1º Semestre • 2015 | 15ª edição
Corrente do bem
Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?
SOLIDARIEDADE
Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.
DIA A DIA
Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.
Combinação única de bons valores e excelência.
O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da
educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente
BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400
Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes
Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho Curitiba-PR | Prédio Administrativo PUCPR 8º andar - CEP: 80215-901 | Tel.: (41)3271-6500
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Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500
15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral
com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.
Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875
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EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos
Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br
REDAÇÃO
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Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com
Capa Fernando Pereira,
estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.
FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.
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índice
capa
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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?
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dia a dia
entrevista
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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.
Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.
essência
solidariedade
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como fazer
compartilhar
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curiosidade
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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.
Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.
Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.
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Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.
Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.
O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.
César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.
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seu colégio
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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.
Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.
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or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno
comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.
Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios
© Foto: João Borges
Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso
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dia a dia
© Foto: Fabio Melo
Um intercambista
em minha
casa
Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos
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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,
isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.
Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-
da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.
Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.
Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.
dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!
Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.
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© Foto: Gilberto do Rosário
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Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos
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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.
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© Fotos: João Borges
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Curiosidade
Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.
Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.
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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.
Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma
posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-
tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".
Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.
As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.
dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.
Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)
O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem
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O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.
Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade
Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra
nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com
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jovens em situação de vulnerabilidade social.
Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca
coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva
© Fotos: João Borges
© Foto: Gilberto do Rosário
Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.
Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br
uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.
A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)
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© Fotos: Acervo do Colégio
entrevista
Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos
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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-
Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?
É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.
A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?
A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.
Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.
tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).
Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?
A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.
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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?
Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.
Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.
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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?
Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).
índice
Por Aline Andres
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Conheça a página em rede social que é sensação entre alunos e ex-alunos.
destaque
com a palavra
ser melhor
ed. infantil
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O que pensa o Diretor-Geral.
Alunos planejam ação Social via Whatsapp.
Saiba mais sobre o projeto Eduque pelo Exemplo, que teve como foco a conscientização dos motoristas e pedestres.
ens. fundamental
ens. médio
você sabia?
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diz aí
caleidoscópio
gente nossa
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Projeto criado há 17 anos auxilia na formação de indivíduos críticos e participativos.
Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Saiba o que pensam os alunos e o educador.
Aula de Religião ensina o respeito aos que pensam diferente e tira do senso comum o conceito de direitos humanos.
Relembre os principais acontecimentos do Colégio.
Após retorno ao Brasil, Simon Schazmann conta quais são as diferenças vividas desde que chegou no Brasil vindo da Alemanha.
“Ex-aluno, sim. Ex-Marista, nunca”, destaca Ramon Velasques – um dos fundadores da Pastoral Juvenil Marista no Colégio.
com a palavra
O ambiente escolar
como espaço pedagógico
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Colégio Marista Frei Rogério
Hoje entendemos que as aprendizagens também acontecem nas relações que a área escolar disponibiliza.
Ir. Evilazio Tambosi Diretor-Geral
© Foto: Acervo do Colégio
Muito se tem falado e estudado sobre o papel que os espaços significam e determinam num ambiente escolar. Diferentemente de outros tempos, hoje entendemos que as aprendizagens também acontecem nas relações que a área escolar disponibiliza. Esse ambiente escolar – como um espaço no qual grande parte de nossas crianças e jovens passa longo tempo do dia e de suas vidas – é um dos lugares eleitos para o exercício e o desenvolvimento dos processos educacionais de ensino e aprendizagem, e que permitem exercitar nosso convívio e nele estabelecer inter-relações de amizade, sólida estrutura para a vida adulta. Concebemos, dessa forma, que o espaço da escola não é apenas uma área que acolhe alunos, móveis, material didático, professores e/ou um local em que se realizam apenas atividades de aprendizagem. Mas um lugar que, por si só, desde já é “conteúdo” e, portanto, espaço educativo, instrutivo e formativo. Segundo Paulo Freire, “Há uma pedagogia indiscutível na materialidade do espaço”. Por isso, a estrutura física deve ser atrativa, para que os educandos possam sentir-se à vontade a fim de desenvolver as mais diversas experiências e cultivar o senso do coletivo. O Colégio Marista Frei Rogério, ciente de que a estrutura física da escola – assim como sua organização e manutenção – revela muito sobre a vida que ali se desenvolve e considerando o crescente aumento da demanda, projetou, após longos estudos de viabilidade, uma ampliação. Serão mais cinco novas salas de aula e um almoxarifado destinado aos materiais de cunho pedagógico. A ampliação só é possível graças ao total apoio da União Catarinense de Educação – mantenedora do Colégio Marista Frei Rogério. A previsão de entrega da ampliação é ainda em 2015 e os trabalhos deverão ter início no segundo semestre. Após a conclusão do espaço, mais apropriado para as séries finais da educação básica, pretendemos reequipar nosso auditório. Privilegiaremos um espaço central do Colégio para o Oratório e, junto dele, teremos o setor de Pastoral, para melhor atender e acompanhar este segmento constitutivo do ser humano: a interioridade. Nosso desejo é que o Colégio seja mais um precioso espaço de partilha de experiências e de convívio, motivo de tanto empenho para dele cuidar e preservar.
