Revista Ecológico - Edição 91 Completa

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ANO 8 - Nº 91 - JULHO/AGOSTO DE 2016 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


MargaretMarinho MONDODESIGN PH:_tooR


Denise Magalhaes R. Rio de Janeiro 1930 Lourdes (31) 2103.8500 BH @ /verdequetequeroverde www.verdequetequero.com.br


IMAGEM DO MÊS

FOTO: MIGUEL AUN / ACERVO BELOTUR

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IGREJINHA da Pampulha, como nos versos de “Para Lennon e McCartney”, de Lô Borges e Milton Nascimento

“SOU DO MUNDO, SOU MINAS GERAIS” A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) reconheceu o Conjunto Moderno da Pampulha - integrado pela Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Museu de Arte, o Iate Golfe Clube e a beleza natural da Lagoa como "Patrimônio Cultural da Humanidade". Idealizado por Juscelino Kubitschek e projetado por Oscar Niemeyer na década de 1940, com pinturas de Candido Portinari, azulejos de Paulo Werneck, jardins de Burle Marx e esculturas de Alfredo Ceschiatti, o conjunto arquitetônico ganhou o mundo. Ele faz parte agora de uma seleta lista de monumentos, edifícios ou sítios de valor cultural e histórico internacionais, como o Taj Mahal, na Índia, e a Muralha da China. Que venha agora a despoluição da lagoa! São os votos da Revista Ecológico! 04  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016


NOVOS ENCONTROS O Governo de Minas Gerais semeia cidadania e as famílias do campo colhem desenvolvimento e qualidade de vida. O Governo de Minas Gerais criou o Novos Encontros para melhorar a vida das famílias do campo. Com a participação de diversos órgãos públicos e entidades atuando em parceria, um conjunto de programas e ações está promovendo a cidadania para gerar oportunidades, respeitando a diversidade, as riquezas e as culturas locais. É assim que a vida no campo vai ao encontro de uma nova realidade, com mais dignidade e qualidade de vida.

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• Geração de renda

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• Qualificação para melhorar a produção

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• Água e luz para as famílias

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• Acesso a serviços públicos

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EXPEDIENTE

FOTO: ROBERTO MURTA

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Borboleta capitão-do-mato (Morpho helenor)

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

REVISÃO Gustavo Abreu

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

CAPA Arte: Yara Tupynambá Foto: Sylvio Coutinho

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com

CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

REPORTAGEM Cristiane Mendonça e Luciana Morais

Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

5,18 tCO2 e Abril e Maio de 2016


Somos produtores rurais. Nosso trabalho faz de Minas uma potência agropecuária. Produzimos alimentos com qualidade e em grande quantidade. O que nos orgulha muito é fazermos tudo isso de forma sustentável: o nosso estado tem hoje cerca de 30% de vegetação nativa conservada nas propriedades rurais.

Para manter o nosso patrimônio ambiental, contamos com o SISTEMA FAEMG, que oferece programas para recuperar nascentes, florestas, solo e outras ações para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Mantendo o equilíbrio do meio ambiente vamos produzir mais e melhor.

Somos produção e conservação.

sistemafaemg.org.br


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ÍNDICE

CAPA

A ARTE DE YARA TUPYNAMBÁ REACENDE O DEVER PÁTRIO DE RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA DESTRUÍDA NA TRAGÉDIA DE MARIANA

20 PÁGINAS VERDES O ESPECIALISTA EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL RICARDO ABRAMOVAY FALA SOBRE O IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO PLANETA E NA HUMANIDADE

78

AS PEGADAS DE LUND (FIM) NO ÚLTIMO CAPÍTULO DA SÉRIE, ENTENDA COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DIZIMARAM FORMAS DE VIDA 11 MIL ANOS ATRÁS

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TERRA BRASILIS MINAS GERAIS VOLTA A LIDERAR, PELA SEXTA VEZ, O RANKING DE ESTADOS QUE MAIS DESMATAM O BIOMA MATA ATLÂNTICA

E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 GENTE ECOLÓGICA 14 ECONECTADO 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 26 MÍDIA & CLIMA 28 MARIANA: O DEBATE CONTINUA 34 RECURSOS HÍDRICOS 54 SAÚDE 58 AMBIENTE RURAL 62 INOVAÇÃO AMBIENTAL 66 RECICLAGEM 70 NATUREZA MEDICINAL 72 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 73 GESTÃO DAS ÁGUAS 82 ESTANTE VERDE 98

Pág.

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CARTAS DOS LEITORES

coisas absolutamente raras nos dias conturbados e violentos que vivemos no nosso presente. Uma personalidade (ou muitas) insubstituível!” Gurgel Mendes, via Google+ l UMA VOZ CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL Matéria fala sobre a vida e carreira do ex-vicepresidente dos EUA e defensor das causas ambientais, Al Gore “Quando saem da política, defendem o meio ambiente, quando estão no poder nem querem ouvir falar no assunto!” Cezias Silva Nascimento, via Facebook “Al Gore traz um debate inadiável, para o qual a maioria das pessoas e governos enterram as cabeças.” José Marques Porto, via Facebook

l A REVELAÇÃO CLIMÁTICA DE CHICO XAVIER A profecia ecológica atrás da data-limite de 2019 “Os acadêmicos piram só de pensar em um diálogo entre espiritualidade e ciência, a ecologia profunda. Não estou falando de religião e dogmas, que é outra coisa!” Liza Andrade, via Facebook “Já dizia Humberto Maturana em ‘Biologia do Amor’: ‘Amor não é um fenômeno biológico eventual, nem especial, é um fenômeno biológico cotidiano’. Ele é tão básico que torna-se essencial para operar a vida!” Milena Rodrigues, via Facebook “Chico Xavier sempre falou do amor, da gratidão e da natureza. Era uma pessoa tão simples que só pensava no próximo. Amo o trabalho que ele deixou escrito.” Isolda de Souza Soares, via Facebook “Para o que crê, nenhuma prova é preciso. Para o que não crê nenhuma prova será o bastante.” Elizabete Amorim, via Facebook “Chico Xavier não era um homem comum. Estava anos-luz de distância, compreensão e entendimento da prole. Mesmo assim, falava, escrevia, fazia o bem, 10  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

l O SEGREDO (3) Texto fala sobre o livro e documentário “O Segredo”, que aborda o poder do pensamento positivo para se alcançar o sucesso “Bem-vindo ao planeta Terra! Não há nada que você não possa ser, fazer ou ter. Você é uma criatura magnífica e está aqui pela sua poderosa e deliberada vontade de estar. Vá em frente, dando atenção para o que quer, atraindo vivências para lhe ajudar a decidir sobre suas escolhas. Uma vez que você decida, dê atenção a isso. Muito do seu tempo será gasto coletando dados que o ajudarão a decidir o que irá querer. Mas lembre-se: o seu verdadeiro trabalho é decidir o que você quer e se focar para conseguir. Só assim você irá atrair. Esse é o processo de criação.” Vivien Sander, via Google+ l PÁGINAS VERDES - SARNEY FILHO O ministro do Meio Ambiente fala sobre a tragédia de Mariana e os desafios frente ao ministério “Senhor ministro: que tal começar pelo Maranhão, estado onde nasceu, que sofre com tamanha pobreza e falta de saneamento?” Eder Romulo, via Google+ “Tragédia a gente vê todos os dias nas cidades grandes e pequenas, tal como o esgoto correndo para dentro dos rios... Fala sério!” Dorilda Pereira, via Google+


FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

l A ECOLOGIA DA SOLIDARIEDADE Reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Mol (foto), fala sobre a importância de se praticar a caridade ao próximo “Há muito tempo venho dizendo: 99% da população do mundo é boa, o resto faz marketing!” Carlos Santos, via Google+ “A ecologia que Dom Joaquim aborda é a que as empresas e pessoas menos fazem. Cada vez mais, infelizmente, cresce a ecologia do individualismo.” Lúcio Marques, via e-mail l ENSAIO FOTOGRÁFICO - MARCELO SKAF O fotógrafo comemora 20 anos de trajetória com livro que traz 130 imagens de expedições ao fundo do mar “O ensaio com as fotos de biodiversidade marinha feitas pelo Marcelo Skaf são, na minha opinião, as mais bonitas que a Ecológico já publicou.” Luciano Pereira, via e-mail

EU LEIO “Nós, da Terra Consultoria e Análises Ambientais, ficamos admirados ao ler a Revista Ecológico. Ao recebermos cada edição, disponibilizamos a mesma para toda a nossa equipe e nos surpreendemos com o rico conteúdo, matérias espetaculares e design impecável da revista. Além disso, ficamos felizes em saber que existem profissionais trabalhando em prol do mesmo objetivo de nossa empresa: valorizar e cuidar do meio ambiente. Juntos, podemos crescer com sustentabilidade.”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: LIA PRISCILA

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

Rangel Gomes, analista de Marketing da Terra Consultoria e Análises Ambientais

“Marcelo Skaf na Ecológico! Além de ter trabalhado com esse cara, gravei entrevistas ótimas com ele para o meu programa de TV, em Foz do Iguaçu, e fiz algumas matérias para jornal. Skaf é uma autoridade em fotos submarinas!” Edilma Duarte, via Facebook


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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

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Rio Doce perguntou pro doce qual é o doce que é mais doce. E o doce respondeu pro Doce que o doce que é mais doce é ele mesmo, o Rio Doce, que precisa recuperar as suas matas, nascentes e águas, antes que elas se tornem salgadas e percam, de vez, o doce que têm. Foi assim, como numa brincadeira de roda ou de contar estórias, que a artista Yara Tupynambá se inspirou para sua nova mostra, “Pintando a Natureza”, com destaque ecologicamente político para a necessidade de recuperação do ecossistema da Mata Atlântica – atingido pela tragédia de Mariana. Só pela beleza da natureza – Yara proclama com os seus pincéis – a humanidade deveria socorrer e preservar o planeta. Precisa de mais motivos? É uma pena. Mas precisamos sim, como demonstramos nesta edição da Revista Ecológico, diante do estado do mundo nada atlântico, nem vergel, quase sem esperança em que vivemos e sobrevivemos atualmente. Pasme-se! Se você não sabe, Minas acaba de se tornar, pelo sexto ano, o estado campeão nacional de desmatamento desse ecossistema. Que outros motivos buscamos, caro leitor, cara leitora, para sairmos juntos e salvos da crise planetária que se avizinha, com as mudanças climáticas? É o que vocês irão ler nesta edição. Primeiro, o recado do professor Ricardo Abramovay, um dos especialistas brasileiros mais notórios em aquecimento global. Sem falar em mais um catedrático, o professor Cástor Cartelle, para quem a extinção de toda a vida terrestre, tal como a dos dinossauros, está por um fio - mais fino do que imaginamos. E por aí afora até chegarmos à mensagem da empreendedora e ambientalista Christina Carvalho, que esteve em BH participando do lançamento do “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”: é da falta de apreciação da natureza, do autodomínio e de reflexão que nos deixamos levar pelo consumismo. E agravamos o estado natural das coisas, aquecendo o planeta e alterando o clima. Da comunicação à pintura, tudo que precisamos continua sendo o amor. Não o amor salgado, mas o doce. Tal como o rio mineiro-capixaba atingido pela tragédia de Mariana, que sempre e historicamente contaminamos com o nosso desamor, até o seu superdesamor recém-o-

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FOTO: SYLVIO COUTINHO

PELO DOCE DO RIO DOCE

O RIO DOCE, retratado por Yara: “Monet brasileiro” historicamente devastado e poluído

corrido desde o doce das montanhas de Minas até o seu desaguar morimbundo nas águas sem doce do Atlântico. Rio Doce, a sua recuperação ambiental, tal como repintada nas matas de Yara, continua nas mãos dos representantes de todos nós. Da Samarco à cada descarga sem tratamento nem amor que continuamos dando nos nossos rios, à espera parceira e não omissa dos nossos governantes, em suas políticas nada ecoeficientes. Até quando? É o que a natureza retratada por Yara não nos responde. Só mostra a sua igual reação, e incondicional beleza, como relatamos nesta edição, incluindo mais um debate mineral sobre o pós-acidente de Mariana. Boa leitura! Até a próxima lua cheia, quando setembro vier! 


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MUDANÇAS

CLIMÁTICAS Qual a sua contribuição?

Homenagem Especial

Chico Xavier

www.premiohugowerneck.com.br

Realização


FOTO: PBH

GENTE ECOLÓGICA

FOTO: EINAR FALUR INGOLFSSON

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“Farei qualquer coisa para evitar o tédio. É a tarefa de uma vida.”

FOTO: PETERS, HANS / ANEFO

ANNE CARSON, poeta e ensaísta americana

“A melhor maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.”

MARCIO LACERDA, prefeito de Belo Horizonte, sobre o título “Patrimônio Cultural da Humanidade” concedido pela Unesco, no último dia 17 de julho, ao Complexo Arquitetônico da Pampulha sonhado e idealizado por Oscar Niemeyer

“Não podemos ter paz vivendo entre homens cujos corações se deleitam em matar criaturas. Para cada ato que glorifica o prazer de matar, estamos atrasando o progresso da humanidade.” RACHEL CARSON, cientista e ambientalista norte-americana

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FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: NATHÁLIA TURCHETI

DOM HELDER CÂMARA (1909-1999), bispo católico

“Esse reconhecimento mundial da beleza da Pampulha incrementará o turismo e irá reforçar a autoestima dos moradores de BH, além de aumentar o nosso compromisso com a despoluição da Lagoa.”

“Hoje foi o dia da arquitetura moderna. O coroamento de um longo trabalho de grupo.”

“A Pampulha modernista jamais será velha. Ela bebeu na fonte da juventude.”

LEÔNIDAS OLIVEIRA, presidente da Fundação Municipal de Cultura

GUSTAVO PENNA, arquiteto


“Mesmo com toda a imensa injustiça e miséria, com todos os seus defeitos, eu não quero sair do Brasil. Ele ainda vai ser um país extraordinário, porque o seu povo merece isso, depois de tanta miséria e revolta.”

FOTO: VENI

FOTO: DIVULGAÇÃO

OSCAR NIEMEYER (1907-2012), arquiteto, em entrevista ao Estado Ecológico em 1994

“As usinas nucleares não são apenas um problema de segurança, de ambiente ou de energia. Mas todas essas coisas juntas.” MIKHAIL GORBACHEV, presidente-fundador da Cruz Verde Internacional e líder da União Soviética entre 1985 e 1991

“Se efetivadas as propostas para botar abaixo partes decisivas da legislação ambiental brasileira, o Brasil poderá perder grande parte do que faz dele um patrimônio privilegiado.” WASHINGTON NOVAES, jornalista

SZB A Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB) definiu 2016 como o "Ano do Papagaio". Além de conscientizar a sociedade sobre o tráfico ilegal e a ameaça de extinção, a campanha abordará a perda de hábitat devido à destruição de ecossistemas onde esses animais vivem, como a Mata Atlântica. A inciativa tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e realizará ações de mobilização em lugares como zoológicos e escolas. CLÉO PIRES A atriz se tornou madrinha de uma campanha de crowfunding das ONGs Ampara Animal e 100% Animal para arrecadar R$ 500 mil para devolver 16 onças em cativeiro ao hábitat natural. A ideia é construir seis recintos de 180m², enriquecidos com elementos para proporcionar melhor qualidade de vida aos bichos, como lago, caverna e vegetação natural. Hoje eles vivem em espaços de 40 m2. Na sequência, as onças serão preparadas para reintrodução na natureza. JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  15

FOTO: SÉRGIO SAVARESE FOTO: PBH

FOTO: OMAR FREIRE / IMPRENSA MG

GAL COSTA, cantora

MÁRIO CAMPOS O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) é um dos apoiadores do manifesto de repúdio ao Projeto de Lei 1013/2011, que libera a fabricação e venda de carros de passeio a diesel no Brasil. Se aprovado, o projeto causará danos à saúde pública, uma vez que esses veículos são altamente poluentes. Segundo Mário, "o Brasil precisa se unir em torno da descarbonização da economia, com a redução da emissão dos gases do efeito estufa. A aprovação desse projeto seria um retrocesso nesse sentido".

FOTO: HELENA LEÃO

FOTO: SILVIO TANAKA

“A onda de violência e intolerância atual, vide os monstruosos estupros coletivos recém-ocorridos, nos dá a sensação de que estamos vivendo o apocalipse. Precisamos de mais amor e tolerância neste mundo louco em que vivemos.”

CRESCENDO


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ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

TWITTANDO

“O melhor jeito de fugir de um touro bravo? É só parar com as touradas e proibir todo tipo de escravização animal.” @JoaoVicente27 João Vicente Castro, ator

INSTAGRAM VERDE DE VOLTA AO VELHO CHICO A atriz Camila Pitanga sempre emprestou sua fama às causas ambientais. Não por acaso, em 2012, ela conquistou o “Prêmio Hugo Werneck” como “Destaque Nacional” por ter pedido para a então presidente, Dilma Rousseff, que vetasse o insustentável Novo Código Florestal. Agora, mais uma vez, Camila tem sua imagem ligada ao meio ambiente como protagonista da novela global “Velho Chico”, que tem as terras banhadas pelo Rio São Francisco como cenário. Em seu Instagram @caiapitanga, a atriz celebrou o momento mencionando uma frase de sua personagem Tereza: “'A sua benção, meu Velho Chico! Abençoe sua filha que está voltando depois de todos esses anos...' Eu, Camila, sinto-me recomeçando uma nova fase também. Terão acertos? Erros? Não importa! Estou no leito de um rio poderoso”.

ECO LINKS

“Austrália proíbe definitivamente a venda de produtos testados em animais.” @AlexiaDechamps Alexia Dechamps, atriz

FEIRAS ORGÂNICAS NO BRASIL Sabe onde encontrar frutas, verduras e legumes orgânicos na sua cidade? Onde estão as feiras mais próximas de você que vendem esses produtos? Se a resposta é não, é bom conhecer o aplicativo “Mapa de Feiras Orgânicas no Brasil”. A ferramenta possui mais de 500 pontos de comercialização de orgânicos e agroecológicos em todo o país. Desse total, 90% são feiras. O aplicativo ainda disponibiliza receitas saudáveis e sustentáveis com alimentos regionais. Disponível gratuitamente para celulares com sistema Android no Google Play. Acesse: www.goo.gl/tXn26h

MAIS ACESSADA

“Por que não criamos edifícios que funcionem como árvores, capazes de oferecer suporte à vida?” @alexmansur - Alexandre Mansur, jornalista do Blog do Planeta 16  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

DEZ RAZÕES PARA PLANTAR HORTELÃ EM CASA Bastante popular e conhecida pelas propriedades culinárias e medicinais, a hortelã é também de fácil cultivo. Por isso, a matéria que fala de dez benefícios de se plantá-la em casa foi a mais acessada e compartilhada no site e redes sociais da Revista Ecológico. Para se ter ideia, há estudos que apontam que o simples inalar do aroma da planta já traz efeitos positivos nas funções cognitivas. Quer saber mais? Basta acessar o texto diretamente no link: www.goo.gl/gEsh92


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Quando o sítio é ecológico, em se plantando, dá.

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FAS PREMIADA O “Programa de Monitoramento Participativo do Programa Bolsa Floresta”, da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), desenvolvido desde 2011 em parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon), foi um dos vencedores do “Prêmio Gestão Ambiental no Bioma Amazônia”, concedido pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). Mas esta não foi a única conquista da entidade este ano: dirigida pelo ambientalista Virgílio Viana, ela também foi a grande vencedora do “Prêmio Calouste Gulbenkian”, em JORGE Sampaio e Marcelo Rebelo (respectivamente, ex e atual presidente reconhecimento ao trabalho de de Portugal), Virgílio Viana, superintendente da FAS, e Artur Santos, defesa e valorização da Floresta presidente da Fundação Calouste Gulbenkian Amazônica, promovendo o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas no estado do Amazonas. No valor de 250 mil euros, o prêmio foi entregue em Lisboa, com as presenças do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, do superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana, e do presidente da Fundação Gulbenkian, Artur Santos Silva. O dinheiro será destinado a projetos sustentáveis realizados com comunidades do bioma.

MRV NOTA 10 Com o “Projeto Escola Nota 10”, a construtora MRV conquistou o “Prêmio Mérito Ambiental”, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na categoria “Responsabilidade Ambiental”. A iniciativa, que tem levado cursos de alfabetização e de capacitação aos operários da empresa em todo o país, foi implementada em mais de 150 escolas dentro dos canteiros de obras em 75 cidades brasileiras. Mais de três mil operários foram alfabetizados até agora. “O prêmio vem coroar um trabalho educacional que realizamos há quatro anos. É um importante reconhecimento para as equipes de engenharia comprometidas com esta iniciativa e para o Instituto MRV, que tem apoiado o projeto”, ressalta Eduardo Fischer, presidente da MRV e do instituto. Os operários participam dos cursos no início da jornada de trabalho e, segundo Fischer, o resultado da iniciativa vem trazendo bons resultados: “A melhoria contínua dos processos construtivos e os investimentos constantes em educação, treinamento e qualificação da nossa mão de obra contribuíram para um ganho de produtividade de 15% nos últimos três anos”. 18  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

FOTO: MÁRCIA LESSA

SOU ECOLÓGICO

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

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SEGUNDO Eduardo Fischer, a produtividade da mão de obra cresceu 15% com os cursos


Acesse o blog do Hiram:

O ESTUDO segue orientações da Supram e terá informações sobre hidrologia e potencial hídrico da região do empreendimento da CSul

acompanhamento periódico, uma rede composta por poços tubulares profundos, poços rasos, piezômetros, estações fluviométricas, estação de monitoramento pluviométrico e vertedores será construída para realizar a compilação, transmissão e armazenamento de dados. A coleta destes e o escopo com os resultados apurados, e que serão utilizados para o andamento das ações, deverá ser entregue até 2018.

Foto: Ricardo Melo

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Venha nos visitar

Foto: Ricardo Melo

CSUL INVESTE Ciente da necessidade de entender melhor a estrutura geológica e hidrológica do entorno de seu empreendimento-modelo em Nova Lima, na Grande BH, a CSul Desenvolvimento Urbano contratou a MDGEO, empresa de consultoria especializada em hidrologia, para desenvolver estudos permanentes e buscar novas tecnologias que possam ser adotadas para o uso racional das águas e a sua preservação. As ações, seguindo orientações dos técnicos da Supram, serão iniciadas neste semestre. Segundo o superintendente da CSul, Waldir Salvador, as novas análises serão uma evolução do conhecimento atual e auxiliarão na identificação de fontes potenciais capazes de atender à demanda futura de abastecimento hídrico, atuando pontualmente e sem trazer prejuízos ao meio ambiente e à região. A proposta prevê a adoção de um modelo em que será possível realizar a simulação de cenários futuros na região do empreendimento, avaliar e quantificar a influência da demanda gerada nos recursos hídricos locais. Para o

FOTO: ROSSANA MAGRI

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PÁGINAS VERDES

“TEMOS DE DESCARBONIZAR

A ECONOMIA” Paulo Coutinho Colaboração de Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

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a avaliação do professor, doutor em Ciências Econômicas, PhD em Ciências Sociais e especialista em desenvolvimento sustentável Ricardo Abramovay, repensar o sistema econômico atual é o grande desafio do Brasil e do mundo para atingir a sustentabilidade. Nesta fase de transição para uma economia de baixo carbono, ainda falta para ambos integrar este sistema de forma mais orgânica à qualidade de vida e à ética, por meio de uma nova revolução sustentável ao se produzir bens e oferecer serviços. Ele reforça que apenas reconhecer a importância das inovações tecnológicas na economia verde não resolverá os problemas socioambientais que assolam o século XXI. Para isso, propõe a descarbonização da economia e também lança uma reflexão sobre a chamada “psicologia climática”, que impede as pessoas de perceberem as evidências científicas para, de fato, atuar propositivamente contra as alterações do clima e o aquecimento global. “Se os gases de efeito estufa tivessem cor ou cheiro, nunca teríamos chegado onde estamos, porque a indignação contra eles seria mais rápida. E os resultados também”, ressalta. Nesta entrevista exclusiva à Revista Ecológico, o autor dos livros “Muito Além da Economia Verde” e “Lixo Zero: Gestão de Resíduos Sólidos”, prefere ser realista em relação ao futuro que nos aguarda. “Vamos viver em um mundo mais quente e teremos de nos adaptar ao que está vindo. Não antevejo uma vida miserável, mas sim uma em que as virtudes comuns terão de ser mais cultivadas.” Confira: Quais os impactos que o quinto relatório do IPCC provocou na comunidade científica e que influência ele trouxe para a sociedade, principalmente para os céticos? Na verdade, os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em in-

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ABRAMOVAY: “Negar as mudanças climáticas não é um ponto de vista inocente e sim fomentado por empresas fósseis”


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R I C A R D O A B R A M OVAY

Doutor em Ciências Econômicas, PhD em Ciências Sociais e professor da USP

“A barragem é um organismo vivo, que se “Vamos viver em deteriora continuadamente como o nosso um mundo mais corpo. Daí a importância de as empresas quente mesmo se investirem em auditorias de segurança.” as emissões fossem interrompidas hoje.”

