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2. BIOGRAFIA
Biografia:
Nilo Cairo
Foto: Reprodução/Wikipédia
Natural de Paranaguá, município localizado no litoral do estado do Paraná, Nilo Cairo da Silva (1874-1928) foi médico, homeopata, engenheiro militar, bacharel em matemática e ciências físicas, e um dos fundadores da Universidade do Paraná, futura UFPR, onde também exerceu os cargos de secretário e professor na respectiva Faculdade de Medicina.
Ele cursou o ensino primário em sua terra natal e, na adolescência, se mudou para o Rio de Janeiro, estabelecendo-se como praça no Colégio Militar.
No Exército Brasileiro, Cairo se formou como engenheiro militar, antes de ser promovido a 2° tenente da engenharia e então 1° tenente, em 1899.
Cairo sempre se interessou pelas mais diversas áreas de conhecimento e foi assim que ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde recebeu o diploma de doutor por defender a tese
“Similus Similibus Curantur”, sua primeira obra sobre medicina homeopática, em 1903. Porém, a 39
tese foi rejeitada pela academia e, por isso, ele escreveu “O pé equino”, em 1904, para concluir o curso de medicina.
No mesmo ano, Nilo Cairo realizou uma manobra militar mal-sucedida e teve dois tímpanos rompidos, precisando então ser afastado dos serviços militares da ativa, No entanto, ainda assim, foi promovido a capitão em fevereiro de 1911.
Ainda residente no Rio de Janeiro, Cairo chegou a se casar, mas sua esposa faleceu pouco tempo depois, durante o parto do primeiro filho, que nasceu deficiente e também morreu alguns anos depois.
Sozinho, ele deixou o Rio de Janeiro e voltou para o Paraná, onde abriu uma clínica especializada em medicina homeopática em Curitiba. Enquanto homeopata, Cairo tanto clinicou como também escreveu vários livros e periódicos sobre a ciência desenvolvida por Hanhemann ,com o objetivo de divulgá-la.
Com a ajuda de Domingos Velozo, ele também fundou a “Revista Homeopática do Paraná”, que mais tarde virou “Revista Homeopática Brasileira”, e também criou o Dispensário Homeopático Infantil.
Além disso, Cairo participou ativamente do debate homeopático, tanto no Rio de Janeiro quanto em Curitiba, defendendo a Homeopatia onde quer que fosse atacada. Autor de vários artigos na imprensa homeopática e alopática sobre patologia, fisiologia, matéria médica, agricultura e veterinária; ele também atuou na imprensa leiga e foi redator dos Anais do Instituto Hahnemanniano do Brasil – principal instituição da homeopatia no país.
A chegada da Homeopatia ao Brasil foi marcada por contestar alguns aspectos da medicina tradicional, também chamada de “alopatia”, como de-
nominavam adeptos do médico alemão Samuel Hanhemann. Em contrapartida, também existia o interesse de legitimá-la no meio científico, daí a formação de cursos médicos acadêmicos para formar homeopatas.
No início do século XX, o debate sobre a importância do diploma médico para homeopatas era intenso e o Instituto Hahnemanniano do Brasil, do qual Nilo Cairo participava, promoveu uma reforma em seus estatutos, redefinindo regras para adesão e estabelecendo as categorias de sócio efetivo, correspondente honorário e benemérito.
De acordo com a descrição da primeira categoria, qualquer pessoa que fosse residente na capital federal ou lugar próximo, pudesse comparecer às sessões e professasse a Homeopatia, poderia se tornar sócio efetivo, sem necessidade de diploma na área de medicina. Apesar da aprovação da proposta, dois médicos se manifestaram contrários à decisão: Nilo Cairo e Alcides Nogueira, que não concordava com a falta de exigência de habilitação e preparo científico dos sócios. Apoiado por Cairo, as observações de Nogueira foram alvo de discussão em várias sessões posteriores do Instituto.
Enquanto isso, Cairo publicava artigos nos Anais de Medicina Homeopática e na Revista Homeopática Brasileira, argumentando que, ao admitir pessoais leigas, o Instituto Hahnemanniano estaria retrocedendo a tempos de charlatanismo, e era publicamente contestado pelo colega homeopata Dias da Cruz.
Ainda assim, tal possibilidade causava tanta aversão no médico paranaense que ele chegava a convidar colegas homeopatas a se associarem a associações alopáticas, com a justificativa de que estas eram os centros científicos médicos confiáveis existentes no Brasil naquele momento.
Os demais membros do Instituto Hahnemanniano da época receberam as opiniões de Nilo Cairo com espanto, afinal, ele era adepto do Positivismo de Comte, doutrina filosófica que condenava monopólios e privilégios, principalmente os científicos. Logo, o fato de Cairo adotar uma postura tão rígida em relação a exigências que legitimassem a prática da medicina homeopática no Brasil foi visto como uma grave contradição. Contudo, ao defender que os sócios efetivos fossem diplomados, Cairo justificava a necessidade de homeopatas contarem com um documento de habilitação profissional reconhecido oficialmente, para garantir que todo sócio do Instituto fosse um profissional da medicina ou da farmácia homeopática; com diploma de uma escola oficial, de uma faculdade livre ou licença de uma diretoria sanitária, para que a Homeopatia pudesse ocupar espaços exclusivamente científicos e ser reconhecida, principalmente na comunidade médica.
