Empreendedor 162

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SELEÇÃO: ANÁLISE DE COMPETÊNCIAS É ESSENCIAL

MOTIVAÇÃO: FUNCIONÁRIOS COMPROMETIDOS

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EMPREENDEDOR – OÁSIS DE CRESCIMENTO – ANO 14 N o 162 ABRIL 2008

IS SN 1414-0 152

ANO 14 N o 162 ABRIL 2008 R$ 9,90

Maringá (PR), modelo em estímulo aos negócios

Oásis de crescimento Cidades que fomentam o empreendedorismo registram melhorias nos índices econômicos e sociais

COOPERATIVAS DE CRÉDITO OFERECEM CONDIÇÕES ADEQUADAS ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS


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N E S TA E D I Ç Ã O

16 CIDADESS EMPREENDEDORAS

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Oss municípios brasileiros (como Santa Rita do Sapucaí, na foto) ddespertam para a importância do empreendedorismo e das micro e pequenas mpresas no desenvolvimento econômico e social. social Eles desburocratizam desburocrat empresas e facilitam a abertura de empreendimentos, criam ambientes favoráveis ao seu crescimento, por meio de incubadoras e arranjos produtivos, por exemplo, e estabelecem ferramentas de estímulo aos negócios das MPE, como compras públicas dirigidas. Dos 5,6 mil municípios do País, mais de 300 já regulamentaram a Lei Geral.

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28 | TENDÊNCIA Peixe do futuro

32 | MERCADO Jogos em massa

46 | MEMÓRIA Poder da motivação

O bijupirá é um peixe nativo do mar brasileiro com potencial comercial para se tornar tão importante quanto o salmão (peixe cultivado em larga escala pelo Chile). O Brasil já domina a tecnologia de reprodução e agora inicia as primeiras criações.

A nova promessa brasileira para o segmento de jogos massivos – praticados simultaneamente pela internet, com interação e comunicação direta entre milhares de usuários – é o Taikodom. Conheça um pouco desse universo.

38 | GESTÃO Escolha certa

36 | MARKETING Totens úteis

60 | TI Na palma da mão

Dicas e orientações de consultores especializados em recrutamento de talentos para ajudar os empresários na escolha da pessoa certa para as vagas disponíveis. A seleção por competências é indicação unânime como forma mais segura.

Os totens são cada vez mais utilizados como canal publicitário e meio de informação. Mas o segredo é oferecer algum benefício: indicação da radiação UV, tomadas para recarregar baterias de celulares e laptops, ou jato d’água para refrescar, por exemplo.

As funcionalidades e a grande quantidade de aparelhos celulares (120 milhões, no Brasil), transformam esses dispositivos em verdadeiros canais de relacionamento e publicidade. É o mobile marketing, que já movimenta R$ 30 milhões no País.

Funcionários motivados aceitam tarefas com orgulho e comprometem-se na busca de objetivos da empresa. Ou seja, melhores resultados para a organização. Saiba como criar um clima agradável de trabalho e levar os colaboradores ao engajamento.


56 | VOZ DA EXPERIÊNCIA Raul Randon Ela descobriu sua vocação para a dermocosmética após sucessivas tentativas frustradas de se livrar da acne na adolescência. Hoje, é proprietária de uma indústria de cosméticos e de uma rede de distribuição e comercialização em todo o País.

Ele começou a trabalhar como ferreiro, aos 14 anos, ao lado do pai e do irmão mais velho, com quem ergueu o Grupo Randon, formado por dez empresas e com faturamento de R$ 3,6 bilhões. Mas o que ele gosta é de fazer queijo.

42 | CRÉDITO Banco coletivo

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Uma boa opção para impulsionar pequenos negócios são as cooperativas de crédito. Elas oferecem recursos a taxas bem menores, com prazos maiores e às vezes sem tarifas. E o melhor: você paga os juros para si mesmo, pois também é dono do banco.

10 | ENTREVISTA Solange Mata Machado

Empresas de serviços para internet e marketing digital encontraram no franchising uma forma de expandir seus negócios. Em alguns casos, para ser franqueado nem é preciso conhecer a parte técnica, basta uma boa rede de relacionamento e saber vender.

A especialista em inovação afirma que a maioria das empresas brasileiras ignoram a importância de abrir espaço para que seus colaboradores fiquem à vontade para criar e inovar. Veja a sua receita para liberar a criatividade dos colaboradores.

L E I A TA M B É M 08 14 54

EMPREENDEDORES NÃO DURMA NO PONTO PEQUENAS NOTÁVEIS

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NEGÓCIO CERTO PRODUTOS E SERVIÇOS AGENDA

78 80 82

LEITURA ANÁLISE ECONÔMICA EMPREENDEDOR NA INTERNET

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64 | FRANQUIA Serviços de internet

CASA DA PHOTO

PERFIL Adélia Mendonça

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EDITORIAL

A

comunidade tem o empreendedor que merece, porque cabe a ela criar o ambiente propício.” Essa frase de Fernando Dolabela, retirada do livro O segredo de Luísa, cai como uma luva para o tema da matéria de capa desta edição. Não se pode simplesmente esperar que os outros tomem a iniciativa, cada um deve puxar para si a responsabilidade de estimular a abertura de

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empresas e os negócios. Cidades que fomentam o empreendedorismo tomam o rumo do desenvolvimento sustentável e alcançam melhores índices econômicos e sociais, deixando para trás problemas como desemprego, informalidade e estagnação da economia local. A jornalista Francis França foi em busca de alguns destes oásis para compor a sua reportagem. Dos 5,6 mil municípios brasileiros, cerca de 5% já regulamentaram a Lei Geral. Como não é possível falar com todos, tomamos cinco como exemplos: Cariacica (ES), o primeiro a tomar essa atitude, Petrópolis (RJ), Campo Grande (MS), Maringá (PR) e Santa Rita do Sapucaí (MG). Es-

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sas cidades facilitaram e agilizaram a abertura de empreendimentos formais, e criaram ambientes favoráveis ao crescimento dos negócios, por meio de políticas de redução da burocracia e da carga de impostos, da criação de incubadoras e arranjos produtivos, e da preferência para micro e pequenas empresas nas compras públicas. Programas de capacitação de recursos humanos também são fundamentais para atender ao aumento da demanda de mãode-obra gerada pelo incremento da atividade d empresarial. E, para continuar alimentando e o círculo virtuoso da economia, não se pode prescindir de implementar um plano de forp mação empreendedora que envolva todos m os níveis escolares – cuidados adotados pelo o município mineiro de Santa Rita do Sapucaí. m As metodologias estão à disposição, como a A desenvolvida por Fernando Dolabela e a de d Luiz Fernando Garcia. L É importante, no entanto, que cada esfera faça a sua parte, para que boas atitudes de r uns não esbarrem na má vontade de outros. u A União deu um grande passo ao criar a Lei Geral, mas ainda tem muito a fazer em relação G à desburocratização, desoneração e incentivo. Os O Estados, também. Alguns até agora não ajustaram suas legislações ao Supersimples, a o que acarretou aumento da carga tributária para p as empresas de seus territórios. Se todos trabalharem no estabelecimento de um ambiente favorável e investirem em educação, teremos a formação de empreendedores completos, o que ajudaria na obtenção de um longo período de crescimento sustentado. Recorro, mais uma vez, às palavras de Fernando Dolabela: “O empreendedor deve ter alto comprometimento com o ambiente, em todos os seus aspectos: cidadania, ética, economia, justiça social, ecologia. Fortalecendo e preservando o meio ambiente, contribuindo para a economia, ele criará melhores condições para seu próprio desenvolvimento como cidadão e empreendedor”. Alexsandro Vanin

CEDOC

O Centro de Documentação (Cedoc) da Editora Empreendedor disponibiliza aos interessados fotos e ilustrações que compõem o nosso banco de dados. Para mais informações, favor entrar em contato pelo telefone (48) 2106-8666 ou pelo e-mail imagem@empreendedor.com.br

A revista Empreendedor é uma publicação da Editora Empreendedor Diretor-Editor: Acari Amorim [acari@empreendedor.com.br] Redação Editor-Executivo: Alexsandro Vanin [vanin@ empreendedor.com.br] – Repórteres: Andréa da Luz, Cléia Schmitz, Débora Remor, Francis França, Marco Britto e Natacha Amaral – Edição de Arte: Gustavo Cabral Vaz – Projeto Gráfico: Oscar Rivas – Fotografia: Arquivo Empreendedor, Carlos Pereira, Casa da Photo, Lio Simas, Purestockx e Wilson Avelar – Foto da capa: Bruna Moreschi – Revisão: Renato Tapado Sedes São Paulo Gerente Comercial: Fernando Sant’Anna Borba – Executivos de Contas: Érika Kaiser, Gesner C. Vieira e Nassara Kedman – Rua Sabará, 566 - 9º andar - conjunto 92 - Higienópolis 01239-010 – São Paulo – SP – Fone: (11) 3214-1020 [empreendedorsp@empreendedor.com.br] Florianópolis Executivos de Contas: Vitor Hugo de Carvalho [vitorhugo@empreendedor.com.br] e Nelson Rosa [nelson@ empreendedor.com.br]– Executivo de Atendimento: Ronaldo César Pacheco [ronaldo@empreendedor.com.br] – Av. Osmar Cunha, 183 – Ed. Ceisa Center – bloco C – 9º andar – 88015-900 – Centro – Florianópolis – SC – Fone: (48) 2106-8666 Escritórios Regionais Rio de Janeiro Triunvirato Desenvolvimento Empresarial Ltda. – Milla de Souza [triunvirato@triunvirato.com.br] – Rua São José, 40 – sala 31 – 3º andar – Centro – 20010-020 – Rio de Janeiro – RJ – Fone: (21) 3231-9017 Brasília Ulysses C. B. Cava [ulyssescava@gmail.com] – Fone: (61) 3963-3208/9975-6660/9951-1878 – SRTVN Quadra 702 – conjunto P – Sala 3049 – Ed. Brasília Radiocenter – 70719-900 – Brasília – Distrito Federal Paraná Merconet Representação de Veículos de Comunicação Ltda. – Ricardo Takiguti [comercial@merconet.srv.br] – Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 – conjunto 1 – Boa Vista – 82560-460 – Curitiba – PR – Fone: (41) 3079-4666 Rio Grande do Sul Alberto Gomes Camargo [ag_camargo@terra.com.br] – Rua Arnaldo Balvê, 210 – Jardim Itu – 91380-010 – Porto Alegre – RS – Fone: (51) 3340-9116 Pernambuco HM Consultoria em Varejo Ltda. – Hamilton Marcondes [hmconsultoria@hmconsultoria.com.br] – Rua Ribeiro de Brito, 1111 – conjunto 605 – Boa Viagem – 51021-310 – Recife – PE – Fone: (81) 3327-3384 Minas Gerais SBF Representações – Sérgio Bernardes de Faria [comercial@sbfpublicidade.com.br] – Av. Getúlio Vargas, 1300 – 17º andar – conjunto 1704 – 30112-021 – Belo Horizonte – MG – Fone: (31) 2125-2900 Assinaturas Serviço de Atendimento ao Assinante – Diretora: Luzia Correa Weiss – Fone: 0800-9797979 – [assine@empreendedor.com.br] – O valor da assinatura anual (12 edições mensais) é de R$ 118,80. Aproveite a promoção especial e receba um desconto de 20%, pagando somente R$ 95,04. Estamos à sua disposição de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h30. Produção Gráfica Impressão e Acabamento: Coan Gráfica Editora Ctp – Distribuição: Distribuidora Magazine Express de Publicações Ltda. – São Paulo Empreendedor.com http://www.empreendedor.com.br


C A RTA S

Carta do Mês Jovens de futuro A Federação das Empresas Juniores do Estado de São Paulo (Fejesp) gostaria de parabenizar a excelente matéria sobre o Movimento Empresa Júnior (“Celeiro de talentos”, publicada na edição de fevereiro), e informar que está disponível para a federação de novas empresas juniores e parcerias (www.fejesp.org.br). Ser júnior, no Brasil, é ser gigante pela própria natureza! Leonardo Zeferino, diretor-presidente da Fejesp

Acabo de ler a matéria “Celeiro de talentos” e fiquei realmente impressionado. Parabéns mesmo, conteúdo excelente, maneira sucinta de passar informações, melhor impossível. Fernando Decaris Escobar, diretor vice-presidente da Motriz Empresa Jr.

Grande Adelson de Sousa (personagem de “Sempre mais”, publicada na edição de março), o conheci na época das feiras Fenasoft e Comdex, trabalhei com seus parentes que tinham comércio na área de informática. Sucesso e prosperidade! Celso Matsusaki, da Shizen Comunicação Integrada

Li com atenção redobrada. Uma reportagem com conteúdo abrangente, porém sintetizado em poucas linhas. Muitos dos desafios que Adelson enfrentou são os enfrentados pela maioria dos empreendedores das pequenas empresas. Sem muita teoria, mas com muita praticidade, oferece caminhos e soluções. Parabéns. Plínio Buzato

Foco, uma palavra tão longínqua para nossos governantes! Este é um exemplo de luta, perseverança e iniciativa, e enche de motivação quem quer começar um novo negócio. Hélcio José Figueira, de Pirassununga (SP)

Experiência

Excelente matéria (“Midas dos hotéis”, publicada na edição de fevereiro). Parabéns ao sr. Jorge Alves pelo desenvolvimento do segmento, demonstrando aos empresários “investidores” a importância do profissional experiente para o retorno do seu investimento. Neste ramo, “os milhões” às vezes são investidos e estagnam na inadequada prestação do serviço. Trata-se do “casamento” perfeito e nos mostra o potencial do nosso Brasil para o setor. Fernando Vianna

Elos

O casamento das universidades, centros de pesquisa, institutos, professores com a indústria (tema central da entrevista com Martín Izarra, “Busca pela ponte”, publicada na edição de fevereiro) não se concretiza, porque falta o padre. O padre da Política Industrial, o padre do reconhecimento de que a maioria das empresas não possuem tecnologia nem a cultura desenvolvimentista, o padre para um programa de desenvolvimento das empresas que se arrastam pela simples sobrevivência e pelo padre que entende que as micro e pequenas empresas são quem mantém o equilíbrio social. Antonio Gomes dos Santos

Livre opinião

Quando se importam pneus usados (“O destino dos pneus”, publicada na edição de março), podem vir pneus que poderão ser utilizados para reforma, outros com meia vida que serão utilizados e poderão ser reformados, mas também virão sucatas de pneus que não servirão para nada, e teremos de contar com o bom senso dos que utilizam pneus meia vida e vão retirá-los no tempo certo para o recape. Portanto, o risco é muito grande de acabarmos recebendo o lixo que os outros não querem. Então, não ao pneu usado já! Vicente Carlos Mônaco

ERRATA: Na seção Empreendedores da edição 161, foi publicado que o número de pares exportados pela Okean é de 150 mil, quando o correto seria 15 mil.

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Segredo do sucesso

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EMPREENDEDORES Jorge Cenci

FÔLEGO DE SOBRA Com matriz em Blumenau (SC) e outras 19 unidades espalhadas pelo País, a desenvolvedora de sofwares para gestão empresarial Senior Sistemas está prestes a completar 20 anos e reforça as expectativas de crescimento na base de 30%. A empresa alcançou R$ 205 milhões em negócios gerados, em 2007, e concretizou a abertura de quatro novas unidades, em Florianópolis (SC), Recife (PE), Bauru (SP) e Campo Grande (MS).

“Para este ano, a empresa tem como objetivo credenciar mais cinco unidades no Sul e no Sudeste, além de novos distribuidores em várias regiões do País”, diz Jorge Cenci, presidente da Senior Sistemas. Segundo ele, esses índices de crescimento são reflexos da aplicação de R$ 9,4 milhões em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, além de investimento em ampliação de canais e capacitação da força de vendas. www.senior.com.br

Cecília Reinaldo

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IMÓVEIS INTERNACIONAIS

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Cecília Reinaldo resolveu apostar no mercado imobiliário de Dubai, no coração financeiro dos Emirados Árabes. No comando da High Society, companhia criada em 2002, ela tem como meta atrair investidores brasileiros. “Dubai é uma cidade sofisticada, com criminalidade zero e com um grande potencial turístico”, afirma. A empresária montou uma equipe de profissionais qualificados que oferecem assessoria completa nas transações feitas na cidade, e funciona como uma ponte entre o cliente e o imóvel. A High Society se diferencia das empresas do ramo por trabalhar exclusivamente com investidores externos, comercializando imóveis no mercado internacional. www.dubaihighsociety.com


Laudelina Trindade

BRASIL EM BORDADOS Laudelina Trindade e outras 15 artesãs de Minas Gerais já conquistaram os franceses, e seus produtos estão gerando faturamento mensal de até R$ 2 mil. Apoiadas pelo Sebrae estadual, as empreendedoras formaram o grupo Bordando o Brasil e profissionalizaram a atividade. Além da superação dos desafios, as bordadeiras

acabaram por aprender sobre cooperativismo, gestão, comercialização e design. Cada participante produz, em média, 50 peças por mês. Com a venda de almofadas, conchas, jogos americanos, caminhos de mesa e xales, a metade do valor vai para a produtora, e os outros 50% ficam no grupo, para

aquisição do material de trabalho. Em 2006, elas participaram da Feira do Empreendedor, quando todo o estoque foi vendido por R$ 6 mil, e ainda abriram as portas para o mercado. Agora, elas aceitam encomendas por telefone e participam das principais feiras de artesanato do País. (32) 3373-2088

Moacir Bogo

Por conta da preocupação constante com o meio ambiente e investimentos de mais de R$ 1 milhão em projetos conscientes, desde 2006, a Gidion ganha também o reconhecimento da população. A empresa de transporte coletivo de Joinville (SC) realiza ações pautadas pela melhoria da qualidade de vida, como estação de captação de água

da chuva e reutilização da água utilizada na lavação dos ônibus. Em fevereiro, a Gidion começou a testar o Puradyn, um filtro que dispensa a troca de óleo por manter suas características originais. O equipamento, recomendado para veículos pesados como caminhões, ônibus e equipamentos agrícolas, foi importado dos

Estados Unidos e é usado largamente em Bogotá, capital colombiana. A expectativa é que a Gidion tenha redução de 80% no consumo de óleo e aumento da vida útil dos motores. “Com isso, teremos uma diminuição nas paradas dos veículos para troca de óleo e menor tempo de manutenção”, destaca Moacir Bogo, presidente da empresa. www.gidion.com.br

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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

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E N T R E V I S TA

Solange Mata Machado

CRIATIVIDADE INERENTE A inovação está ligada às pessoas, criativas por natureza, e a um ambiente que as estimule a terem idéias

por Cléia Schmitz

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cleia@empreendedor.com.br

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Por que eu não pensei nisso antes? Por que meus funcionários não pensaram nisso antes? Se você vive se questionando a respeito de inovações feitas pelos seus concorrentes, antes de mais nada é melhor responder a outra pergunta: a sua empresa permite e estimula a criatividade, condição imprescindível para chegar a uma inovação? Consultora em gestão, estratégia e marketing, Solange Mata Machado é especialista em utilizar ferramentas de criatividade para ajudar seus

clientes a alcançar metas e objetivos. Como palestrante na área de inovação, já atuou em empresas como Cisco, Bull e Credicard. Engenheira elétrica com especialização em Planejamento Estratégico e em Inovação pela Creative Education Foundation – Bufalo College, dos Estados Unidos, também foi executiva de grandes grupos como Shell, Pirelli, Klabin, Ipiranga e Aços Villares. Na entrevista a seguir, Solange afirma que a maioria das empresas brasileiras ignoram a importância de abrir espaço para que seus colaboradores fiquem à vontade para criar e inovar. Qual é o primeiro passo? Preparar a área de recursos

humanos para selecionar pessoas talentosas que saibam usar seu potencial criativo. Mas só isso não basta. Simultaneamente, é preciso estabelecer processos e ferramentas para permitir a geração, aplicação e difusão das idéias e, conseqüentemente, a inovação. Segundo Solange, as organizações precisam aprender a correr riscos, se quiserem ser inovadoras. O medo e a acomodação são os maiores inimigos da criatividade, e todo empresário que se deixar conduzir por eles vai acabar assistindo à exibição de inovações dos concorrentes e se perguntando: por que eu não pensei nisso antes?


Então, para fazer uma inovação é preciso ser criativo? Solange – Você tem que gerar algo diferenciado, incrementar uma idéia – você pode dar um novo atributo a uma idéia já existente – e, ao incrementá-la, fazer uma inovação. Existe uma curva de inovação, que começa com a inovação de eficiência, quando você gera um novo atributo a um produto existente, e esse produto se transforma em um novo. Um exemplo clássico é a Coca-Cola. Ela sempre existiu, até que um dia alguém deu um atributo diferenciado, criando a Coca-Cola light, uma nova bebida. Depois, foi criada a Coca-Cola Limão e, por último, a Coca-Cola Zero. O público de consumo é o mesmo, mas com os novos atributos, provavelmente um grupo maior de pessoas passou a usá-la. Quando você passa a atingir um público que nunca foi atingido antes, você está fazendo uma evolução na sua inovação. A Gilette, por exemplo, era só usada por homens quando foi criada. Depois, atribuíram a ela uma lâmina diferenciada, mudaram o formato, a cor, e ela passou a ser usada também por mulheres. Ou seja, através de uma inovação houve uma evolução do produto, que passou a atingir novos mercados. Quando você faz uma inovação e cria um produto totalmente novo, como o I-pod, por exemplo, chamamos de inovação de revolução, porque revoluciona o mercado. Em qualquer momento da curva de inovação, você precisa usar seu potencial criativo para imaginar novos atributos, novos usos ou um novo produto. As empresas brasileiras estimulam a criatividade? Solange – A gente está começando a ver muito mais a palavra inovação sendo aplicada

por aí, em várias empresas existem processos e produtos inovadores implantados, principalmente na área de tecnologia. Mas eu sinto que, de uma maneira geral, as empresas brasileiras ainda estão buscando a aplicação exata da palavra inovação. Ainda precisamos ver organizações de grande porte investindo em projetos de inovação que dêem a capacidade para que qualquer pessoa possa contribuir com o processo de melhoria contínua, seja melhorando e criando novos serviços, seja novas formas de atendimento, ou até mesmo criando novos produtos para atendimento do mercado brasileiro ou no exterior. Qual é a explicação para o fato de o segmento de tecnologia dar mais estímulo à criatividade e à inovação? Solange – Eu acho que é por uma questão de pressão. A tecnologia tem avançado muito rapidamente, desde o advento da internet, e forçou as empresas a serem mais rápidas na colocação de um produto no mercado. Essa é uma tendência mundial, e as empresas que não acompanharem o ritmo, buscando aprimoramento numa velocidade muito maior, certamente perderão mercado. Outra área que teve um avanço muito grande foi a de

É uma tendência mundial, as empresas que não acompanharem o ritmo, buscando aprimoramento numa velocidade muito maior, certamente perderão mercado

medicina, com a invenção e a criação de equipamentos muito mais modernos, que utilizam tecnologia através do laser, por exemplo. Então, podemos dizer que a competitividade acaba estimulando a criatividade e a inovação? Solange – Sem dúvida nenhuma. Eu acho que, desde a época da internet, quando as empresas se viram forçadas a competir não só com seu vizinho ao lado, mas com o mundo inteiro, houve uma grande pressão pela busca de inovação em todos os processos existentes. A busca de ser melhor do que o parceiro, de se posicionar de forma diferente no mercado. Essa atitude se reflete diretamente na criatividade. Uma posição cômoda no mercado pode inibir a inovação numa empresa? Solange – Com certeza. A segurança de estar no primeiro lugar do mercado pode levar à falta de curiosidade. Quando a pessoa já “sabe” e tem a consciência de que “sabe”, ela já estacionou. A curiosidade é um grande impulsionador e faz com que você esteja o tempo todo usando a sua imaginação. Para não estacionar, então, é preciso que a empresa disponha de ferramentas e processos que a levem a investir continuamente em inovação? Solange – Eu acho que a inovação está ligada a pessoas, ao ambiente que a empresa proporciona e aos processos que ela tem instalados. Essas três variáveis são fundamentais para implantar um processo de inovação num ambiente empresarial. Então, você tem que ter um ambiente que seja propício ao risco e ao erro, você tem que ter pessoas talentosas, não acomodadas, mas curiosas e dispostas o tempo todo a usar a persistência, a paciência e acreditar no sonho. E, além disso, é preciso buscar processos que auxiliem continuamente os funcionários a ter acesso a esse potencial criativo. É o uso contínuo dessas três variáveis que vai criar produtos e serviços inovadores e que, uma vez implementados, alimentam novamente o ambiente, os processos e as pessoas. Como o ambiente da empresa pode estimular a criatividade, sendo propício ao risco? Solange – Antes de mais nada, é preciso entender que as pessoas podem errar e que esse “errar” é um caminho que vai levar a achar uma nova vertente, uma nova idéia.

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O que é ser criativo no mundo empresarial? Solange – Criatividade é um talento, uma capacidade inerente ao homem. À medida que nós somos educados e crescemos num ambiente do mundo ocidental, vamos tolhendo o acesso a esse potencial criativo. Hoje em dia, sabemos que, para ter acesso a esse potencial criativo, existem ferramentas e processos organizados e estruturados que ajudam qualquer pessoa a acessar sua criatividade. A inovação, por outro lado, conforme a própria palavra já diz, vem da ação de incrementar algo que inova. Uma vez que você tenha acesso à sua criatividade, gerando idéias inovadoras e valor na aplicação dessas idéias, você está fazendo uma inovação.

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E N T R E V I S TA

Solange Mata Machado

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É errando que você sabe aonde pode chegar. As empresas deveriam ser um pouco mais cuidadosas em não matar as idéias ao inibir os riscos. Existem, dentro das empresas, os bloqueios culturais, aqueles bloqueios que a cultura da empresa não permite (isso daqui já foi usado antes e nunca funciona). Há bloqueios de risco emocionais, que não deixam que as pessoas errem (ao errar, a pessoa é punida). Antes de errar, é preciso um diálogo para a pessoa acertar, e não deixar que a pessoa erre para ser desestimulada. E existem também os bloqueios sociais, de estereotipar pessoas. Eu acho que é necessário um processo de comunicação produtivo e positivo, no qual as pessoas sejam estimuladas todo o tempo a trazer novas contribuições, e ao trazerem essas novas contribuições, não sejam estereotipadas, ridicularizadas. Em vez de dizer que essas idéias não funcionam e descartá-las logo no primeiro momento, é preciso analisar e ver, na idéia apresentada, onde está a parte positiva e onde está a que precisa ser melhorada.

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Existem, dentro das empresas, os bloqueios culturais. As empresas deveriam ser um pouco mais cuidadosas em não matar as idéias ao inibir os riscos

Às vezes, você estimula a criatividade, mas não compra a idéia, isso acaba sendo pior por ser frustrante? Solange – Todo processo de inovação implantado no ambiente empresarial tem que ter, primeiro, uma fase de geração de idéias e, depois, a etapa de seleção das idéias que serão usadas. É importante dar um bom destino para aquelas que não serão usadas, para que não haja um desestímulo. Depois da seleção das idéias, é preciso buscar financiamentos e estruturar programas para implementá-las. Em seguida, começar um processo de comunicação da implementação da idéia para que vire um círculo virtuoso que estimule outras idéias e haja a premiação ou o reconhecimento.

moeda de troca muito mais interessante e estimulante ao inventor. Mas é importante destacar que, à medida que você reconhece uma inovação, você está distingüindo uma pessoa. Porém, uma das características principais do processo de inovação é você pegar carona, é aprender a trabalhar numa equipe, na qual várias pessoas com pontos de vista, técnicas, culturas, visões diferentes são contributivas para a criação de algo novo. Então, é preciso tomar cuidado para não premiar somente um, considerando que aquela pessoa é originária de um processo, de um trabalho de equipe no qual todos foram contributivos.

Como pode ser essa premiação? Solange – Eu entendo o seguinte: quando você está trabalhando em inovações que são de eficiência, de busca de evolução de produtos, você pode premiar através de valores financeiros ou reconhecidos, como viagens. Quando você tem uma inovação que é algo completamente grandioso, diferente dentro da empresa, eu acho que o reconhecimento passa a ser a melhor forma de entendê-la. Ou seja, o reconhecimento passa a ser uma

O custo de estimular a criatividade e a inovação é muito alto? Solange – Não, o início de uma campanha para a geração de idéias pode ter um custo com a implementação de cartazes e de sorteio de técnicas para preparar as pessoas a pensar de forma produtiva. Mas eu não consideraria nada tão elevado. Uma vez implementado, você terá as contribuições nascendo dentro dos processos e precisará apenas fazer ajustes ao longo do tempo, nada que seja tão oneroso.

