Revista Ecológico - Ed 114

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ANO 11 - NO 114 - 22 DE DEZEMBRO DE 2018 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

PARABÉNS AOS

A esperança existe.


REALIZAÇÃO:

VENCEDORES DE 2018!


FOTO: LEONARDO MERÇON

EXPEDIENTE

Maracanã Primolius maracana Instituto Terra

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Bia Fonte Nova, J. Sabiá e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

EDITORIA DE ARTE André Firmino

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Patrícia Boson, Paulo Maciel e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

COLUNISTAS (*) Andressa Lanchotti, Marcos Guião e Maria Dalce Ricas REVISÃO Gustavo Abreu

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte - MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

CAPA Foto: Gláucia Rodrigues

EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico

souecologico ecologico

/revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

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2,24 tCO2e Dezembro de 2018


NOS ÚLTIMOS ANOS, A CEMIG TRANSFORMOU A SUA GESTÃO REDUZINDO OS CUSTOS PARA

INVESTIR MELHOR

MAIS E

A Cemig vive um momento de grande transformação. A empresa reduziu seus custos, eliminou o desperdício e aperfeiçoou sua governança. Com isso, passou a investir mais e melhor, tornando-se ainda mais forte e competitiva.

Economia de um lado: Redução de 25% da folha de pagamento, com uma economia de R$ 450 milhões por ano.

cemig.com.br

Economia de R$ 400 milhões na renegociação de contratos.

Investimentos do outro: Investimento de R$ 5 bilhões na ampliação e manutenção da rede elétrica.

Investimento de R$ 800 milhões para levar energia a 53 mil famílias na zona rural.

Investimento de R$ 127,8 milhões no ecossistema de inovação e tecnologia.


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ÍNDICE

Capa EM SUA NONA EDIÇÃO, PRÊMIO HUGO WERNECK 2018 HOMENAGEIA O CARTUNISTA MAURICIO DE SOUSA E CONSAGRA VENCEDORES EM 13 CATEGORIAS.

Pág.

25 18

PÁGINAS VERDES

O CLAMOR AINDA LATENTE DA ÚLTIMA ENTREVISTA DO AMBIENTALISTA CHICO MENDES, PUBLICADA DIAS APÓS A SUA MORTE, HÁ 30 ANOS

E mais...

IMAGEM DO MÊS 07 CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10

89

ECOLÓGICO NAS ESCOLAS

A BELEZA E A VERSATILIDADE DO GIRASSOL, VALIOSO TAMBÉM PELA EXCELENTE QUALIDADE DE SEU ÓLEO VEGETAL

ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 14 BLOG DO HIRAM 16 ESTADO DE ALERTA 22 OPINIÃO PÚBLICA 24 INFORME ESPECIAL 61 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 62 MINERAÇÃO 72 PATRIMÔNIO HISTÓRICO 74 O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA

94

MEMÓRIA ILUMINADA CONHEÇA A MISSÃO AMOROSA E O PENSAMENTO ALTRUÍSTA DO FILÓSOFO E EDUCADOR HOLANDÊS ROBERT HAPPÉ

DE GUIMARÃES ROSA (10) 77 O AMBIENTALISTA (8) 82 NATUREZA MEDICINAL 98


FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO

1 IMAGEM DO MÊS

O DIA DA ONÇA Declarada “símbolo nacional” da conservação da biodiversidade pelo Governo Federal por meio da Portaria 483, de 22 de dezembro de 2017, a onça-pintada (Panthera onca) também ganhou um dia para chamar de seu: 29 de novembro. No entanto, o felino, que chega a medir 1,80 m e pode pesar até 150 kg, corre o risco de desaparecer das florestas de nosso país. Segundo o WWF Brasil, estima-se que apenas na Mata Atlântica brasileira exista aproximadamente 200 exemplares, 99% a menos do que a população original. O bioma com maior população de onças no país é a Amazônia, com mais de 10 animais por 100 km2. DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 07


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FA L E C O N O S C O CARTAS DOS LEITORES

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

O CUMPRIMENTOS “Além do bom conteúdo, a Revista Ecológico possui uma linguagem de fácil entendimento.” Ivan M. Bitencourt, via Facebook

O IX PRÊMIO HUGO WERNECK “Parabéns, Revista Ecológico, pela bela e merecida festa. Parabéns aos projetos que participaram e aos vencedores. O Prêmio Hugo Werneck já é uma tradição e tem crescido vertiginosamente. Belíssimo trabalho!” Antônio Rocha Neto, via e-mail

O MATÉRIA DE CAPA - LOUVA-A-DEUS, CAPITÃO! Possível união dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura por Jair Bolsonaro causa polêmica no país “Espero que, ao contrário do atual presidente, Bolsonaro leve em conta a vontade do coletivo, os anseios da sociedade. A preservação da natureza é a certeza de nosso amanhã.” Rejane Oliveira, pelo Instagram O MINERAÇÃO - QUEM VAI ‘PAGAR O PATO’ DA LAGOA SECA? O futuro da ex-Mineração Lagoa Seca, na Serra do Curral, e da tentativa de empreendedores de descumprir condicionantes ambientais “Uma área deste tamanho, na região mais cara de BH: está todo mundo de olho nessa joia. O ideal seria criar um parque. Mas o interesse econômico de construtoras e políticos é gigantesco; deve ter muita gente disposta a matar, se for preciso, para transformar isso em dinheiro.” Dionísio Ribeiro Júnior, via Facebook O ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – AQUÍFEROS A exploração racional e adequada dos mananciais subterrâneos é essencial para sua conservação “Quero agradecer a publicação da reportagem tão educativa e elucidadora sobre aquíferos, bem como a oportunidade de fazer parte dela: ficou linda!” Luciana Cordeiro de Souza, professora-doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

08 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

“Agradeço de coração à equipe da Ecológico pelo carinho em nos receber e por terem feito com que nos sentíssemos em casa! Eu e minha esposa agradecemos muito pela premiação, que nos motiva a continuar a preservar nossas frutíferas que geram sustentabilidade. Também apreciei muito a revista impressa e o Portal Sou Ecológico. Parabéns!” Helton Josué Muniz, maior colectionador de frutas em pomar do Brasil e vencedor da categoria “Melhor Exemplo em Flora”, por e-mail “Externo minha grande satisfação e alegria em participar de tão importante e significativo evento para a nossa sociedade. Eu e minha esposa ficamos encantadíssimos e honrados pela oportunidade de estar junto de pessoas que procuram fazer o bem ao meio ambiente e construir um futuro melhor para todos. Sentimos o amor e carinho em todos os detalhes. Foram tantos brilhos revelados em uma só noite que me senti um verdadeiro ‘astronauta’, flutuando pelo espaço e contemplando uma vastidão de estrelas no infinito. Uma noite emocionante, que estimula e incentiva um amor maior pela natureza que tudo nos provê, mas que, somente em raros momentos de nossa vida, paramos para agradecê-la!” José Silmarovi, CTO da Coding Brewer, por e-mail


“Parabenizo à revista pelo evento da premiação. Foi lindo, lindo, lindo.” Alfeu Trancoso, filósofo e professor, por e-mail “Parabéns à Ecológico pela grandeza, cuidado e emoção presenciados neste evento!” Vânia Mendes, coordenadora do Projeto Gente Grande, por e-mail

“A Revista Ecológico tem um importante papel social e ambiental ao apresentar não apenas relevante conteúdo informativo como também nos provocar para importantes reflexões sobre sustentabilidade e compromisso com o planeta. Sou um admirador da Ecológico e parabenizo a equipe pelo excelente trabalho ao longo desses dez anos.” Pedro Nery Bersan, cirurgião plástico do Hospital Madre Teresa e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

VIDA PARA AS POPULAÇÕES LOCAIS E PARA A BIODIVERSIDADE. AS ÁREAS PRESERVADAS PELA CENIBRA ABRIGAM MAIS DE 4.500 NASCENTES QUE FORNECEM ÁGUA LIMPA PARA A FAUNA, FLORA E PARA USO DAS COMUNIDADES SITUADAS PRÓXIMAS ÀS PROPRIEDADES DA EMPRESA.

O futuro presente em cada ação

Café c/ Design

“Parabéns a todos da Ecológico pela solenidade do Prêmio Hugo Werneck. Vocês estão se superando a cada premiação.” Geraldo Fonseca, servidor da Semad-MG, por e-mail

EU LEIO FOTO: ARQUIVO PESSOAL

“Adorei o evento, foi simplesmente incrível. Fiquei encantado com toda a organização. Minha única crítica é: vocês têm mania de nos emocionar, não é? É impressionante como a Ecológico consegue tocar o coração da gente, a exemplo da dança dos bailarinos do Grupo Mimulus, sob a canção ‘Céu de Santo Amaro’, e a participação dos estudantes da Escola Municipal de Bento Rodrigues, de Mariana. Assim fica difícil conter as lágrimas e mostrar firmeza em tempos como esses, onde a sensibilidade é vista como fraqueza.” Anderson Resende, analista de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da ArcelorMittal, por e-mail


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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A MISSÃO POSSÍVEL DO AMOR EM 2019

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omo cantava John Lennon, “Então é Natal... mais um ano acabou e um novo apenas começou”. O que nós fizemos em 2018, em nome de um mundo melhor? De nossa parte, um tiquinho de quase nada, como se diz na Roça Grande que trazemos dentro da gente. Mas, feito em nome do amor, é sempre de grande valia. É o que você, caro leitor e internauta, vai conferir amorosamente nesta Edição Especial da Revista Ecológico, dedicada aos vencedores do “IX Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”. Graças aos nossos anunciantes, parceiros e apoiadores – e sob o título: “A Sustentabilidade na Floseguimoss resta, no Campo e na Cidade” –, conseguimos promover um encontro improvável, mas que se tornou realidade. O encontro de Chico Mendes, o lííder seringueiro assassinado há 30 anos, com Chico Bento, o personagem ecológico de Mauricio de Sousa que, 16 anos antes da ECO/92, já se e preocupava com a ecologia rural. E sonhava estudar agronomia para, quando ando crescesse, poder ajudar seus pais na a roça, ensinando-os a plantar sem empobrecer bre ece c r o solo e contaminar a água. Sem destruir ir a natureza que nos protege. Usando a tecnologia de um telão e outros recursos audiovisuais, tal como em um cinema, fizemos os dois Chicos emblemáticos na luta e na conscientização ambiental se encontrarem também com a professora Eliene Almeida, que ficou conhecida como a “heroína de Mariana”, por ter salvado os seus 53 alunos, de 8 a 13 anos, da Escola Municipal de Bento Rodrigues, da onda de rejeitos com 20 metros de altura que vazou da Barragem de Fundão e varreu para sempre a história do bucólico distrito. Somente os representantes da Samarco presentes à premiação pareceram não entender o recado de amor – e não de desamor, crítica e condenação pública, que a mídia convencional já se encarrega normalmente de fazer, cumprindo o seu papel. O encontro da professora, das crianças, de Chico Bento e de Chico Mendes no palco, aplaudido de 10 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

pé por uma plateia qualificada e representativa de quase 300 empresários, autoridades, ambientalistas, sociedade civil organizada, leitores, assinantes e demais formadores de opinião, foi uma comoção. Foi puro amor à sustentabilidade e também à natureza que nos resta, na forma de palmas e lágrimas roladas no “escurinho do cinema”. Fez parte, enfim, da missão editorial da Ecológico, que é a mesma descrita pelo escritor holandês Robert Happé, que você também vai conferir em “Memória Iluminada”, na página 94, que fecha nossa última edição do ano. se d Trata-se de um humanista que saiu pelo mundo em busca de explicações sobre o real se sentido da vida: por que as pessoas se m matam, deixam morrer? Qual a causa, e enfim, de tanto sofrimento no mundo, sseja em Mariana, seja nas montanhas d do Nepal? O que Happé descobriu, mesmo dia diante do estado de mundo nada amoroso no qual vivemos? Que não n existe um só povo que não seja capaz de amar. am E que a nossa missão aqui na Terra é nos tornamos tornam livres, não só de qualquer tipo de lama t lama, mas de tudo que nos vitima. E como? Não há outro jeito, a receita também vem do campo, do povo simples da roça, como nosso colunista Marcos Guião, que nos brinda em cada edição, na sua coluna “Natureza Medicinal”, a mais lida da Ecológico, e que agora também pode ser acessada na forma de um e-book. É expressando amor, luz e amizade nas nossas relações. Sejam pessoais, sentimentais, técnicas, políticas ou profissionais. Nas palavras de Happé, todos “somos seres criadores”. E chegamos até aqui, mesmo Homo sapiens ainda terríveis e degradadores que somos, para “criarmos um mundo novo”. É esta, unicamente esta, a missão maior do amor e da experiência humana neste planeta, sob o céu que nos encanta. Boa leitura! Até 21 de janeiro, primeira lua cheia de 2019. O


ALÔ, ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL! SE NÃO PODEMOS MUDAR O PASSADO, PODEMOS COMEÇAR UM NOVO FUTURO.

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O Ecológico nas Escolas está presente em quase quatro mil instituições públicas e particulares de ensino fundamental de Minas.

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ECONECTADO

NA REDE #SouEcológico Confira as matérias mais acessadas em nosso portal:

Legado de esperança Maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, o Legado das Águas, da Votorantim, ganha destaque como polo de ecoturismo e de desenvolvimento sustentável em São Paulo Link: goo.gl/cYatCS Cinco mitos e verdades sobre alimentação e câncer Veja as orientações para evitar riscos à saúde Link: goo.gl/qwmhjP Sisema MG lança site com dados sobre meio ambiente Portal da Transparência Ambiental disponibiliza dados e informações públicas e permite maior controle e divulgação das ações por cidadãos, pesquisadores e mídia Link: goo.gl/JjmAJA Ovo é alimento barato e nutritivo Queda de preço incentiva consumo, mas exageros devem ser evitados Link: goo.gl/7id5gP 12 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

FOREST FILES O aplicativo desenvolvido pelo engenheiro ambiental Lucas Correa permite que os profissionais da área coletem informações sobre florestas nativas e plantadas de forma mais rápida. Com interface simples e de fácil navegação, o app reúne um banco de dados com mais de 600 vegetais catalogados. Sempre que uma nova espécie é identificada, ela logo é inserida na ferramenta. Possibilita, ainda, que os usuários eliminem o uso de fichas de campo para coleta de dados. E mais: com apenas um toque, todos os dados são exportados e podem ser visualizados no computador, usando o Microsoft Excel. Disponível para smartphones e tablets na plataforma Android (goo.gl/cPGujA). CANDOWELL Essa rede social desenvolvida no Brasil permite, além de postagem de fotos e vídeos, fazer comentários por meio da voz. Um dos diferenciais da iniciativa é o fato de destinar 30% da receita de publicidade a causas socioambientais, por meio do Instituto Candowell, que apoiará projetos independentes, ONGs e fundações de todo o planeta nas áreas de saúde, educação e meio ambiente. O instituto será o responsável pela definição de grupos (formados por acadêmicos, sociólogos e lideranças ambientalistas) que selecionarão os projetos concorrentes à votação. Esses grupos serão sempre renovados para evitar qualquer tipo de direcionamento de interesse nos processos de análise e seleção. O usuário da rede social poderá decidir sobre a destinação das doações, por meio da votação em ONGs e projetos. O resultado poderá ser acompanhado em tempo real pelo site www.candowell.com, que também fornecerá informações sobre valores arrecadados e revertidos aos projetos. O aplicativo pode ser baixado na App Store (goo.gl/WHm62K) ou Google Play (goo.gl/XbjJHF). Depois é só preencher o cadastro e criar um perfil!

MAIS LIDA A matéria mais lida da edição de novembro foi “Quem vai pagar o pato da Lagoa Seca?”. A reportagem analisou o futuro – ainda ameaçado – da área da ex-Mineração Lagoa Seca, aos pés da Serra do Curral, em Belo Horizonte. Tentativa dos empreendedores de descumprir condicionantes ambientais, que determinam destinação da área como espaço público coletivo, mantém a comunidade vizinha e ambientalistas em alerta. Para ler o conteúdo na íntegra, acesse: goo.gl/5TPEct

FOTOS: DIVULGAÇÃO

ECO LINKS


A programação da TV Horizonte está disponível, em alta qualidade de imagem e som, pelo canal aberto:

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App: Rede Catedral


FOTO: VALTER CAMPANATO/ABR

GENTE ECOLÓGICA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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“Pesticidas têm o poder de silenciar o canto dos pássaros e deter o pulo dos peixes da correnteza.”

FOTO: EDU MORAES

RACHEL CARSON, bióloga norte-americana

“A missão que o presidente eleito me passou se resume numa frase: ter bastante cuidado com o meio ambiente. Mas respeitar a legislação e a técnica, sem ideologia.”

“Desde pequena não como carne e também separo o lixo. Essa é minha formação ambiental, de berço e de princípios.”

FOTO: DIVULGAÇÃO GLOBO / CAIUÁ FRANCO

RICARDO SALLES, futuro ministro do Meio Ambiente

“As árvores são o esforço incessante da Terra para conversar com o céu.”

“O planeta se transformou nessa porcaria conectada a bilhões de insultos, bobagens e memes toscos, condenando o ser humano à obsessão do vício e à superficialidade. O livro, não, ele é um amante exigente: pede o afastamento, a concentração e o tempo ocioso do leitor. Amo dar livros e conversar sobre eles. Se existe uma boa medida para o bem-estar social, eu diria que é aquela que mede o tempo de leitura permitido a cada cidadão.”

RABINDRANATH TAGORE, poeta e romancista indiano

FERNANDA TORRES, atriz e escritora

FOTO: REPRODUÇÃO

PRISCILA FANTIN, atriz

14 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018


RUBENS MENIN, CEO da MRV, sobre as críticas que o novo presidente vem recebendo

TEREZA CRISTINA

A futura ministra da Agricultura saiu-se bem ao afirmar que, além do mercado global, será sua prioridade impulsionar localmente a agroecologia no país...

FOTO: DIVULGAÇÃO / LUIZA PALHARES

MINGUANDO

“Precisamos desse momento de serenar, baixar a poeira, para abrir os ouvidos, a cabeça e os pensamentos para sentir o mundo.”

...Mas Tereza deslizou ao anunciar que ainda existem muitas florestas para serem devastadas no Brasil. Até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) garante, com bases científicas, que o Brasil não precisa mais derrubar uma só árvore para plantar e fazer pasto. Já tem área degradada o suficiente. ERNESTO ARAÚJO

TITANE, cantora mineira

“Você pode ser o que desejar. Apenas torne-se o que acha que pode ser.” FREDDIE MERCURY, cantor tanzanês e ex-líder da Banda Queen, recentemente retratado no filme “Bohemian Rhapsody”

O futuro ministro das Relações Exteriores começou mal. E compromete a imagem do presidente Jair Bolsonaro diante da opinião pública mundial ao classificar a questão das mudanças climáticas como “alarmismo climático”. Ele não deve ter visto o que aconteceu recentemente de “horror climático” no riquíssimo e incendiado Estado da Califórnia, nos Estados Unidos. RONALDINHO GAÚCHO

O jogador de futebol foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a pagar R$ 8,5 milhões por danos ambientais causados em uma Área de Preservação Permanente, em Porto Alegre.

DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 15

FOTO: DIVULGAÇÃO / ANDRÉ DE ABREU

FOTO: DIVULGAÇÃO GLOBO / LEO DRUMOND - NITRO

“Qual o problema com os filhos de Bolsonaro? Que pai não quer ter os filhos por perto? Eu tenho meus filhos me ajudando, dando conselhos, são meus parceiros para a vida inteira.”

CRESCENDO


BLOG DO HIRAM FOTO: DIVULGAÇÃO

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O BRASIL JAPONÊS DE WILSON BRUMMER Ao ser condecorado com a “Ordem do Sol Nascente”, durante evento em comemoração ao “Dia Nacional do Japão", no salão dourado do Automóvel Clube de BH, o empresário mineiro que, aos16 anos, já foi frentista de posto de gasolina e se tornou presidente de grandes empresas como Acesita, Vale e Usiminas, deu o seu recado cada dia mais japonês. Segundo ele, o que ainda nos desafia e difere como país e sociedade já acontece há mais de 30 anos. Foi quando o Japão planejou um novo futuro para si, investindo pra valer na educação de sua população. Some-se a essa visão de longo prazo a preservação de seus princípios e valores tradicionais hoje conhecidos, como sabedoria de vida (não apenas ser inteligente e ter saber técnico), respeito aos mais velhos, ouvir mais que falar, ser polido e cortês no trato com qualquer pessoa. “São essas virtudes que mais fazem a diferença conosco, acrescidas do respeito venerável à natureza e, por isso, não poluí-la, não sujá-la, vide o que aconteceu na última Copa do Mundo, quando a torcida japonesa, por conta própria, limpou as arquibancadas do estádio ontem estava, após o jogo encerrado. Esse espírito de limpeza volta pra eles mesmos. Eles têm até a alma limpa!” acrescentou Brummer, atual cônsul honorário do Japão em BH, agradecido por tanto aprendizado humanístico e profissional intercambiado, há vários anos, no país do sol nascente. “Nosso futuro comum, como estado e país, está no planejamento. Foi o que mais aprendi com os japoneses na área de administração e gestão empresarial. Para eles, planejamento não é carta de intenção, é ação. Sem ação, é assombração. Nesse sentido, Minas não tem de ser a projeção do Japão no Brasil. Mas, sim, o estado brasileiro com mais experiência, cultura e atração para as grandes, médias e pequenas empresas japonesas que queiram instalar aqui.” A homenagem recebida por Wilson Brummer teve a presença do embaixador do Japão no Brasil, Akira Yamada, e do cônsul-geral honorário do Japão no Rio de Janeiro, Yoshitaka Hoshino. "EMPRESÁRIO BURRO" Após o evento, quando soube que, pela primeira vez na história do "Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade" não houve uma só indicação para a categoria “Melhor Empresário do Ano”, ele respondeu a seu jeito, educado e polido no seu 16 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

"Só empresário burro não gosta de meio ambiente." Wilson Brummer, cônsul honorário do Japão em Belo Horizonte

lamento: “É mesmo! Que pena...”. Wilson Brummer faz parte da história ambiental de Minas e do país. Quando foi presidente da Acesita, já chamada de “A boca do inferno” do Vale do Aço, tamanha poluição atmosférica a céu aberto, nos idos nada ecológicos dos anos 1980, ele protagonizou duas revoluções. A primeira foi prometer publicamente e cumprir que, em um ano, instalaria todos os filtros necessários para a Acesita não mais enegrecer o céu. E assim, devolver o seu azul para o deleite, a saúde e melhor qualidade de vida da população vizinha, incluindo seus empregados e a si mesma. A segunda revolução foi de pensamento, extensivo a seus pares. Disse ele na data prevista, quando inaugurou a nova, limpa e mais rentável Acesita: “Só empresário burro não gosta de meio ambiente”.

CONTÍNUO PESAR A eventual ocupante do cargo de secretária de Assuntos Institucionais e Comunicação Social da PBH continua discriminando a imprensa verde da capital.


www.blogdohiram.com.br

Somos produtores rurais. Nosso trabalho faz de Minas uma potência agropecuária. Produzimos alimentos com qualidade e em grande quantidade. O que nos orgulha muito é fazermos tudo isso de forma sustentável: o nosso estado tem hoje cerca de 30% de vegetação nativa conservada nas propriedades rurais.

