© Valdemir Cunha / Greenpeace
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Ou nós salvamos a Amazônia agora, ou ela nunca mais vai nos salvar. A Amazônia nos salva da falta de biodiversidade, da seca, das mudanças climáticas e até da fome. Duvida? Pois a floresta é a casa de milhões de espécies, protege as nascentes dos rios, ajuda a estabilizar o clima e a irrigar as plantações de alimentos do Centro-Sul. Porém, a Amazônia nunca esteve tão ameaçada. O desmatamento está batendo recordes. O Greenpeace Brasil está lutando para manter a floresta em pé há mais de 20 anos, monitorando o desmatamento, protestando e denunciando crimes ambientais. Somos independentes. Não aceitamos receber recursos de governos, empresas ou partidos políticos. Precisamos de pessoas como você para continuar a nossa luta.
17/08/20 15:00
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“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.”
EXPEDIENTE
Bill Gates
Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITORIA-EXECUTIVA Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda. EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Patrícia Boson, Paulo Maciel e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
04 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2021
REPORTAGEM Hiram Firmino Denise Menezes
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.
COLUNISTAS (*) Marcos Guião e Maria Dalce Ricas
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte - MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Ecológico DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@souecologico.com MARKETING marketing@souecologico.com
EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
ASSINATURA assinatura@souecologico.com IMPRESSÃO Gráfica OLPS
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/revistaecologico
Foto tirada antes da pandemia de Covid-19.
A Anglo American sabe que fazer mineração com responsabilidade é construir um futuro verdadeiramente sustentável Reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas. Esse é o propósito da Anglo American ao colocar em prática o seu Plano de Mineração Sustentável. Um compromisso com o futuro, baseado em três pilares: - Ambiente Saudável, com minas eficientes e sustentáveis na gestão do uso de água, neutras em carbono e com resultados positivos para a biodiversidade. - Comunidades Prósperas, apoiamos o desenvolvimento de comunidades com mais saúde, educação e melhores níveis de emprego. - Liderança Corporativa Confiável, que oferece cadeias éticas de valor, transformando a relação entre as minas, as comunidades e a sociedade como um todo. É assim, com ideias inovadoras, novas tecnologias e parcerias colaborativas, que a Anglo American está desenvolvendo seus negócios e suas relações.
Mineração e pessoas que fazem a diferença
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ÍNDICE
A questão climática
O AQUECIMENTO GLOBAL VOLTA A SER PAUTA PRINCIPAL DESTA EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA ECOLÓGICO, COMEMORATIVA AO “XII PRÊMIO HUGO WERNECK” E SEUS VENCEDORES. DAÍ A ACOPLAGEM DE UMA REPORTAGEM SOBRE BILL GATES, ELEITO “A PERSONALIDADE AMBIENTAL DO ANO”, PELO SEU ÚLTIMO LIVRO – JÁ BEST SELLER – “COMO EVITAR UM DESASTRE CLIMÁTICO”. Pág.
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18 SOS CERRADO ESTÁ EM RISCO DE SER DESMATADA PELA EMPRESA BRASILAGRO UMA ÁREA DE 10,8 MIL HECTARES DO CERRADO MINEIRO. NA COLUNA ESTADO DE ALERTA, MARIA DALCE RICAS FALA SOBRE A MOBILIZAÇÃO DOS AMBIENTALISTAS PARA IMPEDIR QUE ESTE FRAGMENTO DE UM DOS BIOMAS MAIS AMEAÇADOS DO PAÍS VIRE CAPIM.
20 POLÍTICA AMBIENTAL A REVISTA ECOLÓGICO REPRODUZ A CARTA ENTREGUE POR CAETANO AO PRESIDENTE DO SENADO, O MINEIRO RODRIGO PACHECO. EM AUDIÊNCIA REALIZADA NA CAPITAL FEDERAL, EM 9 DE MARÇO ÚLTIMO, CAETANO E UM GRUPO DE ARTISTAS PROTESTARAM CONTRA O DESMANTELAMENTO DOS CONTROLES DO ESTADO SOBRE A ÁREA AMBIENTAL DO PAÍS.
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PITANGA DESCUBRA AS QUALIDADES DA PITANGA PARA ALÉM DA BELEZA E DO SABOR DA FRUTA E DE SEU SUCO. EM UM TEXTO BEM AO GOSTO MINEIRO, MARCOS GUIÃO CONTA COMO A FRUTA PODE SER APROVEITADA PARA A PRODUÇÃO DE DOCES E COMPOTAS, LICORES E AINDA PARA O CUIDADO COM A SAÚDE.
E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 14 NATUREZA MEDICINAL 62 SOU ECOLÓGICO 18 MINERAÇÃO 28 LEMBRANÇA 56 NATUREZA MEDICINAL 66 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 54 MUDANÇAS CLIMÁTICAS 64 NATUREZA MEDICINAL 66
CARROS MAIS ECONÔMICOS, USINAS FOTOVOLTAICAS E ENERGIA EÓLICA. O AÇO USIMINAS ASSUME VÁRIAS FORMAS DE SER SUSTENTÁVEL.
AÇOS DE ALTA RESISTÊNCIA MECÂNICA Tornam os carros mais leves, que consomem menos combustível e emitem menos poluentes.
AÇO PARA A ENERGIA SOLAR Primeiro aço exclusivo para o mercado de usinas fotovoltaicas.
AÇO PARA A ENERGIA EÓLICA Mais leve e resistente, usado em torres eólicas.
USIMINAS MOBILIZA O coproduto do aço se transforma em benefícios para a comunidade, como pavimentação de estradas rurais e recuperação de nascentes.
Para a Usiminas, sustentabilidade se constrói unindo tecnologia e aço. Investimos constantemente em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Materiais que vão sustentar um futuro com mais energia renovável e menos poluentes.
usiminas.com
Em dia com a sustentabilidade
AVIDEZ HUMANA “Agradeço por mais esta edição da Ecológico, voltando ao tema da questão indígena. A postagem da foto da criança indígena disse tudo. Quanta tristeza e inércia! A imagem que chocou o mundo foi postada em 29 de dezembro de 2021, por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital da Saúde Indígena Yanomami e YE´Kuana (Condisi-YY). Ela mostra uma menina sofrendo com desnutrição grave e malária falciparum, a forma mais agressiva da doença, dentro da Terra Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil. Quanta indignação eu sinto ao lembrar dessa frase de Mahatma Gandhi: “A Terra possui recursos suficientes para prover às necessidades de todos, mas não à avidez de alguns”. Ah, queria registrar: minha mãe, Mari do Carmo Resende (foto), de 82 anos lê toda a Ecológico e depois me chama para conversamos. Obrigada por isso também”. Maria Aparecida Resende
08 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
UM PREFEITO QUE FALA DE AMOR “Nada piegas um prefeito como Zé Fernando (foto) falar de amor, como Hugo pregava. Pelo contrário, mesmo sendo o mais poderoso sentimento transformador da humanidade, o amor é pouco pronunciado pelos altos executivos e homens de empresa, porque soa piegas. Soa como mensagem deslocada e fora de foco do mundo dos negócios. Neste mundo, os valores e sentimentos transcendentes perderam lugar para a visão imanente e fungível da organização moderna dos humanos. O Dr. Hugo me disse certa feita que o ódio não existe. O que existe é a falta de amor, porque o ódio penetra nos espaços nos quais o amor não é acolhido. Por tudo isto, devemos louvar as palavras do Zé Fernando, atual prefeito de Conceição do Mato Dentro. O estranho não é ele falar de amor. Mas, sim, os CEOs, executivos e homens de negócio à nossa volta ignorarem o amor à natureza. Ou, quando pronunciam este sentimento, o fazem de forma envergonhada e tímida. Têm o receio de serem taxados como sonhadores deslocados num “O ódio não existe. mundo dominado pelo dinheiro, O que existe é a falta intolerância de amor.” e competição HUGO WERNECK desmedida. Neste mundo, o que vale hoje é a entrega dos resultados, não importando que isto signifique a destruição do outro, do próximo, da cultura de paz e da natureza, enfim. Lembremo-nos de Chaplin, recentemente reverenciado pela Ecológico, citando um trecho do discurso no filme O Grande Ditador: 'Soldados! Vós não sois máquinas, homens é o que sois!.” José Carlos Carvalho, exministro do Meio Ambiente e membro do Conselho Consultivo da Revista Ecológico
FOTO: ECOLÓGICO
CARTAS DOS LEITORES
FOTO: ARQUIVO DA FAMÍLIA
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FOTO: MIRNA DE MOURA / TJMG
PROGRAMA CAMINHOS “Caro Coura, te agradeço muito por acreditar, desde o início, no Programa Caminhos, do Ministério Público, que visa à inclusão de pessoas em vulnerabilidade social, cuja reportagem saiu na edição passada da Revista Ecológico. Foi durante a inauguração da escultura de Hugo Werneck na Serra do Curral. Graças ao Sindiextra, todo o setor contribuiu para a realização desse sonho. Por seu intermedium, já conseguimos mudar uma resolução do ministério. Ela agora permite a formalização de parcerias da instituição com a iniciativa privada para desenvolver projetos, como este nosso, de inclusão social. Você teve uma participação importante nessa boa relação que, juntos, vimos construindo com o setor privado na assistência a pessoas socialmente mais vulneráveis. Quanto à escultura do nosso ambientalista maior, feita por Gu Ferreira e quatro novos artistas retirados das ruas, é realmente maravilhosa. Ela nos dá a sensação de ver o dr. Hugo vivo, junto à natureza e o céu emoldurado pela serra. Sem falar da alegria de ver pessoas, antes em situação de abandono nas ruas, agora acolhidas e integradas pelo Projeto Caminhos. Você é muito responsável por isso. É isso que nos move!”