Muitas pessoas reclamam que é difícil ser criativo num ambiente em que trabalham pressionadas pelo tempo. O que você diria para essas pessoas? Solange – Eu acho que não é o tempo que faz a criatividade. É a imaginação que traz a criatividade, uma imaginação que está junto com você o tempo todo. E muitas pessoas – nisso ainda existe uma controvérsia – discutem se a pressão é mais contributiva para ser criativo ou não. Em vários casos, ela tem sido porque faz com que você tenha obrigação de aceitar a imaginação, de resolver um problema. Então, o que faz você ser criativo não é ter ou não ter tempo, mas é a possibilidade de você acessar ou não seu potencial criativo. Às vezes, você tem uma brilhante idéia durante um banho ou quando está dirigindo um carro, ou mesmo quando está dormindo, quando acorda de manhã. Dentro do processo criativo, existe um período que nós chamamos de incubação. Nesse período de incubação, é como se o cérebro, ao ficar em repouso – coisa que ele não faz nunca –, conseguisse processar várias idéias ou vários neurônios e trazer uma visão diferenciada das coisas. Minha conclusão é de que de maneira nenhuma o tempo é um inibidor. Você pode ter dificuldades é de colocar no papel tudo aquilo que você gostaria, ou de fazer os testes que você gostaria, mas ter a idéia não requer tempo. Requer acesso à imaginação. Mas um sistema de trabalho cheio de regras inibe a inovação? Solange – A estrutura hierárquica rígida é um grande inibidor, porque as pessoas não vão se sentir confortáveis para contribuir. Elas vão de encontro ao bloqueio cultural, “nossa norma não aceita”, “a política da empresa não condiz”, “isso não se enquadra”. Todos esses processos que dão às pessoas a capacidade de falar “não”, sem pelo menos avaliar as idéias, pode destruir e matar várias idéias importantes dentro das organizações.

LINHA DIRETA Solange Mata Machado: (11) 3064-7637


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NÃO DURMA NO PONTO

O SEGREDO DESVENDADO Qual é o segredo de gente como Bill Gates, Steven Jobs, Michael Dell e Sam Walton? E de Samuel Klein, Alberto Saraiva, Abílio Diniz e Antonio Luiz Seabra? Esses e outros empreendedores despertam curiosidade. São trajetórias instigantes. Afinal, como foi que construíram suas empresas – quem começou do nada, em uma garagem ou como vendedor itinerante – ou reconstruiu um negócio de família em novas e amplas bases?

O segredo visto de fora Biografias são escritas no intuito de desvendar a vida de cada um e encontrar em algum ponto de sua história algo que explique o sucesso, como se ele viesse impregnado no próprio DNA. Alguns resumem na também enigmática palavra “sorte” o que eles têm em comum. Outros não aceitam essa simplificação. Querem descobrir o algo mais que os diferenciam das pessoas comuns. Alguém já disse que sorte é quando o preparo se encontra com a oportunidade.

elementos para que seja possível chegar ao resultado correto. Preparo, oportunidade, sincronicidade! Será que tais palavras revelam o segredo desses ilustres empreendedores? Alguns acrescentariam também uma outra palavra: inovação. Ou seja, a capacidade de, a partir de uma boa idéia, transformá-la em um novo empreendimento. Faz sentido, como parte, mas ainda não explica o todo. Arriscaria uma outra: disciplina. Essa, sim, parece ser a palavra que concentra a determinação comum a todos os empreendedores bem-sucedidos. É uma conclusão surpreendente? Será mesmo?

O segredo visto por dentro Antes de prosseguir, vamos compreender, juntos, o significado da palavra “disciplina”. Para muitos, quer dizer, apenas, obediência cega a normas e regulamentos, como a vivida nos quartéis. Não é dessa que estamos tratando aqui. Normas e regulamentos são coman-

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“Disciplina” é tornar-se “discípulo” de si mesmo, de suas próprias crenças e propósitos. Implica prática persistente e perseverante. É o que nos faz ir além das negativas que enfrentamos

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Explicação razoável, mas não me parece suficiente. Outros acham que sorte é a conjunção favorável da pessoa certa, na hora e no lugar certos. Outra maneira de ver as coisas, que parece aceitável. Mas, para mim, também incompleta. Como uma equação a que faltam

dos externos, forjados para garantir o controle de alguém sobre outras pessoas, e estas, por sua vez, ao aceitar as condições impostas, se tornam subservientes. Digamos que haja muita subserviência por aí, aparente e oculta, mas esse é um traço que não tem nada a ver com

quem decidiu empreender algo na vida. Mas se trocarmos “comandos externos” por “comandos internos”, então estamos no caminho certo. As palavras também têm seus mistérios e podem ser vistas de formas até diametralmente diferentes, a partir de uma mesma raiz. Disciplina é tornar-se “discípulo” de si mesmo, de suas próprias crenças e propósitos. Implica prática persistente e perseverante. É o que nos faz ir além das negativas que enfrentamos da parte de amigos e familiares, do pensamento comum, da lógica reinante. Empreendedores são, quase sempre, pessoas obstinadas. É essa obstinação que os leva a superar medos, os mesmos medos que imobilizam muitos prováveis empreendedores, fazendo com que arquivem para sempre suas boas idéias. Portanto, não são as grandes e as melhores idéias que caracterizam um empreendedor, mas a disciplina, apoiada nos “comandos internos”, como o combustível básico para transformá-las em realidade. O mesmo raciocínio vale para as pessoas intelectualmente bem preparadas e também para aquelas capazes de identificar oportunidades no amplo cenário dos negócios. Nada disso garante o sucesso, se não houver a decisiva conjugação com a disciplina, de pensamento e ação.

Pensamentos e ações disciplinados O que mais importa? O que posso fazer melhor? Estas são as perguntas que os empreendedores têm em mente todos os dias para enfrentar os desafios que se apresentam e os reveses que são comuns em todos os empreendimentos. Essas duas perguntas remetem a dois tipos de disciplina que garantem um progresso consistente. A concentração é uma dessas disciplinas. Implica um estado de alerta, de atenção.


cado, o desejo de ser o primeiro. Trata-se de um desafio estimulado por “comandos internos”: o desejo de se superar, de surpreender o cliente, de produzir algo que gere o gratificante sentimento de orgulho. Concentração e superação são duas disciplinas comuns aos empreendedores bem-sucedidos. A primeira implica viver em estado de atenção diante dos propósitos do empreendimento. A segunda implica colocálo no estado da excelência. Ambas têm o poder de fazer com que o empreendedor siga em frente, com avanços a cada dia. Que possa olhar para trás e reconhecer os seus progressos. Que possa olhar para frente e prosseguir, confiante na sua capacidade de realização e de superação.

O verdadeiro segredo A disciplina é necessária, porque as coisas não são fáceis, embora eventualmente sejam até simples. A disciplina oferece condições para lidar com os reveses que todos

O que mais importa? O que posso fazer melhor? Estas são as perguntas que os empreendedores têm em mente todos os dias para enfrentar os desafios que se apresentam e os reveses

significado exato, aqui, é a excelência, querer o melhor, superar obstáculos, romper barreiras. Nada tem a ver, portanto, com aquele tal – e tão erroneamente estimulado em algumas esferas – instinto competitivo estimulado por “comandos externos”: a concorrência, o mer-

os empreendimentos têm nas suas origens. Com pouca disciplina, resolveremos poucos problemas. Com total disciplina, resolveremos todos os problemas. E os problemas deixam de ser problemas quando resolvidos de forma disciplinada.

por Roberto Adami Tranjan

Educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial (11) 3873 1953 / www.cempre.net roberto.tranjan@cempre.net

Um empreendedor não é a pessoa mais bem preparada do ponto de vista intelectual, nem a mais conhecedora do mercado e de suas nuances. Tampouco é alguém com mais sorte do que os outros seres humanos, com mais idéias ou dinheiro. É, isso sim, uma pessoa que consegue conjugar, disciplinadamente, ação e pensamento. A aventura de empreender é como uma travessia, com trechos acidentados a vencer. Nem tudo é planície. Somente a disciplina é a virtude imprescindível para fazer a travessia com convicção e firmeza, na certeza de que nada impedirá a consecução da meta e que tudo faz parte do cenário: percalços e acidentes, surpresas desagradáveis, irritações e aborrecimentos. Disciplina é a única garantia de que aquele sonho, aquela idéia, aquele projeto, poderão, um dia, se transformar em uma obra grandiosa, como a que – diariamente – os empreendedores bemsucedidos são capazes de construir. E por que o verbo no presente? Porque é no diaa-dia que as coisas acontecem. E se consolidam. Esses seres humanos diferenciados sabem que a disciplina em que se forjam é necessária como o ar, para manter vivos os frutos do trabalho. Vale refletir profundamente a respeito. Porque viver é, em si, a tradução máxima da melhor disciplina. E a vida é também um empreendimento. O segredo é simples. Mas, como qualquer segredo, jamais óbvio!

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Como se fosse um radar que capta e seleciona tudo o que interessa. É por conta dessa disciplina que algumas coisas mágicas acontecem: deparamo-nos com mercados, empresas e pessoas afins. Tudo parece convergir para o todo conveniente, aquela conjunção de fatores imprescindíveis à realização efetiva. Conversamos, pesquisamos, lemos, e tudo parece estar conectado com o nosso empreendimento. É daí que surgem as oportunidades. Aquele conjunto de elementos que muitas vezes recebe o nome de sorte. A disciplina da concentração é comum entre os empreendedores bem-sucedidos. Acrescente-se a ela uma outra. A disciplina da superação. Reunidas, elas se traduzem em uma característica comum aos empreendedores: a obstinação. A disciplina da superação é fazer hoje melhor do que se fazia ontem. E não estamos tratando aqui de perfeccionismo. Perfeccionismo é evitar o erro a qualquer custo, mas o erro faz parte da vida do empreendedor, tal qual o risco faz parte de qualquer empreendimento. Então, ao invés de perfeccionismo, o

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Oรกsis empreendedores


Cidades que fomentam a abertura e os negócios de MPE registram melhorias nos índices econômicos e sociais Francis França

Maringá (PR): cidade-modelo em estímulo ao empreendedorismo BRUNA MORESCHI

Cidades que fomentam o empreendedorismo registram aumento nos índices de desenvolvimento econômico e de qualidade de vida da população. É uma relação simples de causa e efeito: ambientes favoráveis geram empresas bem-sucedidas, que demandam mão-de-obra qualificada, aumentam a empregabilidade e impulsionam a educação. O padrão de formação mais alto exige a formalização da economia, o que amplia a base de arrecadação tributária e gera mais riquezas. Essa é a realidade de alguns municípios brasileiros que decidiram investir em mecanismos governamentais para favorecer as micro e pequenas empresas (MPE), e hoje são considerados oásis para a criação de novos negócios e expansão dos já existentes. Independente do porte ou do volume do Produto Interno Bruto (PIB), essas cidades têm em comum o que os especialistas chamam de “natureza empreendedora”: adoção de políticas específicas para reduzir a burocracia e o peso dos impostos, além da criação de um ambiente de incentivo, com infra-estrutura, estímulo ao crédito, preferência nas compras públicas municipais e programas de capacitação de recursos humanos. Nada mais justo, já que as empresas de micro e pequeno portes representam 99% dos negócios formais no País. “Quanto mais as prefeituras estimularem os pequenos negócios, mais investirão em seu próprio desenvolvimento. A base da economia da maioria dos municípios com até 50 mil habitantes, por exemplo, é sustentada pelos recursos e impostos gerados por empresas de micro e pequeno portes”, diz Sandro Salvatore, coordenador da Unidade de Políticas Públicas do Sebrae nacional. Segundo ele, alguns municípios brasileiros têm iniciativas em prol das MPE que

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francis@empreendedor.com.br

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Petrópolis (RJ) População: 306.645 habitantes IDH: 0,80 PIB: R$ 3,2 bilhões PIB per capita: R$ 10.219,00

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servem de modelo e equivalem a projetos de nações desenvolvidas. Um deles é o projeto de desburocratização e desoneração da cidade de Petrópolis, no interior do Rio de Janeiro. Desde 2007, a legislação municipal prevê a concessão imediata de alvará de funcionamento para empresas cuja atividade não envolva risco. Para as MPE,

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Rassier, da ABM: é preciso conhecer as áreas prioritárias para investimento

a licença pode ser obtida na internet, apenas com a apresentação do CNPJ, no sistema chamado “Superfácil On-Line”. Antes, o empresário precisava apresentar 12 documentos e bater perna em uma dezena de repartições públicas para solicitar o alvará, que demorava de seis meses a um ano para ser liberado. O resultado foi imediato. O número de empresas abertas em Petrópolis saltou de 6,5 mil em 2001 para 22,6 mil em 2007. O município também reduziu o ISS de 5% para 2% em 140 atividades, o que ampliou o número de contribuintes e o volume de arrecadação. “Essas medidas foram um marco na atração de investimentos, e aumentaram significativamente nosso potencial para geração de emprego e renda”, diz o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo. A iniciativa teve impacto significativo no orçamento municipal, que passou de R$ 137 milhões em 2001 para R$ 371 milhões em 2008. Para a Associação Brasileira de Municípios (ABM), assim como Petrópolis, todas as cidades brasileiras têm potencial para melhorar seus indicadores. O ponto de partida é a integração entre poder público e iniciativa privada para identificar a vocação de cada cidade e direcionar as políticas de incentivo para esses

segmentos. “O desenvolvimento não é algo estranho a nenhuma comunidade, desde que haja ações coordenadas e focadas em resultados. Mas antes é preciso conhecer as áreas prioritárias para investimento, que podem ser o setor industrial ou de serviços, ou vocações naturais na área do turismo ou da cultura”, diz José Carlos Rassier, diretor-executivo da ABM. Ele explica, entretanto, que empreender não significa apenas potencializar os indicadores econômicos, mas deve contemplar fatores humanos, sociais e ambientais para que haja sustentabilidade no desenvolvimento dos municípios. “É preciso estimular o empreendedorismo com responsabilidade ambiental e social. Municípios com melhores índices de desenvolvimento humano sem dúvida têm mais capacidade para atrair investimentos”, diz.

Atitude empreendedora A capital Campo Grande experimentou esse crescimento e provou que é possível transformar um problema em fator de desenvolvimento. No ano passado, a cidade ocupou as manchetes dos jornais como “Capital da Dengue”, com mais de 45 mil casos notificados. Em vez de tratar a epidemia apenas


Campo Grande: local onde havia maior foco de infestação do aedes aegypti hoje é um pólo empresarial de reciclagem

Campo Grande (MS)

como questão de saúde pública, a prefeitura aproveitou a oportunidade para tomar uma atitude empreendedora. Além das ações de combate ao mosquito, como mutirões de limpeza e campanhas de conscientização, foi criado, no local onde costumava ser o maior foco de infestação do aedes aegypti, um pólo empresarial para empresas recicladoras. Entre as empresas que se instalaram no local, estão a Progemix Resilix, que recicla entulhos de construção e os transforma em blocos pré-moldados para uso em edificações, além de reaproveitar resíduos e rejeitos industriais urbanos e da construção civil. Junto com ela, instalou-se no local a Ecopneu, para atuar na reciclagem de pneus inservíveis, e a Coopgrande, que fabrica adubos à base de produtos orgânicos. Juntas, as três empresas já investiram mais de R$ 3 milhões no pólo. Empresas que compram matéria-prima oriunda do lixo também têm papel importante no projeto de erradicação da dengue e de inclusão social. A empresa Metape, que comercializa sucata, organiza uma cadeia de catadores com cerca de 900 agentes de reciclagem, e alguns já possuem empresas, que faturam até R$ 100 mil por mês. As empresas

Ecoflake e Plastisul compram matéria-prima de 200 catadores, que recebem em média R$ 800 por mês. “O mais importante é que atingimos nosso objetivo, que era o combate à dengue. Em 2007, tivemos 3.098 casos confirmados, e em março deste ano o número caiu para 67”, diz o prefeito Nelson Trad Filho, médico por profissão. Ao mesmo tempo em que gerou benefícios econômicos e sociais, com oferta de empregos e arrecadação de impostos das novas empresas, a iniciativa reduziu os gastos municipais com saúde pública. Quanto mais se investe no desenvolvimento das MPE, segundo o economista João Celso Sordi, menor é a demanda por serviços públicos, o que torna possível reduzir os

O ponto de partida para melhorar os indicadores é a integração entre poder público e iniciativa privada

impostos. Sordi é diretor-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (PR), também considerada cidademodelo em estímulo ao empreendedorismo. “Cada microempresa que o município viabiliza cria novos mercados formais e reduz a concorrência predadora, e cada emprego que se oferece diminui a demanda pública por saúde, cesta básica, transporte gratuito, segurança, etc.”, explica. De acordo com o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM), Carlos Tavares Cardoso, o cenário ideal é ter uma cidade capaz de gerar empregos para todas as camadas da população, desde os profissionais mais qualificados até os trabalhadores com nível básico de instrução. Para isso, a região do entorno do município também é contemplada nos projetos de desenvolvimento. “Entendemos que não adianta Maringá ser uma cidade rica, mas pólo de uma região pobre”, diz Cardoso. O município também desenvolve um programa de capacitação em parceria com o Sebrae/PR chamado “Empreendedor no bairro”, nas regiões com maior número de pessoas desempregadas e sem qualificação profissional. Para estimular a abertura de empresas, a

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População: 724.638 habitantes IDH: 0,81 PIB: R$ 6,9 bilhões PIB per capita: R$ 9.207,00

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Maringá (PR)

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População: 329.800 habitantes IDH: 0,84 PIB: R$ 4,6 bilhões PIB per capita: R$ 14.090,10

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Cariacica (ES) População: 361.058 habitantes IDH: 0,75 PIB: R$ 1,7 bilhão PIB per capita: R$ 5.088,57

cidade tem uma Câmara de Atração de Investimentos, que auxilia os empreendedores a agilizar procedimentos de instalação, como infra-estrutura e burocracia. O processo de concessão de alvará de funcionamento também é automático para atividades que não envolvem risco, e a prefeitura tem até 60 dias para fazer a vistoria do negócio e conceder o documento definitivo. Empresas de micro e pequeno portes que prestam serviços de base tecnológica foram especialmente beneficiadas por uma lei que oferece redução fiscal e prazo de 60 dias para recolhimento dos tributos. A legislação contempla especialmente algumas atividades que ficaram de fora dos benefícios previstos pela Lei Geral das MPE (Lei Complementar 123 ou Supersimples). Até agora, segundo o Sebrae nacional, cerca de 300 municípios brasileiros (5%) já regulamentaram a Lei Geral. O primeiro foi Cariacica, no sul do Espírito Santo, que promulgou a lei municipal em 27/12/2006, apenas 13 dias depois da sanção presidencial. Cariacica é uma cidade empenhada em facilitar a vida dos empresários. A lei municipal prevê redução de alíquotas em uma série de atividades, especialmente para os segmentos de confecções, fabricação de móveis e turismo, e também concede isenção de IPTU por dez anos às empresas que se instalarem no pólo empresarial e nas áreas indicadas pelo plano diretor como preferenciais para desenvolvimento de atividades alinhadas à vocação regional. A burocracia foi reduzida com a criação do Centro Integrado de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Ciampe), que reúne sete secretarias municipais e o Corpo de Bombeiros para agilizar a concessão de alvarás, abertura de empresas, vistorias, licenciamento e também para dar orientações sobre financiamentos. De acordo com a prefeitura, desde que o Ciampe foi criado, em agosto de 2006, o prazo para a abertura de uma empresa foi reduzido de quatro meses para apenas dois dias, e o número de alvarás concedidos quadruplicou. Em menos de dois anos, a representatividade do município no volume de empresas abertas em todo o Estado passou de 6,5% para 14,3%. “Estamos conscientes de que o investimento em MPE é um grande negócio para


Regulamentação

Machado: maior problema em relação à Lei Geral não está nos municípios, e sim nos Estados

O Sebrae não tem estimativas sobre quanto tempo deve demorar até que os 5.562 municípios do País regulamentem a Lei Geral, mas, de acordo com o consultor Alessandro Machado, mais importante do que aprovar a lei é fazê-la funcionar. “Precisamos que os empresários e os gestores entendam a lei. Um dos benefícios previstos é que as licitações até 80 mil reais poderão ser feitas exclusivamente para MPE, só que, para que isso aconteça, as prefeituras precisam conhecer bem a lei para aplicá-la, e os empresários, para participar”, diz. Machado avalia que o maior problema em relação à Lei Geral não está nos municípios, e sim nos Estados, em função do aumento de carga tributária por causa do ICMS. De acordo com o consultor, alguns Estados que antes tinham legislação mais benéfica para as MPE reeditaram essas leis para manter os benefícios depois que o Supersimples passou a vigorar, como é o caso do Paraná, do Rio de Janeiro e de Sergipe. Outros Estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entretanto, optaram por não renovar os benefícios, e a carga tributária para as MPE acabou ficando mais pesada. Segundo o consultor, é primordial que os Estados que tinham leis mais benéficas

em relação ao ICMS mantenham o incentivo, porque a lei se baseia em um tripé: desburocratização, desoneração e incentivo, que devem funcionar juntos. O impacto, segundo ele, é mínimo, já que nos Estados mais desenvolvidos economicamente a arrecadação das MPE representa apenas 3% da receita. “Se o governo estadual isentar as MPE do ICMS, o máximo de impacto seria 3%. E isso ainda seria absorvido lá na frente, porque esse recurso dentro do setor produtivo vira compra de matéria-prima, contratação, capital de giro”, explica. A regulamentação da Lei Geral nos Estados também é importante para que as MPE tenham prioridade nas licitações. A empresa KPM de Moraes, que trabalha com a comercialização de equipamentos hospitalares, está instalada em Manaus e ainda aguarda a lei estadual para poder participar das licitações. Apesar de a cidade já cumprir a determinação do Supersimples em relação às compras públicas, o Estado do Amazonas ainda não regulamentou a lei. O diretor da empresa, Eduardo Valentino Moraes, já venceu cinco concorrências municipais, mas diz que, mesmo assim, o impacto no negócio

ainda não é o esperado, porque seu maior volume de vendas é para o Estado. “Agora, eu passo a semana inteira lendo o Diário Oficial do Município e do Estado. Essa regra é muito útil para nós, pequenos empresários, mas não adianta Manaus aprovar, se o Amazonas não obedece à lei federal”, reclama. Segundo Alessandro Machado, a morosidade dos Estados em aprovar as leis de incentivo pode de fato prejudicar os esforços municipais, já que tanto comércio como indústria pagam ICMS, que é um imposto estadual. “Não adianta o município facilitar a liberação de alvarás, dar capacitação, disponibilizar linhas de crédito, comprar das MPE, se o empresário tem um aumento de ICMS que vai pagar do próprio bolso. Aí ele acaba entrando para a informalidade ou demite pessoal, ou produz menos, porque não vai ter capital de giro, a matéria-prima fica mais cara, o produto também, e ele vende menos”, diz Machado. O caminho, segundo o consultor, é integrar a força de Estados, municípios e empresas em direção ao empreendedorismo qualificado, capaz de gerar desenvolvimento econômico e humano. As cidades que apostaram não se arrependem.

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todas as cidades brasileiras. Vale a pena desburocratizar e criar condições para o desenvolvimento das empresas, porque se amplia a base de arrecadação sem ter que aumentar impostos”, diz o prefeito de Cariacica, Helder Salomão. O desafio é tirar da informalidade as empresas que não contribuem com a arrecadação municipal. Em Cariacica, existem hoje cerca de 12 mil empresas formalizadas e o dobro de negócios informais. Além de ser a primeira cidade brasileira a regulamentar a Lei Geral das MPE, Cariacica foi também a primeira a fazer uma atualização na lei, no início deste ano. De acordo com o prefeito, a agilidade foi possível, porque a lei já vinha sendo discutida há um ano e meio em um fórum consultivo composto por membros do governo e do empresariado local. Quando o Presidente da República promulgou a LC 123, Cariacica já tinha seu próprio texto pronto e um acordo com os vereadores para aprovar em tempo recorde.

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C A PA

Ambiente ideal Municípios investem em incubadoras e APL como forma de estimular o empreendedorismo

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A pacata Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, chama a atenção de pesquisadores no mundo inteiro por ter passado de economia exclusivamente agrícola a pólo tecnológico em menos de duas décadas, em uma das experiências mais bem-sucedidas de arranjo produtivo local do País. Conhecida como “Vale do Silício brasileiro”, a cidade com pouco mais de 30 mil habitantes abriga duas incubadoras de empresas, frutos da parceria entre prefeitura e universidade. A boa notícia é que o modelo é plenamente reproduzível em outras regiões, com a mesma chance de êxito. O segredo do sucesso é um projeto de educação bem concebido e executado. A primeira vantagem é que não existe concorrência: as pequenas empresas trabalham

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de forma complementar entre si para fornecer produtos e insumos às grandes. A segunda é o fato de envolver toda a população no projeto. Existem atualmente 150 empresas de base tecnológica instaladas no município, que empregam cerca de 7 mil pessoas, o que corresponde a 50% da população economicamente ativa. O processo começou na década de 1980, a partir do estímulo ao empreendedorismo no Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), primeiro curso superior em Telecomunicações do Brasil. O processo começou a gerar as primeiras empresas de base tecnológica e, mais tarde, a iniciativa tornou-se um programa formal, por meio da incubadora de empresas do Inatel. A prefeitura passou a apoiar o movimento da universidade por um motivo especial. Até

então baseado em um modelo agrícola de cafeicultura, o município via sua população crescer sem condições de absorver a mão-deobra, e as pequenas empresas começaram a gerar empregos. Dali em diante, o raciocínio foi linear: estimular o surgimento de pequenas empresas amplia a oferta de postos de trabalho e a qualidade de vida da população. Como a incubadora do Inatel trabalhava focada no curso superior de Engenharia, a prefeitura resolveu criar, em 1999, o Programa Municipal de Incubação de Empresas (Prointec) para funcionar de forma complementar, com foco na Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa. “A idéia da prefeitura era – e é – mostrar para o jovem que, mesmo que ele não esteja na universidade, mas tenha um bom curso técnico, pode abrir sua empresa e dar um destino à sua vida profissional. Independente de ir ou não para o Ensino Superior, pode se tornar um empreendedor bem-sucedido”, explica Ely Kallás, secretário municipal de Ciência e Tecnologia. Juntas, as duas incubadoras abrigam 20 projetos e lançam dez empresas por ano no mercado, consolidando-se como mecanismo


so a informação e a parceiros e investidores de forma mais rápida. “Para nós, é muito importante, porque nosso maior problema, como o da maioria das empresas, é a falta de recursos para fazer as coisas sozinhos”, diz.