FOTO: DIVULGAÇÃO USIMINAS

RECONHECIMENTO MERECIDO A gerente-geral de Comunicação Corporativa da Usiminas, Ana Gabriela Dias Cardoso, recebeu no fim de novembro, em São Paulo, o prêmio “Comunicadora do Ano” pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Sempre com um sorriso no rosto e elegante, ela lidera a equipe de comunicação da siderúrgica e foi eleita inicialmente, pela própria entidade, uma das 10 profissionais de maior destaque da área, juntamente com representantes de empresas como Toyota, CNH Industrial, Avon, Vale, Coca-Cola e Samsung. Em uma segunda seleção, foi confirmada, por voto popular, a “Comunicadora do Ano”. Ana Gabriela é formada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, com pósgraduação em Comunicação e Gestão Empresarial pela PUC e em Marketing pela Fundação Dom Cabral. Tem 25 anos de experiência na gestão de Comunicação, Responsabilidade Social e Relações Institucionais, com passagem também pela Gerdau. Parabéns! O

ANA GABRIELA, "Comunicadora do Ano" pela Aberje

Para manter o nosso patrimônio ambiental, contamos com o SISTEMA FAEMG, que oferece ² u²8 8µ 8²8 ²bOÂ b²8² 8µOb ½bµV q ²bµ½8µV solo e outras ações para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Mantendo o equilíbrio do meio ambiente vamos sistemafaemg.org.br produzir mais e melhor. Somos produção e conservação.


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PÁGINAS VERDES

“QUERO FICAR VIVO PARA SALVAR A AMAZÔNIA” Edilson Martins (*)

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FOTO: REPRODUÇÃO/JB ECOLÓGICO

o dia 9 de dezembro de 1988, o então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), Francisco Mendes Filho, o Chico Mendes, integrante do Conselho Nacional de Seringueiros e conhecido internacionalmente por sua luta ecológica, esteve no Rio para participar de uma mesa redonda intitulada “Amazônia a Ferro e Fogo”. Nessa ocasião ele concedeu uma entrevista ao Jornal do Brasil, na qual prenunciava a emboscada que iria sofrer 13 dias depois, na sua fazenda em Xapuri, onde tombou alvejado por uma espingarda. Em seu depoimento, Chico Mendes denuncia que os irmãos Darly e Alvarinho Alves o ameaçaram de morte e mandaram assassinar mais de 30 trabalhadores rurais. Naquele mesmo dia, o deputado estadual João Carlos Batista, do Partido Socialista Brasileiro, declarou na tribuna da Assembleia Legislativa do Pará que estava sendo ameaçado de morte. Ele era advogado de posseiros e foi assassinado na noite do mesmo dia - era o sexto de uma lista de oito marcados para morrer. O depoimento póstumo de João Carlos saiu na edição do dia 18 de dezembro do Jornal do Brasil. As duas histórias guardam semelhanças brutais. Confira:

XX O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

Como está a situação no Acre? Minha segurança ultimamente foi reforçada, no Acre, por decisão do governador Flaviano de Melo. Ele sabe que um assassinato vai complicar a situação do estado. Não que a morte de um seringueiro no Acre seja novidade. Mas é que o nosso movimento se tornou conhecido mundialmente. Principalmente junto às autoridades do Banco Mundial (Bird), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Congresso americano. Ora, não se bate de frente com essas entidades. Hoje minha vida passa pelos policiais da PM. Tenho tido uma relação amigável com meus seguranças. CHICO MENDES drummondiano: "A Amazônia vista de cima é só fumaça. E como dói"


CHICO MENDES

FOTO: MAYKE TOSCANO / GCOM-MT)

Ambientalista

"Nada similar foi feito no mundo em termos de destruição em tempo tão curto. Na Amazônia, terras férteis foram transformadas em pastos, a mata, queimada, seringueiros expulsos. Um apocalipse." Quem mais o ameaça publicamente? Agora são dois fazendeiros em Xapuri (AC), os proprietários da Fazenda Paraná, Darly Alves e Alvarinho Alves. São irmãos. Estão inclusive foragidos da Justiça, com mandado de prisão decretado. Desde 1973, esses dois fazendeiros tinham ordem de prisão no Paraná. Nós invocamos essa ordem de prisão para o Acre, e confiamos, infelizmente, no superintendente da Polícia Federal, Mauro Spósito, que reteve durante 16 dias essa ordem de prisão. Segundo o próprio juiz da Comarca de Xapuri, tal retenção não foi por acaso. Houve uma expectativa inicial: quem teria avisado os dois foragidos da Justiça? Hoje estamos absolutamente convencidos, por informações vazadas do próprio

DPF, que esses dois fazendeiros são amigos do delegado da Polícia Federal no Acre, Mauro Spósito. Os irmãos já mandaram assassinar mais de 30 trabalhadores. Cite algum desses crimes. Na noite de 27 de maio deste ano eles mandaram atacar o nosso acampamento de trabalhadores, em Xapuri, onde dois seringueiros foram baleados: Raimundo Pereira e Manuel Custódio. Foram brutalmente baleados. Logo em seguida, no dia 18 de junho, Ivair Ginho foi morto numa emboscada com espingarda calibre 12, dois tiros, e mais oito de revólver. Foi assassinado por grupos a serviço desses dois fazendeiros. Logo em seguida, em agosto, tudo neste ano apenas, um outro trabalhador, José Ribeiro,

em Xapuri, foi também assassinado por pistoleiros. Qual a razão dessas mortes? São assassinos profissionais, frios e covardes. Depois, com tal atuação, eles estabelecem o pânico. Criam o clima de intimidação, apavoram a população. Qual é a ameaça dos dois irmãos fazendeiros? Só se entregariam à Justiça após verem o meu cadáver. Duvido que se entreguem. A PM do Acre sabe da existência de pistoleiros no meu encalço, a serviço deles. Onde o perigo é maior? Nos aeroportos. É porque desconfio que vão me pegar. Agora em São Paulo tive o acompanhamento de policiais civis e PMs do esta-

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DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 19


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PÁGINAS VERDES do. Ao chegar no Rio, estou também sob a cobertura de amigos e do pessoal da Campanha Nacional de Defesa pelo Desenvolvimento da Amazônia (CNDDA). Ao retornar, agora, ao Acre, sua vida corre mais perigo ainda? Eu tenho consciência de que todas as lideranças populares, nesses últimos dez anos - advogados, padres, pastores, líderes sindicais - todos eles foram mortos. Mesmo com a garantia de vida do governo. Não precisa nem citar exemplos, pois eles estão vivos na memória de todos. Tenho esperança de continuar vivo. É vivo que a gente fortalece essa luta. De parte do governo do estado não tenho o que temer. Pelo contrário. Agora, por outro lado, eu estou diante de dois inimigos poderosos: a União Democrática Ruralista (UDR) e a Polícia Federal no Acre. Xapuri, município acreano, é a frente mais avançada, em toda a Amazônia, na defesa intransigente da floresta? É a Frente Verde da Amazônia. É o único lugar, única região, em toda a Amazônia, em que, neste ano de 1988, os fazendeiros só conseguiram desmatar 50 hectares de selva. A previsão era desmatar 10 mil hectares de floresta primária, mata virgem. Um pouco mais que três parques nacionais da Floresta da Tijuca juntos. A floresta tomba, e vocês também. Quantos companheiros vocês perderam? No Acre, seis companheiros. De liderança expressiva perdemos o Wilson Pinheiro, em 1980. Essa luta contra os desmatamentos criminosos começa em 1975. É uma luta com mais de 13 anos. O marco dessa luta é o dia 10 de março de 1986. É aí que tem início o primeiro empa-

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"Os projetos financiados pelos bancos internacionais na Amazônia estão destruindo todas as formas de vida na última e grande reserva verde que sobrou na Terra." te assumido, num seringal em Brasiléia, no Acre. O que é um empate? É uma forma de luta que nós encontramos para impedir o desmatamento. É forma pacífica de resistência. No início, não soubemos agir. Começavam os desmatamentos e nós, ingenuamente, íamos à Justiça, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), e aos jornais denunciar. Não adiantava nada. No empate, a comunidade se organiza, sob a liderança do sindicato, e, em mutirão, se dirige à área que será desmatada pelos pecuaristas. A gente se coloca diante dos peões e jagunços, com nossas famílias, mulheres, crianças e velhos, e pedimos para eles não desmatarem e se retirarem do local. Eles, como trabalhadores, a gente explica, estão também com o futuro ameaçado. E esse discurso emocionado sempre gera resultados. Até porque quem desmata é o peão simples, indefeso e inconsciente. Mas isso fura às vezes? Sim, o fazendeiro recorre a uma ordem judicial e, com apoio das forças policiais, executa o desmatamento. Espero que com a nova Constituição esse absurdo não prossiga. Mesmo assim, nosso movimento continuava crescendo, sem prejuízo de grandes recuos. Já em 1980, esse movimento

dos seringueiros, movimento de empate, se generalizava por toda a região. Até aquele momento, a luta era liderada pelo Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC). Era um homem comprometido com a defesa da floresta e muito corajoso. Quer dizer que essa luta começa em Brasiléia? Começa em Brasiléia. Só que, em 1980, o Wilson Pinheiro foi assassinado dentro do sindicato, pelas costas, quando assistia a um programa de televisão. Foi assassinado a mando de fazendeiros. Houve uma reunião dos fazendeiros, em julho de 1980, em que ficou acertado que uma forma de barrar o movimento dos seringueiros era matar as principais lideranças. Na noite de 21 de julho de 1980, Wilson foi fuzilado na sede de seu próprio sindicato. A nossa luta sofre um grande abalo. Mas logo depois ressurge em Xapuri, que fica a menos de 100 quilômetros de Brasiléia. E Xapuri, via sindicato, começa a comandar todas as nossas operações de resistência, e vale dizer resistência pacífica, mas resistência. Quando conduzimos nossas famílias para o empate, deixamos transparente que o movimento é pacífico. Ninguém vai pra guerra levando mulher e filhos. Qual o balanço dessa resistência em defesa da floresta? Bom, de março de 1976 até agora já realizamos 45 empates, sofremos 30 derrotas e tivemos 15 vitórias. O empate tem que objetivo? Criar um fato político. Mais que isso: desapropriar a área e finalmente criar a Reserva Extrativista. A Reserva Extrativista é uma criação de vocês?


CHICO MENDES

Veja bem: até 1984, a gente realizava os empates, mas não tínhamos muita clareza do que queríamos. Sabíamos que o desmatamento era o nosso fim e de todos os seres vivos existentes na selva. Mas a coisa terminava aí. As pessoas falavam: “Vocês querem impedir o desmatamento e transformar a Amazônia em santuário? Intocável?”. Estava aí o impasse. A resposta veio através da Reserva Extrativista. Vamos utilizar a selva de forma racional, sem destruí-la. Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos há mais de 100 anos ocupam a floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça são os projetos agropecuários, os grandes madeireiros e as hidrelétricas com suas inundações criminosas. Nas reservas extrativistas, nós vamos comercializar e industrializar os produtos que a floresta generosamente nos concede. Temos na floresta o abacaba, o patoá, o açaí, o buriti, a pupunha, o babaçu, o tucumã, a copaíba, o mel de abelha, que nem os cientistas conhecem. E tudo isso pode ser exportado, comercializado. A universidade precisa vir acompanhar a Reserva Extrativista. Estamos abertos a ela. A Reserva Extrativista é a única saída para a Amazônia não desaparecer. E mais: essa reserva não terá proprietários. Ele vai ser um bem comum da comunidade. Teremos o usufruto, não a propriedade. Quem aprovou a ideia primeiro? Por incrível que pareça foi o exterior. Lamentamos que isso tenha acontecido. Em 1987, em janeiro, recebemos uma comissão da ONU, em Xapuri. Viram nossa luta. Já em março desse mesmo ano fui convidado a participar de uma reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Miami. Por que minha presença ao lado desses banqueiros? Por

FOTO: SIDNEY OLIVEIRA /AG. PARÁ

Ambientalista

"Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Ato público e enterro não salvarão a Amazônia. Quero viver." que são esses bancos que com seus financiamentos estão destruindo a Amazônia. Durante esse encontro fui entrevistado seguidas vezes pela imprensa internacional. Não fui procurado por um único jornalista brasileiro. Logo depois, fui ao Congresso e falei para os congressistas americanos. Que denúncias foram feitas? Os projetos financiados pelos bancos internacionais na Amazônia. Esses projetos estão destruindo todas as formas de vida na última reserva verde que sobrou na Terra. Rondônia foi violentada? A maior vítima de todos esses projetos de desenvolvimento. Nada similar foi feito no mundo em termos de destruição em tempo tão curto. Terras férteis

transformadas em pastos, mata queimada, seringueiros expulsos. Um apocalipse. Você já ganhou duas comendas? O Prêmio Global 500, da ONU, e uma medalha da Sociedade para um Mundo Melhor, em Nova York. Além de uma na Inglaterra e outra nos Estados Unidos. Com prêmios e reconhecimento internacional, você então seria um cadáver delicado? Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver. O

(*) Jornal do Brasil, 24-25/12/1988. DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 21


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

HERANÇA NADA BENDITA

N

o início da década de 1990, a empresa Extrativa mitir a exploração do minério por tempo definido e Paraopeba, então arrendatária dos direitos mi- incorporar a área, após recuperada, ao parque, menerários da Mineração Geral do Brasil (MGB) diante doação. Mas essa concessão tem de ser atrelarelativos à mina de Casa Branca, em Brumadinho da ao esclarecimento de dúvidas técnicas e jurídicas; (MG), solicitou Licença de Operação Corretiva (LOC) aplicação da Lei Federal – 11.428/2006, que dispõe alegando que a mina havia sido explorada na década sobre proteção da Mata Atlântica; complementação de 1950. Nessa época, o Parque Estadual do Rola-Mo- da análise de possíveis impactos decorrentes do tráça não existia e a mina é limítrofe a ele. Foi uma das fego de caminhões de minério sobre a fauna silvestre. batalhas mais ferozes enfrentadas pela Amda. Depósito judicial em espécie pela empresa visando Obviamente não podíamos questionar o direito da prover, em hipótese de descumprimento das condiempresa em solicitar a licença. E nunca fomos con- cionantes, os recursos necessários à recuperação da tra mineração por princípio. Mas tínhamos certeza de área deve ser condicionante clara e imprescindível, e que a LOC não se justificava. A alegação da empresa seu cumprimento publicizado pela Semad. era insustentável. Em 1950, o acesso ao local era quase Para nós, o processo não deveria ter sido pautado no uma trilha. Não havia eletricidade. Conselho do Parque. Entendemos O parecer da Feam foi contrário. que o parecer da Supram transferiu “A situação é complexa: E sabíamos que explorar minério aos conselheiros a responsabilidade um lado, o passivo de ferro com responsabilidade de sobre viabilidade ambiental do socioambiental exige grandes inempreendimento, pois não é conambiental resultante da vestimentos, seriedade e compeclusivo. Ele não tem poder delibemá gestão do Estado e da rativo. Cabe ao Copam conceder tência técnica. Desde o início, a empresa deu indicações claras de irresponsabilidade de uma ou negar a licença. Mas é claro que que era uma aventureira na área. empresa mineradora; do sua anuência pesa. Há um forte movimento contráEla sabia que, se fosse obrigada a outro, ferrenha oposição rio à concessão, mas sem clareza elaborar estudos ambientais e solicitar Licença Prévia, a obtenção de parcelas da sociedade quanto à destinação da área: alguns dizem que deve ser deixada seria muito mais difícil. Mesmo contrárias à concessão como está, o que exige vigilância e assim, o plenário do Copam aproda licença.” manutenção constante por causa vou a LOC por grande maioria. das barragens e do processo erosiNão deu outra. A empresa abriu um gigantesco buraco; construiu barragens com ris- vo. Outros, que cabe ao Estado recuperá-la. A situação cos de ruptura e manteve a exploração predatória é complexa: de um lado, o passivo ambiental resultanaté ser paralisada por decisão judicial em processos te da má gestão do Estado e da irresponsabilidade de impetrados primeiramente pela Amda e depois pelo uma empresa; do outro, ferrenha oposição de parcelas Ministério Público Estadual (MPE). E, à semelhança da sociedade contrárias à concessão da licença e até de outros passivos ambientais no Estado, o governo contra a atividade minerária. Mais do que nunca, o futuro governo deve agir com não recuperou a área. Diante da escassez de dinheiro público, a prioridade é sempre saúde, segurança e certeza e responsabilidade. Se a mineração for autorieducação. Meio ambiente nunca foi prioritário para zada, deverá ser acompanhada pari passu por técnicos nossos governantes. E agora a MGB, a mesma dona competentes e seguros, e a sociedade precisa se manter da concessão, quer licença, recentemente apreciada alerta. Se não, o poder público deve apontar e implantar outra solução para o problema. O que não vale é deixar pelo Conselho do Parque Estadual do Rola-Moça. A situação topográfica deixada pelo processo de a situação como está, com risco constante de ampliar saque ao minério é tão ruim que a natureza sozinha tamanha degradação herdada pela sociedade. O não consegue se recuperar. E sob esse princípio, a (*) Superintendente-executiva da entidade considera que a solução mais viável é perAssociação Mineira de Defesa do Ambiente.

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OPINIÃO PÚBLICA ANDRESSA DE OLIVEIRA LANCHOTTI* redacao@revistaecologico.com.br

POR QUE DIZER NÃO AO

"PL DO VENENO"?

O

Projeto de Lei nº 6.299, de 2002 (de autoria do ministro da Agricultura, Blairo Maggi), conhecido como “PL do Veneno”, corresponde a uma série de modificações no sistema de regulação de agrotóxicos, seus componentes e afins, que desconsideram os incalculáveis riscos à saúde e ao meio ambiente que o uso indiscriminado dessas substâncias pode causar. Entre os diversos retrocessos propostos pelo texto, destacam-se a substituição do termo “agrotóxico” por “pesticida” e a concentração de poderes para a aprovação de novos produtos no Ministério da Agricultura. O substitutivo aprovado pela “Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6.299 de 2002 prevê a adoção de uma tabela de grau de risco para novas substâncias no Brasil, permitindo que produtos atualmente vetados por lei – por conterem substâncias cancerígenas, teratogênicas e mutagênicas – passem a ser analisados conforme seus graus de tolerância. Não por acaso, a proposta tem o apoio da bancada ruralista no Congresso e de órgãos e associações ligados às indústrias transnacionais que produzem agrotóxicos e transgênicos. Os argumentos apresentados são desprovidos de base técnica ou científica. Limitam-se apenas a defender estratégias para desburocratizar a produção e agilizar a comercialização de agrotóxicos, vários deles com restrições para a sua comercialização em outros países em função de sua elevada toxicidade e do perigo que representam para os seres humanos e para o meio ambiente. Já manifestaram posição contrária à aprovação do “PL do Veneno”, por meio de moções, alertas e diversas notas e pareceres técnico-científicos, importantes órgãos e instituições, públicos e privados, bem como organizações da sociedade civil, nacionais e internacionais. Ao firmarem o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” , representantes dos 193 estados-membros da ONU, incluindo o Brasil, comprometeram-se a tomar medidas ousadas e transformadoras

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para promover, nos próximos anos, o desenvolvimento sustentável. A Agenda 2030 constitui um plano de ações para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal e indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos. Os ODS, que entraram em vigor em 1º de janeiro de 2016 com a expectativa de que sejam cumpridos até 31 de dezembro de 2030, são integrados e indivisíveis e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Dentro desse contexto, diversos objetivos traçados pela Agenda 2030 poderiam ser aplicados para fundamentar a rejeição do “PL do Veneno”. Pela sua especificidade, vale citar o ODS 02, que estabelece “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Percebe-se que o pacto global adotado pelo Brasil, expresso nos “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” e em suas metas específicas, nos leva a DIZER NÃO ao “PL do Veneno”. O (*) Promotora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ONU BRASIL. “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Brasília, 2015. Disponível em https:// nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em 30/07/2018.


Realização


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

OS BAILARINOS Andrea Pinheiro e Rodrigo de Castro, da Mimulus, interpretam a mensagem política já absorvida pelos novos governos Bolsonaro e Zema: a coexistência sustentável das pastas de Agricultura e Meio Ambiente

SOB O CÉU QUE NOS

ENCANTA Conheça os 13 vencedores da nona edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” e confira os momentos emocionantes que marcaram a entrega dos troféus da maior premiação ambiental do país Bruno Frade, Hiram Firmino e Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br


Os vencedores de 2018 1. Melhor Exemplo em Resíduos Sólidos “PROGRAMAS NACIONAIS DE RECICLAGEM” – Terracycle do Brasil São Paulo (SP)

7. Destaque Nacional “PROJETO ASSENTAMENTOS SUSTENTÁVEIS DA AMAZÔNIA” Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Belém (PA)

2. Melhor Exemplo em Fauna “PROJETO MANEJO ÉTICO DE CAPIVARAS URBANAS PARA CONTROLE DA FEBRE MACULOSA” – Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH “PROJETO FAUNA SEM LAR” – Centro de Biodiversidade da Usipa

8. Melhor Empresa UNILEVER – FÁBRICA POUSO ALEGRE (MG) 9. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável “PROJETO TODOS PELA ÁGUA” – Usiminas

Ipatinga (MG)

Vale do Aço (MG)

3. Melhor Exemplo em Educação Ambiental “O INCRÍVEL INVISÍVEL: MICROORGANISMOS EM AÇÃO” – Escola Municipal Professora Maria Modesta Cravo/Cidade Nova (BH)

10. Melhor Parceiro Sustentável ARCELORMITTAL – 27º Prêmio ArcelorMittal de Meio Ambiente

4. Melhor Exemplo em Flora HELTON JOSUÉ MUNIZ, o maior plantador de árvores frutíferas do Brasil Campina do Monte Alegre (SP)

5. Destaque Municipal “SALVADOR, CAPITAL DA MATA ATLÂNTICA” – Secretaria Municipal de Cidade Sustentável e Inovação de Salvador (BA) 6. Destaque Estadual ONG BRIGADA 1 Belo Horizonte (MG)

Itatiaiuçu (MG)

11. Homenagem Especial JOSÉ CLÁUDIO JUNQUEIRA, ambientalista e ex-presidente da Feam 12. Personalidade do Ano GERMANO VIEIRA, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de MG 13. Homenagem do Ano MAURICIO DE SOUSA, desenhista, cartunista e criador da Turma da Mônica


“O

lho para o céu, tantas estrelas dizendo da imensidão do universo em nós. A força desse amor nos invadiu.” Os primeiros versos e acordes da canção “Céu de Santo Amaro”, versão de Flávio Venturini e Caetano Veloso, anunciaram que a cerimônia da nona edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” seria assim mesmo: estrelada e com muitas emoções. No palco do novo Espaço de Eventos Unimed-BH, na capital mineira, os bailarinos Rodrigo de Castro e Andrea Pinheiro, da Mimulus Cia. de Dança, dançaram suavemente, se mesclando aos tons azuis da imagem de um céu estrelado projetado no telão, ao fundo do cenário. Em silêncio, naquela “noite

do sertão” que deveria não ter fim, a plateia de quase 300 convidados apreciou a elegância de cada passo: os bailarinos dançaram com “alegria de pássaro em busca de outro verão”. E, assim, simbolizaram a união em debate no país entre a Agricultura e o Meio Ambiente - “Nós somos rainha e rei”. Foi justamente este o tema do prêmio este ano: “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade”, que teve vencedores em 13 categorias. Depois da apresentação artística, a cerimônia seguiu seu curso. Informalmente presidida pelo vice-governador eleito de Minas, Paulo Brant, ela foi aberta pela superintendente de Relações Institucionais da Unimed-BH, Rosana Chaves. Em seu discurso, ela traduziu

a essência do cooperativismo e a busca contínua pelo bem coletivo, tal como a luta ambiental: “Estamos sediando a nona edição do Prêmio Hugo Werneck por acreditar no poder transformador das pessoas, na capacidade que temos de melhorar o lugar em que vivemos”. O CÉU DE BENTO RODRIGUES Esse poder humano deu o tom da cerimônia. Foi a ponte para outro momento especial da noite. Logo após a homenagem ao desenhista e cartunista Mauricio de Sousa (que estava no Japão e foi representado por sua filha Magali), o personagem mais ecológico da Turma da Mônica - Chico Bento - continuou no palco. Ele foi igualmente homenageado por suas mensagens de preservação da

AS PROFESSORAS e os alunos da Escola Municipal de Bento Rodrigues: aplaudidos de pé, à frente da projeção do que sobrou do distrito de Mariana devastado pela lama


FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

A PLURALIDADE dos vencedores de 2018: fé e exemplos de sustentabilidade na floresta, no campo e nas cidades do país

natureza, apresentadas em vídeos animados exibidos durante a solenidade. EMOÇÕES E VITÓRIAS A entrega do troféu Hugo Werneck ao Chico foi feita por convidados especiais. O primeiro deles? A professora Eliene Almeida, diretora da Escola Municipal de Bento Rodrigues, distrito que hoje não existe mais. Avisada pelos gritos de seu marido, e não por uma sirene, Eliene se tornou a “heroína de Mariana” por ter salvado a vida de todos os seus 58 alunos, de sete a 11 anos de idade. As crianças estavam na sala de aula minutos antes de uma onda de 20 metros de altura de lama e rejeitos de minério da Barragem de Fundão varrer para sempre a

história de suas vidas. Aplaudidos de pé pelos convidados enquanto subiam ao palco, que tinha no telão uma imagem do que sobrou do ex-distrito de Mariana, Eliene e 13 dos alunos sobreviventes estavam acompanhados de outra professora, Edilaine Santos, inspetora da escola. Ela também ajudou Eliene a salvar as crianças no dia da maior tragédia socioambiental e minerária da história do país, que provocou 19 mortes em 05 de novembro de 2015. Logo após entregarem o troféu para Chico Bento, que ganhou um abraço coletivo das crianças e das professoras, todos se sentaram no palco para assistir ao último recado da noite: o vídeo “How Many People” (com a mensagem “Quantas pessoas mais terão

de morrer para salvar a Floresta Amazônica?”), do ex-beatle Paul McCartney em homenagem ao ambientalista Chico Mendes (leia mais a seguir). Ali, naquela noite de emoções e vitórias celebradas com palmas, assovios e muitos “bravos”, foram comemorados também o exemplo e a luta de todos os Chicos Mendes e Bentos da vida. Tudo em prol, um dia, do casamento possível e sustentado entre nossas florestas, campos e cidades onde vivemos. Tal como o espírito de Dr. Hugo, sempre presente, nos fez e faz acreditar: “O planeta ainda tem jeito. Não podemos perder a esperança”! Acompanhe a reportagem e saiba mais sobre os vencedores dessa noite estrelada!


