Revista Cásper #24

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´ CASPER 24 Maio, junho, julho e agosto de 2018

OS SETE PECADOS Em que aspectos o jornalismo incorre na luxúria, ira, gula, inveja, avareza, soberba e preguiça: uma reflexão sobre os desafios da profissão

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´ CASPER ISSN 2446-4910

FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO PRESIDENTE Paulo Camarda SUPERINTENDENTE GERAL Sérgio Felipe dos Santos

FACULDADE CÁSPER LÍBERO DIRETOR Carlos Costa REVISTA CÁSPER NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS COORDENADORA DE ENSINO DE JORNALISMO Helena Jacob EDITOR-CHEFE Eduardo Nunomura EDITORES Guto Martini e Rafaela Artero CONSELHO EDITORIAL Helena Jacob, José Eugenio de Oliveira Menezes, Joubert Brito, Marcelo Rodrigues, Patrícia Salvatori, Roberto D’Ugo e Sonia Castino REPORTAGEM Amanda Ravelli, Beatriz Fontes, Camille Carboni, Gabriel Oliveira, Guilherme Brandão, Guto Martini, Henrique Artuni, João Gabriel Lopes, Larissa Basilio, Larissa Bomfim, Livia Murata, Luana Jimenez, Pedro Garcia, Rafaela Artero, Rafaela Bonilla, Thiago Bio, Viviane Fonseca e Yasmin Toledo Barros COLABORADORES Claudio Novaes Pinto Coelho e Diego Silva EDITORA DE ARTE E FOTOGRAFIA Luana Jimenez PROJETO GRÁFICO Giulia Gamba DIAGRAMAÇÃO Henrique Artuni, Larissa Basilio e Luana Jimenez REVISÃO Sonia Castino e Rafaela Bonilla NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS Avenida Paulista, 900 – 5º andar 01310-940 – São Paulo – SP (11) 3170-5874/5814 revistacasper@casperlibero.edu.br revistacasper.casperlibero.edu.br CAPA Luana Jimenez IMPRESSÃO E ACABAMENTO Eskenazi Indústria Gráfica 4

Se não houver maio • junho • julho • agosto 2017um © explicitado, você pode

CC

BY

copiar, adaptar e distribuir os conteúdos desta revista, desde que atribua créditos

APRENDER COM A HISTÓRIA Hoje sabemos que 1968 foi um ano histórico. No Brasil, houve manifestações em massa contra a ditadura civil-militar e, como resposta, o recrudescimento da repressão, com o Ato Institucional-5. No exterior, estudantes parisienses também foram reprimidos e forças policiais invadiram a Universidade Sorbonne. Cresciam as críticas à guerra do Vietnã, a Primavera de Praga colocava em xeque os regimes comunistas e o ativista negro Martin Luther King era assassinado. Um artigo do professor Cláudio Novaes Pinto Coelho, especial para esta edição da CÁSPER, nos alerta para a importância de não esquecermos a história. De 50 anos para cá, o mundo mudou em tantas dimensões, mas alguns acontecimentos continuam se repetindo. Em 2018, a ativista negra Marielle Franco foi brutalmente assassinada no Rio em meio a mais uma intervenção do Exército. O Brasil permanece como a nação mais desigual do mundo e a própria democracia vem sendo colocada em suspeição por toda parte. O fotógrafo Severino Silva, perfilado na seção Portfólio, nos mostra a dramaticidade da violência urbana utilizando a melhor ferramenta à sua disposição: a vontade de ir atrás da verdade, um princípio fundante do bom jornalismo. Nos últimos 50 anos, a comunicação sofreu pequenas grandes revoluções. No jornalismo, em particular, é como se uma nova função tivesse sido inventada. As práticas do passado ainda servem ao presente, este marcado pela enorme influência da cibercultura? Em meio ao declínio dos veículos impressos e do poderio das plataformas de tecnologia, o jornalismo vive uma fase de profunda transformação, que alguns batizaram de “crise”. A revista CÁSPER entrevistou renomados profissionais e pesquisadores da comunicação para discutir essa questão. Abordamos o tema a partir de uma releitura dos pecados capitais, mas no sentido de provocar uma reflexão mais ampla do que simplesmente purgar o que temos feito de errado. Para avançar, é preciso compreender por que e como chegamos até aqui. Uma boa leitura a todos.

EDUARDO NUNOMURA

Editor-chefe



SUMÁRIO 8

:: POR ONDE ANDA ::

A trajetória da RP que começou sua carreira no voluntariado

10 :: FEITO À MÃO ::

O ASMR ajuda as pessoas dormirem e virou febre no YouTube

11 :: POR CONTA PRÓPRIA:: Novas plataformas ajudam a empresas se conectarem com o seu público

48 PORTFÓLIO

Das raízes culturais nordestina ao caos urbano carioca

12 :: BITS & BITES ::

Aplicativos facilitam acessibilidade para os fãs de arte e tecnologia

16 CÁSPER DIGITAL

O ensino à distância começa a sua jornada na Faculdade Cásper Líbero

18 STREAMING

A indústria da tecnologia dita as novas regras do entretenimento audiovisual

22 eSPORTS

Os atletas do mundo dos games marcam presença em megaeventos esportivos

24 REALIDADE VIRTUAL

38 GAZETA AM: 75 ANOS

Novas possibilidades jornalísticas com o uso de câmeras 360º

A história de uma das rádios mais tradicionais de São Paulo

26 INGMAR BERGMAN

Centenário do diretor sueco Ingmar Bergman

28 OS SETE PECADOS

A prática do jornalismo atual sob uma perspectiva crítica

44 1968

Um quadro histórico e cultural cinco décadas depois de um ano emblemático

54 :: GIRO PELO MUNDO :: 56 CASPERIANAS 58 :: PARA SABER MAIS ::

13 DESENHO

Produções audiovisuais brasileiras, como Mundo de Bita, despontam no exterior

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CÁSPER

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POR ONDE ANDA

Com propósitos :: RELAÇÕES PÚBLICAS :: Do voluntariado ao emprego dos sonhos, o caminho de uma jovem RP a partir da Cásper Líbero

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m 2009, uma pergunta não saía da cabeça de

que viam para a sala de aula e a gente fazia conexão

Carla Fava: aonde ela gostaria de chegar em

com o que estava vendo”, afirma. No quarto ano da

sua vida profissional? “Eu buscava, dentro da

Cásper, decidida a procurar por novas oportunidades,

comunicação, um curso que trouxesse um olhar não tão

participou de um longo processo seletivo na Whirlpool,

segmentado”. Percebeu que o curso de Relações Públicas

empresa responsável por marcas como Brastemp, Consul

era o que melhor se encaixaria em seus objetivos.

e Kitchen Aid. Lá, trabalhou praticamente em todos os

Naquele mesmo ano, ingressou na Cásper Líbero.

setores na área da comunicação. O desempenho foi

Quase uma década depois, uma Carla muito mais

tão reconhecido, que chegou a flertar com o setor de

experiente nos recebe em sua sala na Talenses, empresa

negócios, quando conquistou uma vaga em business

na qual é diretora de comunicação. Olhando para trás,

intelligence (área que analisa grande volume de dados e

a casperiana afirma que sua única certeza ao entrar na

informações para subsidiar a gestão de negócios).

Faculdade era a de querer contribuir com alguma coisa.

Sempre inquieta, Carla sentiu necessidade de um novo

“Ter um propósito é o que me move”, diz. Já no primeiro

propósito depois de seis anos e meio na Whirlpool.

ano da Faculdade começou sua experiência profissional

Percebeu que gostava de criar. “Os projetos de que

como voluntária no Grupo de Apoio ao Adolescente e à

mais gostei foram aqueles que comecei do zero.” Foi

Criança com Câncer (Graacc).

assim que encontrou a Talenses, uma empresa de

Os meses de voluntariado serviram também para

recrutamento que, para a jovem de 27 anos, tem muito

dar um norte sobre o funcionamento da área de RP

a ver com seus ideais. Nessa sua nova jornada, disse que

para Carla. Depois do Graacc, ela foi contratada

está em um momento tranquilo da vida, “em que vejo

como estagiária do Centro de Eventos da Fundação

a importância das coisas que construí e busquei”. Com

Cásper Líbero. Foram dois anos e meio até chegar à

um sorriso no rosto, Carla finalizou a entrevista dizendo

efetivação, ainda no terceiro ano da graduação. “O

que não estava planejando coisas a longo prazo, mas

corpo docente era muito bom, de pessoas que estavam

aproveitando o momento em que vive. Sem, é claro,

no mercado de trabalho. Os professores traziam o

esquecer-se dos propósitos. (Larissa Basilio)

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LARISSA BASILIO

Carla Fava, no escritรณrio da Talenses: boas lembranรงas do corpo docente da Cรกsper.

Cร SPER

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FEITO À MÃO

por Luana Jimenez

Hora de dormir :: ASMR :: Canais no YouTube viram febre com vídeos de sons relaxantes para relaxar e pegar no sono TEXTO POR RAFAELA ARTERO ESPECIALISTAS

RECOMENDAM:

desconecte-se dos dispositivos eletrônicos na hora de dormir. Mas quem resiste a ver um vídeo, só mais um, deitado na cama? Se você é um desses, canais no YouTube podem acabar com a culpa de quem não sabe se desligar da internet. São os vídeos de ASMR (sigla, em inglês, de Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano), em que youtubers fazem coisas aparentemente estranhas para fazê-lo dormir. Eles sussurram, batem unhas em embalagens, amassam papéis e exploram

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várias maneiras de produzir gatilhos sonoros que podem despertar arrepios e sensações corporais. Entre os vídeos, há alguns que inclusive são dedicados à aplicação de reiki à distância. Uma das táticas comuns para o ASMR é o roleplay (encenação). Os youtubers fingem que são esteticistas, atendentes de cafeteria, cirurgiões e até personagens dos livros de Harry Potter. Falam num tom suave e relaxante. Bizarro? Bom, não para por aí. Existem ASMR feitos para pessoas que querem, além de relaxar, algum consolo emocional. Nesses vídeos, os roleplayers fingem ser um namorado ou melhor amigo. Muito Black Mirror, não é? As técnicas para fazê-lo relaxar ou dormir conquistam uma legião de fãs. Com 1,2 milhão de inscritos, o canal Gentle Whispering, da russa Maria Viktorovna, tem vídeos com quase 20 milhões de visualizações.


POR CONTA PRÓPRIA

Novas plataformas :: DIGITAL :: Iniciativas procuram criar formatos inovadores para relacionar seus clientes com a informação que procuram POR RAFAELA ARTERO

DIVULGAÇ

ÃO

DIVULGAÇÃO

Curadoria a 10 reais

Hackerismo é negócio

Um grupo de

As maratonas hacker de programação,

brasileiros, Débora

hackathons, se tornaram uma forma de startups e

Emm, Roberto Meirelles e Carlos Alberto Martinez,

os

universidades conseguirem novas ideias e soluções para o desenvolvimento de produtos. Após participarem de

criou o Mappa (www.mappa.

algumas dessas maratonas e perceberem que a tecnologia

cc), site que faz uma curadoria de

poderia auxiliar na organização, Rodrigo Terron e Abraão

conteúdos para assinantes. Uma

Sena criaram a plataforma digital Shawee. A ideia é que a

equipe formada por sociólogos,

organização dos eventos se automatize em todos os passos

jornalistas, publicitários e cientistas

até os resultados, o que antes se fazia manualmente. A

sociais seleciona os conteúdos de

Shawee cadastra os dados dos participantes durante uma

diversas plataformas, a partir dos

hackathon e consegue gerar cronogramas e rankings dos

interesses do leitor. O que distingue

projetos. O valor para usar a plataforma durante o evento é

o serviço de tantos outros é que

de 25 reais. Já a consultoria dos sócios na organização gira

o cliente só pode ler, ouvir ou

em torno dos 15 mil reais.

assistir a três conteúdos por dia. O Mappa se autodefine como “guia inteligente de filmes, artigos e palestras”. Se surgir alguma dúvida do conteúdo que foi selecionado, é possível conversar com os curadores por meio de um chat online. O valor da assinatura é de um teste gratuito de três dias.

A jornalista Mara Luquet (ex-Globo) e um dos criadores do canal de humor Porta dos Fundos, Antonio Tabet, juntaram um grupo de profissionais para criar o canal de jornalismo no YouTube MyNews. A iniciativa recebeu patrocínio de dois anos da Genial Investimentos, com um contrato de 10 milhões de reais para cada ano. Outras

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10 reais mensais. É permitido fazer

Jornalismo no YouTube

jornalistas como Thais Heredia (ex-Globo News) e Mariliz Pereira Jorge (ex-Folha) integram o time.

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BITS & BYTES

A era da praticidade :: TAREFA FÁCIL :: Novos aplicativos e gadgets facilitam atividades e tarefas para quem gosta de arte e tecnologia POR HENRIQUE ARTUNI DO PAPEL PARA A TELINHA

Um Moleskine é um objeto de desejo para os profissionais do design. O caderno de notas de muita personalidade é uma mão na roda para mentes criativas. É tão versátil que parecia difícil inovar em um produto tão consagrado. Mas eis que surge o Smart Writing, um caderno com páginas e caneta especiais que faz com que as anotações e desenhos sejam transferidos para smartphone e tablet em poucos cliques. Uma microcâmera na caneta se encarrega de digitalizar os conteúdos. O sistema oferece aos usuários diferentes cores e estilos de traços, além de sincronia com aplicativos de texto e agenda digital. Lá fora, sai por 199 dólares. EDITAR FICOU MAIS FÁCIL

Premiere? Sony Vegas? Final Cut? Não. Editar vídeos agora pode ser bem mais fácil. Com o smartphone, utilizando o aplicativo Adobe Spark Video, você pode adicionar fotos, clipes, áudios, textos, ícones e até animações ao seu material. O app oferece vários itens visuais e faixas brancas para enriquecer o seu trabalho. Gratuito, mas com recursos pagos, disponível para iOS e browsers. ALÉM DA AUDIÇÃO

SELFIES DOS SELFIES

A tendência hoje é não perder o registro de nenhum instante – mesmo. Conectada com a nuvem, a pequena Google Clips, nova câmera da empresa, trabalha sozinha e busca tirar as melhores fotos de uma ocasião usando o aprendizado digital. Em um salão de festas, por exemplo, posiciona-se o aparelho em uma mesa ou em algum suporte e a máquina vai disparando de tempos em tempos. Sempre que quiser, o usuário pode consultar o aplicativo da câmera no smartphone para salvar as boas imagens.

