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ARTE SOBRE FOTO DE THIAGO FERNANDES
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ALFEU TRANCOSO
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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com
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REPORTAGEM Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Déa Januzzi, Luciana Morais e Vinícius Carvalho Estagiário: Marcos Fernandes
CAPA Foto: Gervásio Teixeira
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Lógistica S.A.
EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com
PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com
REVISÃO Gustavo Abreu DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br
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MARKETING E ASSINATURA marketing@revistaecologico.com.br
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EMISSÕES CONTABILIZADAS
CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Patrícia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior, Vitor Feitosa e Willer Pos
4,38 tCO2e Junho 2014
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ÍNDICE
A MORTE RONDA A FLORESTA BRASIL LIDERA RANKING INTERNACIONAL DOS PAÍSES COM MAIS ASSASSINATOS DE AMBIENTALISTAS, RESPONDENDO POR MAIS DE 50% DO TOTAL DE MORTES. EM MINAS, DEFENSORES DA NATUREZA E DOS DIREITOS HUMANOS SOFREM ATENTADOS E CONTINUAM SENDO AMEAÇADOS POR ATUAR NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.
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PÁGINAS VERDES MARIO MANTOVANI, DA SOS MATA ATLÂNTICA, APONTA CAMINHOS PARA MINAS E O PAÍS ADOTAREM O DESMATAMENTO ZERO NO BIOMA
Pág.
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E mais... IMAGEM DO MÊS 08 CARTA DO EDITOR 10 CARTAS DOS LEITORES 12 GENTE ECOLÓGICA 22 ECONECTADO 24 CÉU DE BRASÍLIA 25 ESPECIAL FEAM 25 ANOS 26 SOU ECOLÓGICO 36
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PERFIL O RECADO DE RICARDO VESCOVI, DIRETORPRESIDENTE DA SAMARCO, SOBRE OS VALORES DA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL
GESTÃO & TI 46 EMPRESA & AMBIENTE 48 ESTADO DE ALERTA 52 RESPONSABILIDADE CORPORATIVA 54 CÉU DO MUNDO 56 PRESERVAÇÃO 58 VOCÊ SABIA? 62 REGISTROS 70 CONSUMO CONSCIENTE 72 NATUREZA MEDICINAL 74
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ENSAIO FOTOGRÁFICO FOTÓGRAFOS BERNARDO SALCE E LUCAS VEUVE MOSTRAM A VIDA NA CIDADE FILIPINA DE TACLOBAN APÓS PASSAGEM DO TUFÃO YOLANDA
ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 75 OLHAR EXTERIOR 82 OLHAR POÉTICO 84 AS MUITAS MINAS NO MUSEU (6) 86 MEMÓRIA ILUMINADA 90 CONVERSAMENTOS 98
IMAGEM DO MÊS
NUDEZ ECOLÓGICA
AFP PHOTO / PATRICK KOVARIK
Em protesto contra o abate de focas, uma ativista da ONG PETA (People of the Ethical Treatment of Animals) se deita, coberta de sangue falso, sobre uma bandeira do Canadá em frente à embaixada do país na capital francesa. Para este ano, o governo canadense autorizou, pasmem, o massacre de 400 mil focas para fins comerciais.
08 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
Av. Professor Mรกrio Werneck, 2.191, sala 104 | Buritis | BH MG |CEP: 30575-180 (31) 3225 8131 | syncstudio@syncstudio.com.br | www.syncstudio.com.br
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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
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té o fechamento desta edição, ainda não sabíamos como a nossa Seleção Canarinho iria se sair na Copa do Mundo da Fifa no Brasil. Esse foi o motivo que nos levou a recorrer, de maneira continuada, ao meu netinho Rafael. E vesti-lo a caráter, de verde e amarelo, como todo brasileiro, independentemente de sermos ou não hexacampeões de futebol. Cobri-lo de outra esperança pátria, que é aprendermos e defendermos de vez o que está escrito na nossa canção nacional:
ALEXANDRE SION
SALVEMOS O BRASIL PÓS-COPA!
Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores.” E também aguerrido nela: Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Ledo engano, torcedor brasileiro, presidenta Dilma e todos os ex-presidentes, governadores, prefeitos e vereadores. Ledo engano, “meu povo”! Como você vai ler nesta edição, nossos bosques a cada dia têm menos vida. E os seus defensores, ainda solitários e incompreendidos, mesmo hoje chamados de ambientalistas, continuam sendo brutalmente mortos por não temerem a própria sorte e viverem a ausência do Estado, quem menos os defende. Isso explica, suprapartidariamente, a razão da nossa “Terra amada e idolatrada, salve, salve” deter hoje, perante todos os países, o maior número de ativistas ambientais mortos no planeta nos últimos 12 anos. Meu neto completa 143 dias de vida neste planeta e nesta lua cheia. E se não é por nós, que ainda não aprendemos a ecologia do “mais amores”, é por ele e pelas próximas gerações que a luta continua na esperança de um mundo melhor. Essa também é a mensagem que o ambientalista e conselheiro editorial da ECOLÓGICO, Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, nos deixa. Em uma entrevista exclusiva, ele mostra, no exemplo triste de Minas, pentacampeão em desmatamento no país, como os prefeitos, gover10 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
RAFAEL, mascote da Ecológico: esperança de um Brasil mais verde que o vermelho-sangue
nadores e o próximo presidente (ou presidenta) podem reverter essa perspectiva sombria. A ECOLÓGICO faz ainda, neste mês, uma homenagem in memoriam para a escritora e ícone feminista Rose Marie Muraro, “encantada” no dia 21 de junho. Temos ainda a companhia salutar de novos empresários da mineração sustentável brasileira, no exemplo maior de Ricardo Vescovi, diretor-presidente da Samarco, que defende exemplarmente a preservação de valores humanos. Você pode até achar que estamos falando mais de morte do que vida nesta edição. Mas é assim que a nossa natureza funciona. Morte e vida, vida e morte, na proporção que a nossa vontade política requer. Como o assunto doravante será as eleições para a presidência da República, senadores e governadores de estado, a decisão está em nossas mãos: “Pátria amada, idolatrada”... e salva! Ou “pátria desamada, criticada e morta”. Seremos fiéis ao Hino Nacional Brasileiro, que até os nossos jogadores aprenderam a cantar com garra e fervor nos estádios da Copa? Ou nos restarão a solidão e o silêncio dos ambientalistas assassinados por cantá-lo na prática? A decisão eleitoral é nossa. Boa leitura e até a lua cheia de agosto! O
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CARTAS DOS LEITORES
O NATUREZA MEDICINAL “Na minha infância brincava de fazer comida com o melão-de-são-caetano. Aqui perto do meu lar ainda é possível encontrá-lo!” Dayse Morais, via Google+ “Também brinquei muito com o melão-de-sãocaetano e sei que ele é um santo remédio. Deu saudades da minha infância!” Márcia Toledo, via Google+ “Comia essa planta quando menina, pois ela nascia muito nas cercas!” Diana P. Oliveira, via Facebook O MEMÓRIA ILUMINADA “Faltou dizer que Mario Vargas Llosa, cansado das defesas sociais, bandeou-se de armas e tudo para a direita mais reacionária. Irreconhecível!” Armando Prado, via Twitter O PÁTRIA AMADA DEVASTADA “Uma vergonha para nós!” Maria Inês Silva, via Facebook “Falta de consciência das autoridades e dos monstros que destroem nossas florestas.” Stephenson Wendell, via Google+ “Não devemos culpar somente os outros, se também não estamos fazendo a nossa parte. Afinal, o meio ambiente é seu, meu e nosso!” Adna Ribeiro, via Google+ “A pátria que só é amada durante os jogos da sua seleção de futebol!” Túlio Cardoso, via Google+ O ESPECIAL MINEIRÃO “Perfeito para começar um país verde-amarelo!” Mônica Mendes, via Google+
O FUTEBOL DOURADO “Belo trabalho fotográfico! O profissional está de parabéns!” Gurgel Mendes, via Google+ “As imagens do Ensaio Fotográfico me fizeram lembrar que eu também jogava num campinho como esse...” Wanderley Gonçalves, via Google+ O EDUCAÇÃO AMBIENTAL “Que belo exemplo da aluna Amanda Souza: pôr a teoria em prática e repassar o conhecimento para a comunidade!” Isaura Caetano, via Google+ O OÁSIS NUTRITIVOS “Fazer com que alunos se envolvam com as hortas escolares é um bom começo!” Marineide Soares, via Google+
“Maravilhoso saber que o Mineirão reciclou aproximadamente 50 toneladas de resíduos desde o início da obra!” Rosária Araújo, via Google+
O ECONECTADO “Muito boa a notícia sobre o aplicativo que colabora nas denúncias de violência contra menores de idade. Chega de abuso de vulneráveis!” Francys Mendes, via Google+
“E que venha a chuva para encher os reservatórios do Mineirão!” Rosangela Ferrari, via Facebook
O CÉU DO MUNDO “Alarmante a notícia sobre o derretimento do Ártico! Infelizmente a humanidade (não generalizando, mas a
12 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
EU ASSINO ARQUIVO PESSOAL
grande maioria) não está nem aí. Triste estatística!” Augusto Vidinha, via Google+ O CÉU DE BRASÍLIA “A construção de um depósito final para os rejeitos radioativos das usinas nucleares de Angra dos Reis não resolve o problema. O certo é desativá-las e investir em energias renováveis.” Cláudio Isaías Castro, via Google+ O SUGESTÃO “Existem projetos em escolas, como o Instituto São Francisco de Assis, em BH, que trabalham temas como a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade. Sugiro matérias agregando essas instituições. É muito importante para conscientização de todos!” Joyce Almeida, via Facebook
“Assinamos a ECOLÓGICO porque é a única revista brasileira que aborda os temas de meio ambiente com opiniões inteligentes e exemplos de boa gestão. Com a leitura da publicação, ficamos atualizados com notícias e agendas sustentáveis, além de identificar novas oportunidades de negócios. Somos vigilantes do céu, esperando a próxima lua cheia e as novidades que a ECOLÓGICO nos trará!” Equipe ECOFOGÃO
1 HUMOR QUE AMDA
FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA). JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 13
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PÁGINAS VERDES
“ESTAMOS NO LIMITE” MARCELO TRAD
Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
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orta-voz de uma das ONGs mais atuantes do Brasil, Mario Mantovani não mede esforços – nem palavras – quando o assunto é defender o que ainda resta de Mata Atlântica no país. Decepcionado com as reviravoltas políticas e o avanço do desmatamento em Minas, ele propõe reação imediata do governo, por meio da implantação dos Planos Municipais de Mata Atlântica, dando aos municípios ferramentas de gestão e total suporte para manter as florestas de pé. Otimista convicto, ele alerta: “Estamos no limite do que pode ser o DNA da vida desse bioma. E Minas ainda pode virar o jogo. O mais prudente seria suspender completamente o desmatamento e deixar a floresta renascer. Ela tem essa capacidade; restaura-se fantasticamente”. É o que você confere, a seguir, nesta entrevista exclusiva, concedida durante visita à redação da ECOLÓGICO: Como tem sido a atuação da SOS Mata Atlântica em Minas? Felizmente, estamos presentes e trabalhando há anos. Temos uma forte parceria com a Maria Dalce Ricas [superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda] e juntos fizemos uma ampla discussão da lei mineira, que previa retrocesso ambiental, um dos maiores desastres do Brasil. Está se referindo às mudanças na Lei Florestal Mineira? Sim. E também ao “conluio” que uniu Minas e Santa Catarina na tentativa de derrubarem o novo Código Florestal, por meio da aprovação de leis estaduais mais permissivas. Tudo começou com a lei catarinense, em 2009, que foi considerada inconstitucional. Vários estados foram chamados a “aderir”. Mas, só Minas fez isso, porque já tinha um passivo mui-
MANTOVANI: “A Mata Atlântica está na UTI, com apenas 7% de chance de sobreviver”
to grande. Estava no topo da lista como o estado que mais destruía a Mata Atlântica. O que a “SOS” fez ou propôs? Nós nos mobilizamos, organizamos manifestações na Assembleia Legislativa mineira, via Rede de ONGs da Mata Atlântica. Mas, infelizmente, a situação só se deteriorou desde então, inclusive com a falta de recursos para a pasta do Meio Ambiente. Sem contar que, com as mudanças na lei florestal, criou-se a expectativa de que ninguém mais cumpriria leis em Minas. Várias empresas “desceram o sarrafo”, derrubando mata e botando fogo em tudo para converter logo em carvão. Por isso, decidimos trazer para Minas a principal proposta de ação da SOS: a elaboração dos Planos Municipais de Mata Atlântica (PMMAs) e, por meio
M A R I O M A N TO VA N I
EVANDRO E VAN VA VAN AND DRO RO R RODNEY O EY ODN ODNE
Diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica
DOS 17 ESTADOS onde ocorre o bioma Mata Atlântica, Minas originalmente era o que continha maior extensão: 46% do seu território. Hoje, continua sendo seu campeão nacional de desmatamento. Mas pode perder o título, se tiver esta vontade política
A lei prevê essa municipalização da gestão e da proteção da floresta? Sim. Tanto que, com os PMMAs, imaginamos que Minas sairia na frente, saltando de um exemplo negativo para uma atitude pioneira e positiva. E essa municipalização da gestão e da proteção da floresta não é igual às leis do saneamento e dos resíduos, que envolvem inúmeros trâmites burocráticos e dependem, inclusive, de aprovação na Câmara dos Deputados.
de dois mil representantes de vários estados, e criamos pela primeira vez a lei orgânica dos municípios, com capítulos exclusivos sobre Meio Ambiente. Naquela época, Minas se destacou e se manteve durante anos na liderança nacional das questões ambientais. Depois, entrou em declínio. Nunca mais conseguimos botar o estado de pé. Assim, quando vimos que Minas estava com “a mão no troféu” de campeã do desmatamento pelo quarto ano consecutivo, procuramos o então governo mineiro.
Quem aprova esses planos? Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente. Propusemos isso lá atrás – em 1989, quando reunimos aqui em Minas mais
Com que proposta? A de virar esse jogo. Ser não o campeão do desmatamento, mas da conservação. Criando e implantado os planos municipais, ativida-
deles, reverter a destruição do bioma no estado.
de para a qual a SOS oferece todo o suporte. Começamos a articular isso lá na região de Aiuruoca, onde foi criado o Consórcio de Ecodesenvolvimento Regional da Serra do Papagaio, em 2011. Na época, o governo de Minas esteve em Pouso Alto, fez uma baita divulgação da iniciativa – realmente fantástica para a conservação daquela região – e se comprometeu a liberar R$ 2 milhões para alavancar o movimento em defesa da Mata Atlântica no estado. O que aconteceu depois? Nada. No fim de 2013, nem um “boa tarde” recebemos. Ou seja, o governo criou uma expectativa enorme, frustrou todo mundo e Minas continua com o título mais indesejável que se pode ter, do
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 15
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PÁGINAS VERDES
ponto de vista ambiental: o de estado campeão do desmatamento pela quinta vez consecutiva. E em relação aos demais biomas? Infelizmente, analisando o Cerrado, por exemplo, vemos que a situação é a mesma. Qual é, então, o grande desafio do novo governo de Minas nesse momento tão crítico e sério? Reverter o atual quadro de degradação. E fazer isso implantando os PMMAs de norte a sul, em todos os municípios do bioma. É por isso, também, que estamos sempre aqui, avaliando o Código Florestal, o Cadastro Ambiental Rural e os planos de recuperação ambiental. Se antes o pessoal da indústria, do carvão e da celulose reclamava, afirmando que a lei florestal anterior era ruim, porque não oferecia segurança jurídica, agora está ainda pior. Então, se não tivermos instrumentos mais simples para trabalhar a questão ambiental, veremos Minas continuar sendo devastada. Mais simples? Que tipos de instrumentos legais são esses? As leis que já temos. Fomos o primeiro país a ter, na Constituição de 1988, um capítulo específico sobre meio ambiente. A ECOLÓGICO estava junto com a gente. Foi o movimento mais bonito que já fizemos na história da luta ambiental brasileira. Antes, não existia nada. A partir dali, regulamentamos pela primeira vez a proteção dos biomas. E olha que, naquele tempo, a Serra do Mar era considerada um deles. Só que, de lá pra cá, o único bioma oficialmente regulamentado foi a Mata Atlântica. Por ação e mérito do então deputado Fábio Feldmann, nosso colega também no Conselho Editorial da Ecológico. 16 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
A regulamentação da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06) também motivou vários movimentos... Sim. Foram 14 anos de luta. E fizemos tudo de forma colaborativa e participativa. Mesmo não tendo, na época, nada parecido com as redes sociais de hoje. Foi mobilização genuína, com gente na rua e o maior abaixo-assinado da história. Foi a primeira lei a citar os termos “uso e proteção” da floresta. Nem o Código Florestal faz isso. Também definimos o que era pequena propriedade e muito do que está sendo usado atualmente, inclusive na lei da agricultura. Várias leis – da água, da biodiversidade e dos crimes ambientais – derivaram da Lei da Mata Atlântica, ou seja, de uma lei que já nasceu madura para ser aplicada. Parte desse avanço se deve ao Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), criado em 1981? Com certeza. Um grande movimento que todos, inclusive o pessoal aqui de Minas, ajudaram a criar. Um modelo no qual os conselhos estavam acima dos próprios executivos. O Conselho Nacional do Meio Ambiente acima do presidente, os estaduais acima dos governadores, e os municipais acima dos prefeitos. A ideia era evitar a manipulação política? Sem dúvida. Tanto que esses conselhos também preveem a representação de todos os segmentos sociais. Olha que coisa genial! Ainda mais quando a gente se lembra de que fizemos isso muitos anos antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1988. O SUS é uma cópia “escarrada” do Sisnama. Então, foram anos de luta: 1981; 1988, com a Constituição; depois 1992, na Conferência
QUEM É
ELE
Graduado em geografia, com especialização em Gestão Ambiental e Manejo de Bacias Hidrográficas, Mario Mantovani foi o responsável pela criação do Núcleo União Pró-Tietê, no início da década de 1990, o qual coordena até hoje. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente, prestou assessoria para a implantação de associações de reposição de produtos florestais e para a criação de consórcios intermunicipais de bacias hidrográficas e meio ambiente.
das Nações Unidas no Rio, quando iniciamos o movimento pela Lei da Mata Atlântica, até 2006, quando ela foi aprovada. Por isso, quando avaliamos essa trajetória de avanços, ficamos impressionados com a situação de Minas. Por quê? Porque percebemos que apesar de termos tudo regulamentado, o estado “estava negando fogo”. Logo Minas que, por sua história e importância nacional, foi o berço do movimento ambientalista brasileiro. Infelizmente, deputados daqui nos traíram em Brasília; acovardaram-se em relação ao Código Florestal. Uma atitude negativa que colocou Minas no pior dos mundos: colocou crianças “dentro de fornos”, queimou floresta para fazer carvão. Tudo isso para sustentar mais uma dessas commodities que não agregam nenhuma riqueza para o Brasil, a não ser a vergonha que passamos aqui em Minas... Como mudar, na prática, essa realidade? Revertendo a degradação da
M A R I O M A N TO VA N I Diretor de PolĂticas PĂşblicas da Fundação SOS Mata Atlântica
Mata Atlântica. Minas tem de voltar a ser referĂŞncia nacional em qualidade ambiental, e tambĂŠm em polĂticas pĂşblicas voltadas Ă sustentabilidade.
parceiros aqui de Minas que nos ajudaram na implantação do nosso modelo de monitoramento. Empresas e universidades que colocaram seus melhores tÊcnicos para fazer o trabalho de campo. Resumindo: fizemos um esforço enorme, entregamos tudo nas mãos do governo – com nome, endereço e o tamanho das propriedades desmatadas –, mas nada foi feito. Não houve reação.
providĂŞncias em todo o paĂs. Por que a SOS Mata Atlântica nĂŁo empunha essa bandeira? É claro que tem de ser Desmatamento Zero. A Mata Atlântica ĂŠ como um doente: estĂĄ na UTI A SOS Mata Atlântica ofereceu com apenas 7% de chance de soajuda ao governo para esse breviver e, em vez de receber merenascimento mineiro? dicação e proteção, estĂĄ sendo Desde as primeiras denĂşncias drenada, devastada. Desde 1500, que ďŹ zemos sobre desmatamenperdemos mais de 90% das oto, procuramos o governo estarestas. E nĂŁo temos 40% de ĂĄrea dual e o entĂŁo secretĂĄrio de Meio com uma atividade econĂ´mica Ambiente Adriano MaviĂĄvel e produtiva galhĂŁes. Apresentamos em cima. No Vale do dados concretos, com ParaĂba, atĂŠ a ĂĄgua todas as coordenadas que Rio e SĂŁo Paulo geogrĂĄďŹ cas dos locais bebem estĂĄ amede desmatamento. NĂŁo açada. Em Minas, aďŹ rmamos que Minas hĂĄ propriedades era a campeĂŁ da devasem que um hectare tação por intuição. de terra nĂŁo abriga duas cabeças de boi. Como sĂŁo feitas a Isso nĂŁo tem senticoleta e a anĂĄlise do. NĂŁo tem justiďŹ dos dados? cativa econĂ´mica. Nosso satĂŠlite ĂŠ de extrema qualidade. DesAinda assim, para de 1986, trabalhamos muitos, falar em em parceria com o Desmatamento Zero
45 )116 " "/5 / !" 5 /4 ! "7 " 8 ! 4 9: 4 Instituto Nacional de soa como utopia... ; !4 /" #"5"4 5 < " 5"5 " 4 "5" ; " ! = "9% 133) Pesquisas Espaciais Concorda? (INPE) no acompaDesmatamento ! nhamento das inforZero nĂŁo ĂŠ um ide " ! # $ % &" $ & $ ' ! $ ())* +,-. )+,+ maçþes sobre desmaal, ĂŠ uma questĂŁo " $ ! # / $ $ 0' ! $ (+)* ++), 123+ tamento. Somos a de postura, de resisorganização brasileira tĂŞncia. A ONU prede maior continuidade em mo- Por isso a ONG acionou o conizou o seguinte: para se prenitoramento de dados por satĂŠ- MinistĂŠrio PĂşblico Estadual? servar um bioma no planeta pelo lite. Monitoramos 3.100 municĂ- Fizemos isso quando Minas foi menos 20% dele tem de ser respios, em 17 estados brasileiros, campeĂŁ do desmatamento pela guardado, para que se conserve com recursos nossos e apoio do segunda vez. Na ĂŠpoca, houve o DNA da ďŹ&#x201A;oresta. Portanto, teMinistĂŠrio da CiĂŞncia e Tecno- algum avanço, porque foram de- mos um papel importantĂssimo logia. Fazemos um trabalho de ďŹ nidas responsabilidades. DaĂ, a cumprir. AďŹ nal, a Mata Atlântiqualidade e extrema precisĂŁo. começamos a perceber o quanto ca ĂŠ a ďŹ&#x201A;oresta de maior biodivera mudança na lei estadual havia sidade do mundo. E a regiĂŁo de Qual o alcance do satĂŠlite? sido negativa. Foi como um dre- IlhĂŠus e ItacarĂŠ, no Sul da Bahia, Qualquer ĂĄrea do tamanho de no: levou Minas da UTI Ă morte ĂŠ considerada a de maior bioditrĂŞs campos de futebol nĂłs pe- direta, como a pior referĂŞncia em versidade do planeta. gamos. Depois, colocamos uma termos de polĂticas pĂşblicas. â&#x20AC;&#x153;lupaâ&#x20AC;? em cima e detalhamos Onde exatamente, no Sul da Bahia? ĂĄreas atĂŠ menores que um cam- VĂĄrios ambientalistas defendem No Parque Estadual da Serra do po de futebol. Temos inclusive o Desmatamento Zero e cobram Conduru. Ele foi criado em 1997,
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JUNHO DE 2014 | ECOLĂ&#x201C;GICO O 17
PÁGINAS VERDES
MIGUEL RIOPA / AFP
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“Mineiro é desconfiado e eu sei que as pessoas pensam que o Sebastião Salgado está ganhando muito dinheiro. Está mesmo; porque quem planta árvores ganha muito sim – ganha a vida.”