“Nós somos Rei (Meio Ambiente) e Rainha (Agricultura)”

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Hiram Firmino (*)

FIRMINO: recado do Rio Negro

“Permitam-me fazer dois spoilers. Um é negativo. E o outro, positivo. O negativo é que, pelo terceiro ano consecutivo, o Prêmio Hugo Werneck não teve uma só indicação para concorrer na Categoria ‘Melhor Político’. E, pela primeira vez, desde que essa nossa premiação existe, também não tivemos indicações à categoria ‘Melhor Empresário’. Fim do mundo isso? É e não é. Desde que acreditemos que nada acontece em vão e que não cai uma só folha seca no chão do planeta que não esteja no plano de Deus, esse pode ser o começo de um tempo bom. Uma oportunidade histórica, vide a renovação de políticos, administradores públicos e privados trazida pelas últimas eleiçções em todo o país.

Segundo a filosofia japonesa Seicho-no-Iê, a hora mais escura da noite é a véspera do amanhecer. E isso pode estar sendo configurado agora, como um exemplo e voto de confiança de Minas para o Brasil. É a primeira vez que, visto de outro prisma, temos dois empresários eleitos para nos governarem quando 2019 bater nas nossas portas. Pode ser coincidência, de novo, do nosso destino comum. Em 2012, na terceira edição do Prêmio Hugo Werneck, qual empresário foi vencedor da categoria “Destaque Nacional” por sua performance ambiental à frente de uma das maiores multinacionais na área de florestas plantadas, papel e celulose? O ex-presidente da Cenibra, nosso futuro vice-governador, Paulo Brant, aqui presente. Vamos ao segundo “nada acontece em vão” nos campos do Senhor. Sabem que grupo empresarial se inscreveu e foi vencedor, ao lado de Paulo Brant, seis anos atrás, na categoria “Melhor Exemplo de Comércio, Bens e Serviços?” O Grupo Zema, então dirigido por um empresário do ramo. Hoje, não à-toa, o novo governador de Minas, Romeu Zema. Portanto, caros Zema e Paulo, sejam bem-vindos a esse nosso ninho chamado esperança! É essa crença no futuro que guia a nossa premiação, uma espécie de

“Lista Limpa” criada há nove anos, em parceria com a Fiemg, logo após a morte de Dr. Hugo Werneck. Foi a forma pragmática, real e necessária que encontramos de homenageá-lo para além de palavras bonitas. Um prêmio capaz de incentivar e divulgar, positivamente, não mais as empresas e instituições que poluíam, mas aquelas que deixaram de ser assim. E passaram a ser não apenas economicamente viáveis, mas ambientalmente corretas e socialmente mais justas. Essa é a importância maior do Prêmio Hugo: tornar conhecidas e replicáveis as realizações positivas do setor socioambiental. Dar voz e espaço, enfim, além das montanhas, ao Brasil que dá certo na área do desenvolvimento sustentável e da preservação da natureza. Desde sua criação, em 2010, nossa premiação já recebeu mais de 1.000 inscrições e indicações de todas as regiões no país, totalizando 145 premiados e homenageados. ÚLTIMO SPOILER Permitam-me, agora, o segundo spoiler da noite. É sobre a música-tema desta edição do prêmio. Trata-se de uma peça musical antológica, na forma original de cantata, de Sebastian Bach. Ela foi regravada e letrada por Flávio Venturini e Caetano Veloso, sob o nome de “Céu de Santo Amaro”, terra natal


do cantor e compositor baiano. Ela me tocou de maneira arrebatadora. Foi durante as comemorações dos 10 anos de existência da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), em Manaus (AM), criada e dirigida pelo ambientalista Virgílio Viana, também já homenageado em 2015 como “Melhor Exemplo do Terceiro Setor”. Eu estava a bordo de uma embarcação, em pleno Rio Negro, varando a negritude da madrugada, a tal hora mais escura e próxima de ver o sol nascer. Estava na companhia de outro lutador de primeira grandeza, o diretor de Políticas Públicas e Mobilização Social da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, também membro do conselho editorial da Revista Ecológico. O papo continuava, em discussões sem fim, sobre o futuro do Ministério do Meio Ambiente e seus debilitados órgãos estratégicos - o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), incapazes de proteger e preservar o que nos resta de natureza, por falta de visão de longo alcance e apoio político. Deveríamos nós, os ambientalistas, continuar lutando contra os ruralistas e vice-versa? Tentar mostrar a eles que o meio ambiente é maior que a agricultura, por ser anterior a ela na criação e sobrevivência do planeta? Tal como nós, seres humanos, precisamos da natureza, e a natureza, ela sim, não precisa de nós? REINADO À VISTA Voltemos ao Rio Negro. Estávamos antevendo, enfim, a discussão sobre a união das pastas de Meio Am-

REGISTROS HISTÓRICOS: mera coincidência ou novo futuro anunciado?

biente e Agricultura pelos governos Bolsonaro e Zema. Foi quando o dono da embarcação, que conhecia de “olhos fechados” por onde o grande rio passava, apagou todas as luzes da embarcação. E, no silêncio de uma noite com o céu coalhado de estrelas, aí sim, visto na sua totalidade, ainda fez mais. Convocou um outro empresário, que sabia tocar violão, e ele tocou e cantou “Céu de Santo Amaro”. Uma canção, imaginem, ouvida em meio àquele absurdo amazônico de água e floresta, floresta e água, que continuamos a degradar. E presidente algum, até hoje, teve coragem de defender! Após essa “viagem” ecológica, passei a não pensar mais na Agricultura e no Meio ambiente separados. Mas interagindo e se completando mutuamente, como dois amantes apaixonados pela última, nobre e universal causa que nos resta: a preservação da natureza e o desenvolvimento unicamente sustentável.

Pensei na Rainha que a Agricultura é (e pode ser chamada assim). E no Rei, que o Meio Ambiente é. E ambos podem se dar bem, pelo planeta e a nossa humanidade. Diante da face natural de Deus, que é este planeta maravilhoso que deveríamos preservar não pela dor, mas pelo amor diante de tamanha beleza e autossustentabilidade, nós todos estamos no mesmo barco da sobrevivência comum, também já disse Bolsonaro. E também esperamos de Zema, Paulo e demais novos governantes do país. Governos e sociedade, somos todos rainhas e reis de uma Terra ameaçada. E o futuro que queremos continua em nossas mãos. Nossa gratidão aos premiados deste ano, pelos exemplos demonstrados dessa possibilidade. Parabéns! Como Hugo Werneck nos fazia acreditar, a esperança ainda existe. O amor, no final, vencerá. A escolha é nossa!” (*) Diretor e editor da Ecológico.


1. Melhor Exemplo em Resíduos Sólidos

FOTOS: TERRACYLE DO BRASIL

“PROGRAMAS NACIONAIS DE RECICLAGEM” Terracycle do Brasil

RENATA ROSS, Mariane Marcheti, Gabriela Rocha e Isabeau Trehu, executivas da TerraCycle Brasil, receberam e festejaram a conquista em sua sede, em São Paulo

O projeto vencedor desta categoria impressio- 1,6 milhão de pessoas e 33 milhões de unidades de na pela sua metodologia participativa e pelos resíduos coletadas. A insiste consiste, principalmente, na implemenbons resultados. Seu objetivo é desviar resíduos tação de “Programas Nacionais de Reciclagem” de de difícil reciclabilidade dos aterros sanitários resíduos difíceis de serem recique têm capacidade limitaclados. A participação das emda. Trata-se de uma plataforpresas e dos consumidores é ma de reciclagem inovadora, imprescindível para o sucesso que ajuda pessoas e instituidesses programas. Além de enções a encontrar uma soluvolver as pessoas em uma causa ção sustentável para seu lixo. socioambiental, ainda é possível Funciona assim: o cidadão difundir as práticas de sustendoa os resíduos gerados e gatabilidade e educação ambiennha pontos, que são convertal na sociedade como um todo, tidos em dinheiro. O valor é sobretudo entre as crianças que O PROJETO teve participação direta doado a escolas e entidades de 1,6 milhão de pessoas participam dos programas. sem fins lucrativos à escolha de quem faz a doação. A iniciativa, que é mundial, já possibilitou a doação de R$ 560 mil apenas em SAIBA MAIS nosso país, p resultado da participação direta de www.terracycle.com.br


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2. Melhor Exemplo em Fauna

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

“PROJETO MANEJO ÉTICO DE CAPIVARAS URBANAS ” – Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH

FLÁVIA EVANGELISTA, diretora da Ativo Ambiental, Lauro Amorim, gerente de Meio Ambiente da AngloGold Ashanti, o secretário de Meio Ambiente de BH Mário Werneck e Reginaldo Junqueira, subsecretário de Operações Institucionais da SMMA

Ficam ou não ficam as capivaras na Lagoa da Pampulha? Devemos acolher esses controversos e apaixonantes roedores, cada dia mais urbanos por não terem mais o seu ambiente natural que degradamos? Ou, mais fácil e intolerante, como quase aconteceu em BH, matar todas elas? E assim, como um passe de mágica, ficarmos livres da febre maculosa transmitida pelo carrapato-estrela? Esse debate delicado começou em 2011, com a chegada das primeiras famílias de capivaras refugiadas na Pampulha. E terminou recentemente, fruto de uma

decisão científica e política da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de sua Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Em vez de optar pela retirada abrupta delas da Pampulha, como aconteceu em outras cidades brasileiras, causando uma dispersão sem controle e perigosa dos carrapatos, a prefeitura mostrou resultados. Esterilizou todas as 57 capivaras sobreviventes e anunciou, por mais dois anos e com verbas já asseguradas, a continuidade tanto do seu manejo ecológico e da aplicação de carrapaticidas de longo prazo na região mais afetada, para a eliminação e controle pro-


FOTO: FERNANDA MANN

gressivo da bactéria transmissora da febre maculosa. Isso não significa que os frequentadores da Pampulha devam deixar de ficar preocupadas. Pelo contrário, o carrapato-estrela segue presente e a atenção de todos deve ser redobrada. O projeto vencedor mostra ainda que BH tem hoje uma política ética para a nossa convivência com as capivaras. A prefeitura inova ao vê-las ecologicamente não como invasoras ilegais ou criminosas. Mas como refugiadas ambientais, merecedoras de conviverem conosco. Ao receber o troféu, o secretário municipal de Meio Ambiente de BH, Mário Werneck, destacou a convergência de trabalho das secretarias de Meio Ambiente e Saúde, bem como da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica: “Como ninguém trabalha sozinho, preciso vangloriar todos os servidores que estiveram envolvidos no processo de manejo das capivaras, sobretudo Guilherme Lana e Leonardo Maciel, que foram meus pés e braços na secretaria. E o jeito Kalil de ser, que foi o de resolver o problema. Dedico esse prêmio à população de BH. Estou extremamente emocionado”.

Todas as 57 capivaras foram esterilizadas e devolvidas à Pampulha

DEPOIMENTO “O anúncio das medidas adotadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente revela que a Prefeitura de BH resolveu o problema das capivaras na Pampulha. Ou, no mínimo, encaminhou. Assim, fica claro mais uma vez que, quando quer, o poder público resolve as questões que permeiam a vida da população. Não houve crueldade, extermínios e, agora, sabemos que, gradativamente, a população de capivaras vai ser monitorada e controlada, afastando os riscos de doenças. A inteligência do homem e o avanço das técnicas nos permitem dizer que sempre haverá possibilidades de convivência pacífica entre humanos e o meio ambiente, desde que os engravatados queiram de verdade.” Eduardo Costa, jornalista e apresentador da Rádio Itatiaia SAIBA MAIS www.pbh.gov.br


FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

“PROJETO FAUNA SEM LAR” – Centro de Biodiversidade da Usipa

BERTHOLDINO APOLÔNIO, gerente de Sustentabilidade da Usina Coruripe, Adilson Brito, diretor-executivo da Sete Soluções, Sânzio Ferreira, presidente da Usipa, e Lélio Costa e Silva, médico-veterinário e coordenador do Cebus

Por meio de uma espécie de jardim zoológico misturado com hospital veterinário, há anos uma conhecida associação esportiva e recreativa abriga uma missão literalmente animal: acolher, recuperar e devolver à natureza animais silvestres em situação de risco ou ameaçadas de extinção, como gavião-pato, tamanduá-mirim e cachorro-do-mato. No início, esse projeto recebia uma média de 100 animais/ano, recolhidos pela Polícia Militar de Meio Ambiente, pelo Corpo de Bombeiros e funcionários do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Devido às precárias condições de saúde, muitos desses animais morriam, mesmo após os esforços da equipe da instituição em recuperá-los. A partir de 2017, após assinatura de um termo de coopera cooperação entre os órgãos envolvidos, isso mu-

dou. Em parceria com a Associação Regional de Proteção Ambiental do Vale do Aço (Arpava), esse trabalho de amor à fauna em risco apresentou números positivos. De 263 animais socorridos até hoje, 12,5% deles ainda permanecem em tratamento ou em reabilitação para a soltura. Outros 38% não resistiram. Mas 39,5% conseguiram se recuperar e foram reintroduzidos ao meio ambiente. Os 10% restantes foram incorporados ao zoológico. Eles se somam a um plantel atual de 447 animais visitados por moradores, escolas e alunos de 16 municípios à sua volta, até onde o projeto faz chegar suas mãos salvadoras e sem fronteiras. SAIBA MAIS www.usipa.com.br


3. Melhor Exemplo em Educação Ambiental “O INCRÍVEL INVISÍVEL” Escola Municipal Prof.a Maria Modesta Cravo/Cidade Nova (BH)

THIAGO METZKER, sócio-diretor da Myr, e Christiano Parreiras, diretor do Sindiextra, representando o presidente Fernando Coura, entregaram o troféu aos professores Henrique Ribeiro e Alessandra Resende

O projeto vencedor da categoria que mais recebeu inscrições nesta edição do Prêmio Hugo Werneck contribui positivamente para que 150 alunos do segundo e do terceiro anos do Ensino Fundamental de Belo Horizonte ampliem seus conhecimentos sobre o tema microbiologia. Além de ensinar sobre a diversidade dos seres vivos, o projeto estimula os estudantes a refletir sobre o papel dos deles na sociedade e no equilíbrio ambiental. Geralmente associados ao perigo e à contaminação, esses pequenos seres passam falsamente a ideia de que são do mal e não devem ser preserva-

dos. O projeto possibilita que as crianças, que têm na infância um período de descobertas relacionadas aos sentidos e às percepções, vivenciem experiências também ao que não é visível e palpável, como os micro-organismos. A iniciativa conta com a parceria do Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fomenta o conhecimento dos alunos por meio de pesquisa bibliográfica, atividades investigativas e visitas ao jardim botânico. Ao final do projeto, os alunos ainda criam um álbum de figurinhas sobre o tema estudado.


4. Melhor Exemplo em Flora

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

HELTON JOSUÉ MUNIZ, o maior plantador de árvores frutíferas do Brasil

MARCELO LIGERE, diretor regional da TV Globo Minas, José Amaro Siqueira, gerente de Comunicação da emissora, Helton e sua esposa, Emilene Muniz: "A melhor maneira de se viver é ter a curiosidade de conhecer"

Quando subiu ao palco para receber o troféu junto com a esposa Emilene, Helton Josué Muniz foi aplaudido de pé pela plateia. Maior plantador de árvores frutíferas do país, ele nasceu em Piracicaba (SP) e foi criado em Angatuba, também no interior do estado, onde cursou o primeiro grau da escola pública. Foi na fazenda dos avôs que, segundo ele, sua vida ganhou “real significado”. Religioso, foi lendo a Bíblia que aprendeu que todos devem cuidar das maravilhas que Deus criou, incluindo, claro, a natureza. Motivado por isso, começou a se dedicar ao plantio de uma horta caseira para ajudar no orçamento doméstico. Helton não cursou a universidade. Tomou gosto pe-

las plantas. E, mesmo não sabendo nada sobre elas, começou a ler, estudar e pesquisar sobre o assunto. As limitações físicas – ele sofre de coordenação fina e diabetes Tipo 1 – não impediram Helton de fazer a sua parte para preservar o que ele chama de “nossa apólice de seguros”: as várias formas de vida que existem no Planeta Terra. Foi assim que ele se tornou o maior plantador de árvores frutíferas, ou, como prefere dizer, o maior colecionador de frutas em pomar do Brasil. Como bom aprendiz da natureza e um entusiasta em compartilhar seus conhecimentos biológicos e botânicos, já são mais de 10 anos de dedicação ao estudo da flora. O exemplo de Helton se tornou conhecido do grande público depois de uma reporta-


gem veiculada no programa Globo Repórter, da TV Globo, há alguns meses. E seu pomar, que fica em um sítio próprio na região da pequena Campina do Monte Alegre (SP) já possui mais de 200 espécies de árvores frutíferas. Acompanhado da esposa, Emilene, um emocionado Helton subiu ao palco do “Prêmio Hugo Werneck” e saudou a plateia com um “abraço frutal” para todos. “Agradeço muito por observarem esse meu trabalho, que está trazendo sustentabilidade para o Brasil”, disse ele. E completou, com seu jeito simples e humilde: “Nosso país é rico em frutas e precisamos valorizar isso. Obrigado pela homenagem. Agradeço também a Deus por ter me dado a sabedoria de entender que tudo que Ele criou

tem valor. Só que às vezes a gente não sabe. Mas se tivermos curiosidade, a gente descobre e pode usar tudo de forma mais sustentável e de maneira ecológica”. Toda essa sabedoria ecológica de Helton será ainda mais compartilhada e ampliada a partir de 2019. Ele será o novo colunista da Revista Ecológico, a partir da edição de janeiro, e apresentará todo mês um texto com informações de uma das espécies frutíferas de seu extenso pomar. Aguardem! SAIBA MAIS www.colecionandofrutas.org Para ver a reportagem veiculada na TV Globo, acesse: goo.gl/dn55f7

5. Destaque Municipal “SALVADOR, CAPITAL DA MATA ATLÂNTICA” Secretaria Municipal de Cidade Sustentável e Inovação de Salvador (BA) A instituição vencedora desta categoria inscreveu vários projetos, que tiveram a participação de 1,2 milhão de pessoas. Todos eles integram este programa mais abrangente, que busca articular iniciativas para transformar espaços públicos e institucionais para o desenvolvimento integrado da Mata Atlântica. O bioma é uma das florestas mais ricas em biodiversidade do país, mas hoje só tem 12,4% de sua cobertura vegetal original. Desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas. O projeto “Salvador, Capital da Mata Atlântica” possibilitou a criação de 34 unidades de conservação na capital baiana, totalizando 19 milhões de metros quadrados de espaços verdes protegidos. Contribuiu para Salvador também ganhar um parque marinho e

ter seu Conselho Municipal de Meio Ambiente reativado. O conhecido Lixão de Canabrava, que em 30 anos recebeu 22 milhões de toneladas de resíduos, também está sendo ecologicamente revitalizado: irá se tornar um parque socioambiental. Recentemente, mais de 10 mil novas árvores foram plantadas lá. Outra ação de destaque é um programa participativo para engajar os cidadãos no plantio de árvores e criar uma cultura sustentável na população. Mais de 52 mil árvores já foram plantadas na capital baiana, arborizando 77 km de vias. Hortas urbanas, escolares e pomares públicos também foram criados. SAIBA MAIS www.salvador.ba.gov.br


6. Destaque Estadual FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

ONG BRIGADA 1

ADRIANO PEIXOTO, diretor-presidente da Ecoavis, Gael Ricas, ecologista mirim e sobrinho-neto da ambientalista Maria Dalce Ricas, a bióloga Ana Roque e Daniel Rocha, presidente da ONG Brigada 1

Organização não governamental fundada há 15 anos na capital mineira, a Brigada 1 atua voluntariamente para prevenir e combater incêndios florestais em todo o território nacional, principalmente em Minas Gerais. Seu trabalho, inclusive, tem sido essencial para impedir o avanço do fogo em muitas de nossas unidades de conservação, como o Parque Estadual Serra do Rola-Moça, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A parceria com a Semad e a formalização, em 2014, de um Termo de Cooperação Técnica para fortalecimento do Programa Estadual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PREVINCÊNDIO), sobre responsabilidade da Diretoria de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais e Eventos Críticos (DPIFE), corroboraram para que a entidade

ampliasse sua atuação efetiva em nosso estado. A atuação de seus brigadistas voluntários não se limita à RMBH e se estende a vários municípios de Minas, com núcleos em cidades como Ouro Preto, Mateus Leme, São João del-Rei e Montes Claros. Conta com 140 brigadistas voluntários e também realiza palestras, campanhas e atividades de educação ambiental, além de capacitação permanente dos combatentes de incêndio. A entidade também desenvolve pesquisas científicas transdisciplinares, conjugadas às práticas adquiridas a cada atuação e à troca de experiências entre as instituições parceiras. SAIBA MAIS brigada1.weebly.com


INFRAERO. Eleita a melhor empresa pública da década.

