ANO 7 - Nº 80 - ABRIL/MAIO DE 2015 - R$ 12,50
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EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
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FOTO: ALFEU TRANCOSO
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EXPEDIENTE
Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
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REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Arte: Sanakan DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com
Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com
VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br
Publisher - Projetos Especiais David Ghivelder david@souecologico.com
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revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
ecologico
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ÍNDICE
CAPA
EM HOMENAGEM AOS 105 ANOS DE NASCIMENTO DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, A ECOLÓGICO RELEMBRA A OBRA E AS FRASES MARCANTES DO MAIS QUERIDO MÉDIUM ESPÍRITA BRASILEIRO.
20 PÁGINAS VERDES O CINEASTA FERNANDO MEIRELLES FALA SOBRE O DOCUMENTÁRIO “A LEI DA ÁGUA” E A QUESTÃO FLORESTAL NO PAÍS
Pág.
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E mais... IMAGEM DO MÊS 06 CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 ESTADO DE ALERTA 16 SOU ECOLÓGICO 18
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POLÍTICA CONFIRA A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A MINISTRA DO MEIO AMBIENTE, IZABELLA TEIXEIRA
ESPECIAL ÁGUA 26 MINERODUTO (2) 38 CÉU DE BRASÍLIA 45 NOS PORÕES DO RETROCESSO 48 TECNOLOGIA LIMPA 50 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 52 CÉU DO MUNDO 62 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 64 OLHAR INTERIOR 68
70 CLUBES UNIDOS PELO PLANETA REINALDO LIMA, MAIOR ARTILHEIRO DO CLUBE ATLÉTICO MINEIRO, ADERE AO PROJETO DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DA ECOLÓGICO
CORAÇÃO DA TERRA 74 RESPONSABILIDADE SOCIAL 76 GESTÃO & TI 82 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 83 VOCÊ SABIA? 88 NATUREZA MEDICINAL 90 ENSAIO FOTOGRÁFICO 92 OLHAR POÉTICO 103 CONVERSAMENTOS 106 ABRIL/MAIO DE 2015 | ECOLÓGICO 05
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IMAGEM DO MÊS
RECADO AMAZÔNICO
No início de abril, o Greenpeace fez um protesto pelo fim do desmatamento em uma área recém-destruída no sul de Roraima. A mensagem "A falta de água começa aqui", colocada em uma área do tamanho de 504 campos de futebol de mata queimada, é uma lembrança importante de que as florestas são fundamentais para assegurar o equilíbrio do clima e parte vital do ciclo da água. Sem floresta não há água. Segundo o Greenpeace, pelo menos quatro mil hectares de área verde foram desmatados no estado nos últimos seis meses.
FOTO: GREENPEACE / MARIZILDA CRUPPE
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Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Trabalho de sobra para não faltar água. A Assembleia está atenta à crise de água do nosso estado e criou a Comissão Extraordinária das Águas para proteger os recursos hídricos através da realização de audiências e debates públicos, pesquisas, diagnósticos, propostas de ações e recomendações às instituições responsáveis. Além disso, a Assembleia de Minas realizará um seminário em maio para tratar desse tema. Venha e participe das decisões que vão ajudar a preservar as nossas águas. Água. Economize agora, economize toda hora. Saiba qual é o canal da TV Assembleia na sua cidade. Acesse www.almg.gov.br/acompanhe/tv_assembleia/sintonia.
Acesse o site e saiba mais: almg.gov.br
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CARTAS DOS LEITORES
l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AQUÍFEROS “Enquanto houver água nos aquíferos fraturados dos lugares apontados, poder-se-á retirar água. Mas se continuarmos com essa redução de chuvas, associada ao aquecimento global, certamente essa água subterrânea também acabará. A área em Belo Horizonte com maior volume de água subterrânea, segundo estudos realizados no IGC/UFMG, há anos, é a Pampulha, onde vários prédios já são abastecidos.” Dirce Ribeiro, via site l POLÍTICA – ENTREVISTA COM IZABELLA TEIXEIRA “O Brasil é um país muito grande. É preciso ficar de olho em todos os cantos para identificar os degradadores. O trabalho do ministério é feito de forma organizada, mas ainda precisa melhorar muito.” Adelândia Cruz, via e-mail “Acredito que a ministra Izabella Teixeira está fazendo o que pode. Com tanta gente interesseira, corrupta e fechada para as boas alianças no Congresso, é de admirar que tenha conseguido levar à frente projetos importantes como o Arpa.” Mádria Silva, via e-mail
l MINERODUTO: VILÃO OU SUSTENTÁVEL? “Excelente matéria! Muito clara em esclarecer diversos pontos que estão sendo divulgados de maneira irresponsável, principalmente por pessoas que militam na área ambiental que, em alguns casos, não possuem o devido conhecimento da ciência hidrológica. E muito menos da real demanda de água do setor industrial e dos impactos dela nas vazões de nossos rios. Precisamos discutir esse assunto delicado também utilizando critérios técnicos, analisando números e não a partir de denúncias vazias, realizadas sem ao menos apresentar os valores de vazões que são utilizados pelos minerodutos. Cabe ainda lembrar que a engenharia de recursos hídricos é importante para auxiliar na definição de soluções técnicas que possam melhorar a vida da sociedade, aliando desenvolvimento e bem-estar social. Seria importante que a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) participasse mais ativamente desse debate sobre a escassez hídrica. Na associação participam diversos especialistas em gestão de recursos hídricos, mas infelizmente, por diversos fatores, parece que preferem não entrar nessa discussão.” Gustavo [sobrenome não informado], via site
“O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi definitivamente um ponto positivo para um melhor mapeamento das propriedades e suas demandas ambientais. Espero que ele possa contribuir para um processo mais acelerado de recuperação e regeneração florestal.” Luiz Felype Moura, via e-mail l O CAOS (E A ESPERANÇA) DA SEMAD “Parabéns à equipe da Semad, que apesar das adversidades, tem sido profissional. Que tudo se resolva com a benção de Deus!” Josely Cimini, via Google+ l MG MONITORA A POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS “É preciso mesmo fazer isso. Vale lembrar que as estiagens também são causadas pelo desmatamento. Eu presenciei queimada de todo jeito. Um dia, desembarcando em Minas, passei por uma estradinha deslumbrante, fotografei tudo. Quando retornei para o Rio, percorri a mesma estrada aos prantos. Tudo estava destruído. E pensar que Minas é um estado com paisagem deslumbrante! A mineração compromete solo e bacia com aquiescência do poder público, e isso é visível ao percorrer MG.” Mônica Mendes, via Google+
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FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
l CORAÇÃO DA TERRA – CLÍNICA DO FEMININO “As mulheres precisam resgatar a vontade de viver plenamente, gargalhar mais, conversar mais, encontrar amigos, retornar os antigos costumes.” Dalma Lúcia, via Facebook “Querida Déa Januzzi, seus textos sempre foram admiráveis, só que, com o passar dos dias, ficam mais refinados, nos proporcionando prazeres de prosa e verso. Continue. Obrigado.” Evandro Santiago, via Facebook l ENSAIO FOTOGRÁFICO – TATIANA CLAUZET “Belíssimas as pinturas da artista. Ter a Mata Atlântica como inspiração dá nisso.” Magda Prates, via e-mail
EU ASSINO “Assino a Revista Ecológico por vários motivos. O primeiro deles é que conheço o diretorgeral, Hiram Firmino, e sei da sua seriedade e competência para tratar desse assunto. Falou em meio ambiente, ecologia, natureza, fauna, flora e água, é com ele mesmo. Outro motivo é que fazer uma revista dá trabalho, mas é necessário ter uma sobre o tema específico da ecologia, pois assim é possível aprofundar mais a pauta. Esta revista encaixou direitinho com tudo que espero que façam: crítica, reportagem, imagens, devaneios. Enfim, encontro nela espaço para me sentir representada. Até fui convidada para publicar um ensaio e adorei! E, para completar, os articulistas, consultores, colunistas e equipe são do maior gabarito. Vários deles famosos pelo seu engajamento. Parabéns a todos e vamos juntos nessa missão de salvar o planeta, afinal, ele é nossa casa.”
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
l CÉU DE BRASÍLIA - GALÁPAGOS “Deveria ser proibido navios de grande porte nas proximidades de Galápagos.” Bruno Fehlauer, via Facebook
Vera Godoi, fotógrafa
CHARGE: SON SALVADOR
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO hiram@souecologico.com
DESANIMAR
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á dizia Dom Hélder Câmara, outro brasileiro maior na memória viva de todos nós: “Há pessoas que são como a cana-de-açúcar. Por mais esbagaçadas que estejam, pisadas ou incompreendidas, nada mais conseguem oferecer do que a própria doçura”. Assim é Chico Xavier, nosso personagem de capa desta edição da sua Ecológico. Um ser humano à frente de seu tempo. Haja vista sua opinião avançadíssima sobre sexualidade, homossexualismo e bissexualidade. Ao contrário da Rede Globo que, numa atitude obscura para não perder audiência, proibiu que as personagens interpretadas pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, na novela “Babilônia”, demonstrassem o amor natural que sentem uma pela outra, o amoroso e sem preconceito médium de Pedro Leopoldo, já indicado ao Prêmio Nobel da Paz, foi além. Segundo ele, dentro da dimensão espiritual maior que nos envolve, o sexo é algo tão irrelevante que, muito mais significante e meritório seria nos preocuparmos com a natureza – a face terrena de Deus que ainda nos abriga e faz viver, apesar da nossa tamanha ignorância e desamor em continuarmos maltratando-a. Melhor seria cuidarmos do milagre ainda possível da vida que Deus nos permite neste planeta de aprendizagem, sofrimento e provação. É o que também concordam, e você vai ler nesta edição, outros brasileiros do bem. O primeiro deles é o cineasta Fernando Meirelles que, numa atitude magna de desobediência civil, se declara descumpridor do atual e maldoso Código Florestal brasileiro, que per-
FOTO: SANAKAN
JAMAIS! mite ao agronegócio insustentável destruir até a última árvore e nascente d’água no país amazônico que se diz “abençoado por Deus e bonito por natureza”. O segundo desses brasileiros de fé é o coordenador e diretor de Meio Ambiente de Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, criador e gestor do “Programa Cultivando Água Boa”, no oeste do Paraná, recém-eleito pela ONU como o melhor projeto de gestão de água do mundo, sob o testemunho das Cataratas do Iguaçu. Mas ainda há esperança, a despeito do horror ambiental à nossa volta. Desde 2013, e sob as bênçãos de Leonardo Boff, Friedrich já fez triplicar o volume das nascentes d´água em 29 municípios vizinhos do reservatório da hidrelétrica, antes de o Rio Iguaçu se precipitar em suas cataratas cinematográficas. É uma experiência exitosa e real, que o governo Fernando Pimentel, por meio da Copasa, está trazendo para as montanhas de Minas, cujas águas correm primeiro para o Rio Grande e depois, para o Paraná rumo ao grande estuário do Prata. São essas as mensagens amorosas que trazemos nesta edição. Uma delas, em particular, tinha de ser mesmo do nosso Chico Xavier – eleito o “Maior Brasileiro de Todos os Tempos” em uma votação nacional realizada pelo SBT–, que, se estivesse fisicamente vivo, teria completado 105 anos. E ela é luminosa: “Por maior que seja a dificuldade, jamais desanime. O nosso pior momento na vida é sempre o momento de melhorar”. Boa leitura! Até 05 de junho próximo, “Dia Mundial do Meio Ambiente”.
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Job: 23226Anglo2015 -- Empresa: Ogilvy RJ -- Arquivo: 23226-AngloAmerican-Revista Ecologico-202 x 2755 bleed-04-04-15_pag001.pdf
Registro: 164597 -- Data: 12:15:41 26/03/2015
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GENTE ECOLÓGICA
“O progresso é impossível sem mudança.”
FOTO: DIVULGAÇÃO / MARKOS FORTES
GEORGE SHAW, dramaturgo irlandês, Prêmio Nobel de Literatura em 1925
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”
“A grande cilada é acreditar que você é melhor que o outro. É uma cilada que faz com que você vire vítima de si mesmo.”
ALBERT EINSTEIN, físico alemão
DIRA PAES, atriz
“Água, ar e terra nós não herdamos dos nossos pais. Nós pegamos emprestado dos nossos filhos e netos, e temos a obrigação de devolver em condições melhores do que recebemos.”
RALPH WALDO EMERSON, escritor e filósofo norteamericano
JORGE SAMEK, diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional FOTO: DIVULGAÇÃO / ITAIPU
“Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência.”
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“Só amamos e cuidamos aquilo que conhecemos. Essa deve ser a grande aposta da política cultural da cidade: a de levar o conhecimento do patrimônio e da história a todos os seus moradores.”
“Acredito, sinceramente, que Brasil pode ser um líder na questão ambiental. Não há razão para seguir nossos passos e cometer nossos erros.”
FOTO: IVAN BESSEDIN
SIGOURNEY WEAVER, atriz norte-americana
“Vivo numa fazenda há quase 50 anos e aprendi com as plantas e os animais, os bichos, enfim, que todas as etapas da vida são iguais. Sempre achei que estivesse vivendo o melhor momento da minha vida.” JUCA DE OLIVEIRA, ator
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
FOTO: DIVULGAÇÃO / MARKOS FORTES
MINGUANDO
ROBERTO DAMATTA, antropólogo FOTO: REPRODUÇÃO
FOTO: DIVULGAÇÃO / ITAIPU
“Devemos voltar a pensar a sociedade não contra a natureza, mas com ela; e a natureza como sendo - ela mesma - um sujeito dotado de humanidade.”
WALDIR SALVADOR O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Nova Lima e ex-prefeito de Itabirito sempre foi atuante na área ambiental como membro histórico do Copam. Agora à frente da CSul Desenvolvimento Urbano, sob as bençãos de Jaime Lerner, ele administra um novo desafio: trata-se de um megaprojeto urbanístico, numa área de 27 milhões de metros quadrados contígua à Lagoa dos Ingleses, equivalente a 11 vezes o tamanho do Parque dos Mangabeiras. E que promete revolucionar sustentavelmente todo o Vetor Sul da Grande BH.
FOTO: RAÍLA MELO / ALMG
LEÔNIDAS OLIVEIRA, presidente da Fundação Municipal de Cultura, de BH, ao falar da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha ao título de “Patrimônio da Humanidade"
HELVÉCIO MAGALHÃES O secretário de Planejamento e Gestão de Minas cumpriu à risca a promessa do governador Fernando Pimentel, feita com exclusividade à Revista Ecológico, de tornar “verde” e salarialmente justa e sustentável a greve “branca” dos servidores da Semad, encerrada recentemente após quase um ano de ativismo reivindicatório. Demonstrando sensibilidade à causa ambiental que hoje é de toda a humanidade, ele ganhou a simpatia e foi até elogiado pelo comando da greve.
FOTO: GUILHERME BERGAMINI / ALMG
FOTO: THAINÁ NOGUEIRA
CRESCENDO
JOSÉ MELO O governador do Amazonas determinou a redução do orçamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), que foi de R$ 17 milhões, em 2014, para R$ 9 milhões, em 2015 – um corte de 52%. Isso impacta diretamente a gestão das 43 Unidades de Conservação (UCs) estaduais (o equivalente a 19 milhões de hectares de floresta amazônica), que são monitoradas por apenas 29 gestores.
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ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
TWITTANDO cidadãos tailandeses que exigem o fim do comércio de marfim para proteger os elefantes!” @LeoDiCaprio Leonardo Di Caprio, ator
FOTO: REPRODUÇÃO
l “Vamos apoiar os
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A matéria “11 fatos que você precisa saber sobre a crise hídrica no Brasil” foi a mais clicada no site da Revista Ecológico, além de também ter sido a mais compartilhada nas redes sociais da publicação. O texto aponta as razões da falta d’água que assola, principalmente, as cidades da Região Sudeste do país, e mostra os fatores políticos, sociais e ambientais envolvidos na questão. Uma ótima leitura para quem deseja se inteirar sobre o assunto. Ainda não viu? Acesse: www.goo.gl/63539D. A segunda matéria mais lida em nosso site foi “O caos (e a esperança) da Semad”, que aponta a realidade e os desafios do novo secretário, Sávio Souza Cruz (foto abaixo), para tirar a pasta da desordem da qual se encontra. Confira em: http://goo.gl/pbAZZF
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de São Paulo terão produtos orgânicos na merenda.” @Haddad_Fernando - Fernando Haddad, prefeito de São Paulo
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MAIS ACESSADA
l “Fruta nativa do Cerrado, a guabiroba quase desapareceu na cidade de São Paulo.” @RicardoCardim - Ricardo Cardim, ambientalista l “Escolas municipais
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l “A floresta é crucial para nossa sobrevivência. É justamente ela que cumpre o papel de refrigerar a atmosfera do planeta. Floresta faz chover!” @MagaAfroPop – Margareth Menezes, cantora
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l “Marajó: maior aquífero do mundo fica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos.” @JoaoMeirelles - João Meirelles Filho, diretor do Instituto Peabiru
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13 RAZÕES PARA NÃO DESCARTAR UM CELULAR ANTIGO Em tempos de obsolescência programada, trocar de celular às vezes é quase inevitável! Mas, antes de doar ou mesmo descartar um aparelho antigo, saiba que ele ainda pode ser útil. Afinal, mais do que fazer ligações ou acessar a internet, esses telefones possuem outras funções que continuam estáveis. Uma delas, por exemplo, é a de despertador, rádio ou, quem sabe, de gravador de voz para as pesquisas escolares ou de trabalho. Gostou da proposta? Então acesse www.goo.gl/iNHRBA e descubra 13 usos criativos que um aparelho de celular antigo pode ter!
l “Se desejarmos
consumir como um norte-americano de classe média, seriam necessários três planetas para vivermos.” @Mujica_Cordano José Mujica Cordano, ex-presidente do Uruguai
FOTO: ROOSEWELT PINHEIRO / ABR
12%. Causa: investiu estrategicamente em renováveis.” @abramovay - Ricardo Abramovay, professor e escritor
FOTOS: DIVULGAÇÃO - PEDRO FRANCA / AGÊNCIA SENADO
l “Costa Rica baixa a conta de luz em
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TRANSFORMAR a vida das pessoas pela educação. é assim que a gente faz a melhor capital do brasil.
J U L I A N A S I LVA ALUNA DA UMEI FLORAMAR
A Prefeitura de Belo Horizonte está fazendo da educação sua maior prioridade. Implantamos o melhor ensino infantil do Brasil, ampliamos a escola em tempo integral, democratizamos o acesso às atividades culturais e conquistamos o título de Município Livre do Analfabetismo. Grandes avanços que estão transformando nossa cidade e garantindo um presente e um futuro melhor para todos.
Mais de 100 UMEIs. BH tem hoje a melhor educação infantil do país.
Programa Saúde na Escola. Mais de100 mil atendimentos por ano.
Programa Escola Integrada. Ensino de qualidade em tempo integral para 66 mil alunos.
Cidade Livre do Analfabetismo. BH conquistou, pela 1ª vez, título concedido pelo MEC.
Kits escolares. Uniforme e material didático gratuitos para todos.
Programa Escola Aberta. Lazer, esporte e qualificação profissional para a comunidade nos finais de semana.
Melhor IDEB do Brasil entre capitais acima de 2 milhões de habitantes, segundo o Ministério da Educação.
Merenda de qualidade. Reconhecida pela ONG Ação Fome Zero, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Social.
Não para de trabalhar por você
www.pbh.gov.br
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
GOVERNO SEM NATUREZA
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bichos. Eles não falam a linguagem humana nem têm poder político e econômico. Saímos de um governo antiecológico e quatro meses é pouco tempo para julgar como será o atual. Mas alguns sinais já apareceram: exclusão da sociedade e alijamento do Copam nas “forças-tarefas”; prazo de somente dez dias para propor mudanças no processo de licenciamento; anúncio do novo titular da Semad, Sávio Souza Cruz, durante audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), de compromisso do governo de não sequestrar mais recursos de compensação, nem devolver à pasta do Meio Ambiente os que já foram sequestrados; sanar déficit público com dinheiro de multas que deveria ser aplicado para recuperar danos ambientais. E uma aparente e excessiva importância a danos econômicos causados pela confusão do licenciamento ambiental no Estado. Necessário reconhecer a ação dos secretários Helvécio Magalhães e Sávio Souza Cruz na resolução da justa “operação-padrão” dos funcionários da Semad, que se arrastava há quase um ano, mais o critério técnico até agora utilizado para nomeação de dirigentes no Sisema. E, se a composição das “forças-tarefas” for sinal de que o governo pretende envolver outras secretarias na área ambiental, já que a Semad sozinha nunca conseguirá implantar políticas ambientais, palmas para ele! Mas, se significar oficialização de parâmetros econômicos e políticos do licenciamento ambiental em Minas, sob princípio retrógado e insustentável de que “meio ambiente atrapalha” e “a sociedade também”, aí sim, a natureza que nos resta em Minas será “fritada” de vez do mapa. (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
FOTO: SHUTTERSTOCK
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oi amplamente divulgado pela mídia o déficit de cerca de R$ 5 bilhões em 2015 em Minas, que poderia ser amenizado se os milhares de multas ambientais aplicadas fossem cobrados. O secretário de Planejamento e Gestão, Helvécio Magalhães, disse que a economia do Estado está parada por causa do meio ambiente. Depois retificou: “Está parada por causa da confusão que se montou na Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)”. E o governo criou então uma “força-tarefa”, com prazo de dez dias para propor medidas que agilizem os milhares de processos de licenciamento ambiental, outorgas e manejo florestal. A “força” é composta por diversas secretarias e três empresas públicas: Cemig, Copasa e Codemig, que por princípio seriam suspeitas para discutir o assunto, por serem usuárias do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). A Codemig, aliás, faz parte de lista oficial de quem não cumpriu condicionante determinada pelo Conselho de Polítida Ambiental (Copam). A sociedade civil não foi convidada. Pode até vir a ser, mas só se for “necessário”. Que governo é este que considera por princípio ser desnecessária a participação dela na gestão dos recursos naturais? Assim, a “força” parece estar mais para Darth Vader do que para Jedis. Governo e sociedade não podem ignorar os danos econômicos, que já atingem todos nós, e podem ser piorados caso o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) seja desestruturado. A iniciativa privada tem direito e dever de reclamar por não estar sendo bem atendida. Mas o maior cliente do licenciamento ambiental é o meio ambiente, que fornece todos os recursos que utilizamos e que está sempre em desvantagem: rios, árvores e
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Inovação nas empresas: a competitividade agradece. O meio ambiente, também. Em 2014, o 40 Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis destacou iniciativas de empresas que geraram impacto positivo dentro e fora delas: em seus processos, na comunidade e no meio ambiente. Agora, você vai conhecer uma dessas práticas que, com inovação e atitude, tornou-se uma importante ferramenta de transformação.
Trivelato Geradores - Uberlândia
Com o objetivo de se tornar autossuficiente em energia elétrica, fornecendo o excedente para uma concessionária vizinha, a empresa Trivelato desenvolveu um motor de gerador que utiliza biogás de dejetos bovinos. Com esta prática, ela eliminou o uso de poluentes tóxicos. Para completar, a Trivelato também faz a coleta seletiva, destinando corretamente seus resíduos, e divulga práticas sustentáveis nas comunidades da região.
WWW.PREMIOSEBRAEMGSUSTENTAVEL.COM.BR
0800 570 0800 www.sebrae.com.br/minasgerais
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Acesse o blog do Hiram:
SOU ECOLÓGICO
hiramfirmino.blogspot.com FOTO: FERNANDA MANN
GRAÇAS à Prefeitura de Nova Lima, a criação do parque garantirá a preservação de 196 mil metros quadrados de área verde
AMDA ELOGIA NOVA LIMA POR FECHOS
A Associação Mineira de Defesa do Ambiente parabenizou o prefeito Cassinho Magnani pela criação do Parque Natural Municipal de Fechos, em área contígua à Estação Ecológica de mesmo nome, que
protege importante manancial de abastecimento de água da Copasa na Região Metropolitana de BH. A área pertence à Prefeitura Municipal da capital mineira e a notícia de sua venda para outros fins gerou revolta e polêmica. Na década de 1950, quando pouco ainda se falava na importância da proteção ambiental, a PBH adquiriu um conjunto de lotes do bairro Jardim Canadá, na bacia do Ribeirão de Fechos. O objetivo, na época, foi justamente evitar sua ocupação e urbanização. Meio século depois, em plena crise hídrica, quase que essa área verde se perde. Com a criação surpreendente do parque, por parte da Prefeitura de Nova Lima, ela agora se tornou de preservação permanente, garantindo a proteção de todo o manancial. A Ecológico aplaude também!
EM TEMPO
O prefeito Marcio Lacerda desistiu de incluir na nova lei orgânica da capital mineira, em discussão, seu projeto original de aproveitar 15% de todas as áreas verdes municipais possíveis, leia-se parques e reservas ecológicas, para outras destinações
urbanísticas, como “Minha Casa, Minha Vida”, construção de escolas, postos de saúde etc. Ele prefere discutir caso a caso, e de maneira pontual, sempre que surgir uma possibilidade real nesse sentido. Ou seja, com tempo e sustentabilidade. A natureza agradece.
TUBISMO V
ECOLÓGICO NA FDC
RICARDO CARVÃO e sua arte: homenagem ao aço
FOTOS: ELIAS RODRIGUES
Para marcar as comemorações do Dia Nacional do Aço, celebrado em nove de abril, a Gerdau preparou uma programação inédita até o dia 10 de maio no MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, em BH. Trata-se da exposição “Tubismo V”, com obras do artista plástico Ricardo Carvão. Presente em muitos dos seus trabalhos desde 1979, o aço é uma matériaprima marcante na trajetória de Carvão. A mostra será realizada no hall de entrada e no TerrAÇO, último andar do MM Gerdau na Praça da Liberdade.