glês) não trazem nada de novo com relação àquilo que a comunidade científica faz e sabe, mas são uma síntese mais didática possível. Dos artigos publicados de 1990 para cá, pouco mais de 2% negam a existência do aquecimento global ou a sua natureza antrópica. Isso significa que a maioria da comunidade científica converge no sentido de mostrar que o mundo que estamos está passando por uma mudança climática. Que ela é causada pelo homem e representa riscos imensos para o futuro da civilização e do meio ambiente. Há como reverter isso? Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa, por um milagre, fossem interrompidas hoje, aquilo que está acumulado na atmosfera é suficiente para provocar mudanças durante séculos, ou até milênios, em todo o planeta. Somos uma espécie que exerce influência biológica sobre a Terra, pela própria relação que temos com o mundo natural. Desde a revolução neolítica, há dez mil anos, a huma-

nidade tem desmatado florestas. Agora, também representa uma força geológica. Nunca anteriormente as ações humanas tinham sido capazes de alterar não só o clima mas a era geológica que estamos passando. Qual é o grande paradoxo que vivemos hoje? O contraste e o acúmulo de evidências no sentido de que existem mudanças climáticas e elas são de origem antrópica. Esse contraste “ciência-opinião pública” é um dos temas de pesquisa mais fascinantes. As pessoas não se dobram às evidências científicas. Esse contraste é interessante para a sociedade? Sim. E ele é chamado de “psicologia climática”. Há uma série de estudos que vêm sendo feitos tentando listar e compreender os fatores psicológicos que impedem as pessoas de aceitar essas evidências científicas. Alguns deles são intuitivos: se os gases de efeito estufa tivessem cor ou cheiro, nunca

teríamos chegado onde estamos porque a indignação contra eles seria mais rápida. Em segundo lugar, é a mente humana. Como assim? O Banco Mundial divulgou recentemente um relatório chamado “Mente, Comportamento e Sociedade”. Por que ele se voltou para um estudo da mente? Porque a maneira que os economistas habitualmente concebem o comportamento humano é irrealista: faz abstração da sociedade e da psicologia. O relatório mostra a nossa capacidade de compreender o mundo, a nossa mente, que se caracteriza por uma espécie de “curto-prazismo” e um conjunto de reações automáticas em que a compreensão de fenômenos complexos como as mudanças climáticas é muito difícil. Além disso, tem uma dimensão cultural. Os estudos mostram que aceitar a existência das mudanças climáticas é ter de mudar o modo de vida. Isso nos EUA atenta contra a liberdade individual. Ou seja, quem tem de

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JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  21


PÁGINAS VERDES

CONSTRUÇÃO de Belo Monte, no Pará: inaugurada em maio, a usina teve seu projeto criticado por ambientalistas e indígenas

decidir meu modo de vida sou eu, não nenhuma autoridade. Há uma parcela da população e da opinião pública que adere às teses negacionistas mostrando que é muito mais sacrificado continuar do jeito que estamos do que enveredar pelo caminho de mudança que vem sendo proposto. Do ponto de vista da psicologia humana, você sempre prefere o conhecido, principalmente quando fica mais velho. Os negacionistas aproveitam disso para conspirar contra a comunidade científica? Eles não publicam artigos porque as suas ideias não passam pelo crivo da comunidade científica. Alguns dizem que existe uma conspiração porque ela está sendo financiada para desprestigiar os EUA, o que é uma ideia descabida. Os negacionistas publicam muitos livros e a maioria deles são patrocinados por interesses. Negar as mudanças climáticas não é um ponto de vista inocente e sim fomentado por empresas fósseis, da mesma forma que as de tabaco 22  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

“O Brasil vive entorpecido pela ideia de que fazer hidrelétrica na Amazônia e furar milhares de metros para descobrir petróleo é o suprassumo da modernidade.” afirmavam que o vínculo entre o cigarro e a ocorrência de câncer era uma ideia estapafúrdia durante muitos anos. A descarbonização significa o fim da era do petróleo? A base da sociedade moderna é o petróleo. Ele tem um poder energético imenso, é difícil encontrar algo com tanta força assim. Para se ter ideia, uma colher de petróleo tem energia correspondente a oito horas de trabalho humano! Graças a essa fonte de energia foi possível transformar a agricultura

contemporânea, massificar a produção, do qual teria sido impossível passar dos 800 milhões de habitantes, que éramos na época da Revolução Industrial, para os mais de sete bilhões de seres humanos que somos agora. O carvão também não foi fundamental para a produção de energia? Sim. Os países desenvolvidos se desenvolveram com base na energia oferecida por esses dois “escravos baratos”. Além da produção de energia, ainda há uma produção adicional, que é a de gasolina, para movimentar os automóveis a partir dos anos 1920. Foi o que permitiu a revolução completa no próprio conceito de mobilidade baseado no automóvel individual. Então, nesse sentido, emissão de gases de efeito estufa é a contrapartida de um conjunto de comodidades básicas da vida moderna das quais é perfeitamente natural que as pessoas não queiram abrir mão. É um contraste danoso, não?

FOTO: REGINA SANTOS

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R I C A R D O A B R A M OVAY

Doutor em Ciências Econômicas, PhD em Ciências Sociais e professor da USP

Até alguns anos atrás, esse contraste entre os efeitos danosos da queima de combustíveis fósseis e o conforto que o seu uso traz para as pessoas era incontornável. As alternativas eram muito poucas. E o discurso ambientalista tinha de acentuar muito mais o lado negativo das mudanças climáticas do que o das perspectivas. Isso mudou muito por conta da pesquisa científica e de suas aplicações tecnológicas. A era digital e a economia da informação em rede permitiram as nanotecnologias e um avanço sobretudo em energias solar e eólica, que abrem caminho para descarbonizar a matriz energética. O carro elétrico é um exemplo. E no que se refere à matriz de transporte? O automóvel tradicional levou a sociedade a um estrangulamento insuportável. Hoje, sobretudo nos países em desenvolvimento, é o contrário da finalidade de função ao qual é oferecido, que é a mobilidade. Os carros representam uma força para as pessoas. As cidades passam a se organizar em função deles, que é uma grande operação de enxugar gelo. É preciso dispor de meios de transporte públicos de boa qualidade. Ainda bem que a aspiração dos jovens por bens como um automóvel, quando entram na vida adulta, não é mais como antes. As tragédias ambientais são próprias do mundo capitalista? Não. Os grandes desastres ambientais contemporâneos ocorrem também, por exemplo, no mundo socialista. A ideia de que o não ca-

pitalismo pudesse ser menos predatório não bate com os fatos. É o caso da China, que cresceu economicamente de forma ambientalmente predatória. A questão é que nas sociedades contemporâneas os interesses consolidados em torno não só da economia fóssil, mas da maneira de produzir e distribuir energia, são tão fortes que há dificuldade em combatê-los. O

mundo continua subsidiando de maneira pesada os combustíveis fósseis, produz de 70 a 80 milhões de carros por ano e os sistemas elétricos contemporâneos continuam obedecendo as mesmas leis. Que esperança devemos ter então? Não é dizer “vamos mudar de regime capitalista para socialista, desapropriar ou nacionalizar essas grandes empresas para elas obedecerem ao interesse social”. Não adianta fazer isso se o modo de operar continua o mesmo. Às vezes, as pessoas dizem que quando se afirma que existem tecnologias

renováveis ou formas descentralizadas de se produzir energia, se está dando ênfase em uma solução técnica. Isso não é verdade. Para essa solução se massificar, ela vai exigir uma mudança tão importante na maneira de organizar bens e serviços que corresponderá a uma espécie de revolução. Isso já está começando a ser vivido no campo da eletricidade, onde as grandes centrais elétricas começam a se sentir ameaçadas pelo processo de descentralização decorrente da autoprodução de energia. O que essas empresas terão de fazer? Se reinventar ou, então, estarão fadadas a desaparecer. O mais importante é localizar o tipo de demanda social e o que ela pode representar de avanço em relação à democracia e à justiça. Um exemplo é o que acontece hoje com os gigantes da internet. O mundo nunca teve condições tão propícias quanto agora para estimular a colaboração social, em que cada um de nós dispõe de um objeto cujo poder computacional é totalmente descentralizado. As empresas precisam se perguntar se estão realmente cumprindo uma função social. Elas não podem ser mais apenas instrumentos de obtenção de lucros privados. Hoje existem movimentos que dizem o que as empresas devem aberta e voluntariamente fazer para que a sustentabilidade seja o elemento decisivo para o seu próprio lucro. Os mercados já perceberam a necessidade dessa mudança de pensamento?

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PÁGINAS VERDES FOTO: FERNANDA MANN

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Sim. E estão temerosos em relação aos investimentos petrolíferos, por exemplo, porque é perfeitamente possível que haja uma recuperação ou um ganho de bom senso por parte de todos nós. Explorar o conjunto dos recursos fósseis que está na mão dessas empresas significa a destruição do sistema climático, que é o bem mais importante da espécie humana. Há como minimizar os estragos? Mesmo se todos os países do mundo cumprirem o que prometeram nas últimas conferências do clima, continuaremos no patamar de elevação de temperatura superior a dois graus, que já terá consequências muito graves para a vida na Terra. É muito mais difícil do ponto de vista ético atribuir responsabilidades por um fenômeno desta natureza. Os responsáveis são os que emitem gases de efeito estufa, mas é preciso ter cuidado ao afirmar isso, porque eles emitem para criar produtos que todos nós compramos. Vai dizer que somos assassinos da 24  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

“O Cerrado é uma floresta de cabeça para baixo e responde por parte importante do nosso abastecimento de água. Mas ninguém dá bola para ele.”

Qual é o nosso grande desafio então? Não é imaginar que precisamos convencer as pessoas a renunciar às comodidades que elas desfrutam hoje, e que querem almejar, para poder promover as transformações necessárias a esse novo paradigma civilizacional. Acredito que o nosso desafio é mostrar que a vida sob uma inspiração de combate às mudanças climáticas é melhor do que a vida com mudanças climáticas.

espécie humana e de outras porque usamos carros? É intuitivo que há exagero nisso. Supor que as mudanças climáticas, para que elas sejam combatidas, implicam transformações nos comportamentos humanos de natureza puramente altruísta é dar um tiro no pé. As chances de que esses comportamentos sejam transformados em um prazo minimamente razoável são muito pequenas. Até porque há uma parte da população que sequer consegue suprir suas necessidades básicas, um problema sério de desigualdade.

Qual é o segredo para que isso aconteça? A capacidade de oferecer bens públicos e serviços coletivos que são fundamentais para uma melhor qualidade de vida e que as economias contemporâneas não vêm sendo capazes de fazer por várias razões. A primeira delas é que nos países desenvolvidos o resultado dos grandes avanços tecnológicos é o aumento das desigualdades sociais. Nos EUA, o índice de desigualdade é maior do que o da crise de 1929. Isso é muito grave! Exatamente os paí-


R I C A R D O A B R A M OVAY

Doutor em Ciências Econômicas, PhD em Ciências Sociais e professor da USP

ses que estiveram na vanguarda da construção democrática do século XX são os que passam por uma deterioração de seu tecido social em função da desigualdade. Se não houver um horizonte para enxergar que é possível ter uma vida melhor desfrutando da conivência com os outros e questionando a ideia de que as jornadas de trabalho têm de ser imensas para você comprar o que precisa, se esse tipo de colocação exacerbar as polaridades inclusive culturais do confronto, dificilmente sairá alguma coisa de construtivo. Se não formos capazes de demonstrar que a vida pode ser melhor com a descarbonização da economia, não ganharemos essa batalha. Você disse recentemente que o Brasil investe 72% em petróleo, 3% em novas fontes e 5% em biocombustível. Esses dados são anteriores à Operação Lava Jato. Agora eu não sei. Provavelmente 2/3 dos investimentos ainda devem ser no petróleo. Qual é a tendência desse tipo de investimento no Brasil? Se depender das lideranças políticas, governamentais, empresariais e sindicais, vamos continuar neste caminho. O Brasil vive entorpecido pela ideia de que fazer hidrelétrica na Amazônia e furar milhares de metros para descobrir petróleo é o suprassumo da modernidade. Não é. É um atraso. Estamos mergulhados nisso e as reações da sociedade civil e do empresariado começam a ganhar algum vulto com os escândalos da Operação Lava Jato. A sociedade já percebeu o vínculo entre grandes obras de infraestrutura e a corrupção. A concentração de tanto poder em poucas empresas e do Estado é um convite à ineficiência.

“A sociedade não entendeu, ou entendeu de maneira abstrata, o quanto inovação é algo estratégico para que o desenvolvimento possa emergir no Brasil.”

A ausência de um projeto de Brasil moderno que supere as grandes barragens, a descentralização da produção de energia, é estrutural ou circunstancial dos governos? É uma característica deles. Durante a última campanha eleitoral não houve ninguém levantando dúvidas a respeito do pré-sal. Mesmo no que se refere ao processo de desindustrialização da economia, fica parecendo que isso não tem nada a ver com a característica estrutural do Brasil e da América Latina, que é o processo de desprimarização pelo qual os países passam. Um dos grandes problemas que temos é o sentimento de que grandes ONGs e movimentos sociais estão voltados a temas centrais como violência, discriminação, injustiça, desigualdade. A sociedade não entendeu, ou entendeu de maneira abstrata, o quanto inovação é algo estratégico para que o desenvolvimento possa emergir no Brasil. Os nossos dados de educação são de uma precariedade impressionante, grosseira. A Amazônia será preservada a tempo ou transformada em savana? É possível preservá-la. O desmatamento no bioma já é imenso, che-

ga a 19%, mas a parte preservada é maior. Cada vez mais, a legitimidade social e política do desmatamento cai. Contrário ao que acontece no Cerrado, que é onde nossa preocupação deve estar. O Cerrado é uma floresta de cabeça para baixo e responde por parte importante do nosso abastecimento de água. Ninguém dá bola para ele. A Amazônia não, ela tem atenção internacional. O que falta para esses biomas existirem de forma equilibrada? Empreendedorismo inovador, exploração sustentável da floresta em pé. Isso não se traduziu em negócios em uma escala minimamente apreciável. Mas sou mais otimista com o futuro da Amazônia do que com o do Cerrado, que as pessoas acham que é fronteira agrícola. E não é. É uma questão de legitimidade. Que futuro você vê para o Brasil e a humanidade? Vamos viver em um mundo mais quente mesmo se as emissões fossem interrompidas hoje. Não sabemos se o grau de destruição vai ser imenso ou pequeno, depende de sermos capazes de reduzir, nos próximos 15 anos, as emissões de gases poluentes. Se isso não acontecer, teremos consequências piores que as de hoje. Vamos ter de nos preparar para uma adaptação a este mundo que está vindo. Se houver a elevação de três graus até o fim do século, haverá uma intensificação dos fenômenos climáticos. Muitas áreas litorâneas hoje habitadas serão sacrificadas. Terão de deslocar pessoas para as áreas em que não haja risco. Não antevejo uma vida miserável, mas sim uma em que as virtudes comuns terão de ser mais cultivadas.  JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  25


MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: WELINGTON PEDRO DE OLIVEIRA

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ESTADO DE ALERTA

“NOBREZA” INSUSTENTÁVEL

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les não desistem. O deputado Toninho Pinheiro-PP/MG (o mesmo que tentou modificar a legislação de zona de amortecimento de parques e reservas para facilitar loteamentos) apresentou à Câmara dos Deputados o PL 3.571/2015. O projeto “dispõe sobre a desapropriação e indenização de propriedades privadas em unidades de conservação de domínio público”. Se for aprovado, podemos dizer “adeus” à proteção legal de ambientes naturais preciosos para o país e o planeta. O PL prevê que o poder público não mais poderá criar Unidades de Conservação (UCs), a não ser que disponha no ato a dotação orçamentária para regularização fundiária. O propósito parece nobre, porque sem dúvida há muitos casos de proprietários rurais que ficam prejudicados pela restrição de algumas atividades econômicas (como desmatamento, loteamento, mineração). Mas a “nobreza” considera somente a defesa da propriedade privada, independentemente de pertencer a empresas, latifúndios; da preservação dos atributos ambientais e de aquíferos que têm de ser preservados; do mau uso do solo e outras práticas predatórias; de conflitos sociais e do valor real das terras. Em Minas Gerais, por exemplo, boa parte das poucas unidades de conservação que existem foi criada em áreas onde o solo é de pobreza extrema, como na Serra do Espinhaço. Ou seja: são terras inviáveis para quase toda atividade econômica. É o caso do Parque Estadual do Rio Preto, que rende mensalmente à prefeitura de São Gonçalo do Rio Preto mais de R$ 50 mil pelo ICMS ecológico, valor que deve ser infinitamente maior do que renderia qualquer atividade. Ou da prefeitura de Ibirité - município 26  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

em que a família do deputado se mantém na prefeitura há mais de 16 anos -, que recebe cerca de R$ 25 mil/ mês pelo Parque Estadual do Rola Moça. Aliás, é bom registrar que o repasse do ICMS independe da regularização fundiária. Está comprovado que a criação de UCs, mesmo sem regularização, aumenta a proteção ambiental, justamente pelas restrições a atividades degradantes. Os parques que já estão abertos ao uso público propiciam lazer e contato com a natureza principalmente para segmentos da sociedade que não têm condição econômica de frequentar áreas privadas. O Brasil tem percentual irrisório de parques e estações ecológicas, sendo que grande parte, como na Amazônia, está invadida e sendo depredada. Mesmo sendo terras públicas. A privatização (ou entrega) de terras públicas no país continua sendo feita, em detrimento de serem destinadas à criação de unidades de conservação. Parecer da assessoria técnica da Câmara informou aos deputados que a aprovação levará a um “engessamento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), dificultando ou impossibilitando a criação de novas unidades, inviabilizando este importante instrumento de proteção e gestão ambiental”. Se o deputado e seus pares lutassem pela aplicação dos recursos da compensação ambiental que estão parados ou sequestrados no ICMBio e em órgãos estaduais e pela dotação orçamentária, nossos parques já estariam regularizados. Nós, também, não desistiremos!  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).



FOTO: ALESSANDRO CARVALHO

1 MÍDIA & CLIMA

CHRISTINA CARVALHO: "Nas empresas, não somos treinados para entender a interrelação que a sustentabilidade propõe. Se eu estou desplugado de mim, como posso estar interligado ao outro, à vida, ao todo que nos cerca?”

A COMUNICAÇÃO

SUSTENTÁVEL Em palestra que marcou o lançamento do VII Prêmio Hugo Werneck, a empreendedora e ambientalista Christina Carvalho Pinto apontou o novo papel dos profissionais de mídia, empresários e gestores em tempos de mudanças climáticas Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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e você perguntar a Christina Carvalho Pinto qual é a sua profissão, não espere que ela afirme ser publicitária. Ainda que sua trajetória profissional de quase três décadas a tenha consagrado no universo da propaganda, do marketing e da publicidade, hoje ela prefere ser chamada de “empreendedora e ambientalista”. E tal definição

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não surgiu da noite para o dia. Diariamente trabalhando com sustentabilidade, marcas, inovação e comunicação criativa, Christina, paulista de Dois Córregos (mas mineira de coração), percebeu que o mundo corporativo precisava de uma reinvenção. E isso só aconteceria, defende ela, com uma mudança de mentalidade e comportamento tanto das empresas quanto dos

consumidores, face ao estado insustentável e climático do mundo. Em um mercado dominado pela essência do lucro pelo lucro, ela decidiu, de forma visionária, liderar uma revolução sustentável. E, com isso, vem disseminando uma visão mais integrada do ser humano e da natureza que ainda resta à nossa volta. Essa foi a lição que fez com que


FOTO: ALESSANDRO CARVALHO

DEPOIMENTO

VERDE

“Sou uma grande admiradora da Revista Ecológico. Sou leitora e colecionadora da revista há anos. É um conteúdo único e tem uma característica particular que todos nós conhecemos na linguagem da comunicação. Ao mesmo tempo em que é muito sofisticada na sua abordagem, porque traz informações com urgência e relevância grande, ao mesmo tempo é palatável. Todo mundo pode ler a Ecológico. E isso mostra que os temas mais complexos, quando na mão de gente com qualidade, se simplificam. É com simplicidade que teremos de encarar esse desafio tremendo que são as mudanças climáticas. E com o qual teremos de conviver e deveremos ser coautores em termos de solução.”

mais de 120 jornalistas, publicitários, empresários e políticos fossem ao auditório da nova sede da Fiemg, na capital mineira, para assistir à sua palestra. Presidente e sócia do Grupo Full Jazz, de São Paulo, considerado pela Fundação Dom Cabral como o melhor exemplo de inovação empresarial do país, Christina é vencedora de grandes prêmios nacionais e internacionais. Entre eles, o de “Profissional da Década”, concedido pela Abracomp, e o Leão de Cannes. Considerada em votação aberta pela internet “a Profissional com maior significado para a Criação Publicitária no Brasil nos últimos 20 anos”, ela foi a primeira a abraçar e promover a causa da sustentabilidade em agências de publicidade e empresas, o que lhe rendeu o título de “Dama da Comunicação”. No evento em BH, promovido pela Revista Ecológico com o apoio do Sindiextra, ela abordou o papel dos profissionais de mídia, políticos, empresários e gestores ambientais

“O que a mídia deve fazer é criar novas imagens de esperança, para que as pessoas sejam protagonistas. Para isso, também devemos parar de assistir, ler e compartilhar conteúdos que violam nossa essência e valores como pessoas.” em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas. “Se a crise é geral, em vez de entrarmos em depressão, devemos perceber que há uma convergência de fatores em que o próximo passo é a mudança positiva. O mundo corporativo só pensa em ‘o quê’, que é bater a meta no fim do mês. Acontece que, entre 'aqui' e o 'ali', tem o ‘como’. E sustentabilidade é isso”, disse ela. Christina destacou a necessidade dos novos líderes se sentirem integrados ao todo para entende-

A COMUNICADORA foi capa da Ecológico em abril de 2012

rem que cada passo, cada tomada de decisão, constrói e preserva a natureza ou destrói o meio ambiente à sua volta. Praticante de ioga, meditação e artes marciais há 40 anos, ela ressaltou que o grande segredo é adotar a sustentabilidade como missão. “A nossa alma precisa se alimentar diariamente do bom e do belo, das flores e das cores da natureza. Sustentabilidade é o resultado de um sentimento de apreciação. Grandes líderes são grandes guerreiros. São aqueles que se expressam em qualquer monte”, pontua a empreendedora. MODELO FALIDO Com sua força para regar qualquer deserto, Christina defende que o sistema produtivo humano é um bolo com camadas, em que a base inferior, e vital, é a natureza que sustenta tudo. “O atual modelo econômico e financeiro está falido. Ele contribuiu para a destruição do meio ambiente e agora teremos de atravessar o caminho do sofrimento de forma

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1 MÍDIA & CLIMA construtiva. O ser humano criou esse caminho. Agora é preciso transformá-lo. Estamos imersos em um sistema que comanda cenários de alta destruição, que contribui para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Mas há uma coisa que comanda todos os sistemas, que é nosso nível de consciência. E já existe uma nova humanidade consciente mostrando que a integração com a vida natural que preserva é o caminho para reconstruirmos um novo e comum futuro.” A seguir, a Ecológico separou mais trechos da palestra de Christina Carvalho Pinto. São pílulas de sabedoria que devem ser refletidas, sentidas e replicadas, na medida em que estamos todos num mesmo e frágil barco, sobre uma água que vem esquentando cada vez mais com as mudanças do clima. Boa leitura! SUSTENTABILIDADE “Sustentabilidade é amor, é o resultado de um sentimento de apreciação. Não só pela vida, pela família, os amigos. Mas de consideração pela vida de cada um – de todos e do todo. Se eu sentir isso dentro de mim, naturalmente não preciso ir a palestra nenhuma. Vou me sensibilizar naturalmente e encontrar maneiras de viver que não firam esse sentimento.”

"Mais uma vez nos reunimos, com muita alegria e esperança, para fazermos o lançamento do 'Prêmio Hugo Werneck', cujo objetivo é homenagear aqueles que destacam na luta em prol do bem e da vida. Podemos resumir essas duas palavras, de significados tão vastos, em uma só: 'sustentabilidade'! Hugo Werneck muito amou e praticou a sustentabilidade em seu viver e, com todos os méritos e honra, empresta seu nome ao prêmio. Já em sua sétima edição, a iniciativa do jornalista Hiram Firmino conta com a nossa coparticipação e integral apoio. As causas ambientais nos movem e nos envolvem. Por esse motivo é que integramos os conselhos Curador da Fundação Biodiversitas e Editorial da Revista Ecológico. Sustentabilidade e mineração guardam conceitos distintos mas não podem caminhar isoladamente. E é a luta que travamos a cada dia para que elas

SER AFETIVO “O filósofo Alfeu Trancoso afirmou, em um texto publicado na Revista Ecológico, que ‘o homem não é apenas racional, mas relacional e dialogal’. Concordo. Para mim, tudo está interligado. Toda e qualquer forma de vida interfere nas outras. Sustentabilidade também é entender que o ser humano vai muito além do cognitivo, que é ser afetivo e cooperativo.”

nas contra a destruição ambiental. Farão questão de representar empresas que prestam atenção na sua cadeia produtiva, com o que elas fazem com o meio ambiente e, inclusive, com a ecologia interior humana.”

MARCAS “À medida que as marcas forem aprendendo que devem ser afetivas, elas serão verdadeiras vaci

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NATUREZA “A delícia de fazer parte da natureza, perceber o quanto somos natureza, pode mudar muita coisa dentro de nós. Quando isso acontecer, nossos problemas estarão resolvidos. A nossa alma precisa diariamente se alimentar do bom e do belo, das flores, das cores da natureza. Sem esse caldo, a nossa alma adoece.” 