Este prêmio é mais uma confirmação de que estamos na rota certa. Com uma gestão responsável e inovadora, a INFRAERO está vencendo grandes desafios. Ao tempo em que desenvolve novos produtos e serviços, revitalizando a atuação da empresa, permanece sendo uma das maiores operadoras aeroportuárias do mundo. Com a adoção de boas práticas, a INFRAERO alcançou, em 2017, um resultado operacional cinco vezes maior ao do ano anterior.


7. Destaque Nacional

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

“ASSENTAMENTOS SUSTENTÁVEIS DA AMAZÔNIA” - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

ÂNGELO GROSSI, diretor de Planejamento da Infraero, Breno Mesquita, diretor da Faemg, e Maria Lucimar de Souza, diretora-adjunta do Ipam

Ao receber o troféu, a diretora-adjunta do Ipam, Maria Lucimar de Souza, deu seu “boa noite amazônico” a todos e foi às lágrimas. Mesmo sendo a única representante da instituição na cerimônia, ela não estava sozinha. Recebeu muitos aplausos de todos, inclusive dos voluntários da ONG Brigada 1. Lembrou que o Brasil tem quase oito mil assentamentos rurais – mais de 3 mil deles na Amazônia, região onde ocupam 40 milhões de hectares, área quase equivalente ao tamanho de Minas. O projeto traduz a essência do tema desta edição do Prêmio Hugo Werneck: “A sustentabilidade no campo, na floresta e na cidade”. Criado em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma e a Fundação Viver, Produzir e PreAgrária (Incra), (

servar (FVPP), visa apoiar a produção sustentável em áreas de assentamentos de reforma agrária que sirvam de referência para subsidiar políticas públicas de desenvolvimento responsável da Amazônia. Proporcionou 79% de redução das taxas de desmatamento das áreas assentadas e aumentou a renda das famílias em 68%. Investiu na construção de 21 agroindústrias para beneficiamento de leite, frutas e mandioca. Ofereceu insumos, apoio e capacitação técnica, estimulando a produção familiar por meio da economia de baixo carbono.

SAIBA MAIS www.ipam.org.br


8. Melhor Empresa UNILEVER – FÁBRICA POUSO ALEGRE (MG)

WENDEL GOMES, gerente-geral de Mineração da Gerdau, Harlison Soares, sócio-diretor da Machado Scortegagni Advocacia Ambiental e Guilhermy Marques, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Unilever Pouso Alegre, acompanhado do coordenador Rodrigo Donizette Cano

O propósito da empresa homenageada nesta categoria é “tornar a vida sustentável algo comum”. E ela vem conseguindo isso por meio de seu Plano de Sustentabilidade, buscando novas ideias que possa trazer ganhos ambientais, reduzir custos de produção e beneficiar a comunidade local. E esse compromisso estabeleceu uma meta desafiadora: se tornar uma fábrica carbono zero. Com isso, a empresa conseguiu reduzir 90% das emissões de gás carbônico, cerca de 10,3 mil toneladas, na sua unidade em Pouso Alegre, no sudoeste de Minas. Toda energia elétrica usada lá agora é obtida de fontes renováveis. Substituição de combustível fóssil usado na caldeira de apoio por biodiesel e instalação de painéis so-

lares, que proporcionaram uma economia de 82 megawatts por ano. “É um prazer recebermos esse reconhecimento. A Unilever tem um objetivo desafiador: minimizar sua pegada ambiental nos processos produtivos. E temos muito orgulho de ter reduzido a geração de gás carbônico em todos esses processos da fábrica de Pouso Alegre. Que esse projeto sirva de inspiração para outras empresas”, afirmou Guilhermy Marques, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da unidade, ao receber a estatueta.

SAIBA MAIS www.unilever.com.br


FOTO: DIVULGAÇÃO USIMINAS

9. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável “PROJETO TODOS PELA ÁGUA” Usiminas Esta categoria, assim como a de “Melhor Parceiro Sustentável”, é disputada somente entre as empresas patrocinadoras que já têm o DNA da sustentabilidade. Ou seja, seria injusto elas concorrerem de igual para igual com outras instituições menores, ONGs e iniciativas individuais. Daí a exigência de dois critérios extras que elas têm de cumprir: o primeiro deles é a criatividade. Comprovar alguma inovação, seja tecnológica, de produto ou gestão socioambiental. O segundo critério é o amor à natureza que Hugo Werneck tanto incentivava: atestar alguma g ação sustentável que faz espontaneamente,

além do cumprimento do que já manda a legislação ambiental brasileira. Parceira do Prêmio Hugo Werneck desde seu lançamento, a Usiminas é tricampeã na história da premiação: a primeira, em 2010, na categoria “Melhor Exemplo em Educação Ambiental”, pelo Projeto Xerimbabo. A segunda vez foi na edição de 2017, quando o projeto “Caminhos do Vale" venceu na mesma categoria que concorreu este ano: “Melhor Projeto de Parceiro Sustentável”. Tudo começou em 2015. Foi quando a empresa conseguiu dar um destino sustentável para seu


passivo ambiental de 2,5 milhões de toneladas de escória de aciaria, que foram transformadas em agregado siderúrgico. Esse material foi oferecido a 57 prefeituras municipais mapeadas à sua volta, para ser usado na pavimentação de estradas rurais, pontes e encostas. Em contrapartida, para receberem o agregado, as prefeituras tinham de comprovar primeiro se estavam cercando e recuperando suas nascentes d’água.

SAIBA MAIS www.usiminas.com

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

HONRA À CAUSA A parceria deu certo e avançou. De cinco municípios inicialmente contemplados, o projeto teve adesão de outros 31. Foram mapeadas e recuperadas 1.445 nascentes. Mais de 570 mil árvores foram plantadas. Quase 142 mil mourões e 425 mil metros de arame foram doados e usados para cercar as nascentes. Um milhão de habitantes beneficiados e 1,5 milhão de toneladas de agregado siderúrgico foram aplicados na melhoria de acessos rurais e às minas.

Isso comprova que, atuando de mãos dadas, as iniciativas privada e pública podem sim, de maneira ecológica, garantir um futuro sustentável para todos. “É uma honra receber esse prêmio. A Usiminas tem buscado estabelecer parcerias colaborativas de forma permanente, incentivando e buscando a mobilização social e a coparticipação de representantes de diferentes segmentos em seus projetos”, ressaltou o gerente-geral de Engenharia e Processos Industriais da Usiminas, Gileno Oliveira, representando o presidente Sérgio Leite. Ele reafirmou o compromisso da empresa com a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente. “O prêmio nos motiva a construir um mundo cada vez melhor. Agradecemos ao jornalista Hiram Firmino e à Revista Ecológico pela iniciativa.”

JÚLIO MADEIRA, coordenador de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Cenibra; Gileno Oliveira, gerente-geral de Engenharia e Processos Industriais da Usiminas; Henrique Hélcio dos Santos, coordenador do projeto; Aldo Souza, diretor de Saúde, Segurança e Sustentabilidade da Anglo American; e Ailton Silveira, presidente da Associação dos Municípios do Vale do Aço


UM FILME DA CONSERV

“Eu alimentei espécies Eu já fiz espécies maiores do

MARIA BE

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A MAE N anaturezaesta


AÇÃO INTERNACIONAL

maiores do que vocês. que vocês passarem fome.”

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ATUREZA falando.org.br


10. Melhor Parceiro Sustentável

FOTO: DIVULGAÇÃO ARCELORMITTAL

ARCELORMITTAL – 27o Prêmio ArcelorMittal de Meio Ambiente

A empresa vencedora desta categoria, também restrita aos patrocinadores da premiação, é do segmento de siderurgia. E, coisa rara na história verde do país, mantém um prêmio interno na área de educação ambiental há exatos 27 anos. Trata-se do “Prêmio ArcelorMittal de Meio Ambiente, gerido pela sua fundação homônima, cuja missão faz par com a missão da Revista Ecológico, que é democratizar de a informação ambiental para a

ampliação da consciência ecológica e mudança de comportamento das pessoas e organizações, em prol de um mundo melhor. A iniciativa está presente em cinco estados brasileiros, beneficiando 34 municípios, onde atua sob a égide da sustentabilidade e da responsabilidade social. Tem a adesão de 382 escolas públicas e particulares. Envolve 1.892 professores e atinge positivamente mais de 86 mil alunos (incluindo os


Ao longo do ano letivo, os alunos participam de atividades a partir de uma tema definido para a edição anual e incorporamà reflexão aspectos relacionados à cidadania e à ética assim, capacitou professores e alunos a se preocupar resolutivamente com a destinação do lixo e a importância da bem-vinda economia circular. SAIBA MAIS brasil.arcelormittal.com.br arcelormittalciencias.net/premio2018

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

filhos de seus funcionários), que recebem material educativo para trabalharem em sala de aula. Criado com o objetivo de estimular a preservação do meio ambiente, o prêmio passou por uma mudança em 2016: passou a apostar no conhecimento científico como instrumento de promoção da educação ambiental. Ao longo do ano letivo, os alunos participam de atividades a partir de um tema definido para a edição anual e incorporam à reflexão aspectos relacionados à cidadania e à ética. Os participantes são divididos nas categorias “Cientista Mirim”, que envolve turmas do 1º ao 5º ano, e “Cientista Jovem”, do 6º ao 9º ano. A novidade de 2018 é que, em parceria com as secretarias municipais de Educação e de Meio Ambiente locais, a ArcelorMittal escolheu como tema de seu prêmio “Meio Ambiente e Ciência: Reduzir, Reutilizar e Reciclar – os 3 Rs do meu dia a dia”. E,

MÁRIO CAMPOS, presidente da Siamig e do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg, representando o presidente Flávio Roscoe, Thiago Camargo, diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Cemig, e Fernando Carvalhaes, gerente-geral de Relações Institucionais e Comunicação da Arcelor Brasil


11. Homenagem Especial

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

JOSÉ CLÁUDIO JUNQUEIRA, ambientalista e professor

MARIA DALCE Ricas, superintendente da Amda, o homenageado José Cláudio Junqueira e o ex-ministro de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho

Natural de BH, títulos não faltam a José Cláudio Junqueira. Engenheiro civil e especialista em Engenharia Sanitária pela UFMG, ele é mestre em Engenharia Sanitária e Urbanismo pela Escola Nacional de Saúde Pública da França e doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos também pela UFMG. Foi superintendente de Ecologia e Engenharia Ambiental do saudoso Cetec, onde a luta ambiental primeiro se entrincheirou e buscou munição técnica para combater os poluidores de plantão. Foi mais. Superintendente do Copam, diretor e presidente da Feam, secretário municipal de Meio Ambiente de BH. E representante de Minas Gerais no Conselho Nacional de Meio Ambiente, o Conama, que se inspirou 100% no nosso Conselho Estadual de Política Políti Ambiental (Copam).

Atualmente, ele é professor das disciplinas de Avaliação de Impacto e Licenciamento Ambiental e de Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos no mestrado de Direito e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara. Sua característica, porém, vai além dos livros. Vem da sua voz grave. Grave de coragem e franqueza absolutas. A ponto de já ser chamado carinhosamente pelos seus pares de “Zé Trovão”. Uma voz que, há 40 anos, nas reuniões clássicas do Copam, numa época em que defender o meio ambiente era coisa de subversivo, já fazia calar os inimigos ocultos da natureza e do desenvolvimento sustentável. Ao receber o troféu, nosso homenageado dedicou o prêmio à primeira neta, Maria, que está prestes a nascer. “Espero que ela possa ter um ambiente sustentável na atual e nas futuras gerações.”


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conhecimento + tecnologia

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gestão da sustentabilidade 1

O CLIMAS é um sistema de gestão de Indicadores de sustentabilidade (GEE, Energia, Resíduos, Água) que coleta, organiza, gerencia e comunica informações, com recursos focados em Business Intelligence. As empresas ganham eficiência, escalabilidade e segurança de dados, permitindo que foquem no que mais importa: bons resultados.

risco climático 1

2

O Model For Vulnerability Evaluation (MOVE) é uma plataforma computacional integrada que utiliza análise espacial e estatística para avaliação da vulnerabilidade e riscos associados à mudança do clima. O modelo foi desenvolvido pela WayCarbon e contou com recursos da FINEP, FAPEMIG e CNPq.

licenciamento ambiental 3

O LicenTIa é a plataforma que facilita, barateia e agiliza o processo de licenciamento ambiental. Trazemos tecnologia da informação para a otimização do planejamento, aumentamos a eficiência no compartilhamento de documentos e melhoramos a gestão dos processos com boas práticas de PMO. O LicenTIa é um spinoff da WayCarbon.

estudos estratégicos 4

Por meio de uma equipe multidisciplinar e com ampla experiência, integramos a sustentabilidade na estratégia corporativa e no desenho de políticas públicas. Nosso desafio é apoiar a transição para uma Economia de Baixo Carbono.

15 1

O Programa Amigo do Clima é uma iniciativa voluntária para a compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A plataforma conecta projetos de compensação brasileiros a empresas, garantindo transparência e rastreabilidade na transação de créditos de carbono.

responsabilidade climática

Inteligência para sustentabilidade. www.waycarbon.com


12. Personalidade do Ano

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

GERMANO VIEIRA, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

JORNALISTA J.D. Vital, representando o diretor-presidente da CBMM, Eduardo Ribeiro, o secretário Germano Vieira e Antonio Batista, presidente da Fundação Dom Cabral

Advogado, mestre em Direito Público, especialista em Educação Ambiental e autor de diversos artigos e livros sobre a temática da sustentabilidade, o atual secretário da pasta ambiental de Minas não chegou e se instalou como um estranho no ninho. Muito menos, como também acontece com a maioria dos administradores públicos, chegou pensando que a história começa e termina com ele. Pelo contrário. Ele já ocupava o posto de secretário-adjunto de Meio Ambiente desde maio de 2016. Natura Natural de Lavras, ele chegou no estilo daquela

canção do Chico Buarque. Chegou tão diferente do jeito de quase todos que chegam ao poder. Chegou como o segundo servidor de carreira do Sisema a assumir a Semad. Com seu jeito simples, transparente e cativante, Germano é quase uma unanimidade. É aceito e admirado tanto pelo setor produtivo quanto pelos ambientalistas, incluindo, principalmente, os próprios servidores do Sisema, a quem dedicou o troféu do “Prêmio Hugo Werneck”:


“Eu nunca esperei ser secretário” indústria. Enfim, ninguém era convergente. Muitas dessas inovações foram feitas por meio de parcerias com o setor produtivo e os órgãos de controle. E detalhe: fomentar o desenvolvimento não é fomentar a poluição. É transformar a indústria, a agricultura e a produção em setores sustentáveis para a geração de empregos, de renda e de qualidade de vida para população. Tudo isso em compromisso de partilha e de mãos dadas com a conservação do meio ambiente. É isso que fazemos aqui, uma lição para o país: mesmo com tantos licenciamentos, que trazem não autorizações de poluição, mas garantias de controle, de monitoramento e acompanhamento técnico dos processos, conseguimos ser o estado com o maior índice de redução na taxa de desmatamento da Mata Atlântica, em 32 anos. Já alcançamos 56% de redução do desmatamento desse bioma vital para nossa sobrevivência e qualidade de vida. Se Deus quiser, os servidores do Sisema continuarão imbuídos dessa vibe positiva para conduzir todos os nossos setores, convergentemente, para o que é melhor para o estado e a sua população. De coração.” FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

“Queria apenas ser um bom servidor. Hoje eu represento mais de dois mil servidores do Sisema, e que estão, como dizem os jovens, numa vibe tão positiva, querendo fazer diferente, acreditando realmente na meritocracia, na eficiência do serviço público, no modo de trazer sustentabilidade aos setores da indústria, da agricultura, infraestrutura, energético, da mineração. O Sisema passou por momentos muito difíceis, mas hoje conseguimos colocar essa locomotiva de volta aos trilhos. E isso é motivo de muito orgulho para qualquer um dos seus servidores. Se vocês perguntarem se gostam do trabalho que fazem, eles vão responder que gostam muito, porque se sentem hoje valorizados tanto pelo setor produtivo quanto pelos órgãos de controle de forma parceira. A minha fala sempre foi mais mansa, mas muito convergente. Nós tínhamos um setor ambiental – quando comecei como subsecretário e depois como secretário-ajunto da Semad – em que todos desconfiavam de todos. A indústria desconfiava do ambiental, que desconfiava do setor público, que desconfiava do Ministério Público, que desconfiava da

O TITULAR e a equipe da linha de frente da Semad: vibração e pertencimento com a missão


13. Homenagem do Ano

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

MAURICIO DE SOUSA, desenhista, cartunista e criador da Turma da Mônica

HIRAM FIRMINO, Magali de Sousa, Marina e Elisa, bisnetas do dr. Hugo Werneck, e Eloah Rodrigues, diretora de Gestão da Revista Ecológico

O grande homenageado desta edição do Prêmio Hugo Werneck é querido por todos, crianças, jovens e adultos. Ele nasceu em 1935, na cidade de Santa Isabel, em São Paulo. Mas foi depois que passou a morar em Mogi das Cruzes que ele teve seu primeiro contato com a natureza, ainda na infância. Adorava tomar banho de rio, desenhar e rabiscar cadernos escolares. Mais tarde, seus traços passaram a ilustrar cartazes e pôsteres para comerciantes da região. Sua carreira como cartunista foi iniciada quando tinha 19 anos, logo após ter se mudado para a capital paulista. Abordar a sustentabilidade nas revistas, vídeos e livros que edita para crianças e jovens foi um caminho natural para ele, desde 16 anos antes da realização da ECO-92 no brasil, com a Turma da Mônica já abordan abordando a questão ambiental.

Os personagens dessa turminha, em especial o Chico Bento, símbolo desta edição do prêmio, logo ganharam os corações dos brasileiros e também de outros países: até hoje, mais de um bilhão de exemplares foram vendidos. Chico é fruto das observações de seu criador sobre o homem do campo. Seu nome foi emprestado de um tio-avô do desenhista, que ele não chegou a conhecer. Foi criado para incentivar os leitores a preservar nossos recursos naturais, com um olhar mais voltado à terra, num reflexo da sensibilidade para a causa ambiental que nosso homenageado do ano demonstra desde criança. Em sua atual versão, o personagem cresceu e estuda agronomia para voltar ao campo e ajudar seus pais a resolver os problemas socioambientais da zona rural. Representando o nosso homenageado, sua filha


“Eu sigo os pensamentos do Dr. Hugo Werneck”

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Mauricio não pôde participar da cerimônia da maior premiação ambiental do Brasil. Estava do outro lado do mundo, lançando a Turma da Mônica no Japão. Mas mandou seu recado em vídeo:

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

“Eu e meu amiguinho Chico Bento estamos muito honrados com essa homenagem no Prêmio Hugo Werneck. O Chico não cabe em si de contente. Desde que ele foi criado, lá pelos anos 1960, só nos tem trazido mensagens de carinho e respeito à natureza. Por isso, ele foi nomeado Embaixador das Nascentes do Pantanal em parceria com o WWF Brasil. Eu sigo os pensamentos do Dr. Hugo Werneck, que dá o nome a esse prêmio. Também acredito que, como ele, só o amor, a informação e a educação ambiental podem mudar a atitude de um ser humano em relação ao meio ambiente e à natureza.”

Magali de Sousa recebeu o troféu. Simpática e comunicativa, ela ressaltou que há mais de 60 anos o pai passa essa mensagem de preocupação com o meio ambiente. “Tudo o que cria nas histórias não é questão de moda: está dentro dele. Meu pai é um cara que veio pronto, com toda essa bagagem e sabedoria. Vocês não têm ideia do amor que os fãs sentem por ele, isso fica claro quando converso com as pessoas. Esse prêmio é um reconhecimento ao trabalho dele e é isso que o move. Acho que ele é a pessoa mais feliz do mundo, de tanto amor e carinho que recebe. Ele é muito feliz no que faz. Obrigada!”

SAIBA MAIS turmadamonica.uol.com.br


Quantas pessoas precisam morrer?

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

O dia em que Chico Bento e Bento Rodrigues ouviram o clamor de Chico Mendes

RECADO FORTE: Chico Bento visita, em imagem projetada, o que restou de Bento Rodrigues, ex-distrito de Mariana. E assiste com...

Logo após ser premiado, o personagem rural de Mauricio de Sousa foi convidado para, junto dos alunos e das duas professoras da Escola Municipal de Bento Rodrigues, se sentar no palco e assistir um dos clipes de Paul McCartney, gravado há 30 anos, quando o líder seringueiro foi assassinado por proteger a floresta. Quem primeiro aparece na tela é o ex-beatle, explicando para a plateia porque compôs “How Many People” (“Quantas pessoas mais?”) em homenagem ao ambientalista brasileiro: - Fiquei impressionado com a luta de Chico Mendes pela Floresta Amazônica. Ele foi assassinado pela máfia local. Isso não pode acontecer mais. Se menos fôssemos muitos, não teria acontecido. ao meno

Mas, infelizmente, só algumas poucas pessoas estão dispostas a salvar o planeta. A maioria não quer tocar no assunto, acham chato. Mas, como não


Chico Mendes

FOTO: ELOAH RODRIGUES

"No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras. Depois, que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebi que estou lutando pela humanidade."

...as professoras e alunos sobreviventes ao recado atualíssimo de Paul McCartney e Chico Mendes, 30 anos depois do assassinato do ambientalista

falarmos sobre a perda de alguém como ele? E concluiu: - Chico Mendes trabalhava sozinho, era casado. Seria tão mais fácil pra ele tocar a vida e dizer: ‘Ah! Vendam isso, vendam a floresta’. Voltar para a casa, ficar bêbado. Mas, em vez disso, ele ficou e lutou. Essa foi a maior razão de lhe dedicarmos esta canção. E ela aconteceu, com imagens fortíssimas da devastação que continua, com os índios se degradando tal como as árvores tombadas, chorando copiosamente a morte de seu companheiro de luta. Acompanhe a letra: QUANTAS PESSOAS MAIS? “Quantas pessoas nunca tiveram a chance de brilhar? Se você pode me dizer Ficarei contente em ouvir.

