Empreendedor 147

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MERCADO ANIMADO

LÍGIA RAMOS, DA BOBY BLUES:

NO SÉCULO 21

DAS CONSULTORIAS

SEGREDOS DO SUCESSO

Janeiro 2007 • R$ 9,90

O SABOR DA OPORTUNIDADE

Empreendedor

www.empreendedor.com.br

Ano 13 • Nº 147

ISSN 1414-0152

Ano 13 • Nº 147 • janeiro 2007

BRASIL COMPETITIVO


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Diretor-Editor Acari Amorim [acari@empreendedor.com.br] Redação Editor-Executivo: Nei Duclós [nei@empreendedor.com.br] Repórteres: Alexsandro Vanin, Camila Stähelin, Carol Herling, Fábio Mayer, Sara Caprario e Wendel Martins Edição de Arte: Gustavo Cabral Vaz Fotografia: Arquivo Empreendedor, Carlos Pereira, Casa da Photo, Lio Simas , Index Open e Tomas May Produção e Arquivo: Carol Herling Foto da capa: Index Open Revisão: Renato Tapado Sedes São Paulo Gerente Comercial: Fernando Sant’Anna Borba Executivos de Contas: Gesner C. Vieira, Márcia Marafon e Ronaldo D. Liparelli Projetos Especiais: José Lamônica (Lamônica Associados) Rua Sabará, 566 - 9º andar - conjunto 92 - Higienópolis 01239-010 - São Paulo - SP Fone: (11) 3214-1020 [empreendedorsp@empreendedor.com.br]

Nesta Edição PG. 22

Marcas do café fino O impacto das supernovas

Desde 2000, o segmento de cafés premium cresce, em média, de 15% a Empresas gigantes surgem da conforme noite paraestimativas o dia e causam impacto no 20% ao ano no mercado interno, da Associação Bramercado, desencadeando forças empreendedoras para todos os lasileira da Indústria do Café (ABIC). O fenômeno puxa a expansão do condos. total Elas de nascem com visibilidade instantânea no5% universumo cafés grandes no Brasiledurante o período, em torno de ao ano, so empreendedor. Emitem um brilho único, como os provocados pela bem acima da taxa média de crescimento anual do consumo no mundo, supernovas. surgem, geram impacto nocafé. mercadeexplosão 1,5%. E adetendência é os Quando brasileiros tomarem cada vez mais do e ajudam a criar um ambiente propício para o desenvolvimento de negócios, atraindo empresas satélites, que atuam como fornecedoras e parceiras na cadeia produtiva, e mão-de-obra com maior qualificação.

INDEX OPEN

A revista Empreendedor é uma publicação da Editora Empreendedor

Florianópolis Executiva de Contas: Vione Hartmann Corrêa [vione@empreendedor.com.br] Executiva de Atendimento: Luana Paula Lermen [luana@empreendedor.com.br] Av. Osmar Cunha, 183 - Ed. Ceisa Center - bloco C 9º andar - 88015-900 - Centro - Florianópolis - SC Fone: (48) 3224-4441 Rio de Janeiro Triunvirato Desenvolvimento Empresarial Ltda. Milla de Souza [triunvirato@triunvirato.com.br] Rua São José, 40 - sala 31 - 3º andar - Centro 20010-020 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 3231-9017 Brasília JCZ Comunicação Ltda. Ulysses C. B. Cava [jcz@forumci.com.br] SETVS - Quadra 701 - Centro Empresarial bloco C - conjunto 330 70140-907 - Brasília - DF Fone: (61) 3322-3391 Paraná Merconet Representação de Veículos de Comunicação Ltda. Ricardo Takiguti [comercial@merconet.srv.br] Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 - conjunto 1 Boa Vista - 82560-460 - Curitiba - PR Fone: (41) 3079-4666 Rio Grande do Sul Alberto Gomes Camargo [ag_camargo@terra.com.br] Rua Arnaldo Balvê, 210 - Jardim Itu 91380-010 - Porto Alegre - RS Fone: (51) 3340-9116 Pernambuco HM Consultoria em Varejo Ltda. Hamilton Marcondes [hmconsultoria@hmconsultoria.com.br] Rua Ribeiro de Brito, 1111 - conjunto 605 - Boa Viagem 51021-310 - Recife - PE Fone: (81) 3327-3384 Minas Gerais SBF Representações Sérgio Bernardes de Faria [comercial@sbfpublicidade.com.br] Av. Getúlio Vargas, 1300 - 17º andar - conjunto 1704 30112-021 - Belo Horizonte - MG Fone: (31) 2125-2900 Assinaturas Serviço de Atendimento ao Assinante Diretora: Luzia Correa Weiss Fone: 0800-48-0004 [assine@empreendedor.com.br] Produção Gráfica Impressão e Acabamento: Gráfica Pallotti - Porto Alegre Distribuição: Distribuidora Magazine Express de Publicações Ltda.- São Paulo Empreendedor.com http://www.empreendedor.com.br

ANER 6 – Empreendedor – Janeiro 2007

PG. 36

O valor da consultoria

INDEX OPEN

Escritórios Regionais

Consultores são uma das categorias de empreendedores que mais crescem em todo o mundo. São importantes aliados nos negócios, mas um empreendedor escolher um profissional com destaque no mercado e que ajude a empresa a resolver os problemas ainda é um desafio. É preciso saber o que pensam, o que vendem e quanto cobram. Eles se apresentam como vencedores num mercado com as mais diferentes soluções e estratégias.

PG. 40

De porta em porta

A venda direta é um sistema de comercialização de bens de consumo e serviços baseado no contato pessoal, entre vendedores e compradores, fora de um estabelecimento comercial fixo. Praticada sob formas distintas – pessoa a pessoa, catálogos –, presente em todo o mundo e envolvendo os mais diversos setores da economia – de produtos de limpeza a automóveis –, se destaca por sua capacidade de expandir-se geograficamente.


Janeiro/2007

PG. 59

Caderno de TI

Cursos geram franquias Ao se destacar nos cursos da área jurídica, o Grupo Prima criou a Editora Premier, o canal corporativo Unyca e toda a estrutura de franquias. Começou assim: duas advogadas e professoras preparavam recém-formados em Direito para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) há 14 anos, em São Paulo. Aos poucos, elas contrataram professores e passaram a oferecer cursos preparatórios para concursos públicos, exames profissionais e carreiras variadas.

CARLOS PEREIRA

Entrevista:

PG. 14 Gilberto Lima Júnior

UPGRADE CRIATIVO .............. 52 Novas soluções sobre produtos consagrados dinamizam as oportunidades de negócios.

Empreendedorismo do século 21

INTERCÂMBIO DE TECNOLOGIA ........................... 55 Dez empresas brasileiras de TI foram selecionadas para instalar uma representação em Portugal.

Um novo conceito de indústria, o cruzamento de novas tecnologias com nichos tradicionais, a imposição da ética nos negócios, a necessidade de trabalhar em sintonia com o meio ambiente: nas principais tendências das atividades produtivas deste início de século, o Brasil tem chances de criar uma cultura competitiva, segundo a análise de Gilberto Lima Júnior, consultor da Gerência Geral da ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e coordenador da Renapi – Rede Nacional de Agentes de Política Industrial.

Perfil: Lígia Ramos

PG. 44

A evolução de um sonho Irmã do meio de uma família de três filhos, Lígia Ramos morava ao lado da fábrica Têxtil Renaux, onde o pai trabalhava como operário. “Minha brincadeira preferida quando criança era fazer roupinhas para as minhas bonecas.” Para chegar à Boby Blues, três estabelecimentos próprios e 16 franquias distribuídas pelos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de 200 lojas multimarcas espalhadas por todo o país, ela precisou insistir no seu segredo: curiosidade e insatisfação.

GRANJA DIGITAL .................... 50 Coleta automatizada de dados aumenta a eficiência no agronegócio.

REDE AUTO-SUSTENTÁVEL ... 54 A inclusão digital de pequenas e médias empresas ganha força no país.

LIO SIMAS

COMPRAS PELO CELULAR .... 53 Sistema permite uso de telefones celulares para realização de compras acima de R$ 300 de qualquer lugar.

LEIA TAMBÉM Cartas .............................................. 9 Empreendedores ............................. 10 Não Durma no Ponto ...................... 20 Pequenas Notáveis ......................... 48 Empreendedor na Internet ............. 82 GUIA DO EMPREENDEDOR ............. 6 9 Produtos e Serviços ........................ 70 Leitura ............................................. 72 Análise Econômica .......................... 76 Indicadores ..................................... 77 Agenda ............................................ 78

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de Empreendedor para Empreendedor

Assinaturas Para assinar a revista Empreendedor ou solicitar os serviços ao assinante, ligue 0800-48-0004. O valor da assinatura anual (12 edições mensais) é de R$ 118,80. Aproveite a promoção especial e receba um desconto de 20%, pagando somente R$ 95,04. Estamos à sua disposição de segunda a sexta-feira, das 8 h às 18h30. Se preferir, faça sua solicitação de assinatura pela internet (www.empreendedor.com.br) ou pelo e-mail assine@empreendedor.com.br.

Anúncios Para anunciar em qualquer publicação da Editora Empreendedor, ligue: São Paulo: (11) 3214-6093 Rio de Janeiro: (21) 3231-9017 Brasília: (61) 3322-3391 Curitiba: (41) 3257-9053 Porto Alegre: (51) 3340-9116 Florianópolis: (48) 3224-4441 Recife: (81) 3327-3384 Belo Horizonte: (31) 2125-2900

Reprints Editoriais É possível solicitar reimpressões de reportagens das revistas da Editora Empreendedor (mínimo de 1.000 unidades).

Internet Anote nossos endereços na grande rede: http://www.empreendedor.com.br redacao@empreendedor.com.br

Correspondência As cartas para as revistas Empreendedor, Jovem Empreendedor, Revista do Varejo, Cartaz, Guia Empreendedor Rural e Guia de Franquias, publicações da Editora Empreendedor, podem ser enviadas para qualquer um dos endereços abaixo: São Paulo: Rua Sabará, 566 - 9º andar - conjunto 92 - Higienópolis - 01239-010 - São Paulo - SP Rio de Janeiro: Rua São José, 40 - sala 31 - 3º andar - Centro - 20010-020 - Rio de Janeiro - RJ Brasília: SETVS - Quadra 701 - Centro Empresarial bloco C - conjunto 330 - 70140-907 - Brasília - DF

Editorial experiência ensina que só existe ruptura se houver tradição e só existe evolução se houver parâmetros sólidos que a sustentem. Essa relação de trocas entre o que é conhecido e a novidade faz com que o trabalho humano se aprimore obedecendo aos movimentos cíclicos. Todo passo à frente só é possível se houver antecedentes. Não se avança de maneira contínua sem prestar contas ao que já foi feito. Não deve haver mais a ilusão de que o mundo é um eterno presente e que basta romper com tudo o que já foi assimilado. Nos negócios, acontece a mesma coisa. Como está destacado na entrevista desta edição, é o cruzamento entre as novas etapas do conhecimento com nichos tradicionais que se detectam as grandes tendências do empreendedorismo deste século. Temos condições de ser competitivos nesta fase em que muitas barreiras serão rompidas, mas é preciso evitar as ações erradas que costumam inventar décadas perdidas ou perdas sucessivas de bondes da história. A ciência aplicada à indústria, o comércio e os serviços podem nos ajudar a sair da encruzilhada em que nos metemos, com

A

uma economia com grande potencial de crescimento e ainda amarrada a velhas estruturas antinegócios. Precisamos cruzar o que temos de mais conhecido com o que existe de mais promissor. Damos um exemplo concreto: as marcas de café fino, que enfim conquistam o Brasil. Exportador secular do produto, nosso país ainda estava engatinhando no que os outros produtores já sabiam há décadas: que o aroma e o sabor da qualidade são muito mais rentáveis, em curto e longo prazos, do que o imediatismo da venda fácil em cima da produção preguiçosa. Oferecer na praça o que temos de melhor implica empreendedorismo dentro dos novos parâmetros competitivos: respeito ao meio ambiente, foco no consumidor, ética e uso de ferramentas adequadas. Isso é mais do que um projeto, é uma realidade para um mundo todo conectado, com grande capacidade de reação quando há algum erro. Não podemos mais nos dar ao luxo de errar: esta deve ser a convicção neste ano que começa. Nei Duclós

Rio Grande do Sul: Rua Arnaldo Balvê, 210 Jardim Itu - 91380-010 - Porto Alegre - RS Santa Catarina: Av. Osmar Cunha, 183 - Ed. Ceisa Center - bloco C - conjunto 902 88015-900 - Centro - Florianópolis - SC Paraná: Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 conjunto 1 - Boa Vista - 82560-460 - Curitiba - PR Pernambuco: Rua Ribeiro Brito, 1111 - conjunto

Cedoc O Centro de Documentação (Cedoc) da Editora Empreendedor disponibiliza aos interessados fotos e ilustrações que compõem o nosso banco de dados. Para mais informações, favor entrar em contato pelo telefone (48) 3224-4441 ou pelo email imagem@empreendedor.com.br.

605 - Boa Viagem - 51021-310 - Recife - PE Minas Gerais: Av. Getúlio Vargas, 1300 17º andar - conjunto 1704 - 30112-021 Belo Horizonte - MG Os artigos deverão conter nome completo, assinatura, telefone e RG do autor, e estarão sujeitos, de acordo com o espaço, aos ajustes que os editores julgarem necessários.

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Cartas para a redação Correspondências por e-mail devem ser enviadas para redacao@empreendedor.com.br. Solicitamos aos leitores que utilizam correio eletrônico colocarem em suas mensagens se autorizam ou não a publicação de seus respectivos e-mails. Também pedimos que sejam acrescentados o nome da cidade e o do Estado de onde estão escrevendo.


Cartas Jóias das estrelas

Votos

Fiquei muito impressionada com o perfil de Pedro Brando, o joalheiro que conquistou as estrelas de Hollywood. Ele conseguiu vencer fazendo o que gosta, inspirado nas paisagens do seu país e estimulado pelas pessoas que o cercam. É um exemplo de como obter sucesso sem renegar a família ou o país e, ao mesmo tempo, sem se conformar com os limites impostos pelo nascimento e a formação.

Espero que a revista Empreendedor continue assim, abordando temas tão interessantes e que dão valiosas dicas para quem abraçou ou quer abraçar a carreira do empreendedorismo. Em 2007, continuaremos atentos às informações contidas neste veículo raro, que não se dobra a modismos, não se limita a temas recorrentes e consegue um perfeito equilíbrio entre o conteúdo jornalístico e o apoio publicitário.

Marilia Veiga Albernatti

Aproveito o início do ano novo para desejar muito sucesso a toda a equipe desta revista, composta de tantos talentos. É difícil enfocar o mundo dos negócios sem cair no lugar-comum. E é o que vocês conseguem. Parabéns. Um bom exemplo desse trabalho foi a edição de final do ano. Lá temos a trajetória de dez pessoas que têm valiosas lições para transmitir. E vocês conseguiram nos trazer a síntese dessas atuações, que nos enchem de esperança e de orgulho.

Porto Alegre – RS

ERRATA

Por um lamentável equívoco, o perfil de Valentina Caram, publicado na edição número 146, de dezembro, da revista Empreendedor, saiu com o crédito errado. A autora do perfil é a jornalista Camila Stähelin.

Pedro Paulo Mackenzie Jr.

São Paulo – SP

Antonio Cintra Bon Jovi

Curitiba – PR

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RICARDO PEREIRA

Empreendedores Silvia Schaefer Tavares

Projeto especial Conhecida por desenvolver há duas décadas um trabalho de inclusão de pacientes especiais, a dentista Silvia Schaefer Tavares inaugurou um consultório odontológico totalmente adaptado às necessidades deste público. Projetado com o auxílio da arquiteta Beatriz Leite, Silvia idealizou um espaço de atendimento totalmente dimensionado, com portas grandes, corredores largos e salas amplas. “Fizemos tudo muito bem pensado para garantir o máximo de conforto e facilitar os deslocamentos internos e o atendimento de pacientes com dificuldades motoras, até mesmo na própria cadeira de rodas ou na maca, quando a situação exigir”, diz Silvia. A dentista também pensou em detalhes do mobiliário, como louças sanitárias com altura específica, barras de apoio, modelo de lavatório próprio para o encaixe da cadeira de rodas e torneiras especiais, e também nas condições de atendimento. “Para evitar a contaminação do ambiente, aplicamos um piso de porcelanato com baixo coeficiente de absorção, assim como a tinta das paredes. As portas não têm detalhes, e as luminárias são fechadas, para evitar acúmulo de poeira.”

Sileni de Arruda Rolla

Toque social Pela primeira vez em quase 50 anos de história, o Clube Paineiras do Morumby, um dos mais tradicionais da sociedade paulistana, elegeu uma mulher para a sua presidência: a socióloga Sileni de Arruda Rolla, que iniciou um novo modelo de gestão com foco no associado. “Hoje, contamos com cerca de 20 mil sócios, e para atender um contingente tão gran-

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de de pessoas de maneira produtiva, vamos realizar pesquisas em todos os departamentos e uma avaliação da qualidade dos serviços oferecidos no clube para implantar condutas de trabalho que valorizem o sócio.” Para Sileni, o grande desafio será mudar a imagem que as pessoas têm dos clubes em geral, além de trabalhar o lado da responsabilidade social. “Vamos procurar

parcerias, inclusive com o Poder Público, para nos transformarmos em agentes de inclusão social.” Entre as atividades já definidas por Sileni, está a realização de gincanas, envolvendo as crianças, para a arrecadação de alimentos e roupas. “Queremos desde cedo que nossas crianças aprendam a importância da solidariedade.” www.clubepaineiras.com.br


MARCO DUTRA

Marcelo Rocha

Biquínis de exportação A Nana Carana, grife de moda praia do jovem empresário Marcelo Rocha, começa a despontar no mercado internacional de biquínis da Austrália e da Itália. Com peças que misturam cores vibrantes, modelagem e cortes exclusivos, Marcelo aposta no Light, um tecido diferente da lycra convencional, além de aplicações de strass, crochês, sedas, tricolines e rendas. A grife, que fez um estudo rigoroso para adaptar as peças de acordo com as modelagens internacionais sem deixar de lado a sensualidade característica do biquíni feito no Brasil, criou uma coleção especial para o mercado de Nápoles e já vendeu mais de mil peças no mercado australiano. O próximo passo, segundo Marcelo, é repetir o feito nos Estados Unidos, mercado que aprecia a moda praia com um toque brasileiro, mas que é mais exigente que a média. “Além das diferenças no corte, também investimos nas cores e em estampas, dando destaque para temas florais, camuflados, com borboletas e serpentes, além de motivos com inspiração africana”. www.nanacarana.com.br

Tina Laus e Beatriz Rebello

Novas roupagens Reconhecidas pela precisão e pelo capricho de seus projetos residenciais e de escritórios, as arquitetas Tina Laus e Beatriz Rebello agora inovam em técnicas para conquistar um novo filão da arquitetura: a concepção inteligente de espaços comerciais. Um dos cases do portfólio das arquitetas é o projeto da boutique feminina Coloritá, onde priorizaram o conforto através de uma ambientação clean e segmentaram a loja em espaços funcionais, como o Espaço do Café (com TV de plasma e frigobar para os homens aguardarem suas esposas durante as compras) e a Sala dos Provadores (que proporciona às clientes privacidade total). Outro toque dado pelas arquitetas foi a iluminação direta nas araras, que destaca as roupas expostas e melhora a visualização das peças, e a concepção das vitrines, que privilegia o espaço de desenho irregular no qual a loja foi instalada. Para a dupla, o espaço comercial deve seduzir o consumidor e fazer do ato de comprar uma experiência prazerosa. “É importante estabelecer uma relação estreita com o cliente, pois foi-se a época em que as pessoas só se contentavam em comprar; hoje, elas querem mais, querem ser envolvidas.” tinalaus_arquiteta@yahoo.com.br Janeiro 2007 – Empreendedor – 11


Empreendedores Marcos Sebben

Talento premiado

MAFIAPRESS

O designer Marcos Sebben foi um dos grandes vencedores da última edição do iF Design Awards, que premia os melhores profissionais do setor no mundo. O júri, baseado na Alemanha, avaliou mais de dois mil projetos inscritos por profissionais de 35 países. O Brasil ganhou com 19 projetos, sendo três deles criados pela Design Inverso, empresa da qual Marcos faz parte. O escritório acumula os troféus Abre, Abiplast, Museu da Casa Brasileira, Talentos Empreendedores do Sebrae, WPO e agora o iF Design. No portfólio de clientes, destacamse empresas como Laboratório Catarinense, Amanco, Bretzke, Montana, Wanke, FGM e Rudnick. www.designinverso.com.br

Aragão de Mattos Leão Neto

Novos artistas Após trabalhar nos empreendimentos de sua família, que se dedica ao agronegócio, o paranaense Aragão de Mattos Leão Neto decidiu mudar totalmente de ramo e passou a atuar como investidor de grandes shows musicais e também no apoio de novos talentos da música popular. Em sua casa de shows, localizada em Guarapuava (PR), Aragão sempre leva artistas que estão começando a carreira musical, mas com estilo do gosto de seu públicoalvo, que prioriza coisas como axé e sertanejo. Em pouco mais de um ano de atividades, Aragão já co-produziu dez grandes eventos com artistas de renome internacional e que reuniram mais de 150 mil pessoas. Apesar de jovem, Aragão é conhecido no meio de shows por sua visibilidade e “faro” para a escolha dos locais e cantores, e sabe que planejamento é fundamental para um ramo tão instável. “Temos, sempre, que fazer o melhor para que absolutamente nada dê errado e para que o público fique satisfeito.” amln@terra.com.br

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Fernanda e Mônica de Brito

Ponte da moda

Rodrigo Romariz

Gestão de marcas “Marca não é o que você diz ser, e sim o que os outros dizem.” Com base neste ponto de vista – e também em sintonia com as estatísticas, que apontam que cada real investido em design gera outros cinco em lucro –, o empresário Rodrigo Romariz aproveitou seus conhecimentos em Arquitetura e Direção de Arte para fundar e gerir a Singular, empresa especializada em design voltado para criação e gestão de marcas. Entre os serviços prestados pelo escritório, estão os projetos de arquitetura comercial, criação de projetos editoriais, promocionais e de mídia

eletrônica, além de todas as demandas específicas em design. Para Romariz, a marca ideal vai muito além da identificação de um negócio. “A empresa que possui um sistema de design claro e objetivo, seja em sua linha de produtos, seja no material impresso com que se relaciona com seu público-alvo, transmite uma imagem de empresa avançada e de alto padrão organizacional.” Uma boa identidade visual, segundo o jovem empresário, pode desencadear estímulos visuais, que afetam tanto as vendas quanto a própria empresa. www.s1gular.com.br

Peter Hammer

Na ponta da faca Com quase duas décadas de dedicação à arte da cutelaria, Peter Hammer tornou-se conhecido por ser o primeiro profissional a criar facas especiais e também por dedicar-se à formação de novos profissionais, como as cuteleiras Marina Farão e Silvana Mouzinho (consideradas as únicas mulheres a atuarem neste ramo). Além dos trabalhos realizados para a Força Aérea Brasileira e também para produções cinematográficas e televisivas, Peter Hammer assina a nova coleção de produtos da Corneta, empresa com 220 anos de tradição na Europa que retorna ao mercado brasileiro. Um dos

destaques da nova linha é a faca Wotan, forjada em uma única peça de aço. Própria para caça ou defesa, a faca Wotan tem como diferencial o tratamento térmico – têmpera – que confere dureza de 57 a 58 pontos na escala Rockwell. Outros detalhes concebidos por Hammer neste novo produto são a empunhadura de borracha sintética Kraton (que garante firmeza no manejo mesmo quando a faca está umedecida) e a proteção anticorrosiva, elaborada com uma camada de resina epóxi negra fosca que a isola da umidade do ar. www.cornetacutelaria.com.br

As empresárias Fernanda (foto) e Mônica de Brito resolveram ser a ponte entre Bali e o Brasil, e passaram a investir em moda oriental. Depois de uma viagem de passeio à Indonésia, há 13 anos, as duas irmãs tornaramse empreendedoras e hoje comercializam, nas quatro lojas da rede Via Bali, produtos que trazem da Ásia para revender no Brasil. O toque especial dos artigos, principalmente das roupas, está nos desenhos das peças, que são criadas com base nas preferências e nos padrões nacionais. Para garantir a variedade de produtos e renovar os estoques, Fernanda passa pelo menos dois meses por ano em Bali, onde escolhe e compra milhares de metros de tecidos e trabalha pessoalmente no trabalho de personalização, que envolve os processos de pigmentação, cortes, bordados e aplicações. “Fazemos tudo o que é possível para garantir peças de roupas exclusivas no mercado nacional”, diz. As irmãs Brito também comercializam acessórios, artesanatos, utilidades domésticas, objetos de decoração e obras de arte locais, e também criam artigos de moda masculinos. “Apesar de a loja ser direcionada ao público feminino, muitos homens apreciam a arte da Indonésia, então decidimos fazer camisetas para quem quer um estilo casual sem deixar de ser fashion.” www.viabali.com.br

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Entrevista

Gilberto Lima Júnior

Janelas do novo mundo Biotecnologia, informática, nanotecnologia, meio ambiente, responsabilidade social: o Brasil tem chances de ser competitivo no empreendedorismo do novo século FOTOS CARLOS PEREIRA

por

Camila Stähelin

Um novo conceito de indústria, o cruzamento de novas tecnologias com nichos tradicionais, a imposição da ética nos negócios, a necessidade de trabalhar em sintonia com o meio ambiente: nas principais tendências das atividades produtivas deste início de século, o Brasil tem chances de criar uma cultura competitiva, segundo a análise de Gilberto Lima Júnior. Formado em Administração com habilitação em Comércio Exterior e pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação pela Universidade de Brasília, Lima foi o criador do primeiro consórcio de exportação de software no país, intitulado Brains – Brazilian Intelligence in Software. Participou da elaboração do Programa Brasileiro de Exportação de Software da Softex – Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro em parceria com a APEX-Brasil – Agência de Promoção de Exportação e Investimentos do Brasil, programa esse que inclui 104 empresas brasileiras. Lima atuou como consultor de empresas em Brasília/DF, Espírito Santo, São Paulo e Goiás. É consultor da Gerência Geral da ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e coordenador da Renapi – Rede Nacional de Agentes de Política Industrial, que já formou cerca de 2 mil agentes em dez cidades do país. Empreendedor – Que nichos setoriais da indústria brasileira podem apresentar oportunidades para empreender?