CRISES “Toda crise vem dessa desvinculação do que de fato somos a natureza. O planeta está crítico, 

FOTOS: DIVULGAÇÃO

COMPROMISSO MÚTUO

não se dissociem, mas se unam para que haja o desenvolvimento, o progresso, o bem estar, a segurança, o crescimento pessoal e o de toda a sociedade. Desejando sucesso à sétima edição do prêmio e asseguro a todos a nossa proposta de firmarmos uma parceria porque estou ciente do compromisso que têm com a causa ambiental. É nosso propósito sempre ajudar e apoiá-los na concretização desses objetivos porque eles também são os nossos." José Fernando Coura, presidente do Ibram e do Sindiextra

o sistema político também. O corporativo idem. Se a crise é geral, em vez de entrarmos em depressão, devemos perceber que há uma convergência de fatores em que o próximo passo é a mudança positiva. O mundo corporativo só pensa em ‘o quê’, que é bater a meta no fim do mês. Acontece que, entre o 'aqui' e o 'ali', tem o ‘como’. E sustentabilidade é isso.” AUTODOMÍNIO “Pratico artes marciais há 40 anos e, para isso, também é preciso ficar em silêncio, meditar. Quando se faz isso, você passa a conhecer a sua própria natureza. Ao respirar, nos concentramos e conseguimos até mapear os pensamentos, ter controle sobre eles. Aí percebemos que 80% deles não servem para nada: é mágoa de alguém, 


FOTOS: ALESSANDRO CARVALHO

Délio Malheiros, Christina Carvalho, Marcus Gimenez, Tarcísio Caixeta e Hiram Firmino

LANÇAMENTO ECOLÓGICO

O evento contou com a presença do subsecretário estadual de Comunicação Social, Marcus Gimenez, representando o governador Fernando Pimentel, do vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros, representando Marcio Lacerda, do ex-presidente da Cenibra, Paulo Brant, e de Luís Márcio Vianna, diretor de Relações Institucionais do Sindiextra, representando José Fernando Coura. Na abertura, o jornalista e diretor da Revista Ecológico, Hiram Firmino, lançou o tema da sétima edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”: “Mudanças Climáticas – Qual a sua Contribuição?”. O médium Chico Xavier será o homenageado especial de 2016. “A premiação irá reconhecer e homenagear projetos, instituições, empresas e indivíduos que contribuem com iniciativas sustentáveis capazes de reduzir os efeitos do aquecimento global, bem como o enfrentamento das mudanças climáticas potencializadas pela ação humana. E que também incentivam a proteção do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das populações”, ponderou Hiram. As inscrições e indicações para o “VII Prêmio Hugo Werneck” são gratuitas e podem ser feitas por meio do site premiohugowerneck. com.br.

Renata Pereira, Sarah Caldeira e Cássia Cinque

Christina Carvalho e Eloah Rodrigues

Paulo Brant

Luís Márcio Vianna

Eduardo Shana, Christina Carvalho e Joseph John

Ronaldo Simões, Christina Carvalho e Wagner Pedersoli

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 XX JULHO/AGOSTO JULHO/AGOSTO DE DE 2016 2016 || ECOLÓGICO ECOLÓGICO  31


FOTO: ALESSANDRO CARVALHO

1 MÍDIA & CLIMA “A velha propaganda está morta. Ela não conversa mais com os seres humanos.” tro. Desde que eu tenha o carro da moda, a loira da vez e o cara de barriga tanquinho, estou resolvida. Essa mediocridade é permanentemente regada com duas palavras: tragédia e vulgaridade.”

LOGO APÓS a palestra de Christina Carvalho e o lançamento do prêmio, mudas de maracujá-doce (Passiflora edulis Sims) foram distribuídas ao público

raiva, dor, tensão... Se não controlarmos nossa mente, ela estará na mão de outra pessoa. A mente é um cavalo, mas nós somos os cavaleiros. Sem rédea e controle, ela sai tresloucada por aí.” LUCRO X CRENÇAS “Há seis anos, uma pesquisa realizada com presidentes de empresa revelou que 90% deles acreditavam que as questões de sustentabilidade deveriam estar integradas às estratégias das operações de suas empresas. Hoje, o que se percebe é que, quando a crise vem, os profissionais de sustentabilidade, meio ambiente e comunicação são os primeiros demitidos.” 

aprofundada, descobriu-se que esses 13% estavam muito mais infelizes do que os 87%. Além da infelicidade crescente, eles tinham a sensação de que as coisas estavam desalinhadas dos seus valores mais íntimos, das crenças. E ainda havia outro agravante: CEOs sobre isso. São pagos para disseminar o que é a missão, a visão e a proposta tão somente da empresa. Não há espaço para expor os seus verdadeiros sentimentos diante do que acabam fazendo, direta e indiretamente, com a natureza que os provê de matéria-prima. Eles são muito bem remunerados para não fazerem isso.” PROPAGANDA “A velha propaganda está morta. Ela não conversa mais com os seres humanos. Não está interessada em ser um mecanismo para a ampliação da nossa consciência e mudança de visão de mundo.” 

“Quando ficamos mais velhos, jogar pedra é a parte mais fácil de se fazer. Mudar é muito difícil. A Fundação Dom Cabral fez um estudo anos atrás e isso gerou um livro, ‘A (in)felicidade dos executivos’. Nessa pesquisa, foi constatado que 87% deles estavam infelizes e, 13%, felizes no mundo corporativo. Mas, ao fazer uma análise mais

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MÍDIA “A mídia estimula o descolamento, a de que cada um é único e não tem nada a ver com o ou

“A mídia está nos alienando. Está tirando o nosso direito de entender que há uma nova humanidade, uma nova era, com empreendedores e tecnologias. Eu não aceito que me tornem alienada. Tragédias acontecem, mas maravilhas também.” “A mídia sustentável, que promove valores e crenças, que enxergam o ser humano e a natureza de forma positiva, reconstrói e resgata a autoestima, as nossas raízes culturais. Traz acesso ao conhecimento, expansão da consciência e vivência da cidadania. O que a mídia deve fazer é criar novas imagens de esperança, para que as pessoas sejam protagonistas. Para isso, também devemos parar de assistir, ler e compartilhar conteúdos que violam nossa essência e valores como pessoas.” Somos todos responsáveis pelos horrores com que a mídia lambuza, todos os dias, nossos olhos, nossos ouvidos, nossa alma. Temos que sair do papel passivo de audiência para o papel ativo de cidadãos que, de fato, escolhem conscientemente o que querem ver e ouvir. E contribuirmos, enfim, para a criação de uma mídia mais criativa, inspiradora e elevada.”  SAIBA MAIS

goo.gl/FFNSib www.grupofulljazz.com.br



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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

A BUSCA pela mineração sustentável é tema permanente da Revista Ecológico, a mais longeva, respeitada e parceira publicação sobre Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Educação Ambiental na grande mídia impressa e digital brasileira 34  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016


O FIM (OU SALVAÇÃO) DAS

MINAS GERAES? Está nas mãos de Fernando Pimentel o destino cabal da atividade mineral, da natureza e do meio ambiente que nos resta e sustenta Bia Fonte Nova, Hiram Firmino, Jaburu e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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omo cantava Dalva de Oliveira, em sua célere canção de separação “Saia do meu caminho”, o governo Fernando Pimentel até hoje não se posicionou como se esperava frente à grave questão ambiental e mineral na nossa Minas Gerais. E por isso, mesmo tardiamente, só tem dois caminhos a seguir. Juntar tudo que é seu: a abandonada e ainda vista de maneira preconceituosa Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), mais os demais órgãos igualmente sucateados que compõem o Sisema (Sistema Estadual de Meio Ambiente), Feam, IEF e Igam, com os seus restantes 1.700 servidores – e os valorizar, como a segunda maior pasta em arrecadação do Estado, salvando-se junto. Ou, ainda distante e sem interlocução com os ambientalistas históricos e as instituições representativas do setor mineral (Sindiextra e Ibram), vir também a público. E decretar de vez o fim da tradicional atividade ainda em busca de sua sustentabilidade e credibilidade perante a opinião pública, recém-abalada e atingida de morte pela tragédia de Mariana. Do ponto de vista político e funcional, tanto a Semad quanto o

Sisema, já estão oficiosamente “mortos”. O maior exemplo disso é que, hoje, dada a defasagem de salário de seus servidores, o governo do segundo estado mais mineral do país, já ultrapassado pelo Pará, só conta com quatro funcionários com competência técnica-ambiental para fiscalizar as mais de 700 barragens de rejeitos e lamas existentes com igual ou maior perigo que a de Fundão, que se rompeu em novembro passado, levando 19 vidas humanas consigo. Sem salários e condições mínimas de trabalho condizentes à missão de licenciarem e agilizarem, com segurança, os grandes e bilionários projetos minerários no Estado, a única vez em que os servidores tiveram acesso ao governador foi há mais de um ano, nas águas em crise de março. Aconteceu durante o lançamento do “Pacto de Minas pelas Águas”, na Fiemg, onde os empresários o saudaram e o convocaram a ser o “estadista hídrico” do país. Foi quando também estourou a primeira grande greve dos servidores do Sisema. Esse único acesso se deu graças à intermediação da Revista Ecológico, solicitada aos representantes da Semad, Feam e Igam.

Como havia prometido em sua campanha eleitoral “Ouvir para governar”, Pimentel não apenas concordou como apoiou publicamente as reivindicações dos servidores ambientais. Chegou a criticar também, de maneira solidária, as remunerações que recebiam: “Eu não apenas tenho consciência dessa situação, que é grave sim e prejudica a todos nós, governo, empresários e população, como já tenho uma solução em curso para propor e discutir com os servidores. É um absurdo os baixos salários que recebem como técnicos em início de carreira, em comparação com o mercado e o setor estratégico que atendem. Vamos transformar, em verde, a greve branca deles. Já estou acertando isso com o Sávio Souza Cruz (então titular da Semad) e o Helvécio Magalhães (secretário de Planejamento)”, disse Pimentel. Com essa sua declaração, a greve acabou. E hoje? Passaram-se 13 meses e como, na prática, seu governo havia atendido somente metade do prometido, no final de maio deste ano, em plena crise da Samarco, uma nova grande greve começou. Mas durou somente dois meses. Ela terminou com declarações de confiança mútua no último dia 21,

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

lua cheia de julho, com os servidores acreditando novamente no cumprimento dos 50% restantes de suas reivindicações junto ao governo do Estado. Um dia antes, as diretorias do Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente de Minas Gerais (Sindsema) e da Associação Sindical dos Servidores Estaduais de Meio Ambiente (Assema), vieram a público comunicar um acordo histórico firmado com o desembargador Luís Carlos Gambogi para a suspensão integral do movimento grevista. Os servidores definiram, por unanimidade, todas as estratégias e propostas discutidas em parceria com o governo na audiência de conciliação. Tal como declarou Marcos Guimarães, vice-presidente das duas entidades de servidores: “Em que pese um sentimento inicial de frustação, é importante ressaltar os pontos positivos do acordo firmado. Todos os riscos de decretação da ilegalidade da greve foram afastados. Nossos pleitos iniciais também foram reconhecidos como devidos pelo Estado e serão atendidos imediatamente após a saída do limite prudencial. Esse acordo homologado judicialmente constitui um título executivo com mais força que um

acordo administrativo. Mais. O desembargador apenas suspendeu o processo e não o arquivou sem resolução de mérito, como de costume, sendo esta a principal garantia de cumprimento dada à categoria. Nós começamos e terminamos a greve. Saímos, enfim, de cabeça erguida; já dando os primeiros passos para construirmos uma categoria forte”. Como também confirmou o presidente do Sindsema, Adriano Tostes, à frente desta mobilização da categoria, intitulada “Sisema. Aqui se faz, aqui se investe”, a distorção continua: “A decisão não foi o que queríamos, pois, de imediato, não tivemos nada. Mas nossa pauta foi toda reconhecida. Conquistamos a legalidade por fazermos a greve de forma correta, respeitando os 30% indicados pela lei; e garantindo em 100% os serviços essenciais que prestamos à população, como fiscalização, emergências, barragens, etc. Isso reforçou nossa legitimidade junto à sociedade. Tivemos moções de apoio de diversos segmentos empresariais, sociais e políticos. A justiça, enfim, reconheceu e legitimou os nossos pleitos”. AQUI SE PAGA Ele lembra que o próprio gover-

“A exemplo do IEF, quando foi criada, a Fundação Estadual do Meio Ambiente tinha recursos próprios do orçamento oficial, mais direito ao que arrecadava com o resultado do cumprimento maior de sua missão. Sucateada ao longo das administrações anteriores, desde o início do novo governo, a Semad já perdeu 300 funcionários. A retirada do fator redutor (VT) do Cálculo da Gedama (gratificação de desempenho) também fez cair, e não aumentar, a remuneração dos seus servidores.” ADRIANO TOSTES, presidente do Sindsema, em 03 de março de 2015

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no, em 2015, abriu concurso para “analista ambiental” em outro órgão do Estado, com salário inicial superior a R$ 7.500; contra R$ 2.900 de vencimento básico dos profissionais de Meio Ambiente para o mesmo nível de graduação, o que explica a tamanha evasão de funcionários. Sem a prometida revisão do plano de carreira, gratificação e reposição de inflação da categoria, que significa os outros 50% que faltam Pimentel cumprir, o desânimo será total. Segundo Tostes, um servidor/engenheiro com 30 anos de carreira e serviços prestados, por exemplo, no Instituto Estadual de Florestas – em que pese Minas Gerais ainda ostentar pelo sexto ano o título de campeão nacional de devastação da Mata Atlântica (leia matéria na pág. 84) – só consegue se aposentar com o máximo de R$ 4.000: “É uma pena termos chegado ao fundo do poço. Teve um notório e raivoso deputado estadual que, mesmo jovem e com discurso de pseudo-ambientalista, em vez de nos apoiar, chamou a Semad de ‘câncer’ do desenvolvimento. A exemplo da maioria dos políticos e empresários, ele e o governo precisam entender de uma vez por todas que os servidores da Semad não são partes do problema ambiental e financeiro do Estado. Mas, sim, da solução”. BILHÕES NO LIXO Continua igualmente inexplicável a omissão histórica do governo estadual na discussão e processo de licenciamento ambiental dos novos, mais responsáveis e bilionários projetos de mineração em Minas Gerais. Algumas empresas até desistiram de seus empreendimentos. Foi o que aconteceu com a Manabi, em Morro do Pilar, na Serra do Espinhaço, cujo projeto tecnológico


FOTO: DIVULGAÇÃO MANABI

MORRO DO PILAR, onde a Manabi planejava produzir 25 milhões de ton/ano de minério de ferro: Vale do Esquecimento mantido

inovador de gestão de rejeitos prometia tirar da miséria socioeconômica toda uma região, em seu entorno, ainda incluída no chamado “Vale do Esquecimento” mineiro. Abraçada pela prefeitura e a população local, mas sem diálogo com o Palácio da Liberdade, durante todo o seu moroso e tumultuado processo de licenciamento, a empresa pertencente a um grupo canadense de investidores deixou de implantá-lo por “falta de segurança política”, mais que “jurídica”. A gota d’água, uma vez que o Canadá é um dos países que mais abraçam a causa ambiental e é rigoroso em administração pública, foi uma estranha propina exigida por um deputado no fim malsucedido do projeto. Isso mesmo. Como a licença final e política passava pela esfera federal, via Ministério do Meio Ambiente e Ibama, já que pairavam dúvidas se os futuros navios

carregados de minérios da nova empresa iriam alterar a rota marítima das tartarugas ao longo dos litorais capixabas e baianos, o que o governo federal exigiu? Que, além de segurança técnica específica neste item, ambos os governadores de Minas e Espírito Santo declarassem sua vontade, sua querência política por essa nova planta minerária. O governador capixaba, Paulo Hartung, não se fez de rogado. Acionado, ele telefonou positivamente para a então ministra Izabella Teixeira. Já com o governo de Minas, na gestão de Alberto Pinto Coelho, a Manabi não conseguiu agenda nem êxito. A única ponte possível para isso surgiu por meio de um deputado federal eleito por Minas. Ele garantiu que colocaria o governador em contato telefônico com a ministra. Mas que esse seu esforço pela “vocação minerária” do Estado custaria R$ 50 mil,

por fora, ao empreendedor. O que aconteceu? Sem essa cultura no Canadá, a empresa simplesmente desistiu, após todas as expectativas geradas e os investimentos feitos. E Morro do Pilar, segundo dados de 2010 do “Atlas Nacional do Desenvolvimento Humano”, continuou com um dos mais baixos IDHs (0,5) do país, ocupando a 4.215ª posição entre os 5.566 municípios em educação, longevidade e renda. Até aquele ano, quase 30% de sua pequena população de quatro mil habitantes ainda eram de analfabetos, sem perspectivas de mudar sua qualidade de vida. Em termos de desigualdade, considerando uma renda domiciliar per capita inferior a R$ 140 mensais, 28% dos moradores locais eram considerados “pobres” ou “extremamente pobres”. Ou seja, até a época dessa última pesquisa, coincidindo com a chegada das primeiras pesquisas de exploração mineral da Manabi, sem trabalho nem renda suficiente, metade da sua população estava vulnerável à pobreza; e 63% das pessoas com idade de 18 anos ou mais não tinham ensino fundamental completo nem formação e ocupação profissional. Até quando esta desigualdade e visões diferentes da mineração? É o que a Revista Ecológico continua discutindo e debatendo nesta edição. Ouvindo desde o Ministério Público até os sindicatos dos servidores ambientais, passando pela própria Samarco, em uma nova e exclusiva entrevista com o seu presidente, Roberto Carvalho, na busca de saídas possíveis e sustentáveis, em vez jogar mais lama na tragédia ainda em curso de Mariana. Confira!

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA FOTO: ANTONIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL

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Para compensar o maior acidente do mundo... A Revista Ecológico mantém sua mesma posição, demonstrada na edição anterior. Se o que aconteceu em Mariana, de responsabilidade tanto da Samarco quanto indiretamente do próprio Estado, omisso e sem capacitação técnica e humana de exercer seu papel fiscalizador, foi considerado o maior acidente do setor envolvendo derramamento de lama da história do planeta, a sua solução e/ou compensação tem que ter esta mesma dimensão de enfrentamento técnico e político. Tem de envolver, como uma missão especial, vide o clamor social da população de Mariana e das centenas de empregados demitidos pela mineradora, todos os técnicos e instrumentos possíveis do Sisema. Para isso, a pretendida retomada do licenciamento e operação da Samarco, desde que com segurança, não podem mais serem vistas burocraticamente como outro projeto qualquer, sem distinção ou prioridade por parte do governo. Continuar na fila atrás de milhares de outros 38  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

pedidos na Semad, sem previsão alguma de análise ou julgamento. Para evitar o caos econômicosocial que se avizinha no mundo da mineração, o governo tem de mudar igualmente o seu olhar preconceituoso sobre a questão ambiental, a Semad e o Sisema. Instrumentos estes que os próprios e históricos ambientalistas ajudaram a criar, com luta, resistência e espírito parceiro. Ou seja, investir neles, e não contingenciá-los, significa geração de receita e segurança para a população cada dia mais assustada com o perigo de outras barragens se romperem. Seria sustentável, enfim, os poderes executivos e legislativos tentarem ver que, em vez de problema e travadora do progresso econômico, mesmo com todo o seu abandono institucional, a Semad é a segunda maior pasta em arrecadação do Estado. E que, por isso mesmo, ela tem condições de se autogerir, corrigir e pagar todos os salários de seus servido-

res. E ainda sobrar dinheiro para investimentos, devolvendo quase a metade do seu faturamento no final do mês para o caixa único do Estado. Também, aceitarem que por atuarem em prol da natureza – que Hugo Werneck tanto amava e defendia – os funcionários do Meio Ambiente também são militantes públicos, e não apenas servidores de qualquer governo, saudosos de uma liderança legítima, capaz de guiá-los e defendê-los. Sem essa compreensão, a situação só tende a piorar. A menos que Minas, ainda que tarde, mude o seu nome, sua vocação ou destino diante do grande sertão climático que se aproxima, sem veredas nem esperança no fim do túnel. É tudo uma questão de escolha. Ou de ajuntamento e sobrevivência. Desde que sob a égide do “economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo”, que é o outro nome do desenvolvimento sustentável. A hora é agora!


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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

FOTO: SANAKAN

“A Samarco voltará a ser referência” Funcionário da Samarco há mais de 30 anos, onde já ocupou diferentes cargos, o atual diretor-presidente da mineradora, Roberto Carvalho, hoje também investigado pelo Ministério Público Federal, enfrenta uma das maiores tristezas e também um dos mais desafiadores momentos de sua carreira profissional. Em entrevista exclusiva à Revista Ecológico, ele reafirma a sua fé em dias melhores e garante que a empresa não medirá esforços para reparar os danos causados às pessoas e à natureza. “Espero sinceramente que, com todas as ações voltadas para a reparação máxima possível dos impactos do acidente, consigamos resgatar a credibilidade e a reputação das quais sempre nos orgulhamos.”

A Samarco está empenhada em retomar as atividades produtivas em Mariana e já solicitou novas licenças à Semad. Caso elas sejam concedidas, que destino terão os rejeitos gerados? A solução que propusemos é o uso das próprias cavas já existentes, nas quais lavramos o minério, para a deposição dos rejeitos. Essas cavas têm estrutura geotécnica extremamente segura, não haverá barramentos ou uso das estruturas de Germano e Fundão. Essa medida permitirá, ainda, um processo de recuperação ambiental, pois, com o reenchimento das cavas, teremos como recompor a vegetação e também a topografia original dos terrenos minerados.

ROBERTO CARVALHO: “Não há um só dia em que eu não me levante da cama e lamente pelo impacto que causamos”

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Que cava pretendem usar? Solicitamos a licença para usar a cava de Alegria Sul. É a segunda cava que abrimos na operação da Samarco; a primeira foi a de Germano. Ela nos dará condições de

retomar a operação com 60% da capacidade anual de produção que tínhamos antes do acidente, em novembro. Qual será essa capacidade e qual a estimativa de tempo de uso dessa cava? Ela será usada por uns dois anos, a contar da data do licenciamento. Nesse período, esperamos encontrar outras soluções para a disposição dos rejeitos. A nossa produção era da ordem de 30 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro/ano. A expectativa é produzirmos cerca de 18 milhões de toneladas/ano, usando duas usinas de beneficiamento no Complexo de Germano-Alegria, em Mariana, e duas usinas de pelotização no Espírito Santo. Como os rejeitos serão transportados até a cava? Ela tem conexão física com as barragens de Fundão


e Germano? Os rejeitos serão bombeados. Não há conexão física com as barragens existentes e também não há comunidades próximas. A área de exploração mineral é a mesma, mas Alegria Sul fica do outro lado, em outra bacia hidrográfica, a mais de quatro quilômetros do complexo de Germano e Fundão. Todo o material será depositado de forma confinada, sem contato com outras áreas de deposição de rejeitos. Qual é a expectativa em relação à obtenção das licenças? Os primeiros documentos foram protocolados em fevereiro. Agora em junho último, após vários estudos e reuniões, protocolamos o EIA/Rima [estudo e relatório de impacto ambiental] e estamos aguardando os próximos passos. Apesar de as áreas já estarem impactadas, o processo de licenciamento será feito como se fosse o de um empreendimento novo. Teremos que obter todas as licenças – prévia, de instalação e de operação – e também serão realizadas audiências públicas. Em relação à busca de alternativas para o reaproveitamento e/ou desaguamento de rejeitos – práticas já adotadas por outras mineradoras – evitando que o material sólido siga para barragens, a Samarco tem iniciativas nesse sentido ou pretende potencializá-las? Sem dúvida. Estamos sempre buscando novas formas de reaproveitamento e destinação de rejeitos. Já vínhamos estudando isso antes mesmo do acidente. Temos inclusive um setor na empresa – o de Ecoeficiência – vol-

“Não temos a menor pretensão de sobreviver sem valorizar e manter uma relação de respeito com a natureza e as comunidades vizinhas.”

tado para o desenvolvimento de novos produtos e soluções. Em Guarapari (ES), por exemplo, há ruas pavimentadas com bloquetes de concreto feitos com rejeitos da nossa mineração. O grande desafio é conseguir dar destinação a todo o volume de material que geramos diariamente. É praticamente impossível reaproveitar tudo. Teria de haver uma produção de tijolos, de pisos e de outros artefatos para a construção civil em grande escala, envolvendo uma ampla cadeia. A Polícia Federal já detalhou algumas causas que teriam contribuído para o rompimento da Barragem de Fundão. E afirmou: “A Samarco estava ciente de diversas falhas que a estrutura apresentava, uma vez que a mesma estava sendo usada de forma inadequada, acima de sua capacidade”. O que o senhor pode esclarecer sobre essas afirmações? Isso nunca ocorreu. Tudo estava exatamente de acordo com o nosso Plano de Produção. Tudo o que envolve a operação – desde as decisões, projetos, obras, etc. – é analisado internamente, discutido e submetido ao aval dos órgãos reguladores. Nunca fizemos nem faremos nada à revelia, sem critério ou segurança técnica. O volume que estava sendo lança-

ENTENDA MELHOR  No início de junho, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o acordo para recuperação ambiental da área atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, firmado entre órgãos públicos, Samarco, Vale e BHP Billiton. Homologado em maio, o acordo seria implantado no prazo de 15 anos e previa, entre outras medidas, a criação de uma fundação privada com a finalidade de adotar programas socioeconômicos, de infraestrutura e recuperação ambiental, além de medidas nas áreas da saúde, educação, cultura e lazer para a população atingida pela tragédia.  Entre as justificativas apresentadas pela desembargadora Diva Malerbi, está a de que a competência para julgar processos envolvendo a empresa é da 12ª Vara da Justiça Federal de MG. Ela destacou ainda que, diante da extensão dos danos causados pelo acidente, é necessária a promoção de debates mais amplos sobre a tragédia, com a realização de audiências públicas com a participação da sociedade civil organizada, da comunidade científica e de moradores locais.

do na barragem estava totalmente de acordo com esse plano, que foi discutido e licenciado pela Semad. Tanto que, alguns meses antes, foi concedida a licença para o alteamento da barragem. Quando essa autorização foi dada? Em julho de 2015. Ou seja: estava tudo dentro da mais completa normalidade. Por isso, estamos em busca do “gatilho” que desencadeou o acidente. Historicamen-

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

te, sabemos que acidentes como esse costumam ser causados por uma conjunção de fatores que podem envolver, como suspeitamos, até mesmo a ocorrência de abalos sísmicos na região. Afinal, nunca na história da mineração mundial uma barragem se rompeu daquela forma. Foi algo atípico. E mais: a Samarco sempre foi reconhecida, inclusive por seus pares do setor mineral, por ter as melhores estatísticas de segurança. Sempre fomos referência mundial. Não por acaso, no dia do acidente, o projetista da Barragem de Fundão estava lá, no local, acompanhando uma comitiva de visitantes da África do Sul interessados em conhecer a nossa operação. No que se refere ao reassentamento das famílias atingidas, qual é o status atual das negociações? Tudo está sendo feito de forma democrática e participativa. No caso de Bento Rodrigues, selecionamos alguns terrenos, com base em critérios indicados pelos próprios moradores. A área escolhida em maio, por meio de votação, foi aprovada por 92% das 226 famílias. O processo é naturalmente demorado, porque não se trata apenas de reconstruir as casas. A proposta é criar uma vila ecologicamente correta, com construções sustentáveis, reaproveitamento de água, captação de energia solar etc. Além disso, as propriedades antigas tinham diferentes perfis e tamanhos e o nosso compromisso é reconstruir tudo da maneira mais fiel possível à realidade original. Só para a escolha do novo terreno fizemos 37 reuniões e duas assembleias com a comunidade de Bento. Tudo isso leva tempo.