A nova escultura de Hugo na Serra do Curral em BH
Paulo César Vicente de Lima, promotor e coordenador de Inclusão e Mobilização Sociais do MPMG, em mensagem para o presidente do Conselho de Administração do Sindiextra
www.bostonmetal.com
Uma tecnologia transformadora para um futuro net zero
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CARTAS DOS LEITORES
“Parabéns, Ecológico! Muito boa a premiação. Precisamos divulgar os bons exemplos para disseminar esperança e ações concretas nesses tempos tão duros. Congratulações aos vencedores e participantes do prêmio. Que esse reconhecimento lhes fortaleça a busca de um mundo melhor e multiplique exponencialmente as ações sustentáveis e de respeito e resgate da natureza.” Patrícia Falci Mourão “Parabéns, equipe da Ecológico! Sucesso! Vocês merecem. Deus os abençoe sempre! Vocês são como uma alma iluminada que Deus enviou para ajudar o nosso planeta Terra, tão castigado!” Midaruna dos Anjos
ESPERANÇA “Imperdível a cerimônia da 12ª Edição do Prêmio Hugo Werneck! Quem não viu, perdeu! Que qualidade, que organização. Parabéns a todos da Ecológico. Brilhante! Agora, o que mais gostei foi o coral das crianças. Que coisa linda! A gente fica sentindo lá no fundo do coração que ainda temos solução, vendo essas pessoas maravilhosas que se preocupam e cuidam da natureza. Já estou aguardando o prêmio do ano que vem! Isabel Ribeiro “Oi, Ecológico! O evento foi show, parabéns a todos vocês! A Canção pra Amazõnia encerrou com chave de ouro, sensacional.” Júlia Santos
CERIMONIA DO XII PRÊMIO HUGO WERNECK Canção Pra Amazônia “Fazia tempo que não escutava uma música tão bela e forte, com tantas e tantos artistas maravilhosos. Escute a “Canção pra Amazônia” e assista ao clipe (https://youtu. be/yE1PENHOpDQ). É uma obra de arte! Compartilhe e vamos lutar pela nossa mãe comum, nossa Mãe Terra!" Pachamama! #SalveAAmazônia” Daniel Tygel
“Parabéns pela nova edição do prêmio este ano. Não vi na hora. Acabei de assistir. Gostei muito”. Ricardo Caldeira, engenheiro e CEO do ISQ-Brasil
“Que sucesso! Vida longa ao Prêmio Hugo Werneck.” Cristiana Andrade
“Parabéns a todos e, em especial, ao engenheiro florestal Humberto Candeias, criador do necessário Selo de Envelhecimento Sustentável da Canhaça do Brasil.” Valéria Minim 10 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
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“Parabéns aos organizadores do prêmio, ele é incentivador! Cada categoria premiada é significativa e inspiradora! Sou da Escola da LBV de São Paulo, onde essa música vencedora é sempre cantada pelos nossos estudantes, num reforço constante sobre nossos cuidados com a Terra! Emocionante assistir à premiação! Parabéns, Nilton e Coral Ecumênico Infantojuvenil Boa Vontade! Showwww!!!” Suelí Periotto
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“Sensacional! Parabéns à Revista Ecológico pelo 'Oscar da Ecologia', bem como à Aplysia pelo seu projeto premiado de renaturalização dos rios. Uma solução baseada na natureza, assertiva e muito responsiva.” Giulianna Coutinho
FOTO: DIVULGAÇÃO
“Fantástico! Premiação merecida. Coral lindo esse das crianças da LBV. Singeleza! Letra muito linda em defesa da natureza. Como diz Paiva Netto, a destruição da natureza é a extinção da raça humana. LBV, parabéns! O compositor foi muito feliz. Salve o nosso planeta!” Regina Tonin Silva
“Parabéns aos premiados. O vídeo ficou excelente e as experiências merecedoras de reconhecimento e inspiradoras para um mundo melhor!” Flávia Mourão
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ECONECTADO
ECO LINKS RECURSOS HÍDRICOS Qualidade da água, valoração econômica ambiental, mudanças climáticas, drenagem pluvial e barragem são os temas dos trabalhos publicados, pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), na recém-lançada edição da Revista Mineira de Recursos Hídricos (RMRH). A revista, com periodicidade anual, tem a missão de disseminar a pesquisa científica na área e está disponível, em formato eletrônico, no endereço: http://rmrh. igam.mg.gov.br/ojs3/index.php/NM
NA REDE
Os vencedores do Prêmio Hugo Werneck 2021 Na voz de Nando Reis e letra de Carlos Rennó, acompanhados por mais de 30 cantores e artistas brasileiros, a “Canção pra Amazônia” roubou a cena durante cerimônia da premiação. souecologico.com/souecologico/premio-hugowerneck-2021-conheca-osvencedores/ IPCC soa a trombeta do clima Metade da população mundial já vive sob risco climático, e os impactos são mais graves entre populações urbanas marginalizadas, como os moradores de favelas. Nas regiões mais vulneráveis, o número de mortes por secas, enchentes e tempestades foi 15 vezes maior na última década do que nas regiões menos vulneráveis. souecologico.com/souecologico/ipcc-soa-a-trombetadas-perdas-e-danos-do-clima/ 12 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
FOTO: DIVULGAÇÃO
#SouEcológico Confira os conteúdos mais acessados em nosso portal:
SOS MATA ATLÂNTICA A SOS Mata Atlântica realiza campanha permanente para arrecadação de fundos aplicados em seus projetos de pesquisa e conservação do bioma brasileiro. Os projetos são voltados para quatro áreas específicas: restauração da floresta, valorização de parques e reservas, água limpa e proteção do mar. As doações podem ser pontuais ou mensais. Para saber mais e doar, acesse: https://www.sosma.org.br/doacao/
PLENAMATA A Plenamata é uma plataforma digital que reúne dados, indicadores, análises e divulga ações e projetos de conservação e regeneração da Amazônia. Na plataforma é possível encontrar informações, em tempo real, sobre os números do desmatamento da floresta, notícias sobre comunidades indígenas, entre outras. A iniciativa é uma ação coletiva da Natura, InfoAmazônia, Hacklab, Avon, The Body Shop e Aesop. Para conhecer, acesse: https://plenamata.eco/
DESCARTE CORRETO O eCycle é um portal com orientações e reportagens sobre reciclagem, meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Com uma proposta criativa, o site permite que seus leitores se cadastrem e busquem os melhores locais para descartar seus resíduos. Basta acessar o campo de pesquisa e encontrar associações ou centros de triagens próximos de sua cidade. Além disso há conteúdo jornalístico relevante sobre como criar hábitos ecologicamente saudáveis. O site faz parte de um projeto que estimula a correta destinação de resíduos pesados, como pilhas, baterias e equipamentos eletrônicos. Acesse: www.ecycle.com.br/
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MAIS LIDA O RECADO DA FLORESTA O que pensa uma das mais novas lideranças indígenas brasileiras? A Ecológico fez uma coletânea do que diz Txai Suruí sobre mudanças climáticas, a defesa da Amazônia, desigualdade social, racismo e muito mais. http://revistaecologico.com.br/revista/edicoesanteriores/edicao-137/o-recado-da-floresta/
FOTO: DIVULGAÇÃO
CONSUMO CONSCIENTE Consumo consciente é o tema em questão no Portal da Edukatu, uma rede de aprendizagem e mobilização de professores e alunos em torno do assunto. O site reúne vídeos, games, atividades e relatos de projetos ligados à sustentabilidade desenvolvidos por escolas. Destaque para as animações da seção “De onde vem para onde vai” que explicam o processo de produção, os impactos ambientais e as alternativas sustentáveis para o uso de objetos do nosso dia a dia, como a sacola plástica e os celulares. Para acessar o conteúdo é necessário se cadastrar, mas o processo é rápido e gratuito. Acesse: edukatu.org.br
FOTO: REPRODUÇÃO
GENTE ECOLÓGICA FOTO: AGÊNCIA SENADO
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“O tempo nos ajuda a enxergar o que é essencial, é preciso viver até lá. É a vivência que traz maturidade e sabedoria.” CRIS GUERRA, publicitária, escritora e blogueira de moda
“Não são os homens, mas as ideias que brigam.”
FOTO: DIVULGAÇÃO
TANCREDO NEVES, político, presidente eleito do Brasil (1984), primeiro-ministro e governador de Minas
“A função da arte é amenizar a dureza da vida.” JOÃO CARLOS AMARAL, jornalista e filósofo
FOTO: DIVULGAÇÃO
“As dificuldades fazem com que a mente se fortaleça, como o trabalho faz com o corpo.” SÊNECA, filósofo estoico, advogado, escritor do Império Romano
“Deus envia o vento, mas é o homem quem deve içar as velas.” SANTO AGOSTINHO, teólogo e filósofo 14 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
“A Amazônia é um ecossistema do qual todos dependemos para respirar. Nos territórios indígenas, há menos desmatamentos do que em áreas de conservação. Eles são os guardiões do ecossistema e seu direito à terra deve ser protegido pelo nosso bem. A sobrevivência da floresta é a nossa sobrevivência.” CÉLINE COUSTEAU, ambientalista
Aqui tem história. Aqui tem trabalho. Aqui tem inovação.
A Copasa é uma das maiores, mais eficientes
Por tudo isso, a Copasa chega próximo de seis
e mais efetivas empresas de saneamento da
décadas planejada para continuar melhorando
América Latina. Nos seus 58 anos, a Copasa
e crescendo, preparada para as mudanças
sempre trabalhou para ser reconhecida pela
trazidas pelo novo marco do saneamento e
qualidade de sua operação, pelo investimento em
pelos desafios que a sociedade moderna impõe
inovação e pelo respeito à população atendida.
às empresas de seu porte.
Em todo esse tempo, a Companhia se pautou em valores importantes aos mineiros, como a transparência, a responsabilidade social,
a
sustentabilidade ambiental, e a governança corporativa. copasa.com.br
Aplicativo Copasa Digital
Ligue 115 ou 0800 0300 115
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GENTE ECOLÓGICA CRESCENDO “É preciso muita força, muito amor e muita esperança para atravessar esse momento tão sombrio.”
Caetano Veloso (1) Ambientalista da vez, o cantor e compositor baiano explicou, com grandeza, porque foi aceito como porta-voz para ler e entregar a “Carta dos Artistas” ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante “Ato pela Paz” em defesa do meio ambiente, recém-ocorrido em Brasília: “Por eu ser o mais velho”.
FOTO: DIVULGAÇÃO
MILTON NASCIMENTO, cantor e compositor
“Precisamos repensar a continuação da vida agora. Não podemos empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Não existe um outro planeta Terra.”
“O descuido histórico com o uso e a ocupação do solo e a ausência de um planejamento voltado à conservação de rios, mananciais e bacias hidrográficas hoje nos cobram um preço alto.”
FOTO: BIANCA AUN
DANIEL DE OLIVEIRA, ator
Caetano Veloso (2) Perguntado assim à atriz Fernanda Montenegro, em entrevista publicada na Revista “Ela”, de “O Globo”, para dizer quem, com sua arte, hoje mais ajuda restaurar o orgulho de ser brasileiro, a dama do teatro brasileiro respondeu: “No momento? Caetano”.
“Se você ficar neutro em situações de injustiça, estará escolhendo o lado do opressor.” DESMOND TUTU, arcebispo e Prêmio Nobel da Paz em 1984, por sua luta contra o Apartheid na África do Sul
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Alexandre Silveira O senador mineiro conseguiu retirar, de um leilão federal, toda a área verde que compreende o sonhado Parque Linear do Belvedere, na região sul de BH. A suspensão abre caminho para a sua implantação oficial. Luta que segue unindo ambientalistas e artistas.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
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POLIANA VALGAS, primeira presidenta do CBH Rio das Velhas
MARÇO / ABRIL DE 2022 | ECOLÓGICO 15
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
CONDENAÇÃO EVITÁVEL A BrasilAgro/Companhia Brasileira de Propriedades Agrícolas, propriedade da argentina Cresud, quer derrubar 10.820 hectares de Cerrado no município de Bonito de Minas, e substituí-lo por capim para criação de gado e culturas de sequeiro. O processo foi pautado na reunião da Câmara de Atividades Agrosilvopastoris do Copam realizada no dia 22 de março. Em ofício encaminhado à Marília Mello, Secretária de Meio Ambiente, 51 entidades, incluindo a Amda solicitaram que o processo seja retirado de pauta para discussão e esclarecimento das falhas apontadas, relativas aos estudos CACHORRO-do-mato-vinagre: salvo da extinção, ambientais e ao parecer técnico da Supram Norte, mas condenado em Bonito de Minas que é favorável ao desmatamento. Após horas de discussão, a Semad optou pela re- cobre é fundamental para abastecimento das mestirada, desagradando a empresa e a Secretaria de mas, desses rios e de lençóis freáticos, numa região Agricultura. A área que a BrasilAgro quer desmatar, que vem sofrendo a cada ano redução significatiestá inserida na Área do Proteção Ambiental de Co- va de disponibilidade hídrica. O Parecer Único da chá e Gibão, na Zona de Amortecimento Semad e o Estudo de Impacto Ambiental praticado Parque Estadual Veredas do Peruaçu, e par- mente desconsideram os impactos sobre a fauna e cialmente na APA o parque. Federal Peruaçu. O Devido às pouquíscachorro-do-mato-visimas chuvas, que têm A MINERAÇÃO ESTÁ TÃO nagre, julgado extinto tido redução expressiva PRESENTE EM NOSSO DIA A DIA QUE NEM A PERCEBEMOS em Minas por mais de na últimos 15 anos, inum século, foi redesdicando uma mudança coberto no parque. A no clima da região Norregião abriga também te de Minas, projetos população de onçasagropecuários e de silpintadas, espécie gravicultura vêm enfrenvemente ameaçada tando grandes dificulno país. A derrubada dades de sobrevivência. do Cerrado reduzirá Muitos foram abandrasticamente a área donados. Proteger o de alimentação dessas Cerrado é proteger a e de outras espécies água; é proteger coe terá consequências munidades que haimprevisíveis sobre bitam a região e sosuas populações. Uma brevivem da coleta de matilha de cahorrosfrutos que este rico EXCELÊNCIA. Isso é o que nos move. -vinagres necessita de bioma generosamente 14.000 hectares para oferta. O governo não sobreviver. tem política para proA área abriga inúmeras veredas nas cabeceiras tegê-lo, não cria um metro de unidades de conserdos rios Cochá e Peruaçu. Proteger o Cerrado que a vação, e quer autorizar derrubar o que dele resta. 18 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.
