Revista Ecológico - Edição 82

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ANO 7 - Nº 82 - 31 DE JULHO DE 2015 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


Pelas Ă gua

Homenagem Especial: Carlos Drummond de Andrade


as do Planeta

DA D A CAIXA CAIXA D’ÁGUA D’ÁGUA DO DO BRASIL BRASIL À TERRA DAS CATARATAS

Inscrições abertas! www.premiohugowerneck.com.br


oย ;umo 7; bm-v ;u-bv u;-ัดbย oย ย l -lrัดo 7b-]mเฅ vเฆ 1o r-u- 1om_;1;u - ย ;u7-7;bu- vb|ย -2เข o 7o v|-7oฤบ o0f;เฆ ย o 7o ัด;ย -m|-l;m|o เฃ 7;Cmbu -v ruboub7-7;v rou เข u;- ; o=;u;1;u -v l;ัด_ou;v voัดย 2เฅ ;v r-u- ov 7;v-Cov 7; bm-v ;u-bvฤบ ร um direito de todos os mineiros conhecer a verdadeira situaรงรฃo do seu Estado. ร um dever do Governo -|ย -u 1ol |u-mvr-uเฃ m1b-ฤบ 7b-]mเฅ vเฆ 1o -rom|- ย l v|-7o 7o;m|;ฤท 1ol ย l 7เฃ C1b| 7; l-bv 7; !ลช ฦ 0bัด_เฅ ;v mo

COMO ERA ANTES

ร GUA

GESTร O

Dร FICIT DE R$ ฦ 0bัด_เฅ ;v ; ฦ ฦ ฦ lbัด_เฅ ;v

MAIS DE ฦ ฦ ฦ o0u-v r-u-ัดbv-7-vฤท ;m|u; ;ัด-v _ovrb|-bv ; ;v1oัด-v !bv1o 7; 7;v-0-v|;1bl;m|o 7; เข ]ย - m- 1-rb|-ัด ; !;]bเข o ;|uoroัดb|-m-

AJUSTE DAS CONTAS DO ESTADO PARA VENCER O Dร FICIT DE 7 BILHร ES REFORMA ADMINISTRATIVA PARA TORNAR A GESTร O DO ESTADO MAIS EFICIENTE RETOMADA DAS OBRAS QUE ESTAVAM PARADAS

PELA PRIMEIRA VEZ ร POSSร VEL ACOMPANHAR O Nร VEL DOS RESERVATร RIOS ATRAVร S DO

ย ย ย ฤบ1or-v-|u-mvr-u;m|;ฤบ1olฤบ0u

FALTA DE INVESTIMENTOS NA REDE DE CAPTAร ร O E DISTRIBUIร ร O DE ร GUA

INร CIO DAS OBRAS DE TRANSPOSIร ร O DO RIO PARAOPEBA PARA AUMENTAR A CAPTAร ร O DE ร GUA

FALTA DE TRANSPARร NCIA COM OS CONSUMIDORES

CAMPANHA CONSTANTE PARA ESTIMULAR O USO CONSCIENTE DA ร GUA

ROMBO DE SAร DE

O QUE ESTร SENDO FEITO

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REESTRUTURAร ร O DOS PLANOS DE CONSTRUร ร O DOS HOSPITAIS REGIONAIS

0u-v 7; ฦ ฦ _ovrb|-bv u;]bom-bv r-u-7-v SAMU EM APENAS ฦ ฦ ัท " "

AMPLIAร ร O DO ATENDIMENTO DO SAMU PARA 55% DAS CIDADES MINEIRAS

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b-]mเฅ vเฆ 1o Minas Gerais

A verdadeira situaรงรฃo do Estado

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EDUCAร ร O

COMO ERA ANTES

O QUE ESTร SENDO FEITO

SALร RIO DOS PROFESSORES ABAIXO DO PISO RECOMENDADO PELO GOVERNO FEDERAL E MUITOS CONTRATADOS SEM CONCURSO Pร BLICO BAIXO RENDIMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO Mร DIO

" ฦ ัตัท " " " ESTADUAIS EM BOAS CONDIร ร ES

O GOVERNO DO ESTADO ASSINOU UM ACORDO HISTร RICO COM OS PROFESSORES PARA PAGAR O PISO NACIONAL ATร 2017 E MELHORAR AS CONDIร ร ES DE TRABALHO MODERNIZAร ร O DO CURRร CULO ESCOLAR E INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA

SEGURANร A

MEIO AMBIENTE

CONCURSO Pร BLICO PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAร ร O

ฦ ฤทฦ lbัด PROCESSOS DE LICENCIAMENTO PARADOS

ฦ ฦ ฦ lbัด

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AUTOS DE INFRAร ร O Nร O FORAM COBRADOS

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FIM DA GREVE DOS SERVIDORES QUE DURAVA MAIS DE UM ANO

EM INVESTIMENTOS

APROVAร ร O DOS LICENCIAMENTOS E REALIZAร ร O DA COBRANร A DOS AUTOS

AUMENTO DE 74% DOS CRIMES VIOLENTOS NOS ร LTIMOS 3 ANOS

CONTRATAร ร O DE 4 MIL NOVOS POLICIAIS

FALTA DE POLICIAIS NAS RUAS RENOVAร ร O DAS FROTAS POLICIAIS

ESTRUTURA PRECร RIA DAS POLร CIAS

erais mais integrada e justa. O trabalho jรก comeรงou.


FOTO: ALFEU TRANCOSO

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EXPEDIENTE

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Foto: AFP Photo / Osservatore Romano Arte: Sanakan Firmino DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com Publisher - Projetos Especiais David Ghivelder david@souecologico.com

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br sou_ecologico

souecologico

revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

ecologico

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IMAGEM DO MÊS

PROTESTO VERMELHO No início do mês, ativistas das ONGs Peta e Anima Naturalis fizeram um manifesto contra as touradas e as corridas de touros, dois dias antes das festividades de San Fermin, na cidade espanhola de Pamplona. Pintados de tinta vermelha, simbolizando o sangue derramado, eles disseram não à crueldade que tortura e mata mais de 60 mil animais por ano apenas na Espanha. FOTO: ROLAND BOS

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JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 07


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ÍNDICE

CAPA COM A PUBLICAÇÃO DA ENCÍCLICA “LAUDATO SI”, O PAPA FRANCISCO LEVA A IGREJA CATÓLICA A FINALMENTE SE POSICIONAR COM FIRMEZA SOBRE A QUESTÃO AMBIENTAL NA NOSSA “CASA COMUM”

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PÁGINAS VERDES O ECONOMISTA SÉRGIO BESSERMAN FALA SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS E ECONÔMICAS DA MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL

E mais... IMAGEM DO MÊS 07 CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 GENTE ECOLÓGICA 14 ECONECTADO 16 SOU ECOLÓGICO 18 PREMIAÇÃO 26 DENÚNCIA 32

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HOMENAGEM CÂMARA MUNICIPAL DE BH CONCEDE “DIPLOMA DE HONRA AO MÉRITO” À REVISTA ECOLÓGICO PELOS SERVIÇOS PRESTADOS À SOCIEDADE

ICTIOFAUNA 34 GESTÃO & TI 38 CÉU DO MUNDO 40 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 42 COMPORTAMENTO 48 TECNOLOGIA LIMPA 52 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 58 NATUREZA MEDICINAL 65 VOCÊ SABIA? 66

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ENSAIO FOTOGRÁFICO O AMOR E A NATUREZA NAS IMAGENS DE ILANA LANSKY, EM EXPOSIÇÃO NO MEMORIAL VALE, EM BH

ENGAJAMENTO 68 PRESERVAÇÃO 70 CORAÇÃO DA TERRA 73 MUNDO CORPORATIVO 74 OLHAR POÉTICO 81 PERFIL 82 ESTADO DE ALERTA 96 JUSTIÇA 97 CONVERSAMENTOS 98

Pág.

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SUPERAR A SI MESMO TODOS OS DIAS. Samarco. Eleita pela terceira vez consecutiva a melhor mineradora do Brasil.

Mais uma vez, a Samarco foi eleita a melhor empresa de mineração e a segunda maior do País, pela revista Exame, no ranking Melhores e Maiores. Um prêmio que avalia, a cada ano, o desempenho das 500 maiores companhias do Brasil. Essa conquista mostra o compromisso que a Samarco tem de se superar diariamente, gerindo com responsabilidade os recursos, pessoas e tecnologias que ajudam a construir o futuro do País. É assim, vencendo desafios e crescendo junto com a sociedade, que evoluímos para fazer uma Samarco cada vez melhor. Porque olhar para todos os lados e avançar, passo a passo, com o apoio e a força das parcerias, é o melhor jeito de seguir em frente.

www.samarco.com


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CARTAS DOS LEITORES

O PERFIL “Com o tema ‘Belo Horizonte e sustentabilidade’, parabenizo a Revista Ecológico pela excelente matéria!” Délio Malheiros, vice-prefeito de BH, via Twitter O PÁGINAS VERDES “Mais uma ótima entrevista! Que o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sávio Souza Cruz, consiga fazer as mudanças necessárias.” Ênio Fonseca, via site O PROCURA-SE ÁGUA – NOVO CÓDIGO FLORESTAL “Dr. Alceo Magnanini, engenheiro agrônomo de 85 anos, responsável em 1965 pela autoria do Código Florestal, juntamente com a participação de outros pesquisadores, sempre se preocupou não só com o solo em si, mais com água, com o clima, a flora e a fauna e também com a sobrevivência do próprio homem. Sobre o novo Código, ele afirmou: ‘Não é código florestal coisa nenhuma. É um código agrícola. Nós estamos em um retrocesso absoluto, na contramão ambiental e em marcha a ré'.” Ricardo Machado, via site

O ALZHEIMER - O ESQUECIMENTO DE NÓS MESMOS “O filme ‘Para Sempre Alice’ é maravilhoso! A explicação foi valiosa, mas gostaria de saber mais sobre esta doença.” Maria Alice Santos, via Facebook “Como é bom quando uma família de alguém com Alzheimer encontra um anjo como a senhora Tânia Gatte! Que Deus, na sua infinita misericórdia, lhe dê bastante saúde e mais discernimento para lidar com essa situação!” Josué Reis Silva, via Google+ “Que trabalho bonito da Judy Robbe, de oferecer orientação, apoio e conforto aos pacientes e familiares! Só Deus para pagar uma pessoa assim! Para mim só resta rezar por ela! Muito lindo!” Valtair Oliveira, via Google+ O CARTA DO EDITOR – AVISO AOS GOVERNANTES “Quando a ganância por lucro e interesses particulares falarem mais baixo, aí sim, poderemos ter esperança. Até a maioria dos deputados federais do Partido Verde (PV) votou a favor do financiamento de empresas a partidos políticos. Estão pensando no coletivo? Faz-me rir de indignação.” Zamyrton Júnior, via Google+ 10 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

O GENTE ECOLÓGICA “Grande Guimarães Rosa! Adoro a literatura brasileira!” Joana da Silva Bernardes, via Facebook O POLÍTICA “Desejo paz e grandes conquistas à nova presidente do Ibama, Marilene Ramos!” Vera Maria, via Google+ “Que Marilene Ramos possa recuperar cada vez mais o prestígio do Ibama. Acredito que o Ministério do Meio Ambiente, como um todo, está fazendo um bom trabalho, principalmente de fiscalização ambiental. Muitos concordarão que não. Mas devemos levar em consideração que a imprensa sempre relega notícias sobre o meio ambiente para segundo plano. Muito do que está sendo feito não é mostrado.” Natanael Carvalho, via e-mail O CAPSULA MUNDI – CAIXÃO SUSTENTÁVEL “Amei a ideia. Só me preocupo com o ‘chorume’, o líquido que resulta dos corpos em estado de putrefação. Esse método resolve? Sonho de


FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

“Quero ser um ipê-amarelo quando morrer!” Silmara Portugal, via Google+ “Os cemitérios brasileiros definitivamente não levam em consideração a questão ambiental. São raríssimos os casos daqueles que têm área verde. Principalmente os cemitérios-parques, pois grande parte das árvores são extraídas. A maioria prefere transformar esses locais apenas em ‘loteamentos’, em que é possível comprar o jazigo e se paga um valor anual de ‘manutenção’. Esquecem de que é um lugar sagrado, de essência espiritual, em que a natureza também é morada eterna.” Lúcia Luz, via e-mail O VOCÊ SABIA? - FLORES EXÓTICAS “Muito interessante conhecer mais sobre flores raras! Sou apaixonada por plantas!” Zélia Cardoso, via Google+

EU ASSINO “Acompanho a Ecológico há muito tempo. Desde quando, durante oito anos, foi encartada no jornal Estado de Minas – “Estado Ecológico”. Guardo até hoje um exemplar da última publicação, de 03 de agosto de 2001. Depois veio o JB Ecológico e, agora, a Revista Ecológico. Assino esta conceituadíssima revista porque fala sobre meio ambiente, pois atuo há 25 anos em recuperação de áreas degradadas em todo o território nacional. E sempre encontro informações e conhecimentos que aprimoram e enriquecem, não somente a mim, mas a todo corpo técnico de nossa empresa. Gostaria de parabenizar o Hiram Firmino e sua qualificada equipe por estarem, com toda dedicação e dificuldade, vencendo este momento político e econômico que o país atravessa.”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

consumo, um cemitério-floresta!” Anistir Cairam, via Google+

João Marques Fernandes, diretor-presidente da Nascentes Fernandes

1 HUMOR

FONTE: Charge do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

ESTAMOS SALVOS. O PAPA É POP E SUBVERSIVO

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ubversão vem do latim subversione - ensina-nos o dicionário. É o “ato ou efeito de subverter-se. Insubordinação às leis ou às autoridades constituídas; revolta contra elas. Destruição, transformação da ordem política, social e econômica estabelecida; revolução”. Já subversivo ou “revolucionário”, tal como a consciência e luta ambiental, que iguala as pessoas a todo e qualquer ser vivo no planeta, é o outro nome de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, o mais ecológico de todos os pontífices:

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– Quando esteve visitando o Brasil, o próprio Francisco não somente abordou publicamente o porquê de a Igreja Católica não ordenar mulheres, só homens, como reposicionou Maria depois de Cristo e antes dos apóstolos. Até então, a mãe do filho de Deus estava na terceira fila para chegar até Ele e interceder por nós. Com este gesto, o papa reconhece a dimensão e o papel da mulher nas sociedades modernas, mas que ainda são escravizadas em outras culturas. – Francisco revolucionou também a mensagem bíblica do “crescei e multiplicai-vos”, ao nos dizer que não é nada ecológico nem religiosamente correto nos reproduzirmos “como coelhos”, numa referência à explosão demográfica e à paternidade/ maternidade responsáveis. – Simples, sem aqueles anéis e aparatos suntuosos que caracterizavam seus antecessores, Francisco também subverteu o dogma da infalibilidade papal até então indiscutível de quem ocupasse, doravante, a cadeira de São Pedro, no Vaticano. “Eu também sou um pecador”, ele confessou em sua exemplar humildade. – Mais. Questionou também o conceito conservador da “indissolubilidade” do casamento. Se não

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houver amor, e não for bom e exemplar para os filhos, Francisco fez toda a igreja e seus fiéis também se refletirem: que mal há em admitirmos o fim natural de uma união que não deu certo nem acrescenta mais? - Maior estadista hoje na face da Terra, o papa argentino, que nunca se importou em andar de ônibus antes de chegar a Roma, foi além. Virou líder pelo exemplo também para todas as demais religiões, ao mexer em duas feridas profundas. Com a primeira, a encíclica “Laudato Si”, ele fez até o mais conservador e reacionário dos católicos se perguntar: “Se Deus nos deu a vida, esse Jardim do Éden, que é a Terra, este planeta maravilhoso, nós também temos o dever de preservá-lo”. A segunda ferida subversivamente aprofundada se deu em sua recente viagem pela América Latina. Sem meias palavras e contra a ordem econômica mundial sem amor nem caridade (vide a situação da Grécia), Francisco criticou os sectarismos e as ideologias ultrapassadas que ainda escravizam os povos mais pobres, roubando-lhes os direitos humanos e uma qualidade de vida maior. Foi quando ele declarou, em sua passagem por Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, que, socialmente excludente e ambientalmente predatório, o capitalismo atual que destrói tanto a natureza quanto a vida humana, aumentando o abismo entre os ricos e pobres, é uma “sutil ditadura”. Nem tudo, enfim, está perdido. É o que a sua Ecológico recorda, registra e faz refletir aqui, nesta edição, em homenagem à coragem (traduzido do latim: “agir com coração”) de um homem chamado Francisco. À semelhança de um outro, seu xará, de sobrenome Assis, que chamava o sol e a lua ecologicamente de “irmãos”. Boa leitura! Até a lua cheia de agosto. O

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SISTEMA FAEMG. A NOSSA UNIÃO FAZ A FORÇA DO CAMPO.

Quando as pessoas se juntam, conseguem grandes realizações. Com o SISTEMA FAEMG também é assim. Ele reúne os parceiros certos que ajudam a melhorar o agronegócio em Minas. Fazem parte do SISTEMA FAEMG a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR MINAS), o Instituto Antônio Ernesto Acesse: www.sistemafaemg.org.br

de Salvo (INAES) e mais de 385 Sindicatos de Produtores Rurais do Estado. Com programas, pesquisas e capacitações, as entidades apoiam mais de 500 mil produtores rurais, melhorando a qualidade de vida no campo e desenvolvendo o agronegócio, o que garante alimentos de qualidade na sua mesa.

A UNIÃO E A FORÇA DO CAMPO


GENTE ECOLÓGICA

FOTO: GUILHERME BERGAMINI / ALMG

FOTO: REPRODUÇÃO

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“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me bajulam, porque me corrompem.”

FOTO: REPRODUÇÃO

SANTO AGOSTINHO (354-430)

“Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito.” “O líder, como o pastor, não vai à frente. Vai atrás.”

FERNANDO BRANT (1946-2015), músico e compositor

FOTO: MARGARET THATCHER FOUNDATION

FOTO: ERASMO SALOMÃO

ALEX ROVIRA, escritor espanhol

“O sacrifício ambiental como condição para se alcançar desenvolvimento é um atentado à dignidade de toda pessoa.” DOM WALMOR OLIVEIRA, arcebispo da capital mineira

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“Essa turma invadiu a área de uma forma oportunista e absurda, prejudicando 13 mil famílias que estavam já na fila. Trouxeram metade dessas pessoas de fora de BH, colocando-as em condições de vida degradantes, destruindo florestas, aterrando córregos. ” MARCIO LACERDA, prefeito de BH, sobre as invasões e ocupações ilegais na capital


FOTO: REPRODUÇÃO

WANGARI MAATHAI (1940-2011), ecologista queniana

“Evitar o primeiro gole, a primeira dose, e ter fé. Aceitar os meus limites e o que não posso modificar. Xô, autopiedade! Se eu aprender a gostar de mim mesmo, poderei gostar de outras pessoas e não terei mais os problemas que tenho.”

FOTO: JOSÉ GOULÃO

RENATO RUSSO(1960-1996), cantor e líder da Legião Urbana, em seu diário numa clínica de reabilitação

“Que as energias dos elementos da natureza estejam positivas e nos libertando do que não é divino.”

FOTO: SARAH TORRES / ALMG

FERNANDO PIMENTEL O governador de Minas assegurou o cumprimento da legislação com a necessidade de desburocratizar e acelerar o processo de licenciamento, ao declarar: “Nós não vamos abrir mão de nenhuma das leis e da proteção ambiental”.

MÁRIO CAMPOS A Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), presidida por ele, foi a vencedora da Categoria “Responsabilidade Ambiental 2015”, no 9º Prêmio da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), entregue recentemente em São Paulo. O trabalho vencedor foi “Produção ecológica da cana-de-açúcar sem queima contribui para o Meio Ambiente e a Biodiversidade”, tema que a Ecológico também retratou em sua edição 72.

FOTO: DIVULGAÇÃO / SIAMIG

FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR

“É o povo que tem de salvar o meio ambiente. É o povo que tem de obrigar seus líderes a mudarem.”

CRESCENDO

“Ao contrário da voz do povo ser a voz de Deus, as vozes da internet são propagação. Criaram uma própria natureza, estranha a nós, humanos. Ninguém mais se respeita, ninguém se lê nem vê o outro.” AFONSO BORGES, produtor cultural, criador do "Projeto Sempre um Papo"

LI KEQIANG O primeiroministro chinês anunciou que o país irá reduzir, até 2030, as emissões de gás carbônico por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) entre 60% e 65% em relação aos níveis de 2005. E aumentar a reserva florestal da China, maior poluidor do mundo, em 4,5 bilhões de metros cúbicos em relação aos índices do mesmo período.

FOTO: MARCELO CAMARGO / ABR

FOTO: WASHINGTON ALVES / LIGHT PRESS

VANESSA DA MATA, cantora e compositora

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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

O “Os animais não são nossos para maltratá-los! Use sua voz para os animais!” @pamfoundation Pamela Anderson, atriz

FOTO: TOGLENN

momento em congressos deixou de ser ‘pen drive’ para ser carregador de celular solar. Será que se tornará popular também?” @suzanakahn – Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática

O “Com passos pequenos, energia solar

MAIS ACESSADA

O “A conservação

e o respeito ao meio ambiente são muito importantes para as próximas gerações e merecem reconhecimento.” @geraldoalckmin – Geraldo Alckmin, governador de São Paulo

A matéria “O esquecimento de nós mesmos”, que fala sobre o Alzheimer, foi a mais clicada no site e também a mais curtida no Facebook durante o mês de junho. O texto não só conta a história do filme “Para Sempre Alice”, que retrata o tema, como também aborda a vida de mulheres reais, que lutam pela saúde de parentes e amigos que também sofrem com a doença. Quer saber mais? Acesse: www.goo.gl/eNGbGO

FOTO: DIVULGAÇÃO

famílias de classe média podem instalar energia solar por um terço do valor de um carro popular. Em seis anos o sistema se paga!” @SoniaBridi - Sônia Bridi, jornalista

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

cresce à margem de incentivos oficiais.” @rbaitelo - Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace O “A maioria das

ECOLÓGICO NO INSTAGRAM Quem não curte apreciar uma bela imagem? Ou saber o que se passa no dia a dia de uma revista? Pois se você faz parte desse grupo, acesse nossa página na rede social que mais faz sucesso com fotografias. Acesse: www. instagram.com/revistaecologico

JULIANNE MOORE, em “Para Sempre Alice”: recado expandido 16 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

FOTO: DIVULGAÇÃO

O “Percebo que o brinde do

PROJETOS SUSTENTÁVEIS O Google acaba de fundar uma nova companhia - a Sidewalk Labs -, startup que tem como objetivo fomentar novas tecnologias em mobilidade, eficiência energética, diminuição da poluição, entre outras iniciativas que melhorem a vida urbana. O anúncio foi realizado pelo diretor-executivo e cofundador do gigante da internet, Larry Page, em uma postagem da rede social Google Plus. Para os curiosos que já querem entender melhor a proposta da empresa - que também fará parcerias com empreendimentos sustentáveis - só existe uma página com algumas informações. Confira em www.sidewalkinc.com

FOTO: JOJO WHILDEN / SONY PICTURES CLASSICS

O “As crianças compreendem instintivamente a importância do meio ambiente e o impacto dele sobre os animais e a saúde.” @POTUS - Barack Obama, presidente dos EUA

FOTO: PETE SOUZA / WIKIPEDIA

TWITTANDO

FOTO: DIVULGAÇÃO

ECO LINKS


FIEMG.COM.BR


SOU ECOLÓGICO

ROBERTO SIMÕES: “Somos os maiores interessados”

FOTOS: GUALTER NAVES

KINROSS CERTIFICADA No início de julho, a Kinross foi contemplada com o “Selo de Sustentabilidade” na 13ª edição do “Programa Benchmarking Brasil”, que reconhece as empresas com as melhores práticas socioambientais e de respeito à natureza. A certificação se deu na categoria “Manejo e Reflorestamento”, com o “Projeto Curvas de Nível Verdes para Recuperação de Áreas Degradadas”. Aproximadamente 12 hectares de área interna da empresa estão em recuperação, por meio da aplicação dessa metodologia criada pela sua equipe de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Ano passado, a Kinross foi finalista no “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”, com um trabalho impressionante de recuperação de veredas na região de Paracatu (MG), onde também atua.