Depois do lançamento dos Apple AirPods, a Google também trouxe inovações para o mercado dos fones de ouvido. Os Pixel Buds são fones sem fio que, pareados com um smartphone compatível, funcionam com o Google Assistente. O usuário pode executar comandos por voz ou com gestos no área sensível dos fones. O dispositivo serve para as chamadas telefônicas e os aplicativos de música, mas a grande novidade é que os Buds são capazes de realizar traduções simultâneas com o Google Tradutor.

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HQS DIGITAIS

Sabe aquela gravação de celular que fazemos com os amigos ou família? Pois é, você podemos transformá-la numa história em quadrinhos com o Google Stoyboard. A captação do vídeo é processada e o software cria diversas opções de layouts e filtros estilizados para as imagens. É gratuito e disponível para Android.


D E S E N H O S I N FA N T I S

PARA PEQUENOS Produções audiovisuais brasileiras que fazem sucesso com a criançada se tornam negócio lucrativo e viram produto para exportação POR RAFAELA ARTERO

DIVULGAÇÃO CÁSPER

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Você sabe qual é o canal musical no YouTube com o maior número de visualizações por vídeo no mundo? Se arriscou alguma cantora como Rihanna ou Taylor Swift, errou. O título é da personagem infantil Galinha Pintadinha. Os vídeos brasileiros com produções simples, de cores vibrantes e músicas de cancioneiro desbancaram as superproduções pop internacionais. No começo deste ano, o canal chegou a somar 7,5 bilhões de visualizações. O império da simpática galinha gorducha e azul ultrapassa os limites da internet. Virou transmidiática: a marca tem mais de 600 produtos licenciados, peças teatrais e agora vai para a televisão aberta. Esses dados podem assustar só quem não convive com crianças de 0 a 5 anos. Os vídeos têm o poder de hipnotizar os pequenos. A personagem foi criada por Juliano Prado e Marcos Luporini em 2006, quando o YouTube ainda era uma terra desconhecida e usada para assistir aos vídeos engraçados predecessores dos memes. Nos seis meses iniciais, o primeiro vídeo teve uma audiência de 500 mil visualizações. Embora fosse uma marca considerável, os sócios tentaram levar o desenho para outras plataformas, mas não conseguiram. No entanto a fama conquistada é tão grande que a própria televisão aberta se rendeu a ela.

O sucesso da Galinha Pintadinha não se restringe ao Brasil. A produção audiovisual de personagens voltados para o público infantil vem crescendo e chamando a atenção no exterior. Um grupo de amigos do Recife criou a animação Mundo Bita em 2011 após sua outra startup, voltada para prestação de serviços de softwares e criação de websites, ir por água abaixo. O fracasso da primeira experiência fez com que eles apostassem em outro segmento e abriram a produtora Mr. Plot. O objetivo era fazer aplicativos e livros digitais para crianças por meio de personagens. O senhor Bita era um deles e foi muito bem aceito pelo público. Mas esse pequeno êxito não fez alavancar o negócio. Em vez de desistirem, os recifenses fizeram três vídeos animados com um dos sócios, Chaps Melo. Foi o gatilho que precisavam. Os vídeos chamaram a atenção do canal Discovery Kids e da produtora Sony Music. Apesar do acerto estratégico, João Henrique Souza, um dos sócios da Mr. Plot, disse que o lucro com a produção só veio no ano passado. O grupo tentou, mas não conseguiu aprovação em editais para produções audiovisuais. O jeito foi vender os próprios carros e até o apartamento para investir no produto. Não foi loucura, mas a crença no Mundo Bita. O desenho estreou recentemente em outras partes da América com vídeos em espanhol. Hoje seguem os trilhos da Galinha Pintadinha e já têm peças de teatro por todo o Brasil, inúmeros produtos licenciados e ultrapassaram a marca de 1 bilhão de visualizações no YouTube.

Por que essas produções fazem tanto sucesso com os pequenos? Não existe fórmula mágica, mas a certeza entre os criadores é que não se pode mais menosprezar o público infantil. (...) O objetivo é pensar na criança como alguém crítico e contar com a opinião delas na hora da produção. É importante também pensar que as crianças possuem acesso a conteúdos voltados para o público adulto.

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Equipe de profissionais da produtora 44 Toons trabalha na animação 3D do desenho Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma, que será lançado nos cinemas este ano. Abaixo, personagens dos desenhos favoritos das crianças.

A 44 Toons, fundada no início dos anos 2000, tem entre seus sucessos Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma, uma série inspirada no icônico sitcom americano Seinfield. O objetivo do criador Ale McHaddo ao conceber a 44 foi produzir jogos para computador, mas acabou expandindo os negócios após o sucesso do curta “A Lasanha Assassina”. Osmar é o sucesso soberano, mas eles colecionam outros como Nilba e os Desastronautas, que estreou no canal americano Starz. No Brasil, o desenho é transmitido pelos canais TV Cultura, TV Rá Tim Bum e Gloob. A produtora responsável, Carolina Frattini, conta que a ideia dos programas é ser um produto com diferentes níveis de piadas. Vira, a um só tempo, atração para as crianças pequenas, as mais crescidinhas e os pais delas. “Recebemos mensagens no Facebook de pessoas que nem têm filhos, mas assistem ao Osmar”, conta. “Queremos que os desenhos sejam divertidos para os adultos também”, continua. “Se um desenho é divertido para nós, então também será para as crianças.” Os personagens da casa vão estrear este ano no cinema. Algumas temporadas mais antigas estão disponíveis no Youtube. Por que essas produções fazem tanto sucesso com os pequenos? Não existe fórmula mágica, mas a certeza entre os criadores é que não se pode mais menosprezar o público infantil. Segundo Carolina Frattini e João Henrique Souza, o objetivo é pensar na criança como alguém crítico e contar com a opinião delas na hora da produção. É importante também pensar que as crianças possuem acesso a conteúdos voltados para o público adulto, além de pensar na diversidade. “Quando levamos o Osmar para o público no exterior conhecemos uma criança de 11 anos que assistia House e entendia”, conta Carolina Frattini. Por causa dessas referências. alguns desenhos da 44 Toons acabaram recebendo fãs grandinhos. Um dos motivos são as referências que os desenhos usam, como o seriado Breaking Bad e o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. @

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LARISSA BASILIO

C Á S P E R D I G I TA L

A equipe da Cásper Digital, encabeçada por Janaíra França, é composta por Gustavo Queiroz, Jefferson Dezoti, Jéssica Costa, João Augusto Tudini, Adriano Oliveira e Tatiane Lopes.

ALÉM DA PAULISTA 900 Com a Cásper Digital, Faculdade ultrapassa suas próprias barreiras e avança para a consolidação dos cursos à distância NO SEXTO ANDAR da Faculdade Cásper Líbero, em uma sala clara e espaçosa, a professora de Publicidade e Propaganda Janaíra França coordena uma equipe focada em expandir as fronteiras da “Paulista, 900”. Não se trata de um trabalho braçal, mas o objetivo é ambicioso e concreto: lançar a tradição casperiana para outros cantos do Brasil e – por que não? – para o mundo. Explorando plataformas modernas e ferramentas pedagógicas, a Cásper Digital é uma das coordenadorias responsáveis por quebrar, virtualmente, as barreiras físicas da Faculdade. É lá que, junto aos professores, são pensados e estruturados os cursos na modalidade de ensino à distância (EAD). A semente da Cásper Digital foi lançada em 2013, após ser instituído o Centro de Tecnologias Educacionais (CTE). “A missão era dar apoio tecnológico aos professores. Naquela época, ainda não havia uma estratégia pedagógica para trabalhar o EAD. Falava-se sobre a possibilidade, mas não era algo concreto”, explica Janaíra. Foi em 2016 que o cenário mudou. Após estudar as possibilidades e as tendências do mercado, a Faculdade fez uma aposta, lançando quatro cursos livres, onlines e gratuitos, todos

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POR GUTO MARTINI

eles ministrados por professores da casa. Os cursos “Mídias Sociais e as Relações Humanas”, “Jornalismo e Empreendedorismo”, “Promoção e Merchandise” e “Ética nas Organizações” foram um sucesso, 14 mil alunos se inscreveram. Com os resultados positivos e tendo como base um material bem elaborado, o CTE se transformou na Cásper Digital, uma coordenadoria voltada para o ensino à distância. Neste ano, foram lançados dois outros cursos livres, “Jornalismo Digital”, com a professora Ana Brambilla, e “Direção em Audiovisual na Era Digital”, com o professor Ninho Moraes. Eles são pagos, modulares e com maior carga horária (cada um com 32 horas). E já estão disponíveis no site da Faculdade. Tudo é feito pela internet, a começar pela matrícula. Uma vez inscrito no curso, o aluno terá acesso não só ao material pedagógico online, mas também ao espaço físico da Cásper Líbero. Isso significa que se o estudante quiser e estiver próximo da Paulista 900, é possível vir até a biblioteca consultar um livro e até mesmo usar os computadores e salas de estudos. Pode ainda marcar uma reunião presencial com os professores da Cásper Digital.


No ambiente virtual, o estudante pode acessar todos os módulos e os materiais específicos de seu curso, como e-books, videoaulas, podcasts e quizzes. A plataforma possui um sistema que ajuda a organização do estudante, mostrando o seu progresso, além de um calendário que avisa sobre as próximas atividades a serem realizadas.

Para mais informações casperdigital.casperlibero.edu.br

Foi-se o tempo em que o EAD se limitava a oferecer palestras gravadas com um texto em PDF jogado em uma plataforma qualquer. Estruturar a metodologia dos cursos online requer muito trabalho. O material pedagógico tem de ser completo e de qualidade. “As plataformas digitais constituem apenas um dos elementos do EAD. Mas é muito mais do que isso”, afirma Janaíra, que ressalta ainda o desafio de trabalhar com a linguagem correta, que incorpore toda a identidade da Faculdade, a primeira a oferecer um curso de jornalismo no Brasil. Além da questão visual, o material deve conter um texto fluído e dialógico que não perca o rigor dos assuntos pautados em aula. Em outras palavras, deve ser ofertado um material denso, mas ao mesmo tempo prazeroso. Uma equipe composta pelo designer instrucional e designer multimídia trabalha junto aos professores para planejar e adequar o conteúdo ao EAD. As videoaulas transmitem tudo que o aluno precisa a partir de uma linguagem mais solta e interativa. “Eu determinei os conteúdos que queria trabalhar, escrevi um roteiro técnico e o pessoal da Produtora Audiovisual da Faculdade montou um

storytelling, como se fosse um esquete dramatizado. Foi uma delícia para gravar e o resultado ficou muito bacana”, conta Ana Brambilla. Durante esse processo, ela própria acabou descobrindo um lado mais descontraído e lúdico para ministrar as aulas. O sucesso dos cursos livres e a consolidação da Cásper Digital abriram espaço para um projeto ainda maior. Está a caminho o Master em Comunicação Organizacional - primeira pós-graduação em EAD oferecida pela Faculdade. O curso, de 360 horas, será lançado no segundo semestre de 2018. Como toda a empreitada até agora, os desafios para levar o projeto adiante não foram poucos. Para atender as exigências do MEC, a coordenadora Janaíra, o diretor Carlos Costa e a superintendência da Fundação Cásper Líbero não pouparam esforços para que o curso conseguisse seu credenciamento. “O sucesso do passado não garante o êxito de amanhã. É necessário estar sempre inovando em um trabalho contínuo”, explica Carlos Costa que, em uma visão preocupada com as novas exigências do avanço tecnológico na comunicação, pensa em uma Cásper Líbero capaz de manter sua força para os próximos 70 anos. @

CÁSPER

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DIVULGAÇÃO

AUDIOVISUAL

a evolução será

televisionada

POR HENRIQUE ARTUNI

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De tempos em tempos, surgem ondas de boicotes à Netflix. Elas emergem de consumidores que não concordam com a manipulação das narrativas, o fim de uma série favorita, o aumento do preço da assinatura ou de atores insatisfeitos com a remuneração das produções originais da companhia. Conceituados diretores não apreciam o formato da plataforma e até a indústria cinematográfica tece suas críticas por se ver cada vez mais enfraquecida na competição entre o cinema e o streaming. Mas a realidade é que poucos negócios ostentam uma escalada tão impressionante quanto a da Netflix. Ela fechou o balanço do ano passado com 117 milhões de usuários, o dobro de três anos antes ou cinco vezes mais do que em 2011. Nada mal para uma empresa que surgiu para alugar filmes pelo correio. Onde os cinéfilos enxergam produções culturais, a Netflix vê números. Parte de seu sucesso é exatamente por ser da indústria de tecnologia e não do entretenimento. Ao ganhar escala planetária devido ao streaming digital, a empresa criada em 1997 pelo americano Reed Hastings vem rivalizando com o negócio do cinema. Não bastava mais adquirir filmes de catálogos como se fosse uma locadora virtual, sobretudo em meio à inevitável chegada dos concorrentes – como hoje existem a Amazon, o Hulu e a Fox. Em 2013, a Netflix passou a produzir conteúdo original e lançou a série House of Cards, que arrebatou três Emmys, o principal prêmio da televisão americana. O sucesso levou à produção de outras obras originais, como Narcos, Stranger Things, Orange is the New Black. A televisão vive do Ibope, a forma que se convencionou chamar a audiência das emissoras. Mas na

Netflix essa informação é um segredo de Estado. Dentro da plataforma, os milhares de títulos aparecem na tela segundo o algoritmo desenvolvido para satisfazer cada consumidor. Hastings, em sua última visita ao Brasil, afirmou que a sua missão é “fazer o melhor que podemos para que sua experiência seja fácil, conveniente e que também entretenha”. Essa combinação de tecnologia, marketing e conteúdo tem gerado resultados que provocaram uma reviravolta na indústria do entretenimento. A cultuada revista francesa Cahiers du Cinéma, em sua esperada edição de dezembro de 2017, elegeu a terceira temporada do seriado Twin Peaks (disponível na Netflix), o “melhor filme do ano”. Foi o suficiente para aquecer os debates entre cinéfilos. Como pode um produto televisionado ser reconhecido entre as melhores produções da indústria cinematográfica? Na opinião de Cássio Starling, crítico de cinema da Folha de S. Paulo, a distinção entre TV e cinema será cada vez menos importante. “A tendência é que as salas de cinema se tornem exclusivas para exibição de obras que exijam imersão, experiências únicas”, reflete. “Já o streaming é de tudo a qualquer hora. Muitas obras que estão lá disponíveis podem ser vistas no metrô, no carro etc.” Arcar com uma mensalidade e ter acesso a milhares de filmes é bem mais barato que pagar uma entrada de cinema ou comprar DVDs e Blu-Rays.