Crescimento significativo A participação dos municípios no movimento de incubadoras e parques tecnológicos do Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). “Temos hoje algumas cidades que são extremamente ousadas na proposição de soluções de empreendedorismo a partir das micro e pequenas empresas”, diz Josealdo Tonholo, diretor da entidade e professor da Universidade Federal de Alagoas. Segundo ele, o País tem pequenas cidades com incubadoras que se tornam peças-chave no desenvolvimento de suas regiões. Além do caso de Santa Rita do Sapucaí, focada em tecnologia, cresce também o viés de incubadoras de empresas tradicionais, com soluções inovadoras para fazer com mais eficiência

produtos e serviços comuns no mercado. De acordo com Tonholo, as incubadoras tradicionais são as que mais crescem em todo o País e não precisam estar necessariamente instaladas nos grandes centros para darem resultados. Antes de entrar em uma incubadora, há dois anos, o empresário Rui Murilo Galvanini era obrigado a trabalhar de forma ilegal. Agricultor, ele arrendava uma chácara no interior do Mato Grosso do Sul e vendia produtos em conserva, mas precisou sair das terras a pedido do proprietário. Para vender seus produtos, teve que continuar emitindo nota fiscal de produtor rural, até que foi descoberto pela fiscalização. Ele estava passando por uma série de problemas quando conheceu a incubadora do Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Campo Grande. “Conseguimos espaço e depois a formalização do negócio, para trabalhar legalmente”, conta. Hoje, sua empresa Vó Ermínia Alimentos fatura cerca de R$ 350 mil por ano com a produção de conservas, temperos, banana-passa e geléia de pimenta. São comercializados 22 mil ovos de codorna por semana, que Galvanini compra da Cooperativa Agrícola de Campo

Santa Rita do Sapucaí (MG) Duas incubadoras do município lançam dez empresas por ano no mercado

População: 34.920 habitantes IDH: 0,78 PIB: R$ 314 milhões Renda per capita: R$ 9.462,62

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de sustentação do parque tecnológico de Santa Rita do Sapucaí. A cidade havia passado por uma experiência traumática há algumas décadas, quando uma empresa com mais de 2 mil funcionários fechou as portas e causou uma tragédia social. Já os negócios de micro e pequeno portes, com taxa de mortalidade de apenas 15%, garantem a oferta de postos de trabalho. O Prointec atua em quatro áreas de incubação: empresas de tecnologia da informação (TI), eletrônica industrial, agronegócios e software livre. A expectativa é abrigar 50 projetos nas duas incubadoras até 2010. “Só é possível sustentar o pólo se colocarmos permanentemente no mercado empresas competitivas que possam, mesmo pequenas, se inserir na rede dos grandes complexos industriais”, diz Kallás. Sem o Prointec, a 3J Tecnologia, incubada desde 2003, nunca teria saído do papel. A empresa desenvolve equipamentos digitais de alta precisão para a área da saúde auditiva e deve ser graduada em julho deste ano – aguarda apenas o registro da Anvisa para comercializar seus equipamentos. De acordo com o sócio-diretor Juliano Braz dos Santos, dentro do programa os empresários têm aces-

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Grande e de fornecedores no Paraná. Em 2006, a empresa assinou dois contratos de exportação para os Estados Unidos. Segundo o empresário, a qualidade de vida da família melhorou significativamente, tanto em relação à renda quanto em tranqüilidade para trabalhar. A empresa foi graduada no início deste ano, a prefeitura doou um terreno para a construção da sede, e agora só falta a liberação do financiamento pelo Fundo do Centro-Oeste para começarem as obras.

Dedicação exclusiva

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O Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Campo Grande (NDE) possui quatro incubadoras municipais, divididas em áreas temáticas. A Zé Pereira é voltada ao artesanato e abriga seis empresas, a Mário Covas abriga duas empresas do setor de confecção, e outras três do segmento de couro estão instaladas na Francisco G. Neto. A maior de todas é a Incubadora Municipal Norman Edward Hanson, especializada no setor alimentício, que abriga dez empresas, entre elas a Vó Hermínia Alimentos. Para entrar em uma delas, é preciso ser maior de idade, ter idoneidade comercial e pessoal, trabalhar em uma atividade não poluente e dedicar-se exclusivamente ao empreendimento. Cada incubadora possui 960 metros quadrados de área, e cada módulo empresarial tem entre

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Kallás: só é possível sustentar o pólo se colocarmos no mercado empresas competitivas

O que é um APL Arranjo Produtivo Local (APL) é definido como a aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal, bem como de empresas correlatas e complementares, em um mesmo espaço geográfico, com identidade cultural local e vínculo, mesmo que incipiente, de articulação,

35 e 70 metros quadrados. Desde o início do programa, em 2005, as incubadoras municipais já abrigaram 39 projetos selecionados em editais públicos abertos à comunidade, e, juntos, os empreendimentos já desenvolveram 135 produtos e geraram 339 empregos. Em 2007, foram graduadas as duas primeiras empresas no programa. Nos próximos anos, a prefeitura de Campo Grande pretende criar outras três incubadoras nos segmentos de serviços, tecnologia e uma específica para dekasseguis – brasileiros que acumularam recursos no Japão e pretendem montar um negócio no Brasil. De acordo com Tonholo, as cidades não precisam necessariamente ter incubadoras municipais, mas podem aproveitar o modelo de excelência que elas têm e transferir esse conhecimento para os empresários que estão nos arranjos produtivos locais. “Temos um trabalho muito sério no País para consolidação dos arranjos produtivos, e a maior parte deles estão localizados em regiões periféricas, em cidades pequenas. Por isso, é fundamental que as prefeituras despertem e busquem nas incubadoras a experiência para criar empresários de sucesso”, diz. Ele cita o exemplo de Itajubá (MG), que lançou recentemente um programa de préincubação nascido na Universidade Federal de Itajubá e hoje abrange todas as escolas de nível Superior, Tecnológico, Médio e também a prefeitura e a secretaria de educação. “É um programa que começou na academia e se alastrou por toda a sociedade. E, no momento em que a secretaria de educação do município participa, todo o público do Ensino Fundamental também é contemplado”, diz.

interação, cooperação e aprendizagem entre si, e com outros atores locais e instituições públicas ou privadas de treinamento, promoção e consultoria, escolas técnicas e universidades, instituições de pesquisa, desenvolvimento e engenharia, entidades de classe e instituições de apoio empresarial e de financiamento.

Segundo Tonholo, as incubadoras estão habilitadas a dar um salto maior no desenvolvimento do empreendedorismo e apoiar as empresas, mesmo que não estejam incubadas, mas sim dentro dos arranjos produtivos, e torná-las mais competitivas. “Se isso acontecer, conseguiremos dar um salto quantitativo e qualitativo muito forte. Empresas que hoje não são competitivas podem vir a ser e a trazer geração de emprego, renda e desenvolvimento para seus municípios.”

LINHA DIRETA Alessandro Machado (Sebrae): (61) 3348 7302 Carlos Tavares Cardoso (ACIM): (44) 3025-9595 Eduardo Valentino Moraes (KPM de Moraes): (92) 3664-2489 Ely Kallás (Prointec): (35) 3471-3032 Helder Salomão (Cariacica): (27) 3346-6440 João Celso Sordi (Codem Maringá): (44) 3027-3300 José Carlos Rassier (ABM): (61) 3226-9520 Josealdo Tonholo (Anprotec): (61) 3202-1555 Juliano Braz dos Santos (3J Tecnologia): (35) 3471-3053 Rubens Bomtempo (Petrópolis): (24) 2246-9000 Rui Murilo Galvanini (Vó Ermínia Alimentos): (67) 3380-0224 Sandro Salvatore (Sebrae): (61) 3348-7408


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PUBLIEDITORIAL

Urbanismo inovador Empreendimento imobiliário em Palhoça (SC) se consolida como pólo gerador de negócios e aquece economia local por Patrícia Peron Especial para a Empreendedor

empreendedor | abril 2008

Um projeto inovador em urbanismo, baseado na sustentabilidade, e incentivos fiscais concedidos pela prefeitura de Palhoça (SC) consolidam a Cidade Pedra Branca como pólo gerador de negócios e impulsiona o próprio desenvolvimento do município. O empreendimento conta hoje com 50 empresas dos setores de indústria, comércio e serviços e gera 4 mil empregos diretos. A intenção, segundo o presidente da Pedra Branca, Valério Gomes Neto, é quadruplicar esse número, em longo prazo, e saltar dos 3 mil moradores registrados hoje para até 30 mil habitantes em 15 anos. Gomes Neto destaca que o empreendedorismo sempre foi prioridade no

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projeto do bairro, cuja principal proposta é proporcionar aos habitantes do local trabalho, lazer e moradia próximos. “Nosso objetivo é valorizar o pedestre. No centrinho da cidade, a idéia é fazer com que a pessoa tenha que andar no máximo um quilômetro para encontrar tudo de que precisa. Essa é uma tendência já verificada em todo o mundo, proporciona qualidade de vida, todos os dias, e segurança, à medida que as ruas não ficam desertas, em razão dos estabelecimentos comerciais e demais estruturas”, destaca. O bairro é a única proposta de new urbanism ou novo urbanismo no Brasil e um dos primeiros da América Latina que permite transformar mais de 1 milhão de metros quadrados em uma verdadeira cidade com qualidade de vida. Além de contar com um planejamento urbanístico, o bairro investe em infra-estrutura com cuidados especiais no que se refere às instalações de drenagem, esgoto e pavimentação. O pioneirismo e a estrutura diferenciada fizeram com que o projeto conquistasse o prêmio na categoria Investidores na XI Bienal Internacional de Buenos Aires no último ano, um dos três maiores eventos do mundo no setor. O bairro abriga uma das maiores

universidades do Estado, a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), que atende cerca de 7 mil alunos, e conta com Centro Empresarial, Shopping Universitário e Techno Park, com 204 lotes destinados à operação de companhias não poluentes. Entre as empresas já instaladas no local e que deverão ser implantadas em breve, o presidente destaca uma central de atendimento da empresa Tivit e a sede principal do Laboratório Santa Luzia, que deverá começar as atividades no início de 2009. As vantagens oferecidas pelo bairro também atraíram, há quatro anos, a fábrica da Mini Kalzone, marca já estabelecida em Santa Catarina e que conta com 17 franquias em dez Estados do País, e a Akakia Cosméticos, em 2005. Para 2008, também está prevista uma série de lançamentos e novidades que seguirão padrões da LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), voltados a obter máxima eficiência ambiental e sustentabilidade. Entre as obras, está a construção de um anfiteatro, centro cultural e de eventos, praça central, prédios residenciais e comerciais de alvenaria, com lojas e restaurantes no térreo. Muitos dos edi-


Projeto premiado na XI Bienal Internacional de Buenos Aires deve receber 30 mil habitantes nos próximos 15 anos

SERVIÇOS ESSENCIAIS Outras apostas da direção da Pedra Branca para o desenvolvimento do bairro são a construção do hospital Pedra Branca e de um open shopping. Conforme o presidente, a capital de Santa Catarina apresenta demanda para mais dois ou três hospitais. “Queremos que um deles seja construído no bairro, que fica na Grande Florianópolis”, esclarece. Já o shopping seria formado pela concentração das lojas térreas dos edifícios localizados na Rua da Pedra e na Rua Camboriú e deve ser concluído em um prazo de até quatro anos. O prefeito de Palhoça, Ronério Hei-

derscheidt, acrescenta que o bairro é hoje o cartão-postal do município. “Sempre que investidores chegam à cidade, após conversarmos sobre a necessidade e benefício da vinda de novas empresas, procuramos levá-los a conhecer a Pedra Branca, hoje um dos maiores empreendimentos imobiliários da Grande Florianópolis e fundamental para a melhoria e resgate da qualidade de vida de quem mora no local”, diz. Ele também atribui grande parte do sucesso do bairro ao novo conceito de urbanismo que propõe, e admite que a Pedra Branca tem contribuído significativamente para o crescimento da cidade. “Essa será a grande revolução no setor imobiliário da Grande Florianópolis. A Pedra Branca, assim como a vinda dos grupos Rodobens, Cyrela e a parceria entre os grupos Imperatriz e

Jaime Aleixo justificam a classificação de Palhoça como o 25º município mais dinâmico do Brasil em 2007, segundo a Gazeta Mercantil”, destaca. De 1º de janeiro de 2005 a 31 de dezembro de 2007, foram abertos 2.317 novos estabelecimentos na cidade. Heiderscheidt também enfatiza que Palhoça é a cidade catarinense que mais cresce atualmente: 11,59% em 2007. “Estamos praticamente triplicando o orçamento, e a expectativa é de que estejamos entre as cinco maiores arrecadações do Estado em 2010”, avalia o prefeito.

Pedra Branca: (48) 3242-1145 Prefeitura de Palhoça (SC): (48) 3279-1700

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fícios terão pátios internos, oferecendo maior privacidade e jardins para complementar as áreas verdes públicas.

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TENDÊNCIA

O salmão

tupiniquim Bijupirá é a grande aposta da piscicultura marinha brasileira, pelo seu crescimento rápido e carne branca saborosa por Marco Britto

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O Brasil sempre foi reconhecido por seu território de extensões vastas. A enorme quantidade de terras disponíveis foi um trunfo observado desde os tempos de colônia e até hoje assegura ao País status de potência agropecuária mundial. O litoral brasileiro, com 8 mil quilômetros de costa, se constitui também numa imensa fazenda marinha,

com condições de produzir rendimentos em escala igual ou superior às grandes lavouras de soja, como arriscam alguns entusiastas da maricultura. A cidade de Ilha Comprida, no litoral paulista, foi o ponto de partida para um projeto arrojado de produção industrial de peixe que almeja botar o setor entre os assuntos principais da pauta de exportações. Com a inauguração do Laboratório Nacional de Aqüicultura Marinha (Lanam), obra realizada em parceria entre a Secretaria Especial

de Aqüicultura e Pesca (Seap), órgão ligado diretamente à Presidência da República, e a prefeitura do município, dá-se início à fase de produção do Projeto Bijupirá Brasil, organizado pela operadora marítima TWB, que sozinha deve em meia década aumentar em 30% a produção interna de carne de peixe provinda da aqüicultura. Em um convênio com a Seap, a empresa pôde utilizar a base do Lanam para desenvolver as pesquisas de cultivo das larvas da espécie bijupirá em laboratório. Esta será a primeira cadeia de produção de um peixe marinho do País, e a espécie tem sido divulgada como uma alternativa com “grandes chances de se tornar tão importante para o Brasil quanto o salmão


Lanam em números R$ 3 milhões: investimentos no suporte à pesquisa e fornecimento de peixes, ostras e mexilhões para a engorda no mar 1 milhão de alevinos: capacidade anual de produção na área de peixes marinhos 60 jaulas oceânicas (tanques-rede): demanda anual de alevinos que pode ser atendida 4 tanques de 60 toneladas: destinados à maturação dos alevinos 12 tanques de 25 toneladas e 12 de 12 toneladas: destinados à larvicultura 3 milhões de sementes de ostras e vieiras: capacidade anual de produção na área de moluscos, impulsionando a maricultura e solucionando o gargalo de disponibilidade de formas jovens para cultivo no Sudeste

é para o Chile”, como afirmou o órgão federal através da assessoria de imprensa. Em troca do uso do laboratório público, a TWB forneceu tecnologia e mão-de-obra qualificada para capacitar a instituição a continuar a busca por outras espécies de peixe e molusco com potencial de comercialização em larga escala. No mês de março, os primeiros alevinos – como são chamados os filhotes após a fase larval – foram levados para os tanques-rede em alto-mar para a fase final de engorda. A expectativa antes do embarque era de transferir 10 mil alevinos nesta primeira viagem, mas os tanques, que abrigam um volume de 4 mil metros cúbicos, suportam tranqüilamente o dobro desta população, de acordo com informações da TWB. Até a fase atual do projeto em Ilha Comprida, a empresa desembolsou R$ 8 milhões, com a expectativa de ter o investimento de volta até 2013. A área de cultivo no litoral paulista deve receber a instalação de mais 17 tanques ainda este ano, segundo a coordenação do projeto. Ao todo, a empresa tem permissão para administrar 30 tanques-rede na área concedida pela União no Estado de São Paulo. Em sua campanha de incentivo da aqüicultura marinha, a Seap ainda realizou licitações de áreas para a criação de bijupirá nos litorais baiano e pernambucano. Na Bahia, a TWB está em fase adiantada para implantar sua segunda base de pesquisa e desenvolvimento, com a conclusão de um laboratório de apoio em Sal-

vador prevista para o próximo semestre, com capacidade para atender a uma produção inicial de 300 mil alevinos/ano. Já em atividade, a estação de captura baiana é responsável pelos exemplares selvagens, que, domesticados, se tornam reprodutores para a cadeia industrial. “Ainda em 2008, será possível utilizar matrizes já criadas em cativeiro”, afirma o coordenador do Projeto Bijupirá Brasil, Luiz Anchieta. Este é o quarto ano de trabalho da equipe, que em 2004 começou a fase de capacitação de funcionários e importação de tecnologia, numa parceria com a Universidade de Miami. Ao todo, a corporação já investiu R$ 28 milhões no ramo de maricultura.

Mar para peixe Em Pernambuco, a Aqualíder Maricultura foi a única empresa a apostar na promessa do bijupirá. Concorrente solitária na licitação do governo federal, foi avaliada e considerada competente para pôr em prática mais um projeto integrante desta nova cadeia de produção que se forma na aqüicultura marinha. O início da produção deve acontecer ainda neste semestre, conforme informações fornecidas pela empresa. Em três anos, depois de instalados um total de 48 tanques-rede, a produção anual alcançará resultados superiores a 4 mil toneladas por ano. O investimento total da empresa está calculado em pouco mais de R$

8,5 milhões, afirmou o oceanógrafo e gerente da Aqualíder, Santiago Hamilton. O que começou com conversações sobre a renovação da frota pesqueira brasileira acabou em um novo ramo de atuação para a TWB. Durante negociações com a Seap sobre a venda de embarcações, a empresa tomou conhecimento de inovações na maricultura envolvendo o bijupirá e enxergou a oportunidade. O peixe, conhecido fora do Brasil como cobia, tem bastante aceitação nos grandes mercados – Estados Unidos, Europa, Japão e China. As características da espécie, como crescimento rápido, e a carne bem branca e saborosa, favorecem a comercialização, conforme defende a Seap. O bijupirá pode alcançar até seis quilos em um prazo de oito a doze meses, tempo considerado curto. No Brasil, o quilo desse pescado é comercializado hoje por cerca de R$ 15 reais. Numa multiplicação simples, obtêm-se resultados expressivos, daí o entusiasmo das empresas pioneiras. O foco da TWB é o mercado externo, porém não é intenção da companhia menosprezar o consumidor brasileiro. “A princípio, a produção deve ser destinada ao Brasil, EUA e Europa, com um planejamento de longo prazo para entrar no Japão.” “A TWB acredita que esse negócio pode atingir escalas semelhantes ao cultivo da soja”, declarou Anchieta. Com essa previsão de demanda, está sendo elaborado um projeto de

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Fonte: Seap, 2008

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TENDÊNCIA

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capacitar mão-de-obra e integrar famílias ribeirinhas à cadeia produtiva, dando condição aos pescadores artesanais de se capacitarem para trabalhar nos canais de distribuição do bijupirá. Só a TWB espera contar com a participação de mil famílias dentro de cinco anos, nos cultivos da Bahia e Ilha Comprida. Atualmente, a colaboração de pescadores se limita à captura de animais no mar para a produção de matrizes reprodutoras. O objetivo, segundo Anchieta, é transformar os pescadores, atualmente coletores, em produtores capacitados a cuidar de tanques-rede e participar da dinâmica do processo de criação. Os pequenos produtores vão atuar como “terminadores”, agentes responsáveis pela engorda e abatimento dos animais, a exemplo do que ocorre nas cadeias de produção integrada de frango e porco. Sem comprometer-se com valores definidos, Anchieta garante que o objetivo da empresa será estabelecer um padrão de lucro mais atrativo aos trabalhadores do que o obtido com a pesca tradicional. A Aqualíder aposta no diferencial da localização, em águas mais quentes e distantes, para favorecer seu empreendimento. “Nosso projeto será instalado a aproximadamente 16 quilômetros da terra firme, em águas de qualidade oceânica, superior às águas mais próximas da costa. Na China, alguns peixes cultivados no oceano alcançam o dobro do preço da mesma espécie cultivada em águas costeiras”, ressalta Santiago. Segundo o oceanógrafo, as maiores causas das perdas de produção em Taiwan e China nos anos de 2002 e 2008 foram as mortes causadas por baixas temperaturas. No entanto, ele mesmo reconhece que este fator pode ser amenizado por novas tecnologias, como, por exemplo, o cultivo em estufas em terra durante os meses de inverno, mas é uma precaução que aumentaria significativamente o custo de produção. A empresa pernambucana vai utilizar tanques-rede circulares com 25 metros de diâmetro para a fase de engorda. As gaiolas são suspensas por uma estrutura de flutuação com tubos de polietileno de alta densidade, uma tecnologia norueguesa. As redes alcançarão 11 metros de profundidade. Inicialmente, serão instalados três tanques para estocar os bijupirás jovens, já cultivados pelo laboratório da Aqualíder no município de Ipojuca (PE). Além do laboratório e das estruturas de en-

O bijupirá pode alcançar até seis quilos em um prazo de oito a doze meses gorda no oceano, haverá também o apoio logístico no Porto do Recife, que será a base comercial de operações, onde se farão a silagem de ração, recepção do peixe, manutenção dos apetrechos do mar e de embarcações, além de todo o apoio administrativo. Acreditando no novo ramo em que investiu, a empresa já planeja ampliar suas opções de produção, incluindo um olhar mais sensível sobre a região onde está inserida. “Estamos particularmente interessados em achar uma espécie de peixe marinho que possamos reproduzir e destinar às centenas de fazendas de camarão marinho que ruíram sob a má fase da economia do setor”, afirmou Santiago.

Preparação do terreno “A Seap está fazendo o papel de facilitador”, declarou o coordenador-geral de maricultura da instituição, Felipe Suplicy. Através de contatos com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, órgão responsável pelo controle sanitário de animais aquáticos, está sendo montado um programa de monitoramento para a cadeia produtiva do bijupirá. Também junto ao Ministério da Agricultura,

em conjunto com seguradoras privadas, foi estabelecido um seguro de mortalidade para a aqüicultura, por qualquer razão, inclusive roubo de carga. No Estado da Bahia, a Seap fez um investimento similar ao destinado ao Lanam, no litoral paulista. Na Bahia Pesca, órgão de fomento da pesca e aqüicultura ligado ao governo estadual, foi ampliada a estrutura do laboratório para produção de alevinos, com novos equipamentos e também a manutenção de novas unidades demonstrativas no mar, que servem para treinamento de investidores interessados na compra de tanques-rede. Segundo Suplicy, já está em andamento a discussão para a formatação de linhas de crédito para a aqüicultura no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Nossa preocupação é oferecer um cenário convidativo. Se não houver controle sanitário, seguro para os produtores, crédito, procedimentos corretos de cessão de áreas no mar, ninguém investe.” A Secretaria do Governo Federal desenvolve atualmente um mapeamento das potencialidades de todo o litoral, numa leitura que vai resultar num autoconhecimento do poder de produção em maricultura do Brasil oceânico. A partir do resultado do estudo, a Seap vai conversar com as entidades locais de governo sobre a possibilidade de aproveitar as áreas marítimas para cadeias de produção, como a do bijupirá. “Com as áreas identificadas e delimitadas, o investidor sabe seguramente que local é adequado para o seu negócio”, argumenta Suplicy. O camarão ainda é o grande destaque da aqüicultura marinha brasileira, com 65 mil do total de 80 mil toneladas produzidas em 2006 (Seap). O restante é composto por moluscos, e o peixe nem sequer constava até então neste índice produtivo. Porém, esse segmento, representado inicialmente pelo bijupirá, pode rapidamente ameaçar essa liderança do crustáceo. Um belo combate, em que as proporções de desenvolvimento econômico e social são extensas, assim como o litoral brasileiro.

LINHA DIRETA Aqualíder: (81) 3328-1544 TWB: (13) 3348-4848 Seap: (61) 3218-3895


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MERCADO

Ataque

maciço Taikodom é a promessa brasileira num universo de 300 mil jogadores e movimentação anual de US$ 40 bilhões por Débora Remor

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debora@empreendedor.com.br

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Lazer e entretenimento movimentam grande quantia pelo País. Uma pesquisa do IBGE de 2002 e 2003 demonstrava que 1,9 % da renda das famílias era destinada a recreação e cultura, com gastos mensais de quase R$ 35 por grupo. No universo da tecnologia – cujos valores movimentados não param de crescer –, o lazer é a terceira razão de acesso à internet do usuário brasileiro, atrás apenas de educação e comunicação. Ao unir essas duas grandes áreas, surge um espaço ainda inexplorado nacionalmente:

os jogos por computador. O Brasil não investe no potencial da indústria, e acaba por deixar em mãos européias e asiáticas a vontade dos brasileiros de jogar, a sede por produtos inovadores de entretenimento. Uma das maiores ondas dos jogos da internet, que cresce com a mesma velocidade que a facilidade de acesso à rede e a qualidade da banda, são os chamados jogos maciços – ou massivos, como são conhecidos no meio, uma tradução incorreta do inglês Massive Multiplayer Online Games (MMOG). MMOG são jogos praticados simultaneamente pela internet, com interação e comunicação direta entre milhares de usuários. Para desenvolver um produto de qualidade comercializável, dois ingredientes precisam estar em sincronia. O enredo ou proposta do jogo, como qualquer tipo de entretenimento, requer interesse prolongado do usuário. E a aparência ou apresentação do ambiente onde o jogo vai acontecer também explica o sucesso – ou fracasso – do produto.

O mercado nacional é promissor. Existe o potencial das ferramentas, com acesso ampliado pelo crédito e facilidades adjacentes – computador e banda larga ou redes –, e as pessoas estão dispostas a pagar o equivalente a uma ida ao cinema para se divertirem por um mês. Num movimento ousado, buscando ocupar esse espaço ocioso no País, jovens brasileiros começam a entrar neste ramo e desenvolver jogos massivos. Já foram feitos e lançados dois games, pouco expressivos e com vida curta. Agora, o público aguarda ansiosamente pelo Taikodom, que promete ser melhor do que a maioria dos produtos atualmente oferecidos no mercado internacional. Parcerias importantes e o desenvolvimento de inteligência tecnológica credenciam o Taikodom para ser o pontapé para a indústria nacional deslanchar de vez. A qualidade, o profissionalismo e o amadurecimento da idéia empreendedora já são testados por uma comunidade nacional de 50 jogadores que


Pelo lado dos jogadores, isso significa que os desafios e nuances do jogo são imensos, o que aumenta o potencial do produto. Em desenvolvimento direto há quatro anos e consumindo investimentos que ultrapassam os R$ 10 milhões, o Taikodom é voltado para o público adulto e jovem, com capacidade de pagar mensalmente cerca de R$ 20, o equivalente a uma ida ao cinema ou uma partida de futebol. “Para o jogo se pagar, é preciso que as pessoas fiquem três meses, ideal mesmo seria seis meses, pagando. Se você não consegue isso, não tem curva de crescimento forte o bastante”, calcula. “Então, é muito difícil trabalhar, se o jogo não puder manter as pessoas ligadas por um bom tempo, e também pela comunidade, pelo grupo de amigos que se forma lá dentro – que é muito importante num jogo massivo.”

Expectativa Pelas contas da Hoplon, o Taikodom terá 40 mil jogadores no Brasil. “Sabemos que esse público existe, só que eles jogam uma série de jogos internacionais. Então, ninguém tem estatística, porque eles pagam no cartão de crédito internacional, diretamente para uma empresa estrangeira, num servidor que não é dedicado ao mercado brasileiro, não tem linguagem em português.” Os números do mercado consumidor de jogos massivos, no entanto, são bem maiores. As estimativas indicam que mais de 300 mil pessoas se interessam e praticam esses jogos no mundo. Na etapa inicial de lançamento-teste do Taikodom, iniciada em fevereiro, o servidor deve suportar uma carga de 4 mil usuários simultâneos, o que exige 120 megabits de banda. “Esse é um dos muitos testes ainda que a gente tem que fazer”. Outro teste em andamento, em paralelo, é o que a IBM está fazendo em seu mainframe, servidor de grande porte que precisa ser adaptado para processar informações do jogo e dos jogadores. Parceira da empresa catarinense, a multinacional fornece a estrutura para os testes e a homologação. O que interessou à multinacional é o bitverse, a tecnologia para juntar os vários estilos de jogo com mundos virtuais. “Essa hierarquia moderna, de círculos, é a própria maneira de as pessoas construírem a hierarquia delas. É todo um conjunto de ferramentas de comunicação que ainda precisa

ser desenvolvido, em termos de cooperação”, conta Teles, que prefere não revelar maiores detalhes, apenas que a tecnologia está sendo testada para uso no ambiente corporativo. A Hoplon ainda tenta fechar acordos de publicidade para agregar parceiros. Depois da experiência do Second Life no Brasil, a empresa acredita que o mundo virtual do Taikodom pode ser explorado muito mais do que o espaço de anúncio. “Nesse mundo virtual, eu vou ter o padrão de consumo real”, afirma Teles. Segundo ele, é possível desenvolver ações e ter resultados quantitativos e qualitativos para avaliar a resposta do público. “Nunca vamos dizer o nome das pessoas, mas estatisticamente eu posso mostrar as faixas etárias, geográficas e de gênero que aceitam ou rejeitam determinado produto. Ao contrário do mundo real, no mundo virtual cada transação fica registrada.” O produto brasileiro não tem nada a que temer. “Game, no final das contas, é diversão, alegria, e ninguém entende mais de alegria do que os brasileiros. Por isso, a gente acredita que o Brasil vai ter um grande impacto no mercado mundial de games, mesmo sem ter uma estratégia governamental clara a respeito, mesmo que o mercado de games no Brasil seja muito complicado pela questão da pirataria”, acredita Teles. “Temos competência técnica, temos criatividade e capital humano. Não tem nenhum motivo para o Brasil não explodir nessa área.”