Gilberto Lima Júnior – O conceito do que é indústria atualmente precisa ser revisto. A idéia de que a indústria são fábricas, com equipamentos, máquinas, no conceito tradicional, não cabe mais no mundo do século XXI. O melhor exemplo que podemos dar sobre isso é a indústria da tecnologia da informação. Uma amazon.com não tem a forma de indústria tradicional. É extraordinariamente virtual, com um fa-

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turamento anual muito superior a outras empresas tradicionais, algumas delas até seculares. Quando tratamos das janelas de oportunidade para empreender em segmentos da indústria, precisamos perguntar: as chances estão nos segmentos que dizem respeito aos chamados setores estratégicos da política industrial brasileira ou aos setores portadores de futuro? E que setores são esses? Nós estamos falando da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), microeletrônica, com ênfase em semicondutores, fármacos – é irracional que o Brasil tenha, ao mesmo tempo, uma das maiores biodiversidades do mundo e um rombo de balança na área de fármacos –, e também o segmento de bens de capital. Quando você fala na área de portadores de futuro, nós estamos analisando biotecnologia – e aí eu volto a falar do setor de fármacos, a biotecnologia aplicada à indústria farmacêutica é um nicho extraordinário a ser explorado no Brasil. E também me refiro à nanotecnologia. O mundo inteiro está vivendo um momento de mesma oportunidade. O Brasil não está atrás de ninguém no que diz respeito ao que virá através da nanotecnologia, que é o desenvolvimento, a inovação de produtos trabalhando na estrutura da matéria. Quando se fala em um nano, estou falando em um bilionésimo do metro. No mundo, hoje, o desenvolvimento da nanotecnologia está tão avançado que já tem experiência, inclusive no Brasil, na ordem de 100, 200 nanos. Significa que nós estamos trabalhando cem bilhões de vezes a menos no metro. Um exemplo claro, um tecido inteligente nanotecnológico. O tecido passa por uma nova revolução, uma reinvenção a partir da nanotecnologia. Num curtíssimo espaço de tempo, os nossos netos, por exemplo, certamente vão rir de nós e vão nos questionar por que razão nós gastávamos bilhões de litros d’água do planeta para lavar roupas, já que um tecido nanotecnológico não suja, nem assimila sudorese e

não precisa passar. Você aplica nanotecnologia na área de tintas e consegue carros que não precisam ser lavados e não arranham. Caso ocorra um arranhão na lata, a tinta se recompõe na sua frente. Na indústria de fármacos, nanocápsulas vão permitir o depósito da medicação nas células que estão prejudicadas. É uma reinvenção do processo industrial. Para confundir um pouco, vamos imaginar o que seria a mistura disso tudo: a bionanoinformática. Existem análises dos padrões bioquímicos do corpo feitas por sistema de informática

Inovação significa maneiras diferentes de fazer coisas que sempre se fizeram, podendo ter resultados melhores

de nicho não é este ou aquele segmento, mas a postura de inovação que o empreendedor precisa assumir no processo de liderança da indústria brasileira. A inovação é um conceito, algumas vezes muito abstrato, e em outras, confundido como algo extraordinário, ainda mais no mundo da tecnologia. Mas a inovação são maneiras diferentes de fazer coisas que sempre se fizeram, podendo ter resultados melhores. E a inovação, se não estiver a serviço da vida, também não faz sentido. O empreendedor do século XXI jamais poderá abandonar a questão ética. Porque a tecnologia em si não é boa nem ruim. É igual à energia elétrica, se bem aplicada, ela te dá a luz de uma lâmpada, se mal aplicada, ela te dá uma bomba nuclear. O empreendedorismo social, para mim, é indiscutivelmente um segmento que permeia qualquer setor da indústria. O ecoempreendedorismo hoje é uma postura independente de qualquer segmento em que a indústria atue. É preciso ter a sensibilidade das oportunidades que afetem as questões ambientais. Ao mesmo tempo, não se deve enxergar isso só como oportunismo, mas como uma reflexão humana de coexistência. Empreendedor – Já existem projetos para vencer essas dificuldades?

que podem ser introduzidos no organismo e controlados. Empreendedor – Qual deve ser a postura dos empreendedores diante dessas mudanças?

Lima Júnior – Os novos empreendedores devem entender o que é cada uma dessas tecnologias e quais campos de aplicação, quais processos essas tecnologias podem favorecer. Isso abre um mundo novo para o empreendedor. É curioso imaginar que talvez, numa ordem máxima de 50 anos, 70% das coisas que serão importantes para o mundo ainda não foram inventadas. E isso é o que eu chamo, numa visão industrial, de nicho de oportunidades. Mas o gran-

Lima Júnior – A Universidade Federal do Pará apóia um projeto interessantíssimo de uma empresa chamada Flora Gás. Eles inovaram, foram buscar tecnologia na Índia e conseguiram desenvolver uma máquina em que a população que mora dentro da floresta isolada pega resíduos do mato, o resto do açaí, a casca da semente, galhos, enfim, biomassa e gera processado de gás, que alimenta o motor e gera energia pra casa. Uma máquina como essa é capaz de gerar energia para toda uma comunidade. O empreendedor precisa atentar para a questão das energias renováveis e da biomassa. Essa área pode colocar o país como uma matriz energética mundial. No Acre, eles já desenvolveJaneiro 2007 – Empreendedor – 15


Entrevista

Gilberto Lima Júnior

ram um projeto premiado de um fogão a lenha que é altamente renovador. Quem usa fogão a lenha enfrenta um problema de saúde, causado pela inalação da fuligem. Eles desenvolveram um fogão em que a tampa, nas quais as panelas são postas em cima, isola e absorve toda a fuligem, que não se pulveriza no ambiente. Além disso, todo o vapor do cozimento da comida é canalizado para uma minicaldeira que alimenta baterias. Se forem quatro horas de cozimento, por exemplo, são acumulados quatro horas de baterias que alimentam a casa com energia elétrica. Se, por um lado, nós estamos falando de inovação com enfoque na nanotecnologia, na bioinformática, na biotecnologia, por outro lado, nós estamos falando na simplicidade de reinventar, de criar novas aplicações diferenciadas para o que já existe, gerando grande benefício para toda a sociedade. A visão do empreendedor, independente de qual seja o seu nicho de atuação, se comércio varejista, se segmento industrial ou segmento de serviços, o mais importante é que ele adicione ao modelo mental dele as questões que envolvam a inovação. Empreendedor – Na prática, como estão sendo os investimentos nessas áreas específicas da indústria?

Lima Júnior – Quando se fala em desenvolvimento industrial no Brasil, é preciso fazer uma referência histórica. Se o Brasil tem indústria hoje e existe um emprego industrial, é porque essa indústria foi construída no período dos anos 1950, 60 e 70. Nesse período, o país tinha uma política industrial e, por conta disso, programas estratégicos definidos. Não por acaso, são desse período o Programa Nacional de Siderurgia, o Programa Nacional de Petróleo, que faz com que hoje sejamos autônomos, a área de Telecomunicações e a indústria aeronáutica, que nos possibilitou uma Embraer, por exemplo. Isso tudo foi construído naquele período. Depois de levar três décadas constru-

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indo a indústria brasileira, diretamente orientada e conduzida pela ação governamental, entram os anos 1980, quando há é uma saída do governo desse processo indutor do desenvolvimento. Os empresários queriam uma certa autonomia, achavam que, por uma herança militar, o governo sempre tinha uma postura muito integracionista, e começaram a não querer mais o governo participando do processo de mercado, já que, a partir de então, a indústria estava constituída. Acontece que os governos se esconderam atrás dessa realidade e ficaram mais quase 30 anos, dos anos 80 a 2004, sem uma visão de política industrial. A ausência do governo na indução do desenvolvimento via uma política industrial colocou o país numa situação muito crítica, sobretudo quando começa, nos anos 90, o grande impacto da globalização econômica. Então, nós vivemos situações complicadas. De repente, se abriu a economia, e muitos não estavam preparados para essa competição, porque alguns setores do Brasil tinham reservas de mercado, como era o caso da informática, da automobilística, que, realmente, era muito defasada. Houve muitos benefícios, mas também essa coisa não foi muito bem planejada. O impacto para o empreendedor brasileiro foi muito ruim. Os anos 90 trazem uma única boa novidade em termos de governo orientando o processo de desenvolvimento, que foi o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), que trouxe um conceito de um choque de gestão pela qualidade total. Os modelos japoneses, que demoraram, finalmente chegaram por aqui. Mas isso ainda não pode ser caracterizado como uma política industrial. Somente no ano 2004, quando os empresários perceberam o grande aperto que estavam sofrendo com a competição global, é que eles, então, reivindicam a volta de uma política industrial e, em conjunto com o governo brasileiro, escrevem uma nova

política para o país chamada Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada em março. A ABDI é criada em dezembro de 2004, para que o país retome seus áureos tempos de desenvolvimento. Mas o governo fala que não adianta ter mais uma política industrial dos anos 50, 60 e 70. Os desafios que os novos industriais têm para encarar são terrivelmente diferentes e muito mais complexos em uma economia globalizada. A invasão de produtos asiáticos, quebrando segmentos da indústria nacional, e a concorrência com países de alta tecnologia de ponta nos fizeram resgatar esse

período da história e ter uma política industrial diferenciada, com ênfase nesse aspecto de que ela é tecnológica e de comércio exterior. “Ah, mas eu não penso em exportar o meu produto”; mas se você não se adequar para uma competição global, não terá capacidade de defender o seu próprio quintal, o seu próprio mercado. Os modelos de gestão, de empreender um negócio hoje, precisam respeitar esse princípio globalizado que a economia mundial atingiu e que atinge o Brasil diretamente. É daí que a ABDI começa


a estruturar seus programas e criar interfaces com os setores da indústria para que entendam todo o impacto dessas mudanças. Ela vai atuar rápida e fortemente na desoneração de algumas cadeias produtivas, na medida em que ela definiu os setores prioritários: software, microeletrônica, fármacos, bens de capital, portadores de futuro (biotecnologia, biomassa, energias renováveis e nanotecnologia). Por exemplo, o software, é impossível imaginá-lo como uma indústria isolada. Ele, além de ser uma nova indústria da economia limpa do século XXI, impacta em todas as cadeias produtivas,

O segmento de energias renováveis é uma oportunidade para o Brasil dar um salto quântico na competição global

na moveleira, na calçadista, na farmacêutica. Todo mundo tem o impacto do software. No modelo de gestão, no processo produtivo, na forma de inovar e diferenciar produtos. Outro exemplo: como a biotecnologia impacta a indústria de cosméticos? Então, é preciso fazer a transversalidade desses setores prioritários com essa necessidade de inovação que tem a indústria tradicional. Eu não consigo enxergar que estas são questões reduzidas a este ou aquele setor. Um mesmo segmento, um mesmo nicho de atuação, dois concorren-

tes. Um tem postura empreendedora, o outro não tem, o que vai fazer a diferença é realmente essa postura. Não consigo visualizar tanto pelo “o que se faz”, mas “como se faz”. O governo tanto está investindo, que hoje esses setores prioritários são partes essenciais dessa política de desenvolvimento industrial, no resgate de 30 anos. O governo está estruturando programas nessas áreas, e o contato com a ABDI é muito importante para aqueles que têm interesse específico de se aprofundar nesse tema, têm oportunidade de entender melhor e perceber suas formas de atuação. Empreendedor – Entender esse processo ajudará o Brasil a ocupar um lugar identificável e competitivo em escala global?

Lima Júnior – Você pode identificar, por exemplo, no segmento de energias renováveis, uma das melhores oportunidades de o Brasil dar um salto quântico na corrida da competição global. A questão dos recursos naturais e do meio ambiente está sintonizada com a própria necessidade do estabelecimento da paz mundial. Há um segmento hoje no mundo que chega a ser um absurdo. Um exemplo: 30% de toda a produção de grãos do planeta é destinada ao consumo de animais, como ração. É paradoxal que grande parte desses alimentos sejam produzidos na África. O que se conclama é uma nova ordem econômica mundial, uma visão de equilíbrio social maior. Fico preocupado um pouco quando se vê essa realidade do empreendedorismo social, do ecoempreendedorismo com uma visão estrita de oportunidade para negócios. Elas trazem em si gigantescas oportunidades de negócios, mas o aspecto do compromisso com a própria existência humana, com a prosperidade do planeta de forma mais equilibrada, mais balanceada, deveria ser uma postura natural do empreendedor do século XXI. Se é verdade que no mundo antigo a lógica era competir e no novo é

cooperar; se é verdade que o paradigma antigo de um líder era aquele que controlava e exigia, e o novo perfil de um líder é aquele que facilita e que busca contribuir também para ter a contribuição; se é verdade que nós estamos observando que há uma ascensão extraordinária da presença da mulher na liderança dos negócios; se é verdade que os segmentos coorporativos estão permitindo refletir um pouco mais a própria questão religiosa e filosófica; então, é preciso ter uma visão diferente. Há exemplos de empresas multinacionais bilionárias que hoje mantêm prática de meditação, de massagem terapêutica, ginástica laboral. Se é verdade que nós estamos percebendo que há esse caminho, é também verdade que nós temos que enxergar, ao mesmo tempo, uma mudança de consciência. As coisas só estão ocorrendo como nichos de oportunidade, porque existe uma necessidade de repensar da vida humana. O próprio modelo do capital está migrando para uma visão do capital social, literalmente. De um capital humanizado, que permite que esse tempo de reflexão é o que vai evitar que verdadeiras fraudes milionárias continuem acontecendo no planeta. Há casos de escândalos envolvendo corporações em que os executivos deram jeito de maquiar os seus balanços pra poder com isso ganhar dinheiro e uma participação maior no negócio. Em detrimento de uma corporação gigantesca que, quando quebrou, gerou um caos social de problemas de desempregos, quebra de fornecedores. É chegada a hora de repensar essa ética empreendedora, empresarial. Empreendedor – O senhor acredita que essa mudança de consciência é possível em larga escala?

Lima Júnior – Não é uma questão de crença e, sim, de números de como se podem apresentar as vantagens de ser ético. O empreendedor do novo século tem que conduzir as suas iniciativas dentro da ética. As empresas de Janeiro 2007 – Empreendedor – 17


Entrevista

Gilberto Lima Júnior

responsabilidade social se destacam, por exemplo, no mercado norte-americano. Enquanto, em média, as empresas tradicionais que não adotam um programa de valorização de responsabilidade social têm uma valorização em bolsa de valores na ordem de 35% a 40%, as empresas que abraçam a responsabilidade social chegam a atingir até 100%, 130%. Significa que, cada vez mais, há consciência do próprio consumidor em relação a exigir um produto que não agrida o meio ambiente, que não utilize uma mão-de-obra escrava ou infantil, à medida que há a noção do consumo responsável – que cresce muito fortemente no mundo e no Brasil começa a chegar com muita ênfase –, notoriamente aquele produto passa a ter uma prioridade por parte do consumidor consciente. Hoje, já se tem uma sensibilização muito mais forte sobre a qualidade nutricional de um alimento, por exemplo. O Brasil tem uma outra grande janela de oportunidade na área do agronegócio, que são os alimentos orgânicos. A presença do país na feira mundial de alimentos orgânicos, na Alemanha, mostrou que não só nós somos um dos maiores países de produção agrícola, como agora temos, sim, oportunidade de, em vez de falar em produtos transgênicos, falar em produtos orgânicos, porque o mundo está valorizando uma qualidade de vida melhor. Eu acredito definitivamente que sim, e isto está se reproduzindo no consumo responsável, na exigência de uma postura de respeito à vida humana da parte de quem produz, de quem industrializa. Casos interessantíssimos, como a adoção dos princípios do Protocolo de Kyoto, estão permitindo, por exemplo, que empresas como a Sadia enfrentem as dificuldades na relação com os fornecedores de suínos. Os dejetos desses animais estavam se alastrando para rios, lagos e gerando para a Sadia problemas judiciais e ambientais muito sérios. A empresa contratou consultoria na área ambiental, que agora está trans-

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formando esses dejetos, via biodigestores, em dinheiro, a partir de crédito de carbono. É, sim, um bom negócio ser ecologicamente correto, e as empresas vêm colhendo resultados em programas de responsabilidade social. Eu não consigo acreditar que o desenvolvimento industrial no Brasil vá saltar nos moldes que já saltaram outros países no século passado, para atingirem seu apogeu na base do polua se puder, faça o que quiser, porque as regras mundiais, atualmente, nos impõem algumas exigências para que esse nosso desenvolvimento seja comparável às exigências de um novo mundo.

linhas de apoio e os recursos do governo, e todo o trabalho que desenvolvem as federações de indústrias, o Sebrae e outras entidades levam esses conceitos para o bojo dessas ações cooperadas, dos arranjos produtivos, de forma que as empresas percebam a agregação de valor que elas podem ter com essa nova postura. E, nesse sentido, sim, quanto menos necessidade de fiscalização, naturalmente será melhor. Mas será mais fácil conscientizar estando em grupo. Empreendedor – Como a Renapi (Rede Nacional dos Agentes de Política Industrial) contribui nesse sentido?

Empreendedor – Tem como fiscalizar isso num país da dimensão do Brasil?

Lima Júnior – A pequena empresa no país é quem gera o maior número de empregos. A partir de algumas iniciativas do governo que estão sendo tomadas, como a Lei Geral aprovada recentemente, que, certamente, terá um excelente impacto na sociedade, essas empresas tendem a ter um impulso maior. A última pesquisa do Gem sobre empreendedorismo no Brasil constatou sete milhões de empreendedores por oportunidade contra seis milhões por necessidade. O que a gente percebe é que cada vez mais se impõe o modelo de lidar com a pequena empresa, através dessas iniciativas do governo, mas também pela reestruturação dessas pequenas empresas em torno de consórcios, cooperativas ou mesmo de Arranjos Produtivos Locais (APLs). Sem essas estruturações, que são uma tendência, elas não conseguem isoladamente ter o mesmo fôlego de competição para atingir qualidade, uma exigência ambiental. Muitas vezes, a empresa não cumpre sua responsabilidade social ou ambiental porque não possui sozinha uma estrutura para fazer jus a isso. Se, por outro lado, o modelo de desenvolvimento do país está encontrando uma base muito sólida no processo associativista, também já estão sendo mais fáceis as

Lima Júnior – É uma rede idealizada, estruturada e coordenada pela ABDI, e já tem uma verdadeira história empreendedora. Nós começamos a desonerar várias cadeias produtivas. A lei do bem, por exemplo, que desonerou a indústria eletroeletrônica, de bens de capital. Criamos esses programas estratégicos para estruturar e permear as cadeias produtivas. De repente, nós percebemos o seguinte: não basta a gente, do ponto de vista governamental, gerar simplesmente os benefícios de desoneração. É preci-


so que se chegue ao conhecimento da pequena empresa, lá na ponta dos municípios deste gigantesco país, que é praticamente um continente, com diferenças absurdas. Percebemos que também era necessária uma mudança de cultura na qual o tema desenvolvimento industrial efetivamente acontecesse, que não é em Brasília. Apoiados pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), refletimos uma necessidade de disseminar uma cultura de desenvolvimento industrial, de inovação. E, finalmente, idealizamos uma capacitação como essa que vem acontecendo desde o mês de março, com dois dias de evento tratando de inovação e desen-

O governo é um sócio muito prático no processo de arrecadar, mas nem sempre tão prático no de apoiar

volvimento, que já foi realizada em doze Estados diferentes. O enfoque dessa iniciativa, que já possui 2.500 agentes formados dentro do conceito de política industrial, é mostrar que o governo brasileiro dispõe de mais de 180 linhas de recursos para apoiar o desenvolvimento industrial de inovação e, naturalmente, que ninguém conhece. Nós fizemos um trabalho minucioso e juntamos todas essas centenas de linhas em um guia eletrônico, entregue num CD aos participantes das capacitações. O paradoxo

da realidade empreendedora brasileira é que se, por um lado, as empresas e o Estado garantem essas linhas de crédito, por outro elas as desconhecem. Se, por um lado, sem apoio e recursos não é possível competir, inovar, por outro lado, é contrastante perceber que sobram muitos recursos nas instâncias governamentais por falta de projetos. Empreendedor – Será que não existe uma burocracia excessiva para se ter acesso a esses financiamentos?

Lima Júnior – Em determinadas linhas, sem dúvida alguma. Mas não poderia concordar que essa realidade seja dominante em 180 linhas de crédito disponíveis. Há, por exemplo, linhas de recursos não reembolsáveis, mas que vão exigir certas contrapartidas, é claro. Existem outras com taxas extremamente interessantes e atraentes, outras com taxas não tão adequadas, que estamos tentando melhorar. Mas o fato é que há um escopo de linhas com um gigantesco volume de recursos sobrando todos os anos, efetivamente. E não necessariamente porque há uma burocracia na sua busca. O que há é uma falta absoluta e completa de informação, um verdadeiro desconhecimento. Muitas vezes, o empresário, independente de pequeno, médio ou grande, se esconde nesse automatismo de dizer “dinheiro vindo de governo é complicado”. O empresário se tornou um bicho desconfiado da figura de governo. Como o governo se ausentou quase 30 anos de um processo de indução, o empresário teve que se virar sozinho. Ele tem um sócio muito difícil chamado governo, que é muito prático no processo de arrecadar, mas nem sempre é tão prático no processo de apoiar. Mas essa mentalidade precisa ser alterada, urgentemente, porque aqueles que já mudaram a forma de pensar hoje estão se candidatando a editais, estão participando de projetos, aprendendo a escrever projetos e os candidatando para a busca do recurso de que precisam. Esta-

mos divulgando os recursos que existem e como podem ser utilizados. Não tenho dúvida de que crédito é, indiscutivelmente, um fator diferencial competitivo, e temos que romper com a realidade paradoxal de haver demanda por crédito e crédito sobrando nas instâncias do governo. O empreendedor no Brasil ainda não tem, por parte da grande sociedade, o reconhecimento merecido. Cada dono de padaria, drogaria, mercadinho da esquina mereceria um busto em praça pública. Porque ele é um ser que trabalha especialmente motivado pela sua fé, porque ninguém garante de forma nenhuma que, ao final do mês, aqueles 40, 50 fornecedores de quem o mercadinho compra vão ter a sua duplicata quitada por ele, porque deu conta de vender todas aquelas mercadorias. Ninguém garante que ele vai vender, que a energia elétrica, remuneração da mãode-obra, encargos sociais e tributários, que vai atingir o faturamento necessário no final do mês para cobrir tudo isso. É claro que não acredito que empreender seja algo intangível, no sentido da subjetividade. Há metodologias de como empreender, ter um plano de negócios, ser competitivo, isso tudo existe. Mas o que está por trás do empreendedor é quase intangível, é a capacidade de acreditar no invisível, de adentrar terrenos nunca antes explorados, de não ter medo do desconhecido. É essa postura mental do empreendedor brasileiro, atrelada a essa visão de busca de novos nichos, de perceber as gigantescas oportunidades dessas novas janelas, mas também da postura ambiental, da responsabilidade social e da ética que vão dar para ele uma tecnologia interna capaz de fazê-lo galgar uma dimensão de resultados ainda maior. O modelo mental é que faz com que o tamanho da atividade empresarial seja maior ou menor.

Linha Direta Gilberto Lima Júnior gilberto.lima@abdi.com.br Janeiro 2007 – Empreendedor – 19


Não Durma no Ponto Carta aberta a você, que empreende Sei que você trabalha muito. Nem precisa me dizer. Estou certo de que dedica a maior parte do seu tempo para a sua empresa, para os seus negócios. Você vive quase exclusivamente para eles. Muitas vezes é gratificante, você se realiza, outras vezes se frustra, mas não importa: esta é a sua vida! A empresa talvez seja o seu mais importante projeto. É claro que você não admite isso com todas as letras, mas a resposta está justamente na quantidade de tempo que você dedica a ela, em comparação ao reservado às outras áreas da vida. Inclusive sua família. É desproporcional, não é? E aposto que você continua pensando na sua empresa, mesmo quando está em outras atividades extra trabalho. Então, não podemos esconder o Sol com a peneira. Você é uma pessoa empreendedora e dedicada, em busca de sucesso. Você costuma dizer que faria uma porção de outras coisas se a empresa não lhe tomasse tanto tempo. Reduz as férias a uma ou outra ponte, entre feriados. Ainda assim, sempre dá um jeitinho de entrar na internet para checar as mensagens... Então, você nunca está no aqui/agora. Você sempre está com a cabeça lá. É certo que você se acostumou com essa adrenalina e talvez nem soubesse o que fazer, caso sobrasse tempo. Mas reconheça uma coisa importante: você não é apenas o seu cargo de diretor ou sócio-proprietário; você não é a sua empresa; você não se reduz ao seu papel de pessoa de negócio. É importante tomar consciência disso, caso contrário, você estará oferecendo para a sua empresa apenas uma parte de você. E, certamente, não o seu melhor. Tenho comigo que conselho nunca se dá. Se alguém pedir, ofereço, e mesmo assim de maneira bem come-

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dida. Mas, inspirado pela chegada do novo ano, sinto-me estimulado a intrometer-me onde não sou chamado, para dar algumas dicas e pistas. Faz sentido, porque resultam da experiência acumulada nesses últimos vinte anos, em que estou fortemente vinculado a empreendedores e líderes. Espero que o pacote, embrulhado para presente, contribua de alguma forma para a sua trajetória, a sua empresa, quem sabe até a sua vida. Vou reforçar a idéia: você não é a

Nem todo empreendedor é bom líder. Dedique-se a aprender sobre liderança. Caia fora desse mito de que o líder é nato

sua empresa. O papel de proprietário deve ser abandonado, em favor do de empresário. Sim, porque ser proprietário é uma coisa, ser empresário é outra. Quando se é proprietário, temse a empresa como um patrimônio, tal como é a casa ou o carro. Muitas vezes, a gente se apega a esses bens. E o apego não contribui em nada para a vida de um empreendimento. É por conta desse apego que não se constrói uma equipe de alto desempenho. É por conta desse apego que não se desenvolve líderes competentes e comprometidos. É por

conta desse apego que a empresa não deslancha e não cresce. Afinal, a quem interessa a propriedade? A você, apenas. E a mais ninguém. Como toda a regra tem exceção, talvez interesse a pessoas com desempenhos medíocres, acostumadas a trocar emprego por salário. Mas o que elas têm a contribuir para com a empresa? Muito pouco, quase nada. Na verdade, não levarão o empreendimento a nenhum lugar, da mesma forma que elas também não evoluem, em razão dessa mentalidade. Também é por conta desse apego que o seu tempo não é bem investido. Vou arriscar! Digo, sem medo de errar, que 80% do que faz com o seu tempo não serve para nada. Antes que se exalte, deixe-me esclarecer. Aposto que gasta suas preciosas horas mais no controle do que no resultado; mais no custo do que na receita; mais nas tarefas do que nos projetos. Se estiver certo, está aí algo de que você precisa urgentemente se livrar: das tarefas que não servem para nada e que simplesmente devem ser eliminadas e das tarefas que precisam ser delegadas. Em seu lugar, passe a fazer aquilo pelo qual você é efetivamente pago: empresariar! E isso significa olhar mais para fora e para o futuro, do que para dentro e para o passado. Também penso que você passa boa parte do seu tempo resolvendo problemas. Alguns são clássicos: repetem-se há anos. Sabe por que você não os resolve? Porque se resume ao papel de proprietário de empresa e, portanto, faz parte dela. Assim como um dedo não pode se tocar, nem o olho se enxergar, você não consegue ver as verdadeiras razões que impedem a resolução desses problemas clássicos e repetitivos como motocontínuos. Você faz parte do problema! E aí é que está o problema. Quem


por Roberto Adami Tranjan Educador da Cempre – Conhecimento & Educação Empresarial (11) 3873-1953 – www.cempre.net – roberto.tranjan@cempre.net

cuidará de enxergar uma solução? Apenas alguém que consiga olhar de fora. O ideal é que essa pessoa seja você mesmo, o principal líder. É importante olhar para fora e olhar de fora. Um músico não consegue escutar o som de seu próprio instrumento, enquanto a banda toca. É preciso um certo distanciamento para ouvir o som que a sua empresa está fazendo. Será que está afinado? Será um som de boa qualidade? Ou será um ruído grotesco? Você não é a sua empresa! Isso é uma boa notícia. Significa que você está livre para criar e contribuir ainda mais para a evolução do empreendimento. Significa que outros podem crescer na empresa e oferecer o seu talento criativo. E a essa junção de competências dá-se o nome de equipe de alto desempenho. E uma equipe de alto desempenho é muito mais capaz de resolver problema; cria muito mais do que seria capaz, isoladamente, um proprietário controlador e centralizador. Começa um novo ano! Sei que você tem muitos sonhos, da mesma forma como no final do ano anterior, e as coisas não mudaram nada, nada! É certo que você planejou. Sim, planejar é necessário, mas não é suficiente. É preciso realizar! Entenda por realização criar as condições para que as coisas aconteçam. Significa não atrapalhar! Sim, porque, com as melhores intenções, alguns líderes tolhem o potencial criativo das pessoas na empresa. Nem todo empreendedor é bom líder. Dedique-se a aprender sobre liderança. Caia fora desse mito de que o líder é nato. Nato é o ser humano com todas as suas potencialidades, inclusive de liderança. Esta competência, como tantas outras, pode ser aprendida e aperfeiçoada.