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até um painel. Foi muito legal.

“Não há outro caminho. O conceito de enxergar a empresa como uma ilha de prosperidade e relegar o seu entorno à própria sorte está ultrapassado.” E em relação às demais localidades afetadas? Agora em junho, ocorreu também a votação para o reassentamento da comunidade de Gesteira, que tem apenas oito famílias. Havia duas áreas para escolha e eles já se decidiram por um terreno de sete hectares. Todas as famílias afetadas pelo acidente continuam abrigadas em hotéis e casas alugadas, mas estamos fazendo todo o possível para acelerar a retomada de suas rotinas. A escola de Bento Rodrigues, por exemplo, foi transferida para Mariana com a mesma professora e os mesmos alunos, logo após o acidente. O ano letivo iniciou-se normalmente, sem qualquer prejuízo para eles. E em Barra Longa, quais são as principais providências? Já recuperamos quase todas as casas. Recentemente, entregamos à comunidade o projeto de reconstrução e urbanização da Praça Manoel Lino Mol e da Avenida Beira Rio. A pedido da população, a praça será transformada em espaço multiuso, com academia a céu aberto, pista de caminhada, área arborizada, parquinho infantil e espaço para apresentações culturais. As próprias crianças apresentaram os desejos do que queriam para a praça – muita sombra, árvores, brinquedos e bancos –, fizemos

Qual tem sido o clima nas reuniões e encontros com os representantes das comunidades afetadas? Felizmente, o nível de entendimento e de paciência das pessoas tem sido admirável. Tanto que não nos cansamos de pedir desculpas e agradecê-los, porque o impacto que causamos foi muito grande. Acredito que isso só esteja ocorrendo pela confiança que todos depositam em nós. E essa confiança foi construída lá atrás, no passado. Sempre mantivemos um relacionamento muito próximo e de grande apoio a todas as comunidades vizinhas. Desejaríamos jamais precisar desse “crédito”, mas a confiança e a nossa parceria histórica com elas estão fazendo toda a diferença nesse momento. É óbvio que eles sentem falta do convívio que tinham, eram todos muito unidos. Por isso, estamos fazendo de tudo para que retomem as suas rotinas e modo de vida o quanto antes. A Samarco sempre teve como bandeira valores como ética, respeito, diálogo e transparência. A tragédia de Mariana não é uma contradição em relação ao discurso tradicionalmente praticado pela empresa e, portanto, poderia ter sido evitada? Ainda que não saibamos até agora a causa efetiva do acidente, conforme expliquei anteriormente, não fizemos nem nunca faremos nada sem análise, sem rigor técnico ou abrindo mão da segurança. Nossa matéria-prima principal vem da natureza, somos dependentes dela e, portanto, não temos a menor pretensão de sobreviver sem valorizar e manter uma rela-


A campanha publicitária criada após o acidente, com o slogan “Fazer o que precisa ser feito”, soou arrogante e foi muito criticada pelo público, em especial no meio da comunicação. Como avalia essa reação? Todas as campanhas e ações de comunicação são aprovadas em conjunto, e eu participei dessa decisão. Acredito que tenha havido dupla interpretação por parte das pessoas, o que é uma pena. Afinal, nunca foi nossa intenção adotar qualquer tom arrogante. A ideia foi mostrar que não estamos medindo nem mediremos esforços para fazer o nosso melhor e reparar os danos causados. Estávamos e ainda estamos no meio de um turbilhão, com cobranças, pressões e demandas de toda sorte. Talvez tenha faltado alguém para nos alertar para o fato de que a campanha tinha uma mensagem ambígua. O senhor trabalha na Samarco há 31 anos e já ocupou diferentes cargos. Que marca espera deixar, como presidente, diante de um desafio dessa magnitude? Não há um só dia em que eu não me levante da cama e lamente

FOTO: DIVULGAÇÃO SAMARCO

ção de respeito com a natureza e as comunidades vizinhas. Não há outro caminho. O conceito de enxergar a empresa como uma ilha de prosperidade e relegar o seu entorno à própria sorte – por não ser problema nosso, mas sim do poder público – está ultrapassado. Temos que fazer o máximo possível, em qualquer que seja a situação, para que as pessoas impactadas pela nossa atividade tenham a sua qualidade de vida preservada.

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pelo impacto que causamos. Por isso, não me canso de pedir desculpas às pessoas e de me perguntar, a todo momento, onde foi que erramos. Nenhuma empresa recebe tantos reconhecimentos ou é admirada, como sempre fomos, à toa. Mas, para nossa tristeza, de um dia para o outro tudo se perdeu... Mas tenho fé e, sobretudo, reafirmo: estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para reparar os danos causados. E, na medida do possível, recuperar a nossa imagem e todo o histórico de respeito e de credibilidade que conquistamos desde a fundação da Samarco, em 1977. É otimista? Que futuro vislumbra para a Samarco, Mariana e as comunidades vizinhas? Espero sinceramente que, com to-

das as ações voltadas para a reparação máxima possível dos danos causados, consigamos resgatar a credibilidade e a reputação das quais sempre nos orgulhamos. E que todos nós, da atual administração, tenhamos a felicidade de voltar a contar com a confiança das pessoas, sendo reconhecidos como uma equipe que fez o seu melhor. E que a Samarco possa, enfim, voltar a ser vista como uma empresa responsável e íntegra. Uma empresa que errou, mas que continua e sempre continuará disposta a se corrigir e a melhorar. É isso que queremos demonstrar, por meio de cada ação, às autoridades, aos órgãos competentes e a toda a sociedade. SAIBA MAIS

www.samarco.com.br Para ler a entrevista na íntegra, acesse www.revistaecologico.com.br

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

“É preciso ter serenidade” FOTO: FERNANDA MANN

Vitor Feitosa (*)

VITOR FEITOSA: “Esperamos que haja um aprendizado; e não a fuga de responsabilidades ou a busca de holofotes”

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A primeira ação a se fazer depois de um acidente como o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão é dar assistência emergencial às vítimas e socorrer os sobreviventes. Isso foi feito pela Samarco. A empresa, junto com o Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, atuou até que os sobreviventes fossem recuperados e os corpos daqueles que infelizmente faleceram, resgatados. A segunda ação é cuidar das pessoas que perderam seus bens materiais, primeiro dando a elas um local para ficarem. Isso foi feito por meio da ocupação de hotéis, imóveis alugados. Depois, uma nova moradia em local definitivo e escolhido com a participação dos que sofreram as consequências do acidente. Isso também foi feito. Em seguida, a questão que fica é: o que provocou o acidente? Isso é fundamental de se entender até como forma de prevenir outras tragédias. Para isso fazemos um paralelo com os acidentes de aviação, que normalmente têm maior impacto para as vidas humanas. Em tragédias aéreas, as causas identificadas induzem a mudanças tecnológicas replicáveis inclusive nas aeronaves em operação, tornando o ato de voar ainda mais seguro. No caso de Mariana, a investigação do acidente deve levar a um melhor entendimento do que saiu errado para fortalecer a tecnologia de construções semelhantes no futuro e corrigir os problemas das atuais.

Quanto à Samarco, há uma tremenda confusão entre o acidente, que tem causas concorrentes e responsáveis (aos quais devem ser imputadas as penas), com a empresa em si. Ela não é uma personalidade independente, com vontade própria. Ao impedi-la de seguir com suas atividades, está se confundindo o processo de identificação das causas e responsáveis com a necessidade de a empresa continuar a operar. O impacto que isso está provocando já está sendo muito maior do que o acidente em si. Estamos falando, de imediato, de mais de quatro mil empregos, diretos e indiretos. E dos impostos coletados para cidades como Mariana (MG) e Anchieta (ES), que já começam a viver situação de penúria. Tornaram-se importantes polos regionais de educação e saúde, e agora perdem sua capacidade de continuar dando sustentação a esses programas. Perde também o Brasil - pois a mineração compõe uma parte importante da pauta de exportações e do PIB do país, dos dois estados e seus municípios. A forma como o processo da Samarco vem sendo conduzido está gerando reações descontroladas dos órgãos fiscalizadores, tanto ambientais quanto de mineração, dos quais a sociedade espera um mínimo de adequabilidade e não uma reação para justificar aquilo que não fizeram antes. Seguem aplicando multas por não entenderem que a empresa está catatônica, morta, no sentido de não


FOTOS: LEO DRUMOND / NITRO

O OBJETIVO da empresa, com o plantio de 16 espécies diferentes de gramíneas e leguminosas aprovadas pela Semad, é evitar o carreamento dos sedimentos depositados nas margens dos cursos d´água, como em Barra Longa. Tal como a revegetação emergencial, ao lado, implantada nas margens do Rio Gualaxo do Norte

conseguir gerar renda. Aquele caixa que a empresa tinha antes do acidente está acabando. Com ele termina sua capacidade de manter os empregos, os impostos e a riqueza que gerava. O Ministério Público, que dá à sociedade esperança de tempos melhores com a resposta e atuação positivas que se esperam dele no caso da Operação Lava Jato, é a mesma instituição que nos traz desesperança ao obstruir o avanço de acordos que foram bem discutidos e têm o aval de governos e da sociedade, e que já haviam sido homologados na Justiça. Os acordos urgem e a sociedade depende da atividade da empresa. O que está sendo impedida, na verdade, é uma atividade econômica nobre, absolutamente legalizada, de uma empresa que sempre foi uma referência em tudo que fez, principalmente na relação com a sociedade e o meio ambiente, mas que cometeu um erro. Com sua ação, o MP condena, literalmente e sem possibilidade de julgamento, uma sociedade intei-

“A sociedade espera dos órgãos fiscalizadores um mínimo de adequabilidade e não uma reação para justificar aquilo que não fizeram antes.”

ra ao redor da empresa a simplesmente viver em condições muito piores que viviam antes. O Ministério Público tem uma responsabilidade decisiva, pois sua atuação inibe a ação dos técnicos dos órgãos fiscalizadores, que se mostram amedrontados e inoperantes. A repercussão nacional e internacional desse tipo de acontecimento faz com que a instituição tenha muito mais responsabilidade no trato da questão, ao ter que diferenciar entre os agentes responsabilizáveis e a preservação dos interesses da comunidade que depende da atividade da empresa.

A questão é que o processo todo virou um show de irresponsabilidades por parte de todos os atores intervenientes. E a maior delas é impedir que uma empresa saudável, lucrativa, com um mercado conquistado a duras penas ao longo de 40 anos, simplesmente morra, comprometendo a própria competitividade do país, que já não anda lá essas coisas. Quem gerou o problema foi a própria Samarco. E ela tem condições de quitar essa dívida se voltar a operar, pois é uma empresa séria. Isso é essencial para que haja geração de recursos para pagar as reparações que estão sendo exigidas. O que todos esperamos é que haja um aprendizado e não a fuga de responsabilidades ou a busca de holofotes. Parar a Samarco não vai resolver o problema. Com isso, se cria outro maior. No momento econômico crítico, ético e moral que o país atravessa, é preciso ter serenidade. (*) Presidente do Conselho de Administração da AGB Peixe Vivo.

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

FOTO: FERNANDA MANN

“A Samarco está fragilizada”

CARLOS EDUARDO: “Como ajudar a empresa, cada dia mais abandonada?”

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Para o promotor de justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) do Ministério Público Estadual, não existe interesse do Poder Judiciário em dificultar o processo de retomada das atividades da Samarco, em Mariana. Muito menos recusar fazer parte de qualquer acordo ou comitê interfederativo que esteja buscando a recuperação após a tragédia. “Primeiro, não se trata mais de uma tragédia socioambiental; mas, agora, econômica também. E segundo, por estarmos lidando com uma empresa crescentemente fragilizada, sem ou quase mais poder algum de decisão, diante da BHP Billiton e a Vale, suas controladoras internacional e nacional. Além de um Estado continuadamente ausente, vide o colapso político-institucional dos órgãos que compõem o Sisema - Sistema Estadual de Meio Ambiente (Copam, Semad, Feam, IEF e Igam). Isso dificulta atuarmos de maneira parceira, mesmo diante do clamor social pela volta dos empregos e receitas da mineradora ao município.” Em sua opinião, mesmo sendo controlada, respectivamente, tanto pela maior mineradora do mundo quanto pela maior do país, a Samarco não passa segurança em termos de suas práticas atuais e futuras: “Como confiar nesta empresa que, até quase oito meses já ocorridos do acidente, não havia retirado

um só metro cúbico de lama ao longo de 120 quilômetros, desde Bento Rodrigues até a barragem de Candonga, o trecho mais impactado pelos 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos que vazaram de Fundão?”. Carlos Eduardo atribuiu a não participação ainda do MPMG no acordo firmado com o Ministério do Meio Ambiente por ambos os estados de Minas e Espírito Santo à forma como ele foi criado e continua sendo conduzido, “de maneira equivocada pelo Ibama”, segundo sua análise. “Esse modelo de negócio, gerido e imposto por Brasília, distante mais de mil quilômetros de Mariana e do Rio Doce, não tem como dar certo. Até agora, ele só tem beneficiado a empresa, em detrimento das outras partes envolvidas, como os direitos dos atingidos, cuja tutela é do poder público. Se mudarem as premissas e práticas que vimos testemunhando até agora, estaremos juntos”, apontou. Quanto ao Estado, o promotor afirmou apoiar a ideia – já mostrada pela Revista Ecológico – de o governo promover uma espécie de mutirão com os técnicos do Sisema para não apenas priorizar a retomada das atividades da Samarco, com segurança, como ajudá-la no processo de licenciamento ambiental, entre milhares de outros processos parados na fila para serem analisados. “Trata-se mesmo de uma necessidade de agir com dimen-


FOTO: MARCELO COELHO

são e burocracia diferenciadas ao maior acidente envolvendo derramamento de lama na história ambiental do planeta. E não apenas continuar sendo visto e recebido como um processo comum na Semad. Seria uma grande resposta, sim, à opinião pública, tanto por parte do Estado quanto pelas três mineradoras envolvidas, que deveriam estar juntas, protagonistas que são. Mas, voltando à questão” – conclui Carlos Eduardo –, “como podemos interagir com uma Samarco sem poder de decisão? Como ajudá-la neste conflito se, solitária e juridicamente inexistente, a cada dia que passa ela parece mais abandonada, respirando somente por aparelhos?”.

SEGUNDO o promotor, “não se trata mais de uma tragédia socioambiental, mas econômica também”

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Toda Lua Cheia

www.JULHO/AGOSTO revistaecologico .com.br   XX MARÇO DE DE 2016 2016 || ECOLÓGICO ECOLÓGICO 31


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MARIANA: O DEBATE CONTINUA

Antes que a tragédia se esvaneça Paulo R. Haddad (*)

PAULO R. HADDAD: “Quem se responsabiliza quando um ativo ambiental é destruido?”

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Lamentavelmente, as pessoas veis. O tempo passa e os indispense acostumam com as tragédias. sáveis resultados intermediários Desde a sua ocorrência, o tem- (multas, prisões, processos adpo vai lentamente apagando da ministrativos) avançam concreconsciência social as imagens tamente, enquanto os resultados dramáticas e os impactos dele- finalísticos vão se distanciando térios que ocorrem em seus mo- no calendário da crise econômica mentos críticos. Vivemos numa e política do país. sociedade cruel que se deixa levar Há dois resultados finalísticos pela rotina do cotidiano e que, que devem constituir o núcleo pouco a pouco, vai se acostu- central de nossas preocupações mando com as mazelas das desi- programáticas e de nossa mobiligualdades sociais e dos desastres zação política. O primeiro se refere ecológicos. Temos uma elevada à reposição das condições de vida propensão a nos tornarmos con- das comunidades atingidas pelos formistas, até mesmo diante dos danos e perdas do desastre ecoeventos mais tenebrosos. lógico. O caso se torna exemplar O rompimenao considerarmos to da barragem “A tradição empresarial no o nível de desende Fundão, da Brasil tem sido a de tratar volvimento socioemineradora Saconômico de Mao meio ambiente como um riana, às vésperas marco, em novembro do ano bem de luxo e não como um do rompimento da passado, pode barragem, a partir processo ideológico.” entrar nesse rol de um indicadordos eventos catastróficos em que, síntese do grau de prosperidade eventualmente, o tempo cuidará econômica e de progresso social de absorver as imagens da dor do município. causada pelas mortes, das perdas O IFDM – Índice FIRJAN de Deda infraestrutura e das moradias senvolvimento Municipal – acomdas famílias, além dos danos à panha anualmente o desenvolviformação da renda e do em- mento socioeconômico de mais prego na economia regional. As de cinco mil municípios brasileicontrovérsias entre os interesses ros, em três áreas de atuação: Emempresariais e os interesses da prego e Renda, Educação e Saúde. sociedade quanto à natureza dos O seu valor varia de zero a um impactos do desastre ecológico se (pontuação máxima) para classifidiluem no tempo das infindáveis car o nível de desenvolvimento de reuniões, das necessárias aplica- cada localidade. O IFDM de Mações das legislações pertinentes e riana tem evoluído positivamente da criminalização dos responsá- nas três dimensões, melhorando


FOTO: ELOAH RODRIGUES

LEMBRANÇA AFETIVA da vida bucólica que havia no antigo povoado seiscentista, o mais atingido pela tragédia, cujo novo local para ser reconstruído teve a aprovação dos seus próprios ex-moradores

as condições de vida dos habitantes do município e sua posição no cenário nacional e estadual. Em 2005, o valor do Índice de Mariana era de 0,61 (desenvolvimento moderado), situando-a na 1833ª posição no cenário nacional e na 269ª posição no cenário estadual. Já em 2013, o índice alcança 0,82 e a cidade se destaca na 533ª posição no cenário nacional e na 21ª do cenário estadual. Mais importante ainda, Mariana ingressa na lista seleta dos municípios de alto desenvolvimento do país e do estado. O principal fator desse desenvolvimento foi sem dúvida a mineração, embora a longo prazo a estrutura produtiva local tenha de ser diversificada. Assim, se não for restituída a base econômica do município através da retomada das atividades da Samarco, em longo prazo Mariana tende a se transformar numa área economicamente deprimida, de baixo

“Temos uma elevada propensão a nos tornarmos conformistas, até mesmo diante dos eventos mais tenebrosos.” crescimento, de elevadas taxas de desemprego e de índices preocupantes de pobreza. Pode vir a se transformar no espelho de muitos municípios mineradores, cuja economia entrou em decadência após a exaustão econômica de suas minas e que sobrevivem atualmente graças às transferências fiscais e de renda familiar das políticas sociais compensatórias do Governo Federal. EM DEFESA DOS BENS COMUNS O outro resultado finalístico que merece destaque especial na

mesa de negociação com os acionistas da Samarco, Vale e BHP, é a restauração da Bacia do Rio Doce. Como se sabe, a cada momento de sua história, toda sociedade tem um conjunto de capitais que se acumula ao longo do tempo. Pode ser o capital físico, constituído por máquinas, instalações, infraestruturas, etc. Ou o capital natural, constituído por recursos renováveis e não renováveis. São ativos do capital natural as minas, as florestas, as bacias hidrográficas, a biodiversidade, etc. Como todo ativo, o seu valor depende dos serviços que presta para o bem-estar da sociedade e para a sobrevivência dos vegetais e animais. Hoje se reconhece que os serviços ambientais exercem quatro funções: serviços de provisão (alimentos, água pura, matérias-primas, serviços medicinais); serviços regulatórios (sequestro de carbono, polinização, fertili-

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MARIANA: O DEBATE CONTINUA dade e erosão de solo); serviços de hábitat, que dão suporte para a diversidade genética e a vida das espécies (fauna e flora); serviços culturais, como recreação, turismo, experiência estética e espiritual. Assim, quando se destrói um ativo ambiental por uso predatório (Mata Atlântica, por exemplo), por pressão antrópica além da capacidade de absorção (Rio Arruda, por exemplo), por desastres ecológicos naturais ou do tipo man-made (Rio Doce, por exemplo), a oferta da parcela maior desses serviços ambientais pode ficar definitiva e entropicamente comprometida. O que fazer quando um ativo ambiental é destruído, ainda que parcialmente? Os países civilizados já detêm metodologias e experiências para lidar com desastres ecológicos de maior magnitude e desestruturantes dos serviços dos ativos ambientais. No caso de desastres como o do Rio Doce, há uma série de medidas e práticas ecológicas, físicas, espaciais e de gestão que têm por objetivo restaurar o estado natural e o funcionamento da bacia hidrográfica para preservar, conservar e reabilitar a biodiversidade, a recreação, o controle da inundação, os serviços de provisão, etc. Mas quem se responsabiliza pela restauração de um ativo ambiental? O problema básico se relaciona com o que se denomina “a tragédia dos bens comuns”, conceito popularizado pelo ecologista Garret Hardin para mostrar como o livre acesso (ausência de direitos de propriedade) e a demanda irrestrita podem levar ao uso excessivo ou à sobre-exploração de um recurso natural em ritmo maior do que seria desejável do ponto de vista das atuais e futuras gerações. Como os bens comuns são gratuitos e estão dis-

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“Mariana tende a se transformar numa área economicamente deprimida, de baixo crescimento, de elevadas taxas de desemprego e de índices preocupantes de pobreza.”

poníveis para todos os que quiserem usá-los (para consumo, para preservar, etc.), é difícil definir quem deverá se responsabilizar pela sua restauração em contextos de colapso. Entretanto, no caso do desastre ecológico de Mariana, como a sua causa é espacialmente localizada no rompimento da barragem de Fundão, não há como negar que a responsabilidade final tem endereço certo: os acionistas da mineradora Samarco - Vale e BHP. É evidente que a restauração do Rio Doce deve envolver também a participação de outros stakeholders públicos e privados ao longo do seu território de influência, os quais devem buscar o consenso quanto às suas visões de futuro no que se refere à Bacia Hidrográfica. DUAS GRANDES TAREFAS Desta forma, chega-se à conclusão de que há duas grandes tarefas a serem executadas na tentativa de recuperar os estragos socioeconômicos e ambientais provocados pelo rompimento da barragem de Fundão: reestabelecer o padrão de vida das populações afetadas e restaurar o ecossistema da Bacia do Rio Doce. Para cada tarefa, é indispensável que se elabore um programa ou

projeto específico, de forma integrada, a fim de se evitar que sejam implementadas, ocasionalmente, apenas ações para as quais a demanda da sociedade regional tenha maior vocalidade política, ainda que socialmente prioritárias, como é o caso do reassentamento das populações afetadas pelos impactos do rompimento da Barragem. Essa preocupação surge do fato de que, normalmente, ninguém fala pela natureza nos mercados econômicos ou na arena política. Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de 1998, nos adverte que a obrigação social da sustentabilidade ambiental não pode ser deixada inteiramente por conta do mercado ou das pressões políticas, uma vez que o futuro não está adequadamente representado no mercado ou na vocalidade política – pelo menos


FOTO: ELOAH RODRIGUES

TAL COMO Bento Rodrigues, hoje apenas uma paisagem empoeirada no que restou de suas ruas, Mariana tem um cenário preocupante, caso a Samarco não volte a minerar com a devida segurança

“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”

o futuro mais distante, como é o caso da sustentabilidade ambiental do Rio Doce. A tradição empresarial no Brasil tem sido a de tratar o meio ambiente como um bem de luxo e não como um processo ideológico. Ou seja, as empresas estão dispostas a apoiar e a realizar maiores gastos de custeio e de investimentos na preservação e conversão do meio ambiente quando estão na fase de expansão dos ciclos econômicos. Como a economia brasileira se encontra em profunda recessão,

tende a haver menor comprometimento de seus orçamentos com ações que busquem preservar a qualidade do meio ambiente. Para evitar que compromissos assumidos pelos acionistas da Samarco com o desenvolvimento sustentável da Bacia do Rio Doce sejam postergados sem cadência e sem intensidade, propõe-se uma metodologia que articule os cronogramas físicos e financeiros de três eixos de ações: as que envolvem os interesses empresariais específicos, as destinadas à revitalização das condições de vida das populações atingidas e as concebidas para restaurar a sustentabilidade ambiental da Bacia. Essa sincronia de cronogramas não permite que os interesses privados avancem (a retomada das atividades produtivas) sem que se avance, simultaneamente, o que é de interesse social e ambiental (o processo de

desenvolvimento sustentável). É preciso que haja uma intensa e recorrente mobilização política dos segmentos organizados da sociedade civil para evitar que a tragédia de Mariana se esvaneça na poeira da história ou que deixe de ser iluminada em todas as dimensões socioeconômicas e ecológicas. Como dizia Platão: “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.  (*) Ex-ministro do Planejamento e da Fazenda, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conselheiro da Fundação Biodiversitas.

NÃO PERCA na próxima edição: até o ensinamento de Jesus é lembrado na construção do dique S4, pretendido pela Samarco, e em discussão no exdistrito de Bento Rodrigues.

