Revista Ecológico - Edição 96

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ANO 9 - Nº 96 - MARÇO DE 2017 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


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Como uma boa prática de sustentabilidade, em sua unidade industrial de Minas Gerais, a Brennand Cimentos já trata 100% do esgoto doméstico e reutiliza o efluente tratado para ações internas, como a umectação de vias internas e jardins.

22 DE MARÇO | DIA MUNDIAL DA ÁGUA


FOTO: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

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IMAGEM DO MÊS

CELEBRAÇÃO DAS ÁGUAS Com o tema “Foi um rio que passou em minha vida”, a Portela fez um mergulho nas águas doces que correm pelo planeta. No desfile, afirmou o seu então carnavalesco Paulo Barros, a escola de samba retratou “crenças, lendas e religiosidade que transbordam dos rios e deságuam no azul e branco da procissão, com as bênçãos de Nossa Senhora Aparecida”. Carros alegóricos e alas coloridas retrataram rios como São Francisco, Nilo e Doce, este último vítima do desastre da mineração da Samarco em Mariana (MG).

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  03


EXPEDIENTE

YARA TUPYNAMBÁ Floresta do Vale do Rio Doce

FOTO: JÚLIO HUBNER

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Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

COLUNISTAS Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda. ecologico@souecologico.com

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Arte: Sanakan | Fotos: Paulino Menezes Mike Ellis Photography - Sanakan

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

3,30 tCO2e Jan/Fev de 2017

souecologico ecologico


VAMOS MOSTRAR COM QUANTAS ÁRVORES PLANTADAS E ÁREAS RECUPERADAS SE FAZ O FUTURO.

Idealizado pelo Governo do Estado de Minas Gerais e coordenado pela Codemig, o projeto Plantando o Futuro visa ao plantio de 30 milhões de árvores, de diversas espécies, em 20 mil hectares, até 2018. A iniciativa busca também recuperar 40 mil nascentes, 6 mil hectares de matas ciliares e 2 mil hectares de voçorocas. Contamos com a participação dos mineiros nesse projeto. Porque todos queremos um estado ambientalmente sustentável para nós e nossos filhos.

www.plantandoofuturo.mg.gov.br

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UM FI L ME DA CO N S E R VA

“Eu mantenho o clim a d Bem, eu ma

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sta falando.org.br


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ÍNDICE

CAPA

O FRACKING - FRATURAMENTO HIDRÁULICO PARA EXPLORAÇÃO DE GÁS DE FOLHELHO - JÁ DEVASTOU ÁREAS DA ARGENTINA E DOS ESTADOS UNIDOS E AGORA QUER DEVORAR O SOLO E AS ÁGUAS BRASILEIRAS. VAMOS PERMITIR QUE ISSO ACONTEÇA?

20 PÁGINAS VERDES MONICA PERES, DIRETORA-GERAL DA ONG OCEANA, DEFENDE UMA NOVA REVOLUÇÃO NO SISTEMA DE GESTÃO PESQUEIRA DO PAÍS

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS ESSENCIAIS PARA A POLINIZAÇÃO E A DISPERSÃO DE SEMENTES, AS AVES TÊM PAPEL ESSENCIAL NO EQUILÍBRIO ECOLÓGICO

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VOCÊ SABIA? SAIBA COMO AS ONDAS DO MAR SÃO FORMADAS, COMO O VENTO INFLUENCIA NA VELOCIDADE DELAS E OUTRAS CURIOSIDADES

E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 24 DIA MUNDIAL DA ÁGUA 38 GESTÃO & TI 44 AGRONEGÓCIO 46 POLÍTICA AMBIENTAL 54 SAÚDE 60 PERFIL 64 ECOLOGIA INTERIOR 74 MEMÓRIA ILUMINADA 84 NATUREZA MEDICINAL 90

Pág.

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Realização

Agência de Comunicação

Secretaria Executiva e Comercialização EXPOSIBRAM

Organização EXPOSIBRAM

Patrocinador Diamante

Apoio Institucional

Patrocinador Ouro


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CARTAS DOS LEITORES

como a Amazônia se esvai de nossas mãos.” Ieda Braga, via e-mail l CAMINHOS DO VALE Programa ambiental da Usiminas doa produto beneficiado para prefeituras que desenvolvem iniciativas socioambientais

l DONALD TRUMP: TERRORISTA AMBIENTAL Novo presidente dos EUA desdenha as mudanças climáticas e ameaça o desenvolvimento sustentável

“Esse dinossauro político não dá a mínima importância para as questões ambientais, tratando-as como se estivesse na época em que ele nasceu, em que se pensava que tudo na natureza era ilimitado.” Lindomar Gomes, via Facebook “A natureza tem suas respostas, e responde melhor que qualquer um. Não estou desejando o mal de ninguém, mas toda ação tem uma reação. E a reação dos fenômenos naturais nenhum homem consegue impedir.” Ana Araújo, via Facebook “Entendo o desespero internacional por conta de Donald Trump. Mas, antes de olhar para o jardim alheio, temos de ver como está o nosso. O Brasil está cheio de terroristas ambientais, muitos deles em posição de destaque na política e no meio empresarial.” Luiz Otávio Garça, via e-mail l A DESTRUIÇÃO CONTINUA Matéria aborda o aumento de 29% do desmatamento da Floresta Amazônica em relação a 2015

“Fico sem esperança ao ver que, um patrimônio 10  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

“Foi com satisfação que lemos a matéria sobre o programa Caminhos do Vale, da Usiminas, publicada na última edição da Ecológico. O reconhecimento da iniciativa – que tanto tem se refletido em benefícios para comunidades do Vale do Aço e para a própria companhia – como 'Melhor Projeto de Parceiro Sustentável' no 'VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza' – foi o início do que esperamos ser uma série de conquistas muito importantes. Entre elas está a recente inclusão do programa no Banco de Boas Práticas Ambientais na Indústria, um espaço virtual gerido pela Fiemg e pela Feam para compartilhar iniciativas e resultados de processos produtivos ecoeficientes. Mais uma vez agradeço o destaque dado ao programa.” Ana Gabriela Dias Cardoso, gerente-geral de Comunicação Corporativa da Usiminas l A REGENERAÇÃO AVANÇA Levantamento da ONG SOS Mata Atlântica e do Inpe mostra os estados que mais recuperaram a floresta em 30 anos

“Uma boa notícia, para variar esta onda de terror que vivemos!” Lídia Alves dos Santos Abreu, via Google+ “Pena que foi só a Mata Atlântica, porque as áreas de banhados e campos viraram áreas de plantação na região de Campos Gerais, no Paraná.” Rolando Fuchs, via Facebook l PLANTANDO O FUTURO Projeto da Codemig, que promove a recuperação do meio ambiente em Minas Gerais, iniciou plantio de 600 mil mudas

“Ler sobre os avanços do projeto, que pretende plantar 2,8 milhões de árvores até dezembro de 2018, é um alento para os mineiros. Ainda mais porque os órgãos de meio ambiente de BH e do Estado seguem cambaleando sem investimentos e sem protagonismo.” Gustavo Barbosa, via e-mail


FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

l ESTADO DE ALERTA A colunista Dalce Ricas fala sobre o polêmico PL. 6.268/16, do deputado Valdir Colatto

“Esse PL é um absurdo, um retrocesso sem precedentes. Nós temos é de combater essas ‘espécies invasoras’ que estão deturpando a política e esfarelando a legislação ambiental brasileira.” Marta Collares, via e-mail l ERRATA Na última edição, a frase final do texto “Florestas Mais Vazias”, da coluna “Estado de Alerta”, de Dalce Ricas, foi alterada equivocadamente. O correto é: 'Enquete da Câmara sobre o mesmo registrou até o momento que 84% dos votantes são contra'.”

“Ler é mais importante do que escrever. Ação de voluntarismo e solidariedade. Você se despir de todos os preconceitos, da cultura e educação nacionalista, familiar, comunitária, acadêmica e formal para entrar no mundo do outro. Um ato de total desprendimento, que só a si é permitido. Veja que beleza de entrega! Quando chega às minhas mãos a Revista Ecológico, faço-o com prazer. Pelo pioneirismo e multiplicidade de temas acerca do ambiente. A ciência caminha para mostrar que até onde não há vida, há esperança. Não me importo com fronteiras, mas com o futuro. Gosto do planeta. Ainda retumba em minha mente a frase do astronauta russo Iury Gagarin, maravilhado: ‘A Terra é azul’. Que assim seja para todos e sempre.”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

“Tenho acompanhado a Ecológico principalmente por causa da seção sobre educação ambiental. Ela tem sido muito importante para os trabalhos escolares dos meus filhos.” Maria Eduarda Francine, via e-mail

EU LEIO

Márcio Fagundes, superintendente de Comunicação Institucional da Câmara Municipal de BH

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FOTO: FELIPE LESSA

l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS Seção especial tratou sobre os arquipélagos brasileiros e sua importância ecológica


NAS ÁGUAS DA

INFORMAÇÃO

MISSÃO e sobre o de qualidad Formar opiniã pliação da ade, para am id il b ta n ento e st su de comportam ça n a d u m e a es. consciênci e organizaçõ das pessoas

FOTO: DIVULGAÇÃO

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com


“É

pau, é pedra, é o fim do caminho”, já cantavam Elis e Jobim nas águas de todos os marços. E a gente, a partir do Brasil, costumava ter - e temos até hoje - uma visão pessimista das coisas. Achamos que tudo já está perdido, que o planeta acabou e sua humanidade também. E seguimos todos juntos, com a natureza e a nossa qualidade de vida perdidas. Felizmente, não é bem assim. A realidade social, política e ambiental, que temos no Brasil e vem nos envergonhando mundo afora, não é a regra. Pelo menos em Lisboa, Portugal, a nova e ecoturística porta de entrada da Europa. Foi o que a Ecológico testemunhou. Primeiro, não se vê mais um toco de cigarro, lata ou papel no chão (na maioria das vezes até encerado) da capital lusitana. Os motoristas de táxi ou de Uber são uníssonos ao afirmar que praticamente não existe perigo de assalto nem de morte em seus becos e ladeiras. Semelhante a BH, Lisboa, mesmo sendo construída sobre sete colinas, tem metrô de fora a fora e ruas apinhadas de gente onde passam, juntos, carros e bondes elétricos. Nas principais rodovias que cortam o país também não se vê ônibus nem caminhões pesados. É tudo, cidadãos e mercadorias, utilizando o mais ecologicamente correto transporte ferroviário sem poluição. E a última novidade, de sete anos pra cá: em vez de fazer como no Brasil, diminuir cada vez mais os jardins e canteiros centrais para ter mais tráfego e velocidade, os nossos descobridores estão em outra. Eles fazem justamente o contrário, como seus países vizinhos mais civilizados. Quebram o excesso de asfalto e cimento de suas ruas. Alargam os canteiros e praças justamente para plantarem mais árvores e terem mais bancos, sombras e flores. E foi no seu Oceanário, um dos aquários mais visi-

tados do mundo, à beira do Tejo, próximo à Torre de Belém, de onde Cabral partiu com suas três naus, e nos descobriu, por acaso, que a esperança se renova. E ela se chama Educação Ambiental. Cada cidadão, criança, ou adulto que passa por ali, após ser educado, através do maravilhamento do mar e de seus habitantes, já não é mais o mesmo. Com tamanha, lúdica e jornalística informação ambiental, não há como negarmos que a vida de todos nós nasceu no mar. E pode acabar, muito mais cedo que imaginamos, por culpa única e exclusiva do homem, o animal mais predador que já existiu na face da Terra. Esperança renovada? Haverá tempo para essa mudança de consciência e de atitudes? A única resposta ou certeza que temos, caros leitores, anunciantes e apoiadores parceiros, é que a nossa Revista Ecológico está no caminho certo. Ao final da visita ao imenso aquário, onde a figura de um sapo surge no painel querendo pedir alguma ajuda para o Rio Doce, a gente vê que, mesmo sonhadores, não estamos sozinhos. Nossa missão se confunde tanto com a do Oceanário de Lisboa quanto da ONG WWF, vide seu urso panda, nos convidando para estarmos juntos. A gente se lembra da missão da Ecológico (vide box na página ao lado). E lê a deles: “Promover o conhecimento dos oceanos, sensibilizando os cidadãos em geral para o dever da conservação do patrimônio natural, através dos seus comportamentos”. Não estamos mesmo sozinhos. Feliz e esperançoso “Dia Mundial da Água”, apesar do fracking (fraturamento hidráulico para extração de gás de folhelho) - codinome destruição - nosso assunto de capa, estar querendo degradar o solo, o ar e as águas do Brasil. Não ao fracking! Sim à vida! Boa leitura!  MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  13


ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

“E você? Separa o seu lixo? O caminho para deixar de destruir nossa própria Mãe [Terra] está nas pequenas ações do nosso dia a dia. #recicle.” @mateusolano Mateus Solano, ator

INSTAGRAM VERDE A apresentadora e atriz Regina Casé (foto) está gravando uma nova temporada para o programa “Um pé de quê?”, série de reportagens que conta a origem, as características e problemas que acometem as árvores nativas. Desta vez, ela irá falar sobre espécies da flora que oferecem alimentos. As viagens que Regina faz para registrar essas plantas são retratadas em fotografias postadas no Instagram @reginacase. Em uma delas, Regina comenta: “Tem gente que adora abacaxi e nem lembra, ou nem sabe, que ele é uma bromélia!”.

FOTO: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

TWITTANDO

FOTO: WORLD ECONOMIC FORUM

ECO LINKS

“O melhor investimento que qualquer um de nós pode sempre fazer é na vida dos outros. Os retornos são tremendos.” @BillGates - Bill Gates, fundador da Microsoft

No mês em que se celebra o “Dia Mundial da Água”, avaliar como esse recurso natural é utilizado em diferentes produtos nos ajuda a refletir sobre a forma como consumimos. Para se ter uma noção, na confecção de uma camiseta de algodão são gastos quase dois mil litros de água. Cálculo feito pela organização internacional Water Footprint e que se baseia em todo o processo produtivo, desde a chuva e a irrigação, no campo, passando pelas indústrias, até chegar ao consumidor. Portanto, mais que fechar a torneira, temos que também reavaliar nossa forma de consumir. Quer saber mais sobre o assunto? O site da Revista Ecológico oferece várias matérias e artigos sobre o assunto. Acesse www.revistaecologico.com.br e digite a palavra “consumo de água” no campo de pesquisa.

FOTO: REPRODUÇÃO TWITTER

MAIS ACESSADA

“Você sabia que 10% dos botos-cinza morrem por ano na Baía de Sepetiba, principalmente, presos em redes de pesca?” @MoniqueCheker - Monique Cheker, procuradora da República 14  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

No mês em que a Agência Espacial Americana (Nasa) revelou a descoberta de sete planetas rochosos, com dimensões parecidas com as da Terra e potencial para abrigar formas de vida, o tema espaço ganhou mais repercussão. No site da Revista Ecológico, o texto mais acessado foi “Por que Plutão (foto) deixou de ser considerado um planeta?”. E se você também quer saber a resposta para essa pergunta, acesse goo.gl/9esM50

FOTO: NASA

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MARÇO

Sinônimo de amor, ternura e vida. A Rede Catedral de Comunicação Católica reafirma a importância da mulher para a construção de uma sociedade mais igualitária e deseja um feliz Mês das Mulheres.

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GENTE ECOLÓGICA FOTO: JULIANA ROCHA

FOTO: LIBRARY OF CONGRESS

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“Eu amo a minha cidade.” VITOR PENIDO, prefeito de Nova Lima, na Grande BH, explicando por que concorreu e foi eleito pela sexta vez para o cargo

“Com a liberdade, as flores, os livros e a lua, quem não é capaz de ser perfeitamente feliz?”

“No nosso meio, em todo o Portugal, há muito o meio ambiente deixou de ser modismo. Aqui, é sobrevivência mesmo. Na vida e nos negócios.”

“O que é a vida? É a luz de um vaga-lume na noite. É o sopro de um búfalo no inverno. É a pequena sombra que corre pela grama e se perde com o pôr-do-sol.”

FOTO: ELOAH RODRIGUES

FOTO: EDWARD SHERIFF CURTIS

OSCAR WILDE (1854-1900), escritor irlandês

JOSÉ CARLOS CARVALHO, empresário, representante da Linha Nature Wewood de relógios ecológicos em Lisboa

“O que faz a diferença é o que você vive. Não existe botox para o coração.” GLÓRIA MARIA, repórter e apresentadora de TV

“A terra nos ensina mais acerca de nós mesmos do que todos os livros. Porque ela nos resiste.” ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY, escritor e ilustrador francês

16  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

FOTO: DIVULGAÇÃO

BLACKFOOT, líder indígena norte-americano


CRESCENDO FOTO: JANINE MORAES

“Plantas e animais só conseguirão enfrentar os desafios do futuro, inclusive aqueles representados pelas mudanças climáticas, se puderem contar com ampla variabilidade genética, biológica e ecológica.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

VIRGÍLIO VIANA Em novo encontro com o Papa Francisco no início deste mês, o superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) reiterou o convite ao Sumo Pontífice para que conheça a Amazônia. Na ocasião, o Papa afirmou que visitar o bioma o "encantaria muitíssimo" e que ele estava "preocupado com a destruição da floresta e a construção de hidrelétricas na região". FOTO: REPRODUÇÃO

JULIANA SANTILLI, promotora de Justiça do Distrito Federal, sócia-fundadora do Instituto Socioambiental e autora do livro “Agrobiodiversidade e Direitos dos Agricultores”

TOM HIDDLESTON, ator norte-americano, em entrevista ao Jornal O Globo sobre o filme "King Kong: a Ilha da Caveira"

“Natureza é harmonia. Quando a gente se desconecta dela, sai do caminho do rio. É ela que nos conecta com a gente mesmo, com a vida.” ÂNGELO ANTÔNIO, ator

“Eu me preocupo com as mudanças climáticas por causa de nossos filhos. É uma situação que afeta a todos nós. É uma crise que nos dá a oportunidade de mudarmos para melhor.” CATE BLANCHETT, atriz e diretora australiana

MINGUANDO

FOTO: IQUE ESTEVES

FOTO: DIVULGAÇÃO

“A beleza da natureza, o terror e um teste de nossos valores civilizatórios sempre terão ressonância com o público.”

PBH E MPMG Em acordo firmado no final de fevereiro, a Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) suspenderam qualquer autorização para realização de eventos carnavalescos no Parque das Mangabeiras. Isso porque o parque, além de ser considerado a maior área verde da capital mineira, com 2,4 milhões de metros quadrados de mata nativa, tem 59 nascentes do Córrego da Serra e abriga 29 espécies de mamíferos e 160 de aves, além de répteis e anfíbios. A natureza agradece!

DJALMA CASTELO BRANCO O empresário foi condenado pela Justiça Federal do Amazonas a pagar R$ 60 mil de indenização por construção e extração de argila sem licença ambiental. Ele também terá de recuperar a área degradada, que tem aproximadamente 100 hectares. A retirada e comercialização da argila provocou uma série de danos ambientais, incluindo a poluição de igarapés locais.

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  17


SOU ECOLÓGICO

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: ADRIANO MACHADO

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CARLOS GONZALEZ: nome em alta

WALTER ALVARENGA: nova missão

MUDANÇAS MINERAIS Formado em Economia e pós-graduado em Planejamento do Setor Público, o executivo Walter Batista Alvarenga, que já ocupava interinamente o cargo desde novembro de 2016, é o novo presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Já tendo ocupado vários cargos no governo federal, ele substitui Fernando Coura, que não conseguiu se desligar totalmente da pasta para a qual tanto trabalhou em Brasília, diante da pouca presença política de Minas. Por isso, Coura também se tornou, pela primeira vez na história do órgão, seu presidente de honra. O que valeu a saudação de Clovis Torres Júnior, presidente do Conselho Diretor do Ibram e diretor-executivo da Vale: “A eleição de Walter Alvarenga, em conjunto com Coura, indica continuidade das ações e, também, a realização de um trabalho de representatividade da indústria mineral”. O Sindiextra e Dom Silvério agradecem!

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NOVO NOME Diante da mudança em prol de um modelo mais privativo e não mais de ingerência política prevista para a Vale, a partir de maio próximo, com a saída de Murilo Ferreira, um nome técnico já vem sendo ventilado nas bancas de aposta. Trata-se do geólogo e engenheiro de Minas Carlos Gonzalez, quem primeiro destravou e deixou irreversível o Minas-Rio, hoje da Anglo American, o segundo maior projeto de mineração em execução no país. Ao longo de 12 anos, Gonzalez foi COO (Chief Operating Officer) e diretor de Expansão da Vale durante a bem-sucedida implantação do Projeto Carajás, no Pará.

ANGELO HONORÁRIO No último dia 10, o professor Angelo Machado recebeu o título de “Biólogo Honorário” do Conselho Federal de Biologia (CFBio) por sua contribuição à sociedade em diferentes campos das ciências biológicas. Aos 83 anos, Angelo, que também é médico, entomólogo e escritor, foi homenageado em 2010 como “Personalidade do Ano”, na primeira edição do “Prêmio Hugo Werneck”. Mais que merecido!


DALCE E ALEXANDRE: unidos e premiados pela causa comum

familiares e artesãos. Criador e diretor da Rede Verdemar de Supermercados, hoje o maior exemplo de sustentabilidade do setor, ele foi o primeiro empresário a receber, em 2010, o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” na categoria “Melhor Empresa”. E, em parceria, já há dois anos, distribuir a Ecológico aos seus clientes. Parabéns verdes! 