IBRAM PREPARA A EXPOSIBRAM 2022 E A 3ª EDIÇÃO DO E-MINERAÇÃO Maio 2022 e-MINERAÇÃO | evento online
15 a 12 de Setembro
EXPOSIBRAM | evento híbrido Belo Horizonte (MG)
Sua organização conectada com as novidades e tendências do setor mineral. Oportunidades de negócio e muitas trocas de conhecimento. Presença de empresários, organizações governamentais, principais mineradoras mundiais e fornecedores de produtos e serviços a toda a cadeia de negócios da mineração.
PARTICIPE COM O IBRAM DOS MAIS IMPORTANTES EVENTOS DO SETOR MINERAL! E em 2023 o IBRAM vai organizar a próxima edição do CBMINA, os tradicionais congressos técnicos dedicados à lavra subterrânea e a céu aberto. Acompanhe as notícias no site do IBRAM!
Acesse www.ibram.org.br para mais informações!
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POLÍTICA AMBIENTAL
FOTO: MARCOS OLIVEIRA / AGÊNCIA SENADO
DE: CAETANO VELOSO PARA: RODRIGO PACHECO PS: “SALVE O MEIO AMBIENTE”
ATO PELA PAZ: o presidente do Senado ouve a leitura da “Carta dos Artistas”, feita pelo autor de “Terra”, em defesa da causa ambiental, principalmente na Amazônia, onde o governo brasileiro pretende autorizar o garimpo insustentável que envenena os rios, os peixes, os cablocos e os povos indígenas originários
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xcelentíssimo Senhor Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado e do Congresso Nacional; senhoras e senhores senadores da República; meus caros colegas e amigos artistas - muitos vieram de longe e adiaram compromissos para estarem conosco neste momento tão importante. Muito obrigado. Sr. presidente, início por agradecer pela audiência que nos concede. O dia de hoje marca uma mobilização inédita que une um número expressivo de artistas e mais de duas centenas de organizações da sociedade civil e movimentos sociais em torno da causa ambiental. O simples 20 ECOLÓGICO | FEV / MAR DE 2022
fato de o sr. nos receber aqui é um sinal de sua própria preocupação com essa agenda, que é central para o presente e o futuro do Brasil. E nós dois, particularmente, temos motivos de sobra para estarmos preocupados com o meio ambiente. “Como mineiro, o senhor sabe bem a quantidade de sofrimento humano provocado por tragédias climáticas e ambientais. Não nos esqueçamos de Mariana e Brumadinho, onde a população até hoje chora seus mortos e suas perdas. Recentemente, o desequilíbrio climático causou enchentes mortíferas na grande Belo Horizonte.” Neste ano, a minha Bahia ficou debaixo d’água,
e o Rio de Janeiro, estado que me acolheu, ainda se reconhecem na causa ambiental. recolhe os destroços da catástrofe de Petrópolis. Ouso dizer que isso se deve à natureza abrangente Nada disso são imagens de um futuro distante, e mesmo sublime da questão ecológica. Nela os senhor presidente; está acontecendo agora. artistas veem a busca de harmonia, a decisão sobre O país vive hoje sua maior encruzilhada ambiental o sentido do humano no mundo, a luz da salvação. desde a redemocratização. O desmatamento na Os poemas, quadros, estátuas, filmes, romances, Amazônia saiu do controle, a violência contra os sinfonias, canções não tratam de outra coisa. Um indígenas e outros povos tradicionais aumentou e artista pode ser indiferente à definição de esquerda as proteções sociais e ambientais construídas nos e direita. Esse nem é o meu caso, já que sempre me últimos 40 anos vêm senti à esquerda, pois sendo solapadas. a imaginação de novas Nossa credibilidade formas institucionais internacional está e de engrandecimento arrasada. O prejuízo é da vida em sociedade de todos nós. sempre me pareceu Uma série de coisa essencial. projetos de lei ora Mas sei de muitos em pauta neste artistas, tantos deles Congresso Nacional aqui comigo hoje, que pode tornar essa não apostam nada em, situação ainda mais de um lado, mudanças grave. Se aprovadas, progressistas nem, essas proposições de outro, conservação poderão facilitar de estruturas o desmatamento, sedimentadas, mas permitir a mineração veem na causa e o garimpo em ambiental a totalização www.sistemafaemg.org.br terras indígenas e da inspiração e a desproteger a floresta responsabilidade do contra a grilagem e equilíbrio - como nas criminosos. formas da arte. Em SEN004821S_70_anos_de_evolucao_Premio_Hugo_Werneck_AD_Ilha_9x9cm.indd 1 03/12/2021 17:38 Como parte da sociedade civil, os artistas, em nome deles, dos especialistas no assunto e dos grande número, decidiram vir até esta Casa, interessados diretos na autopreservação, dirijo-me juntamente com membros de entidades nãoà autoridade máxima aqui presente. O Senado tem governamentais e especialistas em questões o poder e a responsabilidade de impedir mudanças climáticas, para expressar sua desaprovação a legislativas irreversíveis que, cedendo a interesses esses projetos. Explico que fui aceito como portalocalizados, empurram uma conta imensa à voz desse grupo tão diverso por ser o mais velho. sociedade e comprometem o futuro do país. A razão porque um compositor e cantor de Com todo o respeito - e na esperança de que o canções dirige estas palavras a vossas excelências poder legislativo desperte para seu possível papel é a notável identificação que os artistas têm com o de levar o Brasil a iluminar o mundo, deixo em tema do meio ambiente. Muitos artistas que não se suas mãos este documento. veem agindo por motivação explicitamente política Muito obrigado."
Há 70 anos cultivando o amanhã do agronegócio.
FEV / MAR DE 2021 | ECOLÓGICO XX
MUITO AL ACORDO D
Da Era do Carbono ao "Im
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MUITO ALÉM DO
MUITO ACORDO DE PARIS OSDOVENCEDORES da era doCONHEÇA carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS
CATEGORIAS PREMIADAS 1 – Personalidade Ambiental do Ano 2 – Melhor Canção 3 – Melhor Exemplo de Iniciativa Individual 4 – Melhor Exemplo de Influenciadora Ambiental 5 – Melhor Exemplo em Água 6 – Melhor Exemplo em Energia Solar 7 – Destaque Especial 8 – Melhor Empresa 9 – Melhor Empresário 10 – Melhor Exemplo em Biodiversidade 11 – Melhor Exemplo de Empresa Parceira 12 – Melhor Projeto de Empresa Parceira 13 - Ambientalista do Ano "Imagine" de Internacional Bill Gates 14 – Destaque 15 – Melhor Exemplo de Mobilização Social
ALÉM DO DE PARIS
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MARÇO / ABRIL DE 2022 | ECOLÓGICO 23
“OLHEMOS PARA O CÉU" Hiram Firmino (*)
redacao@revistaecologico.com
FIRMINO: “Ainda é possível nos salvarmos do inferno climático.”
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s termômetros não mentem, nem negam. 2021 foi um dos 7 anos mais quentes e infernais da história. A temperatura média global ficou acima dos níveis pré-industriais. Isso fez de 2021 o sétimo ano consecutivo em que a temperatura do mundo esteve mais de 1°C acima desses parâmetros. O Acordo de Paris prevê manter o aumento abaixo de 2°C, com esforços para limitá-lo a 1,5°C. Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente que a anterior. E a previsão, segundo a ONU, é que piore. Isso explica o nome e o tema que escolhemos para inspirar esta edição do Prêmio Hugo Werneck este ano: “Muito além do Acordo de Paris – da era do carvão ao ‘imagine’ de Bill Gates”. Autor do livro “Como evitar um desastre climático – as soluções que temos e as inovações necessárias”, o magnata e filantropo fundador da Microsoft vai além. Para ele, não basta os países traçarem e per-
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seguirem metas de quanto, em graus centígrados, o planeta tem de diminuir de gás carbônico lançado na atmosfera. Do ponto de vista ético e de convicção, não existe qualquer possibilidade de negociação com quem ainda polui e esquenta o mundo. A meta que Gates propõe e demonstra economicamente ser possível é uma só: tolerância zero! É a humanidade deletar de vez, e de maneira gradativa, o carbono de nossas vidas. E da vida do planeta. Começar o caminho de volta – sustentável, inclusivo, democrático e lucrativo – da descarbonização. Bill Gattes não está sozinho neste sonho possível e necessário. Pelo contrário, ele já tem a companhia do pensador e escritor israelense Yuval Noah Harari, que foi o homenageado especial ano passado da nossa premiação. Como pensa o autor dos best-sellers “Sapiens”, “Homo Deus” e “21 Lições para o Século 21”, após anos de negação da crise climática, o mundo agora passou a acreditar que nada do que fizermos daqui pra frente será suficiente para evitar o colapso ecológico. E quanto custaria, de fato, evitar esse apocalipse now? Ele é muito menor do que se imagina. Foi o que Yuval escreveu e viralizou positivamente na Revista Time: “A maioria dos pesquisadores e economistas acredita que zerar as emissões custaria entre 2 e 3% do PIB global. Atualmente, a humanidade já investe 1% em energias limpas. Precisamos de apenas mais 2% dessa fatia da torta”. Como prosseguirmos nesta esperança? Yuval deu a dica e também se incluiu nela. Quando a próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas – a COP-27 - acontecer em novembro deste ano, no Egito, devemos dizer aos líderes ali reunidos que não adianta mais eles fazerem promessas futuras vagas acerca de manter o aqueci-
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MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS
OS AMBIENTALISTAS Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence na sátira cinematográfica “Não olhe para Cima” sobre as mudanças climáticas. Um filme que tenta nos dizer que não estamos perdidos se todos se unirem contra o negacionismo, as fake news, os políticos e governos irresponsáveis perante a questão ambiental. Mas, sim, a favor do planeta e das relações humanas. Ainda há esperança.