ser melhor
© Fotos: Acervo do Colégio
Ação social pelo WhatsApp
Líderes de sala organizam ação social pelo aplicativo em prol da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Mais de mil fraldas geriátricas foram arrecadadas Uma ação dos líderes de classe, desde o 6º ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Frei Rogério, teve como objetivo fazer mais do que o simples papel protocolar da função e resultou em uma bela ação de solidariedade realizado no Dia Internacional da Mulher. O mais interessante também foi a forma moderna de mobilização – através da ferramenta WhatsApp (um aplicativo de mensagens multiplataforma que permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS, desde que conectado à internet). A criação de um grupo dos líderes na ferramenta facilitou
a comunicação que foi fomentada e acompanhada pela assistente psicopedagógica Ivete Durigon Rosso. Através do “Whats” foram trocadas diversas mensagens e várias ideias surgiram inicialmente até que foi aprovada uma campanha de arrecadação de recursos a fim de comprar fraldas geriátricas para a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) de Joaçaba. A partir de então, os alunos negociaram os valores das fraldas com alguns proprietários de farmácias que baixaram os preços e auxiliaram os estudantes inclusive com algumas doações. A aluna Ana Neves, de 13 anos, foi quem sugeriu a arrecadação de doações. “Estou muito realizada em ajudar uma rede de mulheres que por sua vez ajudam outras. Pretendemos organizar uma campanha para os homens também”, contou a estudante. Segundo a aluna Ashley Cristina Andres Justi, “a ideia foi discutida em grupo, colocada em prática e todos ajudaram”. Para Ivete Rosso, “foi muito interessante ver os alunos se mobilizando e organizando uma ação dessas que, a partir das redes sociais, culminou com uma ativida-
de tão bonita. Ver iniciativas assim é algo maravilhoso”. A entrega de mais de mil fraldas às representantes da RFCC foi realizada no dia 13 de março. Através de um perfil na rede social, as mulheres da RFCC agradeceram o empenho dos alunos: “A Rede Feminina de Combate ao Câncer vem através deste agradecer a grandiosa colaboração na campanha da Ação do Dia das Mulheres, organizada e realizada através dos representantes de classe do Colégio Marista Frei Rogério. Esse auxílio será disponibilizado para pessoas carentes que necessitam deste material”.