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O RECADO DE SIMÕES Emblemática e bem-vinda a fala recente de Roberto Simões, à frente do Sistema Faemg. Foi durante o "2º Seminário Ambiental Solo e Água: Manejo e Conservação", realizado em BH pela entidade, a conferir: “Cada vez mais, estamos buscando assumir uma posição mais proativa, nos posicionando como protagonistas nos temas relativos à conservação do meio ambiente. Há décadas desenvolvemos diversas ações nesse sentido, algumas pelos sindicatos rurais, outras através de eventos e treinamentos oferecidos pelo Senar Minas. Pretendemos, cada vez mais, fortalecer e coordenar essas ações. Nós, produtores rurais, somos quem convivemos com as questões de solo e água em nosso dia a dia. Somos os maiores interessados em sua preservação”. Faz sentido.

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: RAFAEL MOTA

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ALEXANDRE SIQUEIRA e Gabriel Vargas, engenheiros ambientais da Kinross, na noite de premiação em SP

PREMIADO E IGNORADO O fotógrafo Gualter Naves foi o vencedor da categoria “Yellow”, do Concurso Mundial de Fotografia da revista francesa PHOTO, com uma das imagens da série “Brasil Futebol Clube”. A foto (à esquerda) foi clicada no Aglomerado da Serra, na capital mineira, quando jovens moradores da comunidade jogavam bola em um fim de tarde ensolarado. O pedido das imagens foi feito pela Agência Reuters para um especial sobre a Copa do Mundo, realizada ano passado no Brasil. A revista PHOTO é referência em fotografia desde 1957. Em tempo: Gualter também ganhou o primeiro lugar geral com uma foto (à direita) do carnaval de 2013 da capital mineira, em um concurso promovido pela Belotur. E até hoje não conseguiu receber o prêmio em dinheiro. Muito menos o desejo declarado do prefeito Marcio Lacerda de urbanizar o tal campinho da comunidade que faz divisa com o Parque das Mangabeiras virou realidade. A Sudecap não informou sobre a existência do projeto.


Acesse o blog do Hiram:

FOTO: JANAINA DE SIMONE

hiramfirmino.blogspot.com

FOTO: DIVULGAÇÃO

ECOLÓGICO COMPARTILHADA Além da Fundação Dom Cabral, que está distribuindo exemplares da Ecológico em todos os seus campi em Minas, Rio e São Paulo, mais cinco outros parceiros nossos estarão distribuindo gratuitamente a mais jornalística publicação brasileira sobre sustentabilidade. São eles: as redes hoteleiras Bristol, Mercure, San Diego e Quality, no total de 20 hotéis em BH, onde seus funcionários e hóspedes terão acesso à revista, que ficará disponível nas recepções; e a unidade do Supermercado Verdemar no Jardim Canadá, em Nova Lima. A ação no Verdemar, iniciada mês passado, é um sucesso: em apenas 15 dias, a tiragem inicial de 3.500 revistas se esgotou. Quem quiser pegar seu exemplar, é só se dirigir ao display (foto) localizado na entrada da loja.

CENIBRA EXEMPLAR Fato e tempo raros no meio empresarial florestal, desde 1990 a Cenibra vem apoiando financeiramente o “Projeto Mutum” em sua RPPN Fazenda Macedônia, no Vale do Aço. Trata-se de um trabalho pioneiro de reintrodução de aves silvestres ameaçadas de extinção (foto), realizado via acordo de cooperação técnico-científica com a Sociedade de Pesquisa do Manejo e da Reprodução da Fauna Silvestre (Crax), leia-se Roberto Azeredo. A propósito, ele tornou pública essa gratidão à empresa presidida com mãos verdes por Paulo Brant. Foi na solenidade de entrega do “Prêmio Bom Exemplo 2015”, da TV Globo Minas. Roberto venceu na categoria “Meio Ambiente”. A natureza também agradece.

FOTO: VANDER BRAS / PBH

ADOTE O VERDE A Prefeitura de BH lançou, em junho, o “Selo de Boas Práticas”, iniciativa que busca valorizar os parceiros do programa "Adote o Verde". Na ocasião, também foi celebrada a 140a assinatura do convênio, firmado com a Associação dos Amigos da Rua Goitacazes. A entidade se comprometeu a cuidar de 18 canteiros entre as ruas da Bahia e Espírito Santo, incluindo o primeiro parklet (foto) - espécie de varanda urbana que substitui estacionamentos por espaços verdes - da capital. O "Adote o Verde", que tem como objetivo estimular pessoas e empresas a cuidarem de áreas verdes públicas, está se destacando. Na Região Centro-Sul, conta com 125 parceiros, que cuidam de 62 praças, 31 canteiros centrais de avenida e 47 jardins públicos. JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 19


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“NÃO SOMOS DEUSES” Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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onvidado de honra, ele fez o encerramento da “Semana de Produção e Consumo Sustentável 2015”, promovida em junho pela Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), em Belo Horizonte. O tema escolhido foi “Desenvolvimento Sustentável e a Economia Brasileira”. Professor do Departamento de Economia da PUC Rio, Sérgio Besserman Vianna também é observador de pássaros e, desde 1992, estuda as consequências sociais e econômicas da mudança climática global. Conselheiro de entidades como WWF-Brasil e Conservation International (CI), é ainda titular da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana, vinculada à Prefeitura do Rio de Janeiro. Em quase duras horas de conversa – que a Ecológico acompanhou e transformou em entrevista – ele destilou conhecimento e a sua fina ironia. Com sotaque carioquíssimo, fez previsões ácidas sobre o futuro do planeta. Mas alertou que há saída. “O Brasil tem tudo nas mãos para se beneficiar da irrevogável transição da era baseada nos combustíveis fósseis para uma economia de baixo carbono.” Confira:

FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JUNIOR

Qual é, em sua visão, o conceito de desenvolvimento sustentável? Não sei. E nem ninguém sabe. É um processo em construção. Teóricos, professores e todos nós estamos trabalhando bastante para entender esse processo histórico. Mas só vamos dizer o que é desenvolvimento sustentável depois, não agora. Por enquanto, podemos e devemos focar na pergunta. O psicanalista André Green (1927-2012) tem uma frase maravilhosa: “A resposta é a infelicidade da pergunta”. Quer dizer que a resposta não é importante? Tanto na história quanto nas nossas vidas, quando chegamos à resposta o assunto já está resolvido. A pergunta é diferente. Ela incomoda, instiga, gera ansiedade. A questão hoje é: temos a bênção e a

BESSERMAN: “Estamos no topo da cadeia alimentar. Se 60% ou mais das espécies se extinguirem, nós desapareceremos”

maldição de não estarmos vivendo um período qualquer da história da civilização. Um período que começou lá atrás e terminará com as escolhas que fizermos em pouco tempo. Temos uma janela de oportunidade muito estreita para agir. Duas ou três décadas no máximo. Mas, por favor, não me sigam... Por quê? Primeiro porque não sei o que é desenvolvimento sustentável. Segundo porque sou economista. Meu irmão Bussunda (humorista do Casseta & Planeta que morreu em 2006) brincava que todo economista brasileiro, sem exceção, é careca... (risos). De tanto passar a mão na cabeça e dizer todo santo dia: “Ai meu Deus, errei de novo!” Mas também não sigam o Painel Intergovernamental de Mudanças


SÉRGIO BESSERMAN VIANNA Economista, observador de pássaros e estudioso das mudanças climáticas

Estamos diante de uma agenda da qual não dominamos o cronograma. É isso? Sim. Nunca vivemos isso antes e a escolha é inevitável. Se agirmos ao longo dessa janela de oportunidade haverá mudanças. Se não agirmos, as consequências serão ainda mais dramáticas. Comparo o atual momento a uma revolução de grande porte, como o Renascimento e o Iluminismo. Algo que faz toda a história do século 20 parecer pequena. E olha que aquele século não foi nenhuma brincadeira! Tivemos a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Soviética, a grande recessão de 1929 e a queda do Muro de Berlim, só para citar alguns acontecimentos marcantes. Tudo isso fica pequenininho em relação às escolhas que temos pela frente. Qual é a crise ecológica global de que estamos tratando? Espero bagunçar bastante a cabeça das pessoas (risos). Dou palestras em escolas públicas quase toda semana e sempre faço uma brincadeira. Pergunto quem acha que estamos estragando a natureza e que, portanto, devemos assumir nossas responsabilidades e salvar o planeta. Geralmente, toda a garotada levanta a mão e diz: “Eeeeu!”. Então, respondo que isso é bobagem. Por que diz isso? O movimento ambientalista sempre colocou a questão da proteção da natureza como um valor. Para mim ela é. Sou observador de pássaros, integro o conselho do WWF e de outras entidades. Dediquei tempo e recursos da minha vida a isso. Então, esse é um valor que eu tenho; mas outros podem não

FOTO: AFP PHOTO / TONY KARUMBA

Climáticas da ONU (IPCC) nem o presidente Obama. A situação é grave demais para nos darmos ao luxo de seguir alguém.

“Hoje, já temos mais de 250 milhões de refugiados ambientais no planeta. Se chegarmos aos cinco graus, será o caos, com guerras e conflitos.” tê-lo. Posso querer salvar o micoleão-dourado, mas o fato é que 99% das espécies do planeta algum dia vão se extinguir. De onde vem, então, essa ilusão de que somos poderosos o suficiente tanto para destruir quanto para salvar a natureza e o planeta? Isso acontece porque a humanidade ainda está na infância, tem certa onipotência narcísica. Confundimos as coisas. Somos a imagem e semelhança de Deus, mas, definitivamente, não somos deuses. A humanidade não tem a menor capacidade de fazer mal à natureza, se considerarmos a escala de tempo do planeta...

O tempo da natureza é diferente do nosso... É dramaticamente diferente. Vivemos em média até 80 anos de idade e as primeiras civilizações têm entre seis e sete mil anos. A vida na Terra surgiu há 3,6 bilhões de anos! Na maioria do tempo, houve o domínio das bactérias, mas a vida pluricelular, essa maravilhosa biodiversidade que amamos, tem 656 milhões de anos. Se pegarmos só a vida pluricelular e plotarmos num relógio de 24 horas, veremos que nós, humanos, chegamos aqui nos últimos segundos. O planeta já passou então por situações mais destrutivas para a vida do que qualquer impacto que

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FOTO: SANAKAN FIRMINO

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“Em Minas, a pecuária extensiva vai morrer. E não será em razão do desmatamento nem da falta d’água. Mas se tornará inviável quando o custo das suas emissões de GEE for agregado ao preço da carne.” a humanidade possa causar? Foram situações mais destrutivas do que qualquer coisa que possamos sonhar em fazer – não hoje, mas daqui a 300, 500 anos. Só extinções foram trinta e tantas. Cinco delas gigantescas. Se qualquer um de nós estivesse lá, num desses episódios, a chance de sobrevivência seria zero. Não se trata de destruir ou de salvar o planeta. Estamos discutindo é a destruição da natureza do nosso tempo. Dependemos de elementos que ela nos oferece, como clima, biodiversidade e solos. Estamos destruindo a capacidade de o planeta, no nosso tempo de vida, continuar a nos fornecer esses bens. Então não estamos fazendo uma análise de risco adequada. Até 2050, segundo pesquisas, 30% das espécies conhecidas estarão extintas... Estamos no topo da cadeia alimentar. Se 60% ou mais das espécies se extinguirem, nós desapareceremos. E mais: pode parecer que essa extinção representará apenas uma perda de riquezas – pois, ao extinguir reservatórios genômicos que nem estudamos, perderemos a chan-

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ce de descobrir coisas extraordinárias, como uma molécula que curasse o câncer de mama ou de próstata, por exemplo. Mas, no fundo, essa destruição da vida é muito mais séria. Pode levar ao colapso do sistema ecológico global que nos sustenta. Como agir diante dessas constatações? Em um de seus ensaios, o paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941- 2002), que considero o maior divulgador da ciência do século 20, recorre a Freud. Ele explica que, segundo o psicanalista francês, a humanidade só cresce quando cai do pedestal. Ou seja, quando é atingida na sua ferida narcísica, quando cortam o seu salto alto. E que isso aconteceu com Galileu Galilei, com Charles Darwin e com ele próprio, Freud. Na sequência, Gould completa: está na hora de a humanidade cair do pedestal de novo com a descoberta do tempo longo. E qual é a mensagem de agora? São os exemplos concretos. Os eventos climáticos extremos que já estão ocorrendo e vão se tornar

ainda mais intensos nos próximos anos. Os relatos dos povos ao redor do mundo também mobilizam e mudam a opinião pública. Trabalho com mudanças climáticas, acompanho resultados de pesquisas, previsões, modelos, etc. Fiquei impressionado depois de visitar a Restinga da Marambaia, na Baía de Sepetiba, no Rio. Lá, há um quilombo dentro da área da Marinha. Conversei com um pescador, de 92 anos, que me disse: “Vivo aqui desde que nasci e nunca tinha visto a transposição da restinga. Nos últimos anos, isso aconteceu quatro vezes.” Transposição é a subida do nível do mar... Os estudos do Instituto de Estocolmo, de 2009, são parte desse alerta da ciência... Eles são a imagem mais atual. Os pesquisadores criaram a expressão “limites do planeta”, ou seja, a capacidade da Terra, frente à degradação que estamos causando, se recuperar e continuar nos entregando serviços ambientais indispensáveis à produção, ao consumo e à sobrevivência humana. E nós já ultrapassamos três dos 12 limites citados.


SÉRGIO BESSERMAN VIANNA Economista, observador de pássaros e estudioso das mudanças climáticas

Quais são eles? A extinção da vida, as mudanças climáticas e a crise no ciclo do nitrogênio. Desses três, o terceiro é tão recente que nem foi discutido na Rio+20. Não está ainda na pauta das empresas. Embora ele mude completamente o processo produtivo e o ambiente de negócios numa área estratégica para o Brasil: o agrobusiness. Como esse segmento será afetado? A “revolução verde”, baseada nos fosfatos nitrogenados, nos permitiu alimentar sete bilhões de pessoas. Mas o uso excessivo de nitrogênio e fósforo nas lavouras – que são carreados pelos cursos d’água e pela lixiviação até os oceanos – terá que acabar. Já sabemos que eles são os criadores das chamadas zonas mortas. Gigantescos desertos nos oceanos, desprovidos de vida e muito maiores do que os desertos terrestres. Significa, então... Que teremos de produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas, até 2050, com muita ciência/tecnologia. Não a que temos hoje, mas outra. Possivelmente, vamos precisar de algum tipo de engenharia genética, mas o principal será prestar mais atenção em Darwin, e às práticas de conservação que conhecemos há anos, como o plantio direto. Daqui um tempo, todos vão ouvir falar muito de microbiota (a flora e a fauna microscópicas de uma região). E em relação ao limite que trata da extinção da vida?

A velocidade com que estamos extinguindo as espécies é a mesma com que elas se extinguiram nas chamadas grandes extinções. Até 2050, segundo previsões, teremos extinguido 30% delas. Acontece que não sabemos nada sobre a vida no planeta. Nem quantas espécies existem ao certo, quem dirá entender como elas se interrelacionam. O paleontólogo norte-americano Peter Ward compara essa situação a um castelo de

cartas de baralho. Vamos tirar 30% delas e não temos a mínima ideia do que irá acontecer. Isso, do ponto de vista do princípio da precaução, é inadmissível. No que se refere às mudanças climáticas a situação não é diferente... Também já transpusemos o limite do bom senso, com a crescente concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Se a Terra for comparada a uma maçã, a atmosfera equivale à sua casca.

O problema é que estamos engrossando essa casca. Antes da Revolução Industrial, a concentração de gases era de 280 ppm (partes por milhão). Agora, já atingimos a casa dos 400 ppm. Esquentamos o planeta em 0,8 grau célsius e aumentamos o chamado “forçamento radioativo”, que nada mais é do que calor. É como se tivéssemos acendido uma lampadinha daqueles piscas-piscas de árvore de natal em cada metro quadrado do planeta. Aqui nesta sala, em Minas, no Brasil, em toda a parte. E ainda vamos acender muitas outras... Um aumento da temperatura do planeta em dois graus célsius já é um cenário mais do que certo então? E a mensagem é clara. Um aumento superior a dois graus ultrapassa o limite de perigo e é muito ruim. Quando digo ruim estou falando de grana. Do que precisará ser investido nas cidades em termos de adaptação às mudanças climáticas. Em especial obras para conter a elevação do nível do mar. Meu trabalho atual é com as cidades. Algumas delas já estão fazendo as contas. Já sabemos que vamos gastar uma quantidade infernal de dinheiro para enfrentar o que vem por aí. Quer um exemplo? Sim, qual? Em 2012, com o furacão Sandy, só para reparar prejuízos no metrô, Nova York gastou mais dinheiro do que tudo o que Rio de Janeiro está investindo em obras de mobilidade para os Jogos Olímpicos. A água

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entrou pelas estações e todos os equipamentos foram perdidos. Podemos afirmar que o Sandy foi fruto das mudanças climáticas? De jeito nenhum. Nenhuma pessoa séria jamais garantirá isso sobre um evento climático tão singular. Mas temos pistas importantes. Primeiro: se o mar já não tivesse subido 20 centímetros, por causa do aquecimento global, o estrago do Sandy teria sido menor. Segundo: se o planeta não tivesse esquentado 0,8 grau célsius, a força do Sandy também teria sido menos intensa. Terceiro: a adaptação a esses fenômenos climáticos extremos está no coração estratégico do planejamento de Nova York. De que forma ele vem sendo feito? Lá, os modelos já conseguem prever impactos sobre territórios cada vez menores. Aqui no Brasil o modelo de previsão climática é menos preciso, lê áreas muitos grandes ainda. Considera regiões inteiras, como a Sudeste, por exemplo. Precisamos de dados mais exatos sobre o que vai acontecer nas cidades, numa determinada área agrícola, por exemplo. No caso do Brasil, de onde virá o dinheiro para essas ações? É o mesmo dinheiro que iria para a saúde e a educação. As nossas cidades estão preparadas? Dá para enfrentar, mas é preciso planejar. Integro o C-40 (grupo que reúne algumas das maiores cidades do mundo para estudar e compartilhar soluções de combate ao aquecimento global) e recebo contatos de várias empresas oferecendo soluções de engenharia para controle da elevação

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"Estamos esquentando o planeta e teremos que pagar por isso. A saída será embutir nos produtos o custo da emissão de carbono" do nível do mar. Já sabemos que vai chover mais vezes no Rio, com mais intensidade e que e o nível do mar continuará subindo. Todo dia ele sobe uma fração minúscula. Então, vamos ter problemas. O que a prefeitura está fazendo? Já mapeamos as áreas sujeitas a alagamento. Falta a grana. Em Jacarepaguá, a baixada toda vai virar uma Holanda. Será difícil, mas não impossível agir. Teremos que construir canais e usar energia elétrica 24 horas por dia, com bombas para jogar a água para fora. Na Holanda eles fazem isso. Vamos ter que fazer aqui também. Mas, às vezes, a solução exige apenas visão estratégica. Está se referindo ao Rio ou a Nova York? A Nova York. Lá, a questão do metrô foi resolvida com a construção de cinco degraus de escada e rampas para cadeirantes. Não foi uma solução custosa. Por isso, é um “crime” as cidades brasileiras não estarem estudando o que vai acontecer em seus territórios com a mudança do clima. E a situação tende a se agravar... Pois é. No último relatório do IPCC, os cientistas indicaram que, para nos mantermos no cenário estabelecido em Copenhague, em 2009, de aumento da temperatura global de dois graus célsius, poderíamos emitir mil gigatoneladas

de CO2 equivalente, entre 1880 e 2100. Já emitimos 770. Se mantivermos o atual patamar de emissões, em 27 anos esse “orçamento” terá acabado. Se não fizermos nada, e a temperatura chegar a cinco ou seis graus, nossa civilização não acabará. Mas viveremos um pesadelo. Sem contar o risco de colapso civilizacional. Como assim? Hoje, já temos mais de 250 milhões de refugiados ambientais no planeta. Se chegarmos aos cinco graus, será o caos, com guerras e conflitos. Sem contar o risco de ruptura com o passado. A turma lá do futuro vai olhar para trás e dizer: “Que nojo de vocês. Vocês sabiam de tudo e deixaram acontecer”. E para o business brasileiro, qual é o desafio? Migrar o mais rapidamente possível da civilização dos combustíveis fósseis para a economia de baixo carbono. Estamos esquentando o planeta e teremos que pagar por isso. A saída será embutir nos produtos o custo da emissão de carbono, sinalizando os preços para o mercado e as empresas. Os empresários serão chamados a colocar em prática toda a sua criatividade de economia de mercado e teremos de fazer a mais acelerada revolução tecnológica da história. Mas isso também envolve ação política... Com certeza. O ideal seria fazer uma taxação global, emitindo o mesmo sinal de preços para todo mundo. Mas não será assim. Não há governança global para isso. Acredito que será algo assimétrico, burro e burocrático. E de início também sem nenhum compromisso real. Na Conferên-


SÉRGIO BESSERMAN VIANNA Economista, observador de pássaros e estudioso das mudanças climáticas

cia do Clima de Paris, agora em dezembro, por exemplo, os países vão apresentar suas propostas de redução de emissões de GEE, mas se não cumprirem nada acontecerá. No entanto, a roda da economia continuará girando... E vai definir as empresas que sobreviverão... Quem continuar produzindo e “esquentando” o planeta será sobretaxado. Você acha que os chineses estão investindo em energia limpa – solar e eólica– porque são bonzinhos e querem combater a poluição que chega a paralisar algumas cidades? Nada disso. Eles sabem perfeitamente que vão se dar mal se não avançarem. A precificação que vem por aí é grande. Vai “cair uma bomba atômica” sobre os preços relativos. Qualquer

investimento feito hoje calculando uma taxa de retorno para o futuro é pura ficção. Como isso vai afetar a economia das cidades, os estados? Em Minas, a pecuária extensiva vai morrer. E não será em razão do desmatamento que ela provoca, da quantidade de água que demanda ou porque tem gente preocupada com a vida dos bois. Simplesmente porque se tornará inviável quando o custo das suas emissões de GEE for agregado ao preço da carne. Hoje, uma tonelada de carne de pecuária extensiva é 36 vezes mais intensiva em carbono do que a do boi confinado. Para finalizar: há alguma boa notícia? Esperança de luz no fim do túnel?

