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ENTREVISTA

Eliete Fagundes: Uma das grandes responsáveis pela expansão de cursos profissionalizantes para terapeutas homeopatas

"Professora Eliete Fagundes. Foto: Divulgação"

Nascida em Caçapava do Sul – RS, a professora Eliete Fagundes, 53 anos, cresceu em uma família que já era habituada a buscar por medicamentos homeopáticos para tratar problemas de saúde rotineiros e, inclusive, para auxiliar doentes terminais. Hoje, ela é especialista em Homeopatia e responsável pela propagação e consolidação da Ciência da Homeopatia no Brasil, além de ser fundadora e proprietária da Escola de Homeopatia Instituto Tecnológico Hahnemann e da Homeobrás, localizadas no estado de Goiás; idealizadora, atual coordenadora e docente do curso de pós-graduação Lato Sensu em Ciência da Homeopatia em faculdades credenciadas pelo MEC; e escritora da área de Homeopatia. Nessa entrevista, a professora compartilha detalhes da sua história com a Homeopatia, a criação e expansão do curso de Homeopatia para não médicos (terapeutas homeopatas) e sobre o mercado profissional da área, além de outros tópicos importantes.

Como a senhora avalia a divulgação e o acesso aos tratamentos Homeopáticos em GO e no Brasil?

O acesso é tímido ainda em termos de população em geral, principalmente em comunidades mais afastadas, mais pobres e em área rural. O Ministério da Saúde, por meio da Portaria 971, implementou as PIC´s e algumas terapias já estão disponíveis nos unidades básicas de saúde, como a homeopatia, a acupuntura e a fitoterapia, entre outras. Porém, mesmo nas capitais, não são todas as unidades que oferecem esse atendimento e a fila para marcação de consultas é muito grande. E o próprio SUS, de forma geral, não legitima outros profissionais da saúde, mesmo que façam parte do seu quadro de funcionários, como possíveis terapeutas em potencial que possam também praticar a acupuntura e a homeopatia, principalmente. Temos ex-alunos que são profissionais do SUS e, após formados nos nossos cursos, reivindicaram o direito de atuar também com as terapias em benefício da comunidade do local onde atuam. Em conversa com o gerente de cada unidade conseguiram a abertura para realizar o trabalho. É necessário, ainda, muito diálogo e muita abertura de consciência para que realmente essas terapias ocupem espaço em todos os locais de saúde, em todo o Brasil e, não apenas nas unidades básicas de saúde, mas em hospitais e outros equipamentos públicos. Em Goiás, não existem muitos terapeutas, um dos motivos pelos quais queremos abrir curso lá.

O que motivou a senhora a criar o curso de Homeopatia para não médicos?

Desde cedo, ouvi comentários acerca do quanto o resultado da Homeopatia era incrível. Minha mãe tomava desde pequena e minha avó materna era a homeopata da família, tratando de muitos doentes na cidade, principalmente casos terminais. E para fazer fitoterapia, ela mesma colhia nos campos com a ajuda das primas mais velhas e minha avó paterna, que era fitoterapeuta e que também se tratou com Homeopatia. Após a sua morte, meus pais, meus irmãos e eu nos tratamos com um homeopata não médico da cidade, que 23

fazia muito sucesso. Em 1985, quando eu soube que a Homeopatia havia sido restringida aos médicos, pois somente a colocaram como especialidade médica em 1980, e que os homeopatas não médicos, que eram poucos, estavam sendo perseguidos e impedidos de exercer essa prática milenar, naquele momento, eu decidi que queria dar cursos de Homeopatia. Comecei, então, a estudar muito e a preparar a primeira grade de aula, que ainda mantenho como base até hoje, dando ênfase aos miasmas, ao meio ambiente, entre outros.

Como funciona o curso para não médicos?

Existem três modalidades. Extensão Universitária (certificado pela Universidade credenciada ao MEC), Extensão Instituto (certificado pelo Instituto Hahnemann) e pós-graduação lato senso (certificado pela Universidade credenciada ao MEC). Você pode ver detalhes de cada um deles no nosso site (https://homeopatias.com/#), no menu, “cursos”. Tanto a pós quanto a extensão universitária são cursos reconhecidos pelo MEC e os alunos recebem certificados.

Depois de formados, há limitações de atendimento para os homeopatas ou eles podem trabalhar da mesma forma que médicos especializados em Homeopatia?