Colégio Marista Frei Rogério
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© Fotos: Acervo do Colégio
ed. infantil
Da sala de aula para Projeto que surgiu em sala, visualizou ambiente externo, contou com a participação de familiares e aprofundou conhecimentos
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a prática O grande fluxo de veículos no estacionamento do Colégio Marista Frei Rogério e também nas proximidades foi o principal motivo para que o projeto Eduque pelo Exemplo, que contou com a participação efetiva das turmas da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e dos familiares fosse colocado em prática. O projeto teve como objetivo a conscientização dos motoristas e pedestres para um trânsito mais seguro. Para isso, segundo a assessora psicopedagógica Elisete Peruzzo, foi necessário trabalhar o reconhecimento das placas de trânsito pelos
Colégio Marista Frei Rogério
alunos, as principais imprudências e a sensibilização coletiva atingindo também a família. “Iniciamos o projeto com a confecção de uma maquete do trânsito, onde as crianças colaram as faixas conforme seus conhecimentos prévios. Na maquete, foram coladas as faixas de pedestres, as amarelas, as brancas de estacionamentos e as faixas duplas da pista. Na sequência, as crianças escolheram um meio de transporte, placas de trânsito e os personagens que representariam os pedestres para pintar. Assim que terminou a pintura, cada um escolheu um lugar
da maquete para colocar seu pedestre. Na sequência, realizamos um passeio nas proximidades para observar o trânsito, placas, faixas e se pedestres e motoristas respeitam as leis de trânsito em Joaçaba. Ao voltarmos para o Colégio, conversamos em assembleia sobre tudo o que havíamos visto e todas as crianças contribuíram. Em seguida, registraram por meio de desenhos uma cena correta e uma cena errada observada por elas no trânsito. Para que elas entendessem melhor o conteúdo, foi simulada e construída em sala de aula uma pista, onde os alunos puderam colocar em prática tudo que aprenderam. Em casa, com a ajuda dos pais e dos irmão, confeccionaram jogos criativos com foco no trânsito”, explicou Elisete. O trabalho foi ainda mais longe. Ao estudar as regras e leis do trânsito para motoristas e pedestres, os alunos perceberam a necessidade de analisar a influência do espaço e a direção na circulação interna da Escola, identificando regras de circulação como fator importante na ordem e segurança da Instituição. “Começamos a observar o trânsito de pessoas dentro do Colégio para verificar se os alunos estavam cumprindo essas regras. Como o recreio da nossa turma é na sala, as crianças vivenciaram uma experiência nova, podendo perceber as atitudes corretas e as erradas. Em seguida, fomos para a sala e em assembleia conversamos a respeito. Depois que as crianças falaram o que viram, veio a pergunta: o que poderíamos fazer para melhorar o recreio e os momentos em que todos estão utilizando pátios e corredores? As crianças então sugeriram que, assim como no trânsito, poderíamos criar placas para orien-
tar os alunos do Colégio. Ainda em assembleia, conversamos sobre possíveis placas para serem feitas”, esclareceu Elisete. Entre as informações necessárias que surgiram estão: é proibido jogar lixo no chão; é permitido dividir; é proibido pular e correr nas escadas; é permitido brincar no recreio; é proibido brigar com os colegas; é permitido conversar no recreio; é proibido gritar; é proibido furar a fila da cantina. As ideias mais criativas viraram placas de sinalização interna e foram colocadas em diversos locais do Colégio. Os alunos do 5º ano, que também estavam no projeto, ficaram responsáveis por verificar se as placas estavam sendo respeitadas.
Começamos a observar o trânsito de pessoas dentro do Colégio para verificar se os alunos estavam cumprindo essas regras. Como o recreio da nossa turma é na sala, as crianças vivenciaram uma experiência nova, podendo perceber as atitudes corretas e as erradas. Elisete Peruzzo
Assessora psicopedagógica
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Na prática e
em prol do planeta Projeto criado há 17 anos auxilia na formação de indivíduos críticos e participativos
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Colégio Marista Frei Rogério
Sair da teoria e partir para a prática com o objetivo maior de mudar os hábitos em relação ao meio ambiente. Foi com esse propósito que a professora de Ciências Silvia Ouriques implantou, em 1998, no Colégio Marista Frei Rogério, o projeto Defensores do Planeta. Participam do projeto os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, além dos demais professores e gestores do educandário, tendo como bandeiras a preservação do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais. A professora Silvia explica que na prática o projeto funciona “despertando entusiasmo nos estudantes a partir de encontros onde ocorrem debates, caminhadas, viagens e atividades no bosque do Colégio. Cria-
mos interação e harmonia no grupo. O trabalho é desenvolvido a fim de ajudar os alunos na construção de uma consciência global sobre questões relativas ao meio para que possamos assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria, com visões de mundo que possibilitem o respeito a todas as formas de vida”. Para a educadora, é necessário preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social corretiva ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos, desenvolvendo habilidades e atitudes voltadas para a preservação do meio ambiente. “Na proposta pedagógica, o professor não ensina o que é natureza nem a descreve, mas se relaciona com ela e compartilha com seus alunos o que para ele faz sentido nessas experiências. A base das ações educativas deve visar à formação de cidadãos éticos e participativos a fim de estabelecer uma relação respeitosa e harmoniosa consigo mesmo, com os outros e com o ambiente. Nossa missão é auxiliar na formação de indivíduos críticos e participativos e, portanto, deve incentivar os educandos a olhar para diferentes perspectivas e construir o seu pensamento de modo a fazer uma conexão entre o indivíduo, o coletivo e o ambiente”.
