ANO 8 - Nº 91 - JULHO/AGOSTO DE 2016 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
EXPEDIENTE
FOTO: ROBERTO MURTA
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Borboleta capitão-do-mato (Morpho helenor)
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
EDITORIA DE ARTE André Firmino
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A
COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com
REVISÃO Gustavo Abreu
DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com
CAPA Arte: Yara Tupynambá Foto: Sylvio Coutinho
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior
DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com
CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
REPORTAGEM Cristiane Mendonça e Luciana Morais
Sarah Caldeira sarah@souecologico.com
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com
VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
souecologico ecologico
5,18 tCO2 e Abril e Maio de 2016
MargaretMarinho MONDODESIGN PH:_tooR
Denise Magalhaes R. Rio de Janeiro 1930 Lourdes (31) 2103.8500 BH @ /verdequetequeroverde www.verdequetequero.com.br
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ÍNDICE
CAPA A ARTE DE YARA TUPYNAMBÁ REACENDE O DEVER PÁTRIO DE RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA DESTRUÍDA PELA TRAGÉDIA DE MARIANA.
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PÁGINAS VERDES O ESPECIALISTA EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL RICARDO ABRAMOVAY FALA SOBRE O IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO PLANETA E NA HUMANIDADE
E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 ESTADO DE ALERTA 22 ARTIGO 24 SAÚDE 28 VIDA MARINHA 31
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MEMÓRIA ILUMINADA A ECOLOGIA HUMANA DE MUHAMMAD ALI, O CAMPEÃO DO BOXE QUE SE TORNOU UM ÍCONE DO MOVIMENTO NEGRO E DOS DIREITOS CIVIS
PRESERVAÇÃO 32 INOVAÇÃO AMBIENTAL 34 RECICLAGEM 38 NATUREZA MEDICINAL 40 GESTÃO & TI 46 AS PEGADAS DE LUND (4) 48 VOCÊ SABIA? 52 ESTANTE VERDE 66
Pág.
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CARTAS DOS LEITORES
coisas absolutamente raras nos dias conturbados e violentos que vivemos no nosso presente. Uma personalidade (ou muitas) insubstituível!.” Gurgel Mendes, via Google+ O UMA VOZ CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL Matéria fala sobre a vida e carreira do ex-vicepresidente dos EUA e defensor das causas ambientais, Al Gore “Quando saem da política, defendem o meio ambiente, quando estão no poder nem querem ouvir falar no assunto!” Cezias Silva Nascimento, via Facebook “Al Gore traz um debate inadiável, para o qual a maioria das pessoas e governos enterram as cabeças.” José Marques Porto, via Facebook
O A REVELAÇÃO CLIMÁTICA DE CHICO XAVIER A profecia ecológica atrás da data-limite de 2019 “Os acadêmicos piram só de pensar em um diálogo entre espiritualidade e ciência, a ecologia profunda. Não estou falando de religião e dogmas, que é outra coisa!” Liza Andrade, via Facebook “Já dizia Humberto Maturana em ‘Biologia do Amor’: ‘Amor não é um fenômeno biológico eventual, nem especial, é um fenômeno biológico cotidiano’. Ele é tão básico que torna-se essencial para operar a vida!” Milena Rodrigues, via Facebook “Chico Xavier sempre falou do amor da gratidão e da natureza. Era uma pessoa tão simples que só pensava no seu próximo. Amo o trabalho que ele deixou escrito.” Isolda De Souza Soares, via Facebook “Para o que crê, nenhuma prova é preciso. Para o que não crê nenhuma prova será o bastante.” Elizabete Amorim, via Facebook “Chico Xavier não era um homem comum. Estava anos-luz de distância, compreensão e entendimento da prole. Mesmo assim, falava, escrevia, fazia o bem,
08 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
O O SEGREDO (3) Texto fala sobre o livro e documentário “O Segredo”, que aborda o poder do pensamento positivo para se alcançar o sucesso “Bem-vindo ao planeta Terra! Não há nada que você não possa ser, fazer ou ter. Você é uma criatura magnífica e está aqui pela sua poderosa e deliberada vontade de estar aqui. Vá em frente, dando atenção para o que você quer, atraindo vivências para lhe ajudar a decidir o que quer. Uma vez que você decida, dê atenção a isso. Muito do seu tempo será passado coletando dados que o ajudarão a decidir o que irá querer. Mas o seu verdadeiro trabalho é decidir o que você quer e se focar nisso. Focando-se no que quer é que você irá atrair. Esse é o processo de criação.” Vivien Sander, via Google+ O PÁGINAS VERDES - SARNEY FILHO O ministro do Meio Ambiente fala sobre a tragédia de Mariana e os desafios frente ao ministério “Senhor ministro: que tal começar pelo Maranhão, estado onde nasceu, que sofre com tamanha pobreza e falta de saneamento?” Eder Romulo, via Google+ “Senhor ministro: que tal começar pelo Maranhão, estado onde nasceu, que sofre com tamanha pobreza e falta de saneamento?” Dorilda Pereira, via Google+
FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
“Há muito tempo venho dizendo: 99% da população do mundo é boa, o resto faz marketing!” Carlos Santos, via Google+ “A ecologia que Dom Joaquim aborda é a que as empresas e pessoas menos fazem. Cada vez mais, infelizmente, cresce a ecologia do individualismo.” Lúcio Marques, via e-mail O ENSAIO FOTOGRÁFICO - MARCELO SKAF Reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Mol, fala sobre a importância de se praticar a caridade ao próximo “Marcelo Skaf na Ecológico! Além de ter trabalhado com esse cara, gravei entrevistas ótimas com ele para o meu programa de TV, em Foz do Iguaçu, e fiz algumas matérias para jornal. Skaf é uma autoridade em fotos submarinas!” Edilma Duarte, via Facebook
EU LEIO “Nós, da Terra Consultoria e Análises Ambientais, ficamos admirados ao ler a Revista Ecológico. Ao recebermos cada edição, disponibilizamos a mesma para toda a nossa equipe e nos surpreendemos com o rico conteúdo, matérias espetaculares e design impecável da revista. Além disso, ficamos felizes em saber que existem profissionais trabalhando em prol do mesmo objetivo de nossa empresa: valorizar e cuidar do meio ambiente. Juntos, podemos crescer com sustentabilidade.”
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
O A ECOLOGIA DA SOLIDARIEDADE Reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Mol, fala sobre a importância de se praticar a caridade ao próximo
Rangel Gomes, analista de Marketing da Terra Consultoria e Análises Ambientais
“O ensaio com as fotos de biodiversidade marinha feitas pelo Marcelo Skaf são, na minha opinião, as mais bonitas que a Ecológico já publicou.” Luciano Pereira, via e-mail
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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
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Rio Doce perguntou para o doce qual é o doce que é mais doce. E o doce respondeu para o Doce que o doce que é mais doce é ele mesmo, o Rio Doce, que precisa recuperar as suas matas, nascentes e águas, antes que elas se tornem salgadas e percam, de vez, o doce que tem. Foi assim, como numa brincadeira de roda ou de contar estórias, que a artista Yara Tupynambá se inspirou para sua nova mostra, “Pintando a Natureza”, com destaque ecologicamente político para a necessidade de recuperação do ecossistema da Mata Atlântica – atingido pela tragédia de Mariana. Só pela beleza da natureza – Yara proclama com os seus pincéis – a humanidade deveria socorrer e preservar o planeta. Precisa de mais motivos? É uma pena. Mas precisamos sim, como demonstramos nesta edição da Revista Ecológico, diante do estado do mundo nada atlântico, nem vergel, quase sem esperança em que sobrevivemos. Que outros motivos buscamos, caro leitor, cara leitora, para sairmos juntos e salvos da crise planetária que se avizinha, com as mudanças climáticas? É o que vocês irão ler nesta edição. Primeiro, o recado do professor Ricardo Abramovay, um dos especialistas brasileiros mais notórios em aquecimento global. Sem falar em mais um catedrático, o professor Cástor Cartelle, para quem a extinção de toda a vida terrestre, tal como dos dinossauros, está por um fio - mais fino do que imaginamos. E por aí afora até chegarmos em uma mensagem vinda de onde menos imaginaríamos: do desumano e antiecológico mundo do boxe, assinada pelo campeão dos campeões, Muhammad Ali, o eterno Cassius Clay, falecido recentemente. Do boxe à pintura, tudo que precisamos continua sendo o amor. Não o amor salgado, mas o doce. Tal como o rio mineiro-capixaba atingido pela tragédia de Mariana, que sempre e historicamente contaminamos com o nosso desamor, até o seu superdesamor recém-ocorrido desde o doce das montanhas de Minas até o seu desaguar morimbundo nas águas salgadas do Atlântico. Rio Doce, a sua recuperação ambiental, tal como repintada nas matas de Yara, continua nas mãos dos
10 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FOTO: SYLVIO COUTINHO
PELO DOCE DO RIO DOCE
O RIO DOCE, retratado por Yara Tupynambá: “Monet brasileiro”, antes da tragédia
representantes de todos nós. Da Samarco à cada descarga sem tratamento nem amor que continuamos dando nos nossos rios, à espera parceria e não omissa dos nossos governantes, em suas políticas nada ecoeficientes. Até quando? É o que a natureza retratada pela artista não nos responde. Só mostra a sua igual reação, como mostramos nesta edição. Boa leitura! O
FOTOS: PBH
GENTE ECOLÓGICA
FOTO: EINAR FALUR INGOLFSSON
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“Farei qualquer coisa para evitar o tédio. É a tarefa de uma vida.”
FOTO: PETERS, HANS / ANEFO
ANNE CARSON, poeta e ensaísta americana
“A melhor maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.” DOM HELDER CÂMARA (1909-1999), bispo católico
“Não podemos ter paz vivendo entre homens cujos corações se deleitam em matar criaturas. Para cada ato que glorifica o prazer de matar, estamos atrasando o progresso da humanidade.” RACHEL CARSON, cientista e ambientalista norte-americana
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“Esse reconhecimento mundial da beleza da Pampulha incrementará o turismo e irá reforçar a autoestima dos moradores de BH, além de aumentar o nosso compromisso com a despoluição da Lagoa.” MARCIO LACERDA, prefeito de Belo Horizonte, sobre o título “Patrimônio Cultural da Humanidade” concedido pela Unesco, no último dia 17 de julho, ao Complexo Arquitetônico da Pampulha
“Hoje foi o dia da arquitetura moderna. O coroamento de um longo trabalho de grupo.”
“A Pampulha modernista jamais será velha. Ela bebeu na fonte da juventude.”
LEÔNIDAS OLIVEIRA, presidente da Fundação Municipal de Cultura
GUSTAVO PENNA, arquiteto
“A responsabilidade ambiental tem que ser uma atitude. O grande desafio é a mudança de hábito. E, para isso, o papel de toda empresa é também de ser educadora no reforço da formação primária.”
FOTO: VENI
FOTO: DIVULGAÇÃO
PAULO BRANT, presidente da Cenibra e vice-presidente da ACMinas
“As usinas nucleares não são apenas um problema de segurança, de ambiente ou de energia. Mas todas essas coisas juntas.” MIKHAIL GORBACHEV, presidente-fundador da Cruz Verde Internacional e líder da União Soviética entre 1985 e 1991
“Se efetivadas as propostas para botar abaixo partes decisivas da legislação ambiental brasileira, o Brasil poderá perder grande parte do que faz dele um patrimônio privilegiado.” WASHINGTON NOVAES, jornalista
FOTO: SÉRGIO SAVARESE
SZB A Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB) definiu 2016 como o "Ano do Papagaio". Além de conscientizar a sociedade sobre o tráfico ilegal e ameaça de extinção, a campanha abordará a perda de hábitat devido à destruição de ecossistemas onde esses animais vivem, como a Mata Atlântica. A inciativa tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e realizará ações de mobilização em lugares como zoológicos e escolas.
FOTO: PBH
FOTO: RODRIGO ZEFERINO
GAL COSTA, cantora
MÁRIO CAMPOS O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) é um dos apoiadores do manifesto de repúdio ao Projeto de Lei 1013/2011, que libera a fabricação e venda de carros de passeio a diesel no Brasil. Se aprovado, o projeto causará danos à saúde pública, uma vez que esses veículos são altamente poluentes. Segundo Mário, "o Brasil precisa se unir em torno da descarbonização da economia, com a redução da emissão dos gases do efeito estufa. A aprovação desse projeto seria um retrocesso nesse sentido".
CLÉO PIRES A atriz se tornou madrinha de uma campanha de crowfunding das ONGs Ampara Animal e 100% Animal para arrecadar R$ 500 mil para devolver 16 onças em cativeiro ao hábitat natural. A ideia é construir seis recintos de 180m², enriquecidos com elementos para proporcionar melhor qualidade de vida aos bichos, como lago, caverna e vegetação natural. Hoje eles vivem em espaços de 40 m2. Na sequência, as onças serão preparadas para reintrodução na natureza.
FOTO: SÉRGIO SAVARESE
FOTO: SILVIO TANAKA
“A onda de violência e intolerância atual, vide os monstruosos estupros coletivos recém-ocorridos, nos dá a sensação de que estamos vivendo o apocalipse. Precisamos de mais amor e tolerância neste mundo louco em que vivemos.”
CRESCENDO
JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 13
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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA
FOTOS: DIVULGAÇÃO
TWITTANDO
“O melhor jeito de fugir de um touro bravo? É só parar com as touradas e proibir todo tipo de escravização animal.” @JoaoVicente27 João Vicente Castro, ator
INSTAGRAM VERDE INSTAGRAM VERDE A atriz Camila Pitanga sempre emprestou sua fama às causas ambientais. Não por acaso, em 2012, ela conquistou o “Prêmio Hugo Werneck” como “Destaque Nacional” por ter pedido para a então presidente, Dilma Rousseff, que vetasse o insustentável Novo Código Florestal. Agora, mais uma vez, Camila tem sua imagem ligada ao meio ambiente como protagonista da novela global “Velho Chico”, que tem as terras banhadas pelo Rio São Francisco como cenário. Em seu Instagram @caiapitanga, a atriz celebrou o momento mencionando uma frase de sua personagem Tereza: “’A sua benção, meu Velho Chico! Abençoe sua filha que está voltando depois de todos esses anos...’ Eu, Camila, sinto-me recomeçando uma nova fase também. Terão acertos? Erros? Não importa! Estou no leito de um rio poderoso”.
