz parte do negócio Não há empresa blindada contra crise de imagem. Assessores revelam como driblar esse desafio

Destaque no 28º Prêmio ABRP

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Alunos da Cásper vencem prêmios em evento que seleciona os melhores trabalhos em Relações Públicas

Heródoto Barbeiro, jornalista tardio

O professor de História que já foi bombeiro, borracheiro e aos 40 anos decidiu dedicar-se ao jornalismo

Tecnologia não é o mais importante

O estudioso francês Dominique Wolton palestra sobre comunicação na Faculdade Cásper Líbero

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Primeiros passos

Casperianos recém-formados relatam suas experiências no mercado de trabalho

Dois lados da mesma moeda

Curso de Radio e TV alia atividades acadêmicas com aprendizado prático

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Profissão: jornalista

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Saiba o que aconteceu durante o Fórum Anual de Jornalismo promovido pela Faculdade Cásper Líbero

Muito além da sala de aula

Conheça os trabalhos e publicações recentes de professores casperianos

Publicitário e cidadão

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Alunos do curso de Publicidade da Cásper fazem propagandas voltadas à área social

Resenhas

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Antonio Callado, Rodolf Walsh e Samuel Beckett, por Carlos Costa e Welington Andrade

Crônica

“A culpa é do estagiário” por Luís Mauro de Sá Martino

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ENTREVISTA

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“O jornal nunca foi tão

UNIVERSAL

Estadão alia tradição e modernidade para se dar bem na era da internet. Confira entrevista exclusiva com o editor-chefe, Roberto Gazzi

por Aline Magalhães imagens Petrus Lee

Com 31 anos de carreira, Roberto Gazzi é um dos comandantes do quinto maior jornal em circulação no país. Na bagagem, o editor-chefe d’O Estado de S. Paulo carrega o título de vencedor de um Prêmio Esso de Jornalismo e de criador do caderno Metrópole do Estadão. Gazzi decidiu ser jornalista para melhorar o mundo, tarefa que, segundo ele, todos que escolheram a profissão deveriam se impor. Iniciou o ofício como foca de grandes nomes do jornalismo como Cláudio Abramo e Mino Carta no extinto Jornal da República, ao lado de profissionais como Ricardo Kotscho e Paulo Markun. Entrou como repórter no Diário do Grande ABC e logo ocupou o cargo de editor. Foi repórter na Folha de S.Paulo, para a qual cobriu a primeira eleição direta após a queda da ditadura. Em 1990, entrou no Estadão, época em que as máquinas de escrever dominavam a redação. Hoje, entre uma viagem e outra, Gazzi acompanha as notícias do dia em seu moderno iPad. Em março deste ano, o Estadão passou por uma reformulação gráfica e de conteúdo, com o objetivo de criar uma verdadeira plataforma integrada entre as mídias. Sob o comando de Gazzi, o projeto é uma das grandes apostas da publicação para sobreviver em um mundo que profetiza a morte do papel. O editor é otimista, se diz ainda um homem “do jornalzão”, que gosta de sentir o papel logo pela manhã, saboreando, junto com o café, cada boa reportagem publicada. Aos que insistem em colocar ponto final na história do jornal, Gazzi é taxativo: “Ele nunca foi tão universal.”

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Em março deste ano o Estadão e o estadão.com passaram por uma reformulação gráfica e de conteúdo. Como o projeto foi organizado? Fizemos a última reforma no jornal em 2004. Desse tempo para cá, houve algumas modificações, mas nada muito grande. Notamos a necessidade de mudança no produto porque os leitores desejavam coisas novas. Há dois anos já vínhamos discutindo a mudança com editores, repórteres, coordenadores das sucursais. Trouxemos gente de fora, do Guardian, do Clarín, do El País [jornais publicados respectivamente no Reino Unido, Argentina e Espanha], sentíamos que era hora de fazer um redesenho do jornal e de um encaixe melhor do nosso trabalho de papel com o conteúdo on–line. Fizemos pesquisas e identificamos o que queríamos mudar. É um desafio pensar em uma modificação grande, de médio prazo, tendo de fazer o jornal do dia a dia. E ainda tínhamos duas coberturas muito grandes pela frente, que eram a Copa e as eleições. Por isso, tivemos a ideia de criar um grupo exclusivo para pensar e tocar essa reforma gráfica e de conteúdo. Fiquei como coordenador disso e o Marcelo Beraba, diretor da sucursal do Rio, veio para ocupar meu lugar enquanto eu me dedicava ao planejamento da reforma.

“Quem quer leitura rápida vai para a internet, o jornal tem a característica de ser mais denso, mais consistente”

O que vocês almejavam com a reforma? No plano de conteúdo, queríamos mostrar que o Estadão fazia algo para além da cobertura do poder, já que ele é reconhecido por sua cobertura no âmbito político, econômico, internacional, mas também faz um bom trabalho na área cultural, de cidades, esportes. Passamos a cobrir ainda mais a editoria de meio ambiente e pensamos em um foco um pouco diferente na cobertura de cidades e metrópole. Dessa preocupação, nasceu um caderno de cultura voltado para música aos sábados [C2+Música]. Também queríamos resgatar uma tradição que tivemos por muito tempo, de boa cobertura da área de literatura. Lançamos o caderno Sabático, que é voltado para esse tema. Também nos preocupamos em como oferecer uma leitura aprazível aos nossos leitores. Tínhamos a ideia de fazer um jornal mais agradável de ler e um pouco mais didático. Acho que o jornal sempre tem uma certa arrogância, e eu acho que tem de ter mesmo, é bom que tenha. Mas achamos que esse nível de arrogância estava um pouco acima do que deveria ser o ideal. Então, criamos vários formatos de edição para facilitar a entrada de leitura, para relembrar um acontecimento, tornar a leitura mais palatável e prazerosa para o leitor. Ao mesmo tempo, aumentamos o espaço de opinião, que é uma característica que imaginamos que será Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


dos jornais de papel com a facilidade dos meios de comunicação eletrônicos. Cada vez mais as pessoas têm acesso às notícias de primeiro nível, elas sabem o que está acontecendo. O que falta é o conceito da edição. Nesse mundão de informações, é preciso distinguir quais são relevantes para você no seu cotidiano e o que elas significam. A reforma buscou formar um jornal que funcionasse como um espaço de edição desse mundo de informações, mostrando aquilo que é relevante e consolidando-se como um lugar de análise e opinião. No quesito ‘prazer da leitura’, a sensação é de que nessa reforma a qualidade de impressão melhorou muito. O jornal está muito mais nítido, muito mais definido. Sim, nós tivemos um trabalho grande. Tínhamos a ideia de que o jornal de mais textos é ótimo, mas é uma publicação muito dura, de leitura pesada. Mudamos sem ferir as bases do Estadão, que são de muita informação, textos com substância e não de leitura rápida. Quem quer leitura rápida vai para a internet, o jornal tem a característica de ser mais denso, mais consistente. Nossa preocupação era a de melhorar o prazer da leitura sem perder essas características. Mudamos, então, a grafia, os tipos. Criamos esses artefatos gráficos para melhorar a leitura, pecinhas para as pessoas terem mais entrada, se sintonizarem melhor sobre o tema e até ter um pouco mais de didatismo. Nos preocupamos em aumentar a área branca do jornal, para deixá-lo mais bonito. Acho que essa é uma fórmula mágica. Quanto mais nos esforçarmos na apuração de uma notícia, de fazer um infográfico, editar bem uma foto, fazer um bom título, fazer um bom desenho de página, quanto melhor fizermos esse trabalho, mais satisfeito o leitor ficará no dia seguinte. E aparentemente estamos sendo bem-sucedidos. As pesquisas que fizemos mostram que os leitores e o mercado publicitário gostaram bastante. Qual foi a prioridade na reformulação na internet? Fizemos uma reforma grande no portal pensando que os leitores querem as informações com mais rapidez, de forma mais abrangente. Questionamos o que o leitor em contato com nossa notícia e nossa marca deseja saber de relevante durante as 24 horas do dia. Antes trabalhávamos apenas com o leitor do papel, mas agora as pessoas têm acesso ao nosso conteúdo pelo portal, pelo celular, pelo visor do elevador. Nosso conceito é que devemos dar a melhor informação, com a maior credibilidade possível, quando o leitor quiser, onde ele quiser, na forma que ele quiser. Acreditamos na convergência das Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

mídias. O importante é saber usar essa usina de informação que nós temos e que os jornais souberam criar para aproveitar esse novo mundo das novas mídias. O senhor falou em convergência das mídias. Muitos jornais americanos tiveram suas versões impressas extintas e agora estão apenas na web. O Estadão não está preocupado com a crise dos jornais? O Brasil tem uma situação um pouco diferente de outros mercados como o americano e o europeu, que são considerados “maduros” em relação à imprensa. Nosso país tem um nível de penetração de leitura dos jornais muito baixo, o que nos sugere que ainda há espaço para crescer no papel. Aliás, a circulação do Estadão vem crescendo desde o começo do ano. O mercado tem crescido. Temos um momento econômico bom e uma classe C emergente. Mas, independentemente disso, estamos nos preparando para a migração [do impresso para o digital]. O grande desafio é pensar em um modelo econômico

“Hoje quem subsidia a informação gratuita [on-line] é a operação papel. Esse é um modelo inviável em médio prazo”

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tão viável no meio digital como é o modelo do papel. A receita dos grandes jornais vem dos assinantes, da publicidade e da venda em banca. Ainda não conseguimos transpor esse modelo para o digital. Uma alternativa seria cobrar pelo conteúdo. Há quem defenda que isso não será possível, já que é difícil convencer alguém a pagar por aquilo que está na internet – e ela é gratuita. Por outro lado, os tablets e iPhone têm um modelo diferente, que são os aplicativos. Neles já existe a cobrança, pode ser que ocorra uma migração para esse modelo. Estamos tentando encontrar formas de subsidiar um conteúdo que é caro de ser produzido. Hoje quem subsidia essa informação “gratuita” é a operação papel. Esse é um modelo inviável em médio prazo. Mas nós somos otimistas. Em um primeiro momento, as empresas viram a internet como uma concorrente. Agora, cada vez mais, nós a enxergamos como aliada. Os jornais nunca foram tão lidos como estão sendo hoje, porque nossa base de consumo aumentou. Nós estamos no papel, no digital, no iPhone, nos celulares, no Twitter, no Facebook. O jornal nunca foi tão universal. Os aplicativos para celular e tablets são realmente uma tendência na comunicação, mas o público que tem acesso a essas ferramentas ainda é pequeno, não? Sim, baixíssimo. Mas não temos dúvida de que será um mercado em expansão. Os números de venda de iPads são cada vez maiores. Não sabemos quanto tempo vai demorar para se popularizar, mas se não pensarmos nisso desde agora, seremos derrubados por um concorrente no futuro. Muitas pessoas já entraram nesse meio

e nós, do Grupo Estado, achamos que somos os melhores para ocupar esse espaço, pois temos base de informação e expertise de edição. Até o fim do ano lançaremos o terceiro aplicativo do Estadão para o iPad e o quarto aplicativo para iPhone. Nos tablets, já percebemos que temos que fornecer algo mais do que simplesmente uma reprodução do papel. O leitor pode acessar mais fotos, podemos disponibilizar vídeos, gráficos animados, que saem do padrão estático do papel. É quase um outro produto, uma nova versão de jornal que fazermos todo dia. Podemos até mesmo bolar uma versão atualizada do jornal que o leitor leu pela manhã. Esse nicho é uma oportunidade e não queremos perdê-la.

Gazzi já utiliza os aplicativos do iPhone para leitura, mas revela: “Sou do jornalzão ainda”

E o senhor em particular já se adaptou ao uso desses aparelhos? Eu sou do jornalzão ainda (risos). Mas eu já uso o aplicativo do iPhone para ler de manhã. Leio o portal o dia inteiro. Tenho um iPad e é ótimo para usar em avião. Mas eu gosto da sensação de acordar, tomar café lendo o jornal, parando em uma boa reportagem, em uma boa história, vendo uma foto bem aberta. Digo que nossa missão é fazer com que as pessoas saiam do jornal melhor do que entraram. Eu particularmente me sinto melhor saindo do que quando entrei na leitura, porque estou sempre achando alguma coisa interessante, um história bacana, um dado que eu não sabia. É para vida, para nossa vida em sociedade. Ainda sobre a questão da posição do jornal impresso no mercado atual, nota-se um crescimento na circulação dos populares Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


como o Super Notícia de Minas Gerais e o Meia Hora, no Rio. Esse tipo de publicação é uma tendência? Os grandes jornais brasileiros ainda são os tradicionais. Entre os cinco maiores jornais do país, os três mais tradicionais são Folha, Globo e Estado. A lista completa com o Super Notícia, que foi um fenômeno em Minas, e o Extra, já com certa tradição no Rio. Tanto esse fenômeno dos populares, como o de jornais gratuitos, reforça que ainda há um espaço para crescimento da imprensa, um espaço para produtos novos. A indústria jornalística não estava atenta a esse fenômeno de crescimento da classe C, que estava querendo ler e por algum motivo não conseguia, seja pelo preço do jornal ou por dificuldade de leitura mesmo. Enquanto produtores de jornal, achamos esse fenômeno muito interessante. Acreditamos que esse é um degrau para o leitor buscar uma leitura mais qualificada, que é o que nós oferecemos. O que acontecia no Brasil é que tinha um mercado que não era explorado e agora está sendo. E isso é ótimo. Em 2010, tivemos dois grandes acontecimentos, a Copa do Mundo e as eleições. Como o Estadão se preparou para cobrir esses eventos? Começamos a planejar essas coberturas há mais de um ano. Montamos dois grupos, um para planejar a cobertura da Copa e outro focado na cobertura eleitoral, pensando em como produzir conteúdo para nossos veículos - o Estadão, o Jornal da Tarde, o portal, a Rádio Eldorado e a Agência Estado -, em qual foco daríamos, em quais profissionais seriam os mais adequados. No caso do Mundial, levamos 20 profissionais para a África, alguns com foco nos temas propriamente futebolísticos, da seleção brasileira, outros focados em produzir matérias especiais e ainda um pessoal para cobertura online e para fazer o conteúdo para a agência. A Eldorado, em parceria com a ESPN, fez a maior cobertura em rádio do Mundial. Paralelamente, outros profissionais começavam a pensar nas eleições, como faríamos a cobertura e qual o orçamento disponível para isso. São coberturas caríssimas, que envolvem viagens, acordos, como o que fizemos com o Ibope. Tudo isso significa mexer com muita gente e muito recurso e ter ainda de dar conta de cobrir os outros assuntos que não vão parar de acontecer. É cada vez mais raro que as empresas disponibilizem recursos para produção de conteúdo, há uma tendência, até mesmo, em diminuir as redações. Você acha que isso afeta a qualidade do jornalismo? Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

Página do Estadão antes (acima) e depois (ao lado) da reforma

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“Se por um lado o jornal perdeu alguns profissionais, o on-line agregou pessoas”

A diminuição de custos é um processo que as redações viveram nos últimos anos. O jornalismo não deixa de ser uma indústria e vem perdendo sua principal fonte de receita, que é a publicidade. Isso não foi tão dramático no Brasil quanto nos mercados europeus e americanos, mas também fomos atingidos. Com o advento da internet, a redação do Estadão é basicamente do mesmo tamanho que era há cinco anos, por conta da necessidade de dar conta do jornalismo on-line. Se por um lado o jornal perdeu alguns profissionais, o on-line agregou pessoas. É uma nova maneira de trabalhar, à qual temos que nos adaptar.

para isso. Ele deve saber operar uma máquina fotográfica ou fazer uma foto no celular, por exemplo. Mas a principal característica de um bom jornalista é ter, em primeiro lugar, vontade de mudar o mundo. Acreditamos que vamos disponibilizar informação para melhorar a vida da sociedade. Ele também deve ter boa cultura geral, saber trabalhar com a língua. Antigamente, o bom jornalista era basicamente aquele que escrevia bem, editava bem. Hoje muitos postos exigem outras qualificações, como um bom infografista, por exemplo. São novas especializações e as redações estão cada vez mais abertas a receber diversos tipos de profissionais.