A partir deste mês, a Revista Ecológico estará presente em todos os campi da Fundação Dom Cabral. A iniciativa faz parte de uma cooperação inédita, que busca levar o conteúdo da revista aos públicos altamente formadores e multiplicadores de opinião que frequentam a FDC. Trata-se de uma iniciativa alinhada ao Planejamento Estratégico do Comitê de Sustentabilidade e Inclusão Social da instituição. Para ela, o conteúdo e a distribuição da revista estão “em consonância com os objetivos estratégicos do comitê: praticar, no qual a FDC busca ‘ser exemplo na prática da sustentabilidade em toda a organização’, agindo através da promoção ‘do entendimento compartilhado da sustentabilidade econômica, sociocultural e ambiental. Capacitando todos os colaboradores, mobilizando-os para sua aplicação no trabalho, estimulando a responsabilidade individual e apoiando o voluntariado’”. Bem como o objetivo de educar, no qual a FDC acredita ser responsável por ”educar organizações, executivos e gestores públicos para a geração de valor sustentável, nos negócios e na sociedade”. A FDC é apoiadora tanto da Revista Ecológico quanto do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, promovido anualmente pelo Grupo Ecológico, o que justifica a distribuição gratuita dos exemplares aos colaboradores e participantes da instituição.
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PÁGINAS VERDES
"EU DESRESPEITO O NOVO CÓDIGO FLORESTAL" Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
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FOTO: DIVULGAÇÃO
le nasceu e vive na maior cidade do Brasil, mas se orgulha de suas raízes no campo. Diz que é sina de família ser fazendeiro, gostar da terra. Cineasta, produtor e roteirista internacionalmente famoso, o paulistano Fernando Meirelles tem usado o seu talento – e as suas convicções – para defender ativos ambientais cada dia mais caros à humanidade, como a proteção das nossas águas e florestas. Um exemplo é a produção executiva do documentário “A Lei da Água – Novo Código Florestal”, lançado ano passado. Sem fins lucrativos, o filme vem sendo exibido em várias capitais e aborda temas como desmatamento, escassez hídrica e a polêmica que permeou a votação da nova legislação brasileira. Em entrevista à Ecológico, Meirelles conta que adora a sua “segunda vida” na fazenda, fala das árvores que planta para reflorestar as suas terras e das nascentes que preserva. E desabafa: “Ver uma espécie se extinguir é infinitamente mais doloroso do que ver aquelas imagens do Estado Islâmico destruindo obras de arte no norte do Iraque”. Confira: Além de cineasta, produtor e roteirista, você também é fazendeiro. Como e quando começou a se dedicar à produção rural? Desde que nasci este negócio de fazenda faz parte da minha vida. Minha família toda tem fazenda e lida com isso há gerações. Herdei e acabei comprando fazenda também, faz tempo. É como uma sina.
total dão uns dois mil hectares. Desses, 800 hectares são de mata, Cerrado ou campo, preservada. Arrendo uma parte para café, soja e cana e no que sobra planto milho, mandioca, mamão, banana, às vezes feijão e bons pomares. Isso tudo em menor escala, rocinhas que mantêm a fazenda e me fazem voltar para São Paulo sempre carregado de coisas gostosas.
Suas fazendas ficam em Minas Gerais e no interior de São Paulo. Qual a extensão delas e as atividades desenvolvidas, tais como área de plantio, volume produzido? Opa! Isso parece declaração de Imposto de Renda, mas vamos lá. Tenho cinco cadastros que no
Você também planta árvores, mantém viveiros de mudas, garimpa sementes... Que espécies usa para revegetar Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL) em suas terras? Fui anotando o que ia plantando a cada ano. No total, até agora, tenho
MEIRELLES, o fazendeiro do bem: “Ninguém achava que um dia a água acabaria. Agora, vamos aprender a valorizá-la e usá-la direito. Esse é o lado bom da crise”
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FERNANDO MEIRELLES
Cineasta, produtor e roteirista
FOTO: FERNANDO MAFRA
“Os jesuítas escolheram o lugar para estabelecer a vila que deu origem a São Paulo pelo enorme número de nascentes e rios que havia aqui. Em 460 anos, conseguimos enterrar, canalizar e assorear um por um.”
74 espécies, a maioria da região mesmo, e não só peroba, angico, aroeira ou outras madeiras boas. Plantei também muita espécie de mata primária, árvores não tão impressionantes, como embaúba, açoita-cavalo, capitão-do-mato, caboatã etc. Em duas áreas específicas plantei nove espécies que podem virar madeira no futuro. Elas foram plantadas em área produtiva, não em RL ou em APP, e estou tirando uma licença no Ibama para poder cortar daqui a 25 anos. Mas sei que jamais terei coragem de fazer isso. Comecei ainda a plantar mogno africano experimentalmente, também fora de RL, e já estou com nove mil pés, no segundo ano. Se der certo, devo chegar a uns 40 mil pés em quatro anos. Com que frequência você vai às suas fazendas? Uma vez por mês. É longe, 460 km. Parece uma espécie de second life, adoro. Tem alguma árvore preferida? Gosto muito de jequitibá. E como não havia mais na região, já plantei
umas 400 mudas; e também trouxe de volta várias outras espécies. E em relação à água: há iniciativas para conservação ou recuperação de nascentes em suas fazendas? Sim. Desrespeitando o novo Código Florestal, recompus as minhas matas ciliares com 30 metros de cada lado, contando a partir da margem. Como a maioria dos riachos tem menos que dez metros de largura, eu poderia ter feito com menos da metade disso, mas me interessa evitar que adubos sejam levados até o rio. Também fiz a proteção das nascentes com 50 metros de diâmetro de mata ao redor, na expectativa de que algumas delas – que já haviam secado – voltassem. Mas até agora isso não aconteceu. Qual a sua análise sobre a atual crise hídrica em SP e em outros estados do Sudeste? Os jesuítas escolheram o lugar para estabelecer a vila que deu origem a São Paulo pelo enorme número de nascentes e rios que
QUEM É
ELE
Fernando Meirelles tem 59 anos, nasceu e mora em São Paulo. Formado em arquitetura, passou a dirigir programas independentes para TV nos anos 1980, comerciais nos anos 1990 e, mais tarde, longas-metragens. Entre suas produções destacam-se "O Menino Maluquinho 2 – A Aventura" (1998), "Domésticas" (2000) e "Cidade de Deus" (2002) – nomeado para quatro categorias do Oscar, incluindo a de "Melhor Diretor" – e "O Jardineiro Fiel" (2004), também indicado ao Oscar. "Ensaio Sobre a Cegueira" estreou no Brasil em setembro de 2008 e seu último longa, "360", em 2012.
havia por aqui. Em 460 anos, conseguimos enterrar, canalizar e assorear um por um. É inacreditável termos de ir tão longe hoje para buscar a água que havia sob os nossos pés. Acho que a abundância era tanta que ninguém achava que um dia acabaria. Agora, com a carência, certamente vamos aprender a valorizar e a usar direito. Esse é o lado bom da crise.
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FOTO: CHRISTOPHE GESCHÉ / WIKIPEDIA
PÁGINAS VERDES
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
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“Ver uma espécie se extinguir é infinitamente mais doloroso que ver as imagens do Estado Islâmico destruindo obras de arte. Se alguém fizesse uma pichação sobre a Mona Lisa, o mundo viria abaixo. Mas quando a última ararinha-azul morrer isso deve sair, no máximo, num canto de página de algum blog.” consumimos não é produzido pelo agronegócio, mas sim por pequenos produtores, apesar de eles ficarem com apenas 11% do crédito para o setor. Como avalia esses primeiros meses da gestão da ministra Kátia Abreu na pasta da Agricultura? Da Kátia Abreu espero desastres, pois ela se orgulha de ser ignorante em relação à importância de um meio ambiente equilibrado, inclusive para a produção da soja que ela planta, exporta para a China e tanto ama. Não digo ignorante como uma ofensa, mas no sentido mesmo da palavra:
ela ignora, desconhece o serviço ambiental que uma floresta presta. Ela adora a ciência quando a Embrapa desenvolve técnicas para aumentar a produção, mas ignora a mesma Embrapa quando seus técnicos alertam para a importância de manter a biodiversidade. Vi a lista de pessoas com quem ela falou no início de sua gestão, uma listagem que ela exibiu com orgulho para mostrar o quanto está trabalhando pelo Brasil. Mas nessa lista não vi sequer um nome ligado a meio ambiente ou florestas, áreas fundamentais para a sua pasta. Ela acredita seriamente que o objetivo do seu ministério é bater re-
“Talvez a liberação de mangues para a produção de camarões tenha sido o erro mais radical do Código.”
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FOTO: ALBERTO ALERIGI
Você já afirmou que a palavra agronegócio é pejorativa. Por quê? Qual a sua visão sobre esse segmento no Brasil? Associo agronegócio à monocultura, adubos químicos, trabalhadores que não moram no campo, proprietários que não têm ligação e muito menos amor por sua terra, uso excessivo de venenos, chamados eufemisticamente de defensivos. Agronegócio é um negócio como outro qualquer, com as regras do mercado, bolsa e o único propósito de gerar lucros. Talvez, pela minha história familiar, gosto mais do sistema em que há ligação entre quem trabalha na terra e a terra. Hoje, 80% do alimento que
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FERNANDO MEIRELLES
Cineasta, produtor e roteirista
cordes de safras e que se fizer isso a presidente Dilma vai colar uma estrelinha no seu caderninho. O documentário "A Lei da Água – Novo Código Florestal" reitera a necessidade de preservação dos recursos naturais. Em quantas capitais ele já foi exibido? O documentário dirigido pelo André D’Elia teve sessões normais, em março, em oito cidades: São Paulo, Santos, Belo Horizonte, Rio, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. E para assisti-las era preciso comprar o ingresso antecipadamente no site agua.catarse.me. Fora isso, ele está passando em escolas e assembleias legislativas. No dia 18 de março, foi exibido no Congresso, em Brasília. Todos que pedem o filme recebem a cópia e qualquer um pode organizar um cinedebate,, como estamos chamando, que é a projeção seguida de uma conversa com alguém ligado ao filme ou ao assunto (leia mais na página 26). A ideia de produzilo partiu de você ou ele foi idealizado por ONGs ambientalistas? O filme foi uma encomenda de ONGs que achavam que o tema Código Florestal não estava suficientemente claro para o país. Os ruralistas conseguiram vender a sensação de que houve um equilíbrio que, na verdade, nunca aconteceu. Participaram do projeto a Fundação SOS Mata Atlântica, WWF Brasil, Bem-Te-Vi Diversidade e Instituto Socioambiental (ISA). O documentário não tem fins lucrativos e tudo o que for ar-
recadado será revertido para a divulgação do próprio filme. Qual a sua opinião – como cidadão e produtor rural – sobre o novo Código Florestal? A grande conquista do novo Código foi a obrigatoriedade de todos os proprietários fazerem o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Finalmente, o Brasil terá um banco de dados preciso de seus recursos ambientais. Por outro lado, o Código anistiou quem estava fora da lei até 2008, de-
sobrigando-os a recomporem suas áreas desmatadas e diminuiu de forma perigosa as áreas de proteção de rios, nascentes e topos de morro. Talvez a liberação de mangues para a produção de camarões tenha sido o erro mais radical do Código. Por quê? A perda de vida marinha que essa mudança deve gerar é irreparável. Em poucos anos, as comunidades de pescadores próximas a essas fazendas de camarões estarão em crise e ninguém saberá o que hou-
ve e nem por que os peixes acabaram. Vale lembrar que a produção de camarão não é uma atividade de pescadores, mas sim um grande negócio em que é preciso uma concessão federal. Quando se fala em meio ambiente o que mais lhe preocupa ou primeiro lhe vem à mente? O futuro dos nossos netos. Ver uma espécie se extinguir é infinitamente mais doloroso do que ver aquelas imagens do Estado Islâmico destruindo obras de arte no norte do Iraque. E olha que aquilo foi bem forte, mostra a estupidez humana em seu melhor retrato. Se alguém fizesse uma pichação sobre a Mona Lisa, o mundo viria abaixo. Mas quando a última ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) morrer, isso deve sair no máximo num canto de página de algum blog. É otimista em relação ao futuro do planeta? Que recado deixa aos leitores? Apesar de tudo, eu sou. O Brasil está na contramão do mundo ao continuar apostando em exploração de petróleo no pré-sal, mas em 2014 as emissões de carbono pararam de crescer no mundo (no Brasil, aumentaram 13%). O desafio é chegarmos à emissão zero até 2050. Temos que acelerar o processo, mas é possível. Precisamos começar aqui no Brasil o movimento de desinvestimento em petróleo que já acontece mundo afora. Aliás, vou começar agora: “Alô, você que tem ações da Petrobras: venda amanhã essas porcarias, pois com elas você está ajudando a aquecer o planeta!” Sem contar que elas vão cair ainda mais...
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ESPECIAL ÁGUA
A LEI DA ÁGUA
E O “VETA, STF!” Juízes do Supremo Tribunal Federal são convidados a assistir ao documentário “A Lei da Água” e a rever a inconstitucionalidade de 55 dos 87 artigos não vetados por Dilma Rousseff, no clamor do debate florestal que promete ganhar as ruas do país novamente J. Sabiá
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FOTO: ALFEU TRANCOSO
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isto por mais de 45 mil pessoas nos cinemas apenas em seu lançamento, o documentário “A Lei da Água – Novo Código Florestal” é um filme que todo brasileiro deveria ver. Denuncia o impacto que as alterações na legislação, aprovada em 2012, trouxeram para o meio ambiente e a população. Reforça a importância das florestas para a conservação dos recursos hídricos no Brasil. E mostra o que pode ser feito para evitar mais prejuízos ao meio ambiente. Com opiniões diversas e muitas vezes contrárias, sobre o tema, o documentário conta com a colaboração de 37 cientistas e parlamentares, que apoiam a Ação Direta de Inconstitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) no Supremo Tribunal Federal (STF), e assume um compromisso com a sociedade brasileira ao mostrar como a lei ambiental afeta a vida de cada cidadão. Tanto estudos científicos quanto o docu-
mentário integram o Amicus curiae da Ação no STF. O termo significa “amigo da corte” e trata-se de uma intervenção por parte de entidades que queiram se manifestar em relação à controvérsia constitucional. “Queremos que os juízes do STF não só vejam o filme como analisem a Lei 12.651”, clamam elas. No ponto de vista dos realizadores e parceiros do filme, 55 dos 84 artigos da lei devem ser revistos. Entre os tópicos mais polêmicos está a redução das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Elas são locais vulneráveis, como beira de rios, topo de morros e encostas que devem ser preservados ou obrigatoriamente ocupados por florestas. A nova (mas ainda em discussão) lei já está em vigor e graças a ela a maioria dos proprietários rurais poderá recompor sua mata ciliar (APP de beira de rio) com uma faixa de cinco metros de floresta apenas. A natureza veta!
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ESPECIAL ÁGUA
CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO Entre os entrevistados do documentário estão Raul Silva Telles do Valle, advogado e ambientalista do Instituto Socioambiental (ISA); Antônio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Blairo Maggi, senador e empresário; Ivan Valente, deputado; Mario Mantovani, diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica; Omar Bitar, geólogo; José Sarney Filho, coordenador da Frente Ambientalista Parlamentar; Nelton Friedrich, diretor de Meio Ambiente da Itaipu Binacional; e Alceo Magnanini, engenheiro agrônomo e consultor ambiental. “A Lei da Água” mostra, também, como é difícil mensurar com precisão os serviços ambientais. São bens difusos da sociedade, como a qualidade das águas, ar e fertilidade dos solos. O que a comunidade científica brasileira vem fazendo é estudar e dimensionar tais perdas de benefícios ambientais, que se traduzem em perda de biodiversidade e prejuízo econômico. Por outro lado, o documentário ressalta que conhecimento e informação são essenciais para o estímulo a uma produção rural sustentável, bem como políticas agrícolas coerentes com a realidade do Brasil e com problemas enfrentados dia a dia pelos brasileiros. Por isso, ao procurar um diálogo justo e sincero com a sociedade, “A Lei da Água” também dá voz a agricultores, apresentando técnicas agrícolas sustentáveis bem-sucedidas e casos em que a degradação ambiental exacerbada impede a continuidade de qualquer tipo de cultivo ou criação de animais. A verdade é que, seja no campo seja na cidade, o novo Código Flo-
representa uma comunidade fragilizada e mais exposta aos efeitos de grandes secas, inundações e pragas agrícolas.
O documentário ressalta que conhecimento e informação são essenciais para o estímulo a uma produção rural sustentável restal afeta toda a sociedade. São Paulo e diversas outras cidades da Região Sudeste estão passando por uma grave crise hídrica. Tal escassez é fruto de um processo de degradação ambiental histórico em regiões específicas, por exemplo, o noroeste do estado de São Paulo e o Vale do Paraíba, entre SP, RJ e Minas. Para um bom abastecimento público, retrata o longa, não basta chover. O ser humano precisa das florestas para garantir que essa água chegue no reservatório antes de evaporar no chão desprotegido. Assim, é possível garantir o fluxo nas nascentes e que a água de rios, ou acumulada nos reservatórios, fique protegida do sol, da entrada de sedimentos e agrotóxicos não tratáveis. Uma água desprotegida FOTO: AGÊNCIA SENADO
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CARVALHO: “A lei separa o que a natureza não separa”
DEBATE ECOLÓGICO Com direção de André D’Elia e produção executiva de Fernando Meirelles, “A Lei da Água” foi desenvolvido em parceria com o ISA, a WWF-Brasil, a Fundação SOS Mata Atlântica, a Associação Bem-Te-Vi Diversidade e o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). Para exibir o filme nos cinemas, está sendo realizada uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo): quando for atingido o mínimo necessário para a exibição em uma sala, outra sessão para a mesma cidade será aberta para compra. Ao fim de cada sessão, os financiadores poderão participar de um debate especial sobre o filme, além de receber uma cartilha com dicas de como ajudar na campanha. Na capital mineira, a primeira exibição de “A Lei da Água” foi marcada por um debate mediado por Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), e José Carlos Carvalho, ex-ministro de Meio Ambiente e consultor ambiental. Abrindo os comentários, Maria Dalce afirmou que “o novo Código foi elaborado para atender ao agronegócio e o documentário mostra isso com profundidade, além de apresentar, de forma educativa e lúdica, a importância das florestas para a preservação da água”. Para José Carlos Carvalho, há uma dissonância entre a sociedade e os governantes e a lei só mudará no dia em que a população se mobilizar. “A sociedade se urbanizou e as pessoas não têm uma visão clara de floresta e água. A lei vem separando o que a natu-
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FOTO: REPRODUÇÃO
O EFEITO DO NOVO CÓDIGO NA AMAZÔNIA
PERMITIDA pelo novo Código Florestal, a brutal e antiecológica redução das florestas para ampliação de áreas agrícolas volta a ser discutida no país ANISTIA A DESMATADORES Aqueles que cometeram crimes ambientais e desmataram áreas protegidas pela lei antes de 22 de julho de 2008 tiveram suas multas perdoadas e não estão obrigados a recompor a vegetação nativa. Ou seja: a mudança na lei ensina a população que desmatar vale a pena! Além de não restaurar áreas já degradadas, a medida traz grande insegurança no sistema jurídico brasileiro, uma vez que nada impede que, no futuro, parlamentares possam alterar a lei novamente premiando aqueles que deveriam ser punidos. A EXCEÇÃO E A REGRA De acordo com o texto aprovado na Câmara dos Deputados, a área a ser protegida a título de Reserva Legal (RL) corresponde a 80% da propriedade no bioma Amazônia; 35% no Cerrado Amazônico; 20% no Cerrado e demais biomas.
reza não separa. Há uma crise de modelo. E a falta d’água é o aviso mais sensível.” E completou: “Também há um falso dilema entre os ruralistas e ambientalistas que tem levado a decisões equivocadas. O Brasil
Para o Senado, o projeto aprovado permanece com as especificações citadas, mas possibilita a redução da RL no bioma amazônico para 50% em estados e municípios com mais de 65% das suas áreas em reservas ambientais, desde que a redução seja autorizada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente. Isso quer dizer que a lei incentiva a devastação da Floresta Amazônica, até mesmo em cidades localizadas no bioma que já lideram a lista dos municípios mais desmatadores do Brasil. A mudança na forma de medir as Áreas de Preservação Permanente (APPs) de beira de rio também possibilita a devastação de grandes áreas úmidas na Amazônia, como várzeas, igarapés e igapós. Mais de 400 mil km2 de floresta passam a ser desprotegidos com a aprovação da nova lei. Isso é mais do que a área dos estados de São Paulo e Paraná juntos!
tem mais de 700 mil km2 de terras desmatadas e subutilizadas no processo de produção. Não é possível fazer agricultura sem água e solo. Conservar água é conservar os fatores de produção. O filme mostra que até os
agricultores estão conservando mais que os 15 metros de mata ciliar exigidos no Código. Eles sabem que só preservando a floresta terão água”. FILME GRATUITO O longa não possui fins lucrativos e toda a verba gerada será revertida para a divulgação e exibição do mesmo em universidades, escolas, sindicatos rurais e comunidades carentes. Os interessados em exibir o filme na própria cidade também podem organizar um cinedebate junto à sua organização social, universidade, escola, movimento social ou coletivo. Para isso, é preciso preencher um formulário eletrônico disponível no site aleidaaguafilme.wordpress.com e aguardar o contato da equipe do filme para articular a exibição. RECADO FINAL Após assistir ao filme, lembram seus produtores, não se esqueça de que é hora de partir para o debate: “Converse com mais pessoas, discuta ideias, pesquise mais. Vamos dialogar com todos os setores envolvidos. Leve a ideia adiante e divulgue! Lembre-se que se trata de uma campanha de comunicação com o objetivo de auxiliar o Supremo Tribunal Federal, mas que também visa mostrar para nossa comunidade que apesar da nova legislação florestal ser muito ruim, devemos sim preservar nossas nascentes, rios e florestas. Esse é um tema que faz parte da vida de todos os brasileiros”. SAIBA MAIS
aleidaaguafilme.wordpress.com facebook.com/aleidaagua agua.catarse.me cinedelia.com o2filmes.com.br
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ESPECIAL ÁGUA
FOTO: SANAKAN
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DAS MONTANHAS de Minas até os rios do Paraná: essa é a proposta maior da parceria entre os dois estados
ESPERANÇA
NA CAIXA D’ÁGUA DO BRASIL Capitaneado pela Copasa, governo Fernando Pimentel adota o “Programa Cultivando Água Boa”, de Itaipu Binacional, recém-eleito pela ONU como o melhor exemplo de gestão de recursos hídricos do mundo Hiram Firmino
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SÁVIO: teor ambiental
FOTO: VALTER CAMPANATO
ÃO RODUÇ
dor, Antônio Andrade, e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich, durante o evento “Água Sustentável para Todos”, foi anunciado pelo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sávio Souza Cruz. “Passaremos a ser o primeiro estado brasileiro a adotar integralmente esse programa, e com o status de política pública, às vésperas de ele ser premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Isso mostra que, para o atual governo, a questão da conservação das águas não se resume apenas a questões de engenharia. Nosso compromisso é com a educação ambiental, com a conservação dos solos e a preservação das nascentes.” Sávio apenas antecipou (leia a seguir) o que, oito dias depois, a imprensa internacional confirmaria: o “Cultivando Água Boa” garantiu a Itaipu Internacional o reconhecimento inédito da ONU de melhor exemplo na gestão de recursos hídricos do mundo. FOTO: WILLIAN DIAS / ALMG
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em muito alarde, um acordo foi firmado durante as comemorações do “Dia Mundial da Água”, no último 22 de março, na capital mineira. Ele pode se transformar em um marco divisor contra a crise hídrica na história do estado considerado a “caixa d’água do Brasil”. Trata-se da cooperação técnica entre a Itaipu Binacional e o governo Fernando Pimentel, por meio da Copasa, para a implantação imediata do “Programa Cultivando Água Boa”. Trata-se de um amplo projeto de recuperação ambiental de rios, nascentes e produtores de água que, há 12 anos e de maneira sustentável, nada paternalista nem assistencialista, vem colhendo frutos em toda a região oeste do Paraná, na abrangência brasileira da hidrelétrica. Suas ações estão sendo replicadas internacionalmente como projeto-piloto em países como Guatemala, República Dominicana, Bolívia, Argentina, Uruguai e Paraguai. O teor ambiental (e não apenas político) do documento assinado pelo vice-governa-
O QUE É O PROGRAMA Criado em 2003, sob as bênçãos de Leonardo Boff (foto), o “Cuidando da Água Boa” é desenvolvido nos 29 municípios que compõem a Bacia do Rio Paraná, no oeste do estado, onde vivem mais de um milhão de pessoas. As ações socioambientais são feitas pela Itaipu Internacional em parcerias com prefeituras, órgãos públicos, empresas e a comunidade. Em cada município há um comitê gestor, com forte participação popular, uma das suas características principais. O programa se fundamenta na gestão integrada de bacias hidrográficas, visando garantir a quantidade e a qualidade das águas. E, também, a sustentabilidade do território, com visão sistêmica e holística da relação do homem com a natureza e o meio ambiente onde vive.
FOTO: R EP
FOTO: MANOEL MARQUES / IMPRENSA MG
FOTO: SANAKAN
NELTON FRIEDRICH e ANTÔNIO ANDRADE: parceria hídrica
FIQUE POR DENTRO
CARTILHAS PARCEIRAS Durante o evento também foram lançadas duas cartilhas educativas. A primeira - “A nossa água de todo dia” - publicada pela Cemig e parceiros, mostra a importância do monitoramento da qualidade da água e como ela pode afetar a geração de energia e a saúde. Já a segunda – “Nascente, o verdadeiro tesouro da propriedade rural” – propõe uma reflexão sobre a importância das nascentes.