graças à atuação de várias entidades, entre elas o Jardim Botânico de Nova York, a Conservação Internacional e a SOS Mata Atlântica. O que impressiona no Brasil é que, mesmo tendo todas essas riquezas, continuamos a “drenar” a Mata Atlântica, devastando uma biodiversidade que nem conhecemos. Por isso, estamos sem água. Aqui em Minas ocorreu outra coisa impensável. Alguém “puxou a fila” para acabar até com a proteção às veredas. Foi uma das maiores insanidades do mundo. A proposta previa o barramento de veredas. Mas, o governo mineiro vetou... Ainda bem. E isso aconteceu também graças à intensa mobilização das ONGs. Foi um crime de lesa-pátria, ou melhor, de lesa-humanidade. Uma tentativa de condenar nossas matas e águas à extinção. Hoje, a proteção à nossa biodiversidade está muito abaixo do que pedem o bom senso e o princípio da precaução. Estamos no limi-
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te do que pode ser o DNA da vida na Mata Atlântica. E Minas ainda pode virar o jogo. O mais prudente seria suspender completamente o desmatamento e deixar a floresta renascer. Ela tem essa capacidade; restaura-se fantasticamente. Como contribuir para essa restauração? Podemos começar resgatando a definição de qual é a função social da terra: proteger o meio ambiente. Temos de proteger as matas ciliares, o que equivale a cerca de 10% da Mata Atlântica. Com os 7% remanescentes, teríamos 17%; mais os 20% de Reserva Legal, alcançaríamos o patamar preconizado pela Conferência da Biodiversidade da ONU, da qual o Brasil é signatário. Poderíamos fazer isso em terras que, por obrigação, têm a sua função social obedecida e ainda apoiando os proprietários rurais com incentivos. Mas, infelizmente, escolhemos o caminho inverso. E Minas fez o pior. Além de trilhar o caminho inverso, ain-
da ajudou a “matar” a vontade política de virar esse jogo. Um desastre que pode, inclusive, refletir nesta campanha eleitoral. Qual é a sua avaliação, o que esperar dessas eleições? Em Minas, vemos duas forças que têm a questão ambiental como ponto forte. E não estou contando com o governo que já deu provas, com a Lei Florestal, de que usa o meio ambiente como moeda de troca para os seus interesses. Estamos falando de duas forças que poderiam mudar o Brasil. Como o candidato do governo vai poder dizer aqui em Minas que a proteção ambiental é uma realidade? Ele será questionado. Como? Se Minas é a campeã da destruição da Mata Atlântica? Isso é muito sério. A má gestão política – e ambiental – compromete todo um plano futuro de qualquer governo. Na edição 69 da ECOLÓGICO, ouvimos vários ambientalistas sobre quais devem ser as
M A R I O M A N TO VA N I Diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica
prioridades do atual secretário estadual de Meio Ambiente, Alceu Torres. O ex-deputado Fábio Feldmann disse que ele deveria aproveitar esses meses e preparar o terreno para o próximo governo. Concorda? Olha, já assistimos a situações semelhantes na história ambiental e vimos que é possível virar o jogo. Na ECO-92, mostramos ao então presidente Fernando Collor e ao ex-secretário nacional do Meio Ambiente José Lutzenberger [1926-2002] que o Brasil perdia o equivalente a um campo de futebol de Mata Atlântica a cada quatro minutos. O Lutzenberger ficou tão impressionado que baixou o Decreto Federal nº 750. Proibindo a destruição da floresta? Sim. Foi uma medida emergencial e muito restritiva, mas de extremo valor. É lógico que isso nos criou problemas e muita resistência à conservação. Talvez por isso, tenhamos demorado 14 anos para sancionar a Lei da Mata Atlântica e mostrar ao país que o Decreto 750 não era um modelo de lei. No entanto, ele foi o “freio de arrumação que ajudou a endireitar a carga”. Sem ele, não teríamos nem esse exíguo remanescente de Mata Atlântica que temos hoje. Devemos isso ao Lutzenberger. Está dizendo, então, que Minas e o novo secretário podem fazer o mesmo? Claro. Assumir as rédeas e dizer: “Vamos virar o jogo”. E podem começar fazendo isso, repito, implantando os Planos Municipais de Mata Atlântica. A SOS está pronta para ajudar e deixar tudo preparado para fazermos de 2015 o “Ano da Restauração”. Tenho certeza de que isso dará muito mais emprego do que qualquer outra atividade
econômica aqui em Minas. Muito mais do que o carvão. Quem destruiu vai ter a oportunidade de recuperar a sua vida e a sua dignidade, restaurando a floresta. A ONG entraria com a sua expertise? É o que estamos propondo nos últimos quatro anos, todos os dias, desesperadamente. Particularmente, já abracei esse desafio há anos, desde o que o ex-governador Antonio Anastasia, lá em Pouso Alto, afirmou: “A SOS Mata Atlântica não vai mais falar que Minas é a campeã em desmatamento”. Só que isso não aconteceu... O que faltou? Olha, digo apenas que isso não se faz. Pra mim, essa é uma questão ética. Não se se trata de agradar ambientalista, não. Estamos falando aqui é da força de Minas. De um estado que não pode continuar “drenando” a floresta, uma de suas maiores energias, fomentando seu desenvolvimento à custa da destruição. O maior exemplo de compromisso com a questão ambiental em Minas hoje é o Sebastião Salgado [fotógrafo e criador do Instituto Terra, ONG que promove o reflorestamento da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce]. Ele mostra que a mudança é possível e com muito pouco. O que ele fez em Aimorés é impressionante. O governo poderia fazer muito mais então... Com certeza. Estive na fazenda em que o Tião cresceu e presenciei a emoção dele. Pude ver a sua felicidade ao me contar que o rio em que ele brincava na infância estava renascendo, numa nascente que tinha sumido. Olha que coisa fantástica! Ele me mostrou o “corguinho” e disse: “Eu brin-
FIQUE POR DENTRO PLANOS MUNICIPAIS DE MATA ATLÂNTICA Conforme previsto na Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06), os municípios devem assumir sua parte na proteção dessa importante floresta. O principal instrumento para isso é o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA). Ele reúne e normatiza os elementos necessários à proteção, conservação, recuperação e uso sustentável da mata. A SOS Mata Atlântica acompanha e apoia de perto todos os municípios que tomam a iniciativa de elaborar seus planos. Para saber mais: www.sosma.org.br SINAL VERMELHO EM MINAS Dos 17 estados onde ocorre o bioma Mata Atlântica, Minas Gerais originalmente era o que continha maior extensão: 46% do seu território. Hoje, porém, dos 27.235.854 hectares originais, restam apenas cerca de três milhões de hectares, a maior parte deles fragmentada.
cava aqui.” Senti a alegria de um homem que finca uma árvore no chão e vê essa árvore se transformando de novo em vida, em água. Mineiro é desconfiado e eu sei que muitos pensam que o Tião está ganhando muito dinheiro. Está mesmo; porque quem planta árvores ganha muito sim; ganha a vida. É o tipo de exemplo que pode nos levar a um futuro mais verde e digno? Envolver a sociedade nessa retomada da vida e do verde é essencial. E as pessoas podem fazer isso participando dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente...
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 19
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PÁGINAS VERDES
E deixando também de ver os ambientalistas como inimigos do progresso e do poder? Nunca fomos. O grande ativo do ambientalista é o seu ideal. Ele quer proteger água, biodiversidade, clima, a natureza. Do outro lado estão a corrupção, a especulação imobiliária e a maior compra de agrotóxicos do planeta que, infelizmente, ainda são a “marca” do Brasil. É a eterna luta de um “cara com um ideal” contra gente que vende carvão com famílias inteiras “dentro” dos fornos. E olha que não são pequenas empresas, não. Há grandes grupos brasileiros por trás dessa prática desumana. Como um ambientalista pode ser inimigo de alguém? Com a força da ideia? Eu nunca vi isso. O desmatamento na Amazônia não cai, mas, mesmo assim não tivemos, até hoje, um presidente que abraçasse a sua defesa. Acredita que essa realidade mudará? O primeiro ponto é: quem diz que o desmatamento na Amazônia caiu está mentindo. Todos os dados do Instituto Imazon mostram o contrário, que a destruição é cada vez mais perversa. E avança agora sobre áreas da União. Terras minhas, suas, do povo brasileiro. Terras públicas que estão sendo invadidas e ocupadas, porque as do Sul e do Sudeste são caras. E o segundo ponto? Estamos vivendo uma crise civilizatória. Não entendemos até agora que nossa vocação é ser o país da natureza. Todo mundo, no exterior, nos reconhece assim. Não custava nada para o Brasil vender uma tonelada de soja com proteção de água, de biodiversidade. Afinal, temos 80% de Reserva Legal na Amazônia, temos corredores de fauna e outros instrumentos de
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M A R I O M A N TO VA N I LU I Z OTÁV I O Diretor P Ô S Sde AS GONÇ A LV Eda S Políticas Públicas
Empresário e vice-presidente da Fundação Biodiversitas Fundação SOS Mata Atlântica
“Quem diz que o desmatamento na Amazônia caiu está mentindo. Todos os dados do Instituto Imazon mostram o contrário, que a destruição é cada vez mais perversa. E avança agora sobre áreas da União. Terras minhas, suas, do povo brasileiro.” manejo que nos permitem fazer a diferença, agregar valor ambiental aos nossos produtos. Mas, contrariamente, continuamos gastando dinheiro para promover o turismo, mostrando o futebol e as mulheres. Tem esperança? Como ambientalista e cidadão, acredita que verá chegar ao poder um governante com outra mentalidade? Muita esperança. A questão ambiental veio para ficar, não tem mais volta. As maiores empresas do mundo têm seus programas de responsabilidade socioambiental; o presidente Obama [dos Estados Unidos] se comprometeu a ser o porta-voz dos cientistas em relação às mudanças climáticas. Já assistimos a muitas outras mudanças e, certamente, essa também virá. Somos fruto da evolução. Quando iniciamos o movimento ambientalista, fazíamos carta contra a energia nuclear usando mimeógrafo. E, além disso, a natureza está além da política. Sua causa é suprapartidária. Está dizendo que a natureza tem seus próprios valores e dinâmica?
Isso mesmo. Ela não quer saber se alguém é da direita, da esquerda, vermelho ou azul. Se reconhecêssemos isso, seríamos o melhor país do planeta. A saída é romper com o passado. Superar a mesquinharia e o ranço do “novo colonialismo”. A nova oligarquia rural brasileira é predatória; quer tirar o máximo da natureza e lucrar o máximo possível. Explora a natureza sem o mínimo olhar de gratidão. Detona tudo, “mói” gente, árvore e o futuro juntos. Não dá mais para aceitar isso. Que recado você deixa para o governador Alberto Pinto Coelho e o secretário Alceu Torres, um discípulo do Ministério Público e, portanto, homem de olhar privilegiado? Se Minas esboçou até agora alguma reação de dignidade em relação à sua situação ambiental, ela partiu do Ministério Público. Portanto, estou otimista. Meu recado para ambos é um só: se vocês não forem capazes de reverter essa situação, não vão conseguir cuidar da vida. Quem não consegue cuidar da água que a gente bebe, da floresta e da terra de onde vem a nossa comida, a nossa sobrevivência, está fadado a fazer mais do mesmo. E não estou falando aqui de dinheiro, de investimento novo, não. Mas, simplesmente, de fazer valer os instrumentos que já temos: Reserva Legal, Áreas de Preservação Permanente (APPs)... O estado ser, enfim, um aliado e não inimigo da natureza? É óbvio. E para conseguir isso, mais do que dinheiro, é preciso verdade. É preciso lealdade, dignidade e ética com o planeta que nos abriga e a natureza que nos faz viver, como já dizia Hugo Werneck. Somente isso. Valores que ficam e moldam a sociedade para sempre. O
Complexo Hidrelétrico de Rio de Peixe Lagoa do Miguelão
INOVAR A AngloGold Ashanti possui o Sistema Hidrelétrico Rio de Peixe que atende atualmente a 19% da demanda energética da empresa em Minas Gerais.
Mais do que gerar energia, há 110 anos, o Sistema contribui para o desenvolvimento da região onde está instalado. Além de, nos dias atuais, contribuir para o abastecimento de água de Nova Lima e Belo Horizonte, por meio da captação em seus reservatórios durante o período de chuva e regularização da vazão durante a seca. A área preservada conta com quase 200 espécies de animais silvestres e mais de 300 tipos de plantas da mata atlântica e do cerrado. Rio de Peixe é uma iniciativa inovadora que fortalece nosso compromisso com a construção de um futuro melhor.
INOVAÇÃO. O CAMINHO DO NOSSO FUTURO.
PARA PRESERVAR.
GENTE ECOLÓGICA FERNANDA MANN
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“Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede, conduzem nossas canoas e alimentam nossos filhos. É preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se dedicaria a um irmão.” CACIQUE SEALTH, índio norte-americano (1786-1866)
“Além da sua pujança econômica e do legado permanente em mobilidade urbana, BH tem qualidade de vida e inclusão social. Esta é a sua marca, de uma cidade sustentável que estamos construindo.”
“O amor se assemelha a uma borboleta. Vai para onde lhe agrada mais. E agrada aonde vai.” WILLA CATHER, jornalista e escritora norte-americana
OLIMOR
MARCIO LACERDA, prefeito de BH, em entrevista ao Hoje em Dia, sobre a Operação Urbana Nova BH
“O planeta ainda respira, mas não consegue processar o excesso de CO2 que lançamos na atmosfera. O Brasil precisa, mais do que nunca, dizer não às políticas e aos políticos velhos e decretar o Desmatamento Zero.”
DIVULGAÇÃO / COPASA
SÉRGIO ABRANCHES, sociólogo e cientista político, comentarista da CBN
“Três regras básicas: 1- no caos está a simplicidade. 2 - no conflito está a harmonia. 3 - na dificuldade está a oportunidade.” ALBERT EINSTEIN, físico alemão
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“Nós, artistas, temos de usar nossa fama em prol da liberdade, dos direitos humanos e da causa ambiental, que é uma das mais urgentes. Vivemos uma era em que ou a gente faz algo para diminuir o aquecimento global ou já era. ” LETÍCIA SPILLER, atriz
SEBÁSTIAN FREIRE
“O quintal para mim é liberdade. Não é estar em casa, que serve de alicerce, segurança se fizer chuva, sol, é comida, roupa, água, mãe, pai, irmãos, amigos. O quintal é você sozinho. Você fica solto, lidando com o que a natureza te traz. Atmosfera mesmo. Vento, folha. Trago isso da roça e dos índios, principalmente.”
PAUL MCCARTNEY E YOKO ONO O ex-beatle e a artista plástica se uniram a uma campanha contra o governo britânico pelo não uso de fracking (ou “fratura hidráulica”) para explorar gás de xisto no país. O método de extração é feito por meio da injeção de milhões de litros de água tratada quimicamente nas rochas que armazenam o gás. Os artistas temem que o processo provoque impactos negativos sobre o meio ambiente, como a poluição das águas e do solo.
MARIA BETHÂNIA, cantora, em entrevista ao Estadão sobre “Meus Quintais”, seu novo CD
DIVULGAÇÃO
MINGUANDO
“Deus é a perfeição. E a única coisa que eu vejo perfeita neste mundo é a natureza. Só de entrar no meio de uma mata, no Pantanal, dá para sentir a perfeição entre os animais e as plantas. Deus é aquilo ali.” ALMIR SATER, músico e cantor
ANTÔNIO DA CRUZ SAMPAIO O secretário de Meio Ambiente da cidade de Serrita, no sertão pernambucano, foi preso sob suspeita de ter cometido quatro crimes ambientais: garimpagem sem autorização legal, utilização de substância tóxica (mercúrio), extração de recursos minerais sem autorização e funcionamento de serviços potencialmente poluidores. Sampaio, que está preso, ainda terá de pagar multa de R$ 200 mil fixada pelo Ibama.
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OIL GILL / CAIO VALLE
ALCEU TORRES O novo titular da Semad respondeu assim, suscintamente, ao ser convocado pelos ambientalistas para capitanear a quinta edição do Prêmio Hugo Werneck que, este ano, terá como tema a defesa do que restou do Cerrado brasileiro, imortalizado na obra “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa: “Eu também sou do Cerrado!”, ele respondeu, referindo-se a Jaboticatubas (MG), sua terra natal.
MARCOS TAKAMATSU
CRESCENDO
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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
O “Sempre duvido de minhas crenças
para ver. Ciência é ver para crer. Filosofia é a pergunta sobre o sentido do que é ver e do que é crer.” @Prof_Cortella Mário Sérgio Cortella, filósofo
ALSC
para fortalecê-las.” @CARPINEJAR – Fabrício Carpinejar, escritor
O “Nada como ser livre para alienar-
se quando quiser. #VaiTerCopa.” @gondimricardo - Ricardo Gondim, teólogo O “Confesso que sou um brasileiro obsessivo e repito: um brasileiro delirante que precisa ver o Brasil por todas as partes.” @nelsonexplica – Twitter em homenagem a Nelson Rodrigues, escritor O “Capitalismo e socialismo são economicistas e não levam em conta que recursos naturais são finitos.” @EduardoJorgeBR – Eduardo Jorge, médico sanitarista O “De 2000 a 2013, 684 índios
guarani kaiowá se suicidaram.” @brumelianebrum - Eliane Brum, jornalista O “Fico pensando por que o rodízio de carros foi liberado em SP, se a greve do metrô atinge muito mais a quem nem carro tem. Caos no trânsito.” @astridfontenelle – Astrid Fontenelle, apresentadora
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DE OLHO EM MARTE! Há quem ainda duvide que o homem pisou na Lua em 1969. Mas, enquanto os céticos não se convencem, a Nasa (Agência Espacial Americana, em português) está de olho em outra missão: levar o homem a Marte até 2030. Enquanto não realizam a façanha, o site “Distance to Mars” leva os curiosos em uma viagem a sete mil pixels por segundo até o Planeta Vermelho e dá uma ideia da imensidão que aguarda os astronautas, que levariam cerca de sete meses para chegar ao destino. Acesse: www.distancetomars.com
MAIS ACESSADA MYLLA GHDV / FLICKR
O“O sábio é um degustador. Eu quero que meus alunos sejam educados para serem degustadores do mundo!” @_RubemAlves - Rubem Alves, escritor
O “Religião é crer
LIVROS DIGITAIS Para quem ama ler, e também não abre mão da tecnologia, o Ministério da Educação disponibiliza downloads gratuitos dos livros de diversos autores. Entre eles, a obra completa de Machado de Assis (www. machado.mec.gov.br), além do link www.dominiopublico.gov. br, que oferece vídeos, livros, teses científicas e imagens diversificadas. Para se ter uma ideia, é possível encontrar no catálogo oferecido pelo Domínio o livro “Divina Comédia”, clássico do escritor italiano Dante Alighieri. BRUCE EMMERLING - PIXABAY
TWITTANDO
Em junho, a matéria “Os quatro piores alimentos industrializados” foi a mais clicada no site da Revista ECOLÓGICO. Na lista figuram produtos como macarrão e temperos instantâneos, lasanha de micro-ondas e frangos empanados. Esses alimentos são ricos em gordura saturada, além de altas concentrações de sódio, que se consumidos em excesso ocasionam problemas de saúde como obesidade e hipertensão arterial. Quer saber mais? Acesse: www.goo.gl/L3S2xi
SANAKAN
CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO
RECORDE DO BEM O número de tartarugas nascidas no projeto Tamar bateu um recorde. Na temporada que começou em setembro passado e terminou em maio deste ano, nasceram mais de dois milhões de filhotes nas praias brasileiras. É a maior quantidade alcançada na história do projeto, que teve início em 1980 com o objetivo de proteger as cinco espécies de tartarugas marinhas que vivem no país.
ACERTANDO AS CONTAS
Em todo o Brasil, 32% das pessoas relataram ao menos uma interrupção no fornecimento de água em casa nos últimos 30 dias, segundo pesquisa do Datafolha. Dos 4.337 entrevistados, 18% afirmaram que os cortes no abastecimento ocorreram de dois a dez dias no mês. Para 7%, faltou água em apenas um dia nesse período. Mas 2% relataram que as interrupções foram diárias.
Um novo estudo sugere que as emissões de CO2 causadas pela destruição da Floresta Amazônica são 40% maiores do que aquelas relatadas pelo país. Segundo a pesquisa, em 2010 a Floresta perdeu mais de 50 toneladas de carbono com corte seletivo de madeira e destruição parcial por fogo. O estudo teve participação da Embrapa, USP, Inpe e Museu Goeldi. LEO ALBUQUERQUE / ICMBIO
FALTA D'ÁGUA
PROTEÇÃO DOS ANIMAIS A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que proíbe o uso de animais em testes para desenvolver produtos de uso cosmético. O texto, que segue para votação no Senado, prevê também “carência” de cinco anos para que os laboratórios instalados no país possam usar animais para testar substâncias “novas”, sem reação conhecida nos seres humanos.
MULTA AMBIENTAL (I) A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou projeto que redefine a aplicação do dinheiro arrecadado com multas por infrações ambientais. Pela proposta, metade do valor recolhido pelos órgãos ambientais federais será investida no Fundo Nacional do Meio Ambiente. A outra metade será dividida entre projetos em unidades de conservação, educação ambiental, licenciamento ambiental, fiscalização e gestão de recursos hídricos.
PESCA PROIBIDA
MULTA AMBIENTAL (II)
Os ministérios do Meio Ambiente e da Pesca e Aquicultura vão proibir, por cinco anos, a pesca e comercialização da piracatinga. O objetivo é proteger o boto-vermelho, o jacaré-açu e o jacaretinga, utilizados como isca para captura dela. A medida deve vigorar a partir de 2015.
Atualmente, um decreto destina ao Fundo Nacional do Meio Ambiente 20% do valor arrecadado pelas multas ambientais, podendo o percentual ser alterado a critério dos próprios órgãos arrecadadores. A parte maior (80%) fica com os órgãos ambientais federais, que podem usá-la a livre critério. A proposta de mudança segue agora para o Senado. JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 25
Abílio, Adriane, Adriano, Alcione, Alice, Aline, Ana, Angelina, Antonio, Arnaldo, Augusto, Bárbara, Benjamim, Bené, Borges, Bráz, Caio, Carla, Carmem, Célia, Celso, Chico, Claudia, Consuelo, Daniel, Denise,
HISTÓRIAS INTERLIGADAS: Octávio Elisio, José Cláudio Junqueira, Ana Lúcia, Zuleika Torquetti, Mirian Dias, Hiram Firmino e Alceu Torres durante a festa de 25 anos da Feam
BODAS DE PRATA J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br
N
ão poderia haver melhor lugar para a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) comemorar os seus 25 anos de criação, lutas, derrotas, aprendizados e vitórias em busca do crescimento verdadeiramente sustentável de Minas. O local escolhido foi o Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR), em BH, já com a presença do novo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alceu Torres. Ali, ao lado das antigas e novas gerações que criaram e hoje trabalham no órgão oficial mais respeitado e emblemático na luta 26 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
ambiental mineira, Alceu pôde sentir na pele - tal como já explicou de maneira memorável, o exsecretário e ex-ministro José Carlos Carvalho – o que diferencia os funcionários do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), leia-se Semad, IEF e Igam, dos demais servidores do Estado. Quem trabalha com meio ambiente, com a causa da sustentabilidade e se envolve com a defesa da natureza que nos resta e é maior e mais sábia do que todo o conhecimento humano não consegue mais ser apenas um funcionário público, reclamar disso
e daquilo, e se acomodar. Apaixona-se. Vira militante! É isso que a Revista ECOLÓGICO recapitula aqui, com depoimentos de quem já vivenciou a sua história. A memória dos primeiros 20 anos da Feam, enquanto era combativa e temida pelos poluidores que enfrentava e continha, como a “agenda marrom” da Semad. E agora, nos seus últimos cinco anos, como a “agência ambiental”, já com uma outra visão institucional e excelência em conhecimento técnico-científico, que é orientar e ajudar o setor produtivo responsável e o cidadão comum na busca pelo desenvolvimento sustentável. Acompanhe!
Eleonora, Edson, Elcio, Eloi, Ellen, Elianinha, Elisete, Eualdo, Fátima, Evandro, Fernando, Flávio Mayrink, Flávio Pires, Frederico, Gastão, Geni, Geraldo, Gerson, Guilherme, Helder, Hiram, Humberto, Ilmar, Ivan, Ivon, Janaína, Joaquim,
25Anos
Da agenda marrom... Os principais trechos do discurso da atual presidente, Zuleika Torquetti, enaltecendo a ecologia humana da instituição O “A Feam foi criada em 1989, a partir da antiga Superintendência de Meio Ambiente (SMA) da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Bons tempos aqueles em que nossa atenção estava focada na famosa “agenda marrom”: indústria, mineração e infraestrutura. Foi quando também se iniciaram os primeiros projetos voltados ao monitoramento do ar, à gestão da qualidade ambiental, como o ‘Águas de Minas’, hoje sob comando do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).” O “Durante
quase duas décadas aprimoramos o jeito Feam de fazer licenciamento ambiental, em parceria com os representantes dos setores produtivos, das universidades, do Cetec, dos conselheiros do Copam.”
O “Com
os erros e acertos, aprendemos a fazer pareceres técnicos e jurídicos, vistorias, audiências públicas, criar sistemas de bancos de dados, contratar consultorias que diziam o que a gente devia fazer e a gente não aplicava nada, pois sempre fomos independentes. Tudo isso, com o apoio do nosso inesquecível jurídico que, sem medo de errar, escreveu as primeiras linhas do direito ambiental neste país.”
“Que saudade da autonomia administrativa perdida! Era tudo mais fácil. Todas as viagens saíam rapidinho. Os pagamentos e as prestações de contas também.” O
O “Também viajamos muito por esse interiorzão de Minas. Pegamos lama e poeira. Dormimos em espeluncas por falta de opção. Promovemos terças sem lei. Ri-
mos alto ao escutar causos e causos. Choramos de raiva ao sair de reuniões do Copam.” O “Aprendemos
também, em todo esse tempo, a inventar moda, esse outro valor hoje entre nós: inovação. Inventamos o programa ‘AmbientAção’, hoje presente e educando mais de 70 instituições no estado. Demos à luz ao Núcleo de Emergência Ambiental (Nea), uma solução simples e inovadora, adequada à nossa capacidade operacional, que até hoje atende muito bem os acidentes ambientais por todo o estado. E criamos o Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR), com toda a sua história de sucesso na gestão de resíduos urbanos, na capacitação de jovens, de catadores de materiais recicláveis e agentes públicos.”
FOTOS: ACERVO FEAM
A SUSPENSÃO das atividades da fábrica de cimento Itaú, instalada desde o início dos anos 1950 em Contagem (MG), foi um marco da luta ambiental brasileira. O fim da sua poluição, conquistado em 1975, levou o então presidente militar Ernesto Geisel a assinar, em vão, o Decreto-Lei nº 1.413, tirando as autonomias municipal e estadual. A gestação da Feam, via José Israel Vargas, e a criação da Lei Nacional do Meio Ambiente, seis anos depois, foram frutos vitoriosos desse embate histórico.
Josalvoro, Joséio, Laís, Laura, Leni, Léo, Liliana, Ludimila, Luiz, Magrinelli, Marcia, Marcio, Marco, Marcus, Maria, Marilene, Marília, Marleize, Marli, Maurício, Mirian Dias, Morel, Mônica, Neila,
ACERVO FEAM
...à agência ambiental
BIOMONITORAMENTO no Rio Pardo Pequeno, no município de Santo Hipólito, feito por técnicos da Feam e do Projeto Manuelzão, agosto de 2009: a nova Feam
MARCAS E MUDANÇAS O “A seu modo, cada ex-presiden-
te que tivemos contribuiu e nos deixou sua marca. Tivemos sorte por termos sempre conquistado o respeito e o coração daqueles que não eram funcionários da casa, como Hiram Firmino, Sérgio França Leão, Willer Pós, Roberto Messias Franco, Maurício Andrés, dr. Ivon e, claro, Ilmar Santos.” O “Em
2007, tudo virou de ponta cabeça, tivemos de enfrentar a transição. A Feam se transformou em uma agência ambiental de segunda geração. Alguns de nós sofreram para se desapegar do licenciamento, outros optaram por se transferir para a estrutura da Semad e Suprams. Mas, todos levaram esse nosso jeito de ser, que faz a maior diferença.”