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: GUILHERME BERGAMINI / ALMG

BONS EXEMPLOS 2017 A ambientalista Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), e o empresário Alexandre Poni, presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), encabeçam a lista das personalidades vencedoras da edição 2017 do “Prêmio Bom Exemplo”, da TV Globo Minas. Além de ambientalista histórica e, literalmente, “apagadora” de incêndios florestais em nossas montanhas, Dalce é integrante do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), articulista e conselheira editorial da Revista Ecológico. Coube a ela, durante anos, a criação, gestão e divulgação, sempre no Dia Mundial do Meio Ambiente, da famosa e temida “Lista Suja” das empresas mais poluidoras do Estado. A lista foi um divisor de águas para a consciência ambiental no meio empresarial. Já Alexandre Poni é o vencedor na categoria “Economia e Desenvolvimento”, por ter aberto as portas das grandes redes de supermercados para pequenos empreendedores, agricultores


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PÁGINAS VERDES

"NÃO TEREMOS MAIS FOTO: PAULINO MENEZES

PESCA NO BRASIL"

MONICA PERES: “Sem monitoramento nem informação, a pesca brasileira vai se autodestruir. Uma vergonha aos olhos do mundo”

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Brasil está diante de um imenso desafio em relação à pesca: promover uma reestruturação total na gestão da atividade. A avaliação é da diretora-geral da Oceana no Brasil, a bióloga e doutora Monica Peres. “Nosso manejo pesqueiro, hoje, é muito pior que o de alguns dos países mais pobres do planeta, o que não se justifica numa nação que tem uma das maiores economias do mundo”, diz. A busca por essa reestruturação deve ser uma das prioridades da organização para 2017. A base para esse trabalho, segundo Monica, é dar início à coleta, à análise e à divulgação de dados sobre a pesca e sua socioeconomia. “O monitoramento dos desembarques tem que ser retomado urgentemente, assim como os financiamentos de pesquisa e análise de dados para subsidiar o manejo. Sem isso, não teremos mais pesca no Brasil. Ela vai se autodestruir”, alerta. Confira na entrevista a seguir:

Como o ano de 2016 vai ficar na memória da Oceana? Como um período de muitas conquistas, em que conseguimos plantar ótimas sementes. Entre essas conquistas está o restabelecimento da Portaria 445/2014 do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que protege 475 de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. Essa Portaria é fundamen-


MONICA PERES

FOTO: DIVULGAÇÃO

Diretora-geral da ONG internacional Oceana

“O nosso manejo pesqueiro, hoje, é pior que o de alguns dos países mais pobres do planeta.”

tal não só para proteger essas espécies, mas também para trazermos toda a sociedade para pressionar o governo a investir numa boa gestão dos nossos recursos aquáticos. Também conseguimos aprovar a proibição de captura, retenção, transporte e comercialização de todos os tubarões-martelo nas pescarias de atum. Para proteger tartarugas e tubarões, conseguimos garantir que os anzóis circulares serão obrigatórios nessas pescarias em todo o país, e não só nas regiões Sul e Sudeste, como tinha sido proposto inicialmente. Por meio de mobilização promovida pela Oceana, obtivemos o compromisso dos ministros da Agricultura, Blairo Maggi; e do Meio Ambiente, Sarney Filho, de divulgar todos os dados sobre a atividade pesqueira a

partir de 2017. É uma vitória extraordinária, que permitirá o desenvolvimento de um manejo mais técnico e transparente, o que propiciará políticas mais sustentáveis e socialmente justas para todo o setor. Dados abertos permitirão mais pesquisas, menos pressão política e mais controle social.

Esse monitoramento é prioridade? A primeira coisa que precisamos ter é informação. Não conseguiremos sair do lugar, mudar nada, se não tivermos isso. Sem ela, o que conta é o grito. Quando não há informação, o que vale é o poder político, a barganha. Hoje, estamos, por assim dizer, com uma venda nos olhos e, por isso, começamos uma campanha para sensibilizar o governo a voltar a cole-

tar e a divulgar os dados sobre a pesca. É uma vergonha que o país não tenha informações de produção pesqueira, mapas de bordo e observadores científicos a bordo. Também precisamos ter o preço de primeira comercialização, os dados de custo de produção do pescado e informações sobre a cadeia de comercialização. Esses são os dados mínimos necessários. O nosso manejo pesqueiro, hoje, é pior que o de alguns dos países mais pobres do planeta, o que não se justifica numa nação que tem uma das maiores economias do mundo.

O que a Oceana defende como gestão da pesca? A pesca é uma atividade econômica e, por isso, precisa de uma gestão com visão econômica. Se usarmos ferramentas e indica-

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MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  21


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PÁGINAS VERDES

dores econômicos, as pescarias serão manejadas de forma sustentável. Quando os estoques, as populações de peixes, não estão saudáveis, o custo dessa pescaria é alto e ela não se mantém. Para os pescadores, o melhor seria se houvesse muito peixe, e bem perto da praia. Isso permitiria boas capturas com baixo custo de produção. Quanto menor o estoque, mais tempo e mais longe o pescador tem que ir para capturar seu pescado. Isso é algo que todo pescador ou empresário da pesca entende. Uma das ferramentas para o manejo econômico da pesca são as cotas. Quando bem implementadas, são capazes de manter as pescarias sustentáveis. É uma das ferramentas mais utilizadas nos países em que a pesca é bem manejada. Apesar de previstas na nossa legislação, ainda não temos esses sistemas no Brasil. Os territórios de pesca são também ferramentas econômicas muito eficientes. No Brasil, as reservas extrativistas são exemplos de territórios de pesca, mas esse conceito tem que ser ampliado e implementado dentro do sistema de gestão compartilhada.

O que são as cotas? Cota é a quantidade que é possível pescar sem comprometer a atividade no futuro. Para calcular a cota, precisamos, primeiro, do que chamamos de “avaliação de estoque”. Esse cálculo vai dizer quanto há de peixe no mar e quanto esse estoque é capaz de reproduzir e crescer. O excedente é o que pode ser explorado pela pesca. Não temos como fazer esses cálculos sem os dados básicos da atividade. Como já disse, precisamos saber quanto é retirado do mar, quanto é desembarcado, quanto morre na pesca e é devolvido ao mar, quantos barcos, quanta rede, quantos pescadores 23  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

estão trabalhando. É exatamente por isso que precisamos das informações. Para manejar adequadamente a pesca. Quanto melhor a informação, melhores as análises e mais confiáveis as cotas.

Como as cotas impactam os preços? Quando o pescador sabe quanto poderá pescar, ele pode negociar antecipadamente sua produção, consegue negociar e garantir um preço justo. Quando esse limite não existe, no início da safra, o preço é bom. À medida que começa a ter muito daquele peixe no mercado, o preço cai. Pode chegar o momento em que, apesar de pescar e vender muito peixe, o pescador não vai ter lucro com seu trabalho. Quando se tem um manejo econômico, não temos esse tipo de problema. A pesca é rentável. Na sua avaliação, quem deveria fazer a coleta e a análise dos dados? Deveríamos ter um instituto de pesquisa independente, um ou

mais institutos de pesca, que fizessem esse trabalho de coleta e análise de dados e as recomendações científicas para uma instituição política, responsável pelo manejo da pesca. A Noruega, por exemplo, tem um Ministério da Pesca que é também a Guarda Costeira. Eles financiam mais de 40 instituições de pesquisa que subsidiam a política pesqueira no país. É um sucesso. Nos Estados Unidos ocorre algo semelhante. Existem várias instituições de pesquisa qualificadas que produzem as informações necessárias para a gestão. Gestão sem pesquisa, sem dados, é “chute”. No Brasil, temos bons exemplos de manejo eficiente. Na agricultura, temos a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que produz as pesquisas necessárias. Os órgãos federais deveriam definir os padrões e os critérios de coleta de dados, de forma que toda a informação pudesse ser padronizada e consolidada. Deveriam haver impostos ou taxas, que hoje não existem, para serem aplicados em pesquisas pesquei-


MONICA PERES

Diretora-geral da ONG internacional Oceana

FIQUE POR DENTRO

“A pesca depende da reposição natural, biológica. Se você aumentar o número de barcos e pescadores, vai chegar um tempo em que o estoque não consegue se repor.” ras. Em todos os países que manejam bem suas pescarias, a própria atividade de pesca subsidia a coleta, análise e pesquisa. É importante lembrar que a pesca é uma atividade diferente da agricultura, por exemplo. Na agricultura, quanto mais se investe, mais se produz. Quanto mais terra, mais sementes, mais fertilizantes e mais maquinário, maior a produção. Na pesca, você depende da capacidade de reposição natural, biológica, da população ou estoque de peixes. Se você aumentar o número de barcos e pescadores, vai chegar num ponto em que o estoque não consegue mais se repor e a produção vai começar a diminuir drasticamente. Coletar informação é importante para saber onde está esse ponto, esse nível máximo em que podemos chegar, até onde você pode pescar sem comprometer a sustentabilidade da atividade.

A extensão do litoral brasileiro, de 8 mil quilômetros, seria uma dificuldade para controlar a pesca?

Os Estados Unidos têm litoral três vezes maior e conseguem controlar e manejar a pesca. O problema do Brasil é que toda a gestão da pesca está concentrada em Brasília (DF), nos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Não há uma descentralização do manejo e controle das pescarias menores para o nível regional ou estadual. Isso sim dificulta o controle. Imagine que uma pescaria típica de um estuário ou rio, hoje, deveria ser monitorada, manejada e controlada daqui de Brasília (DF). Isso é um absurdo. Nos Estados Unidos, até uma certa distância da costa, as pescarias são manejadas pelos estados. No Brasil, que é um país com muita diversidade, com a maior parte da costa em regiões tropicais, existem mais razões ainda para pensarmos em mecanismos eficientes para essa descentralização.

Qual a principal meta da Oceana para 2017 e os anos seguintes? Nós queremos contribuir para que o país invista na qualificação de todo o sistema de gestão

A Oceana foi criada em 2001 para trabalhar exclusivamente na proteção e recuperação dos oceanos em escala global, por meio de campanhas e estudos científicos. A organização está presente em sete países e na União Europeia, que, juntos, são responsáveis por mais de 40% da produção de pescado do mundo. Atua no Brasil desde julho de 2014.

pesqueira. Temos que ter coleta e análise de informações pesqueiras e especialistas independentes responsáveis pelas recomendações científicas. Deveríamos ter uma instância, um órgão responsável pela tomada de decisão. Mas precisamos também de marco legal que defina que essas decisões devem seguir as recomendações cientificas.

É possível saber qual é a situação dos estoques pesqueiros hoje no Brasil? A situação é muito grave, pior do que em outros países, principalmente por essa fragilidade na gestão pesqueira. A maioria das pescarias e espécies-alvo está sobrepescada. Nós temos pesca excessiva e não manejada. Temos muito mais barcos do que os estoques aguentam. Sem manejo, sem fiscalização, sem informação e ciência não chegaremos a lugar nenhum. É um prejuízo imenso e uma falta de visão não fazer o que deve ser feito. Queremos que todos se juntem a nós nessa luta para que possamos reverter essa situação, porque é possível, fácil e barato. Só falta vontade. Vamos lá?  SAIBA MAIS

www.oceana.com.br

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

DONALD TRUMP, MGS E OS

G

rande parte dos guarda-parques do Estado são pessoas humildes que nasceram e cresceram em comunidades próximas aos parques. Muitos mal frequentaram escolas. Mas é comovente e envolvente ver a dedicação delas a essas áreas. Paixão pelos rios, animais e florestas; garra inigualável no combate a incêndios; defesa incontestável dos parques. E o salário, pouco acima do mínimo. Sequer recebem ajuda para transporte. Até fevereiro, grande parte desses funcionários era contratada pela empresa Cristal, cujo desempenho foi marcado por inúmeros problemas. Diante disso, a Semad optou por realizar concurso através da MGS, empresa pública que contrata expressiva parte de funcionários públicos no Estado. Até aí tudo bem, apesar de os gerentes dos parques terem sido alijados completamente do processo. Mas, na MGS, as pessoas responsáveis pelo processo seletivo nem sabem o que são parques e nem como funcionam. Se sabem, não se importam com eles. E talvez nem queiram saber. Cumprem sua função feito robôs programados, isentos de emoções. Tomando como exemplo provas de outros concursos, a Amda alertou e solicitou, tanto à Semad e ao IEF (responsável pelos parques) quanto à própria MGS, que as questões das provas deveriam ser voltadas à realidade local, onde vivem essas valiosas pessoas. Inútil! A prova, realizada no dia 05 de março, teve questões como: “- Assinale a única palavra que NÃO pode ser classificada como adjetivo: a) grisalha; b) xadrez; c) azuis; d) jeans.” “- Um recipiente estava com 6 litros de água e foram retirados o equivalente a 12 copos de 300 mililitros de água do recipiente. Nessas circunstâncias, o total de água, em mililitros, que sobrou no recipiente foi: a) 1.400; b) 3.600; c) 2.400; d) 2.600.” “- Marque a opção correta: Donald John Trump pertence ao: a) Partido Cristão; b) Partido Conservador Anglicano; c) Partido Republicano; d) Partido Democrata.” “- Assinale a alternativa que NÃO trata de um aplicativo comum de rede social: a) Juniper; b) Twitter; c) Facebook; d) Google+.” O que diabos têm a ver Donald Trump, aplicativos,

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FOTO: JOSÉ ALVES NETO

PARQUES ESTADUAIS

ENQUANTO a MGS não tem nem data para convocar os candidatos aprovados no concurso, os parques do Estado ficam à mercê de novos incêndios

medida de água em mililitros e adjetivos com o desempenho dos guarda-parques? Por que não perguntaram aos candidatos sobre a função das Unidades de Conservação? Ou sobre a fauna que neles habita? Ou sobre os rios que suas florestas protegem, sua importância ambiental, turística, educacional... As questões mostram a estupidez que tomou conta de grande parte da administração pública neste país, que virou um monstro que vive somente para si, independentemente da realidade e de quem paga seus salários. Compromisso com resultados e benefícios? Que isso! Não nos insulte. Afinal, o que lhes importa se os parques perderem seus defensores? Se suas ridículas questões deixarão de fora funcionários que dedicaram a vida aos mesmos? Se a Semad ou o IEF tentaram que as provas fossem elaboradas pensando no bem dos parques, perderam seu tempo. Ou... não tentaram! A irresponsabilidade é tanta que, segundo a MGS, não há data para convocar os que forem aprovados. Enquanto isso, os parques estão à mercê de incêndios e outras ameaças. Ó Minas Gerais! Que vergonha! Que tristeza...  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).


UM ESPAÇO INIGUALÁVEL André Firmino / Ecológico

EM MEIO À NATUREZA COM CONFORTO E REQUINTE

EVENTOS AO AR LIVRE | TREINAMENTO EMPRESARIAL CONGRESSOS | WORKSHOPS | PALESTRAS | CONFRATERNIZAÇÕES

LOCALIZADO EM NOVA LIMA, VIZINHO DO VALE DOS CRISTAIS, A APENAS 10 MINUTOS DO BH SHOPPING, COM UMA EXUBERANTE ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. AV. DO CONTORNO, 7450 | LOURDES | BELO HORIZONTE - MG | (31) 3292-6160 @ | WWW.NATURE.COM.BR


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MATÉRIA DE CAPA

FRACKING, NÃO! A exploração de gás de folhelho se torna a vilã ambiental mais temida desta década. Entenda como ela atua, silenciosamente, para dizimar o solo, o ar e as águas da Terra Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

O

lá, eu sou Gaia, a Mãe Terra. Tenho 4,5 bilhões de anos. Eu sei quantas gotas de água existem nos meus oceanos, rios e nascentes. Também sei quantas árvores já nasceram e morreram em meu solo. Em todo esse tempo, vi milhões de seres surgirem. Sofri por aqueles que foram extintos. Mas também vibro com os que resistem, todos os dias, para fazer deste paraíso natural que ofereço a vocês um lugar mais bonito. Deixo meus filhos, de todas as espécies, correrem e voarem livres

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diariamente em minhas florestas, beberem da minha água e se alimentarem das plantas e dos frutos que germinam do meu solo. Como mãe de todos vocês, sei do que precisam. Nunca neguei cuidado. E, se em algum momento vocês passam frio, fome ou calor em excesso, foi porque a minha natureza teve seus ciclos desrespeitados e interrompidos. Não posso interferir no livre-arbítrio de vocês. Mas, como mãe, é meu dever alertá-los de que toda ação ruim provoca uma reação ainda pior.

Apesar do que já disseram a meu respeito, eu não sou vingativa. Sou justa, reativa. E a pedagogia para quem destrói é a dor. Tenho sofrido com o desmatamento, as queimadas e a poluição dos meus recursos naturais por séculos. No entanto, nas últimas décadas, um novo e terrível serial killer ganhou força e vem me causando danos, alguns deles irreversíveis: o fracking. Estou falando do “fraturamento hidráulico”, uma prática utilizada para realizar perfurações no solo (de 137 metros a 3.200 metros


FIM DO VERDE: desde 2005 foram furados mais de 137 mil poços para extração de gás de folhelho nos EUA, cuja infraestrutura montada danificou mais de 2,7 milhões de hectares de matas

abaixo da superfície) e em rochas para extração de gases não convencionais. São eles: o gás confinado, que pode ser encontrado em rochas impermeáveis ou com baixa permeabilidade. O metano, que ocorre entre camadas de carvão mineral e é até 86 vezes mais poluente que o dióxido de carbono. O hidrato de metano, que se concentra em áreas sedimentares marinhas com mais de 500 metros de lâmina de água. E, finalmente, o gás de folhelho, também conhecido como “shale gas”, e que erroneamente é confundido com gás de xisto. Seu processo de agressão à minha natureza é doloroso. Por meio de uma tubulação, é injetada na minha pele – o solo – uma mistura com grandes quantidades de água e solventes químicos com potencial cancerígeno. A pressão feita

nas minhas rochas é tão grande que elas explodem e se fragmentam. E, para que o buraco não se feche novamente, ele também recebe areia (isso mesmo, areia!) para evitar que o terreno ceda ao mesmo tempo em que o gás de folhelho (o mais viável comercialmente, junto com o metano) é extraído. Esta areia misturada com a água e os solventes forma o chamado “fluido de fracking”. Ele contém nada menos que 250 mil litros de água com até 700 produtos químicos, incluindo substâncias prejudiciais à saúde, como urânio, mercúrio e ácido hidroclorídrico. O problema maior é que, caso essa mistura letal escape da tubulação, ela pode provocar alta contaminação no solo e nas minhas águas subterrâneas, que também saciam a sede de vocês, dos outros animais, abastecem rios e

contribui para a manutenção da vida biodiversa que me compõe. Vocês acreditam que para perfurar um poço para extrair gás de folhelho são consumidos de 17 a 35 milhões de litros de água no total? E que essa enorme quantidade do recurso é transportada para o local de fraturamento por caminhões a diesel, provocando ainda mais impactos ambientais? Para se ter ideia, 35 milhões de litros de água são suficientes para abastecer uma cidade de 20 mil habitantes por quase dez dias! Sem contar que, além disso, o processo de exploração emite mais metano. E minhas florestas dão lugar às torres de perfuração (em cada uma delas há aproximadamente 18 poços perfurados em um raio de até 3,5 quilômetros), às áreas de estacionamento e manobra de caminhões, e às estradas abertas

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MATÉRIA DE CAPA

TORRE DE PERFURAÇÃO

PERIGOS DO

FRACKING TANQUES DE ARMAZENAGEM

ÁREAS PASSÍVEIS DE CONTAMINAÇÃO DO SOLO E DO AR

ÁREAS PASSÍVEIS DE CONTAMINAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

AQUÍFERO ÁREAS PASSÍVEIS DE CONTAMINAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

ÁREA DE FRATURAMENTO

(mais um convite ao desmatamento) para o transporte do gás. Mas não é só isso. Eu, Gaia, também sofro com os tremores de terra (leia mais a seguir) causados pela perfuração desses poços. É o que aconteceu com parte de mim em Youngstown, Ohio, nos Estados Unidos, em 2011, quando a injeção de águas residuais no processo de

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extração do gás provocou um terremoto de quatro pontos na Escala Richter. O fato foi confirmado por sismólogos da Universidade de Columbia. Em 2009, nos estados de Alabama e Montana, foram mais de 50 tremores acima de três pontos. Um ano depois, foram 87. Em 2011, 134. Em Oklahoma, o número chegou a 109 terremotos de menor

intensidade em 2013. Um ano depois, a coisa desandou: foram 585. É como se estivessem me provocando um Mal de Parkinson. Agonizante e progressivo. Vocês não se entristecem quando um parente de vocês sofre ou morre vítima dessa doença? É justo fazer isso comigo, quando já existem fontes mais limpas e sustentáveis de produção de energia?