mento abaixo de 1,5ºC: “Queremos que eles peguem suas canetas e assinem um cheque de 2% do PIB global anual”. Daí o nosso agradecimento, de coração, a todas as empresas, instituições, parceiros, anunciantes, leitores e internautas que apoiam a Revista Ecológico nesta sua premiação, já ao longo de uma dúzia de anos. Permitam-me, enfim, um último recado. Ele é endereçado principalmente para aqueles governantes, políticos, empresários e homens públicos cuja ficha da questão climática ainda não caiu. Parecem viver em um outro planeta. Nós erramos. Não deu certo o que fizemos até hoje com a Terra. Temos de mudar os combustíveis sujos para as energias limpas. Acrescentar sabedoria à inteligência artificial. Trocar a devastação pelo replantio em dobro. E a dor pelo amor, como Hugo Werneck nos ensinou. E assim, podermos cantar juntos, com música
de Nando Reis e letra de Carlos Rennó, este refrão ecológico que vem bombando da Amazônia e pode contagiar o coração da Humanidade: “Salve-se a selva, ou não se salva o mundo”. É o que mostramos aqui, nesta edição especial comemorativa ao “12º. Prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente, Sustentabilidade & Amor à Natureza”. Nossos parabéns aos vencedores deste ano, que você vai conhecer aqui. Como Bill Gates, eles souberam olhar e captar a mensagem maior de Paris. O desenvolvimento sustentável, o meio ambiente que nos resta e o amor à natureza que a Revista Ecológico defende, lhes agradecem mais ainda. Boa leitura e até a próxima lua cheia. Como diz o filósofo Alfeu Trancoso, o profundo não é para baixo. É pro alto. Olhemos para o céu!” (*) Discurso na cerimônia de abertura da premiação
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FOTO: JOHN KEATLEY
O “IMAGINE” DE BILL GATES Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com
Avesso às aparições públicas, o grande homenageado como a “Personalidade Ambiental do Ano” do 12º Prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente, Sustentabilidade & Amor à Natureza”, não veio ao Brasil, em 2021, quando do lançamento mundial do seu último livro:“Como evitar um desastre climático – As soluções que temos e as inovações necessárias”, lançado pela Companhia das Letras. Não precisava. Em exatas e densas 300 páginas, sem cores nem ilustrações artísticas, o empresário e filantropo norte-americano Bill Gates poupou comentários e artifícios. Gênio da tecnologia, bilionário e ativista ambiental, ele foi simples e direto ao tema que mais deveria preocupar a Humanidade e pode nos salvar. Detalhe corajoso: na capa-título deste seu novo livro, já best-seller mundo afora, ele não pergunta como evitar. Ao GATES: homenagem especial como “A Personalidade Ambiental do Ano”
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“A chave para lidarmos com as mudanças climáticas é tornar a energia limpa tão barata e confiável quanto a obtida por combustíveis fósseis.” Bill Gates
contrário de um sinal de interrogação – Como? - ele afirma no tempo presente - “Como” - fazer isso de maneira sustentável. E ponto final. Nesta sua nova missão, agora ecólogo, Bill Gates propõe um plano factível para contermos o colapso ecológico e as mudanças climáticas que avançam com o aquecimento global. Como primeiro registrou num texto brilhante, o jornalista Severino Francisco, do “Correio Bra-
siliense”, o empresário foi muito além, em números, do Acordo de Paris. Para Gates, é possível reduzirmos até zero as emissões de gases de efeito estufa que causam o aumento do calor em todo o planeta. E adverte, cientificamente: “Esse número, zero, não é negociável”. Como lembrou o empresário, fazendo um paralelo com o desastre trazido pela Covid-19, cientistas de todo o mundo advertiram que a pandemia de
grandes proporções era inevitável. Mas nenhum país tomou as providências necessárias: “Com relação às mudanças climáticas - disse Gates - estamos hoje no mesmo ponto em que estávamos com as pandemias, anos atrás. Não deveríamos cometer tal erro, pois ele será fatal para o destino do planeta”. É o que a Revista Ecológico reporta nesta sua edição especial, comemorativa à 12ª edição do Prêmio Hugo Werneck.
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A ORIGEM Segundo Severino, “Tudo começou no início dos anos 2000, quando o empresário e a mulher, Melinda, ensaiavam os primeiros movimentos para criar uma fundação filantrópica, para ajudar populações pobres de vários pontos do mundo. Os dois viajaram até regiões de baixa renda na África subsaariana e no Sul da Ásia na expectativa de aprender mais sobre mortalidade infantil e HIV, entre outros problemas sociais. Ao sobrevoar as grandes ci-
dades, Gates indagava, ao olhar pela janela do avião: “Por que é tão escuro ali? Onde estão as luzes que eu veria se estivesse em Nova York, Paris ou Pequim?”. O empresário ficou sabendo que cerca de 1 bilhão de pessoas não contavam com acesso confiável à eletricidade e metade delas vivia na África subsaariana. Na Índia, encontrou o mesmo panorama. “A única solução que eu posso imaginar é tornar a energia limpa tão barata que o país todo a preferisse aos combustíveis fósseis”, afirma, preocupado com os des-
Bill Gates
“A perda de vidas e a miséria econômica causadas pela Covid-19 equivalem ao que acontecerá se não eliminarmos as emissões globais de carbono." Bill Gates
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dobramentos do efeito estufa. Ele usou a experiência cotidiana do aquecimento de carros expostos ao sol para ilustrar o que ocorre na atmosfera. O para-brisa permite a entrada da luz solar e depois retém parte dessa energia. “O interior do veículo fica muito mais quente do que a temperatura externa”, observa. Em escala ampliada, os gases do efeito estufa retêm calor, elevando a temperatura média da superfície terrestre. Quanto maior a quantidade de gases, mais a temperatura sobe. O
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“Por mais trágica que a Covid-19 seja, os efeitos da mudança climática podem ser muito piores.” Bill Gates
pior, adverte Gates, é que, uma vez na atmosfera, os gases de efeito estufa permanecem ali por muito tempo. Cientistas estimam que cerca de um quinto de dióxido de carbono emitido atualmente continuará no ar daqui a 10 mil anos. O dióxido de carbono não é o único gás que provoca o efeito estufa, mas é o mais comum deles. Há também o óxido nitroso e o metano, por exemplo. No entanto, o dióxido de carbono tem um agravante: permanece por mais tempo na atmosfera.
Ele lembra que quase todas as atividades humanas alimentam o efeito estufa: ligar o ar-condicionado, deslocar-se de carro, viajar de avião, fabricar objetos de plástico, transportar alimentos de caminhão, ligar a geladeira, usar cimento para construir casas, usar aquecedor e desmatar para cultivar gado. Gates fez as contas e divulgou a pegada hoje dos seres humanos no planeta: 27% dos 51 bilhões de toneladas de gases provenientes do efeito estufa são provocados pela
maneira como ligamos aparelhos; 31% decorrem de como fabricamos as coisas; 19% são consequência de como cultivamos; 16% vêm de como transportamos as coisas; e 7% se devem à forma como esfriamos e aquecemos as coisas. A QUESTÃO O desafio, ele ressalta, é reduzir de 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa que o mundo lança na atmosfera para zero.
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“Mais hambúrgueres em um lugar correspondem a menos árvores em outro. Conforme o mundo ingere mais carne, o desmatamento acelera.” Bill Gates
O prazo para alcançar a meta ambiciosa termina em 2050. Como os gases permanecem na atmosfera, o planeta continuará quente por vários anos, mesmo depois de zerarmos as emissões. Gates vai fundo. Seguro, expõe em seu livro que se não conseguirmos reduzir o aquecimento global, as consequências serão o que vemos na ficção científica distópica, além de problemas com os quais já convivemos. Entre eles, furacões, redução das safras de milho e de trigo na Europa, diminuição de 20% das
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áreas cultiváveis na África, secas extremas na China (fornecedora de um quinto dos cereais para o planeta), crise alimentar (com encarecimento dos itens essenciais), aumento das queimadas, derretimento da calota polar e enchentes sem aviso. O empresário adverte: “já elevamos a temperatura do planeta em pelo menos 1 grau centígrado, desde o período pré-industrial. Se não reduzirmos as emissões, provavelmente teremos aquecimento de 1,5 a 3 graus centígrados até meados deste sé-
culo, e de 4 a 8 graus centígrados até o fim dele.” Os efeitos do aquecimento global foram tratados exaustivamente por David Wallace-Wells na obra “Terra inabitável”. Porém, o mérito do livro de Bill Gates está em avançar em direção não apenas de constatar e prever, mas, principalmente, formular um plano para evitar o desastre climático iminente. Não se trata de utopia ambientalista, mas do plano realista de um dos homens mais ricos do mundo, com cabeça de enge-
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MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS nheiro, empresário e filantropo. “A chave para lidarmos com as mudanças climáticas é tornar a energia limpa tão barata e confiável quanto a obtida por combustíveis fósseis”, comenta Gates no livro. Será difícil? Sem dúvida, responde o empresário. Trata-se da mudança mais ambiciosa da história da humanidade. Ao mesmo tempo, a crise climática representa uma promissora oportunidade de negócios. “Países que construírem empresas e indústrias de carbono zero eficientes
liderarão a economia global nas décadas seguintes”, prevê o fundador da Microsoft. DESMATAMENTO CARNÍVERO “Mais hambúrgueres em um lugar correspondem a menos árvores em outro”, escreve Bill Gates, em “Como evitar um desastre climático”, sobre a relação direta entre a criação de animais para alimentação com a agricultura e o desmatamento. As derrubadas, ele enfatiza, não ocorrem pelas mesmas razões em todas as regiões. Nesse
sentido, o Brasil ocupa lugar de destaque. Nas últimas décadas, a causa mais determinante para a destruição da Floresta Amazônica têm sido as pastagens para o gado. Desde 1990, as florestas brasileiras reduziram em 10%. “Como o alimento é uma mercadoria global, o que é consumido em um país pode levar a mudanças no uso da terra em outro”, explica Gates. “Conforme o mundo ingere mais carne, o desmatamento na América Latina se acelera.”
“Os países que construírem empresas e indústrias de carbono zero eficientes liderarão a economia global das décadas seguintes.” Bill Gates
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Como interromper o processo de aceleração das mudanças climáticas? Na opinião dele, “a estratégia mais eficiente é parar de cortar tantas árvores”. E o desafio? Produzir 70% mais alimento para prover as necessidades do planeta e, simultaneamente, reduzir emissões e lutar para que elas sejam eliminadas inteiramente. “Isso exigirá inúmeras mudanças, incluindo novos métodos de fertilizar plantações e criar animais, menos desperdício de alimentos e a mudança de hábitos
das populações dos países ricos – diminuir o consumo de carne, por exemplo”, diz o empresário. MISSÃO POSSÍVEL Uma das coisas que ficaram claras para mim foi que nossas atuais fontes de energia renovável – eólica e solar, na maior parte – poderiam causar um grande impacto na resolução do problema, mas não estávamos fazendo o suficiente para empregá-las. Também ficou claro por que, sozinhas, elas não são suficientes para que cheguemos a zero. O
“O clima é como uma banheira sendo enchida lentamente. Mesmo se fecharmos um pouco a torneira e deixarmos só um fio de água escorrendo, chegará o momento em que a banheira vai transbordar.” Bill Gates
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vento nem sempre sopra e o sol nem sempre brilha, e não dispomos de baterias de baixo custo capazes de armazenar quantidades de energia para abastecer uma cidade inteira pelo tempo necessário. “Além do mais, a produção de eletricidade representa apenas 27% das emissões totais de gases de efeito estufa. Mesmo que houvesse uma revolução nas baterias, ainda precisaríamos dar um jeito nos outros 73%.” Objetivo e prático, Bill Gates diz ter-se convencido de três coi-
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“Se chegarmos à meta zero, conseguiremos manter o clima suportável, ajudar milhões de pobres e preservar o planeta para as futuras gerações.” Bill Gates
sas, após anos de pesquisa e envolvimento na causa: 1. Para evitar um desastre climático, devemos chegar a zero. 2. Temos de empregar as ferramentas de que já dispomos, como energia solar e eólica, com mais rapidez e inteligência. 3. Precisamos criar e produzir tecnologias revolucionárias capazes de nos conduzir pelo resto da jornada. “Esse número, zero, não é negociável. Se não pararmos de lançar gases de efeito estufa à atmosfera, a temperatura continuará a subir. Esse é o tipo de desastre do qual temos de nos prevenir.”
