EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA ANO 6 - Nº 69 - 14 DE MAIO DE 2014 - R$ 9,80 - Toda lua cheia
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O CÉU QUE NOS PERDOE
ANO 6 - Nº 69 - 14 DE MAIO 2014
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INÚMEROS DESTINOS, TODOS OS SENTIDOS. Descobrir Minas Gerais é muito mais do que encontrar um destino: são sabores, aromas, paisagens, texturas e belezas que transformaram o Estado em um dos pontos turísticos mais importantes do Brasil. Viva Minas Gerais e encante-se, em todos os sentidos.
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EXPEDIENTE
alfeu trancoso
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Tillandsia stricta (Bromeliaceae)
Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
Diretor-geral E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com
GRUPO
reportagem Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho Estagiário: Marcos Fernandes
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capa Fotos: Thiago Fernandes William Dias/ALMG editoria de arte André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com revisão Gustavo Abreu DEPARTAMENTO Comercial Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com
impressão Log & Print Gráfica e lógistica S.A. Projeto Editorial e gráfico Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com Redação Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br versão digital www.revistaecologico.com.br
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Conselho Editorial Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Patrícia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior, Vitor Feitosa e Willer Pos
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índice
Os desafios de Alceu
Ambientalistas e conselheiros da Revista ECOLÓGICO apresentam sugestões ao novo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alceu Torres marques, para aperfeiçoar a gestão e a preservação dos recursos naturais de Minas.
22 SOU ECOLÓGICO A REINAUGURAÇÃO DO TEATRO FRANCISCO NUNES, EM BH, RECUPERADO POR MEIO DE UMA PARCERIA ENTRE A PREFEITURA MUNICIPAL E A UNIMED
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E mais... IMAGEM DO MÊS 08 CARTA DO EDITOR 10 cartaS doS LeitorES 12 PÁGINAS VERDES 14 ECONECTADO 19 GENTE ECOLÓGICA 20 CÉU DE BRASÍLIA 25 NATUREZA MEDICINAL 26
28 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL O geobiólogo Allan Lopes mostra como curar ambientes negativos que afetam a saúde das pessoas em casa e no trabalho
OPINIÃO 33 TECNOLOGIA LIMPA 34 ESTADO DE ALERTA 36 PREFEITURA & MEIO AMBIENTE 38 CÉU DO MUNDO 40 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 44 GESTÃO & TI 46 MUNDO VASTO 58 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 59
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Memória Iluminada Os 87 anos de amor e solidão de Gabriel García MÁrquez, o poeta e escritor colombiano que vendeu mais de 50 milhões de livros
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OLHAR EXTERIOR 64 FLASHES 66 OLHAR POÉTICO 68 VOCÊ SABIA? 70 AS MUITAS MINAS NO MUSEU (4) 72 V PRÊMIO HUGO WERNECK 76 ENSAIO FOTOGRÁFICO 82 CONVERSAMENTOS 86
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IMAGEM DO MÊS
Lua de sangue
AFP PHOTO / Evaristo Sá
O eclipse lunar do dia 15 de abril pôde ser observado em várias partes de nosso país, principalmente nas cidades que tiveram pouca presença de nuvens, como Brasília (DF). Esse fenômeno, que ocorre quando o satélite cruza o cone de sombra da Terra, é conhecido como “lua de sangue”, por conta da cor avermelhada que reincide sobre a superfície do satélite. No Memorial Juscelino Kubitschek, na capital brasileira, o eclipse foi um espetáculo à parte.
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a prefeitura de belo horizonte, por meio da fundaçÃO MUNICIPAL DE CULTURA, APRESENTA:
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO, PALCO E RUA DE BELO HORIZONTE
Vem aí o FIT 2014, o maior de todos os tempos. Mais de 200 atrações espalhadas por toda a cidade. E, neste ano, a edição vai marcar a reinauguração dos teatros Francisco Nunes e Marília.
O FESTIVAL É DE TODOS. A EMOçao, DE CADA UM. DE 6 A 25/5. fitbh.com.br FM-004-14M - ads FIT2014 adecologico 205x275.indd 1
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thiago fernandes
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
Uma luz nas veredas M inas são várias e vive, em cada uma delas, a delícia e a dor de ser o que é. Um mar de montanhas exuberantes, ainda em busca da igual gratidão mineral. A caixa d’água do país mais vazante que retida, benfazeja e infiltrativa em seu solo nu. O que era a mata verde mais atlântica do Brasil continua se transformando em florestas raras e de transição, do Cerrado ao semiárido, já vislumbrando o deserto. Cadê a esperança contra tudo isso? O doutor Guimarães Rosa não nos ensinou que “perto de muita água toda gente é feliz?” Ensinou. E é inspirada pelo escritor de “Grande Sertão: Veredas” que a Revista ECOLÓGICO reverencia, nesta edição, dois temas que buscam a nossa superação, e não somente reportar/lamentar o que não tem mais conserto em um mundo igualmente devastador sob a realidade das mudanças climáticas. O primeiro tema é a nomeação-surpresa do ex-procurador de Justiça do Estado e integrante do Ministério Público Alceu Torres Marques como titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Será a judicialização de vez da questão ambiental, tão temida pelo setor produtivo? Muito pelo contrário. Antes de qualquer pedra ser jogada, a ECOLÓGICO foi ouvir quem entende - e sente - o assunto, quais as sugestões mais importantes e capazes de otimizar o que tanto se espera da nova gestão.
O segundo tema nos remete às últimas veredas decantadas por Guimarães Rosa, também ameaçadas pelo agronegócio nos grandes sertões de Minas, de Goiás e de todo o Cerrado. Trata-se da quinta edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – o Oscar da Ecologia 2014” (leia mais na página 76), que está sendo lançado hoje, lua cheia de maio, na Cidade Administrativa de Minas, com uma pergunta-chave feita pelo nosso ambientalista maior: “Quanto vale a sombra de um buriti?” Prepare, pois, o seu coração, o seu exemplo e a sua contribuição em prol da construção de um planeta melhor e mais amado que, no mínimo, somente pela sua beleza já deveria ser preservado. Nenhum de nós, caro leitor, está sozinho, mesmo que anestesiados pelo que continuamos testemunhando à nossa volta. Nesta edição, você tem a companhia de Sérgio Abranches e Gisele Bündchen, dos profetas de Congonhas, das capivaras da Pampulha e do médico de casas e edifícios, o geobiólogo Allan Lopes. E ainda de Gabriel García Márquez, o autor de “Cem Anos de Solidão”. O nosso querido Gabo, para quem, você também vai ler aqui, a única coisa ruim na aparente derrota da vida para a morte é “a perda da companhia dos amigos”. Viva Gabo, viva Rosa! Boa leitura e até o próximo 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Ou da esperança?
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Quanto vale a sombra de um buriti?
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CARTAS DOS LEITORES
l Uma casa no campo “Eu também gostaria de viver em uma casa no campo! Acho que dá para conciliar a natureza e um pouco de tecnologia. Tenhamos fé!” Fábio Calazans, Via Google+ “Parabéns pela matéria! Assim podemos ver que ainda existem pessoas que vivem bem sem as mordomias do dia a dia. Adorei!” Tatiana Paula Franco, via Facebook “Nossa, tentei me imaginar assim, no campo! Bela história!” Priscila Freitas, via Facebook l Lagoa só para inglês ver “Agradeço a publicação da matéria sobre a Lagoa dos Ingleses! Agora estamos em busca de parceiros para criar um parque ecológico em uma área de Sarzedo!” Rodrigo Nascimento, via e-mail l Carne: a verdade nua e crua “E aí Roberto Carlos? Que incoerência, cara! Será que a senilidade está mexendo com a sua sensatez? Por que não com suas superstições?” Meryene Souza, via Google+
l As Muitas Minas no Museu “Gostei muito das matérias das salas do Sebastião Salgado e do Guimarães Rosa, no Memorial Vale. Muito bem escritas. Parabéns a todos da ECOLÓGICO.” Nilo Ramos Souza, via e-mail
“Excesso no consumo de carne significa desmatamento da floresta e descarga de gás metano!” Mônica Mendes, via Google+
l Olhar Exterior “Maravilhosa e deslumbrante a cidade chinesa de Harbin!” Socorro Saraiva, via Google+
“Também sou a favor da luta pelo não consumo de carne. Valeu Paul McCartney!” Maria José Reis, via Google+
l A arte de passarinhar “Assisti ao filme ‘O Grande Ano’ e me apaixonei... Observar os pássaros é uma arte singular e não é para os fracos!” Nadir França, via Google+
“Muito legal a matéria!” Pedro Ramos, via Google+ “Ótima reportagem sobre a situação da carne no Brasil, já que mostra o desrespeito conosco, consumidores!” Denise Ribeiro, via Facebook “Uma crueldade sem fim a forma como os animais são executados para que os bifes cheguem à mesa dos cidadãos. Sou vegetariano há 15 anos e fico feliz de não cooptar com tamanha barbárie.” Luís Fernando Casas, por e-mail
“Adoro observar pássaros!” Samira Silva, via Google+ l Empresas e Meio Ambiente “Li a reportagem ‘O que os olhos não veem, a natureza sente’ e achei muito bacana. Estou escrevendo sobre o assunto e me interessei pela pesquisa realizada pelo Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral e também pelo conceito de greenwashing.” Isabel Fernandes, via e-mail
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FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
EU ASSINO
l Ensaio Fotográfico “Que lindo o céu estrelado que o Thiago Fernandes nos mostrou no último ensaio. As fotos de natureza que a Revista ECOLÓGICO traz sempre são belas e nos incitam à preservação do patrimônio natural.” Marta Oliveira Marques, por e-mail “Buritis e veredas, maravilhas naturais que Guimarães Rosa tão bem retratou em suas andanças literárias... Com esse céu então, ficaram ainda mais bonitas. Parabéns ao fotógrafo, belo trabalho!” Raphael Prates, por e-mail
ROSA DOS VENTOS
“O que mais há hoje são empresas que se dizem sustentáveis e, na prática, a verdade é outra. O Brasil vem dando exemplos terríveis nesse sentido. No fim das contas, quem sofre é o meio ambiente e a economia.” Maristela Divioggi Lima, por e-mail
“A Rosa dos Ventos assina a ECOLÓGICO para se manter informada e atualizada sobre as questões ambientais: o que está em pauta, pontos de vista diversos, novidades, conhecer pessoas e ações. E, principalmente, por ser uma empresa de educação ambiental que busca inspiração.” Equipe Rosa dos Ventos
1 Humor que amda
fonte: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).
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PÁGINAS VERDES
“A natureza está DIVULGAÇÃO COPASA
reconquistando seu espaço”
ABRANCHES: “Se as sociedades brasileira e global não forem mais ativas e combativas e forçar os governos a mudarem, não há como melhorar”
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Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
S
érgio Abranches é daqueles que sabem dar um bom recado. Como poucos, nos faz refletir sobre o nosso papel como cidadãos e responsáveis pela preservação da natureza, a cada dia mais degradada. Talvez por isso não havia um lugar vago na palestra que ele proferiu na abertura da Semana das Águas - promovida pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), em parceria com o HidroEx, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e a Universidade Federal de Minas (UFMG) -, conferida de perto pela ECOLÓGICO. Sociólogo, ambientalista e cientista político, Abranches nasceu na cidade mineira de Curvelo, lá pelos idos de 1949. Formou-se em Sociologia pela Universidade de Brasília e é PhD em Ciência Política pela Universidade Cornell, de Nova York (EUA). Desde junho de 2006 apresenta o boletim diário “Ecopolítica”, que vai ao ar na Rádio CBN. Cofundador do site jornalístico “O Eco”, voltado para discutir as questões ambientais, é autor de vários livros, entre eles, “Crise e Mudança: A Nova Cara do Brasil” e “Copenhague: Antes e Depois”. Durante a palestra em BH, cuja mensagem reproduzimos a seguir, Abranches falou sobre mudanças climáticas, a importância de uma sociedade mais atuante e as transformações que o planeta e a
humanidade enfrentarão caso continuem a alimentar um modelo de desenvolvimento insustentável. “Agora chegou a vez de a natureza ser a dona da relação. Por isso, o século XXI será muito diferente do anterior e marca o início de um novo ciclo histórico, que será determinado pelas relações entre a natureza e a sociedade humana”, disse. E alerta: “A nossa luta será nos adaptarmos à mudança climática, que já é inevitável, e, ao mesmo tempo, evitar que ela se agrave”. Confira: Transformação “O que estamos assistindo hoje no mundo todo é a uma transformação de grandes proporções no meio ambiente. E ela tem um momento de desordem. Essas águas turbulentas vão alterar toda a nossa forma de viver, independentemente de nossas posições ou do que façamos ou pensemos.” paradigma “Essa transformação mudará o paradigma humano, sociocultural e econômico. O que está dentro da nossa vontade é o que fazer, como ajudar a reduzir os traumas dessa transformação radical que se seguirá. Uma mudança de paradigma ocorre quando se começa a acumular problemas que os instrumentos
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Fabio R. Pozzebom / ABR
Sociólogo e cientista político
"As mudanças climáticas extremas irão aumentar os impactos nas cidades, onde, até 2030, 95% dos seres humanos estarão morando."
científicos, políticos, humanos e tecnológicos não são capazes de resolver. E, a partir daí, começam a surgir soluções novas que antes não cabiam no paradigma civilizatório no qual nos formamos e amadurecemos.” Prometeu “Quando olhamos o passado recente, o século XX foi uma época de amadurecer várias mudanças que começaram no Renascimento. Todas aquelas que vivemos nesse século foram decorrentes de relações sociais, políticas e geopolíticas, conflitos entre seres humanos e entre sociedades. Nele, levamos ao ápice o nosso Complexo de Prometeu: de que éramos capazes de domesticar a natureza e colocá-la a nosso serviço. E que, em momento algum, ela se voltaria contra nós, porque éramos os ‘senhores da Terra’.”
comando “Com o surgimento das máquinas e das novas tecnologias, o ser humano achou que podia dominar a natureza. Isso mudou. Agredida desde o final do século XX, ela vem reconquistando o seu espaço e domínio. E vem fazendo isso nos cobrando um preço alto pelo que fizemos a ela.” Mudanças “As revoluções nos levaram a avanços políticos, mas também a degradar a natureza. Agora, chegou a vez de ela ser a dona da relação. Por isso, o século XXI será muito diferente do anterior e marca o início de um novo ciclo histórico que será determinado pelas relações entre a natureza e a sociedade humana. Essa relação, inclusive, será criticamente definida pelas mudanças climáticas. Hoje, o consenso sobre isso só acontece
na periferia da ciência. Em geral, os cientistas não têm qualificação suficiente para falar sobre o clima e confundem dois processos inteiramente distintos: um é a mudança climática determinada pelo homem; e a outra é a mudança geológica, de longo prazo, que demarca que estamos saindo do período glacial para o interglacial, que é mais quente. Esse é um processo natural, milenar.” Tecnologia “A nossa luta neste século será nos adaptarmos à mudança climática, que já é inevitável, e, ao mesmo tempo, evitar que ela se agrave. Essas transformações que vivemos já nos mostram novos caminhos, que ainda são imaturos. A Velha Ordem ainda é dominante, mas a Nova já se insinua. Ao contrário da revolução tecnológica do século XX, a atual é mais convergente. A
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nanociência, por exemplo, levará a mudanças importantes na produção de bioenergia e a terapias menos invasivas, que nos ajudarão a tratar moléstias mais eficazmente e aumentar a longevidade humana. Todas as práticas profissionais irão mudar com esse paradigma.” Estresse “Nesses períodos de transição, há um estresse global que é sistêmico. Há a mudança climática, que gera eventos extremos e degelos exponenciais. As crises geopolíticas, econômicas e políticas, que provocam falhas nas democracias. O estresse ecológico, que provoca as extinções de espécies e o colapso dos ecossistemas. E o ambiental, com absoluta perda da qualidade e disponibilidade de água, provocando estresse nos oceanos e esgotamento dos cardumes, e da qualidade do ar, gerando problemas gravíssimos de saúde pública.” Conexão “Esse processo de estresse tem uma conexão crítica: clima-água -população-alimentos. O planeta vai ganhar mais 2,5 bilhões de pessoas até 2050. E teremos de alimentá-las, além da população que já temos. Esse crescimento é resultado de uma lei demográfica de longo prazo. Embora a população esteja aumentando, a sua taxa de crescimento está em declínio. Entre 2015 e 2020, a maior parte dos países irá ‘perder’ população. Isso não é o nosso desafio central, mas o problema é essa inércia demográfica, que decorre do fato de que alguns países demoraram a reduzir a sua taxa de mortalidade. A taxa de natalidade em queda sempre reduz a de mortalidade. Isso acontece também no Brasil. Nas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012, o Brasil iria atingir um pico de 228 milhões
“Dizem que o Brasil tem a grande vantagem de que a maior parte de sua energia é hídrica, mas, na verdade, isso é um problema. Se você mantém isso, acontece o que estamos vendo hoje: os reservatórios em níveis críticos.” de pessoas em 2042. A partir daí, o país perderia mais população. Mas, para 2055, a estimativa passou a ser de 222,9 milhões.” Energia “A energia, por exemplo, é afetada e afeta as alterações do clima porque é baseada em combustível fóssil. A água produz energia, e a produção de alimentos usa energia e água. Desse ciclo, são emitidos gases de efeito estufa. Usamos terra demais para produzir alimentos com menor qualidade e contaminados por agrotóxicos.” Emissões “Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o setor de energia foi o que mais emitiu gases de efeito estufa em 2007, respondendo por 47% do total. Na sequência, estão o industrial e o agropecuário, com respectivamente 19 e 14%. No Brasil, nós passamos por uma mudança importante. O sucesso no combate ao desmatamento fez com que ele passasse a representar menos de 22% das emissões de carbono. Hoje, a pecuária e os transportes representam 67% das emissões de
gases de efeito estufa. Precisamos ter desmatamento zero e rever o plano de transportes.” Gestão “Dizem que o Brasil tem a grande vantagem de que a maior parte de sua energia é hídrica, mas, na verdade, isso é um problema. Se você mantém isso, acontece o que estamos vendo hoje: os reservatórios em níveis críticos. Sem contar que a chuva irá assorear boa parte deles, não há uma proteção das bacias, nem mata ciliar nem gestão adequada. O Brasil acha que deve usar água e que as outras energias são subsidiárias. Na verdade, devemos usar as energias renováveis para evitar o sobreuso de nossos recursos hídricos para produção de energia.” Produção “2014 é o décimo primeiro ano consecutivo em que as mudanças climáticas extremas - secas, enchentes, furacões, nevascas, excesso de calor e de frio - afetam a produção agrícola em todo o mundo. Em conversa com um representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, ele garantiu, com certeza absoluta, que o preço dos alimentos nunca mais voltará aos patamares anteriores. Sabemos que o cenário de risco hídrico global afeta sociedades que achavam que tinham muita água, como o Canadá e o Brasil.” Cenários “Há duas frases do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare que desenham os cenários de colapso ambiental ou mudança de paradigma civilizatório. A primeira é da feiticeira Hécate, personagem do livro ‘Macbeth’. Ao lançar mais feitiço sobre Macbeth, ela diz: ‘Ele desprezará o destino, desafiará a morte
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Sociólogo e cientista político
REUTERS / Paulo Whitaker
O SISTEMA CANTAREIRA, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo, atingiu 10% de sua capacidade: nível crítico histórico
e terá esperanças acima da sabedoria, da piedade e do temor. Vós bem sabeis: a confiança é o maior inimigo dos mortais’. É justamente essa confiança que pode nos levar para o colapso planetário. Já em ‘Hamlet’, Shakespeare diz: ‘Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os dardos e setas do ultrajante fado ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo?’. Se fizermos isso, nós evitaremos esse colapso e levaremos à ruptura do paradigma civilizatório atual.” Visões “Hoje, há quatro visões em discussão a respeito do desenvolvimento. Temos o grupo dos desenvolvimentistas, ainda majoritário, que acha que é preciso desenvolver a qualquer custo e que, no futuro, os problemas se resolvem. São eles que querem nos levar para o colapso. Os ambientalistas radicais defendem os limites do crescimento, pois a população irá crescer e teremos uma tragédia. Os catastróficos dizem que o
cataclismo climático é inevitável. Em seu livro ‘A Grande Ruptura’, o ativista socioambiental australiano Paul Gilding fala, por exemplo, que a catástrofe não é ruim, pois levará ao ‘renascimento da civilização como um todo’. Nesse grupo, incluem-se também os ativistas James Lovelock e John Gray, que falam que a catástrofe é inevitável e é o ‘fim do mundo’. A última visão é dos neodesenvolvimentistas, que defendem uma mudança de padrão de produção e consumo e que pregam que ainda temos chance de mudar. Esse é o dilema que devemos discutir entre as pessoas a fim de elevar a humanidade a um novo patamar de sobrevivência e de felicidade, bem-estar e realização. Os neodesenvolvimentistas serão a força econômica do futuro.” Crescimento “Há uma certa maioria entre os ambientalistas que tem essa visão de que é preciso limitar o crescimento. Devemos mudar a visão de crescimento para a de desenvolvimento
sustentável. Não podemos parar a máquina econômica, e sim transformá-la, para que ela possa continuar se movendo. O problema maior das pessoas que dizem que estamos fadados à catástrofe é que a reação natural da sociedade a elas é apenas de admiração. A sociedade não quer saber de mais problemas. Quer aproveitar antes que acabe. No entanto, ela precisa entender que a capacidade de nos manter no planeta pode acabar. A Terra vai continuar existindo, mas não os terráqueos.” TRISTEZA “No caminho da cidade de Unaí para a de Chapada Gaúcha, passei por uma estrada ao lado de uma fazenda com 18 km de plantação de soja. Lá não tinha uma árvore, um buriti, uma vereda, um olho d’água. E, no fim do horizonte, havia um monte de semeadeiras, feito um batalhão de tanques de guerra, prontas para fazer a colheita.” Preservação “Tenho muita expectativa em relação ao Cadastro Ambiental
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PÁGINAS VERDES
GRANDE SERTÃO VEREDAS: "Minas tem de se impor" “Minha mulher (a jornalista Miriam Leitão) ia fazer uma reportagem especial para a TV Globo sobre os 60 anos de publicação do livro ‘Grande Sertão: Veredas’, de Guimarães Rosa, e tinha ido a Brasília para viajar com a equipe de reportagem para o município de Chapada Gaúcha, no norte de Minas. Fui mais cedo de carro e tive de esperar até o dia seguinte para visitar o parque. Chegando na cidade, sentei na frente da pousada e fiquei observando o cotidiano do lugar. As pessoas viam a placa do meu carro do Rio de Janeiro e me perguntavam o que eu ia fazer em Chapada. Disse que queria visitar o parque ‘Grande Sertão
Rural (CAR), porque ele pode ser um instrumento poderoso para ajudar na preservação dos rios e pressionar as prefeituras e o governo estadual para implementar efetivamente a recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), a preservação das nascentes e a formação de mata ciliar. Há uma ideia velha de que árvore não aumenta a água e isso não é verdade. Ela aumenta porque protege o rio e a nascente. Todo rio nasce pequeno, e aí está a importância de sua proteção.” Minas “É um estado diferente. A gente tem um orgulho de nossas
Veredas’. Elas falaram que a água de lá era uma beleza. Verdade, mas o parque está ameaçado pelo agronegócio insustentável. Os agricultores vizinhos devastaram tudo, acabaram com as nascentes em suas propriedades, aterraram as veredas e não têm mais água para tocar seus negócios. E agora querem entrar e tirá-la do parque. As veredas são históricas, deveriam ser tombadas pelo Estado como patrimônio. A reserva é nacional, mas o parque é mineiro. E Minas tem de se impor por ele, em nome da natureza, em nome da nossa cultura, em nome de Guimarães Rosa e da nossa história.”