MAL “MENOR” Não pensem que o gás de folhelho vai baratear a produção de energia no Brasil. Tampouco vocês devem acreditar que este gás é um mal “menor” em relação aos outros combustíveis fósseis. Se isso acontecer, o país corre sério risco de acabar como os Estados Unidos, hoje o maior produtor desse gás (seguido de Canadá, Argentina e China), mas também um novo e terrível grande vilão do meio ambiente e da minha natureza. É o que comprova Margie Alt, diretora-executiva da ONG Environment America, no estudo “Fracking By The Numbers” (“O fracking em números”). Nele, ela mostra o cenário de destruição que a prática provocou, silenciosamente, aos recursos naturais

da terra do Tio Sam nos últimos 12 anos. Desde 2005, pasmem vocês, mais de 137 mil poços de fracking foram abertos nos EUA. Meus pulmões, caros terráqueos, foram poluídos com 2,4 bilhões de quilos de metano lançados na atmosfera, mesma quantidade produzida por 22 usinas de carvão em um ano, em apenas um estágio da implantação da plataforma de extração (o “acabamento” do poço). Mais. Meus rios e águas subterrâneas perderam mais de 904 bilhões de litros de água. Quase 53 bilhões de litros de fluido de fracking foram gerados. Também não dá para esquecer da infraestrutura antiecológica montada para dar suporte

à extração do gás de folhelho, que já danificou mais de 2,7 milhões de hectares de florestas... É este o cenário que vocês, brasileiros, querem para mim? Faço minhas as palavras do Juliano Bueno de Araújo, coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org e fundador da Coesus (Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida): “O Brasil tem um grande potencial para a geração de energias mais seguras e sustentáveis como a solar, eólica, pequenas centrais hidrelétricas e de biomassa. Não há justificativa para se insistir numa matriz suja e perigosa, que troca água por energia”. É o que a Revista Ecológico mostra a seguir. Confira:

PERGUNTA ainda sem resposta: se o Brasil tem potencial para produzir energia limpa, por que investir numa matriz energética poluente?

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MATÉRIA DE CAPA

Os impactos ambientais Wagner Costa Ribeiro (*)

Os impactos do uso desse método de exploração são sérios e bastante danosos para a sociedade e a natureza. As substâncias químicas utilizadas não são divulgadas com precisão, mas já se sabe que esse processo resulta em contaminação de solo e da água. Isso porque o fraturamento da rocha aumenta sua permeabilidade, fazendo que a água usada no processo de extração se misture às substâncias químicas e penetre tanto nos corpos de água (lençol freático ou mesmo em aquíferos) quanto no solo, uma vez que ela é reintroduzida no interior da terra após o fraturamento. Ou seja, as reservas naturais de água subterrânea não podem mais ser usadas, além de poderem chegar até os rios e contaminá-los, e o solo passa a conter substâncias químicas danosas à saúde humana e animal. Mas existem outros riscos associados à exploração do gás de folhelho. Um deles é a explosão não no ponto de coleta, que em geral é monitorado, mas em outras partes da bacia já que não se conhece ao certo o quanto o material solidificado é alterado. Ou seja, o gás pode penetrar por fissuras da rocha e aflorar em pontos da superfície e, eventualmente, entrar em combustão, causando sérios riscos à população, aos animais e ao patrimônio. Foi amplamente difundida uma imagem de uma torneira que deixava passar água e fogo ao mesmo tempo em Dimock, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Além disso, o fraturamento pode gerar uma acomodação da superfície terrestre, o que pode

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causar seu rebaixamento e até mesmo alguns tremores locais, como já foi registrado e está sendo acompanhado por pesquisadores estadunidenses. O uso do fraturamento hidráulico para extração do gás de folhelho é altamente impactante não apenas no local onde ocorre a operação, mas também em uma faixa mais ampla, já que o gás pode se deslocar para outros

pontos da bacia e aflorar de modo inesperado por dutos ou fissuras. Além disso, trata-se de uma exploração intensiva e de pequena duração, pois a retirada da fonte energética diminui a cada ano, chegando praticamente à exaustão em uma década. Talvez por essas razões, países como França, Bélgica, Bulgária e Romênia, e mesmo alguns estados dos Estados Unidos (como Massachus-


ENERGIA PARA QUÊ? Parte expressiva da eletricidade gerada no Brasil é oriunda de hidrelétricas. De acordo com a IEA (2013), 80,6% da energia elétrica utilizada no Brasil em 2011 foi produto de hidrelétricas. O país era o segundo do mundo em volume dessa fonte de energia, com 12% do total mundial, atrás somente da China, que gerava 19,6% do total do mundo, em 2011. No Brasil, o uso do gás como fonte de energia foi implementado com algumas distorções. O Brasil utiliza o gás para produzir energia elétrica queimando-o em termoelétricas, quando deveria utilizá-lo como fonte direta de aquecimento, já que é mais eficiente como gerador de calor que de eletricidade. Porém, falta uma estrutura adequada para distribuição do gás aos consumidores. No Brasil, a principal fonte de uso da energia em residências é o aquecimento de água de chuveiro. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia (2013), o aquecimento de água residencial por meio da energia solar deverá ser da ordem de 10% do total em 2022, enquanto em 2013 não chega a 5%. Já o uso do gás natural para aquecimento de água em residências prevê um crescimento menor, chegando a 6% do total em 2022, contra uma participação da ordem de 3% em 2013. Ou seja, em termos absolutos, o uso da energia solar deve crescer bem mais que o do gás para uso residencial.

FIQUE POR DENTRO FOTO: COESUS / 350BRASIL

setts e Nova York), da Alemanha, da Austrália e da Espanha proibiram o uso do fraturamento hidráulico para extrair gás de folhelho. Diante desse quadro, seria necessário usar essa fonte de energia no Brasil?

FLUIDO de fracking que retornou ao solo e provocou a contaminação de plantações e nascentes d’água, como em Vaca Muerta, Argentina l Gás de folhelho é aquele que se acumulou ao longo do tempo em rochas sedimentares, que se formaram de finos grãos de argila em depósitos de origem marinha ou lagunar devido à baixa intensidade de energia desses ambientes, o que facilita a deposição dos sedimentos. O resultado de anos de pressão sobre esse material é uma rocha com uma aparência peculiar, que parece um acúmulo de folhas. Tais rochas possuem elevada fissibilidade, ou seja, podem ser separadas em lâminas. l O gás que se formou nesse tipo de rocha é resultado da concentração de matéria orgânica que foi depositada ao longo de séculos. Por isso, está errado nomeá-lo como gás “de xisto”, pois, apesar de ter um aspecto similar ao das rochas sedimentares, uma concentração de lâminas, o xisto é resultado de processos metamórficos que alteraram a rocha por mudanças intensas de pressão e temperatura, o que dificulta o acúmulo de matéria orgânica. l O fraturamento hidráulico resulta do esforço de pesquisa do Gas Research Institute, criado em 1976 nos Estados Unidos, junto ao Gas Technology Institute para pesquisar novas técnicas de exploração de gás. Na época buscavam-se alternativas ao petróleo como fonte de energia. Essa técnica combina tecnologia de perfuração e de fraturamento de rochas. Inicialmente, na etapa de perfuração, um duto é introduzido verticalmente na rocha. Depois, ao se atingir uma camada com presença de gás, inicia-se o fraturamento com o lançamento, sob pressão, de substâncias químicas, areia e muita água, horizontalmente, para liberar o gás metano aprisionado. (*) Geógrafo, doutor e PhD em Geografia Humana pela USP, professor titular do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. Para ler o artigo “Gás ‘de xisto’ no Brasil: uma necessidade?” na íntegra, acesse: goo.gl/QLP3yo

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MATÉRIA DE CAPA

Os testes sísmicos Primeira etapa para a extração de gás de folhelho, os “terremotos induzidos”, segundo a Coesus, podem descentralizar placas tectônicas. Confira, a seguir, outros impactos que eles causam ao meio ambiente: FOTOS: COESUS / 350BRASIL

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As “ondas” emitidas pelos caminhões vibradores são na verdade terremotos induzidos, que perpassam o subsolo e podem impactar o meio ambiente e danificar severamente estruturas de alvenaria como residências, edifícios, barracões e igrejas. Os terremotos induzidos também provocam fissuras e danos materiais que podem comprometer a infraestrutura de estradas, pontes e até barragens.

2-

Qualquer atividade sísmica impacta a fauna silvestre, os animais domésticos e de produção (bovinos, suínos, aves e outras espécies). Os animais pressentem o perigo diante da iminência dos terremotos ou outros eventos radicais da natureza, buscando refúgio para a preservação da vida. No caso de terremotos induzidos gerados pelos testes sísmicos, os animais ficam desorientados. E sofrem um alto nível de estresse que provoca fugas mortais, abortamento e nascimentos prematuros, além de ataques de ansiedade e medo.

3-

Assim como os animais, as pessoas também estão sujeitas ao estresse provocado pela atividade sísmica. A ansiedade e o medo de que suas casas possam ser impactadas com terremotos coloca a população em alerta permanente e causa transtornos psicológicos diante do perigo.

4-

Os testes sísmicos feitos pela empresa contratada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natu-

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PASSAGEM dos caminhões vibradores para testes de aquisição sísmica contratados pela ANP no Paraná provocou até rachaduras em algumas casas

ral e Biocombustíveis (ANP) são fatais para os peixes dos rios, lagos e tanques escavados. A morte de alevinos e a perda de ovas ocorrem após qualquer atividade sísmica, mesmo de baixa intensidade, impactando a biodiversidade e a economia local.

5-

Atividade sísmica artificial pode acelerar a descentralização de camadas geológicas que até hoje não apresentaram movimentação. Neste caso, realizar testes sísmicos representa um alto fator de risco para a ocorrência de terremotos que podem gerar impactos catastróficos.

6-

As informações da composição geológica obtidas pelos testes sísmicos irão fundamentar os leilões da ANP, que pretende vender o nosso subsolo para a exploração do gás de folhelho pelo método não convencional cha-

mado fraturamento hidráulico, ou fracking. Isso sem consultar a população das cidades, que não é informada da natureza e objetivos reais dos testes, muito menos dos riscos e impactos.

7-

Por fim, tão grave quanto, os testes sísmicos são a primeira etapa do cronograma para extração do gás de folhelho do subsolo. Após o mapeamento da presença de hidrocarbonetos como petróleo, carvão e gás convencional e não convencional, será necessário perfurar poços para pesquisar (e constatar) o real potencial das reservas através do fraturamento hidráulico. Tecnologia essa, altamente poluente, grande consumidora de água e causadora de impactos ambientais, econômicos e sociais. Fonte: Coesus


A resposta da ANP A Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) está realizando desde 2015 testes sísmicos para pesquisa geológica na Bacia Sedimentar do Paraná. Em nota enviada à Ecológico, a ANP afirmou que a pesquisa “não tem relação com fraturamento hidráulico (fracking) ou gás não convencional (gás de xisto)”. Confira o conteúdo da mensagem: “A ANP está realizando uma pesquisa sísmica na Bacia Sedimentar do Paraná, que abrange municípios dos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. A pesquisa realizada não agride o meio ambiente e nem tem relação com fraturamento hidráulico (fracking) ou gás não convencional (gás de xisto). A ANP tem a atribuição legal de fazer estudos geológicos para aumentar o nível de conhecimento sobre as bacias sedimentares brasileiras. Uma bacia sedimentar é uma depressão da crosta terrestre onde se acumulam rochas sedimentares que podem ser portadoras de petróleo ou gás, associados ou não. Esse projeto foi contratado pela ANP em 2015. Insere-se no “Plano Plurianual de Estudos de Geologia e Geofísica da ANP”, que é um programa de aquisição sistemática de dados geológicos e geofísicos para aumentar o conhecimento das bacias sedimentares de nova fronteira. Os recursos financeiros advêm do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC). Essa pesquisa sísmica utiliza caminhões vibradores que emitem vibrações (ondas sonoras) em pontos pré-determinados ao longo das rodovias envolvidas na locação do projeto. Essas ondas atravessam as rochas que ocorrem em subsuperfície, são refleti-

A POPULAÇÃO de Londrina e a Cáritas Regional Paraná também aderiram à campanha Não Fracking Brasil

das e retornam para a superfície, onde são registradas em equipamentos específicos, denominados geofones. A partir do tempo de viagem das ondas sonoras e posterior tratamento dos dados, são geradas imagens do subsolo. Nessas imagens é possível identificar e rastrear as camadas rochosas que ocorrem em subsuperfície. A pesquisa possibilita avaliar se a configuração é ou não adequada para a geração e acumulação de petróleo ou de gás natural. A pesquisa sísmica com caminhões vibradores é realizada em estradas federais, estaduais e municipais. Os dados adquiridos serão inteiramente públicos e, após a conclusão do projeto, estarão disponíveis para consulta no BDEP (Banco de Dados de

Exploração e Produção da ANP). A Bacia Sedimentar do Paraná possui inúmeros indícios da ocorrência de petróleo e gás natural, mas ainda não possui campos produtores. Por isso, essa pesquisa tem por objetivo aumentar o conhecimento geológico e sobre o potencial petrolífero dessa grande bacia sedimentar. É importante registrar que o estudo da ANP é regional e pesquisas mais detalhadas são necessárias para identificar possíveis acumulações de petróleo, pois a sísmica é um método indireto de pesquisa. Somente com a perfuração de poços é que se pode comprovar a presença de petróleo.” SAIBA MAIS

www.anp.org.br

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MATÉRIA DE CAPA

“O fracking é uma farsa” É o que afirma Juliano Bueno de Araújo, fundador da Coesus e coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org, na entrevista a seguir: Por que o fracking é tão perigoso? É uma tecnologia que fratura rochas no subsolo. A injeção de até 35 milhões de litros de água por poço perfurado, mais os 250 mil litros de produtos químicos e radioativos com areia (que chamamos de “coquetel da morte”), transforma o subsolo do planeta em um queijo suíço. E aí, apenas 20 a 30% dessa mistura volta para a superfície. Todo o restante fica no solo, gerando uma série de consequências, principalmente a contaminação de aquíferos. No Brasil, 42% da nossa população é abastecida por águas subterrâneas. A técnica é um risco perigosíssimo à segurança hídrica nacional.

JULIANO BUENO: "A agricultura e o agronegócio são extremamente impactados pela exploração de gás de folhelho"

E quanto às outras atividades econômicas? Qual é o impacto? As águas são contaminadas e tornadas impróprias para consumo humano, animal e uso comercial e industrial. O agronegócio, principalmente a agricultura e pecuária, são extremamente impactados. Milhões de pessoas e empresas que precisam de água para fazer irrigação, por exemplo, não poderão usá-la. Depois que a perfuração e a injeção do coquetel da morte são feitas, passados alguns meses, os gases e fluidos percorrem o subsolo até a superfície e daí as terras produtivas passam a ser contaminadas e acidificadas, tornando-se impróprias para uso.

A terra deixa de produzir? Exato. Há países que já proíbem a importação e consumo de produtos que sejam produzidos em um raio de até 80 km onde há uma torre exploratória de gás. Ou seja, o impacto econômico e agrícola é insustentável para qualquer país, principalmente o Brasil, em que a agricultura é importantíssima para a economia. O Chile, por exemplo, hoje vende alimentos com um selo “Fracking free”, para promover suas frutas no mercado europeu como um alimento livre de fluidos hidráulicos. Já a indústria da fruticultura na Argentina tem alta dificuldade em vender e exportar seus produtos. Há aproximadamente 80 mil agricultores

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FOTO: DIVULGAÇÃO ALMG

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e centenas de cooperativas e empresas agrícolas que faliram. Eles não têm mais emprego e renda porque não conseguem comercializar seus alimentos. A exploração de gás de folhelho é uma realidade no Brasil? Já foram realizados testes de viabilidade. Em 2012 e 2015, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou leilões públicos onde 15 estados brasileiros, abrangendo 754 cidades, foram afetados sob a sombra da aquisição de áreas do subsolo. Em nenhuma cidade foi realizada um audiência pública por parte da agência. Nenhum cidadão foi convidado ou perguntado se era de seu interesse a realização de testes sísmicos ou a exploração de gás. Isso foi feito de maneira ilegal, na “surdina”. Não havia a intenção de tornar essa informação pública. O que aconteceu, na sequência? O Ministério Público Federal, de várias regiões, a Coesus e outras organizações entraram com ações civis públicas. Os efeitos dos leilões estão suspensos com liminar na Justiça e nenhuma atividade exploratória poderá ser feita até o julgamento final. Entretanto, sabemos que liminares são frágeis sob o aspecto jurídico e as consequências ambientais e à saúde humana dessas atividades são trágicas. Os produtos radioativos e químicos utilizados no “coquetel da morte” causam


No Brasil já existe uma legislação específica que proíba a exploração de gás de folhelho? Ainda não temos uma legislação nacional que proíba o fracking. Existem dois Projetos de Lei (PLs) apresentados em 2013 e em 2015. Um suspende e o outro proíbe a atividade no Brasil. Eles ainda não foram votados em plenário no Congresso Nacional. Passaram por duas Comissões, fomos vitoriosos nelas, mas derrotados na de Minas e Energia, que obviamente tem um interesse meramente exploratório, no sentido de não se verificar as consequências deste tipo de exploração. São poucos os grupos econômicos interessados na atividade. No Brasil, o Paraná foi o primeiro a proibir o fracking para proteger suas reservas de água subterrânea, a produção agrícola e a saúde de seus 11 milhões de habitantes. Já temos 284 cidades no país que implementaram uma legislação municipal que cria uma série de empecilhos e dificuldades para que este tipo de exploração aconteça em suas áreas. Por isso é importante que outros estados brasileiros sigam o exemplo do Paraná até que tenhamos os PLs aprovados. Que países já proibiram a exploração de fracking? O estado de Nova York (EUA), quando viu que sua água subterrânea estava sendo contaminada

FOTO: COESUS / 350BRASIL

câncer, doenças neurológicas, gástricas e de pele. Há estudos que comprovam que, onde as atividades de exploração de gás são realizadas, os abortos espontâneos aumentaram até 3.000 vezes. Já os casos de câncer cresceram até 1.600 vezes.

MARCADOR deixado em algumas áreas de cidades brasileiras pela empresa Global Services, contratada pela ANP para realização de testes para aquisição sísmica: na "surdina"

e seu nível de água rebaixado, proibiu a técnica. Na França, Bulgária e Alemanha ela também foi proibida. Na Austrália, o seu maior estado produtor de gado fez a mesma coisa. A exploração de gás de folhelho é feita, em sua maioria, por pequenas e médias empresas de petróleo e gás. Nos EUA, quando essa aventura começou haviam 2.300 empresas. Mais de 1.400 já faliram, porque é uma aventura. Em que sentido? É um golpe econômico, em que uma empresa diz que há uma reserva grande de gás, mas isso não se evidencia. Então, no mercado de ações, as pessoas investem nessas empresas acreditando que elas vão ter lucro e fazer bem para elas. Mas tudo não passa de uma farsa. É algo semelhante ao que o Eike Batista fez aqui no Brasil com o pré-sal, ao afirmar que

havia bilhões de litros de petróleo e isso não foi comprovado. Milhares de pessoas perderam dinheiro. Fora a farsa que isso traz, há a falsa imagem de “boa aventurança” que é passada para as cidades que recebem ou autorizam este tipo de exploração. O que acaba colocando em risco o agronegócio, que tem a agricultura e a pecuária baseadas no uso da água e do solo, além de produtores e empresas que trabalham com tecnologia, fornecimento de sementes e a produção de animais. O que a população brasileira deve fazer para evitar o fracking? Acho relevante que as pessoas se mobilizem. Há um problema grave de escassez de água em diversas regiões do mundo. Já vimos isso em vários estados brasileiros, principalmente em São Paulo, com a crise hídrica de 2014. Hoje o Nordeste, onde o gás de folhelho até já foi “vendido” ilegalmente para ser explorado, tem a maior crise hídrica dos últimos 100 anos. A grande chamada que fazemos para toda a população é o de ela proibir o fracking nas suas cidades e se mobilizar junto às suas assembleias legislativas para impedir o avanço da técnica de exploração aqui. Afinal, não queremos que nossos parentes e amigos tenham câncer. Queremos que o nosso produtor rural continue tendo a capacidade de produzir. Que a água e o ar estejam limpos e saudáveis para todos nós. É possível fazermos uma transição energética sustentável. Não precisamos do gás de folhelho. O momento agora é o da energia renovável, que é mais barata do que gás ou petróleo.

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MATÉRIA DE CAPA

O Papa também é contra No ano passado, a luta contra o fracking ganhou um nome de peso: o Papa Francisco. Nascido na Argentina, o Sumo Pontífice conhece bem os efeitos devastadores da exploração de petróleo e gás de folhelho no país e apoiou incondicionalmente o movimento internacional contra o avanço do fracking. “No Brasil, a campanha está recebendo o apoio de diversas dioceses, abrindo espaço para cursos de capacitação para padres, gestores municipais e membros da comunidade. Estamos levando a mensagem do Papa Francisco da preservação da vida, das fontes de água e da obra divina”, afirma Reginaldo Urbano Argentino, presidente da Cáritas Paraná e campaigner da 350.org. Junto com outras 236 entidades, a Cáritas é membro da Coesus. O apoio do Papa vem alinhada à publicação da Encíclica Laudato Sí, de 2015, que aponta a atividade humana como a grande responsável pela destruição de Gaia, “Casa Comum”. Nela, ele critica o capitalismo selvagem e o sistema econômico que potencializa a exclusão social, estimula a ganância e o consumo sem limites. “Esta irmã (a Terra) clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo,

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FOTO: SOLANAS/TWITTER

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FRANCISCO, o Sumo Pontífice, acompanhado do ambientalista Juan Pablo Olsson e do senador Fernando Solanas, que lideram o movimento contra o fracking na Argentina: apoio de peso pela "Casa Comum"

na água, no ar e nos seres vivos”, afirma o Papa no documento. Ele escreveu mais: “A destruição do ambiente humano é um fato muito grave, porque, por um lado, Deus confiou o mundo ao ser humano. E, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido de várias formas de degradação. Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades.” E, por fim, deixou um recado ecológico e de esperança para a humanidade: “Nem tudo está perdido, porque o ser humano, capaz de tocar o fundo da de-

gradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. É capaz de olhar a si mesmo com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar.”  SAIBA MAIS

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MENSAGEM ESPECIAL “DIA MUNDIAL DA ÁGUA”

Verdades

OCEÂNICAS O início, o meio e o fim da vida?