ECO LINKS
“Austrália proíbe definitivamente a venda de produtos testados em animais.” @AlexiaDechamps Alexia Dechamps, atriz
FEIRAS ORGÂNICAS NO BRASIL Sabe onde encontrar frutas, verduras e legumes orgânicos na sua cidade? Onde estão as feiras mais próximas de você que vendem esses produtos? Se a resposta é não, é bom conhecer o aplicativo “Mapa de Feiras Orgânicas no Brasil”. A ferramenta possui mais de 500 pontos de comercialização de orgânicos e agroecológicos em todo o país. Desse total, 90% são feiras. O aplicativo ainda disponibiliza receitas saudáveis e sustentáveis com alimentos regionais. Disponível gratuitamente para celulares com sistema Android no Google Play. Acesse: www.goo.gl/tXn26h
MAIS ACESSADA
“Por que não criamos edifícios que funcionem como árvores, capazes de oferecer suporte à vida?” @alexmansur - Alexandre Mansur, jornalista do Blog do Planeta 14 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
DEZ RAZÕES PARA PLANTAR HORTELÃ EM CASA Bastante popular e conhecida pelas propriedades culinárias e medicinais, a hortelã é também de fácil cultivo. Por isso, a matéria que fala de dez benefícios de se plantá-la em casa foi a mais acessada e compartilhada no site e redes sociais da Revista Ecológico. Para se ter ideia, há estudos que apontam que o simples inalar do aroma da planta já traz efeitos positivos nas funções cognitivas. Quer saber mais? Basta acessar o texto diretamente no link: www.goo.gl/gEsh92
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Quando o sítio é ecológico, em se plantando, dá. O site da Revista Ecológico é um terreno fértil para o crescimento da sua marca. Anuncie em nossa versão digital e colha excelentes resultados. Nossa linha editorial é verde, mas pode apostar que o retorno será concreto.
iga nossas redes sociais:
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PÁGINAS VERDES
“TEMOS DE DESCARBONIZAR
A ECONOMIA” Paulo Coutinho Colaboração de Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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a avaliação do filósofo, mestre em Ciência Política e doutor em Sociologia Ricardo Abramovay, repensar o sistema econômico atual é o grande desafio do Brasil e do mundo para atingir a sustentabilidade. Nesta fase de transição para uma economia de baixo carbono, ainda falta para ambos integrar este sistema de forma mais orgânica à qualidade de vida e à ética, por meio de uma nova revolução sustentável ao se produzir bens e oferecer serviços. Ele reforça que apenas reconhecer a importância das inovações tecnológicas na economia verde não resolverá os problemas socioambientais que assolam o século XXI. Para isso, propõe a descarbonização da economia e também lança uma reflexão sobre a chamada “psicologia climática”, que impede as pessoas de perceberem as evidências científicas para, de fato, atuar propositivamente contra as alterações do clima e o aquecimento global. “Se os gases de efeito estufa tivessem cor ou cheiro, nunca teríamos chegado onde estamos, porque a indignação contra eles seria mais rápida. E os resultados também”, ressalta. Nesta entrevista exclusiva à Revista Ecológico, o autor dos livros “Muito Além da Economia Verde” e “Lixo Zero: Gestão de Resíduos Sólidos”, prefere ser realista em relação ao futuro que nos aguarda. “Vamos viver em um mundo mais quente e teremos de nos adaptar ao que está vindo. Não antevejo uma vida miserável, mas sim uma em que as virtudes comuns terão de ser mais cultivadas.” Confira: Quais os impactos que o quinto relatório do IPCC provocou na comunidade científica e que influência ele trouxe para sociedade, principalmente para os céticos? Na verdade, os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em in-
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ABRAMOVAY: “Negar as mudanças climáticas não é um ponto de vista inocente e sim fomentado por empresas fósseis”
R I C A R D O A B R A M O VAY Economista e escritor
“A barragem é um organismo vivo, que se “Vamos viver em deteriora continuadamente como o nosso um mundo mais corpo. Daí a importância de as empresas quente mesmo se investirem em auditorias de segurança.” as emissões fossem interrompidas hoje.”
glês) não trazem nada de novo com relação àquilo que a comunidade científica faz e sabe, mas são uma síntese mais didática possível. Dos artigos publicados de 1990 para cá, pouco mais de 2% negam a existência do aquecimento global ou a sua natureza antrópica. Isso significa que a maioria da comunidade científica converge no sentido de mostrar que o mundo que estamos está passando por uma mudança climática. Que ela é causada pelo homem e representa riscos imensos para o futuro da civilização e do meio ambiente. Há como reverter isso? Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa, por um milagre, fossem interrompidas hoje, aquilo que está acumulado na atmosfera é suficiente para provocar mudanças durante séculos, ou até milênios, em todo o planeta. Somos uma espécie que exerce influência biológica sobre a Terra, pela própria relação que temos com o mundo natural. Desde a revolução neolítica, há dez mil anos, a huma-
nidade tem desmatado florestas. Agora, também representa uma força geológica. Nunca anteriormente as ações humanas tinham sido capazes de alterar não só o clima mas a era geológica que estamos passando. Qual é o grande paradoxo que vivemos hoje? O contraste e o acúmulo de evidências no sentido de que existem mudanças climáticas e elas são de origem antrópica. Esse contraste “ciência-opinião pública” é um dos temas de pesquisa mais fascinantes. As pessoas não se dobram às evidências científicas. Esse contraste é interessante para a sociedade? Sim. E ele é chamado de “psicologia climática”. Há uma série de estudos que vêm sendo feitos tentando listar e compreender os fatores psicológicos que impedem as pessoas de aceitar essas evidências científicas. Alguns deles são intuitivos: se os gases de efeito estufa tivessem cor ou cheiro, nunca
teríamos chegado onde estamos porque a indignação contra eles seria mais rápida. Em segundo lugar, é a mente humana. Como assim? O Banco Mundial divulgou recentemente um relatório chamado “Mente, Comportamento e Sociedade”. Por que ele se voltou para um estudo da mente? Porque a maneira que os economistas habitualmente concebem o comportamento humano é irrealista: faz abstração da sociedade e da psicologia. O relatório mostra a nossa capacidade de compreender o mundo, a nossa mente, que se caracteriza por uma espécie de “curto-prazismo” e um conjunto de reações automáticas em que a compreensão de fenômenos complexos como as mudanças climáticas é muito difícil. Além disso, tem uma dimensão cultural. Os estudos mostram que aceitar a existência das mudanças climáticas é ter de mudar o modo de vida. Isso nos EUA atenta contra a liberdade individual. Ou seja, quem tem de
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PÁGINAS VERDES
FOTO: REGINA SANTOS
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decidir meu modo de vida sou eu, não nenhuma autoridade. Há uma parcela da população e da opinião pública que adere às teses negacionistas mostrando que é muito mais sacrificado continuar do jeito que estamos do que enveredar pelo caminho de mudança que vem sendo proposto. Do ponto de vista da psicologia humana, você sempre prefere o conhecido, principalmente quando fica mais velho. Os negacionistas aproveitam disso para conspirar contra a comunidade científica? Eles não publicam artigos porque as suas ideias não passam pelo crivo da comunidade científica. Alguns dizem que existe uma conspiração porque ela está sendo financiada para desprestigiar os EUA, o que é uma ideia descabida. Os negacionistas publicam muitos livros e a maioria deles são patrocinados por interesses. Negar as mudanças climáticas não é um ponto de vista inocente e sim fomentado por empresas fósseis, da mesma forma que as de tabaco 18 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
“O Brasil vive entorpecido pela ideia de que fazer hidrelétrica na Amazônia e furar milhares de metros para descobrir petróleo é o suprassumo da modernidade.” afirmavam que o vínculo entre o cigarro e a ocorrência de câncer era uma ideia estapafúrdia durante muitos anos. A descarbonização significa o fim da era do petróleo? A base da sociedade moderna é o petróleo. Ele tem um poder energético imenso, é difícil encontrar algo com tanta força assim. Para se ter ideia, uma colher de petróleo tem energia correspondente a oito horas de trabalho humano! Graças a essa fonte de energia foi possível transformar a agricultura
contemporânea, massificar a produção, do qual teria sido impossível passar dos 800 milhões de habitantes, que éramos na época da Revolução Industrial, para os mais de sete bilhões de seres humanos que somos agora. O carvão também não foi fundamental para a produção de energia? Sim. Os países desenvolvidos se desenvolveram com base na energia oferecida por esses dois “escravos baratos”. Além da produção de energia, ainda há uma produção adicional que é a de gasolina para movimentar os automóveis a partir dos anos 1920. Foi o que permitiu a revolução completa no próprio conceito de mobilidade baseado no automóvel individual. Então, nesse sentido, emissão de gases de efeito estufa é a contrapartida de um conjunto de comodidades básicas da vida moderna das quais é perfeitamente natural que as pessoas não queiram abrir mão. É um contraste danoso, não?
R I C A R D O A B R A M O VAY Economista e escritor
Até alguns anos atrás, esse contraste entre os efeitos danosos daqueima de combustíveis fósseis e o conforto que o seu uso traz para as pessoas era incontornável. As alternativas eram muito poucas. E o discurso ambientalista tinha de acentuar muito mais o lado negativo das mudanças climáticas do que o das perspectivas. Isso mudou muito por conta da pesquisa científica e de suas aplicações tecnológicas. A era digital e a economia da informação em rede permitiram as nanotecnologias e um avanço sobretudo em energias solar e eólica, que abrem caminho para descarbonizar a matriz energética. O carro elétrico é um exemplo. E no que se refere à matriz de transporte? O automóvel tradicional levou a sociedade a um estrangulamento insuportável. Hoje, sobretudo nos países em desenvolvimento, é o contrário da finalidade de função ao qual é oferecido, que é a mobilidade. Os carros representam uma força para as pessoas. As cidades passam a se organizar em função deles, que é uma grande operação de enxugar gelo. É preciso dispor de meios de transporte públicos de boa qualidade. Ainda bem que a aspiração dos jovens por bens como um automóvel, quando entram na vida adulta, não é mais como antes. As tragédias ambientais são próprias do mundo capitalista? Não. Os grandes desastres ambientais contemporâneos ocorrem também, por exemplo, no mundo socialista. A ideia de que o não ca-
pitalismo pudesse ser menos predatório não bate com os fatos. É o caso da China, que cresceu economicamente de forma ambientalmente predatória. A questão é que nas sociedades contemporâneas os interesses consolidados em torno não só da economia fóssil, mas da maneira de produzir e distribuir energia, são tão fortes que há dificuldade em combatê-los. O
mundo continua subsidiando de maneira pesada os combustíveis fósseis, produz de 70 a 80 milhões de carros por ano e os sistemas elétricos contemporâneos continuam obedecendo as mesmas leis. Que esperança devemos ter então? Não é dizer “vamos mudar de regime capitalista para socialista, desapropriar ou nacionalizar essas grandes empresas para elas obedecerem ao interesse social”. Não adianta fazer isso se o modo de operar continua o mesmo. Às vezes, as pessoas dizem que quando se afirma que existem tecnologias
renováveis ou formas descentralizadas de se produzir energia, se está dando ênfase em uma solução técnica. Isso não é verdade. Para essa solução se massificar, ela vai exigir uma mudança tão importante na maneira de organizar bens e serviços que corresponderá a uma espécie de revolução. Isso já está começando a ser vivido no campo da eletricidade, onde as grandes centrais elétricas começam a se sentir ameaçadas pelo processo de descentralização decorrente da autoprodução de energia. O que essas empresas terão de fazer? Se reinventar ou, então, estarão fadadas a desaparecer. O mais importante é localizar o tipo de demanda social e o que ela pode representar de avanço em relação à democracia e à justiça. Um exemplo é o que acontece hoje com os gigantes da internet. O mundo nunca teve condições tão propícias quanto agora para estimular a colaboração social, em que cada um de nós dispõe de um objeto cujo poder computacional é totalmente descentralizado. As empresas precisam se perguntar se estão realmente cumprindo uma função social. Elas não podem ser mais apenas instrumentos de obtenção de lucros privados. Hoje existem movimentos que dizem o que as empresas devem aberta e voluntariamente fazer para que a sustentabilidade seja o elemento decisivo para o seu próprio lucro. Os mercados já perceberam a necessidade dessa mudança de pensamento?
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PÁGINAS VERDES FOTO: FERNANDA MANN
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Sim. E estão temerosos em relação aos investimentos petrolíferos, por exemplo, porque é perfeitamente possível que haja uma recuperação ou um ganho de bom senso por parte de todos nós. Explorar o conjunto dos recursos fósseis que está na mão dessas empresas significa a destruição do sistema climático, que é o bem mais importante da espécie humana. Há como minimizar os estragos? Mesmo se todos os países do mundo cumprirem o que prometeram nas últimas conferências do clima, continuaremos no patamar de elevação de temperatura superior a dois graus, que já terá consequências muito graves para a vida na Terra. É muito mais difícil do ponto de vista ético atribuir responsabilidades por um fenômeno desta natureza. Os responsáveis são os que emitem gases de efeito estufa, mas é preciso ter cuidado ao afirmar isso, porque eles emitem para criar produtos que todos nós compramos. Vai dizer que somos assassinos da 20 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
“O Cerrado é uma floresta de cabeça para baixo e responde por parte importante do nosso abastecimento de água. Mas ninguém dá bola para ele.”
Qual é o nosso grande desafio então? Não é imaginar que precisamos convencer as pessoas a renunciar às comodidades que elas desfrutam hoje, e que querem almejar, para poder promover as transformações necessárias a esse novo paradigma civilizacional. Acredito que o nosso desafio é mostrar que a vida sob uma inspiração de combate às mudanças climáticas é melhor do que a vida com mudanças climáticas.
espécie humana e de outras porque usamos carros? É intuitivo que há exagero nisso. Supor que as mudanças climáticas, para que elas sejam combatidas, implicam transformações nos comportamentos humanos de natureza puramente altruísta é dar um tiro no pé. As chances de que esses comportamentos sejam transformados em um prazo minimamente razoável são muito pequenas. Até porque há uma parte da população que sequer consegue suprir suas necessidades básicas, um problema sério de desigualdade.
Qual é o segredo para que isso aconteça? A capacidade de oferecer bens públicos e serviços coletivos que são fundamentais para uma melhor qualidade de vida e que as economias contemporâneas não vêm sendo capazes de fazer por várias razões. A primeira delas é que nos países desenvolvidos o resultado dos grandes avanços tecnológicos é o aumento das desigualdades sociais. Nos EUA, o índice de desigualdade é maior do que o da crise de 1929. Isso é muito grave! Exatamente os paí-
R I C A R D O A B R A M O VAY Economista e escritor
ses que estiveram na vanguarda da construção democrática do século XX são os que passam por uma deterioração de seu tecido social em função da desigualdade. Se não houver um horizonte para enxergar que é possível ter uma vida melhor desfrutando da conivência com os outros e questionando a ideia de que as jornadas de trabalho têm de ser imensas para você comprar o que precisa, se esse tipo de colocação exacerbar as polaridades inclusive culturais do confronto, dificilmente sairá alguma coisa de construtivo. Se não formos capazes de demonstrar que a vida pode ser melhor com a descarbonização da economia, não ganharemos essa batalha. Você disse recentemente que o Brasil investe 72% em petróleo, 3% em novas fontes e 5% em biocombustível. Esses dados são anteriores à Operação Lava Jato. Agora eu não sei. Provavelmente devem 2/3 dos investimentos ainda deve ser no petróleo. Qual é a tendência desse tipo de investimento no Brasil? Se depender das lideranças políticas, governamentais, empresariais e sindicais, vamos continuar neste caminho. O Brasil vive entorpecido pela ideia de que fazer hidrelétrica na Amazônia e furar milhares de metros para descobrir petróleo é o suprassumo da modernidade. Não é. É um atraso. Estamos mergulhados nisso e as reações da sociedade civil e do empresariado começam a ganhar algum vulto com os escândalos da Operação Lava Jato. A sociedade já percebeu o vínculo entre grandes obras de infraestrutura e a corrupção. A concentração de tanto poder em poucas empresas e do Estado é um convite à ineficiência.
"A sociedade não entendeu, ou entendeu de maneira abstrata, o quanto inovação é algo estratégico para que o desenvolvimento possa emergir no Brasil."