águas. O Brasil é um país que vira as costas para os seus rios e os transformam em esgotos, ao contrário de outras civilizações. Temos que começar a priorizar os nossos rios. E pensar que, se o rio que passa na minha terra for saudável, eu sou saudável. Essa conexão tem de ser feita de forma cultural, e Minas tem vantagem nisso.” Política “A política enrijeceu, envelheceu e se oligarquizou. A sociedade continuou mudando e crescendo e transbordou a política, que não dá mais conta das demandas da população. Está na hora
de a sociedade se impor, tomar a frente e não aceitar que comitê de bacia hidrográfica e relatórios técnicos a respeito do que podem acontecer com os rios sejam atropelados por vontade política. Aliás, vontade política é a pior coisa que existe no mundo. Ela é ditatorial. É a pessoa achar que com um murro na mesa se resolve um problema. Não! Quero que a política faça a vontade e respeite a sociedade. Vamos precisar de rebelião, revolta, desobediência em relação às velhas normas para fazermos essas mudanças.” l Saiba mais
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ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
TWITTANDO l “Na embalagem vem escrito: sem açúcar, sem glúten, sem lactose. Certamente, é sem graça também!” @R2renatoribeiro - Renato Ribeiro, repórter l “Depois de 30 anos, o metrô chega à
rua Uruguai, na Tijuca, RJ. Mais uns 50 e chegará na rodoviária e aeroportos!” @tomleao – Tom Leão, comentarista da Globo News
l “Eis o dilema: reduzir a maioridade penal ou aumentar a qualidade da escola, pública e gratuita, em tempo integral? Ninguém nasce bandido!” @freibetto – Frei Betto, teólogo
l “Não dá pra começar um diálogo com alguém que acha correto amarrar pessoas no poste.” @FabioPorchat – Fábio Porchat, humorista
DIVULGAÇÃO
l “Isolado por cheia do Rio Madeira, Acre enfrenta dificuldade para fornecer água tratada em Rio Branco.” @AltinoMachado – Altino Machado, jornalista
l “Rio e São Paulo desperdiçam (no mínimo) mais de 30% da água.” @andretrig – André Trigueiro, jornalista l “Mais um dia de completa conexão
com a natureza viva! Paz profunda...” @danisuzuki – Dani Suzuki, atriz
l “Se você acha que educação é caro,
você não tem ideia de quanto custa a ignorância.” @fmei7777 - Fernando Meirelles, cineasta
l “Salve as energias positivas da na-
tureza, arcanjos, mestres evoluídos, anjos da guarda e forças similares.” @vanessadamata - Vanessa da Mata, cantora
DIVULGAÇÃO
INSTAGRAM Para quem curte boas fotos e uma dose de informação, a Revista ECOLÓGICO também está no Instagram, aplicativo de imagens e vídeos curtos que possui cerca de 150 milhões de usuários no mundo. Só o Brasil é o quinto maior frequentador da rede. Quer saber o que publicamos por lá? Acesse: www.instagram.com/ revistaecologico
WIKIPÉDIA VERDE Aproximar os brasileiros das áreas naturais protegidas do país, oferecendo informações gratuitas sobre elas. Esse é o principal objetivo da Wikiparques, uma plataforma colaborativa lançada pela Associação O Eco e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A partir da mesma tecnologia utilizada pela conhecida Wikipédia, essa nova plataforma disponibilizará, inicialmente, informações gratuitas sobre os 69 parques nacionais do país: atrações, contatos, mapas de acesso, histórico, além de informações sobre a biodiversidade protegida no local. Conteúdo que pode ser editado e complementado por qualquer internauta, além de poder ser compartilhado nas principais redes sociais. Saiba mais: www.wikiparques.org JINGOBA
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MAIS ACESSADA Você sabe quem é Rachel Carson? Pouca gente a conhece fora dos círculos acadêmicos, mas ela foi a bióloga e escritora responsável pela maior revolução ecológica dos Estados Unidos e do mundo, quando lançou o livro “Primavera Silenciosa”, em outubro de 1962, para se referir a pássaros mortos pela contaminação de agrotóxicos. Essas e outras informações sobre Rachel, você pode conferir na matéria mais acessada de abril. Saiba mais: www.goo.gl/SZPk2u MAIO DE 2014 | ECOLÓGICO 19
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divulgação / tv globo
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gente ecolÓgica
“Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo.”
Mariusz Kubik
José Ortega y Gasset, filósofo e escritor espanhol
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês
Letícia Sabatella, atriz e ativista ambiental
“Já é tempo de refletir, e de começar a mudar, se a mão que vai destruir, também serve pra plantar.”
jb ecológico
“Se Marx e Engels escrevessem o Manifesto Comunista hoje, teriam de substituir a célebre frase inicial ‘Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo’ pela seguinte: ‘Um espectro ronda o planeta – o espectro da indignação’.”
“As coisas se fazem com participação, com pressão mesmo. Na vida é assim. Uma pessoa não vai reconhecer seu limite se você não disser ‘chega!’. E esse tipo de desequilíbrio é inerente à humanidade, o limite tem que ser lembrado pelo outro. Sou a favor desse olhar que não deve ser o meu, deve ser o de todos nós."
XUXA, apresentadora, na música “Viver”, de autoria de Neuma Morais
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JOÃO MIRANDA / REFINARIA DA IMAGEM
Ney Matogrosso, cantor
“O grito das ruas espelha os anseios de uma sociedade que não mais tolera a falta de saúde, educação e mobilidade urbana.”
Marcos Palmeira
Tomaz Silva / ABr
Antônio Carlos Andrada, presidente da Associação Mineira de Municípios
“Por nossa realidade corpórea, Deus nos uniu de forma tão estreita ao mundo que nos rodeia que a desertificação do solo é como uma doença para cada um de nós. E podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação.”
edu morais
Um dos artistas mais ativos na defesa do meio ambiente, o ator foi ovacionado ao participar de um curso sobre sustentabilidade do Polo de Pensamento Contemporâneo (POP), no Rio de Janeiro, ao falar da necessidade de todos adotarem um comportamento sustentável. Referência no setor de alimentos orgânicos, Marcos é dono do Armazém Vale das Palmeiras, no Leblon, onde comercializa produtos orgânicos de sua fazenda e de fornecedores parceiros.
Marina Mendes
MINGUANDO
Papa Francisco
Mauricio de Sousa
“O movimento ambientalista também precisa de uma radical transformação em termos de ação e de agenda, em razão de seu próprio sucesso. As estratégias de hoje devem levar em conta que as crianças conhecem muito melhor os assuntos do que a nossa geração.” Fabio Feldmann, consultor, ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo
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Leoni
O cantor resolveu fazer uma “homenagem” à colega Lucélia Santos após a polêmica da foto da atriz utilizando um ônibus no Rio de Janeiro. Ele tirou uma fotografia de si mesmo (conhecida atualmente como “selfie”) dentro de um coletivo. “Achei ridículo o preconceito da mídia quando a Lucélia Santos foi ‘flagrada’ andando de ônibus. Como se isso significasse que ela estava decadente. Minha ideia é só deixar claro que artista é um cidadão comum.”
Manoel Marques
jb ecológico
“Eu preciso muito de contato com a natureza, porque também me comunico com ela com uma consciência de que estou pisando na terra, no planeta que nos conduz. O contato com a natureza é meu exercício mental.”
CRESCENDO
O cartunista foi alvo de críticas quando postou, em sua conta no Instagram, o protesto de uma menina que se posicionava contra a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que considera ilegal a “prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço”. Mauricio foi acusado de apoiar a publicidade infantil (que gera lucros à sua marca) e teve de excluir o post e se explicar.
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Sou ecológico FOTOS: DRIKA VIANNA
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O NOVO TEATRO: recuperado por meio do Programa “Adote um Bem Cultural”, da Fundação Municipal de Cultura
Chico Nunes de emoções
E
moções extremas, justas e solidárias. Foi as- no ano passado, ficou por conta do diretor e produsim, sob o domínio da arte de representar tor cultural Pedro Paulo Cava. E ele se superou. Ao e com muitos atores chorando de verdade, reunir, festejar e premiar praticamente todo o munna lua nova de abril, a inauguração do novo Teatro do artístico mineiro, desde quem fica atrás das corFrancisco Nunes, na capital mineira. A começar pelo tinas ou prepara os cenários - como Raul Belém Macenário natural escolhido: dentro do Parque Munici- chado, in memoriam, o homenageado da noite - até pal Américo Renné Giannetti, com suas árvores cen- Wilma Henriques, destilando, como um bom vinho, os seus 55 anos de palco, Cava fez aquitenárias e também de gala, iluminadas lo que os órgãos culturais oficiais esquepara a festa. Em sua fala televisionada, o cem de fazer: celebrar, em vida, aqueles ator Odilon Esteves, da Cia. Luna Luneque batalham, com muita dificuldade, ra, sintetizou a importância da parceria dedicação e amor na arte de nos fazer sustentável entre a Prefeitura de BH e a chorar, rir, pensar e se emocionar. E, no Unimed, que investiu R$ 11 milhões na mínimo, fazer de nós pessoas melhores, recuperação do Velho Chico Nunes: depois do fechar das cortinas. “É coerente que uma cooperativa méCan-can, moulin rouge, opereta, candica, que vive de cuidar da saúde das to lírico e popular, tango, guitarra elétripessoas, decida também cuidar de um ca, teatro, música erudita e boneco de teatro. Esse cuidado aponta para uma vipano, nada parece ter faltado na reconsão de que para cuidar da saúde pública tagem histórico-artística do velho teatro não basta cuidar da saúde do indivíduo Pedro Paulo Cava até a sua volta à cena cultural. Teve até a no consultório. É preciso pensar a saúde nessa maneira global, onde existem agentes, a arte, bailarina Lina Lapertosa, dançando e interpretando por exemplo, que são capazes de atravessar um ser “Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque, ao som de um piano de cauda. Um Júlio Varela, cuja história se humano e lhe sanar a alma. Isso é saúde também.” A batuta artística maior, tal como empunhada na confunde com o Chico Nunes, subindo cautelosainauguração do novo Cine Theatro Brasil – Vallourec mente ao palco. E um Angelo Machado, mais cau-
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Acesse o blog do Hiram:
hiramfirmino.blogspot.com
teloso ainda, se explicando: “Na minha idade, subir mais que três degraus virou esporte radical”. Por falar no autor da peça “Como sobreviver a festas e recepções com buffet escasso”, a comicidade da noite foi roubada pelo ator Carlos Nunes. Imitando um bêbado, ele surpreendeu a plateia entrando cambaleante pelas costas do teatro. Brincou com os convidados, inclusive com as autoridades: “O Pedro Paulo falou que eu podia mexer com todo mundo aqui, menos com os ocupantes importantes da primeira fila, com o risco de elas não pagarem os nossos cachês!” E foi dele, ao subir e ficar “sóbrio” no palco, o recado maior e mais existencial dos artistas. Carlos Nunes interpretou o famoso texto de autoria do general norte-americano Douglas MacArthur, sobre a ecologia de “Ser Jovem”, escrito em 1945 (leia a seguir).
Rômulo Duque e Júlio Varela: homenagem dupla
A ecologia de SER JOVEM
gláucia rodrigues
“A juventude não é um período da vida. Ela é pessimismo e corroído pelo cinismo, que Deus, um estado de espírito, um efeito da vontade, então, se compadeça de tua alma de velho. uma qualidade da imaginação, uma Jovem é aquele que se admira, intensidade emotiva, uma vitória que se maravilha e pergunta, como da coragem sobre a timidez, do a criança insaciável: ‘E depois?’ Que gosto da aventura sobre o amor desafia os acontecimentos e encontra e o conforto. Não é por termos alegria no jogo da vida. És tão jovem vivido um certo número de anos quanto a tua fé. Tão velho quanto a que envelhecemos. Envelhecemos tua descrença. Tão velho quanto o porque abandonamos o nosso teu desânimo. Jovem não é aquele ideal. Os anos enrugam o rosto; que ainda não viveu muitos anos, renunciar ao ideal enruga a alma. mas aquele que, apesar dos anos As preocupações, as dúvidas, vividos, não permite que adormeça os temores e os desesperos são a criança interior. Serás jovem Carlos Nunes os inimigos que lentamente nos enquanto te conservares receptivo ao inclinam para a terra e nos tornam pó antes da que é belo, bom, grande. Receptivo às mensagens morte. E se um dia teu coração for atacado pelo da natureza, do homem, do infinito.”
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O NOVO SECRETÁRIO: mesma missão que ele presidiu, apoiou e experimentou à frente do Ministério Público
“Os ocupantes da primeira fila”: compromisso cumprido
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Sou ecológico
hiramfirmino.blogspot.com fotos Drika Vianna
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Acesse o blog do Hiram:
Wilma Henriques em “A Dama Desnuda”: triunfal
Aplausos mil, a festa terminou com Maria Lúcia Godoy. Como ninguém resiste a uma serenata nem esquece JK, ela fez a plateia em peso acompanhá-la em “Amo-te Muito”, de João Chaves, e “Oh! Minas Gerais”, do cancioneiro popular. Coisa linda, ver o público também artista, cantando e chorando junto no escurinho do novo teatro. NOTAS TRISTES As duas únicas notas tristes foram o prefeito Marcio Lacerda, em meio a tantas autoridades ali reverenciadas, e batalhador engajado na parceria PBH-Unimed, não ter sido chamado também ao palco para entregar uma das tantas homenagens. E a ausência quase absoluta da imprensa que, estranhamente, não compareceu para documentar o renascimento do velho Chico Nunes e o talento genioso mas agregador de Pedro Paulo Cava. No mais, só faltou e falta a Unimed também pa-
trocinar uma terceira nota, esta positiva, tal como foi a encenação de um trecho da ópera “Viúva Alegre”, que umedeceu os olhos de muita gente: reconstruir o velho Ribalta, o famoso bar que funcionava acoplado ao teatro, com vistas para o lago dos Pedalinhos do Parque Municipal. Ali, onde os artistas desvestiam seus personagens e ficavam conosco, jornalistas notívagos e boêmios irrecuperáveis, recitando, sem maquiagem, versos de Carlos Drummond e Manuel Bandeira, imersos no perfume real das damas-da-noite. Parabéns, Pedro! Parabéns, Marcio! Parabéns, Unimed! Sustentado ou sustentável, o novo Chico Nunes não pode parar! Saiba mais
Assista ao filme sobre a história do Teatro Francisco Nunes no nosso canal no YouTube: www.youtube.com/revistaecologico
Trecho de “A Viúva Alegre”, produzido por Cláudia Malta: lirismo em cena 24 ecológico | maio DE 2014
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Wilson Dias / ABR
CÉU DE BRASÍLIA
Antonio Cruz / ABR
VINÍCIUS Carvalho
Belo Monte
Campeonato verde?
Para a Copa do Mundo, o plano inicial do governo federal era investir cerca de R$ 200 milhões na preparação de 26 parques nacionais, estaduais e municipais. Quatro anos depois, o valor não deve chegar a um quinto do previsto. No total, serão R$ 36 milhões, dos quais R$ 26 milhões do ICMBio e R$ 10 milhões do Ministério das Cidades para obras de acesso e sinalização.
Código Florestal
AGÊNCIA BRASIL
O novo código reduz em 58% a área desmatada no país que deveria ser restaurada, afirma estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista Science. Segundo o grupo, a lei anistia 29 milhões de hectares de florestas devastadas ilegalmente antes de 2008. Além disso, mantém a possibilidade de desmate legalizado para outros 88 milhões de hectares.