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FOTO: OWER SILESIA

OCEANÁRIO DE LISBOA: a esperança da educação ambiental em um aquário

Eloah Rodrigues & Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

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Ecológico foi até o Oceanário de Lisboa, à beira do Rio Tejo, em Portugal, um dos aquários mais visitados do planeta, não apenas para conhecer as espécies marinhas que ainda sobrevivem nos nossos mares nunca antes tão poluídos. Mas para também receber uma verdadeira aula de educação ambiental por meio de informação simples e direta. Este instrumento revolucionário de conscientização se multiplica através de sucessivos cartazes expostos na entrada do aquário, por onde passam milhares de visitantes, todos os dias, ao longo do caminho. São frases curtas e fortes, ilustradas com fotos lindíssimas e jornalísticas. Verdades, enfim, oceânicas, capazes de mudar o nosso modo de ser e agir no planeta. Confiram – nossos caros leitores, professores e alunos - algumas dessas informações que selecionamos e ainda podem nos salvar junto com os seres que habitam ¾ da Terra:

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MENSAGEM ESPECIAL “DIA MUNDIAL DA ÁGUA”

1 - A VIDA COMEÇOU NO OCEANO Os primeiros seres vivos surgiram no oceano, há 3,5 milhões de anos. 2 - O OCEANO É, AINDA, UM MISTÉRIO Apesar das 1,8 milhão de espécies marinhas conhecidas, estima-se que 91% das espécies que existem no oceano ainda não foram descritas.

5 - O OCEANO E A HUMANIDADE ESTÃO LIGADOS 200 milhões de pessoas dependem diretamente do oceano para a sua sobrevivência.

3 - PLANETA OCEANO O oceano cobre 70% da superfície da Terra e representa 97% do espaço disponível para a vida.

6 - O OCEANO FORNECE-NOS PESCADO ACIMA DO SEU LIMITE Neste momento, estamos a retirar 2 a 3 vezes mais peixe do que aquele que o oceano pode fornecer de forma sustentável.

4 - O OCEANO É VITAL PARA AS NOSSAS VIDAS O oceano produz 70% do oxigênio, absorve o calor e redistribui-o por todo o planeta.

7 - O OCEANO FORNECE-NOS PESCADO Cada pessoa consome, em média, 19 kg de peixe por ano, quase o dobro de 50 anos atrás.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

FOTO: ALAIN BACHELLIER

9 - NÓS PODEMOS FAZER A DIFERENÇA Ao consumir peixe de forma sustentável, pode influenciar melhores práticas de consome e garanta que não é demasiado pequeno vais estar a contribuir para o futuro dos pesca e aquacultura. 10 - O OCEANO ESTÁ SOBRE-EXPLORADO 70% das populações de pescado do mundo estão totalmente exploradas, sobre-exploradas ou esgotadas.

FOTO: BETÂNIA FERREIRA

FOTO: ANDREA MARSHALL

8 - OS RECURSOS DO OCEANO SÃO FINITOS A sobrecarga é a segunda maior ameaça aos oceanos, a seguir às alterações climáticas.

11 - A BIODIVERSIDADE MARINHA PRECISA DE PROTEÇÃO 40% das capturas mundiais de pescado são acidentais e incluem golfinhos, tartarugas e aves marinhas. 12 - O OCEANO TEM DE SER PROTEGIDO Apesar das 148.000 áreas marinhas protegidas, menos de 2% do oceano está livre de ameaças. 13 - O OCEANO É A FARMÁCIA DA HUMANIDADE 18.000 moléculas com interesse farmacológico foram descobertas em organismos marinhos, nos últimos 40 anos.

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MENSAGEM ESPECIAL “DIA MUNDIAL DA ÁGUA”

Mensagem final Na saída do superaquário, já maravilhados com tamanha beleza e informação, a gente se depara com os três últimos cartazes. Nada de novo, mas não custa lembrar. Vale a pena, se “a alma não é pequena”, como disse o poeta Fernando Pessoa. O primeiro cartaz se refere ao que os portugueses chamam de “Salva-vidas” da espécie humana: FAÇA ESCOLHAS PARA UM PLANETA SAUDÁVEL Reduza, reutilize e recicle. Viva responsavelmente. Consuma de forma sustentável. POUPE ÁGUA Só 0,6% de toda a água doce do planeta está disponível para consumo humano. O segundo cartaz mostra as logomarcas juntas das WWF com o seu urso panda, e do Oceanário de Lisboa, com seus cardumes de peixes. E dá o recado final, tipo a missão maior da educação ambiental:

certa) a missão institucional do GRUPO ECOLÓGICO, formado pela Revista Ecológico, a Ecológico Consultoria e Comunicação Ambiental, o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza e o Movimento Sou Ecológico, voltado para as redes sociais: “Formar opinião de qualidade sobre sustentabilidade, para a ampliação da consciência e mudança de comportamentos das pessoas e organizações”. Estamos, enfim, todos juntos mesmo. E teremos o mesmo destino com base no que fizermos ou não mais fizermos com os nossos oceanos. A esperança, através da informação e educação ambiental, relevantes e necessárias, continua lançada. Em todos os oceanários, mares e rios da nossa aldeia global. Que todos os dias, desejamos, sejam dias mundiais da água! 

JUNTOS É POSSÍVEL Promover o conhecimento dos oceanos, sensibilizando os cidadãos em geral para o dever da conservação do patrimônio natural, através dos seus comportamentos. Coincidentemente é também o que diz (e muito nos emocionou, nos mostrou estarmos na rota

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SAIBA MAIS

www.oceanario.pt


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

O DEUS QUE NÃO SE ESCONDE

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lgo estranho acontece em minh’alma. Tanto que tenho estudado as coisas da inteligência artificial. E, quanto mais estudo, mais a ciência comprova um Deus que não existe. Tampouco existe alma. Somos hologramas, algoritmos perdidos na vastidão de um chip. Nosso DNA, um processador barato de uma civilização, sabe-se lá qual, brincando num videogame cósmico. Em “Homo deus”, uma breve história do amanhã, o historiador israelense Yuval Noah Harari tece, com lógica impressionante, todos os argumentos que nos colocam sozinhos nesta nave azul do universo. Trata-se de trajetória, quantas vezes retratada em ficção, de não devermos, antes de tudo, temer o transcendente, almas penadas ou seres de outros planetas. Em alguns anos, nossos bisnetos não nos reconhecerão mais como espécie igual. Seremos seres inferiores para eles, imiscuídos com as máquinas. Nós, mutantes ao contrário. Eles, a espécie dominante: homodeuses! Alerta-me o corretor ortográfico: homodeuses não existem, mas tudo faz incômodo sentido! Com sua pouca propensão a negociar, a ciência aponta para a impossibilidade de deuses que se escondem em planetas distantes, no céu de nossa infância ou em igrejas de qualquer crença. Tampouco se esconderia nesta ou naquela crença e faria pouco caso dos que lutam em seu nome, suprema ironia, piada pronta, defensores irredutíveis do Inexistente. Mas, eu ia contando, algo estranho acontece nessa pobre alma que nem existe, que não pode interagir com a matéria de meu corpo, que não faz sentido algum nem tem utilidade. Quanto mais estudo, quanto mais entendo os riscos do futuro que se avizinha, mais ela clama por Deus, mais O encontra. Eu me pergunto, sem poder pedir em nome do amor deste Criador que não pode me acudir: como posso sentir tanto o Inexistente? Reviro meu passado. O ano é 1980. Estudando física 44  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

para me tornar engenheiro, um professor desatento toca meu coração. Corta uma longa tira de papel, torce-a em parafuso e cola as pontas. Meus olhos pretensiosos se calam. Apresenta-me a lemniscata, o símbolo do infinito. Sem lado de dentro, sem lado de fora, sem começo, sem fim. Eu não sabia, mas ali me diplomava. Nada mais haveria para se aprender. Nada mais seria relevante. Paciente, o Deus que não existe me viu espalhar pela vida, certo de que desistiria para voltar à essência. Deu-me o gosto pelo essencial. Agora que, tenho certeza, o mundo passa pela sua mais desafiadora transformação, nossa chance final de sermos humanos; agora que me cabe seguir pelo mundo e evangelizar na tecnologia que transformará pela quarta e mais definitiva vez a nossa história; agora que Deus já não existe, eu O encontro. Nunca esteve escondido em lugar algum! Nunca quis deter-se em chamas em minha sarça ardente. Estava ali, todo o tempo, em todo lugar, antes de qualquer livro sagrado, antes de qualquer galáxia, antes de qualquer coisa existente. Continua lá, rindo dos que buscam na técnica e só nela a explicação de existir. 

TECH NOTES l A lemniscata de Bernoulli

https://goo.gl/0dOKVO

l HomoDeus

https://goo.gl/C3eRHk

l O universo é um holograma?

https://goo.gl/votf4h

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.



FOTOS: DIVULGAÇÃO/GRUPO MONTESANTO TAVARES

1 AGRONEGÓCIO

LAVOURA DE CAFÉ do Grupo Montesanto Tavares: 3.200 hectares plantados em meio às montanhas de Minas e na Bahia

MINAS PÕE À MESA O SEU MELHOR CAFÉ Eleita a terceira mais sustentável do Brasil, Fazenda Primavera, do grupo mineiro Montesanto Tavares, alia conservação ambiental com a produção de grãos especiais, em plantio consorciado com florestas de mogno africano Luciana Morais e Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

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florada do cafeeiro geralmente acontece na estação das flores, a primavera, quando o perfume de seus delicados buquês brancos toma conta das plantações, transformando também a paisagem. Em uma feliz coincidência, uma fazenda produ46  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

tora de café em Minas Gerais, de nome Primavera, foi eleita a terceira mais sustentável do Brasil. E comprova, a cada dia, que é possível – e sobretudo rentável – aliar a produção de cafés especiais com a conservação ambiental, investindo no cuidado com a água e no plan-

tio de novas florestas. Maior produtor mundial de café, o Brasil responde por mais de 30% do mercado global. É, ainda, o terceiro entre os dez maiores consumidores mundiais, segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), atrás apenas da União


Europeia e dos Estados Unidos. A área plantada com café no país totaliza 2,23 milhões de hectares, tendo Minas como líder desse ranking, seguido por Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia e Paraná. Localizada na zona rural de Angelândia, cidade de pouco mais de 8 mil habitantes, no Alto Jequitinhonha, a Fazenda Primavera vem colecionando títulos e fazendo jus à boa fama do café mineiro, que conquista e fideliza novos paladares e mercados mundo afora. A propriedade, pertencente ao Grupo Montesanto Tavares, com sede em Belo Horizonte, foi eleita a “Terceira Fazenda Mais Sustentável do Brasil”, em premiação realizada em dezembro do ano passado pela Revista Globo Rural/Editora Globo. PLANTIO CONSORCIADO Há oito anos, a Fazenda Primavera produz café especial, tendo como grande destaque o plantio consorciado com florestas de mogno africano (Khaya Ivorensis). O sombreamento da lavoura faz toda diferença no aroma, no sabor e na qualidade dos grãos produzidos. Atenua as oscilações de temperatura no ciclo de 24 horas e, com isso, reduz as disparidades entre o calor, durante o dia, e o frio, à noite. O resultado é um café mais adocicado e de qualidade homogênea, muito apreciado e também altamente valorizado nos mercados estrangeiros. Formado pelas empresas Atlântica Coffee, Cafebrás, InterBrasil Coffee, sediadas no Brasil, e pela Ally Coffee, com escritórios nos Estados Unidos e na Suíça, o Grupo Montesanto Tavares atua há 12 anos na produção, exportação, importação, transporte e armazenagem de café.

Sede: Belo Horizonte Atuação: está há 12 anos no mercado nacional e internacional (produção, exportação, importação, transporte e armazenagem de café. Total de funcionários: 650 Área plantada: 3.200 hectares Cinco fazendas: Primavera (Angelândia), Matilde (Capelinha), Atlântica Agro (Pirapora) e MGX Florestal (Ninheira), em Minas Gerais; e Fazenda Rio de Janeiro, em Luís Eduardo Magalhaes (BA). Quatro tradings: Ally Coffee, Atlantica Coffee, Cafebrás e InterBrasil Coffee. Logística: Montesanto Logística, Armazéns Gerais Leste de Minas (seis armazéns próprios no Brasil). Nos EUA, usa outros seis, entre Califórnia e Carolina do Sul. Escritórios no exterior: Trade Ally Coffee, em Lausanne, Suíça, polo de tradings de café de várias origens; e nos EUA, Flórida, Califórnia e Carolina do Sul. Clientes: Rede Starbucks, Green Mountain Coffee, Coca-Cola, Café Três Corações.

No total, tem 3.200 hectares plantados nas cidades de Pirapora, Angelândia, Capelinha e Ninheira, bem como no município baiano de Luís Eduardo Magalhães. A estimativa de faturamento da holding para 2017 é R$ 2,1 bilhões (leia mais a seguir).

REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA Diretor agrícola da Fazenda Primavera, Leonardo Tavares enumera as principais vertentes da sustentabilidade praticada diariamente no empreendimento. A primeira delas é o reaproveitamento da água que abastece a usina onde o café é MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  47


FOTOS: DIVULGAÇÃO/GRUPO MONTESANTO TAVARES

1 AGRONEGÓCIO

“Usamos a água reaproveitada, que é rica em nutrientes, para irrigar o solo. E, com isso, economizamos com adubos minerais.”

A ÁGUA reaproveitada na Fazenda Primavera é utilizada na irrigação

Leonardo Tavares, diretor agrícola da Fazenda Primavera

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CASCAS de café se transformam em adubo orgânico nas áreas de plantio FOTO: FABIANO BASTOS/EMBRAPA

despolpado. Ela é reutilizada várias vezes, em circuito fechado, e destinada, em seguida, a um tanque de decantação. “Usamos essa água, que é rica em nutrientes, para irrigar o solo e, com isso, economizamos com adubos minerais”, explica. A segunda prática sustentável em destaque é o reaproveitamento das cascas do café que, após ficarem em decomposição por um ano, se transformam em um fortíssimo adubo orgânico e também retornam às áreas de plantio. O terceiro viés ecológico é o investimento nas florestas de mogno, numa fina – e visionária – sintonia com a demanda por madeira plantada, que cresce em escala global. “Se não partirmos para o reflorestamento, certamente faltará madeira no mundo inteiro”, pondera Tavares. A constatação dele tem fun-

POR VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, floradas eventuais de café podem ocorrer ao longo de outros meses do ano, além da primavera. Cada galho da planta se torna um perfumado buquê branco e, por capricho da natureza, as flores costumam desabrochar numa só manhã


TÍTULOS E AVANÇOS

l As dez primeiras colocadas foram submetidas a visitas técnicas para verificar, em campo, a adoção das práticas de ecoeficiência. Além desse prêmio, a Fazenda Primavera conquistou outros dois importantes títulos em 2016. O café lá produzido ficou em segundo lugar entre os 24 melhores das principais regiões produtoras do Estado, no “13º Concurso Estadual de Qualidade dos Cafés”, representando a região da Chapada de Minas. l O outro título conquistado pela Primavera foi o 4o lugar na categoria “Melhor Café Especial 2016”, eleito pela Associação Brasileira de Cafés Especiais, com sede em Varginha (MG). As certificações UTZ, Rainforest Alliance e 4C, entre outras, também atestam o cuidado da Fazenda Primavera com a conservação dos recursos naturais.

damento. De acordo com a ONG ambientalista WWF, até 2050 o aumento da população, da demanda e do uso da madeira, inclusive para a geração de energia, deve triplicar a quantidade de madeira que a sociedade mundial retira anualmente das suas florestas e plantações. ENSINAMENTO E OTIMISMO O compromisso de desenvolver a cafeicultura local também é prioridade para os gestores da Fazenda Primavera. Leonardo Tavares lembra que a maior parte do café produzido no Brasil passa pelas mãos de agricul-

l Único grupo brasileiro com atuação em toda a cadeia do café, o Montesanto Tavares também é pioneiro no uso da QualiPak, embalagem para exportação que preserva sabor, aroma, frescor, qualidade e cor dos grãos. Ela foi desenvolvida pela Videplast, empresa nacional especializada em embalagens plásticas flexíveis, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA). l Composta por camadas de resinas e substâncias recicláveis, a QualiPak substitui a juta e o liner, atualmente usados para embalar o café brasileiro. Ela protege os grãos de reações com oxigênio, umidade e temperatura, evitando, ao longo do tempo, a perda de suas principais propriedades e características. Reciclável, de envase direto e paletizável, reduz o custo de carga/descarga dos contêineres em 60%, se comparado ao do atual sistema, além de ser passível de rastreabilidade.

tores familiares. “Hoje, os produtores daqui da região têm as mesmas oportunidades de acesso às informações que nós, da fazenda, temos. A gente vai de produtor em produtor, ensinando tudo o que fazemos para que eles possam obter o mesmo nível de rentabilidade e de qualidade.” Otimista, Tavares resume: “Considerando as condições da terra, do clima e a expertise acumulada em quase 400 anos de produção, o Brasil tem tudo para se manter no patamar máximo: o de maior produtor de café do mundo.”

O mesmo pode se dizer da Fazenda Primavera. Se depender de bênçãos, ela tem tudo para continuar prosperando. Afinal, além de ter a sustentabilidade como pilar, ela está sob a proteção da padroeira de Angelândia, Nossa Senhora dos Anjos, e é uma “das meninas dos olhos” dos seus proprietários, grupo que já tem um nome abençoado: Montesanto.

FOTO: REPRODUÇÃO

l Os vencedores do “Prêmio Fazenda Sustentável”/Globo Rural foram anunciados em cerimônia realizada em São Paulo, no fim do ano passado. O primeiro lugar ficou com a Fazenda Modelo II, de Ribas do Rio Pardo (MS), e o segundo, com a Fazenda Porteira Velha, de Pinhão (PR). No total, foram 65 propriedades inscritas, de diferentes setores de produção. Das 37 selecionadas para a segunda fase, apenas 17 apresentaram todos os índices que atestam uma produção sustentável.


1 AGRONEGÓCIO PERFIL: RICARDO TAVARES, presidente do Grupo Montesanto Tavares

“Sou um plantador de árvores” gosto pelo trabalho e a ética. Em pleno verão de janeiro, ele – que raramente sai de férias e abriu mão do curso de economia aos 19 anos para ajudar o pai a tocar os negócios da família – recebeu a reportagem da Revista Ecológico numa sexta-feira à tarde, em BH, quando conversou, com simplicidade e paciência, sobre diferentes assuntos. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa:

FOTO: CLÁUDIO GATTI

Observador, discreto e de poucas palavras, ele segue ao pé da letra o velho ditado popular: planta verde para colher maduro e, claro, lucra muito em tudo o que faz. Mas não se engane. Apesar da fama de Midas e da comprovada capacidade de transformar suas empresas em empreendimentos milionários, o que o mineiro Ricardo Tavares realmente quer deixar de herança para os filhos são valores de vida, como o

QUEM É ELE Mineiro de Ponte Nova, Ricardo Tavares tem 55 anos. Nos anos 1980, assumiu o Café Três Corações – uma das maiores torrefadoras do país – para salvar a empresa e receber pelo café fornecido por sua família a ela. À frente da marca, renegociou dívidas, mudou a estratégia de mercado e diversificou o portfólio de produtos, vendendo-a, anos depois, para o grupo israelense Strauss-Elite, por mais de US$ 40 milhões. Visionário, criou a Sucos Mais, vendida à Coca-Cola em outra transação milionária. É casado, tem dois filhos e dois netos. Preside também a Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano (ABPMA), criada em 2011. TAVARES: "O bem gera o bem. Os bons exemplos é que devem nos motivar"

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l BONS EXEMPLOS “Sou avesso a ler e ver notícias ruins. A maioria dos programas de TV só mostra tragédia, porque, infelizmente, isso atrai audiência. Agora, por exemplo, faz dias que só vemos notícias sobre as rebeliões em presídios. Ninguém aguenta mais isso. Acredito que o bem gera o bem. Os bons exemplos é que devem nos motivar, não a bandidagem.”

