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Experiências em parábolas

MILENNA SARAIVA NASCEU NO meio de uma família musical, onde todos tocavam algum instrumento e cantavam. Seus pais estimulavam a criatividade e expressões artísticas. Desde bem pequena, já desenhava. Na escola, fazia caricaturas de professores e acabava de castigo na sala do diretor. Até que uma professora de artes, vendo seu talento, a convidou para sua primeira exposição. Três desenhos grandes foram emoldurados e levados para uma galeria, onde estudantes de várias escolas e idades também tinham suas obras expostas. Naquele momento, ela sabia que queria ser artista. “Era uma criança tímida e encontrava nas artes uma forma de melhor me expressar”, lembra.

INSPIRAÇÕES obra, há referências à tradição da pintura figurativa histórica e contemporânea. Matisse, Bacon e Van Gogh são todos prontamente evocados, enquanto grandes nomes contemporâneos como Jenny Saville e Andrew Salgado, também são referenciados.

Formou-se em 2004 pelo Santa Monica College, na California, Estados Unidos, em Artes Plásticas. Após a graduação, a convite da universidade, fez uma especialização em pintura em um programa chamado The Mentor Program, onde estudou com renomeados artistas e professores, como Linda Lopes, Nathan Otta, Mark Trujillo, Ron Davis e Sharon Kagan.

“Em 2012, comecei a sentir muita falta de pertencer a algum lugar, da minha família e dos amigos. Eu estava fora já há 14 anos. Era muito americana para o meu país, mas sempre seria muito brasileira em Los Angeles. Assim, decidi voltar para

Milenna tem realizado centenas de encomendas, tanto privadas como empresariais, incluindo murais para PayPal, Uber e Nestlé. Desde 2002, tem exibido seu trabalho em todo o mundo, tanto em galerias privadas como públicas, incluindo The Bergamont Station em Los Angeles, The Los Angeles Municipal Art Gallery, Katzen Arts Centre em Washington DC, The Peach Gallery em Toronto, Tom Cox Gallery em Londres, UK, Fondazione Campana Dei Caduti, na Itália e Casa Galeria, Galeria Alma da Rua, Galeria Lar em São Paulo. No segundo semestre, deve participar de mais algumas exposições, incluindo uma solo e outra em Londres. Seu mais recente projeto é a série Arco: “Nela, vamos ver uma mudança de narrativa, composição e paleta de cores”, adianta.

São Paulo e, começando do zero aqui, dei início à minha carreira artística no Brasil”, conta. Fez um curso de pós-graduação em Pintura Contemporânea na FAAP (Fundação Armando Alvarez Penteado), correu atrás, batalhou, estudou muito… “o resto é história, que já faz parte da minha biografia”, diz. “Sempre digo a artistas iniciantes que a arte é um investimento a longo prazo. Viver dela requer muita dedicação, estudo e amar muito todo processo de criação”, completa.

Ao Vivo

Quem sabe faz ao vivo, não é mesmo? A artista já recebeu mais de vinte troféus em concursos de pintura ao vivo, incluindo dois títulos nacionais no Art Battle Brasil, a maior competição de pintura ao vivo do mundo.

Apesar de ter a experimentação como parte fundamental de seu processo artístico, sua paixão está perto de uma tela. Por isso, escolheu a pintura como principal forma de expressão. “Pintar é o meu jeito de propagar emoções, sentimentos e opiniões, através de formas, cores e narrativas. O meu trabalho se tornou uma ferramenta para narrar minhas experiências em parábolas. As minhas telas refletem a minha mitologia pessoal”, resume.

Longe Das Telas

Há 10 anos, Milenna assina a coluna Arte Observada na Revista Circuito.

Conta com um método fluido de pintar, usando memória e imaginação. Sua técnica evoluiu do tradicional para o seu estilo atual, muito mais solto e expressivo. Rápidos, quase brutais, gestos feitos com espátulas, e através da adição e remoção de camadas de tintas, sua obra é rica em texturas, camadas e cores, demonstrando complexidade e emoção crua.

Em seu mais recente trabalho, a artista explora conceitos relacionados à construção e destruição da identidade – “um processo que tenta reconsiderar as convenções da pintura figurativa, através de uma contínua busca à abstração”, explica. Para Milenna, o objetivo do retrato não é capturar a aparência externa de uma pessoa, mas sim criar um portal para uma viagem interna de exploração própria. Vê a arte - “todas elas”, frisa - como algo essencial. “Durante a pandemia percebemos que não podemos viver sem. Seja assistindo filmes, lendo livros, nas roupas que vestimos ou nas obras que decoram nossas casas. Como Nietzsche sabiamente disse, temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade”, finaliza.

Até os 28 anos, Solange seguiu a carreira de atriz. Subiu ao palco, pela última vez, no Teatro Itália, encenando o espetáculo Os Poetas Voadores . Depois, resolveu optar pelo jornalismo, já que se sentia mais segura. Como jornalista, teve a oportunidade de conhecer o Brasil de ponta a ponta. Casou duas vezes, “mas por enquanto” brinca. Ficou viúva muito jovem e, depois, deu mais uma chance ao amor, casando com um inglês de quem se divorciou recentemente. Prefere não revelar a idade: “tenho 50 e uns anos” é o máximo que diz. Nunca fez procedimentos estéticos, usa pouca maquiagem - aliás, apenas um batom - e aboliu o salto alto. Geralmente, manda fazer suas próprias roupas e sempre opta por opções minimalistas. “Preto com alguma cor chamativa”, informa. Na área de cultura, realiza diversas atividades: curadora, produtora e, em 2021, junto com a fotógrafa Letícia Lima, produziu um documentário sobre a vida e obra do artista Ken Kaneko. “Sempre inquieta, busco novos caminhos, e todos me levam para arte”, resume.

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