Estudo preparado pelo Instituto Socioambiental mostra que, do total de 54 condicionantes necessárias para autorizar a operação da Usina de Belo Monte, no Pará, apenas 15 são avaliadas pelos órgãos fiscalizadores como satisfatoriamente atendidas. Do total de 14 classificadas como não atendidas, 11 são referentes aos povos indígenas afetados pela obra.
Violência contra o índio
Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta que 34 pessoas foram assassinadas em 2013 em conflitos agrários, das quais 15 são indígenas. O número de índios mortos nessa circunstância é o maior já registrado pela CPT desde 1985. A maior parte das mortes (5) ocorreu em Roraima, com ianomâmis. Em seguida vem a Bahia (4), onde continua a disputa entre fazendeiros e tupinambás.
Desmatamento na Amazônia
Os alertas mensais de derrubada da floresta no bioma apontam para a redução do desmatamento, segundo números divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Em março, foram detectados 20 km2 de desmate, uma redução de 75% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o desmatamento somou 79 km². Uma redução um pouco maior, de 77%, também foi verificada em fevereiro, quando foram registrados 11 km² de devastação.
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marcos guião (*) redacao@revistaecologico.com.br
MARCOS GUIÃO
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NATUREZA MEDICINAL
Arnica O
utro dia dei conhecimento com Dona Nica, raizeira esperta que olha a vida por uma estreita abertura entre seus grandes olhos negros. Os dentes, muito brancos, são emoldurados por grossos lábios no rosto redondo de pele também negra. Os cabelos amarrados, pra cima da cabeça, lhe dava um ar irreverente. E as roupas de chita coloridas completavam sua figura. Foi nas gripas da Serra dos Querubins, quando ela puxava um burrico carregado com uma bruaca de cada lado, entupidas de amarrados de cascas, feixes de folhagem presos com cipó, frutos secos misturados com flores do campo, formando uma verdadeira cafua. Eu caminhava lampeiro na buscação de espécies medicinais e diante da cena inusitada, estanquei e dei de puxar um proseio, apesar de ela se mostrar escorreguenta, pulando de um lado pro outro, tal qual peixe na mão de criança. Bastou perguntar sobre arnica-da-serra (Lychnophora ericoides) que seu semblante se desarmou de pronto. Imediatamente amarrou o burrico num pé de candeia e, enquanto abria um puçá aqui, uma sacola acolá, outro embornal mais adiante, foi falando até se dá com a danada da arnica no fundo de uma gamela. Com a empatia estabelecida, sentei-
-me à sombra de um bacupari enquanto ela discorria sobre as serventias de tão afamada planta de nosso Cerrado. - “Óia, seu moço, num é muito facim se dá com ela nesses campo, pois o povo tem essa pranta muito em conta. Eu merma quase num tiro mais endeusde que ela ficô assim escassiada dessa quantidade. Às vêis, a fama é ruim pro vivente, né mermo? Acho que pra ela foi assim... Mar num tem dor de pancada e nem machucão que ela num arresorva quais que na horinha. Diz eles que ela é antinframática e seu apreparo é simpres. Num gasta nem fazê chá, a mania é ponhá ela dentro duma garrafa e completá com arco ou cachaça. Doeu quarquer coisa e lá se vai esfregando e meorando tudo junto.” Elogiei seus conhecimentos enquanto fui esticando a conversa até lhe explicar os riscos de extinção de espécies medicinais, como a arnica, devido à coleta indiscriminada, a dificuldade em reproduzi-la em viveiro, além do longo tempo que ela necessita para se desenvolver. Atenta a tudo, ela se despediu dizendo: - “Dagora em diante, vou zelar mais ainda prela num sumir daqui. Tadinha...” Inté procês!
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PROMOÇÃO
“ASSINOU, GANHOU!” Quer ficar por dentro do que acontece no universo ambiental de Minas, do Brasil e do planeta? Então não deixe de assinar a Revista ECOLÓGICO!
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www.revistaecologico.com.br
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1 Construção sustentável
O médico de casas Geobiólogo mineiro promove a cura de ambientes negativos de empresas e edificações que afetam a qualidade de vida e a saúde de funcionários e moradores Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br
FERNANDA MANN
É
preciso conhecer o geobiólogo Allan Lopes, de 37 anos, para ter certeza de que nem só os poetas podem ter uma casa arrumada ou constantemente amanhecendo. Allan é uma espécie de médico de casas ou biólogo da construção, que avalia e faz o diagnóstico da qualidade interna do ar, temperatura, som, iluminação, ondas eletromagnéticas e radioativas que podem estar interferindo no bem-estar e na saúde dos moradores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 60% das edificações empresariais e 30% das casas têm potencial para gerar doenças, inclusive o câncer. Criador da Casa Saudável, ele defende que toda construção é um ser vivo, composto de uma anatomia e de uma fisiologia particulares, que proporcionam benefícios ou não ao ambiente – e que interferem diretamente na qualidade de vida dos moradores e dos funcionários de uma empresa. “Casa Saudável é a concepção da habitação como um agente da saúde de seus moradores. É o enfoque positivo da biologia da construção, também conhecida como geobiologia. A nossa preocupação é olhar a casa como fonte de saúde e não de doenças. Passamos a ver nossa habitação como uma terceira pele, das cinco que temos. A primeira é a orgânica, que cobre o corpo. A segunda são as vestimentas, que devem ser tão seletivamente permeáveis quanto a primeira. A terceira pele
é a nossa casa. A quarta, nossa cidade, vila, lugarejo. E a quinta, e mais abrangente, a Terra, casa em que todos habitamos. Todas essas cinco peles devem trabalhar em conjunto e são partes de um único organismo”, explica Allan. TERCEIRA PELE A casa – ou a terceira pele –, afinal, é um dos locais mais importantes para uma pessoa. É lá que ela descansa depois de um dia cheio de trabalho, reúne os amigos, vive momentos românticos ao lado de quem ama ou simplesmente repõe as energias e se prepara para o dia seguinte. A casa é como um ninho, onde as pessoas voltam para se abrigar, se nutrir, se reabastecer e se aquecer para a luta diária. “A casa é onde moram os nossos sonhos”, garante Allan. Ele não se cansa de divulgar a geobiologia, “que é um ramo da ciência e um resgate do conhecimento das antigas civilizações romanas e egípcias, mas que só ficou conhecida no início do século XX, quando alguns médicos europeus começaram a suspeitar da existência de uma relação direta das doenças de seus pacientes com as casas onde moravam”. Um dos precursores da geobiologia no Brasil, Allan é um desses guerreiros que têm a coragem de abraçar causas para uma vida mais saudável do planeta e das pessoas, “fazendo-as pensar no que é ser e estar neste mundo por um brevíssimo período de tempo”.
Allan lopes, o geobiólogo do hábitat: “Toda construção é um ser vivo composto de fatores que interferem diretamente na nossa saúde”
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ALINE MENDES
O USO DE pedras para redistribuição espacial de energia promove bem-estar no ambiente
faxina existencial Entrar na sede da Casa Saudável, na Rua Pouso Alto, em Belo Horizonte, é compreender o que Allan fala. Em um agradável sobrado no bairro Serra, o geobiólogo pratica o que ensina. As janelas sempre abertas para o vento indicam que ele também está com a alma limpa e ventilada. “Todas as vezes que eu abro as janelas da casa também estou descortinando as da alma, deixando a vida entrar e me abençoar por mais um dia, mais uma oportunidade de ser e de existir. Todas as vezes que limpo minha casa também tiro de mim toda a poeira acumulada e o mofo. Faço faxina de toda a sujeira emocional. Sempre que trago para a minha casa novas pessoas, objetos e flores estou também me abrindo para o novo, para o outro, para a capacidade de crescer e de evoluir com a vida e com tudo o que ela traz de bom. Bons ventos sempre trazem inspiração.” Allan tem muito cuidado com o lugar onde vive e trabalha. “Queremos que, por meio de nossas
moradias, o mundo nos sorria e traga tudo o que há de melhor para ser vivido.” E dá dicas importantes que podem ser adotadas por qualquer um. A primeira preocupação do geobiólogo para ter uma casa saudável é deixá-la livre de tralhas, ou seja, desapegar do passado e abrir espaço para o novo e para que o futuro se manifeste no presente. Ele sugere jogar fora tudo o que não serve mais, ou como ele prefere dizer, “destralhar”, por meio de uma técnica simples e eficaz. É só escolher uma gaveta, uma área do guarda-roupa ou um quarto da casa. Pegar, então, cada objeto daquele espaço e se perguntar: “Eu uso isso?”. Se a resposta for sim, guarde de volta aquele objeto, mesmo que você use apenas no inverno ou nas férias. Se a resposta for não, então, faça uma segunda pergunta: “Eu amo esse objeto?”. Caso diga sim, mantenha o objeto. Pode ser uma lembrança de alguém ou um momento querido, que tenha algum valor pessoal importante e dá força para lembrar
quem somos. Mas, se a resposta a essa segunda pergunta também for não, seja impiedoso. Jogue fora, dê imediatamente para alguém que precise ou venda sem demora. Allan garante que “o acúmulo de objetos sem utilidade e sem significado emocional pode favorecer o desenvolvimento de conflitos emocionais e até da depressão em quem já possui essa tendência, ou dificultar o tratamento da doença”. Não deixe que pensamentos do tipo “mas eu posso precisar um dia”, ou “mas eu já guardo isso há tanto tempo para o dia em que…” tomem a dianteira. Desfaça-se desse objeto, pois ele tem impedido você de viver o que precisa. Ele o tem mantido na zona de conforto, no mundo onde você conhece e controla tudo, mas que nada muda, evolui ou melhora. Então dê adeus ao objeto sem uso e sem afeto! Recordações Casa Saudável também incorpora lembranças afetivas na decoração. A sugestão de Allan é colocar
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DIVULGAÇÃO CASA SAUDÁVEL
1 Construção sustentável
A SEDE DA CASA SAUDÁVEL, na capital mineira, tem vários ambientes cleans e iluminados naturalmente
em casa o máximo de objetos que contam histórias importantes da vida de cada um. Fotos do casamento, dos filhos ainda bebês, de quando eram adolescentes, e assim por diante. Tire esses elementos do armário e das gavetas e coloque para fora, pois somente assim eles poderão lembrar quem você realmente é. A Casa Saudável está sempre repleta de boas energias, com reflexos em você mesmo e em todas as pessoas que vivem, frequentam ou são vizinhas de seu lar. O ideal é contratar um especialista, mas você pode começar fazendo limpezas energéticas na sua casa. Pegue, por exemplo, um litro de álcool e coloque um pouco de ervas, como hortelã, lavanda e outras que você goste. Deixe ali por um dia e depois borrife pela casa. Vale lembrar que o spray não deve ser aspergido na direção de móveis ou quadros,
pois pode manchar os objetos. Para amenizar essa tendência, dilua um pouco da mistura em água. Ou coloque na água que será usada para passar no chão. Isto deverá manter sua casa com um mínimo de equilíbrio energético, para que você possa seguir livre e feliz pela vida. Na sala da Casa Saudável, os moradores devem evitar carpetes, substituindo-os por piso de bambu ou madeira. Nem pensar em estofados e almofadas sintéticas, que devem ser trocados por similares de material natural, como os futons japoneses. Ele avisa que os materiais sintéticos liberam substâncias tóxicas no ar. A cozinha da Casa Saudável é sempre um local de alquimia. Portanto, dispense o uso de detergentes que contaminam o leito dos rios. Prefira o sabão ou faça uma receita especial para limpar vasilhas e louças. Em um litro de
água morna, coloque duas colheres de bicarbonato de sódio, quatro de vinagre branco, meio copo de suco de limão. Ou, se preferir, adicione óleos essenciais. Os filtros de carvão aditivado são mais aconselháveis, pois aumentam o pH da água, tornando-a alcalina, ideal para o organismo funcionar bem. Allan também sugere evitar o uso de microondas, pois esses aparelhos desvitalizam os alimentos, além de causar poluição eletromagnética. As plantas são ótimas companhias da casa saudável, pois filtram o ar. As folhas, porém, devem ser limpas com pano e água para evitar o acúmulo de poeira. E não deixe água nos vasos, para não atrair o mosquito da dengue. Respeitar as condições de luz, rega e temperatura de cada espécie é fundamental. Allan também decora a casa com fotografias de momentos
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Roger Kirby / Freeimage
"Para um sono revitalizante, mantenha o quarto totalmente escuro. A entrada de qualquer quantidade de luz impede que o organismo atinja a profundidade de sono necessária para renovar as energias." Allan Lopes, geobiólogo e criador da Casa Saudável
felizes e importantes: olhar para essas fotos faz despertar os bons sentimentos do momento em que elas foram tiradas. Na mesa de trabalho, ele tem sempre ametistas, pois além de enfeitarem, são pedras que favorecem a compreensão e o acordo. Em uma mesa de trabalho individual, o ideal é usar uma de, no mínimo, 15 centímetros por 10. Escrever as intenções da casa ou da empresa faz bem à saúde de ambas: “Escreva ou represente com desenhos os aspectos positivos que expressem o que deseja, como amor, gratidão, união e sucesso. Depois coloque em algum lugar visível para que sirva como um lembrete e um incentivo, para você mesmo e para todas as pessoas que frequentam o local”. Ele ilumina o escritório com lâmpadas amarelas, como as incandescentes e as frias de espec-
tro total/luz do dia. O espectro amarelo estimula a criatividade e a produtividade. Além disso, as outras lâmpadas em geral sobrecarregam o ambiente com irradiações eletromagnéticas. Allan também evita o uso de piso sintético, por liberar toxinas e gerar eletricidade estática, além de roubar a energia do corpo humano, resultando em aumento de cansaço. Ar-condicionado? Só se for imprescindível. Mesmo assim, troque os filtros a cada seis meses. Ele lembra que a ventilação natural é sempre a melhor. E que as tintas à base de água ou da linha hospitalar são mais saudáveis, pois as outras liberam substâncias tóxicas no ar. No escurinho Atenção para o quarto que, segundo o geobiólogo, é um dos lugares mais importantes de uma casa saudável. Procure usar ca-
mas de madeira, nunca de metal. Colchões de mola, de água ou magnetizados devem ser evitados sempre que possível. Os mais indicados são os colchões feitos de matéria-prima natural, como o bambu. “Para um sono revitalizante, mantenha o quarto totalmente escuro. A entrada de qualquer quantidade de luz impede que o organismo atinja a profundidade de sono necessária para renovar as energias.” Evite também os aparelhos de TV, computadores e celulares dentro do quarto e distancie-os ao máximo da cama. Desligar da tomada os aparelhos eletrônicos quando não estiverem em uso é outra boa sugestão, pois está comprovado que a radiação eletromagnética do celular, por exemplo, é emitida pela antena acoplada ao aparelho. Essa radiação tem uma frequência maior do que as usadas em rádio.
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1 Construção sustentável
A síndrome do edifício enfermo Dormir mal, ter dores de cabeças constantes, alergias intermitentes ou uma sensação de cansaço após uma noite de sono assim que se deixa o ambiente: em vez de algum problema de saúde, esses sintomas podem indicar que a sua casa está inserida no contexto da Síndrome do Edifício Enfermo. O termo é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para locais onde a energia carregada influencia a saúde dos moradores ou o desempenho dos funcionários em um edifício comercial, por exemplo. Mas, como saber se a casa está com a energia positiva ou negativa? Conhecida como “medicina do hábitat”, ou “biologia da construção”, a geobiologia é uma ciência que parte do princípio de que a casa interfere na saúde, no bem-estar e na felicidade da pessoa que mora nela. Sem a vitalidade e a energia certas circulando pelo lar, o morador não vive de forma plena e saudável, como deveria. A geobiologia cria uma ponte entre a medicina (saúde) e a arquitetura, pois enfatiza a capacidade intrínseca do corpo de responder aos estímulos internos, provenientes das moradias. Historicamente, a preocupação com a moradia passa pelo médico e filósofo grego Hipócrates, que em sua obra “Sobre os ares, águas e lugares” falava da influência da localização geográfica e dos elementos físicos e ambientais, como clima, disponibilidade, qualidade e facilidade de acesso à água, presença de vegetação e ventos, sobre a saúde e estereótipo dos habitantes de cada lugar. Na China antiga, o mesmo indivíduo que praticava a medicina tradicional chinesa, tendo a acupuntura como a sua maior expressão, também, praticava o que hoje se chama Feng Shui, que na época
EDIFICAÇÕES com infraestrutura inadequada influenciam diretamente na saúde dos moradores, provocando cansaço e insônia
era considerada a extensão do conceito de saúde para a habitação. A mesma dinâmica era encontrada na Índia, onde a Vaastu Shastra, uma ciência de equilíbrio dos espaços tem tudo a ver com a medicina Ayurveda. No Egito antigo, a figura dos arquitetos e sacerdo-
tes dos templos atuavam também como médicos. Nas Américas, o chamado “pajé” ou “xamã”, era o consultor para a localização da aldeia e suas habitações. Os conceitos de arquitetura e medicina sempre estiveram ligados à existência humana, e a busca por casas saudáveis nos acompanhará em nossa jornada rumo a um mundo e uma sociedade mais saudáveis e sustentáveis. Saiba mais
minhacasasaudavel.com.br allanlopes.webnode.com
PARA HIPÓCRATES, o "pai" da Medicina, o ar, a água e o ambiente impactam a saúde dos habitantes de cada lugar
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OPINIÃO
PAULO MACIEL (*) redacao@revistaecologico.com.br
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em querer polemizar, mas com o intuito de contribuir para o debate, gostaria de me manifestar sobre a questão das capivaras, que há muitos anos vivem e convivem harmoniosamente, na Lagoa da Pampulha, em BH. Esses belos, inofensivos e simpáticos animais fazem parte do nosso cotidiano e não podem simplesmente desaparecer sem que se esgotem todas as alternativas possíveis para sua preservação nesse hábitat. Que a febre maculosa (doença transmitida pelos carrapatos) existe no Brasil e em Minas Gerais é uma realidade, mas daí acreditar que as capivaras são as únicas responsáveis por isso é outra questão. Podem existir, porém desconheço, até o momento, estudos que comprovem que as capivaras da Pampulha são responsáveis pela transmissão da febre maculosa na nossa capital. Além das capivaras, deveria ser estudada a possibilidade de transmissão da doença pelos cavalos das diversas hípicas instaladas na orla da lagoa e que marcham livremente pela mesma; pelos animais da Fundação Zoo-Botânica, que têm estreito contato com os visitantes; e, ainda, pelos inúmeros cães que circulam acompanhando os moradores que, diariamente, fazem cooper pela pista. Isso, sem contar o próprio “bicho homem” que traz - em seus carros e no próprio corpo - carrapatos de suas fazendas e sítios do interior de Minas. Anos atrás, quando se fez a dragagem da lagoa, foi realizado, por exigência da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), o manejo das capivaras. Por que não se faz isso agora? Falando de manejo, hoje é amplamente usado o neem (Azadirachta indica – árvore da família Meliaceae, originária da Índia, conhecida por suas propriedades medicinais e terapêuticas encontradas nas sementes, folhas e casca) no controle do carrapato. Trata-se de um produto natural e que pode ser aplicado para pulverização dos animais, como também colocado no cocho. Sua eficiência é comprovada no mundo todo. Existem trabalhos científicos que comprovam eficiência do neem como repelente e controlador ambiental de moscas, mosquitos, carrapatos, ácaros de sarna, pulgas e piolhos. A Lagoa da Pampulha luta desesperadamente pela
FERNANDA MANN
FIQUEM, CAPIVARAS!