A ausência de um projeto de Brasil moderno que supere as grandes barragens, a descentralização da produção de energia, é estrutural ou circunstancial dos governos? É uma característica deles. Durante a última campanha eleitoral não houve ninguém levantando dúvidas a respeito do pré-sal. Mesmo no que se refere ao processo de desindustrialização da economia, fica parecendo que isso não tem nada a ver com a característica estrutural do Brasil e da América Latina, que é o processo de desprimarização pelo qual os países passam. Um dos grandes problemas que temos é o sentimento de que grandes ONGs e movimentos sociais estão voltados a temas centrais como violência, discriminação, injustiça, desigualdade. A sociedade não entendeu, ou entendeu de maneira abstrata, o quanto inovação é algo estratégico para que o desenvolvimento possa emergir no Brasil. Os nossos dados de educação são de uma precariedade impressionante, grosseira. A Amazônia será preservada a tempo ou transformada em savana? É possível preservá-la. O desmatamento no bioma já é imenso, che-
ga a 19%, mas a parte preservada é maior. Cada vez mais, a legitimidade social e política do desmatamento cai. Contrário ao que acontece no Cerrado, que é onde nossa preocupação deve estar. O Cerrado é uma floresta de cabeça para baixo e responde por parte importante do nosso abastecimento de água. Ninguém dá bola para ele. A Amazônia não, ela tem atenção internacional. O que falta para esses biomas existirem de forma equilibrada? Empreendedorismo inovador, exploração sustentável da floresta em pé. Isso não se traduziu em negócios em uma escala minimamente apreciável. Mas sou mais otimista com o futuro da Amazônia do que com o do Cerrado, que as pessoas acham que é fronteira agrícola. E não é. É uma questão de legitimidade. Que futuro você vê para o Brasil e a humanidade? Vamos viver em um mundo mais quente mesmo se as emissões fossem interrompidas hoje. Não sabemos se o grau de destruição vai ser imenso ou pequeno, depende de sermos capazes de reduzir, nos próximos 15 anos, as emissões de gases poluentes. Se isso não acontecer, teremos consequências piores que as de hoje. Vamos ter de nos preparar para uma adaptação a este mundo que está vindo. Se houver a elevação de três graus até o fim do século, haverá uma intensificação dos fenômenos climáticos. Muitas áreas litorâneas hoje habitadas serão sacrificadas. Terão de deslocar pessoas para as áreas em que não haja risco. Não antevejo uma vida miserável, mas sim uma em que as virtudes comuns terão de ser mais cultivadas. O JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 21
MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
FOTO: WELINGTON PEDRO DE OLIVEIRA
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ESTADO DE ALERTA
“NOBREZA” INSUSTENTÁVEL
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les não desistem. O deputado Toninho Pinheiro-PP/MG (o mesmo que tentou modificar a legislação de zona de amortecimento de parques e reservas para facilitar loteamentos) apresentou à Câmara dos Deputados o PL 3.571/2015. O projeto “dispõe sobre a desapropriação e indenização de propriedades privadas em unidades de conservação de domínio público”. Se for aprovado, podemos dizer “adeus” à proteção legal de ambientes naturais preciosos para o país e o planeta. O PL prevê que o poder público não mais poderá criar Unidades de Conservação (UCs), a não ser que disponha no ato a dotação orçamentária para regularização fundiária. O propósito parece nobre, porque sem dúvida há muitos casos de proprietários rurais que ficam prejudicados pela restrição de algumas atividades econômicas (como desmatamento, loteamento, mineração). Mas a “nobreza” considera somente a defesa da propriedade privada, independentemente de pertencer a empresas, latifúndios; da preservação dos atributos ambientais e de aquíferos que têm de ser preservados; do mau uso do solo e outras práticas predatórias; de conflitos sociais e do valor real das terras. Em Minas Gerais, por exemplo, boa parte das poucas unidades de conservação que existem foi criada em áreas onde o solo é de pobreza extrema, como na Serra do Espinhaço. Ou seja: são terras inviáveis para quase toda atividade econômica. É o caso do Parque Estadual do Rio Preto, que rende mensalmente à prefeitura de São Gonçalo do Rio Preto mais de R$ 50 mil pelo ICMS ecológico, valor que deve ser infinitamente maior do que renderia qualquer atividade. Ou da prefeitura de Ibirité - município 22 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
em que a família do deputado se mantém na prefeitura há mais de 16 anos -, que recebe cerca de R$ 25 mil/ mês pelo Parque Estadual do Rola Moça. Aliás, é bom registrar que o repasse do ICMS independe da regularização fundiária. Está comprovado que a criação de UCs, mesmo sem regularização, aumenta a proteção ambiental, justamente pelas restrições a atividades degradantes. Os parques que já estão abertos ao uso público propiciam lazer e contato com a natureza principalmente para segmentos da sociedade que não têm condição econômica de frequentar áreas privadas. O Brasil tem percentual irrisório de parques e estações ecológicas, sendo que grande parte, como na Amazônia, está invadida e sendo depredada. Mesmo sendo terras públicas. A privatização (ou entrega) de terras públicas no país continua sendo feita, em detrimento de serem destinadas à criação de unidades de conservação. Parecer da assessoria técnica da Câmara informou aos deputados que a aprovação levará a um “engessamento” do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), dificultando ou impossibilitando a criação de novas unidades, inviabilizando este importante instrumento de proteção e gestão ambiental”. Se o deputado e seus pares lutassem pela aplicação dos recursos da compensação ambiental que estão parados ou sequestrados no ICMBio e em órgãos estaduais e pela dotação orçamentária, nossos parques já estariam regularizados. Nós, também, não desistiremos! O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
Seja um Amigo do INOT
O Instituto de Observação da Terra é uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo a conservação da biodiversidade, desenvolvimento social e econômico da Cordilheira do Espinhaço. Participar da campanha Amigos do INOT é uma forma de colaborar para a conservação ambiental na Serra do Cipó, região mundialmente reconhecida pela sua rica biodiversidade, sendo parte da Reserva da Biosfera do Espinhaço. Ao ser Amigo do INOT, você estará adotando uma árvore que fica em uma área de cerradão, chamada Mata do Gerônimo. www.inot.org.br
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ARTIGO MAURÍCIO ROSCOE (*) redacao@revistaecologico.com.br
ÁGUA UMA VISÃO SISTÊMICA
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oje em dia, tem-se falado muito em visão sistêmica. Mas, infelizmente, raramente vemos essa metodologia sendo posta em prática de modo eficaz e colaborativo. Ela nos proporciona uma perspectiva global e, ao mesmo tempo, simplificada dos macroprocessos, ajuda a identificar os pontos críticos sobre os quais devemos atuar. Para demonstrar como essa abordagem pode contribuir
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para solucionar muitos dos desafios que temos pela frente, é só utilizarmos a questão da água como exemplo. Para compreendermos melhor a crise pela qual ainda estamos passando, o primeiro passo é saber quanto deste recurso existe à nossa disposição. Apesar de o planeta possuir um enorme volume de água, cerca de 97% dele é salgada. O volume de água doce disponível é relativamente muito
pequeno, principalmente se considerarmos o aumento da população da Terra. Além disso, cerca de 85% da água doce existente está nas geleiras e nos lençóis aquíferos profundos. Por outro lado, a superfície dos oceanos é muito grande e a atuação do sol sobre ela nos proporciona um processo natural de dessalinização e limpeza da água do mar, em grande escala. Como sabemos, boa parte das nuvens
“A grande estratégia está em aproveitar bem a sabedoria da natureza para reter e aumentar as reservas de água doce disponíveis.” ÁGUA DOCE Além da importância de gerir bem o uso das águas, é preciso falar de uma questão realmente mais estratégica e inovadora: o aumento da quantidade disponível de água doce. Além da construção de açudes e barragens, podemos aumentar a vazão dos rios! O assoreamento do Rio Doce por conta do rompimento de uma barragem de rejeitos cha-
mou nossa atenção para um fato: O rio já estava morrendo! Nossos rios estão morrendo aos poucos e, por ser lento o processo, não fazemos nada. Ficamos inertes, sem saber o que fazer e a quem apelar. Nossa educação, muito analítica e especializada, nos deixa com uma visão fragmentada em relação aos macrossistemas. No caso do Rio Doce, o famoso fotógrafo Sebastião Salgado conFOTO: STEVE JURVETSON
formadas são levadas, pelos ventos, para os continentes, onde caem em forma de chuvas. Assim, a grande estratégia está em aproveitar bem a sabedoria da natureza para reter e aumentar as reservas de água doce disponíveis. A compreensão de um sistema é limitada pelo ponto de vista do observador ou grupo de observadores. Sob o ponto de vista da visão sistêmica, todas as partes envolvidas, sejam representantes dos governos, legisladores, meios de comunicação, pesquisadores, ecologistas, fazendeiros, sejam industriais e consumidores finais, precisam entender a importância desse recurso e dialogar, discutir e juntar esforços de modo a garantir, de modo colaborativo, não só o uso sustentável da água, mas o aumento da água doce disponível. Existem várias linhas de ação a serem trabalhadas com o objetivo de maximizar o aproveitamento da água doce. Entre elas, podemos citar: O Reeducação/conscientização da
população para cuidar bem não só das águas, mas também economizar energia e bens de consumo (uma vez que o recurso natural é utilizada no processo de produção deles); O Os meios de comunicação podem dar uma contribuição ímpar para a evolução cultural da sociedade procurando transmitir, sempre, essa visão mais sistêmica, de modo didático, como uma história; O Disseminação
de processos de limpeza e tratamento de esgotos e despoluição de rios, lagos e oceanos;
Tomadas de medidas para a redução de enchentes que provocam perdas e desperdícios.
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Ao retornar à fazenda que pertenceu aos seus pais, o fotógrafo Sebastião Salgado replantou árvores onde haviam nascentes secas e as águas renasceram
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ta que, ao retornar, anos depois, à fazenda que foi de seus pais, viu que muitas nascentes haviam secado e já não existiam tantas árvores como em seu tempo de criança. O que ele fez? Replantou árvores onde perto de onde estavam as as nascentes e as águas voltaram! Foi uma experiência extraordinária, porque mostrou que, se fizermos isso com todas as potenciais nascentes de toda a Bacia Hidrográfica, elas poderão renascer e poderemos então, de fato, aumentar, e muito, o volume das águas de todos os afluentes. E, portanto, do próprio Rio Doce, fazendo-o retornar para a vida plena. As árvores e florestas retêm as águas das chuvas de modo que penetrem no solo, formando, além dos lençóis freáticos e rios. E também abastecendo os aquíferos subterrâneos. A vegetação ajuda a evitar as enxurradas e a erosão, que carregam terra - in-
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“O assoreamento do Rio Doce chamou nossa atenção para um fato: o rio já estava morrendo. Nossos rios estão morrendo.” clusive, de boa qualidade - e assoreiam os rios. Assim, um item crítico no processo de recuperação de nossos corpos d’água são as árvores e as florestas, que são ao mesmo tempo não só fundamentais à manutenção e aumento do volume de água nos rios, mas ainda ao equilíbrio da atmosfera terrestre e à nossa vida. Dentro de uma perspectiva sistêmica, é interessante lembrar que as árvores, como todos os
seres vivos, também têm o seu ciclo de vida. Como sabemos, as árvores retiram carbono (CO2) do ar e, através da fotossíntese, liberam oxigênio para a atmosfera. O que pouco se lembra é que esse processo é bem mais intenso quando as árvores estão em crescimento, pois, nessa fase, se utilizam de maiores quantidades de carbono para formarem seus troncos. Quando ficam adultas e maduras, esse ciclo da fotossíntese continua, mas numa escala menor. Após um período de maturidade, as árvores envelhecem e morrem, como todos os seres vivos. Em algum momento, após a maturidade e antes da morte, as árvores poderiam ser colhidas e utilizadas por indústrias madeireiras ecologicamente bem concebidas. Num ciclo de replantio bem planejado, novas árvores estarão crescendo e retirando, novamente, de modo contínuo, mais carbono da atmosfera. É
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES
um ciclo virtuoso que regenera os rios e a nossa atmosfera, além de proporcionar trabalho e prosperidade. Além disso, o produto industrializado, como um móvel, por exemplo, poderá reter o carbono em si por muitas gerações. A GRANDE QUESTÃO Por que a sociedade brasileira permanece inerte perante um problema relativamente simples, quando visto sob o prisma da visão de síntese? Sim, uma questão simples, mas extremamente grave em suas consequências para a vida. Por que permanece sem solução? É uma questão de paradigmas! Todos nós fomos educados para usarmos, e usarmos cada vez mais, o pensamento analítico. Que é, indiscutivelmente, muito necessário, pois foi o responsável pelo desenvolvimento tecnológico e industrial quase milagroso dos últimos séculos. Mas aqui estamos falando do
sistema das águas e também de nossa atmosfera. De problemas ecológicos, que envolvem muitas outras ciências, além das próprias ciências exatas. E a análise se torna pobre e mesmo insuficiente para resolvê-los, como estamos vendo. Há falta de visão sistêmica, sintética! E o conhecimento fragmentado é insuficiente para visualizá-las. Precisamos usar cada vez mais a nossa inteligência intuitiva que, para esses assuntos aqui tratados, é bem mais adequada que a análise. A intuição enxerga melhor a interconexão entre as coisas. Por exemplo: no sistema das águas, como vimos, a questão das árvores e das florestas é fundamental. Entretanto, aqui no Brasil, quando falamos nisso o foco é apenas no combate ao corte de árvores a ao desmatamento. Ninguém fala sobre incentivos ao plantio. E, o que é mais grave, a legislação inibe os proprietários de terra, rural ou urbana, a plantar árvores. Como a fiscalização contra o desmatamento não é tão eficiente, nossos bosques e florestas vão diminuindo... As chamadas “madeiras de lei”, protegidas em tese pela legislação, estão acabando por influência dela mesma! É importante combater o desmatamento ilegal. Mas, ao proibir quase que cegamente o corte, nossa legislação torna extremamente improvável o plantio de novas árvores. Se é praticamente impossível a obtenção de autorização de corte de árvores nativas e, mais ainda, das “madeiras de lei”, nenhum proprietário de terra tem motivação para plantar sequer uma árvore (muito menos bosques e florestas) em seu terreno: fazê-lo equivale a abrir mão do domínio sobre a área plantada. O que é muito semelhante ao que ocorreu no setor imobiliário, nos anos 1950. Naquela época, a legislação que trata de alugueis
havia sido redigida de forma a proteger ao máximo os inquilinos. O problema foi que a rigidez da legislação fez com que o negócio de locação se tornasse pouco atraente. E, com o passar do tempo, o volume de imóveis disponíveis para tal fim ficou imensamente reduzido. Ou seja, a falta de visão sistêmica pode agravar o problema que estamos querendo evitar. METOLOGIA DA QUALIDADE Em relação ao ciclo da água e às florestas, as leis que tratam do assunto, quealiás são muitas, longas e complexas, precisariam ser revistas com essa visão mais sistêmica e colaborativa para estimular o plantio e reflorestamento de modo harmônico com a ecologia e a atividade econômica. Ao incentivá-los, e regulamentar o corte planejado e sustentável, teríamos melhores chances de aumentar nossas áreas de florestas e contribuir para a redução do efeito estufa, a da poluição atmosférica e a regeneração do ciclo das águas (consequentemente, com o aumento dos estoques de água doce e volume de vazão dos rios). A metodologia da qualidade nos ensina a buscar as causas dos problemas e a atuar no sentido de corrigi-las. A mudança de paradigma, da visão fragmentada para outra mais colaborativa e orgânica pode resolver esse impasse e outros que a sociedade brasileira está vivendo. Quanto à água, com diálogo, harmonia e pensamento intuitivo, podemos visualizar os pontos críticos que a estão tornando escassa e, com boa vontade e gestão correta, resolvê-los. Vale a pena fazer isso. É o nosso futuro! O
(*) Engenheiro civil, diretor-presidente da M. Roscoe Engenharia e Construção e da Paraúna Administração, ex-presidente da Fiemg e presidente do Conselho Consultivo da União Brasileira para a Qualidade (UBQ).
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1 SAÚDE NOVA sede do Oncocentro, em BH. O Grupo agora inicia a construção de um cancer center com o Instituto Biocor que será referência no Brasil
MAIS AFETO, MAIS SAÚDE Grupo Oncoclínicas se torna referência ao adotar conceito de cuidado integral de pacientes e anuncia parceria com Instituto Biocor para criar um centro avançado de tratamento de câncer em BH Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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uem entra no Oncocentro, nova clínica de tratamento de câncer do Grupo Oncoclínicas, inaugurada recentemente na capital mineira, vê mais que um ambiente harmonioso. Não há pacientes entregues à tristeza. Lá, eles vislumbram a esperança, porque o foco é a vida. Os corredores claros, bem iluminados, revelam que gente, naquele espaço de 2.850 m2, é o foco. Tudo foi planejado para que os pacientes tenham cada vez mais conforto e qualidade. Além da realização de ciclos de quimio e radioterapia, o Oncocentro oferece cuidados complementares que vão além do
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tratamento oncológico comum, abrangendo desde o diagnóstico até a reabilitação do paciente. Entre os serviços oferecidos estão ioga, acupuntura, cromoterapia, musicoterapia e heike. O Oncocentro ainda tem uma sala para tratamento dentário e estomatoterapia, pois muitos pacientes são internados com estomatite. “O futuro da oncologia está na individualização dos casos. Por isso colocamos os pacientes no centro das atenções. Algumas das maiores causas de internação são náuseas, vômitos, desidratação e dor. Acupuntura e ioga, por exemplo, ajudam a reduzir esse quadro em até 50%, porque pre-
veem relaxamento e consequente minimização dos efeitos colaterais do tratamento”, garante Dr. Bruno Ferrari, médico oncologista e presidente do Conselho de Administração do Grupo. Com a inauguração da nova sede, que recebeu investimentos de R$ 12 milhões, a capacidade de atendimento aumentou em 25%, chegando a dois mil ciclos de tratamento por mês. Hoje, são realizadas mais de mil consultas mensais. O Oncocentro também é a única clínica da Grande BH a oferecer a crioterapia, procedimento que utiliza tocas especiais que resfriam o couro cabeludo, durante a aplicação dos quimio-
PESQUISA E APRIMORAMENTO Investir em pesquisa é outro diferencial do Grupo Oncoclínicas. Por meio de uma parceria internacional firmada com o Dana-Farber Cancer Center, em Boston (EUA), há dois anos, é realizado intercâmbio de conhecimento e educação médica, garantindo aos profissionais do grupo acesso a pesquisas, estudos clínicos e tecnologias inovadoras para trazer aos pacientes o que há de mais moderno no tratamento de câncer. “Semanalmente, profissionais de todas as nossas unidades participam de um tumor board com médicos e pesquisadores do Dana-Farber. Por meio de videoconferência, discutimos casos mais complexos e construímos protocolos de conduta de tratamentos juntos. Em uma das nossas últimas reuniões, 80 médicos participaram: 73 do Brasil e sete dos Estados Unidos”, afirma Bruno Ferrari. “O Dana-Faber é um dos hospitais que mais investem em pesquisa clínica e básica do câncer no mundo. O objetivo dessa parceria é que os pacientes tratados no Brasil, em qualquer unidade
do Grupo Oncoclínicas, tenham um tratamento tão bom e especializado quanto os que são realizados em centros de excelência dos Estados Unidos”, ressalta Dr. Otto Metzger, oncologista brasileiro que trabalha no hospital americano, que é filiado à Harvard Medical School. A parceria com o Dana vem trazendo resultados tão positivos que já foi estendida por mais cinco anos. Como o mercado de saúde é diferente dos demais, pois o resultado se baseia na qualidade do serviço ofertado, pesquisa e aprimoramento médico são fundamentais nesse processo. Para isso, o grupo criou o Instituto Oncoclínicas, que tem dois focos: pesquisa e educação médica continuada. “Apenas no ano passado, realizamos mais de 120 eventos para o nosso corpo clínico no Brasil e três internacionais. Somos 350 médicos. É impossível ter qualidade sem gestão e disciplina. Dessa forma, buscamos também a melhor alternativa de tratamento para os pacientes”, completa Dr. Luis Eugênio, diretor da clínica Hematológica, entidade parceira que trouxe ao grupo mais expertise em transplante de FOTOS: DIVULGAÇÃO
terápicos, contraindo os vasos sanguíneos e minimizando a queda de cabelo. “O tratamento clínico atual de câncer dá uma sobrevida até 60% maior para nossos pacientes. Essa abordagem humanística tem importância fundamental nisso. Nossa mão de obra é o ser humano. Aqui, não vemos a medicina como uma commodity. Desenvolvemos afeto por quem estamos tratando. Como disse o poeta Vinicius de Moraes, ‘não existe amor sozinho’. E a gente vivencia isso aqui”, afirma Dr. Roberto Carlos Duarte, um dos mais renomados especialistas oncológicos brasileiros, que também atua no Oncocentro.