Como deve ser a formação do jornalista no mundo atual? Os fundamentos básicos da formação jornalística não mudaram. E não vão mudar mesmo com a necessidade de o jornalista ser cada vez mais multimídia. Por outro lado, é claro que o profissional deve aprender a pensar não só no texto, mas em como ele coloca a informação em outras mídias. E ele precisa de capacitação

As faculdades de jornalismo estão dando conta de formar esse tipo de profissional? Não. Essa é uma discussão antiga, tanto que há 30 anos criamos um curso próprio de jornalismo [Curso de Focas do Estadão], porque sentíamos a necessidade de melhorar a formação dos jovens egressos, para ter o mínimo de experiência na redação. E deu muito certo, é quase uma pósgraduação de jornalismo. Cerca de 40% da redaRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


ção passou pelo curso, muitos ocupam postoschaves hoje. Outras organizações, como a Abril [Curso Abril de Jornalismo] e a Folha [Treinamento Folha] também sentiram a necessidade de criar cursos próprios, porque sabíamos que as faculdades não conseguiam mostrar o que é um trabalho jornalístico. Por muito tempo houve um distanciamento muito grande da academia e das redações. Essa realidade vem mudando, hoje em dia há um intercâmbio maior entre os cursos de jornalismo e as redações. As universidades têm buscado gente nas redações para lecionar. Isso é fundamental, facilita que o aluno entenda o mundo no qual ele deseja entrar e o que ele precisa para entrar bem. Jornalismo se aprende na prática, no dia a dia da redação. O Estadão está há mais de 400 dias sob censura. Como vocês se posicionam em relação a essa decisão judicial? Consideramos um absurdo que tanto tempo depois da derrubada da ditadura militar e de vivermos há um bom tempo em regime democrático, que tenhamos que vivenciar um fato como Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

esse. O direito à informação está para além dos direitos do jornal ou do jornalista: a sociedade tem o direito de ser informada. Ficamos espantados quando soubemos que não poderíamos mais publicar informações sobre o Fernando Sarney [Filho de José Sarney, presidente do Senado], principalmente porque sabíamos que nossas informações eram absolutamente corretas, tanto que nenhuma delas foi desmentida. Ficamos mais chocados ainda com a demora da revogação dessa censura. Em um momento o filho do Sarney quis desistir da ação, mas aí o Estadão não quis, fez questão que a ação continuasse, porque queremos que o mérito seja julgado. Essa é uma questão importante não só para o Grupo Estado, mas para os meios de comunicação em geral, e para a sociedade. O STF [Supremo Tribunal Federal] teve a oportunidade de dar uma resposta e não quis dar naquele momento, apegando-se a uma firula jurídica, de forma que nos sentimos ainda mais fortalecidos para exigir que essa sentença fosse discutida. Por isso não aceitamos que a ação fosse trancada. Nós queremos essa discussão.

“O direito à informação está para além dos direitos do jornal ou do jornalista: a sociedade tem o direito de ser informada”

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FIM DO PAPEL?

A Persistência de Gutenberg Apesar da euforia com os livros eletrônicos, o papel continua preferido pelos leitores. Do preço à usabilidade, os tablets ainda causam dúvida por Lidia Zuin

O papel ainda pulsa. Mas, mesmo que não esteja fadado ao extermínio, agora é preciso explorar suas qualidades específicas, tarefa que não se impunha com a mesma urgência em um passado recente

Há pouco mais de dez anos, cada mídia tinha seu momento no dia de uma pessoa. De manhã, era hora de conferir as notícias do jornal que, recém-chegado, ainda transpirava a “sensação de inédito”. No caminho para o trabalho, o rádio trazia um giro de notícias da madrugada, os acontecimentos mais recentes e a prestação de serviço. No fim do dia, a televisão oferecia informação e entretenimento ao espectador. Hoje, em um único apare-

lho do tamanho de um palmo, todos esses serviços estão ali de uma só vez. “A internet chegou e ocupou o espaço de conexão ao longo do dia”, diz Alexandre Maron, diretor de projetos online da Editora Globo. Os produtores de conteúdo precisam se adaptar a esse cenário. Com uma nova demanda de público, as empresas de comunicação se veem obrigadas a lidar com uma série de produtos que contemplem as mais variadas plataformas, como revista de papel, proRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


PETRUS LEE

O papel é parte do negócio. Mas é preciso ver o que ele tem de interessante. A qualidade, o peso, o valor de coleção

não está na defensiva é que as tiragens das revistas continuam aumentando, além de novos títulos estarem sendo publicados, diz Picciarelli. A revista Minha Casa, lançada em abril, já vendeu cerca de 200 mil exemplares. “Também apostamos nos jornais gratuitos, como o Placar e o MTV na Rua.” No Tendências Conectadas, evento realizado em junho deste ano na Faculdade Cásper Líbero, Picciarelli mostrou algumas peças publicitárias impressas que utilizavam recursos como aromas, texturas, vernizes, chips, tintas e papéis especiais. O diretor acredita que tudo isso pode ser transposto

para o jornalismo, mas os altos custos demandariam a participação da publicidade. “Não quer dizer que a publicidade vai se misturar com o redacional, mas que ela pagará pelo recurso deixando claro o que é publicidade e o que é jornalismo. É preciso que as editoras criem projetos que possam ser utilizados por ambos”, explica. Um exemplo dessa união é a edição de outubro de 2008 da revista americana Esquire, em que as chamadas redacionais da primeira capa apareciam em uma placa luminosa acionada por um chip. O anunciante, Ford, utilizou na segunda capa o mesmo recurso. O carro foi im-

Alexandre Maron, da Editora Globo, testa o iPad

lidia zuin

grama de rádio, podcast, programa de TV, vídeocast, perfil em redes sociais e portal de notícias. “O papel é parte do negócio. Não precisa acabar, mas é preciso ver o que ele tem de interessante. A qualidade, a sensação de segurar, o peso, o valor de coleção. Você precisa explorar isso”, indica Maron. Reconhecido o desafio, uma das frentes de atuação é investir em tecnologia de impressão. Só a Editora Abril gastou cerca de R$ 100 milhões em novas impressoras e máquinas de acabamento. Segundo Sergio Picciarelli, diretor de novos produtos da empresa, as aquisições não têm a intenção de reconquistar o público do impresso, mas sim expandi-lo. “Para crescer e continuar atrativo, os profissionais de comunicação terão de tomar conhecimento das possibilidades que o papel oferece, dos recursos disponíveis, dos processos que já existem e do que vem surgindo. Lógico que muita coisa vai migrar para o digital, mas o papel deve durar por muito tempo”, afirma. Uma prova de que o papel

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É muito simples pegar um livro, colocálo em um Kindle e sair por aí carregando toda sua biblioteca. Isso supera qualquer fetiche com o livro impresso presso em uma placa luminosa, ambas controladas pelo mesmo chip, jogo de baterias e circuito.

Alarme falso

O tablet Cool-ER é vendido a R$ 599. Mais de 100 mil títulos de e-books estão disponíveis para compra

Assim como se temeu o fim do rádio e do cinema com a chegada da TV, e de todos eles com o advento da internet, os e-books (livros eletrônicos) se tornaram, à primeira vista, os arqui-inimigos do livro e do periódico impresso. Mas, muitas e tantas palestras, análises e reportagens alarmistas depois, a opinião geral se acalmou quanto ao risco de extinção do impresso. Em primeiro lugar porque as pessoas ainda têm apego pelas páginas de papel. Picciarelli cita

Marcello Serpa, sócio-diretor da AlmapBBDO, agência brasileira de publicidade: “O físico é algo inato do ser humano. A gente tende a esquecer que as coisas precisam ter sua forma concreta. Trabalhar o digital e o concreto é o grande desafio.” Mas não é só valor afetivo que garante a sobrevivência do papel. “A mídia impressa tem uma linguagem que lhe é própria, tem elementos e recursos que estabelecem um tipo de relação com o leitor diferente das demais tecnologias”, explica Picciarelli. O fato é que as livrarias continuam vendendo livros convencionais. Isaías Batista, gerente

da unidade Alameda Lorena da Livraria da Vila, avalia que as mudanças no mercado livreiro não serão tão drásticas, pelo menos não no Brasil. “Não acho que apenas um pequeno grupo de pessoas vai continuar comprando livros de papel, como está acontecendo com o vinil, portanto o preço do livro não vai encarecer muito”, afirma. Por seu raciocínio, as pessoas continuam adquirindo livros que visam à fruição, como um romance ou uma biografia. Já a produção científica e técnica vai acabar migrando para o ebook. “Ficaria muito mais barato comprar um livro eletrônico para trabalho ou para estudo. E vai ter tanta gente querendo comprar, que publicar no papel não fará mais sentido”, diz. Quanto ao preço dos livros, o gerente aponta para os investimentos em livros de bolso como uma alternativa ao consumidor. “A LP&M era a única editora de pocket. Hoje você tem outras alternativas, como a Companhia das Letras, a Objetiva, a Record. Todo mundo tem selo com livro de bolso, já se preparanPETRUS LEE

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Para ouvir O formato dos audiobooks, presente no Brasil há 15 anos, foi criado nos Estados Unidos em 1969 para atender aos soldados que voltavam do Vietnã com deficiência visual. Hoje, a porcentagem de consumidores dos audiobooks preenchida por deficientes visuais é de menos de 0,01%, conta Kosmos Bran, da editora Audiolivro, fundada em 2004. As vendas de audiolivros aumentam de 30% a 40% ao ano. O interesse crescente tem a ver também com o baixo preço dos audiobooks. No caso dos títulos publicados pela Audiolivro, o download custa R$ 9,90. A maior parte dos ouvintes é composta por jovens de 15 a 35 anos. “Tem gente que compra o livro e o audiobook. Acompanham a história intercalando os formatos”, conta Diogo Machado, vendedor da Livraria da Vila. stock exchange

do para o mercado que estará disputando com as outras tecnologias”, indica Isaías Batista. Já Cloris Klued, gerente de vendas da editora LP&M, vê os públicos do e-book e do livro de bolso como círculos distintos. “Quem compra o pocket gosta do livro físico, do preço e da portabilidade. Os livros eletrônicos não são concorrência nem ameaça. No máximo, professores vão procurar conteúdo científico em e-books, mas eles não vão ser substitutos. Arquivos são muito mais fáceis de se perder do que um livro”, afirma. Aline Carneiro, membro do departamento editorial da Editora Vozes, concorda. “Livros impressos duram a vida inteira, enquanto um arquivo pode ser facilmente perdido só de deixar o aparelho cair no chão”, sugere. “Tem gente que vai querer ter um livro porque usará por muito tempo, para a vida toda, enquanto o e-book seria mais interessante para uma leitura rápida e descartável” Evidentemente, essa defesa do papel não é consensual. Leopoldo Godoy, editor de tecnologia e games do G1, o portal de notícias da Globo, acredita que a facilidade do livro digital chama muito mais a atenção do que a materialidade do papel. “É muito simples pegar um livro no dia do lançamento, colocá-lo em um Kindle e sair por aí carregando toda sua biblioteca. Eu creio que isso supera qualquer fetiche com o livro impresso”, opina. Godoy concorda com o fato de que a mídia impressa continuará existindo, mas pondera que a tecnologia tende a fazer do livro eletrônico algo muito mais barato e universal. De fato, os preços dos e-books chegam a ser 30% a 50% mais baratos. “Esse afeto pela materialidade, embora relevante, não deve ser determinante. No final das contas, acredito que tudo será transportado ou adaptado para funcionar com o protocolo IP”, conclui.

Para decoração Ainda tem muita gente comprando livro não para desfrutar seu conteúdo, mas sua embalagem. Segundo Diogo Machado, vendedor da Livraria da Vila e estudante de artes plásticas da Faculdade Paulista de Artes, muitos dos compradores nem nem sequer verificam o conteúdo do livro, levando-o para casa afim de usá-lo como decoração. “Tem gente que diz ‘ai, esse livro é bonito, vou levar’, nem olha.” Ele conta que certa vez uma cliente chegou à livraria dizendo que havia pintado sua casa de branco, mas que os sofás eram azuis. “Ela me pediu para trazer todos os livros azuis. Eu trouxe todos que eram dessa cor, independentemente do assunto. Tem gente que compra livro pela cor”, diz Diogo. Preço não é problema para esses clientes. O estudante conta que chegou a vender um Atlas mundial que custava R$ 8.400. “Só tinha mil exemplares no mundo. Na América Latina, eram três – um nosso. E ele comprou porque a mulher estava olhando e gostou. Era um livro de quase vinte quilos, com capa feita de couro”, diz. Diogo também já vendeu um livro de fotografias de R$ 5.000. “As pessoas pagam esse preço porque ainda têm uma magia do livro: vou comprar porque é gostoso, tem cheirinho. Acho que o tablet pode pegar, mas não vai acabar com o livro”.

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MERCADO

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Conselhos para

JOVENS JORNALISTAS Profissionais experientes abrem o jogo e contam as alegrias e percalços do ofício por Ayana Trad e Paulo Pacheco Imagens: Petrus Lee e Renata Miwa

Para ser um bom jornalista não basta ler muito, gostar de escrever, ser bem informado, falar mais de um idioma e ter uma vasta bagagem cultural Claro que tudo isso é essencial, mas é preciso também saber relacionar-se, não sucumbir à “síndrome do vingador” e cultivar interesse permanente por aquilo que de fato é notícia, além das meras aparências. A revista Cásper falou com profissionais do jornalismo sobre as qualidades desejáveis nos novos profissionais e sondou o que há de positivo e negativo no mercado em sua configuração atual. Que não é fácil seguir a carreira, todos já devem ter percebido. É bom saber, no entanto, que há novas oportunidades para quem está disposto a encarar um ambiente de trabalho deveras modificado. Leia a seguir as dicas e avaliações dos veteranos.

Humildade e olho vivo “A produção de uma reportagem é um processo de seduRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

ção”, diz Eduardo Oinegue, diretor do portal iG. “A base do ofício é falar com gente. Por isso, estabelecer relações de confiança com entrevistados e colegas é fundamental.” Além disso, é preciso desde cedo introjetar uma caprichada dose de realismo para não sucumbir ao idealismo ingênuo ou à presunção típica dos donos da verdade. “Não acredite que você é o vingador do mundo sendo jornalista, e não se confunda com o meio de comunicação em que você trabalha. Os veículos têm seus donos, você é somente um empregado”, adverte o exprofessor da Faculdade Cásper Líbero Jayme Brener. O jornalista é, o tempo inteiro, olho e ouvido. No caminho para o trabalho, no fim de semana, no descanso ou na hora do almoço, tudo tem potencial para virar pauta. “Ser jornalista tem

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a ver com a capacidade de ler o que não está escrito, ouvir o que não foi dito, o tempo inteiro”, afirma o diretor de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro. “É ter capacidade de perceber que ‘isso’ não foi dito ou ‘aquilo’ foi dito para esconder algo”.