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FRIEDRICH, BLANCA, SAMEK e SPALDING em Nova York (EUA): reconhecimento internacional
O EXEMPLO DE ITAIPU
PARA O MUNDO Foi na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), em 30 de março último, a solenidade de entrega da premiação. Concorrendo com 40 iniciativas finalistas de todos os continentes, o “Programa Cultivando Água Boa” conquistou o primeiro lugar na Categoria “Melhores Práticas em Gestão da Água”, da quinta edição do prêmio “Água para a Vida” da ONU. No total, participaram da premiação dez práticas inscritas pela Europa, 11 pela África, 20 pela Ásia, 23 pela América Latina e Caribe, e uma pela Oceania. O Brasil concorreu diretamente com seis outros trabalhos. A comitiva presente à premiação
foi formada pelos diretores gerais brasileiro e paraguaio da Itaipu Binacional, Jorge Samek e James Spalding; pelo diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich; por uma das gestoras do programa, Silvana Vitorassi; e pelo prefeito Luiz Froehlich, de Marechal Cândido Rondon, representando os demais municípios beneficiados. Em seu comunicado televisivo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por meio de Cristina Gallach, sub-secretária geral para Comunicações e Informações Públicas, que foi a mestre de cerimônia, declarou: “É uma honra dar esse prêmio à Itaipu, porque vocês fizeram por merecer. Trata-se de uma iniciativa que tem potencial
para transformar a vida de milhões de pessoas”. A chancela da ONU, a mais importante para a Itaipu na área ambiental, soma-se a diversos outros prêmios já conquistados pelo “Cultivando Água Boa”. Ki-moon, que não pôde comparecer ao evento por estar em missão no Iraque, visitou a hidrelétrica binacional no mês passado, quando teve a oportunidade de conhecer de perto as várias e replicáveis iniciativas do programa. E fez a seguinte declaração aos diretores da hidrelétrica: “Em 2012, na RIO+20, concordamos em construir um mundo melhor e mais digno para todos, sem que ninguém fosse deixado para trás. É isso que sustentabilidade
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FOTO: DIVULGAÇÃO ITAIPU
“Este prêmio é o reconhecimento ao compromisso e ao esforço conjunto de uma extensa rede de parceiros.” Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional
FAIXA de proteção ambiental do Reservatório de Itaipu: exemplo mundial
ÁGUA PARA A VIDA Criado em 2010 e conduzido por um comitê especial da ONU formado por especialistas em meio ambiente, recursos hídricos e sustentabilidade, a premiação “The Water for Life” tem como objetivo promover esforços para atingir os compromissos internacionais com a água e questões relacionadas, estabelecidos para 2015, reconhecendo os programas que garantem uma gestão da água e do desenvolvimento sustentável, no longo prazo. As práticas devem, também, contribuir para que sejam atingidas as metas dos “Objetivos do Milênio”, “a “Agenda 21”, “Carta da Terra” e do “Plano de Implementação da Conferência de Johanesburgo”, todos relacionados com o ecodesenvolvimento buscado em todo o planeta.
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significa. Sustentabilidade econômica, ambiental e social. Essa é a nossa responsabilidade moral e política. E vocês, de Itaipu, são um bom exemplo. Eu me sinto privilegiado e agradecido por ter podido aprender mais com vocês”. Quem entregou a placa alusiva à premiação foi Blanca Elena Jiménez-Cisneros, diretora da Divisão de Ciências da Água e secretária do Programa Internacional de Hidrologia da Unesco. Em seu agradecimento, Jorge Samek saudou a todos aqueles que compartilham a preocupação e o compromisso com a sustentabilidade do planeta, em especial, com a água. “Este prêmio é o reconhecimento ao compromisso e ao esforço conjunto de uma extensa rede de parceiros, com os quais partilhamos esta distinção”, declarou. Na mesma linha, James Spalding enfatizou que, para Itaipu, trata-se do reconhecimento a um trabalho desenvolvido há mais de uma década: “Ser escolhido entre 40 postulantes vai nos dar mais força ainda para continuarmos nesse caminho”. Já Nelton Friedrich declarou: “Este prêmio marca, mais ainda, a nossa vida e a vida de todos os nossos parceiros. Afinal, quando falamos de água, estamos falando do recurso natural primordial e sagrado, que permite e mantém a vida do planeta e todos os seres vivos, incluindo a nossa espécie”.
BAN KI-MOON: "O 'Água Boa' pode transformar a vida de milhões de pessoas"
SAIBA MAIS
www.un.org/aterforlifedecade/ winners2015.shtml
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ESPECIAL ÁGUA
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RIO VERDE, em sua passagem por Varginha, cenário do "Água Boa" em Minas: felizmente, ainda com matas ciliares
DE NOVA YORK PARA VARGINHA Copasa reúne mais de 70 prefeitos do Sul de Minas para eles conhecerem e adotarem o programa de maneira pioneira no Brasil Incansável, 13 dias depois da premiação na sede da ONU e de malas prontas para o Vietnã, após palestra para os empresários paulistas, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (SP), na capital paulista, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu Binacional também esteve em Varginha (MG), para fazer o lançamento oficial do “Programa
Cultivando Água Boa”. Acompanhado pelo vice-presidente da Copasa, Júnior Miranda, e de João Bosco Senra, diretor de Operação Sudoeste, Nelton Friedrich não viu “ET algum”, como chegou a brincar com o prefeito Antônio Silva. Mas o que ele viu no campus da Cidade Universitária do Unis, no Parque Mariela, foi inédito na história política local: a
presença visivelmente interessada de mais de 70 prefeitos, acompanhados de seus secretários municipais, vereadores, educadores e líderes comunitários. Todos, aguardando-o para falar de “água”, com ênfase na recuperação de microbacias, proteção de matas ciliares, biodiversidade e “responsabilidade socioambiental”. Segundo Senra, quem primeiro
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“Temos que pensar grande, começar pequeno e agir rápido.” Nelton Friedrich, lembrando aos prefeitos mineiros a máxima de Jorge Samek em Itaipu
RECADO aos prefeitos: “Nós estamos felizes aqui porque, mesmo distantes, são as nascentes de Minas que tocam Itaipu”
conheceu o programa e teve a ideia de trazê-lo para Minas (isso em 2003), quando ainda era secretário nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, o pontapé para a implantação do “Água Boa” na região, começando por Varginha, deu certo. “Foi uma surpresa agradável ver tamanha receptividade e entusiasmo real por parte dos demais representantes municipais. Eles gostaram de saber dos resultados concretos já conseguidos no Paraná, onde já existem dois mil parceiros, unindo órgãos governamentais, ONGs, instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas-cidadãs, mostrando que é possível trazer e preservar a água de volta”, destacou. Júnior Miranda também apadrinhou o evento, com base no sucesso demonstrado no sul do país. “Este programa é a melhor, mais participativa e democrática solução que existe, sem dúvida, para todos nós, governo e sociedade, enfrentarmos juntos a crise hídrica. Vamos trabalhar para estendê-la ao estado inteiro”, disse. O prefeito de Varginha, Antônio
Silva, se disse honrado por poder sediar a primeira instalação do programa em Minas. “Uma das suas virtudes é nos dar a oportunidade de discutir os cuidados que precisamos ter com a água neste momento tão oportuno. A crise hídrica é inegável. Ela está aí e precisa ser enfrentada com competência e responsabilidade”, completou, na companhia de toda a equipe técnica da sua prefeitura. ENCANTAMENTO A palestra de Nelton Friedrich reuniu mais de 200 pessoas. E encantou. Foi preciso utilizar outro auditório anexo, com uma televisão gigante, para transmissão ao vivo de sua palestra. Em sua visão holística, ele relembrou que água é sinônimo de vida: “A crise hídrica não é mais pontual, ela é profunda. Todos nós, o planeta e a sociedade humana, estamos enfermos. O que nos propomos aqui, e lembro-lhes que 90% dos mais de um milhão de habitantes que envolvemos e conseguimos beneficiar no Paraná são pequenos agricultores, é uma discussão sobre o tipo de vida que nos espera no futuro
próximo, caso nos desanimemos e não façamos nada. Se queremos melhorar o mundo, temos de melhorar a nós mesmos, onde estivermos e em grupo, como estamos fazendo aqui. O tempo de construirmos responsabilidades compartilhadas é agora”. Nelton explicou que o verbo que dá nome ao programa (“Cultivando...”, em vez de “Cultivar Água Boa”) foi colocado no gerúndio com o propósito de dar sentido de continuidade, de algo em permanente construção com novos cenários e atores. E, também, para evitar qualquer atrelamento político, uma vez que ele é apartidário e conduzido pela própria força social envolvida, sem perigo de descontinuidade administrativa, a cada nova eleição municipal. “Felizmente, em nenhum dos 29 municípios do Paraná que aplicamos o projeto até hoje, via aprovação pela Câmara, tivemos o voto contrário de um vereador, mesmo considerando a diversidade de legendas e interesses partidários. Este é um dos segredos que nos envolve, quando fala-
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RÔMULO RIBEIRO, presidente da Câmara Municipal, Antônio Silva, João Bosco Senra e Júnior Miranda: compromisso hídrico
mos dos múltiplos ganhos que as prefeituras e comunidades locais podem ter, principalmente nos dias atuais de escassez hídrica, se dispuserem a recuperar e gerir de maneira economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente mais justa, apenas com o nosso apoio, o recurso água que ainda brota em seus municípios”, frisou o coordenador do “Água Boa” com entusiasmo. Ele citou uma máxima conhecida do diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek – “pensar grande, começar pequeno e agir rápido” -, como uma das razões de o programa ter sido premiado pela ONU: “Governança inovadora, é disso que precisamos daqui pra frente”. Também lembrou a filosofia ecológica de Hugo Werneck, o ambientalista mineiro pioneiro na defesa da natureza: “Preservar é cuidar e reaprender a amá-la, não continuar jogando lixo nos nossos rios”.
Uma microbacia ambientalmente recuperada faz aumentar em três vezes a sua quantidade de água Muito menos apontar culpados, continuar o processo de autovitimização que tanto caracteriza o comportamento passivo do brasileiro, submisso e dependente do estado paternalista que jamais irá assisti-lo na dimensão ambiental do problema: “Infelizmente, ainda vivemos em um país onde, em cada dez notícias divulgadas pela mídia, doze não negativas. A nossa sorte, com a crise, é sermos obrigados a ter esperança e sonhos juntos, e não mais individualmente. Hoje, o Brasil inteiro, dos governantes aos pequenos agricultores,
do meio rural ao meio urbano, enfim, todos nós, estamos sofrendo e sonhando com a recuperação possível das nossas águas. Tenho até urticária quando me dizem que só as crianças salvarão o planeta no futuro. Elas já estão fazendo isso”. Nelton também deu uma notícia técnica negativa sobre o atual processo de erosão dos nossos rios, que ele chama de “crime de lesa-pátria”: “Vocês sabiam que a natureza leva 400 anos, em média, para formar, preservar e integrar apenas um centímetro de solo?”. E outra positiva: “Vocês também sabiam que cada microbacia ambientalmente recuperada faz aumentar em três vezes a sua quantidade de água? É isso que nos empolga e nos faz continuar cultivando tamanha esperança”, concluiu o pregador ecológico, antes de se apressar para pegar o avião que o levaria até São Paulo, com outras boas e hídricas escalas pelo mundo.
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1 MINERODUTO (2)
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MINERODUTO
O DEBATE
CONTINUA V
ilão ou sustentável? Dando continuidade à discussão sobre a utilização dos minerodutos em Minas, a Ecológico ouviu mais especialistas sobre o tema para continuar o debate, tendo em vista a grande repercussão entre os leitores na edição anterior. Confira quem é contra ou a favor. E o porquê:
FOTO: ANGLO AMERICAN / VISUALMEDIA
“É A LÓGICA DA INSUSTENTABILIDADE”
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Maria Dalce Ricas (*)
A utilização de água, é claro, tem de ser analisada de acordo com cada situação, respeitando primeiramente sua importância ambiental e utilização para outras atividades humanas. Se comparado com a agropecuária, seu gasto é muito menor. Segundo a Unesco, para se produzir um quilo de carne, gasta-se 15 mil litros d’água. E, conforme relatório recente publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o setor responde por 72% do consumo de água no país. Como qualquer outra atividade humana, a construção de minerodutos tem impactos, resultantes da abertura do canal necessário à sua implantação e dela própria: processos FOTO: ALMG
“O transporte de minério e de rejeitos é um dos pontos mais relevantes em processos de licenciamento de minas. Se considerada de forma isolada, a utilização de minerodutos é muito menos impactante do que o uso de caminhões, por exemplo, pelo baixo consumo de energia. Caminhões representam riscos em estradas, consomem óleo diesel, exigem reposição de peças ou têm de ser sucateados após determinado tempo de uso, o que implica no gasto de diversas matérias-primas, incluindo minério, água, energia e transporte. Minerodutos funcionam por décadas, exigindo apenas m a n u t e n ç ã o.
DALCE RICAS: “Proibir a construção de minerodutos significa a obrigação de adotar outro meio de transporte muito mais degradante"
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1 MINERODUTO (2) erosivos que podem degradar nascentes e cursos d’água; queima de combustíveis fósseis utilizados nas máquinas necessárias à escavação ou pelos veículos que transportam os tubos; desmatamento, quando seu traçado coincide com a presença de vegetação etc. E, obviamente, os impactos são proporcionais aos cuidados e investimentos ambientais por parte dos empreendedores. Assim como na abertura ou asfaltamento de estradas, construção de barragens e outras atividades, entregar sua implantação a empreiteiras costuma ser papel passado para ‘lambança ambiental’.
Não acredito em sustentabilidade, porque a exploração dos recursos naturais é determinada pelas leis do mercado, e não pelas necessidades humanas básicas. Desperdício é marca das sociedades humanas e dificilmente isso mudará. O consumo de carne em níveis muito mais altos que a necessidade do organismo humano é um bom exemplo. A exploração de minérios, assim como a produção de soja, carne, a indústria da construção civil, do petróleo, da moda etc, está submetida a esta lógica. Mesmo que a espécie humana consiga implantar relação de sustentabilidade na explo-
ração da natureza, continuará necessitando de quase todas as atividades econômicas hoje existentes. Mineração não foge a isso, por estar na base da construção ou fabricação de tudo que utilizamos. Assim, penso que a construção de minerodutos faz parte da análise de viabilidade ambiental das minas. Este sim é ponto crucial. Proibi-los por princípio não me parece correto, pois significa, também a princípio, obrigação de adotar outro meio de transporte muito mais degradante.” (*) Superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
“DEVEMOS APROFUNDAR A DISCUSSÃO” Paulo Lamac (*)
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ciosas, apresentamos o Projeto de Lei 4.839/14. Ele propõe a devolução de, no mínimo, 50% da água utilizada nos minerodutos para o estado. Em conversa com alguns especialistas, eles indicaFOTO: ROSSANA MAGRI
“A questão sobre ser contra ou a favor dos minerodutos não é tão simples assim. Sou a favor de que se aprofunde na discussão para que isso chegue de maneira clara à população. Inclusive para que as pessoas possam se posicionar a respeito. O volume de informações disponíveis sobre minerodutos não é suficiente para sabermos se eles provocam danos ou não. Até porque existem técnicos que se posicionam a favor ou contrariamente. Esta é uma questão objetiva, que precisa ser discutida em cima de dados. Por isso que, na falta de informações mais minu-
ram que é possível estabelecer patamares mínimos superiores a esse percentual. O projeto foi apresentado em 2014, antes de a crise se agravar, e reapresentado no início deste ano. E o que queremos com ele é promover um debate sério, com abertura dos dados reais de captação de água, para que se possa fazer uma análise dos minerodutos em funcionamento e dos projetos de novos, que querem captar água em regiões que hoje passam por escassez hídrica radical. As mineradoras receberam com muita preocupação esse projeto. Não estamos querendo
LAMAC: “Ainda não temos informações suficientes para afirmar se eles são danosos ao meio ambiente”
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acabar com a mineração no estado. As empresas afirmam de maneira categórica que o volume de água utilizado é pouco significativo. E que seria uma água que, em condições normais, já estaria correndo para o oceano e não sofreria aproveitamento no percurso. O que estamos solicitando é que esses
dados sobre a captação sejam apresentados à sociedade de maneira clara e avaliar, junto com ela, se há alguma medida mitigadora, se o bombeamento é a melhor alternativa ou não e criar um marco regulatório sustentável para os minerodutos. Neste momento de crise, temos de estar abertos ao diálogo, re-
avaliar todos os conceitos e buscar novas soluções. No fim, encontrar o caminho do menor impacto natural possível, mas sem inviabilizar a situação econômica do estado, será o grande desafio dessa discussão.” (*) Deputado estadual e autor do PL 4.839/14.
“O ÚNICO IMPACTO É A ABERTURA DE VALAS NA TERRA” Márcio Perdigão (*)
do se falava em transporte por mineroduto, você estabelecia um valor de 66% de sólido na polpa e 34% de água. A polpa é uma mistura de água e minério. Quanto mais minério você tem, usa-se menos água. Hoje, operamos na faixa de 71%. Aí você pergunta: porque não pode ser 80%? Por conta da movimentação dessa massa, que tem um peso e precisa ser bombeada, além de questões ligadas à segurança do equipamento. PONTOS POSITIVOS A instalação de um mineroFOTO: JEFFERSON ROCIO
“O uso do mineroduto para o transporte de minério é baseado em uma série de fatores, sejam eles locacionais ou ligados à qualidade da reserva. O que define a atratividade de uma reserva é o teor do mineral, no nosso caso, o minério de ferro. A Samarco foi concebida para lavrar minério de baixo teor. Anteriormente, até a década de 1970, esses minérios não eram aproveitados e eram considerados rejeitos das minas, que ficavam sem utilização, porque a quantidade de minério de ferro era muito baixa para ser explorada comercialmente. A empresa, então, teria que ter um diferencial em seu processo para justificar o uso desse minério. Foi desenvolvido então um projeto pioneiro em termos de tamanho e extensão de uso de transporte pelo mineroduto. Na época, foi o primeiro grande mineroduto instalado no mundo para transporte de minério de ferro. Ao longo do tempo, foi-se evoluindo. Quan-
PERDIGÃO: “Somos sérios e compreendemos a importância do uso consciente da água”
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duto traz um único impacto ambiental, que é a abertura de valas na terra, ao longo do trajeto. Depois que ele é construído, faz-se a recuperação ambiental da faixa, com o replantio. O segundo ponto é a segurança: o mineroduto é enterrado a mais ou menos 1,5 a dois metros de profundidade. Não há ruído ou vibração. Minerodutos exigem muito monitoramento, o que gera baixa manutenção. Temos um mineroduto de 400 km que é monitorado por sensores através de duas estações de controle, uma em Mariana e outra em Matipó (MG). Qualquer variação no parâmetro operacional é identificado rapidamente. A água que é usada nele não é água nova, mas sim a que foi utilizada no processamento de minério. E toda a água utilizada no complexo de pelotização do terminal portuário, no Espírito Santo, é a água utilizada no mineroduto. No caso da Samarco, são 1.600 m3/hora. Em nosso projeto de
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1 MINERODUTO (2) propriação de terra e é possível fazer outras atividades na região. Também não há passagem em centros urbanos, o que não gera limitações e conflitos sociais. Não acreditamos que haja outra solução para o transporte de minério, que não use água, a ser desenvolvida a médio prazo. Nos volumes e na distância que transportamos, não há como fazer movimentação de massa de minério sem ser com o uso de água. É preciso fluidez para o transporte. O processo da Samarco é integrado: lavra, beneficiamento, transporte, pelotização e terminal portuário. E, enxergando o processo como um todo, só há captação em um ponto apenas, e depois essa água é distribuída e utilizada de forma otimizada, responsável, com reúso. Tecnicamente, é possível que o avanço da hidrologia vá permitir que a água seja bombeada de volta de onde ela foi retirada. Mas qual é a significância des-
captação, foram identificados os pontos que suportam essa retirada de água. Além disso, essa quantidade é distribuída e nosso índice de reaproveitamento é alto. Nossa captação de água não é concentrada em um local somente. A Samarco obteve outorga para uso do recurso em diversos focos hídricos, evitando o estresse em um ponto. ALÉM DA OUTORGA Entrou na pauta ambiental nos últimos anos a questão da emissão de gases de efeito estufa. É um problema que o mundo inteiro acompanha e o Brasil, que embora não tenha meta de redução, tem um compromisso em reduzir as emissões. O mineroduto traz essa grande vantagem: não gera gases de efeito estufa, diferentemente da utilização de ferrovias e transportes ferroviários, em que há queima de combustíveis fósseis. Outro ponto positivo: para construir um mineroduto não se faz desa-
se retorno? Esse bombeamento poderia significar algo se a água fosse retirada de uma região com estresse hídrico. Mas é preciso se considerar o processo integrado. A Samarco é muito séria. O que vier a ser definido pelas autoridades, ela vai se adaptar e cumprir. Temos muita responsabilidade e compreensão do momento em que o Brasil passa e da importância do uso consciente das águas. Temos campanhas internas muito fortes para conscientizar nossos funcionários, não só do ponto de vista industrial como também pessoal. Em situações de crise assim, é que revemos os conceitos. Queremos contribuir ainda mais para essa discussão e estamos engajados a buscar soluções sustentáveis conjuntas.” (*) Gerente-geral de Meio Ambiente e Licenciamento da Samarco, empresa que implantou o primeiro grande mineroduto do mundo.
ROTA DOS MINERODUTOS DA SAMARCO
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1 - Santa Bárbara 2 - Catas Altas 3 - Ouro Preto 4 - Mariana 5 - Barra Longa 6 - Ponte Nova 7 - Santa Cruz de Escalvado 8 - Urucânia 9 - Antônio do Gama
10 - Abre Campo 11 - Matipó 12 - Pedra Bonita 13 - São Margano 14 - Orizânia 15 - Divino 16 - Luisburgo 17 - Espera Feliz 18 - Dores do Rio Preto
19 - Guaçuí 20 - Muniz Freire 21 - Alegre 22 - Cachoeiro do Itapemirim 23 - Vargem Alta 24 - Rio Novo do Sul 25 - Itapemirim 26 - Anchieta 27 - Guarapari
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“SÃO MENOS IMPACTANTES” Maria José Gazzi Salum (*)
“Mineroduto é um meio de transporte terrestre de concentrados de minérios de granulometria fina, composto por uma tubulação onde o concentrado, misturado à água, é bombeado. Em geral, a mistura sólido/ líquido (polpa) tem uma alta porcentagem de sólidos: média de 65% p/v (65g de minério em cada 100 ml de água). O mineroduto é considerado a forma menos impactante ambientalmente de transporte terrestre de minérios, apresentando as seguintes vantagens em relação ao uso de trens ou caminhões: l menor ocupação territorial,
implicando em diminuição da supressão de vegetação; diminuição da área de impacto a fauna; e menor imobilização do território para outros usos. l diminuição dos níveis de poeira, uma vez que a carga é transmitida como polpa e encapsulada. l baixo consumo energético e emissão desprezível de CO2 (única fonte de poluição: as bombas que impulsionam a polpa); l diminuição dos níveis de ruído, entre outras questões. Em relação ao uso de água,
é importante ressaltar que o recurso natural utilizado no mineroduto é apenas uma pequena parte daquela que foi usada no beneficiamento do minério. Ou seja: nenhum volume de água é adicionado ao mineroduto do seu ponto de carregamento até a descarga. Como no beneficiamento, a água é sempre reutilizada (em média, 80%), pois a que transporta os minérios contém várias impurezas, não sendo, portanto, potável.” (*) Doutora em Tecnologia Mineral pela UFMG.
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1 MINERODUTO (2)
“TODAS AS ÁGUAS VÃO PRO MAR”
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PATRÍCIA BOSON: "Mineroduto é o meio de transporte que menos polui"
cotas de retirada, não raro acima de 800 metros, gastaria uma energia de impacto ambiental muito superior ao benefício que supostamente acredita-se que aconteceria. Lembrando que não existe conflito nem falta de água, portanto, em nenhum corpo hídrico onde a captação para o mineroduto é feita. Outra bobagem que escuto por aí, com base em água virtual, é de que o gasto de água com minério de ferro poderia encher não sei quantas Serras Azuis. E ainda, o mineroduto que leva nossa água para o mar, como se fosse possível reter nossas águas em Minas. Todas vão para o mar e, se não infiltram, evaporam ou são utilizadas.” (*) Secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg.
FOTO: DIVULGAÇÃO
“Sou a favor dos minerodutos. Só existem duas maneiras de se retirar o minério de ferro, sempre existente no interior do território, e levá-lo para o mar, para o porto visando à exportação. Por ferrovia ou mineroduto. Mineroduto tem vantagens sobre a ferrovia, especialmente quando não se tem a linha pronta. Gasta menos energia, pois aproveita-se da gravidade. Seu traçado é sob a terra, portanto, pode ser aproveitado o solo sobre o mineroduto. Aproveita-se a água que naturalmente já vai para os oceanos, dando-lhe valor. A vazão utilizada é outorgada pelo órgão gestor, que não só considera como referência um valor de vazão muito baixo, (portanto, preserva a vazão permanente para a manutenção dos ecossistemas aquáticos – 70% da Q7,10), como também considera a necessidade de se deixar água para usos a jusante do ponto onde é feita a captação. Não existe nenhum caso de conflito de uso em corpo hídrico onde existe mineroduto. Não raro, a água que transporta o minério, quando chega ao seu destino, é tratada e reaproveitada, seja para abastecimento de comunidades locais seja no próprio processo final de beneficiamento, ou recompondo ecossistemas degradados. Sem contar que os minerodutos têm comprovadamente risco menor de acidentes que o das ferrovias. Adicionalmente, o desejo de alguns de que retorne a água da cota zero (o mar, o porto) para
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Patrícia Boson (*)
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CÉU DE BRASÍLIA FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE
VINÍCIUS CARVALHO
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA (1)
fases do plano: R$ 394 milhões, R$ 936 milhões e R$ 1,4 bilhão. O ministério afirma ainda que o eixo de fomento do PPCDAm foi o que recebeu mais investimentos, 73% acima dos dedicados a ordenamento fundiário e territorial e 46% superior aos de monitoramento e controle.
Levantamento realizado pelo Portal Infoamazônia indica que a presidente Dilma Rousseff, em seu primeiro mandato, reduziu para R$ 1,78 bilhão os gastos com prevenção e combate ao desmatamento na Amazônia. Em relação à despesa do governo anterior, de R$ 6,36 bilhões, houve queda de 72%. A pesquisa cobre os anos de 2007 a 2014.
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA (3)
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA (2)
FOTO: REPRODUÇÃO
O Ministério do Meio Ambiente discorda das cifras apuradas no relatório com relação ao "Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm)". Em nota à imprensa, a pasta aponta "investimentos previstos" nas três
DESPERDÍCIO DE ÁGUA (1)
Mais de 6,5 bilhões de metros cúbicos de água tratada foram desperdiçados no Brasil em 2013, o que equivale a uma perda financeira de R$ 8 bilhões ao ano, indica estudo do Instituto Trata Brasil. Essas perdas correspondem a cerca de 80% de todos os investimentos em água e esgoto realizados em 2013, de acordo com a entidade.