Gincana Ecológica (GINCAECOFREI).
Producão de brinquedos reciclados.
As atividades do grupo acontecem regularmente tanto no ambiente interno como externo. Viagens de estudo, experimentos práticos e até mesmo ação de conscientização comunitária:
© Fotos: Acervo do Colégio
No projeto Defensores do Planeta, alunos acompanham a professora Silvia em uma volta pelo bosque do Colégio e aprendem sobre o meio ambiente na prática.
Plantio de mudas.
No Colégio: • Sensibilização ambiental; • Discussão sobre destino dos resíduos sólidos, poluição e uso racional da água, poluição do ar e do saneamento básico; • Palestras e/ou oficinas com profissionais da saúde, da educação ambiental (polícia ambiental) e/ou problemas ambientais; • Exibição de documentário e filmes relacionados ao meio ambiente; • Construção de material informativo para ser distribuído junto à população do município; • Pesquisas e experimentos; • Olimpíadas; • Jogos, gincanas, confecção de brinquedos com material de sucata etc. Atividades externas: • Passeio por diversos pontos naturais ambientalmente importantes na cidade e região; • Visitas a unidades de conservação da natureza; • Caminhadas em trilhas; • Visitas a museus; • Plantio de mudas de árvores nativas e frutíferas em áreas degradadas em bairros do município; • Limpeza e recuperação da mata ciliar no Rio Antinha; • Conscientização sobre o uso racional da água na praça central do município; • Palestras e oficinas em escolas do município e região, entre outros.
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Aprendendo
a ser tolerante
Aula de Religião ensina o respeito aos que pensam diferente e tira do senso comum o conceito de direitos humanos
© Fotos: Acervo do Colégio
A professora de Ensino Religioso coloca em pauta durante suas aulas o conhecimento sobre a palavra “tolerância”, especificamente a religiosa. Segundo Josiane Olivo Arruda, esse é o ponto de partida das suas explanações para os alunos do Colégio Marista Frei Rogério, onde leciona. O respeito ao diferente, segundo Josiane, por si só já provoca ricas discussões. “Um dos objetivos principais da disciplina é orientar os educandos ao conhecimento, ao respeito às diversas religiões existentes, católica, evangélica, budista, ou mulçumana etc. São debates importantes e construídos em torno do assunto preconceito, pois esse tipo de intolerância à religião do outro motivou e ainda motiva na história da humanidade grandes conflitos e guerras. Com o olhar lançado sobre as religiões ao estudar a ética das mesmas, surge a percepção de posicionamentos sobre racismo, homofobia e outros temas”, esclarece. Dentro desse conceito, a educadora realizou, no ano passado, com as turmas do Ensino Médio, um projeto sobre a Declaração dos Direitos Humanos. O foco da origem dessa declaração tem como fundamento princípios religiosos e revoluções, como a francesa e a norte-americana. “Ao estudar, nossos alunos perceberam que, pelo senso comum, as pessoas acreditam que os direitos humanos servem apenas para a proteção de bandidos e, ao aprofundar o conhecimento, percebemos a importância dos mesmos, pois em nosso país e no mundo ainda existem violações que levam o ser humano à falta de dignidade e de condições mínimas para uma vida feliz”. Josiane conta que partiu dos estudantes uma ação prática. “Eles foram até o centro da cidade com cartazes informativos, exibindo, por exemplo, dados sobre quantos homossexuais são assassinados por dia no Brasil, quantas crianças morrem por falta de assistência, quantas mulheres são vítimas de crimes passionais e quantos ainda são vítimas de trabalho escravo”.
Direitos humanos São os direitos básicos de todos os seres humanos: direitos civis e políticos; direitos econômicos, sociais e culturais; direitos difusos e coletivos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
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Colégio Marista Frei Rogério
© Foto: Sxc.hu
você sabia?