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FOTO: EDUARDO XAVIER

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O oceanógrafo Luiz Felipe Hax, Fernando Aquinoga, Kari McDonald, Tatiana Furley e Robson Melo, da Aplysia: por uma gestão eficiente de riscos

UMA LUZ NO FIM DA LAMA Metodologia que salvou rios canadenses após rompimento de barragens de rejeito de minérios já existe no Brasil

A

empresa capixaba Aplysia Soluções Ambientais, referência nacional e internacional em serviços de avaliação e monitoramento ambiental, apresentou, em seminário realizado na capital mineira, os cases Obed e Mount Polley. Trata-se de duas minas canadenses que tiveram suas barragens de rejeitos rompidas resultando em desastres socioambientais semelhantes ao ocorrido com a barragem de Fundão da Samarco, em Mariana (MG), na tarde de 05 de novembro passado. No evento, que abordou o tema “Gestão dos Riscos e Im52  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

pactos Ambientais de Barragens de Rejeitos de Mineração, a diretora-técnica da Aplysia, Tatiana Furley, destacou que as metodologias utilizadas para recuperar os rios no Canadá (contaminantes da barragem foram observados até 1.100 km à jusante da mina) já existem no Brasil e foram aplicadas no rio Mangaraí, em Santa Leopoldina (ES), antes mesmo do desastre no Rio Doce. “Como os incidentes de lá aconteceram em 2013 e 2014 e os recursos hídricos já foram revitalizados, nossa equipe viajou em maio ao país para conhecer as técnicas e os resulta-

FIQUE POR DENTRO A Aplysia oferece serviços diversos para empresas do segmento de siderurgia, mineração e metalurgia, incluindo orientação aos processos para o Licenciamento Ambiental, avaliações de riscos ambientais, monitoramentos de efluentes e treinamento de operadores. Site: www.aplysia.org.br

dos desses dois casos. Ficamos surpresos ao descobrir que era o mesmo método que usamos aqui”, contou Tatiana.


FOTO: LÉO MERÇON

Uma das palestrantes do seminário, a canadense Kari McDonald, da Westmoreland Coal Company – gestora de 18 minas no Canadá e nos Estados Unidos, incluindo a de Obed –, ressaltou que a principal mudança após o rompimento da barragem de rejeitos foi o relacionamento entre mineradoras e órgãos ambientais. “Em três anos após o desastre, a legislação foi alterada e a principal exigência foi a transparência das operações. Hoje temos sites abertos, por exemplo, onde todos podem ter acesso às informações e isso fortalece a relação de confiança entre as partes envolvidas”, destacou a gestora, que visitou a barragem de Fundão a convite do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

POR MEIO de técnicas de recuperação de córregos e rios, o projeto ReNaturalize, da Aplysia, vem trazendo ganhos relevantes na redução dos sedimentos, no controle de enchentes e na restauração da biota local, como é o caso do Rio Mangaraí

Outra lição aprendida é a necessidade de ter conhecimento prévio dos rios, fundamentado em metodologia científica aplicada aos casos, conforme destacou o professor Luis Felipe Hax Niencheski, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG),

também palestrante do evento. O seminário foi realizado em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e a ArcelorMittal, com a presença de técnicos e gestores de mineradoras, órgãos ambientais e Ministério Público. 


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ARTIGO

MAURÍCIO ROSCOE (*) redacao@revistaecologico.com.br

ÁGUA

UMA VISÃO SISTÊMICA

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oje em dia, tem-se falado muito em visão sistêmica. Mas, infelizmente, raramente vemos essa metodologia sendo posta em prática de modo eficaz e colaborativo. Ela nos proporciona uma perspectiva global e, ao mesmo tempo, simplificada dos macroprocessos, ajuda a identificar os pontos críticos sobre os quais devemos atuar. Para demonstrar como essa abordagem pode contribuir

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para solucionar muitos dos desafios que temos pela frente, é só utilizarmos a questão da água como exemplo. Para compreendermos melhor a crise pela qual ainda estamos passando, o primeiro passo é saber quanto deste recurso existe à nossa disposição. Apesar de o planeta possuir um enorme volume de água, cerca de 97% dele é salgada. O volume de água doce disponível é relativamente muito

pequeno, principalmente se considerarmos o aumento da população da Terra. Além disso, cerca de 85% da água doce existente está nas geleiras e nos lençóis aquíferos profundos. Por outro lado, a superfície dos oceanos é muito grande e a atuação do sol sobre ela nos proporciona um processo natural de dessalinização e limpeza da água do mar, em grande escala. Como sabemos, boa parte das nuvens


“A grande estratégia está em aproveitar bem a sabedoria da natureza para reter e aumentar as reservas de água doce disponíveis.” ÁGUA DOCE Além da importância de gerir bem o uso das águas, é preciso falar de uma questão realmente mais estratégica e inovadora: o aumento da quantidade disponível de água doce. Além da construção de açudes e barragens, podemos aumentar a vazão dos rios! O assoreamento do Rio Doce por conta do rompimento de uma barragem de rejeitos cha-

mou nossa atenção para um fato: O rio já estava morrendo! Nossos rios estão morrendo aos poucos e, por ser lento o processo, não fazemos nada. Ficamos inertes, sem saber o que fazer e a quem apelar. Nossa educação, muito analítica e especializada, nos deixa com uma visão fragmentada em relação aos macrossistemas. No caso do Rio Doce, o famoso fotógrafo Sebastião Salgado conFOTO: STEVE JURVETSON

formadas são levadas, pelos ventos, para os continentes, onde caem em forma de chuvas. Assim, a grande estratégia está em aproveitar bem a sabedoria da natureza para reter e aumentar as reservas de água doce disponíveis. A compreensão de um sistema é limitada pelo ponto de vista do observador ou grupo de observadores. Sob o ponto de vista da visão sistêmica, todas as partes envolvidas, sejam representantes dos governos, legisladores, meios de comunicação, pesquisadores, ecologistas, fazendeiros, sejam industriais e consumidores finais, precisam entender a importância desse recurso e dialogar, discutir e juntar esforços de modo a garantir, de modo colaborativo, não só o uso sustentável da água, mas o aumento da água doce disponível. Existem várias linhas de ação a serem trabalhadas com o objetivo de maximizar o aproveitamento da água doce. Entre elas, podemos citar: Reeducação/conscientização da população para cuidar bem não só das águas, mas também economizar energia e bens de consumo (uma vez que o recurso natural é utilizado no processo de produção deles); 

 Os

meios de comunicação podem dar uma contribuição ímpar para a evolução cultural da sociedade procurando transmitir, sempre, essa visão mais sistêmica, de modo didático, como uma história; Disseminação de processos de limpeza e tratamento de esgotos e despoluição de rios, lagos e oceanos; 

Tomadas de medidas para a redução de enchentes que provocam perdas e desperdícios. 

“Ao retornar à fazenda que pertenceu aos seus pais, o fotógrafo Sebastião Salgado replantou árvores onde haviam nascentes secas e as águas renasceram.”

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ta que, ao retornar, anos depois, à fazenda que foi de seus pais, viu que muitas nascentes haviam secado e já não existiam tantas árvores como em seu tempo de criança. O que ele fez? Replantou árvores perto das nascentes e as águas voltaram! Foi uma experiência extraordinária, porque mostrou que, se fizermos isso com todas as potenciais nascentes de toda a Bacia Hidrográfica, elas poderão renascer e poderemos então, de fato, aumentar, e muito, o volume das águas de todos os afluentes. E, portanto, do próprio Rio Doce, fazendo-o retornar para a vida plena. As árvores e florestas retêm as águas das chuvas de modo que penetrem no solo, formando, além dos lençóis freáticos e rios. E também abastecendo os aquíferos subterrâneos. A vegetação ajuda a evitar as enxurradas e a erosão, que carregam terra - inclusive, de boa qualidade - e as-

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“O assoreamento do Rio Doce chamou nossa atenção para um fato: o rio já estava morrendo. Todos os nossos rios estão morrendo.” soreiam os rios. Assim, um item crítico no processo de recuperação de nossos corpos d’água são as árvores e as florestas, que são ao mesmo tempo não só fundamentais à manutenção e aumento do volume de água nos rios, mas ainda ao equilíbrio da atmosfera terrestre e à nossa vida. Dentro de uma perspectiva sistêmica, é interessante lembrar que as árvores, como todos os seres vivos, também têm o seu ciclo

de vida. Como sabemos, as árvores retiram carbono (CO2) do ar e, através da fotossíntese, liberam oxigênio para a atmosfera. O que pouco se lembra é que esse processo é bem mais intenso quando as árvores estão em crescimento, pois, nessa fase, se utilizam de maiores quantidades de carbono para formarem seus troncos. Quando ficam adultas e maduras, esse ciclo da fotossíntese continua, mas numa escala menor. Após um período de maturidade, as árvores envelhecem e morrem, como todos os seres vivos. Em algum momento, após a maturidade e antes da morte, as árvores poderiam ser colhidas e utilizadas por indústrias madeireiras ecologicamente bem concebidas. Num ciclo de replantio bem planejado, novas árvores estarão crescendo e retirando, novamente, de modo contínuo, mais carbono da atmosfera. É um ciclo virtuoso que regenera


FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES

os rios e a nossa atmosfera, além de proporcionar trabalho e prosperidade. Além disso, o produto industrializado, como um móvel, por exemplo, poderá reter o carbono em si por muitas gerações. A GRANDE QUESTÃO Por que a sociedade brasileira permanece inerte perante um problema relativamente simples, quando visto sob o prisma da visão de síntese? Sim, uma questão simples, mas extremamente grave em suas consequências para a vida. Por que permanece sem solução? É uma questão de paradigmas! Todos nós fomos educados para usarmos, e usarmos cada vez mais, o pensamento analítico. Que é, indiscutivelmente, muito necessário, pois foi o responsável pelo desenvolvimento tecnológico e industrial quase milagroso dos últimos séculos. Mas aqui estamos falando do sistema das águas e também de

nossa atmosfera. De problemas ecológicos, que envolvem muitas outras ciências, além das próprias ciências exatas. E a análise se torna pobre e mesmo insuficiente para resolvê-los, como estamos vendo. Há falta de visão sistêmica, sintética! E o conhecimento fragmentado é insuficiente para visualizá-las. Precisamos usar cada vez mais a nossa inteligência intuitiva que, para esses assuntos aqui tratados, é bem mais adequada que a análise. A intuição enxerga melhor a interconexão entre as coisas. Por exemplo: no sistema das águas, como vimos, a questão das árvores e das florestas é fundamental. Entretanto, aqui no Brasil, quando falamos nisso o foco é apenas no combate ao corte de árvores e ao desmatamento. Ninguém fala sobre incentivos ao plantio. E, o que é mais grave, a legislação inibe os proprietários de terra, rural ou urbana, a plantar árvores. Como a fiscalização contra o desmatamento não é tão eficiente, nossos bosques e florestas vão diminuindo... As chamadas “madeiras de lei”, protegidas em tese pela legislação, estão acabando por influência dela mesma! É importante combater o desmatamento ilegal. Mas, ao proibir quase que cegamente o corte, nossa legislação torna extremamente improvável o plantio de novas árvores. Se é praticamente impossível a obtenção de autorização de corte de árvores nativas e, mais ainda, das “madeiras de lei”, nenhum proprietário de terra tem motivação para plantar sequer uma árvore (muito menos bosques e florestas) em seu terreno: fazê-lo equivale a abrir mão do domínio sobre a área plantada. O que é muito semelhante ao que ocorreu no setor imobiliário, nos anos 1950. Naquela época, a legislação que trata de alugueis

havia sido redigida de forma a proteger ao máximo os inquilinos. O problema foi que a rigidez da legislação fez com que o negócio de locação se tornasse pouco atraente. E, com o passar do tempo, o volume de imóveis disponíveis para tal fim ficou imensamente reduzido. Ou seja, a falta de visão sistêmica pode agravar o problema que estamos querendo evitar. METOLOGIA DA QUALIDADE Em relação ao ciclo da água e às florestas, as leis que tratam do assunto, que aliás são muitas, longas e complexas, precisariam ser revistas com essa visão mais sistêmica e colaborativa para estimular o plantio e o reflorestamento de modo harmônico com a ecologia e a atividade econômica. Ao incentivá-los, e regulamentar o corte planejado e sustentável, teríamos melhores chances de aumentar nossas áreas de florestas e contribuir para a redução do efeito estufa, a da poluição atmosférica e a regeneração do ciclo das águas (consequentemente, com o aumento dos estoques de água doce e volume de vazão dos rios). A metodologia da qualidade nos ensina a buscar as causas dos problemas e a atuar no sentido de corrigi-las. A mudança de paradigma, da visão fragmentada para outra mais colaborativa e orgânica pode resolver esse impasse e outros que a sociedade brasileira está vivendo. Quanto à água, com diálogo, harmonia e pensamento intuitivo, podemos visualizar os pontos críticos que a estão tornando escassa e, com boa vontade e gestão correta, resolvê-los. Vale a pena fazer isso. É o nosso futuro!  (*) Engenheiro civil, diretor-presidente da M. Roscoe Engenharia e Construção e da Paraúna Administração, ex-presidente da Fiemg e presidente do Conselho Consultivo da União Brasileira para a Qualidade (UBQ).

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1 SAÚDE NOVA sede do Oncocentro, em BH. O Grupo Oncoclínicas agora inicia a construção de um cancer center com o Instituto Biocor que será referência no Brasil

MAIS AFETO, MAIS SAÚDE Grupo Oncoclínicas se torna referência ao adotar conceito de cuidado integral de pacientes e anuncia parceria com Instituto Biocor para criar um centro avançado de tratamento de câncer em BH Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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uem entra no Oncocentro, nova clínica de tratamento de câncer do Grupo Oncoclínicas, inaugurada recentemente na capital mineira, vê mais que um ambiente harmonioso. Não há pacientes entregues à tristeza. Lá, eles vislumbram a esperança, porque o foco é a vida. Os corredores claros, bem iluminados, revelam que gente, naquele espaço de 2.850 m2, é o foco. Tudo foi planejado para que os pacientes tenham cada vez mais conforto e qualidade. Além da realização de ciclos de quimio e radioterapia, o Oncocentro oferece cuidados complementares que vão além do

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tratamento oncológico comum, abrangendo desde o diagnóstico até a reabilitação do paciente. Entre os serviços oferecidos estão ioga, acupuntura, cromoterapia, musicoterapia e heike. O Oncocentro ainda tem uma sala para tratamento dentário e estomatoterapia, pois muitos pacientes são internados com estomatite. “O futuro da oncologia está na individualização dos casos. Por isso colocamos os pacientes no centro das atenções. Algumas das maiores causas de internação são náuseas, vômitos, desidratação e dor. Acupuntura e ioga, por exemplo, ajudam a reduzir esse quadro em até 50%, porque pre-

veem relaxamento e consequente minimização dos efeitos colaterais do tratamento”, garante Dr. Bruno Ferrari, médico oncologista e presidente do Conselho de Administração do Grupo. Com a inauguração da nova sede, que recebeu investimentos de R$ 12 milhões, a capacidade de atendimento aumentou em 25%, chegando a dois mil ciclos de tratamento por mês. Hoje, são realizadas mais de mil consultas mensais. O Oncocentro também é a única clínica da Grande BH a oferecer a crioterapia, procedimento que utiliza tocas especiais que resfriam o couro cabeludo, durante a aplicação dos quimio-


PESQUISA E APRIMORAMENTO Investir em pesquisa é outro diferencial do Grupo Oncoclínicas. Por meio de uma parceria internacional firmada com o Dana-Farber Cancer Center, em Boston (EUA), há dois anos, é realizado intercâmbio de conhecimento e educação médica, garantindo aos profissionais do grupo acesso a pesquisas, estudos clínicos e tecnologias inovadoras para trazer aos pacientes o que há de mais moderno no tratamento de câncer. “Semanalmente, profissionais de todas as nossas unidades participam de um tumor board com médicos e pesquisadores do Dana-Farber. Por meio de videoconferência, discutimos casos mais complexos e construímos protocolos de conduta e de tratamentos juntos. Em uma das nossas últimas reuniões, 80 médicos participaram: 73 do Brasil e sete dos Estados Unidos”, afirma Bruno Ferrari. “O Dana-Faber é um dos hospitais que mais investem em pesquisa clínica e básica do câncer no mundo. O objetivo dessa parceria é que os pacientes tratados no Brasil, em qualquer unidade

do Grupo Oncoclínicas, tenham um tratamento tão bom e especializado quanto os que são realizados em centros de excelência dos Estados Unidos”, ressalta Dr. Otto Metzger, oncologista brasileiro que trabalha no hospital americano, que é filiado à Harvard Medical School. A parceria com o Dana vem trazendo resultados tão positivos que já foi estendida por mais cinco anos. Como o mercado de saúde é diferente dos demais, pois o resultado se baseia na qualidade do serviço ofertado, pesquisa e aprimoramento médico são fundamentais nesse processo. Para isso, o grupo criou o Instituto Oncoclínicas, que tem dois focos: pesquisa e educação médica continuada. “Apenas no ano passado, realizamos mais de 120 eventos para o nosso corpo clínico no Brasil e três internacionais. Somos 350 médicos. É impossível ter qualidade sem gestão e disciplina. Dessa forma, buscamos também a melhor alternativa de tratamento para os pacientes”, completa Dr. Luis Eugênio, diretor da clínica Hematológica, entidade parceira que trouxe ao grupo mais expertise em transplante de FOTOS: DIVULGAÇÃO

terápicos, contraindo os vasos sanguíneos e minimizando a queda de cabelo. “O tratamento clínico atual de câncer dá uma sobrevida até 60% maior para nossos pacientes. Essa abordagem humanística tem importância fundamental nisso. Nossa mão de obra é o ser humano. Aqui, não vemos a medicina como uma commodity. Desenvolvemos afeto por quem estamos tratando. Como disse o poeta Vinicius de Moraes, ‘não existe amor sozinho’. E a gente vivencia isso aqui”, afirma Dr. Roberto Carlos Duarte, um dos mais renomados especialistas oncológicos brasileiros, que também atua no Oncocentro.

BRUNO FERRARI: "O futuro da oncologia está na individualização dos casos"

FIQUE POR DENTRO O Grupo Fundado há seis anos, o Grupo Oncoclínicas possui 35 unidades, entre clínicas e parcerias hospitalares, em nove estados brasileiros: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Realiza mais de 15 mil ciclos de tratamento por mês. Em 2015, o grupo teve crescimento de 20% e estima seguir neste patamar este ano. O Oncocentro Localizado na Rua Roma, 26, bairro Santa Lúcia, tem 2.850 m2 de área, 25 consultórios, 49 boxes de atendimento e suítes equipados com TV, e corpo clínico com mais de 70 profissionais. Primeira clínica de BH que possui farmácia com ambiente monitorado, tem estacionamento privativo e elevador exclusivo para pacientes com dificuldades de locomoção.

medula óssea, ampliando a atuação em hemato-oncologia. EXPANSÃO À VISTA O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, em 2016, serão mais de 600 mil casos de câncer no Brasil. Em 2020, deve chegar a 750 mil. O tipo de câncer mais comum no país hoje é o de pele (serão 80,8 mil novos casos em homens e 94,9 mil em mulheres só este ano). Na sequência estão o de mama, nas mulheres (57,9 mil), e de próstata, nos homens (estimativa de 61,2 mil). Preocupado com o crescimento desses números, o Grupo Oncoclínicas está desenvolvendo um plano estratégico que prevê a ampliação da oferta de atendimento em oncologia e hematoJULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  59


logia, incluindo a disponibilização de serviços de radioterapia e transplante de células tronco hematopoiéticas para todos os nove estados em que atua; a aquisição de novas clínicas; e a busca da certificação de qualidade e segurança assistencial (Accredition Canada, ONA 3, JCI) para todas as unidades do grupo. Além disso, foi anunciado recentemente um novo projeto de expansão, por meio de uma joint venture com o Instituto Biocor, onde será construído um centro de tratamento de câncer em um prédio anexo ao hospital. As obras já foram iniciadas e a previsão é que o centro seja inaugurado até o primeiro semestre do próximo ano. “Ele terá seis mil metros quadrados. Serão oferecidos serviços como radioterapia, cirurgia, unidade de transplante de medula, atendimento a crianças e adultos e unidade de internação para pa-

FOTO: DIVULGAÇÃO

1 SAÚDE

ONCOCENTRO: 49 boxes de atendimento e suítes com TV para os pacientes

cientes hematológicos. O paciente terá todas as suas necessidades em relação à doença atendidas no local. Vamos ter equipamentos de radioterapia de ponta e serão investidos, apenas nisto, R$ 30 milhões”, afirma Ferrari. A nova unidade também adota-

rá o conceito de cuidado integral do paciente, como acontece no parceiro Dana-Farber e no Oncocentro. Está aí mais um exemplo de que esperança e vida podem ser sinônimos. 

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1 AMBIENTE RURAL

BOAS PRÁTICAS

NO CAMPO III Seminário Ambiental da Faemg aponta caminhos para a agricultura sustentável J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

A

gricultura e sustentabilidade. Você não leu errado. Por mais inimaginável que fosse - dados os milhões de hectares de florestas historicamente lançados ao chão no Brasil para dar lugar à produção agrícola e à pecuária -, essas duas palavras estão na mesma linha. E começaram a caminhar de mãos dadas.

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Quem busca o alinhamento é o próprio setor, que vem construindo e estimulando iniciativas ecologicamente corretas entre os produtores rurais. Para mostrar que boas práticas ambientais no meio rural já são uma realidade, a capital mineira foi recentemente palco do “III Seminário Ambiental” do Sistema Faemg. Os produtores participaram de seis palestras e dois debates sobre “Resíduos, Fertilização e Bioenergia”. “Nosso foco é a produção com sustentabilidade. Não é possível exercer qualquer atividade hoje sem estarmos conectados com ela. Seminários como este são uma oportunidade de formação de uma nova massa crítica, munida de conhecimentos. Precisamos despertar uma ótica mais complexa da questão ambiental, que é a de preservar e conservar os recursos naturais. Mas, ao mesmo tempo, gerando qualidade de vida e renda. E produzindo alimentos, que também é a nossa missão”, afirmou Roberto Simões, presidente do Sistema Faemg, na abertura do evento. Entre as boas práticas que o setor fomenta estão as alterna-

SISTEMA

FAEMG

É composto pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Minas), o Instituto Antonio Ernesto de Salvo (INAES) e os Sindicatos dos Produtores Rurais. Mais de 400 mil produtores são beneficiados pelas ações do Sistema Faemg em todo o estado.

tivas de produção de bioenergia e gestão de resíduos sólidos, que vêm contribuindo para reduzir o impacto do agronegócio no meio ambiente. É o caso da Granja Três Lagoas, localizada na região de Conselheiro Lafaiete (MG). Com 500 matrizes e 5.800 suínos, o proprietário Carlos Salgado buscava uma solução para tratar e aproveitar os 65 mil litros de compostos orgânicos sólidos e efluentes líquidos produzidos por dia na propriedade. Por meio da instalação de um biodigestor, os materiais são separados. O líquido, proveniente da degradação das fezes dos suínos, é utilizado para produção e aproveitamento de gás, enquanto o sólido é transformado em adubo orgâni-


LIXO NA ROÇA E o resíduo sólido e o lixo doméstico gerado no campo? Onde dispor as embalagens de óleo, pilhas, medicamentos vencidos e lâmpadas? Segundo a gerente de Resíduos Especiais da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Alice Dias, o lixo identificado no meio rural tem cada vez mais característica urbana. “A ideia foi trazer mais questionamentos, e apresentar o encaminhamento do que está sendo feito na gestão de resíduos no meio rural e os desafios para o futuro. Começamos identificando os tipos de resíduos que ocorrem no meio rural e que demandam uma gestão adequada; que são vários

e estão assumindo cada vez mais uma característica de urbano do que de rural. É uma mudança que guia uma nova abordagem também”, ponderou Alice. “Minas Gerais tem muitos gargalos. Não há nenhuma empresa recicladora de vidro, por exemplo. Nosso parque de reciclagem de plástico ainda é muito tímido, com iniciativas caseiras. Também é preciso inserir a demanda de coleta e tratamento de resíduos gerados no meio rural em termos de compromisso e acordos setoriais, que é o que os órgãos ambientais federal e estadual vêm fazendo.” Para Ana Paula Mello, coordenadora da Assessoria de Meio Ambiente da Faemg, é preciso pensar, debater e planejar a questão dos resíduos além de apenas cumprir as normas ambientais. “O bom manejo se reflete também na saúde, qualidade de vida e cria novas oportunidades econômicas para produtor rural. Através do reaproveitamento desses resíduos, é possível transformar um problema em solução. E em renda.” DA FAZENDA PARA O BRASIL O engenheiro agrícola Juarez de Souza e Silva trouxe um exemplo

FIQUE POR DENTRO

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome há dois anos. Entre 1990 e 2014, o número de brasileiros em situação de subalimentação caiu 84,7%. O apoio à agricultura familiar, por meio do acesso ao crédito e assistência técnica, além do benefício de prestação continuada, foram essenciais para alcançar esse objetivo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que, em 2050, o Brasil terá mais de 226 milhões de habitantes, um crescimento de 9%. Por isso, aliar produção alimentar e sustentabilidade será um desafio enorme.

economicamente viável que pode contribuir para potencializar ainda mais a eficiência energética do país: a fabricação de álcool combustível, ou bioenergia, em pequenas propriedades rurais. “O que queremos mostrar é que se pudéssemos produzir bioenergia em pequena escala, no pequeno produtor, teríamos muito mais energia disponível do que FOTO: ALEXANDRE MOTA

co para fertilização de pastagens. A Granja, que produz 320 toneladas de matéria orgânica tratada por ano, fatura quase R$ 11 mil no período com a venda de adubo. Só de energia gerada, a economia de luz chega a R$ 88 mil/ano. “A conclusão que chegamos é que, sem reaproveitamento, a manutenção do tratamento dos efluentes e sólidos orgânicos custará caro ao produtor. Em consequência, seu custo operacional será mais alto”, afirma o engenheiro agrônomo Orlando Rolón, que atua na Granja. Evandro Barros, agrônomo da Embrapa Suínos e Aves, chamou a atenção para gargalos que possam impossibilitar o uso de resíduos da atividade agrícola e pecuária, como dejetos de suínos e aves, em propriedades rurais. Um dos mais comuns é não planejar. “Um biodigestor, por si só, não resolve problema ambiental. É preciso ter um bom projeto, realista, com consultoria e assistência técnica especializada, inclusive no pós-venda, e estudo de viabilidade econômica. O manejo incorreto do equipamento pode se tornar uma alternativa inviável para o agricultor”, ressaltou. A própria Embrapa, inclusive, oferece este tipo de consultoria.