OS ANIMAIS NA PAMPULHA: destino incerto
sua sobrevivência e conta com a ajuda de todos. Muitos esforços têm sido empreendidos pelas sucessivas administrações públicas de Belo Horizonte e Contagem, pela Copasa e pelos associados do Consórcio Intermunicipal de Recuperação da Pampulha (Propam). Mas nós, moradores da bacia da Pampulha, precisamos fazer a nossa parte não jogando lixo em locais inadequados e ligando o esgoto de nossas casas às redes coletoras, que os levarão para a Estação de Tratamento de Esgotos - ETE Onça. Voltando às capivaras, precisamos lançar mão de todas as alternativas disponíveis antes de se tomar a decisão radical de simplesmente retirá-las da lagoa. Daqui a pouco, vamos aterrá-la a lagoa para eliminarmos o mosquito da dengue. Isso não é ecológico!
(*) Ex-secretário municipal de Meio Ambiente e Saneamento de BH, é membro do Conselho de Administração do Consórcio Intermunicipal da Bacia da Pampulha, diretor da Lume Estratégia Ambiental, conselheiro editorial da Revista ECOLÓGICO e morador apaixonado pela Pampulha.
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1 TECNOLOGIA LIMPA
POSTES MAIS SEGUROS Tecnologia inovadora para proteção de madeira abre novas possibilidades sustentáveis para madeireiras, distribuidoras de energia e produtores rurais
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É onde ocorre a ação dos mais variados tipos de bactérias, fungos e outras pragas que causam o enfraquecimento da base estrutural da madeira, ocasionando a perda de funcionalidade do poste”, afirma Spínola, diretor-presidente da Målmarks International, que comercializa a manta no país. Com isso, as concessionárias FOTOS DIVULGAÇÃO MÅLMARKS
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ara atender a incansável busca de produtores rurais e concessionárias de energia por propostas que diminuam custos na manutenção de postes e mourões de madeira, foi desenvolvida, nos melhores laboratórios europeus, uma manta termoplástica com tecnologia de ponta. O produto promete ser um divisor de águas. A aposta nessa novidade é do empresário André Spínola. Foi ele quem, recentemente, trouxe o produto para o Brasil. Com essa inovação, será possível evitar o apodrecimento de postes de madeira em função da incidência de fungos, da ação de insetos e da umidade. “Em média, 95% das quebras de postes ocorrem em uma faixa compreendida entre 10 e 20 centímetros abaixo do nível do solo.
ANDRÉ SPÍNOLA: “A tecnologia não agride o meio ambiente, pois não possui componentes químicos”
e os produtores rurais precisam realizar a troca do poste, ou do mourão, que, na realidade, está intacto e em perfeitas condições de uso em 90% de sua área. “O uso do produto não apenas faz baixar os custos de manutenção de distribuidoras de energia e fazendeiros como, principalmente, promove o uso sustentável da madeira”, observa Spínola. Segundo ele, há outro aspecto a ser ressaltado. “Trata-se de uma tecnologia sem qualquer agressão ao meio ambiente, pois a manta não possui componente químico ou agente biocida. Portanto, é uma solução que, ao final de sua vida útil, de cerca de 30 anos, pode ser descartada ou, simplesmente, queimada juntamente com o poste para obtenção de energia.”
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FIQUE POR DENTRO A aplicação do produto é simples. Primeiro, veste-se a manta na faixa da madeira que será introduzida no solo. A adaptação é fácil, pois a manta é maleável, parecida com um plástico resistente, mas bem flexível. Depois, o responsável por fazer a perfuração do solo e a colocação da madeira aplica calor no produto, que vai aderir à madeira e ficará rígido. É exatamente a aderência e o endurecimento do produto que vão gerar a proteção necessária contra as ações naturais do tempo e dos organismos presentes no solo. COMO ADQUIRIR A Målmarks International do Brasil é subsidiária da matriz sueca Målmarks International AB. Fundada em 2010, a subsidiária é dirigida pelo sócio e diretor-comercial Eudes Azzalin (telefones 31 9291-8900 ou 31 7142-1740), tem sede em Belo Horizonte e atua em diversos setores na importação de produtos para consumo: galões de combustível NEVER STOP homologados, manta DURAPOSTE e acessórios para automóveis diversos.
Spínola também garante já estar trabalhando para que as empresas que comercializam esses tipos de poste de madeira ofereçam a solução pronta para os clientes finais. “Acredito que, em um médio período de tempo, será possível encontrar casas comerciais que entreguem a peça pronta para o produtor rural. Entretanto, é preciso, primeiramente, vencer a cultura de resistência dos usuários em não planejar e projetar seus custos. Obviamente que o poste protegido pela manta sofrerá pequena alteração no preço do produto. Porém, essa variação significará, pelo menos, o dobro de vida útil de um poste comum.” A afirmação de Spínola ganha contornos de realidade levando-se
DEPOIS de “vestida” com a manta termoplástica, a madeira é colocada no solo. Maleável e flexível, a tecnologia é parecida com um plástico resistente, evitando a ruptura e o apodrecimento de postes
em consideração que já existe, no Brasil, concessionárias de energia realizando testes com o produto – como é o caso da Cemig, em Minas Gerais – e considerando a exigência da adoção da manta em futuras transações comerciais. “No exterior, existem companhias ou empresas de diferentes setores que adotaram a aplicação da manta protetora em todos os seus postes”, conta o empresário. QUALIDADE COMPROVADA O produto é aprovado pela Associação Americana de Proteção da Madeira (AWPA). Também é certificado pela Rede Ferroviária Inglesa e pelo Conselho Internacional de Códigos (ICC), instituição americana responsável por criar métodos, modelos e normas para aplicação de determinados produtos no mercado da construção civil. Também foi testado e aprovado pela Universidade do Estado do Mississippi como “capaz de impedir a incidência de cupins”. O zootecnista Fabiano Athayde acredita na eficiência da manta. Gerente comercial de uma empresa que produz e comercializa postes de eucalipto,
Athayde afirma que é apenas uma questão de tempo para se encontrar o produto em lojas e fazendas do país. “O trabalho agora é demonstrar e conscientizar o produtor rural de que o investimento nessa nova tecnologia é um complemento eficaz e viável ao tratamento realizado atualmente. Aos poucos, acredito que será possível vencer a resistência de comerciantes e produtores rurais em achar que pagar menos na hora da compra é melhor e que, em médio prazo, estaria economizando”, ressalta. Segundo Athayde, os custos para implantação e manutenção de cercas são altos, sem contar que, no caso das distribuidoras de energia, os transtornos causados pela queda de postes são enormes e colocam vidas em risco. “Entretanto, ainda percebemos certa indisposição de se investir um pouco mais na compra. Mas se os cálculos forem feitos pensando-se em durabilidade, segurança e diminuição de custos frequentes de manutenção, facilmente se verificará que a aquisição da manta vale a pena e acaba por sair mais em conta”, afirma o zootecnista. MAIO DE 2014 | ECOLÓGICO 35
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Maria dalce ricas (*) redacao@revistaecologico.com.br
reprodução / wwf
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estado de alerta
Incêndios: uma ameaça constante
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m 2011, Minas Gerais ganhou espaço na imprensa nacional devido aos incêndios arrasadores que destruíram inúmeros ambientes naturais, entre eles o Parque do Rola Moça, que teve quase 90% de sua área queimada. O fogo foi colocado, pela manhã, na margem esquerda da BR-040, sentido BH/RJ, coberta por capim seco, que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), alheio à proteção do meio ambiente, nunca roça. Sem combate correto, o fogo pulou a rodovia e começou a subir a serra. Os brigadistas que tentaram contê-lo não puderam sequer contar com água para encher as bombas costais, pois a caixa que foi colocada pela Copasa e pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) estava vazia. À noite, o incêndio já havia atravessado a serra e chegado ao outro lado, no vale do rio Paraopeba. Quando alcançou a rodovia que corta o parque, não havia caminhões-pipa para impedi-lo de saltar. E a tragédia completou-se. Acossado pela imprensa, pressionado pelos ambientalistas e impressionado com a situação, o então governador Antonio Anastasia liberou recursos para fortalecimento do Previncêndio. Além disso, a natureza colaborou: nos dois anos seguintes, a distribuição da chuva foi mais ampla, havia pouca matéria orgânica para queimar, devido ao incêndio de 2011, e os fogos ateados foram debelados. Para este ano, as previsões são pessimistas. Em muitos locais, a vegetação de maior porte destruída há três anos foi substituída por capim, que se tornou excelente combustível; as chuvas foram poucas e o solo já está seco. Para completar, há grande possibilidade de ocorrência do fenômeno El Niño, que conta com poderosas aliadas: as alterações climáticas. O resulta-
do, segundo especialistas, poderá ser o agravamento dos extremos climáticos – seca e inundações. Esse cenário deveria ser determinante para o planejamento do Previncêndio, cujo principal objetivo é proteger as unidades de conservação, protetoras de água e redutos de biodiversidade no Estado. Coordenado pelo arquiteto Rodrigo Belo, fundador da ONG Brigada 1 e brigadista de primeira linha, foi muito bem-feito, mas esbarra no quase abandono de nossos parques, APAs e estações ecológicas. O planejamento prevê, por exemplo, a compra de bombas para captação de água nos locais de combate, cujo transporte depende de veículos 4x4. Em quase todas as unidades de conservação, eles estão quebrados ou em péssimas condições. E são essenciais para transporte de alimentação e dos brigadistas até as linhas de fogo ou próximo delas. Estradas de acesso, neste momento, são fundamentais. Mas o governo mineiro não destinou um centavo em sua conservação. Gastou tudo no programa “Caminhos de Minas”, que obviamente dá mais votos. Não há carro que aguente tanto buraco. E o que é mais revoltante nisso tudo é o fato de os recursos da compensação, recolhidos pela iniciativa privada nos processos de licenciamento para serem aplicados na estruturação das unidades de conservação, terem sido “sequestrados” pelo Governo do Estado. Que o PSDB tome cuidado. Por menos importante que a temática ambiental ainda seja para a sociedade, incêndios florestais não serão bons aliados nas eleições de 2014. (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
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Foto: Matheus Marinho
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DIVULGAÇÃO
1 PREFEITURA & MEIO AMBIENTE COM o caminhão Vivência Itinerante Ambiental, o Cibapar e o Grupo Asas estimularão a troca de informações e os debates sobre meio ambiente
CONHECIMENTO QUE
PRESERVA
os
Iniciativa do Grupo Asas e do Cibapar levará ações de educação ambiental e estimulará a preservação de nascentes nos municípios que integram a Bacia do Rio Paraopeba Cristiane Mendonça
redacao@revistaecologico.com.br
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to Bacias Vivas - uma iniciativa do Grupo Asas, especializado no desenvolvimento de ações culturais, educacionais e ambientais -, que será implantado ANDRÉ FIRMINO
I
magine um caminhão percorrendo 12 cidades mineiras levando, na carroceria, quatro salas climatizadas e infraestrutura moderna para transportar uma carga preciosa: a educação ambiental. Em cada cidade que visitar, suas portas estarão abertas a escolas, professores e alunos que quiserem conhecer a situação dos recursos hídricos planetários, incluindo a de cada município visitado. Trata-se do Proje-
pelo Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (Cibapar) na região. Ainda neste ano, os municípios que compõem a bacia (Betim, Brumadinho, Jeceaba, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco, Belo Vale, Sarzedo, Igarapé, Contagem, Itaúna e Sete Lagoas) receberão a visita do caminhão Vivência Itinerante Ambiental (VIA), que permanecerá em cada cidade por seis dias. Nesse período, serão
MARCUS FERREIRA: “O Bacias Vivas é um projeto contínuo e pode receber estímulos da comunidade”
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FIQUE POR DENTRO TECNOLOGIAS PARA O PARAOPEBA O Bacias Vivas também pretende utilizar as informações obtidas pelo “Tecnologias do Paraopeba”, projeto que visa à instalação de câmeras para monitoramento, 24 horas, das águas do rio, suas margens e afluentes, com o intuito de colher dados que vão desde enchentes até a degradação das margens e a poluição das águas. GRUPO ASAS
SITE terá como finalidade ser uma rede social integrada em defesa da Bacia do Paraopeba
realizadas cinco atividades por dia. Para essa primeira etapa, o público visitante receberá materiais didáticos, que incluem vídeos e apostilas com lições práticas, vai ainda poder participar de pesquisas, oficinas e debates que ressaltam a importância de se preservar e usar, de forma consciente e sustentável, os recursos hídricos. Após o encerramento das atividades, terá início a segunda fase do trabalho, fundamentada em ações digitais. Chamada de “Bacias Vivas Ações”, esta etapa trabalha os desafios identificados nas pesquisas. Por meio de um site criado exclusivamente para o público atendido, a escola e os alunos poderão se cadastrar, criar perfil e compartilhar informações, tal como nas mídias sociais tradicionais. A diferença é que todo o conteúdo (quiz, vídeos e textos) estará relacionado ao meio ambiente. A cada atividade realizada, o usuário acumulará pontos que poderão ser trocados por brindes ou benefícios decorrentes de parcerias que o próprio colégio ou o Projeto Bacias Vivas firmará
com empresas e entidades locais. Perfumes de marcas conhecidas, descontos em pizzarias ou até mesmo o título de “Escola Mais Atuante” são alguns dos prêmios oferecidos aos cadastrados. “A criação do Bacias Vivas Ações permite que as atividades educacionais não parem quando nosso caminhão for embora da cidade, mas continuem ininterruptamente”, assegura Marcus Ferreira, diretor-presidente do Grupo Asas e idealizador do projeto. E completa: “Desde que o Bacias Vivas foi criado, em 2010, sempre teve um foco muito claro: a consistência, já que a escola só aceita participar de atividades como essa se ela percebe valor”. Informação que vai ao encontro da quantidade e da densidade do material didático oferecido. NASCENTES Paralelo ao projeto digital, acontecerá, em 2016, a terceira etapa do Bacias Vivas: o cercamento de nascentes. Trata-se do fechamento das áreas, de aproximadamente um hectare, em volta das fontes de água que integram a bacia. Os proprietários desses locais que assi-
A Asas Produções, organização com fins econômicos, atua nas áreas da cultura e educação para a sustentabilidade, por meio de quatro núcleos operacionais: Arte e Cultura, Programas de Desenvolvimento, Produtos e Serviços, e Publicações. A Asas lidera um grupo de outras sete empresas com atuação em todo o Brasil e sedes em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Fundada em 1986 pelo economista Marcus Ferreira, a empresa desenvolve projetos que já beneficiaram, em 28 anos de atuação, mais de 1,1 milhão de pessoas em todo o país.
narem um termo de compromisso com o projeto receberão capacitação para preservar as nascentes e material para executar o cercamento (mourões, esticadores, arame farpado e grampos). "Essa ação evitará, principalmente, o desmatamento e o pisoteio de gado. Uma equipe do Bacias Vivas também fará uma medição prévia das nascentes com índices de vazão da água, se há mata ciliar, erosão, assoreamento, além de registros fotográficos", ressalta Ferreira. Um ano depois, a equipe voltará para realizar outro diagnóstico e, assim, formar um banco de dados para nortear novas ações do Cibapar. SAIBA MAIS
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GREENPEACE / JEREMY SUTTON-HIBBERT
CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO
SACOLAS PLÁSTICAS
REUTERS / DANIEL BELTRA / GREENPEACE
O Parlamento Europeu aprovou a meta de reduzir em 80% a quantidade consumida de sacolas plásticas nos próximos cinco anos. Para isso, os países membros devem implementar medidas mais duras para forçar a queda do consumo, como taxas ou impostos sobre sacolas – ou até mesmo sua proibição. Até 2019, a média anual de consumo desses materiais descartáveis por habitante deve cair dos atuais 176 para 35.
AGRICULTURA
CAÇA ÀS BALEIAS
Cerca de 60% dos japoneses defendem que o país mantenha a caça de baleias, 23% são contrários e 17% não têm opinião formada, aponta consulta divulgada pelo jornal Ashi Shimbun. A pesquisa foi feita após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) proibir o Japão de caçar baleias na Antártida.
ARES DA ALEMANHA
Nos primeiros quatro meses do ano, o nível de poluição no ar em algumas cidades da Alemanha já atingiu a quantidade máxima permitida para todo o ano. A última medição da Agência Federal do Meio Ambiente (UBA) alemã revelou que a concentração de material particulado na atmosfera aumentou em 2014. A União Europeia (UE) estabelece um limite de 50 microgramas por metro cúbico de material particulado em, no máximo, 35 dias por ano. Segundo a UBA, esse nível de poluição já foi registrado em Stuttgart em 36 dias.
SIEGFRIED LIBUTZKI / GREENPEACE
O volume de gases de efeito estufa emitidos pela agropecuária deve subir 30% em meados do século, resultado impulsionado especialmente pela criação de animais e pelo uso de fertilizantes, informou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). As emissões anuais serão superiores a 6,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq). Analisando o período entre 2001 e 2011, as emissões derivadas dos cultivos e da criação de animais subiram 14%.
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GOOGLE EARTH REPRODUÇÃO
EL NIÑO À VISTA
A probabilidade do fenômeno “El Niño” se repetir este ano cresceu de forma considerável no último mês, segundo a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA). As chances aumentaram de 50%, em fevereiro, para quase 65% em março. O fenômeno se caracteriza por provocar temperaturas extraordinariamente altas na superfície do oceano na parte central e oriental do Pacífico tropical.
A usina de Fukushima, no Japão, detectou um vazamento de mais de uma tonelada de água radioativa no mês passado. O tanque se encontra em uma das linhas de processamento de líquido contaminado da central e a água permanece dentro das instalações da usina graças a barreiras de contenção, segundo a Tepco, maior companhia de distribuição de energia elétrica do país. ISTOCK
VARODRIG
VAZAMENTO NUCLEAR
EUROPA AGROTÓXICA
POLUIÇÃO NORTE-AMERICANA
As emissões de gases do efeito estufa nos Estados Unidos caíram cerca de 10% de 2005 a 2012, mais da metade da meta do país prometida nas negociações climáticas das Nações Unidas para 2020. A afirmação consta do mais recente inventário de emissões divulgado pelos EUA: as emissões, informa o documento, foram reduzidas em 3,4%, de 2011 a 2012, principalmente devido à substituição do carvão pelo gás natural.
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Cerca de 80% das flores e plantas ornamentais vendidas em floriculturas e supermercados na Europa possuem pesticidas que são perigosos para as abelhas, revela um relatório do Greenpeace. Para o estudo, a organização analisou amostras de 35 espécies de plantas compradas em 10 países europeus, entre elas, alfazema, miosótis e violetas. Em 98% das plantas foram encontrados resquícios de pesticidas.
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Quando o assunto é sustentabilidade, as micro e pequenas empresas também dão exemplo.
