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SOTO

PARA SUAS CRIAÇÕES, JESÚS RAFAEL SOTO DEFENDIA UMA EXPERIÊNCIA

ESTÉTICA QUE ENVOLVIA O TEMPO, A INTENSIDADE E A PARTICIPAÇÃO DO ESPECTADOR. UMA NOVA MOSTRA EM SÃO PAULO COMEMORA O CENTENÁRIO DO ARTISTA VENEZUELANO E PIONEIRO DA ARTE CINÉTICA

POR MONICA AMOR

Jesús Rafael Soto (Ciudad Bolívar, Venezuela, 1923 – Paris, 2005) é um dos maiores representantes da arte cinética, embora a profundidadeeaambiçãodesuaabordagem transcendam essa categorização e coloquem o artista em uma busca que excede a simples materialidade do objeto artístico. A arte se torna em suas mãos um meio de conhecimento, com o qual nos dá uma experiência de movimento, luz, espaço e tempo, fenômenos que, por não terem uma forma definida, só podem ser refletidos por meio dos relacionamentos. Assim, apesar da fisicalidade das peças que ele concebe e da experiência sensorial que elas fomentam no espectador, sua abordagem é eminentemente conceitual e abre novos caminhos para a arte ambiental e relacional.

Desafiando as fronteiras entre as disciplinas artísticas tradicionais, sua produção está no meio do caminho entre pintura e escultura, mas também entra no campo da arquitetura. Soto traduziu matéria em luz e vibração, introduziu tempo e a tornou perceptível na obra de arte, que perde seu caráter fixo e imutável e se torna dinâmica com a colaboração essencial do espectador – tornando-se o “participante” necessário da criação, e não mais mero observador. Esses aspectos temporais abrangem suas cinco décadas de experiência, com uma seleção de vibrações, extensões, progressões,volumesvirtuaisepenetráveis. Esta última tipologia é sua contribuição mais ousada e relevante para a história da arte: os são espaços transitáveis dos quais uma chuva de filamentos finos paira, entre os quais o público pode romper, vivendo uma experiência sensorial, psíquica e intelectual. Nesse espaço, tudo muda permanentemente com o movimento da pessoa que participa do trabalho, em uma infinita variação de possibilidades. “Faço as pessoas se moverem e as faço sentir o corpo do espaço”, disse Soto, que acreditava que os seres humanos “são pequenos pontos de referência frágeis em um imenso universo sempre em movimento”. O artista argumentou que a arte testemunhou essa “fragilidade” e queria “realmente desenvolver o tempo na obra de arte”.

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