Invasão estagiária Mas não é “só” isso. Todas essas qualidades devem estar aliadas à disposição de encarar o dia a dia em equipes minguadas e abarrotadas de trabalho – resultado de um processo de redução de custos nas redações que se intensificou nos últimos anos. Segundo Mineiro, uma das características do mercado hoje é um “exagero” de estagiários em detrimento dos mais antigos no ofício. Pode parecer uma boa para quem está chegando, mas só até certo ponto. É que para uma redação ter uma boa capacidade de apuração, é importante que haja uma mescla entre profissionais experientes e novos. “Quando comecei a trabalhar na área, há 15 anos, nós tínhamos sindicatos fortes e muito mais jornalistas dentro da redação do que fora. Hoje, a maioria das pessoas que se forma na profissão jamais tra-

balha em redação”, diz Pedro Doria, editor-chefe de conteúdos digitais do jornal O Estado de S. Paulo. A boa notícia é que, ao mesmo tempo em que a grande imprensa encolheu, diversas áreas de comunicação social surgiram e se consolidaram no mercado. “Em jornalismo, há diversas alternativas: veículos menores, veículos de empresas, jornalismo comunitário e freelance. Ainda existe a possibili-

dade de trabalho em assessorias de imprensa e comunicação corporativa. Além disso, um dos principais empregadores de jornalistas hoje em dia é o setor público”, enumera Ana Estela de Sousa Pinto, editora do Programa de Treinamento da Folha de S.Paulo. Mesmo mantendo um excelente blog sobre jornalismo para focas (novoemfolha. folha.blog.uol.com.br), Ana Estela esqueceu de mencionar os veículos on-line. Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


Credibilidade on-line A internet reconfigurou a comunicação e o jeito de se fazer jornalismo. A nova realidade virou um prato cheio para os jornalistas: blogs, redes sociais e sites, todos são instrumentos para as notícias circularem. Um efeito colateral inevitável: foi-se o tempo em que poucos veículos dominavam sozinhos o espaço de comunicação de massa. Assim, se todo mundo consegue expor seus textos na Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

internet, o jornalista para se diferenciar e continuar socialmente relevante tem de se agarrar ao Santo Graal da credibilidade mais do que nunca. Em tese, os profissionais que trabalham em grandes portais ou sites de jornais já consagrados saem na frente. “Os profissionais do ramo jornalístico levam vantagem na questão da credibilidade porque estão focados somente na produção de matérias. Eles têm um compromisso com a

sociedade, levando em conta os interesses públicos mais arraigados na cultura da nossa profissão”, acredita o ex-editor da revista Veja, Mário Rosa. Portais como o iG têm uma estratégia clara de investimento em reportagens exclusivas. “Nosso objetivo é ser tido como uma fonte confiável de informação em nossa plataforma”, diz Oinegue, diretor do portal. O processo de produção de conteúdo para internet se

Redação do Estadão: jornalistas do site e do jornal trabalhando juntos para produzir o conteúdo dos veículos

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De Pedro Doria (acima) a Luiz Gonzaga Mineiro (próxima página): os editores procuram supervisionar de perto suas redações

diferencia do ciclo de produção em redação “do papel” em dois pontos, principalmente. Na internet não existe o famoso momento de fechamento: assim que a reportagem está pronta, pode ir ao ar (às vezes, até antes de ficar pronta mesmo...). A segunda diferença é a questão da tolerância com erros, consequência da facilidade técnica para correção (nem sempre exercida): se houver algum tipo de erro, basta o próprio jornalista acessar o publicador do site e fazer a correção.

Assessoria de Imprensa Diferentemente de outros países, em que o trabalho de assessoria de imprensa é feito somente por um profissional de relações públicas, no Brasil a atividade também pode ser exercida por um jornalista. Em uma sociedade democrática com uma economia em expansão, os trabalhos de planejamento de comunicação são cada vez mais relevantes. As assessorias de imprensa têm se autodenominado assessorias de comunicação porque

a grande parte das informações produzidas não são voltadas para a imprensa, mas para diversos públicos. O trabalho consiste em recolher as informações dadas pelos clientes e apurar os fatos para transformálos em um texto jornalístico. A partir do momento em que há algo de noticioso, o assessor cria pautas, textos, sugestões e notas de acordo com o públicoalvo. O próximo passo é entrar em contato com os veículos que poderiam se interessar em dar a notícia. Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


“Se você abrir um jornal, de 70% a 80% do conteúdo foi produzido, sugerido e trabalhado em conjunto com as assessorias de imprensa. Porque o mundo é complexo, tem informação saindo de todos os lugares”, relata Roberta Machado, diretora da assessoria In Press. O jornalista é o grande organizador dessas informações. Ele precisa separar e priorizar o que mais interessa ao seu público.

Comunicação corporativa As oportunidades não param Revista Cásper –Dezembro de 2010 – Nº 2

Os dilemas da faculdades de jornalismo Nem mesmo os mais experientes jornalistas têm uma opinião unânime sobre a existência das faculdades de jornalismo. “Não digo de forma alguma que o curso de jornalismo seja inútil, porque não é. Claro que ensina coisas, mas não é fundamental para você ser um bom jornalista”, opina Doria, do Estadão. Mineiro, do SBT, conta que a convivência acadêmica na faculdade foi determinante para sua formação: “Falar que a faculdade não é necessária é um erro crasso. É mediocrizar o jornalismo.” No entanto, Doria e Mineiro concordam que, independentemente de cursar jornalismo, o profissional deve ter formação superior. Dentro do debate sobre formação educacional, outra questão sempre em pauta é a da necessidade do diploma em jornalismo para exercício da profissão. Neste quesito, as opiniões também são divergentes, mas a realidade fala por si só: “Continuamos contratando quem sai da faculdade de jornalismo”, garante a assessora Roberta Machado. “A Folha de S.Paulo contrata gente sem diploma de jornalista desde os anos 1980. Nem por isso a redação está infestada de médicos, engenheiros e historiadores”, conta Eduardo Oinegue.

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por aí, outro forte mercado é o de comunicação corporativa. A essência do trabalho é parecida com a do assessor, porém o profissional faz a comunicação de somente uma empresa. “Temos uma função de mão dupla: conscientizar a empresa e prepará-la para se relacionar com os jornalistas. Ao mesmo tem-

po, temos um relacionamento com os jornalistas para que eles entendam os posicionamentos da empresa, objetivos e mensagens que ela pretende transmitir”, diz Milton Abrúcio Junior, gerente de comunicação corporativa da Telefônica, que já trabalhou na Folha de S.Paulo Há nessa área um verda-

deiro cavalo-de-pau de postura do jornalista. Ele deixa de ser o questionador e passa a ser fonte de informação. Tem a seu favor o conhecimento dos recursos jornalísticos. Por sua posição, espera-se dele que entenda melhor tanto os anseios dos empresários quanto as necessidades dos repórteres.

“Ser jornalista tem a ver com a capacidade de ler o que não está escrito”, diz Luiz Mineiro

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“O mercado está bom de novo” Indo na contramão das previsões pessimistas sobre o campo de trabalho para jornalistas, o diretor do iG, Eduardo Oinegue, aposta no crescimento da área

O iG quer, de fato, se diferenciar dos demais portais investindo em mais reportagens exclusivas? Nosso objetivo é ser tido como fonte confiável de informação, assim como outras fontes confiáveis de informação em outras plataformas. É um desafio. O iG nunca foi isso e queremos que ele seja. A primeira vez que alguém da imprensa publicou a fita do governador Arruda recebendo dinheiro foi no iG. O iG deu essa notícia e foi citado pela imprensa inteira como responsável por essa notícia, e desde então a gente já conseguiu fazer isso algumas vezes, com maior ou menor sucesso. O iG hoje está no raRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

Divulgação

Qual é a situação do mercado para o jornalista hoje? O mercado está em um bom momento profissional. Quando me formei na PUC-SP, em 1985, o Brasil viveu uma onda de crescimento do mercado de comunicação. Fui trabalhar na Editora Abril. Passados 20 e tantos anos, o mercado está bom de novo, por várias razões. A principal delas é que se diversificou muito com a chegada da internet. E, hoje em dia, quando você fala em internet você não está falando só em portais, sites, você tem profissionais de comunicação trabalhando só com redes sociais, só com vídeos na internet. A quantidade de alternativas, que eram menores no passado, aumentou muito.

dar dos formadores de opinião, coisa que não estava antes de começarmos esse projeto. Isso reflete em uma redação mais numerosa? O iG tem até uma equipe relativamente enxuta. O que fizemos foi ampliar esse quadro, que era muito enxuto, para que tivéssemos alguma estrutura. Comparada a jornais, é uma estrutura menor. O que acontece é a forma como agrupamos e direcionamos as pessoas, queremos mais talentos trabalhando na produção de conteúdo original, nosso. O iG tem cerca de 500 funcionários, dois quais 40% dedicados à produção de conteúdo. O senhor acha que os meios on-line são agora, ou serão em breve, contratantes tão importantes como as assessorias de imprensa? São crescimentos paralelos. O que aconteceu no mercado de assessoria de imprensa é algo extraordinário. O Brasil era um país rudimentar nessa área, e ao longo dos últimos anos ocorreu uma profissionalização desse segmento, com grandes empresas altamente confiáveis. Hoje a qualidade da informação que elas prestam para os jornalistas é muito superior do que antes. Virou uma oportunidade de trabalho muito grande para os jornalistas recém-formados. Não diria que a internet rivaliza com a assessoria de imprensa

porque acho que o jornalista que vai para a assessoria de imprensa tem de querer desempenhar aquelas funções, que são fabulosas, mas diferentes das funções de um jornalista que resolve trabalhar em uma redação. Um jornalista que trabalha em uma assessoria de imprensa faz o processo de investigação, descobre coisas, mas não necessariamente conta o que descobre, porque às vezes o desafio dele é justamente descobrir e não contar.

“A quantidade de alternativas [no jornalismo], que eram menores no passado, aumentou muito”

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POLÍTICA

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Palanque

on-line Marketing político na web marca uma nova forma de fazer campanha. Limitação do acesso à internet e falta de interesse político são os maiores entraves para o sucesso das redes por Aline Magalhães

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Dilma Roussef @dilmabr - 347 mil seguidores 11800 amigos 1 perfil lotado

Coordenação de Campanha on-line: Marcelo Branco Site Oficial de Campanha: http://www.dilmanarede.com.br

Divulgação CE/CL

Nota: os números são referentes ao dia de fechamento da reportagem e estão sujeitos a alteração

Twitter, Facebook, Orkut. Em 2010, as principais redes sociais tornaram-se verdadeiros palanques políticos. Na corrida para chegar à Presidência da República, os candidatos apostaram suas fichas na web para fazer campanha e angariar votos, introduzindo de vez no país o conceito de militância política on-line. A princípio, o terreno soa promissor: de acordo com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicado em setembro último, o número de usuários de internet no Brasil saltou de 55,9 milhões em 2008 para 67 milhões em 2009, o que corresponde a um crescimento de 21,5% em um ano. Apenas em agosto, 36 milhões de brasileiros acessaram redes sociais, segundo a consultoria britânica comScore.

Em nenhum outro processo eleitoral o uso das redes foi tão ativo. Equipes de profissionais foram criadas somente para traçar uma estratégia de marketing na esfera digital e gerir o funcionamento das redes sociais. Ainda que de forma tímida, os assuntos discutidos na internet ganharam destaque na imprensa e junto a uma parcela dos eleitores. Os números de intenção de voto divulgados pelas tradicionais pesquisas deixaram de ser o único medidor de sucesso de um candidato. A busca pela notoriedade se dá agora também dentro da web: todos querem “emplacar um trending topic” (assunto mais comentado no Twitter), por exemplo. Dessa forma, cada um a sua maneira, os quatro principais candidatos

à Presidência criaram perfis oficiais nas redes para divulgar suas campanhas e formaram em torno de si grandes comunidades de apoiadores, opositores ou simplesmente curiosos. Apesar de perder para o Orkut e Facebook em popularidade e número de usuários, o Twitter tornou-se a principal plataforma de comunicação dos presidenciáveis. Nele, o tucano José Serra lidera o número de seguidores, com 570 mil usuários, seguido pela candidata do PV, Marina Silva, com 357 mil, pela petista Dilma Rousseff, com 347 mil, e por Plínio de Arruda do Psol, com 68 mil.

“Aqui, fala-se em candidato 2.0, mas é preciso saber se o eleitor é 2.0”, analisa Dantas

Efeito de espalhamento “A rede social é uma boa ferramenta para a campanha principalmente pelo potencial de Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


José Serra @joseserra_ - 570 mil seguidores 23928 amigos 3 perfis lotados

Coordenação de Campanha on-line: Soninha Francine Site Oficial de Campanha: http://www.serra45.com.br

Nota: os números são referentes ao dia de fechamento da reportagem e estão sujeitos a alteração

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PETRUS LEE

sair da esfera e ir para o boca a boca”, define Daniela Ramos, professora de Novas Tecnologias da Comunicação no curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Ela destaca que tais plataformas possibilitam que o usuário compartilhe e troque opiniões com uma comunidade específica. “É a característica da web: de um para muitos; de muitos para outros muitos, num verdadeiro efeito multiplicador, de espalhamento.” Essa particularidade ainda é responsável por conseguir dar foco velozmente a um determinado tema – seja ele positivo ou não para o candidato – e ultrapassa a barreira de seguidores do próprio político, já que o assunto é divulgado para toda a comunidade. “As pessoas influenciam umas às outras. Talvez um email do tipo corrente, que passa de um conhecido para outro, surta mais efeito que mil estratégias planejadas”, analisa Soninha Francine, coordenadora da campanha digital de José Serra. Plínio de Arruda defende ainda que essa característica da internet beneficia os partidos que não dispõem de muito tempo durante o horário eleitoral. “É uma forma de furar o bloqueio da grande mídia e fazer com que minha mensagem chegue cada vez mais às pessoas”, conta o candidato.

Diálogo direto A grande inovação da campanha on-line é que as redes aproximaram políticos e eleitores, rompendo com a maneira tradicional de comunicação que prevê o relacionamento unilateral. “A internet traz a possibilidade da desintermediação no contato do político com os eleitores. É o candidato falando diretamente para a população”, diz Daniela Ramos. Para ter sucesso na campanha, as equipes de comunicação dos candidatos têm de dar prioridade máxima ao acompanhamento do feedback dos usuários. “Temos a vantagem da resposta imediata, podemos identificar aquilo que funcionou ou não durante a campanha e corrigir rapidamente”, comenta Luciana Araújo, jornalista responsável pela comunicação na campanha de Plínio de Arruda. “A campanha on-line é interativa, de vocação para conversa, de vocação polifônica”, pondera Caio Túlio Costa, coordenador da campanha digital de Marina Silva e professor de Ética Jornalística na Faculdade Cásper Líbero. Soninha salienta que há uma constante avaliação do retorno dos internautas do ponto de vista quantitativo – como saber quais são os assuntos mais pesquisados – e quali-

“Houve uma expectativa equivocada da imprensa em relação às campanhas na internet”, afirma Caio Túlio

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Marina Silva @silva_marina - 357 mil seguidores 64400 amigos Sem perfil oficial Coordenação de Campanha on-line: Caio Túlio Costa Site Oficial de Campanha: http://www.minhamarina.org.br

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tativo – ouvindo as críticas, sugestões e acompanhando a adesão. No caso da estratégia tucana, segundo ela, o que acontece na internet influencia apenas a campanha digital. “A televisão se baseia em outras mensurações, até porque são públicos diferentes”, afirma. Ainda assim, a versão satirizada de um vídeo de Serra para a TV ganhou destaque na internet. Dentro de um dia, a propaganda original deixou de ser veiculada. Em algumas oportunidades os eleitores puderam enviar suas próprias perguntas e sugestões para os candidatos. Os twittaços de Marina Silva ganharam força na rede. Na ocasião, a ex-ministra do Meio Ambiente esclareceu questões ligadas às suas propostas de governo. Foi durante um desses eventos, realizado em julho deste ano, que Marina alcançou a marca de 100 mil seguidores. Logo depois do resultado das votações no primeiro turno, a tag #ondaverde, que expressava apoio à candidata, circulava com força no serviço de microblog. Plínio de Arruda também fez barulho quando promoveu um twittaço por meio do Twitcam (ferramenta do Twitter que transmite vídeos em tempo real) para comentar o debate Folha/UOL, para o qual não havia sido convidado. Mais de

dois mil usuários acompanharam diretamente o candidato do PSOL na empreitada que o colocou, durante a exibição do debate, em primeiro lugar nos trending topics brasileiros e em oitavo nos trending topics mundiais. Na semana do primeiro turno das eleições as twitcams tornaram-se marca registrada do candidato, que continuou a usar a ferramenta para difundir suas ideias na rede. Serra emplacou nos trending topics nacionais com a tag “#pergunteaoserra”. O candidato falou sobre suas propostas e respondeu até a curiosas perguntas como uma que questionava se era verdade que o político participou do desenho animado Os Simpsons.

Mais do mesmo Humberto Dantas, cientista político e coordenador de Educação Política da Oficina Municipal, acredita que o uso das redes sociais não é de grande ajuda na hora de escolher em quem votar. “Elas [redes sociais] são usadas por todos. Essa é a grande equação a resolver. É o mesmo que dizer chega na frente quem tem carro, mas todos têm carro”. Nesse sentido, Daniela Ramos pondera que um dos desafios é utilizar as plataformas digitais de forma inovadora. “Em alguns casos é só emissão de informação. Se você

não tem atitude ao usar as novas mídias, você as usará como um meio tradicional. O diferencial é ter personalidade”, define. A professora atenta ainda para a imprescindível articulação entre a figura do candidato no mundo offline e na esfera on-line. “Tem de haver coerência. Se a imagem do político na rede não combinar com a imagem dele offline, não adianta. Não dá para ter uma imagem conservadora e séria na vida real e criar um Twitter engraçadinho, descolado. Também não adianta ter toda a parafernália tecnológica, ter possibilidade de interação, se o candidato não estiver realmente interessado em fazer isso e estar disposto a continuar nas redes. Aliás, se eles não se comunicarem mais no Twitter depois da campanha vai ficar feio. As pessoas vão cobrar isso depois”, opina.

