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Homenagem Especial JUQUINHA
EmtodaLuaCheia,umapublicaçãodedicadaàmemóriade Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR
Hiram Firmino hiram@souecologico.com
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
EDITORIA-EXECUTIVA Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.
EDITOR DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com
CONSELHO EDITORIAL
Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Patrícia Boson, Paulo Maciel e Sérgio Myssior
CONSELHO CONSULTIVO
Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
REPORTAGEM
Hiram Firmino
COLUNISTAS (*) Marcos Guião e Maria Dalce Ricas
REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Jair Amaral
DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@souecologico.com
MARKETING marketing@souecologico.com ASSINATURA assinatura@souecologico.com
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PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.
REDAÇÃO
Aenida Getúlio Vargas, 254 Funcinários - Belo Horizonte - MG CEP 30112-020 redacao@revistaecologico.com.br
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(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista. sou_ecologico souecologico revistaecologico ecologico /revistaecologico
EXPEDIENTE1
06 ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2022
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TAL
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ÁREA
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VISTO
12 PÁGINAS VERDES 44 MUDANÇAS CLIMÁTICAS REVEJA OS DOIS DISCURSOS PÓS-ELEIÇÕES DO NOVO PRESIDENTE DO BRASIL, EM QUE O TEMA DA SUSTENTABILIDADE QUE O PLANETA E
HUMANIDADE
PROCURAM
SE
POLITICAMENTE,
DE
ASSIM
32 MEMÓRIA ECOPOLÍTICA SOS AFONSO PENA PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA AVENIDA AFONSO PENA, O MAIS ARBORIZADO E ENCANTADOR EIXO RODOVIÁRIO DA CAPITAL DOS
NÃO À TOA TAMBÉM CHAMADO PELOS AMBIENTALISTAS DE “MANTO VERDE”, LEVANTA
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CARTA DO EDITOR MUDANÇAS CLIMÁTICAS SUSTENTABILIDADE NATUREZA MEDICINAL
MEDICINAL
GUTERRES, SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, E IZABELA TEIXEIRA E MARINA SILVA, EX-MINISTRAS DO MEIO AMBIENTE, APONTAM A GRAVIDADE DO AQUECIMENTO GLOBAL, QUE JÁ INFERNIZA A TERRA E AS POPULAÇÕES MAIS VULNERÁVEIS COM EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS,
COMO MOSTROU A COP 27 NO EGITO.
PROFESSORA ANA LUISA DE CASTRO ALMEIDA, ESPECIALISTA EM REPUTAÇÃO PÚBLICA NA
MINERAL, EXPLICA POR QUE
SETOR NÃO CONSEGUE SER
COM BONS OLHOS PELA POPULAÇÃO E, EM PARTICULAR,
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Juntos em ação, juntos em colaboração
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HIRAM FIRMINO hiram@souecologico.com
A HORA E A VEZ
LULA
DO MEIO AMBIENTE
Anatureza e os ambientalistas jamais esquecerão as palavras ditas por Lula, logo após ele ter vencido as eleições para Presidência da República. Como dizem os evangélicos, baseada na doutrina de Jesus Cristo, a palavra tem poder. E Novo Testamento, segundo a sua origem grega, significa “Boa Nova”. Parafraseando juntas, e numa visão jornalística, essas palavras configuram “o poder de uma boa notícia”.
Foi isso, consciente ou não dessa profundidade, o que Lula protagonizou e transmitiu de São Paulo, já quase anoitecido, no seu primeiro discurso como presidente eleito de um país devastado.
A boa notícia, para dar emoção, custou para ser dada. Lula gastou exatos 60% do seu tempo para falar de tudo, de economia à infraestrutura. Menos
de meio ambiente.
Foi uma agonia no meio ambiental, que torcia, como última esperança, para o ex-presidente que já foi companheiro de Chico Mendes e teve Marina Silva como ministra de Meio Ambiente tocar no tema que mais deveria preocupar a humanidade e ainda pode significar a nossa salvação junto do planeta em sofrimento.
Quando não se esperava mais, o alívio finalmente aconteceu. Animal político não à toa reconhecido mundialmente, Lula parece ter feito isso de propósito. Sabendo que o ser humano só se lembra das últimas palavras que ouve, ele usou 40% do seu tempo restante, quase a metade do seu discurso, falando de sustentabilidade, que é o outro nome do “economicamente viável, ambientalmente cor-
CARTA DO EDITOR
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“Vamos lutar pelo desmatamento zero.
O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva”.
reto e socialmente mais justo”.
Não parou aí. Como a cereja de um bolo democrático e universal, por último falou de amor, sem pieguice. Falou de fé e esperança. E de realidade e indignação ao mesmo:
“Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junta com ela.”
Até “um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e a flora, e coloca em risco a vida humana”.
Lula falou, enfim, do amor essencial à natureza que nos protege, e ainda não toca, transversalmente, os corações e mentes dos políticos e economistas:
“Vamos lutar pelo desmatamento zero. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.”
Claro, Lula terminou sua fala recorrendo novamente ao ensinamento maior: “Jesus me fez acreditar que a mais importante virtude de um bom governante
será sempre o amor pelo seu país e pelo seu povo”.
Palavras são palavras. Se amorosas, são subversivas, viram a “boa nova”.
Se ele cumprir só um “cadinho delas”, num mundo onde triunfa a desesperança e o desamor a tudo, a nossa salvação junto do planeta poderá acontecer.
Como escreveu Paulo Coelho e cantou Raul Seixas, “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha juntos é realidade”.
Melhor sonharmos o sonho de ainda podermos combater e nos livrar do inferno escancarado e acelerado das mudanças climáticas discutido na última COP 27 no Egito. Afinal, como Jesus ensinou, não existe nada mais subversivo e revolucionário, no bom sentido, que o amor ao próximo e à natureza que nos resta e protege.
“Dezembro foi, janeiro vem” - é o que cantam Almir Sater e Renato Teixeira no Pantanal, inaugurando a vinda de um novo e prometido ano. É o que você, caro leitor, vai conferir nesta edição.
Boa leitura! Até a solenidade de entrega do XIII Prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente & Sustentabilidade.
Nos vemos lá!
A empresa de tecnologia, com sede nos Estados Unidos, abriu uma subsidiária no município de Coronel Xavier Chaves nas proximidades de São João del Rei, onde está construindo uma fábrica que usará um processo revolucionário para captar valor de rejeitos oriundos da mineração.
A Boston Metal do Brasil traz uma tecnologia com potencial de solucionar o problema dos rejeitos e escórias minerais. Transformaremos um passivo em valor para toda a sociedade.
bostonmetal.com
A solução para passivos ambientais
A Boston Metal está no Brasil.
"PERDER DINHEIRO, EU ATÉ ENTENDO. PERDER REPUTAÇÃO, JAMAIS"
Warren Buffett
Danilo Andrade redacao@revistaecologico.com.br
Nesta entrevista, Ana Luisa de Castro Almeida fala sobre sustentabilidade e reputação, sua especialidade. O foco é o universo empresarial, com um olhar especial para o setor industrial, um dos mais importantes do país e, com certeza, o mais relevante em Minas Gerais: a indústria da mineração é responsável por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e 4% do PIB brasileiro. Consultora das principais empresas brasileiras, reconhecida no Brasil e no exterior, professora da PUC-Minas e da Fundação Dom Cabral, Ana Luisa fala dos casos da Vale e da Samarco, de seus impactos sobre a imagem das empresas, mostra que a comunicação é fundamental no relacionamento entre elas e as comunidades de sua área de influência, mas que, nem sempre, é tratada de acordo com sua importância e peso estratégico.
A partir de sua visão realista sobre a questão reputacional das empresas, Ana Luisa é otimista e vê luz no final do túnel com o surgimento do chamado “capitalismo consciente”. Ela lembra uma frase que deveria inspirar a todos que têm na reputação insumo determinante para sucesso ou fracasso: “Perder dinheiro, eu até entendo, mas perder reputação, jamais!” A frase é de Warren Buffett.
Ana Luisa: "as empresas e seus dirigentes reconhecem que, hoje, de 70 a 80% do valor delas está no seu capital intangível e na sua reputação"
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PÁGINAS VERDES FOTO: DIVULGAÇÃO
"... as grandes crises dos últimos anos têm acontecido muito em decorrência de catástrofes ambientais. O nível de interesse das pessoas aumenta e acaba pressionando as organizações, os países e até as pessoas que têm responsabilidade nestes eventos... a sociedade está evoluindo, está cobrando mais..."
REVISTA ECOLÓGICO: Os conceitos e as práticas de sustentabilidade estão mudando ao longo do tempo. Em 1972, em Estocolmo, no que seria a “COP” da época, um ministro brasileiro, no governo Médici, disse que “primeiro era preciso esperar o bolo (a economia) crescer para, depois, dividir os frutos do crescimento”. Mais adiante, a grande questão era preservação do meio ambiente X poluição/depredação – foi o tempo das “listas sujas”. Hoje, a questão está mais expandida e o debate sobre a sustentabilidade envolve as mudanças climáticas (questão de sobrevivência), racismo, homofobia, indígenas, fundamentalismo político. Tudo isso impacta na sustentabilidade do planeta e na reputação das empresas. Como a senhora vê tudo isso?
ANA LUISA - Há, de fato, uma expansão dos conceitos, principalmente em função do ESG (ambiente, social e governança), que, na verdade, é parte da sustentabilidade, mas é complementar, expressando mais um olhar específico dos investidores que têm histórico de governança. Penso, sim, que houve uma evolução em relação à sustentabilida-
de do ponto de vista de cobranças sociais - a sociedade está evoluindo, está exigindo mais. Basta a gente ver o que está acontecendo com as questões climáticas, basta a gente ver que tem um relatório do Institute for Crisis Management. Na verdade, as grandes crises dos últimos anos têm acontecido muito em decorrência de catástrofes ambientais. O nível de interesse das pessoas aumenta e acaba pressionando as organizações, os países e até as pessoas que têm responsabilidade nestes eventos.
ECOLÓGICO - E como as organizações, governos e pessoas se colocam diante desse cenário?