BRUNO FERRARI: "O futuro da oncologia está na individualização dos casos"
FIQUE POR DENTRO
O Grupo Fundado há seis anos, o Grupo Oncoclínicas possui 35 unidades, entre clínicas e parcerias hospitalares, em nove estados brasileiros: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Realiza mais de 15 mil ciclos de tratamento por mês. Em 2015, o grupo teve crescimento de 20% e estima seguir neste patamar este ano. O Oncocentro Localizado na Rua Roma, 26, bairro Santa Lúcia, tem 2.850 m2 de área, 25 consultórios, 49 boxes de atendimento e suítes equipados com TV, e corpo clínico com mais de 70 profissionais. Primeira clínica de BH que possui farmácia com ambiente monitorado, tem estacionamento privativo e elevador exclusivo para pacientes com dificuldades de locomoção.
medula óssea, ampliando a atuação em hemato-oncologia. EXPANSÃO À VISTA O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, em 2016, serão mais de 600 mil casos de câncer no Brasil. Em 2020, deve chegar a 750 mil. O tipo de câncer mais comum no país hoje é o de pele (serão 80,8 mil novos casos em homens e 94,9 mil em mulheres só este ano). Na sequência estão o de mama, nas mulheres (57,9 mil), e de próstata, nos homens (estimativa de 61,2 mil). Preocupado com o crescimento desses números, o Grupo Oncoclínicas está desenvolvendo um plano estratégico que prevê a ampliação da oferta de atendimento em oncologia e hemato-
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logia, incluindo a disponibilização de serviços de radioterapia e transplante de células tronco hematopoiéticas para todos os nove estados em que atua; a aquisição de novas clínicas; e a busca da certificação de qualidade e segurança assistencial (Accredition Canada, ONA 3, JCI) para todas as unidades do grupo. Além disso, foi anunciado recentemente um novo projeto de expansão, por meio de uma joint venture com o Instituto Biocor, onde será construído um centro de tratamento de câncer em um prédio anexo ao hospital. As obras já foram iniciadas e a previsão é que o centro seja inaugurado até o primeiro semestre do próximo ano. “Ele terá seis mil metros quadrados. Serão oferecidos serviços como radioterapia, cirurgia, unidade de transplante de medula, atendimento a crianças e adultos e unidade de internação para pa-
XX O ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016
FOTOS: DIVULGAÇÃO
1 SAÚDE
ONCOCENTRO: 49 boxes de atendimento e suítes com TV para os pacientes
cientes hematológicos. O paciente terá todas as suas necessidades em relação à doença atendidas no local. Vamos ter equipamentos de radioterapia de ponta e serão investidos, apenas nisto, R$ 30 milhões”, afirma Ferrari. A nova unidade também adota-
rá o conceito de cuidado integral do paciente, como acontece no parceiro Dana-Farber e no Oncocentro. Está aí mais um exemplo de que esperança e vida podem ser sinônimos. O SAIBA MAIS www.oncocentro.com.br
1 VIDA MARINHA
CORAIS AMEAÇADOS Poluição causada por produtos de higiene pessoal estão colocando os recifes de corais em risco de extinção
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presentando resultados no ICRS 2016 (Simpósio Internacional sobre Recifes de Coral), o Dr. Craig Downs, do Haereticus Environmental Laboratory e membro do grupo de trabalho científico IPSO sobre poluição provocada por produtos de higiene pessoal (PCP), informou que produtos químicos, como a Oxybenzone, estão minando a saúde dos recifes, com impactos que variam de esterilidade à morte. No início deste ano, o “Programa Internacional sobre o Estado do Oceano (IPSO)”, a IUCN e o Congresso Mundial de Parques realizaram workshop sobre as ameaças provocadas pela poluição por PCP a habitáts marinhos e ecossistemas. Isso levou a um acordo para revisão do risco representado para o meio marinho pelos produtos e o desenvolvimento de um código
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de conduta para uso dos cientistas, visando reduzir o impacto dos PCPs na água; mas que também pode ser adotado pelas indústrias de turismo, governo e outras entidades para começar a enfrentar esse problema. O grupo de trabalho está agora identificando as substâncias químicas sobre as quais há provas científicas suficientes para determinar que são perigosos no ambiente marinho. “A maioria destes produtos químicos são listados como ‘disruptores endócrinos’, impactando a saúde reprodutiva e de desenvolvimento dos corais. Mas a boa notícia é que todos esses produtos químicos podem ser substituídos por ingredientes menos prejudiciais “, disse o Dr. Craig. A campanha “Marine Safe”, estabelecida pela IPSO, baseou-se no trabalho dos cientistas para intro-
duzir um programa de certificação de produtos que não contenham os ingredientes químicos perigosos já identificados. O objetivo é dar informações aos consumidores para que possam fazer suas escolhas mais facilmente. O programa entrará em execução dentro dos próximos três meses e será apoiado por uma campanha para estabelecer zonas marinhas seguras. “Estão roubando a capacidade dos corais responderem às mudanças climáticas e a outros fatores de stress. Remover estas ameaças trará melhoria significativa para a recuperação do recife de coral. Se pudermos começar a remover esses produtos químicos do ambiente marinho, isso fará uma diferença imediata e duradoura”, disse Mirella von Lindenfels, Diretora do Marine Safe. O SAIBA MAIS www.marinesafe.org
1 PRESERVAÇÃO
FRUTA-DE-SABIÁ: alimento para pássaros como o corrupião e regeneração para as florestas
A ÁRVORE-PÁSSARO Conheça a fruta-de-sabiá, espécie vegetal que ajuda no reflorestamento e atrai dezenas de aves para sítios e jardins Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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guntar que espécie vegetal dava aquelas frutas e levou uma muda para seu sítio em Alvorada de MiFOTO: ARQUIVO PESSOAL
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mineiro de Conceição de Mato Dentro José Renato Resende andou por muitos lugares do Brasil nos anos em que trabalhou, seja na construção de barragens seja na indústria da moda. Mas foi quando se aposentou que seu ofício rendeu, literalmente, frutos. Ou melhor: frutos, flores e pássaros, espalhados por cada canto deste país. Tudo começou em Guaraqueçaba, cidade do litoral do Paraná, ladeada por uma área de Mata Atlântica ainda preservada. Lá, Resende viu uma cena curiosa: índios jogavam pequenas frutinhas alaranjadas na água para atrair peixes. Logo, resolveu per-
JOSÉ RENATO RESENDE: “Quando plantei a primeira muda, os pássaros invadiram minha propriedade!”
nas, região central do estado, para também alimentar seu cardume. Passados alguns meses, a pequena árvore começou a dar frutos. Como num passe de mágica, o sítio, rodeado por uma carvoaria e carente de pássaros, se viu invadido por sabiás. Todos ficavam em volta da tal arvorezinha. Entusiasmado com a aparição dos “novos vizinhos”, José Renato decidiu comercializar as mudas pela região e espalhar a “passarada”. Um dia, porém, foi surpreendido por uma fiscalização do Ibama. Na ocasião, a planta que ainda continuava sem nome foi levada pelo órgão para análise. Uma semana depois, o biólogo da
FOTOS: DIVULGAÇÃO PROJETO FRUTA-DE-SABIÁ
FIQUE POR DENTRO
instituição retornou não só com as informações técnicas, mas com elogios à iniciativa de Resende de comercializar a espécie. Tratava-se da Acnistus Arborescens, popularmente conhecida como fruta-de-sabiá. Uma planta quase em extinção e considerada pioneira, por ser ideal para reflorestamento de áreas degradadas. Além de também ser um chamariz para pássaros, como o próprio nome diz. Em questão de oito meses ela produz pequenos frutos apreciados por sabiás, tico-ticos-rei, saíras, tiês, sanhaços, gaturamos, juritis, chocões-barrados, tucanos, bem-te-vis, entre outros. Era o incentivo que José Renato precisava para distribuir, sem receio, a espécie. Seis anos se passaram. José Renato estima que mais de 100 mil
DIVERSIDADE: saí-andorinha fêmea e o pássaro-preto são atraídos pela frutinha
DEPOIMENTO ECOLÓGICO “Realmente, o cultivo da fruta-de-sabiá é uma forma muito positiva para que sítios, fazendas, e até mesmo os jardins das cidades atraiam não só o sabiá, mas pássaros como o bem-te-vi, sanhaços, gaturamos e mais dezenas de espécies de aves frugívoras. No litoral do Brasil é o principal atrativo do tiê-sangue, uma das aves mais belas encontradas no território nacional. Na década de 1960, ao lançar o LP ‘Cantos de Aves do Brasil’, tive apoio dos mais prestigiados jornalistas, radialistas e apresentadores de TV, pedindo que as pessoas na cidade de São Paulo plantassem nos seus jardins, pelo menos, um pé de pitangueira, amoreira e jabuticabeira. E o resultado foi que agora, cerca de mais de meio século depois, a metrópole de São Paulo se transformou na maior concentração de sabiás-laranjeiras do planeta. A introdução da fruta-desabiá em praças da cidade ajudou muito também.”
FOTO: REPRODUÇÃO
A fruta-de-sabiá, também conhecida em outras regiões do Brasil como marianeira, é um arbusto com altura entre um e dois metros, mas que pode chegar até quatro. Tem galhos finos, madeira leve e pouco resistente. Destaca-se pela abundância de flores brancas em cachos, que logo se transformam em pequenas bagas alaranjadas. De fácil cultivo, aprecia solos organoargilosos que retenham um pouco de umidade. Precisa de luz solar direta ou indireta para vegetar com vigor. Desenvolve-se bem em climas subtropicais e tropicais, podendo também ser cultivada em vasos. Inicia a frutificação em aproximadamente oito meses. A planta ainda alimenta dezenas de espécies de peixes, podendo ser cultivada em beiras de córregos.
Johan Dalgas Frisch, ornitólogo e autor do livro “Aves Brasileiras”
mudas e 50 mil sementes foram comercializadas. Sendo que os maiores clientes são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Fregueses que, segundo ele, o deixaram “bilionário em agradecimentos e parabenizações”. Brincadeira que se confirma nos comentários deixados na rede social do projeto, onde os seguidores escrevem como a fruta-de-sabiá vem alterando positivamente a biodiversidade local. Defensor entusiasta do cultivo da planta, José Renato conta que
atualmente tem duas mil mudas no seu sítio de 97 hectares. Resultado de anos de muito sonho. Ele diz que deseja se dedicar à venda da fruta-de-sabiá “pelo resto de sua vida”, e que se sente muito feliz com esse trabalho, já que “sabe que ajudar no plantio de árvores traz recompensações futuras”. O SAIBA MAIS As sementes da fruta-de-sabiá podem ser adquiridas por meio do site www.frutadosabia.com.br e são enviadas em embalagens especiais via Correios, para qualquer lugar do país.
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INOVAÇÃO AMBIENTAL
A FAVOR DO AGRONEGÓCIO Empresas de base tecnológica estão revolucionando o segmento unindo inovação e sustentabilidade Iaçanã Woyames redacao@revistaecologico.com.br
FOTO: CTC DIVULGAÇÃO
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arece algo retrógado, mas cerca de dois bilhões de toneladas de grãos e sementes produzidos anualmente ainda são analisados e classificados de forma manual. Esta análise usa critérios totalmente subjetivos para identificar sua qualidade e aspectos do seu crescimento que determinam como eles podem ser aproveitados. Atualmente, o teste frio, um dos métodos mais comuns para culturas como milho e soja e que calcula o vigor das sementes, demora 14 dias para ser finalizado. Entretanto, uma empresa mineira, criada por três estudantes da área de computação e um professor de administração, vem mudando o setor de grãos e sementes e revolucionando o mercado. Trata-se da TBIT, nascida na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. A empresa conta com uma plataforma tecnológica que alia hardware e software, por meio da qual as análises manuais são substituídas pelas digitais, realizadas com base em parâmetros pré-estabelecidos. “A tecnologia traz mais agilidade, confiabilidade, precisão e padronização ao processo. Auxiliando na geração de sementes, grãos e plântulas de melhor qualidade e contribuindo para a solução do desafio da segu-
rança alimentar, uma preocupação global”, reforça Igor Chalfoun, diretor da TBIT. A história da empresa é apenas um exemplo das várias empresas de base tecnológica espalhadas pelo Brasil. E que, através de seus produtos e serviços, estão acelerando a performance do agronegócio brasileiro unindo tecnologia e sustentabilidade (mercado de Agritech). São justamente estas empresas que a INSEED Investimentos está buscando para aportar recursos através do FIP FIMA (Fundo de Inovação em Meio Ambiente). “O objetivo do Fundo é selecionar empresas do setor de tecnologias limpas, startups que apostem no desenvolvimento de uma economia de baixo impacto ambiental ou que criem inovações para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis, como a TBIT”, explica Alexandre Alves, diretor da INSEED Investimentos. O FIMA conta com recursos da ordem de R$ 165 milhões para serem investidos em dezenas de outros negócios dentro deste perfil de tecnologia. Para Alexandre, a adoção das inovações tecnológicas pelo setor produtivo agropecuário tem tido papel preponderante no sucesso do agronegócio brasileiro. “Esses avanços têm possibilitado
PERFIL DE EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO Um negócio que promova a inovação e tecnologia limpa em segmentos diversos na economia brasileira. Esse é o foco do FIMA, que vem procurando empresas que atuam junto ao setor de agronegócio para aportar capital e promover seu crescimento. O momento atual, segundo o gerente de Prospecção da INSEED Investimentos, João Pirola, é de selecionar instituições que se enquadram no perfil para receber esse aporte. “Estamos muito interessados em empresas do setor de agronegócios. Esse mercado é responsá-
FOTO: LUIZ CARLOS
ao setor ocupar uma posição de destaque no processo de desenvolvimento brasileiro. O sistema criado pela TBIT, por exemplo, já é utilizado pelas principais multinacionais da indústria agrária com atuação no Brasil.” O diretor explica ainda que a TBIT foi lançada ao mercado em 2012 e que recebeu aporte do FIMA no ano passado visando alavancar a sua operação e desenvolver novas soluções. “Em um ano, depois da entrada do Fundo, os resultados já podem ser percebidos como o aumento de 60% do faturamento e 25% da cartela de clientes”, enfatiza. Para o diretor da TBIT Igor Chalfon, o aporte de R$ 2,1 milhões foi fundamental para conseguir se consolidar no mercado. “Com o Fundo, a TBIT desenvolveu sua especialidade na busca por soluções que tangem os atuais problemas do setor, sobretudo relacionado às avaliações de qualidade, tais como a vulnerabilidade frente à possibilidade de erro humano, pouca velocidade, além da baixa padronização e confiabilidade dos resultados relativos aos atuais métodos utilizados.”