Mas não confunda liderança com administração, algo prometido nos cursos de Administração e correlatos, como os MBAs. Todos eles são úteis, mas não garantem excelência na liderança. Esta, você terá de aprender em cursos específicos, leituras e experimentações. Importante: aprenda! Não corra o risco de liderar a sua empresa empiricamente e por intuição. Existem ferramentas úteis e conceitos importantes, fundamentais para que você expanda seu

Se você age como proprietário, tenderá a se preservar. Se age como empresário, apostará em novas empreitadas

potencial e obtenha o máximo da sua equipe e do seu negócio. E não esqueça de criar ou recriar a sua empresa, sempre com propósito e significado. A maior parte das empresas que conheço não possui uma clara definição de propósito. Quando peço um exemplo de propósito, quase sempre os proprietários de empresa apresentam uma meta, uma cifra, um dado financeiro. Com o tipo de resposta recebida, aprendi a diferenciar um empresário de um proprietário de empresa. O primeiro possui uma visão de futuro, algo inspirador que de-

seja fazer ao longo do tempo. O segundo possui uma meta de curto e médio prazos, em geral pouco estimulante e desafiadora. Então, é importante que haja um propósito. E que esse propósito seja revestido de significado. Algo pelo qual valha a pena todo e qualquer esforço bem direcionado. Sei que você tem ambição positiva e que chegou aonde chegou por méritos próprios. Parabéns! Mas saiba que mais importante do que chegar é caminhar. Todos os dias. E que a cada novo dia, algo acontece. E que não somos os mesmos de ontem. E que nos criamos e recriamos na medida em que avançamos. Isso é que é importante nessa travessia. Por isso, não pense na sua empresa apenas como um agente econômico, transformador de matériasprimas ou prestador de serviços. Assim como você é mais do que o seu cargo, a sua empresa é mais do que o ramo de atividade em que ela se situa. Se você pensar com amplitude, enxergará grandeza em si e no seu negócio. Enxergará abundância, onde antes só via escassez. Enxergará prosperidade, onde pensava existir apenas o estrito necessário para a sobrevivência. Enxergará resultados, onde antes conseguia ver custos. Finalmente, lembre-se: a sua atitude é determinante para o sucesso do seu empreendimento. Se você age como proprietário, certamente tenderá a se resguardar e se preservar. Se você age como empresário, assumirá riscos e apostará em novas empreitadas. Está na hora de pensar no novo ano. Está na hora de dar um salto qualitativo no negócio. Está mais do que na hora de construir uma empresa progressista, preparada para obter os mais impactantes resultados no próximo ano. Sucesso! Janeiro 2007 – Empreendedor – 21


Valor

O sabor da oportunidade Cafés de qualidade conquistam o paladar dos brasileiros e expandem o consumo da bebida

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Cícero e Vanda, e a Fazenda Esperança: esforço para atingir a excelência

por

Alexsandro Vanin

O médico Cícero Viegas Cavalcanti de Albuquerque e a professora Vanda Gonçalves procuravam uma atividade para desempenhar durante a aposentadoria que se aproximava. Em 2002, o casal comprou uma propriedade rural no sul de Minas Gerais. Quatro anos depois, de apreciadores de um bom café, eles passaram a produtores do melhor café do Brasil. O grão produzido na Fazenda Esperança foi eleito vencedor do Prêmio Cup of Excellence de 2006, o principal concurso da bebida no país. “É uma bebida estritamente mole (gosto doce, agradável e ácido) e com traços cítricos”, diz Vanda. A aposta dos proprietários da Fazenda Esperança não poderia ter sido feita em melhor hora. Desde 2000, o segmento de cafés premium cresce, em média, de 15% a 20% ao ano no mercado interno, conforme estimativas da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). O fenômeno puxa a expansão do consumo total de cafés no Brasil durante o período, em torno de 5% ao ano, bem acima da taxa média de crescimento anual do consumo no mundo, de 1,5%. E a tendência é os brasileiros tomarem cada vez mais café. Hoje, somos o segundo maior país consumidor da bebida, 16 milhões de sacas anuais, mas dentro de uma década devemos ultrapassar os Estados Unidos, quando a demanda será de 21,5 milhões de sacas por ano, de acordo com as projeções oficiais. “O café é a bebida do século”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-

executivo da ABIC. Desde o primeiro ano de cultivo, a Fazenda Esperança tem seus frutos classificados entre os melhores do Brasil. Em 2002, alcançou o quarto lugar no Cup of Excellence, avaliado por meio de provas cegas feitas por um júri nacional e outro internacional. No segundo ano, após os tratos necessários, teve sua produção classificada como a segunda melhor do país, e se manteve nos primeiros lugares nas edições seguintes. Na segunda semana de janeiro, o café da Fazenda Esperança e 28 lotes selecionados de outras fazendas participam do Leilão Cup of Excellence, uma oportunidade para torrefadores adquirirem grãos de extrema qualidade. A propriedade está situada na Serra do Gaspar, na cidade de Carmo de Minas, tradicional região cafeicultora. Localizada a 1,6 mil metros de altitude, tem uma área total de 102,41 hectares, sendo 40 deles dedicados exclusivamente à plantação de café. No último ano, devido às condições meteorológicas desfavoráveis, 600 sacas foram

colhidas. “É uma fazenda pequena, mas de grande qualidade”, diz Vanda, que, mesmo morando no Rio de Janeiro, não abre mão de supervisionar todas as atividades da fazenda, administrada por um cafeicultor local. Estar em terras de grande altitude é o primeiro requisito para obter uma produção de alta qualidade a partir do plantio da espécie arábica. A escolha da variedade, no caso o Bourbon Amarelo, é outro fator determinante. Mas Vanda diz que, para obter bons frutos, não existe segredo. “Basta ter experiência e dedicação, e atenção aos cuidados necessários.” A colheita na Fazenda Esperança está de acordo com os mais altos padrões, e ocorre entre os meses de maio e setembro. A secagem é realizada em terreiro. O maquinário é de última geração, e, recentemente, foi construído um novo galpão para armazenagem. Aliado às modernas técnicas e equipamentos, o controle de qualidade, realizado em conjunto com a Cooperativa Café Vale do Rio Verde, é outro esforço para atingir a excelência.

Mapa do bom gosto Bahia: Corpo leve, acidez cítrica e aroma intenso. Minas Gerais: Chapada de Minas: Aroma intenso. Cerrado: Corpo intenso e acidez equilibrada. Mata de Minas: Corpo equilibrado e aroma intenso. Sul de Minas: Corpo equilibrado e acidez cítrica. Espírito Santo: Corpo equilibrado com acidez agradável e suave. São Paulo (Mogiana): Aroma intenso, encorpado, com acidez equilibrada. Paraná: Com aroma intenso e encorpado. Fonte: BSCA e Pão de Açúcar Cafés

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Valor O cultivo da imagem Trabalho de marketing, promoção e pesquisa proporcionou o surgimento de um novo nicho Um conjunto de fatores impulsionou o consumo de cafés de qualidade, a começar pelas campanhas institucionais até a firmação do costume de tomar café fora de casa. Mas nada adiantaria, se não houvesse disponibilidade do produto. No começo da década de 1990, um grupo de fazendeiros do Cerrado Mineiro se uniu para mudar a qualidade e a imagem do pro-

duto, criando a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês). Padrões rigorosos de cultivo e processamento foram estabelecidos, assim como certificações para garantir que uma fazenda cumpra os mais de 150 requisitos para produzir um café realmente especial. Um número de série de cada lote certificado permite conhecer o histórico do produto,

Cresce a demanda 2003 Consumidor ............................ 91% Não Consumidor ....................... 9%

2006 Consumidor ............................ 94% Não Consumidor ....................... 6% Fonte: ABIC Consumo de bebidas no Brasil em 2006*

INDEX OPEN

Água natural/mineral ................ 94% Café ......................................... 92% Leite ......................................... 82% Refrigerante ............................. 81% Suco natura .............................. 71% *Percentual de entrevistados que afirmaram ter tomado a bebida no dia da pesquisa ou anterior.

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do plantio à embalagem, apenas com uma consulta no site da entidade (www.bsca.com.br). A oferta de grãos de alta qualidade no mercado interno se consolidou a partir de 2000. Isso permitiu um verdadeiro boom de cafeterias no Brasil. Entre 2004 e 2005, o consumo em estabelecimentos comerciais saltou de 17% para 29%. Atualmente, 42% dos consumidores preferem tomar o café fora de casa, uma escolha de 54% da classe A e 48% da classe B, conforme levantamento da ABIC. A pesquisa também aponta o aumento do consumo de capuccino e expresso fora de casa – os preferidos nessa ocasião – desde 2003. Nos últimos dois anos, a variação do consumo total de expresso foi de 63%. Segundo Herszkowicz, o ambiente agradável e a praticidade das cafeterias, aliados à qualidade do produto oferecido, foram fundamentais na expansão do consumo. Mas, para que o mercado desse uma resposta, foi necessário um intenso trabalho de marketing, promoção e pesquisa, reconhecido como modelo pela Organização Internacional do Café (OIC). Já em 1989, a ABIC lançou o Selo de Pureza, focado nos produtores e indústrias. De lá para cá, o consumo da bebida no país mais que dobrou. A estratégia foi ampliada em 2004 com a implantação do Programa de Qualidade do Café (PQC), mais voltado para a educação de consumidores a respeito dos cafés premium. Por exemplo, os novos selos da ABIC classificam o produto como tradicional, superior ou gourmet, e informam sobre aroma, corpo, sabor e padrão de torra. São considerados cafés gourmet aqueles que recebem nota acima de 73 na avaliação de degustadores, e a BSCA classifica como especiais aqueles avaliados acima de 80 pontos. “Há um esforço conjunto e bem coordenado de marketing que otimiza os recursos do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira)”, diz Herszkowicz. O Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), formado por representantes do governo federal e da iniciativa privada, estabelece diretrizes


para o setor e promove campanhas que envolvem a publicação de anúncios nas principais revistas do país, a veiculação de filmes publicitários em rede nacional e salas de cinema, e distribuição de folhetos institucionais. Na luta pela conquista de novos consumidores, o principal alvo são os jovens, e a mensagem é uma bebida natural e saudável, que reúne, anima e alegra as pessoas. Um dos principais entraves ao aumento do consumo, seu status de vilão da saúde, vem sendo derrubado por outro programa do CDPC, o Café & Saúde. As pesquisas demonstram que, além de não fazer mal à saúde, quando tomada sem excesso, a bebida pode auxiliar na prevenção de doenças. Na ponta do crescimento da produção – sem aumento da área plantada – e na melhoria da qualidade, está a ex-

Paulo César: regiões mudaram de perfil com a adesão de novas técnicas

Um processo seletivo A diferença de um café especial começa com a seleção da área e da variedade a ser plantada. O impacto dessas escolhas é essencial para a sustentabilidade do cultivo e a qualidade final da bebida, que não pode ser modificada depois por práticas culturais ou tipos de processamento. O clima da região deve ser moderado e seco na época da colheita. Quanto mais elevada a lavoura em relação ao nível do mar, mais sol e ventos moderados as plantas receberem, mais refinada é a bebida. Existem várias espécies de café, sendo as mais conhecidas no mundo as espécies coffea arábica (café arábica) e coffea canephora (café robusta ou conilon). O arábica é um café mais fino, que apresenta uma bebida de qualidade superior, com mais aroma e sabor. Mesmo assim, existem variações de aromas e sabores dentro dessa espécie. E o robusta é utilizado nos blends, com o arábica, para conferir mais corpo e diminuir a acidez. As regiões produtoras de café especial no Brasil estão localizadas em diversas latitudes e climas, o que permite a produção de uma gama diversificada

de sabores e qualidades. Os invernos secos dos planaltos da Bahia e norte de Minas e sua proximidade do Equador favorecem a produção de cafés aromáticos. O Cerrado de Minas Gerais beneficia-se de estações bem definidas, maturação uniforme e muito sol durante a colheita para produzir cafés com perfeito equilíbrio entre corpo e acidez. As montanhas do sul de Minas e da Mogiana paulista são conhecidas por cafés com corpo e aroma excelentes, e uma doçura natural não encontrada em outras partes do mundo. As práticas culturais utilizadas são sustentáveis e ecologicamente corretas. O espaçamento entre as plantas, os cuidados com adubações e o controle de doenças e pragas têm grande influência na qua-

Fase cereja da maturação

lidade do produto final. Resíduos sólidos e líquidos são usados como fertilizantes orgânicos. O processamento é a chave final da produção de um café de qualidade. A colheita seletiva, manual ou mecânica, é realizada no pico da maturação para garantir o volume máximo de café cereja. E os grãos devem ser colhidos sem que entrem em contato com a terra, para evitar a contaminação por microorganismos. Após a colheita, devem passar pela pré-limpeza, retirando as impurezas vindas do campo (folhas, torrões e paus), e serem lavados o mais rápido possível, para retirar poeira e separar os frutos com diferentes fases de maturação (cereja, verde e seco). A secagem ao sol em camadas finas, controlada por mão-de-obra experiente e bem treinada, pode ser completada em secadores modernos onde a secagem lenta e o controle preciso da temperatura garantem cafés de qualidade consistente durante toda a colheita. Após secagem completa, o café passará pelo beneficiamento (retirada da casca) e pelo rebeneficiamento, no qual serão retirados grãos verdes, pretos, defeituosos, ardidos, brocados, ficando pronto para o comércio e a industrialização. Fonte: ABIC e BSCA

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Valor periência centenária do país em pesquisa e desenvolvimento do café. Com a criação, em 1997, do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), que reúne mais de 40 instituições de ensino e pesquisa sob coordenação da Embrapa, a utilização de tempo e recursos foi otimizada, e a disseminação de tecnologias, intensificada. Conforme estimativa de Elessandra Bento Mourão, pesquisadora da Embrapa Café, para cada R$ 1 aplicado na geração de tecnologias por meio do CBP&D/Café, obtêm-se no mínimo R$ 31,10 como valor agregado à economia cafeeira, podendo chegar até R$ 93,30. Segundo Paulo César Afonso Júnior, supervisor de pesquisas da instituição, algumas regiões, como a Zona da Mata de Minas Gerais, mudaram de perfil com a adesão de novas variedades, e técnicas de colheita e pós-colheita mais eficientes. Com a conclusão do mapeamento do genoma do café, em 2004, variedades mais resistentes a doenças e à seca, e de frutos com mais aroma e sabor serão desenvolvidas a partir de modificações genéticas. “O Brasil é vanguarda mundial na pesquisa de café”, diz Herszkowicz.

Jeitinho mineiro Produtores do Cerrado de Minas buscam reconhecimento das marcas nobres O Brasil, maior produtor de café do mundo, sempre teve seus grãos reconhecidos no exterior como de baixa qualidade. Mas essa percepção mudou. “Hoje, se fala de café por suas qualidades, e não mais pelos seus defeitos”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Segundo ele, isso ocorre porque as estratégias delineadas pelo Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) são disseminadas por órgãos públicos e entidades setoriais de toda a cadeia, com ações amplificadas de forma sinérgica. É o caso do programa “Café do Cerrado: Consumindo, você valoriza o que é nosso!”, iniciativa tomada por associações e cooperativas de produtores da região, onde se localiza Patrocínio. O município é o segundo maior produtor de café do país em área e volume de produção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o programa, as institui-

ções pretendem projetar a cidade como produtora do melhor café do Brasil. “Sabemos que a região produz um café fino há muito tempo, mas procuramos agora reconhecimento no resto do país e no exterior”, diz Wilson José de Oliveira, presidente da Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa). Ainda em 1992, os produtores da região foram procurados pela multinacional italiana Illy. Participaram de um concurso e ficaram em primeiro lugar. Hoje, 70% do café beneficiado pela Illy é comprado na região. O objetivo exige uma mudança cultural e de infra-estrutura. Com o apoio do Sebrae, funcionários de estabelecimentos comerciais estão sendo treinados a tirar e servir uma bebida de qualidade. Os proprietários são assessorados na compra de equipamentos e de café. Um lote de grãos de alta qualidade foi doado para dar início à nova prática. “Queremos estabelecer uma cumplicidade de valorização do nosso café, para que o

Influências da torra e da moagem

INDEX OPEN

A torra é um processo de tempo e temperatura, em que ocorrem mudanças nos grãos crus. A temperatura é em média de 220º C, e o tempo varia entre 12 e 15 minutos, mas cada tipo de grão exige um grau de torra diferente para obter suas melhores características sensoriais. Os graus são avaliados pela cor externa do grão torrado e do desenvolvimento de sabor e aroma. A torra escura dá ao grão um aspecto oleoso, devido à perda dos óleos aromáticos do café, e produz uma bebida com pouco aroma e sabor mais amargo. A torra clara preserva mais os óleos aromáticos (grãos permanecem secos), mas acentua a acidez da bebida. Já a moagem define a forma de preparo do café.

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Grau de torra

Características

Equipamento

Clara

Acentuada acidez, suavidade do aroma e sabor, menos amargor Acentua o aroma e o sabor

Ideal para máquinas de café expresso Ideal para coador de pano ou filtro de papel Pouco aconselhável

Média Escura

Diminui a acidez, acentua sabor amargo, bebida mais escura

Grau de moagem* Preparo Pulverizado Café árabe, no qual o pó não é coado Fina/Média Filtração (filtros de papel, coador de pano) Média Café expresso Grossa Percolação – cafeteira italiana *O tempo de preparação é influenciado pela moagem, pois numa moagem muito fina, a água levará mais tempo para passar pelo pó, resultando numa extração superior. Fonte: ABIC


Características sensoriais do café O café é uma bebida como o vinho, admite uma infinidade de características sensoriais. Elas são responsáveis pelos gostos e percepções obtidas no paladar quando se toma uma xícara de café. Os gostos são percebidos em diferentes regiões da língua: o doce na ponta, acidez na parte lateral e posterior, e o amargor no fundo, ao engolirmos. O corpo e o sabor residual (after taste) são sensações na boca, abrangem todo o paladar. Conheça as características sensoriais do café em detalhes.

Nathan Herszkowicz: ações amplificadas de forma sinérgica

consumidor, visitante ou morador, se sinta realmente satisfeito ao tomar a bebida. Faltava um lugar para tomar um bom café na cidade”, diz Oliveira. Em uma segunda etapa, pretende-se difundir o hábito de tomar um café de qualidade em empresas comerciais e escritórios. Mais adiante, está prevista a criação de um programa de incentivo ao consumo da bebida entre crianças e adolescentes, por meio da merenda escolar e da divulgação de informações sobre o produto. Estuda-se ainda a construção de uma cafeteria institucional. Uma série de ações para a firmação da qualidade do café produzido na região precede o programa. Há dois anos, foi registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a marca Café do Cerrado – existe apenas outra marca do agronegócio registrada no país, os vinhos do Vale do Vinhedo, no Rio Grande do Sul. Atualmente, Café do Cerrado é marca registrada em 38 países. Foi criado no mesmo período o selo de origem, concomitante à certificação das fazendas – 40 já estão certificadas, e mais de 50 encontramse em processo de averiguação. “O Cerrado mineiro é a única região cafeeira com área demarcada”, diz Oliveira. Segundo ele, os produtores sentem os resultados diretamente no preço, antes menor do que o pago a cafés de outras regiões e agora acima dos demais.

Acidez Sensação obtida na parte lateral da língua, onde, se for intensa, pode causar uma certa salivação. Este atributo é perceptível em certos cafés e pode variar de acordo com a região produtora, clima e secagem dos grãos. No Brasil, os cafés são pouco ácidos. Aroma São os elementos perceptíveis pelo olfato. Os aromas podem ser: frutado, florado, achocolatado, semelhante ao pão torrado ou outros. Bons cafés têm aroma pronunciado. Amargor É o gosto produzido pela cafeína e deve ser leve ou equilibrado nos cafés de melhor qualidade. A intensidade deste atributo varia de acordo com o blend, torra e moagem. Amargor forte ou muito forte, que molesta a garganta, é proveniente de cafés piores e também de uma torra muito acentuada (escura) ou de um tempo excessivo de contato da água com o pó de café (moagem fina).

Corpo É uma sensação na boca causada por uma persistência no paladar, e que enriquece a bebida do café. Um café pode ter corpo leve, normal (médio) ou intenso (encorpado). Doçura Os cafés mais finos apresentam um sabor adocicado, o que permite que sejam bebidos sem adição de açúcar. Os cafés podem ter doçura variando de nula (sem doçura) até "muito boa". Sabor Mole: gosto doce, agradável, ácido. Duro: gosto amargo e adstringente (sensação de secura na boca). Riado: gosto ligeiramente químico. Rio: gosto químico medicinal. Sabor residual (after taste) É o sabor que permanece na boca após a degustação do café. Ele pode ser intenso e agradável nos cafés de melhor qualidade. Uma característica de um café com after taste positivo remete à degustação da segunda xícara.

Fonte: Pão de Açúcar Cafés

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Valor Prazer em casa Novo conceito ajuda a popularizar o expresso e as máquinas para uso doméstico A Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) vem registrando em seus levantamentos a queda do uso de filtros de papel e coador de pano, e o aumento do uso de cafeteira elétrica. Entre 2005 e 2006, os decréscimos foram de 6% e 8%, respectivamente, e o incremento, de 42%. Começam a se popularizar outros tipos de cafeteiras, especialmente entre as pessoas da classe A. O uso de máquinas de café expresso dobrou entre 2004 e 2006, e entre os consumidores da classe A sua utilização triplicou no mesmo período. “O conceito de que tomar café é prazeroso e saudável está conquistando o país”, diz João Zangrandi, presidente da Saeco do Brasil. As máquinas de café expresso existem há muito tempo. Em 1976, a Saeco, líder mundial na fabricação de máquinas de café expresso, lançou a versão doméstica. “Isso levou o expresso a todos os lugares”, diz Zangrandi. Hoje, elas podem ser encontradas em residências, lojas e escritórios, clínicas médicas e estéticas, e salões de beleza. Outro fator que estimula a aquisição João Zangrandi: versão doméstica levou o expresso a todos os lugares

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desses equipamentos é a preferência cada vez maior do brasileiro pela qualidade, o sabor e o aroma do café na hora da compra, conforme pesquisa da ABIC. Sabor e aroma são também os principais motivos alegados pelos entrevistados, após tradição familiar, para iniciar o consumo da bebida. “O consumidor está mais exigente, tem mais conhecimento, e as cafeterias ajudaram a difundir o gosto pelo café de qualidade”, diz José Henrique Ribeiro, diretor da rede Fran’s Café. A vedete da Saeco é a linha superautomática, máquinas em que é necessário apertar apenas um botão, que responde por 70% das vendas. Em 2005, foram vendidas 13 mil unidades, e no ano seguinte, 30 mil. Para 2007, espera-se uma venda de 50 mil unidades, e a meta para 2008 é atingir a marca de 100 mil máquinas superautomáticas vendidas em um ano. Nos últimos dois anos, 5 milhões de euros foram investidos no país. Os planos da Saeco para o Brasil, onde possui escritório próprio há seis anos, são de abrir uma indústria, caso a meta seja al-

cançada, informa Zangrandi. A tendência tem chamado a atenção também das cafeterias, que lançam no mercado blends próprios. Uma das pioneiras é a rede Fran’s Café. Desde 1994, a empresa oferece para venda ao público um blend da Mellita. Entre 2001 e 2004, criou seu próprio blend, mas a fabricação continuou a cargo da multinacional alemã. A partir de 2005, o blend passou a ser feito por uma torrefadora do interior paulista. A Fran’s trabalha com grãos produzidos no sul de Minas, Cerrado mineiro, Mogiana paulista e Espírito Santo. “É uma bebida de sabor bem adocicado”, diz Ribeiro. O café vendido ao consumidor vem em embalagens de 1 quilo em grão ou de 20 unidades de sachês, com preço médio de R$ 35 o quilo. A partir de janeiro deste ano, também serão oferecidos em embalagens de meio quilo em grão e de 250 gramas moído em pó. Os produtos são encontrados nas unidades da rede e estabelecimentos do Pão de Açúcar, Sams Club do All Mart e da rede paulista Mambo. Recentemente, também passou a ser vendido no site de comércio eletrônico Submarino, o que deve elevar a taxa de crescimento, atualmente em 15% ao ano, para 20% em 2007, segundo Ribeiro. Atualmente, são vendidos de 700 quilos a mil quilos por mês.