O Brasil é um dos únicos países que tem tudo para se tornar mais competitivo nessa transição para a economia de baixo carbono. Para começar, a nossa matriz energética é limpa. E temos uma oportunidade única – mesmo que não existisse nada de mudanças climáticas – de transformar toda a nossa infraestrutura na direção da eficiência. Hoje, ela é péssima e impacta o Custo Brasil. Somos um país continental que transporta cargas em caminhão a diesel... Precisamos de visão de futuro, planejamento estratégico, capacidade de governança e de gestão para converter nossas vantagens comparativas em competitivas. Toda transição envolve ameaça e oportunidade. Para o Brasil, há um claro cenário de oportunidade. O

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1 PREMIAÇÃO

FOTO: NICIAK

O TEMA da premiação este ano é inspirada no programa da Itaipu Binacional, eleita como o melhor exemplo mundial de gestão hídrica pela ONU

PELAS ÁGUAS DO

PLANETA Sexta edição nacional do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” é lançada durante evento oficial, do Governo de Minas, com apoio do Consulado da França, país referência mundial em gestão de recursos hídricos Andréa Zenóbio e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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esperança e a união de esforços por um planeta melhor deram o tom ao lançamento do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, na típica manhã de outono, com céu azul e sol forte, do dia 10 de junho último. A cerimônia, no auditório do Banco de Desenvolvimento 26 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

de Minas Gerais (BDMG), em BH, integrou as atividades de encerramento da “Semana Mundial do Meio Ambiente 2015”, promovida pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Iniciativa da Revista Ecológico, a hoje maior premiação ambiental do país tem como

objetivo reconhecer os melhores exemplos de gestão, recuperação, preservação e sustentabilidade dos recursos naturais, bem como as empresas e os empresários que mais se destacam em sustentabilidade. O tema deste ano – “Da Caixa D’Água do Brasil à Terra das Cataratas, pelas Águas do Plane-


FOTO: SANAKAN FIRMINO

LANÇAMENTO PARCEIRO: Licínio Xavier (AMM); Rogério Sobreira (BDMG); Brice Roquefeuil, cônsul-geral da França; a conselheira Patrícia Boson e Hiram Firmino (Revista Ecológico); Sávio Souza Cruz (Semad); Adalclever Lopes (ALMG); Celso Castilho (Florestas Rio Doce); e Diogo Melo Franco (Feam)

com o risco de falta d’água, em especial no Sudeste. Conquistas e exemplos que o “VI Prêmio Hugo Werneck” quer incentivar em todos os estados brasileiros. PIONEIRISMO MINEIRO Na presença do secretário estadual de Meio Ambiente, Sávio Souza Cruz; do presidente da Feam, Diogo Melo Franco; do presidente da Assembleia Legislativa de MG, deputado Adalclever Lopes (PMDB); do cônsul-geral da França, Brice Roquefeuil; do coordenador do Departamento de Meio Ambiente da Associação Mineira de Municípios (AMM) Licínio Xavier; e do diretor Financeiro e de Crédito do FOTO: ARQUIVO PESSOAL

ta” – incentiva sobremaneira a reflexão sobre a importância da conservação dos nossos cursos d’água, em contraponto à atual crise hídrica que se alastra além de Minas e São Paulo. E está alinhado também com as ações do Governo de Minas, que iniciou, recentemente, por meio da Copasa, em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a implantação do “Programa Cultivando Água Boa”, em parceria com a Itaipu Binacional. Destinado à recuperação ambiental de rios e nascentes, esse programa foi o grande vencedor, em março, da quinta edição do “Prêmio Água para a Vida”, concedido pela ONU. Ele concorreu com mais de 40 projetos, de todos os continentes, na categoria “Melhores Práticas em Gestão da Água”. Graças às medidas adotadas com o “Cultivando Água Boa”, 42 municípios da região Oeste do Paraná já aumentaram a quantidade e a qualidade da sua oferta hídrica. Uma conquista valiosa nesses tempos em que prevalecem a escassez e a preocupação

WERNECK: Chico Mendes amoroso

BDMG, Rogério Sobreira; o diretor-presidente da Revista Ecológico, Hiram Firmino, explicou que a ideia é nacionalizar de vez a premiação, mostrando boas práticas de gestão e de cuidado ambiental não apenas em Minas, mas em todo o país. Ele destacou o pioneirismo mineiro na questão ambiental. Lembrou que o estado foi o primeiro a criar a Comissão de Política Ambiental, embrião do atual Conselho de Política Ambiental (Copam). E serviu, assim, de modelo para o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), instituído em 1981. “A dicotomia de Minas, de ter nas montanhas tanto a sua maior beleza quanto sua principal riqueza a ser explorada economicamente, sempre motivou grandes debates nacionais e mundiais para que o desenvolvimento se dê de forma verdadeiramente responsável e sustentável”, frisou. NOVA MENTALIDADE Para Firmino, Minas também merece destaque por evoluir da revolucionária “Lista Suja”, di-

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CATADOR DÁ LIÇÃO O encontro reuniu autoridades municipais, estaduais e de outros países. Mas motivou também a presença, na plateia, de quem aposta na sustentabilidade como forma de sobrevivência. Mário Conceição Felisberto, de 42 anos, morador do bairro Nova Contagem, deixou o trabalho para assistir aos debates no BDMG. Há cinco anos, ele é catador de materiais recicláveis na cidade vizinha à capital. Autônomo, sobrevive da venda do que recolhe nas ruas e conta com a ajuda da esposa, funcionária terceirizada da prefeitura de Contagem, para sustentar os quatro filhos. Mário é um exemplo concreto da filosofia e do alcance pretendidos pelo “Prêmio Hugo Werneck”, que – ao divulgar atitudes positivas de conservação – contribui para a formação de novos agentes ambientais. Consciente da importância de sua função, o catador diz que não existe sustentabilidade sem a valorização da reciclagem. “Ela é uma das bases

DURANTE O EVENTO, a Cemig também distribuiu a declaração de BH, que culminou na criação do Fórum Permanente para o Desenvolvimento de Energias Renováveis no Brasil

da proteção dos nossos recursos naturais. Infelizmente, a sociedade ainda vê o catador como um mero separador de lixo. Não sabe diferenciar o que é lixo de resíduos que têm valor e, portanto, podem e devem ser reciclados.” Articulado, Mário ainda ensinou: “A conscientização tem que partir da raiz, ou seja, das residências, onde a maioria dos resíduos é gerada. Se a população fizer a sua parte, separando corretamente cada material, já teremos um avanço e tanto”. ACORDO AUDACIOSO A necessidade de unir esforços em prol da redução das emissões globais de gases de efeito estufa FOTO: ARQUIVO PESSOAL

vulgada pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e temida durante mais de 10 anos – denunciando os nomes dos principais vilões do Meio Ambiente –, para outra relação, a “Lista Limpa”, em que se transformou o “Prêmio Hugo Werneck”, cuja proposta é exatamente o contrário: a de premiar, a cada ano, empresas, instituições e pessoas que, de fato, mais abraçam a causa da sustentabilidade no seu dia a dia. “Dr. Hugo era o nosso Chico Mendes amoroso. Acreditava que, em vez de punir, o caminho é educar e conscientizar as pessoas. Pois ninguém derruba árvores, polui solos e águas por prazer ou maldade; mas sim por falta de informação e educação ambiental.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

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MÁRIO FELISBERTO: exemplo concreto 28 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

também foi mencionada na cerimônia. Atento ao chamado da “21ª Conferência das Partes das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-21)”, que será realizada em dezembro, em Paris, o cônsul-geral da França, Brice Roquefeuil, foi categórico, antes do lançamento do “Prêmio Hugo Werneck 2015”. Explicou que o governo francês está construindo alianças com os diferentes países, na expectativa de se chegar à conferência com uma base de negociações já avançada. Facilitando, assim, a definição de um acordo internacional audacioso, à altura do que a manutenção da vida no planeta requer. “O objetivo é conseguir um acordo equilibrado – já que os países têm diferentes índices de emissões – a fim de evitar um aumento da temperatura global superior a dois graus célsius. Se não agirmos rápida e efetivamente, essa elevação poderá chegar a cinco graus até o fim do século. As contribuições dos municípios e


PARCERIA TRAZ GANHOS FIQUE POR DENTRO Representante do Conselho Regional de Nord-Pas de Calais, localizado no Norte da França, Sandra Fernandes citou os frutos da cooperação entre os governos mineiro e da região francesa, em ações de combate às mudanças climáticas e de recuperação de passivos ambientais, em especial da mineração. Desde os anos 1990, ela explicou, Nord-Pas de Calais tem buscado construir um novo modelo econômico e energético, visando à transição para uma economia de baixo carbono. As iniciativas são inspiradas na chamada “Terceira Revolução Industrial”, liderada pelo economista norte-americano Jeremy Rifkin, tendo as energias limpas como motor do crescimento econômico, ambiental e social. Segundo Sandra, após o fechamento das minas de carvão, o governo local tem investido na reconversão de solos e no tratamento de águas poluídas. “Essa troca de experiências é muito válida, pois nos traz, além de novos aprendizados, a certeza de que teremos muitos ganhos importantes tanto para a França quanto para Minas.”

da sociedade civil são essenciais. Assim como o financiamento de projetos para a redução das emissões”, ponderou. DESENVOLVIMENTO INCLUSIVO O diretor Financeiro e de Crédito do BDMG, Rogério Sobreira, ressaltou a parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), lembrando que a filosofia do banco é assegurar o máximo de benefício e de retorno social nos projetos dos quais participa. “Tão importante quanto combater a pobreza é financiar negócios com foco na sustentabilidade. Acreditamos que o desenvolvimento tem de ser sustentável e inclusivo. Diferentemente do crescimento por si só, ele é o elemento essencial, aquele que muda de fato a realidade de uma nação e de uma economia. Sem o meio ambiente não há nada.” Durante o evento, foi apresentado ainda o “Plano Estadual de Controle de Poluição Veicular”, no âmbito da “Política Nacional de Mobilidade Urbana”. Um instrumento que define as ações de gestão e de controle da poluição gerada por veículos automotores,

visando à melhoria da qualidade do ar. A primeira versão do plano, lançada em 2010, foi revisada, favorecendo, entre outras iniciativas, o planejamento adequado da mobilidade urbana em municípios com frota superior a 100 mil veículos. O coordenador do Departamento de Meio Ambiente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Licínio Xavier, ressaltou que mais de oito milhões de pessoas morrem anualmente, em todo o mundo, por causa da poluição do ar. “Essa iniciativa da Feam é essencial. E o nosso compromisso é fazer chegar aos associados as diretrizes e metas previstas no plano. Aqui está sendo dado o tiro de meta.” COMPROMISSO COLETIVO Encerrando o evento, o presidente da Feam, Diogo Melo Franco, também deu o seu recado. Reafirmou que o papel da fundação é manter uma base técnica sólida para que as tomadas de decisões do governo estadual possam envolver e beneficiar cada vez mais o cidadão. Ele convidou a plateia a fazer uma reflexão sobre o senti-

Lembrança Drummondiana Este ano, o grande homenageado e a inspiração artística da maior premiação ambiental do Brasil será a obra poética de Carlos Drummond de Andrade. Nascido em Itabira, no coração férreo de Minas, ele não poupou versos de denúncia ambiental nem de exaltação à natureza que todos deveríamos amar e preservar.

do maior da comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente. “Mais que celebrar, temos de refletir sobre os desafios a serem superados. A proteção do meio ambiente não é uma ação isolada dos governos ou dos órgãos públicos. É um conjunto de iniciativas que se complementam com a participação de todos. Se amadurecermos essa consciência, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, certamente avançaremos.” É essa a proposta que o “Prêmio Hugo Werneck 2015” incentiva e valoriza. As inscrições e/ou indicações já estão abertas e podem ser feitas até o dia 5 de setembro. Participe! O

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1 DENÚNCIA

EMPRESA do Pará superfaturou o número de ipês em 1300% para poder desmatar ilegalmente no bioma amazônico

A FRAUDE DOS IPÊS Greenpeace expõe mais um caso de fraude em plano de manejo da Amazônia para “lavar” origem suja de madeira

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ipê é uma das espécies mais valiosas da Amazônia. Normalmente, é possível encontrar uma árvore de ipê a cada 3-5 hectares (ou 3-5 campos de futebol). No entanto, um plano de manejo do Pará apresentou um inventário florestal em que os ipês nascem aos borbotões, com um volume 1300% maior do que a média encontrada para a espécie! A Agropecuária Santa Efigênia, situada no município de Uruará (PA), superestimou a presença de ipês no inventário florestal da área com o objetivo de gerar cré-

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ditos excedentes para “esquentar” madeira ilegal. Esses créditos podem ser utilizados para legalizar madeira extraída de áreas sem autorização, como terras indígenas e unidades de conservação. Ou podem ser vendidos para as serrarias da região que os utilizam com a mesma finalidade. Nos dois casos, é crime ambiental previsto em lei. Em 2014, uma autorização de exploração florestal (Autef) emitida pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) para a Santa Efigênia aprovou cerca de 12 mil metros cúbicos de ipê, o equivalente a cerca de 600 caminhões

de madeira. De acordo com um parecer técnico da Universidade de São Paulo, que analisou o inventário do plano, o número de indivíduos de ipê encontrados na área licenciada foi de 1,01 árvore por hectare. E, em relação ao volume, o valor foi de 5,75 m³/ha. A literatura científica aponta, no entanto, que a densidade média de indivíduos dessa espécie na Amazônia fica entre 0,2 e 0,4 árvore por hectare. E, em termos de volume por hectare, esse valor dificilmente supera 0,4 m3, índices bem mais baixos do que o inventariado no plano.


FOTO: GREENPEACE - DANIEL BELTRÁ

"O governo brasileiro precisa revisar urgentemente todos os planos de manejo aprovados desde 2006 para tirar de circulação créditos fraudados. Este é o primeiro passo para uma reforma robusta no sistema de controle de madeira.” MARINA LACÔRTE, da Campanha da Amazônia do Greenpeace

“A exploração ilegal de madeira causa grave degradação da floresta e abre caminho para a destruição da biodiversidade e violência contra a população local. As florestas não podem mais ser destruídas se queremos reduzir as mudanças climáticas e garantir água para nosso futuro”, diz Marina Lacôrte, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. COMÉRCIO ILEGAL Desde o ano passado, a campanha tem revelado fraudes como a do plano de manejo Santa Efigênia. Em outubro, uma investigação que contou com a utilização de rastreadores por GPS monitorou rotas de caminhões transportando madeira de áreas sem autorização até as serrarias de cidades do oeste do Pará, como Santarém, Uruará e Placas. Uma dessas serrarias que receberam a

madeira ilegal foi a Comercial de Madeiras Odani Ltda, de Placas, que obteve parte dos créditos justamente do plano de manejo da Agropecuária Santa Efigênia. A denúncia levou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SemasPA) a realizar uma fiscalização no plano de manejo que confirmou as irregularidades na área. Na ocasião, a equipe não apenas concluiu que houve fraude no inventário florestal – especialmente para o ipê – como também recomendou a suspensão do plano e autuou a empresa. A vistoria e as multas não impediram a Agropecuária Santa Efigênia de continuar movimentando os créditos excedentes, o que indica que madeira ilegal “lavada” com esses créditos entrou no mercado nacional e internacional: 99% do volume de ipê autorizado foi comercializado. Essa madeira foi destinada a diversas serrarias localizadas nos municípios de Uruará e Placas, onde o monitoramento por satélite mostra uma enorme quantidade de áreas degradadas no entorno. Inclusive, os alertas de degradação foram detectados na mesma época em que ocorreu a comercialização dos créditos: de junho a dezembro de 2014. A Fazenda Santa Efigênia é cortada por uma estrada que adentra a Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca, do povo Arara. Boa

parte da TI, inclusive os arredores dessa estrada, continua sofrendo inúmeras invasões por parte de madeireiros. Imagens de satélite registram nessas áreas um intenso processo de degradação típico desse tipo de exploração. MERCADO INTERNACIONAL Os principais destinos internacionais da madeira amazônica são Estados Unidos, União Europeia (UE), China e Israel. Em 2013, só os países da UE importaram, em produtos de madeira tropical provenientes da Amazônia brasileira, o equivalente a US$ 148 milhões. A partir das denúncias feitas pelo Greenpeace desde o ano passado, diversas empresas europeias cancelaram contratos de importação com madeireiras brasileiras. “A exploração predatória é o primeiro passo para o desmatamento total dessas áreas. Já passou da hora de dar um basta a essa situação para acabarmos de vez com o desmatamento”, afirma Marina. “O governo brasileiro precisa revisar urgentemente todos os planos de manejo aprovados desde 2006 para tirar de circulação créditos fraudados. Este é o primeiro passo para uma reforma robusta no sistema de controle de madeira.” O

SAIBA MAIS greenpeace.org.br

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 33


1 ICTIOFAUNA

ÁBIO O: F FOT

VIEIR

A

CAMBEVA (Trichomycterus sp.) é uma das sete novas espécies descobertas no estudo

VIDA NAS ÁGUAS

FÉRREAS “Guia de Identificação de Peixes” apresenta detalhes e curiosidades de espécies que povoam os rios da região centro-sul de Minas Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

N

os sete mil quilômetros quadrados que compõem a região do Quadrilátero Ferrífero, no centro-sul de Minas, é pungente não só o minério de ferro, mas também os rios e matas delineadas pelos campos rupestres e sua variada fauna. Entre esses animais, peixes que vivem em cursos d’água da região e que, muitas vezes, sequer tinham denominação científica, o que dificultava planos de conservação e manejo. Preocupados com essa questão, os pesquisadores Fábio Vieira, João Gomes, Bruno Maia e Luiz Silva analisaram, durante três anos, a ictiofauna do Quadrilátero e buscaram descrever, com riqueza de detalhes, as características dos peixes encontrados nessa área. As informações agora estão reunidas no

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livro digital “Peixes do Quadrilátero Ferrífero – Guia de Identificação”. A obra inédita foi lançada em junho, no Memorial Vale, em Belo Horizonte, reunindo representantes do governo estadual, de empresas privadas e instituições não governamentais. Com a coordenação da Fundação Biodiversitas e o patrocínio da Vale, o guia retrata 93 espécies. São divididas por ordem taxonômica e trazem nome popular e científico, regiões de ç , aliorigem, tipo de reprodução, ratégias mentação, status e estratégias de conservação, além de fotografias e ilustrações exs. tremamente detalhadas. “Graças à pesquisa foi possível também descobrir sete novas espécies de peixes”, comemora Fábio Vieira.

Entre as espécies apresentadas estão pacu, canivete, sairú, curimatá, timburé, piau-vermelho e dezenas de outras que vivem em rios como o das Velhas e Paraopebas, além de conglomerações do Rio Doce e um trecho da Bacia do Santo Antônio. Durante o lançamento do livro, o diretor de Operações Ferrosos Sudeste da Vale, Antônio Padovezi, fez questão de frisar o ineditismo e a importância da obra. “Esse guia não pertence mais ç à Vale ou a Fundação Biodiv ve rsitas, mas se torna algo versitas, pertencente ao mundo, fonte de saber para os biólogos, empresas, órFOTO: RE PR

ODUÇÃO

A Acanthobunocephalus sp p pode alcançar até 5,8 centímetros de comprimento


FOTO: REPRODUÇÃO

gãos ambientais, a comunidade de uma forma geral. Esse livro é uma entrega para a sociedade”, declarou.

O GUIA traz dados sobre 93 espécies de peixes do Quadrilátero Ferrífero

mos para que essa publicação seja enviada a todas as escolas, para que a juventude possa conhecer as ações de preservação e manejo dos peixes que vêm sendo desenvolvidas”, salientou.

SAIBA MAIS O livro "Guias de Peixes" está disponível para download no link:

http://migre.me/qHdWl www.biodiversitas.org.br FOTO: DIVULGAÇÃO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Para o professor Angelo Machado, um dos fundadores da Biodiversitas e responsável pelo prefácio, o guia representa um suporte importante para a educação ambiental. “Ele está tão didático e bem ilustrado, que, tenho certeza, as crianças e jovens vão se interessar muito. Quando a gente conhece a natureza, passa a amá-la. E quem ama cuida! Por isso, é essencial que esse livro também seja utilizado pelas escolas.” A ideia também foi reforçada pelo presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra) e diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Fernando Coura (leia mais a seguir). “O Brasil precisa de mais propostas para o desenvolvimento sustentável. Torce-

JOSÉ GUILHERME RAMOS, subsecretário estadual de Políticas Minerais e Energéticas; Fernando Coura, presidente do Sindiextra; Gláucia Moreira Drummond, presidente da Fundação Biodiversitas; Angelo Machado, fundador da Biodiversitas; e Fábio Vieira, um dos autores do livro: parceria ecológica

2

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 35


1 ICTIOFAUNA

Perspectivas educativas “Nós representamos os setores produtivos brasileiros e queremos contribuir. Vivemos uma crise moral de valor, crise hídrica, crise energética. Precisamos de uma geração que retroalimente novos valores, que saiba se respeitar e ser respeitada. Alguém de nós, hoje, sabe apontar alguma iniciativa do movimento político nacional? Alguma proposta para o desenvolvimento verdadeiramente sustentável do Brasil? Até os nossos pesquisadores e autores deste guia de peixes maravilhoso sabem que sustentabilidade se dá com a economia - mas economia consciente. Evidentemente que todos nós demandamos geração de recursos naturais. Só de nascer neste planeta, um ser humano já o impacta e sofre as consequências. E um dia também vai se pontuar como muitos de nós o fazemos: ‘Ah, eu sou é vítima do sistema!’. Não, ninguém é vítima! Nós todos consumimos bens minerais, bens energéticos e o somatório da nossa pegada, infelizmente, continua inferior ao que recuperamos. Mas, se cada um fizer a sua parte, como estamos fazendo aqui, identificando e divulgando a riqueza da nossa ictiofauna, tudo pode mudar. Essa é a condição humana, tanto para o mal quanto para o bem. Tenho muito orgulho de uma empresa como a Vale, que vem dando à sociedade oportunidades positivas de grande impacto na balança comercial brasileira, para que o país possa equilibrar as suas contas públicas. Ela é um exemplo, enfim, para todos nós,

36 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

FOTO: EVANDRO FIUZA

Confira, a seguir, o depoimento de Fernando Coura, que também preside o Ibram e o Conselho da Biodiversitas, durante o evento de lançamento do guia:

“Que este guia bastante didático sobre os nossos peixes possa ser encaminhado a todas as escolas, para que a meninada que vem por aí cresça mais informada, ativa e consciente de que nem tudo está perdido.” veja a quantidade inigualável de biomas que ela representa em Minas, na forma de RPPNs, como a Revista Ecológico mostrou recentemente, em uma série de reportagens pelo nosso Quadrilátero Ferrífero afora. Já a Fundação Biodiversitas também tem uma particularidade notável e esclarecedora da questão ambiental. O que ela produz, e com competência indiscutível, é a opinião técnica. O que é certo e o que é errado, do ponto de vista da natureza. O professor Angelo Machado, por exemplo, gosta de moqueca. Mas, pra ter moqueca, ele também nos ensina que é preciso preservação.

É isso que nos motiva e orgulha! Que este guia bastante didático sobre os nossos peixes possa ser encaminhado a todas as escolas, para que a meninada que vem por aí cresça mais informada, ativa e consciente de que nem tudo está perdido. Pelo contrário. Parabéns à Vale e à Fundação Biodiversitas. A natureza e o desenvolvimento responsável e sustentável que sonhamos juntos também agradecem.” O

EM TEMPO: Acesse o site www.revistaecologico.com.br e leia, na íntegra, outro texto-desabafo de Fernando Coura: “O País do Contrassenso”.


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1

GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

DEUS NÃO JOGA DADOS.

MAS NÓS JOGAMOS!

N

elson, um grande amigo de horas filosofais, me lembra que o mundo é um alvo móvel. Entre muxoxos e desespero, invoco o salvador, não o Salvador - a Este recorrerei em casos terminais-, mas ao advogado, jornalista e pensador Clóvis Barros, admirado comum: - Valha-me Clóvis, salva-me com a ética! Clóvis não responde. Pelo menos não a tempo de impedir que a noite vague entre espirros de uma gripe mal acabada e pensamentos existenciais vagabundeando ideias. Levanto da cama antes do toque calmo que ensinei a meu smartphone. Para a gripe, decidi experimentar uma Jala Neti (técnica de purificação das vias respiratórias) que, improvisada, mostra-se eficaz. Encontrei Jesus com um descongestionar de fossas nasais e de alma. Para o caso do alvo móvel, cedo ao amigo Nelson. É verdade! A tecnologia, a vida moderna se tornou um alvo móvel. É fugir dessa premissa para ser condenado às chagas ardentes do ostracismo. O que uma empresa quer hoje, quer diferente amanhã. Nós, consumidores exigentes e originais, acordamos todos os dias para desejos novos, muitos deles inventados pelos magos das eternas startups, nada que venha de nossas mentes ou espíritos. Sim, o mundo quer mais e é justo que queira. As empresas querem mais e é justo que queiram. Sem a resposta de Clóvis, pelo menos por enquanto, recorro ao José Pacheco, educador português, para revisitar o paradoxo do ensino: alunos que sobrevivem, alunos que se apagam, professores clientes, professores fornecedores. A busca é a mesma. Em tudo, na tecnologia ou na educação, o mundo se transforma com tal rapidez que não sabemos o que os outros querem, o que querem os alunos, os educadores, as escolas, o governo, o cliente que bate à minha porta. Pacheco me ensinou sobre individualidade na escola e o marketing moderno responde com a relação um-a-um no varejo. Se somos únicos, precisamos de respostas únicas. 38 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

Então, chafurdo a alma mal acordada para encontrar o que me incomoda e respondo: - Não se sustenta! Não podemos despertar todas as manhãs para tirar na sorte o que vamos pedir do outro. Temos que avançar, sejamos empresas ou pessoas, para um mundo melhor. E, saiba lá o Criador, mais global, o que quer que isso signifique. Não desafio o mundo a ser previsível, mas desconfio que a natureza tenha lá suas regras. Acho presunção da raça humana querer não fazer parte delas. Não sei se é um discurso ético ou antievolucionista. Reconheço apenas que as relações das empresas com seus fornecedores, de professores com seus alunos, de pais com seus filhos, de guias espirituais com seus rebanhos, tudo isso e vice-versa. E, quanto mais tempo passa, mais essas relações precisam ser honestas. Se perdermos a capacidade de dizer não quando necessário, se continuarmos a brincar uns com os outros na hora de comprar, vender, ensinar, orar, se não formos claros quanto ao fato de estarmos avançando e de querermos que os outros nos atendam nesses avanços, só conseguiremos provar duas coisas: primeiro, que não sabemos para onde vamos e tateamos, cegos de inovação, por um mundo que nem fazemos ideia qual seja. E, segundo, que, estando certo Einstein, Deus pode não jogar dados com a natureza. Mas nós jogamos. O

TECH NOTES O Um pouco de ética com Clóvis Barros

https://goo.gl/Fh7vIh O O que é Jala Neti

http://goo.gl/IyiC6M

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.