IGOR Chalfoun, da TBIT: "A tecnologia traz mais agilidade, confiabilidade, precisão e padronização à análise de grãos e sementes"
vel por quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 2016, por exemplo, o setor terá um desempenho mais uma vez muito positivo, mesmo com a crise.” Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para a safra de grãos de 2016 — e da projeção reavaliada do Valor Bruto da Produção (VBP) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) — haverá crescimento de 0,7% sobre 2015, atingindo R$ 515,2 bilhões em 2016. Apesar de todo o crescimento, o mercado está cada vez mais competitivo e exigente. Adequar-se a ele pela inovação é o melhor caminho”, destaca. Desta forma, João detalha os perfis procurados pela INSEED na área de agronegócio. “Uma área que temos grande interesse para investir são as empresas ligadas a recomendação de manejo dentro do ambiente produtivo. Ou seja, negócios com soluções ligadas a inteligência artificial e que consigam, por exemplo, através de um sistema integrado, coletar diversos dados variáveis como clima, característica de solo, histórico de produtividade e nível de contami-
FIQUE POR DENTRO
O Empresas estabelecidas no Brasil que desenvolvam tecnologias inovadoras e tenham alto potencial de crescimento. O Negócios relacionados à promoção da sustentabilidade e à redução de impacto ambiental nas cadeias de valor. O Empreendimentos que incorporem inovação em suas tecnologias, produtos ou processos para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis. O Proporcionam menor impacto em todas as etapas da cadeia de valor de um negócio, desde a origem dos insumos até o fim da vida útil de um produto ou serviço. Compreendem o uso equilibrado de recursos naturais e a incorporação de resíduos e produtos descartados em novos ciclos produtivos, ou o tratamento e descarte ambientalmente seguro. O Devem oferecer forte barreira que impeça ou dificulte sua reprodução por outros players. Devem ser escaláveis e resolver um problema de mercado muito relevante.
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nação. E, assim, gerar automaticamente, a partir de algoritmos sofisticados, recomendação de manejo de campo. Direcionando para os responsáveis o que fazer: onde monitorar pragas, quais produtos aplicar, em quais quantidades e onde”, explica João. Outro perfil procurado é de negócios que trabalhem com a valorização de resíduos agrícolas. “Empresas que realizam processamento de modo a possibilitar o aproveitamento de resíduos na agricultura e na silvicultura utilizando tecnologias para compostagem e produção de corretivo de acidez de solo e outros fertilizantes”. João lembra ainda que dentro destas áreas é exigido que as empresas estejam com o limite de faturamento anual de até R$ 20 milhões e que apresentem alto potencial de crescimento e rentabilidade. “E, claro, promova a sustentabilidade e a redução de impacto ambiental”. Rastreabilidade ao longo da cadeia de produção de alimentos é outra linha de captação. “Com soluções que consigam agrupar informações de cada elo da cadeia: da produção, do beneficiamento, da industrialização, do varejo e no pós-consumo. Tanto para entender e buscar pontos de melhoria de eficiência quanto que consigam entender melhor o funcionamento desta cadeia.” O último foco são negócios inovadores que envolvam agentes microbiológicos para combates a pragas, vírus e doenças, em substituição ao uso de agrotóxicos e produtos químicos, por exemplo. SUBSTITUINDO O AGROTÓXICO OU PRODUTOS QUÍMICOS Startup originada a partir de pesquisas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Rizoflora produz fungos e bactérias para o contro36 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FOTO: LEANDRO UFV
INOVAÇÃO AMBIENTAL
A STARTUP Rizoflora atua na produção de fungos e bactérias para controlar pragas agrícolas que atacam raízes de plantas
le biológico de nematóides - praga agrícola que ataca as raízes das plantas e reduz significativamente a produtividade na agricultura. Ela foi criada como resultado de mais de 20 anos de pesquisas do professor Leandro Grassi de Freitas, do Departamento de Fitopatologia da UFV. Com produtos 100% orgânicos, a empresa apoia produtores para que colham os melhores resultados com manejo consciente. Assim, cuidam das condições do solo, do desenvolvimento sustentável das plantações e beneficia produtores e consumidores, fazendo o bem ao longo de toda a cadeia. A empresa é a única na solução de combate a nematoides disponível no mercado brasileiro. “Os nematoides são vermes minúsculos de solo, difíceis de controlar. Para contê-los, muitos produtores utilizam nematicidas químicos altamente tóxicos e poluentes, que deixam resíduos no lençol freático e nos alimentos. Estima-se que esses vermes causem perdas por volta de US$ 157 bilhões/ano na agricultura em todo o mundo”,
afirma João Pirola. Outro exemplo, nesse contexto, é a paulista BUG Agentes Biológicos. Criada em 2001, ela também produz e comercializa agentes de controle macrobiológico. Esses agentes são em sua maioria vespas que parasitam ovos das principais pragas das grandes culturas. Referência global em seu segmento, a empresa foi indicada em fevereiro de 2012 pela revista Fast Company (EUA) como a mais inovadora do Brasil e a 33ª em todo o mundo. Em outubro do mesmo ano, a BUG também foi premiada na área de sustentabilidade com o World Technology Award, promovido nos EUA por corporações de comunicação como a CNN, Time, Science e Fortune. Para os especialistas, o controle biológico de pragas é atualmente uma das táticas mais importantes na agricultura. Ele não causa resistência e até a evita em áreas com aplicações de inseticidas ou com plantas transgênicas. Não polui o solo, as águas e os ecossis-
temas; não causa intoxicação em agricultores, funcionários e consumidores e garantem produtos com mais qualidade. Em comum, as duas empresas, além da inovação no ramo do agronegócio, também são investidas do Criatec 1, fundo de investimento criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e co-gerido pela INSEED Investimentos. TECNOLOGIA A FAVOR DO SETOR SUCROENERGÉTICO Danila Passarin, pesquisadora líder do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), instituição que atua há mais de 40 anos no desenvolvimento e comercialização de tecnologias inovadoras para o setor canavieiro e realiza pesquisas que abrangem os elos da cadeia
produtiva de cana-de-açúcar, etanol, açúcar e bioenergia, confirma a importância da inovação como chave do agronegócio. “Poder aliar conhecimento com tecnologia de última geração é essencial. Utilizamos as soluções computacionais, por exemplo, da TBIT neste processo para que possamos avançar rapidamente no projeto de sementes de cana-de-açúcar. E, assim, atender à exigência de alta produtividade do setor sucroenergético”, comenta. O CTC foi criado em 1969 a partir de uma iniciativa de um grupo de usinas da região de Piracicaba, a 160 km da capital paulista, com o objetivo de investir no desenvolvimento de variedades mais produtivas e agregar qualidade à produção de açúcar e álcool. Em 2004, entrou em uma nova era:
foi reestruturado para se tornar o principal centro mundial de desenvolvimento e integração de tecnologias disruptivas da indústria sucroenergética, capaz de vencer o desafio de dobrar, de maneira economicamente sustentável, a taxa de inovação do setor. Em seus 47 anos, o CTC deixou sua marca no desenvolvimento da cana-de-açúcar no Brasil. Nesse período, a produtividade da cultura aumentou cerca de 40% e a agroindustrial saltou de 2.600 litros para mais de 7.000 litros de etanol por hectare, enquanto o custo de produção caiu de cerca de R$ 3 para menos de R$ 1 por litro. O CTC responde por cerca de 60% da cana-de-açúcar moída na região Centro-Sul do Brasil. O SAIBA MAIS www.inseed.com.br/fima
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1 RECICLAGEM
CATADORAS da Redesol também participaram do treinamento
FOTO: ELCIO PARAISO/BENDITA
GESTÃO INTEGRADA E
SUSTENTÁVEL Unimed-BH capacita cooperativa de recicladores para uso de software que integra dados financeiros, contábeis e de produção
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pouco contato com a informática. Além disso, não é um pacote de software fechado, que obriga a cooperativa a modificar seus processos internos para utilização. “Um dos grandes desafios dos empreendimentos de recicladores na atualidade é o incremento FOTOS: DIVULGAÇÃO UNIMED-BH
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projeto “Cooperativa Sustentável”, desenvolvido pelo Instituto Unimed-BH, responsável pelo “Programa de Responsabilidade Social da Unimed-BH”, deu novos passos ao oferecer capacitação para integrantes de quatro cooperativas de recicladores para uso do software Catafácil. O programa une gestões financeira, contábil e de produção, contribuindo para facilitar o dia a dia dos empreendimentos de recicladores. Desenvolvido em 2007 por alunos da Universidade Federal de São João del-Rei, em parceria com recicladores de uma cooperativa local, o Catafácil tem interface extremamente amigável com os usuários que, muitas vezes, têm
CÍNTIA CAMPOS: “Nosso objetivo é colaborar com a promoção da autonomia das cooperativas”
dos processos de gestão, atendendo à demanda do mercado relativa à informatização, prestação de serviços às empresas e prestação de informações à sociedade. Nosso objetivo é colaborar com a promoção da autonomia das cooperativas e potencializar as redes de comercialização”, ressalta a gestora do Instituto Unimed-BH, Cíntia Campos. As cooperativas participantes do programa integram a Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis (Redesol): Coopersoli, no bairro Jatobá IV; Coomarp Pampulha, nos bairros São Francisco e Leblon; Cocapel (Associrecicle), no Barro Preto; e Coopemar, no bairro Jatobá. Ao todo, 20 catadores serão capaci-
tados até setembro. Em uma primeira etapa, de janeiro a abril, o software foi instalado nos computadores nas sedes das cooperativas. A ONG Moradia e Cidadania, fundada por funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) é responsável pela capacitação. Segundo Manuel Alejandro Castañeda, representante da ONG, os recicladores estão recebendo muito bem o treinamento e já percebem, no dia a dia, as facilidades geradas. “Antes, as anotações eram feitas em cadernos ou em planilhas. Agora, os dados podem ser inseridos rapidamente e ficam armazenados no Catafácil, o que confere muita agilidade nas atividades do cotidiano. Além disso, o conhecimento adquirido poderá ser compartilhado com outras cooperativas”, explica. A INICIATIVA O projeto “Cooperativa Susten-
tável” integra o “Programa de Responsabilidade Social Cooperativista” da Unimed-BH, na linha da ação “Meio Ambiente”. Teve início em 2010 e tem possibilitado maior reconhecimento profissional para as 11 cooperativas e associações de recicladores que fazem parte da REDESOL. A iniciativa é desenvolvida em etapas, com foco no fortalecimento da atuação cooperativa e da imagem institucional, contribuindo para o reconhecimento profissional dos recicladores e a geração de renda. Entre as ações já realizadas estão a criação de identidade visual para reforçar a imagem dos recicladores, aplicada em materiais de comunicação. Houve, também, a produção de uniformes, além de compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), promovendo a segurança no processo produtivo. O
FIQUE POR DENTRO Instituto Unimed-BH Uma associação sem fins lucrativos, conta com mais de 4.000 médicos cooperados e foi criado em 2003 com a missão de conduzir o “Programa de Responsabilidade Social Cooperativista” da UnimedBH. Os projetos desenvolvidos têm na saúde sua área prioritária, mas mantêm interface com outros campos por meio de cinco linhas de ação: Comunidade, Meio Ambiente, Voluntariado, Adoção de Espaços Públicos e Cultura. Em 2015, mais de 1,4 milhão de pessoas foram beneficiadas, direta e indiretamente, pelo Programa Cultural Unimed-BH.
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
CRAJIRU A
FOTO: MARCOS GUIÃO
neblina fria que enfeitava aquela manhã invernal sinalizava como seria o ritmo do dia. A umidade recobria o verde das folhas de minúsculas gotículas, dando vida às teias de aranha até então camufladas em meio à vegetação. Enquanto caminhava distraído pelo quintal, tinha o corpo tenso pela friagem que invadia minhas entranhas, mas assim que bati os olhos na trilha em subida, a segui instintivamente na busca de algum alívio para o frio. Não demorou e a quentura do sol que ainda se escondia da folhagem lá de baixo agora já aquecia meu corpo. Fiquei ali cismando e dei reparo nas casas da vila
CRAJIRU (Arrabidaea chica)
soltando fumaça pela chaminé, sinalizando que o café já tava em andamento. Estiquei as ideias mais um tiquim e percebi que um espaço dado como sagrado da vida na roça é o “quintal”, lugar de onde se tira de um tudo. Pode ter o tamanho que for, mas sempre enrodeia a casa do morador, que ali tem plantado seus pés de laranja, limão, mexerica, mamão, cajá-manga, banana, jabuticaba, graviola, abacate, manga e mais uma tanteira de frutas. Mas não é pomar, é quintal. Ali também medra o café, mandioca de toda qualidade, cana, feijão andu, urucum, além da horta de verdura, repleta de alfaces enormes, couve, chuchu, salsa, cebolinha e mostarda. Juntamente são cultivadas as ervas de tempero e aquelas que demandam mais atenção ou gostam de sentir a presença de gente por perto pra dar saída. Foi aí que me lembrei do crajiru, (Arrabidaea chica), tamém conhecido como pariri, trepadeira que tenho plantada há anos toda enrodilhada na copa de várias árvores de nosso quintal. Suas folhas, de um verde intenso, são finas e compridas. Mas quando secam adquirem uma linda coloração vermelho-acobreado. É assim que mais uma vez o Grande Criador se utiliza de metáforas para demonstrar a serventia de uma planta. Por isso mesmo, o crajiru mostra resultados rápidos e intensos nos casos de anemia ferropriva, até mesmo aquelas já com complicações respiratórias. Nos Gerais e na região amazônica é muito empregado como anti-inflamatório principalmente nas infecções de origem uterina, combatendo as cólicas intestinais, diarreias com resquícios de sangue, corrimento e até leucemia. A recomendação é preparar uma infusão, tomando uma xícara pelo menos três vezes ao dia, podendo até substituir a água (durante o dia) nos casos mais graves. Algumas tribos da Amazônia banham intensamente os olhos quando atacados por conjuntivite. Além disso, preparam uma pasta com as folhas para aplicar nas picadas de insetos e também pintam seus corpos com coloração vermelho bem escuro obtida da fermentação das folhas. Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
UNIÃO POR CIDADES MELHORES Aliado à atuação responsável dos gestores públicos, o interesse do cidadão pelo planejamento de seus municípios pode ajudar a construir um futuro melhor para todos Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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las abrigam mais da metade da população mundial e respondem por 75% das emissões de carbono em todo o planeta. Até 2050, o número de habitantes vivendo nelas terá um aumento de 3,1 bilhões de pessoas. Sim. Estamos falando das cidades, territórios nos quais esse crescimento expressivo acarretará, nas próximas décadas, impactos ainda maiores sobre a infraestrutura, os serviços governamentais, os recursos naturais, os sistemas de transportes e outros aspectos essenciais à manutenção do equilíbrio ambiental e da qualidade de vida de seus moradores. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), só na América Latina 75% da população vive em áreas urbanas, o que em números absolutos equivale a 375 milhões dos 500 milhões de habitantes dessa região. E mais:
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desse total, 120 milhões já vivem abaixo da linha da pobreza. Como se não bastasse, muitos desafios enfrentados hoje pela América Latina irão se repetir, em escala ainda maior, na África e na Ásia nos próximos anos. No Brasil, a situação não é diferente. O índice de urbanização nacional foi o maior em toda a América Latina, entre 1970 e 2010. Atualmente, mais de 85% da população brasileira é urbana. A quantidade de cidades criadas se multiplicou, totalizando mais de 5,5 mil municípios em todo o país, a maior parte deles criada nos últimos 30 anos. Diante desse contexto global, cresce a consciência de que é preciso buscar novos modelos de sobrevivência e de crescimento das cidades, permitindo a transição para um padrão de desenvolvimento que seja realmente susten-
tável. E que integre, na prática, as dimensões social, ambiental e econômica e se traduza em benefícios reais tanto para a melhoria da gestão urbana quanto para o atendimento das necessidades básicas de suas populações. Nada mais justo e urgente. Afinal, é nas cidades que ocorre o consumo de praticamente todos os produtos e serviços que demandam materiais e recursos provenientes da natureza. Portanto, planejar e adotar ações para ocupar o território de forma ordenada, com equipamentos e serviços públicos de qualidade e acessível ao maior número possível de pessoas deve ser prioridade para todos os gestores públicos. PROGRAMAS DE APOIO Em 2010, a ONU-HABITAT lançou a “Campanha Urbana Mundial”, que
ENTENDA MELHOR
O O “Estatuto da Cidade” prevê que o Plano Diretor seja aprovado por lei municipal para, em seguida, tornarse instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.