“Passados sete anos, a nova agenda da Feam está consolidada, voltada aos estudos, projetos e programas ambientais estratégicos para a gestão de resíduos,
O
28 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
FUNCIONÁRIOS OBSTINADOS “Temos um grande legado para refletirmos. Orgulho de tudo que fizemos, não pela perfeição. Mas pela obstinação de fazer o correto e em coerência com os nossos princípios. Corrigir, a cada erro. Melhorar, a cada acerto, para nos tornarmos melhores. Evoluímos sem alterar nossos valores. Primeiro como uma semente do Cetec, que depois virou a Copam. E hoje a instituição reconhecida que é, sustentada pelos ideais de seus obstinados funcionários. O mundo não é nosso, nós é que somos do mundo. E devemos melhorálo não para contar nossa história, mas para que outras possam ser criadas. Aqui, são as nossas vidas que fazem questão de contar. Chico Fumaça, Chico Chaminé ou Francisco Diniz. Eu me multiplico quando o assunto é meio ambiente. Se posso fazer melhor, vou em frente!” CHICO FUMAÇA, servidor da Feam
produção sustentável, qualidade ambiental, energia e mudanças climáticas. Ou seja, a gente faz hoje tudo que queríamos fazer quando trabalhávamos no licenciamento, e não tínhamos tempo. É incrível como tivemos uma enorme capacidade de adaptação, conquistamos resultados e reconhecimento tão rapidamente.”
O “A
Feam não seria o que ela é se não fossem as pessoas que fizeram e fazem tudo para alcançarmos a tão sonhada qualidade ambiental, o consumo sustentável e um planeta sustentável. É esse brilho nos olhos que vejo em cada um dos nossos colegas, históricos e novos, todos os dias. A gente não se esquece nem desapega desta nossa missão.”
Newton, Octávio, Patrícia, Paulo Eduardo, Paulo Mafra, Paulo, Raquel, Regina, Rosangela, Janaína, Renato, Ricardo, Roberto, Ronaldo, Ronildo, Rubens, Serginho, Sérgio, Silvério, Solange, Soraia, Sueli, Theo, Túlio, Vera, Wagner, Willer, Zuleika
25Anos
Um estado de espírito José Cláudio Junqueira (*)
ciência, tecnologia e a participação dos vários segmentos – governo, empresas, academia e ONG, ingredientes da fórmula que certamente fizeram de Minas Gerais vanguardista e referência em meio ambiente. Nos primórdios, o apoio técnico ao Copam veio do Cetec que, com recursos humanos capacitados no país e no exterior, desenvolveu linhas de pensamento que se constituíram nas bases para a formação da Superintendência do Copam, posteriormente transformada em Feam. Ao longo do tempo, a Feam recebeu contribuições de outros colaboradores e continua recebendo, das mais diversas áreas de conhecimento, inclusive de órgãos como IEF e Igam, junto aos quais passou a integrar, em 1995, MARCELLO CASAL JR
“Mais que a estrutura orgânica que compõe uma instituição, a Feam sempre representou um conjunto de valores com o objetivo de contribuir para a melhoria do meio ambiente, em especial para Minas Gerais. Valores esses que estabelecem uma identidade comum entre os servidores e colaboradores, ao longo do tempo, que passam a compartilhar um estado de espírito em prol da sustentabilidade, independentemente de onde estão desempenhando suas atividades. A história é longa, seu DNA tem origens na Fundação João Pinheiro, quando o professor José Israel Vargas criou o Departamento de Tecnologia e Meio Ambiente (DTMA) em meados da década de 1970, logo após surgir o primeiro órgão ambiental no país, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), no âmbito do Ministério do Interior, em 1973. Na sequência, a criação da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia em Minas Gerais, tendo à frente José Israel Vargas e Octávio Elísio Alves de Brito, dupla de visionários, viabilizou os primeiros passos para a política pública de meio ambiente estadual, com a implantação do Conselho de Política Ambiental (Copam) em 29 de abril de 1977, primeiro órgão da área a assegurar a participação da sociedade civil, inspirando a criação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) em 1981. Para o secretário da Sema e conselheiro do Copam à época, Paulo Nogueira Neto, o modelo mineiro de governança era o que melhor atendia o desenho nacional, que se projetava sob sua liderança:
PAULO NOGUEIRA NETO, primeiro ministro do Meio Ambiente: “Minas sempre foi vanguardista e referência nacional”
a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Isto nos permite ampliar continuadamente a compreensão dessa matéria holística e complexa que é o meio ambiente. Em 2007, sob a liderança do secretário José Carlos Carvalho, surgiram novos desafios para a Feam, frente a outros instrumentos de gestão ambiental, além dos convencionais de comando e controle, no formato de agência de segunda geração a exemplo das internacionais EPA (americana), ADEME (francesa) e UBA (alemã). E o tempo se fez em constantes transformações, com vitórias e reveses. Muitos já não se encontram entre nós, uns se aposentaram, outros buscaram novos rumos e uma nova geração está chegando. Tudo isso em um cenário de persistência de estado de espírito comprometido com valores sempre em constante solidariedade ao próximo e ao planeta. Alguns funcionários da velha guarda ainda permanecem na ativa, verdadeiros guias para os novos que chegam para assumir a responsabilidade de manter aceso o espírito da Feam, igual a uma tocha olímpica que não pode apagar, independentemente das mudanças orgânicas que ocorrem na administração pública, trazendo sinergia ora positiva ora negativa. Ao celebrar seus 25 anos, reunindo pessoas que passaram por lá, que ainda estão e que há pouco chegaram, a Feam demonstra que seu espírito continua bem vivo em todos nós.” (*) Ex-presidente da Feam por três mandatos.
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 29
Abílio, Adriane, Adriano, Alcione, Alice, Aline, Ana, Angelina, Antonio, Arnaldo, Augusto, Bárbara, Benjamim, Bené, Borges, Bráz, Caio, Carla, Carmem, Célia, Celso, Chico, Claudia, Consuelo, Daniel, Denise, LEANDRO COURI / EM / D.A. PRESS
GARIMPO ILEGAL na nascente do Jequitinhonha: cenário triste que se estende por todo o percurso do rio e foi usado como moeda de troca política
Como tudo começou... Segundo o livro “História e Memória”, que conta os primeiros 20 anos da Feam, na fase inicial, o secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente acumularia a presidência da nova instituição, ficando responsável pelas atividades de sua implantação. “A criação da nova pasta, portanto, não se deu em conformidade com as ideias discutidas no interior da Superintendência de Meio Ambiente (SMA) e da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec). O maior problema, então enfrentado, foi a não incorporação da área ambiental do Cetec como previsto, com prejuízos na formação de seu setor de pesquisa.” Um dos fatores que explicam a resistência dos seus quadros em se integrar à Feam foi o salarial, visto que o Cetec já contava com um plano de carreira próprio, em muito superior à estrutura salarial da antiga SMA. Em 1991, uma outra tentativa de incorporação dos técnicos do Cetec foi novamente rechaçada. E a Feam foi estruturada seguindo o modelo que vigorava na SMA. O seu Depar30 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
tamento de Planejamento e Desenvolvimento Ambiental deu origem à Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental. E o Departamento de Fiscalização e Controle Ambiental constituiu a Diretoria de Controle Ambiental da Fundação. Posteriormente, em 1992, sua estrutura inicial foi simplificada, com a supressão de várias áreas. PRIMEIROS PASSOS Em abril de 1989, o jornalista e ambientalista Hiram Firmino, que já fora secretário de Meio Ambiente de Belo Horizonte, foi empossado como presidente da Feam. Levou com ele algumas pessoas que faziam parte da equipe da secretaria municipal e, principalmente, “aquele espírito da época, que era de luta, muito combativo. Lutávamos por uma ideologia que tinha virado militância política oficial porque estávamos no governo. Começamos sem recursos, inclusive sem um corpo técnico, mas com esse espírito”, lembra ele. Hiram era jornalista do Estado de Minas, jornal de maior circulação estadual, o que foi usado em favor
da Feam, no sentido de dar a ela visibilidade, fazendo-a presente no noticiário. “Quando alguém cortava uma árvore, chamávamos a imprensa, fazíamos barulho. E quem lia a notícia pensava que a Feam tinha uma estrutura sólida. Que nada, era meia dúzia de sonhadores querendo fazer as coisas.” MOMENTO HISTÓRICO A notória abundância de minério em Minas Gerais fazia da atividade minerária objeto constante de preocupação por parte dos organismos ambientais. Naquela época, não havia qualquer controle sobre a atividade, que tinha como um dos focos o garimpo de diamantes à beira do Rio Jequitinhonha. Esse importante curso d’água vivia um processo agudo de poluição. “Era como se um tatu mecânico gigante tivesse passado ao longo das margens do rio degradando tudo”, aponta Hiram Firmino. A Feam deu início, então, a uma prévia campanha de educação ambiental junto aos garimpeiros com vistas a mostrar a necessidade de que se ajustassem à lei e ti-
Eleonora, Edson, Elcio, Eloi, Ellen, Elianinha, Elisete, Eualdo, Fátima, Evandro, Fernando, Flávio Mayrink, Flávio Pires, Frederico, Gastão, Geni, Geraldo, Gerson, Guilherme, Helder, Hiram, Humberto, Ilmar, Ivan, Ivon, Janaína, Joaquim,
25Anos
A FEAM É... FIQUE POR DENTRO MISSÃO Aprimorar e inovar a gestão ambiental integrada no estado de Minas Gerais, visando à proteção da saúde humana e do meio ambiente. VISÃO Ter papel estratégico na definição e execução das políticas públicas para prevenir impactos e recuperar passivos ambientais. VALORES Comprometimento, respeito, transparência, inovação, efetividade.
vessem um garimpo licenciado e feito de maneira ambientalmente correta. Ao mesmo tempo, havia a ameaça: caso contrário, as atividades seriam paralisadas. O então governador do estado, Newton Cardoso, decidiu e pareceu abraçar a causa ambiental. No final de 1989, ad referendum do Coapam mandou lacrar as bombas e parar todas as dragas que atuavam criminosamente no Rio Jequitinhonha, com forte divulgação na mídia. Mais de 60 mil garimpeiros e suas famílias foram atingidas. De acordo com seu primeiro presidente, não era exatamente o que a Feam queria. Ela, inclusive, já tinha iniciado um diálogo técnico e de educação ambiental com os garimpeiros, de modo a adequá-los perante a legislação vigente. Mas, como a decisão política veio de cima para baixo, ela aceitou como meio radicalmente imposto de estancar a degradação: “Realmente a poluição parou. Foi um momento histórico. O rio ficou claro e as lavadeiras voltaram a lavar roupas nas suas margens”. Essa atitude, porém, não se deu sem custos, lembra Firmino: “Sofri ameaças de morte. Garimpeiros iam às reuniões na Feam com
“UMA EQUIPE de engenheiros, biólogos, geógrafos, geólogos, arquitetos, advogados, secretárias e estudantes com a missão principal de preservar o meio ambiente.” “UM POUCO da minha família.” “A POSSIBILIDADE de utilizar os conhecimentos adquiridos no meio acadêmico em benefício da população.” “O MELHOR LUGAR para trabalhar nas áreas de saneamento e meio ambiente.” “APRENDER a enfrentar desafios.” “TRABALHAR diretamente com a comunidade, o que muito nos gratifica como cidadãos. Estamos construindo uma nova história centrada na participação.” “SUJAR a botina de lama durante as vistorias, brigar pela preservação da natureza, fazer parcerias.” “A PROMESSA de podermos utilizar nossos conhecimentos e energia na melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da sociedade. Uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal, a certeza de estarmos nos dedicando às pessoas e ao meio ambiente.” “UMA GENEROSA fonte de sabedoria e oportunidade para conduzirmos a sociedade a um ambiente melhor.” “A FORÇA que necessitamos para fazer a diferença em prol da sociedade!” “OLHAR PARA trás com gratidão, e, para frente, com fé e determinação, pois ainda temos muitas lutas a vencer.” “TER a oportunidade de sermos agentes transformadores, participando ativamente da busca de alternativas para a redução dos impactos ambientais e da mudança de valores e atitudes. É contribuir para a melhoria da qualidade ambiental.” (*) Depoimentos espontâneos de funcionários durante as comemorações no CMRR.
revólver na cintura. Fiquei dois meses sendo protegido por dois policiais, que se revezavam a cada seis horas na minha casa. E depois descobrimos que, por trás do garimpo criminoso, estavam grandes empresas de mineração ligadas ao próprio governo. Foi uma grande jogada política do governador, que estava sendo ameaçado de cassação. Ele apenas usou a questão ambiental para se salvar politicamente. Tanto que virou um herói passageiro para várias prefeituras e comunidades banhadas pelo Jequitinhonha”. Diante disso, antes que fosse demitido por não concordar com a volta então oficiosamente libe-
rada do garimpo e da mineração predatória, passando por cima do Copam e da Feam, Hiram Firmino pediu demissão. Ele voltou à sua antiga trincheira no jornal Estado de Minas, de onde continuou a luta em defesa do meio ambiente. Da sua experiência na presidência da Feam ficou a certeza de que, na maioria dos casos, as pessoas não depredam o meio ambiente com consciência de causa, e por maldade. Mas, sim, por ignorância, desinformação e falta de conhecimento técnico. “E é justamente um ferramental esclarecedor, conscientizador e apoiador que cabe ao órgão ambiental oferecer à sociedade e ao planeta”, sintetiza.
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 31
Josalvoro, Joséio, Laís, Laura, Leni, Léo, Liliana, Ludimila, Luiz, Magrinelli, Marcia, Marcio, Marco, Marcus, Maria, Marilene, Marília, Marleize, Marli, Maurício, Mirian Dias, Morel, Mônica, Neila,
Os presidentes FOTOS: ACERVO FEAM
Cada um com seu perfil, eles fizeram a história e o jeito de ser Feam
José Ivo Gomes de Oliveira
Hiram Firmino
Sérgio França Leão
Roberto Messias Franco
Ronaldo de Azevedo Carvalho
Maurício Andrés Ribeiro
José Cláudio Junqueira
Ivon Borges
Willer Hudson Pós
Ilmar Bastos Santos
32 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
Zuleika Stela Torquetti
Newton, Octávio, Patrícia, Paulo Eduardo, Paulo Mafra, Paulo, Raquel, Regina, Rosangela, Janaína, Renato, Ricardo, Roberto, Ronaldo, Ronildo, Rubens, Serginho, Sérgio, Silvério, Solange, Soraia, Sueli, Theo, Túlio, Vera, Wagner, Willer, Zuleika
25Anos
Em memória de Hugo “O resgate histórico da Feam é importante, não só para fazer justiça a todos os seus servidores. Mas também por ser uma experiência bem-sucedida, que chegou a um modelo de gestão ambiental. A sua memória deve ser contada na perspectiva da história do atual Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) e como os ambientalistas participaram disso. Aí voltamos bem atrás, em 1973, quando foi criado o Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais, sob a liderança de Hugo Werneck, nosso ambientalista maior. Algumas das mais importantes conquistas da política ambiental no Estado resultaram da mobilização desse grupo, desde então:
MARCOS TAKAMATSU
Ângelo Machado (*)
MACHADO: “Nossa abordagem sempre foi essencialmente conservacionista”
A defesa e criação do Parque Estadual do Rio Doce, em 1944, pondo fim à ameaça de se autorizar uma estrada industrial que iria
cortar ao meio a maior reserva de Mata Atlântica de Minas, também chamada de ‘a Amazônia mineira’. O A Mata do Jambreiro, criada em 1977, hoje RPPN da Vale, a maior reserva de Mata Atlântica de toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte. O O Parque Estadual do Cipó, em 1975; transformado depois, em 1984, no Parque Nacional da Serra do Cipó. O O Parque das Mangabeiras, inaugurado em 1982, a maior área verde preservada hoje da capital mineira, em vez de se tornar mais um loteamento imobiliário.”
O
(*) Presidente da Fundação Biodiversitas.
O valor da militância oficial José Carlos Carvalho (*)
desde sua criação, o que se mantém agora com relação ao nosso futuro comum. Com as recentes mudanças que foram realizadas, a nova Feam se transformou num órgão de excelência em geração de conhecimento, em informação aplicável à gestão ambiental do dia a dia; e ao mesmo tempo, tirando dela o FERNANDA MANN
“A Feam tem prestado inestimáveis serviços à gestão ambiental em Minas. A partir da sua criação, o estado se qualificou numa área da administração pública até então completamente afastada dos grandes problemas ambientais, particularmente em relação à “agenda marrom”, que diz respeito ao controle das atividades efetivas e potencialmente poluidoras. A Feam veio para suprir uma lacuna que tínhamos no Estado, de tal maneira que Minas se aparelhasse institucionalmente, de forma adequada, para enfrentar os novos desafios na área ambiental que começaram a surgir com o seu próprio nascimento. Ela teve um papel fundamental
peso da rotina do licenciamento, que tem o poder de escravizar os órgãos ambientais. Ao liberar-se dos licenciamentos, a Feam também se libera, em razão do alto grupo de seus profissionais com mestrado e doutorado, que, além do conhecimento, como diz o professor Angelo Machado, fazem também aquilo que chamamos de militância ambiental. Quem trabalha com meio ambiente tem que ser, simultaneamente, um servidor público e um ativista. Essas condições continuam presentes na Feam e em todo o Sisema.” (*) Ex-titular da Semad e ex-ministro do Meio Ambiente.
CARVALHO: “Quem trabalha com meio ambiente é servidor e ativista. Essa é a diferença que nos torna todos ambientalistas”
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Acesse o blog do Hiram:
SOU ECOLÓGICO
hiramfirmino.blogspot.com
A “COCA-COLA” DE LÁZARO
DIVULGAÇÃO
Em sua coluna “Palavra de Presidente” no Informativo Fecomércio Minas, considerado o maior jornal corporativo do país, com 15 mil exemplares, Lázaro Luiz Gonzaga - reeleito recentemente para presidir a instituição no quadriênio 2014-2018 - recorreu às três famosas regras que a Coca-Cola criou para sustentar, em suas equipes, o entusiasmo que garante o seu sucesso mundial continuado: “Regra 1: Nada é fácil. Regra 2: Tudo é possível. E regra 3: Se você desanimar, se desesperar, se algo der errado, leia novamente a regra 2, ‘Tudo é possível!’”. Ao compartilhar isso com seus colegas empresários, Lázaro lembrou que o Brasil já se encontra novamente dentro do “oneroso tempo pré-eleitoral”, cuja ambientação se estende até depois das eleições: “É hora de investirmos em tempo e ideias sobre projetos de mudanças, preparar propostas, reivindicações. E oferecer apoio aos candidatos que melhor estão aptos a atender nossos pleitos. Depois, é LÁZARO GONZAGA: "Só o persistirmos na cobrança dos compromissos assumidos”. cemitério rejeita o progresso" O presidente ainda recorreu, no final, à memória do primeiro-ministro inglês Harold Wilson: “Aquele que rejeita a mudança é o arquiteto da decadência. A única instituição humana que rejeita o progresso é o cemitério”! A Coca-Cola, o Lázaro e o Harold estão realmente certos segundo a teoria quântica: tudo é possível!
FESTA NO CERRADO
JOSÉ FERNANDO COURA Representando a mineração sustentável, o presidente do Ibram e do Sindextra, José Fernando Coura, foi o único mineiro dentre as 100 personalidades brasileiras agraciadas com o Prêmio “Quem faz o Brasil Melhor”. A homenagem foi feita durante evento realizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) e pela Rádio Jovem Pan no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo: “Para se fazer um país melhor, é preciso que cada brasileiro faça, primeiro, a sua parte”, pontuou. 36 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
FERNANDA MANN
COURA: único mineiro na agraciação nacional
O II Encontro Cultural do Instituto Inhoré será realizado no próximo dia 26 no Parque Ecológico Geraldino José de Almeida, em Capão Grosso, distrito de Jaboticatubas (MG), próximo à Serra do Cipó, possivelmente com a presença do secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alceu Torres Marques. Ele é natural do município e convidado de honra do evento, cujo objetivo é divulgar e valorizar as manifestações culturais da região do Cerrado mineiro, promovendo o desenvolvimento sustentável da comunidade local. O convite traz a assinatura de Emerson de Almeida (foto), fundador e atual presidente do Conselho de Administração da Fundação Dom Cabral. O nome do parque é uma homenagem ao pai dele. SAIBA MAIS institutoculturalinhore. org.br/nadia@fdc.org.br
EMERSON de Almeida: valorizando o Cerrado
TUDO POR BH. TUDO POR VOCÊ.
Belo Horizonte é a cidade-sede com o maior índice de entrega das obras de mobilidade: 96%. Isso significa que os grandes projetos que estavam sendo implantados já estão trazendo benefícios para todos os habitantes. A Prefeitura agradece a paciência da população. Já estamos vendo nas ruas todas as melhorias permanentes que as obras estão trazendo para a nossa cidade.
COPBH | CENTRO DE OPERAÇÕES DA PREFEITURA DE BELO HORIZONTE
A OBR %
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Centro de monitoramento com alta tecnologia, integrando diversos serviços da Prefeitura e de órgãos estaduais e federais, como BHTrans, Defesa Civil, Guarda Municipal, SLU, SAMU, Fiscalização, Polícia Federal e Polícia Militar.
BRT MOVE CORREDOR CRISTIANO MACHADO
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Com nove estações de transferência, o corredor de 7,1 km de extensão tem capacidade para atender 300 mil passageiros por dia e funciona, também, como alternativa de acesso ao Mineirão.
BRT MOVE CORREDOR ANTÔNIO CARLOS
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São 14,7 km de extensão, que se estendem pelas avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Vilarinho. O corredor possui 25 estações de transferência e tem capacidade para transportar 400 mil passageiros por dia.
Não para de trabalhar por você.
BRT MOVE ÁREA CENTRAL
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São seis estações de transferência, localizadas nas avenidas Paraná e Santos Dumont, vias que foram transformadas em áreas exclusivas do sistema, com 1,3 km de extensão. O trecho foi totalmente requalificado, com ciclovias e paisagismo.
BRT MOVE CORREDOR PEDRO I
E FASAL
FINONCLUSÃO DE C
A avenida recebeu pistas exclusivas para o BRT MOVE, seis estações de transferência, além de outras obras de adequação viária, incluindo a construção de trincheira, novos viadutos, sistema de drenagem pluvial e alargamento.
Mais detalhes no site www.pbh.gov.br. Obras em parceria com os governos estadual e federal.
ISTOCK
1 A MORTE RONDA A FLORESTA
BRASIL ASSASSINO
Segundo o mais recente relatório da ONG Global Witness, o país detém o maior número de ativistas ambientais mortos no planeta nos últimos 12 anos
38 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
mais de 1% dos autores dos crimes conhecidos é condenado. “É importante proteger o ambiente, mas também nunca foi tão perigoso fazê-lo”, afirma Oliver Courtney, assessor de Campanhas e Comunicação da Global Witness. “Poucos serão os sintomas mais graves e mais óbvios da crise ambiental planetária do que um aumento dramático das JB ECOLÓGICO
O
número de ambientalistas e defensores do direito de utilização de terras mortos cresceu de forma acentuada entre 2002 e 2013, devido à intensificação das disputas pelos recursos naturais, conforme aponta o mais recente relatório da ONG britânica Global Witness, que atua na defesa dos direitos humanos. Sob o nome de “Ambiente Fatal” (Deadly Environment), o documento foi publicado após a data do 25º aniversário de assassinato do seringueiro e ativista ambiental brasileiro Chico Mendes. E destaca uma massiva ausência de informação e de monitoramento em relação às mortes relacionadas aos crimes ambientais. A negligência do poder público tem alimentado níveis endêmicos de impunidade, sendo que pouco
mortes de cidadãos comuns que defendem os direitos à terra ou da natureza. Todavia, o problema se agrava a cada minuto e passa despercebido à maior parte da população - e os responsáveis quase sempre ficam impunes. Esperamos que as nossas investigações sirvam para despertar a consciência dos governantes de todos os países, o que é fundamental para a questão.” O (MAU) EXEMPLO BRASILEIRO Infelizmente, o Brasil ainda é vanguardista quando o assunto é a impunidade desses assassinatos: apenas 10% dos casos chegam a um tribunal e 1% deles resulta em condenação para os culpados. O documento cita alguns casos, como o dos assassinos dos ativistas ambientais José Cláudio RiCHICO MENDES: tudo começou com ele
ARQUIVO CNS
FIQUE POR DENTRO
O Pelo menos 908 pessoas foram assassinadas em 35 países, entre 2002 e 2013, por tentarem proteger os direitos à utilização da terra e o ambiente. Esses números aumentaram nos últimos quatro anos, com uma média de dois ativistas mortos por semana. O 2012 foi o pior ano de todos os tempos para os ambientalistas, com 147 mortes – quase três vezes o número de assassinatos de 2002. O O problema é particularmente grave na América Latina e no Sudeste Asiático. O Brasil é o lugar mais perigoso para se defender o direito de utilização de terras e o ambiente, com 448 assassinatos, seguido de Honduras (109) e Filipinas (67).