Empenhados em formar médicos em escolas homeopatas para reivindicar o status de ciência ainda não atribuído à Homeopatia, Nilo Cairo e alguns de seus colegas tentaram fundar uma escola de medicina homeopática filiada ao Instituto Hahnemanniano do Brasil. Porém, o empreendimento foi frustrado pela falta de apoio político, sobretudo de Joaquim Murtinho, médico que exercera cargos políticos e no qual os homeopatas do país tinham extrema confiança. Depois disso, Cairo apresentou sua carta de demissão ao Instituto Hahnemanniano do Brasil em 1911, e escreveu vários artigos censurando o Instituto e Joaquim Murtinho, presidente da instituição desde 1904. Ainda assim, diante do falecimento dele, o médico homeopata paranaense usou um número inteiro da “Revista Homeopática Brasileira” para lhe dedicar uma homenagem.
Pouco tempo após seu retorno ao Paraná, Nilo Cairo se casou novamente e passou a morar na cidade de Palmeira, interior do estado.
Naquela época, a Lei Rivadávia estava instituída, tirando do Estado a competência exclusiva de criar instituições de ensino superior e de validar diplomas, o que facilitou a fundação de faculdades homeopáticas no Brasil. Foi nesse contexto que Cairo decidiu ressuscitar um antigo sonho de Rocha Pombo – jornalista, historiador, político e escritor brasileiro – de criar uma universidade em Curitiba.
Para colocar a ideia em prática, Nilo Cairo se uniu a alguns intelectuais e autoridades, incluindo o deputado e diretor de instrução pública do estado, Victor Ferreira do Amaral. Assim, no dia 19 de dezembro de 1912, dia em que se comemora a Emancipação do Estado, a Universidade do Paraná foi fundada, seguida de seu curso de medicina, lançado no ano seguinte.
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O primeiro ano letivo da Universidade começou em março de 1913, e em 1914 Nilo Cairo incluiu disciplinas da área homeopática à grade curricular do curso.
Entre 1913 e 1917, o médico paranaense lecionou Fisiologia, Patologia Geral e Anatomia Patológica no curso de Odontologia; e Homeopatia e Terapêutica Homeopática no curso de Medicina; além de entre outras disciplinas ministradas nos cursos de Farmácia e Engenharia. Contudo, as disciplinas relacionadas à Homeopatia foram eventualmente eliminadas do currículo.
Independentemente de as disciplinas homeopáticas terem existido por muito pouco tempo ou de sequer terem saído do papel, a tentativa de ceder cadeiras para a Homeopatia dentro da Universidade do Paraná comprova o compromisso que Nilo Cairo tinha com a difusão da medicina homeopática.
Por questões políticas, a Universidade foi dissolvida em várias faculdades no final da década de 1910. Cairo se ausentou do estado por um tempo, mas retornou a Curitiba alguns anos depois para lecionar, agora nas faculdades desmembradas.
Em 1925, problemas de saúde causados por uma úlcera estomacal afastaram o também professor das salas de aula, fazendo como que ele retornasse para sua cidade natal, onde ele se casou pela terceira vez. Já em 1928, Cairo viajou para o Rio de Janeiro para tratar sua enfermidade, mas acabou falecendo no dia 6 de junho, aos 53 anos de idade.
Como homenagem, seus restos mortais foram levados para Curitiba e colocados junto ao pedestal de seu busto, inaugurado diante do prédio da antiga Universidade do Paraná e futura Universidade Federal do Paraná (UFRP), em 1933, na Praça Santos Andrade.
No interior do Paraná, na cidade de Apucarana, o Colégio Estadual Nilo Cairo também foi criado para prestigiar o médico homeopata, assim como a Rua Nilo Cairo, localizada no centro da capital paranaense. Outra homenagem aconteceu por parte no Curso de Medicina da UFRP, que possui o Diretório Acadêmico Nilo Cairo.
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Foto: Reprodução/Curitiba Space
As principais obras que Cairo produziu durante sua vida são: “Medicamentos Completos”, de 1905; “Tratamento Homeopático da Coqueluche”, de 1906; “Tratamento Homeopático da Influenza”, de 1907; “Guia Homeopático Brasileiro”, de 1908; “Tratamento Homeopático de Moléstias Tropicais”, de 1909; “O 606 em Homeopatia”, de 1911; “Tratamento Homeopático das Diarreias Infantis”, de 1917, o “Guia Prático da Cultura e Preparação do Fumo”, 2ª edição em 1922; “O Livro da Cana de Açúcar”, de 1924; e “ Cultura de Terra”, entre outras. Tantas contribuições lhe renderam um convite para a Academia de Letras do Paraná, que tem o “Dr. Nilo Cairo” como patrono da cadeira “35”.