ROBERTO SIMÕES: “Não é possível exercer qualquer atividade sem estar conectado com a sustentabilidade”

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JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  63


FOTOS: ALEXANDRE MOTA

1 AMBIENTE RURAL

ALICE DIAS: “É preciso incluir a demanda de resíduos em termos de compromisso e acordos setoriais”

NOSSO AMBIENTE O “III Seminário Ambiental” é uma das ações do programa “Nosso Ambiente”. Criado em 2015 com o objetivo de reafirmar o compromisso do Sistema Faemg com a preservação da natureza, tem a participação de parceiros públicos e privados e a produção de alimentos, fibras e energia alinhada à conservação do meio ambiente como foco. O programa tem quatro linhas de atuação: GESTÃO Com foco na sustentabilidade de propriedades rurais e envolve projetos para recuperação e preservação ambiental, o aproveitamento racional e sustentável de recursos naturais e a adequação da atividade à legislação ambiental. Essa linha abrange desde a recuperação e preservação de nascentes até saneamento, reuso da água e preservação de florestas e combate a incêndios. REPRESENTATIVIDADE Visa a capacitação de técnicos, produtores e lideranças para disseminar e defender os interesses do setor. Para isso, atua no fortalecimento da representação em comitês de bacias e conselhos de meio ambiente, promoção de seminários periódicos sobre gestão e sustentabilidade, bem como a realização de treinamentos, palestras e cartilhas para orientar produtores rurais sobre como fazer uma melhor gestão ambiental de suas propriedades.

JUAREZ de Souza e Silva: ”A produção de álcool combustível em pequenas propriedades rurais é possível”

através das grandes indústrias. Quando trabalhamos com os pequenos produtores, o processo é totalmente integrado. Produzimos a bioenergia em associação com a produção de alimentos. A ideia não é trabalhar somente com a bioenergia, mas a obtermos como um subproduto da produção de alimentos. É um potencial muito grande e ecologicamente sustentável, já que nada é retirado do solo e o que se utiliza de fator externo é apenas uma pequena quantidade de fertilizante; nada comparável ao uso pesado de um processo comum”, garante Juarez, que utilizou sua própria propriedade para estruturar o projeto. A iniciativa é um sucesso. To64  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

MONITORAMENTO Por meio da criação de mecanismos para acompanhar e avaliar a implantação e a evolução de práticas sustentáveis no campo, tem como principal atividade o desenvolvimento de plataformas para gerenciar adequadamente os indicadores de sustentabilidade em agrossistemas. DIFUSÃO Este último eixo básico de atuação do programa “Nosso Ambiente” visa implantar e intensificar ações de comunicação para difundir à sociedade a relevância e a atuação dos produtores rurais na preservação da natureza. Para isso, estimula a adoção de boas práticas conservacionistas, promove o produtor rural como guardião da natureza e fortalece a comunicação entre ele e os sindicatos. EM TEMPO: para entrar em contato com a coordenação do programa e saber mais sobre as linhas de atuação, envie e-mail para ambiente@faemg.org.br ou ligue para (31) 3074-3014.

dos os processos de fabricação já foram testados e várias teses de mestrado e doutorado comprovam sua viabilidade. “Nosso problema é só lutar com o governo para liberar a produção de álcool combustível para o pequeno produtor. Já dominamos bem a tecnologia. Agora é apenas uma questão política”, reforça o engenheiro, que também é pesquisa-

dor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Hoje, o custo do litro de álcool produzido na propriedade de Juarez sai por R$ 1. Em postos de gasolina custa, em média, R$ 2,50.  SAIBA MAIS

www.sistemafaemg.org.br



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INOVAÇÃO AMBIENTAL

A FAVOR DO AGRONEGÓCIO Empresas de base tecnológica estão revolucionando o segmento unindo inovação e sustentabilidade Iaçanã Woyames

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: CTC DIVULGAÇÃO

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66  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

arece algo retrógado, mas cerca de dois bilhões de toneladas de grãos e sementes produzidos anualmente ainda são analisados e classificados de forma manual. Esta análise usa critérios totalmente subjetivos para identificar sua qualidade e aspectos do seu crescimento que determinam como eles podem ser aproveitados. Atualmente, o teste frio, um dos métodos mais comuns para culturas como milho e soja e que calcula o vigor das sementes, demora 14 dias para ser finalizado. Entretanto, uma empresa mineira, criada por três estudantes da área de computação e um professor de administração, vem mudando o setor de grãos e sementes e revolucionando o mercado. Trata-se da TBIT, nascida na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. A empresa conta com uma plataforma tecnológica que alia hardware e software, por meio da qual as análises manuais são substituídas pelas digitais, realizadas com base em parâmetros pré-estabelecidos. “A tecnologia traz mais agilidade, confiabilidade, precisão e padronização ao processo. Auxiliando na geração de sementes, grãos e plântulas de melhor qualidade e contribuindo para a solução do desafio da segurança alimentar,

uma preocupação global”, reforça Igor Chalfoun, diretor da TBIT. A história da empresa é apenas um exemplo das várias empresas de base tecnológica espalhadas pelo Brasil. E que, através de seus produtos e serviços, estão acelerando a performance do agronegócio brasileiro unindo tecnologia e sustentabilidade (mercado de Agritech). São justamente estas empresas que a INSEED Investimentos está buscando para aportar recursos através do FIP FIMA (Fundo de Inovação em Meio Ambiente). “O objetivo do Fundo é selecionar empresas do setor de tecnologias limpas, startups que apostem no desenvolvimento de uma economia de baixo impacto ambiental ou que criem inovações para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis, como a TBIT”, explica Alexandre Alves, diretor da INSEED Investimentos. O FIMA conta com recursos da ordem de R$ 165 milhões para serem investidos em dezenas de outros negócios dentro deste perfil de tecnologia. Para Alexandre, a adoção das inovações tecnológicas pelo setor produtivo agropecuário tem tido papel preponderante no sucesso do agronegócio brasileiro. “Esses avanços têm possibilitado ao setor ocupar uma posição de


IGOR Chalfoun, da TBIT: "A tecnologia traz mais agilidade, confiabilidade, precisão e padronização à análise de grãos e sementes"

Interno Bruto (PIB) do país. Em 2016, por exemplo, o setor terá um desempenho mais uma vez muito positivo, mesmo com a crise.” Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para a safra de grãos de 2016 — e da projeção reavaliada do Valor Bruto da Produção (VBP) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) — haverá crescimento de 0,7% sobre 2015, atingindo R$ 515,2 bilhões em 2016. Apesar de todo o crescimento, o mercado está cada vez mais competitivo e exigente. Adequar-se a ele pela inovação é o melhor caminho”, destaca. Desta forma, João detalha os perfis procurados pela INSEED na área de agronegócio. “Uma área que temos grande interesse para investir são as empresas ligadas a recomendação de manejo dentro do ambiente produtivo. Ou seja, negócios com soluções ligadas a inteligência artificial e que consigam, por exemplo, através de um sistema integrado, coletar diversos dados variáveis como clima, característica de solo, histórico de produtividade e nível de contaminação. E, assim, gerar automa-

FIQUE POR DENTRO l Empresas estabelecidas no Brasil que desenvolvam tecnologias inovadoras e tenham alto potencial de crescimento. l Negócios relacionados à promoção da sustentabilidade e à redução de impacto ambiental nas cadeias de valor. l Empreendimentos que incorporem inovação em suas tecnologias, produtos ou processos para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis. l Proporcionam menor impacto em todas as etapas da cadeia de valor de um negócio, desde a origem dos insumos até o fim da vida útil de um produto ou serviço. Compreendem o uso equilibrado de recursos naturais e a incorporação de resíduos e produtos descartados em novos ciclos produtivos, ou o tratamento e descarte ambientalmente seguro. l Devem oferecer forte barreira que impeça ou dificulte sua reprodução por outros players. Devem ser escaláveis e resolver um problema de mercado muito relevante.

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JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  67

FOTO: PEDRO QUEIROZ

PERFIL DE EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO Um negócio que promova a inovação e tecnologia limpa em segmentos diversos na economia brasileira. Esse é o foco do FIMA, que vem procurando empresas que atuam junto ao setor de agronegócio para aportar capital e promover seu crescimento. O momento atual, segundo o gerente de Prospecção da INSEED Investimentos, João Pirola, é de selecionar instituições que se enquadram no perfil para receber esse aporte. “Estamos muito interessados em empresas do setor de agronegócios. Esse mercado é responsável por quase um quarto do Produto

FOTO: LUIZ CARLOS

destaque no processo de desenvolvimento brasileiro. O sistema criado pela TBIT, por exemplo, já é utilizado pelas principais multinacionais da indústria agrária com atuação no Brasil.” O diretor explica ainda que a TBIT foi lançada ao mercado em 2012 e que recebeu aporte do FIMA no ano passado visando alavancar a sua operação e desenvolver novas soluções. “Em um ano, depois da entrada do Fundo, os resultados já podem ser percebidos com o aumento de 60% do faturamento e 25% da cartela de clientes”, enfatiza. Para o diretor da TBIT Igor Chalfon, o aporte de R$ 2,1 milhões foi fundamental para conseguir se consolidar no mercado. “Com o Fundo, a TBIT desenvolveu sua especialidade na busca por soluções que tangem os atuais problemas do setor, sobretudo relacionado às avaliações de qualidade, tais como a vulnerabilidade frente à possibilidade de erro humano, pouca velocidade, além da baixa padronização e confiabilidade dos resultados relativos aos atuais métodos utilizados.”


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ticamente, a partir de algoritmos sofisticados, recomendação de manejo de campo. Direcionando para os responsáveis o que fazer: onde monitorar pragas, quais produtos aplicar, em quais quantidades e onde”, explica João. Outro perfil procurado é de negócios que trabalhem com a valorização de resíduos agrícolas. “Empresas que realizam processamento de modo a possibilitar o aproveitamento de resíduos na agricultura e na silvicultura utilizando tecnologias para compostagem e produção de corretivo de acidez de solo e outros fertilizantes”. João lembra ainda que dentro dessas áreas é exigido que as empresas estejam com o limite de faturamento anual de até R$ 20 milhões e que apresentem alto potencial de crescimento e rentabilidade. “E, claro, promova a sustentabilidade e a redução de impacto ambiental.” Rastreabilidade ao longo da cadeia de produção de alimentos é outra linha de captação. “Com soluções que consigam agrupar informações de cada elo da cadeia: da produção, do beneficiamento, da industrialização, do varejo e no pós-consumo. Tanto para entender e buscar pontos de melhoria de eficiência quanto que consigam entender melhor o funcionamento desta cadeia.” O último foco são negócios inovadores que envolvam agentes microbiológicos para combates a pragas, vírus e doenças, em substituição ao uso de agrotóxicos e produtos químicos, por exemplo. SUBSTITUINDO O AGROTÓXICO OU PRODUTOS QUÍMICOS Startup originada a partir de pesquisas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Rizoflora produz fungos e bactérias para o controle biológico de nematóides - praga 68  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

FOTO: LEANDRO UFV

INOVAÇÃO AMBIENTAL

A STARTUP Rizoflora atua na produção de fungos e bactérias para controlar pragas agrícolas que atacam raízes de plantas

agrícola que ataca as raízes das plantas e reduz significativamente a produtividade na agricultura. Ela foi criada como resultado de mais de 20 anos de pesquisas do professor Leandro Grassi de Freitas, do Departamento de Fitopatologia da UFV. Com produtos 100% orgânicos, a empresa apoia produtores para que colham os melhores resultados com manejo consciente. Assim, cuidam das condições do solo, do desenvolvimento sustentável das plantações e beneficia produtores e consumidores, fazendo o bem ao longo de toda a cadeia. A empresa é a única na solução de combate a nematoides disponível no mercado brasileiro. “Os nematoides são vermes minúsculos de solo, difíceis de controlar. Para contê-los, muitos produtores utilizam nematicidas químicos altamente tóxicos e poluentes, que deixam resíduos no lençol freático e nos alimentos. Estima-se que esses vermes causem perdas por volta de US$ 157 bilhões/ano na agricultura em todo o mundo”, afirma João Pirola.

Outro exemplo, nesse contexto, é a paulista BUG Agentes Biológicos. Criada em 2001, ela também produz e comercializa agentes de controle macrobiológico. Esses agentes são em sua maioria vespas que parasitam ovos das principais pragas das grandes culturas. Referência global em seu segmento, a empresa foi indicada em fevereiro de 2012 pela revista Fast Company (EUA) como a mais inovadora do Brasil e a 33ª em todo o mundo. Em outubro do mesmo ano, a BUG também foi premiada na área de sustentabilidade com o World Technology Award, promovido nos EUA por corporações de comunicação como a CNN, Time, Science e Fortune. Para os especialistas, o controle biológico de pragas é atualmente uma das táticas mais importantes na agricultura. Ele não causa resistência e até a evita em áreas com aplicações de inseticidas ou com plantas transgênicas. Não polui o solo, as águas e os ecossistemas; não causa intoxicação em


TECNOLOGIA A FAVOR DO SETOR SUCROENERGÉTICO Danila Passarin, pesquisadora líder do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), instituição que atua há mais de 40 anos no desenvolvimento e comercialização de tecnologias inovadoras para o setor canavieiro e realiza pesquisas que abrangem os elos da cadeia produtiva de cana-de-açúcar, eta-

nol, açúcar e bioenergia, confirma a importância da inovação como chave do agronegócio. “Poder aliar conhecimento com tecnologia de última geração é essencial. Utilizamos as soluções computacionais, por exemplo, da TBIT neste processo para que possamos avançar rapidamente no projeto de sementes de cana-de-açúcar. E, assim, atender à exigência de alta produtividade do setor sucroenergético”, comenta. O CTC foi criado em 1969 a partir de uma iniciativa de um grupo de usinas da região de Piracicaba, a 160 km da capital paulista, com o objetivo de investir no desenvolvimento de variedades mais produtivas e agregar qualidade à produção de açúcar e álcool. Em 2004, entrou em uma nova era: foi reestruturado para se tornar o

principal centro mundial de desenvolvimento e integração de tecnologias disruptivas da indústria sucroenergética, capaz de vencer o desafio de dobrar, de maneira economicamente sustentável, a taxa de inovação do setor. Em seus 47 anos, o CTC deixou sua marca no desenvolvimento da cana-de-açúcar no Brasil. Nesse período, a produtividade da cultura aumentou cerca de 40% e a agroindustrial saltou de 2.600 litros para mais de 7.000 litros de etanol por hectare, enquanto o custo de produção caiu de cerca de R$ 3 para menos de R$ 1 por litro. O CTC responde por cerca de 60% da cana-de-açúcar moída na região Centro-Sul do Brasil.  SAIBA MAIS

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FOTO: FELIPE LESSA

agricultores, funcionários e consumidores e garantem produtos com mais qualidade. Em comum, as duas empresas, além da inovação no ramo do agronegócio, também são investidas do Criatec 1, fundo de investimento criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e co-gerido pela INSEED Investimentos.


1 RECICLAGEM

CATADORAS da Redesol também participaram do treinamento

FOTO: ELCIO PARAISO/BENDITA

GESTÃO INTEGRADA E

SUSTENTÁVEL

Unimed-BH capacita cooperativa de recicladores para uso de software que integra dados financeiros, contábeis e de produção

70  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

pouco contato com a informática. Além disso, não é um pacote de software fechado, que obriga a cooperativa a modificar seus processos internos para utilização. “Um dos grandes desafios dos empreendimentos de recicladores na atualidade é o incremento FOTOS: DIVULGAÇÃO UNIMED-BH

O

projeto “Cooperativa Sustentável”, desenvolvido pelo Instituto Unimed-BH, responsável pelo “Programa de Responsabilidade Social da Unimed-BH”, deu novos passos ao oferecer capacitação para integrantes de quatro cooperativas de recicladores para uso do software Catafácil. O programa une gestões financeira, contábil e de produção, contribuindo para facilitar o dia a dia dos empreendimentos de recicladores. Desenvolvido em 2007 por alunos da Universidade Federal de São João del-Rei, em parceria com recicladores de uma cooperativa local, o Catafácil tem interface extremamente amigável com os usuários que, muitas vezes, têm

CÍNTIA CAMPOS: “Nosso objetivo é colaborar com a promoção da autonomia das cooperativas”

dos processos de gestão, atendendo à demanda do mercado relativa à informatização, prestação de serviços às empresas e prestação de informações à sociedade. Nosso objetivo é colaborar com a promoção da autonomia das cooperativas e potencializar as redes de comercialização”, ressalta a gestora do Instituto Unimed-BH, Cíntia Campos. As cooperativas participantes do programa integram a Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis (Redesol): Coopersoli, no bairro Jatobá IV; Coomarp Pampulha, nos bairros São Francisco e Leblon; Cocapel (Associrecicle), no Barro Preto; e Coopemar, no bairro Jatobá. Ao todo, 20 catadores


serão capacitados até setembro. Em uma primeira etapa, de janeiro a abril, o software foi instalado nos computadores das sedes das cooperativas. A ONG Moradia e Cidadania, fundada por funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) é responsável pela capacitação. Segundo Manuel Alejandro Castañeda, representante da ONG, os recicladores estão recebendo muito bem o treinamento e já percebem, no dia a dia, as facilidades geradas. “Antes, as anotações eram feitas em cadernos ou em planilhas. Agora, os dados podem ser inseridos rapidamente e ficam armazenados no Catafácil, o que confere muita agilidade nas atividades do cotidiano. Além disso, o conhecimento adquirido poderá ser compartilhado com outras cooperativas”, explica. A INICIATIVA O projeto “Cooperativa Susten-

tável” integra o “Programa de Responsabilidade Social Cooperativista” da Unimed-BH, na linha da ação “Meio Ambiente”. Teve início em 2010 e tem possibilitado maior reconhecimento profissional para as 11 cooperativas e associações de recicladores que fazem parte da Redesol. A iniciativa é desenvolvida em etapas, com foco no fortalecimento da atuação cooperativa e da imagem institucional, contribuindo para o reconhecimento profissional dos recicladores e a geração de renda. Entre as ações já realizadas estão a criação de identidade visual para reforçar a imagem dos recicladores, aplicada em materiais de comunicação. Houve, também, a produção de uniformes, além de compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), promovendo a segurança no processo produtivo. 

FIQUE POR DENTRO Instituto Unimed-BH Uma associação sem fins lucrativos, conta com mais de 4.000 médicos cooperados e foi criado em 2003 com a missão de conduzir o “Programa de Responsabilidade Social Cooperativista” da Unimed-BH. Os projetos desenvolvidos têm na saúde sua área prioritária, mas mantêm interface com outros campos por meio de cinco linhas de ação: Comunidade, Meio Ambiente, Voluntariado, Adoção de Espaços Públicos e Cultura. Em 2015, mais de 1,4 milhão de pessoas foram beneficiadas, direta e indiretamente, pelo Programa Cultural Unimed-BH. www.institutounimedbh.com.br


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

CRAJIRU A

FOTO: MARCOS GUIÃO

neblina fria que enfeitava aquela manhã invernal sinalizava como seria o ritmo do dia. A umidade recobria o verde das folhas de minúsculas gotículas, dando vida às teias de aranha até então camufladas em meio à vegetação. Enquanto caminhava distraído pelo quintal, tinha o corpo tenso pela friagem que invadia minhas entranhas, mas assim que bati os olhos na trilha em subida, a segui instintivamente na busca de algum alívio para o frio. Não demorou e a quentura do sol que ainda se escondia da folhagem lá de baixo agora já aquecia meu corpo. Fiquei ali cismando e dei reparo nas casas da vila

CRAJIRU (Arrabidaea chica)

soltando fumaça pela chaminé, sinalizando que o café já tava em andamento. Estiquei as ideias mais um tiquim e percebi que um espaço dado como sagrado da vida na roça é o “quintal”, lugar de onde se tira de um tudo. Pode ter o tamanho que for, mas sempre enrodeia a casa do morador, que ali tem plantado seus pés de laranja, limão, mexerica, mamão, cajá-manga, banana, jabuticaba, graviola, abacate, manga e mais uma tanteira de frutas. Mas não é pomar, é quintal. Ali também medra o café, mandioca de toda qualidade, cana, feijão andu, urucum, além da horta de verdura, repleta de alfaces enormes, couve, chuchu, salsa, cebolinha e mostarda. Juntamente são cultivadas as ervas de tempero e aquelas que demandam mais atenção ou gostam de sentir a presença de gente por perto pra dar saída. Foi aí que me lembrei do crajiru, (Arrabidaea chica), tamém conhecido como pariri, trepadeira que tenho plantada há anos toda enrodilhada na copa de várias árvores de nosso quintal. Suas folhas, de um verde intenso, são finas e compridas. Mas quando secam adquirem uma linda coloração vermelho-acobreado. É assim que mais uma vez o Grande Criador se utiliza de metáforas para demonstrar a serventia de uma planta. Por isso mesmo, o crajiru mostra resultados rápidos e intensos nos casos de anemia ferropriva, até mesmo aquelas já com complicações respiratórias. Nos Gerais e na região amazônica é muito empregado como anti-inflamatório principalmente nas infecções de origem uterina, combatendo as cólicas intestinais, diarreias com resquícios de sangue, corrimento e até leucemia. A recomendação é preparar uma infusão, tomando uma xícara pelo menos três vezes ao dia, podendo até substituir a água (durante o dia) nos casos mais graves. Algumas tribos da Amazônia banham intensamente os olhos quando atacados por conjuntivite. Além disso, preparam uma pasta com as folhas para aplicar nas picadas de insetos e também pintam seus corpos com coloração vermelho bem escuro obtida da fermentação das folhas. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

UNIÃO POR CIDADES MELHORES Aliado à atuação responsável dos gestores públicos, o interesse do cidadão pelo planejamento de seus municípios pode ajudar a construir um futuro melhor para todos Luciana Morais

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las abrigam mais da metade da população mundial e respondem por 75% das emissões de carbono em todo o planeta. Até 2050, o número de habitantes vivendo nelas terá um aumento de 3,1 bilhões de pessoas. Sim. Estamos falando das cidades, territórios nos quais esse crescimento expressivo acarretará, nas próximas décadas, impactos ainda maiores sobre a infraestrutura, os serviços governamentais, os recursos naturais, os sistemas de transportes e outros aspectos essenciais à manutenção do equilíbrio ambiental e da qualidade de vida de seus moradores. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), só na América Latina 75% da população vive em áreas urbanas, o que em números absolutos equivale a 375 milhões dos 500 milhões de habitantes dessa região. E mais:

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desse total, 120 milhões já vivem abaixo da linha da pobreza. Como se não bastasse, muitos desafios enfrentados hoje pela América Latina irão se repetir, em escala ainda maior, na África e na Ásia nos próximos anos. No Brasil, a situação não é diferente. O índice de urbanização nacional foi o maior em toda a América Latina, entre 1970 e 2010. Atualmente, mais de 85% da população brasileira é urbana. A quantidade de cidades criadas se multiplicou, totalizando mais de 5,5 mil municípios em todo o país, a maior parte deles criada nos últimos 30 anos. Diante desse contexto global, cresce a consciência de que é preciso buscar novos modelos de sobrevivência e de crescimento das cidades, permitindo a transição para um padrão de desenvolvimento que seja realmente susten-

tável. E que integre, na prática, as dimensões social, ambiental e econômica e se traduza em benefícios reais tanto para a melhoria da gestão urbana quanto para o atendimento das necessidades básicas de suas populações. Nada mais justo e urgente. Afinal, é nas cidades que ocorre o consumo de praticamente todos os produtos e serviços que demandam materiais e recursos provenientes da natureza. Portanto, planejar e adotar ações para ocupar o território de forma ordenada, com equipamentos e serviços públicos de qualidade e acessível ao maior número possível de pessoas deve ser prioridade para todos os gestores públicos. PROGRAMAS DE APOIO Em 2010, a ONU-HABITAT lançou a “Campanha Urbana Mundial”, que


ENTENDA MELHOR

l O “Estatuto da Cidade” prevê que o Plano Diretor seja aprovado por lei municipal para, em seguida, tornarse instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

PROJETO MADRID RÍO No lugar de avenidas e autoestradas, mais áreas verdes e espaço para a recreação pública. Na busca da mobilidade sustentável e de um planejamento urbano integrado, a capital espanhola, Madri, se destaca pelo “Projeto Madrid Río”, responsável por revitalizar as margens do Rio Manzanares. Para integrar trechos de estradas que atravessavam o rio e as diversas construções históricas existentes na área – entre elas a Puente de Segovia, a mais antiga da cidade –, foi proposto um novo desenho urbano, integrando túneis, ciclovias, áreas de lazer, novas calçadas, fontes e quadras esportivas, que deram vida a um grande parque linear, inaugurado em 2011.

busca informar e conscientizar a população mundial sobre a necesPLANEJAMENTO URBANO: sidade de ter cidades sustentáveis, engloba concepções, planos e com pouca desigualdade e oferta programas de gestão de políticas satisfatória de serviços básicos. públicas, por meio de ações que criem Por meio dessa campanha, a harmonia entre intervenções no espaço agência desenvolve e implanta urbano e o atendimento das necessidades da população. Com o planejamento projetos especiais, com foco volurbano, são identificadas as vocações tado para assentamentos precálocais e regionais de um território, rios e aglomerados. estabelecidas as regras de Um dos destaques é a “Aliança ocupação de solo e as políticas das Cidades”, iniciativa conjunta de desenvolvimento entre a ONU-HABITAT e o Banco municipal. Mundial, que promove políticas e estratégias de desenvolvimento de moradia digna e apoia ações volta- Ethos, o PCS é uma iniciativa apardas para o planejamento, a gestão tidária. Seu objetivo é sensibilizar, do solo e a reconstrução de cidades mobilizar e oferecer ferramentas atingidas por conflitos ou desas- para que as cidades brasileiras se tres naturais. desenvolvam de forma responsável Outro exemplo, em nível nacional, e ambientalmente equilibrada. é o “Programa Cidades Sustentáveis Todas as linhas de ação são es(PCS)” criado em 2011. Coordena- truturadas a partir de 12 eixos tedo pela Rede Nossa São Paulo, pela máticos (leia mais a seguir), que Rede Social Brasileira por Cidades oferecem aos gestores públicos Justas e Sustentáveis e pelo Instituto uma agenda completa de susten-

l Como parte de todo o processo de planejamento municipal, o Plano Diretor deve estar integrado ao Plano Plurianual, às diretrizes orçamentárias futuras e ao orçamento anual. Ele deve, ainda, ser elaborado com a participação efetiva de toda a sociedade. l Os 12 eixos do “Programa Cidades Sustentáveis (PCS)” são: governança; bens naturais comuns; equidade, justiça social e cultura de paz; gestão local para a sustentabilidade; planejamento e desenho urbano; cultura para a sustentabilidade; educação para a sustentabilidade e qualidade de vida; economia local, dinâmica, criativa e sustentável; consumo responsável e opções de estilo de vida; melhor mobilidade, menos tráfego; ação local para a saúde e do local para o global. l Esses eixos foram inspirados nos compromissos de Aalborg (Dinamarca), um pacto político voltado para o desenvolvimento sustentável e já assinado por mais de 650 municípios, principalmente europeus. l No site do PCS cada município tem uma página na qual apresenta os seus indicadores de desempenho, relatórios de prestação de contas e divulga as suas boas práticas. O monitoramento e a avaliação dos resultados são feitos por meio do software georreferenciado dos municípios (que inclui os indicadores, o diagnóstico e o plano de metas) e deve ser preenchido pelas prefeituras participantes. l Prefeitos de todo o país, partidos políticos e candidatos às eleições deste ano podem confirmar seu engajamento com o desenvolvimento sustentável assinando a “Carta Compromisso do PCS”. Por meio dela, os signatários se comprometem a realizar um diagnóstico do município a partir dos indicadores apresentados pelo PCS, a elaborar o plano de metas e a prestar contas das ações desenvolvidas e dos avanços alcançados por meio de relatórios, revelando a evolução dos indicadores.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE tabilidade urbana – a “Plataforma Cidades Sustentáveis”. Ela reúne um conjunto de indicadores gerais e também um banco de boas práticas, com casos exemplares nacionais e internacionais que servem como referência a ser seguida pelas prefeituras. Nesse conteúdo são ressaltadas, ainda, as políticas públicas que já apresentam bons resultados em todas as áreas da administração municipal. A proposta é mostrar que é possível fazer diferente, incentivando as transformações necessárias nas lideranças políticas para um presente melhor, sem inviabilizar o futuro das próximas gerações.