AL - As organizações fazem duas coisas: a primeira é tentar atender às regulamentações que são criadas por pressão da sociedade. Toda esta legislação que a gente tem hoje em relação ao meio ambiente veio muito em resposta à sociedade - e está dando resultado. A gente já tem situações, no Brasil, de empresas cujos executivos foram presos e tiveram bens bloqueados. Neste cenário, surge a judicialização, que acaba se tornando uma grande dificuldade para as organizações na medida em que
ALMEIDA
ANA LUISA DE CASTRO
DEZEMBRO DE 2022 | ECOLÓGICO 13 2
Consultora e especialista em reputação empresarial
SOUTHGATE / GREENPEACE
FOTO:TODD
A tragédia da Vale em Brumadinho matou 272 pessoas
Segundo pesquisa do setor, a pauta da mineração não é bem vista pela imprensa
ainda não temos uma jurisprudência consolidada sobre o assunto.
ECOLÓGICO - JURISPRUDÊNCIA...
AL - É. Não temos jurisprudência para muitas questões. Então o que está acontecendo é que o Ministério Público, por exemplo, recebe uma ação contra uma ou outra empresa, manda a perícia avaliar se a empresa está cumprindo ou não os requisitos estabelecidos pela Secretaria de Meio Ambiente. Depois que o assunto original se encerra, o Ministério Público entra com outras questões que nem estavam em pauta e acabam por gerar novas ações contra a organização. Tudo se transforma em um círculo sem fim. É preciso evoluir muito – no judiciário, ministério público, nas organizações, nas ONGs. É uma cadeia, que não comporta análises isoladas.
ECOLÓGICO - Como o Brasil se insere nesta questão que é mundial e, cada vez mais, mobiliza governos, pessoas, a sociedade, investidores, consumidores...
AL - O Brasil é mesmo sui generis. Tivemos, de fato, um grande retrocesso em relação à sustentabilidade nestas questões e em todos os setores - no agronegócio, na siderurgia, na mineração. Eu diria que esta questão não foi o foco do governo – e tudo isso muito em função do atual governo. É claro que antes dele havia tensões a serem resolvidas, mas a gente estava
no caminho certo, o Brasil estava avançando muito nas questões ambientais – com as ONGs, com os órgãos regulatórios, com as empresas que estavam mais atentas, com os governos, com a sociedade...
ECOLÓGICO -Vivíamos em céu de brigadeiro?
AL - Claro que que não dá para generalizar. Você vê que o garimpo ainda está aí, assim como o desmatamento. Mas também há muitas empresas investindo, uma Natura... uma Boticário. Tínhamos, e temos, empresas preocupadas realmente em fazer as coisas de forma sustentável, há muita cobrança em relação aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da ONU), principalmente por parte das empresas multinacionais.
ECOLÓGICO - Há muitas Naturas e muitas Boticários aí nesta lista ou não?
RESPOSTA: Ah, tem! As multinacionais estão realmente com metas a cumprir e fazendo trabalhos de redução de poluição, a questão do carbono. Entre as nacionais, se você pegar a Votorantim, se você pegar a Gerdau, a Usiminas, Arcelor Mittal...todas com um olhar bem mais atento a estas questões.
ECOLÓGICO - A que você atribui este comportamento das multinacionais, enquanto aqui no Brasil os rompimentos das barragens da Vale e da Samarco já estão fazendo quase dez anos – o da Sa-
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FOTO: ANDRÉ FIRMINO
PÁGINAS VERDES - ANA LUISA DEZEMBRO DE 2022
ANA LUISA DE CASTRO ALMEIDA
Consultora e especialista em reputação empresarial
marco tem 7 e o da Vale tem 4 anos. É tudo muito lento no que se refere às punições, prisões e até de indenização. A British Petroleum, por exemplo, quando houve o vazamento no Golfo do México, pagou rapidamente mais de US$ 20 bilhões. Aqui, os processos se arrastam...
AL - Na verdade, se olharmos o caso Samarco, a Renova já gastou mais de 12 bilhões de dólares. Os casos são completamente diferentes. O da British Petroleum é localizado, de forma a que se tem o tamanho do passivo muito bem definido, assim como também informações sobre os atingidos. No primeiro caso das mineradoras em Minas, que é o de Mariana, você tem cerca de 267 quilômetros de extensão, de Minas até o Espírito Santo. É um rompimento em que você tem as questões sociais, as questões ambientais e indenizações altíssimas, mas você não sabe a quem indenizar. Por se tratar de uma economia majoritariamente informal, você não consegue identificar os atingidos. Qualquer um pode chegar e dizer que é um dos atingidos. Fica muito mais difícil e, portanto, mais demorado.
ECOLÓGICO - A percepção que a gente tem é a de que a comunicação não é muito levada em conta na indústria da mineração, ou na conta que deveria pelas empresas. À menor dificuldade, os orçamentos da comunicação são cortados de uma forma devastadora. Como é isso, qual é a solução?
AL: Isso é exatamente o que não acontece em outros países, como Austrália. Na verdade, se a gente olhar para o passado, vai ver que houve muito pouco cuidado com a mineração do ponto de vista como os governos concediam licenciamentos, normatizavam e fiscalizavam. Ficava por conta das próprias organizações fazer do jeito que elas queriam. O fato é que as regulamentações são recentes, o que significa que tudo começou de uma forma que não era a mais adequada. Considerava-se mais a questão econômica e financeira, os impostos, a receita que era fundamental para a sobrevivência dos municipais. Outras questões ficaram relegadas, como a segurança, no seu sentido mais amplo, e a comunicação.
ECOLÓGICO - Ainda hoje as empresas e seus executivos reclamam da dificuldade de comunicação...
AL - Pois é. As empresas foram paternalistas, faziam os seus projetos sociais, e na hora que o preço
da commodity caía, elas automaticamente suspendiam os seus projetos sociais. Elas investiam na comunicação e no momento em que o preço do minério caia, elas desinvestiam – e comunicação era a primeira área a ser cortada. Na verdade, historicamente, a indústria da siderurgia e da mineração, bem como suas empresas, não investiam em comunicação. Partiam do pressuposto de que por serem empresas B2B (business-to-business) não precisavam se comunicar com a opinião pública. Lembro-me, sempre, de um CEO que quando eu conversava com ele e dizia que ele tinha que mudar ele falava que não era ... (e citava o nome de uma grande B2C - Business-to-consumer). Era a frase que ele mais falava para mim...
ECOLÓGICO - Fale um pouco mais sobre comunicação, sobre as mudanças revolucionárias ocorridas nos últimos anos. No passado, a comunicação tinha os seus protagonistas muito bem definidos – o emissor, o meio e o receptor...
AL - Era bem assim mesmo, mas evoluiu muito, com coisas que, de fato, revolucionaram a comunicação. A primeira delas, e a mais importante, é o fato de estarmos na era da supertransparência. Na supertransparência, todo mundo consegue falar com o presidente ou qualquer gestor. Numa das minhas últimas aulas no MBA da Fundação Dom Cabral, adverti meus alunos, todos executivos, sobre a necessidade de tomarem muito cuidado com quaisquer decisões na empresa, por menor que elas sejam, isso pode colocá-los na boca do William Bonner, no Jornal Nacional, à noite, para o bem e para o mal. E se não for o Bonner, pode ser o Twitter, onde o estrago pode ser ainda maior.
ECOLÓGICO - Então...
AL - O que acontece é que hoje são muitas vozes, várias mídias e a gente não tem nenhum controle sobre a comunicação. E quando as pessoas perguntam “o que eu posso fazer, então, para blindar a empresa”, meu ouvido até dói. Não existe mais “blindar”. O que é que eu posso fazer para blindar uma empresa? Na sociedade da super transparência, o que você pode e deve é fazer comunicação de forma clara e coerente. Faça o que é certo. A única coisa que pode te ajudar é fazer o correto. É preciso saber comunicar.
ECOLÓGICO -Ainda falando de comunicação, o que está errado? O que pode e deve ser feito? O
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DEZEMBRO DE 2022 | ECOLÓGICO 15
PÁGINAS VERDES - ANA LUISA
que não está sendo feito?
AL - A primeira coisa a registrar é que a comunicação sempre foi considerada “atividade meio”, por isso foi sempre uma comunicação reativa, ou, então, uma comunicação de produção de mídia, de conteúdo midiático, sem nunca ter espaço para participar da tomada de decisões estratégicas, de sentar-se à mesa e falar para o presidente, “não faça isso...faça aquilo, pois caso contrário haverá consequências para a empresa”. Isso é o que mundialmente acontece hoje nas grandes organizações. Nelas, a comunicação está ligada na estrutura de management, porque as empresas e seus dirigentes reconhecem que, hoje, de 70 a 80% do valor delas está no seu capital intangível e na sua reputação. Perder valor na reputação leva um grupo empresarial como a Odebrecht a cair de 180 mil empregados para cerca de 15 mil, a cair de 12 tipos de atividades estratégicas em seu portfólio de negócios para quase nada. Vira pó.
ECOLÓGICO - No começo, as empresas precisavam obter dos órgãos governamentais as licenças legais para minerar – Licença Prévia (LI), Licença de Implantação (LI) e Licença de Operação (LO) – isso era o suficiente. Posteriormente, a partir dos anos 1970, com a mobilização crescente da sociedade e das comunidades, instituiu-se a chamada “licença social”, que expressa a aceitação do projeto em discussão pelas comunidades. Sem a “licença social”, muitas vezes as licenças legais emperravam. Hoje, parece, sobretudo nestes últimos anos de autoritarismo
exacerbado, que as empresas deixaram de se preocupar com a licença social. Como você vê isso?
AL - De fato. Penso que as empresas investem muito no capital financeiro, ou seja, em ações, projetos e programas que, em essência, visam alcançar resultados econômicos mais expressivos. Ao fazer esta opção equivocada, investem menos no chamado capital social, que engloba as aspirações da sociedade - respeito, segurança em todos os aspectos, geração de empregos, saúde, educação. Enfim, um conjunto de ações e iniciativas que impactam o bem-estar da comunidade do entorno da empresa. Mesmo as empresas que fazem tudo isso, ao menor sinal de crise, param tudo, frustram as pessoas e perdem reputação.