Teles: “É muito mais difícil desenvolver um jogo massivo do que um sistema de internet banking”

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acompanha o projeto, nascido em 1999. Nessa época, os amigos Tarquínio Teles, Thiago Luz e Cristóvão Buzzarello – Carlos Knittschild veio depois – buscaram levar a idéia à frente, mas encontraram apenas portas fechadas. “Tínhamos acabado de fundar a empresa, logo depois estourou a bolha da internet, e a visão que todo mundo tinha de game é que era coisa de criança”, conta Teles. E ri: “Costumo dizer que, ainda hoje, o gamer brasileiro precisa sair do armário”. A partir do meio de 2002, a imprensa nacional passou a tratar do assunto e da indústria de jogos de maneira séria e com cifras atraentes: movimentação de US$ 30 bilhões ao ano no mundo, com 15% de crescimento anual. “Voltamos a procurar investimento e fomos muito mais bem recebidos.” O aporte do fundo Idee, de venture capital, veio em 2004. Estruturada e com certa estabilidade, a equipe passou a se concentrar na produção propriamente. Para o roteiro e a apresentação visual, o Taikodom ganhou a experiência em ficção científica de Gerson Lodi-Ribeiro e João Marcelo Beraldo, e a bagagem em mundo virtual do Second Life, de Jorge Filho. Provavelmente, em breve serão lançados o livro e uma novela gráfica em quadrinhos, para aproveitar a riqueza do Taikodom. “Quem sabe, um filme também”, sonha ele. Sediada em Florianópolis, a Hoplon ainda agregou mais uma inovação. Dentro desse mundo virtual, será possível escolher o estilo de jogo: ação, estratégia ou tático. A liberdade ao usuário de ser patrulheiro, transportador de cargas, dono de consórcio, pirata espacial ou qualquer outra função – presente ou não na vida real – faz com que o mundo de Taikodom seja construído conforme as ações dos jogadores. E as informações geradas por cada um precisam ter respostas rápidas e efeitos no jogo de outros usuários. “Do ponto de vista da tecnologia da informação, eu tenho um pesadelo completo. É muito mais difícil desenvolver um jogo massivo do que um sistema de internet banking”, compara Teles. Ele explica que, ao fazer participantes de diferentes estilos atuarem juntos, a empresa precisou criar uma hierarquia não tradicional para gerenciar um fluxo tão grande de informações em todos os níveis. Ao invés da pirâmide, a hierarquia se dá na forma de feudos, e cada um mantém pontos de interseção com vários outros.

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MERCADO Segmentação 72%

entretenimento puro

14%

Difícil começo

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Depois de duas tentativas frustradas, mercado brasileiro amadurece e investe na profissionalização

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O ambiente para criar jogos está mais maduro. Os desenvolvedores da Hoplon, proprietária do Taikodom, beberam da experiência das duas tentativas anteriores. O FutSim foi o primeiro jogo desenvolvido na América Latina. Sua vida útil foi de três anos, como conta Fred Vasconcelos, criador do jogo e fundador da Jynx. O desenvolvimento começou em 2000 e foi até 2003. Quando foi lançado, tinha capacidade para 300 mil usuários, mas nem 10% do potencial chegou a ser atingido no maior pico, quando 25 mil jogadores foram registrados. “Acabou o ciclo de vida dele, e o tiramos do ar em 2006”, lamenta Vasconcelos, com pesar por ter abandonado o mundo dos jogos massivos. O jogo era robusto demais para a banda ainda pouco evoluída da época, e o sistema de cobrança pela internet não fazia parte da vida dos brasileiros. Outra dificuldade para o FutSim, na opinião de Vasconcelos, é a falta de hábito de jogar. “Culturalmente, somos ainda fracos, é preciso incentivo para conquistar os potenciais usuários.” A Jynx não abandonou por completo a idéia de desenvolver jogos massivos, só que agora se dedica a desenvolver games voltados para a área corporativa e para treinamento. “O mercado nacional nos forçou a migrar para jogos sérios”, lamenta. As principais razões são pirataria e falta de incentivos fiscais e industriais. “O governo quer desenvolver a indústria de tecnologia, mas os jogos foram

colocados entre os audiovisuais.” A segunda tentativa veio com a Ignis Games, de Niterói, no Rio de Janeiro. O jogo Erinia, lançado em maio de 2004, precisou de três anos de produção, consumindo US$ 400 mil. Assim como a Hoplon, a Ignis também nasceu incubada e precisou de recursos externos para seguir desenvolvendo tecnologia. O Erinia tinha capacidade de colocar até mil jogadores na mesma partida e alcançou 30 mil usuários cadastrados. A Ignis fechou logo em seguida, e seus idealizadores não trabalham na área de jogos ou deixaram o País para continuar apostando no ramo. A onda dos games acabou por invadir as universidades, que perceberam a demanda do mercado. Instituições brasileiras, seguindo uma tendência dos Estados Unidos, começaram a criar cursos de graduação e pósgraduação voltados para o desenvolvimento de jogos. O Centro Universitário Positivo foi pioneiro e criou o Curso de Especialização em Desenvolvimento de Games em meados de 2001. A empresa T&T é focada nesse segmento e oferece aulas há mais de cinco anos. Os cursos de 120 horas, com turmas de, no máximo, 14 alunos, já formaram mais de 450 tecnólogos. Ao custo de R$ 2 mil, o aluno tem aulas durante dez meses e apresenta um projeto ou jogo no final do curso, que pode ser no nível leigo ou avançado. Outro ponto importante é o amadurecimento dos investidores para o potencial da

8%

6%

14%

72% advergames (jogos com vocação publicitária) 8% middlewares (ferramentas necessárias para processo de desenvolvimento e manutenção de jogos) 6% business games (simulação de negócios com fins de aprendizagem) Fonte: Abragames

indústria. Muitos fundos de venture capital começam a aportar recursos para empresas start up. “Em países como Canadá, Inglaterra e Portugal, existem fundos de investimento voltados exclusivamente para fomentar empresas de jogos”, exemplifica Penha. Ele lembra que no Brasil estão nascendo focos de incentivo, como a incubadora César, de Recife, que tem projetos de forte incentivo a estas empresas. Fundada em 2004, a Abragames é uma entidade que incentiva a indústria nacional de jogos eletrônicos. A Associação fez uma pesquisa em 2005 para mapear a realidade das empresas brasileiras envolvidas neste segmento. Pelo levantamento, existiam 55 desenvolvedoras em atividade, a maior parte na Região Sudeste, e o faturamento das empresas de desenvolvimento era estimado em R$ 18 milhões. A entidade organiza agora o lançamento da segunda pesquisa, prevista para agosto. Segundo André Penha, presidente da Abragames, o Brasil é responsável por apenas 0,1% da movimentação dos jogos no mundo, que chega atualmente a US$ 40 bilhões. “Mas estamos crescendo 40% ao ano, e recentemente as empresas brasileiras passaram a exportar”, salienta.

LINHA DIRETA André Penha (Abragames)

(11) 3823-1717/www.abragames.org

Fred Vasconcelos (Jynx)

(81) 3419-8115/www.jynx.com.br

Tarquínio Teles (Hoplon) www.hoplon.com.br


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MARKETING

Totens do mercado

Anunciantes investem em novas mídias que trazem benefícios aos consumidores

por Marco Britto

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Em publicidade, falar à audiência errada é como falar ao vento. Uma boa estratégia de marketing deve, acima de tudo, colocar a marca junto de seu público específico. Novas mídias têm sido apresentadas ao consumidor brasileiro e tornam-se uma oportunidade de realizar campanhas criativas, interativas e que atingem diretamente o público interessado no produto. O acompanhamento do Projeto Intermeios (www.projetointermeios.com.br) mostra queda de 17,23% no investimento em cartazes outdoors no último ano, incentivada principalmente pela Lei Cidade Limpa, em São Paulo, enquanto outras mídias externas, principalmente eletrônicas, tiveram aumento no faturamento. Entre as alternativas modernas, os totens publicitários, postos na rua ou em espaços de shoppings e aeroportos, por exemplo, ganharam novas aplicações com a difusão dos monitores LCD e outras tecnologias recentes. Além de identificarem o anunciante com logotipos e filmes institucionais, essas estruturas trazem benefícios gratuitos ao consumidor, como carregar o celular quando se está prestes a embarcar na ponte aérea ou receber um jato d’água refrescante após uma corrida no parque.

A empatia gerada por um serviço oportuno e gratuito pode muitas vezes ficar para sempre na memória do usuário. “O anunciante deve aproveitar o máximo das possibilidades. Quando expõe sua marca junto a um produto que traz benefício ao consumidor, conseqüentemente melhora sua imagem”, analisa a professora de Mídia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, Ana Lucia Fugullin. O totem é um tipo de mídia que em muitos casos traz o consumidor de maneira espontânea até a marca, atraído pela vantagem embutida na peça publicitária. Esse benefício pode ser associado a diferentes aplicações, como reforçar uma relação de confiança ou mesmo ajudar no reposicionamento de imagem da empresa anunciante. A mineira J. Chebly Comunicação e Mídia, empresa focada em mídia aeroportuária, mantém oito totens nas salas de embarque de cinco grandes aeroportos do País – Confins, em Belo Horizonte, Galeão e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e ainda nos terminais de Fortaleza (CE) e Natal (RN). “Os anunciantes querem formas diferentes de interagir com o seu público. Os totens são uma dessas formas, com possibilidade de conteúdo audiovisual, transmitido através da tela LCD, e outros benefícios”, comenta Leonardo Chebly, diretor comercial da empresa. O modelo da J. Chebly serve para recarregar telefones celulares e notebooks. As peças têm capacidade para atender a até 16 aparelhos ao mesmo tempo. O serviço, que possui certo caráter de emergência, pode fazer muita diferença num momento em que o contato por telefone pode decidir questões importantes, como observa Chebly. A recarga é gratuita e não requer o carregador, pois na estrutura há plugs com entradas para oito modelos di-

Mídia externa Outdoor 323,5

338,1

279,9 2005

2006

2007


Inovação

em milhões

Fonte: Projeto Intermeios

Eletrônica 29,6

36,7

21

2005

2006

2007

O totem Ozone-In, fabricado pela Spherical Networks, de Florianópolis, é outro exemplo de como a inovação tecnológica está remodelando essa categoria já conhecida na mídia externa. Entre os quatro modelos disponibilizados, a opção de totem externo, de 2,7 metros, é a mais solicitada. Uma escala numerada de um a 11 demonstra em tempo real a intensidade da radiação solar no local, de acordo com a convenção da Organização Mundial da Saúde. “É uma forma de transformar a radiação que a gente não vê, porém nos prejudica, em algo visível, a partir da indicação do totem. As informações sobre isso até então eram estatísticas, como a previsão do tempo”, ressalta o diretor de planejamento e negócios, Sérgio Kappel. De acordo com a equipe da Spherical, o equipamento é único no mundo, pioneiro na tecnologia digital de transmissão de dados que possibilita a leitura instantânea dos raios UV pelo aparelho. Foram quatro anos desde a idéia original

até o produto final. Em novembro de 2006, foi lançado o primeiro Ozone-In, na capital catarinense. Em Balneário Camboriú (SC), há três peças na orla e mais duas em instalação, todas ao longo da Avenida Atlântica, encomendadas por uma empresa de publicidade. A praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis, com dois totens, foi a primeira do mundo a ter leitura de radiação solar. Inicialmente, o públicoalvo da Spherical eram entidades públicas ligadas à saúde, porém o retorno não foi o esperado. Focada apenas em fabricar o aparelho, a empresa busca agora a iniciativa privada – agências de comunicação visual e comercialização de espaços externos – para turbinar as vendas do produto, ainda pequenas de acordo com a expectativa do fabricante. “É nosso produto mais conhecido, porém não é o que sustenta a empresa”, aponta Kappel No Rio, a Clear Channel, empresa especializada em mobiliário urbano, também encontrou um meio de unir publicidade e saúde no ambiente da orla carioca. O “Fresh Channel” é dirigido ao consumidor que pratica esportes ou ao menos freqüenta a praia. As peças estão em 34 pontos distribuídos pela orla, nas praias do Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra de Tijuca e na área da Lagoa Rodrigo de Freitas. No totem, um botão aciona quatro bicos que lançam vapor d’ água por alguns segundos, refrescando os usuários. “É uma ferramenta que possibilita criar um envolvimento com a marca. Além disso, no Rio de Janeiro este formato é o único permitido na orla da cidade, o que eleva o impacto da campanha, por não ter concorrência no mesmo entorno”, destaca o presidente, Emílio Medina. Usado na aplicação certa, o totem é mesmo uma garantia de retorno, de acordo com a professora Ana Lucia. Porém, é necessário usar a ferramenta com sabedoria. “No momento de escolher a mídia, é aconselhável buscar o serviço das agências, empresas de criação e pesquisa, que podem ajudar a fazer uma boa escolha. É preciso cautela, pois a diferença entre investimento e gasto se resume no retorno obtido.”

LINHA DIRETA J. Chebly: (11) 5503-6585 Clear Channel: (11) 2133-5800 Spherical Networks: (48) 3334-8064

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Totens: investimento publicitário em alta, enquanto outdoors perdem espaço

ferentes de aparelho. No caso dos notebooks, é necessário o carregador. Durante a recarga, o usuário assiste à publicidade do anunciante, que pode conter desde vídeos institucionais até previsão do tempo. O conteúdo também pode ser formulado pela J. Chebly, com capacidade de atualização diária. Alguns clientes investem em agendas culturais e clipes de música, para tornar o conteúdo mais atraente. Segundo Chebly, o anunciante pode também solicitar totens em sua praça, seja em aeroportos, seja em rodoviárias. O contrato mínimo para anunciar é de três meses. Sem revelar mais detalhes, o diretor comercial está em meio a uma negociação, com uma grande empresa de telefonia, que pode levar novos totens para 15 aeroportos nacionais. O contato do consumidor com o totem dá ao anunciante a chance de associar sua marca a um tema importante para seu público-alvo, criando envolvimento. “Uma característica da maioria das mídias alternativas é serem seletivas, segmentadas. O anunciante, após uma análise de objetivos e público, consegue buscar mídias que não são de massa, muitas vezes mais criativas e customizadas, com uma possibilidade maior de atingir o consumidor certo”, afirma a professora Ana Lucia, da ESPM.

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PURESTOCKX

G E S TÃ O

aptidões Peneira de

Seleção por competências é o método mais seguro para contratação da pessoa certa para cada vaga por Marco Britto marcobritto@empreendedor.com.br

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colaborou Natacha Amaral

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Por trás de toda empresa bem-sucedida, há sempre um belo time de profissionais. A batalha na linha de frente do mercado exige perfis de liderança, ao mesmo tempo em que impõe desafios que só a ação conjunta é capaz de superar. Saber unir os profissionais certos é uma questão estratégica, pois da combinação ideal vem a força para superar os obstáculos na trilha dos bons negócios. Não basta analisar currículos guardados na gaveta ou seguir apenas indicações de pessoas próximas – isso é passado. Mas, então, como identificar a pessoa ideal para o cargo disponível? Na visão atual da gestão de pessoas, tudo é uma questão de identificar competências, ou melhor: o que o candidato tem que interessa à empresa. A metodologia inquisitória, que aplicava questionários sobre hábitos particulares e até detalhes da família do candidato, foi substituída por uma atitude que procura ser o mais pragmática possível, indo direto ao ponto e comparando as qualidades da pessoa entrevistada com uma lista de características preestabelecidas, que definem o candidato mais apto. Essa técnica, que elenca as qualidades inerentes ao cargo vago, se chama seleção por competências. É hoje o método mais utilizado no País em processos de seleção. “As empresas buscam um conjunto de qua-

lidades profissionais. Critérios como faculdade, MBA, servem apenas para indicar que o contratante busca alguém preparado. Mas muitas características que fogem ao currículo, como carisma, comprometimento, são válidas nessa avaliação”, resume Sandra Betti, da MBA Consultoria. Cada competência é descrita através de indicadores positivos e negativos. Alguns pontos positivos de liderança, por exemplo, são: ouvir a opinião da equipe, envolver o trabalho do time. Os pontos negativos podem ser: tomar decisões autoritárias, não reconhecer seus colaboradores. Essas observações são colhidas em entrevistas e dinâmicas de grupo. Entre as grandes corporações, as consultorias de RH fornecem apoio para processos mais complexos de seleção. Pode ser procurando nomes para cargos muito especiais, como encontrar um novo presidente, ou então realizando triagens enormes, comuns em fábricas e grandes bancos, que chegam a recrutar 30 mil candidatos de uma vez. Outra situação delicada acontece quando uma empresa está de olho em alguém do time concorrente e pretende fazer uma oferta. A consultoria entra como intermediária no processo, dando sigilo e evitando desgastes ou situações embaraçosas.

Sandra: características que fogem ao currículo, como carisma e comprometimento, são importantes Isso não quer dizer que as pequenas empresas não devam se munir de técnicas modernas na hora de selecionar seu pessoal. Mesmo em processos mais simples, a preocupação com o foco deve ser a mesma. “O empresário deve ter clareza sobre a situação que envolve a contratação. É preciso saber o que o funcionário vai fazer, com quem ele vai trabalhar e os resultados esperados do profissional. Sabendo isso, a empresa já sabe o cargo, as atribuições e o perfil esperado para a vaga”, explica Sandra. Preencher uma vaga

RAIO X DO CANDIDATO Entrevista coletiva: indicada para grandes volumes de candidatos, triagens com muitos currículos. Entrevista pessoal: chance de verificar carreira, antigos empregos. Levantamento de referências: entrevistar exchefes, ex-colegas de trabalho. Professores são excelentes fontes, pois se mantêm atualizados. Dinâmica de grupo: não recomendada sem auxílio profissional. ENTREVISTA Planejar a entrevista individual com base nas competências necessárias ao cargo. Utilizar os primeiros cinco a dez minutos para deixar o candidato à vontade e estimulá-lo a falar. Fazer uma pausa na entrevista, se o candidato estiver muito nervoso. Ao final, abrir espaço para o candidato tirar dúvidas ou complementar suas respostas. Explicar a próxima etapa do processo de seleção e agradecer a participação.

PROCESSO DE SELEÇÃO Definição da vaga: levantamento de competências, requisitos técnicos e psicológicos necessários para o desempenho da função. Fase essencial para a realização de um bom processo de seleção. Fontes de recrutamento: banco de dados, indicação de funcionários, anúncio em jornais e revistas, internet (serviços de currículos e listas de discussão). Triagem de currículos: primeira eliminação de candidatos, a partir dos requisitos mínimos exigidos. Esses dois últimos passos tendem a ser os mais trabalhosos do processo. Provas técnicas e testes psicológicos: passo útil para aferir conhecimentos e personalidades, mas deve ser eliminatório apenas quando há um grande número de candidatos. Entrevista coletiva: explica-se aos candidatos o que está sendo procurado e o que está sendo oferecido em troca. Conferem-se informações daqueles que desejarem continuar no processo.

Dinâmica de grupo: desenvolvimento de atividades que permitam verificar as competências necessárias ao cargo. Pode ser eliminatória, se o número de candidatos for grande. Entrevista individual: conferir informações e identificar as competências do candidato. Avaliação dos resultados: análise dos resultados obtidos na entrevista e em todas as outras etapas por um comitê. São descartados todos aqueles que não apresentam as competências necessárias e determinada a posição daqueles que atendem aos requisitos. Entrevista com o requisitante: verificar a empatia e negociar salário. É bom ter pelo menos três finalistas. Processo de integração: acompanhamento do novo funcionário para evitar problemas de adaptação. Enviar agradecimento àqueles que não foram escolhidos e justificar decisão. Essencial

Dispensável

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Passo-a-passo da contratação

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G E S TÃ O

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Bárbara: em vez de emprego, contratante deve oferecer uma oportunidade de crescer

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no quadro de funcionários é suprir uma necessidade funcional – e específica. Uma boa dica para pequenos negócios é ter ao menos uma pessoa dedicada a cuidar da gestão de pessoas, o que evita desviar funcionários de sua função original para mobilizar um processo de seleção. A prioridade dos profissionais atuantes no mercado de trabalho hoje é desenvolver carreira. Contrariando um costume até há pouco tempo recorrente no Brasil, poucos ainda se imaginam passando a vida toda no mesmo emprego. É uma realidade a qual o empresário, como contratante, precisa ter consciência – em vez de emprego, deve oferecer uma oportunidade de crescer. A consultora Bárbara Demange, da DA Consulting, destaca ainda fatores que imprimiram velocidade nas relações comerciais e de trabalho, como a internet e comunicação facilitada com todo mundo, que podem ser atalhos às boas posições. O mundo corporativo tem pressa, e é preciso interagir com esta nova forma de trabalhar. “As empresas não podem mais esperar para saber se aos 35 você será um bom gerente. Eles querem saber logo no começo o que o trainee vai ter como potencial no futuro.” Apesar da eficiência dos procedimentos atuais, é um certo exagero confundir as técnicas de seleção com previsão do futuro. É perfeitamente possível saber se o candidato tem potencial para liderança e cargos estratégicos, porém seu comportamento e suas reações serão os fatores determinantes para o sucesso da empreitada. “Nunca se consegue um perfil 100% dentro do

Prata da casa Grandes corporações estão com dificuldade na hora de encontrar um novo presidente. Mesmo cargos gerenciais, em empresas como a Petrobras, exigem uma preparação e até mesmo um perfil psicológico específico. Geralmente, a opção mais indicada é investir na prata da casa – funcionários que conhecem bem o cotidiano da empresa. Testes de aptidão verbal e mental, simulações do dia-a-dia do cargo são processos que buscam peneirar entre os empregados quem poderá ser o próximo chefe. Uma das qualidades essenciais a um presidente hoje em dia é justamente a capacidade de preparar um sucessor. “Há uma grande preocupação com cargos de liderança, seguindo uma tendência mundial. Por isso, procuramos desenvolver as pessoas que já trabalham conosco para serem os futuros líderes da nossa organização”, afirma André Ferreira, gerente de Recursos Humanos da Petrobras. Para renovar seu quadro qualificado, a corporação acompanha o desempenho de seus funcionários, monitorando perfis que possam ocupar cargos de maior responsabilidade logo à frente. Mesmo os reprovados nas seleções continuam a ser observados de perto, no que se apelida de garimpo. “Incentivamos até mesmo os que nunca se inscreveram nos processos seletivos internos a participarem e formamos um banco de dados. Baseados neste levantamento, estabelecemos um plano de desenvolvimento para estes funcionários, com processos de coaching e outras ferramentas esperado, mas o gestor sabe bastante sobre a pessoa escolhida, as áreas em que ela terá êxito e onde terá dificuldade”, analisa André Ferreira, gerente de RH da Petrobras. Uma particularidade das seleções para cargos de presidente e diretorgeral: nestes processos, a participação da comunicação não verbal chega a 90%. Além de um exímio administrador, o presidente será aquele que emprestará sua face à companhia, deve possuir carisma e boa apresentação. Para Bárbara, a competência técnica é muito mais importante numa seleção para o cargo de analista, por exemplo. Uma vez que a empresa encontra o perfil certo e o contrata, deve continuar estimulando as capacidades que classificaram aquele profissional para a vaga. É essencial acompanhar, promover a integração daquela pessoa ao ambiente, fortalecendo a equipe. Segundo Sandra Betti, as competências podem ser desenvolvidas no diaa-dia, através de duas formas básicas. A primeira é por modelo, quando um funcionário aprende

corporativas de desenvolvimento.” Neste caso, a meta do departamento de RH, segundo Ferreira, é conhecer bem seu pessoal e poder fornecer à gerência o maior número de informações sobre os candidatos, inclusive detalhes minuciosos como projeções do estilo de liderança que o candidato pode assumir na hipótese de ser selecionado. Este processo de treinamento interno é chamado de development center, em que os empregados são acompanhados e incentivados por planos de desenvolvimento pessoal de carreira. Outra modalidade de recrutamento bastante utilizada é o acessment center. Numa incursão rápida, as consultorias treinam funcionários da própria empresa para que possam aplicar processos de seleção no futuro – um recurso estratégico para companhias que buscam a renovação entre seu pessoal contratado, como a Petrobras. Simultaneamente, realiza-se um recrutamento e treina-se o funcionário de gestão de pessoas. No espaço de dois dias, os consultores aplicam questionários, realizam dinâmicas, e com o cruzamento dos dados a equipe elabora as descrições sobre os participantes do processo de seleção. A partir destes dados, a empresa forma um mapa das competências daquela equipe. “Em um dia, posso te dizer o que esperar profissionalmente de alguém”, dispara Bárbara Demange, consultora da DA Consulting, que já fez este tipo de seleção na própria Petrobras e na Volvo. vendo o outro trabalhar. “Por isso, é muito indicado colar pessoas recém-ingressadas aos melhores do time, assim elas aprendem por modelagem.” A segunda é dar retorno ao profissional, ressaltar pontos bons e aproveitar o momento para avaliar também pontos fracos, que podem ser melhorados. “Isso não acontece sem diálogo, outro ponto importante.” Para Sandra, esses procedimentos caracterizam o que se chama habitualmente de coaching, que nada mais é do que um processo que faz as pessoas melhorarem seu potencial, suas competências. Afinal, passar o processo de seleção é apenas o começo.

LINHA DIRETA DA Consulting: (11) 3842-3510 MBA Empresarial: (11) 5051-9684 Petrobras: (42) 3520-7240


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CRÉDITO

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banco

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Cooperativas oferecem recursos adequados às necessidades e condições de pagamento de seus associados


Quando precisou de crédito para ampliar uma creche de fundo de quintal, em 1999, o empresário gaúcho Itamar Penteado teve a mesma resposta em todos os bancos que entrou: não. As instituições bancárias exigiam aval e garantias, mas Itamar não tinha nem uma coisa nem outra. Correntista de uma das filiais do Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) em Viamão, na Grande Porto Alegre, Itamar deci-

Itamar e a Escola Salvador Jesus Cristo, com 400 alunos, 25 funcionários: patrimônio que ultrapassa R$ 3 bilhões

diu bater na porta da cooperativa para conseguir dinheiro. E, finalmente, recebeu um sim. “Eu queria R$ 10 mil para transformar a minha casa em uma escola de 1ª a 4ª série. O número de crianças já chegava a 37, e todos os dias os pais me cobravam a ampliação”, conta Itamar. O gerente do Sicredi foi lá e decidiu dar um voto de confiança para um associado que em um ano de cooperativa não teve nenhum cheque devolvido. Depois de pagar o que devia à cooperativa, o empresário fez um novo empréstimo, em 2003, desta vez para construir um ginásio de esportes no terreno adquirido em frente à escola, que nessa época já tinha quase cem alunos. E daí por diante, sempre que precisava de recursos para ampliar seu negócio, Itamar recorria ao Sicredi da sua região. Foi assim no final de 2004, quando decidiu implantar turmas de 5ª a 8ª série, e em 2005, quando construiu uma nova escola para Ensino Fundamental e Médio, com 1,5 mil metros quadrados. A primeira casa passou a ser exclusiva da pré-escola. Hoje, as duas unidades da Escola Salvador Jesus Cristo somam 400 alunos, 25 funcionários e um patrimônio que ultrapassa R$ 3 bilhões. A história de sucesso de um negócio criado inicialmente para ocupar as tardes livres da pedagoga Sara Penteado, esposa de Itamar, mostra que as cooperativas de crédito podem ser uma boa fonte de recursos para empreender. Constituídas por um grupo de pessoas físicas, elas têm o objetivo de oferecer crédito e outros serviços financeiros de modo mais vantajoso para os associados. Sicoob, Sicredi e Unicred formam os maiores sistemas de cooperativas de crédito do Brasil. Juntos, eles representam 75% das sociedades de crédito do País. Há ainda os sistemas Cresol e Ecosol, destinados à população de baixa renda. Como a lei não permite que as cooperativas façam atividades como compensação de cheques e reserva bancária, Sicoob e Sicredi criaram seus próprios bancos cooperativos, Bancoob e Bansicredi, respectivamente. Em comparação com as instituições bancárias, as taxas de juros são mais baixas, entre 1,5% e 3%, contra média de 8% dos bancos convencionais. A maioria das cooperativas também não cobram tarifa e concedem prazos maiores de pagamento. “Pode procurar, você não vai achar melhores condições de crédito”, garante o advogado

Rui Schneider da Silva, presidente da Cooperativa Central de Crédito de Santa Catarina (Sicoob-Central/SC). As taxas praticadas pela cooperativa são de 2,3% para crédito pessoal, 2,78% para desconto de título e 4,90% para cheque especial. Defensor ferrenho do cooperativismo, o dirigente vê o segmento como uma ótima opção para impulsionar pequenos negócios, principalmente em regiões mais distantes de grandes centros. Schneider da Silva explica que a finalidade de uma cooperativa é pulverizar ao máximo o empréstimo dos recursos para diminuir o risco de inadimplência. Por isso, se torna uma ótima opção para pequenos empreendedores, que muitas vezes precisam apenas de uma modesta quantia para investir em seus negócios, indisponível nos bancos. “Hoje em dia, se fala muito em microcrédito. As cooperativas já fazem isso há muito tempo”, afirma.