Paralelo: aluno evidencia a simpatia do
© Fotos: Acervo pessoal
brasileiro e a infraestrutura da Alemanha
O aluno Simon Schazmann, de 14 anos, estuda há apenas um ano no Colégio Marista Frei Rogério, em Joaçaba. Apesar de ter nascido no Brasil, como foi muito cedo para a Europa com os pais e voltou apenas recentemente, passou a infância e o início da juventude na Alemanha, mais precisamente na cidade de Munique. A mudança fez com que Simon conhecesse uma cultura diferente e pudesse traçar um paralelo entre sua terra natal e a terra onde viveu a maior parte de sua vida até agora. A volta de Simon para o Brasil se deu por motivos familiares. Como a grande maioria dos estrangeiros, em suas primeiras constatações ele cita a simpatia brasileira. “O povo é muito acolhedor”, afirma, ressaltando que já fez inúmeras amizades. Por outro
lado, ele destaca que “se as pessoas aproveitassem mais as vantagens e riquezas desta terra, seria um verdadeiro paraíso para se viver”. Questionado sobre o que mais sente falta da Alemanha, ele não hesitou: “Entre outras coisas, sinto falta principalmente da qualidade dos produtos, do acesso à cultura e das tecnologias mais avançadas”. Já em relação aos problemas de adaptação no Brasil, o estudante garantiu que nunca imaginaria que a língua fosse o que lhe causaria maior dificuldade. “Pensei que soubesse muito sobre a língua, o português, mas quando vim para a Escola entendia poucas coisas”. Sobre o dia a dia na Alemanha e seus afazeres escolares, ele explica que os pais matriculavam os filhos nas escolinhas esportivas assim como
são oferecidas no Frei Rogério, porém, por lá, os esportes oferecidos são os de inverno, como o snowboard e o esqui. “Na escola onde estudei, os alunos treinam futsal como nós aqui no Frei Rogério. Como Munique já sediou Jogos Olímpicos, nós temos um espaço disponível 24 horas para toda a população gratuitamente. No local, são praticados inúmeros esportes. A escola promovia muitos passeios culturais a museus, pinacotecas e parques. Um deles, em especial, foi muito marcante: visitamos o museu da BMW e no fim brincamos de montar carrinhos, fazendo simulações”. Simon ressalta que na Alemanha a disciplina é exigida desde muito cedo e também, é muito rígida. “Aqui no Brasil eu gosto mais de estudar e me sinto mais acolhido por todos”, garantiu.
Colégio Marista Frei Rogério
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diz aí
Por que as pessoas são diferentes
?
© Fotos: Acervo do Colégio
umas das outras
Ana Luiza Martins Neves 9º ano B
Ana Sofia Bissani Calluans 2º ano B
Miguel Alberto Xavier Reck 2ª série B
“Porque elas têm a genética diferente, formação e educação diferentes, cresceram e se desenvolveram em lugares diferentes. E os conceitos de moral podem ser diferentes tanto para mim quanto para você. A verdade é que, se todos nós fossemos iguais, o mundo não faria sentido.”
“Acredito que as pessoas são diferentes pela natureza do ser humano, pelo dom que cada uma possui e desenvolve no decorrer da vida. Cada uma nasceu de forma diferente e devemos respeitar a maneira de pensar e agir dos outros.”
“As pessoas são semelhantes, todas têm uma estrutura física parecida, o que as tornam diferentes é o modo de agir, as atitudes que tomam perante os problemas e a mentalidade que possuem diante do universo.”
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Colégio Marista Frei Rogério
Letícia dos Santos 3ª série A
Mateus Cadorin da Silva 9º ano A
Vitória LOPES Meyer 4º ano A
“Acho que as pessoas são diferentes umas das outras porque a formação de um ser humano depende de vários fatores. Como a genética, que pode definir as características de cada um. A formação, a educação e a trajetória de vida também influenciam, pois assim aprendemos lições e adquirimos conhecimento. Além disso, o meio no qual vivemos proporciona uma experiência diferente para cada indivíduo. Convém ainda lembrar que os conceitos de ética e moral variam de pessoa para pessoa, devido a cada um ter o seu próprio jeito de pensar e agir. Resta afirmar que o ser humano é muito complexo, característica que o torna único.”
“Em primeiro lugar, acho que as pessoas são diferentes umas das outras porque cada um teve uma educação diferente das demais, cada um tem uma cultura, uma religião, uma crença, um modo de ser. Todas as pessoas têm jeitos diferentes de pensar e agir. Se todos fossem iguais e agissem igual, todos fariam as mesmas descobertas e gostariam das mesmas coisas – enfim, o mundo não teria graça. Acho que o mundo é belo em razão das inúmeras diferenças que existem nas pessoas. O que faz cada pessoa especial é o que as diferencia das demais.”