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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CÓRREGO DO PINTADO: na foz, despejo de esgoto. Na nascente, extração irregular de areia
PELA SAÚDE DE NOSSAS ÁGUAS Universitários vão a campo para conhecer a realidade de córregos da Região Metropolitana de Belo Horizonte Cristiane Mendonça
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duas grandes bacias hidrográficas, a do Rio São Francisco e a do Rio Doce, que respondem pelo abastecimento de aproximadamente 70% da população da capital e 50% da Região Metropolitana. A APA-Sul também abrange uma das maiores extensões de cobertura vegetal nativa contínua do Estado, ARQUIVO PESSOAL
C
omo estão os rios e córregos que cortam nossos municípios? De onde vêm? Onde deságuam? Como são tratados pela sociedade? Esses são alguns dos questionamentos que norteiam um trabalho de pesquisa desenvolvido por universitários do primeiro período do curso de Gestão Ambiental, do Instituto Tecnológico do Centro Universitário UNA (Unatec), em BH. Orientados por professores, os estudantes vão a campo para conhecer de perto a situação dos recursos hídricos da Região Metropolitana. Entre elas, a Área de Proteção Ambiental (APA-Sul), que abriga
com mais de 50 mil hectares de remanescentes florestais de Mata Atlântica, além de sítios arqueológicos, cavernas e nascentes. Pela importância que a área representa em termos de biodiversidade, a coordenadora do curso, Fernanda Wasner, desenvolve junto com o corpo docente e os universitários um trabalho multidisciplinar para traçar o perfil ecológico dessas áreas. E elaborar, a partir das informações, maquetes que representem as características nativas. Fernanda conta que os trabalhos podem tanto representar a formação original e sem interferência humana ou simular a integração daquele ambiente
HELOÍSA DAMASCENO: “Os alunos precisam desenvolver a capacidade de analisar impactos e propor soluções”
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AS HIURI METAX
MAQUETE da sub-bacia do Pintado foi produzida em formato tátil com legenda em braile
o rio trouxe vários desafios para a equipe. “Descobrimos que o Pintado não faz parte da APA-Sul, mas, ainda assim, decidimos pesquisá-lo. Porém, a falta de informações oficiais e a canalização de boa parte dele dificultaram nosso trabalho”, conta. Para minimizar o problema, o grupo se dividiu em duas turmas para a pesquisa de campo. Uma equipe conheceu a nascente e a situação do córrego na área rural, que sofre com a falta de mata ciliar, erosão e extração de areia. Já o outro grupo pesquisou a foz do córrego na
PESQUISAS DE CAMPO O universitário Hiuri Metaxas e mais seis colegas formaram um grupo para pesquisar o Córrego do Pintado, em Betim (MG). Com cerca de 11 km de extensão e uma nascente localizada no Parque Fernão Dias, na capital mineira, HIURI METAXAS: “Existe déficit de informação nos órgãos públicos em relação aos cursos naturais”
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DIVULGAÇÃO UNA
com o desenvolvimento urbano. “O foco é fazer com que o estudante perceba a importância do bom diagnóstico para subsidiar a implantação de empreendimentos, como obras ou mineradoras”, informa a coordenadora. Opinião que vai ao encontro da orientação que a professora da disciplina de Ecologia, Heloísa Damasceno, repassa aos universitários. “Preparamos eles para que, ao chegar à região pesquisada, observem se há mata ciliar, nascentes preservadas, erosão ou assoreamento, estado da flora e da fauna e, ainda, como a urbanização interfere em questões como despejo de esgoto e lixo”, explica. Uma delas diz respeito ao conteúdo “Elementos de Geologia”, ministrado pelo professor Emanuel Coelho. O educador, que integra o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), leva para a sala de aula não só os conhecimentos sobre a influência de diferentes tipos de solos e rochas, mas as responsabilidades das esferas pública e privada na preservação do meio ambiente. “Muitas vezes, os alunos constatam em seu trabalho que o esgoto doméstico pode ser pior que a mineração para determinado hábitat.” E explica: “Enquanto as empresas, por lei, são obrigadas a minimizar todo o impacto que causam no ambiente, as cidades crescem de forma desordenada, sem que os poderes municipais garantam à população serviços básicos, como saneamento, que evitam ou reduzem os danos ao meio ambiente”.
região urbana, e constatou ainda mais problemas. Despejo de esgoto doméstico, presença de plantas que indicam poluição aquática, canalização por empresa privada, presença de refinarias próximas e falta de conhecimento da comunidade em relação ao canal foram registrados na maquete produzida pelo grupo. Essa representação, inclusive, integra um acervo de quase 50 modelos baseados em microbacias da Região Metropolitana que cumprem não só uma missão educacional, mas social. Todas as maquetes foram criadas em formato tátil, tendo cada referência de rio ou relevo com uma textura diferente. Já as legendas foram feitas não só na linguagem tradicional, mas em braile, o que permitiu que alunos com deficiência visual do Instituto São Rafael, em Belo Horizonte, pudessem usar o material nas aulas de Geografia. SAIBA MAIS
www.una.br
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GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
MONTANHAS DE BITS A
figura da montanha é recorrente na história so garantir. Mais que transformada, ela foi moída e do homem e da fé. Moisés subiu a montanha recriada num processo de reconstrução que durou para receber as Tábuas da Lei, inaugurando a anos e acho que vai até o resto de minha vida, quanprimeira transmissão sem fio do planeta, direto do to quer que dure. Deus todo-poderoso para a pedra. Monges de todos Acusar a tecnologia para o bem ou para o mal na os credos, especialmente no Oriente, frequentemen- questão da fé é uma interpretação muito rasteira da te constroem seus mosteiros questão. Afinal, a internet é sinal nos pontos mais elevados: fáde um tempo e não a sua causa, "Porque em verdade vos cil de olhar para baixo e mais é o grito de uma sociedade que perto de Deus, facilitando so- afirmo que, se alguém disser quer se desfazer de tantas forbremaneira o custo total de mas de opressão e, no caminho, a este monte: 'Ergue-te propriedade para falar com cria outras, a pior delas, o excese lança-te no mar', e não o Transcendente. so de informação. Uma olhadela na internet: O grande desafio é sermos esduvidar no seu coração, nosso mundo moderno contisenciais também na questão da mas crer que se fará o que fé. Se a fé sincera moverá monnua falando de lá com o Altíssimo (ou seja lá como a sua fé o tanhas, também está escrito diz, assim será com ele.” chame), agora instalados bem que é “mais fácil passar um ca(Marcos 11:23) no alto de montanhas... de bits! melo pelo fundo de uma agulha As maiores religiões do do que entrar um rico no reino mundo e seus líderes já se renderam ao Twitter e de Deus” (Mateus 19:24). outras redes sociais para se colocarem ao alcance Rico, no nosso caso, pode ser de informação, de de seus seguidores ou para determinar o que de- dinheiro, de não ter onde colocar o que tem. Prefiro vem fazer. Em quase todas elas, os serviços da fé acreditar em algo simples, o que quer que seja, sem estão disponíveis em formas que vão desde con- preconceito, no meu coração, do que googlar todo dia, fessionários virtuais até cultos inteiros transmiti- em busca de uma resposta. Acho que assim sou eu dos ao vivo pela rede. quem vai mover a montanha de opções da internet. Fica a pergunta: a tecnologia tornou a fé mais simples e mais sustentável? Difícil responder, inevitável googlar (verbo que não é do latim e muito menos do grego, é uma esquisitice que quer dizer “perguntar ao Google”). O termo “fé sustentável” retorna, em português, incríveis 3.110.000 ocorrências. Já “aplicativos religiosos” retorna 1.160.000 casos. Você pode se divertir coml Católicos binando as palavras e ver no que dá, mas nunca será http://goo.gl/dHeHfI pouca coisa. l Evangélicos Alguns dirão que a rede afastou as pessoas do conhttp://goo.gl/yNF3iZ vívio das missas, cultos e encontros e, como a tecnologia nem sempre é culpada mas sempre pode l Budistas ser condenada, será imolada no altar em honra de http://goo.gl/bD4avL nossos pecados. Já houve quem dissesse até que ela fosse coisa que tem o “demo” no meio. E não era de l Candomblé “demonstração”, mas o tinhoso mesmo. http://goo.gl/bWehSP Minha fé não foi transformada pela internet, pos-
TECH NOTES
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(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
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WELLINGTON PEDRO / IMPRENSA MG
1 POLÍTICA AMBIENTAL
ALCEU TORRES assinando o livro de posse, ao lado do governador Alberto Pinto Coelho e do presidente da ALMG, Diniz Pinheiro: desafio conjunto
AO SECRETÁRIO, COM ESPERANÇA A ECOLÓGICO colhe sugestões sobre o que o novo titular da Semad, Alceu Torres Marques, deve priorizar para Minas recuperar o prestígio nacional que já teve na agenda ambiental brasileira
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e estivesse vivo, Hugo Werneck certamente pediria ao novo secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alceu Torres Marques, espírito combativo para aumentar o orçamento da pasta, notadamente rubricado para a defesa, compra e criação de novas unidades de conservação (parques, reservas etc.) no Estado: “Vontade política real para o meio ambiente chama-se orçamento. Sem isso, é só vontade, discurso e nenhum comprometimento real com a causa” – diria Hugo, a quem a Revista ECOLÓGICO é dedicada. Sua bandeira maior sem-
pre foi empunhada para que o Estado se apropriasse o máximo possível de áreas ainda preservadas, com biodiversidade e nascentes d’água, para que, um dia, com mais consciência e educadas ambientalmente, as futuras gerações pudessem desfrutar de mais qualidade de vida. E que a natureza, via desmatamento zero, pudesse se regenerar também. A exemplo de Hugo, leia, a seguir, o que pensam e sugerem os seus principais companheiros de luta. Lembrando que o novo secretário tem pela frente apenas oito meses de gestão:
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“CONSERVAR E CONSERTAR” MARIA DALCE RICAS (*)
áreas prioritárias para a proteção da biodiversidade. Moralizar o licenciamento ambiental, tanto em termos de política e de gestão quanto de quadros técnicos. Até então, a descentralização do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) em regiões como o norte e o noroeste do Estado só trouxe benefícios políticos eleitoreiros. As interferências políticas continuam a acontecer. A fiscalização é deficiente. As equipes de técnicos são insuficientes, muitas vezes despreparadas para análise de grandes projetos. Fortalecer o plenário do Copam. Permitir desmatamento no Estado tão somente em casos de extremo interesse público e que não haja alternativa locacional. Consolidar, como legado para o próximo governo, um projeto participativo com os ambientalistas de reestruturação do Sisema. O atual parece não ter conserto.” REUTERS-RICKEY ROGERS
“A indicação do Alceu foi uma positiva surpresa, um ato de ousadia e coragem política do novo governador. Espero e desejo ardentemente que essa surpresa se estenda em mudanças imediatas e reais na atuação da Semad e seus órgãos vinculados, principalmente o Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pelas Unidades de Conservação (UCs). Ele era coordenador do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente do Ministério Público (Caoma), instituição que tem sido o maior baluarte da causa ambiental no país. Por isso, repito: foi ato de coragem e ousadia. O que mais prioritariamente ele deveria fazer? Liberar imediatamente os recursos do Bolsa Verde, do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (Fhidro) e das compensações ambientais, tão necessários à estruturação das UCs, principalmente considerando a previsão pessimista de grandes incêndios a partir de agora. Fazer a regularização fundiária das UCs existentes e a criação de novas unidades visando proteger as
(*) Superintendente-Executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e conselheira da Revista ECOLÓGICO.
“RESGATAR PARA SALVAR” JOSÉ CARLOS CARVALHO (*)
de carreira de todo o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hidricos (Sisema), por meio de sua reconhecida liderança. Com tais ferramentas nas mãos, são estas as minhas quatro sugestões, por ordem de prioridade, para o novo secretário: resgatar a autoestima dos servidores; recuperar a capacidade pragmática do Sisema; iniciar a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR); e retomar os investimentos nas unidades de conservação.” (*) Ex-titular da Semad e ex-ministro de Meio Ambiente.
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THIAGO FERNANDES
“A nomeação de Alceu Torres deve ser recebida como uma iniciativa muito feliz do governador Alberto Pinto Coelho. Ele leva para a Semad toda a sua experiência de procurador de Justiça, incluindo o exercício da Procuradoria Geral do Ministério Público em Minas e o trabalho realizado à frente do Caoma nos últimos anos. Tem grande expertise em gestão de conflitos, uma das qualidades exigidas para um bom gestor ambiental nas atualidades mineira e brasileira, estatura política e moral imprescindível para o fortalecimento político da pasta e para a recuperação institucional e operacional dos órgãos e entidades da administração ambiental do Estado. Já demonstrou sua extraordinária capacidade de trabalhar em equipe e, por isso, saberá valorizar os profissionais
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1 POLÍTICA AMBIENTAL
“CENTRALIZAR AS SUPRAMs” WILLER PÓS (*)
“Além de manter as atuais superintendências regionais de Meio Ambiente (Suprams), ele deveria ir além: fazer com que todos os projetos com investimentos superiores a R$ 100 milhões nas áreas de energia e de mineração, com geração de empregos maior que 100 postos, mais os que envolvam construção de barragens e minerodutos e também os projetos agrícolas com plantios superiores a 500 hectares sejam analisados e votados na Supram central. Os técnicos desse
órgão fariam uma força-tarefa para estudá-los prioritariamente, por grandeza de impacto tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental e social. A razão estratégica dessa transferência é a reconhecida experiência dos seus técnicos.” (*) Ex-presidente do Igam e da Feam, e conselheiro da Revista ECOLÓGICO.
“SAIR DA CASCA” SÉRGIO MYSSIOR (*) Estimular a criação dos planos diretores municipais e estadual de proteção à Mata Atlântica. Obrigação legal regida pela Lei da Mata Atlântica, ela não está sendo aplicada atualmente. O objetivo seria priorizar a conservação da paisagem natural e da biodiversidade ainda existente em áreas de real relevância ambiental, estimulando a criação planejada de centralidades (live, work and play) em áreas de baixa expressividade ambiental. Benefícios: integrar os planejamentos urbano e ambiental no Estado. Captar outros recursos junto às diversas fontes internacionais de financiamento a fundo perdido. Minas precisa sair da casca e se envolver fortemente com as iniciativas internacionais de proteção às florestas e ao Cerrado. Um exemplo é o Fundo Amazônico, que atualmente possui cifras de bilhões de reais para projetos a fundo perdido. A saber: 20% de todo esse recurso deve ser aplicado em outros biomas. Benefícios: imensuráveis.” FLÁVIO DAYRELL GONTIJO / SOM
“O novo secretário de Meio Ambiente deveria priorizar estas centralidades: Elaborar um Plano Regional Ambiental e Estratégico, reunindo, em um único estudo, todos os diversos empreendimentos públicos e privados que são estratégicos para o Estado, com equivalência a uma Licença Prévia Regional. Os benefícios seriam: planejamento integrado, agilidade no licenciamento, impactos cumulativos e compensações conjuntas. Classificação Estratégica: em complemento à classificação da Deliberação Normativa nº 74, incluir uma classe estratégica, remetendo esses licenciamentos para a Supram Central (com colaboração da regional). Benefícios: planejamento integrado e agilidade no licenciamento. Criar um balcão único e integrado. Hoje é uma verdadeira maratona reunir todos os pareceres dos diversos órgãos, como Iphan, Iepha, Conselhos de UCs, Copasa, Cemig, Trânsito e Bacias. A ideia é a Semad ter uma porta de entrada única na Supram, reunindo assim, internamente, todos os pareceres necessários. Benefícios: agilidade no licenciamento.
(*) Arquiteto e urbanista, comentarista da Rádio CBN e conselheiro da ECOLÓGICO.
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ALFEU TRANCOSO
“PROTAGONIZAR A REVOLUÇÃO HÍDRICA” PATRÍCIA BOSON (*)
O Igam e os comitês de bacia estão desmantelados. A Semad não teria opositores na Assembleia Legislativa (ALMG), pois a proposta é dar mais importância e recursos financeiros para a gestão das nossas águas. Existe sustentabilidade financeira garantida para isso. Parte dos recursos da Cobrança Financeira pelo Uso de Recursos Hídricos é paga pelas hidrelétricas. Somos o terceiro Estado em arrecadação. Um bom dinheiro. Metade já vai para o Fhidro, recursos frequentemente contingenciados. Ainda temos parte das receitas das outras três companhias: Codemig, Copasa e Cemig, lembrando que as duas últimas têm a água como seu insumo principal. Cobrar pelo uso da água da mineração é outra sugestão. A Agência Nacional de Águas (ANA) vive da cobrança instituída por lei do setor hidrelétrico. Nós podemos repetir o modelo para o setor de mineração. E ele vai gostar, na medida em que ficará livre das negociações nos comitês, onde se determina método e valor. Penso que o Fernando Coura, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais (Sindiextra), e também membro do Conselho Editorial da ECOLÓGICO), deve gostar da ideia e pode ajudar muito a Semad nesse sentido. Minas daria, assim, um exemplo para o Brasil. O governador Alberto Pinto Coelho ficaria na história. E o Alceu se consagraria como o primeiro diretor-presidente dessa nova entidade, que teria mandato fixado por quatro anos ou mais.” (*) Engenheira, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg e conselheira da Revista ECOLÓGICO.
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THIAGO FERNANDES
“Se o orçamento da Semad é de chorar, o do Instituto Mineiro de Gestão da Águas (Igam), em especial, é quase uma piada. Seu orçamento para 2014 é de R$ 38 milhões. Só que R$ 35 milhões advêm da cobrança pelo uso da água, que vão direto para os comitês de bacia. Não é dinheiro do Estado, mas do pagamento que os setores da indústria, saneamento e agricultura fazem pelo uso do recurso. Portanto acredite, novo secretário, o orçamento do Igam é de R$ 3 milhões. Sequer paga um plano diretor de bacia. Para termos uma ideia dessa realidade, o orçamento da Agência Nacional das Águas (ANA) é de R$ 380 milhões, dez vezes maior que o do Igam. Isso considerando que vivemos a maior crise de gestão. Não é a seca, mas a falta de gestão (que a seca apenas evidencia) dos recursos hídricos. Isso, em se tratando de um Estado considerado a “caixa d´água” do Brasil, com uma posição geopolítica muito estratégica. São Paulo briga com o Rio de Janeiro pelas águas do Paraíba do Sul, sem sequer avaliarem que 40% das vazões desse rio vêm de Minas. Assim como 70% das vazões do São Francisco, e por aí afora. Estamos perdendo tempo, dinheiro e muito ambientalmente com essa falta de atenção especial com as nossas águas. O que sugiro, e sei que dá para fazer nesses oito meses, é transformar o Igam em empresa pública ou autarquia especial, tipo agência, para fazer a gestão da água bruta do Estado. Isso não é novidade. O Ceará já o fez, quando o governador era o Tasso Jereissati. A companhia (COGERH) que ele criou é modelo de sucesso e referência para o desenvolvimento sustentável. E o contexto atual é muito favorável. Vivemos um ano de insegurança hídrica total. Mesmo que internacionalmente, o tema vem ganhando força e hoje a nossa agenda hídrica está muito enfraquecida.
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1 POLÍTICA AMBIENTAL
“EDUCAR PARA PRESERVAR” RONALDO VASCONCELLOS (*) ”Valorizar
a educação ambiental em todos os órgãos da Semad que compõem o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). Em termos práticos, seria intensificar a fiscalização e a rigorosa aplicação da lei no que tange à exigência dessa disciplina como medida compensatória e/ou condicionante nos processos de licenciamento ambiental. Melhorar os salários e as condições de trabalho dos funcionários do Sisema, de modo a não perder o seu conhecimento acumulado para a iniciativa privada. Boa e forte definição da parte ambiental no to-
cante à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ao orçamento do Estado para 2015. Implantar e implementar, em definitivo, a gestão pública da fauna silvestre em Minas. Monitorar e controlar a efetiva aplicação da Lei Nº 12.305 de agosto/2010 (Plano Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS), em convênio com o Ministério Público Estadual.” (*) Ex-deputado federal, ex-secretário de Meio Ambiente de BH e presidente da Organização Ponto Terra.