JOSÉ CLÁUDIO e Maria do Espírito Santo: mortos em 2011, eles denunciavam a extração ilegal de madeira
beiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em 2011, no Pará. Os líderes extrativistas foram executados em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, e vinham recebendo ameaças desde 2008. Segundo informações do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), eles eram um dos principais defensores da preservação da Floresta Amazônica, após o assassinato de Chico Mendes: denunciavam, frequentemente, ao avanço ilegal de madeireiros em áreas de preservação para extrair espécies como castanheira, angelim e jatobá. Outra morte que ganhou repercussão internacional foi a da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005. Ela foi alvejada com seis tiros em Anapu, também no Pará. Dorothy denuncia-
va a extração ilegal de madeira e atuava em movimentos socioambientais, buscando desenvolver projetos sustentáveis que resultassem na melhoria da qualidade de vida da população. Rayfran das Neves Sales, assassino confesso da missionária, foi libertado em 2013. Após cumprir um sexto da pena, passou do regime semiaberto para aberto, com direito a prisão domiciliar. Segundo o relatório do Global Witness, em nosso país os grandes proprietários de terras e de madeireiras são os responsáveis pelos conflitos com os pequenos agricultores de subsistência, as populações indígenas e os ativistas. “Essa guerra também está estreitamente ligada ao desmatamento da Floresta Amazônica, que causou 68% dos
O O problema é agravado pela falta sistemática de monitoramento ou informação. Quando os casos são registrados, frequentemente são analisados de forma isolada ou tratados como um subconjunto de outros direitos humanos ou questões ambientais. Muitas vezes, as próprias vítimas não conhecem os seus direitos ou não conseguem fazer prevalecer os mesmos, devido à falta de recursos existentes nos locais remotos e perigosos onde vivem.
assassinatos relacionados a disputas de terra em 2012”, informa o documento. Apesar do sucesso tímido alcançado para reduzir a exploração florestal no bioma, os índices de desmatamento no país cresceram quase 30% em 2013. Aproximadamente 61% da destruição são registrados em dois dos estados mais afetados pela violência contra ativistas ambientais: o Pará (41%), no norte do país, e o Mato Grosso do Sul (20%), no centro-oeste. “O Brasil alterou o seu código florestal em 2012, com cláusulas de anistia para o desfloresta-
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 39
mento ilegal, concentrando ainda mais a propriedade de terras. Com isso, a exploração agrícola e ambiental insustentável continuará e a cultura de impunidade para crimes ambientais será agravada”, aponta o relatório. Por trás disso, denuncia a ONG, ainda há os poderosos interesses agrícolas, “que geram muitos outros conflitos”. Em “Ambiente Fatal”, a ONG britânica também reivindica esforços no sentido de monitorar e enfrentar a crise, começando por uma resolução do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, para proteger os ambientalistas de possíveis ameaças. Da mesma forma, os organismos regionais de direitos humanos e governantes dos países devem acompanhar os abusos contra os ativistas, garantindo que os responsáveis sejam levados à Justiça e condenados. As empresas também devem acompanhar de forma eficaz as suas operações e cadeias de fornecimento, para garantir as boas práticas e a ética. John Knox, especialista independente da Organização das Nações Unidas, alerta que os direitos humanos só têm valor ser as pessoas forem capazes de exercê-los. “Os defensores dessas garantias trabalham para assegurar que vivamos em condições que nos permitem desfrutar dos nossos direitos básicos, entre os quais a segurança e a saúde. A comunidade internacional terá de fazer mais para proteger essas pessoas da violência e da perseguição de que são alvo.” DIREITOS VIOLADOS Os direitos à terra constituem o cenário da maior parte das mortes denunciadas no relatório. Empresas e governantes celebram habitualmente negócios secretos para destinar grandes
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REUTERS / LUNAE PARRACHO
1 A MORTE RONDA A FLORESTA
TÚMULO de Dorothy Stang, no Pará: executada com seis tiros, a missionária leu a Bíblia para seus algozes antes dos disparos
áreas de terra e florestas a monoculturas, como borracha, óleo de palma e soja. Pelo menos 661 mortes (mais de dois terços) ocorreram no contexto de conflitos relacionados com a propriedade, o controle e a utilização de terras, em conjunção com outros fatores. As comunidades indígenas são as mais afetadas pelos exploradores insustentáveis. Em muitos casos, os direitos de usufruto das terras pertencentes a elas nem são reconhecidos por lei, deixando-as expostas à exploração por interesses econômicos. As comunidades só têm conhecimento de negócios contra os seus interesses quando as retroescavadoras chegam às suas áreas. “O rápido agravamento da situação parece estar escondido à vista de todos e isso precisa mudar. O ano de 2012 foi o mais
crítico de que se tem registro. Os representantes dos países que irão se reunir em dezembro deste ano na Conferência Mundial do Clima, no Peru, devem estar atentos a este sinal: a proteção do ambiente hoje tornou-se o principal campo de batalha pelos direitos humanos. Enquanto os governantes discutem o texto dos novos acordos mundiais, localmente um número cada vez maior de pessoas arrisca a própria vida para proteger a natureza”, reforça Andrew Simms, analista-chefe da Global Witness. “A menos que a comunidade internacional tome medidas urgentes, mais pessoas, que devíamos homenagear como heróis, perderão a vida.”
SAIBA MAIS www.globalwitness.org
Somos todos Nando
Ambientalista sofre atentado após denunciar a degradação ambiental e a violação de direitos humanos na região de Milho Verde, distrito de Serro Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
queno, tem pouco mais de mil habitantes]”, disse o amigo, que morava a um quarteirão. - “Não estou bem, venha para cá”, respondeu o ambientalista. Uma hora depois ele estava sendo atendido no Hospital de Serro e, de lá, seguiu para a capital mineira, onde passou por uma cirurgia para retirar uma das balas, que ficou alojada no braço. Nando vem sofrendo ameaças de morte desde 2006, quando, por meio do IMV, começou a denunciar desmatamentos ilegais em área contígua ao Quilombo do Baú, nas margens do Rio Jequitinhonha, ponto de interesse de grandes mineradoras e proprietários de terra. “Vivia em Milho Verde desde 1996, quando me aposentei prematuramente por conta de uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER). É uma tristeza ficar longe de lá, pois tinha meus amigos e as pessoas que ajudávamos por meio dos
projetos do instituto. Sem contar a tranquilidade e a natureza local, que é belíssima”, afirma Nando, que prefere não apontar possíveis mandantes do crime a fim de preservar a própria segurança e das pessoas que trabalham no IMV. Nando já havia registrado boletim de ocorrência sobre as ameaças que vinha recebendo, e, agora, irá solicitar sua inclusão no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. “É muito constrangedor não poder voltar para casa. Deixávamos a casa aberta, porque lá era muito tranquilo. Deixei minha vida inteira lá e, enquanto essa situação não se resolver, infelizmente não posso retornar. Quero justiça”, diz ele, que também pensou na possibilidade de se exilar em outro país. O caso vem registrando cada vez mais repercussão na mídia. A investigação foi iniciada e Luiz Fernando já prestou seu depoimento. ECOLÓGICO
Vinte e sete de março, oito e meia da noite. Após participar de uma reunião no Instituto Milho Verde (IMV), ONG que fundou no distrito homônimo, a 26 km da cidade de Serro, o ambientalista e defensor dos direitos humanos Luiz Fernando Ferreira Leite, o Nando, foi para casa. Estacionou o carro na porta e entrou. Na sequência, iria ao encontro do companheiro Bruno em São Gonçalo do Rio das Pedras, a apenas sete quilômetros dali. Ao sair de casa, Nando abriu a porta do carro e, ao entrar, ouviu cinco tiros. Dois dos disparos haviam acertado seu braço direito e as costas, perto do ombro esquerdo. Tombou no banco do veículo, em meio a pedaços de vidros estilhaçados. Não teve tempo de ver o rosto de seu algoz. Permaneceu no carro, em silêncio e consciente. Seu único impulso foi pegar o telefone celular e ligar para um amigo próximo. - “Nando, aconteceu algo? Ouvi barulho de tiros [o distrito é pe-
HÁ TRÊS meses longe de Milho Verde, Nando sobreviveu a cinco tiros e não afasta a ideia de se exilar fora do país
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1 A MORTE RONDA A FLORESTA
TRABALHO SOCIOAMBIENTAL O Instituto Milho Verde nasceu por meio de três ações culturais que Nando e alguns amigos realizavam no distrito: o Encontro Cultural, com atividades teatrais, folclóricas, musicais, ecológicas, audiovisuais e esportivas; a Farmacinha Popular de Plantas Medicinais, que desenvolve remédios baseados na cultura tradicional de utilização das plantas; e do Grupo de Botânica, criado para estudar a flora local. “Em 2004, essas ações cresceram tanto que fundamos a ONG para dar suporte oficial a elas. Com isso, foi possível desenvolver novos projetos, como o Grupo Bordados da Barra, formado por bordadeiras da Barra da Cega, comunidade rural a 2,5 km de Milho Verde. Por meio dele, fomos premiados no edital Pontos de Valor, do Ministério da Cultura, e conseguimos construir uma sede para elas com ateliê, cozinha, banheiros e jardim”, comemora Luiz Fernando. Foi por meio de ações assim que o IMV, que tem 20 funcionários e voluntários, se tornou referência no desenvolvimento socioambiental da região. A sede, 42 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
“TEMOS O DEVER DE PROTEGER O NANDO” DIVULGAÇÃO
Mas, até agora, apenas uma testemunha foi convocada para depor. Paralelo a isso, o ambientalista ganhou mais uma ajuda de peso: o deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Após repudiar o atentado nas redes sociais, Nilmário protocolou um requerimento na CDHM, prontamente aprovado, para que o órgão acompanhe as investigações. O próprio deputado visitou o Instituto Milho Verde, no início de maio (veja, no box, o depoimento postado em seu Facebook), para reforçar o apoio ao ativista e dar mais visibilidade ao caso.
“Somos todos Nando. Ele sofreu um atentado em 27 de março. O escuro da noite o salvou. O pistoleiro tocaiado disparou cinco tiros, dois atingiram seu corpo sem atingir órgãos vitais. A Polícia Civil só chegou em Milho Verde cinco dias depois. Milho Verde não tem polícia. Centenas foram para lá viver em comunhão com a natureza, com as tradições culturais. Nando é um militante do bem. Fundou e dirigiu o Instituto Milho Verde para estimular a agroecologia, a preservação das águas, florestas, a cultura da paz, de não violência, do mítico Jequitinhonha, das comunidades tradicionais. As boas práticas do IMV traduziram-se em prêmios nacionais. Por que matar, arquitetar, planejar sua morte? Ele é o animador de uma luta coletiva que redundou em conquistas importantes como a Unidade de Conservação [do Lajeado]. Todo o extenso grupo acredita que a UC, a luta contra as queimadas e o desmatamento desencadearam a ira dos perversos. Fui a Milho Verde no dia dois de maio, em companhia do vice-prefeito do Serro, Leonardo Nunes, cumprindo diligência da Comissão de Direitos Humanos. Sentir é diferente de saber. Temos o dever de apoiar e proteger pessoas do bem como Nando. Os tiros nele estilhaçaram na militância do bem de Milho Verde.” NILMÁRIO MIRANDA, deputado federal e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.
que tem espaços de inclusão digital, criação literária, artesanal, reciclagem e expressão corporal e musical, também abriga um circuito destinado à proteção do meio ambiente. Todos os serviços oferecidos lá são gratuitos. E o trabalho não para por aí. Em 2007, os encontros culturais da ONG, por exemplo, extrapolaram os limites do instituto e levaram a mais uma conquista: por meio de uma parceria entre o Instituto Estadual de Florestas e a prefeitura de Serro, foi realizado o tombamento e o reconheci-
mento da Várzea do Lajeado e da Serra do Raio como uma Unidade de Conservação (UC), garantindo proteção integral à área verde de 2,2 mil hectares. “Graças a Deus, com o tombamento da várzea, a natureza ficará protegida. Isso é maravilhoso, pois antes não havia nada. Agora o Lajeado é um parque estadual, com uma área superior a dois mil hectares, pois conseguimos abranger também os povoados de São Gonçalo e Capivari. O que conquistamos para Milho Verde e o povo da região
BIA DOMINGUES
FOTOS: DIVULGAÇÃO IMV
MILHO VERDE: paraíso verde protegido
PARQUE DO LAJEADO: vitória da natureza
TRADIÇÕES FOLCLÓRICAS: cultura preservada
BORDADEIRAS EM AÇÃO: apoio social
vale muito mais do que todas as ameaças que recebi”, completa o ambientalista, que provocou a ira de posseiros que haviam cercado e loteado terrenos ilegalmente na região. Para monitorar, atuar eficazmente na preservação natural e impedir a degradação do parque, o IEF instalou uma sede administrativa na cidade com 12 profissionais, que fazem rondas diárias na UC. Em conjunto com o IMV, também são realizadas blitze ambientais em feriados e festas comemorativas, datas em que Milho Verde recebe grande número de turistas. A proatividade na defesa do
meio ambiente também gerou mal-entendidos. Recentemente, a obra para construção de uma estrada entre Diamantina e Serro foi paralisada pelo Ministério Público, pois iria suprimir quatro hectares de Mata Atlântica. “As pessoas acham que o instituto pediu o embargamento da obra, mas não fomos nós. Nem sabíamos que o projeto pegaria parte da floresta”, reforça. Mesmo a distância, ele afirma que continuará atuando junto ao instituto e, assim, contribuir ainda mais para a preservação da natureza e das tradições culturais da região. “Quis fazer esse trabalho social e ambiental para
retribuir o que Milho Verde me proporcionava de qualidade de vida. Sou otimista em relação ao futuro. Acredito em um trabalho de dentro para fora. E fazemos um pouco disso lá, que é um pedacinho do planeta. Espero que isso seja multiplicado.” E será, caro Nando. A justiça não tardará. Tenha a certeza de que a sua luta é a de milhões de brasileiros e terráqueos que, assim como você, continuarão a conscientizar a sociedade para defender a natureza.
SAIBA MAIS www.institutomilhoverde.org.br
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 43
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
1 A MORTE RONDA A FLORESTA
MAIS DE 80% da casa do ex-secretário de Meio Ambiente de Serro foi destruída pelo fogo
Somos todos Paulo Ex-secretário de Meio Ambiente de Serro tem a casa incendiada no distrito de Milho Verde Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
Lutar pela preservação da Várzea do Lajeado e da Serra do Raio trouxe ao ex-secretário de Meio Ambiente de Serro, Paulo Sérgio Torres, reconhecimento e... dissabores. No último caso, mais precisamente um incêndio criminoso, no início de junho, que consumiu 80% de sua casa no distrito de Milho Verde. Felizmente, não havia ninguém na residência, já que ele e a esposa, Zara Simões, estavam no município de Serro, há 26 quilômetros do local. Ao ser informado do incidente e se deslocar até Milho Verde, duas testemunhas disseram a Paulo ter sentido forte cheiro de gasolina. Na sequência, dois estrondos fo44 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
ram ouvidos antes das chamas tomarem conta da casa. “Para mim, o incêndio foi um aviso, uma intimidação”, afirmou Paulo. Durante a gestão de cinco anos como secretário de Meio Ambiente, Paulão, como também é conhecido, atuou na criação do
monumento natural, junto com o Instituto Milho Verde e prefeituras de municípios vizinhos. Os 200 hectares de áreas devolutas faziam parte de uma região que abriga o Rio Capivari, o Rio das Pedras, o Córrego do Lajeado e o Córrego do Feijão, além de apresentar dois tipos diferentes de bioma: o Cerrado e a Floresta Estacional Semidecidual. Atrativos que vinham sofrendo com as invasões e o turismo desordenado. Para resolver a questão, a secretaria de Meio Ambiente de Serro começou a fazer a demarcação da área com intuito de criar uma reserva. “Quando fizemos a primeira marcação, para fechar a área,
PAULO TORRES: “Isso foi uma intimidação”
ainda não existia nenhum lote no local. Ao retornarmos, um ano depois, já existiam 85 demarcações irregulares no mesmo lugar, com construções já sendo feitas. Foi quando conseguimos, em parceria com a Anglo American, uma equipe de topografia para georreferenciar exatamente a área.” Enquanto o local ia sendo invadido, Paulão e sua equipe, com a adesão de outras prefeituras municipais e do Instituto Milho Verde, solicitaram à Semad, na época presidida por José Carlos Carvalho, a criação do Monumento. A conquista, no entanto, não agradou a muita gente. “Pessoas que tinham como meio de vida vender lotes irregulares naquela região foram prejudicadas. Por outro lado, até pela minha própria conduta de vida, nunca tive inimigos ou desafetos declarados. E como
"Nossa comunidade está acuada, com medo. Na realidade, o problema da segurança no distrito é muito sério. Há um histórico grande de crimes sem solução." eu só me envolvo com questões sociais, tais como o Plano Diretor de Milho Verde e várias ações de preservação, acredito que o incêndio só possa ter sido criminoso” , relata. Paulão conta que registrou um boletim de ocorrência em Ser-
Sustentabilidade é a nossa pauta!
ro e, assim como Nando, ainda aguarda respostas. Apesar da casa incendiada ser apenas um local onde ele passava os finais de semana, não pretende voltar lá, pois se sente desprotegido. E desabafa: “Hoje, posso dizer que nossa comunidade está acuada, com medo. Na realidade, o problema da segurança no distrito é muito sério. Há um histórico grande de crimes sem solução, não há destacamento da polícia ou atenção da segurança pública. Ficamos à mercê desse tipo de violência”. Enquanto a resposta para o crime não vem, Paulão e a esposa tentam chamar a atenção para o caso por meio da internet. Eles, assim como Nando, receberam o apoio do deputado estadual Nilmário Miranda (PT-MG) e da Comissão de Direitos Humanos da ALMG. O
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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
O MENINO DO COMPUTADOR
46 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
a caixa de pandora da globalização e, ato contínuo, apresentou-se como a redentora deste novo mundo em que tudo é muito e impossível para nossos olhos e ouvidos cansados. A tecnologia cumpre seu papel, mas ela ainda é tecnologia. No caso, software que tira o pulso do que milhares de pessoas pensam sobre o seu negócio ou sobre os assuntos que te interessam. Não podemos abdicar de continuarmos profissionais de mercado, médicos, jornalistas, engenheiros, arquitetos, advogados e todos mais que usam a tecnologia e se beneficiam dela. Mas, sobretudo, pensam a partir dos benefícios que ela gera. É escutar a rede com máquinas, mas tomar decisões como pessoas. Se não fizermos isso, melhor comprar o que a moda diz, o que as multidões compraram, o que as marcas de grife determinarem. Não é preciso pensar. É só chamar o “menino do computador”. O SHUTTERSTOCK
C
erto dia, um renomado amigo engenheiro de software, acostumado a grandes projetos, teve que atender às pressas uma empresa pequena que há pouco comprara um software de gestão de vendas. Toca pra lá, chega numa fábrica obscura e custa a ser recebido por uma senhora de meia idade. Apresenta-se com a pompa que sempre usa em empresas maiores: “Boa tarde! Meu nome é tal e eu vim verificar os problemas que vocês estão enfrentando com o sistema de vendas”. A doninha “panha” um telefone de disco surrado e procura, em um caderno mais surrado ainda, um ramal qualquer e não encontra. Um grito dado na porta da fábrica é a solução: “Ô fulano, avisa aí que o menino do computador chegou!” Foi nisso que nós, especialistas em tecnologia, nos transformamos: em “meninos do computador”, que geralmente são sobrinhos do dono e que vão fazer aquele site por um precinho camarada (um pouquinho por dia, depois de chegar do cursinho pré-vestibular). Alguém dirá que não é assim. E que, em grandes empresas, especialistas empertigados em mesas ovais estudam detidamente soluções que vão mudar os rumos da organização - e eu concordarei pelo bem da estatística! Mas, só por isso! Começando pelo C-level, termo chique que designa gestores, o truque de marketing foi transformar tecnologia em moda. Algo mais ou menos assim: “Não perca o lançamento de nossa coleção primavera-verão de tablets com a tendência em cores pastel e software comandado por voz!” E eles compram! Saber se comandar a engenhoca com a voz vai ser fácil ou útil é outra história. Decide-se a compra de tecnologia pelo “efeito manada”: você não erra com a maioria. Você simplesmente a acompanha. Provo o que digo. Virou moda ouvir o sentimento da rede. Eita coisa inovadora! Como se a rede falasse... Como se, cem anos atrás, uma farmácia de esquina não precisasse saber o que seus clientes pensavam e queriam. Existiam menos farmácias, menos clientes, mas eles pensavam... e tinham opinião como temos hoje. A diferença é a escala, e foi este o segundo truque: a tecnologia foi a chave para
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www.idc.com (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
Sesc, Senac e Fecomércio. Minas três vezes mais forte com o Sistema Fecomércio MG. Juntas, essas três entidades formam o Sistema Fecomércio MG, que fortalece o mercado de bens, serviços e turismo. O Sistema representa empresas e sindicatos do Estado, leva mais educação e bem-estar para todos e constrói diariamente um mundo de possibilidades para milhares de mineiros.
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EMPRESA & AMBIENTE
A COMUNIDADE local lotou a Câmara Municipal e fez o sinal de aprovação para o empreendimento
UNIÃO SOCIAL PELA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL Prefeitura, Câmara Municipal e moradores de Morro do Pilar, na Serra do Cipó, se reúnem em ato público inédito a favor do licenciamento ambiental da Manabi no município de forma inovadora e planejada.” O autor desse comentário é o exsuperintendente do Ibama em Minas, Evandro Xavier, presente à calorosa reunião pública que aconteceu na SUZIANE FONSECA
“E
stou impressionado. Como gestor ambiental que fui à frente de vários órgãos públicos, nunca vi isso na história ecológica de Minas. Os moradores de uma cidade tão pequena, frágil e típica do nosso interior se reunirem e com palavras de ordem - não contra a mineração, mas a favor dela -, em prol da real oportunidade de terem suas vidas melhoradas, apesar de todos os custos e impactos inerentes à atividade. O que também me impressionou foi como a empresa conseguiu se comunicar, de maneira tão transparente e afetiva com a população, a ponto de colher HVVD WDPDQKD FRQÀDQoD )RL XPD GHmonstração inequívoca de que o licenciamento ambiental pode e deve ser conduzido com transparência, respeito e participação. E, prioritariamente,
EVANDRO XAVIER: “licenciamento participativo”
noite da segunda quinta-feira de junho, na Câmara Municipal de Morro do Pilar, berço da siderurgia brasileira, a 160 km de Belo Horizonte. Com quase quatro mil habitantes, o município está inserido entre vales com biomas de Mata Atlântica e Cerrado e tem seus solos naturalmente montanhosos e pouco adequados para o agronegócio. Sua área total é de 476,4 km2, o que dá apenas sete pessoas/km2 e comprova o crescente êxodo rural. A microrregião morrense tem a nota média decrescente de apenas 0,682 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma das piores do Vale do Jequitinhonha e do ranking nacional. Avizinha-se com os municípios de Carmésia, São Sebastião do Rio Preto, Santo Antônio do Rio Abaixo,
FOTOS: DIVULGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O
PassabĂŠm e ItambĂŠ do Mato Dentro, todos tambĂŠm integrantes do â&#x20AC;&#x153;Vale do Esquecimento de Minasâ&#x20AC;?, apelido que os moradores da regiĂŁo deram para a ĂĄrea que abrange seus municĂpios, Ă margem do desenvolvimento nos Ăşltimos 40 anos. Ă&#x2030; nesse cenĂĄrio real que a comunidade discutiu, mais uma vez, tanto o projeto de mineração da Manabi quanto a esperança de um retorno social, econĂ´mico e ambiental na exploração de 25 milhĂľes de toneladas/ano de minĂŠrio de ferro, atĂŠ 2040, por meio de um plano municipal de desenvolvimento sustentĂĄvel criado em conjunto com a Prefeitura. O empreendimento ainda depende da Licença PrĂŠvia (LP), solicitada hĂĄ dois anos e em processo Ă&#x20AC;QDO GH GLVFXVVmR QR SOHQiULR GR &RQselho Estadual de PolĂtica Ambiental (Copam), no âmbito da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentĂĄvel (Semad). FUTURO COMUM )RL LVVR TXH PRWLYRX SUDWLFDPHQWH â&#x20AC;&#x153;toda a cidadeâ&#x20AC;? ali representada a participar do ato pĂşblico. Eram 19h10 quando o vereador e presidente da Câmara, Manoel Ottoni de Mattos, reeleito ao cargo pela quinta vez, pegou o microfone e convocou â&#x20AC;&#x153;o povo morrense para manifestar seu desejo pela mineraçãoâ&#x20AC;?. E, assim, nunca PDLV YHU Ă&#x20AC;OKRV VH VHSDUDQGR GH VXDV famĂlias para buscar emprego, educação e um futuro melhor fora, tendo em vista os mais de trĂŞs sĂŠculos de estagnação econĂ´mica registrados na regiĂŁo. â&#x20AC;&#x153;Morro parou no tempo, e a Manabi pode ser a nossa vĂĄlvula de escapeâ&#x20AC;?, conclamou. O segundo a tomar a palavra foi
)HOLSH %DPELUUD FRQWURODGRU JHUDO do municĂpio: â&#x20AC;&#x153;Estamos tendo uma oportunidade que poucas cidades no Brasil jĂĄ tiveram, tendo essa empresa como agente condutor compromissado com a sustentabilidade, que ĂŠ pensarmos e planejarmos juntos o nosso futuro comum.â&#x20AC;? Mas foi da moradora Darlene Campos, militante da cultura local, o GLVFXUVR PDQLIHVWR PDLV LQĂ DPDGR H politicamente convincente (leia box na pĂĄg. 51), com o qual o papel e a responsabilidade do Estado tambĂŠm foram cobrados. â&#x20AC;&#x153;Trata-se de uma oportunidade tambĂŠm para o governo, e nĂŁo apenas para nĂłs e a empresa, de Minas ter o seu primeiro projeto modelo de mineração realmente sustentĂĄvel e de construção coletiva no paĂs, envolvendo todas as partes interessadas desde a sua concepçãoâ&#x20AC;?, explicou a lĂder comunitĂĄria, que foi intensamente aplaudida. MORRO ESQUECIDO Ao falar do Plano Diretor de Desenvolvimento SustentĂĄvel apresentado pela Prefeitura ao promotor Marcelo Mata Machado, representante do MinistĂŠrio PĂşblico Estadual, previsto para um perĂodo de 30 anos, envolvendo o antes, durante e o depois da mineração, o consultor Eduardo Nery mostrou a dura realidade social e econĂ´mica da regiĂŁo do MĂŠdio Espinhaço, onde Morro de Pilar se situa. O plano visa preservar quase 60% do territĂłrio do municĂpio, com a criação de corredores protegidos de biodiversidade para agricultura ecolĂłgica, alĂŠm de um distrito industrial e investimento maciço em educação
â&#x20AC;&#x153;Desde 2012, eu acompanho este projeto em fase de licenciamento ambiental. Essa ĂŠ tambĂŠm a primeira experiĂŞncia do MinistĂŠrio PĂşblico de assentar-se com uma empresa e o poder pĂşblico para fazer um projeto diferenciado e modelo para o paĂs.â&#x20AC;?
MARCELO MATA MACHADO, do MinistĂŠrio PĂşblico Estadual
EMPRESA & AMBIENTE
"NĂŁo ĂŠ possĂvel pensarmos a implantação de um grande projeto minerĂĄrio que nĂŁo respeite a histĂłria, a cultura e o viver do nosso povo. A Manabi estĂĄ consciente disso."