“Eu acho que as pessoas são diferentes umas das outras porque são únicas. Parecidas na fisionomia, mas no jeito, na maneira de pensar, de agir e falar não tem como ser iguais. Assim, temos de aprender a conviver e a respeitar as diferenças das pessoas e a valorizar essa diversidade, pois essa é a riqueza maior em nossa sociedade. Este é o sentido da existência: ser diferente e fazer a diferença! Mas, apesar de sermos tão diferentes, o mais importante é que somos todos iguais perante Deus.”
palavra da educadora Ao olharmos para o outro, percebemos que esse “outro ser” tem atitudes, comportamentos, sentimentos e modo de ser diferente do meu próprio. Aqui reside a beleza de cada pessoa. As peculiaridades de cada um imprimem, no modo de viver e agir, a sua marca. A reação de cada indivíduo perante um fato é exclusiva dele, quer externando alegria, surpresa, ira, determinação ou apatia. A riqueza dessas atitudes faz com que o ser humano se torne cada vez mais ávido de informação, rico em paciência e tolerância. À medida que o ser humano convive com essa adversidade e tem consciência da riqueza de cada ser, estará se munindo de valores e construindo a história de sua vida com perseverança, acolhimento e paz. E só teremos PAZ quando o homem conseguir entender o outro como um ser oposto. O ser humano deve se conscientizar de que cada SER é um ser em potencial adverso ao outro.
Marilena Zanoello Detoni Diretora Educacional
Colégio Marista Frei Rogério
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FEMAR O Festival Marista de Música aconteceu em agosto de 2014, com a participação de alunos das turmas do Fundamental I e II. Eles apresentaram, em forma de competição, as canções trabalhadas durante o primeiro semestre na disciplina de Música. O evento aconteceu no Teatro Alfredo Sigwalt e teve lotação máxima nas duas sessões.
caleidoscópio
2014
BRINCAMARISTA O evento, realizado em agosto de 2014, teve como objetivo unir os alunos e seus colegas com diferentes brincadeiras. O Colégio disponibilizou brinquedos infláveis, jogos de tabuleiro, cama elástica, quadras, um campo, tênis de mesa e sala de dança – tudo para as crianças e pais se divertirem.
© Fotos: Acervo do Colégio
EVENTOS
OLICHAMP Evento realizado tradicionalmente em setembro. Envolveu todos os alunos do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio. CHAMPAGNAT DE OURO Evento realizado para a premiação da Mostra Científica e Cultural, que este ano foi totalmente digital. Os alunos, divididos em grupos, elaboraram vídeos com o tema “Copa do Mundo 2014”. Cada grupo ficou responsável pela pesquisa e apresentação de cada país participante da competição. Foi uma atividade que despertou o interesse pelas tecnologias, a criatividade e a pesquisa.
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Colégio Marista Frei Rogério
DIA DOS PAIS Os pais tiraram a tarde para se divertir com os alunos da Educação Infantil no Colégio. A homenagem incluiu atividades com as crianças e até mesmo a confecção do próprio presente.
COMEMORAÇÕES
CARTAS AO PREFEITO Projeto desenvolvido pelos alunos do 4º e do 5º ano em homenagem ao aniversário de Joaçaba. Eles escreveram cartas dizendo por que é bom morar aqui. As missivas foram entregues ao vice-prefeito da cidade, Marcos Weiss, por representantes das turmas no gabinete do prefeito. Após um mês, o vice-prefeito veio trazer uma resposta para cada aluno.
NA PRÁTICA
DIA DA FAMÍLIA NA ESCOLA Evento elaborado para as turmas do Ensino Fundamental I e Educação infantil. Nesse dia, familiares e amigos dos alunos vêm ao Colégio participar de uma tarde cheia de atividades, brincadeiras e diversão. Ocorre em outubro, em comemoração ao Dia das Crianças.
PROJETO EDUQUE PELO EXEMPLO Desenvolvido pelos alunos da Educação Infantil e do Fundamental I, o projeto teve como foco situações que vemos e até vivenciamos em nosso dia a dia. O ponto principal foi a educação no trânsito, onde o objetivo é fazer com que o aluno desperte em seus pais a conscientização e o respeito pelas leis.
ACAMPAMENTO MILITAR Atividade desenvolvida pela Pastoral do Colégio por meio dos grupos participantes da PJM. Tem como objetivo proporcionar a formação integral do adolescente ou jovem a partir de atividades práticas em contato com a natureza e relações de cooperação entre as pessoas.
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© Foto: Divulgação
destaque
Página em rede social é sensação
entre alunos e ex-alunos
Conteúdo com cunho humorístico chama atenção. Segundo o autor, o trabalho pode ser comparado ao processo de lapidação de uma pedra preciosa, onde as ideias vão aparecendo e sendo moldadas 30
Usar o bom humor e a internet para interagir com colegas, professores, colaboradores e direção com certeza foi a motivação do aluno Fernando Palavacini, 17 anos, ao criar o perfil “Frei Mil Grau” em rede social. Muitos nem sabem que é ele o dono das tiras humorísticas postadas na rede e que fazem o maior sucesso. A ideia de Fernando surgiu quando ele, que agora está no Terceirão, cursava a 1ª série do Ensino Médio e uma antiga página chamada “Frei da Deprê” foi desativada quando os jovens que a criaram acabaram se formando. “Mesmo sem muitas postagens a página fazia sucesso. Sempre estive inserido nesse meio e observava muito potencial dentro do Colégio para dar continuidade à ideia”, explicou. Para evitar qualquer atrito com a direção, Fernan-
Colégio Marista Frei Rogério
do pediu autorização para desenvolver a página e criar as publicações. Ele usa o pseudônimo #Champagnat e conta com o apoio de um assistente, Mateus Lucian, da 2ª série do Ensino Médio. De acordo com Fernando, ele primeiro adicionou ao perfil os alunos que conhecia. Como a repercussão foi boa, os que não tinham sido adicionados começaram a solicitar participação. Com o tempo, a página atingiu ex-alunos, professores e pais. “Os ex-alunos sempre marcam presença comentando o famigerado ‘No meu tempo’”, destacou. A criação de conteúdo, segundo ele, é um processo demorado e minucioso: “Primeiro o assunto é selecionado, podendo ser um acontecimento do Colégio, alguma área específica do mesmo ou uma personalidade do meio. O trabalho pode ser compa-
© Foto: Acervo do Colégio
rado ao processo de lapidação de uma pedra preciosa, onde as ideias vão aparecendo e sendo moldadas. Na parte das edições, muitas fotos são tiradas no próprio local, para a montagem das imagens, algo que leva tempo”. Questionado sobre com que linha humorística prefere trabalhar, o aluno comenta que duas vertentes são utilizadas. A primeira é a da sátira, que tem o intuito de fazer as pessoas pensarem, além de apenas rir; e a segunda é a do humor pastelão, que não dá muito trabalho e causa somente riso. “Mesmo dando mais trabalho, opto pela primeira. O público leitor da página conta com pessoas dos mais diferentes sensos de humor, mas algo sério tende a ser mais prestigiado. Fiz algumas análises para as postagens e além de perceber que às 21h trata-se do horário de pico dos curtidores da página, a teoria de que o humor inteligente é mais prestigiado fez-se verdade ao analisar as quantidades de curtidas dessas publicações”. Fernando conta com total apoio da direção do Colégio. O ex-diretor Irmão Roque Brugnara era tratado como chefe da nossa família, tanto que, na capa da página, há uma homenagem que o compara ao personagem principal do filme “O poderoso chefão”. Entre os professores, a participação ainda é restrita. “Devo admitir que os professores não têm muito conhecimento da página, pois é raro se manifestarem, virtualmente ou em sala de aula. Esse é um dos motivos pelos quais não uso a imagem deles. E, quando uso, peço sempre autorização e explico a ideia. Uma vez, fiz um post com a foto de um professor e seu famoso bordão “Meu chapéu”: coloquei um chapéu de cangaceiro na sua cabeça. A quantidade de curtidas foi astronômica, porém me dei conta de que não havia pedido autorização para usar sua imagem e me preocupei mais ainda quando me lembrei que
ele é formado em Direito. Então retirei a imagem e não cometi mais esse equívoco”. Como este é o último ano de Fernando na Instituição, ele tem uma preocupação: “Não quero que a página acabe como a anterior. Quero achar alguém que tenha vontade de continuar com ela, mas, até lá, quero dar o máximo de mim. Além de ser meu último ano, hoje já tenho um bom controle de programas de edição, algo que aprendi por pura curiosidade e persistência. Faço postagens quinzenais e em breve farei um vídeo. Para mim, é uma honra e mérito ser o fundador da página. O melhor é saber que o público prestigia meu trabalho, os alunos comentam entre si e os ex-alunos matam as saudades da sua época de Colégio".