Com a emergência do cabo nos anos 1980, as produções para a TV passaram a ousar mais. Temas como sexualidade, violência e drogas se tornam frequentes e foram criados programas para nichos. As primeiras temporadas de Twin Peaks (199091) são reverenciadas até hoje. Mas Starling recomenda cuidado ao se destacar a obra. “Nesse universo da grande produção não existe essa ideia de obra revolucionária. Twin Peaks é fruto de uma série de rupturas, uma evolução, cuja semente identifico em Chumbo Grosso, de quase uma década antes. Nesse aspecto, Twin Peaks: O Retorno parece ter encontrado um meio termo dentro da plataforma de streaming. Nas duas primeiras temporadas, a série soube contar uma história que passeava entre o autoral de David Lynch e o melodrama. Mas 25 anos depois a estratégia foi outra. Sem colocar os ganchos em segundo plano, o diretor buscou contar a história com vagarosidade. Há quem veja nos novos caminhos de distribuição, produção e consumo a ampliação para outras formas de narrativas. Em 1922, o que impediu a primeira versão de Ouro e Maldição, de Eric von Stronheim, de chegar aos cinemas foi o tamanho: seu primeiro corte tinha quase oito horas de duração. Para Marco Vale, documentarista e professor da Cásper Líbero, Stronheim estava à frente de sua época. “Com o passar dos anos, esse tipo de narrativa prolongada, que está mais próxima da literatura que do teatro, encontrou um espaço perfeito nos seriados”. Ficar tanto tempo em frente a uma tela já não parece ser mais um problema. Proporcionar que o espectador tenha controle total de como e quando assistir faz toda diferença. As maratonas eram práticas que já existiam desde o lançamento de boxes de temporadas em DVD e hoje são ainda

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DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

Okja (2017)

Chumbo Grosso (1981-87)

um negócio bilionário

117,6 mi

de assinantes

40 mi

de assinantes

17 mi

de assinantes

U$ 6 bi

em produções originais

U$ 4,5 bi

em produções originais

U$ 2,5 bi

em produções originais

FONTE: NETFLIX / AMAZON / HULU

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mais comuns, lembra Marco Vale. A própria estratégia de lançamento favorece esse tipo de comportamento: as plataformas disponibilizam todos os episódios de uma vez, normalmente próximo do fim de semana, para que o usuários tenham tempo de assistir ao conteúdo. Se o destino das séries parece estar bem encaminhado, o do cinema nem tanto. Para Luiz Zanin, crítico de cinema do Estadão, o streaming acompanha a lógica contemporânea de consumo rápido. Os serviços são ainda deficitários no atendimento a públicos diversos, especialmente aos interessados em uma visão crítica. “O fato é que você não encontra tudo, nem mesmo em DVD. E o que as plataformas de streaming oferecem não consegue se sustentar como biblioteca, porque o catálogo é rotativo”, afirma. Marco Vale destaca o papel do streaming em disponibilizar produções menores para um público maior. “Ao mesmo tempo que descubro produções independentes, vejo muitas lacunas. Como pesquisador e produtor de audiovisual, sinto falta dos extras”, pontua, referindo-se a materiais como making of. Para o professor, a tendência é que surjam mais streamings para atender outros nichos. O também crítico de cinema Pablo Villaça publicou contra a Netflix em seu blog Cinema em Cena. Devido a série O Mecanismo, de José Padilha, que trata de forma ficcional e deturpada a história da Lava-Jato, Villaça

anunciou que cancelou a assinatura do serviço de streaming. Um de seus argumentos é o de que para esse modelo de negócios “o que importa não é a qualidade do produto, mas a quantidade”. São 679 documentários, sendo que 624 foram produzidos de 2010 em diante. Dos cerca de 4 mil títulos oferecidos pela Netflix Brasil, só 69 são produções anteriores a 1985. Quem quiser ver um filme clássico terá grandes dificuldades. Mas, pelo visto, a Netflix e demais empresas de streaming continuam querendo ditar as regras da indústria. A empresa já têm capital suficiente para investir em produções próprias ofertando orçamentos dignos de uma grande produtora, como Okja, de Bong Joon-Ho, e Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe, de Noah Baumbach. O problema é que esses conteúdos somem no limbo digital. Em entrevista à Variety, o diretor do Festival de Cannes Thierry Fremaux afirmou que, infelizmente, Okja e Os Meyerowitz não tiveram destaque e perderam-se nos algoritmos da Netflix. “É triste porque são lindos filmes. Mas vamos entender que a história do cinema e a história da internet não são a mesma coisa”, disse. Neste ano, como uma forma de enfrentar a lógica do streaming, o celebrado Festival de Cannes barrará os filmes da Netflix enquanto não abrirem mão de disponibilizá-los de pronto na plataforma para estreá-los por um período nas salas de cinema. Essa briga está apenas começando. @


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eSPORTS

A ERA DOS CIBERATLETAS Emissoras e clubes de futebol estão de olho nos fãs dos jogos virtuais POR DIEGO SILVA

DIVULGAÇÃO

Atletas em concentração, horas de treinamento intenso, contratos milionários, equipes estruturadas, arenas lotadas e competições de tirar o fôlego. Tudo isso faz parte do mundo esportivo, certo? Se respondeu afirmativamente, a informação a seguir servirá para expandir a sua visão sobre o universo jovem. Os eSports (esportes eletrônicos) estão prestes a entrar no seleto clube de negócios bilionários, a ponto de emissoras de TV segmentadas começarem a transmitir campeonatos e realizar programas de debate sobre o mundo dos games. Daqui a quatro anos, esportistas diante de computa-

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dores disputarão, oficialmente, medalhas nos Jogos Asiáticos (uma competição equivalente ao Pan-Americano). E já há discussões para incluir os eSports na Olimpíada de Paris, de 2024. Daniela Rigon, redatora de eSports do canal esportivo ESPN, vê como natural as emissoras darem espaço para esse conteúdo. “Na Coreia, isso já acontece há décadas, e é um dos motivos pelo mercado e profissionais de lá serem tão bons”, afirmou. Mas isso envolve riscos, como o de perder audiência entre os atuais espectadores, que podem torcer o nariz para jornalistas comentando sobre as jo-

gadas virtuais. “É algo que as próprias emissoras precisam saber lidar”, disse ela. “Mas o movimento do esporte eletrônico não pode mais ser ignorado.” Giovanni ‘Gio’ Deniz, comentarista pela ESL Brasil, jogava videogames desde os 5 anos. “Vendi minha parte em uma empresa de música e passei a investir em conhecimento de CS (Counter-Strike). Entrei para ser o melhor, essa era a ideia”, disse. Mesmo com o receio dos familiares, e os apertos quando as coisas não aconteciam, o comentarista agora com 24 anos não via motivo para desistir. “Hoje eu vivo exclusivamente de eSports”, garantiu.


DIVULGAÇÃO / RIOT GAMES

Neste ano, o mercado global de eSports deve ultrapassar os 900 milhões de dólares, mas em 2021 chegará a 1,7 bilhão de dólares. Jogadores da América do Norte e da Ásia dominam esse setor. Estima-se que o jogador profissional norte-americano Saahil Arora, conhecido pelo apelido de “UNiVeRsE”, já tenha ganho mais de 2,7 milhões de dólares só com os videogames. No Brasil, o crescimento desse mercado fez com que grandes clubes de futebol criassem parcerias com equipes de League of Legends (LoL, para os gamers), jogado por mais de 100 milhões de pessoas no mundo. O investimento ainda é tímido e voltado a parcerias nominais. Santos Dexterity. Corinthians e Flamengo, que têm acordos com os jogos de PES, negociam parcerias com equipes de LoL para trazer adeptos que fujam do futebol e dos estádios. Morando nos Estados Unidos, Luigi “Dakka” Castiglione, jogador profissional de Country Strike: Global Offensive (CS:GO) pela equipe Gorilla Core, avalia que o esporte eletrônico brasileiro segue no caminho certo, mas ainda está longe do ideal. Nos EUA, os atletas possuem aparelhos e tecnologias mais aprimoradas e acessíveis. “Ciberatleta nos EUA é tão bem pago quanto um jogador de futebol. Eles valorizam. A galera até reconhece na rua”, disse. Engana-se quem pensa que os eSports são frutos de um mundo que passou a se conectar pela internet. Os anos 1970 são considerados o ponto de partida. O primeiro torneio de que se tem notícia é de 1972, na Universidade Stanford, na Califórnia. A pequena competição foi nomeada de Intergalactic Spacewar Olympics (Olimpíadas Intergalácticas de Spacewar) e a premiação foi um ano de assinatura da revista Rolling Stone. Dois anos depois, foram lançados os primeiros jogos com características de “First-Person Shooters”, baseado em armas de fogo. É, até hoje, um dos gêneros mais populares e lucrativos do mundo dos games.

Na arena lotada do Allianz Parque, fãs do eSports acompanham a final do CBLoL 2017, campeonato de League of Legends

Em 1981, já na era do Atari, ocorreu o The Space Invaders Championship, que atraiu mais de 10 mil participantes dos EUA. Milhares de pessoas frequentavam os chamados fliperamas para tentar derrotar as máquinas e outros competidores. Reportagens e capas de revistas especializadas davam destaque aos jogadores da época. Em 1990, foi realizado o maior campeonato da década, promovido pela empresa japonesa Nintendo. Milhares de participantes do mundo todo competiram nos jogos Super Mario Bros, Rad Racers e Tetris. A premiação era a maior já vista até então: 10 mil dólares e uma TV. “A infraestrutura dos campeonatos foi ficando cada vez melhor. Muita gente apenas consumia, mas aos poucos foram investindo também”, lembra Gio Deniz. Jogos como Warcraft e Quake já eram sucesso e as empresas passaram a organizar campeonatos. A internet possibilitou a globalização dos eSports. Em 2000, foi fundada a WCG (World Cyber Games), que tinha como principal ideia a criação de uma olimpíada internacional do esporte eletrônico. Em parceria com a Samsung e a Microsoft, a primeira

edição foi realizada na Coreia do Sul com 174 participantes de 17 países diferentes. Em 2002, a MLG (Major League Gaming) foi fundada para profissionalizar o eSports nos Estados Unidos e Canadá. Algumas competições foram televisionadas pela ESPN. Um dos principais jogos era o Counter-Strike, ainda praticado pelos atletas nos dias de hoje, assim como as versões de Call of Duty, Dota e Fifa. A partir de 2010 com a popularização dos streamings, os eSports deram um salto qualitativo. Segundo dados da Twitch.tv, o site recebe cerca de 8 bilhões de visualizações mensais e 58% dos usuários gastam 20 horas semanais assistindo essas partidas online. O governo dos Estados Unidos passou a reconhecer os jogadores de League of Legends como atletas profissionais. Os estrangeiros têm a possibilidade de tirar vistos de trabalho como profissionais do esporte e universidades oferecem bolsas de estudo para esses atletas. A grande dúvida que paira no ar é se o Comitê Olímpico Internacional apoiará a disputa de medalhas na Olimpíada do Japão. Será a prova mais difícil já enfrentada pelo eSports. @

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REPRODUÇÃO

TECNOLOGIA

AS NOTÍCIAS IMERSIVAS Tendência em alguns dos grandes jornais do mundo, a realidade virtual se instala também nas redações brasileiras POR PEDRO GARCIA IMAGINE-SE EM UMA CELA SOLITÁRIA. A agonia de ficar confinado 24 horas por dia, durante um tempo indeterminado. A atmosfera claustrofóbica, os ruídos ininterruptos do gotejar da pia e dos gritos de briga dos outros encarcerados. Os efeitos psicológicos causados pelo confinamento começam a vir e sua visão turva até ficar com uma sensação estranha de que está flutuando. Vivenciar essa experiência é possível por meio da reportagem em realidade virtual “6x9”, uma das mais conhecidas e aclamadas no formato, publicada em 2016 pelo jornal The Guardian. Para arquitetar reportagens cada vez mais imersivas, as redações têm explorado recursos multimídias, como GIFs, vídeos, áudios e gráficos interativos. Se antes uma abertura como a desse texto exigia do repórter uma habilidade em descrever ricamente os ambientes de um local, as

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ferramentas digitais proporcionam uma experiência completa da pauta para os leitores. O VR, sigla em inglês para realidade virtual, teve como marco o ano de 2014, quando começaram a ser comercializados os óculos especiais que possibilitam a imersão do usuário. Com o passar do tempo, a tecnologia foi se tornando um pouco mais acessível à população e, portanto, mais barata. O jornalismo aproveitou essa oportunidade. Em novembro de 2015, os veículos The New York Times e Huffington Post lançaram as primeiras reportagens em REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO


Reportagens em realidade virtual vêm ganhando cada vez mais espaço nas redações pelo mundo e pelo Brasil