Ilusão Obama Apesar do amplo uso da internet ter ganhado força nessas eleições, a web não teve o peso esperado e muito menos foi significativo para o resultado das votações. “Houve uma expectativa equivocada por parte da imprensa brasileira em relação às campanhas na internet, em parte pelo próprio desconhecimento da internet. Falou-se em semelhança com o fenômeno Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


Plinio de Arruda @pliniodearruda - 68 mil seguidores 2221 amigos Sem perfil oficial Coordenação de Campanha on-line: Equipe PSOL Site Oficial de Campanha: www.plinio50.com.br

Nota: os números são referentes ao dia de fechamento da reportagem e estão sujeitos a alteração

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THIAGO TANJI

Obama, em termos de arrecadação e uso das redes. Sabemos que o acesso à rede no Brasil é muito restrito”, afirma Caio Túlio Costa. “Devemos pontuar que o fenômeno Obama partiu essencialmente do desejo de mudança. No Brasil não existe isso, as pessoas não querem mudar, estão satisfeitas, basta ver as taxas de reeleição”, ressalta Humberto Dantas. “Os Estados Unidos têm muita força na internet e tradição em doações. Aqui, fala-se em um candidato 2.0, mas é preciso saber se o eleitor é 2.0.” De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE em 2008, 65% dos brasileiros não têm acesso à internet. São cerca de 104 milhões de pessoas vivendo na exclusão digital. Se considerarmos o número de pessoas que possuem perfis nas redes sociais, a peneira será ainda maior. O relatório da comScore divulgado em outubro deste ano aponta que o número de usuários do Twitter no país é de 8,6 milhões. A liderança fica com o Orkut, com 29 milhões de usuários, seguido pelo Facebook, com 9 milhões. “Existe uma articulação entre pessoas que têm maior poder de comunicação, mas a massa do eleitorado não faz parte desse processo nas redes”, analisa o cientista político e professor na

Escola de Sociologia e Política de São Paulo, José Paulo Martins Jr. Nesse cenário, o tradicional horário de propaganda eleitoral exibido na televisão se firma como um dos mais expressivos e importantes meios para angariar votos. De acordo com uma pesquisa feita este ano pelo Datafolha, 65% dos eleitores preferem obter informações sobre seus candidatos por meio da TV. “As intenções de voto mudam quando começa o horário eleitoral, é quando atinge a massa”, comenta José Paulo. A internet, ainda segundo o estudo, aparece

com 7% da preferência do eleitor, atrás dos jornais, com 12%, e equiparando-se ao rádio. Conversas com amigos e familiares aparecem em último, com 6%. “O principal nessa história toda é que falta discussão política no Brasil. A tecnologia sem educação e informação não resulta em muita coisa”, diz José Paulo Martins Jr. “Estamos começando a testar o que funciona e o que não. No Brasil, a internet não definirá eleição, mas acredito que daqui a uns 20 anos a internet terá um peso bem maior”, define Ramos.

“Se você não tem atitude ao usar as novas mídias, você as usará como um meio tradicional. O diferencial é ter personalidade”, opina Daniela Ramos

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Produzido, realizado, editado e apresentado pelos alunos dos cursos de Jornalismo e de Rádio e TV, o programa Edição Extra explora as novidades e os bastidores do mundo da Comunicação. Todo primeiro domingo de cada mês à meia-noite, logo depois do Mesa Redonda, na TV Gazeta.

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IMAGEM PÚBLICA Em julho, uma série de atrasos nos voos da Gol prejudicou a imagem da empresa frente à opinião pública. Cabe aos profissionais de comunicação corporativa coube reconstruírem a reputação da empresa

Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


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Jogo limpo faz parte do negócio

Todas as empresas podem sofrer com crises de imagem. Para não afundar na tempestade, preparo e transparência são fundamentais, dizem especialistas por Fernanda Patrocínio e Thiago Tanji

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Quem enuncia uma das regras de ouro da comunicação corporativa é Hélio Muniz, diretor da área na Gol. Em fins de julho, dezenas de voos da empresa atrasaram ou foram cancelados, gerando uma série de transtornos aos passageiros. Dias depois, a situação operacional acabou sendo normalizada. Mas para quem lida com comunicação corporativa sempre sobra um trabalho mais demorado: reconstruir a imagem da empresa entre consumidores e opinião pública. O episódio ilustra uma das facetas da complexa missão que é zelar pelo “bom nome” de companhias. Para o professor de Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero, Sergio Andreucci, três posturas básicas norteiam esse trabalho: “Primeiro, deve-se criar a imagem de uma empresa, lançando um conceito novo no mercado. Depois, é necessário mantê-la, em um trabalho diário com o público interno e externo da companhia. O terceiro pilar é o trabalho de recuperação de imagem”. É no quesito recuperação de imagem que reside o grande desafio. “É muito complicado, porque uma empresa demora anos para construir uma marca, um conceito, mas basta alguma besteira para colocar tudo a perder.” Segundo a professora e coordenadora acadêmica da Pós-Graduação na área de Comunicação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Selma Felerico, a importância de manter a imagem positiva de uma companhia durante crises está relacionada, evidentemente, ao comportamento do consumidor: “Uma

crise que gera a má reputação de um determinando produto ou negócio se estende aos resultados econômicos e financeiros da empresa por causa dos danos potenciais nas vendas. Não compramos apenas um produto, mas sim seu nome, marca e procedência.” “Sofremos um desgaste e agora devemos construir novamente nossa imagem. Espero que até o fim do ano consigamos ter a mesma avaliação positiva que tínhamos até antes dos atrasos. E faremos isso criando uma agenda positiva, chamando os jornalistas para verem coisas positivas”, conta Muniz, da Gol.

divulgação

“Não existe empresa sólida o suficiente que não possa ser muito prejudicada por uma crise de imagem.”

Estopins Os “estopins” para as crises podem ser pontuais como escândalos de corrupção, denúncias que envolvem a qualidade dos serviços ou produtos, problemas operacionais e desastres, como acidentes aéreos ou vazamento de petróleo. Mas o jornalista Ricardo Viveiros – presidente da empresa Ricardo Viveiros e Associados Oficina de Comunicação, que assessora, entre outros clientes, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – também destaca outros focos potenciais de crise: “Uma época de muito desemprego, por exemplo, acaba gerando problemas de imagem.” Para tornar as coisas um pouco mais complicadas, o desenvolvimento das redes sociais, especialmente o Twitter, fez surgir ferramentas que tanto podem promover quanto ferir de morte a imagem de uma companhia. “As redes sociais estão aí para derrubar qualquer barreira. A informação sobre a empresa ou o produto não precisa sair no jornal para vir a público. Basta apenas que alguém – consumidor ou funcionário – faça um post para que vire uma bola de neve”, diz a fundadora e diretora da

assessoria de imprensa Grupo Máquina, Maristela Mafei.

Lição de casa preventiva Dificilmente a empresa conseguirá manter sua credibilidade intacta quando uma crise irrompe. Para amenizar tais consequências quase inevitáveis, é necessário fazer a “lição de casa” no dia a dia. É aí que entram no cálculo as ações de responsabilidade social, como o Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


investimento em meio ambiente, cultura, educação e esportes. Um exemplo é a Petrobrás. Em março de 2001, a estatal passou por uma grave crise, com o afundamento da plataforma P-36, localizada na Bacia de Campos. Superado o acidente, a companhia manteve um nível positivo de imagem. “A Petrobrás é a empresa que dá o maior incentivo à cultura do país, ela investe no esporte Revista Cásper –Dezembro de 2010 – Nº 2

e no meio ambiente – com o Projeto Tamar e o Projeto Boto. Esse trabalho cotidiano amenizou o impacto negativo desses acidentes ambientais”, avalia Andreucci, da Cásper. Tão importante quanto realizar é divulgar. “Eu construo a imagem de minha empresa todos os dias, sugerindo pautas positivas para os veículos de comunicação, divulgando nossas ações. Passo meu dia

a dia estruturando tudo que a companhia tem feito de bom para construir uma imagem positiva”, conta Muniz. Quando ocorrem as crises, a “poupança” de credibilidade é utilizada. “Quando a empresa é transparente e tem créditos com o consumidor e com a imprensa, a crise é avaliada de forma diferente, e por isso é importante esse bom relacionamento”, afirma.

Diretores da Gol são convidados para abrirem o pregão da Bolsa de Valores de Nova York. Sugerir pautas positivas para a imprensa é uma das táticas para a construção de uma boa imagem

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THIAGO TANJI

Para o especialista em comunicação empresarial Ricardo Viveiros, o profissional que lida com imagem corporativa deve “trabalhar com seriedade, respeitando o compromisso maior do jornalista: a verdade”

Plano na gaveta Para que a crise seja controlada logo no início, os profissionais da comunicação devem ter um planejamento prévio. Segundo Maristela, muitas companhias ficam mais vulneráveis porque não conseguiram elaborar estratégias prévias de combate aos problemas. “A grande maioria só se lembra de que deveria ter feito um planejamento quando já está exposta a uma crise.” As empresas preparadas têm um plano de gestão de crise que contempla todos os pontos sensíveis da companhia, analisando-os. “É necessário preparar uma resposta objetiva, clara, rápida e organizada. Se a empresa levanta 100 pontos sensíveis, ela terá 100 respostas pré-elaboradas: já haverá as pessoas que vão falar com a imprensa, aqueles que vão trabalhar na contingência de cada problema. E, para isso,

as equipes precisam ser treinadas periodicamente”, explica Andreucci. “A gente não quer viver um acidente, mas a gente se prepara a todo o momento para isso”, conta Muniz. “Eu sei de quem vou receber a ligação e para quem eu tenho de ligar. Temos uma sala de crise, onde já tem o meu nome marcado, um computador preparado para mim, TVs. E isso é uma segurança: podemos trabalhar com uma situação difícil sem ficar pensando no que deveríamos fazer. Nós já sabemos o que vamos fazer.” Ainda que as metas durante o gerenciamento da crise devam estar bem desenvolvidas, é preciso sempre levar em conta que o foco pode mudar. “Uma empresa é como uma pessoa, é dinâmica. Você não pode ter uma regra engessada, mas um plano que vá se transformando e se readequando

em sua própria realização. Em uma crise, é tudo contra você e nada a seu favor, por isso você deve realizar o melhor trabalho possível”, pontua Viveiros. De acordo com Muniz, o profissional nunca deve perder o controle da informação. “Eu não posso dar uma exclusiva para um veículo e não dar para outro, por exemplo”, explica. No momento da crise, a comunicação deve ser uma só para todos, tanto para o público interno quanto para o externo, de maneira a controlar as informações e evitar especulações. “Manter a serenidade é um dos pontos-chave para lidar com as crises”, ensina.

‘Nunca mentir’ Contudo, todo o planejamento prévio irá por água abaixo caso as companhias não trabalhem de modo ético e transparente durante a crise. Dessa maneira, é necessário Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


Dois casos: Fiat e Parmalat

N

os últimos anos, não faltaram empresas que viram sua imagem perante a opinião pública ser co-

locada à prova. Algumas conseguiram dar a volta por cima com sucesso. Outras, nem tanto. No início da década de 2000, a empresa alimentícia italiana Parmalat sofreu a maior crise de sua história, por causa do envolvimento da companhia com a máfia. Mas a multinacional conseguiu, segundo a professora Selma Felerico, realizar um trabalho competente de construção de imagem durante a década de 90 – impossível não lembrar dos “bichinhos da Parmalat”, bem como a parceria desenvolvida com clubes de futebol como o Palmeiras. “A empresa conseguiu armazenar uma expressiva reserva de credibilidade. Nessa crise de imagem, ela conseguiu utilizar essa reserva para neutralizar as críticas vindas da opinião pública”, afirma. Já em 2007, a multinacional passou por outra tempestade, mas dessa vez no

estabelecer um diálogo franco entre a empresa e os seus consumidores e investidores, além da imprensa. A orientação de Muniz é simples: “nunca mentir”. Além do preceito ético, essa atitude é essencial para que as informações não sejam desmentidas – o que só vai jogar lenha na fogueira. “A sua função como jornalista é duvidar do que eu falo, sadiamente duvidar: se eu te disser alguma coisa, você deve apurar para ver se é verdade. Eu não posso dizer para você que foi o mau tempo que derrubou o avião se eu sei que foi uma falha mecânica. Porque daí minha credibilidade vai para o lixo.” Na opinião de Viveiros, independentemente de estar trabalhando ou não com comunicação empresarial, o profissional tem de ser pautado pela verdade. “Não há truque, não tem segredo, deRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

ve-se trabalhar com seriedade, respeitando o compromisso maior do jornalista: a verdade. O jornalista quando está em uma assessoria de imprensa, continua sendo jornalista, trabalhando com ética”, argumenta. “Você já ouviu falar que caiu o avião da TAM? Já. Você voa em avião da TAM? Voa. Não é estranho? Será que você é suicida? Lógico que não. Isso acontece porque a TAM é uma empresa séria e faz um trabalho sério de comunicação. Quando o acidente aconteceu, eles vieram a público e informaram as reais causas do acidente, assumindo todos os seus compromissos”, diz Viveiros. “Se acontece uma falha humana, uma falha técnica e a empresa vai a público e busca corrigir o seu erro, compensando seus prejudicados, pede desculpas e volta a trabalhar, essa empresa conquista credibilidade.”

Brasil. A empresa foi acusada de vender leite adulterado. Nesse caso, nem mesmo a boa imagem preestabelecida conseguiu salvar a empresa. “Com o problema da máfia, a Parmalat usou bem a reserva de credibilidade e teve da sociedade uma segunda chance. No caso do leite adulterado, teve perda de vendas”, avalia Selma. A reportagem da Cásper entrou em contato com a Parmalat, mas não obteve resposta. Também há exemplos de empresas que conseguiram melhorar sua reputação. Selma destaca o trabalho da italiana Fiat, que hoje é líder de vendas no Brasil: “Há 25 anos, o Fiat era visto como um carro de má qualidade e de manutenção cara, que lentamente formou a reputação de ser fácil de comprar e impossível de se livrar. A montadora trabalhou duro e hoje o carro da marca é visto pelos consumidores como sendo de boa qualidade e de assistência técnica rápida e barata.”

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PREMIAÇÃO

Cásper Líbero se destaca no 28º Prêmio ABRP Faculdade conquista sete primeiros lugares e seis segundos lugares em evento que premia os melhores trabalhos acadêmicos de Relações Públicas no país por Thiago Tanji No último dia 9 de novembro, a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) sediou a 28ª edição do Prêmio ABRP, organizado pela Associação Brasileira de Relações Públicas, seção São Paulo (ABRP-SP). Mantendo sua tradição na premiação, a Faculdade Cásper Líbero foi um dos maiores destaques da noite: das 16 categorias existentes no evento, conquistou sete primeiros lugares e seis segundos lugares. Criado em 1982, o Prêmio ABRP coroa os trabalhos realizados por alunos de Relações Públicas na graduação e pósgraduação. As 16 categorias da premiação se dividem nas áreas “Ação Estratégica”, “Projeto Experimental” e “Monografia”, premiando os projetos elaborados no último ano do curso. Nessa edição do evento, foram inscritos mais de 120 trabalhos de diferentes regiões do país. Após passarem por uma análise prévia, os finalistas vão para

um júri composto por professores e profissionais da área. Júlio Barbosa, vice-coordenador de Relações Públicas da Cásper e orientador dos projetos experimentais, destaca a qualidade das produções realizadas pelos alunos: “Alguns trabalhos são melhores do que o de muitas agências profissionais, porque eles se envolvem a fundo com as Relações Públicas, com a comunicação institucional, mercadológica e interna, fazendo um projeto de alta qualidade.” No final do terceiro ano, os alunos iniciam a montagem de agências de comunicação fictícias, mas que devem estar estruturadas com todo o aparato técnico e teórico das empresas reais. No início do quarto ano, essas agências começam a entrar em contato com seus clientes, incluindo grandes companhias nacionais e multinacionais, como a HP, a Drogasil, a Fundação

Abrinq, entre tantas outras. A partir daí, os estudantes devem elaborar um plano de comunicação específico para cada empresa e apresentá-los em bancas qualificatórias ao final do curso. “O nosso modelo virou exemplo para toda a comunidade de ensino de Relações Públicas do país, pois é algo bem elaborado e que está dando certo”, diz Barbosa. No entanto, o vice-coordenador de Relações Públicas também ressaltou as nomeações conquistadas pelas monografias: a Faculdade recebeu o segundo lugar na categoria “Monografia – Valorização da Profissão” e um primeiro lugar em “Monografia - Pós-Graduação Lato Sensu”. “Não fomos indicados apenas nas categorias de estratégia, de alinhamento prático, mas também com as monografias. Isso mostra que trabalhamos com a parte prática, sem nos esquecer da parte metodológica”, analisa.