"Se, até o fim do século, as emissões de carbono continuarem altas, esperase que sejam responsáveis por 73 mortes a cada 100 mil pessoas." Bill Gates
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A BÍBLIA AMBIENTAL O plano terreno de Gates para salvar o planeta e a humanidade do inferno climático Bill Gates e os produtos Microsoft são os responsáveis por moldar a relação que temos hoje com a tecnologia e os computadores. A revolução provocada pela adoção em massa de computadores pessoais só foi possível graças à facilidade de uso dos sistemas e programas de-
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senvolvidos pela empresa que ele fundou com Paul Allen, em 1976. Quem não convive diariamente com o Windows ou programas do pacote Office? Qual a referência estética e de funcionalidade dos sistemas operacionais dos smartphones? A genialidade e vocação para
os negócios de Gates, o estudante de Harvard que deixou a universidade para apostar no mercado de desenvolvimento de softwares, renderam a ele uma conta bilionária e fizeram da Microsoft uma empresa de mais de US$ 1 trilhão. Mas os objetivos e ações do cidadão Bill
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MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS
“Principalmente para a geração mais nova eu posso dizer: vocês têm a energia e têm uma meta. E a meta está certa: zero carbono até 2050.” Bill Gates
Gates vão além do mero enriquecimento com a tecnologia. O filho de uma família bem-sucedida de Seattle, que passou de menino prodígio, a gênio da tecnologia e, depois, a empresário multimilionário, decidiu dedicar seu tempo e parte da sua fortuna a melhorar a qualidade de vida no planeta. Na Fundação Bill & Melinda Gates, que criou com sua hoje ex-esposa, passou a financiar pesquisas de soluções para desafios globais na área de saúde. E, no início dos anos 2000, a estudar questões relacionadas à
crise climática. O resultado está aí, na forma de um livro disponível para todos nós que, ainda viventes na era do carbono, pecamos e podemos nos reconciliar com a natureza de Deus. Daí ele já estar sendo chamado de a “Bíblia ambiental”. Como Hugo Werneck dizia, brincando, todo ambientalista, no fundo, já foi um degradador ambiental no passado. Já prendeu e matou passarinho, cortou muitas árvores e tacou fogo no mato. E agora crescido, não mais ignorante, graças à educação e consciência ecológica, se
arrependeu. E virou um inteligente defensor da natureza e do desenvolvimento sustentável. É o que anuncia Gates na contracapa de “Como evitar um desastre climático”: “Para impedir o aquecimento global, o ser humano precisa parar de emitir gases de efeito estufa para a atmosfera. Parece difícil, e será. O mundo nunca fez nada tão ambicioso assim. Todos os países e pessoas terão de mudar seus hábitos. Este livro trata do que é preciso fazer e dos motivos pelos quais acredito que somos capazes de dar conta disso”.
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“Melhor Canção” CUIDA DA TERRA
Esta música tem letra e melodia compostas pelo músico Nilton Duarte, que atua como professor no Conjunto Educacional da Legião da Boa Vontade (LBV), em São Paulo. Um sucesso que vem fazendo sucesso nas redes sociais desde 2017, como instrumento de sensibilização e educação ambiental. Com interpretação do próprio Nílton, acompanhado por Áthina Luiza e pelos Octeto e Coral Ecumênico Infanto-juvenil da LBV, a canção enaltece em versos simples e amorosos – e mais atuais impossível – o valor da natureza.
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FOTOS: VIVIAN R. FERREIRA
NILTON DUARTE, ÁTHINA LUIZA E CORAL ECUMÊNICO DA LBV
ASSISTA AO VIDEO: www.youtube.com/ watch?v=3br3EBUsh0M
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS Cuida do céu! Cuida do ar! Cuida do sol. E do luar! Cuida das águas, rios e mar, Sem poluir, contaminar! Cuida também dos animais, Que tanto bem eles nos fazem! Cuida da Terra! Cuida bem, sim, sem ser feroz! Cuida de mim! Cuida de nós! Cuida agora! Cuida, sim, que o amanhã não terá fim! Lembra de Deus, o criador. Foi ele quem tudo criou. Cuida da Terra! Cuida do mundo! Cuida da Vida! Cuida de nós! Cuida da Terra!
“Trabalho reconhecido” “Em nome do educador José de Paiva Netto, presidente da LBV, – agradecemos aos organizadores do Prêmio Hugo Werneck, promovido pela Revista Ecológico. Trata-se de um importante reconhecimento ao nosso trabalho de conscientização e educação ambiental. Sentimo-nos honrados com essa premiação, considerada o ‘Oscar da Ecologia’ brasileira.” Silmar de Almeida, diretor-executivo da LBV
Silmar de Almeida
LEGIÃO ECOLÓGICA Criada no Brasil em 1º de janeiro (Dia da Paz e da Confraternização Universal) de 1950, a Legião da Boa Vontade já nasceu vocacionada para a sustentabilidade ambiental. O respeito à natureza e ao ser humano estão contidos na sua missão institucional: “Promover a educação ecológica, proteger e defender o meio ambiente, fonte de todas as riquezas, impedindo atividades que ocasionem problemas de degradação ambiental, as quais podem comprometer os recursos naturais, pondo em risco as condições da vida e o futuro do planeta”. As reflexões intituladas “A destruição da Natureza é a extinção da raça humana” e “Educar. Preservar. Sobreviver. Humanamente também somos Natureza”, de autoria do jornalista e escritor Paiva Netto, transformaram-se em campanhas permanentes em todas as 82 unidades socioeducacionais da LBV no país. Se emocione ao ver e ouvir “Cuida da Terra” em: www.youtube.com/watch?v=3br3EBUsh0M
“Acerto amoroso” “Quando criei os versos dessa canção, eu me perguntei: ‘como posso conscientizar as pessoas sobre a situação do nosso planeta, nossa mãe Terra?’ Então escrevi esta letra já pensando que a interpretação deveria ser na voz de uma criança, interagindo com uma pessoa adulta. E essa própria criança crescendo com o objetivo de defender a natureza com muito zelo. A melodia teria que se harmonizar com a letra e ser sensível e amorosa. Ela faz as pessoas chorarem. Acho que deu certo”.
Nilton Duarte
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“Melhor Exemplo de Iniciativa MUITO ALÉM Individual ”
DO ACORDO DE PARIS ABEL DOMINGUES
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PROJETO CABEÇA DE COCO
Analista de documentação, Abel Domingues, há 17 anos, resolveu fazer algo diferente que pudesse levar alegria às crianças carentes na periferia de Curitiba. E junto delas, transformar lixo em arte. Seu sonho ambulante, transportável na garupa de uma bicicleta, virou um teatro itinerante de bonecos. Ganhou até nome chique: projeto de ação social e sustentável “Cabeça de Coco”, em alusão aos fantoches que utiliza para divertir a plateia infantil. Em razão disso, em 2015, ele recebeu o “Prêmio Sociedade Sustentável”, do governo federal. E, no ano seguinte, ganhou o reconhecimento do “Prêmio Disney - Amigos Transformando o Mundo”. Foi
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selecionado entre mais de mil outros projetos de 16 países da América Latina. Também em 2016, concorrendo com 460 outras iniciativas individuais inscritas de todo o Brasil, foi reconhecido tambem, pelo Instituto Legado, como uma “ação de impacto socioambiental”. Nada disso, porém, subiu-lhe à cabeça. Aos 46 anos, casado e pai de um filho adolescente, Abel mantém o mesmo coração e atitude onde mora, catando lixo e fazendo arte. É capaz de chorar quando fala de seu público. E de sonhar sempre, com a bandeira do Brasil tremulando permanente na garupa da sua velha bike.
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS Como disse ele, “os arredores de Curitiba estão precisando de alguém que olhe para o lado de fora da janela do seu carro, do seu apartamento, e enxergue as crianças que vivem em situação de risco. Ouvir o grito silencioso que vem da calçada e dos albergues. Eu não tenho como parar esse projeto.”
“Amor, suor e lágrimas” “Quando me vi on-line ganhando tamanha e respeitável premiação, que é o Prêmio Hugo Werneck, confesso... as lágrimas correram de tanta emoção. Afinal, olhar para trás e relembrar que cada segundo valeu a pena. Que já são mais de 17 anos pedalando a minha velha bike. Muitas vezes, o suor se mistura com as lágrimas. Mas são lágrimas de felicidade, por saber que um projeto tão simples, mas feito com arte e amor, está fazendo a diferença na vida das nossas crianças e protegendo o nosso meio ambiente. A única forma que tenho para retribuir essa distinção é dedicá-la, de coração, a todas as crianças da periferia, por onde passo. Muito agradecido.” Assista ao video: www.youtube.com/watch?v=x1oxZp5fAfs
EM DEFESA DA NATUREZA E DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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Toda Lua Cheia
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“Melhor Exemplo de Influenciadora Ambiental ”
NINA GOMES
A AGENTE VERDE DO RIO DE JANEIRO
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A coletora-mirim do lixo jogado pelos adultos nas águas poluídas da Guanabara: e ela ainda sorri com o que faz
Com apenas quatro anos, Nina Gomes foi agraciada, no ano passado, com o selo “Agente Verde” pela Comlurb, a empresa de Limpeza Urbana da cidade do Rio de Janeiro. Este selo é concedido às pessoas que se mobilizam e são multiplicadoras do descarte ecologicamente correto do lixo urbano na Cidade Maravilhosa. Antes dela, tal honraria foi para o ator Mateus Solano e o cantor Jorge Vercillo. No início de 2021, ela comandou um mutirão de limpeza na praia de São Conrado e outro de conscientização, pelo fim do descarte de plástico no oceano, na mureta da Urca. Filha do ambientalista
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Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano, Nina começou a mergulhar com um ano e sete meses. Aos três, ganhou o Prêmio “Tatuí de Ouro”, do Instituto Ecológico Aqualung, como a criança mais jovem a fazer limpeza na praia de Copacabana. Essa ação viralizou tanto nas redes sociais, que a pequena ecologista foi convidada pela empresa de recuperação marinha OceanPact para ser embaixadora da sua marca e tocar o sino da abertura de capital da empresa na bolsa. É essa a menina que ainda diz sonhar em se tornar ambientalista quando crescer!
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS “Ponto de ruptura pelo amor” Ricardo Gomes
“A minha filha ter recebido essa homenagem do Prêmio Hugo Werneck, nesse momento que a gente está vivendo agora, foi muito emocionante. O prêmio reconheceu e deu destaque a uma passagem muito singular nas nossas vida. Falo do fato de a imagem da Nina, sozinha comigo, limpando o fundo do mar em Copacabana, ter viralizado no mundo inteiro e, por isso, ter se transformado numa ação prática e efetiva, de replantio de manguezal na baía de Guanabara. A iniciativa foi patrocinada pela empresa privada OceanPact que se sensibilizou com essa imagem, esse gesto de uma criança pequena limpando o fundo do mar. Ela, junto ao Instituto Mar Urbano e à Ong Guardiões do Mar, resolveu plantar 30 mil árvores de mangue nos fundos da baía de Guanabara, na Área de Proteção Ambiental (APA) Guapi-Mirím. A partir dessa ação, eu vejo como é possível a gente reverter todo o estrago que o ser humano fez, e atuar de forma direta contra as mudanças climáticas. Se a gente sensibilizou uma empresa, eu acredito que podemos tocar o coração de dirigentes de outras 10, 100 ou mais empresas. E em vez de plantar só 30 mil árvores, a gente consiga plantar 3 milhões de árvores ou 30 milhões de árvores de manguezal, com 1% do lucro líquido de algumas empresas que estejam a fim de colocar a mão na massa e lutar contra a degradação ambiental e mudanças climáticas. Quando começou a falar, minha já dizia que não entendia como uma pessoa podia deixar um plástico, beber alguma coisa e deixar a garrafa na areia. A Nina é o ponto de ruptura pelo amor. Pela empatia de ver que é a nossa atitude de hoje que está definindo a herança que a gente vai deixar para a geração que está nascendo agora. Ambos agradecemos ao Prêmio Hugo, com esperança.”