PROJETO MADRID RÍO No lugar de avenidas e autoestradas, mais áreas verdes e espaço para a recreação pública. Na busca da mobilidade sustentável e de um planejamento urbano integrado, a capital espanhola, Madri, se destaca pelo “Projeto Madrid Río”, responsável por revitalizar as margens do Rio Manzanares. Para integrar trechos de estradas que atravessavam o rio e as diversas construções históricas existentes na área – entre elas a Puente de Segovia, a mais antiga da cidade –, foi proposto um novo desenho urbano, integrando túneis, ciclovias, áreas de lazer, novas calçadas, fontes e quadras esportivas, que deram vida a um grande parque linear, inaugurado em 2011.
bu usc sca a in info fo orrm mar a e con onsc scie sc ient n izar nt izzarr a p pu po p la açã ção o mu mund n ia al so obre brre a ne necce esPLANEJAMENTO URBANO: siida sida ad de e de ter te er ci cida dade da de es su sust sstten ntá áve v iss, engloba concepções, planos e cco om po pouc uca a de d ssiigu ual alda dade de e e ofe fert rtta programas de gestão de políticas sa atiisf s at atór órria ó a de se erv viçços bás á ic icos os. os públicas, por meio de ações que criem Po or me meio io dessa io esssa sa cam ampa panh pa n a, a a harmonia entre intervenções no espaço ag gên ênci cia de dese se env volve olve ol e e imp mpla l nt na urbano e o atendimento das necessidades da população. Com o planejamento proj pr ojet oj jet e oss esp pec ecia iais ia iss, co is, om fo f co o vol ourbano, são identificadas as vocações t d ta do o par a a as asse sent ntam nt amento am en nto t s p prrec e álocais e regionais de um território, rios ri o e agl os go om merrad ados o. os estabelecidas as regras de U dos Um os desstaqu ta aqu q es e é a “Al A ia i nçça ocupação de solo e as políticas das Ci da das C da dade ade d s” s”,, in inic i ia ic attiiva con nju unt na de desenvolvimento en ntrre a ON ONUU HA UH BI B TA AT e o Ba ancco municipal. M nd Mu ndia ia al, l, que e pro romo m ve mo e polít olííttiiccas ol a e e tr es trat atég égia ég ia as de de dessen envo v lv vo vim men e to o de mo ora adiia d diig gn na e ap apoi poi oia a aç açõe õess vo volt lta- Ethos, o PCS é uma iniciativa aparlt d s pa da para ra a o pla ane eja jame me ent nto, o,, a gesstã tão tidária. Seu objetivo é sensibilizar, d sol do olo e a re olo reco reco ons n tr truç ução uç ão ã o de ciida ade d s mobilizar e oferecer ferramentas a in at ingi giida gida d s p po or co confl confl nflit flittos os ou de d sa sas- para que as cidades brasileiras se t es nat tr aturai atur urai ur ais. s. desenvolvam de forma responsável Outr Ou tro exxem tr e pl plo, o em ní o, n ve vel na aci cional on na all, e ambientalmente equilibrada. é o “P “Pro ro ogrram ma Ci Cida dade d s Su ust sten nttá áve v iss Todas as linhas de ação são es(PCS (P CS C S))”” cri riad ado em ad em 201 11.. Coord oo orden rd den na- truturadas a partir de 12 eixos tedo pel do ela a Re R de de Nos o ssa a São Pau aulo ulo, lo o, p pe ella a máticos (leia mais a seguir), que R de Re de So occcia ia al B Brras rassil ilei eira ei ira por Cid dad adess oferecem aos gestores públicos JJu ust usttas a e Sus uste ten nttáv vei e s e pe elo o Ins nsti titu ti ituto tu uto to uma agenda completa de susten-
O Como parte de todo o processo de planejamento municipal, o Plano Diretor deve estar integrado ao Plano Plurianual, às diretrizes orçamentárias futuras e ao orçamento anual. Ele deve, ainda, ser elaborado com a participação efetiva de toda a sociedade. O Os 12 eixos do “Programa Cidades Sustentáveis (PCS)” são: governança; bens naturais comuns; equidade, justiça social e cultura de paz; gestão local para a sustentabilidade; planejamento e desenho urbano; cultura para a sustentabilidade; educação para a sustentabilidade e qualidade de vida; economia local, dinâmica, criativa e sustentável; consumo responsável e opções de estilo de vida; melhor mobilidade, menos tráfego; ação local para a saúde e do local para o global. O Esses eixos foram inspirados nos compromissos de Aalborg (Dinamarca), um pacto político voltado para o desenvolvimento sustentável e já assinado por mais de 650 municípios, principalmente europeus. O No site do PCS cada município tem uma página na qual apresenta os seus indicadores de desempenho, relatórios de prestação de contas e divulga as suas boas práticas. O monitoramento e a avaliação dos resultados são feitos por meio do software georreferenciado dos municípios (que inclui os indicadores, o diagnóstico e o plano de metas) e deve ser preenchido pelas prefeituras participantes. O Prefeitos de todo o país, partidos políticos e candidatos às eleições deste ano podem confirmar seu engajamento com o desenvolvimento sustentável assinando a “Carta Compromisso do PCS”. Por meio dela, os signatários se comprometem a realizar um diagnóstico do município a partir dos indicadores apresentados pelo PCS, a elaborar o plano de metas e a prestar contas das ações desenvolvidas e dos avanços alcançados por meio de relatórios, revelando a evolução dos indicadores.
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE tabilidade urbana – a “Plataforma Cidades Sustentáveis”. Ela reúne um conjunto de indicadores gerais e também um banco de boas práticas, com casos exemplares nacionais e internacionais que servem como referência a ser seguida pelas prefeituras. Nesse conteúdo são ressaltadas, ainda, as políticas públicas que já apresentam bons resultados em todas as áreas da administração municipal. A proposta é mostrar que é possível fazer diferente, incentivando as transformações necessárias nas lideranças políticas para um presente melhor, sem inviabilizar o futuro das próximas gerações.
O objetivo final do PCS é fazer com que as informações reunidas em sua plataforma – atualizadas e precisas –, sejam poderosos instrumentos de gestão. Atualmente, mais de 280 municípios já aderiram ao PCS, incluindo 22 capitais brasileiras. No âmbito legal, o Brasil conta com o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de julho de 2001). Ele regulamenta o capítulo “Política Urbana” da Constituição Federal e se destina a salvaguardar o direito de todos os cidadãos às oportunidades que a vida urbana lhes oferece. O estatuto também define as diretrizes a serem
DESENHO URBANO: atividade que visa à transformação das formas urbanas e de seus espaços, trabalhando a aparência, a disposição das construções e as funcionalidades dos municípios. É um eficiente instrumento para reduzir os impactos negativos que a urbanização desequilibrada provoca no meio ambiente e tem papel estratégico nos projetos de integração regional.
seguidas pelos municípios ao elaborarem as suas políticas urbanas, visando à estruturação de cidades mais justas, sustentáveis e organizadas.
PLANEJAMENTO URBANO / DICAS DE GESTÃO A – POLÍTICA DE ADENSAMENTO URBANO: promoção de políticas que especifiquem o adensamento das áreas urbanas já consolidadas, evitando que a cidade se expanda ainda mais em seu território.
de água tratada; construam telhados verdes, com vegetação no topo do edifício, o que contribui para a regulação climática no interior do prédio e atrai pássaros, entre outras características arquitetônicas sustentáveis.
B – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: restauração de espaços urbanos degradados por meio da implantação de políticas públicas que visem à qualidade de vida, à sustentabilidade e à criação de áreas multifuncionais e criativas para o convívio coletivo.
E – MOBILIDADE URBANA INTEGRADA E SUSTENTÁVEL: redesenho do espaço urbano de forma a priorizar o transporte não motorizado – a exemplo das caminhadas e do uso de bicicletas – e o integre às diferentes redes de condução pública (ônibus, metrô e trens), a fim de reduzir a circulação de carros particulares. Essa iniciativa, se adotada em grande escala, restringe a emissão de gases de efeito estufa, os custos ambientais, o desgaste das malhas emprego de energias malh ma malh has rodoviárias rod odov oviá ov iári rias ri ass e iincentiva nccen enti tiva ti va aoe mp pre rego g d e en e ener nerrgi g ass renováveis re eno novvá áve eis e menos men e oss poluentes. pol olue uent uent ue n es es. s.
C – POLÍTICA DE URBANISMO VERDE: incentivo ao plantio e à distribuição de árvores ao longo do território municipal, especialmente para a criação de corredores ecológicos e a consolidação de um urbanismo verde que reflita positivamente na qualidade do ar, no clima e no bem-estar social. D – PROGRAMA DE CONSTRUÇÕES PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS: implantação de projetos de construção civil que solucionem problemas ambientais relacionados à atividade desse setor. Um dos caminhos possíveis é a concessão de selos verdes a empreendimentos que adotem mão de obra e materiais locais; aproveitem resíduos sólidos nas obras; empreguem técnicas e materiais que levem à redução do consumo energético; usem madeira certificada; priorizem materiais não tóxicos; captem e utilizem água da chuva para reduzir o consumo 44 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Sites ONU-Habitat, Programa Cidades Sustentáveis, Instituto Ethos e Ministério das Cidades.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
FOTO: FSC
LÚCIA CAPANEMA ALVES Professora da UFF, mestre e doutora em Planejamento Urbano e Regional
“ESTAMOS TODOS NO MESMO BARCO” A urbanização em larga escala aumenta os desafios de atender a demanda por serviços de primeira necessidade, tais como fornecimento de água/ saneamento, energia, moradia, assistência médica, ensino e transporte. Em sua avaliação, como as prefeituras brasileiras têm, de forma geral, lidado com essa realidade? Há avanços reais e/ou exemplos positivos? Em primeiro lugar, é preciso situar a demanda por serviços urbanos no nosso quadro social dual e altamente injusto. Nos países de terceiro mundo, e no Brasil de forma contundente, temos uma demanda reprimida por serviços básicos para os mais pobres, que muitas vezes sequer é mapeada, e outra demanda da classe média que faz barulho e se torna preocupação política. Nesse quadro, avançamos muito pouco ou quase nada. Alguns poucos exemplos são as ciclovias de São Paulo, capital, e a implantação de infraestruturas verdes, como no caso da sub-bacia do Córrego Bananal, também em São Paulo. Considerando essas mesmas demandas urbanas, qual considera ser a chave para uma abordagem holística capaz de tornar as cidades brasileiras mais sustentáveis? É necessária uma mudança radical no nosso paradigma
cultural, uma mudança civilizatória que volte a entender o mundo como physis (do grego: o corpo, a alma, o ambiente são partes de um todo indissociável); estamos todos no mesmo barco e não é mais possível entender desenvolvimento como crescimento do sistema, aliando-o à ideia de aumentar o consumo planetário indefinidamente para manter as bases do capitalismo. Mas isso toca fundo nas questões do consumo e da mídia que nos fazem crer na felicidade do “ter”. Como diz o professor Ignacy Sachs, o ambiente é a base, a economia é o meio e o fim só pode ser o social. E os cidadãos, como acredita que eles podem interferir positivamente no destino de suas cidades? Em nenhum lugar do mundo, na história conhecida, uma mudança civilizatória começou de cima para baixo. O povo, a somatória dos cidadãos, é o verdadeiro guardião da cultura e só ele pode inverter a lógica consumista em que vivemos. Teremos todos que nos perguntar a cada dia se precisamos daquele celular novo, se o que escolhemos como fontes de informação realmente condiz com nossos valores e se nossos valores são aqueles que farão nosso mundo melhor. Desde os atos mais cotidianos como o destino do papel de bala e a forma como nos relacionamos com o outro até o nosso interesse pelo planejamento e a gestão das nossas cidades. O
Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!
Nós apoiamos essa ideia! JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 45
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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
"Nossa necessidade vai criando a inovação."
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SOMOS TODOS MÉDICOS?
omputador é bicho metido a besta e não é de hoje. Quem ouve falar do Dr. Google mal sabe que, lá pelos idos de 1970, um cara em Stanford deu de ensinar máquina a pensar. Chamava seu sistema de Mycin. Se fosse português, talvez virasse micina, tanto que antibiótico termina desse jeito. Mycin era meio lerdinho. Em 1984 eu estudei demais sua construção. Queria fazê-lo pensar engenharia e cheguei muito perto. Quarenta e seis anos depois, computadores pensam. Computadores são médicos. Em 2011, embalada pelas leis que tentam reformar o sistema de saúde americano, a revista Consumer Reports publicou um artigo que chamou de “O que os médicos gostariam que seus pacientes soubessem”. Está escrito lá: 61% das pessoas declaravam que consultavam sobre sua condição de saúde na internet. Ooops! 2011, meu caro, 2011! Se tiver a pachorra de terminar de ler aquele texto, o nobre leitor vai descobrir que outra pergunta ronda a cabeça dos pacientes: meu médico está antenado? Isso mesmo: an-te-na-do! Significa que o paciente quer saber se ele estuda na internet, se ele tem o cuidado de saber se existe algum tratamento recente para o mal que lhe acomete. E, por recente, aqui, não falamos de congressos de dois anos atrás, mas da semana passada. Aff! Entrementes, Dr. IBM Watson e Dr. Google se digladiam para estar um à frente do outro na tarefa de cuidar de nossa saúde. O primeiro é capaz de recomendar o melhor tratamento de câncer disponível para o perfil exato do paciente.
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Isso quer dizer que ele pesquisa os tratamentos publicados até ontem e recomenda o caminho. O Dr. Google é mais conhecido, menos preciso, mas vai andando na mesma direção. Acrescente-se aí a Dra. Microsoft e vamos fazendo uma junta médica de gente estranha que nem gente é. Outro dia me disseram que o Uber transformou os transportes por imposição. Criou um fato para que a lei definisse, só depois, o que fazer com ele. Absurdo, disseram! Respondi que não, que as leis não inovam. E sim tentam regular a inovação. Dizem que uma consulta pela web ou por WhatsApp é ilegal. Dizem que o ato médico é restrito ao médico e ponto. Dizem que a gente não pode, a gente não deve, mas se esquecem da verdade de que, num país sem assistência decente à população, ninguém quer saber de leis que lhe impeçam sobreviver com dignidade e ser bem atendido. Vai acontecer e pronto! Quando? Recomendo consultar Moore, Lei de Moore. Ela responde. Enquanto isso, vamos tocando a vida, cheios de pressa e carentes de saúde. Eu não posso reclamar, sabe... Tenho uma rinite alérgica que me mata nesta época do ano, mas consultei aqui uns conhecidos digitais e descobri que o Jala Neti, sabedoria milenar da Índia, é deezzz nessa matéria. Melhorou demais! Falando nisso, estou confuso. Eu havia dito que somos todos taxistas, arregalados com o crescimento do Uber. Agora acho diferente: que nossa necessidade vai criando a inovação. Talvez já sejamos todos médicos... O
TECH NOTES O O que foi o Mycin?
http://goo.gl/B6FLGp O O que os médicos gostariam que
seus pacientes soubessem? http://goo.gl/3jNKMF O Conheça a Lei de Moore!