“CONVERGIR, EM VEZ DE BELIGERAR” VITOR FEITOSA (*)
“A vinda do Alceu traz uma nova perspectiva e alento à gestão pública ambiental, pois representa um olhar sobremaneira diferente vindo da Semad. O licenciamento ambiental em nosso Estado tem se transformado em uma guerra onerosa e desestimulante para todos os atores envolvidos: governos, empreendedores e sociedade civil. E o grande perdedor acaba por ser o meio ambiente social e ecologicamente equilibrado. Este deve ser o objetivo maior da Semad: criar as condições e estabelecer os procedimentos com clareza suficiente para estimular o desenvolvimento sustentável indispensável ao Estado. Hoje, vemos a sociedade civil se sentindo impotente ante à perda de qualidade ambiental, os empresários cada vez mais desestimulados e receosos de investir pela falta de previsibilidade e insegurança jurídica associada ao processo de licenciamento. Vemos o governo com dificuldades em atrair investimentos que ajudem a equacionar a crise econômica que já adentramos e, em paralelo, o Ministério Público, na busca de cumprir suas funções constitucionais, estabelecendo verdadeiros licenciamentos paralelos pela
descrença nos procedimentos existentes. Ou seja, uma situação de perdas múltiplas e ganho zero para a sociedade, que certamente não interessa a ninguém. A origem técnica do novo secretário como engenheiro, associada à sua formação como jurista, com experiência e brilhante atuação pelo Ministério Público, certamente o credenciam a superar, não sem um grande esforço, o enorme desafio de avançar em prazo tão limitado. Mas a premência da situação, associada à sua capacidade e determinação, com o indiscutível apoio do governador e da equipe que o espera na Semad, o colocam na condição ímpar de conduzir o processo com plenas chances de êxito. Acredito que os poucos meses à frente podem ensejar uma reorganização do processo de licenciamento ambiental, transformando-o em um ponto de convergência, em vez da situação de divergência beligerante em que nos encontramos.”
(*) Consultor, diretor da Conciliare e conselheiro da Revista ECOLÓGICO.
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SANAKAN
“REAPROXIMAR E SER EXEMPLO” CÁSTOR CARTELLE (*)
de Minas, entre outras condicionantes, foi exigido o seu paisagismo-ajardinamento ecológico com plantas próprias do Cerrado, aliado a um megaprojeto de educação ambiental abrangendo os sete municípios ao seu redor. A PUC Minas propôs um excelente projeto à Codemig, que fez a obra, também como condicionante exigida pela Semad. Ele nunca foi realizado pela companhia. Fizeram uma caricatura. E o parque acoplado que deveria ser criado ali, subindo o morro, também como medida compensatória? Ficou também para as calendas. Eu me afastei de ser conselheiro do Copam por essa razão: como cobrar de um empreendedor particular algo que o governo não cumpre? Fui informado, pela própria Revista ECOLÓGICO, que o novo secretário é uma pessoa muito séria, competente e comprometida. É de pessoas desse naipe que precisamos. Meu desejo é que ele acerte e que a natureza e o meio ambiente que nos restam, nem que somente um tiquinho, sejam melhor geridos e preservados.”
(*) Paleontólogo, ex-membro do Copam, criador e coordenador do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas.
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THIAGO FERNANDES
“Conhecendo a crônica falta de recursos da pasta, o novo secretário deveria otimizar ações que levem à aquisição de novas áreas naturais cuja preservação seja prioritária, em especial as veredas, as nascentes d´água que ainda existem no que resta do nosso Cerrado. Dar uma ênfase igual à saúde dos nossos rios. Atualmente, quase todo rio que passa por uma cidade mineira torna-se uma nova Pampulha. Desgraçadamente, isso inclui até a nossa Lagoa Santa, tão perto da sede do governo. Ele também deveria reaproximar-se dos ambientalistas, cidadãos e ONGs que, durante muito tempo, colaboraram desinteressada e republicanamente com a Semad e se afastaram por não mais perceberem receptividade. A Feam, o Copam e as suas diversas Câmaras perderam, por essa razão, a sua memória. Houve como que uma ruptura com o passado. É urgente a criação efetiva e eficiente de análises acuradas de EIA/Rimas e outros estudos para licenciamentos e, especialmente, de uma seção na secretaria que cobre, efetivamente e no devido tempo, as condicionantes exigidas para os empreendimentos. Um exemplo? Quando do licenciamento ambiental para a construção do Aeroporto de Confins, que funcionou ilegalmente durante anos, foi exigida, como condicionante, o desassoreamento da Lagoa de Confins. Após tanto tempo, ela continua degradada. Quando da construção da Cidade Administrativa
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KEVIN O’CONNEL
“CONSERVAR PARA NÃO EXTINGUIR” ANGELO MACHADO (*)
“Recomendamos, fortemente, ele publicar o ‘Livro Vermelho da Fauna Ameaçada do Estado de Minas Gerais’ e homologar a ‘Lista das Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção em Minas’. A perda ou crise da biodiversidade, nos últimos tempos, tem sido alvo de atenção e investimento da grande maioria das nações mundiais. A adoção de estratégias para reverter o quadro de ameaça começa pela avaliação do estado de conservação das espécies, avaliando-as quanto ao seu risco de extinção. A ferramenta básica para a definição do status de conservação delas é mundialmente denominada Lista Vermelha, tendo sido introduzida e difundida pela União Mundial para a Natureza (IUCN). Considerando-se que as demandas de conservação são superiores aos recursos financeiros disponíveis, tais listas, além de serem um eficiente instrumento legal para a proteção de espécies, devem servir como um alerta para a crescente degradação do patrimônio genético mundial e indicar regiões onde os esforços de conservação são mais urgentes. Ele deve potencializar e otimizar os recursos de compensação sobre os impactos ambientais de empreendimentos produtivos, cujo pagamento é
regulamentado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Uma das formas mais reconhecidas e utilizadas para garantir a proteção da biodiversidade são as chamadas Unidades de Conservação (UCs) – parques nacionais, reservas biológicas e extrativistas, entre outras. Trata-se de espaços territoriais com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo poder público, com objetivo de conservar a biodiversidade e outros atributos naturais neles contidos, com o mínimo de impacto humano. A oportunidade ofertada pelos recursos de compensação ambiental, prevista na Lei do SNUC, que devem ser orientados para a implantação e a manutenção das UCs, surge como uma das saídas para o fortalecimento das áreas protegidas. Nesse sentido, recomendamos o aperfeiçoamento e a desburocratização dos mecanismos e dos processos de operacionalização dos recursos de compensação ambiental estaduais, a partir do trabalho conjunto com organizações da sociedade civil conservacionistas.”
(*) Presidente da Fundação Biodiversitas e conselheiro da Revista ECOLÓGICO.
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“FOCAR NO PRÓXIMO GOVERNO” FÁBIO FELDMANN (*)
te com os membros do governo, para ouvi-los sobre os desafios da pasta, isso seria o melhor dos mundos. Ao articular as duas iniciativas, com um ouvir dentro, fora e transversal às demais secretarias e instituições do setor produtivo e ambientalista, ele promoveria a melhor relação sociedade civil e governo, em busca de uma plataforma ambiental comum, melhor e mais inclusiva, e democrática.” (*) Ex-deputado federal constituinte, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo e conselheiro da ECOLÓGICO.
ANDRÉ PESSOAL ESP. CB / D.A PRESS
“Por se tratar de fim de gestão, o foco principal deveria ser na preparação dos próximos governo e orçamento, incluindo um pedido ao governador para assegurar a continuidade do novo secretário. O Estado também deveria organizar um processo de consulta às principais personalidades de Minas, com convite eventual de outros estados, com o propósito de apresentar e debater uma plataforma mínima de compromissos com o novo secretário. Nela estariam itens relativos aos nossos temas, como UCs, gestão de água, transparência na aplicação das compensações etc. Se o Alceu também fizesse uma reunião semelhan-
“DESMATAR ZERO!” HIRAM FIRMINO (*)
Nem que seja pela sua beleza, o meio ambiente e a nossa natureza não merecem isso. Coragem!” (*) Criador da Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiednte (Anamma), ex-secretário de Meio Ambiente de BH e ex-presidente da Feam.
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THIAGO FERNANDES
“Seu maior e revolucionário ato ecológico seria decretar o desmatamento zero em todo o Estado, a começar pelo bioma da Mata Atlântica. Para a vergonha de um país que nunca teve um presidente-estadista na sua história capaz de decretar o desmatamento zero da Amazônia, Minas continua sendo, já pelo quarto ano consecutivo, o Estado brasileiro mais devastador do bioma atlântico. Isso é insustentável!
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1 MUNDO VASTO
COMPROMISSO ECOLÓGICO Embaixadores da Boa Vontade do Pnuma desafiam indivíduos e empresas a realizarem ações sustentáveis no Dia Mundial do Meio Ambiente
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Cada um dos embaixadores desafia indivíduos e empresas para uma causa diferente, em apoio ao tema escolhido para a data este ano: “Aumente sua voz, não o nível do mar”. Ao se comprometer com uma das causas e compartilhá-la por meio das suas redes sociais, os participantes passam a fazer parte do time de um dos embaixadores. Acesse o site da campanha (www.wedchallenge.com) e participe!
FOTOS: DIVULGAÇÃO/PNUMA
top model Gisele Bündchen, os atores Don Cheadle e Ian Somerhalder e o jogador de futebol Yaya Touré são os protagonistas de uma campanha inovadora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Trata-se de um desafio sustentável para ver quem acumula o maior número de compromissos ecológicos para o próximo Dia Mundial do Meio Ambiente.
Para aqueles que escolherão, como compromisso, economizar energia. Ao desligar as luzes, andar de bicicleta ou caminhar, e pegar carona, você reduz o uso de combustíveis fósseis (carvão, óleo ou gasolina), a maior fonte de emissão de gás carbônico pelo ser humano. Twitter: @IamDonCheadle
Quem escolher o grupo de Gisele assume o compromisso de reduzir o desperdício de alimentos, gerenciando melhor as refeições, armazenando comida e aproveitando as sobras. E, de quebra, estará estimulando supermercados e restaurantes a fazerem o mesmo. Twitter: @giseleofficial
Evitar o consumo, plantar árvores e usar os recursos naturais de forma eficiente são algumas das ações que os integrantes do time do Ian podem adotar. E, assim, enxergar cada vez mais o meio ambiente como um organismo interconectado, que precisa de nossa proteção. Twitter: @iansomerhalder
Dê adeus às sacolinhas e embalagens plásticas. Quem aderir ao time do Yaya estará evitando que esses materiais, que demoram centenas de anos para se decompor, acabem em nossos rios e oceanos, poluindo as águas e matando os animais. Twitter: @Toure_yaya42
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ANIMAIS PEÇONHENTOS
Prevenção é o
melhor remédio Acidentes causados por picadas de escorpião são os mais comuns em BH. Desmatamento e uso de agrotóxicos afugentam espécimes de seus ambientes naturais Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
Animal peçonhento:
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A
lguns são minúsculos. Medem, no máximo, dois centímetros, como as aranhas conhecidas como viúvas-negras. Outros são bem maiores. Alcançam até quatro metros de comprimento, como a serpente surucucu-pico-de-jaca. Diferentes no tamanho, mas iguais no perigo que representam com sua picada, os animais peçonhentos são moAnimal venenoso: tivo de atenção e cuidado cresé aquele que secreta alguma centes, tanto nos ambientes substância tóxica para outros rurais quanto urbanos. animais, inclusive para o ser Aranhas, serpentes, escorhumano. Essas substâncias, ou piões e lagartas são os prinvenenos, podem estar presentes cipais responsáveis pelos na pele ou em outros órgãos e acidentes. De acordo com o têm a função de proteger o animal Ministério da Saúde, houve um contra predadores. aumento de 157% das ocorrências envolvendo esses animais, nos últimos dez anos. Em Belo Horizonte, a Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII (CIAT -BH), da Rede Fhemig (Fundação Hospitalar de Minas Gerais), referência estadual em atendimento e pesquisas, registra cerca de dois mil atendimentos motivados por animais peçonhentos ao ano. Esse total equivale a uma média de quase seis pacientes por dia. A maioria das ocorrências se deve ao fato de as pessoas
é aquele que, além de possuir veneno, tem estruturas especializadas (dentes, ferrões e espinhos) capazes de inoculá-lo. Abelhas, marimbondos, lagartas, aranhas, escorpiões, alguns peixes e cobras são exemplos de animais peçonhentos.
terem pouca ou nenhuma informação sobre como se prevenir. Em 2013, foram atendidos 1.726 pacientes, sendo 1.086 deles por picadas de escorpião. Este ano, somente em janeiro, chegaram ao HPS 182 vítimas desse mesmo tipo de acidente. De acordo com os responsáveis pelo serviço, esses animais podem migrar por diversas causas. Entre elas, a busca por um clima mais propício, a fuga de áreas desmatadas e de ambientes onde há alto índice de uso de agrotóxicos, ou ainda serem transportados em cargas de caminhões e trens. Os mais perigosos A ordem Scorpiones inclui cerca de 1.500 espécies, com ampla distribuição geográfica, presente em todos os continentes, com exceção da Antártida. Esses animais são encontrados em todas as zonas tropicais do mundo. Ocorrem em vários tipos de ambientes terrestres, desde regiões desérticas até florestas. Os escorpiões considerados perigosos para o homem pertencem à família Buthidae. São 550 espécies, das quais apenas 25 são consideradas capazes de causar acidentes graves ou fatais. Os mais perigosos pertencem aos gêneros Androctonus e
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l Os escorpiões são animais carnívoros. Alimentam-se de insetos, como grilos e baratas, e são capazes de permanecer longos períodos sem se alimentar. Têm hábitos noturnos e escondem-se sob pedras, troncos, dormentes de linhas de trem, entulhos, telhas e tijolos. l As aranhas habitam praticamente todas as regiões da Terra. São encontradas nos diferentes ecossistemas, inclusive no aquático. Vivem em teias, em buracos no solo, fendas de barrancos, árvores, sob troncos podres, cupinzeiros e bromélias, além de áreas ocupadas pelo homem. l As serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, jararaca-do-rabo-branco, urutucruzeiro e outras) respondem por 90% dos acidentes ofídicos ocorridos no Brasil. Em regiões como o Cerrado mineiro, os acidentes com cascavel são os mais comuns.
Leiurus (África do Norte e Oriente Médio), Centruroides (México e Estados Unidos) e Tityus (América do Sul e Trinidad). No Brasil, os chamados escorpiões de interesse médico pertencem ao gênero Tityus, das espécies T. serrulatus (escorpião-amarelo), encontrado na Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás. Há também a T. bahiensis (escorpião-marrom), que ocorre em Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já a espécie T. stigmurus é típica da Região Nordeste. A picada de um escorpião é um evento extremamente rápido. Em poucos minutos, o veneno se espalha pela corrente sanguínea, podendo levar o paciente à morte. Em adultos, os acidentes são geralmente mais leves. Mas, em
Queimadas e desmatamentos Na Grande BH e no interior de Minas, também são comuns os acidentes envolvendo a lagarta Lonomia obliqua. Embora, proporcionalmente, ela responda por um número relativamente menor – se comparado ao de acidentes com escorpiões, por exemplo – essa espécie ilustra bem como o desconhecimento do perigo faz crescer a probabilidade de acidentes. Ainda que esse gênero de lagarta seja mais frequente na região Sul do Brasil, nos últimos anos foi registrado um aumento de acidentes nas cidades de Betim, Nova Lima, Esmeraldas e Diamantina. Boa parte dos acidentes ocorre no verão, entre novembro e março. Segundo dados do CIAT, 90% das picadas de Lonomia obliqua são registradas em áreas de mata. Os 10% restantes em áreas verdes de centros urbanos, tais como parques e praças. As Lonomias viviam tradicionalmente em árvores nativas, como o cedro. No entanto, estudos indicam que o aumento do número de queimadas, o desmatamento e o uso indiscriminado de agrotóxicos – que eliminam seus predadores naturais – estão causando desequilíbrio ecológico e forçando sua migração para áreas residenciais. Hoje, elas têm sido cada vez mais encontradas em pomares, principalmente em ameixeiras, goia-
beiras e mangueiras. Os acidentes com aranhas -marrons também têm aumentando bastante, não só em Minas, mas em outras regiões brasileiras. Ela é pequena. Mede de dois a três centímetros, mas causa graves lesões. Apesar de viver em matas, barrancos e troncos, atualmente tem se tornado uma espécie cada vez mais urbana, com maior habilidade de se adaptar dentro das casas, onde acontece a maioria dos acidentes. Veja, a seguir, como reconhecer melhor alguns animais, prevenir acidentes e buscar atendimento.
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FIQUE POR DENTRO
crianças, as ocorrências costumam ser gravíssimas. O uso ou não do soro é uma decisão que deve ser tomada pela equipe de saúde.
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ANIMAIS PEÇONHENTOS fotos: divulgação
COMO EVITAR ACIDENTES
Para evitar acidentes com animais peçonhentos, além de conhecê-los melhor, devemos adotar certos cuidados: l usar botas de cano alto ou perneiras de couro pode evitar até 80% dos acidentes, pois a maioria das picadas de serpentes ocorre do joelho para baixo. l nunca se deve andar descalço ou de chinelos em locais onde possa haver cobras ou outros animais peçonhentos. O uso de sapatos ou botinas evita até 60% dos acidentes.
Escorpiões
As espécies de maior importância, em função da gravidade dos acidentes, estão distribuídas em todo o país. Causam dor no local da picada. Crianças podem apresentar manifestações graves decorrentes do envenenamento.
Aranhas
Loxosceles (aranha-marrom): causa acidentes quando comprimida. Portanto, é comum acontecer enquanto a pessoa está dormindo ou se vestindo. Tronco, abdômen, coxa e braço são os locais de picada mais comuns. Phoneutria (armadeira): a maioria dos acidentes é registrada na região Sudeste, principalmente nos meses de abril e maio. É bastante comum o acidente ocorrer no momento em que a pessoa vai calçar sapatos ou botas. Latrodectus (viúva-negra): encontradas predominantemente no litoral nordestino. Causam acidentes leves e moderados e também mais graves, com dor local, acompanhada de contrações musculares, agitação e sudorese. As aranhas caranguejeiras e tarântulas, apesar de muito comuns, não causam envenenamento. As que fazem teias geométricas, muitas encontradas dentro das casas, também não oferecem perigo.
Taturanas ou lagartas
É comum o acidente ocorrer quando a pessoa encosta a mão em árvores. O contato causa dor, queimação local, inchaço e vermelhidão. O gênero Lonomia pode causar envenenamento com hemorragias e complicações, tais como insuficiência renal.
Soros
Os soros antipeçonhentos são produzidos no Brasil pelo Instituto Butantan, em São Paulo; pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte; e pelo Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. Toda a produção é comprada pelo Ministério da Saúde e distribuída para todo o país, por meio das secretarias de Estado de Saúde. O soro é fornecido gratuitamente aos acidentados.
l não coloque as mãos em buracos, ocos de árvores ou vãos de pedras. l não sente, deite ou agache perto de arbustos, barrancos, pedras, pilhas de madeira ou material de construção, sem se certificar de que não há animais peçonhentos. l nas colheitas de arroz, café, milho, feijão, frutas e nas hortas fique atento a onde se colocam as mãos. l mantenha limpas as áreas ao redor de casas, paióis e plantações, eliminando entulho, lixo, restos de alimento e folhagens altas e fechadas. Essas medidas evitam a aproximação de ratos e de outros animais que servem de alimentos para cobras. l não segure as cobras com as mãos, mesmo que estejam mortas: o veneno das glândulas permanece ativo por certo tempo, mesmo após a morte do animal. l proteja os predadores naturais das serpentes, como emas, seriemas, gaviões, gambás e a conhecida cobra muçurana, pois eles participam do controle do crescimento das populações de ofídios. l para capturar e criar cobras são necessários treinamento e autorização especial do Ibama.
fonte /PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: Sites e cartilha do Ministério da Saúde, Fundação Ezequiel Dias (Funed), Instituto Butantan, Rede Fhemig/Hospital João XXIII.