Quantas pessoas já morreram? Um é muito agora para mim Quero ser feliz, quero ser livre, Quero ver as pessoas comuns vivendo pacificamente. Quantas pessoas Podem ir dar um passeio? Quantas pessoas não conseguem ir para o outro lado? Se você pode me dizer Ficarei contente em escutar, Quantas pessoas te fizeram chorar? Quantas pessoas por amor de Deus? Quantas pessoas? Quantas mais?” SAIBA MAIS Para assistir ao clipe de “How Many People”, acesse: goo.gl/AWPoB6


Mais presenças Werneckianas

Antônio Eustáquio Vieira, Lidiane Medeiros e Danilo Vieira Júnior

Germano Vieira e Mário Campos

FOTOS: ANNA CASTELO BRANCO

Andressa Lanchotti e Liliane Óliver

Paulo Brant e J. D. Vital

Maria Aparecida Ferreira e Daniela Ferreira

Thais França de Lima e Helton Aguiar Neves

Francisco Couto e Christiane Malheiros

Bertholdino Apolônio, Maria Dalce e Henri Collet

Luciana Costa, Daniel Simonetti e Simone Maia

Roberto Messias, Célio Valle e Octávio Elísio


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

Ciro Machado, Harlison Scortegagni, Flávia Evangelista e Mário Campos

Sandrinha Flávia e Christiane Antuña FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Brenda Ribeiro, Geisiane Marques e Luana Gonçalves

Cecília, Mônica Santos e Gal Borges

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

FOTO: DIVULGAÇÃO FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Ricardo Carneiro e Carolina Nogueira

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

Ranasari Firmino e Alexandre Sion FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

Rosana Chaves

Rodrigo de Castro e Andrea Pinheiro

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

Nelson Missias, Hiram Firmino e Roberto Fonseca

FOTO: ANNA CASTELO BRANCO

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Breno Mesquita e Lauro Diniz

Geraldo Morais e Maria do Carmo

Hiram Firmino, Eloah Rodrigues e Paulo Brant



INFORME ESPECIAL

O CANTO DO BICUDO

CONTINUA LINDO

FOTO: DIVULGAÇÃO SIAMIG

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Fique por dentro O bicudo é um pássaro nobre e desperta a atenção pela sua elegância. Ao cantar, costuma abaixar o rabo e empinar o peito, ressaltando a aparência de guerreiro. Quando adultos, os machos apresentam plumagem preta, com mancha branca na parte externa das asas. As fêmeas e os filhotes têm plumagem parda, em tons de castanho. Seu canto é melodioso, rico em notas e com voz flauteada. A frase musical do canto dos bicudos apresenta, por vezes, mais de 20 notas. Parceiros pró-bicudo: Usina Coruripe/Idese; Instituto Ariramba de Conservação da Natureza; CEPF/IEB; Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; Clube dos Criadores de Bicudos de Canto do Brasil; Universidade Estadual do Maranhão; Museu de Zoologia da USP; Universidade Federal de São Carlos; Angá; Semad/IEF. SAIBA MAIS www.siamig.com.br

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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

INTEGRIDADE ECOLÓGICA NAS

LAGOAS DO VELHO CHICO Projeto financiado pela Cemig e coordenado pelo Senai/Fiemg vai analisar qualidade das águas, da fauna e da flora em áreas do Rio São Francisco que servem de berço para peixes migradores Cristiana Andrade redacao@revistaecologico.com.br

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Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) investe em um novo projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) socioambiental, desta vez na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da PUC Minas, Axxiom e Detalhes Educação, o projeto “Índice de Integridade Ecológica de lagoas marginais para conservação da biodiversidade do Rio São 62 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

Francisco” se destina a avaliar as condições ecológicas desses ecossistemas em articulação com a gestão operacional do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) de Três Marias e integração com as comunidades locais, com vistas à conservação da biodiversidade do rio. De acordo com a coordenadora do projeto, Mariana D’Ávila Freitas, do Sistema Senai/ Fiemg, a avaliação compreende o trecho entre a UHE Três Marias e o município de Manga, no Norte de Minas. “Serão estudadas de seis a 10 lagoas marginais do São Francisco e seus

principais afluentes nesse trecho. Primeiramente, é necessário conhecer essa biodiversidade e seus principais grupos biológicos – fitoplâncton, zooplâncton, zoobenton, peixes e flora –, bem como os dados físico-químicos, além de uma avaliação ecohidromorfológica das lagoas marginais”, diz. No segundo momento, explica Mariana D’Ávila, a qualidade ecológica será avaliada com o desenvolvimento de um índice de integridade, que permitirá quantificar se o hábitat está conservado ou não. “Somente a partir desse re-


sultado poderemos direcionar as ações de conservação. Além disso, haverá um trabalho de educação ambiental junto à população para preservar e monitorar as lagoas e o rio, contemplando a participação da comunidade no estudo”, acrescenta. Na visão da coordenadora do Núcleo de Qualidade de Água da Cemig, Marcela David, o projeto do Rio São Francisco vem se somar a outros desenvolvidos na área ambiental, com financiamento e gerenciamento da Cemig. Entre tais iniciativas, ela cita o projeto “Utilização do Índice de Integridade Ecológica para Classificar a Qualidade de Ambientes Aquáticos de Minas Gerais”, que analisou, de forma piloto, três reservatórios da Cemig – Peti, Cajuru e Rio de Pedras – e suas respectivas bacias de contribuição. O Índice de Integridade Ecológica levou em consideração seis itens: qualidade do hábitat, estado trófico (mede o nível de nutrientes

O projeto está estruturado em três módulos: sistema de informação, avaliação da qualidade ecológica e construção da gestão cidadã em lagoas marginais do Rio São Francisco no manancial), qualidade da água, integração da biocenose (conjunto de populações que coexistem em determinada região), toxicidade da água e toxicidade de sedimentos. “Esse projeto do São Francisco é de extrema importância para Minas Gerais, pois trará as informações hidrológicas necessárias para construção de um modelo operativo para a UHE Três Marias, de forma a encher essas lagoas marginais, possibilitando a reprodução dos peixes nela. Tudo isso monitorado pelo projeto

de PD&I, que norteia grande parte dessas iniciativas que apoiamos”, comenta. O novo projeto é resultado de um acordo de cooperação técnica entre a Cemig, a Agência Peixe Vivo e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que, além de gerenciarem a cobrança pelo uso da água no Velho Chico, definem todas as ações de recuperação ambiental ao longo da Bacia. “Esse é um trabalho conjunto com foco no manejo ambiental para preservação dos peixes”, acrescenta Marcela David. DE TRÊS MARIAS A MANGA Na porção da Bacia do Rio São Francisco a jusante da barragem de Três Marias, há importantes áreas de desova e desenvolvimento inicial de espécies de peixes migradoras. Nesse trecho também é expressivo o número de lagoas marginais. Em períodos de cheias, acredita-se que essas lagoas funcionem como centros de recrutamento de espécies de peixes,

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FOTO: EVANDRO RODNEY / IMPRENSA MG

O NOVO projeto é resultado de um acordo de cooperação técnica entre a Cemig, a Agência Peixe Vivo e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco


1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE incluindo aquelas consideradas grandes migradoras. Entretanto, em períodos de cheias modestas, o papel dessas lagoas pode ser comprometido, refletindo-se em baixas densidades de ovos e larvas, uma vez que o regime do fluxo é um dos principais fatores que afeta diretamente a desova e o recrutamento. Por essa razão, o mapeamento da ictiofauna, a medição da qualidade das águas e a análise socioambiental na região se fazem tão necessárias. A área de alcance do projeto se estende pelos municípios de Três Marias, São Francisco, Bonito de Minas, Buritizeiro, Campo Azul, Chapada Gaúcha, Ibiaí, Jaíba, Januária, Juvenília, Lassance, Matias Cardoso, Montalvânia, Pedras de Maria da Cruz, Ponto Chique,

Com duração de 4 anos, o projeto, inicialmente, partirá de uma pesquisa bibliográfica e aquisição de base cartográfica da área de estudo. Na sequência serão selecionadas as lagoas prioritárias para avaliação da qualidade ecológica Santa Fé de Minas, São Gonçalo do Abaeté, São Romão, Ubaí, Urucuia e Várzea da Palma. AÇÃO EM MÓDULOS O projeto “Índice de Integrida-

de Ecológica de lagoas marginais para conservação da biodiversidade do Rio São Francisco” está estruturado em três módulos: sistema de informação, avaliação da qualidade ecológica e construção da gestão cidadã desses ecossistemas. Cada parceiro do projeto atuará numa frente, sendo que o Senai/Fiemg fará a coordenação geral, tendo participação em todos os módulos. À PUC Minas caberão os estudos ictiofaunísticos (peixes), avaliando a qualidade ecológica das lagoas marginais. A UFMG fará análises e estudos de contaminantes emergentes. Já a Axxiom cuidará do sistema de informação dos dados coletados, e a empresa Detalhes Educação responderá pela mobilização de educação ambiental

ÁREA DE ESTUDO Projeto Integridade Ecológica de Lagoas Marginais para conservação da biodiversidade do Rio São Francisco

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FIQUE POR DENTRO

O Após a tabulação, tratamento e interpretação dos resultados coletados em campo, será construído o Índice de Integridade Ecológica para as lagoas marginais. Nele, estão incorporadas as métricas relacionadas à integridade das comunidades biológicas que vivem ali, além da qualidade do hábitat e das águas, estado de trofia e toxicidade das águas e sedimentos.

FOTO: DIVULGAÇÃO CEMIG

O Na sequência, serão

VISTA da Usina Hidrelétrica de Três Marias: estudo também contempla outros 20 municípios

estudados contaminantes emergentes para identificar e quantificar o volume de agrotóxicos presentes na água nas áreas do estudo. “Em conjunto com as atividades mais técnicas da avaliação da qualidade ecológica das lagoas marginais, também será desenvolvido um sistema de informação sobre todo esse universo, em paralelo à construção da gestão cidadã das lagoas, com a participação da comunidade”, ressalta Mariana D’Ávila, do Senai/Fiemg. O A construção da interação

e social com as comunidades. Está prevista ainda a participação do Grupo Morrinhos, que atua na região de Manga. Com duração de quatro anos, o projeto, inicialmente, partirá de uma pesquisa bibliográfica e aquisição de base cartográfica da área de estudo. Serão produzidos mapas temáticos para a região. “Com a criação da base cartográfica e imagens de satélite serão mapeados o uso e a ocupação do solo no trecho entre Três Marias e Manga. A partir daí, pesquisadores poderão fazer a tipificação dos ambientes aquáticos, estudo que consiste em agrupar os ambientes em tipos com características abió-

ticas semelhantes, a fim de avaliar condições ecológicas”, explica Mariana D’Ávila. Com base nesse mapeamento, nos dados bibliográficos e no reconhecimento de campo, serão, então, selecionadas as lagoas prioritárias para a avaliação da qualidade ecológica. “Esse processo de analisar a qualidade ecológica das lagoas é bem completo. E a avaliação consiste na caracterização ecohidromorfológica e estudos limnológicos, com preenchimento de fichas de campo, medições in loco, coleta de água e de sedimentos, bem como posteriores análises laboratoriais das amostras.” As coletas de campo serão feitas

com a comunidade buscará, segundo os organizadores do projeto, estreitar relacionamentos, compartilhar valores e opiniões, valorizando ainda as trocas de saberes e experiências, sempre com vistas a consolidar e ampliar as ações socioambientais.

em duas fases: tanto nas lagoas marginais quanto em pontos do São Francisco e de seus principais afluentes no trecho da área de estudo, que incluem os rios Urucuia, Abaeté, Paracatu, Pandeiros, das Velhas e Jequitaí”, acrescenta a coordenadora do projeto. O SAIBA MAIS

www.cemig.com.br

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1 MEMÓRIA AFETIVA

O “CAUSO” ARQUEOLÓGICO DE

LUZIA E FERNANDO COURA Registro pitoresco sobre o presidente do Sindiextra, enquanto jovem espeleologista, na primeira expedição científica que descobriu a mulher mais antiga das Américas Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

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inas são muitas, já dizia Guimarães Rosa. Os mineiros também. É o caso do engenheiro de Minas, formado pela Escola de Minas de Ouro Preto (Ufop), José Fernando Coura, que integra o Conselho Editorial da Ecológico. Que ele é natural da “Grande” Dom Silvério, como gosta de dizer; que já tomou cachaça com o Manuelzão; e continua presidente do Sindiextra, todo o setor de mineração sabe. Mas que também é espeleologista, nem todos sabem. Pois fiquem sabendo disso. Quando, no dia 2 de setembro deste ano, o Museu Nacional pegou fogo no Rio de Janeiro, ele chorou lágrimas secretas. Emocionou-se para muito além da sua costumeira e natural emotividade pelas coisas que vêm do coração. Coura chorou, sem ser infiel, por uma famosa mulher de Pedro Leopoldo (MG), chamada Luzia, bem mais idosa do que ele, com idade entre 12.500 e 13.000 anos. Chorou, literalmente, pelo crânio dela. Isso mesmo. Pelo único vestígio de sua existência, encontrado que foi chamuscado e parcialmente salvo entre os escombros do trágico incêndio que abalou o país e o mundo. E por que a descoberta desta mulher pré-histórica, considerada o fóssil humano mais antigo e

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LUZIA, O FÓSSIL HUMANO mais antigo das Américas e Fernando Coura: lágrimas secretas

revelador da nossa errática e anti-ecológica travessia pela Terra, o abalou tanto? Aí que entra essa informação curiosa da Ecológico. Porque Fernando, na altura dos seus 21 anos de idade, integrou a primeira expedição científica que encontrou o esqueleto de Luzia, na Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo. Isso, em 1975, sobre o comando da espeleologista Annette Laming-Emperaire, do Museu do Homem de Paris. Este “causo” está relatado no número 7, de outubro deste mesmo ano, da Revista Espeleologia. Quando o fóssil foi encontrado, quase meio século atrás,

Coura era secretário da Sociedade Excursionista e Espeleológica dos Alunos da Escola de Minas, hoje EMM-UFOP, de Ouro Preto. E a descoberta de Luzia – mal sabia a expedição da sua futura importância mundial – foi registrada em apenas uma longa frase: “Entre a Gruta do Quilombo e a Lapa Vermelha II, a uns 4 metros de profundidade... foi descoberto um crâneo humano, com idade mínima de 9.500 anos, num terreno evidenciado por fogueiras antigas e pinturas rupestres”. O que vale aqui é registrar a diversidade profissional, cultural e ocupacional de Coura. Além


FOTOS: REPRODUĂ‡ĂƒO

ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS entre as Lapas Vermelha I e II

da mineração sustentĂĄvel, do Sindiextra e do ManuelzĂŁo – o vaqueiro-mor que guiou a travessia de GuimarĂŁes Rosa pelo grande sertĂŁo e as veredas de Minas –, o engenheiro dom-silveriense tambĂŠm tem esse outro caso de amor platĂ´nico e incomum revelado. Com o fĂłssil de Luzia, a Homo sapiens mais antiga que ele ajudou a ser descoberta e mostrar quem nĂłs jĂĄ fomos sobre a face da Terra. Grande Fernando! O

O ESPELEOLOGISTA Fernando Coura, aos 21 anos, na Lapa Vermelha

O ESPELEOLOGISTA FERNANDO 2UOD 059 COURA

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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

O SURUBIM é uma das espécies que utiliza o reservatório de Irapé no período reprodutivo FOTO: PROGRAMA PEIXE VIVO / CEMIG

A VIVACIDADE DE UM RIO Na porção do Rio Jequitinhonha na qual localiza-se a barragem da UHE Irapé, onde a Cemig atua desde 2006, projetos monitoram, conservam e promovem peixamento, renovando a qualidade dos recursos hídricos e da fauna local

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Rio Jequitinhonha percorre uma das regiões que já foi considerada a mais pobre do Brasil: o Vale do Jequitinhonha. Ele nasce no município do Serro e, após 1.082 quilômetros, deságua no Oceano Atlântico, no município de Belmonte, Bahia. É na região do Alto Jequitinhonha que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) tem um empreendimento hidrelétrico instalado na calha principal do rio: a Usina Hidrelétrica de Irapé (UHE). E é exatamente lá que estão sendo desenvolvidos dois projetos ambientais de grande importância para a bacia hidrográfica: um de conservação e manejo da ictiofauna e outro de migração, sítios de desova e desenvolvi68 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

mento inicial de duas espécies de peixes potencialmente migradoras do Jequitinhonha. O projeto sobre a conservação do Jequitinhonha foi concebido com o intuito de conhecer a fauna de peixes da bacia, que até então recebia poucos investimentos e estudos. “Além disso, um dos principais ganhos com o projeto foi a avaliação na escala temporal sobre como a realidade do ambiente foi alterada em função da construção da barragem”, explica a bióloga Miriam Castro, analista ambiental da Cemig. O projeto faz parte do monitoramento ambiental da usina, sendo o responsável pelas amostragens da fauna de peixes. De acordo com Miriam, o monitoramento ambiental não

é especificamente uma ação mitigadora de impactos, ou seja, não é uma ação que diminua um impacto ou restabeleça uma condição ambiental. “Mas é essencial para conhecermos o ambiente e como ele se comporta. É como se fosse uma avaliação periódica da nossa saúde: precisamos fazer análises para verificar se a condição atual é saudável ou não”, acrescenta. SURUBINS NA LUA NOVA Até o início dos anos 2000, o conhecimento sobre os peixes do Jequitinhonha era incipiente. Atuando no monitoramento de peixes do rio desde 2004 como pesquisador do “Programa Peixe Vivo”, da Cemig, o biólogo Francisco de Andrade conta que o


MITIGAÇÃO A UHE Irapé, que entrou em operação em 2006, tem aquela que é considerada a mais alta barragem do Brasil e a segunda maior da América Latina, com 208 metros. Está localizada nos municípios de Grão Mogol e Berilo, no Norte de Minas. Irapé está sob concessão da Cemig desde sua implantação e, com o objetivo de conhecer a fauna da região e mitigar possíveis impactos ocasionados pela atividade de geração de energia, a empresa fomenta projetos e atividades científicas na região de influência da UHE.

FOTO: DIVULGAÇÃO CEMIG

Jequi, antes da barragem, era, e ainda é, bastante encaixado e de difícil acesso em muitos trechos. Ao longo de seu curso, eram comuns as praias de areia clara e fina, que hoje não existem mais. “A maior parte da informação sobre os peixes naquela época (década de 1990) foi obtida pelo saudoso biólogo e amigo Volney Vono. Ele nos contava histórias sobre o uso da gordura de peixes por ribeirinhos, pois não havia óleo de soja em algumas localidades. Também dizia da pesca do surubim-do-jequitinhonha (espécie ameaçada de extinção) durante a lua nova de outubro, quando os peixes aproveitam as primeiras chuvas e se reproduziam em áreas laterais encharcadas”, conta Andrade. Os pescadores, sabendo desse comportamento e da facilidade, capturavam muitos surubins nesses eventos. “Em termos de pesca, as comunidades do Alto Jequitinhonha se baseavam principalmente na curimba e no roncador. Essa última é a espécie símbolo do Jequitinhonha. Os pescadores costumavam capturá-los com covos [armadilhas de pesca] também chamados jequis. Daí, o nome do rio.”

RESERVATÓRIO da UHE Irapé, no Alto Jequitinhonha

“Nosso princípio norteador foi o de buscar a construção de conhecimento para promover a conservação da fauna de peixes e subsidiando a tomada de decisões para os gestores da usina, Isso possibilitou uma melhor interação entre a atividade de geração hidrelétrica e a fauna de peixes”, comenta Miriam. O projeto tem recursos diretos da companhia, no âmbito do “Projeto Peixe Vivo”. Desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Universidade Federal de Lavras (Ufla), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), ele foi iniciado em 2011 e, em sua primeira fase, se estendeu até 2015. A segunda fase, iniciada há três anos, seguirá até 2019. O investimento gira em torno de R$ 1,8 milhão. COLETA E REFINAMENTO Para fazer o monitoramento de peixes, segundo Francisco de Andrade, geralmente são usadas redes de pesca, tarrafas, arras-

tos, peneiras e pesca com vara – como se fosse uma pescaria mesmo. “Usamos redes com diferentes tamanhos de malha, que nos permitem capturar peixes de portes variados, dos pequenos aos maiores”, conta. O trabalho de coleta é essencial, mas pode ser muito mais refinado, dependendo do interesse (espécies de importância comercial ou ameaçadas) e da disponibilidade de recursos (financeiros e humanos). Pode, ainda, ser estendido para analisar a dieta, a reprodução, a biologia molecular (estudos genéticos) e também análises ecológicas relacionados às mudanças nas comunidades de peixes decorrentes da construção da barragem ou invasões biológicas, por exemplo. O biólogo ressalta que, nos últimos 14 anos, muitas mudanças foram detectadas na comunidade de peixes do Rio Jequitinhonha. E a principal delas foi o aparecimento da pirambeba, em 2009. “Esse peixe é nativo do Rio São Francisco e se deu muito bem no reservatório de

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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE Irapé. Não sabemos como ele foi parar no Jequitinhonha, mas sabemos que ele já estava lá antes que a UHE Irapé entrasse em operação.” Como resultado do projeto de conservação, foi possível acompanhar o crescimento da população de espécies introduzidas. Pelo monitoramento, foram coletadas três espécies: piaba (Moenkhausia costae), piranha (Serrasalmus brandtii) e tamboatá (Hoplostetnum littorale). Além disso, uma das vertentes do projeto é tentar reproduzir o surubim-do-jequitinhonha, mas, de acordo com o biólogo, essa é uma espécie muito difícil de se capturar para a formação de um plantel reprodutivo em cativeiro. “Observamos que duas espécies ameaçadas da bacia (surubim e a piabanha-do-jequitinhonha) usam o reservatório da UHE Irapé em alguns locais específicos durante o período reprodutivo. O interessante é que o pouco de informação disponível sobre essas espécies indica que elas precisam de trechos de corredeiras com fundo rochoso para se manter.

TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES

É um termo usado quando a posição dos indivíduos é alterada. Segundo a analista ambiental da Cemig, Miriam de Castro, no caso da barragem de Irapé, o estudo tinha como objetivo verificar se haveria necessidade de construir um mecanismo que retirasse os peixes do rio, localizados abaixo da barragem, transferindo-os para o reservatório (acima da barragem), de forma a permitir a manutenção da migração reprodutiva rio acima. “Muitos desses mecanismos construídos no Brasil não têm mostrado efeitos positivos para os peixes. Um dos principais motivos de insucesso é o fato de o reservatório ter características muito diferentes das do rio. Com isso, os peixes não conseguem completar o ciclo de vida”, explica. Por mais que a instalação de um mecanismo como esse seja exigido por órgãos ambientais ou pela comunidade, é necessário se fazer uma pesquisa sobre a sua real necessidade e os tipos de resultados positivos que ele poderia trazer.

Exatamente o oposto do que o reservatório oferece (águas calmas e fundo com lama)”, complementa Andrade. Segundo ele, desde o início, o projeto buscou parcerias com universidades. “Como fruto desse trabalho, conseguimos contribuir com a descoberta e descrição de novas espécies de peixes. No momento, estamos trabalhando com o professor

Daniel Carvalho, da PUC Minas, tentando levantar o histórico da introdução da pirambeba no Jequitinhonha. Por meio de ferramentas moleculares, verificamos que essa espécie só precisou de dois eventos introdutórios para se disseminar por quase toda a bacia. Isso comprova que pequenos atos podem gerar um impacto ambiental de grande escala.”