CÓDIGO DA MINERAÇÃO
O relator da comissão especial do novo Código de Mineração, Leonardo Quintão (PMDB-MG) (foto), afirmou que o marco para o setor será votado pelo colegiado até maio. Segundo o parlamentar, é necessário buscar acordo com o governo para viabilizar a criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), em substituição ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), e decidir como será cobrada a Contribuição Financeira pela Exploração Mineral (Cfem).
FOTO: GABRIELA KOROSSY / AG. CÂMARA
Enquanto isso, segundo o Imazon, o desmatamento na Amazônia subiu mais de 200% nos últimos sete meses. De acordo com o documento, foram derrubados 1.700 km2 de floresta nativa entre agosto de 2014 e fevereiro deste ano. Do total desmatado nos últimos sete meses, os estados que mais derrubaram florestas foram Mato Grosso (35%), Pará (25%) e Rondônia (20%).
DESPERDÍCIO DE ÁGUA (2)
Ainda segundo o estudo, o volume de água tratada não contabilizada pelas empresas de saneamento corresponde a 39,1% do total produzido no país. O Brasil desperdiça água que poderia encher 6,5 vezes o Sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, sem considerar as reservas técnicas.
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eletrobras.com
Tudo começou em 62. E a Eletrobras já nasceu impulsionando o país. Nas décadas seguintes, a gente continuou buscando chegar mais longe, construindo novas linhas de transmissão, novas usinas, investindo em tecnologia, investindo no futuro. Há mais de 50 anos, a história vem mostrando que superação é a marca da Eletrobras. Por isso, temos certeza: em 2030, vamos estar entre as três maiores empresas globais de energia limpa e entre as dez maiores em energia elétrica do mundo.
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Há mais de 50 anos, a Eletrobras é a força que transforma um país inteiro. Década de 60 A Eletrobras nasce e coloca em operação a usina de Furnas. Década de 70 Início da construção da usina de Itaipu. Década de 80 e 90 Criação do Procel, programa que contribui para o uso eficiente da energia no país. Integração Norte-Sul: mais de 1.300km de novas linhas de transmissão. 2000 até hoje Mais de 59 mil km de linhas de transmissão e 44 mil MW de capacidade de geração. Instituição do Proinfa, programa que incentivou a utilização de energias renováveis. Até 2018 Investimentos de mais de R$ 60 bilhões em geração e transmissão.
Somos a Eletrobras. Somos a energia do Brasil.
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FOTOS: JAIRO TOLEDO
1 NOS PORÕES DO RETROCESSO
DOENTES MENTAIS voltam a ser confinados e proibidos de transitar pelas áreas verdes do antigo hospício
MURO NUNCA MAIS?
Fhemig promete impedir nova exclusão social no ex-Hospital Colônia de Barbacena Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
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gados e hoje vivem humanamente assistidos cerca de 100 ex-pacientes salvos do destino comum daquela época. Homens e mulheres cronificados pelos maus-tratos, sem parentes, endereços nem condições físicas de se reintegrarem à sociedade, tamanha a gravidade das sequelas provocadas pela desumanidade histórica que vivenciaram e a qual sobreviveram ali. FOTO: ECOLÓGICO
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uando se imaginava estar tudo resolvido no ex-Hospital Colônia de Barbacena, onde o estado e a sociedade permitiram a morte de 60 mil pessoas por abandono, crueldade e falta de tratamento médico, eis que uma nova ameaça de exclusão social ressurge. Mas pode ser debelada. Foi o que o médico Jairo Toledo, um dos líderes da revolução psiquiátrica mineira que pôs fim aos porões da loucura, no início dos anos 1980, informou e foi prontamente acatado pelo novo presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Jorge Nahas, que ficou de tomar as devidas providências. Trata-se dos chamados “módulos residências” ou “residências terapêuticas”, para onde foram abri-
O que está acontecendo com eles? Nada, por enquanto. E com as residências onde moram? É onde se esboça o perigo iminente. Em uma delas, e ao seu redor, a atual administração hospitalar de Barbacena já fez subir, inacreditavelmente, um muro de alvenaria de um metro de altura, seguido de mais dois metros de tela metálica. Dizem as boas línguas que é “para evitar, por auto e insustentável vergonha, que o público que visita o Museu da Loucura (em recuperação) tenha contato com os pacientes”, vendo-os perambularem pelo que sobrou do ex-hospício. Exatamente como tudo começou. Ou seja: proibir que esses pacientes circulem nas proximidades do Hospital Regional.
LUIZ ALFREDO: autor das primeiras fotos sobre a "Sucursal do Inferno": memória viva
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FOTOS: JAIRO TOLEDO
QUANDO A IMPRENSA CHORA A Ecológico esteve recentemente no hoje HRB e confirmou a existência de todos os equipamentos, peças e demais registros históricos recuperados que compõem o Museu da Loucura em prometida e cumprida reforma pela Fhemig. Eles estão em um depósito, aguardando a hora de voltarem a ser vistos pelos visitantes, como um aviso de que não perdermos a memória nem permitirmos o retrocesso de tamanha e extinta desumanidade. Na companhia de outros companheiros históricos de luta antimanicomial, como Antonio Soares Simone, Ronaldo Simões, Napoleão Xavier, Helvécio Ratton e Luiz Alfredo Ferreira, a Ecológico também acompanhou as filmagens de um documentário que será exibido mundialmente pela HBO. O registro televisivo sobre a história do ex-Hospital Colônia está sendo capitaneado pela jornalista Daniela Arbex, autora do livro “Holocausto Brasileiro”, vencedora do “Prêmio Esso de Jornalismo”, em 2012, sobre a tragédia vivida em Barbacena.
FOTO: LUIZ ALFREDO
Tal atitude vai contra a ideia revolucionária inicial, desenvolvida por uma equipe de trabalho, em 1992, quando se pensou transformar o ex-hospício em um hospital-geral para toda a região. A intenção era inserir o tratamento psiquiátrico cada vez mais no contexto da clínica médica. E não o que veio e está acontecendo. Desde 2005, quando o planejado Hospital Regional foi inaugurado, o que se viu foi uma cisão de duas FHEMIGs em Barbacena: uma para os doentes mentais, chamada Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB); e outra para Clínica Médica, chamada Hospital Regional (HRB). Esse foi outro retrocesso presenciado, somado agora à questão do muro e da segregação dos pacientes que ali restaram.
DEPÓSITO DA FHEMIG, onde está guardada a memória do Museu da Loucura
DANIELA ARBEX se emociona ao entrevistar Helvécio Ratton na gravação para a HBO
Emocionada até às lágrimas durante as filmagens, a jornalista que trabalha no Tribuna de Minas, em Juiz de Fora, conseguiu reunir três gerações de profissionais de imprensa e saúde que denunciaram e ajudaram a por fim ao maior hospício do Brasil: de Luiz Alfredo Ferreira, fotógrafo da Revista O Cruzeiro, autor das primeiras fotos-denúncias feitas sobre a “Sucursal do Inferno”, documentário em 1961, até o chocante documental do cineas-
ta Helvécio Ratton, “Em Nome da Razão”, em 1979. Isto é, logo após a série de reportagens “Nos Porões da Loucura”, publicadas pelo jornal Estado de Minas, concomitante à vinda do psiquiatra italiano e líder mundial da luta antimanicomial Franco Basaglia ao Brasil, autor de uma lei que proibiu, pioneiramente, a construção de novos hospícios em seu país. Daniela chorou ao nos entrevistar. E com ela, choramos todos nós!
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FOTO: DIVULGAÇÃO
1 TECNOLOGIA LIMPA
MARCOS PALMEIRA com o modelo de case para celular com madeira de reúso: sustentabilidade na palma da mão
BOA IDEIA Encabeçado pelo ator Marcos Palmeira, o “Programa Latitude”, criado pela Timberland em parceria com a ONG Iniciativa Verde, cria capas de celular com madeira de reúso
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nualmente, a Timberland, em parceria com seus funcionários, realiza o movimento “Earth Day Timberland” para celebrar o “Dia Internacional da Terra”, comemorado em 22 de abril, com ações que visam à preservação dos recursos naturais. Este ano, a marca inovou e se uniu à ONG Iniciativa Verde para lançar o “Programa Latitude”. A iniciativa tem como intuito chamar a atenção para a questão do desmatamento. Por esse motivo, a Timberland doou à Iniciativa Verde 500 mudas de plantas para reflorestar uma área devastada. Em seguida, criou um modelo de case para celular com madeira de reúso. Nele, constará as coordenadas com latitude e longitude de cada árvore plantada. Foram desenvolvidos 500 ca-
ses que serão colocados à venda em todas as lojas da marca. Uma parte do valor arrecadado com a venda dos cases será doada para a ONG, ou seja, quem comprar a capinha de celular estará automaticamente adotando uma árvore e, com a localização disponível neles, poderá visitar e acompanhar seu crescimento pelo site www.latitude.timberland.com.br. Para apresentar o “Projeto Latitude”, a Timberland se preocupou em buscar alguém com os mesmos valores e que tivesse a sustentabilidade como filosofia de vida, chegando assim ao Marcos Palmeira. Embaixador do projeto, o ator, além de empresário e produtor de alimentos orgânicos certificado, é um grande defensor da preservação ambiental.
O Vale das Palmeiras, do qual o ator é proprietário, é uma fazenda especializada em desenvolver alimentos orgânicos. “Passamos por várias crises, hoje temos uma fazenda onde todos respeitam a natureza e os animais vivem livres, com gado leiteiro orgânico (que não consomem antibióticos e se alimentam de orgânicos), frutas, legumes e verduras produzidos dentro de um sistema integrado e sustentável”, diz Marcos. Os cases Timberland – Projeto Latitude – já estão à venda nas principais lojas da marca. SAIBA MAIS
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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
MRV AVANÇA Construtora líder em sustentabilidade evita corte de mais de dois milhões de árvores com a aplicação de laje içada
LAJE IÇADA proporcionou economia de 158.507,12 m³ de madeira
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“A indústria da construção é pouco poluente e a maioria dos seus resíduos pode ser reaproveitada, reutilizada em novas construções. Esse índice de perda, que afirmam ser de até 30%, também não procede. No caso da MRV, é importante destacar que um de nossos diferenciais é gostar muito de paisagismo. Plantamos milhares de árvores. Se você for a uma obra nossa hoje, e voltar em dois anos, verá um cenário totalmente diferente, renovado. Também só usamos madeira certificada e de procedência reconhecida. No que diz respeito à sustentabilidade e maior conscientização ambiental, já evoluímos bastante. Hoje, já não se concebe mais um empreendimento que cause da¬nos ambientais, gere poluição. Essa consciência existe. Daqui para frente, as coisas vão ser cada vez melhores.”
FOTO: LUCIANA MORAIS
ELE DISSE
RUBENS MENIN, fundador e diretor da MRV Engenharia, em entrevista publicada na edição 31 da Revista Ecológico
tratado a política de sustentabilidade dentro de nossa companhia, alinhando produtividade, qualidade e responsabilidade socioambiental. Vamos continuar trabalhando e seguindo as orientações das diretrizes governamentais, contribuindo continuamente FOTOS: LUCIANO BARELI
íder nacional no segmento de imóveis econômicos, a MRV Engenharia conseguiu subir mais um degrau na sua pegada sustentável. Ao substituir o processo construtivo da laje pré-moldada convencional para a aplicação da laje içada, a construtora garante já “reduzir significativamente” o tradicional uso de madeira tão comum do setor. Tudo isso, graças a essa mudança de conceito e busca de inovação ecológica no padrão construtivo de seus empreendimentos, o que a vem distinguindo no setor. Por meio de um estudo, ela avaliou a utilização da madeira no período entre janeiro de 2011 e dezembro de 2014 em todas as suas 164 obras pelo país. A constatação foi ambientalmente positiva: com a mudança dessa técnica, a MRV tornou possível uma economia de 158.507,12 m³ de madeira, o que equivale a matematicamente exatas 2.232.495 árvores preservadas. “A laje içada é um molde de metal onde o concreto é colocado para depois ser elevado até a estrutura do prédio. Esse tipo de estruturação não exige o uso de madeira, como a laje pré-moldada, de uso mais comum em construções”, explicou o gestorexecutivo de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da empresa, José Luiz Esteves. Além da economia dos recursos naturais, a técnica possibilitou um ganho de produtividade e industrialização do canteiro de obras. Tornou-se uma opção a mais para a redução do consumo de insumos naturais que tanto impactam o meio ambiente, tanto durante sua utilização como no processo de descarte desses materiais. “É um resultado muito positivo e demonstra o cuidado que temos
JOSÉ LUIZ: resultado positivo para os dois lados
para o meio ambiente e com as comunidades onde estamos inseridos”, destacou o executivo. Outras ações no caminho da construção sustentável continuam sendo realizadas pela MRV com essa proposta preservacionista, aliando cada vez mais verde em seus paisagismos construtivos. Somente no ano passado, a construtora garante ter plantado mais de 113 mil mudas de árvores, além de ter realizado palestras de conscientização para os seus colaboradores, envolvendo-os em atitudes comunitárias, como limpeza de rios, entre diversas outras iniciativas. Ao todo, foram investidos mais de R$ 189 milhões em projetos socioambientais e de urbanização somente nos dois últimos exercícios. SAIBA MAIS
www.mrv.com.br
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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
SUSTENTABILIDADE
CERTIFICADA
RESIDENCIAL Albert Scharlé: ecologicamente sustentável em todas as fases de construção
tudada para não prejudicar a saúde dos moradores, uma vez que a exposição excessiva a campos eletromagnéticos pode desencadear problemas como leucemia, câncer, fadiga e estresse. “O ideal é manter todos os caminhamentos elétricos a uma distância de 40 cm da cama para que eletromagnetismo não interaja com o organismo em repouso”, ressalta Letícia. Para assinar o projeto paisagístico, foi contratado o paisagista do Instituto Inhotim, Luiz Carlos Orsini, que desenvolverá o trabalho de acordo com as solicitações
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
O Residencial Albert Scharlé, novo empreendimento da Construtora Caparaó, com obras já avançadas na capital mineira, acaba de receber nível máximo do “Selo Casa Saudável”, primeira certificação mundial que visa assegurar ambientes ecologicamente saudáveis em todas as fases da construção. Para a arquiteta Letícia Valle, esse reconhecimento reforça todo o empenho da construtora comandada por Ney Bruzzi e Maria Cristina Valle em apresentar produtos inovadores e compromissados com a questão ambiental ao mercado: “Queremos construir ambientes sadios utilizando materiais e técnicas construtivas que evitem efeitos negativos não só para os operários durante a obra, mas também sobre a saúde dos futuros moradores”, afirma. Os elementos essenciais para avaliar as condições do ambiente de uma casa saudável, lembra a arquiteta da Caparaó, são luminosidade, qualidade do ar, acústica, qualidade da água, eletromagnetismo, materiais, projeto, paisagismo, manutenção e sustentabilidade: “Como muitas das medidas propostas pela certificação já são práticas comuns nos nossos canteiros de obras e projetos, a certificação foi obtida naturalmente.” Até a disposição das tomadas dentro dos quartos também foi es-
FOTO: DIVULGAÇÃO CAPARAÓ
Construtora Caparaó recebe nível máximo do “Selo Casa Saudável” para novo residencial lançado em BH
LETÍCIA VALLE: “Queremos construir ambientes sadios”
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SAIBA MAIS
FOTO: EDY FERNANDES
da certificação. O selo exige que 30% das plantas sejam comestíveis, diversificadas e com floração durante todo o ano. Outro ponto forte é uma área de lazer no meio do prédio. Esse diferencial deu ponto extra para a Caparaó obter o certificado. Localizado no 19º pavimento, a área de lazer permite com que todos os moradores disfrutem da vista, pratiquem exercícios físicos e tenham um convívio entre vizinhos. “Outra medida ecológica é a instalação de chuveiros economizadores, que diminuem o consumo para 12 litros por minuto, cerca de 60% menos do que o normal. É uma economia muito grande”, ressalta Letícia.
“É muito importante a conquista desse certificado, pois diferentemente de outros selos, que igualmente almejados, valorizam a eficiência energética e a sustentabilidade, inclusive na fase de obra, o ‘Selo Casa Saudável’ se preocupa exclusivamente com a qualidade de vida dos nossos clientes e sua vizinhança.” Maria Cristina Valle, vice-presidente da Caparaó
www.caparao.com.br
TRANSFORMANDO CENÁRIOS Os alunos e professores da Escola Municipal Dona Aramita, localizada em Lagoa Santa, participaram de uma palestra sobre educação ambiental realizada pela Gran Viver Urbanismo, loteadora que completa 40 anos em 2015, e com o apoio da prefeitura da cidade. A palestra foi ministrada por Carolina Silveira e por Christopher Leite, engenheiros ambientais da Gran Viver, e contou com a presença de 400 pessoas. Após o momento de aprendizado, os participantes se reuniram para transformar o cenário de uma praça próxima à escola, locali-
zada entre a Rua Ouro Preto e a Rua Cintilândia. Em toda a praça, foram plantadas mudas de arbustos floridos, de ipês e de pau-brasil, espécies que fazem parte da flora nativa do país e que são reconhecidas como árvores nacionais. A responsabilidade socioambiental é uma atitude cotidiana na Gran Viver, por isso, a loteadora tem oferecido o programa de educação ambiental nas cidades onde está presente com seus empreendimentos. SAIBA MAIS
www.granviver.com.br
FOTO: DIVULGAÇÃO GRAN VIVER
Gran Viver leva engenheiros para palestra ambiental em escola de Lagoa Santa e plantação de mudas próximo à instituição
ALUNOS da E. M. Dona Aramita em ação: consciência e praça mais verdes
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POLÍTICA - O DESABAFO DE IZABELLA (2)
FOTO: BRUNO ALEXANDRE ROCHA
FOTO: CHRISTOPHE GESCHÉ / WIKIPEDIA
FOTO: MARTIM GARCIA / MMA
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A MINISTRA Izabella Teixeira, mais empenhada do que nunca:“Aguardem os próximos capítulos!” 56 ECOLÓGICO | ABRIL/MAIO DE 2015
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“A sociedade brasileira tem de ser informada e amadurecer a sua consciência. Só assim vamos migrar da pauta dos direitos para a pauta dos deveres. Está na Constituição: é dever de todos proteger o meio ambiente.”
“A FLORESTA ESTÁ
RENASCENDO” Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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a segunda parte da entrevista exclusiva, concedida à reportagem da Ecológico em seu gabinete, a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira destaca o aumento do orçamento destinado à sua pasta nos últimos anos, bem como os esforços no combate à corrupção. “Fazemos rodízio com o nosso pessoal do país inteiro. Destaco gente do Rio Grande do Sul e mando para a Amazônia. Gente que não sabe de que missão vai participar; tudo para evitar qualquer tipo de favorecimento ou corrupção. Nos últimos 12 anos, demitimos 213 servidores por corrupção.” E mais: “De 2008 até 2012, as áreas em regeneração já eram 2,5 vezes maiores que o total desmatado no mesmo período. É a floresta renascendo, tentando sobreviver”, ela garante. É o que você confere a seguir.
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AUMENTO DE PESSOAL
“Desde que assumi o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tivemos concursos todos os anos. Todas as vagas de servidores do Ibama que se aposentaram foram repostas. O mesmo aconteceu em outros órgãos, como o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Basta ver a lista de contratos. E já temos mais 1.200 vagas aprovadas pelo Congresso. Serão 600 para o Ibama e 600 para o ICMBio, prioritariamente para a fiscalização e atuação em UCs na Amazônia.” “Outra inverdade é dizer que o orçamento caiu. Eu quase dobrei o nosso orçamento. Que outro ministério fez isso? Isso não quer dizer, óbvio, que os recursos sejam suficientes – ainda. Em 2014, tivemos uma execução orçamentária de R$ 1,1 bilhão. Um aumento de 36,4% em relação a 2011, no primeiro ano da gestão Dilma.” l
PROGRAMA ARPA
“Acabamos de receber mais cinco milhões de hectares de terras públicas da União. Terras novas e
desimpedidas nas quais vamos criar mais UCs este ano. O pessoal do ICMBio já está em campo, fazendo os estudos. No ritmo em que estamos, vamos fechar a meta do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) agora em 2015, bem antes do previsto.” “A meta era proteger 60 milhões de hectares até 2020, mas vamos cumpri-la agora, assegurando recursos financeiros para a gestão dessas áreas e promovendo o desenvolvimento sustentável da região. Com a criação dessas novas UCs, estamos contornando problemas antigos e dando um importante passo à frente. Tudo planejado e sem conflito.” l
USO DA TERRA
“No governo FHC, em 1996, foi editada uma medida provisória (MP 1.511) que ampliou a reserva legal (área do imóvel rural que deve ser coberta por vegetação natural e que pode ser explorada com o manejo florestal sustentável) de 50% para 80% na Amazônia. Depois dela, o desmatamento subiu. Mas ninguém admite isso. O que mais escuto é gente dizendo que o novo Código Florestal é o grande responsável pelo aumento do desmatamento.”
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POLÍTICA - O DESABAFO DE IZABELLA (2)
“Como assim, se ele determina que a anistia é só até 2008 e que a partir daí tem de se recuperar 100% do que foi desmatado? É óbvio que as políticas de uso da território na Amazônia devem mudar; ninguém quer perder floresta. Por isso, o que temos buscado é articular o crescimento e os investimentos em infraestrutura com a conservação da floresta.” l
FLORESTA RENASCE
“Estamos acompanhando tudo, mapeando inclusive a dinâmica de uso das áreas desmatadas na Amazônia. Sabe o que mostra o TerraClass (projeto desenvolvido pelo Inpe e pela Embrapa com base nos dados de áreas que constam como desmatadas no Sistema Prodes)? Que a floresta está renascendo, tentando sobreviver. Pelo último levantamento, a área equivalente ao total de corte raso verificado em 2011 está em processo de regeneração, algo em torno de seis mil quilômetros quadrados.” “De 2008 até 2012, as áreas em regeneração são 2,5 vezes maiores do que o total desmatado (44 mil quilômetros quadrados) no mesmo período. Para esse relatório foram mapeados 751.000 km2, o que corresponde ao total do desmatamento desde o ano 1988 até 2012. Em breve, teremos um retrato ainda mais amplo, com dados de 2014.” l
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
“Hoje, 82% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são licenciadas pelos governos estaduais. Portanto, só sabemos o que se suprime de vegetação nos processos de licenciamento em 18% dos casos. Cada estado faz isso a seu modo. Por isso, estamos estendendo o monitoramento do desmatamento para todo o país. Queremos identificar, de fato, como está o uso do território. Estados e municípios têm uma grande cota de responsabilidade, em especial no que se refere ao licenciamento ambiental. Há atrocidades ambientais sendo cometidas Brasil afora, endossadas por prefeituras e câmaras de vereadores.” “Precisamos, portanto, de novas bases e de novas atitudes para que tenhamos um diálogo político mais amplo e assertivo. A sociedade brasileira tem de ser informada e amadurecer a sua consciência em relação a todas essas questões. Só assim vamos migrar da pauta dos direitos para a pauta dos deveres. Está na Constituição: é dever de todos proteger o meio ambiente.”
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AÇÃO COM A INTERPOL
“Além dos avanços em georreferenciamento – para conter o desmatamento na Amazônia –, operamos também um sistema de inteligência cada dia mais eficiente. Envolve o Ibama, a Polícia Federal e outros órgãos. Fazemos operações integradas de fronteira, com o Exército. Temos pessoal do Ibama na sala de situação da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Todas as nossas operações de fiscalização são contabilizadas diariamente nas estatísticas do país. Isso ninguém divulga.” “E mais: treinamos e qualificamos analistas no exterior. Temos uma ação inteiramente controlada e modelada com a Interpol. Temos que fazer muito mais? É claro que sim. Mas, confesso que
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“Entre os ministérios que mais demitiram pessoal por corrupção, o MMA aparece em terceiro lugar. Nos últimos 12 anos, demitimos 213 servidores.”
“A gestão do pessoal que trabalha nas UCs na Amazônia me deixa ‘enlouquecida’. Requer planejamento e inclui entender e administrar particularidades, tais como: atender um servidor que está há anos em uma região remota, onde não há escola secundária, e ele quer se mudar porque está afastado dos filhos e da família. Em outros casos, são colegas de trabalho. Muitos se casam e, se transferirmos um deles, provocamos um divórcio.” l COMBATE À CORRUPÇÃO “No começo de janeiro, a Advocacia Geral da União (AGU) divulgou dados relativos às ações do governo federal, com uma radiografia dos ministérios que mais demitiram pessoal por corrupção. O MMA aparece em terceiro lugar, atrás dos ministérios da Previdência e da Justiça. Esse levantamento começou a ser feito em 2003. Nos últimos 12 anos nós demitimos 213 servidores.”
há certas situações que nos desanimam. Nosso pessoal de campo passa dias e dias no meio do nada, fiscalizando garimpos e desmatamento. Em muitas cidades, eles nem são aceitos nos hotéis. Têm que acampar na mata, porque há várias áreas ‘controladas’ por madeireiros. A maioria dos brasileiros não tem a menor ideia de que isso ocorra.” “Então, imaginem o sentimento de um fiscal nosso ao ouvir certas declarações, como por exemplo, que o desmatamento aumentou no país? Isso derruba a moral de qualquer equipe. Por isso, faço questão de ir sempre que posso ao programa ‘Voz do Brasil’ falar sobre os resultados das nossas operações. Em muitos rincões da Amazônia, esse é o único meio de comunicação que se tem.”
FOTO: DIVULGAÇÃO / CEPAN
“Muita gente das ONGs ambientalistas e também do setor produtivo jogou contra o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Agora, diante do que já conseguimos, tiveram de baixar a cabeça.”