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Coordenador do Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII
“MEDIDAS CASEIRAS NUNCA SÃO EFICAZES” Há relação entre a temperatura (tempo quente e chuvoso) e a maior ocorrência de acidentes com animais peçonhentos? Sim, especialmente escorpiões. Há uma diferença de picos de incidência entre os bichos, mas a maioria dos casos ocorre a partir dos meses de agosto e setembro. Com o início das chuvas e o tempo quente, há maior oferta de alimento para os escorpiões, que passam a se movimentar mais, pois são desalojados de seus esconderijos pela água. Nos centros urbanos, é comum encontrá-los em mausoléus de cemitérios, onde há bons refúgios e também baratas, das quais se alimentam. Eles têm hábitos noturnos e, dentro de casas, se escondem entre roupas e até em camas. Em caso de picada de escorpião há alguma medida segura que se possa adotar, antes de levar a vítima ao serviço de saúde? Não. O mais importante, em especial quando se trata de crianças mais novas, é não perder tempo. Buscar imediatamente um hospital com recursos. Se o acidente ocorrer em local distante e o atendimento for demorar, a orientação é buscar o melhor e mais próximo hospital. Em BH, há ocorrência de escorpiões em toda a cidade, mas, principalmente, na região Noroeste, próximo a Contagem e na Cidade Nova. Na Região Central, a referência de atendimento em caso de acidentes com animais peçonhentos é o João XXIII. Quem viaja, acampa ou pesca em outras regiões, deve se informar com antecedência sobre qual é o hospitalreferência em determinada região ou polo. Equivocadamente, muitos dizem que, em caso de picada de cobra, deve se fazer torniquete para
evitar a disseminação do veneno. O que é correto fazer além, óbvio, de buscar socorro médico? Medidas caseiras nunca são eficazes. E o torniquete é contraindicado principalmente nos acidentes com cobras do gênero Bothrops (família das jararacas), porque a picada causa grave lesão local. Assim, quando se faz o garrote ou torniquete, há uma piora no quadro do paciente. O veneno se mantém agindo no local, interrompe a circulação e facilita o desenvolvimento de edema e necrose. Incisões também não devem ser feitas. No máximo, pode-se lavar o local com água e sabão, para evitar infecções secundárias, e deixar a pessoa em repouso, enquanto se busca atendimento.
FIQUE POR DENTRO
A QUEM RECORRER O acervo de animais peçonhentos do CIAT/João XXIII reúne mais de 1.500 espécimes. É o local onde os bichos, venenosos ou não, são identificados, analisados e mantidos. O objetivo é ajudar as vítimas de picadas na identificação dos animais causadores do acidente, já que muitas vezes elas não são capazes de descrevê-los. Para o tratamento correto ser aplicado, é necessário saber exatamente que espécime ocasionou o acidente. No CIAT, são registradas as características do animal, nome do paciente picado, número de prontuário, data do acidente, tratamento realizado e as reações causadas pelo veneno. Também é feita a comunicação à zoonose e à vigilância epidemiológica. Serviço: Centro de Informações e Assistência Toxicológica (CIAT-BH) (31) 3224-4000 - 0800-7226-001. maio de 2014 | ecológico 63
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Andréa Zenóbio Gunneng (*) De BELO HORIZONTE, BRASIL
GEORGEZ
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olhar exterior
PRAÇA DUQUE DE CAXIAS, no bairro Santa Tereza: pedaço revivido na capital mineira
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De volta à terra amada
erdi até o prazo de entrega do texto dessa coluna, porque queria começar a relatar minhas impressões belo-horizontinas no exato momento em que inicio a minha jornada de 38 horas de volta a Pequim. Foram 30 dias na capital mineira. Dias intensos, como só a vida brasileira pode oferecer. Alguns amigos até me perguntaram como posso, morando na China, um país com 1,4 bilhão de pessoas, em uma cidade com 22 milhões de habitantes, experimentar uma sensação de esgotamento urbano quando estou em Beagá. O fato é que, independentemente de onde seja minha morada temporária neste planeta, sempre vivo a mesma sensação quando retorno à terra amada: um furor de vida. Aqui os dias começam cedo, e desde o amanhecer somos banhados por muita luz solar, o que nos abar-
rota de energia. Passam-se as horas, aumenta o calor, o estresse do trânsito, as frustrações com os serviços que invariavelmente não são resolvidos facilmente, as demandas cotidianas, o tagarelar sem-fim e alegre de todos, a luta pela sobrevivência e, enfim, a celebração brasileira quase cotidiana pelo simples fato de estarmos vivos – quase invariavelmente regada por algumas cervejas. Ah, já ia me esquecendo – mais, é claro, os jogos do Cruzeiro e do Atlético, os campeonatos de futebol etc. E em meio a isso tudo, o meu olhar exterior sobre a minha própria nação me permite absorver outras tantas impressões. A começar, por exemplo, pelo espanto de encontrar o Aeroporto de Confins ainda como um canteiro de obras. Mas a Copa do Mundo não é daqui a dois meses? Como assim? As pessoas dão de ombros,
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FERNANDA MANN
“Por incrível que pareça, me impressionou demais como a delicadeza e atenção para com o outro ainda prevalecem nas ruas da capital mineira.”
Vista de BH da Serra do Curral: reencontro afetivo com a Cidade Jardim
reclamam e falam mal do governo, e a vida continua. As minhas primeiras horas como motorista em solo brasileiro, enfrentando o trânsito da Avenida Cristiano Machado, no horário do almoço, foram marcadas por uma apreensão: sim, os motoqueiros. Sempre escrevo aqui que tudo é uma questão de perspectiva. Se compararmos com Hanói ou Saigon, no Vietnã, paraísos das vespas (em Saigon há seis milhões delas para uma população de sete milhões de pessoas), em BH há pouquíssimas motos. Mas, ainda que poucas, elas fizeram com que eu me mantivesse em estado de alerta excessivo o tempo inteiro em que me aventurei atrás do volante. Motoqueiros que cruzam de faixas sem o menor aviso e em alta velocidade são, de fato, uma praga urbana. E por falar em trânsito, com certeza, é lugar comum falar do tráfego horroroso que assola BH. Mas nem a quantidade absurda de carros – aliás, quando mesmo a Prefeitura vai instituir um rodízio de carros? – foi capaz de envenenar o jeito de ser do mineiro. Por incrível que pareça, me impressionou demais como a delicadeza e a atenção para com o outro ainda prevalecem nas ruas da capital mineira. Sem falar que a prática de parar para o pedestre nas ‘zebras’ está se tornando cada vez mais corriqueira. Será que afirmo isso porque estou há quatro anos dirigindo no trânsito completamente caótico de Pequim, onde o que prevalece é apenas o interesse egoísta de cada um? É a tal da perspectiva uma vez mais... E de manhã, bem cedinho, a Praça de Santa Tereza é invadida por pais – sim, pais, não só apenas mães ou babás! – que, antes de irem para o trabalho, passam algum tempo se deliciando com a companhia de
seus bebês ou filhos ainda pequenos. Tão interessante! Há também os que saem cedo de casa para passear com seus cães; munidos de saquinhos de plástico para recolher o cocô de seus animais de estimação. Porém, nem tudo aponta para uma evolução de nossa sociedade – principalmente quando o assunto é prestação de serviços. Pintor, eletricista, pedreiro, chaveiro, bombeiro, praticamente todos nessas categorias apresentam um comportamento comum: falham, não entregam, sabem cobrar caro, mas seus produtos não refletem a qualidade pela qual pagamos. Mas, não são só eles. Nossos médicos decidiram que seu tempo é infinitamente mais importante que todos os nossos compromissos. Abarrotam suas agendas para atender cada vez mais pacientes. Resultado: horas e horas de atraso. E nem um pedido de desculpas é oferecido. Aquela falta de respeito pelo outro... E o mais alarmante: a saúde do povo brasileiro. Estamos nos tornando uma população de obesos. Impressionante. Ao mesmo tempo, as academias de ginástica vêm se proliferando tal qual salão de beleza. Em cada esquina tem três. Somado a isso, impera a busca pela juventude eterna. Botox e preenchimento, cabelos alisados e com luzes. Ser loira agora é o padrão. Aquela uniformidade triste. Há ainda o encontro afetivo com os amigos e familiares; a discussão dos acontecimentos do cotidiano com desconhecidos – basta um sorriso e você já tem um ‘chegado’! Êta povo brasileiro abençoado, feliz e especial! (*) Life Coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação.
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divulgação / amis
1 Flashes
Amis parceira
Brennand Parceira
divulgação / siamig
Murilo Laurindo, gerente de Meio Ambiente e Certificação da Brennand Cimentos, Fabiana Canuto (Comunicação) e Amanda Lara (Responsabilidade Social) também recebendo a homenagem da Ecológico.
reprodução
marcos takamatsu
Diretoria da Associação Mineira de Supermercados (Amis) durante entrega da placa “Empresa-Parceira”, do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade: Adilson Rodrigues, Gilson de Deus, José Nogueira, Hiram Firmino, Valdemar Martins e Cláudio Nogueira.
Câmara ecológica
Vereador Autair Gomes, presidente da Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana da Câmara Municipal de BH; Sarah Caldeira (Ecológico), o presidente Léo Burguês e Hiram Firmino: visita verde.
Mário Campos duplo
O economista Mário Ferreira Campos Filho foi efetivado presidente dos Sindicatos das Indústrias do Açúcar e da Fabricação do Álcool em Minas. Ele já era presidente-executivo da Associação das Indústrias Sucroenergéticas (Siamig) e agora acumula a presidência das duas entidades, que representam as 39 usinas produtoras de açúcar e etanol no Estado. “Nosso setor já se tornou um exemplo para o agronegócio na produção de energias limpas e renováveis”, ele comemorou.
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OLHAR POÉTICO
ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br
A FAUNA PRÉ-HISTÓRICA E UM CHOPE ANCESTRAL
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onforme prometi na crônica passada, vou pespontar pra vocês algumas pegadas pré-históricas dessa comuna nada comum que saiu das grutas. Mais, especificamente, os nossos dinossauros. Vamonessa? Pois bem. Dizem que na mesma região ocupada pela Depressão de Belo Horizonte, há 80 milhões de anos, no Pleistoceno, pastavam herbívoros e tranquilos megassauros. Além desses, no meio de uma fauna e flora que pouquíssima gente sabe, havia centenas de mastodontes, megatérios e toxodontes. Não é difícil imaginar o cenário. Provavelmente, subiam e desciam a avenida Afonso Pena três vezes ao dia (soltando pum) para fazer a digestão das palmeiras, dos pinheiros e dos cedros que maceravam lentamente. No túnel da Lagoinha, por exemplo, os gliptodontes (tatus imensos) cavavam suas tocas e desenterravam abobalhadas minhocas que pesavam até 15 kg. Pelos lados da Savassi e do Serra, as sossegadas macrauquênias (semelhantes a lhamas com trombas) pastoreavam sua ração de ciprestes. Depois, oxigenavam o cérebro na Favela do Cafezal, onde iam combater seus radicais livres com folhinhas de ginkgo biloba... É mole?
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Na Praça da Liberdade, mansas preguiças-gigantes (de até seis metros de comprimento e cinco toneladas) dormiam à sombra de araucárias e sequoias de 100 metros de altura. Apenas o temível tigre-dentede-sabre, nos períodos de mudança de comando nos bandos, é que agitava o ambiente caçando inofensivos primatas, lá pelo alto das Mangabeiras. Mas dizem que este, também, andou comendo umas pobres e distraídas macrauquênias da Savassi... Quer mais? Pelos ares, no Aeroporto da Pampulha, voavam serenos pterodáctilos. Nas florestas mais baixas de Venda Nova, repletas de algas e samambaias, ruminavam pacatos e infantis cavalinhos pré-históricos (menores que um cachorro pastor alemão). E no Belvedere, pelos flancos de Nova Lima até o Seis Pistas, baratinhas cascudas, tatuzinhos-trilobitas, apostavam suas corridas de uma semana inteira, pra ver quem chegava primeiro na Mata do Jambreiro. Tudo era assim, grosso modo, como diria o poeta romano Horácio, em sua Ars Poetica: “Parturiunt montes: post nasceturi ridiculus mus!” (As montanhas estavam em trabalho de parto: depois nasceria um rato ridículo!). E agora? Agora, no terrível Pós-toceno – me desculpem o trocadilho infame –, por todo lado nos perse-
ARTE: SANAKAN
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“Pegar uma máquina do tempo virtual e voltar às cavernas? Ouvir o berro distante dos dinossauros? Melhor chamar a musa pra tomar um chope.”
guem e nos acossam velozes, desvairados, esfomeados e sanguinários Fiats, Fords, Kias, Volkswagens, Hondas, Chevrolets, Hyundais, Peugeots, Renaults, Mitsubishis, Toyotas e quetais. Huuuuummmmm... O que fazer? Pegar uma máquina do tempo virtual e voltar às cavernas? Compartilhar com Luzia o pôr-do-sol pleistocênico à beira do Paleomar de Minas? Ouvir o berro distante dos dinossauros? Melhor chamar a musa pra tomar um chope. E deixar o resto por conta da noite. A noite da Beagandaia, além de rupestre, é sábia e pródiga. Que o digam as novas e muito mais belas negras, loiras, ruivas, branquelas, morenas, amarelas,
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vermelhas, mestiças, douradas, mescladas, puras, impuras e combinadas “luzias” que temos por aqui. Como são lindas! Evoé! – Vamos nos sentar, meu bem? – Demorô... – Aceita um chope ancestral, um schnaps arqueozoico? – Intãotáintão... – Ou uma vodca pterolítica? Um guaraná protóptero? – Duas... – Beleza! Vou ali e já volto logo. Uau! – No lepo-lepo... – Fui! – Urrrruuuuuuhhhhhh... SAIBA MAIS
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PRETO E BRANCO
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As listras das zebras são, na verdade, uma forma de defesa contra mosquitos parasitas, informa um novo estudo da Universidade da Califórnia (EUA). Experimentos feitos em 2013 revelaram que os insetos evitam superfícies listradas, por preferirem as lisas. Foi constatado que o nível do sangue de zebras encontrado nos mosquitos Tabanus e Glossina, que se alimentam de equinos, foi bem menor do que o de outras espécies.
Mesmo sem banheiro, o bicho-preguiça não perde a compostura, ainda que isso custe a sua vida. Para defecar, o animal desce de seu cantinho no topo das árvores até o chão, uma atividade que pode demorar mais de 30 minutos, fazendo com que ele se torne uma presa fácil. Claro que ele não se arriscaria tanto apenas para ser educado – uma teoria afirma que a intenção é adubar o solo das árvores para ajudar no crescimento das folhas que serão consumidas.
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NA FALTA DA DESCARGA
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CONTO DE FADAS
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Unicórnios podem até não existir, mas o chifre atribuído a eles já foi muito comercializado no passado – pela bagatela do que seriam hoje £500 mil. Em 1576, o marinheiro inglês Martin Frobisher encontrou, na costa do Canadá, um artefato branco, comprido e torcido em espiral. Não teve dúvida de que ele havia caído da cabeça de um unicórnio e logo o levou para a Inglaterra, onde a rainha Elizabeth I o adquiriu com apreço. Os vikings passaram a trazer vários exemplares para serem vendidos aos monarcas. Em 1638, porém, a festa acabou: o cientista dinamarquês Ole Worm comprovou que os tais chifres eram, na verdade, um dente super desenvolvido de um tipo de baleia que nadava no mar ártico: o narval (Monodon monoceros).
LAGARTO DIVINO
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Podia ser milagre ou mágica, mas é só o resultado da combinação entre anatomia e velocidade: o basilisco-verde, habitante de florestas úmidas e Caatinga, consegue andar sobre a água. A técnica é usada como tática de defesa. Ao correr para a superfície líquida, em vez de ir pela terra, o réptil escapa de seus predadores, que ficam zonzos sem nem saber o que aconteceu.
DOMÍN
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BLICO
A MAGIA DO CANTO
Reza a lenda que quando o uirapuru-verdadeiro canta, todos os outros pássaros da floresta param o que estão fazendo para ouvir. Habitantes da Amazônia, do Pantanal e da Mata Atlântica, eles fazem parte da família dos dançarinos (os machos, de cores chamativas, são capazes de fazer coreografias bem elaboradas para as fêmeas). O uirapuru também é cercado de lendas e histórias fantásticas: uma delas conta que ele é um guerreiro apaixonado pela esposa do cacique, transformado em ave pelo deus Tupã na esperança de seduzir a jovem com seu canto.
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JB ECOLÓGICO
Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (4) 1
O REALISMO regionalista e os neologismos das prosas e romances do escritor, rememorados no museu, inauguraram uma nova forma de escrita literária
DESBRAVANDO O SERTÃO DE
GUIMARÃES ROSA Um dos mais visitados do Memorial Vale, em BH, o circuito do escritor mineiro guarda, em sua simplicidade, um mundo rico de conhecimento natural e poesia Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
1 - João Marcos Rosa/Nitro Imagens
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ANDRÉ NAZARETH
CONSTRUÍDA por meio da junção de pequenos pedaços de madeira, a árvore artificial simboliza os nossos sertões interiores
OTY LAZZ
AROTTO
naturais de uma forma tão específica e espontânea que a ciência jamais se atreveu a discutir. Para entender como ele fazia isso, eu tinha de ficar imerso em seu grande sertão. E lá fui, feito um Riobaldo às avessas, me entregar a esse destino. Ao centro da sala de Guimarães Rosa, há um ipê-rosa. Construída por meio da junção de pequenos pedaços de madeira, a árvore artificial simboliza os sertões. Suas “flores”, travestidas em mensagens impressas e penduradas no tronco e nos galhos, não têm cheiro. Mas “exalam” trechos da sabedoria contida em obras marcantes do escritor. Ansioso, fui logo pegando uma “flor”. A mensagem não tardou em mexer com a minha ecologia: “Somente na solidão pode-se reconhecer que o diabo não existe. Pois a gente pode vencer o diabo simplesmente porque existe o homem, a travessia para a ARTE: P
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ra um domingo chuvoso, comecinho de tarde. Fui me aventurar, pela quinta vez, no universo múltiplo e cultural do Memorial Vale, na Praça da Liberdade, região central da capital mineira. A cada visita, a mesma sensação de descoberta, que me faz voltar novamente ao museu para compreender ainda mais a história de Minas. Esse grau de identificação, creio, é comum. Boa parte de meus familiares, amigos e conhecidos que passaram por lá têm a mesma sensação. E, ao final do roteiro, também foram unânimes em afirmar que a sala em homenagem ao escritor Guimarães Rosa é uma das mais marcantes. Nesta última vez que estive por lá, percebi que minha missão não seria fácil. Rosa é um dos poucos escritores que, mesmo sem embasamento acadêmico ou científico sobre meio ambiente, sabia descrever fenômenos e paisagens
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (4)
solução que equivale à infinidade.” Deus e o diabo. O bem e o mal. Os dois lados da moeda sertaneja que Rosa apresenta no palco solitário, fasto e nefasto do Velho Chico – e que reside dentro de cada um de nós. Finalmente, lá estava eu no Grande Sertão: Veredas, a maior obra natural e regionalista do poeta, no meio daquele “mundão de ausências”, como ele diria, buscando entender por que tinha escolhido aquele cenário seco e amarelo para registrar as ruínas do povo sofrido. O ipê-rosa do Memorial tocava o teto da sala. “Jagunço que é jagunço subiria até lá”, dizia a Diadorim de meu sertão imaginário. Mas eu não precisaria escalar a árvore para desbravar o belo e o absurdo em mim. Assim como os jagunços, as nossas vidas sempre são um exílio de nós mesmos, “encontro e desencontro, reconhecimento e estranhamento, entre a esfera universal dos valores e a esfera particular da existência”,
como indica a mensagem do folder disponível para os visitantes no circuito. Olhando para o topo da árvore, encontrei a resposta na imensidão. Nossa vida é um vazio que só é preenchido pelo outro. De nós mesmos, só conhecemos “algumas veredas” e seguimos nessa busca eterna pelo valor da sombra do buriti que somos. Dou-lhe a resposta, caro leitor: como ser humano, somos imensuráveis. “Só podemos nos construir plenamente se reconhecermos o sertão dentro da gente, sertão que a princípio a gente estranha e acha que é outra coisa, mas é nós mesmos”, diz o sábio poeta de Cordisburgo, município cujo nome deriva do latim cordis, que significa “cidade do coração”. DO TAMANHO DO MUNDO Guimarães Rosa era poliglota, estudou em São João del-Rei e Belo Horizonte, onde se formou em Medicina. Casado e pai de duas filhas, foi exercer a profissão em Itaguara, a 95 km da capital mineira, onde teve os primeiros contatos com os elementos do sertão, que viriam a ser a base de sua arte literária. Com seus neologismos e invenções linguísticas, consolidou, de
PROGRAMAÇÃO MAIO (ENTRADA FRANCA) 15/05 Tradições Mineiras: show com Pereira da Viola Horário: 19h30 Local: Auditório (sujeito a lotação) 17/05 Performance no Memorial: “Eu não sou cantora”, com Marta Neves Curadoria: Marco Paulo Rolla Horário: 11h Local: Hall e elevador Percursos da Memória: Visitas Temáticas Cartografia e Memória: 11h Arte - Limites Imprecisos: 13h Literatura e Memória – Bordado: 15h República e Memória: 16h 21 a 23/05 VII Seminário da Diversidade Cultural Minicursos: 10h às 13h Palestras: 14h às 17h Debates: 19h às 22h Inscrições e informações (31) 8493-9918 info@observatoriodadiversidade.org.br www.observatoriodadiversidade.org.br
24/05 Percursos da Memória: Visitas Temáticas Cartografia e Memória: 11h Arte – Tempo, Espaço: 13h República e Memória: 15h Africanidades e Memória – Ilê Ayê: 16h 29/05 Show com Dolores 602 Horário: 19h30 Local: Auditório (sujeito a lotação) 31/05 Percursos da Memória: Visitas Temáticas Africanidades e Memória – Baobá: 11h Arte - Tempo, Espaço: 13h Cartografia e Memória: 15h Literatura e Memória - Literatura como Missão: 16h Sarau do Memorial, com Fabrício Marques – Part. Especial: Olavo Barbi Horários: 11h e 13h Local: Casa da Ópera (sujeita a lotação) 31/05 a 13/07 5º Cinefoot: Festival de Cinema de Futebol Para conhecer a programação completa do Cinefoot, acesse o site do Memorial Vale.