Migração e reprodução de espécies O outro projeto, o de transposição de peixes na Bacia do Rio Jequitinhonha, foi executado com financiamento de recursos da ordem de R$ 2,3 milhões do programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Seu princípio norteador, conforme explica a bióloga e analista ambiental da Cemig, Miriam de Castro, foi avaliar a migração na área de influência de Irapé, buscando determinar se espécies da região estavam conseguindo se repro70 O ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2018

duzir nas áreas lindeiras ao reservatório. E também se existiria a necessidade de implantação de um mecanismo de transposição de peixes na barragem da usina. Integrante do Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Cemig (PD&I), esse projeto foi realizado em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Fundação Biodiversitas para a Conservação da Diversidade Biológica, Laborató-

rio de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (Lapad), da Universidade Federal de Santa Catarina (Lapad/UFSC), Universidade Federal do Tocantins (UFT) e Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). O projeto coletou ovos, larvas e alevinos para compreender quais eram os locais importantes para reprodução e crescimento das duas espécies alvo: piapara (Megaleporinus elongatus) e curimba (Prochilodus hartii), no trecho de


FOTO: PROGRAMA PEIXE VIVO / CEMIG

CURIMBA Prochilodus hartii

rio influenciado pela UHE Irapé. “O objetivo era produzir conhecimento acerca da ecologia dessas espécies e, assim, subsidiar ações de manejo e conservação para os peixes migradores da região, incluindo uma avaliação sobre a viabilidade de um sistema de transposição de peixes”, acrescenta a analista ambiental. Em outubro de 2015, foram iniciadas as atividades de telemetria, que buscaram avaliar o comportamento migratório e as principais rotas usadas por essas espécies. “Embora não tenham sido feitos estudos sobre comportamento migratório anteriormente ao barramento do rio pela UHE Irapé, alguns impactos parecem claros. Foi verificado, por meio do estudo de telemetria, que piaparas e curimbas que estão no estágio reprodutivo evitam a região do barramento”, explica a bióloga e doutoranda em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Fernanda de Oliveira Silva, coordenadora do projeto pela Fundação Biodiversitas. Para ela, a importância da pesquisa desenvolvida pela Cemig e seus parceiros foi justamente a de caracterizar o comportamento dos peixes no Jequitinhonha. “Embora outras espécies de curimbas e piaparas tenham comportamento migratório conhecido em outras bacias hidrográficas brasileiras,

foi a primeira vez em que se caracterizou esse tipo de comportamento no rio. Também foi o primeiro estudo que buscou sítios de desova e crescimento dessas espécies”, esclarece. MEDIDAS PROTETIVAS Em termos de qualidade ambiental para o Jequi e a fauna local, Fernanda esclarece que espécies migradoras exigem grandes trechos de rio para completarem o ciclo de vida. Por isso, entender a importância e a localização dos ambientes essenciais a essas espécies é essencial para a adoção de medidas protetivas (conservação) e de recuperação (manejo). “Todos os organismos exercem um papel importante para o funcionamento dos sistemas onde ocorrem. No caso da curimba, seu hábito alimentar é essencial para a ciclagem de nutrientes do rio. Preservar essa espécie significa também cuidar do equilíbrio ecológico do Jequitinhonha”, pondera Fernanda. O Jequi sofre vários impactos ao longo do seu leito e o desenvolvimento de ações contribui não apenas para a regeneração ambiental, mas para a compreensão dos processos de degradação e recuperação da bacia. “Os impactos sofridos pelo rio afetam consideravelmente as espécies de peixes. No entanto, muitas vezes não se conhece a

FIQUE POR DENTRO

De acordo com o biólogo Francisco Andrade, há pesca de porte muito pequeno na região do reservatório de Irapé, bem como a jusante da barragem. Alguns pescadores são inclusive profissionais. Houve mudança nas quantidades e tipos de peixes ao longo do tempo. Hoje, os principais produtos da pesca são a curimba, a pirambeba, a traíra e o roncador. Segundo ele, os peixes do Jequitinhonha sempre foram aproveitados pelas comunidades que vivem do rio. “Há registros seculares feitos por naturalistas viajantes sobre a pesca de surubins, por exemplo. Atualmente, conheço pescadores que vão às feiras de municípios vizinhos para vender seus peixes. A aceitação é muito boa.”

dimensão desse impacto e a forma como ele ocorre. É o que os estudos fazem, ou seja, tentam compreender os processos envolvidos na degradação do ambiente e da fauna, de forma a propor soluções mais efetivas para sua recuperação ou conservação.” O SAIBA MAIS www.cemig.com.br DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 71


1 MINERAÇÃO

REJEITOS DA SALVAÇÃO

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TECNOLOGIA LIMPA: o que era poluição agora é solução

novas tecnologias, de modo que dificilmente, com esses conhecimentos adquiridos, acidentes como aquele voltem a ocorrer.” “Esse acidente trouxe otimização para as aparelhagens e melhorias de qualidade para FOTO: DIVULGAÇÃO

S

e para a opinião pública o acontecido com a barragem de rejeitos de Fundão, em 05 de novembro de 2015, continua sendo visto como uma tragédia ainda não refeita, para o setor técnico da mineração, o olhar é outro. É enxergar, retirar e reutilizar os rejeitos minerais, desafogando assim as barragens, como soluções de subprodutos sustentáveis para outros setores da construção civil. Por exemplo, na construção de imóveis e fabricação de pisos e pavimentação de estradas. “O que é rejeito para nós pode ser matéria-prima bem-vinda para outros setores da engenharia e economia do país.” Foi o que ressaltou o presidente do Sindiextra, José Fernando Coura, na abertura do “Seminário sobre Reaproveitamento de Rejeitos da Mineração e Economia Circular”, realizado no início do mês, no auditório do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, na capital mineira. Segundo ele, o retorno das atividades da Samarco, em Mariana, só ainda não aconteceu por falta dessa visão simples e pragmática: “O acidente do Airbus 3054 da TAM, em julho de 2007, no Aeroporto de Congonhas, que vitimou 199 vidas humanas, mesmo considerado a maior tragédia da aviação brasileira, não proibiu a empresa aérea de continuar suas atividades”. Pelo contrário, exemplificou Coura, “a fez evoluir em seus estudos, procedimentos e busca de

FOTO: DIVULGAÇÃO

Três anos depois da dura lição para a Samarco, na tragédia de Mariana, o Governo de Minas, por meio da Semad, Feam e Sindiextra, conclui o terceiro seminário do ano sobre o reaproveitamento sustentável de rejeitos de mineração

FERNANDO COURA: "Rejeito é matéria-prima para outros setores"

os pilotos. É isso que queremos e podemos fazer, de maneira sustentável, com as nossas barragens. Dar um destino ambientalmente correto para os nossos rejeitos, que são 100% reaproveitáveis, como base, por exemplo, na construção e pavimentação de estradas.” FINOS DE ESPERANÇA E concluiu o presidente do Sindiextra, voltando ao assunto de Mariana, considerado pela maioria de seus pares um marco de como evitar, evoluir e reaproveitar a utilização sustentável dos rejeitos no futuro. Inclusive, para alguns deles, os chamados “finos de minério”, já existem novas tecnologias


sima. A sua solução, em curso, passa também pela engenharia. Primeiro, pelo erro. Segundo, pelo aprendizado. E terceiro, pela evolução, seja de operação ou de gestão, que podemos fazer agora. Proibir a Samarco de voltar a operar e, assim, fazer caixa para ela cumprir suas penalidades pelo que causou, é o mesmo que proibir qualquer empresa aérea de voar após um acidente como aconteceu com a TAM”, exemplificou Coura.

Da Holanda à China, um jeito aos rejeitos Durante dois dias, os especialistas do setor debateram temas sobre a mineração sustentável. Diversos painéis e palestras abordaram “Políticas públicas”, “Desaguamento de rejeitos”, “Economia circular na Indústria e Mineração”, incluindo “Reaproveitamento de Rejeitos na Construção Civil”. Segundo o secretário Germano Vieira, titular da Semad, a iniciativa conjunta de promover o seminário corrobora com o dever do poder público de fomentar alternativas à disposição dos

rejeitos em infraestruturas de barragens, como preconiza a Lei 21.972/2016. Isso explica a ampla participação não apenas do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Mineração, mas também do setor produtivo (Fiemg), da construção civil (CREA e Sinduscon) e da comunidade acadêmica. O seminário anterior, sobre o mesmo tema e atores, promovido em maio deste ano, foi fruto da visita de uma comitiva do Sisema

GESTÃO DE BARRAGENS

Diretor de Resíduos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Renato Brandão destacou o trabalho que a entidade faz, desde 2002, na gestão das barragens do Estado: “Elas são classificadas como de alto, médio ou baixo potencial de dano ambiental; e os empreendimentos têm de realizar auditorias periódicas em seus reservatórios. Em 2017, nós concluímos fiscalizações em 275 barragens. E, em 2018, em 311 delas”. Os dados do “Inventário de Resíduos da Mineração” apontam cerca de 289 milhões de toneladas de resíduos gerados, dos quais 95,58% são destinados para as barragens e 2,87% para as pilhas de rejeitos. Somente 0,003%, cerca de 9,9 mil toneladas, é reutilizado.

“Temos que reaproveitar os rejeitos da mineração, para minimizar a construção e operação das barragens.” GERMANO VIEIRA, titular da SEMAD FOTOS: JANICE DRUMOND / SEMAD

de exploração. “Temos de deixar de ser vítimas para sermos sujeitos da realidade. Não existe nada pior para a natureza que uma mina ou um avião abandonados no meio ambiente. Assim, não permitir a volta sustentável da Samarco prejudica a todos, sem exceção. É o máximo da imbecilidade. O que ocorreu ali foi um grave acidente de engenharia com consequência socioambiental também gravís-

à China. Na ocasião, o secretário e sua equipe puderem conhecer técnicas avançadas para reaproveitamento dos rejeitos de mineração implementadas pelo país asiático, que tem alta produção desse tipo de material. Em outra iniciativa, o secretário e técnicos da Feam também estiveram na Holanda, no final de 2017. Todo o conhecimento adquirido durante a visita foi compartilhado em Minas durante a realização do “I Seminário Internacional de Tecnologia e Gestão de Barragens”, em maio deste ano. O evento contou, na época, com a participação de especialistas e órgãos ambientais da Holanda, Portugal e do Chile. E o conceito percebido foi o mesmo defendido agora por Germano Vieira: “Temos de mudar o conceito atual que trata os rejeitos da mineração como algo sem valor e tratá-lo como um produto com status econômico, cobiçado por outros setores da economia”. O

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1 PATRIMÔNIO HISTÓRICO

A ALMA DEVOLVIDA

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esde o último oito de dezembro, data do aniversário de 316 anos de Conceição do Mato Dentro, a história da arte barroca brasileira recuperou um tesouro incalculável. Foi concluído, com pompa e circunstância, o processo de restauração da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira da cidade que dista 164 km de BH, encravada na Reserva Mundial da Biosfera da Serra do Espinhaço. O trabalho, realizado ao longo de seis anos, revelou um importante e inesperado patrimônio artístico e sacro em Minas. A retirada de oito camadas de tinta e a consequente recuperação da sua pintura original revelaram, na capela-mor, a reprodução ilusionista de elementos arquitetônicos emoldurando as cenas da vida da padroeira. Também trouxeram à tona painéis no estilo de uma recriação de azulejaria com passagens da vida de Cristo e, ainda, pinturas adornando a Assunção de Nossa Senhora no forro do altar-mor. Tamanha e delicada obra só foi possível graças ao investimento de R$ 8,5 milhões feito pela Anglo American, fruto de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela empresa com o Ministério Público de Minas Gerais, em parceria com a Prefeitura Municipal, como medida compensatória pela implantação do Sistema Minas-Rio. Minucioso, o trabalho foi realizado pela Cantaria Conservação e Restauro, com supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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FOTOS: SELMA AGUIAR / ASSESSORIA COMUNICAÇÃO PMCMD

Igreja do Século 18 é restaurada e reaberta para a população de Conceição do Mato Dentro


TODOS GANHAM “Estamos maravilhados com a descoberta propiciada pela restauração desta igreja. É comovente perceber o brilho nos olhos de quem frequentou o templo no passado, esperou 15 anos por sua reabertura, e agora pode vê-lo vivo, reaberto para a comunidade e para as novas páginas de sua história. Esse é o tipo de legado que queremos deixar. A restauração da Igreja Matriz é um exemplo concreto, e ao mesmo tempo lúdico, da possibilidade de convivência harmônica entre a mineração, meio ambiente e a comunidade”, assinalou o diretor de Assuntos Corporativos da Anglo American, Ivan Simões. Ele lembrou também que a mineração é uma atividade de longo prazo: “É fundamental manter uma conexão relevante com as comunidades vizinhas aos nossos empreendimentos e valorizar suas tradições religiosas, sociais e culturais. Assim, todos saem ganhando”. Segundo o prefeito de Conceição do Mato Dentro, José Fernando de Oliveira, a restauração e a reabertura da igreja, cuja construção data de 300 anos atrás, são um dos maiores presentes que o município e o país receberam este ano. O

A IGREJA MATRIZ: genuíno exemplar do barroco mineiro

Esperança renovada “Há pouco tempo, nesse adro havia uma placa de obra da Anglo American com os dizeres: ‘O que estamos fazendo aqui faz toda a diferença para a tradição da comunidade’. E é isso mesmo. O reerguimento da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição faz diferença. E diferença para a comunidade inteira. Para a sua tradição que também é cultura. Meu pai – José Aparecido de Oliveira – na época à frente do Ministério da Cultura, dizia que a cultura de um povo é o único poder capaz de resgatar a sua fisionomia espiritual e manter a sua identidade. Tombada em 1948 pelo Iphan e interditada desde 2005, a nossa Igreja Matriz é um dos bens mais relevantes do patrimônio cultural sacro brasileiro. O que estamos fazendo aqui, em nome da nossa população, é devolver-lhe a alma de Conceição do Mato Dentro.” JOSÉ FERNANDO DE OLIVEIRA, Prefeito de Conceição

PRESIDENTE DA CÂMARA, João Marcos, vice-prefeita, Ivete Otoni, promotor Marcelo Mata Machado, restauradores Ricardo e Dulce Senra, diretor da Anglo American, Ivan Simões, superintendente do Iphan, Célia Corsino, prefeito José Fernando, arcebispo Dom Darci José Nicioli, secretário de Estado da Cultura, Angelo Oswaldo, deputado estadual Sávio Souza Cruz e Felipe Starling, da Anglo American DEZEMBRO DE 2018 | ECOLÓGICO O 75


A cada ano, a Rede Catedral de Comunicação Católica renova seu compromisso de proclamar boas novas e levar o amor às famílias. Toda a nossa equipe deseja um feliz Natal e muitas bênçãos em 2019! Baixe também o nosso aplicativo REDE CATEDRAL e se inscreva no nosso canal do Youtube. Acesse: youtube.com/tvhorizonte


O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE

Guimarães Rosa

FOTO: MA FOTOGRAFIA

ENCARTE ESPECIAL (X)


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ENCARTE ESPECIAL (X)

Citações breves sobre

diversas enfermidades Parte 2

Eugênio Goulart redacao@revistaecologico.com.br

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doença carencial chamada de bócio endêFoi ao boticário e pediu franqueza. mico incidia raramente em povos litorâneos, - Franqueza mesmo, mesmo, seu Cassiano? O semas, caminhando-se em direção ao interior nhor... Bem, se isso incha de tarde e não incha nos do continente americano, devido à carência de olhos, mas só nas pernas, é mau sinal... iodo em toda a região, ia se tornando cada vez mais - P’ra morrer logo? prevalente. Os povoados de papudos fazem parte - Assim sem ser ligeiro... Lá p’ra o São-João do ano da história de Minas Gerais, e são citados no “Gran- que vem... Mas já indo empiorando um pouco, aí por de Sertão: Veredas”: E ali era um povoado só de pa- volta do Natal... pudos e pernósticos. A citação “se não incha nos olhos, mas só nas No contexto dessa frase, a palavra “pernóstico” é pernas, é mau sinal” é característica do edema empregada com o sentido popular de bobo, retar- da insuficiência cardíaca, pois o paciente tende dado, e não com a conotação mais erudita de es- a assumir uma posição com o tronco sempre elenobe ou pretensioso. vado, ou seja, para melhor res“O nome gripe vem do pirar evita a posição horizontal, E pode ser relembrada ainda a citação de um “anjo papudo e meio do século passado e muitas vezes chegando a dormir idiota”, do conto “O recado do sentado. Com isso, melhora a camorro”, do livro “No Urubuqua- foi primeiro empregado pacidade respiratória, e o edema, quá, no Pinhém”, uma associação pela ação da gravidade, fica mais por Sauvages, de que não era infrequente. nos pés, acometenMontpellier, tendo em pronunciado Também no livro “Sagarana”, no do pouco a face. conta o aspecto tenso, conto “Duelo”, o médico GuimaCom dispneia progressiva, ou rães Rosa novamente se mistura seja, com a “respiração difícil contraído, encrespado, com o escritor. O personagem Casde um cachorro veadeiro que amarrotado - grippé - volta da caça”, Cassiano Gomes siano Gomes foi dispensado do exército devido às “más válvulas e teve que parar em um povoado que ele julgou ver na maus orifícios cardíacos”, e mais gente miúda, amarelada ou cara de seus doentes.” “de tarde desenvolveu um quadro de amaleitada”: insuficiência cardíaca congestiva. Mas, no caminho, foi piorando, Não poderia ser outra doença que não a febre reu- e teve que fazer alto no Mosquito - povoado perdido mática que, segundo médicos antigos, “lambia as num cafundó de entremorro, longe de toda a parte juntas, porém, mordia o coração”, e que geralmente [...]. Pois foi lá que Cassiano Gomes teve o seu desartem início na infância ou na juventude. Cassiano, ao ranjo, com a insuficiência mitral em franca descomperseguir Turíbio Todo por motivo de vingança, por pensação. Desceram-no do cavalo e deram-lhe hoslongas cavalgadas, sente por fim o coração fraquejar: pitalidade. E ele foi para um jirau, com a barriga de Não é à toa, porém, que um cavaleiro, excluído das hidrópico e a respiração difícil de um cachorro veaarmas por causa de más válvulas e maus orifícios deiro que volta da caça. cardíacos, se extenua em raids tão penosos, na trilha Novamente a expressão médica “insuficiência da guerra sem perdão. Cassiano sentiu que, agora, ao mitral em franca descompensação”, para confirmenor esforço, nele montava a canseira. E, do meio- mar o diagnóstico de febre reumática. E “barriga -dia para a tarde, não podia mais ficar calçado, por- de um hidrópico” significa que o paciente já apreque os tornozelos começavam a inchar. sentava edema na cavidade abdominal, ou seja,

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ascite, que faz parte do quadro da insuficiência cardíaca grave. Em outra situação na obra rosiana é citado o termo “hidropisia”. Trata-se da descrição do estado terminal de Medeiro Vaz, no livro “Grande Sertão: Veredas”: A barriga dele tinha inflamado muito, mas não era de hidropisia. Era de dores. Aqui, o diagnóstico diferencial é feito com o olhar “clínico” de Riobaldo, que distingue a ascite da insuficiência cardíaca de outro quadro de distensão abdominal, que no caso certamente era um câncer que estava vitimando o grande chefe jagunço, considerado como o “Rei do Sertão”. Também a personagem Siantônia, do conto “Faraó e a água do rio”, do livro “Tutaméia”, sofria de hidropisias e “em razão de enfermidade, não saia da cama ou rede”. Epidemias do passado são também relembradas, como a famigerada gripe espanhola, em 1918, que marcou a geração de Rosa. Devido ao seu caráter de pandemia, provocou milhares de mortes no Brasil e milhões em todo o mundo. No livro “Primeiras Estórias”, no conto “O cavalo que bebia cerveja”, há uma referência ao “ano da espanhola”: Era homem estrangeiro. De minha mãe ouvi como, no ano da espanhola, ele chegou, acautelado e espantado, para adquirir aquele lugar de todo defendimento, e a morada, donde de qualquer janela alcançasse de vigiar a distância, mãos na espingarda [...] Quem descreveu com detalhes a gripe espanhola foi o grande memorialista Pedro Nava, contemporâneo de Guimarães Rosa na Faculdade de Medicina, sendo apenas cinco anos mais velho. Nava presenciou a grande mortandade da “espanhola” ocorrida no Rio de Janeiro, em 1918, porém Rosa, que na época tinha apenas 10 anos, não conviveu de perto com a epidemia. Todavia, as histórias escutadas dos adultos influenciaram o futuro escritor. Segue o relato de Pedro Nava no livro “Chão de Ferro”, um dos volumes de sua extensa autobiografia: Synochus catarrhalis era o nome de uma doença epidêmica, clinicamente individualizada desde tempos remotos e que periodicamente, cada vez com maior extensão, assola a humanidade. Essa extensão

está relacionada à velocidade sempre crescente das comunicações. [...] O nome gripe vem do meio do século passado e foi primeiro empregado por Sauvages, de Montpellier, tendo em conta o aspecto tenso, contraído, encrespado, amarrotado - grippé - que ele julgou ver na cara de seus doentes. [...] Aterrava a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de causalidades - mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes mas o fato de estarem quase todos doentes e impossibilitados de ajudar, tratar, transportar comidas, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva. ENFERMIDADES DO PASSADO Ficarão para sempre na memória da humanidade os riscos das pandemias como as do passado. Isso talvez explique a preocupação, que ninguém com segurança pode classificar como excessiva, com o surgimento de novos agentes infecciosos. Em tese, não estamos imunes a novas epidemias, que podem se apresentar com gravidade imprevisível. Outro fato relacionado às enfermidades do passado é descrito no livro “Grande Sertão: Veredas”, na penosa travessia dos jagunços pelo Liso do Sussuarão, uma grande área de caatinga no sul da Bahia, próxima à divisa com Minas Gerais: Muitos estavam doentes, sangrando nas gengivas, e com manchas vermelhas no corpo, e danado doer nas pernas, inchadas. Tratava-se, com certeza, do escorbuto, que é a deficiência de ácido ascórbico, ou seja, de vitamina C, que é obtida pelo organismo a partir principalmente da ingestão de frutas cítricas. O quadro clínico apresenta-se com sangramento nas gengivas, petéquias, equimoses e púrpuras, que são “manchas vermelhas no corpo”, e dor à manipulação dos membros, em especial