Proximidade Para o consultor Fábio Campos, gerente da assessoria de Serviços Financeiros do Sebrae de São Paulo, a proximidade com os associados é a maior qualidade de uma sociedade de crédito. “A cooperativa se diferencia de um banco por ter foco local, o que faz com que o contexto econômico da região seja levado em conta na hora da concessão de crédito”, afirma. Assim, o José da lanchonete consegue o empréstimo de que precisa para ampliar o seu pequeno comércio, com uma linha de crédito adequada às suas necessidades e condições de pagamento. “A maior vantagem de tomar crédito de uma cooperativa é que eu estou pagando juros para mim mesmo. Afinal, como associado eu tenho participação nos resultados”, afirma Alfredo Clebsch, sócio da Cooperativa de Crédito Mútuo dos Servidores Públicos Estaduais e Federais de Santa Catarina (Credisc/Sicoob). Ele e a esposa Rosecler ajudaram a fundar a cooperativa em 1999 e no ano seguinte tomaram dinheiro emprestado com o objetivo de dar o primeiro passo para transformar a casa de praia da família, no sul da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, em uma pousada. O primeiro chalé da Recanto das Jabuticabeiras, com dois apartamentos, ficou pronto em 2000, e o empréstimo foi pago com o dinheiro do aluguel. Presidente da Unicred Brasil, a médica Denise Damian também destaca a condição de

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por Cléia Schmitz cleia@empreendedor.com.br

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CRÉDITO

Entenda o sistema de crédito cooperativo 1. O associado participa com uma contribuição mensal em dinheiro, um tipo de poupança, aplicada em uma conta geral que rende, em média, 2% ao mês. 2. O associado também tem direito a tomar empréstimos com taxas de juros que variam entre 1,5% a 3%. O pagamento é parcelado.

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3. As cooperativas também oferecem aos associados outros serviços financeiros como conta-corrente, cheque especial, recebimentos de contas, débitos em conta, aplicações financeiras, cartões de afinidade e de crédito, seguros em geral.

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4. Anualmente, uma assembléia geral decide o destino das sobras, como são denominados, por lei, os lucros de uma cooperativa. Distribuídas proporcionalmente aos associados, elas podem ser retiradas ou reinvestidas e mantidas como capital da cooperativa. 5. Nas assembléias, cada associado representa um voto, independente do valor aplicado na cooperativa. Fonte: Sicoob

proprietário de quem toma dinheiro de cooperativas. “Nos bancos, a pessoa é, no máximo, um cliente especial, nas cooperativas ela é a dona”. O diretor-presidente do Banco Cooperativo Sicredi, Ademar Schardong, explica que as taxas, tarifas e demais condições são estabelecidas para manter o equilíbrio econômico e financeiro da cooperativa, e, se o resultado for positivo, retorna aos sócios na proporção de suas operações. Shardong também destaca o fato de os recursos de uma cooperativa se destinarem ao atendimento das necessidades de seus associados, e não para explorar um nicho de mercado. A primeira prerrogativa para participar de uma cooperativa é pertencer à mesma comunidade geográfica da associação. Hoje, existem sociedades formadas exclusivamente por profissionais de determinada classe, como médicos, servidores públicos, contadores, professores e trabalhadores rurais. Em 2003, uma resolução do Banco Central autorizou a criação de cooperativas de livre admissão de associados, ou seja, qualquer pessoa que pertença à comunidade pode se associar, independente da atividade econômica e profissional que exerça. A nova regra veio beneficiar principalmente comunidades pequenas, onde o acesso a serviços financeiros é muito limitado. Nesses lugares, a exigência de um mínimo de 20 associados por cooperativa dificultava a organização de profissionais de uma mesma classe. Desde a publicação da resolução, muitas cooperativas já existentes aderiram à livre admissão, ampliando seu poder de cooperação e, conseqüentemente, de impulsionar negócios com a concessão de crédito. Em Santa Catarina, por exemplo, o sistema Sicoob conta com nove cooperativas de livre admissão e planeja dar o mesmo perfil para outras 11. Apesar das vantagens, as cooperativas de crédito financiam poucos empreendimentos no Brasil. Primeiro, porque ainda são pouco conhecidas, principalmente como alternativa de crédito. Basta ver TV, e folhear revistas e jornais para entender por que: os bancos estão entre os maiores anunciantes, enquanto as cooperativas praticamente se limitam à propaganda boca a boca. Por uma questão cultural, a maioria das cooperativas se concentra na Região Sul, colonizada por imigrantes da Europa, berço do cooperativismo no mundo. Nas outras regiões, elas são ainda menos evidentes.

Outra questão que trava o crescimento das cooperativas é o receio de calotes. Históricos de má administração que levaram à quebradeira de cooperativas há cerca de 30 anos ainda estão na memória de muita gente. Rui Schneider da Silva não esquece o dia em que um ministro (ele prefere não citar o nome) não recebeu dirigentes cooperativistas, porque o pai tinha perdido dinheiro, décadas antes, em uma cooperativa. Os cooperativistas garantem que essa fragilidade é coisa do passado. Segundo Schneider da Silva, os instrumentos de controle do Banco Central sobre o segmento são tão rígidos quanto dos bancos. Para o consultor Fábio Campos, o Banco Central está pronto para intervir no caso de gestões temerárias, mas cabe aos cooperados observar de perto a atuação do corpo diretivo da cooperativa. Ele afirma que a fase mais complicada é o início da cooperativa, quando ela ainda precisa conquistar a credibilidade das pessoas. Uma boa solução é buscar o apoio de empresas-âncoras, que, além de servirem como uma espécie de “avalista”, colaboram utilizando os serviços financeiros da cooperativa. Campos cita o exemplo da metalúrgica Dedini, maior fabricante de usinas de álcool, que apoiou a criação de uma cooperativa de empresários em Santa Cruz das Palmeiras, no interior paulista.

Passos largos Mesmo estando longe de aproveitar todo o seu potencial, as cooperativas de crédito crescem a passos largos no Brasil. Nos últimos 15 anos, as operações de crédito saltaram de R$ 200 milhões para R$ 15,9 bilhões. Hoje, existem no País 1,5 mil cooperativas que somam 3,2 milhões de associados e R$ 16,2 bilhões em depósitos. As sobras, como a legislação denomina os lucros ou resultados obtidos pelas cooperativas, crescem ano a ano, despertando o interesse de mais pessoas. O Sicoob, maior sistema de cooperativas do Brasil, fechou 2007 com R$ 12,9 bilhões de ativos e R$ 7,1 bilhões em operações de crédito. O resultado (sobras) chegou a R$ 503 milhões. Há uma longa estrada pela frente. No Brasil, as sociedades de crédito respondem apenas por 2,65% da movimentação financeira nacional, enquanto no Canadá, por exemplo, esse percentual chega a 20%. Na Alemanha, onde o cooperativismo de crédito represen-


Principais cooperativas Sicoob

1,6 milhão de associados 14 centrais regionais 665 cooperativas 1.684 pontos de atendimento R$ 503 milhões de sobras (2007) *

Sicredi

Unicred

Foco: a maioria tem caráter de livre admissão

Foco: profissionais da saúde, contadores, professores e advogados

1,3 milhão de associados 5 centrais estaduais 130 cooperativas 1,1 mil pontos de atendimento R$ 121 milhões de sobras (2007)

160 mil de associados 9 centrais regionais 135 cooperativas 393 pontos de atendimento R$ 170 milhões de sobras (2007)

*inclui resultados do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob)

Rui Schneider da Silva: “Pode procurar, você não vai achar melhores condições de crédito”

Ademar Schardong: taxas e tarifas são para manter o equilíbrio econômico e financeiro

Denise Damian: “Nos bancos, a pessoa é no máximo um cliente especial; nas cooperativas, ela é a dona”

ta 12% do mercado financeiro, há mais de 17 milhões de cooperados. “No Brasil, estamos avançando, mas não queremos perder de vista um dos princípios do cooperativismo, que é a cooperação entre os associados”, afirma Rui Schneider da Silva. A cooperativa pode ser uma boa opção não apenas para quem capta recursos, mas também para quem aplica. Depois de construir sua escola, o empreendedor Itamar Penteado se tornou um investidor. “Fui fazer uma pesquisa e cheguei à conclusão de que as aplicações das cooperativas rendem mais que nos bancos”, afirma. Mas, sempre que precisa de capital para o negócio, Itamar recorre à coo-

perativa. A construção de uma escola de informática será o próximo passo dele, mas não o último. Itamar não esconde os planos de abrir outra unidade. “Nunca me apertei para pagar porque sempre tomei emprestado só o que eu sabia que conseguiria devolver”. O empreendedorismo de Itamar também é muito vantajoso para sua cooperativa. Quando ele cresce, sua sociedade cresce junto. Além dos juros pagos pelos empréstimos, Itamar retribui o Sicredi com a utilização de outros serviços financeiros. Os cheques das mensalidades emitidos pelos pais dos alunos, por exemplo, são descontados pela cooperativa. Itamar diz que perdeu a conta do núme-

ro de vezes que precisou de um caixa aberto depois do expediente e o gerente do Sicredi o recebeu sem problemas. “Eu também sou um bom negócio para a minha cooperativa”, afirma Itamar.

LINHA DIRETA Sicoob Central/SC: (48) 3261-9000 Sicredi: (51) 3358 4860 Unicred: (11) 3265-9712 Sebrae: 0800-728 02 02 Itamar Penteado: (51) 3443-5050 Alfredo Clebsch: (48) 3237-7249

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Foco: a maioria tem caráter de livre admissão

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MEMÓRIA

Lucros da

motivação

Área de lazer da Knowtec inclui sala de sinuca, videogame e estúdio para sessões musicais

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MARCO BRITTO

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Funcionários satisfeitos aceitam tarefas com orgulho e comprometem-se com objetivos da empresa


Um chefe malvisto por seus funcionários, equipes que não conversam entre si, resultados aquém do esperado. Estes são alguns dos sintomas de uma empresa passando por uma crise de motivação. Os especialistas em gestão de pessoas alertam: para crescer, é preciso fazer as pessoas que estão com você crescerem. São as pessoas, com talento e capacidade criativa, que levam as companhias contemporâneas ao sucesso, algo que só capital financeiro já não garante mais. O presidente e seus diretores são aqueles que carregam consigo a imagem da empresa, e muitas vezes ela é passada aos seus subordinados de maneira pejorativa. Se o chefe é ranzinza, a empresa também o é. Um bom gestor deve estar atento às especificidades de cada colaborador e tentar potencializá-las, através de estímulos, jamais com ameaças. Um mecanismo de autodestruição pode ser acionado quando, para atingir suas metas, o líder atropela seus companheiros. De uma maneira epidêmica, a falta de motivação pode ir aos poucos se entranhando nos setores até se tornar um mal generalizado. A solução para esta “doença corporativa” também se espalha célula a célula, a partir de gestos de boa vontade e compreensão vindos da chefia. Funcionários satisfeitos aceitam as tarefas com orgulho, e nesse ambiente de motivação há uma maior valorização do trabalho conjunto. “O empresário raramente está preocupado em motivar as pessoas. Mas, para atingir melhores resultados, ele precisa incentivar os seus profissionais”, alfineta a consultora Fátima Ohl Braga, da Ohl Braga Consultoria, de São Paulo. Em seu trabalho, Fátima ajuda os executivos a enxergarem o que acontece com seus empregados no dia-a-dia frenético da vida corporativa. Uma falha comum nos gestores, segundo ela, é projetar nos outros o que se espera de si mesmo. Quando o foco está amarrado apenas aos resultados, as condições de motivação para os funcionários diminuem. A consultora sugere um gesto bastante simples, porém que se torna muitas vezes impossível nas agendas lotadas: conhecer seus funcionários. “O que faz a diferença é ver os colegas, acompanhá-los diariamente, avaliando desempenho, e assim perceber o que interfere na produtividade deles.” Quando incentiva melhorias na qualida-

de de vida de seus colaboradores, um líder é imediatamente reconhecido e respeitado. Na sede da Knowtec, em Florianópolis, todos conhecem o presidente Luiz Alberto Ferla pela disposição em manter um bom clima no ambiente corporativo. Mesmo dividindo sua rotina entre os escritórios em São Paulo, Brasília e Santa Catarina, e monitorando uma nova filial em Seattle, nos Estados Unidos, ele consegue estar próximo aos seus colaboradores, fazendo reuniões periódicas com a participação de todos, comunicando ações consolidadas e novas metas para a equipe. Ferla também comparece e participa de eventos de confraternização, como gincanas e passeios, e assim se aproxima dos que trabalham com ele. “Mandei quebrar várias paredes antes de ocupar o novo prédio, pois as pessoas devem estar mais próximas umas das outras. É bom para a tomada de decisões”, conta o executivo. Bem-estar parece ser a regra dentro da Knowtec. Há uma preocupação evidente com qualidade, desde móveis sob medida até benefícios oferecidos aos funcionários, como aulas de inglês, espanhol e ioga financiadas pela empresa. “O profissional motivado é aquele que encontra no trabalho um ambiente propício para satisfazer o que ele pretende profissionalmente. Pessoas qualificadas buscam reconhecimento, querem cartões diferenciados, um escritório com uma mobília moderna”, analisa Fátima, da Ohl Braga. Conhecendo a área de lazer da Knowtec na capital catarinense, pode-se facilmente esquecer que se está num centro de geração de conteúdo e tecnologia. A recente troca de endereço provocou uma verdadeira mudança de ares. Em novembro último, a empresa formou um grupo de trabalho multissetorial, batizado de Integrar. A equipe é encarregada de organizar todas as atividades que tenham a ver com o convívio dos funcionários e melhorias nas condições do ambiente de trabalho. Respondendo um questionário, todos na empresa puderam opinar sobre a melhor utilização da área de lazer que seria instalada. Resultado: três ambientes – uma sala de sinuca, uma para videogame e um estúdio isolado acusticamente para sessões musicais entre os dez funcionários músicos. “Praticamos todos os dias após o almoço. Já conseguimos tocar umas duas ou três dos Ramones”, brinca o gerente de inteligência competitiva, Giancarlo Proença. Antes de monitorar estudos e pesquisas de mercado para seus clientes, a equipe dá uma relaxada

Há 12 anos... Na 18ª edição da Revista Empreendedor, em abril de 1996, a repórter Adriana Freitas publicou a matéria “Motivação bem-vinda”. Hoje, 12 anos depois, o jornalista Marco Britto faz uma releitura da reportagem. Já naquele ano, um consultor entrevistado, José Roberto Gretz, anunciava a necessidade de adoção da mentalidade do terceiro milênio, baseada na participação de todos e em um ambiente criado pelos vários níveis de chefia, e não em um estilo paternalista ou impositivo. “Todos concorrem para o lucro se souberem que com ele têm benefícios como bons salários, progresso social e profissional, crescimento humano”, afirmou. “E quem não observar a regra do jogo será rebaixado”, advertiu. A receita é seguida à risca pelo empresário Luiz Alberto Ferla, da Knowtec, que cresce 30% ao ano. Mesmo com uma agenda internacional atribulada, ele procura estar sempre próximo aos seus colaboradores, avaliados por resultados e não por horário de serviço, e criou áreas de lazer conforme os interesses declarados por eles. Já a Eletrosul, citada na matéria daquela época, continua a investir em treinamentos comportamentais e de capacitação, buscando uma melhor relação entre os funcionários.

no espaço musical, que também é utilizado nas produções de propaganda para internet e programas de educação a distância, dois dos nichos de atuação da Knowtec. “Fiquei surpresa quando o Ferla aprovou integralmente nosso projeto para a área de lazer. Ele simplesmente me perguntou: estamos fazendo o melhor para todos?”, conta Janes Dinon, analista de recursos humanos. O caso do Knowtec é um exemplo de que dar livre-arbítrio para os funcionários não

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por Marco Britto marcobritto@empreendedor.com.br

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MARCO BRITTO

MEMÓRIA quer dizer que o gestor vá perder as rédeas da companhia. Sem obrigação de bater ponto, as pessoas são avaliadas pelo cumprimento das metas dentro do prazo estabelecido. Numa escala, cada um vai registrando o tempo dedicado a diferentes projetos. “As pessoas gostam de trabalhar aqui, temos uma rotatividade baixíssima. Isso reflete uma empresa sólida”, argumenta Ferla. O método parece mesmo estar dando certo. Desde 2004, a empresa vem apresentando uma média de 97% de crescimento ao ano no seu quadro de colaboradores, e um crescimento sempre em torno de 30% no faturamento anual.

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Falta de retorno

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De acordo com o acompanhamento da consultoria Watson Wyatt, os itens campeões de queixas nas pesquisas de clima organizacional são a falta de retorno por parte da empresa sobre projetos executados e também a ausência de possibilidades claras de desenvolver carreira. As pessoas querem ser ouvidas. “A confiança na organização, a sensação de poder contar com a empresa, além de um retorno financeiro condizente com seu trabalho, são fatores motivadores. Satisfação mais motivação gera comprometimento”, avalia Carlos Siqueira, consultor da companhia em São Paulo. Ele revela ainda que, de acordo com estudos da consultoria, aproximadamente apenas um terço dos trabalhadores brasileiros são engajados nas empresas que lhes empregam. Com base nesta média de mercado, uma equipe totalmente motivada resultará uma empresa três vezes mais forte e produtiva. A Eletrosul Centrais Elétricas S.A. mantém cerca de 2 mil funcionários em sua folha mensal. Anualmente, a empresa investe uma média de R$ 2,2 mil por empregado em treinamentos comportamentais e de capacitação. O objetivo é promover uma relação mais profícua entre os colegas de trabalho. “Determinadas equipes mudaram totalmente. Muitos funcionários nem ao menos conversavam entre si. Após o treinamento comportamental, os trabalhadores vêem o que eles estão fazendo de mal para a equipe e para eles mesmos. Essa reflexão gera um alívio, uma satisfação”, comenta a chefe do setor de treinamento e desenvolvimento de pessoas, Maristela Ribeiro. No último ano, 85% dos funcionários passa-

Janes Dinon, analista de recursos humanos: função da equipe é organizar atividades que tenham a ver com o convívio dos funcionários e promover melhorias nas condições do ambiente de trabalho ram por algum tipo de reciclagem, num total de 168 mil horas de treinamento. Em 2006, o investimento na capacitação de pessoal foi de R$ 3,4 milhões, porção que representa 0,6% do lucro registrado no período. Para o empresário, o sinal vermelho se acende quando os resultados não estão sendo atingidos. Desmotivada, a equipe não rende. “Quando o líder precisa das pessoas e estas não respondem, é um ponto de clima organizacional crítico”, avalia Siqueira. De acordo com o consultor, quanto maior o desafio tecnológico ou de atendimento ao cliente, maior deve ser o nível de comprometimento entre chefia e funcionários. Uma ferramenta sempre eficaz é a comunicação. Muitas vezes, um membro da equipe que não rende pode ser bem aproveitado em outro setor ou passar por uma reciclagem. É o caso do funcionário que quer colaborar, mas não sabe como. “Empresas conscientes, que buscam aumentar o nível de motivação dos profissionais, procuram abrir canais de comunicação”, afirma Fátima. Uma sugestão da consultora, à qual ela recorre com freqüência, é o programa de avaliação de desempenho. Juntos, chefe e funcionário reconhecem os acertos e definem o que deve ser melhorado. Pode ser uma maneira para o gestor identificar os bons profissionais, que sugerem atitudes bem boladas para melhorar o rendimento da empresa,

como aponta Fátima. Outra tática eficiente utilizada pela Ohl Braga são seções de bate-papo, reuniões de caráter menos formal. Atitudes como o “café com o presidente” demonstram a tentativa de aproximar a cúpula à base da empresa, mostrando atenção dispensada aos mais distantes do topo. “Ações como o open office, em que os operários podem trazer as famílias durante um dia, mostrar seu local de trabalho, trazem uma sensação de segurança, de uma companhia que se preocupa com a família, sente orgulho de seu trabalho.” Sem identificação com o trabalho, pessoas talentosas podem acabar como Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, num enfadonho apertar de parafusos. Enxergando os profissionais de maneira mais humana, é possível juntar dois ingredientes que às vezes parecem ser como água e óleo, mas que na verdade estão sempre presentes nas receitas empreendedoras de sucesso: paixão e negócios.

LINHA DIRETA Eletrosul: (48) 3231-7293 Knowtec: (48) 3953-8000 Ohl Braga Consultoria: (11) 3729-4662 Watson Wyatt: (11) 4505-6359


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PERFIL

Adélia Mendonça

ideal Receita

por Andréa da Luz

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andrea@empreendedor.com.br

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A adolescência de Adélia Mendonça foi atormentada pela vontade de se livrar da acne e das manchas de pele. Mas as sucessivas decepções na busca por um tratamento eficaz acabaram revelando sua vocação para a dermocosmética, parte da cosmética que utiliza ativos de comprovada ação em tratamentos estéticos. Sua busca pela excelência na formulação, fabricação e venda de cosmecêuticos (cosméticos que atuam como tratamentos, mas não necessitam receita médica) levaram à fundação da Indústria de Cosméticos Adélia Mendonça em 2005. Hoje, além da fábrica, possui duas lojas, cinco quiosques em shoppings e vários pontos de distribuição em diversos Estados. Com 54 anos, essa mineira de Dores do Indaiá, cidade a 225 quilômetros de Belo Horizonte, nem quer ouvir falar em aposentadoria. Seu hobby é o trabalho, e ela só tira alguns dias de férias de cada vez. “Nosso slogan é cosmética científica avançada, então estamos constantemente buscando inovação. Já estamos com mais seis produtos em P&D, mas não dá para precisar ainda o lançamento”, conta animada. “Também continuo com a clínica de estética até hoje, porque é o que me permite estar em contato com os clientes e observar o comportamento da pele. Agora, estou associando a eletroterapia com o uso de cosmecêuticos”, revela.

Os produtos Adélia Mendonça possuem as mais altas concentrações de ativos permitidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que possibilita corrigir problemas específicos de pele com quantidades reduzidas de cremes e loções. “Mas é preciso convencer o cliente de que o produto é excelente, porque a concorrência é muito forte, e lábia todo mundo tem”, diz a empresária. Por isso, ela criou uma estratégia de vendas diferenciada: avaliação gratuita feita por consultoras em aparelhos analisadores de pele disponíveis nos pontos-de-venda. Os equipamentos são como clínicas ambulantes: com lâmpadas e lentes que refletem a epiderme, a consultora pode avaliar a desordem cutânea e indicar o melhor tratamento. “Com isso, o consumidor compra o produto ideal e estritamente necessário para seu problema”, explica a esteticista. “É uma prestação de serviço ao cliente final, que é a razão da nossa busca

A trajetória da empresária é permeada de muito trabalho, paciência e conhecimento

Consultoras fazem análise específica da pele da cliente para indicar o produto mais adequado

pela excelência. Então, eu costumo dizer que o atendimento tem que ser nota mil, e os produtos, nota 10 mil”, afirma. Para entender tanta animação, é preciso olhar para o mercado. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), até janeiro de 2007 existiam 1,5 mil fabricantes de cosméticos no País, sendo 15 de grande porte (faturamento líquido acima dos R$ 100 milhões). Somente em Minas Gerais, são 102 empresas atuando nesse segmento. Embora ainda esteja classificada na escala de pequena indústria, a empresa de Adélia foi construída e planejada para um volume de produção em larga escala. “Somos a única indústria do ramo de cosmecêutica corretiva multifuncional com alta concentração de ativos em Minas Gerais. Nesse segmento, há raríssimas empresas no Brasil, mas na utilização das mais altas concentrações de ativos, na venda diferenciada e na análise de pele, somos os únicos”, afirma. A trajetória da empresária é permeada de muito trabalho, paciência e conhecimento adquirido desde os tempos em que era apenas uma paciente. “Na adolescência, busquei vários tratamentos, mas há 40 anos não havia tantos recursos disponíveis. Quando me mudei para Goiânia, em 1975, aos 21 anos, peregrinei de médico em médico, mas nada dava resultado satisfatório”, relembra. A busca continuou, até que uma colega de faculdade indicou a Adélia uma esteticista re-


WILSON AVELAR

Idade: 54 anos Local de nascimento: Dores do Indaiá (MG) Formação: Ciências Sociais e Técnica em Estética Empresa: Indústria de Cosméticos Adélia Mendonça Ramo de atuação: Dermocosmética Ano de fundação da empresa: 2005/2006 Cidade-sede: Dores do Indaiá (MG) Número de funcionários: na indústria, 15; no varejo, 25 Faturamento: 3,9 milhões (2007) Número de lojas/PDV: 7 Nº de itens no mix: 37

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Adélia Mendonça

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Adélia Mendonça

cém-chegada de São Paulo. “Eu nem sabia o que era estética, mas fui até lá. O atendimento era bem precário: ela fazia compressas a vapor com uma maceração de legumes e frutas comprados na feira. A gente tinha que se debruçar sobre uma panela em cima do fogão, naqueles 40 graus de Goiânia”, revela. Mas o fato é que realmente houve melhoras. “Como o quadro acnéico é comprometido com bactérias, as sessões as eliminavam, e a pele ia cicatrizando.” Logo depois, duas paulistas chegaram à cidade e abriram uma clínica de estética, onde ela passou a fazer tratamentos faciais e corporais. “Ficamos amigas, e como eu demonstrava interesse na área, sempre perguntando sobre os produtos e procedimentos, elas me indicaram uma escola de estética”, conta. Adélia entrou na escola Euzi Nascimento, conciliando o curso de estética com a faculdade de Ciências Sociais na Universidade Federal de Goiás. “O curso durava três anos, mas das 12 pessoas da minha turma, apenas seis terminaram, e só eu continuei na profissão”, diz Adélia. Terminadas as aulas, ela estagiou por dois anos em uma clínica de Dermatologia, atendendo os pacientes encaminhados pela médica. “Precisei de muita lábia para que a dermatologista aceitasse a parceria. Mesmo assim, a clínica não investia em estética, e a aparelhagem e os produtos eram por minha conta”, afirma. “A médica atendia dez pacientes e mandava todos para mim no mesmo dia. Mas uma limpeza de pele bem-feita leva em torno de uma hora e meia, então eu fazia um trabalho que não estava condizente com a minha proposta”, revela. O perfeccionismo e a preocupação com o bom atendimento fizeram com que Adélia abrisse sua própria clínica juntamente com uma sócia em 1979. O negócio durou cerca de três anos e meio em Goiânia, até que a empresária se casou e foi embora para Bom Despacho (MG), voltando finalmente para Dores do Indaiá em 1982. “Durante todo esse tempo, trabalhei com clínica de estética, mas busquei novos cursos, aparelhagens e fui me atualizando mesmo no período em que estava grávida ou com as duas filhas pequenas.” Até hoje, a clínica é quase um laboratório para Adélia. “Atendo pessoas de várias idades, com diversos problemas de

pele, e com esses casos formei um banco de dados que ajudou na elaboração dos produtos da nossa linha.” O cadastro tem mais de 15 mil clientes, e a observação criteriosa da esteticista resultou em métodos personalizados de tratamentos faciais que se tornaram referência na sua área. Quem é que não quer consumir um produto nacional com qualidade similar ou superior aos importados e com preço melhor? Pois foi o que Adélia conseguiu oferecer ao mercado, um projeto que levou quase 15 anos para se concretizar. Além dos dados coletados na clínica, a empresária viaja regularmente para os EUA e vários países da Europa para acompanhar a evolução dos cosméticos e tratamentos. Um dos diferenciais dos produtos franceses é que as formulações têm 20 ou 30 ativos. “Meus produtos se baseiam nessa tendência, mas eu queria que as fórmulas levassem em conta o clima e os tipos de pele brasileiros: mais espessa, mais oleosa e com tonalidade predominantemente morena ou parda.” Por isso, a base dos produtos é aquosa, e não oleosa como a dos europeus. Com a ajuda de um laboratório paulista de nível internacional, os ingredientes ativos foram sendo testados para determinar quais combinavam entre si e eram mais adequados para certos problemas de pele. Foram dez anos de estudos e LINHA DO TEMPO

PERFIL

1975 1977 1979 1982 1984 1986 1992 1995 2005 2006

Adélia Mendonça endonça ç Indústria de Cosméticos Adélia délia Mendonça

Adélia deixa Dores do Indaiá (MG) e muda-se para Goiânia (GO) Começa o curso de Estética Funda sua própria clínica de estética, em sociedade, em Goiânia Adélia se casa e muda-se para o município de Bom Despacho (MG) Volta para Dores do Indaiá, após o nascimento da primeira filha Nasce a segunda filha Começa as pesquisas em laboratório para chegar à formulação ideal dos cosméticos Abre a primeira loja em Divinópolis. Até então, as vendas eram feitas exclusivamente na Clínica de Estética Joielle, em Dores do Indaiá (MG) Começa a construção da indústria Começam os testes in vivo dos produtos Início das operações da fábrica em fevereiro e funcionamento da loja virtual


FOTOS WILSON AVELAR

Adélia e seus produtos: “Nosso slogan é cosmética científica avançada, então estamos constantemente buscando inovação”

Assessoria Sem experiência no setor industrial, a empresária contratou uma assessoria para ajudar no projeto de instalação e visitou várias fábricas no Brasil e na Europa. “Só colocamos o primeiro tijolo no chão após a liberação da planta pela Anvisa. Depois disso, levamos mais quatro anos para construir as instalações fabris e equipamentos, seguidos de nova inspeção e liberação da Anvisa”, conta. A indústria foi inaugurada em dezembro de 2005, mas antes de lançar os 37 itens que compõem as duas linhas da marca, laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde avaliaram a eficácia e segurança das fórmulas, com testes como os de alergenicidade e irritabilidade (os quais classificam o produto como hipoalergênico e dermatologicamente

testado), feitos in vivo – cada teste utilizou cerca de 30 pessoas voluntárias, por seis meses. “Somente depois da emissão dos laudos desses laboratórios é que se torna possível escrever nos rótulos as definições antiacne, antiidade ou antimanchas”, esclarece. Os testes de segurança levaram dois anos, e a produção pôde finalmente começar em fevereiro de 2006. Em junho do mesmo ano, todos os artigos estavam no mercado. A distribuição se iniciou em Divinópolis e Belo Horizonte, em lojas próprias que Adélia já tinha porque trabalhava como distribuidora de outras marcas de cosméticos. Aos poucos, foi migrando para seus próprios itens. Cinco quiosques funcionam em shoppings, e a fase agora é de busca de distribuidores. “Já temos em Brasília, Goiás, Belém, Rio e São Paulo, e estamos negociando em Curitiba”, diz Adélia. Em Belém, onde a marca está entrando em uma grande rede de farmácias, a estratégia da venda personalizada tem se mostrado eficiente. “Não adianta ser mais um nesse mercado, tem que entrar com força e com

diferenciais. E eu discuto com quem quer que seja sobre a composição e eficácia dos meus produtos, porque eles foram gerados por mim e com gestação de elefante”, brinca. Para ela, o sucesso é resultado da honestidade em relação à qualidade do produto e do que é divulgado nos rótulos. “É essa honestidade que traz credibilidade e fidelidade do consumidor à marca”, afirma. “Como as nossas linhas são totalmente voltadas para o home care, que é o tratamento em casa, precisamos saber exatamente o que os produtos contêm. Nós vendemos possibilidades de melhorar; por isso, se o consumidor alcança os resultados esperados, temos sucesso junto com ele.”