http://goo.gl/LYZ8r0 (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
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AS PEGADAS DE LUND (FIM)
A EXTINÇÃO O que aconteceu há 11 mil il anos é um aviso i profético: fé i fformas d de vida id magníficas foram dizimadas em consequência das mudanças climáticas provocadas pela atividade humana. É o que você confere neste último capítulo da série Cástor Cartelle redacao@revistaecologico.com.br
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o longo da história da vida, espécies sem conta se extinguiram, gota a gota, como depósito esvaziado por torneira mal fechada. Em algumas ocasiões é como se o cano arrebentasse e a água saísse aos borbotões: numerosas espécies, quase que poderíamos dizer repentinamente, desapareceram. Nesses casos haveria um denominador comum àquelas que abandonam o palco da vida: a incapacidade adaptativa a novas circunstâncias. O desaparecimento e o surgimento de espécies parcimoniosamente (gota a gota) são como que lei biológica, acontecimento continuado. Na maioria das vezes, elas surgem, chegam ao máximo, atingem o ocaso e alguém surge ocupando o espaço deixado. Nessas ocasiões, o surgir ou desaparecer é sem alardes, natural e imperceptível. O fenômeno ocorre em sequência: sucessão de mudanças. Como o dia no qual o amanhecer, imperceptivelmente, se torna Sol radiante, depois entardece para, finalmente, mergulhar na noite. Mas enquanto deslizam as horas, minuto a minuto, não se percebem as mudanças sutis. Só comparando horários distantes. O desaparecimento abrupto de espécies (água aos borbotões), sem reposição, foi constatado não poucas vezes na história da vida. No Permiano (há 250 milhões de anos, aproximadamente) a vida na Terra esteve por um fio: há
quem calcule que em volta de 96% das espécies se extinguiram. A causa principal seriam flutuações no nível dos mares? Há 70 milhões de anos (Cretáceo) lá se foram os dinossauros. Foi indicado como principal culpado um meteorito. A catástrofe levou juntos, também, os pterossauros, répteis marinhos, invertebrados... Mas o meteorito não teve competência para eliminar outros répteis, aves e mamíferos... Por que estes teriam sobrevivido à catástrofe? Se é que ela foi a causa do desaparecimento de todos os dinossauros (gigantes, médios e pequenos). Nesse período temporal ocorreram mudanças como a substituição da flora predominante de gimnospermas pelas angiospermas e nos mares o predomínio dos peixes teleósteos. As espécies que desapareceram eram muito especializadas. E quando isso ocorre... elas tornam-se frágeis diante das variações. Na América do Sul, enquanto se manteve como ilha, grande quantidade de espécies de mamíferos desapareceu e outras as substituíram: a vida expandiu-se em enorme variação sempre renovada. Mas há 11 mil anos deu-se uma extinção, poderíamos dizer, maciça, aos borbotões: só na área que hoje corresponde ao Brasil sabemos que em volta de 60 espécies de mamíferos se extinguiram. O que aconteceu? Sendo um fenômeno mais próximo de nós do que os anteriormente cita-
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A extinção é irreversível. A vida extinta não tem videotape: vida que se foi, retorno não tem
dos, é possível obter-se, com mais segurança, uma interpretação ou a procura de causas que provocaram tamanha catástrofe biológica. Três são as principais causas apontadas para esse fenômeno: o homem exterminador, doenças ou fenômenos climáticos. FOGO E NOVO MUNDO A primeira causa tem os humanos como protagonistas. A extinção teria acontecido quando o homem chegou à América, seja pela sua atuação direta como caçador ou indireta, pela chegada de novos predadores ou pelas modificações introduzidas no meio em que habitava, incluindo o fogo. O que teria levado o homem primitivo a ser tão seletivo que se dedicou a eliminar preferencialmente animais de grande porte? A hipótese do “homem pré-histórico exterminador” carece de fundamentação no nosso continente. Os sítios arqueológicos mais antigos da América do Sul mostram que os habitantes primitivos tiveram como estratégia alimentar a caça generalizada de mamíferos de pequeno e médio porte, que ainda sobrevivem, assim como vegetais, que eram fartos. O cardápio animal era completado principalmente com aves, peixes, tartarugas, lagartos e moluscos. Por outra parte, na época do descobrimento há quem calcule que o número de habitantes na Terra Brasilis estaria por volta dos dois milhões. Certamente, muito
Crânio infantil com traços australo-africanos
mais do que quando o homem descobriu e se estabeleceu nesse território há mais de 11 mil anos. Admitamos esse número. Não há nenhum registro que permita atribuir a extinção de qualquer espécie animal a populações indígenas desde o descobrimento até a atualidade. Como poderia, em menos de mil anos, um punhado de habitantes espalhado por imenso território, sem armas nem tecnologia apropriadas, modificar ambientes e extinguir pela caça indiscriminada mais de meia centena de espécies? E nelas encontravam-se, precisamente, as de maior porte. Infelizmente, a modificação de ambientes e a caça indiscriminada são uma característica do homem moderno e até hoje, miraculosamente, mesmo com perseguição desenfreada à fauna e transformações ambientais às vezes absurdas, poucas são
as espécies extintas em nosso território no período histórico. A PESTE MEDIEVAL Quanto à modificação do meio que poderia ter sido realizada pelo homem primitivo, a principal intervenção teria acontecido pelo fogo. No Cerrado brasileiro, a existência desse fenômeno tornou-se natural, pois constata-se que não poucas espécies vegetais desse ecossistema estão adaptadas a essas circunstâncias. Os incêndios provocados pelo homem no passado, certamente, foram menores do que os que surgiram naturalmente e do que os provocados na atualidade. Há mais de 100 anos que o Brasil arde sistemática e desenfreadamente. E nessas brasas insensatas nenhuma espécie de mamífero foi consumida. Até hoje. Uma outra hipótese que explicaria a extinção pleistocênica é a de epidemias que dizimaram a
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AS PEGADAS DE LUND (FIM)
fauna. Teriam sua origem no continente norte- americano e sua introdução poderia dever-se tanto aos humanos quanto aos animais migrantes que participaram do grande intercâmbio faunístico americano. Nem a peste medieval conseguiu eliminar uma única espécie como o homem. Qual a zoonose sem fronteiras que poderia ter atacado grande quantidade de espécies até levá-las à extinção? A amplidão territorial, as barreiras naturais e a quantidade de espécies diferentes desaparecidas não tornam plausível tal hipótese. Além disso, no final do Pleistoceno, os imigrantes foram quantitativamente insignificantes. Quais possíveis doenças poderia o homem transportar para atingir tão grande número de espécies animais? Resta uma terceira hipótese como causa principal para explicar a extinção do Pleistoceno final: a climática. Na análise das espécies pleistocênicas extintas do Brasil, até há pouco tempo, eram identificadas aquelas encontradas no nosso território como sendo idênticas às da Argentina. Os achados de fósseis de mamíferos brasileiros, em maior quantidade, realizados ultimamente permitem identificações mais precisas. O que levou a várias conclusões. Uma delas: as espécies de grande porte que se extinguiram pastavam em campo aberto ou habitavam na periferia de mata. Os predadores que desapareceram eram, também, de campo aberto e teriam suas presas preferenciais nos animais extintos. Uma segunda conclusão foi a de perceber-se que ocorreram em simpatria, isto é, no mesmo território, espécies austrais, típicas de regiões com climas frios, e espécies intertropicais afins. Essas espécies teriam hábitos similares ou idênticas necessidades alimentares. Também foram identificadas espécies que não deveriam estar 50 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
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UMA das hipóteses para a extinção de espécies no Pleistoceno é a climática
em latitudes tropicais, uma vez que seu hábitat é, ainda hoje, em territórios onde o clima é mais frio. Finalmente, as espécies herbívoras ou predadoras sobreviventes eram preferencialmente de periferia de mata ou estritamente de mata. Não há nenhuma exceção. A ocorrência de um fenômeno climático “especial” no final do Pleistoceno acreditamos estar registrada em mudanças que até hoje persistem. A fauna fóssil pleistocênica encontrada ao longo do Brasil intertropical, em latitudes que abrangem da Amazônia a São Paulo, é muito homogênea e indica existência de matas e de amplo cerrado onde hoje ocorre a caatinga e até em grande parte da região amazônica. Nas regiões onde se registram achados fossilíferos em grutas calcárias, como nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso de Sul e São Paulo, percebe-se que ocorreu fenômeno climático continuado, uma vez que farta quantidade de ossadas e sedimentos foi introduzida nelas
em dado momento histórico. Anteriormente defendemos o ponto de vista de que o principal “fornecedor” de carcaças de futuros fósseis para as grutas foi o regime fluvial, que as inundava e carreava, vez por outra, animais mortos. É nas inundações que as águas, traiçoeiramente, podem surpreender animais localizados nas margens de rios. Lund e outros pensaram que carnívoros introduzissem suas vítimas no interior das cavernas. Se carnívoros ou animais penetrassem nas grutas levando seus despojos ou nelas se perdendo, não haveria razão para que elas não conservassem um registro completo da fauna desde, pelo menos, o Pleistoceno até hoje. O que não ocorreu. Acidentalmente, e na região de penumbra, poderia acontecer a presença de animais, assim como alguns adentrarem e não conseguirem fazer o caminho de volta. TURISMO FORTUITO A explicação que surge como a mais provável para interpretar as anomalias biogeográficas relatadas é a climática: o território
O homem moderno é a única espécie capaz de modificar o hábitat que ocupa
O que aconteceu há 11 mil anos é como que um aviso profético vindo do tempo passado. Naturalmente houve acontecimentos concatenados e iniciados, provavelmente, por evento climático como foi referido, que dizimaram com virulência formas de vida magníficas. O homem moderno é a única espécie capaz de modificar o hábitat que ocupa. Ele semeia ventos de tempestade que podem levar a mudanças no meio não mais por causas naturais. Elas ocorreriam em consequência da atividade humana: poluição crescente do ar; desequilíbrio da mistura de gases na atmosfera. Rios drasticamente modificados seja no percurso ou no conteúdo; florestas arrancadas; mares esvaziados de vida pelo excesso de pesca. Exagero absurdo das monoculturas, quase sempre exóticas; incêndios virulentos sem conta provocados por Neros ressuscitados. Criação de espécies para consumo humano que ultrapassam em número de espécimes qualquer limite natural. Extração de matérias-primas que acabarão por modificar a superfície do planeta. Contaminação e consumo descontrolados de água potável; dese-
quilíbrios na temperatura. Montanhas de dejetos imprestáveis que provocam inveja ao Everest... Um resumo de tudo isso é o sádico estoque de armas nucleares com capacidade sobrada de destruir, num piscar de olhos, o planeta Terra. Muitas vezes. Riqueza absurda. Uma segunda aniquilação seria impossível. Tudo, até o excesso de bombas, teria acabado. Qual o limite de tolerância-resistência da paciente e, até agora tolerante, Mãe Terra? Como doloridamente testemunhamos no livro “Das Grutas à Luz” e nas quatro partes desta série publicada na Revista Ecológico, a extinção é irreversível. A vida extinta não tem videotape: vida que se foi, retorno não tem. Tragédia irônica, kafkiana seria aquela na qual o único ser pensante, entre os 30 milhões de espécies diferentes que compartilham o planeta, fosse o responsável pelo apocalipse. Final. O
Apoio cultural:
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intertropical brasileiro foi, na realidade, o refúgio de numerosas espécies que até ele chegaram, expulsas das regiões originais devido às temperaturas muito baixas e que se tornaram inabitáveis. A diminuição de temperatura teria provocado o aumento da pluviosidade responsável pelas inundações do final do Pleistoceno. Uma espécie isolada fora de contexto não é, por si só, argumento seguro. Outra coisa é constatar-se exceções na quantidade relatada. Há 11 mil anos ocorreu algo mais do que turismo fortuito. A mudança climática teve uma grande influência na composição florística. Seria causa indireta da extinção. Houve um decréscimo de pastagens que tornou inviáveis espécies pastadoras, as quais consumiam grande quantidade de alimento. A escassez deste deveu-se à diminuição das áreas de pastagens, com o aumento da Caatinga e das matas Atlântica e Amazônica, ou/e à diminuição de produtividade, causada pelas mudanças no regime de pluviosidade. As chuvas ter-se-iam concentrado em certos períodos anuais, como hoje ocorre, em vez de se prolongarem por períodos mais dilatados. Essa diminuição de pastagens teria levado à extinção numerosas espécies que pastavam em campo aberto e seus predadores. De fato, somente sobreviveram as espécies de periferia de mata, com dependência da água e as de floresta. A morfologia de muitas das espécies que se extinguiram manifesta que elas eram privilegiadas para enfrentar predadores e sobreviverem. A não sobrevivência delas ocorreu por outros motivos e não por eliminação provocada pelo aumento de carnívoros que migraram do Norte no grande intercâmbio faunístico americano. Nem pelo homem caçador ou por zoonoses.
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Lhamas
MUITO ALÉM DA APARÊNCIA Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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s lhamas bem que mereciam o título de feinhos simpáticos, não é mesmo? Com dois grandes dentes à mostra e um “topete” sempre desarrumado, esses animais parecem fazer uma pose engraçada sempre que fotografados. Não por acaso, a internet está recheada de imagens divertidas do bicho. Porém, mais que uma aparência exótica, eles são muito úteis à natureza e ao trabalho do homem. Confira algumas curiosidades:
PERFIL Os lhamas (Lama glama) são naturais de regiões de relevo mais acentuado da América do Sul: zona dos Andes, Altiplano Andino, Chile, Bolívia, Peru e Argentina. Pertencem à família dos Camelídeos, a mesma dos camelos, o que mostra que beleza não é seu o forte. Mas eles são resistentes às baixas temperaturas e períodos de seca e têm força ç p para carregar g 100 kg g de carga por até 20 quilômetros. Povos précolombianos de quatro mil anos atrás utilizavam utiliza os lhamas como animais de carga.
PELAGEM P ELAGEM PROT PROTETORA TORA Esses bichos possuem uma ma pelagem espessa - que varia normalmente entre as cores marrom, preto e branco – e que serve de matéria-prima para confecção de roupas, tais como ccasacos, ponchos, blusas e até tapetes. O pelo também é muito útil ao animal, já que o protege de arranhões e outros ferimentos. 50 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
HIV Outra pesquisa também tem analisado o que pode ser uma função extremamente útil para o ser humano. Cientistass gue dos descobriram que o sangue lhamas contêm ao menos quatro raros anticorpos que atacam de forma coordenada o vírus HIV. Mas o novo estudo, liderado pela University College London (UCL) tem mostrado nos ensaios que os anticorpos só apareceram após várias rodadas de imunização. E, mesmo assim, permaneceram em baixas concentrações. Por isso, muitos testes ainda precisarão ser feitos para chegar, quem sabe, a uma tão sonhada vacina contra a doença.
TUDO SE APROVEITA
FUNÇÃO ECOLÓGICA Em 2002, as fezes dos lhamas foram utilizadas para despoluir as águas em uma região mineira da Bolívia. A pesquisa desenvolvida na Grã-Bretanha demonstrou que os detritos dos animais, misturados ao calcário, absorviam partículas de ferro, sendo que as bactérias presentes neste material alcalinizavam a água.
CUIDADO Cada lhama pode atingir, em média, de 75 centímetros a 1,2 metro de comprimento, tendo uma cauda de 25 centímetros. O peso varia entre 150 e 200 kg. O animal vive cerca de 24 anos e se reproduz p ap partir dos dois anos. Cada gestação dura, em média, oito meses, apenas um filhote por vez. Apesar da fama de dócil, quando os lhamas se sentem acuados, podem morder, dar coices e até mesmo cusparadas. O
A carne dos lhamas sempre foi consumida pelos povos indígenas das regiões onde o animal existia. Porém, cada dia mais, vem conquistando o cardápio de restaurantess renomados por ser considerada uma carne macia e com baixo teor de gordura.