“O Prêmio Hugo Werneck é um selo, uma chancela de reconhecimento público a outras ações que Nina inspira.” RICARDO GOMES
Assista ao vídeo: www.youtube.com/ watch?v=WRI6sLlXCgY&feature=youtu.be
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“Melhor Exemplo em Água” APLYSIA
PROJETO RENATURALIZE
Rio Gualaxo do Norte, afluente do Rio Doce, em Mariana: revitalização à vista
Ter a natureza como mestra e modelo. Foi esse o sábio conselho que a empresa capixaba Aplysia Soluções Ambientais resolveu seguir. E já aplica, com sucesso, em trechos de dois rios que sofrem diferentes tipos de impacto ambiental. O Rio Mangaraí, no Espírito Santo, com impacto de origem agrícola. E o Rio Gualaxo do Norte, um dos principais afluentes do Rio Doce, na região de Mariana, Minas Gerais, com impacto de origem industrial. Todos se lembram que as margens desses rios foram varridas e seus traçados naturais alterados pela força da lama de rejeitos, que escoou da Barragem de Fundão, da Samarco. Imitação da vida, com técnicas e intervenções
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simples, o Projeto Renaturalize recuperou trechos dos rios, devolvendo a eles seus aspectos naturais, com seus remansos, troncos de árvores e galhadas entrelaçadas, para diminuir a velocidade das águas e, assim, permitir a reprodução e volta dos peixes. Um trabalho de restauração ambiental que se diferencia e dá resultados simplesmente por refazer a natureza sinuosa dos rios que o criador assim modelou. Com os devidos méritos, o Projeto ReNaturalize conquistou o Prêmio Internacional “Brics Solutions for SDGS Awards´2021”, na categoria ODS “Água Potável e Saneamento”, por sua atuação no âmbito da Fundação Renova.
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS “Agradecendo como os peixes” “Para a Aplysia, o reconhecimento do projeto ReNaturalize, por um prêmio tão conceituado como o Hugo Werneck, significa que os nossos esforços para o desenvolvimento sustentável estão no caminho correto. Dizem que os peixes são excelente termômetro social. Se eles estão bem, significa que toda a cadeia alimentar está funcionando. Eu fico muito feliz de poder estar ajudando os peixes a voltarem ao ecossistema.” Tatiana Heid Furley, VP de Inovação e Conselho Deliberativo da Aplysia
FOTOS: DIVULGAÇÃO APLYSIA
Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=g30Y0GiCMew
Os peixes voltando aos rios reinventados: indicadores biológicos da boa qualidade da água
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“Melhor Exemplo em Energia Solar”
O deputado solar de Montes Claros, sua terra natal, apontando o futuro bem-vindo das energias limpas
O vencedor nesta categoria, este ano, vem do Norte de Minas, mais precisamente de Montes Claros. É ali, abundante e democrático, que o astro-rei se mostra uma esperança crescente contra as fontes sujas que ainda esquentam e poluem o mundo. Estamos falando de um político mineiro aguerrido. Durante a última década, ele ajudou o país a registrar avanços tecnológicos na instalação de painéis mais eficientes de geração de energia solar, com menor custo para o consumidor. Não à toa, o nosso homenageado é chamado por seus pares de o campeão brasileiro em energia solar. Os números comprovam isso: mais de 15 mil empresas, usinas e fazendas solares, ligadas ao setor, foram criadas no país, sendo 20% delas em Minas Gerais. O resultado acoplado, nesse perío-
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GIL PEREIRA
do, foi a geração de 34 mil novos empregos verdes e um bilhão e duzentos milhões de reais em tributos limpos distribuídos aos municípios de uma das regiões mais devastadas e pobres do país. Graças à inovação que ele introduziu nas leis estaduais de energias renováveis, especialmente a da energia solar, Minas lidera hoje o ranking nacional de geração distribuída, com placas instaladas em telhados residenciais e comerciais, propriedades rurais e prédios públicos. O político premiado é Gil Pereira, deputado estadual e presidente da Comissão das Energias Renováveis e Recursos Hídricos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, autor da primeira lei de energia solar do Brasil.
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“NÃO ESCOLHAM A EXTINÇÃO!” Recado de quem já foi extinto há 60 milhões de anos e reapareceu em vídeo na premiação, entrando e discursando na sede da ONU “Escute aqui, pessoal! Eu sei uma ou duas coisas sobre extinção. E eu vou lhes dizer... Vocês podem até pensar que isso é meio óbvio! Mas, ser extinto é um coisa ruim! E vocês mesmos se levarem à extinção? Em 70 milhões de anos, essa é a coisa mais ridícula que já ouvi! A gente, ao menos, teve um asteroide. Qual é a desculpa de vocês? Vocês estão indo em direção ao desastre climático. E ainda assim, todos os anos, governos gastam centenas de bilhões de recursos públicos para subsidiar combustíveis fósseis. Imaginem se nós tivéssemos gastado centenas de bilhões por ano, subsidiando meteoros gigantes. É o que vocês estão fazendo agora! Pensem em todas as coisas que poderiam ser feitas com esse dinheiro. Em todas as partes do mundo, há pessoas vivendo na pobreza. Vocês não pensam que ajudá-las faz mais sentido? Sei lá... Pagar para que todos da sua espécie morram? Deixem-me ser realista por um segundo. Vocês têm uma grande oportunidade nesse exato momento, enquanto reconstroem suas economias e se recuperam da pandemia. Essa é a grande chance da humanidade! Então a minha ideia selvagem é essa: não escolham a extinção! Salvem a sua espécie, antes que seja tarde demais. Chegou a hora de vocês, humanos, pararem de inventar desculpas e começarem a promover mudanças. Obrigado!”
O DINO ECOLÓGICO que bombou nas redes sociais: recado atual
Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=9jwOOKW_Pqk
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“Destaque Especial " HUMBERTO CANDEIAS
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SELO DE ENVELHECIMENTO SUSTENTÁVEL DA CACHAÇA BRASILEIRA
O engenheiro florestal autor da primeira comprovação e diferencial de sustentabilidade das cachaças brasileiras, doravante, no mercado mundial
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Você já ouviu falar em “envelhecimento sustentável” das nossas cachaças? Pois é! Ao contrário da Europa, preocupada em replantar as suas florestas de carvalho, madeira nobre utilizada no envelhecimento do whisky, o Brasil já tem um instrumento verde e gigante nesta questão. Por uma iniciativa do engenheiro florestal mineiro Humberto Candeias, ex-diretor do Ibama e do Instituto Estadual de Florestas (IEF), o nosso país, que tem nome de árvore, já pode anunciar ao exigente e competitivo comércio mundial a criação do primeiro selo de comprovação do envelhecimento sustentável de suas cachaças de alambique. Trata-se da garantia legal de reposição florestal, de toda e qualquer árvore que venha a ser derrubada para a fabricação de dornas e barris, onde as aguardentes são armazenadas para envelhecerem naturalmente e com qualidade. O diferencial biodiversificado do Brasil é poder contar com mais de 10 tipos de madeiras maravilhosas e apropriadas, como a amburana e a castanheira, muito semelhante às características sensoriais do carvalho europeu, além do freijó, do bálsamo e do jequitibá. O pré-lançamento do selo ocorreu em agosto, no interior canavieiro de Pernambuco. Foi em uma pequena e turística fábrica de cachaça familiar, chamada Engenho Sanhaçu, em homenagem ao canto violino e solto dos sanhaçus-azuis-da-Amazônia. A Sanhaçu fica no município de Chã Grande, onde também se deu um encontro histórico com outra família produtora de cachaça de Minas, a Trinca Ferro. Foi ali que o secretário de Estado de Meio
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“Agronegócio sustentável”
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Ambiente de Pernambuco, José Bertotti, presidiu a entrega simbólica para a família de agricultores produtores da Sanhaçu do selo número 1 de envelhecimento sustentável. Quem recebeu foi o patriarca seu Moacir e seu filho Oto. Na sequência, o selo número 2 também para o proprietário da Trinca Ferro, da família do produtor José Carlos Ribeiro. Coincidentemente, os dois primeiros comprovantes de sustentabilidade foram dados para duas cachaças com nomes de pássaros, uma das paixões de Hugo Werneck durante toda a sua vida. E já está na fila a terceira outra marca de cachaça ecológica: a Tiê-Sangue, produzida também com lastro verde pela família de Arnaldo Ramoska, que preserva duas RPPNs, em Aiuruoca, no Sul de Minas. Autor desta inovação ecológica, baseada em uma ideia lançada junto aos produtores mineiros pelo Master Blender Arnaldo Ribeiro, proprietário da Escola de Cachaça Cana Brasil, Humberto Candeias é um conhecido e estimado militante na área ambiental brasileira. Lutou contra a máfia do carvão, já foi companheiro de Hugo Werneck e hoje é consultor ambiental especialista na produção e análise sensorial de cachaças.