VILMA DINIZ, prefeita de Morro do Pilar
e cultura. A cidade atual serĂĄ toda revitalizada: â&#x20AC;&#x153;Tudo issoâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; explicou Nery - para conter a redução da população, por falta de perspectivas, aumento do nĂşmero de idosos e baixa taxa de natalidade. JĂĄ na outra ponta da perspectiva de desenvolvimento trazida pela Manabi, os nĂşmeros tambĂŠm falam alto. Segundo Nery, desde 2007, quando surgiu a notĂcia da vinda da mineração Ă regiĂŁo, o cenĂĄrio de pobreza secular vem sendo substituĂdo por uma realidade de elevação da riqueza, comprovada pelos dados do seu Produto Interno Bruto (PIB): â&#x20AC;&#x153;Nos Ăşltimos cinco anos, com a chegada progressiva da empresa, o PIB de Morro do Pilar e seus municĂpios vizinhos aumentou 20 vezesâ&#x20AC;?. Para Vilma Diniz, primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita do municĂpio e que tambĂŠm estava acompanhando a população no ato pĂşblico, ´R GHVDĂ&#x20AC;R GD FRQVWUXomR GH XP PRdelo de desenvolvimento sustentĂĄvel estĂĄ colocado, e as responsabilidades devem ser compartilhadas entre a Prefeitura, o governo estadual e a Manabi. Somente a cooperação e o apoio mĂştuos podem viabilizar um sonho tĂŁo bonito e tĂŁo grandeâ&#x20AC;?. LICENĂ&#x2021;A JĂ Geraldina Dias, a Ăşnica vereadora que jĂĄ foi contra o projeto da Manabi, agora estĂĄ esperançosa ao lado de seus colegas: â&#x20AC;&#x153;Eu tinha muito medo, sim, pelo que poderia acontecer com a nossa cidade. Mas, diante do pro-
A EMPRESA Criada em março de 2011, a Manabi estĂĄ desenvolvendo um dos maiores projetos de mineração e logĂstica do Brasil, com a sustentabilidade integrada Ă sua estratĂŠgia de negĂłcios. Seus direitos minerĂĄrios estĂŁo localizados na regiĂŁo do QuadrilĂĄtero FerrĂfero e abrangem 3,5 bilhĂľes de toneladas de recursos potenciais. Sua unidade industrial serĂĄ montada em Morro do Pilar. Suas reservas tĂŞm capacidade para produzir atĂŠ 25 milhĂľes de toneladas por ano de minĂŠrio de ferro (68% a 68,5% de teor de ferro) com nĂvel baixo de impurezas. Para escoamento da produção, a Manabi tambĂŠm estĂĄ investindo na construção de um mineroduto, com 511 km de extensĂŁo, e de um terminal portuĂĄrio em Linhares (ES). Com investimentos de R$ 5 bilhĂľes, a expectativa ĂŠ que sejam gerados sete mil empregos, sendo 5,5 mil no mineroduto e 1,5 mil no porto. Na fase de operação serĂŁo mais 900 postos de trabalho. Site: www.manabi.com
cedimento transparente de diretores e funcionĂĄrios da empresa, que tambĂŠm nunca me negaram uma sĂł informação pedida e nĂŁo mentem, eu hoje posso dizer e defendĂŞ-la como uma empresa nossa, amiga e morrense. O Copam e a Semad tĂŞm mais ĂŠ que conceder logo todas as licenças necessĂĄrias a este nosso empreendimento conjuntoâ&#x20AC;?. JĂĄ a educadora aposentada e moradora Maria Alice Chaves endossou tambĂŠm esperançosa, mas com visĂŁo crĂtica, o clamor pĂşblico favorĂĄvel Ă mineração: â&#x20AC;&#x153;Mesmo ciente dos impactos que certamente virĂŁo para uma cidade simples e pequena como a nossa, que, longe da violĂŞncia, a sua população ainda dorme de janelas abertas, eu sonho com este projeto que pode transformar Morro do Pilar, desde que de maneira sustentĂĄvel e participativa. Eu sonho, sim, como todo mundo aqui. Mas sempre lembrando do â&#x20AC;&#x2DC;orai e vigiaiâ&#x20AC;&#x2122; que Jesus nos ensinou, para garantirmos o nosso futuroâ&#x20AC;?. Segundo ela, hĂĄ uma torcida e fĂŠ generalizadas para que a Manabi corresponda ao lema institucional da Prefeitura, de â&#x20AC;&#x153;transformação sustentĂĄvel e participativaâ&#x20AC;?. Na prĂĄtica, garantiu Alice, â&#x20AC;&#x153;ao nos ser clara e sincera, quanto aos prĂłs e contras do projeto, a empresa jĂĄ faz um exercĂcio de democracia. A vida ĂŠ feita de sacrifĂcios. NĂŁo existe mineração sem fazer buraco, abrir crateras em nossas montanhas, na nossa paisagem natural. Como tambĂŠm jĂĄ existe mineração que recupera ou reabilita tudo que ĂŠ possĂvel, e preserva o que existe de natureza ao seu redor. Vamos prosseguir orando e vigiandoâ&#x20AC;?. ( FRQFOXLX FLWDQGR R SRHWD )HUnando Pessoa: â&#x20AC;&#x153;HĂĄ um tempo em que ĂŠ preciso abandonar as roupas usadas, que jĂĄ tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. Ă&#x2030; o tempo da travessia: e, se nĂŁo ousarmos fazĂŞ-la, WHUHPRV Ă&#x20AC;FDGR SDUD VHPSUH j PDUgem de nĂłs mesmosâ&#x20AC;?.
PROMESSA TRANSPARENTE Antes de dar a palavra aos demais vereadores do municĂpio, que enfatizaram a mesma hospitalidade, participação e crença no projeto, o presidente da Câmara chamou, de surpresa, o HQJHQKHLUR 0DUFR 7~OLR )HUUHLUD JHrente-geral da Manabi, para tambĂŠm se pronunciar. Visivelmente emocionado, ele se disse â&#x20AC;&#x153;encantadoâ&#x20AC;? e mais responsĂĄvel ainda, por se tratar de um inovador projeto minerĂĄrio a ser desenvolvido em uma regiĂŁo tĂŁo especial e frĂĄgil em termos de estrutura urbana e delicadeza ecolĂłgica. E enfatizou: â&#x20AC;&#x153;Nossa discussĂŁo hoje com representantes dos poderes executivo e legislativo de Morro do Pilar, envolvendo a participação popular, ĂŠ muito melhor do que pensĂĄvamos hĂĄ dois anos. Tem sido um aprendizado
mĂştuo e permanente. Ouvir o que ouvi aqui hoje, que a Manabi, do seu primeiro ao Ăşltimo escalĂŁo de funcionĂĄrios, ĂŠ vista como uma mineradora sincera e transparente, que nunca falta com a verdade e responde de maneira clara a todas as perguntas da comunidade, nos deixa orgulhosos e mais responsĂĄveis ainda. NĂłs nunca tivemos um sĂł empregado nosso que nĂŁo tenha sido bem recebido aqui. Isso nĂŁo ĂŠ comum acontecerâ&#x20AC;?. Apesar de todo o apoio local que configura a aceitação social para o projeto, Marco TĂşlio apontou que o processo de licenciamento ambiental nĂŁo ĂŠ fĂĄcil nem simples. â&#x20AC;&#x153;NĂłs SRGHPRV HUUDU VLP )D] SDUWH GR desafio. Mas sempre aceitaremos as crĂticas, aprenderemos com elas
e tentaremos melhorar o projeto. Nosso maior objetivo ĂŠ tornĂĄ-lo um modelo de mineração sustentĂĄvel para o paĂs, vencedor e apoiado pela população.â&#x20AC;? O representante da Manabi explicou que a empresa irĂĄ explorar um tipo especial de minĂŠrio aguardado pelo mercado internacional. Tratase, no inĂcio da operação, do minĂŠrio de ferro mais pobre jĂĄ extraĂdo por uma empresa. PorĂŠm, o mais ULFR QR Ă&#x20AC;QDO GR SURFHVVR JUDoDV j tecnologia a ser implantada, que farĂĄ alcançar um teor de 68,5% de ferro. Hoje, segundo ele, somente 2% do minĂŠrio de ferro negociado no mercado transoceânico apresentam teor de ferro superior a 67%: â&#x20AC;&#x153;O mundo anseia por issoâ&#x20AC;?.
DESEJO PĂ&#x161;BLICO
FOTOS: DIVULGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O
"Nosso maior objetivo ĂŠ tornar o projeto um modelo de mineração sustentĂĄvel para o paĂs, vencedor e apoiado pela população."
ConďŹ ra, a seguir, alguns trechos do manifesto pĂşblico, acompanhado de mais de duas mil assinaturas, entregue pela prefeita Vilma Diniz, ao promotor Marcelo Mata Machado, para encaminhamento aos conselheiros do Copam/Semad: â&#x20AC;&#x153;O MUNICĂ?PIO de Morro do Pilar estĂĄ trabalhando em parceria para que possamos nos tornar uma referĂŞncia de projeto sustentĂĄvel de extração mineral em Minas Gerais e no Brasil. A empresa Manabi estĂĄ consciente de sua responsabilidade neste grande projeto comunitĂĄrio. Seu diĂĄlogo conosco sempre foi feito de forma clara, com a participação ativa da Prefeitura, da Câmara e das lideranças locais, demonstrando o que o povo quer e o que nĂŁo permitirĂĄ que se faça.â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x153;A EMPRESA sabe que nĂŁo poderĂĄ repetir aqui os erros de outros projetos minerĂĄrios no estado, que comprometeram nĂŁo apenas a sustentabilidade deles, mas a vida das comunidades onde estĂŁo inseridos. O Governo de Minas precisa nos apoiar nesse projeto, cuja proposta ĂŠ demonstrar que ĂŠ possĂvel fazermos uma mineração diferente.â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x153;O NOSSO povo tambĂŠm sabe que o seu destino deve ser traçado pelos morrenses; e nĂŁo por outras pessoas que usam o discurso de â&#x20AC;&#x2DC;salvar Morro do Pilar das garras da mineraçãoâ&#x20AC;&#x2122;, com justiďŹ cativa para agir em nosso municĂpio.â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x153;ESTE Ă&#x2030; o nosso caminho, a nossa vontade comum. Somente quem vive aqui, nessas montanhas, hĂĄ mais de 300 anos, sabe os desaďŹ os que a nossa realidade socioeconĂ´mica impĂ´s e impĂľe Ă s nossas famĂlias. Basta olhar para os Ăşltimos 50 anos, onde fomos praticamente esquecidos no mapa do desenvolvimento de Minas Gerais, esquecimento que sacriďŹ cou o futuro de muitos de nossos ďŹ lhos e netos.â&#x20AC;?
MARCO TĂ&#x161;LIO FERREIRA, gerente-geral da Manabi
Saiba mais: Para ler o documento na Ăntegra, acesse: http://goo.gl/ONxALU
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
DAS CRISES NASCEM
AS SOLUÇÕES SEMPRE-VIVAS: testemunhas oculares de uma possível destruição ou da solução sustentável em curso?
N
a última coluna, comentei sobre o Projeto de Lei nº 3.614/2012 desarquivado pelo deputado Lafayette de Andrada (PSDB), que permite a mineração de cascalho e areia em leito de rios considerados de preservação permanente, como o Cipó e o Peruaçu. Volto então ao assunto para esclarecer a situação hoje. O PL estava pautado para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça em 09 de junho. E lá fomos nós, os militantes da Amda, com cartazes contrários. Seja por isso seja por algo que desconhecíamos, os deputados resolveram retirá-lo da pauta e, após a reunião, fomos procurados pelo autor do PL e pelo deputado Luiz Henrique, também do PSDB. Confesso que ficamos até surpresos - e não somente pelo gesto -, mas pela educação com que fomos tratados. Nossos cartazes também, é claro, nada tinham de ofensivos. Apenas informavam, por exemplo, que não há tecnologia no planeta que minimize impactos ambientais em leito de rio e que constitucionalmente a legislação ambiental não pode retro-
52 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
FERNANDA MANN
ceder. O PL autoriza a mineração no Rio Grande e em seus tributários, no trecho entre as nascentes e a barragem de Camargos, próxima a São João del-Rei, e no agonizante Rio Jequitinhonha. O deputado Lafayette nos disse que “não tem qualquer interesse em ser responsável por degradação ambiental e que a proposta deve-se a reclamações de comunidades e prefeitos da região do Rio Grande”, segundo os quais, o impedimento de extração de areia faz com que o produto seja importado de outras regiões e até de São Paulo. O deputado Luiz Henrique disse algo parecido, lembrando que extração de areia é tradicional no Jequitinhonha. Alinhamos, então, e isso aconteceu recentemente, que seriam retirados do PL os Rios São Francisco, Pandeiros, Peruaçu e Cipó. E, quando chegar à Comissão de Meio Ambiente, os dois pontos acima serão discutidos. Como ele não se baseia em argumentos técnicos, pressuposto que entendemos ser obrigatório para a apresentação de qualquer projeto
“Os dois parques protegem centenas de nascentes, milhares de animais silvestres, cachoeiras e paisagens magníficas, cada vez mais procuradas pelo turismo. Quanto vale isso?”
EM DEFESA DOS PARQUES Durante a conversa, outros assuntos foram surgindo. O primeiro foi o mega-garimpo de diamante em Areinha, no Jequitinhonha, versão mineira de Serra Pelada, iniciado há mais de dois anos. Desde que começaram as denúncias de violência, droga, prostituição e degradação extrema do rio, e isso tem mais de um ano, a Semad discute o assunto com as Polícias Civil, Militar, Federal, Exército, Seplag e não sei mais quem, e nada é feito. Daqui a pouco, vão chamar o Barack Obama para opinar também. E enquanto isso, o direito humano à água, rio abaixo, continua sendo desrespeitado. De qualquer forma, ficou combinado que discutiremos novamente o assunto. O segundo são as ameaças de invasão dos parques do Rio Preto (estadual) e Sempre-Vivas (nacional), que estão sendo insufladas por um professor da universidade de Diamantina, que apesar da não pouca idade, continua dando uma de “rebelde sem causa”.
PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO, no município de São Gonçalo: ameaçado pelas invasões insufladas por um professor da Universidade de Diamantina
Navegando na onda do “tudo pelo social”, ele alega que os dois causaram prejuízos econômicos a comunidades que catavam sempre-vivas e de sobra botavam fogo anualmente nos dois. E conseguiu emplacar uma audiência pública em Diamantina com o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Angêlo (PT) para investigar violação de direitos humanos. É pena que o deputado e os outros que viajaram para lá com recursos públicos não tenham dado uma “chegadinha” ao garimpo para verificar quantos direitos estão sendo violados... Os dois parques protegem centenas de nascentes, motivo suficiente para justificar sua existência. Mas, além disso, protegem milhares de animais silvestres, cachoeiras, paisagens magníficas, cada vez mais procuradas pelo turismo. Quanto vale isso? E será que a renda gerada pela insustentável coleta de sempre-vivas, trabalho desumano, feita inclusive por crianças, e pela qual os catadores recebem uma ninharia, é maior do que os empregos potenciais que os parques podem gerar? O Sempre-Vivas, administrado pelo ICMBio, é “de papel”. Mas o Rio Preto, do estado, é um dos poucos que possui infraestrutura para receber turistas. E a frequência só não é maior, porque o governo de Minas não investe um centavo na melhoria da estrada de acesso. Se não fosse o gerente e sua heroica equipe, a estrada estaria intrafegável. Mesmo assim, é responsável por gerar cerca de 40 empregos diretos e dignos, e mais um tanto de indiretos. É disso que a população precisa e não de passar dias e noites, dormindo debaixo de lapas, para coletar sempre-vivas. Mas, como diz o ex-ministro de Meio Ambiente José Carlos Carvalho, “das crises costumam nascer soluções”. Quem sabe então alguma coisa será feita em relação ao garimpo e os dois parques receberão mais atenção de seus administradores e da ALMG, para cumprir seu papel ambiental, econômico, social e educativo? O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). REPRODUÇÃO / IEF
de lei, sugerimos que a Assembleia Legislativa de Minas solicite parecer técnico aos órgãos ambientais. Fica difícil desconsiderar os argumentos apresentados sem isto. Mas, a princípio, não vemos justificativa para liberar a mineração em todos os tributários do Rio Grande, já arrasado pelas barragens sequenciais nele construídas, por esgotos e carreamento de sedimentos que entopem seu leito. Recentemente estive em Mendanha, pequena cidade situada nas margens do Jequitinhonha, próxima a Diamantina. Lá, ele se transformou em um grande banco de areia, com profundidade de 40 cm, resultado de séculos de garimpo. A permissão para retomar a atividade, penso, deveria ser alicerçada em um projeto de recuperação (que se levado a sério poderia gerar resultados daqui a uns 30 anos), replantando a vegetação ciliar, paralisando ou adequando atividades responsáveis por esse impacto. Sem isso, poderá aprofundar o leito em alguns locais em pouco tempo, perpetuando a degradação.
1 RESPONSABILIDADE CORPORATIVA LOCALIZADO no noroeste do estado, o parque terá, inicialmente, 3.400 hectares
DIVULGAÇÃO KINROSS
UM PRESENTE NATURAL Atendendo a condicionante do Copam, Parque Estadual de Paracatu é entregue pela Kinross à população
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e gerente-geral, Gilberto Azevedo. “Este é um momento de muita alegria e orgulho. Graças ao esforço conjunto, pudemos contribuir para criar um santuário da fauna e da flora do Cerrado”, afirmou Azevedo durante o evento. A área, além de abrigar cerca de 40 famílias de aves e mamíferos como o gambá-orelha-branca, o lobo-guará e o tamanduá-mirim, incluindo ainda diversas espécies da flora típica do Cerrado brasileiro, comporta também as Áreas de Proteção Especial (APEs) Santa Isabel e Espalha, que protegem os recursos hídricos da região. O Parque Estadual de Paracatu cumpre um importante papel na preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica. O espaço dará suporte à realização de pesquisas científicas, contribuindo para a preservação e o desenvolvimento da educação ambiental. Espera-se também que nele possam ser desenvolvidas atividades de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. O GILBERTO AZEVEDO: "preservação e orgulho"
SAIBA MAIS
A EMPRESA Responsável por 25% da produção de ouro brasileira, integra a Kinross Gold Corporation, grupo canadense com presença na América do Sul (Brasil e Chile), América do Norte (Estados Unidos e Canadá), África (Gana e Mauritânia) e Eurásia (Rússia). A unidade de Morro do Ouro tem vida útil estimada até 2030 e responde por 22% dos postos de trabalho de Paracatu, sendo 1.300 empregos diretos e 1.600 terceirizados.
THIAGO KELLER
N
a semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, a Kinross entregou oficialmente a Minas Gerais o Parque Estadual de Paracatu. A criação da unidade, que inicialmente tem 3.400 hectares, é uma das condicionantes estabelecidas pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) no licenciamento ambiental do projeto de expansão da Mina Morro do Ouro, localizada no mesmo município, na região noroeste de Minas. A iniciativa entra para a história da empresa e de Paracatu como um marco da responsabilidade corporativa e da preservação do patrimônio verde do estado. No futuro, a área do parque será expandida e abrangerá 6.400 hectares, tamanho equivalente a nove mil campos oficiais de futebol. A solenidade de entrega do parque aconteceu nas proximidades da Fazenda Rodeio Gaúcho, localizada dentro da reserva, e contou com a presença de representantes do poder público estadual e municipal, do presidente da Kinross, Antônio Marinho, e do vice-presidente
REPRODUÇÃO
CÉU DO MUNDO GOOGLE EARTH
VINÍCIUS CARVALHO
FUKUSHIMA
CHILE SOLAR
Os acionistas da Tokyo Electric Power (Tepco), empresa proprietária da Central Nuclear de Fukushima, entrarão com processo contra o governo japonês. O grupo exige que o Executivo divulgue as entrevistas feitas com 772 pessoas relacionadas com o desastre na usina, atingida pelo terremoto e tsunami de março de 2011, para determinar as causas do acidente.
A usina fotovoltaica Amanhecer, com uma capacidade instalada de 100 MW, começou a injetar energia na rede chilena. A geração total do empreendimento é de 270 GWh de eletricidade por ano, o suficiente para atender a uma demanda de 125 mil residências. Localizada no deserto do Atacama, a usina possui 370 mil módulos solares e ocupa 280 hectares. LES STONE / GREENPEACE
MUDANÇAS CLIMÁTICAS (I) O G7, grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo, apoiou a realização de um novo acordo global sobre mudanças climáticas em 2015. O anúncio foi feito após os Estados Unidos divulgarem, no mês passado, seu primeiro grande plano de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS (II) O plano dos EUA prevê cortar em 30%, até 2030, as emissões de GEE das usinas de energia elétrica em relação aos níveis medidos em 2005. Se a regulamentação for colocada em prática, será a maior contribuição dos Estados Unidos para alcançar as metas internacionais de redução de CO2.
UNIÃO EUROPEIA
PERU ECOSSISTÊMICO
A UE reduziu em mais de 19% sua emissão de gases de efeito estufa, este ano, em relação a seus níveis de 1990. Segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente (AEMA), “a queda das emissões se deve em grande parte às reduções obtidas nos transportes e indústria e uma proporção crescente de energias procedentes de fontes renováveis”.
Com 83 votos a favor e nenhum contra, o Congresso peruano aprovou a Lei de Mecanismos de Retribuição por Serviços Ecossistêmicos. A legislação, pioneira na América do Sul, fornece um marco regulatório para os acordos voluntários que já vêm sendo feitos para garantir a provisão de bens e serviços vindos da natureza.
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AMDA
1 PRESERVAÇÃO
CAPA DA PUBLICAÇÃO "Anais do Seminário sobre Conservação e Recuperação dos Campos Rupestres": abordagem transcendente
PROTOCOLO VERDE Sindiextra, Semad e Vale regularizam novas Unidades de Conservação e brigadas contra incêndios. Área total a ser repassada ao Governo de Minas equivale a quase nove mil campos de futebol J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br
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governador Alberto Pinto Coelho presidiu, durante as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, a solenidade de assinatura de protocolo de intenções entre a Vale e o IEF, visando à regularização fundiária e à ampliação de áreas em Unidades de Conservação (UCs) estaduais, a maior parte delas inserida nos biomas de Mata Atlântica e Cerrado. A Vale vai repassar ao Estado cinco áreas que totalizam 6.247 hectares, equivalente a 8.750 campos de futebol com as medidas do gramado do Mineirão.
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Durante seu pronunciamento, ele reiterou que o Estado deve desempenhar sempre um papel de negociador, especialmente nas questões ambientais: “Nesta data, renovo o meu compromisso
e minha crença de que as melhores soluções vêm do diálogo e da busca pelo entendimento, da visão do diverso e do contraditório. É esse o ambiente profícuo para cultivarmos o desenvolvimento, transformando a gestão do conflito numa gestão harmônica”. Ele lembrou ainda do Plano de Preservação e Combate ao Desmatamento do Bioma Mata Atlântica, lançado pelo Governo de Minas no mês passado. “São R$ 50 milhões para ações de curto, médio e longo prazo. É o compromisso de Minas com a preservação”, ressaltou.
ALBERTO PINTO COELHO: compromisso renovado
FOTOS: WELLINGTON PEDROSA
FERNANDO COURA (Sindiextra), Alceu Torres (Semad) e Antônio Padovesi (Vale) assinando o protocolo: compromisso sustentável pelas UCs e contra o fogo criminoso
“90% dos incêndios são criminosos e causados por falta de informação e educação ambiental.” FERNANDO COURA, presidente do Sindiextra e do Ibram
FAZENDAS VERDES O protocolo assinado prevê a doação, pela Vale, de cinco fazendas com ótima qualidade de conservação de Mata Atlântica e Cerrado, com espécies emblemáticas da fauna e flora de Minas Gerais, como o lobo-guará e a onça-pintada. Todas estão localizadas dentro de áreas de Unidades de Conservação de Proteção Integral ou em espaços contíguos a essas unidades. São elas: a Fazenda Itacolomy, com mais de 800 hectares, fica na cidade de Mariana, em terreno adjacente à Área de Proteção Ambiental (APA) Seminário Menor e ao Parque Estadual do Itacolomi. A Fazenda Laranjeiras, que tem parte de seus 914 hectares dentro da APA Gualaxo do Sul, em Diogo de Vasconcelos, também na região Central de Minas. A Fazenda Rodeio, entre Ouro Branco e Ouro Preto, soma mais de 2,3 mil hectares, que
estão quase integralmente dentro do Parque Estadual Serra do Ouro Branco. A Fazenda Alto Rio Tanque, em Itabira, que está inserida na APA Morro da Pedreira. E a última área, a Fazenda Samambaia, fica em Pedro Leopoldo. Dos 506 hectares, 237 hectares já fazem parte do Parque Estadual do Sumidouro. O repasse assinado faz parte de medidas de compensação florestal sobre intervenções feitas para a instalação e operações de empreendimentos ligados à mineração. BRIGADISTAS FLORESTAIS Durante a solenidade, ocorrida em seu Memorial, na Praça da Liberdade, a Vale também assinou convênio com o Sindiextra para o repasse de recursos para a manutenção de cinco bases de brigadistas florestais, que servirão de apoio para combate a incêndios florestais no Quadrilátero Ferrífero. Os pontos de apoio ficarão em Mariana, Itabira, Barão de Cocais, Itabirito e no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. O raio de atuação de cada base é de 50 quilômetros. Segundo o secretário Alceu Torres, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), por meio da Diretoria de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais e Eventos Críticos da Semad, conta sobremaneira com
LEGADO POSITIVO “Como empresa mineira, que nasceu em Itabira e está completando 72 anos de existência, temos plena consciência de que as nossas operações de lavra, beneficiamento e logística são impactantes sobre o meio ambiente. Conscientes disso, trabalhamos incansavelmente para mitigá-los ou compensá-los. A nossa luta diária objetiva deixar um legado positivo para os municípios, estados e países onde atuamos. Estamos falando de preservação ambiental, emprego e renda, melhoria dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs), resgate e preservação das culturas locais, saúde e educação, entre outros. O Quadrilátero Ferrífero, região mineira onde atuamos, possui uma área de 780 mil hectares: 27% desta área, ou seja, 21 mil hectares são utilizados por todas as mineradoras que nele trabalham. Somente a Vale, dentro do quadrilátero, preserva 46 mil hectares. Cuidamos de uma área aproximadamente três vezes maior que a impactada pelas nossas operações. Nossa luta diária é pela sustentabilidade, um dos nossos pilares mais estratégicos.” ANTÔNIO PADOVESI, diretor de Ferrosos da Região Sudeste da Vale
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1 PRESERVAÇÃO a ajuda da população para reduzir o número de queimadas previsto este ano: “O apoio da sociedade, seja denunciando infratores, seja dando informações sobre os focos de incêndio nas áreas verdes do estado, é fundamental. Não podemos esquecer que todo incêndio florestal atinge um dos maiores patrimônios dos mineiros: sua única e inigualável biodiversidade. Temos o dever em comum de preservá-la para as nossas futuras gerações”. O convênio prevê investimentos de R$ 3,5 milhões. Por meio de convênio com as ONGs Terra Brasilis e Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) serão contratados 48 brigadistas. Os recursos serão usados ainda para a aquisição de dois rodotanques, veículos usados para combate a incêndios florestais.