Confira abaixo a lista de projetos premiados em 1º lugar Nome dos alunos/Agência Vivian Marques Roque Agência Lince Agência Lince Agência PB Comunicação Agência PB Comunicação Agência Ideato Comunicações Agência Cata-Vento

Categorias Monografia – Pós-Graduação Lato Sensu Projeto Experimental – Relações Públicas em Apoio ao Marketing Ações Estratégicas – Responsabilidade Socioambiental Projeto Experimental – Relações Públicas em Ações Culturais e de Responsabilidade Socioambiental Ações Estratégicas – Vídeo Institucional Projeto Experimental – Terceiro Setor Ações Estratégicas – Comunicação Interna

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CASPERIANO Divulgação

BARBA,

CABELO

bigode

As aventuras do casperiano Heródoto Barbeiro. Ele queria ser bombeiro, foi office boy, borracheiro, pintor, professor e entrou no jornalismo quase por acaso Por Ana Lucia Pereira e Fernanda Patrocínio Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

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Divulgação

São 9h40 de uma manhã de verão chuvoso no centro de São Paulo. O homem atrás da escrivaninha já está no meio de seu expediente na rádio CBN Acordou de madrugada, leu todos os jornais, deu uma olhada nos principais sites informativos e ficou no ar durante três horas e meia, apresentando e comentando os principais fatos da cidade e do país. A noite havia sido tensa, com uma sucessão de deslizamentos e desabamentos em diversos bairros, consequência dos temporais que assolaram a capital. Heródoto Barbeiro não para. Reúne a equipe do programa Mundo corporativo, transmitido aos sábados, combina pautas, checa quem serão os convidados, passa os olhos na última edição do jornal francês Le Monde Diplomatique sobre sua mesa e cumprimenta as repórteres da revista Cásper. A TV está sintonizada na CNN. “Aqui é assim, eu leio e me organizo para entrar no ar.” Heródoto apresenta o Jornal da CBN no horário de maior audiência, das 6h00 às 9h30, e o já citado Mundo corporativo. Também ancora o Jornal da Cultura, na TV Cultura, e contribui para a revista Imprensa. No Blog do Barbeiro – que promete “barba, cabelo e bigode” –, o jornalista escreve sobre política, conjuntura e temas que abordam o universo de seu programa radiofônico. Ou seja, quase tudo. “Tenho blog, site e programa pela internet. O principal é respeitar as regras do jornalismo, na medida em que o meio carrega a notícia, mas não se torna mais importante do que ela”, afirma . Ele sentencia que “para viver de jornalismo é preciso se dedicar a ele de oito a dez horas por

dia: lendo, trabalhando, acompanhando e sempre olhando a sociedade.” Heródoto formou-se em jornalismo na Cásper Líbero, após atuar por quase vinte anos como professor de História. Sua trajetória é formada por uma sucessão de acasos que o levou, quase aos quarenta anos, a fazer sua escolha profissional definitiva.

Polivalente Vindo de uma família de classe média baixa, Heródoto enumera suas profissões: “Ajudava meu pai em sua oficina mecânica; já fui também auxiliar de borracheiro e de pintura, officeboy e professor por vinte anos”, enumera, observando que, na infância, queria ser bombeiro. Barbeiro bombeiro seria uma marca interessante, mas a escolha ficou para trás. O rapaz acabou entrando para o curso de História na Universidade de São Paulo, com o objetivo de se tornar professor. Nessa época, ele já dava aulas de inglês, além de cursar a disciplina optativa História do Japão. Um dia, o professor e monge Ricardo Mário Gonçalves o convidou para ensinar inglês para uma japonesa que, por sua vez, era professora de ikebana da esposa do cônsul da Inglaterra. Marcaram um encontro no templo da Soto Zen Shu, no bairro da Liberdade. Um problema apareceu. A mulher não falava português e ele não dominava o japonês. Não houve jeito. Heródoto foi saindo pela porta com o professor Gonçalves, quando avistou uma estátua grande e diferente.

“Para viver de jornalismo é preciso se dedicar a ele de oito a dez horas por dia”

– Quem é este cidadão? – Como assim, Heródoto? Este é o Buda! – Mas o Buda não é gordo? Esta estátua é de um magro. – É, você tem muito a aprender sobre budismo... volte aqui no sábado, que tem meditação e podemos conversar. O então estudante de História passou a freqüentar o templo e a compreender melhor a filosofia oriental. Agnóstico até aquele momento, Heródoto se converteu e mais tarde recebeu Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


da comunidade budista Soto Zen Shu o título de monge leigo. Adotou ali o nome de um de seus patriarcas, Gento Ryotetsu. Depois de se formar, Heródoto seguiu a carreira de professor e iniciou sua segunda faculdade, Direito. “Pensei em ser advogado criminalista, já que a formação em História iria me ajudar.” Mas o roteiro sofreu mudanças pelo caminho. Lecionou História Contemporânea durante 12 anos na Universidade de São Paulo e também no Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

cursinho Objetivo até que, com quase 40 anos, ingressou no Jornalismo. “Nunca havia pensado em abraçar a profissão, que apareceu de maneira circunstancial em minha vida. Comecei fazendo aulas para a TV e não parei mais. Os telecursos foram a ponte entre a educação e o jornalismo”, observa.

Uma nova carreira Logo estava cursando sua terceira faculdade, a Cásper Líbero na turma formada em 1978, época

Heródoto é capaz de colocar um navio montanha acima, para vencer a dificuldade apresentada 45


Divulgação

em que o diploma de jornalista era obrigatório. Tendo iniciado a nova Faculdade, Barbeiro foi contemporâneo de nomes como Maria Adelaide Amaral, Miriam Paglia Costa e jornalistas provenientes do Grupo Abril. Barbeiro já era conhecido quando retornou à academia. Tinha sido professor de História no cursinho, se candidatara a vereador, era comentarista de um jornal radiofônico de sucesso na rádio Jovem Pan. “Aprendi muito com meus colegas de sala que já tinham experiência na profissão”, ressalta. Carlos Costa, o atual coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade, era um dos membros do Grupo Abril que estudou com Barbeiro. “Ele tem uma invejável capacidade de trabalho, de se aprofundar nos temas. É determinado e tem constância”, elogia Costa. O coordenador compara-o à “imagem de Fitzcarraldo, o personagem do filme de Werner Herzog: “Heródoto é capaz de colocar um navio montanha acima, para vencer a dificuldade apresentada.” A bagagem profissional e os conhecimentos culturais de Heródoto faziam toda a diferença em seu desempenho como aluno, recorda Carlos Costa. “Numa das aulas de História da Cultura ele apresentou um seminário sobre as civilizações da água (o Egito e o rio Nilo). O professor, um coronel na Polícia Militar, ficou muito irritado: o aluno era muito melhor que ele”, recorda o coordenador. “Os alunos deram a ele a atenção que não dispensavam ao professor. Aliás, um abaixoassinado foi motivo de pedido de demissão do coronel.” Apesar de ter se formado, Heródoto não defende a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Contudo, ele acredita que na escola há técnicas a serem aprendidas pelos principiantes. “Boas escolas continuarão a formar bons jornalistas e apenas elas irão sobreviver”, afirma.

Paixões Casado há 25 anos com a jornalista e ex-aluna Walkiria dos Santos, Heródoto mora em um apartamento no bairro paulistano Higienópolis. “Jornalista entende a rotina de jornalista”, brinca. Do primeiro casamento, ele tem dois filhos: Mauricio, 29 anos, dono de uma loja de roupas em Santos, e Guilherme, 28, que está tirando brevê de piloto de helicóptero . “Eu também piloto helicópteros e sou sócio do aeroclube. De vez em quando ainda faço isso”, revela. Além de voar, sua outra paixão são as Kombis. Já teve sete modelos diferentes e ainda conserva uma, para ir ao seu sítio localizado no distrito de Taiaçupeba, município de Mogi das Cruzes, na região do Alto Tietê. “Vou praticamente todo

final de semana. Lá crio oito cachorros”, conta. Heródoto comprou a propriedade de 25 alqueires há trinta anos. “Conservo um pedaço do que restou da Mata Atlântica e participo das atividades da comunidade local. Contribuo também para o conteúdo do Jornal de Taiaçupeba”, destaca. A vice-diretora da Escola Estadual Benedito de Souza Lima, Rosa Maria Dozadoni, diz que o jornalista atua com bastante expressão na comunidade. “Ele está sempre pronto para colaborar. Em uma das seções do jornal ele teve a idéia de criar um espaço para ‘os notáveis’ – os cidadãos do distrito que mais se destacam”, conta. Juntamente com a entidade da comunidade, Sociedade Amigos de Taiaçupeba, e a ONG Gades, organiza-

“História e Jornalismo estão diretamente ligados às questões sociais”

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ção não governamental que zela pela preservação da Mata Atlântica local, o jornalista milita em pela causa ecológica. “Heródoto é uma espécie de assessor, que dialoga com as empresas da região”, explica. Quando não está em seu sítio, Heródoto costuma também ir à Sala São Paulo e frequentar o Sesc da rua Vila Nova.

Professor e jornalista Heródoto afirma que ser professor o ajudou ser jornalista. “Adquiri disciplina e aprendi a entender melhor a sociedade. História e Jornalismo estão diretamente ligados às questões sociais”, explica. Para ele, ambas as profissões exercem o papel de decodificador entre as informações e o público final (ou aluno). Reconhecido pelos colegas por sua ética e compromisso com o trabalho que faz, o jornalista abandonou a filiação ao PT, depois de 19 anos, após Lula assumir a presidência. “Deixei para evitar conflitos de interesses. Nos países democráticos os jornalistas são filiados a partidos, aqui a visão é diferente”, diz. “Só não podemos esconder do público nossas filiações. Eles têm direito de te fiscalizar e de te avaliar criticamente. A sociedade tem que fiscalizar a mídia”, completa. Voltaria a ser professor? “Talvez, quando me aposentar”. Sua vontade é dar aulas na Universidade de Mogi das Cruzes, “mas só se me deixassem dar um curso de Jornalismo inovador”. Atualmente seria difícil conciliar as duas profissões.

Leonel Brizola e Lula. Foi um momento prazeroso e de grande impacto”, relembra. Heródoto já ganhou cerca de dez prêmios, entre eles o grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, em 2001. Seus ídolos no jornalismo são “Mino Carta e Clóvis Rossi pela coragem, Miriam Leitão pela facilidade em transitar entre mídias, Luis Nassif pela independência, Roberto Dias pela ética e Paulo Henrique Amorim pela maneira que entrevista seus convidados”, reconhece. O jornalista acaba de retornar ao curso de conversação em inglês. “A língua é um instrumento de trabalho”. Heródoto ainda fala francês, espanhol e fez aulas de japonês. Atuou como correspondente internacional

pela Jovem Pan e adora viajar. O workaholic Heródoto já publicou dez livros, entre eles Fora do ar, Meu velho centro – histórias do coração de São Paulo (Boitempo, 2007) e A História do consumo no Brasil (Campus, 2007), além de obras mais técnicas como Manual do Telejornalismo (Elsevier Editora, 2005)) e Falar para liderar (Futura, 2003). Atualmente está realizando um livro sobre perfil de gestão com Pedro Herz, proprietário da Livraria Cultura, e outro sobre comunicação corporativa. “Isto está encaminhado, mas não tenho planos”, diz com um leve sorriso. As agitações desse paulistano o fizeram assim: com projetos traçados a todo o momento, ele aceita e mergulha nos desafios que a vida traz.

“Ele tem uma invejável capacidade de trabalho, de se aprofundar nos temas, é determinado e tem constância”, Carlos Costa sobre Heródoto

Momento marcante Questionado sobre o momento mais marcante de sua carreira, o jornalista para um momento, pensa e diz ser difícil responder. No entanto, ele destaca a rodada com os candidatos a presidente no Roda Viva, em 1993, em que foi convidado a mediar. “Estavam presentes Fernando Henrique Cardoso, Orestes Quércia, Revista Cásper – Dezembroo de 2010 – Nº 2

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COMUNICAÇÃO

“O Brasil não consegue garantir comunicação democrática” João Brant, coordenador do coletivo Intervozes, discute a democratização da mídia em palestra na Faculdade por Thiago Tanji Em palestra realizada na Faculdade Cásper Líbero em outubro último, João Brant, especialista em regulação de políticas públicas da comunicação, condenou o atual modelo comunicacional adotado no país. “O Brasil está muito mal, porque não consegue garantir que a comunicação seja de fato democrática e que as diversas ideias que existem na sociedade circulem nos meios de comunicação”, afirmou. Brant, formado em Rádio e TV pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), é o coordenador executivo do Intervozes, organização que defende a democratização da comunicação. Segundo ele, a ausência de uma política de regulamentação faz com que um grupo restrito de empresas privadas tenha controle da mídia. “As quatro maiores empresas de televisão reúnem 97% das verbas publicitárias. Só a Globo tem 50% da audiência nacional e 70% das verbas publicitárias”, exemplificou. Para o especialista, é falsa a ideia de que adotar uma política pública para a comunicação seja um ataque à liberdade de expressão. “Esse é um argumento simplista e oportunista em geral. Normalmente, quem diz isso são os grupos que dominam a mídia”, afrmou. Brant citou exemplos de países que, apesar de terem a liberdade de expressão assegurada em suas constituições, adotam medidas de regulamentação. “Os Estados Unidos criaram várias regras para impedir que os gruRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

pos tenham mais força do que deveriam ter. Para eles, não há nenhuma violação. Ao contrário, eles estão tentando garantir a liberdade de expressão para mais autores.” A política de concessões para as rádios e televisões também foi criticada pelo especialista. No atual modelo, o Estado é dono das frequências e, por meio de licitações, cede as transmissões para as empresas por um determinado período. No entanto, segundo Brant, as emissoras não se veem como um serviço público e costumam tomar atitudes em benefício próprio, buscando audiência e receita publicitária. “O sistema de concessões no Brasil é completamente surreal. Elas valem até quinze anos, mas depois

disso a renovação é praticamente automática. A gente não tem nem um capitalismo liberal de mercado. Temos um feudalismo, um misto de feudalismo e de capitanias hereditárias, uma coisa bem brasileira”, ironiza. Na opinião de Brant, novas ferramentas tecnológicas como a internet podem estimular a democratização das comunicações. Entretanto, como seu alcance no Brasil é relativamente pequeno – 67 milhões dos mais de 190 milhões de brasileiros têm acesso à rede –, as mudanças ainda não ocorrerão de modo imediato. “Nós ainda não cumprimos a agenda do século XX e já precisamos nos deparar com uma agenda do século XXI.” gilberto maringoni

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O estudioso frânces Dominique Wolton em seminário na Faculdade Cásper Líbero.