Aroma virtual Venda pela internet garante frescor do produto Pode parecer um paradoxo, mas a venda de café pela internet segue um processo todo artesanal. No site de comércio eletrônico Ateliê do Café (www.ateliedocafe.com.br), o cliente escolhe o café e a quantidade (mínimo de 250 gramas), que é torrado duas vezes por semana (terças e quintas) e embalado e despachado no mesmo dia, por meio de uma transportadora especializada em e-commerce, que entrega o pedido em mãos. “É a melhor forma de levar ao consumidor final o café mais fresco possível e com toda a comodidade de comprar e receber o produto sem sair de casa ou do escritório, do jeito que ele quer”, diz Cristina Assumpção, administradora do negócio. A história surgiu quando um grupo de cafeicultores, ao participar de um evento em Paris, em 2004, a convite da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), teve a idéia de montar um lugar no Brasil para vender os seus cafés diretamente para o consumidor final. Eles pesquisaram pontos em São Paulo, mas a locação dos imóveis era muito cara. Segundo Cristina, a possibilidade de comercializar via supermercados foi logo descartada, pois o objetivo era oferecer um produto com a maior qualidade possível, e o café após torrado mantém suas propriedades sensoriais, especialmente o aroma, por pouco tempo. Um dos membros do grupo era da Fazenda Daterra, da D'Paschoal, grupo que também engloba o Auto-Z, site de comércio eletrônico para o ramo automotivo. Foi então que surgiu a idéia de utilizar a internet como meio de comercialização, aproveitando o café de alta qualidade, até então vendido apenas no exterior, e o know-how do grupo. Em fevereiro de 2005, foi dado início ao desenvolvimento do site, que em

Cristina Assumpção: as comodidades de comprar sem sair de casa

janeiro de 2006 registrou sua primeira venda. Atualmente, 700 clientes estão cadastrados, e a média de vendas semanal é de 40 quilos. No Ateliê do Café, se encontram os cafés mais finos do Brasil, reconhecidos pela origem da produção, como os vinhos. São vendidos no site apenas o café Daterra e de fazendas premiadas pela BSCA, avaliados por degustadores próprios e externos com nota mínima de 85. Toda avaliação é oferecida aos consumidores, como forma de instruí-los e criar uma cultura. “O trabalho do setor está apenas no começo, ainda vai levar uns dez anos para a cultura do café de qualidade madurar”, diz

Cristina. A divulgação também ocorre por meio da participação em eventos de degustação e minicursos, além de anúncios em revistas especializadas. Entre as opções, está o Daterra Bruzi, que recebeu o selo Great Taste Award, medalha de ouro na categoria Café Expresso, prêmio entregue pela revista inglesa Guild of Fine Food Retailers a produtores de alimentos e bebidas especiais. Todos os produtos premiados são listados no guia Taste British Gold. Outra preciosidade do Ateliê do Café é o Collection, usado pelos baristas campeões nos dois últimos campeonatos mundiais. Os preços variam de R$ 20 o quilo a R$ 40, em média. Janeiro 2007 – Empreendedor – 29


Valor Mercado classe A Oferta de cafés especiais despertou demanda nas classes de maior poder aquisitivo Há bastante espaço para o nicho crescer no Brasil. Os cafés premium representam apenas 2% da produção total e 4% das vendas no mercado interno, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Demanda concentrada principalmente entre consumidores das classes A e B. Segundo pesquisa da ABIC, o consumo da bebida cresceu 100% entre pessoas da classe A e 45% da classe B, em decorrência da oferta maior de cafés mais elaborados – expressos e capuccinos em diferentes apresentações – e cafeteiras de fácil manuseio. A rede de franquias Lucca Cafés Especiais, com sede em Curitiba, registra um crescimento médio de 20% ao ano nas vendas de café. A cafeteria trabalha apenas com cafés certificados pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), fornecidos por cinco fazendas, localizadas no Paraná, Bahia, sul de Minas, Cerrado miBuck, Maria e Martin: produtos certificados fornecidos por cinco fazendas

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neiro e Mogiana paulista, além de um café orgânico produzido na Bahia. São nove opções ao consumidor, com preços que variam de R$ 32 por quilo a R$ 40. O estabelecimento também promove cursos para profissionais e clientes interessados em aprender a tirar um bom expresso. Criada em 2002, atualmente a rede conta com torrefação própria e cinco lojas de rua (quatro em Curitiba e uma em Belo Horizonte), três em shoppings (duas em Salvador e uma em Balneário Camboriú) e quatro store in store, em Curitiba. Fora das lojas próprias, os blends e single origins (de origem específica) da Lucca podem ser encontrados apenas no Armazém Santa Luzia, de São Paulo. “O frescor é essencial para a qualidade do produto, e fazemos questão da torrefação artesanal, dentro da loja, sempre à vista dos clientes, para garantir um café sempre fresco como ‘pão quente’”, diz Geórgia Franco de Souza, barista e

proprietária da Lucca Cafés Especiais. A qualidade é também verificada nos profissionais da casa. Os baristas da rede classificam-se constantemente entre os finalistas do concurso nacional promovido pela BSCA.

Expansão O potencial desse mercado no país vem despertando o interesse de gigantes internacionais, como a Starbucks e a Nespresso (marca da Nestlé), instaladas em dezembro em São Paulo. A rede norte-americana, líder mundial em cafés premium, com mais de 12 mil pontos em 37 países, aportou no Brasil com duas lojas no Morumbi Shopping, após nove anos de estudo. Segundo Martin Coles, presidente da Starbucks Coffee International, a maior cidade do país será um trampolim para uma cuidadosa estratégia de expansão no Brasil. “Seguimos a filosofia de servir uma xícara de cada vez”, diz Maria Luisa Rodenbeck, gerente geral da Starbucks Brasil. De acordo com ela, os esforços estão concentrados nas lojas recéminauguradas. Mas há estudos para a abertura de mais três unidades em São


Paulo, neste ano, e em outras regiões a partir de 2008. “A Starbucks chegou para somar e oferecer ao mercado uma experiência antes nunca vivida pelos brasileiros.” Maria refere-se ao conceito “Experiência Starbucks”, a oferta de diversas opções de cafés premium do mundo e acompanhamentos com um atendimento impecável e acolhedor. Buck Hendrix, presidente da Starbucks para a América Latina, diz estar particularmente feliz em trazer o conceito para uma região que é produtora de muitos dos cafés exclusivos da rede. Dois cafés oferecidos nas lojas paulistas são brasileiros: o Starbucks Brasil Blend e o Brazil Ipanema Bourbon. O primeiro é uma mistura de grãos elaborados com três métodos de processamento, o que lhe garante leve acidez e uma nuance um pouco adocicada. O segundo é um raro e especial café brasileiro, de sabor complexo e elegante, bem balanceado e com toque de cacau e nozes. Essa edição limitada foi primeiramente lançada na América do Norte, em 1999, e novamente em 2004. A Nespresso também chegou ao Brasil embebida em um conceito de

Pereyra: compromisso é servir um café perfeito, em todos os sentidos

qualidade total de ponta a ponta, sustentado por três pilares: cafés especiais, modernas máquinas de expresso e serviço de primeira. Uma Boutique Bar, que existia apenas em Munique, Praga e Frankfurt, foi aberta nos Jardins, quase que simultaneamente a outra em Nova York. Trata-se de um ambiente sofisticado, que promete uma experiência única na degustação do café, para consumo imediato, e disponibiliza produtos Nespresso para venda ao consumidor. “Nosso com-

promisso é servir um café perfeito, em todos os sentidos, em nossa boutique ou na sua casa”, diz Martin Pereyra, gerente Nespresso no Brasil. Segundo ele, está prevista a abertura de uma loja no Rio de Janeiro, e mais uma em São Paulo, possivelmente ainda em 2007. A marca trabalha com 12 blends fixos e a cada ano oferece dois cafés de regiões específicas. Os grãos não são comprados nas bolsas, são escolhidos diretamente nas plantações do Brasil, Costa Rica e Colômbia e depois exportados para a Suíça. Lá eles são torrados, moídos e encapsulados – o que mantém o frescor por até um ano – e depois enviados para as Boutiques Bar de todo o mundo. As máquinas possuem design premiado e um sistema exclusivo que promete extrair todos os aromas voláteis sob alta pressão, com uma espuma que conserva o sabor e os aromas no momento de consumo. Há ainda uma linha completa de acessórios para o ritual de consumo da bebida, como xícaras de porcelana, coqueteleiras, pratos e copos especiais, maletas para transporte das máquinas e porta-cápsulas.

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Valor Invasão das gondôlas Exposição privilegiada em supermercados impulsiona as vendas no varejo É cada vez mais comum encontrar cafés premium nas prateleiras dos melhores supermercados do país. A tendência foi puxada pela rede Pão de Açúcar, a partir de 2003, com a assinatura de um protocolo de intenções com a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). A empresa vinha percebendo o aumento da procura e da oferta do produto de torrefadoras tradicionais que passaram a adquirir grãos premiados em concursos estaduais e nacionais. A iniciativa teve uma resposta tão animadora, que no ano seguinte os cafés premium ganharam uma seção exclusiva em mais de 40 lojas do Pão de Açúcar em São Paulo, e neste ano

a empresa instalou a primeira miniindústria de café dentro de um supermercado do Brasil, na unidade Real Parque, em parceria com o Café Damasco. Trata-se de uma ilha totalmente dedicada aos cafés de alta qualidade, onde os clientes têm a oportunidade de montar o seu próprio blend para consumo no local ou levar para casa. De hora em hora, é promovida uma degustação de café vendido na miniindústria para que os clientes possam perceber as diferenças e especificidades de sabor e aroma de cada grão comercializado. Para montar a combinação de sua preferência, o consumidor encontra cafés originados de fazendas da Mo-

Grãos de cultura A arte do encontro ao redor de uma xícara Tomar café é uma tradição, quase sempre herdada dos pais, como demonstram as pesquisas da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Mas com o aumento da oferta de cafés de qualidade e de cafeterias, cada vez mais o brasileiro passa a ver o ato como um momento de

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prazer e distração, de encontro com amigos, até mesmo como um ritual que anima. A mudança não é nenhuma surpresa para o setor cafeeiro, que há mais de uma década se esforça para sedimentar a cultura do café de qualidade, saboroso e saudável, a exemplo do que já ocorre com o vinho.

giana paulista, Cerrado mineiro, Bahia e Paraná. Depois de selecionados, os grãos são torrados e moídos na hora, de acordo com a cafeteira a ser utilizada (expresso, filtro de papel ou cafeteira italiana). Todas as etapas do processo são realizadas por funcionários especialmente treinados e podem ser acompanhadas pelo consumidor. Nas seções exclusivas, que no ano passado receberam o Prêmio Popai, os cafés são divididos por tipos, e painéis trazem informações sobre os produtos, processos de produção e embalagens. Funcionários são preparados para solucionar dúvidas e orientar a compra dos clientes. “Boa informação é fundamental para os usuários de café comum e não consumidores da bebida aderirem aos produtos diferenciados”, diz Eliana Relvas de Almeida, consultora de café do Pão de Açúcar – somente a Hediard de Paris contava com a assessoria de uma cafeóloga.

O trabalho é uma boa oportunidade para a indústria cultural. Há uma infinidade de nuances para explorar, voltadas tanto para produtores quanto apreciadores, como a história da bebida e lendas, características das plantas e benefícios para a saúde, formas de preparo e receitas, além de curiosidades em geral. A Dialeto Latin American Documentary, por exemplo, lançou em dezembro o livro Café – Um grão de história, com texto do jornalista Sérgio Túlio Caldas e fotos do


Eliana: boa informação é fundamental para os usuários aderirem às novidades

Ela, que coordena o treinamento de funcionários, também ministra palestras oferecidas gratuitamente aos clientes e coordena o conteúdo disponibilizado no site Pão de Açúcar Cafés (www.pacafes.com.br). No endereço eletrônico, os consumidores têm acesso a textos sobre

os diferentes tipos de café, dados de zonas de produção, história, além de receitas e agenda de cursos, palestras e degustações, e até promoções especiais na rede Pão de Açúcar. Em horários preestabelecidos, o site promove bate-papo on-line com especialistas em café. “O site tem objetivo

de divulgar e, principalmente, educar as pessoas que têm interesse em aprender cada vez mais sobre o mundo encantado dos cafés”, diz Eliana. A venda de cafés premium cresce mais de 30% ao ano e já representa um quarto da vendagem total de cafés dentro da rede.

também jornalista Vito D’Aléssio, além da reprodução de imagens históricas inéditas. A obra, que se propõe referência histórica para os apreciadores da bebida, traça os passos da planta desde a sua mais provável origem, a atual Etiópia, até o Brasil. Ela pode ser encontrada em livrarias e nas lojas da rede Fran’s Café. Também em dezembro, foi aberta no Centro de Referência e Memória do Café do Rio de Janeiro a exposição “Café: seu melhor amigo”. É uma

série de cartazes feita pelo cartunista Ziraldo nas décadas de 1970 e 80. As obras foram encomendadas pelo Instituto Brasileiro do Café para divulgação internacional de um dos principais produtos de exportação do país. Seis dos cartazes trazem escrita a frase “Seu melhor amigo”, em diversos idiomas. Na época, além dos cartazes, Ziraldo também desenhou calendários e fôlderes para a campanha. A exposição fica em cartaz até fevereiro de 2007.

Na área de materiais educacionais, um bom exemplo é Chico Silva – Planto café, colho magia, produzido pela Fundação Educar D’Paschoal. Voltada principalmente para crianças, a obra, de autoria de Patrícia Engel Secco, conta o diaa-dia de um agricultor brasileiro de forma especial e com ilustrações. Este e outros materiais de mesmo cunho podem ser consultados no site da Associação Brasileira de Cafés Especiais (www.bsca.com.br). Livro: Chico Silva – Planto café, colho magia – Autoria: Patrícia Engel Secco Livro: Café – Um grão de história – Texto: Sérgio Túlio Caldas – Fotografia: Vito D’Aléssio – 120 páginas – Preço: R$ 98,00

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Valor Um hábito saudável Consumo de forma moderada produz efeitos nutritivos e farmacêuticos, auxiliando no tratamento de doenças Uma das barreiras existentes ao aumento do consumo do café é o estigma de prejudicial à saúde que ele carrega há séculos. Consideradas prioritárias pelo Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (PNP&D/Café), as investigações da área buscam acabar com a fama de vilão, mostrando à sociedade, a partir de estudos científicos da área médica, que, além de fazer bem à saúde, o café pode, inclusive, ter efeitos nutracêuticos (nutritivos e farmacêuticos). O trabalho é coordenado pelo pesquisador Darcy Roberto Lima,

numa parceria entre o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café e a Universidade de Vanderbilt, em Nashville, nos Estados Unidos. Embora o café seja um produto natural e não cause doenças em pessoas saudáveis quando consumido de forma diária e moderada (até quatro xícaras grandes para adultos e a metade da dose para crianças, preferencialmente com leite), ele pode causar efeitos indesejáveis em algumas pessoas. Existem alguns que naturalmente não gostam de café, uma questão pessoal,

mas também existem pessoas normais e saudáveis que são mais sensíveis aos efeitos de um dos compostos do café, a cafeína. Essas podem apresentar ansiedade, tremores, insônia e mesmo um quadro de pânico. Pessoas que possuem doenças como gastrite, doença do refluxo gastroesofágico, úlcera péptica, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, palpitações devido a arritmias cardíacas, hipertensão arterial ou doença isquêmica do coração devem ter cuidado no consumo de café. Aconselha-se, neste caso, buscar orientação médica, pois ele pode agravar os sintomas ou a doença, principalmente se consumido em excesso. É importante lembrar que o café não é remédio, isto é, não cura doenças, mas pode ser um agente a

Efeitos atribuídos ao café Aumenta o estado de alerta (vigília) Ajuda e estimula o córtex pré-frontal Ajuda a memória em curto prazo (aprendizado) Possui antioxidantes (ácidos clorogênicos) que ajudam na remoção dos radicais livres reduzindo o estresse oxidativo nos tecidos Possui compostos com efeito antitóxico Reduz o risco de cirrose hepática Reduz o risco de desenvolvimento de diabetes do adulto Previne cálculo da vesícula Seu consumo está inversamente relacionado com o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer Possui uma atividade genérica protetora contra o câncer Protege contra o câncer de cólon, fígado, pele e outros Ajuda na prevenção de cáries dentárias Possui atividade antiinflamatória e protetora sobre o sistema cardiovascular Possui atividade antagonista opióide (bloqueia o desejo por álcool, tabaco, drogas) Possui um discreto efeito antiobesidade Aumenta a performance durante o exercício prolongado (em atletas treinados) Ajuda no alívio dos sintomas de asma Ajuda a manter crianças hiperativas relaxadas Ajuda no alívio dos sintomas da coréia de Huntington Ajuda a prevenir a depressão e o suicídio Ajuda a reduzir o jet-lag em vôos internacionais para o Leste Fonte: Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café/Colaboração de Marino Petracco, da Illy Café da Itália

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mais na prevenção de várias doenças e problemas. O preconceito tem origem religiosa e militar, deriva das Cruzadas lançadas contra os turcos para recuperar territórios cristãos. O café era uma bebida consumida intensamente pelos turcos pagãos, que assim se tornavam mais despertos e ativos para as lutas. E por isto, era evitada com

veemência pelos cristãos, mesmo sendo conhecida desde o início do segundo milênio. Apenas no final do século XVI é que seu consumo regular foi permitido entre os cristãos, depois que o Papa Clemente VIII (1592–1605) provou e gostou da bebida, que lhe permitia ficar acordado até mais tarde para se dedicar às suas orações a Deus.

Cafeterias surgiram na Inglaterra (1650) e na França (1671), criando novos costumes. As pessoas reuniamse para descansar, relaxar, aprender as novidades, para vender barganhas e até mesmo para conspirar. Receoso de que algum complô fosse tramado, o Rei Carlos II da Inglaterra proibiu as cafeterias. Mas onze dias após sua proibição, elas foram reabertas e proliferaram de forma avassaladora. O uso de café disseminou-se ainda mais com a conquista das Américas. Devido às condições climáticas, o cultivo tornou-se viável apenas em países pobres e subdesenvolvidos. Os países ricos queriam um produto bom e barato. A melhor maneira que eles encontraram foi pechinchar. E criticar o objeto de compra para diminuir seu valor no mercado.

Linha Direta Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) (35) 3293-2416 Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) 21 2206-6161 Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa) 34 3831-8080 Ateliê do Café 19 3728-8304 Embrapa Café 61 3448-4551 Fazenda Esperança 35 3334-1527 Fran’s Café 11 5056-0043 Lucca Cafés Especiais 41 3342-9243 Nespresso 0800-7702411 Pão de Açúcar 11 3886-0465 Saeco do Brasil 11 3186-9666 Starbucks 11 5181-2108 INDEX OPEN

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Consultoria

Quanto vale um bom conselho? Consultores são uma das categorias de empreendedores que mais cresce em todo mundo

INDEX OPEN

36 – Empreendedor – Janeiro 2007

por

Wendel Martins

Consultores são importantes aliados nos negócios, mas um empreendedor escolher um profissional com destaque no mercado e que ajude a empresa a resolver os problemas ainda é um desafio. O que pensam, o que vendem e quanto cobram difere em cada caso. Porque estão sempre bem na foto, com novas idéias e histórias, podem ser interpretados como um excesso de zelo no marketing ou uma maneira de vender a si mesmos. Eles se apresentam como vencedores num mercado com as mais diferentes soluções e estratégias. Por que o mundo corporativo não consegue viver sem eles, essa é uma pergunta sem resposta. Talvez uma explicação esteja no papel dos consultores nas economias modernas: coletar, processar, disseminar e fornecer informações relevantes para os tomadores de decisão. O trabalho de consultor envolve também a manutenção ou ampliação de postos de trabalho, com a resolução de problemas, como a liderança de equipes. As diferenças entre aconselhar e empreender estão cada vez mais tênues, tendo em vista a profissionalização das grandes consultorias, que podem ser maiores em faturamento ou funcionários do que as empresas que assessoram. Uma dessas gigantes é a Mercer Human Resource Consulting, que tem 235 funcionários no Brasil, cerca de 16.500 no mundo, faturamento global de US$ 2,7 bilhões e uma carteira de 600 clientes. Entre os serviços que a empresa oferece, estão a consultoria em previdência privada e planos de saúde corporativos, e a consultoria de capital humano e gestão de talentos – que pode incluir pesquisa de clima organizacional e até uma definição e revisão de políticas de recursos humanos. O rápido crescimento das consultorias levanta uma série de questionamentos, uma delas é a necessidade de vender novidades o tempo inteiro ou


Como escolher um consultor incentivar a adoção de modismos gerenciais. O consultor sênior da Mercer, Willian Bull, diz que consultorias e consultores experientes não se deixam levar por modismos, e, como todo negócio, as empresas do ramo precisam alcançar resultados. Também afirma que a construção de relacionamentos duradouros é pautada no profissionalismo e na confiança adquirida nos serviços que presta. “Agora, é importante refletir que um modelo serve para solucionar um determinado tipo de problema. Se o problema muda, o modelo talvez tenha que mudar também. O conhecimento, as pessoas e as organizações evoluem, e muitas mudanças ocorrem em função disto”, diz Bull. Um consultor vende serviços e credibilidade. Se achar que os modismos podem fazê-lo alcançar os resultados, prejudicará o relacionamento com os seus clientes e a sua imagem profissional. “Todo profissional, independente de ramo, se defrontará com questões éticas no exercício do seu trabalho. Agir com integridade fará dele um profissional respeitado. Se a solução ou o modelo não serve para o seu cliente, não vale a pena trocar a credibilidade por um resultado de curtíssimo prazo.” Entre as dicas que Bull dá para evitar a contratação de profissionais desqualificados, uma é avaliar bem todas as alternativas possíveis antes de uma contratação de serviços. E questionar bastante, até estar certo de que determinada opção faz sentido para o negócio. “Tenha sempre em mente que, antes da mágica da resposta, sempre deverá existir a mágica da pergunta.” Outro alerta é do diretor do Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização, Luiz Afonso Romano. “Com a queda no nível do emprego, que diminui a cada dia, muitos profissionais migram para a atuação em consultoria por tempo determinado, até encontrarem outro posto de trabalho, um plano de saída.” Ele relata que essa situação foi muito comum durante a década de

Não se deixar levar por modismos empresariais. Avaliar bem todas as alternativas possíveis antes de uma contratação. Questionar o consultor a todo momento. Procurar clientes do consultor para checar informações e referências. Selecionar consultores com boa experiência no mercado que assessoram. Exigir certificações como a a CMC, sigla em inglês de certificação de gerenciamento de consultores. Aspectos como liderança e boa comunicação também são fundamentais para um consultor. Desconfiar de profissionais com postura arrogante ou que não sabem ouvir a opinião do cliente. Procurar empresas e consultores com claras regras de tratamento de informações e dados. Se necessário, estabelecer acordos de confidencialidade com o consultor para que informações sigilosas não caiam em domínio público. Não misturar serviços de consultoria com de auditoria.

1980, e é aconselhável o empreendedor colher informações sobre o profissional que vai contratar para não ficar com um trabalho incompleto. Para checar referências, um bom índice é o número de contratos renovados, tempo no mercado, ou procurar algum cliente do consultor para pegar informações. “É como escolher médico, peça sempre uma segunda opinião.”

Capacitação Outra questão delicada é a falta de um diploma específico, o que torna

importante ou mesmo essencial o aprendizado de outras áreas, para que os profissionais desenvolvam continuamente suas habilidades. Um curso de formação de consultores, se houvesse, poderia complementar a experiência adquirida dentro de uma empresa ou dentro de uma consultoria. As grandes empresas do setor investem na formação metodológica de profissionais egressos de universidades e daqueles que obtiveram experiência organizacional, ocupando cargos técnicos ou gerenciais. “O mercado valoriza muito a experiência do consultor em determinados assuntos e no segmento de mercado. Uma formação isolada, numa hipotética escola de formação de consultores, por si só, não traria credibilidade”, diz Bull. Opinião compartilhada por Romano, que analisa o ofício de consultor como multidisciplinar, e por isso “não cabe numa faculdade”. Ele aponta as certificações como a CMC, sigla em inglês de certificação de gerenciamento de consultores, uma ferramenta interessante para analisar o grau de embasamento e comprometimento de um profissional. CMC é um diploma internacional e significa que seu detentor é um consultor com reconhecimento mundial. As certificações permitem aos consultores identificar quais competências devem ser desenvolvidas para melhorar seu desempenho, além de aumentar sua competitividade. “Essa cada vez mais vai ser uma exigência do mercado, mas ainda depende da avaliação de quem contrata. O mercado é senhor nessas horas”, diz Romano. Paulo Araújo, consultor na área de vendas, diz que certificação traz qualidade ao mercado, mas ressalta que cada empresa utiliza uma estratégia diferente, e o empreendedor deve ponderar se os caminhos apontados agregam valor ao negócio. “O bom consultor é o que vem para aprender. Sou contra o autoritarismo engravatado que acha saber mais do que todo mundo”, diz. O perfil de que profissional que as consultorias Janeiro 2007 – Empreendedor – 37


estão buscando é o inquieto, que “quer conhecer um pouco de tudo e é voltado para a curiosidade”, diz Romano. Como áreas promissoras, ele aponta as de finanças, marketing, saúde para idosos e educação. Afirma também que setores tradicionais, como contabilidade, estão entrando em desuso graças à tendência da automação e informatização. “Conciliar hoje a máquina com a preparação das pessoas que vão ao mercado oferecer serviços é um dos maiores desafios da atualidade”, diz Romano. Aspectos como liderança e boa comunicação também são fundamentais para um consultor. De nada adianta ter bons conhecimentos técnicos se não sabe transmiti-los adequadamente. Ricardo Bevilácqua, diretor da Thomas Case & Associados – consultoria de transição de carreira do país, com objetivo de auxiliar o profissional na recolocação de postos de trabalho –, diz que a gestão da equipe é essencial para atingir resultados. Comenta que o consultor tem o dever de passar o máximo de informação quando precisar emitir uma opinião. “O empreendedor corre bem mais risco; se ele errar, vai pagar. Cabe ao consultor formar o capital humano para perceber o que é bom e o que não é.” Já Luiz Fernando Garcia, da Render Capacitação, criou o conceito de profissional Orientado a Resultados (OR) após uma pesquisa com 1.200 pessoas. Constatou que 198 se destacavam, positivamente, e destas, 93% tinham em comum sete características como capacidade de visualização, superação de desafio, manutenção de foco, criação de mapa de percurso, manutenção da expectativa e do propósito, tolerância à incerteza e auto-reforço para auto-estima. “O OR é o empreendedor que consegue visualizar o futuro mesmo estando no presente.”

Dilemas éticos Um dos mistérios associados ao mundo das consultorias está relaciona-

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LIO SIMAS

Consultoria

Ricardo Bevilácqua: se o empreendedor errar, ele vai pagar

Luiz Fernando Garcia: pesquisa identifica potencial de resultados

do aos escassos dados disponíveis e às suas formas de atuação, que recorrem ao sigilo em diversas ocasiões, como uma importante alavanca de criação de confiança entre cliente e consultor. É interessante o empreendedor procurar empresas e consultores com claras regras de tratamento de informações e dados. “É muito comum que os clientes ou a própria consultoria tome a iniciativa de estabelecer acordos de confidencialidade com os seus clientes. Isto é normal e desejável. Não quer dizer que não deva existir transparência quanto ao esclarecimento de fontes de informações e das metodologias utilizadas”, diz Bull. Outro dilema é as empresas de consultoria organizacional venderem também serviços de auditoria financeira, que é considerada uma prática normal de mercado. Como garantir que esses serviços vão contar com a transparência necessária é um importante questionamento. Vários episódios na história recente, como da Arthur Andersen, aumentaram a preocupação das empresas com a governança corporativa. “As lições também foram aprendidas por várias prestadoras de

serviço que anteriormente exerciam papéis concomitantes de auditoria e consultoria. Hoje, existe maior preocupação na seleção de fornecedores para assegurar a governança”, diz Bull. Ele afirma que erros fazem parte do aprendizado, e desenvolvimento de pessoas e organizações. “Não creio que alguém caminhe sem tropeços. O que não se pode tolerar é a persistência no erro ou as omissões. Afinal, se você estivesse a caminho de um centro cirúrgico que tivesse um cartaz “Errar é humano”, ficaria confiante ou temeroso? A excelência em qualquer área vem da repetição e das melhorias. Se errar é humano, persistir nos acertos é inteligente.”

Linha Direta Luiz Afonso Romano (11) 3289-4152 Luiz Fernando Garcia (48) 3334-0782 Paulo Araújo (41) 3267-6761 Ricardo Bevilácqua (11) 3177-0780 Willian Bull (11) 3048 1800


Janeiro 2007 – Empreendedor – 39


Mercado

De porta em porta A venda direta representa uma alternativa vantajosa para empresas e trabalhadores por

Camila Stähelin

Garantir um complemento na renda, buscar uma nova oportunidade de negócio, ser seu próprio patrão, ter flexibilidade de horário, arrumar um emprego: alguns desses motivos importantes levam empreendedores a atuarem no mercado de venda direta, setor que conquista cada vez mais adeptos no país. Trata-se de um sistema de comercialização de produtos e serviços, realizado através do contato pessoal entre vendedor e comprador, fora de um ambiente comercial fixo. O cliente não tem relação com a empresa, é um intermediário (na maioria dos casos, chamado de representante de vendas, distribuidor ou revendedor) e se dispõe a bater de porta em porta à procura de consumidores para os bens de consumo da empresa que representa. Esse tipo de trabalho não garante uma

40 – Empreendedor – Janeiro 2007

remuneração segura no fim do mês, muito menos oferece os benefícios de um vínculo empregatício, como carteira de trabalho assinada ou férias remuneradas, mas hoje quem garante alguma coisa no mundo do trabalho? De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), 1,6 milhão de pessoas trabalharam como revendedores ativos no terceiro trimestre de 2006, sendo 8,7% a mais do que no ano passado. Isso possibilitou um crescimento nominal de 21,4% no volume comercializado. Foram movimentados R$ 3,7 bilhões neste período, enquanto em 2005, R$ 3,1 bilhões. No último levantamento feito pela World Federation of Direct Selling Association (WFDSA) – entidade mundial de vendas diretas –, em 2004, o Brasil apareceu em quarto lugar no ranking mundial, ficando atrás apenas da Coréia, do Japão e dos EUA.

Um exemplo clássico do setor de venda direta são as empresas que comercializam enciclopédias. É difícil quem nunca tenha sido abordado em sua casa por um dos seus vendedores. A Editora Barsa Planeta, dedicada a essa modalidade de comércio desde a década de 1950, já atendeu dois milhões de clientes e possui 1.560 representantes só no país. Além da Barsa (antiga Enciclopédia Britânica), atualmente disponível no formato multimídia, a marca vende outros 17 produtos e atua também nos mercados argentino, chileno, mexicano, venezuelano, português e espanhol. Em maio próximo, Guiomar Trindade Motta completa 22 anos como vendedora da editora. “Durante esse tempo, consegui comprar três imóveis, formar três filhos na universidade e fazer um pecúlio. Sempre morei nos melhores bairros de São Paulo, e meus filhos estudaram em escolas particulares. Também fiz 19 viagens internacionais totalmente bancadas pela Barsa”, diz a ex-professora, que consegue realizar uma venda a cada três demons-


Barsa trações completas que faz. A oportunidade de ingressar na empresa surgiu por acaso. A filha estava num aeroporto com o pai, se interessou pela enciclopédia, e agendaram uma visita para demonstração do produto. “O vendedor ficou surpreso, pois, além de não conseguir fazer com que eu ficasse com o material, ainda comprou uns produtos importados que ofereci a ele. Antes de sair da minha casa, disse para eu tentar vender no escritório da Barsa. Acabei sendo convidada para trabalhar na empresa.” Desde quando Guiomar começou a atuar o mercado de vendas diretas, o cenário mudou bastante. “Em cada época, o consumidor tem algo que usa como desculpa para não querer comprar enciclopédia. Já foi o videocassete, depois o computador e, em seguida, a internet. Mas sempre se dá um jeito.” Nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde é cada vez mais difícil se abrir a porta para um desconhecido, a indicação de consumidores por outros possíveis clientes tem funcionado. “Pedimos que a pessoa que visitamos indique de quatro a seis nomes. Se um desses aceitar marcar uma visita, já é um primeiro passo importante para a venda se concretizar”, diz a ex-professora. O treinamento é indispensável para ajudar a superar essas dificuldades. Todas as empresas que atuam no setor possuem uma série de ações para preparar e reciclar seus novos vendedores. “Os recém-contratados recebem várias aulas, sendo a mais importante para nossa empresa a de administração financeira pessoal. Ensinamos a poupar dinheiro, o que é muito importante na área em que trabalhamos. O que ganhamos num mês, não necessariamente será o mesmo do seguinte”, diz a diretora de treinamento e marketing Sandra Cabral. “Quando você faz um porta-a-porta, encontra de tudo. Desde a dona de casa, mãe de três filhos, o empresário, a professora universitária.” É o atendimento ao cliente que garante o suces-

Nome: Guiomar Trindade Motta Idade: 58 anos Local de nascimento: Mundo Novo (BA) Formação: Professora Empresa: Editora Planeta Cidade-sede: São Paulo (SP) Ano de fundação: 1949 Ramo de atuação: editora de livros Site: www.barsa.com.br

Guiomar: convite depois de vender para o vendedor

Nome: Sandra Cabral Idade: 45 anos Local de nascimento: São Paulo (SP) Formação: Propaganda e Marketing Empresa: Editora Planeta Cidade-sede: São Paulo (SP) Ano de fundação: 1949 Ramo de atuação: editora de livros Site: www.barsa.com.br

Sandra: é mais fácil vender olhando no olho do cliente

so ou o fracasso do sistema de venda direta. É preciso saber lidar com diferentes tipos de pessoa, e não apenas entender do produto que se está vendendo. “É mais fácil vender olhando no olho do possível cliente. Se a pessoa pergunta ‘quanto custa?’ ao vendedor, já deu a margem necessária para mostrar e, muito provavelmente, concluir a venda”, diz. Para estimular seus vendedores, a editora investe 35% do que é arrecadado nas vendas em campanhas promocionais para seus representantes. “Em 2006, demos quatro automóveis Peugeot e 72 motos, fora as comissões em dinheiro. No ramo editorial, a Barsa é a empresa que melhor paga. Sempre, no mês de janeiro, há um congresso em que participam todos os representantes que conseguiram atingir a meta estabelecida durante o ano”, diz. Aumentar a equipe, indicando novos vendedores, é outra forma de o vendedor aumentar seu ganho. Essa é uma característica das empresas de venda direta que trabalham com o sistema multinível, que atrai cada vez mais pessoas. Na Barsa, por exemplo, através da “fórmula 1%” a cada indicação que um representante fizer de um novo vendedor, ganha 1% sobre todo e qualquer produto vendido por ele. “E o valor não é descontado da venda ou do lucro de nenhum dos vendedores, e sim dado pela própria empresa”, diz Cabral. Praticamente, tudo pode ser vendido através de venda direta, mas, segundo dados da ABEVD, as empresas do setor que têm os maiores faturamentos são as que comercializam produtos para cuidados pessoais (86%) e complementos nutricionais (11%). Foi apostando nisso que Marcelo Antonio Venturella fundou a Luminalife, situada na cidade de São José (SC). O empreendimento fabrica e comercializa produtos para saúde e bem-estar. “A vida moderna é muito estressante, sua qualidade é afetada pelo desequilíbrio. Nosso objetivo é, justamente, buscar o equilíbrio, ajudar as pessoas a viverem muito tempo, mas com qualidade. Nenhum dos nosJaneiro 2007 – Empreendedor – 41


Mercado

INDEX OPEN

sos produtos desenvolve uma ação química no metabolismo das pessoas, trabalhamos com fitoterápicos, tudo 100% natural.” São quatro linhas de produtos: imunologia, cardiovascular, redução de peso e envelhecimento precoce. Durante um ano, o empresário pas-

sou pelo que chama “processo de gestação”. Criou um plano de negócio, os produtos, a marca e um sistema na internet para acompanhar as vendas. “O emprego, da maneira como conhecemos, é um modelo em transformação e está acabando no mundo. Além disso, abrir um negócio no Brasil é muito caro. Por isso, atuamos através da venda direta, que é uma grande oportunidade como um complemento da renda ou, inclusive, fazer daquilo um negócio pessoal, com investimento muito baixo. Mas há ainda a opção de franquia. Temos um modelo de vendas híbrido em que o vendedor escolhe o que melhor se adapta às suas necessidades.” Para se tornar um revendedor dos produtos da Luminalife, é preciso adquirir um “kit do empresário” no valor de R$ 300. Cada representante compra os produtos para revender com 30% de desconto. A indicação de novos vendedores rende comissões. “As pesso-

as precisam se tornar multiplicadores para, a partir de então, ganharem dinheiro de fato.” Venturella fez um investimento inicial de R$ 400 mil para abrir o empreendimento e estima faturar R$ 7 milhões em 2007. Além disso, pretende atingir o mercado latino-americano em cinco anos e criar um plano de previdência privada para seus colaboradores. “Em 2010, os 20 campeões de vendas da Luminalife irão para a Copa do Mundo, na África do Sul, com tudo pago”, diz. A Vicenzzo Parfums, no mercado desde 2002, é outra que escolheu a modalidade de venda direta através do sistema multinível. “Em 2006, a empresa cresceu 65%. E a nossa meta é conquistar ainda mais espaço no setor”, diz Ronaldo Sperdutti, presidente da marca. A indústria de perfumaria fina trabalha com as fragrâncias Espelho – uma linha sofisticada de perfumes desenvolvida na Europa por profissionais

Sistemas de Venda

Sistemas de Compensação

“Door to door” ou porta a porta: o revendedor vai até a residência ou local de trabalho do consumidor, e através de folhetos faz a demonstração e vende os produtos. Revendedores de algumas empresas possuem produtos de maior procura para pronta entrega.

Mononível: o revendedor compra o produto e o revende com uma margem de lucro média de 30% (mark up). Nesse sistema, não há qualquer pagamento feito pelas empresas aos revendedores. Esta forma de compensação também é denominada “desconto”.

Catálogo: o revendedor deixa o catálogo ou folheto na residência do consumidor e depois passa para retirar o pedido (sistemática pouco utilizada no Brasil).

Multinível: a remuneração é paga pela empresa de venda direta ao revendedor que indicar outros revendedores. Neste caso, o revendedor exerce duas relações distintas: a primeira de compra e venda (mononível) e a segunda de prestação de serviços de agenciamento em que recebe um bônus (multinível) referente a cada indicação, que varia de uma empresa para outra.

“Party plan”: o revendedor, através de um consumidor denominado anfitrião, promove um chá para diversos clientes em potencial e lá demonstra e revende os produtos (sistemática adotada por poucas empresas). Fonte: Estatuto do Vendedor Direto

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Fonte: Estatuto do Vendedor Direto


Luminalife Nome: Marcelo Antonio Venturella Idade: 28 anos Local de nascimento: Lages (SC) Formação: Administração Empresa: Luminalife Cidade-sede: São José (SC) Ano de fundação: 2006 Ramo de atuação: Saúde e bem-estar Faturamento: R$ 20 milhões (previsto para 2007) Site: www.luminalife.com.br

Marcelo: R$ 400 mil para abrir o empreendimento

reconhecidos internacionalmente, mas que é diferente dos atuais por possuir mais qualidade e poder de fixação superior aos contratipos usuais. Toda a estrutura da empresa foi montada para facilitar a vida de seus colaboradores. Embora esteja sediada em Catanduva, interior paulista, onde também há a única loja do empreendimento, a Vicenzzo trabalha com o sistema de revenda e distribuição para outras localidades, e trilha caminho oposto de outras empresas de cosméticos, que saem da capital para conquistar novos nichos. Seus produtos podem ser encontrados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Minas Gerais, Ceará, Acre e Rondônia. Há reuniões mensais, reciclagens, e contato constante

por telefone e MSN entre a empresa e seus colaboradores. Para ser um distribuidor master, por exemplo, é preciso ter um telefone fixo, um local para armazenar produtos, atender distribuidores e revendedores e, ainda, um investimento inicial de R$ 7 a R$ 10 mil em produtos. Um distribuidor comum necessita investir cerca de R$ 1.150 mil em produtos para obter lucros a partir de R$ 3.825 por mês com suas vendas pessoais e da equipe. E os revendedores investem somente R$ 25 no kit de apresentação e podem lucrar até R$ 810,00 por mês vendendo dois frascos de perfume por dia. A empresa não cobra royalties ou qualquer tipo de taxa de franquia. “A venda direta é vantajosa para todos. Para empresa e distribuidores, pelo

baixo custo de investimento e boa margem de retorno; e para os consumidores, pela comodidade de poder comprar bons produtos sem sair de casa”, diz Sperdutti.

Linha Direta Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD) www.abevd.com.br Guiomar Trindade Motta (Barsa) (11) 9676-8386/3772-0732 Marcelo Venturella (Luminalife) (48) 3357-4431 Ronaldo Sperdutti (Vicenzzo) (17) 9727-1160 Sandra Cabral (Barsa) (11) 3225-1935

Vicenzzo Parfums

Ronaldo: baixo custo de investimento e boa margem de retorno

Nome: Ronaldo Sperdutti Idade: 33 anos Formação: Administração de Empresas Empresa: Vicenzzo Parfums Cidade-sede: Catanduva (SP) Ano de fundação: 2002 Ramo de atuação: Perfumaria Faturamento: R$ 20 mil (mensal) Site: www.vicenzzo.com.br

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Lígia Helena Ramos

LIO SIMAS

Perfil

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Das bonecas para a moda A brincadeira de criança tornou-se a profissão da empresária e estilista Lígia Ramos por

Camila Stähelin

“Cresci ouvindo o som dos teares e as chaminés das caldeiras, que indicavam a hora das trocas de turnos das fábricas.” Essa foi a infância de Lígia Ramos, proprietária da grife catarinense de moda feminina Boby Blues. A empresária deixou a pequena cidade de Brusque, considerada pólo da indústria têxtil catarinense, para criar e vender moda para o Brasil. “Ser empreendedor é saber arriscar, ser curioso e não ter medo de experimentar”, afirma. Irmã do meio de uma família de três filhos, Lígia morava ao lado da fábrica Têxtil Renaux, onde o pai trabalhava como operário. “Minha brincadeira preferida quando criança era fazer roupinhas para as minhas bonecas.” Quem ensinou a menina a costurar foi a mãe, que era dona de casa e quem fazia as roupas para a família. “Naquele tempo, não existiam lojas de roupa próximas, as opções praticamente inexistiam.” Ao completar 12 anos de idade, não queria mais vestir o que a mãe confeccionava. “Eu já era uma mocinha, então comecei a fazer minhas próprias roupas, gostava de desenhar peças diferentes. Só que eu era tão pequena que não alcançava com os pés no pedal da máquina de costura, por isso não podia ficar sentada.” Outra fonte importante de ensina-

mento para a pequena aprendiz foi a revista alemã de moda feminina Burda, no mercado editorial há mais de cinqüenta anos. Aos poucos, seus dotes estilísticos foram sendo aprimorados, e começou a costurar para as amigas. “Às vezes, alguma tinha uma festa e não sabia o que usar, eu costurava algo para ela.” Quando terminou o Ensino Secundário, aos 16 anos, decidiu que era hora de deixar Brusque. “Tinha sonhos maiores do que continuar ali.” Foi para Florianópolis e, em seguida, já estava trabalhando e estudando. “Trabalhava de manhã no Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) e, à tarde, fazia graduação em Biologia, na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Escolhi essa faculdade porque, na época, a moda era quanto LÍGIA HELENA RAMOS Idade: 50 anos Local de nascimento: Brusque (SC) Formação: MBA em Varejo de Moda Empresa: Boby Blues Ramo de atuação: Confecção Ano de fundação da empresa: 1992 Cidade-sede: São José (SC) Número de funcionários: 90 (diretos) 400 (indiretos) Site: www.bobyblues.com.br

mais alternativa a opção, melhor. E nada mais alternativo do que cursar Biologia.” Na universidade, fez amigos que despertaram nela o interesse pelo mundo dos esportes. Durante esse período, aprendeu a surfar, por exemplo. “Apesar de não mais pegar onda, ainda tenho prancha. Até cinco anos atrás, também jogava tênis, praticava windsurf e voava de parapente. Mas, durante umas férias de fim de ano em Nova Iorque, quebrei meu pé enquanto patinava no gelo. Desde então, estou um pouco parada, mas, em breve, pretendo voltar a fazer algum exercício.” Foi justamente essa aproximação com os esportes que possibilitou, de certa forma, a jovem voltar ao ofício que aprendera durante a infância em sua terra natal. Depois de um ano trabalhando no banco, uns amigos surfistas a convidaram para ser vendedora de uma loja de surfware que pretendiam abrir na capital catarinense, uma das primeiras da cidade nesse estilo. “Meus pais quase me mataram. Eles não aceitavam que eu deixasse um emprego estável no banco para ser balconista de uma loja, ainda mais de roupas de surfe. Mas eu via aquilo como uma oportunidade bacana, porque, além de ser atendente, eu também poderia confeccionar.” Aos 21 anos, casou-se com um engenheiro, com quem teve três filhos. Janeiro 2007 – Empreendedor – 45


Perfil

Lígia Helena Ramos

Boby Blues: três estabelecimentos próprios, 16 franquias distribuídas por quatro Estados e presença em 200 lojas multimarcas por todo o país

1956 - Nasce em Brusque (SC).

LINHA DO TEMPO

1968 - Começa a costurar suas próprias roupas. 1973 - Muda-se para Florianópolis. Ingressa na faculdade de Biologia e arruma um emprego no Besc. 1975 - Sai do banco para trabalhar de balconista em uma loja de surfware, onde passa a confeccionar algumas peças de roupa. 1977 - Casa-se com um engenheiro. 1979 - Ela e o marido inauguram a Contato, uma loja multimarcas que também comercializa roupas feitas por Lígia. 1981 - Nasce o primeiro filho do casal. 1984 - Nasce uma filha. 1985 - Nasce a segunda filha. 1992 - Funda a grife de moda feminina Boby Blues.

FOTOS LIO SIMAS

2002 - Com a expansão da marca, Lígia deixa de ser a única estilista da empresa. Contrata mais três profissionais e monta uma equipe de criação.

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2007 - A Boby Blues comemora 15 anos de existência como uma marca reconhecida no mercado da moda nacional.

Logo depois de casados, ela e o marido resolvem abrir um negócio. O ramo já era mais do que certo: confecção. Montaram, ainda em Florianópolis, uma loja multimarcas de moda feminina e masculina, a Contato, que também vendia algumas peças feitas pela proprietária. Com a separação, o marido ficou com o empreendimento, e ela fundou, em 1992, uma nova marca, a Boby Blues, destinada ao público jovem feminino. A aposta inicial da empresária foi investir em jeans para as adolescentes com preços inferiores aos das grandes marcas. Atualmente, a grife oferece duas coleções por ano formadas por, aproximadamente, 500 modelos cada, com valores que demonstram sua expansão e seu reconhecimento. “Acredito que a Boby Blues tenha surgido dessa minha identificação com os anseios das meninas. Hoje, posso dizer que conheço bem o que elas querem e procuram em uma roupa”, afirma. “Meu acerto maior é na criação. Também sou competente nas questões administrativas e comerciais da empresa, mas gosto mesmo é de pôr a mão na massa.” Até quatro anos atrás, Lígia Ramos era a única estilista da grife e fazia toda a criação das coleções. Com a expansão, foi necessária a constituição de uma equipe, atualmente formada por quatro pessoas, incluindo a empresária, para dar conta de toda a demanda.


De acordo com a estilista e proprietária da Boby Blues, as fontes de inspiração para conceber as duas coleções anuais são variadas. “Costumo dizer que o DNA da marca são as jovens de 16 anos, mais ou menos. Então, o ponto de partida é, basicamente, observar essas pessoas.” Acredita que é preciso estar onde seu público está. Sendo assim, freqüenta baladas, shoppings centers e shows. “Fui e vou a todas as edições do Planeta Atlântida, em Florianópolis (dois dias de shows que acontecem todos os anos, no mês de janeiro).” Além disso, a equipe de estilo da Boby Blues faz pesquisa de tendências nos principais centros de moda do mundo: Paris, Londres, Nova Iorque e Milão. As tendências são adaptadas para o mercado nacional, e recebem influências e inspirações locais. “Viajo bastante. Ando em feiras, brechós e em todo o tipo de evento que possa inspirar novas idéias. Teve um ano que vi uma exposição do (Paul) Gauguin, em Londres, e me interessei muito pelo personagem, que veio de uma cidade têxtil, assim como eu. A Edina (Siemsen – estilista) foi para o Taiti pesquisar, e criamos uma coleção.” Para a coleção de verão de 2007, por exemplo, as estilistas buscaram inspiração nas telas da artista plástica catarinense Tercília dos Santos. “Vi um quadro dela num espaço, em Santo Antônio de Lisboa (bairro da capital catarinense), e me apaixonei.

Na hora, decidi que as obras da pintora inspirariam esta coleção”, diz a dona da grife, que ganhou projeção vestindo a modelo Maryeva, as cantoras Luiza Possi e Débora Blando, e a apresentadora Eliana. A criação de moda em Santa Catarina é considerada um processo recente, mas a Boby Blues está na lista de uma série de marcas que vêm conquistando os mercados local, nacional e estrangeiro. Os estilistas buscam cada vez mais se aperfeiçoar, e as empresas estão reconhecendo a importância de absorver a mão-deobra oriunda das universidades. A grife é parte do projeto que pretende transformar o Estado num pólo de moda. Chamado de Santa Catarina Moda Contemporânea, a iniciativa conta com a participação de empresas de projeção nacional de ramos distintos (calçados, surfwear, confecção, cama, mesa e banho) e de entidades de ensino reconhecidas. Através da promoção de palestras, workshops e concursos, espera-se despertar a consciência para a moda como sendo uma alternativa de estratégia empresarial. Seguindo esta tendência, a empreendedora faz com que a sua empresa não pare de crescer e se atualizar. Se há treze anos a única loja atendia à demanda, atualmente o público pode optar por comprar em um dos três estabelecimentos próprios ou nas 16 franquias distribuídas pelos Estados

de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ou, ainda, em uma das 200 lojas multimarcas espalhadas por todo o país. “90% do nosso mercado está concentrado na Região Sul. Temos o Brasil inteiro para crescer”, diz a proprietária. Recentemente, a grife abriu uma franquia no Shopping Ibirapuera, na capital paulista, e lança mais quatro lojas: Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, Shopping Farol, em Tubarão, e Floripa Shopping e Shopping Iguatemi, em Florianópolis. A marca encerrou o ano de 2005 com faturamento 11,58 % maior em relação ao ano anterior. Uma das razões foi o crescimento de 109,39 % no número de peças em lojas multimarcas. No primeiro semestre de 2006, o faturamento da Boby Blues foi 36,63 % maior em relação ao mesmo período do ano passado. Para dar conta de toda a produção, a empresária optou por terceirizá-la. “São 400 empregos indiretos. Mas, mesmo assim, é muito mais fácil me encontrar na fábrica do que no showroom”. Os outros 90 funcionários se ocupam das questões administrativas, comerciais e de desenvolvimento do empreendimento. Lígia Ramos dá a receita do sucesso da sua marca: “O segredo são a curiosidade e a insatisfação. É sempre estar fazendo mais e não se acomodar. É olhar para uma coleção, querer e fazer a próxima melhor.” Janeiro 2007 – Empreendedor – 47


Pequenas Notáveis Editado por Alexandre Gonçalves

ESPECIAL

Por dentro da Lei Geral A máxima “ano novo, vida nova” nunca fez tanto sentido para as micro e pequenas empresas brasileiras quanto agora, com a entrada em vigor da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, sancionada em dezembro pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, após quase três anos de mobilização de lideranças empresariais e entidades como o Sebrae. Para comprovar que 2007 será um ano de vida nova para as micro e pequenas empresas, é unânime entre todos os que participaram efetivamente do processo de elaboração, aprovação e sanção da nova legislação a opinião de que se construiu um novo ambiente, muito mais favorável para os empreendedores de menor porte. E para quem ainda possa ter dúvidas quanto a isso, basta conferir os principais benefícios da Lei Geral em conteúdo produzido pelo Sebrae, via Agência de Notícias Sebrae, e que Pequenas Notáveis reproduz nesta edição.

Novos segmentos no Simples Nacional A Lei Geral expressa 28 atividades que podem aderir ao Simples Nacional. Desse total, 17 setores foram incluídos agora com a nova lei. São eles: 1) veículos de comunicação, de radiodifusão sonora, e de sons e imagens, e mídia externa;

de terceiros, cumulativamente; 9) academias de dança, de capoeira, de ioga e de artes marciais; 10) academias de atividades físicas, desportivas, de natação e escolas de esportes; 11) decoração e paisagismo;

2) empresas que se dedicam à construção de imóveis e obras de engenharia em geral, inclusive sob a forma de subempreitada;

12) elaboração de programas de computador, inclusive jogos eletrônicos, desde que desenvolvidos em estabelecimento do optante;

3) operadores autônomos de transporte de passageiros;

13) licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação;

4) empresas montadoras de estandes para feiras; 5) escolas livres, de línguas estrangeiras, artes, cursos técnicos e gerenciais; 6) produção cultural e artística; 7) produção cinematográfica e de artes cênicas; 8) administração e locação de imóveis

14) planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas, desde que realizados em estabelecimento do optante; 15) escritórios de serviços contábeis; 16) serviço de vigilância, limpeza ou conservação; 17) representação comercial e corretoras de seguros.

EUGÊNIO NOVAES/AGÊNCIA SEBRAE

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O espaço da micro e pequena empresa Segmentos que continuam no Simples Nacional

Abertura e formalização de empresas

A Lei Geral mantém no Simples Nacional os 11 tipos de atividade que já podiam pagar tributos pelo antigo Simples. São eles:

Grande desburocratização, com a facilitação da abertura, racionalização das exigências de documentos e comprovantes para os empreendedores. Em vez de vários números de identificação (inscrição estadual, municipal, CNPJ, entre outros), será um único número, baseado no CNPJ. A abertura da empresa será efetuada mediante registro simplificado dos seus atos constitutivos, dispensando a microempresa e a empresa de pequeno porte de inscrição em qualquer outro cadastro. Além disso, todas as exigências para a abertura da empresa serão consolidadas e disponibilizadas de uma só vez, para que o empresário saiba o que deve fazer para formalizar o seu negócio.