ECOLÓGICO - Isso pode mudar – quais são as perspectivas?
AL - Há uma mudança em curso, com o afloramento do chamado “capital consciente”. E isso é muito forte nas empresas – forte e desafiador. O fato é que, hoje, estamos na sociedade das relações. Nestes tempos que estamos vivendo, o relacionamento é fundamental. Quando a gente fala em stakeholders, as organizações que têm valor se destacam. Quem fala muito sobre isso é o Warren Buffett, o megainvestidor norte-americano. Ele sempre diz em suas palestras e escritos, que até entende uma empresa ou pessoa que perde dinheiro, mas que jamais vai entender quem perde reputação, pois aí não há salvação, não há alternativas, não há como recuperar o dinheiro.
O acidente evitável fez piorar a imagem pública da mineração no Brasil e no mundo
ECOLÓGICO - “A sociedade não conhece a indústria da mineração” . Esta é uma frase que empresas e entidades representativas do setor estão sempre repetindo, além de atribuir a ela a reputação negativa a que estão expostas. Você concorda com isso? O que a mineração pode fazer para reverter esse cenário?
AL - Fazer o que é certo e respeitar a sociedade – e também precisa entender que comunicação é uma prioridade. Na verdade, o que a gente constata é que a indústria da mineração diz muito pouco quem ela é, como é que ela faz. Ela se mostra pouco, tem pouca publicização do que é, do que produz, do que faz, de sua importância econômica e social. Enfim, apesar dos esforços e do trabalho que o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) e algumas empresas realizam, ainda é um setor que comunica mal.
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Consultora e especialista em reputação empresarial
FOTO: NILMAR LAGE / GREENPEACE 16 DEZEMBRO DE 2022
O nosso negócio não começou em Minas Gerais, mas encontrou aqui a grande força para seguir crescendo. Por isso, nós, da Gerdau, temos muito orgulho de apoiarmos a cultura e sermos mantenedores do MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, localizado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte.
Além de ajudarmos na conservação de uma das edificações históricas mais importantes de Minas, contribuímos com a disseminação de conhecimento e cultura. Mais de 1 milhão de pessoas já passaram pelos corredores do museu.
Apoiando a cultura no estado, reafirmamos o nosso compromisso de promover um desenvolvimento sustentável, moldando um futuro melhor para todos.
Nos siga nas redes: /Gerdau /GerdauSA
“O que estamos deixando para os nossos filhos e netos colherem é o fruto do descaso que sempre tivemos com o planeta. Só que ele não está mais conseguido resistir. Precisa da gente, de ações concretas”
FUAD NOMAN
BH NO CLIMA DA ESPERANÇA
Oplano de enfrentamento do aquecimento global foi elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) e o ICLEI –Governos Locais pela Sustentabilidade, com um olhar especial para as populações mais vulneráveis.Trata-se de uma rede global de cidades, com mais de 1.750 governos locais e regionais em mais de 100 países, que tem a filiação parceira de BH desde 1993, um ano após a ECO/92 no Rio de Janeiro.
O prefeito Fuad Noman exor-
tou o valor e o andamento da parceria, desde que o planejado saia da gaveta: “Que possamos, de fato, transformar ideias em ações, como vínhamos fazendo. No nosso plano de governo, quase todas elas estão em andamento”, disse ele, destacando o protagonismo da PBH em relação a mobilidade, saneamento e resíduos.
“Temos trabalhado na contenção de enchentes, encostas. A prefeitura quase toda ela também já usa energia solar, com planos de ampliação para as nos-
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PRAÇA DO PAPA, BH, 125 anos: a cidade que traz "Jardim" e "Vergel" no seu codinome...
Fuad recebe o plano do secretário Mário Werneck
FOTO: JAIR AMARAL
FOTO: DIVULGAÇÃO PBH
Prefeitura da capital mineira sai na frente e lança plano com o ICLEI para conter os efeitos das mudanças climáticas
... e continua ameaçada pela mineração predatória no limite da Serra do Curral sas escolas, incluindo eletrificar com essa energia limpa todo o transporte coletivo de BH.”
O secretário executivo do ICLEI, Rodrigo Perpétuo, observou que a emergência climática está associada à necessidade de se prover respostas locais para as consequências, doravante maio-
res, dos eventos extremos da natureza. E citou as ondas de calor, inundações, escassez hídrica e vetores causadores de doenças endêmicas como algumas das principais vulnerabilidades que BH enfrenta em decorrência das mudanças climáticas.
“Acreditamos que, com o avan-
çar das tecnologias, especialmente em transporte e mobilidade (que representam 52% das emissões da capital) e resíduos sólidos (que ocupam 28%), teremos condições de chegar à neutralidade de carbono em 2050”.
FUAD NOMAN EXCLUSIVO
“O planeta precisa da gente”
REVISTA ECOLÓGICO - O senhor disse que todas as previsões climáticas já estão acontecendo. Que temos muito trabalho e esperança pela frente. Que espernaça é essa?
FUAD NOMAN – Lembra da história do Super-Homem que vem do planeta Krypton. Por que o
pai dele o mandou para a Terra? Porque o planeta onde eles viviam estava se desintegrando. Isso parece brincadeira, coisa de gibi. Mas, no fundo, se assemelha conosco. O nosso planeta corre o mesmo risco de não conseguir resistir mais, diante de tantos ataques nossos à natureza.
Nós precisamos reverter isto enquanto é tempo. Eu, com certeza, não vou ver o que acontecerá. Daí a necessidade de conscientizar e pedirmos à humanidade atual pelo futuro dos nossos filhos, netos e bisnetos. Eles tanto se tornarão vítimas do nosso descaso hoje com o meio
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FOTO: ANDRÉ FIRMINO
ambiente, quanto beneficiados pelas nossas ações atuais em busca da sustentabilidade para todos.
REVISTA ECOLÓGICO - Voltando para BH, como o senhor vê o Plano Local de Ação Climática que acaba de receber e anunciar?
FUAD NOMAN - Belo Horizonte já é conhecida no mundo como uma cidade que trabalha nesta direção e tem reconhecimento internacional. No último encontro mundial sobre mudanças climáticas ocorrido em Londres, somente duas cidades foram convidadas para participar: Nova York e Belo Horizonte. Olha que coisa!
ECOLÓGICO – O que isso significa?
FUAD NOMAN – Que estamos bem acompanhados. E que fomos destacados justamente pelas nossas ações práticas, induzindo assim outras cidades do Brasil e da América do Sul a trabalharem conosco no combate ao aquecimento global. Daí o meu grande e urgente apelo: se é para implantar alguma ação climática, que se faça já, desde que alinhada internacionalmente com a causa ambiental. É meu desejo que Belo Horizonte continue crescendo assim, como uma cidade feliz. Uma cidade climática, verde, florida, pioneira e precursora da sustentabilidade.
ECOLÓGICO – E o caso da Tamisa na Serra do Curral?
FUAD NOMAN – Como esta empresa está com a sua licença ambiental suspensa, então não está operando nem nos incomodando. Isto não significa que estamos parados. Pelo contrário, a prefeitura não pode se omitir diante de uma situação tão grave como esta. Desde o primeiro momento, eu tenho tomado
todas as atitudes que a lei me permite para defender a qualidade de vida de quem mora na capital concomitantemente, o patrimônio natural e biodiversificado que temos, que é a Serra do Curral.
ECOLÓGICO – Essa luta, então, continuará?
FUAD NOMAN – Sim, eu vou continuar insistindo. Fui até no Supremo, e perdi. Mas perdi por quê? Porque temos de esperar o governo voltar com aquela questão de avaliação da licença ambiental ser de Estado ou de âmbito municipal. Não tem como a população de Belo horizonte deixar de ser ouvida. A mineração da Tamisa não está no nosso município, mas os efeitos
do seu impacto socioambiental, sim. Vamos brigar. Eu acredito que a gente ganha.
ECOLÓGICO – No seu discurso após o resultado das urnas, Lula falou 40% dele sobre meio ambiente e sustentabilidade. O que o senhor achou disso?
FUAD NOMAN - A fala nos enche de esperança, alegria e vontade de trabalharmos juntos. O que ele precisar de Belo Horizonte, que é referência hoje mundial em história e política ambiental, ele terá. Estaremos sempre à sua disposição. Do mesmo jeito, também esperamos que ele possa nos atender de forma mais adequada e recíproca. Isso confirmará que estamos, sim, juntos e no caminho certo.
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FOTO: RICARDO STUCKERT
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
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LULA E FUAD na campanha das eleições: reciprocidade política
QUANDO A FORÇA INTERIOR SE TRANSFORMA NA FORÇA DO INTERIOR.
A essência de quem planta, cria e produz faz o agro mineiro cada vez mais forte. Força que nutre, de alimento e esperança, a mesa de milhões de pessoas. E por isso, o Sistema Faemg Senar vai aonde o produtor rural está, apoiando essa gente que, todos os dias, colhe resultados e desenvolvimento para o nosso Estado.
Homenagem do Sistema Faemg Senar ao produtor rural mineiro.
www.sistemafaemg.org.br
O MANTO VERDE E AMEAÇADO DA AFONSO PENA
Planejado unicamente pela BHTrans, sem um olhar ambiental, o projeto da “Nova Afonso Pena” prestes a ser anunciado pela prefeitura, a um custo de R$ 20 milhões, não cumpre o que promete. Pelo contrário, não traz nada de novo, do ponto de vista ecológico. E repete os erros do passado.
A proposta de revitalização é equivocada. Ela está na contramão das medidas de controle do aquecimento global que exigem o aumento de áreas públicas verdes e de lazer, como praças e passeios ajardinados e assombreados para amenizar o microclima local.