JOSÉ BERTOTTI, secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e Arnaldo Ribeiro, da Cana Brasil
“É uma grande honra receber um prêmio como este, principalmente sabendo que a iniciativa parte do jornalista Hiram Firmino, de reconhecido trabalho na causa ambiental, e pelo fato de a premiação ter o nome do dr. Hugo Werneck, um companheiro de muitas batalhas. Agradeço também, em especial, a Arnaldo Ribeiro, pela ideia inicial. É uma honra ainda pelo projeto que nos possibilitou concorrer ao prêmio. Porque trata-se de uma iniciativa ligada ao tema da sustentabilidade do agronegócio. Quando um prêmio como o Hugo Werneck reconhece uma ação ligada à sustentabilidade do agronegócio, ele estabelece divisores de água para o setor. O grande benefício do Prêmio Hugo Werneck é na divulgação dessa certificação, para que outros produtores busquem a sustentabilidade. Depois da cerimônia de premiação, já fui contactado por vários deles interessados em fazer o replantio de todas as árvores que consomem no seu processo produtivo, para ter acesso ao selo de Envelhecimento Sustentável da Cachaça." Humberto Candeias
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“Melhor Empresa” DANONE NUTRICIONAL POÇOS DE CALDAS (MG)
A planta industrial da Danone do Brasil, em Poços de Caldas (MG), conseguiu atingir as três dimensões da produção sustentável. São elas: neutralidade de carbono, a circularidade da água e o descarte zero de resíduo para aterros sanitários. Unidade Especializada em fórmulas lácteas e alimentos para crianças e adultos, ela é a primeira fábrica a conseguir tal feito no país. Trocar a matriz de energia para fontes renováveis costuma ser o caminho mais direto para a redução das emissões diretas de um negócio. E foi justamente isso que a empresa fez com uma mudança para o consumo de energia limpa. Parte dela passou a ser
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gerada na própria unidade, a partir de 1.500 painéis solares que, hoje, cobrem o estacionamento e passarelas na fábrica. A eletricidade adicional necessária também passou a ser adquirida de fontes renováveis, como a eólica. Com isso, a planta já reduziu em 90% suas emissões de carbono. As emissões mínimas restantes são compensadas pela compra de créditos alocados em projetos de conservação ambiental desenvolvidos pela BioFílica, empresa brasileira com foco no manejo e conservação florestal. Desde junho do ano passado, certificada como neutra em carbono pela Carbon Trust, a sua planta industrial precisou atender
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“Receber o Prêmio Hugo Werneck na categoria de Melhor Empresa é um grande orgulho para nós da Danone. Diariamente, destinamos esforços para promovermos uma alimentação mais saudável para o maior número de pessoas possível, preservando o meio ambiente, por meio de nossas operações. Pensamos em estratégias e soluções que nos possibilitem um crescimento sustentável atrelado ao progresso social. Os desafios são diversos, mas temos a cada dia mais certeza de que nosso propósito “One Planet, One Health” é um catalisador de mudanças poderosas para a sociedade em que vivemos. Nossa unidade de produção de Nutrição Especializada, localizada em Poços de Caldas, Minas Gerais, é a prova de que é possível fabricar produtos de altíssima qualidade, com responsabilidade social e ambiental, promovendo impactos positivos em toda a cadeia de valor, da matéria-prima ao descarte. Nela, alcançamos três pilares ambientais fundamentais para o combate às mudanças climáticas - neutralidade de carbono, redução do uso de água e zero envio de resíduos para aterro. Podermos compartilhar iniciativas como esta em canais tão relevantes, como o Prêmio Hugo Werneck, nos impulsiona a avançar ainda mais nas pautas socioambientais, além de encorajar outras empresas a seguirem por um caminho equilibrado para as pessoas e para o planeta. Afinal, juntos, podemos muito mais!” Taisa Costa, gerente de Sustentabilidade da Danone Brasil aos requisitos do padrão PAS-2060, especificação aplicável internacionalmente. Para alcançar a sua sustentabilidade hídrica, a fábrica investiu em um sistema de coleta e tratamento de água de chuva que hoje garante o atendimento de suas necessidades de água — 4 milhões de litros por ano. A reciclagem e a compostagem implantadas pela empresa foram responsáveis por recuperar aproxi-
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“Encorajando outras empresas”
madamente 99% dos resíduos gerados na unidade. A fração final, de 1%, é definida como resíduo perigoso e encaminhada para coprocessamento, um tipo de incineração que aproveita a energia contida nos materiais. As emissões geradas nesse processo são compensadas com a compra de créditos de carbono, alocados em projetos da BioFílica. Segundo a empresa, a sua planta em Poços de Caldas não envia mais resíduos para descarte em aterro desde maio de 2020 e, com isso, obteve o certificado de zero resíduo. A Danone traz um valor a mais. Ela também faz parte do Sistema B Brasil. Trata-se de um movimento que reúne negócios que equilibram propósito e lucro, considerando o impacto de suas decisões nos trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente. São empresas que buscam ser melhores para o mundo e não apenas as melhores do mundo. De acordo com a certificação, ser B não é uma posição, mas, sim, uma direção. Um exemplo para o setor. Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=5gwu1Dyu9as&t=18s
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“Melhor Empresário”
GABRIEL ESTEVAM DOMINGOS
RECADO PREMIADO: "As mudanças climáticas estão ai"
O nosso premiado, este ano, é um jovem cientista e empreendedor que, desde muito cedo, se dedica às causas ambientais. Gabriel nasceu na Vila Mariana, em São Paulo, onde se formou em engenharia ambiental com bolsa de estudos integral. E ainda novato no mercado, fundou a sua
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primeira empresa, a startup GED-Inovação, Engenharia Tecnologia, de soluções sustentáveis para a valorização e reaproveitamento de resíduos industriais. Sabe onde? No coração de Cubatão, que já foi chamada de “O Vale da Morte”, como a cidade mais poluída do mundo, onde surgiu o primeiro pólo industrial do Brasil. E por conta disso, antes da consciência ecológica, teve de pagar o preço do crescimento insustentável. A maioria dos ambientalistas se lembra da reviravolta histórica que ocorreu ali. Ao longo de muito trabalho conjunto entre poder público, sociedade civil e empresas em prol de melhorar esse cenário, Cubatão recebeu o selo da ONU, na ECO/92, como a “Cidade-Símbolo Mundial” de recuperação ambiental. Nosso homenageado contribuiu para essa conquista. E não parou mais na busca de novas e limpas tecnologias. Foi eleito “Jovem Embaixador Ambiental”, tendo participado como representante brasileiro na “RIO + 20”. Gabriel também se especializou em Economia Circular, desenvolvendo projetos e soluções que utilizam, em suas composições, rejeitos, resíduos e descartes de produção de outras indústrias. Entre as inovações que conseguiu desenvolver na GED, as rações para cães, peixes e gatos feitas à base de casca de camarão. O benefício é duplo, uma vez que dá uma função nobre à casca que antes era descartada. O uso desse resíduo hoje ajuda na despoluição dos rios, já que ao receber esses rejeitos orgânicos a qualidade da água se deteriora. Em 2017, sua empresa foi adquirida pela multinacional brasileira líder em gestão ambiental – o Grupo Ambipar – onde ele criou um centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e atua como diretor- executivo.
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS “O Prêmio Hugo inspira empresários para protagonizarem a mudança” Gabriel Estevam
No início de 2020, Gabriel teve papel fundamental na estruturação de inovações em sustentabilidade para a abertura de capital (IPO) da Ambipar na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), tornando-se a primeira empresa do segmento sustentável e enquadrada nas práticas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) a estrear na bolsa.
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EMPRESÁRIO AMBIENTALISTA, ele criou uma tecnologia capaz de transformar as cascas de camarão, que eram jogados na beira do mar, poluindo o litoral santista, em rações para peixes, cães e gatos. Além de contumaz plantador de árvores contra o aquecimento global
“Agradeço imensamente a todos que fazem o Prêmio Hugo Werneck acontecer há tanto tempo. Só ter sido finalista, no ano passado, já me foi um ganho e uma satisfação enormes. Imagine ganhar essa honraria agora. O fato é que as informações sobre as mudanças climáticas estão aí. A natureza tem nos mostrado isso de maneira bastante clara. Dá pra convivermos com ela. Podemos ter lucro, baixo impacto e alta preservação ambiental, tudo junto. Não dá mais pra continuarmos como fizemos com Cubatão no passado. Pelo contrário, os empresários têm uma oportunidade única de serem os protagonistas dessa mudança frente ao aquecimento global. O Prêmio Hugo Werneck inspira, provoca e confirma esta esperança. Muito agradecido, de novo”.
GABRIEL ESTEVAM na Ambipar: tecnologia para despoluir o mundo Assista ao vídeo: encurtador.com.br/knDH2
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FOTO: ALEX ZAIDAN
“Melhor Exemplo em Biodiversidade” MATA DO PASSARINHO
A ampliação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Passarinho, situada no sertão baiano, quase na divisa com Minas Gerais, comprova a força das parcerias público-privadas no Brasil. E a força da natureza, através de um passarinho em extinção, capaz de unir todos aqueles que podem salvá-lo. Desde órgãos públicos até o terceiro setor, incluindo duas empresas parceiras do setor elétrico. Primeiro, esse frágil passarinho conseguiu que lhe criassem uma RPPN, Reserva Particular do Patrimônio Natural, com uma área de 800 hectares, equivalente a 800 campos de futebol juntos. E depois, como o desmatamento e a degradação ambiental já chegaram próximo, ameaçando o seu
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habitat, o que esse passarinho fez? Ele conseguiu que os mesmos envolvidos efetivassem a doação de mais 230 hectares de natureza preservada à sua volta, para ampliar a proteção. Ganharam todos. A Fundação Biodiversitas, que administra a unidade de conservação, o Ibama, que a fiscaliza e protege, o grupo Aliança Interligação Elétrica (AIE), que bancou os investimentos necessários, e o entufado-baiano, também conhecido como bigodudo-baiano. Uma história de sucesso e esperança. Vale a pena ver o vídeo. A natureza agradece! Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=rtAVPUc2opY
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“Melhor Exemplo de Empresa Parceira” ANGLOGOLD ASHANTI
Uma história de ouro e educação orquestrada para o planeta, que começa em 1834.
“Fomento sustentável” “É uma honra para a AngloGold Ashanti receber o prestigiado Prêmio Hugo Werneck, como um reconhecimento de que nossas iniciativas de educação ambiental têm evoluído e alcançado resultados expressivos. Aproveitamos para parabenizar a equipe envolvida no Prêmio, que há mais de uma década fomenta e valoriza as práticas sustentáveis de toda sociedade.”
FOTO: RAUL JUNIOR
Os anos de 2020 e 2021 foram um período de contrastes. Ao mesmo tempo em que toda a sociedade enfrentava os desdobramentos da Covid-19, os programas de educação ambiental da Anglogold Ashanti e o seu próprio Centro de Educação Ambiental se reinventavam e celebravam 20 anos de existência. Nesse período, a empresa partiu de ações 100% presenciais para atividades praticamente 100% virtuais, contemplando todos os seus públicos. O objetivo alcançado foi transportar práticas ecologicamente educativas para o ambiente virtual de forma eficaz e chamativa, para que o relacionamento próximo e duradouro não fosse afetado com as restrições impostas pelo isolamento social e manter, assim, o engajamento dos seus empregados e parceiros, grande parte deles, à época, em trabalho remoto. O que significou? Significou que, mesmo com a pandemia, a empresa soube enxergar mais longe. Não paralisou, nem descartou, nenhum dos seus projetos de educação ambiental. Preferiu readequá-los para o formato on-line e, assim, mantê-los presentes de forma significativa em sua história de sucesso.
Othon de Villefort Maia: gerente sênior de Comunicação e Relações Institucionais da AngloGold Ashanti
Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=kiTRA0rDSMs
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“Melhor Projeto de Empresa Parceira” PROJETO “BARRIGA CHEIA” USINA CORURIPE
FOTOS: DIVULGAÇÃO USINA CORURIPE
AGRICULTORA FELIZ: “Isso aqui é uma maravilha de Deus!”.
A história de sucesso do Projeto Barriga Cheia foi motivada por uma triste realidade. Em meados da década de 1990, o município de Teotônio Vilela, no estado canavieiro de Alagoas, tinha a maior taxa de mortalidade infantil do país. As crianças morriam de desnutrição crônica. Para mudar essa realidade, a Secretaria Municipal de Agricultura idealizou um projeto comunitário para beneficiar as famílias em vulnerabilidade social. Permitir e ajudar os moradores locais a plantar espécies leguminosas, principalmente feijão, em meio aos plantios e safras de cana-de-açúcar. Mas faltava uma empresa do setor sucroenergético com sensibilidade social para abraçar a causa. Isso aconteceu em 2010. A Usina Sucroenergética Coruripe disponibilizou suas terras para os plan-
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tios e colheitas sazonais. Somente nos últimos 11 anos, completados no final de 2021, em que ela apoia o projeto, já foram colhidas mais de 50 mil sacas de 50 quilos de feijão, beneficiando mais de 850 famílias de agricultores. E para a usina, essa iniciativa é importante também, na medida em que faz melhorar a condição da terra, utilizando-a de maneira consorciada, em períodos ociosos da produção de cana. Graças a essa feliz parceria público-privada, Teotônio Vilela é hoje reconhecido com o certificado de melhor município em atenção básica de Alagoas e o quarto melhor do Brasil. Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=HApTNeVF_WE
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“Prêmio indica que estamos no caminho certo” “Essas questões de sustentabilidade sempre fizeram parte da história da Usina Coruripe, desde a sua fundação, e um prêmio como o Hugo Werneck vem demonstrar que estamos no caminho certo nas questões de ESG: responsabilidade ambiental, social e de governança. O Prêmio é um reconhecimento, um endosso pelo trabalho e uma oportunidade de divulgação nacional do nosso trabalho, que demonstra ser possível uma empresa abrir as suas portas, ceder as suas terras, numa parceria com as prefeituras, com as instituições e com a comunidade, para contribuir para o desenvolvimento social das regiões nas quais ela atua.” Allan Henrique, coordenador corporativo de Sustentabilidade da Usina Coruripe
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“Ambientalista do Ano” AILTON KRENAK
LIDER INDÍGENA, jornalista e escritor, Ailton é autor dos livros “O Amanhã não está à venda” e “Ideias para adiar o fim do mundo”
O Brasil nunca ouviu e falou tanto sobre o ambientalista e liderança indígena Ailton Krenak como desde o começo da Covid-19. Com a sua visão diferenciada da pandemia em guerra contra a humanidade, ano passado então, ele bombou para valer. Foi convidado e participou dos principais programas de televisão, rádio, em reportagens de jornais e sites, desde o Sempre Um Papo, de Afonso Borges, até a CBN, do Grupo Globo. Tudo on-line, passando pelas lives e conferências no Brasil e mundo afora. Mas que mistérios tem Krenak, para quem o coronavírus e os outros que virão são uma questão ambiental? São a consequência direta da destrui-
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ção dos seus habitats naturais? Seus mistérios são as suas ideias fora da curva. Ele costuma dizer: “não somos o sal da terra. Somos piores que a Covid-19”. E ainda: “o corona parece ter se cansado da gente. Tal como a humanidade quis se divorciar da natureza”. Ele já perguntou também: “como justificar que somos uma humanidade, se mais de 70% dos humanos sobrevivem em favelas?”. E repetiu, comoprofetizou o escritor Camus, em “A Peste”: “o perigo é o coronavírus ir embora, sem que o coração do homem seja modificado”. Que humanidade, enfim, queremos sobre a Terra? Ele pergunta e responde:
MUITO ALÉM DO
MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS “se ainda não sabemos, a natureza sabe e se atualiza sempre, desde que o planeta foi criado. Não à toa, o novo coronavírus está nos discriminando. Ele não mata pássaros e nenhum outro ser. Nem as borboletas azuis que Hugo Werneck tanto amava. Mata apenas os humanos!” Nos anos 1980, além de ter pintado o rosto com tinta de jenipapo, como protesto em Brasília, sua voz e sua luta foram determinantes para a inclusão
do capítulo VIII, “dos índios”, na Constituição Federal, de 1988. (Veja seu célebre discurso abaixo). Atualmente, por causa da Covid-19, ele vive isolado com sua família na Aldeia Krenak, entre Minas, Espírito Santo e o horror ambiental que a Vale e a BPH causaram ao Rio Doce. O rio que seu povo chama de Watu. E ainda hoje desçe semimorto por sua aldeia dilacerada e triste, já passados seis anos da tragédia de Mariana.
