Continente #45 - Joel Silveira

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DIÁRIO DE UMA VÍBORA Joel Silveira

Um banho de oceano

R

ubem Braga costumava dizer que nós, os sergipanos, temos mania de grandeza. Somos sempre exagerados, quando nos referimos às coisas da nossa terra. E dava um exemplo: – Todo mundo, em qualquer parte, costuma tomar banho de mar. Sergipano, não. Sergipano só toma banho de oceano. OCEANO ! Talvez mestre Braga tivesse alguma razão. Somos, realmente, dados a superlativos. Mas nesse caso específico do oceano (ou do OCEANO) sergipano, Rubem é injusto – ou inexato, coisa rara nele. Entendam-me. Não posso, nenhum sergipano pode aceitar, como oceano, um mar atravancado de ilhas, como, para dar um exemplo, esse que bordeja o Rio e

o litoral fluminense. Assim não é o oceano sergipano. Inteiriço, ele se abre reto, infinito, horizontal, rendando, com suas espumas de seda, dezenas e dezenas de quilômetros de uma mesma praia. Aqui está ele – o OCEANO – bramoso, como um permanente desafio aos olhos que inutilmente tentam alcançar a última fronteira de sua vastidão sem tamanho. Além da praia, apenas ele – o OCEANO, total, paralelo ao céu, iridiscente sob o sol que sobre ele arde das cinco da manhã às seis da tarde. Pois é, Rubem. Há oceanos, Oceanos e OCEANOS. E o de Sergipe, para inveja de Rubem, tatu de Cachoeiro de Itapemirim, inclui-se, formidável, oceaníssimo, entre os últimos. •

Continente setembro 2004

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