O MOVE já melhorou a vida de muita gente. E agora o que vai melhorar é a sua proteção.

MOVE 1 ANO O MOVE de Belo Horizonte está completando 1 ano transportando cerca de meio milhão de passageiros por dia com mais conforto, rapidez e economia. E agora o MOVE vai melhorar também a sua proteção. A Prefeitura está colocando equipes de vigilância 24 horas, sete dias por

semana, em todas as estações do MOVE de BH. Ou seja, mais segurança e tranquilidade para quem usa o transporte na capital. Faça você também a sua parte e cuide do que é de todos nós. Um transporte coletivo com mais conforto, rapidez e segurança. É assim que a gente faz a melhor capital do Brasil.

CONFORTO

RAPIDEZ

ECONOMIA

José Divino da Silva

Danielle Oliveira

Elizabete Maria da Costa

Moradora do Bairro Copacabana

Morador do Bairro Guarani

“O MOVE tem tecnologia de primeiro mundo, ar-condicionado e trafega com rapidez em pista exclusiva.”

“Antes eu demorava quase duas horas pra chegar ao Centro. Hoje em vinte e cinco minutos eu tô lá.”

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Moradora do Bairro Comerciários

“É mais rápido e mais econômico ir trabalhar de MOVE do que de carro.”

A MELHOR CAPITAL DO BRASIL


CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

EXTINÇÃO EM MASSA Uma em cada seis espécies do planeta pode ser extinta se as emissões de carbono continuarem no ritmo atual e as temperaturas subirem quatro graus até 2100. O alerta, feito por estudo publicado na revista científica Science, mostra que os riscos são maiores na América do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

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FOTO: DAVID STEELE

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REDUZINDO EMISSÕES (I)

ENERGIA LIMPA

O Japão irá reduzir em 26% suas emissões de gases de efeito estufa entre 2013 e 2030. Segundo a agência de notícias France-Presse, a meta não é definitiva e ainda será debatida. O primeiro-ministro Shinzo Abe fez o anúncio oficial durante a reunião de cúpula do G7 na Alemanha, mês passado.

Durante este ano, 97,1% da eletricidade consumida na Costa Rica deve vir de fontes limpas devido a condições climáticas favoráveis à geração hídrica, anunciou o Instituto Costarricense de Electricidad (ICE). Um avanço significativo em relação a 2014, quando a energia térmica representou 10,3% do total.

REDUZINDO EMISSÕES (II)

PERIGOSA HONDURAS

Já o governador da Califórnia (EUA), Jerry Brown, emitiu uma ordem executiva com a qual pretende reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 40% (em relação aos níveis de 1990). O alvo é alcançar essa meta para o ano de 2030, especificou Brown em comunicado.

De acordo com o relatório da ONG britânica Global Witness, Honduras foi considerado o país mais perigoso para ativistas ambientais nos últimos cinco anos, com o maior número de mortes per capita. Foram 101 assassinatos entre 2010 e 2014. Cerca de 40% das vítimas eram indígenas.

MARFIM APREENDIDO A Tailândia confiscou mais de três toneladas de marfim procedentes do Quênia. O navio inspecionado, que viajava para o Laos, continha 511 peças avaliadas em US$ 6 milhões. Entre 25 mil e 30 mil elefantes são abatidos anualmente e a taxa de mortalidade já supera a de natalidade do animal.

40 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015


FOTO: ESKINDER DEBEBE - UN

FOTO: AYCATCHER

“QUESTÃO MORAL”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou um plano para levar a zero o nível de contágio do Ebola. Segundo os últimos dados da OMS, 26.300 pessoas foram infectadas pela epidemia, que já matou 10.900 pessoas, principalmente em três países: Guiné, Libéria e Serra Leoa.

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GUERRA AO EBOLA

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, defendeu no Vaticano que o combate à mudança climática é “uma questão moral”. A fala ocorreu pouco depois de Ban se encontrar com o Papa Francisco: “A mudança climática está intrinsecamente vinculada à saúde pública, à segurança da água e dos alimentos, aos movimentos migratórios e à paz e à segurança. É uma questão moral. Uma questão de justiça social, direitos humanos e ética fundamental”.

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COOPERAÇÃO É O CAMINHO Unilever apresenta, em São Paulo, as conquistas alcançadas com o seu “Plano de Sustentabilidade”. Escassez de água, desafios do saneamento e incentivo ao consumo consciente também foram debatidos Luciana Morais* De São Paulo (SP) redacao@revistaecologico.com.br

P

resente em 190 países e com dois bilhões de consumidores diariamente, a Unilever reforça a cada dia o seu compromisso de deixar um legado sustentável para o planeta e a humanidade. Consciente do seu poder de contribuir para a conservação da natureza e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, nas diferentes comunidades em que atua, a empresa segue investindo. Tanto na eficiência de seus processos e produtos quanto em ações de responsabilidade social. E foi em clima de esperança e de defesa da cooperação por um futuro melhor – para todos – que a Unilever promoveu, recentemen-

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te, o seu principal evento de sustentabilidade do ano: a apresentação, no Theatro Net/Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, do seu “Plano de Sustentabilidade”. Nele, os avanços registrados pela com-

FERNANDO FERNANDEZ: “Crescer a qualquer custo não é o caminho”

panhia, que emprega 13.700 funcionários no Brasil. São 15 fábricas em quatro estados, duas delas em Pouso Alegre, no Sul de Minas. A meta global da Unilever é ambiciosa. Mas os números animadores alcançados até aqui indicam a plena capacidade de seu cumprimento. O objetivo da companhia – que faturou R$ 17 bilhões em 2014 – é dobrar de tamanho até 2020. Ela planeja fazer isso reduzindo pela metade a sua pegada ambiental e melhorando sua imagem positiva junto à sociedade. O recado mais veemente foi dado por ninguém menos que o presidente da Unilever Brasil, o argentino Fernando Fernandez. “Estamos


FOTOS: DIVULGAÇÃO

TODOS OS DIAS, dois bilhões de pessoas usam ao menos um produto Unilever em algum lugar do mundo

ESTAÇÃO de Reciclagem Pão de Açúcar Unilever: estímulo ao consumo com respeito à natureza

dispostos a compartilhar tecnologia para que mais e mais empresas possam ter produtos sustentáveis. Nossa maior responsabilidade não é ser a primeira nem a melhor empresa, mas mobilizar a indústria para que todos avancem.” PRODUTOS CONCENTRADOS Essa filosofia da Unilever ganha ainda mais força no atual cenário de escassez hídrica. Esse tema mereceu grande destaque durante todo o evento. A principal tecnologia a ser compartilhada para que haja ganhos de sustentabilidade em maior escala é a de produtos concentrados, como os sabões líquidos e amaciantes para roupas. Entre 2008 e 2014, a Unilever reduziu em 36% do consumo de água em seus processos. Nesse mesmo período, houve queda de 35% nas emissões de gases de efeito estufa. Parte desses resultados se deve exatamente ao investimento feito na plataforma de concentrados, que traz benefícios ao longo de todo o ciclo de vida do produto. “Crescer a qualquer custo não é o caminho. Cinquenta por

cento dos nossos produtos dependem do consumo de água. Portanto, não estamos fazendo isso por filantropia: essa é uma condição de sobrevivência do nosso negócio”, frisou Fernandez. Enfático, ele lembrou que o consumo de recursos naturais está muito acima da capacidade de reabilitação do planeta. “Temos de agir rápido e o momento é agora. Com todos juntos num esforço envolvendo as indústrias, os governos e a ciência, com parcerias fortes e olhando sempre para frente.” E completou: “Todos ganham com essa atuação conjunta. Ninguém pode ser contra um benefício que é coletivo”. Segundo estimativas, se todos os principais fabricantes do setor de limpeza adotassem programas de redução de uso de água e de práticas ambientais mais eficientes seria possível uma economia mensal de mais de três milhões de litros. Esse volume é equivalente ao consumo diário de água de 27 mil pessoas, com base nos índices mínimos previstos pela ONU. FIM DO DESMATAMENTO Durante o evento, a Unilever também reafirmou o seu compromisso de contribuir para o fim do desmatamento. O foco está voltado para as cadeias de suprimentos de commodities, como a soja, fortalecendo assim o combate às mudanças climáticas. Hoje, 100% da soja usada pela empresa vem de fontes certificadas. Esse mes-

mo percentual foi alcançado para o óleo de palma, insumo presente em alimentos e em cosméticos. Por meio do seu “Código de Agricultura Sustentável”, a empresa garante que todos os seus fornecedores de tomate, matéria-prima do Ketchup Hellmann’s, sigam as melhores práticas de plantio e cultivo. Além disso, oferece suporte a pequenos agricultores, ajudando a melhorar suas condições de trabalho, de vida e assegurando o aumento da renda familiar. “Esperamos que as nossas conquistas inspirem outras empresas a trilharem esse mesmo caminho. Temos de nos unir e conscientizar também os consumidores. Afinal, eles têm papel decisivo em todo esse processo de mudança, por meio das escolhas que fazem na hora das compras”, afirmou Antonio Calcagnotto, responsável por Assuntos Corporativos da Unilever Brasil. Outro desafio a ser superado, ponderou Calcagnotto, é o fortalecimento da interação com o governo federal para a definição de novos marcos regulatórios. “A regulação é essencial para fazer com que todas as indústrias atinjam níveis mínimos de ecoeficiência. Acreditamos e trabalhamos para essa coalização. Com toda a sociedade unida e empenhada em buscar novas formas de produzir, de consumir e de viver melhor”, concluiu. (*) A repórter viajou a convite da Unilever Brasil.

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JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 43


FOTO: DIVULGAÇÃO

1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

PRODUTOS CONCENTRADOS garantem economia de 40% de água em relação aos regulares

Debate hídrico

A

postando no diálogo com os diferentes setores, a Unilever reuniu convidados de destaque para debater o atual cenário de escassez de água, bem como a necessidade de melhoria do saneamento e incentivo ao consumo consciente no Brasil. Mediado pelo jornalista Pedro Meletti, o bate-papo entre Samuel Barreto, gerente Nacional de Água da The Nature Conservancy (TNC); Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil; e Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, promoveu reflexões valiosas. Barreto defendeu a importância de se criar segurança hídrica no Brasil, em especial por meio do investimento na conservação de nascentes. Segundo ele, as grandes obras de saneamento e de abastecimento público são importantes, mas ainda é preciso fazer muito mais. “Temos de aliar conservação com desenvolvimento em escala. E adotar soluções baseadas na natureza, valorizando os serviços ambientais que ela presta por meio, por exemplo, da produção/ melhoria da qualidade e da quantidade de água.”

44 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

Segundo ele, o exemplo de Nova York deve servir de inspiração para o Brasil. “Lá, o governo investiu um bilhão de dólares, em 10 anos, na proteção dos mananciais que abastecem a cidade. Em contrapartida, economizou sete bilhões de dólares, deixando de gastar com insumos químicos para tratamento nas estações ou para buscar água cada vez mais longe, como estamos fazendo aqui em São Paulo.” NÚMEROS VERGONHOSOS Édison Carlos, do Trata Brasil, citou os números vergonhosos que ainda marcam a realidade do saneamento no país. “Temos indicadores do século 19, com seis milhões de brasileiros sem banheiro em casa. No semiárido, 450 mil crianças não têm acesso a banheiros nas escolas e seguem fazendo as suas necessidades no ‘matinho’. Além disso, só 39% dos esgotos são tratados no Brasil. Números muito ruins para nós que somos a sétima maior economia do mundo”, lamentou. Helio Mattar, do Instituto Akatu, alertou para a insustentabilidade ambiental e social que rege o planeta. “Consumimos hoje 50% mais recursos naturais reno-

ENTENDA MELHOR - Em 2014, as medidas de uso racional de água nas fábricas da Unilever levaram a uma redução de consumo de 78.612 m3. Economia suficiente para que 108 mil pessoas matem a sede diariamente ao longo de um ano. - Parte desse resultado se deve ao investimento na plataforma de concentrados, que traz benefícios em todo o ciclo de vida do produto. As marcas Comfort Concentrado e Omo Líquido Super Concentrado economizaram, em 2014, durante o processo fabril, mais de 100 milhões de litros de água. Esse volume é equivalente ao uso diário de um milhão de pessoas. - Essa redução ocorre porque os produtos contêm menos água em sua fórmula. No caso de Omo Super Concentrado, a economia de água chega a 40% em relação a uma unidade regular, além de gerar menos resíduos (embalagens).

váveis do que a Terra é capaz de regenerar. Isso acontece quando apenas 16% da humanidade (1,1


Sustentabilidade em números 1 bilhão É o total de pessoas que a Unilever quer ajudar a agir, até 2020, para melhorar sua saúde e bem-estar.

1,5 milhão de lares foram impactados pelo movimento “Ame o Coração”, da marca Becel, que conscientiza a população sobre hábitos alimentares capazes de prevenir doenças cardiovasculares.

100 mil mulheres inspiradas e capacitadas por cursos online gratuitos, com foco em empreendedorismo. Essa é a meta do “Programa Ciclo Brilhante”, iniciado em junho.

85 mil toneladas de resíduos coletadas, desde 2001, nas Estações de Reciclagem Pão de Açúcar Unilever. Elas estão presentes em 11 estados e no Distrito Federal. Reunidos, esses resíduos ocupariam um volume equivalente a 29 estátuas do Cristo Redentor.

1.100 municípios incentivados a priorizar água de qualidade e saneamento. Por meio da parceria “Vim para Unicef”, mais 450 mil crianças do semiárido brasileiro serão beneficiadas com a melhoria do saneamento nas escolas.

100% das fábricas e centros de distribuição da Unilever são ‘aterro zero’. Desde o fim de 2013, todos os resíduos são reciclados ou reutilizados de alguma forma. Resíduos de sorvete e de Maizena são transformados em ração. Restos da cadeia Hellmann’s viram adubo. Nada mais é enviado a aterros sanitários.

55% das matérias-primas agrícolas adquiridas globalmente pela empresa são provenientes de fontes sustentáveis. Até 2020, a meta é atingir 100%.

40% da energia consumida nas fábricas vêm de fontes renováveis, como biomassa, óleo vegetal, etanol e biodiesel.

36% Foi quanto a empresa reduziu do seu consumo de água, entre 2008 a 2014. Nesse mesmo período, houve queda de 35% nas emissões de gases de efeito estufa.

FIQUE POR DENTRO

Presença diária No Brasil há 86 anos, a Unilever é uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo. Fabricante de alimentos, de produtos de higiene pessoal e de limpeza, mantém operações em 190 países. Chega a 100% dos lares brasileiros e, ao longo de um ano, seus produtos atingem, mensalmente, 46 milhões de domicílios. Todos os dias, dois bilhões de pessoas usam ao menos um produto Unilever em algum lugar do mundo. Entre suas marcas estão Omo, Comfort, Fofo, Seda, TRESemmé, Lux, Kibon, Hellmann’s, Arisco, Knorr, Becel, Maizena, AdeS, Dove, Axe, Close Up e Rexona.

bilhão de pessoas do total de sete bilhões) respondem por 78% de todo o consumo.” Sustentabilidade, destacou Mattar, é “termos o suficiente para todos sempre”. E isso só será possível se a equação da sustentabilidade envolver, entre outros fatores, produtos e serviços radicalmente novos, que viabilizem estilos de vida mais sustentáveis, respeitando os limites planetários. “Investimentos tecnológicos e produtos concentrados são muito bem-vindos, mas não bastam. Temos de avançar ainda mais. Um passo essencial é fazer com que as indústrias indiquem nas embalagens qual é a sua pegada hídrica. Ou seja: quanto elas gastam de água para produzir determinado produto. Assim, o consumidor poderá escolher aquele que causa o menor impacto. Essa também é uma forma de educar e de motivar as pessoas a fazerem a sua parte.” O SAIBA MAIS www.unilever.com.br

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 45


1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

Eles disseram... “A regulação ĂŠ essencial para fazer com que todas as indĂşstrias atinjam QtYHLV PtQLPRV GH HFRHĂ€FLrQFLD Âľ Antonio Calcagnotto, responsĂĄvel por Assuntos Corporativos da Unilever Brasil

“Temos de aliar conservação com GHVHQYROYLPHQWR HP HVFDOD ( DGRWDU soluçþes baseadas na natureza, valorizando os serviços ambientais que ela presta, por meio, por exemplo, da produção/melhoria GD TXDOLGDGH H GD TXDQWLGDGH GH iJXD Âľ Samuel Barreto, gerente nacional de Ă gua da TNC

“Viajo o Brasil inteiro conscientizando RV SUHIHLWRV +i FLGDGHV TXH JDVWDP atĂŠ 40 vezes mais que outras com VD~GH SRU KDELWDQWH SRUTXH QmR WrP VDQHDPHQWR EiVLFR Âľ

“Se apenas 10% dos brasileiros reduzissem Ă metade o seu consumo de carne, durante um ano, seria economizado um volume HTXLYDOHQWH D TXDWUR DQRV GD iJXD TXH FDL SHODV &DWDUDWDV GR ,JXDoX Âľ +pOLR 0DWWDU presidente do Instituto Akatu

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FOTOS: DIVULGAĂ‡ĂƒO

Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil


Conheça projetos que mostram como pequenas atitudes fazem grandes transformações. Em 2014, o 4 0 Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis destacou iniciativas de empresas que geraram impacto positivo dentro e fora delas: em seus processos, na comunidade e no meio ambiente. Agora, você vai conhecer uma dessas práticas que, com inovação e atitude, tornou-se uma importante ferramenta de transformação.

Arga Vidros - João Pinheiro Pensando em reutilizar resíduos de vidros, a empresa Arga Vidros desenvolveu máquinas de corte, lixadeiras e trituradoras. Em uma iniciativa inovadora, os resíduos, depois de processados, tornamse matérias-primas para a fabricação de tijolos, blocos, manilhas, artesanatos, artigos de decoração para jardinagem e outros produtos. Para tornar o projeto ainda mais sustentável, toda a área de processamento dos resíduos foi construída com material reciclado.

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FOTO: MINERVA STUDIO

1 COMPORTAMENTO

MOTIVAÇÃO VERSUS CRISE Márcio Barros e Rafael Freitas ensinam como aumentar a satisfação no trabalho por meio da Programação Neurolinguística e do Coaching Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br

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ocê escolhe a direção da sua vida ou está sendo levado pelo vento? Cansou de passar a vida toda sendo conduzido por outras pessoas? Não consegue ser bem-sucedido na carreira, não tem motivação e liderança para trabalhar em equipe? Se a resposta for “sim” a cada uma dessas perguntas, você precisa de duas ferramentas eficazes para mudar 48 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

esse rumo: a Programação Neurolinguística (PNL), um processo de autoconhecimento pessoal e profissional, e o Coaching. É o que ensina o professor Márcio Barros, de 56 anos. Comunicador social, especialista em PNL, Arte Educação, Oratória e Marketing Pessoal e professor do Instituto de Educação Continuada (IEC) da PUC Minas, ele hoje

reconhece que é dono da própria vida. Além de todas essas competências, ele toca, canta, medita e faz exercícios de respiração, “pois sucessos pessoal e profissional têm que caminhar de mãos dadas”, admite. Nessa caminhada, ele se inspira no pensamento de Sócrates: “Uma vida não refletida não vale a pena ser vivida”. E reconhece


FOTO: MARCOS TAKAMATSU

MÁRCIO BARROS e Rafael Freitas ensinam como usar a verdadeira linguagem do cérebro para superar fobias, resolver problemas e harmonizar conflitos

que hoje o conceito de inteligência, tradicionalmente definido nos testes de Quociente de Inteligência (QI) não basta num mundo em constante transformação, mergulhado na crise e na devastação do ser e do planeta. Em suas palestras, workshops e cursos, ele fala das “inteligências múltiplas” desenvolvidas pelo psicólogo Howard Gardener, da Universidade de Harvard (EUA). “Esses testes não eram suficientes para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas humanas. Por isso propôs o desenvolvimento dos dois hemisférios cerebrais, tanto esquerdo quanto direito, pois na maioria das vezes só usamos um deles. Somos racionais, mas precisamos explorar a riqueza inesgotável do nosso hemisfério direito, que é o da criatividade, da emoção e dos sentimentos”, completa o palestrante. FLEXIBILIDADE E DESAPEGO Barros motiva equipes de trabalho para o sucesso por meio de três pilares: foco, acuidade de percepção e flexibilidade. Segundo ele, “equipes competitivas precisam ter um foco muito bem definido. Cada participante da equipe tem de desenvolver a sua inteligência intrapessoal e a

interpessoal. Para conseguir alcançar o objetivo, o professor usa técnicas da PNL que tratam da experiência humana subjetiva”. Meditar, tocar, cantar, respirar corretamente e saber que as palavras têm poder de elevar ou de destruir são métodos que Barros usa para aprimorar os sentidos dos participantes, com exercícios próprios, pois “visão, audição, tato, paladar e olfato desenvolvem a acuidade de percepção. Práticas da arte educação, oralidade e escrita, ajudam a tornar as pessoas mais flexíveis, enriquecendo e abastecendo o nosso imaginário. A gente deve questionar os problemas, desafios e acontecimentos que deixaram saldos negativos. Novas representações, semelhantes às que já temos, podem reconstruir uma outra trajetória em direção ao sucesso profissional e pessoal. Acredito que a gente vive na representação e não na realidade da vida”. Para ele, o caminho não é uma linha reta. E muitas vezes não dá para saber se estamos na direção certa. “Mas não podemos ficar assustados quando trilhamos um caminho errado. Se a gente apavorar, afunda mais. É preciso, portanto, flexibilidade e desape-

go a velhos conceitos, fórmulas e padrões destrutivos. Motivação para o sucesso é ter crenças novas, sair da postura de vítima para a de protagonista, pois ser livre é ser dono da própria vida”. E cita Beethoven, que dizia que “tocar sem paixão é imperdoável”. A paixão de Márcio Barros pelo que faz é tão visível que ele não se contentou de trabalhar sozinho. Há dois anos, se uniu a outro profissional de gabarito: Rafael Freitas Gonzaga, de 41 anos, empresário, publicitário com pós em Administração. Ganhou prêmios importantes como o “The Unpdi Awards”, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Rafael também é múltiplo. Deixou a publicidade para realizar um novo sonho: cumprir sua missão de contribuir para transformar, motivar e reacender o brilho nos olhos das pessoas por seus projetos de vida. Por isso estudou psicanálise, filosofia e fez várias formações em coaching. É master coach e professor da pós-graduação em Coaching da UNA. Juntos, eles somam e ajudam as pessoas a descobrir seus tesouros escondidos. Ensinam como usar a verdadeira linguagem do cérebro, superar bloqueios do passado e curar fobias, usar a linha do tempo para resolver problemas, mudar comportamentos, harmonizar conflitos internos ou entre as partes (empresa, família, casais). E aplicam a neurolinguística à linguagem, comunicação, aprendizagem, saúde e liderança. ECOLOGIA INTERNA Em palestra para a equipe da Revista Ecológico, eles revelaram uma coincidência. “A Programação Neurolinguística usa muito o termo ‘ecologia interna’, que é o relacionamento global entre uma pessoa e seus pensamentos, estratégias, comportamentos, capacidades, valores e crenças. É o equilíbrio dinâmico dos ele-

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1 COMPORTAMENTO TESTE: “ESTOU NA EMPRESA CERTA?” A melhor empresa para você trabalhar nem sempre é a que tem uma marca forte ou a que paga o melhor salário. A melhor é aquela com a qual você se identifica, sente-se motivado, em sintonia com os valores e projetos da organização. Para isso, Rafael Freitas criou um teste de potência e realização pessoal, que está em seu site (www.coachbh.com.br): Avalie as questões abaixo dando notas de 0 a 5. Anote-as num papel e some para conferir o resultado. 1. Como você avalia o reconhecimento que a empresa tem pelo seu trabalho? 2. A empresa aplica regras claras para remuneração, promoção, demissão, etc.? 3. Como você avalia o respeito que a empresa tem por você e pelo seu trabalho? 4. A empresa busca o desenvolvimento de seus colaboradores? 5. Como você avalia o ambiente de trabalho? 6. Que nota você dá para a camaradagem de seus colegas? 7. Você se sente realizado e orgulhoso de fazer parte da organização? 8. Que nota você dá para o critério justiça em sua remuneração? 9. Seu trabalho é de conteúdo enriquecedor? 10. Seu trabalho é compatível com sua formação e capacidade? 11. A empresa lhe proporciona um aprendizado importante em sua carreira? 12. Que nota você dá para o seu relacionamento com a chefia? 13. Seus superiores são confiáveis? 14. Confia na organização? 15. Qual o seu nível de satisfação com a empresa? RESULTADO Menos de 45 pontos Se você fez menos de 45 pontos, deve voltar a essas perguntas e anotar num papel o porquê de cada resposta e o que falta para se atingir a nota cinco em cada uma. De posse dessas respostas, deve-se perguntar se vale a pena continuar onde está. Um processo de coaching bem escolhido pode ajudá-lo nessa resposta, pois, ao desenvolver o autoconhecimento, você toma decisões mais acertadas, torna-se mais atraente para o mercado e tem mais chances de encontrar a empresa certa. De 40 a 60 Provavelmente você está em uma boa empresa para se trabalhar, mas as notas devem ser analisadas caso a caso, pois não adianta você fazer 60 pontos e dar zero para algum item como o “ambiente de trabalho”. Faça uma análise do que pode ser melhorado e o que você pode fazer para que isso aconteça. Um processo de coaching pode ajudar a melhorar seu desempenho, seu relacionamento com os colegas e fazer com que você se torne mais valioso para a empresa e para si mesmo. Notas acima de 60 Há muito mais pontos positivos do que negativos na organização. Esses pontos precisam ser reconhecidos e valorizados como forma de renovar sua motivação para o trabalho. Um processo de coaching pode ajudá-lo a traçar metas que mantenham sua motivação pelo trabalho.