360º. Tais narrativas podem ser assistidas em qualquer tela, mas o ideal é que se use os óculos para desfrutá-las da maneira mais imersiva possível. Em 2016, essa tecnologia tomou força e se espalhou pelas redações dos grandes jornais estrangeiros, muitos deles disponibilizando as reportagens de VR no YouTube. A audiência ainda é oscilante, de menos de 1 mil para mais de 4 milhões de visualizações. A companhia de pesquisa americana Zion Market Research previu um crescimento de 50% da realidade virtual até 2022. Do lado de cá, esse tipo de conteúdo chegou com um atraso de um ano em comparação às mídias tradicionais do Hemisfério Norte. Apenas em 2017, os grandes veículos jornalísticos brasileiros, como Folha de S. Paulo, UOL, O Globo e Estadão começaram a realizar experiências imersivas em maior escala. Mas ainda em quantidade inferior na comparação com os outros países. O Times já apresentou 300 vídeos, enquanto a Folha tem apenas 30. O editor-executivo de arte do Estadão, Fábio Sales, explica que não falta interesse por parte dos jornalistas em produzir pautas com a VR. “A gente tem interesse em levar os vídeos de VR para as pautas, mas dependemos do suporte tecnológico, então ficamos presos em iniciativas esporádicas”, relata. O que falta é o aporte financeiro. Na maioria das vezes, as empresas atrelam esse tipo de produção a um conteúdo patrocinado. REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

A revista Veja conseguiu fechar uma parceria com a gigante de eletrônicos Samsung. A empresa coreana disponibilizou a câmera para a captação de imagens em 360º e dois smartphones para exibição na redação. O departamento comercial da Editora Abril agora pode distribuir óculos para os assinantes. Sidclei Sobral, designer sênior da revista, conta que, mesmo com o aparato para a realização de reportagens em VR, a redação não tem uma demanda semanal (nem mensal) para a gravação de vídeos nesse formato. Por mais que a ideia seja alcançar uma periodicidade regular em 2018 para esse tipo de reportagem, elas ainda ocorrem esporadicamente. Na Veja, as pautas partem tanto da redação quanto do “branded content” e a melhor maneira da divulgação do conteúdo é por meio do Facebook, de acordo com Sobral. O designer nota na rede social de Mark Zuckerberg um maior engajamento do público do que no YouTube e a considera melhor, em termos de qualidade técnicas, para a visualização das reportagens em VR. O próximo passo da equipe de arte é ir além dos vídeos e começar a construir infográficos por meio da realidade virtual. Apesar da qualidade das matérias, Sobral comenta que o retorno obtido com a VR ainda é um tanto incerto. Ele enxerga um crescimento na vontade de produzir e consumir do jornalismo em realidade virtual, mas não enxerga retorno financeiro. A fase ainda é de descoberta, de seguir tendências internacionais para entender o potencial da tecnologia de realidade virtual e o que pode se obter dela. Mesmo com as incertezas atuais, o designer sênior de Veja é da opinião que a tecnologia tende a crescer e se estabilizar no futuro. @

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CINEMA PHOTOGRAPH BY IRVING PENN | © THE IRVING PENN FOUNDATION

BERGMAN

DA PAIXÃO AO SILÊNCIO Nos cem anos do nascimento de Ingmar Bergman, seu cinema revela como o mestre sueco fez do onírico a reflexão de sua trajetória POR HENRIQUE ARTUNI

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Amores de verão: Harriet Anderson denuncia a infidelidade da protagonista em Mônica e o Desejo

SVENSK FILMINDUSTRI / DIVULGAÇÃO

singborg, na Suécia. A autodisciplina foi a chave para produzir cinema na Svensk Filmindustri, a grande produtora sueca. O maior reconhecimento internacional veio com o lançamento de dois filmes sobre a sensualidade juvenil: Juventude (1951) e Mônica e o Desejo (1953). No último, a imagem da protagonista afirmando sua infidelidade ao olhar direto para a câmera permanece como grande referência para os cineastas da nouvelle vague. O diretor não se adaptaria à vanguarda emergente na Europa (não gostava nada da obra de cineastas como Jean Luc-Godard; para ele, excessivamente intelectualizada), mas continuaria refinando sua dramaturgia, cada vez mais um reflexo de seus medos. E é sob um esmagador medo da morte que nasce O Sétimo Selo (1957). Nele, a imagem mais conhecida de seu cinema: o xadrez com a personagem da Morte. Essa temática se repetiu no filme seguinte, Morangos Silvestres, do mesmo ano, que conta a história de um velho misantropo que, ao se aproximar da morte, faz uma viagem e reencontra fantasmas do passado. Na década de 1960, vem à tona o problema do silêncio de Deus, naquela que ficou conhecida como trilogia do silêncio – composta por Através de um Espelho (1961), Luz de Inverno e O Silêncio, ambos de 1963. Citando o dramaturgo Eugene O’Neill, Bergman dizia: “Toda obra dramática que não trata das relações dos seres humanos com Deus não tem valor”. Enquanto a juventude encontrava um caminho no engajamento, Bergman afirmava-se como um cineasta político abordando problemas éticos no plano da matéria religiosa. Em 1966, filmou uma obra-prima inseparável de seu momento político. Em Persona, a personagem de Liv Ullmann é uma atriz que sofre um bloqueio e fica muda. Na televisão do hospital em que está internada, passam imagens do mundo. “Não há nenhuma explicação sobre o bloqueio, mas há um mal-estar explícito entre o interior da personagem e o exterior, da situação política do mundo”, afirma Rizzo.

SVENSK FILMINDUSTRI / DIVULGAÇÃO

O pequeno Ingmar estava trancado em um armário. Assustado, batia na porta tentando se libertar. “Vive aí, nesse armário”, disseram os pais, “um anão que rói o dedo dos pés das crianças levadas”. Quando percebeu que a insistência não o libertaria, ouviu um barulho. Então, a porta se abriu e, em vez do anão, apareceu seu pai: “Você está arrependido?” Ao que o garoto suplicou: “Sim, por favor, perdão”. E caminhou silenciosamente para o sofá, abaixou as calças e esperou as pancadas de bengala. Criado no rigor dogmático pelos pais, o pastor luterano Erik Bergman e a dona de casa Karin, Ingmar Bergman é atormentado pela intensa religiosidade e pela repressão sexual. Nascido em 14 de julho de 1918, um dos maiores diretores de cinema da história jamais imaginaria que desenvolveria uma produção tão rica, com mais de 50 filmes. Mas todos os temas pelos quais seria reconhecido – amor, morte, melancolia, o silêncio de Deus – nasceram do conflito entre o rigor de sua criação familiar e o fascínio pela fantasia. “Como não podia distinguir entre a minha criação e a minha pessoa, os estragos tiveram consequências duradouras, até a vida adulta, e influenciaram a minha criatividade”, conta Bergman em sua autobiografia, Lanterna Mágica (Editora Cosac Naify). O cineasta adorava o teatro. Ainda criança, em um certo Natal, viu seu irmão ganhar um cinematógrafo. O aparelho o encantou e, no mesmo dia, trocou todos os seus soldadinhos de ferro pelo presente dado ao irmão. Em toda vida profissional, uma arte serviu de influência para outra. “Por ter sido diretor de teatro, Bergman tinha um trabalho com os atores muito distinto”, afirma o professor e jornalista Sérgio Rizzo, colaborador da Folha de S.Paulo. “Ele criava nas filmagens circunstâncias que favoreciam o trabalho colaborativo. Da mesma forma, sua noção de palco afetava suas composições de cena.” Em 1946, quando dirigiu Crise, seu primeiro longa, Bergman já era diretor do Teatro Municipal de Hel-

O medo da morte: o jogo de xadrez pela vida em O Sétimo Selo

Bergman continuou produzindo grandes sucessos de crítica, como A Hora do Lobo, Gritos e Sussurros, Sonata de Outono, e outros nem tanto, como O Ovo da Serpente – filmados entre 1968 e 1977. Com o tempo, o diretor passou a se aproximar das produções para TV. O último projeto pensado para as telonas foi Fanny & Alexander, de 1982, no qual conta a formação de uma nobre família sueca – espaço perfeito para enfrentar os fantasmas da infância. O diretor passou seus últimos dias em Fårö, uma pequena ilha na Suécia. Faleceu em 2007, aos 89 anos. Seu último trabalho foi Sarabanda, de 2003 – uma continuação de Cenas de um Casamento (1973). A obra representa uma última reflexão sobre o tempo passado e a morte que se aproxima. Apesar de ter sido encerrada com uma composição de Bach, sua obra sempre foi, como afirmou o jornalista Torsten Manns, de efeito beethoveniano: desenvolvendo temas exaustivamente, mas que o próprio autor não conseguiria esgotar. @

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JORNALISMO | ESPECIAL

OS PECADOS Uma reflexão sobre os rumos da prática jornalística atual segundo os pecados capitais

No quadro Os Sete Pecados Mortais e os Quatro Novíssimos do Homem, de Hironymus Bosch, vemos no centro da imagem o olho de Jesus Cristo ressuscitado e a frase, em latim, “Cave cave deus videt” (Cuidado, cuidado, Deus vê). A ideia do pintor holandês do século 16 era alertar para que o pecador, prestes a se confessar, fizesse uma reflexão sobre os atos passados. Num exercício inspirador, a revista CÁSPER se propôs a discutir o jornalismo, ou mais especificamente, a tão falada “crise do jornalismo” à luz da seguinte provocação: as práticas jornalísticas estão cometendo pecados capitais? E, se estão, como se redimir deles? Ao conversar com pesquisadores e grandes nomes da imprensa, a proposta foi abrir uma nova perspectiva sobre esse debate. Caminhamos para uma crise sistêmica ou as coisas estão, na verdade, tomando rumos que ainda estão sendo assimilados? Se Bosch dizia que Deus estava vendo, é em Vilém Flusser que referenciamos os sete pecados. Autor de A História do Diabo, o filósofo tcheco, naturalizado brasileiro, escreveu um ensaio provocativo mostrando como as etapas do conhecimento e da própria civilização podiam ser vistas como pecados. Luxúria, ira, gula, inveja, avareza, soberba e preguiça seriam, para Flusser, metáforas da história da civilização e retratariam a situação de nossos dias. O principal ensinamento é que somente dentro do mundo humano, o único à nossa disposição, podemos procurar soluções para nossos problemas. Para o jornalismo, isso parece ser mais que verdadeiro.

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Os Sete Pecados Mortais e os Quatro Novíssimos do Homem é uma das obras-primas de Bosch. Pintado entre 1505 e 1510, o óleo sobre madeira apresenta no círculo central (ao lado) as sete cenas que representam os pecados capitais. Para ser usado como tampo de mesa, o quadro do pintor holandês, hoje exposto no Museu Nacional do Prado, em Madri, na Espanha, queria advertir aos pecadores a fazerem uma reflexão antes da confissão


AVAREZA (p. 30) Os cortes que assombram as redações modificam e impactam a qualidade dos conteúdos e dos veículos

GULA (p. 35) Para saciar a fome dos leitores, portais produzem um excesso de notícias nas redes e causam o fenômeno da “exformação”

PREGUIÇA (p. 33) Será que os jornalistas estão ficando acomodados, como criticou o escritor americano Gay Talese?

LUXÚRIA (p. 34) Notícias de celebridades bombardeiam os leitores com conteúdos desnecessários

SOBERBA (p. 36) O jornalismo se paralisa diante do orgulho e do narcisismo sobre uma imagem do profissional que não existe mais

IRA (p. 31) Boatos, rumores e fake news se tornam uma forma de disseminar o medo e o discurso de ódio entre o público nas redes sociais

INVEJA (p. 32) O sucesso dos youtubers e influencers eclipsam o jornalismo, mas é uma oportunidade para repensar as práticas da profissão CÁSPER

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AVAREZA

UMA QUESTÃO DE CUSTO? POR LARISSA BASILIO AS EMPRESAS JORNALÍSTICAS SÃO SOVINAS? A pergunta faz sentido quando se descobre que mais de mil demissões ocorreram em cerca 50 locais de trabalho entre 2012 e 2015. Corte de custos, contenção de despesas? “Em um mundo onde o emprego sofre uma pressão para reduzir o custo do trabalho, existe uma situação que está ligada ao predomínio do capital financeiro na economia. Essa situação exige maior rentabilidade”, diz o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Paulo Zocchi. Existem diversas variáveis que atuam sobre a situação do mercado de notícias atual. Entre elas, podemos destacar três que se relacionam entre si: um enxugamento cada vez maior das redações, que leva a uma sobrecarga de trabalho do jornalista e a transferência de função do profissional, que, em vez de se dedicar a ir atrás de uma reportagem consistente, tem que se virar para produzir um número excessivo de notas todos os dias. Em 1973, logo após o diretor do Jornal do Brasil Alberto Dines ser demitido, uma série de desligamentos ocorreu naquela redação. Foi nesse episódio que Joaquim Campelo e Nilson Vianna, redatores do JB, cunharam o verbete tipicamente jornaEmpresas jornalísticas reduzem custos em nome da eficiência (Colagem sobre obra Marta e Maria Madalena, 1598, de Caravaggio)

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lístico chamado “passaralho”, que define as demissões em massa nas redações. De lá para cá, o jornalismo não viveu períodos só de baixa. Nos anos 1990 e 2000, por causa do boom da internet, novas redações surgiram, como os portais, e os salários dos profissionais atingiram os quatro ou cinco dígitos. Mas depois que essa bolha explodiu os cortes se tornaram quase rotineiros. Sérgio Spagnuolo, coordenador do projeto “A Conta dos Passaralhos”, desenvolvido pela Volt Data Lab, explica que não existe uma precarização do jornalismo, mas uma transformação econômica que está modificando os modelos de negócios das empresas. Essa transformação traz alterações e reinvenções, e não necessariamente direciona para o sucateamento da profissão. O problema é que a categoria dos jornalistas ainda possui baixa sindicalização e pouca coesão como setor profissional, o que aumenta o poder da empresa de mídia perante o funcionário, explica Zocchi. É também impossível esquecer a corriqueira pejotização (PJ) do jornalista, que reduz os custos para as empresas. Para Zocchi, o profissional PJ muitas vezes é como um funcionário de carteira assinada, o que caracteriza fraude trabalhista. Por outro lado, e numa perspectiva mais otimista, as novas leis trazem mudanças para os profissionais que quiserem seguir esse caminho. Para Spagnuolo, a pejotização até pode ser encarada como uma alternativa positiva para os profissionais do ramo, desde que, é claro, ela seja feita de acordo com as leis. Na prática, o jornalismo acaba sofrendo com a precarização das relações trabalhistas, porque redações não tão comprometidas e com menos recursos tendem a perder o espírito de equipe. A avareza que se traduz no discurso de melhorar a eficiência das empresas jornalísticas pode ter como reflexo uma imprensa mais previsível e menos contestadora, dizem os especialistas.