"Todo incêndio florestal atinge um dos maiores patrimônios dos mineiros: sua única e inigualável biodiversidade." ALCEU TORRES, titular da Semad
A contratação dos brigadistas permitirá um combate a focos de incêndios de forma efetiva, seja em parques do estado, nas áreas preservadas pelos municípios ou nas áreas verdes da empresa. O contingente mobilizado permitirá distribuir brigadistas para diferentes focos de incêndios, mesmo que simultâneos. Somente em 2013, as brigadas combateram
522 focos de incêndio, colaborando para reduzir a área atingida pelo fogo no estado. Na ocasião, também foi lançada, pela professora Maria José Gazzi Salum, a publicação “Anais do Seminário sobre Conservação e Recuperação de Campos Rupestres”, em parceria com a Vale, Gerdau e V&M Mineração. Segundo ela, “a intervenção da mineração de ferro sobre os campos rupestres do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, é uma realidade e deve ser razão de uma abordagem que transcenda interesses sectários. Que permita a compreensão de que não se trata simplesmente de uma escolha entre um ou outro (mineração versus preservação). Mas, sim, estabelecer quais os limites e as possibilidades que se apresentam para melhor conciliar todos os interesses”. O
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1 VOCÊ SABIA?
Marcos Fernandes redacao@revistaecologico.com.br
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SORRINDO DEBAIXO D’ÁGUA Os peixes da espécie Pacu, embora parentes das piranhas, são vegetarianos e podem ser encontrados na América do Sul. Eles parecem muito comuns, sem nada de diferente, exceto pelo que trazem na boca: dentes humanos. Isso mesmo, o Pacu tem uma arcada dentária bastante similar à de pessoas, usada para a consumação de alimentos duros como nozes e sementes. Rola por aí a história de que eles também devoram partes íntimas masculinas, depois que homens na Papua q alguns g p Nova Guiné relataram que tiveram seus testículos devorados pelos animais.
REPRODUÇÃO
FUGIU DO CIRCO O elefante Dumbo, da Disney, existe de verdade, só que debaixo d’água e com tentáculos! O polvo-dumbo, como ficou conhecido, tem muita semelhança com o personagem do conto infantil devido às barbatanas membranares que se localizam em sua cabeça. Ele vive em áreas profundas do oceano (pode alcançar mais de 4.000 metros abaixo do nível do mar), por isso é raramente visto. O animalzinho simpático possui oito tentáculos e se alimenta de crustáceos e minhocas.
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alvez uma das características mais marcantes do ecossistema seja a diversidade: assistimos a vários documentários, vemos milhares de imagens na internet e visitamos o zoológico uma porção de vezes, mas ainda não chegamos nem perto de conhecer a menor parcela dos animais com quem dividimos o planeta. Quem sabe se as pessoas conhecessem mais elas não preservariam mais? Aí vai uma lista de animais (nem todos fofinhos) com peculiaridades que você nem sabia que existiam!
NORFANZ FOUNDING PARTIES
THAYRONEDAMON
PARECE MAS NÃO É O Atretochoana eiselti, mais conhecido como cobra-pênis, foi redescoberto em 2011, quando parte do Rio Madeira estava sendo drenado. De acordo com o biólogo Juliano Tupan, que identificou a espécie, muito pouco se sabe sobre esse anfíbio, que pode chegar a 80 centímetros. O que se descobriu a respeito desses indivíduos foi que eles não têm membros, se guiam por meio do senso olfativo, são aquáticos, respiram através da pele e se alimentam de pequenos peixes e minhocas.
MISTER UNIVERSO SUBMARINO Ele já foi eleito o animal mais feio do mundo – e é sem esforço que o título é mantido. O peixegota, como é conhecido o Psychrolutes marcidus, tem uma das aparências mais peculiares, tanto que sua imagem já ficou conhecida em revistas, blogs e livros de ciência e de curiosidades. Essa exótica criatura vive nas profundezas das costas da Austrália e Tasmânia. Seu corpo, praticamente uma gelatina, tem densidade menor que a água, o que o ajuda a suportar a pressão alta e a flutuar sem usar muita energia. Devido à pesca predatória de outras espécies, o peixe-gota está em risco de extinção.
NATU
RMU
SEUM
QUEM É ESSE POKÉMON? Julgando pela aparência, o pichiego-menor, uma a pequenina espécie de tatu, pode até ser confundido com personagens ersonagens a mede do desenho animado Pokémon. Essa criaturinha neo das em torno de 100 centímetros e vive no subterrâneo oturno planícies da Argentina. É um animal de hábito noturno ora e se alimenta principalmente de formigas, embora antas. também coma larvas de insetos, minhocas e plantas. E a carapaça não é só enfeite: eles podem usar a de se parte superior para lacrar a entrada da toca onde escondem, de maneira semelhante a uma rolha.. co, Os pichiegos preferem regiões onde o solo é seco, quente e próximo a formigueiros. O FONTE: www.iflscience.com
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P E R F I L : R I CA R D O V E S C OV I Diretor-presidente da Samarco
A MINERAÇÃO DE
VALORES DIVULGAÇÃO SAMARCO
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Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
A
ocasião foi emblemática, a plateia inspiradora e o resultado emocionante. Essa combinação de elementos se deu na reunião da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE/MG), no dia 21 de maio, na sede da Fiemg, em Belo Horizonte. No que era para ser apenas um almoço-palestra com o tema “Samarco e as práticas de sustentabilidade”, o diretor-presidente da empresa, Ricardo Vescovi, superou as expectativas. Ao recontar a trajetória da mineradora, ele reafirmou sua fé na humanidade e saciou o público com fino alimento para a alma: a certeza de que valores como respeito, integridade e verdade, mais o compromisso com a educação, têm o poder de tornar as pessoas e o planeta melhores. Confira: LONGEVIDADE “A discussão sobre sustentabilidade gira frequentemente em torno de números. Mas, o que quero contar aqui hoje é a história que está por trás do crescimento da Samarco. Mostrar como a empresa consegue, há quase 37 anos, sustentar-se, sustentar o seu crescimento e progredir. Ser longeva numa realidade de país e de mundo que muda ao longo do tempo.” HISTÓRIA “Temos uma história muito bonita. Fundada em 1973, a Samarco começou a operar em 1977. No início, não era mais que o sonho de explorar e tratar minérios de baixa qualidade, uma prática que, na época, não existia no Brasil ou no exterior. Vocês verão, ao longo da nossa conversa, o quanto esse DNA inicial moldou a trajetória da empresa, que culminou num
crescimento bastante acelerado na última década e nos colocou no patamar em que estamos hoje.” SOCIEDADE “Antigamente, dizíamos que para ter uma empresa forte precisávamos de acionistas fortes e de um corpo de empregados com muito conhecimento. Hoje, isso não basta. É também preciso ter fornecedores que estejam decididamente com a empresa; uma sólida carteira de clientes, pois não dá para produzir para quem não te quer. E, acima de tudo, temos a sociedade junto conosco.” “Esse nosso entendimento evoluiu com o tempo e tornou-se fundamental. Quem não compreende bem todas essas dimensões está fadado, cedo ou tarde, ao insucesso.” EQUILÍBRIO “Somos uma empresa brasileira,
VESCOVI: "É a sociedade que nos escolhe"
Natural de Vitória (ES), casado e pai de dois filhos, Ricardo Vescovi tem 44 anos e está na Samarco desde 1993. É formado em engenharia metalúrgica pela UFOP, e pós-graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Espírito Santo. Sua trajetória na empresa inclui uma iniciativa pioneira: a criação de uma só diretoria de Operações e Sustentabilidade, substituindo as tradicionais diretorias de Produção e de Meio Ambiente que, ainda comuns na maioria das empresas do setor, invariavelmente brigam entre si, com a questão ambiental sempre perdendo. A adoção desse inovador modelo de gestão valeu à Samarco a estatueta de “Melhor Parceiro Sustentável” no II Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, em 2011.
fornecedora de minério de ferro para a indústria siderúrgica mundial. Atualmente, somos a 11ª maior exportadora do Brasil. Até o fim deste ano, a expectativa é figurarmos entre as oito maiores. Somos também a segunda maior fornecedora de pelotas de minério de ferro no mercado transoceânico.” “Somos controlados em partes iguais por dois acionistas: a Vale S/A e a BHP Billiton Brasil Ltda., uma empresa anglo-australiana. Essa ‘fusão’ representa um desafio e tanto para nós, em termos de gestão, pois nos obriga – e incentiva – a buscar sempre o equilíbrio no trato com os dois acionistas. Felizmente, temos conseguido fazer isso com sucesso há 14 anos.” MISSÃO “Nossa missão é produzir e fornecer pelotas de minério de ferro, aplicando tecnologia de forma intensiva. Nosso investimento em tecnologia é essencial para otimizar o uso dos recursos naturais, gerando desenvolvimento econômico e social, com respeito ao meio ambiente.”
DIVULGAÇÃO
QUEM É ELE
ELEITA novamente a melhor mineradora do país, a Samarco é a segunda maior exportadora no mercado transoceânico de pelotas de minério de ferro
“A diferença entre o discurso e a prática é hoje o grande gap [hiato] nas organizações. Por isso, nos perguntamos o tempo todo se o que praticamos no dia a dia está em sintonia com o nosso discurso.” “Nossa visão não é nada modesta. Há dois anos, quando estabelecemos a visão para os próximos dez anos, a Samarco valia US$ 12 bilhões. Nosso objetivo é ser, em 2022, uma empresa de US$ 24 bilhões. Portanto, temos de crescer.” “Mas, além de crescer, temos de ser o habilitador do crescimento, ou seja, ser reconhecidos por eles, clientes e sociedade como a melhor do setor. Não se trata de uma visão arrogante. É apenas a visão de uma empresa que tem uma equação de crescimento favorável e que, acima de tudo,
sabe que precisa ser ‘a escolhida’ para crescer.” DISCURSO X PRÁTICA “Quero chamar a atenção de vocês para os nossos valores. São eles: respeito às pessoas, integridade e mobilização para resultados. Se perguntarmos aos empresários e profissionais reunidos aqui: ‘Vocês respeitam as pessoas, são íntegros e prezam o comportamento ético?’ Todos dirão que sim. Isso é inatacável. Mas, o que nós mais temos debatido na Samarco é: não basta dizer que respeitamos as pessoas e somos íntegros. É preciso mostrar, provar na prática que sim.” APRENDIZADO “É óbvio que falhamos muitas vezes. Mas, temos procurado fazer o nosso ‘para casa’ bem feito. Identificar nossas falhas, aprender e progredir a partir delas. Isso é o que tem feito mais sentido para as pessoas ao longo do tempo, inclusive para os nossos empregados.” “Tanto que nosso turn over [rotatividade] é baixo, em torno de
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P E R F I L : R I CA R D O V E S C OV I Diretor-presidente da Samarco É uma empresa lucrativa apresenta bons resultados financeiros
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GOVERNANÇA
É uma empresa inovadora - produz ou vende produtos inovadores ou inova no modo de como exercer suas atividades
É um local de trabalho atrativo - trata bem seus funcionários
É uma empresa administrativa com responsabilidade - tem uma postura ética e é aberta e transparente em suas relações comerciais
2%. Quem entra na empresa quer ficar. Dobramos nossa capacidade produtiva nos últimos anos e, praticamente, metade do nosso pessoal tem menos de seis anos de casa. Aliás, essa tem sido uma experiência interessante. Sempre tivemos muitos empregados com bastante tempo de empresa e a turma nova que estamos contratando tem outra mentalidade, um novo jeito de ver a vida.” “O que estamos priorizando em nossos recrutamentos são os valores das pessoas. Se os valores delas casarem com os nossos, teremos um casamento muito bonito. Quando isso não ocorre, uma das partes fica infeliz. A história de construção de carreiras na Samarco é muito bonita. Queremos que as pessoas entrem e permaneçam conosco.” EXEMPLO “Por isso, valorizamos mais o que a pessoa é de verdade – e procuramos identificar isso com todas as ferramentas de seleção profis-
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“O capital econômico traz consigo muita arrogância. Tomamos muito cuidado com isso. Sabemos que certas empresas, como têm muito dinheiro, pensam que podem comprar qualquer coisa. Se a pessoa não tiver a integridade como um valor essencial, verdadeiro, corre o risco de achar que o dinheiro compra tudo.” sional de que dispomos – do que a contribuição técnica que ela efetivamente pode nos dar. Eu sou exemplo disso.” “Quando entrei na Samarco, não sabia nada sobre pelotização, processo em que fui trabalhar. O que me valeu foi o fato de os meus valores terem se casado com os da em-
presa. Foi esse ‘casamento’ que me permitiu superar momentos muito difíceis. Eles só foram e são superados porque a base desse ‘casamento’ é sólida, bem estruturada.” PAIXÃO “A mobilização para resultados é outro valor que nos diferencia. Temos paixão por superar resultados. Nesse aspecto, aprendemos que o empregado influencia a cultura organizacional. Mas, que a cultura da empresa também influencia muito a pessoa. Quando alguém entra na Samarco, já sabe que buscamos resultados diferentes, um desempenho que seja melhor a cada ano. Isso nos coloca acima da média do mercado.” HUMILDADE “Felizmente, ao longo dos anos, obtivemos vários reconhecimentos. No entanto, mais importante do que listar prêmios recebidos é mostrar as áreas em que estamos sendo agraciados. Recebemos prêmios por transparência, boas prá-
O A Samarco apoia, atualmente, cerca de 200 projetos sociais, de diferentes entidades de MG e ES. O Em abril, inaugurou sua quarta planta de pelotização em Ubu, no litoral capixaba. Noventa por cento dos 1.110 novos empregos gerados foram destinados a moradores de comunidades do entorno, capacitados pela empresa. O Entre os seus quase três mil empregados 8% têm curso de mestrado e um terço formação superior e/ou pós-graduação. A empresa paga 80% do valor do curso para os seus empregados. O Por meio do programa "Campo de Ideias", colaboradores apresentam sugestões para a economia e melhorias no processo produtivo. Para cada dólar investido, o retorno é de US$ 8. O Com o programa de excelência operacional, Seis Sigma, ela economizou R$ 200 milhões em 2013. O A empresa foi "desenhada" para trabalhar com minério de baixo teor de ferro (52%). Hoje, opera com teor de 44% e, em seis anos, processará minério com apenas 39% de ferro.
ticas sustentáveis e também pelo bom desempenho em saúde e segurança do trabalho. Recebemos todos eles (leia mais a seguir) com satisfação. Mas, sobretudo, com humildade. Afinal, sabemos que o caminho trilhado até aqui está certo, mas, ainda estamos longe de chegar aonde precisamos.” ACEITAÇÃO “Não chegaremos a lugar algum, ou sequer nos manteremos na posição em que estamos, se não tivermos o apoio explícito de todos os stakeholders [partes interessadas]. Dos nossos empregados, acionistas, fornecedores, clientes e da sociedade. Nosso produto, a pelota, é a ‘boutique’ do minério de ferro, custa mais que a commodity tradicional. Portanto, o essencial é sermos ‘de-
SEBASTIÃO JACINTO JR
FIQUE POR DENTRO
NA REUNIÃO da ADCE, realizada na Fiemg, Vescovi foi aplaudido e cumprimentado pelo seu discurso humanístico e sustentável
EMPRESA COM VALORES Após a palestra de Vescovi, o presidente da União Internacional Cristã de Dirigentes de Empresas da América Latina e vice-presidente da Fiemg, Sérgio Cavalieri, falou sobre o projeto “Empresa com Valores”. Essa iniciativa une a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a ADCE Brasil, com o objetivo de disseminar a aplicação de conceitos e práticas empresariais e sociais que tornem o ambiente de negócios mais ético, justo e humano.
sejados’ pela sociedade. Estamos cada dia mais conscientes de que só continuaremos a ser o que somos, e só avançaremos se tivermos a aceitação plena da sociedade.” FUTURO “É a sociedade que nos escolhe para operar um recurso que é dela, o minério. Somos outorgados o tempo todo. Pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), quando conseguimos uma autorização de lavra, pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), quando ela nos dá uma licença ambiental para manter ou ampliar nossas atividades. E pela sociedade, que nos apresenta suas demandas e pedidos a todo o momento. Se
não formos aceitos por esse conjunto de atores, não teremos futuro. Talvez nem mesmo presente.” REPUTAÇÃO “Para organizar o nosso entendimento de como devemos atuar, escolhemos uma palavra-síntese: reputação. Todos a conhecem, mas muitos a interpretam de forma errada. Pensam que reputação é propaganda, anúncio na TV, outdoor. É muito mais.” “É uma experiência que não se constrói da noite para o dia. Requer trabalho consistente, por várias décadas, para que as pessoas acreditem no que se diz e nas promessas que se faz. Tem a ver com os valores que praticamos primeiramente com o nosso público interno, antes de levá-los à sociedade.”
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P E R F I L : R I CA R D O V E S C OV I Diretor-presidente da Samarco
COERÊNCIA “A reputação da Samarco se sustenta em quatro eixos: estima, admiração, confiança e empatia. Em torno deles, flutuam práticas que aplicamos e prezamos na empresa: liderança pelo exemplo, desempenho financeiro, busca da inovação, bom ambiente de trabalho, etc. É como se fosse uma mandala, que vamos girando e aplicando em todos os processos.” “Usamos metodologia isenta e aplicada mundialmente para mensurar a nossa reputação. Hoje, ela chega a 71,6%. Esse é um índice considerado ‘forte’, se comparado, por exemplo, ao do setor de mineração no Brasil hoje, que é de 55,6%.” “É essa reputação positiva que fez a Samarco enfrentar tempos difíceis, crescer e chegar até aqui. Uma caminhada que envolve coerência entre a prática e o discurso, sustentada em valores que praticamos e remetem ao nosso DNA.” IDENTIDADE “Nossas pesquisas de clima também comprovam a importância dos valores que praticamos. E isso fica muito claro quando avaliamos um item: a identidade que os funcionários têm com a empresa. É difícil de explicar, sempre que falo disso eu me emociono. Afinal, identidade é algo muito pessoal. No nosso caso, significa a pessoa se identificar com a empresa a ponto de ‘entregar’ um resultado na maioria das vezes superior ao que é paga para executar. Vai muito além do salário. E a gente só faz isso com quem a gente se identifica.” CONFIANÇA “Esse nível de satisfação e motivação só é alcançado porque estamos sendo capazes de desenvolver confiança. Você só se entrega de corpo e alma a alguma causa ou a alguém em quem realmente confia. Essa constatação vale tanto para a vida
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“O que transforma e nos traz mais retorno, enquanto sociedade, é apoiarmos a educação, investindo na formação dos nossos futuros cidadãos. Só assim teremos uma massa crítica melhor amanhã. Investir em educação é o futuro que todos devemos querer para o Brasil.” profissional quanto pessoal. Esse é o maior ativo da Samarco. Um ativo difícil de medir, fácil de sentir e impossível de transmitir a vocês. Eu poderia ficar aqui o dia inteiro falando sobre identidade, sobre construção de confiança.” VERDADE “Em função da nossa situação geográfica – com unidades industriais em Ouro Preto-Mariana (MG) até o Espírito Santo – tivemos de aprender a nos relacionar verdadeiramente com os diferentes públicos. Daqui até lá, passamos por 29 municípios e 81 comunidades. Temos 840 mil pessoas vivendo ao longo do nosso mineroduto. Nosso desafio, portanto, é nos relacionar: mostrar a cara da empresa a essas pessoas todos os dias. Não apenas quando temos um projeto de expansão.” “Isso nos obriga – e motiva – a aperfeiçoar o saber ouvir, o estar presente. Dizer às pessoas: ‘Estou aqui, quero fazer parte desse lugar com você, saber como melhorar a nossa convivência’. Temos experimentado isso em momentos tensos e em outros mais lights, sempre buscando a verdade.”
RELACIONAMENTO “Nessa troca de experiências, aprendemos que a verdade não está em uma pessoa apenas; muito menos com a empresa. Esse tipo de posicionamento foi bastante comum nas organizações nas últimas décadas – e se mantém até hoje em algumas. É claro que erramos em alguns momentos, mas, fazemos de tudo para não ser arrogantes.” “Aprendemos que o ideal é a multisetorialidade, ter sempre muita gente na mesa de discussão. No relacionamento com as comunidades, envolvemos as prefeituras, os vereadores, o Ministério Público, o juiz da comarca e quem mais puder contribuir. Fazemos isso para que prevaleça não a nossa, mas a vontade de todos. Só assim construiremos algo que seja bom.” SALVAÇÃO “Portanto, meu recado é: fiquemos atentos aos valores. Eles é que irão nos salvar da arrogância. Da ilusão de achar que podemos fazer tudo, que todo mundo tem um preço. Tenho dois filhos – um menino, de oito anos, e uma menina, de seis. Olho para eles com certeza de ter à minha frente dois cidadãos de primeira. Sei que se eu continuar cuidando da educação deles, serão excelentes pessoas no futuro.” “Como posso achar que a humanidade é ruim, se tenho em casa dois exemplos de pureza e de potenciais cidadãos íntegros? Quem acredita que todo homem tem o seu preço talvez esteja precisando cultivar em sua vida valores que verdadeiramente fazem a diferença. Valores que cultivados e praticados no dia a dia têm o poder de fazer com que as pessoas ao nosso lado também acreditem e mudem.” O
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FOTOS: MARINA BHERING
1 REGISTROS
DURANTE a blitz da Amda, faixas com mensagens ambientais foram mostradas em sinais de trânsito da Praça da Liberdade
BLITZE ECOLÓGICAS Amda, 98FM e Revista ECOLÓGICO realizam ações sustentáveis na capital mineira em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente
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udanças climáticas: altere esse ‘clima’ ou ele altera você.” “Tempestades arrasadoras, secas cada vez mais intensas, incêndios catastróficos, enchentes, prejuízos agrícolas, falta d’água... devido às alterações climáticas. Ajude a alterar este ‘clima’.” Cada motorista, motociclista e pedestre que passou em frente a dois pontos da Praça da Liberdade, no coração cultural de BH, leu as frases acima em faixas erguidas pela equipe da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). A iniciativa foi parte da blitz ecológica realizada pela instituição, em parceria com a Revista ECOLÓGICO, na manhã de 05 de junho, data comemorativa ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Na ocasião, foram distribuídos mais de 2.500 lixocars e exemplares da revista, além de mensagens de conscientização ambiental repassadas pelos integrantes das equipes.
A comerciante Nereide Pedras foi abordada durante a ação e aprovou a iniciativa: “Todos deveriam receber a sacolinha e colocar no seu carro. Se cada um fizer sua parte, já é uma grande ajuda para preservar a natureza”. EM SINTONIA COM A NATUREZA Na parte da tarde, foi a vez de a Ecológico se unir à 98FM, por meio do programa 98 Futebol Clube, para realizar outra blitz ecológica no Itaú Power Shopping, em Contagem. Além dos brindes distribuídos pela rádio, a Ecológico disponibilizou 500 minikits, com um exemplar da revista, lixo-car e adesivo. Também foi realizado, no site da 98FM, o sorteio de um kit completo com chapéu, bloquinho, caneta, ice-bag, adesivo e uma assinatura gratuita, por três meses, da maior publicação sobre meio ambiente da grande mídia impressa brasileira. O
PARA Nereida, cada um deve fazer sua parte na preservação ambiental DIVULGAÇÃO
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BLITZ da 98FM contou com a distribuição de exemplares e brindes da Ecológico 70 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
Há 59 anos buscando construir uma sociedade cristã, ética, mais respeitosa e justa. 1º lugar no IBOPE das rádios AM de BH Obrigado pela sua audiência e por acreditar em nosso trabalho evangelizador.