"Um povo que dorme em esteiras no chão não é inimigo do Brasil" “Ao assegurar para as populações indígenas o reconhecimento aos seus direitos originários às terras em que habitam, atentem bem. Nós não estamos reivindicando, nem reclamando, qualquer parte de nada que não nos cabe legitimamente e de que não esteja sob os nossos pés, sob o habitat, nas áreas de ocupação cultural, histórica e tradicional do povo indígena. Assegurar isto, reconhecer às populações indígenas as suas formas de manifestar a sua cultura, a sua tradição, se colocam como condições fundamentais para que o nosso povo estabeleça relações harmoniosas com a sociedade nacional. Tem que haver realmente uma perspectiva de futuro de vida para o povo indígena, e não de uma ameaça permanente e incessante. Manifesto a nossa indignação com os ataques que continuamos sofrendo. Espero não agredir, com a minha manifestação, o protocolo desta casa. Mas eu acredito que os senhores não poderão ficar omissos e alheios a mais essa agressão movida pelo poder econômico, pela ganância, pela ignorância do que significa ser um povo indígena. O nosso povo tem um jeito de pensar e de viver. Tem condições fundamentais para sua existência e a manifestação da sua tradição. Nossa cultura não coloca em risco, e nunca colocaram, a existência sequer dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, quanto mais de outros seres humanos.
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Aílton Krenak
PINTANDO e mostrando o rosto de indignação aos deputados em Brasília
E hoje nós somos alvo de uma agressão que pretende atingir na essência a nossa fé. Agredir a nossa confiança de que ainda existe dignidade, de que ainda é possível construir uma sociedade que sabe respeitar os mais fracos. Que saiba respeitar um povo que sempre viveu à revelia de todas as riquezas. Um povo que habita casas cobertas de palha e dorme em esteiras no chão, não deve ser identificado de jeito algum como um povo inimigo dos interesses do Brasil e que coloca em risco qualquer desenvolvimento.” Assista ao vídeo completo, disponível para download, de parte do discurso em: www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q
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“Destaque Internacional” TXAI SURUÍ FOTO: DIVULGAÇÃO
A NOVA VOZ DA AMAZÔNIA
"Que felicidade ao receber o reconhecimento do Prêmio Hugo Werneck. Obrigada pela homenagem. Seguimos na luta.”
Esta jovem estudante de Direito da Universidade Federal de Rondônia é uma indígena brasileira da etnia Suruí. Seu segundo nome de batismo significa “mulher inteligente”, “gente de verdade”. Já o seu primeiro nome quer dizer “mais que amigo”, “mais que irmão”. Significa “a metade de mim que existe em você” e a “metade de você que habita em mim”, na língua dos índios Kaxinawá. Aos seis anos, durante ritual que festeja a criação do mundo, seu pai a anunciou como uma futura grande líder indígena. Ela viveu, com sua família, até os sete anos, na Aldeia Cacoal, na terra indí-
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gena Sete de Setembro. E, desde então, em Porto Velho. Enquanto criança, ela acompanhava os pais nas incursões pela floresta, em defesa do território. Quando tinha 14 anos, ela e sua família passaram um tempo vivendo sob escolta da Força Nacional Brasileira, por conta de ameaças que recebiam de madeireiros da região. Tal proteção não evitou que, em 18 de abril de 2020, Ari Uru-Eu-Wau-Wau, também líder indígena e seu amigo de infância, fosse assassinado. Sua defesa pela Floresta Amazônica em pé jogou holofotes nas principais reivindicações dos
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MUITO DO ACORDO DE PARIS da era do carbono ao ALÉM imagine Gates ACORDOde DEBill PARIS ambientalistas brasileiros. Ao fim de seu discurso, na COP-26, em Glasgow, na Escócia, enquanto os vídeos de sua apresentação já viralizavam na internet, foi abordada por um homem que teria lhe dito para “não falar mal do Brasil”. Segundo ela, na credencial que ele usava, era possível ver que fazia parte da delegação do governo brasileiro.
No dia seguinte, mesmo sem ter comparecido à conferência do clima, o presidente a criticou em declarações que desencadearam uma onda de mensagens de ódio e preconceito direcionadas às redes sociais da ativista. O que ela disse para ter despertado tanto temor e ódio? Confira, abaixo, o seu discurso na COP-26:
Não é 2030 ou 2050, é agora!
Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=1gnUH7HNBAU
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“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na Floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo. Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda? Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora! Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-WauWau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo. Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.” Txai Suruí: a primeira indígena brasileira convidada para abrir uma conferência da ONU
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“Melhor Exemplo de Mobilização Social” NANDO REIS E CARLOS RENNÓ FOTOS: DIVULGAÇÃO
SALVE-SE A SELVA OU NÃO SE SALVA O MUNDO
REIS E RENNÓ: rockão de protesto, com causa e mensagem jamais vistas no país com tantos cantores e artistas brasileiros, em defesa da Amazônia
Lançada em 05 de setembro de 2021, no programa Fantástico, da TV Globo, a Canção pra Amazônia, composta por Nando Reis (melodia) e por Carlos Rennó (letra), foi a música com causa que mais mobilizou o país e sensibilizou a opinião pública mundial. Uma iniciativa do Greenpeace e da Relicário Produções, com o apoio da Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase Amazônia), a gravação da canção levou sete meses. Cada um dos 33 artistas e cantores envolvidos teve de gravar a sua
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participação separadamente, como forma de minimizar os riscos de contaminação por Covid-19. Como explicaram os autores da música e letra: “Queríamos mobilizar segmentos diversos, trazer artistas comprometidos com a causa ambiental, que pudessem amplificar, com suas vozes, o alcance da mensagem”. Eles conseguiram. O refrão “Salve-se a selva ou não se salva o mundo” nos faz cantar uma verdade incontestável. E pode nos livrar de transpor, sem ponto de retorno, as portas já escancaradas do inferno climático.
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“Encontrar uma solução para descarbonizar a economia mundial é a tarefa mais ambiciosa da humanidade.” Bill Gates
“O momento é crucial. Mais que conscientizar, temos de agir.”
“Prêmio Hugo tem feito o que pode pelo meio ambiente.”
“Agradeço a todos pelo prêmio Hugo Werneck que nossa música 'Canção pra Amazônia' recebeu. Essa música é um marco na minha história como compositor. A letra extraordinária do Carlos Rennó expõe e expressa tudo que me aflige, nesse momento crucial em que nós precisamos não apenas nos conscientizar. Temos que agir contra a destruição da Amazônia e de todo o planeta. Muito Obrigado!” Nando Reis
“Eu queria agradecer ao Prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Amor à Natureza, que nos honra e nos dá grande satisfação interna. É um prêmio que tem feito o que pode pelo meio ambiente e pela causa ecológica.” Carlos Rennó Assista ao vídeo: www.youtube.com/watch?v=yE1PENHOpDQ
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
PITANGA
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Pitanga, Eugenia uniflora
62 ECOLÓGICO | MARÇO / ABRIL DE 2022
FOTO: MARCOS GUIÃO
ssim que deram entrada os primeiros lampejos de luz do dia pela janela do quarto, me levantei apreensivo derivado de imensa zoada vinda do lado de fora de casa. Que seria aquilo? Gastou só arrodear a varanda pra ver o espetáculo de uma nuvem de abelhas fervendo na florada das Pitangueiras (Eugenia uniflora) fazendo alarido absurdo, além de vaporar uma olência adocicada por todo o quintal. Esse ano choveu no prazo certeiro e daí a natureza retruca assim, parindo fartura de belezuras e frutos. Tem Pitanga que gera frutos de uma tanteira de cores diferençadas, como amarelo, roxa e inté preta. Mas por aqui agradeço por demais essa de cor avermelhada mesmo, que empresta seu delicioso aroma e paladar no apreparo de uma geleia que adoro, mas que num sei fazer. Pois foi quando os frutos deram de madrocê me alembrei da danada e matutando chamei por dona Maria de Vavá, doceira de mão cheia e moradora logo ali assim. O socorro veio no rápido, acompanhado da receita, que agora divido concês.
Ô seu Marco, tem segredo não... Vai lá e junta uma baciada dos frutos bem amadurados e dá uma passada na água pra banir qualquer sujidade. Sem pestanejar, obedeci ligeiro e voltei imediatamente até sua cozinha, que funciona apartada da casa. Daí nós temos de se espremer os frutos numa peneira mais firme, aparando o suco embaixo numa bacia e enjeitando a carroçada. Depois de medir o apurado, tem de se levar direto no fogo num tacho bem limpinho e ajuntar açúcar mais ou meno na metade do tanto do suco recolhido. Tendeu? Diante da afirmativa, ela seguiu adiante nos ensinos. Dagora em diante tem de se bulir no constante em fogo mais baixio, inté que você passe a colher no fundo do tacho e aquilo se abra, mostrando caminho. Daí tá no ponto, gasta só coloca nos pote já bem limpinho, tampar e esperar resfriar. Agradecido, subi o morro com um pote na sacola depois de deixar outro pra desfrute de dona Maria. Encafifado com tamanha gostosura, fui atrás das serventias dessa fruta bem brasileira que já foi cantada em prosa e verso por Gilberto Freire em Casa-Grande e Senzala, Guimarães Rosa no Sagarana e José de Alencar em Iracema. Fiquei sabendo que ela tamém é usada no apreparo de licor, sorvete e até iogurte. Mas num para aí não, pois ela tem o maior teor de provitamina A encontrado na natureza, favorecendo e rejuvenescimento da pele e dos olhos. No atualmente vem se desvendando que podemos comer coisas bem diferençadas. As flores da Pitangueira dispostas numa salada é uma delas. O tão afamado suco verde tamém pode levar algumas poucas folhas dessa fruta pra dar um toque mais azedinho. Se o caso é uma dor de garganta, gasta fazer o chá das folhas um tiquinho mais intenso e gorgolejar várias vezes ao dia pro alívio se assentar e a febre se distinguir. Por isso tamém é indicada pra cuidar da queixa de bronquite, tosse e gripe, além de ajudar no desagero das diarreias, desarranjos e inté colite. Foi assim que uma zoada matinal de abelhas me fez alargar a visão sobre as serventias da Pitanga para além da geleia. Inté a próxima lua! (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. Saiba mais em: ervanariamarcosguiao.com
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