A VOZ DO ÓDIO POR GUTO MARTINI “DESLIGA O TELEFONE, AGORA! DESLIGA!” Enquanto fazia compras no mercado e falava com seu pai pelo celular, o jornalista Leonardo Sakamoto tentava ignorar os gritos da senhora ao lado, mas… “Desliga!” Não teve jeito. Despediu-se do pai, abaixou o aparelho e respirou fundo. A mulher disparou: “Eu sei que você ganha um milhão de reais para defender o PT. Você faz um desserviço.” A mulher bradou mais algumas coisas, deu as costas e saiu andando sem deixar o jornalista se defender. Parece cômico, mas isso foi apenas um dos episódios que Sakamoto enfrentou após uma “reportagem” da Folha Política difamá-lo, em 2014. Com documentos falsos, o texto fazia denúncias como aquela que a senhora gritou no mercado. A produção apócrifa rendeu ao jornalista, diretor da ONG Repórter Brasil, infortúnios mais graves: apanhou na rua e recebeu ameaças de morte e até de estupro de sua mãe, que nada tinha a ver com a história. Após os advogados de Sakamoto e a Folha de S.Paulo irem a fundo na história, foram descobertas provas de que a JBS estava por trás do anúncio que veiculava o texto apócrifo no Google. Surpreendentemente, ou nem tanto, a JBS é uma empresa denunciada por problemas ambientais pela ONG do jornalista. “A fake news se aproveita da ignorância para incutir o medo. O desconhecimento leva ao medo e, depois, ao ódio”, afirma Sakamoto. Isso porque a notícia falsa circula diariamente pelas redes sociais e atinge quem estiver despreparado. No oceano digital, todos deveríamos saber distinguir dados, fatos e opiniões. Mas com a crescente polarização da sociedade muitos se deixam levar apenas pelas opiniões, que é o terreno fértil para a proliferação dos rumores, boatos e fake news. A boa prática do jornalismo pode combater esse problema por meio de agências de fact-checking, mídias independentes e alguns grandes veículos que se prestam a esse papel de resistência e a busca pela verdade – princípio basilar do jornalismo. No assassinato de Marielle Franco, disparates foram disseminados no Facebook. O mais notório foi um texto do Ceticismo Político que aproximava a ativista e vereadora do PSOL do traficante Marcinho VP e do Comando Vermelho. Esse link foi replicado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e teve mais de 400 mil compartilhamentos carregados de ira nos comentários. No caso de Marielle, a Justiça do Rio determinou

Fakes news espalhadas pela rede ajudam o discurso de ódio (Sobre obra O Ciclope Polifemo, 1560-1509, Carracci)

que o Facebook informasse se o MBL pagou para impulsionar a notícia falsa. Logo, a verdade veio à tona e se descobriu que o Ceticismo Político é uma página conhecida por divulgar informações falsas e seu dono, Carlos Augusto Moraes Afonso, é sócio de um dos líderes do MBL, Pedro D’Eyrot. No entanto, se o bom jornalismo serve de antídoto, conforme a dosagem pode virar o veneno que atiça a ira para muito além das notícias falsas. Às vezes, de maneira sutil, a manipulação da notícia pelos veículos tradicionais pode criar o que o jornalista Luís Nassif chama de “jornalismo de esgoto”. Para ele, houve um período em que o ódio vociferante venceu as barreiras dos veículos sensacionalistas para ter espaço em publicações de renome. Radicalismos e discursos partidarizados desmoralizaram a mídia em geral, mas agradam a interesses políticos. Essa visão é muito próxima de Número Zero (2015), último romance de Umberto Eco, publicado um ano antes de morrer. Ambientado numa redação italiana dos anos 1990, o livro reflete sobre os rumos da mídia e os limites da informação. Embora ficcional, a obra de Eco acabou servindo como uma espécie de manual do mau jornalismo e apontou como a imprensa pode entrar – e entra – em caminhos tortos.

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Influencers bombam nas redes, mas não tiram o protagonismo do jornalismo (Sobre obra Os Trapaceiros, 1594, Caravaggio)

EGOS CEGOS POR HENRIQUE ARTUNI EM 2017, O NEW YORK TIMES, principal jornal da língua inglesa no mundo, chegou à marca de 2,6 milhões de assinantes digitais, número que representa 60% da receita da empresa. Um canal do YouTube de Whindersson Nunes possui quase 28 milhões de inscritos. Na sua foto de capa, Whindersson estampa: “Novos tempos, novos ídolos”. A quantidade de fãs do youtuber brasileiro é realmente colossal e, no mínimo, invejável. Mas será que esses números que fazem falta a jornalistas e outros profissionais da comunicação são muito mais que barulho na profissão? Até que ponto eles importam tanto? Não se deixe enganar pela quantidade, nem se levar pela inveja. “O ambiente digital constrói reputações de forma diferente do das grandes mídias, com sua cultura do assistir, curtir e compartilhar”, explica Adilson Cabral, coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense e pesquisador de Políticas de Comunicação. Isto é, 28 milhões de inscritos não são sempre 28 milhões de visualizações diárias, nem garante qualquer credibilidade para além da atenção. Nas últimas décadas, houve uma mudança na relação dos leitores com a imprensa. Se antes ela tendia mais para a figura do jornalista, hoje se pensa no veículo. “Por muito tempo, as pessoas invejavam o status e o glamour

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do jornalista. Até que elas encontraram um caminho, e se tornaram os influencers, youtubers etc”, aponta Jorge Tarquini, professor de Jornalismo da Cásper Líbero. De imediato, o jornalista pode querer fazer parte do grupo que fascina seu público. “Mas esse fim do glamour jornalístico deve ser a oportunidade de abaixar o topete e reafirmar o valor do que fazemos.” Ainda que os influenciadores e as páginas de movimentos políticos repercutam uma informação, as pessoas não deixam de pesquisar e confirmar os fatos consultando e consumindo o jornalismo tradicional. E o que surpreende é que isso virou uma tendência entre os jovens. Segundo estudo feito pela Agência Pública em parceria com alunos da ESPM-Rio e o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da Universidade de São Paulo, o maior grupo de leitores de páginas do Facebook da imprensa tradicional tem de 20 a 30 anos. Já as páginas politizadas sem compromissos éticos com os fatos são mais acessadas por leitores a partir dos 40 anos. “Se a mídia tradicional é repercutida nas redes, significa que há reconhecimento de uma competência do fazer jornalístico”, lembra Cabral. “Enquanto isso, a mídia alternativa busca a audiência que lhe é possível, fazendo a sua oposição. Mas só terão real credibilidade quando trabalharem com e como jornalistas.” O que os produtores de conteúdo bem-sucedidos na internet sabem, e que lhes permite produzir materiais robustos, não é mistério algum. “Eles entendem seu interlocutor, sabem que existe um público interessado e oferecem aquilo que ele procura”, afirma Tarquini. Talvez seja isso que falte ao jornalista e também às empresas jornalísticas. “Não funcionam 20 mil caracteres para quem só quer um título. E não adianta xingar o leitor. Afinal, o produto não serve à satisfação pessoal do jornalista.”

INVEJA


PREGUIÇA

CONTRA O TEMPO POR LUANA JIMENEZ “Ô, JORNALISTA MODERNO, por que é preguiçoso? Você não vai mais para a rua, não gasta mais a sola do sapato. Virou escravo do Ctrl+C Ctrl+V?” Pode confessar, você já ouviu esse discurso antes. Ou, pelo menos, algo muito próximo disso. Parece que todos decidiram erguer o dedo em riste à nova geração de jornalistas para dizer que eles são preguiçosos. É tentador, de fato, principalmente quando entramos em diferentes portais de notícias e esbarramos com parágrafos idênticos, redigidos com as mesmas palavras. É como se uma pessoa tivesse feito o dever de casa e repassado para o resto da sala. Isso sem falar quando abrimos a homepage do jornal que gostamos e raramente encontramos uma reportagem de fôlego. Diante dessas constatações, fica o questionamento: mas o que os jornalistas estão fazendo em vez de estarem na rua atrás de grandes histórias? Saiba que não é bem assim que a banda toca. É fácil jogar a culpa nos ombros de uma suposta “crise do jornalismo” – questão controversa que muitos nem acreditam existir. Mas há uma outra perspectiva para o quadro em que nos encontramos. Luís Mauro de Sá Martino, professor de Mídia e Sociedade Contemporânea da Cásper Líbero, esclarece: “O jornalismo não está em crise, a situação costumeira do mercado é essa crise. Prefiro pensar dessa maneira: atualmente, qual é o formato que essa crise adota?” No atual contexto da produção, os textos mais bem acabados e aprofundados deram lugar a releases das agências de comunicação, que enviam o material pronto para o jornal publicar. Mas por que o texto é publicado da mesma forma que foi enviado aos veículos?

“Foi por que o jornalista não quis apurar? Não, foi porque ele não teve tempo para apurar,” explica Luis Mauro. Outro ponto que tem de ser considerado é que o leitor também não tem mais tempo para ler grandes reportagens; ou, às vezes, parece não ter paciência mesmo. Por trás disso, encontra-se um fenômeno social que afeta todo o fazer jornalístico, que é um novo modo de leitura. Segundo Luís Mauro, os jornalistas se encontram um tanto perdidos em meio a esse novo formato de consumo de informações. Por mais que ainda existam pessoas que queiram ler grandes textos e narrativas, é uma parcela pequena, e essas reportagens grandes acabam sendo escritas para pequenos nichos. Mas qual seria o limite entre esta nova realidade jornalística e a pura preguiça de apurar? “Não dá pra generalizar nem veículos nem profissionais. Há diferenças entres os veículos e há diferenças entre os profissionais. A questão da preguiça é uma coisa individual,” explica Ricardo Kotscho, jornalista veterano com passagens pelas principais redações de São Paulo. “Quando você quer fazer uma matéria, tem que brigar por ela, pelos recursos. Não é fácil, a situação do país é muito complicada, mas isso não é motivo para desanimar. O que eu sinto é que muitos jovens desanimam antes de tentar. Depende muito do profissional, da vontade do profissional. Eu acredito muito nisso”, afirma Kotscho, recém-contratado pela Folha de S.Paulo para ser colaborador em grandes reportagens. O jornalismo é preguiçoso ou são as condições de trabalho que impedem o seu trabalho? (Sobre obra São Lucas, 1625, Hals)

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Notícias e cobertura jornalística glamurosa não correspondem à realidade (Sobre obra Sofonisba, 1609-1655, Knüpfer)

DESEJO PELO LUXO POR PEDRO GARCIA MUITO DINHEIRO, CARROS DE LUXO, viagens para países ricos e refeições em restaurantes estrelados Michelin. Quem nunca sonhou com pelo menos uma dessas coisas? A ganância é algo naturalizado na sociedade e é tratada pela Igreja Católica como um pecado: a luxúria. Mas estaria o jornalismo brasileiro incidindo nesse pecado capital? Abrimos um portal de notícias e nos deparamos com manchetes como “Bruna Marquezine tem voo cancelado e

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Neymar freta jatinho” ou “Marina Ruy Barbosa usa vestido de R$ 59 mil em casamento”. Há ainda notícias que talvez não sejam úteis como “10 restaurantes para comer em Paris˜. Essas são notícias, reais, que não dialogam com a realidade socioeconômica do Brasil e muito menos trazem uma informação relevante. Também, ao analisar um veículo que cubra moda, automobilismo ou gastronomia, por exemplo, ficam evidentes os conteúdos resenhando grifes, marcas e restaurantes inacessíveis para a maioria da população. Porém esse tipo de cobertura não precisa necessariamente ser assim. Editora da Veja São Paulo, Helena Galante lembra que o jornalismo de serviço é naturalmente segmentado. Dentro da gastronomia, ela enxerga uma cobertura abrangente, indo desde a alta gastronomia até a avaliação de fast food. “Não acho que exista veículo que converse com o público de E a A do Brasil inteiro. Ter tanta abrangência assim ninguém dá conta, mas é possível não ficar muito segmentado e sair de suas bolhas”, afirma Helena. Segundo ela, há espaço para cada um fazer a cobertura de sua forma, mas a jornalista acredita que a mídia tradicional dá conta de levar o assunto para mais pessoas, por meio da diversificação das pautas. Ela cita o blog Delícia de Conta, a seção de abertura do guia de gastronomia Comer e Beber, nos quais trabalha, que priorizam pratos de estabelecimentos bons e acessíveis para o maior número de pessoas. O professor titular da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo Eugênio Bucci afirma não ser possível tratar a mídia com um discurso único. Mesmo dentro da mídia mainstream há variações e pontos contraditórios. Mas ele não acredita que a informação chegue a todos. “No Brasil, temos bolsões de desinformação, como costumo chamar. O Brasil é um país que lê pouco, que processa pouco a informação recebida e onde há a escassez de imprensa.” Bucci pensa que, de certa maneira, os veículos tradicionais fazem um bom trabalho jornalístico, como a Rede Globo que está em todos os lugares e não possui nenhum programa sensacionalista. Mas ele não os vê como suficientes para resolver o problema. Para o acadêmico, a solução poderia ser a presença de mais veículos sem fins lucrativos e programas oficiais, diferentes dos hoje existentes, para o fomento da imprensa, principalmente a regional e não-pertencente ao mainstream.