O objetivo final do PCS é fazer com que as informações reunidas em sua plataforma – atualizadas e precisas –, sejam poderosos instrumentos de gestão. Atualmente, mais de 280 municípios já aderiram ao PCS, incluindo 22 capitais brasileiras. No âmbito legal, o Brasil conta com o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de julho de 2001). Ele regulamenta o capítulo “Política Urbana” da Constituição Federal e se destina a salvaguardar o direito de todos os cidadãos às oportunidades que a vida urbana lhes oferece. O estatuto também define as diretrizes a serem

DESENHO URBANO: atividade que visa à transformação das formas urbanas e de seus espaços, trabalhando a aparência, a disposição das construções e as funcionalidades dos municípios. É um eficiente instrumento para reduzir os impactos negativos que a urbanização desequilibrada provoca no meio ambiente e tem papel estratégico nos projetos de integração regional.

seguidas pelos municípios ao elaborarem as suas políticas urbanas, visando à estruturação de cidades mais justas, sustentáveis e organizadas.

PLANEJAMENTO URBANO / DICAS DE GESTÃO POLÍTICA DE ADENSAMENTO URBANO: promoção de políticas que especifiquem o adensamento das áreas urbanas já consolidadas, evitando que a cidade se expanda ainda mais em seu território. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: restauração de espaços urbanos degradados por meio da implantação de políticas públicas que visem à qualidade de vida, à sustentabilidade e à criação de áreas multifuncionais e criativas para o convívio coletivo. POLÍTICA DE URBANISMO VERDE: incentivo ao plantio e à distribuição de árvores ao longo do território municipal, especialmente para a criação de corredores ecológicos e a consolidação de um urbanismo verde que reflita positivamente na qualidade do ar, no clima e no bem-estar social. PROGRAMA DE CONSTRUÇÕES PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS: implantação de projetos de construção civil que solucionem problemas ambientais relacionados à atividade desse setor. Um dos caminhos possíveis é a concessão de selos verdes a empreendimentos que adotem mão de obra e materiais locais; aproveitem resíduos sólidos nas obras; empreguem técnicas e materiais que levem à redução do consumo energético; usem madeira certificada; priorizem materiais não tóxicos; captem e utilizem água da chuva para reduzir o consumo 76  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

de água tratada; construam telhados verdes, com vegetação no topo do edifício, o que contribui para a regulação climática no interior do prédio e atrai pássaros, entre outras características arquitetônicas sustentáveis. MOBILIDADE URBANA INTEGRADA E SUSTENTÁVEL: redesenho do espaço urbano de forma a priorizar o transporte não motorizado – a exemplo das caminhadas e do uso de bicicletas – e o integre às diferentes redes de condução pública (ônibus, metrô e trens), a fim de reduzir a circulação de carros particulares. Essa iniciativa, se adotada em grande escala, restringe a emissão de gases de efeito estufa, os custos ambientais, o desgaste das malhas rodoviárias e incentiva o emprego de energias renováveis e menos poluentes.

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Sites ONU-Habitat, Programa Cidades Sustentáveis, Instituto Ethos e Ministério das Cidades.


FOTO: ARQUIVO PESSOAL

TRÊS PERGUNTAS PARA...

LÚCIA CAPANEMA ALVES

Professora da UFF, mestre e doutora em Planejamento Urbano e Regional

“ESTAMOS TODOS NO MESMO BARCO” A urbanização em larga escala aumenta os desafios de atender a demanda por serviços de primeira necessidade, tais como fornecimento de água/ saneamento, energia, moradia, assistência médica, ensino e transporte. Em sua avaliação, como as prefeituras brasileiras têm, de forma geral, lidado com essa realidade? Há avanços reais e/ou exemplos positivos? Em primeiro lugar, é preciso situar a demanda por serviços urbanos no nosso quadro social dual e altamente injusto. Nos países de terceiro mundo, e no Brasil de forma contundente, temos uma demanda reprimida por serviços básicos para os mais pobres, que muitas vezes sequer é mapeada, e outra demanda da classe média que faz barulho e se torna preocupação política. Nesse quadro, avançamos muito pouco ou quase nada. Alguns poucos exemplos são as ciclovias de São Paulo, capital, e a implantação de infraestruturas verdes, como no caso da sub-bacia do Córrego Bananal, também em São Paulo. Considerando essas mesmas demandas urbanas, qual considera ser a chave para uma abordagem holística capaz de tornar as cidades brasileiras mais sustentáveis? É necessária uma mudança radical no nosso paradigma

cultural, uma mudança civilizatória que volte a entender o mundo como physis (do grego: o corpo, a alma, o ambiente são partes de um todo indissociável); estamos todos no mesmo barco e não é mais possível entender desenvolvimento como crescimento do sistema, aliando-o à ideia de aumentar o consumo planetário indefinidamente para manter as bases do capitalismo. Mas isso toca fundo nas questões do consumo e da mídia que nos fazem crer na felicidade do “ter”. Como diz o professor Ignacy Sachs, o ambiente é a base, a economia é o meio e o fim só pode ser o social. E os cidadãos, como acredita que eles podem interferir positivamente no destino de suas cidades? Em nenhum lugar do mundo, na história conhecida, uma mudança civilizatória começou de cima para baixo. O povo, a somatória dos cidadãos, é o verdadeiro guardião da cultura e só ele pode inverter a lógica consumista em que vivemos. Teremos todos que nos perguntar a cada dia se precisamos daquele celular novo, se o que escolhemos como fontes de informação realmente condiz com nossos valores e se nossos valores são aqueles que farão nosso mundo melhor. Desde os atos mais cotidianos como o destino do papel de bala e a forma como nos relacionamos com o outro até o nosso interesse pelo planejamento e a gestão das nossas cidades. 

Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!

Nós apoiamos essa ideia! JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  77


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AS PEGADAS DE LUND (FIM)

A EXTINÇÃO O que aconteceu há 11 mil anos é um aviso profético: formas de vida magníficas foram dizimadas em consequência das mudanças climáticas provocadas pela atividade humana. É o que você confere neste último capítulo da série Cástor Cartelle

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o longo da história da vida, espécies sem conta se extinguiram, gota a gota, como depósito esvaziado por torneira mal fechada. Em algumas ocasiões é como se o cano arrebentasse e a água saísse aos borbotões: numerosas espécies, quase que poderíamos dizer repentinamente, desapareceram. Nesses casos haveria um denominador comum àquelas que abandonam o palco da vida: a incapacidade adaptativa a novas circunstâncias. O desaparecimento e o surgimento de espécies parcimoniosamente (gota a gota) são como que lei biológica, acontecimento continuado. Na maioria das vezes, elas surgem, chegam ao máximo, atingem o ocaso e alguém surge ocupando o espaço deixado. Nessas ocasiões, o surgir ou desaparecer é sem alardes, natural e imperceptível. O fenômeno ocorre em sequência: sucessão de mudanças. Como o dia no qual o amanhecer, imperceptivelmente, se torna Sol radiante, depois entardece para, finalmente, mergulhar na noite. Mas enquanto deslizam as horas, minuto a minuto, não se percebem as mudanças sutis. Só comparando horários distantes. O desaparecimento abrupto de espécies (água aos borbotões), sem reposição, foi constatado não poucas vezes na história da vida. No Permiano (há 250 milhões de anos, aproximadamente) a vida na Terra esteve por um fio: há 78  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

Protopithecus brasiliensis

quem calcule que em volta de 96% das espécies se extinguiram. A causa principal seriam flutuações no nível dos mares? Há 70 milhões de anos (Cretáceo) lá se foram os dinossauros. Foi indicado como principal culpado um meteorito. A catástrofe levou juntos, também, os pterossauros, répteis marinhos, invertebrados... Mas o meteorito não teve competência para eliminar outros répteis, aves e mamíferos... Por que estes teriam sobrevivido à catástrofe? Se é que ela foi a causa do desaparecimento de todos os dinossauros (gigantes, médios e pequenos). Nesse período temporal ocorreram mudanças como a substituição da flora predominante de gimnospermas pelas angiospermas e nos mares o predomínio dos peixes teleósteos. As espécies que desapareceram eram muito especializadas. E quando isso ocorre... elas tornam-se frágeis diante das variações. Na América do Sul, enquanto se manteve como ilha, grande quantidade de espécies de mamíferos desapareceu e outras as substituíram: a vida expandiu-se em enorme variação sempre renovada. Mas há 11 mil anos deu-se uma extinção, poderíamos dizer, maciça, aos borbotões: só na área que hoje corresponde ao Brasil sabemos que em volta de 60 espécies de mamíferos se extinguiram. O que aconteceu? Sendo um fenômeno mais próximo de nós do que os anteriormente cita-


FOGO E NOVO MUNDO A primeira causa tem os humanos como protagonistas. A extinção teria acontecido quando o homem chegou à América, seja pela sua atuação direta como caçador ou indireta, pela chegada de novos predadores ou pelas modificações introduzidas no meio em que habitava, incluindo o fogo. O que teria levado o homem primitivo a ser tão seletivo que se dedicou a eliminar preferencialmente animais de grande porte? A hipótese do “homem pré-histórico exterminador” carece de fundamentação no nosso continente. Os sítios arqueológicos mais antigos da América do Sul mostram que os habitantes primitivos tiveram como estratégia alimentar a caça generalizada de mamíferos de pequeno e médio porte, que ainda sobrevivem, assim como vegetais, que eram fartos. O cardápio animal era completado principalmente com aves, peixes, tartarugas, lagartos e moluscos. Por outra parte, na época do descobrimento há quem calcule que o número de habitantes na Terra Brasilis estaria por volta dos dois milhões. Certamente, muito mais do que quando o homem descobriu e se estabeleceu nesse território há mais de 11 mil anos. Admitamos esse número. Não há nenhum registro que permita atribuir a extinção de qualquer espécie animal a populações indígenas desde o descobrimento até a atualidade. Como poderia, em menos de mil anos, um punhado de habitantes espalhado por imenso

território, sem armas nem tecnologia apropriadas, modificar ambientes e extinguir pela caça indiscriminada mais de meia centena de espécies? E nelas encontravam-se, precisamente, as de maior porte. Infelizmente, a modificação de ambientes e a caça indiscriminada são uma característica do homem moderno e até hoje, miraculosamente, mesmo com perseguição desenfreada à fauna e transformações ambientais às vezes absurdas, poucas são as espécies extintas em nosso território no período histórico. A PESTE MEDIEVAL Quanto à modificação do meio que poderia ter sido realizada pelo homem primitivo, a principal intervenção teria acontecido pelo fogo. No Cerrado brasileiro, a existência desse fenômeno tornou-se natural, pois constata-se que não poucas espécies vegetais desse

ecossistema estão adaptadas a essas circunstâncias. Os incêndios provocados pelo homem no passado, certamente, foram menores do que os que surgiram naturalmente e do que os provocados na atualidade. Há mais de 100 anos que o Brasil arde sistemática e desenfreadamente. E nessas brasas insensatas nenhuma espécie de mamífero foi consumida. Até hoje. Uma outra hipótese que explicaria a extinção pleistocênica é a de epidemias que dizimaram a fauna. Teriam sua origem no continente norte-americano e sua introdução poderia dever-se tanto aos humanos quanto aos animais migrantes que participaram do grande intercâmbio faunístico americano. Nem a peste medieval conseguiu eliminar uma única espécie como o homem. Qual a zoonose sem fronteiras que poderia ter atacado grande quantidade de espécies até levá-las à extinção? FOTOS: REPRODUÇÃO

dos, é possível obter-se, com mais segurança, uma interpretação ou a procura de causas que provocaram tamanha catástrofe biológica. Três são as principais causas apontadas para esse fenômeno: o homem exterminador, doenças ou fenômenos climáticos.

CRÂNIO infantil com traços australo-africanos

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AS PEGADAS DE LUND (FIM)

FOTO: REPRODUÇÃO

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“A extinção é irreversível. A vida extinta não tem videotape: vida que se foi, retorno não tem.” A amplidão territorial, as barreiras naturais e a quantidade de espécies diferentes desaparecidas não tornam plausível tal hipótese. Além disso, no final do Pleistoceno, os imigrantes foram quantitativamente insignificantes. Quais possíveis doenças poderia o homem transportar para atingir tão grande número de espécies animais? Resta uma terceira hipótese como causa principal para explicar a extinção do Pleistoceno final: a climática. Na análise das espécies pleistocênicas extintas do Brasil, até há pouco tempo, eram identificadas aquelas encontradas no nosso território como sendo idênticas às da Argentina. Os achados de fósseis de mamíferos brasileiros, em maior quantidade, realizados ultimamente permitem identificações mais precisas. O que levou a várias conclusões. Uma delas: as espécies de grande porte que se extinguiram pastavam em campo aberto ou habitavam na periferia de mata. Os predadores que desapareceram eram, também, de campo aberto e teriam suas presas preferenciais nos animais extintos. Uma segunda conclusão foi a de perceber-se que ocorreram em simpatria, isto é, no mesmo território, espécies austrais, típicas de regiões com climas frios, e espécies intertropicais afins. Essas espécies teriam hábitos similares ou idênticas necessidades alimentares. Também foram identificadas espécies que não deveriam estar em latitudes tropicais, uma vez que seu hábitat é, ainda hoje, em 80  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

UMA das hipóteses para a extinção de espécies no Pleistoceno é a climática

territórios onde o clima é mais frio. Finalmente, as espécies herbívoras ou predadoras sobreviventes eram preferencialmente de periferia de mata ou estritamente de mata. Não há nenhuma exceção. A ocorrência de um fenômeno climático “especial” no final do Pleistoceno acreditamos estar registrada em mudanças que até hoje persistem. A fauna fóssil pleistocênica encontrada ao longo do Brasil intertropical, em latitudes que abrangem da Amazônia a São Paulo, é muito homogênea e indica existência de matas e de amplo cerrado onde hoje ocorre a caatinga e até em grande parte da região amazônica. Nas regiões onde se registram achados fossilíferos em grutas calcárias, como nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso de Sul e São Paulo, percebe-se que ocorreu fenômeno climático continuado, uma vez que farta quantidade de ossadas e sedimentos foi introduzida nelas em dado momento histórico. Anteriormente defendemos o ponto de vista de que o principal “for-

necedor” de carcaças de futuros fósseis para as grutas foi o regime fluvial, que as inundava e carreava, vez por outra, animais mortos. É nas inundações que as águas, traiçoeiramente, podem surpreender animais localizados nas margens de rios. Lund e outros pensaram que carnívoros introduzissem suas vítimas no interior das cavernas. Se carnívoros ou animais penetrassem nas grutas levando seus despojos ou nelas se perdendo, não haveria razão para que elas não conservassem um registro completo da fauna desde, pelo menos, o Pleistoceno até hoje. O que não ocorreu. Acidentalmente, e na região de penumbra, poderia acontecer a presença de animais, assim como alguns adentrarem e não conseguirem fazer o caminho de volta. TURISMO FORTUITO A explicação que surge como a mais provável para interpretar as anomalias biogeográficas relatadas é a climática: o território intertropical brasileiro foi, na realidade, o refúgio de numerosas espécies que até ele chegaram,


O homem moderno é a única espécie capaz de modificar o hábitat que ocupa

ralmente houve acontecimentos concatenados e iniciados, provavelmente, por evento climático como foi referido, que dizimaram com virulência formas de vida magníficas. O homem moderno é a única espécie capaz de modificar o hábitat que ocupa. Ele semeia ventos de tempestade que podem levar a mudanças no meio não mais por causas naturais. Elas ocorreriam em consequência da atividade humana: poluição crescente do ar; desequilíbrio da mistura de gases na atmosfera. Rios drasticamente modificados seja no percurso ou no conteúdo; florestas arrancadas; mares esvaziados de vida pelo excesso de pesca. Exagero absurdo das monoculturas, quase sempre exóticas; incêndios virulentos sem conta provocados por Neros ressuscitados. Criação de espécies para consumo humano que ultrapassam em número de espécimes qualquer limite natural. Extração de matérias-primas que acabarão por modificar a superfície do planeta. Contaminação e consumo descontrolados de água potável; desequilíbrios na temperatura. Monta-

nhas de dejetos imprestáveis que provocam inveja ao Everest... Um resumo de tudo isso é o sádico estoque de armas nucleares com capacidade sobrada de destruir, num piscar de olhos, o planeta Terra. Muitas vezes. Riqueza absurda. Uma segunda aniquilação seria impossível. Tudo, até o excesso de bombas, teria acabado. Qual o limite de tolerância-resistência da paciente e, até agora tolerante, Mãe Terra? Como doloridamente testemunhamos no livro “Das Grutas à Luz” e nas quatro partes desta série publicada na Revista Ecológico, a extinção é irreversível. A vida extinta não tem videotape: vida que se foi, retorno não tem. Tragédia irônica, kafkiana seria aquela na qual o único ser pensante, entre os 30 milhões de espécies diferentes que compartilham o planeta, fosse o responsável pelo apocalipse. Final.  Apoio cultural:

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expulsas das regiões originais devido às temperaturas muito baixas e que se tornaram inabitáveis. A diminuição de temperatura teria provocado o aumento da pluviosidade responsável pelas inundações do final do Pleistoceno. Uma espécie isolada fora de contexto não é, por si só, argumento seguro. Outra coisa é constatar-se exceções na quantidade relatada. Há 11 mil anos ocorreu algo mais do que turismo fortuito. A mudança climática teve uma grande influência na composição florística. Seria causa indireta da extinção. Houve um decréscimo de pastagens que tornou inviáveis espécies pastadoras, as quais consumiam grande quantidade de alimento. A escassez deste deveu-se à diminuição das áreas de pastagens, com o aumento da Caatinga e das matas Atlântica e Amazônica, ou/e à diminuição de produtividade, causada pelas mudanças no regime de pluviosidade. As chuvas ter-se-iam concentrado em certos períodos anuais, como hoje ocorre, em vez de se prolongarem por períodos mais dilatados. Essa diminuição de pastagens teria levado à extinção numerosas espécies que pastavam em campo aberto e seus predadores. De fato, somente sobreviveram as espécies de periferia de mata, com dependência da água e as de floresta. A morfologia de muitas das espécies que se extinguiram manifesta que elas eram privilegiadas para enfrentar predadores e sobreviverem. A não sobrevivência delas ocorreu por outros motivos e não por eliminação provocada pelo aumento de carnívoros que migraram do Norte no grande intercâmbio faunístico americano. Nem pelo homem caçador ou por zoonoses. O que aconteceu há 11 mil anos é como que um aviso profético vindo do tempo passado. Natu-


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1 GESTÃO DA ÁGUA

SOB A LIDERANÇA de Jorge Samek, Itaipu reuniu instituições e especialistas premiados: “Não existe Plano B para o planeta”

UMA REDE DO BEM

Reunidos em Itaipu, representantes de boas práticas em água premiados pela ONU lançam plataforma e propõem novas alianças de cooperação para a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável/Agenda 2030 Luciana Morais (*) De Foz do Iguaçu (PR)

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ão poderia haver cenário mais emblemático para tratar de temas que mais mobilizam a humanidade: a proteção e a gestão responsável dos recursos hídricos. Afinal, habitamos um planeta cada dia mais ameaçado pelas mudanças climáticas e onde a água não potável e a falta de saneamento matam e adoecem mais pessoas, por ano, do que todas as guerras e formas de violência juntas. Foz do Iguaçu, no Paraná – cidade mundialmente famosa por suas belezas naturais superlativas, como as colossais Cataratas e o seu Parque Nacional, que 82  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

abriga o maior remanescente de floresta Atlântica da Região Sul do Brasil –, foi o palco escolhido para um encontro destinado a catalisar novos esforços em prol da conservação hídrica e da prosperidade humana e planetária. Durante dois dias, representantes de projetos premiados pela ONU como as melhores práticas de gestão da água no mundo – por meio do Prêmio Water for Life (Água para a vida) – e especialistas de diferentes instituições e países estiveram reunidos no Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Juntos, eles debateram os desafios ligados à implementação dos

17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030, conjunto de metas globais a serem cumpridas nos próximos 15 anos (leia mais a seguir). PLATAFORMA VIRTUAL Os projetos apresentados integram a Rede Global de Gestão Participativa da Água, criada em 2015. A novidade anunciada por Lupércio Ziroldo Antônio, presidente da Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas (Rebob), foi a plataforma virtual [www.boaspraticasnasaguas. com] criada para congregar e amplificar a divulgação de tais


FIQUE POR DENTRO Recorde A Itaipu Binacional registrou o melhor semestre de sua história. A usina produziu, de 1º de janeiro até 30 de julho, 51.637.234 megawatts-hora (MWh), superando em 1,5 milhão de MWh o recorde anterior, registrado em 2012, quando foram gerados 50,1 milhões de MWh no mesmo período. Aos 32 anos de operação, Itaipu segue rumo a mais uma marca histórica, com 100 milhões de MWh até o fim deste ano, reafirmando a sua posição como a maior hidrelétrica produtora de energia limpa e renovável do mundo.

iniciativas. “Nesse nosso mundo globalizado, temos que atuar fundamentalmente com cooperação e interdependência. Ninguém mais vive sozinho, é preciso integrar ideias, soluções e ampliar o intercâmbio de experiências e saberes.” Ziroldo lembrou que o Brasil tem cerca de 280 organismos e comitês com a participação direta da sociedade na gestão da água. “Só comitês de bacia hidrográfica são mais de 230. Um crescente movimento de representação social que mobiliza quase 100 mil pessoas.” Não por acaso, um dos principais objetivos dessa Rede Global é fazer com que as iniciativas premiadas pela ONU inspirem ações semelhantes e sejam replicadas mundo afora, com foco voltado para a ação local do cidadão em prol de seus cursos d’água. Um dos destaques da nova plataforma, que será incrementada aos poucos e traz informações em diferentes idiomas, é um link com a indicação de fontes para o financiamento de projetos. “Há inúmeras ações

positivas sendo promovidas em diversos países, mas em muitos casos as pessoas não têm conhecimento nem acesso às fontes de financiamento para os seus projetos. Vamos indicar caminhos, disponibilizar formulários e meios de contato com essas fontes”, frisou Ziroldo. FORÇA DO EXEMPLO Números e estatísticas apresentados durante os painéis de debate em Foz reacenderam o sinal de alerta em relação à importância da água para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade. Entre eles, o fato de esse tesouro líquido vital estar presente em nada menos que 80% dos processos produtivos globais. Calcula-se, ainda, que 6% do PIB mundial será afetado, até 2050, por problemas relacionados à escassez hídrica. Anfitrião do encontro, o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, listou os principais usos da água, ressaltando o seu papel decisivo na geração de energia. Ele destacou que 70% desse recurso natural disponível no mundo é usado na agricultura, enquanto 76% das energias globalmente produzidas são consumidas nas cidades. “Vivemos um tempo de grandes avanços tecnológicos no qual praticamente tudo tem backup e pode ser substituído. Mas, no

caso da Terra, não. Não temos um plano B. Por isso, costumo dizer que essa rede global é uma rede do bem. Pois reúne pessoas preocupadas em transformar a sua realidade para melhor e, acima de tudo, empenhadas em dar sustentabilidade efetiva à nossa casa única comum.” Enfático, Samek completou: “Os bons exemplos têm força. Estamos compartilhando aqui ideias e iniciativas que coincidem com o que acreditamos e praticamos. E buscando construir, a partir do território de Itaipu, um mundo melhor para todos.” MERENDA LOCAL Superintendente de Meio Ambiente de Itaipu, Jair Kotz apresentou os resultados alcançados com o programa Cultivando Água Boa (CAB). Criado em 2003, ele contempla 20 subprojetos que envolvem e beneficiam comunidades de 29 municípios do Oeste do Paraná. Um território que tem aproximadamente um milhão de habitantes e 800 mil hectares de área. Vencedor do VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza/2016 – promovido pela Revista Ecológico –, o CAB está presente em 217 microbacias, onde promove ações de proteção e recuperação de nascentes, adequação de estradas, conservação de solos, destinação

NELTON FRIEDRICH e a lembrança de Tom Jobim: “As águas de março não fecham mais o verão”

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1 GESTÃO DA ÁGUA

JIM TAYLOR e a miniSASS: “Com esta ferramenta simples qualquer pessoa pode monitorar a saúde do seu rio”

correta do lixo e melhoria do saneamento. Para Kotz, quando se trata da aplicação dos ODS é essencial estabelecer uma conexão permanente entre o global e o local. “Não alcançaremos a sustentabilidade territorial se as pessoas não se derem conta de que nossas ações e escolhas diárias impactam o planeta como um todo. Se por um lado contribuímos para a problemática global, por meio das mudanças climáticas e de impactos sobre os recursos hídricos, por outro temos nas mãos a chance de ser protagonistas na construção de um futuro mais seguro e digno para todos.” Como exemplo concreto, ele citou a atuação de Itaipu e de parceiros num projeto de fornecimento de merenda escolar com produtos da agricultura familiar local. “Hoje, 60% da merenda é produzida no próprio município, sendo 38% dela de forma orgânica.” REPENSAR A PRÁTICA Com sua fala sempre vibrante, o diretor de Coordenação de Itaipu, Nelton Friedrich, sintetizou: 84  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016

“Quanto mais microscópica e local for uma iniciativa multiplicadora, melhor ela se torna. Afinal, o maior desafio em relação aos ODS/Agenda 2030 é aterrissar no cotidiano das pessoas, incentivando e apoiando a sua ação transformadora local.” Para ele, a adoção de novos valores, comportamentos e atitudes – aliada a novos padrões de produção e de consumo – é uma das chaves para superar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, cujos alertas já reverberam pelo planeta. “As mudanças no clima impactam o ciclo da água e afetam as populações mais vulneráveis. No Brasil, elas já contradizem os versos de Tom Jobim (1927-1994): as águas de março não fecham mais o verão. Chegam mais cedo ou mais tarde, e geralmente de forma trágica, causando impactos nunca antes vistos.” Otimista, Friedrich fez questão de destacar também, em tom esperançoso, os recentes investimentos do Brasil em projetos de geração de energia eólica. Mencionou, ainda, iniciativas voltadas para a melhoria da mobilidade

FIQUE POR DENTRO  Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram definidos em negociações entre os paísesmembros da ONU após a Conferência Rio+20 e estão assim agrupados: erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e acessível; trabalho decente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; redução das desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ação contra a mudança do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça e instituições eficazes e parcerias e meios de implementação.  A Agenda 2030, por sua vez, constitui uma série de compromissos que os mesmos países-membros precisam cumprir, em relação aos ODS, até 2030. Essa foi a segunda vez que os representantes das iniciativas premiadas pela ONU-Água se reuniram em Foz do Iguaçu. A primeira foi em setembro do ano passado, quando foi oficialmente criada a Rede de Gestão Participativa da Água.

urbana, tais como a construção de ciclovias em inúmeras cidades do país, bem como a concessão de descontos e isenção fiscal para quem investe em construções ecologicamente corretas. “Não basta mudar o jogo. É preciso ir além e entender o novo jogo que precisa ser jogado, abrindo caminho para o surgimento de uma nova civilização planetária. Como nos ensinou o educador Paulo Freire (1921-1997), a prática de pensar a nossa prática é a melhor maneira de pensar certo.”