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“Os processos de coaching empoderam as pessoas para gerarem potência e prosperidade para si e para seus semelhantes.” Rafael Freitas mentos em qualquer sistema. É a verdadeira essência de cada um, pois promove a sustentabilidade, a coerência interna.” Rafael Freitas também faz projetos de Eco Coach, que visam ao desenvolvimento humano sustentável com a construção de um projeto de vida que não agrida valores e permita ao indivíduo se conhecer e liderar a si mesmo, para obter melhores resultados pessoais e profissionais. “Os processos de coaching, segundo ele, empoderam as pessoas para gerarem potência e prosperidade para si e para seus semelhantes.” Os dois profissionais trabalham em equipe com a inteligência interpessoal, que é desenvolvida pelo “rapport”: “É um termo que significa espelho ou a relação de mútua confiança e compreensão entre duas ou mais pessoas. É a conexão com o outro, respeitar o mundo do companheiro em sua pluralidade e diversidade”. E são unânimes em afirmar: “O que faz a diferença no comportamento humano é sobreviver com a cabeça erguida, mesmo em tempo de crise”. Rafael finaliza: “Seja conduzido pelos seus sonhos e não empurrado por seus problemas”. O

SAIBA MAIS pt-br.facebook.com/marcio. barros.motivacao contato@marciobarros.com outrasideias@ig.com.br



1 TECNOLOGIA LIMPA

O EVENTO reuniu representantes de empresas do setor de nove estados

FOTOS: YURI ALBUQUERQUE

SOB INSPIRAÇÃO

FRANCISCANA Criação da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (Aniteco) integra e fortalece um dos setores com foco em sustentabilidade que mais crescem no país

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“I Encontro Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico” (Eniteco), realizado entre 29 e 30 de junho último no Cine Theatro Brasil Vallourec, em BH, reuniu empresários, fornecedores e técnicos do segmento de blocos modulares de solo-cimento – mais conhecidos como tijolos ecológicos – para compartilhar experiências e debater melhores práticas de negócios e processos para o setor seguir avançando. Profissionais de oito estados participaram do evento – Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo e Espírito Santo. Durante os painéis e fóruns que integraram a programação do Eniteco, foram discutidos desde canais de financiamento até ca-

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minhos de normatização e certificação, bem como aspectos legais e de representatividade. “Antes, o que existia era apenas um intercâmbio informal. Nunca houve, na história do segmento, um evento assim. O nível dos participantes era muito alto. No final, o que percebemos foi que há muito trabalho a ser feito, uma vez que o mercado de tijolos ecológicos só não está melhor por falta de financiamento”, afirma Ruston Albuquerque, diretor-presidente da Terramax. Organizado pela empresa em parceria com a Kamonga Desenvolvimento Empresarial e a Miranda Cruz Associados, o evento também contou com o apoio da Revista Ecológico, Vallourec, Regere Alianças Estratégicas, Boulevard

Hotéis e Rede Metrológica de Minas Gerais (RMMG). CONQUISTA NACIONAL O principal passo para conquistar mais espaço no setor brasileiro da construção civil, de forma sustentável, foi dado logo no primeiro dia do evento: a criação da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (Aniteco). “Com ela, ganhamos uma representatividade formal que não tínhamos. Apesar de nossa atividade ser peculiar, ela não é vista como tal. E a Aniteco nos permitirá, inclusive, promover a real distinção e diferenciação de nosso produto. Não podemos ser confundidos com fabricantes de tijolos de cerâmica”, ressalta Ruston, eleito presidente do Conse-


EMPRESAS FUNDADORAS

I9 Construindo Eco Produção Tijolo Ecológico SP Encaixe Verdesaine Terramax Al Roma Construeco GeoBrick Raac Jacobsen Santana Eco Ecofaber Construir Mais Bullevar Tijokez Tijox Aja Mach Ecobrick go

lho de Administração. Ele informa também que os processos de produção dos tijolos ecológicos e os produtos em si são completamente diferentes dos tradicionais – a secagem, por exemplo, é natural, sem uso de fornos. “Além disso, não podemos estar sob a mesma regulação ambiental, pois não há nenhuma singularidade [entre os processos de produção]. Conheço caso de colegas que foram autuados por órgãos públicos ambientais em que o fiscal afirmou que eles não se adequavam ao que está preconizado na norma ambiental vigente, que abrange apenas o modelo tradicional. No entanto, não soube nem que tipo de autuação aplicar.” E questiona: “Como se adequar a um padrão de ativi-

dade que não é o nosso? Não há nem políticas de incentivo fiscal ou diferenciação tributária do nosso produto para outro que gera dano ambiental”. A eleição dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e da Secretaria-Executiva da Aniteco, bem como a análise e a aprovação do estatuto da associação, também foi feita durante o evento. A entidade conta com cinco grupos de trabalho estruturados para desenvolver ações com foco no aperfeiçoamento tecnológico do produto, sua aplicação técnica, promoção, regulação e novas soluções. São os comitês de Normatização e Certificação; de Comunicação Institucional; de Mobilização Associativa; de Tecnologia; e de Legislação e Meio Ambiente.

básicas: simplicidade, desapego e paciência. Quando se pratica isso dentro de uma organização, você consegue fazer com que um simples projeto se transforme em um objetivo de todos”, ressaltou. O conceito foi traduzido em uma espécie de lema pela Aniteco. No palco foi estendido um imenso painel com a inscrição “Juntos Somos mais Fortes”, o que já mostrava que a associação começou trilhando o caminho certo. O jornalista ponderou também o quanto é importante pesquisar o ambiente em que a organização pretende atuar. “É preciso conhecer bem a região, a cultura, os costumes, as práticas, o comportamento mercadológico e as relações políticas e econômicas, bem como a infraestrutura que já existe. Ou seja, procure saber tudo sobre a tribo que você quer

INSTITUIÇÕES NSTITUIÇÕES E MERCADO Para atuar de forma propositiva e direcionada, é preciso também entender ntender qual a melhor forma de se posicionar e interagir com om o mercado. Nesse sentido, a presença do jornalista William Corrêa, âncora do principal rincipal telejornal da TV Cultura, no Eniteco, agregou ainda inda mais valor ao debate. A convite da organização, ele proferiu roferiu a palestra “Comunicar para ara Liderar”, e buscou inspiração ão em São Francisco de Assis para ara mostrar a melhor forma de atuar tuar e se destacar no mercado. “O Santo vivia sob três regras

RUSTON ALBUQUERQUE: "Com a Aniteco, o setor agora ganhou mais força e representatividade formal"


entrar, para, assim, construir uma relação de confiança e troca mútuas com seus clientes e parceiros. Ninguém pode comprar o seu produto achando que não está levando vantagem.” E completou: “O que vocês da Aniteco fizeram aqui hoje, reunindo todos numa convergência em torno de um produto que é inovador, é de extrema importância. A área de construção civil está em queda, e ela está procurando novas realidades. E uma delas é o tijolo ecológico, que é mais barato e ambientalmente correto. Por isso, é fundamental ir até os parceiros com ideias interessantes assim e que os estimulem a fazer parte do negócio”. DE MINAS PARA O BRASIL Em nosso país, a produção de tijolos de baixo custo teve início na década de 1970. Com a expansão imobiliária nos anos seguintes, motivada também pela necessidade de equacionar o déficit habitacional do país - em 2013, ele foi estimado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 6,49 milhões de domicílios-, incorporar o viés da sustentabilidade na construção civil era uma medida essencial nesse cenário de demanda em larga escala. Ao longo dos anos, os tijolos ecológicos se fortaleceram como uma alternativa sustentável para o setor, tendo em vista que ele proporciona para a obra uma economia de até 50% nos custos em relação ao sistema construtivo tradicional. Isso sem contar os benefícios ambientais (veja no box da página ao lado). “A cada mil tijolos ecológicos que são produzidos, de sete a 12 árvores são poupadas”, diz Ruston Albuquerque. Expert quando o assunto são esses blocos, ele também ministra oficinas e cursos de construção sustentável em instituições como o Serviço Nacional

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FOTOS: YURI ALBUQUERQUE

1 TECNOLOGIA LIMPA

WILLIAN CORRÊA: "O tijolo ecológico é uma nova realidade para a construção civil"

100 MIL tijolos ecológicos Terramax estão sendo utilizados na construção de um galpão da siderúrgica ArcelorMittal em Sabará (MG)

de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), na capital mineira. A experiência de Ruston vem levando a Terramax, empresa fundada por ele há dois anos com a publicitária Ethel Kacowicz, a quebrar paradigmas no meio empresarial quanto à utilização do tijolo ecológico. E, principalmente, de se investir cada vez mais no segmento. “A maior resistência que temos de vencer é a barreira cultural. As organizações e seu corpo gerencial devem ver o produto com valor institucional,

como algo estratégico. As comunidades de influência e de negócio não perceberão isso com calculadoras nas mãos, mas com a compreensão holística de que investir em uma tecnologia sustentável de construção irá gerar valor econômico, ambiental e social”, aponta. Pelo fato de os tijolos ecológicos serem também produzidos utilizando areia, resíduos siderúrgicos, petroquímicos e minerários, parcerias com instituições desses setores são essenciais para reduzir o impacto de outro vilão que assola o meio ambiente: os passivos ambientais dessas atividades.


TIJOLOS ECOLÓGICOS E SEUS BENEFÍCIOS “Essas empresas já são sensíveis quanto à importância de nosso produto, mas falta entender que é possível e mais fácil investir do que imaginam. E mais viável do que querem admitir”, reforça o diretor-presidente da Terramax. PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL É perfeitamente possível, por exemplo, construir uma estrutura de produção de tijolos ecológicos dentro de uma planta de mineração, transformando o seu passivo ambiental em ativo econômico. “Sem contar que a empresa estará fortalecendo um outro nicho de mercado que contribui para a preservação da natureza e gera emprego e renda.” Atualmente, a Terramax produz mais de 60 mil tijolos por mês. Com a comercialização de 100% do que vem sendo fabricado e registrando crescimento de 40% em relação ao ano anterior, a empresa pretende expandir a sua capacidade instalada de produção para 110 mil unidades. Imprescindível destacá-la, também, como player de serviços: oferece soluções completas para a construção, incluindo a produção e venda de tijolos, entrega em qualquer lugar do país, desenvolvimento de projetos, além de treinamento de pessoal, acompanhamento da obra e assistência técnica. Há ainda os investimentos em inovação. Segundo Ruston, já está sendo testado um modelo de tijolo ecológico feito com vidro refratário de lâmpada. Depois de descontaminado, o material é triturado e agregado ao produto, que fica mais leve, denso e com maior resistência mecânica. “E visualmente mais bonito, porque brilha”, completa. Os atributos dos tijolos ecológicos e as vantagens competitivas de suas eficientes técnicas construtivas são diferenciais que vêm

Técnicos O São autoajustáveis e autotravantes, proporcionando um encaixe perfeito entre as peças, facilitando a estruturação da obra e as instalações elétricas e hidráulicas. O Têm menor absorção, sendo que a perda de umidade do material não causa variações volumétricas consideráveis. O Têm maior resistência à umidade, dado que o material não se deteriora quando submerso na água. O Têm grande resistência à compressão, aumentada ainda mais quando o material é aplicado em situação onde há grande exposição à umidade ou mesmo de submersão. O Devido à sua menor permeabilidade, são mais duráveis. O Permitem a padronização de formatos, cores e texturas. O Têm excelente desempenho térmico e acústico. O Aumentam a produtividade e velocidade em até dez vezes, gerando economia em mão de obra e alocação de ferramentas e equipamentos.

Econômicos O 60% de economia com serviços de pedreiros, pois a metodologia construtiva dispensa mão de obra especializada. O Economia superior a 15% em tijolos, pois graças à sua maior resistência mecânica geram mínimo desperdício por quebra. O Economia de 100% em cimento e argamassas de revestimento para regularização e acabamento das paredes internas e externas. O Economia de até 80% em madeira para armação de vigas e 100% para armação de colunas e vergas. O Economia de 60% com ferragens para sustentação estrutural. O Formato de meio tijolo dispensa recorte de peças na obra, propiciando 100% de aproveitamento do produto. O Economia de 50% com concreto.

Ecológicos O Não utilizam barro vermelho (matéria-prima dos tijolos convencionais), evitando a degradação do meio ambiente causada pela exploração de jazidas de argila. O Permitem o uso de resíduos e passivos ambientais resultantes de atividades variadas em sua composição. O Sua técnica construtiva moderna e eficiente reduz drasticamente o desperdício de recursos e a geração de resíduos. O Não necessitam de fornos ou outros meios de queima, reduzindo a emissão de gases poluentes na atmosfera. O Exigem menor grau de especialização, sua produção facilita a inclusão de novos profissionais no mercado de trabalho, criando oportunidades de geração de renda para cidadãos com perfil de baixa empregabilidade.

sendo percebidos e assimilados por empresas de destaque no mercado. São importantes marcas do cenário empresarial, como a siderúrgica ArcelorMittal, que recentemente empregou mais de 100 mil blocos para a ampliação de suas instalações em Sabará (MG). E a CNH, que já utilizou mais de 30 mil blocos na constru-

ção da sede do “Projeto Próximo Passo”, da montadora Iveco, em Sete Lagoas (MG). Dois exemplos concretos de que o setor ainda tem um futuro sustentável – e promissor – pela frente. O SAIBA MAIS www.aniteco.com (*) Para conhecer quem é quem na Aniteco, acesse www.revistaecologico.com.br

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Direito Hoje é a nova seção do Hoje em Dia dedicada ao direito. Toda terça, quinta e domingo, renomados juristas vão publicar artigos, matérias, análises, informações, dicas de livros, além do calendário e de concursos da área. Hoje em Dia. Sua referência em notícias agora também é sua referência na área jurídica. DIREITO HOJE. TERÇA, QUINTA E DOMINGO NO HOJE EM DIA.

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MARCELO LEONARDO Direito Penal

RODRIGO DA CUNHA Direito de Família e Sucessões

DÉLIO MALHEIROS Direito do Consumidor

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FOTO: PELLINNI

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FOTO: REPRODUÇÃO

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - NASCENTES

COM A CRISE HÍDRICA e a destruição das matas ciliares, o risco de as nascentes secarem aumenta: o inverso é a solução

PELAS NASCENTES

DO BRASIL

Entidades ambientalistas se unem pela criação de um plano nacional em defesa dos berçários dos rios – e das matas ciliares que os protegem Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou em abril, durante o “7º Fórum Mundial da Água”, realizado na Coreia do Sul: mais de dois terços da população do planeta sofrerá com a falta d’água em 2050. No Brasil, a situação atual já é crítica. Com mais de 80% da população vivendo nas cidades, o país enfrenta hoje a pior crise hídrica dos últimos 85 anos. Em Minas Gerais, estado “caixa d’água” do país e berço do rio da integração nacional, o São Francisco, o sinal vermelho se mantém aceso. A nascente principal do Velho 60 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

Chico chegou a secar, em setembro do ano passado. Agora, no começo de junho, o Sistema Paraopeba, responsável pelo abastecimento de água de Belo Horizonte e de parte da Região Metropolitana, estava com 37,5% de sua capacidade. Em 2014, nesse mesmo período, o sistema operava com 61% do total. E, em 2013, eram 91%. Especialistas são unânimes em afirmar que a escassez de água, em especial no Sudeste brasileiro, é resultado da combinação de uma série de fatores. Entre eles, a ausência de investimentos em grandes obras de tratamento/ distribuição, o longo período de

estiagem (causado em parte pelas mudanças climáticas em curso), o desperdício – nas redes de distribuição e locais de consumo – e o desmatamento. Diante desse cenário global, torna-se urgente agir localmente, recuperando e conservando as nascentes brasileiras e, consequentemente, as matas ciliares. Assim como os cílios protegem os nossos olhos, essas formações florestais que margeiam os cursos d’água são absolutamente vitais: regulam tanto a quantidade quanto a qualidade da água disponível para consumo e uso nos mais diversos setores.


FAÇA SUA PARTE

PETIÇÃO ONLINE

REFLORESTAMENTO PARCEIRO Mesmo sabendo que ainda é preciso fazer muito mais, iniciativas em prol da conservação de nascentes adotadas Brasil afora renovam a esperança de um futuro melhor. E comprovam que, quando as matas ciliares são protegidas e recuperadas, a própria natureza se encarrega de fazer a parte dela, aumentando o volume e a pureza da água que brota do solo. Um exemplo é o “Programa de Reflorestamento Ciliar” da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), iniciado em 1990, em convênio com a Universidade Federal de Lavras (Ufla). Já foram reflorestados cerca de 360 hectares de matas no entorno dos reservatórios e restauradas mais de 100 nascentes. As ações contemplam o desenvolvimento de tecnologias desde a seleção de espécies vegetais, metodologias de coleta e de beneficiamento de sementes até a

produção de mudas, plantio, adubação e manejo florestal. Outro resultado dessa parceria com a Ufla foi a criação do Centro de Excelência em Matas Ciliares (Cemac). Com sede em Lavras, ele conta com uma equipe multidisciplinar e compartilha todo o conhecimento científico gerado. Para conscientizar e orientar produtores rurais foi elaborada uma cartilha que já está em sua terceira edição. Com o título: "Nascente – o verdadeiro tesouro da propriedade rural", ela contém informações sobre como proteger e restaurar olhos d’água. Traz, ainda, uma lista das espécies recomendadas para que a recomposição das matas ciliares seja bem-sucedida. A seguir, a história do projeto “Conservador das Águas”, em Extrema, no Sul de Minas, e algumas dicas da cartilha. Confira!

Em busca de soluções efetivas e duradouras para a superação desse colapso hídrico, o WWF-Brasil e outras entidades ambientalistas lançaram uma petição online. Elas propõem ao governo federal a criação de um “Plano Nacional de Proteção das Nascentes”. O objetivo é mobilizar todos os atores sociais e garantir, assim, um futuro com água, com mais verde, alimentos e energia elétrica para todos. A petição é fruto da “Aliança pela Água”, uma coalizão lançada em outubro do ano passado, envolvendo mais de 40 organizações. A expectativa do WWF é conseguir pelo menos 50 mil adesões. Na sequência, esse abaixo-assinado será encaminhado à presidente Dilma Rousseff, para que sejam tomadas as medidas necessárias à aprovação e implantação do plano. Para assinar a petição online do WWF-Brasil acesse: www.wwf. org.br/participe/horadoplaneta/ peticao_agua/

O projeto “Conservador das Águas” é a menina dos olhos da cidade de Extrema, no Sul de Minas. Lá, a proteção das nascentes de córregos e rios que brotam na Serra da Mantiqueira – e fornecem água tanto para abastecimento da região quanto para o Sistema Cantareira, em São Paulo – teve início em 2005. A prefeitura desenvolve e executa práticas de conservação e de saneamento ambiental em 170 propriedades rurais, em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Agência Nacional de Águas (Ana). No total são 7.300 hectares preservados, o equivalente à área de nove mil campos de futebol. Este ano, o programa atingirá a marca de um milhão de árvores nativas plantadas, assegurando a restauração de 30% das áreas de mananciais do município, que tem 31 mil habitantes. A equipe responsável identifica e cerca as nascentes, córregos e rios existentes em cada propriedade e, com isso, evita que a mata ciliar seja destruída e, o solo, pisoteado pelo gado. O melhor de tudo é que nenhum proprietário rural gasta um centavo sequer. Todo o investimento nas fazendas e sítios é custeado pelo próprio projeto, que inclui ainda a construção de bacias para contenção da água da chuva e a instalação de biodigestores. E mais: mensalmente os

FOTO: DIVULGAÇÃO

EXTREMA DÁ O SEU EXEMPLO

O PROJETO atingirá, este ano, a marca de um milhão de árvores plantadas produtores rurais recebem uma quantia em dinheiro para cada hectare que preservam. É o chamado pagamento por serviços ambientais prestados. O orçamento atual do programa gira em torno de R$ 2 milhões/ano. A meta é atingir, em 2030, o percentual de 40% de cobertura florestal nativa no município. As ações também contam com o apoio dos comitês das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Comitês PCJ) e de empresas.

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JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 61


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - NASCENTES

FONTES D’ÁGUA A)

Nascente é um ponto de onde a água jorra através da superfície do solo. Também é conhecida como fio, mina ou olho d’água, cabeceira ou fonte.

B)

É possível evitar a contaminação da água das nascentes adotando práticas simples, tais como:

O não construir currais, chiqueiros, galinheiros e fossas sépticas em terrenos acima das minas; O fazer o cercamento, respeitando a distância mínima de 50 metros do olho d’água, para evitar a entrada do gado e a contaminação da água com estrume; O usar adubos e agrotóxicos somente quando necessário e nas quantidades recomendadas. O ideal é evitar sua aplicação em áreas de várzea e de recarga das nascentes.