“Durante as operações de fiscalização, montamos equipes mistas, com fiscais do Ibama, homens da Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Federal etc. Fazemos rodízio com o nosso pessoal do país inteiro. Destaco gente do Rio Grande do Sul e mando para a Amazônia. Eles não sabem de que missão vão participar nem a qual equipe se juntarão, tudo para evitar qualquer tipo de favorecimento ou corrupção.” l
RELAÇÃO COM O GREENPEACE
“O diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo, é meu amigo pessoal. Tenho uma boa base de diálogo com a ONG. Acertamos várias negociações globais e nos damos muito bem. O mesmo posso dizer sobre a nossa parceria na Moratória da Soja.” “Por outro lado, sei que eles consideram ‘simples’ chegarmos ao desmatamento zero. Mas uma coisa é falar, outra é implantar de verdade, na prática. Estamos abertos ao diálogo. Por que eles não vêm aqui me propor parcerias?” l
CADASTRO AMBIENTAL RURAL
“Em relação ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) sabemos que muita gente das ONGs ambientalistas e também do setor produtivo jogou contra, apostando que não seríamos capazes de implantálo. Agora, diante do que já conseguimos, tiveram de baixar a cabeça.”
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POLÍTICA
“Nosso pessoal de campo passa dias no meio do nada, fiscalizando garimpos e desmatamento. Em muitas cidades, nem são aceitos nos hotéis, tamanho o poder dos madeireiros.”
FOTO: ARSEL SXC
"Há atrocidades ambientais sendo cometidas Brasil afora, endossadas por prefeituras e câmaras de vereadores."
EXPANSÃO IMOBILIÁRIA: avanço contínuo nas áreas de preservação permanente
“Georreferenciamos todo o território brasileiro. Quando assumi o ministério, não tínhamos nada. Criamos um sistema complexo e completo, algo semelhante ao do controle do Imposto de Renda –, que levou anos para ser implantado. O CAR foi criado em 2012 e fizemos tudo em praticamente dois anos.” l
PATRIMÔNIO GENÉTICO
“A filosofia de construir alianças nos levou também ao novo marco (o projeto de lei que regulamenta a Convenção sobre Diversidade Biológica) que está sendo votado no Congresso, definindo as regras de acesso aos recursos genéticos, a nova base da bioindústria no Brasil. Ele é fruto de um pacto entre o MMA e os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Ciência e Tecnologia. Sem esse pacto, eu estaria até hoje com o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen) paralisado, acumulando mais de 100 processos. Mas não, hoje está tudo funcionando.”
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PRÓXIMOS CAPÍTULOS
“No governo, acima de questões como transparência e eficiência, duas premissas são essenciais. Primeiro: é preciso dialogar com a sociedade em sentido amplo. Segundo: tem que se ter a capacidade de construir parcerias e projetos conjuntos.” “Se você não for capaz de promover essa articulação, vai cuidar simplesmente daquilo que lhe interessa, ficando muito aquém do que poderia fazer realmente para o desenvolvimento do país.” “É nisso que acredito e é assim que trabalho para seguirmos avançando e dialogando sobre os mais diferentes temas, inclusive sobre o combate ao desmatamento ilegal. Aguardem os próximos capítulos.” SAIBA MAIS
www.mma.gov.br
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1 REGENERAÇÃO FLORESTAL
O PLANETA TAMBÉM RENASCE Somando-se à declaração da ministra Izabella Teixeira de que a Floresta Amazônica está se regenerando, estudo publicado na revista científica Nature Climate Change garante que a Terra está mais verde Mesmo com todo o catastrofismo propagandeado pelo movimento ambientalista internacional em relação ao desmatamento, um novo estudo produzido por um grupo de cientistas australianos mostra que a massa de matéria vegetal da Terra aumentou em nada menos que quatro bilhões de toneladas na última década. O artigo “Recent Reversal In Loss of Global Terrestrial Biomass”, publicado na edição de 30 de março da revista britânica Nature Climate Change, aponta que a expansão tem ocorrido, principalmente, em regiões menos desenvolvidas da Austrália e da África. Entre 2003 e 2012, pesquisadores de universidades australianas como a de New South Wales utilizaram imagens de satélites para mapear a biomassa vegetal de todo o planeta. Com base em uma nova técnica de radiofrequência, chamada sensoriamento passivo remoto de microondas, ela é capaz de captar as ondas da biomassa presente na superfície terrestre. A radiação detectada variou conforme a temperatura, a umidade e a quantidade de água na vegetação presente nas diversas regiões do globo. Os pesquisadores reuniram os dados de diversos satélites e os organizaram de modo a compor uma série para mostrar a evolução de toda a cobertura vegetal terrestre. Assim, eles puderam reconstruir mensalmente, abrangendo as duas últimas décadas, a evolução da biomassa em escala mundial. O estudo levantou o desmatamento em muitas regiões do planeta, incluindo áreas da América do Sul, como o sudeste da Floresta Amazônica, definindo-os como o “Arco de Desflorestamento” (que, como se sabe, inclui as áreas de expansão da fronteira agrícola no Brasil). A pesquisa mostra que a expansão das áreas verdes tem sido suficiente para se sobrepor ao desmatamento observado. Um exemplo é o crescimento das florestas nas áreas rurais abandonadas após a queda do comunismo, na Rússia e nos países vizinhos, ao lado dos grandes projetos de plantio de árvores implementados pelo governo da China, nas últimas décadas. Por outro lado, o estudo também detectou um crescimento “inesperado” da vegetação em savanas
e matagais situados na Austrália, África e América do Sul. As análises feitas até então se centravam unicamente em florestas fechadas. E este aumento não havia sido identificado, segundo os autores. A própria Austrália teve um aumento da vegetação na quase totalidade do seu território – com exceção, naturalmente, das áreas urbanas do país – mesmo com as recentes secas que castigam algumas de suas regiões. O relatório aponta também que o crescimento da vegetação australiana está ligado à variação dos regimes de chuva e sofre grande influência de fenômenos como El Niño e La Niña (respectivamente, aquecimento e resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico). ESVERDEAMENTO Outra conclusão inesperada do estudo é a constatação de uma tendência de “esverdeamento” geral do planeta nas últimas duas décadas, mesmo quando os regimes de chuva se mantiveram inalterados ou quando houve uma pequena queda no volume de precipitações, tendo-se detectado um crescimento no número de árvores e matagais em regiões semiáridas. Todavia, tratando-se dos tempos que correm, os pesquisadores não deixaram de fazer concessões à fraudulenta hipótese do aquecimento global antropogênico. Ao destacar o crescimento da média global de vegetação, eles frisaram que este aumento não seria uma solução para o problema das mudanças climáticas, já que a vegetação só seria capaz de absorver um quarto de todas as emissões humanas de dióxido de carbono (CO2), o alegado “vilão” do fenômeno. E concluíram que, por isso mesmo, ainda seria necessário promover “grandes reduções globais das emissões combustíveis fósseis”. Mesmo com tais concessões ideológicas, um estudo científico que ressalta que o mundo está ficando mais “verde” não deixa de representar um golpe no catastrofismo prevalecente sobre o estado da vegetação do planeta. Fonte: Alerta em Foco (alerta.inf.br)/Nature Climate Change
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CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO
ÁGUAS EM RISCO
Um relatório das Nações Unidas, divulgado no mês passado, indica que as reservas de água doce do mundo podem diminuir 40% até 2030 se nada for feito. Segundo o documento, 20% dos aquíferos mundiais já são explorados em excesso. Os cientistas preveem ainda que, em 2050, a agricultura e a indústria de alimentos vão precisar aumentar em 400% sua demanda por água para incrementar a produção.
FOTO: ALFEU TRANCOSO FOTO: JULIE ST. LOUIS
REDUZINDO EMISSÕES (I)
Os Estados Unidos enviaram carta de intenções à ONU na qual expressam seu compromisso em reduzir as emissões de gasesestufa entre 26% e 28% nos próximos dez anos. A redução prevista para 2025 foi baseada nos valores emitidos pelo país em 2005. Já a Rússia quer diminuir suas emissões em 30% até 2030, baseado nos índices de 1990.
REDUZINDO EMISSÕES (II)
DEGELO NA ANTÁRTICA
A espessura do gelo em torno da Antártica sofreu uma redução de 18% entre 1994 e 2012, revela um estudo publicado pela Agência Espacial Europeia. Segundo o documento, os paredões de gelo têm uma espessura média entre 400 e 500 metros e podem se estender por centenas de quilômetros na costa antártica. Quando o paredão sofre uma redução drástica de sua espessura, placas de gelo caem no oceano e começam a derreter, elevando o nível do mar.
Prefeitos e representantes de capitais da União Europeia (UE) prometeram se esforçar para reduzir em pelo menos 40% suas emissões de gases do efeito estufa antes de 2030. Convocado pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o ato foi organizado dentro dos preparativos da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que será realizada em Paris em dezembro deste ano.
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Um grupo de pesquisadores diz ter encontrado no nordeste da China o que poderia ser a flor mais antiga do mundo, chamada de Euanthus panii, uma espécime de aproximadamente 160 milhões de anos. O fóssil foi apresentado no último número da “Historical Biology”, uma publicação britânica especializada em paleontologia.
CONSERVAÇÃO EM ÁFRICA
Representantes de 30 países se reuniram em Botsuana para tomar medidas contra o tráfico de elefantes na África. No continente restam 470 mil exemplres, mas entre 20 mil e 30 mil são mortos por ano. O presidente do Gabão, Ali Bongo, pediu uma moratória de dez anos para a venda de marfim. A medida é defendida por Botsuana, Chade, Etiópia e Tanzânia.
FOTO: MEL2006
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
FOTO: JTOMADA / SCMP
FLOR ANCESTRAL
AVIÃO SOLAR
O Impulse 2 aterrissou na China e completou a quinta etapa da primeira volta ao mundo de um avião alimentado apenas por energia solar. O SI2, que saiu de Abu Dhabi em nove de março, tem a intenção de viajar 35 mil quilômetros ao total sem queimar um litro sequer de combustível poluente.
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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CÓPIAS DO LIVRO "Água e Cultura", expostas durante seu lançamento na ex-Vila Rica, no Espaço Fiemg: instrumento pedagógico
As fontes e nascentes
de OURO
PRETO
Estudo na forma de livro, realizado por professores da Ufop em parceria com o Igam, será estendido para os municípios de Mariana, Santa Bárbara e Catas Altas J. Sabiá
redacao@revistaecologico.com.br
“U
m livro abre caminhos. Assim, ele também é rio e, por isso, não é para ficar na estante. Ao contrário, deve correr para longe, propagando a ideia da água como mentora do Ciclo da Vida, cuja memória é por essência navegadora e navegante.” Esse é o recado hídrico que embala o livro “Água e Cultura”, patrocinado pela Samarco e lançado pelo produtor cultural Paulo Lemos, na noite chuvosa de 23 de
março último, nas comemorações do “Dia Mundial da Água”, na sede da Fiemg, em Ouro Preto. Ele é resultado de mais de um ano de pesquisas para a identificação e caracterização das nascentes e fontes de água da ex-Vila Rica do país. Concorrido, o evento também marcou a assinatura de uma carta de intenções entre a mineradora, a Ufop, a Fundação Educativa de Rádio e Televisão (Feop) e a Livraria Graphar para o desenvolvimento desse inventário hídrico
também nas cidades vizinhas e históricas de Mariana, Catas Altas e Santa Bárbara. Seus respectivos prefeitos estiveram presentes e aplaudiram a nova e inédita ferramenta de informação e disseminação de conhecimento que terão para ajudá-los a enfrentar a crise hídrica. No caso de Ouro Preto, já com o diagnóstico e prognóstico da situação ambiental concluídos, o que também será estendido aos municípios vizinhos, a Samarco
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FOTO: REPRODUÇÃO
ESPERANÇA REAL: nascente preservada do Rio das Velhas no Parque Municipal Cachoeira das Andorinhas, em Ouro Preto
lembrando a mensagem do “professor” Hugo Werneck. A solenidade contou com a presença dos professores-autores da Ufop Vera Lúcia Miranda, Alberto de Freitas, Antenor Rodrigues, Adivane da Cosata, Hubert Mathias Peter Roeser e José Francisco. Parte da tiragem inicial será
distribuída, gratuitamente, para as escolas públicas de Ouro Preto. Foi desses estabelecimentos de ensino que saíram os alunos vencedores do Concurso Municipal de Redação sobre o “Dia Mundial da Água”. O texto escolhido para o primeiro lugar a Ecológico reproduz a seguir. Confira!
FOTOS: WASHINGTON ALVES / LIGHT PRESS
anunciou a adoção e recuperação de três nascentes, incluindo a que jorra no Parque Municipal das Andorinhas, onde nasce o Rio das Velhas em direção ao Velho Chico: “Essa é mais uma ação concreta e compartilhada do nosso Programa Positivo em Água, com ganhos para o meio ambiente nos municípios de nossa área de influência, tanto em Minas quanto no Espírito Santo”. Foi o que afirmou o diretor-presidente Ricardo Vescovi de Aragão, vencedor, ano passado, do 'Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza', na categoria “Melhor Empresário”. A publicação não reúne informações somente sobre a situação hídrica de Ouro Preto, como localização, quantidade e qualidade das nascentes. Mas, de forma complementar, traz também dados sobre os usos das fontes e os riscos que afetam cada uma. “Esperamos que este projeto seja um incentivo para os cidadãos da região conhecerem e defenderem suas fontes de águas. Afinal, só podemos preservar o que conhecemos e valorizamos” – ressaltou Paulo Lemos,
PRESENÇAS HÍDRICAS: Presidente da Feop, Ricardo Botaro; diretor de Operações da Samarco, Kléber Terra; reitor da Ufop, Marcone Jamilson Freitas Souza; prefeitos de Mariana, Celso Cota Neto, e de Ouro Preto, José Leandro; Ricardo Vescovi, diretor-presidente da Samarco; prefeito de Santa Bárbara, Leris Braga; diretor de Projetos e Ecoeficiência, Maury de Souza Junior; diretor Comercial, Roberto Carvalho, ambos da Samarco; e Paulo Lemos, editor do livro
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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
FOTO: DIVULGAÇÃO / SEMAE OP FOTO: WASHINGTON ALVES / LIGHT PRESS
"ÁGUA: VIVER SEM ELA?" Luara Aparecida de Jesus (*)
"Estamos vivendo em pleno século XXI. Época de grandes transformações, muitas informações e enfrentamento de sérios problemas ambientais no mundo todo. Mas o foco principal é a escassez de água em Ouro Preto. Aqui, na época em que a mineração estava no auge, século XVIII e XIX, já existia uma certa preocupação quanto ao uso da água. A distribuição era controlada pela administração pública. Muitos moradores podiam construir chafariz em casa para captar água para o consumo doméstico. Porém, a quantidade de água a ser armazenada pelo morador era o poder público que determinava. Era preciso um equilíbrio entre o gasto de água nas residências e na mineração.Nesse período já acontecia a degradação do solo em favor da mineração. Outro exemplo de preocupação com as águas de Ouro Preto em tempos passados é a construção de um coletor das águas de esgoto pela ETE (Estação de Tratamento de Esgoto). É uma construção de grande importância na história do saneamento básico brasileiro. Hoje, a construção se encontra desativada e localiza-se no bairro Barra da cidade de Ouro Preto. As más atitudes dos ouro-pretanos em relação ao solo continuam até hoje. Vários fatores contribuem para a falta de água nesta cidade. A destruição das matas, seja por meio das queimadas ou cortes de árvores, acontecem com frequência. O crescimento de edifícios, construção de estradas e moradias, a poluição do ar, das águas etc., também são prejudiciais para as nossas águas. Tudo isso causa um impacto negativo muito grande no ciclo hidrológico, pois dificultam a absorção da água pelo solo, causando a seca das nascentes. A realidade é triste. Esperávamos que com esta geração muito mais informada e consciente, o problema fosse minimizado, mas percebe-se o contrário. O que é uma decepção e um alerta para que todos nós faça-
LUARA APARECIDA de Jesus Souza, 1º lugar no concurso de redação, recebe o diploma entregue pelo diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi
mos o bem hoje para merecê-lo amanhã. Ouro Preto é uma cidade incrível, que já sofre as consequências das nossas atitudes impensadas. Temos que pensar, agir, calcular... Se deixarmos que tais atitudes permaneçam, a vida das pessoas e da cidade se tornará impossível. A realidade que vivemos hoje na cidade nos alerta para a calamidade que está por vir. Temos que adotar medidas urgentes de economia de água, sem esquecermos de que a nossa mudança de atitude em relação à natureza é que definirá o futuro das águas de Ouro Preto. Sejamos conscientes. Abracemos esta causa. Isso não é difícil. Mais difícil é viver sem a água." (*) Aluna da E.M. Monsenhor João Castilho Barbosa, 1º lugar.
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Toda Lua Cheia
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FOTO: WELCOMIA.COM
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OLHAR INTERIOR
ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA
INTERDEPENDÊNCIA
e for para lamentar o estado do planeta no Dia da Consciente da situação drástica dos ecossistemas Terra, 22 de abril, por favor, coloque sua história e da fragilidade da teia de vida do planeta, da qual em perspectiva. Não é a “nossa casa planetária nós, seres humanos, somos parte intrínseca, os proque está doente”, mas sim toda a cadeia de vida. O Pla- blemas que nos desafiam hoje são ainda mais intineta Terra não é o lugar em que “andamos sobre”, mas midantes. Diante de sistemas políticos e econômicos sim o que somos. A natureza não está fora de mim: a aparentemente inoperantes, poderíamos facilmente natureza sou eu e eu sou ela. Quando bebo um copo de entrar em desespero. Por onde começar? água, em segundos a água se torna parte do meu corpo Cada vez mais e mais pessoas estão fartas de ese do que sou; é possível distinguir a água que pertence perar que as elites econômicas e políticas tomem as à natureza daquela que me compõe e vice-versa? medidas necessárias. Como o escritor e ambientalisTudo que forma o planeta vive em um estado de in- ta norte-americano Paul Hawken aponta em seu livro terdependência perpétua. Quando a China queima “Abençoada Inquietação”, um vasto número de grancarvão para produzir energia, a poluição não permane- des e pequenas organizações não-governamentais ce apenas no céu chinês; nem a radioatividade nuclear (ONGs) está trabalhando pela paz, justiça social e susde Fukushima jaz estagnada apenas em águas costeiras tentabilidade. Esse é um fenômeno social sem antecejaponesas. O mesmo é verdade para a dentes: é como se as organizações de humanidade em geral e todo o resto base estivessem “emergindo” da terra “Se você não se do mundo natural: quando os ecospara agir como seu sistema imunológipreocupa com a sistemas da Terra tornam-se doentes, co, respondendo ao câncer que agora todos nós adoecemos – seres humavida na Terra, com ameaça a nossa sobrevivência. nos, animais, água, solo e ar. De fato, “A solução é partir para a ação”, diago que você se a crise ecológica é também uma crise nostica a ativista ambiental Joanna espiritual, por meio da qual somos deMacy, facilitadora do seminário “O Traimporta então?” safiados a perceber nossa interdepenbalho que Conecta”, destinado a ajudência. O que o planeta Terra parece estar a nos dizer é dar as pessoas a desenvolver a clareza e a estabilidade “acorde ou saia do meio do caminho”. emocional necessárias para tomar parte na cura da E. O. Wilson, renomado biólogo de Harvard, pre- Terra. “Muitas pessoas não se envolvem na solução dos vê que até o final deste século metade das espécies problemas mundiais, porque há tantas questões difede plantas e animais da Terra estará extinta, ou tão rentes que parecem competir entre si. Devo salvar as enfraquecida, que certamente irá desaparecer logo baleias ou ajudar as crianças maltratadas? A verdade é depois. Os cientistas afirmam que houve pelo menos que todos os aspectos da crise atual refletem o mesmo cinco outros eventos de extinção na história da Terra, erro: como se nós e todos os desafios não fizéssemos mas este é o mais rápido e o único causado pela ativi- parte da mesma cadeia de vida. A cura de um aspecto dade de uma espécie em particular: nós. ajuda no tratamento de outros também”, explica. A jornalista norte-americana Elizabeth Kolbert, do Envolva-se! Descubra com o que você ama trabalhar jornal “The New Yorker”, vai além. Em seu livro “A Sexta e se ponha em ação com alegria. Mas nunca tente faExtinção: Uma história antinatural”, ela argumenta que zer isso sozinho. Articule-se com os outros e pratique estamos vivendo uma nova época de tempo geológico interdependência: um estimula ideais nos outros e toque deve ser chamada “antropoceno”, já que será de- dos sustentam a energia do grupo! finida pelo impacto humano sobre o planeta. Por que devemos nos preocupar? Kolbert responde a essa pergunta com outra melhor: “Se você não se preocupa com (*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação. a vida na Terra, com o que você se importa então?”.
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FONTE: The Buddhist Review ‘Tricycle’, vol. XXIV, n˚ 3, spring 2015.
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Há 1 ano levando até você informações e novidades do mundo esportivo.
Foto: Marcos Figueiredo
segunda a sexta, às 19h15
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FOTO: SANAKAN FIRMINO
Projeto Clubes Unidos pelo Planeta
O RECADO DO REI: "É preciso liberarmos também o nosso grito em defesa do planeta"
O REI É VERDE Maior artilheiro de todos os tempos do Atlético, Reinaldo Lima é o mais novo apoiador e participante do projeto “Clubes Unidos pelo Planeta”, da Ecológico Déa Januzzi
redacao@revistaecologico.com.br
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mente para a Savassi com o pai e a irmã Maria Vitória, também ama estar junto da natureza. Acha que a participação de Reinaldo vai encontrar eco nas torcidas de todos os times, afinal, ele é o “Rei”. Apesar de reconhecer que o ser humano está cada dia mais agressivo e que não respeita a natureza, Rei declara: “É como agredir a nossa mãe, pois a natureza oferece tudo de graça, de ‘mão beijada’. Mesmo assim, o ser humano se sente superior, quer impor a sua vontade, desconsiderando todos esses valores que são da própria natureza”. Reinaldo não tem um lugar secreto junto ao meio ambiente. “Quando vou para o Vale do Sol, onde ainda tenho uma casa, gosto de tudo, me refaço. Gosto de andar no meio da bruma ao amanhecer, de por os pés nas águas geladas do riacho, do cheiro do mato. Gosto dos cheiros e dos sons da natureza, do vento, do canto dos passarinhos. É incrível ficar atento aos barulhos da natureza.” E olha que Reinaldo nunca derrubou uma árvore: “não corto nem os matinhos nem as ervas daninhas. Só aparo a grama”. Na casa em Nova Lima, tem 200 metros de frente só de jardim, com flores de todos os tipos, perfumes e cores em profusão. É como um altar para ele, que professa a sua fé no esplendor da natureza. FÃ ESPECIAL Entre tantos admiradores que fazem questão de chegar perto de Reinaldo, uma em especial chama a atenção. Conceição Lima Leonel tem 95 anos. Lúcida, ativa, ela é atleticana a ponto de colocar o relógio para despertar quando o Galo joga de madrugada, por exemplo, na Copa Libertadores. Queria, de qualquer jeito, ir para Marrocos.
ARTILHEIROS DO ATLÉTICO Reinaldo – 255
Dadá Maravilha – 211
Mário de Castro – 195 Guará – 168 Lucas – 152
FOTO: AGENCIA O GLOBO
E
ncontrar Reinaldo Lima, o “Rei”, lá pelos lados da Savassi, é comprovar que a torcida do Clube Atlético Mineiro (CAM) é fiel aos seus ídolos. A todo o momento, a entrevista é interrompida por um fã que quer tirar fotos com o maior artilheiro do Galo de todos os tempos. Reinaldo atende a cada um com muito afeto, para um autógrafo, uma foto, uma conversa, um abraço. “Por onde passa, sempre há um súdito reverenciando, bem agradecido e com sincera alegria, o rei de todos os atleticanos”, lembrou Daniel Gomes, vizinho no prédio de Reinaldo e editor do caderno de Esportes do jornal Estado de Minas por muitos anos. Por essa e tantas outras razões, Reinaldo foi escolhido pela Revista Ecológico para também representar o Atlético na campanha “Clubes Unidos pelo Planeta”. Se vocês pensam que Reinaldo só entende de futebol, enganam-se. Ele morou por 20 anos em Nova Lima, onde tinha um campo de futebol com 30 mil metros quadrados, na divisa com a Reserva Florestal da Vale. E ainda tem uma casa, rodeada por um bosque com água, nascentes, árvores, grutas, flores e animais. “A natureza é um ambiente sagrado, dá força e energia para quem tem o privilégio de desfrutá-la”, ele ressalta. Enquanto garante que a campanha da Revista Ecológico vai chamar a atenção dos torcedores, chega à mesa a filha de Reinaldo, de 18 anos. O nome dela? Nina Flores Souza de Lima. Depois de apresentá-la, Rei confessa: “Ela é parte da minha natureza”, e recebeu o nome de Nina Flores “porque nasceu lá no meio do mato, onde o verde e a beleza das flores dão o tom”. Nina, que se mudou recente-
Depois de autografar a camisa do Galo para dona Conceição, Reinaldo ficou sabendo que ela apoia a campanha da Revista Ecológico, porque acha que o mundo está muito violento. “Uma vez, resolvi ir ao campo ver o Galo jogar e quase fui pisoteada. Não volto nunca mais.” Sobre a natureza, ela é categórica: “Acho que não tem conserto mais não, estamos sem esperança. Tudo o que a gente come hoje está contaminado com veneno, tem agrotóxico e antibiótico na carne, nas frutas e nas verduras. É difícil demais”, diz ela, que confia na força do ídolo Reinaldo, “que já deu muita alegria para a torcida. Espero que o apelo do Rei em defesa do planeta chegue até o coração de todos”. Para Rei, que tem cinco filhos (dois homens e três mulheres), todos devem participar do projeto “Clubes Unidos pelo Planeta”. “É preciso liberar o grito em defesa do
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Projeto Clubes Unidos pelo Planeta
HISTÓRIA DE GOLEADAS De 1971 a 1986 foram 255 gols, em 475 partidas. Oito títulos oficiais. Maior artilheiro do Clube Atlético Mineiro (CAM) de todos os tempos. José Reinaldo de Lima nasceu no dia 11 de janeiro de 1957, em Ponte Nova (MG). Em 1971, com apenas 14 anos, o seu talento precoce chamou a atenção do treinador da equipe juvenil do AtléticoMG, que o levou para fazer um teste contra o time profissional do Galo, que era o campeão brasileiro daquele ano. A habilidade com a bola impressionou todos naquele dia e rapidamente ele assinou contrato com o clube. Apenas dois anos depois, aos 16 anos, Reinaldo já disputava o seu primeiro campeonato brasileiro pelo time profissional do Atlético-MG. Desde a sua estreia foi considerado uma das maiores revelações do futebol brasileiro e mais tarde aclamado como um dos mais talentosos jogadores de futebol de todos os tempos. Quebrou recordes vestindo a camisa do Galo e foi coroado como “Rei” pela torcida, uma das mais apaixonadas do país. Logo chegou à Seleção Brasileira, com a qual disputou a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Mas somente aqueles que acompanharam a trajetória de Reinaldo nos gramados de Minas, do Brasil e do mundo podem se considerar privilegiados por terem visto, ao vivo, os fantásticos lances e gols que fizeram de José Reinaldo de Lima um autêntico mago, um grande artista popular, um malabarista. Não apenas pelos gols, a maioria antológicos, concretizados de todas as formas possíveis: de pé direito, de pé esquerdo, de cabeça, de bicicleta, de letra, de calcanhar, de “peixinho”, de “lençol” nos goleiros rivais; mas, também, pelos dribles mágicos, com os quais fazia ruir os zagueiros, muitos deles em campo com um só objetivo: chutar os joelhos do craque. A cada drible, a cada gol, a multidão explodia numa só voz: “Rei, rei, rei, o Reinaldo é nosso rei”. E assim é até hoje. E sempre será.
planeta, que tem de ecoar, reverberar.” Para quem conhece a força de um outro grito, “Rei, rei, rei, o Reinaldo é o nosso rei”, está na hora de todos se juntarem em defesa da Mãe Terra e cuidar melhor dela, para que haja chance de vida no futuro. Reinaldo já comprovou a for-
ça que um ídolo de futebol tem, quando levantava o braço direito a cada gol que fazia. Em plena ditadura militar, o braço erguido era um sinal de protesto, que ficou marcado na história do futebol. Agora, Reinaldo, é a sua vez de erguer a voz pela natureza!