Para além do

VIRTUAL Para Dominique Wolton, tecnologia não é o mais importante na comunicação por Luís Mauro Sá Martino

“Não perca seu tempo lendo Wolton”. Essa frase, ouvida de várias pessoas em momentos diferentes, não era propriamente um estímulo para mergulhar em um do livros do pesquisador francês Dominique Wolton. Para mergulhar em um dos livros do pesquisador francês Dominique Wolton. Não faltavam títulos instigantes: “Elogio do grande público”, “Internet, e depois?”, “É preciso salvar a comunicação”. Nem credenciais: pesquisador do Centre

National de la Recherche Scientifique, CNRS, na França, é um dos mais profílicos autores da Comunicação, com mais de uma dezena de livros publicados – no original francês, pelas prestigiadas Flammarion e Champs; no Brasil, Sulina,

Paulus e Ática, entre outras. Por que, então, o conselho vindo de alguns conhecidos, para não ler Wolton? Talvez por causa de suas posições a respeito de certos temas controversos na área de Comunicação, seu elogio da comunicação de massa e ressalvas à internet. Na tarde de 26 de outubro foi possível tirar algumas dessas dúvidas pessoalmente. Dominique Wolton esteve na Cásper Líbero fazendo a palestra na abertura do Seminário “Imagem e Informação”, realizado pelo grupo de pesquisa Comunicação e Cultura Visual, do Mestrado da faculdade. Durante mais de duas horas, falou sobre suas Revista Cásper – Outubro de 2010 – Nº 2


DIVULGAÇÃO CEL/CL

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mais próxima da tecnologia, enquanto a comunicação estaria ligada à relação humana, ao encontro com um “outro”. É nesse encontro que pode acontecer, de fato, a comunicação: “O desafio é menos compartilhar o que temos em comum do que aprender a administrar as diferenças que nos separam”, diz em Informar não é comunicar, na página 12. Wolton parece trazer de volta o ser humano como aspecto central das relações de comunicação. O ato de comunicar, explica, não é simplesmente trocar informações com outra pessoa: mesmo diante das tecnologias mais hiperbólicas, é necessário olhar para a pessoa que está operando a coisa – atrás de cada @alguem no Twitter ou perfil no Facebook há uma possibilidade de relação, de encontro com o diferente. A comunicação seria a possibilidade e a realização desse encontro.

Mas essa separação não é radical: ao contrário, comunicação e informação estão ligadas o tempo todo. As tecnologias da informação aumentaram radicalmente as possibilidades de contato entre as pessoas, e isso coloca, de saída, a questão de entender esses outros indivíduos e culturas. A crítica à internet feita por Wolton não é dirigida à tecnologia, mas à atitude de fazer da tecnologia uma entidade em si, desligada das pessoas. E, de certa forma, o jeito como Wolton entende a Comunicação também está ligado a uma concepção política. Para existir comunicação entre as pessoas é fundamental reconhecer o outro como sendo alguém digno dessa relação – entender a diferença sem torná-la melhor ou pior do que o semelhante. O processo, deixa claro, não é fácil, mas é o principal desafio para quem lida com a comunicação. Um convite, talvez, à leitura de Wolton.

Para Wolton, comunicação é mais do que tecnologia ou interação virtual; é a relação entre dois seres humanos, o momento, o encontro. divulgação/Roberto Tietzmann

propostas para a comunicação, respondeu perguntas e, após a palestra, ainda encontrou tempo para autografar seus livros e dar várias entrevistas. Uma de suas posições mais controversas, por exemplo, talvez seja em relação à internet. Sua crítica não é destrutiva como a de Andrew Keen em O culto do Amador, mas tem um teor igualmente apimentado. Para ele, internet é uma boa ferramenta, mas não é a terra prometida que se espera e não pode ser considerada, como algumas pessoas fazem, uma espécie de deus do qual todos dependem. Comunicação é mais do que tecnologia ou interação virtual; é a relação entre dois seres humanos, o momento, o encontro. Outro ponto defendido pelo autor é uma reavaliação da chamada “comunicação de massa”. Sem deixar de lado uma avaliação crítica, Wolton procura relativizar a ideia de que uma mídia poderosa teria efeitos potencialmente negativos em um público indefeso – uma noção que, mesmo tendo sido contestada por várias pesquisas desde a década de 1950, ainda encontra acolhida nas discussões sobre Comunicação. “Se a comunicação de massa causou danos, se fala pouco, por outro lado, que muitos conformismos foram abalados. Culturalmente, a sociedade hoje é muito mais aberta”, afirma na página 70 de É preciso salvar a comunicação. Mesmo a cultura, acredita, tornou-se mais tolerante por conta das mídias de massa. Isso não precisa necessariamente ser visto como um elogio: Wolton não parece deixar de lado a dimensão empresarial da mídia, mas não vê apenas esse aspecto como um ponto sem saída. Uma distinção importante em sua obra parece ser entre informação e comunicação. Ele sugere que informação seja a mensagem em si, parte

LegendaLe genda

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COORDENADORIAS

Me formei. E agora? Casperianos contam suas experiências no mercado de trabalho por Thiago Tanji

JORNALISMO

A arte de sujar os sapatos

thiago tanji

“Sempre busquei aquilo que quis, que é fazer jornalismo esportivo”, diz o repórter da Rádio Globo, Henrique Guidi

TV Bandeirantes, GazetaEsportiva.Net, Rádio Jovem Pan, Editora Abril, TV Globo e Sistema Globo de Rádio. O currículo é extenso, mas a carreira de Henrique Guidi, formado em Jornalismo no ano de 2009, está só começando: “Meus amigos até brincavam comigo dizendo que era cigano, indo de um emprego para outro, mas sempre busquei o mais perto possível aquilo que sempre quis, que é fazer jornalismo esportivo”, conta. Atualmente, Guidi é repórter esportivo das rádios Globo e CBN, participando de cober-

turas da Fórmula-1 e do dia a dia dos clubes de futebol paulistas. Apesar de trabalhar na transmissão ao vivo das partidas – o grande sonho daqueles que desejam fazer jornalismo esportivo –, ele revela que sua rotina não é nada fácil. “Quem quer fazer hard news tem de saber dos desafios. Já cheguei a trabalhar 14 horas em um domingo. Se cansa? Claro que cansa, mas é legal demais.” Formado na mesma turma que Henrique Guidi, Theo Ruprecht também conquistou um emprego desejado por muitos jovens jornalistas. O profissio-

nal já passou pela GazetaEsportiva.Net e a Editora Abril até chegar à TV Globo, onde trabalhou por sete meses no Profissão Repórter, programa comandado por Caco Barcellos. “Eu estreei em uma reportagem sobre chuvas no Rio de Janeiro. Era para ser uma matéria rodada em São Paulo, e, de repente, caiu a chuva por lá. Fui para o Rio e fiquei com a roupa do corpo por três dias, só trocando de meias”, recorda. Para ele, essa foi uma das reportagens mais marcantes de sua vida: “Me orgulho de ter conseguido as histórias. Aquilo lá era uma tragédia. Encontramos uma mulher que teve de enterrar o marido e ela demorou três dias para conseguir. Isso mexeu muito comigo”, relata. Em agosto de 2010, Ruprecht foi convidado para ser assistente editorial da revista Saúde, da Editora Abril, publicação na qual já havia trabalhado quando era estagiário. “Não sabia que conseguiria isso com 23 anos.” Apesar do rápido sucesso profissional, os dois jornalistas pensam que não são exceções e que a maior parte dos recémformados pode conseguir o emprego desejado. “Acho que há bons lugares para todo mundo. O que você tem de fazer é se direcionar, isso é essencial. Desde a faculdade, se você trilhar e indicar o seu próprio caminho, você conquistará aquilo que quer”, afirma Guidi. Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


PUBLICIDADE

Novas possibilidades na publicidade “A maior meta da empresa é ter o cliente sempre satisfeito. E como no varejo tudo acontece num piscar de olhos, qualquer má experiência pode tirar para sempre um cliente de você.” A afirmação de Carlos Lacerda, coordenador de comunicação dirigida da Fast Shop, reflete sua responsabilidade: conquistar diariamente o cliente. Formado em Publicidade e Propaganda em 2005, Lacerda se manteve na contramão da maioria dos estudantes da área, que prefere trabalhar em agências de criação. Em 2003, quando estava no terceiro ano da Faculdade, conseguiu um estágio na Telefonica, realizando campanhas de incentivo para o mercado B2B – Business to business, trocas de informações em tempo real entre empresas. Após ser efetivado, em 2004, ficou na empresa por mais três anos, realizando ações na área de patrocínios e promoções. Interessado em se especializar na área de marketing empresarial, Lacerda conseguiu uma licença da multinacional para fazer em Londres um curso de pós-graduação em Administração de Empresas. Nessa passagem pela Europa, o ex-casperiano também aproveitou para estudar espanhol. Ao voltar para o Brasil, recebeu um convite de uma ex-diretora da Telefonica, que estava abrindo uma agência de conteúdo. “Topei e fiquei seis meses por lá, mas meu negocio era empresa”, conta. Sua passagem pela agência durou pouco tempo. Um antigo diretor da Telefonica estava trabalhando na Fast Shop e convidou Lacerda para assumir a coordenação de comunicação dirigida. “Trabalho Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

arquivo pessoal

na área de CRM – Gestão de Relacionamento com o Cliente. Aqui, estudamos perfil de compra, comportamento e ofertas pertinentes a cada um de nossos clientes”, afirma. Além disso, ele é responsável pela revista da empresa, a Fast Life, publicação com tiragem de 50 mil exemplares direcionada especialmente à produção de conteúdos de tecnologia. O profissional comenta que, por ser uma empresa que já está bem posicionada no mercado, o desafio da Fast Shop é aumentar os índices de satisfação do cliente. Por isso, ele e os outros funcionários do setor de comunicação buscam realizar pesquisas de satisfação, além de acompanhar o dia a dia da companhia: “A pesquisa

é uma fonte riquíssima. Assim, acompanhamos um dia na loja, um dia no Serviço de Atendimento ao Cliente e um dia na entrega e instalação de produtos. É observando o cliente que temos as principais ideias para melhorar”, comenta. Sobre a importância da Faculdade em sua realização profissional, Lacerda é direto: a vivência acadêmica é fundamental para a inserção no mercado de trabalho. “O estágio é uma experiência essencial para o aluno. Mas tudo aquilo que é aprendido, principalmente com os projetos práticos, também são vitais. Para mim, tornou possível poder comparar o que queria para minha carreira, que foi focar a área de marketing”, conclui.

Carlos Lacerda, de comunicação dirigida da Fast Shop, optou por trabalhar na área de marketing empresarial

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RÁDIO E TV

Filme entre amigos divulgação

Diogo Dias de Andrade dirige o vídeo de lançamento da camisa do Palmeiras, um dos maiores trabalhos da Videocubo

Estertor. Foi com esse curtametragem que os amigos Davi Moori, Diogo Dias de Andrade e Victor Reis estrearam no mundo do audiovisual. A produção conseguiu reconhecimento nacional e internacional, sendo exibida, inclusive, nos festivais internacionais de Curtas de São Paulo e de Santa Maria da Feira, em Portugal. Entretanto, há um detalhe que torna o feito ainda mais especial: o curta foi produzido dentro da faculdade, como resultado de um trabalho para o curso de Rádio e TV. “Apostamos todas as nossas fichas para realizar um trabalho legal”, conta Victor Reis. A partir daí, os ex-alunos que fizeram parte da primeira turma de RTV, formando-se em 2006, resolveram partir para projetos maiores. Após passarem dois anos trabalhando em produtoras e agências, os amigos se reuniram novamente. E lançaram um projeto mais ambicioso: abrir sua própria produtora.

No ano de 2008, a Videocubo tinha sido criada oficialmente e logo os desafios começaram a surgir. “Não tínhamos dinheiro para alugar um espaço. Então fomos para o apartamento do Davi, ficamos um ano lá. A sala era o nosso escritório. Os primeiros trabalhos foram de orçamentos baixíssimos como making ofs e vídeos institucionais para pequenas empresas”, recorda Reis. A dificuldade não estava apenas em conquistar clientes. Ao montar uma produtora, muitos detalhes devem ser levados em conta. “Você não pode ter conhecimento apenas de como fazer um vídeo. Você tem que saber um pouco de Administração, Direito, Publicidade. Tudo isso você aprende na marra”, conta Diogo. Entretanto, os grandes trabalhos começaram a aparecer e a Videocubo foi ganhando destaque no mercado. Em dois anos e meio de existência, abriu uma sede própria na zona Oeste de São Paulo e já trabalhou

com grandes empresas, como a Coca-Cola, Grupo Etapa, Nike, Adidas, entre outros. Recentemente, a produtora foi responsável por realizar os vídeos promocionais de lançamento das camisas do Fluminense e do Palmeiras – este último tornou-se um sucesso na web, ganhando rápido destaque nas redes sociais. Para Diogo, abrir uma produtora é um projeto arriscado, mas que, se bem executado, pode render ótimos frutos. “Em um determinado mês podemos conseguir um trabalho grande, mas no outro nada. Se isso vale à pena ou não, depende do seu empenho”, argumenta. Os donos da Videocubo destacam a importância da faculdade para a tragetória profissional: “Aqui dentro, existem professores que dão espaço para que cada aluno apresente suas ideias e projetos para o mercado. Esse exercício de montar projetos e desenvolver orçamentos foi muito importante para mim”, pontua Davi. Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


RELAÇÕES PÚBLICAS

Versatilidade em RP

Revista Cásper – Dezebro de 2010 – Nº 2

Hellmans, a Kibon, a Knoor e a Arisco. Em 2007, Agatha foi alçada para o cargo de gerente de comunicação interna da multinacional, realizando uma série de mudanças e implantando novos projetos. “Fizemos uma renovação de conteúdo, de layout da Intranet e do site corporativo, além de criarmos uma televisão corporativa. Foi muito interessante porque tive a oportunidade de usar tudo aquilo que aprendi de conteúdo estratégico, a parte de inovação”, relata. Para ela, o mercado de Comunicação só tende a crescer nos próximos anos: “Tenho observado que o progresso das empresas em relação à comunicação tem sido gigante. Até pouco tempo, haviam empresas consideradas grandes, mas que ainda não tinham um negócio próprio de comunicação e hoje isso está mudando”. Além disso, a relações-públicas complementa, afirmando que “ao conseguir bons resultados, você acaba mobilizando as lideranças para estimular o crescimento dos funcionários, já que isso demonstra que há coisas importantes a serem feitas.” Agatha Faria enumera três elementos que ela considera essenciais para o futuro profissional de relações-públicas. “Planejamento de rotinas para que os imprevistos não atinjam o seu trabalho; treinamento para você e todo seu time, para que cada vez mais consigam aprender sobre experiência de mercado; e, por fim, estabelecer networking e parcerias internas e externas: saber quem são os principais personagens do mercado fará toda a diferença para você e a sua empresa.”

thiago tanji

Agatha Faria, gerente de comunicação externa da Unilever, é prova viva de que o mercado da Comunicação está repleto de possibilidades para o futuro profissional. Caminhos diversos podem ser traçados dentro de uma mesma companhia. Em seu cargo atual, a profissional é responsável por cuidar da reputação da empresa perante a imprensa e a opinião pública. Contudo, ela passou por muitos outros setores até chegar a esse patamar. Agatha entrou na multinacional no mesmo ano em que concluiu o curso de Relações Públicas, em 2001. Naquele período, ela trabalhou como estagiária em um departamento integrado de comunicação e tecnologia da informação (TI). Sua missão era a de “simplificar” a linguagem técnica utilizada pelos funcionários do setor, tornando-a mais acessível para os demais membros da companhia. A profissional se recorda que, por ser um trabalho estabelecido em toda a América Latina, necessitou utilizar línguas estrangeiras desde o início da carreira: “Eu precisei usar o inglês e espanhol logo que entrei. Então, é muito importante para o profissional da comunicação ter domínio de outro idioma, é algo que cada vez mais está sendo demandando”, afirma. Após assumir outras funções no departamento de TI, Faria começou a trabalhar com a comunicação externa da Unilever, sendo responsável pelos eventos e pela assessoria de imprensa da área de alimentos e de sorvetes. Nessa época, entrou em contato com grandes marcas da companhia, como a

Antes de ser gerente de comunicação externa da Unilever, Agatha Faria passou por diferentes cargos dentro da mesma companhia

