5 minute read

8. CURANDO COM

Next Article
7. ENTREVISTA

7. ENTREVISTA

CURANDO COM …Lachesis Trigonocephalus

O preparado homeopático “Lachesis Trigonocephalus” pode ser ingerido no formato de glóbulos ou líquido, e é produzido a partir do veneno da cobra “Lachesis muta”, popularmente conhecida como “surucucu”, a maior serpente peçonhenta da América Latina.

Seu processo de preparação passa por critérios definidos na Farmacopéia Homeopática Brasileira, que regula e sistematiza os procedimentos farmacológicos.

“Os medicamentos homeopáticos podem ser obtidos a partir de animais, como secreções e venenos (Lachesis), e nesses casos são utilizados animais saudáveis”, explica a terapeuta homeopata Beatriz Medina, formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). O processo de preparo de um remédio homeopático começa com sua substância original sendo diluída e agitada. Para que isso ocorra, ela precisa ser solúvel em água, álcool etílico ou glicerina.

“Quando a substância não for solúvel nestes solventes, precisaremos lançar mão de outra estratégia, que será a trituração”, assinala Medina. “Na dinamização, usamos uma solução hidroalcóolica para diluir - frequentemente álcool a 30% - e movimentos de batida contra um

anteparo semirrígido para agitação. Chamamos este processo de agitação de “sucussão””.

Ainda segundo a terapeuta homeopata, se uma substância é solúvel em água ou álcool etílico, puros ou combinados, ela será dissolvida na proporção de 1% e agitada 100 vezes. Em seguida, nova diluição e 100 agitações.

“As diluições podem ser feitas em diferentes proporções ou escalas”, esclarece Medina. “A mais comum é na proporção de 1:100, também chamada escala centesimal. Para fazê-la, usamos uma parte da droga para 99 partes de solução água/álcool. É a mais comum entre nós e foi preconizada por Hahnemann. O médico alemão Hering introduziu a escala decimal, preparada na proporção de 1:10, isto é, uma parte da substância medicinal para nove partes de solução hidroalcóolica. Este método é chamado de hahnemanniano ou de ‘frascos separados’”, aponta.

As agitações podem ser feitas manualmente, através de movimentos ritmados do antebraço, de batida contra o anteparo, ou através de um equipamento chamado “braço mecânico”, uma máquina que reproduz os movimentos do braço humano. Os preparados homeopáticos assim produzidos são chamados de CH, pois foram diluídos através da escala centesimal – por isso o “C” – e método hahnemanniano (H).

“No final de sua vida, Hahnemann propôs ainda um método diferente para preparo de medicamentos homeopáticos: a cinquenta-milesimal (LM)”, ressalta Medina. “Este método também apresenta uma nova escala de diluição, que é de, no mínimo, 1:50.000 a cada passagem”.

O primeiro passo desse processo consiste na trituração de todas as substâncias durante três horas. Em seguida é preparada uma solução com 0,06g da 3ª trituração e 500 gotas de uma solução com 400 gotas de água e 100 gotas de álcool. Então tira-se uma gota dessa solução e se adiciona 100 gotas de álcool.

“Fazemos 100 fortes sucussões e com esta solução - chamada LM 1 - vamos impregnar pequenos glóbulos (microglóbulos) cuja uma centena pesa 0,06g. Para prosseguir, tomamos um desses microglóbulos, dissolvemos com uma gota de água, adicionamos 100 gotas de álcool e novamente fazemos 100 fortes sucussões, obtendo a LM 2, e assim por diante”, observa a homeopata. “Para Hahnemann, este método

causaria menos agravações nos pacientes, possibilitando uma cura rápida, suave e duradoura.” Assim, esses preparados homeopáticos são empregados em forma líquida ou em glóbulos”.

Segundo a homeopata e professora Caroline Macedo, formada na Faculdade Inspirar, associada à Homeobras, de modo geral, o Lachesis Trigonocephalus é preparado com o veneno fresco, e apenas duas gotas dele são suficientes para o preparo.

“[Então], este veneno é triturado em lactose até 3CH, depois passado para a dinamização líquida”.

Ainda de acordo com Macedo, de modo geral, o perfil do paciente “Lachesis Trigonocephalus” é de personalidade forte, combinada com fragilidades e descompassos emocionais:

“As pessoas que precisam de Lachesis não passam despercebidas; são atrativas e gostam de ser o centro das atenções. Costumam ter fala loquaz, mudando de assunto constantemente. Outra característica bastante marcada é o ciúme exagerado, associado à possessividade, podendo sufocar a pessoa que está ao seu lado e [vindo a] comportar-se com reações exageradas e vingativas”, relata. “[Também] possuem forte competitividade, especialmente em relacionamentos amorosos, e lidam com sentimento de abandono. (...) Podem ter atitude ditatorial ou serem sedutoras e capazes de encantar outras pessoas, com capacidade de persuasão, inteligência e ousadia. [Além disso,] pessoas Lachesis são acaloradas e podem ter ondas de calor seguidas de transpiração”.

Outras características desse tipo de paciente são a incapacidade de guardar segredo; o costume de serem maledicentes; a instabilidade de humor, oscilando entre a elação e a depressão; e uma constante pressão interna, que é representada por um comportamento enérgico.

“Essa pressão precisa de uma válvula de escape para ser liberada, e é reduzida por meio de eliminações como hemorragia, fala contínua e sexo”, descreve Caroline Macedo.

Para a homeopata Beatriz Medina, alguns dos sintomas que acometem o paciente do tipo Lachesis são a depressão, a ansiedade, a confusão e o esgotamento mental, e ideações suicidas.

“Como sintomas gerais, [também] temos intolerância a roupas apertadas, especialmente no pescoço, abdômen e tórax; transtornos que surgem na menopausa ou que começam a partir dela; (...) sintomas de pele e mucosas com cor negra ou azulada, hemorragias de qualquer orifício do corpo com sangue escuro e que não coagula”, conta Medina.

Novamente segundo Caroline Macedo, outros sintomas físicos são taquicardia, artrite, flebite, inchaço e cefaleia congestiva.

“O Lachesis Trigonocephalus é o primeiro medicamento a ser pensado para sintomas da menopausa e também é indicado para problemas de circulação, pressão alta, hemorroidas, varizes, dores menstruais, TPM, alterações hormonais, (...) queixas reumáticas e articulares, dores de cabeça constritivas, doenças ginecológicas, alcoolismo e dependência de drogas”, afirma.

Analisando de forma ainda mais profunda, esse preparado homeopático trata pessoas que apresentam comportamentos melancólicos e transtornos causados por pesares duradouros, tristeza, pavor, cólera, inveja ou amor não correspondido. “A principal ideia de Lachesis é a superestimulação com procura contínua de uma vazão, como um escape, senão haverá explosão”, acrescenta Beatriz Medina. “O veneno de cobra, na corrente sanguínea, primeiro estimula e depois vai a áreas mais específicas para atuar. O alvo primário é a circulação, onde pode ser considerada a possibilidade de beneficiar pessoas com pressão alta de origem idiopática e diferentes tipos de transtornos cardíacos, [entre outros].”

Ainda de acordo com Medina, “a aplicabilidade e indicação dos medicamentos deve passar por consulta com homeopata”. Assim, as semelhanças entre a homeopatia e os sintomas relatados são analisadas e então o tratamento é iniciado.

“O tratamento merece acompanhamento sistematizado do homeopata que, de tempos em tempos, pode indicar sua alteração e/ou modulação - dinamização, frequência, dosagem -, conforme a dinâmica de evolução dos relatos pelo cliente”, finaliza a terapeuta homeopata.

This article is from: