1º Semestre • 2015 | 15ª edição
Corrente do bem
Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?
SOLIDARIEDADE
Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.
DIA A DIA
Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.
Combinação única de bons valores e excelência.
O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da
educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente
BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400
Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes
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Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500
15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral
com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.
Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875
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EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos
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REDAÇÃO
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Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com
Capa Fernando Pereira,
estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.
FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.
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índice
capa
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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?
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dia a dia
entrevista
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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.
Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.
essência
solidariedade
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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.
Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.
como fazer
compartilhar
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diversão
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curiosidade
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Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.
Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.
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César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.
Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.
O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.
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seu colégio
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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.
Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.
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or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno
comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.
Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios
© Foto: João Borges
Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso
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dia a dia
© Foto: Fabio Melo
Um intercambista
em minha
casa
Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos
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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,
isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.
Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-
da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.
Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.
Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.
dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!
Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.
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© Foto: Gilberto do Rosário
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Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos
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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.
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© Fotos: João Borges
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Curiosidade
Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.
Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.
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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.
Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma
posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-
tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".
Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.
As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.
dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.
Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)
O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem
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O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.
Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade
Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra
nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com
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jovens em situação de vulnerabilidade social.
Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca
coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva
© Fotos: João Borges
© Foto: Gilberto do Rosário
Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.
Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br
uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.
A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)
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© Fotos: Acervo do Colégio
entrevista
Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos
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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-
Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?
É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.
A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?
A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.
Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.
tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).
Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?
A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.
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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?
Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.
Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.
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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?
Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).
índice
Por Thassia Pires e Flávia Brito
destaque
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Alunos do Santa Maria são aprovados no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas na França.
com a palavra
ed. infantil
ens. fundamental
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O que pensa a Diretoria-Geral.
Da iniciativa dos alunos surgiu o Mini mundo, projeto que desenvolve a liderança e a organização social.
Novo projeto de educação financeira vem ganhando destaque no Colégio.
ens. médio
diz aí
caleidoscópio
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Aulas de Inglês são desenvolvidas a partir de uma abordagem diferenciada e muito atrativa.
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Por que as pessoas são diferentes umas das outras?”. Saiba o que pensam os alunos e o educador.
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você sabia?
gente nossa
ser melhor
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Saiba como foi a experiência da aluna de 14 anos que já morou em quatro cidades brasileiras diferentes e em uma fora do país.
Conheça a trajetória do ex-aluno e agente de Pastoral Gustavo Schmid Queiroz pelas ruas de Cusco e pelo Projeto Colibri.
Relembre os principais acontecimentos do Colégio.
Conheça algumas ações da Pastoral.
com a palavra
M arista Santa Maria e seus 90 anos
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ria conseguiu deixar marcas profundas em milhares de crianças e jovens, familiares e educadores, que juntos construíram e constroem uma história pautada na formação humana integral e nos valores cristãos mais elevados. Além da excelência acadêmica, da qual não abrimos mão, buscamos cotidianamente vivenciar uma pedagogia emancipadora, em que as crianças e os adolescentes são respeitados nas suas múltiplas dimensões, nas suas diferenças e nas suas potencialidades. Não é raro ouvirmos depoimentos de estudantes que estão prestes a concluir o Ensino Médio, jovens de 17 anos, dos quais 13 ou 14 deles foram passados aqui dentro do Santa. Ao participarem como alunos da sua última Semana Champagnat, do último evento da Pastoral, da última aula, exclamam emocionados: “Um dia vou voltar, trazendo meus filhos!” Completar 90 anos é para nós motivo de muito orgulho e satisfação. O maior orgulho para esta Instituição, porém, é poder participar ativamente na formação das inúmeras gerações de crianças e jovens que por aqui passaram, ao longo dessas nove décadas. Que cada estudante Marista, cada família, cada pai, cada mãe e cada educador do Santa seja um propagador do carisma, da missão e dos valores Maristas, dando continuidade ao sonho de Champagnat, que é a construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais ética e mais solidária. Marista Santa Maria, 90 anos com muito orgulho!
Colégio Marista Santa Maria
Nesses 90 anos, o Marista Santa Maria conseguiu deixar marcas profundas em milhares de crianças e jovens, familiares e educadores, que juntos construíram e constroem uma história pautada na formação humana integral e nos valores cristãos mais elevados.
Everson Caleff Ramos Diretor-Geral
© Foto: Acervo do Colégio
Década de 1920. Período de muitas incertezas no cenário nacional e internacional. A memória e os horrores da Primeira Guerra Mundial ainda estavam latentes. No Brasil, vivíamos os últimos anos da República Velha (1889-1930), com revoltas e rebeliões acontecendo em várias localidades do país e que culminaram com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. O Movimento Modernista promovia profundas mudanças no campo artístico e cultural. Naquela época, Curitiba contava com cerca de 80 mil habitantes e, mesmo sendo a capital do Estado, ainda guardava traços de cidade do interior. Bondes elétricos, poucos automóveis e pesados carroções dividiam o mesmo espaço, cruzando as ruas da cidade. É nesse contexto de incertezas e de transformações que, em 1925, os Irmãos Maristas inauguraram o Instituto Santa Maria, que depois passou a se chamar Colégio Marista Santa Maria. O Colégio funcionou no edifício histórico, localizado na Rua XV de Novembro, que atualmente abriga a sede da Camerata Antiqua de Curitiba, da fundação até 1984. Desde então, e por iniciativa do corajoso e arrojado Ir. Celedônio, o Santa Maria foi transferido para o bairro São Lourenço, onde funciona até hoje. Ocupando uma área de 57.000 m2 e equipado com modernas instalações, continua oferecendo uma educação de qualidade, que vai da Educação Infantil ao Ensino Médio, para mais de 3 mil alunos. Nesses 90 anos, o Marista Santa Ma-
ed. infantil
Um mini mundo
Quem nunca sonhou, quando criança, em ter um cantinho, onde os adultos não entraram, para colocar os briquedos e convidar os amigos, transformando-o em esconderijo ou simplesmente em clubinho? 20
Pois foi o que os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Santa Maria fizeram. A ideia, que partiu deles, se transformou em um projeto fantástico desenvolvido com a turma durante todo o ano letivo de 2014. “Teve início com uma necessidade da turma de formar seus clubinhos. Como eles estão no início da alfabetização, todos os dias eles escreviam o nome dos amiguinhos que queriam entrar no clubinho. Mas não estavam conseguindo se organizar e começaram a surgir alguns conflitos. Foi quando eles me perguntaram como poderiam montar um clubinho na sala. Como é uma turma com muitos líderes, pensei em aproveitar esse gancho da organização social, de regras, para trabalhar com eles. E assim surgiu o projeto”, conta Tatyana Nogara, professora do 1º ano do Ensino Fundamental.
Colégio Marista Santa Maria
A partir de então, várias atividades de pesquisa foram realizadas com os alunos e eles foram descobrindo que um clubinho precisava de um nome, uma sigla, um ícone, uma sede, uma bandeira, um hino, uma carteirinha e de toda uma organização que precisava ser empreendida. “Como educadora, pensei em questionar as crianças sobre a forma que estavam fazendo para criar um clubinho. Queria promover a construção de um conhecimento mais amplo de organização social, trabalhando assuntos como identidade, organização, trabalho em equipe, liderança, regras, respeito, entre outros”, diz Tatyana. Os alunos chegaram à definição de que “um clubinho é um grupo de crianças que gostam das mesmas coisas. Elas se reúnem em um lugar bem especial para trocar ideias, realizar várias atividades, se divertir
Delícias e Gostosuras, Chute no Gol e Crianças Felizes Esses foram os nomes escolhidos pelas crianças para os três clubinhos. Na aula de Artes, elas escolheram o símbolo e as cores para a confecção do emblema e da bandeira. “Os pais se envolveram muito durante todo o processo. Tivemos a ajuda de uma mãe que foi ao Colégio costurar as bandeiras, outra mãe doou os tecidos e outra ajudou na visita ao clube Duque de Caxias, para que os alunos compreendessem como funciona esse espaço”, descreve Tatyana. Na aula de Música, a professora ajudou na criação do hino de cada clubinho e nas aulas de Movimento foram trabalhadas brincadeiras lúdicas onde a cooperação, o espírito de equipe e a organização estavam presentes. Depois foi a vez de montar espaços na sala de aula que seriam as sedes dos clubinhos. “Como o 1º ano já tem um projeto que discute a questão da reciclagem e já vínhamos trabalhando a separação do lixo, os alunos tiveram a ideia de construir as paredes dos clubinhos com material reciclável, como caixas de leite, bobinas de papel e garrafas pet. Com a parceria dos pais, eles foram juntando esses materiais. Com isso, também conseguimos trabalhar com eles a questão da contagem, de tamanho, de tudo o que condiz com essa idade”, explica a professora. Para a construção das paredes uma aula aberta foi realizada com os pais e alunos, na qual eles utilizaram os materiais que juntaram. “A estrutura já estava pronta e eles foram
completando com os materiais recicláveis. Foi um dia de muita interação e diversão. Os pais se envolveram muito nesse projeto, era uma turma muito unida, tanto que quando vinham buscar seus filhos ficavam um tempo sentados no Colégio conversando entre si”, lembra Tatyana. Outra etapa importante do projeto foi a elaboração das regras e a eleição do líder de cada clubinho, que por acaso aconteceu bem na época das Eleições 2014. Outro ponto alto do projeto foi a visita do jogador de futebol Alex, na época profissional do Coritiba Foot Ball Club, para conversar com os alunos Maristas sobre o esporte e sua agremiação. “A aluna Manuela perguntou o que ele sentia pelo seu clube e ele respondeu em uma única palavra: amor. O mesmo sentimento que nós, professores e alunos, temos pelos nossos clubinhos”, emociona-se a professora. E as conquistas do projeto não param por aí. “Realizamos com a turma a confecção de um livro sobre as brincadeiras dos clubinhos feitas na aula de Movimento. Registramos tudo por escrito e com desenhos. Fizemos também a gravação dos hinos em CD. Durante todo o ano, fomos trabalhando várias atividades dentro dos clubinhos, tanto coisas livres quanto coordenadas, nesse espaço que é só deles. No final de 2014, fizemos uma linda apresentação para os pais com as crianças cantando os hinos”, revela Tatyana. A professora garante que foi um dos projetos mais ricos que já trabalhou. “Foi um estudo social muito enriquecedor, onde pudemos abranger todas as disciplinas, e ajudou também os alunos em relação ao relacionamento dentro da sala de aula. Percebi nas crianças uma grande mudança de comportamento. É nessa fase que se abre o mundo da leitura e da escrita, então a criança desperta para outras coisas também e ela sente a necessidade de uma ajuda para po-
der entender as mudanças. É muito importante trabalhar esse convívio social com elas”, conclui.
Os pais se envolveram muito durante todo o processo. Tivemos a ajuda de uma mãe que foi ao Colégio costurar as bandeiras, outra mãe doou os tecidos e outra ajudou na visita ao clube Duque de Caxias, para que os alunos compreendessem como funciona esse espaço. Tatyana Nogara Professora do 1º ano do Ensino Fundamental
Colégio Marista Santa Maria
© Fotos: Acervo do Colégio
muito, aprender umas com as outras e ajudar quem precisa”. Depois desse passo, foi a vez de realmente montar um clubinho. “As ideias de temas foram tantas e tão legais que uma só seria pouco para atender tantos gostos. Combinamos que deveríamos dividir em três grupos iguais”, relata a professora.
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© Foto: Acervo do Colégio
Educar financeiramente
Novo projeto de educação financeira a partir do Ensino Fundamental vem ganhando destaque no Colégio 22
Com o intuito de que os pequenos se tornem adultos que saibam lidar com o dinheiro, planejar os gastos a curto, médio e longo prazo e terem reservas financeiras, o Colégio Santa Maria desenvolveu um projeto de educação financeira para ser trabalhado este ano com os alunos do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio. A professora de Matemática do Marista Santa Maria, Edilaine Peracchi, explica que o objetivo é criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro, desenvolvendo habilidades de como ganhar, como gastar, como poupar e como doar. “Como a disciplina não faz parte do currículo oficial das instituições de ensino e, algumas vezes, não é discutida no ambiente familiar, a criança não aprende a lidar com isso. E as consequências desse fato podem ser determinantes para uma vida de oscilações econômicas. Foi assim que decidimos colocar em prática esse novo projeto, que será trabalhado durante todo o ano”, conta Edilaine.
Colégio Marista Santa Maria
Com o propósito de elaborar um documento norteador para que o Programa Educação Financeira nas Escolas entrasse nas instituições escolares, articulando-se ao currículo da educação básica, foi criado o Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), que, com a instituição da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), passou a contar com a presidência do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Nessa perspectiva, verificou-se que o tema educação financeira pode contribuir com a construção das competências necessárias para que os alunos enfrentem desafios sociais e econômicos, e também para o exercício da cidadania. As mudanças constantes no contexto financeiro nos obrigam a tomar decisões todos os dias em relação ao consumo. Desse modo, esse projeto pretende orientar os alunos Maristas no universo financeiro, possibilitando, assim, a sua autonomia em relação às finanças, auxiliando-os no enfrentamento das dificuldades do cotidiano, contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida. “Acima de tudo, a educação financeira deve ensinar que a responsabilidade social e a ética precisam estar sempre presentes no ganho e uso do dinheiro. E que para alcançar o que se deseja é preciso determinação, planejamento e perseverança”, ressalta a professora.
Um tema transversal para ser trabalhado em todas as disciplinas Dentro do planejamento de atividades para os alunos do 6º ano estão a leitura de livros – como o “Desatando os nós: economia para crianças” –, vídeos, palestras para alunos e familiares, bem como a elaboração de um planejamento financeiro individual e diversas atividades dentro desse contexto. “O primeiro livro trabalhado foi escolhido para fazer uma sensibilização do tema. A obra fala sobre os problemas econômicos, como inflação,
salário, a importância de se poupar, entre outros pontos importantes”, conta a professora Edilaine.
Acima de tudo, a educação financeira deve ensinar que a responsabilidade social e a ética precisam estar sempre presentes no ganho e uso do dinheiro. E que para alcançar o que se deseja é preciso determinação, planejamento e perseverança. Edilaine Peracchi Professora de Matemática do Marista Santa Maria
No 7º ano, foram introduzidos alguns conceitos monetários – como saldo, saque, depósito, débito, crédito, cheque compensado –, associando-os aos sinais positivos ou negativos dos números. Já com os alunos do 8º ano, uma das atividades propostas foi uma reflexão sobre a situação financeira da maioria das famílias brasileiras e a da própria família do estudante. Outra etapa com esses alunos também está focada em estimular a ideia de empreendedorismo. Para tanto, será realizada, no segundo semestre, uma atividade que consiste em dividir a turma em grupos de modo que cada um confeccione algum produto, como cupcakes, pulseirinhas, bombons, artesanatos etc. Em determinado dia, eles deverão vender seus artigos no recreio e depois contabilizar os gastos e os lucros. Nas turmas de 9º ano, serão abordados assuntos como a história da moeda, a importância de se poupar e aspectos sobre gerenciamento e funcionamento de uma empresa. O objetivo do trabalho é mostrar de maneira simples uma forma inteligente de utilizar o dinheiro, desenvolvendo hábitos importantes como a sustentabilidade e o equilíbrio entre a necessidade de
gastar e de quanto é necessário gastar. Na sequência, os alunos farão a apresentação do que foi realizado por meio de uma feira de negócios. A educação financeira deve ter uma temática ampla e abordar também o consumo consciente e ambientalmente sustentável. São orientações para que as crianças cuidem dos próprios brinquedos e do material escolar, apaguem a luz ao sair do quarto e fechem a torneira enquanto escovam os dentes. “A proposta é contribuir para o desenvolvimento da cultura de planejamento, prevenção, poupança, investimento e consumo consciente. O tema possibilita que os indivíduos e as sociedades melhorem sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros”, afirma a professora Edilaine.
Poupança solidária Dentro do projeto, foi criada uma poupança solidária, na qual os alunos de todas as turmas envolvidas, se assim desejarem, farão uma doação de R$ 1,00 por semana para o cofre criado por eles na disciplina de Artes. “É uma maneira de mostrar que, se eles se unirem para economizar esse valor, no final do ano essa ‘poupança’ poderá fazer a diferença. Todo o dinheiro arrecadado será doado para uma instituição beneficente escolhida pelo Núcleo Pastoral. Queremos ensinar o princípio da solidariedade, da doação, da importância de poupar”, diz Edilaine. A interação dos alunos com o projeto mostra o quanto eles já estão envolvidos com o tema. E quem nos conta isso é o aluno do 6º ano João Eduardo Talamini Assefi. “Aprendi a como controlar o dinheiro. Meus pais estão achando muito legal, porque antes eu queria comprar tudo, agora, depois desse projeto, já não tenho mais esse pensamento, estou aprendendo a poupar, sei da real importância do dinheiro. Eu e meus amigos estamos bem envolvidos com a poupança solidária”, revela João. “Hoje, o consumo desenfreado é tão grande que sentimos a necessidade de trabalhar esse assunto no ambiente escolar", conclui a professora.
Colégio Marista Santa Maria
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© Foto: Acervo do Colégio
Do you speak English?
As aulas de Língua Inglesa são desenvolvidas com os alunos do Ensino Médio a partir de uma abordagem diferenciada e muito atrativa O ensino de uma língua estrangeira ocupa um espaço essencial na formação crítica e social dos alunos Maristas. Sua aprendizagem tem como meta central a formação de alunos reflexivos, aptos a discutirem a importância do ensino de outro idioma na realidade em que eles se encontram. O conhecimento de um segundo idioma proporciona ao indivíduo um leque imenso no saber, que facilita a interação no mundo globalizado, no qual a internet e outros meios de comunicação têm um papel de destaque na comunicação e na formação do conhecimento científico. A aprendizagem de uma língua estrangeira melhora a autopercepção do aluno como ser humano e como cidadão. Tendo em vista a importância da língua inglesa no cenário mundial e na realidade dos alunos Maristas, as aulas desse componente curricular, no Ensino Médio, são ministradas no período da tarde, somando duas horas e meia semanais e com uma média de 22 alunos por turma. “Essa mudança de formato se deu a partir do princípio de que o professor dava aula para alguns alunos que sabiam mais e outros menos, e aí não conseguíamos atingir ninguém; isso era uma realidade bem frequente em todas as turmas. Então precisávamos reverter esse quadro”, conta Juliana Monteiro, professora e coordenadora da área de Língua Inglesa do Colégio.
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As medidas adotadas começaram com a aplicação de um teste de nivelamento com os alunos do 9º ano. “Aqueles que acertassem pelo menos 50% da prova e que levassem um comprovante dizendo que faziam inglês em nível intermediário fora do Colégio, junto com uma autorização dos pais, estariam liberados das aulas. Com isso, conseguimos fazer turmas menores e com um período estendido, já que as aulas acontecem no contraturno. Em vez de 45 minutos de aula, oferecemos uma hora e 15 minutos duas vezes por semana ou, em alguns casos, um encontro de duas horas e meia", revela a professora. Com esse formato, que já acontece há cinco anos no Colégio Santa Maria, os professores Maristas conseguiram atingir de uma forma mais intensa aqueles alunos que não eram abrangidos nas aulas do período da manhã. “Claro que no início tínhamos uma preocupação em fazer essas aulas no contraturno, pois não sabíamos como a comunidade assimilaria e se os alunos viriam motivados. Mas esse obstáculo foi ultrapassado, pois eles chegam muito animados uma vez que a proposta que adotamos é diferente, é um inglês mais lúdico, mais focado no fazer, não só na gramática fragmentada. Têm muitos alunos que mesmo sendo liberados dessa aula vêm participar”, afirma Juliana.
Colégio Marista Santa Maria
Indivíduos engajados têm como objetivo a obtenção eficaz do conhecimento. Para conceber a aprendizagem no ato educativo, a escola e os professores precisam estar cientes de que o processo ensino-aprendizagem é um trabalho complexo, o qual, além de abranger a atividade de aprender e ensinar, requer uma análise fundamentada em diferentes abordagens. “Temos uma proposta de trabalhar bastante a oralidade com eles. A gente consegue fazer debates, assistir a documentários e seriados. Sempre procuramos trabalhar temas que os alunos propõem. Com turmas menores, conseguimos fazer atividades diferenciadas. Eles sabem que o inglês é uma língua global e, assim, valorizam a sua aprendizagem”, garante a professora. O aluno Marista é um ser ativo, participativo, capaz de construir um mundo por meio de suas percepções. Todo conteúdo assimilado será consequência do seu interesse, em que predominam a autodescoberta e a autodeterminação. A professora Juliana conta que durante o ano é feito um portfólio com os alunos no qual eles colocam diversas sugestões como jogos, músicas, vídeos, reclamações, elogios – tudo o que eles querem compartilhar. “O aluno Marista é muito ouvido e isso agrega ainda mais interesse às aulas”, conclui Juliana.
diz aí
Por que as pessoas são diferentes
?
© Fotos: Acervo do Colégio
umas das outras
Vittoria Costa 8ª ano do Ensino Fundamental
Guilherme Moro Conke 9º ano do Ensino Fundamental
Bruna Schmidlin 3ª série do Ensino Médio
“Temos que saber aceitar as diferenças. Minha amiga é diferente fisicamente de mim, mas ao mesmo tempo somos muito parecidas emocionalmente, temos algo em comum e acredito que é isso que nos faz ser amigas. Não importa crença ou tipo físico, por exemplo – o que faz as pessoas se relacionarem é algo que vem de dentro.”
“Meus pais sempre falam que temos que prestar atenção em como a pessoa é por dentro e não julgá-la sem a conhecer. Ter uma atitude positiva perante o outro é muito fácil, basta querer. Não faça contra os outros o que não gostaria que fizessem contra você.”
“São vários os motivos que tornam as pessoas diferentes, sejam eles culturais, regionais, linguísticos, círculos de amizades, valores, entre inúmeros outros. Porém, ao mesmo tempo, é isso que as torna tão encantadoras. Se todo mundo valorizasse isso, o mundo seria muito mais leve.”
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Colégio Marista Santa Maria
Davi Buest Linhares 1ª série do Ensino Médio
Lucca Passow Carpinelli 1ª série do Ensino Médio
Rodrigo Almeida Grillo 3ª série do Ensino Médio
“Já tive muitos amigos diferentes de mim e sempre nos demos muito bem. Nunca tive nenhuma atitude preconceituosa e acredito que não vou ter. Na minha casa não entra nenhum tipo de preconceito.”
“Quando as pessoas entenderem que as diferenças não interferem em nada no ato de se relacionar, com certeza verão um mundo muito mais legal. Para ser meu amigo só precisa ter humor, sinceridade e respeito.”
“Encontrar pontos em comuns com os outros é o que faz com que a convivência em sociedade se torne possível. As diferenças existem e precisam ser exploradas de maneira positiva e construtiva.”
OPINIÃO DA EDUCADORA A primeira leitura que a criança tem em relação ao outro é construída a partir da influência da família. No decorrer do seu desenvolvimento, ela vai aprendendo a se relacionar com o outro e formando suas próprias opiniões. É nessa fase que entra a atuação da escola. “Dentro do convívio familiar, a criança tem uma forma diferenciada de perceber o outro. Quando ela entra na escola, nosso papel é fazer com que aprenda a conviver com as diferenças daqueles que estão a sua volta. Temos de trabalhar essa aceitação do outro, entender e respeitar. Fazendo essa autoanálise com ela, conseguimos ensiná-la a se colocar
no lugar do outro, tornando-a um jovem mais tolerante e amigável”, opina Josiane Miara Barbosa, coordenadora do Período Ampliado do Colégio Marista Santa Maria. A parceria entre escola e família é importantíssima nesse período. “Temos de trabalhar juntos para desenvolver a maturidade emocional das crianças e jovens, o que tornará muito mais fácil compreender o outro e suas diferenças”, conclui Josiane.
Josiane Miara Barbosa Coordenadora do período Ampliado do Colégio Marista Santa Maria
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caleidoscópio
© Foto: Maiara Prestes
© Foto: Larissa Oksana
Os alunos foram recebidos pelos educadores com o jeito Marista de ser para a volta às aulas 2015.
ACOLHIDA
NOVIDADE
No início do ano, foi inaugurado o Marista Idiomas, uma proposta pedagógica consistente e de acordo com nossas concepções, valores e filosofia institucionais. Na foto, o diretor-geral Everson Caleff Ramos e Leila Guerino, coordenadora do Marista Idiomas.
© Foto: Acervo do Colégio
2014
O Diretor Educacional Welington Nunes deseja boas-vindas aos novos alunos Maristas.
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Colégio Marista Santa Maria
© Foto: Acervo do Colégio
Marcando o início das atividades da PJM, os alunos do 7º, 8º e 9º anos participaram do CHAMADÃO. Nesses encontros, foram trabalhados diversos temas como família, amizade, escolhas e consumismo.
© Foto: Larissa Oksana
CHAMADÃO
ACONTECEU
© Foto: Anderson Retechuki
No início do ano, alguns alunos do Santa Maria participaram de intercâmbios esportivos e culturais. A equipe de dança e o coral foram para um workshop em Paris; o time de futebol visitou Orlando para um processo avaliativo e competitivo; e o staff do teatro desembarcou em Lisboa a fim de vivenciar uma troca de experiências com nossos coirmãos locais.
A festa da formatura do Terceirão 2014 estava muito animada e todos aproveitaram bastante. A foto registra o momento da valsa.
Colégio Marista Santa Maria
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destaque
© Fotos: Acervo do Colégio
Na foto os alunos André Prodohl Kovalczuk, Maria Julia Manasses Valaski, e Gianfranco Daroit Cavassin.
Destaques internacionais Alunos do Santa Maria são aprovados no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas na França
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Considerada uma das melhores instituições superiores da Europa, um dos três maiores câmpus da França e onde se formam, a cada ano, mais de 12% de todos os engenheiros franceses, o Instituto Nacional de Ciências Aplicadas (INSA), localizado em Lyon, agora terá a presença de quatro alunos Maristas. André Prodohl Kovalczuk, Maria Julia Manasses Valaski, Gianfranco Daroit Cavassin e Pedro Guedes Brito Miele foram aprovados em uma seleção criteriosa, na qual se avaliou o histórico escolar, a recomendação do colégio parceiro e a aprovação em um vestibular de Ciências Exatas no Brasil. “Ingressar no INSA é mais difícil que em uma universidade. O objetivo é formar a elite dos engenheiros, a qual conseguirá uma colocação de destaque no mercado em qualquer lugar do mundo”, afirma a representante do INSA no Brasil, Consuelo Rauen. O primeiro contato dos alunos com o instituto aconteceu através de uma palestra organizada, em 2014, pelo Colégio Santa Maria com a representante Consuelo, que foi à Escola para falar sobre o projeto de intercâmbio acadêmico. “Re-
Colégio Marista Santa Maria
alizamos parcerias com colégios de alto nível de excelência. Apenas quatro escolas brasileiras foram selecionadas e o Marista está entre elas. É uma união que já está demonstrando um bom potencial de colaboração para a formação de novos engenheiros”, garante Consuelo. O ex-aluno André já está ansioso para a viagem. “Não tem como não ficar feliz em estar em uma das melhores universidades da Europa, o mercado tem como excelente o diploma do INSA e a maioria dos estudantes formados ali vai para as grandes instituições de Paris, Londres, entre outras importantes regiões. Na Europa, a formação de engenheiro é geralmente técnica e o INSA é uma das poucas escolas a oferecer ensino superior, então eu vou sair graduado, com mestrado e como engenheiro”, comemora o agora ex-aluno Marista, que embarca em agosto para a França. Junto com André estará a Maria Julia, que desde os 15 anos deseja cursar uma carreira acadêmica no exterior. “Quando surgiu essa possibilidade de ir para o INSA com o apoio do Santa Maria, e ainda mais na área que eu sempre quis,
Engenharia, não pensei duas vezes e agarrei a oportunidade. Quando veio o resultado eu não acreditei. Lembro que estava viajando e chegou a carta em francês com o resultado e eu não entendi nada, tive que tirar uma foto e mandar para o André ler e me explicar o que dizia. Quando ele falou ‘estamos juntos’ comecei a chorar de tanta felicidade”, lembra a estudante. Gianfranco pretende ir apenas em 2016. “Quero praticar mais o francês no tempo que estiver aqui no Brasil para poder tirar mais proveito das aulas lá. Estou cursando também Engenharia na Universidade Federal (UFPR) para ter uma base mais concreta da área. Mas confesso que estou ansioso para chegar lá”, revela o ex-aluno Marista.
O que eles esperam dessa grande conquista Criado em 1957, o INSA de Lyon é o líder da rede do instituto, que conta com mais quatro escolas superiores, localizadas em Rennes, Ruão, Estrasburgo e Toulouse. O primeiro ciclo é constituído de dois anos de formação fundamental – os alunos recebem uma educação científica de base, incluindo aulas de laboratórios em grupo e ciências humanas (línguas, comunicação, administração etc.). Esse período permite aos estudantes que busquem orientação em um dos 12 departamentos do segundo ciclo, que tem duração de três anos. Uma das possibilidades que o instituto oferece aos estudantes é o duplo diploma. Para tanto, conta com acordos de intercâmbio com mais de 250 universidades pelo mundo, incluindo o Brasil. “Eles têm programas muito interessantes. Além do duplo diploma, a gente já sai de lá com o mestrado. Outro ponto que chamou muito minha atenção é que o INSA é uma escola exclusivamente de exatas que tem um número exorbitante de clubes de humanas, onde discutem ciência política, ciência social, entre
outros assuntos. Isso é bem interessante, pois já tenho uma formação social do Marista que poderei dar continuidade lá”, conta André. Outros atrativos também estão relacionados com a estrutura que o câmpus oferece. São muitas opções, como esportes, artes e outros aspectos da cultura daquele país. Os alunos Maristas também farão parte do programa Amerinsa, voltado para estudantes da América do Sul e do Norte. Eles passarão por uma escola de verão de seis semanas, antes do início das aulas, para que se adaptem à universidade, tenham aulas de francês e façam passeios para conhecer a região. Diante da pergunta sobre o que esperam dessa conquista, todos foram unânimes: muito estudo e grandes vivências. “A experiência de estar no exterior é sempre muito boa. Lyon está no centro da Europa. Espero poder crescer, aplicar os valores Maristas que aprendi. Quero poder ter muitas experiências diferentes; afinal, o mundo é muito grande. Pretendo seguir na área de Engenharia Aeronáutica, sou apaixonado por aviação. Entretanto, quero também conciliar com o meu sonho de fazer a diferença. O desafio realmente será a saudade das pessoas daqui, mas acho que vai ser difícil eu voltar para o Brasil, será apenas para passear”, afirma André. “Espero muita coisa positiva dessa fase, tanto em questão de estudos quanto de conhecimento. A convivência com os alunos franceses vai ser muito enriquecedora, pois lá a gente divide o quarto com eles para criar
uma aproximação maior com a cultura francesa. O bacana é que lá temos a inserção profissional junto – no período de férias, eles dão um direcionamento para estágio, onde podemos nos mostrar para o mercado e conquistar nosso espaço. No final do curso já é muito mais fácil conseguir uma colocação profissional. Estou preparada. Já comecei a fazer francês no início do ano e também estou cursando Engenharia na UFPR para pegar o ritmo de faculdade. Pretendo seguir na área de Engenharia Industrial”, diz Maria Julia. “Acho que lá vai ser um período de muito estudo em uma das melhores instituições da Europa. Escolhi seguir a área de Engenharia Mecânica e imagino fazer carreira por lá”, conclui Gianfranco.
Realizamos parcerias com os colégios de alto nível de excelência. Apenas quatro escolas brasileiras foram selecionadas e o Marista está entre elas. É uma união que já está demonstrando um bom potencial de colaboração para a formação de novos engenheiros. Consuelo Rauen Representante do INSA no Brasil
Sede do INSA em Lyon, França ..
Colégio Marista Santa Maria
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você sabia?
Entre idas
e vindas Tudo começou quando Julia Jayme Wruca tinha sete anos. Seus pais foram chamados para a Universidade Estadual de Londrina – a mãe, Thállitha Samih Wischral Jayme Vieira, hoje servidora pública, para participar do programa de residência em Medicina Veterinária e o pai, Rafael Felipe da Costa Vieira, também servidor público, para fazer parte da equipe de pesquisadores da instituição. E foi então que Julia iniciou sua jornada de adaptação pelas cidades brasileiras. O primeiro desafio começou na escola. A mãe conta que devido ao ciúme de uma amiguinha, Julia sofreu bullying. “Quando fui para outra escola, tudo começou a melhorar. A recepção inicial não foi tão boa, mas depois fui me adaptando melhor”, revela a menina. Quando ela estava com 10 anos, surgiu uma nova mudança, desta vez para fora do Brasil. “Ficamos três meses nos EUA. Fui terminar meu doutorado e a Thállitha concluiu o mestrado. A Julia foi para uma escola regular, ela não sabia falar nada em inglês, porém se virou muito bem”, afirma, orgulhoso, o pai. Julia nos conta que o ensino lá é bem diferente. “É igual em filme mesmo, cada disciplina tinha sua sala, lembro de ver muitos animais, como tartaruga, passari-
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nhos que ficavam no ombro da professora, era muito legal”. Chegando ao Brasil, a filha fez um teste de nivelamento em um curso de inglês e avançou dois anos. A volta ao país de origem aconteceu quando Rafael e Thállitha passaram no concurso da Universidade Federal da Paraíba. “A instituição ficava na cidade de Areia, interior da Paraíba, mas optamos por morar em Campina Grande, que ficava a 60 km, por ser uma cidade maior e até por conta da escola da Julia. “Quando cheguei na Paraíba, fui muito bem recebida e fiz muitos amigos em pouco tempo”, revela a estudante. A dinâmica de ensino foi bem diferente em todas as regiões. No colégio de Campina Grande, Julia conta que foi bem puxado, era uma preparação focada para o vestibular. “Fazia prova com três fiscais dentro da sala, com câmera e nome na carteira. Ia muito bem, nunca tirei nota baixa, mas só estudava, não tinha tempo para mais nada, quando minha amiga ia lá para casa era para estudar”. Nesse meio-tempo, Thállitha engravidou e a distância para ir todos os dias ao trabalho se tornou pesada. Foi a hora de mudar de vez para Areia. “Aí o nível de ensino foi de 100 para 50, pois a cidade era muito
Colégio Marista Santa Maria
© Foto: Acervo pessoal
Morar em quatro cidades brasileiras diferentes e em uma fora do país é uma experiência e tanto para uma menina de apenas 14 anos
pequena e não tinha tanto suporte. A Julia ficou muito desmotivada e quando parou de ler livros, algo que ela fazia muito, a gente realmente viu que era hora de mudar. Ela ficou só seis meses nessa escola. Já estávamos cogitando voltar para Campina Grande quando, depois de três anos, surgiu a minha transferência para Curitiba”, afirma o pai. Ao chegar aqui, no início de 2014, a primeira coisa que o casal fez foi matricular Julia no Colégio Santa Maria. Hoje ela está no 8º ano do Ensino Fundamental. “Eu fui aluna Marista e quando soubemos que voltaríamos para Curitiba não pensamos em outro colégio a não ser o Santa Maria. Nossa filha voltou a ser o que era, estamos muito satisfeitos com a Escola e com a evolução da Julia”, exalta Thállitha. Rafael completa: “Algo que gosto muito no Marista são as interações que eles proporcionam, como o ciclo de palestras para os pais e a Pastoral, que queremos muito que a Julia participe”. Julia revela que na Paraíba tinha uma melhor amiga, mas que aqui tem um grupo de amigos. “Adoro estudar no Santa Maria e já me sinto muito à vontade. O mais difícil mesmo foi me acostumar com o clima”. Mas a mania de comer tapioca e cuscuz ainda continua, não é mesmo, Julia?
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gente nossa
Vivências profundas em
© Fotos: Acervo pessoal
CUSCO Fui a Cusco conhecer pessoas e suas histórias. Não foi difícil. Logo no primeiro dia não faltou assunto no chá das 5h, no café das 6h30, no chocolate quente das 8h e no bate-papo das 10h. Contudo, foi escutando as crianças do Projeto Colibri que, dia após dia, conheci a verdadeira Cusco e a vida daqueles que moram em suas ruas. Administrado pela Polícia Nacional Peruana, o Projeto Colibri recebe crianças que passam as manhãs e noites nas ruas auxiliando seus pais. Com elas, você encontrará choclo con queso, chaveiros, gorros, pedras da região e, descendo duas quadras da Plaza de Armas, Jhon estará vendendo as artesanías feitas por sua mãe. Durante as tardes, os pequenos vão ao projeto para se divertir, para aprender e, quem sabe, para esquecer um pouquinho do além-mais manifestado em suas mãos cansadas. Estampado na parede do Programa, um cartaz diz: “Nuestros Valores”. Amor ao serviço, gratuidade e generosidade estão lá. Ficou mais fácil conversar sobre virtudes, acompanhar e até promover algumas atividades recreativas. Músicas! Como as da PJM, mas traduzidas com o pouco espanhol que me cabe. Lá, conheci Mary Luz, mãe aos 17 anos de David, de 6 meses. Ele, sobrinho do “Gordito”, irmão de Mary Luz, que tem sete meses de idade. Confuso? Faça as contas! Foi assim que pude também conhecer Rodrigo. Aos 10 anos, é mestre no xadrez e melhor decifrador de mágicas do sul de Cusco. Às 16 horas, chega Reiner. O menino garante que joga mais bola que Messi, mas gosta mesmo do Paolo Guerrero. Já os irmãos Anthony e Frank (7 e 4 anos) aparecem logo depois. Olhos iguais, histórias profundas. Mais carinhosos que a gente em dia de café na cama. É deles que escuto um diário ¡hola, amigo!, seguido de um abraço de verdade: minha manifestação diária de paz. Entretanto, nesse meio-tempo de dinâmicas sobre autoconhecimento até aulas de Inglês, só conheci o verda-
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A trajetória do ex-aluno Marista e agente de Pastoral Gustavo Schmid Queiroz pelas ruas da cidade peruana e pelo Projeto Colibri é tão maravilhosa que você vai chegar ao final deste relato querendo saber mais
deiro “chão” desses pequenos quando pisei onde vivem: na rua. Foi caminhando em uma das muitas plazas cusquenhas que encontrei Carlos. Eu, turistando; ele, vivendo. Permiti que me levasse aonde quisesse. Carlitos já foi expulso duas vezes do projeto por mau comportamento. Readmitido, chega antes das portas abrirem e só vai embora depois dos devidos abraços e promessas de retorno. Me mostrou onde consegue doces de graça, onde brinca, onde toma banho de fonte e onde aprendeu a jogar sinuca. Só ganhei dele na corrida, pois parou para cumprimentar um amigo. Carlos tem oito anos. O fato é que, antes de ir, me perguntava constantemente se estava fazendo o correto. Pegando um avião para realizar um trabalho que as crianças do meu país também precisam. Tinha medo de que uma realização pessoal de “turista” ultrapassasse o objetivo da viagem. Aqui, percebi que é impossível evitar. Na realidade em que essas crianças vivem, eu sou um turista. Nem sempre sei o que fazer ou o que falar. Escuto bastante, partilho a minha cultura. E foi assim que fez sentido. Fez sentido quando Edson ficou feliz por jogar bola com um brasileiro. Fez sentido quando Tânia gostou de uma recreação no encontro. Fez sentido quando David ganhou seu primeiro sapato, quando Carlitos me prometeu não brigar mais. E não brigou. Me provoquei a ir além da minha janela. Escalar o muro da minha casa e conhecer o fundo dos olhos do mundo que estava lá fora. Nessa oportunidade, esse mundo fala espanhol, come arroz com leite e tem mais sinusite que curitibano. Foi a minha breve Missão Solidária. Marista de carisma e compromisso. Àqueles que desejam, um dia, doar seu trabalho, sua vontade e seus sorrisos, só desejo uma coisa: procurem conhecer pessoas. É com elas que está o reino de Deus. Ao menos tem dado certo por aqui. Abraços fraternos.
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10 anos de Pastoral
“Está em suas mãos transformar lacres em solidariedade”
Juvenil Marista O processo de formação integral, no qual o jovem desenvolve aspectos da espiritualidade, do seu papel ativo na Igreja, do aprofundamento no carisma Marista, do protagonismo juvenil e da intervenção eficaz na sociedade, está completando dez anos em 2015. E ninguém melhor para falar da Pastoral Juvenil Marista (PJM) do que quem vivenciou de perto toda essa trajetória. Conversamos com os ex-alunos Victor Miguel Castillo de Macedo, Gabriela Maciel Castro e André Prodohl Kovalczuk para relatar todo o aprendizado e os momentos marcantes desta jornada de fé, amor e solidariedade. Victor foi o primeiro representante jovem da PJM e se orgulha em ver o quanto a Pastoral cresceu e ganhou destaque. “A PJM foi passando por um processo de institucionalização. É um trabalho que vem se tornando cada vez mais cuidadoso. Toda a experiência que tive na PJM foi muito importante para a minha formação, seja profissional, social e espiritual. O que mais me toca vendo essas gerações que participaram é o quanto elas conseguem passar adiante os valores que aprenderam. Esses jovens têm um olhar mais humano perante o outro”, afirma Victor. Ele lembra que o momento mais marcante dessa vivência foi uma visita que fez em 2011. “Passamos uma semana na Vila Torres e essa experiência me tocou muito. Fomos a essa comunidade para conhecer as pessoas, oferecer a nossa presença,
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© Foto: Acervo do Colégio
ser melhor
É hora de comemorar os 10 anos de caminhada de amadurecimento da fé dos jovens junto à PJM
nossa maneira de escutar. É a concretização de um processo em que a gente não se importa tanto com as coisas materiais que vamos levar, mas sim com o lado humano, nosso carinho e atenção. É um projeto que tem consequências práticas para a sociedade. Porque depois de ouvir o que eles tinham a dizer, conseguimos estabelecer contato com os líderes da comunidade para organizar encontros nos quais seriam discutidos problemas práticos do cotidiano deles”, ressalta o ex-aluno. Já Gabriela entrou na PJM meio por acaso, através do convite de uma amiga, e desde então não saiu mais. “Eu era extremamente cética quanto à Pastoral, pois tive uma experiência ruim na catequese que fiz fora do Colégio. Percebi que a PJM vai numa corrente totalmente contrária, as crianças e os jovens falam, discutem, incitam perguntas. O nosso trabalho como ex-alunos é fazer com que a Pastoral continue sendo conhecida e amada”, ressalta Gabriela, que hoje é representante da Comissão Provincial de Juventudes. Segundo ela, a maior lição que a Pastoral lhe ensinou é a maneira de expandir as virtudes Maristas. “Celebrar os dez anos da PJM também é um momento de reflexão. Estamos muito felizes com a caminhada que tivemos, mas precisamos focar no que podemos melhorar daqui pra frente, pois as pessoas que participam hoje são comple-
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tamente diferentes das que participaram há dez anos e também das que virão”, diz a representante. André já é da nova geração de jovens da Pastoral – entrou em 2010 e se apaixonou logo de início. “A PJM é a melhor base que o jovem pode ter, pois, às vezes, algo está faltando na nossa vida e a Pastoral está ali naquele momento decisivo, de escolha e de mostrar o melhor caminho. Quando comecei a participar dos retiros e projetos sociais, descobri que em determinado momento precisamos seguir com as nossas próprias pernas”, reflete o ex-aluno. Um ponto decisivo para que André chegasse a essa conclusão foi quando teve contato com crianças carentes. “Vivenciei sentimentos inexplicáveis. Hoje, meus sonhos e caminhos a serem trilhados giram em torno de estar com quem precisa”, garante. O coordenador do Núcleo Pastoral, Felipe Munhoz da Rocha, emociona-se ao saber que os jovens que participaram do processo enxergam em suas vidas algo diferente. “O simples fato de conviver com pessoas boas faz com que, automaticamente, comecemos a nos transformar também. A PJM é uma organização feita pelos jovens e pensada com eles. É um processo de amadurecimento, de escuta, de escolha pessoal. Esses três alunos são um belo exemplo do resultado desse trabalho de dez anos”, comemora.
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NA OLIMAR TEM UMA COISA QUE TODOS VÃO COMEMORAR: A AMIZADE.
A Olimar é um evento que celebra o espírito esportivo e a amizade entre os alunos dos Colégios Maristas. Venha participar. De 4 a 8 de setembro, no Colégio Marista de Londrina. VINÍCIUS SAMPAIO | ISABELA GOMES Atletas de futsal da 3ª e 2ª Série Acesse fb.com/olimpiadamarista e saiba mais.
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© Foto: João Borges
essência
Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)
O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.
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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".
Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.
CHAMPAGNAT
ensina a Montagne
as coisas de Deus
E MONTAGNE lhe ensina que não
HÁ MAIS TEMPO A PERDER.
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Nada mais atual do que um novo jeito de aprender inglês: o jeito Marista.
A Rede Marista de Colégios, buscando proporcionar um ensino diferenciado de Língua Inglesa, implantou neste ano o Marista Idiomas, que utiliza a metodologia do Red Balloon, totalmente alinhada à proposta pedagógica e aos Valores Maristas. Com 45 anos de tradição, o Red Balloon é pioneiro no ensino exclusivo de crianças e jovens, respeitando as características de cada faixa etária e atendendo alunos a partir dos 3 anos.
Santa Maria: 41 3074 2543 :: Pio XII: 42 3224 0374 :: Champagnat: 16 3238 4800 Maringá: 44 3220 4224 :: Londrina: 43 3374 3600
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© Ilustração: Rabisko
solidariedade
Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos
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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.
© Fotos: Gilberto do Rosário
As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.
Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-
conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.
© Estêncil: Carolina Machado
Atividades diferenciadas
As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.
O que define o uso abusivo?
Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado
Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.
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© Foto: Renata Salles
como fazer
Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos
Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando
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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao
participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”.
© Foto: Acervo Comissão da Juventude
que participam, além de proporem atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.
Encontrando tempo
Futuramente, esse engajamento continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.
Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de
Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.
Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude
Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.
Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.
Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.
Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.
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“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista
IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo
Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).
A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)
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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios
O FAZEDOR DE VELHOS
© Imagens: Divulgação
de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)
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diversão
Dia de índio
Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil
© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo
Por Michele Bravos
Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.
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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.
Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-
sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.
Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.
Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.
Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc
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olhar
Crise de sentido em um mar de
© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio
{des}informação
O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 48
Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.
Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-
mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo
Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.
respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.
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Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos
Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-
tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.
Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.
Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.
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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.
Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.
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