1) creche, pré-escola e estabelecimento de Ensino Fundamental; 2) agência terceirizada de correios; 3) agência de viagem e turismo; 4) centro de formação de condutores de veículos automotores de transporte terrestre de passageiros e de carga; 5) agência lotérica; 6) serviços de manutenção e reparação de automóveis, caminhões, ônibus, outros veículos pesados, tratores, máquinas e equipamentos agrícolas; 7) serviços de instalação, manutenção e reparação de acessórios para veículos automotores; 8) serviços de manutenção e reparação de motocicletas, motonetas e bicicletas; 9) serviços de instalação, manutenção e reparação de máquinas de escritório e de informática; 10) serviços de reparos hidráulicos, elétricos, pintura e carpintaria em residências ou estabelecimentos civis ou empresariais, bem como manutenção e reparação de aparelhos eletrodomésticos; 11) serviços de instalação e manutenção de aparelhos e sistemas de ar condicionado, refrigeração, ventilação, aquecimento e tratamento de ar em ambientes controlados.

Cálculo e pagamento de impostos Pagamento único dos impostos federais, estaduais e municipais, por meio de um percentual reduzido que incidirá sobre o faturamento do mês. ICMS, INSS patronal, PIS, Cofins, IRPJ e CSLL serão unificados. No lugar de várias guias de recolhimento, com várias datas e cálculos diferentes, haverá apenas um pagamento, com data e cálculo únicos de quitação.

Licenças para funcionamento da empresa Os órgãos envolvidos na abertura e no fechamento de empresas que sejam responsáveis pela emissão de licenças, alvará e autorizações de funcionamento somente realizarão vistorias após o início de operação do estabelecimento, na grande maioria dos casos. Para o funcionamento imediato da empresa, será emitido o Alvará de Funcionamento Provisório.

Fechamento da empresa A baixa da empresa será automática, mesmo que tenha débitos tributários, que poderão ser assumidos pelos sócios, liberando-os para abrir outros negócios. Não será mais necessário esperar meses.

Preferência nas compras públicas Nas licitações públicas, está previsto que as compras de bens e serviços de até R$ 80 mil serão feitas exclusivamente de pequenos negócios, e também há permissão para a sua subcontratação por empresas de maior porte, possibilidade de fornecimentos parciais de grandes lotes, entre outros dispositivos que farão com que as pequenas empresas efetivamente consigam participar de licitações em condições de igualdade com as grandes empresas. Com isso, as prefeituras, por exemplo, poderão realizar as compras de empresas da própria localidade, beneficiando a economia local.

Exportações As exportações de pequenas empresas serão desoneradas, levando a esse segmento benefícios já usufruídos pelas grandes empresas. Os optantes do Simples terão uma grande redução de custos tributários nas suas exportações.

Formação de consórcio para compra e venda Criação do consórcio simples, tipo de associação empresarial com a qual os pequenos negócios poderão se associar visando a ganhos de escala, competitividade e acesso a novos mercados. Com maior poder de negociação, as micro e pequenas empresas poderão comprar melhor e também vender melhor, fortalecendo o que se faz hoje por meio das centrais de negócios.

Obtenção de crédito Haverá condições para melhoria nas garantias de crédito, o que facilitará o acesso dos pequenos negócios a empréstimos e financiamentos. Além disso, haverá um reforço ao cooperativismo de crédito e ao microcrédito.

Inovação tecnológica Está previsto que, no mínimo, 20% dos recursos públicos voltados para pesquisa, desenvolvimento e capacitação tecnológica sejam investidos em micro e pequenas empresas. Como isso, ficarão mais competitivas, agregando valor aos seus produtos.

Planejamento dos negócios Os empreendedores que não desejarem se associar a ninguém para abrir seu negócio poderão fazê-lo sozinhos, somente respondendo pelas dívidas empresariais com os bens e direitos vinculados à atividade da empresa. Seus bens pessoais não mais serão envolvidos com a atividade empresarial. Além disso, a contabilidade da empresa poderá efetivamente se voltar para seu planejamento, e não mais para o simples cumprimento de obrigações fiscais e burocráticas. Será uma verdadeira ferramenta de gestão. Para ler a íntegra da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, acesse: www.empreendedor.com.br/ext/ leigeral.php Janeiro 2007 – Empreendedor – 49


TI Granja digital Coleta automatizada de dados aumenta a eficiência no agronegócio A gestão informatizada é um processo irreversível no agronegócio. Mesmo com uma grande carência de investimentos nessa área, seja por parte do governo, seja dos empreendedores rurais, existe uma maior conscientização no país dos benefícios gerados pelas aplicações desenvolvidas. Ajuda a melhorar a produtividade e contribui para a sobrevivência no campo, pois o uso da tecnologia está diretamente ligado à agilidade na coleta de dados, diminuição de gastos, e organização e aprimoramento constante do negócio. Como confirmação dessa tendência, o mercado de

soluções voltadas a esse nicho responde em pleno crescimento. A oportunidade de negócio visualizada pela Agriness, criada em 1999 e especializada em ferramentas de gestão técnica e estratégica da cadeia de suínos e de bovinos de confinamento, é justamente apostar nesse mercado. A confiança na reabilitação da suinocultura brasileira, que ano passado não teve um bom ano, é tamanha que a empresa investiu no desenvolvimento do Agriness S2, sistema de coleta digital de dados para o software de controle de granjas. O objetivo da ferramenta é gerenciar

todas as etapas de produção de suínos, contemplando a gestão zootécnica e econômica da atividade. “Temos consciência do momento difícil e também sabemos da importância da gestão cada vez mais profissional e por isso mantivemos nossa política de venda em quilos suínos. Então, mesmo com o preço do suíno muito baixo no mercado, a tecnologia é acessível a produtores de todos os portes”, diz o diretor de Negócios, Everton Gubert. Implantada em 48 granjas, a ferramenta gerencia um total de 54 mil matrizes. O sistema foi desenvolvido para automatizar a coleta digi-

Software foi implantado em 48 granjas e gerencia um total de 54 mil matrizes

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Everton Gubert: ganhos em rapidez, confiabilidade e segurança

tal de dados, que é feita por meio de Palm Top (computador de mão), trazendo ganhos, conforme Gubert, em rapidez, confiabilidade e segurança. Também possui várias “travas” que impedem a coleta de dados errados. “Por exemplo, uma pessoa que está coletando os dados e digitando no Palm não consegue fazer nenhuma ação com uma matriz, se o brinco do animal não estiver 100% correto. No papel, isso pode passar, o que acaba gerando erro na coleta, perda de tempo e retrabalho”, diz. A meta da empresa para 2007 é aprimorar ainda mais seus produtos e implantar o Palm em 40% de seus clientes. “O nosso único limite é a capacidade de processamento do Palm. Não podemos esquecer que a tecnologia dos computadores de mão ainda possui limitações de potência, memória e forma de armazenamento dos dados”, diz.

Novo Sisbov Para garantir a segurança sanitária no processo de produção da carne no Brasil, o governo criou o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov) em 2001. A meta foi identificar os animais brasileiros, ou os que chegassem ao país, e fazer um registro com informações, desde o seu nascimento até o consumo do produto final, para que pudessem ser monitorados. Com as novas regras do Sisbov, definidas pela a Instrução Normativa nº 017, de 13 de julho de 2006, os produtores vão poder optar por utilizar em seus animais o chip eletrônico ou o brinco de identificação. Não haverá obrigatoriedade na ade-

são, que fica restrita apenas a quem exporta para países que exigem rastreabilidade, por exemplo, da União Européia. Hoje, existem sistemas atualizados de identificação, como o sistema Bólus, no qual é colocado um microchip dentro de um invólucro e introduzido no animal pela boca, ou injetado por dentro do couro na região do umbigo (rúmen). Mas como o sistema é usado somente para leitura, muitos produtores optaram por continuar utilizando apenas o tradicional brinco. Nesse caso, a funcionalidade é a mesma. É realizada a contratação de um veterinário, que fará uma visita à fazenda e cadastrará todos os animais. Encontrar uma solução para incentivar o uso da tecnologia por todos os produtores é o objetivo de um projeto que utiliza brincos eletrônicos para rastreamento e identificação. Idealizado por Ricardo Mayer, especialista em informática, o sistema contém os dados exigidos pelo Sisbov como a identificação de propriedade de origem, data do nascimento do animal ou de ingresso na proprieda-

de, sistema de criação e alimentação, vacinação, tratamentos e programas sanitários. A inovação do projeto, em relação a outros modelos já existentes no mercado, é que a ferramenta permite a inserção, no brinco eletrônico, de quaisquer informações necessárias e exigidas pela fiscalização, além de outras, como por exemplo: dia e hora de nascimento, genealogia, donos, vacinações, doenças adquiridas e demais informações solicitadas para exportação. “As informações serão inseridas através de um software homologado pela fiscalização, que existirá em um aparelho específico. Este aparelho poderá ser adquirido pelo fazendeiro, por uma associação ou por um veterinário”, diz Mayer. Essas informações funcionam como um relatório vitalício, permanecendo no animal até o dia do seu abate, e podem ser coletadas e consultadas a qualquer momento por meio do mesmo aparelho. Juntamente com o brinco, é realizada uma tatuagem na face interna do pavilhão auricular para evitar qualquer alteração da identificação do animal. Nela constará o número do chip, evitando dessa forma a sua troca por outro com outras informações. “A resistência do brinco e a durabilidade e eficiência do chip serão um investimento único, sem a necessidade de um novo investimento até o seu abate, ou seja, o animal poderá passar de donos sem a necessidade de novas alterações nas peças”, diz. “É também mais econômico que o sistema atual, pois consistirá na aquisição de brincos e tatuagens. A utilização do leitor digital portátil ficará a critério do fazendeiro, que pode alugar, tomar emprestado ou comprar.”

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TI Upgrade criativo Novas soluções sobre produtos consagrados dinamizam as oportunidades de negócios O avanço da tecnologia contribui para o aparecimento de ramificações em nichos de mercado já estabelecidos. Muitas vezes, as oportunidades estão associadas à segmentação, que implica terceirizar ou oferecer produtos e serviços complementares diretamente a determinados empreendimentos. Mas esse também é o clima propício ao surgimento de novas ferramentas e atividades desenvolvidas a partir de soluções e negócios consagrados. O objetivo é atender à demanda na resolução de possíveis problemas existentes e no preenchimento de lacunas deixadas no mercado. O VoIP está incentivando o desenvolvimento de novas soluções, voltadas à área de telecomunicações, baseadas no protocolo de internet. Uma delas é o Flizy Link, sistema de telefonia que utiliza a rede de computadores e transforma qualquer PC em ramal, possui os atributos de um PABX e agrega todas as funcionalidades de um PABX IP. A ferramenta criada pela Principal Telecom, com tecnologia 100% nacional, é uma aposta na substituição das estruturas telefônicas tradicionais por sistemas via internet. “Acreditamos tanto no Flizy que devolvemos o investimento em 60 dias, caso o cliente não aprove o produto”, diz Alexandre Flit, diretor geral da Principal Telecom. Conectado à internet, o usuário pode utilizar o telefone em qualquer parte do mundo como um ramal, sem custo de ligação, independentemente da distância. É possível utilizar fones de ouvido e telefones IP com ou sem fio utilizando a rede Wi-fi. A solu-

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Alexandre Flit: “Devolvemos o investimento em 60 dias caso o cliente não aprove o produto”

ção incorpora também as principais características de um PABX IP, além de um Sistema Unificado de Mensagem, que integra a caixa postal ao sistema de e-mail, SMS (Short Message System) e web. O Flizy tem ainda sistema de conferência, gravação, servidor de fax, módulo para call center, painel de gerenciamento para telefonista e bilhetagem. “Disponibilizamos ramais em quantos locais forem necessários para a operação do cliente, e ele fala o quanto quiser, sem se preocupar com pulso telefônico ou interurbano”, diz Flit. A constante atualização das soluções VoIP também fomenta a criação de plug-ins (programas complementares, utilizados para personalizar ou melhorar uma ferramenta). O software chamado TalkAndWrite,

plug-in do Skype, é um exemplo. Desenvolvido pela empresa brasileira TalkAndWrite, permite a criação de chats públicos. Os usuários podem escrever, desenhar, apagar, grifar e digitar sobre qualquer documento, de qualquer extensão, e conversar ao mesmo tempo. O princípio do software, classificado como whiteboard (quadro branco), é simular a interação entre duas pessoas trabalhando lado a lado sobre um mesmo documento. “O TalkAndWrite é como se fosse uma folha de papel mágica, sobre a qual duas pessoas podem fazer anotações simultaneamente, ainda que se encontrem em localidades geograficamente opostas no globo terrestre”, explica Marcelo Rezende, sócio da TalkAndWrite.


Intercâmbio de tecnologia Incubação cruzada entre Blumenau e Portugal viabiliza internacionalização Dez empresas brasileiras de TI foram selecionadas para instalar uma representação em Portugal. Depois de passar por um processo seletivo que teve início em julho de 2005, as participantes da Incubação Cruzada, programa desenvolvido pelo Instituto Gene, incubadora tecnológica ligada à Universidade de Blumenau, em parceria com o Parkurbis, incubadora tecnológica da cidade portuguesa de Covilhã, vão ter a oportunidade de ingressar no mercado europeu. Nas mesmas condições, empresas de Portugal vão poder se instalar na cidade catarinense de Blumenau. “As empresas catarinenses se organizaram mais rapidamente, apresentaram seus projetos e já estão prontas para

Bizotto: programa facilita acesso ao mercado europeu começar a atuar”, diz Carlos Eduardo Negrão Bizotto, diretor executivo do Gene. “Nosso objetivo é permitir a internacionalização de pequenas

empresas de base tecnológica, e, no caso das empresas brasileiras, o programa facilita o acesso ao mercado europeu.”

Empresas participantes Empresa

Cidade-sede

Produto a ser exportado

Alto QI

Florianópolis

Tecnologia aplicada à Engenharia

Dsprez

Florianópolis

Solução de gerenciamento de processos

HBSIS

Blumenau

Gerenciamento e atendimento a clientes via web

Megasul Informática

Blumenau

Sistema de automação comercial

Virtos Informática

Florianópolis

Software de backup nacional certificado pelo MCT

Diativa Informática

Blumenau

Sistema que gera documentos eletrônicos

Extra Digital

Florianópolis

Software para auxiliar na gestão de fazendas produtoras de flores e plantas ornamentais

Lector Tecnologia

Blumenau

Comunicação a distância para web, conferências e eventos

QuickSoft

Blumenau

Desenvolvimento de software sob medida

Microton Informática

Blumenau

Sistema de bases cadastrais e cartográficas Janeiro 2007 – Empreendedor – 53


TI Rede auto-sustentável Parcerias entre empresas de diferentes ramos vão contribuir para a inclusão digital corporativa A inclusão digital de pequenas e médias empresas ganha força no país. Com o objetivo de promover essa prática de forma auto-sustentável, foi criada a Associação de Telecentros de Informações e Negócios (ATN). A entidade vai articular e integrar vários serviços de conteúdos de alfabetização digital e treinamento corporativo para empresas, por meio dos dois mil telecentros espalhados pelo Brasil, número que deve chegar a três mil em 2007. Com isso, deve diminuir a exclusão que atinge 92% dos empresários brasileiros, de acordo com o IBGE e o Sebrae. Outros

dados relevantes são os do Comitê Gestor da Internet: 55% dos brasileiros nunca tiveram contato com computador, e 68% nunca tiveram acesso à internet. Do total de municípios, apenas 18% possuem provedor local. Os telecentros funcionam como espaço de acesso à informação e à tecnologia, voltado à comunidade empresarial, no qual se podem buscar capacitação, prestação de serviços e realização de negócios. Com o serviço, é possível obter dados sobre diversos temas, por exemplo, comércio eletrônico, alfabetização digital, e treinamento de usuários e cola-

boradores, uso de tecnologia de ensino a distância, treinamento para gestores e curso para suporte em microcomputadores. Mas é por meio da sustentabilidade que o serviço pretende se firmar e contribuir para ampliar a inclusão corporativa. A estratégia é formar parcerias entre empresas de diferentes ramos como o de tecnologia (hardware e software), telecomunicações, educação, setor bancário, corretoras e seguradoras, que se utilizam dos telecentros como canal de distribuição de seus produtos e serviços para pequenas e médias empresas, fortalecendo e incentivando a realização dos negócios. De carona, também se pretende fomentar o uso da tecnologia e da comunicação na obtenção de financiamentos, aumento das vendas, compras mais rentáveis, realização de cursos, melhoria na administração e aumento nos lucros. Os ser-

Acesso às informações Nos telecentros, as empresas podem obter informações sobre o governo, bancos, fornecedores e parceiros, novos mercados, novas tecnologias, compras, vendas, controle de estoques, cadastro de clientes, cadastro de fornecedores, contas a pagar, contas a receber, folha de pagamento, cálculo do simples, contabilidade, comércio eletrônico ou, então, ter acesso à elaboração e impressão de documentos, correio eletrônico, hospedagem, alfabetização digital, treinamento de usuários e colaboradores, uso de tecnologia de ensino a distância, treinamento para gestores e curso para suporte em microcomputadores e Windows.

OBJETIVOS E ATUAÇÃO: Alfabetização digital – Oferecer melhores condições para a população exercer seus direitos de cidadania, combatendo a exclusão digital. Treinamentos de usuários e de colaboradores – Auxiliar o administrador da microempresa e empresa de pequeno porte na realização de seus negócios. Orientação e busca de conteúdos – Possibilitar o conhecimento e domínio das novas tecnologias da informação. Compartilhamento de experiências – Reduzir o hiato tecnológico que separa as MPE das empresas mais favorecidas economicamente e possibilitar o aumento da competitividade, e da geração de emprego e renda das micro e pequena empresas.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e Peabirus (www.peabirus.com.br)

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viços serão automaticamente acessados de todas as duas mil unidades em funcionamento.

Ambiente de relacionamentos O Peabirus é uma plataforma de mídia que fornece valor e potencial agregado às redes que têm interesses comuns. Por meio dele, as redes podem se articular num processo que permite o alinhamento estratégico. A meta é estimular o relacionamento, considerado o melhor caminho para atingir objetivos coletivos de forma mais integrada e com maior escala do que antes. Além de promover a integração entre os participantes da rede, ele pode se alinhar com outras sub-redes e comunidades dentro da própria plataforma. A ferramenta dá visibilidade profissional e institucional, e ajuda a expandir as suas possibilidades de desenvolvimento e ampliar os negócios.

Compras pelo celular os donos de celulares com acesso ao M-Cash poderão usar seus aparelhos para fazer compras e efetuar pagamentos em qualquer estabelecimento do mundo físico”, diz Mattos. Um sistema criado pela MAo usar o sistema, o comprador Cash, empresa de TI que tem como recebe uma ligação em seu celular, principais acionistas a Megadata, onde uma voz o orienta sobre a comempresa do Grupo Ibope, e a Al- pra, pedindo a digitação, no aparebatroz Participações, holding de lho, da senha previamente cadastrainvestimentos, vai revolucionar a for- da junto ao banco onde o usuário ma de efetuar transações comer- tem conta. O banco reconhece a seciais. A plataforma, batizada com nha e autoriza a transação em temo mesmo nome da empresa, é a po real. A senha não fica gravada primeira que permite uso de tele- no telefone (uma vez que o usuário fones celulares para realização de recebe a chamada de confirmação), compras acima de R$ 300 de qual- o que impede que seja conhecida quer lugar, como um cartão de cré- por terceiros, mesmo se o aparelho dito ou de débito funcionando a for roubado ou clonado. “Será nedistância e pagamentos em qual- cessário apenas que a pessoa tequer tipo de estabelecimento. nha o celular, seja correntista de um “Existem hoje mais de 90 milhões banco que faça parte do sistema e de celulares em operação no Bra- que a loja ou outro local para o qual sil. Isso significa um enorme mer- o pagamento é destinado tenha concado”, diz Gastão Mattos, presi- ta em qualquer dos bancos que utidente da empresa. lizem o M-Cash.” O início está previsto para 2007, A tecnologia permite seu uso e sua primeira aplicação, desenvol- também na modalidade crédito ou vida em parceria com o banco como um cartão de loja, entre ouHSBC, se destina a compras em tras formas de pagamento. “Não lojas do comércio eletrônico. A pre- existem limitações tecnológicas que visão para o próximo ano é um vo- atrapalhem o uso do M-Cash por lume de 20 milhões qualquer telefone cede transações e de lular operando no Braque a maioria das sil, pré-pago ou pósempresas responsápago”, diz Mattos. veis por 90% do vo“Mesmo os aparelhos lume de compras na mais simples ou desinternet já tenham pojados podem ser aderido ao novo usados no sistema, e meio de pagamentambém não há qualto. Até 2009, a estiquer limitação no que mativa é ampliar diz respeito às operapara dez o número doras.” O investimende bancos brasileito inicial no projeto é ros que vão utilizar a de R$ 10 milhões nesplataforma. “O foco se primeiro ano de inicial de utilização operação, e a projeserá no comércio ção de faturamento é eletrônico, mas, num Mattos: mercado de 90 de R$ 3,5 bilhões em futuro bem próximo, milhões de aparelhos três anos.

Primeiro, nas lojas eletrônicas. Depois, todo tipo de transação

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TI Procura-se Com cerca de 3.000 empresas responsáveis pela geração de mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, o setor de tecnologia de Santa Catarina ainda encontra dificuldades em contratar profissionais com formação compatível para exercer funções na área. Para estreitar a distância entre profissionais de TI e de Comunicação e as empresas do setor, o Conselho de Entidades de Tecnologia da Informação e Comunicação de Santa Catarina (Cetic– SC) – em parceria com a Associação de Usuários de Informática e Telecomunicações de Santa Catarina (Sucesu-SC) – lançou um banco de currículos on-line, no qual os profissionais podem cadastrar seus currículos e aprimorar o relacionamento com as empresas de tecnologia de forma gratuita. Informações no site www.cetic-sc.org.br/cetic.

Tecnologia SAP A Walar IT Business, integradora de soluções para gestão e consultoria em tecnologia de informação, estruturou uma área comercial exclusiva para negócios relacionados à tecnologia SAP e contratou um trio de executivos para gerenciar o novo departamento. “O conhecimento desses profissionais será peça fundamental para maximizar a atuação no universo SAP, um mercado com forte tendência de crescimento para os próximos anos, e embora a ação seja parte do planejamento que traçamos para 2007, nossa expectativa é aumentar as vendas da companhia em 10% ainda este ano”, diz Luis Carlos Watanabi Lara, presidente da Walar IT Business. Especialista em implementação de ERPs, a empresa possui parcerias com Oracle, SAP e Microsoft, e detém em seu portfólio de clientes empresas como Grupo Alcoa, TAM e Sadia. www.walar.com.br

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Rede outdoor A Vex, empresa pioneira na instalação de redes sem fio em locais públicos no Brasil, firmou parceria com a prefeitura de Campos do Jordão para implementar a primeira rede WMesh outdoor da América Latina. O projeto, que contempla três antenas, realizará a cobertura de um espaço de 400.000 m². Semelhante ao Wi-Fi, a tecnologia WMesh conta com o diferencial de ausência de cabeamento estruturado para as antenas – pois a comunicação é feita via rádio –, e proporciona a transmissão digital de dados e voz, por meio de pontos de comunicação e acesso interligados que enviam informações através de uma freqüência de 2,4 GHz. “A implementação da rede em Campos do Jordão fornecerá comodidade de

acesso não só aos moradores, mas também aos turistas em visita à cidade”, diz Roberto Ugolini Neto, presidente da Vex. O projeto será estendido nos próximos anos para outras cidades, ampliando cada vez mais o número de usuários desta tecnologia no Brasil. www.vexcorp.com

Cursos gratuitos Os estudantes das universidades selecionadas através do programa Sun Academic Initiative, recém-implantado no Brasil, terão acesso aos cursos on-line disponíveis no Sun Web Learning Center. Ao todo, dez universidades brasileiras foram pré-selecionadas para o processo de avaliação, e as instituições aprovadas receberão todo o conteúdo de treinamento da companhia, que engloba mais de 120 opções de cursos, de forma gratuita. “A inicia-

tiva oferece às universidades a oportunidade de treinar professores e estudantes, e proporcionar o contato com as tecnologias e equipamentos indispensáveis para o profissional em formação”, afirma José Luis Sanchez, diretor mundial de Programas Estratégicos para Educação da Sun Microsystems. As instituições interessadas devem acessar o link www.sun.com/productsn-solutions/edu/programs/sai/ e preencher o formulário de inscrição.


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F ranquia

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F ranquia

produtos

Os cursos na origem Ao se destacar nos cursos da área jurídica, o Grupo Prima criou a Editora Premier, o canal corporativo Unyca e toda estrutura de franquias Duas advogadas e professoras começaram a preparar recém-formados em Direito para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) há 14 anos, em São Paulo. O primeiro investimento foi a compra de uma mesa e dez cadeiras, como conta Eduardo Machado, também advogado e marido de uma das professoras, Ângela Machado. A procura pelas aulas começou a crescer, e Ân-

gela, junto com a outra professora, Maria Ângela Copelli, e o marido, resolveram estruturar melhor o negócio, e assim nasceu o Curso Prima. Aos poucos eles contrataram professores e passaram a oferecer cursos preparatórios para concursos públicos, exames profissionais e carreiras variadas. Depois de 12 anos, veio a necessidade de transformar as apostilas

em livros, e então foi aberta a Editora Premier Máxima. Mais tarde, surgiu a possibilidade de transformar o Curso Prima em franquia. No entanto, diz Eduardo Machado, para manter a qualidade de ensino já reconhecida no mercado, era preciso transmitir as aulas via satélite. Isto é, aulas telepresenciais, nas quais os alunos assistem ao professor através de um telão com a possibilidade de interagir nos momentos determinados pelo próprio professor. Assim, surgiram mais duas empresas, a franqueadora Prima e o canal corporativo via satélite Unyca. O Grupo Prima está formado. Janeiro 2007 – Empreendedor – 59


F ranquia Conforto e eficiência A rede de cursos preparatórios via satélite, com aulas telepresenciais, oferece uma franquia que exige dos franqueados um acompanhamento de perto do negócio. O sócio do Grupo Prima avisa que é fundamental o atendimento ao cliente. “Os alunos que procuram este tipo de curso geralmente estão ávidos por resultados, em momentos decisivos da carreira, às vezes estressados. Por isso, a ponte entre a boa aula e este cliente é o franqueado.” O chamado pós-venda é um dos pontos importantes para que a franquia dê resultado, deixando o aluno satisfeito e à vontade para voltar caso esteja se preparando para outro desafio. Para quem quiser abrir uma unidade do Prima, não é preciso experiência na área de educação ou mesmo na área jurídica ou outro ramo dos cursos oferecidos. A parte pedagógica é centralizada pela franqueadora, que prepara os materiais e organiza os cursos de acordo com as demandas em cada região. Ainda há o suporte dado pela franqueadora, como treinamento operacional, manuais, informativos diários, consultoria de campo e de gestão. A estrutura de cada unidade requer salas climatizadas com equipamentos multimídia e confortáveis. “O franqueado precisa ser participativo e estar atento ao que ocorre na sua região de atuação. Não precisa ser experiente, mas vai precisar se acostumar, a partir de então, com editais de concursos, por exemplo”, diz Eduardo Machado.

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O sócio Eduardo Machado afirma que uma empresa foi complementando a outra, e hoje o Curso Prima tem 190 unidades, onde são realizadas aulas que podem estar ocorrendo em um dos três estúdios de São Paulo, ou nos dois do Rio de Janeiro, ou ainda em Curitiba, Brasília e Salvador. “Para dar uma cara nacional ao curso, optamos por buscar os melhores professores nas diversas áreas em que atuamos em todas as regiões e levá-los para alguns destes estúdios. Se temos um excelente professor de Direito Civil no Nordeste, e levamos até Salvador para ministrar o conteúdo.” A rede tem hoje 30 mil alunos e divulga que consegue atingir o maior número de aprovações nos principais exames jurídicos. Mas com a expansão, outros ramos profissionais foram sendo absorvidos. O Grupo Prima possui cursos preparatórios para vestibulares, carreiras fiscais e de Ensino Médio, e, mais recentemente, iniciou a modalidade de curso para os médicos que se preparam para fazer residência médica. “São muitos cursos de Medicina, portanto a busca pelas melhores opções de residências são cada vez mais disputadas”, diz Eduardo. As outras empresas do Grupo não são franqueadas, mas cresceram sozinhas para atender as oportunidades que vão aparecendo. A Editora, que no início lançava livros somente na área jurídica, hoje está publicando livros em diversas áreas e prioriza a constante revisão das obras editadas. O canal Unyca oferece transmissão de treinamentos, eventos e palestras para clientes e colaboradores de todas as regiões do Brasil. O sinal é transmitido pelo satélite Amazonas, estrategicamente posicionado para garantir total cobertura em todo o território na América do Sul, América do Norte, parte da Europa e África, com excelente qualidade de imagem. “O sigilo das informações na transmissão é nosso grande compromisso com

Como participar Investimento inicial: R$ 65 mil Royalties: 50% por aluno Taxa de publicidade: R$ 2,00 por aluno Faturamento médio: R$ 20 mil Prazo de retorno: 24 a 36 meses Prazo de contrato: 60 meses Número de funcionários por unidade: de 5 a 7 (11) 2167-4730 ou www.grupoprima.com.br

franqueados e clientes corporativos”, diz Eduardo. Ele garante que a empresa está em crescente expansão: “Com as sobras de horários na transmissão via satélite, passei a oferecer para alguns clientes e amigos empresários a possibilidade de realizar treinamentos com funcionários em várias filiais, conferências em unidades distantes, e assim a procura foi aumentando. O serviço passou a ser comprado, não dava mais tempo de vendê-lo, por isso estruturamos a Unyca.” Atualmente, um dos serviços oferecidos pelo canal corporativo é a cobertura de feiras, congressos e seminários, com transmissões ao vivo do que ocorre nos auditórios enquanto os participantes estão em outros locais do evento.


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F ranquia

Cordão umbilical franqueado. O investimento total no negócio gira em torno de US$ 600 mil, sendo US$ 120 mil de taxa de franquia e o restante referente à montagem de um laboratório com tecnologia de ponta. O retorno do investimento acontece em até 36 meses. No México, a rede é composta por 20 unidades, com histórico de faturamento médio em torno de US$ 90 mil ao mês. Atualmente, no Brasil existe um único fornecedor desse tipo de serviço, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. No BCU, o custo para armazenamento das células-tronco deverá chegar a R$ 1,5 mil na hora da retirada do cordão umbilical (nascimento do bebê), mais taxa anual de manutenção de R$ 1 mil. (11) 3749-3309 ou www.globalfranchise.net

Peixe no Giraffas

PALAVRA DE CONSULTOR

Novo cardápio da rede de refeições rápidas Giraffas inclui diferentes opções de sobremesas, como o petit gateau, grelhados como o filé de tilápia e lanches a preços especiais, como o sanduíche de picanha. Para o público adepto de refeições light, o filé de tilápia grelhado oferece três opções de acompanhamento. Para atender a garotada, tem batata frita em forma de girafinhas. A rede entra em 2007 com metas atingidas no ano passado, quando completou 25 anos. São 210 pontos-de-venda em dez Estados e no Distrito Federal. (61) 2103-1800

Marketing nas redes O marketing pode ser um aliado poderosíssimo, quando há ruído na relação entre franqueador e franqueado. A consultora do Grupo Cherto, Filomena Garcia, com a experiência de quem atua na área do franchising desde 1990, afirma que atrito é o que não falta no franchising, e nada melhor do que o entendimento promovido por ferramentas adequadas. Pois “muitos franqueadores querem impor suas decisões à rede, também não são raros os franqueados que descobrem que não sabem seguir as regras do negócio, um reclama do outro, e por aí vai”. Para virar o jogo e transformar a convivência em algo harmonioso e bom para todos, ela dá dicas: Por meio de uma comunicação eficiente entre as duas partes vai ficar mais fácil alinhar as expectativas e perceber o quanto um é importante para o outro. O ideal é utilizar intranet, newsletters eletrônicas, mala-direta, e-mails, fóruns virtuais e tudo mais que puder facilitar a comunicação com toda a rede e assim estreitar a relação franqueado-franqueador. Divulgue casos de sucesso de franqueados, reportagens que enalteçam a franquia e outras informações que poderão ajudar o franqueado a valorizar a rede que integra. www.grupocherto.com.br

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Fidelidade A rede de lavanderias 5 à Sec lançou um Programa Fidelidade que inclui um cartão a ser oferecido aos clientes para somar pontos na própria rede e também em estabelecimentos parceiros da campanha. “Esperamos atrair novos clientes para as lojas e também motivar os atuais”, explica a diretora de marketing da empresa, Silvia Amaral. A cada R$ 1 gasto nas lojas, o usuário ganha um ponto. “Ao apresentar o cartão em alguns estabelecimentos credenciados, o cliente vai desfrutar de vantagens”, afirma o presidente da 5 à Sec, Nelcindo Nascimento. Entre os parceiros, estão TAM, Le Postiche, Cinemark, Casa dos Sonhos da Estrela, Editora Abril, Hertz, Hopi Hari e Siciliano. (11) 4197-6400 Fábio Muller, diretor de expansão da rede de ensino de idiomas Skill Qual o perfil de um bom franqueado? “O franqueado ideal é aquele que tem perfil empreendedor, comportamento pró-ativo, e boa capacidade de comunicação e de motivação de equipes. Para estar à frente de uma unidade Skill, é preciso ter nível superior, mas não necessariamente dominar um segundo idioma. O fundamental é ter tempo para se dedicar ao negócio por ser uma prestação de serviço, no qual o franqueado precisa estar atento à parte operacional e à parte pedagógica.” www.skill.com.br

PALAVRA DE FRANQUEADOR

Chegou ao Brasil o Banco de Cordão Umbilical (BCU), franqueadora mexicana pioneira no mercado mundial de coleta e armazenamento do sangue presente no cordão umbilical de recém-nascidos. A biotecnologia utilizada pela empresa consiste na extração de células-tronco do sangue do bebê, que podem ser aproveitadas mais tarde para a criação dos principais componentes sangüíneos e do sistema imunológico desta criança. A partir dessas células, é possível salvar a vida do próprio doador, ainda na fase infantil ou já adulto, por meio da geração de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos (que combatem casos graves de infecções) e plaquetas (responsáveis pela coagulação). A operação no país está a cargo da Global Franchise, que busca um master


Evolução Os 86 anos de história da Fotóptica não a deixaram parada no tempo, ao contrário. Ao acompanhar a evolução das tecnologias, a rede mantém o desafio de aliar a tradição com equipamentos de última geração, produtos exclusivos e serviços com consultoria personalizada, tanto na área fotográfica quanto na venda de óculos e lentes. A Fotóptica propicia um investimento inicial flexível, variando entre R$ 150 mil a R$ 500 mil, dependendo do perfil do negócio. A gerente de área da empresa, Patrícia Alvim, diz que “é possível montar uma franquia Fotóptica, de até 70 metros quadrados, com serviços de revelação digital e convencional em uma hora, com R$ 270 mil.” A rede conta com 75 pontosde-venda, entre lojas próprias e franquias, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. Desde 1997, a Fotóptica faz parte do fundo Patrimônio Brazil Private Equity Fund I, administrado pelo Pátria – Banco de Negócios, empresa brasileira especializada em gestão de investimentos diferenciados e em assessoria corporativa. (11) 31751400 ou www.fotoptica.com.br.

Locação pelo mundo A Europcar, empresa mundial de locação de veículos, reformulou sua operação brasileira e assim espera crescimento significativo no faturamento até o final de 2007. Os investimentos levam em conta a expansão das franquias, aproveitando regiões ainda pouco exploradas, como cidades de até 500 mil habitantes. Hoje, a empresa possui 18 lojas em 13 Estados brasileiros. “Capitais como Salvador ainda apresentam um enorme potencial de crescimento, por isso, estamos fazendo investimentos fortes para novas unidades e para fortalecer as já existentes”, diz Marcelo Bastos, diretor Comercial da Europcar no Brasil. A empresa fez uma parceria com

a Caixa Econômica Federal para garantir benefícios no financiamento de taxas de franquia e aquisição de frotas, além dos demais investimentos necessários. O diretor diz que a Europcar participará das negociações com montadoras, para garantir descontos em novas aquisições de veículos. A operação brasileira da Europcar foi adquirida pelo The Colleman Group, grupo nacional com atuação no exterior e especializado em fusões e aquisições, que tem em sua holding empresas dos mais diversos segmentos – alimentos, tecnologia, marketing esportivo, fertilizantes, entre outros. 0800-7033876 ou www.europcarbrasil.com.br

Matemática sem traumas Uma nova franquia na área educacional foi lançada no Brasil e envolve os Centros de Aprendizagem A+ , de Matemática, criados há quatro anos nos Estados Unidos para auxiliar alunos com dificuldades na disciplina ou mesmo aperfeiçoar o aprendizado para quem gosta de cálculos e números. Os responsáveis pela rede no país dizem que há grandes diferenças em relação ao já conhecido método Kumon. Nos Estados Unidos, a franquia chama-se Mathnasium, e aqui

ela chega pelas mãos de Luís Antônio Namura Poblacion, presidente da Futurekids, e com nome de A+. As metas de crescimento da franquia no Brasil são ambiciosas. De acordo com Roberta Bento, coordenadora de expan-

são e negócios, a expectativa é contar com 30 franqueados em um mês e terminar 2007 com 100 franquias. Os Centros de Aprendizagem A+ são direcionados a alunos a partir da 2ª série do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio. A metodologia já está presente em Portugal, Taiwan, Guatemala e Japão. O futuro franqueado terá à disposição uma equipe especializada que o auxiliará na montagem dos Centros de Aprendizagem, além de treinamentos administrativo e pedagógico permanentes, oferecidos pelo franqueador. www.amaiss.com.br Janeiro 2007 – Empreendedor – 63



FRANQUIAS EM EXPANSÃO Worktek

Negócio: Educação & Treinamento Telefone: (19) 3743-2000 franchising@worktek.com.br www.worktek.com.br

Conquiste sua independência financeira! A Worktek Formação Profissional faz parte do ProAcademix, maior grupo educacional do Brasil detentor das marcas Wizard, Alps e Proativo. Tratase de uma nova modalidade de franquias com o objetivo de preparar o jovem para o primeiro emprego ou adultos que buscam uma recolocação no mercado de trabalho. São mais de 30 cursos, entre eles, Office XP, Web Designer, Digitação, Curso Técnico Administrativo (C.T.A.), Montagem e Manutenção de Computadores, Secretariado, Operador de Telemarketing, Turismo e Hotelaria, Recepcionista e Telefonista, Marketing e Atendimento ao Nº de unidades próprias e franqueadas: Cliente. 70 Entre os diferenciais da Áreas de interesse:: Brasil Apoio: PA, PM, MP, PP, PO, OM, TR, PF, Worktek está a qualidade do material e do método de enFI, EI, PN, AJ, FB, FL, CP, FM sino, além do comprometiTaxas de Franquia: entre R$10 mil e R$ 25 mil mento com a recolocação que Instalação da empresa: a partir de vai além das salas de aula atraR$ 30 mil vés do POP, Programa de Capital de giro: R$ 15 mil Orientação Profissional. Prazo de retorno: 36 meses

PA- Projeto Arquitetônico, PM- Projeto Mercadológico, MP- Material Promocional, PP- Propaganda e Publicidade, PO- Projeto de Operação, OM- Orientação sobre Métodos de Trabalho, TR- Treinamento, PF- Projeto Financeiro, FI- Financiamento, EI- Escolha de Equipamentos e Instalações, PN- Projeto Organizacional da Nova Unidade, SP- Solução de Ponto


FRANQUIAS EM EXPANSÃO Alps Negócio: Educação & Treinamento Telefone: (19) 3743-2000 franchising@alpschool.com.br www.alpschool.com.br

Oportunidade de sucesso Rede em ampla expansão Lançada em maio de 2001, a Alps faz parte do grupo ProAcademix, também detentor das marcas Wizard e Worktek. Atualmente, ela é a rede de franquias de idiomas que mais cresce no Brasil, com 101 unidades espalhadas por todo o país. O sistema Alps de ensino conta com metodologia desenvolvida nos Estados Unidos que utiliza avançadas técnicas de neurolingüística, em que o aluno é estimulado a desenvolver as quatro habilidades fundamentais para se comunicar na língua inglesa: conversação, compreensão auditiva, leitura e escrita. Assim, o aprendizado é feito de forma natural, rápida e permanente. A Alps conta com know-how administrativo e comercial, através de um sisteNº de unidades próp. e franq.: 101 ma exclusivo de enÁreas de interesse: América Latina, Estados sino, e dá assessoria Unidos, Japão, Europa na seleção do ponto Apoio: PA, PP, PO, OM, TR, FI, PN comercial, na adequaTaxas: R$ 10 mil (franquia) e R$ 12,00 por kit (publicidade) ção do imóvel e na Instalação da empresa: R$ 20 mil a R$ 40 mil implantação e operaCapital de giro: R$ 5 mil ção da escola. Prazo de retorno: 12 a 18 meses Contato: Ivan Cardoso

PA- Projeto Arquitetônico, PM- Projeto Mercadológico, MP- Material Promocional, PP- Propaganda e Publicidade, PO- Projeto de Operação, OM- Orientação sobre Métodos de Trabalho, TR- Treinamento, PF- Projeto Financeiro, FI- Financiamento, EI- Escolha de Equipamentos e Instalações, PN- Projeto Organizacional da Nova Unidade, SP- Solução de Ponto


Wizard

Negócio: Educação & Treinamento Telefone: (19) 3743-2098 franchising@wizard.com.br www.wizard.com.br

Sucesso educacional e empresarial A Wizard Idiomas é a maior rede de franquias no segmento de ensino de idiomas* do país. Atualmente, são 1.221 unidades no Brasil e no exterior que geram mais de 15 mil empregos e atendem cerca de meio milhão de alunos por ano. A Wizard dispõe de moderno currículo, material altamente didático com proposta pedagógica para atender alunos da educação infantil, ensino fundamental, médio, superior e terceira idade. Além de inglês, ensina espanhol, italiano, alemão, francês e português para estrangeiros. A Wizard é Nº de unidades: 1.221 franqueadas também pioneira no Áreas de interesse: América Latina, EUA e ensino de inglês em Europa Apoio: PA, PM, MP, PP, PO, OM, TR, PF, FI, EI, Braille. PN, AJ, FB, FL, CP, FM Taxas de Franquia: entre R$10 mil e R$ 32 mil Instalação da empresa: a partir de R$ 50 mil Capital de giro: R$ 15 mil Prazo de retorno: 24 a 36 meses

* Fonte: Associação Brasileira de Franchising e Instituto Franchising.

Zets Negócio: telefonia celular e aparelhos eletrônicos Tel: (011) 3871-8550/Fax: (011) 3871-8556 franquia@zets.com.br www.zets.com.br

Tenha uma loja em sua mão A Ezconet S.A. detentora da marca Zets é uma empresa de tecnologia e distribuição de telefonia celular e aparelhos eletrônicos que, através de um sistema revolucionário denominado “BBC” (business to business to consummer) agrega novos serviços e valores a cadeia de distribuição. Realiza a integração entre o comércio tradicional e o comércio virtual, fornecendo soluções completas de e-commerce e logística para seus parceiros. Franquia Zets: Foi criada com a finalidade de disponibilizar para pessoas empreendedoras a oportunidade de ter um negócio próprio com pequeno investimento, sem custos de estoque, sem riscos de crédito, sem custos e preocupação com logística. Como Funciona: O Franqueado tem a sua disposição uma loja virtual Zets/Seu Nome, para divulgação na internet, vendas direta, catalogo, montar uma equipe de vendas, eventos, grêmio. Quais Produtos são comercializados: Celulares e acessórios para celulares, calculadoras, telefoNº de unidades próp. e franq.: 20 nes fixos, centrais telefônicas, Áreas de interesse: Brasil acessórios para informática, baApoio: PP, TR, OM, FI, MP terias para filmadoras, baterias Taxa de Franquia: R$ 5 mil para note-book e câmeras digiInstalação da empresa: R$ tais, pilhas, lanternas, filmes 1.500,00 para maquina fotográfica, cartuchos para impressoras, etc. Capital de giro: R$ 5 mil A franquia estuda a inclusão de Prazo de retorno: 6 a 12 meses novos produtos. Contato: Shlomo Revi PA- Projeto Arquitetônico, PM- Projeto Mercadológico, MP- Material Promocional, PP- Propaganda e Publicidade, PO- Projeto de Operação, OM- Orientação sobre Métodos de Trabalho, TR- Treinamento, PF- Projeto Financeiro, FI- Financiamento, EI- Escolha de Equipamentos e Instalações, PN- Projeto Organizacional da Nova Unidade, SP- Solução de Ponto


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Guia do Empreendedor Líderes dentro de casa Funcionários formados para cargos de liderança evitam custos com recrutamento e agilizam processos internos Durante muito tempo, o recrutamento de líderes acontecia fora dos limites da empresa. Mas as organizações começam a seguir a tendência inversa e passam a investir nas “pratas da casa” como solução para reduzir o tempo e eliminar as dificuldades na busca. O desafio atual, segundo a diretora de marketing da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS), Luciane Beretta, é realizar as ações e os investimentos necessários para a identificação e o desenvolvimento desses líderes, pois o tal “espírito de liderança” não surge de uma hora para outra. “O primeiro passo é a identificação dos talentos que têm potencial para assumir uma posição de liderança, e esta des-

Luciane Beretta: identificar os talentos com potencial

coberta deve ter o máximo possível de exatidão, pois, caso contrário, pode criar uma expectativa de promoções irreal dentro da empresa. Uma solução para identificar os candidatos a líderes são as ferramentas de acompanhamento e análise, ou então uma pesquisa para conhecer a fundo cada um dos colaboradores. Após esta etapa, a empresa deve proporcionar um plano de desenvolvimento individual, que pode envolver cursos técnicos, comportamentais e trabalhos em equipes multidisciplinares. “Tudo depende das competências que o profissional precisa aperfeiçoar para se tornar um bom líder; geralmente, as empresas valorizam o líder que sabe conduzir sua equipe por meio de transmissão de conhecimento, apoio e feedbacks que favorecem o crescimento do time”, diz Luciane. Este investimento na formação de líderes ocorre principalmente em empresas de grande porte e multinacionais, porém já se percebe um esforço nas companhias menores ou familiares. Um exemplo é a Transportadora Plimor, que decidiu formatar, em 2003, o Projeto Crescer, programa específico para a capacitação e formação de líderes. Com duração de quatro anos e meio dividido em seis módulos (comportamental, comunicação, mercadológico, financeiro, planejamento (pessoal e profissional) e liderança), o Projeto Crescer conta atualmente com 80 participantes – destes, 90% já ocupam um cargo de liderança. “O objetivo do projeto é a qualificação dos colaboradores com funções de liderança, pois percebemos que estas pessoas podem render muito mais se adotarem um comportamento pró-ativo, desejoso por conhecimento, por trocas de experiência, com motivação e dinamismo”, diz Rozimari Spinelli, gerente de Recursos Humanos da Plimor. São oito horas

Raio X É receptivo a mudanças Confia na sua equipe e passa esta confiança Tem “jogo de cintura” É autocrítico Acompanha o trabalho da equipe e passa feedback Faz da sua postura um exemplo Decide pelo bem de todo o grupo Estimula a equipe a expressar argumentos e opiniões Conduz o time sem autoritarismo e imposições Sempre busca atualização profissional www.plimor.com.br

mensais, e as aulas são ministradas por professores da Universidade Cooperativa do Varejo (Univarejo). Segundo Rozimari Spinelli, a empresa registra ótimo aproveitamento do programa, que já está em sua quinta etapa. “Os participantes percebem o crescimento profissional e a melhoria do trabalho no dia-a-dia, e já promovemos algumas pessoas de cargo.” Após o término do primeiro ciclo, previsto para outubro de 2007, a Plimor pretende preparar outros funcionários, que vão compartilhar dos conhecimentos da primeira turma de líderes. “Os colaboradores que participam atualmente do programa se tornaram multiplicadores de conhecimento, beneficiando também os colegas e ajudando a fortalecer o espírito de equipe.” Janeiro 2007 – Empreendedor – 69


Guia do Empreendedor Certificados digitais sil, como o e-CPF e o e-CNPJ, cobrados pela Receita Federal para a declaração on-line do Imposto de Renda. A BRy é a primeira empresa catarinense a ter uma parceria desse tipo com a Certisign, pioneira e líder no mercado de certificação digital brasileiro e responsável por mais de 90% dos certificados emitidos no país. A expectativa da BRy Tecnologia é ampliar a comercialização a partir deste mês, por causa da proximidade da entrega da declaração de rendimentos. www.bry.com.br

Descarte com segurança A Elgin ampliou sua linha de fragmentadoras de papel, ideais para destruir papéis com sigilo e segurança em casa ou no escritório, e lançou o modelo FR-9803. Com funcionamento automático pelo contato das folhas e chave seletora de três posições, o novo produto da Elgin vem com fenda de 22 cm, capacidade de fragmentação de 8 folhas por vez em tiras de 6 mm e cesto de papel de 17 litros para o descarte. O produto conta com seis meses de garantia contra defeitos de fabricação (peças) e três meses para itens consumíveis (faca de corte). www.elgin.com.br

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A Denver Impermeabilizantes disponibiliza no mercado o Denvergrout, um graute de alta performance, à base de cimento, agregados selecionados e aditivos, para grauteamentos e execução de reparos em concreto. O graute é miniconcreto formulado para preencher pequenos espaços entre os blocos de fundações e a base dos equipamentos, e pode ser usado como material de enchimento em reforços estruturais em zonas de concentrações de tensões e quando se necessita armar as estruturas. Indicado para fixação de trilhos e bases de equipamentos, chumbamentos e reparos semiprofundos em estruturas de concreto, o Denvergrout permite ajuste de consistência na própria obra, adequandose às condições de aplicação. Por se tratar de um material pré-dosado em sacos de 25 kg, o produto evita os riscos da dosagem em obra, e seu preparo é feito à base de água, de acordo com a dosagem recomendada na embalagem. www.denverimper.com.br

Procura-se A PTC, líder no segmento de softwares 3D para desenvolvimento de produtos, procura canais de distribuição no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Com investimentos de 1,5 milhão de dólares na operação brasileira, a companhia já tem 11 revendas no país e pretende encontrar mais seis nos Estados da Região Sul. Com dez anos no Brasil, a empresa conta com 550 clientes e pretende ampliar a cobertura geográfica para vender sua solução para indústrias nacionais de porte médio que, hoje, utilizam software 2D para projetar. www.ptc.com

INDEX OPEN

Declarar o Imposto de Renda com certificado digital, segundo a Receita Federal, proporciona algumas vantagens, como acesso a informações sobre o trâmite da declaração e resgate antecipado da restituição. De olho nos contribuintes que, literalmente, preferem a grande rede para lidar com o leão, a BRy Tecnologia fechou uma parceria com a Certisign para a comercialização dos certificados digitais ICP-Bra-

Reforço na estrutura


Produtos & Serviços Mapeando o RH De olho na otimização de sua área de recursos humanos, a Embaré adquiriu a solução BI Pro AD, desenvolvida pela Pro IT (empresa integradora de soluções em tecnologia de informação). Com a ferramenta, os gestores do RH poderão criar questionários de avaliação de desempenho de forma flexível e analisar as informações obtidas a partir de um módulo de Business Intelligence incorporado ao produto. A solução é utilizada através de uma ferramenta 100% web, e os colaboradores são informados, via e-mail, que devem preencher a avaliação. Este procedimen-

to, segundo a Pro IT, faz com que o processo seja mais bem controlado, dentro do período estabelecido. As respostas ficam armazenadas e à disposição dos gestores, permitindo o desenvolvimento das pesquisas sem o envolvimento da área de informática, construção de gráficos e formatação de apresentações sobre os resultados obtidos. A idéia da Embaré é facilitar os processos internos de comunicação, lidar com os funcionários de forma personalizada e facilitar o crescimento profissional de seus colaboradores. www.proit.com.br

Seguro para bares e restaurantes A partir de uma pesquisa realizada com empresários do segmento alimentício, a Porto Seguro mapeou as principais necessidades de cobertura patrimonial e lançou um seguro específico para o setor. Direcionado aos empreendedores que atuam em bares, restaurantes, padarias, pizzarias, choperias e salões de buffet, o Porto Seguro Bares e Restaurantes oferece coberturas que prevêem indenização

em caso de contaminação ou deterioração de mercadorias em ambientes frigorificados, responsabilidade civil no fornecimento de alimentos e bebidas, reembolso de despesas para eventuais acidentes sofridos por funcionários, assistência especial para problemas cotidianos como quebra de louças e cobertura para ocorrências nas áreas externas ao estabelecimento. www.portoseguro.com.br

Estacionamento (quase) grátis A Airis, uma das maiores marcas de bens de consumo eletrônico da Europa, fechou parceria com a empresa Via Fácil para oferecer o Sem Parar/Via Fácil para clientes Airis. Na compra de

um navegador T920, o consumidor ganha a taxa de adesão, a instalação do dispositivo eletrônico (TAG) e seis mensalidades do Sem Parar, para poder rodar as estradas e as cidades sem perder tempo com pedágios e estacionamento de shoppings. Os usuários do Sem Parar/Via Fácil também terão desconto de R$ 200,00 na compra do GPS. Por seis meses, o cliente pagará apenas pelo custo de pedágios e estacionamentos, que é cobrado uma única vez ao mês pela Via Fácil, ficando isento da taxa de instalação e de manutenção mensal durante este período. A promoção é válida até o dia 30/7/2007. www.airis.com.br/ www.semparar.com.br

À prova d’água A DartBag aperfeiçoou sua linha de bolsas plásticas, que funcionam como embalagens estanques e que permitem carregar equipamentos eletrônicos de pequeno porte em ambientes como rios, praias e lagos, e fotografar a profundidades de até 5 metros. A novidade é o afastador de lente, que facilita o deslocamento do dispositivo do “zoom” da máquina digital e as bolsas para rádios nos modelos HT e Talkabout, desenvolvidas para as mais adversas situações, desde a prática de esportes como rafting e rapel até para profissionais que necessitam de comunicação, como salva-vidas e bombeiros. Além de possibilitar acesso fácil aos controles do equipamento, a bolsa é flutuante, possui um lacre que impede a entrada de água e uma lente que não interfere na qualidade da imagem. www.dartbag.com.br Janeiro 2007 – Empreendedor – 71


Guia do Empreendedor

O hábito de empreender Incorporar a mudança nas rotinas é uma aparente contradição, com soluções bem menos complicadas do que parece. Qual o segredo? Persistência é a palavra-chave. É diferente da teimosia, como alertam o engenheiro e administrador de empresas Jorge Duro e o consultor de marketing e comunicação J. R. Bonavita no livro Desperte o empreendedor em você. Insistir num esquema vocacionado para o fracasso não significa persistir, e sim errar com convicção. É preciso dar o passo certo em direção ao objetivo principal, passando por metas predeterminadas. Leva tempo, dirá o desistente. Pode até levar, mas o tempo não é importante, o que vale é o valor agregado ao tempo disponível. O que atrapalha o livro é o excesso de obviedades e um tom de auto-ajuda já excessivamente explorado. Há um

cruzamento desnecessário entre boas dicas e aquele vício de marketing de achar que todo consumidor está na primeira infância mental. Isso cria um paradoxo que em algumas partes deixa o livro fazendo água, mas a persistência dos autores em dar um recado útil acaba se impondo em todo o trabalho. É uma pena que boas idéias tenham que vir acompanhadas sempre desse primarismo da abordagem, como se a sobriedade fosse algum pecado mortal. Os autores desse ramo precisam seguir os próprios conselhos e inovar de verdade, procurando novos caminhos para despertar no leitor a vontade de realmente partir para um novo tipo de vida. Do jeito que está, em que existem

muitos exemplos redundantes e conclusões superficiais, os livros ficam muito parecidos. Fica difícil selecionar a originalidade de cada lançamento, já que o público confia na credibilidade dos conteúdos e acaba tendo que navegar em parágrafos inteiros que são pura perda de tempo. Nada se faz, ou se deveria fazer, apenas para vender livros, e sim para ajudar de verdade quem precisa se soltar das amarras e conseguir criar novas soluções de vida. Mas o “faça você mesmo” dos aconselhamentos enche de dúvidas qualquer leitor. A qualidade deste livro não é, como os autores devem pensar, a apresentação didática dos passos que devem ser seguidos até se alcançar o objetivo proposto. Mas a aposta que eles fazem na diferenciação das decisões, na postura que o empreendedor em potencial deve ter para sair do lugar-comum sem cair na aventura. O bom senso ao lado de uma estimulante seqüência de cases formam um conjunto de lições fáceis de assimilar, mas não tão fáceis de colocar em prática.

A vez da infra-estrutura Contratos EPC Turnkey Luis Alberto Gómez, Christiane C. S. Reinisch Coelho, Elo Ortiz Duclós Filho, Sayonara Mariluza Tapparo Xavier Visual Books, 112 páginas Grandes projetos de engenharia para obras de infra-estrutura são sempre necessários em qualquer época. Como, nesse aspecto, o Brasil ficou defasado, pois atualmente, segundo especialistas, não pode crescer 5% ao ano com a atual infra-estrutura, o assunto ganha impulso e oportunidade. Este livro se destina a engenheiros e administradores, e trata-se de um roteiro de se viabilizar contratos-padrão, gerências de riscos, pro-

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jet finance e de processos EPC. Para quem, por curiosidade e/ou necessidade, está iniciando seu trabalho na área, o estudo apresenta as diferentes facetas do processo, tanto do ponto de vista da proprietária quanto das empresas contratadas, abordando aspectos que vão desde a forma do contrato, mecanismos de pagamento, sistemas de financiamento até a finalização e entrega do empreendimento. Luis Alberto Gómez é técnico mecânico eletricista pelo Conet, engenheiro eletrônico pela UNR, mestre em Enge-

nharia Eletrônica pelo Nuffic (Holanda) e doutor em Engenharia pela UFSC. Atualmente, é professor da UFSC, onde leciona disciplinas de CAD, Tecnologia da Informação e Instrumentação. Christiane C. S. Reinisch Coelho é engenheira química e doutora em Engenharia de Produção pela UFSC (2001). Elo Ortiz Duclós é engenheiro eletricista pela UFRGS e atua como gerente de contratos em diversos empreendimentos do Setor Elétrico. Sayonara Mariluza Tapparo Xavier é administradora de empresas pela ESAG, filósofa e mestre em Engenharia de Produção pela UFSC.


Leitura DESPERTE O EMPREENDEDOR EM VOCÊ Jorge Duro e J. R. Bonavita Senac Rio Editora Empreendedor 112 páginas R$ 25,00 DESTAQUES “Depois de tomada a decisão de seguir seu sonho, é preciso disciplina para planejar suas ações e executálas.” – Pg. 30 “A maior parte dos entraves de decisões se dá por conflitos de valores e percepções distorcidas.” – Pg. 51 “Treinar para estar sempre atento ao que estamos fazendo, principalmente no trabalho, é a melhor maneira de estar preparado para as oportunidades.” – Pg. 93

Revelações na escrita Grafologia expressiva Paulo Sergio de Camargo Ágora – 280 pgs. – R$ 49,90 A crescente utilização da grafologia por profissionais de diversas áreas, como Recursos Humanos e Psicologia, tornou necessária a atualização da técnica. Paulo Sergio de Camargo, um dos mais conceituados grafólogos brasileiros, reuniu informações para fazer deste livro referência na compreensão da personalidade por meio da escrita. O autor indica os caminhos para explorar a grafologia como ciência que ajuda a mostrar características pessoais pela maneira de escrever. A obra oferece instrumentos para interpretar essa forma de expressão. Aos conceitos já estabelecidos pelas escolas alemã, suíça e francesa, o autor soma a influência italiana e apresenta seus estudos sobre o Brasil e a América Latina. O livro classifica tipos de observação, estudos dos gêneros, divisão por

espécies, sinais nas assinaturas, perfil psicológico e uma revisão, passos que organizam as análises grafológicas. Os capítulos tratam de temas como ambiente gráfico, ordem, dimensão, pressão, forma e velocidade. No capítulo intitulado “Síndrome”, o autor considera fatores como inibição, expansão ou impulsividade como traços de caráter representados na escrita. No capítulo “Assinaturas”, Camargo usa os chamados cartões de visitas grafológicos para explicar essa marca individual de identificação. “Presente em diversos atos cotidianos e documentos, tais como certidões, contratos, cheques, registros e cartas, a assinatura será sempre verdade, mesmo que o que esteja no conteúdo do texto seja mentira”, afirma.

Mudança bem amarrada Gestão da inovação tecnológica Coleção Debates em Administração Tales Andreassi 88 págs. – R$ 25,00 O livro fornece informação sucinta a respeito dos assuntos mais atuais e relevantes da área de Administração. É recomendado para estudantes de Administração, docentes, pesquisadores e pessoas que trabalham com inovação tecnológica no âmbito organizacional. Aborda a evolução do conceito de inovação tecnológica, sua impor-

tância como fator propulsor do crescimento e ações voltadas ao fomento da inovação, além da relação universidadeempresa. Tales Andreassi é professor da Eaesp/ FGV. A coleção Debates em Administração, recém-lançada pela Thomson e dirigida para estudantes e docentes da área, quer introduzir o leitor em temas específicos da área de Ad-

ministração. Fornece desde as primeiras indicações para a compreensão do assunto até as fontes de pesquisa para aprofundamento. Esse conceito atende a uma necessidade manifestada por acadêmicos e profissionais, que sentem dificuldade em mapear as principais correntes de pensamento, especialmente quando precisam elaborar trabalhos de conclusão de curso. Janeiro 2007 – Empreendedor – 73


INFORMAÇÃO E SEGURANÇA

Do leão para as “ferinhas” Guia Serasa ensina a fazer doações a projetos sociais e deduzi-las do IR

P

ara estimular doações a projetos sociais com dedução no Imposto de Renda, a Serasa lançou o Guia

Serasa de orientação ao cidadão – Saiba como fazer doações para projetos sociais, distribuído gratuitamente no Serviço Serasa Gratuito de Orien-

Conheça os colaboradores do Guia Eduardo Pannunzio Advogado, coordenador do Programa Marco Legal do Terceiro Setor e Políticas Públicas do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas. Mestre (LL.M.) em Direito Internacional dos Direitos Humanos pela Universidade de Essex (Reino Unido), foi gerente do Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas do Ministério da Justiça entre os anos 2000 e 2001.

Eduardo Szazi Advogado e professor de Direito do Terceiro Setor da FGV e FIA/ USP. Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, especialista

74 – Empreendedor – Janeiro 2007

em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, doutorando em Direito Internacional pela Leiden University (Holanda). Consultor jurídico e sócio emérito do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

Luiz Freire); e em 2003/2004 (quando foi vice-presidente) e 2005/2006, representando a Abong (Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais). Desde 2005, é presidente do Conanda.

José Fernando da Silva

Marlova Jovchelovitch Noleto

Licenciando em História pela Unicap (Universidade Católica de Pernambuco). Tem artigos publicados sobre Infância, Adolescência, Violência e Direitos Humanos; integra a coordenação colegiada do Centro de Cultura Luiz Freire (Olinda – PE); conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) nas gestões 1999/2000 e 2001/2002, representando o CCLF (Centro de Cultura

Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estudou nos EUA como bolsista das Fundações Kellogs e Eisenhower, e na Suécia, observando o Estado de bem-estar social. Atualmente, é coordenadora da Área Programática da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil. Tem vários livros publicados nas áreas de Serviço Social,


tação ao Cidadão, em todo o país. Criou também o serviço Canal Aberto dentro do Espaço do Terceiro Setor, um canal virtual criado pela Serasa e pela organização Filantropia.org, de Stephen Kanitz, para dar mais visibilidade às organizações nãogovernamentais e oferecer informações tanto para apoiar decisões de investidores sociais quanto para incentivar a transparência nesse setor. O Guia, elaborado a partir de entrevistas com profissionais de reconhecida competência, numa linguagem bastante didática, revela que há um meio praticamente ignorado no país de financiar iniciativas sociais voltadas para a criança e o adolescente. Os contribuintes, sejam eles pessoas físicas, sejam jurídicas, podem, com fundamento na lei, fazer doações a projetos sociais voltados à infância e à juventude e deduzi-las do Impos-

to de Renda a pagar. No entanto, segundo estimativas da Receita Federal, apenas 0,09% do que hoje é deduzido nas declarações tem esse destino. A intenção do Guia é, justamente, orientar o contribuinte e mostrar como fazer para destinar parte de seu Imposto de Renda a projetos voltados para esse público. “É um manual da boa vontade aliada à racionalidade financeira. O governo permite isenções fiscais para as doações, e é importante conhecê-las, pois esta é uma forma de ampliar os recursos destinados aos nossos semelhantes mais carentes, principalmente a criança e o adolescente. A relação é muito simples: mais doações significam menos imposto a pagar e, portanto, mais pessoas beneficiadas. É fazer o bem aproveitando seus direitos, muitas vezes desconhecidos”, afirma Elcio Anibal de Lucca, presidente da Serasa. A publicação está

O esforço da Serasa se soma a trabalhos desenvolvidos por organizações como Fundação Abrinq, Unafisco, Gife, Instituto Telemig Celular e Conanda, entre outros, engajados em campanhas para aumentar as doações.

disponível na internet e pode ser acessada no endereço eletrônico www.serasa.com.br/guiadoacoes. O lançamento da publicação contou com a presença de Marcos Fuchs, conselheiro da ANDI (Agência Nacional dos Direitos da Criança), que falou sobre a elaboração de projetos sociais. Cerca de 100 gestores das ONGs, líderes e voluntários do Processo Serasa Social também participaram do lançamento, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e informações sobre a atuação voluntária e a gestão do Terceiro Setor, agregar conhecimento, desenvolver ferramentas e planejar ações futuras, incentivando o debate entre voluntários e gestores de ONGs parceiras. O Guia Serasa de orientação ao cidadão – Saiba como fazer doações para projetos sociais é o décimo segundo título da Série Serasa Cidadania, que tem o objetivo de investir em publicações que contribuam para melhorar a vida dos brasileiros, alavancar o espírito de cidadania e civismo, e construir um país melhor.

municipalização, Terceiro Setor (parcerias e alianças estratégicas) e direitos humanos, além de vários artigos em revistas especializadas.

Sandra Amaral de Oliveira Faria Superintendente executiva da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Graduada em Administração Pública e pós-graduada em Administração Geral e Relações Industriais pela FGV – Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Assessorou a presidência da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Foi diretora executiva da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Fundap), onde atuou por mais de dez anos nas áreas de ensino, consultoria e pesquisa. Janeiro 2007 – Empreendedor – 75


Guia do Empreendedor

Efeitos práticos do otimismo O novo ano cria expectativas numa economia gerenciada pelo governo que, apesar das denúncias, ganhou mais um voto de confiança As pessoas vivem, em grande parte, por expectativas quanto ao que vai acontecer no futuro. Se acham que os próximos meses vão ser de fartura, costumam gastar por antecipação, se acham que vai faltar na mesa, procuram economizar hoje. Podemos dizer que esse é um comportamentopadrão, senão de todos, mas da maioria das pessoas. A economia no Brasil nas últimas décadas viveu momentos bastante distintos, dos quais podemos destacar o Plano Cruzado; o Plano Collor (que deu um calote na poupança da população); o Plano Real; e a mudança radical no câmbio em janeiro de 1999, quando passamos a ter um sistema de câmbio livre ao invés do sistema de bandas cambiais. Em todos esses momentos, podemos considerar que houve uma mudança forte nas expectativas da população. A idéia de que se podia “congelar” os preços acabou mexendo com os ânimos do povo na década de 1980. Muita gente passou a fiscalizar os preços, como se as forças de mercado pudessem ser vencidas pela vontade da população. Ficou claro, meses depois, que isso não era possível. No início dos anos 90, a “saudosa” ministra Zélia acabou decretando o confisco da poupança dos brasileiros, no que foi chamado de Plano Collor. Nesse momento, as expectativas passaram a ser sombrias, já que o povo havia ficado sem os seus recursos poupados

76 – Empreendedor – Janeiro 2007

a duras penas. Podemos dizer que foi um período de depressão forçada. Quando veio o governo do ex-presidente Itamar Franco, e dentro de um cenário de inflação ainda sem controle, surgiu o Plano Real com o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Tivemos aí uma melhora gradativa e positiva das expectativas da população, tendo como âncora a estabilidade real da moeda. O sistema de bandas cambiais, implantado no Plano Real, mostrou ao longo do tempo não ser o mais indicado, visto que trouxe uma valorização além do normal para a nossa moeda, analisando-se aquele momento da economia brasileira. Tínhamos aí uma taxa de juros também elevada, e como o câmbio era quase fixo e o dinheiro externo podia entrar livremente, houve um grande fluxo de dinheiro especulativo que tinha como objetivo o lucro fácil e quase garantido. Os dólares entravam e saíam do país praticamente pela mesma taxa de câmbio, mas com os juros bastante elevados a permanência no Brasil era muito interessante. Foi dessa maneira, basicamente, que tivemos uma elevação rápida das reservas cambiais, que chegaram a aproximadamente US$ 72 bilhões antes de a engrenagem entrar em colapso em janeiro de 1999. Com a mudança abrupta no câmbio e a disparada do preço do dólar, as expectativas da população foram novamente alteradas, e para pior.

É difícil afirmar se todos os governos que passaram, se os ministros e seus planos econômicos se preocuparam efetivamente com os reflexos de suas medidas junto às expectativas da população, mas é fato que um maior ou menor otimismo tem efeitos práticos na economia. Em todos os momentos econômicos citados anteriormente, a mudança nas expectativas se fez sentir no dia-a-dia. Chegamos agora ao início de 2007, que coincide com o início de mais quatro anos de governo Lula. Ele foi reeleito, se sente agora prestigiado pelo povo, apesar dos escândalos do seu governo. Experiência adquirida versus compromissos assumidos... O país deu um novo voto de confiança, e parece mesmo querer acreditar que pode haver uma melhora da atual situação. O crescimento econômico é ainda tímido para as nossas necessidades, mas como ponto positivo, e para melhorar a cena, temos uma expectativa otimista da maioria da população. Esse é o nosso principal sustentáculo. Esperamos que o próprio governo não provoque uma deterioração desse quadro por vias tenebrosas, como no caso de novos escândalos e de atitudes pouco representativas da ética e da moral.

Roberto Meurer Consultor da Leme Investimentos e professor do Departamento de Economia da UFSC


Análise Econômica Carteira teórica Ibovespa NOME AÇÃO

TIPO AÇÃO

Acesita PN ALL América Latina UNT N2 Ambev PN Aracruz PNB Arcelor BR ON Bco Itaú Hold Finan PN Bradesco PN Bradespar PN Brasil T Par ON Brasil T Par PN Brasil Telecom PN Brasil ON Braskem PNA CCR Rodovias ON Celesc PNB Cemig ON Cemig PN Cesp PNB Comgas PNA Copel PNB Eletrobras ON Eletrobras PNB Eletropaulo Metropo PNB Embraer ON Gerdau Met PN Gerdau PN Ibovespa Ipiranga Pet PN Itausa PN Klabin PN Light ON Natura ON Net PN Pão de Açúcar PN Perdigão ON Petrobras ON Petrobras ON Petrobras PN Sabesp ON Sadia PN Sid Nacional ON Souza Cruz ON TAM PN Telemar Norte Leste PNA Telemar-Tele NL Par ON Telemar-Tele NL Par PN Telemig Celul Part PN Telesp PN Tim Participações ON Tim Participações PN Transmissão Paulist PN Unibanco UnN1 Usiminas PNA Vale Rio Doce ON Vale Rio Doce PNA Vivo Part PN Votorantim C P PN

PA R T I C I PA Ç Ã O I B OV E S PA

0,41 0,67 1,17 0,87 1,62 3,37 4,95 1,60 0,70 0,77 1,51 1,52 2,28 1,12 0,54 0,159 2,11 0,47 0,33 1,27 1,25 1,97 0,37 1,05 1,13 2,82 100,00 0,49 1,73 0,58 0,88 0,66 2,28 0,70 0,95 2,14 4,00 12,48 0,72 1,38 2,57 0,53 0,72 0,84 1,61 4,70 0,47 0,39 0,43 1,11 0,46 1,97 4,33 2,97 12,72 2,27 0,91

VARIAÇÃO % ANO (ATÉ 15/12/2006)

89,5 107,10 19,10 46,50 56,10 36,60 28,90 83,40 37,30 7,60 12,90 62,60 -15,00 57,10 28,10 29,6 16,90 47,8 39,40 32,60 25,20 32,10 41,30 37,30 30,30 43,40 44,40 33,80 50,00 46,00 50,10 -3,70 36,40 33,00 33,70 91,50 18,70 41,60 44,90 59,40 -17,40 11,40 -20,40 -6,20 30,4 105,80 26,40 18,00 36,40 47,60 36,80 31,90 -2,70 46,80

Inflação (%) Índice IGP-M IGP-DI IPCA IPC - Fipe

Novembro 0,75 0,57 0,31 0,42

Juros/Aplicação

(%)

Novembro 1,02 1,02 0,63 1,03 1,69

CDI Selic Poupança CDB * Ouro BM&F

Ano 3,50 3,52 2,65 1,48

Ano 13,91 13,95 7,70 15,32 8,76

* (até 15/12)

Indicadores imobiliários CUB SP TR (dezembro)

Novembro 0,06 0,15

Juros/Crédito

Desconto Factoring Hot Money Giro Pré *

(%)

Ano 3,75 2,04

Dezembro 15/dezembro

(em % mês) Dezembro 14/dezembro

2,15 4,01 2,20 2,35

2,20 4,02 2,25 2,40

* taxa mês

Câmbio (em 15/12/2006)

Dólar Comercial Ptax Euro Iene

Cotação R$ 2,1470 US$ 1,3067 US$ 0,0085

Mercados futuros (em 15/12/2006)

Janeiro

Fevereiro

Dólar R$ 2,149 R$ 2,163 Juros DI 13,13% 13,13%

Março 2,173,08 13,08%

(em 15/12/2006)

Ibovespa Futuro

Fevereiro

44.520

Janeiro 2007 – Empreendedor – 77


Guia do Empreendedor

Agenda INDEX OPEN

Em destaque 25/1 a 28/1/2007

MOTOBOY FESTIVAL 2007 Centro de Exposições Imigrantes São Paulo/SP (11) 3044-7551 www.motoboyfestival.com.br Estima-se que, anualmente, o mercado de motoboys movimente só na cidade de São Paulo US$ 1 bilhão entre salários, compra de equipamentos e acessórios, combustível, manutenção das motos e serviços prestados. Ao todo, cerca de 200 mil profissionais estão em atividade, percorrendo diariamente 200 km. O consumo de combustível chega a 1 milhão de litros por dia, com troca de pneus a cada 1,5 mês. De olho neste filão, a AM3 Feiras e Promoções organiza o Motoboy Festival 2007, com investimento inicial de R$ 1 milhão e expectativa de atrair 30 mil pessoas nos quatro dias de evento com diversas atrações voltadas ao varejo e entretenimento. 13/1 a 17/1/2007

27/1 a 31/1/2007

27/2 a 2/3/2007

SHOWROOM DA MODA 2007

25º CIOSP

NT&TT 2007

Hotel Pestana São Paulo/SP (21) 2254-6927 www.showroomdamoda.com.br 15/1 a 18/1/2007

COUROMODA 2007 Pavilhão de Exposições do Anhembi São Paulo/SP (11) 6224-0400 www.couromoda.com 22/1 a 25/1/2007

ENCONTRO DA MODA FEMININA Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo/SP (11) 3472-2000 www.encontrodamoda.com.br 23/1 a 26/1/2007

FIT 0/16 OUTONO/INVERNO 2007 Expo Center Norte São Paulo/SP (11) 6224-5900 www.fit016.com.br

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Pavilhão de Exposições do Anhembi São Paulo/SP 0800 128555 www.ciosp.com.br

Pavilhão de Exposições do Anhembi São Paulo/SP (11) 6283-5011 www.feimaco.com.br

6/2 a 9/2/2007

6/3 a 8/3/2007

VITÓRIA STONE FAIR

TELEXPO 2007

Parque de Exposições de Carapina Serra/ES (27) 3337-6855 www.feiradomarmore.com.br

Expo Center Norte São Paulo/SP (11) 6224-5900 www.telexpo.com.br

6/2 a 11/2/2007

12/3 a 16/3/2007

NÁUTICA FAIR 2007

MOVELPAR 2007

CentroSul Florianópolis Florianópolis/SC (48) 3251-4000 www.centrosul.net

Centro de Eventos Expoara Arapongas/PR (43) 3172-5000 www.movelpar.com.br

9/2 a 12/2/2007

13/3 a 17/3/2007

ABIMAD 2007

FEICON 2007

Centro de Exposições Imigrantes São Paulo/SP (11) 5067-6767 www.abimad.com.br

Pavilhão de Exposições do Anhembi São Paulo/SP (11) 6224-0400 www.feicon.com.br

Para mais informações sobre feiras e outros eventos comerciais, acesse a seção Agenda do site Empreendedor (www.empreendedor.com.br)


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www.empreendedor.com.br

O conteúdo que faz toda a diferença

Página inicial

Categorias e RSS: use à vontade ral”. Ao clicar nessa categoria, o leitor visualiza uma lista com todo o material publicado sobre o assunto. Em resumo, através da categorização, o leitor vai direto ao seu ponto de interesse e, a partir de todo o conteúdo publicado, tem uma noção mais ampla do que acontece em relação a um determinado assunto. Já o RSS é um formato que tem muitos adeptos e passou a ser mais utilizado pela mídia nos últimos dois anos. É a ferramenta ideal para manter o vínculo entre site e leitores por avisar sempre que um novo conteúdo é publicado. Assim, o leitor recebe um aviso em seu leitor de RSS e clica no link disponibilizado para acessar

Enquete

automaticamente aquele assunto recém-publicado. Em relação ao e-mail (leia abaixo como assinar a newsletter do site), o RSS tem uma série de vantagens e, mesmo que ainda necessite de maior popularidade, é uma ferramenta que tem se mostrado de grande utilidade para a maioria dos sites, entre os quais o Empreendedor, no que se refere justamente à proximidade com o leitor que o formato proporciona. É com ações como a categorização e o RSS que o site Empreendedor entra em 2007 disposto a vencer novos desafios e se firmar cada vez mais como o ponto de referência do empreendedor brasileiro na internet. INDEX OPEN

O site Empreendedor encerrou 2006 com ótimos resultados em termos de audiência e manteve uma posição de destaque nas buscas realizadas no Google, por exemplo. Mais do que a preocupação diária de equilibrar quantidade com qualidade da informação publicada, o site se preocupou também em facilitar o acesso dos leitores ao conteúdo. Para isso, inovou ao adotar a organização do conteúdo por categorias e ao oferecer avisos sobre atualização via RSS. A primeira ação – conteúdo por categorias – tem um efeito direto e prático para quem acessa o site à procura de informações sobre um determinado assunto. Todas as notícias, entrevistas, os artigos e reportagens, quando publicados, são classificados por assunto. Por exemplo, todo o conteúdo sobre a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas foi e é classificado na categoria “Lei Ge-

Espaço para publicação de artigos

Site elege o mais empreendedor Neste mês de janeiro, a enquete do site Empreendedor vai fazer uma consulta diferente aos leitores. Em vez de uma pergunta sobre um tema da atualidade, os leitores serão convidados a escolher o mais empreendedor entre os dez empreendedores de 2006, eleitos na edição de dezembro da revista Empreendedor (publicação da Editora Empreendedor, responsável pelo site e que também edita a Revista do Varejo). Para ajudar na escolha, o site destacará a partir do dia 2 o perfil de cada um dos escolhidos.

Para 2007, o site Empreendedor quer contar ainda mais com a participação dos leitores. Para isso, reforça seu compromisso de abrir espaço não apenas para sugestões de pauta, mas também para a publicação de artigos com temas do interesse dos leitores do site. Os artigos devem ser enviados para site@empreendedor.com.br com a palavra “Artigo” no campo “Assunto”.

Assine a newsletter As novidades do site direto no seu e-mail Acesse o site Empreendedor e, na página inicial, clique em “Cadastre-se”, na área “Login”, no canto superior direito, ao lado do cabeçalho do site. Em seguida, preencha o cadastro e assinale a opção: “Quero receber a newsletter e-Empreendedor”.

Formato RSS – Acesse o site Empreendedor (www.empreendedor.com.br) e saiba como receber as manchetes, um resumo e o link de cada novo conteúdo publicado.

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