FOTO: DIVULGAÇÃO/GRUPO MONTESANTO TAVARES

l CAFÉ COM MOGNO “Temos mogno plantado em todas as nossas fazendas, totalizando mais de mil hectares. Alguns plantios são consorciados com o café, como na Fazenda Primavera. Com o sombreamento, a maturação do café é mais lenta e homogênea, o que resulta num café mais adocicado e de alta qualidade. Você planta o café e com 15, 17 anos tem uma lavoura do mogno consorciada que sai praticamente ‘de graça’. Enquanto você cuida do café, o mogno cresce.” “A demanda por mogno africano sempre existiu no mercado internacional. No meu caso, vi uma reportagem sobre ele e, antes de investir no plantio, passei dias viajando pelo Mato Grosso e Pará, até ter certeza de que ele seria a melhor escolha.” “Pesquisei, conheci muita gente e criei até um campo experimental, na Fazenda Atlântica Agro, em Pirapora, com mais de dez tipos de madeira, como a teca e o cedro, plantados ao lado do mogno africano. Assim, quem chega já percebe de cara a diferença. Tive também grande ajuda do doutor Ítalo Falesi, pesquisador aposentado da Embrapa Belém, que introduziu essa espécie no Brasil, nos anos 1970.”

MOGNOS consorciados com os pés de café: o reflorestamento como viés ecológico e aliado à produção agrícola

“Essa visão do agronegócio como o grande vilão do desmatamento tende a mudar. O setor tem promovido muitas iniciativas importantes. No meu caso, tenho paixão por florestas.” l ÁGUA “Mesmo com a questão das mudanças climáticas, esse negócio de falar de água é engraçado. A Exportadora Guaxupé, por exemplo, uma das mais tradicionais de Minas, tem um quadro com gráficos que registram os volumes de chuvas nos últimos 30 anos. Com exceção dos últimos dois anos, que foram realmente muito ruins de chuva, principalmente em MG, esses gráficos mostram que, atualmente, tem chovido mais do que nas últimas décadas.” “A diferença é que as chuvas

agora são mais intensas, e concentradas em determinados dias/ épocas do ano. De modo geral, essa chuva concentrada e forte atrapalha a lavoura, pois não tem o mesmo efeito da chuva mansa, fininha e que antigamente durava vários dias, conhecida no interior como chuva criadora.” l IRRIGAÇÃO “Hoje, cerca de 30% do café produzido no Brasil é irrigado. No Norte de Minas, sem irrigação só se produz eucalipto, e olhe lá... Mas, felizmente, na Fazenda Atlântica Agro, em Pirapora, temos oito quilômetros de Rio São Francisco cortando nossas terras. Em São Roque de Minas também não precisamos irrigar nada, porque fica na Serra da Canastra – a nascente do Velho Chico – e chove muito. Em Capelinha, também não irrigamos. Na Bahia, temos o Rio de Janeiro, com água cristalina. Toda irrigação é feita dentro da lei, com outorga regulamentada.” l NOVA IMAGEM “Essa visão do agronegócio MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  51


FOTO: DIVULGAÇÃO/GRUPO MONTESANTO TAVARES

1 AGRONEGÓCIO como o grande vilão do desmatamento tende a mudar. O setor tem promovido muitas iniciativas importantes, mas, no geral, ainda permanece a imagem negativa, porque ele divulga pouco o que faz de bom. No meu caso, tenho paixão por florestas. Comecei minha vida profissional trabalhando com madeira e sou um plantador de árvores: já plantei mais de 300 mil.” l LENDA “Essa ‘lenda’ de que o melhor café brasileiro é exportado, restando ao mercado nacional os grãos de pior qualidade, procede apenas em parte. De fato, nossos melhores cafés têm como foco a exportação. No entanto, várias indústrias fornecem cafés de ótima qualidade para consumo interno, tão bons quanto os exportados. Basta procurar as marcas certas. Particularmente, prefiro os cafés de torra mais clara, suaves. Tomo muito, umas seis xícaras por dia.” l DONALD TRUMP “Posso até me enganar, mas acho que ele ‘vai tirar de letra’ a presidência dos EUA. De bobo ele não tem nada. Também não acredito que ele seja tão ruim quanto demonstra, do contrário não teria chegado onde chegou. É inteligente e já mostrou que sabe ganhar dinheiro. Ele pode surpreender o mundo, vamos ver no que vai dar.” l FAMA “Gostam de me chamar de Midas, de rei disso, barão daquilo, mas não tem nada disso. Quando a fama de alguém é boa, tudo costuma conspirar a favor. Mas já investi em projetos que não deram certo... Por outro lado, investi em empresas que são sucesso 52  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

“Com o sombreamento por meio do mogno, a maturação do café é mais lenta e homogênea, o que resulta num café mais adocicado e de alta qualidade.” até hoje, como a Três Corações. Estamos indo bem na produção e na exportação e o fato de atuarmos em toda a cadeia do café, certamente, faz a diferença em nossos negócios. Mas a verdade é que não sei ficar parado, sem crescer. Quero prosperar e turbinar tudo o que tenho.” l PERFECCIONISMO “Sou de escorpião, e já me disseram que é signo de gente teimosa. Sou perfeccionista também. Digo sempre que não somos os melhores em tudo, mas procuramos fazer o melhor possível em nossas empresas. Não gosto de fazer nada mais ou menos. Gosto de planejar todas as estratégias.” “Delego muito também. Pro-

curo encaixar as pessoas certas nas funções estratégicas e, felizmente, temos uma equipe com profissionais de confiança e grande competência. Não tem como crescer centralizando tudo. Sozinho, jamais chegaria até aqui.” l HERANÇA “Não reclamo nem gosto de ficar falando de crise. Profissionalmente, eu nasci em plena crise, quando recuperamos a Três Corações. A questão hoje é muito mais moral. Os caras roubam milhões e não estão nem aí, não sentem a menor vergonha. Acredito mesmo é no trabalho, em criar e ter sempre novas ideias. A verdadeira herança que recebi dos meus pais e quero deixar para os meus filhos e netos é: o gosto pelo trabalho e a ética. Não abro mão disso por dinheiro.” l NA PRÓXIMA EDIÇÃO: Conheça o Instituto Café Solidário, braço de responsabilidade social do Grupo Montesanto Tavares, e a Fazenda Atlântica Agro.

SAIBA MAIS

www.montesantotavares.com.br


O câncer se manifesta de diversas formas. Sua solidariedade também.

Desde 1971, na luta contra o câncer.

Doe: 0800 039 1441 www.doemariopenna.com.br Instituto Mário Penna

@institutomariopenna


1 POLÍTICA AMBIENTAL

AS "PEDREIRAS" DE

KALIL

Conheça os dois últimos grandes desafios que o novo prefeito de BH terá de enfrentar, ao lado do governador Fernando Pimentel, além dos cinco que a Ecológico mostrou na edição anterior:

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republicanas. E, muito menos, sustentáveis. Mas, se enfrentadas apartidariamente e com coragem (do latim “agir com o coração” social), justamente o perfil que Kalil mostrou durante a campanha, essas demandas podem fortalecer a imagem de um prefeito efetivamente preocupado com as demandas sociais, econômicas e ambientais – do que a ex-”Cidade Jardim” do Brasil ainda carece. Confira:

FOTO: VERÔNICA MANEVY / IMPRENSA MG

omo a Revista Ecológico anunciou em sua edição 95, os dois maiores problemas que o governo Alexandre Kalil tem para resolver na área socioambiental em Belo Horizonte são mais que simples desafios. Na linguagem popular, são questões consideradas “pedreiras” mesmo, por envolverem tanto interesses escusos quanto diferenças partidárias e interferências intelectuais nada

ALEXANDRE Kalil, com Fernando Pimentel: em suas mãos, a última esperança para a mais sustentável operação urbana já realizada na capital mineira 54  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

1 – ISIDORO A primeira tragédia que o ex-prefeito Marcio Lacerda quase conseguiu evitar - e essa foi a sua confessada “maior tristeza” ao deixar o governo – chama-se “Operação Urbana Isidoro”, instituída pela Lei Municipal 9.959, que ele regulamentou desde o seu primeiro governo, em 2010, como “Área de Interesse Socioambiental”. O nome Isidoro foi escolhido em homenagem ao curso de água integrante da Bacia do Onça e do Rio das Velhas, que corta a região hoje quase totalmente degradada. Trata-se não apenas de preservar, mas de tornar sustentável, com a implantação compartilhada de uso público, urbanização e projetos habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida”, todos os terrenos públicos e particulares ainda existentes na chamada última fronteira verde na região Norte da capital mineira. Isso significava, em vez das conhecidas e incentivadas invasões politicamente criminosas, que continuam ocorrendo, a ocupação ecologicamente correta de nada menos que 9,5 milhões de metros quadrados, no limite de Belo Horizonte com Santa Luzia. Uma área com metragem maior, portanto, que a própria “Cidade Vergel” dos versos de Olavo Bilac, de 8,5


MÉTODO PERVERSO do fato consumado na Operação Urbana Isidoro, na capital mineira: primeiro colocam fogo, depois retiram a madeira e, sem mais natureza, promovem a posse ilegal

milhões de metros quadrados, assim sonhada por Aarão Reis dentro do perímetro urbano da Avenida do Contorno. Aí que entra a ironia do destino, para não dizer cegueira e insensibilidade política. A maior quantidade de terrenos ali preservados até então, com matas e águas ainda intocáveis, somando 3,6 milhões de m2 (quase o dobro do Parque das Mangabeiras, a maior área verde de BH), pertencia à antiga Granja Werneck e à Mata do Sanatório. Ambas, desde o início do século passado, de propriedade do médico Hugo Werneck, o patriarca da família, fundador da Faculdade de Medicina, do Banco da Lavoura, do jornal Estado de Minas e do Automóvel Clube, além da primeira Câmara Municipal da capital mineira, que ele também presidiu.

Detalhe ecológico: pai do ambientalista de mesmo nome, fundador do Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais, a primeira ONG verde criada na América Latina, quando o mundo ainda não falava em meio ambiente e desenvolvimento. É o “doutor Hugo”, que todos nós conhecemos, a quem a Revista Ecológico é dedicada in memoriam em todas as luas cheias, quando ela é distribuída. Detalhe histórico: ele próprio, aos 89 anos e no leito do hospital, foi quem assinou o contrato do empreendimento, passo fundamental para a implantação da Operação Urbana Isidoro. Hugo Werneck também havia sido convencido pelos seus filhos que, diante da escalada da degradação ao redor, essa

era a única forma de proteger e dar uma destinação sustentável, também econômica e social, à natureza que sua família preservou ali durante mais de um século. Ele morreu uma semana depois. ESPERANÇA O Projeto Isidoro de ocupação sustentável, na ordem inacreditável de dois metros quadrados de área verde por cada metro quadrado de área construída, que também traz a assinatura do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e com renome internacional, ainda pode virar realidade em grande parte da sua idealização original. Desde que não aconteça com Kalil e o governador Fernando Pimentel, o que tanto frustrou Lacerda: a falta de coragem política dos ex-governadores

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MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  55


FOTO: FERNANDA MANN

1 POLÍTICA AMBIENTAL

OS INCÊNDIOS criminosos já tingem a Mata do Sanatório, onde os Werneck, pai e filho, sonharam uma história de amor e ecologia social

Antonio Anastasia e Alberto Pinto Coelho para autorizar e executar, quando puderam, a reintegração de posse dos terrenos públicos e particulares ainda vítimas ali do processo continuado de devastação e ocupação ilegais. Tanto a reintegração quanto a invasão, ambas foram sabotadas e orquestradas por razões ideológicas. E pior, principalmente por gente de fora, incluindo intelectuais, o que acabou tirando o direito dos verdadeiros “sem teto” de terem uma oportunidade real de vida melhor. A maioria dos invasores, e isso é de conhecimento público, tem carros e domicílios fixos, com CEP e tudo em Santa Luzia. Razão por que, neste município vizinho, eles foram expulsos e não reclamaram, pela própria prefeitura, no mandado do ex-prefeito Carlos Calixto. O próprio Lula, em visita ano passado à região, em vez de presidir e propor uma solução sustentável, incentivou os invasores do Isidoro a subirem mais seus muros e barracos para inviabilizar o projeto em curso. Mas, ao mesmo tempo, também lhes prometeu: “Tenho certeza de que o governador Pimentel vai achar uma saída 56  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

O MÉDICO e o ambientalista, que assinou a Operação Urbana Isidoro com a PBH, uma semana antes de sua morte: memória desrespeitada

para vocês”. Essa esperança parece estar acontecendo agora. A exemplo de Pimentel, que fez um bom trabalho na área ambiental quando na Prefeitura de BH - a ponto de ter empossado o próprio Hugo Werneck como presidente da Fundação Zoo-Botânica em sua gestão como vice do prefeito Célio de Castro - Kalil também estaria mudando seu olhar para a situação. Se antes o novo prefeito era totalmente contra o processo de reintegração de posse em toda

a área original do projeto, agora ele também busca uma solução compartilhada, inclusive junto à Construtora Direcional, que faz e é parte interessada na sonhada operação urbana. Kalil estaria também participando de uma nova e possível formulação com o governo estadual, incluindo a possibilidade de justa troca de terrenos para os “sem-teto” verdadeiros. A Revista Ecológico tem tentado falar com ele. Extra-oficialmente, o que se sabe, e é bom pra todo


FOTOS: DIVULGAÇÃO

mundo, é que a “maior tristeza” de Lacerda pode virar a “maior alegria” tanto de Kalil quanto de Pimentel. Virar uma solução social, econômica e ambiental, que é o outro nome da sustentabilidade, não à toa, uma das 10 palavras mais acessadas hoje na rede mundial de computadores. Uma fonte próxima a Kalil e à família Werneck garantiu que, “se antes só havia escuridão no final desse túnel, agora pelo menos já existe um ponto de luz, uma nova esperança no horizonte”. Que ela seja bela e urgente. Em nome da lei! Para saber tudo sobre o Projeto de Operação Urbana Isidoro, acesse: goo.gl/K5NI0n. Leia também o dramático desabafo da família do mais histórico e amado ambientalista brasileiro, que pede justiça e apoio ao Governo de Minas, acessando: goo.gl/XXk1dI

A PROPORÇÃO de ocupação sustentável do projeto é de dois para um, em termos de área verde e de lazer, versus área construída com o programa “Minha Casa, Minha Vida”, mais escolas e postos de saúde

FOTO: FERNANDA MANN

SOMADAS num só projeto de ocupação e urbanização sustentável, a Granja Werneck e outros terrenos particulares e públicos perfazem quatro milhões de metros quadrados, quase duas vezes o Parque das Mangabeiras, a maior área verde de BH

A INVASÃO já acontecida próxima ao bairro Serra Pelada: com direito a placa enganosa

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1 POLÍTICA AMBIENTAL FOTOS: REPRODUÇÃO

2 – INSTITUTO HILTON ROCHA

Manter como estão, e sua polêmica história de invasão do patrimônio histórico-natural, as ruínas degradantes do ex-Instituto Hilton Rocha, no sopé da Serra do Curral? Ou permitir a construção sustentável, no mesmo lugar, pela Oncomed, de um moderno hospital de câncer para a população da capital, que os moradores vizinhos e o Ministério Público não querem que aconteçam? Eis a outra “pedreira”, também de interesses difusos, para a administração Alexandre Kalil enfrentar e resolver, coisa que seus últimos antecessores na cadeira de prefeito de Belo Horizonte correram léguas para não se comprometer nem resolver. A posição da Ecológico, que acompanha esse debate desde o seu início, com a morte do médico e humanista Hilton Rocha, é a mesma defendida pela ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, eleita pela Revista Times como uma das 50 personalidades globais capazes de influenciar a maneira de pensar da humanidade e mudar o seu futuro cada vez mais sombrio sobre o planeta: “Não nos cabe mais discutir o que se deve ou não fazer com a natureza e o meio ambiente que nos restam. Mas como fazê-lo de maneira sustentável, pensando 58  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

O DILEMA persiste com a questionada intervenção das obras do novo hospital pelo Ministério Público Federal

maior e nas gerações futuras”. O detalhe inovador agora, que pode ser o fiel da balança, chama-se (coincidentemente, no sobrenome) Mário Werneck, o novo secretário municipal de Meio Ambiente de Kalil. Enquanto presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais, e até ser convidado por Kalil, ele sempre se posicionou ao lado da proposta do hospital prometido pela Oncomed. Ou seja, de acrescentar mais 220 novos leitos à rede hospitalar do município, com capacidade para atender 13 mil internações/ano, além da realização de 180 mil exames e 65 mil atendimentos ambulatoriais em oncologia, oftalmologia e cardiologia. Nesta polêmica, acrescente-se as estimativas do Instituto Nacional do Câncer de que, até o final do ano, estão previstos quase 10 mil novos casos de câncer

somente na capital, somando-se todas as neoplasias. E a declaração pública feita por Mário Werneck, no final do ano passado, antes de sua nomeação, durante passeata de protesto e abraço simbólico de pacientes e ex-pacientes da Oncomed ao redor do antigo hospital: “Só quem teve ou tem uma pessoa próxima acometida de câncer, seja rico ou pobre, sabe como essa doença é terrível e precisa de um tratamento diferenciado, humanizado e de ponta”. E concluiu: “Não é à tôa que estamos aqui, no pé desta serra, lutando pela construção do hospital que, me parece, incomoda o alto padrão da vizinhança que o repudia”, conclamou Mário. A Revista Ecológico tentou, mas não conseguiu retorno do secretário. 

SAIBA MAIS

goo.gl/Tqcshw


Revista_ecologico.pdf 1 28/02/2014 15:02:37

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FOTO: MARCUS FERREIRA / SES-MG

1 SAÚDE

A POPULAÇÃO que mora em regiões silvestres, rurais ou de mata ou que se desloca a áreas com recomendação de vacina deve se imunizar

BRASIL EM ALERTA Febre amarela avança na floresta e nas cidades. Entenda melhor o que é a doença, seus sintomas e como ela pode ser transmitida Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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m postos de saúde de algumas cidades brasileiras, uma cena vem se tornando comum: são cada vez maiores as filas de pessoas esperando serem vacinadas contra a febre amarela. O surto é considerado o maior desde 1980, ano em que o Ministério da Saúde passou a disponi-

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bilizar dados sobre a doença. Até o dia 10 deste mês, segundo boletim epidemiológico publicado pelo Governo de Minas, foram notificados 1.089 casos de febre amarela, sendo 288 confirmados e 57 descartados. Em relação às mortes, há 188 casos suspeitos. Desse total, 109 foram confirma-


A ORIGEM DO SURTO Qual a relação entre destruição ambiental e o surto de febre amarela no Brasil

?

SURTO As cidades brasileiras estavam livres da doença desde 1942 graças às campanhas do sanitarista Oswaldo Cruz no início do século. Minas Gerais é o epicentro do atual surto, que se espalhou para outros estados. A OMS já fez alerta a países que fazem fronteira com o Brasil. ECOSSISTEMAS A degradação ambiental significa menos predadores do mosquito no ecossistema. E também redução do número de mamíferos que os mosquitos picam. Esses macacos são os primeiros a sofrer, acendendo o alerta para os humanos. Em uma floresta saudável, a doença se dissiparia com mais facilidade.

D.A. PRESS

HIPÓTESES Uma das hipóteses, para os especialistas, é a de que a degradação ambiental esteja na raiz do problema. A febre amarela é transmitida por mosquitos. Ecossistemas mais frágeis têm mais chances de sofrer com o surto porque têm menos diversidade. No caso da Mata Atlântica, o homem avança sobre o ambiente para morar, caçar e explorar madeira, ficando cada vez mais exposto ao problema.

TRANSMISSÃO Como a doença em áreas urbanas pode ser transmitida apenas pelo Aedes aegypti, a melhor prevenção é evitar a disseminação do mosquito, evitando o acúmulo de água parada em caixas d’água, latas e pneus, propícios para a fêmea pôr seus ovos.

SINTOMAS Se apresentar algum dos sintomas, como febre, calafrio, dor de cabeça e náusea, procure um médico, só ele é capaz de diagnosticar e tratar a doença. Remédios como AAS e aspirinas devem ser evitados: eles favorecem hemorragias. A única forma de evitar a febre amarela silvestre é a vacinação. A vacina vale por 10 anos e no Brasil é recomendada para pessoas a partir de nove meses de idade.

PREVENÇÃO Outra questão é o descuido com a vacinação, a única forma de ficar livre da doença. As vacinas não chegam a áreas isoladas e de risco. E muitas vezes não são conservadas a frio, como deveriam. As falhas na vigilância sanitária são uma ponta de um problema maior: a instabilidade política e econômica das regiões afetadas expuseram uma crise no sistema de saúde.

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A MORTE de macacos em Minas Gerais acende o alerta para a necessidade de vacinação em massa da população. Em BH, até o fechamento desta edição, quatro óbitos de primatas por febre amarela foram confirmados na Região Metropolitana. Em Montes Claros, norte do Estado, foram seis

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

1 SAÚDE QUEM PRECISA SER VACINADO? Uma dose aos nove meses de idade e um reforço aos quatro anos. 

Acima de seis meses de vida, caso more em áreas rurais, de mata ou silvestre, ou viaje com destino a uma. 

A partir de cinco anos de idade, para quem é vacinado, é necessário administrar um reforço a ser avaliado pela equipe de saúde. 