LINHA DIRETA Adélia Mendonça (37) 3551-2000 www.adeliamendonca.com.br adeliamendonca@adeliamendonca. com.br

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testes para chegar às formulações com estabilidade química e resultados comprovados de eficácia. “O processo é lento, mas entramos no mercado com segurança a respeito da formulação dos produtos”, afirma.

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P E Q U E N A S N O TÁV E I S

Mulheres empreendem mais no Brasil

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Pela primeira vez, as mulheres brasileiras conseguiram ultrapassar os homens no nível de empreendedorismo, ficando em 7º lugar no ranking mundial

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A mulher brasileira está definitivamente conquistando seu espaço na economia contemporânea. Pela primeira vez, o nível de empreendedorismo entre as mulheres ultrapassou o dos homens. O dado foi constatado pelo mais recente Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2007), estudo que mede as taxas do empreendedorismo mundial, divulgado pelo Sebrae e Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).

As mulheres brasileiras ocuparam, em 2007, o 7º lugar no ranking mundial como mais empreendedoras. No Brasil, elas representaram 52% dos empreendedores adultos (18 a 64 anos), invertendo uma tendência histórica quando considerado o período 2001–2007. Embora a taxa de empreendedorismo feminino esteja crescendo, a necessidade ainda é fator marcante de motivação para a mulher iniciar o empreendimento. En-

quanto 38% dos homens empreendem por necessidade, essa proporção aumenta para 63% para as mulheres. Esses dados confirmam a tendência apresentada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2006), que indicam que as mulheres buscam alternativa de empreendimentos para complementar a renda familiar, ou ainda porque nos últimos anos elas vêm assumindo cada vez mais o sustento do lar como chefe de família. Para o diretor-técnico do Sebrae nacional, Luiz Carlos Barboza, as mulheres têm conquistado espaço não só no mundo dos negócios, como também em todos os campos da atividade humana. “Creio que, com o esperado crescimento da economia brasileira nos próxi-


mos anos, também poderemos assistir a essa reversão entre as mulheres empreendedoras. É de se esperar que, gradativamente, ocorra uma diminuição do empreendedorismo por necessidade entre as mulheres”, afirma. O diretor acredita que, pelo fato de as mulheres terem maior escolaridade, elas poderão se preparar mais antes de abrir sua empresa. Assim, examinando as possibilidades que o mercado oferece, poderá haver um aumento do empreendedorismo por oportunidade gerando negócios mais competitivos e sustentáveis.

Dados gerais da pesquisa A principal mudança no cenário empreendedor nacional, apontada pela pesquisa GEM, foi que o brasileiro voltou a investir na abertura de novos negócios. A taxa de empresas iniciais (TEA) cresceu de 11,6%, em 2006, para 12,72%, em 2007 (equivalente a 15 milhões de empreendimentos). Em 2007, no ranking mundial, o Brasil se aproximou mais dos principais países empreendedores do mundo, passando de 10º para 9º lugar. São cerca de 15 milhões de empreendedores iniciais (que estão em fase de implantação do negócio ou que já o mantêm por até 42 meses). Eles correspondem a 12,72% da população adulta de 118 milhões de brasileiros com 18 a 64 anos de idade. Embora o Brasil tenha subido apenas uma colocação, esse crescimento é extremamente expressivo, quando se observa que, nesta edição, houve a inserção de cinco países na

pesquisa: Cazaquistão, Porto Rico, República Dominicana, Romênia e Sérvia. Como a taxa de empreendedorismo de cada país é calculada individualmente, a inclusão de países na pesquisa GEM tende a alterar as posições dos países remanescentes no ranking mundial. Nesta edição, a pesquisa GEM permaneceu trabalhando com duas categorias de ranking. Uma delas é a taxa de empreendedores em estágio inicial, medida a partir da pesquisa com a população adulta (18 a 64 anos) que está ativamente envolvida na criação de novos empreendimentos ou à frente de negócios com até três anos e meio. A outra categoria é a de empresas estabelecidas há pelo menos três anos e meio (42 meses). Na categoria de empreendedores iniciais, os países mais bem colocados são Tailândia (26,87%), Peru (25,89%), Colômbia (22,72%), Venezuela (20,16%), República Dominicana (16,75%), China (16,43%), Argentina (14,43%) e Chile (13,43%). Na categoria de empresas estabelecidas, o Brasil ficou em 6º lugar (9,94%).

Setor de serviços é o preferido A maioria das empresas que nasceram em 2007 no Brasil concentrou suas atividades nos serviços prestados aos consumidores. Este setor teve uma queda em 2006 e posterior recuperação em 2007 (54,1%). Dentro dos serviços prestados nessa categoria, a maioria está relacionada à comercialização de alimentos e roupas no varejo. Esse tipo de atividade

cresceu 36% de 2006 a 2007. Outros ramos também contribuíram para o crescimento das atividades de serviços em 2007: bares e lanchonetes (56%) e tratamentos de estética e beleza (66%). A preferência por essas atividades se dá, na sua maioria, pela possibilidade do uso de ferramentas computacionais, que agilizam o processo e geram maior produtividade. Nesse mesmo período, outros negócios tiveram perdas consideráveis, como prestação de serviços de reparação de escritório e informática (59%). Outro setor que cresceu em 2007 nos Estados brasileiros foi o de transformação (29,7%), com exceção para: Rio de Janeiro, crescimento de apenas 2,1%, devido ao fraco desempenho das indústrias de borracha e plástico, perfumaria e produtos de limpeza, e metalurgia básica; e Rio Grande do Sul, com 4,2%, em razão do baixo desempenho da indústria de máquinas e equipamentos, peças e acessórios, e produtos de metal vinculados ao setor agrícola, além da indústria química. O comportamento dessas atividades no setor de transformação influencia o grau de atração por novos negócios. Para compor a pesquisa no Brasil, em 2007, foram entrevistados dois mil indivíduos de idade adulta, entre 18 e 64 anos, de todas as regiões brasileiras, selecionados por meio de amostra probabilística. A pesquisa, que tem nível de confiança de 95% e erro amostral de 1,47%, conta ainda com opiniões de 36 especialistas brasileiros. Entre os anos de 2000 a 2007, foram entrevistados no Brasil 17.900 adultos.

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FOTOS MÁRCIA GOUTHIER

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A VOZ DA EXPERIĂŠNCIA

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Raul Randon


bigode Fio do

por Francis França francis@empreendedor.com.br

Sempre que pode, Raul Anselmo Randon vai para a estância, em Vacaria, na Serra Gaúcha, onde recebe os amigos com queijos e vinhos especiais que ele mesmo produz. Depois de 64 anos de trabalho, boa parte deles dedicados à construção da holding Randon S.A. – Implementos e Participações, que atingiu faturamento de R$ 3,6 bilhões em 2007 –, ele se dá o direito de fazer o que gosta. Quando perguntam sobre seu negócio, ele brinca e diz que não é fabricante de carreta, nada, é produtor de queijo. O grupo Randon é formado por dez empresas, e seu principal negócio é a fabricação de veículos de carga e autopeças, mas também atua nos setores de serviços e de implementos rodoviários e ferroviários. De todos os empreendimentos, o preferido de Raul Randon é o queijo Gran Formaggio. Em 1997, aconselhado por um amigo italiano, ele investiu US$ 4 milhões para construir a primeira fábrica de queijo tipo grana do Brasil e também a primeira fora da Itália. Com o queijo, veio o vinho. Ele começou plantando

três hectares porque soube que o clima na estância dava uvas especiais. Em 2002, convidou Darcy Miolo, dono de uma das principais vinícolas do Brasil, para conhecer sua plantação e pediu que lhe fizesse um vinho. Amigo de muitos anos, Miolo aceitou a empreitada, e, hoje, um planta, o outro engarrafa. Mas, antes de empreender por esporte, ele construiu, junto com o irmão mais velho, Hercílio – falecido em 1989 –, a maior fabricante de carrocerias de caminhão e de implementos agrícolas do País. Raul começou a trabalhar como ferreiro, aos 14 anos de idade, com o pai, fabricando machados, enxadas e outras ferramentas agrícolas em uma oficina alugada, em Caxias do Sul (RS). Seu irmão aprendeu a reformar motores a explosão trabalhando durante um ano em uma oficina como aprendiz, sem remuneração. Mais tarde, em 1947, Hercílio comprou seu próprio torno mecânico, e a reforma de motores passou a ser o negócio da família. Em 1950, um colega sugeriu que eles fabricassem impressoras linotipo para imprimir talões e folhetos. O mercado era garantido, porque as impressoras disponíveis na época eram alemãs, e a importação estava difícil por causa dos reflexos da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Raul diz que o irmão sempre foi muito engenhoso: desmontou uma máquina para entender como funcionava e desenhou seu próprio modelo. Assim, Hercílio Randon, Raul Randon e Ítalo Rossi constituíram a firma

BÚSSOLA EMPRESARIAL

O Q U E FAZ E R 1) Ousar sempre, mas com base na necessidade do mercado 2) Delegar poder 3) Incentivar a criatividade 4) Traçar metas e cobrar regularmente 5) Trabalhar com planejamento de curto, de médio e de longo prazos

O Q U E N ÃO FA Z E R 1) Diversificar a produção a ponto de tirar o foco do negócio 2) Contratar gente não comprometida 3) Não antever a necessidade de investir na melhoria e ampliação da produção para atender à demanda 4) Não investir na educação das pessoas 5) Prometer o que não pode entregar

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Para Raul Randon, o segredo do sucesso é a confiança conquistada com seus colaboradores e clientes

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A VOZ DA EXPERIÊNCIA

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Randon Rossi & Cia. Ltda. e fabricaram 12 impressoras tipográficas. No dia 26 de maio de 1951, a família participava da procissão de Nossa Senhora do Caravaggio quando ouviu o padre anunciar, no alto-falante da praça, que sua oficina estava pegando fogo. “Queimou tudo, ficamos sem nada. Tivemos que recomeçar do zero, mas pelo menos também não tínhamos dívidas, então fomos construindo e continuamos”, conta Raul. Ítalo Rossi saiu da sociedade, e os irmãos Randon passaram a trabalhar em um espaço cedido pela oficina que dava manutenção à fábrica de impressoras. Aos poucos, eles foram construindo um pavilhão e, um ano depois, voltaram a trabalhar no próprio espaço. Raul teve a sorte de contar com bons amigos ao longo da vida, e, em 1953, foi a vez do italiano Primo Fontebasso dar a idéia que definiria seu futuro. Para transportar madeira de Caxias do Sul até Porto Alegre, os caminhões precisavam enfrentar 130 quilômetros de serra todos os dias, e os freios não resistiam muito tempo. Fontebasso sugeriu que eles fizessem freios reforçados para reboques. “Foi então que entramos no ramo do transporte, de equipamentos para caminhões. Meu irmão era um sujeito muito inteligente, sabia melhorar as coisas, aí fizemos os reforços nos freios, e deu certo, tivemos bastante serviço.” Um ano depois, Fontebasso ficou doente e deixou o negócio, fato que marcou o início oficial da fábrica Randon como empresa familiar, status que mantém até hoje. “Do freio, fizemos terceiro eixo para caminhão, depois o semi-reboque e fomos indo, inventando sempre, e aqui estamos.” Quando conta, Raul Randon faz tudo parecer simples, e para ele, de certa forma, foi. Apesar de ter completado apenas o Ensino Primário, o talento que o irmão tinha para engenharia ele tinha para o comércio, e aprendeu rápido – e por conta própria – a administrar seu negócio. Com visão clara sobre a empresa e colaboradores escolhidos com cuidado, o crescimento estava garantido. Em 1970, foi à Europa pela primeira vez, a convite de um amigo italiano, para participar de feiras de fabricantes de caminhões e semireboques em Milão, na Itália, e Hannover, na Alemanha. Raul, que já fabricava semi-reboques no Brasil, se espantou com o porte dos fabricantes internacionais e chegou à conclusão de que precisava de uma fábrica maior. Na época, a Randon fabricava 700 unidades por ano. “Quando voltei,

Raul Randon

Raul e crianças do Programa Florescer: 400 alunos beneficiados, com a ajuda dos próprios funcionários

falei pro meu irmão: “Hercílio, vamos fazer uma fábrica para produzir mil unidades por mês” – para se ter uma idéia, hoje a Randon fabrica cem carretas por dia. Contrataram engenheiros para fazer o projeto, compraram terras e começaram a construir. Em 1971, a empresa mudou a razão social para Randon S.A. Indústria de Implementos para o Transporte, e abriu o capital social para captar recursos e investir na expansão. A nova fábrica foi inaugurada em 1974, e, com o crescimento, veio a profissionalização. Raul diz que, em sua empresa, os profissionais pensam como donos, e vice-versa. “O capital era meu e do meu irmão, mas o sistema de administrar sempre foi profissional, com diretores e técnicos que estão comigo até hoje. Nunca foi ‘eu mando e faço o que quero’, as coisas sempre foram decididas em conjunto”, diz. A união do grupo foi especialmente impor-

tante na década de 1980, quando a Randon S.A. passou pela pior crise de sua história. Devido à conjuntura política e econômica do País, em 1982 os pedidos caíram 40%, e a empresa foi obrigada a abrir concordata. A companhia reduziu o quadro de 6 mil colaboradores para 2 mil e vendeu todas as filiais para os próprios funcionários. “Eu disse para os meus diretores: chegamos ao ponto de fazer uma concordata juntos, e agora nós todos vamos levantar essa empresa”, conta. Em 1984, um mês antes do prazo, a Randon S.A. levantou a concordata e começou o processo de recuperação. Dos acionistas, Raul Randon exige que trabalhem para que a empresa dê resultados e, dos colaboradores, engajamento. “A gente vê que o pessoal trabalha com amor, como se a empresa fosse deles.” Para garantir essa postura, a empresa investe em benefícios e meca-


Agronegócio

Raul Randon Idade: 78 Local de nascimento: Tangará (SC) Formação: Autodidata Empresa: Randon S.A. Ramo de atuação: Implementos e participações Cidade-sede: Caxias do Sul (RS) Faturamento: R$ 3,6 bilhões Número de funcionários: 9.150

Em 1979, o governo brasileiro começou a oferecer incentivo fiscal para reflorestamento, e Raul Randon decidiu investir na agricultura. Passou, então, a fazer parte do grupo a empresa Rasip, para produzir maçãs em uma época em que mais de 90% do consumo no Brasil era atendido pela importação. Mais tarde, o governo retirou o incentivo, mas Raul resolveu manter a atividade, e hoje são cultivados 800 hectares de macieiras, cuja produção é exportada para todo o mundo, principalmente para a Europa e Ásia. A empresa expandiu as áreas de atuação e hoje produz também grãos, suínos, queijos e vinhos. O gosto pela terra veio dos avós, imigrantes italianos que chegaram ao Brasil em 1888 para trabalhar como agricultores no interior de Caxias do Sul. Randon conta que, quando ele e seu irmão eram pequenos, de manhã cedo, antes de ir para a escola, tinham que capinar na roça que sua mãe arrendava. “São coisas que estão nas raízes da família. E é bom. Tem que olhar pro céu todo dia, pra ver se chove”, brinca. Ao todo, Raul possui 4,5 mil hectares de plantações, que também incluem cultivo de soja, trigo e milho. Um dia, Raul levou um de seus amigos italianos para visitar suas macieiras, e ele de repente

sugeriu: “Raul, por que tu não fazes queijo?”. E ele respondeu: “Não vou fazer queijo”. Depois de uma tarde de discussão, o amigo prometeu fazê-lo mudar de opinião e levou-o à Itália, para conhecer uma fábrica de queijo tipo grana. Estava feito. Assim começou seu negócio predileto. “Fui conhecendo e achei que era um bom negócio. O italiano me dá assistência até hoje, e, no mercado brasileiro, nosso queijo está em primeiro lugar. A gente tem que fazer coisa boa”, diz. A produção do queijo libera um soro poluente, e Raul foi obrigado a eliminá-lo para não causar danos ambientais. Pois ele resolveu o problema com um novo empreendimento: a suinocultura. “Os suínos comem o soro e acabam com a poluição. Uma coisa puxa a outra.” Hoje, a Rasip engorda mil suínos por mês e vende-os para a Perdigão S.A. Quando perguntam como ele consegue fazer funcionar tantos negócios ao mesmo tempo, Raul diz que o importante é se manter atento para as oportunidades e escolher as pessoas certas com quem trabalhar. Para ele, o segredo do sucesso é a confiança conquistada com seus colaboradores e clientes. Conta que, nos tempos da oficina, os clientes mandavam os caminhões para consertar junto com um cheque em branco, assinado. Os irmãos Randon faziam o serviço, preenchiam o cheque e mandavam de volta a nota fiscal. “Isso é confiança. Acho que na vida da gente não tem melhor resultado.” Por trás da competência administrativa, a trajetória de Raul Randon revela que seu talento na vida, mesmo, foi cultivar amigos. Por ser uma empresa de capital aberto, a holding, que passou a se chamar Randon Participações S.A. em 1992, é montada sobre um sistema que se autogestiona e dá a Raul liberdade para suas novas empreitadas. Ele diz que, além do trabalho, tem tempo para a natação, para a novela, para o jogo de cartas com os amigos e para os finais de semana em Vacaria. “Vou à empresa para atender quem quer falar comigo, mas, se eu quiser sair agora, posso ir embora, que tudo funciona bem do mesmo jeito.” Pode, inclusive, se dar ao luxo de dizer que é produtor de queijo.

LINHA DIRETA Raul Randon: (54) 3209-2000

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nismos de incentivo, como o programa de formação dos diretores que vão atuar dentro do grupo. Segundo Raul, os diretores mudam de cargo cada seis meses. “Não temos diretores fixos, que só sabem fazer aquilo. Temos dez empresas e podemos trocar o cargo de qualquer um deles, que todos sabem trabalhar.” Em 2004, foi inaugurado também o Programa Qualificar, com uma escola para formação profissional dentro do complexo industrial, e o Programa Novos Caminhos, para preparar colaboradores que estejam prestes a se aposentar. Além dos programas internos, a empresa investe desde 2002 no Programa Florescer, voltado a estudantes de escolas públicas, filhos de funcionários das empresas do grupo e jovens da comunidade entre 7 e 14 anos de idade, com atividades pedagógicas, culturais e esportivas no turno inverso ao das aulas. Atualmente, são 400 alunos beneficiados. O programa é mantido com a ajuda dos próprios funcionários, que contribuem com R$ 2 a R$ 10 por mês.

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Tecnologia da Informação

TI

NA PALMA DA MÃO Marketing direto mira usuários de 120 milhões de telefones celulares no País

por Débora Remor

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debora@empreendedor.com.br

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O marketing direto, que chega individualmente até o cliente, já é conhecido das agências e dos anunciantes. A novidade agora é que o canal utilizado está sempre com o seu público, em qualquer lugar e hora, na palma da mão. Em 2006, o mobile marketing movimentou R$ 30 milhões no País, e a expectativa é atingir R$ 53 bilhões no mundo até 2011. O celular como veículo de propaganda, entretanto, exige cuidado para que o consumidor não seja invadido indiscriminadamente e crie aversão à nova mídia. Os 120 milhões de aparelhos em operação no Brasil fazem dessa modalidade de mídia um mercado amplo, com uma grande variedade de opções em ferramentas para explorar e assim despertar o interesse dos usuários. Quase todo tipo de comunicação tradicional pode ser adaptado, acrescido de inovação e criatividade, e chegar até o cliente final de forma inusitada. O mobile marketing é feito por mensagens de texto ou de voz, imagens estáticas ou em movimento, aplicativos com formato de folder digital e até jogos. O torpedo ou SMS – sigla de Short Message Service – é a funcionalidade mais utilizada pelos usuários brasileiros e a primeira a ser explorada pelas empresas. A mensagem de texto é enviada, por exemplo, para alertar sobre alguma promoção do produto solicitado ou indicar um site. Além da simplicidade e do baixo custo, praticamente todos os aparelhos podem receber o comunicado. Desde 2000, pelo menos, o telefone móvel passou a ser usado para reforçar o relacio-

namento da empresa com o cliente. As mensagens de texto eram enviadas como apoio para confirmar consultas médicas, avisar sobre cobrança ou transação bancária. Passou também a ser uma ferramenta a mais no planejamento estratégico das companhias. Seja para o público interno – funcionários e fornecedores –, seja para o externo – clientes –, o veículo é visto como inovação, liga a imagem da empresa à modernidade da era digital. A Cellmídia trabalha com esse foco há quatro anos e já realizou mais de duas mil campanhas usando SMS. “É uma mídia simples e de alto retorno, com um impacto muito forte”, define Rodrigo Ronsoni, diretor de negócios. Três dias antes e na data de abertura de um posto de combustíveis em Balneário Camboriú (SC), no final do ano passado, a Cellmídia fez o marketing direto usando apenas o celular. Foram cerca de 750 envios de mensagem de texto convidando os moradores do bairro para a inauguração. A expectativa de público de 300 pessoas foi superada, e o estabelecimento registrou mais de 600 visitas. Ronsoni explica que, depois da campanha, a Cellmídia entrega ao anunciante um relatório com todas as informações: número de mensagens enviadas, quantas foram recebidas e lidas, quantas não chegaram e o porquê. “As métricas de desempenho nos permitem medir o retorno das ações”, garante. Para a Cellmídia, o valor mínimo de uma campanha é de R$ 104, atingindo a marca de 260 SMS enviadas. Apesar de pouco utilizadas pelos brasileiros, outras funcionalidades estão disponíveis nos celulares, e as empresas, ávidas a explorálas. Dos aparelhos à venda, a maioria conta com bluetooth – existem mais de 70 milhões de aparelhos com o dispositivo no País. Essa tecnologia sem fio pode transmitir conteúdo multimídia para aparelhos a distância de até 50 metros, por meio de uma antena especial.

É a segunda função mais explorada no celular, atrás apenas do SMS. Como serviço, o bluetooth agrega valor ao produto que está próximo. Por exemplo, receber os detalhes da obra e do artista no seu aparelho durante uma visita a uma exposição de quadros. De forma prática, significa destacar a empresa durante uma feira repleta de concorrentes, sem atulhar o cliente com material físico. Uma lista com os lançamentos chega ao celular do visitante que aceita receber o catálogo como um folder digital. Há seis meses em operação, a Yes! Mobile Media se estabeleceu com dispositivos móveis em São Paulo, Campinas, Florianópolis, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ela atende desde a pequenos comércios de roupas e bebidas até grandes anunciantes,


Marketing viral Baseado no objetivo de sempre ajudar o consumidor, o mais recente lançamento da Praesto é o Vôos Mobile, um serviço que disponibiliza informações em tempo real da situação dos vôos nos aeroportos do Brasil, pelo qual o usuário só paga pela navegação. No endereço www.voosmobile.com.br, estão as explicações de como instalar o programa (que pode ser acessado diretamente via celular no endereço m.voosmobile.com.br), sem custos e compatível com a maioria dos aparelhos. O serviço também alerta sobre os direitos dos viajantes, o que fa-

distribuindo publicidade diluída em informação relevante. “Numa loja de artigos de surf shop, ficamos 15 dias com o dispositivo de bluetooth ligado. A campanha registrou a presença de 400 celulares por dia, num total de 1,5 mil downloads do material”, conta Marcio Abreu, diretor da Yes!.

zer em casos de overbooking ou problemas com bagagem, e detalhes sobre transporte de crianças, através do Guia de Passageiros. No final do ano passado, a Praesto trocou o cartão de Natal tradicional por uma mensagem digital multimídia (MMS, sigla para Multimedia Messaging Service). Ao fazer isso, a empresa atingiu toda a rede de relacionamento e reforçou seu próprio negócio. “Não se pode esperar nada menos do que isso de uma empresa de tecnologia”, opina Eurides Terence, diretor de atendimento da Praesto.

Outro exemplo de integração multimídia desenvolvido pela Praesto foi o material de apresentação para novo produto da cerâmica catarinense Eliane. No aplicativo, que aliava a facilidade de manipulação de vídeos para computador com a portabilidade do celular, a empresa mostrava a peça com informações específicas destinadas ao público intermediário – arquitetos, vendedores e engenheiros. Encantando essa faixa, o consumidor final também seria atingido, já que o marketing viral é sempre considerado nessa mídia onipresente.

Rodrigo Ronsoni, da Cellmídia: duas mil campanhas usando SMS em quatro anos

A campanha é totalmente customizável ao bolso do anunciante. A rede fixa pode ser exclusiva ou compartilhada, ou ainda específica para um evento; a loja pode veicular um anúncio ou vários vídeos, por uma semana ou três meses. “O preço varia caso a caso, conforme a cobertura geográfica e o número de arquivos, assim como o sucesso da campanha depende do fluxo de pessoas e do horário escolhido”, ressalta Abreu. Ele chama a atenção para o fato de que, geralmente, é preciso orientar os usuários a ligar o bluetooth do seu celular e fazer ações com mídia offline para provocar o uso do dispositivo. Em compensação, com o material no aparelho de cada cliente, acontece o chamado marketing viral, quando a pessoa mostra o vídeo para os amigos, disseminando ela própria a campanha da empresa. Estimular os usuários a usar outras ferramentas do celular tem sido o foco de algumas empresas. No ano passado, a GM lançou um carro e fez toda a comunicação da campanha instigando as pessoas a achar o novo modelo na rua, tirar uma foto com o celular e mandá-

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Customização

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TI

Tecnologia da Informação

Terence, da Praesto: aplicativos gratuitos que facilitam a vida das pessoas, patrocinados por uma empresa, são muito bem-aceitos la para determinado site. Depois, as pessoas entravam no site e votavam na melhor foto, e a mais votada ganhava um prêmio. Dessa forma, a mídia conduzia as pessoas a usar o celular, forçando o conceito de produção de conteúdo e o uso da ferramenta.