FAÇA PARTE DESTA CAMPANHA!
Sensibilizar os jogadores e as torcidas organizadas a abraçarem e divulgarem a causa ambiental. Esse é o objetivo do projeto “Clubes Unidos pelo Planeta”. Uma ação realizada pela Revista Ecológico, e que conta com o apoio dos três maiores times mineiros: América, Atlético e Cruzeiro. Nomes como os dos jogadores Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Obina já apoiaram a causa durante suas passagens pelos clubes de Minas. Sob o lema “Eu visto esta camisa. Sou Ecológico”, a ideia é que o tema sustentabilidade faça parte do grito de torcida e provoque, assim, uma mudança de comportamento. Para isso, bastará todo e qualquer torcedor acessar a expressão “Sou Ecológico”, na web, para saber como anda a situação ambiental à sua volta. E o que ele pode fazer, como cidadão conscientizado, pela preservação da natureza e a melhoria da sua qualidade de vida. Foi graças à união dos times mineiros nos governos Hélio Garcia e Sérgio Ferrara que suas respectivas torcidas, quando perdiam os jogos, deixaram de destruir até 78% do total de árvores que a prefeitura da capital mineira plantava sistematicamente ao longo das avenidas Catalão e Antônio Carlos. O torcedor que quiser ganhar o novo e ecológico adesivo do seu clube preferido é só entrar em contato conosco! Contato: Janaína Ribeiro (31) 3481-7755
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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br
POR QUE AMO O
O
ATLÉTICO
Clube Atlético Mineiro (CAM), ou melhor, Galo, para mim tem quatro nomes sagrados, tatuados na pele do meu coração: Guará, Reinaldo, Roberto Drummond e Gabriel. Ah, preciso abrir um parêntesis. Ontem, quando eu estava redigindo esse texto, tive uma dúvida se coração tem pele. Mesmo com licença poética, enviei uma mensagem para o meu amigo e cardiologista Marcus Vinícius Bolívar Malachias. Mesmo com a agenda cheia, ele parou e me respondeu. E disse: “Coração tem uma película que se chama pericárdio, mas não é bem uma pele. Mas que tal dizer que seu coração em vez de tum-tá, tum-tá, bate Ga-lo, Ga-lo”. Fecho parêntesis. Primeiro tenho que falar sobre Guará, meu pai, que até hoje é o quarto maior artilheiro do Galo, depois de Reinaldo, Dario e Mário de Castro. Com 168 gols. E olha que jogou pouco tempo, até aquele trágico quatro de junho de 1939, quando Atlético e Palestra Itália (hoje Cruzeiro) se enfrentavam pela segunda rodada do campenato da cidade. Um dia que marcaria o final de uma carreira brilhante, o dia em que a estrela do centroavante Guará se apagou – e ele teve que se afastar, definitivamente, dos campos de futebol. Vítima de traumatismo craniano, nunca mais pôde jogar, apesar das muitas tentativas. Ele não era mais o mesmo. Tinha receio de pisar no gramado, depois de disputar aquela bola, de cabeça, com Caieira. Mas o homem que cantava tangos de Carlos Gardel ao telefone para a sua amada, de nome Amélia, sobreviveu aos caprichos da fama. Conviveu com os percalços da vida, soube driblar as dificuldades e amarguras. Tocou a bola para a frente. O ídolo virou pai, cidadão do bem, que ensinou aos filhos conceitos de generosidade, solidariedade e respeito. Nasci muito tempo depois daquele acidente, não o vi jogar, mas convivi com o pai Guaracy Januzzi. Sabia que o nome de Guará abria portas. Conheci a história de um “astro que parou de brilhar no velho engaste azul do firmamento, onde vive e viverá a saudade”, como disse Ary Barroso, seu conterrâneo em Ubá, no prefácio do livro “Vida de Glórias e Sacrifí-
cios”, escrito pelo jornalista Antônio Tibúrcio Henriques, que em segunda edição mudou de nome; “Perigo Louro”, o apelido daquele menino franzino, loiro de olhos verdes, que fazia a rede tremer com gols apoteóticos. A “fama teve inveja de Guará”, disse Ary Barroso. Que bem poderia repeti-la com Reinaldo, o Rei, o primeiro e único artilheiro do Galo de todos os tempos. Posso dizer que sou amiga do Rei, um guerrilheiro do futebol, eternizado e respeitado pelos gols e pelo gesto do braço direito para cima, com o punho fechado, em plena ditadura. A cada gol, um gesto de protesto. Admiro Reinaldo desde que o escritor, jornalista e meu mestre Roberto Drummond escrevia sobre aquele menino do baby-craque. Em crônicas, Roberto acompanhou Reinaldo em toda a sua trajetória no futebol, da glória aos problemas no joelho que o tiraram para sempre do gramado. Mas Reinaldo continuou rei em meu coração. Andar com ele pelas ruas da cidade é ver que os torcedores do Galo jamais esquecem seus ídolos. Todos continuam a chamá-lo de “Rei, rei, reiiiiiii”, igualzinho ao grito de guerra que marcou a sua bela trajetória no gramado, porque o atleticano é assim: “Se houver uma camisa branca e preta, pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”, uma das frases de Roberto Drummond que virou uma espécie de hino do Atlético. Meu mestre no jornalismo, Drummond fez literatura da crônica esportiva e desburocratizou os textos. O “Ser Atleticano” dele é digno de ser repetido mil vezes. Sempre repito, como uma oração: “O atleticano é diferente de qualquer outro torcedor. É diferente, pois não se restringe a ser somente torcedor. Ser atleticano é como casamento. Na saúde e na doença. Nas alegrias e nas tristezas. Mesmo quando a doença parece não ir embora. E as tristezas teimam em permanecer. O atleticano é capaz de após uma derrota humilhante pegar a camisa no armário e sair às ruas, mesmo sendo alvo de piadas. Isso porque o atleticano não torce por um time. Torce por uma nação.” Parêntesis final: e o meu outro ídolo atleticano, com sangue preto e branco, é meu filho Gabriel, que a cada vitória ou derrota do Atlético, repete o grito de uma paixão ancestral: “Galooooô”. E ri com os olhos e o coração.
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cris carneiro está no jornal hoje em dia. Viva a informação.
Experimente o jornal Hoje em Dia. Impresso, mobile, iPad e digital para você viver a informação o tempo todo. Tudo com os melhores colunistas de Minas: Boris Feldman, com o Auto Papo, Eduardo Avelar, no caderno de Gastronomia e Cris Carneiro, com o caderno Bela.
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL
FÁBRICA DE Ao completar 10 anos, o “Programa Árvore da Vida”, da Fiat Chrysler Automobiles, mostra as transformações sociais em comunidade de Betim Déa Januzzi
redacao@revistaecologico.com.br
trabalho e renda, fortalecimento da comunidade e ações socioeducativas. Oficinas de canto coral, percussão, cursos de empreendedorismo e de qualificação profissional, formação de educadores,
suporte psicossocial a famílias e até uma cooperativa de moda sustentável, que transforma materiais automotivos em produtos como bolsas, fazem parte das atividades do “Árvore da Vida”. FOTO: DIVULGAÇÃO / FIAT CHRYSLER
E
ram dois reinos vizinhos que não se comunicavam. Um olhava para o outro e mais nada. De um lado, a fábrica da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), no município de Betim, Região Metropolitana de BH, com seu burburinho de peças automotivas se encaixando freneticamente nos automóveis em produção. Do outro, o bairro Jardim Teresópolis, com suas carências e vulnerabilidades – desemprego, violência, drogas, conflitos familiares, falta de escolas, de transporte, pouca ou nenhuma assistência do poder público. Vizinhos, mas historicamente estranhos um ao outro. Até que a FCA acordou e ergueu uma ponte entre os dois reinos: o “Programa Árvore da Vida”, que completou 10 anos de existência, no Bairro Jardim Teresópolis, em Betim, com projetos voltados para geração de
FÁBRICA da FCA, em Betim: estímulo à cultura e ao empreendedorismo local 76 ECOLÓGICO | ABRIL/MAIO DE 2015
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A APRESENTAÇÃO do espetáculo "Do Outro Lado", do Grupo Ponto de Partida, marcou os 10 anos de existência do projeto
FOTO: DIVULGAÇÃO
momento, e Claudinéia Alvarenga da Silva, de 44 anos, que do lado de lá fazia faxina em casas, sem saber o que seria de sua vida, com cinco filhos para criar sozinha. Com a participação no “Árvore da Vida”, ela deu um salto. Passou a ser presidente da Cooperárvore, a cooperativa de mulheres do bairro que faz moda com os rejeitos dos automóveis da FCA. SEU BENÉ: braço forte
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
FOTO: DIVULGAÇÃO / FIAT
Na construção dessa ponte, as peças fundamentais são as histórias de vida, protagonistas sociais que se atreveram a sonhar com dias melhores para os moradores de um reino que vivia trancado nas próprias dificuldades. Nomes como Benedito Rocha Martins, de 74 anos, mais conhecido como “Seu Bené”, que foi a estrutura da ponte, o braço forte do primeiro
FOTO: KIKA ANTUNES
DE SONHOS
CLAUDINÉIA SILVA: um novo futuro JARDIM TERESÓPOLIS: cenário social melhor induzido pela empresa ABRIL/MAIO DE 2015 | ECOLÓGICO 77
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FOTO: MARCOS TAKAMATSU
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A PARTICIPAÇÃO de crianças e adolescentes nas oficinas de arte e cultura oferecidos pelo "Árvore da Vida" têm estimulado a participação escolar e contribuído positivamente para um melhor nível de formação
Reconhecido por órgãos internacionais como a ONU e com número de beneficiados que já passa dos 21 mil, é quase um pecado citar nomes, pois muitos são personagens dessa história. “Essa é uma árvore que cresce e oferece sua sombra a todos os que queiram experimentar seus frutos. Em 10 anos, uma árvore cresce o suficiente para alcançar muitos corações com suas raízes. De cima de seus galhos é possível enxergar novos horizontes e deles lançar muitas sementes. Seguimos cuidando dessa árvore, alimentando-a com a terra fértil do sonho, do desejo e da vontade de ir além”, dizem, em uníssono, os participantes do projeto, que florescem a cada dia. DO LADO DE LÁ A história dos dois reinos se transformou no espetáculo “Do Outro lado”, em comemoração à primeira década de atividade do “Árvore
Os adolescentes de 11 a 18 anos que participam ou participaram do programa têm 3,6 vezes mais chance de continuar a estudar e 4,8 vezes maior probabilidade de ter curso superior da Vida”, em parceria com o Ponto de Partida, grupo teatral de Barbacena (MG), que é referência no país por somar elementos do teatro à educação, cidadania e valorização da cultura regional. No palco do Teatro Bradesco, em Belo Horizonte, em apresentação única no dia três de março, 28 jovens do “Árvore da Vida” atuaram junto com a trupe do Ponto de Partida. Quem estava no teatro silenciou diante de tanta beleza. As 17 músi-
cas escolhidas pela trupe do Ponto de Partida abraçaram os presentes calorosamente. A plateia se encantou. Só da comunidade do Jardim Teresópolis estavam 200 representantes, que cantaram, se emocionaram com o espetáculo da história de suas vidas. Tiradas do folclore italiano, de Cartola, em “Ensaboa”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, em “Ponta de Areia”, de Milton e Ronaldo Bastos, em “Circo Marimbondo”, e de Gilvan e Fernando Brant, em “O Beco” e “Canto a Gaivota”. O pot-pourri não podia ser melhor, terminou com “Coração Civil”, de Milton Nascimento. “Não importa o lado que estamos, não importa o reino que habitamos, somos cidadãos planetários atados uns aos outros pela nossa frágil condição humana. Então, porte sua bandeira. Tome lugar em nossa fileira. Lutamos para romper as barreiras, construir
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um espaço sem territórios demarcados. Um mundo sem fronteiras, onde a palavra de ordem é ser feliz”, afirmou Regina Bertola, diretora do Ponto de Partida. A criação do roteiro e a preparação do elenco somaram mais de quatro meses. A primeira etapa foi a realização de entrevistas para a descoberta de um Jardim Teresópolis que poucos conhecem, com histórias surpreendentes de pessoas que foram beneficiadas pelo projeto e que, com simplicidade e união, movimentam-se para construir sonhos e vencer desafios. Da memória dos moradores para o palco, essas histórias tiveram como fio condutor as canções interpretadas pelos alunos do “Árvore da Vida”, que participaram das oficinas de técnica vocal e preparação corporal, além de intensos ensaios. A ideia foi mostrar que todos podem e devem contribuir para melhorias sociais. “Os problemas são de todos, é algo coletivo. É uma questão humana e, por isso, não é preciso esperar, necessariamente, uma única solução”, disse Regina. Para ela, que se apaixonou pelo programa, “há histórias tão verdadeiras que até parecem de mentira.” Além da pesquisa e preparação dos jovens, que contou com a participação do Grupo de Dança 1º Ato e da cantora Babaya, o Ponto de Partida inovou com o uso de cintos de segurança no figurino. Os estilistas do grupo buscaram inspiração na experiência com as artesãs da Co-
DNA COMPATÍVEL “O encontro entre a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e o Jardim Teresópolis concretiza uma decisão estratégica da empresa totalmente compatível com nosso DNA: a busca de um modelo sustentável de negócios, apoiado nos pilares econômico, social e ambiental. De fato, não há como dissociar a empresa da sociedade. Cada vez mais atribui-se às corporações o papel de geração de novas oportunidades. Tão importante quanto os resultados econômicos é a forma como o alcançamos e o legado que deixaremos para as futuras gerações. Este modelo de negócio tem conduzido a FCA a percorrer uma trajetória marcada pelo pioneirismo e pela evolução. Somos um grupo com presença internacional e o estímulo ao desenvolvimento do conhecimento e ao compartilhamento de informações e experiências propicia a multiplicação de boas práticas que, somadas, têm sido responsáveis por manter o grupo em destaque entre as empresas sustentáveis. Reconhecido internacionalmente por seus resultados positivos, o 'Árvore da Vida' está longe de ser um programa assistencialista que cria dependência: ele está apoiado sobre os valores fundamentais da cidadania e da autonomia.”
FOTOS: DIVULGAÇÃO / FIAT CHRYSLER
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
O aumento no índice de aprovação escolar de alunos que participam dos projetos do “Árvore da Vida” é um dos exemplos do sucesso do programa
CLEDORVINO BELINI, presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina “Nesses 10 anos, o programa ‘Árvore da Vida’ reuniu histórias de pessoas que tiveram suas vidas transformadas, guiadas pelo desafio de que sempre podemos modificar e melhorar a sociedade em que vivemos se agirmos coletivamente.” MARCO ANTÔNIO LAGE, diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da FCA para a América Latina
operárvore, cooperativa de moda sustentável e que também faz parte do “Árvore da Vida”. ATORES SOCIAIS Quem estava muito bem dentro do figurino – e não cabia em si no palco – era Gabriel Ferreira de Sá, de 15 anos, um dos jovens selecionados para participar do espetáculo. Há quase quatro anos, ele pratica canto coral no “Árvore da Vida”, fato que o motivou a estudar música ainda mais. “Desde os
cinco anos já cantava em igrejas no meu bairro, mas a técnica vocal aprendi foi no Árvore da Vida”, diz Gabriel, que já participou da gravação de dois CDs do programa e cantou ao lado do tenor italiano Andrea Bocelli em um show há quatro anos. Filho de pai pintor e mãe passadeira, Gabriel era um jovem tímido até conhecer o “Árvore da Vida”. Estudante do segundo ano do ensino médio, ele quer seguir em frente com a música, teatro e como modelo.
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1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CONEXÃO TERESÓPOLIS A partir de agora e nos próximos 10 anos, o programa “Árvore da Vida” terá um sistema de monitoramento dos indicadores sociais permanentemente atualizados. A “iniciativa inédita”, segundo o coordenador do programa Luiz Guilherme Gomes, foi realizada em parceria com a empresa paulista Kairós, “para que a gente possa continuar monitorando, com precisão, as demandas do bairro Jardim Teresópolis. Ao longo dos anos, vamos mapear o resultado das políticas públicas, dos investimentos das empresas privadas e das instituições parceiras, em análise permanente de como cada um poderá contribuir para melhorar ainda mais os indicadores sociais conquistados até agora”. Luiz Guilherme dá um exemplo: “Se um vereador chegar ao bairro dizendo que quer investir em uma escola, vamos apontar quais necessitam de mais investimentos e como fazer. Não haverá gasto de dinheiro à-toa”, constata. O “Projeto Conexão Teresópolis” definirá as prioridades em educação, segurança, lazer e cultura, integração entre as vilas, formação profissional, emprego, sustentabilidade, entre outras demandas do bairro. Conheça alguns dos indicadores sociais dos últimos anos e que continuarão a ser mapeados:
No outro lado estava também Ingrid Isabel da Silva, de 14 anos, que se empenhou nos ensaios e deu um show como cantora no palco do Teatro Bradesco. Para Ingrid, o “Árvore da Vida” é uma conquista da comunidade, principalmente dos jovens. “O Árvore nos oferece atividades, levando mais educação e oportunidade de empregos para a região”, completa Ingrid. Ela confessou que antes de
participar do projeto vivia nas esquinas do bairro com suas amigas “fazendo nada”. Na plateia, dava para perceber os olhos de Benedito Rocha Martins brilhando no escuro. Afinal, o convite e a ida ao espetáculo foram surpresa para o “Seu Bené”, que não sabia de nada até chegar ao teatro. Personagem fundamental na criação do programa, foi o primeiro a dialogar com a Fiat Chrysler
Automobiles e a convocar os moradores do bairro, onde mora há 35 anos, para as reuniões numa das salas da Igreja São José Operário. “Eles me enganaram direitinho. Não entendia porque o pessoal da Fiat estava tão empenhado para que eu fosse ao espetáculo.” Mas foi apenas por um instante. Desde o discurso do presidente da FCA, Cledorvino Belini, Bené foi citado e homenageado. Ele
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quase ficou grudado na cadeira de tanta emoção. Outra que chorou quando se viu representada no palco, sem que fosse citado o seu nome era Claudinéia Alvarenga da Silva. De vestido vermelho, toda produzida e maquiada, ela não conteve o choro ao ver a sua história encenada. Afinal, hoje ela é outra pessoa. De faxineira a presidente da Cooperárvore, do aluguel para uma casa própria, do bairro Jardim Teresópolis para viagens à Itália, onde expôs com outras cooperadas a moda feita com rejeitos automotivos. Circulando entre os convidados para a grande festa de comemoração dos 10 anos do “Árvore da Vida”, Claudinéia é a prova de que o protagonismo feminino pode mudar a vida de qualquer uma. “Achei que iria passar o resto da minha vida como faxineira, mas olha só. Hoje, sou outra pessoa, mudei tudo, até o jeito de vestir, de conversar, de me enfeitar. Foi uma injeção de autoestima”, disse. RAIO X DO FUTURO Não pensem que o programa vai se contentar a apenas celebrar suas conquistas nesses 10 anos. Para reforçar o compromisso com o desenvolvimento social do Jardim Teresópolis, a FCA já está pen-
EM
2012, o “Programa Árvore da Vida” – Jardim Teresópolis foi eleito uma das 50 melhores práticas brasileiras que contribuem com os Objetivos do Milênio no “Prêmio ODM Brasil” pela Presidência da República em parceria com o Programa Nacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
Para reforçar o compromisso com o desenvolvimento social do Jardim Teresópolis, a FCA já está fazendo um planejamento estratégico empresarial, adaptado ao cenário social, para contemplar os próximos dez anos
OUTROS BONS FRUTOS
O
SALTO obtido no índice de aprovação escolar de alunos que participam dos projetos do “Árvore da Vida” é um dos exemplos do sucesso do programa. Em 2004, 84% dos alunos do programa concluíam o ano escolar. Em 2013, esse percentual chegou a 99%.
OS
ADOLESCENTES de 11 a 18 anos que participam ou participaram do programa têm 3,6 vezes mais chance de continuar a estudar e 4,8 vezes maior probabilidade de ter curso superior. A renda média doméstica entre as famílias com membros beneficiários do “Árvore da Vida” teve crescimento superior a 100% entre 2004 e 2013. No mesmo período, nas famílias que não tiveram membros beneficiários do programa, a renda média cresceu em menor proporção: 63,5%; de R$ 944,87 para R$ 1.545,27.