A BHTrans propõe cortar árvores hoje frondosas (não diz quantas nem onde) ao longo do cordão de florestas lineares que se formou na Afonso Pena, principalmente entre as praças Tiradentes e da Bandeira. Pior: aumenta de quatro para cinco, as faixas de asfalto para mais ônibus, deixando a população mais exposta à insolação cancerígena. Ao contrário do que acontece hoje com Lisboa, em Portugal, considerada a capital europeia com maior investimento na redução de asfalto para mais jar-
dins e passeios verdes, vide o aumento igual de turistas, o projeto da BHTrans reduz a cobertura verde. Nega o título de “Cidade Vergel”, que Belo Horizonte já teve nos versos de Olavo Bilac.
DESECOLOGIA HUMANA
A tragédia maior – e sou testemunha ocular disso, como ex-assessor de imprensa e depois secretário municipal de Meio Ambiente no Governo Sérgio Ferrara – é que o projeto da BHTrans também fere a memória afetiva dos servidores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). Foram eles, de maneira empírica e criativa, os verdadeiros autores do atual, maciço e estonteante manto verde e multicor que os belo-horizontinos tanto admiram.
Isso começa a acontecer desde a ex-Praça Rio Branco, próxima à Rodoviária, até o início da Praça do Papa.
Voltando à Afonso Pena, o primeiro secretário verde de BH nos governos Hélio Garcia, Ruy Lage e parte do Ferrara, foi o meu xará, Irã Cardoso. Era só a gente bolar algo bacana para a cidade, e colocar na marca do pênalti, que ele chutava e acertava de primeira.
Foi o que aconteceu. Como todos os antigos prefeitos, invariavelmente, tinham a mesma ideia de diminuir gradualmente a largura dos canteiros centrais das ruas e avenidas, incluindo os espaços das praças para dar lugar ao asfalto, nós tivemos e praticamos uma ideia subversiva na época.
Formamos um grupo multidisciplinar de servidores, técnicos e assessores, desde o próprio secretário até o viveirista plantador de árvore mais humilde da secretaria municipal de Meio Ambiente, incluindo engenheiros civis, elétricos e florestais, paisagistas, biólogos e urbanistas. Além de técnicos também da Copasa e Cemig, que conheciam o emaranhado de fios, canos e canaletas de água e esgoto subterrâneas.
O QUE FOI FEITO?
Logo que o dia amanheceu, nós estávamos todos de tênis e chapéus na Praça da Bandeira, cada um com sua prancheta de anotação. E fomos descendo em bloco, alternando de um lado e outro dos passeios e canteiros. A análise era empírica e tecnicamente democrática. Onde tinha espaço para plantar uma árvore, a gen-
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ESPECIAL: NOVA AFONSO PENA 1
Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
Projeto da BHTrans para revitalizar a mais verde e simbólica avenida da capital mineira pode se transformar em um antiecológico “presente de grego” para a população
A proposta é aumentar de quatro para cinco o número de faixas para ônibus em ambas as pistas: menos verde e mais emissões
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JAIR AMARAL
FOTO:
te parava e discutia, particularmente, a sua espécie e sustentabilidade. Tinha poste e fiação elétrica em cima, não planejava plantar árvore alguma ali de porte grande. Ou escolhia uma espécie de pequeno e médio porte.
Ah! E naquela área excessivamente cimentada, que mudas nós temos de árvores que podem crescer e dão muita sombra, desde que tenham raízes pivotantes, que vão em linha reta pro fundo da terra? E não no exemplo de flamboyants, cujas raízes saem da terra e arrebentam os passeios e outros equipamentos urbanos?
O que vale concluir: não existe uma só árvore hoje frondosa cumprindo sua função ecológica em toda a atual Afonso Pena que não tenha sido pensada, estudada e querida. Está no seu DNA. Tem ciência e história para contar e ser respeitada. Daí o seu apelido vergel: “Manto verde” de BH.
HISTÓRIA VERDE
Esse foi o fruto daquela nossa caminhada paisagística que terminou na rodoviária, tarde adentro, com direito a pastel e café.
No dia seguinte, fizemos uma convocação também subversiva. Reunimos todos os encarregados da secretaria e nos desafiamos:
“Todos nós um dia não estaremos mais aqui, plantemos ou não tamanha quantidade de mudas. A escolha é nossa. Mas imaginem a gente, já velhinhos daqui alguns anos, passando e vendo essas árvores já enormes dando sombra e flores! E lembrarmos, em segredo, que fomos nós que tivemos esse privilégio e oportunidade?”
Não houve uma baixa sequer. Todos responderam sim. Em uma semana, teve início o Projeto “Cidade Jardim”, o multirão que plantou mais de 10 mil árvores dentro da Avenida do Contorno, como uma evolução do “Adote o Verde”, começando pelo alto
da Afonso Pena. Com a mudança de governo, na época, o “Manto Verde” somente deixou de ser implantado no trecho entre o Palácio das Artes e a rodoviária.
O que explica a feia falta de árvores, de sombras e flores ali, sob o sol inclemente.
A DESVITALIZAÇÃO
É duro pensarmos que essa avenida, com a quantidade e diversidade de árvores frondosas que se formou linearmente em quase toda sua extensão, está ameaçada de ser diminuída e pavimentada. E assim, além de não corresponder ao nome de “revitalização”, que vem de vida, de natureza, virar um “presente de grego” para a administração notadamente ambientalista do prefeito Fuad Noman. Segundo o jornal Estado de Minas informou na sua edição no dia seis de novembro último, a “revitalização” do principal eixo do Centro de BH esbarra na preservação do patrimônio histórico e da vegetação urbana.
O projeto, que promete melhorias do transporte coletivo, das ciclovias e da acessibilidade na região, foi aprovado apenas parcialmente.
Isso porque a iniciativa prevê alterações em trechos protegidos das praças Tiradentes, Benjamin Guimarães (mais conhecida como Praça ABC, no cruzamento com a Av. Getúlio Vargas) e Milton Campos. O projeto prevê também a alteração da geometria dos quarteirões fechados e calçadas dos cruzamentos da Afonso Pena com as avenidas do Contorno, Getúlio Vargas e Brasil.
A questão é que, para implantá-las, é necessária uma diminuição nas áreas de praça desses quarteirões. A Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público (DPCA), órgão responsável pela implementação e gestão da politica de proteção aos bens
culturais, chegou a solicitar uma revisão da proposta, porém a BHTrans insiste na manutenção do projeto original.
Uma reunião fechada do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural, que seria decisiva para definir os rumos da proposta, foi marcada para o último dia 16 e não aconteceu.
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ONDE ACONTECERÁ
IMPRENSA VIGILÂNTE:
o projeto foi reportagem de capa do jornal Estado de Minas, em seis de novembro último
No trecho da Praça Tiradentes, no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Brasil, está prevista uma redução na curvatura das esquinas e retirada de árvores para a criação de mais uma pista para a passagem de veículos. As intervenções também devem exigir a retirada de árvores. Por
fim, a Praça Milton Campos, no cruzamento da Afonso Pena com a Avenida do Contorno, tem previsão de recortes nos quarteirões para também receber mais asfalto e não mais árvores.
Ao todo, serão 4,2 quilômetros de intervenções notadamente áridas, na Afonso Pena, partindo da Praça Rio Branco, mais conhe-
cida como Praça da Rodoviária, no Centro, até a Praça da Bandeira, no Bairro Serra, Região Centro-Sul. O projeto envolve intervenções paisagísticas e melhorias na travessia de pedestres, além de criação de ciclovias. Exatamente sobre parte dos canteiros hoje ali já arborizados.
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A FLORESTA ATLÂNTICA
que a Afonso Pena virou de outro ângulo: convivência e harmonia possíveis
ESPECIAL: NOVA AFONSO PENA 1
FOTO: JAIR AMARAL
"Nem só de asfalto vive o homem”
Para a Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público (DPCA), as intervenções propostas nas praças, ainda que restritas, podem alterar a leitura dessas áreas de “respiro” na avenida. Segundo parecer do órgão, o espaço urbano apresenta grande relevância para a cidade, “tanto por seu valor histórico-urbanístico quanto por suas praças e por seus espaços edificados, que, ao longo do tempo, incorporaram-se ao imaginário coletivo e à configuração da cena urbana”.
Para a arquiteta e urbanista Cláudia Pires, conselheira do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/Seção Minas Gerais), cabe ao conselho avaliar a pertinência da proposta e se há necessidade de medidas compensatórias para minimizar o impacto da redução das áreas das praças:
“Tem que respeitar aquilo em que não se pode mexer e compensar na redução dos espaços de uso público, sem prejuízo para a mobilidade, pois nem só de asfalto vive o homem”, adverte.
RESPEITE O VERDE
Muito triste também, os órgãos oficiais não apresentarem grandes empecilhos para a aprovação do projeto. Mas, como contrapartida, defenderem a criação de áreas verdes no perímetro das praças, para compensar a redução da área ajardinada. Corte de árvores também deve ser previamente analisado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A BHtrans não detalha ainda o total de árvores que será necessário retirar.
CLÁUDIA PIRES, conselheira do IAB-MG: “Temos que respeitar aquilo que se não pode mexer ”
Procurada várias vezes, a BHTrans não deu retorno à Revista Ecológico, muito menos para informar quando e onde acontecerão as próximas reuniões de discussão do projeto. Fala-se, nos bastidores, que o projeto da “Nova Afonso Pena” está sendo imposto goela abaixo da prefeitura, como um “presen-
te de grego” para o 125º aniversário de Belo horizonte. Menos verde e clima ameno para a capital. Mais asfalto e calor para a população. A natureza que perde, mais uma vez. O que o prefeito Fuad Noman promete não deixar acontecer na cidade que já foi um jardim. Veja, a seguir, na sua entrevista.
AFONSO PENA: o nome da avenida homenageia a memória do advogado e estadista que já governou Minas e foi presidente do Brasil
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FOTO: DIVULGAÇÃO
“Os ambientalistas não precisam ficar angustiados”
Firmino redacao@revistaecologico.com.br
Foi o que garantiu o prefeito Fuad Noman, com exclusividade para a Revista Ecológico, sobre a preocupação de mais asfalto e menos verde, incluindo supressão, proposta no projeto em discussão da Nova Afonso Pena. A declaração foi dada logo após ele presidir a cerimônia de lançamento do “Plano Local de Ação Global”, que pretende colocar a capital mineira como, uma das 15 cidades latino-americanas mais em conformidade com o Acordo de Paris.