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Mídia complementar

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Mais do que ajudar os usuários a explorar o que o celular oferece, a Praesto Convergence defende que as empresas desenvolvam um relacionamento digital com os clientes, dando vantagens para depois usufruir o canal de publicidade. “A recomendação é: comece a usar o celular como uma mídia digital complementar, até para você criar uma cultura”, aposta Eurides Terence, diretor de atendimento da empresa de serviços de convergência. A Praesto criou o portal JMobi, voltado ao público jovem, para oferecer vantagens em troca do retorno que recebe dos mais de 300 mil usuários. O laboratório tem ajudado a empresa a entender o alcance e a aplicação da nova mídia. “Desenvolver aplicativos gratuitos que facilitem a vida das pessoas, patrocinados por uma empresa, é muito bem-aceito. Ainda mais quando a

segmentação é bem-feita”, avalia Terence. A equipe da Praesto acha que usar o celular em campanhas que apenas falam pela inovação do veículo é subestimar o potencial dessa mídia. A utilidade e a pertinência devem vir em primeiro lugar. “O que a gente procura fazer é desenvolver ações que resolvam o problema da pessoa, entendendo a real necessidade dela, ou seja, dar a informação quando o consumidor quer aquela informação.” Pode ser o placar do jogo ou os horários do cinema, o objetivo sempre é ajudar o consumidor. A mensuração das respostas, presente em todas as funcionalidades exploradas no celular, é o ponto positivo mais apontado pelas empresas. “Atingimos o público correto, com a informação correta e, o melhor, monitorando o comportamento desse usuário.” É assim que Terence define a aplicação do mobile marketing bem-feito. Mas a necessidade de permissão do usuário também precisa ser reforçada. O optin, ou confirmação que o consumidor quer mesmo receber as mensagens da empresa, é obrigatório. O respeito ao cliente deve estar à frente das iniciativas. “Num estágio inicial, a receptividade é boa, mas o bombardeio de mensagens gera um resultado negativo”, declara

Eduardo Tude, presidente da Teleco. Os anunciantes já descobriram que essa mídia nova é mais do que um folheto promocional ou propaganda direcionada, o celular se apresenta como o canal de relacionamento. Entretanto, todas as qualidades podem se tornar motivos de preocupação. A banalização de mensagens de e-mail e seus riscos para a segurança tornaram qualquer boa campanha em mais um spam a ser apagado. Por isso, o mobile marketing precisa ser tratado com profissionalismo e responsabilidade, para não matar o novo filão – antes mesmo que ele seja aproveitado de maneira adequada.

LINHA DIRETA Cellmídia (48) 3232-8328 www.cellmidia.com.br Yes! Mobile Media www.yesmobilemedia.com.br Praesto Convergence (48) 3028-2069 www.praesto.com.br Eduardo Tude (12) 3942-9800 www.teleco.com.br


Gerenciador de clientes

VoIP pré-pago

Uma nova versão do CRM da Microsoft, conhecido como “titan”, chega ao Brasil. Este sistema de gestão do relacionamento com o cliente é mais flexível e mantém a integração com as soluções da Microsoft. O software é comercializado de duas formas: tradicional via licença ou hospedado como serviço. “Trata-se de uma solução que possibilita às empresas gerenciar suas relações com os clientes tão bem quanto sua cadeia de fornecedores. O software permite, por exemplo, automatizar o fluxo de trabalho, compartilhar informações e conhecimento em grandes

Já conhecido, porém com potencial ainda a ser explorado, o sistema de Voz sobre IP, o VoIP, agora é oferecido no formato pré-pago. Disponibilizado pela Mapa Brasil, holding especializada em consultoria e desenvolvimento de soluções para a área de TI, o serviço é adquirido pela empresa com um pacote de minutos conforme a demanda e o tempo. “Os clientes pagam somente pelo que usam, adquirindo mais créditos quando for necessário”, avalia Paulo César Tonetto, diretor de negócios.

4081/www.microsoft.com/brasil

Leitura rápida A fabricante de leitores de barra Nonus registrou crescimento de 40% em 2007, impulsionado pelo aumento das compras pela internet. Como as expectativas para este ano são ainda melhores para o número de usuários on-line, a empresa calcula incremento de até 30% na produção de leitores de códigos de barra. Os equipamentos são reduzidos e estão

à venda nos maiores sites de comércio eletrônico. “O cliente elimina a necessidade de digitar os números de boletos e pode pagar suas contas pelo internet banking, com toda comodidade e segurança”, explica Marcos Canola, diretor comercial da Nonus. A fabricante garante a entrega do produto em qualquer ponto do País. www.nonus.com.br

(11) 5589-2143/www.mapabrasil.com.br

CNPJ eletrônico O certificado digital começa a se tornar realidade entre as transações pela internet, ajudando a evitar fraudes e a reduzir custos, e, o mais importante, garantindo a confidencialidade das informações. Do tamanho de um cartão de crédito com um chip eletrônico, o documento contém os dados da empresa, como nome do titular, e-mail, CNPJ e dois números – a chave pública e a privada, além da assinatura da autoridade certificadora. Desde 2001 usando esta tecnologia, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo é a entidade responsável por emitir certificados digitais e credenciar outras autoridades certificadoras e de registro. Os certificados digitais conferidos pelo órgão, para pessoas física e jurídica, são oferecidos em várias modalidades, acompanhadas de suporte técnico. O e-CNPJ custa R$ 240, com três anos de validade, e pode ser acompanhado de uma unidade de leitura, com preço de R$ 400. Outra opção é a aquisição do token, dispositivo de tamanho reduzido que substitui o cartão e o leitor, pelo preço de R$ 425. (11) 6099-9800

www.imesp.com.br

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companhias e contar com um ambiente de relacionamento de compras mais produtivo”, explica Maurício Prado, gerente-geral da divisão Microsoft Business Solution. 0800 888

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PURESTOCKX

FRANQUIA por Débora Remor debora@empreendedor.com.br

rede

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Profissionais da

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Empresas de serviços e marketing digitais expandem negócios pelo sistema de franchising

A internet motiva cada vez mais negócios, entretanto as empresas de médio e pequeno portes nem sempre aproveitam este canal para mostrar seus produtos e ganhar novos clientes. Além da necessidade de acordar para essa realidade, a principal dificuldade dos empreendedores é encontrar um profissional que faça um site interessante, deixe as informações atualizadas e ajude a companhia a ser vista no mundo virtual. Para ocupar esse mercado ainda pouco atendido, chegam as franquias de internet e marketing digital, que prosperam rapidamente nas principais capitais. A Linkwell é uma das redes que formatou seu projeto de franquia recentemente, com material de divulgação e manual do franqueado desenvolvido por profissionais especializados. Os franqueados não precisam conhecer profundamente a parte técnica da internet, já que o negócio envolve muito mais habilidade comercial para conquistar clientes e vender as soluções. Os serviços oferecidos pelos franqueados envolvem a comercialização de sites, e-commerce, sistemas de web, e-mail marketing, hospedagem e adequação da interface de sistemas já prontos. “A rede de relacionamento do franqueado é muito importante para garantir o bom funcionamento da unidade”, aconselha Sandro Herek, diretor-executivo da Linkwell, ao salientar o perfil comercial buscado pela Linkwell para o modelo consultor. Ele afirma que o franqueado precisa ter habilidades na área administrativa também quando optar pela franquia comercial, com um estabelecimento fixo. O diferencial da Linkwell é que o empreendedor interessado faz um “test drive” antes de assinar o contrato definitivo, pagando valores menores que podem ser abatidos se o negócio prosperar. No prazo de seis meses, o franqueado escolhe o serviço que vai oferecer: internet, design gráfico, multimídia ou sistemas. Para o test drive, apenas uma das opções pode ser oferecida. Além deste, a franquia opera com outros dois modelos: comercial e consultor, que podem prestar todos os serviços e pagam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por módulo. A Linkwell dá desconto na taxa básica para franqueados dos Estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo e tem expectativa de abrir entre 15 e 20 unidades este ano. “O mercado


FRANQUIAS Linkwell

Capital para Instalação: R$ 2,5 a R$ 12,7 mil Capital de Giro: R$ 7,5 mil a R$ 10 mil Taxa de Franquia: a partir de R$ 35 mil Investimento Inicial: R$ 45 mil (Taxa de Franquia + Capital para Instalação + Capital de Giro) Taxa de Propaganda: 2% sobre faturamento bruto Taxa de Royalties: 5% sobre faturamento bruto Tempo de Retorno: 18 a 30 meses Faturamento Médio Mensal: R$ 30 mil

CONSULTOR: Capital para Instalação: não é necessário Taxa de Franquia: R$ 10 mil Capital por Módulos de Serviço: R$ 3 mil Taxa de Propaganda: 2% sobre faturamento bruto Taxa de Royalties: 15% sobre faturamento bruto Tempo de Retorno: 12 a 18 meses Contrato de cinco anos

está aquecido, e os clientes ainda não encontram um bom atendimento, por isso acreditamos no crescimento da rede”, afirma Herek. A rede também vê boas possibilidades de negócio em lojas e empresas de serviços para internet que precisam do apoio de uma rede sólida. “O franqueado pode comercializar ou desenvolver, e a Linkwell dá o suporte e gerencia os clientes. Quem já tem estrutura e conhecimento fará a execução de projetos prospectados pela rede através de uma franquia de desenvolvimento”. Outra opção para quem circula bem pelas áreas de internet e marketing é a Magoweb, que entrou no sistema de franchising no ano passado e já contabiliza oito unidades em funcionamento. Presente em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, a rede quer chegar a todas as capitais até 2009, quando espera atingir a marca de 35 unidades abertas. “O que mais nos motiva é que os franqueados estão muito satisfeitos”, alega Átila Kahmann Genehr, diretor da Magoweb. A unidade da Magoweb começa a operar a partir de casa, com um celular e um notebook, e à medida que a franquia capta clientes, é preciso contratar funcionários e abrir uma sala comercial. Antes disso, o interessado deve passar por um treinamento de duas semanas para entender os serviços que a Magoweb desenvolve e comercializa, aprender algumas práticas de vendas e de manutenção das soluções. Os franqueados vendem e fazem a atualização e manutenção dos sites corporativos, desenvolvidos pela matriz. “A consultoria em

COMERCIAL: Capital para Instalação: ponto comercial e estrutura de móveis e equipamentos sugeridos pela rede Taxa de Franquia: R$ 15 mil Capital por Módulos de Serviço: R$ 5 mil Taxa de Propaganda: 2% sobre faturamento bruto Taxa de Royalties: 10% sobre faturamento bruto Tempo de Retorno: 12 a 18 meses Contrato de cinco anos

Herek: rede de relacionamento do franqueado é essencial para o bom funcionamento da unidade marketing digital envolve desde o melhor posicionamento em sites de busca como o Google até o monitoramento dos visitantes do site, com relatórios mensais”, comenta Genehr. Outra fonte de renda do franqueado é com a manutenção e estratégia das empresas para os portais. “No mercado de internet, a gente sente que as pessoas e as empresas estão órfãs. Por isso, o que oferecemos é um trabalho sério e de profundidade, com planejamento estratégico”, opina Rosana Fortes, franqueada da Magoweb em Barueri, São Paulo. Ela emenda: “Como consultora, estou interessada em co-

nhecer a empresa, seus concorrentes e o mercado em que atua. A partir disso, nasce o projeto para arquitetura da informação. Começa, então, uma relação de longo prazo”. No caso do desenvolvimento de sites, o franqueado comercializa, faz o levantamento e ajuda no projeto a ser realizado. A matriz ou indústria Magoweb, então, monta o design e as páginas de navegação. O franqueado volta a visitar o cliente e atua como intermediário, sugerindo modificações e negociando o projeto final. Quando este fica pronto, ele volta a falar com a empresa para ensinar a usar o site e oferecer o serviço de consultoria, que se realiza mensalmente, ao preço mínimo de R$ 300. Rosana abriu a franquia em agosto, foi uma das três primeiras, e recentemente fechou contrato com o décimo cliente. “Como estamos vendendo um serviço, a empresa pode até demorar a fechar o negócio, mas como a proposta é muito boa, ele dificilmente não se torna cliente”, afirma e completa: “Estou com um aproveitamento de 80% dos clientes que visitei, e para os outros 20% ainda estou apresentando as soluções e amadurecendo a idéia”. Segundo Rosana, os próprios clientes passam a recomendar seus serviços para amigos, clientes e até concorrentes.

LINHA DIRETA Magoweb: www.magoweb.com (51) 3711-7495 Linkwell: www.linkwell.com.br/franquia (41) 3016-4056

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Magoweb

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FRANQUIA

Audição aguçada No mercado há 60 anos, o Centro Auditivo Telex aposta nas cidades do Norte e Nordeste para chegar a cem lojas até dezembro. A franquia de aparelhos auditivos está presente em 20 Estados com 63 unidades e não menospreza os mercados de São Paulo e Minas para o crescimento deste ano. O investimento inicial é de R$ 80 mil a R$ 150 mil, e o capital de giro necessário, R$ 20 mil. A taxa de franquia varia entre R$ 15 mil e R$ 40 mil, os royalties cobrados são de 5% sobre a compra da franquia, e a taxa de publicidade fica em 3% sobre o faturamento bruto. O retorno do investimento tem expectativa de 18 a 24 meses, e o faturamento mensal por unidade, em média, é de até R$ 80 mil.

(21) 2104-9114/franquias@telex.com.br

Novos formatos Operando neste sistema desde 1992, a Nobel foi eleita a melhor franquia de lazer em 2006. A rede conta hoje com 150 unidades e pretende chegar ao final do ano com 50 novas lojas, oferecendo três formatos: Express, que opera com menores custos, o padrão da Nobel Livraria e a Mega Store, com uma linha completa de livros, CD e DVD, além de material de papelaria. A marca também avança para o exterior, abrindo duas unidades no México, uma na Espanha e outra em Angola. O investimento inicial para uma livraria e papelaria da rede é a partir de R$ 117 mil. (11) 3706-1440/franquia@livrarianobel.com.br

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Longa vida

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A marca de vestuário Hering contabiliza 5 bilhões de camisetas vendidas nestes 127 anos de história e um total de 180 lojas. A rede inaugurou em grande estilo a Mega Store no Rio de Janeiro, apostando no ambiente confortável e inovador. E planeja a expansão das unidades através do sistema de franquias. No investimento inicial de R$ 270 mil a R$ 450 mil, estão contabilizados a taxa de franquia, o capital para montagem da estrutura e o capital de giro recomendado. A taxa de publicidade é de 1,5 % sobre as compras, e os royalties giram em torno de 3% sobre as compras. São aproximadamente dez funcionários por loja, numa área mínima de 80 metros quadrados. O contrato é de 60 meses, com retorno estimado entre 36 e 48 meses.

(11) 3371-4800/www.hering.com.br


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Fr a nq u i a em exp an s ão

PA- PROJETO ARQUITETÔNICO, PM- PROJETO MERCADOLÓGICO, MP- MATERIAL PROMOCIONAL, PP- PROPAGANDA E PUBLICIDADE, PO- PROJETO DE OPERAÇÃO, OM- ORIENTAÇÃO SOBRE MÉTODOS DE TRABALHO, TR- TREINAMENTO, PF- PROJETO FINANCEIRO, FI- FINANCIAMENTO, EI- ESCOLHA DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES, PN- PROJETO ORGANIZACIONAL DA NOVA UNIDADE, SP- SOLUÇÃO DE PONTO

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PA- PROJETO ARQUITETÔNICO, PM- PROJETO MERCADOLÓGICO, MP- MATERIAL PROMOCIONAL, PP- PROPAGANDA E PUBLICIDADE, PO- PROJETO DE OPERAÇÃO, OM- ORIENTAÇÃO SOBRE MÉTODOS DE TRABALHO, TR- TREINAMENTO, PF- PROJETO FINANCEIRO, FI- FINANCIAMENTO, EI- ESCOLHA DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES, PN- PROJETO ORGANIZACIONAL DA NOVA UNIDADE, SP- SOLUÇÃO DE PONTO


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F ra nq u i a e m exp ans ã o

PA- PROJETO ARQUITETÔNICO, PM- PROJETO MERCADOLÓGICO, MP- MATERIAL PROMOCIONAL, PP- PROPAGANDA E PUBLICIDADE, PO- PROJETO DE OPERAÇÃO, OM- ORIENTAÇÃO SOBRE MÉTODOS DE TRABALHO, TR- TREINAMENTO, PF- PROJETO FINANCEIRO, FI- FINANCIAMENTO, EI- ESCOLHA DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES, PN- PROJETO ORGANIZACIONAL DA NOVA UNIDADE, SP- SOLUÇÃO DE PONTO

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NEGÓCIO CERTO

COMO CRIAR E ADMINISTRAR BEM SUA EMPRESA

Gerando idéias de negócio Manual Etapa 1/Parte 1

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POR QUE EU DEVO TER UMA IDÉIA DE NEGÓCIO? Você está entrando na primeira Etapa do Programa Negócio Certo Sebrae. Aqui, nós vamos ajudá-lo a responder à questão: “Como identificar uma boa idéia de negócio?”. Os bons empreendedores sabem aproveitar as oportunidades de negócio, o que significa dizer que conseguem promover um negócio a partir das necessidades dos clientes e do mercado, não perdendo de vista o objetivo final. E o primeiro passo está na identificação de uma boa idéia, para, em seguida, estudar a viabilidade e posteriormente criar a empresa. Além disso, os bons empre-

Fique ligado!

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Bem-vindo! É um prazer ter você na Etapa 1 do Programa de Auto-Atendimento Negócio Certo do Sebrae. Fique ligado! Neste Manual, você encontra os caminhos para verificar se sua idéia de negócio está de acordo com seu perfil ou, caso você não tenha nenhuma idéia, ele vai ajudá-lo a escolher aquela idéia de negócio que certamente dará um novo rumo à sua vida. Por isso, leia com atenção todas as informações e responda aos questionários, pois assim você passará pela primeira etapa com a certeza de que está no caminho certo. Desejamos que você escolha a melhor idéia de negócio. Sucesso!

sários procuram atuar em áreas que os estimulem e cujos investimentos sejam coerentes com os recursos financeiros disponíveis. Saiba que, se você tem interesse em investir em um novo negócio, esta é uma etapa fundamental, pois, se você escolher idéias pouco interessantes, jamais conseguirá ter uma boa empresa. Portanto, invista tempo nessa primeira fase do Programa Negócio Certo Sebrae. Veja o caso de Marcos. Marcos era um técnico em Informática que tinha habilidades manuais e estava desempregado. Ele morava em um bairro de classe média-baixa. Como estava muito difícil conseguir emprego, ele resolveu abrir um negócio.

Nas próximas páginas, vamos ajudá-lo a fazer como o Marcos: escolher a melhor idéia de negócio de uma forma simples e rápida. Basta você seguir alguns passos. Vamos entrar com o pé direito nesta primeira etapa.


CONSELHO EMPREENDEDOR

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O professor Rogério Chèr, autor do livro Meu Próprio Negócio, afirma que abrir o negócio em função exclusivamente de dominar uma técnica é uma motivação incorreta. “O sujeito pensa: ‘Sei fabricar esse produto ou sei prestar esse serviço. Então, vou abrir uma empresa para comercializá-los’. A premissa, nesse caso, é a seguinte: ‘Ao conhecer como se faz esse produto e como se presta esse serviço, automaticamente sei como se opera um negócio que comercializa tanto o produto quanto o serviço’. Engano. A pergunta que fatalmente deixa de ser feita nesses casos é: ‘Existe alguém lá fora interessado nisso?’”, ensina.

COMO IDENTIFICAR UMA BOA IDÉIA DE NEGÓCIO? Este é o primeiro passo! Aqui, vamos lhe auxiliar a escolher uma idéia de negócio e avaliar o seu perfil empreendedor. Tal avaliação é muito importante, porque ela vai dar uma idéia do que você precisa fazer para melhorar o seu desempenho como empreendedor. Para isto, você precisará: Momento 1: Selecionar cinco idéias promissoras de negócio; Momento 2: Escolher a melhor idéia de negócio; e, Momento 3: Avaliar o seu perfil empreendedor. Seleção de cinco oportunidades promissoras de negócio Ao final deste passo, você terá um conjunto de cinco idéias de negócio que melhor se ajustam às suas características. Então, vamos começar?

Você já possui alguma idéia de negócio? Sim, já tenho uma idéia em mente. Mesmo que você já tenha sua idéia de negócio, sugerimos que avalie essa idéia em relação ao seu perfil pessoal. Também lhe convidamos a verificar mais quatro idéias de negócio, das 650 que estamos lhe oferecendo. Mas, caso você já esteja seguro sobre sua idéia de negócio e não queira fazer o processo de verificação da sua idéia com seu perfil pessoal, aguarde a publicação da segunda parte do Manual da Etapa 1 na próxima edição da Revista Empreendedor, em maio. Não (então, responda as questões a seguir). empreendedor | abril 2008

O primeiro passo foi coletar idéias. Para isso, ele decidiu visitar um tio que morava em outra cidade. Lá, sempre que avaliava um novo negócio ele se perguntava: “Será que lá no meu bairro este negócio daria certo? Existe demanda? E o dinheiro que eu tenho dá para montar o negócio? Será que não é muito arriscado?”. Depois de duas semanas na casa do tio, Marcos selecionou cinco idéias que poderiam dar certo no seu bairro e voltou para sua casa para avaliálas e escolher a melhor. No processo de avaliação e escolha da melhor idéia, três elementos foram fundamentais: primeiro, as características de empreendedor do Marcos (tendência a correr risco, motivação, conhecimento, etc.); segundo, as características do mercado (demanda no seu bairro, presença de concorrentes no bairro, etc.); terceiro, as características do negócio (valor do investimento, disponibilidade de tecnologia, etc.). Após a avaliação, Marcos resolveu criar a “Marcos Móveis”, que, hoje, conta com oito empregados e está em plena fase de crescimento.

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NEGÓCIO CERTO

COMO CRIAR E ADMINISTRAR BEM SUA EMPRESA

QUESTIONÁRIO

As questões abaixo vão guiar você para as melhores idéias de negócio. Você deseja trabalhar sozinho ou com outras pessoas? Sozinho Com outras pessoas Esta pergunta pretende esclarecer se você deseja abrir ou tocar um negócio sozinho – você mesmo será toda a força de trabalho necessária – ou será preciso contratar outras pessoas (funcionários). Qual o risco calculado que você está disposto a correr? Alto Médio Baixo O tamanho do risco de um negócio será, quase sempre, proporcional à qualidade dos ganhos que ele poderá apresentar e sempre proporcional à quantidade de responsabilidade que exigirá de você. Em qual setor você pretende atuar? Indústria Comércio Serviços Agronegócio Cada setor tem características próprias e, em geral, depende muito da experiência ou habilidade que você já possui. Uma dica é analisar mais de uma vez as possibilidades de negócio, utilizando o auto-atendimento quantas vezes forem necessárias, até chegar a uma conclusão satisfatória. Mais um passo para você identificar as suas idéias de negócio: Quanto você tem para investir no negócio? R$ Com as respostas deste Questionário, você será capaz de encontrar um grupo de idéias de negócio no Banco de Idéias. Para isso, você tem dois possíveis caminhos: 1. Encaminhe as suas respostas ao seu tutor, via e-mail (negociocerto@ sc.sebrae.com.br), e ele lhe enviará as fichas que contêm orientações sobre os possíveis negócios que estão de acordo com seu perfil.

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2. Das idéias apresentadas, escreva abaixo até cinco delas que você acredita estarem mais alinhadas ao seu perfil:

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Idéia A Idéia B Idéia C Idéia D Idéia E


(Do livro O Segredo de Luísa, de Fernando Dolabela)

Negócios existentes: pode haver excelentes oportunidades em negócios em falência. Franquias e patentes. Licença de produtos: uma fonte de boas idéias é assinar revistas da área. Corporações, universidades e institutos de pesquisa não lucrativos podem ser fontes de idéias. Feiras e exposições. Empregos anteriores: muitos negócios são iniciados por produtos ou serviços baseados em tecnologia e idéias desenvolvidas por empreendedores enquanto eles eram empregados de outros. Contatos profissionais: advogados de patentes, contadores, bancos, associações de empreendedores. Dar consultoria pode ser uma fonte de idéias. Pesquisa universitária. A observação do que se passa em volta, nas ruas. Idéias que deram certo em outros lugares. Experiência adquirida como consumidor. Mudanças demográficas e sociais, mudanças nas circunstâncias de mercado. Caos econômico, crises, atrasos (quando há estabilidade, as oportunidades são mais raras). Uso de capacidades e habilidades pessoais. Imitação. Dar vida a uma visão. Abordar um problema de forma a transformá-lo em oportunidade. “Descobrir” o novo em algo que já existe: melhorar, acrescentar uma inovação a uma idéia preexistente. Combinar de forma nova.

CONSELHO EMPREENDEDOR No caso de escolha de uma franquia, segundo a consultora Filomena Garcia, sóciadiretora do Grupo Cherto, a sugestão é iniciar a procura pela análise de rentabilidade. “O resultado do negócio deve ser o foco do interessado, ou seja, a rentabilidade, prazo de retorno e os valores do investimento compatíveis com o negócio”, diz. Nem sempre as taxas que parecem interessantes resultam em lucratividade, e aí pode estar uma armadilha.

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CARLOS PEREIRA LIO SIMAS CASA DA PHOTO CASA DA PHOTO

FONTES DE IDÉIAS

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NEGÓCIO CERTO

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Qual das idéias é mais compatível com o meu perfil pessoal? Aqui, vamos lhe auxiliar na escolha da melhor oportunidade de negócio, a partir das cinco idéias que você escolheu. Passo 1 – Leia atentamente as fichas das oportunidades de negócio que você selecionou. Passo 2 – Responda o Questionário abaixo (Relação entre o Perfil Pessoal e as Idéias de Negócio Escolhidas), indicando o grau com que você concorda ou discorda com cada afirmativa relacionada às idéias que estão sendo avaliadas.

QUESTIONÁRIO Relação entre o Perfil Pessoal e as Idéias de Negócio Escolhidas. Muita atenção! Escreva em uma folha as idéias de negócio selecionadas no Questionário anterior. Responda as questões a seguir da forma mais real possível, dando uma nota de 1 a 4 para cada uma das idéias, conforme a orientação abaixo: Nota 1 – Para afirmações que não tenham relação com cada idéia. Nota 2 – Para afirmações que tenham pouca relação com cada idéia.

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Nota 3 – Para afirmações que tenham relação com cada idéia.

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Nota 4 – Para afirmações que tenham muita relação com cada idéia.

QUESTÕES Eu tenho a experiência necessária para iniciar este negócio? Já participei de cursos e treinamentos que ajudarão a montar este negócio? Tenho o tempo necessário para planejar e montar este negócio? Minha família me apóia para implantar este tipo de negócio? Tenho algum conhecimento sobre este tipo de negócio? Esta é uma boa opção de investimento, considerando os recursos financeiros que tenho? Eu me relaciono bem com pessoas ligadas a este tipo de atividade? Eu conheço os concorrentes deste negócio? Eu costumo ter idéias que podem tornar este negócio inovador? Esta é uma idéia que me dá prazer colocar em prática? Eu sei o que precisa ser feito para atender bem os clientes deste negócio?

Eu tenho como conseguir um ponto ou local para colocar este negócio em prática? Eu conheço o processo e os equipamentos necessários para operar um negócio como este? Eu tenho capacidade para gerenciar um negócio como este? Eu me sinto muito motivado a montar este negócio? Eu já desenvolvi atividades profissionais relacionadas a este negócio? Esta idéia se relaciona com atividades que tenho muito prazer em realizar? Esta idéia de negócio está de acordo com meus princípios e crenças? Esta idéia parece ser bem-aceita pelas pessoas da região onde pretendo instalar o negócio? Esta idéia me permitirá ter um grande volume de vendas? Anote a soma total dos pontos de cada idéia.