Experiências internacionais Durante o encontro, que também reuniu representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Unesco, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Programa Hidrológico Internacional, Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e Agência Nacional de Águas (ANA), Engracia Tamaña, representante das Filipinas, apresentou o projeto de revitalização dos rios Las Pinas e Zapote. Lá, o plantio de diferentes espécies de bambu foi a saída encontrada para conter a erosão nas margens e ajudar a despoluir esses dois cursos d’água. O processo de revitalização ambiental também levou ao fomento da produção de adubo orgânico, feito com re-

síduos e sedimentos retirados dos rios, que é usado por fazendeiros e agricultores da região. Apostando no que chamou de ‘ciência cidadã’, Jim Taylor, diretor de Educação Ambiental da ONG sul-africana Wessa, apresentou o miniSASS [www.minisass.org]. Trata-se de uma ferramenta simples e que pode ser usada por qualquer pessoa, em diferentes cantos do mundo, para fazer o biomonitoramento da qualidade da água e da saúde de um rio. “Basta recolher amostras de macroinvertebrados (insetos aquáticos comuns, tais como libélulas e besouros) e, dependendo de quais grupos são identificados no local, com base na análise de uma folha de referência com os desenhos dos insetos, tem-se uma medida da situação do curso d’água.” A pontuação abrange cinco categorias e varia de saudável (cor azul) até pobre/modificada (vermelha). Com o apoio da direção do Parque Nacional, Jim foi ao Rio Iguaçu com alguns participantes do encontro e testou em campo o miniSASS. O resultado foi azul: ou seja, o rio está saudável e em seu estado natural. Que assim seja e permaneça: para o bem da atual e das novas gerações. Afinal, como escrevi na primeira reportagem que fiz sobre as Cataratas do Iguaçu, anos atrás: “Quem acredita em Deus sente a presença Dele em toda parte. Mas lá, diante da imensidão das Cataratas, é como se Ele nos tocasse o ombro e dissesse: – Olha o que Eu criei para você. Ainda duvida da minha existência?” (*) A repórter viajou a convite da organização do evento.

SAIBA MAIS

www.boaspraticasnasaguas.com www.itaipu.gov.br Pescador apoiado pelo Cultivando Água Boa: não falta peixe no lago de Itaipu...

...nem água nas cataratas de Iguaçu, onde a presença do Deus natural é mais sentida


1 TERRA BRASILIS

S.O.S.

ATLÂNTICO

Mais recente “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica” recoloca Minas Gerais pela sexta vez no topo da lista de estados que mais (des)matam o bioma Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: DANIEL BELTRÁ \ GREENPEACE

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uando nasci, há 37 anos, Minas Gerais era mais verde. Com a licença poética de Gonçalves Dias, Drummond e Cora Coralina, minha terra tinha mais buritis, onde cantavam os sabiás. Minha terra tinha mais água, e perto dela tudo era feliz. E meu povo preferia ter 100% de consciência ambiental no coração e na alma aos 100% de ferro ou aço que hoje têm os machados e motosserras (e as mentes insustentáveis) que dilaceram as árvores de nosso estado. Foi com menos esperança nos passos e mais tristeza nos ombros que todos nós, mineiros e brasileiros, recebemos a notícia de que Minas voltou a liderar a lista de estados que mais desmatam a Mata Atlântica. Simples assim. E tão doloroso quanto. Toda a destruição dos remanescentes do bioma que sofridamente ainda pinta de verde a “caixa d’água do Brasil”, depois da queda nos níveis de desmatamento registrada no período 2013/2014, novamente veio fazer parte da realidade do nosso ser e viver mineiros. É o que apontam os novos dados do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), que abrange 2014/2015.

O estudo mostra que, no período, 18.433 hectares, ou 184 km², de remanescentes florestais nos 17 estados da Mata Atlântica foram desmatados - um aumento de 1% em relação ao período anterior (2013-2014), quando foram registrados 18.267 ha. Este 1%, no entanto, não é pouca coisa: é o mesmo que 184.330.000 m2 ou mais de 25.800 campos de futebol! Em Minas Gerais, 7.702 hectares de área verde atlântica foram ceifados, índice 37% maior do que o registro anterior. Estão incluídos neste número as consequências da maior tragédia socioambiental da mineração brasileira: o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em 05 de novembro passado. Na cidade histórica de Mariana, que teve vários distritos soterrados, dos 258 hectares de Mata Atlântica devastados, 65% deles (169 ha) foram destruídos pela lama. Durante a visita do ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho, a Mariana no início de junho – também registrada na edição anterior da Revista Ecológico - a Fundação SOS Mata Atlântica entregou relatórios de desmatamento do município e da qualidade da água do Rio Doce ao ministro e ao prefeito da cidade, Duarte Júnior, além de outras autoridades locais. Os mapas mostram que o rompimento da barragem foi o maior desastre


FIQUE POR DENTRO

A Mata Atlântica está distribuída ao longo da costa brasileira, nas regiões Sudeste e Sul, atingindo ainda áreas da Argentina e do Paraguai. De acordo com o Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428, o bioma abrangia originalmente 1.309.736 km2 do nosso território. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 estados: PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS. Nessa extensa área vivem atualmente mais de 72% da população brasileira.

PANORAMA NACIONAL O desmatamento do bioma, que hoje só tem 12,5% de sua

cobertura vegetal original, aumentou em todo o país. Fora dos limites de Minas, o Atlas reforça que a devastação vem dando passos largos em alguns locais. Mas também há boas notícias. “Em termos gerais, os dados mostram pontos de atenção neste último período. Houve uma queda no número de estados no nível do desmatamento zero e um aumento total de 1% do desmatamento no país, em comparação à queda de 24% no período anterior. Isso mostra que é preciso reforçar as políticas de proteção do bioma, em compromissos como o que firmamos com os secretários de Meio Ambiente dos 17 estados [leia mais a seguir]. Esta e outras ações fazem parte de uma agenda estratégica para evitar retrocessos na conservação dos 12,5% de Mata Atlântica que ainda restam no país”, afirma Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica. A vice-liderança do ranking ficou com a Bahia, berço do Brasil, com 3.997 hectares desmatados, 14% a menos do que o período anterior. Já Piauí, campeão de desmatamento do período 2013/2014 FOTO: GUSTAVO PEDRO

ambiental já ocorrido na Mata Atlântica mineira. Em nota enviada à Ecológico, a Semad afirmou que “o desmatamento da área remanescente da Mata Atlântica, em Minas Gerais, é apurado pela SOS Mata Atlântica e pelo Inpe com metodologia própria. Minas é o estado que possui a maior área remanescente de Mata Atlântica do país”. Sobre as medidas adotadas para reduzir o desmatamento no bioma, a secretaria destacou “o fomento florestal para a recuperação das áreas degradadas e a fiscalização ostensiva para coibir o desmatamento ilegal. No ano de 2015, a Semad realizou grandes operações especiais tendo como foco as intervenções sobre florestas nativas, a fim de frear o desmatamento na Mata Atlântica”. E que está “permanentemente atenta à questão do desmatamento do bioma, implementando ações que objetivam não somente coibi-lo mas também recuperar as áreas já devastadas”.

A MATA ATLÂNTICA perdeu mais de 87% de sua cobertura original

MÁRCIA HIROTA: “É preciso evitar o retrocesso”

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1 TERRA BRASILIS caiu para o terceiro lugar após re- estados haviam conquistado duzir o índice em 48% (de 5.626 o nível de desmatamento zero ha para 2.926 ha). (menos de 100 hectares de desO município de Alvorada do florestamento). Na versão atual, Gurguéia (PI) foi o responsável foram sete: São Paulo (45 ha), pela maior área verde destruída Goiás (34 ha), Paraíba (11 ha), entre todas as cidades do Brasil. Alagoas (4 ha), Rio de Janeiro (27 No período analisado, foi identi- ha), Ceará (3 ha) e Rio Grande do ficada uma redução florestal de Norte (23 ha). 1.972 hectares. Baianópolis (824 A meta do desmatamento zero ha) e Brejolândia (498 ha), ambas no bioma foi reforçada durante o na Bahia, vêm logo atrás, com “Viva a Mata 2016”, evento realias mineiras Curral de Dentro zado pela SOS Mata Atlântica no (492 ha), Jequitinhonha (370 ha), Rio de Janeiro (RJ) e integrado Águas Vermelhas (338 ha), Pon- pelo “II Encontro dos Secretários to dos Volantes (208 ha) e Pedra de Meio Ambiente dos Estados Azul (73 ha) na sequência. da Mata Atlântica”. O estado que registrou maior Com a incorporação de reporcentagem de crescimento da presentantes de Goiás e Mato área desmatada foi Paraná, com Grosso do Sul, foi criada a carassustadores 116%. Saltou de 921 ta “Nova História para a Mata hectares destruídos para 1.988 ha Atlântica”, agora com a assina última atuanatura de 17 lização da SOS secretários e São Paulo, Goiás, Mata Atlântica re p re s e n t a n Paraíba, Alagoas, Rio e do Inpe. tes de estados O Atlas ainda abrangidos de Janeiro, Ceará e revela outras pelo bioma, Rio Grande do Norte informações em um compreocupantes. promisso coleforam os estados que As florestas com tivo que prevê registraram os araucária voltaa ampliação menores índices de ram a ser derda cobertura rubadas, sendo vegetal natidesmatamento 89% (1.777 ha) va e busca do do total de desdesmatamenflorestamento apenas no Paraná. to ilegal zero no bioma até 2018. Hoje, 3% das florestas que abrigam “Esta meta serve de exemplo a Araucaria angustifolia, espécie para que a gente antecipe tamameaçada de extinção conhecida bém compromissos firmados em também como pinheiro brasileiro, Paris, buscando metas mais amcontinuam em pé. biciosas”, ressaltou o ministro de Quando o assunto são as áreas Meio Ambiente, Sarney Filho, que de mangues, Santa Catarina capi- também participou do evento. taneou a destruição com quatro Segundo a carta, “após cinco hectares dilacerados. Já a supres- séculos tratada a ferro e fogo, a são de vegetação de restinga foi de pretexto de um desenvolvimento 680 hectares em todo o país, com que nem sempre veio, a floresCeará repetindo a liderança (336 ta que deu nome ao Brasil está ha). Piauí (224 ha), Santa Catarina pronta para contar uma histó(55 ha), Paraíba (49 ha), Paraná (12 ria diferente. E nós, secretários ha) e Rio Grande do Norte (4 ha) de Meio Ambiente dos Estados engrossam a fila de desmatadores. da Mata Atlântica, queremos ser protagonistas desse compromisDESMATAMENTO ZERO so em prol do bioma, um patriNa edição anterior do Atlas, nove mônio nacional”. 88  ECOLÓGICO | JULHO/AGOSTO DE 2016


FOTO: CAPIM FILMES / SOS MATA ATLÂNTICA

II ENCONTRO dos secretários de Meio Ambiente dos estados abrangidos pela Mata Atlântica contou com a participação do ministro Sarney Filho

E completa: “A sociedade brasileira não aceita mais o desmatamento como o preço a pagar pela geração de riqueza. Ao contrário: como descobriram os habitantes da Região Sudeste, a perda das florestas e dos serviços que prestam, como a conservação de recursos hídricos, tem impacto negativo e direto sobre a qualidade de vida dos moradores das cidades. Considerando que 72% dos brasileiros habitam a região originalmente coberta pela Mata Atlântica, preservar o que restou e restaurar o que se perdeu tornou-se uma questão de sobrevivência. E uma agenda estratégica para o país”. O documento destaca alguns caminhos para que a meta de zerar o desmatamento no bioma nos próximos dois anos. Entre elas, o pleno atendimento jurídico da Lei da Mata Atlântica (11.428/2006), por meio da criação e execução dos Planos Municipais de Mata Atlântica, assegurando a proteção dos remanescentes. Ainda há a restauração de cerca de 20 milhões de hectares desmatados ilegalmente, como prevê o Código Florestal. “O compromisso firmado consiste em implementar essas duas leis nos nossos estados, coibindo o

desmatamento e disseminando o Cadastro Ambiental Rural e os Planos de Recuperação Ambiental”, atestam os secretários, citando a moratória ao desmatamento implementada há três anos em Minas Gerais como exemplo encorajador. “Mas é preciso ir além de medidas de comando e controle: devemos usar mecanismos financeiros já existentes para bancar a conservação: usar os fundos estaduais e os de compensação ambiental; estimular a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), já que 80% da Mata Atlântica estão em áreas privadas; e implementar urgentemente incentivos previstos no Código Florestal, como o pagamento por serviços ambientais.” Como termina a carta, é preciso coragem e vontade política para inaugurar esse novo capítulo na trajetória da Mata Atlântica. E transformar o passado de cinco séculos de destruição para que nos próximos cinco ela esteja aí, viva e verde, e cheia de histórias para contar. Com mais buritis, para cantarem os sabiás. Com 100% de amor à natureza nas mentes e corações. E terra com muita água, pra gente ser feliz. 

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FOTO: LÉO LARA

1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ

YARA:“Estou documentando algo que não sei se amanhã continuará existindo”

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FOTO: SYLVIO COUTINHO

MATAS DO RIO DOCE PINTANDO A ESPERANÇA Artista convoca, pela beleza, a obrigação pátria de recuperar as matas ciliares do Rio Doce levadas pela lama e por todos nós Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ

S

FOTO: LÉO LARA

empre engajada na luta ambiental por meio do amor que sabe expressar, e com uma energia singular e impressionante pelo verde que nos resta, Yara Tupynambá, a artista natural de Montes Claros, Norte de Minas, se superou. Ou melhor, se completou, mais uma vez. O palco dessa superação, em homenagem aos seus 84 anos de idade e 60 de carreira, com a inédita exposição de pinturas da natureza, foi a Casa Fiat de Cultura, na capital mineira, de 14 de junho a 24 de julho. Com entrada gratuita, o público pôde se extasiar com quatro séries significativas de suas obras recentes, abordando os principais, frágeis e ameaçados ecossistemas que caracterizam a paisagem das Minas Gerais: “A Serra do Cipó”, “O Vale do Tripuí” e “Rio Doce”, passando também pela “Flora de Inhotim”. Mas foi na sua mostra retratando a beleza exuberante das matas atlânticas ao longo das margens do Rio Doce, cuja tragédia ambiental na região de Mariana já completa nove meses de aniversário e indignação pública, que Yara impressionou seus convidados. Seus pincéis registram, antes de atingida pelo acidente, a maravilha florística do Parque Estadual do Rio Doce, distante 248 km de BH, com área de 35.970 hectares situada na região do Vale do Aço (que já foi chamado de “a Cubatão mineira”, tamanho o grau de poluição de suas indústrias, antes do advento da consciência ecológica e legislação ambiental). Esta Unidade de Conservação, que interliga e protege os municípios de Marliéria, Dionísio e Timóteo, abriga a maior floresta tropical de Minas, também chamada de a “Amazônia Mineira” graças à existência de um notável sistema lacustre composto por 40 lagoas naturais, formadas pelo extravasamento do Rio Doce, ao longo de suas cheias históricas. Um espetáculo de rara beleza, que também seduziu a artista, impressionada pelas suas árvores centenárias e madeiras nobres de grande porte, compondo um dos poucos e maiores remanescentes de Mata Atlântica no país. Confira, nas pinceladas de Yara, o que ainda não sabemos amar nem preservar, vide o desmatamento e o despejo de esgotos históricos em toda a bacia hidrográfica do Rio Doce.

A ARTISTA planta uma muda gigante de tipuana em frente à Casa Fiat de Cultura, com direito ao chamego de José Eduardo de Lima Pereira, anfitrião do evento: "A recuperação da natureza depende de cada um de nós"

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FOTO: SYLVIO COUTINHO

“Fiquei triste com o acidente de Mariana, que levou junto tantas matas ciliares, como as que retrato aqui. Quem sabe isso vai nos fazer entender de vez que a ecologia de Deus é mais importante que a economia dos homens?”

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1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ COMO GUIMARÃES ROSA José Eduardo de Lima Pereira (*) redacao@revistaecologico.com.br

“Yara Tupynambá é uma artista, uma estudiosa, mestra, trabalhadora. Aluna de grandes mestres, transcendeu o aprendizado, metabolizando-o em nova beleza; a eles pagou sua dívida com juros e luz própria. Yara consegue conciliar a genuína simplicidade pessoal com o extremo rigor técnico. Generosa para com os outros, é duramente severa consigo mesma; mas é visceralmente intransigente com o desconhecimento dos saberes fundamentais ao exercício da arte. Estudiosa incansável, conhece profundamente a história dos fazeres de seu ofício e não se nega à partilha bondosa de seu saber. Uma grande, enorme pessoa. Muito nos alegramos de poder trazê-la ao público, no momento exato da celebração dos 10 anos da nossa instituição, pois gostamos de pensar que temos algo em comum: brasileira e universal, Yara é mineira no mesmo sentido em que o é Guimarães Rosa. Olha o mundo com o mesmo olhar de quem sabe que o rio que corre por sua aldeia é maior que qualquer outro rio.” (*) Presidente da Casa Fiat de Cultura.

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FOTO: SYLVIO COUTINHO

“É uma pena as políticas econômicas sociais não contemplarem, na mesma dimensão, a necessidade intrínseca da natureza que trazemos na alma.” Yara Tupynambá

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1 ENSAIO ARTÍSTICO: YARA TUPYNAMBÁ COMO DÁDIVA DIVINA Yara Tupynambá

redacao@revistaecologico.com.br

FOTOS: LÉO LARA

“Conviver diretamente com a beleza e a grandiosidade da natureza, que nos fazem sentir mais pertencentes ao mundo, é a grande experiência que me foi oferecida, ao trabalhar com afinco e paixão sobre esta minha exposição. Fascinada pelo que já havia visto no Vale do Tripuí, a luz filtrada entre galhos, a exuberância da vegetação que cobria o solo, o silêncio profundo só cortado pelo pio das aves, busquei entrar na floresta do Vale do Rio Doce. Entrar onde a beleza se fazia em dobro, na grandiosidade das imensas árvores e na presença das águas nas enormes lagoas cobertas de nenúfares, margeadas por altas plantas aquáticas com delicados pendões brancos. Todos os sentimentos e sensações que vivi, no tempo em que trabalhei sobre o tema, foram cristalizados nesta minha mostra, lembrando a todos que a natureza, esta dádiva divina que nos foi dada, precisa ser amada, cuidada e preservada.”

CONSIDERADA a “Primeira Dama” da arte mineira, Yara é neta de europeu e bisneta de índia da tribo dos Tupynambá. Aos 17 anos, foi aluna do mestre Guinard, em BH; e, depois, do grande gravurista Goeldi. Foi, ainda, bolsista do Pratt Institute, em Nova York. Sua figuração poética a fez produtora de centenas de quadros e murais arquitetônicos instalados no Brasil e no mundo.

SAIBA MAIS

www.casafiatdecultura.com.br casafiat@casafiat.com.br facebook.com.br/casafiatdecultura instagram: @casafiatdecultura www.circuitoculturalliberdade.com.br Telefone: (31) 3289-9000 www.yaratupynamba.com.br


FOTOS: SYLVIO COUTINHO

“As pinturas de Monet sempre me tocaram pela imponência e beleza de seus lagos. Mas, ao chegar no Parque Estadual do Rio Doce, e ver a grandiosidade de suas árvores e lagos, as águas dos quadros do mestre francês do Impressionismo ficaram pequenas diante do que vi.”

“O silêncio da floresta também me comoveu. Ao entrar mata adentro me deparei com um silêncio monumental emoldurado por grandes árvores, onde a iluminação provém apenas de pequenos feixes de luz. Essa imagem me lembrou uma catedral e me proporcionou uma grande paz de espírito. Não podemos deixar isso acabar.” JULHO/AGOSTO DE 2016 | ECOLÓGICO  97


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ESTANTE VERDE

LUCIANO LOPES

UM SENTIDO PARA A VIDA Como transcender uma situação extrema sem desistir de viver? De onde vem a esperança para superar momentos difíceis? Durante a Segunda Guerra Mundial, o psiquiatra austríaco Viktor E. Frankl foi levado para vários campos de concentração nazistas. Enquanto preso, observava seu comportamento e o dos outros e passou a questionar qual seria o sentido da vida. As respostas para essa indagação estão no livro “Em Busca de Sentido”, lançado originalmente em 1946 e que está em sua 38ª edição. A obra também apresenta os conceitos básicos da logoterapia, vertente da psicoterapia centrada no sentido, da qual Frankl é o fundador. EM BUSCA DE SENTIDO VIKTOR E. FRANKL R$ 50,50 Editora Vozes www.universovozes.com.br

Ecológico indica: OS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO JOSÉ BORTOLINI R$ 13 Editora Paulus www.paulus.com.br Escrever algo simples e, ao mesmo tempo, de conteúdo sobre os “Sete Dons do Espírito Santo” é uma tarefa delicada. E que também exige oração e reflexão. Ao longo da história da humanidade, nem sempre esses dons foram interpretados conforme o sentido original, isto é, como aparecem na Bíblia. E o objetivo do autor foi este: devolver os sete dons às suas origens.

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UM DIA (NO DIA) DA ANA LUIZA REINALDO CANTO R$ 36 Chiado Editora www.umdiadaanaluiza.com.br www.chiadoeditora.com O livro infantil conta a história de Ana Luiza, que vê seu dia mudar depois que objetos, materiais, alimentos e elementos da natureza começam a se manifestar e demonstrar tristeza diante do desperdício ou alegria quando eram bem utilizados. Após descobrir a importância do consumo consciente e da preservação do planeta, Aninha conscientiza família e amigos com mensagens ecológicas.


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A Assembleia de Minas

ouve cada um para fazer leis com a cara de todos. Após meses de trabalho ouvindo a comunidade, autoridades, especialistas, agentes policiais e empresários do setor de mineração, a Assembleia Legislativa aprovou o relatório final sobre barragens. Nele, o Projeto de Lei 3.676/2016 propõe mudar o licenciamento ambiental das barragens minerárias e industriais, reforçando a fiscalização, e o Projeto de Lei 3.677/2016 propõe alterar a destinação dos recursos da taxa ambiental para fortalecer as ações de controle e preservação do meio ambiente. O relatório também trata de questões trabalhistas relativas aos funcionários das empresas do setor. As recomendações ajudarão a evitar novas tragédias e a estabelecer a interlocução entre os envolvidos. Com a participação da sociedade, a Assembleia faz leis para todos.

Mais informações sobre o relatório em almg.gov.br

/assembleiademinas

assembleiamg

ALMG


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