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PÉTALAS DO ROSA l "Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no Rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens." l “Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?” l “O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando.” l “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” l “A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é." l "Viver para odiar uma pessoa é o mesmo que passar uma vida inteira dedicado a ela."
forma inteligente, a mais expressiva forma de tratar o regionalismo brasileiro, que não morreu com sua partida, aos 59 anos, em 1967. Não bastasse a alegria de revisitar o sertanejo de cada um de nós, outra proeza do Memorial Vale, a voz firme de Maria Bethânia adentrou a sala. Seu último CD, “Oásis de Bethânia”, é uma homenagem ao sertão – o que por si só explica sua presença no museu –, por meio do vídeo/áudio apresentado em que ela lê passagens dos contos e romances de Rosa, o prosador que tinha a natureza no nome. Um complemento que fez toda a diferença no ambiente dedicado ao poeta. Dei-me por vencido. Devolvi a “flor” que havia tirado da árvore para que outro Riobaldo ou Diadorim pudessem se achar, digladiar e amar dentro daquele espaço. “O sertão é do tamanho do mundo”, dizia Guimarães Rosa. Mas cabe e nasce dentro de nós. E não faria sentido parar por ali. Peguei o rumo do meu Velho Chico interior e fui parar nas fazendas de Minas, historicamente conhecidas pela sua contribuição econômica e cultural para o estado. Mas isso é assunto para a próxima viagem da ECOLÓGICO. Até lá!
l “A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.” l“Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.”
SERVIÇO - MEMORIAL MINAS GERAIS VALE (*) Endereço: Praça da Liberdade, 640, esquina com rua Gonçalves Dias. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Terças, quartas, sextas e sábados: das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas: das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos: das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000 Para visitas mediadas ou em grupo ligue: (31) 3343-7317 www.memorialvale.com.br (*) Mantenedor: Vale, por meio da Fundação Vale
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jb ecologico
Paulo Nogueira: história ambiental
jb ECOLÓGICO
elza fiúza / abr
1 V Prêmio Hugo Werneck
Guimarães Rosa: sertão revisitado
MEMÓRIA E CONCEITO “Oscar da Ecologia” 2014 abordará o pioneirismo de Paulo Nogueira Neto e o grande sertão de Guimarães Rosa
P
or indicação da própria ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – o Oscar da Ecologia 2014” irá prestar uma homenagem especial, pelo conjunto de sua obra na história política brasileira, a Paulo Nogueira Neto, considerado o primeiro ministro de Meio Ambiente do país. Escritor, professor-emérito da Universidade de São Paulo (USP), PhD em Ciências Biológicas e presidente-emérito do Conselho da WWF-Brasil, ele foi o criador da Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema) e esteve à frente da pasta durante doze anos, nos governos Médici, Geisel e Figueiredo (1973-1985). Na época, a então “secretaria verde” era ligada diretamente à Presidência da República, no âmbito do Ministério
do Interior, e depois foi transformada em Ministério de Meio Ambiente e Habitação. Segundo Izabella, até dois anos atrás, apesar de suas 92 primaveras, Paulo era o membro mais assíduo, em Brasília (DF), das reuniões do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que ele mesmo criou. Atualmente, com problemas de saúde, ele mora em São Paulo. Antes de ser convidado para dirigir e organizar a Sema, Paulo Nogueira Neto já era ambientalista, à frente da ONG Adema (Associação de Defesa do Meio Ambiente de São Paulo). SERTÃO ATUAL Já o conceito da premiação, este ano, será sobre a contemporaneidade de obra de Guimarães Rosa, toda ela focada no bioma Cerrado em transição para o semiárido brasileiro, um dos ecossistemas
mais valiosos e degradados da atualidade. Ano passado – a ECOLÓGICO registrou isso em várias edições –, não fosse a pressão dos ambientalistas e a intervenção pessoal do então governador Antonio Anastasia, que vetou um projeto de lei altamente permissivo, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) teria aprovado até o barramento de veredas, por pressão do agronegócio. Daí a lembrança do escritor de “Grande Sertão”, cuja história será pontuada pelo Grupo Ponto de Partida, de Barbacena, durante a cerimônia de entrega do “Oscar da Ecologia”, marcada para novembro deste ano, na capital mineira. Já as inscrições para o prêmio serão abertas em 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Saiba mais
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MEMÓRIA ILUMINADA - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
SANS SOUCI
MÁRQUEZ: “O único arrependimento que eu vou ter de morrer é se não for por amor”
#GRACIASGABO O grande escritor colombiano, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, perdeu a luta contra o câncer. Seu legado literário permanecerá expressivo e exuberante, assim como a luta social do povo latino-americano que ele apresentou ao mundo Luciano Lopes
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"Não é verdade que as pessoas param de buscar seus sonhos porque envelhecem. Elas envelhecem porque param de buscar seus sonhos."
impure with me
o dia 17 de abril último, o escritor colombiano Gabriel García Márquez foi trending topic mundial no Twitter. Ele não estava lançando nenhum livro novo. Tampouco daria alguma entrevista. A notícia de sua morte deixou milhões de leitores órfãos mundo afora. E nos lembrou que, pelo menos nos dias atuais, não há alguém como Gabo - como ele era carinhosamente conhecido na América Latina. García foi um eterno menino. Sua infância sempre foi a fonte inesgotável de sua escrita. A vida ainda reservaria muitas alegrias para ele no futuro, mas a nostalgia era um sopro permanente de inspiração. O garoto da pequena cidade de Aracataca era neto de contadores de histórias, o que explica seu gosto pelas letras. O avô, Nicolás Márquez, era militar e contava suas aventuras da Guerra Civil Espanhola. Já a avó, Tranquilina Iguarán, adorava desfiar fábulas e lendas. Aos nove anos, García deixou o solo colombiano para morar em Barranquilla, na Espanha, onde seu pai tinha uma farmácia. Lá, conheceu aquele que foi fundamental para sua formação literária: o professor de literatura Carlos Julia Calderón Hermida, um incentivador da boa leitura, que recebeu uma dedicatória na obra “O Enterro do Diabo”, primeiro livro de Gabo. Depois de largar a faculdade de Direito, García consagrou-se como repórter e crítico de cinema, o que lhe garantiu certa influência no circuito cultural espanhol. Mas o grande impulso de sua carreira literária veio na década de 1960, com o clássico “Cem Anos de Solidão”, que vendeu mais de 30 milhões de cópias. Nessa época, já casado e com dois filhos, consolidou a estilística exuberante que marcou suas obras – o realismo fantástico. Sintetizava a simplicidade em algo avassalador, como fez tantas vezes, ao retratar a luta social e a resistência política do povo latino-americano. Independentemente de suas inclinações poéticas e políticas, ele deixou para o mundo leituras enriquecedoras e realistas como o presente que vivemos. Por isso, também dizemos: gracias, Gabo. Obrigado por defender os direitos humanos, denunciar os usos e abusos do poder e mostrar que a fama condena as pessoas à solidão.
Em homenagem ao poeta colombiano, a ECOLÓGICO selecionou trechos de entrevistas e de suas obras, como “Amor nos Tempos do Cólera”, “Crônicas de uma Morte Anunciada” e “Memórias de Minhas Putas Tristes”, seu último livro, lançado em 2004. Confira:
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MEMÓRIA ILUMINADA - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
l MEDICINA “Nenhuma medicina cura o que a felicidade não pode curar.” l DEUS “Não acredito em Deus, mas tenho medo Dele.” l SAUDADE “A pior forma de sentir saudade de alguém é estar sentado ao seu lado e saber que nunca o poderá ter.” l NOSTALGIA “O mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crônicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.” l SOLIDÃO “Não há na vida lugar mais triste do que uma cama vazia.” l SABEDORIA “A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada.” l AMOR “Pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma.” l MENTIRA “A mentira é mais confortável do que a dúvida, mais útil do que o amor e mais duradoura do que a verdade.” l CASAMENTO “O problema do casamento é que ele acaba toda noite
depois de fazer amor, e precisa ser reconstruído toda manhã após o café.” l SER HUMANO “Os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz. E sim porque a vida os obriga outra vez, e muitas vezes, a parirem a si mesmos.” l VIDAS “Todo ser humano tem três vidas: a pública, a privada e a secreta.” “O problema na vida pública é aprender a superar o terror; o problema na vida de casado é aprender a superar o tédio.” l ENVELHECER “O segredo de uma boa velhice não é outra coisa além de um pacto honrado com a solidão.” l FELICIDADE “Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu.” l SEXO “O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.” l HUMILDADE “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.” l DESORDEM “Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.” “Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez,
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que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.” l MEMÓRIA “Aquele que não tem memória arranja uma de papel.” l SER ESCRITOR “Escrever livros é uma profissão suicida. Nenhuma outra exige tanto tempo, tanto trabalho, tanta dedicação em comparação com os benefícios imediatos. Não acho que muitos leitores, quando acabam de ler um livro, se perguntam quantas horas de angústia e quantas calamidades domésticas aquelas 200 páginas custaram ao autor e quanto ele recebeu pelo trabalho. Depois dessa avaliação sombria de desventuras, é elementar perguntar por que nós, escritores, escrevemos. A resposta, de maneira inevitável, é tão melodramática quanto sincera. Alguém é um escritor apenas como alguém é judeu ou negro.”
por "Te amo não as por quem tu és, m ando quem sou qu ." estou contigo
“O sucesso é encorajador, o favor dos leitores é estimulante, mas esses são meros ganhos ocasionais, porque um bom escritor continuará escrevendo de qualquer maneira, muito embora os sapatos precisem de remendos, e até mesmo se os livros não venderem.” “Eu escrevo para que as pessoas queiram mais. Essa é uma das aspirações fundamentais do escritor.”
NICK BENJAMINSZ
“Um escritor famoso que quer continuar escrevendo precisa se defender constantemente da fama.” “Como escritor, me interessa o poder, porque ele resume toda a grandeza e a miséria do ser humano.” l AMIGOS “Morrer é nunca mais estar entre os amigos.”
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1 ENSAIO fotográfico
ESTÁTUA do profeta Jonas, em Congonhas: a mão que "impede" o avanço da mineração insustentável
A luz e a voz dos
profetas de CONGONHAS Marcos Fernandes
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FOTOS SANDOVAL DE SOUZA
“S
DANIEL "na cova" da mineração: olhar profético que abençoa a Serra Casa de Pedra, ameaçada pela atividade
também chama atenção para o turismo local, que ficou desvalorizado com a mineração e siderurgia insustentáveis.” Em 2012, Sandoval foi um dos ativistas que mobilizaram a cidade para o tombamento parcial da Serra Casa de Pedra, que estava ameaçada pela expansão de uma mina da Companhia Siderúrgia Nacional (CSN). Na época, a em-
presa queria propor a recomposição da área a ser minerada em outra microbacia. Em dezembro do mesmo ano, a Câmara Municipal de Congonhas aprovou a proposta de tombamento parcial, determinando a preservação de 85% de seu perímetro e liberando os outros 15%para pesquisas de potencial mineral. Confira.
PERFIL Belo-horizontino de nascença, Sandoval de Souza foi para Congonhas ainda criança. Bacharel em Direito e técnico em Mecânica, trabalha há 30 anos na indústria de minérios. Hoje, após participação em movimentos sociais e ambientais, além da atuação como membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas, é cidadão honorário da cidade. contato:
sandovalspf@yahoo.com.br
ARQUIVO PESSOAL
obre o vale profundo, onde flui o Rio Maranhão, sobre os campos de congonha, sobre a fita da estrada de ferro, na paz das minas exauridas, conversam entre si os profetas.” Assim Carlos Drummond de Andrade retratou a obra artística e histórica que Aleijadinho deixou no alto do morro da igreja de Bom Jesus de Matosinhos, na cidade de Congonhas. Sandoval de Souza, advogado, escritor, fotógrafo e morador da região, quis fazer igual, só que com uma câmera fotográfica. O que resultou dessa empreitada pode ser visto na exposição “Colóquio dos Profetas”, no Instituto Histórico e Geográfico da cidade: uma série de imagens que mostra como as estátuas do artista se relacionam com o ambiente que as cerca - a mineração insustentável, as montanhas, a igreja e até os pássaros que pousam em suas cabeças. Sandoval iniciou seus trabalhos como fotógrafo de forma inusitada: registrando imagens de buracos da BR-040, com o intuito de chamar atenção das autoridades. E acabou tomando gosto pelo então hobby. Nunca se profissionalizou, mas conta com uma dedicação e intuição que têm tudo a ver com a sua vivência em Minas. “Não tenho equipamentos muito sofisticados e, quanto à técnica, sou autodidata. Mas dou um pouco de sorte também”, brinca. As fotos da exposição foram tiradas durante o período de um mês, em que se tentou buscar o melhor ângulo, iluminação (ao nascer ou ao pôr do sol) e a melhor paisagem de fundo. A ideia, segundo ele, é levar Congonhas, por meio da fotografia, até as pessoas mais remotas, discutindo temas como a preservação do meio ambiente e da arte histórica. “Além de demonstrarmos nossa preocupação com a sustentabilidade, incluindo nisso a paisagem, esse trabalho
SANDOVAL DE SOUZA: fotógrafo engajado
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NA MÃO do profeta Habacuc, uma natureza que sofre e não aceita a destruição provocada pela CSN: cenário triste
(Da esq. para a dir.): Oséias, Habacuc, Ezequiel e Daniel , com a Mina do Engenho, da companhia Namisa, e a Serra Casa de Pedra ao fundo
FOTOS SANDOVAL DE SOUZA
1 ENSAIO fotográfico
A ESTÁTUA de Isaías é a primeira da entrada do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos
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alfeu trancoso (*) redacao@revistaecologico.com.br
ALFEU TRANCOSO
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conversamentos
A experiência do divino
O
panteísmo é um sistema filosófico que defende a ideia de que o divino está presente em todas as coisas: pan (“tudo”); e theos (“deus”). Assim, o transcendente e o imanente se entrelaçam de forma dinâmica. A beleza das formas naturais, o mistério da vida, as harmonias e simetrias cromáticas da natureza são sinais evidentes da presença do divino no acontecimento terreno. O grande pensador holandês Baruch Spinoza (1632-1677) afirmava que o mundo é real e Deus, a soma de tudo que existe. O fundador da ecologia, Ernst Haeckel (1834-1919), também era panteísta convicto. Via o universo como um grande organismo unificado pela ordem espiritual do cosmos. Para ele, a natureza é a nossa primeira mestra e o espírito do universo está contido numa simples gota d’água. Desse modo, a aprendizagem e a vivência desses ensinamentos são a virtude maior do ser humano. Como o divino permeia todas as esferas da realidade, não há distinção entre o espiritual e o natural. Antevendo a ética ecológica, Haeckel afirmava que tudo na natureza deveria ter os mesmos direitos do homem. Temos ainda no século XX, o panteísmo científico do padre Teilhard de Chardin. Ele também defendia a ideia de que o cosmos é divino. E que, portanto, a Terra é sagrada. O panteísmo nos permite dizer, enfim, que cada um de nós participa do perfume de todas as flores, do cheiro de todas as aves e do calor afetivo de todos os homens. Nosso ser está permeado do afeto de todos os viventes e não viventes, participando ativa-
mente do espetáculo da existência. No panteísmo, Deus e natureza são extensões do mesmo mistério que é ser e estarmos aqui neste momento do cosmos, sendo e escrevendo este texto. E você o lendo agora, por exemplo. No panteísmo, não há templos. O templo é a natureza. Já os locais sagrados são aqueles que irradiam mais espiritualidade como o alto das montanhas, os oceanos, as florestas e as cavernas. As orações são os deleites espirituais completamente sem verbo, provocados por uma bela tarde ou um amanhecer luminoso. Rubem Alves, na edição de abril da ECOLÓGICO, nos oferece um belo tesouro de afirmações sobre o divino: “Quer ver Deus? Veja a beleza do sol que se põe, sem pensar em Deus”. Outras ideias panteístas fantásticas dele: “Deus se mostra na experiência da beleza... Ele passeia pelo nosso jardim. Deus é beleza”. Podemos inferir que a beleza, a harmonia e o equilíbrio são expressões elevadas da espiritualização do sensível. E que o desejo transcendente de celebrar, de exaltar e de amar os outros, a vida, a natureza e as pessoas que nos cercam fazem parte de um mesmo mistério - como aquele que nos visita no alto de uma montanha, assistindo ao despencar de uma cachoeira. Ou o que se revela a nós o tempo todo, em atos de alegria simples, como um abraço, um beijo ou no esplendor de uma bela lua nascente. Deus é assim: admiração e espanto. E a oração preferida Dele, a contemplação e o silêncio. (*) Ambientalista e professor de filosofia da PUC Minas.
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