62 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

C)

Também conhecida como mata de galeria, a mata ciliar estabiliza as margens, impede a erosão e o assoreamento dos rios, além de conservar a umidade do solo. Sua destruição, principalmente para dar lugar à criação de gado e à agricultura, gera sérios impactos ambientais. Isso porque ela funciona como filtro natural do escoamento superficial das chuvas, absorvendo os volumes excedentes de agrotóxicos usados nas lavouras, preservando, assim, os cursos d’água.

D)

A preservação ou restauração das matas ciliares também é essencial para que elas cumpram o papel de corredores ecológicos. Ao interligarem os fragmentos florestais, facilitam o trânsito de diversas espécies de animais, pólens e sementes. Com isso, favorecem o crescimento das populações de espécies nativas, as trocas gênicas e, consequentemente, sua reprodução e sobrevivência.

Vegetação


PASSO A PASSO - COMO RECUPERAR UMA NASCENTE: AS

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NTE SCE PRESERVADA

Nascente

Cerca

4

2

5

- Observe se há formação de capoeira (regeneração natural) com plantas como alecrim, carrapicho, jaborandi, lobeira, assa-peixe, embaúba etc. Se esta for a situação da nascente, basta cercar, mantendo uma distância mínima de 50 metros ao redor dela.

DE

50 metros

1

- Se o entorno estiver ocupado com pasto e poucos arbustos, além de cercar a nascente será preciso plantar árvores. Escolha bem as espécies, definindo a quantidade e a distribuição. Lembre-se de que o plantio de muitas árvores próximo à nascente pode fazer com ela seque por algum tempo. A recomendação é plantar de 30 a 100 mudas, numa área cercada de 7.854 m2.

3

- Nessa proporção, as árvores atrairão pássaros e outros animais que, por sua vez, trarão novas sementes, contribuindo para reflorestar a área. A presença do verde também facilitará a infiltração da água da chuva, além de impedir que a terra arrastada pela enxurrada soterre a nascente.

- As árvores devem ser bem distribuídas, alternando plantas pioneiras de crescimento rápido (como embaúba, aroeira-vermelha e cambarazinho), com plantas clímax (como jacarandá-branco, dama-danoite e ipê-amarelo), que crescem mais lentamente, porém têm vida mais longa. - As mudas devem ser plantadas em covas de 30x30x30 cm ou até 50x50x50 cm, caso o solo esteja muito compactado. O ideal é colocar cinco litros de esterco de curral por cova.

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- O plantio dever ser feito, preferencialmente, no período chuvoso. Se não estiver chovendo, regue as novas mudas logo após o plantio com cinco litros de água/cova. Repita essa irrigação por uma semana.

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- Para combater o ataque de formigas intercale mudas de gergelim entre as espécies escolhidas.

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 63

ILUSTRAÇÃO: PROGRAMA NASCENTES

VIST


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - NASCENTES

TRÊS PERGUNTAS PARA...

GLAUCO KIMURA DE FREITAS Coordenador do “Programa Água para a Vida” do WWF-Brasil

PLANEJANDO O FUTURO FOTO: ADRIANO GAMBARINI

Até quando a petição em favor da criação do Plano Nacional de Proteção das Nascentes poderá ser assinada? Até agosto, quando teremos o overshoot day (dia de sobrecarga da Terra). É uma data simbólica que representa a superação da capacidade do planeta em prover recursos naturais à humanidade. Uma data em que devemos refletir sobre como estamos usando as nossas reservas de água doce e planejando o seu uso futuro. Qual seria a perspectiva do plano em relação à captação de recursos para financiamento das ações? O Plano Nacional de Proteção das Nascentes deve envolver todos os setores e pertencer a todos: à sociedade, aos governos e ao setor privado. Entretanto, a liderança deve ser do poder público. E por assumir a liderança, ele deve aportar os recursos iniciais. Certamente, contrapartidas devem ser negociadas junto aos setores industriais, agrícolas e de infraestrutura. O Brasil deveria investir pelo menos 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano em conservação e gestão de recursos hídricos. É o que recomendava o “Atlas de Abastecimento Urbano da Agência Nacional de Águas (Ana)”, em 2011. A proteção de nascentes é considerada uma das medidas essenciais para adaptação às mudanças climáticas. O novo Código Florestal brasileiro ameaça essa proteção? O que mais lhe preocupa? Sim. Exatamente, quanto mais nascentes preservadas, mais alternativas de abastecimento 64 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

da população num futuro incerto de eventos climáticos mais extremos. O novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) excluiu as nascentes intermitentes (que secam em períodos do ano) da obrigatoriedade de proteção de faixa de matas no seu entorno. De acordo com a lei, apenas as nascentes permanentes são incluídas na faixa de proteção permanente, num raio mínimo de 50 metros. Como nascentes que eram perenes estão secando devido à crise hídrica, elas são automaticamente consideradas intermitentes e, portanto, podem ser desmatadas por lei. Esse é um problema sério que deve ser corrigido, sob pena de perdemos as fontes dos nossos rios, essenciais ao desenvolvimento econômico e à vida. O SAIBA MAIS www.wwf.org.br www.cemac.ufla.br www.tnc.org.br

Nós apoiamos esta iniciativa!


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

BANHO DE FUBÁ DE

CANJICA A

ÁGUA do fubá de canjica: banho para o corpo e para a alma

FOTO: MARCOS GUIÃO

migos surgem em nossas vidas de muitas maneiras. E alguns parece que a gente reconhece como sendo da mesma estrela. Julinho foi um caso assim. Bastou bater olho no olho, esticar as primeiras prosas e já nos reconhecíamos como amigos de infância. Seu sorriso largo e limpo, como sua careca brilhante, de imediato me mostraram generosidade, transparência e um bom humor ímpar. Outro dia ele me contou que sua falecida mãe, Dona Eldith, foi uma pessoinha especial que aparentava miudeza no tamanho. Mas era gigante na bondade e na delicadeza com os viventes, fossem eles gente, planta ou bicho. Tudo sempre tinha um significado. E com suas canções singelas carregadas de intenção e devoção, ela conseguia formar uma teia entrelaçando tudo e todos. Mãe zelosa, trazia a filharada no capricho usando de seus encantos e encantamentos. Quando a meninada dava de brigar uns com os outros, se aperreando por pouco, ela logo sentenciava de forma categórica: “Tá passando da hora desses mininus tomá banho de fubá de canjica”! Quando Julinho chegou nesse ponto de sua história, dei cara de abestado imaginando como seria isso. Ele percebeu e logo perguntou: “Num sabe como é um banho de fubá de canjica?” Diante de minha negativa, deu de discorrer como acontecia o evento acompanhado por ele muitas vezes com sua mãe. “Pra começo de prosa, o ritual se dá sempre na sexta-feira, pois nesse dia é bom usar branco. E agradecer a todos os santos pelas bondades que a vida distribui só pela alegria de servir aos viventes, sem nada pedir a não ser gratidão.” Ele alerta que “isso tem que ser realizado dentro de um profundo sentimento de respeito e devoção. O fogão a lenha tem de ficar só nas brasas pra então dispor a canjica numa panela de ferro coberta de água buscando fervura. Isso porque o cozimento num pode de sê em labaredas, senão os meninos se esquentavam mais ainda e o caso era de esfriar o tururu da molecada. Aquilo ia se amolecendo até dar ponto de macio.

Daí tava na hora de coar, separando a canjica já molinha do caldo branco, que era despejado numa gamela”. Em cada banho, uma canecada desse caldo era bem misturado com uns três litros de água. “O menino tomava seu banho normalmente. Mas antes de sair do banheiro, se punha de costas para a porta e minha mãe despejava aquele caldo branco da cabeça até os pés de cada um dos filhos, enquanto ia falando baixinho, rezando e benzendo em nome de todos os santos imagináveis, chamando os anjos da guarda que tavam meio distraídos a assumirem seu papel de protetores e pacificadores. No meio dessa prosa, ela dava de conversar mansamente com as flores, as pedras, pedindo calma, paciência e perdão, pois a intenção do banho sempre foi o de trazer a paz pro corpo e pra alma.” Ouvindo esse relato, mais uma vez entendi que o simples na vida invariavelmente vem revestido de devoção e paz. Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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1 VOCÊ SABIA?

Primatas NOSSOS PRIMOS

Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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grupo musical Titãs já cantava: “Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda faz o que o macaco fazia!”. Pelo menos do ponto de vista da ciência, eles não estão errados. Micos, macacos, símios, lêmures e nós, seres humanos, pertencemos à mesma ordem: a dos primatas. Essa classificação nos une em semelhanças genéticas, mas também agrupa diferenças de aparência, comportamento e inteligência. Tudo graças à evolução das espécies. Conheça, a seguir, quatro curiosidades sobre o mundo dos primatas:

MACACÃO

FOTO: DOLLARPHOTO

Um fóssil quase completo de um supermacaco foi descoberto em 1992, em uma caverna da cidade de Campo Formoso, na Bahia, pelo paleontólogo Cástor Cartelle. O esqueleto do animal é duas vezes maior que o muriqui, maior macaco vivo do Novo Mundo. A espécie foi batizada de Cartelles coimbrafilhoi, em homenagem ao descobrir do fóssil e a um dos pioneiros da primatologia brasileira, Adelmar Coimbra-Filho. Pesquisa publicada no Journal of Human Evolution, em outubro de 2013, aponta que o animal pesava entre 25 e 28 quilos e media 1,67m do topo da cabeça à ponta da cauda.

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PELO MUNDO Estima-se que 483 espécies desse grupo de mamíferos já foi descrita, sem contar a humana. Existem primatas espalhados por todo canto do planeta, com exceção da Antártica, onde eles não ocorrem naturalmente. O Brasil registra o maior número de espécies: 116, sendo que 63 existem apenas em terras tupiniquins.


VIVER NA ÁRVORE Crianças, e até alguns adultos, adoram subir em árvores. Sabia que essa brincadeira inocente tem raízes remotas? Os primatas surgiram de ancestrais arborícolas, termo que descreve seres cuja vida se dá principalmente nas árvores. Para se deslocarem nesses ambientes, aliás, homens e macacos têm outra característica em comum: a visão binocular. Ela permite apurada percepção de distância e profundidade.

FOTO: DOLLARPHO

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FOTO: CHEEKYLORNS

COZINHEIROS Uma pesquisa da Universidade de Harvard, divulgada pela BBC, afirma que chimpanzés possuem habilidades necessárias para cozinhar. O pesquisador norte-americano Felix Warneken fez uma série de experimentos em que analisou se esses animais preferiam comida cozida a crua, se conseguiam esperar até a comida ser feita e se depositariam a comida crua em uma caixa que os cientistas trocavam por comida cozida. E eles foram aprovados em todos os testes. Mas, então por que não existe um Jamie Oliver chimpanzé por aí? Primeiro, porque eles não conseguem dominar o fogo. Segundo, porque eles não confiam que os outros membros do grupo não roubarão a comida enquanto ela é preparada.

FOTO: ANOLIS01

BUGIOS Outro ro primata interessante é o bugio (Alouatta guariba riba)! Ele é um dos maiores das Américas, podendo dendo alcançar 70 centímetros e pesar até nove quilos. Vive em bando e produz um som parecido com um ronco, que de tão alto pode ser ouvido a 16 quilômetros de distância. Há relatos elatos de que, quando uma fêmea de bugio se sente ente ameaçada por um caçador, ela segura o filhote hote bem alto como se dissesse que é mãe e tem em um filhote para cuidar. Ainda assim, os bugios gios estão ameaçados de extinção devido à caça e à perda de hábitat, pois vivem em florestas úmidas, podendo também ser encontrados no Cerrado e na Caatinga.


LETÍCIA SPILLER: “Acredito que podemos criar um futuro melhor para os nossos filhos e para as gerações futuras”

REFORÇO BEM-VINDO Atriz Letícia Spiller é a nova embaixadora do Greenpeace pelo Desmatamento Zero e se junta à luta pela preservação das florestas do país

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esde 2012, o Greenpeace, junto à sociedade civil, vem coletando assinaturas para levar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei em prol do Desmatamento Zero no Brasil, com amplo apoio popular. Pela proposta, fica proibido o corte de floresta de mata nativa e não serão mais emitidas autorizações para novos desmatamentos. Nesses três anos, mais de um milhão de brasileiros já assinaram a petição online, que agora ganhou outro apoio para reforçar o movimento: a atriz Letícia Spiller, a nova embaixadora do Greenpeace pelo Desmatamento Zero no Brasil. “A luta pela preservação do meio ambiente sempre fez parte da minha vida e de meus familiares. Através das

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minhas viagens, o que vi e vejo na Amazônia é aterrorizante e assustador. Como chegamos a isso?”, questiona. Consciente de que nossas ações podem transformar o mundo, a atriz decidiu abraçar a causa e se tornar embaixadora para garantirmos um futuro com água limpa, clima ameno e alimento para todos. “Precisamos de uma lei para proteger nossas florestas. Uma lei que garanta o Desmatamento Zero”, defende Letícia. As florestas brasileiras continuam sendo derrubadas. A Amazônia já perdeu mais de 760 mil km2 de suas florestas nativas, devastação que já chega a 19,1% do bioma. No caso da Mata Atlântica, restam ape-

nas 8,5% de remanescentes florestais com mais de 100 hectares. A falta de floresta prejudica a produção de chuvas e nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas, comprometendo a qualidade de vida de toda a população. “Podemos criar um futuro melhor para os nossos filhos e para as gerações futuras protegendo os maiores bens do planeta Terra. Se cada um fizer a sua parte, construiremos esse futuro juntos”, resume a atriz. O

SAIBA MAIS Para assistir ao vídeo: http://migre.me/qHdWl Para assinar a petição: www.salveasflorestas.org.br

FOTO: GLOBO DIVULGAÇÃO

1 ENGAJAMENTO


Programa

Tribuna Livre Itinerante Uma vez por mês em um bairro da capital ou da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Rádio América mais perto de você.


1 PRESERVAÇÃO FAVEIRO-DE-WILSON: apenas 240 exemplares foram identificados em Minas

PROCURA-SE

FAVEIRO-DE-WILSON Projeto incentiva a preservação e a reintrodução da espécie florestal rara, criticamente ameaçada de extinção Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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m 2003, o engenheiro florestal Fernando Moreira Fernandes recebeu o chamado de um professor que havia identificado, em Paraopeba (MG), o que acreditava ser uma espécie rara de árvore. Depois de chegar ao local, a suspeita foi confirmada. Em três fazendas da região havia apenas uma dúzia de árvores adultas, sem sinal de plantas jovens. Todas elas no meio da pastagem de braquiária, tipo de gramínea utilizada no lugar da mata nativa. Trata-

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va-se do faveiro-de-wilson (Dimorphandra wilsonii Rizzini), espécie criticamente ameaçada de extinção e que a literatura científica registrava apenas em duas cidades mineiras: Paraopeba e Caetanópolis. Essas informações foram suficientes para que Fernandes voltasse para casa cheio de perguntas. “Em quais outras regiões é possível encontrar exemplares de faveiro?” “Como identificá-lo no meio de uma família tão imensa quanto a da Legumi-

nosae?” “Como percorrer toda Minas Gerais procurando a espécie?”. Ali começava a nascer o “Projeto Conservação e Manejo do Faveiro-de-Wilson”, iniciativa que já dura 11 anos e conta com parceria do setor privado, governos e ONGs. AS PRIMEIRAS AÇÕES A primeira ação do projeto foi produzir e distribuir panfletos com a foto da espécie, informações básicas de identificação e a chamada: “Procura-se essa ár-


Aprenda a reconhecer Também chamado de faveiro-damata, foi descoberto em 1969, em Paraopeba. Ocorre na região central de Minas Gerais, na transição do Cerrado para a Mata Atlântica. Quando adulto, o faveiro-de-wilson tem uma copa grande e atinge até 15 metros de altura. O tronco pode chegar até um metro de diâmetro. A casca é geralmente acinzentada e um pouco áspera, mas não solta pedaços facilmente. As favas ou vagens ficam no alto da copa. Elas amadurecem de agosto a novembro, ganhando um tom marrom escuro por fora e caem sem se abrirem, mas quebramse facilmente. São brancas por dentro e têm um cheiro doce. O comprimento delas varia de 13 a 22 centímetros e possuem várias sementes, que costumam ser duras e de cor marrom quase avermelhadas. Medem de 1,5 a dois centímetros de comprimento. Pessoas que encontrarem árvores com essas características podem entrar em contato pelo telefone (31) 3277-8323 ou faveiro@pbh.gov.br.

vore”. Patrocinados à época pela Fundação Grupo Boticário, Fernandes e equipe alugaram um carro e rodaram “metade de Minas Gerais” para perguntar a fazendeiros, raizeiros e a todo tipo de gente que encontravam pelo caminho se já tinham visto aquela espécie. O engenheiro conta que no começo não tiveram muito retorno, “mas com o passar do tempo as pessoas começaram a ligar e mandar e-mails dizendo que haviam visto uma árvore parecida com a que procurada”. No decorrer de nove anos, o projeto conseguiu contabilizar a presença de 240 faveiros-de-wilson em 16 municípios de Minas. Paraopeba, Sete Lagoas, Matozinhos, Pequi, Esmeraldas, Florestal, Maravilhas e Nova Serrana

FOTOS: FERNANDO FERNANDES

FAVEIRO-DE-WILSON

OS CACHOS da espécie são compostos por dezenas de minúsculas flores

são alguns desses lugares. Foram mais de dez mil quilômetros percorridos e uma média de mil pessoas consultadas. O desafio não havia acabado. Com os exemplares catalogados, foi possível identificar os problemas que levaram o faveiro à condição de ameaçado. Por ser uma planta do Cerrado, endêmica da região pesquisada, fatores como perda de hábitat, dispersão de braquiárias, diminuição da presença de animais dispersores de sementes, como a anta, e de

AS VAGENS ou favas têm de 13 a 22 centímetros e possuem várias sementes

abelhas nativas, fundamentais na polinização, agravaram o processo de extinção. “A árvore leva até 15 anos para atingir a idade adulta e, assim, produzir flores e sementes. Por isso, a ameaça ao faveiro-de-wilson mostra o desequilíbrio ecológico como um todo”, avalia. PRESERVAÇÃO URGENTE Diante dessas informações, em 2014, foi publicado o “Plano de Ação Nacional para a Conservação do Faveiro-de-Wilson”. Disponível na internet, o documento relata o processo de pesquisa e catalogação. E traz informações minuciosas, tais como dados científicos, localização e ameaças à espécie. A obra aponta, ainda, as metas de conservação, como retirar o faveiro-de-wilson da categoria de “criticamente em perigo” para uma categoria de menor ameaça ou totalmente fora de risco de extinção. Outro objetivo é proteger e ampliar o tamanho das populações da árvore, em sua área de ocorrência natural, aprofundando os estu-

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FOTOS: FERNANDO FERNANDES

1 PRESERVAÇÃO QUEM É ELE

Fernando Moreira Fernandes é engenheiro florestal e fotógrafo de natureza. Já trabalhou em projetos de pesquisa na Amazônia e no “Projeto Mico-leão-dourado”. Há 23 anos atua como pesquisador no Jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (PBH), onde já foi diretor. Nos últimos 11 anos trabalha com a pesquisa e a conservação do faveiro-de-wilson. FERNANDO FERNANDES: “A busca do faveiro deu mais sentido à minha vida!”

dos, mitigando as ameaças incidentes e preservando a diversidade genética da espécie. Atualmente, o projeto de conservação encontra-se na etapa de reintrodução de exemplares. Segundo Fernandes, “450 mudas foram reintroduzidas e um terço delas está viva”. Enquanto a Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte pesquisa a fisiologia, a biologia reprodutiva e a reprodução da espécie em viveiros, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está fazendo as análises genéticas. Em maio deste ano, o projeto ganhou reconhecimento nacional e conquistou o “Prêmio Nacional da Biodiversidade” (PNB) na categoria “Órgãos Públicos”. A iniciativa concorreu com outros 887 projetos e ficou entre os 18 finalistas. Prestígio que dá mais motivação ao trabalho de Fernandes e sua equipe. “Hoje posso dizer que trabalhar nesse projeto deu mais sentido à minha vida. Virou minha missão!”, declara. O projeto conta com 30 colaboradores, a curadoria da Fundação Zoo-Botânica e o apoio de órgãos como o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 72 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

MUDAS da espécie no viveiro da Fundação Zoo-Botânica: garantindo a reintrodução e manutenção do faveiro no ambiente natural

Renováveis (Ibama), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Polícia Florestal, Instituto Terra Brasilis, Instituto Pristino, a ONG Associação dos Amigos da Serra do Elefante, a Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade de Viçosa - Campus Florestal, a Sociedade de Amigos da Fundação Zoo-Botânica e a empresa Cimentos Liz. O SAIBA MAIS http://goo.gl/hGpWSB


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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI redacao@revistaecologico.com.br

TAÇA TRANSBORDANTE Que mãe é essa que tem uma dor incurável, insana, vermelha? Cor da paixão, do derrame, do vinho tinto? Eu sou a mãe das tempestades, dos relâmpagos, dos trovões. Mãe da inquietação, do porvir, do que nunca está pronto, do que virá. Sem forma, sem endereço, sem espaço – ilimitada. A minha alma voa por terras distantes. Que poder tem uma taça de cristal, cheia de vinho tinto? O poder da chama, do fogo, do paraíso, da criação. Não, não sou normal nem nunca serei nesse porto da desesperança. Não quero mais nem menos. Não preciso de nada. Tudo está no seu devido lugar. Só não perguntei ao meu filho o que ele acha de uma mãe embriagada de vinho. Que o meu filho me perdoe, por ter uma mãe que precisa de vinho, de música, de poesia e de flor para viver. Que o meu filho me desculpe de estar tão embriagada e tão lúcida para formar palavras incompreensíveis, mas tão claras, tão transparentes, tão óbvias, tão eternas... O que fazer com a mãe imperfeita, que clama por justiça, que se banha na erva daninha da poesia e da música clássica? O que pode um filho fazer com a mãe antítese, contrária das correntes, avessa a certezas, a ordens estabelecidas? O que pode um filho encarar diante da mãe vacilante, trôpega, aberta, desdobrada, com o peito aberto, temperado com vinho, música clássica e orquídea? Estou no fundo da taça de cristal, como uma borra, uma mancha na tolha branca. Sou tinta vermelha. Sou uva, melodia. Sou o fundo da garrafa, o melhor de mim, o resto da borbulha, espumante, verdadeira. Sou mãe dos vendavais, do amor infinito, que se completa na incerteza, no que não está programado, no que não tem receita. Nem contraindicação. Eu sou a mãe do confronto. Não posso apenas ser sua mãe, porque o vinho me leva para as estrelas e para a poeira galáctica. O FOTO: DOLLARPHOTO

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inguém sabe o que um vinho tinto, uma música de Haendel e uma orquídea amarela podem fazer por uma alma errante. Podem provocar um cataclisma, um maremoto, mas ao mesmo tempo podem inspirar versos largos, tão puros, tão cabernet sauvignon, tão rosso, tão tinto! Eu não entendo nada de vinho. Não sei o buquê, a safra, mas conheço o que um vinho tinto pode fazer no inverno dos nossos corações. Enquanto ouço o minueto de Haendel, penso que o vinho é uma companhia e me deparo com a orquídea amarela, presente de aniversário de alguém muito especial. Não sei o porquê, mas a magia do vinho com a música de Haendel, misturada com a orquídea amarela, entorpecem-me os sentidos, embriagam-me de emoção. Será que eu estou tonta? Sim, há uma embriaguez dos sentidos, um eterno pacto com a loucura, com o insano, com o que não pode ser visto nem explicado. Com o indecifrável. Há uma boca suja de vinho tinto procurando outra boca, há um beijo rubro na taça de cristal buscando outra taça. Há o ranger dos dentes manchados de vinho tinto, de pura fantasia. Há um vulcão tingindo as emoções, com labaredas de música clássica, com a beleza de uma orquídea. Há um turbilhão dentro de mim! Que mãe é essa que degusta o vinho com o sabor da última esperança? Que mãe é essa que se desespera diante de uma orquídea, que anseia pela beleza da vida? Que mãe é essa que se embriaga de esperança todas as noites, que dorme com o som de Haendel? Ai, mães do mundo, que mistério tem numa taça de vinho tinto que transborda ao som da vida, do vermelho do parto, da cruz dos braços que gemem amor, que suplicam por misericórdia?