Pessoas que nunca foram vacinadas, ou não possuem comprovante de vacinação, é necessário administrar a primeira dose da vacina e um reforço após 10 anos. Dessa forma, indivíduos que já receberam duas doses da vacina ao longo da vida já podem ser considerados imunizados e não precisam do reforço de 10 em 10 anos. 

dos. E são exatamente eles que despertaram o alerta, não mais amarelo, mas agora vermelho, nas autoridades de saúde pública e na população. Estudos demonstram que a doença surgiu na África, há cerca de três mil anos, e os primeiros casos surgiram no Brasil por volta do século 17, com a chegada de navios que traziam escravos para a Colônia. Como as cidades não dispunham de saneamento básico e estavam infestadas de mosquitos, a dispersão do vírus por meio dos insetos tomou grandes proporções na época. A primeira região atingida foi Pernambuco, em 1685. A população sofreu com surtos da doença durante 10 anos. Em Salvador, na Bahia, foram registradas 900 mortes por febre amarela durante os primeiros seis anos em que o vírus se propagou, de acordo com informações do Ministério da Saúde. CICLOS DO PERIGO A doença se dá de duas formas: urbana e silvestre. No ciclo silvestre, em áreas florestais, o vetor da febre amarela são os mosquitos Haemagogus e o Sabethes. Nesses locais, a infecção acontece quando uma 62  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

pessoa que nunca tenha contraído a febre amarela ou tomado a vacina é picada por alguma das espécies de mosquitos infectados. Ao contrair a doença, a pessoa pode se tornar hospedeira do Aedes aegypti – o mesmo inseto que transmite a dengue, a zika e a chikungunya. É a partir desse momento que o ciclo urbano de transmissão da doença se estabelece. Apesar de o último caso de febre amarela urbana ter sido registrado no Brasil em 1942, a possibilidade de retorno da doença é real, já que existe a proliferação do mosquito nas cidades. Por isso, é indispensável a vacinação com antecedência de pessoas que residam ou façam viagens para regiões consideradas de risco (leia mais recomendações no box “Quem precisa ser vacinado?”). MITO PRIMATA A coordenadora de Zoonoses e Vigilância de Fatores de Risco Biológicos da Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), Mariana Gontijo, conta que o vírus da febre amarela acomete principalmente os primatas. “No ciclo silvestre da febre amarela, os macacos, chamados de primatas não humanos,

Pessoas com 60 anos ou mais, que nunca foram vacinadas, ou sem o comprovante de vacinação, o médico deverá avaliar o benefício desta imunização, levando em conta o risco da doença e o risco de eventos adversos nesta faixaetária ou portadores simultâneos de duas doenças, como hipertensão e diabetes. 

são os principais hospedeiros e amplificadores do vírus.” Porém, a coordenadora explica que ao contrário do que algumas pessoas acreditam, “os macacos não transmitem a febre amarela para o homem, e também não são os responsáveis pela transmissão da doença”, afirma. Ou seja, a única forma de transmissão da febre amarela para humanos se dá pela picada do mosquito infectado. Ainda assim, a confirmação de macacos mortos pelo vírus da febre amarela é um importante alerta de segurança para os humanos, segundo Ludmila Ferraz de Santana, referência técnica em Raiva, Febre Amarela e Poxvírus da SES-MG. A especialista esclarece que os primatas prestam um importante auxílio no controle da


doença. “Por adoecerem primeiro, esses animais dão às autoridades informações valiosas sobre a circulação do vírus. O achado de macacos mortos serve de alerta para que os órgãos de saúde pública iniciem campanhas de vacinação. Algumas pessoas pensam que os macacos transmitem a febre amarela aos humanos, o que é completamente errado. Além de ilegal e de tornar mais crítico o estado de conservação desses animais, a matança indiscriminada, assim como o envenenamento intencional de macacos são extremamente prejudiciais ao próprio homem. Se eles forem mortos por ação humana, descobriremos que a febre amarela chegou a determinada região apenas quando as pessoas contraírem a doença”, explica. PREVENÇÃO Por isso, a melhor e única forma de se prevenir contra a doença é a vacinação. Principalmente se

as pessoas morarem ou viajarem para áreas consideradas de risco. Em Minas, existem 87 municípios com casos suspeitos, sendo 46 cidades com ocorrências confirmadas. Os nomes das cidades podem ser conferidos no site da Secretaria de Saúde de Minas Gerais no link goo.gl/EOJFNy (as regiões do Brasil que também são consideradas de risco podem ser acessados no site do Ministério da Saúde (portalsaude.saude.gov.br). SURTO Uma das causas apontadas para o surgimento do novo surto da doença é o desequilíbrio ambiental. As mudanças climáticas e a degradação ambiental provocadas pelo homem são as principais responsáveis pelo recente aparecimento de inúmeras doenças infecciosas. Especialistas acreditam que o avanço da doença tem sido facilitado pelo deslocamento de pessoas infectadas ou pela dispersão dos mosquitos. 

FIQUE POR DENTRO A

detecção da doença só pode ser feita por diagnóstico médico.

 Os

casos graves podem causar doenças cardíacas, hepáticas e renais fatais.

 Além

dos sintomas comuns, pode-se ter dor local (abdômen, costas ou músculos), confusão mental, hemorragia ou icterícia.

 Em

caso de doença grave, consulte um médico para receber orientação.

O

período de incubação é de três a seis dias após a picada do mosquito. Fonte: Hospital Israelita A. Einstein

SAIBA MAIS

www.saude.mg.gov.br/febreamarela


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PERFIL - RUBEN FERNANDES

“A MINERAÇÃO TEM DE

SER SUSTENTÁVEL” Hiram Firmino e Bia Fonte Nova

FOTO: RONALDO GUIMARÃES

redacao@revistaecologico.com.br

RUBEN FERNANDES, o novo rosto da Anglo American: "Nosso compromisso é fazer a diferença" 64  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

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ngenheiro metalurgista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, o belo-horizontino Ruben Fernandes, atual presidente da Anglo American no Brasil, está na empresa desde 2012 e é o oitavo executivo a ocupar o cargo, em oito anos de presença da mineradora no Estado. O carro-chefe das atividades é o Sistema Minas-Rio, projeto que inclui a mina e a unidade de beneficiamento de minério de ferro localizada em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas – na porção mineira da Serra do Espinhaço –, além de um mineroduto e do terminal de embarque no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). Canceriano, Ruben tem a sensibilidade e a tenacidade como uma de suas marcas registradas, aliada também à sua trajetória e experiência profissional de 22 anos atuando na mineração. Seu principal desafio, no momento, é obter as licenças ambientais necessárias à consolidação da Fase 3 do Minas-Rio. Com elas, a mineradora espera atingir sua capacidade máxima de produção, saltando de 16,1 milhões para 26,5 milhões de toneladas de minério/ano até 2019. Descontraído e de fala rápida, o executivo recebeu a reportagem da Revista Ecológico em seu escritório, em Belo Horizonte, onde ressaltou a importância da mineração para a sociedade, em especial no Brasil, que é líder na exportação de nióbio e o terceiro entre os maiores exportadores de minério do mundo. Otimista, reforçou o compromisso de deixar um legado duradouro e sustentável na região de influência do projeto e revelou sua antiga relação afetiva com Conceição do Mato Dentro, onde sua família viveu por mais de 10 anos e seu pai fundou a conhecida cachaça Bento Velho. Confira o que pensa este novo “embaixador” da mineração:

SEGREDO “Mineração tem que ser sustentável, é uma questão de sobrevivência. Todos dependemos dessa atividade que é essencial para a vida moderna e está presente em nosso dia a dia sob variadas formas, de geladeiras e carros a computadores e aviões. O segredo é fazer o que é certo, pensando no longo prazo, com respeito socioambiental e muito diálogo.”

“O Minas-Rio terá vida útil bastante longa. Temos reservas naturais para operar por mais de 40 anos e, portanto, nossa visão é de futuro, de criar laços e buscar o engajamento permanente com as comunidades vizinhas. O casamento entre mineração e comunidade tem de dar certo, gerar frutos ambientais, sociais e econômicos, deixando um legado que seja duradouro e sustentável para todas as partes envolvidas.”


Ruben Fernandes, 51 anos, tem MBA em Negócios pela USP. Foi diretor de Mineração da Votorantim Metais no Brasil e, entre 2009 e 2011, respondeu pela diretoria de Operações da Vale Fertilizantes, sendo responsável também por vendas e marketing. Presidiu as empresas Kaolin – Pará Pigmentos e Cadam, duas subsidiárias da Vale, entre 2007 e 2009. De 1988 a 1998, ocupou diversas posições de liderança na indústria de ligas especiais. Atualmente, participa da iniciativa “The CEOs Legacy”, da Fundação Dom Cabral, que reúne dirigentes de nacionais e multinacionais, com o propósito de criar um ambiente de transformação no qual reflitam e compartilhem experiências capazes de fazer a diferença em suas vidas e nos negócios. É casado e tem dois filhos.

EMBAIXADOR “Minerar é gerar desenvolvimento e riqueza para todos, de forma responsável. Apesar de o setor historicamente enfrentar resistência e oposição, temos de desmitificar essa realidade. Acredito que cada funcionário de uma empresa deste setor tem de ser um embaixador da mineração positiva e responsável, que traz conforto, desenvolvimento e benefícios coletivos.” “Durante um dos painéis de debate do Congresso Mundial de Mineração, realizado em outubro, no Rio de Janeiro, frisei que a mineração não pode ser mais vista como no filme ‘Avatar’, apenas como vilã, uma degradadora da natureza. Ela é uma indústria capaz de transformar a vida das pessoas para melhor, levando desenvolvimento e prosperidade para as regiões em que atua.” INOVAÇÃO “Este ano, estou completando

FOTO: PREF. DE CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO/DIVULGAÇÃO SITE

QUEM É ELE

30 anos de profissão, 22 deles na mineração – cinco anos na Anglo American – e outros oito na siderurgia. Sou um entusiasta da mineração, pois, como disse, o mundo precisa e todos nós precisamos dela. Também sou ligado às questões que envolvem inovação e a busca da excelência, com foco em sistemas e métodos de produção mais seguros e eficientes. Em especial do ponto de vista da economia de água e de energia.” “A mineração precisa inovar ainda mais. Sobretudo na adoção de processos de produção que permitam, por exemplo, minerar sem o uso de água e reduzindo o risco a que são expostos os profissionais da operação. A Anglo American tem um time muito forte ligado à inovação. Um grupo que fica em Londres, estudando e pensando o futuro da companhia daqui a 20, 30 anos, visando ao aperfeiçoamento contínuo da nossa atividade.” “Temos também iniciativas diferenciadas, como um projeto-piloto, no Chile, para uso de prensas de rolos para cominuição – fragmentação e redução da granulometria – do minério de ferro.

“Desde a chegada da Anglo American, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região de Conceição do Mato Dentro aumentou cerca de 40%.” Do ponto de vista energético, esse processo é bem mais eficiente, se comparado à eficiência dos britadores e moinhos convencionais.” ÁGUA “Sem compromisso ambiental, não conseguiríamos prosseguir com as nossas atividades. E o cuidado com a água é uma das prioridades do Minas-Rio. Além de recircular ao máximo o recurso que captamos para uso no processo – hoje esse índice é de 86% – temos ações voltadas para a conservação de matas ciliares e de nascentes, contribuindo para o aumento da disponibilidade

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MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  65


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PERFIL - RUBEN FERNANDES LICENÇAS “Hoje, nosso foco central no Minas-Rio é a obtenção das licenças ambientais para a Fase 3 do projeto. Em outubro do ano passado, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) nos concedeu a Licença de Operação (LO) para a Fase 2, que envolveu um conjunto de melhorias e ajustes operacionais, incluindo um pequeno avanço na cava.” “A estratégia inicial de implantação do projeto já previa o licenciamento em três fases. E com a terceira, estaremos aptos a atingir nossa capacidade instalada de produção, que é de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro/ ano até 2019. Em 2016, produzimos 16,1 milhões de toneladas.” “Estamos trabalhando com força total e a meta é obter a Licença Prévia e também a de Instalação (LI) até agosto deste ano. Isso porque precisaremos de um ano para construir as novas estruturas, compatíveis com o aumento da produção. Entre elas, diques de contenção e o alteamento de uma conta na barragem de contenção de rejeitos, que entrou em operação em 2014 e fica dentro da nossa área de

FOTO: DIVULGAÇÃO ANGLO AMERICAN

hídrica na região.” “Essa disponibilidade é permanentemente avaliada em importantes cursos d’água, tais como os rios do Peixe e Santo Antônio, que integram a Bacia do Rio Doce. Mas, infelizmente, no que diz respeito à qualidade das águas, o maior poluidor hoje dos nossos recursos hídricos é o esgoto doméstico. A ausência de saneamento básico na região reduz a disponibilidade hídrica para os mais diferentes usos, inclusive na mineração. Se você coletar uma amostra da água que devolvemos à natureza – após o processo produtivo – verá que ela é mais limpa e tem qualidade bem superior à que captamos.” “Em relação ao reaproveitamento da água que conduz a nossa polpa de minério, via mineroduto, até o Porto do Açu (ES), também temos boas perspectivas. Como ela percorre diferentes variações de terreno, com áreas planas e montanhosas, a água ganha grande velocidade após nosso descer a Serra da Mantiqueira e pode vir a ser usada na geração de energia elétrica para abastecer o próprio porto.”

BARRAGEM da Anglo American: o diferencial de segurança é o método construtivo - downstream -, a jusante. A barragem foi concebida para ser alteada em etapas, sempre para frente do maciço

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FIQUE POR DENTRO l O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é calculado com base em três indicadores: saúde, educação e renda. Foi criado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como alternativa às avaliações puramente econômicas de progresso nacional, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O IDH varia entre 0 e 1. l De acordo com o Plano de Desenvolvimento Socioeconômico e Empresarial para a Região de Influência da Anglo American em Minas, produzido pela Fiemg, entre a população adulta acima de 25 anos, a média é de três anos de estudo. Já o IDH na região é de 0,668, enquanto em MG é de 0,733. O PIB é de 3,349 per capita, enquanto no restante do estado é de 11,028. Nova Lima, cidade também mineradora, lidera o ranking estadual do IDH, com 0,813.

operação, entre Conceição e Alvorada de Minas. Vamos investir cerca de R$ 1 bilhão só em serviços.” BARRAGEM “Hoje, apenas 35% da capacidade total da nossa barragem está ocupada. Além disso, temos um importante diferencial de segurança: o método construtivo escolhido para a barragem, ainda na fase inicial do projeto. Conhecido como downstream – ou seja, a jusante – ele é considerado mais seguro, com a barragem concebida para ser alteada em etapas, sempre para frente do maciço (leia mais a seguir).” “Nossa barragem, portanto, é diferente da estrutura de Fundão, da Samarco, que rompeu em 2015, tanto em termos de operação quanto de engenharia. Mesmo assim, desde o acidente de Mariana, temos acompanhado todas as discussões sobre a segu-


RIGOR “Quando o assunto é barragem, valores que já praticamos, como responsabilidade e segurança, ganham ainda mais força. Além de um Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) – com inspeções rotineiras e ações que nos permitem controlar os riscos inerentes à atividade e tomarmos as decisões na hora certa – contamos ainda com uma consultoria especializada em geotecnia que nos audita anualmente. Em 2016, ela atestou a estabilidade e a segurança da nossa estrutura, que também é fiscalizada pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) e pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).” “A Anglo American tem um corpo técnico forte, com grande conhecimento e expertise na operação de barragens de rejeitos em diferentes países, como África do Sul, Canadá e Chile. Um dos maiores especialistas do mundo no assunto, Caius Priscu, é chefe de Gerenciamento de Resíduos Minerais da Anglo e nos audita internamente, sempre com extremo rigor. Uma das máximas dele é a seguinte: ‘Quando há um problema na operação, podemos tirar as pessoas e os caminhões, corrigir a falha e depois voltar. Mas na barragem não é assim: é preciso acertar desde o primeiro

FOTO: MANOEL MARQUES / IMPRENSA MG

FOTO: PAULO LIMA

rança das barragens de rejeitos em nosso Estado.” “Esse movimento motivou inclusive a publicação de um decreto estadual, ano passado, suspendendo temporariamente a formalização de processos de licenciamento ambiental de novas barragens com método de alteamento a montante, exatamente pelos riscos de falha na operação e na estabilidade dessas estruturas. No entanto, até agora, essa exigência ainda não foi legalmente definida.”

José Aparecido de Oliveira e Herbert Carneiro: cidadãos ilustres

dia’. Felizmente, temos esse conforto adicional, pois optamos por ste modelo mais seguro desde o embrião do Minas-Rio.” RELACIONAMENTO “A resistência da opinião pública e de certas comunidades à mineração é uma realidade enfrentada por todo o setor. Naturalmente, na região do Minas-Rio também há aqueles que não entendem o projeto, não foram atingidos por ele, mas ainda assim protestam. Por isso, temos procurado divulgar melhor tudo o que estamos fazendo de bom e de positivo para Conceição e outras cidades da região.” “Procuramos estar o mais próximo possível da população, seja por meio das nossas equipes de relacionamento, seja marcando presença através de programas sociais importantes. Um exemplo é o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores Locais (Promova). Desde 2012, já realizamos 35 cur-

“A mineração precisa inovar ainda mais. Sobretudo na adoção de processos de produção que permitam, por exemplo, minerar sem o uso de água.”

sos para 1.700 participantes, em parceria com o Sebrae, a Fiemg e o Senac. Em quatro anos de história, o Promova multiplicou em 14 vezes o volume de compras locais feitas no Minas-Rio.” EDUCAÇÃO “Em parceria com o Senai, a Anglo American reformou o antigo Ginásio São Francisco, que estava há anos abandonado. Essa escola tem importância histórica para Conceição e formou cidadãos ilustres, como o ex-ministro e ex-embaixador José Aparecido de Oliveira (1929-2007) e o atual presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Herbert Carneiro. Desde 2013, funciona no local a Unidade Profissionalizante “José Aparecido de Oliveira”. Investimos R$ 3 milhões na reforma e o Senai cerca de R$ 1,5 milhão em equipamentos.” INÉDITO “Como o Minas-Rio está inserido na Serra do Espinhaço – tombada como Reserva da Biosfera pela Unesco desde 2006 – também temos dedicado atenção especial à criação de áreas protegidas. Hoje, a Anglo tem quase 12 mil hectares preservados, sob a forma de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Isso é algo inédito: tanto na história da região quanto no que se refere à conservação da vegetação de

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MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  67


PERFIL - RUBEN FERNANDES FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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MEMÓRIA HISTÓRICA E AFETIVA: Ruben morou com a família em Conceição do Mato Dentro por mais de uma década. Na foto, ele e o pai, Fernando Celso Fernandes, fundador da cachaça Bento Velho (destaque à direita), uma das mais tradicionais da região em Conceição do Mato Dentro por mais de uma década

campos rupestres e também da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.”

“A mineração não pode ser mais vista como no filme ‘Avatar’, apenas como vilã, uma degradadora da natureza. Ela é uma indústria capaz de transformar a vida das pessoas para melhor.” 68  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

LIGAÇÃO “Poucos sabem, mas tenho ligação afetiva antiga com Conceição do Mato Dentro. Minha família morou por mais de 10 anos na cidade, onde meu pai fundou a cachaça Bento Velho, uma das mais tradicionais da região. Passávamos vários feriados e férias na fazenda. Com três anos de idade, minha filha foi eleita Miss Conceição Mirim. Hoje, ela está com 20 anos. Meu pai vendeu a fazenda e o alambique há alguns anos, mas a história da Bento Velho continua. Inclusive, o rótulo que ele mesmo desenhou para a marca ainda é o mesmo.” FUTURO “Desde a chegada da Anglo American, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região de Conceição aumentou cerca de 40%. O PIB per capita também subiu. Em suma: temos plena consciência de que somos um empreendimento de alto impac-

to ambiental. Porém, temos promovido diversas ações voluntárias, que vão além das nossas obrigações legais, previstas nos licenciamentos.” “Nosso compromisso é seguir fazendo a diferença, seja preservando a água e o verde, melhorando a instrução das pessoas ou contribuindo para a geração de novas riquezas. Queremos que Conceição e as cidades vizinhas se tornem cada dia menos dependentes da mineração.” “Sou otimista. Afinal, é gratificante saber que estamos contribuindo para que as pessoas ampliem seus horizontes, tenham trabalho, renda e também a oportunidade de educar melhor seus filhos e netos. Esses são os legados que esperamos deixar perpetuados no futuro. Para isso, continuaremos contando com a dedicação e a garra de todas as nossas equipes, sempre motivados a fazer o melhor.”

SAIBA MAIS

www.angloamerican.com.br


FIQUE POR DENTRO São três os métodos construtivos de alteamento de barragens de rejeitos, conforme o desenho a seguir. A escolha do mais adequado envolve fatores tais como: características geotécnicas, nível de produção de rejeitos, necessidade de reservação e controle de água percolada, topografia, hidrologia, hidrogeologia e geologia local, além de custos:

Tem como vantagens a economia de área, o menor volume de material e a drenagem interna eficiente. As maiores desvantagens são a possibilidade de ocorrência de fissuras no corpo da barragem e maior risco de ruptura por piping (passagem de água com partículas por áreas com erosão subterrânea, originando a formação de canais na massa de solo).

A) A MONTANTE (UPSTREAM): É o que envolve mais riscos imponderáveis na operação, podendo apresentar problemas estruturais de difícil detecção. Mais antigo, mais barato e mais rápido em termos construtivos, tem como desvantagens a limitada elevação de alteamentos e a dificuldade de implementação de sistema de drenagem eficiente, por causa da interferência dos lançamentos de rejeitos. Historicamente, esse modelo protagonizou a maioria das rupturas em barragens em todo o mundo, inclusive em MG: Fernandinho, em 1986; Rio Verde, em 2001; Herculano, em 2014; e Fundão, em 2015.