ECOLÓGICO – E sobre o projeto “Nova Afonso Pena”, autointitulado de revitalização urbana pela BHTrans, que é um órgão de trânsito e não de meio ambiente, que está causando tanta polêmica. Qual a opinião do senhor?
FUAD NOMAN – Primeiro, que o projeto ainda não está pronto e nem será caracterizado pela supressão de árvores. Pelo contrário, enquanto a prefeitura vem aperfeiçoando ele do ponto de vista ambiental, nós já estamos plantando em ação pontual, o que é possível de futuras árvores. É só descermos a Afonso Pena para confirmar isso, que uma cidade mais arborizada e florida é o que eu acredito e chamo de cidade feliz.
ECOLÓGICO – Por que, então, a BHTrans não se abre, informa e justifica quais e onde estão previstas as supressões de árvores, hoje adultas e exuberantes, que foram plantadas ali pelos próprios servidores da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente (SMMA)?
FUAD NOMAN – Vou repetir. O projeto final ainda está sendo elaborado. Trata-se de uma primeira proposta que a BHTrans fez justamente para ouvir todas as outras partes e desafios envolvidos. Tem críticas ao projeto? Sim. É só identificar quais as coisas ruins e tirá-las. Mas também tem aplausos, coisa boas que podemos acrescentar.
ECOLÓGICO – E a preocupação com o verde já conquistado e consolidado da atual avenida? Vai mexer nele?
FUAD NOMAN – Isso é normal. Quando se lança um plano, a maioria das pessoas já acha que ele é definitivo. E começa a xingar antes da hora. Você lembra das históricas Afonso Pena e Praça Sete, ainda do tempo dos bondes, todas densamente arborizadas? Pois as coisas mudam. Às vezes
FUAD NOMAN: “Vamos revitalizar a Afonso Pena na mesma proposta que a transformou na beleza que é hoje”
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Hiram
FOTO: DIVULGAÇÃO / PBH
As árvores hoje gigantes foram plantadas em ziguezague e rentes às pistas de asfalto, exatamente para os canteiros centrais não serem diminuídos ou suprimidos à cada nova administração pública. Ou seja, obrigando os prefeitos a serem corajosos, agindo com o coração e poupando o verde para a beleza e os serviços ambientais que a arborização entrega à população. Exatamente o contrário do que a BHTrans propõe
precisamos abandonar algumas coisas que achamos ser importante, como nos casos das árvores ameaçadas pelo projeto atual.
ECOLÓGICO – Como assim?
FUAD NOMAN – Que não há problema que não possa ser resolvido ou compensado. Se tivermos de tirar uma árvore ali, nós plantaremos 100 em outro lugar da cidade. No nosso governo, já plantamos 26 mil novas árvores, vamos plantar outras 46 mil até atingir a meta de 100 mil novas mudas. Hoje mesmo, mais cedo, eu plantei uma árvore no nosso Parque Municipal, antes de vir para a prefeitura.
ECOLÓGICO – Que recado o senhor gostaria de passar aos ambientalistas, cuja causa é igual?
FUAD NOMAN – Que eles não precisam ficar angustiados, com relação à Afonso Pena. A nossa proposta para revitalizá-la é a mesma
que a transformou na beleza que é hoje. Além dela, é preencher e ocupar, com novas e futuras árvores, todos os espaços urbanos que estiverem vazios da cidade. E isso não é difícil para a prefeitura fazer. Em apenas 100 dias, conforme
planejado, nós reformamos 100 praças públicas; e construímos e entregamos 100 novas praças para o lazer da população. Os ambientalistas podem ficar despreocupados. Belo Horizonte vai bombar em meio ambiente!
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FOTOS: JAIR AMARAL
SUSTENTABILIDADE: A PRIORIDADE DE LULA
Já está precificada: a questão ambiental e, mais que isso, a sustentabilidade serão, com certeza, as prioridades do governo Lula, que assume em 1º de janeiro. Importantes em si mesmas, na exata medida em que são fundamentais para a própria sobrevivência do planeta, elas representam o principal diferen-
cial competitivo brasileiro nas relações com os demais países, incluindo as grandes potências e os grandes organismos multilaterais, como a ONU, G-20 e G-7 , além de organismos como o Banco Mundial e o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento.
É um grande desafio. Para
transformar meio ambiente e sustentabilidade em efetivos instrumentos de desenvolvimento econômico e social, de transformação e inclusão, a empreitada de Lula começa exatamente com o resgate do aparato destruído nos últimos quatro anos.
Isso inclui a politização de órgãos como IBAMA, ICMbio e
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Danilo Andrade redacao@revistaecologico.com.br
1 ECO POLÍTICA
Desmatamento e incêndios na Amazônia, nos últimos quatro anos, superam 47 mil quilômetros quadrados de floresta nativa , área superior à do Rio de Janeiro
muitos outros, o que resultou em índices crescentes e inimagináveis de desmatamento, incêndios, garimpo ilegal e usurpação de diretos dos indígenas. Ao longo de sua campanha, e também após sua eleição, Lula tem reafirmado sua disposição.
No discursos que fez logo após o anúncio dos resultados da vo-
tação, e também durante a COP 27, no Egito, na presença de líderes de quase 200 países, o presidente eleito renovou seus compromissos com o combate às mudanças climáticas e cobrou dos países ricos apoio econômico e financeiro efetivo e urgente. Confira, nas páginas seguintes, as promessas ambientais feitas
pelo presidente Lula.
Veja, igualmente, o pensamento de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente nos primeiros governos de Lula 2002/2008, ex-senadora e deputada eleita por São Paulo nas últimas eleições, com mais de 270 mil votos.
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FOTO: CHRISTIAN BRAGA / GREENPEACE
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LULA NA COP 27:
“Não existem dois brasis, nem dois planetas Terra”
A presença do presidente eleito do Brasil na COP 27, no Egito, mobilizou a atenção dos principais líderes mundiais que participaram do encontro. Com autoridade, Lula tratou de temas fundamentais e urgentes para a sustentabilidade do planeta, muito especialmente no combate às mudanças climáticas. Após os últimos quatro anos de ausência neste debate global, período no qual o governo brasileiro isolou-se do mundo com práticas francamente contrarias à sustentabilidade, Lula recolou o país como grande protagonista na questão ambiental e muito especialmente em relação às mudanças climáticas. Assegurou prioridade à promoção da sustentabilidade em seu governo, anunciou a criação do Ministério dos Povos Originais para proteção aos índios, destacou a importância da Amazônia e cobrou dos países ricos recursos para que os mais pobres possam financiar suas políticas no combate às mudanças climáticas e de promoção da sustentabilidade. Ao propor entendimento e solidária parceria global, Lula advertiu: “Não existem dois brasis. Não existem dois planetas Terra”. Leia, a seguir, o pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na COP 27:
“O planeta, a todo momento, nos alerta de que precisamos uns dos outros para sobreviver – que, sozinhos, estamos vulneráveis à tragédia climática. No entanto, ignoramos esses alertas. Gastamos trilhões de dólares em guerras que só trazem destruição e mortes, enquanto 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm o que comer.
São tempos difíceis. Mas foi em tempos difíceis e de crise que a humanidade sempre encontrou forças para enfrentar e superar desafios. Precisamos de
mais confiança e determinação. Precisamos de mais liderança para reverter a escalada do aquecimento. Os acordos já finalizados têm que sair do papel.
O mundo sente saudades do Brasil... “O Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável, de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada.
O Brasil acaba de passar por uma das eleições mais decisivas da sua história. Uma eleição observada com atenção inédita pelos demais países.
Primeiro, porque ela poderia ajudar a conter o avanço da extrema-direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo.
E, também, porque do resultado da eleição no Brasil dependia não apenas a paz e o bem-estar do povo brasileiro, mas também a sobrevivência da Amazônia e, portanto, do nosso planeta.
O povo brasileiro fez a sua escolha - e a democracia venceu. Com isso, voltam a vigorar os valores civilizatórios, o respeito aos direitos humanos e o compromisso de enfrentar com determinação as mudanças climáticas.
O Brasil já mostrou ao mundo o caminho para derrotar o desmatamento e o aquecimento global.
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ECO POLÍTICA 34 ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2022
Entre 2004 e 2012, reduzimos a taxa de devastação da Amazônia em 83%, enquanto o PIB agropecuário cresceu 75%.
Infelizmente, desde 2019, o Brasil enfrenta um governo desastroso em todos os sentidos – no combate ao desemprego e às desigualdades, na luta contra a pobreza e a fome, no descaso com uma pandemia que matou 700 mil brasileiros, no desrespeito aos direitos humanos, na sua política externa que isolou o país do resto do mundo, e, também, na devastação do meio ambiente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a crise climática compromete vidas e gera impactos negativos na economia dos países.
Segundo as projeções da OMS, entre 2030 e 2050, o aquecimento global poderá causar aproximadamente 250 mil mortes adicionais ao ano – por desnutrição, malária, diarreia e estresse provocado pelo calor excessivo.
Ninguém está a salvo. Os Estados Unidos convivem com tornados e tempestades tropicais cada vez mais frequentes e com potencial destrutivo sem precedentes.
Países insulares estão simplesmente ameaçados de desaparecer!
No Brasil, que é uma potência florestal e hídrica,
vivemos em 2021 a maior seca em 90 anos; fomos assolados por enchentes de grandes proporções que impactaram milhões de pessoas.
A Europa enfrenta uma série de fenômenos meteorológicos e climáticos extremos em várias partes do continente – de incêndios devastadores a inundações que causam um número inédito de mortes.
Apesar de ser o continente com a menor taxa de emissão de gases do efeito estufa do planeta, a África também vem sofrendo eventos climáticos extremos.
Enchentes e secas no Chade, Nigéria, Madagascar e parte da Somália.
Elevação do nível dos mares, que num futuro próximo será catastrófico para as dezenas de milhões de egípcios que vivem no Delta do rio Nilo.