A diferença está nas dinamizações específicas (escala decimal) que não podem ser indicadas por terapeutas homeopatas (não médicos) por causa do nível de toxidade presente nesses medicamentos.

Como a senhora avalia a procura pelo curso? Quantos profissionais são formados por ele anualmente?

Está crescendo muito o número de pessoas interessadas em Práticas Integrativas e Complementares (PICs) como um todo para resolver as questões da saúde, em sua origem, hoje em dia. Levando em consideração que as PICs foram ofi cializadas como política de prevenção do SUS, mesmo as pessoas que não têm formação na área

da saúde estão buscando alternativas inteligentes de melhorar a própria qualidade de vida e de seus semelhantes. A Homeopatia é uma das opções que ajudam as pessoas no processo de entendimento amplo do adoecimento e é uma ferramenta para a sua autonomia. Formamos mais de 200 terapeutas por ano.

A sua proposta para o curso de Homeopatia para não médicos foi recebida de maneira positiva?

Várias dificuldades foram enfrentadas e perduram até os dia de hoje, no sentido de esclarecer a população sobre a existência do terapeuta homeopata em toda a história de medicina natural do Brasil. Foram dezenas de processos na Justiça. Em uma época, tivemos 23 conselhos processando o curso ao mesmo tempo. Ganhamos jurisprudências na Justiça, que foram a chave para estabilizar o trabalho. Um ex-aluno Juracyr Saint Germain teve seu trabalho de conclusão do curso publicado pela OAB - “O Direito nas Terapias Naturais”, o que contribuiu para esclarecer muitas questões acerca do exercício legal das terapias. E, em 2002, a Organização Mundial de Saúde - OMS lançou uma estratégia de preservação da medicina natural no mundo, o que trouxe uma série de atividades de proteção a essas práticas, inclusive, no Brasil. A Justiça e o Congresso Nacional vêm há muito sendo chamados a intervir em favor dessas atividades. O curso, nesses 30 anos de existência, contribuiu em muito para que o atual cenário de respeito e estudo da Homeopatia como Terapia Natural seja fosse mantido e preservado em favor daqueles que escolhem esses métodos integrativos de assistência à saúde.

Na sua opinião, quais são os objetivos principais do curso de Homeopatia para não médicos? O Curso de Ciência da Homeopatia foi criado há cerca de 30 anos com diversos objetivos, dentre eles: capacitar pessoas para trabalhar como Homeopatas Prescritores, independentemente da área de formação ou atuação; integrar os conhecimentos das áreas diversas à homeopatia, sem conflitos; despertar o autoconhecimento para que, através da conquista do bem estar pessoal, o indivíduo se sinta mais apto para estendê-lo aos seus semelhantes; e harmonizar os seres vivos e os ecossistemas em geral através da troca de estímulos positivos homeopáticos: homem-ecossistemas e ecossistemas-homem.

Quais são os diferenciais do curso de Homeopatia para Homeopatas não médicos?

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, para ser Homeopata, não precisa estudar medicina porque os princípios da Homeopatia são diferentes dos da alopatia; não se faz diagnóstico, não há necessidade de pedir exames, não há toque, etc. São as características mentais e emocionais da pessoa que regem o atendimento, seu histórico de vida e dos antepassados, ou seja, todos os aspectos que perfazem sua personalidade. É preventiva porque pelas manifestações energéticas do dia a dia da pessoa, que são descritas nos experimentos das Matérias Médicas Homeopáticas, podemos trabalhar de forma integrativa e complementar nas predisposições herdadas antes delas se materializarem no corpo físico, independentemente de rótulo, como é o caso de doenças como diabetes e câncer.

Como a senhora avalia o mercado de trabalho para homeopatas não-médicos?

O mercado de trabalho é muito amplo. Temos alunos farmacêuticos dando aula de homeopatia em faculdades. No caso deles, fizeram a especialização. Também é possível concorrer a vagas na saúde pública, conforme edital de cada município. Tem a vantagem da autonomia dos terapeutas que podem abrir seu próprio espaço de atendimento exercendo a profissão, conforme o Código Brasileiro de Ocupações–CBO. Para as pessoas que querem ser Terapeutas Homeopatas, a dica mais importante é estudar muito e respeitar muito. Respeitar seu próprio corpo e o do outro. E lembrar sempre que a Homeopatia é um presente da natureza para todos. Todos têm o direito de estudar, se quiserem, e de serem atendidos com Homeopatia dentro das leis naturais que estabelecem essa prática. 24

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