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 73


FOTO: RODRIGO PORTO

1 MUNDO CORPORATIVO

FACHADA da nova fábrica da Coca-Cola em Itabirito

SUSTENTABILIDADE NO DNA Coca-Cola investe US$ 258 milhões em sua nova fábrica “verde”, em Itabirito (MG). Uso responsável da água, da energia elétrica e apoio a programas sociais reforçam o compromisso da marca com o desenvolvimento sustentável Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

FIQUE POR DENTRO

J

á está funcionando, com plena ecologia, a nova fábrica da Coca-Cola FEMSA Brasil em Itabirito, na região Central de Minas. É a primeira unidade “verde” da empresa no estado. O novo empreendimento, inaugurado em 11 de junho, tem capacidade para produzir 2,1 bilhões de litros de refrigerantes/ ano, assegurando um incremento de 47% em relação à capacidade atual da unidade localizada em Belo Horizonte. Questões logísticas e o apoio recebido do governo estadual foram decisivos para que a empresa escolhesse Itabirito como destino de mais uma unidade produtiva em Minas. Mesmo com as ampliações de 74 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

produção e de distribuição feitas nos últimos anos, a crescente demanda de consumo exigia da empresa o abastecimento do mercado mineiro com produtos vindos de outros estados. Além de atender grande parte de Minas, a Coca-Cola também distribui e comercializa produtos na região serrana do Rio de Janeiro e, com a nova fábrica, às margens da BR040, terá acesso facilitado às duas pistas, tanto para a chegada quanto para a saída de caminhões. SELO VERDE Desde a escolha do terreno, o empreendimento adota padrões voltados para o gerenciamento eficiente dos resíduos gerados,

Investimento: US$ 258 milhões. Área construída: 65 mil m2 (em uma área de 300 mil m2). Atendimento/Logística: inicialmente, MG e a região Serrana do RJ. A logística atual será mantida, com entregas aos clientes por meio das unidades operativas. Produtos: todos os carbonatados do portfólio Coca-Cola FEMSA, como Coca-Cola, Fanta e Sprite, em todas as embalagens disponíveis. Empregos gerados: 700 diretos e indiretos. Capacidade de produção: 2,1 bilhões de litros de refrigerantes/ ano, equivalente a um incremento de 47% da capacidade instalada na unidade fabril de BH.


bem como uso responsável da água, incluindo captação de chuva e reúso de água no processo industrial. Durante a obra, 70% dos resíduos foram reciclados. A essas iniciativas ecológicas somam-se o uso de materiais com baixos índices de Composto Orgânico Volátil (COV) – que causam danos à saúde humana e à camada de ozônio –; emissão de CO2 (gás carbônico) em níveis muito baixos, madeiras e pisos com certificação sustentável, tintas orgânicas e cercas verdes. Vale destacar, ainda, a opção por motores de alto rendimento; adoção de sistema de iluminação com ajuste da intensidade da luz e sensores de presença, mais o uso de postes de iluminação com células fotovoltaicas (para aproveitamento da luz do sol). A redução do consumo de energia elétrica também será incrementada graças à presença de claraboias na cobertura da fábrica e ao monitoramento constante do consumo energético dos equipamentos. ECONOMIA DE ÁGUA A água pluvial será captada em uma área total de 52 mil m2 de telhado. Depois de tratada, se destinará a fins industriais. Nos últimos anos, informa a gerente de Comunicação Externa e Sustentabilidade da Coca-Cola FEMSA Brasil, Ana Flavia Rodrigues, a empresa vem colocando em prática estratégias de médio e longo prazos para aperfeiçoar os processos hídricos em suas instalações. Na planta de Itabirito, a taxa de utilização de água é de 1,4/1,0. “Significa que a cada 1,4 m³ de água que entra no processo, 1 m³ se transforma em produto. Do 0,4 m³ restante, consumido no meio industrial e que viraria efluente, 0,12 m³ é recuperado e, graças à sua excelente qualidade, retorna

“A companhia é consciente do seu papel como dinamizador do desenvolvimento econômico e social do Estado. A inauguração da fábrica de Itabirito é um marco na história da CocaCola FEMSA no Brasil. É a primeira construída pela empresa desde que chegou ao país há 12 anos. Fortalece nossa crença e aposta no mercado brasileiro, um dos cinco maiores de refrigerantes do mundo.”

FOTOS: LECANOVO

DISCURSOS SUSTENTÁVEIS

John Santa Maria, CEO de Coca-Cola FEMSA

“Estamos implementando aqui as melhores tecnologias para eficiência energética (cogeração, energia solar, iluminação natural dentro do prédio da produção) e tratamento de água e efluentes (utilização de água de chuva e água de reúso). Sustentabilidade é um dos pilares da nossa companhia, por isso desenvolvemos este projeto pensando minuciosamente em cada detalhe, unindo ao máximo a eficiência produtiva com o respeito ao meio ambiente.” José Ramón Martínez, presidente da Coca-Cola FEMSA Brasil

à indústria, sendo usado na higienização de banheiros e manutenção de jardins. Antigamente, eram gastos seis litros de água para produzir um litro de bebida pronta. Os números atuais demonstram o quanto a estratégia de racionalização dos recursos hídricos tem sido eficiente.” PISO PERMEÁVEL Quase toda a pavimentação das áreas externas da nova fábrica é feita em concreto fibroso. Além de oferecer grande resistência, melhor capacidade de reflexão da luz solar e boa permeabilidade de água da chuva, ele tem em sua composição uma alta taxa de material reciclado, o que se traduz em pontos no processo de certificação verde dos quase 35 mil m2 de pavimento. Atenta à localização do empreendimento, que fica no Quadrilátero Ferrífero – nos limites da Serra da Moeda, área de alta

relevância para conservação dos biomas Mata Atlântica e Cerrado –, a empresa vai investir na proteção da flora e da fauna por meio da criação de planos de enriquecimento ecológico com espécies nativas. A preservação dos cursos d’água e a recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) do entorno ampliam o leque de cuidados ambientais. “Estamos trazendo para Itabirito as melhores tecnologias do mundo em eficiência energética e no tratamento de água e de efluentes. Dessa forma, mantemos nosso compromisso de ser a marca de bebidas mais valiosa do mundo e o nosso dever de gerar valor econômico e social nas comunidades em que estamos inseridos”, frisa Ana Flavia. BEM-ESTAR SOCIAL Tendo a sustentabilidade como pilar essencial, a empresa também apoia diversos projetos

JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 75


FOTOS: DIVULGAÇÃO

1 MUNDO CORPORATIVO 2,1 bilhões de litros de refrigerente serão produzidos por ano na nova unidade

Outra fábrica do grupo com conceito sustentável, localizada em Maringá (PR), recebeu ano passado a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), sistema adotado internacionalmente para atestar o grau de ecoeficiência das construções voltados para o bem-estar das comunidades e a proteção do meio ambiente. Um exemplo é o “Programa Água – Plantas Potabilizadoras”, que possibilitou a doação de equipamentos que transformam água imprópria

ANA FLAVIA RODRIGUES, gerente de Comunicação Externa e Sustentabilidade da Coca-Cola FEMSA

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para o consumo humano em potável à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec-MG). “Esse projeto revoluciona a qualidade de vida dos moradores de pequenos municípios como Pedras de Maria da Cruz e Varzelândia, no norte de Minas, às margens do Rio São Francisco, e de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, onde não há sistema de abastecimento de água potável instalado. Um problema de infraestrutura que, historicamente, retira dessas populações o direito à saúde plena, desde os primeiros anos de vida”, conclui a gerente. O

SAIBA MAIS www.cocacolabrasil.com.br

FIQUE POR DENTRO ● A Coca-Cola FEMSA Brasil vem promovendo diversos programas sociais em Itabirito, entre eles a “Praça da Cidadania” e a “Caravana Social de Natal”, além de atuar como parceira em eventos como “Semana da Água”, “Semana do Meio Ambiente” e “Semana de Desenvolvimento Econômico”, beneficiando mais de 20 mil pessoas. Por meio do programa “Coletivo Reciclagem”, a empresa apoia cooperativas de catadores em MG que trabalham com diferentes materiais, em especial latinhas de alumínio e embalagens PET. ● Integrante do Grupo FEMSA (Fomento Econômico Mexicano), emprega 13 mil funcionários e atende 40 milhões de consumidores, nas principais regiões de São Paulo, parte do litoral paulista, Mato Grosso do Sul, região serrana do Rio de Janeiro e grande parte de Minas Gerais. Tem 30 unidades fabris nos países latino-americanos. Além de México e Brasil, atua também na Guatemala, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela e Argentina.



1 HOMENAGEM

RECONHECIMENTO PÚBLICO Câmara Municipal de BH homenageia a Revista Ecológico sob a interpretação de “Canção da América”, de Fernando Brant urto e grosso”, ao som de “Amigo é coisa pra se guardar...”, interpretado pela cantora Karime Pataro e o músico Davi Primavera. Foi assim, como se diz no jargão jornalístico, com simplicidade, emoção e conteúdo, a homenagem que o Legislativo da capital mineira prestou no último dia 26 de junho à mais longeva, respeitada e admirada publicação sobre Sustentabilidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Educação Ambiental na grande mídia impressa e digital brasileira. Segundo o autor da indicação, vereador Márcio Almeida (veja box ao lado), a distinção prestada e estendida nominalmente a cada um dos integrantes da equipe da Ecológico “enaltece e reverencia o trabalho que prestam para o fortalecimento dos melhores valores

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de uma sociedade cidadã alicerçada em princípios de sustentabilidade, preservação do meio ambiente e amor à natureza”. Em nome da equipe, o jornalista e ambientalista Hiram Firmino, diretor-geral e editor, lemFOTOS: ERNANDES FERREIRA

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brou e agradeceu os já 23 anos de circulação lunar ininterrupta da publicação, em todas as luas cheias, desde a realização da ECO/92 no Brasil: oito anos como Estado Ecológico, no jornal Estado de Minas. Outros oito como JB Ecológico, no Jornal do Brasil. E já há sete anos em carreira-solo e independente como Revista Ecológico, das montanhas de Minas para o país e o mundo, vasto mundo drummondiano, em sua versão digital (www.revistaecologico.com.br) e via redes sociais. O SAIBA MAIS

JORNALISTA MAGNA Pataro homenageia Eloah Rodrigues, diretora da Ecológico

Para conhecer toda a história da Ecológico, acesse o discurso na íntegra de seu editor, intitulado “De Mãos Dadas”, em referência a Carlos Drummond de Andrade, o homenageado deste ano no “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”.


FOTO: EDUARDO PROFETA

MESA DE ABERTURA: Luís Márcio Vianna (SindiExtra), Fernanda Almada (Fecomércio MG Sesc/Senac), Patrícia Boson (Fiemg), Vasco Araújo (PBH), Márcio Almeida, Hiram Firmino, Suellen Dutra Pereira (Casa Civil) e Cristiano Parreira (SindiExtra/Ferrous)

SEM AMOR, NÃO HÁ EDUCAÇÃO AMBIENTAL* “Desde seu nascimento, em 2008, a Revista Ecológico vem acumulando prêmios e o reconhecimento nacional por nos mostrar, a cada lua cheia, que a nossa percepção em relação ao meio ambiente pode ser diferente. Com encantamento, respeito, solidariedade, cuidado, compaixão. E o mais importante, com amor. Sem amor, não há informação nem educação ambiental capaz de mobilizar pessoas para a necessária mudança de atitude em relação à questão ambiental. Outro fato meritório desta publicação em constante metamorfose é ela ser dedicada à memória do nosso ambientalista maior, Hugo Werneck. Foi ele quem primeiro nos ensinou a sermos amorosos e incondicionalmente generosos com a vida em toda a sua manifestação e diversidade. Seu encantamento com a natureza é fonte inspiradora estampada permanentemente nas publicações e reportagens da Revista Ecológico. Já Hiram Firmino, sua equipe, colaboradores e conselheiros notáveis fazem parte de um grupo de pessoas capaz de conquistar adeptos e provocar mudanças pela persistência que se dedicam à causa. Como a Ecológico nos instiga, precisamos elevar a nossa consciência individual e planetária. Enquanto não nos posicionarmos, de maneira pragmática, pela sustentabilidade e o amor à natureza que Hugo Werneck pregava, continuaremos vivendo num mundo sem esperança, que não escolhemos nem desejamos. É possível, e dever de todos nós, mudar esse nosso destino comum.” (*) Márcio Almeida Trechos de seu discurso.

Cristiane Nobre, Roberto Baraldi e Maria Elvira: presenças parceiras

Alessandra Cristina, Ana Paula, André Firmino, Cristiane Mendonça, Denise Coelho, Hiram Firmino, Eloah Rodrigues, Fábio Vincent e Fernando Gilberto

Janaína De Simone, Luciana Morais, Luciano Lopes, Hiram Firmino, Marcos Takamatsu, Sanakan Firmino, Sarah Caldeira e Silmara Belinelo


1 HOMENAGEM

Aplausos motivadores A Ecológico compartilha e agradece algumas das mensagens recebidas

JOSÉ FERNANDO COURA, presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (SindiExtra) e diretor-presidente do Ibram

“Meus cumprimentos ao jornalista e grande amigo Hiram Firmino. Junto-me a todos de sua equipe nesta justa e merecida homenagem à Revista Ecológico.” SÁVIO SOUZA CRUZ, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

“Justa homenagem, em se tratando de uma das maiores e melhores publicações sobre meio ambiente do país.” MÁRIO CAMPOS, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Minas Gerais (SIAMIG)

“Parabenizo a revista pelo seu compromisso de ampliar a consciência e mudar o comportamento de todos nós em respeito ao meio Ambiente.” IVAIR NOGUEIRA, deputado estadual

“Parabenizamos a Ecológico pela honraria recebida. Este recohecimento é a consequência de anos de trabalho prestados à sociedade, por meio de informações relevantes que despertam a comunidade a debater as questões ambientais.”

a publicação dá aos seus leitores, contribuindo para a preservação do meio ambiente e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos brasileiros.” ROBERTO ANDRADE, deputado estadual

“Parabéns pela justa e merecida homenagem da Câmara Municipal. Essa sua iniciativa é um importante reconhecimento ao trabalho que Hiram e sua equipe têm desenvolvido com dedicação, empenho e muito talento.” OLAVO MACHADO, presidente da FIEMG

“Parabéns por esta importante publicação nacional sobre meio ambiente.” RICARDO CAMARGOS, superintendente de Sustentabilidade Empresarial da Cemig

“Parabéns pela bela e justa homenagem! A Ecológico dá imensa contribuição à causa ambiental no Brasil. Hoje, graças à sua talentosa equipe e à seriedade de sua linha editorial, é respeitada em todo o país.” MARCO ANTÔNIO LAGE, diretor de Comunicação Corporativa do Grupo Fiat Chrysler do Brasil FOTO: ERNANDES FERREIRA

“Parabenizo ao vereador Márcio Almeida pela indicação e à Câmara Municipal de BH, na pessoa de seu presidente, Wellington Magalhães, a concessão do Diploma de Honra ao Mérito à Revista Ecológico. Tal publicação merece o reconhecimento público pelo teor de seus artigos, que transmitem a preocupação com o Meio Ambiente, e pela competência de seu corpo editorial.”

WAGNER FURTADO VELOSO, presidente executivo da Fundação Dom Cabral

“Esta homenagem é justa e fruto de um grande trabalho que pode ser conferido nas matérias e artigos que trazem temas tão caros a nós todos, e que contribuem para formar cidadãos mais conscientes do seu papel no mundo.” RÉGIS SOUTO, chefe de Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Belo Horizonte

“Esta justa e merecida homenagem é um reconhecimento ao importante incentivo que

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VASCO ARAÚJO, secretário-adjunto de Meio Ambiente de BH, e Hiram Firmino, ex-titular da pasta: confraternização verde


Preservação ambiental. Um investimento com retorno garantido.

A CBMM atua de forma responsável e eficiente na gestão dos recursos naturais que utiliza. Por isso, investe continuamente na redução do uso, no controle de qualidade e no reaproveitamento da água em seus processos. Práticas que vêm dando resultado: a CBMM recircula atualmente 95% da água utilizada, e a meta é alcançar a marca de 98% nos próximos dois anos. Um compromisso da CBMM com a natureza e com o futuro de todos nós. CBMM. Aqui tem nióbio.

Os animais ilustrados fazem parte do CDA – Centro de Desenvolvimento Ambiental.

www.cbmm.com.br


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PERFIL: IOLANDA VIANA

DOUTORA DO TEMPO Mãe do ambientalista Virgílio Viana e uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina em BH, doutora Iolanda Viana revela como chegar lúcida aos 101 anos Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br

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ara entrar na casa dessa senhora, você tem que deixar para trás a correria e a pressa, porque o tempo dela exige uma conversa longa, ter olhos e ouvidos para dar atenção a uma história de vida exemplar. Ninguém sai do apartamento amplo, confortável, decorado com móveis que também contam histórias, no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, sem degustar um lanche de outro tempo: pão de queijo, biscoitos, bolo, geleias, doces diversos feitos em casa – e uma muçarela de tirar o fôlego de tão deliciosa, vinda lá da fazenda Grota Funda, em Lagoa Santa. Ninguém tem coragem de recusar, porque o tempo dentro do apartamento da doutora Iolanda Maria Maurício Viana, de 101 anos, tem o doce tempero da longevidade saudável. Ela está sentada em uma cadeira na sala de estar. Vestida elegantemente com um conjunto de saia e blusa de tweed, um colar de pérolas, ela responde prontamente – e com bom humor – à pergunta sobre como é envelhecer e atingir a marca dos 101 anos: “Velhice? Para mim ainda não chegou. Ela não deu conta de mim. Sou médica, mas gosto de ler, escrever, faço ginástica, porque comigo tem que ser tudo nos trinques”. Desde menina, tinha o hábito de praticar ginástica sueca no banheiro, antes de tomar banho. “Era uma bíblia para mim, fazia ginástica diariamente.”

IOLANDA: "Para mim, a velhice ainda não chegou"

Para entrar no mundo de Iolanda, o guia é um de seus quatro filhos, Virgílio Viana, ex-secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas e atual superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, em Manaus, que a mãe o define como “extraordinário”. Foi com ela que Virgílio aprendeu o amor à natureza e técnicas de manejo na Fazenda Grota Funda, de propriedade da família desde os tempos em que era preciso ir e voltar de charrete, porque não havia asfalto. Até hoje quem dá a palavra final nas vendas de gado e nas decisões mais importantes da família é Iolanda. Virgílio ajuda, mas quem negocia e dá o preço é a mãe. Não podia ser de outro jeito para essa clínica geral formada num tempo em que as mulheres não podiam entrar no curso de Medicina, pois corriam o risco de não arranjarem um bom casamento. Que nada! Iolanda não só se formou em Medicina como depois fez pós-graduação em Paris, França. Mulher impossível que só tirava nota 10, do curso primário, como era chamado na época, até o exame oral da banca examinadora. “Nunca tirei segundo lugar", diz Iolanda. Um dos professores que compunha a banca assim se expressou sobre ela: “Esta menina é uma águia. Nós estávamos procurando uma profissional assim como agulha no palheiro”. Medo de não casar? Para Iolan-


“AMO A VIDA” Sobre o entardecer da vida, Iolan-

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

DOUTORA IOLANDA fazendo pilates: sempre foi adepta de exercícios físicos e adorava ginástica sueca FOTOS: ANDRÉ FIRMINO PEREIRA

da esse pensamento nunca passou pela sua cabeça. “Sempre tive muitos admiradores, pois eu era muito bonita.” Foi a beleza, a competência profissional e a inteligência de Iolanda que cativaram o advogado Lourival Vilela Viana, que chegou a diretor da Faculdade de Direito da UFMG até ser cassado pela ditadura. Com a Anistia, ele voltou para as suas funções na mesma faculdade. Ele partiu há mais de 15 anos, mas a doutora não se esquece do seu campeão mineiro de mergulho de natação, craque em nado crawl. A propriedade rural de Lagoa Santa levou o filho a galgar passos sustentáveis. Formou-se em Engenharia Florestal e fez Ph.D. em Harvard (EUA). “Ela foi minha madrinha no meio ambiente”, diz Virgílio. Ele se lembra de como tudo começou. “Na fazenda, havia uma árvore nativa conhecida como bolsa-de-pastor ou ipê-felpudo, tida como invasora, pois tomava todo o pasto, com um custo anual muito alto.” Eles, então, mudaram o sistema de manejo para silvipastoril, ou seja, criaram uma floresta com um pasto dentro. Quando vem visitar a mãe, ele vai para a fazenda, que já está incluída no roteiro turístico da família e dos convidados. “É um lugar com muita fartura de água, por isso o mato cresce à beira dos córregos para ajudar as nascentes. Deixamos a natureza agir. É tudo muito bem conservado naturalmente”, diz Virgílio, que tem orgulho da mãe e a trata com cuidado e afeto. Para os convidados, há sempre um menu especial: costelinha com canjiquinha é um dos pratos preferidos. E o convite para ir à fazenda vem de Iolanda, que faz questão que as pessoas conheçam esse paraíso. “Nos fins de semana quando estamos na fazenda, vamos todos os dias ao curral, fazemos caminhadas, pois o clima é muito agradável”, completa Virgílio.

VIRGÍLIO VIANA e a mãe: "Ela foi minha madrinha no meio ambiente"

da é categórica. “Envelhecer? Não tenho experiência ainda, não cheguei lá. Estou novinha em folha.” Ela não gosta de se apegar ao passado. “O tempo de hoje é muito bom. Não fico lamentando. Não tenho pensamentos negativos e não fico fazendo elucubrações sobre o passado, o futuro, a velhice e a morte. É perda de tempo. A gente tem que se adaptar aos tempos.” E dá um exemplo: “O doce pode não estar no ponto certo, não cortar na tábua, mas você tem que ir tentando até acertar. Os recursos mate-

riais e culturais são apresentados e você é que escolhe o que quer tirar desse mundo”, diz essa senhora lúcida aos 101 anos. Se ela é religiosa? “Sim”, responde, “mas não sou maníaca, não vivo dentro de igreja. Cumpro os meus deveres de católica. Rezo, pelo menos, uma ave-maria toda noite”. E para o espanto das pessoas à volta, ela diz que não toma nenhum remédio e que, depois de rezar a ave-maria, se deita e dorme em cinco minutos. Confessa que não gosta de ficar no escuro. “Mas amo a vida.” O JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 83


1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

SENTIMENTO EM

CORES Fotografias de Ilana Lansky mostram que o amor e a beleza natural são os pontos centrais de seu trabalho Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

A

EXPOSIÇÃO Algumas das fotos de Ilana estão expostas no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade, na capital mineira, até o dia

09 de agosto. Em tempos de tecnologia e photoshop, algumas fotografias produzidas na década de 1990 foram pintadas pela artista, minuciosamente, à mão, fazendo com que Ilana fosse pioneira nesse trabalho em álbuns de noivas. Além das cores extremamente vibrantes, distribuídas entre matas, animais, rostos e tecidos, na exposição também é possível conhecer os registros fotográficos de Moyses, que retratam momentos triviais do cotidiano familiar. Aprecie, a seguir, algumas das fotografias de Ilana. Vale a pena observar cada clique e tentar imaginar a história que eles contam! SAIBA MAIS www.memorialvale.com.br

ILANA: trabalho apaixonante 84 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

FOTO: ANA VALADARES

vida de Ilana Lansky e seu amor pela fotografia podem ser contados, literalmente, sob a ótica de um mesmo prisma. Nascida em 1956 na cidade de Rehovot, em Israel, Ilana passou os primeiros anos de vida em uma comunidade agrícola. O pai, Moyses Lansky, dividia o tempo entre o trabalho no campo e a fotografia amadora, que havia aprendido com um colega. A vida familiar e as festas locais criaram, com naturalidade, o cenário para os primeiros registros em preto e branco realizados por Moyses. Entre eles, a rotina infantil da pequena Ilana. Em 1960, a família muda-se para o Brasil, mais especificamente para Belo Horizonte (MG), onde a menina cresce vendo o pai revelar os próprios retratos no laboratório da família. Lembranças que motivaram a fotógrafa a se inspirar e trilhar o mesmo caminho. Nos mais de 30 anos de profissão, ela já não consegue mais dizer quantos registros fez. Afinal, foram trabalhos na área de moda, publicidade, fotografia industrial e fotojornalismo. Com destaque para o fato de ter sido uma das primeiras mulheres fotógrafas a entrar em Serra Pelada, Pará, no início do garimpo. Do pai, ela conta que guarda “não só as boas lembranças, mas o amor pela natureza, vindo dos tempos em que era criança e vivia rodeada pelo verde nos chamados kibutz”. E acrescenta: “Eu adoro as fotografias do meu pai, não só por serem em preto e branco, mas por também trazerem a naturalidade daquela época! Às vezes ele me pedia para sorrir, e eu não queria, e por isso mesmo as imagens ficavam tão espontâneas”.