Repito: ninguém está a salvo. A emergência climática afeta a todos, embora seus efeitos recaiam com maior intensidade sobre os mais vulneráveis.
A desigualdade entre ricos e pobres manifesta-se até mesmo nos esforços para a redução das mudanças climáticas.
O 1% mais rico da população do planeta vai ultrapassar em 30 vezes o limite das emissões de gás carbônico necessário para evitar que o aumento da temperatura global ultrapasse a meta de 1,5 grau centígrado até 2030.
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O presidente Lula recebe de Helder Barbalho, reeleito no Pará, documento dos governadores da região em defesa da Amazônia
FOTO: RICARDO STUCKERT
Este 1 por cento mais rico está a caminho de emitir 70 toneladas de gás carbônico per capita por ano. Enquanto isso, os 50 por cento mais pobres do mundo emitirão, em média, apenas uma tonelada per capita, segundo estudo produzido pela ONG Oxfam e apresentado na COP 26.
A luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo. Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas. Nos três primeiros anos do atual governo, o desmatamento na Amazônia teve aumento de 73 por cento... os crimes ambientais, que cresceram de forma assustadora durante o governo que está chegando ao fim, serão agora combatidos sem trégua.
Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nos-
sos biomas até 2030, da mesma forma que mais de 130 países se comprometeram ao assinar a Declaração de Líderes de Glasgow sobre Florestas.
O combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu governo.
Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas.
Os crimes ambientais, que cresceram de forma assustadora durante o atual governo estão chegando ao fim e serão agora combatidos sem trégua.
Vamos fortalecer os órgãos de fiscalização e os sistemas de monitoramento, que foram desmantelados nos últimos quatro anos.
Vamos punir com todo o rigor os responsáveis por quaisquer atividades ilegais, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.
Esses crimes afetam sobretudo os povos indíge-
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“O mundo sente saudades do Brasil... o Brasil está de volta para ajudar a construir um mundo mais justo e mais saudável.”
Lula é festejado pelos povos indígenas do Brasil e do mundo na COP 27; na ocasião reafirmou a disposição em criar o Ministério dos Povos Originários
nas – e, por isso, vamos criar o Ministério dos Povos Originários, para que os próprios indígenas apresentem ao governo propostas de políticas que garantam a eles sobrevivência digna, segurança, paz e sustentabilidade.
Os povos originários e aqueles que residem na região Amazônica devem ser os protagonistas da sua preservação. Os 28 milhões de brasileiros que moram na Amazônia têm que ser os primeiros parceiros, agentes e beneficiários de um modelo de desenvolvimento local sustentável, não de um modelo que ao destruir a floresta gera pouca e efêmera riqueza para poucos, e prejuízo ambiental para muitos.
Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem provocar mais mudança climática. Faremos isso explorando com responsabilidade a
extraordinária biodiversidade da Amazônia para a produção de medicamentos e cosméticos, entre outros.
Vamos provar que é possível promover crescimento econômico e inclusão social tendo a natureza como aliada estratégica - e não mais como inimiga a ser abatida a golpes de tratores e motosserras.
A produção agrícola sem equilíbrio ambiental deve ser considerada uma ação do passado. A meta que vamos perseguir é a da produção com equilíbrio, sequestrando carbono, protegendo a nossa imensa biodiversidade, buscando a regeneração do solo em todos os nossos biomas, e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas.
Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca
“Os povos amazônicos devem ser protagonistas de sua própria preservação. Os 28 milhões de brasileiros que vivem na região serão os nossos principais parceiros na criação de um modelo sustentável de desenvolvimento.”
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“Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.”
por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil há vários exemplos exitosos de agroflorestas.
Temos 30 milhões de hectares de terras degradadas. Temos conhecimento tecnológico para torná-las agricultáveis. Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo.
Este é um desafio que se impõe a nós brasileiros e aos demais países produtores de alimentos. Por isso estamos propondo uma Aliança Mundial pela Segurança Alimentar, pelo fim da fome e pela redução das desigualdades, com total responsabilidade climática.
O acordo de cooperação entre Brasil, Indonésia
e Congo será fortalecido pelo meu governo. Juntos, nossos três países detêm 52 por cento das florestas tropicais primárias remanescentes no planeta.
Juntos, trabalharemos contra a destruição dessas nossas florestas, buscando mecanismos de financiamento sustentável, para deter o avanço do aquecimento global.
Não podemos mais adiar o debate ambiental. Precisamos lidar com a realidade de países que têm a própria integridade física de seus territórios ameaçada, e as condições de sobrevivência de seus habitantes seriamente comprometidas.
É tempo de agir. Não temos tempo a perder. Não podemos mais conviver com essa corrida rumo ao abismo.
Muito obrigado!”
FOTO: ALDEMIR CUNHA / GREENPEACE
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NOSSO FUTURO SE TRANSFORMA COM VOCÊ. E JUNTOS
VEMOS NASCER
horizonte um novo
O caminho certo é aquele em que andamos lado a lado.
Com quase 200 anos de operação no Brasil, já vivemos muitas histórias, mas mantendo o mesmo propósito: construir com você um futuro melhor, por meio da mineração responsável e do compromisso com as pessoas, com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável.
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LULA celebra o segundo mandato que recebeu com o comprometimento de mudar o destino ambiental do Brasil, da Amazônia e do mundo
“NÃO FALTARÁ AMOR NESTE PAÍS”
No seu primeiro e mais improvisado discurso, feito no calor da emoção, logo após a confirmação da vitória nas urnas, Lula abriu o coração e fez uma declaração, sem medo, de seu amor político à natureza. Isso aconteceu depois de ele ter falado ininterruptamente 60% do tempo sem citar a questão ambiental diretamente. Quando se achava, para a desilusão dos ambienta-
listas, que ele já iria agradecer e se despedir da multidão, sem falar da causa que hoje mais deveria preocupar a humanidade e ameaça a própria vida na Terra, Lula sacou a sua verve e falou de amor. Lembrou da Mãe Natureza. E assim encantou o Brasil e o mundo. Deu-lhes a esperança verde, de novo.
Confira, a seguir, alguns dos recados.
“O Brasil está de volta. Ele é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.
Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser
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SUSTENTABILIDADE
FOTO: RICARDO STUCKERT
nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria-prima.
Vamos reindustrializar o Brasil, investir na economia verde e digi-
tal, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.
Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.
Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção
da paz entre os povos.
O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva.
“Quando uma indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.”
A pecuária predatória estimula o desmatamento para criação de pastagem na Amazônia, provocando destruição e emissão do metano, 8 vezes mais letal que o CO2
Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.
Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.
Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer
atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.
Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica.
Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.
Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.
Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais po-
vos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.
Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.
O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.
O Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.
1 SUSTENTABILIDADE
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FOTO: CHRISTIAN BRAGA / GREENPEACE
Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.
Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.
No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de
amor e de esperança.
Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.
Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.
Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as
religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.
Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida: o Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos –com oportunidades para transformá-los em realidade.
Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada.”
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FOTO: CHRISTIAN BRAGA / GREENPEACE
“Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.”
“SOLIDARIEDADE CLIMÁTICA OU SUICÍDIO COLETIVO?”
Antônio Guteres(*) redacao@revistaecologico.com.br
“O relógio está se movendo rapidamente. Nós estamos na disputa de nossas vidas e estamos perdendo. A emissão de gases do efeito estufa continua crescendo. As temperaturas globais seguem aumentando. E nosso planeta está se aproximando rapidamente de um ponto crítico que tornará o caos climático irreversível.
Estamos perigosamente próximo de um ponto sem volta. E, para evitar esse destino macabro, todos os países do G-20 devem acelerar sua transição energética já, nesta década.
Eles e toda a humanidade têm uma escolha: cooperar ou perecer. Liderarem um pacto de solidariedade climática ou suicídio coletivo? Não há mais como negarmos que o mundo está a caminho do inferno climático e com o pé no acelerador.
Trata-se de um pacto no qual os países mais ricos e as instituições financeiras internacionais deverão fornecer assistência financeira e técnica para ajudar as economias emergentes a acelerarem sua própria transição de
energia renovável. Juntar forças para tornar esse pacto uma realidade. É nossa única esperança de cumprir as metas climáticas.
As atividades humanas são causas dos problemas climáticos. Portanto, a ação humana tem de ser a solução, de forma a restabelecermos ambições e reconstruirmos a confiança, em especial entre Norte e Sul.
Os países desenvolvidos devem assumir a liderança, mas as economias emergentes são também fundamentais para isso. Atualmente, existem cerca de 3,5 bilhões de pessoas vivendo em países altamente vulneráveis aos impactos climáticos.
Precisamos de um roteiro sobre como isso será implementado e devemos reconhecer que é apenas um primeiro passo, porque as necessidades de adapta-
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FOTO: DIVULGAÇÃO
GUTERES: “O mundo está a caminho do inferno climático e com o pé no acelerador.”
O RECADO DA COP27
“A guerra contra a natureza é, em si, uma violação massiva dos direitos humanos”
ção ultrapassam US$ 3oo bilhões por ano até 2030.
BOA NOTÍCIA
As instituições financeiras internacionais e os bancos multilaterais de desenvolvimento devem mudar o modelo de negócios. Fazer sua parte para aumentar o financiamento de medidas de adaptação. E atuar como alavanca para mobilizar mais financiamento privado destinado a ação climática.
Os países que menos contribuíram para a crise climática têm colhido turbilhões semeados por outros países. Em muitos casos, esses países são pegos de surpresa, impactados por eventos inesperados ou para os quais não haviam se preparado. E por isso que estou pedindo a cobertura universal dos sistemas
de alerta precoce dentro de cinco anos. E é por isso que estou pedindo que todos os governos tributem lucros das empresas de combustíveis fósseis.
Os valores arrecados por meio dessas tributações devem ser direcionados aos países que sofrem perdas e danos causados
pela crise climática, a luta contra o aumento dos preços de alimentos e em favor do uso de energias renováveis.