LUXÚRIA


GULA

REDAÇÕES FAMINTAS POR THIAGO BIO AS COISAS MUDARAM PARA A COMUNICAÇÃO. Novidade? Nenhuma. Falar isso soa até um pouco repetitivo. Isabela Ferreira Sperandio, gerente de Estratégia SEO do Grupo Abril, afirma que os novos formatos para transmitir informação estão intimamente ligados à internet e, sobretudo, às novas gerações (sim, os millenials e centennials). É no ambiente digital que as pessoas podem produzir seus próprios conteúdos. “Estávamos acostumados ao jornalismo do jornal na mesa de jantar. Hoje em dia, com a internet, as coisas mudaram um pouco porque os usuários começaram a produzir conteúdo também”, comenta. Nunca tivemos tanto acesso à informação quanto hoje, mas parece que não compreendemos tudo que recebemos. Isso está relacionado à percepção acelerada do tempo. Não notamos o tempo como um contínuo, uma linha reta que vai de um ponto A a um B. Na verdade, percebemos o tempo passar de acordo com os eventos. A subjetividade da percepção foi chamada pelo filósofo francês Henri Bergson de “duração”. Quanto maior o número de eventos num determinado período, maior a sensação de que as coisas estão passando muito rápido. Esse fator, pode não parecer, está intimamente ligado ao jornalismo. Muitos dos veículos de comunicação trabalham com a ideia de que quanto maior for o volume de conteúdos postados, melhor. Seria preciso saciar a gula do público. Porém, oferecer cada vez mais conteúdos é solução? Esse fenômeno do conteúdo que não informa pode ser chamado de “exformação”. É um termo que descreve o quão pouco sabemos das coisas. Enquanto a informação é algo que leva ao desenvolvimento de argumentos e pensamentos, a exformação é algo que as pessoas escutam e leem, mas não interiorizam ou compreendem. Michelle Prazeres, jornalista e professora de Jornalismo em Ambientes Digitais da Cásper Líbero, acredita que o excesso de informação se relaciona à quantidade de trabalho dada às redações hoje em dia. Segundo ela, o atual modelo de negócio do jornalismo baseia-se na quantidade de acessos da notícia.

Por isso, muitas vezes encontramos os chamados “caça-cliques” nas manchetes dos portais. Estes são utilizados para gerar engajamento, que é o que rentabiliza o jornalismo praticado, porque servem para viralizar nas redes sociais. Daí se explica o uso de certas construções frasais que chamam a atenção e geram o clique, mas não fazem sentido. “Não é uma novidade para o jornalismo”, diz a professora Michelle. “A gente sempre viveu a manchete sensacionalista, que chama a atenção e, quando você lê a notícia, não era nada daquilo. Só que o digital potencializa o nosso acesso e a possibilidade de usar isso para praticar o jornalismo.” O conteúdo no jornalismo não é apenas notícia. É o vídeo, é o meme, é a imagem animada. Isso acaba se disseminando culturalmente como ferramenta de comunicação. São as gerações e seus comportamentos que definem esses novos formatos.

Os “caçacliques” e o excesso de informação causam o fenômeno da “exformação” (Sobre obra Dois Sátiros, 1577-1640, Rubens)

CÁSPER

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SOBERBA

FOGUEIRA DAS VAIDADES POR RAFAELA ARTERO AO ASSISTIR O FILME Spotlight - Segredos Revelados, ficamos emocionados com a história do jornal Boston Globe, que denunciou crime de pedofilia dentro da Igreja Católica. A história mostra que o jornalismo pode e deve ajudar a sociedade. E podemos ser a voz de quem foi silenciado. Poético, não? Mas saibam que existe uma parte da realidade que o filme não mostra: mesmo com o sucesso e repercussão da série de reportagens feitas pela equipe investigativa, o Boston Globe faliu anos depois. A ponto de, inclusive, os jornalistas terem de entregar jornais para os leitores por não

terem verba para pagar o serviço de entrega. Então por que continuamos idealizando imagens de jornalistas como super heróis se elas, na realidade, não existem mais? Soberba? Neste pecado, vamos tratar de um problema que nós jornalistas temos: a vaidade. Não ela como um amor próprio que nos faz achar que somos invencíveis, mas o amor por uma imagem que na realidade deixa de existir. O jornalista e professor Renato Cruz conta que o mais importante para os próximos profissionais que querem se manter no mercado é renovar. Segundo Cruz, está na hora de esquecer

a velha imagem estereotipada do jornalista, aquela do herói romântico que vai salvar o mundo. O repórter hoje em dia precisa ter conhecimentos de edição de vídeo, fotografia e design. Ele também afirma que é importante não ficar parado e procurar empreender no mercado. “Existem novos projetos que podem ser a saída”, conta, exemplificando com as iniciativas do Projeto Draft, Nexo e Meio & Mensagem. Vaidade é um sinônimo do orgulho, da soberba. E este é um outro problema que assombra a nossa profissão. Precisamos mudar não só a forma como nos vemos, mas também

CEDIDO POR KENJI HONDA

E N T R E V I S TA

O REPÓRTER POR VIVIANE FONSECA E GABRIEL OLIVEIRA José Hamilton Ribeiro completa 83 anos de idade, em agosto, e 64 de profissão. Há tempos poderia estar aposentado, mas seu contrato com a Rede Globo vai até 2021. Até lá, continuará exercendo o velho e bom jornalismo, pois ele ainda acredita que seja a profissão que pode mudar o mundo. “O jornalista que não acreditar nisso é um cínico e deve deixar a profissão”, aconselha. Repórter mais premiado do país, é autor de 15 livros, entre eles O Gosto da Guerra (1969), que conta a cobertura da guerra do Vietnã pela icônica revista Realidade, quando perdeu uma perna. Para José Hamilton Ribeiro, as mudanças tecnógicas podem ser prejudiciais à profissão do jornalista. já que com a internet as grandes reportagens praticamente se extinguiram. E esse é apenas um dos problemas. Segundo ele, as coberturas que antes eram feitas in loco pelos repórteres, que poderiam observar e relatar o que viram, hoje se limitam a apurações à distância, baseadas só em fontes. Nascido em Santa Rosa do Viterbo, interior paulista, veio para a capital em 1955 para estudar jornalismo na Cásper Líbero. Foi expulso no último ano por ter comandado uma greve de estudantes, mas retornou à instituição dez anos depois como professor. Trabalhou em rádios, jornais, revistas e canais de televisão. Em meio à apuração de mais uma pauta para o programa Globo Rural, o jornalista concedeu esta rápida entrevista à CÁSPER, onde aconselha, brincando: “Jornalismo é uma profissão muito boa para você sair dela em tempo. Quem não consegue sair fica até o fim da vida nela.”

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importante indústria, com influência decisiva na economia dos países, se considerarmos toda a escala de produção e comércio desde a produção dos tecidos até o varejo, operada por grandes grupos industriais que geram um grande volume de empregos e capital.” Para Alcino, quem pode mudar esta visão são os próprios profissionais deste nicho, sobretudo se deixarem a vaidade de lado. @

como olhamos para os outros. No mundo atual, não dá mais para classificar o jornalismo em categorias como sério e não-sério. Segundo Alcino Leite Neto, jornalista e professor do curso livre de Jornalismo de Moda da Cásper, assuntos de política nacional e internacional tendem a ser mais importantes do que os de moda para a imprensa em geral. “O problema não é este: é a persistência em parte dessa mesma imprensa de certa visão da moda como coisa supérflua e muito secundária”, alfineta. “A moda é uma Vaidade e soberba fazem com que o jornalismo não se reinvente (Sobre obra Vênus ao Espelho, 1647, Diego Velázquez)

Como a internet mudou a rotina da apuração de reportagem? Reportagens exigem pesquisa, tempo, dinheiro e muito suor. A internet facilita a apuração. Antigamente íamos à biblioteca para pegar livros. As novas ferramentas facilitam muito, mas é óbvio que, no meio de tanto material, tem informações que você pensa que é uma coisa e, na realidade, é outra. Tantos prêmios, fama e espaço na mídia... O senhor sente uma responsabilidade para fazer sempre o melhor? A gente sempre procura fazer uma coisa melhor do que já fez antes. Nem sempre consegue, mas esse é o objetivo. Eu busco a satisfação, fazer um trabalho que goste e que também sinta de um modo ou de outro que o leitor ou telespectador apreciou. Com 60 anos de profissão, o sr. consegue se desligar do jornalismo, da informação? Eu tinha a ilusão que quando ainda tivesse bastante energia e parasse de

trabalhar, fosse tomar conta de um sítio no interior, mas cada dia fica mais difícil, porque as minhas filhas e o restante da família estão em São Paulo. Então essa ideia fica fora da realidade. O sonho está se desgastando com o tempo. Na Globo, a gente trabalha com contrato. O meu vai até 2021. Eu não sei o que vai acontecer com a Globo ou comigo, mas, até lá, pretendo trabalhar até quando me aguentarem. Tem alguma história que o senhor gostaria de fazer e ainda não fez? Ah, tem muitas. A que gostaria de fazer é sobre o custo social e econômico que vem por trás do avanço da cana de açúcar. A cana tomou conta de vários Estados do Brasil e está arregaçando com a agropecuária brasileira. Será que vale a pena essa produção de cana? Esse custo social é muito alto para população, pois usam muitos defensivos (inseticidas), que são espalhados com a ajuda de aviões, e que o vento leva para as propriedades vizinhas. Isso acaba com pomar, com árvores frutíferas, flores, animais. Então

gostaria de fazer essa matéria e analisar com o mínimo de profundidade. O sr. está super ativo na profissão e por isso deve conviver com pessoas que estão estudando ou são recém-formados. Qual é o conselho ou dica para esses novos profissionais? Jornalismo é uma profissão muito boa para você sair dela em tempo. Quem não consegue sair fica até o fim da vida nela. Porque é uma profissão muito competitiva, muito corrosiva e envolve muito estresse. O mercado é muito restrito. Cada um, para arranjar o seu lugar, empurra o outro, passando por cima. Então, quem vai entrar na profissão tem que ter consciência de que vai entrar em um mercado muito competitivo. Mas, por outro lado, penso o seguinte: a pessoa que tem vocação e formação boas acaba achando o seu lugar e transforma a sua vida profissional numa forma agradável e gratificante. É difícil de entrar, porque o mercado é restrito, mas a pessoa bem formada e bem vocacionada alcança o seu lugar. @

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HENRIQUE ARTUNI

ESPECIAL | 75 ANOS

O DNA DE

Membros da fase universitária da Rádio Gazeta apareceram no evento de comemoração dos 75 anos com entusiasmo e saudade

Criada pelo empresário Cásper Líbero, a Rádio Gazeta AM formou grandes profissionais e trabalha com entretenimento, esporte e jornalismo. Navegue nas ondas do tempo do 890, que marcou história na tradição de São Paulo e completa 75 anos em 2018 POR THIAGO BIO

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O Teatro Cásper Líbero estava lotado em 14 de março de 2018, mas não era para menos. Naquela tarde, a Rádio Gazeta AM comemorava 75 anos no ar. O 890 quilohertz é uma marca de tradição no dial. Ela é considerada a primeira emissora radiofônica de São Paulo e a segunda do Brasil, surgindo duas décadas depois da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgar Roquette-Pinto, o pai da radiodifusão brasileira. Visionário, o empresário Cásper Líbero já havia conquistado os paulistanos com o jornal diário A Gazeta. Mas, em 1943, o jornalista decide ingressar em um ramo que se consolidava entre a sociedade: o rádio. A Gazeta AM pode comemorar uma trajetória de “75 anos encurtando distâncias, unindo pessoas, espalhando a música e balsamando almas”, como fez questão de frisar a jornalista Regiani Ritter, mestre-de-cerimônias da


SÃO PAULO

O evento, chamado de “Auditório Gazeta – Especial 75 Anos”, contou com a presença do sambista Osvaldinho da Cuíca, do grupo de música popular Sampa Crew e da cantora Roberta Campos, que animaram a tarde dos ouvintes da Gazeta AM com performances ao vivo, e participação de jornalistas como Flávio Prado, Solange Serpa, Mauro Beting, Galvão Bueno, Paulo Soares e Ricardo Capriotti, todos ex-colaboradores da emissora.

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festa. Ao seu lado, estava Leonardo Levatti, que de forma descontraída ancorava o programa, transmitido pelas ondas do rádio e na página de Facebook da emissora. Convidados se revezaram naquela tarde de comemoração para contar seus laços afetivos com a Gazeta AM. O maestro Júlio Medaglia, o primeiro convidado da tarde de 14 de março, afirmou que a emissora é sua segunda casa, já que era ouvinte e frequentador ao lado dos pais. Ele lembra que, nos primeiros anos, a plateia era convidada a participar das gravações no estúdio da Rua da Conceição, atual Cásper Líbero, no Centro de São Paulo. E era lá que Medaglia assistia às apresentações da orquestra e do coral ao vivo. Contrariando as expectativas do pai, ele se interessou pela carreira de música porque percebeu que não poderia sobreviver longe do encanto do mundo musical.