sando no futuro. “Como será o Jar- xime ao máximo do desejado”, exdim Teresópolis daqui a 10 anos? plica Luciana Costa, coordenadoSe você pudesse viajar no tempo ra de Relações com a Comunidade até 2024, o que acha que veria?” e Sustentabilidade da FCA. Para responder a essas perguntas E o futuro já está acenando para sobre o futuro da região, o grupo o “Árvore da Vida”, que começa o se reuniu em cinco workshops nos ano com um novo projeto de sua meses de julho e agosto de 2014. sede, na Rua Duque de Caxias, BairEm parceria com a equipe de ro Jardim Teresópolis. O arquiteto Inovação da FCA, foi aplicada uma Gustavo Penna doou o projeto da metodologia de planejamento es- casa. “É uma varanda, aberta, genetratégico empresarial, adaptada rosa, tropical como um coração de para um cenário social. “O exer- mãe. Basta entrar para ver. Todas as cício de desenhar o futuro, ou ce- escadas dão para a varanda que é o nários possíveis para esse futuro, espaço de convivência da comuniajuda a comunidade a se preparar dade”, conta o arquiteto. para ele, a orientar as escolhas que SAIBA MAIS deve fazer no presente e entender a importância de agir agora, para www.fiat.com.br/sustentabilidade www.cooperarvore.com.br que a realidade em 2024 se apro-
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GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
INOVAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE
N
ed Ludd, se é que existiu, está de volta em sua pior forma. A esse personagem simbólico atribui-se o início do Ludismo, movimento que, resumo rasteiro, inspirou a quebra de máquinas na Inglaterra do início do século XIX, à guisa de impedir que a tecnologia prosperasse. O que queriam, penso, não era barrar a tecnologia, mas fazer com que ela produzisse bem-estar para todos. Convenhamos, debate antigo, debate profundo, debate correto. Ao “ludismo” de hoje, eu atribuo a falsa vontade de inovar. E decorre daí um país que começa a falar mais que fazer, forma bem mais eficaz de barrar o verdadeiro avanço da sociedade. Falar muito sobre um tema é jeito de impedir que prospere. Fale na cabeça das pessoas 24 horas por dia sobre qualquer coisa, carnaval, natal, Papai Noel, coelho da páscoa ou o time favorito, e o resultado é garantido: chega logo o dia em que não se quer mais ouvir e os ouvidos se fecham, devidamente acompanhados de mãos que já não tomam iniciativa na matéria precocemente esgotada. O Brasil da crise é o Brasil da inovação, palavra que, de tanto ser dita, desperta sentimentos de temor e ódio nas empresas. Para alguns, inovar é para quando temos dinheiro de sobra e argumentam que a hora não é agora. Para os tementes, é desemprego. E, para outros, é matéria para poucos e preferem seguir a manada, como cães seguem seus donos. Para estes, doutos senhores, inovar é tema central, tão central e tão importante que é preciso criar seto-
TECH NOTES l O que foi o Ludismo
http://goo.gl/Ismgg0
l Tempos de crise são inspiradores para inovar
http://goo.gl/x8Lryt
res inteiros nas organizações para cuidar dele, falar dele, debater à exaustão e que só se tome decisão final muito depois de uma dúzia de viagens para lugares agradáveis, muita discórdia e quase nenhum projeto concreto, tudo isso acompanhado por orçamentos polpudos a serviço de sermos “chics”: nossa empresa tem uma superintendência de inovação! Eita coisa bonita, sô! Agora vamos falar sério. Chega de tanto discurso de inovar. Chega de políticas públicas para inglês ver. Em tempos de crise, inovar é imperativo e a liderança da inovação cabe às empresas que podem fazê-lo, dispõem de recursos para isso e precisam fazer girar a roda da criatividade útil. Temos no Brasil um exército de pequenas e médias empresas, startups ou não, capazes de fazer prosperar projetos efetivos para a melhoria da qualidade de vida. Milhões são gastos pelos clientes todos os anos para discutir a melhor tecnologia a usar em cada novo projeto e isso é recomendável, mas não é recomendável passar da conta, gastar mais dinheiro com o pasto do que vale o leite ordenhado, sobretudo se quando, crescido o capim, estiver morta a vaca. Minha conclamação é para que sejamos um país mais ligeiro. Com crise ou sem ela, já falamos o que chega e é preciso inovar de forma genuína. Aqueles que comandam empresas precisam estar atentos a isso. São eles os que poderão, pelo artifício do novo, criar um mundo melhor como já se fez em países de primeira. Não fechemos as portas de nossas fábricas, temendo que os luditas batam e destruam o que construímos. Melhor que isso, abramo-las! Assumamos o controle da verdadeira nação, aquela onde o novo é parceiro da qualidade de vida, para mim, para você, para todos. Aquela capaz de enfrentar de peito aberto a burocracia medíocre dos ludistas contemporâneos que não usam porretes, mas ideias para parar o mundo. Enquanto ficamos temendo, eis que batem fortemente à porta: toc, toc, toc! Quem será? (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - PLÁSTICOS
DESCARTE CORRETO É
DESAFIO Considerado uma das mais importantes invenções da humanidade, o plástico tem forte presença em nosso cotidiano. No Brasil, potencial ambiental e econômico desperdiçado com destinação incorreta gera perdas estimadas em bilhões Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
O
plástico está presente há tempos em nosso cotidiano e sem ele, certamente, não teríamos uma série de avanços e facilidades. Mas, para que a vida no planeta seja possível no futuro, é preciso buscar sempre novas formas de produzir e, principalmente, de administrar os impactos do seu consumo. Os problemas causados pelo plástico – como o entupimento de bueiros nas cidades e a morte de animais nos oceanos – são consequência da destinação incorreta ao fim do ciclo de vida de produtos consumidos em larga escala, como garrafas e sacolas plásticas. Portanto, entre as iniciativas para reduzir os impactos sobre o meio ambiente estão tanto a melhor utilização dos plásticos na concepção e confecção de produtos quanto a adoção da coleta seletiva e da destinação final mais eficientes, associadas à reciclagem no pós-consumo. Segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), 21,7% dos plásticos foram reciclados no Brasil em 2011, o equivalente a
953 mil toneladas/ano. Ainda em 2011, a campeã na reciclagem mundial de plásticos foi a Suécia (53%), seguida da Alemanha (33%), Bélgica (29,2%) e Itália (23,5%). Infelizmente, o plástico é um dos materiais mais encontrados em aterros sanitários e lixões. O potencial ambiental e econômico desperdiçado com essa destinação inadequada gera perdas estimadas em R$ 5 bilhões/ano. E mais: entre 500 bilhões e um trilhão de sacolas plásticas são consumidas em todo o mundo anualmente. Só no Brasil são distribuídas cerca de 1,5 milhão de sacolinhas por hora! REDE DE APRENDIZAGEM Atento à importância de disseminar novos valores e hábitos de consumo consciente – inclusive do plástico –, o Instituto Akatu, com sede em São Paulo, vem fortalecendo a cada dia as atividades de sua rede de aprendizagem gratuita, o Edukatu, lançado em 2013. O objetivo é incentivar a troca de conhecimentos e de práticas entre professores e alu-
nos do ensino fundamental de escolas em todo o Brasil. Com informações didáticas e diversificadas, o Edukatu oferece circuitos educativos cheios de desafios, vídeos, reportagens e planos de aula, além de jogos e atividades lúdicas. Para participar, basta acessar o site do instituto e se cadastrar (leia mais a seguir). Há, ainda, uma comunidade virtual para troca de ideias com os participantes de outras escolas. Um dos materiais em destaque na plataforma é: “Como era, como ficou, como será”, mostrando os caminhos percorridos pelo plástico desde a primeira menção feita à borracha natural, em 1550, até as perspectivas para 2030, em relação à exploração das reservas de petróleo do pré-sal brasileiro. INVENÇÃO INGLESA Considerado uma das mais importantes invenções da humanidade, o plástico é resultado de pesquisas e experimentos químicos. O inglês Alexander Parkes (1813-1890) produziu o primeiro plástico em 1862. Ele
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queria encontrar um Plástico: ENTENDA MELHOR material substituto do grego plastikos, significa da borracha, ma“capaz de ser moldado”. Material de origem natural téria-prima usada ou sintética, obtido a partir em muitos produl Os plásticos são subprodutos dos derivados de petróleo ou Termoplásticos: tos na época. A parda indústria de petróleo derivados de fontes renováveis, como a podem ser moldados tanto do óleo, pela extração kesina, como ficou cana-de-açúcar e o milho. várias vezes por ação de de matérias-primas durante o conhecida, quando temperatura e pressão, processo de refino do petróleo aquecida, podia ser por isso são recicláveis. bruto, quanto do gás natural. Eles moldada e mantinha a são usados há anos em substituição mesma forma depois que a outros tipos de materiais como esfriava. Entretanto, seu elevao aço, o vidro e a madeira, devido ao Termofixos: do custo de produção desestiseu baixo peso, baixo custo, elevadas plásticos que sofrem resistências mecânica e química e mulou os investidores. reações químicas em também por serem recicláveis. Só em 1869, o tipógrafo nortesua moldagem as quais -americano John Wesley Hyatt, l Os materiais usados para a impedem uma nova fusão. para substituir o marfim usado obtenção de produtos plásticos, como Portanto, não a nafta e a parafina, integram a cadeia na fabricação de bolas de bisão recicláveis. produtiva da indústria petroquímica. lhar – esporte tão popular que Esse segmento é responsável por já ameaçava a população de eletransformar os derivados de petróleo, fantes – descobriu um material à por meio de processos químicos, em base de nitrato de celulose, que uma variedade de materiais. se tornava um filme sólido e flel Para a produção dos plásticos, o Outra novidade importante foi xível. A chamada “celuloide” era mais comum é o uso de nafta. Ela passa a descoberta de que as molécuformada por uma mistura de fipor um processo de “craqueamento” las compostas de hidrogênio e bras de algodão com ácidos. (numa referência ao termo em inglês carbono – presentes no plástico cracking), no qual suas moléculas – poderiam ser obtidas de outras complexas são divididas em moléculas OS BIOPLÁSTICOS fontes, além do petróleo. Assim, mais simples, com a “quebra” de Mais recentemente, a evolução a partir dos anos 1990, começaalgumas ligações químicas. tecnológica tem permitido a ram a ser produzidos os chamacriação de produtos de melhor l Essas moléculas mais simples dos biopolímeros ou bioplástisão os monômeros. A obtenção de desempenho, reduzindo o imcos. Eles contêm moléculas de vários tipos delas é que define o futuro pacto ambiental e a geração de plástico. Entre os monômeros mais carbono derivadas de materiais resíduos. Entre os exemplos esusados estão o eteno e o propeno. naturais, como o plástico verde, tão os novos processos indusfeito da cana-de-açúcar, e políl Para chegar ao plástico, é necessário triais para fabricação de moldes meros como o PLA, feito à base um último passo: a polimerização. de injeção de plásticos, que perNesse processo, por meio de reações de milho. mitiram a confecção, por exemquímicas, as moléculas monoméricas Conheça a seguir outras inforplo, de potes mais leves e com a são agrupadas e ordenadas, formando mações sobre o plástico e a sua mesma resistência, usados para o polímero. cadeia de produção e reciclagem: embalar alimentos.
ABC DO PLÁSTICO
A
- Plástico filme é uma película plástica normalmente usada como sacolas de supermercados, sacos de lixo, embalagens de leite, lonas agrícolas e para a proteção de alimentos na geladeira ou micro-ondas.
B
- Leve, resistente e prático, o plástico rígido compõe 77% das embalagens no Brasil. Os mais comuns são: polietileno tereftalato (PET), usado em garrafas de refrigerantes; polietileno de alta densidade (PEAD), consumido por fabricantes de engradados de bebidas, baldes, tambores, autopeças e outros produtos; cloreto de polivinila (PVC), comum em tubos e conexões e em garrafas para água mineral e detergentes líquidos; polipropileno
(PP), usado em embalagens de massas e biscoitos, potes de margarina e utilidades domésticas; e o poliestireno (PS), presente em eletrodomésticos e copos descartáveis.
C
- As sacolas plásticas não são as maiores vilãs do meio ambiente, mas seu consumo excessivo sim. Para a sua produção são consumidos petróleo ou gás natural (ambos recursos naturais não renováveis), água e energia; e liberados efluentes (rejeitos líquidos) e gases causadores do efeito estufa. Depois de usadas, muitas são descartadas de maneira incorreta, aumentando a poluição ao entupir bueiros ou indo parar nas matas e oceanos, onde são ingeridas por animais que morrem sufocados ou presos nelas.
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FOTO: HOANA GONCALVES
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - PLÁSTICOS ENTENDA MELHOR
TRÊS PERGUNTAS PARA...
SÍLVIA SÁ
Gerente de Educação do Instituto Akatu
CONSUMO CONSCIENTE O descarte incorreto de embalagens plásticas causa sérios danos ambientais. Acredita que faltam campanhas e instrumentos de mobilização para elevar o grau de conscientização do brasileiro? Muito se avançou na conscientização das pessoas. Hoje, esse tema está nas escolas, nos jornais e a atual crise da água está motivando a mudança de comportamento das pessoas em muitas áreas da vida. Mas é preciso muito mais. O avanço necessário para construirmos uma sociedade que compra de maneira mais consciente, que usa os produtos de forma a estender ao máximo sua vida útil e os descarta quando não têm mais utilidade para si ou para outros, de maneira correta, vem pela educação para o consumo consciente. Promovemos essa educação para crianças e jovens por meio do Edukatu, proporcionando a troca de experiências do Oiapoque ao Chuí. Qual o total de participantes cadastrados? Há algum assunto mais acessado pelos usuários? Temos mais de nove mil cadastrados, entre professores, alunos e pessoas interessadas no tema. A área mais acessada é o “Circuito”, bloco de navegação guiada com atividades lúdicas e jogos organizados por temáticas. Resíduos sóli-
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dos e consumo consciente de água e de alimentos são alguns dos temas trabalhados. Outras áreas bastante visitadas são “Por Dentro”, com notícias sobre consumo consciente e educação; e “Inspirações”, em que contamos boas experiências realizadas em todo o país com a aplicação do Edukatu. Com essas histórias, esperamos que mais e mais pessoas entrem em contato com o conteúdo, enxergando na prática como levar essas informações à sua comunidade escolar. Vocês têm cartilhas ou outros materiais educativos impressos disponíveis? Nossa atuação é focada principalmente nas áreas de educação e comunicação, visando mobilizar a população rumo ao consumo consciente. Para alcançarmos isso de forma coerente, oferecemos conhecimentos e repertórios gerando o mínimo de impactos negativos. Priorizamos assim a produção e a difusão de conteúdos digitais, apostando na desmaterialização do conhecimento como um dos caminhos para a sustentabilidade. Não distribuímos materiais físicos, mas professores e alunos têm liberdade para usar os conteúdos disponíveis no Edukatu, dando os devidos créditos, conforme especificado.
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– O plástico provoca a impermeabilização do solo e dos depósitos de lixo, dificultando a biodegradação de resíduos orgânicos.
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– Os principais consumidores de plásticos separados do lixo são as empresas recicladoras, que reprocessam o material, fazendo-o voltar como matéria-prima à cadeia de produção. É possível economizar até 50% de energia com o uso de plástico reciclado.
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– O índice de reciclagem mecânica de plástico no Brasil é de 22%. Esse volume é maior do que o observado na França e próximo ao do Reino Unido. Porém, esse percentual poderia ser maior, caso o descarte fosse feito de maneira correta, gerando mais insumo para as cooperativas e empresas de reciclagem.
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– Além da reciclagem mecânica e química, que transformam o plástico em nafta e em resina virgem novamente, há outra destinação – ao fim do seu ciclo de vida –, ainda pouco comum no Brasil. Trata-se da recuperação energética. Nesse processo, o plástico e demais resíduos são queimados e o calor produzido durante a queima gera energia elétrica ou térmica.
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– Apesar de recomendado pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), esse processo deve ser realizado somente para plásticos não recicláveis ou que já foram reciclados inúmeras vezes, pois a reciclagem mecânica é sempre a melhor alternativa. Afinal, por meio dela, os materiais são reaproveitados de maneira mais nobre, produzindo novas matérias-primas. SAIBA MAIS
www.edukatu.org.br
FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) – Ficha Técnica: Plásticos / Edukatu / Ministério do Meio Ambiente / Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)
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1 VOCÊ SABIA?
BALEIAS: GIGANTES MARINHOS Cristiane Mendonça
redacao@revistaecologico.com.br
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FOTO: KAROLINE CULLEN
e tudo o que você sabe sobre as baleias se resume ao filme “Free Willy” (1993), que conta a história da amizade entre uma baleia-orca e um garoto, é bom atualizar o seu repertório. Afinal, estima-se que existam mais de 40 espécies pelo mundo com características diferenciadas. Ficou interessado? Conheça, a seguir, seis curiosidades sobre esse grande mamífero:
PULMÕES DE VIDA CHEIAS DE AR
Sabe aquela cena em que as baleias parecem soltar um jato d’água pela parte superior de seus corpos? Pois é, a história não é bem assim! Na verdade, elas não soltam água; e sim, ar quente. As baleias possuem no topo de suas cabeças um orifício, equivalente às narinas humanas. Enquanto os animais estão submersos, esse orifício permanece fechado. E, quando se aproximam da superfície, ele se abre e expele com força o ar vindo dos pulmões. Quando esse ar quente entra em contato com o ar frio da atmosfera, se condensa formando uma nuvem de gotinhas de água. Nas baleias maiores, esse esguicho pode chegar a 12 metros de altura.
As baleias fazem parte do grupo dos cetáceos uma ordem de mamíferos marinhos aerodinâmicos - assim como os golfinhos e os botos. Uma das características que os diferencia dos peixes é o fato de que essas espécies respiram pelos pulmões e, por isso, precisam subir à superfície para fazer a troca gasosa.
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TAMANHO É DOCUMENTO
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BOAS MÃES
As baleias-jubartes (Megaptera novaeangliae) que vivem na região do Arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, costumam ter seus filhotes nos meses de agosto, após 11 ou 12 meses de gestação. Geram uma única cria por vez, que já vem ao mundo com cerca de quatro metros de comprimento e pesando entre 800 e mil quilos. Enquanto as fêmeas sem filhotes e os machos adultos iniciam a migração para as áreas de alimentação, a mamãe jubarte espera até que seu filhote desenvolva uma camada de gordura suficiente para acompanhá-la por mais de quatro mil quilômetros até as águas geladas das ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, no Oceano Atlântico.
A baleia-azul (Balaenoptera musculus) é considerada o maior animal do planeta, podendo pesar até 120 toneladas. Haja comida para sustentar toda essa estrutura corporal! Estima-se que em 24 horas ela consuma até quatro toneladas de alimento. Porém, a dieta tamanho-família baseiase em pequenos peixes, microcrustáceos, como os copépodes - pouco maiores que uma cabeça de alfinete-, e o krill, que lembra o camarão. Mas, como nem todo dia o mar está para peixe, algumas espécies também passam meses em jejum.
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GENTE, NÃO!
FOTO: WELTER SCHULTES_FRANCISCO
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FICÇÃO E REALIDADE
O livro “Moby Dick”, escrito por Herman Melville em 1851, conta a história de uma solitária e furiosa baleia-cachalote (Physeter macrocephalus) que afundava navios. Mas, na vida real, a espécie que atinge até 18 metros de comprimento é considerada sociável. As fêmeas adultas formam grupos, com filhotes e jovens, pelas águas tropicais e subtropicais. Já os machos, deixam suas famílias entre quatro e seis anos de idade para se juntarem a outros grupos masculinos em águas mais frias. Porém, quando se tornam sexualmente ativos, lá pelos 18 a 30 anos, abandonam os “amigos solteiros” e migram para as águas tropicais em busca de “namoradas”.
FOTO: PROMOTION
O que o personagem bíblico Jonas, o desenho infantil Pinóquio e o marinheiro do século XIX James Bartley têm em comum? A história diz que todos os três foram engolidos por baleias e sobreviveram. Porém, há quem duvide! Biólogos afirmam que as baleias não comeriam algo grande como um ser humano, já que elas preferem alimentos pequenos. Mas, caso acontecesse, a pessoa logo morreria por esmagamento assim que o animal fechasse a boca. E, se por muita sorte essa pessoa sobrevivesse, ficaria entalada na entrada do esôfago do bicho, que não é larga o suficiente para uma pessoa ser engolida. Mais aliviado agora?
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
CERVEJINHA-DO-CAMPO
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- Olhe bem! Chá de hoje num tem serventia amanhã. Chá bão tem de sê apreparado todo dia, pois ele se estraga de um dia pro outro. Sassá não se cabia de alegria e satisfação, a ponto de dar meia volta e entrar por um trilho na lateral da estrada tomando rumo de casa pra começar já a preparar seu remédio. Me veio a lembrança de muitas outras pessoas que já tiveram a oportunidade de resolver suas dificuldades renais só tomando a cervejinha-do-campo e decidi me aprofundar sobre suas indicações. Num achei nada em lugar algum. Se alguém aí tiver alguma informação sobre outra aplicação dela, por favor me diga! Inté a próxima lua! (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
CERVEJINHA-DO-CAMPO (Arrabidaea brachypoda) FOTO: MARCOS GUIÃO
o meio do mundo, me dei com Sassá Marruá, morador dos altos encantados da Serra do Cabral. O apelido foi ganho ainda menino, derivado do nome de cartório, “Samuel”. E a criação recebida nas cabeceiras do Córrego do Marruá completou sua identidade. Esguio e de rosto fino, ornado por uns tufos de barba rala e branca, apresentava uma cabeleira esvoaçante devido ao vento que corta aquelas paragens. Amparado numa manguara, trazia um embornal aparentando peso considerável, o que tornava o seu caminhar um vaivém dificultoso. Assim que nos avistou, deu ponto de parar debaixo dum enorme angico, esperando nossa aproximação. Chico da Mata e eu estávamos em mais uma excursão em busca de raizada remedeira naquelas ricas serras. Depois dos cumprimentos habituais e da ciência de nossa missão, ele se benzeu, agradecendo ao Pai a intervenção no alívio de seu sofrimento. Atônitos, ficamos à espera de um esclarecimento, o que se deu quando ele levantou as calças e nos mostrou um par de tornozelos muito inchados fincados dentro de desgastadas botas. Com simplicidade e poucas palavras, ele se explicou, reclamando dos inchaços. Dei reparo na sua face esmaecida e não foi difícil concluir um comprometimento renal significativo. - Num carece nem de se anda muito não! Seu remédio tá aqui do lado e se fosse cobra já tinha te ofendido... - Chico foi falando e passando a mão no enxadão, decidido a arrancar em meio ao gorgulho a raiz de cervejinha-do-campo (Arrabidaea brachypoda), que estava jogando suas flores rosadas bem ali do lado. Dotada de raiz pivotante, ela se esconde na terra em busca das águas mais profundas do Cerrado e dá trabalho arrancá-la inteira. Chico foi examinando o tanto de raiz que aparecia por cima da terra e, por fim, decidiu que aquele tamanho seria o suficiente pra Sassá resolver sua mazela. - Isso dá um chá gostoso, amarelado, com espumage por riba, aparentando muito um copo de cerveja. Pois tome isso de litrada todos os dia, tendeu? Carece só de lavá bem essa raiz, dispois cê tirar os cavaco com enxó ou facão e daí faça seu chá todos os dia. Depois de uma breve pausa, Chico olhou severamente Sassá, sentenciando:
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO
FOTOS: PATRÍCIA BOSON
COCHILO MATINAL: alheia à presença humana, a onça continua seu descanso
"BAMBIS" africanos, em referência ao famoso personagem da Disney, os cervos podem pesar até 350 kg na idade adulta
DURANTE a expedição, vários filhotes são vistos pelo caminho: esperança de continuidade
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UMA VIAGEM
IMPACTANTE Patrícia Boson
redacao@revistaecologico.com.br
E
m uma de suas obras filosóficas, meu pai, Gerson Boson, escreveu: “No Cosmos, só se verificam dois criadores: Deus, o criador de todo o universo, e o homem, o criador da cultura. Cultura como manifestação, registro, cristalização ou resultado do posto que ele ocupa no mundo – da vida inteligente, do único ser conhecido que pode refletir sobre a sua natureza e a natureza do universo, o que lhe dá a possibilidade de intervir ativamente nos processos naturais, conhecendo-os através da ciência e modificando-os pela técnica – portanto, como resultado do humanismo, que o orienta”. Recentemente, tive a oportunidade de viver de perto e, de maneira impactante, expressões máximas da criação divina e humana. Do Brasil direto para a África do Sul, mais especificamente uma reserva ecológica particular no Kruger Park, lugar que escolhemos para fazer uma expedição fotográfica, e, com sorte, registrar e filmar os animais que compõem o Big Five: o leão, o leopardo, o elefante, o búfalo e o rinoceronte. Li-
vres e soltos em seu hábitat, eles são considerados os cinco mamíferos selvagens de grande porte mais difíceis de serem caçados pelo homem. A natureza não para de nos surpreender. Foi uma experiência muito marcante. Não só conseguimos ver, filmar e fotografar os cinco grandes, como também tivemos a oportunidade de viver alguns momentos tensos, por conta das aproximações (de risco calculado), algo não muito recomendável. A imponência desses mamíferos em seu meio natural, absolutamente donos de si e da situação, aliada a uma natureza exuberante, invariavelmente nos colocava em uma dimensão diminuta. Ficávamos, a todo o momento, surpreendidos e pasmos com nossa pequenez e fragilidade. A família de hipopótamos se refrescando no rio é algo para se admirar por horas a fio. De repente, somos surpreendidos por uma manada de girafas, espertamente seguidas por outra de zebras, que aproveitam da visão privilegiada das colegas para se desvencilhar de
predadores. Pelo caminho, pássaros de todos os tamanhos e cores. Verde em vários matizes. Sons em todas as notas e arranjos possíveis. Uma viagem de sentidos. Saíamos para a expedição duas vezes por dia. A primeira às 5h30 e a segunda às 16h. Foram, ao todo, seis passeios. Nenhum foi igual ao outro. E é difícil dizer qual dia foi melhor. Mas uma coisa eu sei: quando meu neto Filipe tiver idade, não vou levá-lo à Disney para ver o Bambi. Vou levá-lo para a África, para ele se deliciar com famílias e famílias de bambis de verdade. Magníficos! DA ÁFRICA DO SUL PARA DUBAI Em todos os ângulos pululam manifestações, registros, cristalizações ou resultados da criação cultural. Quase tudo é criação humana em Dubai, ou, como qualificam alguns, quase tudo é artificial. Segundo um falante taxista paquistanês, até a população de Dubai é artificial. De fato, apenas 8% dos habitantes nasceram em Dubai (protegidos pelo Xeique): 92% são estrangeiros. Quase todo o território (90%) da
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO
AS GIRAFAS geralmente são seguidas por manadas de zebras, que aproveitam da visão privilegiada das colegas para se desvencilhar de predadores
cidade é deserto. Sua paisagem natural é marcada por areia e cascalho, e, ocasionalmente, gramíneas selvagens. E, ainda mais esparsamente, acácias e tamareiras. Não há nenhum rio ou oásis, embora possua um estuário natural - a Enseada de Dubai - que na tradução curiosa do ônibus de turismo para o português do Brasil era “Riacho de Dubai”. Poucos talvez saibam, mas diferentemente dos outros emirados, a economia de Dubai não se baseia na exploração do petróleo e do gás natural: somente 7% da renda local é oriunda desses produtos. Com o dinheiro do petróleo, e por saber de sua finitude, Dubai construiu, em apenas 10 anos (não tem licenciamento ambiental, claro), oportunidades para fixação de uma nova economia. A enseada foi totalmente remodelada pela dragagem, tornando-a suficientemente profunda para que navios de grande porte possam atravessá-la. Hoje, o Porto de Dubai é o 13º mais movimentado do mundo. E é onde se localiza o maior estaleiro naval de reparação de navios de grande porte do planeta, bem como de reparação de plataforma. Além disso, Dubai conta hoje com a renda da Zona Franca de Jebel Ali, do comércio, setor imobiliário e serviços financeiros. Mas, importante mesmo, é a indústria do turismo, na qual os dirigentes de Dubai não cansam de investir. De fato, Dubai é exuberante, enche os olhos. Ilhas artificiais em formatos curiosos, palmeira e mapa do mundo. Prédios, o mais alto do mundo, o mais exótico, o mais caro. Enfim, de todos os tipos e formas, que desafiam a lei da gravidade e outras leis básicas da física. Dubai é a engenharia hu-
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FOTOS: PATRÍCIA BOSON
DUBAI: construída em um deserto, apenas 5% da água utilizada na cidade advém de fonte subterrânea. O restante são águas dessalinizadas do Golfo Pérsico, que são devolvidas a ele totalmente tratadas
mana em sua expressão máxima. Para qualquer lado que se aponte a máquina fotográfica, o que se vê, como disse o velho mestre Boson, é a possibilidade humana de intervir ativamente nos processos naturais, conhecendo-os por meio da ciência e modificando-os pela técnica. Na paisagem urbana, diferentemente da natural, flores, muitas flores, de vários tipos e cores. Tamareiras e acácias, antes esparsas, agora abundantes. Parques e mais parques, todos muito verdes. Não pude deixar de me lembrar de São Paulo e sua crise hídrica. Sem nenhum rio, Dubai esbanja água. Fontes enfeitam quase todos os prédios e vias urbanas. Águas que sobem e descem em cascatas abundantes e perenes. Apenas 5% advêm de fonte subterrânea, o res-
Dubai é exuberante, enche os olhos. Sem nenhum rio, ela esbanja água. Fontes enfeitam quase todos os prédios e vias urbanas tante são águas dessalinizadas do Golfo Pérsico, que são devolvidas a ele totalmente tratadas. Sem falar na recirculação das fontes. Sempre muito luminosas e às vezes dançantes ao som de músicas clássicas e populares. Águas dançando La Vie en Rose... Um espetáculo!
Dubai é um bom lugar para se comprovar a capacidade humana de construir obras dignas das maiores maravilhas do mundo. Mas, citando novamente meu pai, “a vida é mais que fatos e deve ser um valor. Um valor a ter uma orientação ética. Ética enquanto reflexão sobre os princípios que regem a conduta do homem perante si mesmo e perante toda a comunidade. Ética enquanto princípio de conduta que atribui, a cada um, um papel em suas relações com a natureza e seus semelhantes”. Nesse contexto, não deu para apurar sobre quais valores essas maravilhas foram e estão sendo edificadas. Diferentemente da criação divina, sempre admirável e que apenas se coloca, sem dúvidas e contestações. Realmente, uma viagem impactante. E inesquecível.