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anos
FOTOS: DIVULGAÇÃO
1 CONSUMO CONSCIENTE
UMA HOMENAGEM A BH Terceira coleção de sacolas ecológicas e nova linha de itens de mesa do Verdemar reafirmam compromisso da empresa com a sustentabilidade
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om o passar dos anos, a capital mineira e seus pontos turísticos ganharam ainda mais charme e histórias que estão na memória afetiva do mineiro. O Viaduto Santa Tereza, o Mineirão, a Igreja da Pampulha, o Cine Theatro Brasil Vallourec, o Parque Municipal e as praças Sete, do Papa e da Liberdade fazem parte da cultura, da literatura, da moda e do comportamento do belo-horizontino. E agora essas imagens estão estampadas na nova coleção de sacolas retornáveis do Verdemar, por meio do olhar do estilista mineiro Ronaldo Fraga. Dando continuidade à parceria de longa data com Fraga, a coleção é um presente para a cidade, uma demonstração de admiração, expressa nas estampas divertidas e criativas, e também um ato de respeito e preocupação com o futuro da capital, materializado na proposta sustentável das sacolas retornáveis. “A nova coleção vem reafirmar que o Verdemar acredita
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na erradicação do uso de sacolas plásticas, pois precisamos dar início a uma consciência sustentável. Comprar com sacola retornável já é uma mudança de comportamento e isso, junto com as estampas do Ronaldo Fraga, se torna uma forma fashion de ser ecologicamente correto. Além disso, a nova coleção é associada à Belo Horizonte, demonstrando o amor que temos pela cidade entrelaçado à nossa preocupação com o planeta. Essa é uma pequena contribuição nossa para as gerações futuras”, comenta Alexandre Poni, diretor comercial do Verdemar e presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis). Desde 2009 a rede de supermercados busca incentivar práticas sustentáveis por meio da mudança de cultura e hábito de consumo - e as sacolas são um exemplo disso, visto que a empresa foi pioneira no lançamento desses produtos naquele ano, com design contemporâneo e desenhos de
PRAÇA SETE
PARQUE MUNICIPAL
Ronaldo Fraga, que logo caiu no gosto da população. A discussão ganhou corpo na cidade e na legislação para o comércio em 2011, quando o Verdemar lançava sua segunda coleção, antes mesmo de a Lei 9.529/2008, que proibia a distribuição de sacolas plásticas descartáveis, entrar em vigor. Passada a polêmica da distribuição gratuita e da venda desses materiais, a empresa manteve sua postura pelo fim do seu uso. “Essa nova versão das sacolas do Ronaldo Fraga aliadas a Belo Horizonte foi uma forma carinhosa que o Verdemar e o estilista encontraram de fortalecer a imagem da capital mineira e homenagear não apenas a cidade, mas também os visitantes e a sua população. Com estampas que mostram as nossas origens, locais e momentos importantes, elas se tornaram uma boa lembrança para quem passa pela cidade ou mora aqui”, destaca Hallison Moreira, diretor administrativo-financeiro. NOVIDADE Além das sacolas, que carregam o conceito do “ecologicamente correto”, a parceria surpreende mais uma vez com itens de mesa coloridos e divertidos que têm a cara de BH. As ilustrações dos pontos turísticos da capital estampam diversos produtos: baldes para gelo, canecas, pratos de porcelana, jogos americanos e conjuntos infantis com cinco peças (bowl, pratinho, talheres e copo). “Sou grande entusiasta de projetos que unem a ética e a estética no mesmo desenho. E foi isso que fez com que aceitasse, com muita alegria, ilustrar pela terceira vez a coleção de sacolas retornáveis para o Verdemar. Ambos temos uma relação de amor e otimismo com BH. E foi com lentes otimistas que vislumbrei em traços e cores uma Pampulha despoluída, crianças brincando na rua, monumentos restaurados, o centro da cidade revitalizado”, diz Ronaldo Fraga. A coleção completa já está à venda exclusivamente nas lojas Verdemar. O SAIBA MAIS superverdemar.blogspot.com.br
VIADUTO SANTA TEREZA
IGREJA DA PAMPULHA
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
MIL-FOLHAS mava de muita dor, dizendo que estava sentindo reflexo no gânglio da axila direita. Reparei numa linha avermelhada marcando a parte inferior do seu braço. Daí “garrei” numa reza mansa pro resultado se apresentar logo, pois filho com dor de picada de bicho brabo é motivo de, no mínimo, inquietação. Foi quando me lembrei da erva-botão (Eclipta alba), planta de grande reputação no tratamento de intoxicação por envenenamento de animais peçonhentos, com excepcional atividade hepatoprotetora. Corri até nosso armário de remédios e voltei triunfante até a cozinha carregando um vidro da tintura, que despejei de forma generosa em meio copo de água, que ele engoliu tudo. Aos poucos a situação se acalmou, a dor foi diminuindo e num “dilatou” quarenta minutos pra ele me dizer que iria dormir. Nesse meio tempo, eu havia refeito o curativo da pasta de argila com mil-folhas e ele já havia tomado mais duas doses da tintura de erva-botão. Depois de arrumar sua cama e me certificar que estava tudo bem, fiquei por ali, a observá-lo. Pouco antes das onze da noite, ele estava dormindo de ressonar. Ufa! No dia seguinte, levantou-se cedo e foi pra aula. Nem vi quando saiu. E, na hora do almoço, disse que o dedo tava um pouco dormente e só. Essa passou perto. Assim aprendi que, na roça, conhecer os recursos cercanos podem fazer a diferença entre a dor e a cura. Inté a próxima lua! O
MIL-FOLHAS (Aquilleia millefolium)
MARCOS GUIÃO
B
eirava as dez da noite, quando o João, meu filho de 12 anos, chegou em casa e disse que iria assistir a um filme. Naquela época, os filmes rodavam em fitas de VHS e necessitavam de videocassetes para serem reproduzidos na TV. Lembram-se disso? Pois é. Concordei, desde que ele deixasse o volume baixinho. E fui dormir. Não demorou dez minutos e ele entra num rompante dentro do quarto me chamando meio apavorado: - Pai! Ô pai! Um escorpião me picou aqui na mão, bem neste dedo!, disse ele, me mostrando o dedo indicador da mão direita. Fui até a sala e vi o bicho amarelo agarrado na parede pronto pra outra investida. Dei um jeito de jogá-lo dentro de um vidro desses de palmito e tampei. Em seguida, fui até o quintal munido de uma lanterna e rapidamente arranquei um maço de folhas da mil-em-rama ou mil-folhas (Aquilleia millefolium), conhecida como novalgina. Dotada de uma atividade analgésica invejável, essa planta tem sido utilizada desde tempos imemoriais nas afecções, principalmente do sistema respiratório e renal, com diversas indicações externas. Voltei ligeiro até a cozinha para socar as folhas num pilão e extrair um sumo espesso de um verde profundo. Derramei com cuidado por sobre duas colheradas de argila em pó esparramadas numa cuia e aos poucos misturei tudo até dar consistência de pasta, que apliquei sobre o local da picada. Nessas alturas dos acontecimentos, João já recla-
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A ENERGIA
QUE NOS MOVE Uso eficiente ajuda a poupar recursos naturais. Portanto, combate ao desperdício deve mobilizar todos nós Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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senvolvimento de novas tecnologias – que acarretam uma demanda cada vez maior por energia –, o desafio coletivo global é evitar o seu desperdício. De maneira geral, a eficiência energética mede a qualidade no uso da energia para os fins a que ela serve à sociedade. Segundo estudos da Organização Latino
-americana de Energia (Olade), com sede no Equador, quando os cidadãos são sensibilizados sobre a eficiência no uso de energia, eles podem economizar até 15% desse insumo, em relação àqueles que não são orientados. Portanto, a economia de energia exige não apenas o desenvolvimento de técnicas, produtos e
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ssistir à TV, operar uma máquina industrial, tomar um gole de água geladinha ou um banho bem quentinho. Qualquer atividade exercida atualmente pela sociedade moderna só é possível por meio do uso de uma ou de mais formas de energia, provenientes das diversas fontes disponíveis para a produção desse bem imprescindível. No caso da energia elétrica, além de estar associada às nossas tarefas cotidianas, ela também é essencial para o funcionamento das indústrias, dos serviços de saúde, do comércio e para a oferta de atividades de lazer. Diante da tendência de crescimento das cidades, do maior poder de compra da população e do acelerado de-
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DIVULGAÇÃO CEMIG
ENTENDA MELHOR
O A energia renovável é obtida de fontes naturais capazes de se regenerar e, portanto, virtualmente inesgotáveis – como o sol e o vento – ao contrário de recursos não-renováveis, como o petróleo, o carvão e o gás natural, que são combustíveis fósseis. É considerada alternativa ao modelo energético tradicional, tanto pela sua disponibilidade garantida quanto pelo seu menor impacto ambiental.
A USINA fotovoltaica do Mineirão produz mais de 1 MW de energia para o sistema de distribuição da Cemig
serviços mais eficientes. Requer, acima de tudo, mudança nos padrões de comportamento e consumo da sociedade. Cabe então a todos nós – nos mais diferentes setores e atividades – associar a redução do consumo de energia à maior proteção da natureza e à conservação de recursos naturais escassos e vitais, como a água. E fazer isso, óbvio, sem perder a qualidade de vida e o conforto alcançados tanto aqui no Brasil quanto no mundo afora. BASES SUSTENTÁVEIS De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), nas próximas décadas, as fontes renováveis de energia terão participação cada vez maior na matriz energética global. A crescente preocupação com as questões ambientais e o consenso mundial sobre a necessidade de promover o desenvolvimento em bases sustentáveis estão estimulando novas pesquisas e o progresso científico. O debate sobre o aumento da
segurança no fornecimento de energia – impulsionado pelos efeitos da redução da dependência de combustíveis fósseis – também contribui para o interesse mundial por soluções mais sustentáveis, por meio da geração de energia proveniente de fontes limpas e renováveis. Nesse quesito, o Brasil ocupa posição de destaque, em função da significativa participação das fontes renováveis em sua matriz energética. Nossa principal fonte de geração de energia elétrica é a hidráulica (água dos rios), que responde por 71% da capacidade instalada do país. Em seguida, estão as termelétricas (combustíveis fósseis, biomassa e nuclear) com 28%. O restante é proveniente de usinas eólicas (força do vento) e de outras fontes, como a energia solar, cujo uso tem crescido nos últimos anos. Em Belo Horizonte, uma boa referência é a Usina Solar Fotovoltaica do Mineirão. Construída pela Cemig, em parceria com o consórcio Minas Arena e o banco alemão
O Cinquenta e quatro por cento das emissões de gases de efeito estufa são resultado do desmatamento. A geração de eletricidade, com 1,4%, ocupa a sétima posição como fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil. O O sol é uma fonte inesgotável de energia. E, portanto, uma excelente alternativa para países tropicais de grandes extensões territoriais, porque dispõem de alta incidência de radiação solar. Com a tecnologia, a energia do sol pode ser transformada em outras formas de energia: térmica e elétrica. O A energia elétrica também pode ser obtida por meio da queima de petróleo, óleo, álcool, bagaço de cana, lenha, carvão mineral, gás, lixo e outros, nas usinas termelétricas, que transformam a energia térmica em energia elétrica.
KfW, ela injeta, desde abril deste ano, mais de 1 MW de energia no sistema de distribuição da Cemig. Esse volume é suficiente para abastecer cerca de 1.200 casas de médio porte. Para o funcionamento da usina, foram instalados na área útil da cobertura do estádio 6.000 painéis solares. Conheça, a seguir, algumas formas de energia e dicas de economia. Fique ligado e faça a sua parte!
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
ECONOMIZE! DICAS SUSTENTÁVEIS O Substitua as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, que são mais econômicas.
Energia: é a capacidade de realizar trabalho. Ela é encontrada em formas como vento ou a água corrente e armazenada em matéria como os combustíveis fósseis - petróleo, carvão, gás natural, que podem ser queimados para “realizar uma ação”. É mais bem descrita em termos do que pode fazer: não podemos “ver” a energia, apenas seus efeitos; não podemos criá-la, apenas usá-la; e o ideal é não desperdiçá-la, ou seja, usá-la de forma ineficiente.
O Apague as lâmpadas dos ambientes desocupados. O Evite o sol direto nos ambientes e nos aparelhos de ar-condicionado. Assim, você gasta menos. O Aproveite ao máximo a iluminação natural e evite acender lâmpadas durante o dia. O Instale os aparelhos de ar-condicionado na parte superior dos ambientes. O Limpe sempre o filtro do ar-condicionado para diminuir o consumo e melhorar a qualidade do ar que você respira. O Quando o ar-condicionado estiver ligado, deixe portas e janelas fechadas. O Pinte paredes e tetos com cores claras. Assim, será preciso menos luz para iluminar bem os ambientes.
Painel fotovoltaico:
O Desligue os aparelhos assim que os ambientes forem desocupados. O Regule a temperatura da geladeira de acordo com a quantidade de alimentos armazenada. O Providencie regularmente a limpeza dela para evitar o acúmulo de gelo. O Organize os produtos dentro da geladeira de modo a não impedir a circulação do ar. Evite usar plástico para forrar as prateleiras.
usado para converter a energia solar em eletricidade, não depende de calor. A conversão da energia é feita pelas células solares, através do efeito fotovoltaico: os fótons (carga elétrica nula) incidentes e os átomos de certos materiais provocam um deslocamento d dos elétrons, carregados negativamente, e geram uma corrente elétrica. O painel fotovoltaico depende diretamente da incidência dos raios solares.
O Prefira geladeiras que consomem menos energia (Selo Procel) e verifique o estado das borrachas de vedação. O Instale a geladeira em local ventilado e protegido do sol.
FONTES DE ENERGIA Sol: energia solar Vento: energia eólica Rios e correntes corre de água doce: energia hidráulica Mares: energia maremotriz Matéria M orgânica: energia da biomassa Calor da Terra: energia geotérmica
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TV DE LED 42â&#x20AC;? Ligada durante cinco horas por dia, representa um consumo mĂŠdio mensal de 18 kWh, o equivalente a 4% do total da residĂŞncia. Portanto: ÇŠ GHVOLJXH D 79 VH QLQJXÂŤP HVWLYHU DVVLVWLQGR ÇŠ HYLWH OLJDU PDLV GH XPD 79 $VVLVWD MXQWR FRP D IDPÂŻOLD ÇŠ GHVOLJXH D 79 DQWHV GH GRUPLU RX SURJUDPH R timer; ÇŠ GHVOLJXH D 79 TXDQGR IRU WRPDU EDQKR ÇŠ UHGX]D D LOXPLQDŠ¼R TXDQGR D 79 HVWLYHU OLJDGD ÇŠ GÂŹ SUHIHUÂŹQFLD D WHOHYLVRUHV GH /(' RX /&' TXH sĂŁo mais econĂ´micos.
FERRO ELĂ&#x2030;TRICO
CHUVEIRO ELĂ&#x2030;TRICO
Ligado uma hora por dia, durante 12 dias, representarå um consumo mÊdio mensal de 12 kWh, ou seja, cerca de 3% do total da residência: NJ MXQWH JUDQGH TXDQWLGDGH GH URXSDV H SDVVH de uma só vez; NJ GHVOLJXH R IHUUR TXDQGR IRU interromper o serviço; NJ XVH D WHPSHUDWXUD indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves.
Em uma casa com quatro pessoas, em e que cada uma toma um banho diårio de 10 minutos, usando um chuveiro com potência de 4.500W, haverå um consumo mÊdio mensal de 90 kWh ou 22% do total da residência: NJ HYLWH EDQKRV SURORQJDGRV H HP horårios de pico (das 17h às 22h); NJ DR HQVDERDU VH GHVOLJXH D WRUQHLUD NJ XVH R FKXYHLUR QD SRVLŠ¼R YHU¼R UHGX]LQGR assim o consumo de energia em 30%; NJ XVH UHVLVWQFLDV RULJLQDLV
FOTOS REPRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O
COMPUTADOR Ligado oito horas por dia, representarĂĄ um consumo mĂŠdio mensal de 24 kWh ou 6% do total da residĂŞncia: ÇŠ SURJUDPH R PRQLWRU SDUD XVDU R GHVFDQVR GH WHOD ÇŠ GHVOLJXH R PRQLWRU TXDQGR VH DXVHQWDU SRU PDLV de 10 minutos; ÇŠ SURJUDPH R GHVOLJDPHQWR DXWRPÂŁWLFR GR PRQLWRU e mantenha acionado o programa â&#x20AC;&#x153;Energy Starâ&#x20AC;? (meu computador/painel de controle/vĂdeos); ÇŠ QÂĽR GHL[H D LPSUHVVRUD H R HVWDELOL]DGRU OLJDGRV sem necessidade; ÇŠ VH R WHPSR GH LQDWLYLGDGH IRU ORQJR GHVOLJXH R O consumo de aparelhos em stand-by pode representar 12% do consumo normal.
FONTES/PESQUISA BIBLIOGRĂ FICA: MinistĂŠrio de Minas e Energia/Cemig/Fapemig/CREA MG/CREA PR e Sebrae
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - TRÊS PERGUNTAS PARA... ALEXANDRE UHLIG EDI PEREIRA
Mestre e doutor em Energia pela USP, responde pela área de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Acende Brasil
ENERGIA SUSTENTÁVEL A matriz energética brasileira é altamente renovável (hidrelétricas), mas dependente do regime de chuvas. Com planejamento eficiente é possível evitar eventuais apagões e racionamento? Toda matriz energética com forte dependência de recursos naturais – hidráulico, eólico, solar ou biomassa – por mais bem planejado que seja o sistema de produção e distribuição, envolve/admite sempre o risco de não suprir toda a demanda por energia elétrica. Um sistema totalmente livre de riscos custaria muito caro para a sociedade. Além disso, é preciso considerar que estamos vivendo uma situação atípica no Brasil. Segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), essa é a seca mais severa dos últimos 60 anos.
Há algum material educativo do Acende Brasil que possa ser usado em escolas? Sim. Produzimos a série “Na Trilha da Energia”. É um documentário dividido em cinco episódios e neles mostramos, em linguagem acessível, o passo a passo desde a geração até a distribuição da energia elétrica no Brasil. Os vídeos estão disponíveis em nosso site, no link “Vídeos e Animações”. SAIBA MAIS Com sede em São Paulo, o Instituto Acende Brasil é um centro de estudos voltado para o desenvolvimento de ações e projetos destinados a aumentar o grau de transparência e sustentabilidade do setor elétrico brasileiro. www.acendebrasil.com.br
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O brasileiro está maduro em relação ao consumo consciente de energia elétrica? De modo geral, respondemos mais rápido ao estímulo econômico. Ou seja, quando “dói” no bolso, a gente reage. No Brasil, como temos recursos naturais abundantes, muitos ainda não se deram conta da importância de usá-los com
responsabilidade. Basta acionar o interruptor, e a nossa sala se ilumina; temos energia para alimentar o computador, assistir à TV. A maioria das pessoas não pensa no trabalho que dá fazer a energia chegar às nossas casas, nos impactos causados pela construção de reservatórios, nas famílias que têm de deixar suas terras e nos animais que por ventura morrem.
80 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
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OLHAR EXTERIOR ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE PEQUIM, CHINA
FOTOS: EVART WARREN
METAMORFOSE
AMBULANTE E
sta é a minha última coluna que escrevo de Pequim – pelo menos por enquanto; sabe-se lá o que o universo tem reservado para mim. Estamos prontos para nossa mudança para Oslo. Tudo de material que nos pertence está, neste exato momento, dentro de um container em alto mar, em uma viagem que durará em torno de 2,5 meses. Enquanto isso, vivo no limbo. Não tenho a minha vida do passado, mesmo estando em Pequim. Não cheguei ainda ao futuro, o que acontecerá apenas em agosto. Só me resta o presente, que me é desconhecido, mas ao mesmo tempo tem prazo de validade estabelecido. Sento, respiro, aquieto minha mente e finco minha atenção e intenção no aqui e agora. Afinal, em qualquer situação da vida, para todos os seres humanos e formas de vida, só existe mesmo o presente. Nem o passado, nem o futuro. Apenas o contínuo da
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vida, uma cadeia de momentos. Como tem sido, por exemplo, a minha vida profissional. Em meu processo de empacotar a casa, depareime com as pilhas da JB Ecológico, e de sua irmã, a Revista ECOLÓGICO. “Como organizar melhor esse volume de informação?”, indaguei. E me lembrei do livro verde de capa dura, emoldurando as edições do EM Ecologia, suplemento de meio ambiente do jornal Estado de Minas do qual fui editora durante dois anos, que mandei confeccionar. Decidi fazer o mesmo. Um livro para a as edições de 2004 a 2009 da JB Ecológico. Outro para a Revista ECOLÓGICO. Desde o número zero (novembro de 2008) até hoje. Só que desta vez decidi encadernar apenas as reportagens e colunas de minha autoria. Selecionei as memórias da minha vida. A capa, o artigo. A capa, a coluna. A capa, aquela história! Durante o processo de selecionar tudo, cortar, ajei-
“Afinal, em qualquer situação da vida, para todos os seres humanos e formas de vida, só existe mesmo o presente. Nem o passado, nem o futuro. Apenas o contínuo da vida, uma cadeia de momentos.” tar e deixar tudo organizadíssimo para o encadernador, ficou claro para mim o desenrolar dos interesses diversos de minha vida profissional – e pessoal – que venho compartilhando a cada edição com você. Fases de uma vida humana, de uma profissional jornalista, mais especificamente de 2004 a 2014, como ficaram ilustradas nesses dois livros. Foram 10 anos de interesse profundo por consumo sustentável como instrumento para combater mudanças climáticas. Mergulhei no mundo das negociações internacionais climáticas da ONU. Dividi com você minha mudança de Oslo para Pequim. O meu descobrimento da China. E todas aquelas viagens fantásticas pelo mundo ainda exótico da Ásia. Esses artigos, entretanto, não são apenas histórias de uma trajetória profissional. Também ilustram a minha metamorfose durante esse recorte de 10 anos, em uma vida que já coleta dezenas. Juntos, eles foram costurados, colados, emoldurados. Dois livros foram criados, abertos e fechados. Memórias. Próximo passo: uma nova metamorfose, que já vem em processo há quase dois anos. O retomar da minha outra metade: a psicologia. Que exerci, simultaneamen-
te ao jornalismo, durante 10 anos. Depois disso, durante outros tantos anos, a psicanálise, na minha vida, ficou hibernada como profissão; apesar de ter praticado uma escuta diferenciada a cada entrevista, a cada evento que cobri, a cada texto que escrevi. O tempo de acordá-la se fez! Já há quase dois anos estou trabalhando como psicanalista e com psicologia cognitiva em Pequim, mas dentro de outro campo do saber: o budismo. E é mais essa experiência de metamorfose em minha vida – outra vez tanto profissional quanto pessoal – que desejo compartilhar com você: a trajetória de direcionar o meu olhar não mais para o exterior, mas para o interior... para a ecologia que há dentro de nós. E para adequar esse espaço jornalístico a esta nova narrativa, a partir da próxima edição, essa coluna passará a se chamar “Olhar Interior”. De metamorfose em metamorfose, aprofundo minha gratidão pela vida, por me apresentar tantas possibilidades, e por você, por partilhar comigo todas essas transformações. O (*) Life Coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação.
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OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br
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ra Dia dos Namorados. E enquanto se bebia o início da Copa pelos botecos e a lua cheia respingava suas lágrimas ainda tímidas sobre a Serra do Curral, numa roda de amigos (a já famosa Confraria das Quintas dos Zinfernos), discutíamos o chamado “turismo sexual” em BH. Explico mais miudinho. Para atrair a grana dos gringos que vieram ver o evento, as prostitutas e garotas de programa da cidade, comandadas pela Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), espalharam outdoors e dezenas de anúncios nas redes sociais convocando os cuecas para uma partida de futebol. Com quem? Com o time delas: o Peladas Futebol Clube. Local? Rua dos Guaicurus. Achei o máximo. Que grande jogada de marketing! Enquanto respirávamos o clima de tensão preparado pelo embate entre blequibloques e movimentos sociais versus Polícia Militar e Exército nas cidades-sede, em vez de descambar para a violência (ou se juntar aos vândalos), as prostitutas mineiras se destacavam pelo bom humor. Boquiabertos? Pois saibam que até a querida jornalista Roberta Zampetti, uma semana antes (e com muita propriedade) dedicou um programa inteiro a elas na Rede Minas. Lá estava a Cida (Maria Aparecida Menezes Vieira), presidenta da Aprosmig, revelando: “Durante a Copa aumentará em 30% a prostituição na capital mineira. Já tem gringos chegando nos hotéis e a demanda já aumentou. Também subimos o preço em 30%”.
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Alguns confrades da mesa protestaram: “Vai causar inflação!”. Mas a Cida, esclarecida, já emendava na TV ligada na parede do boteco: “A ideia surgiu para buscarmos nossos direitos. Vamos botar os times na rua. Queremos mostrar a cultura e a história da Guaicurus com o Peladas Futebol Clube. O adversário ainda não está definido, mas pode ser um time unido pela legalização da profissão, do aborto ou outras causas sociais. Esse jogo, na verdade, é só uma brincadeira diante da Copa. Pra não passar em branco. Nosso time vai até de uniforme”. Um engraçadinho glosou: “Aposto que todas têm o mesmo número nas costas: o 69!”. Outro emendou: “Ou o 4...”. E antes que alguém imaginasse em quais posições elas (ou eles) jogariam, um colega se levantou e cruzou uma perna sobre a outra, imitando o 4. Aplausos. Pelo menos um de nós ainda era capaz de fazer tal proeza circense no catre. Animados, pedimos outra rodada. Chope sobe, chope desce, outras perguntas pipocaram: “Como seria, agora, a nossa antiga e histórica Guaicurus? Haveria ainda, na cidade, uma boate-zona como a da antiga Zezé?”. De repente, nos demos conta de algo deprimente: as agruras do tempo sobre nossas vidas. Sim. Apesar de respeitados e constituídos senhores de família, também viramos uns decadentes empenados, grisalhos e barrigudos... Mas aí, na radiola do boteco, a agulha espetou um “Eu vou tirar você desse lugar”, do Odair José. Oh, milagre dos milagres! Como num passe de mágica, estávamos todos ali – sessentões e setentões – nos lembrando do que tinha sido a “zona” na década de 1970: época em que nem existiam, ainda, garotas de pro-
"Como num passe de mágica, estávamos todos ali – sessentões e setentões – nos lembrando do que tinha sido a 'zona' na década de 1970, época em que nem existiam garotas de programa anunciando seus serviços pelos jornais."
grama anunciando seus serviços pelos los jornais, nem marcando encontros pelos smartphones, artphones, “aí-pode” e “aí-não-pode”. Eis que a Copa, surrealisticamente,, rolou pra debaixo da cama – como a sorrateira jiboia Conceição, do ambulante Tião Bequeca. E vimos à nossa frente uma caquética Hilda Furacão reinando nas ruínas do Hotel Brilhante. De repente (enquanto oa seleção canarinha se preparava pra suar ar a camisa e tentar um lugarzinho ao pódio o – me desculpem o trocadilho infame), sentimos o cheiro inesquecível do patchuli misturado com o perfume barato Sunflower, paraguaio. E o Talco de Rosas made in Bolívia. E as Águas de Colônia. A pomada Minâncora, o polvilho antisséptico Granado, o tubinho de Anasseptil, as velas de São Jorge e o querosene Zaluar que ainda exalava das lamparinas quando a luz da Cemig acabava. Depois, alguém se lembrou do ardume do Neocid, remédio pra exterminar chatos, lêndeas, piolhos e anopluros que vez ou outra se contorciam, nada angelicais, nos púbis encharcados de suor, esperma e solidão daquelas moças. E então, novamente (como uma cobra-urbana-rastejante pelos meandros do Baixo Belô) subimos mais uma quadra na direção da Santos Dumont e da Caetés. Ali também, entre lojas de louças e alumínios, bacias e panelas, baldes, talheres e embalagens de plástico ou papelão, vimos os armazéns lotados de caminhoneiros, chapas e mocorongos. Alguns amarfanhavam seus músculos no leva e traz das cargas. Outros amarrotavam suas barrigas nos balcões das bitacas: cachaça, caldo de mandioca, média de café com leite e pão dormido para aguentar o tranco. E todos trincavam os dentes no ossobuco, no mocotó já roído de suas almas amarguradas. Alguém então gritava: - É chapa, meu chapa? Moca! Se num mocá vai pra Mococa! Aí, alguém buscava abrigo num saco de estopa e aninhagem. E a manhã gelada se escondia atrás do guarda-roupa mofado de um novo Cintura Fina que, ao manejar sua navalha na cara de um valente, deixava a cicatriz da noite sangrando até que uma estrela fugidia pudesse vir recosturá-la. Aí, ouvíamos sem querer, e assustados, os berros, uivos e assobios que saíam das bocas do pessoal que se drogava com maconha, cocaína e crack. E acionava, com uma sofreguidão quase canaveral, astronáutica, iraquiana ou afeganistânica, os botões das batizadas máquinas de videogame. E víamos também os policiais – alguns
outro espertos, outros corruptos – que despertos, outros chegavam para o acerto ou o desacerto das contas. Um pouco ao norte (e nisso já tínhamos saído inbas pubiana onde as ninfas incubacólumes da base va seus ovos de carango ou ladro), vam o corpo da cidade mostrava nov virilhas, axilas e sobrancelhas. vas Subíamos pela Além Paraíba, a oeste, ou pela Diamantina, a leste. E ganhávamos as ruelas altas da Lagoinha. Aí, dependendo do d i destino, buscávamos caixotes onde passar o resto da noite e acordar com cheiro, apenas, de cachaça. E os caixotes eram quatro: o do Trampo, o do Papo, o das Atitudes e o da Fé. Todos nós, então, éramos órfãos do mar. Pai do céu! E elas, as “Hildas”: nossas mães das nuvens! Enquanto escrevo essa crônica, a Copa está prestes a começar. Não sei, portanto, quem a ganhou. Se nós, se a Alemanha, Espanha, Argentina ou se deu alguma zebra. Só sei que o circo vai começar. É só ver a cara dos gringos argentinos concentrados na frente da Cidade do Galo – onde a seleção portenha se encontra hospedada para melhor “esconder” seu jogo. E o Messi. É só ver a cara das prostitutas (algumas disfarçadas de “Marias Chuteiras”) se oferecendo aos Barra-Bravas que conseguiram escapar do cerco da Interpol. Lá estão elas em suas minissaias justíssimas, mostrando as calcinhas, batonadas de rojo ou pintadas e borradas com esse tristonho verdeamarelo-tupiniquim-quase-cidadão... É só voltar à realidade do boteco, ouvindo a Cida fechar sua entrevista na TV: - Ainda buscamos uma maneira de criar um dicionário para que as garotas de programa não tenham dificuldades de comunicação com os turistas. Elas andariam com os livrinhos debaixo do braço e... quem sabe, até não consigam arranjar algum namorado! Não sei por que. Mas me dá uma baita vontade de chorar. Ainda é Dia dos Namorados.