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CONSELHO EMPREENDEDOR

Agora que você tem a soma dos pontos de cada idéia, observe a seguir em que consideração a pontuação de cada uma se encaixa. I – A idéia que somar um número maior ou igual a 60 pontos está de acordo com o seu perfil pessoal. II – Entre 40 e 59 pontos, a idéia precisa ser mais bem trabalhada, pois apresenta alguns fatores que não estão de acordo com o seu perfil pessoal. Então, reveja onde e por que sua pontuação foi baixa. III – Abaixo de 40 pontos, a idéia não está de acordo com o seu perfil pessoal. Sugerimos que você procure uma outra idéia mais adequada a suas características pessoais. IV – Caso você tenha duas ou mais idéias com a mesma pontuação (igual ou superior a 60 pontos), então escolha aquela que você considera mais interessante.

V – Caso todas as idéias tenham menos de 40 pontos, você tem quatro opções: A) repense os aspectos que baixaram a pontuação e veja se em alguma delas há como inverter o quadro; B) inicie uma nova escolha de idéias; C) busque idéias de negócios em outras fontes;

TUTORIA A tutoria tem um diferencial, pois atenderá não somente as pessoas que fazem o curso via internet, mas também aquelas que optarem pelo meio impresso, além de orientar sobre todo o conteúdo do programa. Você pode entrar em contato com a tutoria por meio de:

D) reflita mais! Talvez este não seja o momento apropriado para abrir seu negócio – as chances de sucesso são pequenas.

tira-dúvidas (recurso disponível para os clientes que optarem pelo acesso à internet); e-mail: negociocerto@ sc.sebrae-sc.com.br

Se você realmente acha que tem de iniciar um negócio, pode escolher, mesmo assim, uma das idéias e aguardar a publicação da segunda parte do Manual da Etapa 1 na próxima edição da Revista Empreendedor, em maio, para dar continuidade ao curso.

Negócio Certo Sebrae Programa de Auto-Atendimento Para tirar suas dúvidas, entre em contato conosco pelo e-mail negociocerto@sc.sebrae.com.br

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AVALIANDO SEU RESULTADO DO QUESTIONÁRIO

A opção de focar o negócio em um nicho de mercado pode garantir o sucesso de empreendedor, desde que ele saiba exatamente como encontrá-lo. Atuar em um nicho de mercado significa atender a públicos específicos e, dessa forma, se diferenciar de concorrentes. Em linhas gerais, o nicho é a demanda por alguma necessidade ainda não devidamente atendida, e para chegar até um novo nicho é preciso descobrir algo que ainda não existe e que o mercado vai valorizar. O caminho até um novo nicho de mercado passa por uma análise do ambiente e pela construção de “cenários”, que nada mais são do que a simulação do possível desempenho da empresa. Isso, somado a fatores pessoais, pode garantir uma entrada mais segura da empresa no seu mercado de atuação.

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P R O D U T O S E S E RV I Ç O S

Capital semente Através do Programa Inovar Semente, o Fundo SC disponibiliza R$ 12 milhões para investir em até dez empresas catarinenses dos setores de tecnologia da informação, biotecnologia e nanotecnologia. Com a finalidade de apoiar organizações nascentes com grande potencial inovador, o Fundo SC vai beneficiar micro e pequenas empresas com faturamento de até R$ 2,4 milhões. O início das operações do Fundo, cujos recursos vêm de investidores privados, do governo do Estado e da Finep, está previsto para julho, com abrangência nas cidades de Itajaí, Blumenau, Florianópolis, Joinville e Jaraguá do Sul. O aporte em cada empresa será entre R$ 500 mil e R$ 1,8 milhão. “O Fundo vai investir em negócios maduros do ponto de vista tecnológico. As empresas que estão em busca de investidores podem enviar seus planos de negócios”, afirma José Henrique Moreira, diretor-executivo do Fundo SC.

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bzplan@bzplan.bz/(48) 3333-2374

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Computador popular O computador Bitway Flex vem com monitor CRT, sistema Linux, kit multimídia e economiza até 40% de energia. Vendido a partir de R$ 800 no varejo e pela internet, o PC é voltado para os segmentos de ensino, empresas públicas e privadas e também para o usuário final. Trabalhando com o processador Via C7-D de 1,5GHz, o Bitway Flex proporciona 512 MB de memória e 80 GB de disco rígido. “Acreditamos que a combinação de funcionalidades e baixo consumo de energia do Bitway Flex PC terá grande apelo”, afirma Martial Câmara, presidente do grupo Bitway.

www.bitway.com.br

Supersecretária

Conforto térmico

Multiplica o tempo, amplia a rede de influência, posiciona você simultaneamente em várias frentes e organiza os resultados. Essas são as promessas da São Paulo Office Services. A consultoria faz atendimento personalizado das chamadas telefônicas, anotando recados, transferindo os contatos que geram negócios e agendando consultas médicas. Além disso, o serviço faz a seleção de correspondências e o reenvio para o endereço sugerido. A oferta também abrange a pesquisa de propects e produção e distribuição de newsletters eletrônicas para canais de comunicação.

O efeito do calor provocado pela incidência solar nos telhados de empresas e galpões agora pode diminuir em até 40%. É o que promete o impermeabilizante Isotérmic, da Wurth. A multinacional alemã, especializada em peças de fixação, ferramentas e produtos químicos, realizou testes que comprovam a diminuição de até 45% da produtividade quando os trabalhadores sofrem com calor de 35ºC. Desenvolvido com m tecnologia nacional, o Isotérmic pode ser aplicado em cobertura metálica, de concreto pré-moldado, cerâmica, fibro-cimento e alvenaria. O valor sugerido é de R$ 20 por metro quadrado, e pode ser comprado no site da empresa. www.wurth.com.br

0800 111 239 www.saopauloofficeservices.com.br


AGENDA

DESTAQUE 22 a 24/4/2008

Bijóias Brasil Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte São Paulo – SP (11) 3862-2700 / www.masi-bijoais.com.br

23 a 25/4/2008

InovaComm Latin America Transamérica Expo Center – São Paulo – SP (11) 3675-8375 / www.inovacomm.com.br

O espaço deixado por feiras como a Fenasoft será ocupado agora pela InovaComm, que pretende ser o maior evento de telecomunicações da América Latina. O evento tem expectativa de gerar R$ 200 milhões em negócios e receber 6 mil visitantes. Outras 2 mil pessoas devem participar do Congresso, que acontece em paralelo. A área de exposição ocupa dois pavilhões, e nos 70 estandes disponíveis há espaço para pequenas, médias e grandes empresas apresentarem seus produtos e serviços do setor de comunicações. A programação é composta ainda pelo Seminário Internacional com 15 painéis, 60 palestras e três workshops. Entre os diferenciais do evento, estão as parcerias, que se ocupam de realizar a coleta de lixo eletrônico – reciclagem de componentes –, oficinas de inclusão social gratuita a professores do ensino público e um passeio pela história do hardware no Museu do Computador.

30/4/2008

Desafio Sebrae 2008 www.desafio.sebrae.com.br A competição de empreendedorismo entre estudantes universitários está com inscrições abertas até 30 de abril. Com o tema “Para uns, obstáculo, para você, trampolim – com conhecimento, o universitário vira empreendedor”, o Desafio Sebrae tenta mostrar ao universitário que o evento ajuda a superar barreiras e encontrar oportunidades no mercado profissional. Os participantes formam equipes de até cinco integrantes e enfrentam eta-

pas virtuais e presenciais, passando por experiências como a gestão de uma empresa. O setor escolhido para este ano é o calçadista. No ano passado, o Sebrae recebeu 86 mil inscrições, número que deve chegar a 100 mil na edição de 2008. Os interessados devem se inscrever pelo site e pagar a taxa de R$ 30 por equipe. As três primeiras fases são virtuais e eliminatórias para as etapas seguintes, que são presenciais.

5 a 8/5/2008

27 a 30/5/2008

Voltada para profissionais e empresários das indústrias automotiva, calçadista, de eletrodomésticos, pneumática, petrolífera, siderúrgica, de máquinas e artefatos, a Feira Internacional de Tecnologia, Máquinas e Artefatos de Borracha chega à 8ª edição com expectativa de agregar 150 expositores, entre fabricantes e fornecedores. De freqüência bienal, o encontro é o maior da América Latina e, em 2006, recebeu 10 mil visitantes.

A primeira edição da Mostra de Tecnologias Sustentáveis aborda metodologias, técnicas, sistemas, equipamentos e processos economicamente viáveis para diminuir os impactos ambientais negativos, visando à melhoria da qualidade de vida. Reunindo informações e conhecimentos, a Mostra tem o objetivo de ampliar o uso das tecnologias pelos indivíduos e organizações, num ambiente de interação com os visitantes. Os expositores podem ser ONG, institutos de pesquisa, centros de tecnologia, universidades, empreendedores e empresas.

Expobor Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte São Paulo – SP (11) 2226-3100 www.feiraexpobor.com.br

Mostra de Tecnologias Sustentáveis Palácio de Convenções do Parque Anhembi São Paulo – www.ethos.org.br/MostradeTecnologiasSustentaveis

Para mais informações sobre feiras e outros eventos comerciais, acesse a seção Agenda do site Empreendedor: www.empreendedor.com.br

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Profissionais do setor de bijuterias e acessórios, jóias de prata, aço e folheados da América Latina formam o público-alvo da Bijóias Brasil. A feira aumenta a dinâmica para ajudar os participantes a fechar mais negócios. Expositores de marcas, designers, fabricantes e fornecedores de embalagens, equipamentos, etiquetas, softwares para controle e outros serviços devem marcar presença e atrair os 10 mil visitantes esperados.

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LEITURA

Segredos revelados Best-seller traz conceitos fundamentais de empreendedorismo e gestão em linguagem acessível

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Mais de 150 mil pessoas já conhecem O segredo de Luísa. É muito pouco, diante da importância do conteúdo exposto na obra de Fernando Dolabela. Deveria ser o livro de cabeceira não só de quem pretende iniciar um negócio ou aprimorar a gestão de sua empresa, mas também de governantes, professores e, por que não, por qualquer um que busque a realização de um sonho. Afinal, segundo o autor, a atividade empresarial é apenas uma das infindáveis formas de empreender. “A minha visão de empreendedorismo é abrangente, contempla toda e qualquer atividade humana e, portanto, inclui empreendedores na pesquisa, no governo, no terceiro setor, nas artes, em qualquer lugar.” Em linguagem simples e acessível, Dolabela apresenta conceitos essenciais de empreendedorismo e gestão aos leitores conforme se desenrola a história de Luísa, jovem universitária descontente com o futuro como dentista que

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O segredo de Luísa Editora: Sextante – Autor: Fernando Dolabela Preço: R$ 39,90

decide dar outro rumo à sua vida: abrir uma fábrica de goiabada cascão. Sem capital nem noções de administração, ela só sabia que faria o que fosse preciso para realizar seu sonho. Neste início, o autor fala sobre as motivações de um empreendedor e seu perfil, idéias e oportunidades, e onde encontrar ajuda para validá-las por meio do plano de negócios. A diagramação do livro favorece o entendimento do conteúdo prático. À medida que Luísa toma conhecimento sobre si e o que precisa fazer, os conceitos são destacados no texto e aprofundados em caixas. Desta forma, várias leituras podem ser feitas: somente a ficção, somente a parte técnica, ambas ou apenas os trechos que mais interessarem: estudo de mercado, análise financeira, plano de marketing, plano de negócios, etc. A cada etapa necessária à criação de uma empresa, desde a idealização até a garantia de sobrevivência, são apresentados um roteiro detalhado e modelos de pesquisas e entrevistas, na forma de perguntas – uma vez respondidas, fase concluída. O plano de negócios desenvolvido aos poucos por Luísa, com auxílio do software MakeMoney (também desenvolvido por Dolabela), é disponibilizado completo ao fim do livro. Outro apêndice é um teste para avaliar se o leitor está pronto para empreender. Um dos principais guias de Luísa neste caminho é o professor Pedro. Ele é, na verdade, alter ego de Dolabela, criador dos maiores programas de ensino de empreendedorismo do Brasil, tanto para a universidade, em que é utilizada a metodologia Oficina do Empreendedor, como para a Educação Básica, através da Pedagogia Empreendedora, e autor de dez livros relacionados ao tema. Para ele, todo ser humano nasce empreendedor, é preciso apenas desenvolver as características e comportamentos certos para liberar o potencial. “A vida do empreendedor é um constante aprendizado.”

Frases SOBRE O EMPREENDEDOR “O empreendedor é alguém que sonha e busca transformar seu sonho em realidade.” “Fracasso não é não conseguir realizar os sonhos, mas desistir de realizá-los.” “O empreendedor, como os artistas, jamais pensa em aposentadoria, pois isso significaria o abandono de sua paixão.” “A mente do empreendedor é pró-ativa: ele define o que quer realizar, estabelece um ponto no futuro que quer alcançar e busca os conhecimentos e recursos para chegar lá.” SOBRE AS EMPRESAS “As empresas são organizações sociais cuja função é oferecer valor positivo para as pessoas e para o ambiente, e não apenas para encher o bolso do seu proprietário.” “Em uma pequena empresa, confiança é fundamental.” “É necessário que, além da viabilidade mercadológica e financeira, toda a atividade envolvida seja compatível com suas características pessoais.” “É importante conhecer o processo tecnológico de um produto. Mas é um grande erro achar que isso basta.” “Os sócios devem conversar muito, trocar informações, abordar principalmente os temas mais conflitantes, evitar a formação de tabus entre si.” “É importante planejar a criação da empresa, mas também é essencial prever a saída da empresa ou até seu fechamento.” “Atividades de consulta ao cliente, de profunda interação com ele, são permanentes.” SOBRE LUÍSA “Ela sentira a dinâmica de funcionamento do processo criativo: a descoberta parecia surgir de repente, como uma faísca gerada pela magia. Mas na verdade era fruto de um processo de criação, em que muita energia fora empregada e no qual sua mente trabalhara dia e noite.” “Luísa percebeu que o empreendedor se transformava em gerente.” “Com a experiência, Luísa aprendera a lidar com problemas. Na verdade, eles eram a matéria-prima do seu sucesso. Com eles aprendia e, do esforço no seu enfrentamento, surgia a percepção de novas oportunidades.”


Blog marketing Autor: Jeremy Wright Editora: M.Books Preço: R$ 69,00 O consultor Jeremy Wright explica, de forma descontraída, como as empresas podem usar a febre do canal blog para criar uma marca e aumentar as vendas. Através da internet, consumidores e empresas trocam experiências e informações sobre produtos, por isso, ignorar essa mídia revolucionária é perder negócios e a oportunidade de ter o feedback de seus clientes. O autor ensina estratégias para lidar com este mercado e se inspirar para ter idéias inovadoras de produtos e de marketing. Cases de empresas que alcançaram este patamar de comunicação na blogosfera também são abordados no livro.

O filho da Dona Anna Autor: Ricardo Viveiros Editora: Pensamento Preço: R$ 45,00

A história do empreendedor Rino Ferrari é contada pelo jornalista Ricardo Viveiros, que se debruça sobre a vida do profissional que se destacou nos setores publicitário, imobiliário e de agronegócios. A biografia do fundador da Rino Publicidade, com início na década de 1930, é um exemplo de entusiasmo e espírito empreendedor, ilustrado com fotos de seus 78 anos de história. O escritor partiu de entrevistas com o biografado, os filhos, parentes, amigos e profissionais para contar as idas e vindas de um empresário que enfrentou dissabores e sobreviveu aos tempos difíceis da política e da economia brasileiras.

As 17 incontestáveis leis do trabalho em equipe Autor: John C. Maxwell Editora: Thomas Nelson Brasil Preço: R$ 29,90

Depois da Trilogia das 21 leis, o guru da liderança apresenta as regras que tornarão equipes ainda mais eficientes, mostrando como colocá-las no topo do ranking de sua atividade. Ele revela qual o segredo para fazer uma equipe ser verdadeiramente vencedora. Em cada lei proposta, o autor dá exemplos reais de como colocar em prática as dicas, além de casos de fracasso para o leitor saber o que não fazer.

Controle social de políticas públicas: caminhos, descobertas e desafios Voltado para antropólogos, sociólogos e estudantes da área de Ciências Humanas, o livro busca contribuir com a construção da cidadania democrática no Brasil. Realizada por uma equipe de pesquisadores e profissionais que atuam em algumas universidades do País, a obra é composta por nove artigos. Os textos abordam o controle social e a fragilidade da sociedade civil, as políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável e a justiça social, entre outros pontos importantes das políticas públicas.

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Organizadores: Dalila Maria Pedrini, Telmo Adams, Vini Rabassa da Silva Editora: Paulus – Preço: R$ 22,00

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ANÁLISE ECONÔMICA

Efeitos das medidas cambiais Oscilações no valor do dólar alteram a capacidade de exportação e importação do País e exercem peso sobre a inflação Todos os dias, os principais jornais e noticiários divulgam fatos relacionados ao câmbio. O “sobe-e-desce” do dólar passou a fazer parte de nosso cotidiano. Nossa intenção, neste breve artigo, é discorrer um pouco sobre política cambial e como a taxa de câmbio influencia a vida das pessoas. Mudanças na taxa de câmbio alteram a capacidade de exportação/importação de um país. Uma desvalorização da moeda local (aumento da taxa de câmbio), por exemplo, tende a estimular as exportações, em virtude de um “barateamento” dos produtos nacionais no mercado internacional, ou seja, eles ganham em competitividade.

tomadas pelo governo que influenciam o mercado cambial, bem como a taxa de câmbio. A política cambial é um dos instrumentos que o governo tem à sua disposição para cumprir os seus objetivos (obrigações) com a sociedade, que são: o estímulo ao crescimento econômico, o controle inflacionário e um baixo índice de desemprego, sendo as políticas monetárias e fiscais os outros dois principais meios utilizados para atingir tais objetivos. O governo lançou no dia 12 de março uma série de medidas cambiais com o objetivo de controlar a valorização do real em relação ao dólar. Esse fato pode ser observado

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A política cambial é um dos instrumentos que o governo tem à sua disposição para cumprir os seus objetivos (obrigações) com a sociedade: o estímulo ao crescimento econômico, o controle inflacionário e um baixo índice de desemprego

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Uma valorização da moeda local, por sua vez, tem o efeito inverso, estimulando as importações. A taxa cambial também exerce peso sobre a inflação, em função de o preço das commodities (assim como de demais produtos) serem atrelados ao dólar. De forma sucinta, podemos definir política cambial como o conjunto de ações

na evolução das exportações e importações nos primeiros meses do ano, em que as primeiras subiram 20%, e as segundas, 50% em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre as medidas cambiais adotadas, estão: o fim da cobertura cambial, visto que anteriormente os exportadores tinham a obrigatoriedade de internalizar 70% das

receitas com vendas no exterior; a extinção da alíquota de 0,38% de IOF sobre o fechamento de câmbio dos exportadores; e, por fim, as aplicações estrangeiras em renda fixa no Brasil, que passarão a ser taxadas em 1,5% de IOF. Somos de opinião que as medidas anunciadas não exercerão impacto significativo sobre a cotação do dólar em curto prazo. O fim da cobertura cambial, por exemplo, não deverá reduzir a entrada de dólares no Brasil. As taxas de juros praticadas aqui são extremamente elevadas quando comparadas com outros países. Além deste ponto, deve-se levar em consideração que nossas indústrias, pelo menos a grande maioria delas, não são capitalizadas, ou seja, necessitam constantemente de recursos para a produção. Logo, os recursos provenientes das exportações deverão continuar sendo internalizados. O próprio governo tem adotado um discurso no sentido de “sinalizar” aos exportadores que o patamar atual da taxa de câmbio preocupa e que tais medidas terão impacto somente em médio prazo. O lado negativo das medidas, que de certo ponto preocupa, está vinculado à incidência de IOF nas aplicações estrangeiras em renda fixa. Concordamos que deve ser incentivado o alongamento de prazos. As economias mundiais estão totalmente integradas, e os fluxos financeiros entre países são intensos. Achamos que o governo não teve a intenção de imputar medidas intervencionistas ao mercado, porque, se este for o entendimento do investidor estrangeiro, o fluxo para o Brasil pode ser duramente afetado.

por João Pedro Brügger Martins Analista da Leme Investimentos


Carteira Teórica Ibovespa ALL Amér Lat Am Inox Br Ambev Aracruz B2W Global Bradesco Bradespar Brasil T Par Brasil T Par Brasil Telec Brasil Braskem CCR Rodovias Celesc Cemig Cesp Comgás Copel Cosan CPFL Energia Cyre Com-ccp Cyrela Realty Duratex Eletrobrás Eletrobrás Eletropaulo Embraer Gafisa Gerdau Met Gerdau Gol Ibovespa Itaubanco Itausa Klabin S.A. Light S.A. Lojas Americ Lojas Renner Natura Net Nossa Caixa P.Açúcar-CBD Perdigão S.A. Petrobras Petrobras Sabesp Sadia S.A. Sid Nacional Souza Cruz TAM S.A. Telemar N L Telemar Telemar Telemig Part Telesp Tim Part S.A. Tim Part S.A. Tran Paulist Ultrapar Unibanco Usiminas VCP Vale R Doce Vale R Doce Vivo

Tipo Ação

Participação Bovespa

UNT N2 PN PN PNB ON PN PN ON PN PN ON PNA ON PNB PN PNB PNA PNB ON ON ON ON PN ON PNB PNB ON ON PN PN PN

1,64 0,16 1,42 0,94 1,12 3,72 1,40 0,40 0,63 0,95 1,70 1,28 1,07 0,27 1,71 0,92 0,27 1,04 1,97 0,98 0,12 1,35 0,61 1,22 1,37 0,82 0,83 0,93 0,97 2,88 1,10 100,00 2,80 2,23 0,54 0,35 0,81 1,06 1,41 1,70 0,56 0,84 1,19 2,18 11,83 0,61 1,13 3,06 0,57 1,29 0,43 0,89 2,38 0,26 0,31 0,43 1,17 0,44 0,31 2,41 4,22 0,75 3,15 11,76 1,16

PN PN PN ON PN ON ON PN ON PN ON ON PN ON PN ON ON PN PNA ON PN PN PN ON PN PN PN UnN1 PNA PN ON PNA PN

Março -6,80 2,40 -5,40 -1,60 -16,70 -7,50 7,60 1,40 4,30 7,00 -17,80 8,40 -8,60 4,80 -2,20 -40,00 5,90 4,30 -10,00 -0,70 -15,00 -14,80 -2,70 7,80 1,60 0,00 -6,20 -12,20 -1,90 -2,10 -10,90 -4,00 -6,10 -4,20 3,90 -7,10 -15,00 -1,40 7,00 0,80 -13,20 -1,40 -2,20 -8,20 -9,20 -4,00 8,80 -0,90 -4,90 -4,70 0,00 -5,20 10,40 -2,30 -6,40 -22,40 -18,20 -0,10 -2,40 -10,00 1,40 -4,30 3,10 1,90 0,70

Variação % Ano -23,2 2 2,6 -6,7 -16,7 -12,4 -0,5 8,5 -5,4 10,2 -23,4 7,9 -4,1 1,6 -3,1 -33,7 12,4 7,1 25 9,1 -19,7 -5 -22 12 9,8 -5,2 -12 -12,6 3,7 4,7 -40,4 -4,6 -10,3 -10,1 -10,1 -19,3 -15,8 -8,1 8,6 -13,5 -9,8 5,5 -8,5 -14,3 -16 -5,8 4,3 19,1 -2,8 -20,8 32,8 3,5 36,5 5,7 1 -13,6 -6,6 8,7 0,7 -15 21,9 -7,4 2 0,1 8,7

Índice

Fevereiro

IGP-M IGP-DI IPCA IPC - Fipe

Ano

0,53 0,38 0,49 0,19

1,63 1,37 1,03 0,71

Juros/Aplicação (%) Fevereiro

Ano

0,84 0,80 0,52 1,93

1,76 1,73 1,13 9,09

CDI Selic Poupança Ouro BM&F

Indicadores imobiliários (%) Fevereiro

Ano

0,38 0,02

0,45 0,13

CUB SP TR

Juros/Crédito (%) 31/Março

28/Fevereiro

Desconto 1,90 Factoring 3,99 Hot Money 3,40 Giro Pré (taxa mês) 2,10

1,96 3,96 3,40 2,17

Câmbio

Até 31/3 Cotação

Dólar Comercial Ptax Euro Iene

R$ 1,7491 US$ 1,5778 US$ 0,0100

Mercados Futuros Abril Dólar Juros DI

Maio

Até 31/3 Junho

R$ 1,749 R$ 1,762 R$ 1,769 11,35% 11,25% 11,35%

Contratos mais líquidos Ibovespa Futuro

Abril 60.590

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Nome Ação

Inflação (%)

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E–EMPREENDEDOR

Novidade virtual O site Empreendedor agora tem um espaço para o internauta ver as diferentes publicações da Editora Empreendedor em formato totalmente virtual. O leitor pode folhear cada página da revista virtualmente. Para conferir a novidade, acesse o link “Anuncie”, encontrado na parte superior direita do site www.empreendedor.com.br. Apresentação, seções, tiragem e os preços praticados para publicidade nas revistas também são informações em formato multimídia encontradas no link.

Endereço direto para folhear a revista: http://www.empreendedor.com.br/ multimidia/anuncie/livro.swf

Conteúdo empresarial Empresários, diretores, gerentes e profissionais de diferentes áreas que se interessam pelo conteúdo do portal e gostam de escrever sobre diversos assuntos que envolvem empreendedorismo também podem ter seu artigo publicado no site, basta enviá-lo para carla@empreendedor.com.br. O artigo será avaliado e, se estiver de acordo com o perfil do site, publicado.

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Agenda

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Confira no site Empreendedor os principais eventos, como feiras, palestras e cursos, que serão realizados nos próximos meses. Na página principal do site, são divulgados os três principais acontecimentos da semana e, na seção “Agenda” (no menu à esquerda do site), para facilitar o acesso,

O e-Empreendedor divulga todo mês os melhores comentários postados no site em conteúdos como reportagens, notícias e artigos. Confira os escolhidos de março: A Feira realmente foi maravilhosa!!!! Estava expondo meu material ‘Quarella – material Italiano que está presente no mercado há 40 anos, líder mundial de material composto, que teve uma grande aceitação pelos profissionais. Vimos de tudo um pouco, vai ter muita novidade para trabalharmos. Kelly Nagode, sobre a notícia “Feira Revestir é destaque na semana de lançamentos da construção civil” O aumento de oferta de cargos de alto nível pela internet pode indicar que esses profissionais estão perdendo oportunidades nas empresas em que trabalham e buscam outras colocações em cargos mais elevados. Há uma correlação entre a troca de empregos e as incorporações de grandes empresas por multinacionais. Ugo Renato Meira, sobre a notícia “Profissionais recorrem à web para recolocação profissional”

Endereço direto para página multimídia: http://www.empreendedor.com.br/ multimidia/anuncie/anuncie.swf

Diariamente, o site Empreendedor divulga artigos assinados por empresários e especialistas da área. Os assuntos tratados vão desde franquias e gestão a questões jurídicas e tecnologia, e oferecem idéias, sugestões, conselhos e discussões sobre temas de extrema importância para o meio empresarial. Para acessá-los, clique na seção “Artigos”, no menu à esquerda do site, e não esqueça de registrar seu comentário.

Interatividade

os eventos são listados em forma de calendário. Assim, há a possibilidade de consultar a agenda por dia, mês e ano. Para os que desejam obter maiores informações, também são divulgados endereço eletrônico e comercial, telefone para contato e um pequeno resumo do evento.

Brilhante sua matéria, creio que no mundo de hoje não existe mais espaço para amadores, e temos, sim, que buscar a profissionalização nos negócios e na gestão de nossas empresas, vivendo como se o futuro fosse hoje. Obrigado, Sr. Wellington, suas palavras são recheadas de verdade. Cláudio Melo, sobre o artigo “Estratégia – A mágica de transformar ações contundentes em resultados” Interessante a parceria destas duas organizações. É assim que o Brasil mostra sua criatividade e espero que os empreendedores saibam aproveitar esta oportunidade que está literalmente batendo à sua porta! Parabéns aos envolvidos na idéia e principalmente na implantação do projeto. Sérgio Bogaert, headhunter, sobre a reportagem “Sebrae busca reforçar atendimento no País através do telefone”


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