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ENCARTE ESPECIAL (X) os inferiores, como destacado por Rosa, em con- na fazenda, porque o Major teve a sua enxaqueca, sequência de hemorragias subperiósticas, já que o e depois o seu mal de próstata. Já sem dores, mas ainda meio perrengue, passava o tempo no côncatecido ósseo também é acometido. Todavia, essa manifestação coletiva de escorbuto vo generoso da cadeira-de-lona, com pouco gosto nos jagunços é, sem dúvida, um exagero de Guima- para expansões. A erisipela, doença bacteriana que ataca a pele, rães Rosa, perfeitamente permissível, como uma licença poética do autor. Alguns dias de privação da também teve seu lugar no livro “Sagarana”, no conto vitamina C não levariam ao escorbuto, que surge em “Corpo fechado”: Morreu de erisipela na cara [...]. Se quadros crônicos de carência. No passado, a doença hoje essa infecção raramente mata, certamente não foi chamada de “mal do mar”, pois acometia os ma- foi essa a realidade na era pré-antibiótica, quando, rinheiros nas viagens transoceânicas que duravam entre os inúmeros recursos disponíveis e recomenvárias semanas, sendo que a população de bordo dados, somente mostraram eficácia com- provada era submetida a uma alimentação à base apenas de as compressas de água quente. A aplicação de pó carne salgada e biscoitos, sem frutas. O temido Liso de mofo na área acometida, que podia trazer algum do Sussuarão, situado no sudoeste da Bahia, apesar benefício (a ação curativa seria devido a alguns funde ser uma região de extrema aridez, uma caatinga gos produtores de penicilina?), resultavam, porém, quase desprovida de vegetação, tem, comprovada- em efeitos colaterais perigosos, às vezes provocanmente, uma largura de algumas dezenas de quilô- do fenômenos alérgicos fatais. O reumatismo é valorizado na triste personagem metros. O tempo gasto em uma travessia a cavalo, como no livro “Grande Sertão: Veredas”, mesmo Maria Behú, do livro “Noites do Sertão”, no conto “Buriti”: E entanto Maria Behú com os jagunços sendo submetiadoecera, nas dores de um reudos a uma alimentação precária, A manifestação matismo tão forte, mandaram não seria suficiente para provocoletiva de escorbuto buscar médico, todos se reuniram car as manifestações hemorráginos jagunços é, sem no quarto de Behú, tanto carinho cas e dolorosas da doença. lhe davam; e ainda agora ela mal Outra passagem do mesmo dúvida, um exagero se levantava da cama, dia de sol, livro que merece comentário é de Guimarães Rosa, amparada em alguém e segurano quadro de hipercarotenemia do uma bengala alta. que apresentavam alguns moraperfeitamente Riobaldo, quando teve a opordores das veredas do vale do Rio permissível, como uma tunidade de relatar sua vida ao Paracatu, os catrumanos. Devilicença poética do autor interlocutor que nunca aparece do ao consumo diário da polpa no livro Grande sertão: veredas, amarela do buriti, rica em caroou seja, quando estava no “ranteno, muitos tinham na pele um ge rede” a se lembrar saudosa e sofridamente do tom amarelado: Quase que cada um era escuro de feições, curtidos passado, também reclama de um reumatismo: Mas muito, mas um escuro com sarro ravo, amarelos de minha velhice já principiou, errei de toda conta. E o tanto comer só polpa de buriti, e fio que estavam bê- reumatismo [...]. Mais uma enfermidade, a epilepsia, é descrita no bados, de beber tanta saeta. “Sarro ravo” significa pele com rugas, e “saeta” é “Grande Sertão: Veredas”, no relato das crises convuluma bebida alcoólica, comum no norte de Minas, sivas, ou “ataques”, dos jagunços Zé Vital e Felisberto. nas regiões dos buritis, feita com a polpa do coco O primeiro, após a crise, ficava “semi-morto”, ou seja, dessa palmeira. Como curiosidade, crianças sadias com o característico estado torporoso pós-comicial. que ingerem diariamente grande quantidade de O outro, o Felisberto, seria certamente candidato a mamão, cenoura e abóbora desenvolvem uma cútis uma neurocirurgia para a extração de uma bala “enamarelada, que nada tem a ver com a icterícia, ou cravada na vida de seus encaixes e carnes”, mas imcom a anemia, sendo um achado sem qualquer sig- possível de ser realizada naquela época: Não digo por um Zé Vital, que tornava a dar atanificância clínica. Nada a contraindicar em relação que, dos de entortar boca escumante e se esbracejar e a esse hábito alimentar. Várias outras enfermidades fazem parte da lite- espernear [...] E mais conto o que com um Felisberto se ratura rosiana, como, por exemplo, a enxaqueca dava. Assaz em aparências de saúde, mas tendo sido e o “mal de próstata”, citados no livro “Sagarana”, baleado na cabeça, fazia já alguns anos; uma bala de no conto “Traços biográficos de Lalino Salãthiel”: garrucha - a bala de cobre, se dizia - que estava enCorreram uns dias, muito calmos, reinando a paz cravada na vida de seus encaixes e carnes, em ponto

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FOTO: EDWARD A. “DOC” ROGERS

onde ferramenta de doutor nenhum não alcançava de escrafunchar. Aí, com o intervalo dos meses, e de repente, sem razão entendível nenhuma, a cara desse Felisberto se esverdeava, até os dentes, de azinhavres, ficava mal. Ao que os olhos inchavam, tudo fuscado em verde, uma mancha só, o muito grande. O nariz entupia, inchado. Ele tossia. E horror de se ver, o metal do esverdeio. Daí, feito flor de joaninha-silva em muito sol, do meio dia para a tarde, virava era azul. Aquilo era para poder sarar? Quando que? A tosse de um garrote entisicado. Dizia naquelas horas que estava sem visiva, nada não enxergava. A maior felicidade era ele não saber quem tinha acertado nele aquela bala, não carecer de imaginar onde era que tal pessoa estava, nem de ódio constante de repensar nela. Também no “Grande Sertão: Veredas”, o relato da elefantíase, que é uma parasitose que provoca um aumento exagerado, por linfedema, dos membros inferiores, e da dificuldade visual determinada pela opacificação do cristalino, a catarata: De sorte que, então, olhe: o Firmiano, por apelidado Piolho-de-Cobra, se lazarou com a perna desconforme engrossada, dessa doença que não se cura; e não enxergava quase mais, constante o branquiço nos olhos, das cataratas. Riobaldo fala ainda de uma família e filhos com focomelia, que é o nascimento de crianças com membros rudimentares, síndrome rara, que ficou famosa com o aparecimento de milhares de casos decorrentes do uso de talidomida pela mãe, durante a gravidez: Mire veja: um casal, no Rio do Borá, daqui longe, só porque marido e mulher eram primos carnais, os quatro meninos deles vieram nascendo com a pior transformação que há: sem braços e sem pernas, só os tocos... O uso de termos técnicos, como “sístole”, “asma”, “marasmo”, “vitiligo”, entre inúmeros outros, é frequente e se encaixa no texto de maneira perfeita, sem comprometer a forma literária, pelo contrário, como uma originalidade a mais na descrição. No primeiro conto do livro “Sagarana”, “O burrinho pedrês”, a palavra “sístole” é utilizada para descrever uma repentina enchente de um rio, que engoliu e matou vários cavaleiros, um fato real do qual Rosa tomou conhecimento na infância: - Arreda, Francolim! Deixa eu passar! Mas um rebojo sinuoso separou-os todos. O córrego crispou uma sístole violenta. E ninguém pôde mais acertar o caminho. Uma alusão à asma aparece logo em seguida, no mesmo livro “Sagarana”, no conto “São Marcos”, ao se referir a um “mameluco cambota”: [...] asmático como um fole velho [...]. E no conto “Minha gente”, do mesmo livro, a palavra “cataplasma” é empregada inusitadamente, para expressar o aborrecimento com o prolongar, aparentemente eterno, de uma chuva. No enredo,

Epidemias do passado são também relembradas na obra de Rosa, como a famigerada gripe espanhola, em 1918, que marcou a sua geração de Rosa. Devido ao caráter de pandemia, provocou milhares de mortes no Brasil e milhões em todo o mundo

faz presença marcante o característico clima chuvoso, frio e nevoento da região de Itaguara nos anos de 1930: Mas, cataplasma! Já começa a chover outra vez. Também em uma comparação peculiar, o termo “cautério”, instrumento cirúrgico que faz uso de uma haste aquecida para queimar tecidos do corpo, é utilizado em relação a uma pessoa inconveniente, no conto “Dão-Lalalão”, do livro “Noites do Sertão”: Ela tãozinha de bonita [...] e aceitando o preto Iládio [...] Ah, esse cautério! O CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO.

APOIO CULTURAL:

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (8)

PROXIMIDADE da mina com moradias acarreta poluição e torna relação com a mineradora ainda mais delicada

O ELDORADO DA

DISCÓRDIA ACOMPANHE A POLÊMICA QUE RONDA A MAIOR MINA DE OURO A CÉU ABERTO DO MUNDO, DO, EM PARACATU (MG). POPULAÇÃO DENUNCIA E COBRA PROVIDÊNCIAS EM M RELAÇÃO AOS IMPACTOS SOBRE A ÁGUA E RISCOS DE ADOECIMENTO ENTO DAS PESSOAS POR EXPOSIÇÃO AO ARSÊNIO Neylor Aarão redacao@revistaecologico.com.br

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imensa, que abarcava toda a região. Hoje, não se fala mais dela. Fizemos uma pesquisa sobre essa questão da água em Paracatu e verificamos que a captação feita pela mineradora, por dia, representa mais que o dobro da água usada para abastecimento de toda a cidade, que tem 84,7 mil habitantes.” SECA ACENTUADA O presidente da ONG Ampara, Hander Júnior, faz coro à fala de Eleusa e critica a ação da mineração na cidade. “A mineração tem impacto imenso no meio ambiente. A gente observa, por exemplo, uma mudança drástica nos nossos recursos hídricos, com a água cada dia mais escassa. A seca se acentuou nos últimos anos. Tanto que, no fim do ano passado, a mineradora suspenFOTOS: DIVULGAÇÃO

stamos a 500 quilômetros de Belo Horizonte. A cidade é Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais. A extração de ouro, tradicional em boa parte dessa região do Cerrado, remonta à época da fundação do município, em 1798. Moradora da cidade, Aparecida dos Santos relembra os tempos em que toda a mulherada ia para o córrego tirar ouro. “Ia a mãe, uma madrinha, minha tia, uma prima, todo mundo. Enquanto os homens trabalhavam, elas estavam no córrego, garantindo o dinheirinho delas.” Outra moradora, Geralda Mendanha, diz que criou família e sustentava a casa como garimpeira. Em todas as conversas, fica claro que, além de sustento, o ouro também é motivo de conflitos desde as primeiras pepitas descobertas na cidade. Professor universitário nas áreas de Direito e Psicologia, Marcos Souza explica que, a partir do século 18, os bandeirantes começaram a adentrar a região, ocupando o Cerrado e destruindo aldeias indígenas. “Eles mataram os índios que aqui viviam e começaram a exploração de ouro usando mão de obra escrava. Assim, forjou-se essa região, com vários núcleos hoje transformados em comunidades quilombolas.” Nascido e criado em Paracatu, Aureliano Lopes fala com orgulho a sua idade: 104 anos. Em seguida, é a vez da professora Eleusa Spagnoula. Ela conta que a cidade começou a se formar na comunidade de São Domingos. “Aqui tinha uma cachoeira

deu parte da produção e deu férias coletivas aos funcionários, porque não tinha água.” Dona Geralda também corrobora a constatação de Hander. “Antes, quando chovia, o rio enchia e derramava pelas vazantes. Agora, a água está pouquinha.” Para Mauro Mundim, presidente da Central das Associações de Bairros e ONGs de Paracatu, as benesses resultantes da mineração para a cidade são poucas. “Os benefícios que ficam para o município, da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) e impostos representam quase nada. O ouro tirado daqui vai para outros países e a cidade fica só com os danos.” A proximidade da mina com as casas também é motivo de preocupação e reclamações. “Acho que em lugar nenhum no mundo tem uma mina assim, dentro da cidade. Da minha casa até as divisas NEYLOR AARÃO durante as filmagens feitas em Paracatu: “A contaminação por arsênio se dá pelo ar e pela água”

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (8)

PRODUÇÃO TRIPLICADA De acordo com o diretor de Sustentabilidade e Licenciamento da Kinross, Alessandro Nepo-

muceno, desde que a empresa iniciou suas operações na região [em 2005], a produção foi triplicada, passando de 20 milhões para 60 milhões de toneladas de minério de ferro/ano. “Em ouro, saltamos de 5 toneladas/ano para em torno de 19 toneladas/ano.” Em relação às características e ao volume dos rejeitos gerados pela mineradora, Nepomuceno afirma tratar-se de rejeitos convencionais da mineração. Segundo ele, todo o material é tratado com cuidado, por meio de um processo que assegura a limpeza do rejeito e a qualidade da água das barragens. O risco de contaminação por arsênio é outro assunto espinhoso na cidade. O geólogo Márcio José dos Santos explica que o ouro, em rocha, quase sempre está associado à presença do arsênio. “Ele é considerado um farejador de ouro. Na maioria dos casos, em vez de fazer pesquisa geoquímica para identificação de ouro, muitas empresas optam por analisar o arsênio, porque é mais rápido e barato.”

MÁRCIO JOSÉ: “A empresa está perfurando poços subterrâneos de água manter a sua produção”

ALESSANDRO NEPOMUCENO: “O arsênio fica retido em tanques e não há qualquer problema em termos de disposição”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

da empresa não dá nem 500 metros. Se você fazer uma pesquisa no bairro e alguém falar que não é prejudicado pela mineradora é porque deve estar levando alguma vantagem.” Em campo, o geólogo Márcio José dos Santos aponta as placas existentes por toda parte, com restrições à entrada, caça, pesca e nado em áreas da mineradora. “Aqui já é a represa. E lá embaixo fica a barragem de rejeitos”, aponta. Questionado sobre a grande extensão da barragem e de onde vem a água usada pela empresa, ele responde: “É muita água mesmo. Agora, eles estão furando poços profundos na região de Santa Rita [comunidade rural], para extrair água subterrânea, porque a deles não está sendo suficiente para manter a usina funcionando em plena carga. Sem a recarga dessa água subterrânea, vão secar a região”, alerta.

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PELO AR E PELA ÁGUA Durante as filmagens, essa questão da (possível) contaminação de áreas de Paracatu por arsênio despertou minha atenção. Professora-titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Virgínia Ciminelli esclarece que esse elemento é amplamente encontrado na natureza, mas em pequenas concentrações. “O arsênio é um veneno bastante conhecido e relatado em filmes e livros. Mas isso, se usado em doses elevadas, ou seja, em doses consideradas letais.” Segundo a professora, em algumas regiões do planeta o arsênio se apresenta em concentrações naturalmente mais elevadas, associado à mineralização de metais importantes, entre eles cobre e ouro. “O Quadrilátero Ferrífero, por exemplo, é uma região na qual as rochas apresentam uma concentração mais elevada de arsênio devido à geologia local. Isso não implica que a população esteja sob risco. O que é relativamente mais recente em relação ao arsênio é a constatação de que a exposição – em baixas concentrações, por um tempo longo – pode levar a efeitos graves sobre a saúde, inclusive ao aumento de casos de câncer.” De acordo com os estudos a que tivemos acesso durante as filmagens desse episódio, a contaminação por arsênio se dá pelo ar e pela água. Dependendo da forma e do tempo de exposição, ele pode levar à morte e causar câncer, sendo altamente perigoso e contaminante. Indagado sobre possíveis danos à saúde, Alessandro Nepo-


ENTENDA MELHOR

A alta concentração de arsênio é comum em locais onde é feita a extração de ouro. Ou seja: onde o ouro está presente na rocha sedimentar, geralmente também há arsênio. O As escavações de túneis liberam esses dois materiais. Livre, o arsênio é volatilizado ou carreado pela água, contaminando peixes, solos e plantas. O O índice de concentração de arsênio [no corpo humano] considerado aceitável é de cerca de 50mg/kg. O Incolor, inodoro e insípido, o arsênio é um semimetal pesado altamente tóxico, encontrado na água, em rochas e até em meteoritos. Em casos menos graves, a contaminação provoca lesões na pele que não cicatrizam. Em níveis mais elevados pode causar gangrena, danos a órgãos vitais e câncer. O

COM RECEIO de consumir a água dos poços e cisternas da cidade, moradores têm optado por comprar água mineral

muceno responde, categórico. “Não. Ele é considerado um resíduo que não pode ser disposto de forma convencional. Por isso, fazemos uma selagem dupla [da barragem]. Temos todo um processo de envelopamento do solo e, em baixo, instalamos drenos de segurança.” O geólogo Márcio José dos Santos contrapõe a fala de Nepomuceno. E mostra a água que escoa da barragem. “Está vendo esse dreno? A água que sai dele, contaminada, é lançada aqui, no Córrego Machadinho, sem qualquer tratamento. Quando a gente faz a amostragem lá embaixo, nessas águas superficiais, a gente confirma essa contaminação.” DISCUSSÃO INTERNACIONAL Em relação à presença de arsênio no material particulado gerado pela mineradora, cuja poluição

afeta as comunidades vizinhas, Alessandro Nepomuceno pondera que as barragens da Kinross estão voltadas para um vale e não para a cidade. E volta a reforçar as explicações e cuidados tomados pela empresa. “O arsênio fica retido em tanques e é depositado de forma controlada. O que fica retido é uma concentração residual, na qual fazemos análises e fica claro que não há qualquer problema em termos de disposição.” Para representantes da comunidade científica internacional, não existe exposição segura ao arsênio. Doutor em Medicina, Sergio Ulhoa Dani, integrante do Departamento de Oncologia Médica do Hospital da Universidade de Berna, na Suíça, explica que há vários estudos atestando os riscos da exposição da população de Paracatu ao arsênio. “Há também várias pessoas

Fonte: Instituto de Ciências Biológicas/UFMG

com concentração de arsênio acima de microgramas por litro de urina na cidade. Apenas a detecção de arsênio orgânico na urina já é prova que não existe dose segura de exposição a ele.” Segundo o médico, estudos também atestam a correlação entre arsênio e câncer. “Autoridades internacionais – como a Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC), na sigla em inglês – classificam o arsênio como um agente cancerígeno do Grupo 1. Ou seja, é um agente cujo efeito

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (8)

“A conclusão a que chegamos é que os riscos para a população de Paracatu são baixos”, garante. Diante da conclusão da professora Ciminelli, decidimos perguntar ao doutor Sergio Ulhoa Dani se ele havia tido acesso ao estudo do CETEM. Ele afirmou que sim. E explicou que, por força de uma ação civil pública, a mineradora foi obrigada a tornar público os dados relativos ao levantamento feito. “Graças a essa decisão, pudemos fazer uma crítica desse estudo. Analisamos mais de 20 páginas e concluímos que ele foi fraudulento, tanto que foi refeito.” A intenção, pontua Ulhoa, era que fosse contratada outra empresa, um grupo independente, para refazer o estudo. “Mas, infelizmente, o Ministério Público decidiu recontratar os mesmos responsáveis, com a esperança de que o erro fosse reparado. No entanto, isso não aconteceu, porque são grupos ligados à mineração e não a médicos ou sistema de saúde.” Indagado sobre o fato de a mineração seguir ativa em Paracatu, apesar de tantos indícios de FOTOS: DIVULGAÇÃO

cancerígeno não está mais em discussão, já é aceito pela comunidade científica e médica internacional.” Vice-prefeito de Paracatu, José Altino Silva dá o seu depoimento como cidadão e médico. E afirma que sempre se preocupou com a atuação da mineradora tão próxima da cidade, bem como a possibilidade de a população estar exposta a poluentes contaminantes. “No entanto, ficamos bem mais tranquilos depois que o pessoal do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) – vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia – fez um estudo longo aqui, cujos desdobramentos ainda continuam, mostrando que os níveis de agentes tóxicos, e principalmente de arsênio, são comparáveis aos de cidades não mineradoras.” A professora Virgínia Ciminelli, da UFMG, lembra que, em 2010, foi procurada pela Kinross para desenvolver um amplo projeto de pesquisa na cidade. A proposta era avaliar e investigar mais profundamente a exposição da população ao arsênio.

VIRGÍNIA CIMINELLI: “Os riscos de exposição ao arsênio na cidade são baixos”

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SERGIO ULHOA: “Detecção de arsênio na urina comprova que não há dose segura de exposição”

que a atividade é prejudicial à saúde da população, Ulhoa afirma não entender o verdadeiro porquê. “Há muitas hipóteses, como o fato de empresa lucrar muito e não estar interessada em ver sua atividade ser interrompida, simplesmente porque está causando problemas à cidade. Isso pode parecer absurdo, mas é uma possibilidade.” Estudos conduzidos por pesquisadores locais apontam que a contaminação por arsênio, em Paracatu, chega a 200 vezes acima do índice máximo tolerado (leia a seguir). Autor de um desses estudos, feito em áreas abaixo da barragem de rejeitos da mineradora, o geólogo Márcio José dos Santos esclarece que foram analisadas águas superficiais e subterrâneas e também amostras de sangue de 30% da população residente no local. “Eu atestei que todos os poços de extração de água para consumo humano estão contaminados por arsênio, assim como todas as águas superficiais. Além disso, 70% dessa população está com teor de arsênio muito elevado no corpo.” POÇO CONTAMINADO Presidente da Associação dos Pequenos Produtores da Comunidade de Santa Rita, Vera Lúcia mostra um poço e lamenta. “Eles vieram, dividiram a comunidade, destruíram o meio ambiente e contaminaram a água com arsênio. Todas as nossas cisternas estão contaminadas. Aqui tem um poço, mas a gente não está usando mais ele para nada. Estamos comprando água mineral.” Ao comentar a ocorrência de casos de câncer entre a população, a ex-moradora Rafaela Xa-


FIQUE POR DENTRO

Maior mina do mundo Operada pela canadense Kinross Gold Corporation, a Morro do Ouro é a maior mina de ouro do Brasil e a maior do mundo a céu aberto. A empresa atua na pesquisa e desenvolvimento mineral, mineração, beneficiamento e comercialização de ouro, respondendo por 22% da produção nacional. Gera cerca de 1.800 empregos locais diretos e outros quase 3 mil terceirizados. Em nível global, o grupo está presente também no Chile, Estados Unidos, Canadá, Gana, Mauritânia e Rússia.

vier denuncia a falta de controle e acompanhamento por parte dos órgãos de saúde. Ela diz que trabalhou para a prefeitura e revela: “Nenhum dos resultados das biopsias que chegam depois que o paciente morreu vai para a Secretaria Municipal de Saúde. Eles não monitoram nada, não fazem catálogos, só guardam os impressos. Se houver um incêndio ou algo parecido, tudo se perderá. Não há estatísticas e sempre mudam tudo de um lugar para o outro. Já sumiram vários documentos lá dentro.” Ainda segundo Rafaela, a mineradora monitora todos os passos da comunidade. “Sempre estão num carro diferente e monitoram tudo o que a gente faz. Monitoram inclusive os seus próprios funcionários e o nosso Executivo.” O geólogo Márcio

PRODUÇÃO da Kinross foi triplicada desde o início de sua operação, saltando de 20 milhões para 60 milhões de toneladas de minério de ferro/ano

José dos Santos também é enfático ao descrever o poderio da mineradora. “Eles têm uma rede de poder fortíssima. A nossa voz é silenciada de várias maneiras.” Marcos Souza, professor universitário de Direito e Psicologia, reafirma a pressão sofrida pela comunidade e desabafa: “Vivemos numa região que está sendo envenenada em todos os sentidos. Enquanto isso, a mineradora mantém a campanha de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais e até de governadores.” O vereador João Macedo, nascido na cidade, resume a sensação de impotência da população diante da realidade local. “É uma luta desigual. Eles são poderosos e têm um poder de dinheiro imensurável perto da gente.” Com a palavra final, o diretor de Sustentabilidade e Licencia-

mento da Kinross reafirma que as políticas da mineradora são globais. “Independentemente de onde você está operando, o importante é respeitar as comunidades, ter valor ambiental e fazer com que a questão econômica seja equacionada como algo comum, integrado. Essa é a única forma correta de se fazer negócio”, aponta Alessandro. O LEIA NA PRÓXIMA EDIÇÃO: As crianças contaminadas na Ilha da Maré, na Bahia.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - GIRASSOL Da família das margaridas, o girassol é uma planta heliotrópica, ou seja, o caule gira posicionando a flor sempre na direção do sol até a fase de florescimento. Seu cultivo foi introduzido no Brasil no século 19 Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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o Feng Shui sua flor funciona como uma mandala e exala prosperidade. Em diferentes culturas, é sinônimo de fama, sucesso, sorte e felicidade. Com sua exuberância solar e a inconfundível cor amarelo-ouro, ele serviu de inspiração para um dos grandes gênios da pintura mundial, o mestre holandês Vincent van Gogh. Guiado pelo movimento do astro-rei, o girassol também se destaca por seu potencial como matéria-prima para a produção de óleo vegetal de excelente qualidade. É, ainda, um valioso coadjuvante na produção de mel, atraindo abelhas e fornecendo alimento a elas na época de sua floração. Originária das Américas Central e do Norte, é uma planta de múl-

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tiplos usos e da qual quase tudo se aproveita, sendo usada também como alimento por diferentes populações humanas ao longo da história, inclusive por índios. Sua chegada à Europa e Ásia se deu no século 16, onde ganhou espaço como espécie ornamental. No entanto, sua maior relevância se consolidou em razão da qualidade nutricional e organoléptica (aroma e sabor) de seu óleo. Conforme dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o fruto do girassol tem 24% de proteínas e 40-44% de óleo, sendo rico em ácidos graxos insaturados, como o linoleico e o oleico, ajudando a reduzir os níveis do mau colesterol (LDL) e também prevenindo doenças cardiovasculares.