O público leitor da página conta com pessoas dos mais diferentes sensos de humor, mas algo sério tende a ser mais prestigiado. Fernando Palavacini
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Exemplo além dos
gente nossa
MUROS
Ramon Velasques da Silva, 22 anos, é o exemplo de como um projeto pode cativar um aluno não só enquanto ele está entre as paredes de um educandário, mas também para toda uma vida. Durante sete anos, ele estudou no Colégio Marista Frei Rogério e fez muitas amizades – não apenas com os colegas de sala, mas também com os professores e a direção. No Colégio, segundo Ramon, ele teve a oportunidade de aprender a ser um cidadão consciente guiado pelos princípios da formação da congregação fundada por Marcelino Champagnat. Silva participava intensamente da Pastoral Juvenil Marista (PJM), inclusive foi um dos seus fundadores. “Sinto um orgulho enorme em ter feito parte da construção da PJM. Antes do início, em 2005, eu participava de outro grupo, o EDA/REMAR (projeto semelhante a PJM), e foi esse movimento que me despertou o interesse pela pastoral. Desde que entrei no Colégio, procurei participar como forma de integração, para fazer amizades e alcançar a espiritualidade. Organizei diversos acampamentos e retiros. Destaco o do ano de 2009, quando organizamos o primeiro encontro da PJM realizado pelos próprios alunos”. Atualmente, mesmo fora dos muros da Instituição, ele continua participativo na comunidade, exercendo trabalhos voluntários e, como ressalta, “levando o carisma
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Colégio Marista Frei Rogério
© Fotos: Acervo pessoal
“Ex-aluno, sim. Ex-Marista, nunca”, destaca Ramon Velasques – um dos fundadores da Pastoral Juvenil Marista (PJM) do Colégio Frei Rogério
Marista”. Ramon faz parte da Pastoral Juvenil da Paróquia Santa Terezinha. Em 2013, foi voluntário na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro e esteve presente no encontro de fé com o Papa Francisco. Questionado sobre o que mais o motivou, ele é objetivo: “Fazer a diferença! Essa é uma das virtudes que a Pastoral passa aos seus integrantes, fazer a diferença na sua comunidade, no grupo de amigos, na família e no trabalho. A vida escolar é passageira, logo deixamos o banco da escola em busca dos nossos objetivos pessoais, profissionais. Fazer a diferença é vital nessa etapa e por isso devemos levar conosco o carisma Marista e dar valor a essa etapa em que o Colégio nos auxilia a sermos pessoas melhores. E, como dizem, sou um ex-aluno, sim, mas ex-Marista, nunca”.
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© Foto: João Borges
essência
Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)
O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.
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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".
Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.
CHAMPAGNAT
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as coisas de Deus
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solidariedade
Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos
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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.
© Fotos: Gilberto do Rosário
As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.
Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-
conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.
© Estêncil: Carolina Machado
Atividades diferenciadas
As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.
O que define o uso abusivo?
Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado
Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.
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© Foto: Renata Salles
como fazer
Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos
Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando
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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao
participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”.
© Foto: Acervo Comissão da Juventude
que participam, além de proporem atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.
Encontrando tempo
Futuramente, esse engajamento continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.
Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de
Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.
Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude
Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.
Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.
Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.
Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.
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compartilhar
“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista
IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo
Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).
A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)
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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios
O FAZEDOR DE VELHOS
© Imagens: Divulgação
de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)
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diversão
Dia de índio
Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil
© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo
Por Michele Bravos
Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.
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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.
Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-
sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.
Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.
Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.
Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc
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olhar
Crise de sentido em um mar de
© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio
{des}informação
O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 44
Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.
Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-
mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo
Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.
respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.
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Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos
Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-
tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.
Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.
Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.
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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.
Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.
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