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MEMÓRIA ILUMINADA – MUHAMMAD ALI
MUHAMMAD: “Não divido o mundo entre os homens modestos e os arrogantes. Divido o mundo entre os homens que mentem e os que dizem a verdade”
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MUHAMMAD ALI A ECOLOGIA DA VITÓRIA O mais importante lutador da história do boxe disse não à guerra e venceu o preconceito. Sua luta extrapolou os ringues e fez dele um ícone do movimento negro Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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m lutador inesquecível. O melhor de todos, definitivamente. Sua presença no ringue era tão forte que o nocaute era um detalhe. Para quem pregava que “campeões não são feitos em academias”, desenvolveu uma técnica construída com muito suor e dedicação. E que se tornou quase uma religião no esporte. Muhammad Ali encarou 62 lutas, foi ao chão em cinco, mas permaneceu 57 delas em pé, com o cinturão de campeão nas mãos. O grande vencedor era negro – e isso era fantástico, principalmente naquela época, em que a sociedade era tão opressora. Junto com Martin Luther King, Ali contribuiu para o avanço dos direitos civis da comunidade negra em todo o mundo. Foi um homem que peitava o impossível. E que o venceu a maior parte do tempo. Nascido em Louisville, Kentucky (EUA), em 17 de janeiro de 1942, Cassius Marcellus Clay Jr. teve seu primeiro contato com o boxe depois que o técnico Joe Martin o viu na rua batendo em um ladrão que roubou sua bicicleta. Ele tinha apenas 12 anos. Sua determinação nos treinos era tão grande que, aos 18, venceu os Jogos Olímpicos em Roma, Itália. Aos 23, foi convocado pelo Exército norte-americano para a Guerra do Vietnã. Islamita, recusou-se a ir para o conflito por ser contra suas crenças religiosas. “Não vou viajar 10 mil milhas para ajudar
a matar outras pessoas pobres”, disse ele a uma autoridade militar que veio prendê-lo. E emendou: “Eu não tenho problema algum com os vietnamitas... Eles nunca me chamaram de crioulo”. Pela recusa, foi preso, e a Comissão Atlética de Nova York suspendeu sua licença do boxe e revogou seu cinturão. Foi sentenciado a cinco anos de prisão e pagamento de US$ 10 mil, mas depois permaneceu livre enquanto a condenação foi apelada. Suspenso do esporte, visitou vários centros universitários para se manifestar contra a guerra. Com o crescente apoio a Ali, a Suprema Corte reintegrou sua licença e anulou, em decisão unânime, sua condenação. Casado e pai de nove filhos, o pugilista anunciou sua aposentadoria em 1981, após conquistar sua 57ª vitória nos ringues. Diagnosticado com Mal de Parkinson em 1984, passou a se dedicar a causas humanitárias: chegou a se encontrar com Saddam Hussein no início da década de 1990, para negociar a libertação de reféns americanos, e visitou o Afeganistão em 2002 como Mensageiro da Paz da ONU. Muhammad Ali faleceu aos 74 anos, de complicações do Parkinson, dois dias antes da data comemorativa ao Dia Mundial do Meio Ambiente – 05 de junho. Em sua homenagem, a Revista Ecológico revisita seu legado filosófico e humano. Confira suas mensagens mais célebres:
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MEMÓRIA ILUMINADA - MUHAMMAD MUHAMMAD ALI
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
“VOE como uma borboleta, mas ferroe como uma abelha”, aconselhava Muhammad Ali
O IMPOSSÍVEL “O impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca, que prefere viver no mundo como ele está, em vez de usar o poder que tem para mudá-lo, melhorá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. Impossível é temporário. O impossível não existe.” O TREINOS “Eu odiava cada minuto dos treinos, mas dizia para mim mesmo: Não desista! Sofra agora e viva o resto de sua vida como um campeão.” O VISÃO DE MUNDO “Aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que o via aos 20 desperdiçou 30 anos de sua vida.” O FORÇA DE VONTADE “A força de vontade deve ser mais forte do que a habilidade.” O CORAGEM “Aquele que não tem coragem de assumir riscos não alcançará nada na vida.”
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RECEITA DE VIDA Certa vez, perguntaram a Muhammad Ali o que gostaria que as pessoas pensassem sobre ele depois que morresse. Eis a sua resposta: “Eu gostaria que eles dissessem: ‘Ele pegou alguns copos de amor. Pegou uma colher de sopa de paciência, outra de chá de generosidade. Tomou um litro de bondade e deu um litro de sorrisos. Colocou uma pitada de preocupação e depois misturou vontade com felicidade. Ele acrescentou muita fé e mexeu tudo isso muito bem. E, então, serviu para cada pessoa merecedora que encontrou pelo caminho’.”
O DEUS “Deus não coloca um peso nos ombros de um homem se souber que ele não pode carregá-lo.” O AMIZADE “É a coisa mais difícil do mundo de se explicar. Não é uma coisa que se aprende na escola. Mas, se você não aprendeu o significado da amizade, na verdade você não aprendeu nada na vida.”
O BOXE “O boxe é um monte de brancos vendo como um negro vence outro negro.” “Não há prazeres em uma luta. Mas algumas das minhas lutas me trouxeram um prazer de vencer.” “É apenas um trabalho. A grama cresce, os pássaros voam, as ondas acabam na areia. Eu bato nas pessoas.” O CAMPEÕES “Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que eles têm profundamente dentro de si - um desejo, um sonho, uma visão.” O FRATERNIDADE “Servir aos outros é o custo que você paga para a sua estadia na Terra.” “Quanto mais ajudamos os outros, mais ajudamos a nós mesmos." O CERTO E ERRADO “Quando você está certo, ninguém se lembra. Mas quando você está errado, aí ninguém se esquece.” O CONSELHO “Suas mãos não podem atingir o que os seus olhos não podem ver.” O MODÉSTIA “Eu sou tão rápido que ontem à noite eu desliguei as luzes do meu quarto e estava na cama antes de ficar escuro.” “Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho fé. Eu faço tudo o que posso para viver bem minha vida; e eu acredito que morrer vai me aproximar de Deus.” O PRISÃO [Em resposta a um policial que foi prendê-lo em 1965 por ter se recusado a lutar pelos EUA na Guerra do Vietnã]
“Você quer me colocar na prisão? Tudo bem, vá em frente. Estou na prisão há 400 anos. Posso ficar lá por mais quatro ou cinco, mas não vou viajar 10 mil milhas para ajudar a matar outras pessoas
FOTO: MARCELLO CASAL JR.
“O que está acontecendo? Nós estamos perdendo todos os nossos tesouros nacionais. Os pilares de nossa humanidade. Ele era o maior, esse homem, rei, herói e ser humano! Palavras não podem expressar. Ele mexeu com o mundo. Que Deus o abençoe!” Madonna, cantora norte-americana
FOTO: DAVID SHANKBONE
O SILÊNCIO “O silêncio vale ouro quando não se consegue achar uma boa resposta.”
“O universo do esporte sofre uma grande perda. Muhammad Ali era meu amigo, meu ídolo, meu herói. Passamos muitos momentos juntos e sempre mantivemos contatos todos esses anos.” Pelé, ícone mundial do futebol
“Além de ser um grande boxeador, ele era um belo e gentil homem com um grande senso de humor, que frequentemente poderia tirar cartas da manga, não importasse quão luxuosa a situação, e fazer um truque para você.” Paul McCartney, ex-beatle
FOTO: DIVULGAÇÃO
O HOMENS “Não divido o mundo entre os homens modestos e os arrogantes. Divido o mundo entre os homens que mentem e os que dizem a verdade.”
ELES DISSERAM...
“Muhammad Ali foi o maior. Ponto. Se você perguntasse a ele, ele teria dito isso a você. E diria que foi duplamente o maior, que ele seria ‘relâmpago algemado, um trovão jogado na cadeia’.” Barack Obama, presidente dos EUA
FOTO: PETE SOUZA
O DERROTA “Somente um homem que sabe o que sente ao ser derrotado pode ir até o fundo de sua alma e tirar dali aquilo que lhe resta de energia para vencer um combate equilibrado.”
pobres. Se eu quero morrer, morro aqui mesmo, agora, lutando contra você. Você é o meu inimigo, não o chinês, o vietcongue, o japonês. Você é o meu oponente quando quero liberdade. Você é o meu oponente quando eu quero justiça. Você é o meu oponente quando quero igualdade. Você quer que eu vá a algum lugar para lutar por você? Você nem se levanta por mim aqui na América, por meus direitos, meus credos!” [Em resposta à autoridade policial que foi prendê-lo em 1965 por ter se recusado a lutar pelos EUA na Guerra do Vietnã] O LIBERDADE “Eu sei para onde estou indo e conheço a verdade. Não tenho de ser o que você quer que eu seja. Sou livre para ser o que quero.” O VIVER E MORRER “Viva como se cada dia fosse o último, porque um dia você estará certo.” O SAIBA MAIS www.muhammadali.com
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FOTO: LÉO LARA
1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ
YARA:“Estou documentando algo que não sei se amanhã continuará existindo”
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FOTO: SYLVIO COUTINHO
MATAS DO RIO DOCE PINTANDO A ESPERANÇA Artista convoca, pelo exemplo, a obrigação pátria de recuperar as matas ciliares do Rio Doce levadas pela lama Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
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1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ
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FOTO: LÉO LARA
empre engajada na luta ambiental por meio do amor que sabe expressar, e com uma energia singular e impressionante pelo verde que nos resta, Yara Tupynambá, a artista natural de Montes Claros, Norte de Minas, se superou. Ou melhor, se completou, mais uma vez. O palco dessa superação, em homenagem aos seus 84 anos de idade e 60 de carreira, com a inédita exposição de pinturas da natureza, foi a Casa Fiat de Cultura, na capital mineira, de 14 de junho a 24 de julho. Com entrada gratuita, o público pôde se extasiar com quatro séries significativas de suas obras recentes, abordando os principais, frágeis e ameaçados ecossistemas que caracterizam a paisagem das Minas Gerais: “A Serra do Cipó”, “O Vale do Tripuí” e “Rio Doce”, passando também pela “Flora de Inhotim”. Mas foi na sua mostra retratando a beleza exuberante das matas atlânticas ao longo das margens do Rio Doce, cuja tragédia ambiental na região de Mariana já completa nove meses de aniversário e indignação pública, que Yara impressionou seus convidados. Seus pincéis registram, antes de atingida pelo acidente, a maravilha florística do Parque Estadual do Rio Doce, distante 248 km de BH, com área de 35.970 hectares situada na região do Vale do Aço (que já foi chamado de “a Cubatão mineira”, tamanho o grau de poluição de suas indústrias, antes do advento da consciência ecológica e legislação ambiental). Esta Unidade de Conservação, que interliga e protege os municípios de Marliéria, Dionísio e Timóteo, abriga a maior floresta tropical de Minas, também chamada de a “Amazônia Mineira” graças à existência de um notável sistema lacustre composto por 40 lagoas naturais, formadas pelo extravazamento do Rio Doce, ao longo de suas cheias históricas. Um espetáculo de rara beleza, que também seduziu a artista, impressionada pelas suas árvores centenárias e madeiras nobres de grande porte, compondo um dos poucos e maiores remanescentes de Mata Atlântica no país. É o que a Revista Ecológico, também maravilhada, registra nesta edição. Confira!
A ARTISTA planta uma muda gigante de tipuana em frente à Casa Fiat de Cultura, com direito ao chamego de José Eduardo de Lima Pereira, anfitrião do evento: "A recuperação da natureza depende de cada um de nós" 60 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FOTO: SYLVIO COUTINHO
“Fiquei triste com o acidente de Mariana, que levou junto tantas matas ciliares, como as que retrato aqui. Quem sabe isso vai nos fazer entender de vez que a ecologia de Deus é mais importante que a economia dos homens?”
JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 61
1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ
COMO GUIMARÃES ROSA José Eduardo de Lima Pereira (*) redacao@revistaecologico.com.br
“Yara Tupynambá é uma artista, uma estudiosa, mestra, trabalhadora. Aluna de grandes mestres, transcendeu o aprendizado, metabolizando-o em nova beleza; a eles pagou sua dívida com juros e luz própria. Yara consegue conciliar a genuína simplicidade pessoal com o extremo rigor técnico. Generosa para com os outros, é duramente severa consigo mesma; mas é visceralmente intransigente com o desconhecimento dos saberes fundamentais ao exercício da arte. Estudiosa incansável, conhece profundamente a história dos fazeres de seu ofício e não se nega à partilha bondosa de seu saber. Uma grande, enorme pessoa. Muito nos alegramos de poder trazê-la ao público, no momento exato da celebração dos 10 anos da nossa instituição, pois gostamos de pensar que temos algo em comum: brasileira e universal, Yara é mineira no mesmo sentido em que o é Guimarães Rosa. Olha o mundo com o mesmo olhar de quem sabe que o rio que corre por sua aldeia é maior que qualquer outro rio.” (*) Presidente da Casa Fiat de Cultura.
62 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FOTO: SYLVIO COUTINHO
“É uma pena as políticas econômicas sociais não contemplarem, na mesma dimensão, a necessidade intrínseca da natureza que trazemos na alma.” Yara Tupynambá
JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 63
1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ COMO DÁDIVA DIVINA Yara Tupynambá redacao@revistaecologico.com.br
FOTOS: LÉO LARA
“Conviver diretamente com a beleza e a grandiosidade da natureza, que nos fazem sentir mais pertencentes ao mundo, é a grande experiência que me foi oferecida, ao trabalhar com afinco e paixão sobre esta minha exposição. Fascinada pelo que já havia visto no Vale do Tripuí, a luz filtrada entre galhos, a exuberância da vegetação que cobria o solo, o silêncio profundo só cortado pelo pio das aves, busquei entrar na floresta do Vale do Rio Doce. Entrar onde a beleza se fazia em dobro, na grandiosidade das imensas árvores e na presença das águas nas enormes lagoas cobertas de nenúfares, margeadas por altas plantas aquáticas com delicados pendões brancos. Todos os sentimentos e sensações que vivi, no tempo em que trabalhei sobre o tema, foram cristalizados nesta minha mostra, lembrando a todos que a natureza, esta dádiva divina que nos foi dada, precisa ser amada, cuidada e preservada.”
CONSIDERADA a “Primeira Dama” da arte mineira, Yara é neta de europeu e bisneta de índia da tribo dos Tupynambá. Aos 17 anos, foi aluna do mestre Guinard, em BH; e, depois, do grande gravurista Goeldi. Foi, ainda, bolsista do Pratt Institute, em Nova York. Sua figuração poética a fez produtora de centenas de quadros e murais arquitetônicos instalados no Brasil e no Mundo.
SAIBA MAIS www.casafiatdecultura.com.br casafiat@casafiat.com.br facebook.com.br/casafiatdecultura instagram:@casafiatdecultura www.circuitoculturalliberdade.com.br telefone: (31) 3289-9000 64 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
FOTOS: SYLVIO COUTINHO
“As pinturas de Monet sempre me tocaram pela imponência e beleza de seus lagos. Mas, ao chegar no Parque Estadual do Rio Doce, e ver a grandiosidade de suas árvores e lagos, as águas dos quadros do mestre francês do Impressionismo ficaram pequenas diante do que vi.”
“O silêncio da floresta também me comoveu. Ao entrar mata adentro me deparei com um silêncio monumental emoldurado por grandes árvores, onde a iluminação provém apenas de pequenos feixes de luz. Essa imagem me lembrou uma catedral e me proporcionou uma grande paz de espírito. Não podemos deixar isso acabar.” JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO O 65
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ESTANTE VERDE LUCIANO LOPES
UM S SENTIDO PARA A VIDA Como transcender uma situação extrema sem desistir de viver? De Com onde ond d vem a esperança para superar momentos difíceis? Durante de a Se Segunda S e Guerra Mundial, o psiquiatra austríaco Victor E. Frankl fo foi oi le levado para vários campos de concentração nazistas. Enquanto preso, pres p pr ess observava seu comportamento ortame rtamen men mento nto to e o dos os ou outr outros utros ros e passou pas assou ssou ua questionar ques q qu ues qual seria o sentido do d o da da vida. v a. As As re respostas respos posta pos ostas para p ara ar essa indagação estão no o livro o “Em Em mB Busca usc usca u de S de Sentido”, lançado originalmente lmente lmen t em te em 1946 19 946 e que q ue e está em sua 38ª edição. A ob o obra obra tamb tam também mbém apresenta apr a prre e os conceitos básicos co cos os da a logoterapia, logote logo log lo gote tterapia, rapi pia, i ia, vertente vvert rttte e da psicoterapia centrada t ada trada tra da a no no sentido, sentid sen se tido, o,, da d qual q qu u uall Frankl é o fundador. SAIBA MAIS EM BUSCA DE SENTIDO Victor E. Frankl R$ 50,50 www.universovozes.com.br
Ecológico indica OS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO O ES SPÍR ÍRI RITO TO T OS ANTO AN A TO JOSÉ BORTOLINII R$ 13 EDITORA PAULUS www.paulus.com.br Escrever algo simples e, ao mesmo tempo, de conteúdo sobre os “Sete Dons do Espírito Santo” é uma tarefa delicada. E que também exige oração e reflexão. Ao longo da história da humanidade, nem sempre esses dons foram interpretados conforme o sentido original, isto é, como aparecem na Bíblia. O objetivo do autor foi este: devolver os sete dons às suas origens
66 O ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016
UM U MD IA A ((NO NO D NO IA)) D IIA DA AA NA LU NA L UZIA UZ U ZIA A DIA DIA) ANA LUZIA REI RE REIN R EIN INALDO AL LDO DO C ANTO ANTO AN T REINALDO CANTO R$ 36 R CHIADO EDITORA www.umdiadaanaluzia.com www.chiadoeditora.com O livro infantil conta a história da Ana Luiza, que vê seu dia mudar depois que objetos, materiais, alimentos e elementos da natureza começam a se manifestar e demonstrar tristeza diante do desperdício ou alegria quando eram bem utilizados. Após descobrir a importância do consumo consciente e da preservação do planeta, Aninha conscientiza a família e amigos com mensagens ecológicas.
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