Entre os usos tradicionais do girassol vale mencionar ainda o consumo da semente – que na verdade é o seu fruto – in natura para a alimentação de aves. A planta também é amplamente usada na produção de silagem – graças ao elevado teor de fibras –, enquanto a torta resultante da extração do óleo, altamente proteica, é empregada na fabricação de rações para animais. PLANTA ADAPTADA O girassol é uma cultura que se adapta bem a diversos ambientes, podendo tolerar desde temperaturas baixas até longos períodos de estresse hídrico. A maior tolerância do girassol à seca se deve, principalmente, ao seu sistema radicular profundo,


NINFA APAIXONADA Na mitologia grega há uma lenda sobre a origem do girassol. Clítia ou Clície, era uma ninfa que estava apaixonada por Hélio, o deus do Sol. Quando este a trocou por Leucoteia, Clície começou a enfraquecer. Ficava sentada no chão frio sem comer e beber, alimentandose apenas das suas próprias lágrimas. Enquanto o Sol estava no céu, Clície não desviava seu olhar dele nem por um segundo. Mas durante a noite, seu rosto se virava para o chão e ela continuava a chorar. Com o passar do tempo, seus pés ganharam raízes e sua face se transformou em uma flor, sempre regida pelo movimento do Sol.

cuja cuja j s ra raíz ízes es exp xpllora loram m gr grande de volu vo lume me de so sollo lo e, co cons ons nseq eque eq uent ue ente ement me nte nt e, absor bsorv vem m maio ior q qu uan anti tiitidad de de ág água e de nu água n triient ntes es. Como mo se de dese sen nvol olve lve bem na maio ma iori ria a do doss so solo loss ag agri ricu cu ult ltá áveis, áv is, tem te m cu cult ltiivo lt ivo bemm-su suce cedi d do o em boa bo a pa part rtte do ter erri ritó ri tóri rio brasilei eiro ro. Atua At ualm men nte, os pllant nttio ioss comerr-

ciais se concentram em Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, sobretudo na chamada “safrinha”, sucedendo ao cultivo da soja. Em Roraima, o ciclo completo, desde o plantio até a colheita, dura de 75 a 80 dias, enquanto nas demais regiões é de aproximadamente 110 dias.

FIQUE POR DENTRO

O Em nível global, o principal foco do cultivo de girassol é servir de fonte para a produção de óleo vegetal, figurando entre os quatro óleos mais consumidos, ao lado do de palma, de soja e de canola. Responde por cerca de 16% da produção mundial. O No Brasil, o cultivo remonta ao século 19, na região Sul, tendo sido trazido por colonizadores europeus, que consumiam suas sementes torradas sob a forma de chá. O Atualmente, o principal estado produtor é o Mato Grosso, que alcançou cerca de 50 mil toneladas de girassol na safra 2016/2017, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A época da colheita varia de acordo com a região. No Mato Grosso ela geralmente ocorre em maio. O O girassol tem dois tipos de “sementes” (frutos), classificadas conforme seu uso. As de coloração negra, menores, têm casca bem aderida e são destinadas à produção de óleo e de farelo. Já as estriadas, maiores, têm casca (pericarpo) mais fibrosa e facilmente removível, sendo usadas para consumo humano (como amêndoas) ou como alimento para aves.

Feng shui: ciência e arte chinesas que determinam como organizar e decorar espaços internos, com a finalidade de obter a energia benéfica da natureza.

Oleaginosas: vegetais que contêm óleos e gorduras que podem ser extraídos por meio de processos físicos ou químicos.

Organoléptica: substância que atua sobre os sentidos e/ ou órgãos

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - GIRASSOL

Entenda melhor O O nome científico do girassol é Helianthus annuss L. Deriva do grego helios (sol) e anthus (flor), a “flor do sol”. Pertence à família Asteraceae, a maior família das angiospermas, que inclui outras plantas com flores compostas, como as margaridas. O É uma planta heliotrópica, ou seja, o caule gira posicionando a flor sempre na direção do sol até a fase de florescimento. O Seu caule atinge até três metros de altura e sua fibra pode ser usada para a produção de papel. As hastes podem originar material para a forração acústica e, junto com as folhas, também podem ser ensiladas para uso na adubação verde. Em associação com a apicultura, podem ser extraídos de 20 a 40 quilos de mel/hectare. O Os grãos de girassol têm alto teor de óleo de alta qualidade, usado principalmente para

consumo humano, podendo variar de 38% a 50%, dependendo da cultivar usada. Esses valores são aproximadamente o dobro do teor de óleo do grão de soja, que é em média de 20%. Esse diferencial do girassol possibilita a extração do óleo por prensas mecânicas, inclusive na propriedade ou em associações de produtores. O Em termos de produtividade, o Brasil está próximo da média mundial, com cerca de 1.500 kg/hectare (a média mundial é de 1.700 kg/hectare, conforme dados de 2017). Na França, país com vasta tradição de pesquisas com girassol, a média chega a 2.500 kg/ ha. Essas diferenças de rendimento são atribuídas, principalmente, às variações nas condições de produção, envolvendo fatores como clima, fertilidade do solo, emprego de tecnologias e ocorrência de doenças/pragas. Vale ressaltar que a maior parte da produção brasileira de girassol é feita em condições de safrinha, após a safra principal de grãos.

A gratidão do mestre Uma das obras mais famosas do mestre da pintura mundial, o holandês Vincent van Gogh (18531890), é a série de quadros “Os Girassóis”. Em óleo sobre tela, ela foi produzida na cidade de Arles, no sul da França, e inclui cinco grandes telas dessa flor em um vaso, com três tons de amarelo. Os girassóis tinham significado especial para Van Gogh, pois, segundo ele, comunicavam “gratidão”. Com sede em Amsterdã, o Museu Van Gogh permite a visualização online e/ ou download de todo o acervo do pintor. Quer visitar? Acesse aqui: goo.gl/6BkZWE FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Embrapa Soja / Departamento de Produção Vegetal/Esalq-USP / Produção de Girassol (Valter Francisco Hulshof/Holambra-SP).

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FOTOS: REPRODUÇÃO

QUATRO PERGUNTAS PARA...

REGINA VILLAS BÔAS DE CAMPOS LEITE DOUTORA EM AGRONOMIA/FITOPATOLOGIA E PESQUISADORA DA EMBRAPA SOJA

Potencial estratégico Qual é o total da produção de girassol no Brasil? Há conquistas a comemorar ou mais entraves a serem superados? A área de cultivo de 62,3 mil hectares na última safra é incipiente, representando apenas 0,24% da área de produção mundial, comparada aos principais produtores como Ucrânia, Rússia,, União Europeia e Argentina, entre outros países, que totalizam quase 26 milhões de hectares. ares. A maior área cultivada no país foi oi na safra 2013/14 (145,7 mil hectaares), impulsionada pelo interesse se do polo industrial recém-cons-truído para extração do girassol no Mato Grosso. Apesar da pequena área, como o girassol é cultivado em sucessão à soja, que abrange mais 33,8 milhões de hectares em todo o Brasil, há um enorme potencial de expanansão no país. Que setores impulsionam essa expansão? exp xpan ansã são? o? Esse potencial é capitaneado pela demanda por óleos de alta qualidade para consumo humano, pela indústria de alimentos e também pela demanda do governo brasileiro por óleos vegetais que são matéria-prima para a produção de biodiesel. Portanto, há boas expectativas para a cultura do girassol. O óleo de girassol custa até 70% mais do que o da soja. Vê perspectivas de mudança dessa realidade, no sentido de redução do preço e da ampliação do consumo pela população? Para o Brasil, é estratégico aumentar a oferta global

Nós apoiamos essa ideia!

de óleos de diferentes oleaginosas. Óleos nobres com elevado valor nutricional, maior teor de ácidos graxos poli-insaturados ou elevado teor de ácido oleico, como o girassol, são muito valorizados para o consumo in natura e uso na indústria de alimentos. Demais óleos, como a soja, largamente usada na alihum mentação humana no Brasil, mas produzidos em grande es escala, devem também ser direcionad para o mercado de biodiecionados r sel. A redução do preço do óleo de girass virá com a expansão da área rassol cult cultivada e a maior oferta desse óleo ó de excelente qualidade. E no campo das pesquisas: há h alguma novidade no n Brasil? A maioria m do girassol cultivado ainda ain é de genótipos tradicionais, cujos cujo grãos apresentam óleo com 55% a 75% de ácido linoleico. No entanto, enta en tant nt o girassol alto oleico (grãos com co om óleo com c mais de 75% de ácido oleico) também tem sido cultivado. Este óleo tem sabor agradável e leve, bom desempenho de fritura, estabilidade natural, não necessita ser hidrogenado e tem possíveis benefícios à saúde. É, ainda, preferido pela indústria alimentícia, graças à maior estabilidade oxidativa, característica que aumenta a vida útil dos alimentos processados. A Embrapa vem desenvolvendo cultivares de girassol alto oleico, usando técnicas de melhoramento convencional, visando oferecer aos agricultores genótipos que produzem óleo de excelente qualidade e adaptados às condições brasileiras. O


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MEMÓRIA ILUMINADA - ROBERT HAPPÉ

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“Amar é a nossa missão”

FOTO: CÍNTIA MELO

holandês Robert Happé, de 75 anos, nasceu em Amsterdã, em plena Segunda Guerra Mundial. Ainda bebê, perdeu os dois irmãos, o lar e a mãe, que desapareceu depois da tragédia provocada pelos bombardeios alemães. À época, seu pai já havia sido preso pelos soldados de Hitler. Robert foi adotado por uma família. As dificuldades por que passou talvez expliquem sua busca incansável por respostas sobre o verdadeiro sentido da vida. “Desde o início, busquei a verdade sobre a vida e sobre mim mesmo; queria entender também por que as pessoas se matam e qual a causa de tanto sofrimento no mundo”, declara. A procura começou aos 16 anos, quando, de mochila nas costas, o jovem Robert saiu pelo mundo, visitando diferentes países, culturas e povos.

HAPPÉ: "A degradação humana e ambiental vai acabar, porque a luz está se ampliando"

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Em todos os lugares pelos quais passou – Nepal, Índia, Taiwan, Camboja (onde morou numa floresta durante três anos), EUA e países europeus e sul-americanos –, Robert diz ter encontrado amor. “Não existe um só povo que não seja capaz de amar”, confessa. Desde 1987, ele compartilha seu aprendizado em seminários pela Europa, África, Argentina e Brasil. Em 1997, escreveu “Consciência é a Resposta”. No parágrafo final do prefácio, faz um alerta: “Ninguém tem a verdade, mas cada um de nós pode sintonizar-se com a própria verdade e conhecimento e expressá-los à sua maneira. Foi o que fiz e espero que cada um faça o mesmo”. O livro, que trata do despertar da consciência através da cura de nossos medos e da comunhão do amor, já está na décima terceira edição. O trabalho de Robert é independente, desvinculado de organizações religiosas, seitas ou qualquer outro grupo. Para ele, nossa principal tarefa aqui na Terra é nos tornarmos livres, expressando amor, luz e amizade nas relações cotidianas. “É essa a experiência humana”, afirma. Para encerrarmos as comemorações dos 10 anos da Revista Ecológico, republicamos aqui trechos da entrevista exclusiva que Happé nos concedeu durante um seminário no Centro de Educação Espiritual que leva seu nome, em Araçoiaba da Serra (SP). O sorriso largo, o abraço afetuoso e um beijo na face são seus típicos gestos de acolhimento. É fácil perceber, logo de início, que a verdadeira expressão do amor, de que tanto fala, está presente ali, naquele senhor alto, de olhos azuis e cabelos grisalhos. Confira:


"Quando você ama de verdade não tem necessidade de saber o tempo todo onde a pessoa amada está e nem quer controlá-la 24 horas. O que você quer é que ela esteja feliz. No amor verdadeiro, há sempre alegria na felicidade do outro."

O A VIDA “É uma jornada para descobrirmos quem realmente somos. Só assim encontraremos a verdadeira paz. Uma vez em paz, poderemos criar de acordo com nossa consciência criativa. Isso não é fácil e temos tentado por milhares de anos criar um mundo que seja próspero, onde possamos reconhecer uns aos outros, como divinos e iguais, compartilhando e cooperando. Fico me perguntando por que ainda não conseguimos fazer isso, se somos todos iguais. Queremos amar e ser amados, apesar disso não estar acontecendo. É difícil amar e ser honesto uns com os outros, trocando afeto de forma digna.”

Se nossas escolas nos ensinassem a ficar bem sozinhos, para termos mais confiança em nós mesmos, sabendo que estamos aqui na Terra para criar coisas bonitas, tudo seria diferente. Mas nos programaram só para aprender matemática, história, geografia, etc. Quando saímos da escola, não sabemos mais como criar. Se as crianças tentam criar, os professores as desencorajam, dizendo que elas precisam seguir o padrão de ensino deles. É um controle para que não acordemos. Está tudo errado. Passamos muitos anos na escola, aprendendo coisas que nunca iremos usar. Quanto à oportunidade de criar, essa é negada.”

O AS RELIGIÕES “Elas distorcem as mensagens dos mestres e fazem as pessoas viverem na escuridão. Buda e Jesus foram pessoas como nós, mas que compreenderam a importância do autoconhecimento. Jesus sabia que não devíamos escutar a força da economia que nos controla; mas sim, a força do coração. Ele sabia que o amor era o poder maior, por isso, disse: 'Amemse uns aos outros'. Mas as pessoas só se sentem confortáveis adeptas às religiões, como se com isso se sentassem na primeira fila, mais perto do céu.”

O A FORÇA CRIADORA “A degradação humana e ambiental vai acabar, porque a luz está se ampliando. Algumas pessoas usarão essa luz para transformar seus medos em amor. Outras ficarão com mais medo ainda e não suportarão a luz. Então, haverá a separação entre a luz e a escuridão. Nosso mundo vai se dividir em dois, ficando uma parte na terceira dimensão e outra, espiritual, na quarta dimensão, em níveis mais elevados.”

O A SOLIDÃO “Somos nervosos e fomos programados assim.

O A LUZ VERSUS A ESCURIDÃO “Quem controla coisas e pessoas está na escuridão. Quem é amoroso está na luz. Simples

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MEMÓRIA ILUMINADA – ROBERT HAPPÉ assim. Há também aquelas que têm luz, mas que estão servindo à escuridão, porque estão dominadas pelo medo.” O A MISSÃO “Dar amor a todas as pessoas é a nossa maior missão. Dê o seu amor simplesmente pelo prazer em ter o outro aqui neste planeta. Mas faça isso com respeito. Há pessoas que não suportam receber muito amor de uma só vez. Elas podem se sufocar. Então, use sua sabedoria, dando apenas amor suficiente para a evolução do outro, para que ele consiga crescer. Dê amor sem a expectativa de receber. Quem precisa receber é quem está doente. Se você pode dar é porque tem e está saudável.” O O MEDO “Existem pessoas que têm tanto medo, que não conseguem amor e energia suficientes. Essas pessoas acabam roubando nossa energia. Precisamos perdoá-las, perguntando o que querem, do que precisam. Mas nunca permitindo que sejam desonestas e joguem conosco. Se nos comunicamos e nos expressamos dizendo do que gostamos e o que sentimos no coração, as pessoas percebem essa clareza e acabam nos dando amor de volta. Todo mundo tem amor no coração. Mas se existe muito medo, ele não funciona. Todas as pessoas com as quais nos relacionamos são uma grande oportunidade para expressarmos amor. Se a pessoa com a qual você se relaciona não consegue expressá-lo, ajude-a, dando seu amor a ela.”

"Quem controla coisas e pessoas está na escuridão. Quem é amoroso está na luz. Simples assim." “Quando criança, temos que fazer o que os outros dizem para não sermos punidos, adquirindo todos os medos: medo da morte, da solidão, do futuro, medo de criar. Totalmente controlados por dogmas e pensamentos falsos, acabamos por expressar medo, em vez de mostrar ao mundo quem realmente somos.” O O AMOR “Amar sem controle. Quando você ama de verdade não tem necessidade de saber o tempo todo onde a pessoa amada está e nem quer controlá-la 24 horas. O que você quer é que ela esteja feliz. Quando as pessoas se amam realmente, o respeito existe e elas sempre voltam umas para as outras. Se ao voltar para casa encontro um amigo de infância, decido ficar um tempo com ele, e digo à pessoa amada que vou me atrasar, ela compreende e não se aborrece. Fica feliz por mim. No amor verdadeiro, há sempre alegria na felicidade do outro.” O O CONSUMISMO “É uma doença criada pela economia, que diz: 'Você só vive quando compra'. Os shoppings são a nova igreja. Neles as pessoas se deslocam para adorar e comprar coisas, gastando sem poder. No fim do mês, a conta chega e elas não têm dinheiro para pagá-la. p Então, voltam à igreja e compram mais.” mais O A A INTUIÇÃ INTUIÇÃO “Através da intuição seguimos a direção do nosso espírito. Se você tiver um canal aberto com a sua intuição, ela o levará às co coisas certas. Quem usa a intuição tem confiança em si mesmo. C Confiante do poder do amor em sseu coração e na sua ligação com o espírito, você tem a resposta para tudo e, automaticamente, conecta e expressa a sua verdade. Essa conexão com o coração e o espírito faz com que toda a prosperidade venha ao seu encontro, porque você está sendo criador da sua própria vida.”


FOTOS: DIVULGAÇÃO

O O DINHEIRO “No nosso planeta, o poder está no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder. Isso é uma grande ilusão. Porque um dia, quando todo o sistema entrar em colapso, quem tem apenas dinheiro ficará sem nada, de uma hora para outra. Essa crise mundial financeira que vivenciamos é uma prova disso.” O AS LEIS DO CARMA “O que você atrai para a sua vida é consequência da sua criação. Quando você encontra uma pessoa que é má para você, compreenda e não brigue com ela. Pense: 'O que eu fiz e preciso mudar na minha consciência para não atrair mais esse tipo de experiência?'. Quando pensamos assim, partimos para uma consciência mais tolerante e amorosa.” O A MUDANÇA “Tudo o que nos acontece hoje se relaciona ao nosso passado. O que foi bom no passado é bom agora, o que foi ruim, também é ruim no presente. Devemos mudar com as nossas experiências. Todo encontro é um encontro conosco. Quando você se depara com alguma coisa que não gosta, esse é o momento de se perguntar por que não gosta. O que há de dificuldade em outras pessoas é o espelho das nossas próprias inabilidades, da falta do nosso conhecimento interior. Entendendo isso, responderemos de forma diferente à vida, reconhecendo o que é verdadeiro e o que não é. Precisamos viver com mais responsabilidade e honestidade, para com o próximo e para com nós mesmos, descobrindo que somos divinos. Isso requer atenção e treino.” O OS CONFLITOS “Hoje estamos no mundo que merecemos. Nossa consciência nos leva para níveis onde nos sentimos confortáveis. Nós ainda não aprendemos o: ‘Amaivos uns aos outros’. Aprendemos a cuidar da nossa família e a pensar que o resto do mundo não é tão importante. Mas somos uma só família. O caos em que o planeta se encontra reflete nosso desinteresse pela melhora e é o espelho da falta do amor. Mas esse mesmo caos pode estimular as pessoas à mudança. É um grande empurrão para a humanidade avançar.” O O BRASIL E A ESPERANÇA “Na Europa, as pessoas são muito civilizadas e tudo é racional. Os brasileiros expressam mais seus sentimentos, mas também usam a razão. A combinação entre a racionalidade e o sentimento é a formula para despertarmos nossa consciência amorosa. O Brasil é a última esperança. Aqui, a maioria das pessoas tem muita conexão com os

"Dar amor a todas as pessoas é a nossa maior missão. Dê o seu amor simplesmente pelo prazer em ter o outro aqui neste planeta." sentimentos. Estão mais conectadas com o lado espiritual. Além disso, temos muito cristal no Brasil, que atrai luz. No futuro, muita gente virá para cá, porque teremos alimento e amor em abundância.” O O FUTURO “Acredite em si mesmo. A pobreza está dentro da nossa consciência. Quando encontrarmos nossa riqueza interior, deixaremos de ser pobres. É preciso aprender que todo trabalho é um servir ao outro em primeiro lugar. Somos seres criadores e chegamos até aqui para criarmos um mundo melhor.” O SAIBA MAIS www.roberthappe.net

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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

PASSARIM...

FOTO: MARCOS GUIÃO

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utro dia se dei com Ramiro Braga, cabra de olhar franco, pele queimada e sorriso largo amparado pelas mãos calosas que, depois de muito trabalhar nesse mundão de produção e cobrança, agora tem prosa mansa garantida pela aposentadoria. Derivado desse trabalho custoso, arrumou um estralo na coluna e num consegue mais trabalhar. Qualquer pequeno esforço vem atrelado de dolorimento e daí ele fica mais por conta de zelar por umas plantinhas e dos passarim criados na soltura do mundo de seu quintal. Orgulhoso, ele caminha com desenvoltura pra mostrar sua rocinha e diz que “amendoim cavalo é muito farturoso, carecendo de plantar lerado, pois assim vai enramando e entopa a terra toda, empencando de bage”. De acordo com ele, “o bão é plantá no meio do milharal, porque depois que o milho madroce a topa já tá inteira, formada por riba da terra”. De passarim, ele conhece tudo e gosta por demais. Conta que “dispois de trazido um casal de canarim chapinha e soltado no quintal, agora vejo é tanteira ciscando por riba da quirela”, generosamente esparramada em frente à varanda. Recostado numa cadeira de balanço, tem visão privilegiada de sua obra e aos poucos vai descrevendo os nomes, hábitos e cantos dos bichim. - Além do canarim-chapinha, tem paparoz, rolinha-roxa, fogopago, bico-de-pimenta, passopreto, tiziu, chupim que tem esse canto agourento. O sofreu

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encanta com a belezura da penugem laranja, preta e a minúcia do branco na ponta da asa. Já a paparoz fêmea é mais arroxeada e feiosa. Em compensação, a jandainha tem a formosura da capa verde e o enfeite do bico amarelo. Tem tamém o assanhaço, o joão-de-barro e o cardeal-da-cabeça vermelha, que andava sumido, mas ontem se dei com ele aí mermo. Já o tico-tico tá tirando ninhada bem ali debaixo do coqueiro. - Mas o que muito me encanta é o sabiá com aquele canto desrreguloso de: ‘Pequei sinhô, roubei sinhá, o que que eu faço...’ Ele continua: “Já o boiadeiro é outro passarim que canta numa buniteza só. Conhece não? Ele aparece é nos roçado de andu e tem um canto que nem um berrante esturrando. O pintassilgo tá mais raleado e o chico-tolo é azulado, grandão e se acha dele no araçá. Tem ainda o joão-graveto que faz aquele ninho de garrancho trançado e a viuvinha-de-peito-branco, toda arrumada com aquele riscadinho preto no zoinho. - Pouco tempo atrás um moço de Capelinha teve por aqui e me pediu pra pegar um casal de canarim-chapinha e vender pra ele. Aquilo doeu no meu coração e antão eu disse: ‘Ô moço, tem jeito não. Nosso criame é na soltura do mundo, mas se argum deles quiser lhe acompanhar, faço muito gosto e nem tem necessidade de pagar...’. Sapiência sertaneja é assim, na lata. Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.



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