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MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO XAVIER
CHICO XAVIER: “Por maior que seja a dificuldade, jamais desanime. O nosso pior momento na vida é sempre o momento de melhorar” FO TO :
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VIVE Lançamento do documentário “Data Limite” e realização do “Circuito Chico Xavier”, em BH, celebram os 105 anos de nascimento do mais querido líder espírita do país Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
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e você fala sobre Chico uma vez, não tem jeito. Falará sobre ele sempre.” Ouvi essa frase de um atencioso colaborador espírita há cinco anos, quando visitei a Casa Chico Xavier, em Pedro Leopoldo (MG), cidade onde o médium nasceu e viveu com a família até 1959, antes de se mudar para Uberaba e dar sequência à seara mediúnica. A “previsão” do amigo tornou-se realidade. Ao longo do tempo, escrevi várias matérias sobre Chico Xavier. Em cada uma delas, aprendi e reaprendi muito. Resgatei valores adormecidos e ampliei minha visão sobre a vida. Trabalhar diariamente escrevendo sobre natureza nos dá uma sensibilidade maior para ver, interpretar e lidar com as pessoas e o mundo. Mas foi Chico que me despertou espiritualmente para entender que não é possível preservar o meio ambiente se nossa alma está “desmatada”. Para isso, equilíbrio, perdão, solidariedade, respeito e abnegação são essenciais. Cá estou, agradecido, escrevendo novamente sobre ele. Desta vez, por outro motivo especial. Em 02 de abril último, foram comemorados os 105 anos de nascimento desse grande mestre. E nós, brasileiros, recebemos dois presentes para celebrar a data. O primeiro deles é o documentário “Data Limite segundo Chico Xavier”, já disponível na internet (http://goo.gl/eMgKjv). A sinopse do filme explica: “Especialistas em ufologia afirmam que após a explosão das bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, se verificou um aumento considerável no número de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) em todo o mundo. Pouco mais de duas décadas depois, o médium brasileiro Chico Xavier confidenciava a companheiros mais próximos que, por ocasião da chegada do homem à lua em 20 de julho de 1969, acontecera uma reunião com as potências celestes de nosso Sistema Solar para verificar o avanço da sociedade terrena. Decidiram, pois, conceder à humanidade um prazo de 50
anos para que evoluísse moralmente e convivesse em paz, sem provocar uma terceira guerra mundial”. Ou seja: temos até 20 de julho de 2019, nossa data limite, para uma transformação interior completa, com respeito ao próximo e à natureza que nos cerca. O filme traz ainda “fatos e conexões históricas que surgiram com a possibilidade de a previsão de Chico se concretizar num futuro próximo, propondo ao público uma reflexão sobre a grandeza do contexto do universo, sobre o fato de não estarmos sozinhos e os possíveis desdobramentos que se dariam a partir de uma eventual inserção da humanidade na sociedade interplanetária”. O segundo presente é o “Circuito Chico Xavier – No Céu da Vibração”, que acontecerá até 31 de maio em BH. Entre as atrações estão: o “Projeto Arte e Solidariedade”, em que 450 artistas plásticos de Minas traduziram em arte uma das 450 obras psicografadas do médium. Elas foram transformadas em mais de 50 estampas diferentes de camisetas, todas expostas no Ponteio Lar Shopping, onde o lançamento do circuito foi realizado. O “Special Gourmet” é outra forma de celebrar a data. Restaurantes Vitale Gourmet e Salamaleik, no Ponteio, o Almanaque e Chantilly, no Minas Shopping, e o Maria das Tranças, na Savassi e no São Francisco, irão incluir em seu cardápio o prato preferido de Chico: frango de panela com farofa de abobrinha. E, por último, o musical “Chico Xavier – No Céu da Vibração”, com apresentações de 27 a 31 de maio no Cine Theatro Brasil Vallourec, com a participação da Orquestra Jovem das Gerais. Para completar a celebração dos 105 de nascimento do grande líder espírita, a Ecológico não poderia ficar de fora. A seguir, apresentamos pílulas de sabedoria de Chico e dos espíritos amigos que, mesmo algumas delas tendo mais de três décadas, continuam atuais e vivas nas nossas mentes e corações:
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MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO XAVIER
FOTO: ROY RILEY
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“A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, é uma triste tendência dos homens da atualidade. E cremos que semelhante agressão à vida natural se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à humanidade terrestre.”
l MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE “Ainda temos fé que os homens da governança hão de criar o Ministério da Ecologia, com punições severas para quem derrubar uma árvore indevidamente.” Obs: Quando Chico disse essa frase, o Ministério do Meio Ambiente não havia sido criado.
l DEGRADAÇÃO AMBIENTAL “Na natureza, nada se faz com violência e até os vícios têm que ser tratados com respeito e educação para ser mais facilmente debelados.” “Nós temos necessidade dos bens da Terra para viver, não para rixar uns com os outros, estabelecer diferenças, criar dissensões de classes, sobretudo, para criar este mundo de angústia, que, às vezes, nós trazemos por nossa própria culpa.” l ÁRVORES “A cada seis meses, eu saio para descansar um pouco, por cerca de um dia e meio ou dois. Consigo esse descanso de uma forma interessante: é quando tenho a oportunidade de abraçar as árvores, que são minhas amigas. Elas me auxiliam bastante no refazimento das forças de que tanto preciso para o trabalho.” l SEMENTE “Se a semente não suportasse a terra que a asfixia, não
teríamos a germinação promissora. Se a plantinha tenra não tolerasse a enxada que lhe garante a limpeza, embora, por vezes, dilacerando-lhe as folhas, não conseguiríamos a floração. Sem a renúncia da flor em benefício da colheita, o celeiro seria relegado à secura. Se a farinha convenientemente preparada não desculpasse o calor do forno que a sufoca, o pão não saciaria a fome das criaturas.” “A semeadura rende sempre de acordo com os propósitos do semeador.” l POLUIÇÃO “Esse problema está relacionado também com uma espécie de poluição que ainda não nos preocupamos: a poluição das ideias cristãs. Se nós, cristãos, estivéssemos atentos à preservação dos valores do espírito, segundo nos ensinou Jesus Cristo em sua divina revelação, a poluição da natureza, nas cidades e nos campos, não seria hoje esse flagelo que está tomando vulto no seio das cidades metropolitanas, por exemplo. Se nos respeitássemos segundo a Lei Áurea, ‘não deseje para o seu vizinho aquilo que você não deseja para você mesmo’, a poluição talvez nem chegasse a existir. Se todo o mundo industrial, todo o campo da educação, todos os grupos sociais e valores que presidem o progresso humano estivessem, quem sabe, condicionados à regra áurea, estaríamos em paz.”
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l APRENDER COM A NATUREZA “Antes de o homem surgir na superfície do planeta, o vegetal, há muito, seguia as leis existentes. Como usufrutuários do Universo, saibamos, assim, que toda ação humana contrária à natureza constitui caminho ao sofrimento. Retiremos dos cenários naturais as lições indispensáveis à nossa vida. Somos interdependentes.”
FOTO: REPRODUÇÃO
l SEXUALIDADE “O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou bissexualismo, como a assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito.”
AS ATRIZES Nathália Timberg e Fernanda Montenegro, que vivem personagens homossexuais na novela "Babilônia": o amor em primeiro lugar
l RESPEITO À CRIAÇÃO “Prevenir-se contra a destruição e o esbanjamento das riquezas da terra em explorações abusivas, quais sejam a queima dos campos, o abate desordenado das árvores generosas e o explosivo na pesca. O respeito à Criação constitui simples dever. Utilizar o tesouro das plantas e das flores na ornamentação de ordem geral, movimentando a irrigação e a adubagem na preservação que lhes é necessária.”
l PRESERVAÇÃO “De alma agradecida e serena, devemos abençoar a natureza que acalenta, protegendo, quanto possível, todos os seres e todas as coisas na região em que eles respirem. A natureza consubstancia o santuário em que a sabedoria de Deus se torna visível. Preservar a pureza das fontes e a fertilidade do solo. Campo ajudado, pão garantido.”
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“Cooperar espontaneamente na ampliação de pomares, tanto quanto auxiliar a arborização e o reflorestamento. A vida vegetal é a moldura protetora da vida humana.”
“A criança-embrião é um ser vivo e indefeso. O aborto é um delito difícil de ser classificado, porque a vítima está absolutamente incapaz de operar a própria defesa.”
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l GEOLOGIA “As calamidades geológicas sempre existiram, porque a Terra em si, ainda está sendo criada. Há um conceito bíblico que diz: ‘Deus criou o mundo’. Mas não afirma que essa criação esteja completa. De modo que nós vemos vulcões, terremotos, maremotos, tempestades e tufões, arrebatando vidas e modificando a fisionomia de cidades e até mesmo de nações. Isso aconteceu sempre. Agora, a modificação do mundo, na essência, é de ordem moral.” l EQUILÍBRIO ESPIRITUAL “Nós estamos praticamente num ápice da civilização. Outras civilizações existiram na Terra, mas como os ápices não foram orientados pelo equilíbrio espiritual, elas desapareceram dando lugar a civilizações em cujos cimos culturais estamos hoje. Mas a inteligência do homem é filha da inteligência de Deus. Precisamos de amor para sobreviver a todas as calamidades necessárias ao processo evolutivo em que estamos envolvidos na Terra. Não adianta estarmos rodeados de computadores, que sabem o que há em Marte ou em Júpiter, e vivermos aqui sedentos de carinho, morrendo à míngua de assistência espiritual.”
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MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO XAVIER “O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que amássemos uns aos outros.”
l CRÍTICAS “Se as críticas dirigidas a você são verdadeiras, não reclame. Se não são, não ligue para elas. Quando você não tiver uma palavra que auxilie, procure não abrir a boca.” l JESUS CRISTO “Muitos ficam na expectativa do socorro do Alto, mas não querem nada com o esforço de renovação; querem que os espíritos se intrometam na sua vida e resolvam seus problemas. Ora, nem Jesus Cristo, quando veio à Terra, se propôs a resolver o problema particular de alguém. Ele se limitou a nos ensinar o caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos.” l HOJE “Se tiver que amar hoje, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha.” l BONS CONSELHOS “Três normas de conduta que jamais nos arrependeremos: auxiliar com a intenção do bem, silenciar e pronunciar frases de bondade e estímulo.” “A facilidade, ao que nos parece, nunca ensinou nada a ninguém.”
“A palavra deve ser dita para ajudar e nunca para deprimir a quem quer que seja.” l PACIÊNCIA “Em qualquer circunstância, espera com paciência. Se alguém te ofendeu, espera. Não tomes de esforço a quem já carrega a infelicidade em si mesmo. Se alguém te prejudicou, espera. Não precisas vingar-te de quem já se encontra assinalado pela justiça. Se sofres, espera. A dor é sempre aviso santificante. Se o obstáculo te visita, espera. O embaraço de hoje, muita vez, é benefício amanhã. A fonte, ajudando onde passa, espera pelo rio e atinge o oceano vasto. A árvore, prestando incessante auxílio, espera pela flor e ganha a benção do fruto. Todavia, a enxada que espera, imóvel, adquire a ferrugem que a desgasta. O poço que espera, guardando águas paradas, converte a si próprio em vaso de podridão. Sejam, pois, quais forem as tuas dificuldades, espera, fazendo em favor dos outros o melhor que puderes, a fim de que a tua esperança se erga sublime, em luminosa realização.” l BEM E MAL “O mal está em nós mesmos, em nossas tentações. Tentações que nascem de nós. Ninguém nos tenta. Nós é que somos tentados por nós mesmos.”
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CARTILHA DA NATUREZA
“A natureza é a fazenda vasta que o Pai entregou a todas as criaturas. Cada pormenor do valioso patrimônio apresenta significação particular. A árvore, o caminho, a nuvem, o pó, o rio, revelam mensagens silenciosas e especiais. É preciso, contudo, que o homem aprenda a recolher-se para escutar as grandes vozes que lhe falam ao coração. A natureza é sempre o celeiro abençoado de lições maternais. Em seus círculos de serviço, coisa alguma permanece sem propósito, sem finalidade justa. Eis a razão pela qual o trabalho de Casimiro Cunha se evidencia com singular importância. O coração vibrátil e a sensibilidade apurada conchegaram-se a Jesus, para trazer aos ouvidos dos companheiros encarnados algumas notas da universal sinfonia. Esta cartilha amorosa relaciona, em rimas singelas, alguns cânticos da fazenda divina que o Pai nos confiou. Envolvendo expressões na luz infinita do Mestre, Casimiro dá notícias das coisas simples, cheias de ensino transcendental. No relatório musicado de sua alma sensível, o milharal, o pântano, a árvore, o ribeiro, o malhadouro, dizem alguma coisa de sua maravilhosa destinação, revelando sugestões de beleza sublime. É o ensino espontâneo dos elementos, o alvitre das paisagens
“Nenhuma atividade no bem é insignificante. As mais altas árvores são oriundas de minúsculas sementes. A repercussão da prática do bem é inimaginável. Para servir a Deus, ninguém necessita sair do seu próprio lugar ou reivindicar condições diferentes daquelas que possui.” l CAMINHO “O homem caminha no meio das suas próprias obras. Portanto, se o caminho se encontra áspero,
FOTOS: REPRODUÇÃO
Dos livros escritos por Chico Xavier, provavelmente os da série “A Cartilha da Natureza” são os que mais diretamente retratam o meio ambiente. Ditado pelo espírito de Casimiro Cunha, o primeiro volume, “A Criação”, é aberto por um depoimento fraterno de Emmanuel (segunda foto abaixo), guia espiritual de Chico, que nos resgata a importância de um olhar amoroso à natureza, sob a luz de Cristo. Confira: que o hábito vulgarizou, mas se conservam repletas de lições sempre novas.
O trabalho valioso do poeta cristão dispensa comentários e considerações. Entregando-o, pois, ao leitor amigo, não temos outro objetivo senão lembrar a fazenda preciosa que se encontra em nossas mãos. A natureza é o livro de páginas vivas e eternas. Em abrindo a cartilha afetuosa de Casimiro, recordemos Aquele que veio à Terra, começando pela manjedoura; que recebeu pastores e animais como visita primeira; que foi anunciado por uma estrela brilhante; que ensinou sobre as águas, orou sobre os montes, escreveu na terra, transformou a água simples em vinho do júbilo familiar; que aceitou a cooperação de um burrico para receber homenagens do mundo; que meditou num horto, agonizou numa colina pedregosa, partiu em busca do Pai através dos braços de um lenho ríspido e ressuscitou num jardim. Relembremos semelhantes ensinos e recebamos a fazenda do Senhor, não como o filho pródigo que lhe desbaratou os bens, mas como filhos previdentes que procuram aprender sempre, enriquecendo-se de tesouros imortais.” EMMANUEL, 20 de maio de 1943.
não adianta reclamar a Deus.” l TRABALHO “Quem trabalha pensando em aparecer vai aparecer, mas o trabalho desaparecerá.” l ESPIRITISMO E CATOLICISMO “Muita gente diz: ‘Não se sabe se o Chico é católico ou se é espírita’. Por que eu vou hostilizar a religião católica, que é minha mãe espiritual?” ABRIL/MAIO DE 2015 | ECOLÓGICO 101
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MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO XAVIER “No futuro, Espiritismo e Igreja Católica não serão religiões paralelas. Elas se encontrarão. O ‘como’ estará dependendo das autoridades que fizerem esse benefício à humanidade, porque a Igreja, com a graça de Deus, um dia vai aceitar o estudo da mediunidade, a reencarnação e a comunicação dos espíritos. Porque isso está na sobrevivência do próprio Cristianismo.” l CRIANÇA “Os livros escolares deveriam, no processo de alfabetização, já começar esclarecendo a criança contra o perigo das drogas – um ‘vírus’ que tem matado mais gente que os agentes viróticos mais violentos.” l CHICO POR CHICO “Quem sou eu senão uma formiga, das menores, que anda pela terra cumprindo com sua obrigação?” “Estou na situação da laranjeira de condição extremamente inferior – mas muito inferior – quando recebe enxertia. Os frutos generosos são filhos da planta nobre que concedeu à laranjeira pobre e triste a honra de ser, por algum tempo, o magnânimo inquilino. Retirada a dadivosa ocupante, o vegetal que fica é resíduo inútil.” “Eu não sou dono da terra e nem das sementes. Sou apenas um pobre lavrador que foi chamado à tarefa de semear.” l CRISE “Toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança.” l SEDE DE DEUS “A alma humana não pode viver sem religião. Quanto mais o materialismo cresce, mais nosso espírito tem saudade da união com Deus. Isso é nato em cada um de nós. Toda pessoa tem essa sede.” l VIDA “Tudo tem seu apogeu e seu declínio. É natural que seja assim. Todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos ser o nada, eis que a vida ressurge, triunfante e bela! Novas folhas, novas flores, na indefinida bênção do recomeço!” l HORA DE MUDAR “A água pura, a fim de manter-se pura, é servida em taça vazia. A treva da meia noite é a ocasião em que o tempo dá sinal de partida para novo alvorecer. Por maior que seja a dificuldade, jamais desanime. O nosso pior momento na vida é sempre o momento de melhorar.”
TUDO É AMOR! Como lembrou Laura Medioli em sua crônica dominical no Pampulha, semanário de BH, intitulada “Uma religião chamada Amor”, Chico Xavier enxergava o sentimento universal do em todas as manifestações do comportamento humano. Até quando sentíssemos ódio por um semelhante. Confira:
FOTO: ROOZITA
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“VIDA é o amor existencial. RAZÃO é o amor que pondera. ESTUDO é o amor que analisa. CIÊNCIA é o amor que investiga. FILOSOFIA é o amor que pensa. RELIGIÃO é o amor que busca a Deus. VERDADE é o amor que eterniza. IDEAL é o amor que se eleva. FÉ é o amor que transcende. ESPERANÇA é o amor que sonha. CARIDADE é o amor que auxilia. FRATERNIDADE é o amor que se expande. SACRIFÍCIO é o amor que se esforça. RENÚNCIA é o amor que depura. SIMPATIA é o amor que sorri. TRABALHO é o amor que constrói. INDIFERENÇA é o amor que se esconde. DESESPERO é o amor que se desgoverna. PAIXÃO é o amor que se desequilibra. CIÚME é o amor que se desvaira. ORGULHO é o amor que enlouquece. SENSUALISMO é o amor que se envenena. ÓDIO, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.”
Fontes: “Chico Xavier com Você” e “O Evangelho de Chico Xavier”, de Carlos Baccelli; “Pinga Fogo com Chico Xavier”, Saulo Gomes (organizador); “Cartilha da Natureza”, Chico Xavier/Casimiro Cunha; “Rindo e Refletindo com Chico Xavier”, de Richard Simonetti; Jornal Seara Juvenil; Rede Tupi; Jornal Espírita; obras psicografadas de Emmanuel, André Luiz e espíritos diversos; Fundação Chico Xavier; Programa "No Limiar do Amanhã"; Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires.
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OLHAR POÉTICO
ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br
RETRATO INTERIOR
(BELORIZONTÁBILIA)
Belo Horizonte: esse jeito meio nanuque e nepomuceno de ser, o olhar juizdefora e barbacena, caminhando brumadinho, pisando diamantino. (A fala moema e guapé de coisas inhumas de nada) – Papagaios!
Mas sempre com três corações na coluna cordisburgo: o do mato dentro, o das catas altas e o do passa tempo.
Belo Horizonte catia a marra até nas caratingas. Fica bambuí da vida quando ela está jequitinhonha, mas aiuruoca quando formiga.
Serrania, serenata, maravilhas: deu no jornal. E nada de lambari piau no pocrane do bornal. Extrema assim, curralinho virou teatro. Que hora mais pirapora! Que salário mais piuí! Que tempo mais muzambinho! – E horiontes, você tem? – O do passabem ou o do passa quatro?
Nas datas, medina e mantena num patrocínio. Ou abre campo em prados, de ressaca, na moeda. E quando matutina? Amanhece antiga, de mesquita. Porque é sempre assim: o amor betim e a alma viçosa, carangola, januária... “No silêncio de ouro preto, a santa luz luzia”. Ouro branco de azurita, morro velho, minasgerália... Na contagem dos votos: tiros e tombos. (Quem espera feliz, de alpercata sempre ar cansa?) Bom despacho é que além paraíba, raposos da boa esperança vão elegendo, elóimendes, São Tomé das Letras. Só pra ver, pra crer que Minas existe, persiste. Eita bira! – Tem uma aranha no céu unaí? (Só se o ninho for mais adiante, areado, entre folhas...) – E se a pinga caxambu? – Uai, cássia o sacarrolhas! Adispois, cheio de alpiste na cabeça acaiaca, vira a casaca do serro pro vento pompéu. E arranha o pássaro do seu capitólio, na bocaiúva doce de um coromandel. – Uai, quedê a arterosa que tava aqui? – Desguiou pra araguari, beleléu, baependi? (Diz-que um veríssimo foi sabará um pito na varginha, mas voltou de lá virginópolis. E urucânia da vida...) – Virgo! Belorizonte sofre de crescimento arceburgo.
Mas se o tempo passa vinte, resplendor vira pereba? (Se for, vai tudo ouro fino, realeza, pro matipó do paraopeba...)
Belo Horizonte longe de casa é uberaba! (Um quadro na canastra de cipó-taquaraçú? Passos da nova era na pinguela do paraguaçú? Dores de guanhães no guaxupé do indaiá? E o café? Jacuí?) Tenha piedade. Mil perdões! E nem me conte, que o babelô já se perdeu no zênite, onte-onte. Há um mineiro esticado sobre a montanha araxá: campobelo no nariz babélico. Beabá no oriente de gasolina. E o telefronte internético: eternos ETs de terno no cerebelo pós-elétrico dos bebelôs errantes. Belocidade. Belorizantes: Beletriz cidade do meu beco e dos meus ecos ruminantes. (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139 Nota do Autor: por ocasião do centenário da cidade (1997), na gestão do saudoso prefeito e amigo Célio de Castro, esse poema foi colocado dentro de um baú de aço – juntamente com outras lembranças e textos, de vários artistas – e enterrado sob o pirulito da Praça Sete, para ser desenterrado daqui a 83 anos, no aniversário de 200 anos da cidade.
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SÓ PELA BELEZA, DEVERÍAMOS PRESERVAR A CASA ONDE MORAMOS.
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AINDA HÁ TEMPO.
MOSTRE O SEU EXEMPLO, A SUA MENSAGEM DE ESPERANÇA E O SEU AMOR À NATUREZA
PARTICIPE! 5 DE JUNHO
“DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE”
EDIÇÃO COMEMORATIVA
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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br
ABRIL E MAIO:
bril é o quarto mês do calendário grego- cial. Esses rituais são os aniversários da vida. riano e tem 30 dias. Vem do latim ApriAgora, o mais interessante desses meses são les, que significa “o abrir”, “o desabro- suas noites, onde todos os astros derramam char das flores e da vida”. Nesse mês se inicia a mais brilhos e você pode fazer colares de esprimavera no hemisfério norte e o outono em trelas para enfeitar seus sonhos. Sonhar, por nosso hemisfério. Há uma outra versão para a exemplo, histórias fantásticas da Via Láctea origem de abril, que estaria ligada a Aprus, o a “Via do Leite”, para os gregos - esse imenso nome etrusco da deusa do amor Afrodite, nas- caminho luminoso que corta a noite. Esses cida do esperma de um deus - Urano - com a são os chamados sonhos acordados - que são espuma do mar. Dizem as boas línguas que o de todos os melhores, pois sonho não é só amor que começa em Abril é para sempre, o para sonhar, mas para vivê-lo intensamente. sinal mais evidente do amor verdadeiro. Busquem descobrir um bom lugar para parJá o mês de Maio tem 31 dias e deriva-se ticipar dessas experiências renovadoras. As de Maya, a deusa da fertilidade noites desse período também que foi seduzida por Zeus e gesão um convite irrecusável para "Felizmente no rou Hermes, o mensageiro dos sentirmos alegres os aconcheritual cíclico das gos térmicos que esse friozinho deuses. Hoje, Maya representa a mais bela das estrelas do aglode Abril e Maio nos proporciona estações, tudo merado estelar das Plêiades. Na generosamente. tradição católica, é o mês de- retorna e se renova Já nos campos rupestres, dicado a Maria, mãe de Jesus continuamente." principalmente na Serra do Cristo. Maio também é um mês Cipó, Abril abre-se em pétalas, essencialmente feminino, pois é tempo de fe- pois é o mês das florações mais belas das cundidade, uniões, noivados e nascimentos. quaresmeiras, lavoisieras, melastomatáceas, Esses dois meses – e os amantes da natu- etc. Já Maio nos oferece o lindo espetáculo reza sabem muito bem disso - fazem desa- das brumas cobrindo os picos mais altos das brochar os fluxos energéticos irradiados pela montanhas. Portanto, desejamos a todos os mais bela lua cheia do ano: a lua de Buda que leitores e simpatizantes da Ecológico que as ocorre em maio. Essa irradiância lunar nos noites desses meses proporcionem a todos proporciona o renascimento feliz das nossas um cortejo de brilhos e de brumas simboliperdas cotidianas. Felizmente no ritual cíclico zando essa necessidade imperiosa de renodas estações, tudo retorna e se renova conti- var nossas forças motivantes. Logo à frente, nuamente. É nesse eterno retorno que reside em Junho, teremos uma caminhada mais o verdadeiro sentido das comemorações e dos árdua, pois o outono é também a antessala rituais. A Páscoa e a Semana Santa, por exem- do inverno, uma estação que nos desafia a plo, são festas sinalizadoras dessa esperança sentir com mais firmeza o sozinho espiritual que nos aponta para a necessidade espiritual da nossa intimidade. das comemorações. Comemorar é rememo(*) Ambientalista e professor rar, relembrar um acontecimento muito espede Filosofia da PUC Minas.
FOTO: ALFEU TRANCOSO
REFLEXÃO OUTONAL A
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