A boa notícia é que sabemos o que fazer e temos as ferramentas financeiras e tecnológicas para realizar o trabalho. É hora de as nações se unirem para a implementação. É hora de solidariedade internacional. Uma solidariedade que respeite todos os direitos humanos e que garanta espaço seguro para os defensores do meio ambiente e para todos que venham a contribuir à nossa resposta climática. Não esqueçamos que a guerra contra a natureza é, em si, uma violação massiva dos direitos humanos.”
(*) Secretário-Geral das Nações Unidas, desde 2017, discursando na abertura da COP 27, no Egito.
“O mundo e o Brasil mudaram. O presidente Lula sabe o quanto a agenda ambiental tem um papel estratégico. Só os negacionistas não veem isso. O mundo todo vai caminhando nessa direção, inclusive aqueles que têm uma posição mais refratária, como é o caso da China. Lula já vinha nessa inflexão durante a campanha e fez questão de assumir os compromissos. Vou pelo valor dessa sua promessa. Acho que o Brasil está apostando tudo na busca de novos caminhos. Nosso novo presidente coloca no seu discurso o compromisso assumido com a sociedade brasileira falando no desmatamento zero, na relação com as populações indígenas e uma agricultura que, ao mesmo tempo, seja próspera e de base sustentável.”
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FOTO: DIVULGAÇÃO
“Só os negacionistas não veem isso”
“As duas maiores economias, Estados Unidos e China, têm uma responsabilidade única de unir esforços para tornar esse pacto uma realidade. E essa é a única esperança de alcançarmos nossos objetivos climáticos”
MARINA SILVA, exministra do Meio Ambiente: “O mundo caminha em outra direção.”
FOTO: AMARALINA FERNANDES
Uma nova relação com a natureza
Baía de Manila, nas Filipinas: Outrora um ponto de beleza, agora se tornou um dos corpos de água mais poluídos da Ásia, onde lodo, dejetos humanos e resíduos industriais formam um depósito flutuante
“O presidente Lula é um democrata. Eu espero que a equipe de transição tenha olhos bem abertos e ouvidos dilatados para entender a agenda climática global, além de discutir Mercosul e fim do desmatamento na Amazônia. O Brasil não tem que pensar no que vai acontecer daqui a 20 anos. Mas, sim, como nós queremos estar melhores daqui até lá. É deixar para trás o desenvolvimentismo e criar o climatismo.
Doravante, tudo vai ser pautado por essa nova relação do homem com a natureza. Uma relação que tem que ser construtiva, e não de sacar ad eternum. Temos de parar de pensar em clima como na ECO/92. E
sim fazê-lo como o lugar-comum de como vamos viver este século. Meio ambiente é uma agenda que não é só verde. É urbana, dos movimentos sociais e de justiça.
Daí a importância da última eleição: o planeta precisa de liderança. O mundo está dividido e, mesmo com o Brasil polarizado, o presidente eleito neste cenário é uma voz de liderança pela esperança. Sua ida à COP 27 foi muito simbólica, cuja envergadura é conferir ao Brasil uma expectativa não só do retorno do protagonismo, mas da reconstrução da nossa ambição no mundo e do nosso papel nele. É essa a nossa esperança em comum com os outros países e governantes.”
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“Não dá mais para sacar ad eternum”
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IZABELLA TEIXEIRA, exministra do Meio Ambiente: o rosto do Brasil na conferência climática
O RECADO DA COP27
FOTO: GAVIN NEWMAN / GREENPEACE
FOTO: MARTIN GARCIA
A produção de florestas de usos múltiplos, consorciadas com a pecuária, é uma bomba removedora de carbono
A CONTRIBUIÇÃO DO PRODUTOR RURAL PARA O MEIO AMBIENTE
Minas Gerais fez adesão ao Race to Zero em junho de 2021, tornando-se o primeiro estado da América Latina a se comprometer em zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.
Os desafios são consideráveis, sobretudo porque não são apenas relacionados às alterações no sistema produtivo referentes ao uso de sistemas, práticas, produtos e processos de produção
sustentáveis (SPSABC). Quanto a essa parte, é claro que exige um grande esforço dos produtores rurais e dos sistemas e instituições que lhes dão apoio, a exemplo do Sistema Faemg. Há que se trabalhar em assistência técnica e gerencial, transferência de tecnologias, sistemas de crédito e mercados, buscando agregar valor ao produto sustentável.
Entretanto, há um outro colossal desafio à espreita. Lidar com
a sociedade, inclusive com a porção que apoia iniciativas como as da Holanda, que ao estabelecer cortes de emissões, implicou ainda necessária redução de produção pecuária em 30%. Não houve espaço para conversão tecnológica, para adoção de sistemas que favoreçam o mercado de biometano e biofertilizantes.
Essa atitude extrema e radical, que enxerga apenas emissões, deixa de analisar de forma sistê-
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DESAFIOS PARA O RACE TO ZERO 1
Ana Paula Mello redacao@revistaecologico.com.br
FOTO: DIVULGAÇÃO / TONY OLIVEIRA
mica os impactos de tal medida. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) conta com o Brasil, celeiro do mundo, para produzir alimentos e atingir vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados com a fome, a educação, a energia, o emprego e a renda, entre outros. Portanto, no Brasil, e em Minas Gerais, não serão admitidas medidas dessa ordem, e tampouco a taxação de carbono.
Poucos se atentaram para o fato de que o Race to Zero, corrida para zerar emissões líquidas de carbono, vem para promover transição energética, adoção de melhores tecnologias produtivas e afins. Não é e não pode ser considerado como propósito (e descabido, diga-se) o corte na produção, a geração de desemprego e da fome, e outras tantas consequências. Mas há parcela da população que valoriza o que vem de fora, julga justo aplicar aqui, país da agricultura tropical, modelos que só funcionam (ou não!) lá fora. A grama do vizinho é sempre mais verde.
A essas pessoas nos cabe trazer fatos, dados e conhecimento. Rememorando artigo escrito em 2020, é importante esclarecer a população de que há tecnologias do Plano ABC+, bem como diversas outras técnicas como agricultura de precisão, manejo integrado de pragas e doenças, agricultura orgânica, práticas conservacionistas de solo e água e uma gama de boas práticas, isso tudo sem falar, ainda, na manutenção de, no mínimo, as áreas nativas que a legislação preconiza. Portanto, é sim, correto dizer que a agricultura tropical brasileira tem papel importante para as nossas metas de acordos climáticos. É na agricultura que se torna possível o balanço de carbono favorável, ou seja, mais
remoção que emissão. E isso tudo sem medidas drásticas e impensadas que culminam com o corte de produção e geração de outros impactos negativos.
A nossa agricultura tropical faz três safras, é a agricultura mais regenerativa do solo no mundo, e estoca carbono no solo, fato não enxergado em metodologias internacionais de inventários de emissões. Gera emprego, renda, educação, combate à fome, promove a infiltração da água no solo, além de inúmeros outros serviços que poderiam ser citados. Temos tecnologias e práticas que podem carecer de
disseminação ainda para alguns produtores, mas chegaremos lá, auxiliando os que necessitam, com melhoria de produtividade, aumento de incorporação de carbono no solo, gerando mais renda para o produtor rural, mais serviços ambientais e mais alimentos. A lógica é inversa ao modelo holandês. Aqui, mais produção é menos emissão.
A produção de florestas de usos múltiplos, por exemplo, é uma bomba removedora de carbono. Minas Gerais possui 2,3 milhões de hectares de florestas plantadas, segundo a Associação Mineira da Indústria Florestal (AMIF). E para além dos sistemas produtivos, o estado guarda cerca de 80% de toda a sua vegetação nativa nos imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Isso quer dizer que o produtor rural é o verdadeiro guardião desse ativo ambiental, sem nunca ter sido reconhecido ou remunerado por isso. Ainda há dúvidas de que um possível mercado regulado de carbono poderá ser acessado pelo produtor rural, sendo o maior potencial, até o momento, o mercado voluntário.
Outra iniciativa necessária é a regulamentação da servidão ambiental, enquanto instrumento econômico, transferindo renda, de forma contínua, para o produtor rural que guarda determinadas áreas de vegetação nativa. Se for trazido um modelo em que a transferência de capital ocorra uma única vez, deixa de ser renda e corre-se o risco de se promover um confisco barato de terras.
O fato é que existem bons instrumentos a serem implementados, restando saber como o Governo de Minas pretende trabalhar cada questão em prol do desenvolvimento sustentável e da melhoria da qualidade de vida de todos, inclusive do produtor rural.
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FOTO: DIVULGAÇÃO
ANA PAULA MELLO: assessora de Sustentabilidade do Sistema FAEMG
“O produtor rural é o verdadeiro guardião desse nosso ativo ambiental, sem nunca ter sido reconhecido ou remunerado por isso. ”
O QUE PENSA MARINA SILVA
Marina Silva é cotada para assumir o Ministério do Meio Ambiente ou, então, a titularidade da “Autoridade Nacional do Meio Ambiente”, função a ser criada no governo Lula para acompanhar e fiscalizar a execução de políticas públicas na área ambiente. Candidata por três vezes à Presidência da República, com mais de 20 milhões de votos em 2014, Marina Silva teve papel decisivo na eleição do presidente Lula e, neste momento, participa da Comissão de Transição do Governo. Confira, a seguir, o pensamento de Marina.
ECOLÓGICO: Qual é a herança deixada por Bolsonaro?
MARINA: Nos três anos e meio do seu governo, quase quatro, ele é responsável por quase 1/3 das florestas virgens destruídas no mundo - e só em 2021 foi responsável por cerca de 40% das áreas florestadas destruídas. E as perspectivas são incomparavelmente piores. Primeiro, porque os instrumentos que existiam antes foram desestruturados, as equipes foram desmontadas, os orçamentos foram reduzidos, e o governo empoderou os criminosos. Assim, vamos ter que recompor orçamentos, fortalecer as equipes e ter uma ação integrada transversal mesmo, juntando todos os setores de governo que podem ajudar. Hoje, temos uma situação de terra arrasada pelo desmatamento. E a Amazônia é mesmo uma prioridade, mas não pode ser só a Amazônia – tem, por exemplo, a Mata Atlântica e outros biomas ameaçados.