QUEM É ELA Ilana Lansky nasceu em Rehovot, Israel, em 1956. Veio com a família para o Brasil em 1960 e trabalha com fotografia desde 1981, influenciada pelo pai, Moyses Lansky, que era fotógrafo amador. Estudou Fotografia de Moda no Institute Of Contemporany Photography, em Nova York (EUA) e produziu reportagens sobre os índios no Pará, Goiás e Maranhão para a Revista Manchete. Teve seus trabalhos publicados nas revistas Fotóptica, Vogue, Interview e no Jornal do Brasil.

facebook.com/ilana.lansky flickr.com/photos/ilanalansky www.ilana-lansky.blogspot. com.br

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VICTOR DZENK,2012

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

MANUELA, 1993

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FOTOS: ILANA LANSKY

COCO,1998

CLAUDIA, 1984

ANNA, 1990

JULIANA, 1990


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MEMÓRIA ILUMINADA - PAPA FRANCISCO

A SUBVERSÃO DE Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

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ivulgada no mês passado, em que se comemora o “Dia Mundial do Meio Ambiente”, a encíclica “Laudato Si” (Louvado Seja) - assinada e divulgada pelo Papa Francisco - foi um sopro de renovação espiritual, ética e ecológica para os católicos. E, indiretamente, para o movimento ambientalista internacional. Mais que um documento religioso, a encíclica é um chamado à ação, uma crítica voraz ao desenvolvimento sem respeito à natureza. Uma ode ao compromisso de se preservar a vida na Terra. Alinhada a esse pensamento, a iniciativa de Francisco, agora o mais ecológico dos papas, é mais que um reforço sustentável: marca um novo momento para a Igreja Católica. Ela assume a dianteira na “revolução corajosa” que propõe para salvar as nossas riquezas naturais. E, claro, toda a humanidade, incluindo católicos ou não, crentes e descrentes, junto. O posicionamento consistente sobre as questões ambientais sempre foi uma lacuna que faltava ser preenchida pela Igreja, principalmente no Brasil. Agora, ganhou consistência com a visão contemporânea de Francisco, que busca renovar o pensamento cristão (e a própria instituição) abordando temas atuais e, muitas vezes, polêmicos. “Laudato Si” é um exemplo dessa renovação. E é imprescindível para a causa ambiental que tenha surgido em um momento de crise, tanto ecológica quanto de valores. Nas suas 200 páginas, o documento aponta a atividade humana como a grande responsável pela destruição

O PAPA ECOLÓGICO: “Vamos dizer sem medo: queremos uma mudança. Este sistema capitalista já não se aguenta. Os trabalhadores, as comunidades e os povos não aguentam. Nem a Terra aguenta!” 88 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015


FOTO: FRANCO ORIGLIA

FRANCISCO

da “casa comum” - a Terra, nosso paraíso ameaçado. Critica o capitalismo selvagem e o sistema financeiro que aumenta a exclusão social, estimula o consumo e transforma o planeta em uma lata cheia de lixo. E, mais surpreendente ainda, acusa a política e a tecnologia de cooptarem com a degradação natural do Éden terrestre em nome do lucro. Ainda explica o motivo de tanto desamor à natureza que nos protege e dá vida: “O pensamento judaico-cristão desmitificou a natureza. Sem deixar de a admirar pelo seu esplendor e imensidão, já não lhe atribui um caráter divino”. Para mudar essa realidade, o Papa nos faz um convite urgente: renovar o diálogo sobre a manei-

ra como estamos construindo o futuro do planeta. “Muitas coisas devem reajustar o próprio rumo, mas antes de tudo é a humanidade que precisa mudar. Falta a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e um futuro partilhado por todos. Essa consciência basilar permitiria o desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida. Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará em longos processos de regeneração.” A seguir, a Ecológico selecionou alguns trechos da encíclica verde de Francisco, que pode ser lida na íntegra no site oficial do Vaticano (acesse o link http:// goo.gl/S1tW7N). Louvada e abençoada leitura!

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MEMÓRIA ILUMINADA - PAPA FRANCISCO

FOTO: JAYANTA DEY / REUTERS

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“As lições da crise financeira mundial não foram aprendidas. E levamos em conta as lições da deterioração do ambiente com muito atraso.” O CONVITE “Lanço um convite urgente para renovarmos o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na conscientização.” “Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de uma nova solidariedade universal.” O GRITO DA TERRA “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no 90 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos.” O DETERIORAÇÃO ÉTICA “A dificuldade em levar a sério este desafio tem a ver com uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioração ecológica. O homem e a mulher deste mundo pós-moderno correm o risco permanente de se tornar profundamente individualistas. Muitos problemas sociais de hoje estão relacionados com a busca egoísta duma satisfação imediata, com as crises dos laços familiares e sociais, com as dificuldades em reconhecer o outro.” O FUNÇÃO SOCIAL “As regiões e os países mais pobres têm menos oportunidades de adotar novos modelos para reduzir o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente, porque eles não têm a formação para desenvolver os processos necessários. E não podem pagar por isso.” “Chegou o momento de aceitar uma certa diminuição do crescimento em algumas partes do mundo, fornecendo recursos para o crescimento saudável em outras partes.”


“Qualquer abordagem ecológica deve incorporar uma perspectiva social que leve em conta os direitos humanos das pessoas mais desfavorecidas.” O DESIGUALDADE PLANETÁRIA “A dívida externa dos países pobres transformou-se num instrumento de controle, mas não se dá o mesmo com a dívida ecológica. De várias maneiras os povos em vias de desenvolvimento, onde se encontram as reservas mais importantes da biosfera, continuam a alimentar o progresso dos países mais ricos à custa do seu presente e do seu futuro.” “A terra dos pobres do Sul é rica e pouco contaminada, mas o acesso à propriedade de bens e recursos para satisfazerem as suas carências vitais é-lhes vedado por um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso.” O CONFLITO HÍDRICO “Enquanto a qualidade da água disponível está em constante deterioração, há uma tendência crescente em alguns lugares de privatizar esse recurso limitado.”

“A fraqueza da resposta política internacional é impressionante. Muito facilmente o interesse econômico prevalece sobre o bem comum e manipula informações para não ver seus projetos afetados.” O TECNOLOGIA “O antropocentrismo moderno acabou por valorizar muito mais a razão técnica em detrimento da realidade. A vida está sendo abandonada às circunstâncias condicionadas pela tecnologia, vista como o principal meio de interpretar a existência.” O PAPEL DA RELIGIÃO “A maioria dos habitantes do planeta declara ter fé, e isso deveria incitar as religiões a entrar em diálogo com vista à conservação da natureza, da defesa dos pobres, da construção das redes de respeito e de fraternidade.”

FOTO: ANTONY NJUGUNA / AFP

“Espera-se que o controle da água por grandes empresas globais se torne uma das principais fontes de conflito neste século.”

O FRACASSO POLÍTICO “A submissão da política à tecnologia e às finanças se revela no fracasso das cúpulas sobre o clima. Infelizmente, muitos esforços para encontrar soluções concretas para a crise ambiental falham frequentemente, não só por causa da oposição dos poderosos, mas também por uma falta de interesse por parte dos outros.”

“O antropocentrismo moderno acabou por valorizar muito mais a razão técnica em detrimento da realidade. A vida está sendo abandonada.”

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MEMÓRIA ILUMINADA - PAPA FRANCISCO

FOTO: SYED ZAKIR HOSSAIN / GREENPEACE

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“Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana.”

O INCOERÊNCIA “Não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos. É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressase dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta. Isso compromete o sentido da luta pelo meio ambiente.” O MENSAGEM BÍBLICA “Nós não somos Deus. A Terra nos precede e nos foi dada. Foi dito que, a partir da história de Gênesis, que convida ‘a dominar’ a Terra, incentivamos a exploração descontrolada da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e destrutivo. Essa não é uma interpretação correta da Bíblia.” “É importante lembrar que os textos nos convidam a cultivar e manter o ‘jardim’ do mundo. A espiritualidade cristã propõe um crescimento pela sobriedade, e uma capacidade de desfrutar sem estar obcecado com o consumo.”

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O TRANSFORMAÇÃO “A destruição do ambiente humano é um fato muito grave, porque, por um lado, Deus confiou o mundo ao ser humano. E, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido de várias formas de degradação. Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades.” O SÃO FRANCISCO “Tomei o seu nome por guia e inspiração, no momento da minha eleição para Bispo de Roma. Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos.” "Ele manifestou uma atenção particular pela Criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa


VERDADES NADA SECRETAS FOTO: REPRODUÇÃO

maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.” O AMAZÔNIA “Mencionemos, por exemplo, os pulmões do planeta repletos de biodiversidade, que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância desses lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar.” “Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos estrangeiros que, a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com efeito, há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais.” O AQUECIMENTO GLOBAL “O aquecimento influi sobre o ciclo do carbono. E cria um ciclo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais quentes, provocando a extinção de parte da biodiversidade do planeta.” “O derretimento das calotas polares e das glaciares ameaça com a liberação, de alto risco, de gás metano. E a decomposição da matéria orgânica congelada poderia acentuar ainda mais a emissão de anidrido carbônico. Entretanto, a perda das florestas tropicais piora a situação, pois elas ajudam a mitigar a mudança climática.” “A poluição produzida pelo anidrido carbônico aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha. Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e de uma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós.” “Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ambientais ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos das mudanças climáticas.”

O PAPA em sua viagem à América do Sul: posição firme contra um modelo de mundo e de desenvolvimento que exclui A CORRUPÇÃO “É a gangrena de um povo.” IDEOLOGIAS POLÍTICAS “Elas terminam mal, não servem, têm uma relação incompleta, doente ou ruim com o povo. No século passado, elas terminaram em ditaduras que pensam pelo povo, sem deixá-lo pensar.” DIREITOS DOS POBRES “Os pobres não podem ser usados para atender interesses políticos e pessoais. Os cidadãos e os governos precisam se afastar do caminho do egoísmo, do conflito, da divisão e da superioridade.” CULTURA DO DESCARTE “Basta dessa lógica que busca transformar tudo em objeto de troca, de consumo: vê tudo ser negociável. Uma lógica que descarta aqueles que não produzem, que não são considerados dignos porque não dão números, não fecham as contas.” ESPIRITUALIDADE MUNDANA “É impensável que brilhe a unidade se a mundanidade espiritual nos faz estar em guerra entre nós, numa busca estéril de poder, prestígio, prazer ou segurança econômica. E isso a custo dos mais pobres, dos mais excluídos, dos mais indefesos, daqueles que não perdem sua dignidade, apesar de ela ser atingida todos os dias.” CAPITALISMO “Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum.” “Impôs a lógica do lucro a todo custo, sem pensar na exclusão social e na destruição da natureza. É uma sutil ditadura.”

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MEMÓRIA ILUMINADA - PAPA FRANCISCO

FOTO: JLU GUANG / GREENPEACE

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“Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e de uma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós.” O EXTINÇÃO DE ESPÉCIES “Não basta pensar nas diferentes espécies apenas como eventuais recursos exploráveis, esquecendo que possuem um valor em si mesmas. Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana. Por nossa causa, milhares de espécies já não darão glória a Deus com a sua existência, nem poderão comunicar-nos a sua própria mensagem. Não temos o direito de fazer isso.” O EDUCAÇÃO AMBIENTAL “A educação ambiental amplia os objetivos. Se, no começo, estava muito centrada na informação científica e na conscientização e prevenção dos riscos ambientais, agora tende a incluir uma crítica aos mitos da modernidade baseados na razão instrumental (individualismo, progresso ilimitado, concorrência, consumismo, mercado sem regras). E tende também a recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus.”

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“A educação ambiental deveria predispor-nos para dar este salto para o Mistério, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo. Além disso, há educadores capazes de reordenar os itinerários pedagógicos duma ética ecológica, de modo que ajudem efetivamente a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado assente na compaixão.” O ESPERANÇA “Nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de olhar a si mesmos com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar.”


REPERCUSSÕES SUBVERSIVAS

José Maria Simone, presidente da Uniapac, entidade que congrega todas as Associações de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCEs) do mundo FOTO: REMY STEINEGGER

Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma

“O Papa ressaltou que a mudança climática é um dos principais desafios à humanidade. E uma questão moral que implica um diálogo respeitoso com todos os segmentos da sociedade. Temos a obrigação de proteger nossa casa comum, a Terra, e ser solidários com os pobres e vulneráveis, que sofrem mais os efeitos do clima.” Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU

Christiana Figueres, presidente da Convenção da ONU para a Mudança Climática

“Como ambientalistas, valorizamos e nos sentimos honrados com o nobre engajamento do Papa Francisco.” SOS Mata Atlântica

FOTO: UNFCCC

Vittorio Cogliati Dezza, presidente da ONG Legambiente “A encíclica terá um impacto muito forte. Nenhum papa havia tomado partido da causa ambiental assim. É o fruto de uma paixão imensa.”

“As palavras do Papa devem servir para afastar os governantes de seu comportamento apático. Elas são um incentivo para que os líderes aprovem legislações severas de proteção ao clima em seus países. E para que, em Paris, no final do ano, cheguem a um sólido acordo climático.” Greenpeace

FOTO: REPRODUÇÃO

“Para um ambientalista, ler a encíclica do Papa sobre o meio ambiente dá uma estranha sensação de espanto e satisfação. Tantos temas que levamos em frente com batalhas ambientalistas encontram uma autorizadíssima confirmação no texto, encastoada numa iniludível solicitação ética e espiritual para os não-crentes, e religiosa para os que creem.”

“Como líderes empresariais cristãos, nós aceitamos o chamamento do Papa para empenhar nossos maiores esforços em todos os aspectos e abordagens ecológicas, sempre sob uma perspectiva social que deve levar em conta os direitos fundamentais dos pobres e dos menos privilegiados, pois sobre todo ativo privado existe uma dívida social a ser resgatada.”

“A mensagem do Papa Francisco acrescenta uma abordagem moral muito necessária para o debate sobre o clima. As mudanças climáticas não são apenas mais uma questão científica; é cada vez mais uma questão moral e ética. Ela afeta as vidas, os meios de subsistência e os direitos de todos, especialmente, de comunidades pobres, marginalizadas e vulneráveis.” O WWF JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 95

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Esta encíclica é um grito de alerta não apenas aos católicos, mas também aos demais habitantes do planeta. A ciência e a religião estão de acordo em um ponto: é preciso agir agora. Como o Papa, pensamos que nossa resposta à degradação do meio ambiente e às mudanças climáticas não pode ser apenas científica, tecnológica ou econômica, mas deve se submeter a um imperativo moral.”

FOTO: UNEP

Logo após a divulgação da encíclica ecológica de Francisco, várias personalidades e instituições se posicionaram de forma positiva em relação à iniciativa do pontífice. Confira:


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

NA CONTRAMÃO DA TRAGÉDIA AMBIENTAL

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encíclica sobre meio ambiente publicada pelo ambiental e menciona os indiferentes que, mesmo Vaticano mostra mais uma vez a personalida- não sendo “poderosos” agem como vítimas, e não de surpreendente do atual Papa. Apesar de a como sujeitos que são enquanto consumidores fretemática ambiental não ser novidade dentro da igre- néticos ou cidadãos omissos. ja, haja vista que a Conferência Nacional dos Bispos Outra máxima: “Muito facilmente o interesse ecodo Brasil (CNBB) adotou temas correlatos por diver- nômico prevalece sobre o bem comum e manipula sas vezes, nunca em sua história, a maior autoridade informações para não ver seus projetos afetados”. da igreja falou tão claro e direto sobre o assunto. Manipular informações não sei, mas muito me preO papa disse que “chegou o momento de aceitar ocupa perceber uma forte preocupação econômica um certo decrescimento em algumas partes do mun- com a crise de água, em Minas, bem desligada de do aportando recursos para que seja possível crescer suas principais causas – desmatamento, erosões, alde maneira saudável em outras partes”. Sua inspira- terações climáticas que tenho visto em pronunciação deve ter sido o nível de consumismentos de representantes do mo alucinado dos americanos, maior setor privado e do Governo. exemplo da desigualdade do consu“A tradição cristã nunca reco"Quanto às mo de recursos naturais. nheceu como direito absoluto O “crescer de forma saudável” é bem 'reivindicações nobres', ou inviolável o direito à promais complicado, pois boa parte dos privada, ela destaca a a afirmativa do Papa é priedade países que precisam “crescer” não tem função social de todas as formas tão pertinente quanto de propriedade privada”. Essa mais recursos naturais suficientes para tanto, dilapidados que foram pelo uso fala do Papa Franscisco deve ter triste. Até Hitler predatório. Como a maior parte da arrepiado o cabelo dos ruralisacreditava na África ou do Nordeste brasileiro. tas que não são carecas. Nada Disse ainda que é “insustentável o os irrita mais que o questionanobreza de seu comportamento daqueles que conmento sobre o suspeito “direito feroz genocídio." somem e destroem mais e mais, enlimitado” deles sobre as árvores, quanto outros não podem viver de a água e os animais que habitam acordo com sua dignidade humana”. suas propriedades. Tem toda razão. Mas o máximo que os países do Pri“É previsível que, frente ao esgotamento de alguns meiro Mundo fazem é caridade. Não são capazes de recursos, seja criado gradualmente um cenário favorepensar seu estilo de vida nem mesmo em benefício rável para novas guerras, disfarçadas de reivindicapróprio. Que dirá dos outros! ções nobres.” Dizer que é “previsível”, no caso, é um A encíclica diz também, que “infelizmente, muitos baita eufemismo. Mas quanto às “reivindicações noesforços para encontrar soluções concretas para a bres” a afirmativa é tão pertinente quanto triste. Até crise ambiental falham frequentemente, não só por Hitler acreditava na nobreza de seu feroz genocídio. O causa da oposição dos poderosos, mas também por uma falta de interesse por parte dos outros”. Gostei desta parte. Qualifica os poderosos que continuam (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). acreditando que não serão atingidos pela tragédia

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1 JUSTIÇA

PROJETO SEMENTE FOTO: REPRODUÇÃO

MPMG lança site para garantir segurança jurídica e transparência na destinação de verbas originadas de medidas compensatórias ambientais Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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vinda de medidas compensatórias para fomentar projetos de proteção ou recuperação ambiental nas regiões de bacias hidrográFOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

ma plataforma virtual que auxilia os promotores de justiça na seleção de projetos socioambientais criados pelo terceiro setor, iniciativa privada e poder público. Essa é a proposta do “Projeto Semente”. A iniciativa é fruto de parceria entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) e o Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (Cemais). Seu objetivo maior é garantir a segurança jurídica e a transparência na destinação das medidas compensatórias ambientais. Funciona da seguinte forma: a entidade interessada acessa o site www.sementemg.org e cadastra as informações do seu projeto em um formulário digital. O Cemais analisa e valida os dados prestados e, caso sejam aprovados, eles ficam disponíveis no banco de dados por dois anos para apreciação dos promotores de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Estado. A instituição cadastrada poderá acompanhar todas as etapas do processo e seus respectivos prazos, por meio de login e senha. Caso sejam selecionados, esses projetos são convidados para uma eventual adequação na proposta. E, em seguida, realiza-se a assinatura de um termo de compromisso junto ao MPMG como condição para o início do repasse dos recursos. Essa dinâmica utiliza a verba

CARLOS EDUARDO: “MPMG é catalisador de parcerias”

ficas, incluindo monitoramento de unidades de conservação, cadastro de novas espécies e viabilização de corredores ecológicos, entre outras ações. “O Projeto Semente transforma a imagem punitiva do Ministério em uma imagem feitora, já que a sociedade será a contemplada com essa ação. O órgão vem tentando ser um catalisador de várias parcerias, já que somente a força dessas ligações é capaz de transformar a sociedade”, afirmou o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), Carlos Eduardo Ferreira Pinto. O JULHO DE 2015 | ECOLÓGICO O 97


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

A LUA AZUL

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FOTO: ALFEU TRANCOSO

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nome julho tem sua origem numa homenagem ao imperador romano Júlio César. Outra curiosidade: antes de ser julho, ele se chamava quintilis. No Brasil, como é inverno nessa época, é um mês que, dependendo da região, sofre algumas variações climáticas. Na região Sudeste é tempo de pouca chuva. Os dias de julho têm céu límpido e sem nuvens, mas de um azul todo especial. Já as suas noites são famosas pelo brilho e pelo esplendor acentuado da Via Láctea. Essas noites são um pouco frias, mas vale a pena, bem agasalhado, sentir suas belezas e curtir seus mistérios. Vai uma dica: quer sensibilizar uma pessoa de quem gosta, para sempre? Convide-a para assistir a uma noite estrelada de julho. Mostre a ela o brilho elegante de Júpiter, a beleza cintilante de Saturno e o vermelho esmaecido de Marte (todos os nomes desses planetas têm referência nos deuses gregos). Conte para ela a história da Via Láctea, que é a nossa galáxia-mãe e onde a Terra e todo Sistema Solar orbitam em sua terceira espiral. Diga a ela que a historia do céu é quase toda contada tomando como base a mitologia grega. Depois, finalmente, diga a essa pessoa querida que o céu é um modo muito interessante para observarmos o passado, pois as luzes das estrelas que estão chegando agora em nossos olhos já devem ter desaparecido. Umas das estrelas do Cruzeiro do Sul, por exemplo, já desapareceu, mas sua luz ainda continua chegando até nós. Quando ela explodiu, os egípcios nem tinham começado as pirâmides. Na realidade, nós não temos acesso ao presente, mesmo em curtas distâncias. Agora, o fenômeno mais belo e atraente que vai acontecer nesse período é que este julho tem duas luas cheias, uma normal no dia 02, e a outra, a lua azul, em 31. Vale lembrar que a última lua azul ocorreu em dezembro de 2009. A expressão “lua azul” é apenas para exprimir esse fenômeno raro, que é ter duas luas cheias no

"Quem assiste a um nascer da lua azul terá os mimos mais desejados e cultivados pelos espíritos benignos do Cosmos." mesmo mês. Na realidade, todo mês que tem 31 dias pode ter duas luas cheias, o que sempre ocorre a cada dois anos e sete meses. A repercussão desse fenômeno é muito mais cultural, espiritual e intimista do que astronômica. As boas línguas afirmam que, quem assiste a um nascer de lua azul terá os mimos mais desejados e cultivados pelos espíritos benignos do cosmos. Tornando, desse modo, uma pessoa bem mais sensível às experiências celestes. E que uma energia cósmica especial é irradiada com mais intensidade nesse período, fazendo a gente amar julho e suas noites com muito mais intensidade. Como bem diz a música de Alceu Valença: “Júlia gostava de julho, que amava o inverno sombrio e soturno. Júlia gostava de julho”. Mas ainda há tempo de se gostar da gente e do mundo em todos os meses do ano! O (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.




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