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ESPECIAL RTV

DIVULGAÇÃO CE/CL

Aprendizagem na teoria e na prática Curso de Rádio e TV se destaca por iniciativa discente e projetos acadêmicos com o olho no mercado por Bruno Podolski A tradição de aliar conhecimento humanístico e teórico ao prático é inerente aos cursos da Cásper. Há décadas a faculdade procura fazer com que os alunos tenham espaço para transformar o conhecimento visto em aula em aprendizado prático. É aí que reside a preocupação em oferecer órgãos laboratoriais e apoiar iniciativas do próprio corpo discente, um dos pontos de destaque também no curso de Rádio e TV. Composta por 30 alunos,

a chamada Comissão Casperito nasceu em 2003 com o intuito de promover eventos e oficinas relacionadas com Rádio e TV. Desde então, tem tradicionalmente organizado, em conjunto com a Coordenadoria de Rádio e TV, a Semana de Audiovisual e o Prêmio Casperito. Durante esta semana promovida pelo curso de RTV, o auditório do 3º andar recebe profissionais para falar sobre temas ligados à área. A edição de 2010,

realizada em agosto, foi recorde de público e transformou-se em uma verdadeira maratona para os organizadores. Ocorreram palestras nos períodos da manhã e da noite, com personalidades como o apresentador do programa Globo Esporte, Thiago Leifert, e Oscar Filho, repórter do humorístico CQC. Workshops ainda foram realizados à tarde. Luís Marcondes, ex-aluno que integra a comissão, ressalta que a escolha dos assuntos abordados é pensada para contemplar Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


Thiago Leifert, apresentador do programa Globo Esporte, palestrou para casperianos na Semana de Audiovisual

muito esforço envolvido neste processo. Os estudantes fazem um trabalho completo, muito parecido com o que teriam de realizar fora da faculdade. Eles mesmos devem produzir o roteiro, o storyboard, os cenários, o figurino e a maquiagem dos atores, que são selecionados e contratados pelos próprios alunos. Elisa destaca ainda que é rara a possibilidade de alunos montarem um cenário. “Não vemos isso em outros lugares. Nossos alunos não são obrigados a construir um cenário, mas estimulamos fortemente que pelo menos um dos ambientes seja um cenário construído. É um espaço privilegiado para experimentar as delícias e as dores da profissão.” Elisa acredita que o projeto é um aprendizado que fará diferença em qualquer ramo do mercado de trabalho. “A experiência que os estudantes levam é tão grande que tudo que eles pensaram e penaram aqui, as dicas e todo o aprendizado que tiveram, servirá para todas as outras áreas de RTV.” DIVULGAÇÃO CE/CL

os interesses de todos os cursos da faculdade. “Pensamos em trazer temas que não sejam apenas de Rádio e TV, mas de comunicação em geral, para que os outros alunos também possam se interessar”, conta. Há sete anos o Prêmio Casperito, “o Oscar dos estudantes de RTV”, consagra os melhores trabalhos produzidos no curso. Os participantes devem escolher entre oito categorias disponíveis para inscrever seus trabalhos. As produções disputam o voto de uma banca julgadora composta por professores, ex-alunos e profissionais da área. Para completar a noite de gala, a premiação ocorre durante uma badalada festa.

em conjunto com o curso de Publicidade e Propaganda. O trabalho consiste em auxiliar os futuros publicitários na confecção de uma peça publicitária audiovisual, simbolizando uma parceria frequente no mercado de trabalho. “Os alunos podem produzir cenas externas, gravar no estúdio, pôr trilha sonora. É um desafio”, define Ninho Moraes, professor da disciplina Produção de Rádio. Tudo é realizado fora do horário de aula. Os equipamentos são fornecidos pela faculdade. A aluna Mariana Pascutti aprova a iniciativa do Projeto Virtual. “Ele simula muito uma relação profissional fora da faculdade. É puxado, mas é o ideal, porque é assim lá fora.” Já no 3º ano, o curso se volta para a produção do Projeto Interdisciplinar, que envolve seis das dez disciplinas ministradas, em torno do objetivo de criar uma produção de teledramaturgia ao longo do ano. A coordenadora do Núcleo de Produção, profa. Elisa Marconi, admite que, por mais que a história seja simples, tem

Conhecimento prático Dentro das salas de aula também existe forte preocupação com a articulação entre disciplinas e o conhecimento prático. No 2º ano de graduação ocorre o Projeto Virtual, realizado Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

A Semana de Audivisual resultou de um trabalho conjunto entre alunos e Coordenadoria

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PALESTRA

DIVULGAÇÃO CE/CL

O coordenador de jornalismo, Carlos Costa, recebeu a equipe do Profissão Repórter

Jornalismo em questão Fórum anual de Jornalismo promovido pela faculdade traz profissionais para debater a profissão. Equipe do Profissão Repórter foi o destaque deste ano Por Ayana Trad Colaboração Lidia Zuin

Todos os anos, a Coordenadoria de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero organiza um dia inteiramente voltado à discussão do jornalismo, promovendo palestras, exibição de filmes, oficinas e workshops.

Neste ano, o principal destaque do evento foi a presença da equipe do programa comandado pelo jornalista Caco Barcellos, Profissão Repórter, exibido pela rede Globo, que ministrou uma palestra sobre o jornalismo televisivo, suas particularidades e desafios. O encontro, promovido pela Cásper e pela Rede Globo, teve uma proposta diferente do que a exposição de uma simples palestra. Câmeras foram distribuídas para alguns alunos filmarem sua própria visão do evento, realizando um tipo de registro semelhante à proposta do Profissão Repórter, no qual os jovens jornalistas contam a mesma história sob diferentes perspectivas. Ao final, esse produto foi editado e postado no

site do programa. “Esse é um projeto piloto que está sendo construído e o objetivo é fazer uma coisa que seja interessante para o programa e para os alunos da faculdade”, explica o coordenador de internet da Rede Globo, Eduardo Acquaron. A realização da parceria se deu por uma preocupação mútua em aproximar a academia com o mercado de trabalho. “Devemos pensar cada vez mais em integração, ou seja, a troca entre esses dois espaços porque, no final das contas, eles atuam juntos”, aponta Carla Bartz, coordenadora do Globo Universidade, que foi criado em 1999 e é o elo entre as faculdades de comunicação e a emissora. “Por excelência, Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2


a universidade é um espaço de experimentação e já que o Profissão Repórter tem um pé no experimental, planejamos criar um evento que não fosse apenas uma palestra, mas uma atividade diferente”, comenta Bartz.

O evento e a televisão

Francesco Zizola, que já cobriu as guerras do Golfo e do Iraque, ao lado da professora Simonetta Persichetti

efetividade do filme e as questões que ele levanta. Ricardo Kauffman explicou que a ideia do documentário veio do incômodo de perceber a situação da profissão do jornalista. O diretor sentiu a necessidade de falar do sistema de filtros da redação e da pressão que o deadline causa no profissional. Já o jornalista Edson Rossi admitiu que o forte das redações nunca foi o filtro de seleção de reportagens. Rossi ainda acrescenta que a situação tende a ser pior nas novas mídias devido ao curto tempo para a realização das matérias. Os professores da Cásper Líbero falaram do filme aplicandoo à realidade da academia e do mercado. Caio Túlio Costa fez duras críticas à pratica atual do jornalismo e se posicionou de maneira negativa em relação ao futuro. Já Igor Fuser analisou a situação do profissional: “A exploração dos jornalistas é vigente. Os repórteres trabalham mais que as leis trabalhistas do Brasil permitem. A criticidade do profissional começa a ser esmagada no momento em que ele começa a abrir mão de seus direito básicos”, analisou. O debate acabou com mais questões em aberto do que começou, afinal essa é a finalidade: fazer com que os alunos reflitam sobre a profissão que escolheram. DIVULGAÇÃO CE/CL

A palestra com o Profissão Repórter expôs o peso da responsabilidade social do jornalista. Caco Barcellos explicou a necessidade de procurar entender os diversos ângulos de um acontecimento e o dever de reportá-los de maneira fiel. “Nós somos radicalmente repórteres. A história deve ser a estrela do trabalho”, explica o jornalista. Segundo Caco, a reportagem tem como foco o que está sendo reportado, mas o envolvimento do repórter ajuda a aprofundar a busca pelo conteúdo. Exibições de trechos do programa foram assunto de debates entre os palestrantes e os alunos, que fizeram perguntas sobre o formato do programa e sua maneira inovadora de contar histórias. Caio Cavechini, apontou a importância do envolvimento do repórter durante toda a produção da matéria, inclusive na edição. O jovem, além de fazer algumas reportagens, edita parte do conteúdo do programa. Thais Itaqui e o ex-casperiano Thiago Jock explicaram o árduo processo de produzir um conteúdo de qualidade. Para eles, o maior desafio é saber abordar o entrevistado, buscando um foco diferenciado para a reportagem.

que estamos construindo. E digo isso de modo negativo”, disse. Também formado em Antropologia, Zizola já cobriu guerras como a da Iugoslávia, Golfo, Iraque e Afeganistão. Além de falar sobre sua profissão, Zizola abordou a questão da ética jornalística. Segundo ele, o bom jornalismo tenta dar conta dos fatos e não construir realidades, como fazem escritores e atores. De qualquer forma, o italiano alertou para a existência de pontos críticos que precisam ser mais bem explorados. “Se ocultados, eles põem a sociedade em risco. Mesmo nos países ricos, por exemplo, há regiões pobres e isso não pode ser escondido.” Para ele, a função do fotojornalismo, então, seria a de quebrar preconceitos e mostrar uma realidade maior. Ele cita Eugene Smith, lembrando que o fotógrafo sempre ministrava palestras tomando uma garrafa de whisky. “Na verdade, não era whisky que ele bebia, mas suco. As aparências enganam.” O Fórum foi encerrado com a exibição do filme O Abraço Corporativo, de Ricardo Kauffman, seguido por um debate. A mesa, formada pelo diretor do documentário, por Edson Rossi, professor e ex-diretor de redação da revista VIP, e pelos professores da Cásper Caio Tulio Costa e Igor Fuser, discutiu a

Fotografia e cinema O fórum também contou com a palestra de Francesco Zizola, fotojornalista italiano que, junto de mais outros nove fotógrafos, faz parte do NOOR, grupo que tem como foco de seus trabalhos o questionamento da condição humana. “Nós fazemos um convite a prestar atenção no mundo Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

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PROFESSORES

Docentes em destaque Confira abaixo os trabalhos recentes de alguns dos professores da Faculdade

Roberto Chiachiri publica trabalho em site do Museu Francês de Fotografia O professor do curso de Publicidade e Propaganda, Roberto Chiachiri, teve um de seus trabalhos publicado no site do Museu Francês de Fotografia no primeiro semestre deste ano. O estudo, fruto de um esforço conjunto entre o CRICC (Centre de Recherche Images Cultures et Cognitions da Université Sorbonne Paris 1) e o Museu Francês de Fotografia, é uma análise semiótica da fotografia intitulada “Tenue de protection’’ e é voltado à educação pela imagem para alunos do ensino médio na França. O trabalho está hospedado provisoriamente em http://www.drakni.com/MFP/

Celso Unzelte lança obra enciclopédica sobre a história do Corinthians No último dia 31 de agosto, o professor no curso de Jornalismo, Celso Unzelte, lançou mais uma obra sobre a história do Corinthians. Trata-se da Bíblia do Corintiano (Panda Books), que, além de contar a história do clube, reúne alguns documentos históricos, como reproduções de jornais com as manchetes das grandes conquistas alvinegras. Unzelte é um especialista na história do time paulista. O jornalista já escreveu, entre outros livros, o Almanaque do Timão, Os Dez Mais do Corinthians e Timão 100 anos, 100 jogos, 100 ídolos.

Relação entre TV e cidadania é estudada em obra de Sílvio Barbosa Durante a realização da 21ª Bienal Internacional do Livro, no dia 17 de agosto, o professor dos cursos de Jornalismo e Rádio e TV da Cásper, Sílvio Barbosa, lançou a obra TV e Cidadania (All Print Editora). O livro é uma adaptação de sua tese de doutorado, defendida na ECA/USP em 2006. Na publicação, o professor discute a importância da televisão como transmissora de noções de cidadania. Por meio de pesquisas em ONGs, Barbosa aponta alguns exemplos de programas jornalísticos e ficcionais que abordam importantes discussões sociais, como os direitos das mulheres, dos homossexuais, dos deficientes e dos negros.

Ninho Moraes lança livro sobre o cineasta Luiz Sérgio Person Radiografia de um filme: São Paulo S.A. de Luiz Sérgio Person é a mais recente obra de Ninho Moraes. Jornalista, cineasta, e professor no curso de Rádio e TV da Cásper, Moraes fez o livro baseado em sua dissertação de mestrado, um estudo da mais relevante obra de Person, São Paulo S.A. O homem médio é retratado em uma

São Paulo que começa a ter fôlego industrial: o raio-X feito do diretor paulistano e da película citada refletem características da vida em meados de 1950. O livro traz depoimentos dos envolvidos no filme, o roteiro, as fases da produção. Mais do que um biografia, o livro é um resgate da memória cultural.

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Estudo realizado na Faculdade Cásper Líbero é aprovado pelo Conselho Nacional de Pesquisa

Luiz Alberto de Farias ministra aula magna em universidade argentina O professor Luiz Alberto de Farias, do curso de RP, participou como conferencista da II Conferência Internacional de Relações Públicas, realizada em agosto pelo Consejo Profesional de Relaciones Públicas da Argentina, em Buenos Aires, onde também ministrou aula magna na Universidad de Palermo. Em setembro, coordenou a Divisão Temática de Comunicação Organizacional e Relações Públicas no Intercom Jr., durante o Congresso Intercom 2010, no Rio Grande do Sul.

O trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa “Tecnologia, Comunicação e Cultura de Rede (TECCRED)”, intitulado Observatório da Mídia Social Conectada, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Líder do grupo, o professor do programa de Pós-graduação da Cásper, Walter Teixeira Lima Júnior propõe um estudo que verifique a influência das informações eleitorais retransmitidas por internautas nas redes sociais.

Livro investiga a história da trapaça no Brasil Lançado em novembro, o novo livro do professor José Augusto Dias, Os Contos e os vigários – uma história da trapaça no Brasil, trata dos mecanismos culturais que deram sustento e organização à vigarice nas grandes metrópoles do país durante o século XX. O professor de História Contemporânea nos cursos de graduação da Cásper revela as engenhosas histórias que eram contadas para ludibriar as pessoas nas ruas. Composta por seis contos, a obra traça uma história cultural do Brasil a partir de casos que envolvem trapaças e vigarices.

Luís Mauro lança Comunicação e identidade - quem você pensa que é? Quem é você? É com essa pergunta complexa e intrigante que o jornalista e professor de Comunicação Comparada no curso de Jornalismo da Cásper, Luís Mauro Sá Martino, começa sua mais nova obra: Comunicação e identidade – quem você pensa que é? O livro transita entre teoria e prática, reunindo as principais ideias sobre comunicação e identidade, articulando-as com as diversas práticas cotidianas. O professor usa de exemplos palpáveis como músicas, filmes e fatos corriqueiros para mostrar o que acontece com a identidade de uma sociedade mediada e como ela se reinterpreta diante da própria mídia. Luís Mauro usa de exemplos concretos como músicas, filmes e fatos corriqueiros para mostrar o que acontece com a identidade de uma sociedade mediada e como ela se reinterpreta diante da própria mídia. Além disso, a obra dá atenção especial à nova realidade social trazida com a Internet, geradora de uma “identidade virtual”.

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CIDADANIA

1º LUGAR Alunos: Beatriz Oliveira, Cintia Adriana Hashimoto, Gabriela Bonavita, Jéssica Akemi, Jorge Hohmuth, Natalia Mayumi, Rafael Rodrigues, Rebecca Ferreira Agência: Volpe Cliente: Grupo de Apoio a pais de Homosexuais

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Publicidade do bem Curso da Cásper alia aprendizado prático e responsabilidade social Por Henrique Koller Dando continuidade à tradição da Fundação Cásper Líbero em promover ações solidárias, o Projeto Cidadão merece posição de destaque. Inteiramente feito por alunos de Publicidade e Propaganda do terceiro ano, o projeto consiste na criação de uma campanha publicitária completa para ONGs ou instituições sociais sem fins lucrativos. A ideia nasceu em 2004, a partir da sugestão do professor Claudio Arantes, que leciona a disciplina Ciência Política no curso e Realidade do Brasil Contemporâneo em Jornalismo. A primeira campanha foi direcionada para a conscientização política do eleitor, com o tema “Ética na Política”. A princípio, os professores dirigentes do projeto pré-estabeleciam os temas que dariam origem às campanhas dos alunos. Em 2007, os alunos tiveram a liberdade de escolher qualquer organização, desde que estas não visassem fins lucrativos. A mudança de diretriz aconteceu para fazer com que os alunos tivessem maior identificação com a ideia, mas sempre privilegiando atividades sociais, como uma forma de mostrar que a publicidade empresarial não é a única faceta desta área de graduação, que é tão marcada por pautas que incentivam o consumo de vários produtos, dos mais variados gêneros.