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Em 1943, uma rádio chamada So- cas, quanto populares. Foi dentro dos da por Cásper Líbero em homenaciedade Rádio Educadora Paulista, estúdios da Gazeta AM que o maestro gem à Revolução Constitucionalista fundada 20 anos antes, vivia um mal Júlio Medaglia compôs os arranjos da de 1932) e o Troféu Bandeirante de momento. Mário de Andrade criti- música Tropicália, de Caetano Veloso, Remo entravam na programação da cava abertamente a programação. hino do movimento tropicalista brasi- Gazeta AM o ano todo. Criado em 1968, o Disparada no Ouvinte assíduo, o poeta modernista leiro. “A emissora de elite”, slogan que desaprovava a quantidade excessiva chegou a adotar, acabou sofrendo com Esporte é o programa radiofônico de de anúncios na grade e a falta de en- a perda de audiência, tanto pela falta jornalismo esportivo mais antigo no gajamento de seus funcionários. Mas de interesse por um conteúdo erudito Brasil e é hoje liderado pela voz de nada disso reduzia a vontade do em- quanto pela concorrência crescente Regiani Ritter. Jornalistas renomados levavam informações diárias do presário e jornalista Cásper Líbero com a televisão. A alternativa foi voltar-se para o cotidiano dos cinco principais clubes em entrar no então emergente meio de comunicação. Naquele ano, ele mundo dos esportes. Chegou a hora paulistas de futebol: Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, Santos e adquire a concessão da EducaGAZETA PRESS São Paulo. A rádio mantinha dora e o 890 quilohertz ganha repórteres setoristas para uma nova vida. atuarem dentro dos clubes, “A Rádio Gazeta empreenem treinamentos, entrevisderá o melhor dos seus esforços tas, contratações e dinâmicas para se tornar uma transmissora de preparação física. A cidade digna da nossa cultura, do nosso parava todas as manhãs para civismo, das nossas tradições”, ouvir o programa. discursou Cásper Líbero em 15 Os já citados Ricardo Cade março de 1943. Uma fatalidapriotti, Solange Serpa, João de, contudo, não permitiu que o Guilherme, Flávio Prado e empresário conhecesse o sucesso Galvão Bueno iniciaram ou de sua ousada aposta. Cinco mealavancaram suas carreiras ses depois de inaugurar a emisno jornalismo esportivo densora, ele morreu em um acidente tro dos estúdios da rádio. Na aéreo, em 27 de agosto. Em luto, festa de 75 anos, Prado, atual a Gazeta AM ficou fora do ar por comentarista do programa três dias seguidos, algo improváMesa Redonda, da TV Gazevel nos dias de hoje. ta, fala do orgulho que teve ao Nos primeiros anos no ar, ser contratado como repóra Gazeta AM apresentava uma ter da rádio, num concorrido programação diversificada e concurso de seleção em que elitizada. Isso não quer dizer Galvão Bueno foi escolhido que seu público-alvo era a elite para ser comentarista esporda sociedade. Seu foco era uma Cartaz anunciava o programa inaugural da Rádio Gazeta em 14 de março de 1943 tivo. “Foram cinco anos maelite cultural, e não econômiravilhosos que me levaram ao ca. Eram apresentadas aulas de rádio e, depois, à TV Gazeta”, relembra inglês pelo rádio, programas de ra- de uma grande mudança do modelo o jornalista Mauro Beting, que esteve dioteatro, transmissões de jogos ao de produção. A Gazeta AM flertava presente na rádio entre 1991 e 1996. vivo, um quadro de cantores e óperas com uma programação popular. No “Desde então, só posso agradecer a ao vivo. A emissora tinha sua própria dia do aniversário de 1963, a direção tudo que a rádio fez por mim. Primeiorquestra sinfônica, composta por da rádio mudou a sua orientação, ro como ouvinte e, principalmente, 38 instrumentistas, a maioria deles que passou a ser conhecida como “a integrantes da Orquestra Sinfônica rádio que pratica esporte”. A pro- como colega, como amigo do 890.” Municipal. Ela participava do horário gramação esportiva contemplava Em 2000, a Gazeta AM começa nobre de transmissão, e muitas vezes, 15 horas. As transmissões dos times uma série de projetos relacionados era acompanhada por cantores solis- paulistas eram intensas. Seus funcioà participação estudantil. Mas foi nários chegaram a viajar o mundo tas e um coral lírico. só nove anos mais tarde que a rádio As rádios daquele tempo eram para cobrir Copas do Mundo e Jogos passou a ser dirigida pela Faculdade também produtoras de música. Vá- Olímpicos. A Corrida Internacional Cásper Líbero, sob a coordenação do rias canções foram compostas dentro de São Silvestre, a Prova Ciclística jornalista Pedro Vaz. A produção fide seus estúdios. Tanto músicas clássi- 9 de Julho (que, inclusive, foi cria-

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Grandes jornalistas começaram suas carreiras na Gazeta AM, como Alberto Helena Júnior, Milton Peruzzi e Wanderley Nogueira

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A rádio ficou famosa pelas suas coberturas esportivas

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PEDRO GARCIA

A rádio apoia ativamente a participação universitária dentro dos estúdios

cava agora nas mãos dos estudantes e com a supervisão de experientes profissionais, como Renata Câmara, Regiani Ritter e Gilles Sonsino, atuais apresentadores. Essa nova fase permite ao aluno aprender, criar e produzir programas que realmente vão ao ar diariamente. Com o caráter de rádio-escola, a emissora se tornou uma fonte de no-

vos talentos e contribui para a formação profissional de muitos jornalistas e radialistas. Todos que passam por ela podem atuar num dos pontos da tríade “jornalismo, entretenimento e esporte”, que forma a atual programação da emissora. Para os ouvintes, as contribuições da Gazeta AM continuam as mesmas da época de Cásper Líbero: atender

DE CARA NOVA Há 75 anos, um logotipo com uma escrita preta e vermelha da Rádio Gazeta estampou as capas dos principais jornais da cidade de São Paulo. O intuito era anunciar a inauguração do novo empreendimento de Cásper Líbero. Hoje, a Gazeta AM adota um novo logotipo, feito para seu aniversário. Preparada por Richieri Pazetti, gerente de comunicação visual da Fundação Cásper Líbero, a peça traduz as tendências digitais e as reinvenções da rádio ao longo do tempo.

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nos campos da educação, da cultura e da cidadania, sempre ligados à cidade de São Paulo. Esse é a motivação que guia seus funcionários. Eles seguem isso desde a formação do corpo de profissionais até a criação de pautas para a rádio. Hoje atrelada ao fluxo digital, a rádio mantém um espírito multiplataforma e transmidiático. Por mais que seu conteúdo principal seja o som, ela se adapta também para outros ambientes da comunicação. Não basta mais ficar no tradicional e ignorar as mudanças que acontecem no mundo. Por isso, ela trabalha com o impresso (a revista Esquinas, do Núcleo Editorial de Revistas), a TV Gazeta (Edição Extra) e o digital, formando o chamado rádio expandido e possibilitando que haja um trânsito de conteúdo entre essas mídias. De maneira unânime, os atuais funcionários da Gazeta AM querem ver mais 75 anos de vida da emissora. É uma rádio que teve muita história, mas ainda há muita coisa para ser contada. Eles vêem o futuro da emissora sempre pensando na tradição, mas ao mesmo tempo buscando a constante renovação, a qualidade e a variedade que a torna única. @

O G inicial é estilizado e representa tanto o botão de volume dos aparelhos de rádio quanto o processo de movimento e evolução que a Gazeta AM seguirá nos próximos anos. O balão colorido ao redor do AM remete ao espírito transmidiático e multiplataforma que a rádio incorporou nos últimos anos. Por fim, o degradê, saindo do rosa e chegando ao amarelo, traduz a mentalidade popular jovem dos seus ouvintes. É essa a identidade visual que a rádio quer transmitir aos seus fãs.


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De volta à vida

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Regiani Ritter relembra sua trajetória na Rádio Gazeta AM Aos 16 anos, estreei na TV Tupi. Participei do teleteatro TV de Comédia, dirigido por Geraldo Vietri, o melhor de seu tempo no Brasil, escrevendo e dirigindo novelas. A televisão era em branco e preto e não existia videotape. Tudo na raça, ao vivo! Passei por palcos de teatro, por câmeras de cinema (pouco), ancorei programetes na TV Cultura, fui anunciadora, a chamada garota propaganda... Vivi minha profissão muito intensamente. Mas não sabia o que era emoção pra valer até ser recebida na Rádio Gazeta AM, onde fiz minha estreia à frente do Programa Regiani Ritter em 1º de setembro de 1980. A veterana do 890 esteve ligada à Era um musical com variedades, comunicação desde a juventude das 15 às 16 horas, que foi prolongado em uma hora, pouco tempo depois da estreia. Eram abordados os mais variados temas, E lá fui eu, primeira escala, uma reportagem especial como cultura, lazer, arte, política, economia e esportes. da saída de Luís Pereira, um dos ídolos do Palmeiras, O futebol era meu predileto. magoado com a diretoria. Grande pauta. Pude trabalhar Em pouco tempo, o diretor da equipe de esportes bem o emocional da matéria. Segunda escala, gravar o Pedro Luiz Paoliello, um dos grandes do jornalismo es- VT de um jogo no Pacaembu. Era a minha primeira vez. portivo brasileiro, me convidou para cobrir temporariaDaí em diante foi tudo na íntegra. Isso incluía tomente uma vaga de repórter, já que um deles ia ficar dois mar chuva, tomar choque, levar pedradas, queimar meses viajando com a seleção brasileira. num sol de 38°C, ouvir impropérios de alguns torceAceitei sem hesitar. Em nenhum momento pensei dores, entrar em vestiários com vinte homens pelados na barra que seria, afinal, ia entrar no clube do Bolinha, e correr muito para não ser atropelada nas Eliminatóonde Luluzinha era proibida. Ou quase. rias de 1993 e na Copa do Mundo de 1994. Vivi muitas Sem medo e com algumas pedras em mãos, ia para Libertadores da América também. os clubes cobrir seu dia a dia, olhar os treinamentos, faEnfim, tudo o que os homens faziam, eu também zer entrevistas, falar de futebol. Gostava muito. fazia. Eu gostava e nunca cansava. Até virei nome Mas nos finais de semana eu estava de folga. Era terrí- de troféu. Troféu Ford Aceesp Regiani Ritter. Não vel. Esperava ansiosa a escala de cobertura de jogos, e meu parece um sonho? nome nunca estava nela. Só não chorava para não ouvir a Muitas pessoas fizeram parte desta trajetória, velha frase: “É mulher, o que mais poderia se esperar?”. e quando eu digo muitas, são muitas mesmo. Seria Pouco tempo depois conheci o Roberto Avallone, ge- um risco grande citar todas. Precisaria de mais mil rente de esporte da TV Gazeta, que perguntou se eu teria caracteres e correria o perigo de me lembrar depois, interesse em fazer alguma coisa na televisão. Respondi quando fosse tarde demais, de alguém sem o qual que sim, afinal, eu tinha vindo da TV para o rádio. faltaria uma parte de mim.

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PORTFÓLIO

LUZ E SOMBRA DE UM PAÍS EM CHAMAS O fotógrafo Severino Silva especializou-se nos registros urbanos, que no Rio se traduzem na violência e nos dramas humanos POR GUTO MARTINI - Eu sempre fui de falar pouco, sabe? Sou meio tímido. Prefiro observar. Em Copacabana, naquele dia de 1992, Severino Silva observou. Já havia feito seu trabalho fotografando para o Jornal Povo na Rua. O corpo do mendigo, coberto por um plástico preto, ainda estava estendido no chão quando um homem segurando um pedaço de papelão se aproximou.

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Perguntou se podia ver o cadáver. O policial que estava tomando conta do local autorizou. O homem foi até o plástico e o levantou. Olhou, benzeu-se e deu as costas para ir embora. Severino, que continuava observando tudo, foi até ele. Perguntou se havia conseguido reconhecer quem era. A resposta foi não. - Posso te fazer outra pergunta? O que o fotógrafo queria saber era

a trajetória daquele homem até aquela situação. Ele respondeu que já tivera uma vida “normal”, estabilidade e tudo o mais. Só que gostava de beber e, às vezes, passava da conta. Uma noite estava dirigindo embriagado depois de uma festa e sofreu um acidente. Sua esposa e sua filha estavam no carro. As duas morreram. Depois daquilo, parou de ver sentido nas coisas e largou tudo até chegar naquele ponto.


À esquerda, uma imagem da cobertura das manifestações de 2013, no Rio de Janeiro. À direita, foto do ensaio ‘‘Nordeste’’. Nessa coletânea, Severino Silva reúne fotos do cotidiano regional. As imagens variam entre paisagens, festas e retratos.

A foto à esquerda ficou conhecida como ‘‘Beijo de Mãe’’, que revela o drama de uma mulher que se debruça sobre o corpo do filho, morto na periferia do Rio de Janeiro. Abaixo, um dos retratos do ensaio ‘‘Cama de Pedra’’, com moradores de rua.

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O Rio de janeiro enfrenta, desde o começo de 2018, uma intervenção federal. O cotidiano das pessoas é marcado pelo confronto entre traficantes e militares com raros momentos de tranquilidade e leveza como no registro de Severino.

Foi daí que nasceu a ideia de “Cama de Pedra”. Uma série de retratos que, ao longo dos anos, Severino fez de pessoas em situação de rua. Entre 2009 e 2014, todos esses retratos foram disponibilizados no blog “Fotos e Reencontros” e, hoje, estão alojados também em seu web site profissional (www.severinosilva. com). Com esse ensaio, o fotógrafo tinha um objetivo: ajudar as pessoas retratadas a se reconectarem com familiares ou amigos. Queria fornecer,

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por meio das imagens, qualquer informação que pudesse servir de ajuda para as famílias. Marcadas pelo impacto visual de uma realidade miserável, as fotos de Severino capturam um cotidiano invisível que, de certa maneira, esconde histórias. Esse parece ser outro interesse por trás dos retratos: uma tentativa de observar e entender casos não contados. Narrativas de pessoas estigmatizadas pela parcela “normal” da sociedade. Seguindo essa perspec-

tiva, as lentes do fotógrafo são igualmente sensíveis ao captar outras situações de vidas colocadas ao extremo. Em suas coberturas para a instalação das unidades pacificadoras, as UPPs, nas favelas do Rio de Janeiro, Severino oferece um verdadeiro mergulho em um universo de brutalidade. Cenas que se revezam entre morros e complexos cariocas mostram ápices dramáticos, seja em momentos que antecedem ações ou no próprio instante de uma ação.


A foto acima, intitulada ‘‘O Sertanejo Dadá e a Seca’’, rendeu a Severino Silva o prêmio Tim Lopes e com a imagem abaixo, integra o ensaio ‘‘Fé, Luz e Sombra’’. As fotografias ficaram em exposição no Museu Luiz Gonzaga, no Rio, em 2016.