ECOLÓGICO: Fala-se na criação
do cargo de “Autoridade Nacional para Risco Climático”... MARINA: A questão da autoridade nacional para risco climático está na proposta que apresentei ao presidente Lula, com a qual ele se comprometeu e faz parte do plano de governo. É uma iniciativa cuja inspiração vem da criação da autoridade nacional para a questão dos jogos olímpicos, em 1916, a autoridade nacional para o risco nuclear e nas autoridades monetárias que monitoram a inflação, verificando se ela está no centro da meta, se está acima do teto. Com base nessas experiências há de se pensar em um arranjo adequado para ações de coordenação para ver se o Brasil está cumprindo com o cronograma dos compromissos que assumiu para reduzir a emissão de CO2. Enfim, essa autoridade nacional do risco climático pode muito bem fazer
essa verificação e identificar, por exemplo, os setores que estão impedindo que a gente consiga alcançar a meta assumida pelo Brasil para dar sua contribuição até 2030, 2050 e anos seguintes.
ECOLÓGICO: A senhora deixou o ministério por divergências com o então presidente Lula. O que garante que isso não vai acontecer de novo?
MARINA: O mundo e o Brasil mudaram. O presidente Lula sabe o quanto essa agenda tem um papel estratégico - só os negacionistas não veem isso. O mundo todo vai caminhando nessa direção, inclusive aqueles que têm uma posição mais refratária em algumas questões, como é o caso da China. No caso do presidente Lula, ele já vinha nessa inflexão durante a campanha e fez questão de assumir os compromissos. Vou pelo valor
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MARINA SILVA: O licenciamento ambiental não deve ser facilitado. Na verdade, ele deve ganhar agilidade sem perda de qualidade
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FOTO: ROMERITO PONTES / DIVULGAÇÃO
da promessa e acho que o Brasil está apostando tudo na busca de novos caminhos. O presidente Lula coloca no seu discurso o compromisso assumido com a sociedade brasileira falando do desmatamento zero, na relação com as populações indígenas e uma agricultura que, ao mesmo tempo, seja próspera e de base sustentável.
ECOLÓGICO: Por onde vai começar todo este trabalho?
MARINA: Eu não falo em nome do governo, mas tenho a percepção do que deve ser feito de ime-
diato. É preciso, por exemplo, recompor as equipes do Ministério do Meio Ambiente, dos órgãos de gestão - isso é fundamental. Hoje, nós temos policiais que não sabem fazer a gestão ambiental em nenhuma das frentes necessárias - nem na fiscalização, nem em relação às unidades de conservação, nem na gestão dessas unidades de conservação e até mesmo no monitoramento por satélite. É preciso recompor essas equipes em bases técnicas. É preciso recompor o orçamento.
A gente tem o orçamento, que é o do Bolsonaro, mas é possível
Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima - Marina Silva - nasceu em Rio Branco, no Acre. Tem 64 anos, é historiadora, professora e ambientalista. Ao lado de Chico Mendes, símbolo da luta pela preservação da Amazônia, liderou movimentos em defesa da causa ambiental. Foi vereadora, deputada estadual e, aos 36 anos, tornou-se a mais jovem senadora do país. Foi a primeira a defender a redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa. Reeleita em 2002, aceitou o convite do então presidente Lula e assumiu o Ministério do Meio Ambiente. Lutou contra os transgênicos e contra a usina nuclear Angra III. Em 2010 candidatou-se à Presidência da República pelo PV. Em 2014 foi de novo candidata à Presidência pelo partido Socialista Brasileiro, após a morte de Eduardo Campos. Em 2015, registrou seu novo partido, o Rede Sustentabilidade. Disputou pela terceira vez a presidência em 2018. Nas eleições de outubro, foi eleita deputada federal por São Paulo, com 237 mil votos.
fazer algum tipo de remanejamento para que a prioridade de fazer a agenda ambiental andar esteja espelhada também do ponto de vista dos recursos financeiros, não só dos recursos humanos. Precisamos ter uma agenda de contenção do que está lá digamos, do pacote da destruição. O governo tem muitos mecanismos para atuar de modo próprio, sem precisar necessariamente aprovar novas leis no Congresso, porque nós já temos uma legislação muito boa – ou seja, o governo pode atuar independente de ter maioria para
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FOTO: FÁBIO NASCIMENTO / GREENPEACE
QUEM É ELA
“Hoje, temos uma situação de terra arrasada pelo desmatamento. E a Amazônia é mesmo uma prioridade”
aprovar novas medidas.
O que tem que mudar é o retrocesso que é ficar tentando mudar a legislação e aí engessar o governo em relação ao licenciamento, em relação à questão de regularização fundiária, a introdução de várias agendas, inclusive o garimpo, aluguel de áreas indígenas, por exemplo, para a agricultura. O governo tem que voltar a ter uma agenda de criação de unidades de conservação, de demarcação de terras indígenas. Tem uma série de áreas que já tem estudos que estão sendo feitos. Retomar esses estudos, dialogar com a sociedade civil para que a gente cumpra com a diretriz do controle da participação social.
ECOLÓGICO: E a questão do licenciamento? Há quem peça relaxamento e flexibilização...
MARINA: O licenciamento am-
biental não deve ser facilitado – na verdade, ele deve ganhar agilidade sem perda de qualidade. Aperfeiçoamentos podem existir e no ministério, quando eu estava lá, nós estávamos trabalhando essa agenda de aperfeiçoamento do licenciamento. Mas, hoje, o que as pessoas querem é flexibilização e a flexibilização do que não se pode flexibilizar não é republicana. Afinal, se você tem uma atividade que é de alto impacto, que vai comprometer os mananciais, por exemplo aqui no estado de São Paulo, que tem problemas graves de abastecimento de água, então você não tem como flexibilizar.
ECOLÓGICO: E o agronegócio, como entra nessa equação?
MARINA: É bom para o agronegócio que o meio ambiente seja respeitado e preservado. Nós só
não finalizamos até agora o acordo com do Mercosul em função de uma visão que não quer cumprir com regramentos ambientais, o que acaba tisnando o nome de todo o agronegócio. Na verdade, o agronegócio não é homogêneo e, sinceramente, eu acho que as pessoas estão buscando fazer essa inflexão – afinal, o Brasil já perdeu demais. Quando fui ministra, o desmatamento caiu 83% por quase uma década e o agronegócio subiu.
O Brasil tem que fazer o dever de casa, para não sofrer impedimentos nos mercados internacionais por ter produtos carbono intensivo. Vamos precisar reduzir emissão e o nosso maior vetor é o desmatamento para ter a floresta e o regime de chuvas preservados. Vamos ter que combater todas as irregularidades que estão aí.
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SUSTENTABILIDADE 1
IMBURANA
Nos altos daqueles ermos, assisti impotente ao porme se alevantar no banzeiro trazido pela tropiada dos animais, que na passagem agalopada alteou mesmo que uma diáfana cortina avermelhada, que a tudo envolveu no repente. Tentando tapar as ventas daquela poeirama, dei fasto pra dentro dum modesto capão de mata espinhenta e rala que ladeava um antigo trilho de enxurrada. Nos poucos, o porme foi minguando e deixou pra trás só o estrago.
Montado em seu castanho, João da Mata trazia seu embornal atravessado no peito, o facão dependurado na cinta e o chapéu de aba ensebada tapando seu rosto sério, vincado de rugas cheias de histórias. Montado na Formosa, seguia no seu encalço pra num me extraviar naquelas paragens distintas e desconhecidas do sertão quase baiano. Foi nessa faina que se demos de frente com uma árvore completamente desfolhada, mas empencada de pequenas sementes bailarinas voadoras. Ele estacou e virando-se disse certeiro:
É a Imburana (Torresea cearensis)! Viste que tá na semente? Vamo apear e dá uma catada. Aquilo foi uma belezura de catação ali no derredor da árvore, e depois de firmar as vistas dei reparo que tinha mais duas dela um pouco mais apartada e que tamém tava forrando o pó das afamadas sementes de Imburana. Nesse servicinho lento, mas proveitoso, fui gravando o dizer de Chico sobre suas serventias muitas.
O mais exibido dela é pra mazelas do pulmão, tipo gripe, tosse, bronquite, asma e peito cheio, mas
ela tem mais uma tanteira de serventuá. Num é raro se fazer um banho das cascas pra aliviá as dor de reumatismo, mas num se deve arrancar as cascas no volteio do tronco principal da árvore, pois molesta ela por demais e pode inté dela dá uma morridinha... Tem de se tirar um galho lateral, que dentro dele tem os mesmos remédios e num vai aleijar a árvore. Pronto! É assim que é! Mas hoje a semente já tá debulhadinha derramada no pó e é mió, gasta só catar. Num delongou um tim pra que quase conseguíssemos encher o embornal de Chico de sementes. Satisfeitos com a cata, montamos novamente os animais e seguimos adiante na busca de mais remédios do mato.
O cheiro exalado por elas é muito gostoso, meio adocicado e na cachaça é bebida disputadíssima, justamente por emprestar essa olência à bebida. Depois dessa modesta aventura, dei uma olhada nos livros e vi que ela tem baixíssima toxicidade e pode ser usada com tranquilidade de mamando até caducando. Mas ela ainda tem uma boa ação anti-inflamatória e analgésica, além de evitar a formação de coágulos sanguíneos, os traiçoeiros trombos.
Outro dia num proseio com uma amiga que andou lá por terras indianas, ela me disse que a Imburana lhe salvou das certeiras diarreias que acometem praticamente todos os ocidentais que por ali passam. Já experimentei e posso atestar que ele é mesmo super eficiente. Inté a próxima!
(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. Saiba mais em: ervanariamarcosguiao.com
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MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
Imburana, Torresea cearensis
FOTO: MARCOS GUIÃO
DESENVOLVENDO OPORTUNIDADES MINERAIS NO BRASIL
Somos uma empresa de exploração e operação de ativos minerais no Brasil. Temos o compromisso de crescer, desenvolvendo de forma sustentável as regiões onde atuamos, por meio de ações socioambientais, de acordo com as características, costumes e necessidades de cada comunidade.
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