C) A JUSANTE (DOWNSTREAM): Há menor probabilidade de ruptura interna e os alteamentos são feitos abaixo do dique de partida. Esse processo continua sucessivamente até que a cota final prevista em projeto seja atingida. Como desvantagens, tem custo mais elevado e ocupa área maior. O alteamento pode ser realizado com o próprio rejeito. No entanto, o comum é o uso de materiais provenientes de áreas de empréstimo. Nenhuma parte ou alteamento da barragem é construída sobre o rejeito previamente depositado. Os sistemas de drenagem interna podem ser instalados durante a construção da barragem e prolongados durante o seu alteamento, permitindo o controle da linha de saturação na estrutura da barragem e aumentando sua estabilidade. 

B) LINHA DE CENTRO (CENTER LINE):

PRAIA DE REJEITOS

LAGOA DE DECANTAÇÃO

DESCARGA DE REJEITOS

A REJEITOS DIQUE DE PARTIDA

B DIQUE DE PARTIDA

DRENOS

C DIQUE DE PARTIDA

DRENOS

FONTES: Sistema Maxwell-PUC Rio /Anglo American.

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  69


INFORME PUBLICITÁRIO

UBERLÂNDIA: viveiro no Assentamento Emiliano Zapata iniciou a produção de 120 mil mudas

SEMEANDO A

SUSTENTABILIDADE Projeto Plantando o Futuro, que objetiva a produção e o plantio de 30 milhões de árvores nativas no Estado até dezembro de 2018, desenvolve ações para compensar o modelo de desenvolvimento econômico baseado no uso da terra para extração mineral e pastagens

O

projeto “Plantando o Futuro”, coordenado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), finalizou em fevereiro a construção de mais dois viveiros florestais para a produção imediata de 360 mil mudas de árvores nativas, em parceria com o Centro de Formação Francisca Veras. As obras em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e em Periquito, no Vale do Rio Doce, foram realizadas por meio de convênio. Como parte da proposta do

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“Plantando o Futuro” de recuperar também áreas rurais degradadas, a parceria firmada com o Centro Francisca Veras, em maio de 2016, visa à restauração vegetal de 27 assentamentos criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O convênio com a entidade prevê a produção e o plantio de 2,88 milhões de mudas, por meio do modelo de Sistema Agroflorestal (SAF), voltado para a recuperação de 2,6 mil hectares de passivo ambiental, até dezembro de 2018.

No Assentamento Liberdade, em Periquito, a capacidade inicial de produção do viveiro, instalado em uma área de 6 mil m², é de 240 mil mudas. Até o fim de 2017, a estrutura estará apta a gerar 480 mil mudas por ano, e até o fim de 2018, 720 mil mudas/ano. Já no viveiro instalado no Assentamento Emiliano Zapata, em Uberlândia, a produção inicial é de 120 mil mudas. No entanto, o local, que tem área de 3 mil m², será ampliado para produzir, até o fim de 2017, 240 mil mudas


USO SUSTENTÁVEL O convênio firmado com o Centro de Formação Francisca Veras prevê ainda a construção de mais dois viveiros no Estado. As estruturas de Campo do Meio, no Sul de Minas, e de Montes Claros, na Região Norte, estão em fase de acabamento. Os plantios nos assentamentos vão usar como metodologia os Sistemas Agroflorestais (SAFs). A técnica, que conjuga culturas agrícolas com espécies arbóreas, ajuda na restauração de florestas, no aumento da produtividade e da função ecológica, pois restabelece a interação entre plantas e animais. Em síntese, o SAF promove o uso sustentável da terra. Os plantios em cada assentamento ocorrerão em locais determinados pelo Incra, como áreas de Reserva Legal (RL) e de Preservação Permanente (APP). Quanto maior for o passivo ambiental, maior será a prioridade. Em Periquito e Uberlândia já foram feitos plantios em três hectares (somando os dois locais), para formar Sistemas Agroflorestais Modelos, que servirão de piloto e referência para a recuperação de outros locais. Um dos coordenadores do convênio e integrante do Centro de Formação Francisca Veras, o engenheiro ambiental Tiago Miranda Mendes, explica que a formação de sistemas agroflorestais comprova a possibilidade de se adotar um novo modelo de produção agrícola. “Os assentados estão compreendendo a importância da recuperação de áreas degradadas e, sobretudo, percebendo que é possível fazer isso sem abrir mão da produção e melhorando a qualidade da terra. Esse modelo está em sintonia com nossas diretrizes, que são a produção de alimentos, a geração de renda e a sustentabilidade”, conclui. SAIBA MAIS

www.codemig.com.br www.plantandoofuturo.mg.gov.br

FOTOS: RAQUEL VIEIRA/CENTRO DE FORMAÇÃO FRANCISCA VERAS

por ano. E até o fim de 2018, 360 mil mudas/ano.

VALE DO RIO DOCE: trabalhadores preparam terreno para plantio de mudas em Sistema Agroflorestal Modelo, no Assentamento Liberdade, em Periquito

ASSENTAMENTOS CONTEMPLADOS COM O PLANTIO

Assentamentos

Municípios

Olhos D’Água Dandara Florestan Fernandes Emiliano Zapata Canudos Francisca Veras Flávia Nunes Eldorado dos Carajás Paulo Freire Estrela do Norte Irmã Dorothy II São Francisco II Darcy Ribeiro Ulisses Oliveiras Manoel Ferreira Alves Roseli Nunes II Dorcelina Folador Gilberto de Assis Oziel Alves Pereira Barro Azul 1º de Junho Terra Prometida Iraguiar Liberdade 1º do Sul Santo Dias Nova Conquista II

Sacramento Uberaba Uberlândia Uberlândia Uberlândia Campo Florido Uberlândia Uberlândia Santa Vitória Estrela do Norte Coração de Jesus São Francisco Capitão Enéas Jampruca Jampruca Resplendor Resplendor Resplendor Governador Valadares Governador Valadares Tumiritinga Tumiritinga Santa Maria do Suaçuí Periquito Campo do Meio Guapé Campo do Meio

2 MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  71


INFORME PUBLICITÁRIO

Economia circular

ganha força em Minas ENTENDA

MELHOR

l A economia circular é um

FOTO: IMAGEM ILUSTRATIVA

modelo que se opõe à tradicional economia linear, baseada no tripé: extrair–produzir-descartar. No modelo linear de produção, o crescimento econômico depende do consumo de recursos naturais finitos. Por isso, tem de lidar com o risco iminente de esgotamento de matérias-primas e com custos cada vez mais elevados em sua extração. Esse modelo gera ainda um grande volume de resíduos inutilizados e potencialmente tóxicos para as pessoas e os ecossistemas.

l A ideia é eliminar o próprio

Minas Gerais foi buscar na natureza – onde nada se desperdiça e tudo é continuamente metabolizado e interage de forma dependente – a inspiração para aplicar conceitos da chamada economia circular. Nela, a lógica central é a seguinte: recursos antes desperdiçados são transformados em oportunidades de negócios, considerando as limitações do planeta e a crescente demanda por recursos naturais, que são usados para alimentar as mais variadas cadeias de produção e o consumo. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) é uma das instituições pioneiras na promoção de modelos circulares de negócios no país. O motor das ações é o “Programa Mineiro de Simbiose Industrial” (PMSI), criado em 2009. Ele segue uma metodologia criada

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no Reino Unido, que se inicia com a realização de workshops, visando à troca física de recursos, materiais, energia, subprodutos e também de serviços e de conhecimento. Assim, o que não serve para uma empresa vira insumo ou até mesmo novos produtos em outra. “O princípio básico da simbiose é reunir a maior diversidade possível de setores industriais, conforme a vocação econômica e cultural de cada região. As rodadas de negócios acontecem nas 10 regionais da Fiemg, envolvendo empresas dos segmentos: automotivo, calçados, eletroeletrônicos, mineração, siderurgia, móveis, laticínios, sucroenergético, rochas ornamentais, adubos e corretivos agrícolas, entre outros”, explica o analista ambiental da Fiemg, Guilherme da Mata Zanforlin,

conceito de lixo, enxergando cada material dentro de um fluxo cíclico, possibilitando a trajetória dele “de berço a berço” – de produto a produto, preservando e transmitindo seu valor. Dessa forma, o crescimento econômico se dissocia do consumo crescente de novos recursos, possibilitando o aproveitamento inteligente dos recursos que já se encontram em uso no processo produtivo.

Fonte: Ideia Circular

responsável pelo PMSI. Os resultados alcançados de 2009 até 2015 são animadores. Já foram realizados 51 workshops, com 760 empresas envolvidas, mais de 139 mil toneladas de resíduos desviados de aterros sanitários e cerca de 13,6 milhões de metros cúbicos de água reutilizados, além de outros avanços (leia mais a seguir). Os dados relativos a 2016 ainda estão sendo contabilizados.


MUDANÇAS DE CULTURA Neste ano, os workshops com rodadas de negócios serão realizados nos distritos industriais e em sua área de influência, tendo a parceria de indústrias âncoras como mobilizadoras. “Assim, pretendemos mobilizar os empresários desses locais a negociarem seus recursos subutilizados e introduzir o conceito da economia circular, evitando desperdícios e, claro, gerando novos negócios”, frisa Zanforlin. Trabalhando em distritos industriais, a Fiemg espera alcançar resultados ainda melhores com o PMSI. Afinal, com a proximidade entre as empresas, as oportunidades de negócios aumentam significativamente, já que o custo de logística – um dos maiores entraves – será menor. Para Zanforlin, que é especialista em Gestão de Resíduos Sólidos e desde 2005 atua nas questões ambientais das indústrias, o grande diferencial do programa é proporcionar a aproximação entre empresas de diversos setores que tradicionalmente não dialogam ou interagem. “Dessa forma, surgem novas oportunidades de negócios com ganhos sociais e econômicos positivos e menor impacto ambiental.” A continuidade das ações do PMSI ao longo dos anos, o acompanhamento das negociações entre as empresas e a realização dos workshops em todas as regiões de Minas Gerais têm levado a uma clara mudança de cultura e também ao amadurecimento do empresariado, bem como de seus colaboradores e familiares. “Todos ficam mais atentos e passam a valorizar os recursos desperdiçados, tanto pela questão econômica quanto pela necessidade de preservação dos recursos naturais.” REALIDADE BRASILEIRA Quando se olha para a realidade do Brasil no que se refere ao descarte de resíduos sólidos, a iniciativa da Fiemg ganha ainda mais relevância. De acordo com o Ministério do Meio

PMSI EM NÚMEROS

760

empresas envolvidas

87.476

139.793

toneladas de resíduos desviados de aterros

13.650.000

toneladas de redução das emissões de carbono na atmosfera

metros cúbicos de água reutilizada

194.815

R$ 8.176.683

toneladas de redução no uso de matérias-primas virgens

Ambiente, o Brasil deixa de ganhar cerca de R$ 8 bilhões a cada ano por causa da destinação inadequada de materiais e rejeitos. Atualmente, três tipos de resíduos se destacam, em termos de volume, nas negociações promovidas pelo PMSI: pallets de madeira, aparas de tecidos e resíduos de MDF. O desafio é identificar qualquer recurso subutilizado que possa ser reaproveitado no mesmo processo produtivo ou em um de outra empresa. “Sabemos que nos casos mais usuais já se tem tecnologia adequada para essa utilização. No entanto, outros recursos, para serem reutilizados, precisarão de estudos específicos de tratamento ou beneficiamento. Há também entraves a serem superados, como os relativos à legis-

de redução de custos para as empresas participantes

lação ambiental e tributária, para que as oportunidades de negócios sejam ainda rentáveis e benéficas ao meio ambiente”, ressalta Zanforlin. 

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  73


1 ECOLOGIA INTERIOR

A CORRUPÇÃO SEGUNDO

KRISHNAMURTI Em diálogo com estudantes de Rishi Valle, Índia, em 1984, o filósofo e educador Jiddu Krishnamurti já mostrava que ser corrupto vai além da pura ambição: o poder é que é pernicioso J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br 74  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017


J

QUEM FOI ELE Jiddu Krishnamurti nasceu em 11 de maio de 1895 em Madanapelle, então uma pequena vila no sul da Índia. Ele e seu irmão foram adotados ainda jovens pela Dra. Annie Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Dra. Besant e outros proclamaram que Krishnamurti seria o instrutor do mundo, vindo como os teosofistas haviam previsto. Para preparar JIDDU KRISHNAMURTI com o mundo para sua chegada, a estudantes de Rishi Valley organização internacional Ordem da Estrela do Oriente foi formada e o jovem Krishnamurti tornou-se seu líder. Em 1929, Krishnamurti renunciou ao papel que lhe fora destinado, dissolveu a Ordem, devolveu todo o dinheiro e a propriedade doados para seu trabalho. A partir daí, por quase sessenta anos, até sua morte, ele viajou mundo afora falando para grandes audiências sobre a necessidade de uma mudança radical na humanidade.

“QUANDO VOCÊS saírem de Rishi Valle, deixarem esse vale maravilhoso, com todas as rochas, as árvores e as flores, e o campus, que possui a verdadeira paz, vocês enfrentarão um mundo que é terrível. Nele, existem violência, sequestros, tiroteios, subornos. O mundo está ficando cada vez mais perigoso. E corrupto. O mundo inteiro, não somente a Índia, onde o bem é ostensivo.” “VOCÊS SABEM o que a palavra ‘ostensivo’ significa? Totalmente aberto. Eles dizem: ‘Dê-me algo antes para que eu faça alguma coisa’. Há corrupção em todo lugar, na América, na França, Inglaterra... Corrupção social, política, mercado negro. Dizemos que a corrupção é o suborno – passar dinheiro por baixo da mesa, pagar sem dar recibo. Tudo isso é corrupção, certo? Mas é apenas um sintoma. Quando se come alguma coisa muito pesada, se tem dor de barriga. A dor de barriga é o sintoma. Mas a causa é eu ter ingerido a comida erradamente.” “SE VOCÊ DÁ OU ACEITA dinheiro por baixo da mesa, se torna corrupto. A corrupção começa com o interesse em si próprio. Se estou interessado em mim mesmo, no que eu quero, no que devo ser, se sou ganancioso, invejoso, duro, brutal, cruel, há corrupção. Ela começa no coração, na mente. A causa real está dentro de você. A menos que você descubra isso e mude, você continuará sendo um ser humano corrupto. Corrupção é quando você está zangado, quando está ciumento, quando odeia as pessoas. Quando é preguiçoso. Quando diz que isso é certo, mesmo não sendo, e agarra-se a isso. Tudo tem a ver com egoísmo. A corrupção começa aí.”

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

á se passaram 33 anos desde que o filósofo e educador indiano Jiddu Krishnamurti (18951986) impressionou o mundo com um discurso que permanece atual. Na ocasião, ele estava reunido com estudantes de uma escola de Rishi Valle, da cidade de Madanapalle, e foi indagado pelas crianças e jovens presentes sobre a corrupção. Como ela nasce? Quando uma pessoa passa a ser corrupta? O que ele ensina é que a corrupção vai além de ser apenas ambicioso. E que, até quando somos preguiçosos, estamos corrompendo nossos valores. Confira a mensagem do mestre indiano:

“NÃO SEJA CORRUPTO. Não importa se você tiver de morrer por isso. Estamos todos tão amedrontados. Então você diz: ‘Como viverei? O que farei para não ser corrupto se todos ao meu redor são?’. Não falo só externamente, mas do senso interno de corrupção pelo qual os seres humanos estão vivendo, pensando somente em si mesmos, no seu sucesso, sendo invejosos. A maioria dos meninos mais velhos que deixa a escola torna-se cínica. Eles veem o que o mundo é e dizem: “Tenho de aceitar isso”. Isso é uma forma de cinismo. Ser violento é ser corrupto. Vocês são seres humanos em crescimento. Não sejam como esses meninos velhos. Não busquem sempre o sucesso.” “SE VOCÊ VÊ algo perigoso, como uma cobra, ninguém precisa dizer ‘corra’. Você corre. Não prometam que vocês não serão corruptos, a menos que estejam absolutamente certos de que poderão cumprir isso. Hoje, não há sanidade no mundo político, no religioso, no econômico. Não sejam corruptos quando saírem daqui. Não procurem a vaidade, o orgulho. Não digam ou pensem que é superior a outra pessoa. Só se aprende quando há humildade. Se tiverem só buscando dinheiro, poder, posição e status, estarão começando na corrupção. É importante que vocês encontrem seu próprio talento e agarrem-se nele, mesmo que não te traga sucesso e fama. As pessoas não percebem isso porque não sentem. Apenas pensam em seus empregos, trabalhos. E nunca pergunte alguém “como deixar de ser egoísta”. Como? Se eles lhe dizerem ‘como’, você está perdido.”  MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  75


Você também é parte da Mata Atlântica!

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FOTO: SHUTTERSTOCK

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AVES

PASSARINHAR É PRECISO O Brasil também se destaca por projetos que envolvem o cidadão comum como observador, coletor de dados e aliado da conservação ambiental Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

E

las estão presentes em praticamente todos os ambientes. Podem ser observadas em matas fechadas, nas afastadas regiões de montanha e também nas praças e jardins dos movimentados centros urbanos. Com cerca de 10 mil espécies, que desfilam cores, plumagens, cantos, formas, voos e comportamentos variados, as aves têm valor ambiental, econômico, cultural, étnico e até mesmo espiritual para povos de diferentes partes do mundo. O Brasil é o segundo país em número de espécies, com mais de 1.900, atrás apenas da Colômbia. Desse total, 268 ocorrem somente aqui e 164 são consideradas globalmente em risco de extinção. Os desmatamentos e a consequente diminuição das florestas nativas país afora – para dar lugar a lavouras e pastagens – ameaçam a sobrevivência de várias aves, assim como a caça e o tráfico de espécimes. Excelentes bioindicadoras de qualidade ambiental, as aves atuam como detectores de mudanças ocorridas nos variados ecossistemas. Através da avifauna observada em determinado local ou região – as espécies presentes ou ausentes e sua abundância – é possível conhecer suas características, seu estado de conservação e também a qualidade de serviços ambientais prestados pela natureza, entre eles a oferta de água limpa. De acordo com a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), organização sem

78  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

HOJE existem mais de 10 mil espécies de aves registradas no planeta, como o sanhaçoazul (Thraupis episcopus)

fins lucrativos com sede em São Paulo (SP), a araponga (Procnias nudicollis), por exemplo, só é encontrada em florestas bem preservadas. Já o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), espécie ameaçada de extinção, habita apenas locais onde há nascentes com água pura, enquanto o pardal (Passer domesticus) e o pombo-doméstico (Columba livia), espécies originárias da Europa, são encontradas em ambientes altamente urbanizados. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Alterações no status de conservação e na distribuição das espécies também podem levar a soluções de problemas não rastreáveis de outras formas. Monitoramentos

feitos ao longo das últimas quatro décadas pela National Audubon Society, organização que representa a aliança BirdLife International nos Estados Unidos, revelaram que 58% das 305 espécies de aves que migram para o continente, no inverno, mudaram significativamente suas áreas de invernagem em direção ao norte – algumas delas em centenas de quilômetros –, devido às mudanças climáticas. As aves desempenham ainda funções ecológicas vitais, tais como dispersão de sementes, polinização e controle de pragas. Vale citar o “trabalho” de espécies como jacus, sanhaços e arapongas, que se alimentam de frutos, engolindo as sementes sem quebrá-las. Depois, elas são elimina-


das junto às fezes em lugares mais distantes, onde germinam e dão origem a novas plantas. Os beija-flores, por sua vez, se alimentam do néctar das flores e, ao carregar o pólen em seus bicos, realizam a polinização. Há também aves predadoras, que atuam no controle de animais considerados pragas. Entre elas estão as andorinhas (aves insetívoras) e as corujas (que se alimentam de roedores). CONHECIMENTO COMPARTILHADO Do ponto de vista do lazer, da geração de conhecimento e do incentivo ao turismo sustentável, as aves também têm seu protagonismo. A observação de aves (birdwatching, em inglês) é uma prática que atrai milhões de pessoas em todo o mundo. Gente que vivencia momentos únicos de atividade ao ar livre, além de compartilhar conhecimento e interesses em comum. Estima-se que existam mais de 30 mil observadores de aves no Brasil, número que não para de crescer. Desde 2014, a SAVE Brasil desenvolve o Projeto Cidadão Cientista, por meio de financiamento da Fundação Grupo Boticário. Seu objetivo é envolver observadores de aves na coleta de dados populacionais das espécies existentes em Unidades de Conservação (UCs). ARARA-CANINDÉ (Ara ararauna)

“O engajamento nas atividades tem sido cada vez maior e o número de participantes cresce a cada campanha. Com isso, já geramos um grande volume de dados que contribuíram para aumentar o conhecimento sobre as espécies existentes em parques, reservas e outras unidades de conservação de diferentes regiões”, frisa o ornitólogo Pedro Develey, mestre e doutor em Ecologia e diretor-executivo da SAVE Brasil, ONG que integra a aliança global BirdLife International, presente em mais de 120 países. PLATAFORMA VIRTUAL Nas trilhas percorridas, as espécies são observadas, identificadas, contadas e registradas. Todos os dados coletados são publicados na plataforma eBird, onde os participantes postam as suas listas. De 2014 até julho de 2016, a SAVE Brasil promoveu 32 campanhas na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, com a participação de mais de 150 pessoas. Desde 2004, o trabalho da instituição já contribuiu para a proteção de uma área equivalente a 60 mil campos de futebol de Mata Atlântica, por meio da articulação e apoio para a criação de UCs. Ano passado, o Cidadão Cientista ampliou suas atividades, através de uma parceria com o Observatório de Aves do Instituto Butantan e a Prefeitura de São Paulo, por meio da sua Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre (Depave 3). Develey lembra que a participação da sociedade na contagem sistematizada de aves é bastante popular na Europa e nos Estados Unidos. “É crescente o número de observadores que alimenta programas de monitoramento usados para documentar consequências das intervenções humanas no meio am-

FIQUE POR DENTRO

 Entre os seis biomas brasileiros – Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal, além das zonas Costeira e Marinha – o campeão em número de aves é a Amazônia, com 1.300 espécies. A Mata Atlântica aparece em segundo lugar, com 1.020. A ave-símbolo brasileira é o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris). Já a maior ave do país é a ema (Rhea americana).  No Brasil, 17 espécies de aves globalmente ameaçadas de extinção dependem das florestas próximas a cursos d’água para sobreviver. Desse total, três estão criticamente ameaças: patomergulhão (Mergus octosetaceus), soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) e tiê-bicudo (Conothraupis mesoleuca).  O Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) atualiza e revisa periodicamente a lista de aves do Brasil, especialmente quando novas espécies são descritas pela ciência. Em 2013, ocorreu a maior descoberta da ornitologia brasileira dos últimos 140 anos, quando 15 novas espécies de aves amazônicas foram descritas simultaneamente.  Na mitologia japonesa, o tsuru ou grou (Grus japonensis) é considerado uma ave sagrada, símbolo de saúde, fortuna, boa sorte, longevidade e paz. A espécie representa também o amor conjugal e a fidelidade, pois mantém um único parceiro ao longo de toda a vida.

biente. As atividades têm como base o conceito de cidadão cientista, visando envolver as pessoas nos debates do campo científico e ampliar tanto a participação ativa quanto o compromisso da sociedade na construção de uma ciência pública e engajada”, conclui.