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“A favela está em guerra, meu irmão. Traficante contra polícia, traficante contra traficante. Tá brabo!”, contou o fotojornalista. A situação, de fato, está calamitosa e, de tempos em tempos, explode algo nos noticiários a respeito. As instalações das UPPs começaram em 2008 e os confrontos entre civis e policiais se intensificaram a partir de 2014. A intenção era amortecer a violência do crime organizado. Mas o que se intensificou foi o abuso de autoridade policial. Em 2018, com a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, a guerra continuou. Para quem está de fora, pode ser difícil entender o estado de constante ameaça em que vivem os moradores da favela. É justamente neste ponto em que o trabalho de Severino ganha força: ao se colocar entre o fogo cruzado, o fotógrafo traz à luz toda a violência enfrentada por pessoas que, por questões sociais, estão subjugadas pelo tráfico e pelo abuso militar. @ Cobertura das manifestações de 2013 e das instalações das UPPs no Rio de Janeiro .

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GIRO PELO MUNDO NA REDE

Conexão lenta :: DADOS :: Brasil avança na produção de conteúdo pela internet, os brasileiros aceitam pagar por notícias, mas a infraestrutura da rede mundial ainda deixa muitas pessoas offline

A REALIDADE BRASILEIRA

Dispositivos usados para ler notícias

Usuários que pagam por notícias online

21%

3º Hong Kong

22%

26% usam WhatsApp para notícias

Brasil

Noruega

PELA ÓTICA DA REUTERS

60% confiam no noticiário

O Brasil ainda aparece no pelotão intermediário do relatório Digital News Report 2017. Um dos principais estudos mundiais sobre jornalismo e mídia aponta avanços na produção de conteúdo pelos principais veículos brasileiros de comunicação, porém figuramos como sendo uma nação que padece de problemas básicos, e entre eles o de conexão à internet. Mais de 97% das famílias brasileiras têm um aparelho de TV, enquanto que apenas uma em cada duas casas possuem conexão com a rede mundial de computadores. No Japão, 94% da população está conectada, e nos Estados Unidos o índice é de 90%. O relatório da Reuters mostra ainda o aumento do uso de serviços de mensagens como o WhatsApp para compartilhamento de informação. Quem sofreu uma diminuição da circulação foi o jornal impresso, enquanto o número de subscrições digitais teve um crescimento estável. Em agosto de 2016, a Folha de S.Paulo, anunciou que sua circulação digital tinha superado à de sua edição impressa. Como forma de combater as fake news, o portal G1 e o jornal O Globo adotaram recentemente equipes de

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checagem de fatos. Nem as informações extraídas dos anúncios oficiais ficaram de fora da checagem, exemplifica o estudo da Reuters. Para a empresa inglesa, que inclui o Brasil nos relatórios desde 2015, a credibilidade das notícias remete ao caso do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência. Os resultados mostram que naquele momento de ambiente político extremamente polarizado a porcentagem de pessoas que acreditou que a mídia é livre de influência política caiu de 36% para 30%. O estudo mostrou que a indústria de notícias mundial busca novas tendências rentáveis de monetizar o seu trabalho, como a adoção de sistemas de micropagamentos e o uso de newsletters para burlar os algoritmos das plataformas Essas conclusões foram extraídas com base em uma pesquisa da YouGov com mais de 70 mil consumidores de notícias online. Segundo o relatório, não há soluções mágicas quando usuários afirmam que não querem pagar por notícias. Como persuadi-los? Os resultados do estudo foram incapazes de dar uma resposta. Há uma tendência que, embora não seja universal, parece ser viável: reforçar em jornalismo de qualidade. (Rafaela Bonilla)


DIVULGAÇÃO

O GIGANTE CHINÊS Facebook, Instagram, Twitter, nenhuma dessas plataformas parece ameaçar o reinado do Wechat na China. A rede social tem mais de 2 bilhões de usuários e pertence à Tencent Holdings, a primeira empresa asiática a valer mais de 500 bilhões de dólares. Ma Huateng, seu fundador, já é o homem mais rico do país oriental e 15º do planeta. O Wechat tem uma rede social como o Facebook, um sistema de mensagens como o WhatsApp, uma loja de aplicativos como o da Apple ou do Google e até um facilitador de encontros como o Tinder. Essencialmente, o aplicativo serve para fazer qualquer coisa online. Mas é curioso que ele continue confinado ao universo chinês. Os planos futuros de Huateng é expandir o app para outros países, procurando parcerias com empresas como Apple e Microsoft. (Pedro Garcia)

DIVULGAÇÃO

NAS TELINHAS

A INSTANTANEIDADE O termo stories se tornou popular nas redes sociais, começando no Snapchat e implementado no Facebook, WhatsApp e Instagram. O Google vai entrar nessa disputa com o AMP Stories. O Google Stamp funcionará em parceria com veículos como CNN e Washington Post e mostrará fotos ou vídeos exibidos por um tempo curto e em tela cheia nos resultados de pesquisa de dispositivos móveis. O formato AMP, páginas móveis aceleradas, em português, são sites com carregamento simplificado, leve e quase instantâneo quando acessados por um dispositivo móvel. (Thiago Bio)

REPRODUÇÃO

SLOW JOURNALISM

ESTRANHO NO NINHO

Notificações, lembretes, mensagens no mundo digital… As distrações são tantas que está ficando cada vez mais difícil se concentrar em atividades básicas como ler e escrever. Já existem aplicativos, como o Cold Turkey, que bloqueiam o uso das redes sociais temporariamente para melhorar o foco das pessoas. Já a revista digital The Disconnect radicaliza esse conceito. Ela só funciona quando o leitor corta todas as conexões com a internet, desabilitando o wi-fi e os dados móveis. A publicação americana traz prosa ficcional, não-ficcional, ensaios e também poesia. Em sua primeira edição, lançada em fevereiro, o tema foi o ser humano e as relações com a tecnologia. (Henrique Artuni)

REPRODUÇÃO

À MODA ANTIGA

A holandesa De Correspondent nada contra a correnteza do jornalismo digital. Focando em apenas pautas frias e de maior profundidade, a plataforma oferece conteúdos em diversos formatos diariamente e sem anúncios. O visual é livre de distrações para o leitor, e ele participa ativamente do processo de escolha dos assuntos. Com uma campanha de crowdfunding que arrecadou 1,7 milhão de dólares, a empresa possui 60 mil membros em sua plataforma (a assinatura é de 60 euros por ano ou 6 euros por mês), o que não é nada mal para quem tem apenas quatro anos de circulação. (Luana Jimenez)

CÁSPER

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Fora da sala Cásper na Wikipédia, o Praticom, as aulas magnas e a Semana de Mulher e Mídia: casperianos participam de atividades para reforçar a formação

A HISTÓRIA NA WIKIPÉDIA voos maiores. Sempre com um caráter histórico, os trabalhos da disciplina permitiram que os alunos mergulhassem em determinados acontecimentos ou localidades de São Paulo. Em 2017, alunos de Rádio, TV e Internet fizeram verbetes sobre as eleições municipais no Estado de São Paulo. Já os cursos de Relações Públicas e de Jornalismo escreveram sobre museus. Os alunos realizaram uma visita guiada ao Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Lá foram recebidos pela educadora do museu Denise Peixoto, que falou um pouco sobre a museologia. Os

casperianos desenvolveram verbetes sobre obras do acervo que estão sendo digitalizadas e disponibilizadas pelas páginas da Wikipédia, ampliando o acesso restrito de quadros históricos – o local está fechado desde 2013 por problemas de manutenção. Com auxílio da professora Filomena Salemme, os alunos produziram versões audíveis dos quadros, que foram encaminhadas para a ONG Laramara. Neste ano, os alunos de RTVI farão um mapeamento dos monumentos da capital. “A ideia é comunicar em massa nosso patrimônio cultural”, afirma o professor. (Amanda Ravelli)

MIKE PEEL/COMMONS

CASPERIANAS

O projeto interdisciplinar envolvendo a Cásper Líbero e a Wikipédia supera as expectativas iniciais de João Alexandre Peschanski, professor de Ciência Política e editor da Wikipédia no Brasil. Desde 2014, mais de mil alunos já contribuíram na produção de verbetes da enciclopédia, escrevendo mais de 3 milhões de palavras. Esses verbetes geraram 14,5 milhões de visualizações. Quando Peschanski decidiu utilizar a plataforma, ele imaginava que ela seria bastante útil como forma de avaliação dentro da sala de aula. Mas a vida própria da Wikipédia o fez pensar em

AS MELHORES PRÁTICAS De 5 a 7 de junho ocorrerá o 8º Encontro Cásper Líbero de Práticas de Comunicação (Praticom). Em parceria com a Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), o evento terá como tema “Inovação e

Tecnologia: Novos Olhares da Comunicação”. Profissionais do mercado apresentarão as melhores e atuais práticas de gestão das mídias digitais na comunicação organizacional. Para os alunos, é uma rara oportunidade

para conhecer as ações das principais agências de relações públicas brasileiras. A professora Elizabeth Saad, que ministra disciplinas no curso de Jornalismo da ECA-USP abrirá o encontro. (Rafaela Artero)


A MULHER NA COMUNICAÇÃO

OLHAR ESTRANGEIRO

Em sua quinta edição, a Semana de Mulher e Mídia debateu como a presença feminina no meio midiático ainda está longe do ideal. As barreiras que dificultam o equilíbrio entre gêneros nas empresas de comunicação persistem. Mas há discussões que vêm se consolidando na sociedade, como empreendedorismo, representatividade periférica e assédio. Esses assuntos, antes ausentes do debate público, se tornaram inevitáveis antes de qualquer ação comunicacional nos dias de hoje. Organizada pela Frente Feminista Casperiana Lisandra, a Semana de Mulher e Mídia foi realizada entre os dias 5 e 8 de março, com apoio do Centro de Eventos e da Coordenadoria de Cultura Geral da Faculdade, o evento incluiu na programação outras atividades, como rodas de conversa, oficinas e intervenções artísticas. A Editatona foi uma dessas iniciativas, reunindo estudantes para inserir verbetes sobre personalidades femininas no portal Wikipédia. No dia 8, como última atividade oficial, alunas participaram de uma oficina de cartazes para a manifestação pela igualdade de gênero, na Avenida Paulista. (Yasmin Toledo Barros, da Frente Feminista Casperiana Lisandra)

Pela primeira vez para fins acadêmicos no Brasil, a professora romena Mihaela Brebenel, da Winchester School of Art da University of Southampton, da Inglaterra, apresentou sua pesquisa “Historiografias do Presente: futuros imaginados em movimentos não alinhados e decoloniais” na Cásper Líbero. Mihaela, que possui um currículo focado no estudo de mídias, pesquisa atualmente obras cinematográficas realizadas por artistas plásticos de diferentes locais no mundo, mas que possuem um passado com o movimento de não-alinhamento existente no período da Guerra Fria. Influenciados pela antiga Iugoslávia. Em sua palestra, a professora abordou especificamente um artista de Luanda, na Angola. O seu objetivo de estudar essas obras artísticas é o de entendê-las como documentos, ou seja, construções de realidades no mundo atual. Ela tem consciência de seu limite no lugar de fala e vivência e, por esse motivo, quer entender a recepção de seu trabalho. O encontro de 27 de março, atividade especial da Pós-Graduação, foi uma dessas oportunidades de dialogar com um público de fora da Europa. (Pedro Garcia)

AULAS MAGNAS

PUBLICIDADE E PROPAGANDA: No dia 7 de março, a aula magna de Publicidade e Propaganda foi com Leandro Maraccini Claro (diretor de Marketing e Customer Intelligence) da empresa Youse, pioneira em seguros 100% digital do país. Os alunos conheceram os desafios enfrentados pela empresa na sua estratégia de transformação digital. (João Gabriel Lopes) JORNALISMO: Pela manhã, Eduardo Acquarone, editor de Conteúdo Digital da TV Globo, debateu sobre os desafios atuais do jornalismo frente à migração da mídia textual para outras plataforma. No mesmo dia, 12 de março, foram recebidos Adriano Wilkson, repórter do UOL, e Elis Franco, produtora da GloboNews. (Larissa Bomfim e Camille Carboni) RELAÇÕES PÚBLICAS: Margarida Kunsch, a primeira mulher a ocupar o cargo de direção da Escola de Comunicação e Artes da USP, foi recebida na Cásper Líbero no dia 14 de março. Palestrou sobre como deve acontecer a dinâmica dos processos comunicacionais dentro da empresa para atingir um bom desempenho estratégico. (Guilherme Brandão) PÓS-GRADUAÇÃO: No dia 20 de março, a Cásper Líbero recebeu Ângela Cristina Salgueiro Marques, da Universidade Federal de Minas Gerais, na aula magna da Pós-Graduação. A professora discorreu sobre sua tese intitulada “Entre a política e a estética: uma abordagem comunicacional de questões de justiça”, na aula. (Beatriz Fontes)

CASPERIANAS

RÁDIO, TV E INTERNET: Ivan Teixeira , produtor de Lisbela e o Prisioneiro e Tainá 2, foi o convidado da manhã de 6 de março para as aulas magnas de Rádio, TV e Internet. De noite, as roteiristas Duca Rachid e Thelma Guedes se intercalaram para sugerir ideias sobre o processo criativo da escrita de um roteiro. Elas foram autoras da novela Joia Rara. (Livia Murata)


PARA ENTENDER MAIS

No Paraíso :: CONTEÚDOS EXTRAS :: Onde buscar informação de valor Maratonando: Se você quer se organizar para assistir suas séries e filmes, baixe os apps TV Show Time e Letterboxd. Para saber mais sobre streaming acesse omelete.com.br e filmmelier.com Todos os cliques: Gostou das imagens do Portfólio desta edição? Para conferir mais do trabalho do fotógrafo Severino Silva, acesse seu site severinosilva. com

1968: Zuenir Ventura fala sobre um dos anos mais emblemáticos no mundo em seu livro 1968 - O ano que não terminou. Leitura perfeita para quem se interessou pelo artigo sobre o ano histórico.

Bom jornalismo: O livro Número Zero, do autor Umberto Eco, é imprescindível para os novos profissionais. Nos sites da Columbia Journalism Review (cjr.org) e Pew Research Center (pewresearch.org), há discussões atualizadas da área.

Adão e Eva, 1597, Peter Paul Rubens.




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