Mão na massa A maioria das disciplinas do curso se envolve na empreitada. Cada professor orienta a zRevista Cásper –Dezembro de 2010 – Nº 2

tarefa no aspecto correspondente à disciplina que leciona. O trabalho começa com a escolha da ONG pelo grupo. Em seguida, vem a parte que, segundo a coordenadora do curso, Vilma Schatzer, é uma das mais difíceis de todo processo: identificar qual o problema da ONG e o que a comunicação pode fazer por ela. “Se eles precisam de uma casa, nós não podemos dar. Mas nós podemos fazer uma comunicação para aumentar o número de doações, o número de associados”, exemplifica Vilma. Em seguida, há a elaboração do briefing (mapeamento do “problema” e o conjunto de abordagens que a campanha terá de realizar para tentar solucioná-lo). Após essa etapa, a propaganda começa a ganhar forma prática. São criados vários slogans que depois serão selecionados e lapidados. Em alguns casos, mais de 30 slogans são criados até que a forma final apareça. Os alunos são orientados a fugirem, sempre, do senso comum, das campanhas dramáticas e piegas. Os textos para as mídias englobadas na campanha são trabalhados à exaustão para se encaixarem nos formatos apropriados. São escritos textos para rádio, TV, cartões e mídias impressas e eletrônicas. Ao final do trabalho, as campanhas são expostas às ONGs e a concessão dos direitos de uso de imagem e mídia são integrais e gratuitos, cabendo às instituições usarem o material da melhor forma possível.

Talento reconhecido Desde a primeira edição, o Projeto Cidadão possibilita veiculação externa aos melhores trabalhos, selecionados pelos professores por meio de votação, os quais levam em conta quesitos como qualidade de texto e criação. Em 2004, a melhor campanha sobre ética na política foi mostrada pela Central de Outdoor de São Paulo em um triedro na esquina da rua Maria Figueiredo com a avenida Paulista. Desde 2007, houve parceria com uma empresa de postcards, que imprime e distribui 5 mil cartões com a campanha em todo o Brasil. Além dessa empresa, estuda-se uma parceria com a rádio universitária Gazeta AM para os anúncios irem ao ar durante a programação. Textos publicitários para a TV Minuto também foram produzidos como parte integrante da campanha. Desenvolvido da estaca zero até a campanha final inteiramente por alunos, o Projeto Cidadão é um exemplo perfeito da capacidade acadêmica e, sobretudo, criativa dos alunos de Publicidade e Propagada da Cásper Líbero. Criatividade que é colocada em ação para promover questões sociais de uma forma ativa e que realmente ajude as instituições sociais. Projetos de papel que saem do papel para comprovar que a publicidade empresarial não é tudo. O Projeto Cidadão constroi publicitários melhores. Confira nas páginas seguintes os melhores anúncios publicitários realizados em 2010.

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2º LUGAR Alunos: Bianca Rodrigues, Bruno Ceccon, Daiane Fonseca, Diego Alves, Gisele Martins, Nathália Vieira, Thaís Ferreira, Victor Jamalaro Agência: Publiciteca Cliente: Mães da Sé

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3º LUGAR Alunos: Adriano Nunes, Jenifer Garcia, Gabriela Mendes, Larissa Perroni, Mariana Emy, Nayara Teixeira, Patricia Teixeira, Yan Martins Agência: Tara Cliente: Associação Amor é um Movimento

3º LUGAR Alunos: Isabelle Soares, Felipe Lavdovsky, Fernando Santos, Mariana Guimarães, Mayara Oliveira, Rebeca Rocha, Victor Onedo, Viviane Silva Agência: Nimbus Cliente: Associação Novo Olhar

MENÇÃO HONROSA Alunos: André Oviedo, Felipe Sona, Fernando Michel, Iris Fuzaro, Mariana Torres, Rafael Abílio, Rafael Abílio, Tereza Cristina Gomes Agência: Tetris Cliente: Gidev

Veja todos os trabalhos no portal da Cásper Líbero http://www.casperlibero.edu.br

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RESENHA

Bons tempos para

Samuel Beckett

Coleção Prosa do Mundo, da Cosac Naify, lança Dias felizes, texto teatral do autor irlandês agraciado com o Nobel de literatura em 1969 por Welington Andrade Não só os profissionais de teatro, professores e estudiosos como também os leitores mais exigentes conhecem a dificuldade crônica para se encontrarem boas edições de textos dramatúrgicos no mercado editorial brasileiro, sobretudo aqueles acompanhados de vigorosas reflexões teóricas e alentado material de apoio. Esse seria um motivo mais do que suficiente para saudar o lançamento de Dias felizes, uma das obras-primas da dramaturgia de Samuel Beckett (1906-1989), que o professor e ensaísta Fabio de Souza Andrade acaba de traduzir para a coleção Prosa do Mundo, da editora Cosac Naif. Muito bem amparada na intimidade com a obra de Beckett que os anos de estudo sobre o escritor e dramaturgo irlandês conferiram ao tradutor (hoje, certamente, uma das maiores autoridades brasileiras na literatura beckettiana), a presente edição de Dias felizes conduz o leitor por uma tradução em português realizada em plena consonância com as especificidades do texto original, constituindo ainda, por conta de um prefácio e de um apêndice caudalosos, um guia adequado para quem quiser se familiarizar com uma das prosas mais perturbadoras do século XX. A obra de Beckett é marcada pelo intenso anseio de silêncio e aniquilação. Para ele o mundo carece de sentido e toda expressão e fútil, não cabendo ao escritor, ironicamente, outro papel que não seja o de expres-

sar essas ideias. Dividindo-se entre escrever em inglês e em francês – como garantia de que sua obra permanecesse em luta constante com o próprio espírito da língua –, o autor esvaziou o mundo da narrativa tradicional de seus elementos básicos, optando por criar histórias despojadas de enredo e brilho. Os principais temas dessas narrativas são os problemas da existência e da identidade do eu, o hábito e a rotina tomados como elementos corrosivos da era moderna, a natureza absolutamente ilusória dos contatos sociais e a trágica dificuldade do homem de tomar consciência de si mesmo frente ao impiedoso processo de consumação do tempo. No decênio que vai de 1951 a 1961, ele escreveu a trilogia narrativa que lhe outorgou a reputação de uma das maiores forças e influências literárias de seu tempo – Molloy (1951), Malone morre (1951) e O inominável (1953) – e o trio de peças que o consagrou como um dos grandes renovadores da dramaturgia do século XX: Esperando Godot (1952), Fim de partida (1957) e Dias felizes (1961). Logo após o choque violento que as duplas de outsiders Estragon e Vladimir (Esperando Godot) e Hamm e Clov (Fim de partida) causaram ao portentoso edifício das formas assumidas pelo teatro ocidental desde suas origens gregas, Beckett iria detonar também os poucos escombros que haviam sobrado, concebendo Dias felizes, a história de uma vaidosa mulher de meia-idade – Winnie –,

enterrada sob um sol a pino em uma colina seca (no primeiro ato, até a cintura; no segundo ato, até o pescoço), e de seu inerte marido, Willie. Nos dois atos da peça, Winnie nada mais faz do que se apegar a ritos cotidianos, para, entre falas entrecortadas e vacilantes – nas quais se sobressai o bordão “Ah, aqueles dias felizes” (que Beckett tomou de um poema de Verlaine e de uma canção popular americana) – fazer passar o tempo, distraindo-se, assim, de sua tragicômica situação. Em um prefácio de profunda penetração – A felicidade desidratada –, Fábio de Souza Andrade (professor de Teoria Literária na Universidade de São Paulo) examina os principais pontos da poética beckettiana, fazendo uso de uma investigação teórica rigorosa sem ser hermética; espessa, mas de boa compreensão. Essa apresentação de Dias felizes torna-se obrigatória para os estudos beckettianos em língua portuguesa e essencial para aqueles que pretendem se debruçar sobre a obra do autor.

Dias Felizes, de Samuel Beckett, lançado pela Cosac Naify

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coisas

velhas e novas por Carlos Costa

A coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras, faz lembrar a frase bíblica: “Todo escriba versado no reino dos céus é semelhante ao pai de família que tira de seu depósito coisas novas e velhas” (Mt. 13, 52). Dois lançamentos recentes desse baú de tesouros merecem a leitura pelos jovens jornalistas. Um é o livro reportagem Esqueleto na Lagoa Verde – ensaio sobre a vida e o sumiço do Coronel Fawcett, publicado em 1953 pelo repórter do Correio da Manhã, Antonio Callado. O outro é Operação Massacre, lançado na Argentina em 1957 pelo ex-revisor e escritor de romances policiais Rodolfo Walsh – e que se tornou um clássico no país vizinho. Relançado agora, 57 anos após a publicação, o livro de Callado é uma aula de jornalismo. O coronel Percy Harrison Fawcett foi um dos últimos representantes da linhagem de exploradores ingleses que desbravaram o interior da África e Ásia, descobrindo cachoeiras, templos perdidos em meio a ruínas, mapeando regiões até então desconhecidas. Fawcett estivera diversas vezes na Amazônia e, como mostra Callado, queria ligar seu nome a uma descoberta fantástica: nada menos que a mítica Eldorado. Na expedição que realizou em 1925, acompanhado do filho James e do amigo deste, Raleigh Rimmel, todos desapareceram. Provavelmente assassinados pelos índios que se recusaram a seguir o ritmo imposto pelo autoritário inglês. Foram muitas as buscas pelo coronel. A priRevista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2

meira, organizada em 1928 por George M. Dyott, resultou num livro, fonte das muitas pesquisas realizadas por Callado. Mas o assunto voltou à tona quando o sertanista Orlando Villas Bôas ouviu dos índios calapalos relatos confirmando o assassinato e dando pistas da localização das ossadas. Farejando uma grande reportagem para seus Diários Associados, Assis Chateaubriand organizou nova expedição que acompanharia o filho caçula de Fawcett, Brian, vindo da Inglaterra para acompanhar o desenrolar da história. Chatô destacou uma equipe da revista O Cruzeiro para a cobertura e, numa de suas boutades, convidou Callado, que trabalhava no Correio da Manhã. A empreitada deu em nada: a análise dos ossos apontava para um homem bem mais baixo que Fawcett; mesmo assim, Callado publicou um dos melhores livros-reportagens brasileiros, antecipando o que viria a ser celebrado depois como o “jornalismo literário”. Lançado quatro anos após a obra-prima de Callado, Operação Massacre tem apenas agora tradução para o Brasil. Como analisa Ruy Castro na nota biográfica que encerra a edição, “Quando mergulhou nos fuzilamentos da Operação Massacre em 1956 – que provavelmente viu a princípio apenas como um bom material para uma história – Walsh não sabia que estava dando uma guinada radical em sua vida.” Revisor da Editora Hachette e iniciante na ficção policial (gênero muito cultivado na Argentina de então), Walsh

foi fisgado pela curiosidade ao saber da sobrevivência de um dos 12 operários sequestrados e fuzilados em uma execução sumária pelos militares antiperonistas. Começa a puxar o fio dessa história e descobre que não é apenas um operário que se fingiu de morto e sobreviveu, mas dois, depois um terceiro... são sete, todos escondidos da polícia. A partir de suas descobertas, escreveu dezenas de relatos sobre a chacina, publicados em folhetos rapidamente esgotados. Acabou entrando para a militância e a clandestinidade, e finalmente costura essa história misturando a investigação jornalística com o suspense da literatura policial. “Foi preciso que em 1966 Truman Capote anunciasse a invenção do “romance de não ficção”, com A sangue frio, para que os argentinos soubessem que Walsh antecipara Capote em quase dez anos – uma façanha literária nada pequena”, escreve Castro. Outra leitura para quem quer aprender a fazer jornalismo.

Operação Massacre, de Rodolfo Walsh, e Esqueleto na Lagoa Verde, de Antonio Callado

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CRÔNICA

ilustraÇão: LEO LUCCA

A culpa é do estagiário

A

lei uma hora diz que deve, outra hora proíbe, depois regulamenta, mas o fato é que todo mundo é, foi ou será estagiário. Não dá para escapar – só se seu pai for o dono da empresa, quando então você já começa estagiando como diretor geral. Para os outros só há um caminho, enfrentar os processos seletivos, sorrir e acenar, recitar o que se deve falar em entrevistas e conseguir a vaga. Não é de todo mal: o estágio é uma maneira da pessoa entrar na área, tomar contato com o cotidiano da profissão, complementar o que aprende na faculdade. Às vezes até tem algum salário. Para alguns é um choque. Afinal, a pessoa entrou na faculdade, está no topo da cadeia alimentar, estuda, se prepara e, finalmente, quando consegue o estágio, descobre que às vezes não era o que estava esperando – anos atrás um anúncio colocado em muitas faculdades pedia “estudantes de comunicação” com “criatividade, empenho, proatividade e desembaraço” para “trabalho de caráter social”. Era o telemarketing de uma ONG. A vida de estágios e trainees tem certas características que não mudam com o tempo. Entre suas funções, trabalhar duro, esquecer horários, receber um discreto elogio pelas grandes idéias, levar a culpa. O estagiário é alguém que está sempre esperando. A situação é transitória, o que pode ser bom ou ruim conforme o caso e o estágio. A médio prazo só há três alternativas: (a) ser contratado (b) ser demitido (c) arrumar coisa melhor e se mandar. O que às vezes falta em experiência o estagiário compensa em entusiasmo. Trabalha com todo o empenho e, quando consegue uma chance, mantém a dedicação a qualquer custo. Uma vez, ainda estudante, recebi um telefonema entusiasmado de um amigo, aluno de publicidade: – Cara, lembra daquele estágio? Então, rolou! Sou assistente de redação, trabalho com o diretor da agência. Foi seu último telefonema em cinco meses. Seus con-

por Luís Mauro Sá Martino

tatos se restringiram a emails, geralmente desmarcando pizzas e saídas com a turma. No começo ele ainda justificava: “Infelizmente não vou poder sair com vocês hoje, estou com um trabalho aqui e não posso ir”. Depois ficou mais objetivo: “Não vou poder ir. Desculpem”. No final, seus emails eram twitts: “ñ rola flw”. Perdeu a namorada para um estudante de Física da mesma universidade. Mas logo se vingou: começou a sair com uma colega da agência – afinal, os dois passavam quase o dia todo todo dia no mesmo lugar. Casaram, o primeiro filho ia nascer mas nem o pai nem a mãe puderam ir – tinham um trabalho urgente naquela semana. Hoje ele tem uma pousada em Piracicaba. Mas nem tudo é assim. Ao contrário. Uma vez, quando ainda era estagiário, o diretor do lugar foi chamado para participar do lançamento de um livro de um cliente. – Escuta, disse o diretor estendendo-me um papel, isso aqui é um convite para o jantar após o lançamento. Eu não posso ir, você vai no meu lugar. Abriu a carteira e tirou duas notas de cem reais: – Isto é para você comprar um vinho de presente para o autor. O resto é para o táxi, não pega bem você aparecer de ônibus. Você tem um terno bom? Respondi “sim” e me arrependi em seguida: eu poderia ter ganho um Armani. Mesmo com um terno mais simples, fui de táxi, levei um vinho importado (A tentação de levar um San Tomé e ficar com o resto do dinheiro foi grande. Maldita ética) e experimentei coisas fantásticas como champanhe da região de Champagne e caviar. Resta a esperança de saber que até os grandes foram estagiários um dia. Quando era aprendiz de maestro, o compositor Gustav Mahler (1860-1911) tinha como tarefa, entre outras coisas, varrer o chão do teatro e levar os filhos do diretor para passear na cidade. Algo a lembrar quando alguma tarefa parecer particularmente sem sentido. Luís Mauro Sá Martino é doutor em Ciências Sociais, jornalista e professor na Faculdade Cásper Líbero

Revista Cásper – Dezembro de 2010 – Nº 2




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