2

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  79


ALMA-DE-GATO (Pyaia cayana)

PAPA-MOSCAS-DECOSTAS-CINZENTAS (Polystictus superciliaris)

FOTO: GUSTAVO MURTA

FOTO: JOSÉ SOLVIO ABRAS

FOTO: RICARD0 MENDES

FOTO: ADRIANO PEIXOTO

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AVES

PETRIM (Synallaxis frontalis)

PULA-PULA (Basileuterus culicivoru) na Serra do Curral

BH também se destaca Minas Gerais tem registradas cerca de 780 espécies de aves, enquanto todo o continente europeu apresenta aproximadamente 860. Em Belo Horizonte, conforme dados da ONG ECOAVIS – Ecologia e Observação de Aves, podem ser observadas cerca de 350 diferentes espécies. Só no Parque das Mangabeiras, um dos mais visitados da Região Centro-Sul, já foram avistadas aproximadamente 160 espécies, entre elas jacu

1

– São basicamente duas as técnicas de observação de aves na natureza. A primeira é a de PERCURSO: o observador caminha por locais de sua escolha, ficando atento a toda movimentação ao seu redor.

2

– A segunda é a técnica da ESPERA: o observador escolhe um ponto fixo, onde provavelmente poderá encontrar uma grande quantidade de espécies, e aguarda ali a oportunidade de observálas. Os locais mais propícios ao aparecimento de aves são: cursos

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(Penelope obscura) e saracura (Aramides saracura). Outro local de destaque para a observação na capital mineira é a Lagoa da Pampulha. Ela atrai diversas aves migratórias, tais como o maçaricosolitário (Tringa solitaria) e o maçarico-de-pernaamarela (Tringa flavipes), que se reproduzem na América do Norte. Confira, a seguir, técnicas, dicas e cuidados na observação:

d’água, árvores frutíferas, bordas de mata, comedouros, etc.

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– A principal dica é manter SILÊNCIO, além de movimentar-se devagar e evitar vestir roupas com cores chamativas. Prefira as de cor bege (nos campos e praias) e as de tons verdes (nas áreas de mata).

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– Entre os ACESSÓRIOS mais usados pelos observadores estão guias de campo, cadernetas de anotações, binóculos, câmeras fotográficas (lentes, tripés etc.) e celulares.

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– Em relação à SEGURANÇA, a dica é caminhar com cuidado. Em local urbano, sem mato, fique atento para não pisar em buracos. Use protetor solar e chapéu, para evitar insolação e queimaduras, e só entre em áreas permitidas. Em locais de mata, use perneiras (para evitar picadas de cobra) e mantenha-se alerta quanto à presença de insetos, principalmente vespas e abelhas. Para outras dicas de segurança,

www.wikiaves.com.br/ wikiaves:manual_de_seguranca acesse:


FOTO: DIVULGAÇÃO

QUATRO PERGUNTAS PARA...

ADRIANO PEIXOTO

AMBIENTALISTA E DIRETOR-PRESIDENTE DA ECOAVIS

AVE, AVIFAUNA! A observação de aves pode ser feita em qualquer lugar. Em BH, é possível avistá-las no Centro da cidade e em bairros vizinhos, mesmo com o trânsito pesado e o ruído diário? Sim, a observação pode ser feita no quintal de casa, na rua onde moramos, na praça perto do trabalho, nos parques. Praticamente em todo local há uma quantidade enorme de aves e uma variedade de espécies surpreendente esperando nossa atenção. Em BH, podemos ver a misteriosa alma-de-gato, na Savassi, o colorido fim-fim, na Afonso Pena, e até mesmo a majestosa águia-chilena caçando pombos entre os prédios da Rua da Bahia. Você acaba de ser eleito para mais um biênio à frente da Ecoavis. Quais as perspectivas para 2017/2018? Depois de passar um ano na Colômbia, onde pude apreciar e observar a maravilhosa avifauna daquele país, estou novamente na direção da Ecoavis e com toda energia para dar continuidade a alguns projetos e iniciar outros. A nova diretoria está bastante empenhada. Vamos dar prosseguimento às expedições aos parques e unidades de conservação e fortalecer o nosso trabalho de educação ambiental, através da observação de aves, que é uma atividade ícone. Pretendemos, ainda, promover palestras e apoiar escolas, bem como articular políticas conservacionistas e parcerias com outras ONGs, empresas e órgãos de governo, tais como Fundação de Parques Municipais, Instituto Estadual de Florestas (IEF) e Ibama/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Nós apoiamos essa ideia!

Quantos associados tem a Ecoavis e quais as expedições programadas para este ano? Somos em torno de 400 associados. O calendário de expedições, disponível em nosso site, está sendo consolidado. Em janeiro, aconteceu a primeira expedição ao Parque das Mangabeiras/Serra do Curral, como parte da nossa programação mensal de visitas aos parques municipais de BH e regiões da Grande BH. Ao longo do ano, teremos expedições para os parques estaduais Mata do Limoeiro, Serra do Brigadeiro e Rio Doce, bem como para os parques nacionais da Serra do Cipó e da Serra do Gandarela. Que locais próximos a BH você considera imperdíveis em termos da observação de aves? Como estamos localizados numa região de encontro de biomas – Mata Atlântica e Cerrado – além de nossas montanhas com seus campos rupestres, recomendo: o Caraça, com suas matas e montanhas; municípios dos arredores de Lagoa Santa (região do carste) e a Serra da Moeda. Digo sempre que através da observação de aves, que nos atraem desde criança, aprendemos a observar também as árvores, as flores, os frutos e a interação delas com os outros animais e com a humanidade. E, pouco a pouco, vamos nos tornando ambientalistas e passamos a amar mais o nosso planeta.  SAIBA MAIS A adesão para participar das atividades da Ecoavis e tornar-se associado é gratuita. Basta preencher uma ficha cadastral, que será submetida à avaliação do Conselho Diretor. Uma vez aprovado, o novo associado receberá um convite para participar do Fórum Ecoavis no YahooGrupos. Acesse: www.ecoavis. org.br e envie um e-mail para contato@ecoavis.org.br

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1 VOCÊ SABIA?

COMO UMA ONDA NO MAR j. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

Q

uando estamos em uma praia, é muito comum ver alguma pessoa entrar devagarinho na água, abrir os braços e curtir a brisa gostosa que vem do mar. Isso até que, de repente, você notar que alguém suma e reapareçameio desconjuntado na areia depois de ser “abraçada” por uma onda. Sabia que essas elevações na água são formadas a partir do sopro do vento na superfície do oceano? É o que a Ecológico mostra a seguir:

O VENTO

É ele o grande responsável por formar as ondas no mar. Quanto mais veloz ele for, maior será a onda. E, se ele continuar soprando, ela vai ficando mais alta, comprida e... mais rápida. Para se ter ideia, é preciso que o vento se propague por um bom tempo até a onda chegar à areia. É por isso que as lagoas não têm grandes ondas, pois não há espaço suficiente para que elas cresçam!

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COMPONENTES

Uma onda é constituída de três componentes: a crista, o cavado e a área de rebentação. Sabe quando alguém diz que um surfista está “na crista da onda”? É porque ela é a parte mais alta. Já o cavado é a estrutura que a sustenta. E o local de rebentação, como o próprio nome já indica, é onde a onda se quebra. E ela arrebenta porque, ao percorrer a superfície do mar, a crista fica tão alta e o cavado tão perto da areia que ela perde o equilíbrio e quebra.


TSUNAMIS

Movimentos da crosta terrestre (terremotos ou maremotos) também podem provocar ondas gigantescas – os tsunamis. Em 2004, elas mataram mais de 250 mil pessoas na Ásia. Sete anos depois, a costa do Japão foi atingida em cheio e 16 mil morreram. Lá, o tsunami foi provocado por um terremoto de 9,1 pontos na Escala Richter. As ondas chegaram a 10 metros de altura.

VELOCIDADE

SURFE

A prática esportiva tem as ondas como principal meio para ser realizada. Nela, o surfista se apoia com os dois pés em cima de uma prancha para deslizar sobre uma onda. Segundo o Guinness, o Livro dos Recordes, a maior onda já surfada no mundo tinha 31 metros. A façanha foi conquistada pelo surfista Garret MacNamara em Nazaré, Portugal.

A área sobre a qual o vento atua e a profundidade influenciam na velocidade das ondas. Quanto mais raso, mais lenta é a onda. Mas se a água é muito profunda (mais que a metade do comprimento da onda), isso deixa de ser um fator relevante, de maneira que a velocidade passa a depender somente da superfície da água.

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MEMÓRIA ILUMINADA

ARTE: SANAKAN

MESMO ignorado como artista na época, Van Gogh se tornou, após sua morte, uma das maiores influências da arte pós-impressionista do mundo

NAS ÁGUAS DE MARÇO DE

VAN GOGH Visionário, artista, emocional, louco e lúcido. Quem foi Van Gogh, codinome gênio, afinal? 84  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017


"O VINHEDO VERMELHO", DE 1888, único quadro que o artista holandês conseguiu vender em vida: relíquia artística Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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squeça a orelha cortada, os romances fracassados e a loucura de Vincent Willem van Gogh. Vamos falar da arte deste grande gênio holandês do movimento pós-impressionista, nascido nas águas de março há 164 anos, e que via nas cores a força verdadeira da expressão de sua arte. “Uma boa imagem é equivalente a uma boa ação”, dizia ele. Van Gogh foi filho de um pastor e cresceu em um ambiente religioso e culto. Não era autoconfiante e acreditava que tinha nascido para pregar o Evangelho, como o pai. Quando decidiu se tornar artista, já estava com mais de 20 anos. Estudou arte na The Yellow House, mas não teve sucesso na carreira enquanto esteve vivo. Acreditem, caros leitores, que ele vendeu apenas um quadro (“O Vinhedo Vermelho”) durante sua curta carreira. Van Gogh era mantido pelo irmão, Theo, gerente de uma galeria de arte, para quem enviou cartas que anos depois foram compiladas em um livro. Um dos maiores artistas que já passou por este pla-

neta, Van Gogh morreu pobre e desnutrido, aos 37 anos, por conta de ferimentos causados por uma tentativa de suicídio. Na contramão de seus colegas contemporâneos Monet e Gauguin, o holandês optou por um estilo mais ousado e menos convencional, com cores intensas e vibrantes. Dramático e liricamente rítmico, o artista estava completamente mergulhado no esforço de explicar sua luta contra a loucura ou sua compreensão da essência espiritual do homem e da natureza. O desenho “Tristeza” (1882) e os quadros “Girassóis” (1888) e “A Noite Estrelada” (1889) são um exemplo disso, assim como seus autorretratos. A arte parecia ser um ponto de equilíbrio entre os ataques de epilepsia, ansiedade e depressão que assolaram Van Gogh. Chegou a fazer tratamentos em hospitais psiquiátricos, mas desistiu de lutar consigo mesmo: preferiu a liberdade do espírito. Sua vitória foi a influência e o legado artístico que deixou. E que a Ecológico rememora, na compilação de frases a seguir, deste grande gênio pós-impressionista:

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MEMÓRIA ILUMINADA – VINCENT VAN GOGH

A NOITE ESTRELADA 1889

“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.” l AUTORRETRATO “O que sou eu aos olhos da maioria das pessoas? Uma não entidade ou um homem excêntrico e desagradável – alguém que não tem e nunca terá posição na vida. Em suma, o menor dos menores. Muito bem, mesmo que isso fosse verdade, quero que o meu trabalho mostre o que vai ao coração de um homem excêntrico e desse joão-ninguém.” l EXPRESSÃO “Passamos toda a nossa vida no exercício inconsciente da arte de expressar nossos pensamentos com a ajuda de palavras.” l HUMILDADE “Após a experiência dos ataques repetidos, convémme a humildade. Assim pois: paciência. Sofrer sem se queixar é a única lição que se deve aprender nesta vida.” l BELEZA 86  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

“Ache belo tudo o que puder. A maioria das pessoas não acha belo o suficiente.” l TRABALHO “Sua profissão não é aquilo que traz para casa o seu salário. E sim aquilo que foi colocado na Terra para você fazer com tal paixão e tal intensidade que se torna chamamento espiritual.” l INSPIRAÇÃO “Não extinga sua inspiração e sua imaginação; não se torne o escravo do seu modelo.” l MAR “O coração do homem é muito parecido com o mar, ele tem suas tempestades, suas marés e suas profundezas; ele tem suas pérolas também.” “Os pescadores sabem que o mar é perigoso e que a tempestade é terrível, mas eles nunca julgaram esses perigos como razão suficiente para se permanecer em terra.”


BARCOS DE PESCA EM SAINTES-MARIES 1888

“Os pescadores sabem que o mar é perigoso e que a tempestade é terrível, mas eles nunca julgaram esses perigos como razão suficiente para se permanecer em terra.” l CONSCIÊNCIA “A consciência é a bússola de um homem.” “Tudo o que é realmente bom e muito bonito, o interior, moral, espiritual e sublime beleza em homens e suas obras, vem de Deus. E tudo o que é mau nas obras dos homens não vem Dele.” l CONHECIMENTO “Se nos aperfeiçoarmos em apenas uma coisa e a compreendemos bem, adquirimos além disso a compreensão e o conhecimento de muitas outras coisas.” l SER ATREVIDO “É melhor ser atrevido, mesmo cometendo mais erros, que ter a mente fechada e ser muito prudente.” l ARTE “Pela arte, onde se tem necessidade de tempo, não seria nada mal viver mais de uma vida.”

VASO COM DOZE GIRASSÓIS 1888

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1

MEMÓRIA ILUMINADA – VINCENT VAN GOGH

CAMPO DE TRIGO COM CORVOS 1890

l PÁSSARO “Um pássaro na gaiola durante a primavera sabe muito bem que existe algo em que ele pode ser bom, sente muito bem que há algo a fazer, mas não pode fazê-lo. O que será? Ele não lembra muito bem. Tem então vagas lembranças e diz para si mesmo: “Os outros fazem seus ninhos, têm seus filhotes e criam a ninhada”, e então bate com a cabeça nas grades da gaiola. E a gaiola continua ali, e o pássaro fica louco de dor. ‘Vejam que vagabundo’, diz um outro pássaro que passa, ‘esse aí é um tipo de aposentado’. No entanto, o prisioneiro vive, e não morre, nada exteriormente revela o que se passa em seu íntimo, ele está bem, está mais ou menos feliz sob os raios do sol. Mas vem a época da migração. Acesso de melancolia – ‘mas’ dizem as crianças que o criam na gaiola, ‘afinal ele tem tudo o que precisa’. E ele olha lá fora o céu cheio, carregado de tempestade, e sente em si a revolta contra a fatalidade. ‘Estou preso, estou preso e não me falta nada, imbecis. Tenho tudo o que preciso. Ah! Por bondade, liberdade! Ser um pássaro como outros.”

l AUTOJUSTIÇA “O pior mal de todos os males é a autojustiça, erradicar em si mesmo um trabalho interminável de remoção de ervas daninhas.” l DOENÇAS “Pessimismo e melancolia são as doenças que mais afetam as pessoas enquanto trabalham.” l AMBIÇÃO “Se a infância e a juventude são apenas vaidade, não deve ser a nossa ambição nos tornarmos homens?” l AVENTUREIRO “Eu não sou aventureiro por escolha, mas pelo destino.” l NATUREZA “Não é a linguagem dos pintores, mas a linguagem da natureza que se deve ouvir. O sentimento pelas 88  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2017

coisas em si, pela realidade, é mais importante do que o sentimento pelas imagens.” l CORAGEM “Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco. Se perdeu a honra, perdeu muito. Se perdeu a coragem, perdeu tudo.” “Como seria a vida se não tivéssemos coragem de tentar coisas novas?” l AMOR “Penso que não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas.” “Amei muitas coisas porque é aí que mora a verdadeira força. Quem ama muito faz muito. Tudo o que é realizado com amor é bem feito.”  SAIBA MAIS

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BARRO NOS ZÓI!

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FOTO: MARCOS GUIÃO

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um tem coisa mió que andança no sertão. O vivente se vai indo pra lugar nenhum, mas a alegria da andança na natureza dá aragem na alma e a fadiga nem existe. É só contentamento. Foi numa dessas que Chico da Mata me jogou com um cardume de mulheres, todas carregadas de sabedoria das plantas. Confesso que num tenho prática de conhecimento na caatinga, e achei essa oportunidade uma belezura. O sertão ainda tava verdolengo derivado das poucas chuvas caídas na semana anterior nos eitos de Catuti. Mas isso não era aliveio, porque o sol tava estralando e o calor montado. Na prevenção, a mulherada passou protetor solar na cara, emprestando umas as outras, mas eu declinei dessa prática. A turba barulhenta se foi indo num despropósito de alegria pro meio dos garranchos espinhentos, debulhando conhecimento e trocando figurinhas. De repente, dei de reparar que dona Celita, uma das mais esperta e faladeira do grupo, amuou. Num tardou ela chamar pela cumadre Tilda e as duas foram se desgarrando, caçando sombra aqui, acolá e quando pensa que não, estacaram. - Daqui num dou nem mais um passo - disse firme dona Celita. Chico se acercou pra perguntar a razão. Ela mostrou os olhos congestionados, vermelhos e lacrimejantes. - É essa praga de protetô, que se escorreu com o suor e tá arruinando meus zóio... - lamentou ela, enquanto lavava mais uma vez o rosto completamente congestionado. Dali mesmo deu-se meia volta e, no trote até a casa, ela desgarrou do grupo e saiu na carreira em busca de alívio. Chico marchou atrás e eu junto. Quando chegamos em casa de seu Joaquim, a charrete já tava com a égua arriada e ela se ajeitando pra buscar socorro em Catuti, distante doze quilômetros. Com jeito, Chico ponderou sobre o esforço e a conduziu até a sala. Lá ela se deitou, deixou a cabeça no braço do sofá e manteve os olhos fechados. Rapidamente ele foi até a horta, colheu arruda (Ruta graveolens), amassou no fundo de uma caneca e espremeu o sumo sobre duas colheres de argila medicinal dispostas num prato, misturando tudo até formar uma

DONA CELITA e o barro: alívio para os olhos

pasta maleável. Sem pestanejar, rumou até a sala e colocou uma pelota de argila em cada olho, esparramando com cuidado enquanto falava baixinho: - Se avexe não, dona Celita, daqui um tim seus zóis tão bão de novo... Sem muita convicção, ela concordava com a cabeça, mas desconfiada chamava por sua cumadre Tilda sem parar. Depois ela confessou os pensamentos: - Onde já se viu isso? Em zóio dos outro inté barro eles punha... É porque num é o dele que tá doendo... Pois num demorou um átimo e ela já deu ponto de alívio. Mais uns minutinhos à toa e ela se levantou, lavou o rosto e voltou pra sala só alegria e sorrisos. Aquilo me pareceu milagre. Calado, me arretirei prum canto e fiquei no reparo da festa que se seguiu. A gente num sabe é de nada dessa vida. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.


“Onde estão os... carros solares?” - CNN 22 de julho de 2006

“Avião solar faz história após completar volta ao mundo.” - CNN 26 de julho de 2016

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o d n a g e ch á t s E

CUIDAR DA NOSSA ÁGUA É CUIDAR DA NOSSA GENTE. O Governo do Estado e a Copasa superam desafios para fazer a água chegar a todas as regiões de Minas Gerais. São investimentos e obras realizados para garantir melhoria na qualidade de vida para milhões de mineiros.


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