SAIBA MAIS www.bhdecadaum.com.br (*) Poeta e cronista..
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (6)
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MEMÓRIA DAS
VILAS E ARRAIAIS A ECOLÓGICO faz um passeio histórico para rememorar o cotidiano dos primeiros povoados de Minas Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
A ARQUITETURA colonial das vilas mineiras, representada em maquete, mesclava as artes portuguesa e espanhola 2
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escobrir-me o segredo deste empório/ gas vilas mineiras. O historiador e pesquisador René tudo aos meus olhos, tudo pôs notório/ Lommez Gomes, da Universidade Federal de Minas vi este sítio, o vale, o rio, a serra./ E os Gerais (UFMG), apresenta, no folder explicativo distesouros, que o monte ao longe encerra./Aqui, en- ponível na entrada da sala, a realidade da época, tre estes povos, se levante a vila, e já passando mais principalmente no que diz respeito à religiosidade. avante, se erija a capital.” “Seis da manhã. O repicar dos sinos ecoava pelas Foi o circuito “Vilas e Arraiais Mineiros”, no Me- vilas e arraiais das Minas, acordando quem não estimorial Vale, que me lembrou a beleza arcadista do vesse de pé. Ao abrirem os olhos, os mineiros, por fé poema “Vila Rica”, de Cláudio Manuel da Costa, ou força do hábito faziam o sinal da cruz. Seguindo o publicado em 1839 na cidade de Ouro Preto. Uma costume português, o despertar dos mineiros ocorode à fundação de Minas Gerais e aos bandeirantes, ria sob uma profusão de símbolos sagrados”, narra o que ergueram os primeiros povoados de nosso es- texto. Sorrio, pois é exatamente assim que acontece tado, o poema propôs um novo recorte ideológico comigo, quando acordo pela manhã. do Brasil, ao descrever as paisagens e expressar os sentimentos nacionalistas. Empolgado com a recor- COTIDIANO SINGULAR dação do texto, levei essa percepção ão em mais uma Ainda à frente do cenário, cen recordei Mariana, primeira viagem ao museu. c vila, município e capital do estado. Considerada o Antes de visitá-lo, procurei referências ências sobre religiosi berço da religiosidade mineira, ao sediar o nosso as vilas mineiras em livros e na internet. nternet. Mas, bispado presidido por Dom Manoel da primeiro bispado, no site do Memorial, uma citação sintetiza Cruz, Mariana guarda algumas das igrejas barbem a minha pesquisa: “Grande parte arte das be do país, entre elas, a de São rocas mais belas vilas e arraiais mineiros floresceram m em Pedro dos Clérigos e a de Santo Antônio, função das riquezas minerais da teruma da das mais antigas da cidade. A igrera. Cercados e protegidos pelas mononjinh montada ao centro da maquejinha tanhas, eram nesses espaços urbanos nos te inclusive, com suas estruturas te, que melhor se manifestavam os princ curvilíneas e menos retangulares, cipais aspectos da cultura e do modo ta também é assim. de vida dos mineiros, como a presença sença entan No entanto, a arquitetura colonial é o ostensiva da religiosidade; a expressivissiviatrativo m mais impactante da sala “Vilas dade da arte barroca e rococó; a diververe Arraiais Mineiros”. Uma retratação fiel sidade do povo; o requinte das festas as e casa e sobrados de cidades como das casas espetáculos; a miséria cotidiana e as Pre Diamantina e a própria MaOuro Preto, contradições e conflitos de uma soriana, fu fundadas pelos desbravadores da ciedade desigual”. corrida d do ouro, as edificações não eram conce Essa prazerosa nostalgia culturall concebidas, por exemplo, para abrija me acompanhou nos quinze minu-gar jardins internos. Tampouco havia 3 o tos em que permaneci no espaço verde nas vias públicas, pois calçadas MULHER com traje caseiro dedicado aos povoados mineiros. A e praças eram raras. Outro detalhe: no típico do século XVIII belíssima luz azulada que iluminava século XVIII, a fachada das casas era a parede ao fundo da sala revelava uma preciosidade um diferencial social. Quanto mais detalhes ela tià sua frente: a representação do cotidiano das vilas nha, mais abastada era a família. mineiras do século XVIII, expresso em uma enorme Mas, se por fora as construções mesclavam as artes maquete que reproduz com perfeição a topografia e coloniais portuguesa e espanhola, por dentro, a maioa arquitetura locais à época, e que também se man- ria era pouco mobiliada. “Os armários eram raros e as têm preservadas hoje em algumas cidades. roupas ficavam em baús de madeira, couro ou cartão. A abordagem multimídia desse cotidiano é am- Trastes, como chapéus, chicotes e peneiras eram penpliada por meio dos dois telões instalados nos can- durados em cabides de madeira, chifres ou pregos”, tos direito e esquerdo da maquete, que reproduzem conta René Gomes. “O que não faltavam eram imagens vídeos com imagens representativas da vida, do ves- de devoção. Em oratórios, os devotos organizavam uma tuário, dos costumes e da fé da população das anti- corte celeste, com seus oragos prediletos”, completa. 1, 2. João Marcos Rosa/Nitro Imagens 3. Carlos Julião
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (6)
Para os dias de hoje, a privacidade naquela época era restrita nas vilas. As casas mais pobres não tinham mais que dois cômodos e, nas maiores, as construções davam para a rua e os cômodos eram “devassados pelos passantes”, incluindo escravos, animais e membros de irmandades religiosas, que exerciam suas “obrigações assistenciais” pelas vielas dos povoados. Fiquei, então, a pensar como seria morar em um arraial mineiro naquela época. Apesar dos jardins quase inexistentes, a natureza era bem mais preservada que hoje. Para mim, que sempre preferi árvores e livros a celulares e computadores, uma viagem no tempo seria ótimo! Depois de continuar andando pelo cenário da sala – a maquete foi montada de tal forma que é possível “caminhar” entre os espaços (como se fossem ruas mesmo) -, já estava na hora de me despedir da vila do museu. Assim como diriam seus moradores naquele tempo, já estava no “cair da tarde”. Ao contrário daqueles que passavam nos saraus e bares para flertar com a boemia e cair nos devaneios dos poemas e das modinhas, fui para casa.
Parafraseando René Gomes, de “barriga cheia e espírito entretido”, armei meu leito e me entreguei às palavras, como bom mineiro. E me despedi do dia, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Até a próxima! O
SERVIÇO - MEMORIAL MINAS GERAIS VALE (*) Endereço: Praça da Liberdade, 640, esquina com rua Gonçalves Dias. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Terças, quartas, sextas e sábados: das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas: das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos: das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000 Para visitas mediadas ou em grupo ligue: (31) 3343-7317 www.memorialvale.com.br (*) Mantenedor: Vale, por meio da Fundação Vale
PROGRAMAÇÃO JULHO (ENTRADA FRANCA) Até 13/07 5º Cinefoot: Festival de Cinema do Futebol Local: Sala do Espetáculo Mineiro Veja a programação completa em www.cinefoot.org Até 15/07 Exposição “Camisa 10” Curadoria: Tereza Santos Horário: de funcionamento do museu Local: Escadaria 17/07 Orquestra Jovem Sesiminas Horário: 19h30 Local: Auditório (sujeito a lotação) 18/07 Noturno nos Museus de Belo Horizonte, com o sexteto Choros de Câmara Horário: 20h Local: Auditório (sujeito a lotação) 19/07 Performance no Memorial: “ENDECHA”, com Fernanda Branco Polse Curadoria: Marco Paulo Rolla Horário: 11h 20/07 Eu, Criança, no Museu: Show de Calouros Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) 88 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
Vale na Praça Horário: 9h às 12h Local: Praça da Liberdade 26/07 Sarau do Memorial, com Anelito de Oliveira Convidados: Waldemar Euzébio e Gabriela Pilati Curadoria: Wagner Merije Horário: 11h e 13h Local: Casa da Ópera (sujeita a lotação. Retirada de senha uma hora antes das apresentações) Até 27/07 Exposição “Futebol: Sonho e Paixão” Coprodução: Jornal Estado de Minas Curadoria: Tibério França Horário: de funcionamento do museu Local: Sala de Exposição Exposição “Brasil Futebol Clube” Horário: de funcionamento do museu Local: Café do Memorial Até 31/07 Exibição do documentário “Pipiripau – O Mundo de Raimundo” Filme de Aluízio Salles Jr. Horários: 01 e 06/07, 11h; 02, 11, 15 a 17/07, 16h; 03, 10 e 24/07, 19h (com bate-papo após sessão); 20, 22, 23, 30 e 37/01, 10h e 15h. Local: Auditório (sujeito a lotação)
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MEMÓRIA ILUMINADA - ROSE MARIE MURARO
A revolução das
MULHERES
A Revista Ecológico faz uma homenagem a um ícone do feminismo no Brasil: a escritora Rose Marie Muraro, que morreu em 21 de junho último Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br
EDUARDO KNAPP / FOLHAPRESS
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ocês, mulheres brasileiras contemporâneas, acham que direitos como carreira, estudo, ter ou não filhos, prazer e sexualidade, separação, casar duas, três, quantas vezes quiser, sentar com as amigas numa mesa de bar e beber, rir e conversar sozinhas, sem uma companhia masculina, e tantas outras conquistas sempre existiram? Pois fiquem sabendo que não. Por trás dessa liberdade atual, há a ousadia de mulheres que abriram as portas para todas nós. Uma delas, a escritora, física e economista Rose Marie Muraro, que morreu no dia 21 de junho, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, onde morava. Vítima de um câncer de medula, a pioneira do feminismo no Brasil foi uma verdadeira revolucionária, pois proporcionou o nascimento de uma mulher livre, senhora de si mesma e do próprio corpo. Considerada uma mulher impossível – nome de um dos seus mais de 40 livros –, Rose fez tudo o que lhe disseram para não fazer. Inclusive, gestou um novo mundo, onde mulheres e homens são cúmplices, parceiros e não adversários. Rose garantia que a revolução das mulheres jamais poderia existir “sem o gesto de amor do homem. Pois a revolução do homem é tão importante quanto a da mulher. Se no primeiro ano de vida, um bebê, independentemente do sexo, é cuidado pelo pai na troca de fraldas, na hora da mamadeira, vai viver numa
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sociedade democrática e plural, muito diferente da patriarcal, onde a violência e o machismo predominavam”. Ela atuou como diretora da Editora Vozes, ao lado do teólogo e escritor Leonardo Boff, publicando mais de 1.600 títulos. Os dois trabalharam juntos por 17 anos. Ao lado dele, lutou pela Teologia da Libertação, com opção preferencial pelos pobres e que, anos depois, seria expurgada e condenada pelo Vaticano. Rose e Boff foram expulsos da editora, mas continuaram a lutar pelas mudanças sociais urgentes e necessárias. Com cinco filhos, 12 netos e seis bisnetos, a escritora ficou casada por 23 anos e se separou com opiniões polêmicas e ousadas sobre o relacionamento a dois - principalmente sobre o casamento. Na década de 1990, Muraro desafiou os próprios limites quando, aos 66 anos, recuperou a visão com uma cirurgia e viu seu rosto pela primeira vez, afirmando: “Sei hoje que sou uma mulher muito bonita”. Em 2009, criou o Instituto Cultural Rose Marie Muraro (ICRM) com o objetivo de salvaguardar seu acervo, que conta com mais de quatro mil publicações. Sem dúvida, uma mulher que deixa um legado libertário para as futuras gerações. E que mostramos a seguir, ao relembrarmos alguns trechos de seus livros e pensamentos. Confira!
“O mundo com mais mulheres tem menos guerra, menos violência e menos corrupção.” ROSE MURARO
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MEMÓRIA ILUMINADA - ROSE MARIE MURARO SERGEY / FOTOLIA
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“Revolução da sustentabilidade: a única que poderá salvar a espécie humana da destruição. Se continuarmos como está, não estaremos em um jogo ganha-perde. E sim no terrível jogo perde-perde, que significará a destruição de nossa espécie.”
● LINGUAGEM CORPORAL “A política do corpo tem uma importância revolucionária muito maior do que qualquer reforma agrária ou a luta pela Constituinte.” ● MERGULHO INTERIOR “Eu sou cega, não posso ler. Então, eu tenho que me voltar para dentro. Ou eu me volto para dentro ou eu morro.” ● RELAÇÃO HOMEM/MULHER “Onde começa o casamento acaba a relação homem /mulher, porque aí entra dinheiro, filho e um cotidiano burguês horroroso, desgastante. E entra sempre a relação sadomasoquista: tem sempre um bonzinho e um filho da puta. Essa relação não é homem/mulher, não é do profundo. É a relação convencional, dominante-dominado, que é passada de geração em geração, de pai para filho, de mãe para filha. Isso eu não quero, muito obrigada!” “Se você não desenvolver uma vida dupla para sair do seu casamento, você nunca vai saber o que é o prazer e nunca vai largar o seu casamento. E foi assim que eu saí corneando o meu marido.” ● MORALIDADE/ÉTICA “O papa João Paulo II pediu a minha cabeça por
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causa do livro ‘Sexualidade da Mulher Brasileira’. Aí, dei mais motivos pra ele e escrevi ‘A Erótica Cristã’, que é fazer um corpo erótico cristão. Quer dizer, não usar mais a moralidade e, sim, a ética. Porque é imoral você estar num casamento que é feito só para o seu sofrimento e o de todos. E é ético você sair desse casamento para viver uma vida plena e dar aos outros uma vida plena.” ● LIVROS INCENDIÁRIOS “Já nos anos 60 eu queria por fogo no mundo. Então, fui por fogo no mundo, fui ser editora. E eu vi que são os livros que põem fogo no mundo.” ● SEXUALIDADE “Eu descubro um grande prazer na sexualidade. Eu me defini como uma bruxa, isto é, uma mulher orgástica e sábia ao mesmo tempo. Dona do seu corpo e da sua mente.” ● CAÇA ÀS BRUXAS “Por que eles tinham misoginia (aversão à mulher)? Porque os homens foram para as Cruzadas pegar territórios dos islâmicos e levaram uma surra. Passaram 400 anos levando uma surra. Foi nesse tempo que as mulheres tomaram o poder na Europa. Quando os homens voltaram, queriam o seu lugar. Aí começa a caça às bruxas.”
CRERYL EMPEY
“Quem eram as bruxas? Eram as mulheres que possuíam pequenos feudos e eram sábias e orgásticas. E não tinham quem as protegesse. Quem as denunciava eram os donos de terra. E foi assim que fizeram as nações: em cima dos corpos queimados das bruxas.” ● DEUSA DO FUNDO DA TERRA “O ser humano era nômade. Não havia propriedade privada de nada. Não tinha um deus masculino, era uma deusa. O deus macho, completamente masculino, começa com a lei do mais forte. Não é mais uma deusa do fundo da terra dando comida, de onde tudo sai e tudo volta depois que morre. Mas um deus de cima para baixo, controlando os corações e as mentes e olhando tudo com um olhar repressor.” ● CAPITALISMO CAPITALISTA “Eu consegui obrigar o sistema a me pagar para falar mal dele, porque os meus livros dão dinheiro. Você vê como o sistema é. Ele não se incomoda que se fale mal dele desde que ele possa lucrar.” ● ‘SER’ HUMANO “Quando desistirmos de ser deuses poderemos ser plenamente humanos - o que ainda não sabemos o que é, mas intuímos desde sempre.” ● FEMINISMO “O feminismo não é o que as pessoas pensam. É só um movimento organizado das mulheres, mais nada. Não tem nada a ver com o plano pessoal da mulher contra o homem, mas sim contra o sistema. Em geral, mulheres e homens se dão muito bem. A mulher já está questionando o machismo do homem no plano pessoal, e isso está caminhando bastante.” ● DONAS DO PRÓPRIO CORPO “A grande autonomia das mulheres veio com as pílulas anticoncepcional e do dia seguinte. Com isso, a mulher, pela primeira vez, em dois mil anos, desliga a sexualidade da maternidade. Este foi o grande avanço que permitiu a autonomia, o estudo e o controle do corpo. O resto é secundário. A fertilização in vitro é algo secundário diante disso. A partir da pílula e dos métodos anticoncepcionais, nos anos 1960, é que aconteceu todo o movimento de autonomização da mulher e o fato de ela se tornar o sujeito maior da história. Produção independente de filhos sempre houve depois dos anos 1960.” O
Passáro de Fogo (*) Tu vieste como um pássaro E pousaste no meu ombro. E eu fui habitada pela paixão da entrega. Eu te amei antes que tu existisses, como o deserto que tem sede de água e as flores têm sede da luz. E te amei como a pedra ama a terra que lhe dá sua força. Com teu bico, colocaste na minha mão esquerda a semente da morte. E na direita, a semente da vida, para que, com as duas juntas, eu fizesse a escolha de cada momento ligando o instante à sua profundidade eterna. Pássaro de fogo, capaz de queimar sem consumir, estás dentro de mim. Pássaro de fogo, irei onde tuas asas me conduzirem. E meu caminho se tornou incandescente como teus olhos. (*) Poema inédito de Rose Marie Muraro.
SAIBA MAIS www.icrmrio.blogspot.com.br facebook.com/instituto.rosemariemuraro
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO: BUMUO PICTURES
TACLOBAN
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Bernardo Salce
redacao@revistaecologico.com.br
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ão cinco e meia da manhã. O sol ainda teima em não aparecer no horizonte. Galos e porcos começam a sua sinfonia diária, crianças começam a sair para brincar e Anacoreto Rosello calça seus tênis para a corrida matinal. Ele tem 69 anos e é mais um dos sobreviventes do tufão Yolanda, que sacudiu as Filipinas no ano passado. Anacoreto corre não apenas para se manter saudável, mas, também, para tentar esquecer as dificuldades que vem enfrentando, entre elas a perda de sua mulher, levada pelo furacão. Para muitos em Tacloban, capital da província de Leyte, a vida começa a voltar aos trilhos. E os negócios, aos poucos, vão se ajeitando. No entanto, as dificuldades ainda são imensas para boa parte da população, que vive em tendas ou abrigos precários. E não tem acesso aos serviços sanitários mais basilares, rodeados por lixo e entulhos, sem condições de trabalho. No meio dessa tragédia, duas coisas me chamam a atenção: a alegria e a resiliência que os moradores vêm mostrando nessa situação tão adversa. Sempre sorrindo, revelam uma felicidade genuína, uma bondade que inspira, e se ajudam e tentam superar o trauma do desastre. Foi exatamente isso que eu e meu colega fotógrafo Lucas Veuve, por meio de nossa agência Bumuo Pictures, procuramos mostrar com as imagens. Em vez de focarmos na destruição, e de tratar as pessoas como números, resolvemos ouvir as suas histórias. E tentamos captá-las em fotografias que pudessem retratar não apenas a sua humanidade, mas a beleza dos momentos diários de um povo que luta para se reerguer.
QUEM SÃO ELES
BERNARDO SALCE Fotojornalista ambiental, é formado em Direito e é mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos (Universidade Nova de Lisboa, Portugal). Encontrase atualmente baseado em Phnom Penh, Camboja, documentando a cultura e as questões socioambientais do Sudeste Asiático. Já trabalhou para ONGs na África do Sul e em Portugal. É cofundador da Bumuo Pictures.
LUCAS VEUVE Formado em Ciências Sociais, é fotógrafo documentarista e nasceu em Lausane, Suíça. Mestre em Direitos das Crianças, já trabalhou para diversas organizações internacionais e sua paixão pela fotografia surgiu por meio de seu trabalho em ONGs humanitárias. Também é cofundador da Bumuo Pictures.
SAIBA MAIS www.bumuopictures.com bumuopictures@gmail.com unfoldinghaiyan.jux.com
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JUNHO DE 2014 | ECOLÓGICO O 95
1 ENSAIO FOTOGRテ:ICO: BUMUO PICTURES
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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br
A FRATERNIDADE AINDA É AZUL
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esde os tempos mais remotos, a ideia de sociedade foi sendo estruturada não só a partir da sacralização das normas, mas também da confecção de instrumentos para enfrentar a natureza. Desse modo, com a transformação do natural em cultural, acreditava-se que a natureza finalmente poderia ser dominada. Seria a chamada “humanização do mundo natural”, tão almejada pelos pensadores do século XIX. O grande sonho do referido século seria o homem se tornar, enfim, senhor da natureza. A máquina como a extensão multiplicada dos poderes humanos seria o meio pelo qual o ser humano atingiria esse desejado objetivo. Contrapondo-se a essa posição, a ciência ecológica demonstra que não temos tanto poder assim e que somos uma espécie como qualquer outra, com seus poderes e fragilidades. Um exemplo: com as tecnologias nucleares da atualidade, podemos extinguir a espécie humana mais de cem vezes! Atualmente, a consciência planetária nos aponta para um mundo sem fronteiras e sem limites culturais. Apesar dos radicalismos, estamos caminhando para a construção de uma pátria global, tanto material quanto espiritual. O conceito de rede já começa a substituir o de linearidade, fazendo com que a interdependência se sobreponha à independência. Nessa perspectiva, a Mãe-Terra (oikos) se tornaria a matriz primeira - mater - dessa feliz interação. A tecelagem desse modelo ecossocial implicaria na criação de um novo ethos costurado pelos fios da complexa rede das tramas biodiversas. Essa parece ser a substância agregadora de uma necessidade que hoje salta aos olhos: a nossa casa está ficando pequena demais para a nossa sede de consumo. O sistema
capitalista consumista é ecocida em seus métodos (exploração infinita dos recursos naturais) e egoísta em sua finalidade (lucro incessante). O que todos precisam saber, e os cálculos não nos desmentem, é que o sonho dos recursos infinitos se dissolveu. Não podemos ser senhores da natureza coisa nenhuma! Agora precisamos urgentemente reconhecer que somos caminhos cooperantes, navegações conjuntas, pontes e voos interligados. Uma sociedade mais ecológica seria o diagrama de uma feliz comunhão entre todos os seres vivos e não vivos. Temos um compromisso ético de fazer algo para que um dia essa irmandade planetária possa realmente coexistir sem medo, mesmo quando o pessimismo ingênuo ou a loucura extrema ameaçarem essa esperança. E, assim, de predadores reconhecidamente globais, passaremos a ser também jardineiros cuidadosos da nossa casa. E, portanto, de nós mesmos. O desejo de dominar seria substituído pelo de cuidar. Ainda bem que o impetus ecológico é a força motriz que anima essa pulsação. Este deveria ser o objetivo maior de toda educação: nos fazer merecedores desse cuidado planetário. Se essa utopia for realizada um dia, pelo menos em parte, torcemos para que possa haver um pouquinho mais de doçura no mundo, pois o planeta nos avisa constantemente que não existe amor sem cuidado, nem vitória sem esforço. Por fim, a educação ambiental buscaria também despertar em todos nós uma voz que habita o coração humano: aquela que nos convida, a todo instante, a viver em maior harmonia possível com todos os seres. Somos gotas de um mesmo oceano e passageiros de uma mesma fraternidade que ainda é azul e que chamamos de Terra. O
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(*) Ambientalista e professor de filosofia da PUC Minas.
98 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2014
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FIM DO VOTO SECRETO E DO PAGAMENTO DA HORA EXTRA FIM DO 14º E 15º SALÁRIOS DOS DEPUTADOS FIM DO AUXÍLIO-MORADIA* RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA DE MINAS GERAIS LEI DE INCENTIVO À INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO
Nos últimos três anos, a Assembleia criou novas medidas de austeridade e transparência, reduziu custos e melhorou a qualidade de vida dos cidadãos de todas as idades. Também investiu em mecanismos de aproximação com a população, para maior participação de todos, e trabalhou para diminuir as diferenças sociais no Estado. Isso porque a Assembleia de Minas é sua. É o poder e a voz do cidadão.
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*Deputados com imóvel na RMBH.
FUNDO DE ERRADICAÇÃO DA MISÉRIA MOVIMENTO IDADE COM QUALIDADE PASSE-LIVRE INTERMUNICIPAL PARA PESSOAS ACIMA DE 65 ANOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ESTATUTO MINEIRO DA MICRO E PEQUENA EMPRESA LEI DO QUEIJO ARTESANAL